aula 03 estatuto do desarmamento

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FACULDADE DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS DE ARARIPINA:

FACISA Aula Estatuto do Desarmamento

Professor: Manoel Dias da Purificao Neto

ESTATUTO DO DESARMAMENTO

Evoluo legislativa:

at 1.997 os delitos relacionados arma de fogo no Brasil eram considerados contravenes penais apenas;

em 1.997, a lei 9.437/97 passou a encarar tais infraes como crime, mais precisamente no artigo 10 da lei, que punia: porte + posse + comrcio + disparo. Todas essas condutas estavam tipificadas no mesmo dispositivo incriminador com a mesma pena (condutas de gravidades totalmente diferentes sendo punidas na mesma intensidade violao clara ao princpio da proporcionalidade e princpio da individualizao da pena3);

Tal princpio ocorre em trs aspectos: no plano hipottico, quando o legislativo deve obedec-lo para comin-lo; no plano concreto, quando o judicirio aplica a pena; no plano executivo, quando a pena deve ser executada de acordo com esse princpio.

a lei 9.437/97 foi revogada pela lei 10.826/03 que iremos estudar;

a nova lei pune: posse (art. 12) + porte (art. 14) + posse/porte de arma de uso proibido (art. 16) + disparo (art. 15) + comrcio (art. 17) + trfico (art. 18) -> atualmente o estatuto atende aos princpios da proporcionalidade e individualizao da pena;

2. COMPETNCIA PARA JULGAMENTO:

a lei 10.826/03 optou por manter o controle pelo SINARM (Sistema Nacional de Armas), que j existia na vigncia da lei velha, inclusive aumentando a competncia de tal rgo;

como o SINARM da Unio, o cadastro e controle de armas no Brasil federal;

em razo do fato do SINARM ser federal, surgiu um entendimento no TJ/RJ de que todos os crimes previstos no Estatuto do Desarmamento seriam de competncia da Justia Federal por infringir o controle de armas, atingindo interesse da Unio.

Essa questo chegou ao STJ, que optou pela orientao de que os crimes do Estatuto do Desarmamento seguem a regra geral: so de competncia da Justia Estadual, sendo excepcionalmente de competncia da justia federal, caso atinja diretamente interesse da Unio. O STJ se fundamentou em dois pontos:

1- os crimes do Estatuto do Desarmamento atingem interesse apenas genrico e indireto da Unio (portanto, no atingem interesse especfico e direito da Unio que justifique a competncia da justia federal); 4 Os crimes ambientais seguem a mesma orientao basicamente.

2- o bem jurdico protegido nos crimes do Estatuto do Desarmamento a segurana pblica, que trata-se de um bem jurdico da coletividade, e no da Unio, sendo que o fator fixador da competncia o bem jurdico protegido (nesse sentido, HC 45.845/SC);

Obs.: o crime de trfico internacional de armas (art. 18 do Estatuto) de competncia da JUSTIA FEDERAL; nico crime que genuinamente federal;

Obs.: no caso de ARMA RASPADA (impedem o controle por parte do SINARM), o STJ entendeu que o fato da arma estar raspada por si s no leva o delito para a competncia da justia federal (nesse sentido: HC 54.915/RJ);

Obs.: Porte ilegal de arma por militar em local sujeito administrao militar. Justia Comum. STJ CC 112.314

CONFLITO DE COMPETNCIA. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. DELITO PRATICADO POR MILITAR EM LOCAL SUJEITO ADMINISTRAO MILITAR. NO CARACTERIZAO DE CRIME MILITAR. ART. 9 DO CDIGO PENAL MILITAR. COMPETNCIA DA JUSTIA COMUM ESTADUAL.

1. A prtica de crime de porte de arma de fogo, previsto em lei especial (Lei n 10.826/03) e sem correspondncia no Cdigo Penal Militar, em local sujeito administrao militar, no configura crime militar, nos termos do art. 9 do Cdigo Penal Militar.

2. Conforme entendimento desta Corte Superior de Justia, a competncia da Justia Militar firmada pela natureza da infrao, no pela condio de militar do agente. Assim, na hiptese, a competncia do Juzo comum estadual.

3. Conflito conhecido para declarar competente o Juzo da 10 Vara Criminal da Comarca de Cuiab/MT, o suscitado.

COMPETNCIA PARA DETERMINAR O LOCAL EM QUE DEVE SER ENTREGUE A ARMA APREENDIDA EM PROCESSO FINDO

Segundo entendimento do STJ: a competncia do juiz do processo, e no do Comando do Exrcito.

Ao Comando do Exrcito, cabe definir quais unidades do Exrcito recebero as armas e ao juiz do processo cabe decidir em qual dessas unidades a arma ser entregue.

STJ CAT 191/BA: PENAL E PROCESSO PENAL. CONFLITO DE ATRIBUIES. ESTATUTO DO DESARMAMENTO. AUTORIDADE JUDICIRIA E AUTORIDADE MILITAR. DETERMINAO DO LOCAL DE ENTREGA DE ARMAS APREENDIDAS EM PROCESSOS JUDICIAIS FINDOS. ATRIBUIO DA AUTORIDADE JUDICIRIA.

1. atribuio do Juzo de Direito a designao da unidade do Exrcito onde sero entregues as armas e munies apreendidas em processos judiciais findos para serem destrudas.

2. Cabe ao Comando do Exrcito, in casu, apenas a atribuio de determinar em quais unidades da Organizao Militar sero as armas e munies levadas destruio.

3. Conheo do conflito de atribuies para declarar competente o Juzo de Direito da Vara Crime da Comarca de So Gabriel/BA, ora suscitante.

(CAt 191/BA, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEO, julgado em 10/03/2010, DJe 19/03/2010)

STJ: os bens jurdicos protegidos no Estatuto do Desarmamento so:

Bens Jurdicos Mediatos:

INCOLUMIDADE PESSOAL

LIBERDADE INDIVIDUAL

VIDA

INTEGRIDADE FSICA

PATRIMNIO

E OUTROS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Bem Jurdico Imediato:

Segurana Pblica

STF HC 96.072 & STJ HC 156736

STF HC 96.072

EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. PORTE DE ARMA DE FOGO DESMUNICIADA. INTELIGNCIA DO ART. 14 da Lei 10.826/2003. TIPICIDADE RECONHECIDA. CRIME DE PERIGO ABSTRATO. ORDEM DENEGADA.

I. A objetividade jurdica da norma penal transcende a mera proteo da incolumidade pessoal, para alcanar tambm a tutela da liberdade individual e do corpo social como um todo, asseguradas ambas pelo incremento dos nveis de segurana coletiva que a lei propicia. II. Mostra-se irrelevante, no caso, cogitar-se da eficcia da arma para a configurao do tipo penal em comento, isto , se ela est ou no municiada ou se a munio est ou no ao alcance das mos, porque a hiptese de crime de perigo abstrato, para cuja caracterizao no importa o resultado concreto da ao. III - Habeas corpus denegado. (HC 96072, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 16/03/2010, DJe-062 DIVULG 08-04-2010 PUBLIC 09-04-2010 EMENT VOL-02396-01 PP-00157)

STJ HC 156736

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 14 DA LEI 10.826/03. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. DESCLASSIFICAO PARA POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. EXAME DO CONTEXTO FTICO-PROBATRIO INCABVEL NA VIA ELEITA. CRIME DE PERIGO ABSTRATO. CONDUTA FLAGRADA EM 28/12/05. TIPICIDADE DA CONDUTA. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA EXTENSO, DENEGADA.

1. Invivel em sede de habeas corpus, marcado por cognio sumria e rito clere, o exame de alegaes que importem valorao de matria ftico-probatria dos autos, peculiar ao processo de conhecimento. Precedentes do STJ.

2. A segurana coletiva o objeto jurdico imediato dos tipos penais compreendidos entre os arts. 12 e 18 da Lei 10.826/03, com os quais visa o legislador, mediatamente, proteger a vida, a integridade fsica, a sade, o patrimnio, entre outros bem jurdicos fundamentais.

3. Consoante o firme entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justia, tais crimes so de perigo abstrato, do que se conclui ser presumida a ofensividade da conduta ao bem jurdico tutelado.

4. As condutas do art. 14 da Lei 10.826/03 (porte ilegal de arma de fogo de uso permitido) flagradas aps 23/10/05 no esto acobertadas pela hiptese de "atipicidade momentnea", razo pela qual o prazo do art. 30 da Lei 10.826/03, com redao dada pela Lei 11.706/08, a elas no se refere.

5. Ordem parcialmente conhecida e, nessa extenso, denegada. (HC 156736/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 15/04/2010, DJe 10/05/2010)

3. CRIMES EM ESPCIE:

3.1 Artigo 12 - posse irregular de arma de fogo de uso permitido

Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessrio ou munio, de uso permitido, em desacordo com determinao legal ou regulamentar, no interior de sua residncia ou dependncia desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsvel legal do estabelecimento ou empresa:

Pena deteno, de 1 (um) a 3 (trs) anos, e multa.

Bem jurdico tutelado: segurana da coletividade;

Sujeito ativo do crime: h uma divergncia doutrinria.

Para uma corrente da doutrina, trata-se de crime comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa. Uma segunda corrente diz que esse crime prprio, s podendo ter como sujeito ativo o morador da residncia ou o responsvel legal pelo estabelecimento comercial onde est a arma ilegal;

Sujeito passivo do crime: por ser o bem jurdico protegido a segurana pblica, o sujeito passivo do crime a coletividade, a sociedade. Trata-se de crime vago (crime em que no h vtima determinada). Celso Delmanto diz que o sujeito passivo desse crime de posse ilegal de arma tambm o Estado;

Posse

1) na Residncia ou dependncia da residencia do infrator ou

2) no local de trabalho do infrator, desde que ele seja o proprietrio ou responsvel do estabelecimento

Porte

1) em qualquer outro local que no seja os indicados ao lado.

s posse ilegal crime; posse legal fato atpico:

Trabalho de pesquisa: diferenciar posse de porte de arma.

Parei aquiii 16/04/2013

Incio da aula 23/04/2013

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depsito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessrio ou munio de uso proibido ou restrito, sem autorizao e em desacordo com determinao legal ou regulamentar:

POSSE LEGAL _ Fato atpico - Com registro expedido pela PF, aps autorizao do SINARM (art. 5).

Qual a funo do Registro? o documento que legaliza a posse.

POSSE ILEGAL Crime- Sem registro ou com registro sem validade

Desde a entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento at o dia 31/12/2009, sucessivas normas concederam prazos para regularizao (junto PF) da posse ilegal ou para entrega.

De acordo com a jurisprudncia pacfica de STF+STJ, at 31/12/2009, a posse ilegal de arma de fogo no era crime, s passou a ser crime a partir de 1/1/2010.

At o dia 31/12/2009, houve a chamada: abolitio criminis temporria vacatio legis especial, indireta descriminalizao temporria atipicidade momentnea.

Os artigos 30/32 do ED concederam prazo at 23/12/2006 para regularizao, tanto para arma permitida quanto para arma proibida.

A Lei 11.191/05 concedeu prazo at 23/12/2005; para arma permitida e arma proibida.

(Neste nterim, as prorrogaes se deram por Mps)

A Lei 11.706/08 prorrogou o prazo at 31/12/2008, somente para arma permitida.

A Lei 11.922/09 prorrogou o prazo at 31/12/2009, somente para arma permitida.

A PARTIR DE 01/01/2010 NO HOUVE MAIS PRORROGAO E A POSSE ILEGAL PASSOU A SER CRIME, MAS A ENTREGA DA ARMA CAUSA EXTINTIVA DA PUNIBILIDADE.

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ART. 32. Os possuidores e proprietrios de arma de fogo podero entreg-la, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-f, sero indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular da referida arma. (Redao dada pela Lei n 11.706, de 2008).

A ABOLITIO CRIMINIS TEMPORRIA APLICA-SE RETROATIVAMENTE AOS CRIMES PRATICADOS NA ANTERIOR LEI DE ARMAS?

A lei 9437/97 foi revogada pela Lei 10.826/03, que inseriu a abolitio criminis temporria.

Para o STF, no retroage. HC 98.180/SC, j. 26/06/2010.

EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. POSSE DE ARMA. VACATIO LEGIS TEMPORRIA. ABOLITIO CRIMINIS. INOCORRNCIA. CRIME PRATICADO ANTERIORMENTE VIGNCIA DA LEI 10.826/2006. ORDEM DENEGADA.

I. A vacatio legis de 180 dias prevista nos artigos 30 a 32 da Lei 10.826/2003 no tornou atpica a conduta de posse ilegal de arma de fogo. II - No h abolitio criminis do delito de posse ilegal de arma de fogo ocorrido anteriormente vigncia da Lei 10.826/2003, a qual somente instituiu prazo para aqueles que possuam armas fogo de maneira irregular procedessem sua regularizao. III - Ordem denegada. (HC 98180, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 29/06/2010, DJe-154 DIVULG 19-08-2010 PUBLIC 20-08-2010 EMENT VOL-02411-03 PP-00493)

Para o STJ, retroage. HC 191.114/DF, j. 5/4/11.

POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO/ PERMITIDO. PERODO DA VACATIO LEGIS. ABOLITIO CRIMINIS. BUSCA SEM AUTORIZAO JUDICIAL. QUESTES NO VENTILADAS NA ORIGEM. SUPRESSO DE INSTNCIA.

EXCEPCIONALIDADE.

1. Os temas suscitados no mbito do Superior Tribunal de Justia - nulidade absoluta do processo em razo da busca sem autorizao judicial, bem como a errnea capitulao jurdica do delito e o consequente reconhecimento da incidncia da abolitio criminis - no foram aventados na origem, motivo pelo qual no houve manifestao especificamente sobre as questes.

2. No se pode admitir que as instncias ordinrias sejam ignoradas e as alegaes sejam feitas diretamente na instncia superior.

Sucede que, no caso, est-se diante de caso excepcionalssimo que justifica se d pronta soluo controvrsia, ao menos no que tange capitulao jurdica do delito e ao reconhecimento da incidncia da abolitio criminis.

3. A Corte Especial j disse que a vacatio legis estabelecida pelos arts. 30 e 32 da Lei n. 10.826/2003, para a regularizao das armas dos seus proprietrios e possuidores, reconhecida hiptese de abolitio criminis temporalis e aplica-se, at, retroativamente aos delitos de posse de arma praticados sob a vigncia da Lei n.9.437/1997 (APn n. 476/RO, Relatora Ministra Eliana Calmon, DJ de 19/11/2007).

4. " considerada atpica a conduta relacionada ao crime de posse de arma de fogo, seja de uso permitido ou de uso restrito, incidindo a chamada abolitio criminis temporria nas duas hipteses, se praticada no perodo compreendido entre 23 de dezembro de 2003 a 23 de outubro de 2005. Contudo, este termo final foi prorrogado at 31 de dezembro de 2008 somente para os possuidores de arma de fogo de uso permitido (art. 12), nos termos da Medida Provisria n 417 de 31 de janeiro de 2008, que estabeleceu nova redao aos arts. 30 a 32 da Lei n 10.826/03, no mais albergando o delito previsto no art. 16 do Estatuto - posse de arma de uso proibido ou restrito" (Precedente da Quinta Turma: HC n. 158.279/SP, Relator Ministro Jorge Mussi, DJe de 16/11/2010).

5. Na espcie, conquanto a matria no tenha sido apreciada pelo Tribunal de origem, impe-se a pronta soluo da questo em razo de estarem os autos instrudos com laudo pericial dando conta de que o paciente portador, entre outras molstias, de cncer na prstata, bem como com ofcio da Delegacia de Represso ao Trfico Ilcito de Armas da Superintendncia da Polcia Federal no Distrito Federal, esclarecendo que as armas e munies apreendidas em 31/1/2006 so de uso permitido.

6. Habeas corpus do qual no se conheceu. Ordem expedida de ofcio para, aps a desclassificao do delito, absolver o paciente do crime previsto no art. 12 da Lei n. 10.826/2003, por atipicidade da conduta.

(HC 191114/DF, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 05/04/2011, DJe 19/04/2011)

A ABOLITIO CRIMINIS TEMPORRIA APLICA-SE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO/PROIBIDO OU A ARMA RASPADA?

Entendimento da 5 T. do STJ: a abolitio criminis temporria aplica-se a qualquer arma de fogo (arma permitida, proibida ou raspada) at o dia 23/10/2005, porque at este dia, a abolitio criminis aplicava-se tanto arma permitida quanto proibida; depois daquela data at 31/12/2009, a abolitio criminis temporria s continuou valendo para armas permitidas e no raspadas, no se aplica mais a armas proibidas ou raspadas. Entendimento pacfico do STJ. HC 200.172/DF, j. 5/5/2011.

Entendimento do STF: o de que a abolitio criminis temporria no se aplica s armas raspadas, porque arma raspada no tem como ser regularizada.

A ABOLITIO CRIMINIS TEMPORRIA APLICA-SE AO PORTE ILEGAL? NO VALE PARA PORTE. S VALE PARA POSSE. ISSO PACFICO.

STJ HC 171.198, j. 5/5/11.

- elementos do tipo:

- elemento subjetivo:

condutas: possuir ou manter sobre a guarda. Possuir estar na posse e manter sobre a guarda a mesma coisa, evidenciando a mania do legislador de se auto repetir, nas palavras de Nucci;

objeto material: arma de fogo, acessrio e munio de uso permitido. Arma de fogo a arma em si, j os acessrios so objetos que acoplados arma melhoram o seu funcionamento ou eficincia.

No so acessrios partes da arma desmontada, tambm no sendo acessrios objetos que no melhoram o desempenho da arma (ex.: coldre).

exemplo de acessria a mira a laser.

Obs.: Vale lembrar que tanto a arma, a munio e os acessrios devem ser de uso permitido, uma vez que se for de uso proibido, o agente comete o crime do artigo 16 da mesma lei;

Ateno: Para se possuir uma arma em casa legalmente, necessrio um registro da arma aps prvia autorizao do SINARM;

O INDIVDUO PODE TER UMA ARMA EM CASA EM TRS SITUAES:

1- com registro da polcia federal,

2- com registro da polcia civil (na lei antiga, a PC que expedia o registro) ou

3- sem registro.

A posse da arma com registro da polcia federal legal, caso o sujeito tenha a posse com base no registro da polcia civil, aplica-se o art. 5, 3, devia entregar a arma ou obter o registro na polcia federal at 31 de dezembro de 2008.

Quem possui a arma sem registro devia solicitar o seu registro na polcia federal at 31 de dezembro de 2008.

Ocorre que tais prazos foram prorrogados at 31 de dezembro de 2009 pela lei 11.922 de 13 de abril de 2009, em seu artigo 20. Essa lei trata de juros e dividendos da Caixa Econmica Federal, e no artigo 20, vem ampliando os prazos do Estatuto.

No caso de posse de arma de fogo sem registro ou com registro da polcia civil no cometia crime at o dia 31 de dezembro de 2009, uma vez que h o que o STF chama de abolitio criminis temporria.

importante ressaltar que tal prazo somente se aplica para as armas de fogo de uso proibido, segundo o prprio STJ, nem mesmo s armas de fogo de uso permitido raspadas e ao porte ilegal de arma de fogo (nesse sentido: STJ, HC 124.454 de agosto de 2009);

ELEMENTO ESPACIAL: interior da residncia, dependncia desta ou local de trabalho no qual ele seja titular ou responsvel legal. Qualquer local fora desses torna-se porte, e no mais posse;

CONSUMAO: o crime se consuma no momento em que o agente assume a posse ilegal da arma; no momento em que o infrator ingressa na posse irregular de arma de fogo.

TENTATIVA: impossvel, por tratar-se de crime de mera conduta. Prevalece no STJ e STF que o crime de posse ilegal de arma de fogo crime de mera conduta e de perigo abstrato. REsp 1.191.112, j. 5/5/2011. STF HC 104.206, j. 26/08/2010.

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ARTIGO 13 - omisso de cautela - Deixar de observar as cautelas necessrias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficincia mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena deteno, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.

OBJETO JURDICO:

O objeto jurdico mediato a incolumidade pblica;

O objeto jurdico imediato a vida e incolumidade fsica de pessoas menores de 18 anos ou pessoas com deficincia mental.

Trata-se de crime de dupla objetividade jurdica;

SUJEITO ATIVO: proprietrio ou possuidor da arma de fogo. aquele que tem o dever de cautela, devendo observar as cautelas necessrias. Capez e Nucci entendem que crime prprio.

Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessrias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficincia mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade:

SUJEITOS PASSIVOS: o menor de 18 anos ou doente mental.

Obs.: H o crime mesmo que o menor de 18 anos tenha obtido a capacidade civil absoluta.

Obs.: No necessria nenhuma relao jurdica entre o Sujeito Ativo e o Sujeito Passivo.

A lei s tutela o doente mental, no tutela o portador de doena fsica ou de necessidades especiais.

CONDUTA: deixar de observar as cautelas necessrias crime omissivo puro/prprio. crime culposo, pois a conduta indica uma negligncia, quebra do dever de cuidado objetivo.

Nota: A previso expressa do crime culposo pode estar prevista na prpria redao do tipo penal, como ocorre neste.

OBJETO MATERIAL: arma de fogo o tipo penal no especifica qual arma de fogo, ento pode ser arma de fogo de uso permitido ou restrito/proibido.

No crime em tela, no importa se a arma de fogo de uso proibido ou de uso permitido. A espcie de arma ser considerada na dosagem da pena (quanto mais letal for a arma, maior a gravidade do crime).

O tipo penal no prev acessrio e munio como objeto material deste crime: Portanto, deixar culposamente acessrios ou munies ao alcance de menores e deficientes mentais fato atpico.

Caso o sujeito ativo dolosamente entregue uma arma a um menor de 18 anos, haver o crime do artigo 16, pargrafo nico, inciso V do ECA.

Entregar uma arma dolosamente a um doente mental configura porte ilegal de arma de fogo se for arma permitida (artigo 14), mas se for arma proibida, configura o crime do artigo 16;

CONSUMAO: a consumao se d com o mero apoderamento da arma pela vtima.

um crime omissivo que no se consuma com a simples omisso na cautela. Nucci diz que um crime omissivo condicionado a consumao est sujeita a uma condio, que o apoderamento da arma pelo menor ou doente mental.

O Crime do art. 13 formal ou Material?

Crime segundo o resultado:

CRIME MATERIAL - aquele que o tipo penal descreve a conduta e o resultado e para sua consumao necessrio que se produza o resultado. Ex: homicdio

CRIME FORMAL - aquele que o tipo penal descreve a conduta e o resultado mas s se exige a prtica da conduta para se consumar. Ex: extorso mediante sequestro

CRIME DE MERA CONDUTA - o tipo penal so descreve a conduta. Ex: Violao de domiclio, ato obsceno

1 Corrente: crime material, pois o apoderamento o resultado naturalstico exigido pelo tipo. Fernando Capez.

2 Corrente: crime de mera conduta, pois o resultado naturalstico seria a ofensa vida ou integridade fsica da vtima, que no precisa acontecer para a consumao do crime. Nucci.

3 Corrente: Na verdade, o crime formal, uma vez que o resultado naturalstico na verdade a efetiva ofensa vida ou integridade fsica da vtima (para quem entende que o crime formal, estamos diante de um crime culposo sem resultado naturalstico).

Prevalece a primeira corrente.

tentativa: inadmissvel, uma vez que trata-se de crime culposo e omissivo prprio;

Adendo: segundo a doutrina, alm do crime de omisso, o sujeito responde tambm pelo porte ou posse ilegal de arma de fogo, havendo concurso de crime (concurso material) uma vez que os crimes protegem bens jurdicos diferentes;

......................................................

ARTIGO 13, P. N - Omisso de comunicao Pargrafo nico. Nas mesmas penas incorrem o proprietrio ou diretor responsvel de empresa de segurana e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrncia policial e de comunicar Polcia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessrio ou munio que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.

esse crime um tipo penal autnomo em relao ao caput do mesmo artigo; no tem nada a ver como o caput.

OBJETO JURDICO: incolumidade pblica;

SUJEITO PASSIVO: a coletividade, mas o Estado tambm vtima, visto que a falta de comunicao compromete o controle de armas;

SUJEITO ATIVO: trata-se de crime prprio uma vez que o crime somente pode ser cometido pelo proprietrio ou pelo diretor responsvel pela empresa de segurana ou empresa de transporte de valores;

CONDUTAS: deixar de registrar ocorrncia policial e deixar de comunicar Polcia Federal qualquer forma de extravio (perda, furto, roubo ou outras formas de extravio). O que ele deve fazer? O tipo penal impe um duplo dever de comunicao: o dever de registrar ocorrncia policial e comunicar a Polcia Federal a falta de uma dessas comunicaes configura o crime. o entendimento da maioria.

Obs.: para a minoria, a falta de 1 comunicao no configura o crime. O agente tem o dever de fazer uma s comunicao, porque o Estado tem o dever de manter um cadastro nico de armas. Portanto, a pessoa no pode ser punida pela falta de organizao e comunicao entre os rgos do Estado. MINORIA VIU.

OBJETO MATERIAL: arma de fogo (de uso permitido ou restrito, tanto faz), acessrio ou munio de uso permitido ou restrito.

Se a arma estiver em situao irregular, haveria o dever de comunicar? H entendimento de que no, uma vez que o objeto material desse crime so apenas armas de fogo em situao regular, uma vez que a necessidade de comunicao do extravio da perda de arma irregular, ele estar produzindo prova contra si mesmo em relao ao crime de posse ou porte de arma de fogo;

prevalece com folga o entendimento de que esse delito trata-se de crime doloso.

OCORRE O CRIME Caso a falta de comunicao seja culposa? trata-se de fato atpico;

TIPO SUBJETIVO: crime doloso; o tipo s pune a forma dolosa;

CONSUMAO: somente se d depois de 24 horas da ocorrncia do fato, estando-se diante de um crime a prazo s se consuma depois de terminado o prazo. A doutrina corrige a orientao no sentido de que o dever de informao deve se dar nas 24 horas depois do conhecimento, da cincia do fato, e no depois de ocorrido o fato, sob pena de incorrer-se em responsabilidade penal objetiva;

PESQUISA PARA CASA: O QUE RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA?

TENTATIVA: impossvel, por tratar-se de crime omissivo puro/prprio;

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ARTIGO 14 - PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO

Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depsito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessrio ou munio, de uso permitido, sem autorizao e em desacordo com determinao legal ou regulamentar:

Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

OBJETO JURDICO: incolumidade pblica;

SUJEITO ATIVO: trata-se de crime comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa;

SUJEITO PASSIVO: coletividade (trata-se de crime vago);

ELEMENTO SUBJETIVO: dolo

OBJETO MATERIAL: arma de fogo, acessrio e munio de uso permitido;

o objeto material o mesmo da posse, mudando apenas as condutas;

esse crime um crime no-transeuntes, da seria indispensvel o exame percia na arma para comprovao da materialidade delitiva? No, o STF e o STJ pacificaram entendimento de que no h necessidade de exame pericial para comprovao da materialidade delitiva. Mesmo sem laudo ou haja laudo nulo, h a possibilidade de reconhecimento do crime (nesse sentido: STJ, HC 89.509 de 2008; REsp 953.853/RS de 2008; STF, RHC 91.553 de 2009);

CONSUMAO: d-se com a prtica de qualquer das condutas previstas no tipo (em algumas, o crime permanente);

trata-se de crime de conduta mltipla ou variada, ou seja, tipo misto alternativo ou crime plurinuclear,

Obs.: a prtica de vrias condutas dentro do mesmo contexto ftico constitui crime nico. O nmero de condutas ser considerado na dosimetria da pena;

TENTATIVA: em tese, admissvel, por exemplo, tentar adquirir arma de fogo;

Existe uma deciso do STJ que considerada teratolgica/monstruosa, que entendeu que enterrar a arma no prprio quintal de casa configura o vergo ocultar, do art. 14, porte. Deveria ser posse.

Questes relevantes:

EXAME PERICIAL NA ARMA. necessrio ou no necessrio?

Para o STF: a falta de exame pericial impede o reconhecimento da existncia do crime. O exame indispensvel. STF HC 97.209 & HC 100.008

O STJ e o STF usam o argumento de que o crime de perigo abstrato, portanto, sendo dispensvel o exame de corpo delito, no importando se a arma estava ou no apta a disparar.

PORTE DE ARMA, ACESSRIO OU MUNIO - LAUDO PERICIAL - FORMALIDADE DO TIPO. A teor do disposto no artigo 25 da Lei n 10.826/2003, apreendida arma de fogo, acessrio ou munio, cumpre proceder-se a percia elaborando-se laudo para juntada ao processo. O abandono da formalidade legal implica a impossibilidade de ter-se como configurado o tipo. (HC 97209, Relator(a): Min. MARCO AURLIO, Primeira Turma, julgado em 16/03/2010, DJe-071 DIVULG 22-04-2010 PUBLIC 23-04-2010 EMENT VOL-02398-02 PP-00324)

EMENTA Habeas corpus. Posse ilegal de arma de fogo ocorrida na vigncia da Lei n 9.437/97, revogada pela Lei n 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento). Nulidade de exame pericial invivel na via do habeas corpus. Impossibilidade de dilao probatria. Eventual nulidade do exame pericial na arma de fogo no descaracteriza o delito previsto no art. 14, caput, da Lei n 10.826/03 (previsto antigamente no art. 10 da Lei n 9.437/97). Precedentes. 1. A alegada nulidade do exame pericial, em virtude de ter sido "realizado por policiais que atuaram nos autos do inqurito e sem a qualificao necessria realizao de tais exames", em total desacordo com a regra prevista no art. 159, 1, do CPP, no pode ser verificada na via estreita do habeas corpus, pois essa anlise demandaria reexame do conjunto probatrio. 2. Eventual nulidade do exame pericial na arma de fogo no descaracteriza o delito previsto no art. 14, caput, da Lei n 10.826/03 (previsto antigamente no art. 10 da Lei n 9.437/97) quando existir um conjunto probatrio que permita ao julgador formar convico no sentido da existncia do crime imputado ao ru, bem como da autoria do fato (Nesse sentido: HC n 89.248/PR, Segunda Turma, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJ de 6/11/06). 3. Habeas corpus denegado. (HC 100008, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 18/05/2010, DJe-145 DIVULG 05-08-2010 PUBLIC 06-08-2010 EMENT VOL-02409-04 PP-00848)

2 T. STF + 5 T. STJ: o exame na arma ou munio dispensvel, por se tratar de crime de perigo abstrato

STF HC 100.860; STJ HC 107.112.

Para o reconhecimento da causa de aumento de pena, no necessrio o exame, nem mesmo a apreenso da arma. Silvio considera que estas turmas esto coerentes.

HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. EXAME PERICIAL. INEXISTNCIA DE NULIDADE. PRESENA DE OUTROS ELEMENTOS PROBATRIOS. MATERIALIDADE CONFIGURADA. ORDEM DENEGADA. 1. O laudo pericial foi firmado por dois peritos no oficiais, ambos bacharis, que prestaram compromisso de bem e fielmente proceder percia na arma de fogo apreendida em poder do paciente. Tudo em conformidade com o que determina a lei processual, no havendo motivos para se declarar qualquer nulidade. 2. A qualidade de policial dos peritos irrelevante para a validade ou no da percia. Precedentes. 3. Existindo elementos probatrios que permitam ao julgador formar sua convico no sentido da existncia do crime de porte ilegal de arma de fogo imputado ao acusado, torna-se desnecessria a realizao do exame pericial. Precedentes. 4. Writ denegado. (HC 100860, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 17/08/2010, DJe-207 DIVULG 27-10-2010 PUBLIC 28-10-2010 EMENT VOL-02422-01 PP-00025)

PORTE DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. POTENCIALIDADE LESIVA DO ARMAMENTO APREENDIDO. AUSNCIA DE LAUDO PERICIAL ATESTANDO A INAPTIDO DO REVLVER. IRRELEVNCIA. DESNECESSIDADE DO EXAME. CRIME DE MERA CONDUTA. COAO ILEGAL NO EVIDENCIADA. ACRDO CONDENATRIO MANTIDO.

1. O simples fato de portar arma de fogo de uso permitido viola o previsto no art. 14 da Lei 10.826/03, por se tratar de delito de mera conduta ou de perigo abstrato, cujo objeto imediato a segurana coletiva.

2. A inexistncia de laudo pericial atestando a inaptido do revlver apreendido mostra-se irrelevante, pois o delito do art. 14 da Lei 10.826/03 configura-se com o simples enquadramento do agente em um dos verbos descritos no tipo penal repressor.

3. Ordem denegada.

(HC 107112/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 02/03/2010, DJe 26/04/2010)

Arma de fogo desmuniciada e sem condies de pronto municiamento: 1 T. STF + 5 T. STJ: arma desmuniciada sempre configura crime, mesmo sem condies de pronto municiamento, porque o crime de perigo abstrato, presuno absoluta de perigo. STF HC 96.072, j. 2010. 2 T. STF + 6 T. STJ: arma desmuniciada e sem condies de pronto municiamento (sem munio prxima para ser colocada na arma) no crime. Porm, arma desmuniciada, mas em condies de municiamento, configura crime. AgRg no REsp 1.109.654, j. 14/04/2011.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. ARMAMENTO DESMUNICIADO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ABSOLVIO DECRETADA EM SEDE DE APELAO.

1. De acordo com o entendimento da Sexta Turma desta Corte, em se tratando do crime de porte ilegal de arma de fogo, exclui a tipicidade do delito a circunstncia de o armamento estar desmuniciado e sem alcance respectiva munio, caso dos autos.

2. No trazendo o agravante tese jurdica capaz de modificar o posicionamento anteriormente firmado, de se manter a deciso agravada na ntegra, por seus prprios fundamentos.

3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp 1109654/MG, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 14/04/2011, DJe 02/05/2011) Posse de munio ou acessrio sem arma 5 T. STJ: posse somente de munio ou acessrio, desacompanhado de arma, crime, por 2 motivos: 1 crime de perigo abstrato, portanto, no precisa gerar perigo real, o que dispensa a presena da arma. 2 Os tipos penais, expressamente, mencionam munio e acessrio como objetos materiais do crime. 1.191.122, j. 5/05/2011; HC 175.085, j. 5/05/2011 2 T. STF HC 95.075/SC. Julgado ainda no concludo. J votaram Eros Grau e Joaquim Barbosa, dizendo que a posse de munio ou acessrio crime. Peluso disse que porte/posse de acessrio/munio desacompanhado de arma no crime (Informativo 583). Aps Peluso, pediu vista Ellen Gracie, que est com o processo ainda (hj 4/6/2011).

Posse de munio ou acessrio sem arma Capez:

1- o se for arma absolutamente inapta para efetuar disparos, h crime impossvel;

2- o se for arma relativamente inapta para efetuar disparos, h crime.

Obs.: E SE O LAUDO CONCLUI QUE A ARMA ABSOLUTAMENTE INEFICAZ PARA DISPARAR, MAS ELA EST MUNICIADA, POSSVEL PUNIR PELO PORTE DE MUNIO?

Resposta do STJ: SIM, condena-se pelo porte de munio. HC 1.66.446, j. 5/04/2011.

CRIMINAL. HABEAS CORPUS. ART. 14 DA LEI 10.826/03. TRANCAMENTO DA AO PENAL. ATIPICIDADE. ARMA DE FOGO APREENDIDA SEM POTENCIAL LESIVO. MUNIO IDNEA. CRIME DE PERIGO ABSTRATO. CONDUTA TPICA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NO VISLUMBRADO. ORDEM DENEGADA.

I. O trancamento de ao penal por meio de habeas corpus medida de ndole excepcional, somente admitida nas hipteses em que se denote, de plano, a ausncia de justa causa, a inexistncia de elementos indicirios demonstrativos da autoria e da materialidade do delito ou, ainda, a presena de alguma causa excludente de punibilidade.

II. No obstante a ausncia de potencialidade lesiva da pistola periciada, o porte dos cartuchos, por si s, configura a prtica do delito do art. 14 da Lei 10.826/03, pois o ncleo do tipo prev, explicitamente, que tal conduta antijurdica, independentemente da apreenso de arma de fogo e da sua eventual capacidade de efetuar disparos.

III. Trata-se de delito de perigo abstrato, que prescinde de comprovao do efetivo risco paz pblica.

IV. A Quinta Turma desta Corte consolidou entendimento no sentido de que o porte de munio, ou mesmo de arma desmuniciada, subsume-se ao tipo descrito art. 14 da Lei 10.826/03 (Precedentes). V. Ordem denegada, nos termos do voto do Relator. (HC 166446/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 05/04/2011, DJe 14/04/2011).

POSSE OU PORTE DE MUNIO & PRINCPIO DA INSIGNIFICNCIA

O STJ reconheceu inaplicvel o P. da Insignificncia na posse/porte de munio, independentemente do n de munies.

POSSE OU PORTE DE MUNIO & HOMICDIO. O HOMICDIO ABSORVE O PORTE/POSSE ILEGAL?

Resposta: Depende, se a posse/porte foi praticada exclusivamente para o homicdio, o homicdio absorve o crime. Ex.: agente briga no bar, vai at a casa dele, pega a arma registrada, volta no bar e mata a pessoa com a qual brigou. Fica absorvido por ser crime meio do homicdio.

Se a posse/porte j esto consumados e eventualmente a arma utilizada no homicdio, haver concurso material de crimes (Posse/Porte ilegal + Homicdio), porque os objetos jurdicos so diferentes. Ex.: o infrator vai todos os dias ao bar portando a arma. Num determinado dia, mata algum. Nesse caso, no h uma relao de dependncia entre o porte de arma e o homicdio, porque o porte de arma j estava consumado h muito tempo.

E O POSSE OU PORTE SIMULTNEO DE 2 OU + ARMAS

Entendimento amplamente majoritrio: configura crime nico. O n de armas ser considerado na dosagem da pena.

ATENO: O STJ decidiu que se uma arma de uso permitido e outra de uso proibido/restrito, haver concurso formal de crimes do art. 14 c/c art. 16.

Essas questes que vimos aplicam-se tanto ao Porte quanto Posse.

Pargrafo nico. O crime previsto neste artigo inafianvel, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1)

Nota: este pargrafo nico foi declarado inconstitucional na ADI 3.112-1, o que significa dizer que este crime afianvel, pouco importando se a arma est ou no em nome do agente. O fundamento do STF para dar procedncia ADI foi de que a proibio de fiana desproporcional gravidade do delito;

o porte ilegal simultneo de vrias armas configura crime nico, embora o nmero de armas seja considerado na dosimetria da pena;

Artigo 15 - Disparo de arma de fogo - Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munio em lugar habitado ou em suas adjacncias, em via pblica ou em direo a ela, desde que essa conduta no tenha como finalidade a prtica de outro crime: Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

SUJEITO ATIVO: qualquer pessoa;

SUJEITO PASSIVO: coletividade;

OBJETO JURDICO: incolumidade pblica;

ELEMENTO SUBJETIVO: dolo, no se punindo o disparo culposo;

CONDUTAS: disparar arma de fogo, acionar munio (deflagrar a munio sem disparar arma de fogo, ou at mesmo, casos em que a arma manca, picota por falha da munio ou da arma);

ELEMENTO ESPACIAL DO TIPO: esse crime somente ocorre se o disparo ou acionamento ocorrer em lugar habitado ou em suas adjacncias, em via pblica ou em direo a ela.

Nota: Disparar arma de fogo ou acionar munio em lugar ermo, desabitado, no configura esse crime. A quantidade de disparos ser considerada na dosagem da pena. Se ele efetuou 5 tiros ao mesmo tempo, h 1 crime s.

ELEMENTO SUBJETIVO: dolo. O disparo acidental/culposo no configura este crime do artigo 15. Se ferir ou matar algum, haver o crime de leso culposa/homicdio culposo.

esse delito subsidirio, uma vez que somente existe se o disparo no tiver como objetivo a prtica de outro crime. Trata-se de subsidiariedade expressa, uma vez que encontra-se no prprio tipo penal. Embora o tipo penal disse que no se aplica o dispositivo em caso de prtica de outro crime, entende-se que devemos ler outro crime mais grave, sob pena de afastar o crime de disparo quando este tiver como objetivo a prtica de crime menos grave;

CONSUMAO: a consumao se d com o mero disparo ou acionamento da munio. crime de perigo abstrato, havendo o crime mesmo que o disparo ou acionamento no causar perigo a ningum (o disparo deve ser em local habitado, mas no precisa gerar perigo em concreto);

TENTATIVA: teoricamente possvel. Ex.: se o agente for desarmado e no conseguir efetuar o disparo ou acionamento.

O crime de disparo crime de perigo abstrato ou crime de perigo concreto? Maioria entende que crime de perigo abstrato. O disparo precisa ocorrer em local habitado ou via pblica, mas no precisa gerar perigo real a ningum. Rua vazia, casa desabitada, no gerou perigo a ningum, mas o tiro foi na via pblica. Crime do artigo 15.

CRIME SUBSIDIRIO: Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munio em lugar habitado ou em suas adjacncias, em via pblica ou em direo a ela, desde que essa conduta no tenha como finalidade a prtica de outro crime:

O artigo 15 dispe que ele somente se aplica se o disparo no tem por finalidade a prtica de outro crime (subsidiariedade expressa no tipo penal). De acordo com a letra seca da lei, o artigo 15 no se aplica se o disparo tem por finalidade a prtica de outro crime, mais grave ou menos grave.

A doutrina, entretanto, sustenta que o crime mais grave no pode ser absorvido pelo menos grave, de tal forma que a questo fica da seguinte maneira:

Disparo com finalidade de homicdio. O disparo fica absorvido, no se aplica. Aplica-se s o homicdio.

Disparo + leso grave, gravssima ou seguida de morte (homicdio preterdoloso)

Disparo + Homicdio

Disparo + Leso grave/gravssima/seguida de morte

Disparo + Leso leve (h quem entenda que configuram-se os 2 crimes)

Disparo + perigo para a vida/sade de outrem.

CP, Art. 132 - Expor a vida ou a sade de outrem a perigo direto e iminente:

Segundo a corrente majoritria tanto na doutrina quanto na jurisprudncia. Adota essa corrente o correto entendimento de que um crime menos grave no tem o condo de absorver um crime mais grave, de forma que se ocorrer disparo para a prtica de crime menos grave, dependendo do caso concreto, prevalecer o crime de disparo ou haver concurso de crimes;

Pena - deteno, de 3 meses a 1 ano, se o fato no constitui crime mais grave.

Este crime tambm subsidirio.

O CP 132 crime subsidirio, mas o Disparo tambm . Ento, aplica-se o mais grave, que o disparo.

a quantidade de disparos ser considerada na dosimetria da pena, uma vez que dois ou mais disparos configuram crime nico;

Pargrafo nico. O crime previsto neste artigo inafianvel. (Vide Adin 3.112-1)

este pargrafo nico foi declarado inconstitucional na ADI 3.112-1, o que significa dizer que este crime afianvel, pouco importando se a arma est ou no em nome do agente. O fundamento do STF para dar procedncia ADI foi de que a proibio de fiana desproporcional gravidade do delito;

Artigo 16 - posse ou porte de arma de fogo de uso proibido ou de uso restrito

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depsito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessrio ou munio de uso proibido ou restrito, sem autorizao e em desacordo com determinao legal ou regulamentar: Pena recluso, de 3 (trs) a 6 (seis) anos, e multa.

crimes de gravidades diferentes punidos com a mesma pena (na mesma intensidade). H entendimento de que essa equiparao viola o Princpio da Proporcionalidade.

ARMA POSSE PORTE

permitida;

artigo 12;

artigo 14;

proibida;

artigo 16;

artigo 16;

aplica-se ao 16 tudo o que foi dito quanto ao crime de posse e porte de arma permitida;

a diferena o objeto material, que nesse caso refere-se arma de fogo, acessrio ou munio de uso proibido ou restrito (o conceito de arma de fogo de uso proibido ou restrito est no decreto 5. 123/2004 - que

Regulamenta a Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, que dispe sobre registro, posse e comercializao de armas de fogo e munio, sobre o Sistema Nacional de Armas - SINARM e define crimes.

Capez:

Arma de fogo, acessrio ou munio de uso proibido ou restrito.

Proibido aquele cuja posse/porte vedada de forma absoluta. Ex.: Canho.

Uso restrito o limitado a certas pessoas e instituies.

O Decreto 5123/2004, define o seguinte:

Art.10.Arma de fogo de uso permitido aquela cuja utilizao autorizada a pessoas fsicas, bem como a pessoas jurdicas, de acordo com as normas do Comando do Exrcito e nas condies previstas na Lei no 10.826, de 2003. Art.11. Arma de fogo de uso restrito aquela de uso exclusivo das Foras Armadas, de instituies de segurana pblica e de pessoas fsicas e jurdicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando do Exrcito, de acordo com legislao especfica.

.......................

Art. 16. Pag. nico

o pargrafo nico autnomo em relao ao caput, portanto, as condutas do pargrafo nico tem como objeto material armas de fogo de uso restrito e de uso proibido e tambm de uso permitido;

O caput s tem como objeto arma de fogo, acessrio ou munio de uso restrito ou proibido. Porm, o 16, p. n., tem como objeto arma, acessrio ou munio de uso permitido ou restrito.

O p. n. tipo penal autnomo em relao ao caput.

Pargrafo nico. Nas mesmas penas incorre quem: I suprimir ou alterar marca, numerao ou qualquer sinal de identificao de arma de fogo ou artefato (ex. granada); - essa conduta de difcil identificao uma vez que quase impossvel descobrir quem realmente raspou a arma. O crime se consuma com a simples supresso ou alterao, ainda que a autoridade consiga identificar a arma. A tentativa possvel; Quem raspa a numerao responde pelo inciso I. Quem porta arma j raspada responde pelo inciso IV.

II modificar as caractersticas de arma de fogo, de forma a torn-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;

modificar as caractersticas da arma com o fim de torn-la arma proibida (Ex. mudar o calibre da arma) ou com o fim de induzir em erro a autoridade policial, juiz ou perito.

O crime se consuma com a simples modificao, ainda que a finalidade no seja alcanada.

na conduta de modificar a arma de fogo, h modificao da arma de uso permitido em arma de uso proibido;

na conduta de modificar a arma para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro a autoridade policial, perito ou juiz, o crime se consuma mesmo que a autoridade no tenha sido induzido em erro, sendo o momento consumativo a simples modificao da arma com essa finalidade. Caso essa conduta no fosse prevista no estatuto do desarmamento, ela configura o crime de fraude processual do artigo 347 do CP, mas pelo princpio da especialidade, aplica-se ao crime da lei 10.826, ou seja, o crime em tela. Se a finalidade fosse induzir em erro o MP, no haveria crime.

TENTATIVA: possvel.

III possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendirio, sem autorizao ou em desacordo com determinao legal ou regulamentar;

nesse caso, o objeto material do crime no arma, acessrio nem munio;

o objeto material artefato explosivo ou incendirio (ex.: granada de fabricao caseira, granada, lana-chamas);

IV portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numerao, marca ou qualquer outro sinal de identificao raspado, suprimido ou adulterado; -

esse inciso resolveu o problema do inciso I acima demonstrado. Nesse caso pune-se quem porta, possuir, adquiri, transporta ou fornece a arma de fogo com a numerao j raspada ou adulterada;

V vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessrio, munio ou explosivo a criana ou adolescente; e

esse inciso derrogou o artigo 242 do ECA, uma vez que o Estatuto do Desarmamento lei posterior tratando da mesma matria;

Obs.: no se deve confundir explosivos com fogos de artifcio, uma vez que em relao esses ltimos configura-se crime do ECA;

A doutrina entende que o artigo 242 do ECA continua aplicvel s armas brancas.

VI produzir, recarregar ou reciclar, sem autorizao legal, ou adulterar, de qualquer forma, munio ou explosivo.

Artigo 17 - comrcio ilegal de arma de fogo

Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depsito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito prprio ou alheio, no exerccio de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessrio ou munio, sem autorizao ou em desacordo com determinao legal ou regulamentar: Pena recluso, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Pargrafo nico. Equipara-se atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestao de servios, fabricao ou comrcio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residncia.

SUJEITO ATIVO: somente o comerciante ou industrial, legal ou ilegal, de armas de fogo, acessrios ou munies. Trata-se, portanto, de crime prprio, pois exige qualidade especial do sujeito ativo. Ex.: se proprietrio de restaurante vende arma de fogo para cliente, no responde pelo 17, porque o proprietrio de restaurante no comercializa arma de fogo, comercializa alimento.

OBJETO JURDICO: incolumidade pblica;

SUJEITO PASSIVO: coletividade;

um crime de conduta mltipla ou variada, assim, a prtica de vrias condutas no mesmo contexto ftico configura crime nico;

OBJETO MATERIAL: arma de fogo, acessrio ou munio de uso permitido ou proibido. Em se tratando de acessrio, munio ou arma de fogo de uso proibido ou restrito, haver uma causa de aumento de pena (aumento de metade) prevista no artigo 19;

ELEMENTO SUBJETIVO: dolo;

CONSUMAO: a consumao se d com a prtica de qualquer das condutas do tipo

TENTATIVA: perfeitamente possvel, por exemplo, na modalidade receber, adquirir, montar, etc.

seria esse crime habitual ou instantneo? Exige uma reiterao de condutas ou se configura com uma conduta s? crime instantneo, configura-se com uma s conduta.

Artigo 18 - trfico internacional de arma de fogo

Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou sada do territrio nacional, a qualquer ttulo, de arma de fogo, acessrio ou munio, sem autorizao da autoridade competente: Pena recluso de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Na anterior lei de armas de fogo no existia esse tipo penal;

OBJETO JURDICO: incolumidade pblica;

SUJEITO ATIVO: qualquer pessoa, tratando-se de crime comum;

SUJEITO PASSIVO: coletividade;

CONDUTAS: importar, exportar, favorecer a entrada ou sada do territrio nacional. Antes do Estatuto do Desarmamento essas condutas tipificavam o crime de contrabando do Cdigo Penal, mas atualmente, por se tratar o Estatuto de Lei Especial, prevalece o Estatuto pelo princpio da especialidade;

Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena aumentada da metade se a arma de fogo, acessrio ou munio forem de uso proibido ou restrito.

CONDUTAS: importar/exportar crime material consuma-se com a entrada/sada do pas. Estas condutas prevalecem sobre o crime de contrabando, do CP 334: responder pelo artigo 18. Possvel a tentativa.

CONDUTA: facilitar a entrada/sada crime formal consuma-se com a simples facilitao, ainda que o facilitado no consiga importar/exportar o objeto. Possvel a tentativa. Esta conduta prevalece sobre a facilitao de contrabando, do CP 318. O funcionrio pblico que facilitar responde pela norma especial do artigo 18 e no pelo CP. O 318 crime funcional e o 18 crime comum.

COMPETNCIA: justia federal;

OBJETO MATERIAL: idem do artigo 17 tudo o que foi l falado aplica-se ao 18. Arma de fogo, acessrio ou munio de uso permitido ou de uso proibido, no fazendo diferena para a incidncia do tipo penal. A diferena que, no caso de arma de fogo de uso proibido, aumenta-se a pena pela metade, nos termos do artigo 19.

A VENDA DE ARMA CONFIGURA QUAL CRIME?

Se o sujeito ativo for no comerciante, a venda pode configurar o artigo 14, se a arma for permitida, ou o 16, se for arma restrita.

Se for comerciante de armas, configura o artigo 17.

Se for uma transao internacional, comerciante ou no, configura o artigo 18.

Parei aqui aula 07/05/2013 .....................................

LIBERDADE PROVISRIA NOS CRIMES DO ED

Art. 14, p. n. crime inafianvel

Art. 15, p. n. crime inafianvel

Art. 21 - 16, 17 e 18 so insuscetveis de liberdade provisria.

Porm, estes 3 dispositivos foram declarados inconstitucionais na ADI 3.112

Concluso: cabvel fiana e/ou liberdade provisria sem fiana a todos os crimes do ED.

Anotaes complementares:

O Plenrio do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a inconstitucionalidade de dispositivos do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03) que proibiam a concesso de liberdade, mediante o pagamento de fiana, no caso de porte ilegal de arma (pargrafo nico do artigo 14) e disparo de arma de fogo (pargrafo nico do artigo 15), acolhendo " o entendimento esposado pelo Ministrio Pblico, segundo o qual se trata de uma vedao dezarrazoada, "porquanto no podem estes ser equiparados a terrorismo, prtica de tortura, trfico ilcito de entorpecentes ou crimes hediondos (art. 5, XLIII, da Constituio Federal)."

Tambm declarou inconstitucional o artigo 21 do Estatuto, que negava liberdade provisria aos acusados de posse ou porte ilegal de arma de uso restrito, comrcio ilegal de arma e trfico internacional de arma, por entender que "a priso obrigatria, de resto, fere os princpios constitucionais da ampla defesa e do contraditrio (art. 5, LV), que abrigam um conjunto de direitos e faculdades, os quais podem ser exercidos em todas as instncias jurisdicionais, at a sua exausto".

Segue abaixo o voto do Ministro RICARDO LEWANDOWSKI (Relator).

AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 3.112-1

DISTRITO FEDERAL

V O T O

O Senhor Ministro RICARDO LEWANDOWSKI (Relator): Reconhecendo, desde logo, por cumpridos os requisitos legais, a legitimidade ativa ad causam e o interesse de agir dos autores, permitome, antes de examinar os argumentos constantes das iniciais destas aes diretas de inconstitucionalidade, tecer algumas consideraes introdutrias, de ordem geral, sobre a matria em discusso.

Principio afirmando que a anlise da higidez constitucional da Lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003, denominada Estatuto do Desarmamento, deve ter em conta o disposto no art. 5, caput, da Constituio Federal, que garante aos brasileiros e estrangeiros residentes no Pas o direito segurana, ao lado do direito vida e propriedade, qui como uma de suas mais importantes pr-condies.

Como desdobramento desse preceito, num outro plano, o art. 144 da Carta Magna, estabelece que a segurana pblica constitui dever do Estado e, ao mesmo tempo, direito e responsabilidade de todos, sendo exercida para a preservao da ordem pblica e da incolumidade das pessoas e do patrimnio. Trata-se, pois, de um direito de primeira grandeza, cuja concretizao exige constante e eficaz mobilizao de recursos humanos e materiais por parte do Estado.

O dever estatal concernente segurana pblica no exercido de forma aleatria, mas atravs de instituies permanentes e, idealmente, segundo uma poltica criminal, com objetivos de curto, mdio e longo prazo, suficientemente flexvel para responder s circunstncias cambiantes de cada momento histrico.

Nesse sentido, observo que a edio do Estatuto do Desarmamento, que resultou da conjugao da vontade poltica do Executivo com a do Legislativo, representou uma resposta do Estado e da sociedade civil situao de extrema gravidade pela qual passava e ainda passa o Pas, no tocante ao assustador aumento da violncia e da criminalidade, notadamente em relao ao dramtico incremento do nmero de mortes por armas de fogo entre os jovens. (NOTA: SZWARCWALD, Leal. "Sobrevivncia ameaada dos jovens brasileiros: a Dimenso da Mortalidade por Armas de Fogo". In: Revista da Comisso Nacional de Populao e Desenvolvimento, 1998, p. 368.

Segundo esse estudo, em 1980, ocorriam 30 mortes para cada 100.000 jovens brasileiros do sexo masculino, entre 20 e 24 anos, por armas de fogo, tendo esse nmero aumentado para 73,4, em 1995.

Registrou-se, portanto, no perodo, um incremento de mais de 100% (cem por cento) na taxa de mortalidade. O mesmo fenmeno deu-se entre as jovens brasileiras de 20 a 24 anos. Nesse grupo, registraram-se, em 1980, 2,4 mortes para cada 100.000 indivduos, com um aumento para 4,8, em 1995. Como se v, tambm aqui o aumento foi da ordem de 100% (cem por cento). Com relao s demais causas de morte, ou seja, aquelas no relacionadas s armas de fogo, o crescimento foi inferior a 10% (dez por cento) em ambos os grupos.

A preocupao com tema to importante encontra repercusso tambm no mbito da comunidade internacional, cumprindo destacar que a Organizao das Naes Unidas, aps conferncia realizada em Nova Iorque, entre 9 e 20 de julho de 2001, lanou o "Programa de Ao para Prevenir, Combater e Erradicar o Comrcio Ilcito de Armas de Pequeno Porte e Armamentos Leves em todos os seus Aspectos" (UN Document A/CONF, 192/15). (NOTA: No original Programme of Action to Prevent, Combat and Eradicate the Illicit Trade in Small Arms and Light Weapons in All Its Aspects;

http://disarmament2.un.org/cab/poa.html. Em 27/09/2006.)

O Brasil vem colaborando com os esforos da ONU nesse campo, lembrando-se que o Congresso Nacional, aprovou, em data recente, por meio do Decreto Legislativo 36, de 2006, o texto do "Protocolo contra a fabricao e o trfico ilcito de armas de fogo, suas peas e componentes e munies, complementando a Conveno das Naes Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, adotado pela Assemblia-Geral, em 31 de maio de 2001, e assinado pelo Brasil em 11 de julho de 2001". (NOTA: DOU de 23.02.2006.

Como se nota, as aes diretas de inconstitucionalidade ora ajuizadas trazem ao escrutnio desta Suprema Corte tema da maior transcendncia e atualidade, seja porque envolve o direito dos cidados segurana pblica e o correspondente dever estatal de promov-la eficazmente, seja porque diz respeito s obrigaes internacionais do Pas na esfera do combate ao crime organizado e ao comrcio ilegal de armas.

Dito isso, passo ao exame dos argumentos relativos inconstitucionalidade formal da Lei 10.826/2003, em virtude da alegada "usurpao de atribuies de competncia privativa do Presidente da Repblica", por violao ao art. 61, 1, II, a e e, da Constituio Federal.

Antes, porm, cumpre recordar que o diploma legal em questo resultou de complexo processo legislativo. Com efeito, segundo informa o Senador Csar Borges, em relatrio publicado no Dirio do Senado Federal, de 24 de julho de 2003, por meio do Ato Conjunto n 1, de 2 de julho do mesmo ano, foi criada Comisso Especial Mista, com o objetivo de consolidar os projetos de lei em tramitao no Congresso Nacional que tratavam do registro, porte e trfico de armas de fogo e munies, inserindo-se nesse esforo o PL 2.787-A, de 1997, da Cmara dos Deputados, ao qual vieram apensadas setenta proposies, inclusive o PL 1.073, de 1999, encaminhado pelo Executivo ao Legislativo, e os PLs 138, 298, 386 e 614, de 1999, 24, de 2002, 100 e 202, de 2003, originados na Cmara Alta.

Convm lembrar, tambm, previamente ao exame do alegado vcio formal, que esta Suprema Corte, no julgamento da ADI 1.050-MC/RO, Relator o Ministro Celso de Mello, considerou vlidas as emendas parlamentares, apostas a projeto de lei de iniciativa exclusiva do Executivo, que: "(a) no importem em aumento de despesa prevista no projeto de lei, (b) guardem afinidade lgica (relao de pertinncia) com a proposio original e (c) tratando-se de projetos oramentrios (CF, art. 165, I, II e III), observem as restries fixadas no art. 166, 3 e 4, da Carta Poltica".

Registro, ademais, por oportuno, que a Lei 10.826/2003 foi aprovada depois da entrada em vigor da Emenda Constitucional 32/2001, que suprimiu da iniciativa exclusiva do Presidente da Repblica a estruturao e o estabelecimento de atribuies dos Ministrios e rgos da administrao pblica. (NOTA: Ver, sobre o tema, a ADI 2.734-MC/ES, Rel. Min.Moreira Alves.

Tendo, pois, em considerao tais parmetros, verifico que os dispositivos do texto legal impugnado no violam o art. 61, 1, II, a e e, da Carta Magna, porquanto no versam sobre criao de rgos, cargos, funes ou empregos pblicos, nem sobre a sua extino, como tambm no desbordam do poder de apresentar ou emendar projetos de lei, que o texto constitucional atribui aos congressistas, o qual foi qualificado, na mencionada ADI 1.050-MC/RO, de "prerrogativa de ordem poltico-jurdica inerente ao exerccio da atividade parlamentar".

Com efeito, a maior parte deles constitui mera reproduo de normas constantes da Lei 9.437/1997, de iniciativa do Executivo, revogada pela Lei 10.826/2003, ou so consentneos com o que nela se dispunha. (NOTA: Art. 1, art. 2, caput, incs. I, II, IV, V, VI, VII, e pargrafo nico, art. 3, caput e pargrafo nico, art. 5, caput, 1, art. 10, caput e 2, art. 11, 1, art. 23, caput, art. 26, caput e pargrafo nico, e art. 27, caput e pargrafo nico.

Quando tal no ocorre, consubstanciam preceitos que guardam afinidade lgica, isto , mantm relao de pertinncia, com a Lei 9.437/1997 ou com o PL 1.073/1999, ambos encaminhados ao Congresso Nacional pela Presidncia da Repblica, no mais das vezes simplesmente explicitando prazos, procedimentos administrativos ou exigncias burocrticas. (NOTA: Art. 2, incs. III, VIII, IX, X e XI, art. 4, caput, incs. I, II, III, e 1, 2, 3, 4, 5, 6, e 7, art. 5, 2 e 3, 6, caput, incs. I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, 1, 2, 3, 4, 5, art. 7, caput e 1, 2 e 3, art. 8, art. 9, art. 10, 1, art. 22, art. 23, 1, 2 e 3, art. 24, art. 25, caput e pargrafo nico, art. 29, caput e pargrafo nico, art. 30, art. 32, caput e pargrafo nico, art. 33, caput e incs. I e II, art. 34, caput e pargrafo nico, e art. 35, caput e 1 e 2.)

J outros foram introduzidos no texto por diplomas legais originados fora do mbito congressual, a saber, as Leis 10.867/2004, 10.884/2004, 11.118/2005 e 11.191/2005. (NOTA: O art. 6, inc. X, e 1-A e 6.)

Os que no se encaixam nessas hipteses, so prescries normativas que, por seu prprio contedo, em nada interferem com a iniciativa do Presidente da Repblica, prevista no art. 61, 1, II, a e e, da Constituio Federal. (NOTA: Art. 11, caput e incisos I, II, III, IV, V, VI, 1 e 2, art. 12, art. 13, caput e pargrafo nico, art. 14, caput e pargrafo nico, art. 15, caput e pargrafo nico, art. 16, caput e pargrafo nico, art. 17, caput e pargrafo nico, art. 18, art. 19, art. 20, art. 21, art. 28, art. 31, art. 36, art. 37 e a Tabela de Taxas.)

Ressalto que a iniciativa em matria criminal, processual e tributria, como se sabe, de natureza concorrente, salvo, no ltimo caso, quando se tratar de matria oramentria, cuja iniciativa privativa do Executivo. (NOTA: Nesse sentido, ADI 724-MC/RS, Rel. Min. Celso de Mello; ADI 2.304/RS, Rel. Min. Seplveda Pertence; ADI 2.392/ES, Rel. Min. Moreira Alves; ADI 2.599- MC/MT, Rel. Min. Moreira Alves; e ADI 2.659/SC, Rel. Min. Nelson Jobim.

Assim, a criao, modificao ou extenso de tipos penais e das respectivas sanes, bem como o estabelecimento de taxas ou a instituio de isenes pela Lei 10.826/2003, ainda que resultantes de emendas ou projetos de lei parlamentares, no padecem do vcio de inconstitucionalidade formal.

Dito isso, procedo, agora, ao exame das malegaes de inconstitucionalidade material.

Sustenta-se, no que concerne aos arts. 5, 1 e 3, 10 e 29, que houve invaso da competncia residual dos Estados para legislar sobre segurana pblica e tambm ofensa ao princpio federativo, "principalmente em relao emisso de autorizao de porte de arma de fogo".

Contrapondo-se ao argumento, a douta Procuradoria Geral da Repblica defendeu a aplicao espcie do princpio da predominncia do interesse, ponderando que a "Unio no est invadindo o mbito de normatividade de ndole local, pois a matria est alm do interesse circunscrito de apenas uma unidade federada" (fl. 194).

Considero correto o entendimento do Ministrio Pblico, que se harmoniza com a lio de Jos Afonso da Silva, para quem a Carta Magna vigente abandonou o conceito de "interesse local", tradicionalmente abrigado nas constituies brasileiras, de difcil caracterizao, substituindo-o pelo princpio da "predominncia do interesse", segundo o qual, na repartio de competncias, " Unio cabero aquelas matrias e questes de predominante interesse geral, nacional, ao passo que aos Estados tocaro as matrias e assuntos de predominante interesse regional, e aos Municpios conhecerem os assuntos de interesse local." (NOTA: Curso de Direito Constitucional Positivo. So Paulo: Malheiros, 9 ed. 1993, p. 418. )

De fato, a competncia atribuda aos Estados em matria de segurana pblica no pode sobrepor-se ao interesse mais amplo da Unio no tocante formulao de uma poltica criminal de mbito nacional, cujo pilar central constitui exatamente o estabelecimento de regras uniformes, em todo o Pas, para a fabricao, comercializao, circulao e utilizao de armas de fogo, competncia que, ademais, lhe assegurada pelo art. 21, XXI, da Constituio Federal. (NOTA: Inclui-se a a competncia de legislar sobre armas de fogo e munies, segundo o AR em AI 189.433/RJ, Rel. Min. Marco Aurlio.

)

Parece-me evidente a preponderncia do interesse da Unio nessa matria, quando confrontado o eventual interesse do Estado-membro em regulamentar e expedir autorizao para o porte de arma de fogo, pois as normas em questo afetam a segurana das pessoas como um todo, independentemente do ente federado em que se encontrem.

Ademais, diante do aumento vertiginoso da criminalidade e da mudana qualitativa operada nas transgresses penais, com destaque para o surgimento do fenmeno do crime organizado e dos ilcitos transnacionais, a garantia da segurana pblica passou a constituir uma das atribuies prioritrias do Estado brasileiro, cujo enfoque h de ser necessariamente nacional.

Sustenta-se, mais, que haveria ofensa ao direito de propriedade quanto obrigao de renovar-se periodicamente o registro das armas de fogo, nos termos do art. 5, 2 e 3, bem como no tocante ao pagamento da taxa correspondente, instituda no art. 11, II, e explicitada no item II da Tabela de Taxas. Acrescenta-se, ao argumento que "o Estado acabaria por determinar quem pode ou no exercer a legtima defesa, que, pelo caput do art. 5 da Constituio Federal, de todos os cidados".

Fao referncia, no ponto, jurisprudncia do Tribunal Constitucional da Alemanha (Bundesverfassungsgericht), para o qual o direito de propriedade corresponde a uma "liberdade cunhada normativamente" (normgeprgte Freiheit), possuindo os bens privados uma face jurdico-objetiva, consubstanciada na garantia de sua instituio (Institutsgarantie), e uma dimenso jurdico-subjetiva, caracterizada por uma garantia de subsistncia da propriedade (Bestandsgarantie). (NOTA: SCHWABE, Jrgen. Cinqenta Anos de Jurisprudncia do Tribunal Constitucional Federal Alemo. Berlin: Kontad-Adenauer Stiftung, 2005, pp. 01-03.

)

Mas justamente porque se reconhece ao Poder Pblico - tal como se d em nosso ordenamento jurdico - a possibilidade de intervir na esfera dominial privada, que aquela Corte entende que a garantia de subsistncia da propriedade (Bestandsgarantie), em determinadas circunstncias, pode transformar-se em garantia do valor da propriedade (Eigentumswertgarantie).

dizer, todas as vezes em que a regncia normativa do direito de propriedade permitir a invaso da esfera dominial privada pelo Estado, em face do interesse pblico, esse direito resumirse- percepo de justa e adequada indenizao pelo proprietrio. Como esse direito encontra-se expressamente previsto no art. 31 do Estatuto do Desarmamento, no h que se cogitar de violao ao art. 5, XXII, da Constituio Federal.

O mesmo raciocnio aplica-se, mutatis mutandis, s alegaes de ofensa ao ato jurdico perfeito e ao direito adquirido.

Alega-se, ainda, que so inconstitucionais, no aspecto substantivo, os pargrafos nicos dos arts. 14 e 15, que probem o estabelecimento de fiana para os crimes de "porte ilegal de arma de fogo de uso permitido" e de "disparo de arma de fogo".

Quanto a esses delitos, acolho o entendimento esposado pelo Ministrio Pblico, segundo o qual se trata de uma vedao dezarrazoada, "porquanto no podem estes ser equiparados a terrorismo, prtica de tortura, trfico ilcito de entorpecentes ou crimes hediondos (art. 5, XLIII, da Constituio Federal)."

Ademais, como bem assentado na manifestao da PGR, cuida-se, em verdade, de crimes de mera conduta que, "embora reduzam o nvel de segurana coletiva, no se equiparam aos crimes que acarretam leso ou ameaa de leso vida ou propriedade."

Aponta-se igualmente para a ocorrncia de leso aos princpios constitucionais da presuno de inocncia e do devido processo legal no concernente ao art. 21, segundo o qual os delitos capitulados nos arts. 16, 17 e 18 so insuscetveis de liberdade provisria.

Entendo que, tambm nesse aspecto, os argumentos constantes das iniciais merecem acolhida, em que pese o substancioso parecer em contrrio da Procuradoria-Geral da Repblica, para a qual a "proibio de concesso de liberdade provisria no representa afronta ao princpio da no-culpabilidade", ao argumento de que esta Corte j se teria pronunciado sobre o tema no RHC 75.917/RS.

Com efeito, embora a interdio liberdade provisria tenha sido estabelecida para crimes de suma gravidade, com elevado potencial de risco para a sociedade, quais sejam, a "posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito", o "comrcio ilegal de arma de fogo" e o "trfico internacional de arma de fogo", liberando-se a franquia para os demais delitos, penso que o texto constitucional no autoriza a priso ex lege, em face do princpio da presuno de inocncia (art. 5, LVII, da CF), e da obrigatoriedade de fundamentao dos mandados de priso pela autoridade judiciria competente (art. 5, LXI, da CF).

A priso obrigatria, de resto, fere os princpios constitucionais da ampla defesa e do contraditrio (art. 5, LV), que abrigam um conjunto de direitos e faculdades, os quais podem ser exercidos em todas as instncias jurisdicionais, at a sua exausto.

Esses argumentos, no entanto, no afastam a possibilidade de o juiz, presentes os motivos que recomendem a priso ante tempus, decretar justificadamente a custdia cautelar. O que no se admite, repita-se uma priso ex lege, automtica, sem motivao.

Em outras palavras, o magistrado pode, fundamentadamente, decretar a priso cautelar, antes do trnsito em julgado da condenao, se presentes os pressupostos autorizadores, que so basicamente aqueles da priso preventiva, previstos no art. 312 do Cdigo de Processo Penal.

dizer, cumpre que o juiz demonstre, como em toda cautelar, a presena do fumus boni iuris, e do periculum in mora ou, no caso, do periculum libertatis.

Aponta-se, tambm, a inconstitucionalidade material, por afronta ao princpio da razoabilidade, dos arts. 2, X, e 23, 1, 2 e 3, os quais dispem sobre o cadastramento do cano da arma, das impresses de raiamento e de microestriamento do projtil disparado, bem como das munies, que devero trazer marcas identificadoras, alm de ser acondicionadas em embalagens dotadas de sistema de cdigo de barras.

Tais exigncias no me parecem irrazoveis, visto que se resumem identificao das armas e munies, mediante tcnicas amplamente difundidas, de modo a permitir o rastreamento, se necessrio, dos respectivos fabricantes e adquirentes.

De igual modo, alega-se que o art. 28 vulnera o princpio da razoabilidade, porquanto fixou a idade mnima para a aquisio de arma de fogo em 25 anos de idade.

Tambm no reconheo, aqui, qualquer ofensa ao referido princpio, pois, alm de ser lcito lei ordinria prever a idade mnima para a prtica de determinados atos, (NOTA: Tal entendimento decorre, a contrario sensu, dos RE-AgR 307.112/DF, Rel. Min. Cezar Peluso e o AIAgR 523.254/DF, Rel. Min. Carlos Velloso.) a norma impugnada, a meu ver, tem por escopo evitar que sejam adquiridas armas de fogo por pessoas menos amadurecidas psicologicamente ou que se mostrem, do ponto de vista estatstico, mais vulnerveis ao seu potencial ofensivo.

Reporto-me, nesse aspecto, aos ndices de mortalidade entre a populao jovem, mencionados no incio de meu voto, os quais demonstram que as mortes causadas por armas de fogo cresceram exponencialmente no grupo etrio situado entre 20 e 24 anos, sobretudo quanto ao sexo masculino. (NOTA: Veja-se nota de rodap n 1.)

No tocante ao art. 35, sustentou-se no apenas a inconstitucionalidade material do dispositivo como tambm a formal. Esta por ofensa ao art. 49, XV, da Constituio, porque o Congresso Nacional no teria competncia para deflagrar a realizao de referendo, mas apenas para autoriz-lo; aquela por violar o art. 5, caput, do mesmo diploma, nos tpicos em que garante o direito individual segurana e propriedade.

Tenho que tais ponderaes encontram-se prejudicadas, assim como o argumento de que teria havido violao ao art. 170, caput, e pargrafo nico, da Carta Magna, porquanto o referendo em causa, como sabido, j se realizou, tendo o povo votado no sentido de permitir o comrcio de armas, o qual, no entanto, convm sublinhar, como toda e qualquer atividade econmica, sujeita-se ao poder regulamentar do Estado.

Concluo, ento, o meu voto, Senhora Presidente.

A partir das consideraes iniciais que expendi, e com fundamento nas razes de direito que formulei, julgo procedentes, em parte, as presentes aes diretas, apenas para declarar a inconstitucionalidade dos pargrafos nicos dos arts. 14 e 15, os quais vedaram o estabelecimento de fiana para os delitos de "porte ilegal de arma de fogo de uso permitido" e de "disparo de arma de fogo", e do art. 21, que proibiu a liberdade provisria no caso dos crimes de "posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito", "comrcio ilegal de arma de fogo" e "trfico internacional de arma de fogo", todos da Lei 10.826/2003.

Observatrio da Jurisdio Constitucional

Ano 1 - Outubro 2007 - Braslia - Brasil - ISSN 1982-4564

INAFIANABILIDADE E INTERDIO DE LIBERDADE PROVISRIA NO ESTATUTO DO DESARMAMENTO: COMENTRIOS DECISO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NA ADI n 3.112 E OUTRAS.

Igor Nery Figueiredo*

Na sesso plenria do dia 02 de maio de 2007, os ministros do Supremo Tribunal Federal apreciaram, em conjunto, diversas aes diretas de inconstitucionalidade que tinham por objeto disposies da Lei Federal n 10.826/2003, conhecida como Estatuto do Desarmamento. Dentre os vrios temas tratados na ocasio, dois deles compem o objeto central desses comentrios.

O primeiro refere-se impugnao feita aos pargrafos nicos dos arts. 14 e 15 do Estatuto. Tais dispositivos tornam inafianveis os crimes de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido (salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente) e de disparo de arma de fogo. O segundo enfoque reside no exame da constitucionalidade do art. 21 da lei, segundo o qual ficam insuscetveis de liberdade provisria os delitos previstos em seus arts. 16 (posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito), 17 (comrcio ilegal de arma de fogo) e 18 (trfico internacional de arma de fogo). Iniciemos a abordagem por esta ltima questo.

Editado em 1941 e sob forte influncia fascista, o Cdigo de Processo Penal brasileiro positivou um sistema com caractersticas nitidamente autoritrias. Um dos aspectos em que fica mais notvel tal inspirao est no tratamento que o Cdigo confere ao regime das prises processuais.

Com efeito, na sistemtica de 1941, preso o acusado em flagrante delito, aperfeioava-se um juzo de antecipao de sua culpabilidade, permanecendo, como regra e por fora de lei, a priso ento verificada. A liberdade constitua, nesse quadro, uma providncia apenas excepcional. O mesmo ocorria quando proferida sentena condenatria (ainda sem trnsito em julgado) ou deciso de pronncia, quando o ru, s por isso, deveria recolher-se priso.

A ordem jurdica inaugurada pela Constituio Federal de 1988 inverteu completamente a lgica anterior. No dizer de Eugnio Pacelli de Oliveira, que bem explicita essa problemtica, Com a Constituio Federal de 1988, duas conseqncias imediatas se fizeram sentir no mago do sistema prisional, a saber:

a) a instituio de um princpio afirmativo da situao de inocncia de todo aquele que estiver submetido persecuo penal;

b) a garantia de que toda priso seja efetivamente fundamentada e por ordem escrita de autoridade judiciria competente.1 A incluso de direitos fundamentais do ru que afirmam seu status de inocncia at o trnsito em julgado de sentena penal condenatria, bem como a necessidade de fundamentao, por juzo competente, de qualquer ordem de priso contra ele dirigida, demonstra que as prises processuais passam a ostentar evidente natureza cautelar. Vale dizer, com isso, que a priso durante o processo, na ordem constitucional atual, no pode decorrer, simplesmente, da acusao penal, devendo estar ancorada na instrumentalidade de manter-se o ru preso com vistas a atender a objetivos de elevada estatura (convenincia da instruo criminal, aplicao da lei penal etc.).

Essas consideraes foram debatidas no Supremo Tribunal Federal quando a Corte enunciou a inconstitucionalidade do art. 21 do Estatuto do Desarmamento, que, como j se viu, probe a liberdade provisria quanto aos delitos previstos em seus arts. 16, 17 e 18. Relator das aes diretas em exame, o Min. Ricardo Lewandowski, no voto que conduziu o julgamento, ponderou que a ordem constitucional no autoriza a priso ex lege e que a interdio liberdade provisria estaria a violar os preceitos inscritos no art. 5, LVII, LXI e LV, da Carta Poltica. Reconheceu, tambm, e com razo, que a declarao de inconstitucionalidade do dispositivo no impede que, no caso concreto, o magistrado, justificadamente, decrete a priso processual, quando presente a cautelaridade. A deciso, no ponto, afigura-se correta. Fica, contudo, uma impresso. Como se sabe, outras leis penais vigentes no Brasil, alm do Estatuto do Desarmamento, contm dispositivos semelhantes, que vedam, em relao a determinados delitos, a concesso de liberdade provisria. o caso da Lei de Txicos (Lei n 11.343/06, art.44), da Lei de Lavagem de Bens, Direitos e Valores (Lei n 9.613/98, art. 3) e da Lei das Organizaes Criminosas (Lei n 9.034/95, art. 7). Tambm quanto a essas regras, e pela identidade de razes, parece dever-se aplicar o mesmo entendimento manifestado a propsito da Lei n 10.826/2003, ora em destaque.

O segundo aspecto do julgamento a merecer cuidadosa anlise refere-se parte em que o Supremo Tribunal apreciou a inafianabilidade dos crimes de porte ilegal de arma de foto de uso permitido e de disparo de arma de fogo (pargrafos nicos dos arts. 14 e 15 do Estatuto). O voto do Ministro Lewandowski, tambm vencedor quanto a esse ponto, considerou desarrazoada a inafianabilidade descrita na lei, declarando sua inconstitucionalidade. Cabe referir, inicialmente, a importncia que possui, no regime das liberdades provisrias vigente no pas, o advento da Lei n 6.416/77. At a edio dessa lei, o sistema era composto, basicamente, pela liberdade mediante fiana. exceo das liberdades previstas nos arts. 321 e caput do art. 310 do Cdigo de Processo Penal esses dispositivos referem-se s hipteses em que o ru livrar-se- solto ou a casos nos quais sequer h crime, para o que, portanto, a liberdade medida imperativa e intuitiva a fiana era a nica espcie de liberdade provisria existente. Veio, ento, a Lei n 6.416/77 e inseriu um pargrafo nico ao art. 310 do CPP, com a seguinte redao:

Art. 310. Quando o juiz verificar pelo auto de priso em flagrante que o agente praticou o fato, nas condies do art. 19, I, II e III, do Cdigo Penal, poder, depois de ouvir o Ministrio Pblico, conceder ao ru liberdade provisria, mediante termo de comparecimento a todos os atos do processo, sob pena de revogao.

Pargrafo nico. Igual procedimento ser adotado quando o juiz verificar, pelo auto de priso em flagrante, a inocorrncia de qualquer das hipteses que autorizam a priso preventiva (arts. 311 e 312).

De consequncia, se ausentes os motivos necessrios decretao da priso preventiva, o juiz deveria conceder liberdade provisria ao acusado, independentemente de fiana. Ficava, desse modo, quase sem aplicao a liberdade mediante fiana, eis que o pargrafo nico do art. 310 criara uma espcie de liberdade genrica e sem o nus da garantia real. A Constituio Federal de 1988, contudo, parece ter dado novo nimo ao instituto da fiana, ao considerar inafianveis vrios delitos (art. 5, XLII, XLIII, XLIV). Essa previso constitucional veio, assim, na contramo do movimento iniciado com a legislao de 1977, tendente a substituir a fiana pela liberdade sem fiana. De todo modo, a interpretao do sistema, especialmente ante a letra expressa da Carta Maior, conduz presena dos dois tipos de liberdade provisria, a com fiana e a sem fiana, ambas com requisitos autnomos. Isso significa que se um crime for considerado inafianvel, mas o caso se adequar, por exemplo, previso do art. 310, pargrafo nico, do CPP, caber a

liberdade provisria sem fiana. Segue-se, pois, que a previso contida no Estatuto do Desarmamento, de inafianabilidade dos delitos descritos em seus arts. 14 e 15, no tem o efeito de impedir a concesso, em relao a esses crimes, da liberdade provisria sem fiana. Inafianabilidade, como se v, significa vedao da liberdade provisria mediante fiana. A perplexidade que possa gerar a cabimento de liberdade provisria sem fiana para um crime inafianvel afastada com a anlise sistmica do processo penal brasileiro, que no pode ser interpretado de modo a prejudicar o ru, mas de acordo com os valores maiores da Constituio. Embora possa impressionar primeira vista, afigura-se incorreto, desde a perspectiva de uma interpretao que garanta ao acusado os direitos fundamentais previstos na Carta Maior, concluir que se, por sua gravidade, fica vedada a fiana em relao a determinado crime, com maioria de razo deveria ficar interditada a liberdade sem fiana. Assim, a inteira possibilidade de dar liberdade ao ru, acusado dos crimes de porte ilegal de arma de foto de uso permitido e de disparo de arma de fogo, quando ausentes os motivos autorizadores da priso preventiva (art. 310, p.nico, CPP), e independentemente de fiana, leva concluso de no parecer desarrazoada e excessivamente onerosa a previso, quanto a eles, de inafianabilidade. Por fim, no se afigura correto o argumento que sugere ser a previso de inafianabilidade uma reserva da Constituio. De fato, embora o Constituinte tenha enunciado a restrio para alguns crimes, no impediu que o legislador infraconstitucional tomasse a mesma medida em relao a outros delitos, para os quais entenda conveniente a inafianabilidade. A Constituio Federal antecipou-se e indicou crimes que, j de sada, desejava inafianveis, mas no tornou a restrio exclusiva a eles. Note-se, por exemplo, que o Cdigo de Processo Penal estabelece inmeros limites ao reconhecimento de afianabilidade aos delitos (CPP, art. 323), no parecendo que tais balizas tenham sido revogadas pela Carta de 1988.

Como citar: FIGUEIREDO, Igor Nery. Inafianabilidade e Interdio de Liberdade Provisria no Estatuto do Desarmamento: Comentrios Deciso do Supremo Tribunal Federal na ADI n 3.112 e outras. Observatrio da Jurisdio Constitucional, Braslia, ano 1, out. 2007.

Disponvel em: . Acesso em: dia ms ano.

RESUMO ESTATUTO DO DESARMAMENTO

ESTATUTO DO DESARMAMENTO LEI 10.826/03

O porte de armas punido com recluso; a posse (irregular) de armas (de uso permitido) com deteno.

Caracterizao da posse de arma, infrao do art. 12, a lei exige um elemento espacial do tipo, ou seja, que este ocorra no interior da residncia ou nas dependncias desta ou no local de trabalho, desde que o agente seja o titular ou responsvel legal pela empresa.

No importa o que deseja o agente realizar com a arma de fogo, podendo ter a arma de fogo em sua residncia com o propsito de se proteger ou com a finalidade de ameaar a companheira.

A alegao de que o agente portava arma por medo de ser vtima de crimes no serve como justificativa, nem exclui a ilicitude da conduta.

imprescindvel o exame pericial da arma de fogo, acessrio ou munio, para definir se de uso permitido ou proibido, ou se obsoleta.

As armas obsoletas, por ausncia de potencial ofensivo, no so consideradas arma de fogo para efeito de responsabilidade penal por este delito. Trata-se de hiptese de crime impossvel. Porm ateno: o Art. 17 do CP exige ineficcia absoluta do meio, de modo que, mesmo havendo a necessidade de algum procedimento excepcional para a realizao do disparo, mas desde que este seja possvel,a ineficcia ser apenas relativa e, assim sendo, haver crime.

Se agente preso no momento em que a adquirir a arma para manter em sua residncia, haver o crime de PORTE ILEGAL (art.14), e no POSSE (ART.12).

Se estiver portando arma em residncia alheia, haver PORTE ILEGAL (art.14), e no POSSE.

Em relao s ARMAS BRANCAS, aplica-se o art. 19 da Lei de Contravenes Penais.

Se o agente possui VRIAS ARMAS, haver um NICO crime.

Somente a omisso de cautela, prevista no art. 13 da lei, pode ser considerada infrao de menor potencial ofensivo.

A posse e porte de armas de uso restrito so previstos em um nico tipo, com pena diferenciada (recluso de 3 a 6 anos e multa) em relao ao porte e posse de arma de uso permitido.

As armas de fogo de uso permitido so aquelas de pequeno poder ofensivo aptas defesa pessoal e do patrimnio. Ao contrrio, as armas de fogo de uso proibido so aquelas que possuem maior potencial lesivo.

Os crimes da lei 10.826 tm como objetividade jurdica a incolumidade pblica.

Incorre em crime previsto no Estatuto o proprietrio ou diretor responsvel de empresa de segurana e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrncia policial e de comunicar Polcia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessrio ou munio que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 horas depois de ocorrido o fato. O crime se consuma com o decurso do prazo de 24 horas. Entretanto, o prazo somente comea a ser contado a partir do momento em que o agente toma conhecimento da perda, do furto, do roubo, ou extravio.

Trata-se de crimes de mera conduta, comum, de ao mltipla, e de perigo abstrato. Trata-se, ainda, de norma penal em branco, uma vez que a expresso em desacordo com determinao legal ou regulamentar denota a necessidade de complementao do que vem a ser arma de uso permitido.

O objeto material dos crimes a arma de fogo, acessrio ou munio, de uso permitido. Nos crimes comrcio ilegal e trfico internacional, a pena aumentada da metade se a arma de fogo, acessrio ou munio forem de uso proibido ou restrito.

Na posse irregular de arma de fogo de uso permitido, o ncleo da ao possuir ou manter. Sua tentativa difcil caracyterizao.

No art. 14 (porte), na maioria das condutas descritas, inadmissvel a forma tentada. Somente se admite, em tese, a tentativa, nas seguintes condutas: fornecer, receber, emprestar, ceder. Porm, no obstante a doutrina afirmar ser possvel a tentativa, em vista das condutas serem, de modo geral, plurissubsistentes, dificilmente ele ocorrer, pois quase sempre ocorrer a consumao por um dos ncleos do tipo.

Incorre em posse ilegal de arma de fogo aquele que possui arma no interior de sua residncia, sem estar a mesma registrada; em porte ilegal, aquele que, embora possuindo a arma registrada, a retira de sua residncia para lev-la consigo, sem a autorizao da autoridade competente.

Quanto ao porte ilegal de munio, a construo jurisprudencial, tanto do STJ (vide, por exemplo, o Resp 883824-RS, julgado em 28-06-2007) quanto do STF no sentido do fato ser tpico, independentemente de haver no mesmo contexto porte de arma de fogo.

A Produo, recarga ou reciclagem de munio ou explosivo caracteriza o delito descrito no inc. VI, art. 16, do Estatuto.

Em se tratando da conduta de portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numerao, marca ou qualquer outro sinal de identificao raspado, suprimido ou adulterado (art. 16, IV, da Lei n 10.826-2003), torna-se desimportante, para fins de configurao desse crime, o fato da arma est desmuniciada, visto que o objeto jurdico tutelado in casu a segurana pblica, considerando-se que a arma com sinal suprimido dificulta ou inviabiliza o controle estatal sobre a mesma, lesionando assim a tranquilidade coletiva.

No crime de vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessrio, munio ou explosivo a criana ou adolescente (inc. V), o agente criminoso pode ter o porte legal da arma. Caso fornea criana ou ao adolescente, incorrer no crime.

As condutas previstas no art.242 do ECA tambm esto no art.16 da Lei N. 10.826/03. Em face do princpio da especialidade, haver crime do a