a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA MARCOS ANTÔNIO HORTA FERREIRA A NORMATIVA INTERNACIONAL DE DESARMAMENTO E CONTROLE DE ARMAS: uma visão atual Rio de Janeiro 2011

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Page 1: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

MARCOS ANTÔNIO HORTA FERREIRA

A NORMATIVA INTERNACIONAL DE DESARMAMENTO E CONTROLE DE ARMAS:

uma visão atual

Rio de Janeiro 2011

Page 2: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

MARCOS ANTÔNIO HORTA FERREIRA

A NORMATIVA INTERNACIONAL DE DESARMAMENTO E CONTROLE DE ARMAS:

uma visão atual Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Cel Inf Heitor de Montmorency

Bizarro Pestana.

Rio de Janeiro 2011

Page 3: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

C2011 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________

Cel Inf Marcos Antônio Horta Ferreira

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Ferreira, Marcos Antônio Horta

A Normativa Internacional de Desarmamento e Controle de Armas: uma visão atual / Coronel de Infantaria Marcos Antônio Horta Ferreira. Rio de Janeiro: ESG, 2011.

67 f.: il.

Orientador: Cel Inf Heitor de Montmorency Bizarro Pestana Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011.

1. Relações Internacionais. 2. Desarmamento. 3. Controle de Armas. I.Título.

Page 4: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

AGRADECIMENTO

Agradeço ao Coronel de Infantaria HEITOR DE

MONTMORENCY BIZARRO PESTANA, orientador desta

monografia, pelo estímulo, cooperação e paciência durante

todo o processo de elaboração. Seu apoio, materializado

principalmente em sua experiência profissional, foi essencial

para a conclusão do trabalho.

Ao Corpo Docente da Escola Superior de Guerra, pelos

conhecimentos transmitidos.

Agradeço aos colegas pelo clima de respeito, consideração,

camaradagem e cooperação que me proporcionaram.

Expresso meu agradecimento à minha família pelo

inestimável apoio durante o corrente ano e pelo constante

encorajamento e inspiração.

Page 5: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

“Sem possuir armas próprias, nenhum principado está seguro, antes, está a mercê da sorte, não existindo virtude que o defenda nas adversidades.”

Nicolau Maquiavel Dos Gêneros de Milícias e dos Soldados Mercenários

O Príncipe, 1513

Page 6: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

RESUMO

O presente trabalho tem por finalidade analisar as peculiaridades das estratégias

que vêm sendo adotadas pelo Brasil diante dos principais temas e instrumentos do

direito internacional do desarmamento. A conjuntura atual tem demonstrado a

preocupação de inúmeras nações quanto ao trato do conhecimento dos temas

ligados ao desarmamento e controle de armas e sua aplicação prática materializada

nas convenções e seus respectivos protocolos. Desta forma, os compromissos

exigidos pelas Normas Internacionais ligadas ao Desarmamento e Controle de

Armas sobre a Defesa Nacional, com destaque para aqueles ligados à indústria de

defesa, surgem como vetor, por vezes, impactante na soberania do estado. Para

tanto, se faz necessário conhecer os instrumentos ligados ao desarmamento e ao

controle de armas e o papel desempenhado pela Brasil. A relevância do estudo

deste tema cresce à medida que, a cada dia, ganham força os questionamentos da

sociedade civil sobre a legitimidade do emprego de certas categorias de armas.

Esses questionamentos, geralmente se apresentam sob o manto do impacto

humanitário causado pelo uso de tais categorias de armas, influenciam

justificadamente a posição adotada pelo Brasil, repercutindo, por vezes, nos

interesses brasileiros ligados à Expressão Militar e à indústria de defesa. Equilíbrio

entre os interesses humanitários e as necessidades militares tem sido um dos

maiores desafios contemporâneos na realidade internacional. Este trabalho,

portanto, é resultado de uma pesquisa que envolveu diversas fontes especializadas

no assunto, em particular experiência vivida na Conferência do Desarmamento.

Palavras chave: Relações internacionais. Desarmamento. Controle de Armas.

Page 7: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

RÉSUMÉ

Le présent travail a pour finalité d'analyser les particularités des stratégies adoptées

par le Brésil à propos des principaux thèmes et des instruments du droit international

du désarmement. La conjoncture actuelle démontre la préoccupation de nombreuses

nations quant à l‟usage de la connaissance des thèmes liés au désarmement et au

contrôle d‟armes et de son application pratique matérialisée dans les conventions et

leurs protocoles. De cette façon, les engagements exigés par les Normes

internationales liées au Désarmement et Contrôle d‟Armes sur la Défense Nationale,

particulièrement ceux liés à l'industrie de défense, apparaissent comme un vecteur,

parfois, impactant sur la souveraineté de l‟Etat. Pour cela, il est nécessaire de

connaître les instruments liés au désarmement et au contrôle d‟armes et le rôle joué

par le Brésil. La pertinence de l'étude de ce sujet grandit à mesure que, à chaque

jour, la société civile s‟interroge sur la légitimité de l‟utilisation de certaines catégories

d‟armes. Ces questionnements se présentent souvent sous le voile de l'impact

humanitaire causé par l'utilisation de ces armes, ils ont une influence justifiée sur la

position adoptée par le Brésil, en répercutant, parfois, dans les intérêts brésiliens liés

à l'Expression militaire et à l'industrie de défense. L'équilibre entre les préoccupations

humanitaires et les besoins militaires est un des plus grands défis contemporains de

la réalité internationale. Ce travail est donc le résultat d'un sondage auprès de

diverses sources spécialisées, en particulier l‟expérience vécue dans la Conférence

du désarmement.

Mots-clés: Relations internationals. Désarmement. Contrôle d‟armes.

Page 8: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Restos explosivos de guerra ........................................................... 23

FIGURA 2 Potencial nuclear mundial ................................................................. 46 FIGURA 3 Bomba Lança-granada BLG-252 produzida pela Ares Aeroespacial & Defesa Ltda ..................................................................................... 52 FIGURA 4 Bomba em cacho (cluster munition) e submunições ....................... 53

Page 9: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABACC Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares

AIEA Agência Internacional de Energia Atômica

BTWC Biological and Toxin Weapons Convention

BW Biological weapon/warfare

CAEPE Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia

CAD Convenção de Armas Desumanas

CBW Chemical and biological weapons

CCAC Convenção sobre Certas Armas Convencionais ou Convenção sobre a Proibição ou Restrição do Emprego de Certas Armas Convencionais ou Geradoras de Efeitos Indiscriminados

CCW The Convention on Prohibitions or Restrictions on the Use of Certain Conventional Weapons Which May be Deemed to be Excessively Injurious or to Have Indiscriminate Effects

CD Conference on Disarmament

CD Conferência do Desarmamento

CDNU Comissão das Nações Unidas para o Desarmamento

CG Convenção de Genebra

CPAB Convenção para a Proibição de Armas Biológicas

CTBT Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty

CTBTO Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty Organization

CTR Cooperative threat reduction

CW Chemical weapon/warfare

CWC Chemical Weapons Convention

CPAQ Convenção para a Proibição das Armas Químicas

DOU Diário Oficial da União

ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

END Estratégia Nacional de Defesa

ENUG Escritório das Nações Unidas em Genebra

ESG Escola Superior de Guerra

FA Forças Armadas

FMCT Fissile material cut-off treaty

Page 10: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

GSN Grupo dos Supridores Nucleares

G-8 Grupo dos oito países mais industrializados

HEU Highly enriched uranium

HEU Urânio Altamente Enriquecido

IAEA International Atomic Energy Agency

IWC Inhumane Weapons Convention

LEU Low-enriched uranium

LEU Urânio com baixo enriquecimento

MD Ministério da Defesa

MRE Ministério das Relações Exteriores

MTCR Missile Technology Control Regime

NBC Nuclear/biological/chemical

NGO Non-governmental organization

NPT Non-Proliferation Treaty

NTP Nuclear Non-Proliferation Treaty

NSG Nuclear Suppliers Group

NWFZ Nuclear-weapon-free zone

NWS Nuclear-weapon state

OM Organização Militar

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

OPAQ Organização para a Proibição de Armas Químicas

OPCW Organisation for the Prohibition of Chemical Weapons

OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte

OTPTN Organização Preparatória para o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares

PDN Política de Defesa Nacional

TBPT Tratado para Banimento Parcial dos Testes Nucleares

PTBT Partial Test-Ban Treaty (or Treaty Banning Nuclear Weapon Tests in the Atmosphere, in Outer Space and Under Water)

RCTM Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis

Rebrasdesarm Representação Permanente do Brasil junto à Conferência do Desarmamento

Page 11: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

SALT Strategic Arms Limitation Treaty

SIPRI Stockholm International Peace Research Institute

SORT Strategic Offensive Reductions Treaty

SPEAI Secretaria de Política e Estratégia e Assuntos Internacionais

SSOD Special Session on Disarmament (of the UN General Assembly)

START Strategic Arms Reduction Treaty

TBTT Tratado para o Banimento Total dos Testes Nucleares

TNP Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares

TPI Tribunal Penal Internacional

UNDC United Nations Disarmament Commission

UNDDA United Nations Department for Disarmament Affairs

UNGA United Nations General Assembly

UNOG United Nations Office at Geneva

UNIDIR United Nations Institute for Disarmament Research

INUPD Instituto das Nações Unidas para Pesquisa sobre Desarmamento

UNSC United Nations Security Council

WMD Weapon of mass destruction

Page 12: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12 2 DESARMAMENTO E CONTROLE DE ARMAS ............................................... 16 2.1 INSEGURANÇA: FRUTO DA DESORDEM MUNDIAL ..................................... 16 2.2 GERENCIAMENTO DO DILEMA DA SEGURANÇA: UMA RESPOSTA LIBERAL 17 2.3 CONCEITOS E TEORIAS ................................................................................. 20 2.4 O DESAFIO DO IMPACTO HUMANITÁRIO ..................................................... 23 2.5 MECANISMOS DE NEGOCIAÇÃO E NORMATIVA INTERNACIONAL ........... 25 3 O ESTADO ARMADO: A QUESTÃO DA DEFESA NACIONAL ...................... 30

3.1 SUA POLÍTICA E ESTRATÉGIA ....................................................................... 30 3.2 CERCEAMENTO TECNOLÓGICO ................................................................... 32 4 O BRASIL PERANTE O DESARMAMENTO E O CONTROLE DE ARMAS: BREVE ANÁLISE DE CASOS ......................................................................... 37 4.1 AS MINAS TERRESTRES ANTIPESSOAL ...................................................... 38 4.2 DA NÃO-PROLIFERAÇÃO DE ARMAS NUCLEARES AO CONTROLE DE MATERIAL FÍSSIL ............................................................................................ 42 4.3 AS MUNIÇÕES EM CACHO (CLUSTER MUNITIONS).................................... 51 5 MEDIDAS POLÍTICAS E AÇÕES ESTRATÉGICAS: PROPOSTAS ............... 56 6 CONCLUSÃO ................................................................................................... 60 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 62

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1 INTRODUÇÃO

O Estado brasileiro tem se pautado por adotar ações estratégicas

preventivas para assegurar a Defesa Nacional. Para levá-las a efeito, o Brasil se

vale de sua diplomacia, valorizando os esforços em defesa da paz e das soluções

pacíficas de controvérsias. Tais ações se amparam nas ferramentas diplomáticas

dirigidas ao desarmamento e ao controle de armas, ferramentas que, por seu turno,

resultam das discussões travadas nos diversos fóruns multilaterais, nos quais o País

tem se notabilizado como um interlocutor internacional de prestígio. A esse conjunto

de ações pode-se designar pelo título genérico de desarmar.

Também, visando assegurar a Defesa Nacional, o País orienta-se, ainda, por

um segundo viés não menos importante. Trata-se do empenho em guarnecer-se de

armas modernas visando garantir que a Expressão Militar do Poder Nacional

produza efeito dissuasório capaz de cumprir sua destinação constitucional de

defender a Pátria e garantir os Poderes Constitucionais, a Lei e a Ordem. Esse viés

corresponde ao que se pode designar por dissuadir.

Para ser apto a dissuadir, o Brasil deve garantir as condições de defesa de

sua soberania e do desenvolvimento em uma capacidade de agir proporcional à sua

estatura de potência regional. Isso requer que o País possa fazer frente ao

cerceamento tecnológico vivenciado, contornando-o. Para tanto, é necessário

desenvolver conhecimento e obter tecnologias bélicas de ponta.

A necessidade de conciliar os dois vieses supramencionados – o idealismo

do desarmar e o realismo do dissuadir – coloca o País diante de desafios cuja

superação exige ao Estado lidar com uma visão atual do desarmamento, a qual

leve em conta uma compreensão ampla dos vários aspectos da questão do

desarmar.

Com o propósito de contribuir para essa visão atual, a pesquisa a ser

realizada aqui tem por objetivo analisar as peculiaridades das estratégias que vêm

sendo adotadas pelo Brasil diante dos principais temas e instrumentos do direito

internacional do desarmamento. Serão examinados os reflexos dos compromissos

exigidos pelas Normas Internacionais ligadas ao Desarmamento e Controle de

Armas sobre a Defesa Nacional, com destaque para aqueles ligados à indústria de

defesa, os quais possam repercutir negativamente na política de redução da

dependência tecnológica.

Page 14: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

13

Para levar a cabo a investigação proposta, o presente trabalho fará uma

breve análise de três temas recentes que apresentam ingerência direta nos

interesses militares de Defesa: a participação brasileira nos fóruns de desarmamento

ligados às minas terrestres antipessoal, ao controle de material físsil e às munições

em cacho, chamadas cluster munitions.

Tais eventos se mostram relevantes na medida em que repercutem no

desenvolvimento da indústria bélica nacional, suscitando discussões que poderão se

constituir em um instrumento juridicamente vinculante de restrições de uso, de

fabricação, de estoque e de transferência de produtos.

A relevância do estudo deste tema cresce à medida que, a cada dia, ganham

força os questionamentos da sociedade civil sobre a legitimidade do emprego de

certas categorias de armas.

Esses questionamentos, geralmente se apresentam sob o manto do impacto

humanitário causado pelo uso de tais categorias de armas, influenciam

justificadamente a posição adotada pelo Brasil, repercutindo, por vezes, nos

interesses brasileiros ligados à Expressão Militar e à indústria de defesa.

Obter o equilíbrio entre os interesses humanitários e as necessidades

militares tem sido um dos maiores desafios contemporâneos na realidade

internacional. O conhecimento de como se apresenta atualmente a dinâmica dos

compromissos internacionais relacionados ao campo do Desarmamento e Controle

de Armas proporciona os instrumentos apropriados por meio dos quais é possível

alcançar tal equilíbrio.

Por seu turno, permite a melhor compreensão do papel da Expressão Militar

do Poder Nacional diante do cenário internacional no campo do Desarmamento.

Os efeitos humanitários negativos consequentes do emprego de certas

armas se verificam nos recentes conflitos armados. A fim de reduzir tais efeitos,

instrumentos internacionais são aprovados bilateralmente ou em organizações

multilaterais. Esses instrumentos estabelecem normas para limitar a corrida

armamentista e para proibir o emprego de certas categorias de armamentos.

Os Estados, no entanto, sob a égide do direito de legítima defesa, se

preparam para enfrentar desafios – quer sejam estes reais, sejam potenciais – à sua

integridade territorial e soberania. Tal atitude conduz à necessidade de dispor de

poder militar em condições de ser prontamente aplicado. Para More (2007, p.18):

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[...] o Estado se arma para se sentir seguro, dissuadir, ameaçar ou atacar. Armamento é questão de segurança nacional; desarmamento, de segurança internacional. Se prover segurança aos nacionais é lícito, desarmar o excesso é necessário, mas quanto é e quem tem legitimidade para identificar este excesso?

Diante desse quadro, surge o problema fundamental para o qual se volta a

presente pesquisa a ser realizada. Tal problema pode ser apresentado na seguinte

questão: em que medida os principais compromissos internacionais assumidos pelo

Brasil ligados às normas internacionais de Desarmamento e Controle de Armas

podem trazer reflexos para a Defesa Nacional?

A fim de responder a essa proposta, o presente trabalho foi estruturado em

quatro capítulos, sendo o primeiro a introdução. No segundo é abordado o Dilema da

Segurança buscando-se apresentar e discutir a questão do Desarmamento e Controle

de Armas, bem como os principais arcabouços normativos e diplomáticos de

negociação a respeito.

O terceiro apresenta-se como um contraponto ao anterior, detendo-se mais na

questão da Defesa Nacional e enfatizando a Expressão Militar do Poder Nacional,

examinando-se, também, as políticas e as estratégias nacionais, com maior destaque

para o papel da indústria de defesa.

O quarto capítulo encerra o cerne deste trabalho. Nele, foram selecionados

três casos emblemáticos para a presente pesquisa, os quais demandam reflexão –

diante do sistema constitucional de freios e contrapesos – confrontando questões de

soberania versus preocupações humanitárias.

Neste sentido, a investigação dos casos das minas antipessoais terrestres, do

controle de material físsil e das munições em cacho contará com as observações e

experiências acumuladas pelo pesquisador, adquiridas enquanto desempenhou a

atividade de Assessor do Conselheiro Militar na CD em Genebra e, também, como

estagiário do CAEPE-2011 da ESG.

As informações coletadas viabilizam uma análise geral das possíveis

consequências advindas dos compromissos internacionais. Acredita-se que os

resultados alcançados poderão servir como alerta, permitindo antecipar-se aos fatos

de forma proativa, assimilar aspectos positivos e sinalizar possíveis riscos, servindo

de ensinamento para as FA. Caso essa expectativa se confirmar, a presente pesquisa

poderá contribuir para a difusão do tema e para o enriquecimento da historiografia da

diplomacia militar brasileira aliada à Segurança e Defesa Nacionais.

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2 DESARMAMENTO E CONTOLE DE ARMAS

2.1 INSEGURANÇA: FRUTO DA DESORDEM MUNDIAL

O fim da Guerra Fria pode ser considerado o marco de uma nova ordem

mundial. Com efeito, não há como negar que, desde então, o mundo mudou

profundamente:

Anunciou-se o fim dos grandes conflitos armados, com o lema de que democracias não mais fazem guerra entre si. Surge, a partir daí, também, um novo ordenamento jurídico mundial, do qual a ONU, juntamente com o tribunal penal, constituem peças-chave. Além dessas instituições, surgem também tratados multilaterais em áreas importantes, por exemplo, [...] o banimento de determinados tipos de armas. Todas essas iniciativas de alcance global procuram criar um ordenamento jurídico que daria forma a algo que se aproxime de uma governança mundial [...] (SILVA, 2011) (informação verbal, grifo nosso).

1

Tendo sido superada a geopolítica decorrente da vitória aliada em 1945, o

triunfo universal do capitalismo aliado à universalização das formas liberais

representativas como modelo básico de organização política das sociedades e do

neoliberalismo propalado pelo Consenso de Washington2 deram origem a uma nova

ordem mundial coberta de incertezas e, essencialmente, insegura.

A partir de 1991, a comunidade internacional é obrigada a reconhecer que,

contrariamente às expectativas iniciais, os grandes conflitos armados não

desapareceram. Ao contrário, eles persistem, tanto na esfera interestatal quanto na

esfera intra-estatal, e são marcados por violências e brutalidades de massa.

Os genocídios em Ruanda, em Dafur, na Libéria, no Sudão, na ex-Iuguslávia

e no Afeganistão, para mencionar apenas alguns casos, ilustram isso.

Esta situação se torna a cada ano mais preocupante com o incremento dos

gastos militares e da proliferação de armas. Isso é evidenciado pelo comércio

internacional de armas, que capacita atores estatais e não-estatais por todo o mundo.

De acordo com o STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH

INSTITUTE, Yearbook 2011 as despesas mundiais com gastos militares no ano de

1 Palestra proferida pelo Professor Francisco Carlos Teixeira da Silva para o Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, 2011.

2 Em novembro de 1989, reuniram-se em Washington funcionários do governo norte-americano, FMI, Banco Mundial e BID especializados em assuntos latino-americanos com o propósito de avaliar as reformas econômicas empreendidas nos países da região. Às mensagens neoliberais, conclusões dessa reunião deu-se a denominação informal Consenso de Washington.

Page 17: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

16

2010 atingiram a soma de US$ (trilhões) 1,63. Esse valor corresponde a 2,6% do

Produto Interno Bruto Mundial, a saber, US$ 236,00 para cada pessoa. Tais gastos

apresentaram-se 1,3% em termos reais maiores do que os valores referenciados ao

ano de 2009 e 50% superiores aos números do ano de 2001.

Além disso, em que pese a aparência de que os conceitos ligados aos

direitos humanos e à democracia passassem a serem impositivos, essa aparência

não resiste a seu confronto inevitavelmente na questão relativa à soberania das

Nações, fazendo ressurgir ameaças à segurança com suas origens em temas

sensíveis de âmbito global. Assim, os crimes ecológico e organizado, o sectarismo

político e religioso, o terrorismo e o tráfico de drogas, o renascimento de

reivindicações de nacionalidade, em particular, sob a bandeira de proteção ambiental

e racismo, passam a ser orquestrados e explorados.

Esses desafios do mundo contemporâneo são ainda agravados pelo

surgimento de movimentos populistas, carismáticos e mesmo messianistas. E

encontram na disparidade de poder econômico-militar dos Estados, aliada à

inexistência de uma autoridade internacional eficaz, o cerne da necessidade de

conviver com o constante gerenciamento de um estado latente de insegurança.

2.2 GERENCIAMENTO DO DILEMA DA SEGURANÇA: UMA RESPOSTA LIBERAL

Após a Primeira Guerra Mundial, a temática das Relações Internacionais

ganha importância e passa a ser considerada uma área específica do conhecimento.

A partir daí, ela conquista o estatuto de disciplina nos ambientes diplomático e

acadêmico, sendo reconhecida como essencial e imprescindível para o

entendimento do cenário global atual.

Valendo-se dessa ferramenta, na busca de levantar explicações e soluções

teóricas para os fenômenos apresentados no presente trabalho, de modo a embasar

a resposta de o porquê desarmar, será preciso lançar mão de escolas de

pensamentos realistas e liberais que se confrontaram com a temática das relações

internacionais, quando esta ainda não era vista como uma especialidade à parte.

Para os teóricos do Realismo, as relações internacionais apresentam-se

como condição de competição ininterrupta e constante por segurança. Na medida

em que os Estados disputam os mesmos objetivos em um mundo de recursos

Page 18: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

17

extremamente escassos, segurança internacional e defesa passam a serem

consideradas de extrema relevância para a sua sobrevivência.

A situação da relação entre os estados-nação é, desse ponto de vista,

diversa do que se passa internamente aos estados no âmbito das sociedades. Estas

convivem com o dilema de escassez de recursos, mas contam com uma autoridade

política que zela por sua coesão interna, o que não ocorre no plano internacional

(MARCONI, 2010).

Já na perspectiva teórica liberal, de origens no otimismo do Iluminismo, no

Liberalismo Politico e Econômico do Século XIX, e no Idealismo wilsoniano do

Século XX, se o funcionamento interno das sociedades e suas instituições se

estender ao contexto internacional, será possível criar uma estrutura que conduza

naturalmente para a paz e a cooperação (PECEQUILO, 2010).

Assim, essa extensão introduzirá mecanismos que conduzem à organização

e ao relacionamento entre os Estados, baseando-se em valores de democracia

praticados no sistema internacional.

A Doutrina Idealista, inspirada no modelo de Woodrow Wilson, propõe

formas de organizar este cenário que superem o esquema de choque de interesses

e de disputa de poder, criando um novo espaço mundial. Tais formas de

ordenamento promoveriam a moderação e a estabilidade nas relações internacionais

por meio de criação de leis e mecanismos interestatais, definindo-se estruturas e

parâmetros de interação claros e regrados.

Essa interação se orientaria pela cooperação econômica e política,

estabelecendo-se uma realidade entre os Estados que levará a obtenção da

prosperidade individual de cada um e do bem universal e comum do sistema,

eliminando a guerra como instrumento de política internacional.

Assim sendo, de posse dos pensamentos teóricos das relações internacionais,

depreende-se que os novos desafios do mundo contemporâneo, já mencionados

anteriormente, alimentam e agravam uma condição latente e constante de insegurança

aos estados que, por seu turno, os motiva a se armarem continuamente. Visando fazer

frente à ameaça que o incremento bélico de outros estados representa, os estados

buscam cada qual incrementar seu próprio aparato bélico.

Ou seja, quando um estado passa a reforçar sua estrutura nacional de

defesa, adotando medidas soberanas de autoproteção, seja mobilizando FA,

organizando uma base industrial de defesa ou estimulando a fabricação de

Page 19: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

18

armamentos, trará como consequência que outros estados se sintam menos

seguros. Estes estados, por sua vez, tomados por um sentimento de insegurança,

adotarão medidas semelhantes, visando neutralizar a força do primeiro e aumentar

seu nível de segurança.

Em efeito cascata, isso aumentará o sentimento de insegurança de outros

estados, que, por seu turno, adotarão as mesmas medidas para se proteger. Este,

que pode ser considerado um processo que se retroalimenta, constitui um paradoxo

que é conhecido como Dilema da Segurança (MINGST, 2009).

A expressão “dilema da segurança” ficou consagrada na literatura a partir do

trabalho do estudioso alemão das Leis e das Relações Internacionais John Hertz em

seu artigo Idealist Internationalism and the Security Dilemma. Nele, Hertz (1950, p.

156) sustenta que: “o Dilema da Segurança ocorre em sociedades anárquicas, em

que os atores estão constantemente preocupados com sua segurança e com a

possibilidade de um ataque”.

Em resumo, John Herz adotava uma concepção estrutural na qual os

Estados têm que obter por sua própria conta os meios necessários para a sua

segurança, sem depender de ninguém. Entretanto, esta busca tende a seguir a

intenção de somente se defender e, assim, a aumentar a insegurança dos outros,

pois cada governo pode interpretar essas medidas adotadas pelos demais como

ameaças potenciais, e procurará, também, aumentar os seus próprios meios de

defesa, daí o dilema da segurança.

Nesse ambiente de total competição, os atores nunca conseguiriam atingir a

segurança desejada, podendo entrar em uma corrida armamentista, buscando

acúmulo de segurança e poder (HERTZ, 1950).

Mas, como gerenciar esse Dilema da Segurança?

Para isso, as perspectivas teóricas das abordagens de correntes realistas

prevêem que os próprios estados mantenham um poderio bélico adequado baseado

na força, respaldando o equilíbrio de poder e a dissuasão como intimidação.

Tradicionalmente, as nações exercem e confiam sua Defesa Nacional em grande

parte à Expressão Militar do Poder Nacional, ou seja, as FA que proporcionam as

ferramentas capazes de obter tal poder dissuasório.

Já os teóricos liberais, em contrapartida, advogam que os estados devem

buscar as repostas para tais demandas no campo do multilateralismo, gerenciando o

poder por meio das comunidades e instituições internacionais. E, neste caso, diante

Page 20: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

19

do Dilema da Segurança, caberia ao estado, como solução, buscar o

Desarmamento e Controle de Armas como opção pela busca de sua segurança

(MORE, 2007). Mas, o que é desarmamento e controle de armas?

2.3 CONCEITOS E TEORIAS

Antes de examinar os conceitos ligados ao desarmamento e o controle de

armas, convém salientar que o presente trabalho não tratará da relação de

desarmamento do Estado com sua população como medida preventiva de

segurança pública.

Dedicar-se-á, exclusivamente, ao desarmamento relacionado ao Estado,

ou seja, o desarmamento interestatal ligado ao controle de armas, tratando em

particular de sua transferência, redução ou proibição de seu desenvolvimento e

fabricação, de seu emprego, dos estoques ou tráfico de armas convencionais, de

amas de destruição em massa, do controle sobre armas leves, munições e

explosivos. (MORE, p. 26, 2007).

Nas pesquisas realizadas, levantou-se que os termos desarmamento e

controle de armas, por refletir os diferentes pontos de vista e interesses da política

internacional, acabam sendo usados com sentido alternado. De modo geral,

conceituam-se as medidas projetadas para limitar armamentos e atividades militares

em duas categorias: desarmamento e controle de armamentos.

Para Bull (1961) no livro O Controle da Corrida Armamentista:

Desarmamento e Controle de Armas na Era dos Mísseis, tradução nossa, define-se

desarmamento como: “a redução ou eliminação dos armamentos. Isto poderá se

processar de modo unilateral ou multilateral; geral ou local; abrangente ou parcial;

controlado ou descontrolado” (grifos nosso). Por outro lado, o mesmo autor

evidencia que o controle de armas: “envolve contenção internacional exercida sobre

política de armamento, quer seja em relação à quantidade de armas, seu tipo,

distribuição ou emprego (grifo e tradução nossa)"3.

Estas definições são, por vezes, usadas sobrepostas. Por exemplo, na

3 "The reduction or abolition of armaments. It may be unilateral or multilateral; general or local; comprehensive or partial; controlled or uncontrolled". Arms control, on the other hand, involves restraint internationally exercised upon armaments policy, whether in respect of the level of armaments, their character, deployment or use".

Page 21: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

20

medida em que o controle de armas envolve a contenção de armamentos, este

regime poderá estar associado à redução ou, paradoxalmente, também, ao

incremento de armas, na medida em que passa a ser empregado para assegurar um

objetivo mais amplo e de conter uma corrida armamentista entre os estados.

Outras visões apontam as medidas de desarmamento buscando reduzir o

nível de capacidades militares nacionais ou proibir completamente determinadas

categorias de armas já desenvolvidas. Neste caso, a consideração das medidas de

limitação de armamentos como medidas ligadas ao desarmamento baseia-se na

avaliação de que a mera posse de armamentos é uma fonte de tensão e de possível

guerra.

Consequentemente, o desarmamento busca, também, evitar, ou pelo menos

reduzir, a probabilidade de conflitos militares, privando as partes, total ou

parcialmente, de suas capacidades militares.

As medidas ligadas ao desarmamento podem ser impostas após um conflito

armado, como um meio de realizar sanções sobre um país; podem ser executadas

unilateralmente, como uma forma de assinalar intenções benevolentes; ou, ainda,

resultar de um acordo comum, firmado por meio de negociações, visando

estabelecer equilíbrios militares mais estáveis, no caso de um desarmamento

parcial, ou visando eliminar totalmente estes equilíbrios militares, no caso de um

desarmamento total (SCHMALBERGER e TULLIU, 2003).

Para More (2009), em relação à sua abrangência, o desarmamento pode ser

dividido em Desamamento Geral ou Desarmamento Limitado considerando o

envolvimento de todos os estados da comunidade internacional ou parte destes

estados.

Acerca de seu objeto, o mesmo autor estabelece que o desarmamento

poderá ser completo visando todas as categorias de armas (Armas de Destruição

em Massa e Armas Convencionais) ao passo que o desarmamento parcial passa a

ter caráter seletivo, ou seja, recaindo apenas sobre uma categoria, ou sobre uma

determinada classe de armas, sejam estratégicas ou táticas.

Quanto ao Controle de Armas, são medidas de controle voltadas aos

armamentos, implementadas unilateralmente ou em acordo multilateral, que visam

impor restrições políticas e legais acerca do desenvolvimento e/ou da articulação

dos materiais de emprego militar.

Page 22: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

21

Na prática, assumirão formas variadas, tais como: impor restrições

quantitativas e qualitativas sobre o emprego de equipamentos militares; envolver

acordos de não-proliferação; regular ou proibir o desenvolvimento e a transferências

de armas específicas e seus componentes; restringir atividades militares; restringir

ou proibir determinados métodos de guerra, ou até regular as condições sob as

quais os armamentos poderão ser utilizados.

Tanto as medidas de desarmamento quanto aquelas de controle de armas

podem ser implementadas em relação a qualquer tipo de armas e/ou atividades

militares, sendo necessário acordo prévio entre as nações sobre que tipo de

armamentos e/ou atividades pretende limitar.

Antes da Segunda Guerra Mundial, a limitação de armamentos basicamente

se relacionava às regras de guerra e à redução de capacidades militares agregadas.

Após esse período, as limitações de armamentos têm sido tratadas, em sua maioria,

em termos de categorias de armas. Essa mudança aconteceu devido ao advento

das armas nucleares, que trouxeram à tona a distinção entre as chamadas armas

convencionais e as que são denominadas armas de destruição em massa

(consideradas as armas explosivas atômicas, de material radioativo e armas letais

biológicas ou químicas).

A todo esse arcabouço teórico, destaca-se a inédita obra de Rodrigo

Fernandes More, Direito Internacional do Desarmamento – o Estado, a ONU e a

Paz, 2007, que se apresenta como fonte teórica retratando e analisando um novo

núcleo temático do Direito, o Direito Internacional do Desarmamento. Assevera,

ainda, More (2007, p. 86) que:

O Direito Internacional do Desarmamento consiste nas iniciativas de desarmamento interestatal, globais ou regionais, representadas por atividades de controle de armas, limitação, redução ou proibição de desenvolvimento, emprego, fabricação, estoque ou tráfico de armas convencionais, armas de destruição em massa, armas pequenas e leves, munições e explosivos, sejam elas empregadas em conflitos interestatais ou intra-estatais.

2.4 O DESAFIO DO IMPACTO HUMANITÁRIO

Diante da teoria do Dilema da Segurança anteriormente discutida, o

desenvolvimento e o fortalecimento irrestrito dos meios militares poderão deflagrar

corridas armamentistas desestabilizadoras.

Page 23: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

22

Quando a busca desenfreada volta-se para desenvolver meios militares com

características de armamentos capazes de destruição em massa, a destrutibilidade

potencial torna-se espantosa, como ocorreu na I Guerra Mundial em relação ao

emprego de gases asfixiantes e na II Grande Guerra com o emprego dos artefatos

nucleares, ambas contabilizando enormes perdas de civis.

Além disso, a proliferação de armas por meio do comércio internacional

dispersou pelo mundo vasto arsenal na forma de armas nucleares, convencionais e

de pequeno porte.

Para Schmalberger e Tulliu (2003) as corridas armamentistas são

fenômenos de ação e reação, onde países presos em conflitos políticos ampliam

gradualmente suas capacidades militares em resposta a um crescimento percebido

na preparação militar de outro país.

A doutrina da Escola Superior de Guerra (ESG) define-se Segurança como

“a sensação de garantia necessária e indispensável a uma sociedade e a cada um

de seus integrantes contra ameaças de qualquer natureza”, e conceitua-se Defesa

como “um ato ou conjunto de atos realizados para obter ou resguardar as condições

que proporcionam a sensação de Segurança” (BRASIL, 2009 a).

Para alcançar este estágio de Segurança e Defesa, minimizando os efeitos

oriundos de uma corrida armamentista, as nações evoluíram em acatar certos

tratados e convenções que restringem o acúmulo unilateral de armamentos e limitam

seu uso.

Nesse contexto, reduzir o desastroso impacto humanitário, em geral com

danos inaceitáveis nos civis, causado por certas categorias de armas tem se tornado

o centro de um dos maiores desafios na realidade contemporânea e cuja solução

este autor visualiza repousar no desarmamento e no controle de armas.

Um exemplo recente encontra-se nas denominadas munições em cacho4 ou

cluster munitions. Durante os últimos vinte anos, foram marcantes as desastrosas

consequências humanitárias deste tipo de arma, que após serem lançadas acabam

afetando quase invariavelmente a população civil, seja no momento do bombardeio,

4 Também chamadas de bombas cacho, bombas de dispersão, bombas de fragmentação, bombas

cluster ou munições agregadas são armas constituídas por uma cápsula (bomba ou ogiva cluster) que contém submunições explosivas (bomblets ou granadas), projetadas para lançamento por aeronaves ou serem disparadas por sistemas de artilharia. A cápsula, em determinada altitude ou momento pré-determinado, se abre e libera as submunições.

Page 24: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

23

seja posteriormente, em razão de serem explosivos extremamente instáveis que ao

cairem no solo não deflagram e continuam no terreno ferindo ou matando civis

inocentes, mesmo ao final do conflito. Passam a serem denominados de restos

explosivos de guerra5.

Figura 1: Restos explosivos de guerra Fonte: Ministério da Defesa (2009)

Durante a Operação Justa Recompensa, na fronteira norte de Israel com o

Líbano, em 2006, estima-se que as bombas em cacho lançadas pelas forças

israelenses contra o Hezbollah espargiram cerca de quatro milhões de submunições,

sendo que um milhão não explodiu no momento do lançamanto. O conflito que durou

pouco mais de um mês deixou um saldo significativo de mortes de civis.

Os números apresentados colocou uma interrogação acerca da legitimidade

do uso de certas armas, estimulando e reforçando discussões em foros internacionais

na busca de um equilíbrio entre as considerações de cunho militar e os impactos

humanitários.

5 Restos explosivos de guerra são artefatos explosivos que, após disparados, não explodiram por

alguma falha ou que foram abandonados, mas que, ainda, podem ser ativados e explodir.

Page 25: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

24

2.5 MECANISMOS DE NEGOCIAÇÃO E NORMATIVA INTERNACIONAL

Resta um enfoque, onde negociar e tratar do desarmamento e do controle

de armas?

Para lidar com este tema e os demais assuntos ligados à segurança

internacional, a Carta das Nações Unidas e, subsequentemente, decisões oriundas

da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança estabeleceram mecanismos para

estudar, assessorar e apoiar os processos de negociações e deliberar as

consequentes decisões.

Quanto as Normas Internacionais, o Balanço do Ministério das Relações

Exteriores (BRASIL, 2011 c) destaca os instrumentos legais que consolida a adesão

brasileira aos todos os mecanismos voltados para o desarmamento e a não-

proliferação de armas.

Assim sendo, a Assembleia Geral apresenta-se como principal órgão

deliberativo das Organização das Nações Unidas (ONU) no campo do

Desarmamento, lidando com os princípios gerais de cooperação na manutenção da

paz e segurança internacionais.

Em consonância com a vocação particular de Genebra para com as

discussões internacionais sobre medidas de caráter humanitário, a ONU estabeleceu

o Escritório das Nações Unidas em Genebra (United Nations Office at Geneva -

UNOG) que proporciona apoio administrativo a inúmeras atividades, inclusive aos

tratados e as convenções ligados com o tema de desarmamento e controle de armas.

A Comissão da ONU para o Desarmamento (United Nations Disarmament

Commission - UNDC) é um órgão deliberativo e especializado, composto por todos

os membros das Nações Unidas, com mandato de apresentar recomendações

concretas sobre assuntos específicos de desarmamento e de fazer o

acompanhamento necessário no que se refere às decisões adotadas pelas sessões

extraordinárias da Assembleia Geral sobre o tema.

O Primeiro Comitê da Assembleia Geral é um órgão subsidiário da

Assembleia Geral que trata especificamente de todas as questões relacionadas ao

desarmamento e a segurança internacional.

O Instituto das Nações Unidas Para Pesquisa sobre Desarmamento (United

Nations Institute for Disarmament Research - UNIDIR) foi criado pela Assembleia

Geral com o propósito de pesquisar, de forma independente, as questões de

Page 26: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

25

desarmamento e assuntos correlatos, particularmente as questões de segurança

internacional.

A Junta Consultiva sobre Questões de Desarmamento, desde 1978,

assessora o Secretário-Geral em assuntos gerais e específicos de desarmamento e

o aconselha sobre a implementação do Programa de Informação sobre

Desarmamento da ONU. Atua, igualmente, como o Conselho de Administração do

UNIDIR.

Com sua gênese na Primeira Sessão Especial da Assembleia Geral das

Nações Unidas de 1978 e considerada o único fórum multilateral de negociações

voltadas para o desarmamento, a Conferência do Desarmamento (Conference on

Disarmament - CD), sediada em Genebra, reveste-se no marco regulatório dos

órgãos envolvidos com desarmamento nas Nações Unidas.

Na CD, os seus sessenta e cinco estados-membros conduzem o

funcionamento em três períodos de sessões anuais, sendo norteados por regras de

procedimentos peculiares, com decisões adotadas tão somente por consenso.

A atuação brasileira junto à CD ocorre desde sua instalação, sendo que o

Ministério das Relações Exteriores (MRE) desmembrou, em janeiro de 2008, da

Missão Permanente do Brasil junto à ONU as atividades especificas, criando,

naquela ocasião, a Representação Permanente do Brasil junto à Conferência do

Desarmamento – REBRASDESARM – representação diplomática peculiar voltada à

gestão dos temas ligados ao desarmamento e ao controle de armas.

Em 2010, o Brasil presidiu as atividades da CD, empenhando-se em adotar

um programa de trabalho que desse novo impulso à Conferência, cuja paralisia

remonta à 1997, defendendo o fortalecimento do fórum como única instância

multilateral negociadora na área do desarmamento.

O Brasil sempre teve papel relevante em iniciativas na esfera do

desarmamento mundial.

Mirando na resolução voltada à criação de uma Zona Livre de Armas

Nucleares na África, nasce a proposta brasileira, em 1962, voltada ao

estabelecimento de uma Zona Livre de Armas Nucleares que se materializou no

pioneiro Tratado de Tlatelolco de Proscrição de Armas Nucleares na América Latina

e Caribe (Treaty of Tlatelolco), de 1994, sobre a proscrição de armas nucleares na

América Latina.

Page 27: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

26

Entre os relevantes tratados que lidam com desarmamento, controle de

armas e o uso pacífico da tecnologia nuclear, encontram-se o Tratado de Não-

Proliferação de Armas Nucleares – TNP (Nuclear Non-Proliferation Treaty – NPT ou

NNPT), em vigor desde 1970, juntamente com o Tratado para Banimento Parcial dos

Testes Nucleares (Partial Test Ban Treaty - PTBT), de 1963 e o Tratado para o

Banimento Total dos Testes Nucleares (Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty -

CTBT), assinado pelo Brasil em 1996.

Encontra-se, também, presente com uma Representação junto à Agência

Internacional de Energia Atômica (AIEA) e à Organização Preparatória para o

Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (Comprehensive Nuclear-Test-

Ban Treaty Organization - CTBTO), ambas em Viena.

O Grupo dos Supridores Nucleares (Nuclear Suppliers Group - NSG) criado

em 1974, apresenta-se como uma associação de países que possuem tecnologia

nuclear e que contribuem para a Não-Proliferação de armas nucleares por meio de

controles específicos de exportação. Ou seja, garantindo que as transferências

internacionais de material nuclear e de equipamentos de uso dual sejam apenas

realizadas para fins pacíficos.

Sobre o Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis6 (Missile Technology

Control Regime - MTCR) criado em 1987, merece destaque as atuações brasileiras

dedicadas a divulgar o Regime e a alertar sobre os riscos da proliferação de vetores

para armas de destruição em massa.

Quanto às armas químicas, o Brasil participa da Convenção para a Proibição

das Armas Químicas – CPAQ (Chemical Weapons Convention - CWC), na

Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), mecanismo dedicado à

promover a eliminação dos arsenais químicos existentes. Neste fórum, a CWC

favorece a transparência dos movimentos internacionais de agentes químicos

sujeitos aos mecanismos de verificação da Convenção.

Considerada um dos três pilares fundamentais do esforço da comunidade

internacional contra as armas de destruição em massa, juntamente com o TNP e a

CWC, a Convenção para a Proibição de Armas Biológicas - CPAB (Biological and

Toxin Weapons Convention - BTWC), de 1972, trabalha para obter a proibição do

6 MTCR: visa dificultar e, se possível, impedir a proliferação de vetores de lançamento de armas de destruição em massa, por meio do controle de exportações de bens e tecnologias de aplicação em mísseis com capacidade para transportar cargas superiores a 500 kg a distâncias maiores que 300 km.

Page 28: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

27

desenvolvimento, produção e estocagem de armas químicas e bacteriológicas

(biológicas) e sua eliminação, através de medidas eficazes, facilitando a consecução

do desarmamento geral e completo sob estrito e eficaz controle internacional.

O Brasil, também, se faz atuante na área do controle de armas

convencionais, atestado pelo cumprimento nacional da Convenção sobre a Proibição

do Uso, Armazenamento, Produção e Transferência de Minas Terrestres Antipessoal

e sobre sua Destruição, conhecida como Convenção de Ottawa (Ottawa Treaty ou

The Anti-Personnel Mine Ban Convention), com destaque para a participação de

oficiais brasileiros em operações de desminagem humanitária na América do Sul e

na América Central.

Ainda com respeito às armas convencionais, o Brasil tem se empenhado nos

últimos anos em fortalecer foros já atuantes, tal como a Convenção sobre Certas

Armas Convencionais ou Convenção sobre a Proibição ou Restrição do Emprego de

Certas Armas Convencionais que podem ser Consideradas Excessivamente Lesivas

ou Geradoras de Efeitos Indiscriminados - CCAC (The Convention on Prohibitions or

Restrictions on the Use of Certain Conventional Weapons Which May be Deemed to

be Excessively Injurious or to Have Indiscriminate Effects, or the Convention on

Certain Conventional Weapons - CCW), por vezes conhecida, também, como

Convenção de Armas Desumanas (Inhumane Weapons Convention - IWC), de 1980,

e seus cinco Protocolos:

Protocolo I, sobre fragmentos não localizáveis. Este instrumento proíbe o

uso de armas cujo objetivo seja causar ferimentos por fragmentos não-localizáveis

pelo raio-X;

Protocolo II, e sua emenda de 1996, relativo às restrições ou proibições ao

emprego de minas, armadilhas e outros artefatos. Como afirma Costa (2001) “[...] as

restrições ao uso de minas se constituem num dos principais esforços dos promotores

do Direito Internacional Humanitário [...]”. O Protocolo II proíbe o uso de minas e

armadilhas em certas situações, nas quais o perigo de efeitos indiscriminados é

particularmente grave. Já pela Convenção de Ottawa, ficam proibidos o uso,

desenvolvimento, produção, estocagem ou transferência de qualquer mina terrestre

antipessoal;

Page 29: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

28

Protocolo III, sobre as restrições ao emprego de armas incendiárias;

Protocolo IV, de 1995, relativo à proibição ao uso e transferência de

armas com laser concebidas para causar cegueira permanente; e

Protocolo V, sobre restos explosivos de guerra.

Finalmente, diante de todo esse tema, o Desarmamento e Controle de

Armas apresenta-se como uma proposta de solução pacífica voltada para gerenciar

o Dilema da Segurança.

A lógica simples dessa abordagem apoia-se na tese de que quanto menor o

número de armas maior será a segurança. Ao regular a desenfreada ascendente

proliferação de armas e, ao mesmo tempo, reduzir seus tipos e quantidades, os

custos do Dilema da Segurança serão sensivelmente reduzidos.

Diante dessa realidade, a comunidade internacional com seus mecanismos

passa a coordenar as ações relacionadas ao desarmamento, focalizando, em grande

parte, em respostas multilaterais apresentadas por grupos de Estados interessados

em coordenar suas politicas.

Estariam, então, na busca de paz, os Estados abrindo mão da soberania? O

desarmamento geral será abrangente a todos ou restrito a alguns estados?

Page 30: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

29

3 O ESTADO ARMADO: A QUESTÃO DA DEFESA NACIONAL

3.1 SUA POLÍTICA E ESTRATÉGIA

Mearsheimer (apud BRAND, 2010), citado na monografia Dilemmas of

Brazilian Grand Strategy (Dilemas da Estratégia de um Brasil Potência), “prevê que

as potências emergentes, buscarão aumentar sua influência e desafiar a hegemonia

global acumulando grande poder militar, e que o Presidente Lula tem insistido muito

no fortalecimento das FA brasileiras”.

De fato, o Brasil vem se preparando – mas não por um ímpeto belicoso

abstrato, e sim em consonância com uma postura compatível com sua dimensão

político-estratégica – para implementar sua Política de Defesa Nacional (PDN),

estabelecida em 2005, e sua recente aprovada Estratégia Nacional de Defesa

(END), de 2008.

Segundo Aguiar (2011), estima-se investimentos na área de Defesa e

Segurança voltados para o reequipamento e reaparelhamento das FA no montante

de US$ 247 bilhões até 2030. Desse total, prevê-se que US$ 70 bilhões serão

destinados à Marinha, US$ 94 bilhões ao Exército e US$ 83 bilhões à Aeronáutica.

Consoante PDN, em Brasil (2005), prevê-se o exercício do direito de legítima

defesa para o caso de agressão ao País. Confirmando-se uma agressão, poderá ser

empregado todo o Poder Nacional, com ênfase em sua expressão militar. Em vista

da eventualidade de um conflito, planos voltados à paz e à guerra serão concebidos

para fazer frente a diferentes hipóteses de emprego, complementando, desse modo, a

END.

Além do mais, diante de um mundo de incertezas, coberto por ameaças não-

convencionais, tal como já descrito em capítulo anterior, seria imprudente imaginar

que um país com o potencial brasileiro esteja imune a eventuais antagonismos na

tentativa de alcançar seus legítimos interesses.

Desse modo, para melhor compreender os esforços voltados para a Defesa

Nacional, a Escola Superior de Guerra (ESG) define-a em Brasil (2009 b):

Defesa Nacional é o conjunto de atitudes, medidas e ações do Estado, com ênfase na Expressão Militar, para a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais e manifestas.

Page 31: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

30

Fica claro a partir da definição, portanto, que tais ações originam-se do

Estado, transcendendo, assim, a dimensão meramente das FA em direção a uma

solução que reúna instrumentos econômicos, políticos e diplomáticos.

A cada dia o povo brasileiro toma consciência de que, o Estado, sua

sociedade e as FA compartilham a responsabilidade nos assuntos de Defesa e

Segurança Nacionais e que poderio militar nacional deverá estar preparado,

adestrado e em condições de ser empregado, uma vez esgotados todos os recursos

de ordem diplomática, bem como, considerando a evolução do “espectro de uma

possível crise”.

Nesse diapasão, Rocha (2010, p. 4) afirma que:

“A Expressão Militar é a parte visível quando nos referimos à Defesa Nacional. No entanto, outros componentes importantes têm de ser considerados tais como: a base industrial de defesa; o complexo científico e tecnológico; a capacidade de mobilização do Estado, desde recursos humanos, materiais, econômicos, infra-estrutura, etc” (grifo nosso).

A História tem demonstrado que, para cumprir com eficácia suas ações

constitucionais de Defesa Nacional, uma FA necessita de uma base industrial de

defesa estruturada e competitiva, amparada por atividades industriais e científico-

tecnológicas modernas e voltadas para as suas demandas, particularmente as

operacionais.

Recentemente, a END, reconheceu a deficiência brasileira neste setor,

considerando-o incapaz de atender às necessidades mais básicas da Defesa

Nacional. Como também os setores de energia, de transporte, de educação e de

saúde, o setor industrial nacional se afiguraria ainda um óbice à infraestrutura.

Para reverter este cenário ligado ao material de defesa, a END pauta-se pela

seguinte diretriz: “Capacitar a indústria nacional de material de defesa para que

conquiste autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa” (BRASIL, 2008 a).

Para isso, protegerá as empresas privadas nacionais de material de defesa

contra os riscos do imediatismo mercantil por intermédio de regime jurídico,

regulatório e tributário especiais. A contrapartida desse regime será o poder

estratégico que o Estado exercerá sobre tais empresas.

Serão buscadas parcerias com outros países, com o propósito de

desenvolver a capacitação tecnológica e a fabricação de produtos de defesa

nacionais, de modo a eliminar, progressivamente, a compra de serviços e produtos

importados.

Page 32: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

31

Nos três setores considerados estratégicos e essenciais para a defesa

nacional – o espacial, o cibernético e o nuclear – as parcerias com outros países e

as compras de produtos e serviços no exterior devem ser compatibilizadas com o

objetivo de assegurar espectro abrangente de capacitações e de tecnologias sob

domínio nacional.

São exemplos disso as tentativas de se conquistar autonomia nas

tecnologias cibernéticas que guiam os submarinos e sistemas de armas e que lhes

possibilitam atuar em rede com as outras forças navais, terrestres e aéreas.

Outro desafio, está focado no desenvolvimento de alternativas nacionais aos

sistemas de localização e de posicionamento dos quais o Brasil depende, passando

pelas necessárias etapas internas de evolução dessas tecnologias. O potencial para

contribuir com tal independência tecnológica pesará na escolha das parcerias com

outros países em matéria de tecnologias de defesa. (BRASIL, 2008 a).

3.2 CERCEAMENTO TECNOLÓGICO7

Ao longo da história da humanidade, aqueles conhecimentos que

proporcionavam a seus possuidores vantagens significativas no tocante ao poderio

militar eram sempre mantidos em segredo. Para Longo e Moreira (2009, p.2):

Na época da bipolaridade, o objetivo principal do cerceamento era negar conhecimento ao bloco oponente e buscar manter supremacia tecnológica em áreas estratégicas.

À medida que os Estados foram tomando consciência disso, as ações

protecionistas foram se intensificando e sofisticando. Os países passaram a se

empenhar, cada vez mais, em desenvolver mecanismos de proteção de sua

capacidade científica e tecnológica.

O chamado cerceamento tecnológico resulta disso. Implementado, seja de

forma explícita seja veladamente, ele culmina por se constituir em objeto de acordos

multilaterais, e por vezes chega a implementar-se unilateralmente.

7 A expressão é entendida como um conjunto de práticas e ações de Estados, grupos de Estados, organizações ou outros atores do sistema internacional no sentido de bloquear, negar, restringir ou dificultar o acesso ou a posse de tecnologias e bens sensíveis por parte de terceiros (LONGO e MOREIRA, 2009).

Page 33: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

32

Esse cerceamento pode se materializar por meio de várias ações, continuam

Longo e Moreira (2009, p. 2), “tais como negar simplesmente o acesso, não

vendendo [...]; introduzir barreiras fiscais, [...] ambientais ou de direitos humanos; e

até executar operações militares ou de inteligência, para neutralizar centros de

pesquisa ou pessoas a eles ligadas”.

Assevera Guimarães (apud DINIZ, 2010, p.1) “Na luta para perpetuar a atual

ordem, os Estados que controlam o sistema internacional buscam beneficiar-se da

criação de mecanismos legais e de normas que mantenham sua condição de Estados

centrais”.

O Brasil, evidentemente, está ciente da existência do cerceamento

tecnológico, mesmo assim, em virtude de seu compromisso com a não-proliferação

de armas de destruição em massa, aderiu a vários acordos internacionais que

trazem restrição à de transferência de tecnologia.

Aqueles que se sentem prejudicados pelo cerceamento tecnológico se

empenham em obter as tecnologias mantidas em segredo. Nesse sentido, os que

podem ser denominados de cerceados têm procurado reagir ao cerceamento,

buscando transpor ou contornar os obstáculos erguidos pelo cerceamento

tecnológico (LONGO e MOREIRA, 2009).

Para tanto, lançam mão de diversos tipos de expedientes, dentre os quais

vale citar, ainda com Longo e Moreira (2009) “a transferência de tecnologia, os

programas mobilizadores, a engenharia reversa, a cópia, a contratação de

especialistas provenientes de outros países, e até mesmo a espionagem”.

Desde a II Guerra Mundial, particularmente com o surgimento da arma

atômica, os países líderes no desenvolvimento científico e tecnológico e suas

alianças passaram a intensificar as restrições de acesso de terceiros às tecnologias

e bens sensíveis ou de uso dual8 (LONGO, 2010).

Diversos mecanismos unilaterais de cerceamento tecnológico e de bloqueio

de comercialização de bens e tecnologias sensíveis tem sido impostos pelos países

desenvolvidos ao Brasil.

Em virtude das restrições contidas nos mecanismos unilaterais de

cerceamento, as indústrias nuclear, aeroespacial, química e biológica brasileiras têm

sido coibida de desenvolver certas tecnologias. Somam-se àquelas restrições os

8 Tecnologias ou bens sensíveis que possuem aplicação civil e/ou militar.

Page 34: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

33

acordos e tratados aos quais o Brasil já aderiu e que ajustou sua legislação nacional

(PEDONE, 2009).

Como destaca Longo e Moreira (2010, p. 10) “[...] a necessidade de impor o

controle de armas e prevenir a proliferação das armas de destruição em massa

fornece a base moral para o cerceamento, porém, podem ocultar motivações menos

nobres”.

Continua os mesmos autores “Por outro lado, os cerceados buscam

contornar as barreiras impostas, valendo-se de recursos e alternativas que são

capazes de engendrar”.

Toda essa situação tem desdobramentos relevantes para a soberania

nacional. Com efeito, torna-se cada vez mais manifesto que as restrições, ou mesmo

proibições ao emprego indiscriminado de armamentos pelas nações vêm sendo

gradativamente impostas, reflexo dos compromissos assumidos pelos Estados nas

convenções e tratados.

Os bens e a tecnologia empregados para a produção de armas de

destruição em massa são rigidamente controlados por regimes e convenções

internacionais de desarmamento e não-proliferação.

A discussão sobre desarmamento na esfera global é um dos aspectos

polêmicos da questão.

Essa discussão envolve a regulamentação da produção e da

comercialização de armas nucleares, químicas e biológicas, bem como de seus

vetores. E não se restringe a isso, mas visa regulamentar também a produção e a

comercialização de armas convencionais em geral, de minas terrestres antipessoais,

armas pequenas e armamento leve.

O Brasil tem se mostrado, nos últimos anos, atento às discussões sobre o

assunto, e sua atuação internacional nas discussões a respeito tem sido expressiva.

Isso pode ser confirmado por um documento publicado pelo Ministério das Relações

Exteriores, consoante Brasil (2011 a), no qual é apresentado um balanço da atuação

brasileira no período compreendido entre os anos de 2003 e 2010.

A posição do Brasil a esse respeito é inequívoca em favor do desarmamento

e da não-proliferação de armas.

Uma comprovação disso é a própria Constituição Federal, que proíbe

expressamente a utilização da energia nuclear para fins não-pacíficos. O País tem

se mostrado atuante também no cenário mundial, participando de discussões e de

Page 35: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

34

negociações internacionais relativas à tecnologia nuclear e a demais questões

ligadas ao desarmamento e ao controle de armas.

Quanto às questões debatidas, vale sublinhar a coerência das posições

assumidas pelo Brasil. O país tem se pautado por seu compromisso com a luta

contra a corrida armamentista, sem renunciar a seu dever de resguardar a

independência nacional, e, com ela, o direito ao desenvolvimento autônomo de

tecnologias nucleares para fins legítimos, dentre outros setores estratégicos.

A END exprime essa dupla preocupação. Ela envolve, por um lado, o

empenho em assegurar o desenvolvimento da tecnologia nuclear para fins pacíficos,

e, por outro, a tarefa de garantir a defesa nacional sem perder de vista o fomento do

desarmamento e da Não-Proliferação de armas.

Conforme o Balanço de Política Externa 2003/2010, já mencionado

anteriormente, em Brasil (2011 a), no que concerne à questão do desarmamento, “o

Brasil considera que a busca do desarmamento nuclear deve ser mantida como a

mais alta prioridade da agenda internacional de paz e segurança”. Isso porque,

continua o documento, “a posse de armas de destruição em massa – em particular

de arsenais atômicos – é motivo de séria preocupação para toda a humanidade”. O

mesmo documento ressalta, por outro lado, que “o Brasil defende que os esforços

para não-proliferação de armas de destruição em massa não podem comprometer o

direito à utilização de tecnologias sensíveis para fins legítimos”.

Os desafios que se erguem para a conciliação desses dois objetivos, no

entanto, não são pequenos. Um desses desafios diz respeito às condições visando

garantir, por um lado, o direito e a autonomia para o desenvolvimento da tecnologia

nuclear para fins pacíficos, e, por outro, o controle do desenvolvimento tecnológico

para fins bélicos. Isso é ilustrado pelo caso do Irã, e da tensão mundial alimentada

pela renitência do país em abrir mão do investimento na pesquisa e no

desenvolvimento tecnológico voltado para a área nuclear.

No que concerne às negociações e discussões de que o Brasil é partícipe no

âmbito mundial, com respeito à questão nuclear, vale destacar que eles não se

concentram às ações do Ministério das Relações Exteriores e do Itamaraty. As

iniciativas feitas nessa direção distribuem-se em várias esferas da administração

pública, seja no âmbito federal, seja no âmbito estadual.

Page 36: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

35

Encerra-se este Capítulo com a posição brasileira, que foi apresentada no

discurso proferido pelo Ministro Celso Amorim, em 15 de junho de 2010, junto a CD,

em Genebra. De acordo com o Chanceler brasileiro:

A governança global está sendo reconstruída. O mundo não pode ser gerido por pequenos grupos que se auto-intitulam tomadores de decisão. No campo econômico e financeiro, já houve algum progresso. No entanto, no campo político, as lacunas de legitimidade e de eficácia ainda não foram preenchidas. Isso é particularmente verdadeiro na esfera da paz e da segurança internacional. A infeliz identidade entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e os cinco Estados reconhecidos pelo TNP como nuclearmente armados torna decisões sobre esses assuntos objeto de certa “reserva de mercado”. Armas nucleares não têm função no mundo mais pacífico, democrático e próspero que queremos todos construir. Necessitamos não apenas manter, como também incrementar a segurança para todos, especialmente para os países que não possuem e não anseiam possuir armas nucleares. Faz-se necessária uma mudança de mentalidade. Deve-se abandonar a lógica da Guerra Fria, a lógica da capacidade de destruição mútua. Devemos reconhecer a simples verdade de que as armas nucleares diminuem a segurança de todos os Estados, inclusive daqueles que as possuem. O Brasil saúda a promessa de reduções quantitativas nos arsenais dos Estados nuclearmente armados. No entanto, isso está longe de ser suficiente. Os cortes nos arsenais foram contrabalanceados por melhoras qualitativas das forças nucleares, pela modernização das armas nucleares e de seus sistemas de lançamento, bem como pelo papel definido para as armas nucleares nas doutrinas de defesa nacional. É preocupante o fato de que uma grande porção, senão a totalidade de tal redução, não implica a destruição ou o descarte dessas armas. Na medida em que avançamos nas negociações de um Tratado sobre Materiais Físseis (TMF), necessitamos de outro órgão subsidiário que lide com os passos que levam ao desarmamento nuclear. Um tratado sobre materiais físseis não deve assegurar somente o banimento verificável da produção de materiais para aparatos nucleares. Deve, também, tratar dos estoques existentes de materiais utilizáveis em armamentos (AMORIM, 2010 b).

Page 37: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

36

4 O BRASIL PERANTE O DESARMAMENTO E O CONTROLE DE ARMAS: BREVE ANÁLISE DE CASOS

A atual estabilidade política e econômica brasileira, aliada à estatura bélica

das FA, comparada à de outros países em desenvolvimento, vem exigindo do País

uma nova postura no trato com assuntos de Defesa. O longo período de paz, aliado

à falta de uma discussão no interior da sociedade civil sobre o tema da Defesa,

propiciou um ambiente que desestimulou a percepção de ameaça concreta à

soberania nacional e à integridade territorial brasileira.

Um desdobramento dessa situação era que as questões de interesse da

Defesa Nacional com vínculo no tema do desarmamento e não-proliferação, nem

sempre se postaram com a amplitude necessária diante da agenda política.

Mesmo assim, o Brasil nunca prescindiu de participar formalmente das

discussões multilaterais, defendendo e promovendo suas posições e interesse

quanto ao desarmamento e ao controle de armas. Nessas ocasiões deu

contribuições relevantes tanto no plano conceitual quanto no exame de questões

relacionadas ao processo de desnuclerização e aos vínculos entre desarmamento,

desenvolvimento e não-proliferação nuclear, sempre coerente com os princípios

históricos que marcaram à sua política externa.

Dentre esses princípios, em torno do acumulado histórico da política exterior

brasileira, foram identificados autodeterminação, não-intervenção e solução pacífica

de controvérsias; juridicismo; multilateralismo normativo; ação externa cooperativa e

não-confrontacionista; parcerias estratégicas; realismo e pragmatismo; cordialidade

oficial no trato com os vizinhos; desenvolvimento como vetor; e independência de

inserção internacional (CERVO, 2002, p. 27-31).

Uma ilustração disso é a contribuição brasileira para os esforços visando o

Desarmamento e o Controle de Armas consubstanciada na atuação de seus

representantes nos fóruns internacionais, como a atuação diplomática brasileira

junto à Conferência do Desarmamento, em Genebra, buscando soluções

consensuais equilibradas entre questões relativas à defesa dos interesses nacionais

e da humanidade.

Os foros internacionais que tratam do Desarmamento e ao Controle de

Armas sintetizam matérias de interesse brasileiro nos campos da Segurança e

Page 38: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

37

Defesa Nacionais, tendo, portanto, reflexos em objetivos colimados pela Estratégia

Nacional de Defesa.

Vale acentuar que a partir de meados da década de oitenta, o Brasil passou

a desenvolver uma indústria bélica pujante. Isso o alçou à condição de exportador de

armas convencionais e produtor entre os países do Terceiro Mundo, demandando,

em consequência, um fortalecimento e ampliação do envolvimento mais abrangente

do País em temas ligados ao desenvolvimento nacional.

Segundo Vaz (1992), além dos fatores associados às atividades nucleares,

aeroespaciais e às exportações de armamentos, é importante destacar que as

questões de Desarmamento e Controle de Armas passaram a ganhar maior relevo

em face da necessidade, traduzida em Objetivo de Governo, a partir de 1990, de

redefinir o perfil externo do País com vistas a assegurar-lhe condições propícias para

a sua modernização e inserção competitiva no cenário internacional.

A credibilidade e confiabilidade do Brasil, o coloca como interlocutor

confiável no tocante às questões de segurança e de transferência de tecnologia

sensíveis.

Diante desse quadro, volta-se, doravante, a atenção para alguns temas que

apresentam, ou poderão apresentar, reflexos diretos nos interesses militares de

Defesa e que requereram acompanhamento e reflexão.

4.1 AS MINAS TERRESTRES ANTIPESSOAL

A proibição do emprego das minas em nível mundial sempre foi uma questão

polêmica, na medida em que muitos países resistem fortemente a essa restrição.

As Convenções de Genebra de 1949, e posteriormente seus Protocolos

Adicionais, legaram uma série de normas voltadas para as condições dos feridos e

doentes em campanha, proteção de civis e tratamento dos prisioneiros de guerra.

Mesmo a despeito dessa conquista humanitária, as minas antipessoal continuaram

sendo empregadas em conflitos como o Afeganistão e Chechênia.

Diante de tais fatos, ficou clara a necessidade de preencher uma lacuna

ainda deixada pelo arcabouço de normas anteriormente mencionado. Para isso, as

Nações Unidas convocaram uma conferência para discutir problemas advindos de

armas convencionais consideradas desumanas.

Page 39: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

38

Um resultado disso foi a adoção, em 1980, pela Assembleia Geral, do texto

da Convenção sobre Certas Armas Convencionais (CCAC), também conhecida

como Convenção sobre Armas Desumanas. Essa Convenção, como já citada em

capítulo anterior, consiste em um tratado tipo “guarda-chuva”, encerrando um

formato central a partir do qual são submetidos acordos específicos, os protocolos.

Inicialmente, foram acordados três protocolos, sendo um deles o Protocolo II

que diz respeito às restrições ou proibições ao emprego de minas, armadilhas e

outros artefatos.

Entretanto, a entrada em vigor desta Convenção tampouco impediu que as

minas terrestres antipessoais fossem indiscriminadamente empregadas, seja em

conflitos internacionais, seja em conflitos internos. Segundo Landmine and Cluster

Munition Monitor (2010), identifica-se, ainda, doze Estados como produtores de

minas antipesssoal, quais sejam: China, Cuba, India, Iran, Myanmar, Coreia do

Norte, Coreia do Sul, Paquistão, Rússia, Singapura, os Estados Unidos e o Vietnam.

Em razão disso, a ONU decidiu rever o Protocolo II da CCAC, convocando

uma nova Conferência que se desenvolveu em três fases de 1995 a 1996,

abandonando a ideia de proibir completamente o uso de minas antipessoais,

substituindo-a pela tentativa de regulamentar seu uso.

Além das questões ligadas ao caráter técnico, como as relativas à

autodestruição, às condições de detecção e de manuseio das minas, do ponto de

vista político discutiu-se estender a Conferência, também, aos conflitos armados

internos e à criação de mecanismos de acompanhamento e verificação.

O novo posicionamento adotado pela Conferência, como era de se esperar,

provocou descontentamento em diversas Organizações Não Governamentais que

desenvolveram uma intensa campanha em favor do banimento de sua produção,

uso e transferência.

A garantia de que o Protocolo II não violaria a soberania dos Estados foi

alcançada por iniciativa da delegação brasileira e inserida no Artigo 1º da

Convenção, único aprovado por consenso:

Nada no presente Protocolo será invocado com a finalidade de afetar a soberania de um Estado ou a responsabilidade do Governo para, empregando todos os meios legítimos, manter ou restabelecer a lei e a ordem no Estado, ou para defender a unidade nacional e a integridade territorial do Estado.

Page 40: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

39

Com a aprovação das emendas, o Protocolo II passou a regular e a

disciplinar efetivamente o emprego de minas terrestres antipessoais, estabelecendo

parâmetros de detecção e autodestruição, impondo rigorosas restrições e proibições

ligadas às transferências internacionais dessas minas.

Para o acompanhamento do status e da operação do protocolo foram

estabelecidas conferências anuais sem, contudo, a criação de mecanismos de

verificação intrusivos.

Esses resultados finais, mais uma vez, deixaram descontentes as ONG e

alguns países que pretendiam o banimento total da produção, uso, estocagem e

transferência das minas, alegando dificuldade em obter consenso devido ao texto

que apresentava termos considerados genéricos ou vagos.

As discussões tecidas na Convenção sobre Certas Armas Convencionais

foram consideradas vagas, e não conduziram a um acordo. Muitos estados não

concordam com as restrições substanciais sobre minas terrestres antipessoais.

Em razão da falta de convergência de posição no âmbito da CCAC, o

Canadá sediou uma conferência em Ottawa intitulada “Rumo a uma proibição global

das Minas Antipessoal”, processo negociador paralelo fora do Sistema das

Nações Unidas que acabou aprovando a “Declaração de Ottawa”, de 1997, banindo

totalmente as minas terrestres antipessoais.

Este Tratado de Proibição de Minas entrou em vigor em março de 1999,

apenas 15 meses após a sua abertura para assinatura. Como reconhecimento por

sua contribuição para todo esse processo, a International Campaign to Ban

Landmines (ICBL), uma coalizão de 1.000 organizações não governamentais em

mais de 60 Estados, foi laureada com o Prêmio Nobel da Paz em 1997.

Em setembro de 1996, o então Ministro das Relações Exteriores do Brasil Luiz

Felipe Lampreia, primeiro debatedor na abertura da 51ª Sessão Assembleia Geral da

ONU, já havia anunciado a decisão do governo brasileiro de declarar a moratória na

exportação de minas terrestres antipessoal. Na ocasião, ele lançou a todos os países

que exportavam minas terrestres o convite para se unirem ao Brasil naquela decisão.

Diante do viés da Defesa, a doutrina brasileira de emprego de minas

terrestres encontrava-se ligada as características geoestratégicas, concernentes à

vasta extensão de linha de fronteira do País, particularmente em ambiente de selva.

Segundo a Justificação do Projeto de Lei nº 3585, de 1997, de autoria do

Deputado Eduardo Jorge que trata da proibição, da fabricação, da comercialização e

Page 41: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

40

do emprego de minas, as “minas terrestres antipessoais são armas defensivas de

baixo custo e de emprego massivo, destinadas a intimidar o avanço de combatentes

a pé em áreas sob escassa vigilância da parte em conflito detentora do terreno”.

Continua o Deputado, “[...] Entendemos que é mais que chegada a hora para que

seja definitivamente erradicado o emprego desses dispositivos nos campos de

batalha [...]” (BRASIL, 1997).

Nesse sentido, a posição das FA foi pelo Ministro das Relações Exteriores

Celso Amorim, quando – em Audiência Pública na Comissão de Relações Exteriores

e de Defesa Nacional discorrendo sobre a posição brasileira em relação ao

banimento das chamadas bombas em cacho – traçou um paralelo com o ocorrido no

processo das minas terrestres antipessoal, destacando que o Brasil, de início, “não

quis participar logo e que as FA consideravam que, dada a vastidão do território

brasileiro, especialmente das fronteiras, elas poderiam ser necessárias”. Além disso,

“também, não era um processo das Nações Unidas”. Mesmo assim, concluiu o

Ministro “nós terminamos aderindo” (AMORIM, 2008).

Assim sendo, diante de todas as posturas relatadas, o Brasil, prescindindo

das características operacionais deste armamento, posicionou-se em relação

ao banimento total das minas terrestres antipessoal, aderindo tanto ao Protocolo

II, bem como à Convenção de Ottawa, ambos desde 1999, reforçando presença

ativa dos debates em torno do aumento de restrições ao emprego das minas

terrestres e da fabricação e exportação.

Culminando com este posicionamento definitivo, foi aprovada a Lei Federal

nº 10.300, em 31 de outubro de 2001, em Brasil (2001), que trata da proibição das

minas terrestres antipessoal, que contempla em seu Artigo 2º:

É crime o emprego, o desenvolvimento, a fabricação, a comercialização, a importação, a exportação, a aquisição, a estocagem, a retenção ou a transferência, direta ou indiretamente, de minas terrestres antipessoal no território nacional: Pena: reclusão, de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e multa. § 1o A pena é acrescida de 1/3 (um terço) se o agente for funcionário público civil ou militar. § 2o A pena é acrescida de metade em caso de reincidência. § 3o Não constitui crime a retenção de minas antipessoal pelas Forças Armadas, em quantidade a ser fixada pelo Poder Executivo, e o seu manuseio e transferência dentro do território nacional, para fins do desenvolvimento de técnicas de detecção, desminagem ou destruição de minas pelos militares.

Page 42: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

41

Desde 1996, as FA brasileiras têm inserido nos currículos e difundindo nos

cursos militares, por meio de instruções ministradas nos estabelecimentos de ensino

e em organizações militares, sobre as obrigações contidas nestes protocolos.

O Brasil não conta com programas de remoção de minas terrestres

antipessoal, uma vez que não possui área minerada dentro de seu território. Mesmo

assim, mantém um programa de cooperação com a Rede Sarah de Hospitais de

Reabilitação para o caso de vítimas de minas.

Além de não produzir ou exportar minas terrestres antipessoal desde 1989,

mantém militares brasileiros prestando assistência à remoção de minas no Peru, no

Equador – na Missão de Assistência para a Remoção de Minas na América do Sul-

MARMINAS – e na Colômbia no Grupo Monitores Internacionais na Colômbia/GMI-

Colômbia.

4.2 DA NÃO-PROLIFERAÇÃO DE ARMAS NUCLEARES AO CONTROLE DO MATERIAL FÍSSIL

As reflexões abordadas nesta seção tratam da participação brasileira junto

aos principais compromissos internacionais ligados à não-proliferação e o

desarmamento nuclear voltados aos esforços de proibir a produção de material físsil

que possa ser utilizada na fabricação da Armas de Destruição em Massa (ADM), no

caso nuclear, e os possíveis reflexos para a Defesa Nacional.

Para Fomerand (2007): “a primeira ocorrência do uso dessa expressão “Armas

de Destruição em Massa” foi cunhada para designar o emprego militar estratégico de

bombas que atingiram populações civis durante a Guerra Civil Espanhola”. Goldblat

(2002) complementa que:

Em 1948, a Comissão de Armas Convencionais caracterizou como Armas de Destruição em Massa as armas explosivas atômicas, que contenham materiais radioativos e as armas letais químicas ou biológicas, ou quaisquer armas que porventura venham a ser desenvolvidas no futuro e que apresentem efeitos destrutivos comparáveis aos de uma bomba atômica ou de qualquer das armas anteriormente mencionadas.

Assim, foi a partir do lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e

Nagasaki, marcando o fim da Segunda Grande Guerra, que o mundo passou a viver

sob as condições políticas e estratégicas de uma Guerra Fria, acirrando uma corrida

Page 43: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

42

armamentista, particularmente no campo nucelar, tornando as relações entre países

menos gerenciáveis.

Naquele momento, diante dos riscos de um novo holocausto com potencial

devastador, algumas nações passaram a se empenhar na tentativa de negociar um

tratado internacional de desarmamento e de não-proliferação nuclear que, além de

evitar uma guerra, regulasse o emprego da energia nuclear para fins pacíficos.

EUA, URSS e o Reino Unido lideraram esforços que conduziram à

aprovação, em 1968, pela Conferência das Dezoito Nações9, do Tratado de Não-

Proliferação de Armas Nucleares (TNP), considerado principal instrumento do

Regime de Não-Proliferação Nuclear.

Visou-se com esse Tratado constituir um instrumento internacional que

contivesse a proliferação de armas nucleares e as eliminassem, alcançando, com

isso, o desarmamento nuclear completo.

A partir do TNP foram estabelecidos direitos e deveres que introduziram

diferenças legais entre países. Como exemplo, um compromisso recíproco dos

Estados Não-nucleares de não desenvolver ou comprar armas nucleares, e, em

contrapartida, teriam garantido o acesso à tecnologia nuclear para fins pacíficos

condicionado ao controle da Agencia Internacional de Energia Atômica10 (AIEA).

Por sua vez, os cinco Estados Nucleares (EUA, Rússia, China, França e

Reino Unido), além de se comprometerem a negociar medidas visando à cessação

da corrida armamentista e ao desarmamento nuclear completo, não ameaçariam ou

atacariam os não-nucleares com armas nucleares.

Em síntese, o TNP ao prever a proibição do uso, da produção e do estoque

de armas nucleares, o que se logrou foi o congelamento do poder mundial

nuclear, repercutindo nas assimetrias que dividem o mundo em categorias de

Estados Nucleares e Estados Não-nucleares.

Acerca disto, conclui, a época, Castro (1970, p. 23)11:

III. Os esforços comuns ora realizados pelas Superpotências, valendo-se da "arte sutil da co-presidência", visam ao congelamento e à estabilização do poder à base de duas datas arbitrárias (25 de junho de 1945, data da

9 Fórum precursor da Conferência do Desarmamento em Genebra.

10 Agência de controle de materiais nucleares criada em 1957 com a finalidade de estabelecer salvaguardas e apoiar pesquisas e aplicações práticas para o uso de energia atômica com fins pacíficos.

11 Artigo baseado em conferência realizada pelo autor, Representante Permanente do Brasil junto às Nações Unidas, em Santa Bárbara, Califórnia, em fevereiro de 1970.

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43

assinatura da Carta das Nações Unidas, e 1º de janeiro de 1967, data limite para as nações se habilitarem como estados militarmente nucleares, nos termos do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares).

IV. No léxico das Grandes Potências o conceito de desarmamento está sendo superado pela expressão "controle de armamentos" ou "limitação de armamentos". Os esforços comuns por elas desenvolvidos visam antes à manutenção da presente ordem internacional e à prevenção de uma conflagração nuclear em escala mundial que ao estabelecimento de uma Paz e Segurança permanentes entre as nações em consonância com os princípios e objetivos da Carta de São Francisco. (grifos nossos)

Assim sendo, a cada dia mais, a não-proliferação passou a ganhar força

em detrimento do desarmar. O risco do desvio da tecnologia nuclear para fins

militares demostrou a necessidade de reforçar e reformular os regimes de

salvaguardas adotados.

A partir daí, em 1997, entrou em vigor, o Protocolo Adicional ao TNP

impondo padrões de salvaguardas mais severos, com a AIEA reforçando o acesso

às informações sobre toda atividade relacionada ao emprego de material nuclear.

O instrumento de adesão ao TNP foi assinado pelo Brasil em julho de 1998,

entretanto, a adesão ao Protocolo Adicional continua sendo uma questão de

reflexão, sobretudo em vista em assuntos ligados à soberania que algumas das

medidas nele previstas podem representar.

Segundo Plum (2009, p. 51): “outros países, como o Brasil, recusaram-se a

assinar o protocolo, afirmando que era apenas mais uma medida discriminatória no

campo da não-proliferação nuclear em que mais restrições eram impostas aos

países não-nucleares”.

Neste mesmo sentido, o General Barros Moreira, Conselheiro Militar junto à

Rebrasdesarm, em Genebra, no biênio 2008/2009, em texto de sua autoria “TNP -

Poder e Hipocrisia”, destaca que o Protocolo Adicional ao TNP:

[...] constitui-se, de fato, em aberração jurídica que agride a Soberania Nacional, pelo grau de intrusão e controle espúrios que pretende impor aos membros não-nucleares do Tratado, a priori considerados ingênuos e indignos de confiança. Para a aceitação supostamente "voluntária" desse quasimodesco diploma, o Poder Central tem-se valido das mais diversas formas de pressão. Em relação ao Brasil, cabe uma pergunta: será lícito admitir que funcionários da AIEA, ao alvedrio daquele Organismo, possam, com o mínimo de aviso prévio, ter acesso a "qualquer localidade do território nacional", acessar e inspecionar os Institutos de Pesquisa e as instalações industriais, nucleares ou não ? Certamente, não! Concordar com isso seria, sem a menor dúvida, um crime de lesa-pátria.

Page 45: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

44

Uma visão dentro desse debate apresenta, também, Castelan (2007, não

paginado) que:

os temas de desarmamento são os mais caros para a visão militar. As ações engendradas ao longo dos anos 90, com o intuito de garantir ao país credibilidade, implicaram a abdicação de alguns elementos de dissuasão importantes para o Brasil. O ato do presidente Collor, atirando uma pá de cal em escavação na Serra do Cachimbo, destinada a testes nucleares, é emblemático do período. (grifos nosso).

Destaca, também, a END que o Brasil “Não aderirá a acréscimos ao TNP

destinados a ampliar as restrições do Tratado sem que as potências nucleares

tenham avançado na premissa central do Tratado: seu próprio desarmamento

nuclear”. (BRASIL, 2008 a).

O Brasil tem compromisso com o uso estritamente pacífico da energia

nuclear estabelecidos na Constituição Federal e sempre foi pioneiro em iniciativas

no sentido da não-proliferação. Em junho de 1991, assinou um acordo com a

Argentina para o uso exclusivamente pacífico da energia nuclear, ocasião na qual foi

criada a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais

Nucleares (ABACC) com o objetivo de aplicar e administrar o Sistema Comum de

Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares.

Plun (2009, p. 109), destaca que “A ABACC é a positivação da teoria de

regimes de segurança, uma vez que ela resulta da concordância de dois Estados em

formar uma rede de normas, leis e regras que irão definir e regular o seu

comportamento”.

O setor nuclear brasileiro tem alto valor estratégico. Em 2003, foram

apresentados os planos de enriquecimento de Urânio para fins comerciais com

propósitos de exportar combustível nuclear e garantir a autossuficiência de Urânio

enriquecido, sendo instalada, na Cidade de Resende, RJ, a central de Urânio com

licença para enriquecê-lo até 5%. (PLUM, 2009, p. 112).

Em 24 de junho de 2011, o Ministério das Relações Exteriores noticiou que o

Grupo de Supridores Nucleares12 ao revisar diretrizes ligadas ao controle da

transferência de tecnologias de enriquecimento de Urânio e reprocessamento de

combustível nuclear, passou a reconhecer o Acordo Quadripartite Brasil-Argentina na

área nuclear como critério alternativo ao Protocolo Adicional aos acordos de

12 O NSG surgiu nos anos 1970 com o objetivo de garantir que as transferências de material nuclear e de equipamentos de uso duplo fossem realizadas apenas para fins pacíficos.

Page 46: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

45

salvaguardas da AIEA. Tal acontecimento abrirá um maior acesso a tecnologias

importantes para o desenvolvimento do programa nuclear brasileiro (BRASIL, 201 a).

Mesmo assim, diante de todo esse quadro, as medidas viabilizadas em

consequência do TNP e outras apresentadas ainda não representam todos os

esforços julgados necessários para assegurar o desarmamento e a não-proliferação.

Necessita-se, também, que a comunidade internacional se lance a outro

desafio, ou seja, regular o trato relativo ao material físsil, base para a produção

de armamento nuclear.

Desde o início da Guerra Fria, um dos principais objetivos dos defensores do

desarmamento nuclear tem sido proibir a produção de materiais físseis para armas

nucleares.

Os esforços se viram recompensados finalmente em dezembro de 1993,

quando a Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução A/RES/48/75,

apresentando recomendações para que um órgão internacional negociasse um

tratado multilateral não-discriminatório, internacional e efetivamente verificável que

proibisse a produção de material físsil para armas nucleares ou outros engenhos

explosivos nucleares, conhecido como Tratado de Proibição de Material Físsil, sigla

FMCT – Físsil Material Cut-off Treaty (UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY,

1993).

Essas questões vêm evoluindo lentamente junto à CD, apesar das

resoluções já adotadas. A discussão de inserção ou não no FMCT dos estoques

remanescentes de material físsil já existente nos países responde por tal velocidade.

Há uma polêmica entre alguns que advogam que o estoque atual de material

físsil deve ser levado em consideração para um tratado, e outros que avaliam o

oposto, provocando incertezas quanto aos possíveis impactos de um tratado de

controle de material físsil sobre o equilíbrio estratégico entre os países.

Na defesa dos interesses nacionais, e discursando na CD sobre um FMCT,

Akram (2010), destacou que “a posição do Paquistão levará em conta os interesses

de segurança nacional de seu País e os objetivos de estabilidade estratégica na Ásia

Meridional” (tradução nossa)13.

13 Pakistan‟s position will be determined by its national security interests and the objective of strategic stability in South Asia.

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46

Nesse mesmo sentido, durante os discursos apresentados por algumas

representações na CD, já são percebidos claros sinais que ilustram intenções em

inserir, também, o tema material físsil para propulsão naval na pauta de discussões.

Caso iniciem discussões voltadas a um FMCT, uma das questões

contenciosas a lidar será a própria definição do que se possa ser considerado

materiais físseis e a discussão sobre a produção desses materiais voltados para fins

pacíficos, neste caso inserido os programas de propulsão naval (AKRAM, 2010).

Ainda, o representante do Paquistão junto à CD, Akam (2011, p. 3)14,

ressaltou o trato do material físsil com a sua utilização como combustível propulsor

em submarinos nucleares:

[...] de fato é discutível que o FMCT seja uma medida de não-proliferação, já que os estoques de materiais físseis podem ser rapidamente convertidos em armas. Assim, desde que o FMCT não cubra materiais físseis, tais como Netunium e Americium ou material físsil para propulsão naval e espacial, o Tratado não equivaleria a um regime real de Não-Proliferação. [...] Vários países estão usando Urânio enriquecido em seus navios de propulsão nuclear, bem como combustível para submarino, e não apoiariam sua exclusão submetida ao FMCT. Entretanto, continua o fato de que todo esse material físsil permaneceria disponível e poderia ser desviados para fabricação de armas nucleares. (grifos nosso)

14 In fact it is datable that the FMCT would even be a non-proliferation measure since existing large fissile materials stocks can be quickly converted into weapons. Since a FMCT would not cover fissile materials such as Neptunium and Americium nor reactor grade Plutonium or Fissile material for naval and space propulsion, it would not amount to a real non-proliferation arrangement. […] Several counties are using HEU in their nuclear powered vessels such as submarines as fuel and would not support its ban under FMCT. However, the fact remains that this nuclear fissile material would remain available for them to divert to make nuclear weapons.

Figura 2: Potencial nuclear mundial Fonte: Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI)

Page 48: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

47

A Austrália, também, visando fomentar o processo de redução e eliminação

da produção de material físsil, apresentou um documento de trabalho intitulado

“Suggestions for the substance of the Fissile Material Cut-Off Treaty”, no qual propõe

disposições essenciais a serem cobertas pelo FMCT.

Alguns estados nucleares operam reatores navais que usam como

combustível o Urânio Altamente Enriquecido (HEU), e cuja produção com esta

finalidade poderá permanecer sob os auspícios do FMCT.

No documento salienta que – como contribuição a um trabalho preparatório

para o FMCT – especialistas de um ou mais estados não-nucleares e outros estados

que estejam interessados, realizem estudos voltados para um acordo de verificação

apropriado direcionado ao ciclo do combustível naval (AUSTRALIA, p. 5, 2010).

É neste ponto que se levanta uma das reflexões que motivou a presente

pesquisa: afinal, poderá o material físsil voltado ao emprego de combustível nuclear

para propulsão naval (sejam navios de guerra ou submarinos) ser considerado uso

não pacífico da energia nuclear, advindo, a partir daí, restrições com reflexos

imprevisíveis para a Defesa Nacional brasileira?

Não há como negar que membros da elite brasileira ainda reagem ao uso

dual da tecnologia nuclear com certo sentimento de desconfiança, afinal as marcas

do cataclismo que encerrou a II Guerra parecem perpetuar o termo nuclear como

algo maléfico.

Certamente, um futuro FMCT servirá como alicerce fundamental no controle

da proliferação de armas nucleares e no regime de desarmamento, fixando os

estoques de material físsil.

Por outro lado, esse Tratado, com alguns imaginam, possui potenciais

lacunas, na medida em que permite que a produção de material físsil voltada para

emprego de armas possa ser utilizada como combustível em reatores com

finalidades militares, afastado de salvaguardas internacionais.

Nessa hipótese, a possibilidade de desvios de material físsil para uso de

armas nucleares não estaria descartada.

Os pesquisadores Chunyan Ma e Frak von Hippel em artigo intitulado Ending

the Production of Highly Enriched Uranium for Naval Reactors publicado em 2001,

propõem ampliar o banimento existente no FMCT à produção de material físsil

voltado para qualquer emprego militar, incluindo, neste caso, os reatores navais.

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48

A partir daí, países que já utilizam Urânio Altamente Enriquecido nos

reatores nucleares militares poderiam continuar abastecê-los por décadas com

Urânio, também, altamente enriquecido recuperado das ogivas nucleares

excedentes, desnecessário, portanto, produzi-los.

Já as novas gerações de navios e submarinos impulsionados com

combustível nuclear passariam a ser projetadas para empregar Urânio com baixo

índice de enriquecimento, como se aplica no caso do Brasil e da Índia (MA e

HIPPEL, 2001).

Apresentando especificamente o caso brasileiro, tem relevo aqui a condução

autóctone do Programa de Desenvolvimento de Submarino da Marinha cuja

motivação desperta a percepção das crescentes injunções internacionais diante dos

temas da atualidade.

Nele, contemplam-se dois grandes projetos: o Projeto do Ciclo do

Combustível e o Projeto do Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica (LABGENE).

O Ministério da Defesa, por intermédio do Centro Tecnológico da Marinha

em São Paulo, volta-se à pesquisa para o domínio de todo o ciclo do combustível

nuclear para propulsão naval em laboratórios localizados no Centro Experimental de

Aramar, em Iperó, onde foi possível este pesquisador, como aluno do Curso de Altos

Estudos de Política e Estratégica em 2011, participar de visita juntamente com a

ESG.

Tal Programa, que conta com a construção de um reator nuclear para propulsão

nuclear de submarinos com tecnologia desenvolvida nacionalmente, segundo Pagano

Junior (2010) “foi motivado com a finalidade de guarnecer a Marinha Brasileira de

condições satisfatórias para atender à sua missão constitucional de defesa”.

Nele, o nível de enriquecimento de Urânio dependerá do tipo de combustível

a ser empregado no submarino. No caso brasileiro, o combustível usado para o

primeiro núcleo do protótipo terrestre e, provavelmente, para o primeiro submarino

nuclear deverá ser o Urânio com baixo enriquecimento (LEU), no caso de 4% a 6%.

Para o segundo núcleo, duas alternativas estão sendo desenvolvidas: LEU de 8% a

10%; e LEU de 15% a 20%. A propósito, a Marinha do Brasil tem produzido Urânio

com baixo enriquecimento sob completa salvaguarda (LEONAM, 2011 b).

Como esclarecimento, segundo International Panel on Fissile Materials

(2010), define-se material físsil o Urânio 235 ou 233 enriquecido a mais de 20%, e o

Plutônio que contenha menos de 80% de Plutônio 238. Em 2010, o estoque global

Page 50: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

49

de Urânio Altamente Enriquecido (HEU) somou cerca de 1.475 toneladas métricas,

quantidade suficiente para produzir mais de 60.000 armas físseis simples de

primeira geração. Cerca de 98% deste material pertence a países possuidores de

armas nucleares, e está concentrado na Rússia e nos Estados Unidos.

Assim, estes valores praticados de Urânio enriquecido para emprego como

combustível para propulsão naval, no caso brasileiro, encontram-se muito aquém

dos níveis considerados suficientes para a produção de uma bomba, ressaltando o

uso pacífico da energia nuclear e, portanto, afastando possibilidades de

interferências de um FMCT nas atividades brasileiras.

Gozar de posição vantajosa no que concerne à indústria nuclear pressupõe

autonomia nesta área e requer, portanto, domínio tecnológico na capacidade de

produção nuclear, evitando crises de abastecimento do mercado mundial. Neste

cenário, porém, previsibilidade não é palavra corrente.

Desse modo, diante da necessidade estratégica de desenvolver e dominar o

uso estritamente pacífico da energia nuclear – uma das diretrizes contida na END –

não seria de todo impossível ventilar a hipótese em futuras discussões do FMCT da

proibição de material físsil ser ampliada de modo a incluir a produção de Urânio

Altamente Enriquecido para uso civil, incluindo a propulsão nuclear, com

consequências imprevisíveis.

Resta, ainda, uma nova indagação: as futuras salvaguardas ligadas ao uso

do combustível nuclear na propulsão de submarinos poderão intervir nos dados

operativos?

Sobre a hipótese de inspeções que possam ser acordadas, no trato de

material de emprego militar sujeito a uma doutrina de emprego, este autor avalia que

as verificações nas instalações de bordo de um submarino, voltadas para

conferência da aplicação de combustível nuclear estritamente para propulsão naval,

possivelmente, obrigariam que dados operativos extremamente sensíveis fossem de

conhecimento de inspetores internacionais.

Pode-se aventar, por exemplo, o ciclo operativo do navio (afetado pelo

período entre cargas do reator), os dados de carga do reator e, até mesmo, o fato do

navio estar em determinado porto ou base.

Em verdade, apesar de tudo isso, o Brasil diante do congelamento do poder

mundial nuclear, ao assumir a decisão de inserir-se na categoria de Estado Não-

Page 51: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

50

nuclear abdicou de um instrumento de dissuasão com reflexos diretos sobre a

capacidade de Defesa Nacional.

Indo além deste pensamento do autor, uma declaração considerada

polêmica do Vice-Presidente da República, em 2009, defendeu que o Brasil tenha

armas nucleares como importante fator de dissuasão, dando mais respeitabilidade

ao País. Ainda segundo Alencar, a arma nuclear utilizada como instrumento

dissuasório é de grande importância para um país que tem 15 mil quilômetros de

fronteiras a oeste e um mar territorial, particularmente o mar do pré-sal de 4 milhões

de quilômetros quadrados de área (ESTADÃO, 2009).

Fica, portanto, diante de tudo que foi apresentado a pergunta: valeu a pena

seguir este caminho?

4.3 AS MUNIÇÕES EM CACHO15 (CLUSTER MUNITIONS)

O Controle de Armas se consolida na CCAC, adotada desde 1980, em

Genebra, cujo propósito é proibir o uso de armas convencionais que podem causar

sofrimento e danos excessivos ou apresentar efeitos indiscriminados.

No final de 2006, tentativas frustradas neste fórum, CCAC, de iniciar

negociações sobre um possível Protocolo (o de número VI) que minimizasse o

impacto humanitário dos efeitos causados pelas assim chamadas munições em

cacho, estimulou o Governo da Noruega, apoiado por ONG, a lançar o Processo de

Oslo, fora do Sistema das Nações Unidas.

Essa iniciativa culminou na Convenção sobre Munições Agregadas ou

Convention on Cluster Munitions (CCM), na Conferência de Dublin. Nela, ficou

estabelecido o banimento de munições agregadas, que causam danos inaceitáveis a

civis, embora se tenha preservado a autorização para o emprego de munições

dotadas de características técnicas específicas.

Sobre esta exceção, o Ministro das Relações Exteriores Celso Amorim

(2010, p. 21) em Audiência Pública realizada pelo Congresso brasileiro, em 3 de

15 Também chamadas de bombas-cacho, de dispersão, de fragmentação, bombas-cluster, munições em cacho, ou munições agregadas são bombas ou foguetes em cujo interior se encontram munições explosivas, denominadas submunições. É característica das munições agregadas que, em determinado momento de seu deslocamento em vôo, elas se rompam, espalhando as submunições em determina área.

Page 52: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

51

dezembro de 2008, destacou que haveria um elemento de discriminação na medida

em que:

[...] a Convenção [CCM] excluem as bombas de certos países desenvolvidos que possuem artefatos cluster de segunda ou terceira geração dotados de dispositivos com mecanismo que dificulta a explosão posterior dessa munição, em detrimento às munições de outros países [...], que se apresentam mais rudimentares.

Além disso, complementou o Ministro pela inclinação ao multilateralismo,

conduzido no âmbito das Nações Unidas, onde “todos poderiam opinar de maneira

mais clara, ficando, portanto, menos sujeitos a agendas particulares”.

Contudo, Amorim (apud VIEIRA; SITO, 2010, p. 21), também, classificou as

bombas em cacho como armas desumanas, destacando que Brasil estaria

reconsiderando sua posição e poderia assinar a convenção no futuro “por causas

humanitárias”.

O Brasil, até o momento, não reconhece as decisões da CMC, por

considerar a CCAC o fórum por excelência para as negociações de um instrumento

internacional juridicamente vinculante em matéria de direito internacional

humanitário. Coerente com essa posição, também, privilegia as determinações da

CCAC em detrimento de iniciativas que conduzam negociações fora do Sistema das

Nações Unidas.

Na função de Assessor do Conselheiro Militar em Genebra, este pesquisador

ao lidar com a literatura e a documentação que trata deste tema – em razão da

participação nas negociações realizadas na ONU/Genebra pela CCAC, no período

de 2009 a 2010 – identificou opiniões divergentes.

Por exemplo, para Daniel Mack (apud Nasser, 2010, p. 174), ao tratar do

problema das munições agregadas “[...] como de costume nesta seara, há grande

falta de transparência sobre a produção, armazenamento e exportação das cluster

pelo governo brasileiro, com as explicações de praxe: „dados sigilosos‟ por motivos

de „segurança nacional‟ [...]” (grifo nosso).

Indo de encontro a esta afirmação, a Comissão de Relações Exteriores e de

Defesa Nacional dando mostras de democracia e transparência à sociedade, em

reunião ordinária de Audiência Pública em 4 de maio de 2010, abriu, mais uma vez,

o debate a respeito das bombas de fragmentação produzidas pelo Brasil.

Participaram destas discussões, além de deputados, os Ministérios da

Defesa e das Relações Exteriores, a Indústria Aeroespacial (AVIBRAS) e

Page 53: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

52

representantes de ONG (Coalizão contra as Munições Cluster e a Campanha

Brasileira contra as Minas Terrestres e Bombas Cluster).

Na ocasião, o representante do Ministério da Defesa, ressaltou que o

emprego de munições agregadas pelo Brasil se encontra condicionado pelo que

permite a legislação nacional, observando acordos internacionais a respeito, tais

como o Direito Internacional Humanitário e o Direito Internacional dos Conflitos

Armados.

As munições agregadas são empregadas pelo Exército Brasileiro por meio

do uso do Sistema Astros II (Avibras Aeroespacial) e que a Força Aérea se serve,

para lançar as munições em cacho, das bombas lança-granadas do tipo BLG-120 e

BLG-252, ambas bombas produzidas pela Ares Aeroespacial e Defesa Ltda. Quanto

à Marinha do Brasil, não possui tal aparato bélico.

Figura 3: Bomba Lança-granada BLG-252 produzida pela Ares Aeroespacial & Defesa Ltda Fonte: Ministério da Defesa (2009)

As munições em cacho são consideradas um importante fator de

dissuasão pelas FA. Esta opção gera uma vultosa economia de meios, e, por

conseguinte, de recursos financeiros. Isso porque o emprego de munições em cacho

viabiliza que a missão seja cumprida com um número menor de meios (aviões e um

número menor de lançamentos).

Page 54: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

53

Figura 4: Bomba em cacho (cluster munition) e submunições Fonte: Ministério da Defesa (2009)

Além disso, esse tipo de armamento possui maior alcance com grande

vantagem de fogo, pois seu emprego terrestre é realizado por saturação de área.

Isso significa que uma grande quantidade de submunições é lançada em um curto

espaço de tempo e num espaço limitado, sempre em áreas restritas e alvos

especificados, que são características da doutrina de emprego desse armamento.

A importância da munição em cacho para o Brasil não se encerra por aí.

Desenvolvida por cientistas brasileiros, com recursos brasileiros, e, por isso, de

fabricação nacional, ela representa um incremento da tecnologia nacional, sendo

grande soma de recursos financeiros já empregados para tal propósito. Nesse caso,

encerra-se outro grande fator de dissuasão, pois assegura a autonomia do País com

relação a esse tipo de armamento.

Dominando a fabricação desse artefato, o Brasil pode deliberar sobre a

quantidade que deseja produzir, sem depender de qualquer tipo de autorização ou

controle externo, não ficando à mercê do interesse de outros países em lhe vender

tal tipo de armamento.

Todo este discurso não prescinde da preocupação da periculosidade desta

arma e do malefício de seus efeitos humanitários. Por essa razão, continua em

discussão na CCAC o que pode ser tema para um instrumento juridicamente

vinculante de restrições de uso, de fabricação, de estoque e de transferência das

munições em cacho, o almejado Protocolo VI. (BRASIL, 2010 b).

Page 55: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

54

Uma saída consensual em torno deste tema vem sendo protelada, em

particular, por aqueles que desejam que o eventual Protocolo espelhe os resultados

da Convenção de Dublin – o que significaria banir as munições em cacho, com

exceção daquelas permitidas pela supramencionada Convenção. Quanto a isso, o

Brasil mantém sua posição de que o foro adequado para o trato desse assunto deve

ser a CCAC.

Nos últimos anos, este tema volta a perpassar no Congresso Nacional, desta

feita em razão do Projeto de Lei Nº 4590/2009, apresentado em 3 de fevereiro de

2009, pelo Deputado Fernando Gabeira propondo a iniciativa legislativa destinada à

proscrição, através de lei federal, da fabricação, utilização, comercialização,

exportação e importação, triangular ou não, de todo e qualquer artefato que

considere efetiva ou potencialmente danoso à população brasileira ou a outros

povos.

Na justificativa, entre várias, ressaltam-se as preocupações humanitárias

advindas do emprego das munições em cacho referentes à sua inerente imprecisão

e consequentes taxas de falhas, uma vez que muitas dessas bombas não explodem

ao tocar o solo.

Em Brasil (2009 d), segundo este Projeto de Lei Nº 4590/2009, “O Brasil,

vergonhosamente, armazena e exporta essas armas, mantendo-se como um dos

únicos produtores nas Américas [...]”.

“[...] Não é verossímil que nosso país, cuja tradição é pacifista, permita e

continue fabricando, comercializando e exportando armas que apresentam elevado

potencial de perigo para gerações que virão [...]”.

Em 31 de janeiro de 2011, a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados

arquivou o Projeto.

Page 56: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

55

5 MEDIDAS POLÍTICAS E AÇÕES ESTRATÉGICAS: PROPOSTAS

As mudanças políticas e econômicas por que passou o Brasil nos últimos

anos tiveram repercussões positivas em nível mundial. Aliada à estabilidade da

moeda, viabilizada a partir do Plano Real, a consolidação da democracia no Brasil

teve efeitos positivos não apenas internamente, mas também em nível global,

assegurando ao país um maior destaque no cenário mundial.

A nova posição que o país passou a ocupar na comunidade internacional

conduziu à necessidade de realizar ajustes internos de sorte a adequar políticas e

estratégias nacionais, tanto no âmbito interno quanto externamente. A Estratégia

Nacional de Defesa é um dos resultados daqueles ajustes.

Criada pelo Decreto nº 6.703, em 2008, considera-se um corolário da nova

posição brasileira no cenário internacional para o campo da Defesa Nacional,

considerada “vínculo entre o conceito e a política de independência nacional, de um

lado, e as FA para resguardar essa independência, de outro”.

Além disso, trata de questões políticas e institucionais decisivas para a

defesa do País, como os objetivos da sua “grande estratégia” e os meios para fazer

com que a Nação participe da defesa, abordando problemas propriamente militares.

Pode-se, diante dessas premissas, afirmar que foi aprovada com o intuito de

debater ações estratégicas que objetivem modernizar a estrutura nacional de defesa do

País à luz das novas diretrizes deste, constituindo, desse modo, o espaço que permite

ampliar o debate relativo à temática do Desarmamento e do Controle de Armas.

Para fomentar esse debate, e concretizar as diretrizes preconizadas pela

END, é necessário elaborar propostas, sensibilizando as autoridades e a sociedade

para a nova temática de defesa nacional. Necessário, também, capacitar as elites

envolvidas com a gestão das políticas públicas para a discussão da questão no

âmbito do planejamento governamental.

Essa não é uma tarefa fácil, sobretudo tendo em vista que, conforme já

assinalado anteriormente neste estudo, a preocupação com a defesa e as ameaças

externas nem sempre são tradadas com prioridade.

O Brasil é um país pacífico por tradição e por convicção, regendo suas

relações internacionais pelos princípios constitucionais da não-intervenção, da

defesa da paz e da solução pacífica dos conflitos. Talvez por isso, em toda a história

do Brasil os assuntos de defesa nunca tenham sido abordados em um debate

Page 57: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

56

amplo, envolvendo as várias instâncias da sociedade16.

Por isso é preciso fortalecer ações estratégicas visando motivar a adoção de

novas práticas de interlocução e de participação social. Para tanto, um expediente

que se mostra eficiente é o Método de Planejamento da Escola Superior de Guerra.

Em sua incansável busca por “se estudar os destinos do Brasil”, a ESG

prevê a aplicação desse Método na formulação e na proposta de Políticas e

Estratégias direcionadas à Defesa.

Com isso, tendo em vista que a END abre novas e amplas perspectivas para

a atuação nas áreas ligadas aos interesses nacionais relativos à proliferação de

armas, é preciso também fomentar Ações Estratégicas que possam ser adotadas

pela END.

O objetivo dessas ações seria fortalecer e ampliar o envolvimento do país

nos principais foros de debates ligados ao Desarmamento e Controle de Armas,

visando explorar as oportunidades que se apresentarem e, com isso, promover a

defesa dos interesses nacionais.

Examinemos a seguir cinco Ações Estratégicas cuja adoção se mostra eficaz

para proporcionar os objetivos mencionados.

MEDIDA POLÍTICA 1: estabelecer uma Política Nacional de Desarmamento

e Controle de Armas e Munições abrangente, focada nos interesses nacionais, sem

descuidar de compromissos externos, contribuindo para a unificação de esforços,

fortalecendo, ainda mais, toda posição brasileira adotada, permitindo um trabalho

sinérgico que se antecipe aos fatos.

Por exemplo, caso não se concluam as negociações a esse respeito de um

protocolo que trate de munições em cacho no âmbito da CCAC, poderá o Brasil ser

levado à adotar o Protocolo de Oslo? Poderia recrudescer as pressões sobre os

setores militar, diplomático e político brasileiros? A mídia, tanto nacional quanto

internacional, aliada à atuação de políticos defensores do desarmamento, poderá

levar a opinião pública a uma posição contrária àquela defendida?

16 O documento completa: “Periodicamente, os governos autorizavam a compra ou a produção de novos materiais de defesa e introduziam reformas pontuais nas Forças Armadas. No entanto, nunca propuseram uma estratégia nacional de defesa para orientar de forma sistemática a reorganização e reorientação das Forças Armadas; a organização da indústria de material de defesa, com a finalidade de assegurar a autonomia operacional para as três Forças: a Marinha, o Exército e a Aeronáutica; e a política de composição dos seus efetivos”.

Page 58: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

57

MEDIDA POLÍTICA 2: definição de uma política brasileira especificamente

voltada para o controle de material físsil. Trata-se de um tema complexo tendo em

vista as restrições que sua eventual implementação pode representar. Quanto ao

posicionamento em relação a um possível tratado que proíba material físsil, cabe ao

Brasil antecipar-se e levantar e avaliar todas as hipóteses da possíveis da adoção de

mais um instrumento possivelmente restritivo. A atuação brasileira deverá estar

voltada para que a eventual consolidação do tratado não introduza cláusulas

discriminatórias e que culminem por prejudicar áreas de interesse brasileiro, como a

pesquisa científica para fins pacíficos.

AÇÃO ESTRATÉGICA 1: fomentar a indústria brasileira voltada para a

produção de material de defesa, bem como para a pesquisa e o desenvolvimento de

dispositivos que atendam imposições tecnológicas avançadas. Essas imposições

vem crescendo principalmente as voltadas para a redução dos impactos

humanitários decorrentes das munições.

Para isso se faz necessário o estabelecimento de uma legislação de

incentivo à Indústria de Material de Defesa, que reduzisse a carga tributária

incidente sobre o produto de defesa fabricado no País. O objetivo seria

evidentemente favorecer a produção bélica por meio de um barateamento do valor

final do produto, desmotivando, com isso, a importação, e permitindo a

competitividade do produto de defesa produzido no Brasil comercializado no exterior.

AÇÃO ESTRATÉGICA 2: estimular a participação da sociedade seria a

criação do Portal Brasileiro do Desarmamento e Controle de Armas.

Sob a coordenação dos Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores, o

portal comportaria bancos de dados que disponibilizassem informações abertas a

respeito de mecanismos de controles estabelecidos, divulgaria informações relativas

às limitações impostas ao uso de determinadas munições e ao registro e divulgação

de informações militares não sigilosas.

O portal contaria ainda com a participação de representantes da indústria

nacional de material de defesa e de ONGs. Isso promoveria uma ampla participação

da sociedade, com fóruns de debates e enquetes, o que contribuiria a já

transparente atuação brasileira nos assuntos tratados e nas posições assumidas.

Page 59: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

58

AÇÃO ESTRATÉGICA 3: promover foros regulares junto ao MD e ao MRE

destinados à discussão sobre Desarmamento e Controle de Armas, em particular

promovendo parcerias na linha de ensino entre militares com diplomatas do Instituto

Rio Branco. Na medida em que o Brasil aumenta sua participação nos foros

internacionais, sua histórica postura pacifista fortalece naturalmente as iniciativas

ligadas ao desarmamento.

Nesse sentido, seria conveniente que o processo de ensino ligado à

formação em alto nível de formuladores de políticas e de estratégias de defesa, em

particular militares das FA privilegiasse estudos e análises das repercussões

daquelas iniciativas.

O objetivo disso seria tanto a consolidação e a divulgação do conhecimento

especializado produzido na área quanto uma avaliação mais precisa das crescentes

injunções internacionais relacionadas ao tema desarmamento.

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59

6 CONCLUSÃO

O presente trabalho de pesquisa permitiu refletir sobre os compromissos

assumidos pelo Brasil perante a normativa internacional de Desarmamento e

Controle de Armas e seus reflexos diante dos interesses nacionais com ênfase na

Expressão Militar do Poder Nacional.

O País, que convive em paz atualmente com todos os seus vizinhos em um

quadro de ausência de reais ameaças externas, vem projetando uma liderança

regional que o conduz naturalmente a assumir novas responsabilidades perante a

comunidade regional e internacional, o que o já o torna interlocutor de prestígio.

Para isso, não protagoniza o Dilema da Segurança – o que estimularia uma

corrida armamentista regional – ao contrário, mantém seus objetivos fundamentais

empregando instrumentos de sua política externa e sua política de defesa de modo

transparente, aderindo aos mecanismos e regimes internacionais e regionais dentro

do quadro geral de desarmamento e não-proliferação.

Por outro lado, esses mecanismos de controle decorrentes de convenções

acabam impondo proibições e limitações ao uso de determinadas armas e munições

repercutindo diretamente nas estratégias de emprego das FA, e, também, na

indústria nacional de material de defesa.

Ao abordar a posição brasileira assumida nos fóruns ligados ao regime de

não-proliferação, foram identificados legítimos interesses voltados à soberania do

Estado e à Defesa Nacional postando-se conjuntamente ao não menos importante

desafio de minimizar os efeitos humanitários consequentes do uso de certas armas.

A propósito, sob a égide do direito de legítima defesa, os Estados sempre se

prepararam para enfrentar desafios ditos reais ou potenciais à sua integridade

territorial e soberania, o que os conduziram a manter um poderio militar em

condições de ser prontamente aplicado.

A partir daí, poderá haver momentos os quais serão necessários optar por

caminhos que projetam a dissuasão em defesa da soberania brasileira em

detrimento às ações voltadas para minimizar tais efeitos humanitários decorrentes

do emprego de armas em conflitos.

Até porque um dos maiores obstáculos ao consenso nas negociações e aos

benefícios dos regimes de não-proliferação e de desarmamento repousa na garantia

de que o Estado, alinhado ao princípio de reciprocidade, ao abrir mão de um poder

Page 61: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

60

não convencional, possa ter a certeza de que aqueles que o detenham, também,

assim o farão.

Assim, pode-se verificar que o Brasil já apresentou provas de sua

capacidade de contornar sinais discriminatórios. Ficou evidente durante a pesquisa

que no caso das minas terrestres antipessoal o País, a despeito das características

geoestratégicas de suas fronteiras, abriu mão desta arma, dispondo atualmente de

Lei ordinária que proíbe seu uso, entre outras limitações.

No caso das restrições às munições em cacho, por se tratar de uma questão

que repercute diretamente nas estratégias de emprego do Exército Brasileiro e da

Força Aérea, com reflexos, também, no desenvolvimento tecnológico da indústria de

material de defesa, o País vem adotando uma postura centrada nos interesses

nacionais, sem se descuidar dos malefícios trazidos por este artefato.

Neste caso, qualquer cerceamento tecnológico que possa ser necessário

enfrentar a indústria nacional de armas e munições deverá ser visto – não como

óbice – mas como verdadeiro desafio à indústria nacional que revestida com seu

potencial doméstico será capaz de contorná-los implementando novas soluções.

Cresce, nesse momento, a premente necessidade de por em prática os desafios

contidos na END.

Pode-se atestar, também, que o tema ligado ao controle do material físsil,

como se projeta, dificilmente trará dificuldades face à condução autóctone do

programa brasileiro ligados à área nuclear.

Enfim, os temas de desarmamento são os mais caros para a visão militar na

medida em que pressupõe abdicação de imprescindíveis elementos de dissuasão.

Espera-se, pois, que o rumo das discussões continue a impulsionar a

participação da diplomacia militar que, amparada em interesses soberanos,

mantenha constância nos propósitos das FA equilibrados com o compromisso de

minimizar os efeitos humanitários causados por certas armas, sem, contudo, ceder

às pressões injustificáveis, muitas sob o manto de pacifismo exacerbado e de

interesse pouco claros.

Eis, aí, a nova visão de que poderá depender o futuro das gerações

vindouras.

Page 62: a normativa internacional de desarmamento e controle de armas

61

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