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Jornal Comunitário da Cidade de Deus

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Page 1: A notícia por quem vive 8ª edição

Cidade de Deus Maio 2014 Ano III Edição nº 8

Cidade do BemA Cidade de Deus continua instigando os cineastas, desta vez três estrangeiros fizeram tomadas deimagens na comunidade e em breve lançarão o filme "City ofgood". Confira nas páginas 6, 7 e 8.

Insituto Rio e um investimento em rede para a Zona Oeste página 3Mulheres em ação páginas 4-5Ser mulher vai além de ser vaidosa página 5O Lixo X Cidadania página 10Farmanguinhos e o desenvolvimento comunitário página 11A violência no Brasil página 8Dependência química com crianças e jovens e por quê página 12Ponto de Cultura Circuito Itinerante página 13Conhecendo um pouco mais o Instituto Presbiteriano Álvaro Reis página 15Poesias página 16

E mais...

Nosso jornal faz parte do Portal da Cidade de Deus. Acesse www.cidadededeus.org.br

A comunidade tem se reunido para elaborar o Planode Desenvolvimento Local, se informe na página 14,e participe.

Parece que teremos a tão sonhada escola de 2° grau,uma das reivindicações mais antigas da CDD. Mas asportas ainda estão fechadas. Veja na página 9.

Page 2: A notícia por quem vive 8ª edição

Expediente Maio 2014

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ACidade de Deus tem um povo batalhador. Há valor imensurável em nossa comunidade, que é o seupovo. Vamos conferir nesta edição que as mulheres tiveram destaque profissional se capacitando comocostureiras e/ou exercendo a atividades de pedreiras e pintoras com louvor, deem uma passadinha naASVI da Rua Israel para comprovar o capricho. Também saberemos mais sobre o Instituto Rio e umarede de projetos, como o Juventude sem Amarras, onde os jovens estão conhecendo vários conteúdos eao final do projeto deverão fazer um seminário para outros jovens. E não para por aí, a Cidade de Deuscontinua instigando os cineastas, desta vez três estrangeiros fizeram tomadas de imagens na comunidadee em breve lançarão o filme Cidade do Bem, merecemos né?

Vamos conferir?

Parece que teremos a tão sonhada escola de 2° grau, as obras do Colégio Pedro Aleixo estão a todovapor, quando será a inauguração?Já deram uma olhada no entorno? Lixo por todos os lados. Como estamos tratando do lixo que

produzimos?Vocês conhecem a Farmanguinhos? Sabem o que acontece por lá? Vale conferir a matéria.A comunidade tem se reunido para elaborar o Plano de Desenvolvimento Local, se informe e

participe.A dependência química é um tema preocupante e que vale a nossa atenção, leia e confira.Queremos parabenizar o INPAR – há mais de cem anos oferecendo vários atendimentos para crianças

e famílias.Temos poesia de mestre, Obassy, compositora, atriz fundadora do grupo Raiz da Liberdade, poetisa,

cantora, merendeira da Cidade de Deus e, há alguns anos, uma estrela a mais no céu.

Editorialpor Valéria Barbosa

Fundadores:Ariana Apolinário, CelsoAlexandre Alvear, CileneVieira, Dara Bandeira, Day-se Vieira, Felipe Brum, Joa-na da Conceição Campos,João Carlos Souza, José Al-berto, Julcinara Vilela, Lan-derson Soares, LeilaMartiniano, Maria AngélicaPonciano, Marília Gonçal-ves, Mônica Rocha, Rita deCássia, Rosalina Brito, Va-léria Barbosa da Silva

Membros do jornal:Cilene Vieira, Dayse Vieira,Julcinara Vilela, FelipeBrum, Rosalina Brito, MariaAngélica Ponciano, Mariado Socorro Melo Brandão,Valéria Barbosa.

Colaboradores desta edição:Juliana Mattar, Magali Chuquer, Jacob Portela, Luiza Beal eLiliane Lo Bianco

Revisão de textos:Camille Perissé, Isis Reis e Renata Melo.

Agradecimentos:Aos diagramadores voluntários de cada edição do jornal:Camille Perissé, Isis Reis, Diana Helene, Alan Tygel e Cé-sar Campos.

Apoio:CDD, SOLTEC/UFRJ, Farmanguinhos/Fiocruz e ASVI.Este jornal foi diagramado utilizando somente programas decomputador livres: Scribus, Gimp, LibreOffice.

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Insituto Rio e um investimento em rede para a Zona Oestepor Maria do Socorro Melo Brandão

“O Instituto Rio é uma fundaçãocomunitária criada no ano 2000com o objetivo de apoiar efortalecer iniciativas que promo-vam o desenvolvimento social daZona Oeste da cidade do Rio deJaneiro. Constituído como OSCIP(Organização Social de InteressePúblico), o Instituto Rio trabalhacom foco no empoderamento dascomunidades locais, na mobi-lização e articulação de diversosatores estratégicos presentes noterritório, na articulação deparcerias e redes colaborativas ena qualificação da atuação delideranças, organizações sociais ecoletivos de base comunitária.Entre os anos de 2003 e 2012 oInstituto Rio apoiou 200 projetos de70 organizações” (ver mais no sitewww.institutorio.org.br).A Associação Semente da Vida

foi apoiada pelo Instituto Rio compequenos projetos e, a partir de2012, os editais passaram a apoiarprojetos com duração de 1 ano. Em2012 recebemos apoio pelo projetoJovens Comunicadores da Semente,que foi renovado em 2013, sendoque em Outubro ganhamos o 2°

lugar no Prêmio Geraldo Jordão,que foi lançado pelo Instituto Riobeneficiando projetos que estavamalcançando excelentes resultados nasua execução.Em 2014, o Instituto Rio inovou

para acolher mais instituições dazona Oeste em uma grande redelançando a Universidade Comu-nitária:“A Universidade Comunitária

da Zona Oeste tem a finalidade depromover a construção de umespaço público – aberto e demo-crático – de acesso e produção deconhecimentos orientados para di-namizar o processo de desen-volvimento da Zona Oeste do Riode Janeiro. É um espaço deformação, diálogo, articulação,promoção e apoio às iniciativas deorganizações e coletivos socio-culturais presentes no território quesejam capazes de valorizar asvocações das comunidades locais(e os públicos beneficiários) efomentar o intercâmbio, a troca deexperiências e a criação de parce-rias com diversos atores pertencen-tes aos setores público da socie-dade civil e da iniciativa privada.

Através da promoção de ativi-dades de formação - oficinas, semi-nários, conferências, capacitaçõese debates de caráter permanente -oferecidas pela rede de instituiçõesapoiadas pelo Instituto Rio e pelasorganizações parceiras, a Universi-dade Comunitária trabalha com asseguintes linhas estratégicas: Açõesafirmativas: raça, gênero e prota-gonismo jovem; Economia criativae solidária; Movimento cultural;Geração de trabalho e renda;Tecnologias sociais; Direitos huma-nos, justiça social e cidadania; Co-municação afirmativa e comu-nitária; Educação afirmativa; De-senvolvimento socioambiental.”(site www.institutorio.org.br)AASVI CDD está fazendo parte

dessa inovação, apresentando oProjeto Jovens sem Amarras. Já es-tamos trabalhando há algum tempocom jovens da comunidade, massentíamos falta de incentivar mais odesenvolvimento de uma consciên-cia crítica. Então, através do proje-to, que está trabalhando questõessobre raça, gênero e protagonismojuvenil, buscamos incentivar o jo-vem da Cidade de Deus para que a-prenda a se tornar um protagonistade sua história. No final de 2014,esses jovens irão, junto com os e-ducadores que estão acompanhandoo trabalho, Mirian Andrade, MárcioGomes, Valéria Barbosa e MagnóliaRégis, realizar um seminário volta-do para a juventude a fim de buscaruma integração com outros jovensda zona oeste.Queremos também contar com a

colaboração de todas as instituiçõese moradores da comunidade, paraque possamos criar novas propostaspara mais jovens através dessegrupo que está sendo capacitado.Atividade com Marcio Gomes, naASVI

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Mulheres em Açãopor Julcinara Vilela

Todos nós sabemos da força damulher em diversos aspectos davida, seja na família, vida social outrabalho, mas existem muitospreconceitos ainda que dizem que amulher tem que ficar na cozinha.Na comunidade da Cidade de

Deus descobrimos duas mulheres:Lúcia Helena, mora há 45 anos nacomunidade e Maria de Lourdes,mora há 25 anos, que fazem adiferença. Elas tem se destacado porapresentar o seu trabalho deexcelente qualidade deixandomuitas pessoas “desconfiadas” deque foi realizado por mulher.Elas optaram em trabalhar na

construção civil e assim nos contamas suas histórias:“Vi um anuncio de uma ação

global que iria acontecer, e lá oprojeto ''Mão na Massa'' estariafazendo inscrições. Convidei aLourdes para ir comigo, onde nosescrevemos e fomos chamadas parao curso de capacitação voltado paramulheres.Antes, Lourdes trabalhava como

gerente em uma lanchonete por 12anos e em outros serviços na área dealimentação. E eu trabalhei em

alguns projetos aqui nacomunidade, entre eles o ''JovemTotal; recepcionista; vendedora eem área de produção''. – Lúcia nosconta como foi o início de tudo.No Projeto ''Mão na Massa''

tiveram a parte teórica eposteriormente a parte prática como curso do Senai. Tiveram aoportunidade de trabalhar Pac (noComplexo do Alemão), onde foramselecionadas 20 mulheres e entreessas estavam as duas.E Lúcia diz como realizam o

trabalho: “Planejamos o nossotrabalho de acordo com o pedido docliente (necessidade). Nuncatrabalhamos em duas residências aomesmo tempo. Procuramos avaliaro serviço antes de realizá-lo, casonão nos compita fazer, somostransparentes com o clientetentando instruí-lo da melhor forma

possível. Seja sobre tipos demateriais a serem usados ou sobrea qualidade deles. Nunca tivemosproblema com ninguém até hoje.”Elas contam que, por muitas

vezes, sofrem discriminação.Geralmente por acharem que nãodarão conta do trabalho. “O bom équando aceitam o nosso orçamentoe ficam admirados com a nossacapacidade de realização” (essa é asuperação das duas).Lúcia e Lourdes têm a seguinte

mensagem para mulheres e homensque querem entrar para a construçãocivil: “procurem se capacitar eprocurar sempre aprimoramento. Opreconceito só é diluído com otrabalho bem feito”.Na página ao lado estão as

informações importantes paralocalizar essas mãos de ouro:

Lúcia e Maria de Lourdes

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Ser mulher vai além de ser vaidosa

por Valéria Barbosa

https://www.facebook.com/[email protected](Lurdylu)

Tels para contato2443-7045 / 98480125 (Lúcia)3342-5016/ 96337946 (Lourdes)

“Trabalhamos com coloca-ção de cerâmicas / porcelana-tos / pedras em geral /colocação de portas e janelas /pintura residencial e comercialetc.”

Ser mulher vai além de servaidosa, dona de casa, estudante,mãe. Ser mulher é lutar por seusideais, cumprir, além de umajornada de trabalho, a de casa efamília para cuidar. As mulheressurpreendem a cada dia pela força ededicação profissional. As mulheresda Cidade de Deus provam o queestá acontecendo no mundo: agrande participação feminina nomercado profissional.Na Cidade de Deus, contamos

com mulheres que tomam conta decrianças, as mães crecheiras, estascuidam de filhos de mulheres quesaem diariamente para trabalharem.Alimentam, cuidam da higiene,levam para escolas, cumpre astarefas de cuidadoras de crianças.No Comitê da Terceira Idade,

um grupo de 25 mulheres sereúnem todas as 5ª feiras paraaprender uma nova profissão e/ouaprimorar novos conhecimentos naárea de costura. A idade das alunasvaria dos 20 aos 81 anos. Estasmulheres durante 12 meses estãoaprendendo modelagem, corte,costura e Silk Screen, Transfer,noções jurídicas. O Objetivo destecurso, financiado pelaLAMSA/Instituto INVEPAR, éque, ao final, elas sejam capazes deformar uma cooperativa de

ECOBRINDES.Dona Benta, Presidente Interina

do Comitê da Terceira Idade eidealizadora do Projeto, afirma que:“A experiência está sendo muitopositiva, a cada conquista dasmulheres, cada produtoconfeccionado, cada melhora noacabamento, a felicidade écoletiva”.Se você quer aprender venha

falar conosco, nossa Sede é na RuaCarmelo n°50, quem tem umaprofissão tem chances desobreviver de forma independente.

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O filme Cidade de Deus com-pleta 10 anos, durante todo estetempo, o sentimento de desconfortocom a imagem que teve repercussãomundial vem incomodando alémdas fronteiras da Cidade de Deus.Em abril de 2003, um ano após

o lançamento do filme Cidade deDeus, uma reportagem de duas pá-ginas preencheu Jornal BrazilianTimes, a matéria de Maurício Men-des aborda o quanto o filme balan-çou o coração de uma americana.Drª Victória R. Fahlberg que traba-lhou na Associação de Moradoresdurante 10 anos. Ao ver o filme epor conhecer e trabalhar com pes-soas do local, ficou indignada coma imagem que retratou o lugar.Além do posicionamento da

Victóra Falhlberg, dissertações fo-ram defendidas no país e no exteri-or falando sobre o tema. Aestudante de doutorado na Inglater-

Cidade do Bempor Valéria Barbosa

ra Antonia Gama, que há bem pou-co tempo trabalhava na UPP Social,fez um curta onde pessoas que tra-balham pelo desenvolvimento locale/ou moradores comprometidoscom trabalhos sociais e culturaisfalam do bem mais precioso do lo-cal: as pessoas.“O filme "O olhar que eu tenho

hoje" ("The way I see today") é re-sultado de uma pesquisa de Mes-trado em Filosofia doDocumentário Etnográfico realiza-da junto ao Granada Centre for Vi-sual Anthropology, da Universidadede Manchester, na Inglaterra. O ob-jetivo principal do projeto é analisarcomo representações feitas sobre aCidade de Deus (com destaque parao livro e o filme "Cidade de Deus")impactaram o lugar, a partir da óticade uma rede de atores locais cons-truída de forma colaborativa”, ex-plicouAntonia Gama.

Em 2014, o filme ainda é moti-vo de descontentamento da imagemimportada sobre o local. Na Europafoi motivo o suficiente para reunirtrês cineastas em prol de mudar estaimagem e dar para a Cidade deDeus voz.Alguns moradores da Cidade de

Deus já devem ter visto três rapazesmunidos de máquinas fotográficas ede câmeras de filmagens circulandopela comunidade. Eles estão produ-zindo um documentário sobre a Ci-dade de Deus. Vamos saber umpouco mais sobre eles e sobre o tra-balho que estão produzindo?Eles talvez sejam os nossos três

mosqueteiros, unidos em prol delevar para o exterior a imagem boado local e da maioria das pessoasque vivem e trabalham na comuni-dade da Cidade de Deus. São trêscineastas europeus e uma produtorabrasileira.

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Yuri Samico, Thiago Dantas e PedroNobrega, da Vostok

Yuri Samico, Thiago Dantas e Pedro Nobrega, da Vostok, gravam cenaspara o vídeo com Mestre Miúdo

Quem são estes cineastas? Oportuguês Carlos Eduardo Leitão daSilva - o “Calika”, o espanhol Mi-guel Costa Templado, o argentinoSebastian Sarraut e a carioquíssimado Gardênia Azul Sandra Lima, quevem dando seu apoio neste projeto.“City ofgood” é Cidade do bem

e “Cidy ofGod” quer dizer Cidadede Deus.

JANPQV: Como surgiu a ideiadeste documentário?

Calika: É um projeto internaci-onal. Eu sou português, o Sebastiané argentino e o Miguel é espanhol.Há três anos eu vim a 1 ª vez para oRio de Janeiro como professor noCinema Novo que é uma escola decinema que tem uma ligação fortecom a Cidade de Deus.Ao chegar ao Cinema Novo, eu

conheci algumas pessoas que eramdaqui da Cidade de Deus e a ima-gem que eu tinha era a imagem docinema que nós vemos no filme,uma má imagem. A partir do mo-mento que eu comecei a conheceralgumas pessoas, vi que havia mui-to além do que aparecia no filme.Há três anos também aconteceu

o mesmo com o Sebastian. Ele deuum curso no Cinema Novo e nós fi-camos amigos, ele veio à Cidadede Deus e apaixonou-se pelas pes-soas daqui e acabamos filmando al-guma coisa nesta altura. Mais tarde,cada um seguiu a sua vida, ele foipara a Espanha e eu fui para Portu-gal. Eu continuei a vir aqui. O Se-bastian conhecia o Miguel e lheapresentou o projeto. O Miguel temuma produtora na Espanha e deci-diu abraçar o nosso projeto e mos-trar o outro lado da Cidade de Deus.

JANPQV: Por que a Cidade deDeus?

Calika e Miguel: Por isto o fil-me se chama “City ofGood”. O fil-me é “City of God” – Cidade deDeus - e nós criamos “City of Go-

od”, que é quase igual, mas é “Ci-dade do bem”, para mostrar o outrolado, as pessoas boas que vivem nolocal e que a maioria das pessoasnão conhecem e até ignoram.O sentido de comunidade que

existe na Cidade de Deus é tãogrande... Isso não existe na Europa.É único da Cidade de Deus e dopróprio Brasil.

JANPQV: Quais os espaços eatividades que vocês filmaram?

Calika e Miguel: Nós tivemoscom Mestre Derli, da capoeira;Maria do Socorro na AssociaçãoSemente e Vida; com o padre daParóquia Anglicana, Padre Nichol-las; Tivemos com o Cabral, que é oProdutor do Artista Plástico Gilmardos Santos; com o Júlio e o Pauloque trabalham com cinema aqui;com a Dona Benta falando sobre oempreendedorismo das mulheres dolocal; com o Grupo Raiz da Liber-dade falando da trajetória dos 35anos do teatro na Cidade de Deus;com você Valéria Barbosa e o seustrabalhos; com o Leandro Firminoque é uma figura icônica na Cidadede Deus; Ronaldão que é um gran-de trabalhador; com o Teco que éfankeiro do grupo Tico e Teco que égari e trabalha no Rio das Pedra,com o objetivo de mostrar os doislados de músico e de trabalhador,que ele faz com alegria e com ou-tras pessoas comuns e trabalhadorasque vivem na comunidade.Iremos ainda entrevistar soció-

logos da Pontifícia UniversidadeCatólica – PUC pra historiar e darum cunho mais técnico sobre a fa-vela, também falaremos na próximasemana com um politico do PartidoVerde que defende a livre legaliza-ção da maconha, pois não podemosesquecer-nos do tráfico que temaqui e mostrar o outro lado, não po-demos fugir por conta do própriocunho educacional.E vários traba-

lhadores da Cidade de Deus, quenão só artistas. Queremos mostrarque 98 % das pessoas daqui sãopessoas do bem, não são bandidoscomo o filme mostrou. O filme sómostrou coisas ruins sobre o local.

JANPQV: Quais foram os cri-térios de escolha destes persona-gens para compor o trabalho?

Calika: Basicamente, as pessoaspara compor este documentário fo-ram indicadas por sua atuação nacomunidade.

Eu já tinha forte ligação com opessoal daqui. Apesar de que notempo que vivi no Rio de Janeiro,eu morei em Ipanema. Então eu eraum Playboy, a maior parte do meutempo eu passava aqui na Cidade deDeus. E prefiro as pessoas da Cida-de de Deus. As daqui são mais ver-dadeiras. O que tem é pouco, masse puderem doam. Isto não encon-trei nos bairros da Zona Sul.

JANPQV: Vocês tiveram algu-ma dificuldade para executar estetrabalho?

Miguel: Não. Até agora todosquiseram falar das coisas boas daCidade de Deus, nos receberammuito bem. Tivemos muita facili-dade.

JANPQV: O que mais surpre-endeu vocês nestas entrevistas?

Calika e Miguel: Acho que fo-ram as pessoas, a simpatia delas.Porque para nós, estrangeiros naEuropa, o que vemos na televisão?Guerra nas favelas, tráfico de dro-gas, guerra, polícia. E ainda maisligado com a Cidade de Deus a úni-ca coisa que eu conhecia era o fil-me, não imaginava mais nada.Talvez a coisa que me marcou maisfoi ter conhecido o Leandro Firmi-no, porque ele fez o personagemprincipal, Zé Pequeno, no filme,apesar de eu trabalhar com cinematambém, o personagem dele erahorrível, uma pessoa muito má, e

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A violência no Brasil

por Felipe José Brum

A violência no Brasil só vem aumentando nas últimas décadas. A desculpa do governo é que vivemos numpaís democrático, como se democracia fosse esse descaso total para com o povo, em que o direito de ir e vir éapenas teórico. As pessoas vivem enjauladas dentro de suas próprias casas, com medo de sair e serem roubadas,assaltadas e mortas. Pior, com medo de ficar em casa e serem invadidadas roubadas, assaltadas e mortas. Oagravante é que ninguém tem o direito de correr atrás do prejuízo para ser ressarcido ou indenizado pelos danosmateriais, morais e psicológicos causados por esse tipo de violência.As leis sempre foram feitas aleatoriamente, sem objetivos, pois nunca está escrito qual é o objetivo a ser

alcançado com determinada lei ou norma. Muitas vezes, o suposto objetivo é o contrário do resultado alcançado.Vivemos num mundo de ilusão.Exemplo atual: a lei que reduziu o horário de trabalho dos caminhoneiros há dois anos, na época foi

contestada pelas empresas e caminhoneiros autônomos, pois o Brasil não tinha logística para isso. Hoje, apenasdois anos depois, a lei está sendo mudada. Como se antes de ela ser aprovada não soubessem do efeito quecausaria.O Brasil está tão vulnerável que qualquer candidato à presidência que proponha apenas segurança como

prioridade e seja firme nisso vencerá a eleição. Falando diretamente de violência não adianta só lamentar. Épreciso propostas sérias, não violentas e viáveis.Tenho coragem e proponho o desarmamento das policias civil e militar, pois quando as policias não

precisarem usar armas é sinal que a violência diminuiu. Segue a proposta:

Objetivo: desarmamento das polícias civil e militar.

Proposta: Daqui a 50 anos (2064) as polícias não mais usarão armas. Para que isso aconteça daqui a 30 anos,em 2044, não mais usarão fuzis (isso não é novidade, pois há 40 anos as polícias não usavam fuzis, só as forçasarmadas).

O que é preciso para que isso aconteça? Vontade política e seriedade nas ações.Muita coisa é preciso fazer agora para que esse objetivo (desarmamento das polícias civil e militar) seja

alcançado daqui a 50 anos.Paz para todos.

quando conhecemos a pessoa mes-mo vimos que não é nada disto eabsolutamente o contrário.E talvez a coisa que mais me

marcou foi conhecer o Paulo e oJulio. Porque os dois não tendo na-da, ainda mais o Julio, não dá paraseparar um do outro. Estão semprejuntos. O Júlio, com todas as difi-culdades e a luta diária que ele tem,ligado a uma cadeira de rodas, ocoração dele é gigante, ele estásempre com um sorriso na cara. Es-tá sempre alegre.

Ele foi quem sugeriu muitaspessoas para nós entrevistarmos. Euadoro o Julio, eu o adoro. Ele émuito meu amigo. Quando eu o en-trevistei me emocionei muito echorei. Tem gente que se queixa dosproblemas tão pequenos que com-parado à situação dele não é nada.Ele só quer trabalho, oportunidadede trabalho, ele não quer que deemnada pra ele, isto me toca muito.

JANPQV: O que vocês farãocom o resultado deste trabalho?

Calika e Miguel: Nós faremos

um Documentário. Colocaremos odocumentário em festivais, em TV,faremos o máximo possível paramostrar a Cidade do Bem. Porque oque nós queremos mesmo é mostrareste outro lado da Cidade de Deus.O lado bom. O lado das pessoas.Porque as pessoas podem vir e fa-lar, mas nós queremos ajudar, por-que o nosso objetivo é ajudar. Todoo dinheiro que a gente fizer é paraajudar as pessoas de cá.Obs: Calika e Miguel deixaram

a autorização de voz registrada.

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Com as portas fechadas, vemsurgindo uma das mais antigasreivindicações da Cidade de Deus.Por muito tempo, os moradores daCidade de Deus solicitavam umaescola de ensino médio para queseus filhos não estudassem longe decasa e que não precisassem pagarpassagem. Não existia gratuidade,os gastos saíam da renda familiar.Muitos já se foram, não se viuconcluído o pedido e anos vão sepassando.Então os Líderes da comunidade

mostraram em reuniões, encontros econgressos em pesquisas aosgovernantes a necessidade de umaescola na comunidade e, explicandocomo era o caminho daescolaridade. E assim registraramem documento, o que lhes davasegurança no que pleiteavam. Econtinua o tempo correndo.Em mais uma reunião, a

SEEDUC mostra como será aimplantação da unidade estadual deensino, tendo em vista anecessidade de se ofertar vagas para

o Ensino Médio em horário diurno.A unidade irá se chamar CE PedroAleixo. Quando fica pronto suaconstrução e a projeção de vagas?Será o seguinte:

Seis novas turmas de 1 ª Sérieno turno da manhã para uma médiade 240 alunos, seis novas turmas de1 ª Série no turno da tarde para umamédia de 240 alunos; e o turno danoite irá atender os alunos do atualCE Pedro Aleixo, localizado na RuaEdgard Werneck, 1 .565 – Cidade deDeus, Jacarepaguá, que estácompartilhado com o prédiomunicipal do CIEP João Batista dosSantos, com funcionamentoexclusivamente noturno, atendendoatualmente a 241 alunos nas turmasde 1 ª Série do Ensino Médio.O prédio da FIA foi demolido,

dando lugar à construção de umprédio novinho para o Colégio. Serádividido em quatro pavimentos,sendo: 16 salas de aula, uma sala deartes, uma biblioteca, doislaboratórios (um de Informáticaindependente e um de Ciências),

Colégio Estadual Pedro Aleixo

por Maria Angélica Ponciano

uma quadra polivalente, umauditório para 87 pessoas e umacozinha e refeitórios independentes.Através de pesquisas,

concluíram que havia 174 alunos de9º ano (moradores) estudando naCidade de Deus distribuídos nasEscolas Alberto Rangel, JoséClemente Pereira e Pedro Aleixo,entretanto, apesar de nãoregistrarem a quantidade na EscolaMunicipal Juliano Moreira, aestimativa também foi feita,concluindo que há 591 alunos(moradores) estudando no entornoda Cidade de Deus. O Colégio, em2013, começaria com seis turmas(240 alunos) de manhã e seisturmas (240 alunos) à tarde. Jáestamos no meio de 2014, e oColégio ainda não abriu.Assim, será benvinda a tão

esperada escola de ensino médioquando mostrar seu prédioconcluído e funcionar para o futurocidadãos da Cidade de Deus.

Fonte: Portal Comunitário daCidade de Deus.

www.cidadededeus.org.br

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O Lixo x Cidadaniapor Cilene Vieira

No Rio de Janeiro, em março,tivemos uma greve dos trabalhado-res que fazem as limpezas urbanas(Garis). O Sindicato tentou negoci-ar com o Poder Público e não con-seguiu nada. Então os trabalhadorespararam com tudo. A cidade que jánão andava limpa, ficou imunda. Eisso incomodou os governantes.Carnaval, turistas e cidade suja nãocombinam. Até que a categoria(garis), se reuniu com os governan-tes para decidir o aumento salarial,contando com o adicional de insa-lubridade, e ambas as partes chega-ram a um acordo e a greve acabou.Mas na Cidade de Deus, perce-

bemos que tem alguns moradoresque não conseguem esperar o diaque o caminhão do lixo passa parapôr o seu lixo em sua porta. Equando teve a greve, aí que tudo fi-cou imundo. Mas se a populaçãotivesse o costume de reciclar o seulixo, seria bem melhor para todos:para o meio ambiente, para a popu-lação de todas as faixas etárias. Di-minuiriam as doenças causadaspela falta de saneamento básico.

Nesta comunidade, existem pes-soas que se incomodam com a faltade políticas públicas, que precisamacontecer em todos os lugares, por-que pagamos impostos em tudo queconsumimos e este investimentoprecisa retornar para que possamosviver com mais saúde e tranquilida-de.Você sabia que nos países de-

senvolvidos a população tem o cos-tume de separar o lixo orgânico einorgânico?

LIXO ORGÂNICO

● É todo resíduo que tem ori-gem animal ou vegetal, ou seja, querecentemente fez parte de um servivo.● Neles, podem-se incluir restos

de alimentos, folhas, sementes, res-tos de carne e ossos, papéis, madei-ra (palito de dentes) etc.● Esse tipo de lixo é considera-

do poluente e, quando acumulado,pode tornar-se altamente malchei-roso, devido à decomposição destesprodutos.● Caso não haja um mínimo de

cuidado como armazenamento des-ses resíduos, cria-se um ambientepropício ao desenvolvimento de or-ganismos (bactérias, fungos, ratos,baratas e moscas) que muitas vezespodem causar doenças .● O lixo orgânico pode ser se-

parado e usado como adubo ou uti-lizado para a produção de certoscombustíveis a partir da biogasifi-cação.

EXEMPLOS DE LIXO OR-GÂNICO

Restos de alimentos, borra de

café, guardanapos e toalhas de pa-pel, palitos de dentes, chiclete.

LIXO INORGÂNICO

● inclui todo material que nãopossui origem biológica, ou seja,que foi produzido através de meioshumanos, como plásticos, metais ealumínios, vidro etc.● Lixo seco ( sem umidade)● Muito do lixo inorgânico pos-

sui um grande problema: quandojogado diretamente no meio ambi-ente, sem tratamento prévio, demo-ra muito tempo para serdecomposto. Plástico, por exemplo,é formado por imensas moléculascontendo milhares de átomos, o quetorna difícil a sua digestão poragentes decompositores.● Para solucionar este problema,

diversos produtos inorgânicos po-dem ser reciclados.

EXEMPLOS DE LIXOINORGÂNICO

Copos de Iogurte, embalagensde comida, quentinhas, sacos plás-ticos, garrafas Pets, garrafas deágua, latinhas de Refrigerante,*Papelão, vidro, isopor.* Papelão é de origem orgânica,

mas pelo seu uso na reciclagem éclassificado como inorgânico paraque seja depositado junto com osmateriais secos e não ser contami-nado por restos de alimentos queinviabiliza a reciclagem.Fonte: Google PesquisaSe cada um de nós conseguir-

mos desenvolver o que lemos, e re-passar para nossos familiares,amigos, conhecidos, tudo poderá setransformar para o nosso bem estar.

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Farmanguinhos e o Desenvolvimento Comunitáriopor Magali Chuquer e Jacob PortelaNúcleo de Gestão Social de Farmanguinhos/Fiocruz (NGS)

Farmanguinhos é uma unidade daFundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e é omaior laboratório farmacêutico oficialvinculado ao Ministério da Saúde. Desde2005, com a finalidade de desenvolver açõesde caráter social para as comunidadeslocalizadas em seu entorno, foi instituído oNúcleo de Gestão Social. Portanto, aoinstituir um núcleo específico para açõessociais, Farmanguinhos reconheceu aimportância do papel de instituiçõespúblicas, e também de empresas, nodesenvolvimento comunitário dascomunidades de seu entorno onde se destaca,nesse caso, a Cidade de Deus. Aresponsabilidade social é um tema atual e,nos últimos anos, vem sendo consolidada acrença de que as empresas devem assumirum papel mais amplo perante a sociedadeque não somente o de maximização de lucroe criação de riqueza.Indo na contramão do assistencialismo, o

Núcleo de Gestão Social de Farmanguinhospauta sua ação através da implementação deprojetos sociais próprios ou em parceria comoutras instituições que estejam em sintoniacom os anseios e demandas das comunidadesdo entorno, que contribuem de formaparticipativa na eleição de suas prioridadesque depois se traduzem em ações. Nestesentido, os projetos são elaborados a partir daescuta das comunidades contribuindo assimpara o fortalecimento das reivindicaçõescomunitárias e das instituições legalmenteconstituídas e legitimadas pelos moradores.Atualmente, o Núcleo de Gestão Social

de Farmanguinhos implementa os seguintesprojetos que englobam os eixos indutoresdefinidos pela Coordenadoria de CooperaçãoSocial da Fiocruz, que são “Educação,Comunicação e Cultura”, “Trabalho, Renda eSolidariedade” e “Território, Saúde eAmbiente”:

● Feira do Talento Destinado aos artesãos do entorno● Fortalecimento da Rede de Proteção da Criança e do

Adolescente● Exposição Itinerante Biodiversidade e Saúde● Ponto de Cultura da Cidade de Deus● Ações Pontuais

Através destes projetos, Farmanguinhos busca promover ofortalecimento da educação e das organizações locais, acapacitação de agentes culturais, de arranjos produtivos locais ecampanhas e ações de solidariedade. Nesses quase oito anos deatuação na área social, Farmanguinhos transformou suas açõessociais nas comunidades do entorno em política permanentepodendo ser referência para as demais instituições, unidades eempresas do entorno.

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Dependência Química com crianças e jovens estão acontecendo por quê?por Cilene Vieira e Liliane Lo Bianco

No dia nove de março de 2014,me deparei com uma cena absurda.Três meninas que aparentavam ter 9,10 e 11 anos foram até uma loja naCidade de Deus, por volta das 00:30,comprar açaí. Sendo que uma delas,a que aparentava ter nove anos,estava com um copo de 500 ml namão com uma bebida verde comlimões em rodelas. Perguntei a ela oque ela estava bebendo. Ela merespondeu: “refresco”. Mas voltei aindagá-la: “Essa bebida está com umcheiro muito forte de álcool”. Entãoela me disse: “Eu tô com dinheiro e ohomem, lá perto da quadra de samba,me vendeu e eu comprei”. (Elaestava bebendo uma caipirinha). Euma das amigas informou que aquelejá era o segundo copo.A leitura que fiz foi que aquela

criança estava pedindo ajuda,atenção e afeto. E sua fisionomia erade cansaço. Os olhos quasefechando, mas ela resistia e levantavaa cabeça tentando mostrar força,agredindo verbalmente quemchamasse sua atenção. Pergunteionde ela morava, cadê os seus pais?E a resposta foi o silêncio.

Na semana seguinte, fui até acasa de uma das amigas da meninade nove anos. A informação querecebi foi, que a família dela era dedependentes químicos, sua mãe e seupai usavam maconha e cocaína nafrente dos filhos. Logo, ali nãoexistiam limites. Cada um fazia oque quisesse quando achasse melhor.Posso chamar de uma famíliadesestruturada?

Li uma matéria sobre aespecialista (ex-moradora da CDD)que avalia que pais querem“terceirizar” filhos dependentesquímicos. Segundo a presidenta da

Associação de Conselhos Tutelaresdo Município do Rio de Janeiro,Liliane Lo Bianco. “Claro queprecisamos enfrentar as drogas, masos casos de dependência químicaestão relacionados à ausência depolíticas integradas para ofortalecimento do núcleo familiar depessoas em situação devulnerabilidade. Na vida real, ascrianças ficam pela rua, a gente nãoconsegue tirar. Hoje temos umgrande número de crianças que sãofilhas do crack, são meninas emeninos usuários de substânciaentorpecente que se prostituem paraa compra da droga. O crackamortece, despersonaliza essesujeito”, explicou ela. “Eles criamafeto pelo crack, que dá o que elesnão têm no núcleo familiar, que éprazer, liberdade”.Há mais de dez anos trabalhando

com crianças e adolescentes emsituação de risco, ela acredita que osvínculos familiares estão em umponto de fragilidade que muitos paisquerem se isentar dasresponsabilidades legais e sociaissobre os filhos por que não sabemcomo conduzir a situação dadrogadição. “A mãe sai, deixa acriança em casa para ir ao baile e opai não quer saber. São pais que têmos vínculos familiares já esgarçadose não têm essa relação de zelo eproteção com os próprios filhos,além de não encontrarem amparo naspolíticas públicas neste segmento”.Os investimentos no combate ao usodo crack, segundo ela, devem servoltados principalmente para aprevenção. Em sua opinião, depoisque a pessoa se vicia, o tratamentotorna-se muito mais difícil. “Nãoacreditamos na internação

compulsória, pois sem adesão, omenino volta para rua e vai se drogarde novo”, disse Liliane. “Onecessário é ter um espaço para ascrianças que pedem para sertratadas”, defendeu.A Liliane Lo Bianco ressaltou

que a situação é de tal gravidade queos pais, hoje, “querem terceirizar opoder familiar”. Segundo ela, aotentarem delegar autoridade nacriação de seus filhos, essas pessoasmostram que a relação de proteçãofamiliar e de autoridade “diluiu-se”.O Conselho Tutelar é um órgão

não jurisdicional composto por cincomembros eleitos pela sociedade. Osconselheiros atendem crianças eadolescentes que sofrem algum tipode violência ou abuso e sãoresponsáveis pela proteção dosdireitos das crianças e dosadolescentes. Os conselhosfiscalizam os entes de proteção –Estado, comunidade e família – erequisitam serviços públicos nasáreas de saúde, educação, serviçosocial, previdência, trabalho esegurança. Além disso, o conselhocontribui com o Executivo naformulação de ações e políticaspúblicas a esse público.

Quem é Liliane Lo BiancoPsicóloga, espe-

cialista em violênciadoméstica, Conse-lheira Tutelar de Ja-carepaguá no seu 3ºmandato, Presidentada Associação deConselheiros Tutela-

res do Município do Rio de Janeiro –ACTMRJ. Comissária de Ética da Co-missão de Ética dos Conselhos Tutela-res do Município do Rio de Janeiro,Ex- Moradora de Cidade de Deus.

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Ponto de Cultura: Circuito Itinerantepor Juliana Mattar

O Ponto de Cultura Circuito Itine-rante de Cultura da Cidade de Deus,formado em 2010, é um coletivo deartistas das áreas de artes cênicas, mú-sica, artes plásticas, audiovisual e dan-ça. Atualmente, o grupo é compostopor Maria de Lourdes Braz (Propo-nente e Coordenadora da Casa deSanta Ana), Neuma Morais (GrupoCoral Vozes da Cidade de Deus), Ci-lene Vieira (Cia. Teatral Raiz da Li-berdade), Lucio Santos (Cia. DeDança Trevo), Gilmar Ferreira e Ro-berto Senna (Cabral) (Oficina de ArtesPlasticas). No grupo inicial, pertenci-am também Rosalina Brito (Literaturae Poesia), Paulo Silva e Julio Pecly(audiovisual).O coletivo foi constituído através

da rede de cultura criada por MagaliChuquer Portela, Supervisora do Nú-cleo de Gestão Social de Farmangui-nhos/Fiocruz, que desenvolve amplotrabalho de parceria com instituiçõeslocais no entorno do Instituto, situadoemCuricica – Jacarepaguá.

O Circuito Itinerante de Culturatem como objetivo levar a comunida-

de açoes que promovam educacao, ci-dadania, formação crítica e entreteni-mento, através de experienciasartisticas. Estas ações buscam ampliarpropostas e reflexoes relativas ao am-biente e a historia da Cidade de Deus,colaborando para a recuperação, ca-racterização e manutenção da culturalocal.No primeiro ano de formação, o

grupo e outras instituições da comuni-dade puderam se capacitar em elabo-ração e formatação de projetosculturais. A proposta - que inicialmen-te seriam seminários pontuais - com aparceria de Farmanguinhos/ Fiocruz,em Curicica, se tornou um curso comduraçāo de oito meses, o “CulturaPortátil da Cidade de Deus”, elaboradopor Juliana Mattar (Farmangui-nhos/Fiocruz) e aprovado no Editalpara Desenvolvimento Territorializa-do, da Coordenadoria de CooperaçãoSocial da Fiocruz (Manguinhos).Na segunda etapa, ao longo de um

ano, o coletivo realizou o FestivalPonto de Cultura Itinerante da Cidadede Deus, totalizando cinco eventos

com apresentações com duração deum dia inteiro. Os eventos se realiza-ram na G.R.E.S Mocidade Unida deJacarepagua, Quadra do Karatê, Qua-dra do Coroado e Praça Júlio Grooten,Cidade de Deus.Desta forma, a comunidade foi be-

neficiada com apresentações de coral,espetáculo teatral e de dança, exibiçãode curtas, exposição de artes plásticas,e oficinas, em cada uma destas áreasrespectivamente. O Circuito Itinerantede Cultura também participou de ou-tros eventos, entre eles, a Jornada deEducação Socioambiental Cidade deDeus e Maré, rumo à RIO + 20, ondepresidiu a Comissão de Cultura eparticipou dos eventos artísticos. Alémdisso, realizaram também apresenta-ções individuais em eventos fora edentro da comunidade no período doterceiro ano.Durante estes três anos, o Circuito

Itinerante de Cultura contou com asparcerias da ASVI (Associação Se-mente da Vida), Alfazendo, ParóquiaCristo Rei, Casa de Cultura, JornalAbaixo-Assinado, Portal Comunitárioda Cidade de Deus e Jornal A notíciapor quem vive. Juntos, pensam emnovos projetos e em ações que pro-movam maior interação com a comu-nidade, estimulando uma maioradesão e participação do público nasatividades propostas pelo Ponto deCultura.Neste último ano, foi também rea-

lizado um breve documentário queconta sobre o processo de desenvolvi-mento das atividades do grupo ao lon-go desses três anos.O Ponto de Cultura Itinerante da

Cidade de Deus foi patrocinado pelaSecretaria Estadual de Cultura do Riode Janeiro, no Projeto Mais Cultura(MINC), com o apoio de Farmangui-nhos/Fiocruz.

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Plano de Desenvolvimento Local da Cidade de Deus: você sabe do que setrata? por Valéria Barbosa

Entrevista com Celso AlexandreAlvear, pesquisador do Núcleo deSolidariedade Técnica da UFRJ(SOLTEC/UFRJ).

ANPQV: Celso, o que é o pla-no de desenvolvimento local?O Plano foi um texto construído

coletivamente aqui na Cidade deDeus, se não me engano o primeirofoi em torno de 2003, atualizadodepois em 2010, reuniu diversasorganizações comunitárias da Ci-dade de Deus. Ele teve ajuda deuma pessoa da UFRJ chamadaClaúdia Pfeiffer para organizar estareunião. E foi uma grande reunião,em que se debateu o que é desen-volvimento local e o que as organi-zações, pessoas, o que acomunidade queria. Depois separa-ram-se grupos por áreas temáticascomo educação, trabalho, saúde ese discutiu o que seriam as priori-dades para a Cidade de Deus. Quaiseram os problemas, quais seriam asprioridades e quem poderia resolverestes assuntos. Em 2003, tinha oComitê Comunitário da Cidade deDeus a Agência de Desenvolvi-mento Local, que já demonstravamcomo a comunidade poderia se or-ganizar. Eu acho que o plano é umaferramenta muito importante para

mudar a lógica do poder público,que chega à Cidade de Deus já di-zendo qual é o problema da Cidadede Deus e quais são as soluções.Ele foi atualizado em 2010 de

forma mais reativa, quando chegoua UPP na Cidade de Deus. Chegoua UPP Social querendo fazer estepapel de articulador social, de falarcomo articular, levantar quais sãoos problemas, quem é de cada áreae fazer ações do Estado. Lembroque a Cidade de Deus se organizoude forma antecipada, ela atualizou oPlano para quando chegar da UPPfalar assim: “A gente não precisaque vocês se reúnam e digam o queprecisamos. A gente já tem isto le-vantado, legitimado pela reuniãomaior da população. Então a gentequer que vocês façam isto aqui quea gente acha prioridade”.Eu acho que isto que é impor-

tante no Plano de DesenvolvimentoLocal, a própria comunidade dizer oque ela acha sobre os seus proble-mas, quais são as melhores soluçõese que ela possa demandar o poderpúblico para que ele faça o que elaquer.

ANPQV: Que benefício a co-munidade terá com a Implanta-ção deste Plano?

Acho que é a gente colocar asações em movimento. Se as pessoasveem as coisas funcionando, aquiloque elas decidiram acontecendo, aspessoas se mobilizam a participarmais. É muito fácil falar de mobili-zação, de participação e de criticartambém e falar que na comunidadeas pessoas não querem participar,mas isto é uma coisa humana,quando você não sente que nadaestá acontecendo e que a sua parti-cipação não é valorizada. Eu achoque a importância da ação, além dealguma melhoria, que as vezes épequena, e não imediata, é mobili-zar para mais pessoas participareme sentir que a opinião delas vai serouvida, vai ser levada em conta naatualização do plano e que podemobilizar resultados e que resulta-dos podem mobilizar mais força.

ANPQV: Qual é o papel daSOLTEC/ UFRJ neste Plano?O SOLTEC, como Estado, tem a

obrigação de estar auxiliando a Ci-dade de Deus a melhorar de vida. Éisto que a gente, enquanto Núcleode Solidariedade Técnica, mas tam-bém como outros professores deuniversidades, outros técnicos, estátentando fazer: o papel do poderpúblico.

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Conhecendo um pouco mais do INSTITUTO PRESBITERIANO ÁLVAROREIS – INPAR por Luzia Maria Corrêa da Costa BealParticipo das ações do INPAR

desde 1993. Trabalhei 2 anos co-mo voluntária, depois fui contra-tada na função de AssistenteSocial até 2013. Atualmente, soua diretora da sede, acumulando asduas funções.Em 1910, o pastor presbiteri-

ano Álvaro Reis, na Cidade deLavras, motivado pela compaixãopor 14 crianças órfãs, cujo os paisforam vítimas da Febra Amarela,cria o Orfanato Presbiteriano.Surge uma nova epidemia em

1919, a Gripe Espanhola, viti-mando outras tantas crianças queforam transferidas para o Rio deJaneiro, na cidade de Valença on-de as condições para o tratamentoseriam maiores. Durante 4 anos, aSede do INPAR ficou nesta cida-de até conseguirmos um espaçoque comportasse o crescimentodo Instituto.Finalmente em 1923, a direto-

ria encontra o lugar perfeito paracomportar as demandas sociais eo Orfanato Presbiteriano muda-separa Jacarepaguá, e instala a suasede definitiva na rua EdgardWerneck, 846.O nome da Instituição sofreu

alteração por conta de mudançasna lei que mudavam a forma deatendimento às crianças abando-nadas nos orfanatos, ou seja, osorfanatos se transformaram emsemi-internos a fim de aproximaros filhos dos pais, favorecer aadoção, implantar famílias subs-titutas, entre outras formas de darum lar para as crianças. Esta mu-dança ganhou mais força com aimplantação do ECA a partir de1 3 de junho de 1990, com o Es-tatuto da Criança e do Adolescen-

te, da Lei 8.069 do. Desta formacom a mudança na lei o INPARdeixa de ser orfanato e torna-sesemi-interno, espaço onde as cri-anças ficavam de 2ª a sexta-feirae no final de semana iam para su-as casas e/ouespaço onde as cri-anças tinham atendimentointegral durante o dia, no final datarde o responsável apanhava asua criança. Passando a ser le-galmente reconhecido como Ins-tituto Presbiteriano Álvaro Reisde Assistência à Criança e aoAdolescente.O INPAR é uma instituição de

103 anos. É sempre um privilégiofalar do INPAR, trabalhar nesteInstituto e saber que somos parteda história desta obra.Pelo INPAR passaram tantas

vidas! Vidas estas que somarampara o crescimento da Institui-ção,que receberam cuidados es-peciais e de forma integral:espiritual, psicológico, educacio-nal,social.Tantos os alunos quanto suas

famílias, 370 crianças/adolescentena faixa etária de 2 a 16 anos, sãoatendidos diariamente.

Temos uma equipe técnicacomposta por: assistente social,fonoaudióloga, pedagoga, psicó-loga, monitoras, agente de saúdecomunitária, dentista, voluntáriosque nos ajudam nas oficinas deartesanatos, teatro,contação dehistória, educação física, oficinasde dança. Temos Informática paraa Cidadania, fruto da parceriacom o CDI que atende a uma fai-xa etária abrangente. A EI, Edu-cação Infantil por meio deintercâmbio leva nossa metodolo-gia para outros estados do Brasil.

Atendemos também ao públi-co da terceira idade, inclusivecom passeios na cidade do Rio deJaneiro e pretendemos ampliarpara os estados do Brasil e para oMundo. Temos oficina de músicapara violão, flauta doce e sax.Iniciaremos a campanha Desape-gue de seu Instrumento. Precisa-mos oferecer oportunidades paraa descoberta de novos talentos.Estamos projetando um Espa-

ço dedicado à Prevenção e aten-dimento para crianças eAdolescentes vitimas de Violên-cia Doméstica e/ou Abuso Sexual.Nosso atendimento é sem pro-

selitismo religioso, falamos eprocuramos viver no amor deCristo.Temos 60 funcionários, dos

quais 11 são oriundos da Cidadede Deus, 95% de nossa clientelatambém, 5% são são do entornoda Instituição e também de co-munidades próximas.Agradeço e encerro com nosso

Mote: Ensina a criança no cami-nho que deve andar, e, aindaquando for velho, não se desviarádele.

Para maiores informações,acessem o nosso vídeo no You-tube.http://youtu.be/x8HqRRaGizc

Atividades de vivência no Colégio MV1

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Apoio

Homenagem às minhas filhas!Obassy

Era uma vez, uma mãe gorda e

muito negra!

Negra bem tinta. . .

Sua negritude era tanta. . .

Que tornou-se como Mulher,

Uma figura distinta.

Sentia-se muito só. . .

Neste grande senzalão,

Parou! Pensou. . . Repensou!

Vou ter minha própria produção!

Fez-se a Primeira, Lenise!

Negra l inda perfeição.

Prá vencer na vida,

Ser modelo, manequim. . .

E continuar a produção.

Logo a seguir veio a Segunda, Dayse!

Negra bela, escultural.

Sempre gostou de esporte,

Mas eu sempre sinal izei que estudar é importante

Para sermos alguém na vida

E a produção continuar.

Assim veio a Terceira, Cilene!

Negra l inda do dia de Zumbí (20/11 )

Sempre gostou de estudar

Para essa desigualdade de nosso povo mudar

E a produção continuar.

Sem demora surgiu a Quarta, Sidi lene!

Que belezura de Criola,

Veio junto do Carnaval

Sempre foi intel igente, criativa e jeitosa.

E a produção não se finda.

Treze anos após, em 1 981 surge a Quinta, Cristiane!

Ela sempre teve algo de Deus,

Para esta famíl ia que a acolheu

Logo ela ganhou cinco mães

Que a mimaram bastante

Para ela sentir que a vida é importante.

Sinto que somei bastante na vida de

minhas fi lhas.

"Esta poesia foi feita por uma mulhermuito especial, Celita Vieira de Abreu, minhamãe (mais conhecida como Anita ou Obassy),que infelizmente nos deixou em 23 de maio de2006. Mas viverá eternamente em nossos

corações."-Cilene Vieira.

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