a passagem do modelo tribal para monarquia imperio de davi e salomão

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PÓS-GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA Com enfoque em ensino religioso LEANDRO SOARES DE SOUSA A PASSAGEM DO MODELO TRIBAL PARA MONARQUIA E A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO DE DAVI E SALOMÃO Rio de Janeiro Novembro- 2012 Trabalho apresentado ao prof. José Ademar Kaefer da disciplina LITERATURA BÍBLICA - PRIMEIRO TESTAMENTO como avaliação e exigência para aprovação.

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Page 1: A passagem do modelo tribal para monarquia  imperio de davi e salomão

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PÓS-GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA

Com enfoque em ensino religioso

LEANDRO SOARES DE SOUSA

A PASSAGEM DO MODELO TRIBAL PARA MONARQUIA

E A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO DE DAVI E SALOMÃO

Rio de Janeiro

Novembro- 2012

Trabalho apresentado ao prof. José

Ademar Kaefer da disciplina LITERATURA

BÍBLICA - PRIMEIRO TESTAMENTO como

avaliação e exigência para aprovação.

Page 2: A passagem do modelo tribal para monarquia  imperio de davi e salomão

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1) VISÃO GERAL DA PASSAGEM DO MODELO TRIBAL PARA MONARQUIA ....... 1

1.2) PASSAGEM PARA A MONARQUIA ..................................................................... 4

1.3) PRIMEIRA EXPERIÊNCIA DE MONARQUIA........................................................ 5

1.4) INÍCIO DA MONARQUIA SOB SAUL..................................................................... 6

2) O REINADO DE DAVI.............................................................................................. 8

2.1) DAVI CONQUISTA JERUSALÉM......................................................................... 9

2.2) A ARCA É TRANSFERIDA PARA JERUSALÉM................................................. 9

2.3) AS GUERRAS DE DAVI........................................................................................ 9

2.4) DAVI ENGRAVIDA BETSABEIA........................................................................... 10

2.5) NASCIMENTO DE SALOMÃO............................................................................. 10

2.6) ABSALÃO TOMA O PODER.................................................................................. 10

2.7) DAVI FAZ O CENSO DE ISRAEL......................................................................... 11

2.8) ADONIAS SE REI E DAVI CONSTITUI SALOMÃO SEU SUCESSOR 11

2.9) MORTE DE DAVI................................................................................................... 12

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3) A HEGEMONIA NA FORMAÇÃO DO IMPÉRIO DE DAVI..................................... 13

3.1) MEDIDAS DE DAVI PARA CONSOLIDAR O PODER.......................................... 13

3.2) POR QUE DAVI NÃO ERA UM REI JUSTO? ...................................................... 14

4) O REINADO DE SALOMÃO.................................................................................... 14

4.1) PRIMEIRAS MEDIDAS DE SALOMÃO PARA CONSOLIDAR SEU REINO........ 14

4.2) A NARRATIVA BÍBLICA DE SALOMÃO.............................................................. 15

4.3) O INÍCIO DO REINADO DE SALOMÃO............................................................... 15

4.4) CONSTRUÇÃO DO TEMPLO.............................................................................. 16

4.5) ESCOLHA DE JEROBOÃO................................................................................... 16

4.6) MORTE DE SALOMÃO......................................................................................... 17

5) CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 17

6) BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................... 18

Page 3: A passagem do modelo tribal para monarquia  imperio de davi e salomão

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1) VISÃO GERAL SOBRE A PASSAGEM DO MODELO TRIBAL PARA

MONARQUIA

Tanto a Bíblia quanto historiadores e pesquisadores afirmam que um dos

pontos centrais para a decadência do modelo tribal israelita, de certo modo, teria sido

a fraca união e falta de força, tecnologia e organização militar da mesma, perante os

ataques filisteus. Segundo descrição de John Bright (1980)1, os filisteus eram um povo

pouco numeroso. Os mesmos possuíam como modelo estatal uma aristocracia militar,

e como sugere não só seus nomes personativos, mas também seu modelo religioso,

como os nomes de seus deuses, podemos ver, claramente, uma influencia Canaanita.

Tal influência é explicada segundo Bright (1980), por certa miscigenação entre os dois

povos, dessa forma, ocasionando uma assimilação cultural por parte filistéia, de

características tanto religiosas, quanto político/militares dos cananeus. Tendo os

filisteus imigrado para a terra de Canaã, pouco tempo após Israel, estando em guerra

esses dois desde o período dos Juízes – época do modelo Tribal Israelita. Esse

Tribal durou aproximadamente duzentos anos (cerca de 1210 a 1020/1010 a.C.),

tendo recebido o golpe decisivo responsável pelo seu declínio, aproximadamente, em

1050 a.C., na batalha descrita em 1 Samuel, 4, na qual em uma investida frustrada

contra os filisteus, além da morte da maioria dos combatentes, a Arca da Aliança,

símbolo da presença de YHWH2 junto ao povo hebreu, foi tomada e levada pelos

filisteus. Assim, os filisteus, segundo John Bright, destruíram o santuário da Liga Tribal

em Silo e espalharam suas guarnições, ocupando assim a terra. Segundo o mesmo

autor, os filisteus afirmaram o seu monopólio do ferro, sendo o mesmo só abundante

entre os hebreus apenas no reinado de Davi. Quanto às causas, que levaram à

unificação dos hebreus, em um único Estado monárquico, segundo narra a Bíblia, os

anciãos de cada tribo de Israel se reuniram com Samuel no santuário de Ramá, onde

o mesmo morava no intuito de lhe fazer um pedido: [...] Constitui sobre nós um rei, o

qual exerça a justiça entre nós, como acontece em todas as nações” (1 Sm 8, 4-5).

1 BRIGHT, John. História de Israel. Tradução de Euclides Carneiro da Silva. São Paulo: 4º ed. Paulinas,

1980, p. 284. 2 Essas quatro letras encontradas na bíblia representam o poder eterno de Deus. É um verbo conjugável

e por isso, encontramos mais de uma tradução. Por ser um verbo conjugável, quem o pronuncia sem saber exatamente, pode estar se referindo a um Deus no passado, (que já foi), ou no presente ou no futuro. Os católicos dizem Javé, os protestantes Jeová e alguns teólogos mais letrados dizem JAVO. Mas, a maioria, não sabe o que diz, porque quando fala não conhece o significado. Por isso, sabiamente, alguns judeus do passado alteraram o tetragrama para evitar que não se falasse o nome de Deus de maneira fútil. Chamar Deus de Jeová, Javé ou Javo pode ser fútil. Repare que eu não afirmo que é fútil, mas que? pode ser?. O correto é referir-se a Deus como aquele que é o que quiser ser.

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Em suma, a Bíblia e também o que afirmam alguns pesquisadores como Henri

Cazelles(1986)3, sustentam o mesmo motivo para a instalação de um modelo

monárquico em Israel. O motivo que é considerado, como sendo o que possui mais

sustentação histórica, no que concerne ao processo de unificação das tribos de YHWH

em um único Estado, e que, não por acaso, tornou-se uma hipótese de pesquisa foi o

fato de que, no final do século XI a.C., – data da formação da Monarquia unificada de

Israel –, Estados e civilizações vizinhas, como o Egito Faraônico a região da

Mesopotâmia, estavam enfraquecidos. O Reino unificado de Israel iniciou-se com

Saul, tendo sido ungido por Samuel e escolhido como primeiro rei, tanto por YHWH

quanto pelo povo, tendo Saul governado aproximadamente de dez a vinte anos

(1020/1010 (?) a 1000 a.C.). Logo, a bíblica e a de Cazelles (1986) complementam-se,

indicando que haveria somente um desejo de imitação dos povos vizinhos, na

constituição da Monarquia unificada de Israel.

1.2) PASSAGEM PARA A MONARQUIA4

De acordo Gass (2011) há causas internas e externas para o surgimento da

monarquia.Como causas externas podemos destacar que os reis que queriam

continuar a cobrar impostos dos israelitas;os filisteus atacavam a Israel

constantemente (Jz 3,31). O exemplo das tribos era um modelo que atraiam cada vez

mais escravos que fugiam do seus senhores e integrando a clãs de Israel (1 sm

25,10). As causas internas para o surgimento da monarquia está redação dos livros

bíblicos. Os livros da bíblia que narram a historia da monarquia é 1-2 Sm e 1-2 Rs.

Estes livros tem uma longa história.começaram a ser escrito durante a monarquia

unida sobre o rei Salomão e sua redação final só se deu durante o exílio babilônico

(587-539 a.C.). essa ultima redação foi feita por um grupo que analizou a historia de

Israel a partir das ideias do livro do deuteronômio. Logo, esse grupo reuniu tradições

proféticas do Norte com os interesses da dinastia de Davi, no sul, como veremos

adiante. Assim Gass(2011) sustenta que certamente havia duas versões ou linha de

pensamento da sagrada escritura: a popular e a Oficial.

A principal redação de 1-2 Sm e 1-2 Rs ocorreu durante a monarquia de Josias

(640-609 a.C). Por isso Samuel e Reis fazem parte da grande obra deteronomista.

Logo aos reis não faltavam razões para acabar com o modelo das tribos do hebreus.

3 CAZELLES, Henri. História Política de Israel: desde as origens até Alexandre Magno. Tradução de Cácio Gomes. São Paulo: Paulinas, 1986, p. 121. 4 GASS, Ildo Bohn. Uma Introdução à Bíblia. Formação do império de Davi e Salomão. V. 3, CEBI, Paulus,

2ªedição, 2011.

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Em 1Samuel 1-15 , encontramos três causas internas que contribuíram para o

enfraquecimento do sistema tribal: 1) a corrupção de sacerdotes; 2) a corrupção de

Juízes; 3) a introdução do arado de ferro e do boi na agricultura.

1) Corrupção dos sacerdotes= em 1 Sm 2,12-17, alguns grupos sacerdotais no meio

das tribos começaram a expropriar o que era dos camponeses. No texto os

sacerdotes, que já tinham direito a uma porção da oferta, exigem a carne crua, a qual

poderia ser comercializada depois de seca, ou seja, havia sacerdotes que se

aproveitavam das carnes das oferendas a Deus a fim de fazer churrasco para si. A

Corupção chegou não só para sacerdotes mas também para Juízes que deveriam ser

os primeiros responsáveis por zela pela justiça.

2)Corrupção de Juízes= diante da perversão do DIREITO, houve anciãos que

propuseram como alternativa um rei. Aqui, entra a importância de Samuel que era

profeta atento a voz do povo diante da proposta dos anciãos e sensível à voz de

Deus.ele não era favorável a proposta dos anciãos por um rei para governa. Por isso

Samuel deixa claro que optar por um rei é rejeitar o próprio Deus. Depois, em 1 Sm

12,19 diz que “pedir um rei foi nosso maior pecado”.

3) O boi5 e arado de ferro permitiram o aumento da produção= A entrada do boi influirá

diretamente na relação com a produção, a qual, auxiliada pelo ele, formará o

excedente necessário para manter a estrutura monárquica, ou seja, é o boi que vai

possibilitar a monarquia através da produção excedente6.

1.3) PRIMEIRA EXPERIÊNCIA DE MONARQUIA

Jz 9,1-6: primeira experiência de monarquia dentro das tribos, onde houve

alegação de que seria melhor ser governado por um só homem e que fosse parente

deles. Com a prata do templo de Baal-Berit, Abimelec contratou homens para matar os

70 líderes de então, para que ele fosse instituído como rei. Seu reinado durou muito

pouco tempo.A prata que existia neste templo vinha do comércio, ou seja, alguma

coisa da produção da tribo estava sendo acumulada para poder ser comercializada, o

que era contra as leis tribais, pois possibilitava a manipulação do poder. O texto

5 Quem se criou na roca ou sabe da lida com o campo sabe da importância dos bois na

agricultura familiar. Eles servem para puxar o arado na lavra da terra. Servem também para transportar a produção, puxando carroça. 6 A introdução do arado com lâmina de ferro e puxado por bois aumentaram produção

agrícola. Daí apareceram as desigualdades sociais. Logo a sociedade israelita, no final do tempo dos Juizes , já estava dividida em classes (1Sm 25). A solidariedade, aos poucos deu lugar aos ineresses dos grupos mais poderosos. cf: GASS, Ildo Bohn. Uma Introdução à Bíblia. Formação do império de Davi e Salomão. V. 3, CEBI, Paulus, 2ªedição, 2011,p.17.

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também fala dos senhores de Siquém (ou proprietário de Siquém) mostrando assim

que há uma formação de grupos que começam a centralizar o poder.

Os Juízes acumulam poder (Jz 10,3-5): O texto mostra um juiz (Jair) ligado a

30 pessoas, com 30 jumentos e 30 cidades. Isto pode ser visto como uma rede de

comércio, pois os jumentos e bois serviam para o transporte. Jz 12,8-13: outros juízes

também se organizando em redes e acumulando poder. Não se trata de dominação

sobre todas as tribos, porém já são atitudes que fogem do propósito das tribos.

1.4) INÍCIO DA MONARQUIA SOB SAUL

Segundo o Professor Ciro Cardoso7, o reinado de Saul somente exerceu uma

quebra parcial do modelo político e institucional da época da Confederação Tribal,

tendo ele apenas traçado e iniciado “(...) um esboço de instituições estatais e de

exército permanente.” Saul exerceu o importante papel de introdutor da monarquia,

entretanto, mesmo assim, seu reinado não possuiu grande relevância, pois, ainda de

acordo com os ensinamentos de Cardoso(1990) o rei Saul “[...] foi acima de tudo um

chefe militar carismático, espécie de novo juiz, mas em escala muito ampliada”

Segundo Gass (2011) há Quatro versões para o início da monarquia:1) Pedido

(1Sm 8); 2) Unção (1Sm 9,1-10,16); 3) Eleição (1Sm 10,17-27); 4) Aclamação (1Sm

11,1-15).

1:Pedido – cap. 8; Versículos 1 a 4: causas internas; Versículo 5: causa externa – As

monarquias possuíam um exército permanente e uma vocação para a conquista, o

que pode ter deixado as tribos com medo. Assim pediram um rei para governá-los.

Versículos 10 a 17: trata-se de um texto posterior a Saul. Os aspectos da monarquia

aqui apresentados se referem ao período de Salomão. O que mais caracteriza este

texto como antimonárquico é a afirmação de que “eles estão rejeitando a mim (Javé)”.

Pois na sociedade tribal o rei é YHWH.“Nem eu nem meu filho seremos reis de vocês.

O rei de vocês será Javé” (Jz 8,23).

2:Unção 1 Sm 9,1 – 10,16= Não há nada neste texto que transpareça uma crítica à

monarquia. A menção da unção é posterior à época do acontecimento. Esta unção

pode não ter acontecido, pois não aparece posteriormente. Além disso, na época de

Saul não havia estrutura para uma unção: templo, sacerdotes, etc.O texto não fala de

rei, mas de um chefe do povo. A palavra NAGUID significa chefe.

7 CARDOSO, Ciro Flamarion. Antiguidade Oriental: política e religião. Os povos do Oriente

Próximo. Reis e sacerdotes. Poder e religião. São Paulo: Contexto, 1990.

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3:Eleição 1 Sm 10,17-27= Dificilmente se entregaria à sorte a escolha de um rei.O

texto também traz a perspectiva de que escolher um rei é o mesmo que rejeitar a Javé

(v 19). Na Bíblia existem dois tipos de sorteio: um para escolher a porção da terra que

cada tribo ocupará, e outro é o sorteio para encontrar o culpado por algum fato

ocorrido. O caráter do sorteio neste texto de 1Sm é o segundo, que servia para

encontrar o culpado. Talvez, por isso, Saul estaria escondido. Ele seria o culpado por

tomar o lugar de YHWH no reinado. Isto mostra que o texto é antimonárquico.

4: Aclamação 1 Sm 11,1-15= Segundo Gass(2011)Provavelmente este texto é o que

mais se aproxima do que ocorreu efetivamente. A convocação que Saul fez para a

guerra não foi dirigida a todo o Israel, mas somente aos donos dos bois8ameaçando-

os com perda de seu gado( 1 Sm 11,7). Assim já se formava um exército a serviço dos

donos de bois, e não apenas um exército de defesa formado por camponeses. Não foi

por acaso que o primeiro rei surgiu ao redor do entroncamento das rotas comerciais

norte-sul e leste oeste nas redondezas de Jerusalém.

A junta de bois que Saul destruiu pode representar duas coisas. Primeiro: pode

representar o que os inimigos fariam com os bois deles em um possível ataque.

Segundo: o que o próprio Saul faria com os bois daqueles que ele convocou para a

guerra caso não fossem para a guerra com ele.O texto também mostra que a

concentração de poder leva os poderosos a se voltar tanto contra os inimigos quanto

contra os próprios membros da tribo, desde que sejam contra este poder (v 12).

Saul foi ungido como chefe militar, representando os interesses dos donos de

bois. Sua forte liderança levou os proprietários de bois a transformá-lo em primeiro

chefe de um exército permanente. Saul se pareceu mais com um líder militar do que

com um rei. Era semelhante aos juízes como Gedeão e Jefté, que comandavam o

exército na época das tribos. Mas, já havia uma grande diferença entre eles. Os juízes

após a campanha militar, voltavam a seu trabalho no campo. Saul não voltou mais.

Tornou-se líder militar permanente. Desempenhou, portanto, o papel de juiz e chefe

militar permanente, tal como os anciãos haviam pedido a Samuel (1Sm 8,20).

É importante destacar que Saul assume o sacerdócio. Ele toma a iniciativa de

oferecer sacrifícios, ultrapassando suas funções e usurpando a função sacerdotal

(1Sm 13, 1-15). Ele cria um exército permanente, donde se deduz uma tributação para

seu sustento. Em suma podemos sustentar que Saul representou uma fase

intermediária entre a sociedade tribal e a monarquia.

8 O boi era um bem valioso. Era necessário proteger os bens. Logo boi exige um exercito

permanente para garantir a livre circulação das mercadorias dos camponeses mais ricos.

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2) O REINADO DE DAVI

Para entender o Reinado de Davi vejamos um breve panorama da narração

bíblica para depois desmistificarmos alguns ponto da formação do império de Davi.

2.1) DAVI CONQUISTA JERUSALÉM (1004 A.C.)

Jerusalém coube como herança à Tribo de Benjamin (Js 18:28). Conforme

Js 10, Adoni-Zedeque, rei de Jerusalém na época da entrada de Israel em Canaã,

arregimentou outros quatro reis da região, a saber: Hoão, rei de Hebrom, Pirão, rei de

Jarmute, Jafia, rei de Laquis e Debir, rei de Eglom, para atacar os gibeonitas que

haviam feito paz com Israel.Josué foi ao combate a estes reis e os derrotou naquele

que chamamos o mais longo dos dias. No entanto, a cidade de Jerusalém

permaneceu intocada, uma vez que a batalha se travou às portas de Gibeon e “Não

puderam, porém, os filhos de Judá expulsar os jebuseus que habitavam em

Jerusalém”. (Js 15:63). Conforme Jz 1:7-8, ainda nos tempos de Josué, as tribos de

Judá e Simeão atacaram a cidade e a incendiaram na guerra contra os cananeus, mas

a cidade continuou a ser habitada pelos jebuseus uma vez que não cabia nem a Judá

nem a Simeão ocupá-la.Coube a Davi tomá-la, por volta de seu sexto ano de reinado,

conforme nos relata 2 Sm 5: 5-9: “Em Hebrom reinou sobre Judá sete anos e seis

meses, e em Jerusalém reinou trinta e três anos sobre todo o Israel e Judá.E partiu o

rei com os seus homens a Jerusalém, contra os jebuseus que habitavam naquela

terra; e falaram a Davi, dizendo: Não entrarás aqui, pois os cegos e os coxos te

repelirão, querendo dizer: Não entrará Davi aqui. Porém Davi tomou a fortaleza de

Sião; esta é a cidade de Davi. Porque Davi disse naquele dia: Qualquer que ferir aos

jebuseus, suba ao canal e fira aos coxos e aos cegos, a quem a alma de Davi

odeia.Por isso se diz: Nem cego nem coxo entrará nesta casa. Assim habitou Davi na

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fortaleza, e a chamou a cidade de Davi; e Davi foi edificando em redor, desde Milo

para dentro.”Davi passou a reinar de Jerusalém a partir do Anno Mundi 2893,

descontados 33 anos desde a data de sua morte.

2.2) A ARCA É TRANSFERIDA PARA JERUSALÉM (998 A.C.)

A Arca foi tomada pelos filisteus no Anno Mundi 2878 e veio a permanecer em

Quiriate-Jearim apor 20 anos, até que Davi a transportasse para Jerusalém, o que veio

a acontecer no Anno Mundi 2898 (2878 + 20). Seria então, o 13º ano de reinado de

Davi, em seu 6º ano reinando em Jerusalém.

2.3) AS GUERRAS DE DAVI (998 -993 A.C.)

Davi empreendeu um longo período de guerras contra os filisteus, moabitas, e

os reis ao norte e sul de Israel, estendendo desta forma as fronteiras de Israel até

além do Rio Eufrares (2 Sm 8:1-3).Tomou o que seria hoje a faixa de Gaza e sujeitou

os filisteus. Consolidou as fronteiras da Tribo de Rubem com o território de Moabe,

ficando tanto estes quanto os filisteus tributários de Israel. Empreendeu uma

campanha de sucesso em direção ao norte de Israel, contra o reino de Zobá,

estendendo as fronteiras até o Rio Eufrates, dominando a Siria, quando esta saiu em

defesa de Hadadezer, rei de Zobá.Também a Siria passou a pagar tributos a Israel (2

Sm 8:5-6). Davi sujeitou também os amonitas e amalequitas (2 Sm 8:12) consolidando

as fronteiras da transjordânia e junto com os irmãos Joabe e Absai conquistou os

edomitas ao sul (1 Cr 18:12-13).As fronteiras consolidadas por Davi eram as mesmas

prometidas por Deus a Abraão, conforme Gn 15:18: “fez o Senhor uma aliança com

Abrão, dizendo: À tua descendência tenho dado esta terra, desde o rio do Egito até ao

grande rio Eufrates”.Deus relembrou a Josué as mesmas fronteiras quando Israel

entrou em Canaã: “Para Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho

dado, como eu disse a Moisés. Desde o deserto e do Líbano, até ao grande rio, o rio

Eufrates, toda a terra dos heteus, e até o grande mar para o poente do sol, será o

vosso termo. Ninguém te poderá resistir, todos os dias da tua vida; como fui com

Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei. Esforça-te, e tem

bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria”

(Js 1:3-6).As fronteiras estabelecidas por Davi subsistirão até o fim dos dias de

Solamão.

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2.4) DAVI ENGRAVIDA BETSABEIA (993 A.C.)

Ao fim da guerra contra os amonitas, Rabá, a capital de Amon ainda estava em

pé e cabia a Davi conquistá-la definitivamente. Por uma razão desconhecida, Davi, ao

invés dele próprio liderar a conquista de Rabá, envia Joabe, comandante de seu

exército, para tomar a cidade e permenece ele próprio em Jerusalém. É nesta

circunstância que ele toma Betsabeia e a engravida. É bastante conhecido o

desenrolar da história que culmina com o assassinato de Urias, o heteu, marido de

Betsabeia. Tempos depois da morte de Urias a cidade veio a ser conquistada e Joabe

chama Davi para que ele mesmo entre na cidade como conquistador de Rabá.

2.5) NASCIMENTO DE SALOMÃO (992 A.C.)

Conforme 2 Sm 11:27 Davi tomou depois da morte de Urias Betsabeia como

esposa e ela gerou Salomão. Podemos supor que Salomão tenha nascido no ano

seguinte à morte de Urias.

2.6) ABSALÃO TOMA O PODER (981 A.C.)

De acordo com a lei de Moisés escrita em Lv 20:10, deveriam ser punidos com

a morte tanto Davi quanto Bate-Seba, porém foram ambos poupados.No entanto, a

pesada sentença pronunciada pelo profeta Natã causou efeitos que vieram a durar por

toda a vida de Davi: “Porque, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal

diante de seus olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por

tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se

apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher

de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o Senhor: Eis que suscitarei da tua

própria casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei

a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol. Porque tu o

fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o

sol.Então disse Davi a Natã: Pequei contra o Senhor. E disse Natã a Davi: Também o

Senhor perdoou o teu pecado; não morrerás.” (2 Sm 12:9-13).A sentença de Natã se

concretizou dentro da própria casa de Davi, começando com o assassinato de Amnon

por seu próprio irmão Absalão, que posteriormente viria a tomar o reino de Davi e

possuir à luz do dia todas as concubinas de seu pai. Amnon seria no inconsciente

popular o sucessor de Davi por ser o seu primogênito. Podemos supor então, que a

vingança de Absalão pela violação de sua irmã não foi uma atitude meramente

passional, mas um ato possivelmente planejado de eliminação do mais provável

sucessor de direito ao trono de Israel, uma vez que Absalão, como mostram os fatos

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subsequentes, tinha para si a ambição de reinar sobre Israel.Dois anos após a

violação de sua irmã, Absalão matou Amnon, fugindo para Gesur, terra dos parentes

de sua mãe. Lembremos que Absalão, filho de Davi, era neto de Talmai, rei de Gesur

(2 Sm 3:3). Absalão viria a permanecer ali por 3 anos (2 Sm 13:38), após o que Davi

consentiu que Joabe, comandante do exército de Israel, trouxesse o jovem de volta a

Jerusalém.

Passaram-se dois anos até que Davi se avistasse com Absalão (2 Sm 14:33) e

o perdoasse, e quatro anos mais, para que Absalão, sobre o pretexto de fazer

sacrifícios em Hebrom (2 Sm 15:7), saísse de Jerusalém e fizesse um levante contra

Davi, o que obrigou o rei a fugir de Jerusalém com toda sua família. 2 Sm 15:7

estabelece que foram quatro anos o tempo passado entre o perdão de Davi e a saída

de Absalão para presumidamente ir sacrificar em Hebrom. Algumas versões traduzem

como 40 anos, o que é bastante improvável.

Temos, desta forma, que o golpe de Absalão veio a acontecer cerca de 11

anos após o nascimento de Salomão, no 30º ano de governo de Davi, mesmo ano em

que Absalão veio a ser morto por Joabe (2 Sm 18:14).

2.7) DAVI FAZ O CENSO DE ISRAEL (972 A.C.)

Em 2Sm 24:1 diz que Davi resenceou o povo e por esta causa Israel foi

severamente punido. Não há muitas explicações que nos permitam entender por qual

razão Deus estava contrariado com Israel. Foi o último ato de governo de Davi, um

ano antes da sua morte.

2.8) ADONIAS SE PROCLAMA REI E DAVI CONSTITUI SALOMÃO SEU

SUCESSOR (971 A.C.)

Adonias, o quarto filho de Davi, nascido em Hebrom, vendo que seu pai estava

velho, e contando com o apoio de Joabe (1 Rs 1:7), comandante dos exércitos de

Israel e do sacerdote Abiatar, auto-proclamou-se rei de Israel.Davi tinha neste tempo

70 anos, idade que não justificaria seu estado de prostração, não fosse o tipo de vida

que levou, não somente por causa das muitas privações que passou durante as

guerras que lotou, como também pelos muitos dissabores emocionais que enfrentou

em sua vida privada, tanto pelas decisões infelizes que tomou como pela turbulenta

vida familiar.1 Rs 1:17 nos mostra que Davi já havia feito um juramento a Bate-Seba

de empossar Salomão como seu sucessor, o que ele cumpre, estimulado pelo profeta

Natã (1 Rs 1:22-40).

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2.9) MORTE DE DAVI (971 A.C.)

Conforme 2 Sm 5:5, Davi reinou em Hebrom sete anos e seis meses, e em

Jerusalém reinou trinta e três anos, o que totaliza quarenta anos e meio, sobre todo o

Israel e Judá, concluindo-se desta forma, que Davi reinou seis meses no seu ano de

ascensão, e transferiu, próximo de sua morte, de forma tardia e conturbada o reino

para Salomão. Em 1 Rs 2:1-12 vemos as instruções que Davi deu a Salomão antes de

sua morte: que seguisse pelo caminho de Deus, e que fizesse justiça a algumas

pessoas que lhe haviam causado muitos males.

A vida de Davi para com Deus foi irrepreensível até os acontecimentos que o

levaram a matar Urias. Vê-se, de fato, um profundo arrependimento por este ato

publicado nas palavras do Salmo 51, que tradicionalmente se credita terem sido

escritas por Davi depois e por causa da morte de Urias. Como sabemos Deus o

perdoou, mas fez com que as consequências de seu ato perdurassem por toda sua

vida. Davi, próximo de morrer, instruiu Salomão a matar Joabe, comandante de seu

exército, justificando que este, por sua vez, havia matado dois homens melhores que

ele, a saber, Abner e Amasa (1 Rs 2:32). Recomendou também a Salomão que

fizesse justiça a Simei que o amaldiçoou quando fugia de Absalão. O próprio Davi,

quando aconteceu este fato, impediu Absai de matar Simei (2 Sm 19:21) porque

entendia que a maldição que este lançava contra ele vinha de Deus, mas

aparentemente mudou de ideia em seus últimos dias de vida. Joabe de fato matou

Abner por vingança porque este havia matado Asael, seu irmão, e matou Amasa

porque este fora o chefe do exército de Absalão em sua tentativa de tomar o trono de

Davi, e mesmo assim, depois disto, Davi fez dele chefe de seu exército em lugar de

Joabe (2 Sm 19:13). Joabe não só matou o novo comandante do exército, como

continuou a liderar o exército de Israel, mesmo contra a vontade aparente de Davi.

Há que se notar que Joabe prestou grandes serviços a Davi ao lado de quem

lutou todas as guerras e sempre lhe foi fiel. Davi não se lembrou de mencionar uma

coisa de fato concreta, quando instruiu o novo rei: que Joabe apoiara Adonias na sua

tentativa de reinar sobre Israel em lugar de Salomão, o que, de uma certa forma,

poderia ser pretexto para sua exclusão do círculo de sua confiança, mas nunca de

morte a um homem que lhe fora como que o braço direito e de muitas maneiras, o

instrumento usado por Deus para garantir-lhe o trono.

Mas é Joabe a maior testemunha sobre a morte premeditada de Urias; é a ele a quem

Davi manda que o próprio Urias leve sua sentença de morte quando lutava para

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conquistar a cidade de Rabá. Joabe não é nomeado entre os valentes de Davi no

relato de 2 Sm 23:8-39, mas Urias, paradoxalmente lá está.

3) A HEGEMONIA NA FORMAÇÃO DO IMPÉRIO DE DAVI

O Rei Davi levou a cabo o empreendimento iniciado por Saul, consolidando o

estado monárquico. Mesmo após a morte de Saul houve disputa entre as famílias de

Davi e Saul. Isso representava um perigo para o reinado de Davi. Desta forma, Davi

toma medidas violentas para garantir o poder.

A conquista do poder: Somente com a morte de Saul, Davi pode ser ungido rei.

Porém, no primeiro momento o foi apenas rei de Judá, no Sul. No Norte ficou Isbaal,

filho de Saul (2Sm 2). Para Davi conquistar o poder entre todas as tribos, foi

necessário matar Abner, chefe do exército de Saul (2Sm 3,26) e também Isbaal9 filho

de Saul (2Sm 4,5). Os textos bíblicos nunca atribuem culpa a Davi sobre os

assassinatos que possibilitaram sua ascensão ao trono: Saul foi morto na luta contra

os filisteus. Davi lamentou sua morte (2Sm 1,11) e matou o assassino de Saul (2Sm

1,13-16). Abner: foi morto por Joab (chefe dos oficiais de Davi). Davi se declara

inocente (2Sm 3, 28). Isbaal: Foi morto por Recab e Baana. Davi os condena à morte

por terem matado Isbaal (2Sm 4, 9-12).

Apesar de ser considerado Rei Justo, Davi chega ao poder através de

assassinatos e conspirações, assim como acontecerá com Salomão. Essa é a

conseqüência de um sistema injusto.

É possível distinguir claramente dois momentos na vida de Davi. Na primeira

fase, Davi foi um líder popular solidário com os mais excluídos do seu tempo, depois

de ter sido músico, escudeiro e chefe militar de Saul (quando matou Golias, 1Sm

17).No segundo período, Davi lutou pelo poder, consolidando o seu reinado. E não foi

por acaso que houve resistência do povo enquanto ele foi rei sobre Judá e Israel.

3.1) MEDIDAS DE DAVI PARA CONSOLIDAR O PODER

Davi levou para Jerusalém a Arca de YHWH, centralizando-a na capital.

Fundou uma dinastia, tentando garantir o poder a seus descendentes. Adotou a

ideologia da filiação divina dos reis. Aumentou o contingente de soldados profissionais;

Organizou melhor a burocracia estatal, não só aumentando os chefes militares, mas

também os sacerdotes. Conquistou todos os povos da redondeza, exceto os fenícios.

9 O nome do filho de Saul, Isbaal, foi mudado para Is-Bosete. Isbaal significa homem de Baal e

Is-Bosete significa filho da vergonha. Certamente o nome original era Isbaal, porém, na época da redação evitava-se o nome Baal, então trocaram para Boset. Isto explica a diferença entre algumas traduções bíblica (2Sm 2,8).

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Quebrando, assim, o principio do exército de defesa para exército de ataque e

conquista. Quis construir um templo para YHWH, a exemplo dos deuses cananeus e

assim como já edificara um para si. Porém o profeta Natã se opôs (2Sm 7,1-7).

3.2) POR QUE DAVI NÃO ERA UM REI JUSTO?

Porque fez guerras, promoveu massacres, saques, tributação e trabalhos

forçados. Não marchava à frente do povo(1Sm 8,20 e 2Sm 11,1). Além de não ir às

guerras, abusava das mulheres dos soldados (2Sm 11, 2-27). Quando Davi estava se

aproximando do fim do seu mandato, isto é, quando estava próximo de sua morte,

aumentaram as intrigas palacianas. Muita coisa estava em jogo. Quem iria substituir o

rei de um grande império? Agora, vamos entender a sucessão de Davi para Salomão.

4) O REINADO DE SALOMÃO10 (970- 931 a.c)

O reinado de Salomão está descrito em 1Rs 3-11. Davi fundou uma dinastia,

portanto seu sucessor seria seu filho mais velho. No entanto, Amnon havia sido morto

por Absalão, seu irmão . Adonias foi o quarto filho e era o legítimo herdeiro do trono

de Davi. Salomão também era filho de Davi11, mas havia ainda 5 irmãos antes dele.

Porém, Ele tinha a pretensão de ser o rei no lugar de seu pai Davi. Então começou

uma rivalidade com o seu irmão Adonias. Destes dois candidatos ganharia quem

tivesse mais força política. E nisso Salomão foi vitorioso.

4.1) PRIMEIRAS MEDIDAS DE SALOMÃO PARA CONSOLIDAR SEU REINO

Primeiro ele manipula seu pai, Davi, e o coloca contra Adonias, a fim de ser

aclamado Rei (1Rs 1). Depois, matou Adonias, de quem tomou o legítimo direito ao

trono (1Rs 2,12-25). Mandou matar Joab, para substituir por outro chefe do exército.

Por ultimo, mandou matar Semei, que era do Clã de Saul, e havia estado contra

Davi.“Assim se consolidou a realeza nas mãos de Salomão”(1Rs 2,46).

Salomão aperfeiçoa o sistema tributário. Ele empreende grandes construções:

o Templo, seu palácio, palácio para a filha do faraó, fortalezas militares, cidades

armazéns, cidade portuária, etc. (Tudo com trabalho forçado: 1Rs 6, 27-ss). O

principio da Riqueza e luxo na corte do rei Salomão(1Rs 10,1-13.14-25).

10 Nasceu em Jerusalém, a capital do império ( 2 Sm 5,13-16). 11

A mãe de Salomão era Betsabeia( 1 rs 1,8) que era mulher do estrangeiro Urias, o hitita (2rs 11,3). Ela junto com Natã, manobra Davi para nomear Salomão como rei (1 rs 1,11-31).

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O Rei Salomão impôs um fardo muito pesado ao povo (1Rs 12, 1-5). Isso gerou

um descontentamento muito grande que dará início a uma revolta contra seu reinado.

O resultado será a divisão do Reino.

4.2) A NARRATIVA BÍBLICA DE SALOMÃO

4.3) O INÍCIO DO REINADO DE SALOMÃO (971 A.C.)

Salomão reinou depois da morte de Davi por 40 anos, contado seu ano de

ascensão. Conforme 1 Cr 29:1 Salomão era “ainda moço e tenro” quando começou a

governar. Teria 21 anos na ocasião do início de seu reinado. Três coisas chamam a

atenção sobre sua figura: sua conhecida sabedoria, o fato de haver construído o

Templo, e sua infidelidade a Deus, que terá como efeito a divisão do reino depois de

sua morte.

Alguns princípios que deveriam nortear a monarquia em Israel já haviam sido

editados como lei pelo próprio Moisés, conforme o capítulo 17 de Deuteronômio.

Foram, no entanto, sistematicamente negados ou esquecidos por quase a totalidade

dos reis, mas é na verdade no reinado de Salomão que se constata de certa forma a

sua mais abusiva negação. O próprio texto nos explica:

“Porém ele (o rei) não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito para multiplicar cavalos; pois o SENHOR vos tem dito: Nunca mais voltareis por este caminho. Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração não se desvie; nem prata nem ouro multiplicará muito para si.” (Dt 17:16-17)

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4.4) CONSTRUÇÃO DO TEMPLO12 (968 A.C. A 961 A.C.)

Como Deus houvesse negado a Davi (por haver sido um homem de guerras)

que ele construísse o Seu Templo, coube a Salomão fazê-lo. (2 Sm 7:12-13). De

acordo com 1 Rs 6:38, Salomão demorou 7 anos para concluir a obra.O Templo estará

em pé por 367 anos até que seja destruído por Nabucodonozor (2 Rs 25:8-9).

4.5) ESCOLHA DE JEROBOÃO (934 A.C.)

Salomão é um exemplo de que pouco vale a sabedoria sem submissão

espiritual. Governou Israel no auge de seu esplendor, gozando dos benefícios das

conquistas das fronteiras de Davi (2 Cr 9:26) que fizeram dos povos ao redor de Israel

pagadores de impostos com os quais Salomão pode empreender grandes obras.

Construiu o Templo, o palácio real, murou Jerusalém, construiu cidades armazéns,

navios (1 Rs 9:10-28), e fez propagar sua fama pelo mundo vindo a exceder a todos

os governantes de seu tempo (1 Rs 10:23).

De acordo com 1 Rs 4:32-33: “disse três mil provérbios, e foram os seus

cânticos mil e cinco. Também falou das árvores, desde o cedro que está no Líbano até

ao hissopo que nasce na parede; também falou dos animais e das aves, e dos répteis

e dos peixes”. Desfrutou, desta forma, da paz conquistada por seu pai e pode dedicar-

se a uma vida de cultura e prazeres.

Contrariando a Lei de Moisés (Dt 7:3-4) que proibia o casamento com mulheres

estrangeiras, casou-se com 700 mulheres e possuiu 300 concubinas (1 Rs 11:3) que

lhe fizeram inclinar para a idolatria, causa pela qual o reino de Israel veio a ser divido.

Vejamos a sentença de Deus contida em 1 Rs 11:11-13:

“Assim disse o Senhor a Salomão: Pois que houve isto em ti, que não guardaste a minha aliança e os meus estatutos que te mandei, certamente rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo. Todavia nos teus dias não o farei, por amor de Davi, teu pai; da mão de teu filho o rasgarei; Porém todo o reino não rasgarei; uma tribo darei a teu filho, por amor de meu servo Davi, e por amor a Jerusalém, que tenho escolhido.”

12

O Templo que Salomão construiu para o Deus de Israel, em Jerusalém, objetivava, sobretudo, guardar no seu recinto mais sagrado: o Santo dos Santos, a Arca da Aliança do Sinai, a qual continha os Dez Mandamentos enviados por Deus a Moisés, segundo relatado no Livro bíblico do Êxodo. Este templo foi chamado de Templo de Salomão ou 1º Templo de Jerusalém, uma vez que o mesmo foi destruído no ano 586 a.C., quando da invasão e conquista do Reino de Judá, pelo Império Neobabilônico. Neste episódio a Arca da Aliança desapareceu para sempre. O 2º Templo de Jerusalém começou a ser edificado no mesmo século VI a.C., após o Rei persa aquemênida Ciro, o Grande ter libertado os judeus de seu cativeiro na Babilônia. Entretanto este 2º Templo só foi aumentado e embelezado ao tempo do reinado de Herodes Magno (37 a 4 a.C.), por isso é também conhecido por Templo de Herodes, o qual foi incendiado pelas tropas romanas, chefiadas por Tito, filho o Imperador Vespasiano, e futuro Imperador de Roma, no verão do ano 70 d.C., quando a primeira revolta judaica contra Roma, na Judeia, já caminhava para a derrota dos judeus. O que restou deste 2º Templo, é hoje o local mais sagrado para o judaísmo: o Muro das Lamentações, que apoiava o Monte do Templo.

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Conforme podemos observar no estudo do reino de Jeroboão, a sentença

acima veio a ser pronunciada dois anos antes da morte de Salomão, ano que assinala

o início da contagem do tempo de reinado de Jeroboão, sem que ainda ele tivesse

sido empossado como rei.

Algumas das esposas de Salomão eram provavelmente israelitas, mas

nenhuma delas é mencionada. Naamá, uma amonita (2 Cr 12:13), filha de um dos

povos contra quem Davi combateu, veio a ser mãe de Roboão, sucessor de Salomão

e causador da divisão do reino de Israel.

4.6) MORTE DE SALOMÃO( 932 A.C.)

Salomão morreu no Anno Mundi 2964 com cerca de 61 anos de idade,

bastante jovem para os padrões de sua época. Foi sucedido por seu filho Roboão.

5) CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho analisamos as principais razões que levaram à ruptura da

sociedade tribal, dando origem à monarquia. Olhamos um pouco mais de perto o início

da monarquia sob Saul e como Davi organizou um verdadeiro império. Por fim,

descrevemos como Salomão levou adiante o projeto de seu pai, consolidando o

sistema tributário. Foi durante esse período histórico que nasceu a literatura bíblica, os

seus primeiros escritos, com textos que serviram de legitimação religiosa das novas

estruturas e outros, oriundos da resistência popular, que serviram para conscientizar

as pessoas no presente, lembrando o passado em vista de um novo futuro.

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6) BIBLIOGRAFIA

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HARRINGTON, Wilfrid J. “Chave para a Bíblia”. Coleção: Biblioteca de estudos

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Enciclopédia Ilustrada da Bíblia – Pat Alexander, Edições Paulinas 1987.

A Bíblia de Jerusalém (BJ) – Editora Paulus, 10ª impressão 2001.