a ocupação do congo e a conferência de berlim

Upload: maria-do-rosario-monteiro

Post on 03-Apr-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    1/63

    QUESTOES COLONIAES

    A CCUP!lO DO CONGOE

    f .

    ....

    ... . .~ - - .

    A CONFERENCIA DE BERLIMPOR

    CARLOS DE MAGALHlESI II

    Official de marinha

    l - . ..., .- - ~ - -

    LISBOATYPOGRAPBIA DA VIUVA 80t;SA NEVE&a , aaa Atlata,

    1886

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    2/63

    Jlntcnic Jcaquiln de :Maltes

    {) auctcr

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    3/63

    ERRATA IMPORTAHTEA a usenria do auctor duran lc umn parte da impreHiio frz rom que f''"fa.

    r a ~ H m niJ!IHI!' erros rfp revir:o, que o e ~ p i r i l o esdarecido do lfilor f.lrilmcntccorrigir Na J l l ~ i r a a ri2. porm, e : t i ~ t e um (JUC l' ilrfC(' rfe r r , ~ l i f i r a ~ o t - ~ p C ' c i n l .JJOr h!"o (JUe aHtra completamente o e n t i d o ; raa liralia 9. o n d ~ l r.liv ntiras.'t'c!r,e l r H' f i m p l c ~ m e n l c r e t i r a H ~ .

    A A -commercio europeu n'uma determinada area do terrilo-rio africano. 1'endo Portugal, em consequencia d'esses factos, d'annexar aos seus dominios coloniaes a parte quelhe foi reconhecida, pareceu-nos interessante examinarat que ponto o ultimo tratado lhe foi vantajoso ou des,antajoso, de que forma as resolues da conferencia deBerlim influem no regimen a estabelecer ahi, e como po-der realisar-se d'uma maneira util e effectiva a occnpao, pelo nosso paiz, d'esses novos territorios.' 1

    ..

    .

    .. .I

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    4/63

    As nossas antigas rei\indicaces de posse dos territorios ao norte do Loge, na costa occidental d'Africa, acabam de ter uma soluo pelo tratado de limites com onovo Estado livre do Congo, osuccessor da ..\ssociao internacional africana. A interveno das tres grandes potencias, ~ . , r a n r . a , Inglaterra e Allcmanha, impoz-nos essasoluo, que boa ou m, nos foi preciso acceitar. Ao mesmo tempo a conferencia de Berlim determinava uma serie de prescripes, tendentes a dar certas garantias aocommercio europeu n'uma determinada area do terrilorio africano. 'fendo Portugal, em consequencia d'esses factos, d'annexar aos seus dominios coloniaes a parte quelhe foi reconhecida, pareceu-nos interessante examinarat que ponto o ultimo tratado lhe foi vantajoso ou desvantajoso, de que forma as resolues da conferencia deBerlim influem no regimen a estabelecer ahi, e como po-der realisar-se d'uma maneira util e effecliva a occnpao, pelo nosso paiz, d'esses ~ o v o s territorios.

    1

    ..

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    5/63

    I,E muito conhecida a historia das t.entati,as feitas porPortugal, com o intuito de oLter das naes europeas oassentimento posse dos lerritorios no occupados, situados ao norte da nossa antiga provincia d'Angola. Aoccupao do Amhriz em !855 no se efTectuou sen1 protestos; conseguimos, comtudo, que se acceitasse o facto

    consummado, com a condio expressa do que no passariamos para alem do Loge, que ficou considerado comoo limite nQrte das nossas possesses na Africa occidental. A Inglaterra, principalmente, manifestava a resoluo expressa d ~ i m p e d i r qualquer tentati\'a de dilatacopara aquem d'aquelle li1nite e os seus crusadores tinhamordem de se opporem, at pela fora, a urn acto d'essanatureza. Esta atlitude explica-se pelo receio, at certoponto justificado, de que o nosso don1inio fosse acotnpanhado do nosso regimen aduaneiro, e de que ocommercio inglez, que at agora se fazia livremente n'aqucllaparte da costa, viesse a ser onerado com pesados impostos. Todos os nossos esforos para obter uma modificao em favor dos nossos direitos foratn por muito tempoiouteis perante estas consideraes.

    Nos ultimos annos, porm, as demais naes euro-

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    6/63

    . '3

    peas comeavam a manifes&ar os seus intuitos d'expan-so colonial. A Associao internacional, creada como fim apparente de estudar scientificamcnte a regiobanhada pelo Zaire, adquiria incremento consideravel, no conseguia j desrarar a sua indole absorvente, comeava nos seus tratados com os regulosindigenas a pronunciar a palavra soberania e ameaava apossar-se do grande rio africano, monopolisandoo commercio das vastas regies que elle banha. Peloseu lado a Frana occupava o Loango e Ponta-Negrae sanccionava os resultados das expedies de Brazza,que lhe permittiarn assentar um p na sua margem direita. Tudo indicava que ia cessar o regimen d ~ absoluta liberdade commercial, sombra do qual Manchester e Birmingham iam ''endendo os seus algodese as suas espingardas.N'esta conjunctura mais valia reconhecer as prelenes de Portugal, a quem seria facil impr restrice.ique dessem ao commercio britanico as desejadas garantias. Accedeu-se porlanto s inslancias do governo portuguez e celebrou-se o tratado do Zaire, pelo qual nosera permittida a annexa3o dos territoios contestados,no como reconhecimento tardio dos nossos direitos. masa titulo de concesso graciosa e inteiramente hene\ola.Os interesses inglezes eram salvaguardados pela crcao d'uma commisso mixta lusohritanica, e pelo compromisso, tomado por ns, de restringirn1os os impostosaduaneiros no Zaire ao nivel da pauta de Moambique, que em extremo moderada. N'estas condies alnglaterra encontrava na nossa oceupao compensa-

    ..

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    7/63

    es, que outra nao europea difficilmente lhe podiaoffereeer.O desenvolvimento crescente da sua industria e a suagrande emigrao chamavam no entretanto as altenesda Allemanha para a conveniencia de possuir colonias,como mercados dos seus produetos, e como o derivativomais aproveitavel para o excedente da sua populao.No contente com o seu papel de potencia continentalpreponderante, ella aspirava a completar a sua hegemonia, dilatando-se pelas regies ainda no conquistadaspara a civilisao, e assomindo o caracter de poteneiacolonial.

    Coincidiam as primeiras manifestaes, d'esta novaaspirao com a celebrao do tratado do Zaire. Quandoteve conhecimento do seu theor a Allemanha oppoz oseu veto. Ao commercio europeu con,'inha mais, diziaella, que o Zaire se conservasse aberto e livre para todos do que na posse d'um estado qualquer. Pelo seulado a Associao internacional agitava-se v i v a m ~ n t e , forcejava por conservar a presa que via prestes a escaparlhe, e comeava a tecer a trama d'intrigas, que haviamde ter como c o n s e ~ u e n c i a final o seu reconhecimento eomo estado soberano e a posse da margem direita do corsoinferior do Zaire. Foi para resolver interesses to oppostos que se imaginou a convocao da conferencia deBerlim.Devia Portugal desinteressar-se da questo c, vistoqnc as potencias recusavam reconhecer os seus direitos,limitar-se a lavrar um protesto solemne e restringir-se sua provncia d'Angola, com o Loge como limite' Nio

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    8/63

    nos fornecia a Europa um optimo ensejo de no aggravarmos os nossos encargos com a annexao de novosteraitorios? No possuiamos ns colonias de sobra paraos nossos recursos e para a expanso da nossa pequenaactividade commercial? No era mais honroso e maisproficuo deixarmo--nos espoliar, do que submelter-nos aoarbitrio das potencias? Angola ia vivendo; os seus rendimentos poblicos iam aogmentando; que neeessidadetinhamos ns d'ir aggravar-lhe as circomstancias financeiras com orna annexao, cujas despezas viriam onerar os cofres exhaostos da metropole?No; no podiamos nem deviamos assomir esta alti-tude, cujo menor inconveniente seria tornar-nos ridculos. A luta era mais digna do que a absteno despeitada. Isto pelo lado moral Pelo lado material seria umgrave erro no procurar ~ t e n d e r a nossa provinciad'Angola at margem do Zaire, a sua fronteira natural, quando no fosse possivel obter a totalidade dasnossas reivindicaes, o que rasoavelmente se no de

    veria esperar.As condies economicas da nossa colonia no podiam deixar de resentir-se da proximidade d'um estado,

    a quem ficaria livre o accesso do grande planalto central e a quem no seria difficil monopolisar o commercio d'estas regies, desviando-o dos nossos mercados. Aborracha, a cera e o marfim facilmente se affastariam dosnossos portos para se dirigirem para os do visinho; bastava para isso que este possuisse os meios de os ir buscar sua origem. Apesar da sua distancia nem a florescente Bengoella escaparia concorrencia. A provin-

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    9/63

    8c-ia d"Angola teria pois de limitar-se explorao agri-cola, e atravessaria forosamente uma crise que po-deria ser-lhe funesta. Os seus rendimentos aduaneiros,sua principal fonte de receita, no tardariam a resentir-se do contrabando, a cuja introduco em largaescla se prestaria facilmente uma fronteira amplamenteaberta.Para a nossa colonia representava pois um interessevital a sua extenso at ao Zaire. Por este lado foroso convir que os resultados da conferencia foram parans d ' i n c a l c u l a ~ e l vantagem. Por outro lado aos portosdo littoral, inlermediarios ao Loge e ao Zaire, descem jhoje quantidades notaveis de borracha e de marfim, cujoeommercio ficar nas nossas mos. E previnamos j umaobjeco. Apesar d'esles territorios se acharem comprehendidos na zona de liberdade de commercio essa cir-eumstancia no to indifferente como poderia afigorar-se primeira vista; a seu tempo diremos porque.

    Nem todo o curso do Zaire serve de limite nossapossesso. Para alm de Noki 6ca todo dentro do territorio do Esta

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    10/63

    -

    7nos parece que se podesse rasoavelmente exigir mais.No ser d'ahi que ho de provir-nos complicaes, setratarmos de dar execuo ao artigo da nossa conveno com o Estado livre do Congo que estatue a organisao de uma commisso de fronteirs. Uma vez determinada a linha limitrophe no teremos que receiar invases do nosso territorio. ,A latitude de Noki de 5 e 40'. E portanto esse oparallelo delimitador dos nossos dominios, at ao seuencontro com o Coango, isto , at mais de cem legoasda costa maritima. D'ahi para o interior nada se estatuiu; parece portanto que se deixa li\re esse vasto campo

    de aco iniciativa das potencias que tentarem explorai-o. Convir ao nosso visinho africano, o Estado livredo Congo, emprehender essa explorao? E em quecondies poder fazei-o?

    Depois que a travessia de Stanley determinou approximadamente o corso do Zaire-ha quem conteste a suaidentificao com o Lualaba-a atlcno das potenciaseuropeas voltou-se para Stanley-Pool, como importantissimo emporio futuro do con1mercio centro-africano.Esta esp.ecie de laga o ponto de convergencia dasaguas que regam terrenos com orna superficie superiora um milho de milhas quadradas, e com uma populao calculada em quarenta e quatro milhes de individuos. Sendo navegaveis por canas uma grande partedos cursos d'agua que constit.uem esta enorme agglomerao, podia esperar-se que elles r e p r e s e n ~ a s s e m viasnaturaes de permutao, e que, por elles se conseguirialevar os productos europeus at aos mais reconditos

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    11/63

    8paizes africanos e trazer de l as suas inexploradas ri-quezas. Stanley primeiro, depois Brazza, tentaram a s s e ~gurar a posse da famosa laga. A contenda decidiu-seha pouco ficando a Frana com a margem direita e onovo Estado com a margem esquerda. Cada um d'esteapaizes tem o seu campo de aco perfeitan1ente traado.O grande rio ser para ambos a ''ia commum de penetrao; depois cada um d'elles procurar explorar aparte que lhe coube da bacia hydrographica do Zaire,sem comtudo se affastar muito da arteria principal.

    Assim, os territorios situados na latitude da nossapossesso, e que constituem o nosso serto, ho-de continuar a encontrar na colonia de Angola os seus mercados naturaes. Nem o curso do proprio Coango, cortadode numerosas cataractas. permittir a sua deri,aopara o Zaire.

    Mas no basta possuir Stanley-Pool; ainda necessario pl-o em facil comn1unicao com o mar. A resoluo d'esse problema in1porta a construco de umavia ferrea atra,ez do grande rclc\'O occidental africano,n'oma extenso de duzentos kilometros, at attingir aparte na\'egavel do Zaire inferior. Apesar de despendiosissima ho de enconhar-se capitaes para a sua construco, como soube encontrai-os para se constituir aex-associao internacional. Em todo o caso, explorandoregies muito remotas, nunca essa via ferrea poderprejudicar-nos; mesmo possivel que venha a atra\'essar os nossos- territorios, e a estabelecer o seu terminuse pedir-nos um porto em Santo Antonio, com o que teremos todo a ganhar..

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    12/63

    9Vse pois que, por este lado, a soluo das nossas

    reclamaes est longe de ter-nos sido d ~ s f a v o r a v e l . Anossa provincia d'Angola ter a soa fronteira natural,que a Jivrarl de competencias perigosas pelo lado doserto; fica-lhe assegurada a liberdade de expansopara o interior at to longe quanto lhe convenha; fi-nalmente a annexao dos novos lerrilorios, ao passoque alarga a sua area commercial, permille-lhe participar do trafico do Zaire, onde poder crear urn porto, quede futuro \'enha a rivalisar em importancia com o deBanana.

    O tratado com o novo Estado concede-nos ainda aposse de un1as cento e cincoenta milhas quadradas deterritorio ao norte do Zaire. Duas circumstancias tornamessa acquisio \'aliosa: o porto de Cabinda e o commercio do Chiloango.Cabinda est naturalmente indicada como sde donosso go\'erno do Congo; no Chiloango temos creadopoderosos interesses. So portoguezas a maior parte dasfeitorias do rio que, como via fluvial, tem uma importancia muito superior que poderia attribuir-se-lhe attendendo pequena extenso do seu curso. O commercio do Chiloango proximamente um tero da totalidadedo commercio do Zaire inferior.Est dependente d'um tratado com a Frana a determinao do limite da nossa fronteira. Se, como esperamos, se conseguir que ella se estenda at ao Massabi, todo o curso inferior do Chiloango, a parle do rioonde esto estabelecidas as feitorias, ficar comprehendido em territorio portuguez. Devemos envidar todos os

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    13/63

    to nossos esforos por obter esta soluo, cujo alcance evidente e que dar um alto valor a este districto.E1n resumo: o resultado da conferencia de Berlim nopde deixar de considerar-se como uma victoria, dadasas disposies pouco favoraveis das potencias para comnosco. As declaraes que ptecederam a sua COD\'OCa-o eram accordes em desattender as nossas reclamaes. Nas notas preliminares trocadas entre a Inglaterrae a l l ~ m a n h a cada uma d'estas naes contestra energicamente que tivesse nunca reconhecido as nossas pretenes. Interessada como esta\a na questo no erarasoavel confiar que a Frana se ar\'Orasse em nossopaladino. A Associao intrigava furiosamente em proveito proprio, a Inglaterra a b a n d o n a ~ T a - n o s , as demaisnaes conservavam-se indiO.erentes ou pendiam parao lado das mais fortes. N'estas condies de manifestainferioridade a luta era honrosa e o resultado final foimuito alm do que era licito esperar, por muito exigenteque se podesse ser.

    II

    Examinemos agora mais de perto a acta geral daconferencia e vejamos de que n1odo as suas estipulaesinterveem na occupao e explorao dos nossos no\'osdominios.

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    14/63

    ltO artigo i.o define e delimita a bacia do Congo, na

    . qual se delra completamente livre o commercio detodas as naes. Abrange o territorio ao norte do Loge eo serto d'Angola, para alm da cumiada que separa avertente do Zaire da vertente oeeaoica. Na latitude deLoanda passa essa linha pela serra do Tala-Mugongo,de sorte que o mercado de Cassange fica dentro da areaJi,rc. O mal no grande, em quanto os nossos negociantes no t i , ~ e r e m ali concorrentes; e no para receiar que os ,enham a ter to cedo, principalmente senos decidirmos a fazer o nosso caminho de ferro de penetrao, cujo principio, o caminho de ferro d'Ambaca,parece que vae decididamente construir-se.O alcance d'esta linha, para o futuro da provinciad'\ngola, incalculavel. ,A consequencia mais importante da construco d'esta primeira seco ser impOro seu prolpngamenlo n'um futuro mais ou menos proximo. Esta via ferrea ser remuneradora? No se pdeesperar que o seja nos primeiros tempos da explorao,como no o em geral, ainda mesmo nas linhas queatravessam regies ricas, nos paizes mais adiantadosem civilisao. ~ l a s ella ha de concorrer to cfficazn1entepara o desenvolvimento agricola e commercial dos ferteis terrenos que atravessa, que garante, n'um futuroproximo, um juro rasoavel ao capital empregado na suaconstruco.

    E o que dever entender-se por liberdade de com-mercio'l E o que teem por fim definir os artigos 2.',3.o e 4.o: egualdade de tratamento para os subditos detodas as naes; abolio de qoaesquer direitos diffe-

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    15/63

    renciaes; abolio dos direitos de importao e de tran-sito; limitao das taxas lanadas sobre as mercadoriasquellas que representarem despesas uteis pa.ra o com-

    merc1o.So pois permiltidos na zona livre, com a restric.o,indicada, os impostos directos e, entre os indirectos, osde. exportao. Veremos adiante de que modo convirapplicar esta faculdade nos. nossos novos domioios;basta por agora consignar o facto.

    A quem incumbir a execuo d'eslas disposies? A. uma commisso internacional, nos territorios que noficarem debaixo da soberania ou do protectorado de al-guma potencia, segundo p r e ~ c r e v e o artigo 8. 0 Nos lerl'itorios occupados a ingerencia da commisso pde serpP.rmittida pelos estados soberanos (artigo i 5. 0 ); disposio platonica que lhes deixa ampla liberdade de ac-o. ,

    Os artigos 7. 0 , 9. 0 ,. 10.0 , {{. 0 e 12. 0 conteem prescripes mais ou menos anodynas, que no alteram ascondies normaes da occupao. Referem-se ao regimen postal, trafico de escravos e neutralidade da baciacon,encional e, juntamente com os precedentes, constituem a materia dos capitulas 1, u e 111.O capitulo 1,. tem por titulo: 'Acta da n a v e g a ~ o doCongo,. Comea com o artigo 13.0 que declara livre ana\'egao do Congo e dos seus braos e affiuentcs, e aisenta de impostos differentes dos que pcrmilte o artigoimmediato e que Yem a ser: {.0 dire1tos do porto, pelouso de caes, armazens etc.; 2. 0 direitos de pilotagem;3.' direitos de tonelagem. Deixaremos tambem para

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    16/63

    t3mais tarde o estudo d'estes impostos e da possibilidadeda sua applicao.J nos referimos ao artigo i5., que tem manifesta importancia na parte que restringe aos territorios no oecupados a interferencia da commisso internacional. Viria a proposito pergontar sobre qoe territorios vae ellaexercer a sua aco; no seria facil a resposta; visto queas margens do Zaire pertencem Frana, a Portugal eao DO\'O Estado. O proprio curso do rio deve ser considerado como fazendo parte das aguas territoriaes dospaizes que atra,'essa. Portanto aco da commissointernacional, na baeia convencional e em todos os cursos d'agua que a regam, s poder tornar-se effectivan1edianle o consentimento expresso das potencias mar-.ganaes.O artigo i 6. 0 isenta de imposto de transito as vias ferreas, canaes ou estradas construdas 'com o fim especial dobviar inavcgabilidade ou s imperfeies da via

    fluvial em certas seces do Congo; seus affiuentes ououtros cursos d'agua. Os que possam vir a estabelecer-se nos nossos domnios no esto n'estas condies;esta disposio no lhes portanto applicavel.

    Os artigos i 7. 0 a 25. 0 prescre,em omodo de constituio, attribuio e recursos da commisso internacional,sem alterarem as doutrinas precedentemente estabelecidas, confirmndo-ls, pelo contrario. O artigo 19.0 dizexpressamente: As infraces d'estes regulamentos sero reprimidas pelos agentes da commisso internacional, na parte tm que tzercer directamente a sua au-ctoridade, e nas outras partes pela potmcia marginal.,

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    17/63

    f 'Segue-se o capitulo v Acta de navegao do Ni

    ger. A sua mater1a estranha ao nosso assumpta.Trata o capitolo vi das condies a cumprir para quesejam consideradas effectivas as novas occupac

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    18/63

    f:Sver manifesta utilidade, quando possam concorrer parao desenvoJ,imento d'induslrias que possuam elementosde prosperidade futura, mas que, no seu periodo d'inieiao, tenham de lutar com induslrias similares, ereadas delonga data e tendo j attingido o maximo de produco,com o minimo de custo.N'estas condies o imposto vaeequiparar a ~ o l a e, com o augmenlo do preo, fornecer industria nascente os meios de progredir e prosperar.Pretendem alguns economistas qoe, longe de serem umincenli\o, os impostos protectores teem pelo contrariocomo effeito animar a indolencia, visto que, sombrada proteco, os productos no tendero a melhorar, emquanto a industria tiver condies de vitalidade. Semquere .mos entrar na discusso d'uma questo economicaque no temos competencia para tratar e que excederia oquadro do nosso assumpto, no podemos comludo deixar de notar que a maior parte dos paizes civilisados os noaboliram e que, se a livre-camhista Inglaterra os no tem,se explica facilmente esse facto, por isso que a sua industria attingiu um gro de prosperidade tal, que nadatem que receiar da concorrencia estrangeira. No suecede outro tanto com as suas colonias, n'a]gomas dasquaes vigoram pautas ele,adas. Quaesquer que sejamos resultados da theoria a pratica parece justi6car osimpostos moderadamente protectores.

    Angola tJo tem por emquant\l vida industrial propria.Algumas industrias existem de facto, que encontram naprovncia fartos elementos de prosperidade, mas que esto por emquanto no periodo embrionario. A fabricaod'agoardente distillada da canoa sacharina, a de tecidos

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    19/63

    16d'algodo em Mossamedes, a manipulao de tabacospodem vir a ter um largussimo desenvol\'imento. Conceda-se-lhes uma proteco moderada que o auxilie.Estes generos, 03 dois primeiros sobretudo, tendo nopaiz mercados que tarde podero vir a abastecer sufficientemente, no tero que receiar a concorrencia europeia logo que altinjam um certo gro de prosperidade.Exercendo-se nos nossos antigos dominios, nada impedeque se conser,e um imposto de proteco moderado quelhes sir,a d'incentivo.

    Quanto aos restantes artigos, urgente que se nlodifique a pauta de Loanda, de modo a promo\'er e facilitaro eommercio, e a tornar a fiscalisao menos incommoda, menos dispendiosa e mais simples.,E este o grave inconveniente dos impostos da segun-da cathcgoria-difficultar extraordinariarnente as transaces commerciaes. O con1mercio resente-sc, como asensitiva, de tudo quanto o affccte ou tenda a restringira sua livre expanso. Elle procura sempre sublrahir-ses medidas que possam ler c.aracler ,exalorio oo restrictivo, para procurar de prefe1cncia os pontos ondelhe so concedidas maiores regalias. Veja-se o que suecedeu com o Ambriz depois da nossa oceupao. Asuaprosperidade ressent.iu-se immediatamentc da applicaod'un1a pauta aduaneira 1 pela qual os artigos importados pagavam entre tres e doze por cento ad valarem, conforme a sua nacionalidade e procedeneia. O seu eommereio, d'antes florescente, comeou a definhar-se e foi

    Deer. de 6 d'outu&ro de 1 ~ 6 .

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    20/63

    17preciso modificar as tarifas, suavisando-as, para lherestituir uma parte do antigo vigor. As mercadcri:-u'importadas pagam agora apenas seis por cento ativalorem .A moderao dos impostos aduaneiros no tem apenas como ciTcito immcdiato augment:1r a riqueza pultlica, e com e ia a ma teria directamente collecta,el: nceede muitas Yezes que os rendimentos das a l f a n d t ' g : - a ~cresam, depois d'um abaixamento das pautas. J)cu eesse caso cm ~ l o a m b i q u e . Em t877 foi decre11Ia apauta qne est em vigor e pela qual se diminuiran1tarifas d'uma maneira considerarei, no porque os n.ls-sos estadistas qnizessem fazer uma experiencia eeononliCc1, mas simplesmente por comprazer co1n as s u g g e ~ l l ~ ~exigentes da Inglaterra. l ~ l l e s teem o seu credo do qualse no afTastam seno quando obrigados pelas circurns 1:tncias. Lliz-lhes elle que os impostos aduaneiros so u ~de mais facil cobrana, os que trazem n1enos con1plie;

    e . ~ , os unicos que se conseguem extorquir ao conlribuinte .sem qno clle d por isso. Tudo assim srr; nt:tso imposto pecisa ainda obedecer a outras condies quf!os d'cste genero no rcalisa-m: indispensavel prinri-pal.mente que elle no perturbe o desenvolfimenlo rc guiar da riqueza publica, predicado a que no s a t . i ~ f a zcm os impostos aduaneiros, qundo so exaggcradns.

    I. Reduziu-se. po1s, con1o iamos dizendo, a pauta)foamhique. No anno que se seguiu applicato elaooya paufa os .rendimentos das alfandegas da pro,inel:L

    a 1

    DLfcr. de I! de DMembro de 1881. I

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    21/63

    diminuiram, como era de esperar, mas para excederemlogo o antigo ni,el nos annos subsequentes. Ha queminterprete esle phcnomeno d'esle 1nodo: o desenvolvimento commercial foi to considera\el, que esse faclodeu-se apesnr da diminuio da paula: ns persistimosem acreditar que elle se deu exactamente por causa dadiminuio da pauta.

    Os dois casos que acaban1os de narrar dereriam fazer reflectir aqnelles que, apesar de tpdo, persistem embasear nas receitas aduaneiras os rendimentos publicosdas nossas colonias. Comprehende-se que se hesite ementrar n'um no\o caminho. Estes factos no se desconhecem e alguns dos nossos estadistas. no estariamtal,ez longe de dar-lhes a interpretao que suppomos,erJadeira. ~ l a s ns somos pobres; uma modificao doegimen fiscal n'um sentido mais liberal produziria, nosannos que se seguissem sua adopo, um desequilibrionas receitas, o qual se pretende evitar, porque nos fal-,lam recursos para lhe fazer face. E preciso pOr de partepreoecupaes d'essa ordem, sob pena de nos immobilisarmos, de deixarmos que os outros nos tomem o passoe se apprO\'eitem das nossas faltas. O progresso no secoaduna com a inercia do repouso: parar, se no equi,ale a morrer immediatameote, conduz entretanto aodefinhamento, anemia, ao arrastamento de uma vidaprecria, de expedientes, e ao aniquilamento, como consequencia final.

    rMas ~ o basta dutruir indispensavel s u b s t i t u i r ~ Efacil dizer: 'os impostos aduaneiros so oppressivos evexatorios; tendem a afJas&ar o commercio ea deprimir

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    22/63

    lOa circularo da riqueza pul,lica; reduzam-se os irnpos- ,tos aduaneiros. E preciso que se indique um n1cio decrear receitas que \'enham restabelecer o equilibrio com-,promeuido. E justamente o que nos propomos tentar;mas antes disso indagaren1os cm que c o n d i ~ e s roderefTectuar-sc a occupaco dos territorios que nos foran1aecenlen1ente reconhecidos e qual o rcgimen fiscal que.lhes applica,el, d'accordo com a situao especial quecreou para elles a conferencia de Berlitn. Ern seguidaestenderemos as nossas a p r e c i a ~ e s a toda a provinciadAngola: e procuraremos explicar de que modo se nosaffigura possi,el estabelecer a coheso e a unidade nosnossos ,astos dominios da 1\ f r i c ~ austro-occiuental.

    III

    O plano geral da occupao dos no\os territorios foiha pouco formulado por uma commisso que, sob a ptesidencia do director geral do ultramar, se occnpou proficientemente da soluo d'esse problen1a. No inteno nossa reproduzir os seus 1rabalhos; eomtudo, tendotido essa comn1isso apenas utn caraclet semi-official,no suppmos que haja indiscripo em referir-nos aelles, tanto mais que fomos precedidos na sua publicidade pelo nosso amigo o doutor F. A. Pint, que ascitou na sua ultima conferencia cerca do Zaire

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    23/63

    #

    !OAs concluses a que chegou a commissfio veem

    a ser, cm resun1o, as seguintes: Os no,os territorioscongtituiro un1 districto da provinc.ia d'Angola, tendo: sua testa un1 go,ernador suballerno con1 a rcsidencia ern Cabinda. C r i a r n - ~ e quatro c o n c e l h o ~ : um emLandana, outro no J\mhrizctlP, um terceiro em S. Sal,ador, c o quarto n'um ponto da 1nargem do Zaire.fJUC ser designado posteriormente. Na bahia do Sonho, junto da ponta de Santo Antonio, eRtaLelece-seun1 posto n1ilitarna ,ai, n um ponto qnc si r,a de deposito c sanitario. lt policia do rio ser feita por dois,apores npropriados sua na ,egao, podendo trans-portar tropas, e possuindo n1cios efficazes de allaquec de defeza.

    Os n o , ~ s territorios no so perfeitamente assirnilados antiga pro,incia. No lhes applica,cl a legislao n1uniripal, eleitoral c jndic.ial, c os chefes dos c.on-

    cclhos teern attriLuies distinc.las dos funccionarios deidentica cat.hcgoria nos antigos (]ominios. Esrabeleccseun1 pequeno numero de funccionarios, quer na sde dogo,erno, quer nos concelhos: os indispcnsaveis p:tra osservios da administ.-ao e saude. O quadro fiscal nose determinou . \ forca publica representada por umbatalho, formado por indgenas. Os parochos sero missionarios e professores de instruco primaria. Os no\'OSdon1inios so sujeitos jurisdico d'uma das comarcasde Loanda, para a deciso das questes suscitadas entte os indi,,iduos, no indigcnas, ali estabelecidos: asquestes entre indgenas, ou entre estes e os residentes,so resolvidas pelos chefes dos concelhos, ex requo. et

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    24/63

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    25/63

    ..,.

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    26/63

    i3esto pittorescamente situadas algumas ~ d i 6 c a e s , fJUeso um hospcio de irms da caridade e a casa de ummedico francez, o doutor Lucnn, que ali reside ha muitos annos.Esta longa enumerao poder dar uma ida do queLandana j hoje; o seu trafico garante-lhe um rapidodesenvol\'irnento e um prospero futuro.

    Devemos apressar-nos a fazer o tratado de limites coma Frana para e''itar complicaes futuras. Se1ia convenientissimo obter que o nosso dominio se conservasse at foz do Massabi, para que abranja todo ocurso inferior do Chiloango. A Frana mostrou-se nosultimos tempos animada d'intenes benevolas a nossorespeito e de\cmos appro\'eitar essas bOas d i s p o s i e s ~tanto mais que nos podemos basear na posse effcclivado territorio ao norte do Chiloango. Foi n'esse terlitorio, no 1norro do Chinxxo, situado ao norte da foz dorio, que se levantou a residencia do delegado do governo portuguez, que foi encarregado de representa anossa auctoridade nos territorios de Landana e ~ t o -lembo, occupados em 1883.Se no possue a importancia commerc.ial de Landana, Cabinda tem comtudo sobre este ponto vantagensapreciaveis, que justificam plenamente a sua escolhapara capital dos novos dominios, e para sede do novo dist.ricto do Congo. A bahia que forma o seu porto maisfunda do que a de Landana e fica abrigada dos ,entosdominantes da costa pela ponta Palmar, qne forma asua estremidade sudoeste.

    Segundo noticias recentes foi j occupada sem diffi-

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    27/63

    rultlade, como era d'esperar. A sua popu!aco pacifica e suscepli\el d'um gro de ci\'ilisao muito superior que podern vir a ter os outros indigcnas da nossacolonia. Existe ha muitos annos urna corrente constantel'emigrao para Loanda, c a col9nia cabinda na nossaanliga possesso se1npre d'alguns milhares d'individuos. Quando regressa sua patria o emigrante cabindatransporta para l a nossa lngua, os nossos usos, e apratica do mister a que ~ e dedicou. Encontram-se emCabinda opc.-arios mui lo appro\eitaveis -serralheiros,carpinteiros, pedreiros, alfaites etc. So n1ui_to dados naregaco e tripulam qua8i exclusivamente as embarcaes que fazen1 o servio da cabotagem entre os portost.l'.:\ngola. Procuran1 instruir-se, e no raro o cabindafJUC saiba ler e escrever. O antigo costume d'emigrarpara Angola tornou o cabinda relativamente laboriosotlando-lhe nabitos de conforto que elle precisa satisfazer pelo trabalho. O contacto mais intimo comnosco,ir ainda desenvolver estas excellentes disposies, edar novo rigor aos eletnentos de prosperidade e civilisa3o, que aquellc sympathico po\'O encontra na sua ndole c no feracissitno slo que habita.

    Te1n a sua sde principal em Cabinda a importantecasa ingleza Hatton & Cool{son, que possue na costa eno Zaire numerosas feitorias. No recanto mais abrigadotia hahia de Cabinda construiu esta casa uma ponte dedesembarque, que o estado deve procurar adquirir, no.s porque pro\a\'elmenle custar mais barata do queuma nova, n1as tan1bem po-que occupa a situao n1aisapropriada ao fim a que se destina.

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    28/63

    Os cdificios J'esta casa, resitlcncia do seu agente principal c dos demais empregados, armazens, deposik>s, ch_alJitaes cJos seus krumanos, estendem-se pela encostada collina que c o m e ~ a na bahia, em frente do fundcadouro, e que se eleva em declive suave at uma po\'oa

    ~ o indigena, conhecida na localidade pelo nome doPo,o do sudoeste, c que fica j no plan'alto. A cavalleirod'estas edificaes, n'um accidente brusco do terreno, es ta,a edificada a nossa antiga fortaleza, de que ainda,restam \'estigios. E n'csse local que se ergue o mastroonde a casa Hatton & Cgokson hasteia a bandeira dasua nacionalidade1 dentro tio recinto do velho forte. Dominando o fundeadouro, c podendo bater a encosta quese prolonga para o interior em rampa muito sua\e, estaposio de facto a unica conveniente para uma obrade fortificao. Ser fol-oso conseguir que os acluaesproprietarios nos cedam o "terreno em questo, para oque poderemos ''antajosamente invoear a antiga posse,attestada pelos \'estigios existentes.

    Nas proximidades da fortaleza devem erguer-se osedificjos puLlicos que hode constituir o nucleo da futura ciJade: residencia do go\'ernador, reparties publicas, quartel, hospital c a egreja, tendo como annexos a casa d'habitao do parocho-missionario e aescla. O local largamente ventilado pela \'irao, estlivre d'en1anaes palustres, e possue portanto as prineipaes condies de salubridade; fica alm d'isso muitoproximo do fundeadouro, o que de manifesta vantagem.A po\'oao assim iniciada no tardar a transformar-sen'uma importante cidade: um excellente porto, boa ex-

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    29/63

    posio, a benignidade do clima, a indole socia\'el da populao indigena tudo concorre a assegurar-lhe um ra-pido descn,'ol \irnento.

    Com a creao da sde do governo ern Cabinda ed'un1 concelho em Landanl ficar sufficientcmcnte estabelecida a authoridade portngueza, nos tcrritorios encravados, ao norte do Zaire. Urge entretanto que se procure definir o mais depressa possi\ycl os seus limites, aonorte com a Frana, a leste c ao sul com o novo Estadoli\'re do Congo: possa cada qual saber o que lhe ficapertencendo definitivamente. As medidas indicadas bastam, na nossa opinio a garantir a occnpaco cffectivado littural; mais tarde podero Yir a ser con1pletadaspela construco ue duas obras de for-tificao ligeianos angulos internos do quadrilatero que as convenesnos attribuiram.

    IV

    A regio a occupar ao sul do Zaire \'aslissima.Existem ahi creados poderosos interesses que misterproteger, casas commerciaes de Yarias nacionalidadescujo trafico considera\'el, habituadas desde o seu primeiro estabelecimento a um regimen de absoluta liberdade, que preciso no contrariar, mas que necessario regulamentar. 1'eremos de garantir-lhes a facilidade

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    30/63

    27e a segnl'ana das permutaes, e teremos de dissipar adesconfiana que entre os negociantes estrangeiros dacosta tem suscitado o nosso excessi\'O regimen aduaneiro. Sejamos bastante habcis para pro\'Ocar um reviramento a nosso fa,or, e para con\'erter ctn cooperaoutil a hostilidade 1nais ou menos apparente que havemos de encontrar, quando puzcrmos o p, con1o senhores, na terra que se tinham habituado a tomar como sua.Pde considerar-se este grande territorio como dividido em tres zonas distinctas, caraclerisadas principalmente pela natureza do seu commcrcio: so a. margemdo Zaire, o liltoral occanico e o interior. No Zaire alitnentam o commcrcio de exportao os productos oleaginosos, trazidos de pequenas distancias, e a gommacopal. A Noki e ao ~ t o s s u c o vem alguma borracha eno sabemos se algum marfim. As .feitorias estabelecidas na nossa margem so em pequeno numero, dispersas umas, outras reunidas em grupos de tres ou quatroem Noki, Mossuco, Quissanga e Po_rto Rico.

    No Zaire, como na costa, as conveniencias dos negociantes e dos indigenas tinham de ha muito estabelecidoum modus vivendi de reciprocas concesses. No podendo contar com a prot.eco pela fora publica d'umanao civilisada, as feitorias tinham de obter do indigena, proprietario do solo, garantias mais ou menosepbemeras de segurana e de liberdade de trafico, asquaes no so precisamente gratuitas. Oestabelecimentod'un1a ft!iloria importava at agora o pagamento d'umcerto numero de generos, que representavam o aforamento do solo, e uma annuidade que corresponde ao

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    31/63

    28fro, e que, no Zaire e na c o ~ t a , se chama costume. Comoem todas as sociedades pl'imili\'as, a propriedade noest constituida e o slo pertence cornmunidatle. Oscostumes so pois satisfeitos, no a tnn Geltrminado in-dividuo, mas aos_ chefes e ao seu numeroso scquito. Arudimentar constituiro polilica do paiz analoga aoantigo regimen feudal eur.opeu. Catla. po,oao tcn1 umchefe que na localidade ton1a o norne tle principc, onmesmo de rei, mas (jUe reconhece a suzcrania d'urn outro rei, cujos dominios cm todo o caso abrangem umapequena area, de alguns kilomclros de raio. Opoder dorei tlo Congo, que, ao tempo da. nossa descoberta, se estendia sobre todo o territorio de que nos occupan1os, foisnccessi \':tnlenle derahindo, e hoje aquelle antigo potentado pouco mais in1po1tancia tem do que qualquer d'a-quelles reis; e, posto que a tradiro no esteja ainda detodo exlincta nas margens do Zaire, a sua suzeraniacomtudo actualmente apenas nominal.O pagamento dos costumes rescntc-se d'esta complicada hierarchia.

    O chefe do po\'O onde se estabelece a feitoria cha-ma-se principe.da barraca e torna-se n1ais directamenteresponsavel pela sua segurana. Um personagem importante da localidade e da escolha do negociante nomeado linguister; o linguister un1 empregado da feitoria, uma especie de interprete, encarregado de angariar negocio para a casa e de explicar as vantagens dast r a n s a c ~ propostas. E um intermediario que po.- \'e-zes ser\e de refens.

    Alm da retribuio d'estes individuas tem a feito1ia

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    32/63

    de pagar costumes ao rei dt] terra e aos seus n1inistros-mafuca, prncipe da ponta, capita manitate etc. e an1ais seis ou oito principes das circunl\'sinhanas, quese ataogam direitos propriedade do solo. 1,odas estasextorses no so corntn.do sufficienles para garant.il asegurana da feitoria. O pl'eto insaciavel c desconfiatlo; quanto rnais se lhe tl mais exigente se torna,pai1JUe rnais 'llagina poder extorquir. E, apesar Je terem 1ot.lo o interesse etn que nos seus lerritorios se es-1aLelcam casas de negocio, exaggeram os indigenas detal modo os seus pcJiJoR, que n1uiLas feitotias so obrigadas a f ~ c h a r , outras so atacalas e roubadas quando,por exccss\'as, no so immedialamente satisfeitas assuas requisies.

    Este estado de coisas, commum ao Zaire e costa, incornpal\'el com o excrcicio da soberania d'uma naoc i v i l i ~ a d a . Por um lado indispensa,el que os estabelcciancnlos comrnerciaes cncontrern na nossa auctoriJadeproteco efficaz c completas g a r ~ n t i a s de segurana;por outro lado necessario irnpr ao indigena un1a modificao con1pleta em costumes de longa data radicados, o que no de esperar que se consiga sem encontrar resistencias. A extrema di\'iso politica do paiz facilita-nos a tarefa; mas precisamos, logo de principio,proceder d'uma maneira bastante energica para dissipar quaesquer veleidades de rcsistenciu. Digam o quedi.;serem os p ~ e u d o - p h i l a n t r o p o s , no conhecemos senoum meio de aco efficaz sobre o preto-.o emprego dafora. Sabemos que estas idas no possuem .o dom dese tornaren1 sympalhicas; mas entendemos que nos

    . ri..

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    33/63

    30corre o de,er Je opprn1os a um fal::o sentimentalismoas con,ices, que nos provieram do estudo das condies locaes: esse senlimentalisrno p1eferin1os combatei-oa explorai-o, como outros podero fazer, con1 melhorexito e com mais pro\eito.A occupao ter pois forosamente o caracter militar que as circumstancias lhe detern1inarn. Os mernbrosda cornmisso a que nos rcferirnos foram accordcs cmestabelecer-lhe este ec1racter, desde qnc optaram pelsadopo d'um regin1en especial, que inlpol'ta a suspenso de garantias. S1nente, por urna anornalia pouco explicavel, entenderam qne o go,crnador e os chefes dodistricto poderiam ser tirados intlifiercntcrnenle da classecivil ou da classe militar. No sornas au,easarios, emthcse, dos governos c.ivis no ultrarnar; n1as entendemosque so de prcferencia applicavcis s velhas colonjas, jrelativamente civilisadas, onde a cngrenagem administrativa esl montada e funcciona rnclhor ou peior, e nasquaes a sciencia governativa se reduz a simplificar o jugodas articulaes, a diminuir os attrictos, a facilitar as trans-misses de movimento. Ahi a ccntralisao do poder menos necessaria; comprehende-se mesn1o que haja van-tagem em conceder uma cetta\ilutonotnia a algumas par-les do organismo social. Alas quando un1a nao procuraimplantar o seu dominio n'utn paiz, onde tem que \'encerresistencias tenazes, e onde precisa estabelecer-se fortemente, para se impr, n'esse caso torna-se indispensa\'el a concentrao do poder aucloritario, e ento o regimen exclusivamente militar, com todas as suas consequeucia$, o uoico que nos parece applicavel: o dual is .

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    34/63

    3tmo no tardaria a suscitar graves conflictos, que poriamem risco o exilo da tentativa e adiariam indefinidamentea soluo do problema.

    Ha muilo que ns fazia mos no Zaize a policia do rio;n1as as nossas expedies no ~ r a m bastante numerosas para innigir uma sevra lio ao gentio, que notardva a esquecer o pouco mal que 1he raziamos, e que,por Yezes, se tornava arrogante e aggressivo. A abolio dos costumes ha de forosamente suscitar rcsisten- etas que convem repr1m1r Jnergtcamente, apenas se ma-nifestem, com um desen"olvimento de foras tal quegaranta sempre um exito completo. Vae n'isso economiade dinheiro e de vidas. Dois ou tres exemplos frisantesbastaro para conter em respeito o ~ turbulentos mussorongos que habitam a nossa margem.Procure-se immediatamente fazer a acquisio dos,dois vapores desti.nados a policiar o rio. E preciso queelles l estejam quando se effectuar occupao defi-,nitiva e se i n ~ t a l a r e m as auctoridades. E por essa oc-casio que dever estabelecer-se na ponta de SantoAntonio o posto militar-naval, proposto pela comrnisso.O commercio do Zaire ficar sufficientemente protegido pela adopo d'estas medidas, completadas pelacreao do concelho n'um ponto da nossa margem; No .ki, o Mossuco, um local menos afJastado do foz e pOr-,tanto mais facilmente accessivel para. a navegao1 Eproblema a resolver por um estudo mais attento das

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    35/63

    /

    32das localidades, e, em todo caso, de interesse secundario.Antes de deixarmos o Zaire consideremos rapida-rnenic a in1portancia da nossa margem e Yejamos queYanlagens se podem tirar da sua posse.Perdido para ns o Banana, com a margem direita,no seria possi,el obter uma compensaro crcando umporto na nossa margem1 Oporto existe: a bahia doSonho; abrigado, fundo regular, de ba pga. Localpara o estabelecimento de feitorias1 Em rigor lambemexiste; na fJeninsula de Santo Antonio. As condiesdes1a peninsula e as do Banana cm pouco diferem. Area proximamente a n)esma. O accesso dos navios bahia do Sonho imcomparavelmente rnais fac.iJ, oporto muito mais amplo, o fundeadouro analogo. Noteem os navios a \'ant3gem de poder atracar s pontes;mas a distancia a que fundcam no muito considcravel, e por isso no constitue um grave inconvenientepara a carga e descarga. .

    Na pcninsula de Santo Antonio devemos comearpor estabelecer un posto de pilotos, que dever constar d'uma casa para habitao do palro mr, chefedos pilotos, e dos proprios pilotos, que podem ser cabindas: bastaro seis, os quaes se contentaro com umaremunerao pouco a\'ultada. Ha,er mais un1 telheiropara guardar uma balieira com a respectiva palamenta,e que servir d'alojame11to aos remadores. Organisarse-ha uma tabella de pilotagens, que no de,'e s_ermuito elevada, .para servir d'incentivo preferencia,que para desejar, qoe os navios deem nossa ~ a r -

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    36/63

    33gem. Para isso conservar-se-ha inferior que ~ i g o r a rno Banana.A peninsula de Santo Antonio est sendo, ao queparece, corroida pela aco combinada aa corrente dorio e da ,aga maritima; mas as transformaes geologieas operam-se lentamente, em geral, e ella no difTerehoje sensivelmente da descripo que, ha mais de umseculo d'ella fez Pimcnlel no seu roteiro. Oseu slo nose prestaria na verdade a pesadas edificaes da pedra,mas perfeitamente aprO\'Citavel para constrnces demadeirc&, as mais apropriadas localidade. De,eriamostentar dar-lhe importancia commereial. Os nossos pa-,qnetes de,ero passar a tocar ali e no no Banana. Efacil e pouco dispendiosa a conslruco d'uma ponte oud'um caes de desembarque. Anova companhia do Zairedever ia estabelecer aqui a sna principal feitoria e osseus annazens .de deposito: seria um nucleo de po\'Oao. Qnando de futuro viesse a tornar-se insu fficienteo terreno na peninsula poderiam as novas edificaes estender-se ao longo da praia maritima, onde oslo mais consisten.te: indica-o a alta vegetao que oreveste.Da. parte exterior existe tambem um excellente porto; o que as cartas inglezas designam com o nome deTurtle-bay. O ancoradouro bom; areia, em fundo de. cinco ou seis braas a meia milha da terra. A calemanunca forte ahi: o accesso perfeitamente lin1po efranco, o desetnbarque s excepcionalmente difficil.

    As communicaes da peninsula com a terra firmeno so faeeis, mas so passiveis, ao longo da costa3

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    37/63

    3 'martima: obrigaro simplesmente a um circoito bastanteextenso. Succede o mesmo no Banana; mas l, comobade aconlecer aqui, os transportes so feito! pela ,iaflu,ial; essa ser sempre a mais ulilisada.

    Este trato de terra de que n ~ estamos occupandono seria de todo improprio para uma expanso oonsidera\el da po,oao que ali ,iesse a formar-se. Nasproximidades do islhmo e alm d'elle muitos terrenosagora pantanosos e invadidos pelo m:1ngue poderiamatterrar-se sem grande custo.Em resumo: devemos procurar atlrabir para SantoAntonio o commercio do Zaire e crear-lhe ali um centro. Comearemos por construir ahi a casa dos pilotos,que ser,ir lambem de e s t a ~ o postal. Promo,amos aconstruco de depositos das casas comn1erciaes port.nguezas, que tero ali proteco mais efficaz do que emoutro ponto do rio. Facilitemos o embarqoe e desembarque de mercadorias. Estabeler,amos moderadas tarifas de pilotagem e appliquemos ao porto um pequenodireito de tonelagem; , ~ o l t a r e m o s a este assumplo. E,,j.temos tanto qnanlo possivel o emprego de importunas

    r e s t r i c ~ - e s policiaes:. as aduaneiras so felizmente impossi,eis; um beneficio pelo qual nunca nos mostraremos bastante gratos conferencia de Berlim. Aceeitemos a competencia com o novo Estado livre do Congo:ternos cxcellentes elementos de lucta, saibamos appro- .''eital-os.

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    38/63

    rr

    3G

    vNa zona do Jittoral oeeanico o eommcrcio taraete-risado pelos dois generos ricos: o marfim e a borracha.

    As caravanas que trazem estes generos descem do ser-to, do grande plan'alto central, passam nas proximidades de S. Salvador e veem at costa d'onde regressam para o interior, levando os productos europeusprovenientes da troca. N'este duplo trajecto so expoliadas por todos os regulos cujos territorios atravessame a quem pagam pesado imposto de transito. Chegados, costa os carregadores no se entendern directamenieeom os negoeiantcs europeus: so os naturaes da localidade q u ~ se encarregam de ultimar as t r a n s a ~ e s .Imagine-se a que ponto estes generos so onerados poresta longa serie de contribuies foradas.E, apesar de tudo isto o commercio remuneradore as feitorias estabelecidas entre o Loje e o Zaire auferem lucros, no obstante a concorrcneia que fazem entre si. N'esta zona existem nneleos de duas a seis feitorias nos seguintes pontos: Quissembo, ~ f u s s e r r a , Ambrizette, Moeulla, Kinzo, Mangue Grande, Cabea daCobra,.e :Mangoe Pequeno. Nenhuma d'estas povoaespossue um porto abrigado; todas esto estabelecidas na

    , ..

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    39/63

    -

    "

    38costa, asperamente batida da calema. Esta circumstancia principa1mcnte, impediu que se escolltesse um d'espontos para capital do districto. Aclualmente nenhuma d'estas feitorias portugueza.O Ambrizette, situado proxi1namente a meia distancia entre o Ambriz e o Zaire, foi o ponto escolhido parasde do concelho do littoral. Parece-nos acertada a escollta. D'aqui ser facil dar a mo a uma expedio quepartindo de qualquer dos extremos occupados, se destine a restabelecer a ordem, quando porventura venhaa ser alterada n'um dos pontos intermedios.Para que a nossa soberania seja bem acolhida n'estazona foroso que comecen1os por dar ao commerciotodas as garantias de segurana, facilitando o accessodas caravanas s feitorias, tornando-lhes ocaminho segoro e libertando-as das r a p i n a . ~ do trajecto e da expoliao de que, tanto ellas como as feitorias, so victimas por parle dos regulos do littoral. Conseguido esseresultado sero facilmente aceites as contribuies que. , .1mpozermos as casas eommerctae3.

    Rases de outra ordem aconselham ainda este objectivo.Os estabelecimentos da costa tem actualmente comoque o monopolio dos generos ricos do interior. Os

    nossos esforos devem tender no s ~ mantelo, maslambem a ampliar a area da sua explorao commercial. Logo que tenham a. certeza d'um trajecto seguro, as caravanas preferir;io a qualquer outro o caminho que atravesse os nossos territorios e que continuara ser o derivatiYo mais natural do trafico do serto, em

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    40/63

    37quanto se no construir o caminho de ferro atravez daregio das cataractas do Zaire. Ora as difficuldades daempreza auetorisam a supposio de que por longosannos ainda se addiar a realisao d'esse sonho dourado de Stanley e do soberano do novo Estado doCongo. Mesmo quando essa linha vier a construir-seno lhe ser facil desviar a corrente estabelecida: o capi-

    . tal que ha-de exigir a sua construco e exp1orao tersempre que contentar-se com um juro muito modicoquando no fOr negativo. A rapidez do trajecto nuncaba-de constituir uma vantagem a seu favOr: no foi parao preto que os inglezes inventaram o seu e e l e b r ~ apho- rJsmo - tame u money.

    As tarifas d'essa linha no podem deixar de ser bastante elevadas, afim de attenuar a perda. Ora se o pretono conhece o valor do tempo, menos se importa comdistancias; ha-de sempre preferir transportar elle proprio os seus generos a pagar o seu transporte.Conclue-se do que acabamos d'expOr que no s notemos que receiar a coneorrencia dos nosso estado visinho, mas ainda que de ns depende alimentar e am pliar o commercio da costa. De que modo? ..t\ssegurandoo trajecto das caravanas de negocio e, para isso, occopando fortemente o interior.

    De S. Salvador para a costa ser facil melhorar otrilho seguido pelas caravanas, conservando-o limpo decapim e construindo pontes sobre rios que elle atra-vessa e que, no tempo das chuvas, constitne1n seriosem_baraos. A distancias determinadas por um dia demarcha, a trinta kilometros proximamente levantem-se

    .... ..

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    41/63

    40scienc.ia social. Um plano d'occupao qne, por este 1ado, tem analogia com o nosso, valeu-lhe uma phrasehun1oristica que foi muito apreciada pelo seu numerosoauditoria; smente no hasta ter cspirito para ter razo.V j"'rnos de que forma o sr. dr. Pinto resol,ia o problerna.

    O nosso objectivo, dizia o illustrc confcre1tc, de,econsistir cm civilisar o indigena c nro cm imp- nos pelaforca; os nossos esforos dc,em tender a cerzir nossa a

    c i , i l i s a ~ o indigcna e a levantai-a at ao nosso ni\'el.Por que processos? Pelo comtncrcio e pela difuso dainsttncto. Protejamos o commercio, d'accordo; de,e ser esEe o nosso objecti,o principal. Instruamos lambemf)Uando fr possvel; no ,imos n'isso inconveniente,pelo contrario. ~ J a s no nos illudamos: o dcsenvol\'iIncnlo comtncrcial prccisan1entc o nosso fin1 e s incidcntahncntc pdc ser consiJetado debaixo do pontode vista do seu alcance civilisador. Se o nosso proposilofosse uniran1cntc civilisar o inJigcna afaicano, se de,csscnlo.s considerar o con1n1ercio con1o meio de chegara esse result:ldo de,crian1os, para ser cohcrcntes, com c ~ . a r por paohibir a introduco de bcbiJas alcoolicasnas nossas possesses, como chegou a propr um membro, to philanlropo como desinteressado, da conferencia de Berlim. ~ f a s ento no paren1os em to born caminho; clirninemos do \ez todos os agentes de destruio que a industria europeia to prodigamente forneces raas africanas. No nos limitemos a impedir a introduco de bebidas alcoolicas, pl'ohibamos tan1bem ai m p o r l a ~ o d'armas e de polvora. Tereffios por esta fr-

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    42/63

    41ma supprimido os generos que com os tecidos d'algodo, constituem a base do cornmercio africano, o nossofamoso agente civilisadoa, cujos recursos ficaro assimbastante reduzidos. Alas que importa no fhn de tudoque soffra o comn1ercio? No encontraremos ns compensaes sufficientes na tranquillidade da no.;;sa consciencia e na saiisfao dos nossos sentimentos humanilarios?

    Mas a um cspirito to esclarecido como o do sr. dr.Pinto no podia passar dcsaperccbit.la a possibilidaded'um couOicto originado nos nossos don1inios e ao qualno podcrian1os conser,ar-nos indiflcrcntcs. Para e ~ l e scasos, que sero raros logo que se consiga civilisar opreto,- o que no ha-de succeder manh - prope osr. dr. Pinto un1 remet.lio to cnergico cotno nlachiarelico: quer elle que se opponhatn aos pretos os seus coogeneres, apro\9 eitando habilmente para isso a extremadi,iso politica do paiz. engenhoso rnas afigura-senos pouco pratico. Em todo o caso o distincto conferente no prescinde e1n absoluto da fora publica; entende poa1n que ella de\9e ser\ir unicamente para darsanco Jei. Exnctan1ente co1no ns; poa onde se pro,aque iio fundo estamos perfeita1ncntc d'accordo.

    __ .....,......_....__..._

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    43/63

    40 'sciencia social. Um plano d'occupao qne, por este lado, tem analogia com o nosso, valeu-lhe uma phrasehun1oristica que foi muito apreciada pelo seu nun1erosoauditorio; smente no hasta ter espirito para ter razo.V jlirnos de que forma o sr. dr. Pinto resol,ia o problelna.

    O nosso objectivo, dizia o iIlustre c:Dnfcreptc, de,econsistir em civi1isar o indigena c no cm impr-nos pelaforca; os nossos esforos dc\'em tender a cerzir nossa a

    c i \ ' i l i s a ~ o indigcna e a le\'antal-a at ao nosso ni\'e).Por que processos? Pelo commercio e pela difuso dainslluco. Protejamos o commercio, d'accordo; de,e ser esse o nosso objecti,o principal. Instruamos lambemf)Uando fr possi vel; no vimos n'isso inconveniente,pelo contrario. ~ J a s no nos illudamos: o desenvolvimento comu1crcial prccisan1entc o nosso fin1 e s incidentalnlcnte pdc ser considerado debaixo do pontode '!ista do seu alcance civilisador. Se o nosso propositofosse uniran1cnte cil'ilisar o indigcna africano, se de,esscnlo.s considerar o con1n1ercio con1o meio de chegara esse resultado deveriam.os, para ser coherentes, cometar por prohibir a introduco de bcbiJas alcoolicasnas nossas possesses, como chegou a propr um membro, to philantropo como desinteressado, da conferencia de Berlim. Mas ento no paremos em to bom caminho; eli1ninemos do \ez todos os agente.s de destruio que a industria europeia to prodigamente forneces raas africanas. No nos limitemos a impedir a introduco de bebidas alcoolicas, prohibamos lambem aimporlaco d'armas e de polvora. Tercffios por esta fr-

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    44/63

    .. . . 41ma supprimido os generos que com os tecidos d'algodo, constituem a base do commercio africano, o nossofamoso agente civilisado1, cujos recursos ficaro assimbastante reduzidos. ~ l a s que importa no fi1n de tudoque sofTra o o m 1 n e r c i o ~ No encontraremos ns compensaes sufficientes na tranquillidade da n o ~ s a consciencia e na saJisfao dos nossos sentimentos humanilarios?

    Mas a u1n cspirilo to esclarecido como o do sr. dr.Pinto no podia passar desapercebida a possibilidaded'un1 conflicto originado nos nossos dominios e ao qualno podcriamos conser,ar-nos indiflerentes. Para ef'lescasos, que sero raros logo que se consiga civilisar opreto,-- o que no ha-de succeder manh - prope osr. dr. Pinto un1 remedio to cnergieo como machia,e-lico: quer elle que se opponharn aos pretos os seus congeneres, apro,eitando habilmente para isso a extrema

    rdiviso politica do paiz. E engenhoso mas afigura-se-nos pouco pratico. Em todo o caso o distincto conferente no prescinde e1n absoluto da for.a publica; entende por1n que ella de,c servir unicamente para darsanco lei. Exactan1ente corno ns; por onde se pro,aque iio fundo estamos perfeitarncnte d'accordo.

    '.. "'

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    45/63

    VIIEstamos chegados ao ponto mais arduo do nosso tra-

    balho, ao estabelecin1ento do regmen fiscal. Os lnpostos assentam sobre um principio d'incontesta,cl utilidade publica: so uma ren1unerao que o estado cobra pelos servios prestados communidatle. No corntudo menos \erdade que o conlribuinle nem sempre tempresente este principio e que no sem extrema reluctancia que o estado consegue arrancar-lhe a sua quota.No nosso caso o problema complica-se ainda com a diversidade de raas que occupam o terrilorio e com avariedade d'intcresses de cada uma d'ellas. D'ahi provem a necessidade de variar o genero d'impostos demodo a tornar a sua cobrana mais facil para o estado, mais sua,e para contriuuinle e a imprimir-lhes,se possivel, um caracter civilisatlor.Os auctores que se tccm occupado da questo colonial so accordes en1 estabelecer que a metropolc nnca.deve contar com as suas colonias como fontes de receitadirecta. S duas colonias collocauas em c o n d i ~ e s rnuito.especiacs alimentan1 acluahnente os cofres das rcspec-livas tnclropoles: so Java c Cuba: todas as outras con-tribueln apenas d'un1a n1aneira indirecta para o au-gmento da riqueza e preponderancia das suas metropo-les. Quer dizer que n'csse caso seja improficua a funda-

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    46/63

    43o de colonias? No por certo: a expanso da raa, odesenvolvimento do commercio da metropole, o alargamento da sua area d'aetividade so factores importantes de prosperidade que importa no despresar. Aindamesmo depois da sua emancipao as c ~ l o n i a s continuam a estar moralmente ligadas me-patria, pelaeommunidade da lngua e pela indole que a hereditariedade lhe imprimiu. O Brazil ainda hoje a melhorcolonia portugueza; um mercado importante dos nossos productos, e contribue para a nossa riqueza publicacom uma quota elevadissima que s em numerario seno pde c a l ~ u ) a r em menos de doze a quioze mil contos annuaes 1

    ~ claro que no conseguiremos sublrahir .cos a estalei geral e que devemos contar com penosos sacrificiospara acudir s despezas de installao nos novos tcrritorios. Ser lambem prudente no esperar que seremosembolsados das quantias que houvermos de dispender.Angola, como as outras colonias, nunca llOS dar senocompensaes indirectas, e para isso ser neeessario quepensemos a serio em promover o nosso desenvolvimentoindustrial. De CJoe setve crear mercados quando se noproduzem generos que os abasteam1 Sacudamos anossa pro\erbial indolencia c provemos s naes europeas que possuimos ainda elementos de ,italidadeque justifiquem a nossa autonon1ia e nos colloquem naelevada situao que nos compele no convivio das naes, na qualidade do potencia colonial.

    I OLifEIRA MAnriNs, OBra:il t a1 eolonia portugueza1 pa1. !!3.

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    47/63

    I

    Os impostos que poderemos E'.Stabelecer nos novosterritorios so de dois generos: I.o sobre as casas commerci3es; 2." sobre os indgenas.

    .Os da primeira cathcgoria podem dividir-se em directs e indirectos. Directos a) imposto de occupao eusufructo de terrenos, correspondendo nossa coolribuio predial; b) contribuio industrial; indirectos-c) registro e sello; d) impostos de exportao; e) taxasdo porto.Ao indigena apenas applicavel por cmquanto umaespecie de imposto; f) contribuio prrdial (?)

    ). O pesado imposto que at ago1a as. feitorias pagavam ao indgena com o nome de costumes no pdecontinuar a subsistir. No se coaduna com o exerccioda soberania e, de\'damenle modificado, deve re\yerlerpara o estado. No suscitar reluctancias por parte dosnegociantes desde que as feitorias encontrem no nossodominio proteco efficaz e sufficientcs garantias de segurana. No succeder o mesmo com os indigenas.Esses no vero com bons olhos escapar-lhes uma toimportante fonte do receita, que to deliciosamente ali-mentava a sua ociosidade. A appropriao pelo estado apenas applicavel aos terr.cnos baldios. Sero cuidadosamente respeitados os que esti\'erem valorisados porqualquer cu1tura, ou na posso incontestada d'um determinado individuo. Este imposto ler a vantagem de fazer comprehender ao indgena o valor da propriedadee de incitai-o a adquirir e a desbravar terrenos; por estelado eminentemente civilisador.

    b). O i1nposto a) deve ser uniforme; ('Ste de,e fun-

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    48/63

    dar-se na importancia das transaces effectuadas pelosestabelecimentos commerciaes e de\'e ter o caracter pro-porcional. E um complemento do anterior, destinado atornar o imposto mais e q o i t a l i , ~ o .

    c). Analogo ao que vigora no resto da provincia. Aspropriedades devem ser registradas na conservatoria deLoanda, emquanto o incremento local nu justifica aextenso do regimen judicial aos novos territorios.d). A conferencia de Berlim no sopprimio os impostos de exportao. No ha pois inconveniente em quese appliqoem aos novos territorios, comtanto que sejammoderados, unico meio de se tornarem facilmente acceitaveis. A soa cobrana facil e pde ser_ feita pelosmanifestos de carga. Sobretudo haja o maior cuidado,

    em tirar-lhes o caracter vexatorio. E da maxima con-veniencia qne os individuos encarregados da sua cobrana nO pequem por excesso de zelo e que se atlendacom brevidade a qualquer reclamao das casas com-

    merctae3. ..A pauta em vigor nas alfandegas d'Angola (excepto

    o Ambriz) estatuiu para flireitos de exportao cincopo1 cento ad valarem para quinze artigos, entre os quaesse encontram os .de maior produco local: o mar6rnpaga tres por cento, tambem ad valorem; isto quandoestes generos se destinam a portos estrangeiros. Quandoso exportados para a metropole, aqoelles direitos reduzem-se a tres e dois por cento, respectivamente.

    As mercadorias no pagam no Ambriz direitos deexportao.A tabella de exportao de Moambique consta ape-

    .. t i-

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    49/63

    nas de oittl artigos que pagam entre um e seis por centoad valarem.Para simplificar as pautas d'Angola poderia equiparar-se a do Ambriz dos novos territorios, transformando em direitos de exportao os de importao queaetualn1ente ali se cobram. No relatorio que precede odecreto de 12 de novembro de 1869 que estabeleceu apauta actual do Ambriz 1, o abalisado eseriptor Rebelloda Silva, que o referenda, refere-se possvel conveniencia da inverso indicada. Prevaleceu porm a proposta da commisso nomeada para examinar aquelleassumpto, a qual decidiu manter a pauta actual, j ento em viggr provisoriamente, a titulo de ensaio.Cremos que a applicao d'um imposto geral de seispor cento para as m e r c a d o r i a ~ exportadas pelos portosdo norte seria. facilmente aeceite pelas casas commerciaes. No se.- talvez exagerado arbitrar um valor detres a quatto mil contos s. suas exportaes; o impostocorrespondente ascenderia portanto ele\'ada cifra decento e oitenta a duzentos e quarenta contos, euja. co-brana exigiria um diminuto. pe860al.. ..Estabelecer-se-biam postes fiscaes no Ambrizette,Santo Antonio, Cabinda e Laodana, permittindo-se acarga e descarga em todos os outros portos :mediante. acondio de tocarem os navios em qualquer dos pontoscitados, a6m de serem legalisados os seus carrega-mentos. '

    t O deereto de 30 de dezembro de 1880 o ~ alterou as dfsposiaeseueoeiaes .do aoserlor.

    ..

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    50/63

    47e). Aconferencia c!e Berlim definiu os impostos d'estatalhegoria e d i , , i ~ i u - o s em tres especies. Transcreva

    mos o texto da acta: t.o Taxas de porto pelo aprooeitamento tffectioo

    d' Cl'rtos estabelecimentos locaes, como caes, arma-zens, etc. .A tarifa d'estas taxas ser calculada sobre as despezas de construco e de conseroao dos referidos es

    tabelecimentos e o aproveitamento tffectivo ser regulado sem tlenltuma distinco para a proveniencia dosnamos ou para a stta carga.Direitos de pilotagem sobre as naes pufJiaesonde f ~ r necessario crear estoes de pilotos garantidos.

    A t a r 1 ~ { a d'Pstas taxas ser proporcional aos serviosprestados. J em outro Jogar nos oecupamos d'este assnmpto.

    3.0 Direitos destinados a cobrir as dP,spezas technicas e d m i n i s t r a t ~ v a s effectuadas no interesse geral danavegao, comprthendendo n'isso os direitos de pharoes,

    i l l t ~ m i n a o e balisagem.Os d i r ~ i t o s d'esta ultima cathegoria sero baseados

    sobre a tonelagem dos navios, tal como ella resttltar dospapeis de bordo e con{or1nemente as regras adoptadaspara o baixo-Danubio.As tarifas reguladoras das taxas e t ~ r e i t o s enumerados nos tres paragraphos precedentes sero percebi .das sem nenhum tratame1zto differencial e devero serotficialmente publicadas em cada un1 dos portos.As potencias reservam-se o direito d'examinar, aoftm de cinco anno!, se ha motivos para serem revis-

    '

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    51/63

    -tas, de commu111 accordo, as tarifas aqui menciona-das.,. Este texto snfficientemente claro e dispensa os commentarios. O imposto de tonelagem a CQbrar no Zairedepende de um accordo a fazer com o Estado livre doCongo e com a commisso internacional. Fixar-se-hopor meio d'um regulamento, o quantum do imposto eos pontos e1u que elle cobravel.

    O imposto de tonelagem ser justificado pela eonstruco de pharoes nos seguintes locaes: um pharol desegunda ou terceira ordem na ~ t o i t a Secca, cruzando osfogos com nm analogo na ponta N'Gelo ; pharolinsou luzes de porto no Ambrizette, ponta Santo Antonio,Cabinda e Landana.

    Em cada um d'estes pontos de,e haver nn1 patromr, delegado do capito do porto de Loanda.f). Por decreto de 20 de outubro de t880 foi determinado que se cobrasse um imposto predial de dez porcento da renda sobre os predios rnsticos e urbanos dosconcelhos do Ambriz, Loanda, Benguella e \fossamedese de cinco por cento em todos os concelhos restantes dapro,incia d'Angola.Esta contribuio equi,ale de facto a um imposto decapitao, quando applicada aos indigenas. Se conseguisse cobrar-se regularmente seria simultaneamenterendosa para o estado, civilisadora para os naluraes etenderia a imprimir fortemente entre elles o cunho tianossa soberania.,A nossa descoberta seguiram-se immedialamente nu-merosas tentativas para difundir a doutrina christ nos

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    52/63

    -

    sertes africanos. Com os missionarios foram l inlroduzidos os dizimos, a cujo pagamento os indgenas parece terem-se prestado com certa facili Jade.

    Em Moambique no districto de Quilimane, eonstituiram-se em prasos, doados por mercs regias, grandes tratos de terreno que eram enfeudados nas familias dos donatarios em condies especiaes que nem sempre foram cumpridas. Os senhores dos prasos exerciamsobre os colonos seus habitantes toda a casta d'extorses a litulo de Fub-emphyteuse, fros, laudemios, d1-zimos, penses etc. Um decreto de t854. extinguiu osprasos fazendo-os reverter para a cora como bens allodiaes, arbitrando orna indemnisato aos indivduos que.a esse tempo os administravam, e abolindo todos os encargos anteriores dos colonos que ficaram snjeitos smente a pagarem para o estado uma quota annual deii600 ris por fogo ou palhota.Esle decreto no tc,'e execuo at t880. N'esseanno porm as suas princ.ipacs disposies foram re,'alidadas e desde ento a contribui:o imposta ao colonopelo decreto de 54- ten1 sido regularmente cobrada semdifficuldade, e quasi integralmente.A cobrana d'este imposto, que na Zamhesia conhecido pelo nome r.afTrial de m u ~ s r . o , feita porconta dos arrendalarios dos prasos, que procedem aoarrolamento dos seus contribuintes e que todos ossemestres, na poca propria, mandam os seus delegados percorrer os di,ersos districtos em que se subdi-vide o praso, afim de realisar a cobranra. O imposto pago em dinheiro,- rupias inglezas, geralmente, -'

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    53/63

    no domicilio do arrendatario ou nas proprias povoaesdo praso.Em Angola deixaram de se cobrar os dizimos depoisda sua abolio, sem que fossem substiluidos por outroimposto. Aos indgenas, habituados ao seu pagamenio,causou eslranhesa esse facto; e tanto elles consideraram o imposto como um symbolo de soberania, queno raro ouvil-os dizer: cns ag

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    54/63

    1St

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    55/63

    1ransacces e para tender a depreciar os \'alores que a.rcprrsentan1. Onumerario raro na provincia e a poucamoeda que circula em grande parle eslrangeira, affeclada d'um valor convencional c exagerado, que seoppc sua desappario. Este e s t ~ d o de coisas temcomo consequencia um constrangimento sensivel e que

    scr1a COD\'eniente ev1Lar.E ser impossivel conscguil-o1 Cremos que no; bastaria para isso que a provincia no retirasse da circula

    o o seu papel-moeda, substituindo-o por numerario.Essa operao custar-lhe-hia na verdade o juro e amortisao do capital que houvesse de )e,antar, dez contos,.proximamente, durante um certo numero d'annos; ntasesse desfalque, longe de ir perturbar asua situao financeira, traduzir-se-hia pelo contrario immediatamente n'omaccrescimo de receitas, proveniente da maior f:1cilidadede pagamentos e do augmento do numero de transaces.~ l a s as notas do Banco continuariam a assoberbar o.mercado e destruiriam portanto os bons effeitos que podessem resultar da converso?Seria um erro suppol-o. O Banco passaria a ter umarescr\'a exclusi,9 amenle metallica, e o seu papel adquiiria, por esse facto, o caracter de numerario com valorreal. Em Jogar de cedulas da junta, os seus cofres passariam a encerrar moeda portugueza e a necessidadede defender a sua reser\'a e de manter o seu nivel nor

    mal obrigai-o h a a successivas i1nportaes de dinheiroda metropole, que, difundindo-se depois por toda a provincia, iria levar s suas partes mais remotas esse ma-ravilhoso instrumento de progresso.

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    56/63

    53Os interesses do B:1nco lambem no seriam affectados

    pela con,erso. O accresc.imo das suas transaces-1ransferencias de fundos, saques, descontos, deposi.tos, etc.- permittir-lhe-hia fazer face s suas importates de numerario. De resto os interesses do Banco esto muito intimamente ligados aos da provincia paradeixarem de passar pelas mesmas \'cissitudes. 03 seusrclatorios annuacs poem bem em relevo essa reciprocidade de conrenicncias; alguns tomar-se-h iam pelo resumo d'um relatol"io official.A p e r a ~ o que propomos no nos p a r c r ~ , por consequcncia, destinada a causar, no mercado d ' . ~ n g o l a , nperturbao que muitos receiam. Ao propriJ Banco conviria auxiliai-a por que, longe d t . ~ perturbar os seus interesses, ella concorreria para alargar a rea das suastransaces. As ,antagens que d"ahi resultariam para apro\'incia so manifestas c inutil encarecei-as ..

    Tal a serie d"impostos que imaginamos poder servirde base ao regimcn tributario d'Angola. O systema quepropomos no envolve, por frma alguma, a pretcnode ser destituido de defeitos. Um dos mais palpaveis a sua cornplexidadc, a multiplicidade dos impostos.Est claro que seria para desejar que clles se limit a s s e ~ a duas ou tres especies; mas as circumstancias.locaes no se prestam, na nosssa opinio, a uma talsimplicidade de processos. O assumpto um dos maisintrincados que a economia politica tem procurado resolrer. E se as suas concluses esto longe de ser isen-

    . -.-

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    57/63

    tas de defeitos, ainda quando se referem aos paizes maisadiantados em civilisao, como pde esperar-se em materia tribularia, attingir a perfeio nas colonias, ondeo problema de tal modo aggravado pela di,ersidaded'interesscs e pela distinco das raas?

    '

    VII

    Antes de terminar procuremos abranger n'um relancea nova provncia d'Angola, tal qual a 6zeram as ultimas convenes e a conferencia de Berlim, e tentemosdescriminar o modo como ellas podem influir na suaprosperidade futura e na sua constituio politica eadministrativa.

    Oprimeiro resultado dos ultimos acontecimentos foiacabar de ,ez com uma questo irritante- a das nossas reivindicaes na costa do norte. Angola attingiu fi-nalmente a sua fronteira natural por esse lado, que lhedeu mais unidade de territorio e lhe permilte estenderdesafogadamente, e livre de competcncias perigosas asua aco para o interior, at to longe quanto lh'oaconselhem as suas con\'eniencias c.ommerciaes.

    A conferencia de Berlirn, levando at ao Loge o li- ..mite da bacia commercial do Zaire, no pertnitte quese estabelea em toda a provincia um regimcn uniforme. Nem o incon,eniente grave, como tentmos pro-

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    58/63

    var, nem a nossa colo1_1ia se presta a uma unidade absoluta.Em Angola esto perfeitamente definidos os tres ty

    p ~ de colonias: feitorias, fazendas, eolonias propriamente ditas. Representam o primeiro typo os novos dominios ; os dislrielos de Loanda e Benguella so ummixto dos dois primeiros, asSim como o de Mossamedes um mixto dos dois ultimos.Estas tres diversas physionomias oppem-se applieao uniforme do mesmo regimen a toda a provincia ejustificaro, n'um futuro proximo, a sua diviso administrativa em tres governos distinctos.Se a nossa fronteira pelo n o r ~ e nos colloca ao abrigod'oma invaso do interior por esse lado, no acontece omesmo com o sul. O nosso limite official o parallelodo Cabo Frio ; mas as carlas allems recentemente publicadas traam-nos ali uma fronteira caprichosa, que,longe de continuar pelo parallelo, sbe logo a encontrara margem esquerda do Cunene, seguindo depois o seucurso. Urge preca\ermo-nos por este lado; convem obter,d'accordo com a nossa visinha Allemanba, que se nomeie immediatamente uma commisso de limites quedemarque visivelmente a nossa fronteira sul.Esta questo do mais allo interesse e precisa cba-mar toda a nossa attento. E no sul que reside o fu-turo d' Angola, no sul que se hade formar o nucleo dacolonisato pela nossa raa. No districto de Mossarnedes o europeu 'yi,e e propaga-se, o que caracterisa principalmente a faculdade d'acclimao.- Na villa de Mossamedes tciD augmentado consideravelmente a popula-

    ---

    ...

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    59/63

    56o b .anca, descendente dos primeiros colonos. As condies climatericas do p l a n ~ a l t o so ainda mais r ~ , o r a -. ,veas a nossa raa.Para que o districto de ~ l o s s a m e d e s se desenvol,a,p3ra que a populao branca augmenle, para que aemigrao portugeza se dirija para l, falta lhe apenasum aequisito- communicao facil do interior para o.lilloral. Que importa que na Huilla nu em Quillengues 1o trigo produza 50 sementes se no ha meio de o transportar para a costa?Esperemos que a construtco do caminho de ferrod'Ambaca inic.iar o desenv{)lvimcnto indispensa,?el da,iao em Angola.Depois de feita esta linha impe se o seu prolonganlenlo por dois ramaes ; un1 que se dirija at s margens do Cuango, cataracta D. Luiz; outro que incli-. nando-se para o sul v procurar o Muata-Ianvo e o paiz -dos Ganguellas.Esta ser a grande via commercial. De no menorimportancia ''ir a ser a linha colonial, que, partindod'um dos pontos do littoral, 'lossamedes ou a Lucira oumelhor a bahia dos Elephantes, suba at ao plan'alto.ahi que hade estabelecer-se o foco da colonisaobranca onde a nossa raa poder radicar se,_ e d'ondeirradiar para o norte e para o interior, por ahi quea .pro,yincia d'Angola .comear a ser propriamenteportugueza. s regies do norte interessa mais particularmente o

    a Quilleogues fa& parle do distrielo de Beoaoella.

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    60/63

    57desen,olvimento commercial e para esse resultado quede\'em con,ergir os esforos dos governos. Dissemos jqual era o regmen fiscal que nos parecia a p p l i c a \ ' ~ aosnoros dorninios. O incremento do commercio nos terri-torios que occupavamos depende essencialmente da moderato das tarifas aduaneiras. Porque no se hade applicar a Angola, a titulo d'ensaio, a pauta de Moambique, ligeiramente modificada em alguns d ~ s seus arti-gos? Poderia conservar-se por exemplo o actual impostosobre o tabaco, tomar-se para os tecidos d'algodo amedia das duas pautas e fazer-se a nm ou outro dosrestantes artigos, as modificaes necessarias para ospr d'accordo com as condies diversas das doas provncias. Se e ~ s a tentativa no dsse os resultados que sede,em esperar voltar-sc-hia ao nnligo regimen. Este retrocesso deixar-ia. de causar estranbesa, logo que se tomasse a precauo de altribuir um caracter po,isorioe mramente experimental s medidas libcraes quo fossem adopladas.

    Ha na provincia d'Angola outras anomalias a que de necessidade pr tertno. Justifica- se por ,entua que,nos nossos doruinios, s p o r l ~ s de Loanda, se consinta,a affrontosa audacia d'um marqucz de ~ f o s s u l o ? Eadmis-sivel que este rgulo se opponha impunemente ao livretransito entre o Ambriz e a capital da pro,incia? Concebe-se que o gentio da Quissama, ao p de Noro Redondo, zombe impunemente da nossa auctoridade, e seentregue ainda hoje a repugnantes scenas de canniba-

    . lismo? Bem sabernos que a vastido da nossa coloniaexplica, cm parte, estas aberaaes. Nem a continuidade

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    61/63

    rss

    da occupao condio essencial da soberania, nem a'assalagem d'estes territorios indispensavel para odesehvolvimento normal da provincia.Estas rases concorreram talvez para que se notentasse ha mais tempo acabar com esta situao anormal. Mas agora que as attenes da Europa se voltamcom interesse para a nossa politica colonial convem,mais do que nunca, que envidemos os nossos esforospara manter illesos a dignidade e o prestigio do nomeportugoez.

    No lerritorio que nosso, porque pelo esforo e pelotrabalho buscamos conquistai-o para a civilisao, bastaque sejamos ns os unicos que go,'ernem. Justa ou injusta, a posse politica d'om determinado territorio invol,e em todo o caso a ida de soberania e exclue ad'outra soberania que possa contrapr-se-lhe.Seria facil accumular exemplos d'analogos errosd'adminislraco colonial. No se desconhecem essasaberraes nas regies officiaes, mas escasseiam muitas''ezes aos governantes, em dinheiro e em pessoal, os recursos com que poderiam remediai-os. Tendo a propriametropole de luctar contra as difficoltlades provenientesd'um estado financeiro pouco prospero, natural quehesite em accumuJar, a favor das coloni1s, sacrificios. . . - , .pecun1arJos, CUJa compensaao e ma1s ou menos pro-blematica. D'esle retrahimento rla me patria derivapara as colonias a difficnldade de expanso e de progresso, que lhe proviliam d'algumas son1n1as discretamente applicadas a melhoramentos materiaes, que ofuturo se encarregaria de tornar productivos.

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    62/63

    Outro estor\'O ao desenvolvimento colonial consisteno seu funccionalismo, que, parte honroSc'\S excePtes,se recente em geral da penuria com que os serviospublicos so retribuidos. Os individuas dotados de ,erdadeiro merecimento encontrando no paiz remuneraoque, se nunca avultada, lhes permitle comtudo viver,no iro procurar aventuras em regies longinquas, umtanto envoltas ainda na lenda tenebrosa d'alem-No,sem que uma a\ultada recompensa lhes sir\'a d'estimuloe d'iocitamento.Tornou-se frisante esta circumstancia quando em1877, se tratou da nomeao do pessoal para a expedio d'obras publicas. Foi preciso estabelecer uma remunerao elevada para se oblcr o pessoal necessario.Os ,encimentos dos engenheiros chefes eram muilo superiores aos dos governadores geraes, e apesar d'issopara os encontrar teve de appellar se para o seu patriotismo e para a sua abnegao,-digo-o sem sombrasd'irouia.Todos os ser,ios publicos sofTrem com esta faltad'um funccionalismo competente e sufficientemente habilitado para o desempenho das complexas fuocesda administrao colonial. Tendo, pela fora das circumstancias, de confiar-se certas funces a indi,iduospouco aptos para as desempenhar, succede que elles sejam causa de serias e numerosas complicaes que tempoderosamente conlribuido para lanar um certo desprestigio sobre a nossa administrao.Parece-nos chegado o momento d'olharmos com atteno para estes e outros inconvenientes e de procu-

    -

    ..

    41

  • 7/28/2019 A Ocupao do Congo e a Conferncia de Berlim

    63/63

    60rarmos remediai-os, se queremos cumprir os de,ercs,que nos impe a extenso do nosso dominio colonial. En'elle que ha,emos d'cncontrar a compensao pequenez do nosso territorio europeu e elle que permittirde futuro que o nome portuguez conserve uma deciditlapreponderancia na e\oluo progressiva da humanidade.

    Angola, com a fertilidade e a riqueza mineral do sensolo, com a di,ersidade dos seus productos e com umabenignidade de cli1na que pcr1nit te a acclima.o europa no seu extremo n1eridional offercce um \"asto campo

    d ' ~ c o nossa iniciati\'a c nossa acLi ,idade. Depende de ns exp!orarmos com bom s e n ~ o a sua cxtraordinaria productividatle e transformai-a n'um \'asto imperio,que \'ir a ser o nosso Brazil africano. Depois da con

    ferencia de Berlim i m p ~ r t a , mais do que nunca, combater pl'aticanlcnte a propaganda d'incapacidade que seintentou contra ns. Punhamos de parte a nossa pro\'erbial indolencia, os velhos habitos, os antigos preconc ~ i t o s , os erros in,eterados, as complaccncias politicas

    e indi\'iuuacs e resolvan1o-nos de vez a entrar no caminho da unica politica rasoa,el-a dos negocios e dosinteresses ~ a c i o n a e s . S assim poderemos ainda no fnturo representar no mundo um papel preponderante ejustificar a posse da l1erana que nos legaram antigasproezas que a Ilistoria se encar1egar de registrar emquanto existir a Humanidade.