a mente - kalu rinpoche.docx

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  • 7/29/2019 A MENTE - Kalu Rinpoche.docx

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    A MenteTemos uma certa noo superficial do que a mente. Para ns, o que experimenta osentimento de existir, o que pensa "sou eu", "eu existo". ainda o que consciente dospensamentos e sente os movimentos emotivos, aquilo que, segundo as circunstncias, tem osentimento de estar feliz ou infeliz. Fora disso, no sabemos o que , verdadeiramente a mente.Talvez seja mesmo provvel que nunca nos tenhamos feito essa pergunta.A mente sente, no os rgos evidente, em primeiro lugar, que a mente no tem existncia material. No um objeto que sepossa definir a cor, o tamanho, o volume ou a forma. Nenhuma dessas caractersticas aplicvel mente. No podemos apontar a mente com o dedo, dizendo: " isso". Nesse sentido, a mente vazia. Entretanto, que a mente seja desprovida de forma, de cor, etc, no suficiente paraconcluir sobre sua no-existncia, pois os pensamentos, os sentimentos, as emoes conflituosasque ela sente e que produz provam que alguma coisa funciona e existe, que a mente no ,portanto, somente vazia.

    Logo, o que esse sentimento de existir? Onde ele se situa? No exterior, ou mesmo no interior docorpo? Se ele se situa no interior do corpo, quem o sente? A carne, o sangue, os ossos, os nervos,as veias, os pulmes, o corao? Se vocs refletirem atentamente, iro admitir que nenhummembro, nem nenhum rgo reivindica sua prpria existncia, dizendo "eu". Assim, a mente nopode ser assimilada a uma parte do organismo. Tomemos o exemplo do olho. O olho noproclama sua prpria existncia. Ele no diz para si mesmo: "Eu existo", ou ainda: " preciso queeu olhe uma determinada forma exterior; esta bonita, aquela no o ; eu me apego a primeira erejeito a segunda". O prprio olho no tem nenhuma vontade, no experimenta nenhumsentimento, nem apego, nem averso. a mente que tem o sentimento de existir, que percebe,

    julga, se apega ou rejeita. O mesmo vale para o ouvido e os sons, o nariz e os odores, a lngua eos sabores, a pele e os contatos, o rgo mental e os fenmenos. No so os rgos quepercebem, mas a mente.O carro tem necessidade de um condutorOs rgos, inconscientes por natureza, no so a mente, so como uma casa na qual se mora. Osmoradores so o que se chama de conscincias:

    conscincia visual; conscincia auditiva; conscincia olfativa; conscincia gustativa; conscincia ttil; conscincia mental.

    Essas conscincias no existem de maneira autnoma. Elas nada mais so do que a mente.

    Pode-se dizer ainda que o corpo como um carro e a mente o seu condutor Quando o carro estdesocupado, apesar de possuir todos os equipamentos para rodar o motor, as rodas, ocombustvel, etc, e de encontrar-se em perfeito estado de funcionamento, ele no pode ir a

    nenhum lugar. Do mesmo modo, um corpo desprovido de mente, mesmo que possua a totalidadedos rgos, no passa de um cadver. Apesar de ter olhos, ouvidos, um nariz, ele no pode ver,nem ouvir, nem cheirar.

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    Alguns pensaro que a morte no atinge apenas o corpo, mastambm a mente: o primeiro torna-se cadver, a segunda deixasimplesmente de existir. Mas no o que ocorre. A mente no nasce,no morre, e no atingida pela doena. eterna. O que percebe asformas vistas pelo olho, os sons ouvidos pelo ouvido e os outrosobjetos atravs dos outros rgos dos sentidos, o que consciente, oque no interrompido pela morte do corpo , portanto, a mente.

    Como vimos, considerando-se que ela destituda de qualquercaracterstica material, no possvel designa-la como uma coisavisvel e facilmente reconhecida, caso contrrio algum poderiamostr-la para ns. De fato, possuindo uma mente, todos devemosconsultar a ns mesmos e, guiados por um mestre, proceder a umainvestigao que nos leve at a descoberta de que ela verdadeiramente. Qual sua forma, sua cor, seu volume? Ela est situada no exterior ou nointerior do corpo? So questes que necessitam de uma resposta verificada pela experincia,mesmo se tivermos recebido previamente explicaes tericas como estas dadas aqui.

    Escuta, reflexo, meditao

    A prtica do dharma compreende sempre trs etapas, chamadas escuta, reflexo e meditao.

    A escuta consiste em receber ensinamentos tericos e instrues. Seu corolrio indispensvel lembrar-se com fidelidade do que foi dito ou lido.

    A reflexo consiste em proceder a um exame discursivo dos dados que recebemos ou ainda a umainvestigao para tentar responder s questes colocadas. No caso presente, por exemplo,pesquisar a forma e a cor da mente, sua localizao, seu grau de existncia, etc.

    A meditao acontece quando so alcanadas as concluses pela reflexo. Ela deve ser no-discursiva e sem descontinuidade.

    Essas trs etapas constituem uma sucesso obrigatria. O que exposto aqui pertence fase daescuta. necessrio ret-la antes de abordar as etapas seguintes.

    Para descrever a mente consideramos trs aspectos: sua essncia: a vacuidade; sua natureza: claridade; seu modo de funcionamento: inteligncia.

    VacuidadeA essncia da mente ser vazia. O que significa, como j foi dito, que ela no tem nenhumaexistncia material. No tem forma, cor, volume, tamanho. impalpvel e indivisvel, semelhanteao espao.ClaridadeTodavia, a mente no como um espao obscuro que nem o sol, a lua ou as estrelas clareia, massim como o espao diurno ou ainda como o espao de uma sala iluminada.

    uma comparao, e apenas aproximada. Significa que a mente possui um certo poder deconhecer. No o prprio conhecimento, mas a claridade, a faculdade consciente, que o torna

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    O que entendemos por claridade da mente ligeiramente diferente da claridade no sentido

    comum. Esta, de fato, permite unicamente o exerccio da funo visual, enquanto que a claridadeda mente d a possibilidade no somente de ver, mas tambm de ouvir, de sentir, de degustar,de tocar e estar consciente dos prazeres ou desprazeres do mental. Portanto, uma claridadecujo campo de aplicao extremamente vasto.Inteligncia sem obstruoA sala onde vocs esto sentados contm vacuidade (o espao da pea) e claridade (ailuminao). No entanto, no suficiente para atribuir-lhe uma mente. Portanto, devemosencontrar um terceiro elemento de descrio. Para que a mente exista, deve-se acrescentar

    vacuidade e claridade, a inteligncia sem obstruo. esta inteligncia que permite conhecerefetivamente cada coisa sem confuso. No somente a mente tem conscincia dos fenmenos o que a claridade mas ela os reconhece sem confuso o que a inteligncia. Noespetculo do que ela v, por exemplo, ela sabe o que o cu, o que uma casa, o que umhomem, etc.

    Sobre o suporte da vacuidade e da claridade, surge a inteligncia sem obstruo. a faculdadeque identifica, avalia, compreende. quem diz, por exemplo: "Isto um objeto; ele bonito ouele feio", identificao que se aplica tambm aos sons, dos quais se percebem a potncia e aqualidade, aos odores agradveis ou repugnantes, aos sabores e suas diferentes nuanas, sexperincias mentais agradveis ou desagradveis.

    Assim, a mente conjuntamente vacuidade, claridade e inteligncia.

    Uma tal mente pequena? No, j que possui a faculdade de fazeraparecer e de abraar todo o universo. Ento, ela grande? Tambmno podemos afirm-lo, visto que, ao sentirmos uma dor muitolocalizada, num local do corpo preciso, provocada, digamos por umapicada, assimilamos nossa mente a esse local minsculo, dizendo:"Sinto dor". Cada um identifica-se com seu corpo e a mente o penetrapor inteiro: para um elefante, numa grande escala, para um inseto,

    numa pequena escala. De fato, a prpria mente, fora de todaassimilao, no nem pequena, nem grande. Escapa desse gnerode conceitos.

    Essa mente fundamental a mesma para todos os seres. Caso se reconhea o seu modo de ser,neste caso ela nada mais do que o Despertar:

    a vacuidade o corpo absoluto (snsc. dharmakaya); a claridade o corpo de glria (snsc. sambhogakaya); a inteligncia, o corpo de manifestao (snsc. nirmanakaya).

    A unidade dos trs componentes vacuidade, claridade e inteligncia o que se chama de"mente". ainda o que se chama de tathagatagarbha, o potencial do Despertar. Quando os trscomponentes no so reconhecidos pelo que so, o estado de ser ordinrio.

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    A vacuidade se exprime ento como mental, a claridade como palavra, a inteligncia semobstruo como corpo.

    Os trs componentes da mente pura se condensam nos trs componentes da personalidadetemporria. Pela meditao do mahamudra, a natureza verdadeira da mente reconhecida e ostrs componentes se revelam como os trs corpos do Despertar. Na verdade, um Buddha e umser ordinrio so idnticos. Possuem fundamentalmente a mesma natureza. Um Budhha a

    reconhece, um ser ordinrio no. a nica diferena.Seria muito longo examinar detalhadamente todas as implicaes de natureza da mente, do ciclodas existncias e da liberao. Para resumi-las citamos Gampopa:

    A mente sem criao artificial, felicidadeA gua sem poluio pura.Quando se deixa a mente permanecer tal qual em sua prpria natureza, ocorre a felicidadeinterior. A gua deixada em repouso sem agitao e pura. A mente agitada por muitospensamentos torna-se agitada; livre de uma superabundncia de pensamentos, guarda sua

    limpidez prpria. Nossa mente, enquanto vacuidade, claridade e inteligncia, perfeitamente boaem si mesma, naturalmente livre de sofrimentos. Mas ns no a reconhecemos. Pensamos: "Soueu", e ns mesmos nos prendemos com a corda do ego, pensando ento: " preciso que eu sejafeliz, que eu evite tudo o que desagradvel". Imobilizada nesta atitude, a mente torna-se comoque contrada e cria seu prprio sofrimento.Os quatro vusAinda que possuindo tathagatagarbha, ainda que sendo Buddha por natureza, por que noexperimentamos as qualidades desta natureza, e somos afetados por todas as limitaes de um

    ser ordinrio? Isto se deve aos "vus". Quando apareceram esses vus? De fato, eles no tmorigem, recobrem a mente desde que ela existe, ou seja, desde sempre.O vu da ignornciaA mente fundamental ainda chamada "o potencial da partida para a felicidade". Pertence atodos os seres. No reconhec-la a ignorncia e constitui o principal vu que recobre a mente.Nossos olhos permitem que vejamos, claramente, os objetos exteriores; entretanto, no podemver nosso rosto nem ver a si mesmos. Da mesma maneira, a mente no se v a si mesma, no sereconhece pelo que . este fato que chamamos o vu da ignorncia.O vu dos condicionamentos latentesA primeira conseqncia da ignorncia a dualidade. Ali onde s h vacuidade, a mente concebefalsamente um eu, centro de toda experincia. Ali onde S h claridade, ela concebe objetospercebidos como outros. Este fenmeno pode ser compreendido mais facilmente se nosreferirmos ao sonho. No percebendo a verdadeira natureza do mundo onrico, ns o cindimos emdois: um sujeito ao qual ns nos assimilamos, e objetos que constituem um universo exterior.Dividindo a mente nica em dois, vivemos no universo da dualidade sujeito-objeto. Este osegundo vu, o dos condicionamentos latentes.O vu das emoes conflituosasDa noo de eu procede necessariamente a esperana de obter o que agradvel e que conforteo eu em sua existncia, assim como o medo de no obter o que se deseja e viver situaes

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    ameaadoras. Sobre o plo eu se introduzem assim a esperana e o medo. O outro plo dadualidade, a noo de outro, engloba todos os objetos dos sentidos: formas, sons, odores,sabores, contatos ou objetos mentais. Todo objeto percebido como agradvel cria a alegria e todoobjeto percebido como desagradvel, o descontentamento, sentimentos que se transformam emapego e em averso. Da dualidade eu-outro emanam portanto, a esperana e o medo, assimcomo o apego e a averso. De fato, eles no vm de nenhum lugar seno da vacuidade da mentee no tm, portanto, nenhuma existncia material, nem nenhuma entidade prpria. No os

    reconhecendo, do mesmo modo que no reconhecemos a verdadeira natureza dos fenmenos,conferindo-lhes uma realidade indevida; o que chamamos cegueira ou ainda opacidade mental.

    Assim, chagamos a um grupo de trs emoes conflituosas de base: apego, averso e cegueira,de onde procedem trs outras:

    do apego, a cobia; da averso, o cime; da opacidade mental, o orgulho.

    Isto resulta em seis emoes conflituosas principais. Todavia, considera-se que as trs emoesconflituosas de base podem se subdividir de muitas maneiras. Assim, atribui-se ao apego 21 milramificaes relacionadas aos tipos de objetos aos quais ele se aplica: apego a uma pessoa, auma casa, a um veculo, etc. Do mesmo modo, desmembramos 21 mil variantes da averso e dacegueira, assim como 21 mil emoes conflituosas compostas de um amlgama das trsprecedentes. Obtemos um total tradicional de 84 mil emoes conflituosas. Nossa mente habitada, assim, por uma grande quantidade de emoes conflituosas, que constituem um vusuplementar.O vu do karmaSob o domnio das emoes conflituosas, cometemos todos os tipos de atos negativos com ocorpo, a palavra e a mente, que formam o vu do karma.

    Portanto, temos assim quatro vus que se engendram sucessivamente: o vu da ignorncia: a mente no reconhecendo a si mesma; o vu dos condicionamentos latentes: a dualidade, ou seja, a ciso entre o eu e o outro; o vu das emoes conflituosas: as 84 mil perturbaes oriundas da dualidade; o vu do karma: os atos negativos cometidos sob o poder das emoes conflituosas.

    Pureza e desabrocharOs vus que recobrem a mente fazem com que sejamos seres ordinrios. Os Buddhas e osbodhisattvas do passado tambm eram, na origem, seres comuns. Eles seguiram mestresespirituais dos quais receberam instrues sobre a natureza da mente, meditaram e realizaram omahamudra. Tendo se desfeito dos quatro vus, eles se tornaram puros e todas as qualidadesinerentes mente desabrocharam. Em tibetano, puro se traduz por sange desabrochar por gye.A conjuno das duas slabas forma a palavra que significa Buddha: Sang-gye, pureza edesabrochar. uma via que est aberta para ns: podemos receber instrues, meditar e obter arealizao do mahamudra, isto , o Despertar. A exemplo de Milarepa, possvel percorrermos o

    caminho em uma nica vida.Sinais da vacuidade

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    Aquele que realiza a verdadeira natureza da mente compreende ao mesmo tempo em que todosos fenmenos, as coisas e os seres, os universos e todos aqueles que os povoam, so apenasuma produo da mente, vazia em sua essncia.

    Um certo nmero de sinais nos indicam a vacuidade da mente e a ausncia de entidade prpriados fenmenos, mas, geralmente, no prestamos ateno neles.

    No momento da concepo, quando a mente entrano ventre da me, os pais no podem v-la.Nenhum efeito materialmente perceptvel permiterevelar sua vinda. No momento da morte, domesmo modo, mesmo que o moribundo estejarodeado de muitas pessoas, ningum v a mentesair do corpo. Ningum poderia dizer: "Ela saiu poraqui", ou ainda: "Ela saiu por ali".

    Talvez vocs tenham estudado durante muitos anose armazenado muitos conhecimentos. No entanto,eles no esto dentro de um armrio, de uma casaou do peito. No esto em parte alguma, pois sodesprovidos de existncia em si mesmos. Eles estoarmazenados na vacuidade.

    noite, adormecidos, sonhamos e vemos ummundo inteiro, com paisagens, cidades, homens,animais, e todos os objetos dos sentidos, aos quaisadicionamos um movimento emocional feito dedesejo, de averso, etc. Durante o prprio sonho,

    somos persuadidos da existncia real de todos osfenmenos onricos. Entretanto, uma vez acordados,eles desaparecem. No existem em parte algumafora da mente daquele que sonha. o mesmoprocesso que se desenvolve durante o bardo do vir-a-ser. Formas, sons, odores, sabores, etc sopercebidos como reais. As aparncias manifestadasdurante a vida que se completou no tm mais

    existncia. Depois, quando a mente entra de novo em uma matriz, so ento as aparncias dobardo que se desfazem e no existem mais em parte alguma.Trs suportes de existnciaA viglia, o sonho e o bardo de fato no tm realidade em si: so apenas manifestaes da menteaos quais conferimos, erroneamente, uma entidade prpria. Esses trs estados so descritos comotrs corpos:

    O "corpo de maturidade krmica" designa o corpo e o ambiente percebidos durante o estado deviglia, que so o resultado, depois de um longo processo de amadurecimento, de karmasacumulados em vidas passadas.

    O "corpo dos condicionamentos latentes" se refere ao corpo e ao ambiente do sonho.

    O "corpo mental", enfim, designa o corpo e a experincia do bardo, regidos unicamente pelopensamento.

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    Pela sucesso contnua desses trs corpos se desenvolve nossa experincia no ciclo dasexistncias, falsamente tomada como real.Conscincia primordial, conscincia individualizadaO fundamento da mente bom em si mesmo. a natureza do Despertar, semelhante gua

    pura. O Buddha disse:

    Todos os seres so Buddha,Mas a mente deles obscurecida por impurezas adventcias;Dissipadas as impurezas, eles so verdadeiramente Buddha.A ignorncia o no reconhecimento da natureza Desperta da mente. Dela procedem todas asemoes conflituosas (desejo, clera, cime, etc) , assim como o fluxo dos pensamentos emmodo dual. A natureza de Buddha da mente ainda chamada potencial de conscincia primordial.Entretanto, por causa da ignorncia e da apreenso dual, seu funcionamento perturbado torna-seum potencial de conscincia individualizado. Quando uma gua pura misturada com lama, ela

    perde sua qualidade de pureza e torna-se suja. Do mesmo modo, por causa das impurezas, aconscincia primordial torna-se conscincia individualizada.Conscincias diferenciadasEssa conscincia individualizada , enquanto modo de funcionamento, uma unidade designadapelo termo "potencial de conscincia individualizada". Dessa unidade, procedem, entretanto, seteconscincias individualizadas diferenciadas, assim como os dedos so diferenciaes de uma nicamo. Elas so:

    a conscincia visual, que percebe as formas;

    a conscincia auditiva, que percebe os sons; a conscincia olfativa, que percebe os odores; a conscincia gustativa, que percebe os sabores; a conscincia ttil, que percebe os contatos; a conscincia mental, que identifica os fenmenos pelo pensamento; a conscincia perturbada, que interpreta a percepo em termos de desejo, averso,

    cime, etc.Os rgos oriundos das conscinciasDa faculdade de manifestao da mente surge o corpo. Os dois esto, portanto, estreitamenteligados. A existncia das oito conscincias na mente origina a existncia no corpo dos suportesfsicos correspondentes que so os rgos dos sentidos. Os rgos so semelhantes s casas,inertes em si, e as conscincias aos homens que as habitam. Temos ento:

    os olhos como suporte da conscincia visual; os ouvidos como suporte da conscincia auditiva; o nariz como suporte da conscincia olfativa; a lngua e o paladar como suportes da conscincia gustativa; a epiderme como suporte da conscincia ttil; o rgo mental como suporte da conscincia mental, ainda que aqui o rgo e a

    conscincia se confundam na prtica.

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    Quanto ao potencial de conscincia individualizada e conscincia perturbada, elas no possuemrgo correspondente que lhes seja prprio. Pode-se dizer que o primeiro tem como suporte ocorpo em geral e a segunda, o conjunto dos rgos dos sentidos.Os objetos dos sentidosEnfim, as conscincias encontram seu reflexo, do ponto de vista exterior, nos objetos dos

    sentidos: as formas so o objeto da conscincia visual; os sons, o objeto da conscincia auditiva; os odores, o objeto da conscincia olfativa; os sabores, o objeto da conscincia gustativa; os contatos, o objeto da conscincia ttil; os fenmenos mentais (os pensamentos), o objeto da conscincia

    mental.Os fenmenos exteriores podem tambm ser vistos como objetos dopotencial de conscincia individualizada, e os fenmenos, enquantoobjetos das emoes conflituosas, como reflexos exteriores daconscincia perturbada.

    Quando a mente obscurecida pela ignorncia, seu modo defuncionamento e de reao com o mundo regido, assim, por umprocesso em trs nveis:

    interiormente: as conscincias individualizadas; no nvel intermedirio: os rgos dos sentidos; exteriormente: os objetos dos sentidos.

    Kalu Rinpoche. Ensinamentos Fundamentais do Budismo Tibetano: Budismo Vivo, Budismo Profundo,Budismo Esotrico. Traduo de Clia Gambini, reviso tcnica de Antonio Carlos da RessurreioXavier. Braslia: Shisil, 1999. Para adquirir o livro, clique aqui.

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