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Um dos passos mais significativos rumo ao desarmamento nuclear foi dado na sexta Conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), em 2000. Na ocasião, foi estabe- lecidoumplanodeaçãodetrezepontospráticosparaaimplementa- ção sistemática do artigo VI do tratado 1 ao longo de cinco anos. Tal plano representava o compromisso político mais preciso sobre me- didas de desarmamento nuclear aceito pelas potências atômicas (RAUF,2001,p.12)eprevia:1)aentradaemvigordoTratadosobre Proibição Completa dos Testes Nucleares (em inglês, Comprehen- 399 *Artigo recebido em julho e aprovado para publicação em setembro de 2007. **Doutorando em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Uni- versidade Católica do Rio de Janeiro (IRI/PUC-Rio) e professor da graduação em Relações Internacio- nais do IRI/PUC-Rio. E-mail: [email protected]. CONTEXTO INTERNACIONAL Rio de Janeiro, vol. 30, n o 2, maio/agosto 2008, p. 399-466. Treze Passos para o Juízo Final: A Nova Era do Desarmamento Nuclear dos Estados Unidos e da Rússia* Diego Santos Vieira de Jesus**

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Um dos passos mais significativos rumo ao desarmamento nuclearfoi dado na sexta Conferência de Revisão do Tratado deNão-Proliferação Nuclear (TNP), em 2000. Na ocasião, foi estabe-lecido umplano de ação de treze pontos práticos para a implementa-ção sistemática do artigo VI do tratado1 ao longo de cinco anos. Talplano representava o compromisso político mais preciso sobre me-didas de desarmamento nuclear aceito pelas potências atômicas(RAUF, 2001, p. 12) e previa: 1) a entrada emvigor doTratado sobreProibição Completa dos Testes Nucleares (em inglês, Comprehen-

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*Artigo recebido em julho e aprovado para publicação em setembro de 2007.

**Doutorando em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Uni-

versidade Católica do Rio de Janeiro (IRI/PUC-Rio) e professor da graduação em Relações Internacio-

nais do IRI/PUC-Rio. E-mail: [email protected].

CONTEXTO INTERNACIONAL Rio de Janeiro, vol. 30, no 2, maio/agosto 2008, p. 399-466.

Treze Passos parao Juízo Final:A Nova Era doDesarmamentoNuclear dosEstados Unidose da Rússia*Diego Santos Vieira de Jesus**

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sive Nuclear-Test-Ban Treaty (CTBT)); 2) a moratória dos testesnucleares até a entrada emvigor deste tratado; 3) a negociaçãode umTratado sobre Banimento da Produção de Materiais Físseis (em in-glês, Fissile Material Cut-off Treaty (FMCT)) não-discriminatório,multilateral e efetivamente verificável; 4) o estabelecimento, naConferência sobre Desarmamento, do corpo subsidiário para desar-mamento nuclear; 5) a aplicação do princípio da irreversibilidade àsmedidas de desarmamento e redução nucleares; 6) o empreendi-mento inequívoco de eliminação dos arsenais atômicos; 7) a entradaem vigor do segundo Tratado sobre Redução de Armas OfensivasEstratégicas (em inglês, Strategic Arms Reduction Treaty (STARTII)), a assinatura do START III e o fortalecimento do Tratado sobreLimitação de Sistemas Antimísseis Balísticos (em inglês,Anti-BallisticMissile Treaty (ABMTreaty ouABMT)); 8) a Inicia-tiva Trilateral entre os EUA, a Rússia e a Agência Internacional deEnergia Atômica (AIEA) para proteção de material nuclear; 9) a to-madademedidas como reduções unilaterais, transparência sobre ca-pacidades e acordos, reduções nucleares não estratégicas e diminui-ção do status operacional de armas nucleares e de seu papel nas polí-ticas de segurança; 10) a submissão do excesso de material físsilpara fins militares à AIEA ou a outro mecanismo de verificação in-ternacional, e a disponibilidade desse material para fins pacíficos;11) a reafirmação do objetivo de desarmamento completo sob con-trole internacional efetivo; 12) a elaboração de relatórios regularessobre a implementação das obrigações contidas no artigoVI; e 13) odesenvolvimento de capacidades de verificação dos acordos sobredesarmamento nuclear (APPLEGARTH, 2005).

Apesar da determinação inicial das grandes potências nuclearesquanto ao plano,medidas estipuladas em2000 não foram implemen-tadas, e algumas foramabandonadas nos anos seguintes pelosEUAepelaRússia, o que, ameuver, teve um impacto extremamente negati-vo na construção de uma relação mais segura entre estas potências e

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no avanço efetivo na agenda de desarmamento nuclear. Minha posi-ção é a de que, ao se abandonaremmedidas tão precisas que permiti-riam a ampliação da cooperação entre tais poderes e que garantiriammaior estabilidade na interação entre Estados dotados de capacida-desmilitares com avançado potencial de destruição, são descartadosimportantes mecanismos que viabilizariam maior previsão dos ní-veis de forças em face de alterações futuras do contexto estratégico,além de se gerarem estímulos para que outros Estados desenvolvamsistemas nucleares a fim de se defenderem de possíveis agressõesconduzidas por essas potências. Acredito que, em nome da busca demaior autonomia – emespecial para lidar comnovas ameaças no âm-bito internacional –, os conceitos de mecanismos robustos tradicio-nais para o controle e a redução de armas nucleares foram sendo gra-dativamente erodidos em uma nova era marcada pela garantia demaiores liberdade de ação e autonomia para o planejamento militarpelas potências e pela ênfase na flexibilidade estratégica. Porém,como indicarei ao longo deste artigo, essa mais recente orientaçãoteve, na minha percepção, efeitos deletérios, como a redução da pre-visibilidade na relação estratégica entre as duas maiores potênciasatômicas e a oferta de estímulos para o desenvolvimento de armasnucleares por outros Estados.

Como exemplo das decisões tomadas pelas lideranças das duas mai-ores potências atômicas nessa nova era, cabe citar a Revisão da Pos-tura Nuclear (em inglês, Nuclear Posture Review (NPR)) nor-te-americana, a qual recomendava em 2001 um planejamento estra-tégico que, segundo a administração Bush (CROUCH, 2002;FEITH, 2002; RUMSFELD, 2002a), diminuiria o papel das armasnucleares na política de segurança ao integrá-las a sistemas ofensi-vos não nucleares, defesas ativas e passivas e infra-estrutura revitali-zada para manutenção desses sistemas. Porém, o documento reafir-ma tais armas como elementos fundamentais nas capacidades de de-fesa, propondo o desenvolvimento de novos sistemas nucleares(SCHEINMAN, 2005). O engajamento em um desarmamento com-

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pleto foi rompido em2002, quando aDiretiva Presidencial sobre Se-gurança Nacional 17 confirmou que armas nucleares estavam inclu-sas nas opções de retaliação em face de ataques comarmas de destru-ição em massa (em inglês, weapon of mass destruction (WMD))(BOESE, 2005a; KIMBALL; KUCIA, 2003; YOST, 2005, p. 93).

AlegandoqueoABMTimpedia a exploraçãodas opções deproteçãocontra ataques de mísseis por Estados-párias ou grupos terroristas,Bush optou pela denúncia do tratado. Apesar de norte-americanos erussos teremdito que isso não abalaria aNovaRelaçãoEstratégica, opresidente russo Vladimir Putin deixou claro que consideraria oSTART II – que teria banidomísseis balísticos intercontinentais (eminglês, intercontinental ballistic missile (ICBMs)) com múltiplasogivas – definitivamente morto (WOOLF, 2002). O princípio da ir-reversibilidade nas reduções nucleares e o desenvolvimento de capa-cidades de verificação foram ignorados no Tratado sobre ReduçõesOfensivas Estratégicas (em inglês, Strategic Offensive ReductionsTreaty (SORT)), de 2002. Como já desenvolvi em trabalho anterior(JESUS, 2005), o tratado admite que EUA e Rússia determinem acomposição de forças estratégicas e não estipula a destruição de ogi-vas, possibilitando que sejam removidas do desdobramento2 e arma-zenadas. Ele também não inclui definições detalhadas de sistemas,regras de contagem ou procedimentos para verificação (BLEEK,2002b).Mesmo afirmando que não pretende retomar os testes nucle-ares suspensos em 1992, o Executivo norte-americano recusou-se asubmeter oCTBT–que impediria o desenvolvimento de novos tiposdeogivas nucleares –para a reconsideraçãodoSenadoapósovetodoLegislativo em 1999, e procurou melhorar as condições preparató-rias de testes (YOST, 2005, p. 97). Em2004,Bush anunciou que umaverificação efetiva do FMCT exigiria um regime de inspeção tão in-trusivo que não era “realisticamente possível”,3 e decidiu apoiar ne-gociações do tratado sem mecanismos de verificação (BOESE,2005a; PREEZ, 2005).

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Emface da deterioração das forças convencionais desde o colapso daUniãodasRepúblicasSocialistasSoviéticas (URSS), aNovaDoutri-naMilitar daRússia ampliou a ênfase nas armas nucleares – emespe-cial não estratégicas – na proteção da integridade territorial da fede-ração (IVANOV, 2004). Entre 2000 e 2005, membros do governorusso explicitaram que as armas nucleares poderiam ser utilizadasnão apenas em uma guerra de grande escala envolvendo potênciasnucleares, mas em conflitos menores na periferia do país. Apesar deterem reafirmado que não utilizariam armas nucleares contra Esta-dos-parte do TNP que não tivessem tais sistemas, autoridades doExecutivo russo reservaramo direito de usá-las para “repelir a agres-são armada” – em especial ataques com armas químicas e biológicas– se outras respostas falhassem (ARBATOV, 2005; KIMBALL,2005a).Comoanúncio da denúncia doABMTpelosEUAem2001 ea adesão de sete países do Leste Europeu à Organização do Tratadodo Atlântico Norte (OTAN) em 2004, Putin reafirmou a cooperaçãocom os países norte-atlânticos, mas declarou que a Rússia desenvol-via capacidades estratégicas “que nenhuma outra potência nuclearterá nos próximos anos”, como ogivas manobráveis de alta precisãoe sistemas de lançamento avançados.4 Após o SORT, o Executivorusso não demonstrou disposição de negociar mais reduções ofensi-vas estratégicas nem não estratégicas, revelando a falta de compro-metimento com a busca de medidas para desarmamento nuclearcompleto (GOTTEMOELLER, 2004; NORRIS; KRISTENSEN,2004; 2005).

Diante desse quadro, o plano de ação de 2000 não foi efetivamenteimplementado: em 2005, o CTBT não tinha entrado em vigor, as ne-gociações para um FMCT efetivamente verificável não começaram,oABMTeoSTARTII foramabandonados, o papel das armas nucle-ares não foi reduzido nas políticas de segurança, a maioria das redu-ções nucleares não eram irreversíveis ou verificáveis, o corpo subsi-diário sobre desarmamentonuclear não foi estabelecido e a Iniciativa

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Trilateral permaneceu travada diante dos altos custos de implemen-tação (JOHNSON, 2005; GOTTEMOELLER, 2004). Embora, ameu ver, as lideranças dos EUA e da Rússia tentem demonstrar quebuscam demolir as barreiras da época da Guerra Fria que ainda per-passam seu relacionamento e procurem redefinir suas estratégias nu-cleares com objetivo de lidar com novas ameaças, a não-implemen-tação e o abandono de medidas minuciosas que visem garantir a se-gurança e a previsibilidade na relação entre essas potências reduzema transparência eminama confiançamútua, emummomento emquecada lado tem a liberdade de preservar ogivas e capacidades de lan-çamento extras e que uma série de sistemas nucleares – como os nãoestratégicos – são simplesmente marginalizados nas principais dis-cussões entre os membros dos Executivos desses países. Ademais,acredito que a postura até mesmo negligente com relação a tal planode ação evidencie não apenas a falta de comprometimento dessas po-tências com um desarmamento nuclear efetivo, mas também com osobjetivos de não-proliferação: no caso russo particularmente, o ar-mazenamento de sistemas excedentesmaximiza riscos potenciais, jáque eles podem ser vendidos ou mesmo roubados por organizaçõesterroristas.

Nesse contexto, grande parte dos autores da área de controle de ar-mas e desarmamento pareceumais preocupada em avaliar os impac-tos das decisões das duasmaiores potências atômicas quanto à agen-da de desarmamento nuclear e/ou emesboçarmotivações imprecisasdessas ações, particularmente nos debates em torno: do papel das ar-mas nucleares no planejamento estratégico norte-americano;5 da de-núncia doABMTpelos EUA;6 do descaso dos EUAe daRússia coma irreversibilidade das reduções e o desenvolvimento de capacidadesde verificação, que tiveram como foco o SORT;7 e do interesse russoem desenvolver novas armas nucleares, com ênfase no período pos-terior ao plano demodernização das forças estratégicas estabelecidopeloMinistério da Defesa.8Apesar da rica avaliação de méritos e li-

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mitações das ações das duas grandes potências e da ênfase nos deter-minantes internacionais gerais de seu comportamento – como a ne-cessidade de as potências responderem a um novo ambiente estraté-gico, em que se tornam cada vez mais evidentes as ações de Estadosque desafiam regimes de segurança, bem como atores não estataisque não são limitados pelas normas internacionais –, a maior partedessas análises transmitiu a idéia de que teria existido consenso entreformuladores de decisão quanto às ações implementadas – o quepodenão refletir a realidadedos fatos. Se tal conformidade realmenteexistiu em alguns casos, não se examinou como foi atingida. Alémdisso, a literatura deu atenção marginal à interação entre fatores do-mésticos e internacionais que explicam as decisões desses Executi-vos,mais precisamente à influência recíproca entre dois processos: ainteração estratégica entre negociadores dos governos e as barga-nhas domésticas para a obtenção de consentimento às propostas doExecutivo. Foram omitidas as barganhas entremembros do Executi-vo e deles comdemais atores – comomembros doLegislativo e prin-cipais grupos de interesse –, e a distribuição de poder decisório pelasinstituições domésticas. A literatura ignorou estratégias do Executi-vo na conciliação dos imperativos domésticos e internacionais e des-prezou barganhas internas que determinaram posturas estratégicas eposições iniciais dessas potências nas negociações posteriores ao es-tabelecimento doplano de ação acerca de temas relacionados aos tre-ze pontos. A abordagem que desenvolverei tem como objetivos jus-tamente superar essas limitações e buscar um entendimento maiscomplexo eminucioso das ações dos EUAe daRússia em relação aoplano de ação de 2000.

Partindo da posição de que a implementação completa desses com-promissos políticos pelas duas maiores potências atômicas poderiareduzir incentivos para o desenvolvimento de armas nucleares poroutros Estados e criarmecanismos que ampliassem a transparência ea previsibilidade na interação entre os detentores dos maiores arse-

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nais nucleares do planeta, procuro explicar por que os líderes dosEUAe daRússia não implementaram total e efetivamente o plano deação de treze pontos práticos sobre desarmamento nuclear. As deci-sões dosmembros dosExecutivos desses países relacionadas aos tre-ze pontos serão vistas como resultados da conciliação de imperativosinternos e externos por tais indivíduos, que enfrentamoportunidadese dilemas estratégicos distintos simultaneamente nos âmbitos do-méstico e internacional. Serão consideradas escolhas políticas demembros dos Executivos nacionais e estrangeiros, Legislativos eprincipais grupos de interesse, bem como a distribuição de poder so-bre a formulação da decisão, estabelecida pelas instituições domésti-cas. Será aplicada a perspectiva dos jogos de dois níveis (PUTNAM,1988; MILNER, 1997; MORAVCSIK, 1993). A fim de obter maiordetalhamento na análise da formulação das posturas estratégicas eposições negociadoras iniciais posteriores ao estabelecimento doplano de ação acerca de temas relacionados aos treze pontos, com-plementarei essa perspectiva com a promoção de seu diálogo com omodelo da política burocrática (ALLISON, 1971).

Busco averiguar a correção da suposição de que, nos EUA, os neo-conservadores que compunham o grupo dos “vulcanos” – os princi-pais conselheiros de George W. Bush para política externa e segu-rança nacional – ocuparamamaior parte dos principais cargos relaci-onados à formulação da política externa e de segurança norte-ameri-cana, em especial no Departamento de Defesa e no Gabinete presi-dencial. Tendo responsabilidade formal sobre assuntos de segurançaestratégica e controle sobre instituições, recursos e informações ne-cessários à implementação das ações governamentais, esses indiví-duos – comcujas posições o presidentemais se identificava – estabe-leceram o direcionamento da política nuclear da administraçãoBush, vencendo as posições mais moderadas no Departamento deEstado ao enfatizarem a preservação da flexibilidade para moderni-zar e operar forças estratégicas e táticas contraEstados-párias e orga-

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nizações terroristas em busca deWMD e, em uma situação mais re-mota, potências comoChina ouRússia no caso de reversão da coope-ração. A fim de atender a contingências imediatas, imprevistas e po-tenciais, Bush e os principaismembros de sua equipe buscaramauto-nomia para 1) desenvolver e desdobrar todas as opções possíveis dedefesas antimísseis; 2) determinar a composição das forças ofensi-vas estratégicas e não estratégicas sem os constrangimentos trazidospor acordos dotados de mecanismos de verificação excessivamenteintrusivos, que impusessem amplas restrições à operação de armasnucleares; e 3) se necessário, retomar testes nucleares para a fabrica-ção de novos modelos de ogivas e sanar falhas nos existentes. Estaorientação inicial foi consolidada na NPR e reforçada nos anos se-guintes em face da conciliação feita porBush emembros de sua equi-pe entre a necessidade estratégica de defesa do país e seus aliadosdiante da proliferação de WMD para Estados-párias e grupos terro-ristas no âmbito internacional e da pressão doméstica de republica-nos e de parte dos democratas noLegislativo – amaioria doCongres-so, dotada de poderes de ratificação, veto e emenda sobre a maiorparte da agenda internacional – e de setores das ForçasArmadas peloreforço da flexibilidade estratégica. Nesse contexto, inserem-se asdecisões que revelaram a negligência ao plano de ação de 2000,como a denúncia unilateral do ABMT, a assinatura de acordos semmecanismos próprios de verificação, como o SORT, a recusa à rea-presentação do CTBT para conselho e consentimento para ratifica-ção, a imposição de obstáculos a umFMCTefetivamente verificávele o reforço do papel das armas nucleares na política de segurança.

No caso russo, procuro investigar a correção da suposição de que,após intensas batalhas burocráticas iniciais sobre reformas militaresentre sergeyevistas e kvashnistas9 no governo russo, as preocupa-ções em torno da proliferação de WMD na periferia do país, do de-senvolvimento da defesa antimísseis norte-americana e das pesqui-sas nos EUA sobre armas nucleares para teatros de operações moti-

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varam o acordo entre as lideranças da Rússia em torno do reforço dopapel das armas nucleares na política de segurança. Com base nessaposição inicial, o presidente Vladimir Putin e os membros de suaequipe buscaramevitar os obstáculos políticos e jurídicos à sua flexi-bilidade estratégica e valorizaram ainda mais a autonomia no plane-jamentomilitar. A ênfase no papel das armas nucleares foi reforçadanos anos seguintes em virtude de uma interação de dois fatores: 1)necessidade militar e estratégica internacional, dada a fraqueza dasforças convencionais para lidar com as novas ameaças externas; e 2)benefícios políticos domésticos, assegurando a membros da Duma(câmara baixa do Parlamento Russo) e do Conselho da Federação(câmara alta domesmoParlamento) – dotados de poderes de ratifica-ção e veto sobre grande parte das decisões do Executivo acerca dematérias de política externa e segurança nacional – e aos setoresmili-tares internos – os principais grupos de interesse envolvidos – que,mesmo com o reforço da cooperação com EUA e Europa Ocidental,as contramedidas russas estavam em pleno funcionamento no casoda reversão dessa relação cooperativa e em face da presença militarda OTAN nas proximidades das fronteiras do país. Tendo isso emvista, Putin optou pelo abandono do START II, pela modernizaçãodo arsenal nuclear russo e pelo desdobramento de armas não estraté-gicas, rompendo com os compromissos de 2000. Com isso, visavaatender às pressões de coalizões políticas domésticas essenciais aogoverno e proteger a soberania e a integridade territorial do país con-tra qualquer agressor, fossemo terrorismo internacional e os Estadosembusca deWMDnaperiferia oumesmoEstados avançados econô-mica, tecnológica e militarmente.

Na próxima seção, apresentarei a perspectiva dos jogos de dois níveise o modelo da política burocrática e evidenciarei como pretendo pro-mover odiálogo entre tais abordagens.A seguir, investigarei o proces-so de definição das posturas estratégicas e posições negociadoras ini-ciais posteriores ao estabelecimento do plano de ação acerca de temas

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relacionados aos treze pontos. O objetivo será evidenciar as bases apartir das quais o jogo interativo entre a dimensãodoméstica e interna-cional se desenvolveu. Posteriormente, na consideração do jogo emquestão, examinarei o impacto das escolhas políticas dos atores envol-vidos e da distribuição de poder decisório estabelecida pelas institui-ções domésticas sobre as ações tomadas pelas duas potências, que, ameuver, preservama liberdade de açãodosEUAedaRússia,mas nãocontribuem para um genuíno desarmamento nuclear.

Os Jogos de Dois Níveis e o

Modelo da Política

Burocrática

Na lógica dos “jogos de dois níveis”, forças nacionais perseguemseus interesses em âmbito doméstico pressionando o Executivo paraque adote medidas favoráveis, enquanto este procura ampliar poderde barganha formando coalizões entre elas. Em âmbito internacio-nal, o Executivo procura satisfazer interesses domésticos, enquantotenta minimizar conseqüências adversas dos desenvolvimentos ex-ternos (PUTNAM,1988, p. 434).De formadistinta a abordagensqueenfocamexclusivamente demandas internas ou a lógica sistêmica do“interesse nacional” pré-dado e que tratam os níveis doméstico e in-ternacional como superpostos (Moravcsik, 1993, p. 15), acredito quea perspectiva dos jogos de dois níveis permita sanar as insuficiênciasdessas perspectivas analíticas ao criar um arcabouço complexo paraa análise do impacto combinado dos fatores internos e externos nanegociação internacional, sendo, naminhavisão, adequadapara exa-minar as decisões dosEUAedaRússia em relação aos pontos do pla-no de ação, tomadas no âmbito das negociações bilaterais e multila-terais dos EUA e da Rússia.

De formamais precisa,Robert Putnam(1988, p. 436-438) decompõeanaliticamente esse processo emNível I – barganha entre negociado-

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res na mesa internacional – e emNível II – discussões, na esfera do-méstica, acerca do consentimento para as propostas do Executivo –,de forma que a necessidade desse consentimento no Nível II afeta abarganha no I. Owin-set é o conjunto dos acordos possíveis noNívelI que seriam aceitos no II, e seu tamanho relativo afeta a distribuiçãodos ganhos conjuntos da barganha internacional: quanto maior owin-set percebido do negociador, mais ele poderá ser conduzido aceder aos outros no Nível I. Umwin-set pequeno pode ser vantagemna barganha, pois restringe a capacidade de fazer concessões.10 Po-rém, corre-se o risco de se estabelecer uma posição imóvel que váalém da habilidade do outro lado de condescender. Isso pode provo-car estagnaçãodas negociações. Essewin-set é determinadopela dis-tribuição de escolhas políticas e coalizões noNível II;11pelas institu-ições políticas doNível II, pois os procedimentos domésticos para seobter consentimento para ratificação de acordos podem aumentar opoder de barganha ao reduzir owin-set, mas também ampliar o riscode deserção involuntária;12 e pelas estratégias dos negociadores doNível I, como a oferta de compensações paralelas para atrair apoiodoméstico. Um jogador maximizador de utilidade procura, porexemplo, convencer negociadores da outra parte de que seu win-set

será aprovado, alémde tentar reestruturar o jogoou alterar visões dosoutros sobre custos e benefícios dos entendimentos propostos. Seusprincipais objetivos são a busca de maximização de recursos políti-cos e a minimização de perdas potenciais. Os negociadores podembuscar sua própria concepção de interesse nacional no contexto in-ternacional e mudar o equilíbrio de poder no nível doméstico em fa-vor de políticas quepreferempor razões exógenas (PUTNAM,1988,p. 440-457).

Partindo dessa estrutura analítica, HelenMilner (1997) aponta que ainteração entre os níveis internacional e doméstico se traduz em umjogo de negociação em que são consideradas as escolhas políticas

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dos jogadores visando a maximização de ganhos, as instituições po-

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líticas domésticas e a distribuição da informação. O conjunto de es-colhas políticas refere-se às posições de atores domésticos que com-partilhampoder sobre a formulação da decisão –Executivo, Legisla-tivo e grupos de interesse – e do Executivo estrangeiro. Cada um de-seja uma política o mais próxima possível de seu “ponto ideal”, e autilidade declina linearmente conforme a política implementada seafasta desse ponto. Há menor probabilidade de cooperação interna-cional quando existem diferenças de escolhas entre atores políticosdomésticos e os mais contrários à cooperação têmmaior poder deci-sório.Os negociadores precisamantecipar a reação dos responsáveispelo consentimento doméstico para a ratificaçãodaproposta interna-cional e garantir que seja aceitável internamente (MILNER, 1997, p.70-73, 237-238).

As instituições políticas determinam como o controle sobre a formu-lação da decisão é distribuído domesticamente, ou seja, como sãocompartilhados elementos como definição da agenda e poderes deemenda e ratificação/veto. Com tal controle, as escolhas do atormaisprovavelmente estarão refletidas na decisão política final (MILNER,1997, p. 18). O controle sobre agenda permite ao jogador definir ter-mos do debate e estruturar alternativas para lidar com a questão. Opoder de emenda permite ao autor fazer alterações que tragam oacordo para mais perto de seu ponto ideal, enquanto o de ratifica-ção/veto limita o formulador de agenda ou aquele que tem poder deemenda (MILNER, 1997, p. 102-108).

Os atores têm preferências sobre políticas e instituições, pois certasinstituições tornarão a realizaçãode suas preferênciasmais provável.Nesse sentido, a escolha de procedimentos para desenvolver e ratifi-car políticas cooperativas também é objeto de disputa, de maneiraque a forma como acordos são ratificados influencia a barganha in-ternacional. Os procedimentos pelos quais se oferece consentimentopara a ratificaçãode acordos determinamquemserá ovotantemedia-no cuja aceitação o Executivo deve assegurar, determinando os ato-

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res relevantes e, com isso, a própria estrutura de preferências domés-ticas. Quantomais contenciosa for a questão,maior será o debate so-bre tais procedimentos. As preferências dos atores quanto aos meiospelos quais se oferece consentimentopara ratificaçãodos acordos se-guem ligadas às suas preferências sobre a própria questão, tendo emvista que também farão escolhas sobre procedimentos. Eles podemtentar tornar-se os votantes medianos. Já quando os atores não têminformação completa sobre a questão, pode-se gerar resultados ine-ficientes e vantagens políticas para quem detém mais informação.14

É papel dos grupos de interesse prover de informação os atores15

(MILNER, 1997, p. 20-22).

As abordagens dePutnam (1988) eMilner (1997) enfatizama intera-ção estratégica entre os Executivos nacional e internacional e a dinâ-mica interna para consentimento à ratificação, mas não permitemanalisar minuciosamente as barganhas políticas das quais resulta aposiçãonegociadora inicial posterior ao estabelecimento doplanodeação acerca de temas relacionados aos treze pontos. A fim de vencertal limitação, pretendo desenvolver o diálogo com omodelo da polí-tica burocrática de GrahamAllison (1971, p. 162-181). Esta aborda-gem explica o comportamento do Estado pelo jogo de negociação,pormeio de circuitos regularizados, entre indivíduos situados na po-lítica burocrática, que têm poder distinto sobre questões particularese com objetivos separáveis em subjogos diversos. As posições decada jogador nos canais de ação política definem suas vantagens edesvantagens, bem como suas obrigações. O poder – entendidocomo a influência sobre decisões governamentais – é uma combina-ção de vantagens de barganha, habilidade e vontade de usá-las e vi-sões que outros jogadores têm desses elementos. As fontes dessasvantagens incluemautoridade formal, controle sobre recursos neces-sários à efetuação da ação, informação que permite estimar possibili-dades e habilidade de afetar os objetivos de outros jogadores. As re-gras –vindas daConstituição, estatutos ou convenções sociais – esta-

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belecem os canais de ação de cada um, determinam decisões aceitá-veis e impedem certas jogadas. Cada indivíduo deve olhar para bai-

xo, identificando opções para preservar margem demanobra; para o

lado, a fim demanter o compromisso dos outros indivíduos e os atra-ir para sua coalizão; e para cima, a fim de certificar os superiores deque sua posição é a melhor (ALLISON, 1971, p. 144-177). Emboracríticos enfatizem que o modelo de Allison é limitado à exploraçãoda divergência de posições, apontarei que reduzi-lo à análise do dis-senso é restringir seu potencial explicativo, já que ele capta a riquezade detalhes e oferece maiores consistência e precisão à análise, mes-moque atores tenhamescolhas semelhantes e os resultados da sua in-teração lembrem o comportamento do Estado como ator unitário.

Na promoção do diálogo entre tais abordagens, esta investigação,voltada para a análise da interação estratégica, será embasada na es-colha racional16 (KATZENSTEIN et al., 1998, p. 682; WENDT,1999, p. 371). Embora Milner (1997) trabalhe com Executivos na-cionais e estrangeiros, Legislativo e grupos de interesse como atoresunitários, considerarei escolhas políticas de indivíduosmaximizado-res de utilidade que compõem esses conjuntos, tendo em vista a dis-ponibilidade de dados minuciosos sobre suas posições individuais,garantindo-se maior precisão à análise. Será considerada como va-riável dependente a não-implementação total e efetiva do plano deação pelos EUA e pela Rússia, e como variáveis independentes 1) asescolhas políticas maximizadoras de ganhos por indivíduos quecompõem Executivos nacionais e estrangeiros, Legislativo e princi-pais grupos de interesse17; e 2) as instituições políticas domésticas,que distribuemcontrole sobre a formulação da decisão. Serámantidaa suposição de distribuição assimétrica de informação entre mem-bros do Executivo nacional e Legislativo, de forma que caberá amembros de grupos de interesse oferecer informação acerca da natu-reza de questões e acordos. O recorte temporal da pesquisa esten-de-se de janeiro de 2001 – quando a recém-empossada administra-

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çãoBush e o governo Putin começam a desrespeitar ou abandonar ospontos do plano de ação – a maio de 2005 – prazo final para imple-mentação efetiva do plano, na sétima Conferência.

Primeiramente, apresentarei o processo de barganha que levou à for-mação das novas posturas estratégicas dos EUA e da Rússia e da po-sição negociadora inicial posterior ao estabelecimento do plano deação acerca de temas relacionados aos treze pontos no âmbito inter-nacional. O foco será na barganha dentro do Executivo de cada país,já que esses são os principais responsáveis pela formulação da agen-dadepolítica externa ede segurançanacional.A seguir, ao investigaro jogo interativo entre as dimensões externa e interna, as negociaçõesconsideradas serão aquelas em nível bilateral, em especial entre es-sas grandes potências, e multilateral, particularmente a Conferênciasobre Desarmamento e a AIEA.

A Definição das Posturas

Estratégicas e Posições

Negociadoras Iniciais dos

EUA e da Rússia

Em2001,GeorgeW.Bush apontou como prioridades de sua políticade segurança estratégica o desdobramento da defesa antimísseis e arealização de reduções ofensivas estratégicas, iniciativas inseridasno contexto de uma redefinição da postura norte-americana para li-dar com novos desafios do sistema internacional no século XXI: osEstados-párias e os grupos terroristas, especialmente aqueles embusca de WMD (DAVIS, 2002; JISHE, 2001; WOOLF, 2002;KARTCHNER, 2002). Ainda como candidato à Presidência da Re-pública, Bush deixou claro que tentaria modificar o ABMT a fim dedesdobrar um sistema nacional de defesa antimísseis para atender àsnecessidades de segurança do mundo pós-Guerra Fria e, se os mem-bros do Executivo russo se recusassem a emendar o tratado, sugeriuque poderia denunciar o acordo (BOESE, 2001a; 2001b; 2001c;

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GOLDGEIER; MCFAUL, 2002). Além disso, Bush planejava con-duzir reduções ofensivas estratégicas compatíveis comas necessida-des de segurançanacional, semobrigatoriamente assinar tratados de-talhados, complexos e robustos com aRússia. Ele indicou que armasbaseadas em um cenário estratégico ultrapassado eram “caros res-quícios de conflitos mortos” (KERREY; HARTUNG, 2001).18Me-didas unilaterais para reduções ofensivas ganhavam força na posiçãode Bush, pois permitiriam maior flexibilidade que acordos robustosassinados no passado com a então URSS (atual Rússia), em ummo-mento em que os EUA poderiam, com os novos arranjos, ajustar suapostura nuclear em resposta às ameaças futuras e tirar vantagem dasmudanças tecnológicas que não seriam permitidas por um tratado noperfil do START I. Asmedidas unilaterais erammenos limitantes aoplanejamento das forças estratégicas (GOTTEMOELLER, 2001).Ademais,Bush afirmouqueoCTBTnão seria novamente considera-do, já que tal tratado não era a resposta para conter a proliferação. Senecessário, Bush pretendia retomar testes nucleares para a fabrica-ção de novos modelos de ogivas e sanar falhas nos existentes(GOLDGEIER; MCFAUL, 2002; JISHE, 2001; KERREY;HARTUNG, 2001).

Tais posições, na minha percepção, representam um nítido retroces-so emrelação às conquistas dos inúmeros instrumentos voltadosparao desarmamento nuclear, desenvolvidos durante a Guerra Fria e nadécada posterior ao seu fim, tendo emvista o potencial que os posici-onamentos deBush têmparaminar a confiança e a estabilidade na re-laçãodosEUAcomasdemais potências nucleares e, principalmente,para estimular a proliferação por parte de outros atores que se sintamameaçados com as ações implementadas pelos norte-americanos.Considero que os possíveis benefícios derivados dessa nova posturapoderiam ser aniquilados pelos riscos próprios de uma política queautoriza a aplicação de sistemas atômicos em cenários de conflito lo-cal.Alémde encorajar a proliferação, esse posicionamento contradiz

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o compromisso norte-americano, sob o artigo VI do TNP, de tomarmedidas concretas com o objetivo de eliminar seu arsenal nuclear,reafirmado na sexta Conferência de revisão do tratado. Em face daimprevisibilidade das novas ameaças, compartilho a posição críticade queBush indiretamente propunha a diluição da fronteira entre sis-temas necessários à dissuasão e aqueles voltados para a aplicação nocampo de batalha, além de utilizar manobras discursivas a fim demascarar sua falta de compromisso com um desarmamento nucleargenuíno: embora constantemente afirmasse que buscava superar olegado nuclear daGuerra Fria, Bush, na prática, preservava na políti-ca de segurança norte-americana o papel central dos sistemas atômi-cos, que seriam complementados por sistemas de defesa e pelo arse-nal convencional.

As visõesmais críticas que alertavampara diversos desses pontos fo-ram gradativamente minadas nas discussões entre membros do Ga-binete presidencial e do Conselho de Segurança Nacional. Em seuprimeiromandato,BushnomeouColinPowell secretário deEstado eDonaldRumsfeld secretário deDefesa e designouCondoleezzaRiceconselheira de Segurança Nacional (BOESE, 2001a). Os indivíduosque ocupam tais postos compõem, com o presidente, o núcleo res-ponsável pela formulação das principais decisões da política de se-gurança estratégica norte-americana, de acordo com as regras queestabelecem os canais de ação de cada um e os circuitos regulariza-dos napolítica burocrática entre tais indivíduos, os quais têmpoderesdiversos sobre questões específicas (ALLISON, 1971). Segundo aConstituição, o presidente é o comandante-chefe do Exército e daMarinha e pode requerer a opinião dos principais funcionários decada departamento executivo sobre qualquer questão relacionadaaos deveres deles. Ele tem o poder de responder a ataques aos EUA,exceto em casos de impeachment; pode assinar tratados, que devemter o consentimento de pelomenos dois terços dos senadores presen-tes para a ratificação; e nomear membros da sua equipe com o con-

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sentimento do Senado (ESTADOS UNIDOS DAAMÉRICA, s.d.).De acordo coma legislaçãonorte-americana, o secretário deEstado éo principal conselheiro para assuntos de política externa noGabinetepresidencial; conduz negociações relacionadas aos principais assun-tos de política externa; participa pessoalmente ou lidera grupos de re-presentantes em conferências, organizações e agências internacio-nais; negocia e interpreta tratados e acordos comgovernos estrangei-ros (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Departamento de Esta-do, 2001). Já o secretário de Defesa é o principal conselheiro do pre-sidente para a política de defesa norte-americana. É responsável pelaformulação e pela execução da política geral de defesa da nação e,como o secretário de Estado, é membro do Gabinete presidencial(ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Casa Branca, 1947-1997;ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Departamento de Defesa,2004).Oconselheiro deSegurançaNacional assessora diretamente opresidente em questões sobre a segurança norte-americana (ESTA-DOS UNIDOS DA AMÉRICA. Casa Branca, 1947-1997).

Powell excluiu os conservadores das posições centrais emsua equipee preencheu cargos de subsecretários com funcionários de carreirano serviço de relações exteriores, em uma tentativa de evitar que taiscargos fossem ocupados por indicados pela Casa Branca, cujas vi-sões eram bastante opostas às do secretário de Estado (WALLER,2001).Ele era adeptodeumaposturamaismoderada e cautelosa comrespeito à segurança estratégica. Por exemplo, embora destacasse aimportância da Defesa Nacional Antimísseis (em inglês, NationalMissile Defense (NMD)) para a segurança norte-americana, o secre-tário deEstadomostrava-se prudente em relação ao avançoda defesaantimísseis, enfatizando constantemente a necessidade de consultaros aliados dos norte-americanos, a Rússia e a China – receosos deque o desdobramento de umaNMDpudesse dar início a uma corridaarmamentista renovada e disseminar a proliferação –, antes de con-duzir o teste e o desdobramento de tal sistema. Afirmou que buscaria

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demonstrar aos líderes de outras nações que osmembros da adminis-traçãoBush viam aNMDcomo “umdosmaiores interesses da popu-lação norte-americana” e que tentaria persuadir os russos acerca danecessidade de “ir além” da estrutura estabelecida pelo ABMT(BOESE, 2001a; KUPCHAN, 2002, p. 25-26; BUSH…,2000-2001a; 2000-2001b). Powell também destacou a necessidadede redução de sistemas nucleares excedentes dos EUA e da Rússia eapontou as condições precárias de segurança de grande parte dessasarmas em território russo. No passado, ele fora contra o uso de armasnucleares naGuerra doGolfo, alémde já ter apoiado oCTBTe apon-tado a necessidade de continuar o diálogo com a Coréia do Norte so-bre a limitação de programas de mísseis balísticos (KERREY;HARTUNG, 2001).

Porém, as posições do presidente Bush e do seu vice, Dick Cheney,identificavam-se mais com as de Rumsfeld e de Rice do que com operfil mais moderado de Powell no que dizia respeito à defesa anti-mísseis e às reduções ofensivas estratégicas. Rumsfeld e Rice dese-javam os rápidos desenvolvimento e desdobramento da defesa anti-mísseis e consideravam os densos e robustos tratados sobre controlee redução de armas assinados durante a Guerra Fria como resquíciosde um ambiente estratégico ultrapassado. Rice manteve a ênfase naimportância da NMD e observou que novos acordos sobre reduçõesofensivas estratégicas nos moldes daqueles antigos tratados poderi-am limitar excessivamente a flexibilidadenorte-americanapara lidarcom as ameaças do novo ambiente estratégico internacional. JáRumsfeld19 escolheu uma equipe com alguns dos neoconservadoresmais reconhecidos deWashington, a fimdemodificar o “perfilmori-bundo do Pentágono”, que parecia “estar à deriva” (WALLER,2001) durante a administração Clinton. Tal equipe incluía o vi-ce-secretário de Defesa Paul Wolfowitz, o subsecretário de Defesapara Política Douglas Feith e, para a Política de Segurança Interna-cional, o secretário-adjunto J. D. Crouch (WALLER, 2001). Segun-

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do o então secretário de Defesa, os EUA deveriam garantir a capaci-dade de desenvolver, desdobrar e operar uma força altamente capazde deter novas ameaças. Isso requeria uma reconfiguração das capa-cidades de dissuasão e de defesa, já que a antiga estratégia da GuerraFria e da década que a seguiu era imperfeita e insuficiente para lidarcom as ameaças do século XXI. As armas nucleares ofensivas estra-tégicas não tinham deixado de ser importantes para a garantia da se-gurança norte-americana,mas, no planejamento para o novo contex-to internacional, o arsenal não precisava mais ter os mesmos tama-nho e composição, que refletiam as necessidades de uma situação es-tratégica de dez anos antes. Tais armas continuariam a ter um papeldecisivo, embora estivessememmenor número e compusessemumaestratégia caracterizada por umamaior diversidade de opçõesmilita-res para lidar comas novas ameaças.De acordo comRumsfeld, a dis-suasão nuclear ainda era um elemento essencial da política de segu-rança norte-americana, mas uma estratégia caracterizada pela credi-bilidadeprecisava ser adaptada às circunstâncias do séculoXXI eba-seada na combinação de capacidades ofensivas nucleares e não nu-cleares e sistemas defensivos, que negariam a adversários a oportu-nidade e os benefícios do uso deWMD contra os EUA20 (BUSH…,2000-2001a).

JohnBolton foi nomeado subsecretário deEstado para oControle e aRedução de Armas e para Segurança Internacional, sendo confirma-do para o cargo emmaio de 2001 em uma votação apertada no Sena-do (BLEEK, 2001). Bolton, que posteriormente foi um dos princi-pais representantes dos EUA nas conversações com os russos sobrenovas reduções ofensivas estratégicas, já tinha trabalhado noDepar-tamentodeEstadodurante as administraçõesReagan eGeorgeH.W.Bush e era um crítico da política do governo Clinton para controle eredução de armas e para não-proliferação, particularmente da defesado CTBT pela administração democrata. Bolton identificou comograndes metas reduzir o número de armas nucleares nor-

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te-americanas “de forma compatível com a segurança nacional”, re-forçando a idéia de que a Rússia também deveria reduzir as suas, epersuadir os membros dos Executivos de outros Estados – em espe-cial da Rússia – a aceitar os planos relacionados à defesa antimísseisnorte-americana21 (ROUGH…, 2001). Nesse período, o subsecretá-rio apontou que o controle e a redução de armas continuariam a terprioridade elevada para a administração Bush somente se servissempara a promoção dos interesses norte-americanos. Quando os acor-dos existentes fossem “contraproducentes ou obsoletos”, Bush reve-ria tais compromissos e consideraria se valeria a pena a busca de no-vas obrigações. Segundo Bolton, a posição norte-americana sobrecontrole e reduçãode armas era fruto de umcálculo custo-benefício etomava forma de acordo com a consideração dos diferentes instru-mentos de política externa.Aopção deBolton por “reduções unilate-rais e paralelas” insere-se nessa lógica, pois ele as via comomais fle-xíveis e “econômicas”. Para o subsecretário, ambos os lados não fi-cariam presos a números artificiais e poderiam decidir por eles mes-mos como estruturar forças estratégicas (BOLTON, 2001). A posi-ção deBolton revela traços de uma perspectiva presente tambémnasde outros membros da administração Bush, designada por Gottemo-eller (2001) como “unilateralismo cooperativo”: tais indivíduos su-geriam que as novas reduções ofensivas estratégicas fossem realiza-das unilateralmente, mas de forma essencialmente cooperativa. Issopoderia incluir anúncios coordenados sobre reduções oumedidas detransparência durante o processo de implementação.

Formada a coalizão entre osmembros da alamenosmoderada da ad-ministração Bush – com os quais seu estilo político era mais compa-tível –, esses indivíduos identificaram, a partir da decisão inicial dopresidente de que um novo planejamento estratégico era necessáriopara enfrentar as novas ameaças, a necessidade de conservar a auto-nomia para modernizar e operar forças estratégicas e táticas contratais ameaças e, aomesmo tempo, preservar a capacidade de lidar, em

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uma situação mais remota, com potências como China ou Rússia nocaso de reversão da relação cooperativa. Embora Powell e elementosdoDepartamento deEstado tentassem refrear decisões do presidenteque pudessem comprometer a estabilidade estratégica, sua influên-cia sobre as questões de segurança estratégica era gradativamenteerodida por Rumsfeld, Rice e outros indivíduos que, ocupando car-gos centrais na burocracia norte-americana relacionados à formula-ção da política de segurança no Departamento de Defesa e no Gabi-nete presidencial, detinham recursos, informação e apoio presiden-cial (ALLISON, 1971) necessários à rápida implementação de umanova orientação dessa política, que estimulasse a pesquisa e o desen-volvimento das opções possíveis de defesas antimísseis, evitasse osentraves colocados por mecanismos jurídicos intrusivos que obsta-culizassem a operação dos sistemas nucleares, mantivesse aberta apossibilidade de realização de novos testes para a produção de novasogivas e solucionasse problemas nos sistemas que já existiam.

A ênfase na flexibilidade na nova postura estratégica foi cristalizadanos documentos emitidos pela administração Bush. A NPR reco-mendava a substituiçãogradual da tríade estratégica quevigorara du-rante a Guerra Fria – composta por ICBMs, mísseis balísticos lança-dos de submarinos (em inglês, submarine-launched ballisticmissiles(SLBMs)) e bombardeiros estratégicos – por um conjunto de opçõesmilitares para lidar comnovas e antigas contingências. Este conjuntoseria composto por capacidades de ataques nucleares e não nuclea-res, com funções de comando e controle associadas; defesas passivase ativas, incluindo comando e controle para as aéreas e as antimís-seis; e pesquisa, desenvolvimento e infra-estrutura industrial para fa-bricação e manutenção de sistemas ofensivos e defensivos. A novatríade incluiria cerca de um terço das ogivas operacionalmente des-dobradas22 em 2002, uma vez que as reduções fossem completas. Otamanho reduzido dessa força requereria sistemas mais confiáveis.Além dos esforços para a revisão dos antigos, poderia surgir a neces-

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sidade de modificar, modernizar e substituir partes das forças nucle-ares ou desenvolver sistemasmais adequados às necessidades da na-ção. ANPR apontava que, apesar de o governo norte-americano ten-tar manter seu arsenal sem testes nucleares adicionais, isso poderianão ser possível em um futuro incerto. Como os EUA não podiamatingir certos alvos subterrâneos, o documento recomendava que no-vas capacidades fossem desenvolvidas a fim de destruí-los. Alémdisso, sugeria a manutenção de ogivas em uma “força de resposta”,que poderia ser reposicionada em face de contingências potenciais.Tais ogivas também poderiam oferecer uma reserva a partir da qualas substituições seriam realizadasmais rapidamente (CENTERFORARMS CONTROL AND NON-PROLIFERATION, 2002; 2003).Essas decisões comprometiam a entrada do CTBT em vigor, o forta-lecimento doABMTedosSTARTs, a reduçãode sistemas não estra-tégicos, a aplicação do princípio da irreversibilidade às medidas dedesarmamento e redução nucleares, a reafirmação do objetivo de de-sarmamento completo sob controle internacional efetivo e o desen-volvimento de capacidades de verificação dos acordos sobre desar-mamento nuclear, pontos estabelecidos no plano de ação de 2000.

Para lidar com novos desafios, a NPR recomendava um novo plane-jamento estratégico das forças norte-americanas, que deixaria paratrás uma perspectiva baseada em uma ameaça específica (thre-

at-based approach), como a URSS fora durante a Guerra Fria, e ca-minharia rumo ao desenvolvimento e ao desdobramento de capaci-dades para lidar com ameaças imediatas, imprevistas ou potenciais(capabilities-based approach). Livre das limitações e dos excessi-vos custos políticos de novos acordos complexos, minuciosos e pre-cisos com a Rússia – que, por exemplo, impusessem um grande nú-mero de restrições à manutenção, à operação e à modernização desuas forças ofensivas estratégicas (SOKOV,2002; 2003) –,Bushpo-deria ajustar forças nucleares sem ser acusado de estar rompendoacordos estabelecidos. Alcançando entendimento com os membros

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do Executivo russo em relação ao ABMT e às “reduções unilateraiscooperativas”, acreditava que os EUA e a Rússia poderiam levar oprocesso de reduções ofensivas estratégicas além do que estava de-terminado na plataforma do START.Ademais, a construção e o des-dobramento de sistemas defensivos, embora imperfeitos em um pri-meiro momento, poderiam reduzir a atração de Estados-párias pormísseis balísticos.A defesa fortaleceria – e não substituiria – a dissu-asão nuclear. Eliminando o peso de acordos e de negociações contra-producentes na sua visão, Rumsfeld e Rice acreditavam que os EUAse encontravam em uma situaçãomais favorável à construção de umnovo paradigma estratégico, que preservaria sua segurança e permi-tiria que as relações dos EUA e da Rússia fossem “além da GuerraFria”, mostrando aos membros do Executivo russo que as maioresameaças à segurança norte-americana não advinhammais da Rússiae realizando a preparação para combater novos perigos (CENTERFOR ARMS CONTROL AND NON-PROLIFERATION, 2002;2003; CIRINCIONE; WOLFSTHAL, 2001).

Reitero minha posição de que a postura estratégica confirmada naNPR fortalece o papel das armas nucleares na política de segurançanorte-americana, alémde evidenciar a imprecisão sobre uma série dearmas que tal administração poderia – e pretendia – desdobrar e de-senvolver e sobre as ameaças que deveriam ser enfrentadas – impre-cisão essa que poderia justificar a manutenção de muito mais armasnucleares pela necessidade de preservação da sua segurança. Alémde sugerir queosEUApoderiamser os primeiros a utilizar armas atô-micas em contingências que envolvessemmembros do TNP, a revi-são explicitava o apoio da administraçãoBush à exploração de novasarmas nucleares aindamais potentes e de defesas antimísseis confiá-veis, comprovandominhaposiçãodeque tal administraçãonão reve-la umreal comprometimento comodesarmamentonuclear efetivo.

Nos EUA, a nova postura estratégica e a posição negociadora inicialsobre temas relacionados a desarmamento nuclear já apontavam

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para o desrespeito e o abandono de pontos do plano de ação de 2000,e o mesmo vinha acontecendo na Rússia. Ao assumir a Presidênciada República, Putin concentrou ainda mais poder no Executivo àscustas das lideranças regionais e, superando a desorganização insti-tucional da presidência de Boris Yeltsin, “limpou” o Executivo du-rante seu primeiro mandato, colocando seus indicados políticos nosprincipais cargos e fortalecendo o controle doKremlin sobre a políti-ca russa (BREMMER;CHARAP, 2006-2007, p. 84). Nesse sentido,embora as preferências, valores e disposições de Putin sejam o prin-cipal indicativo dos rumos da política externa e de segurança russa,sua administração herdou nos seus primeiros anos uma série de dis-cussões burocráticas que se desenvolviam desde o fim da década de1990 acerca do papel das armas nucleares na política de segurançanacional. As reformas militares posteriores ao fim da Guerra Friaeram o principal tema no debate entre os sergeyevistas – aliados doex-comandante-chefe das Forças de Mísseis Estratégicos e ministrodaDefesaMarshal IgorSergeyev, quedefendiamumpapel relevantepara os sistemas nucleares estratégicos – e os kvashnistas – aliadosdo ex-chefe do Estado-maior geral e vice de Sergeyev, AnatolyKvashnin, que desejavam um maior destaque às forças convencio-nais para lidar com conflitos regionais específicos, como a guerra naChechênia. Na administração de Yeltsin, Sergeyev conseguiu aaprovação doConselho de Segurança para a criação de umaForça deDissuasão Estratégica, que combinaria as capacidades nucleares es-tratégicas na força demísseis comas daMarinha e da ForçaAérea naforma de um comando estratégico integrado. Já durante a adminis-tração Putin, Kvashnin sugeriu que a força demísseis fosse reduzidaa um serviço separado e absorta na Força Aérea, decisão à qual Ser-geyev se opôs. Reconhecendo a urgência das questões regionais, Pu-tin pareceu definir a situação em favor deKvashnin, demitindo gene-rais ligados a Sergeyev, subordinando a Força de Mísseis Estratégi-cos à Força Aérea e colocando mais ênfase na ampliação do arsenalconvencional (GOTTEMOELLER, 2004).

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Embora a vitória de Kvashnin parecesse definitiva e a “desnucleari-zação” da política militar apontasse para o fim decisivo damanuten-ção da paridade nuclear com os EUA e sua substituição por uma for-ça nuclear mínima, uma série de preocupações começou a apontarpara o reforço do papel das armas nucleares na política de segurança.Naperiferia dopaís, a proliferação deWMDpoderia ameaçar o equi-líbrio regional, enquanto, nos EUA, pesquisas acerca da defesa anti-mísseis vinham sendo desenvolvidas. Bush enfatizava que a defesaantimísseis não era destinada a deter o arsenal ofensivo russo, mas aameaça advinda de Estados-párias. Contudo, os russos destacaramque o programa de pesquisa e de desenvolvimento da administraçãoBush apontavapara sistemas antimísseismais ambiciosos, quepode-riam ameaçar capacidades ofensivas estratégicas russas em um futu-ro incerto. Tal ameaça indicava que o START II – que ainda não ha-via entrado emvigor – poderia ser definitivamente abandonado a fimde preservar a flexibilidade russa para conter essas defesas. Em vezde aposentar seus mísseis estratégicos, Putin decidiu que eles conti-nuariam a ser desdobrados por mais uma década. Além disso, tam-bém preocupavam os russos as pesquisas nos EUA sobre sistemasatômicos para teatros de operações e a modificação de armas nucle-ares para a destruição de bunkers (GOTTEMOELLER, 2001; 2004;KUCIA, 2003c). Diante do novo contexto estratégico, membros daadministração Putin começavam a falar sobre a necessidade de mo-dernização estratégica, buscando formas demanter uma força nucle-ar estratégicamodernizada e promovermelhorias nas forças conven-cionais em face das dificuldades econômicas. Nesse sentido, Putin emembros de sua equipe viam a necessidade de superar obstáculospolíticos e jurídicos à sua flexibilidade estratégica e, assim, fortale-cer a autonomia no planejamento militar.

Tais preocupações sematerializaramno relatório de outubro de 2003emitido pelo Ministério da Defesa sobre a modernização das forçasestratégicas, que prometia um arsenal renovado de armas nucleares

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baseadas na terra para os trinta anos seguintes e alertava que a doutri-na militar russa poderia ser revista se os EUA continuassem apoian-do a condução de ações militares preemptivas e estimulassem o de-senvolvimento de novas armas nucleares. Respeitando os limites es-tabelecidos pelos acordos de controle e redução de armas assinadospela Rússia, Putin afirmou na ocasião que substituiria as armas maisantigas pelos mísseis SS-19 armazenados, o que daria à Rússia tem-po suficiente para desenvolver “novas armas para o século XXI”. Oentãoministro daDefesaSergei Ivanovdestacouquenotava “tentati-vas de transformar as armas nucleares de instrumentos de dissuasãoem armas para teatro de operações” (KUCIA, 2003c), em alusão aosesforços de pesquisa norte-americanos para armas nucleares de bai-xa potência. Além disso, Ivanov ressaltava a preocupação com o pa-pel nuclear da OTAN, que poderia culminar na reconstrução radicaldo planejamento militar russo. Tais receios eram alimentados emface da expansão da organização, que pretendia incluir países doLeste Europeu, e do seu auxílio às operações de manutenção da paznoAfeganistão,mantendo sua presençamilitar próxima às fronteirasrussas. Os membros da administração Putin temiam que, com a ade-são das repúblicas bálticas à OTAN, armas nucleares pudessem sercolocadas nos territórios desses países. O vice-chefe do Esta-do-Maior Geral das Forças Armadas Yuri Baluyevsky enfatizava acerteza da Rússia com relação à “orientação anti-russa da OTAN” eaos planos da organização para reduzir as limitações ao uso de armasnucleares (KUCIA, 2003c).

Com relação às ações russas em relação ao plano de ação de 2000,minha posição é a de que, embora membros da administração Putinbuscassem demonstrar que procuravam eliminar os resquícios daGuerra Fria na sua interação com os norte-americanos, muitos viamuma licença para a renovação de uma posição cautelosa em relaçãoaos EUAque ainda exigia a preservação de sistemas nucleares para agarantia da segurança. Creio que o fato de os russos se precaverem

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contra possíveis ameaças futuras não necessariamente pressupõe oretorno ao padrão de relacionamento competitivo que existira entreos EUA e a URSS durante a Guerra Fria. Todavia, em ummomentoem que os russos reforçavam sua confiança nos sistemas atômicos edesprezavam inúmeros pontos estabelecidos no plano de ação de2000, ainda conservavam barreiras na definição de um relaciona-mentomais estável com os EUA, já que se tornava cada vezmais di-fícil estipular e prever os níveis de forças nucleares daRússia no casode reversão da relação cooperativa com os norte-americanos. Ameuver, a postura nuclear russa pode até dar sinal verde para as priorida-des nacionais definidas por Putin e sua equipe, mas, além de repre-sentar um evidente obstáculo no caminho de um efetivo desarma-mento nuclear, oferece estímulos para a proliferação e a dissemina-ção de mercados negros de armas atômicas. Estados que se sintamameaçados pelo poder da Rússia poderão buscar sistemas mais po-tentes para conter as forças desse país, e armas nucleares armazena-das em instalações russas com vigilância precária desde o fim daGuerraFria podemser vendidas ou roubadas por atores não estatais.

Cumpre finalmente destacar que, desde o debate entre sergeyevistase kvashinistas em torno da relação entre forças nucleares estratégicase convencionais, não se discutia o papel das armas nucleares não es-tratégicas.Oconsenso entre os principaismembros da administraçãoPutin de que tal ponto não deveria ser alvo de discussão foramotiva-do pela crença na utilidade desses sistemas para compensar as aindaevidentes fraquezas do arsenal convencional russo no enfrentamentode novas ameaças, tangenciando os compromissos de redução do pa-pel das armas nucleares nas políticas de segurança. Na doutrinamili-tar anunciada em2000, a principal inovação era a sugestão de que ar-mas nucleares não estratégicas poderiam ser usadas de forma limita-da a fimde conter ataques convencionais, semdar início ao escalona-mento de um uso generalizado de armas nucleares. O novo conceito,na verdade, renovava a missão das forças nucleares de contenção de

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qualquer ataque – nuclear, químico, biológico ou convencional –contra o território russo. A noção de que uma “resposta nuclear limi-tada” poderia ser aplicada para conter o escalonamento de umconfli-to foi uma mudança com relação à doutrina da era soviética, que en-fatizava a inevitabilidadedo rápido escalonamento como formade seconter a posição norte-americana. A incorporação dessa idéia na po-lítica nuclear russa apontava que agora era aRússia quemdeveria co-gitar a possibilidade do uso limitado de armas nucleares para com-pensar sua fraqueza contra um determinado agressor regional(GOTTEMOELLER, 2001; 2004).

O Papel das Escolhas

Políticas e das Instituições

nas Decisões

Norte-americanas e Russas

Enquanto buscava explicitar a necessidade estratégica de defesa dopaís e seus aliados contra Estados-párias e grupos terroristas no âm-bito internacional, Bush procurava simultaneamente consolidar, naarena doméstica, o apoio dos congressistas, particularmente dos se-nadores, à nova visão estratégica. Os senadores, de acordo com asinstituições domésticas norte-americanas, participamdoprocesso decontrole de armas ao aprovar ouvetar tratados, adicionar declaraçõesunilaterais e reservas que modificam o efeito legal dos atos interna-cionais para os EUA, aprovar o orçamentomilitar da nação e legislarsobre mudanças na organização dos departamentos do Executivo esuas autoridades estatutárias (BARTON; WEILER, 1976, p. 158;SIMS, 2002, p. 68-69). O apoio republicano era fortalecido ao apon-tar a urgência de uma estrutura estratégica capaz de lidar com novasameaças.23 Contudo, grande parte dos congressistas democratas –muitos informados por especialistas e líderes de organizações e cen-tros de pesquisa nacionais e internacionais, como a Arms ControlAssociation e o Carnegie Endowment for International Peace – não

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apenas questionou a urgência e a gravidade da ameaça demísseis ba-lísticos e a exeqüibilidade de uma defesa antimísseis confiável, masapontou que a iniciativa de Bush de reduzir somente o número deogivas nucleares estratégicas operacionalmente desdobradas desres-peitaria compromissos de irreversibilidade das reduções, alémde ig-norar ogivas nucleares não estratégicas e estimular uma nova corridaarmamentista envolvendo a Rússia e a China24 (BOESE, 2001e;BUSH…, 2001).

A denúncia do ABMT pelos EUA não apenas foi apoiada pelos con-gressistas republicanos,membros dasForçasArmadas e setores con-servadores da opinião pública, comomuitos desses indivíduos e gru-pos estimularamopresidente a fazê-lo. Por exemplo, nove senadoresrepublicanos – Trent Lott, Jesse Helms, Jon Kyl, Don Nickles, Ro-bert Smith, LarryCraig, James Inhofe, Richard Shelby eRick Santo-rum – enviaram uma carta a Bush encorajando o presidente a denun-ciar oABMT. Eles defendiam que não seria “plausível” alcançar umentendimento com a Rússia para o teste “completo” da defesa anti-mísseis e que, aomesmo tempo,mantivesse o tratado intacto. Tentaroferecer aoABMT “flexibilidade” daria “vida contínua a um acordoobsoleto”, “o obstáculo mais significativo a melhores relações entreos EUA e a Rússia” (BOESE, 2001e), segundo os senadores. Já de-mocratas comoos senadores JosephBiden eCarlLevindisseramquelevar adiante o plano da defesa antimísseis poderia dar início a novascorridas armamentistas. Isso geraria, segundo Levin, um “ciclo deação-reação em termos de tecnologias ofensivas e defensivas”(US…, 2001). Para eles, a defesa antimísseis viria às custas do com-bate a ameaçasmais prováveis. Críticos em organizações não gover-namentais (ONGs) e centros de pesquisa também indicavam que adenúncia doABMTnão era necessária nemprudente, tendo emvistao status pouco avançado do programa de tal defesa e a possibilidadeexpressa por membros do Executivo russo de modificar o tratado afim de permitir testes (BOESE, 2002a; CIRINCIONE et al., 2002;

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US…, 2001). Bush procurou minimizar as críticas destinando aindamais verbas para a luta contra o terrorismo e ampliando a cooperaçãointernacional no combate a tal ameaça, considerada um dos princi-pais desafios à América pelos democratas. Como resultado, após osatentados de 11 de setembro, os senadores do partido optaram pornão cortar US$ 1,3 bilhão destinado à defesa antimísseis, permitindoque o presidente também os utilizasse na guerra contra o terror(BOESE, 2001d).

Minha posição é a de que, com isso, Bush procurava conciliar aspressões domésticas e ampliar o seu poder de barganha no âmbito in-ternacional, demonstrando que os planos de desenvolvimento da de-fesa antimísseis eram apoiados por amplos setores políticos nor-te-americanos, mas estavam voltados para a proteção dos EUA e deseus aliados contra as ameaças de Estados-párias, não a Rússia.Além disso, buscava nas negociações persuadir os russos acerca daimportância da autonomia para a realização das reduções e a compo-sição das forças ofensivas estratégicas. Bush percebeu que sua agen-da de segurança, incluindo a denúncia do ABMT, poderia ser postaem prática mais facilmente com uma relação mais cooperativa comosmembros doExecutivo russo. Justificandomeupontodevista, ob-servam-se concessões feitas pelos representantes de cada lado emáreas distintas – porém interligadas – do seu interesse durante a bar-ganha internacional: Bush concordou em negociar reduções ofensi-vas estratégicas de formamais densa, não descartando a possibilida-de de assinatura de um novo acordo legalmente vinculante que nãoimpusesse inúmeras restrições à articulação de seus sistemas, emface do consentimento – sem, contudo, ter havido efetivo apoio – dePutin à denúncia do ABMT (GOLDGEIER; MCFAUL, 2002). Osnorte-americanos conquistavam a liberdade para desdobrar a defesaantimísseis, e os russos viam a possibilidade de que os nor-te-americanos confirmassem, talvez em um acordo juridicamentevinculante, a intenção de realizar reduções ofensivas estratégicas a

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um nível que Putin e sua equipe fossem economicamente capazes desustentar. Confirmando-se a ligação entre áreas temáticas na negoci-ação externa (PUTNAM, 1988, p. 446), os norte-americanos tam-bém ampliariam a cooperação político-econômica com a Rússia,como explícito na Declaração Conjunta sobre a Nova Relação dosEUA e da Rússia de novembro de 200125 (GOTTEMOELLER,2001; GOLDGEIER; MCFAUL, 2002; HOLUM, 2002).

Putin considerou a decisão de Bush de denunciar o ABMT “equivo-cada”, mas declarou que ela não ameaçava a Rússia nem colocavaem risco o futuro das relações dos EUAe daRússia (BOESE, 2002a;WOOLF, 2002). O presidente russo, que havia recusado insistentespropostas norte-americanas para denúncia conjunta do tratado, ga-rantiu que a decisão não ameaçava a Rússia, pois o país tinha armascapazes de vencer defesas antimísseis. Putin deixou claro que a Rús-sia consideraria o START II como definitivamente morto quando adenúncia do ABMT fosse efetivada. Segundo Putin, a Rússia adqui-riria o direito aos veículos de reentradamúltiplos independentemen-te direcionáveis (em inglês, multiple independently targetable re-entry vehicle (MIRV))26 assim que oABMT e todas as restrições as-sociadas tivessem sido abolidos. O presidente russo descreveu a ló-gica por trás dadecisãonorte-americana como“não-convincente”, jáque nem os terroristas nem os Estados-párias “têm ou possivelmenteteriam mísseis balísticos estratégicos”. Porém, afirmou que a deci-são norte-americana não minaria as relações russas com os EUA oucomoOcidente e enfatizou a importância da construção de umamai-or interação entre aRússia e aOTAN(BOESE, 2002a;US…,2001).

O consentimento à denúncia do ABMT pelos EUA e o abandono doSTART II – uma atitude mais simbólica do que substantiva, já que otratado nunca entrou em vigor e provavelmente não entraria, tendoemvista que aRússia ligara seu destino ao doABMTdois anos antes– revelam, ameuver, a tentativa dePutin demediar pressões tanto in-ternacionais como domésticas. Ao deixar de lado o START II, o pre-

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sidente abandonava definitivamente os obstáculos que seriam colo-cados pelo tratado à manutenção dos ICBMs com múltiplas ogivas,umdos pilares da postura estratégica russa (WOOLF, 2002). Tais ar-mas são ainda consideradas necessárias para a garantia da segurançanacional, em um momento em que as forças convencionais se mos-tram cada vez mais obsoletas para lidar com desafios relacionados àproliferação de WMDs presentes na periferia do país(GOTTEMOELLER, 2004). Além disso, equipar seus mísseis commúltiplas ogivas poderia se tornar necessário se os mais antigos nãoperdurassemo tempo planejado, e ICBMsMIRVados eram conside-radosmais adequados para a penetração de áreas protegidas com de-fesas antimísseis, necessários no caso de reversão da nova relaçãocom os EUA (PIKAYEV, 2002; SOKOV, 2002; 2003). Reforçandoa ênfase nesses sistemas no planejamentomilitar do país, o presiden-te tambémgarantia aosmembros daDuma e doConselho da Federa-ção – dotados pelas instituições domésticas russas de poderes de rati-ficação e veto sobre questões de política externa e segurança nacio-nal – e aos setoresmais conservadores dasForçasArmadas – temero-sos comrelação aodesenvolvimentodas pesquisas sobre a defesa an-timísseis e novos sistemas de armas nos EUA e ao alargamento daOTAN – que as contramedidas russas estavam em pleno funciona-mento. Tendo isso em vista, minha posição é a de que Putin atendiaaos interesses de grupos políticos domésticos fundamentais ao seugoverno, reforçava o status da Rússia como poder nuclear em fórunspolíticos globais e garantia a permanência de instrumentos necessá-rios à defesa do país contra o terrorismo, Estadosmenores possuido-res deWMDegrandes potências comoosEUA.Porém, sabendo queuma reação mais inflexível à denuncia do ABMT poderia criar im-passes no diálogo político geral no âmbito internacional com osEUA, Putin revelou a insatisfação com a decisão norte-americana,mas, como já estava efetivada, apenas afirmou que cabia aos dois la-dosminimizar as conseqüências adversas, evitando o acirramento detensões com as lideranças da superpotência.

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Quanto às reduções ofensivas estratégicas, o SORT sintetiza, em ter-

mos de conteúdo, a maior parte das propostas de Bush; quanto à for-

ma, ele reflete o desejo de Putin e dos senadores norte-americanos

por um acordo formal e legalmente vinculante (WOOLF, 2002). Os

win-sets (PUTNAM, 1988, p. 435-441) norte-americanos e russos

sobrepunham-se namedida emque ambosdesejavama realizaçãode

reduções ofensivas estratégicas, mas havia divergências claras. Nas

conversações com os norte-americanos, os russos buscavam um

acordo legalmente vinculante e que estipulasse reduções reais, irre-

versíveis e significativas a 1.500 ogivas nucleares estratégicas ou até

menos, provesse previsibilidade e transparência e estipulasse regras

de contagem e procedimentos densos para verificação. Especial-

mente com respeito a armas nucleares estratégicas, os russos prefe-

riam perspectivas com um graumais elevado de obrigação. A confi-

ança excessiva que tinham em armas nucleares a fim de compensar

fraquezas no arsenal convencional tornavamenos provável que líde-

res políticos aceitassem medidas tácitas ou que não fossem legal-

mente vinculantes. Para especialistas, a confiabilidade declinante

dos meios técnicos nacionais de verificação fazia com que os russos

preferissem provisõesmais formais sobre inspeções locais e troca de

informação (KARTCHNER; PITMAN, 2002). Putin desejava pro-

visões robustas, que refletissem o equilíbrio entre reduções ofensi-

vas estratégicas e limites sobre defesas antimísseis potencialmente

desestabilizadoras (INTERNATIONAL..., 2003). Nas negociações,

os russos conseguiramconquistar apenas o acordo legalmente vincu-

lante, o que, para eles, já foi um grande sucesso. O tratado garantia

que o compromisso norte-americano de redução de ogivas continua-

ria a existir mesmo após o fim da administração Bush. Ademais, ob-

ter a assinatura de Bush para o tratado foi vital para Putin, um líder

pragmático que sabia que um acordo mais formal sobre reduções

ofensivas poderia ajudá-lo a lidar com críticos internos de políticas

classificadas por alguns como “pró-ocidentais” (WOOLF, 2002).

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Ele e os demais membros do Executivo russo foram para a mesa denegociação sem uma grande alavanca. Previamente, a principal ala-vanca dos russos a fim de extrair números menores e outras conces-sões era a habilidade de bloquear emendas ao ABMT que permitiri-am o desenvolvimento de defesas antimísseis, mas essa carta evapo-rou com a denúncia do tratado (HOLUM, 2002; LODGAARD,2003; QUINTELLA, 2002). Cientes da grave crise sociopolítica eeconômica que atingiu seu país e da importância do apoio nor-te-americano para reverter tal situação,27 os russos fizeram inúmerasconcessões, tendo em vista que, se aceitassem o conteúdo propostopelos norte-americanos, estes não só se comprometeriam a realizarreduções a um nível que os russos eram economicamente capazes desustentar (HOLUM, 2002), como também ampliariam a cooperaçãopolítica, militar e econômica, iniciativa prevista na Declaração Con-junta sobre a Nova Relação Estratégica28 que complementou oSORT. Tal documento previa iniciativas importantes para os russos,que se mostravam cientes da relevância do apoio norte-americanopara a promoção da modernização socioeconômica do país e para aampliação da sua participação em fóruns políticos globais e regio-nais (KUCHINS, 2002).

Os russos não convenceram os norte-americanos a adotar regras decontagem do START I, a eliminar veículos de lançamento e ogivasexcedentes e a incluir no tratado umadeclaração de que a defesa anti-mísseis norte-americana não minaria a capacidade de dissuasão rus-sa. Embora se tivesse mostrado aberto às várias modalidades deacordo, Bush procurou evitar um legalmente vinculante no perfil da-queles da Guerra Fria. Não desejava quaisquer limites rígidos sobreveículos de lançamento, ogivas armazenadas e defesa antimísseis,29

apontando o objetivo de reduzir ogivas nucleares estratégicas opera-cionalmente desdobradas, disponíveis para uso imediato, a1.700-2.200, e afirmando que tal flexibilidade seria indesejável paraos russos apenas em um contexto de relações hostis entre os dois

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Estados (CENTER FOR ARMS CONTROL ANDNON-PROLIFERATION, 2002; 2003). Bush tentava, assim, rees-truturar o jogo e alterar visões dos russos sobre os benefícios dos en-tendimentos propostos (PUTNAM, 1988, p. 452-456). A iniciativadeBush de reduzir somente as ogivas nucleares estratégicas operaci-onalmente desdobradas apontava para o fato de que milhares delaspoderiam ser armazenadas. Com isso, ele estaria desrespeitandocompromissos previamente estabelecidos de irreversibilidade dasreduções e ignorando completamente o número crescente de ogivasnucleares não estratégicas (KIMBALL, 2001; KRISTENSEN,2001).

Bush aquiesceu aos desejos de Putin por um acordo juridicamentevinculante, pois, ao se manter firme nas suas posições e conduzir owin-setparamais próximode seu ponto ideal no que dizia respeito aoconteúdo do acordo (MILNER, 1997), garantiu que o tratado refleti-ria o objetivo de maximização da flexibilidade para definir o tama-nho e a estrutura de suas forças ofensivas estratégicas em resposta àsnovas ameaças. Além disso, lutando para tornarem-se os votantesmedianos, os senadores pressionaram para que se concluísse um tra-tado, que, de acordo comas instituições norte-americanas, precisariado consentimento de pelomenos dois terços dos senadores presentespara a ratificação e que poderia estar sujeito a emendas, limitando aautonomia do Executivo. Os senadores Biden eHelms pressionarammembros da administração Bush para que o eventual acordo fossetransmitidopara o conselho e consentimentodoSenadopara ratifica-ção como um tratado, demonstrando que tanto membros do PartidoDemocrata comodoRepublicanodefendiamasprerrogativas consti-tucionais do Senado e apoiavam o seu papel de oferecer conselho econsentimento para a ratificação dos tratados,30 além de buscaremter um papel mais substantivo nos processos que poderiam alterar odesdobramento das forças estratégicas. As preferências dos senado-res norte-americanos quanto à forma do acordo – independentemen-

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te de considerarmos como votantemediano um democrata ou um re-publicano – aproximavam-se claramente daquelas dos membros doExecutivo russo emumaspecto específico: tais indivíduos preferiamque o acordo fosse legalmente vinculante, com um grau elevado deobrigação (ABBOTT et al., 2000). Finalmente, a concessão nor-te-americana permitia fortalecer a habilidade de Putin de cooperarcom os EUA. Ao assinar o tratado, Bush recompensou Putin por suacooperação e permitiu a ele responder aos críticos com ummarco nocontrole e na redução de armas. Ao assinar o SORT, Putin admitiu aasserção da equipe deBush de que as questões sobre armas ofensivase defensivas não deveriam interferir de forma negativa na consolida-ção da nova relação estratégica dos EUA e daRússiamais abrangen-te (KUCHINS, 2002). Os críticos apontavam que a única concessãodos membros da administração Bush foi aceitar um acordo legal-mente vinculante, pois, em relação ao conteúdo, Putin aceitou o queosmembros do Executivo dos EUA tinham a oferecer, já que acredi-tava que o futuro da Rússia estava ligado ao Ocidente e não deixariaque umacordo sobre reduções ofensivas estratégicas se colocasse nocaminho (US-RUSSIA…, 2002).

Apesar de terem cedido aos desejos de Putin e dos senadores demo-cratas e republicanos por um acordo formal legalmente vinculante,Bush garantiu que o conteúdo do SORT – tratado pouco preciso, de-talhado e completo, com provisões bastante maleáveis – refletiriaseu objetivo de maximizar a flexibilidade na estruturação de forças,também compartilhado pelos membros do Partido Republicano noSenado. Na arena doméstica norte-americana, Bush e membros dasua equipe anteciparam adequadamente as reações dos senadores àspropostas negociadas internacionalmente.31 Em um momento emque os russos aceitaram o conteúdo sugerido por Bush para as redu-ções ofensivas estratégicas, os senadores dos EUA apenas inseriramalguns elementosmodestos na resolução de ratificação e nãomodifi-caramsubstancialmente oSORT: as condições e as declarações inse-

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ridas permitiam pelo menos encorajar a prestação de contas e a con-sulta do presidente norte-americano aos senadores. Assim, evitavamcorrer o risco de que mudanças amplas não fossem aceitas por Bushnem pelo Executivo e pelo Parlamento russos e assim pudessemcomprometer o tratado e a coordenação crescente entre as partes. Osrepublicanos e alguns democratas ofereceram consentimento para aratificação do tratado porque acreditavam que ele permitia maximi-zar a flexibilidade estratégica para atender às contingências imedia-tas, imprevistas ou potenciais. Embora criticasse a possibilidade deretenção de várias ogivas nucleares estratégicas na “força de respos-ta”, a falta de procedimentos para eliminação de ogivas, a inexistên-cia de um cronograma para as reduções e a ausência de provisõespróprias para verificação (BOESE, 2002b), a maior parte dos demo-cratas ofereceu consentimento para a ratificação do SORT porquevia queo tratado apenas oferecia umaplataforma inicial para acordosmais substantivos (DAVIS, 2002; KUCIA, 2003a; 2003b). OComi-tê de Relações Exteriores não recomendou emendas ao tratado, e,após dois dias de debate nos quais alguns democratas tentaram utili-zar seu poder de emenda à resolução de ratificação e as emendas fo-ram retiradas ou rejeitadas, a resolução de conselho e consentimentopara a ratificação do tratado foi aprovada unanimemente em marçode 2003.

NoLegislativo russo, o processo foimais intricado.OComitê deDe-fesa da câmara baixa do Parlamento russo rejeitou o documento deratificação submetido por Putin, afirmando que não havia procedi-mentos amplos para verificação. Em fevereiro de 2003, a Duma en-viou o documento de volta ao presidente com condições. Ela estipu-lou que o desdobramento de uma defesa antimísseis pelos EUA, queameaçasse a capacidade de dissuasão russa, poderia levar à denúnciado tratado. A Duma também requereu: 1) verbas adicionais para ga-rantir que as forças nucleares estratégicas fossemmantidas emníveiscompatíveis com as necessidades de segurança nacional; 2) um rela-

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tório do presidente sobre o desdobramento de tais forças; e 3) a parti-cipação parlamentar em planos de desenvolvimento, modernizaçãoe desmantelamento de armas (KUCIA, 2003a). Em março de 2003,uma semana antes do início da Operação “Liberdade para o Iraque”,o Comitê de Defesa da Duma recomendou a aceitação do tratado atéo fim do mês. Porém, pouco depois, em face da então iminente açãonorte-americana no Iraque, o Conselho da câmara baixa do Parla-mento russo, responsável pela agenda legislativa, decidiu adiar a vo-tação do SORT, pelo menos até que a situação no Iraque se normali-zasse. Emmaio, aDuma retomou a questão e, emumdebate acalora-do, votou a favor de uma lei federal sobre a ratificação do SORT. Elaidentifica dois cenários possíveis em que a Rússia deveria denunciaro tratado: a ampliação significativa das forças ofensivas estratégicasde alguma nação ou grupo de nações e o desdobramento, por outroEstado ou grupo de Estados, de um sistema de defesa antimísseis ca-paz de reduzir significativamente a eficiência do arsenal nuclear rus-so (FEDERAÇÃO RUSSA. Ministério das Relações Exteriores,2003; DUMA…, 2003;MOSCOW..., 2003; INTERNATIONAL...,2003).

Pouco antes da votação, aDumaouviuPutin, que afirmouque as pro-visões do tratado permitiriam aos russos manter suas forças estraté-gicas em um nível adequado, de acordo com as capacidades econô-micas do país e com a dinâmica da política e das atividades militaresno mundo contemporâneo. Após a votação, os comunistas mostra-ram-se desapontados, prevendo um “declínio catastrófico da segu-rança russa” e afirmando que o tratado era “um presente para Bush”.A câmara alta do Parlamento russo, isto é, o Conselho da Federação,aprovou oSORTemmaio de 2003, por 145 votos a 5. Segundoopre-sidente do Comitê de Relações Exteriores do Conselho, MikhailMargelov, a entrada do tratado em vigor cobriria um “vácuo legal naesfera da estabilidade estratégica”, criado pela denúncia doABMTepelo colapso do START II. Como analistas previam, nem a Duma

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nem o Conselho da Federação desafiaram Putin – que tinha apoiobemmaior dessas instituições queYeltsin – ao ameaçar a rejeição dotratado. Embora as lideranças do PartidoComunista tivessem classi-ficado o SORT como “uma traição aos interesses russos”, a maiorparte dos membros das duas câmaras congratulou Putin por ter con-vencidoBush a assinar um acordo legalmente vinculante (PODVIG,2002; POWELL; IVANOV, 2003; WOOLF, 2002).

Os norte-americanos não tinhammuito interesse emumdiálogoden-so sobre tais armas pós-SORT, pois já tinham conquistado aquiloque desejavam deMoscou, de forma que não havia sentido em fazermais concessões.Ademais, os russos não estavamprontos para colo-car novas cartas diplomáticas, como as armas não estratégicas, emumamesa de negociação, já que seus estabelecimentos político emi-litar não tinham desenvolvido uma doutrina coerente definindomis-sões específicas e cenários para o uso desses sistemas (PIKAYEV,2002; SOKOV, 2002; 2003). Ademais, militares russos declararamque quaisquer reduções abaixo dos níveis do SORT requereriam aparticipação de outros Estados que tivessem armas nucleares. Redu-ções ainda mais amplas poderiam deixar a Rússia em uma situaçãoem que seus líderes nãomais semantivessem tão indiferentes aos ar-senais doReinoUnido, da França e daChina (SOKOV, 2003).Os re-presentantes de cada país provavelmente se limitariammais ao “mí-nimo denominador comum”, o que, do meu ponto de vista, poderianão trazer qualquer progresso efetivo quanto ao desarmamento nu-clear. Putin não desejava que um acordo sobre reduções ofensivasestratégicas atrapalhasse o curso da coordenação políti-co-econômica comosEUA.Bush, por sua vez, não queria que se im-pusessem limitações à sua liberdade de ação para combater novasameaças, dando a entender que a política nuclear norte-americanapara a Rússia parecia muito mais o resultado de decisões tomadas afim de enfrentar novos problemas – como os Estados-párias e as or-ganizações terroristas – do que a própria Rússia. Porém, penso que a

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previsibilidade com relação aos níveis das armas nucleares mais po-derosas no arsenal de ambos os países era excessivamente limitadacomumacordo tão flexível, podendo, assim, acarretar riscos no casode uma mudança dos rumos da cooperação entre essas potências.

As lideranças norte-americanas negligenciaram ou abandonaram oscompromissos sobre desarmamento nuclear assumidos no plano deação de 2000 com o objetivo demanter abertas suas opções não ape-nas de desdobramento de armas nucleares,mas tambémde pesquisa,produção e teste dessas armas. Apesar de reforçar que não tem o ob-jetivo de retomar os testes nucleares, Bush recusou-se a submeter oCTBT para a reconsideração do Senado, além de buscar a melhoriadas condições preparatórias de testes (YOST, 2005, p. 97). Enquantoos democratas e líderes de ONGs ressaltavam que a preservação dainfra-estrutura de testes ampliava a possibilidade de acidente nucleare poderia ser usada por outros Estados para justificar a aquisição e amodernização de capacidades nucleares, membros do Pentágono –determinados a obter autorização para pesquisa sobre perfuradoresnucleares, o que envolveria testes para modificação de bombas – eparte dos congressistas republicanos defendiam a prontidão para arealização de testes em face da possível necessidade de se fabricaremnovosdesignsdeogivas de baixa potência e de sanar deficiências nossistemas existentes em resposta às novas ameaças enfrentadas pelosEUA. Bush buscava persuadir os críticos de que havia a necessidadede convencer Estados-párias e organizações terroristas de que osEUAusariamsuas armas nucleares se houvesse necessidade; na faltade armas nucleares menores ou modificadas, os inimigos poderiamalimentar a dúvida sobre a disposição dos formuladores de decisãonorte-americanos de conduzirem um ataque nuclear. Assim, segun-do Bush e representantes dos Departamentos de Estado e de Defesa,os esforços de modernização nuclear poderiam fortalecer a dissua-são ao alterar a percepção do adversário acerca daquilo que os EUAfariam ou estariam preparados para fazer em uma crise.

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Tendo o poder de aprovar o orçamento da nação, o Congresso nor-te-americano – controlado pelos republicanos nessa época – cortou,em 2004, fundos para a exploração de tipos novos e modificados dearmas nucleares peloDepartamento deEnergia, destinandoparte dasverbas para ampliar a confiabilidade das ogivas existentes.Alémdis-so, limitou verbas destinadas à construção de uma instalação para aprodução de núcleos de armas nucleares e programas voltados para aredução do tempo necessário à preparação de um teste nuclear. Naverdade, os congressistas do Partido Republicano mostravam-se di-vididos quanto ao tema. O senador JohnWarner, líder do Comitê deForças Armadas do Senado, destacava que tanto o perfurador nucle-ar como os programas de substituição de ogivas eram “essenciais,prudentes e necessários”. Já o representante David Hobson, líder doSubcomitê de Apropriações, Energia, Recursos Hídricos e Desen-volvimento na Câmara dos Representantes, liderou o Congresso noveto ao pedido deUS$ 27,6milhões de dólares para o perfurador nu-clear, sob a justificativa de que o programa não era “cientificamentepossível” (BOESE, 2004a; 2005b). Pouco tempo depois, o Congres-so reduziu a contribuição norte-americana à organização do CTBT,que compõe quase um quarto do orçamento dessa instituição. A en-tão secretária de Estado Condoleezza Rice justificou os cortes pelasrestrições fiscais e não pela oposição norte-americana à missão daorganização (KIMBALL, 2005b).

Nas negociações no âmbito internacional, o diretor-geral da AIEA,Mohamed ElBaradei, e lideranças de Estados como Canadá e demembros daUnião Européia e doMovimentoNão-Alinhado critica-vam a noção de que eramoralmente repreensível que alguns Estadosbuscassem WMD, enquanto outros países continuavam confiandonesses sistemas para a garantia da segurança, refinando suas capaci-dades, postulandoplanos para o seuuso e, com isso,minando a credi-bilidade do regime de não-proliferação nuclear e podendo dar ori-gem a uma nova corrida armamentista. Embora buscasse reafirmar

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os laços de cooperação comosEUA,Putin alertava que, conformeosnorte-americanos ampliassemaqualidade de suas armas e seu poten-cialmilitar, aRússia precisaria garantir umanova geração de armas etecnologia (BOESE, 2005b). Apesar de Estados signatários doCTBT terem dado passos significativos rumo ao preenchimento dosrequisitos para a entrada do tratado emvigor e aComissãoPreparató-ria daOrganização doCTBT tenha avançado na definição de um sis-tema denso de verificação, pouco pôde ser feito para queBushmodi-ficasse sua posição com relação ao tratado, principalmente diante dointeresse do presidente em preservar a flexibilidade estratégica paralidar com os principais desafios à segurança norte-americana. Gran-de parte da comunidade internacional recebeu bem a moratória vo-luntária com relação aos testes, mas reiterava que isso não deveriafuncionar como um substituto da entrada de um tratado juridicamen-te vinculante em vigor (KIMBALL, 2005b).

Com relação à produção de material físsil, após a revisão interagên-cias de 2003 – que levou à rejeição norte-americana ao compromissode verificação do Mandato Shannon, adotado por consenso na Con-ferência sobre Desarmamento em 1995 estipulando negociações deum FMCT não discriminatório, multilateral e efetivamente verificá-vel –, uma série de impasses foi colocada pelos EUA nessa Confe-rência. Embora Bush reafirmasse o compromisso de negociar umtratado visando a proibição da produção de urânio altamente enri-quecido e plutônio para propósitos militares, sua nova postura con-trasta radicalmente com as propostas do presidente Bill Clinton depromoção de um acordo com mecanismos densos de inspeção: aocontrário deClinton,Bush apontava queo acordo exigiria um regimede verificação tão intrusivo que não era “realisticamente possível”.Tal posicionamento colocava osEUAe alguns de seus principais ali-ados emcamposopostos – tendo emvista queAustrália,Canadá e Ja-pão apoiavam oMandato Shannon –, inserindo ainda mais obstácu-los ao andamento das negociações no âmbito da Conferência e ques-

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tionando, inclusive, sua relevância como um corpo de negociação.Antes desse impasse, representantes de países como aChina e aRús-sia apoiavam negociações sobre desarmamento nuclear e prevençãoda corrida armamentista no espaço cósmico em paralelo às negocia-ções do FMCT – em parte em virtude da preocupação com o desen-volvimento da defesa antimísseis norte-americana, que poderia in-cluir sistemas baseados no espaço. Já os norte-americanos defendi-amque as negociações doFMCTdeveriam ter ummandato claro quenão estivesse ligado a “outras propostas não relacionadas”, nas pala-vras da embaixadora norte-americana na Conferência, Jackie W.Sanders (BOESE, 2004b; KIMBALL, 2004; PREEZ, 2005).

Amudança de posição norte-americana com relação à verificação noâmbito do FMCT reflete os interesses dos principais representantesda administraçãoBush em impedir o acesso de inspetores internacio-nais – comautoridadepolítica e legal para visitar locações suspeitas edetectar possíveis violações – a suas instalações envolvidas na gera-ção de combustível nuclear para reatores de propulsão naval. Comisso, Bush procurava atender aos interesses de grupos internos, maisespecificamente de membros do Departamento de Defesa e das For-ças Armadas que resistiam ao FMCT. Tais grupos tinham o objetivodeproteger informações relacionadas aos programasdaMarinhaquevisam gerar urânio altamente enriquecido para embarcações movi-das à energia nuclear. Mecanismos robustos de verificação destina-dos a ampliar a aquiescência a acordos internacionais de controle dearmas impõem limites à flexibilidade estratégica norte-americana.Alémdisso, um regime robusto deverificaçãoprolongaria as negoci-ações por anos, permitindo que países que produzem material físsilsem qualquer limitação continuassem a fazê-lo durante esse tempo.Enquanto procurava atender às demandas domésticas, Bush tambémbuscava conciliar interesses internacionais em áreas temáticas dis-tintas, porém relacionadas: a forte relação estratégica da administra-ção Bush com a Índia e o Paquistão – que, segundo suspeitas, produ-

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zem material físsil para fins militares – na luta contra o terrorismoconduz a uma mudança de seu pensamento com relação a um dosprincipais objetivos do FMCT – impedir uma corrida armamentistano Sul da Ásia. Tal mudança revela que, como a Índia e o Paquistãonão parecem desejar desistir de seus programas nucleares em um fu-turo próximo, o principal objetivo dos norte-americanos deixa de sero impedimento de aquisição de armas nucleares por tais países e pas-sa a ser a ampliação da cooperação comeles, visando impedir a proli-feração de tecnologia nuclear para Estados-párias e atores não-esta-tais (BOESE, 2004b; KIMBALL, 2004; PREEZ, 2005).

Considerações Finais

Muitos Estados não detentores de armas nucleares criticam as potên-cias atômicas – principalmente as duas maiores – por terem negli-genciado ou abandonado os compromissos sobre desarmamento as-sumidos na Conferência de Revisão do TNP em 2000. Alega-se que,se os objetivos de não-proliferação do Tratado devem ser sustenta-dos pormedidasmais rígidas de verificação e de enforcement, omes-mo deveria ocorrer com os objetivos de desarmamento (PREEZ,2005). O descaso revelado pelas grandes potências em relação aospontos do plano justifica em parte o fracasso da sétima ConferênciadeRevisão doTNPem2005, na qual os EUA fizeramuma ampla ex-posição de suas conquistas no campo da não-proliferação, mas se re-cusaram a autorizar que a agendamencionasse o consenso daConfe-rência de 2000 como base para a revisão e a avaliação do progressodo Tratado em 2005 (JOHNSON, 2005).

Confirmando-se a correção das hipóteses desta pesquisa, os mem-bros dos Executivos desses países – apoiados, na maioria dos casos,por grande parte dosmembros dos Legislativos e dos principais gru-pos de interesse envolvidos, como as Forças Armadas – procuraramgarantir autonomia para definir a estrutura e a composição de forçasestratégicas e táticas, modernizar arsenais atômicos e operar uma

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força capaz de lidar comcontingências que envolvamnão apenas po-tências nucleares tradicionais, mas principalmente novos Estadosdetentores de armas de destruição emmassa e organizações terroris-tas. Embora especialistas se refiram a tal busca por autonomia comouma “nova era de desarmamento nuclear” ou de “controle de armaspor outros meios” (LARSEN, 2005), a não-implementação total eefetiva do plano de ação de treze pontos práticos sobre desarmamen-to nuclear pode estimular o desenvolvimento de armas nucleares poroutrosEstados e reduzir a previsibilidade na relação estratégica entreas duas maiores potências atômicas.

Notas

1. No artigo VI do TNP, as partes – entre elas, as cinco potências detentorasdos maiores arsenais atômicos em âmbito mundial – comprometeram-se a ne-gociarmedidas efetivas relacionadas à eliminação da corrida armamentista e aodesarmamento nuclear, reduzindo os incentivos para a aquisição desses siste-mas.NaquintaConferência deRevisãodoTNPem1995–aprimeira após o fimdaGuerra Fria –, a reafirmação das obrigações de desarmamento pelos EstadosUnidos da América (EUA), Rússia, Reino Unido, França e China foi essencialpara que o Tratado fosse prorrogado por tempo indeterminado (KIMBALL,2005a; RAUF, 2001, p. 12).

2. O termo “desdobramento” – do inglês “deployment” – refere-se à coloca-ção de armas, pessoal ou equipamento em posição de prontidão para combate(JESUS, 2005, p. 183).

3. Bush alegava que o Tratado permitiria a retenção de estoques existentes dematerial físsil e a produção contínua para fins pacíficos; assim, os inspetores te-riamdificuldades emdeterminar o propósito domaterial produzido e em indicarse ele foi fabricado antes ou depois da entrada do tratado em vigor (BOESE,2005a).

4. Destaca-se o desenvolvimento de umaversãomóvel domíssil balísticoTo-pol-M e de um novomíssil balístico lançado de submarinos, o Bulava, a fim demodernizar suas forças de mísseis de longo alcance. O comandante-chefe daForça Aérea, Vladimir Mikhailov, anunciou em 2002 planos de modernização

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de caças que carregam armas nucleares, e a produção em pequena escala dobombardeiro Blackjack foi reiniciada em 2004 (NORRIS; KRISTENSEN,2004; 2005).

5. Parte dos especialistas (PAYNE, 2005; LARSEN, 2005) destacava que ainclusão do amplo espectro de capacidades militares na NPR permitia a preser-vação da segurança nacional enquanto o número de ogivas estratégicas fosse re-duzido e oferecia flexibilidade para lidar com um ambiente marcado pela im-previsibilidade de novos oponentes potenciais (ELLIS, 2003, p. 126-131). Po-rém, segundo críticos, é significativa a contradição entre a retórica nor-te-americana e suas ações: como grande parte das ogivas nucleares removidasnão seria destruída, o número total desses sistemas no arsenal ativo poderiamanter-se inalterado, enquanto forças convencionais e defesas ativas e passivascomplementavam–enão substituíam– tais sistemas.Documentos comoaNPRe aDiretiva Presidencial sobre SegurançaNacional 17 estariam apagando a dis-tinção operacional entre sistemas convencionais e nucleares, já que o objetivodos últimos não parecia mais ser a dissuasão pela ameaça de retaliação, mas adestruição de alvos nos campos de batalha (HUNTLEY, 2006, p. 50-53;KRISTENSEN, 2005). Ao caminharem rumo ao desdobramento de capacida-des para lidar com quaisquer ameaças, os EUA poderiam se aproveitar da faltade definiçãodeum inimigo específico paramanter umnúmerode armas nuclea-res maior que o necessário (HALPERIN et al., 2002; MENDELSOHN, 2002).Preservar a confiança nas armas nucleares também minaria esforços denão-proliferação ao sugerir a outros Estados que as armas nucleares são neces-sárias à sua segurança (BLEEK, 2002a; KIMBALL, 2005a; PREEZ, 2002).

6. Argumentos críticos à denúncia do ABMT pelos EUA apontavam queEstados-párias poderiam ter outrosmétodos de ataque que não podem ser conti-dos pela defesa antimísseis – comoarmas químicas e biológicas (CIRINCIONEet al., 2002) – eos custos dodesenvolvimentodesse sistemaeramelevados, ape-sar de tal sistema não ser tecnicamente capaz de interceptar de forma efetivamísseis balísticos (WOLFSTHAL et al., 2001). Se, no futuro, os EUA conse-guissem desenvolver um sistema antimísseis efetivo, a Rússia – livre dos com-promissos do START II – e a China poderiam desenvolver armas mais podero-sas que não pudessem ser interceptadas, no caso de reversão da cooperação comos EUA (FUERTH, 2001, p. 103-105; GLASER; FETTER, 2001, p. 43-44;NEWHOUSE, 2001, p. 97; SOKOV, 2001). Para outros autores (WALLER,2001; PAYNE, 2005), embora não pudesse conter todas as ameaças aos EUA, adefesa antimísseis garantiria a proteção contramísseis deEstados-párias, e a de-fesa menos custosa e mais avançada tecnologicamente não poderia ser desen-volvida dentro das limitações do ABMT, visto como “um resquício da GuerraFria”. Mesmo que Rússia e China não concordassem com a denúncia pelosEUA, era improvável a reversão da cooperação com esse país, porque precisa-

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vam da ajuda norte-americana no combate à proliferação e ao terrorismo, naampliação da participação em fóruns políticos e na promoção damodernizaçãosocioeconômica (LIEVEN, 2002, p. 256-257; RUMER; WALLANDER,2003-2004, p. 69-70).

7. O principal mérito do tratado, segundo especialistas (SMITH, 2004;MILLER et al., 2002), era a conclusão lógica da confrontação entre as superpo-tências da Guerra Fria: tais países não precisavam de novos acordos extensosque impusessem restrições robustas àmanutenção de arsenais. Arranjos menosprecisos – semmecanismos densos de verificação que limitassem a flexibilida-de estratégica – pareciamnecessários para acomodar a nova agenda de seguran-ça (LARSEN,2002, p. 10).Alguns estudiosos entendiamqueoSORT trazia umenfoque inovador nas ogivas em vez dos vetores (SOKOV, 2002) e que nem aRússia nem os EUA estariam dispostos a conduzir negociações longas e custo-sas de outro acordo como o START I (GOTTEMOELLER, 2002), mas critica-ram o otimismo acerca da “flexibilidade ilimitada” (O’HANLON, 2002;BUKHARIN; DOYLE, 2002). Embora o SORT simbolizasse uma reversão dounilateralismo da administração Bush para controle de armas, ele ignorava ga-nhos possíveis do START II (HOLUM, 2002). Os críticos mais severos viamque o armazenamento de ogivas excedentes criaria riscos, pois poderiam serroubadas, e que o SORT sequer mencionava reduções não estratégicas(WOOLF, 2002), sendo poucomais que um “acordo de cavalheiros”, que tinhamenos a ver com desarmamento efetivo do que com preservação da flexibilida-de (KIMBALL, 2002; DAALDER; LINDSAY, 2002). Após o tratado, era pro-vável que cada lado evitasse discussões sobre mais reduções, pois sabia que odebate sobre questões sensíveis poderia criar impasses no diálogo político geral(PIKAYEV, 2002; SOKOV, 2002; 2003).

8. Sokov (2002; 2003) destaca que setores militares pressionaram o Executi-vo a desenvolver novos sistemas, pois, além de os antigos sistemas estarem su-cateando-se, eram necessárias armas modernas para penetrar áreas protegidascom defesas antimísseis em caso de reversão da cooperação com os EUA. Se-gundo Gottemoeller (2004), Putin considerou a necessidade de lidar com orga-nizações terroristas e Estados-párias na sua periferia e a “expressão política deorgulho nacional” diante do eleitorado. Apesar de integrarem aspectos diversi-ficados, tais explicações desprezam reações internacionais à decisão de Putin erespostas oferecidas a tais desenvolvimentos. A principal negligência ocorrecom relação às condições sob as quais elementos como “orgulho nacional” po-dem influenciar a decisão política.

9. O primeiro termo refere-se a Marshal Igor Sergeyev, antigo comandan-te-chefe das Forças de Mísseis Estratégicos e ex-ministro da Defesa russo, quedefendia um forte papel das armas nucleares na política militar russa. O segun-

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do remete aAnatolyKvashnin, ex-chefe doEstado-maior geral e vice de Serge-yev, que desejava que o Kremlin colocasse mais ênfase no fortalecimento dasForças Armadas convencionais para lidar com conflitos regionais(GOTTEMOELLER, 2004).

10. De acordo com a conjectura de Schelling (apud PUTNAM, 1988, p. 440),as divisões internas em um país criam vantagens na barganha internacional: seum negociador se encontra em uma situação doméstica em que um grupo seopõe fortemente a certas concessões, ele pode evitar condescender nesta área egarantir ummelhor acordo internacionalmente. JáMilner (1997, p. 235) apontaque, quanto mais houver divisões internas, menos provável é a cooperação in-ternacional, pois o Executivo terá mais dificuldade de obter o consentimentopara ratificação e será forçado a negociar acordos que atendam às preferênciasde outros atores domésticos.

11. São levados em conta o custo do não-acordo – quantomenor tal custo,me-nor o win-set –, a existência de homogeneidade entre escolhas domésticas e apossibilidade de ligação sinérgica entre áreas temáticas noNível I, que pode al-terar resultados no II.

12. Incapacidade de cumprir uma promessa por não se obter consentimentopara ratificação.

13. Segundo Milner (1997, p. 15), há uma distinção entre interesses e prefe-rências dos atores. Os interesses representam seus objetivos fundamentais, quemudam pouco e não se distinguem entre atores políticos e econômicos; nessecaso, o interesse central é a maximização de ganhos. Já as preferências se refe-rem a escolhas políticas específicas visando tal maximização, podendo variarde ator para ator de acordo com sua posição política e sua afiliação partidária,por exemplo.

14. Aincerteza e a falta de conhecimento doLegislativo podem fazer comqueacordos benéficos sejam rejeitados. Porém, um Executivo que tenha informa-ção confidencial pode atingir resultados mais próximos às suas escolhas(MILNER, 1997, p. 20-22).

15. Não pretendo verificar os efeitos da variação na distribuição de informa-ção. Ao longo de toda a análise, será mantida a suposição de informação distri-buída de forma assimétrica.

16. Tais princípios estão abrigados no individualismo metodológico e seapóiam na premissa, de inspiração utilitarista, segundo a qual os atores têmcomportamento estratégico, ou seja, agem racionalmentemovidos por interessee consideram a interdependência das decisões individuais na escolha da açãoque irão praticar (ALMEIDA, 1989, p. 9-10; DUTTA, 1999, p. 4-5).

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17. Osatores selecionadosdevemobedecer a pelomenosumdestes quesitos:Nos Executivos nacionais ou estrangeiros: a) ocupação de cargos de chefe deEstado e membros da equipe de política externa e segurança nacional (vi-ce-chefe, funcionários responsáveis pelas pastas de Defesa e Relações Exterio-res, assessores para assuntos militares); b) liderança de grupos de negociadoresnas conversações sobre questões relacionadas ao plano de ação.No Legislativo: a) composição de comitês legislativos de Relações Exterioresou Forças Armadas, responsáveis pela avaliação de atos internacionais relacio-nados a sistemas nucleares; b) proposição de emendas aos atos firmados peloExecutivo e reservas, declarações e entendimentos às resoluções de consenti-mento para a ratificação.Nos grupos de interesse: a) liderança de grupos de pressão que, aomobilizaremeleitores e recursos, afetam escolhas políticas de membros do Executivo e Le-gislativo sobre pontos do plano; b) liderança de organizações consultadas peloslegisladores na obtenção de informação acerca do plano.

18. Ver também Gottemoeller (2001), Goldgeier e McFaul (2002) e Jishe(2001).

19. Cabe lembrar que Rumsfeld presidira a Comissão para a Avaliação daAmeaça deMísseisBalísticos aosEUA.Tal comissãopublicouumrelatório em1998 alertando que as ameaças de mísseis balísticos de longo alcance contra osEUA estavam “mais maduras” e se desenvolviam mais rapidamente do que aInteligência estimava. O secretário de Defesa classificou a proliferação deWMD e dos sistemas de lançamento como um sério problema, mas enfatizouque essa ameaça seria vencida e garantiu que a defesa antimísseis teria priorida-de nos orçamentos futuros do Pentágono (BOESE, 2001a).

20. Segundo especialistas, a nova NPR provavelmente se basearia nas con-clusões de um relatório de janeiro de 2001 do Instituto Nacional para PolíticaPública (em inglês, National Institute for Public Policy (NIPP)), assinado porKeith Payne, co-autor de um ensaio infamante da década de 1980 sobre a políti-ca nuclear norte-americana, cujo título era “Avitória é possível”. Entre os parti-cipantes de tal estudo, estava StevenHadley, participante doConselho de Segu-rançaNacional. A idéia central do relatório era a de que, em uma era de incerte-za estratégica, os EUA precisariam de “flexibilidade” para reduzir ou reconsti-tuir suas forças nucleares de acordo com as circunstâncias, idealmente sem oslimites impostos por acordos tradicionais sobre o controle e a redução de armas.Parte dessa “flexibilidade” incluía o desenvolvimento de “papéis futuros” paraarmas nucleares. Elas seriam empregadas para deter nações cujos líderes dese-jassem conduzir um ataque contra os EUAcomarmas químicas e biológicas; li-mitar baixas norte-americanas emumconflito convencional de grandes propor-

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ções; e atender a “necessidades especiais de ataque”, como atingir instalaçõesde comando subterrâneas (KERREY; HARTUNG, 2001).

21. A escolha de Bolton para o posto mais importante da administração espe-cificamente destinado à formulação da política sobre controle e redução de ar-mas foi aprovada por todos os senadores republicanos,mas criticada pelamaiorparte dos democratas. Segundo o senador Joseph Biden, a “retórica inflamada”de Bolton fez com que o senador duvidasse da capacidade do subsecretário deexercer a função. O congressista também destacou que sempre votou contra in-divíduos “que se opuseram ao propósito declarado da posição para qual foramnomeados”. O senador democrata John Kerry disse que as visões de Bolton so-bre controle e redução de armas eram “incompatíveis com os interesses máxi-mos dos EUA” (BUSH…, 2001). Ver ainda Bleek (2001) e Rough… (2001).

22. A expressão “ogivas nucleares estratégicas operacionalmente desdobra-das” é utilizada em referência aos veículos de reentrada nucleares em ICBMs eSLBMs nos seus lançadores e aos armamentos nucleares carregados por bom-bardeiros pesados ou armazenados nas suas bases.

23. Ilustrando o apoio dos senadores republicanos, Jesse Helms – crítico doCTBT e do ABMT – afirmou que a vulnerabilidade deliberada a um ataque demísseis era uma “falta de juízo” e que osmembros doExecutivo russo deveriamconscientizar-se de que a Guerra Fria tinha acabado; logo, para Helms, “erahora de jogar fora o ABMT” (BUSH…, 2001). Além disso, o senador via a ne-cessidade de atualização do pensamento estratégico norte-americano, julgandoapropriadas as propostas do presidente de considerar reduções significativas.Porém, Helms indicou que, a fim de lidar com novas ameaças e desafios, o paístambém precisava de novos modelos de armas capazes de atingir alvos subter-râneos. JonKyl apontou que já era hora de os EUA reconhecerem a vulnerabili-dade conservada pelo ABMT; logo, assim como a Cortina de Ferro ruíra, o tra-tado deveria ter o mesmo destino. Além de parabenizar Bush pela liderança nacondução das questões relacionadas à defesa antimísseis, James Inhofe enfati-zou o contraste da visão de Bush com a perspectiva morosa de Clinton sobrequestões de segurança estratégica (BUSH…, 2001).

24. Osenador democrata JosephBiden, por exemplo, duvidava que líderes deEstados-párias atacassem os EUA “da noite para o dia”. Segundo Carl Levin, adefesa antimísseis seria desdobrada independentemente do resultado das nego-ciações com os demais países envolvidos e faltava conhecimento sobre as con-seqüências do desdobramento de tais sistemas. Jack Reed defendeu que a posi-ção de Bush carecia de elementos que efetivamente apontassem para a preser-vação da estabilidade estratégica. Já Thomas Daschle não compreendia comose poderia apoiar umprogramaque não funcionava, em referência à defesa anti-mísseis. Ele ressaltou que violar oumodificar oABMT sem ter a certeza de que

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a defesa antimísseis funcionaria perfeitamente era “tolice absoluta”. RichardDurbin apontou que seria um “desatino” abandonar oABMTantes de se chegarperto de uma defesa antimísseis que funcionasse. Para Durbin, a posição deBush era “um convite para uma nova corrida armamentista global” (BUSH…,2001). O senador JohnKerry concluiu que, caso não se pudesse abater 100%demísseis lançados, ainda não se tinha deixado de lado a destruição mutuamenteassegurada. Porém, se a defesa antimísseis ideal fosse possível, dar-se-ia inícioa uma corrida armamentista para desenvolver capacidades que não pudessemser eliminadas por tal sistema (BUSH…, 2001).

25. Bush e Putin diziam que seus países haviam embarcado em um “novo re-lacionamento para o século XXI”, baseado em um compromisso com “a demo-cracia, o livre mercado e o domínio da lei”. Tal relação proveria bases para ocombate ao terrorismo, à proliferação de WMD, ao nacionalismo militante, àintolerância étnico-religiosa e à instabilidade regional, vistos como as princi-pais ameaças do século.Os líderes concordaramque os níveis correntes das for-ças nucleares não refletiamas realidades estratégicas domundo contemporâneoe firmaram os compromissos de implementar reduções ofensivas estratégicassubstanciais e de dar continuidade às consultas sobre defesas estratégicas. Elesreafirmaram o compromisso com aConvenção sobreArmasQuímicas e a Con-venção sobre Armas Biológicas e apoiaram os esforços para o fortalecimentodo TNP (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Casa Branca, 2001).

26. A sigla remete a dois ou mais veículos de reentrada carregados por umúnico míssil, dirigíveis para alvos distintos e separados.

27. Asprincipais preocupações dePutin erama recuperação e amodernizaçãoeconômica da Rússia. Para conduzir tal processo ainda embrionário, o país pre-cisaria do acesso ao capital, à tecnologia e aos mercados ocidentais. O cresci-mento econômico também poderia ser essencial para o futuro político de Putin,que sabia que aRússia só poderia se reerguer pormeio do fortalecimento de suaposição nos mercados globais, como ocorrera com a China após a moderniza-ção econômica implementada porDengXiaoping vinte anos antes. Alémdisso,havia uma tendência crescente na Rússia a ver o Ocidente – notavelmente osEUA – como parceiro de segurança na Eurásia. Seria um equívoco dizer quemembros do governo Putin se mostravam satisfeitos com a presença militarnorte-americana na Ásia Central e na Geórgia, já que temiam a potencial perdade uma esfera tradicional de influência. Porém, como Putin declarara, haviaameaças reais na periferiameridional daRússia, comoo terrorismo, o extremis-mo religioso e o tráfico de drogas. Os membros do Executivo russo desejavamcombater tais ameaças, mas percebiam que, sozinhos, não teriam recursos paraisso. Os russos certamente não se sentiam confortáveis com a profunda assime-tria de poder,mas tinhama noção de que, se quisessem ter acesso aos benefícios

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da cooperação político-econômica comoOcidente, deveriampagar alguns pre-ços. Putin acreditou que, ao se tornar ummembro do “clube ocidental”, aRússiateria mais influência na definição das “regras do jogo” (GADDY et al., 2002;GOLDGEIER et al., 2002; KUCHINS, 2002; LODGAARD, 2003).

28. Na declaração, ambos os lados reafirmaram o interesse no combate à pro-liferação deWMD, ao terrorismo internacional e ao narcotráfico, além do inte-resse nas ações humanitárias e na resolução de conflitos regionais, como emAbkhazia e em Nagorno-Karabakh. Além disso, anunciaram que, em poucosdias, seria estabelecido, em Roma, o Conselho Rússia-OTAN, cujos membrosvisariam identificar perspectivas comuns para a segurança. Ademais, reconhe-cendo a importância da economia de mercado, da livre iniciativa e dos valoresdemocráticos para o bem-estar dos cidadãos, ambos os países também se com-prometiam a ampliar a cooperação econômica. Os EUA prometeram eliminarbarreiras comerciais nas relações com aRússia e a dar prioridade ao acesso des-se país à OrganizaçãoMundial do Comércio. Na área social, eram previstos es-forços para a resolução de problemas nos setores de educação e de saúde – comoprogramas de combate à AIDS e a outras doenças – e nos relacionados ao meioambiente (BUSH; PUTIN, 2002; CENTER FOR ARMS CONTROL ANDNON-PROLIFERATION, 2002; 2003).

29. Os membros do Executivo de cada lado “resolveram” tal questão desti-nando-a à Declaração Conjunta sobre a Nova Relação Estratégica. A coopera-ção incluiria troca de informação e visitas recíprocas para observação de testes.As partes concordaram em realizar exercícios conjuntos e estabelecer progra-mas de pesquisa e desenvolvimento (WOOLF, 2002).

30. No caso específico de reduções ofensivas estratégicas, a legislação do-méstica norte-americana proibia o uso de acordos que não fossem legalmentevinculantes, amenos que houvesse a autorização doCongresso. Isso não neces-sariamente proíbe que os EUA utilizem perspectivas que sejammenos formaisque as tradicionais ou que não sejam legalmente vinculantes. Apenas significaque o presidente deve obter o consentimento congressual tanto antes como de-pois de ter atingido o acordo. Em ummomento em que se poderia tornar neces-sário acomodar os requerimentos de segurança e tambémmanter alguma prote-ção contra os riscos, preservando a liberdade para responder amudanças repen-tinas no ambiente de segurança e explorar novas tecnologias menos dispendio-sas, havia diversas formas para se construir flexibilidade, criando perspectivashíbridas que combinavam aos acordos formais legalmente vinculantes algunselementos mais característicos de perspectivas que não o são. Dentre elas, cabecitar a incorporação de termos e de limites flexíveis ao acordo e a limitação desua duração (KARTCHNER; PITMAN, 2002).

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31. NoSenado, Powell eRumsfeld procuraramenfatizar o caráter inovador dotratado, que, nas palavras do secretário de Estado, representava o compromissode ambos os países de realizar reduções ofensivas estratégicas amplas de umaforma aomesmo tempo flexível e legalmente vinculante, que facilitaria a transi-ção “da rivalidade estratégica para uma parceria estratégica genuína”(POWELL, 2002). Rumsfeld indicou que os representantes de cada lado conse-guiram preservar benefícios do processo de controle e de redução de armas –comoas consultas, os níveismenores de forças, a previsibilidade e a transparên-cia –, mas evitaram os principais obstáculos, como extensos e amargos debatessobre aquiescência e prestação de contas (RUMSFELD, 2002b). Powell eRumsfeld disseram que o plano era armazenar até 2.400 ogivas removidas deserviço, que estariam prontas para redesdobramento em semanas, meses ouanos. Outras ogivas e componentes seriammantidos como reservas ou em está-gios menores de prontidão (BOESE, 2002b).

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Resumo

Treze Passos para o Juízo Final: ANova Era do DesarmamentoNuclear dos Estados Unidos e daRússia

Este artigo procura explicar por que os líderes dos EUA e da Rússia não im-plementaram total e efetivamente o plano de ação de treze pontos práticospara o desarmamento nuclear, estabelecido na Conferência de Revisão doTratado de Não-Proliferação Nuclear em 2000. As decisões relacionadasaos treze pontos, tomadas pelos membros dos Executivos das duas maiorespotências nucleares, são vistas como resultado da conciliação de imperati-vos internos e externos por esses indivíduos, que enfrentam oportunidadese dilemas estratégicos distintos simultaneamente nos âmbitos doméstico einternacional. São consideradas as escolhas políticas de membros dos Exe-cutivos nacionais e estrangeiros, Legislativos e principais grupos de inte-resse desses países, bem como a distribuição de poder sobre a formulaçãoda decisão nacional, estabelecida pelas instituições políticas domésticas.

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As hipóteses apontam que osmembros dos Executivos desses países – apoi-ados por grande parte dosmembros dos Legislativos e dos principais gruposde interesse envolvidos, como as ForçasArmadas – procuraram garantir au-tonomia para definir a estrutura e a composição de forças estratégicas e táti-cas, modernizar arsenais atômicos e operar uma força capaz de lidar comcontingências que envolvam não apenas potências nucleares tradicionais,mas principalmente novos Estados detentores de armas de destruição emmassa e organizações terroristas.

Palavras-chave: Estados Unidos – Rússia – Desarmamento Nuclear –Armas Nucleares

Abstract

Thirteen Steps to Judgement Day:The New Era of Russian and NorthAmerican Nuclear Disarmament

This article aims to explain why U.S. and Russian leaders have notimplemented totally and effectively the thirteen practical-step plan ofac t ion on nuc lea r d i sa rmament agreed a t the 2000 Nuclea rNon-Proliferation Treaty Review Conference. The decisions with regard tothe thirteen steps, taken by members of U.S. and Russian Executives, areseen as the result of the conciliation of internal and external imperatives bythose individuals, who face distinctive strategic opportunities anddilemmas simultaneously at national and international levels. We willconsider the policy choices of home and foreign Executives’ members,legislators and members of the main interest groups within each country, aswell as the distribution of decision-making powers by domestic politicalinstitutions. The hypotheses indicate that members of U.S. and RussianExecutives – supported by a huge number of legislators and interest groups,such as Armed Forces – aim to preserve the ability to determine forthemselves the structure and the composition of their strategic and tacticalforces, modernize their nuclear arsenals and deploy a force to meetcontingencies involving not only traditional nuclear powers, but speciallyrogue states and terrorist organizations.

Keywords: United States – Russia – Nuclear Disarmament – NuclearWeapons

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