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A PARTIR PEDRA http://a-partir-pedra.blogspot.pt/ Colectânea de textos Maçónicos Blogue sobre Maçonaria escrito por Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues ANO 2014 ANO 2014 (índices semestrais)

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A PARTIR PEDRA

http://a-partir-pedra.blogspot.pt/

Colectânea de textos Maçónicos

Blogue sobre Maçonaria escrito por Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues

ANO 2014ANO 2014(índices semestrais)

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Contents

2014: O Recomeço! 1

"Um olhar..." 4

Alinhamentos! 6

Entre uns e outros! 8

Confortavelmente no fio da navalha 10

Saber parar 15

O Mundo quadrado! 19

Oração de um Mestre a outros Mestres - II 22

Romãs e colmeia 26

Sol e Lua 30

Aquela Loja 33

No Title 37

Delta (I) 39

Delta (II) 44

No Title 49

O Vigésimo Terceiro Venerável Mestre 50

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Entre Colunas 55

O silêncio do Mestre 60

Harmonia 66

Prancha de proficiência 71

Lição de um Mestre ao seu Aprendiz - VI 75

Há quarenta anos, dia por dia... 79

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: os candidatos 84

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: o currículo docandidato Júlio Meirinhos

87

A minha Iniciação. Parte -1 94

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: o currículo docandidato José Manuel Pereira da Silva

97

A minha Iniciação. Parte -2 102

É hora de escrever … 105

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: manifesto docandidato Júlio Meirinhos

107

A minha Iniciação. Parte -3 116

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Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: manifesto docandidato José Manuel Pereira da Silva

120

O Silêncio e o Verbo! – Parte -1 130

O MUNDO DA CAROLINA 134

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: Entrevista aocandidato Júlio Meirinhos

138

O Silêncio e o Verbo! – Parte -2 148

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: Entrevista aocandidato José Manuel Pereira da Silva

151

O Silêncio e o Verbo! – Parte -3 181

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: um apelo e umvoto

184

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: Irmão JúlioMeirinhos Grão-Mestre eleito

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2014: O Recomeço!

January 01, 2014

Terminei o meu primeiro texto de 2013 assim:

Que todos consigam prescindir sem demasiado esforço dosupérfluo e preservar o verdadeiramente essencial. Que àquelesque já veem o essencial a ser atacado não falte a indispensávelsolidariedade que lhes permita resistir e ultrapassar a sua situação.Que àqueles que mantiverem o privilégio de manter barca que osproteja do furor destas vagas alterosas, que a tantos e cada vezmais fustiga, não lhes falte o sentido de solidariedade, apredisposição para ajudar, o ânimo para partilhar o que lhes sobracom quem está a necessitar.

Se assim for, então todos conseguiremos vir a ver o horizonte a clarear, encontrar novos caminhos desimpedidos, reconstruir o que se tiver perdido ou destruído. E a superação das dificuldades ter-nos-á tornado um pouco mais fortes, capazes e resistentes - em

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suma, melhores. Se assim for, apesar dos pesares, ao olhar paratrás poderemos dizer que as dificuldades afinal não nos impediramde conseguir ter o que a todos desejo: UM FELIZ ANO DE 2013!

Um ano volvido, precisamente no primeiro dia de 2014, apenascom a alteração do ano estas palavras permanecem válidas.

Não obstante, em Portugal e na Europa o estado de espíritomodifica-se subtilmente. As dificuldades continuam aí, aadversidade continua a necessitar de ser combatida eultrapassada, a solidariedade permanece indispensável, mascomeço a ver no olhar de todos aqueles com quem me cruzo umoutro brilho, no rosto uma resoluta determinação. Todos continuama enfrentar dificuldades, mas começa a parecer a muitos, senão atodos, que o pior está passado.

Não sei se o pior já passou efetivamente. Mas sei que cada um denós, com maior ou menor dificuldade, ajustou o seu nível de vida àspossibilidades de que dispunha e, por mais difícil ou doloroso queisso tenha sido, tal ajuste permitiu à maior parte - espero que atodos - encontrar alguma solidez no chão que pisa. Esse chão seráporventura menos agradável, mais rude, mais pedregosos do quese gostaria - mas, pelo menos, é sólido e já não nos sentimos aafundar.

A sensação de que o pior já passou advém, não de qualquer milagre ou fezada, mas do sentimento de cada um que - finalmente! -, depois de um período demasiado longo para o gosto de todos, em que nos sentíamos joguetes de forças e condições que não conseguíamos controlar e que nos impunham não sabíamos bem o quê, mas nada de bom, cada um de nós volta a estar em condições

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de gerir o seu destino, de escolher o seu caminho, de voltar a criare a construir.

Começamos a pôr a cabeça de fora dos abrigos em que nosrecolhemos no pior da borrasca e pensamos em mais do quemeramente resistir. Pensamos em voltar a construir. Começamos avoltar a olhar em frente.

Esta mudança de estado de espírito faz toda a diferença! Porque éimprescindível que cada um de nós reganhe, dentro de si próprio, anoção de que o seu destino é para ser traçado por si, não pelascircunstâncias ou por desconhecidos poderes. Porque o esforçoque foi necessário para resistir tornou-nos mais fortes. Porque,desejavelmente, aprendemos algumas lições e não repetiremos tãocedo alguns disparates.

Espero e desejo que este ano seja para todos um ano derecomeço, de reconstrução, de avanço, de progresso - e não jáapenas de resistência.

Se assim for, conseguiremos cumprir o meu desejo para todos: UMFELIZ 2014!

Rui Bandeira

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"Um olhar..."

January 08, 2014

No texto que aqui no blogue se publicou em memória do RuiClemente Lelé escreveu-se e aqui e agora reproduzo:

Também foi um amante da fotografia. Não do mero registo deimagens que a facilidade dos modernos telemóveis com câmarasde milhões de pixels possibilita, mas da fotografia a sério, buscandoimagens de qualidade e dignas de serem registadas em telas degrandes dimensões. Na última sessão de Grande Loja (nãosabíamos então que seria mesmo a sua última sessão de GrandeLoja!) efetuou uma exposição de várias fotografias suas assimregistadas em tela, todas de grande qualidade.

Essa exposição constituía um aperitivo de uma outra que o Rui,com o apoio de um obreiro da Loja Mestre Affonso Domingues,preparava para ter lugar no início de 2014.

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A sua inesperada Passagem ao Oriente Eterno impediu-o deultimar a mostra. Mas felizmente o essencial do trabalho estava jáfeito, a escolha das imagens a exibir estava quase ultimada e oque faltava pôde ser completado, com as informações da família edos amigos mais chegados.

O projeto que preparava pôde assim ser prosseguidopostumamente. Tenho, assim, o gosto de aqui divulgar que está jápatente na Biblioteca - Museu República e Resistência - EspaçoGrandella, sita na Estrada de Benfica, n.º 419, em Lisboa, aexposição "Um olhar...", exposição póstuma de fotografia de RuiClemente Lelé. Poderá ser visitada até ao dia 23 de janeiro, desegunda a sexta-feira, das 10 às 17,30 horas.

A exposição é organizada com o apoio da Associação MestreAffonso Domingues (da Loja Mestre Affonso Domingues, de queRui Clemente Lelé foi fundador e onde esteve durante a maior partedo tempo da sua atividade maçónica) e da Associação FernandoTeixeira (da Loja Fernando Teixeira, de que Rui Clemente Lelé foitambém fundador e seu primeiro Venerável Mestre e cujo quadrode obreiros integrava à data da sua Passagem ao Oriente Eterno).

A cerimónia de inauguração da exposição foi agendada para apróxima sexta-feira, dia 10 de janeiro, a partir das 18,30 horas.

A Associação Fernando Teixeira e a Associação Mestre AffonsoDomingues convidam todos os interessados, particularmente osIrmãos e os muitos amigos do Rui, a estarem presentes nestainauguração, simultaneamente uma homenagem e um preito deadmiração ao Rui Clemente Lelé.

Rui Bandeira

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Alinhamentos!

January 09, 2014

Há vários dias que sabia que seria o mestre, ainda que emexercício, da Coluna da Harmonia, na próxima sessão, algo quenada de novo tem, pois é função que já desempenhei enquantoOficial da Loja e sempre que me é solicitado por quem de direito,mesmo não sendo o titular da “pasta”.

Portanto, tudo normal, mais uma sessão, um novo plano dealinhamento e a “coisa” decorrerá sem problemas de maior, foi esteo meu pensamento conseguinte.

A verdade é que fiquei inquieto, diria mesmo um pouco nervoso,havendo algo que não consigo explicar por meras palavras e queme está a atormentar o juízo e a preocupar-me.

Visualizei mentalmente que músicas iria selecionar para este e paraaquele momento, afastando possibilidades, suposições e as váriashipóteses que existem para todos os momentos da sessão e fiqueiainda mais inquieto.

Já tive oportunidade de preparar alinhamentos musicais parasessões com enorme simbolismo, exemplo disso são as iniciações,aumentos de salários e elevações, cerimónias de lembrança,sessões conjuntas, um sem fim de escolhas musicais para todaselas, portanto todo este estado de espirito será impensável, mas éreal.

Ser mestre da Coluna da Harmonia da RLMAD, é algo peculiar, é algo difícil de transcrever em palavras, pois chega a ser um “lugar” isolado dos demais Ir:., no espaço físico do templo, e ao mesmo tempo estar perto de todos eles a cada acorde que se escolhe para cada momento da sessão, é ler nos olhares cruzados as notas que

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se fazem ouvir, é compreender que aquele som, aquela música, osconduz ao momento e local certo, ao seu templo interior, é fecharos olhos e ouvir a música, ouvir simplesmente, ouvir até por vezeso silêncio.

Que as minhas escolhas tenham a Sabedoria que espero, a Belezaque a adorne e a Força que a todos trará união.

Nada de nervos, a sessão decorrerá justa e perfeita, assim o GADUo irá permitir, os obreiros irão satisfeitos, pois o conjunto de todosos momentos que decoram a sessão tem apenas e só um nome,Maçonaria.

(artigo escrito durante a preparação do alinhamento musical para asessão de dia 08-01-6014)

Daniel Martins

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Entre uns e outros!

January 10, 2014

- Entre o que de mim dizem, entre o que de mim pensam, entre osque

me julgam sem saberem bem e sobre o quê, entre os que de mimnão gostam, entre os que das minhas dificuldades se glorificam,está a verdadeira razão da minha existência:

-AQUELES a quem eu AMO e que me retribuem de forma igual!

- Entre aqueles que acham que o melhor era o meu silêncio, entreaqueles que em todas as minhas ações só vem o que nãoconseguem fazer, entre aqueles que se preocupam mais com o quefaço e com o pouco que tenho, do que com aquilo que deviam defazer para poder ter mais ou o mesmo, está a verdadeira razão daminha persistência:

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- AQUELES que mesmo sem que eu tenha de pedir, me dão forçapara seguir em frente e continuar a caminhar, os meus AMIGOS!

- Entre aqueles que em todos os meus actos só vêm interessesocultos, entre aqueles que buscam permanentemente nos meusactos o reflexo negro e sujo das suas mentes pobres, entre aquelesque apenas se focam em desdizer e contrariar, por contrariar, o quede boa-fé partilho, entre aqueles que da inveja fazem seu alimento,está a verdadeira razão da minha caminhada e persistência:

- AQUELES que trilham o mesmo carreiro, aqueles que se sentemIGUAIS entre IGUAIS!

Alexandre T.

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Confortavelmente no fio da navalha

January 15, 2014

Quem costuma ler os escritos que aqui publico sabe que não é meuhábito escrever sobre acontecimentos internos da Loja MestreAffonso Domingues, para além dos balanços anuais dedicados acada um dos Veneráveis que se vão sucedendo à frente dosdestinos da Loja - e mesmo estes só depois de decorrido pelomenos um ano após o termo do mandato. Mas toda a regra temexceção e hoje apetece-me escrever algo a propósito da últimasessão da Loja Mestre Affonso Domingues.

Em parte do presente ano maçónico, e por razões cujo esclarecimento reservo para o texto que, daqui a um pouco mais de ano e meio, projeto elaborar sobre o presente veneralato, a Loja Mestre Affonso Domingues tem - consciente e assumidamente -

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vivido em estado de exceção, no que à sua liderança respeita. Nãose tratou de nada inesperado ou sequer imponderado. Pelocontrário, trata-se da resolução de um problema que foi em devidotempo colocado à consideração da Loja, pela forma que esta -repito, consciente e assumidamente - decidiu utilizar para superar asituação de exceção. A superação do problema mobilizou esforçosdos elementos mais antigos e necessita de uma maior atenção dosatuais Oficiais do Quadro, mas confirmou o que esperávamos:resultou num agradável reforço do espírito de corpo de toda a Loja,mediante a coletiva, coordenada e cooperada ultrapassagem dadificuldade.

A Loja Mestre Affonso Domingues, ao longo dos seus mais de vinteanos de existência, tem revelado como caraterísticas próprias osespeciais cuidados na qualidade da execução ritual e na formaçãode quadros, a par da manutenção de um quadro de obreiros quenormalmente não ultrapassa a centena de elementos, pois muitosdos quadros que ela forma vão depois dar origem a novas Lojas oureforçar os quadros de outras Lojas da Obediência. A Loja sente-semuito confortável com este seu papel: a manutenção de um númeromoderado de obreiros permite manter um elevado nível depersonalização nas relações entre os seus membros, potenciandoa criação e o fortalecimento de amizades; por outro lado, o papel de"fornecedora" de quadros para outras Lojas leva a que, ao longo dotempo, um grande e significativo número de Lojas da Obediênciatenham nos seus quadros elementos que passaram pela MestreAffonso Domingues e, não menos importantemente, a que seestabeleçam e frequentemente renovem as mais amistosasrelações entre a Loja Mestre Affonso Domingues e as demais Lojasda Obediência.

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É claro que a manutenção do equilíbrio entre os dois referidosvetores - qualidade de execução ritual e fornecimento de quadrospara outras Lojas - se revela por vezes delicada. É inevitável que,de cada vez que a Loja vê partir quadros formados eexperimentados, o nível da qualidade dos seus trabalhos seressinta, ao menos momentaneamente. Não é nada de especialnem a que a Loja não se tenha já habituado: os mais novosassumem as responsabilidades dos mais experientes que saíram;em vez de primeiro verem como se faz, a seguir experimentaremaqui e ali fazer e só depois começarem a assegurar aresponsabilidade do exercício titular de ofícios, são-lhes confiadasresponsabilidades mais cedo e eventuais erros são colmatados ecorrigidos com a ajuda dos mais experientes. E, afinal de contas,para gente bem preparada a formação em exercício acaba porpotenciar as capacidades... No decorrer deste sucessivo einfindável processo, a Loja consegue manter um muito razoávelnível de qualidade de funcionamento, ainda com a vantagem deconseguir dispor de vários elementos para as várias funções e deelementos polivalentes. Por exemplo, hoje a Loja Mestre AffonsoDomingues dispõe de, pelo menos, uma dezena de elementosaptos a, sem problemas, executarem, se necessário for sempreparação prévia, os ofícios de Mestre de Cerimónias ou deExperto, qualquer que seja o tipo de trabalhos previsto para asessão. E dispõe de, pelo menos, quatro obreiros aptos aassegurarem a Coluna da Harmonia, satisfatoriamente se tiveremde o fazer sem preparação prévia, muito agradavelmente sedispuserem de 24 horas de pré-aviso para prepararem umalinhamento musical mais pensado... E por aí fora, em todos osofícios necessários para o funcionamento da Loja.

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Sem embargo, este ano, após duas "sangrias" de obreiros para colaborarem em ou lançarem outros projetos na Obediência, estamos a trabalhar no fio da navalha, simultaneamente em situação de exceção quanto à liderança, com gente nova a ganhar experiência em ofícios e ultimando a preparação de novos quadros de forma a que estejam prontos para serem chamados à execução de ofícios quando ocorrer a próxima contribuição da Loja para o lançamento ou reforço de outros grupos na Obediência. E foi assim que demos connosco na situação de, na última sessão, irmos realizar uma das mais complexas e exigentes cerimónias maçónicas (que se recomenda tenha sempre a sua execução previamente ensaiada), uma cerimónia que, se bem feita, exige a compenetrada contribuição de toda a Loja, nos seguintes termos: liderança da sessão de recurso (embora assegurada por alguém muito experiente), um Quadro de Oficiais com elementos com poucos meses de experiência em funções rituais importantes e... sem possibilidade de preparação prévia em conjunto. Para culminar, que isto de nos lançarmos para fora de pé ou se faz com mar alteroso ou não tem piada nenhuma, esta complexa cerimónia iria ser realizada só na presença do Muito Respeitável Grão-Mestre, do Grande Diretor de Cerimónias, do Grande Capelão, de um Vice Grão-Mestre Provincial de uma Obediência estrangeira e de delegações ou visitantes de nada mais, nada menos, do que cinco outras Lojas da Obediência... Pois bem: se não era possível preparação em conjunto, cada um dos que iam assegurar ofícios tratou de se preparar individualmente para o que ia fazer (a esse propósito, releia-se, por exemplo, o

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texto Alinhamentos!, do Daniel Martins). E tudo correu bem! Direi mesmo que mais do que bem! Obriga-mea justiça a deixar aqui registado que tivemos uma sessão que emnada ficou atrás das melhores execuções rituais que, ao longo dosseus mais de vinte anos de existência, a Loja executou. Tudo sefez como devia ser feito! Cada elemento fez o que tinha a fazerpela forma como o devia fazer e o conjunto dos elementosfuncionou de forma coerente e harmoniosa, como se tivesseensaiado em conjunto até à exaustão. Até os imprevistos (e hásempre imprevistos, acreditem...) foram resolvidos rápida, eficientee, sobretudo, discretamente, de forma a que só os mais experientese habituados a olhares mais críticos se terão apercebido danecessidade de corrigir imprevistos... O que mais me impressionou foi que sei que alguns dos querealizaram um trabalho bem realizado são elementos novos, aindanão muito experientes e com uma grande margem de progressão àsua frente. O que me leva a admitir que, se a Loja não tiver de, acurto prazo, abrir mão destes quadros para outros projetos, a brevetrecho podemos superar-nos em qualidade, comparativamente aquaisquer outros períodos da Mestre Affonso Domingues. O que me dá o mote para outra questão - mas não hoje, antes paraa próxima semana, que este texto já vai longo. Rui Bandeira

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Saber parar

January 22, 2014

Um dos desafios mais difíceis para um homem ativo é saber parar.Uma das coisas mais descuradas por quem está habituado aassumir responsabilidades é a preparação para a cessação daassunção dessas mesmas responsabilidades. Quem estáhabituado a fazer tem tendência para alimentar a ilusão de que oseu contributo é imprescindível. Pessoalmente, procuro combateressa tendência lembrando-me frequentemente que o cemitério estácheio de insubstituíveis - e, no entanto, o mundo continua a girar, oSol continua a nascer todas as manhãs no Oriente e a pôr-se todasas tardes no Ocidente, o mundo e as sociedades prosseguemimperturbavelmente os seus destinos, apesar de osinsubstituíveis terem sido substituídos...

Este alerta mental é válido também para uma Loja maçónica. Uma das piores coisas que pode acontecer a uma Loja maçónica é

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haver elementos que, qualquer que seja ou tenha sido a sua valiaou importância, se considerem insubstituíveis, necessários,procurando exaustivamente influenciar ou determinar o que na Lojase decide, se projeta, se faz - como se nada se possa de jeito fazersem que o trigo seja cultivado na sua terra, a farinha moída em seumoinho e o pão cozido no seu forno - embora gostem que hajasemeadores para lançar o trigo à sua terra, moleiros para fazerfuncionar o seu moinho e padeiros para colocar o seu pão dentrodo seu forno e de lá o retirar... Uma Loja subordinada a quem nãoconsegue deixar de nela impor a sua vontade perdeinevitavelmente qualidade, capacidade de evolução, criatividade ecapacidade de execução.

É por estarmos alerta em relação a isso que o José Ruah e eu, jáem conversa de há cerca de três anos, assentámos em queteríamos de estar atentos ao momento em que fosse asadoirmo-nos discretamente afastando da influência nos destinos daLoja, de modo a não sufocarmos esta na sua evolução, deixandoque a nossa contribuição passada seja isso mesmo, Passado, efavorecendo a evolução futura nas mãos de gente tão ou mais bempreparada do que nós.

As circunstâncias têm feito com que, nos últimos três anos, a nossa intenção ainda não pudesse passar disso: num ano fui chamado a desempenhar funções no Quadro de Oficiais, no seguinte foi o Ruah, agora sou novamente eu. A contribuição de quadros da Mestre Affonso Domingues para outras Lojas obrigou a que não nos pudéssemos afastar sem auxiliar na reconstituição de uma massa crítica de Mestres, em número e qualidade suficientes para que a Loja não precise de nós coisíssima nenhuma. Mas estamos ambos atentos à chegada desse inevitável momento em que

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devemos iniciar o nosso processo de reforma - para não corrermoso risco de passarmos a ser peso onde antes procurámos ser motor.

Essa foi uma das razões pelas quais no final da última sessão, o Zée eu olhámos um para o outro com um ar de enorme satisfação -quais dois gatos gordos deitados em frente à lareira, lambendo osbeiços após lauta refeição. Claro que um dos motivos foi asatisfação de termos colaborado numa sessão da Lojaparticularmente bem sucedida, como referi no meu texto anterior.Mas também porque sentimos que o momento em que nos vamostornar desnecessários está iniludivelmente mais próximo. Não seráporventura já para amanhã (pelo menos até ao fim do ano eu tenhoofício a executar), mas a Loja está a atingir um nível comparávelaos seus melhores tempos, reconstituiu (e ainda não terminou oprocesso) o seu Quadro de Mestres e dispõe agora de umconfortável número de jovens e qualificados Mestres, tem ascolunas de Aprendizes e Companheiros preenchidas por gentecapaz e tem candidatos que bateram à porta e aguardam a sua vezde ser atendidos (alguns já há bastante tempo - não estãoesquecidos...). Se nada suceder em contrário, se o quadro deobreiros agora se mantiver estabilizado por, pelo menos, dois outrês anos, não tenho dúvidas de que não só o Zé e eu já nãofaremos falta nenhuma, como deveremos afastar-nos dos centrosde decisão da Loja, de forma a não pearmos a normal evoluçãodela com as nossas recordações de tempos passados. Aexperiência é benéfica, mas para enquadrar a força e o empenhoda juventude e a capacidade da maturidade, não para as subjugarou limitar...

Parece-me assim que se aproxima a passos largos o momento em que o Zé e eu deveremos de vez deixar o exercício de Ofícios no

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Quadro (enfim, uma vez por outra, para substituir alguém, se nãohouver mais ninguém disponível, pode ser - mas sem abusar...) e,sobretudo, guardarmos para nós as nossas apreciações, para quemais fluidamente se expressem as opiniões e mais livremente setomem as decisões pela nova geração da Loja. É esta a lei da vida.É assim que os grupos e as sociedades evoluem, cada geraçãoassumindo as rédeas no momento asado.

Então e finalmente o Zé e eu poderemos assumir total ecompletamente o nosso papel de Marretas, assistindo ao que sepassa do nosso camarote, caturrando sobre o que vemos ser feitoe resistindo a reconhecer que o que então estiver a ser feito é tãoou mais bem feito do que nós alguma vez fizemos...

Rui Bandeira

Subscrito por mim José Ruah

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O Mundo quadrado!

January 25, 2014

O Mundo quadrado!

(Fonte: Desconhecida, pesquisa em Google Imagens)

Por vezes esta é a forma como vejo o espaço onde vivemos!Por vezes esta é a forma como me sinto envolvido pela iMundiceem que diariaMente chafurdamos!

Por vezes, algumas vezes, de vez em quando!

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Será que o Mundo podia ser menos Quadrado, se fosse gerido eliderado por aqueles, que se dizem, “Eu estou preparado”? Será que seria melhor se tudo fosse mais Redondo e menosQuadrado? Será? Por vezes? Quadrado? Redondo? Será que não estamos a ser Quadrados ao tentar arRedondaraquilo que na verdade deve de ser Quadrado? Pois é, tantas questões e tão poucas ou nenhumas respostas, elogo num espaço onde se escreve sobre a Maçonaria Universal deuma forma tão brilhante e transparente. Não deve ser a Maçonaria um espaço de crescimento,aprendizagem e de construção de homens melhores e assim seremcapazes de a todo e qualquer instante dar respostas para tudo emais alguma coisa? - Se sim e se este é um espaço escrito por Maçons, como podeeste Maçon ter tantas questões e tão poucas, ou nenhumasrespostas? Por isso mesmo!

- Exactamente por isso mesmo é que o Maçon não se considera um Homem perfeito, o Maçon é um Homem que trabalha

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diariamente no caminho da perfeição!

- Exactamente por isso mesmo é que existem tantas e tantas outrasquestões, sem uma resposta concreta e definida, porque o Maçonsabe que é através deste processo de se questionar, que vai serlevado a encontrar as respostas a todas as suas e mais algumasquestões!

- Exactamente por isso mesmo é que o Maçon é, e afirma-se ser,um Homem Livre e de Bons Costumes, porque quando sequestiona e busca respostas, fá-lo no uso total da Liberdade dePensamento e em Plena Consciência, nunca no entanto quebrandoa regra, de o fazer, de acordo com os Bons e Antigos Usos eCostumes!

-Exactamente por isso mesmo é que o Maçon não se afirma comoMaçon mas é-o Reconhecido como tal, pelos seus iguais (Irmãos)!

- Exactamente por isso mesmo é que hoje vos deixo com todasestas questões e sem respostas, para que, se assim o entenderem,possam também procurar, um pouco mais, por vós próprios sobre oque é ser Maçon!

Exactamente por isso mesmo, hoje, termino este meu texto!Disse!

Alexandre T.

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Oração de um Mestre a outros Mestres - II

January 29, 2014

Novos Mestres:

Eis-vos finalmente na Câmara do Meio. Eis-vos merecidamenterevestidos da plenitude de todos os direitos de Mestres Maçons.Eis-vos igualmente onerados com a totalidade dos deveres deMestres Maçons.

Estais na Câmara do Meio iguais entre iguais. Cada um de vós não é menos, não vale menos, do que eu ou qualquer outro Mestre

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Maçom presente nesta sala – quaisquer que sejam os ofícios poralguns exercidos, quaisquer que sejam as dignidades a algunsoutorgadas. Cada um de vós não é mais do que eu ou qualqueroutro Mestre Maçom presente nesta sala – quaisquer que sejam osvossos méritos, os vossos títulos académicos ou posiçõesprofanas. Cada um de vós é exatamente igual a mim e a qualqueroutro Mestre Maçom presente nesta sala – iguais entre iguais nanossa comum pequenez perante o Grande Arquiteto do Universo,perante a nossa comum ignorância do sentido da vida e daexistência, perante o nosso comum desejo de ser melhor, sabermais, fazer bem, viver plenamente.

Tendes exatamente os mesmos direitos que cada um dos outrosMestres Maçons presentes nesta sala – e que, afinal, se resumemao direito de transmitir aos demais as opiniões e os entendimentosde cada um, ao direito de cooperar na tomada das deliberaçõesque hajam de ser tomadas e ao direito de participarorganizadamente na administração da Loja.

Recaem sobre vós exatamente os mesmos deveres que recaem sobre cada um dos outros Mestres Maçons presentes nesta sala – todos os deveres inerentes a um homem de honra e de bons costumes, fiel à sua palavra e aos seus compromissos, mais os deveres resultantes do nosso comum compromisso de nos aperfeiçoarmos permanentemente, acrescidos da especial responsabilidade assumida pelos Mestres Maçons: a partir de agora, não sois responsáveis apenas por vós próprios e pela vossa própria melhoria; a partir de agora sois responsáveis também por todos os Aprendizes e Companheiros desta Loja. Responsáveis por os auxiliar na sua jornada, responsáveis pela preparação e evolução de cada um como todos nós nos responsabilizámos pela

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vossa preparação e evolução. Responsáveis por iguais que um diatambém acederão a esta Câmara do Meio no exato mesmoestatuto de que agora vós, como todos os demais Mestres Maçonspresentes nesta sala, dispondes.

Compreendeis agora, se não vos tínheis já apercebido antes, que adureza dos Mestres na apreciação dos vossos trabalhos não era vãexigência, estulto apoucamento ou deslocada manifestação deinexistente superioridade. A nossa meticulosidade no apontar dosmais ínfimos detalhes negativos dos vossos trabalhos, tantas vezesmostrando-os piores e mais significativos do que realmente eram, onosso hábito de temperar os quantas vezes parcos elogios aoresultado do vosso esforço com a referência ao que podia sermelhor, não se destinaram nunca a desmerecer do vosso trabalhoou alardear inexistentes superioridades. Foram, como tudo o queritualmente em Loja se processou ao longo de todo o tempo davossa formação, simples meios, ferramentas, de vos incutir algoque deveis considerar absolutamente inerente à condição deMestre Maçom: uma absoluta e permanente exigência da melhorqualidade possível em tudo o que somos e fazemos, uma absolutaaspiração à maior aproximação que nos for possível da perfeição.

O vosso percurso teve de ser longo e duro, porque culmina na vossa presente situação de iguais entre iguais, com a inerente consequência de que o direito de vos julgar e de julgar as vossas ações passou a ser em primeiro lugar atribuído aos mais severos dos julgadores: vós próprios! A nossa aparente severidade nunca foi, pois, mais do que mera preparação para a mais rigorosa severidade na vossa apreciação e na apreciação dos vossos atos, a indeclinável e inabalável severidade que um homem de bem, livre e de bons costumes, devidamente preparado e completamente

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consciente de si próprio deve devotar à sua autoapreciação, comomeio de ser e tornar-se sempre, dia a dia, momento a momento,melhor, cada vez melhor, cada vez um poucochinho menos longeda inatingível meta da perfeição.

De vós a Loja pede sempre o mesmo: aquilo que cada um de vós,em cada momento, puder dar. Cada um de vós retirará e receberáda Loja sempre o que lhe aprouver do que a Loja tem. E todossabemos que a Loja só tem aquilo que nós lhe dermos, pelo que,quanto mais todos lhe dermos, mais poderemos tirar.

Meus Irmãos Mestres Maçons, hoje festejai. A partir de amanhãreiniciai o vosso trabalho, reempunhai as vossas ferramentas,senhores do vosso trabalho, do vosso caminho, da vossa criação.Confiamos todos em que, como até aqui, sereis dignos de vóspróprios e das vossas ferramentas até ao momento em quefinalmente vos autorizardes a vós mesmos a pousá-las, quandoverificardes ter chegado a vossa meia-noite.

Meus Irmãos no vosso grau de Mestres Maçons e na vossainsuperável qualidade de homens livres e de bons costumes,bem-vindos ao vosso lugar, bem-vindos aonde sentíamos a vossafalta, bem-vindos a esta Câmara do Meio!

Rui Bandeira

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Romãs e colmeia

February 05, 2014

Normalmente colocadas sobre os capitéis das duas colunas quemarcam a entrada do Templo - do espaço onde ocorre uma sessãoritual maçónica - estão seis romãs, três sobre cada um dos capitéis.

Este número já é uma simplificação. O Templo de Salomão (que muitos dos símbolos maçónicos evocam) teria representadas, sobre as suas colunas de entrada nada mais, nada menos do que quatrocentas romãs! Com efeito, pode ler-se no segundo livro dos Reis, capítulo 7, versículos 18 a 20: "Fez também romãs em duas fileiras por cima de uma das obras de rede para cobrir o capitel no alto da coluna; o mesmo fez com o outro capitel. Os capitéis que estavam no alto das colunas eram de obra de lírios, como na Sala do Trono, e de quatro côvados. Perto do bojo, próximo à obra de rede, os capitéis que estavam no alto das duas colunas tinham

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duzentas romãs, dispostas em fileiras em redor, sobre um e outrocapitel."

E, no segundo livro de Crónicas, capítulo 4, versículo 13,encontramos: "Há quatrocentas romãs para as duas redes, isto é,duas fileiras de romãs para cada rede, para cobrirem os dois globosdos capitéis que estavam no alto da coluna."

Para além da representação simbólica de elemento decorativo doTemplo de Salomão, as romãs simbolizam a união entre osmaçons, a igualdade essencial de todos combinada com aindividualidade de cada um.

A observação do fruto elucida-nos rapidamente da razão de serdestas representações simbólicas. Uma romã tem uma casca durae resistente, que representa o espaço físico da Loja: uma e outroabrigam as infrutescências (os obreiros), mantendo-os a coberto deelementos exteriores (pragas; profanos). As infrutescências (as"sementes", "bagas" ou "grãos") representam os obreiros da Loja.Tal como as infrutescências da romã são todas diferentes umasdas outras, havendo leves variações de formato e de tamanho,também os obreiros de uma Loja mantêm a sua individualidadeprópria. Mas, se comermos as infrutescências da romã, verificamosque todas elas têm exatamente o mesmo sabor, o mesmo grau dedoçura em função do amadurecimento do fruto, independentementeda forma e do tamanho delas.

Assim também os obreiros de uma Loja, pese embora as inevitáveis diferenças decorrentes da sua individualidade, estão

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unidos na mesma essencial igualdade.

Tal como as bagas de uma romã estão unidas por uma pelebranca, que torna difícil e trabalhoso a sua separação, assimtambém os obreiros de uma Loja se unem por laços defraternidade, auxiliando-se mutuamente nas adversidades,cooperando nos seus estudos ou projetos.

Os grãos da romã estão firmemente unidos e apertados uns contraos outros. Se abstrairmos da cor granada (romã em castelhano),assemelham-se a um favo de mel, lembrando as abelhas, que, talcomo os maçons, trabalham incessantemente, aquelas colhendo onéctar nos campos para fabricar o mel, estes recolhendo da Loja ede seus Irmãos os ensinamentos, os exemplos, que lhes são úteispara o sempre desejado aperfeiçoamento pessoal.

Enquanto que na Maçonaria latina e no Rito Escocês Antigo eAceite se utiliza a simbologia da romã, ela não é usada naMaçonaria anglossaxónica, no Rito de York ou no Ritual deEmulação. Estes, pelo contrário, utilizam o símbolo da colmeia.

Uns e outros procuram enfatizar o mesmo: a união entre osmaçons. Mas uns fazem-no com recurso à romã, outros através dacolmeia.

A meu ver, esta diferença é essencialmente cultural. A sociedadelatina, mediterrânica é essencialmente gregária. O gregarismomeridional acentua a importância do estar junto, sendo essa uniãoque gera a força grupal que protege o indivíduo e potencia as suascapacidades. Já as sociedades anglossaxónicas e nórdicasprivilegiam a iniciativa, a ação e, assim, enfatizam a organização dacolmeia como forma de potenciar as capacidades de cada abelhapara o bem comum.

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Os símbolos maçónicos não nascem do nada e não sãointerpretados no limbo. Resultam das sociedades onde os maçonsse inserem. Esta diferenciação é exemplo disso, na minha ótica.

Rui Bandeira

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Sol e Lua

February 12, 2014

Na parede (ou junto ou perto desta) do lado oposto à entrada doespaço de reunião de uma Loja maçónica são visíveisrepresentações do Sol e da Lua, aquele do lado direito de quementra, esta do lado oposto.

O Sol, estrela sem a qual não seria possível a existência de vida nonosso planeta, desde a mais remota Antiguidade que foi associadapela Humanidade à Vida, à Criação. As religiões primitivasdivinizavam o Sol. O mesmo se verificou no Egito, na Suméria enoutras regiões das civilizações da Idade do Bronze esubsequentes, prévias às mais elaboradas crenças greco-romanase ao Monoteísmo.

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O Sol sempre foi associado ao princípio ativo, ao masculino, aopoder criador.

Por outro lado, a Lua é associada ao princípio passivo, ao feminino,à fecundidade.

A colocação destes símbolos no espaço das reuniões maçónicasnão tem nada a ver com crenças pagãs ou religiosidades primitivas,mas insere-se na mesma linha da simbologia do pavimentomosaico: a chamada da atenção para a dualidade,especificamente, no caso, para a polaridade.

O Sol e a Lua simbolizam o dia e a noite, a luz direta e a luz reflexa,a ação e a reflexão, o trabalho ou atividade e o descanso, odinâmico e o estático, a crueza da forte luz solar e a placidez dasuave luz lunar, a ação e a reação. São símbolos que nosrecordam que nada é tão simples e direto como possa parecer áprimeira vista, que a aparência exterior que brilha como a luz solarencobre a natureza interior que se vislumbra como a pálida luz daLua.

Os dois símbolos recordam-nos que há tempo de agir e tempo derefletir. Há tempo de fazer e tempo de descansar. Há tempo deaprender e tempo de ensinar. Há ação e contemplação. Há dia e hánoite. Há verso e há reverso. Todas estas dualidades integram aRealidade, afinal constituem a Realidade.

O Sol e a Lua dão-nos a noção do dinamismo da Vida, da Criação, do Real, da interação entre duas polaridades que se atraem e que se repelem, que mutuamente se influenciam. Dois princípios, duas forças, dois elementos, dois fatores, que ambos existem, ambos são reais, mas ambos são incompletos, completando-se apenas mediante a sua mútua influência. Tal como já o Pavimento Mosaico perspetivara, a Criação, a Vida, o Real, não são estáticos, não são

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simples, não são básicos. São dinâmicos, são complexos, sãoevolutivos.

Ao meditar sobre a relação entre estes dois símbolos, o maçomdeve adquirir a noção de que se não deve limitar a um único aspetoda realidade, a um único tema de estudos. A espiritualidade éimportante, mas não menos importante é a materialidade. Espírito ematéria não se opõem - completam-se. Tal como o Sol e a Lua nãose digladiam, repartem entre si o dia e a noite. E um dia completo,um ciclo de vinte e quatro horas, compõe-se de dia e de noite, doreino do Sol e do tempo da Lua. Assim também o Homem completonão dedica apenas a sua atenção aos assuntos do espírito,também se dedica aos negócios da vida real e quotidiana, material.Tão incompleto é aquele que apenas se importa com o material, odinheiro, o poder social, o ter, ignorando a vida espiritual, oaperfeiçoamento moral, o interior de si mesmo, o ser, comoaqueloutro que navega nas regiões etéreas do esoterismo,ignorando, ou fazendo por ignorar, que a Vida é esforço e trabalhoe pó e carne e esforço e ação e construção.

O Sol e a Lua simbolizam opostos, mas opostos que mutuamentese influenciam e se completam. Assim deve o maçom gerir a suavida: estudar mas também aplicar, contemplar sem deixar detrabalhar, imaginar mas também executar, fazer e descansar, ter oque necessita para Ser, mas Ser sempre acima do mero Ter.

Rui Bandeira

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Aquela Loja

February 19, 2014

Aquela Loja tinha um problema para resolver. Não era um problemainesperado. Não era um problema que não se tivesse antecipado.Mas tinha de se resolver rapidamente e bem.

Aquela Loja tinha Mestres habituados a manifestar as suasopiniões com seriedade, a ouvir as opiniões dos demais comatenção e, sobretudo, a analisar com serenidade propostasdiferentes, ou mesmo divergentes, cada um ciente de que aposição diferente da sua não é um obstáculo a abater ou a vencer,é um complemento a integrar, de forma a que o resultado final sejaa melhor solução viável e possível.

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Aquela Loja, nessa noite, preferia uma solução que não se revelavaviável. Procurou então alternativas viáveis e perfilaram-se duas.Ambas possíveis. Ambas aptas a que se atingissem os objetivospretendidos. Escolher-se-ia uma ou outra. Mas o problema era quenão se tratava de escolher entre o bom e o mau, o certo e o errado,o forte e o fraco. Havia que escolher entre dois bons, procurandodescortinar qual deles viria a ser melhor.

Aquela Loja tinha uma escolha difícil a fazer. Porque entre duasboas hipóteses, não lhe agradava preterir uma. Sobretudo isso.

Aquela Loja fez então o que sempre soube fazer bem: cada um deua sua opinião, expôs prós e contras, explorou hipóteses. Semcriticar as análises efetuadas ou hipóteses colocadas pelos queanteriormente tinham exposto os seus pontos de vista. Ninguémqueria ganhar, ninguém queria impor a sua preferência. Todos ecada um procuravam a melhor solução.

Aquela Loja sabia que, se nada de novo surgisse, acabaria por terde escolher entre as duas alternativas viáveis. Sem vencedoresnem vencidos. sem azedumes. Simplesmente uma alternativa seriaescolhida e a outra preterida porque assim teria de ser e o que temde ser tem muita força.

Aquela Loja, quase na hora de ter que decidir viu de repentealguém apontar uma terceira solução. Uma solução que adesobrigava de escolher entre um bem e outro bem. Uma soluçãoque também era boa. Uma solução que resolvia o problema acontento. Uma solução que estava, afinal, à vista de toda a gente,só era preciso olhar para ela...

Aquela Loja em menos tempo do que demoro a escrever esta frase decidiu o que tinha a fazer. Em menos de um ai o ar ficou mais leve, as posturas descontraídas. Alguém se encarregou de resumir

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o que resultara do debate e expor as várias soluções possíveis. Atomada de decisão foi uma mera formalidade: o consenso foraatingido. Com o contributo de todos.

Aquela Loja resolveu em menos de uma hora um problema que eraimportante, porque todos cooperaram para que surgisse a solução. Assim, o todo pôde ser melhor e mais eficaz do que a soma daspartes. A vontade coletiva não resultou da vitória de uma vontadeindividual sobre outra. A vontade coletiva surgiu e facilmente setornou consensual porque ninguém queria "ganhar" e todosprocuravam resolver, em conjunto, um problema.

Aquela Loja debateu o problema em sessão aberta com a presençade Aprendizes e Companheiros. Não reservou para a Câmara doMeio o debate apenas entre os Mestres. Porque naquela Loja nãose tem receio algum em que os que mais recentemente se lhejuntaram, os Aprendizes e Companheiros, vejam que os Mestrestêm opiniões diferentes e que não há nada de especial nisso. Háapenas que conciliar diferenças quando se puderem conciliar, fazerescolhas quando for necessário, encontrar alternativas quesuperem divergências sempre que possível. E depois todo o gruposente a satisfação de um trabalho bem feito, de uma missão bemcumprida.

Aquela Loja criou uma cultura. Uma cultura de debate sempre queo debate é preciso. De diálogo em todas as ocasiões. Decooperação na superação de divergências ou diferenças. Sempreabertamente, sempre frente a frente, sempre olhos nos olhos. E,decidido o que se tem de decidir, depois brinca-se, convive-se,come-se e bebe-se. E cada problema que é assim resolvido tornamais fácil a resolução do problema seguinte.

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Aquela Loja procura integrar muito bem os novos elementos eportanto não lhes esconde nada. Os novos assistem à forma comoos mais antigos e experientes debatem, escolhem, superamdiferenças, cooperam, decidem, resolvem os problemas. E quandochega a hora de cada um dos mais novos assumir aresponsabilidade de decidir, já sabe como ali se faz. Já viu, ao vivoe a cores, como cooperar é mais profícuo do que procurar "ganhar".Como cada um pode e deve exprimir a sua ideia, o seu sentir, emrelação a todas as questões, porque todas as opiniões sãoimportantes e todas contribuem para a formação da decisão dogrupo. Como todos claramente ficam a saber em quecircunstâncias cada decisão é tomada, que pressupostos asustentam, que razões a fundamentam.

Aquela Loja funciona assim há mais de vinte anos. Não sabefuncionar de outra maneira. Não quer funcionar de outra maneira.Sente-se muito bem a ser como é.

Aquela Loja é a minha Mestre Affonso Domingues e é por ela sercomo é que eu não quero nem perspetivo alguma vez ser obreirode outra Loja que não ela.

Rui Bandeira

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No Title

February 19, 2014

Já não posto nada neste blog há demasiado tempo... Lembrei-me de publicar algo que merece ser recordado, naturalmente desprovido de qualquer conotação politica que lhe possam querer dar. Eu posto unicamente as palavras do Poeta: É preciso avisar toda a gente dar notícia informar prevenir que por cada flor estrangulada há milhões de sementes a florir É preciso avisar toda a gente segredar a palavra e a senha engrossando a verdade corrente duma força que nada detenha

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É preciso avisar toda a gente que há fogo no meio da floresta e que os mortos apontam em frente o caminho da esperança que resta É preciso avisar toda a gente transmitindo este morse de dores É preciso imperioso e urgente mais flores mais flores mais flores João Apolinário (poeta português falecido a 22 de Outubro de1988)

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Delta (I)

February 26, 2014

Entre as representações do Sol e da Lua, ao centro da parede (ouperto ou junto dela) do lado oposto à entrada do espaço de reuniãode uma Loja maçónica encontra-se um símbolo designado porDelta.

É frequente, mas errada, a referência e a representação do Deltacomo um triângulo equilátero. A representação correta do símbolo éum triângulo isósceles, em que a base é maior do que os doisoutros lados, iguais entre si, de forma a que o ângulo do topo dotriângulo tenha 108 º e cada um dos ângulos da base 36 º.

Com estas medidas de ângulos internos, trata-se de um triângulo obtusângulo áureo, isto é, um triângulo isósceles em que a razão (o resultado da divisão) entre a base e um dos lados iguais corresponde ao número de ouro, ou Phi (F), correspondente a 1 + √ 5 /2, ou seja, 1,618033989..., a razão ínsita na famosa sequência de Fibonacci, a tradução numérica da Proporção Divina, encontrada em inúmeros exemplos na Natureza, reproduzida pelo Homem em inúmeros monumentos e obras de arte, e que

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genericamente integra o que consideramos belo, harmonioso.

O Delta, com a indicada medida nos seus ângulos e, assim, aProporção Divina nas dimensões dos lados do triângulo, resulta daconstrução da Estrela Pentagonal ou Pentagrama, formageométrica já utilizada pelos pitagóricos e também adotada comosímbolo pela Maçonaria.

Com efeito, o Pentagrama constrói-se a partir de um pentágonoregular:

Se atentarmos no triângulo assinalado, cuja base é a linha A-C e oângulo superior (invertido na figura) de 108 º, verificamos ter aexata forma de um Delta. Como um Delta é o triângulo A-B-E (e oB-C-D, e o C-D-E, e o A-D-E), como mais claramente resulta destaimagem:

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O Delta pode ser representado de forma simples ou na formausualmente designada por Delta Flamejante ou Delta Luminoso,com raios irradiando do triângulo, o qual, por sua vez, pode ou nãoestar inscrito numa nuvem.

O Delta pode ser representado na sua forma simples, com o interiordo triângulo vazio, ou com o interior preenchido pela letra "G"(como na figura que encima este texto), por um "olho que tudo vê"ou mesmo pela representação da letra hebraica iod, seja na suaforma hebraica abaixo indicada, seja na sua transliteração latina(como pode ver-se na imagem que ilustra o texto Sol e Lua.

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Pode ainda o interior do delta conter o tetragrama hebraico lidocomo Jeovah ou Yaveh:

Em suma, o símbolo do Delta é essencialmente um triânguloisósceles com as dimensões resultantes da Proporção Dourada(embora, por vezes, e até com alguma frequência, erradamenterepresentado por um triângulo equilátero). Acessoriamente a essetriângulo podem existir adornos ou representações diversas.

Esta multiplicidade de representações do mesmo símbolo tem a vercom o respetivo significado e as diferentes representações queinscreve nos diversos imaginários humanos. Veremos isso nopróximo texto.

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Rui Bandeira

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Delta (II)

March 05, 2014

No texto anterior, procurei explicar e ilustrar a forma do símboloDelta e as várias variantes que podem existir. É agora a altura deme referir ao significado desse símbolo.

O Delta, sendo um triângulo com dimensões respeitando aProporção de Ouro ou Divina, procura ser um símbolo que espelhaa Harmonia e a Beleza. O símbolo triangular (independentementeda forma) desde tempos imemoriais que é associado ao significadode Força em expansão. Muitas vezes iluminado - e com expressachamada de atenção aos presentes para que os seus olhos sevoltem para a Luz... -, o Delta é associado à verdadeira Sapiência,ou Sabedoria, à Verdadeira Luz.

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Este singelo símbolo, afinal apenas três segmentos de reta que sejuntam de determinada forma, apela assim ao conjunto da trilogiamaçónica por excelência: Sabedoria - Força - Beleza.Desenvolvendo, temos que Sabedoria, Força e Beleza sãocaraterísticas necessariamente presentes na Perfeição. Com efeito,só existe Perfeição se estiverem presentes a Sabedoria, a Força ea Beleza. A falta de qualquer destas caraterísticas impede que seconsidere o que quer que seja como perfeito. A Perfeição é, todos osabemos, uma caraterística que, embora desejada, emboraapreciada, não é inerente ao ser humano. O ser humano podeaspirar à perfeição, pode tentar aproximar-se dela o mais possível,mas - lá está! - o máximo que consegue é aproximar-se, nunca láchegar. A Perfeição é caraterística imanente a algo superior aoHomem, que existe noutro plano, enfim, àquilo que os vários povose seres, cada um à sua maneira e segundo a sua cultura, referempor Divindade. Só a Divindade é Perfeita, por definição.

O Delta, evocando a Sabedoria, Força e Beleza e, por via delas, aPerfeição, simboliza, assim, a Divindade, o Poder ou ForçaCriadora. A conceção dessa Divindade, das suas caraterísticas, decomo é designada, deixa a maçonaria à liberdade, ao juízo e àcrença de cada um. Por isso, essa entidade comummente evocadapor todos, mas cada um à sua maneira e segundo as suasconceções, é designado pelos maçons de Grande Arquiteto doUniverso. Depois, cada um designá-Lo-á pelo que entender, sejaDeus, seja Jeovah ou Javeh, seja Allah, seja Vishnu, seja Universo,seja Natureza, seja, enfim, o que cada um e a sua culturaentenderem. Isso é com cada qual.

O Grande Arquiteto do Universo NÃO É uma "divindade maçónica" nem o produto ou designação decorrente de qualquer sincretismo

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religioso. O Grande Arquiteto do Universo é apenas e tão só adesignação encontrada como máximo denominador comum, comoponto de confluência de todas as crenças, culturas e conceções,para referir a entidade criadora, ou superior (ao plano humano ematerial), em que cada um creia, consoante a sua fé ou conceção.

Porque as conceções religiosas podem ser as mais diversas,díspares, mas todas são igualmente respeitáveis, porque a crençade cada um é inerente à sua própria identidade e modo de estar navida e no mundo, não sendo lícito respeitar mais umas do queoutras, os maçons buscaram uma designação que, ligada à suatradição da Arte da Construção, pudesse ser utilizada por todos,cada um mencionando como tal a sua particular conceção edesignação da Divindade da sua crença particular.

O Grande Arquiteto do Universo não é "adorado" ou "venerado" emLoja maçónica. A adoração ou veneração da divindade do culto decada um é matéria que só a cada um diz respeito, pela forma e noslocais que a crença de cada um determine ou aceite. O GrandeArquiteto do Universo é, por sua vez, apenas um símbolo, osímbolo comum do ponto de encontro de todas as crenças econceções de todos os maçons, permitindo a todos e cada ummanterem a sua crença e a sua individualidade independentementedas diferenças que porventura haja em relação às crenças dosdemais. Assim, os maçons não "adoram" ou "veneram" o GrandeArquiteto do Universo, limitam-se a trabalhar à sua Glória, isto é,cada um procurando honrar a sua própria divindade segundo a suaindividual crença ou conceção.

O Delta não é uma representação do Grande Arquiteto do Universo, pela simples razão de que o Grande Arquiteto do Universo é uma abstração criada pelos maçons para harmonizarem

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o respeito de todos pelas diferentes crenças e conceções de cadaum. Aliás, para algumas conceções religiosas não é, sequer,aceitável, pretender representar-se a sua Divindade...

O Delta é assim um símbolo das caraterísticas comuns imanentes àPerfeição e, por consequência à conceção da divindade de cadaum. O Delta não é o símbolo imediato do GADU. É, quando muito,um símbolo mediato: simboliza, evoca, lembra, as caraterísticas daPerfeição e, assim, por essa via e só por essa via, remetendomediatamente para a divindade de cada um e, logo, para o pontode encontro de todos, por todos designado, por conveniênciacomum, de Grande Arquiteto do Universo.

Porque o Delta é assim um símbolo que lembra algo que remetepara algo que significa Algo, simultaneamente diferente e comum atodos, não admira que haja variantes na sua representação. Daí osraios de Luz do Delta Radiante, ou a inserção do iod ou dotetragrama, ou ainda da autêntica apropriação maçónica de umsímbolo cristão que é o "olho que tudo vê". Daí também a opção,muitas vezes também presente, da inscrição, no interior dotriângulo, da letra "G", de Geometria=Maçonaria=Arquitetura (verG...de Maçonaria e Maçonaria=Geometria=Arquitetura), comoforma de unificar por mais uma abstração as diversas referênciasindividuais.

Mas, para mim, a melhor forma de utilizar o símbolo é a mais simples, portanto a que mais permite incluir a cada um: o triângulo isósceles com o ângulo superior a 108 º e os outros dois a 36 º cada um, sem mais nada dentro e sem mais nada fora. Cada um põe, na sua mente e na sua conceção, o que entender por bem acrescentar e ninguém terá nada a ver com isso. O símbolo mais "despido", mais simples, mais singelo, tem a virtualidade de ser

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aquilo que deve ser: o mais abrangente possível.

Rui Bandeira

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O Vigésimo Terceiro Venerável Mestre

March 12, 2014

Foi eleito para o exercício do ofício de Venerável Mestre em julhode 2012. Foi instalado na Cadeira de Salomão no início do anomaçónico de 2012/2013, para exercer o ofício até à instalação doseu sucessor, prevista para ocorrer no início do ano maçónicosubsequente.

Sucedeu ao Venerável Mestre que aqui referi ter sido, na Loja, "talvez o maçom que mais bem preparado foi e estava para assumir o ofício de dirigir a Loja quando tal lho foi solicitado pelo conjunto dos obreiros" e cujo "mandato começou bem, prosseguiu

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agradável e terminou melhor. Elevou muito a fasquia para os seus sucessores". Rui S., o Vigésimo Terceiro Venerável Mestre, não tinha, assim, tarefa fácil - e tinha consciência disso. As suas caraterísticas pessoais eram diferentes das do seu antecessor. Onde este era organizado, Rui era espontâneo. A um cultor da organização e da programação, sucedeu um afável e gregário gestor de iniciativas que privilegiava o momento, a integração do inesperado. Nuno L. organizara a Loja com rigor. Rui S., com a noção de que o trabalho de organização estava feito, no essencial, procurou catalisar a Loja para as organizações. Com a casa arrumada, entendeu ser o momento de a Loja organizar iniciativas abertas ao exterior. Estimulou a realização de eventos sob a égide da pessoa coletiva que confere personalidade jurídica à Loja, a Associação Mestre Affonso Domingues, seja em organização própria, seja em colaboração com terceiros. Duas vertentes distintas marcaram essas realizações. Por um lado, atividades sociais envolvendo os obreiros da Loja e suas famílias, no reforço dos laços entre todos. Foi o caso, por exemplo, de uma visita programada e guiada a Palmela, de uma segunda - e diferente da primeira - visita guiada a locais de Lisboa com interesse maçónico e de uma visita à Loja João Gonçalves Zarco, que trabalha ao Oriente do Funchal, complementada com um programa social pensado tendo em vista também as famílias que se deslocaram acompanhando os obreiros visitantes. Por outro, o apoio a organizações e eventos de caráter cultural, de que refiro, a

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título exemplificativo, uma exposição de fotografia de dois obreiros da Loja e uma outra exposição organizada numa aldeia do distrito de Lisboa. O ano de mandato do Rui S. foi, assim, um ano de sucessivos eventos e organizações. Foi um ano de fazer, de executar, de reforço de laços entre os obreiros da Loja e suas famílias. Foi, sem dúvida, um ano agradável. Mas todo o verso tem o seu reverso e este período também teve algumas implicações ou consequências negativas. A pujança da Loja manifestava-se externamente, mas descurando-se um pouco o que se tinha por adquirido, a sua organização interna. E ocorreu algo que se revelou mais difícil de ultrapassar: a imagem de pujança que externamente a Loja transmitiu levou naturalmente a que esta fosse solicitada a colaborar no lançamento de outros projetos, de outras Lojas, cedendo alguns dos seus obreiros. Em pouco tempo, apenas num ano, a Loja cedeu vários obreiros seus para lançamento de outras Lojas. O próprio Rui S., no final do seu mandato, anunciou que não asseguraria a função de Ex-Venerável Mestre (o principal conselheiro do Venerável Mestre em exercício), porque iria, pelo menos por seis meses, dirigir uma nova Loja. O ano de realizações foi também o ano em que a Loja teve de abdicar de um significativo número de quadros que formara e com que contava para a direção dos seus destinos nos anos mais próximos. Na esteira da sua tradição de organização de doações de sangue, a Loja deu boa parte do seu sangue para novos e outros projetos... A Loja ficou assim com o número de Mestres ativos consideravelmente reduzido.

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Porém, ela tinha no seu seio a solução para o problema que surgira. Nuno L. deixara a Loja com um quadro de Companheiros bem guarnecido, ainda reforçado no decorrer do mandato de Rui S.. Foi apenas uma questão de apressar a ultimação da formação destes elementos e preparar o seu acesso a Mestres Maçons. No final do mandato de Rui S., a Loja estava pronta para reguarnecer o seu quadro de Mestres. O ano seguinte seria dedicado a essa tarefa e à rápida integração e preparação destes para a subsequente assunção dos destinos da Loja. A sucessão de realizações no período de mandato de Rui S. implicou ainda um outro preço: foram mobilizados fundos da Loja e, no final do ano, feitas as contas, os fundos disponíveis tinham baixado consideravelmente. A Loja não estava em dificuldades financeiras, longe disso, mas tomou consciência de que era também necessário reequilibrar a vontade de fazer coisas, organizar, com as disponibilidades económicas reunidas e disponíveis. O ano de liderança do Rui S. foi um ano de agradável fruição do que se reunira, do que se obtivera. Mas foi também um ano que mostrou que era necessária a definição de justos e prudentes equilíbrios: equilíbrio entre a capacidade e "velocidade" de formação de quadros e a possibilidade de dispensar quadros formados para lançamento de outros projetos; equilíbrio entre a vontade de organizar, fazer, com a necessidade de manter organizada e equilibrada a retaguarda de funcionamento burocrático e de financiamento da Loja.

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Com o Rui S., a Loja aprendeu algo que era a altura de aprender: anecessidade de equilíbrio, a conveniência de se organizar de formaa que nunca se venham a dar passos maiores do que a perna. Emlinguagem de estratégia militar, aprendeu que a vanguarda nãopode avançar sem a preocupação de manter garantidas as linhasde abastecimento. No caso da Loja Mestre Affonso Domingues,avançou-se, fez-se, realizou-se. Mas houve a lucidez de entenderque as "linhas de abastecimento" (de quadros e de meiosfinanceiros) estavam a ficar fracas e que era necessário reforçá-las.E, portanto, de decidir fazer uma pausa nas realizações externaspara proceder aos necessários rearranjos e reforços. Com o Rui S., a Loja tomou consciência dos seus limites. E não osultrapassou, antes parou e providenciou as necessárias correções.Porque assim fez, ficou melhor e mais forte. Porque identificou emtempo as suas debilidades e as causas delas e se preparou para ascorrigir em tempo útil. Aprendeu assim que os avanços não sãosempre em linha reta e sem pausas. Há que saber consolidar paravoltar a avançar. Há que reparar brechas nas fileiras antes deprosseguir. Esta lição espero que seja recordada no futuro da Loja.Porque é a diferença entre a pujança da juventude, quando sepensa que o mundo é nosso e tudo se pode fazer, e o equilíbrio damaturidade. A Loja Mestre Affonso Domingues, na sua juventudede vinte e três anos está a aprender a ser madura! Rui Bandeira

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Entre Colunas

March 19, 2014

O local de reunião de uma Loja maçónica tem por entrada umespaço delimitado por duas colunas. Estas evocam as duascolunas que existiam no átrio do Templo de Salomão, descritas naBíblia no 1.º Livro dos Reis, capítulo 7, versículos 15-22:

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15 E formou duas colunas de cobre; a altura de cada coluna era dedezoito côvados, e um fio de doze côvados cercava cada uma dascolunas.

16 Também fez dois capitéis de fundição de cobre para pôr sobreas cabeças das colunas; de cinco côvados era a altura de umcapitel, e de cinco côvados a altura do outro capitel.

17 As redes eram de malhas, as ligas de obra de cadeia para oscapitéis que estavam sobre a cabeça das colunas, sete para umcapitel e sete para o outro capitel.

18 Assim fez as colunas, juntamente com duas fileiras em redorsobre uma rede, para cobrir os capitéis que estavam sobre acabeça das romãs, assim também fez com o outro capitel.

19 E os capitéis que estavam sobre a cabeça das colunas eram deobra de lírios no pórtico, de quatro côvados.

20 Os capitéis, pois, sobre as duas colunas estavam tambémdefronte, em cima da parte globular que estava junto à rede; eduzentas romãs, em fileiras em redor, estavam também sobre ooutro capitel.

21 Depois levantou as colunas no pórtico do templo; e levantando acoluna direita, pôs-lhe o nome de Jaquim; e levantando a colunaesquerda, pôs-lhe o nome de Boaz.

22 E sobre a cabeça das colunas estava a obra de lírios; e assimse acabou a obra das colunas.

É habitual, em muitas Lojas maçónicas, que os obreiros que apresentam perante a Loja trabalhos por si elaborados o façam colocados entre essas duas colunas. Onde assim se pratica - e

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assim se faz, por exemplo, na Loja Mestre Affonso Domingues -,quando é chegada a ocasião de um obreiro apresentar o seutrabalho, o Venerável Mestre solicita que se conduza esse obreiro"entre colunas" e o mesmo é conduzido precisamente para esselocal. O obreiro que apresenta o seu trabalho fá-lo assim situadonum extremo da sala de reuniões, de frente para o VenerávelMestre e tendo os restantes obreiros da Loja situados à suaesquerda e à sua direita, ao longo da sala, entre si e o VenerávelMestre.

Esta colocação daquele que apresenta um trabalho, profere umapalestra, tem a grande vantagem de permitir que o orador sejaperfeitamente visto por todos os presentes e a todos vejaperfeitamente. Mas só é adequada em salas de reuniões detamanho não demasiado grande. Num salão de grandesdimensões, esta colocação do orador torna difícil ouvir o mesmo aquem esteja colocado no lado oposto da sala (precisamente oVenerável Mestre e aqueles que se sentam junto a ele no espaçodenominado de Oriente) - a não ser que se utilize sistema decaptação e amplificação de som.

Esta colocação do obreiro que apresenta um trabalho perante aLoja é utilizada com alguma frequência, mas, ao contrário do quemuitos pensam, não tem qualquer significado simbólico. Ou melhor,o significado simbólico de estar "entre Colunas" não tem nada a vercom as colunas delimitadoras da entrada na Loja.

É incorreto pensar que a expressão "entre Colunas" significa precisamente o posicionamento do obreiro entre as duas colunas evocativas das do Templo de Salomão. Estar "entre Colunas" é estar entre os seus Irmãos, estar em Loja coberta (onde estão apenas maçons) e em funcionamento. Com efeito, quando uma

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Loja maçónica reúne, a generalidade dos seus membros senta-seem lugares colocados em duas colunas longitudinais ao longo doslados da sala de reuniões, à direita e à esquerda do VenerávelMestre, o qual está sentado na linha imaginária central do espaçode reunião da Loja, no topo oposto à entrada desse espaço dereunião. Algumas exceções têm a ver com a colocação de algunsOficiais em exercício de funções na Loja.

Para facilidade de orientação (e também com algum significadosimbólico), os maçons designam as direções e os espaços do seulocal de reunião com recurso aos quatro pontos cardeais. Assim, ascolunas que delimitam o espaço de entrada no local de reuniãoestão colocadas no Ocidente; o Venerável Mestre senta-se noOriente; os obreiros sentam-se em filas longitudinais entre umas eoutro, denominadas respetivamente de Coluna do Norte e Colunado Sul.

Os trabalhos de um maçom são apresentados em Loja entre Colunas, isto é, no meio dos seus Irmãos, com a Loja em funcionamento e, assim, a coberto (apenas na presença de maçons). É um espaço de acolhimento, de segurança, onde o obreiro pode exprimir livremente as suas opiniões, colocar à consideração dos seus pares o resultado do seu trabalho, sabendo que este será apreciado em função do seu mérito e não de preconceitos, amizades ou inimizades. Sempre que o seu trabalho tiver encómios, elogios, é porque o mereceu, não por hipocrisia ou polidez social; todas as críticas que receber têm como escopo a melhoria, o aperfeiçoamento, não o rebaixamento ou apoucamento do trabalho ou do seu autor. As críticas apontando falhas ou sugerindo correções ou melhorias são feitas estritamente em conformidade com o pensamento honesto de quem as formula e

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podem e devem ser tomadas em conta pelo autor do trabalho, emordem a lograr melhorá-lo; as críticas positivas, os elogios queporventura se receba, são a melhor garantia de que o trabalhopode ser apresentado sem receio perante qualquer plateia,qualquer que seja o seu grau de exigência - porque passou o crivoda plateia mais exigente do mundo: a constituída pelos seusIrmãos, em apreciação honesta e sempre com base em critérios deexcelência.

Assim, em bom rigor, os trabalhos devem ser apresentados entreColunas, isto é, com o orador situando-se no eixo centrallongitudinal do espaço de reunião, frente ao Venerável Mestre, masnão necessariamente ao fundo da sala, junto ao Ocidente, nãonecessariamente entre as colunas evocativas das do Templo deSalomão. Tal pode e deve ser feito no local entre as colunas deobreiros do Norte e do Sul mais propício e adequado para maisbem se ser visto e ouvido. Tão simples como isso.

Para um maçom, estar entre Colunas é estar num dos sítios maisconfortáveis do mundo: é estar entre os seus Irmãos, num espaço etempo onde impera a confiança, a amizade, mas também asinceridade e a justiça na avaliação.

Rui Bandeira

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O silêncio do Mestre

March 26, 2014

Depois de O silêncio do Aprendiz (um dos textos mais lidos doblogue A Partir Pedra) e de O silêncio do Companheiro, é tempoagora de tratar do silêncio do Mestre.

À primeira vista, poder-se-á pensar que a expressão constitui um absurdo, pois o Mestre Maçom não só não está vinculado ao dever do silêncio como, pelo contrário, tem o dever de usar da palavra, designadamente para ilustração e formação de seus Irmãos e

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comparticipação na gestão e decisão dos assuntos da Loja. Masassim não é. Já no final de O silêncio do Companheiro se referiuque O silêncio do Companheiro é a sua preparação para a suaElevação a Mestre. Para que, quando tiver direito a usar dapalavra, já saiba quando se deve calar! Para que entendaperfeitamente o valor da Palavra e a valia do Silêncio. Então estarápronto!

Uma das lições que o Mestre Maçom deve ter já interiorizadoquando acede à Mestria é precisamente o valor e a oportunidadedo silêncio. Que há momentos de falar e momentos de calar. Que,por vezes, a mais sonora declaração decorre do seu silêncio.Ousimplesmente que, quando não tem nada de útil a acrescentar, omelhor a fazer é estar calado...

O Mestre Maçom tem o direito ao uso da palavra em sessão deLoja. Mas esse direito não implica que tenha o dever de falarsempre nem que utilize essa faculdade para perorar sobre tudo eum par de botas, implicitamente desvalorizando o que transmite -pois ninguém sabe de tudo e o homem sábio conhece as suaslimitações. Assim, o direito ao uso da palavra implica o dever desaber administrar o seu silêncio, dele só abdicando quandoentender mais útil falar do que estar calado.

Como em quase tudo na vida, cada um é como cada qual - e todos evoluem ou podem fazê-lo. Há aqueles que praticamente não precisaram de aprender essa lição: por temperamento são pessoas caladas, reflexivas, ponderadas, que raramente falam - e, quando o fazem, são, precisamente pela raridade da situação, muito atentamente ouvidos. Esses quase nunca falam a despropósito -

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mas algumas vezes, precisamente pelo seu particular zelo naseleção de quando, como e o que dizer, deixaram de darcontributos que teriam sido preciosos, se partilhados no momentopróprio. Há outros que, pelo contrário, são de natureza interventiva,não deixam de dar a sua opinião, não temem estar em minoria,entendem que participar implica opinar, contribuir, ainda que porvezes apenas marginalmente, para as deliberações coletivas.Esses correm o risco de errar algumas vezes, de opinar sem oconhecimento ou a ponderação adequados, de darem a impressãode que, sobretudo, gostam é de ouvir a própria voz - mas sãofrequentemente preciosos desbloqueadores de discussões, lançamos debates sobre os temas e acabam por auxiliar o grupo, quantomais não seja porque catalisam acordos e desacordos,concordâncias e críticas, e assim acabam por contribuir para umasadia discussão dos temas e uma participada deliberação. E hátambém os que só intervêm quando têm contributo válido para dare permanecem silenciosos quando não sabem ou, sabendo, nadade especialmente útil têm para acrescentar, ou, simplesmente,porque, no seu entender, a minudência do assunto não lhessuscita particular interesse - esses são os mais criteriosos,normalmente os mais influentes, os que mais frequentementecontribuem substancialmente para as deliberações.

Ninguém pertence obrigatória e definitivamente a um destes grupos. O avaro de palavras, se atento estiver, irá verificar que deixou passar ocasiões em que a sua intervenção teria sido útil e gradualmente evoluirá para o último grupo descrito. Por seu turno, o tagarela opinativo sobre quase tudo, sendo crítico de si mesmo, irá ter consciência das vezes em que perdeu boas ocasiões para estar calado e, vigiando-se, gradualmente se desencantará do som

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da sua voz e privilegiará a transmissão do que valha a penatransmitir, progressivamente ganhando o acesso ao conjunto dosrealmente influentes nas deliberações do grupo. Mas também osnormalmente equilibrados têm de permanentemente se vigiar, sejapara não cair na tentação da intervenção a despropósito, seja paranão insistir em demasiada introspeção silenciosa. Como em quasetudo na vida, o ponto de equilíbrio é instável e delicado. A gestãoda palavra e do silêncio acaba por ser, ao longo do tempo,aperfeiçoada por quase todos. E quase todos acabam por aprendera falar quando é útil que falem e a guardar silêncio no resto dotempo.

Três momentos, a meu ver, impõem o silêncio. O primeiro é quando, pura e simplesmente, nada ou muito pouco se sabe ou se pensou sobre o assunto em debate. Esse é claramente tempo de ouvir, não de falar, de aprender, não de partilhar. O segundo, mais delicado de identificar, ocorre quando se sabe algo sobre o assunto, mas ainda não se chegou a uma conclusão precisa. Em termos mais ligeiros, já se tem algumas luzes, mas ainda restam algumas apagadas... Aí ainda não é tempo de partilhar, a não ser que se partilhem dúvidas a serem esclarecidas ou hipóteses a serem trabalhadas. Sobretudo, não é altura de alardear certezas que não se têm, transmitindo meras hipóteses como conclusões. Quem o fizer, está a induzir em erro os demais e a enganar-se a si próprio. Trabalho quase concluído é, para todos os efeitos, trabalho não acabado! É preferível acabar primeiro o trabalho, chegar às conclusões e só depois partilhar o seu pensamento. Estar quase certo é como ser quase virgem: são estados que não existem! Ou se está ou não se está. Ou se é ou não se é... O terceiro momento que impõe silêncio é, creio, o mais difícil de lobrigar, aquele que

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requer a vivência de êxitos e fracassos, a que não se chega só porintuição ou estudo, decorre da experiência vivida e meditada eaproveitada. Esse momento existe quando, apesar de se saber doque está em discussão, apesar de se ter ideia feita sobre o tema,se tem a consciência de que será melhor para a deliberação, para ogrupo, ou simplesmente para a evolução de um Irmão, que o quese tem para dizer seja dito por outro, que intuímos estar emcondições de o fazer, e de o fazer tão bem quanto nós o faríamos -e renunciarmos a dizê-lo para que o outro o faça. Quando issoverificarmos, importa ter a noção de que ser um ou outro a dizer sóaparentemente tem o mesmo resultado final. Porque renunciar ànossa palavra para que outro Irmão cresça, para que seja ocontributo de outro Irmão, e não o nosso, a ser trazido para o grupopode fazer muita diferença, não só para esse Irmão, mas para todoo grupo - porque ganhou mais um a contribuir, em vez de se bastarcom o contributo dos mesmos...

O Aprendiz que faz bem o seu trabalho facilmente identifica oprimeiro momento em que se impõe o silêncio. O Companheirocom o seu trabalho concluído reconhece o segundo momento. Maso terceiro momento, que não é de mera renúncia, mas decolaboração, que não é simples altruísmo, mas de noção de que ofortalecimento do grupo depende do crescimento de todos, não sódos mesmos, e que esse fortalecimento se faz em benefício detodos, esse é apanágio do Mestre que aprendeu a sê-lo!

Pode demorar anos. Porventura será necessário que demore anos. Mas quando o Mestre Maçom descobre esse terceiro momento e age em conformidade com ele, então, sim, atingiu a mestria de si mesmo, aprendeu o significado de estar em Loja - não por si, mas pelos seus Irmãos e, assim, por todos e, logo, também por si. Então

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deparou com outra, e mais apurada, dimensão do silêncio, oSilêncio do Mestre!

Rui Bandeira

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Harmonia

April 02, 2014

Os maçons prezam a Harmonia na Loja.

Esta frase é consensual. Mas será que todos dão o mesmosignificado à palavra Harmonia? Em que consiste realmente aHarmonia da Loja? Quando se pode dizer que uma Loja está emHarmonia?

A Harmonia da Loja não é unanimidade. Nem sequer consenso (estes dois conceitos não são sinónimos; o consenso resulta sempre de uma concertação de posições, à partida, necessariamente com algumas diferenças; a unanimidade não

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resulta necessariamente desse esforço; a unanimidade pode surgir sem que se faça nada por ela; o consenso resulta sempre de trabalho, busca). Pode - e é comum que isso suceda - haver divergências, desacordos, sem que se quebre a Harmonia da Loja. Tudo depende de como as posições diferentes são expostas, encaradas e, sobretudo, trabalhadas pelo grupo. Superar desacordos, integrar diferenças, compatibilizar divergências reforça a Harmonia da Loja. Assim sendo, há mais Harmonia numa Loja em que as divergências se expõem, se aceitam e se trabalham no sentido da superação do que noutra em que o unanimismo impere sempre. Mesmo que na primeira por vezes subsistam divergências, embora porventura atenuadas ou, pelo menos, globalmente compreendidas na sua origem e motivos. Direi mesmo que a Loja em que impere o unanimismo tende a estiolar. Porque o unanimismo não é natural em nenhuma sociedade humana. Porque a sua persistente existência revela afinal medo da assunção de diferenças. Pelo contrário, a Loja que se habitua a conviver naturalmente com as diferenças, divergências desacordos, a tolerar (é o termo!) a sua existência e a trabalhar na sua superação, na medida do possível, essa sim, trabalha em Harmonia. Porque ali se cultiva o respeito pelo pensamento do outro - sempre. Porque ali a diferença não gera confronto, luta, azedume. Conduz à cooperação ente iguais com entendimentos diferentes, no sentido de discernir semelhanças e diferenças, lobrigar o que é essencial e o que é meramente acessório na posição de cada um, verificar como é possível compatibilizar pontos de vista diferentes. E chegar à melhor solução possível para todos. Porque ali se trabalham as diferentes razões individuais na busca da Razão Coletiva. E de cada vez que se consegue fica-se mais forte. E quando não se

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consegue não é por isso que se fica mais fraco.

A Harmonia da Loja não é ausência de discussão. É discussão,debate, sérios, honestos, respeitadores das posições e dadignidade de cada um e de todos.

A Harmonia da Loja não é a obediência cega e acrítica a quemmanda. Também não é o questionamento sistemático das decisõesde quem viu confiado pelo coletivo, mais do que o poder, o encargo- por vezes, o fardo - de decidir. A Harmonia da Loja resulta dodebate de tudo até se decidir com o contributo de todos e implica orespeito do decidido por todos. Não são todos obrigados a executaro decidido, pois há que respeitar os desacordos não superados.Mas todos necessariamente renunciam a obstaculizar o que sedecidiu. Em termos simples, quem discorda pode não fazer. Masnão deve fazer diferente ou o contrário.

Tal como na música a Harmonia não está nem na ausência desom, nem no mesmo som, está na compatibilização de formaagradável de sons diferentes, também a Harmonia da Loja nãoresulta da ausência de divergências, na renúncia ouimpossibilidade de discussão. Resulta da tolerância das diferenças,da cooperação na integração das divergências, da superaçãoparticipada dos desacordos.

Portanto, que nunca se pense que discordar quebra a Harmonia daLoja. O que quebra a Harmonia da Loja é o impedimento daexpressão das discordâncias. Porque só mediante essa expressão,só perante a aceitação do direito de discordar, só mediante anaturalidade da análise das divergências é possível construir,avançar, fortalecer a Loja.

Na Loja Mestre Affonso Domingues, tudo se debate, todas as discordâncias são expressas e analisadas e trabalhadas, no

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processo permanente de chegar às melhores soluções possíveis.Por vezes, o debate é aceso, os confrontos são duros. Mas o quese acendem são as opiniões de Irmãos, o que se confrontam sãoas suas ideias. No final de cada debate, tomada a decisão, pormuito que se tenha discutido, debatido, cada um fica com as suasideias (quantas vezes modificadas, melhoradas, evoluídas, nasequência do debate e do confronto com as outras e diferentesideias!) - mas todos ficam com a conclusão a que se chegar comosendo a melhor possível para o coletivo naquele momento enaquelas condições. E todos se juntam em descontraída conversae agradável ágape. Todos sabendo que porventura em ocasiãopróxima haverá outro debate, em que não raro os que naquele diase confrontaram com ideias diferentes se baterão juntos pelamesma posição...

Sempre assim foi nesta Loja. Foi assim que superou a sua maiorcrise, com insanável, na altura, desacordo de caminhos a seguir,com a maior Harmonia que alguma vez vi e que procurei descreverno texto O fim da infância.

É assim que hoje superamos as dificuldades que surgem. Commuito debate, franco, leal, aberto, duro, sempre que necessário,esteja quem estiver connosco na ocasião. Sem vergonhas e semcuidados com a imagem. E se alguém menos avisado alguma veztentar aproveitar o que possa julgar ser fratura de algumadivergência, rapidamente ficará desenganado! Porque as nossas"fraturas" são muito "móveis", de consolidação extremamenterápida e de cicatrização fácil e sem deixar marcas! Afinal de contasestamos tão habituados a discutir e debater uns com os outros queestou em crer que se aborrecia de morte quem saísse daqui!!!!

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Na Loja Mestre Affonso Domingues não existiu nunca unanimismoe a unanimidade só aparece por acaso. O que persistentemente sebusca e frequentemente se atinge são consensos! Às vezes apósdiscussões épicas. Sempre tolerando a existência de diferenças edivergências. Sempre sabendo que o acordo, para existir, necessitade prévio desacordo e persistente debate na sua superação.

E isto, meus caros, isto é que é verdadeiramente uma Loja emHarmonia!

Rui Bandeira

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Prancha de proficiência

April 09, 2014

Na Loja Mestre Affonso Domingues, um dos requisitos necessáriospara que um Aprendiz seja elevado a Companheiro ou para que umCompanheiro seja Exaltado Mestre Maçom é a apresentação emLoja de uma prancha, isto é, de um trabalho elaborado pelo obreiro.

Em regra, o tema desse trabalho é escolhido por consenso entre ointeressado e o Vigilante responsável pela sua Coluna e o referidoVigilante acompanha a elaboração desse trabalho, analisando a ouas versões preparatórias elaboradas e aconselhando ou sugerindoemendas, alterações ou desenvolvimentos, sempre que tal entendanecessário ou conveniente.

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Todos, sendo essencialmente iguais, somos diferentes nas nossas capacidades específicas, interesses, vocações. Há quem, seja por habituação nos tempos de escola, seja por prática profissional, seja, pura e simplesmente por vocação ou aptidão própria, tenha facilidade em escrever, em organizar uma exposição sobre um tema. Há quem tenha menos habituação ou uma aptidão menos apurada ou menos treinada para tal. O auxílio, o apontar de caminhos, a indicação de imperfeições a serem corrigidas por parte de um elemento experiente pode ser necessário para alguns, conveniente para outros e irrelevante para alguns. O objetivo é que quem necessite tenha um apoio, uma orientação, para que o seu trabalho fique o melhor possível, no momento e no grau de desenvolvimento na perceção da Arte Real de cada obreiro. Ao longo do seu tempo de trabalho no grau respetivo, o Aprendiz ou Companheiro pode preparar diversos trabalhos que, normalmente, apresenta em reuniões da respetiva Coluna. O trabalho que irá ler em Loja poderá ser um desses ou poderá ser expressamente elaborado para esse efeito. Qualquer que seja a opção, essa apresentação da prancha de proficiência do Aprendiz ou Companheiro deve decorrer de um duplo juízo sobre a sua pertinência. Duplo juízo sobre se o trabalho está concluído ou se se deve ainda melhorá-lo, que deve ser efetuado pelo autor do mesmo e pelo seu Vigilante. Não deve haver pressa em apresentar a prancha de proficiência. Ela é o espelho da evolução do obreiro no momento em que é apresentada. Por isso deve haver um especial cuidado na sua apresentação. Por isso deve tal prancha ser considerada como

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concluída e pronta para ser divulgada em Loja apenas quando satisfaça, quer o seu autor, quer o Vigilante responsável pela sua integração e evolução. A apresentação de uma prancha de proficiência em Loja é sempre aguardada com expectativa na Loja Mestre Affonso Domingues. É mais um de nós que mostra a sua evolução, os caminhos que explora, o seu processo de transformação de homem bom em homem melhor. Mas, para além de um momento de expectativa também sempre é, deve ser, mais um momento de evolução, um patamar, não só de chegada, mas sobretudo de nova partida. Por isso, a Loja e os seus Mestres que - sempre! - comentam a prancha apresentada buscam um equilíbrio entre o devido e justo reconhecimento do trabalho efetuado e a sempre presente exigência de que, por muito bom que esteja o trabalho, por muito bem que tenha evoluído o obreiro, sempre poderá e deverá ser melhor, fazer melhor, persistir na senda da busca da inatingível perfeição. É por essa razão que a crítica às pranchas de proficiência na Loja Mestre Affonso Domingues é normalmente severa, por vezes acerba, sempre dura. Não deixando de se reconhecer os méritos, aponta-se impiedosa e cruamente o que falta ou o que deveria mais bem ser feito. Não pelo prazer de criticar ou mostrar qualquer (inexistente) pretensa superioridade. Apenas como ferramenta para que o próprio maçom, aquele que apresenta o seu trabalho à consideração dos demais, mas também cada um destes, sempre busque ser e fazer mais e melhor. É justa e agradável a noção e o reconhecimento de que um trabalho está bem feito. Mas não pode,

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não deve, deixar de estar sempre subjacente a noção de quequalquer trabalho, qualquer obra, por muito bem que esteja, podesempre ser melhor. Dar por concluída e pronta para ser apresentada em Loja umaprancha de proficiência não deve nunca significar que é trabalhoinsuscetível de ser melhorado. É apenas o melhor trabalho que seestá em condições de fazer nesse momento. Mas o objetivo, ocaminho, é sempre crescer, sempre avançar, sempre aprender,sempre afinar as nossas capacidades - e, portanto, sempre estarem condições de melhorar aquilo que um dia foi o melhor que entãopudemos fazer. É por essa razão que, na cultura que a Loja Mestre AffonsoDomingues procura que os seus obreiros adquiram e aprimorem,se tem presente que o elogio, o reconhecimento é agradável e justo- mas a crítica é o impulso para poder ser melhor. Para a LojaMestre Affonso Domingues não basta o Justo. Ambiciona-se oPerfeito! Rui Bandeira

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Lição de um Mestre ao seu Aprendiz - VI

April 16, 2014

Pedro Espanhol, 2009, óleo sobre tela, 90 x 120 cm

Reprodução publicada pelo autor em Masonic Art

Antes do mais, sê muito bem-vindo entre nós. Estás aqui por teus méritos e, sobretudo, por tuas potencialidades. A ti, e só a ti, deves

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a admissão no seio dos obreiros desta Oficina da Augusta Ordemda Maçonaria. Nós, os que vos acolhemos, limitámo-nos areconhecer em ti a capacidade e a vontade de efetuar o longo –direi mesmo: interminável -, trabalhoso – acrescentarei:permanente – e minucioso – precisarei: rendilhado – processo detransformação de um Homem Bom num Homem Melhor.

Esta frase, que de tantas vezes dita soa já como um lugar-comum,é, acredita-me, muito mais simples de dizer do que de levar àprática. Passar de um simples e comum Homem Bom – aquilo quenós, maçons, costumamos designar por homem livre e de bonscostumes – para se ser um Homem Melhor é tarefa, mais do quediária, de todos os instantes, verdadeiramente permanente, quenecessita de ser executada ao longo de toda a vida – e que só fazsentido se for permanentemente executada ao longo de toda avida.

É uma tarefa interminável, porque é de sua natureza sê-lo: ohomem bom de hoje que se transforma amanhã num homem umpouco melhor, em bom rigor, ao fim do dia de amanhã não serámais do que um pouco melhor homem bom que poderá e deverá,no dia seguinte, melhorar um pouco mais. E assim sucessivamenteaté ao momento em que a nossa tarefa neste plano de existênciaterminar.

A Arte Real é um guia para esse trabalho. O método que propõe ecoloca à disposição de todos os seus obreiros é o estudo,compreensão e interiorização dos significados – quantas vezesvários, ou mesmo múltiplos – dos muitos símbolos com que nosdeparamos.

Admito que, hoje, aqui e agora, não tiveste ainda tempo para te aperceberes de que tudo o que nos rodeia tem carga simbólica.

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Como certamente ainda não assimilaste convenientemente osignificado do que se passou, do que viveste, desde o instante emque entraste neste edifício até agora. Não te preocupes com isso. Énormal, é natural, é previsível, é até desejável que assim seja.Tivemos o cuidado de nada de substancial te informar sobre o queirias viver neste dia. Porque é necessário sem conhecimento prévioviver, sentir, a passagem que acabaste de efetuar para depoismelhor compreender o seu significado.

Não esqueças nunca: a Razão complementa, completa, domina einterpreta a Emoção. O que vale por dizer que a Emoção é fortealicerce da Razão, que o mero conhecimento racional pode sermuito e vasto, mas é fraco e pouco consistente se não estiverancorado, se não tiver sido adquirido com a Inteligência Emocionalque integra também a nossa capacidade para estarmos,orientarmo-nos e compreendermos o mundo em que vivemos. Seassim não fosse, não precisávamos de viajar – bastava ler livros ever filmes de viagens...

A tua primeira tarefa é também um labor permanente e será, afinal,o teu último trabalho: conhecer-te a ti mesmo. Isso é essencial.Porque tu és o centro, a origem, o início e o fim do teu mundo.Portanto, o mínimo que te é exigível é que te conheçasverdadeiramente a ti mesmo. Não a imagem que tens ou dás de ti,mas o que está por detrás dela, em tudo o que ali está e o que foi,que é causa do que é e base para o que será. O que tem deagradável e luminoso, mas também o que é mais sombrio e comque nos custa a deparar.

Esta a base, o ponto de partida. Já há milhares de anos estava escrito no Templo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o Universo e os deuses, porque se o que procuras não

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achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum”.

Esta asserção é, desde a mais remota Antiguidade, a base de todaa busca e jornada iniciática. Não precisamos de inventar nada, nãoé necessário inventar o que já está inventado.

Devo-te esclarecer o significado da Arte Real. Como o podereifazer, se há mais de vinte anos que o busco e ainda não odeterminei completamente? Talvez a melhor resposta seja esta: aArte Real é um método de busca que tem princípio em ti mesmo,como guia os símbolos, como rota a melhoria individual, comoobjetivo a perfeição e como meta todo o Universo e o que maishaja.

Sei bem que esta definição que acabei de te propor hoje, aqui eagora não é mais do que um conjunto de palavras que se juntam auma enorme quantidade de informação que hoje recebeste e desensações que experimentaste e que, portanto, agora de pouco tevale. Não te preocupes tu com isso, que eu também não estounada preocupado. Tens à tua frente muito tempo para ordenar,para assimilar, para compreender tudo o que hoje viveste, viste eouviste. E tudo, a seu tempo, te fará sentido. Até este arrazoadoque tiveste a paciência de ouvir...

Mas isso fica para depois. Agora o tempo que chega é de celebrar,de conviver, de nos alegrarmos por estarmos juntos e sermos maisa estar juntos. Amanhã começarás o teu trabalho!

Rui Bandeira

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Há quarenta anos, dia por dia...

April 23, 2014

Há quarenta anos, dia por dia, eu era um jovem de dezoito anosque alcançara, à custa de muito trabalho, uns quantos sacrifícios ebastantes privações dos meus pais, o que era então o verdadeiroprivilégio de ser estudante universitário. Estudava que medesunhava, não porque fosse especialmente dedicado, mas porquesabia que os meus pais - ele, operário eletricista, ela doméstica -não podiam sustentar vilegiaturas académicas sem aproveitamento.O curso era para se fazer o mais depressa que fosse possível, queos tostões eram parcos e contadíssimos e havia que deixar de serfardo para a família e começar a contribuir para o seu sustento. Poroutro lado, não bastava tirar o curso depressa: havia que procurarter boas notas, única forma de diferenciação possível de quemprovinha de classe modesta e não dispunha de pedigree,conhecimentos ou auxílios da elite que dominava este país.

Há quarenta anos, dia por dia, o sentimento que perpassava por toda a sociedade, por praticamente toda a população, era de medo.

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Medo de ir ou de que o seu filho fosse para a guerra, medo de sertomado por algum polícia, PIDE ou bufo (informador da políciapolítica) como desafeto ao regime, pois isso implicaria, no mínimo,uma condução a instalações policiais e sujeição a interrogatório"musculado" com uns valentes tabefes, eventualmente uma estada,gratuita, mas frequentemente sem direito a dormir e com direito auma estátua (mas quem fazia de estátua e não podia dormir era o"hóspede"...) nas temidas instalações da polícia política, na RuaAntónio Maria Cardoso, ou mesmo umas "férias" mui poucoagradáveis na estância muito pouco termal de Caxias.

Há quarenta anos, dia por dia, eu, que até me considerava atento ebem informado, só sabia o que os detentores do poder políticoentendiam que me era permitido saber, pois a Imprensa (então nãose costumava ainda dizer Comunicação Social...) estava sujeita aum férreo regime de censura, crismada com o cognome de "exameprévio", que só permitia que fosse publicado o que não lhescausasse inconveniência - e o principal "desporto" dos jornalistasda época dava pelo nome de "finta à Censura"; e que grandescraques havia nessa interessantíssima "modalidade desportiva",felizmente extinta, por desnecessidade, espero que para sempre!

Há quarenta anos, dia por dia, a sina de qualquer jovem adulto fisicamente apto (e mesmo de alguns nem sequer tão aptos como isso...) era ir perder quatro anos da sua vida (ou perder a sua vida no horizonte de quatro anos...) numa "comissão de serviço" na Guiné, em Angola ou Moçambique, combatendo não sabia quem, porquê, para quê e até quando. A não ser que optasse por se exilar e conseguisse fazê-lo ou que fosse filho de algum dos próceres do regime, que esses tinham garantido confortável cumprimento dos seus deveres militares na "Metrópole", isento de riscos e de

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sacrifícios, integrantes da casta dominante que eram.

Há quarenta anos, dia por dia, não se escolhiam os líderespolíticos, nem se opinava sobre as políticas a seguir. Os detentoresdo poder detinham-no e pronto! As funções políticas eramexercidas por escolhidos em circuito interno e à generalidade dapopulação cabia obedecer e não refilar.

Há quarenta nos, dia por dia, não se podia sair legalmente do paíssem autorização "de quem de direito", os direitos cívicos e políticosexistiam no papel (num célebre art. 8.º da Constituição de 1933),mas o mesmo papel elencava tantas exceções e restrições aoexercício desses direitos que, na prática, não existiam, ou sóexistiam se, quando e na medida em que o poder entendessepermitir que fossem existindo.

Há quarenta anos, dia por dia, eu era um jovem universitáriovivendo num ambiente de medo, sem perspetivas, sem direitosrealmente dignos desse nome, sem nada que não fosse vegetar eesperar, esperar, esperar que um dia, talvez, algo mudasse. Eraum jovem comum, um entre milhões que não tinha atividade políticarelevante, ao fim de dezenas de anos de condicionamento de todoum povo para que não ousasse "meter-se em política".

Há quarenta anos, dia por dia, eu, como todo um povo, sentia-measfixiado pela falta do ar da Liberdade.

Há quarenta anos, dia por dia, eu, como todo um povo, vivia nomomento de maior negrume de uma noite que se prolongava pormais de outros quarenta anos.

Há quarenta anos, dia por dia, eu, como todo um povo, à exceção de umas centenas de heróis que estavam na ponta final da preparação do que iria finalmente mudar as coisas, não sabia ainda que o maior negrume da noite é a altura que precede

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imediatamente o momento do nascer da aurora - e que essemomento estava a menos de quarenta e oito horas de distância.

Hoje, relembrando como estávamos há quarenta anos, dia por dia,deixo aqui um simples, emocionado e sincero MUITO OBRIGADOàqueles heróis que, menos de quarenta e oito horas depois, me iamensinar que também se chora de alegria - e que se chora de alegriaprecisamente quando essa alegria é enorme, imensa!

Hoje relembro como era este país há quarenta anos, dia por dia,porque muitos e muitos há que, felizmente, já não viveram essestempos. Vivemos hoje tempos de dificuldade - mas sabemos quevamos, mais tarde ou mais certo, ultrapassá-la. Expressamos hojea nossa insatisfação - mas podemos fazê-lo. Não concordamoscom muito do que aqueles que nos dirigiram nos últimos anosdecidiram ou fizeram - mas podemos, individual e coletivamente,criticar, decidir e executar o que se decidir fazer para se corrigir oque de errado se fez. Duvidamos das capacidades, dacompetência, dos motivos de alguns dos que nos dirigiram ao longodestes quarenta anos - mas sabemos que fomos nós,coletivamente, que lhes entregámos essa liderança e sabemos quepodemos escolher quem colocamos a dirigir-nos, procurando nãocometer os mesmos erros de avaliação do passado.

Hoje, digo e afirmo: por muito mal que as coisas andem, por muito descontentes que estejamos, lembrem-se todos, mas principalmente aqueles que tiveram a felicidade de não ter vivido aquele tempo, que estamos muitíssimo, incomparavelmente melhor do que estávamos há quarenta anos, dia por dia. Porque ao longo destes quarenta anos, tudo o que de certo e de errado (e muito de errado houve também, sem dúvida) se fez, foi, em última análise, feito ou permitido POR NÓS TODOS, enquanto povo LIVRE. Livre

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mesmo cometendo erros, mesmo fazendo ou permitindodisparates, mesmo escolhendo por vezes mal os seus líderes. MasLIVRE de aprender, de melhorar, de corrigir, de opinar, de debater,de escolher os seus caminhos.

Que cada um faça as suas escolhas. Que todos debatamos oscaminhos, Que, por vezes, nos zanguemos até uns com os outros,no calor das discussões sobre as escolhas a fazer. Mas que todossempre prezemos e defendamos o essencial (que ninguém oduvide!) que este povo há quarenta anos, dia por dia, estava amenos de quarenta e oito horas de recuperar: a LIBERDADE e apossibilidade de, exercendo-a, viver a sua vida com dignidade!

Há quarenta anos, dia por dia, não sabia ainda que estava prestesa finalmente ter direito a uma vida digna de ser vivida. Com erros eacertos. Com coisas boas e coisas más. Mas com as escolhasfeitas por mim. Eu e todos os meus compatriotas. Que nunca maisneste país se perca o direito de cada um fazer as suas escolhas.Que nunca mais este Povo volte a perder a sua LIBERDADE, alfa eómega de tudo o que coletivamente vale a pena ser vivido!

Rui Bandeira

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Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: os candidatos

April 30, 2014

A eleição do Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal/GLRPpara o mandato que decorre entre 2014 e 2016 está marcada parao dia do solstício de verão, 21 de junho.

Findo o período de apresentação de candidaturas,apresentaram-se ao escrutínio dois valorosos obreiros, os IrmãosJúlio Meirinhos, Vice Grão-Mestre em funções, e José ManuelPereira da Silva.

Num processo eleitoral que decorre de forma tranquila, duas coisasse podem já tomar como certas.

A primeira é que o próximo Grão-Mestre da GLLP/GLRP será um maçom de alto gabarito, merecedor da confiança de todos os obreiros, qualquer que seja a opção de voto que venham a manifestar. Com efeito, ambos os candidatos dão garantias de competência e capacidade e a Grande Loja ficará bem servida com

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qualquer deles. É sempre motivo de agrado quando a escolha quese perfila é entre dois elementos capazes, é uma escolha entre doisbons elementos. Obviamente que será necessário escolher, optar,e que, no final, um deles será eleito e o outro não. Mas o que nãofor eleito certamente ficará a disposição para dar a colaboração quelhe seja pedida e quiçá noutra oportunidade venha a ser escolhidopara a função da direção cimeira da Grande Loja.

A segunda é que o próximo líder máximo da Grande Loja não teráresidência principal na zona de Lisboa: Júlio Meirinhos tem a suaresidência principal em Bragança (embora tenha uma residênciasecundária em Lisboa) e Pereira da Silva nas Caldas da Rainha. Éalgo que, num país com a dimensão e a facilidade decomunicações do nosso, não trará qualquer inconveniente e quepermite a comprovação de que são inúteis, aqui como noutrasinstituições, bacocos regionalismos ou ultrapassados centralismos.As funções devem ser preenchidas pelos que. em cada momento,mais bem capacitados estejam para as exercer,independentemente do ponto do país onde residam.

A Loja Mestre Affonso Domingues convidou os dois candidatospara, pessoalmente ou através de seus representantes, nos darema satisfação da sua visita numa das próximas sessões da Loja,antes da eleição, para melhor se darem a conhecer, a eles própriose aos respetivos projetos, para o mandato que se propõemexercer.

A ambos os candidatos, a Loja Mestre Affonso Domingues formulavotos de felicidades e manifesta a sua confiança em que ambosserão iguais a eles próprios no decorrer do período deesclarecimento que decorre até ao dia da eleição.

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A ambos os candidatos a Loja Mestre Affonso Dominguesexpressa o seu desejo de bem os receber, atentamente os ouvir,fraternalmente os questionar, aplicadamente garantir, comohabitualmente, as condições para que todos os seus obreiros e osIrmãos que nos derem o prazer da sua visita se possam esclarecer,num ambiente de fraternidade.

Pessoalmente, ambos os candidatos sabem que por ambos nutrogrande consideração e com ambos mantive, mantenho e mantereias melhores relações. Como os demais, efetuarei a minha escolhae só um deles poderá ser escolhido. Mas desde já deixo bem claroque, para mim, a escolha não é de um contra o outro, antes de umagora e porventura o outro depois.

Ao Júlio e ao José Manuel aqui deixo, a cada um, um triplo efraternal abraço. Estou certo que aquele que, no final do presenteprocesso eleitoral, vencer exercerá condignamente o ofício deGrão-Mestre e o que não vencer dará a melhor colaboraçãofraterna ao outro e à GLLP/GLRP.

Rui Bandeira

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Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: o currículo docandidato Júlio Meirinhos

May 07, 2014

Como em toda as eleições, também em Maçonaria as pessoas sãoimportantes nas escolhas. Pessoalmente, penso que o maisimportante... Projetos, ideias, propósitos são seguramenteimportantes, mas são as pessoas que executam ou não osprojetos, que tornam ou não realidade as ideias, que cumprem ounão os propósitos.

Na GLLP/GLRP, procuramos que as nossas escolhas sejam tãoinformadas e esclarecidas quanto possível. Por isso, ascandidaturas são instruídas com currículos dos candidatos,resumindo a sua atividade, quer maçónica, quer na sua vidaprofana.

Os dois candidatos a Grão-Mestre forneceram os seus currículos,maçónicos e profanos. Publica-se hoje o currículo de um doscandidatos. O currículo do outro será publicado na próximasemana.

Júlio Meirinhos

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Currículo maçónico

Iniciado na R:.L:. Porto do Graal, n.º 2 em 1992

Ininterruptamente em funções desde então

Atualmente Vice Grão-Mestre.

Funções e cargos desempenhados na Grande Loja Legal de

Portugal/GLRP:

• Venerável Mestre da R:. L:. Luz do Norte, nº21

• Venerável Mestre Fundador da R:. L:. Rigor, nº 57

• Assistente de vários M:.R:. Grão■ Mestres

• Vice Grão■ Mestre de vários M:.R:. Grão-Mestres

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• Grande Representante da Grande Loja de Mestres Maçons deMarca de França

• Grande Representante da Grande Loja da Holanda

• Membro honorário de diversas Lojas Nacionais e Estrangeiras.

Condecorações:

• Grande Oficial da Ordem General Gomes Freire de Andrade

• Grã■ Cruz da Ordem General Gomes Freire de Andrade.

Funções e cargos desempenhados nas estruturas de Altos Graus:

• Sumo■ Sacerdote do Capítulo nº 6, Mosteiro Castro de Avelãs

• Ilustre Mestre do Conselho nº 3, S. Bartolomeu

• Eminente Comendador da Comenda nº 3, Cristóvão Colombo

• Presidente da Ordem da Rosa

• Membro da Ordem dos Sumo■ Sacerdotes Ungidos eConsagrados

• Membro da Ordem da Trolha

• Grande Sumo■ Sacerdote do Supremo Grande Capítulo do ArcoReal de Portugal

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• Grão-Mestre do Grande Conselho de Mestres Reais eEscolhidos de Portugal

• Generalíssimo da Grande Comenda de Cavaleiros Templáriosde Portugal

• Grau 32º do Supremo Conselho para Portugal dos SoberanosGrandes Inspectores Gerais do 33º e último grau do RitoEscocês Antigo e Aceite

• Patriarca Inspector Geral do 33º e último grau do ExcelsoConselho da Maçonaria Adonhiramita para Portugal.

Currículo profano

59 Anos

Casado, 2 filhas e 2 netas

Reformado, com residência em Miranda do Douro e em Lisboa,onde tem 1 filha e 2 netas.

• Licenciatura em Direito pela Universidade de Coimbra

• Advogado

• Presidente de Câmara durante 4 mandatos

• Deputado em duas legislaturas

• Coordenador da Comissão Parlamentar de Ética.

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• Membro da Comissão Parlamentar de Defesa

• Secretário■ Geral e Notário privativo do Leal Senado de Macau

• Juiz Presidente do Tribunal Administrativo e Contas de Macau

• Membro fundador e dirigente do Instituto Jurídico de Macau

• Docente da Faculdade de Direito de Macau

• Membro da Academia da “Língua Asturiana” Oviedo■ Espanha

• Auditor de Defesa Nacional

• Presidente do Agrupamento de Municípios da Terra FriaTransmontana

• Administrador da Associação de Municípios deTrás■ os■ Montes e Alto Douro

• Coordenador do PROCOA■ Programa de DesenvolvimentoIntegrado do Vale do Côa

• Membro do Comité das Regiões em Bruxelas

• Presidente do Conselho da Região da Comissão deCoordenação da Região Norte

• Governador Civil de Bragança

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• Presidente da Assembleia para a criação da Escola Superior deTecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Bragança

• Presidente de diversas associações (Associação Ibérica deMunicípios Ribeirinhos do Douro, Associação IbéricaAntinuclear)

• Dirigente e membro fundador da Associação Nacional deMunicípios Portugueses

• Presidente da Região de Turismo do Nordeste Transmontano

• Vice■ Presidente da ANRET (Associação Nacional das Regiõesde Turismo

• Vice■ Presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto eNorte de Portugal.

Condecorações:

• Cidadão honorário do Município de Miranda do Douro ■ GrauOuro.

• Agraciado pelo Estado Português com o grau de Comendadorda Ordem Nacional do Infante D. Henrique.

• Eleito o «Melhor Autarca do ano de 1986» ■ Prémio telex deprata■ ANOP.

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Publicado por Rui Bandeira

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A minha Iniciação. Parte -1

May 09, 2014

Um dia decidi! Sim decidi tomar uma grande decisão. Decidi fazer uma grande viagem, uma viagem para não mais voltar. Não, não é uma daquelas em que partimos para um outro lado qualquer e por lá ficamos. Esta viagem foi uma viagem muito mais complicada, esta foi aquela viagem! Foi a viagem ao meu interior; Ao meu mais íntimo; À minha razão de ser; A viagem ao principio de tudo. Nesta caminhada decidi encarar todos os meus medos e confrontar

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os meus receios. Assim e com a decisão tomada comecei a prepara as coisas para levar nesta viagem. Identifiquei de onde eu era; Filho de quem e de que famílias proviam as minhas origens; As razões que me levavam a fazer esta caminhada; O sentido de fazer a mesma; Enfim todas aquelas coisas que normalmente levamos numa viagem, pelo menos numa viagem como esta. Depois de tudo inventariado e Check-List realizado, estava pronto para partir. Parti e decidi, com convicção, de que era o caminho certo, de que este era realmente o meu caminho, senão nada fazia sentido. Nada do que até agora havia feito; Nada por onde tinha passado e aprendido; Passo ante passo, pé ante pé, a caminho me coloquei, naquele caminho que ao meu interior me havia de levar. Estava escuro e frio, ou não, mas segui; Tudo era negro, ou não, mas mantive-me firme; Gritos e ruídos, por mim passavam, ou não, mas sem nada a temer; Imagens por mim passaram, ou não, mas tal coisa não conseguia entender; Uma coisa era certa a decisão tomada estava e agora o meu Eu

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me esperava. Fechei todas as portas que para trás tinham ficado, do MundoProfano agora me afastava, começava agora a abrir, ao de leve,mesmo de muito ao de leve a porta da Alma ao Sagrado. Com a consciência de que este era o passo certo, nada mais haviaa fazer, para trás ficavam as incertezas e as inseguranças, agoratudo era fácil, eu já ali estava, o que de mal poderia acontecer? Por certo nada, claro que não, nada havia a temer, esta era aviagem que eu queria fazer. Na verdade em todos estes passos, no quarto escuro eucontinuava, sem dele sequer conseguir sair, que tinha eu de fazerpara ao meu interior conseguir descer? Decidi esperar, pois se assim tivesse que ser, tal se iria realizar,alguma ajuda, eu haveria de ter, e por certo ela ai estria a chegar. Esperei e continuei a esperar que a tal viagem, eu pudesse iniciar. Nota: Para quem esta viagem quiser continuar a seguir, esperarpela próxima semana será o suficiente, para mais uma etapa ficar aconhecer. Alexandre T.

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Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: o currículo docandidato José Manuel Pereira da Silva

May 14, 2014

Tendo na semana passada publicado o currículo de um doscandidatos a Grão-Mestre da GLLP/GLRP, publica-se esta semanao currículo do outro candidato.

Nas próximas semanas, publicarei sucessivamente os manifestosde ambos os candidatos e procurarei obter deles respostas a umquestionário (igual para ambos), de forma a permitir que melhor seajuíze sobre as propostas de cada um. A ordem de publicação doscurrículos, manifestos e entrevistas é a da entrada na GrandeSecretaria da respetiva candidatura.

José Manuel Pereira da Silva

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Currículo maçónico

Co-Fundador da Maçonaria Regular em Portugal, foi iniciado noGOL em 1980, tendo participado na cisão que conduziu à criação,em 1991, da Maçonaria Regular em Portugal.

Principais cargos desempenhados ao serviço da GL:

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• 1º Grande Vigilante

• Assistente de Grão Mestre

• 1º Vice Grão Mestre

• Grão Mestre Interino

• Past V:.M:. das R:.L:. Jean Mons e Barbosa du Bocage

• Fundador do GPIL (Grande Priorado Independente da Lusitânia), CBCS (Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa) e Cav:. de Maltado RER

• Grau 33 do REAA (Supremo Conselho para Portugal)

• Grau 33 do R:. Adonhiromita (Excelso Conselho daMaçonaria Adonhiramita para Portugal)

• Grande Oficial Instalador da Grande Loja de Marrocos

• Representante da G:. L:. da Florida (USA).

DISTINÇÕES MAÇÓNICAS:

• Ordem Honorífica Gomes Freire de Andrade

• Grão Mestre de Honra

• Grande Oficial (ad vitam)

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• Participante como palestrante e conferencista sobre temasmaçónicos e simbólicos em inúmeras iniciativas da GLLP, aconvite de RR:.LL:. ou de entidades profanas.

Currículo profano

Habilitações Académicas:

• Licenciatura em Arquitectura, pela ESBAL, com classificaçãofinal de 15 val., em 18.07.1980

• Curso de Economia e Tecnologia da Construção, com Distinção,I.S.T./FSE, 1989

• Curso de Condicionamento de Edificios - CENFIC 1990

• Curso de Reabilitação de Edificios - CENFIC 1990

• Curso de Gestão da Qualidade - CEQUAL 1993

• Curso de Mestrado em Construção, do Instituto SuperiorTécnico, (Tecnologia e Economia da Construção eReabilitação), 1991/1993.

• Doutorado em Ciências da Educação – Universidade de Huelva,Espanha

Certificação Profissional:

• Membro da Ordem dos Arquitectos Portugueses (nº 1626)

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Docência:

• Professor Efectivo da Escola Secundária Rafael BordaloPinheiro, Caldas da Rainha, 3º Grupo (Construções Civis), atualGR 530.

• Professor equiparado a Adjunto da ESAD (Escola Superior deArte e Design), Caldas da Rainha, em 93/94 e 94/95.

• Monitor em vários cursos de Formação Profissional (FSE).

• Formador certificado pelo IEFP, leccionando desde 2003 adisciplina de Tecnologia da construção dos Cursos deFormação Profissional em Mediação Imobiliária, em acçõesreconhecidas pelo IMOPPI, no CEFORCAL em Caldas daRainha.

• Formador certificado pelo Conselho Científico-Pedagógico daFormação Contínua, no âmbito da formação de professores.

Publicado por Rui Bandeira

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A minha Iniciação. Parte -2

May 16, 2014

Eis que de repente a viagem começou e eu por ela não tinha dado, ou melhor, por ela eu não queria dar. Agora do silêncio da espera algo irrompia e de súbito uma mão para mim se estendeu. De onde vinha e ou de quem era, isso agora não importava, o que contava era que a tal viagem para que eu me preparara agora já estava a acontecer. A caminho, e de caminho, a uma porta, eu fui dar, e na consciência eu fui bater. Que consciência? A consciência de que esta viagem tinha de ser feita de uma forma leal e sentida, por isso se o sítio escuro, tinha de ser, porque haveria eu de os olhos querer usar.

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Bem voltando à Porta, a que eu tinha ido dar, para a conseguir ultrapassar um segredo me foi contado. - Não, claro que o não posso revelar. Lembrem-se, esta foi a viagem ao meu interior e só para mim ela faz sentido e significado consegue ganhar. Depois de, no tal segredo, as respostas ter recebido, foi um tormento, ali logo concedido, mais fundo eu tinha que descer e numa gruta entrar. Depois de muito andar, e por paredes estreitas ter passado, a um Grande Templo eu cheguei. Assim e já dentro do Grande Templo eu me encontrar, quando de repente, para além de quem a mão me dava e os segredos me descortinava, uma voz forjada pela Sabedoria, pela Força e Beleza do conhecimento e saber, se fez ouvir, e comigo começou a falar. - Quem tu és, porque aqui queres entrar? - Não sabes que este é um Mundo reservado apenas a quem o merece ter. - Porque te julgas merecedor de nele entrar? - Não sabes, e já não ouviste contar, que quem aqui entra para trás já não pode regressar? - Tens a consciência que com o Sagrado não se pode brincar e que se o caminho continuares a garganta te irei cortar, se daqui revelares o que vires e escutar? - Que pavor, ou talvez não! - Na verdade era ali que eu queria

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estar, e para aquela viagem eu me tinha preparado, como podiasequer ficar assustado? Em frente decidi ir e com a verdade me armar, nada tinha a temerpor ali conseguir chegar, mas então com uma regra fui confrontado,para de mim mais saber, ia ter de ser julgado. Nota: Para quem a ultima etapa desta viagem quiser conhecer,esperar pela próxima semana será o suficiente, para a derradeiraetapa, e o Grande Segredo, ficar a conhecer. Alexandre T.

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É hora de escrever …

May 20, 2014

Como escrever algo quando a inspiração a isso pouco ou nadaajuda?

Escolher um tema, daqueles que julgamos saber, estudá-lo umpouco mais, ou na realidade, estudá-lo pela primeira vez,desenvolvê-lo, interpretá-lo e escrever sobre ele?

Escrever sobre tudo e nada, sobre nada em particular, sobre tudoem geral?

“Bater” toda esta mistura de ingredientes e como sempre vontadede a saborear e escrever … e levado ao “forno” sair algo sobremaçonaria.

Seja assim então! É hora de escrever.

O que não falta a um maçon é inspiração para escrever, essa éuma capacidade que nos é reconhecida pelos demais, emboraparticularmente encontre que muitas das vezes a simpatia e aamizade fazem com que as críticas e os reparos sejam amenos.

Quais os temas, daqueles que julgamos saber e dominar de lés alés, quando na realidade nada sabemos sobre eles? Não insinuosobre aqueles que sabemos mais ou menos, muito menos sobre osoutros em que sabemos uma ou outra coisa, pronúncio sim aquelesem que temos a profunda noção que nada sabemos, masinsistimos em dizer que sim e, na generalidade dos casos a nóspróprios, sendo esse um erro que é, como muito bem sabemos eaté reconhecemos, fatal (metaforicamente falando).

Esta parte de estudar, de pesquisar, de ouvir e de aprender é, a partir de determinada altura, na vida de um maçon, uma enorme e valente chatice, podendo até ser considerada como uma afronta e

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ou uma falta de respeito. A partir de determinada altura, tudo sesabe, tudo se domina, tudo se encara de maneira diferente, tudotem e emana luz e, na realidade, não passa de uma ilusãoindividual.

Escrever é tão só, algo que considero individual e ao mesmo tempocoletivo. Quem escreve, fá-lo porque assim o entende, escreveporque tem gosto nisso. E se ao escrever for possível aprender? Eevoluir?

Cá vou aprendendo as minhas “coisas”, os temas que consideroimportantes estudar, desenvolver e interpretar, dando-lhes depois omeu cunho, mas esses não os partilho, pois esses fazem parte domeu caminho, da minha discrição, do meu templo interior. Nãotenho necessidade e nem os quero partilhar, não sendo isto defeito,mas sim feitio.

É hora de escrever que há uns tempos que a inspiração me falta,que há (muitos) temas que não domino e que os tento aperfeiçoarum pouco mais a cada nova aurora.

Não sou, nem ambiciono ser nem mais nem menos, sou apenasaquilo que sou e sempre aquilo que quero ser.

E por fim, mas nunca por último, que tem tudo isto a ver comMaçonaria?

É aquela simples parte de escrever sobre tudo e sobre nada.Individual em prol do coletivo, estando à ordem!

Daniel Martins

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Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: manifesto docandidato Júlio Meirinhos

May 21, 2014

Numa eleição personalizada, como é a eleição para Grão-Mestre,as pessoas dos candidatos são obviamente o mais importante. Masos respetivos propósitos e projetos também são, claramente,relevantes para uma escolha consciente. Ambos os candidatos,naturalmente, divulgaram documentos com as respetivaspropostas. Embora de interesse fundamentalmente para o universodos eleitores, os Mestres Maçons da GLLP/GLRP, não existequalquer inconveniente na sua acessibilidade aos interessados emgeral. Aliás, isso mesmo entendeu o candidato Júlio Meirinhos, queo publicou no sítio na Internet da sua candidatura, de acesso livreem http://www.juliomeirinhos.pt

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Publica-se hoje aqui, na íntegra, o manifesto apresentado por JúlioMeirinhos. Na próxima semana idêntico procedimento se fará emrelação ao manifesto do outro candidato.

Meus Irmãos,Em todos os vossos Graus e Qualidades,

Consciente do meu papel enquanto maçom, dos meus deveres, dodesejo de contribuir para uma Maçonaria mais atuante, optei porcandidatar-me à função de Grão-Mestre, no intuito de servir,trabalhar, ao serviço da nossa Causa.

Assim e também em resposta aos inúmeros apelos que recebi deIrmãos de todo o país e de Lojas extra territoriais, decidicandidatar-me ao cargo de Grão-Mestre da Grande Loja Legal dePortugal/GLRP.

Apresento-me, aos meus Irmãos, como sempre estive na nossaAugusta Ordem em todas as funções que desempenhei, tendo porbase os valores da solidariedade e fraternidade.

Sempre à Ordem!

Com uma permanente e total disponibilidade para servir a nossaorganização, em todas as circunstâncias em que seja importanterepresentá-la, a bem da Maçonaria Regular, da que fala portuguêse da Maçonaria universal.

Apresento-me em nome do modelo de governação da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP que privilegia a boa relação com todas as potências maçónicas regulares mundiais que primam pela preparação, estabilidade e continuidade das suas lideranças, a bem da regularidade maçónica, designadamente a concertação das

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Obediências europeias e as de língua portuguesa.

Apresento-me ao serviço de uma estratégia a longo prazo, o únicoregisto que, em Maçonaria, faz sentido.

Apresento-me com a convicção de poder vir a ser o garante daunidade, da pluralidade e da diversidade.

Apresento-me no entendimento de ser capaz de continuar o nossocrescimento qualitativo, quantitativo e territorial assim como depugnar pela integração, no nosso seio, de maçons oriundos deoutras obediências e de todos os ritos regulares.

Apresento-me na convicção de poder contribuir para reforçar acredibilidade internacional da nossa Obediência.

Apresento-me com o intuito de ser capaz de dar continuidade atudo aquilo que de bom foi feito, e é muito, e de melhorar tudoaquilo em que podemos evoluir, aberto às sugestões de todos,integrando os sentimentos coletivos.

Meus Irmãos,Em todos os vossos Graus e Qualidades,

Para o efeito, quero assumir alguns compromissos. Só assim seiestar na vida e, logo, na nossa organização.

Comigo, há lugar para todos os que trabalham a bem da Ordem,valorizando as propostas e atitudes que servem a sua Loja ou anossa Obediência, atentos ao impacto negativo de eventuaismanipulações ou desvios.

Regularidade

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As nossas regras são imutáveis. E o seu cumprimento é o primeirodever de um Maçom.

Logo, por maioria de razão, um Grão-Mestre deve cumprir e fazercumprir a estrita observância da Regularidade Maçónica,dos Landmarks, da Constituição, dos Regulamentos, dos Rituais edos nossos valores.

Infelizmente, alguns Irmãos, por vezes, esquecem-se desse dever.Individualmente ou em projetos que, de maçónicos, pouco têm; eque prejudicam a nossa imagem.

Em conjunto, teremos de saber preservar os nossos valores eerradicar, do nosso seio, comportamentos que nos afetaramnegativamente no passado e lesam no presente.

Respeitarei, naturalmente, todos os Ritos Maçónicos que sãopraticados na Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

Harmonia

Defenderei intransigentemente a Harmonia, a Paz e a Concórdia noseio da nossa Augusta Ordem. Não admitirei, no nosso seio,comportamentos que violem esses valores.

Quero estabelecer com os Altos Graus uma parceria e um diálogopermanente de aprofundamento do nosso trabalho conjunto.

Quero contar com o contributo dos Past Grão-Mestres para o nossotrabalho maçónico.

Governação Participada e Colegial

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A governação da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP é, cada vezmais, delicada e complexa em termos administrativos e financeiros,em razão do seu enorme crescimento, qualitativo e quantitativo,dos compromissos financeiros existentes e de tudo o que a suagestão já implica.

Não podemos regredir ao amadorismo e temos, ao invés, deaprofundar a eficiência do seu modelo de gestão e governação.

A Grande Loja Legal de Portugal/GLRP é uma Obediência. E nãodeve ser confundida, na sua prática interna, com organizações dequalquer outro tipo. O Grão-Mestre tem os poderes constantes dasua Constituição e Regulamentos.

Quero uma governação participada. É esse o modelo que vouimplementar.

Quero uma Grande Loja complementar ao trabalho das Lojas.

Quero ouvir os meus Irmãos em todos os seus Graus e Qualidades.

Quero reunir o Conselho de Veneráveis.

Quero instalações de Veneráveis, participadas e descentralizadas,em que estarei disponível para acordar a forma de o fazer.

Quero uma gestão administrativa e financeira cada vez maiseficiente.

Relações Institucionais

A nível nacional, assumo o compromisso de manter umrelacionamento sadio com as autoridades civis e religiosas.

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A nível local e regional, procurarei, em articulação com osVeneráveis Mestres e colhendo previamente a sua opinião, noestrito respeito da autonomia de cada Loja, estimular orelacionamento com os diferentes poderes religiosos e civis.

Sede e Templos

A Grande Loja Legal de Portugal/GLRP é hoje a grande potênciamaçónica portuguesa.

Está implantada em todo o território continental e possui inúmerasLojas nas Regiões Autónomas e no estrangeiro. Cresceu emqualidade e quantidade. É a maçonaria regular portuguesa.

A sua Sede Nacional e os seus Templos devem ser, nos próximosanos, adequados a este crescimento qualitativo e quantitativo.

A aquisição de uma nova sede para a Grande Loja Legal dePortugal/GLRP, na capital do país, em Telheiras, foi um marco paraa nossa organização. Vamos melhorar as suas funcionalidades eutilização.

Similarmente, vamos consolidar a nossa presença, com templos,em todo o país. O Porto é uma prioridade, mas vamos lutar paraque todos os distritos tenham espaços condignos e bemlocalizados.

Esta área será uma das minhas prioridades. A excelente gestãofinanceira que temos tido, que não vai sofrer desvios, permiteafirmar este objetivo.

Relações Internacionais

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Nas relações internacionais, tal como na maçonaria em geral, aopção é a de manter o rumo e consolidar o trabalho que tem vindoa ser feito ao longo dos anos.

A nossa aposta estratégica assenta na relação com as maçonariasregulares dos países de língua portuguesa em paralelo com amanutenção da ligação ao eixo Atlântico, valorizando o nossoposicionamento de centralidade entre a Europa, a América e aÁfrica.

Assim sendo, procurarei reforçar a relação com as principaispotências maçónicas, com particular incidência com os paísesIbero■ americanos e com os países lusófonos e, em especial, comas potências regulares brasileiras e a Grande Loja de Moçambiqueassim como com os Triângulos e Lojas a trabalharem no espaçolusófono.

Daremos uma particular importância à organização da ConferênciaMaçónica Interamericana CMI, a realizar em Lisboa, em 2015, que,à luz do que fizemos em 1996, Reunião Mundial de Grão-Mestres,será um momento de consolidação da nossa Grande Loja.Paralelamente, iremos igualmente organizar a ReuniãoInternacional dos Grandes Secretários e a Reunião daConfederação Maçónica de Língua Portuguesa, dando assimcontinuidade a todo o trabalho já efetuado, assumindo de novo aresponsabilidade de coordenação e realização de todos estesgrandes eventos.

Reforçarei a continuidade das Cimeiras Ibéricas, pelo crescenteincremento da participação na CMI e na organização que congregaa Maçonaria Regular Lusófona.

Consolidação da nossa Grande Loja

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Darei continuidade a tudo aquilo que reputo de bom e considerobem feito e estarei disponível para integrar e implementar todas assugestões de melhoria ou de evolução.

A consolidação da nossa Augusta Ordem, em múltiplas vertentes eáreas, continuará a ser o grande desígnio do meu mandato.

Quero apoiar as apostas das Lojas, em prol da filantropia e doapoio aos Maçons, designadamente através da continuidade dostrabalhos em curso, na criação de um seguro de saúde, no apoioaos mais idosos, na promoção de bolsas de estudo, na preparaçãode programas de estágios e na instituição de ações desolidariedade social.

Quero reforçar a capitalização do nosso Fundo de Solidariedade.

Quero valorizar, ainda mais, a nossa imagem social e solidária bemcomo os nossos laços de amizade e fraternidade através doincentivo e apoio às iniciativas das Lojas que potenciem essesdesígnios e envolvam as nossas famílias.

Vou incentivar a nossa implantação em todo o território nacional.Vou continuar a promover o crescimento de Obreiros e de Lojas.

Quero facilitar a adoção do uso das tecnologias informação ecomunicação e a utilização do nosso site enquanto principalinstrumento de comunicação da Grande Loja Legal dePortugal/GLRP.

Quero criar uma revista maçónica digital.

Quero consolidar o funcionamento descentralizado e digital daAcademia de Formação aprofundando as suas valênciasmaçónicas e profanas.

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Quero trabalhar na elaboração da história da Maçonaria Regularportuguesa.

Meus Irmãos,Em todos os vossos Graus e Qualidades,

Estes meus compromissos pressupõem uma atenção constante àsiniciativas de tudo aquilo que possamos desenvolver em conjunto.Daí que esteja interessado em enriquecer a minha atuação deGrão■ Mestre, integrando as ideias deste manifesto de candidaturacom as vossas sugestões, críticas e propostas.

Só passaremos nas pontes que construirmos.

Estou ao vosso dispor, ao serviço da Maçonaria Regular e daMaçonaria Universal.

A Grande Loja Legal de Portugal/GLRP é e será aquilo que, unidos,construirmos. Em congruência, o nosso lema é:

Continuar, cumprindo os Princípios, a consolidar a edificação danossa Ordem, a bem da Humanidade, à Glória do Grande Arquitetodo Universo.

Júlio Meirinhos

Publicado por Rui Bandeira

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A minha Iniciação. Parte -3

May 23, 2014

Julgado fui, e agora novas provas tinha de passar, pois no fim de tudo a Luz eu ia poder enxergar e o meu Eu, mais íntimo, alcançar. Às provas me dediquei, depois de as aceitar. Guiado fui e pelas várias provas passei, vento e calor sofri, mas com água no final me refresquei e dela bebi, só não esperava o amargo, que no fim senti.

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Sim o amargo da “doce” frescura, pois com sede “ao pote” eu tinha ido, mas do mais importante me esquecia, que quem daquela água bebe, a ela fica ligado. Provas superadas a Luz me foi mostrada, sim a Luz à minha frente se apresentava. Estaria eu acordado, ou a sonhar? Tudo aquilo à minha frente se declarava e a Luz se mostrava. Estaria a sonhar, ou aquilo era a realidade? Pois por um sonho já eu havia passado e com uma Luz, sonhado, que a mesma me haveria de ser dada, por alguém que eu não vislumbrava, por alguém que eu desconhecia, mas por alguém, que de mim, já algo sabia. Recordo-me e sei, que dessa forma um dia sonhei. E dos sonhos para a realidade, algumas coisas se fazem Verdade. Seria agora esta a minha sentença, por uma cegueira cega, de falsas parecenças, eu estava rodeado? Seria verdade e eu estava acordado? Verdade, mentira? O que é a realidade? Será que é verdade dizermos coisas, e delas garantia dar, sem que um dia as tenhamos sequer vindo a experimentar? Que estranhos Rituais e que estranhos movimentos, eu tinha acabado de fazer, que se passava afinal, em todos aqueles novos

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momentos? Nada! Nada e tudo, ou, quase tudo e nada! Assim eu, naquele momento, pensava. Da realidade para a ficção, existia, naquele momento, uma parte que se confirmava e a outra não. Aquilo era tudo e era nada, daquilo, que eu, havia imaginado, aquilo não era nada, de tudo o que eu afinal, julgava um dia ter dominado. A verdade, é que por tudo, e devido a tudo, o que eu havia imaginado, Em outra realidade, agora, o tal momento, e a viagem, se tinham tornado! Não em realidade, ou verdade, do que antes, tinha sido escrito e ou falado, mas a minha, e tão-somente a minha! Sim! - A minha realidade! A realidade do momento, que então eu, antes, tanto havia ansiado. A realidade, não só da minha mente, mas a realidade do que, no momento, verdadeiramente sentia. Aquela era a realidade, que um dia alguém me tinha dito, sim que me tinha dito, e eu não acreditara, que somente minha seria, e tão-somente minha, aquela nova realidade, se as barreiras, que se

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me apresentariam, passasse com a verdade. Agora compreendia o Segredo, do meu mais íntimo e do meu “Ser”. Afinal o Segredo, o tal Grande Segredo, não era nenhum Segredo,era apenas algo que só a mim dizia respeito, algo que só eu podiaentender, por isso o Segredo, nada tinha de Secreto, mas sim,como um dia já ouvira dizer, ele era apenas Discreto. Por isso só para mim, ele se tinha revelado e por isso mesmo, e deforma alguma, devia, agora, ele, de ser, aos outros, contado. E assim terminei esta minha viagem e ao destino consegui chegar,pois nela, tal como na vida, tudo de mim tinha dado e agora paracomeçar um novo caminho eu estava preparado. Se este novo caminho o vou conseguir fazer, só de mim depende,certo eu estou que de o meu melhor eu vou dar, para a perfeiçãotentar atingir e a Verdadeira Luz receber. Nota Final: E assim acabou o sossego de uma vida acomodada, deuma vida cheia de certezas e conceitos, ou preconceitos,enraizados, a viagem, naquele dia iniciada, bem essa ainda muito(espero) falta para estar terminada. Alexandre T.

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Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: manifesto docandidato José Manuel Pereira da Silva

May 28, 2014

Conforme prometido e em cumprimento do princípio da igualdade de tratamento das candidaturas, que livremente assumimos neste blogue, divulga-se hoje o manifesto de candidatura do candidato

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José Manuel Pereira da Silva, também publicado no sítio naInternet da sua candidatura, de acesso livre,em http://jmpereiradasilva.wordpress.com/.

Carta aos M. Q. I. da GLLP/GLRP em que se explicam as razõesduma candidatura ao cargo de Grão Mestre

Vivemos, nestes dias, um período que se espera de profundareflexão para todos os M:.M:. que reúnem a qualidade para, no dia21 de junho, decidir sobre qual o seu par a ser investido nasfunções de Grão-Mestre da Obediência.

Se falo de reflexão e de decisão individual é porque me recuso aver, neste processo, uma “campanha eleitoral”, uma “disputa entrecandidatos” ou outra qualquer coisa que se assemelhe. Não porqueesses processos me sejam estranhos, tantos foram aqueles emque, na minha vida profana, participei e me envolvi comentusiasmo. Porém, não os consigo conceber no interior dumaObediência Maçónica. Por duas razões principais.

A primeira, porque entendo que, ao contrário das organizaçõesprofanas, a Maçonaria dispensa individualidades de liderança ouchefia que se afirmem como constitutivos de orientações capazesde mobilizarem um conjunto de seguidores que neles confiem.Entre nós as mais altas funções só podem resultar como emanaçãoduma vontade coletiva. Foi por isso que a minha candidatura nãonasceu da minha vontade, mas sim da vontade de várias dezenasde irmãos cuja solicitação de disponibilidade se me impôs como umdever fraterno.

A segunda, assim sendo, porque me repugna a ideia duma disputa entre pessoas que, partilhando os mesmos princípios jurados, se

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devem dispor à Concórdia e à Fraternidade na mais solene recusada divergência e do antagonismo.

Candidato-me porque acredito na Maçonaria como umprojeto coletivo exemplar que tem no Amor Fraterno umafonte suficiente de legitimação do serviço que cada um échamado a prestar.

Todos conhecemos os princípios, apesar da sua origem naantiguidade dos tempos, que fundaram a criação da MaçonariaUniversal moderna. A Grande Loja é um garante de que todospartilhamos os mesmos valores, as mesmas regras e o mesmo

respeito pela Tradição com que nos afirmamos como uma viainiciática e com que nos circunscrevemos como Sociedade eFraternidade num contributo notável ao serviço da Humanidade.Mas, é um garante perante todos e cada um, precisamente porqueé dessa necessidade coletiva, tornada consciência, que ela seergue como realidade necessária e testemunho dum querer e dumcrer coletivo.

A Grande Loja é, por isso, uma emanação das Lojas e só estasdetêm a soberania que se expressa nas competências do órgãomáximo da nossa governação: a Assembleia de Grande Loja. Enão existe outra sede de detenção dum poder efetivo. Toda afunção executiva se lhe deve submeter e nenhuma autonomia que

não resulte duma clara delegação desse poder deve serquestionada e corrigida. Este é o princípio da constituição do poderentre nós que, justamente, se inscreve na Constituição e noRegulamento Geral em cumprimento dos princípios daRegularidade e da Tradição.

Tal significa que essa constituição dum poder soberano, entre nós, se inicia, propriamente, na eleição de cada VM e se completa com

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a eleição do Grão-Mestre. Confundir o vértice com a própriapirâmide é um erro, deliberado ou inconsciente, próprio dos quesonham com a formação de nomenklaturas que se pretendemlegitimadas para o exercício dum poder que tenho dificuldade emdescortinar qual possa ser, mas que não deixa de ter um impactonegativo ao criar a desagradável sensação de que as Lojas devemservir a GL e as decisões que nela se tomem mesmo que aoarrepio da sua vontade. Esta lógica inversa é negativa e criadivisões

internas, por um lado, e um progressivo alheamento da participaçãocoletiva.

Candidato-me porque acredito que a soberania das Lojasdeve tornar-se efetiva para que possamos prosseguir onosso trabalho e irradiar com força e vigor.

Chegam-me ecos dum desconforto crescente entre os Irmãos que manifestam sentir que, entre nós, tem crescido aquilo que podemos identificar como aquela tendência de alguns que se sentem, particularmente, “iluminados” e “talhados” para o exercício de cargos e funções, ou que veem no exercício do grande oficialato uma forma de promoção e ascensão hierárquica. Como se isso pudesse ter algum sentido entre nós e como se esse exercício não seja, ainda, apenas a manifestação daquela disponibilidade que a humildade fraterna reclama para o serviço de todos. Não deixo, contudo, de reconhecer a existência de Irmãos que, por refletirem essas mesmas qualidades de disponibilidade e humildade, desenvolvidas num intenso e assíduo trabalho nas suas Lojas e pela exemplar sabedoria revelada na sua execução ritual se revelam como figuras incontornáveis e como uma mais-valia cerimonial e espiritual, constituindo um exemplo que se deve

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acentuar e manter.

Mas estes são já sinais dum “desvio” de que todos somosresponsáveis na medida em que para ele todos temos contribuído.É, por isso, muito importante a criação dum espaço de reflexãocoletiva em que possamos questionar-nos sobre a natureza e afinalidade contemporânea da Maçonaria. Considero-o como umgrande, necessário e urgente debate, capaz de nos motivar e unirpara os grandes desafios do futuro. Não basta reclamarmo-nos daTradição, de nos constituirmos como uma via iniciática e simbólicase a essa reivindicação não pudermos atribuir uma significação eum sentido que ilumine a nossa pertença e a nossa escolha dumcaminho que, só podendo ser transformante de cada um para seinstituir como contributo universal, deve continuar a ser vivido comouma das mais surpreendentes e belas construções dos homens“livres e de bons costumes”: a Maçonaria. Porque se nãoclarificarmos e aprofundarmos, coletivamente, esse significado eesse sentido continuaremos a deixar que se instalem, entre nós osmal-entendidos e os epifenómenos que nos prejudicam e nosdificultam o trabalho que, iniciado no Templo, devemos continuarno mundo profano. E como esse mundo precisa hoje de nós e donosso trabalho!

Candidato-me porque acredito que todos nos podemos reconhecerem todos, sem exceção, dando conteúdo a essa ideia primordial deque nos constituímos como Fraternidade.

Sei que os compromissos assumidos pela Grande Loja exigem uma gestão rigorosa e difícil. No entanto, sinto-me perfeitamente preparado para o exercício da função de Grão-Mestre e para enfrentar com o maior rigor essas dificuldades. Estive durante mais de uma década envolvido nessa gestão e em tempos que não

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foram, por certo, mais fáceis. Mas esse é um aspecto menor,quando sabemos que existem na Obediência tantos Irmãos que,em termos de preparação e qualificação nas áreas da gestão e daadministração, organizacional e financeira, se situam em

patamares de excelência e cujo apoio me foi fraternamentemanifestado. Será, por isso, garantida uma gestão que assegure ocumprimento dos compromissos adquiridos e que adeque oorçamento aos tempos difíceis que vivemos, limitando as despesasao essencial, com rigor e frugalidade. Não sendo rico, tenho avantagem de compreender a dificuldade sentida por tantos Irmãosno cumprimento das suas responsabilidades e a razão, pela qual,têm diminuído os troncos nas nossas Lojas.

Nesse sentido deveremos ser particularmente rigorosos naorganização de eventos e iniciativas, garantindo que a participaçãode todos se possa fazer sem qualquer sacrifício material. Consideroa ideia de que a iniciação é acessível apenas a uma

“elite económica” é antimaçónica e compromete, gravemente, onosso futuro e a irradiação da Ordem. E sendo essa irradiação umdos nossos deveres constitucionais devemos pugnar para que senos possam juntar todos os que, considerados como “livres e debons costumes”, o queiram fazer, independentemente do seuestatuto económico e social.

Temos, por isso, que cuidar de um orçamento que se sustente narealidade suportável pelas Lojas, num período em que a criseeconómica se abate sobre a generalidade dos Irmãos e muitoshavendo a passar por grandes dificuldades financeiras, quedeverão ser objeto da nossa mais alta atenção e solidariedade.

Nesse sentido defendo que um plano anual de atividades deve basear-se na capacidade e na iniciativa das Lojas a que a GL se

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deve associar, promovendo-as, divulgando-as e se necessáriocoordenando-as. Todas as iniciativas da GL, que tenham impactoorçamental acrescido face aos compromissos atuais devem serobjeto de parecer prévio do Conselho de Veneráveis e deaprovação da Assembleia.

Candidato-me porque acredito que a nossa energia coletivaé suficiente para a resolução de qualquer problema que tenhamosque enfrentar.

A Obediência tem visto crescer o número de Lojas, sobretudo noúltimo ano. Considerando esse crescimento como um fator positivoem si, não deixo de recear que ele possa pôr em causa o normalfuncionamento de muitas Lojas, tantas são as que têm que recorrerà fraterna solidariedade e disponibilidade dos seus MestresAuxiliares para poderem funcionar com o quórum ritual.

Defendo que o crescimento do número de Lojas deve, por isso,resultar do crescimento do efetivo de obreiros e que essecrescimento deve constituir um desafio mobilizador para ospróximos anos. Mas não a todo o custo porque, infelizmente, todossabem como a ausência de cuidado em algumas admissões setransformou num prejuízo sentido internamente e percebido noexterior.

Por outro lado, o bom trabalho das Lojas pode e deve ser aprofundado com ações de formação simbólica e ritual bem como a criação de condições para que a investigação maçónica se faça, entre nós, de forma estruturada e rigorosa. A Academia de Formação Maçónica pode e deve assumir este processo, recorrendo aos Irmãos que, tendo a necessária preparação

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científica, possam orientar e formar, metodologicamente, todosaqueles que mostrarem essa disponibilidade e gosto pelo estudo epela investigação: a construção de uma atividade de investigaçãoem teoria e história da Maçonaria, de uma verdadeira maçonologia,seria um notável contributo da GLLP/GLRP para a cultura maçónicauniversal. Temos obreiros com capacidade e vontade para isso.Garantir condições de trabalho e de divulgação está ao alcance daGL e deve ser tomada como uma prioridade. Tanto mais quantoesta é, exatamente, o tipo de atividade que nos pode prestigiarexternamente e contribuir para a irradiação da Ordem. Astecnologias de informação e comunicação permitem-nos, hoje, terrecursos poderosos ao serviço desses desígnios com elevadaeficiência.

Também como prioridade e urgência deve ser tomado o inventáriodo acervo documental e testemunhal que permita a consolidaçãoda nossa memória histórica.

Candidato-me porque acredito que, crescendo com qualidade eesclarecimento, cumprimos a nossa obrigação devia transformante, numa resposta às necessidades espirituais dumasociedade em progressiva erosão ética.

A Grande Loja está hoje comprometida, e bem, com a criação de laços de cooperação e desenvolvimento da maçonaria regular nos espaços lusófono e ibero-americano. Estaremos mesmo comprometidos com a organização, em 2015, com um grande evento como a Conferência Maçónica Interamericana. Devemos honrar os nossos compromissos e cumpri-los de forma a consolidar o nosso prestígio. Mas temos que ser realistas quanto à nossa participação e envolvimento na organização de eventos que impliquem custos que se traduzam em dificuldades orçamentais.

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Tenho consciência das dificuldades das Lojas e, por isso, defendoque, para além dos compromissos já assumidos, todas asiniciativas futuras devem resultar duma decisão e implicaçãocoletiva e só depois de submetidas a parecer favorável doConselho de Veneráveis. Penso que é numa agenda interna quedevemos, para já, concentrar a nossa atenção e energia, semprejuízo de todas as iniciativas que, a baixo custo ou sem ele,sempre podemos ir desenvolvendo no plano externo, sobretudo no plano da lusofonia e ibérico.

Candidato-me porque considero como prioritária a consolidaçãodos aspetos

internos, sobretudo os orçamentais, e que só resolvidos essespodemos ter a

pretensão, no plano maçónico, duma afirmação externa.

Meus Queridos Irmãos

Estas são as principais ideias que quero partilhar convosco e comas quais justifico a minha disponibilidade para, em nome das largasdezenas de Irmãos que fraternalmente mo “exigiram”, meapresentar como candidato à função de Grão-Mestre daGLLP/GLRP. Uma função para a qual, reafirmo, me sinto preparadopor

um passado de entrega ao serviço da Obediência, incluindo a suafundação.

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Não vos apresento um programa porque isso, para mim, não temqualquer significado numa organização maçónica. Não porquesobre isso não tenha ideias concretas mas, apenas, porqueentendo que o “programa” da GL só pode ser aquele que as Lojas,na sua inalienável soberania, decidirem e construírem. A GrandeLoja e o seu Grão-Mestre são apenas o garante da nossaRegularidade, ou

seja, do escrupuloso cumprimento da Constituição e doRegulamento Geral que decidimos adotar de acordo com aTradição, os Usos e os Costumes da Maçonaria Universal.

Sinto-me feliz e realizado com o trabalho maçónico quedesenvolvo, assiduamente desde sempre, na minha querida LojaAmor e Justiça.

Mas um Mestre tem que estar à Ordem e servir onde os Irmãosentendam que ele deve servir. Se tiver que ser, por vossa vontade,como Grão-Mestre, que assim seja com a ajuda do G:.A:.D:.U:.

José Manuel Pereira da Silva

Publicado por Rui Bandeira

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O Silêncio e o Verbo! – Parte -1

May 30, 2014

O Silêncio e o Verbo! Gênesis 1:1 No princípio criou Deus os céus e a terra. Gênesis 1:2 A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas. (Fonte: A Bíblia Sagrada – Génesis – A criação do Mundo) No princípio … No princípio da criação, tendo em conta os livros sagrados, nada existia com forma, nada havia para além do vazio. Tínhamos apenas o espaço vazio, o caos, o vácuo, o espaço sem direção (sem Sul, sem Norte, sem Oriente, sem Ocidente, sem Zénite e sem Nadir, ou seja, sem a verdadeira dimensão de universalidade, até porque nada existia com forma). Assim se nada existia, com forma, também o Verbo não podia descrever essa mesma ausência de forma, porque também ele não

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existia, o que fazia que não existindo o Verbo (a palavra), também o Silêncio não existia, pois o Silêncio é, ou pode ser: (…) a ausência total ou relativa de sons audíveis. Por analogia, o termo também se refere a qualquer ausência de comunicação, ainda que por meios diferentes da fala. (Fonte: Wikipédia) Ou seja, se a comunicação é o Verbo e o Verbo aquilo que permite a existência da comunicação é também a existência do Verbo que leva à existência do Silêncio e se o Verbo não existia, também o Silêncio não existia. Gênesis 1:3 Disse Deus: haja luz. E houve luz. Gênesis 1:8 Chamou Deus ao firmamento céu. E foi a tarde e a manhã, o dia segundo. Gênesis 1:29 Disse-lhes mais: Eis que vos tenho dado todas as ervas que produzem semente, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dê semente; ser-vos-ão para mantimento. (Fonte: A Bíblia Sagrada – Génesis – A criação do Mundo) “E disse Deus…” “Chamou Deus…” “Disse-lhes mais…” Ou seja o Grande Arquiteto Do Universo quebrou o vazio, desfez a ausência de forma, preencheu o vazio, organizou o caos, deu

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direção ao espaço, criando assim o Sul, o Norte, o Oriente, o Ocidente, o Zénite e o Nadir, ou seja, deu dimensão ao conceito de Universalidade, através do uso do Verbo, isto é, o Grande Arquiteto Do Universo criou com o uso do Verbo, quebrando e gerando assim, em simultâneo, o próprio Silêncio. No seu ato final, a criação do Homem, o Grande Arquiteto Do Universo, teve de comunicar diretamente a fim de gerar um EU e um TU, isto é, não quebrar apenas o Silêncio, usando o Verbo, mas dirigir esse Verbo a alguém, “Ele” tinha de ser ouvido. 1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. 2. Ele estava no princípio junto de Deus. 3. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. 4. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. 5. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam (…) 8. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 9. [O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem (Fonte: A Bíblia Sagrada - O Evangelho Segundo S. João) Assim perante o poder da criação, declarado pela utilização do Verbo e diante da grandeza do “Real”, que é sábia na utilização deste, comecei a entender melhor o porquê do “SILÊNCIO” . Era demasiada a ambição e até descabida, alguém como eu, que começara a apreender a utilizar as ferramentas base, na

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construção do seu próprio Templo, querer ter logo de início o poderde criar, isto mesmo sem mais nada saber! Será que não está mais que provado que o uso inadequado doVerbo tem sido a principal causa de conflitos e de destruição desdedo princípio dos tempos? Não seria desta forma uma atitude totalmente descabida etendencialmente fratricida passar tal arma e poder para as mãos dequem ainda não estava preparado? Hoje estou certo que sim! Mas afinal onde estava eu nessa altura com essa ambição tãodesmedida e descabida? Querer criar, sem primeiro entender como o fazer! Estava afinal ainda ligado a um cordão umbilical profano, estavaainda ligado a uma corrente de vida profana, da qual não tinha sidocapaz de me desligar aquando da minha descida ao centro daterra, afinal não tinha sido capaz de visitar o meu interior erectificar-me, largado os conceitos e preconceitos profanos, dosquais havia prometido livrar-me! Alexandre T.

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O MUNDO DA CAROLINA

June 01, 2014

É Domingo, 1 de Junho, e algo se passa na Covilhã.

Há cerca de 5 meses a memória de uma menina deu origem àcriação de uma nova Associação cujo objetivo é ajudar.

Ajudar quem precisa de ajuda, ajudar quem, sem querer e sem culpa, se vê a braços com alguma doença daquelas que não deixam dúvidas quanto ao fim a que destinam os que lhes caem

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nas garras.

Esta associação de que Vos falo hoje é a Associação “O Mundo daCarolina”.

A Carolina foi uma menina que viveu 8 anos, 8 anos apenas.

Apenas 8 anos que no entanto foram suficientes para deixar aoscrescidos, com muitas dezenas de anos, um legado de Amorsuficiente para provocar esta onda solidária que hoje tem um dosseus momentos mais importantes com a inauguração de um parquepara crianças e com o lançamento público do livro que a Carolina,com apenas 8 anos (!), nos deixou em herança.

Um livro de histórias e desenhos, que a Carolina escreveu edesenhou durante o tempo em que ficou hospitalizada no HospitalPediátrico de Coimbra.

Legado extraordinário, felizmente agora posto ao serviço das outrascrianças que, como ela, se vêm envolvidas na injustiça dosofrimento.

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Os Pais da Carolina, os Colegas, as Professoras, muitos Amigos,juntaram-se e 5 meses após a criação da Associação sem finslucrativos “O Mundo da Carolina”, eis que hoje na Covilhã, cidadeonde nasceu e viveu enquanto pôde, é feito o lançamento do livroque traz a todos nós aquilo que foi o Seu mundo, histórias de Amore Ternura que a sua jovem e inocente imaginação foi capaz deinventar para entretenimento dos dias em que não pôde saltar ebrincar como a maioria dos seus coleguinhas.

Deixo-Vos este testemunho e um desafio.

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Quis o acaso (será o acaso ?) que tenha podido falar ontem,Sábado, com uma das pessoas que a acompanhou até ao fim nohospital em Coimbra, e mesmo sendo uma profissional da saúde(…ou da doença ?), habituada e habilitada a muitas situações degrande constrangimento, ainda recordou a Carolina queacompanhou há mais de um ano.

A que não hesitem em visitar o sítio www.omundodacarolina.ptassim como Vos desafio a encomendar um livro através doendereço [email protected] (10 euros) com ashistórias e poemas que a Carolina nos deixou.

Toda a receita reverte para apoio a quem necessita e isso não senega nem se esquece.

Bem hajas Carolina, estejas onde estiveres os teus Amigos não teesquecem e mantêm a Tua memória.

J.P.Setúbal

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Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: Entrevista aocandidato Júlio Meirinhos

June 04, 2014

Os obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues elaboraram dezperguntas destinadas a serem colocadas a ambos os candidatos.Foram enviadas aos candidatos, que a elas responderam sabendoque as questões colocadas eram exatamente iguais para ambos esem conhecerem as respostas um do outro. Não são, tivemosconsciência disso, perguntas fáceis. Mas fizemo-las confiantes emque a grande capacidade dos candidatos se traduziria em boasrespostas a perguntas difíceis e, sobretudo, que através delaspoderíamos ter uma mais aprofundada noção dos projetos e dopensamento de cada um deles. Publicamos hoje a entrevista docandidato Júlio Meirinhos.

Na próxima semana, publicar-se-ão as respostas do outrocandidato.

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Qual o papel e significado da Maçonaria Regular no séculoXXI?

A Maçonaria Regular deve continuar a ser o que sempre tem sidoao longo dos tempos.

Deve ser um espaço de princípios e valores, de aperfeiçoamentointerior, de liberdade e de progresso.

Um espaço de fraternidade, solidariedade e de aperfeiçoamento decaracterísticas de liderança em todas as áreas da vida emsociedade.

Num tempo em que voltam a emergir fenómenos populistas e de valores pouco democráticos e em que as condições de vida das

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pessoas se degradam brutalmente os nossos valores devem estarbem presentes na defesa da liberdade e do progresso.

Onde está um Maçom deve estar a Maçonaria e os seus valores.

E o mundo, hoje, precisa dos nossos princípios e valores.

Assinalas no teu manifesto a prioridade ao relacionamentocom as Obediências dos espaços iberoamericano e lusófono.Como vês o papel da GLLP/GLRP nesses espaços e quepolíticas de atuação concreta preconizas?

Como tenho dito a melhor opção é manter o rumo e consolidar otrabalho que tem vindo a ser feito ao longo dos anos.

A inovação pouco ponderada ou a rotura com as relaçõesconsolidadas traz, inevitavelmente, retrocessos na nossa afirmaçãointernacional.

Assim sendo, procurarei reforçar a nossa aposta estratégica narelação com as principais potências maçónicas, com particularincidência com os países Ibero■ americanos e com os paíseslusófonos e, em especial, com as potências regulares brasileiras ea Grande Loja de Moçambique assim como com os Triângulos eLojas a trabalharem no espaço lusófono.

Comigo, terá continuidade a preparação da organização daConferência Maçónica da CMI, a realizar em Lisboa, em 2015.Também aqui não podemos, face aos compromissos assumidos,dar passos atrás.

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Pugnarei, analogamente, pela continuidade das Cimeiras Ibéricas,pelo trabalho ibérico conjunto no espaço ibero-americano e pelocrescente incremento da participação na CMI e na organização quecongrega a Maçonaria Regular Lusófona.

No fundo, também aqui consolidarei a nossa participação eafirmação.

É redutora a visão de quem entende que nos devemos fechar sobrenós próprios diminuindo a nossa ação internacional.

Que papel e que intervenção (se é que alguma) preconizas quea GLLP/GLRP exerça na sociedade portuguesa, como e comque instrumentos?

Como já referi vivemos um tempo em que estão a emergirfenómenos populistas e em que as condições de vida das pessoasse degradam brutalmente.

Logo, devemos afirmar os nossos valores na defesa da liberdade edo progresso.

Afirmá-los na sociedade sem nos abrirmos em excesso mas semnos fecharmos sobre nós próprios.

Devemos primar, igualmente, pela solidariedade e fraternidade.

E a melhor forma de o fazer é pelo exemplo.

Um Maçom deve ser exemplar no seu comportamento cívico poisonde está um Maçom está a Maçonaria. E, assim sendo, o nossocomportamento individual continua a ser a nossa melhorintervenção na sociedade.

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Coletivamente, devemos afirmar, cada vez mais, na sociedade, osnossos valores e romper com todas as práticas internas que nãoestejam em consonância com eles.

E, para isso, o melhor instrumento é a nossa ação individual ecoletiva.

Como preconizas que se efetue a capitalização, gestão eadministração do Fundo de Solidariedade Maçónico?

A capitalização deve ser efetuada por duas vias: uma percentagemdos resultados líquidos existentes a definir, anualmente, nomomento da definição da aplicação desses resultados líquidos; e,os donativos recebidos pela GLLP/GLRP.

A gestão deverá ser efetuada em obediência a um Regulamentodebatido e aprovado no seio do Conselho de Veneráveis Mestres.

E a sua administração deverá ser efetuada pelo Grão-Mestre que,naturalmente, poderá cooptar quem entender para o auxiliar.

Como preconizas o lançamento e funcionamento da AcademiaMaçónica (“Academia de Formação” é pleonasmo...) e qual oprazo que prevês para efetivo início do seu funcionamento?

A nossa Academia já deu os seus primeiros passos. Com José Manuel Anes, José Ruah, entre outros, várias ações já foram

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concretizadas. E outras foram planeadas e aguardamimplementação.

Eu quero consolidar o seu funcionamento descentralizado por todoo país.

Quero, analogamente, implementar o seu funcionamento digital.

Quero, igualmente, aprofundar as suas valências maçónicas eprofanas.

Quero, ainda, trabalhar na elaboração da história da MaçonariaRegular portuguesa.

E vou fazê-lo desde logo. Mal seja instalado na Cadeira deSalomão.

Na dinâmica de funcionamento Lojas/Grande Loja privilegias aprevalência da liberdade de atuação das Lojas ou dacoordenação da Grande Loja? Na primeira hipótese, comoprevines fenómenos de basismo e descoordenação? Nasegunda, como prevines excessiva coordenação eautoritarismo?

Acho esta dicotomia algo redutora.

Eu quero uma governação mais colegial e mais participada em quetodos os irmãos sejam, cada vez mais, ouvidos.

Quero uma Grande Loja cada vez mais afirmativa em todos os seusplanos mas que não se substitua às Lojas ou que as procuresubmeter.

Quero obreiros e Lojas livres pois aí estará a nossa força.

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Quero ouvir, sempre, o Conselho de Veneráveis.

Mas quero, naturalmente, que exista articulação na nossa açãocoletiva.

Articulação, liberdade, governação participada e colegial é aquiloque preconizo.

Sem basismo, sem autoritarismo e, acima de tudo, sem projetosindividuais de Lojas que possam desvirtuar os nossos valores eprincípios em prol de promiscuidades e interesses financeiros e/oude outro tipo.

Aquilo porque já passámos com o envolvimento de uma ou outraLoja em processos pouco claros e que estão a ter tradução judicialé algo a não repetir.

E não se trata, aqui, de autoritarismo.

Trata-se de defender os nossos valores e de não prejudicar anossa imagem coletiva e individual.

Quais as principais obras/contribuições que fizeste para odesenvolvimento da nossa Augusta Ordem nos últimos 10anos?

A melhor avaliação deve ser feita pelos meus Irmãos. Mas é bemconhecido que, nestes últimos dez anos, estive sempre à Ordem.

Estive sempre ao serviço da Maçonaria e do Grão-Mestre emfunções.

Estive sempre presente na minha Loja e em largas dezenas deoutras Lojas.

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Ajudei a edificar Templos na minha região, a consagrar novasLojas, em todo o país, a iniciar novos irmãos e a elevar outros.

No fundo, participei ativamente no crescimento e consolidação daGLLP/GLRP.

Estive presente na maioria das Assembleias e Grandes Lojas.Representei a nossa organização no estrangeiro.

Desempenhei várias funções no Grão Mestrado e na minha Loja.Desempenhei várias funções nos Altos Graus. Não quero aquienumerar todas pois seria fastidioso e o meu currículo foidistribuído a todos e pode ser consultado.

Fui, como sempre, um obreiro participativo na edificação coletiva donosso caminho.

É por isso que me candidato.

Porque entendo que desenvolvi um percurso nos últimos dez anosque me capacita para gerir a GLLP/GLRP em linha com o queacontece nas grandes potências maçónicas mundiais que primampela adequada preparação, pela estabilidade e continuidade dagestão das suas lideranças e da sua gestão administrativa efinanceira.

Quantos irmãos foram por ti propostos e quantos delescontinuam ainda na nossa Augusta Ordem?

Ao longo de toda a minha vida maçónica tive a honra de propordezenas de irmãos e a grande maioria está connosco.

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Mas a permanência dos obreiros na nossa Augusta Ordem é umtema que merecerá reflexão comigo a Grão-Mestre. É algo amelhorar e temos todos, em conjunto, de encontrar formas de ofazer.

Se fores eleito Grão-Mestre, qual a principal mudança emrelação ao que existe que preconizas e qual o principal aspetoque achas deve ser mantido inalterado na GLLP/GLRP?

Pretendo ter uma liderança mais participada e colegial. Queromanter o rumo dos princípios que têm norteado uma boa gestãoadministrativa e financeira assim como do nosso crescimento econsolidação. Não podemos regredir a uma gestão amadora (aindaque bem intencionada). As nossas responsabilidades ecompromissos não o permitem.

Se não fores eleito Grão-Mestre, que papel, atividade ecolaboração, nos próximos cinco anos, antevês para ti naGLLP/GLRP?

O mesmo papel que tenho tido desde sempre.

Estarei sempre à Ordem da Maçonaria e do Grão-Mestre em funções. Estarei sempre presente nas Lojas e junto dos meus irmãos por todo o país e no estrangeiro. Serei sempre mais um a

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partir pedra.

Entrevista publicada por

Rui Bandeira

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O Silêncio e o Verbo! – Parte -2

June 06, 2014

Hoje estou certo que tinha sido garantidamente uma atitude totalmente descabida e fratricida, terem-me entregue nas mãos uma arma tão poderosa, uma arma capaz de gerar mau estar e confusão, entre aqueles que escutassem os sons produzidos pela utilização, então, indevida e fora de tempo. Um dia ouvi, dizer que o Silêncio era aquilo que realmente criava um Maçon porque o Silêncio era a principal “coisa” que efectivamente alterava o “Homem” Maçon geneticamente! Na altura já sabia que o Silêncio não devia ser visto apenas numa ação em si mesmo, mas como um princípio de aprendizagem e de entendimento.

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Mas este Silêncio, que agora me era imposto, muitas vezes me despertou um terror Ctónico, que por estar sujeito a ele tantas vezes me devorou as entranhas. Mas hoje, hoje finalmente entendi o que aquele homem queria dizer, com aquela afirmação. Hoje sinto, tal como foi dito naquele dia, a verdadeira alteração que o Silêncio fez no meu ADN. Hoje digo que o Verbo é sem dúvida a Vida, mas o Silêncio nem sempre é a Morte. Tal como a Luz, do Sol, se retira ao final do dia, pelo Ocidente e volta a surgir pela manhã, no Oriente, também hoje, utilizo o Silêncio do amanhecer ao anoitecer, ou seja, passei a ter o Silêncio como uma ferramenta de uso diário. Hoje e desde do momento em que a Luz me foi mostrada, sei que ele, o Silêncio, é acima de tudo uma forma de criar, ou pelo menos de educação e formação de um Maçon, por isso hoje também já digo, como aquele homem um dia ouvi dizer: Que o Silêncio é a “coisa” que efectivamente altera o “Homem” Maçon geneticamente!” É o Silêncio que me tem permitido distinguir a verdadeira necessidade da utilização do Verbo, pois pela sua graça e poder, o Verbo, só deve ser utilizado se o seu objetivo for a construção, a criação, a designação do bem e nunca usado apenas com o objetivo de destruir, de minimizar, de ridicularizar, de oprimir e ou

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de se fazer superior a outrem, tentação tão profana que muitos, porvezes, são levados a realizar. Alexandre T.

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Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: Entrevista aocandidato José Manuel Pereira da Silva

June 11, 2014

Conforme anunciado, e no cumprimento do nosso propósito deestrito cumprimento da igualdade na divulgação das duascandidaturas, publicam-se hoje as respostas que o candidato JoséManuel Pereira da Silva deu às dez questões colocadas pelosobreiros da Loja Mestre Affonso Domingues aos dois candidatos aoofício de Grão-Mestre da GLLP/GLRP:

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Qual o papel e significado da Maçonaria Regular no século XXI? Sem querer parecer demasiado “rigorista”, defendo que a Maçonaria tem na, sua essência e génese, uma finalidade que não carece de atualização fundamental, embora se não deva furtar à sua adequação à especificidade de cada tempo. Somos uma

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sociedade que se define como iniciática, ponto. Isso significa que assumimos a adesão a uma via, que costumo caracterizar como de ascese civilista, que é, por sua natureza, transformante do indivíduo. Recordando que essa transformação se anuncia como a da permanente busca da perfeição centrada no alcance das virtudes simbolizadas pelas colunetas da sabedoria (sophia), da coragem (andreia), da temperança (sophrosyne) e da justiça (dikaiosyne – a coluna ausente já que Platão a considerava que esta virtude se concretizava pelo alcance das outras). Este programa iniciático que, pelo menos desde Platão, se definiu como o verdadeiro objetivo da iniciação filosófica constitui-se, em meu entender, como uma tradição contínua na história da civilização ocidental e da qual somos herdeiros. A Maçonaria tem, no horizonte dessa sua ação transformante, o Homem, na mais radical circunstância da sua própria humanidade, como objetivo e télos. Furtando-se à oferta duma perspetiva escatológica e duma redenção, limitando-se ao campo exclusivamente reflexivo e filosófico, permite que esse caminho do Bem e da Virtude que se ilumina a partir de Deus, possa ser trilhado pelo Homem comum em desígnio coletivo que se sela num compromisso jurado. A Maçonaria moderna é, nesse sentido, uma das mais notáveis criações dos homens livres e de bons costumes e constitui uma singularidade aberta no campo da alta espiritualidade. Ver nela outras finalidades, por muito nobres que possam ser ou parecer, é empobrecer-lhe o sentido e o alcance e privar a humanidade de um instrumento que, em tempo de profunda erosão ética, nunca assumiu uma tão grande importância e urgência. Confundi-la como uma organização que se centra na intervenção social é um erro e uma tentação que não só nos afasta da essência duma via

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enunciada, ab initio, como iniciática, como nos priva dum instrumento e património espiritual único do ponto de vista civilizacional. Recuso, por isso, todas as formas de aproximação, sejam teóricas ou práticas, contidas da consideração de que existem “várias maçonarias” que entre si até podem cooperar. Não negando o interesse que possam ter todo o tipo de organizações sociais que visem o bem comum, nem o direito a que possam escolher as designações com que se queiram afirmar, apenas reconheço como Maçonaria aquela que se define como via iniciática e que, declarando trabalhar à glória do GADU, apenas pretende agir sobre o indivíduo. E, assim, entendo que mesmo as iniciativas que entre nós possam assumir uma natureza filantrópica (na assistência social, no âmbito cultural ou qualquer outro) se justificam como reflexo e consequência desse caminho mais radical duma transformação espiritual e não como objetivo principal. Numa prancha recente, que elaborei para o aniversário da RL Camões, desenvolvi o meu pensamento sobre este tema e, por isso e para que fique claro o meu pensamento sobre o tema, anexo o seu texto ao desta entrevista. (Nota: Texto publicado no final da entrevista, conforme solicitação expressa do candidato) Mas tenho consciência de que existem outras visões no interior da Obediência. Por isso, considero como prioridade a organização dum espaço de reflexão coletiva, seja congresso ou convenção, em que este tema seja ampla e profundamente debatido. Nada pode minar mais eficazmente o nosso sentido de Tradição, a necessidade do rigor e o verdadeiro sentido dos nossos rituais e património simbólico, do que a ignorância ou a confusão em torno da definição do que somos e devemos ser.

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Assinalas no teu manifesto a prioridade ao relacionamento com as Obediências dos espaços iberoamericano e lusófono. Como vês o papel da GLLP/GLRP nesses espaços e que políticas de atuação concreta preconizas? Sou um crente nessa ideia que, do Pe. António Vieira a Pessoa, pelo menos, se enuncia em torno dum destino português que passa por um relevante papel espiritual no Mundo. O espaço da lusofonia e da ibero américa, são o espaço em que melhor respiramos e onde melhor nos revemos. Justifica-se que nele participemos construindo, em primeira prioridade, um espaço de identidade, de comunidade e de uma verdadeira egrégora espiritual. Reforçar os laços de reconhecimento, cooperação e ação conjunta parecem-me objetivos importantes. Mas privilegio, nesta fase que nos impõe uma prudente contenção orçamental, que todas estas iniciativas se sustentem em ações de comunicação assíduas mas sem custos. Os aspetos presenciais deste contato devem ser resolvidos aproveitando a disponibilidade e oportunidade de deslocação, a seu encargo, daqueles II que oferecendo condições de seriedade, empenho maçónico e confiabilidade possam dar garantias de desenvolvimento das relações no estrito plano maçónico e não no mero interesse pessoal. Nestas, apenas nestas, condições deve o GM delegar competências de representação sempre que a oportunidade se justifique. A mesma perspetiva estratégica se deve aplicar à nomeação dos garantes de amizade, cuja ação deve ser coordenada e orientada pelo grão mestrado. Há, no entanto, um aspeto que quero deixar bem claro e que se prende com a irradiação da M:. nos países lusófonos e com a

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elevada sensibilidade e prudência que se requer para todas as ações a tomar nesse sentido. Não nos podemos esquecer que a maçonaria regular só pode crescer em sociedades democráticas, nem dos perigos a que se podem expor todos os que queiram trabalhar em ambientes não democráticos, reativos ou mesmo hostis ao desenvolvimento da M:.. Nesse sentido, todas as ações a desenvolver em favor e apoio a esse desenvolvimento devem ser cuidadosamente pensadas e preparadas com envolvimento dos II que pela sua experiência anterior, como é o caso dos past-GM e GO, experiência profissional, conhecimento diplomático ou outro, possam contribuir para decisões bem aconselhadas. Penso que a instância própria para a formação deste conselho do GM é a L:. Fraternidade para que se possa garantir a máxima discrição em torno das matérias aí tratadas. A recém criada GL de Moçambique, deve continuar a ser alvo da nossa maior atenção e carinho, forte cooperação e contributo, sobretudo no âmbito da formação maçónica e no apoio ao seu reconhecimento. Esta dedicação é tanto mais importante quanto ela serve, como exemplo, para facilitar a aproximação a outros países da lusofonia. Mas, repito, é uma área que pela sua alta sensibilidade exige o nosso maior cuidado e bom aviso para que não caiamos em precipitações voluntaristas que comprometam não só as pessoas que se venham a envolver, como o próprio sucesso pretendido. Nestas coisas é sempre difícil recuperar, com uma segunda oportunidade, dum ato falhado. Mas, também aqui, podemos encontrar um espaço para a cooperação internacional.

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Que papel e que intervenção (se é que alguma) preconizas que a GLLP/GLRP exerça na sociedade portuguesa, como e com que instrumentos? Sei que existem no interior da O:. Muitos II que acham que devíamos ter na sociedade um papel mais ativo, como o fazem ou pretendem os membros das maçonarias ditas liberais. Contrario esse entendimento. Somos uma organização que se define como via iniciática, volto a sublinhar, ponto! O horizonte da ação maçónica, como via transformante, circunscreve-se pela melhoria de cada um nesse caminho que se enuncia pela busca da virtude e do aperfeiçoamento. Não somos um grupo de pressão, de representação ou de outra qualquer qualidade que nos talhe para a intervenção ou parceria social. A sociedade democrática está suficientemente dotada de instituições que o fazem (religiosas, humanitárias, partidos políticos, organizações de solidariedade social, de representação do patronato e dos trabalhadores, etc…) e que podemos integrar, nelas aplicando e concluindo, como ritualmente se prescreve, o trabalho que na L:. é iniciado. É, aliás, um ótimo campo para que, pela sua exemplaridade, os maçons se mostrem e demonstrem como indivíduos úteis e distintos na sociedade em que vivem podendo, assim, contribuir para o irradiar da O:. É claro que não incluo, nesta restrição de princípio, aquelas ações beneficentes e filantrópicas que os II ou as LL entendam desenvolver e/ou promover e que entendam poder fazer parte do “seu caminho”. Temos tantos e tão bons exemplos de envolvimento, de II e de LL, neste tipo de ações, que só podemos defender a sua continuidade e expansão bem como salientar o

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papel que a GL deve ter em apoiá-las: incentivando-as, divulgando-as da forma que as LL melhor entendam e promovendo-as ou coordenando-as no caso de se tratarem de iniciativas que resultem da voluntária cooperação entre LL. Mas sendo uma via iniciática a que assumimos como fundamento de ação, deverá ser, sobretudo, no campo da espiritualidade que nos devemos afirmar como agentes ativos e empenhados. Promover ações que privilegiem este domínio no âmbito do seu aprofundamento ecuménico, parece-me ser do maior interesse e contributo para o prestígio e irradiação da O:. Nesse sentido, proporei a realização dum conjunto de encontros em que sobre o tema “que sentido para uma espiritualidade contemporânea”, possamos ouvir perspetivas diferentes de destacados pensadores do nosso tempo. Também no plano cultural devemos construir uma visibilidade que nos distinga promovendo o trabalho dos nossos II, que são tantos e se essa for a sua vontade, no campo da literatura, das artes plásticas, da música e do próprio trabalho científico em diferentes áreas. Estas agendas devem constituir-se não só como um contributo para a nossa reflexão e enriquecimento pessoal mas, também, para a criação duma imagem positiva da M:. na sociedade portuguesa. Mas defendo que a sua organização deve partir do envolvimentos das LL para que se reforce, não só o envolvimento dos II, essa ideia que para mim é central e decisiva de que o nosso trabalho só faz sentido como manifestação coletiva. Como preconizas se efetue a capitalização, gestão e administração do Fundo de Solidariedade Maçónico?

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Saúdo a criação do FSM embora não conheça muito bem os seus objetivos e funcionamento. Mas tenho sobre ele ideias concretas; designadamente que deve ter o perfil dum “Tronco Comum” para aplicação solidária e beneficente quer no plano interno (acorrer às dificuldades dos II), quer externo (apoiar entidades singulares ou coletivas no âmbito da solidariedade social nas áreas da assistência, da saúde ou mesmo da educação). Entendo, por isso, que o FSM deve ter uma administração sob controlo, mas independente da GL (evitando que em qualquer circunstância se possa transformar num “saco azul”). Assim, deve constituir-se como uma importante instituição da Obediência que será dotada duma assembleia geral constituída por todos os II Hospitaleiros, uma direção presidida pelo GH e um conselho fiscal presidido pelo GT; o FSM terá integrado nos seus órgãos (direção ou AG), em representação da GL e garantindo a colaboração desta, um dos VGM. O FSM seria gerido de acordo com um plano anual de aplicações e atividades aprovado pela sua AG. Penso que o FSM deve ser financiado por uma quotização obrigatória para os obreiros (pequena 12-20 € ano) e ter em donativos (em numerário ou espécie), doações e outras comparticipações voluntárias a base da sua sustentabilidade. Pode, ainda, gerar recursos através da promoção de atividades - a atual sede tem por exemplo condições para a realização de festas e outras atividades que gerem receitas; por exemplo, aniversários, santos populares, etc., se a direção o entender e para isso puder contar com a colaboração dos II ou das LL. Penso que este tipo de atividades não só contribuiriam, pelo objetivo, para o reforço da Fraternidade como constituiriam um excelente contexto para que

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nos possamos conhecer melhor em sã convivialidade entre nós e as nossas famílias. Em meu entender e com esta configuração o FSM poderia, com relativa facilidade, atingir os 50 000€/ano numa primeira fase. Como preconizas o lançamento e funcionamento da Academia Maçónica (“Academia de Formação” é pleonasmo...) e qual o prazo que prevês para efetivo início do seu funcionamento? Numa altura em que temos que reconhecer algum “enfraquecimento” em aspetos centrais da nossa cultura maçónica como a instrução, o rigor ritual e mesmo a vivência duma Fraternidade permanentemente anunciada mas, por vezes, esquecida e desvirtuada, a Academia (o que por si é uma designação feliz que saúdo) pode constituir um importante instrumento para o reforço da GL, da formação dos maçons e para o desenvolvimento do conhecimento maçónico. Em meu entender a Academia deve desenvolver dois “ramos” principais no seu trabalho: 1- Num plano que designo como exotérico, a Academia deve centrar o seu trabalho na formação técnica de investigadores que se queiram orientar no aprofundamento e esclarecimento dos temas que defino como da teoria e história da filosofia, uma maçonologia, e na divulgação aberta desse trabalho; esta formação técnica, garantindo ao trabalho investigativo o maior rigor científico, deve incluir as áreas da heurística, da hermenêutica e das técnicas da investigação em ciências sociais adequadas ao âmbito das diferentes linhas de trabalho que se venham a definir como prioritárias ou a partir dos interesses individuais. Temos, entre nós,

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pessoas suficientemente competentes para este contributo, mas não deixa de ser uma área em que podemos construir uma relação séria e produtiva com as universidades e a comunidade científica nos domínios da História, da Filosofia, da Antropologia, etc. Defendo que o resultado do trabalho deste ramo da Academia deve ser orientado para a sua divulgação aberta com a criação duma revista própria de grande qualidade quer científica, quer gráfica, pelo que deve ser gerida por um grupo de avaliadores. 2- Noutro plano, que designo como esotérico, a Academia deve proporcionar a formação e o aprofundamento nas áreas do simbolismo e do ritualismo; é um plano mais interno e que, desenvolvido a coberto, se deve orientar para o aprofundamento da cultura maçónica e da prática ritualística e iniciática abrangendo quer os aspetos mais gerais quer as especificidades dos diferentes ritos: o interesse e a urgência deste trabalho devem ser assistidos pelo desenvolvimento dum plano de atividades da responsabilidade do conjunto dos GI, mobilizando para as ações a desenvolver os II melhor preparados e estendendo, essas ações, a todo o território proporcionando a maior adesão dos II. Apesar de distintos, não quero deixar de sublinhar a complementaridade destes dois “ramos” considerados, bem como o papel que a Academia pode ter no desenvolvimento de relações culturais com o mundo maçónico e para o prestígio externo da GL. Penso, ainda, que possa desenvolver-se sobre tutela da Academia, que deve integrar por isso o Grande Bibliotecário e Arquivista, a recolha, tratamento e manutenção do espólio documental da GL, a

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criação, gestão e manutenção duma futura Biblioteca bem como a criação, gestão e manutenção dum futuro Museu. Na dinâmica de funcionamento Lojas/Grande Loja privilegias a prevalência da liberdade de atuação das Lojas ou da coordenação da Grande Loja? Na primeira hipótese, como prevines fenómenos de basismo e descoordenação? Na segunda, como prevines excessiva coordenação e autoritarismo? Vejo aí uma dicotomia que pode iludir a natureza duma Sociedade como a nossa e a afirmação duma dialética que penso não existir. E isso apenas tem a ver com a própria interpretação que faço e proponho do ponto de vista institucional. Aliás, isso é um ponto que penso estar claro no Manifesto eleitoral que reflete, sem qualquer dúvida, o pensamento duma larga maioria dos II. As LL:. são livres, na medida em que são constituídas por homens livres. Mas a sua liberdade está definida pelo seu objetivo fundador: promover pela via iniciática - de acordo com princípios constitucionais, regras usos e costumes fundados numa Tradição e que se juram cumprir e obedecer – o aperfeiçoamento individual com o qual se contribui para o próprio aperfeiçoamento da Humanidade. Como emanação das LL:. A GL é o garante de que essa liberdade das LL:. se inscreve no escrupuloso e estrito cumprimento e observância dessas condições livremente aceites por todos e cada um na especificidade de cada rito; é esta a essência da regularidade maçónica e a sua magnífica riqueza institucional, cultural e, diria mesmo, civilizacional. O princípio inerente à legitimidade do GM:. não reside, portanto, na

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sua “autoridade” formal mas no seu poder de todos representar, como garantia para cada um, como vontade coletiva duma adesão aos mesmos princípios, regras, deveres e direitos. Podemos, dessa maneira, falar duma “auctoritas” que é garantia da unidade e da identidade que se concretiza no conceito da Fraternidade. É, por isso, que me afasto das conceções que veem no GM ou no grão mestrado uma instância de poder, de liderança ou de chefia. E, afasto-me, na exata medida em que as considero como conceções anti-maçónicas, injustificadas e desnecessárias. O GM é um ouvidor que se abre à ressonância da vontade dos II e cuja primeira missão é zelar pela União e pela construção do fraterno entendimento. Implicando o conceito de líder, o conceito de seguidor, desajusta-se do conceito básico do amor fraterno em que todos se encontram numa vontade comum. Isto não significa que o GM se exima à decisão solitária. Mas fá-lo-á sempre a coberto dessa “auctoritas” que se interpreta como a vontade coletiva. Para os que menos me conhecem e possam ver nesta minha conceção alguma “demagogia” apenas posso dizer que tenho, em defesa da minha convicção, o meu passado ao serviço da O:. O papel coordenador da GL é da maior relevância; do meu ponto de vista é, mesmo, o seu principal papel. É, por isso, que defendo que o plano de atividades da GL se deve, sobretudo, confinar à integração das atividades propostas pelas LL:. Não que o próprio grão mestrado não possa ter ideias para iniciativas; claro que pode e deve, mas deve devolvê-las às LL:. para que as possam assumir, individualmente ou associando-se para esse fim. Recuso a ideia de que o grão mestrado, ou a GL se quisermos, ainda que erradamente simplificar, se possa assumir como uma superestrutura, individualizada e dirigente dotada de autonomia

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decisória e de ação. Defendo, antes, a soberania das LL:. concretizada na concertação da vontade coletiva que se expressa no único órgão dotado de soberania maçónica: a Assembleia. E para que essa minha conceção ainda seja mais clara diria também que é preciso resgatar, enquanto órgão, o Conselho de Veneráveis à sua simples existência formal atual. Nem a Assembleia, nem o Conselho podem ser, simplesmente, instrumentalizados como circunstâncias de “briefing” administrativo. Penso, quero que isto fique muito claro, que as principais propostas a apresentar à Assembleia pelo GM deviam ser objeto de parecer prévio e positivo do Conselho. Só assim podemos garantir a participação e envolvimento das LL:. nas decisões que dizem respeito e constroem o nosso interesse comum. E só assim respeitamos esse princípio básico, que defendo, duma soberania residente nas LL:. E é o que farei se, por vontade dos II e do GADU, for eleito GM. Quais as principais obras/contribuições que fizeste para o desenvolvimento da nossa Augusta Ordem nos últimos 10 anos? O trabalho que considero mais importante é o que tenho desenvolvido com assiduidade na minha RL Amor e Justiça. Costumo afirmar que, nos mais de 30 anos que levo de maçonaria, talvez se contem apenas pelos dedos das mãos as vezes que faltei às sessões de Loja. Eu sinto a falta desse trabalho e da proximidade fraterna, na construção do sentido que vou fazendo para a minha vida e, é por isso, que o considero tão importante e até tenho dito, neste contacto que vou mantendo com os II, que se

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for eleito GM me podem pedir tudo, menos que eu deixe de frequentar as sessões da minha própria RL onde me apresentarei como simples MM. Mas, para além desse trabalho que me alimenta, tenho sido solicitado para contribuir com a minha modesta participação em ações em que se abordam temas em torno da Maçonaria: quer a convite das RLL, dos AG quer de organizações profanas: Rotary, escolas e até um museu. É um trabalho que tenho feito com gosto e do qual sempre recebi, como retorno, a ideia que é possível falar da Maçonaria esclarecendo o mundo profano e combatendo a imagem negativa que a ignorância da nossa verdadeira identidade e finalidade proporciona. Tem sido muito gratificante verificar como as pessoas acabam por nos receber bem e compreender melhor. E não deixo de registar, como exemplo de como estas ações contribuem para a irradiação da O:., o facto de algumas adesões se terem verificado em consequência desta divulgação e esclarecimento. Quantos irmãos foram por ti propostos e quantos deles continuam ainda na nossa Augusta Ordem? O período inicial da GLRP, desde a sua fundação até à cisão, foi o período em que tive maior atividade relativamente à proposta de II:. A necessidade de crescimento, nesse período, obrigou a que todos os obreiros fossem particularmente ativos nesse domínio. Propus quase uma dezena de II que, praticamente, “esgotaram” no meu círculo de relação aqueles que eu considerava com as necessárias características pessoais. Seguindo o muito avisado preceito, utilizado pelo RER, da responsabilidade perante o VM e a RL do

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proponente pelo candidato, nunca convidei nenhum profano para pertencer a outra RL que não a minha. Mas sinalizei alguns candidatos, nessa circunstância, que vieram a ser convidados e a ser iniciados. Quando integrei, há 10 anos, a minha atual RL, ajudando à sua implantação em Rio Maior e com uma área de influência até Santarém, passei a trabalhar num contexto fora da minha residência e onde, na prática, não conheço ninguém. Tenho, por isso, continuado a sinalizar alguns potenciais candidatos meus conhecidos doutras cidades, às respetivas LL:., mas não procedido à sua abordagem e convite. Dos II por mim propostos, apenas um abandonou a O:., por ocasião da cisão, por ter ficado desagradado com os factos então ocorridos. Se fores eleito Grão-Mestre, qual a principal mudança em relação ao que existe preconizas e qual o principal aspeto que achas deve ser mantido inalterado na GLLP/GLRP? Relativamente ao essencial, quanto aos aspetos da governança da GL, acho que nas respostas anteriores ficou claro um sentido de mudança que se radica numa conceção que recusa a liderança em favor da representatividade e expressão da vontade coletiva cumprindo um princípio de respeito pela soberania das LL:. Como se diz no Manifesto, para que se não tome o vértice pela pirâmide. Mas quero distinguir os dois aspetos essenciais do funcionamento da GL, quanto a mudanças e permanências relativamente às quais defino um princípio básico: manter o que funciona bem; mudar o que pode ser melhorado. Esse princípio será aplicado quanto: ao aspeto da gestão financeira da GL, em que o trabalho desenvolvido

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pelo GT tem sido relevante, competente e necessário ou justificador de continuidade; e, também, no aspeto ritual há II que se têm afirmado como muito competentes nas tarefas que desempenham e contribuído quer para o bom desenrolar das cerimónias, conferindo-lhes rigor e dignidade, quer no apoio e assistência que têm prestado aos II ao longo do tempo. São situações para as quais considero que, sendo essa a vontade dos próprios, se justifica a permanência de funções. Mas há algumas mudanças que posso anunciar que farei e sobre as quais quero que a minha posição fique muito clara e que possam servir como ilustração das duas conceções em jogo, nesta eleição, quanto ao governo da GL: 1 – Esta inovação dos círculos eleitorais, cuja finalidade ninguém percebe qual seja, comigo, não se repetirá; por um lado, porque não se justifica e cria, na prática, dificuldades maiores aos II que se tenham que se deslocar (no meu caso terei que ir de Rio Maior a Tomar) o que pode ser um fator que leve à abstenção; por outro, deixa a ideia de que a votação em Loja pode ser “diferente” da que for realizada no círculo: ora este é um princípio contra o qual me oponho já que é para mim inadmissível que entre II se levantem suspeições do género. 2 – Ouvido o Conselho de Veneráveis, proporei que a atual investidura dos VM se passe a fazer em moldes diferentes atendendo ao já elevado número de LL; assim, proporei que a instalação dos novos VM se faça em cerimónia coletiva dando ao ato a máxima solenidade ritual e até simbólica na medida em que todos se possam ser recebidos do seio da GL enquanto coletivo e egrégora; a transmissão dos malhetes far-se-á de forma simples

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em cerimónia de cada RL, entre VM instalado e o VM cessante; se as LL o entenderem podem solicitar a presença de GO como convidados a testemunharem o ato. 3 – O problema dos II que por, infelicidade, deixem de ter condições para cumprirem com as suas obrigações (situação que deve ser verificada e confirmada pelos Hospitaleiros de cada RL) deixam de ser um “problema” da Loja para ser da GL; assim, confirmada pelo IH a situação de cada obreiro este comunicará ao respetivo IT que comunicará ao GT o quadro das capitações reais; comigo, nenhum obreiro será excluído da O:. por não poder, de facto, cumprir com as suas obrigações. Até porque, se do ponto de vista financeiro para a GL é exatamente a mesma coisa, já do ponto de vista maçónico o não é. Nós juramos a fraternidade, o auxílio mútuo, o socorro dos II e se estes têm a infelicidade de cair em situação de dificuldade a resposta que temos é a sua exclusão? Sinto um grande constrangimento, uma mágoa e até alguma vergonha que isto se passe, que possamos incorrer em atitudes que levem II a sentirem-se humilhados e abandonados na sua infelicidade. Nós não somos nem temos que ser uma elite económica. Somos uma elite cultural, ético/moral e espiritual destinada a homens livres e de bons costumes independentemente do seu estatuto social e económico. Quem aspira a pertencer a um clube de cavalheiros deve procurar em outra instância que não esta. O problema dos aumentos de salário terá uma solução próxima, com recurso a pagamentos faseados, por exemplo, evitando que muitos II se afastem e deixem de comparecer às sessões por sentirem que não podem cumprir com o respetivo encargo.

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4 – Considero exagerados, atendendo à situação económica do País, das famílias e de muitos II, os custos associados aos jantares promovidos pela GL. Qualquer iniciativa que se pretenda de convívio entre nós, deve a todos ser acessível e isenta de sacrifício financeiro acrescido. Por isso, essas iniciativas terão um custo máximo de 20€ por pessoa, embora sobre isso venha a solicitar o parecer do Conselho de Veneráveis; é que se lhe acrescentarmos os custos das deslocações teremos situações diferentes para os II que devem ser acauteladas. E esta questão é tanto mais relevante quanto o podermos estar juntos e em convívio em que se integrem as próprias famílias, é um dos mais eficazes instrumentos para a coesão interna e para o conhecimento interpessoal e familiar. Todas as iniciativas conviviais, no âmbito estritamente maçónico, devem ser integradoras e não segregadoras. Mas não me oporei a iniciativas abertas ao mundo profano e que possam ter como objetivo a recolha de fundos em que os custos não sejam uma preocupação. 5 – Pretendo também dar maior relevo ao Grande Inspetorado permitindo que os GI’s tenham efetivas condições para realizar a sua tarefa de atestar e apoiar as RRLL no desenvolvimento das suas tarefas rituais, não só cerimoniais mas também de instrução. Para isso, o número de GI será adequado ao número de RRLL em cada rito e à dispersão territorial, permitindo que a visitação se faça, pelo menos, duas vezes em cada ano. 6 – Interromperei de imediato este movimento de criação de novas LL que está a pôr em risco o funcionamento daquelas que, por esse

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motivo, perdem obreiros essenciais ao seu funcionamento; é demasiado elevado o número de LL que para funcionar têm que, sistematicamente, recorrer a obreiros auxiliares. Em meu entender, uma Loja nunca deverá libertar obreiros para a criação de outra se o seu quórum ficar inferior a 25-30 MM. Também tentarei resolver a situação das LL que atualmente só funcionam com uma sessão mensal, porque considero que, não se tratando duma Loja temática, nessas condições se torna quase impossível o desenvolvimento de um bom trabalho maçónico. É evidente que estamos em presença de duas propostas e de dois candidatos que têm sobre a GL e o seu governo, conceções muito diferentes. Estas questões sobre as quais anuncio mudanças não esgotam as que estão implícitas no meu manifesto que dirigi com “Carta” aos II e que, espero, deve ser objeto de leitura e reflexão por todos. Estamos, de facto e em meu entender, perante uma escolha que deve ser levada a sério e que vai para além das ligações mais estreitas que possa existir entre cada um de nós e os candidatos a GM. Se não fores eleito Grão-Mestre, que papel, atividade e colaboração, nos próximos cinco anos, antevês para ti na GLLP/GLRP? Desde o grão mestrado do MRI José Anes que assumi, para com todos os Grão Mestres, a mesma postura que consignei numa fórmula que a todos transmiti no dia da sua investidura e aquando da minha manifestação da mais fraterna lealdade: “ MRGM eu sei onde tu estás para que te possa manifestar as minhas

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preocupações, dúvidas e dificuldades, se as tiver…..tu sabes onde eu estou, sempre à Ordem para te servir e à GL se, quando e como o entenderes.” Farei exatamente o mesmo com todos os GM que venha a servir no futuro. Mas, não escondo que me entusiasma a ideia de poder dar o meu modesto contributo no âmbito da Academia. Sobretudo, no aprofundamento e desenvolvimento duma área de investigação que, tendo iniciado há alguns anos, tive que quase suspender para cumprir um programa de doutoramento: refiro-me a uma área que defino como de “teoria e história da maçonaria” ou, como também lhe chamo, duma maçonologia, incidindo principalmente sobre o período anterior a 1717. De resto, sendo minha obrigação assumida estar permanentemente à Ordem, do GM e dos II, continuarei a responder às solicitações que me forem feitas para tudo em que for reconhecido como útil. No essencial, continuarei com a minha atividade maçónica assídua e empenhada no desbaste da pedra bruta no sítio onde tal se opera e concretiza: no aconchego da minha Querida e RL Amor e Justiça, em Rio Maior. Texto mencionado na primeira resposta do candidato: VM da RL Camões VM da RL Carlos Penalva RI GT da GLLP/GLRP RI GI do REAA VVMM MQI em vossos graus e qualidades

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Breve nota sobre o papel da Maçonaria na sociedade contemporânea Os que me conhecem sabem que raramente apresento, em L:., pranchas escritas. Mas hoje, MQ VM, e porque comemoramos o XV aniversário da tua RL decidi surpreender-te e escrever o que gostava de, aqui, partilhar com todos. Aceita o meu gesto como uma prenda e um sinal de gratidão pela forma fraterna como sempre me senti acolhido entre vós. O que quero partilhar com todos vós, MQI, é uma pequena reflexão sobre o sentido atual que pode e deve ter para todos e cada um de nós, a Maçonaria. E faço-o por duas razões: porque penso que se trata de uma reflexão necessária mas, também, porque dado o momento concreto que vivemos é justo que, chamados a escolher, possam os meus II conhecer, sobre uma tão importante questão, o que pensa um dos que de entre vós pode vir a ser objeto da vossa preferência. Se é certo que existe hoje uma consciência a que podemos chamar global, que nos aproxima como indivíduos da ideia mais geral duma humanidade, não é menos certo que essa consciência se confronta todos os dias com rumos e factos que nos interpelam no sentido dum devir que, cada vez mais, nos parece empurrar para um beco sem saída em que os interesses económicos, melhor dizendo financeiros, erodem dramaticamente os mais elementares princípios dessa mesma humanidade e o próprio contexto em que ela se afirma como ápice da divina criação: a Natureza. É, por isso, esta uma época de sobressalto e de fundados receios. Sobressalto e receios que mobilizam milhões de seres humanos em defesa de valores e princípios que se erguem como bandeiras

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de desespero, gritos de revolta mas, também, exasperantes abandonos face às forças que corroem a nossa alma e o nosso planeta. Mas suspendo aqui esta crítica. Muitos são os II:. que sabem que defendo e argumento em favor duma teoria que reclama para a Maçonaria uma continuação da longa tradição da iniciação filosófica e que esse continuum é identificável num longo percurso histórico que pode traçar-se desde Pitágoras até à atualidade. Os nossos rituais são, do meu ponto de vista e numa abordagem hermenêutica séria e consistente, uma prova dessa permanência de um ideal de ascese civilista que tem em vista o aperfeiçoamento individual num horizonte em que a felicidade se concretiza no alcance das virtudes enunciadas por Platão, numa formulação que se tem revelado atemporal na própria medida em que se fundam na própria radicalidade da condição humana. Feitos à imagem de Deus, partícipes superiores de toda a criação, constituímos a alteridade que torna possível a própria revelação da natureza divina dessa mesma criação. E é esta circunstância que nos abre a possibilidade de um caminho ascendente, duma ascese, pelo qual nos podemos aproximar, ainda que num remoto vislumbre, dessa perfeição ideal em que o Uno se concretiza, idealmente, como supremo Bem e como supremo Belo. Os nossos rituais não são, por isso, um mero protocolo cerimonial que concretizem o gesto pelo qual criamos um ambiente determinado. São, mais do que isso, um poderoso repositório do material teórico, concetual, metafórico e simbólico que nos proporciona o acesso a um dos muitos caminhos que podem conduzir os seres humanos a essa via em que cada um se dá, na

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liberdade de aproximação, pelo contínuo aperfeiçoamento espiritual, ao supremo Bem, a Deus, ao GADU. Nesse sentido, a Fraternidade jurada que integramos e partilhamos, consubstancia uma tradição que ecoa no tempo, suspendendo-o na negação da contingência, e que apenas se atualiza na circunstância de cada um, como ser determinado na sua individualidade mas, também, na necessidade sentida dum olhar do outro que nos define numa fragilidade que reclama a união que encoraja na dificuldade do caminho. Caminho de reflexão purgativa que nos atua de modo transformante e nos liberta de todos os fins a que a materialidade, apesar de tudo, da nossa circunstância humana nos conduz se não estivermos atentos. Dou-vos um exemplo que, talvez, possa iluminar esta ideia. Ao chegarmos aqui hoje e nos momentos de convívio que hão de seguir-se, havemos de experimentar aquela alegria natural que igualmente vivemos aquando nos reunimos com os nossos amigos de infância, de escola, da tropa ou mesmo no casamento da prima, quando encontramos amigos e familiares a quem há muito tempo já não víamos. Pessoas que ocupam um lugar importante da nossa vida, dos seus momentos mais impressivos, marcantes ao ponto de os revivermos nesses encontros em que se atualizam alegrias passadas. Mas o paradoxo é que, neste caso que se passa entre nós, esse sentimento brota entre pessoas que, na maioria dos casos, nem se conhecem ou que, verdadeiramente no que a factos de vida respeita, até podemos afirmar que se desconhecem completamente. Então como explicar este sentimento verdadeiro que entre nós se gera, senão pela circunstância de sermos caminhantes do mesmo caminho, cúmplices ativos da mesma determinação de viver uma amizade incondicional, uma verdadeira

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fraternidade, que se furta ao tempo e ao modo duma justificação que a sustente? De certo modo poderíamos afirmar que se trata de um sentimento que, isento de qualquer interesse, se manifesta em estado puro. Mas a vivência de estados de pureza, que podemos encarar como objetivo do nosso percurso, exige essa suspensão, ou mesmo negação, dos interesses que os podem dificultar ou mesmo impedir. Nesse sentido é a Loja, enquanto espaço sagrado porque segregado do mundo em tempo suspensivo, e a vivência ou prática refletida do ritual, que nos dá acesso a essa experiência que positivamente nos afeta e cujo prolongamento no mundo profano nos pode servir de medida e teste da nossa progressão. É, assim, que a prática da Maçonaria se oferece a cada um de nós e a toda a Humanidade, como uma circunstância maravilhosa e única e como um poderoso instrumento de transformação do mundo a partir da transformação de cada um. E não perceber esta singularidade e o poder desta via como contributo para o Bem do mundo é um erro que não podemos cometer. Fazer dos nossos rituais simples protocolos conviviais equivale, para mim, em embrulhar em pechisbeque, de forma tão completa, o diamante que herdámos, que nenhuma luz dele irradie porque nenhuma luz lhe pode chegar. Mas deixem que vos apresente um texto de Séneca, que penso ser de grande aplicação nesta circunstância e que resume bem o meu pensamento sobre a Obra a que, por juramento, nos comprometemos: “ Tenho a certeza, Lucílio, que é para ti uma verdade evidente que ninguém pode alcançar uma vida, já não digo feliz, mas nem sequer aceitável sem praticar o estudo da filosofia; além disso, uma

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vida feliz é produto de uma sabedoria totalmente realizada, ao passo que para ter uma vida aceitável basta a iniciação filosófica. Uma verdade evidente, todavia, deve ser confirmada e interiorizada bem no íntimo através da meditação quotidiana: é mais trabalhoso, de facto, manter firmes os nossos propósitos do que fazer propósitos honestos. É imprescindível persistir, é preciso robustecer num esforço permanente as nossas ideias, se queremos que se transforme em sabedoria o que apenas era boa vontade. Por esta razão não precisas de gastar comigo tantas palavras nem de fazer tão longas profissões de fé: eu sei que tu já progrediste bastante. Sei bem de que fonte nascem as tuas palavras, que nem são fingidas nem exageradas. Dir-te-ei, contudo, o que penso: espero muito de ti, mas não confio ainda totalmente. Aliás espero que tu faças o mesmo comigo, ou seja, que não acredites no que te digo com excessiva prontidão. Observa-te a ti mesmo, analisa-te de vários ângulos, estuda-te. Acima de tudo verifica se progrediste no estudo da filosofia ou no teu próprio modo de vida. A filosofia não é uma habilidade para exibir em público, não se destina a servir de espetáculo; a filosofia não consiste em palavras, mas em ações. O seu fim não consiste em fazer-nos passar o tempo com alguma distração, nem em libertar o ócio do tédio. O objetivo da filosofia consiste em dar forma e estrutura à nossa alma, em ensinar-nos um rumo na vida, em orientar os nossos atos, em apontar-nos o que devemos fazer ou pôr de lado, em sentar-se ao leme e fixar a rota de quem flutua à deriva entre escolhos” (Epist. 16,1-3) E, ainda, o início da Carta 17: “Se és sábio, melhor, se quiseres ser sábio, deixa-te de fantasias e aplica as tuas forças a fim de atingires quanto antes a perfeição espiritual.” (Epist. 17-1)

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A Maçonaria, como espaço de reflexão e meditação, pode neste sentido estóico duma praxis transformante do indivíduo, ser considerada uma filosofia. E é nesta conceção, que defendo, que ela se afasta das orientações que a marginam como um coletivo de intervenção social, como instrumento de transformação do mundo a partir de elites interventivas que têm na retórica social e moral a definição dum campo de atuação axiológico, ou mesmo ideológico, que ignora ou minimiza, secundarizando, a natureza transformante duma via que, por essa mesma natureza, se anuncia como iniciática. Esta conceção da Maçonaria como filosofia e via iniciática, que emerge, mesmo, da mais superficial abordagem hermenêutica dos materiais rituais e simbólicos, não contraria a possibilidade ou mesmo a desejabilidade das iniciativas com que os Maçons possam, no mundo profano, concretizar os seus ideais de amor ao próximo e ao mundo nas suas diferentes dimensões. Mas, acima de tudo, essas iniciativas terão que ser mais uma consequência dum trabalho de aprofundamento espiritual do que constituírem-se como objetivos próprios ou finalistas do trabalho maçónico. É uma conceção que nos afasta, radicalmente, dos protocolos sociais da convivialidade ou da própria cooperação mesmo que numa finalidade benfeitora. É claro que entre nós se desenvolve a mais sã convivialidade, a mais empolgante cooperação benfeitora. Como um reflexo, porém, dessa elevação do espírito obtida em cada degrau subido nesse caminho que, iniciado com o anúncio do poder da humildade, se deve transformar com evidente transparência numa humildade do poder. Porque esse é o desígnio máximo da aprendizagem da virtude, a filosofia, que nos é

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proporcionada pela Sociedade em que nos irmanamos: como a definiu Platão, uma aprendizagem que permita aos filósofos serem reis ou os reis filósofos, para que a Justiça se faça realidade. Detenhamo-nos pois perante as colunetas que alumiam o nosso trabalho para nos interrogarmos: o que é hoje no mundo ser temperante? De que coragem precisamos para o caminho? De que sabedoria falamos quando a ela dizemos aspirar? Como nos podemos reconhecer, em ascensão virtuosa, como homens que, na busca da temperança, da coragem e da sabedoria, se pretendem a cada dia mais justos e perfeitos? É altura de voltar à crítica, acima suspensa, dos tempos de desvario que vivemos. Tempos de perdição e abandono. Tempos da loucura, em que nos tornamos tão cegos ao drama alheio. Loucura em que se dissolve, sem que o pensemos ou suspeitemos, a própria condição da nossa humanidade. O que podemos então fazer, como coletivo, para melhorar este mundo adoentado e sofredor? Eis o que penso e digo: simplesmente, continuar esse trabalho árduo e penoso que, sempre renovado como compromisso e juramento, tantas gerações de maçons se empenharam em desenvolver no aprofundamento contínuo da nossa condição de homens livres e de bons costumes. Esse trabalho profícuo que nos devolve ao mundo como homens melhor preparados, mais justos e perfeitos, para nas instituições profanas darmos testemunho duma diferença, isenta e lavada de qualquer pretensão de superioridade moral ou outra. Esse trabalho que, na constante afirmação do poder do espírito, nos sustenta com essa humildade adquirida por esse mesmo poder do espírito e que, por isso e a propósito, nos deve prevenir do espírito do poder, essa tentação que de vez em quando nos visita e

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que, como uma chaga, nos tolhe as mãos enfraquecendo o apertocom o qual, em serena e fraterna comunhão que é já dádivasincera de cada um e de todos, vamos construindo essa belainstituição que entre nós se quer permanente e se traduz na Cadeiada União. Nas trevas continuamos o trabalho que na Luz iniciámos. Não ocontrário. MQI e VM Jaime Martins que aqui nos acolhes em comemoração.MQII aqui presentes. Porque não somos mais do que “anões aos ombros de gigantes”,no sábio dizer de Bernardo de Chartres, deixa-me que mais umavez evoque Séneca para te pedir, apesar de tudo, “que nãoacredites no que te digo com excessiva prontidão”. Antes te peçoque, sobre este meu pensar e sentir, medites e reflitas e, como VM,proponhas meditação e reflexão. Se nos encontrarmos no mesmoolhar, tanto melhor. Se não, abro-me à tua ajuda e à dos II:. paraque me ajudem a mim a melhor ver o que deve ser visto. Entre nós,só não deve caber a cegueira, porque é na Luz que o nossocaminho se faz. Agradeço o teu fraterno convite e esta tão sentida oportunidade deestarmos juntos no exercício duma fraternidade verdadeira. Erecebe, como testemunho desse agradecimento, esta humildeprancha que para a ocasião me dei a traçar. Gândara dos Olivais, 17 de maio de 6014 (José Manuel Pereira da Silva)

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Entrevista publicada por

Rui Bandeira

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O Silêncio e o Verbo! – Parte -3

June 13, 2014

Normalmente, enquanto homens profanos, sentimo-nos aterrorizados com o Silêncio, fugindo assim e sempre que podemos ao mesmo, esse foi o erro em que fui induzido e educado durante a minha vida profana. Normalmente ensinam-nos que o Silêncio, e ou a pessoa que está em Silencio, têm falta de algo, ou que este significa um estado limitativo e ou depressivo. Ensinam-nos que o Silêncio é sempre algo de negativo, negando-nos desta forma o poder e o verdadeiro significado do mesmo. Hoje posso afirmar que já ganhei nesta minha nova caminhada. Foi efectivamente necessário chegar a esta etapa da minha vida, para aprender a ver o outro lado do uso do Verbo, o Silêncio.

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Hoje já aprendi a controlar a minha ambição, de querer usar o Verbo sempre, em detrimento da prática do Silêncio. Todos vós já muitas vezes, por certo, ouvistes falar e muito leram sobre o Silêncio, eu próprio também já algumas vezes escutei algumas definições, mas de todas elas existe uma que muito me diz e que convosco gostava de partilhar. Pierre Lacout, descrevia o Silêncio numa reunião, da seguinte forma: “ Num silêncio ativo, a Luz Interior começa a brilhar – uma pequena faísca. Para que a chama se possa acender e desenvolver-se, devem de ser apaziguadas as discussões subtis e o clamor das nossas emoções. (…) As palavras devem de ser purificadas num silêncio redentor caso se pretenda que elas transportem consigo a mensagem da paz. O direito de falar é um apelo ao dever de ouvir. Falar não tem significado, a não ser que haja mentes atentas e corações silenciosos. O silêncio é a aceitação de boas vindas do outro. A palavra que nasce a partir do silêncio deve ser recebida em silêncio.” (Autor: Pierre Lacout, 1969). Assim, aquilo que a principio muitas vezes me afligia e me consumia as entranhas, o tal medo de que o Silêncio, pudesse engolir o Verbo, e devora-lo, destruindo-o e assim acabando, de uma só vez, com ele, é hoje uma vantagem e um bem ao qual cada

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vez mais recorro em todos os meus tempos e ações. No entanto seria grande presunção pensar que tal ferramenta jádomino e que sobre a mesma já tudo sei e ou ouvi. Neste momento apenas vos posso dizer que esta ferramenta já autilizo e garantir-vos que tenho a plena consciência que com eladevo permanentemente continuar a trabalhar, mas os resultados dautilização desta ferramenta só serão reais se pelos meus iguaisforem reconhecidos. Por isso, junto de vós submeto esta reflexão, sobre a minhacapacidade de utilização do Silêncio, como complemento do Verbo. Alexandre T.

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Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: um apelo e um voto

June 18, 2014

Ao longo de perto de dois meses, neste blogue procedeu-se àdivulgação das duas candidaturas à eleição de Grão-Mestre daGLLP/GLRP para 2014/2016.

Anunciámos os candidatos, publicámos os respetivos currículos, osmanifestos por eles apresentados e obtivemos e publicámosentrevistas que realizámos a ambos, com a formulação dasmesmas perguntas e tendo garantido que as respostas de cada umdos candidatos eram dadas antes de este conhecer o conteúdo dasrespostas do outro.

Em resumo, neste espaço fez-se questão em garantir uma estrita igualdade no tratamento e divulgação de ambas as candidaturas. Não porque eu não tenha preferência por um dos candidatos. Claro que tenho e os obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues sabem bem quem eu pessoalmente gostaria de ver eleito como próximo

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Grão-Mestre. Mas por uma questão de respeito.

Respeito, em primeiro lugar, pelos próprios candidatos, ambosmaçons de valia que - com agrado o pontuo! - mantiveram adivulgação das respetivas posições num elevado plano dedignidade, cada um defendendo as suas ideias e a sua candidaturasem minimamente beliscar a figura, a qualidade e a valia do outrocandidato. Com isso ambos os candidatos mostraram a todos osmaçons regulares serem dignos do nosso apreço, afinal, simplesmas significativamente, serem dignos de serem reconhecidos comotal, pelos maçons regulares.

Respeito, de seguida, pelos meus Irmãos da Loja Mestre Affonso Domingues. Este espaço não é meu. Este espaço é dos Mestres Maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. A indicação neste espaço de apoio a um ou outro dos candidatos poderia induzir o leitor à conclusão de que se estava a expressar o apoio da Loja. Nada podia ser mais errado. A eleição de Grão-Mestre é uma eleição duplamente individual. Individual em termos de quem se apresenta a sufrágio, porque se apresenta ele mesmo, não como parte de qualquer grupo ou tendência; individual em termos de quem escolhe, porque o voto é de cada um dos Mestres Maçons, segundo o seu critério, a sua vontade, o seu entendimento, a sua motivação, não em execução de qualquer deliberação da sua Loja. Não são as Lojas que elegem o Grão-Mestre, são os Mestres Maçons, segundo o reconhecido princípio um homem, um voto. Na Loja Mestre Affonso Domingues, tomou-se conhecimento das candidaturas e providenciou-se para que todos dispusessem do máximo de informação possível sobre os candidatos, as suas ideias e projetos, para que CADA UM livremente, no momento e no local para tal aprazados, formule a sua escolha. Não sei o sentido de

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voto de todos os meus Irmãos. Até pode suceder que muitos façamuma escolha semelhante à minha. Mas basta que um - apenas um!- tome uma decisão diferente, para que esse decisão me mereçatodo o respeito. E isso passa por não aproveitar este espaço paradar conta da minha preferência individual em detrimento dapreferência diversa de meu Irmão.

Respeito, finalmente, por todos os Mestres Maçons da GLLP/GLRPe pela sua - óbvia e evidente! - absoluta capacidade de fazerem assuas escolhas. Respeitar os meus Irmãos, todos eles, é ajudar aque todos e cada um deles recolham e acedam à informaçãonecessária e, certamente, relevante, para que cada um tome a suaopção. Não ter a prosápia de aqui afirmar a minha preferência, como que seria vã tentativa de influenciar os demais... Eu não sou maisdo que tu; eu não sou menos do que tu; tu e eu somos iguais!

Por isso, a poucos dias da votação para a maior parte dos eleitores,a poucos dias do apuramento da vontade coletiva decorrente detodas as vontades individuais expressas, cumprida a tarefa deinformar e divulgar, neste espaço só resta e só cabe ainda aformulação de um apelo e de um voto: o apelo a que todos os quedispõem de capacidade eleitoral votem, de forma a que a vontadecoletiva exprima efetivamente a escolha da maioria das vontadesindividuais; o voto de que todos e cada um de nós sejamos dignosde nós próprios e, conhecido que seja qual o escolhido parapróximo Grão-Mestre da GLLP/GLRP, cada um de nós, semqualquer reserva, o reconheça como seu Grão-Mestre, mesmo que- principalmente se assim suceder! - porventura o escolhido pelamaioria não seja o que individualmente se preferia.

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Dia 21 de junho de 2014, dia do solstício de verão, dia de perfeitoequilíbrio entre o dia e a noite, é dia de escolha do próximoGrão-Mestre. Que cada um vote. Segundo a sua consciência,segundo a sua escolha, segundo a sua vontade. Só assim seformará a verdadeira vontade coletiva dos maçons da GLLP/GLRP.

Rui Bandeira

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Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: Irmão Júlio MeirinhosGrão-Mestre eleito

June 25, 2014

Efetuada a votação e apurados os resultados, verificou-se que oescolhido pelos Mestres Maçons da GLLP/GLRP para exercer oofício de Grão-Mestre no biénio 2014/2016 foi o irmão JúlioMeirinhos.

Na sessão do solstício de verão da Grande Loja, que terá lugar nopróximo fim-de-semana, ocorrerá a formal proclamação da eleição.

O Irmão Júlio Meirinhos, iniciado em 1992 na Loja Porto do Graal,n.º 2, foi Venerável Mestre da Loja Luz do Norte, n.º 21, e fundadore Venerável Mestre da Loja Rigor, n.º 57, cujo quadro de obreirospresentemente integra.

Após ter exercido, por várias vezes, o ofício de Assistente de Grão-Mestre, é Vice Grão-Mestre presentemente em funções, ofício

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que assegurou, pelo menos (e cito de memória) nos mandatos dosúltimos dois Grão-Mestres, os Muito Respeitáveis Irmãos MárioMartin Guia e José Moreno. Sob a direção de ambos os seusantecessores serviu leal e eficientemente. É agora chegado otempo de assumir a direção dos destinos da Grande Loja.

A instalação do Grão-Mestre eleito decorrerá, normalmente, nasessão de Grande Loja que ocorrerá por altura do equinócio dooutono.

A experiência do Irmão Júlio Meirinhos na participação daadministração da Grande Loja garante que esta prosseguirá semsobressaltos. No entanto, como é natural, dado que cada um pensapor sua cabeça e todos somos diferentes, algumas mudanças oGrão-Mestre eleito tenciona implementar, designadamente nosentido de exercer a sua liderança de uma forma mais participada ecolegial, como anunciou em entrevista ao A Partir Pedra .

Com a sua eleição, termina um normal e programado processoeleitoral, que decorreu de forma participada e, sobretudo, elevada.O período da divulgação de propostas e de escolha terminou.Reinicia-se o normal processo de vivência e trabalho da GrandeLoja,envolvendo fraternalmente TODOS os obreiros.

O A Partir Pedra deseja saudar o Grão-Mestre eleito e manifestar-lhe, naturalmente, que se encontra à ordem para auxiliar a executar as suas determinações. E deseja igualmente saudar o candidato que não foi escolhido, o Irmão José Manuel Pereira da Silva, pelo contributo que deu para o debate e para a reflexão sobre a Grande Loja, pela forma fraternal e elevada como deu esse contributo e pela sua pronta e inequívoca (mas de forma alguma inesperada) declaração de que, tendo sido eleito o Irmão Júlio Meirinhos, ele será, naturalmente, o seu Grão-Mestre, o

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Grão-Mestre de toda a Obediência e de todos os obreiros que aintegram. Ambos, escolhido e não-escolhido, foram dignosopositores e foram e são maçons de comportamento exemplar,merecedores do reconhecimento de todos nós.

Rui Bandeira

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Contents

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: Balanço 1

O Volume da Lei Sagrada 4

Entre o que uns pensam e outros dizem, de eu serMaçon!

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Dar e receber 10

Compromisso 14

Limpeza da Loja 20

Um Maçon e a sua religiosidade! 27

Assentando ideias... 32

33.º = 3.º (republicação) 37

Altos Graus (republicação) 42

O Visitante, o Viajante e o Turista (republicação) 47

A Maçonaria nos dias de hoje (republicação) 55

Amor Fratenal 60

Auxílio 63

O Maçom, Homem Fraternal... 66

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Ser reconhecido Maçom... 72

A importância da Família na Maçonaria... 76

Campanha VER MAIS 80

O enigmático Segredo Maçónico... 83

VER MAIS 86

Refletindo sobre a frase "Não sabemos o que se passae precisamente é isso o que se passa" de Ortega YGasset...

87

O trabalho da Coluna da Harmonia... 90

Entrevista concedida à TVL (Televisão de Lisboa) peloMuito Respeitável Grão-Mestre Irmão Júlio Meirinhos...

93

Reflexão sobre o " Livre Associativismo" e a suarelação com a Maçonaria…

94

Refletindo sobre a frase "Sei que só há uma liberdade:a do pensamento" dita por Antoine de Saint-Exupery...

102

Sugestão para a "Coluna da Harmonia": “HeyBrother”de Avicci.

106

Refletindo na frase: “Existe algo maior que o céu: aalma humana” de Victor Hugo…

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A importância que um Padrinho tem na formação deum maçom…

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Sugestão musical para a Coluna da Harmonia: "You’vegot a friend in me" de Randy Newman ...

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A Maçonaria na Ilha da Madeira 130

Juramento e compromisso maçónicos... 139

Solidariedade maçónica... 147

Explicação, renovação e soltício 151

2015: Equilíbrio e tolerância 155

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Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: Balanço

July 02, 2014

Encerrado que está o processo de eleição do Grão-Mestre daGLLP/GLRP para o período que decorre entre os equinócios deoutono de 2014 e 2016, é tempo de um breve balanço.

A primeira nota a reter é que a disputa eleitoral decorreu comgrande elevação. Os candidatos fizeram jus à sua condição demaçons. Expuseram as suas ideias, divulgaram-nas,defenderam-nas pela positiva e com respeito pelo opositor. Todosnos congratulamos com isso - mas não é nada demais: afinalambos limitaram-se a ser maçons e a ter a postura que se esperade maçons.

A segunda nota que julgo asada é que o cumprimento do dever de imparcialidade por parte dos Grande Oficiais em funções não implica agir como se não houvesse eleição, não implica não falar do assunto, não implica a necessidade de ficar mudo e quedo perante uma realidade e um processo que são evidências. Aqueles que cumprem os ofícios de administração da Grande Loja e

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genericamente todos os Grandes Oficiais têm o dever deimparcialidade, de não usar os seus ofícios em favor ou detrimentode qualquer dos candidatos. Mas o cumprimento desse dever podee deve ser executado assegurando-se também o esclarecimento dequem tem o direito de voto e a divulgação das candidaturas erespetivas posições.

Foi precisamente isso que se procurou fazer neste blogue. Aqui sedivulgaram ambas as candidaturas, os currículos de ambos oscandidatos, os respetivos manifestos, e se tomou a iniciativa deentrevistar ambos, tendo o cuidado de a ambos colocarrigorosamente as mesmas questões. Não se apelou ao votoespecificamente em qualquer dos candidatos. Crê-se que ficoudemonstrado que é possível proceder à divulgação de informaçãoeleitoral com o respeito pela imparcialidade.

A terceira nota é que este processo eleitoral veio mostrar que aMaçonaria está a saber adaptar-se aos tempos atuais. Nasociedade atual, a circulação da informação é um facto. Não é maispossível deixar de ter isso em conta. Mesmo aqueles que pontuama natureza iniciática da Maçonaria e do processo maçónicoentenderam isso. Ambas as candidaturas - e bem - divulgaram assuas posições publicamente, em sítios na Internet de acesso livre.Qualquer interessado, maçom ou não maçom, pôde aceder a essainformação. Aqueles que continuam a bater na estafada tecla dosecretismo da Maçonaria continuarão certamente a fazê-lo, mascada vez com menos credibilidade...

Finalmente, é grato verificar que, numa instituição madura, a existência de períodos eleitorais, sendo uma necessidade, é encarada e vivida com naturalidade. Eleição implica escolha, o que implica exposição de posições diferentes entre quem se submete

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ao juízo dos seus pares. Efetuada a escolha, termina o processo ea vida institucional e pessoal de todos os intervenientes prosseguenormal e pacificamente. Assim sucedeu na GLLP/GLRP.

Rui Bandeira

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O Volume da Lei Sagrada

July 03, 2014

Nota de Abertura: Neste Blog de vez em quando convidamos umMaçon de outra Loja ou de outro Oriente ou País a publicar textosde sua autoria, tal como acontece com o que agora aqui se publicae que vai devidamente assinado.

21º Landmark da lista de Albert Gallatin Mackey- é indispensável a existência, no Altar, de um Livro da Lei, o Livro que, conforme a

crença, se supõe conter a Verdade revelada pelo Grande Arquitecto do Universo. Não cuidando a Maçonaria de intervir nas

peculiaridades de fé religiosa dos seus membros, esses Livros podem variar de acordo com os credos. Exige, por isso, este

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landmark, que um "Livro da Lei" seja parte indispensável dosutensílios da Loja.

Como se infere do landmark citado, não há um livro da lei recomendado ou que tenha preponderância sobre os outros.

Porque para o maçon do R\E\A\A\, que é o nosso, nenhuma religião é melhor que outra ou mais digna de respeito que outra. Todas são dignas de respeito, todas são de igual importância. Porque para um homem se tornar maçon no R\E\A\A\apenas lhe é perguntado se é crente. Qual a sua confissão religiosa, se professando alguma, não

é assunto nosso. Ao R\E\A\A\basta que o homem seja crente e entenda o conceito do G\A\D\U\. O que isso significa no coração de cada um de nós, não interessa nem é para aqui chamado. Nós aqui

abordamos todas as questões, sejam elas de que índole for, quando nos encontramos na linha em que todos somos irmãos,

sitio esse onde podemos abordar todos os assuntos sem colocar em perigo a harmonia entre os II\. Essa linha existe, um dia

chegarão lá todos os que aqui estão se trabalharem para isso e tem um nome, chama-se Nível, e é a Jóia que identifica o I\1º V\. E é o

emblema da Igualdade. O Nível maçónico é formado por um Esquadro de hastes iguais, de cujo ângulo desce uma

Perpendicular. O Nível simboliza a Igualdade, base do Direito Natural e a Perpendicular significa que o maçom deve e precisa possuir uma rectidão de julgamento que nenhuma afeição – de interesse ou de família – deve impedir. O que pode distinguir os maçons e conduzi-los ao seu lugar na comunidade é o mérito e também as virtudes e o talento. O Nível lembra ao maçom que

todas as coisas devem ser consideradas com serenidade igual e que o seu simbolismo tem como corolário noções de Medida, Imparcialidade, Tolerância e Igualdade, bem como o correto

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emprego dos conhecimentos.

Partindo desta premissa, não há assunto que não possa serdiscutido entre nós, pois será sempre uma discussão leal e

iluminada.

Assim, concluo que nenhum maçon do R\E\A\A\se pode ofendercom um símbolo religioso, pois entende que todas as opções decrença são legítimas e são escolhas pessoais, que a ninguém

dizem respeito. Nós trabalhamos A\G\D\G\A\D\U\e chega. Esse é onome que lhe damos e não outro, apesar de existirem sempretentativas de forças estranhas de introduzir na nossa Augusta

Ordem formas de colocar em perigo a Harmonia entre os maçons,minando a Ordem e a sua Força progressista e humanista. Tenhoaté para mim que a Maçonaria existe hoje muito mais influenciada

pelo Renascimento, a descoberta do Mundo e do Homem do séculoXVI em diante e o Humanismo deísta do século XVIII, do que àsconfederações de pedreiros-livres medievais. O nosso ideal é a

Verdade, sendo a sua indagação um Dever para todos os maçons.

O R\E\A\A\respeita todas as religiões, todos os símbolos religiosos,sem nunca se identificar ou se opor a qualquer uma delas, ou

mesmo a qualquer governo ou escola filosófica, mantendo semprecomo base dos seus ensinamentos a Liberdade de Pensamento, aindagação da Verdade e a busca, constante e pacifica, de uma vida

melhor.

A introspecção espiritual potenciada pelo ritual não conduz numdeterminado sentido religioso, dá espaço a que todos,

independentemente do seu credo, confessional ou não, se sintamintegrados nesta comunhão espiritual em que a Verdade e a

Fraternidade são o cimento que une todas as pedras que fazemparte deste Templo que é a R\L\Alengarbe.

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Disse.

José Eduardo Sousa, V\M\da R\L\Alengarbe, a Or\ de Albufeira

6014 A\L\

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Entre o que uns pensam e outros dizem, de eu ser Maçon!

July 07, 2014

Entre o que de mim dizem, Entre o que de mim pensam,

Entre os me julgam sem saberem bem e sobre o quê, Entre os que de mim não gostam,

Entre os que das minhas dificuldades se glorificam, está a verdadeira razão da minha existência:

AQUELES a quem eu AMO e que me retribuem de forma igual!

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Entre aqueles que acham que o melhor era o meu silêncio,

Entre aqueles que em todas as minhas ações só vem o que nãoconseguem fazer,

Entre aqueles que se preocupam mais com o que faço e com opouco que tenho, do que com aquilo que deviam de fazer parapoder ter mais ou o mesmo, está a verdadeira razão da minha

persistência:

AQUELES que mesmo sem que eu tenha de pedir, me dãoforça para seguir em frente e continuar a caminhar, os Meus

Queridos Irmãos.

Entre aqueles que em todos os meus actos só vêm interessesocultos,

Entre aqueles que buscam permanentemente nos meus actos oreflexo negro e sujo das suas mentes pobres,

Entre aqueles que apenas se focam em desdizer e contrariar, porcontrariar, o que de boa-fé partilho,

Entre aqueles que da inveja fazem seu alimento, está a verdadeirarazão da minha caminhada e persistência:

AQUELES que trilham o mesmo carreiro e que se sentem e se

Reconhecem com IGUAIS entre IGUAIS!

Alexandre T.

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Dar e receber

July 09, 2014

Ingressar na maçonaria, juntar-se a uma Loja maçónica não é umato destinado à obtenção de quaisquer vantagens materiais ousociais. O ingresso na Maçonaria, a permanência numa Loja

maçónica traz benefícios de ordem espiritual, moral, deaperfeiçoamento pessoal, de preenchimento do sentido da vida e

plenitude na vivência do tempo que a cada um cabe neste plano daexistência.

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Dito de outro modo: o ingresso na maçonaria não se destina àobtenção de vantagens materiais ou sociais, prossegue o objetivo

de nos ajudar a ser melhores e mais felizes

A vivência numa Loja maçónica é um contínuo e inesgotável ciclode troca, de dar e receber. Cada um dá à Loja o que tem de útil

para lhe dar e dela recebe aquilo de que ela dispõe, o que recebeude todos, para fruição e aperfeiçoamento de cada um.

É dando a nossa quota-parte que criamos as condições pararecebermos o nosso quinhão. Desengane-se quem porventura julgaque o que interessa é "entrar" e depois basta aguardar que aquiloque esperamos e o que nos é inesperado nos caia nos braços! AMaçonaria tem uma curiosa caraterística: tudo proporciona, mas

nada dá.

Trocando por miúdos: a Maçonaria proporciona um meio, umambiente, um método, uma cultura, um grupo, tudo disponível paraque cada um de nós utilize em prol do seu aperfeiçoamento, do seucrescimento, da sua evolução. Mas faz só isso - e muito é! Cabe a

cada um fazer pela sua vida e mergulhar no meio, viver o ambiente,utilizar o método, apreender a cultura, inserir-se no grupo, e comisso lograr melhorar, desenvolver-se, crescer, viver melhor, em

suma, ser melhor.

O trabalho, o esforço, a vontade, são sempre individuais. O auxílio,a orientação, a envolvência, esses sim, advêm da Instituição, da

Loja, do grupo.

Assim, a entrada na Maçonaria, a iniciação numa Loja, não é mais do que um prelúdio, um momento - marcante, sem dúvida! -, uma condição necessária, mas não suficiente para que o objetivo do

desejado aperfeiçoamento seja obtido. Esse ato marca apenas o começo do trabalho, o início da caminhada, o plano de partida. O

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maçom, a partir dessa base, primeiro amparado pelos seus Irmãos,que decidiram acolhê-lo no seu grupo, depois guiado e orientado

por eles, finalmente por si só, fará depois o trabalho que entender,seguirá o caminho que escolher, chegará ao plano a que conseguirchegar. Nada, a não ser condições e conselho, lhe é dado. Tudo o

que cada um obtém resulta do seu esforço, do seu trabalho.

A maçonaria e a vivência em Loja têm ainda uma outra interessantecaraterística: é dando que se recebe e quanto mais se dá, mais se

obtém.

Porque sempre que o maçom dá um pouco do seu esforço, efetuauma investigação, organiza algo, executa uma tarefa, ajuda um

Irmão, está a aprender algo, a aprimorar-se nalgum aspeto. Findaqualquer tarefa, ultimado qualquer projeto, não é só o que se fez

que ficou feito; quem o fez também ficou melhor, seja porqueaprendeu, seja porque exercitou, seja pelo que relacionou ou

relacionará e lhe permitirá ir mais adiante, ou aprofundar algo mais,em si, no que sabe ou no que investiga ou busca.

O resultado do trabalho de um maçom é por ele disponibilizado aogrupo, à Loja, e todos com isso beneficiam, ao menos

conhecimento ou uma nova visão ou conceção do que jáconhecem. Mas o maior beneficiário é quem fez o trabalho, que no

final dele será sempre, um pouquinho que seja, melhor, maisilustrado, mais conhecedor, mais preparado, mais capaz, do que

estava antes de iniciar a tarefa.

Quem frequente uma Loja apenas para ver o que acontece, o que lá se passa, o que é dito e apresentado, muito pouco rendimento

tira do seu tempo. Quem participa, colabora, auxilia, sugere, pensa, toma a iniciativa de propor ou de fazer, esse, sim, ao fim de cada ano sente que é diferente, melhor, mais capaz, do que era no ano

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anterior. E entende que, prosseguindo nessa linha, certamente é,no momento, pior do que será no ano seguinte.

O maçom ativo aprende que dar, trabalhar, fazer, tomar a iniciativa,ajudar, cooperar, são tudo atos do mais inteligente dos egoísmos,pois tudo, bem vistas as coisas, redunda no seu próprio benefício.

Claro que isto não é compreendido por quem vive (ou sobrevive)apenas para o dinheiro, os bens materiais, a passageira

consideração social. Por isso a Maçonaria não é para todos. Masisso não é nenhum segredo...

Rui Bandeira

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Compromisso

July 16, 2014

Porque a Maçonaria é um contínuo exercício de dar e receber entre cada maçom e os seus Irmãos, cada um aperfeiçoando-se através do que obtém do contributo do trabalho dos demais, a condição do sucesso nessa pretendida melhoria de todos pode resumir-se numa

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palavra: COMPROMISSO.

COMPROMISSO em relação à assiduidade de cada um (pois quemnão está, não participa). COMPROMISSO em relação ao

cumprimento dos deveres de cada um, designadamente quanto aopagamento das respetivas quotas (pois a manutenção da estrutura

tem custos, que necessariamente têm de ser equitativamentesuportados por todos os que a integram). COMPROMISSO em

relação ao trabalho, ao estudo individual, em relação à partilha dosresultados do seu esforço.

Uma Loja maçónica potencia, acrescenta, valoriza, através de todoo grupo, a valia individual de cada um. É um fermento que auxilia

no crescimento da massa que cada um amassa. Mas o fermento denada serve se não houver farinha para amassar ou se ninguém se

dispuser a executar ou a cooperar na tarefa de fazer a massa...

Uma Loja maçónica vale a soma do valor de cada um dos seusobreiros, acrescentada da mais-valia resultante das sinergias,

complementaridades e eficiências geradas pela cooperação nogrupo. Mas de nada serve o valor que potencialmente algum

elemento possa dar ao grupo. Só importa o que efetivamente dê,transmita, acrescente.

Uma Loja de eminentes pessoas que se juntem apenas dar contadas respetivas eminências mas se não deem ao trabalho de

produzir, fazer, compartilhar, pode ser uma eminente Loja - masestá na iminência de ser um completo e absoluto fracasso!

Por seu turno, uma Loja que agrega homens comuns, sem particular engenho, sem especial importância, sem extraordinária inteligência, se estes dedicada e persistentemente trabalharem,

partilharem, propuserem projetos, debaterem e executarem alguns, fará sucessivamente pequenas coisas, modestos

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empreendimentos, pequenas obras - mas o conjunto do que faráterá cada vez mais significado. Cada um sentir-se-á satisfeito com

cada pequena conquista e propenso a continuar a ajudar, acolaborar, a propor, a fazer.O esforço de cada um, devidamente

coordenado, propicia resultados coletivos visíveis. Essa Loja podeser de formiguinhas - mas será uma Loja bem mais satisfatória doque a "eminente" Loja de homens eminentes que nada façam além

de observarem as suas mútuas "eminências"...

O COMPROMISSO tem de ser persistente, constante. De poucovale hoje o que se fez de bom há anos atrás. Será uma história

bonita, mas é já passado. Serve como exemplo, como inspiração,mas não substitui o trabalho de hoje para lograr a realização de

amanhã.

O maçom que se queixa de que a sua Loja nada faz, que assessões "são sempre a mesma coisa", se só faz essa constatação

e nada mais faz para superar aquilo de que se queixa, esse éprecisamente um dos culpados da situação que acusa. É estulto

queixar-se que "a Loja não tem projeto". O que há a fazer é tomar ainiciativa de fazer, ele próprio, algo que considere valha a pena ser

feito - por pequeno, por modesto que seja. E, pelo exemplo epersuasão, levar outros da Loja a também tomarem a iniciativa defazer pequenas coisas. Ao fim de algum tempo, três, cinco, dez,vinte pequenas coisas feitas já constituem algo que se veja, algo

que merece alguma satisfação pelo dever cumprido...

Ou então, em vez de se aguardar, expectante mas indolentemente, que a Loja imagine, descubra, prepare, debata, organize e execute o fantástico, importantíssimo e relevantíssimo projeto que gravará a

letras de ouro o nome da Loja nos anais da História Maçónica e quiçá mereça uma nota de rodapé nos manuais do ensino

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elementar das futuras gerações, talvez seja melhor conceber umpequeno projeto, dar vida a uma ideia cuja forma final ainda nem

sequer se saberá qual vai ser, combinar com dois ou três dos seusIrmãos e começarem a executar. Não é necessário que toda a Loja

formalmente adote o projeto (mas convirá que não se trate deiniciativa que mereça a discordância da Loja...). Dois ou três

começam. Dois ou três ou quatro dão os primeiros passos de algoque é feito em nome da Loja, enquanto elementos da Loja. Seefetivamente a ideia tiver pernas para andar, mais cedo do que

mais tarde os demais ajudarão, incentivarão, participarão. E,quando nos damos conta, o projeto é já mesmo o projeto da Loja -

não dos dois, três ou quatro que o iniciaram - e terá condiçõespara ser prosseguido enquanto houver Loja...

Na Loja Mestre Affonso Domingues nunca nos preocupámos em fazer grandes organizações. Tudo o que na nossa Loja se foi fazendo começou da mesma maneira: dois ou três ou quatro

conversam e avançam, os outros vão dar uma ajuda e, sem disso nos darmos conta, o que se faz é já de todos, é já da Loja. Foi

assim que começaram as ações de doação de sangue - e há mais de dez anos que periodicamente ajudamos neste campo. Por vezes com poucas doações, outras vezes com mais gente a associar-se. Mas faz-se! Quem começou já não está na Loja há muito tempo.

Os mais novos nem sequer ouviram falar dele. Mas a semente que lançou germinou e, mais de dez anos passados, uns anos mais,

outros anos menos, os frutos continuam. É um contributo modesto, quase apenas umas gotas no oceano das necessidades,

sabemo-lo. Mas persistirmos em dar esse contributo modesto e esperamos continuar a fazê-lo por muitos mais anos. É do conjunto

de todos os modestos contributos que se satisfazem as

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necessidades de sangue no País.

Este blogue começou por ideia de um, concretização de outro eimediata adesão de um terceiro. Os três autores iniciais não

criaram o "seu" blogue. Criaram um "blogue escrito por maçons daLoja Mestre Affonso Domingues". Oito anos passados, outros sejuntaram, mais de 1.300 textos estão à disposição de quem os

quiser ler. E espero que continue mesmo quando já nenhum dosmentores iniciais nele escrever...

O sítio da Loja foi criado por iniciativa de um, com a ajuda de outro,foi remodelado e mantido por um terceiro, que conta agora com aajuda de um quarto e os contributos de todos os obreiros da Loja.

Contém já um enorme acervo de textos postos à disposição dequalquer pessoa.

A Loja não gastou um minuto sequer a discutir se criava um sítio naInternet ou se mantinha um blogue. Uns avançaram, outros

ajudaram, todos contribuem quando é preciso ou têmdisponibilidade. Mas a obra está feita e está à vista de todos. E nãoé obra do Manuel, do António ou do Joaquim. É obra dos obreiros

da Loja Mestre Affonso Domingues.

Os obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues têm umCOMPROMISSO com a Loja. É estarem presentes. É tudo livre e

lealmente debaterem, sem o mínimo problema, tolerando asposições divergentes, cada um concordando ou discordandoquando assim o entender, e todos sermos um grupo unido e

solidário. É cada um sentir-se à vontade para arrancar com umprojeto, executar uma ideia, pedindo e obtendo, ou obtendo mesmosem pedir, o apoio e a colaboração de outros obreiros - se valer a

pena e for necessário, de toda a Loja.

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O COMPROMISSO dos maçons da Loja Mestre AffonsoDomingues não é de fazer a mais importante e merecedora de

elogios obra que o espírito humano possa conceber, O seuCOMPROMISSO é ajudar o seu Irmão a levar a cabo a sua ideia, éavançar com a execução das nossas ideias, sabendo que algum oualguns dos nossos Irmãos estará ou estarão presentes com a sua

ajuda.

O nosso COMPROMISSO na Loja Mestre Affonso Domingues é irfazendo, em cada momento, o que for preciso para ajudar. Assim

fazemos. Às vezes mais, às vezes menos, às vezes muito, àsvezes pouco, às vezes bem, às vezes nem tanto assim. Mas, bem

vistas as coisas, sempre algo se faz!

Rui Bandeira

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Limpeza da Loja

July 23, 2014

Em todas as casas periodicamente há necessidade de se fazeruma grande limpeza. É certo que no dia a dia se procura manter a

casa apresentável, que a rotina semanal nos habitua a dedicaralgum tempo a limpeza mais metódica. Mas, em regra anualmenteou bianualmente, há necessidade de se fazer uma limpeza geral e

completa, tudo arejar, verificar o estado das coisas, limpar oscantos mais escondidos e inacessíveis, enfim fazer uma limpeza afundo que reponha o espaço nas melhores condições de higiene e

de condições de nele se viver.

Similarmente, também numa Loja maçónica existe a necessidadede periodicamente se fazer uma limpeza no respetivo quadro de

obreiros.

Quem entra para a Maçonaria fá-lo normalmente com a melhor das intenções e com o propósito de participar. Mas, seja porque se

esperava algo diverso, porque se não logrou a desejável integração ou porque as condições de vida são o que são em cada momento

e, por vezes, impossibilitam a execução das melhores das

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intenções, alguns acabam por se desinteressar, por nãocomparecer, por se afastar.

Tal como, mesmo não sendo a mais agradável das tarefas, nãopodemos deixar de, em nossas casas, efetuar periódicas limpezas,

também na Loja maçónica, mesmo sem termos qualquer gostonisso, não se pode prescindir da tarefa de verificar o que se passacom os obreiros do Quadro e fazer as mudanças que se mostrem

pertinentes, efetuar os arranjos necessários, providenciar areciclagem do que afinal não se coaduna com o resto do conjunto.

Esse trabalho, que eufemisticamente apelidamos de"administrativo", vai sendo permanentemente controlado e

assegurado pelo Secretário e pelo Tesoureiro, quando necessáriocom a intervenção do Orador ou do Hospitaleiro (a tarefa do "dia a

dia"), pontualmente atalhando algum caso mais evidente comprovidência imediata e casuisticamente decidida (a "rotina

semanal") e periodicamente metódica e expressamente realizado(a "limpeza a fundo").

Quando é tempo de efetuar a revisão geral das situações, doisparâmetros iniciais são verificados em relação a todos os obreirosdo Quadro: a assiduidade e o cumprimento das suas obrigações

pecuniárias para com a Loja. Considera-se haver normalidade coma verificação da assiduidade ao menos no nível mínimo definido

pela Loja e o cumprimento, ao menos sem atraso significativo, dasobrigações pecuniárias. Entende-se haver motivo para

preocupação e verificação da necessidade de intervenção quando,num dos parâmetros, o nível mínimo, regulamentarmente fixado,

não é cumprido. Fazem-se soar os sinais de alarme quando essesníveis mínimos de cumprimento são incumpridos em relação aos

dois parâmetros.

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Várias situações podem ocorrer, aconselhando diversos graus etipos de intervenção.

Quando se verifica que, embora mantendo o nível mínimo decumprimento das obrigações pecuniárias, ocorre uma degradaçãoda assiduidade, impõe-se a determinação da causa do que está aacontecer. Se o obreiro está deslocado no estrangeiro ou longe do

local de funcionamento da Loja, não será uma situaçãopreocupante, havendo apenas que determinar se se perspetiva queessa situação se mantenha por pouco ou por muito tempo e se será

mais aconselhável providenciar uma transferência de Loja ousimplesmente aguardar que o impedimento cesse. Neste tipo decasos, é normalmente determinante a expressão da vontade do

interessado.

Pode também verificar-se que a ausência decorre de anormalacumulação de trabalho ou afazeres do faltoso. Também nesta

situação importa verificar se a circunstância é temporária ou se seperspetiva com foros de permanência. Se for meramente

temporária, de expectável curta duração, pode-se perfeitamenteaguardar que a situação melhore, mantendo contactos à distância

ou informais. Mas se as causas do impedimento tendem amanter-se por tempo significativo, será oportuno considerar a

pertinência da solicitação e emissão de atestado de quite, comadormecimento do obreiro até superação da situação, retomando

este a sua atividade quando de novo estiverem reunidas ascondições para o fazer.

Mas pode também ocorrer que a ausência decorra de problemas de saúde do obreiro ou de seus próximos. Aí e então o que importa, em primeiro lugar, é verificar, em conjunto com o Irmão, de que

forma é possível e útil que a Loja dê uma ajuda na superação da

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situação ou minimização das suas consequências. É hora de entrarem cena o Hospitaleiro da Loja.

Pode também suceder que o afastamento decorra ou de desinteligência com outro ou outros obreiros da Loja ou de

dificuldade de integração do obreiro no grupo. Nessas situações, há que procurar as soluções para sanar a situação. Cabe, em primeira

linha, ao Orador "passar a trolha" sobre o problema que tenha surgido, alisando as divergências e limpando os mal-entendidos, de

forma a que a harmonia se restabeleça. Quanto a eventuais problemas de integração detetados, deve, sem demora, deles dar-se conhecimento aos padrinhos do obreiro que os sofre

(normalmente é um elemento recentemente admitido na Loja) e a toda a Loja, para que o que estava a correr mal passe a correr bem. A integração de um obreiro na Loja é uma tarefa que se desenrola em ambos os sentidos. Ambos, o obreiro e a Loja,

identificado que seja o problema, têm de cooperar para o resolver.

Finalmente, pode suceder que a ausência derive apenas de desinteresse do obreiro. É o que familiarmente designamos por "erro de casting"... Nessa situação, e porque a integração numa

Loja maçónica é um ato estritamente voluntário, se se conclui que a Loja ou a Maçonaria não corresponde às expectativas do obreiro,

razão geradora do seu desinteresse, só há uma forma de resolver a questão: a saída do obreiro de algo de que se desinteressou. Essa saída pode ser feita de duas maneiras: com honra e consideração

mútuas, através do pedido de atestado de quite; ou, não havendo a consideração de pedir formalmente a desvinculação, mediante uma

decisão de exclusão por parte da Loja.

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Pode, por outro lado, suceder a verificação de falta de cumprimento das obrigações pecuniárias, designadamente falta ou atraso

sensível no pagamento de quotas, por parte de obreiro que até cumpre os critérios de assiduidade. É uma situação que assume alguma gravidade para a Loja. Por um lado, porque esta tem de pagar à Grande Loja uma (importante) percentagem da quota

mensal dos seus obreiros, independentemente da regularização desses pagamentos por eles - o que implica que os pagamentos

das percentagens das quotas em atraso tem de ser satisfeito mediante o recurso aos fundos próprios da Loja, que são

obviamente finitos. A não resolução atempada do problema cedo ou tarde conduziria a Loja à bancarrota. Por outro, porque, pura e simplesmente não é justo para os que pagam que se permita, sem

medidas, que, podendo fazê-lo, outros assim não procedam.

A falta de cumprimento das obrigações pecuniárias normalmente resulta de uma de duas situações: dificuldades económica do

obreiro ou desinteresse.

No caso de dificuldade económica do obreiro, dependendo da situação concreta, do grau de gravidade, da duração previsível da situação, opta-se por várias e diferentes medidas: estabelecimento de plano de pagamentos do atrasado, durante um período mais ou

menos prolongado, até recuperação da situação, sendo que, estabelecido um plano de pagamentos, durante e mediante o seu

cumprimento o obreiro é considerado em dia perante a Loja; assunção pela Loja da responsabilidade pecuniária do

obreiro, mediante empréstimo sem prazo e sem juros, pelo Tronco da Viúva, do montante que for preciso, pelo tempo necessário, até

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que a sua situação económica melhore - quando estiver em condições para tal, o obreiro diligenciará o reembolso do Tronco da

Viúva, como é apanágio dos homens livres e de bons costumes; nos casos mais graves e previsivelmente de indisponibilidade

prolongada, pode o obreiro pretender pedir o seu atestado de quite (o que pressupõe que esteja quite) - nesses casos, o Tronco da Viúva assume, a título de empréstimo sem prazo e sem juros, o

pagamento do que está em atraso, para que o obreiro possa receber o seu quite, e, se e quando puder pagar, pagará, se e

quando puder e quiser regressar, regressará.

Só nos casos em que o incumprimento das obrigações pecuniárias ocorra por desinteresse ou falta de vontade de o fazer é que a Loja decide a exclusão do obreiro, de forma a deixar de ser responsável

pelo pagamento à Grande Loja da capitação a ele referente.

Por muito bem que funcionem o Secretário o Tesoureiro, o Orador e o Hospitaleiro, é conveniente que, desejavelmente uma vez por ano, no mínimo de dois em dois anos, esta tarefa de verificação

geral e resolução proativa dos problemas detetados seja feita. Só assim se tratam situações que deveriam já ter sido tratadas e que, por erro, negligência ou simples inércia estão por tratar, com risco de agravamento. Só assim, por iniciativa organizada da Loja, se

obtém, por vezes, a noção de que um Irmão atravessa dificuldades e não revela tal facto aos seus Irmãos, seja por que razão seja. Só assim a Loja logra obter uma imagem global do que se passa com os seus obreiros, do que está a Loja a fazer para auxiliar os que

necessitam de auxílio e do que tem de modificar ou diligenciar para bem cumprir o dever de Solidariedade que une todos os maçons.

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Tal como nas nossas casas, a limpeza semestral ou anual não

implica só deitar coisas fora, mas também detetar o que precisa deser reparado e providenciar pela reparação e efetuar as mudançasque sejam convenientes, também a limpeza da Loja não se limita àexclusão daqueles que é necessário excluir. Muito mais há a fazer,para além disso: reparar o que houver a reparar, providenciar o que

houver a providenciar, auxiliar o que se houver de auxiliar pelaforma que se puder fazê-lo.

Tal como nas nossas casas, efetuar periodicamente a limpeza daLoja é imprescindível para o bom funcionamento desta e fortalece

os laços entre todos.

Rui Bandeira

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Um Maçon e a sua religiosidade!

July 29, 2014

Pode um Maçon ser um Homem crente? Pode um Maçon ser um Homem praticante de uma fé/crença?

Perguntas que muitos fazem, respostas que poucos as conseguem entender, pois por isso mesmo hoje decidi apresentar-vos a visão de um Maçon, face à sua vivência enquanto Maçon e enquanto

Muçulmano.

O que diferencia um Maçon Muçulmano de ou outro qualquer Maçon, seja ele Cristão, Judeu, Deísta, Budista e ou apenas

crentes no Grande Arquiteto Do Universo.

Deixo-vos a minha opinião suportada por uma vivencia de um

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momento muito especial no que respeita à pratica Religiosa e a Observância Maçónica daqueles que são os princípios da

Maçonaria, falo da Liberdade, da Igualdade, do Direito ao Livre Arbítrio, dos Bons Costumes e da Tolerância e Respeito.

O mês de Ramadão de 1435/2014.

- Um mês de Ramadão terminado! - O dia de Eid al-Fitr comemorado!

E agora, agora vamos a mais um balanço:

Um mês de reflexão, de observação interior e de avaliação dos limites, limites esses que nem sempre julgamos poderem ser

atingidos.

Um mês de auto disciplina física e intelectual, um mês onde acima de tudo a mente esteve, tanto quanto possível, apenas fixada no

bem, na família, nos amigos, na partilha, no fazer o bem e deixar de lado todas as intenções e pretensões pessoais, ou seja um mês de trabalho individual para melhorar a minha postura, ação e atitude

face ao colectivo e à sociedade.

Pois bem, do ponto de vista pessoal e é isso que interessa, pois cada um deve começar o trabalho por si mesmo e nunca pelos outros, digo-vos que o meu Ramadão foi completado a 100%.

No que respeita à convicção de fé/crença essa sai reforçada,

olhando à mesma como um processo de evolução e

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aperfeiçoamento pessoal, no entanto esclareço que neste tema defé/crença, cada um tem o direito em optar pelo processo/caminhoque bem entender, desde que essa seja a sua vontade e opção

feita de forma livre e consciente.

Esta minha escolha é mais um processo, adicionado a outros, como qual me sinto bem e através do qual tenho vindo a reforçar as

minhas convicções, enquanto Homem Livre e de Bons Costumes(assim espero ser reconhecido) o qual me tem ajudado a percorrer

esta minha caminhada.

O que me torna diferente dos outros, findo o Ramadão?

Bem na verdade NADA!

Exactamente “NADA”, não consigo encontrar nada que me diferencie de todos os Meus Irmãos Maçons, sejam eles Cristãos,

Judeus, Deístas, Budistas e ou apenas crentes no Grande Arquiteto Do Universo.

Em nada e em caso algum tenho o direito, ou posso sentir-me

diferente, seja para melhor e ou para pior, apenas porque escolhi este ou aquele caminho, reconheço hoje, tal como sempre fiz, todos os Meus Irmãos de igual forma, sem qualquer diferença

originada por qualquer Credo, Estatuto Social, Convicção Ideológica, Clubismo Desportivo e ou Opção Filosófica.

Depois desta caminhada chego à conclusão que na minha

fé/crença, bem como todos os rituais e práticas executadas, em

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nada me tornam diferente e têm apenas os seguintes objetivos:

1 Tornar o Homem mais Humilde e menos Egocêntrico, pois a prática de nos dirigirmos ao Grande Arquiteto Do Universo, tem

como principal objectivo tornar-nos mais Humildes aquando lidamos com todas as formas de vida, por Ele criadas.

2 Tornar o Homem totalmente consciente de que esta Caminhada

(Vida) é apenas uma etapa de aprendizagem e que por isso mesmo devemos de olhar muito mais para o que está ao nosso lado e não apenas para o reflexo da nossa própria imagem no Espelho, pois

quando a Luz se extingue também o nosso reflexo nos abandona e ai só quem está ao nosso lado e DEUS/YHVH/ALLAH, nos pode

dar a mão.

3 Tornar o Homem mais consciente daquilo que são as necessidades de todos aqueles que jejuam permanentemente para lá do Ramadão, os quais jejuam infelizmente porque não tem meios

para se poder alimentar, vestir e ou ter uma habitação condigna.

4 Tornar o Homem mais “Homem” e menos “Entidade Divina”, POIS neste período todos são elevados à mesma condição, O

Rico, O Pobre, O Doutor, O Ignorante, O Inteligente, O sem Curso Superior, O Sacerdote, O Crente, O Homem e A Mulher, todos,

mas mesmo todos, são iguais, todos passam pela mesma privação independentemente daquilo que são perante, ou aparentam ser,

independentemente dos Rótulos e Medalhas com que se apresentam, ou se possam vir a apresentar no seu dia-a-dia

Profano e ou Sagrado.

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Por isso findo este processo apenas quero deixar um registo de

desejo:

Que O Grande Arquiteto Do Universo nos proteja a todos dasTrevas que vamos encontrando ao Longo desta nossa Caminhada(Vida), que a Luz do Sol, direta e ou na Lua refletida, nos Ilumine

até que a Meia Noite do nosso Dia chegue e que lá no OrienteEterno, onde todos nos voltemos a Reconhecer e a Reencontrar,

sejamos o reflexo daquilo que aqui fizemos, pois lá seremosapenas mais uma Luz, junto de todas as outras, sem qualquer

distinção, diferença e ou diferenciação.

Disse!

Alexandre T.

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Assentando ideias...

July 30, 2014

Em comentário ao texto "Limpeza da Loja", um leitor afirmou,designadamente:

"A administração de uma qualquer empresa, ou associação,profana não diria melhor. Devemos ter cuidado com o queescrevemos em relação a II que trazemos para cá. (...)".

É-me evidente o tom crítico, em relação ao texto, do comentador - eisso não me afeta em nada ou me causa qualquer desagrado. As

ideias publicadas ficam expostas ao debate e à crítica e é peloconfronto entre as nossas ideias e as críticas que lhes sejam

opostas que evoluímos no nosso pensamento. Aliás, acho que,pese embora a aparente falta de fundamentação da afirmação, a

mesma suscita alguma reflexão.

Se bem entendo o que o comentador quis dizer, entende ele - e eu concordo em absoluto! - que a conduta em Maçonaria deve ser

algo mais e algo melhor do que a normalidade da conduta no meio

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que os maçons designam de "profano". Neste ponto, não creio quehaja razões de discordância. Assentemos, assim , no princípio deque é exigível que a conduta ética de um maçom e em ambiente

maçom deve ser mais exigente, mais escrupulosa, mais cuidada doque a média da Sociedade. O maçom só pode constituir exemplopara a Sociedade se se comportar melhor do que normalmente

nesta sucede.

No entanto, uma vez que o comentador manifestamente queexpressa um tom crítico em relação ao que é exposto no texto, terei

que concluir que as ações por mim descritas não merecem o seuacordo. Recorde-se então, muito sumariamente, o que propugnei

que periodicamente deve ser feito numa Loja maçónica: verificaçãoda assiduidade e do cumprimento das obrigações pecuniárias dos

obreiros, determinação das causas de eventuais faltas deassiduidade e ou de cumprimento das ditas obrigações e medidas

corretivas a tomar.

Em relação à assiduidade, defendi que a degradação da mesma pode decorrer de várias causas, indicando exemplos e respetivas medidas aconselháveis: ausência no estrangeiro (aguardar pelo

regresso; se prolongada, encarar a hipótese de transferência; em qualquer caso, é determinante a vontade do interessado);

indisponibilidade por afazeres do obreiro (aguardar a ultrapassagem do problema; encarar a possibilidade de quite e

adormecimento, se a impossibilidade for previsivelmente prolongada, sendo também, obviamente, essencial a vontade do

interessado, pois o quite não pode ser imposto, só sendo emitido a pedido); problemas de saúde (aguardar pela sua ultrapassagem e

providenciar o auxílio e assistência pertinentes e possíveis); problemas de relacionamento (intervenção para superação dos

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mesmos ou para corrigir as deficiências de integração);desinteresse (saída da Loja, seja mediante quite, seja mediante

exclusão).

De todas estas situações, não creio que o comentador critique asintervenções propostas em relação a nenhum caso, exceto

porventura a exclusão por desinteresse - única medidaunilateralmente tomada pela Loja que redunda no afastamento doobreiro. Mas, se for esse o caso, não posso senão discordar doentendimento crítico: se alguém se desinteressa ao ponto de se

afastar e de nem sequer ter interesse em formalizar um pedido desaída (salvaguardando a hipótese de regresso se e quando

porventura tal lhe interesse), não deve a Loja exclui-lo? Deve,então, fazer o quê? Manter indefinidamente uma ligação apenas

ilusória, apenas um nome num papel, apenas uma contínuaausência? Em nome de quê? Em nome de uma pretensa tolerância(ao desinteresse, ao incumprimento dos compromissos)? Em nomede um putativo princípio de que em Maçonaria não há sanções nem

medidas de exclusão? Parece-me evidente que, verificado odesinteresse, verificada até a falta de consideração em responder

ou ou em formalizar de jure o que de facto já se evidencia, seimpõe acabar com uma ligação que é já apenas ficcionada e

permitir que o oblívio apague o que foi um manifesto erro de parte aparte...

Quanto ao incumprimento das obrigações pecuniárias, apresentei também vários exemplos de situações e de soluções propostas:

dificuldades económicas em diferentes graus (plano de pagamentos; regularização da situação com recurso ao Tronco da Viúva, com reembolso se e quando regressar melhor fortuna; quite

pedido pelo obreiro, com pagamento da dívida pelo Tronco da

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Viúva, também com reembolso se e quando regressar melhorfortuna; desinteresse e falta de vontade de cumprir (exclusão).Também não creio que, de todas as alternativas, a crítica surja

senão em relação à última. Mas deve a Loja permitir que quem nãocumpre, podendo fazê-lo, as suas obrigações pecuniárias, possa

indefinidamente fazê-lo, sem reação ou sanção? E, ainda por cima,tendo a Loja de pagar a capitação (utilizando a parte que lhe cabe

dos pagamentos dos cumpridores)? É isso justo para os quecumprem? Note-se que não está em causa a exclusão por

dificuldades económicas: esses casos têm outras medidas esolidariedade da Loja. Apenas se defende a exclusão dos que

PODEM pagar em tempo, mas não pagam porque NÃO QUEREM,desrespeitando todos os demais, os cumpridores e, em especial,

aqueles que até fazem algum esforço para cumprir as suasobrigações...

Convém assentar bem as ideias! Ser maçom é procurarcomportar-se melhor do que a normalidade, mas não é permitir que

os incumpridores, os desleixados, os desinteressados usem eabusem de uma pretensa e inexistente obrigação de tolerância. A

Tolerância que deve ser apanágio dos maçons não é apermissividade em relação aos infratores, aos desrespeitadores

dos demais, aos incumpridores dos seus compromissos, aosfaltosos à sua palavra. Isso não é Tolerância - é estupidez!

Tolerância é a aceitação das diferenças e das divergências. Não éa aceitação complacente de condutas prevaricadoras (nesse

sentido, ver o texto "Os limites da Tolerância").

Insisto: é tempo de assentar bem as ideias! Tal como cumprir as nossas obrigações, sancionar o incumprimento doloso das

obrigações livremente assumidas é um dever maçónico. É errado

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apodar de "profanidade" o cumprimento desse dever! A éticamaçónica é uma postura de exigência - tolerante, mas exigente! -,nunca uma mandriona complacência com os incumpridores e osincumprimentos, quando dolosos. Maçonaria não tem nada a ver

com "nacional-porreirismo" ou "deixa andar" ou cumplicidadebenevolente com as violações dos deveres livremente assumidos.

Ou então não seria um método de aperfeiçoamento, antes dedegradação!

Rui Bandeira

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33.º = 3.º (republicação)

August 06, 2014

Este texto foi originalmente publicado no blogue A Partir Pedra em8 de setembro de 2010

Uma das razões pelas quais quem está de fora da Maçonaria temdificuldade em compreender, na sua plenitude, o que esta é resulta- bem vistas as coisas, naturalmente - de aquele que vê do exteriorjulgar, apreciar, avaliar, a instituição segundo o paradigma dasociedade em que se insere e não através do paradigma própriocriado pela Maçonaria.

Quem vê de fora tem tendência a conceber a Maçonaria segundo o cânone da hierarquia, que é comum à maior parte das instituições humanas. O Governo é dirigido por um Primeiro-Ministro, que manda nos, ou coordena os, Ministros, que, por sua vez, mandam no seu Ministério, dando ordens aos seus Secretários de Estado, e estes aos Diretores-Gerais, que ordenam aos Diretores de Serviço,

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que mandam nos Chefes de Repartição, que exercem autoridadesobre os Chefes de Secção, que dão instruções aosAdministrativos, que... E todo o titular de um cargo superiorhierarquicamente exerce autoridade não só sobre o seu inferiorhierárquico imediato, mas todos os que hierarquicamente estãoabaixo deste e de si.

Se pensarmos nas Forças Armadas, idem, aspas, apenas com adiferença de o superior ter o título de General, aquele que está nabase da pirâmide, o praça, ser o soldado e, entre um e outro, havertoda uma cadeia hierárquica de Oficiais, Sargentos e Cabos.

Se nos lembrarmos de um clube desportivo, lá está: facilmentevisualizaremos a cadeia hierárquica que vai do Presidente daDireção ao roupeiro, passando pelos Diretores, Treinadores,Adjuntos, Capitão de Equipa e seus substitutos, jogadores edemais pessoal.

Se nos detivermos na Igreja do credo religioso maioritário emPortugal, lá temos a omnipresente hierarquia de Papa, Cardeais,Arcebispos, Bispos, Cónegos, Padres e, na aparente base dapirâmide, afinal a sua única razão de ser e de existir, a massa doscrentes.

Em suma, e para não me alongar em exemplos, a maneira comumde ver as instituições da sociedade é de forma hierárquica, em quealguém manda, alguém é mandado e manda, em sucessivospatamares até se chegar a quem só obedece.

A tendência de quem olha de fora para a Maçonaria é vê-la segundo este paradigma e, portanto, considerar que, se no Rito Escocês Antigo e Aceite há 33 graus, os detentores do grau 33.º são os que estão no topo da hierarquia e "mandam" em todos os que se integram nos graus inferiores e o mesmo sucede ao longo

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da "cadeia hierárquica".

Esta forma de ver a instituição maçónica é profundamente errada econduz a graves vícios de análise. Persiste quer pelo contágio dasdemais instituições sociais, quer porque os próprios maçons têmnegligenciado o esclarecimento do erro. É por isso que não meescandalizo quando um dos nossos interlocutores afirma - comopor vezes sucede - que Fulano era do grau 33 e portanto pertenciaao topo da hierarquia e o que disse ou escreveu há de ter umespecial significado, pois integrava o escol dos que mandam. Seeste erro persiste, a culpa não é só dos meus interlocutores - étambém minha! É, pois, tempo de alijar o fardo da minha culpa eesclarecer!

A Maçonaria não se organiza segundo o princípio da hierarquia. AMaçonaria funciona estritamente segundo o princípio da Igualdade!

A única - e temporária - derrogação destes princípio respeita aosAprendizes e Companheiros (graus 1.º e 2.º), os quais, por estaremem processo de formação e integração, têm uma diminuição defaculdades, não tendo (ainda) o direito de voto nem o direito depalavra (em reunião formal). Mas esta derrogação da plenaIgualdade é temporária e estritamente decorrente da natureza doprocesso de formação e de integração de Aprendizes eCompanheiros. O seu percurso far-se-á com naturalidade até que -sem demasiada demora, mas também sem grandes pressas -aquele que um dia se apresentou à Iniciação se submete ao Ritualde Elevação ao 3.º grau e assume a condição de Mestre Maçom.

A partir desse exato momento, é um Mestre com exatamente os mesmos direitos e deveres e a mesma e igual posição hierárquica que todos os outros Mestres. Nem a antiguidade importa. Nem esta é um posto. O maçom acabado de ser elevado a Mestre pode, no

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minuto seguinte, ver ser-lhe confiado o exercício de um ofício emloja. E, logo que tenha exercido o ofício de 2.º ou de 1.º Vigilante,pode ser eleito Venerável Mestre, em estrito pé de igualdade comtodos aqueles que estão na mesma situação há 1, há 10 ou há 30anos. E todo aquele que tenha exercido o ofício de VenerávelMestre de uma Loja pode ser eleito Grão-Mestre.

É indiferente, em Loja, se A tem "apenas" o 3.º grau, B o 9.º, C o 15.º, D o 33.º. Todos são estritamente iguais e aquele que tem "apenas" o 3.º grau pode ser eleito Venerável Mestre e dirigir os outros, os que têm o 9.º, o 15.º ou o 33.º grau. Todos os Mestres maçons são estritamente iguais, independentemente do grau dos Altos Graus a que cada um tenha acedido. Um maçom do 3.º grau não é menos, nem mais, do que um maçom do 33.º grau. São ambos Mestres maçons - e com um estatuto rigorosamente igual em Loja. Um dos Mestres maçons da Loja é eleito para, durante um ano, exercer o ofíci0 de Venerável Mestre. Outro dos Mestres maçons da Loja é eleito para, durante o mesmo período, exercer o ofício de Tesoureiro da Loja. O Venerável Mestre eleito designa, segundo os costumes e os critérios próprios da Loja, estabelecidos ao longo do tempo, os Mestres maçons que exercem os demais ofícios necessários para o bom funcionamento da Loja. Independentemente do grau que tenha ou deixe de ter cada um dos designados. Durante um ano, os Oficiais da Loja exercem os poderes e cumprem os deveres inerentes aos respetivos ofícios e os demais elementos da Loja respeitam esse exercício e, se assim o quiserem, colaboram. Em qualquer assunto que se debata, todos - mas rigorosamente todos! - os Mestres maçons, independentemente do grau que porventura adicionalmente detenham ou do ofício que no momento cada um exerça ou não,

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têm exatamente o mesmo direito à palavra e o mesmo direito aovoto, com exatamente o mesmo valor.

Igualdade absoluta, pois.

Também as Lojas são estritamente iguais. Nenhuma tem maisdireitos ou deveres do que as outras.

Sendo assim, perguntará, e bem, quem está de fora, porque há 33graus, que relação existe entre eles, se não é hierárquica, em queconsiste esse paradigma de graus "iguais"?

Essa é matéria que procurarei esclarecer no próximo texto,dedicado aos Altos Graus.

Rui Bandeira

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Altos Graus (republicação)

August 13, 2014

Este texto foi originalmente publicado no blogue A Partir Pedra em 15 de setembro de 2010 A formação de um maçom está formalmente concluída logo que concluída a cerimónia pela qual ele é elevado ao 3.º grau e assume a qualidade de Mestre Maçom. Todos os "segredos" lhe estão transmitidos, todas as "lições" lhe estão dadas, o método maçónico de evolução é-lhe conhecido. A partir desse momento, o Mestre Maçom é um Aprendiz que aprende o que tem de aprender, como pretende, segundo as suas prioridades e preferências. Acabou a sua aprendizagem e tem a sua "carta de condução". Mas aprender o quê? Tudo o que lhe foi exposto, apresentado, mostrado. Todos os símbolos, rituais, ornamentos, textos, que lhe foram fornecidos ao longo da sua formação. Não que tenha de saber esses textos de cor. Mas porque todos esses elementos são pistas, sinais,

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caminhos abertos à sua individual exploração. Onde conduzem esses caminhos? Ao interior de si próprio! À interiorização das virtudes e normas de comportamento e princípios que devem reger a conduta de um homem bom e justo e que procura aproximar-se o mais possível do conceito de homem perfeito. Porquê? Porque crê que é esse trabalho, esse esforço, esse objetivo, o verdadeiro significado da vida, a razão de ser da nossa existência, porque o nosso caráter, o nosso espírito, a nossa alma (chame-se-lhe o que se quiser) necessita desse esforço, desse reforço, desse aperfeiçoamento, para evoluir e passar adiante (chame-se-lhe Ressurreição, ou Glória, ou Paraíso, ou Nirvana, ou o que se quiser). Complementarmente à sua crença religiosa e em reforço e desenvolvimento desta, o maçom procura assim descortinar o inescrutável, entrever o sentido da vida e o Plano do Criador, cumprir a sua vocação. Em bom rigor, para o fazer segundo o método maçónico não necessita de mais ferramentas do que as que lhe foram dadas ao longo da sua instrução como Aprendiz e Companheiro e na sua exaltação a Mestre. Elas chegam, está lá tudo o que é necessário para que o homem bom que um dia bateu à porta do Templo se torne um homem melhor, um pouco melhor em cada dia que passa, um tudo nada melhor do que no dia anterior e um não sei quê pior do que no dia seguinte. Para esse trabalho fazer, basta-lhe atentar e meditar e trabalhar nos conceitos e lições que recebeu, explorar a miríade de símbolos e chamadas de atenção com que se deparou. E tirar de cada

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meditação, de cada exploração, de cada esclarecimento, a respetiva lição e - mais e sobretudo - aplicá-la na sua conduta de vida. O Mestre Maçom tem tudo o que necessita para o seu trabalho e a obrigação de ensinar os que se lhe seguem - cedo descobrindo que será também ensinando que ele próprio aprende... Mas alguns Mestres Maçons sentiam-se insatisfeitos, desconfortáveis. Até à sua exaltação, tinham tido um guião, uma cartilha, mentores, que auxiliavam o seu percurso. E, de repente, ainda inseguros, ainda tateando o seu caminho, os seus Irmãos largavam-nos ao caminho e diziam-lhes: "aí tens tudo o que precisas de ter para fazer o teu caminho! Procura, lê, estuda, medita, tenta, acerta, erra, quando errares volta atrás e tenta de novo até acertares." Não haveria maneira de guiar ainda o seu trabalho? Não de os conduzir, mas de fornecer como que um mapa, um guia, que facilitasse a sua tarefa? Tudo bem que tudo o que havia a explorar e aprender já lá estava no que lhe fora ensinado. Mas as alegorias têm de ser decifradas, os significados encontrados... É certo que o trabalho tem de ser individual mas... precisa absolutamente de ser tão solitário? Está certo que cada Mestre Maçom deve procurar a sua Luz e, para o fazer, tem de se abalançar ele próprio a atravessar a escuridão mas... não se pode dar-lhe nem uns fosforozitos, nem uma velinhas, para ajudar a alumiar o caminho? Cedo se chegou à conclusão que sim, que se podia. Que, embora cada um tivesse os meios de explorar o seu caminho, não havia mal nenhum em proporcionar a quem o quisesse um mapa, um guia, um roteiro, que desenvolvesse, paulatinamente, patamar a

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patamar, as noções que já estavam disponíveis para serem desenvolvidas, mas que não havia mal nenhum se o fossem através de um roteiro bem organizado. E assim se desenvolveu aquilo a que hoje se chama Altos Graus. Nas derivas do Romantismo, muitos sistemas de altos Graus foram desenvolvidos. De alguns deles ainda restam resquícios, tentativas de manutenção. Outros entretanto desapareceram. No mundo maçónico, nos dias de hoje, predominam dois sistemas de Altos Graus, do Rito Escocês Antigo e Aceite e do Rito de York. Outros são também praticados: do Rito Escocês Retificado, por exemplo. Mas não se engane ninguém: ao percorrer qualquer desses sistemas (ou mais do que um), não se sobe, não se fica mais alto, mais poderoso, superior. Ao percorrer cada um dos sistemas de Altos Graus está-se a utilizar um guia de auxílio no nosso caminho individual. Cada grau não é um patamar. É uma viagem de descoberta e estudo. E o grau seguinte não é um patamar superior. É apenas outra viagem de descoberta e estudo. De que se volta para de novo partir, seja para reestudar a mesma lição, para reestudar lição anterior, ou para explorar nova lição. E, a todo o momento, o Mestre Maçom pode decidir fazer nova viagem segundo o seu roteiro (e tomar novo grau) ou explorar por sua conta própria. Ou fazer ambas as coisas... A Maçonaria é um caminho de conhecimento, iluminação e aperfeiçoamento. Que cada um percorre como quer. Às vezes com roteiro. Às vezes sem guia. Uns de uma maneira. Outros de outra. Nem sequer, bem vistas as coisas, o mais importante é o destino.

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Importante, importante mesmo, é afinal a viagem e o que se retémdela! Rui Bandeira

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O Visitante, o Viajante e o Turista (republicação)

August 20, 2014

Rste texto foi originalmente publicado no blogue A Partir Pedra em22 de setembro de 2010

Três homens decidiram deslocar-se a uma grande cidade, umadaquelas cidades que todos desejamos conhecer, com história,dimensão, vida, monumentos, museus, teatros, cinemas, enfim,uma metrópole moderna. Todos eles dispunham de tempo e meiospara por lá ficarem um mês e todos eles iam decididos a fazer a"viagem da sua vida" e a ficar a conhecer aquela cidade o maisprofundamente possível. Esses três homens eram, como é natural,diferentes e cada um preparou e realizou a expedição à suamaneira.

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O primeiro homem, chamemos-lhe Visitante, contratou através da sua agência de viagens os serviços do melhor operador turístico da cidade, que lhe preparou meticulosamente a estada. Chegado a essa cidade, o Visitante tinha preparado um completo programa de trinta dias de visitas guiadas a tudo o que a cidade de melhor tinha para oferecer aos seus visitantes. Foi uma visita inesquecível! O Visitante foi guiado pelos melhores museus da cidade, onde lhe foram mostradas as mais significativas obras de arte que aí havia e as mesmas foram explicadas, enquadradas histórica e artisticamente. Foi guiado nas visitas aos mais relevantes monumentos, sendo-lhe chamada a sua atenção para o seu significado histórico, os detalhes da sua construção, a sua utilização nos dias de hoje. O operador reservou-lhe bilhete para assistir ao melhor espetáculo da cidade, proporcionou-lhe um guia para o conduzir pelas mais esconsas vielas da Cidade Antiga, pelos mais pitorescos recantos, pelos mercados mais tradicionais, apresentando-o a interessantes pessoas que ali viviam ou trabalhavam. Também ao Visitante foram mostradas as mais deslumbrantes paisagens da cidade e proporcionados demorados e agradáveis passeios nos mais agradáveis parques e jardins ali existentes. Claro que foi conduzido também às melhores, mais concorridas, completas e diversificadas zonas comerciais da cidade, onde o Visitante pôde admirar a maior variedade de objetos e bens de consumo e adquirir o que lhe interessou adquirir. Visitou a Universidade e as Bibliotecas, guiado por um culto guia que o operador contratou para o efeito. Visitou o Parlamento e os mais emblemáticos edifícios onde funcionavam os representantes políticos da urbe e do país, ouvindo as explicações de um guia especializado, que o esclareceu sobre as circunstâncias e a prática

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política ali vigentes. Maravilhou-se com a grandiosidade dosedifícios religiosos, enquanto ouvia as informações e explicaçõesproporcionadas pelo guia especialista em Arte Sacra que ooperador turístico contratou para o efeito. Enfim, foram trinta diasde algum cansaço, muitas visitas, muitos conhecimentos novospara digerir, mas foi realmente uma viagem extraordinária! Noregresso, o Visitante pensava na melhor forma de elucidar os seusconterrâneos sobre as maravilhas, as riquezas, as belezas, queexistiam naquela deslumbrante metrópole.

O segundo homem, designemo-lo por Viajante, preparou e realizou a sua viagem de forma muito diferente. Não contratou os serviços de qualquer operador turístico, dispensou excursões e visitas guiadas. Preparou a sua viagem lendo tudo o que conseguiu descobrir sobre a cidade, a sua história, os seus monumentos e locais de interesse, as suas gentes. E mal desembarcou na cidade e se instalou no hotel escolhido, lançou-se numa contínua exploração da cidade. Também visitou, mas por si só, museus. Não viu tudo. Não teve ninguém que lhe chamasse a atenção para as melhores obras. Mas viu o que antecipadamente lera que era importante ver, apreciou demoradamente aquilo de que gostou, passou mais brevemente pelo que achou menos significativo. Também visitou e fotografou os monumentos da cidade, descobrindo ângulos curiosos, vestígios do passado interessantes. Falou com os guardas dos monumentos e descobriu curiosas e picarescas histórias, do passado e do presente, por eles contadas. Perguntou aos habitantes locais que espetáculos interessantes havia e acabou por ir ver um par de espetáculos que não constavam dos circuitos turísticos, que o elucidaram sobre a genuinidade das gentes daquela terra. Vagabundeou pela Cidade

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Antiga e ali se perdeu horas esquecidas, recanto aqui, conversaacolá, absorvendo a atmosfera da cidade e da sua história e da suavida. Provou o que se vendia nos mercados, comeu as comidastípicas da cidade, confraternizou à roda de uns copos comgenuínos habitantes da cidade, apercebeu-se dos seus anseios edesilusões, das suas alegrias e tristezas, do seu labor e do seuócio. Passeou por agradáveis jardins, observando as brincadeirasdas crianças e nelas se intrometendo. Conheceu muita gente,conversou, ouviu histórias interessantes, soube onde adquirir asmais genuínas coisas da cidade ao melhor preço, visitou fábricas elocais de trabalho, escolas e locais de culto. Em descontraídamanhã de domingo, ousou mesmo jogar com um grupo de jovens odesporto preferido na cidade e - claro! - perdeu... Falou comtaxistas e polícias, vendedores e ardinas e artesãos ecomerciantes, enfim embrenhou-se no coração da cidade,misturou-se com as suas gentes, viu e visitou a cidade e tudo o quede bom e bonito ela tinha pelos olhos dos seus habitantes. Quandofindou o tempo que tinha reservado para aquela visita, o Viajantequase se sentia um novo habitante daquela urbe, dela partia comalguma pena. Na sua máquina fotográfica, tinha mais fotografias depessoas do que de monumentos, mas cada imagem de cadapessoa recordava-lhe um momento único, uma história curiosa, umepisódio pitoresco. Na viagem de regresso, pensava de si para sique ficara mesmo a conhecder a cidade e as suas gentes e quetalvez fosse interessante elucidar os seus conterrãneos como sevivia naquela importante urbe.

O terceiro homem, refiramo-lo por Turista, antes de viajar, comprou um guia de viagem relativo à cidade, consultou-o e assinalou meia dúzia de monumentos a visitar, viu quais os restaurantes

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recomendados, anotou as mais agradáveis esplanadas. Escolheucuidadosamente o hotel onde ficaria. Chegado à cidade, instalou-seno hotel e tratou de descobrir os serviços que proporcionava.Reservou um dia para utilizar o SPA, comprou umas horas deconsumo de Internet, para que, diariamente, ou quase, reservasseum pedaço do dia a ler as notícias do seu país. Contratou, paradeterminado dia, uma visita guiada à cidade, daquelas de autocarroaberto com guia de microfone, que vai debitando informações sobreo que se vai vendo. Visitou descansamente a cidade. Viu osmonumentos que selecionara, calma e descontraídamente. Comeuem todos os restaurantes que referenciara. Passou agradáveis finsde tarde em sossegadas esplanadas. Passeou quando lheapeteceu, olhando para onde o seu olhar caía, falando com quem oacaso colocava perto de si, ouvindo os ruídos ou músicas que asorte e o local proporcionavam, cheirando aqu o perfume de flores,ali o odor de comida. Enfim, descansadamente viu o que quis ver,visitou o que lhe agradou visitar. Descansou e andou, parou eavançou. Voltou aos locais que mais lhe agradaram. Nem sequerpassou por onde não lhe interessava. No regresso, satisfeiro erepousado, começou a germinar na sua mente algo que decidiupartilhar com os seus conterrâneos.

Caro leitor, faça agora uma pausa, pense e decida de si para si:qual dos três agiu melhor? E qual o pior?

A minha opinião é que nenhum foi melhor ou pior do que osdemais. Cada um viu a cidade da e pela forma que a ele mais lheconvinha. Todos tiraram proveito da estada. Certamente proveitosdiferentes - mas isso não é melhor nem pior, apenas diferente!

O Visitante, de regresso a casa, escreveu um exaustivo guia de viagem sobre a cidade, pelo qual os seus conterrâneos quase

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podiam saber tudo o que havia a saber sobre ela, mesmo antes delá chegarem. O Viajante escreveu um livro de viagem, que retratou,com grande fidelidade, como era, como vivia, o que sentia, a gentedaquela cidade. As suas impressões, os seus relatos permitiram aquem leu esse livro saber como é realmente, por dentro, essacidade e como são os seus habitantes, mesmo antes de lá irem. OTurista, esse, regressado da sua despreocupada, descansada enada exaustiva viagem... escreveu um romance passado naquelacidade. Quem o leu, admirou, além da qualidade da escrita e datrama da história, a forma como daquelas páginas se desprendia,leve mas sensivelmente, a atmosfera da cidade.

Que tem isto que ver com Maçonaria? Releia, caro leitor, o meu último texto sobre os Altos Graus. O Visitante simboliza o maçom que decide percorrer os Altos Graus, fazer a sua viagem apoiado no guia. Tudo aprende, certinho, direitinho. Compensa a falta de espontaneidade com a qualidade e quantidade do saber que recolhe. O Viajante simboliza o maçom que opta por seguir o seu caminho por si, fazendo a sua busca desenvolvendo ele as noções que aprendeu no seu percurso até à sua Exaltação como Mestre Maçom. Não tem a sua viagem tão organizada, tão completa, mas vive intensamente a sua busca. Não recolherá talvez a quantidade de ensinamentos passível de ser recolhida numa viagem organizada, mas recolheu o que lhe interessa e, no que lhe interessa, aprende a fundo. Vive a sua viagem e apreende a essência dela. E o Turista? Esse é o maçom que não se preocupa grandemente com tempos e saberes. Faz a sua viagem, segundo o seu tempo, o seu ritmo, os seus gostos. Não conhecerá tão profundamente como os outros, mas tudo vê, talvez mais de passagem, talvez mais intermitentemente, mas sempre de uma

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forma para si agradável. Só vai à Loja quando lhe apetece ir à Loja,uns anos exerce ofícios, noutros não está nisso interessado.Quando vai, quando está, participa e contribui. Mas nem sempreestá disponível, necessita das suas pausas nas esplanadas. Faz asua viagem como gosta, ao seu ritmo. Não aprende tanto como oVisitante, nem tão profundamente como o Viajante, mas o queaprende, aprende com gosto e por gosto e disso retira proveito. Epartilha-o.

Todos fazem a sua viagem conforme preferem. Todos partilham oque aprendem com ela. Cada um à sua maneira. É útil partilhar aerudição. Mas também é útil partilhar a profundidade, a vivência, agenuinidade. E não menos útil partilhar a Beleza, a satisfação, quese tira da viagem, seja ela mais esforçada ou mais descansada.Nenhuma forma de viajar é melhor do que a outra. São,simplesmente, diferentes.

Afinal, o Visitante, que tudo aprendeu na sua primeira estada,quando voltar, já só voltará a lugares escolhidos, para relembrar asua beleza e terá disponibilidade para sentir a vida do povo dolugar. E o Viajante, que conheceu ao início como vive a cidade,quando voltar certamente quererá saber mais sobre os seusmonumentos e sua história, dará mais atenção à erudição, mastambém apreciará fazê-lo mais descansadamente, com maispausas, para melhor apreciar a atmosfera da cidade. E o Turista,esse, sempre visitando ao seu descansado ritmo, quando voltaaprende mais um pouco e mais profundamente.

Não importa como se começa, como se prefere fazer a viagem. O que importa é fazê-la e ir aliando a Sabedoria (os conhecimentos privilegiados pelo Visitante), à Força (a profundidade, a vivência, a genuinidade, em primeiro lugar buscadas pelo Viajante) e à Beleza

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(descansadamente privilegiada pelo Turista).

Maçonaria é vida, faz parte da vida, é uma forma de aprender eapreciar e viver o mundo à nossa volta. De evoluir com a nossavivência. E sobretudo de partilhar a nossa vivência, os nossosconhecimentos, a nossa evolução com os demais e beneficiar dapartilha do que os demais nos proporcionam. Em suma, de cadaum fazer a sua viagem, da forma que prefere e de que retira maisproveito e partilhar esse proveito com os demais, pela forma comomelhor o conseguir fazer.

Rui Bandeira

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A Maçonaria nos dias de hoje (republicação)

August 27, 2014

Este texto foi originalmente publicado no blogue A Partir Pedra em20 de outubro de 2010

A Maçonaria teve historicamente o seu auge, em termosquantitativos, após o final da Segunda Guerra Mundial. Tinham-sevivido anos de horror e de violência inauditos. Os sobreviventes doscombatentes no conflito necessitavam de manter a camaradagem,a união, o espírito de corpo, que sentiam ter possibilitado a suasobrevivência. Uma das formas que, sobretudo nos paísesanglossaxónicos, acharam para o fazer foi buscar a admissão nasLojas maçónicas e aí praticarem essa particular forma decamaradagem que inexoravelmente os marcou. Por outro lado, oshorrores vividos e assistidos mostraram a muitos e muitos anecessidade de um espaço de convivência sã e de aprimoramentoético. Quem conviveu com o mal aprecia mais plenamente o bem!

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O pós Segunda Guerra Mundial foi assim um período de grandeflorescimento da Maçonaria, em que os números dos maçonscresceram até atingirem níveis nunca antes historicamenteatingidos.

Mas a vida é feita de ciclos! A essa fase de crescimento seguiu-se - inexoravelmente - uma fase de declínio. As condições sociais mudaram. A prosperidade material foi desfrutada por mais gente. As gerações sucederam-se. O que foi vivido no tempo daquela guerra passou a ser mera matéria de documentário histórico para os filhos, netos e bisnetos da geração que vivera aquele tempo. O que fora importante para a geração do pós-guerra não era já entendido nem sentido como tal pelas gerações subsequentes - e, bem vistas as coisas, ainda bem que as gerações subsequentes tiveram a possibilidade de não viver, nem sentir, nem suportar, aqueles duros tempos! Outras solicitações sociais e de utilização de tempos livres se perfilavam. E a Maçonaria, em termos quantitativos, declinou sensivelmente. Passou a ser vista como uma coisa de cotas nostálgicos e ultrapassados e de cromos com a mania de se armarem em diferentes. Tantas coisas para fazer na vida, tanta vida para viver, tanto trabalho para fazer, tanto para conquistar - para quê gastar (ou perder) tempo com essa coisa esquisita, meio desconhecida, fechada? Com a escolaridade a aumentar exponencialmente, quando os jovens passavam anos e anos a preparar-se para a vida ativa e esta era cada vez mais competitiva, que esquisitice era essa do autoaperfeiçoamento? Não era evidente que cada geração era melhor, mais sabedora, mais dinâmica, mais apta, do que a anterior? A Maçonaria não passava, para muitos, de um resto do passado, em vias de fossilização, em persistente declínio, precursor da inevitável decadência e do

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inexorável arquivamento nas prateleiras das curiosidades dahistória! A vida moderna, a tecnologia, o progresso imparável, o céuque é o limite do pujante avanço da Humanidade, relegavam avetusta organização para a sala dos fundos onde as relíquias dopassado acumulavam respeitável poeira...

Mas os ciclos inexoravelmente avançam, as suas fasessucedem-se e, nunca se repetindo exatamente da mesma forma,as grandes tendências inevitavelmente que paulatinamente serepetem. Este início do século XXI parece mostrar-nos umamudança de ciclo da Maçonaria, em que o declínio cessou e ocrescimento recomeça.

A vida moderna insensivelmente empurra-nos para a massificação,a generalização. Cada vez mais, cada um de nós é menos umindivíduo e mais um número, um fator, um pequeno elemento deum conjunto cada vez mais numeroso. E cada vez mais descobremque a Maçonaria permite aos que a integram dispor de um espaço,de tempo e de locais em que cada um consegue afastar essaasfixiante sensação de ser apenas uma peça de um imensoformigueiro humano e assumir-se como indivíduo inserido numacomunidade e com ela e os seus outros componentes interagindo.Volta a "estar em alta" no "mercado" dos valores pessoais e sociaisa necessidade de ética, a vontade de aperfeiçoamento, a interaçãocom pequenos grupos de pares, com interesses e objetivossimilares.

Cada um de nós sente que, por si só, não consegue deixar de ser apenas um número, inseto numa colmeia, peça de uma imensa máquina que é a sociedade de hoje. Mas verifica que, inserida num grupo com dimensão humana, em que todos se conhecem e se podem conhecer, a individualidade de cada um tem significado e é

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reconhecida nesse grupo com dimensão humana. E que, inseridonesse grupo, os progressos de cada um são reconhecidos pelosdemais, tal como cada um reconhece os progressos dos demais.Ser um parafuso bem polido num depósito de milhões de parafusosé irrelevante. Mas ser uma pessoa, um indivíduo, com virtudes acultivar, com defeitos a combater, com arestas a polir, no meio deiguais, também com virtudes e defeitos e arestas, mas sobretudosendo cada um UM, diferente entre iguais - isso é gratificantementediferente!

Nos dias de hoje, a Maçonaria é uma ancestral instituição que -como é caraterístico das instituições verdadeiramente relevantes eduradouras - se reinventa para responder aos desafios e àsnecessidades de agora. E hoje é necessário - cada vez maisurgentemente necessário! - que a vetusta instituição da Maçonariadisponibilize a quem disso cada vez mais necessita o tempo, oespaço, o meio, as ferramentas, para que o homem-número que oprogresso que trilhámos criou se transforme no Homem Completoque cada um de nós tem a potencialidade de ser. Único. No melhore no pior. Cada vez com mais melhor e menos pior. Mas sobretudoHomem - imprescindivelmente diferente entre iguais.

Tempo virá em que novo declínio experimentará a Maçonaria, emque os nossos filhos, ou netos, ou bisnetos, de forma geral a verãode novo como coisa do passado. Não é esse o tempo que vivemos.O tempo de agora é de crescimento, de consolidação, devalorização. Porque os Valores que recebemos dos nossosantecessores e que cultivamos para transmitir aos vindouros sãointemporais, essenciais e imprescindíveis para o Homem e para aHumanidade.

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Curiosamente, a imutável linha de rumo da Maçonaria parece atuarcomo força de equilíbrio na Sociedade. No passado, quandoimperava a desigualdade, a Maçonaria foi um espaço de igualdade.Hoje, quando a normalização impera ao ponto de asfixiantementenos sentirmos números num conjunto, formigas cumprindodesconhecida missão do formigueiro, obreiras mecanicamentecontribuindo para a manutenção e crescimento da Grande Colmeiasocial em que nos sentimos aprisionados, a Maçonaria possibilita acada um dos seus elementos que exercite, execute, desenvolva, asua individualidade. O combate de há trezentos anos era o deconvencer a sociedade inteira da igualdade essencial dos seusmembros. Hoje, o desafio é o de consciencializar todos de queessa igualdade só se concretiza verdadeiramente se for permitido acada um desenvolver a sua individualidade. Porque cada um denós é verdadeiramente único e diferente entre iguais. E é essaDiferença na Igualdade que, afinal, constitui a maior riqueza deuma sociedade.

As épocas sucedem-se, as modas vêm e vão, os tempos mudam -mas os Valores essenciais, esses, são perenes e cultivá-los comsão equilíbrio é Arte verdadeiramente Real!

Rui Bandeira

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Amor Fratenal

September 03, 2014

A divisa utilizada pela maçonaria de língua inglesa (Brotherly Love -Relief - Truth; Amor Fraternal - Auxílio - Verdade) elenca ascaraterísticas indispensáveis à Instituição Maçónica.

O primeiro termo dessa divisa é o Amor Fraternal. Daí a correntereferência a que a Maçonaria é uma Fraternidade. Os maçonsconsideram-se unidos entre si por laços afetivos similares aos quese tecem entre os irmãos de sangue.

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O amor fraternal de alguma forma tem caraterísticas distintas dosoutros tipos de afeição, incluindo uma natural componente deemulação entre irmãos que, bem vistas as coisas, é essencial parao desenvolvimento dos jovens seres e consolidação da espécie.

Os forte laços afetivos entre irmãos coexistem com brigas,desacordos, marcações de território e de posições. O irmão maisvelho tem que aprender a partilhar com o mais novo a atenção,cuidados, carinho e amor dos pais. Onde antes era rei e senhor vêdepois um imberbe e indefeso ser, com a sua simples presença, aintrometer-se no seu espaço e - pior! - a usurpar a maior parte daatenção e cuidados que antes eram só seus. No entanto, essaconstatação e a aprendizagem a ela inerente não impedem onascimento e desenvolvimento do laço afetivo fraternal. E, a seutempo, o irmão mais velho assegura a função de desbravador doscaminhos do mais novo e transmissor das experiências edescobertas por si vividas.

Por sua vez, o irmão mais novo cresce lutando para se igualar aomais velho, para ser capaz de fazer o que ele faz, de conseguir oque ele consegue. Menos alto, menos forte, menos ágil, porquemais novo, procura compensar a sua inferioridade determinandonichos onde consegue ser melhor ou ter mais habilidade que o seuparceiro/adversário, o seu irmão.

A relação afetiva fraterna inclui uma mescla de cooperação, auxílioe cumplicidade com confronto e desafio. É assim que a Naturezapropicia que os jovens seres simultaneamente criem as suasidentidades e aprendam a viver e a cooperar em sociedade.

A relação afetiva fraterna, precisamente pela sua componente de emulação, é muito produtiva e eficiente no crescimento e aperfeiçoamento de todos os intervenientes. A emulação presente

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nessa relação afetiva faz com que cada um dos intervenientesqueira ser melhor, enquanto simultaneamente auxilia o outrotambém a melhorar. A competição na cooperação propicia oavanço.

Quando um maçom trata um outro maçom por Irmão também semostra presente essa componente da ligação afetiva fraternal.Ambos se auxiliam mutuamente a melhorar. Cada um procura sermelhor. E, ao sê-lo, constitui exemplo para que os demais tambémo procurem ser, em sucessivo e permanente ciclo de motivação.

O amor fraternal entre os maçons não é só - diria que nem sequer éprincipalmente - um conceito de origem religiosa, no sentido de quetodos somos criados por uma entidade superior. O amor fraternaldos maçons - tal como o que une os irmãos de sangue - é tecido deamizade, de cooperação, de auxílio mútuo, de cumplicidade, mastambém de emulação, cada um procurando mostrar aos demais asua evolução, o que aprendeu, o que conseguiu melhorar, aomesmo tempo que contribui para a melhoria dos demais. E cadaum progride mais em conjunto e por causa do conjunto. E cada umaprende que, quanto mais contribuir para o progresso de seuIrmão, mais ele próprio avançará.

Rui Bandeira

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Auxílio

September 10, 2014

O segundo termo da trilogia utilizada pela maçonariaanglossaxónica, Relief, é correntemente traduzido para portuguêscomo Alívio, mas considero mais correto fazê-lo pela palavraAuxílio. Sendo ambas as hipóteses possíveis, a tradução porauxílio tem a vantagem de enfatizar a ação, enquanto que alívio émeramente a consequência ou o objetivo. É do auxílio que resultaou se procura que resulte o alívio.

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O auxílio que aqui se refere é o necessário ou conveniente paraafastar ou minorar a dor, o sofrimento ou a dificuldade. Não aexcluindo, não se contém apenas na vertente material. A ideia éque, identificada uma dificuldade, se venha a agir de forma apossibilitar que essa seja aliviada. A ação a empreendernecessariamente que se contém dentro dos limites daspossibilidades daquele ou daqueles que a levam a cabo, semcolocar em risco a sua própria vida ou integridade, família eestabilidade.

O auxílio deve ser prestado, em primeira linha, aos Irmãos maçonse às viúvas e filhos menores dos maçons já falecidos, mas,havendo possibilidades, deve ser igualmente efetuado em prol dequem quer que seja que esteja necessitado.

O auxílio a prestar é o apto a dissipar ou minorar o sofrimento oudificuldade de quem dele beneficia, não um ato de favoritismo ounepotismo. Há uma evidente diferença moral entre auxiliar alguémque passa por uma situação de dificuldade e favorecer alguém emordem a que este obtenha uma situação de privilégio ou devantagem injustificada. O auxílio destina-se a dar alívio, não aendossar vantagem...

O auxílio a prestar deve respeitar sempre as normas legais esociais. Auxiliar alguém a cometer uma infração, não é alívio, écumplicidade. Auxiliar alguém a escapar ás consequências dosseus atos não é virtude, é encobrimento.

O auxílio maçónico tem, inderrogavelmente, uma caraterística desolidariedade e beneficência, mas estas não são a essência de seser maçom, antes mera consequência de tal.

O auxílio é algo que todos os maçons devem prestar a quem e quando necessário, na medida das suas possibilidades, tal como

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inevitavelmente todos, em algum ou alguns momentos da sua vida -por mais afortunada ou realizada que esta seja - necessitaram ouvirão a necessitar de auxílio, seja para superar ou minorarpadecimentos, seja para consolar e ultrapassar desgostos eperdas, seja, enfim, para enfrentar dignamente a GrandePassagem que cada um de nós inexoravelmente fará.

O auxílio maçónico não é mais do que o exemplo do que todos osque vivem em sociedade devem praticar, pois viver em sociedade édar e receber, ajudar e ser ajudado, cooperar para atingir objetivos,por vezes nossos, por vezes alheios, outras vezes comuns.

Rui Bandeira

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O Maçom, Homem Fraternal...

September 11, 2014

Images)

Este é o primeiro texto de muitos, assim o espero, que irei publicarneste honorável espaço de escrita para uns, leitura para osdemais.

Espero que com o que eu irei partilhar convosco, Vos ajude acompreender qual a “missão” da Maçonaria no mundo que nosrodeia e um pouco mais sobre a vasta simbólica maçónica queexiste, sendo que os meus textos demonstrarão a minha visãopessoal sobre qualquer tema que seja versado por mim.

Sendo assim, este meu primeiro texto teria de ser naturalmente, umtexto muito pessoal.

Assim, hoje venho falar-Vos de como o maçom é alguém com umelevado sentido fraterno, logo irei falar de Fraternidade , algo quepara mim não é apenas sentimento, mas antes sentido.

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Não no sentido dos outros cinco sentidos que dispomos, nos quaiseu qualificaria a Fraternidade como um sexto sentido, um “sentidoespiritual”; mas trato deste sentido/sentimento como o “sentido” doverbo “sentir”, de sensação…

A Fraternidade é algo que se sente e se partilha, uma vez que amesma tende a vivificar no nosso interior, algo que se refleteposteriormente nas nossas ações.

Por isso é tão habitual entre os maçons se afirmar que a“Maçonaria também se vivencia, praticando a fraternidade!” .

E como Fraternidade que é, na Ordem Maçónica, o amor aopróximo, ao nosso Irmão, encontra-se presente e em permanência.Concordemos ou não com as suas opiniões, aceitemos ou não asua forma de estar na vida, mas amamo-lo!!!

E amarestá muito além de apenas se tolerar …

A Tolerância implica Respeito, um respeito pelo “outro” em toda aaceção da palavra, senão seria apenas mais uma palavra vã nosnossos dicionários, tal como outras que pela sua quantidade, maisme parecem ser tantas como as espigas que existem noscampos…

No entanto, Fraternidade também é muito diferente deBenevolência ou Caridade, pois se tanto uma como outra podemsuscitar sentimentos ditos “menores”, uma forma de auxílio em quese age assim apenas porque é moralmente aceitável ousimplesmente porque socialmente fica bem ou parece bem a quemo assim faz.

Tanto que por isso, a Fraternidade também é sinónimo deSolidariedade, algo que se encontra mais além que a Caridade ou aBenevolência; a Solidariedade é para mim um sentimento aindamais nobre, uma vez que é suposto advir diretamente do coração.

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E ser solidário nivela-nos como Homens, pois quem o pratica equem recebe a nossa solidariedade, encontrar-se-á num mesmopatamar moral, apesar de que socialmente seja muito diferente. Eessa humildade que é necessária para quem é solidário e fraterno,deverá fazer parte integrante da nossa natureza humana comomaçons. Isto sim, é o “core”, o cerne dos tais “bons costumes” comque habitualmente nos reconhecem ou nos quais nos revemos…

Não deveriam os valores que defendemos, tais como a Igualdade,a Liberdade e principalmente a Fraternidade , serem a base daSociedade humana?!

Todavia, tenho para mim que a Fraternidade também é umaalavanca, um apoio que está subaproveitado na sociedade em quevivemos e que a ser usada como “ferramenta social”, muitocontribuiria para o progresso humano.

Cada vez mais o Homem olha apenas para si próprio, nãoretribuindo o mesmo valor ao seu igual. E nesse contexto, nóscomo maçons que somos reconhecidos, poderíamos fazer mais… emelhor.

O maçom é um livre-pensador; logo de que nos valerá sermosintelectualmente ou moralmente mais instruídos ou como talconsiderados, sermos formados nas ditas “artes liberais”, asmesmas artes que libertaram os homens do obscurantismo e dojugo da Ignorância, se depois de adquirirmos estas valências, nãoagirmos no mundo à nossa volta também para o melhorar e o fazerevoluir no comportamento e relacionamento entre os seres?!

Não fosse a minha Iniciação na Augusta Ordem Maçónica e eu não privaria com muitos dos meus Irmãos. E digo isto porque na sua maioria temos percursos profissionais distintos, não pertencemos às mesmas agremiações profanas e o nosso percurso de vida é

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muito díspar. Mas por partilharmos os mesmos desígnios, em Lojanos encontramos. E afirmo, se a Loja me acolheu, eu tambémacolhi a (nossa)Loja na minha vida.

A Loja passou a fazer parte integrante da minha Família.

E esta fraternidade e esta sensação de amor fraterno que nos unevale muito mais do que aquilo que à primeira vista possaaparentar…

De facto, esta sensação não é imediata, e ainda bem que tal assimacontece. Pois se assim o fosse, seria uma sensação falsa ecarente de sentido. Ninguém ama ninguém de um momento para ooutro ou somente apenas pelo trocar de um olhar ou um sorriso.

Os amores platónicos ficam para a nossa vida profana.

E refletindo, questiono-me:

Como poderei eu amar alguém que não me conhece e quetambém eu não conheço?!

Como poderei eu amar alguém quando apenas o tolero?

Como poderei eu respeitar alguém com quem eufrequentemente esteja em desacordo?

Na Maçonaria encontro a resposta a estas questões.

A Maçonaria é fraternidade e, como tal, o seu espírito fraternodepende unicamente da união de todos os que a integram .

A nossa fraternidade só o é e somente o pode ser, se for construídadia após dia e cimentada sessão após sessão. E é aí que reside anossa força!

Os maçons, tal como os “irmãos de sangue” não podem nem devem estar sempre em sintonia, pois as diferenças também

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propiciam à formação/evolução pessoal, de modo que naMaçonaria é-nos permitido discordar, concordando; e concordar,discordando; isto é, o respeito salutar que deve existir entre todos,permite aos maçons não se travarem de razões tal como quiçá ofariam no mundo profano, mas antes, ouvindo e interiorizando asopiniões contrárias à sua forma de pensar, permite-lhes quepossam aprender e conviver com as diferenças e divergências quenaturalmente possam existir. Somos Homens e como tal nãopodemos ser todos iguais.

O que seria do azul ou do amarelo, se todos fossemos vermelhos…

E tal como bagos de uvas que com a sua própria identidade estãoligados entre si, ou como as sementes de romã que se agregam nointerior deste fruto, que podemos encontrar sobre os capitéis dascolunas de entrada no nosso Templo, também a união e ligaçãodos nossos pensamentos em prol de algo melhor, a energia esentimentos que aplicamos na Cadeia de União aumentam acoesão do nosso grupo e potenciam o nosso espírito de corpo.

Assim, na formação da Cadeia de União, um dos momentos “altos”da ritualística maçónica em sessão de Loja, o encadeamento dosIrmãos que é formado e a oração que é proferida, permite-metambém sentir que aquilo que nos une é mais do que aquilo quenos poderá afastar e que os laços não-sanguíneos que nos unem,ligam-nos por um cordão umbilical ainda maior e que nos juntamnuma caminhada através da Virtude e em prol de todos Nós.

Pois se a egrégora acontece, é porque todos o assim desejamose fazemos para que assim tal aconteça !

Para mim, no estrito cumprimento do ritual em Loja, se demonstra que aí reside o espírito fraternal que devemos vivenciar e transmitirtambém para o mundo profano.

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Eu vivo e sinto assim a nossa fraternidade. Outros o farão à suamaneira pessoal. Podemos não ser todos iguais, mas posso afirmarque somos todos muito semelhantes…

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Ser reconhecido Maçom...

September 15, 2014

(imagem retirada de Google Images)

Para alguém ser considerado maçom, primeiramente terá de serreconhecido por outro como tal. Depois terá de passar por umaconjunto de processos após os quais será aceite ( ou não) por umaRespeitável Loja e a sua consequente Iniciação.

Mas não é tão fácil como o parágrafo anterior se apresenta, mastambém não será tão difícil como se poderá supor.

Nas Maçonarias tipicamente anglo-saxónicas é usual a célebreafirmação “2B1ASK1 ” ou seja “ To Be One, ask One” ( Para serUm, Pergunte a Um; numa tradução literal), o que permitirá maisfacilmente atrair mais gente a esta Augusta Ordem.

Mas por norma, qualquer Obediência (Potência Maçónica) tem um domicílio físico, isto é, uma porta onde se poderá bater no caso de que algum potencial candidato que se interesse ou identifique com

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os princípios e causas maçónicas se puderá dirigir caso não tenhanenhum conhecido que seja maçom na sua lista de contatos ouesfera de influência. Ou também, o que sucede bastantes vezes,não tenha sido reconhecido ainda por algum outro maçom.

Mas que “reconhecimento ” é esse que acabei de falar?!

Nada mais nada menos que tal como os maçons afirmam, que sereconheça em alguém que seja uma pessoa “livre e de bonscostumes”, com um comportamento probo e honesto; que sejaalguém considerado com bom “pai de família” e um bom colega detrabalho pelos seus pares; que esteja inserido na sociedade ondeviva e que tenha vontade em aprender e partilhar o que sabe comoutrem; bem como ter também a vontade em auxiliar o seusemelhante.

Todavia, e aqui algo que poderá criar confusão na mente dealgumas pessoas, o candidato terá de ser alguém com defeitos, ouseja, alguém que identifique e reconheça os seus defeitos pessoaise tenha a vontade e ambição de mudar o seu comportamento paramelhor - “vencer os seus vícios e paixões”… - evoluindo comopessoa e ser humano que é, através de uma via espiritual einiciática que neste caso preciso é a Maçonaria.

Em geral, na minha opinião, não é a simples pertença naMaçonaria que tornará “homens bons” em “homens melhores”,antes pelo contrário, serão os homens que poderão tornar ainstituição maçónica em algo melhor; pois as suas atitudes estarãosob o escrutíno da Sociedade. Os maçons são os seus próprios“juízes e carrascos”, o resto é conversa…

A Maçonaria através das suas “ferramentas filosóficas e espirituais” é que pode auxiliar na evolução pessoal de cada um em direção a um aperfeiçoamento moral e comportamental. Por isso é que é

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hábito em maçonaria se afirmar que “ a Ordem não procurahomens perfeitos”, pois esses já trilharam o seu caminho…

À Maçonaria interessa sim, quem deseja mudar, mas mudar paramelhor…

Somente atuando assim, é que alguém pode um dia esperar serreconhecido como maçom. Mas não lhe bastará apenas tersido reconhecido, há que continuar nesta senda de perfeição, casocontrário, as palavras, as atitudes, os comportamentos serão vãose apenas tudo culminará numa perda de tempo para ambas aspartes, tanto para a Respeitável Loja e Obediência que o acolha,quanto para o próprio, que será passível de perder umreconhecimento que por regra não é atribuído a qualquer um!

Tanto que por isso, sempre após uma possível “identificaçãomaçónica” num profano ou após a submissão de um pedido decandidatura de adesão a uma Respeitável Loja, é desencadeadoum conjunto de diligências, nomeadamente um processo deinquirição, para que se possa averiguar qual a conduta do supostocandidato a iniciar. Seja através de conversas com o próprio oucom seus familiares e/ou amigos, para que se possa aferir quais asreais intenções de quem deseja que “a porta lhe seja aberta”…

É que fortuitamente e como em qualquer instituição ou associaçãoonde entre o bicho-homem, também por vezes a Maçonaria temalguns erros de casting que acabam por manchar a reputação dosdemais maçons e influenciar negativamente a opinião profanasobre a Maçonaria e os seus membros. E geralmente são estescasos que vêm a público, pois o bem que a Maçonaria faz, apenasfica resguardado para ela…

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E, mesmo depois de ter terminado o processo de inquiriçãorespeitante a um candidato, o mesmo ainda terá de ser sufragadopela Respeitável Loja que o irá cooptar no futuro. E somente apósessa decisão da loja, será ou não iniciado.

Por isto tudo, é que afirmei no início que não seria difícil entrar naMaçonaria, mas que por sua vez também, não será tão fácil assimcomo se poderia supor.

Finalizando e em jeito de conclusão, tenho para mim que antes dese entrar na Maçonaria e se obter qualquer tipo de reconhecimento,já a Maçonaria “entrou dentro de nós”…

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A importância da Família na Maçonaria...

September 22, 2014

(imagem proveniente de Google Images)

Para um maçom é muito importante o apoio que lhe é prestado pelasua família face à quantidade de ausências do seu ambientefamiliar que vão sucedendo ao longo dos anos para cumprimentodos seus deveres maçónicos. Deveres estes que, na maioria doscasos, serão a frequência das sessões da Respeitável Loja a quepertença, as assembleias gerais da sua Obediência, atividades quesejam promovidas pela sua Respeitável Loja tanto no mundoprofano como internamente; bem como para a assistência decursos, debates, tertúlias e palestras que lhe interessem tanto nasvárias áreas do Esoterismo como no âmbito da Maçonaria emgeral.

Digo que é necessário este apoio, porque com o passar do tempo é normal existir sempre algum desgaste natural nas relações familiares e por vezes as sistemáticas ausências que levam o

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maçom a sair do seu lar, poderão criar brechas no seurelacionamento marital se estas saídas não forem entendidas oubem compreendidas pela sua esposa e família. Por isso énecessário também existir uma certa maturidade e confiança entreambos para que continue acesa a tal “chama” que nos aquece ocoração e que nos alimenta a alma.

Se a vida familiar de um maçom não se encontrar com aestabilidade necessária a este tipo de relacionamento, o elevadoabsentismo que vai existir no seu quotidiano será sempre umafonte de crítica por parte de uma esposa ou família que se sentirãocolocadas à margem da vida do casal em detrimento da vida efamília maçónica.

Mas porventura o que nunca deverá acontecer (!!!) será o maçomse desculpar com as suas atividades maçónicas para justificar assuas constantes ausências para ter um comportamente menoslícito e incorreto com a sua cara-metade. - Quando um maçomdisser à sua família que “vai à Loja”, é para ir mesmo! - Pois amentira não faz parte da conduta que se espera de um maçom; oqual deverá nunca esquecer que é um homem de “bons costumes”e que deverá ser naturalmente um bom “chefe de família”.

Todavia, durante o processo de candidatura de um profano a maçom, é usual existir um contato entre os inquiridores instruídos desse processo com a família do candidato para se aferir qual o nível de aceitação que a família terá em relação à proposição do seu familiar. Pois se a família discordar, a candidatura estará “ferida de morte” logo no seu início. Pois possivelmente se for deferida esta proposição, as presenças deste novo membro em loja serão fortuitamente escassas para o que se esperaria dele. E a frequência das sessões da sua Respeitável Loja é obrigatória a

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todos os seus membros salvo motivo que seja atendível e aceitepelo seu Venerável Mestre (o responsável da Loja).

No âmbito desse contato, também é informada a família dealgumas das obrigações do candidato nomeadamente na questãoda sua presença nas sessões de loja bem como das obrigaçõespecuniárias que terá de cumprir, ou seja, a joia e quotamensal/anual de loja.

O que demonstra que a opinião da família é sempre deverasimportante, ou não fosse a família a base estrutural da nossasociedade. E este contato possibilita ainda à família saber o quantoé relevante também, para a futura loja que cooptará o seu familiar.

Algumas das mais valias que a família dos maçons terão/têm à suadisposição, são a possibilidade de conhecer gente que doutraforma não conheceria e que estaria fora do seu círculo habitual deamizades ou o estreitamento dos laços de amizades com outraspessoas com quem já se relacionaria num âmbito mais superficialpara além de puder confraternizar nos vários eventos que vãosendo organizados tanto pela Loja como noutros organizados a“descoberto”… Cimentando assim, os laços que unem os maçonsentre si e que se estendem às suas respetivas famílias. Sendo quena generalidade da sociedade civil mas principalmente em “meiospequenos”, as amizades e famílias maçónicas/profanas quase seconfundem, pois é sempre mais fácil o relacionamento entre Irmãose/ou com gente que comungue dos mesmos príncipios de vida.

Existem vários tipos de família, umas grandes, outras pequenas,mas a família maçónica será sempre singular e bastante eclética…

Seja em Portugal ou no mundo inteiro, um Irmão será sempre umirmão… e isto para mim será sempre o mais importante. Ou nãofosse esta a família que escolhi, a nossa Família!

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Campanha VER MAIS

September 25, 2014

Já precisou de mudar de óculos, por alteração da graduação daslentes?

Já substituiu os óculos do seu filho ou da sua filha porque ele ouela cresceu e os óculos antigos já não lhe serviam?

Tem os óculos substituídos guardados lá em casa? Para quê? Nãovai voltar a usar a graduação antiga... E os seus filhos não vãoencolher... E a probabilidade de a criança mais nova vir a terexatamente a mesma necessidade de óculos com a precisamentemesma graduação que foi necessária para a sua mais velha éínfima... Então tem os óculos lá em casa apenas para (a) ocuparespaço; (b) um dia qualquer fartar-se disso e deitá-los fora.

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Pois bem, foi lançada e está em curso até 15 de dezembro acampanha VER MAIS.

A ideia surgiu na sequência de um comentário de um amigo deque, lá em Moçambique, onde agora se encontra por razõesprofissionais, é frequente pedirem-lhe que empreste os seus óculospara que alguém os utilize brevemente para uma comezinha tarefa(enfiar uma linha numa agulha, por exemplo) e logo os devolva,agradecido e aliviado, porque, pura e simplesmente, a generalidadeda população não tem efetivo acesso a coisas para nós tãovulgares como óculos e oftalmologistas. Pura e simplesmente,quem vê mal, mal vê. É assim e será assim por, infelizmente, aindabastante tempo...

Portanto, parece lógico que é muito mais útil utilizar os nossos jáinúteis óculos, que já só nos servem para ganhar pó e ocuparespaço, para os enviar para onde não há e são precisos para queoutras pessoas possam VER MAIS.

Não nos preocupemos com o acerto das dioptrias. Quem precisariade lentes com duas dioptrias, se tiver à sua disposição óculos comuma dioptria e meia, não fica a ver perfeitamente, masseguramente que consegue VER MAIS do que com nenhuma...

Portanto, o apelo fica feito: pegue nos seus óculos antigos e já semuso e envie-os por favor (já agora deixe-me abusar: se pudermandar também a caixa ou o estojo, ajuda muito a mantê-losinteiros e em bom estado no transporte...) envie-os para

ASSOCIAÇÃO MESTRE AFFONSO DOMINGUES

Estrada de Telheiras, 102

1600-771 LISBOA

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Se não puder ou quiser ter a despesa ou o incómodo de procederao envio, não seja por isso: mande uma mensagem de correioeletrónico indicando o número de pares de óculos que oferece, asua morada e o seu número de telefone de contacto para

[email protected]

e, em Portugal, nós arranjaremos maneira de providenciar quealguém vá buscá-los.

O armazenamento, o envio para Moçambique e a distribuição aquem necessita lá em Moçambique fica por nossa conta... Umagarantia damos: os óculos assim obtidos serão DADOS oudisponibilizados GRATUITAMENTE em centros comunitários, paraserem usados por quem e quando necessite. Ninguém obterá umcêntimo de receita com eles. Fazemos ponto de honra disso!

Quem tem óculos já em desuso, mãos à obra, que podem ainda serde novo úteis a quem precisa!

Quem não tem, também pode ajudar: use a função corta e cola doseu computador, copie este texto para uma mensagem de correioeletrónico, e envie-a para todos os seus contactos, com pedidopara que façam o mesmo. É spam, reconheço-o, mas é por umaboa causa: é para que alguns bem menos privilegiados na vida doque nós, possam VER MAIS.

Rui Bandeira

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O enigmático Segredo Maçónico...

October 01, 2014

(imagem proveniente de Google Images)

O Segredo Maçónico será mito, será verdade?

Mas o que é um segredo?

Não será algo que apenas um conhece ou que poucos o saibam…?

Sempre ouvi dizer que quando mais que um o conheça, deixará deser segredo…

E qual será então o segredo maçónico?

Não falo no segredo que seja o conhecimento de vários rituaismaçónicos ou a identificação de membros de alguma Obediência,falo mesmo no tal segredo que muitos ambicionam alcançar.

Já o virtuoso poeta Fernando Pessoa o celebrou em poema e omesmo pode ser consultado também neste blogue AQUI.

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Mas guardará este segredo uma mensagem?

Um caminho a seguir?

Uma conduta de vida?

Ou será algo indizível e inexplicável e que será apenas sensorial talcomo muitos maçons o afirmam?!

Em alguns dos vários textos elaborados por vários autores, sejammaçónicos ou não, que se encontram tanto nas livrarias como naprópria internet, é habitual se encontrar definições de que estesegredo será “algo que estará para além da compreensãohumana”, noutros “ que estará para além do descritível e apenasobservável”…

De facto, o segredo maçónico é algo que é somente sentido ecompreendido por quem o experimenta.

Passando por uma Iniciação, em que tal é o véu que cobre osolhos e ainda nos limita a visão, também o segredo maçónico temas suas veleidades e somente com a constante presença em Loja,na prática do ritual maçónico e no relacionamento fraternal com osdemais Irmãos, se pode alcançar esta sensação, o conhecimentode tal segredo.

Mas será que esse segredo é tão relevante assim para o mundo?

Não será esse segredo, somente algo que deverá ser exclusivoapenas da propriedade dos maçons? Pois será o seu segredo?

Fica a reflexão...

Geralmente quando existe ou se fala em segredo/os, chega-sesempre à conclusão de que afinal não há segredo algum ou sehouver, já seria do domínio e conhecimento público; quando não émesmo, algo fruto da imaginação coletiva da generalidade dapopulação. E o segredo maçónico encontra-se neste contexto.

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Muito se poderia elucuburar sobre ele, tantas páginas foram e maisainda serão escritas sobre este segredo, e mesmo que um diaalguém o consiga descrever, nunca o fará na sua efetiva plenitude,pois quem nunca passou pela porta baixa dificilmente lhe teráacesso… Porque nem tudo é possível ser pronunciado e nem tudoé passível de ser soletrado. Ou não fosse a carne despreender-sedos ossos…

Assim, tal como as experiências que vamos passando ao longo danossa vida que para nós ficam, também as sensações que alguémsentiu apenas para ela ficarão…

E será que ficou algo por explicar, no que consistirá o tal segredo?

É possível, mas não serei eu a pronunciá-lo. Por mim, o enigmapersistirá…

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VER MAIS

October 07, 2014

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Refletindo sobre a frase "Não sabemos o que se passa eprecisamente é isso o que se passa" de Ortega Y Gasset...

October 07, 2014

(imagem proveniente de Google Images)

Nesta simples frase proferida pelo filósofo espanhol José Ortega YGasset (09/05/1883-18/10/1955) e que se encontra na sua obra “A Revolta das Massas” escrita em 1930, encontro um paralelismocom a postura que o mundo profano tem em relação à Maçonaria.

O atrás designado mundo profano, a sociedade em geral, poucoconhece ou entende dos segredos e mistérios maçónicos, podendoapenas especular sobre o que farão os maçons nas suas reuniõese sessões de loja bem como qual a sua ação na sociedade civil. E,uma vez que os profanos pouco ou nada conhecem, muitos porquenem sequer se dão ao trabalho de tentar conhecer, especulam eespeculam mal!

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Várias vezes foi dito neste blogue, que tanto na internet como naslivrarias e bibliotecas espalhadas por esse mundo fora, existe umrol de informações fidedignas efetuadas tanto por maçons como porautores não maçónicos credíveis, tanto pela sua cultura como pelasua idoneidade, que atestam a conduta da Maçonaria e o que elarepresenta nos vários países onde está inserida.

Este espaço tal como outros, é acessado por milhares de pessoas,sejam elas iniciadas ou não, que buscam conhecimento ou merainformação, outras quiçá algo mais… Algumas inclusivé, por maisque se lhes tente explicar o que é de facto a Maçonaria, para elas asua intenção é meramente desestabilizar e nada aprender com oque lhes é transmitido, demonstrando apenas os seus preconceitoscontra a Ordem Maçónica no geral, repudiando qualquer explicaçãoque lhes seja oferecida. Há de tudo como na vida, “para todos osgostos e tamanhos”…

Todavia, tal como se pode depreender do que Ortega Y Gassetafirma, o facto de não se ter conhecimento de algo, não significanecessáriamente que tal não exista. E se é usual os maçons dizerem que a Maçonaria não é uma instituição secreta, é porqueefetivamente todo o mundo a conhece e dela fala! Aquilo que ésecreto nunca é abordado em lado algum. Quanto muito, estaAugusta Ordem terá uma postura discreta no que faz ou deixafazer…

Mas por muito confuso que aparente a afirmação que fizanteriormente, não cabe à Maçonaria fazer algo, caberá sim aosmaçons o fazer!

Seja através de uma visão mais ortodoxa , seja por uma vivência mais liberal, o maçom tem o dever de intervir na sociedade, seja como alguém que vislumbrou a luz ou seja como uma

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individualidade apenas. Uns (maçons) preferem fornecer as“ferramentas sociais e filosóficas” para uma evolução eaprimoramento da Sociedade, outros preferem serem elesmesmos, os “agentes de transformação” em prol do progresso dageneralidade dos povos.

Não me compete a mim e nem me proponho a tal, decidir quemestá mais certo ou menos correto na sua postura maçónica deintervenção social, acredito que há espaço para todos e isso paramim é de menor importância, porque acredito que um maçomnunca deverá baixar os braços, pois se ele é uma centelha de luz,tem a obrigação de iluminar os demais…

E é fundamentalmente por este tipo de atitude que se encontra noADN de um maçom que a Maçonaria não é aceite nem tolerada noslocais onde reine a anarquia ou a ditadura, seja esta ao nívelgovernamental (países ditatoriais ou absolutistas), seja ao nívellaboral (locais onde o “quero, posso e mando” são a lei patronal) ouaté mesmo em lugares onde a religião assim o assuma edetermine. Logo, a consequência mais direta de tais factos é aMaçonaria ser anatemizada socialmente e os seus membros, alvosde constante estigmatização apenas por serem maçons.

Por isso deixo a seguinte reflexão:

Será que quem constantemente ataca a Maçonaria, quemconstantemente especula negativamente sobre a Ordem Maçónicana sua generalidade, saberá o que se passará no interior das lojasmaçónicas?

Parece-me que não! E tal como Ortega Y Gasset bem dizia e queeu transponho para a Maçonaria, é isso o que precisamente sepassa!

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O trabalho da Coluna da Harmonia...

October 14, 2014

(imagem proveniente de Google Images)

Durante o decorrer de uma sessão ritual maçónica existe o hábitogeneralizado de existir música ambiente. Música essa que deverácriar certos estados de espírito aos seus ouvintes para possibilitar

uma certa harmonia entre todos os presentes na sessão.

A responsabilidade da condução musical numa loja maçónica é doMestre da Harmonia , o qual também é designado por Coluna da

Harmonia .

A seleção musical a ser utilizada deverá ser preferencialmenteescrita e/ou musicada por autores maçónicos, nomeadamenteLudwig van Beethoven, Frédéric Chopin, Wolfgang Amadeus

Mozart entre outros, mas também pode ser utilizada música dequalquer tipo de autor sem prejuízo para os anteriormente citados.O género musical a ser utilizado também dependerá daquilo a quese proponha fazer o Mestre da Harmonia em consonância diretacom o programa da respetiva sessão maçónica; sendo que ao

conjunto de músicas que integram o seu trabalho se designar porPrancha Musical.

E para a elaboração desta prancha geralmente são utilizadas sonoridades mais clássicas na maioria das lojas, mas na

Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5, os gostos são muito ecléticos pelo que é habitual, dependendo de quem ocupe a

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Coluna da Harmonia, se ouvir desde música clássica, passandopelo Rock ao Ambient Lounge ou ChillOut e também às

sonoridades new age. Daqui se poderá depreender que tal como aonível da utilização das novas tecnologias, também ao nível da

seleção musical, a Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5é também uma loja que se poderá assumir como p’rá frentex…

No entanto, e apesar da liberdade de escolha musical propiciadapela loja ao Mestre da Harmonia, a este apenas lhe é pedido (

aliás, exigido por assim dizer…) que com a sua música proporcioneo ambiente ideal ao desenrolar dos trabalhos maçónicos a serem

efetuados.

Mas apesar da vasta e ampla seleção musical que pode serutilizada numa sessão maçónica, não pode a mesma ser usada dequalquer forma nem em qualquer tempo. Existe uma temporização

adequada e um tipo de sonoridade específica que se esperaescutar em determinados momentos da sessão maçónica, sejam

eles a Abertura ou o Encerramento dos Trabalhos, seja nomomento da execução da Cadeia de União ou na circulaçãodoTronco da Viúva; a música deverá criar uma sensação própria a

cada um que a ouvir em relação ao momento maçónico emconcreto. Não devendo o estado de espírito dos maçons se

encontrar contrário ao disposto, senão resultaria numa possívelquebra da egrégora criada pela harmonia experimentada pelo

conjunto dos irmãos presentes na respetiva sessão.

E se no decorrer de uma sessão maçónica existir um momento ritual relevante para a vida de um maçom, tal como uma Iniciação ou um aumento de salário, a música a ser utilizada deverá ser alvo de uma especial atenção pelo Mestre da Harmonia para que esses momentos fiquem marcados na memória de quem por eles passa,

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pois mesmo aqueles que apenas assistem e não têm umaintervenção direta no cumprimento do ritual, também estes acabampor rever esta mesma situação que anteriormente vivenciaram. Eisto também faz parte da formação maçónica, o rever e meditar

sobre o que se já viveu e retirar de aí a devida reflexão.

Pelo que aqui expus, já deu para perceber que o trabalho efetuadopela Coluna da Harmonia não é de somenos importância, porque

apesar de não ter um papel ritual importante durante a sessão, esteé um dos cargos mais ativos da loja; é ele que tem o dever de criaros ambientes específicos e respetivos estados de alma e isso não étão fácil como se poderia imaginar à primeira vista. E é mesmo um

trabalho demorado que ocupa algum do tempo disponível que oMestre da Harmonia tem na sua vida pessoal, pois ele terá de ouvir

bastantes músicas para poder selecionar aquelas que considerecomo as mais apropriadas para serem utilizadas no decorrer deuma sessão maçónica. Se este mestrefor um apaixonado pela

música ou inclusivé um melómano até, a sua loja só terá a ganhardada a riqueza dos conhecimentos que ele terá e que poderá

propiciar aos seus irmãos.

Nem todos poderão gostar dos temas musicais que ouviram nodecorrer da sessão, fruto das mais variadas preferências musicaisde cada um, mas se a energia que brotou da sessão for a ideal, amelhor crítica que o Mestre da Harmonia poderá ouvir dos seus

irmãos é que eles sairam contentes e satisfeitos da sessão e que otrabalho que ele desempenhou contribuiu para esse facto.

A Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5 sempre teveexcelentes responsáveis por "darem música" aos seus irmãos, pelo

que se espera que assim o continue a ser...

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Entrevista concedida à TVL (Televisão de Lisboa) peloMuito Respeitável Grão-Mestre Irmão Júlio Meirinhos...

October 20, 2014

No dia 17 e no dia 18 cerca das 22h00, o Muito Respeitável Irmão Júlio Meirinhos , recentemente instalado como MuitoRespeitável Grão-Mestre da Obediência que representa aMaçonaria Regular Portuguesa, a Grande Loja Legal de

Portugal/GLRP, concedeu uma entrevista à Televisão de Lisboa,no programa "Verbos&Letras" apresentado por Alexandre Honrado,onde aborda em geral o que é a Maçonaria, o que ela faz e o que

representa.

Para quem não teve a oportunidade de acompanhar a entrevistae para quem tem curiosidade em saber do que ela tratou, deixo-Vos

o link respetivo da mesma, clicar AQUI.

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Reflexão sobre o " Livre Associativismo" e a sua relaçãocom a Maçonaria…

October 27, 2014

(imagem proveniente de Google Images)

De tempos a tempos e em vários países do mundo, é posta emquestão a obrigação da assumpção da pertença dos cidadãos emalguns tipos de associações, sejam de carácter privativo ou não. E

por estes dias o assunto veio novamente a debate a nívelparlamentar.

Naturalmente que apenas irei dar a minha opinião sobre o que àMaçonaria concerne, pois é geralmente em relação à Maçonaria

que este tipo de situações se torna mais evidente.

A Lei Portuguesa na sua , afirma nos seguintes Artigos:

Artigo 41º, sobre a "Liberdade de Consciência, Religião ede Culto":

1. A liberdade de consciência, religião e de culto é inviolável.

3. Ninguém pode ser perguntado por qualquer autoridade acerca das suas convicções ou prática religiosa, salvo para recolha de

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dados estatísticos não individualmente identificáveis, nem serprejudicado por se recusar a responder.

Artigo 45º, sobre o "Direito de Reunião e Manifestação":

1. Os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e semarmas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de

qualquer autorização.

Artigo 46º, sobre a “Liberdade de Associação”:

1. Os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência dequalquer autorização, constituir associações, desde que estas nãose destinem a promover a violência e os respectivos fins não sejam

contrários à lei penal.

2. As associações prosseguem livremente os seus fins seminterferência das autoridades públicas e não podem ser dissolvidas

pelo Estado ou suspensas as suas actividades senão nos casosprevistos na lei e mediante decisão judicial.

3. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associaçãonem coagido por qualquer meio a permanecer nela.

4. Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar,militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que

perfilhem a ideologia fascista.

E como a Instituição Maçónica não promove a violência, não tem qualquer desígnio contrário à lei do país (aliás um maçom no seu

juramento assume a concordância e o dever de respeitar as leis do país onde se encontra!), não faz proselitismo nem obriga ninguém a

aderir à mesma (quem a ela adere, fá-lo de livre consciência e vontade), não é uma Ordem militar nem a tal se propõe, objeta

contra o racismo e a xenofobia em todas as suas formas e é acima

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de tudo uma Ordem de caractér iniciático e filantrópico, quedefende os valores da Liberdade, Igualdade e da Fraternidade e

que promove a evolução da sociedade e do seu progresso atravésdo auto-aperfeiçoamento dos seus membros e da sua ação no

mundo profano. Logo, a Maçonaria e os seus membros podem e devem ser

encarados como englobados nestes artigos da nossa legislação. Desta forma, é uma “falsa questão” se tentar obrigar os maçons a

assumirem ou não a sua condição maçónica, uma vez que amesma não decorre de nada que seja considerado ilegal pelas leis

portuguesas.

Não obstante, o que me parece que é o real problema de quem tenta obrigar os maçons, membros de alguma Obediência

Maçónica a declarar a sua pertença a esta Augusta Ordem não seja apenas por desejar conhecer o nome dos seus membros, até

porque a maioria é gente anónima do conhecimento público, não ocupam cargos importantes nas empresas onde trabalham ou

nas associações e agremiações profanas a que pertencem. Quem quer legislar contra a Maçonaria no que toca a cercear o

direito ao livre associativismo e à privacidade dos seus membros , quer saber acima de tudo, se os membros de alguma Loja Maçónica nas suas profissões e nas suas relações profanas

poderão cometer alguma ilegalidade em virtude dos seus juramentos e/ou relações fraternais.

Quero acreditar que tal não acontece e se tal efetivamente acontecer, a pessoa ou pessoas em questão não podem ser

consideradas realmente como sendo maçons, uma vez que agem contráriamente àquilo a que a Maçonaria se propõe fazer e atentam

contra os valores morais da própria Ordem e contra aquilo que

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juraram cumprir.

Mas, quem deseja criar leis e condições que permitam aobrigatoriedade de ser assumida a filiação maçónica para justificartambém a sua ignorância e a sua curiosidade sobre o que se passa

no seio de uma Loja Maçónica, será também para se informarsobre quem esteve presente e o que se debateu nessas reuniões

maçónicas. Pois em relação ao povo em geral, estes o que queremconhecer é saber se o fulano” X” ou “Y” é reconhecido como maçon

e com isso justificar a opinião que poderão ter sobre essa(s)pessoa(s). Tanto que comparo isso com a mesma avidez com que

a generalidade da população lê revistas “cor-de-rosa” parasaberem o que se passa na vida de fulano “A” ou “B”. No fundo

meros fait-divers, porque na prática o conhecimento de taisinformações não lhes trarão qualquer mais valia e apenas servirápara “matar” a sua curiosidade sobre a vida dessas pessoas, pois

essas informações serão irrelevantes para a sua vida em particular.

Mas o que é para mim o mais relevante a reter, é o ataque que sefaz aos direitos e garantias dos cidadãos , uma vez que o livreassociativismo e a liberdade de um cidadão pertencer a qualquertipo de agremiação ou associação num futuro quiçá talvez não tão

longínquo assim, irá ser posta também em causa.Para já, o assunto apenas aborda quem pertencer a associações

secretas ou de carácter discreto, mas basta se aceitar que talpossa ser exequível, também qualquer outro direito de pertença e

militância poderá também ser posto em questão e com toda alegitimidade por quem o fizer.

Para quê e para quem importará saber quem pertence a uma Obediência Maçónica se também não nos é possível saber o que

se passa no interior de outras associações e conhecer a

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identificação dos seus membros? Não terão essas mesmas associações o mesmo direito que a

Maçonaria se arroga a ter?! O direito dos seus membros poderem reunir em privacidade, semter de assumir a sua filiação publicamente e com isso não serem

incomodados por tal?

Obviamente que sim, a vida interna de uma associação apenasdeve interessar aos seus membros ou a quem vive dessas e para

essas associações. É uma questão de justiça social!

E numa época em que os cidadãos têm visto os seus direitos egarantias serem limitados, independentemente de quem os governa

(pois acontece assim no mundo inteiro em virtude das crisesfinanceiras e guerras que vão se sucedendo) , abrir-se mão de um

direito tão básico e ao mesmo tempo tão importante como este,será o abrir de uma “Caixa de Pandora” que depois dificilmenteserá fechada. Porque neste momento a preocupação infundada

que existe sobre a Maçonaria facilmente se poderá alargar a outraassociação qualquer, independentemente do seu tipo ou

classificação profana.

E uma vez que é natural ao ser humano se associar a algo ou a outrém - isso está na nossa natureza e no nosso ADN, pois o

Homem é um animal gregário -, ao criarem-se condições para que tal suceda, parece-me a mim que, para além de ser anti-natura, é

regressar-se a tempos em que mal se podia abrir a boca ou simplesmente olhar outrém nos olhos sem que se tivesse o receio de o fazer... Tempos esses que não deixaram grande saudade nos

portugueses. Seria isso quanto a mim, um retrocesso civilizacional impensável

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para os dias de hoje!

Aliás, já no tempo do Estado Novo, o deputado à AssembleiaNacional, José Cabral (16/09/1885 – 10/06/1950) apresentou em

19 de janeiro de 1935 e posteriormente aprovado cerca dequatro meses depois, a 12 de maio, um projeto-lei para

extinguir as “Sociedades Secretas” – este projeto-lei foi atéhoje um dos mais vis ataques que a Maçonaria sofreu nonosso país – que teve como réplica por parte do poeta e

jornalista do Diário de Lisboa, Fernando Pessoa (13/06/1888 –30/11/1935), um artigo bastante conhecido ainda hoje,

denominado por “ "”, no qual Fernando Pessoa faz uma certaapologia da Augusta Ordem Maçónica e em que confronta a

Assembleia Nacional, na pessoa do deputado José Cabral, em queo exorta a deixar cair este projeto-lei atroz para a liberdade dosportugueses. Liberdade esta, que mais tarde veio a ser limitada

quase na íntegra como todos nós o bem sabemos…

Por tudo isto, não quero acreditar que os direitose garantias que atualmente existem e que promovem a Liberdade dos cidadãos e

que foram conquistados com lutas e algum sangue derramado, sejam perdidos assim tão irresponsavelmente e de uma

forma tão irrefletida como o aparenta ser . Seria muito triste para mim, que defendo os valores da Liberdade e

da Igualdade, assistir às consequências desse hipotético cenário que alguns se propõem a criar.

É que não basta se pensar que este é um problema exclusivo dos maçons, este é um problema que afetará a todos nós como

cidadãos livres que somos. Pois se “agora toca-me a mim, amanhã te tocará a ti”…

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O que me leva a recordar o poema de Bertold Brecht (10/02/1898 -14/08/1956), que foi baseado num sermão proferido pelo pastor

luterano Martin Niemöller (14/01/1892 - 06/03/1984), que irei aquipartilhar convosco dada a contemporaneadade que o mesmo tem

para este assunto em particular:

"Primeiro levaram os comunistas,

Mas eu não me importei

Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,

Mas a mim não me afectou

Porque não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,

Mas não me incomodei

Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez

de alguns padres, mas como não sou religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim

E quando percebi,

Já era tarde."

Concluindo, esta visão que tenho sobre este assunto pode parecer demasiado pessimista, mas basta se analisar o que se fez noutros tempos e noutros lugares e se depreenderá com alguma facilidade

que tal não será tão irrealista assim… Urge cada vez mais acabar com “falsos moralismos” e com os

preconceitos ignobeis de quem atenta indisplicentemente contra a Maçonaria.

Tudo o que há para ver, à vista está! Tudo é que é passível de ser conhecido, poderá ser conhecido.

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Se dá trabalho obter tal conhecimento? Sim, dá trabalho! Mas nadanesta vida é obtido sem trabalho.

Por isso deixem lá os maçons com as suas lojas e as suasreuniões, que também eles não se importarão com os outrosque também têm o direito de se reunir em privado nas suas

associações…

Em democracia, o direito de uns é o direito dos outros !

É o direito de Todos Nós!

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Refletindo sobre a frase "Sei que só há uma liberdade: ado pensamento" dita por Antoine de Saint-Exupery...

November 03, 2014

(imagem proveniente de Google Images)

Na minha opinião (tendo ela a relevância que lhe quiserem atribuir), Antoine de Saint-Exupery (29/06/1900 – 31/07/1944) disse uma

verdade suprema. Não a classificando como paragdigmática ou um dogma até, a sua frase “Sei que só há uma liberdade : a do

pensamento” envolve tudo aquilo que é para mim a faculdade mais importante que o Ser Humano poderá ter, a capacidade de pensar e refletir; bem como aborda também para mim, a forma de

como nos devemos sentir na sociedade, sentirmo-nos livres, libertos de preconceitos e ideias que são repisadas por outros sem

que nos preocupemos em aferir a sua veracidade e a sua causalidade, e assim manter a "mente aberta", limpa e disponível à aprendizagem que é inerente ao nosso processo de crescimento

pessoal e às vivências próprias deste trilho em que caminhamos, a

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nossa Vida.

Há que discutir, há que debater, há que pensar... E só estandolivres e nos sentindo livres, tal será exequível.

Tanto que a possibilidade de pensarmos por nós próprios e sermosnós mesmos é o que nos separa dos restantes seres vivos, pois

temos a hípotese de refletir antes de agir e nada tem de acontecerapenas por instinto ou por impulsividade própria e isso torna-nosdiretamente responsáveis pelas nossas ações. E esta liberdadeque nos é concedida pela Natureza ou pelo Grande Arquiteto do

Universo - cada um assumirá o que melhor lhe convier - pode-noslevar a lugares que de outra forma não os alcançaríamos.

Antoine de Saint-Exupery foi o autor do conto infantil “OPequeno Príncipe” , estória essa que aborda a vida de um

rapazinho noutro local fora do planeta Terra (o nosso mundo) e quecontém algumas lições de vida encapotadas no seu enredo.

Se não fosse a sua liberdade em pensar e em escrever, para alémde não nos ser possível conhecer esta obra literária, o autor nunca

nos levaria a “viajar” para fora do nosso mundo como o fez e daforma que o fez.

O acto de pensar, liberta!Torna-nos livres, pois também nospossibilita criar “novos mundos” ou alcançar mundos que não

visitaríamos ou conheceríamos. E esta viagem através dos nossospensamentos, a criatividade que pode surgir por o fazermos pode

originar também ela outras obras, sejam elas mundanas ou do“pensamento” que nos impelem para mais longe, que nos fazem

progredir como seres humanos..

Esta liberdade de pensar possibilitou a criação de um género literário e cinematográfico designado de “Ficção Científica”, género este baseado em algo que por norma não é nosso contemporâneo

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e que se acredita que se concretize num futuro próximo, bem comode realidades, mundos e “dimensões” que não existem fatualmente,mas que mesmo assim podem existir e persistir na nossa mente. E

este género/categoria tem imensos seguidores por este mundofora; logo existe gente que também imagina e que gosta de

viveralgo fora daquilo que é existente, libertandoa sua mente paraoutras coisas que não vislumbra no seu quotidiano e práticas

habituais, mesmo que tal não seja necessáriamente normal e aceitepela generalidade das pessoas, dou como exemplos as séries queabordam o vampirismo, zombies, seres alienígenas, possessões

demoníacas e outros afins....

De facto, a frase “Sei que só há uma liberdade : a dopensamento” supera-se a ela mesmo, pois também ela me

possibilitou a reflexão que fiz quando tive o meu primeiro contatocom a mesma. E ela obrigou-me a pensar… E pensar pode-se

tornar perigoso para quem o faz ou para alguém que não pense nomesmo que o status quodetermine que se pense… Mas essareflexão fica para um texto futuro, por agora prefiro pensar na

liberdade que tenho apenas por pensar, e com isso viajar atravésdo mundo e do tempo.

Quem nunca viajounos seus pensamentos ou através deles?

Quem nunca andou por vales ou cidades onde nunca passeou ecom a simples observação de algumas imagens de paisagens, os

conseguiu “visitar”?!

Quem nunca alcançou algo nos seus sonhos e/ou devaneios?

Para bem da Humanidade, foi graças a alguns pensadores que através dos seus sonhos e da sua imaginação que provenieram as

ideias que nos tornaram naquilo que hoje somos e vivemos. Por isso estou grato a esta liberdade que me foi imposta pelo Criador, a

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de pensar.

Houvessem outras “liberdades” que fossem assim tão fáceis dealcançar e este mundo seria tão menos complicado…

As questões que deixo para vossa reflexão são:

· O que fazer com esta liberdade que nos é garantida?

· Teremos a coragem necessária para pensar e nãoquerermos ser “carneiros” como alguns o preferem ser, apenas por

facilitismo?!

· Desejaremos assumir as responsabilidades e asconsequências que provêm do acto de pensar?

· Será que temos a consciência plena das nossas ações e dassuas repercurssões à nossa volta e mesmo assim preferir agir

impulsivamente ?

E outras tantas questões se me impunham fazer e que as poderiater feito apenas pelo simples facto de me ser possível pensar e com

isso ter a liberdade de as poder propor e debater...

Por isso acredito que pensar não é tão fácil como o aparenta ser epode até mesmo ser um processo “doloroso” para quem o faz, mas

se temos esta capacidade, este enorme poder, convinha para obem de todos não o desperdiçarmos. Temos é de ter a sabedoria e

a inteligência suficiente para a usar, porque de que outra formahaveria de ser concedida pelo Criador /Natureza esta

potencialidade a uma espécie se ela não fosse merecedora de tal?!

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Sugestão para a "Coluna da Harmonia": “Hey Brother”deAvicci.

November 10, 2014

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O responsável pela Coluna da Harmonia numa loja maçónica deveprocurar utilizar nas sessões da loja a que pertence, músicas quesejam de autores maçónicos e/ou que se inspirem em princípios e

valores maçónicos.

Assim, hoje trago uma sugestão de um videoclip de uma músicaque apesar de numa primeira audição parecer não conter nada de

maçónico, mas que adentrando na mesma, muito se poderádescortinar… Pois tudo na vida é símboloe é através da análise dos

simbolos que também poderá ser alcançado o conhecimento…

Honestamente, não sei se o autor da letra e da música será maçomou não, o que me importa realmente neste caso foram os

sentimentos que se encontram explanados na letra desta canção, oAmor Fraternal e o Dever de Auxílio entre irmãos. Sentimentos

estes tão caros aos maçons, nomeadamente até já foramabordados estes ditos sentimentos em dois textos dedicados em

exclusivo a eles, escritos pelo Rui Bandeira, e que podem serrecordados aqui e aqui.

A canção que acima pode ser visionada e/ou ouvida, pertence aomúsico sueco e também Disc Jockey Tim Bergling

(08/09/1989-….) mais conhecido mundialmente por Avicci, e quetem como título “Hey Brother” ( isto é,“Oh Irmão”) e que pertence

ao album “True” comercializado apartir de 2013.

E uma música com um título destes, qualquer coisa de simbólico àpartida se poderá encontrar nela. Ora vejamos a sua letra:

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"Hey Brother"

Hey, brotherThere’s an endless road to re-discover

Hey, sisterKnow the water's sweet but blood is thickerOh, if the sky comes falling down, for youThere’s nothing in this world I wouldn’t do

Hey, brotherDo you still believe in one another?

Hey, sisterDo you still believe in love? I wonder

Oh, if the sky comes falling down, for youThere’s nothing in this world I wouldn’t do

Oh, oh, oh

What if I'm far from home?Oh, brother, I will hear you call

What if I lose it all?Oh, sister, I will help you out

Oh, if the sky comes falling down, for youThere’s nothing in this world I wouldn’t do

Hey, brother There’s an endless road to re-discover

Hey, sister Do you still believe in love? I wonder

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Oh, if the sky comes falling down, for you There’s nothing in this world I wouldn’t do

Oh, oh, oh

What if I'm far from home?

Oh, brother, I will hear you call What if I lose it all?

Oh, sister, I will help you out Oh, if the sky comes falling down, for you There’s nothing in this world I wouldn’t do

Ao analisar a letra desta música (quem não perceber a línguainglesa encontra uma tradução ligeira aqui), encontro algo que paramim é do mais importante que os maçons poderão fazer pelos seusirmãos, o dever de auxílio , pois na frase “if the sky comes fallingdown, for you There’s nothing in this world I wouldn’t do” – Se

o ceú cair, por ti não existirá nada que eu não o possa fazer – édemonstrada a vontade que existe em se auxíliar os irmãos que detal necessitem; pois estes sabem que quando tudo na vida poderá

correr mal, existirá sempre alguém para os apoiar, para osreconfortar. E este conforto não tem de ser necessáriamente

financeiro, porque a maioria das vezes uma palavra, um incentivo,um conselho ou um abraço, valem muito mais que alguns

milhões…

Também nesta canção, encontro o sentimento fraternal que os maçons sentem pelos seus semelhantes, que em qualquer parte do

globo terrestre terão quem comungue com eles dos mesmos princípios de vida e forma de estar. Pois até mesmo aqueles que se encontrem longe do seu lar, poderão receber e/ou dar o seu auxílio

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aos Irmãos que dele precisem, uma vez que a distância física nãoserá impedimento para nada. O que pode ser confirmado na

frase:” What if I'm far from home? Oh, brother, I will hear youcall” – E se eu estiver longe, eu escutarei o teu apelo -.

Seja no ar, na terra ou no mar…, os maçons estarão para semprejuntos, uma vez que aquilo que foi unido pela Virtude, nada o

poderá separar...

Já na frase: “ What if I lose it all? Oh, sister, I will help you out”– E mesmo se eu perder tudo? Oh Irmã, eu na mesma, te irei

ajudar no que for preciso – é possível se verificar queindependentemente da situação financeira ou emocional de um

maçom, ele deverá sempre na medida que lhe for possível, ajudar oseu Irmão. Nesta frase posso encontrar o verdadeiro cimento queliga a Irmandade Maçónica, o “amor fraternal” , aquele amor em

que algo se faz, mesmo sem se esperar qualquer tipo de“reembolso”.

Age-se assim porque sabemos que o nosso Irmão o necessitae porque achamos que é assim que o devemos fazer.

E nada de imoral se poderá retirar desta minha afirmação, poisqualquer pessoa na sua intimidade, auxiliará os que forem maispróximos de si, sejam eles seus familiares ou amigos. E nenhumtipo de auxílio poderá derivar em algo criminoso ou ilegal como

erradamente e em demasia se supõe. Bastando para isso, cada umfazer a introspeção e a reflexão moral necessária sobre qual é a

sua forma de estar e de agir na sociedade em que se insere. Umacoisa é certa, quem necessita de auxílio, deve ser ajudado.

E mesmo na simples frase que encontramos logo no ínicio da canção e novamente a meio desta, “There’s an endless road to re-discover” – Existe uma estrada sem fim para redescobrir – ,

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podemos vislumbrar o caminho que um maçom encontrará após asua Iniciação, pois ele redescobrirá novas coisas nas mesmas

coisas que anteriormente já seriam do seu conhecimento,possibilitando assim outras visões e/ou opiniões de assuntos que

anteriormente poderia dar como adquiridos e imutáveis. Para alémde que, aprenderá e terá acesso a outros conhecimentos que o

ajudarão no seu futuro e no caminho a que se decidir a prosseguir.Ou seja, este caminho que os maçons se propõem a trilhar, só

conseguirá ser executado se for feito com paciência, determinaçãoe perserverância, porque ele é longo e sem fim...

Este caminho é a estrada para o auto-aperfeiçoamento… Umcaminho solitário mas que não se é feito sozinho…

Aliás essa frase da canção, bem que poderia ser um mote amostrar a um neófito daquilo que poderá esperar da sua recente

Iniciação e em relação ao seu futuro, uma vez que nada lheparecerá o mesmo... Nada será como dantes...

Afinal, uma canção que numa audição mais ligeira poderia passaríncolume a qualquer um, ao ouvido de um maçom terá muito que

lhe diga e lhe toque emocionalmente. E a mim tocou-me e muito…

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Refletindo na frase: “Existe algo maior que o céu: a almahumana” de Victor Hugo…

November 17, 2014

(imagem proveniente de Google Images)

Falarmos de Alma Humana é abordarmos algo quase que inefávele insensorial, o que pode parecer à primeira vista como algo de

paradoxal.

Digo inefável, porque como pouco a conhecemos, quase não aconseguimos “pronunciar” na sua especificidade ou a definir em

profundidade. E também afirmo que a alma pode ser consideradacomo algo insensorial, porque é algo que não é mensurável e

assumo que não conheço alguém que tenha afirmado que a tenhasentido, num sentido sensorial e não num sentido metafísico.

Creio que a alma humana é a nossa essência, logo à partida algoque será imutável. Mas na realidade a mudança pode existir. Tanto

devido a fatores externos como a fatores internos.

A nossa educação, a nossa formação académica e profissional, e principalmente, a nossa formação de cariz “social” (a forma como

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nos relacionamos com os outros), será quiçá o mais importanteagente de mudança.

É através da nossa experiência de vida, das nossas vivências, quesomos o que “somos”. E ao sermos “algo”, isso é o reflexo do

nosso estado de alma. E como esse estado está em permanentemudança (fruto também das nossas alterações de humor), tambémNós mudamos. É essa alteração/evolução que importa à reflexão.

Victor Hugo (26/02/1802-22/05/1885), maçom, escritor e pensadorfrancês, ao afirmar que “existe algo maior que o céu: a alma

humana” disse a verdade. Não existe mesmo nada maior que ela.

Nós próprios somos maiores que tudo! E somos mesmo! Somos“maiores” que as nossas criações, as nossas suposições e que as

nossas opiniões.

As nossas crenças, as nossas atitudes dependem somente de nós. Independentemente do meio que nos rodeia, que também nos

poderá ajudar a modelar o nosso carácter; apenas a nossa vontade, os nossos pensamentos e ideias é que serão os nossos decisores comportamentais – aquilo que pensamos é realmente o que nos define!- e numa análise mais estrita, as nossas crenças e correspondentes atitudes serão os nossos juízes morais. E mesmo

que consideremos que dominemos a razão, se ela não se enquadrar no que é definido pelo bom-senso e pelo que é o senso

comum do local onde nos encontremos – pois é possível a variação do que é assumido como a lei comum mediante o lugar onde nos encontremos…- nada disso nos valhará. Mas mesmo assim, se

considerarmos que deteremos a razão sobre algo, se nos quisermos manter íntegros nessa tomada de posição (e se

realmente a mesma seja a verdadeira e correta), teremos sempre de ser responsáveis e humildes por agirmos dessa forma

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independentemente das consequências que de aí poderão advir,sejam elas positivas ou em alguns casos mesmo, infelizmente,

nefastas para quem age desta maneira.

Porém, também a mudança de opinião pode acontecer, seja paranão por em perigo a nossa integridade física ou de outrém (nos

casos em que tal pode suceder…), e nesses casos a mudança éapenas externa, mantendo-se a nossa opinião internamente, o queserá refletido no nosso estado de alma(nessa altura poderemos ter

alguns comportamentos que poderão ser considerados comohipócritas e/ou cínicos, resultantes das atitudes que tomemos); ou a

alteração da nossa opinião também poder suceder por de factoconstatármos que realmente nos encontramos errados nas nossasassumpções e/ou de que não era de todo a mais correta a nossa

opinião. E assumir a mudança nestes casos, é assumir umaverticalidade de carácter que nos permitirá nivelar pelos demais.

E neste caso, considero que a nossa alma quase se poderia mutar,uma vez que a nossa opinião e forma de ver algo evoluiu. O que

poderá parecer irreal, mas se o pensamento mudou e emconsonância com ele passarmos a agir de outra forma, porque nãoconsiderar que existiu também uma mudança na nossa alma, uma

vez que houve uma alteração no nosso íntimo, do nosso ser?

Aliás, acredito que quem não for capaz de mudar também não meparece que tenha uma grande capacidade para aprender. Só os

ignorantes não são capazes de mudar…

Será que a alma permanecerá inabalável na sua “estrutura” e nãoser passível de mudança, e o restante ser possível de ser

alterado?

Pois, creio que tal assim pode acontecer. A nossa alma é a nossaessência .

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Logo, mesmo que aconteçam várias transformações, e mesmosabendo que a própria matéria de que somos feitos se pode

transformar(o nosso corpo sofre mutações, evoluções ao longo danossa vida) sem que a alma sofra alterações com essas mudanças,

acredito que a mesma registará algumas “marcas” que serãooriginadas pela alteração da nossa consciência, fruto da sucessãode determinados acontecimentos que podem alterar a nossa forma

de pensar e de estar, ao longo do nosso crescimento e tempo devida. Por isso tão facilmente se fala em “estados de alma”. Acreditoque esses estados apesar de passageiros em alguns casos, fiquem

registados no nosso ADN e que assim dessa forma, fiquem“registados” na nossa alma e que esses mesmos estados,

determinem o nosso comportamento. Até o conceito de Alma, é ode algo que nos anima, de algo que nos define, de algo que nos

gere… Conceito que subscrevo na íntegra.

Ou seja, acredito que por muito que tudo mude - porque para mimtudo é possível de mudar, de ser alterado, de evoluir, de ser

passível de alcançar novos horizontes ou adquirir novos objetivos -a alma permanecerá com a sua “integridade” inalterada. Pois é a

nossa alma que nos caracteriza como somos e que nos difere dosrestantes seres humanos. É a alma que nos cria a nossa identidade

pessoal e confere aquilo que se pode designar por humanismo.Sem ela seríamos apenas mais uns, na grande cadeia animal…

Todavia e abordando também um pouco sobre a forma de como a nossa Alma interage no mundo através do nossa matéria/corpo e

ideário/pensamento/mente, deparamos que quase tudo o que existe, depende ou se centra exclusivamente no Homem e/ou na

sua dependência. A tecnologia foi criada pelo Homem para o servir, as estradas existem para que a humanidade possa estar ligada

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entre si, as habitações existem para que nos possamos abrigar, ascomunicações existem para que seja possível estarmos todosconetados, etc etc… Ou seja, tudo advém do Homem, para o

Homem…Da sua matéria , da sua mente para o seu espírito ,para a sua Alma …

E após esta abordagem que fiz acima, poderá existir ou seconfirmar algum interesse da Maçonaria pela “alma” dos seus

obreiros?

Naturalmente que sim! Não num sentido religioso, mas antes, numsentido metafísico.

A Maçonaria requer a mudança aos seus membros. A suamudança pessoal, a sua evolução de consciência (do pensamento),

a sua progressãoenquanto pessoa. De aí advir a vontade deaprimoramento/aperfeiçoamento moral e espiritual dos maçons.

Tanto que é usual se afirmar “que à Maçonaria não interessa genteperfeita. Antes sim, gente que se quer aperfeiçoar”. Logo, genteque deseja evoluir e mudar de estado de alma. Mudar algo que à

partida se poderia levar a supor como sendo imutável.

Interessa à Maçonaria ter nos seus quadros, gente que assumiu os seus defeitos e que os deseja “anular”, e que acima de tudo, queira

potenciar as suas qualidades, para si e em prol dos outros que o rodeiam. Por isso, a Maçonaria lhes pede, ou mais claramente

exige, que sejam honestos, íntegros e de carácter pobro. E nesse caso, será através da sua alma, que lhes poderá ser proporcionado tal comportamento; gerindo esta assim, os seus pensamentos, as suas atitudes e a sua conduta no mundo profano. Desta forma, a alma humana tem um interesse particular para a Maçonaria, não

por aquilo que ela será para os seus membros, mas por aquilo que ela poderá representar para esta Augusta Ordem, como sendo

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modeladora de carácteres.

Poderemos então constatar que existe algo maior que a almahumana?!

Quanto a mim, não! Já o mano Victor Hugo tinha a mesmaopinião…

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A importância que um Padrinho tem na formação de ummaçom…

November 24, 2014

(imagem proveniente de Google Images)

O texto que hoje publico, vai abordar algo que no meuentendimento será bastante relevante para a Maçonaria e que é o

papel que um padrinho deverá ter na formação do seu afilhadomaçom.

Um padrinho deve ter a sensibilidade para poder analisar quemdeve ou não fazer parte da Augusta Ordem Maçónica. E padrinho

pode ser qualquer maçom exaltado à condição de Mestre. O Mestreé o maçom de pleno direito. Logo tem a responsabilidade de fazerrespeitar os princípios da Ordem, auxiliar na formação dos seusIrmãos, detenham eles o grau que tiverem, e de apesar de nãofazer proselitismo, deve procurar no mundo profano quem tenha

qualidades para ingressar na Maçonaria e que com essa admissãopossa desenvolver um trabalho correto tanto pela Ordem Maçónica

bem como pela sociedade civil na sua generalidade.

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O padrinho não tem de ser um guru nem ser um visionário (pois eleserá também um eterno aprendiz), o papel que ele deverá

representar para o seu afilhado é o de um guia, de uma pessoaque o auxílie na sua integração na Loja bem como o de sendo

alguém que o ajude na sua formação maçónica, principalmente nosprimeiros tempos, em complemento com a formação que é

efetuada na loja, auxiliando também o Segundo Vigilante (cargooficial desempenhado pelo terceiro elemento da hierárquia de umaloja maçónica) no cumprimento das suas funções, nomeadamente

como formador dos Aprendizes Maçons.

Compete ao padrinho após identificar no mundo profano alguémcom as capacidades intelectuais e morais que são necessárias

para alguém ser reconhecido maçom, abordar o mesmo da formacomo achar que será melhor recebida pelo seu interlocutor. Na

maioria das situações, a abordagem é feita pelo reverso, alguémque é profano e que se identifica com a Maçonaria intercede juntode um maçom para que lhe seja concedida a entrada na Ordem.Independente da maneira de como é feita a proposição, cabe ao

maçom que irá ser o padrinho efetuar algumas diligências, ou seja,conhecer os gostos e preferências do seu futuro afilhado bem como

dos hábitos e rotinas que ele possa ter (se não os conheceranteriormente), isto é, tudo aquilo que é habitual num ser humano.

Conhece-lo!

E numa fase posterior, se concluir que o profano detém as qualidades necessárias para entrar na Maçonaria, deve abordar

alguns temas de âmbito maçónico, retirando algumas das dúvidas que possam persisitir na mente do seu futuro apadrinhado sobre o que a Ordem Maçónica é e qual o seu papel no mundo. Mas mais

que isso, na minha opinião, o futuro padrinho deve fazer-se

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acompanhar pelo profano em eventos maçónicos de cariz aberto(eventos brancos) onde este poderá ter um contato mais alargado

com o que é a Ordem, ou seja, frequentar tertúlias e palestras ondea Maçonaria seja o tema principal a ser abordado.

Neste caso, admito que começará aqui, para mim, a formaçãomaçónica do futuro iniciado. Pois se o mesmo afinal decidir que não

se identifica com o que encontra, observa e escuta, então oprocesso de candidatura não terá início e o profano aproveitará

apenas para aumentar a sua cultura geral sobre o que àMaçonaria concerne e ter uma opinião mais concreta sobre esta

Augusta Ordem. No entanto, e caso o profano se identifiqueclaramente com o que lhe é mostrado, deverá então ser iniciado o

processo de candidatura à admissão numa loja maçónica. E depreferência que seja na loja que é integrada pelo seu padrinho. Isso

é de extrema importância. E porquê?! Porque durante o desenrolar do processo de candidatura, os

membros da loja confiarão no zelo que o padrinho se propõe acumprir ao apadrinhar a candidatura em avaliação porque o

conhecem, e também estes por sua vez, respeitarão quem vier aser escolhido para ser acolhido pela loja.

E depois, porque o padrinho deverá acompanhar o seu afilhado naassistência das sessões da loja a que estes pertencem, para queeste não se sinta desapoiado e nem desintegrado num grupo de

gente que à partida não o conhece bem nem o qual deveráconhecer devidamente.

Acontece também o contrário, por vezes quem chega a uma lojamaçónica já é popular no mundo profano ou puderá ter relações

profanas com alguns membros da loja e assim a sua integração émais facilmente consumada.

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Mas e apesar de todo o fraternalismo que existe na Maçonaria em geral, os “primeiros tempos de vida” de um maçom podem-lhe parecer estranhos porque terá de ser relacionar inclusivé com

gente que talvez, no mundo profano, preferiria evitar. É verdade, tal pode acontecer e ainda bem que tal assim acontece. Desta forma,

é possível um entendimento que de outra maneira não seria possível acontecer. Porque os irmãos são “obrigados” a

confraternizar, logo, encontrar "pontos de comunhão” e de “convergência”. Também, pelo facto de se terem de relacionar, isso

obrigará a que as pessoas se conheçam melhor, e com isso, desfazer alguns preconceitos que poderiam ter anteriormente e que se assumirão posteriormente, como errados e descabidos. Outros quiçá, manterão a mesma opinião que anteriormente. Tal poderá acontecer, somos humanos e em relação a isso pouco se pode fazer… A não ser, tolerar e respeitar o próximo tal como outra

pessoa qualquer o deve merecer. - Os maçons são pessoas como as outras, não são perfeitos; a

forma de como combatem as suas paixões e evitam os seus vícios é que os difere dos restantes membros da sociedade -.

E ter um padrinho que os guie corretamente nessas situações, que

lhes dê a mão para os apoiar quando necessitarem disso e que acima de tudo os critique quando o deve fazer para os manter num bom caminho, marcará de todo a diferença. Isso é “meio caminho andado” para um crescimento maçónico correto e que não seja

funesto para a Ordem no futuro. Os casos que normalmente vêm a público no mundo profano

devem-se a erros de casting ou a gente que foi mal formada ou que não se identificou depois com os princípios morais que encontrou

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no interior da Maçonaria. Por isto, é que não basta a um padrinho convidar ou apadrinhar alguém apenas por ser seu amigo, por ser

seu colega ou por essa pessoa ter alguma influência ou notoriedade no mundo profano. Esse “alguém” terá mesmo de se identificar com a Maçonaria e saber um pouco ao que vai, porque

caso contrário, criará uma perca de tempo ao próprio e à loja maçónica que o acolher com as consequências que sabemos que

poderão suceder e que algumas vezes ocorrem mesmo! E nos casos em que os maçons “derrapam” ou se desviam do seu

caminho na virtude, os padrinhos deveriam ser também responsabilizados, isto é, serem chamados à atenção por terem trazido para dentro da Instituição Maçónica quem agiu de forma errada e que levou a que a imagem desta Augusta Ordem fosse

questionada profanamente. Obviamente que não digo que fossem sancionados, mas que exista uma conversa para os alertar do

perigo que é de apadrinhar gente com este tipo de conduta para que no futuro sejam mais zelosos nos seus apadrinhamentos e que

também tivessem acompanhado a conduta do seu apadrinhado. Naturalmente que um padrinho não pode ser culpado, a não ser

que seja cúmplice, da atuação do seu afilhado, mas se puder prever que o mesmo possa se desviar e errar, deve alertar o mesmo dos riscos que este corre, seja de suspensão ou até

mesmo de expulsão da Ordem, com tudo o que isso acarretará moralmente para ambos. Porque mesmo em surdina, as “orelhas”

do padrinho sofrem sempre as consequências dos atos do seu afilhado. É habitual o ser humano criticar algo, todos somos

“treinadores de bancada”, logo criticar-se algo que não correu bem é a consequência lógica de tal. Por isso até mesmo quem entra na

Maçonaria deve refletir na sua conduta para que não ponha a

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imagem dos outros irmãos em questão.

Porém, e ainda no âmbito da instrução maçónica do seu afilhado, opadrinho deverá complementar a formação que será concedidapela loja ao seu apadrinhado; porque ao lhe demonstrar também

que a Maçonaria vive de símbolos, metáforas ealegorias, mas fundamentalmente, da prática de rituais próprios,também ele (padrinho) ao instruir o seu afilhado, poderá refletir e

por em prática os conhecimentos que já adquiriu até então - o queé sempre uma mais valia pessoal - e que lhe permitirá vivenciar oque também ele aprendeu durante a sua formação até atingir o

mestrado.- Conhecer e ensinar outrém é do melhor que o ser humano poderáfazer pelo seu semelhante. Tanto que acredito que o Conhecimento

somente é Sabedoria quando compartilhado-.

Mais tarde, quando o seu afilhado já se encontrar na condição de mestre, já não será tão essencial ter aquela “especial” atenção que considero como importante na caminhada de um maçom, porque este já atingiu uma parte importante da sua formação maçónica e concluiu o seu percurso até à mestria. Mas no entanto, nunca o deverá abandonar, pois apesar de este ser um irmão seu, será

sempre o seu afilhado, logo alguém que um dia reconheceu como tendo capacidades e qualidades maçónicas. E essa

responsabilidade nunca desaparecerá. E isto é algo que por vezes acontece e que eu considero como

sendo nefasto para a vida interna de uma Obediência. Não basta convidar alguém, se iniciar alguém, (mal) formar alguém e depois deixá-lo à mercê dos tempos e vontades… Virar as costas a um

irmão, mesmo que seja inconscientemente, nunca trará resultados frutuosos para ninguém e principalmente para a Ordem. É na nossa

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união que reside a nossa força, é com nosso apoio queconseguimos enfrentar o dia-a-dia. E se isto poderá parecer comodemasiado simplista e inocente, não nos devemos esquecer que é

no nosso espírito de corpo que se encontra a fonte da egrégora queé criada em loja e que é a impulsionadora da nossa fraternidade.

Assim, alguém que queira apadrinhar a candidatura de um profano,terá de assumir que adquire uma responsabilidade tal, que nuncaserá irrelevante e que nos seus “ombros” suportará o “peso” de

uma Ordem iniciática e de cariz fraternal como o é a Maçonaria. Eque terá como seus deveres principais: reconhecer, informar,transmitir/formar e acompanhar quem ele considerar como

sendo um válido (futuro) membro da Maçonaria.Não será uma tarefa fácil, esta de se apadrinhar alguém, mas esteé um compromisso que os maçons assumem para com a Ordem e

a bem da Ordem...

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Sugestão musical para a Coluna da Harmonia: "You’ve gota friend in me" de Randy Newman ...

December 01, 2014

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Hoje venho fazer uma sugestão musical para ser utilizada pelaColuna da Harmonia num momento de descontração em sessão deLoja. E uma vez que estes momentos também existem, penso queesta canção é apropriada para ser ouvida durante a sua ocorrência.E como de vez em quando encontramos a presença da Arte Real

onde menos esperamos, decidi partilhar convosco uma canção queapesar de ser bastante simples não o é na realidade, pois exprime

alguns dos melhores sentimentos que se pode sentir e partilharcom outrém. E falo-vos da Amizade e do sentimento fraterno que

sentimos por quem decidimos que faça parte da nossa “vidaativa”…

Assim, a sugestão musical que tenho o prazer de partilhar com osleitores deste blogue é uma canção que encontrei num filme de

animação para crianças.O que poderá causar alguma estranheza a quem lê este texto.

Uma sugestão musical “maçónica” e logo encontrada numaanimação infantil?!

Pois, não é habitual se encontrar a presença de princípios morais maçónicos em animações feitas para crianças (preferencialmente) apesar de existirem vários contos infantis e bandas desenhadas onde os mesmos se podem encontrar. Dou como exemplos as “fábulas de La Fontaine”, as estórias protagonizadas por “Corto

Maltese” ou o conto infantil “O Pequeno Príncipe” de Saint Exupery, entre outros… Mas numa produção Disney, o que é o caso nesta

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publicação, e uma vez que o fundador desta empresa, WalterDisney (05/12/1901-15/12/1966) foi maçom, a possibilidade de se

encontrarem princípios morais maçónicos nos seus filmes e contosinfantis nunca pode ser descartada.

A canção que hoje faço referência, integra a banda sonora originaldo filme de animação infantil "Toy Story" co-produzido pela Disney

e pela Pixar.

Aqui pode encontrar mais informação sobre este filme infantil. Etambém durante o visionamento do referido videoclip é possível

encontrar a sua letra original. Mas se preferir uma tradução ligeiradesta letra, pode-a encontrar aqui também, apesar de eu traduzir a

respetiva letra na análise que irei efetuar a esta música.

O título desta canção é “You’ve got a friend in me - Tú encontrasum amigo em mim -“ e foi produzida pelo compositor musical

Randy Newman e a sua letra é:

"You've got a friend in meYou've got a friend in me

When the road looks rough aheadAnd you're miles and miles from your nice and warm bed.

You just remember what your old pal saidBoy, you've got a friend in me

Yeah, you've got a friend in me

You've got a friend in meYou've got a friend in me

You got troubles, then I got 'em tooThere isn't anything I wouldn't do for youIf we stick together we can see it through

'Cause you've got a friend in meYou've got a friend in me

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Now some other folks mightBe a little bit smarter than I amBigger and stronger too. Maybe

But none of them will ever love youThe way I do

Just me and you, boy

And as the years go byOur friendship will never die

You're gonna see, it's our destinyYou've got a friend in meYou've got a friend in meYou've got a friend in me"

Assim numa primeira impressão criada pela leitura do título dacanção, pudemos reter no imediato é que esta canção trata deAmizad e, e por inerência, de Fraternidade ; dois dos princípiosmorais de excelência da Maçonaria. Mas tal como na sugestão

musical anterior onde pudémos encontrar também valores moraistais como o “Amor Fraternal ” e o “Dever de Auxílio ”, também nacanção “You’ve got a friend in me” os vamos encontrar apesar

de num contexto um pouco diferente.

Enquanto na sugestão musical anterior dava-se ênfase ao auxílioque deve existir entre irmãos, nesta canção a amizade é enfatizada

em relação aos restantes valores morais que encontramos. Eapesar de não se falar em fraternalismos e nem mesmo em

fraternidade de forma explícita, subliminarmente os mesmos estãobem implícitos na letra desta canção. E a frase “you’ve got afriend in me – encontras um amigo em mim” é a prova disso.

Quantas vezes existem e conhecemos casos de famílias desavindas onde os seus familiares nem se falam sequer? E nas

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quais, os seus membros se relacionam apenas com os seusamigos?

Quantas vezes nós preferimos o apoio, o abraço ou o carinho deum amigo em detrimento dos mesmos, efetuados por familiares

nossos?

Uma das grandes conquistas que provém da liberdade que nosoferecida pela vida é a liberdade de escolha. A liberdade de

escolher com quem queremos conviver e de nos intimamenterelacionarmos. A liberdade de decidir com quem queremos partilhara nossa vida e desejamos fazer o bem. Por certo a nossa família

de sangue não a podemos escolher, é algo que é natural. Masquanto às nossas amizades e famílias fraternais, a escolha sódependerá da nossa vontade e do desejo dos outros em nos

acolherem nas suas vidas.

E voltando à análise desta cançãonas frases seguintes, “When theroad looks rough ahead And you're miles and miles from yournice and warm bed. You just remember what your old pal saidBoy, you've got a friend in me” – E quando o caminho em frente

te parecer difícil e estiveres milhas e milhas longe da tua camaquente. Só tens de te lembrar do que o teu velho amigo disse,Rapaz tú tens um amigo em mim-. Isto bem o percebem, os

maçons. Que mesmo longe do seu lar, seja no ar, na terra ou nomar, terão sempre um amigo ao seu dispor, um irmão que os

poderão apoiar e auxiliar no que necessitem. Aliás um bom maçome membro da Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues

nº5 afirma e bem que “na Maçonaria, a amizade é prêt-à-porter”,isto é, a amizade encontra-se e faz-se em qualquer parte do

mundo.

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No entanto, também o auxílio mútuo que é devido entre irmãos eamigos se encontra bem patente em “You got troubles, then I got

'em too There isn't anything I wouldn't do for you If we sticktogether we can see it through 'Cause you've got a friend in

me” – Tú tens problemas, então eu também os tenho, não haveránada que eu não farei por ti e se nos mantivermos juntos nós

conseguiremos ultrapassar isso porque tens um amigo em mim -.Isto é na verdade, o tal "ombro amigo" de que por vezes tanto sefala no mundo profano. É alguém sentir que deve "estar lá" para

todas as ocasiões e não estar presente apenas nos bonsmomentos que a vida proporciona aos seus amigos e irmãos.

Geralmente é nos momentos adversos da nossa vida queencontramos ou descobrimos quem realmente são os nossos

amigos. O apoio que nos poderão dar nesses momentos menospositivos da nossa vida é crucial para que estes possam ser

ultrapassados ou esquecidos.

E, uma vez mais, a amizade é salientada nesta música novamenteem “Now some other folks might Be a little bit smarter than I

am Bigger and stronger too. Maybe But none of them will everlove you The way I do” - Agora outros rapazes poderão ser umpouco mais espertos que eu para além de serem maiores e mais

fortes. Talvez, mas nenhum deles gostará de ti da maneira como euo sinto -. Aqui encontra-se representada a pureza e

a intemporalidade de uma grande amizade. A qual deverápermanecer inabalada seja pelo tempo ou pela distância que por

vezes e por vários motivos pode separar os amigos e irmãos.

Nomeadamente encontramos o eco destas palavras e deste sentimento na frase “And as the years go by Our friendship will never die You're gonna see, it's our destiny ”- E à medida que o

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tempo passa, a nossa amizade não perecerá, e tú o assim irásobservar, é o nosso destino -. E é mesmo esse o nosso destino;

pois tal como encontramos no mote maçónico latino “Virtus junxitmors non separabit – Aquilo que a Virtude juntou, a morte não o

separará…” também assim tal ficou demonstrado nesta últimaestrofe da canção. Seja neste oriente ou no Grande Oriente Eterno,

juntos uma vez, juntos para sempre…

Mais uma vez, de algo que inicialmente nada de maçónico poderiaconter, mostrou-se que afinal existe muito para refletir e

principalmente, para sentir…

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A Maçonaria na Ilha da Madeira

December 02, 2014

No âmbito das publicações de autores convidados, aqui fica umtexto sobre a Maçonaria na Ilha da Madeira.

A Maçonaria na Madeira

Em 1727, foi constituida a primeira Loja Maçónica em Lisboacomposta por comerciantes ingleses e que seria apelidada pelo

Santo Ofício de “Hereges Mercadores”, em 1733 uma segunda Lojadenominada “Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia” com

uma predominância de obreiros católicos portugueses e irlandesese uma terceira fundada pelo suíço John Coustos em 1741. Todaselas sofrerão uma grande perseguição por parte da Inquisição no

ano de 1743, onde alguns destes Irmãos foram torturados esentenciados a duras penas.

Uma segunda fase acontece a partir dos anos sessenta dessemesmo século, como consequência de uma tolerância ideológicapor parte do Marquês de Pombal, que fora um homem iniciado noestrangeiro (Inglaterra ou Áustria), onde residiu algum tempo como

diplomata da coroa Portuguesa.

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É precisamente durante esta segunda fase acima referida que seerguem as colunas da primeira Loja Maçónica na Ilha da Madeira

em 1768.

Esta Loja que foi fundada por elementos da nobreza Madeirensetais como:

Aires de Ornelas Frazão, Leal de Herédia, Joaquim AntónioPedroso e Francisco Alincourt.

Alguns destes Irmãos teriam sido mesmo iniciados em Londres,destacando-se o caso de Aires de Ornelas Frazão, 1º Venerável

Mestre da Loja e que casou com Mary Phelps, uma sra de famíliasinglesas que também residiu na Ilha.

No ano de 1770, consta de um ofício dirigido ao Marquês dePombal a 3 de Dezembro desse ano pelo governador José Antóniode Sá Pereira de que os Irmãos acima referidos teriam sido presospor este nas Cáceres do Santo Ofício e enviados para Lisboa, onde

foram libertados pelo Marquês de Pombal.

No ano de 1780, haviam poucos Obreiros devido à continuadaperseguição movida pelo governador Sá Pereira, mas com a

chegada à Ilha da Madeira de Barthelemy Andrieu du Boulaiy, anossa Ordem retoma o vigor inicial devido ao seu empenho e ao

recrutamento de novos elementos.

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Em 1790, acontece uma cisão na Loja onde Ornelas Frazãoenvereda pelo reconhecimento britânico e uma Loja denominada de

“S.Luís” que segue o reconhecimento francófono.

Nessa altura na Ilha da Madeira estavam a trabalhar cerca de trêsLojas e o numero de Maçons ultrapassava os 100, destacando-seos nomes do Padre Alexandre José Correia que tinha um diploma

maçónico inglês, Miguel Carvalho que mais tarde iria para osBarbados (Antilhas Inglesas) e de Tomás de Ornelas Frazão, filhode Aires e que ergueu colunas no ano de 90 na cidade da Horta,

Ilha do Faial, Açores.

Recuando cerca de um ano, mais precisamente 1789, chega á Ilhada Madeira, por nomeação do governo de D.Maria I e com a

missão de estudar a flora Madeirense e seus efeitos terapêuticos,Jean Jacques de Orquiny, que era grande comendador do Grande

Oriente de França e que não só levantou colunas de uma Lojacomo também formou uma Academia de Ciências e Artes.

Em 1792 foi movida uma segunda grande perseguição contra ospedreiros livres, liderada pelo Bispo D. José da Costa Torres e pelogovernador à época de nome Diogo Forjaz Coutinho, que à imagem

do seu antecessor Sá Pereira, prendeu todos os Maçons nasCáceres do Santo Ofício, e através de um edital incentivou toda a

população a denunciar perante a própria Inquisição (cito):

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TODO AQUELE QUE SOUBESSEM PERTENCER À MALDITASEITA, QUE TINHA PACTO COM SATANÁS E ERA

EXCOMUNGADA.

Como é óbvio, esta manobra ditatorial e absolutista contra homenslivres, de bons costumes e anti-dogmáticos, iria instalar o pâniconas suas famílias, levando a que uma grande parte dos Irmãos

“fugissem” da Ilha da Madeira para sítios onde a sua condição nãofosse um constrangimento.

Os destinos principais foram o Brasil e os Estados Unidos daAmérica onde foram muito bem recebidos.

A Maçonaria voltou a reorganizar-se enquanto a Madeira esteveocupada por tropas britânicas entre 1801 a 1802 e 1807 a 1814,tendo à época levantado colunas uma Loja de nome Unidos, da

qual nasceram outras duas.

É precisamente nesta terceira fase que a nossa Ordem na Madeiracomeça a deixar uma postura filosófica e cultural para ter uma mais

valia política e social.

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Com o liberalismo implementado no país, o cenário com certezaera favorável para que estes princípios começassem a implodir.

No entanto, a alçada do governo absolutista de D. Miguel começoucom as suas intervenções inquisitórias no ano de 1823,

dispersando novamente os Maçons.

Com a devida persistência já denotada, no ano de 1825 formou-seuma sociedade que se denominava de “Os Jardineiros”, organizada

por estudantes universitários e bacharéis.

A pressão exercida por parte daqueles que o seu modus operandisé o controlo social pela força, pelo dogmatismo e pelo não

desenvolvimento intelectual da maioria, os Maçons à época eramobrigados a um sigilo absoluto.

Sendo assim, reuniam-se nas quintas e propriedades dos seusmembros para que a descrição fosse cumprida.

Entre outras, é de referir a quinta do Til, a quinta da Carne Azeda, aquinta de St. Filipa, uma das quintas no Monte e a de um inglês de

nome Gran que também era pedreiro-livre.

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A Maçonaria volta a ressurgir robusta em 1826, tendo comopersonagem principal João do Carvalhal.

No entanto e novamente, a alçada do governo de D. Miguel voltaem 1828 onde pronuncia duzentas e dezasseis pessoas, entre os

quais cerca de cem Maçons.

Esta perseguição provocou um novo surto de emigração, e os quenão partiram, sofreram durante cinco anos sanguinária pressão,

tendo muitos morrido pelas suas crenças e convicções.

A 5 de Junho de 1834, as instituições liberais foram restabelecidas,onde os poucos Maçons ali existentes puderam recomeçar os seus

trabalhos.

Entre 1847 e 1872 a atividade Maçónica na Ilha da Madeira tevemais uma quebra acentuada, mas a 11 de Março do ano de setenta

e dois e pela mão do Tenente-Coronel José Paulo Vieira, erguecolunas a Loja Liberdade, com uma postura apolítica e muito mais

filosófica.

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Nos anos posteriores, constituíram-se outras três Lojas, que sefundiram pouco depois de 1880.

A implementação da República Portuguesa no princípio do sec. XXproporcionou o constituir de outras Lojas formadas por membros

Portugueses e a Britanic Lodge por membros ingleses.

Esta fase da Maçonaria na Madeira terminou, bem como em todo oPortugal, com a implementação do Estado Novo, onde a

“Inquisição” volta a ter um papel castrador, com a devida conivênciado estadista António Oliveira Salazar a partir de 1932.

Depois do maior interregno desde a formação da primeira Loja em1768, a Maçonaria na Madeira volta a acordar cerca de 75 anosdepois, mais precisamente no dia 2 de Maio do ano simples de

2009.

O objetivo atual da Maçonaria Regular na Madeira é claro:

1- Continuar o legado dos Irmãos que já partiram para o OrienteEterno.

2- Fundar e desenvolver instituições que apoiem odesenvolvimento social e filosófico através da ciência e da cultura

3- Praticar a filantropia.

4- Colaborar no estreitamento dos laços de amizade naMaçonaria Lusófona.

Conclusões:

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Este trabalho é baseado em vários relatos históricos e quedescrevem as nossas raízes na Ilha da Madeira, as perseguições eas dificuldades impostas por quem sempre quis privar-nos de um

princípio anti-dogmático e fundamental para a evolução sociológicaque é o livre pensamento.

A quem nos provocou e a quem nos continua a provocar, a elesdedico-lhes e a vós recito meus Irmãos uma frase do ilustre poeta

Fernando Pessoa, e que relata o seguinte:

EXISTE NO SILÊNCIO TÃO PROFUNDA SABEDORIA QUE ÀSVEZES ELE SE TRANSFORMA NA MAIS PERFEITA RESPOSTA.

Em bom rigor, esta é uma postura de homens livres e de bonscostumes que, por e simplesmente sonham como outros tantos

sonharam, como Aires de Ornelas Frazão e com grande coragem,partilhamos este brilhante legado que nos deixaram e que nos

constitui honrosamente Irmãos da Lusofonia.

Que estes factos sejam exemplo para que a Maçonaria deexpressão Lusófona esteja cada vez mais unida e mais forte, e

para que estas palavras se completem, todos juntos, devemos nosempenhar profundamente na construção de uma sociedade maisjusta, mais iluminada, em suma, a caminho de uma 4ª dimensão

ortogonal.

Octávio Pimenta Sousa

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(M.■ .M.■ . da R.■ .L.■ .João Gonçalves Zarco nº 71, a Oriente doFunchal)

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Juramento e compromisso maçónicos...

December 09, 2014

(imagem proveniente de GoogleImages)

Quando se segue uma Via Espiritual ou se é admitido numa Ordemde tipo esotérico-iniciática tal como a Maçonaria se define, é

habitual o novo membro efetuar um juramento no momento da suaadmissão ou durante a execução de uma cerimónia de cariz

iniciático, no qual se assume um determinado compromisso. Esomente após a realização desse juramento é que o neófito é

recebido e integrado no seio da respetiva Ordem.

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No caso que irei abordar e que será sobre a Maçonaria, é naturalquando se fala em compromisso maçónico também se abordarsimbióticamente o juramento maçónico . Tanto um como o outro

são indissociáveis, porque um obriga ao outro e o mesmo,reciprocamente.

Durante o desenrolar de uma Iniciação Maçónica, no seu “pontoalto”, o neófito concorda em submeter-se a um juramento onde

assume como compromisso de honra, aceitar e respeitar asRegras, Usos e Costumes da Maçonaria bem como as regras e leis

do país onde se encontra sediada a Obediência Maçónica e arespetiva Loja da qual irá fazer parte. Nomeadamente e de entre os

vários princípios maçónicos que se aceitam cumprir, os maisconhecidos pelo mundo profano são a Fraternidade entre todos osIrmãos, a prossecução do espírito da Liberdade na Sociedade Civil

e o sentimento de Igualdade entre todos.

Assim, assumir-se um compromisso com a Ordem Maçónica éassumir-se um compromisso pela Ordem e a bem da Ordem. Isto é

que é o tão propalado estar à Ordem.

E estar-seé mais do que o ser-se! E digo isto porque qualquer umpode “o ser” , mas “estar” apenas se encontra ao alcance de

poucos…

Estar implica sacrifício, comprometimento, trabalho, prática eestudo, e isto de forma incansável e perene.

Por isto é que assumir um compromisso deste género e com a relevância que este tem, nunca deverá ser feito de forma leviana; o

mesmo se passa com os outros compromissos que se assumem durante a nossa vida profana e que também não devem ser

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assumidos se não estivermos capacitados para os cumprir.

-Há que se ter a noção daquilo a que nos propomos a fazer-.

Por isso é que o compromisso maçónico é feito com a nossaPalavra e sobre a nossa Honra. Desvirtuar estas duas qualidades,

é desvirtuar a própria Maçonaria.

Da mesma forma que, se não respeitarmos a nossa palavra e nãomantivermos a nossa dignidade na sociedade civil, também não

somos dignos de nela estarmos integrados e sofreremos asconsequências ou punições que forem legitimadas pelas leis do

país.

De certa maneira, a Maçonaria atua e se assemelha com asociedade profana, com as suas leis e os seus costumes,

competindo aos maçons respeitar a sua aplicação e observar o seucumprimento. É mais que um dever ou obrigação tal. É a

assumpção que assim o deve ser e nada mais!

Porque assim tem funcionado há quase três séculos e o deverácontinuar a ser noutros tantos…

Aliás, ainda na Maçonaria contemporânea se encontra algo quedificilmente se encontra na profanidade atualmente, ou seja, o valorda palavra sobre a escrita. O que não deixa de ser curioso dados

os tempos que correm.

Nesta Augusta Ordem, ainda hoje aquilo que um maçom afirma temum valor tal, que se poderá assumir que não necessitará de serescrito para que o seja considerado; basta se dizer, que assim o

será.

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O tal “contrato verbal” na Maçonaria ainda hoje tem lugar. Esomente pessoas de bons costumes o usam fazer, pois a sua

honra e a sua conduta serão sempre os seus melhores avalistas.

Não obstante, o compromisso maçónico ao ser albergado por umjuramento, obriga a que quem se submete a ele, o faça de forma

permanente. Não se jura somente aquilo que gostamos ou somenteaquilo que nos dá jeito cumprir.

Quando entramos para a Maçonaria sabemos que, tal como noutraassociação ou organização qualquer, existem regras e deverespara cumprir; pelo que o cooptado compromete-se em respeitar

integralmente todas as regras e deveres que existem na suaObediência. E quem age assim, fá-lo porque decidiu livremente que

o quer fazer e não porque alguém a tal o obriga.

E uma vez que a adesão à Maçonaria se faz por vontade própria,aborrece-me bastante (para não ser mais acutilante ainda…)

assistir ou ter conhecimento de casos em que este juramento foiatraiçoado e em que os compromissos assumidos perante todos,

foram deliberadamente e conscientemente esquecidos.

Será que quem age desta forma, poderá ser reconhecido como umverdadeiro maçom?

Ou será apenas gente que simplesmente enverga um avental e umpar de luvas brancas nas sessões da sua Loja?

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Em alguns casos destes, creio que foram pessoas que entraram naMaçonaria, mas que por sua vez, a Maçonaria certamente não

entrou neles…

Algumas vezes, infelizmente, isto pode acontecer porque quemvem para a Maçonaria vem “desavisado”, isto é, pouco conhece ou

percebe o que é a Maçonaria e o que ela representa, “vem aoescuro” por assim dizer, e caberá a quem apadrinha uma

candidatura maçónica, informar ou retirar algumas dúvidas que seponham ao seu futuro afilhado e consequente irmão. Em última

instância, devem os responsáveis pelas inquirições que decorremno âmbito de um processo de candidatura maçónica, no momento

das entrevistas aos candidatos, terem a sensibilidade para seaperceberem do desconhecimento do entrevistado sobre os

princípios e causas que movem os maçons e sobre a Ordem daqual este manifesta a vontade de vir a fazer parte, e nesse caso,

serem os próprios inquiridores nessas alturas em concreto, aefetuar o trabalho que deveria ter sido feito anteriormente peloproponente da referida candidatura, no que toca a esclarecer o

profano e a fornecer-lhe as informações que lhe sejam necessáriaspara que esta (possível) adesão possa decorrer sem sobressaltos,nem que esta admissão venha a causar problemas (previsíveis!) nofuturo, seja para a respetiva Loja ou até mesmo para a Obediência

que porventura o vier a acolher.

Todavia, normalmente no momento do juramento maçónico, o neófito fá-lo sem saber/compreender o que estará a jurar e para o

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que estará a jurar, pois o véu que o cobre na sua Iniciação é de taldensidade que muitas vezes somente passado algum tempo é

possível se perceber o juramento que se fez e o compromisso quese tomou, e que por vezes pode ser diferente daquilo que são ascrenças pessoais e respetiva forma de estar de cada um ou até

mesmo porque se acreditava que se “vinha para uma coisa e afinalse encontrou outra”…

E o trabalho que um padrinho deve desenvolver com o seu afilhadodurante a formação deste tanto como a responsabilidade que

assumiu perante o afilhado e a Ordem ao subscrever a candidaturadele, serão fulcrais neste tipo de situação concreta. O padrinho

(pelo dever moral) e a Loja em si (porque é um dever da lojaacompanhar e tentar integrar corretamente os Irmãos nos valoresmaçónicos) devem tentar perceber o motivo pelo qual alguém se

“distancia” da Maçonaria. E apenas ulteriormente, se for caso disso,devem aconselhar a um possível adormecimento desse irmão pornão ser do seu intento continuar a pertencer a algo com o qual não

se identifique mais.

Pelo que desta forma se prevenirão certos casos e eventuais“lavagens de roupa suja” ou fugas de informação que poderão

surgir, as quais na sua maioria nem sequer sãoinformações plausíveis nem verídicas sequer, pelo que apenasposso especular que estas ocorrências se devem a paixões e

vícios mal combatidos e nem sequer evitados… E como secostuma dizer, “o mal corta-se pela raiz”, pelo que “as desculpas

devem evitar-se”…

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E quem entra na Maçonaria deve ter a noção que as suas atitudesjá não lhe dirão respeito apenas a si, mas a todos os integrantes

desta Augusta Ordem, a conduta de um maçom estará sempre sobum fino crivo pela sociedade e sempre debaixo do escrutínio de

todos, seja de fora ou internamente. - Porque um, pode sempre e aqualquer momento, “por em xeque” os demais -. E ter esta noção eassumir esta responsabilidade é algo que deve ser intrínseco desde

os primeiros momentos de vida maçónicos.

Já não é o Nuno, o X ou o Y que fazem isto ou aquilo, serão osmaçons Nuno, X ou Y que o fazem… Logo é a Maçonaria na suageneralidade que será atentada com a má conduta que os seus

membros possam ter, para além da Ordem poder vir a ser acusadade cumplicidade pelos atos efetuados pelos seus membros.

Assumir que a nossa forma de estar e agir condiciona e se refletena Maçonaria é um dos maiores compromissos que os maçons

poderão tomar. Tanto que o dever de honrar a nossa Obediência, anossa Loja e a Maçonaria em geral, deve permanentemente se

encontrar na mente de todos os maçons.

Um juramento implica obrigações, e jurar ser-se maçom, masfundamentalmente ser-se reconhecido maçom pelos nossos iguais,

implica que sejamos maçons a “tempo inteiro” e não apenas àssegundas-feiras ou quintas-feiras de manhã ou à noite, ou quando

nos dará mais jeito, é sempre!

Sermos maçons, não é quando visitamos a loja e usamos osrespetivos paramentos. Não basta envergarmos um avental, calçarumas luvas brancas e fazer uns “gestos estranhos”, é muito mais

que isso! É cumprir preceitos, rituais e trabalhar em prol da Ordem.

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E se não estivermos prontos para tal, de nada valerão osjuramentos que fizermos, porque nunca nos iremos comprometer

com nada na realidade e em último caso, nem sequer reconhecidos como tal seremos.

E a palavra persisitirá perdida…

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Solidariedade maçónica...

December 15, 2014

(imagem proveniente de Google Images)

Nos tempos que correm, quando o Homem se encontra maispreocupado com seu “umbigo”, existir alguém com a capacidade ea vontade em auxiliar quem necessita é uma das melhores atitudes

que poderemos ter para com o nosso semelhante. E quando seauxilia alguém sem se esperar qualquer tipo de retorno por essefacto, atrevo-me até a dizer que é um ato de elevada nobreza por

quem assim age. Ajudar-se apenas porque se quer ajudar não estáao nível de qualquer um.

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Muitas vezes as nossas ocupações diárias, sejam profissionais oufamiliares não nos permitem ter a disponibilidade temporal para ofazermos, outras vezes talvez, serão razões de ordem financeiraque impossibilitam quem quer ajudar o fazer. Mas ter a vontade

para tal, será sempre o “gatilho” que poderá despoletar o ato em si.Pode não ser hoje, pode não ser já amanhã, mas um dia o será…

E se para alguns terem a vontade de ajudar passa por terempassado por situações na sua vida que se assemelham à vida dequem querem auxiliar e assim mais facilmente poderem identificar

quem podem ajudar e a forma de como o poderão fazer, outrosserá porque sentem que para preencherem a sua vida de formaplena, necessitam de praticar a caridade e ser beneficente comquem precisa. Cada um com a sua razão, cada um com toda a

razão.

Para ajudar, não é necessário sequer existir um motivo, basta seter vontade e capacidade para tal, que nem sequer será necessário

se raciocinar muito para que se passe à ação.

E a Maçonaria, pela sua história e pela sua implementação no mundo, sempre teve a sua quota-parteno que toca a ser solidária

com o seu próximo. Seja através da fundação de escolas, da doação de bolsas de estudo ou até mesmo da criação de hospitais

para usufruto da população e principalmente das crianças em si (nos EUA é bastante comum tal); o facto é que a Maçonaria auxilia

a população dos países onde se encontra implementada. E se algumas vezes tal auxílio não é mais visível na sociedade, é devido

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aos estigmas que existem ainda nos tempos em que vivemos, masfundamentalmente, porque quem quer ajudar não necessita de o

publicitar. É usual até se dizer maçónicamente que a “mãoesquerda não saiba o que deu a mão direita”.

E isso encontra-se patente em sessão de Loja, no momento dacirculação do “Tronco da Viúva”, em que a mão que depõe o óbolo

se encontra fechada e sem mostrar o que se encontra no seuinterior. Ninguém tem nada a haver com o que se oferece nem

quem o faz. Nada ou ninguém questionarão porque se o fez ou se ofez sequer.Se o fez, foi porque o poderia fazer e ficará apenas na

consciência dessa pessoa o montante depositado na bolsareferente ao respetivo “Tronco da Viúva”. Se não pode participarnesse contributo, no problem, algum motivo preponderante tevepara que assim o fizesse. Não cabe a um maçom fazer juízos de

valor sobre a atitude do seu Irmão.

Algumas das aplicações do referido “tronco” são o apoio ainstituições de caridade e beneficência que são patrocinadas pela

Maçonaria e até mesmo algumas associações de cariz religiosoque agem na sociedade em prol de quem necessita ou casossingulares que surjam e que se considerem válidos os motivospelos quais devem ser auxiliados. -Quando se quer ajudar, os

“metais” não têm “cor, cheiro, nome ou dono”, o que é preciso éque sejam bem aplicados e recebidos por quem deles necessitam-.

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Numa Loja maçónica a quem compete gerir este “fundo monetário”é ao Irmão Mestre Hospitaleiro. Mas existe a possibilidade, e é

comum ser habitual, se criar uma Comissão própria para ser melhorgerido ou até mais transparente este tipo de gestão (consoante a

opinião dos respetivos membros da Loja). E geralmente osmembros dessa “comissão de serviço” são o respetivo Venerávelda Loja, o Irmão Tesoureiro e o Irmão Hospitaleiro. Dessa forma,

estarão representados nessa comissão, quem preside a Loja,quem administra as finanças da Loja e quem tem a funçãode se

ocupar com a aplicação da solidariedade da Loja.

E por falar em solidariedade, hoje termina uma campanha apoiadapela Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5, a Campanha

"Ver Mais" que foi publicitada AQUI e AQUI .

A quem pode dar o seu contributo nesta operação, fica o nossoMUITO OBRIGADO !

A quem não pode ou não teve a possibilidade de participar nestacampanha, certamente no futuro surgirão novas oportunidades para

o fazer. Haja vontade e disponibilidade para o fazer…

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Explicação, renovação e soltício

December 22, 2014

Tenho andado afastado deste espaço. Por duas razões: a primeira, pessoal, é que estou presentemente empenhado numa tarefa

profissional que me consome muito do meu tempo, inclusive o que eu dedicava aos escritos aqui publicados; a segunda tem a ver com

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a passagem de testemunho na manutenção corrente do bloguepara o Nuno Raimundo. Este blogue, como tudo na vida, deve

evoluir para não estagnar, para não ser mais do mesmo e, assim,paulatinamente, reduzir-se à irrelevância. Achei - achámos! - que

essa evolução deveria passar pela mudança de titularidade damanutenção corrente do blogue. Oito anos é muito tempo, muitosescritos aqui publiquei, de muitos temas tratei, tinha chegado ao

ponto de me começar a repetir. Havia que refrescar, que mudar deestilo e de abordagem de temas. Essa evidência determinou a

passagem de testemunho para o Nuno com a facilidade enaturalidade de uma simples frase: A partir de agora ficas tu

responsável pelo blogue!

Esta passagem de testemunho, porém, no meu ponto de vista,implicava que o antigo cedesse indubitavelmente a condução do

blogue, no estilo, na escolha dos temas, na definição dos tempos,ao novo responsável, sem sombras tutelares, sem intervenções,sem dúvidas. Implicava, assim - para mim, de forma muito clara

-que quem saía da boca de cena saísse mesmo de cena, para que,sem qualquer perturbação ficasse claro quem era o novo condutor.Impus-me, assim, um período de silêncio de três meses, período

mínimo que achei necessário para que ficasse claramenteconsolidada no espírito de quem segue este blogue a mudança na

condução do mesmo. As únicas exceções foram pontuais erelacionadas com a divulgação da campanha VER MAIS.

Não encarei,porém, a saída de cena como definitiva, mas apenas como necessidade temporária para marcar bem a passagem para o

estatuto de personagem secundária, suporte e auxiliar do novo e atual condutor do blogue. Por isso e porque o Nuno faz uma breve (e merecida) pausa de duas semanas na sua escrita, por ocasião

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deste período de festas, aproveitei para preencher a sua ausênciacom esta breve explicação. A exemplo do Ruah, do Paiva Setúbal e

de outros, pontualmente publicarei aqui (talvez mensalmente) eajudarei, quando necessário, a suprir ausências ou

impossibilidades do Nuno, o atual Mestre condutor do blogue.Assim sendo, escrevo hoje, escrevo para a semana e depois... um

dia qualquer apareço...

E porquê ter vindo agora explicar o que era já para todos evidente?Porque - é sabido! - nós, maçons, damos atenção e importância ao

simbolismo.

Ontem foi o solstício de inverno (no hemisfério norte). Que melhorocasião para marcar (colocar um marco) a renovação deste blogue,

para dar público testemunho da confiança que já em privadotransmitira ao Nuno na certeza que ele saberá fazer e fará melhor

do que os fundadores deste blogue fizeram e que dedicada ecompetentemente assegurará a tarefa de ser a sua espinha

dorsal até que - como eu tive a fortuna de poder fazer -, quandoentender chegada a hora de ser ele a passar o testemunho o passeao seu sucessor com a mesma naturalidade, facilidade e confiança

com que eu o pude fazer.

Assim, este texto marca também o solstício enquanto símbolo da renovação para que o ciclo natural prossiga. No caso, marca,

assinala, a renovação que foi feita, como necessária condição para a reinvenção e evolução deste blogue, com novas ideias, novas

energias, novas e diferentes buscas, outro estilo. Com a expectativa de que este novo (já atual) ciclo manterá e

incrementará a qualidade que procuramos ter neste espaço.

Entretanto - last but not the least! - para todos os meus votos de

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Boas Festas!

Rui Bandeira

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2015: Equilíbrio e tolerância

December 29, 2014

Estamos prestes a festejar o fim do Ano Velho e a assinalar o iníciode 2015, o Ano Novo das anualmente renovadas esperanças de

que cada novo princípio seja o início de um período melhor do queo que o anterior.

Para quem viveu os tempos duros dos últimos anos em Portugal,parece evidente que 2015 só pode ser melhor, quanto mais não

seja porque, como diz a canção popular, para pior já basta assim!

Mas se todos vamos tendo esperanças de que o fundo em que batemos já está para trás e o horizonte começa a desanuviar,

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também é tempo de equilíbrio. Saltar da depressão para a euforia émanobra perigosa, verdadeiro salto mortal das nossas expectativasde digna melhoria das nossas condições de vida. Não se salta dacama, vencida perturbadora gripe ou arrasadora pneumonia, para

se ir logo correr a maratona... Primeiro há que reganhar forças,paulatinamente retomar a forma e então, sim, pode-se partir à

conquista da nossa merecida coroa de louros, devida homenagemque, no meu entender, devia ser conferida a todos aqueles que

completam os 42.195 metros da mítica corrida, como símbolo dasuperação pessoal que - seja no tempo que for, em primeiro ou

último lugar - constitui essa dura prova.

Que 2015 seja por todos vivido com a Sabedoria do necessárioEquilíbrio, para que todos possam avançar em passos seguros e

não sofram dolorosas quedas!

Mas se o Equilíbrio, a meu ver, vai ser necessário, a Tolerância,essa, vai ser imprescindível.

Portugal vai viver todo um ano de luta eleitoral, de permanentecampanha, de prolongada época do peculiar desporto "venatório"da caça ao voto, que é propício a excessos e clubismos que são

tudo menos saudáveis.

O confronto de ideias é saudável. A exposição de diferentesperspetivas para os caminhos que coletivamente vamos percorrer é

indispensável. Mas o exercício da cidadania e a prática dademocracia que, felizmente mesmo em condições duras, todos nós

demonstrámos continuar a prezar, necessita, para ser plena everdadeiramente livre, de ser acompanhado da Tolerância.

Tolerância para ouvir a exposição de outros caminhos e de outras ideias com que não nos identificamos. Tolerância para

confrontarmos esses outros pontos de vista com as nossas

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escolhas, em ordem a melhorarmos estas com o contributo queporventura os pontos de vista diferentes lhe possam dar. Tolerância

para perspetivar que possa suceder não sermos nós quem temrazão. Tolerância para, eventualmente, admitir que, mesmo que

continuemos a achar que o nosso ponto de vista é o melhor, outrafoi a decisão coletivamente tomada. Tolerância para entender que,

mesmo que ter a maioria não seja sinónimo de ter razão, estaconfere a quem a alcançou o direito de procurar demonstrar os

méritos da sua escolha e do seu caminho. Tolerância parareconhecer aos que defendem ideias e posturas e caminhos que seapurar minoritários o direito de continuar a defender as suas ideias,as suas posturas, os seus caminhos, contraponto indispensável emdemocracia para manter a maioria no rumo certo e prevenir - tanto

quanto tal é possível - os excessos que o poder da maioria étentado a ter. No fundo, tolerância para reconhecer aos outros, a

todos os outros, os mesmos direitos, a mesma boa-fé, quereivindicamos para nós.

Se cada um de nós e todos nós coletivamente formos capazes deviver 2015 com Equilíbrio e com Tolerância, estou certo que não

será demasiado otimismo antever que - finalmente! -conseguiremos de novo ter um bom ano.

Que assim seja!

Rui Bandeira