a mediaÇÃo do professor no processo da leitura...

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A MEDIAÇÃO DO PROFESSOR NO PROCESSO DA LEITURA E ESCRITA KANASHIRO, Josilene de Paiva 1 - UEL FRANCO, Sandra Aparecida Pires 2 - UEL Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este trabalho é uma das possíveis abordagens em termos da importância da mediação do professor em relação à leitura e a escrita na escola, considerando o processo do desenvolvimento da aprendizagem no que diz respeito à produção de textos. Assim, ele parte da reflexão sobre a práxis pedagógica, de que maneira a mediação do conhecimento está sendo realizada em sala de aula. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica pautada nas concepções de Vygotsky (1998) sobre pensamento e linguagem e culminou numa abordagem reflexiva de dados coletados durante uma pesquisa de campo sobre a prática pedagógica em relação à produção textual, numa perspectiva histórico-cultural, com o objetivo principal de compreender o desenvolvimento da aprendizagem no processo de produção textual. A pesquisa ocorreu em uma turma de quinto ano do Ensino Fundamental das Séries Iniciais de uma escola municipal, em uma cidade do norte do Paraná, vinculada às Intervenções Pedagógicas feitas na disciplina de Estágio Supervisionado para Séries Iniciais. Como interesse social, a pesquisa buscou contribuir na formação da criança como sujeito interativo da linguagem escrita em sua vivência enquanto aluno e numa perspectiva da prática social, bem como abordou a valorização da leitura como potencializadora de sujeitos capazes de entender o mundo em que vivem e que devem participar de modo ativo, proporcionando momentos de interação e de exploração da criatividade que são alguns mecanismos importantes no desenvolvimento do pensamento da criança. Destarte, a pesquisa demonstrou a importância da mediação do professor no processo de aprendizagem quanto à aproximação dos alunos com a leitura e com as atividades de escrita, as quais demonstraram desenvolvimento significativo durante o processo de intervenção pedagógica. Palavras-chave: Leitura. Escrita. Produção Textual. Professor. Mediação. 1 Mestranda em Educação pela UEL. Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Letras pela UEL. Professora adjunto do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina - UEL, na área de Didática. Coordenadora do Projeto: Teoria e Prática: uma união sem fronteiras entre a Universidade e a Educação Básica para uma prática cidadã na perifieria de Londrina - Universidade Sem Fronteiras - 2012. Professora da Programa de Mestrado em Educação - UEL. E-mail: [email protected].

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A MEDIAÇÃO DO PROFESSOR NO PROCESSO DA LEITURA E

ESCRITA

KANASHIRO, Josilene de Paiva1 - UEL

FRANCO, Sandra Aparecida Pires2 - UEL

Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas

Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este trabalho é uma das possíveis abordagens em termos da importância da mediação do professor em relação à leitura e a escrita na escola, considerando o processo do desenvolvimento da aprendizagem no que diz respeito à produção de textos. Assim, ele parte da reflexão sobre a práxis pedagógica, de que maneira a mediação do conhecimento está sendo realizada em sala de aula. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica pautada nas concepções de Vygotsky (1998) sobre pensamento e linguagem e culminou numa abordagem reflexiva de dados coletados durante uma pesquisa de campo sobre a prática pedagógica em relação à produção textual, numa perspectiva histórico-cultural, com o objetivo principal de compreender o desenvolvimento da aprendizagem no processo de produção textual. A pesquisa ocorreu em uma turma de quinto ano do Ensino Fundamental das Séries Iniciais de uma escola municipal, em uma cidade do norte do Paraná, vinculada às Intervenções Pedagógicas feitas na disciplina de Estágio Supervisionado para Séries Iniciais. Como interesse social, a pesquisa buscou contribuir na formação da criança como sujeito interativo da linguagem escrita em sua vivência enquanto aluno e numa perspectiva da prática social, bem como abordou a valorização da leitura como potencializadora de sujeitos capazes de entender o mundo em que vivem e que devem participar de modo ativo, proporcionando momentos de interação e de exploração da criatividade que são alguns mecanismos importantes no desenvolvimento do pensamento da criança. Destarte, a pesquisa demonstrou a importância da mediação do professor no processo de aprendizagem quanto à aproximação dos alunos com a leitura e com as atividades de escrita, as quais demonstraram desenvolvimento significativo durante o processo de intervenção pedagógica. Palavras-chave: Leitura. Escrita. Produção Textual. Professor. Mediação.

1 Mestranda em Educação pela UEL. Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Letras pela UEL. Professora adjunto do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina - UEL, na área de Didática. Coordenadora do Projeto: Teoria e Prática: uma união sem fronteiras entre a Universidade e a Educação Básica para uma prática cidadã na perifieria de Londrina - Universidade Sem Fronteiras - 2012. Professora da Programa de Mestrado em Educação - UEL. E-mail: [email protected].

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Introdução

Aprender é um processo contínuo e fascinante ao passo que encontramos uma maneira

de fazer a mediação entre teoria e prática. No contato com as crianças em sala de aula é

possível entendermos que a aprendizagem ocorre singularmente para cada uma delas, em seu

tempo, por isso é tão importante que o professor consiga lidar com as diferenças que existem

em sala de aula para poder contribuir com seus alunos de modo significativo, de acordo com a

realidade.

A escola é um espaço propiciador para que a aprendizagem aconteça, é por meio da

educação formal, sistematizada que o professor pode e deve mediar aos seus alunos o

conhecimento científico, cultural e histórico a fim de viabilizar a formação individual e

coletiva de cada um que está nesse processo de desenvolvimento. Sabemos que são muitos os

conteúdos que podem ser trabalhados com os alunos e que há uma particularidade e

importância que contempla cada um e que colaboram na formação do aluno, mas de modo

especial queremos abordar sobre a leitura e a escrita como aspectos relevantes para o

desenvolvimento da produção de texto.

A criança, desde o seu contato de comunicação com o mundo, inicia seu processo para

aprender a ler e a escrever. É um caminho que tende a ser percorrido por ela, ganhando

sentido ao passo que compreende o valor e a função da escrita. Acreditamos que nesta

perspectiva, contribuiremos com a formação dos professores, pois a partir do momento que

reavaliamos nossa prática educativa, oportunizamos melhores condições de ensino-

aprendizagem aos nossos alunos. A aprendizagem é construída, deste modo, numa concepção

de interesse e de importância para a vivência humana.

Numa concepção científica, o tema tem como proposta a compreensão do

desenvolvimento da aprendizagem em relação ao processo que engloba o aprender a ler e a

escrever, culminando na produção textual. Como interesse social, a pesquisa tende a

contribuir na formação da criança como sujeito interativo da linguagem escrita em sua

vivência enquanto aluno e numa perspectiva da prática social. Desta maneira, a pesquisa parte

da reflexão sobre como a produção textual tem sido trabalhada em sala de aula, se os

professores têm oportunizado formas interessantes e criativas no processo da leitura e da

escrita, uma vez que muitas vezes o professor trabalha a produção de texto de forma

fragmentada, sem fazer uma ligação direta com a prática da linguagem, contemplando apenas

a representação gráfica e a habilidade de ler sem enfatizar a associação do processo de

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produção textual, além de valorizar muito mais os erros ortográficos, do que a expansão de

ideias presentes nos textos mediante correções mecanizadas.

Assim, o objetivo principal do trabalho foi o de compreender a práxis educativa no

processo da leitura e da escrita, bem como acompanhar o processo de produção textual de

uma turma de quinto ano do ensino fundamental das séries iniciais, analisando as atividades

desenvolvidas pelos alunos e promovendo a intervenção pedagógica a fim de oportunizar aos

mesmos possibilidades de desenvolvimento em relação à leitura e produção textual.

Leitura e Escrita: processo de aprendizagem

Para compreendermos o processo da aprendizagem da leitura, da escrita e da produção

textual, esta pesquisa pautar-se-á primeiramente numa abordagem bibliográfica sobre as

concepções do pensamento e da linguagem, no que tange à relação que há entre essas duas

abordagens e de que maneira e intensidade interferem no processo de desenvolvimento da

aprendizagem.

Conforme Rego (2010, p. 63), o estudo das relações entre pensamento e linguagem é

um dos temas mais complexos da psicologia, pelo fato de que “a relação entre o pensamento e

a fala passa por várias mudanças ao longo da vida do indivíduo”.

Vygotsky e Luria (1996) em seus estudos pontuaram que,

No processo de seu desenvolvimento, a criação não só cresce, não só amadurece, mas, ao mesmo tempo – e isso é a coisa mais fundamental que se pode observar em nossa análise da evolução da mente infantil -, a criança adquire inúmeras novas habilidades, inúmeras novas formas de comportamento. No processo de desenvolvimento, a criança não só amadurece, mas também se torna reequipada. É exatamente esse ‘reequipamento’ que causa o maior desenvolvimento e mudança que observamos na criança à medida que se transforma num adulto cultural. É isso que constitui a diferença mais pronunciada entre o desenvolvimento dos seres humanos e dos animais (TULESKY, 2008, p.140).

Isso nos faz pensar, então, que a criança ao passo que vai crescendo e interagindo com

o meio externo consegue desenvolver-se, o que não ocorre no primeiro momento que nasce,

pois enquanto é bebê suas ações e funções são pautadas basicamente em componentes

primitivos, biológicos, instintivos e é com a inserção da criança em sociedade que ela vai

modificando-se e assumindo um caráter diferenciado.

É nesta interação que a criança começa seu processo de desenvolvimento sobre as

possibilidades de entender o meio que a rodeia.

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A aprendizagem do ser humano não é transmitida por hereditariedade, sua grandeza

está na relação estabelecida entre ser humano e seu meio físico e social, apropriando-se da

cultura elaboradas pelas gerações precedentes, ao longo da história, e a linguagem tem uma

papel importante nesse processo de interação com o meio. Como afirmou Leontiev (1978)

apud Rego (2010, p. 49), “cada indivíduo aprende a ser um homem. O que a natureza lhe dá

quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe ainda preciso adquirir o que foi

alcançado no decurso do desenvolvimento histórico da sociedade humana”. Ou seja, nós

somos produto do meio em que vivemos, mas também somos agentes de transformação.

Assim, é possível associar as concepções que norteiam o pensamento e a linguagem à

reflexão sobre as concepções de leitura e de escrita em termos de associá-las ao

desenvolvimento da aprendizagem por meio da efetivação da produção textual.

Vivemos em um país, em que a educação ainda enfrenta o grande desafio de ensinar as

crianças a lerem e escreverem. Esta situação faz-nos buscar meios para que tal realidade seja

mudada, considerando que uma nação só se torna capaz de cuidar do bem comum, de exercer

os seus deveres e exigir os seus direitos quando é capaz de compreender aquilo que lhe é

imposto, cobrado, compartilhado.

O ensino-aprendizagem inicial da leitura e da escrita (a alfabetização escolar) continua a representar, para a grande maioria dos brasileiros, a porta de acesso ao mundo da cultura escrita, e para o Estado (mesmo que tempos de neoliberalismo), a medida e testagem da eficiência da escola pública, gratuita e laica como um dos pilares do regime republicano instaurado em nosso país em 1889, ao qual se atribuiu função de democratizar a instrução com a finalidade de esclarecer as massas e inserir os cidadãos na nova ordem política e social desejada para a Nação Brasileira (MORTATTI, 2011, p.35).

Nesse sentido, compreendemos que o fato de saber ler e escrever oportuniza uma

condição de status mais elevada do que a pessoa que não lê nem escreve, ou que as

oportunidades são melhores para o alfabetizado do que para os analfabetos. Dessa forma, se o

nível de formação afasta as pessoas umas das outras, é de grande relevância questionar a

formação dentro das escolas em termos de alfabetização.

De acordo com Franco e Rezende (2011, p. 111), ler e compreender um texto devem

ser umas das maiores preocupações da escola como uma função social, “uma vez que

possibilita o desenvolvimento do educando em seu cotidiano, ajudando-o no acesso ao

conhecimento, na produção e ampliação da participação social e no exercício efetivo da

cidadania”.

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Um dos problemas que envolvem a questão da leitura é que a maioria das pessoas não

gostam de ler, nem mesmo os que estão em fase escolar. A experiência como professora de

Língua Portuguesa e o trabalho desenvolvido em estágio e tempo de observação e intervenção

em uma turma de quinto ano de uma escola municipal propuseram uma reflexão sobre quais

os fatores que interferem no processo da leitura, entendendo que são poucos os que se

interessam e são muitos os que apresentam dificuldades em escrever.

A escola, assim, é o espaço social e educativo que tem a possibilidade de tratar desse

assunto com bastante propriedade, pois por meio do trabalho pedagógico comprometido com

a formação e desenvolvimento de cada sujeito é possível oferecer aos alunos diversas

situações de leitura.

No contexto do trabalho pedagógico realizado pela escola, são inúmeras formas de mediação que se estabelecem entre as crianças e o conhecimento. Entre elas destacamos a mediação do outro, que ensina e faz junto, permitindo a construção partilhada; a mediação dos signos linguísticos e dos recursos sistematizados pedagogicamente, que permeiam todas as interações, organizando os instrumentos para a atividade intelectual (NOGUEIRA, 1996, p. 17).

Dessa maneira, por meio da escola, da educação, mediante o processo histórico, “os

homens são levados à apropriação dos conteúdos produzidos pela humanidade”. (FRANCO;

REZENDE, 2011, p.114).

A leitura é um processo que antecede a escrita, considerando que entender o mundo,

analisar a linguagem não-verbal torna-se possível pelo próprio contato com a linguagem oral.

Entretanto, é a escrita que garante o processo de perpetuação dos acontecimentos, das

historias, é uma das tecnologias que garantem a efetivação dos conceitos, dos estudos que já

foram realizados, das ideias, dos sentimentos, enfim, é por meio dela que a humanidade se

constrói.

Análise e Discussão sobre a Pesquisa de Campo

Realizamos nosso trabalho pautado na pesquisa qualitativa que conforme a concepção

de Bogdan e Biklen apud (LUDKE; ANDRÉ, 1986), supõe o contato direto e prolongado do

pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, normalmente pelo

trabalho intensivo de campo, também chamado de naturalístico; além disso os dados

coletados são predominantemente descritivos; há uma preocupação muito maior com o

processo do que com o produto; há uma tentativa de capturar a “perspectiva dos

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participantes”, ou seja, a busca pelo “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida

são focos de atenção especial pelo pesquisador; e, processo indutivo na análise dos dados.

Não ocorre a preocupação em buscar evidências.

Desta forma, a pesquisa pautou-se num campo bibliográfico, por meio de livros,

artigos e periódicos que proporcionem uma estrutura científica para nosso estudo. Além disso,

foi realizada uma pesquisa de campo, tendo como objeto de estudo os textos produzidos por

alunos de um quinto ano das Séries Iniciais do Ensino Fundamental, da rede municipal de

ensino, de Ibiporã, norte do Paraná.

O material produzido pelos alunos e analisados foi selecionado seguindo o critério de

nível de aprendizagem da turma de modo geral, pois todos os alunos participaram das

atividades propostas durante o acompanhamento da sala de aula, e conforme as produções

aconteciam, eram corrigidas e analisadas as semelhanças de apropriação dos conteúdos

trabalhados dentro da produção bem como das dificuldades.

Assim, após o estudo de cada produção, foi feita uma divisão em três grupos de

classificação das produções textuais e de cada grupo foi escolhido um representante.

A pesquisa bibliográfica foi de fundamental importância para o amadurecimento e

compreensão de nossas ideias em relação ao processo de desenvolvimento da aprendizagem,

considerando a leitura e a escrita para a produção de textos. Portanto, para enriquecer ainda

mais o estudo realizado, partimos para uma pesquisa de campo a qual aconteceu em uma

escola municipal no município de Ibiporã.

A turma escolhida para a observação, aplicação das atividades, correção e análise foi

do quinto ano do Ensino Fundamental, sendo a mesma em que foi realizado o Estágio

obrigatório de Ensino Fundamental das Séries Iniciais.

Apesar de ser uma escola central, recebe alunos oriundos de bairros distantes, da zona

rural e da área central. A instituição atende alunos tanto do ensino regular quanto do ensino

especial, sendo dezesseis turmas regulares e duas classes especiais.

Depois da leitura do PPP, partimos para a análise do Planejamento Anual e Planos de

Aula da professora, da turma observada, com o intuito de verificarmos como se dá a

integração entre o PPP, na teoria, e a prática (por meio dos Planos de Aula e suas execuções).

Em relação aos conteúdos, em todos os bimestres há a presença da produção de texto

por meio da prática da leitura e da escrita. Em relação aos gêneros, no primeiro bimestre foi

pontuado relatos de experiências vividas pelo aluno; contos de fadas; com o objetivo de focar

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a narrativa. No segundo bimestre, os gêneros bilhete e convite ficaram em evidência,

entretanto, a professora ainda apontou o trabalho com sequência narrativa a partir de

desenhos, figuras. No terceiro bimestre, o Plano de Aula contemplava um trabalho de

produção textual a partir da leitura de alguns livros. De acordo com os procedimentos

metodológicos do Plano de Aula, os alunos deveriam pegar um livro de cada vez na biblioteca

da escola, no dia da semana que é reservado para esta turma, após este momento da leitura, os

alunos deveriam escrever sobre o livro que mais gostaram, com o objetivo de trabalhar o

gênero resumo. O quarto bimestre foi organizado em gêneros como propagandas,

contemplando a linguagem não verbal; história em quadrinhos, favorecendo a descrição e a

narração.

Assim, a pesquisa de campo, em um primeiro momento, foi de caráter de observação,

das aulas, dos cadernos dos alunos, do Projeto Político Pedagógico e Planos de Aula. De um

modo geral, as professoras da referida escola procuram trabalhar de maneira integrada para

favorecer o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos. Há vários projetos semanais que

contemplam a Arte (Canto Coral, Desenhos, Dança e Teatro), além de Informática, Projeto

Leitura e aulas de Educação Física.

Uma das reclamações frequentes da professora regente da turma determinada para a

pesquisa é que, pelo fato de a escola oferecer muitas atividades aos alunos em forma de

Projeto, prejudica o andamento das aulas, demonstrando uma preocupação por parte dela com

a aplicação dos conteúdos. Entretanto, durante as observações das aulas, foi possível entender

que a ansiedade da professora, em relação à quantidade de conteúdo que ela tem conseguido

trabalhar com os alunos em sala, acontece pela cobrança velada que há por parte da equipe

pedagógica a qual acompanha o Diário de Classe das professoras, vista as atividades que são

enviadas à Prefeitura para fotocopiar e questiona sobre a quantidade de conteúdo trabalhado

durante o bimestre como forma de garantir a aprendizagem aos alunos.

Além disso, a professora pontuou que há uma projeto de formação e capacitação de

professores oferecido pela Secretaria Municipal de Educação em parceria com a Universidade

Estadual da região que viabiliza a discussão entre os docentes sobre a prática da leitura e da

produção textual e que devido a este projeto é esperado que os professores promovam pelo

menos uma produção de texto por semana. No entanto, devido às reclamações da professora

em relação à falta de tempo para trabalhar todos os conteúdos, a produção escrita de textos

acabou ficando em segundo plano durante o ano letivo de 2012.

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Assim, durante o primeiro e o segundo bimestre fizemos a observação das aulas e das

atividades de leitura, escrita e produção textual. A professora apresentou forte domínio de

turma, os alunos demonstraram uma relação de confiança com a docente, como também há

um clima de respeito, de amizade e de afetividade entre todos. Os conteúdos são bem

explicados e apesar de a professora apresentar uma postura de autoridade na sala, os alunos

não ficam constrangidos em pedir para que ela explique novamente quando eles ficam com

dúvidas, o que torna a aprendizagem significativa.

Neste primeiro momento não ocorreram intervenções nas produções textuais, apenas

observação e análise das atividades e das produções, foi preciso conhecer os alunos, verificar

se os alunos apresentariam dificuldades em termos de leitura e de escrita, para depois apontar

se a partir das intervenções haveria alguma melhoria ou não em termos de desenvolvimento

dos textos, da própria prática de leitura. Conforme o contato com os alunos da turma foi sendo

fortalecido e a confiança deles na pessoa da pesquisadora consolidada, demos início a leitura

das atividades produzidas por eles com o objetivo de estabelecer critérios de correção, de

diferenciação dos textos para delimitar a quantidade de textos que seriam analisados.

Depois desse processo de estudo dos textos e das observações em sala, separamos os

textos em três grupos (ótimo; bom e regular), seguindo os critérios de estrutura do texto;

referência ao gênero proposto; expansão das ideias, criatividades; vocabulário e ortografia. Os

textos que se aproximaram dos critérios pré-estabelecidos foram classificados como ótimos;

os que apresentaram alguns desvios significativos dos critérios foram classificados como

bons; e, aqueles que demonstraram maiores dificuldades em atender os critérios foram

classificados como regulares. Desse modo, considerando o processo de seleção dos textos, foi

escolhido um aluno de cada nível textual (ótimo, bom e regular), sendo que foram analisadas

produções textuais de cada um destes três alunos que serão chamados nesta pesquisa de Aluno

A (representa o grupo de textos com conceito ótimo); Aluno B (representa o grupo de textos

com conceito bom); e, Aluno C (representa o grupo de textos com conceito regular) desde o

primeiro bimestre até meados do quarto bimestre do ano letivo de 2012.

Apresentaremos, contudo, neste trabalho, um recorte da análise realizada no corpo

integral da pesquisa, para demonstrar a importância do professor mediador no processo de

leitura e de escrita, como propiciador do desenvolvimento da aprendizagem, utilizando como

instrumento de pesquisa e de análise a produção de textos.

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A primeira atividade foi aplicada pela professora regente no dia 25 de abril de 2012.

Optamos por escolher um texto já do final do primeiro bimestre, considerando a importância

do fator tempo de mediação do conhecimento. No início do ano letivo, os alunos demoram

um pouco para apropriarem-se da nova etapa que estão cursando, dos conteúdos, da

metodologia e da dinâmica de aula dos seus novos docentes.

A professora abordou o gênero de contos, oportunizando Chapeuzinho Vermelho,

entretanto em forma de figuras (Figura 1), para que os alunos construíssem a história

mediante a análise dos desenhos. Os textos disponibilizados do aluno A desta primeira

atividade já são após a correção, pois a professora não tinha a prática de orientar a elaboração

da primeira versão das produções textuais no caderno, os alunos faziam em uma folha

separada e depois da correção, passavam as produções para o caderno.

Figura 1 – Chapeuzinho Vermelho

A figura 2 trata-se do texto do aluno A:

Figura 2 – Chapeuzinho Vermelho na versão Chapeuzinho em perigo

Fonte: Aluno A – do quinto ano do Ensino Fundamental das Séries Iniciais

O aluno A em seu texto “Chapeuzinho em perigo” (figura 1) apresentou uma

sequência narrativa coerente, do início ao fim. Um dos elementos para desenvolvermos com

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ele foi a estruturação do texto como: recuo de parágrafo; estrutura entre os parágrafos,

marcação dos diálogos; saber diferenciar a fala do narrador e das personagens. Em termos de

vocabulário e ortografia, o aluno demonstrou segurança e propriedade para utilizar pronomes

oblíquos como, por exemplo, em: “quando eu chegar na casa da vovó irei devorá-la e

quando Chapeuzinho chegar irei devorá-la também.” Outro exemplo de retomada

pronominal ocorreu no início do texto, na linha 2, “Chapeuzinho estava indo para a casa de

sua avó quando no caminho encontrou um lobo, ele fez um balanço para ela...”. A presença

de “sua” e “ela” retomam “Chapeuzinho” e “ele” retoma “lobo”, evitando a repetição.

A segunda atividade analisada (figura 4) foi sobre o tema “Preservando a natureza”. A

professora entregou aos alunos uma tira com quatro quadrinhos (figura 3) para que os mesmos

desenvolvessem um texto a partir dos desenhos. O aluno A apresentou um pouco de

dificuldade para estruturar o texto, em relação à utilização dos tempos verbais; pessoas do

discurso; ora pontuou em 1ª pessoa do plural “nós”, ora usou o verbo no modo imperativo, em

outro momento usou o pronome você. No entanto, ele conseguiu abordar a temática, seguindo

os desenhos de cada quadrinho e demonstrou reconhecer o assunto, extrapolando o contexto

da tira, ao falar sobre balões, pesca predatória, falou de um futuro melhor para as crianças.

Figura 3 – Preservando a Natureza

Figura 4 – Preservando a Natureza

Fonte: Aluno A – do quinto ano do Ensino Fundamental das Séries Iniciais

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A terceira atividade foi desenvolvida já no terceiro bimestre, em 30 de agosto de 2012.

Os alunos tiveram a oportunidade de pegar livros na biblioteca da escola, toda a semana.

Inclusive puderam realizar a leitura dos mesmos em suas casas. O objetivo foi desenvolver o

gênero resumo.

Yunes (2002) afirmou que o movimento desencadeado pela literatura mobiliza os

afetos, a percepção e a razão, sendo capaz de tornar a leitura prazerosa.

Consideramos que a atividade de leitura mediada pela professora regente oportunizou

um momento de interação de cada aluno consigo mesmo, por meio da imaginação,

favorecendo a criatividade.

Nesta atividade quatro (figura 5), o aluno A escreveu sobre o livro “As viagens de

Ulisses”. Ele demonstrou propriedade quanto ao gênero proposto pela professora.

Observamos que até o momento dessa atividade os desvios da língua e os problemas de

estrutura e pontuação ainda eram praticamente os mesmos.

Figura 5 – As viagens de Ulisses

Fonte: Aluno A – do quinto ano do Ensino Fundamental das Séries Iniciais

Durante os três primeiros bimestres de observação para a pesquisa de campo, chamou-

nos a atenção o modo como a professora regente efetivou a correção dos textos, pois só foram

apontados os erros ortográficos, sem que houvesse uma conduta de autoavaliação do aluno

sobre o próprio texto, ou seja, as correções não promoviam reflexão.

A mediação dialética do professor é fundamental para promover reflexão sobre a

prática da escrita na produção textual. Outro ponto de análise são os instrumentos utilizados

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para promover a base da produção de texto. Apenas em um momento (3º bimestre), que a

professora fez a integração da leitura como fundamentação para a produção escrita.

Considerando todo este contexto e ações pedagógicas, foram organizadas duas

intervenções de leitura e escrita para serem trabalhadas com os alunos no início do quarto

bimestre.

A primeira proposta foi o livro “A Rosa Flor e a Moura torta”, de Pedro Bandeira e a

segunda foram os Quadrões de Maurício de Souza, obras de arte. Neste recorte,

apresentaremos apenas a primeira atividade de intervenção, que foi um momento de muita

interação e ocorreu no dia 04 de outubro de 2012. Utilizamos o data show como recurso

material para realizarmos a leitura do livro “A Rosa Flor e a Moura torta”, o qual fora

digitalizado, facilitando o contato visual para todos. Fizemos a leitura coletiva da história,

conforme pontuou Rezende (2009, p. 8) “...não é suficiente que solicitemos leituras aos

nossos alunos. É necessário que realizemos leituras com eles”. Assim, à medida que o enredo

era apresentado, mais envolvidos os alunos ficavam. Como a história é um pouco extensa, foi

preciso interagir durante a leitura, fazer alguns questionamentos sobre as atitudes das

personagens, pedir para que os alunos imaginassem o que poderia acontecer em seguida na

história, e era perceptível o interesse da turma em participar.

Após o término da leitura, as crianças foram conduzidas para uma reflexão sobre a

história. Muitos pontuaram a falha dos dois filhos, o mais velho e o do meio, por não terem

dado importância às orientações feitas pelo pai e valorizaram a atitude do filho mais novo que

foi o único a lembrar-se das palavras de seu pai. A presença da bruxa e a sua maldade também

chamou a atenção de todos e o fato da Rosa Flor ter vencido todos os feitiços da Moura Torta

provocou entusiasmo nos alunos.

Depois dessa breve retrospectiva da história, pedimos para que todos observassem a

estrutura do texto, a fala do narrador, das personagens, o recurso do travessão, o recuo de

parágrafo, a sequência narrativa, o clímax da história, as ações que antecederam o clímax e o

desfecho do enredo. Visualizamos cada aspecto mencionado, repassando as páginas do livro.

Em relação à utilização dos contos de fadas e da narrativa como instrumentos de

leitura e de produção de textos, Landsmann (2003, p. 67) pontuou que,

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Os contos de fadas têm uma forma e um conteúdo que tornam muito difícil “apagar suas palavras”; as crianças querem escutá-los tais como são, e quando os repetem são fiéis ao relato. [...] A narrativa é apenas um dos modos discursivos assumidos pelo escrito; existem muitos outros: anúncios publicitários, informações sobre acidentes, encontros de políticos, descrições metereológicas. [...]

Em seguida, as crianças foram orientadas para elaborarem as suas próprias histórias.

Optamos pela produção narrativa, por causa das observações que tínhamos feito quanto aos

problemas e dificuldades que encontramos nas atividades anteriores, assim o objetivo

principal era o de promover o desenvolvimento da aprendizagem pela mediação da

professora.

Portanto, deveriam produzir uma narrativa, com originalidade, usando a criatividade e

considerando os itens da narrativa que tinham sido abordados após a leitura do livro da “Rosa

Flor e a Moura Torta” de Pedro Bandeira.

Uma questão que consideramos importante para a visualização e aprendizagem foi

pedir aos alunos que produzissem a primeira versão já no caderno para que eles percebessem

a correção e as sugestões da professora, e, ao longo do processo, sentirem o desenvolvimento

de seus textos.

O aluno A produziu a história com o título “Aventuras no Espaço”. Para corrigir essa

atividade, levamos em consideração os problemas apresentados nos textos produzidos por ele

nos bimestres anteriores, em particular a repetição de alguns vocábulos. Desta forma,

concentramos-nos mais no 2º e no 3º parágrafos onde as repetições foram mais evidentes.

A orientação dada ao aluno foi para que observasse as palavras circuladas e tentasse

refazer o texto, unindo melhor as informações. Ao ler as indicações para a refacção, ele

perguntou como poderia resolver tal situação. Então, foram oportunizados outros exemplos de

pequenos trechos para que o mesmo percebesse a possibilidade do uso de verbos desinenciais,

ou de outros pronomes. Após os exemplos dados, o aluno A disse que era fácil e que poderia

refazer o texto. Ao terminar a refacção, verificamos que havia se apropriado da explicação,

uma vez que incorporou as indicações da correção dentro de seu texto. Conforme demonstram

os trechos 1 e 2 abaixo:

Figura 6 – Trecho da primeira versão do texto “Aventuras no Espaço”

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Fonte: Aluno A – do quinto ano do Ensino Fundamental das Séries Iniciais

Figura 7 – Trecho da segunda versão do texto “Aventuras no Espaço”

Fonte: Aluno A – do quinto ano do Ensino Fundamental das Séries Iniciais

Comparando as duas versões é possível observar as seguintes alterações entre o

momento da correção e da refacção:

Quadro 1 – Análise comparativa da correção e refacção

Análise comparativa da primeira versão por linha (l.)

Análise comparativa da segunda versão por linha (l.)

l. 2: [...] “só ele” [...] l. 2: [...] “nenhum outro” [...] l . 3: [...] “quando ele” [...] l . 3: [...] “Jeik recebendo esta mensagem” [...] l . 5: [...] “quando ele” [...] l . 5: [...] “chegando lá” [...] l . 5: [...] “chegou lá” [...] l . 5: [...] “ ” [...] l . 6: [...] “chegando lá” [...] l . 6: [...] “quando chegou” [...] l . 7: [...] “ele encontrou” [...] l . 7: [...] “encontrou” [...] l . 8: [...] “disseram a ele que ele” [...] l . 8: [...] “disseram-lhe que ele” [...] l . 10: [...] “chegando no templo” [...] l . 11: [...] “no templo” [...] l . 11: [...] “ele precisava” [...] l . 11: [...] “Jeik precisava” [...]

Fonte: A autora.

As atividades apresentadas neste trabalho são exemplares para análise, sendo que

todos os 29 alunos que compõem a turma foram auxiliados durante as intervenções e tiveram

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seus cadernos corrigidos, tendo o direito de discutir sobre os apontamentos feitos pela

professora, bem como refletir sobre os erros. Deste modo, a turma toda foi acompanhada no

processo de refacção.

Considerações Finais

Durante o período de estágio nas séries iniciais do ensino fundamental, foi possível

verificar que a visão sobre a leitura e a escrita ainda é fragmentada e, na maioria das vezes, os

textos são utilizados como pretextos para produções textuais obrigatórias, ou seja, que acabam

sendo aplicadas apenas para cumprir os planos de aula.

Por meio da observação das atividades realizadas pelos alunos do quinto ano, vimos

que nem sempre a leitura é colocada em prática, principalmente, quando são disponibilizadas

figuras que servem de texto base para as produções, tornando a prática textual uma obrigação,

algo sem sentido.

Ao oportunizar a atividade com o livro “Rosa Flor e a Moura Torta”, de Pedro

Bandeira, as crianças ficaram totalmente envolvidas, pela maneira como a leitura foi

realizada, pelo prazer que encontraram ao ler, pois a produção foi apresentada como uma

consequência daquele momento que deveria ser aproveitado. Os alunos entenderam a situação

e participaram da leitura coletiva, teve momentos de interação, permitindo a participação do

grupo durante a narrativa.

Em relação à literatura, Candido (2000) aponta que a mesma deve ser entendida como

fenômeno de civilização, e deve constituir-se e caracterizar-se, do entrelaçamento de vários

fatores sociais.

Percebemos pelas intervenções feitas que a primeira tarefa é investigar as influências

concretas exercidas pelos fatores socioculturais. É difícil discriminá-los na sua quantidade e

variedade, “mas podemos dizer que os mais decisivos se ligam à estrutura social, aos valores

e ideologias, às técnicas de comunicação”. (CANDIDO, 2000, p.20).

Podemos, então dizer que por meio da literatura os professores podem discutir a

possibilidade de formar leitores e de atuar em sala de aula de maneira contextualizada e

compatível com a presença dos múltiplos textos que nos rodeiam.

O fato de o professor aproximar-se do aluno e mediar o conhecimento faz toda a

diferença em relação ao desenvolvimento da aprendizagem. Tal afirmação esteve presente

durante o período de observação e de intervenção do estágio e da pesquisa de campo, pois ao

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passo que a aproximação tanto da professora regente quanto da pesquisadora ocorria, as

crianças sentiam mais interesse em participar e produzir e interagiam no processo das

atividades.

REFERÊNCIAS

CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. São Paulo: T. A. Queiroz, 2000.

FRANCO, Sandra Aparecida Pires. REZENDE, Lucinea Aparecida de. Arte e Literatura Infantil: aproximações. In: CHAVES, Marta. SETOGUTI, Ruth Izumi. VOLSI, Maria Eunice França. A função social da escola: das políticas públicas às práticas pedagógicas. Maringá: Eduem, 2011.

LANDSMANN, Liliana Tolchinsky. Aprendizagem da linguagem escrita: processos evolutivos e implicações didáticas. 3 ed. São Paulo: Ática, 2003.

LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Abordagens qualitativas de pesquisa: a pesquisa etnográfica e o estudo de caso. In: Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986, p. 11-24.

MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Função social da escola: aspectos históricos e metodológicos da alfabetização. In: CHAVES, Marta. SETOGUTI, Ruth Izumi. VOLSI, Maria Eunice França. A função social da escola: das políticas públicas às práticas pedagógicas. Maringá: Eduem, 2011.

NOGUEIRA, Ana Lúcia Horta. Eu leio, ele lê, nós lemos: processos de negociação na construção da leitura. In: SMOLKA, Ana Luiza B. GÓES, Maria Cecília R. de. A linguagem e o outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento. 5 ed. Campinas, SP: Papirus, 1996.

REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 21 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

REZENDE, Lucinea Aparecida. Leitura e formação de leitores: vivências teórico-práticas. Londrina: EDUEL, 2009.

SAVIANI, Dermeval. Educação: do Senso Comum à Consciência Filosófica. 13. ed. Campinas: Autores Associados, 2000.

SOUSA, Mauricio de. História em quadrões. São Paulo: Globo, 2002.

TULESKI, Silvana Calvo. Vygotski: a construção de uma psicologia marxista. 2 ed. Maringá: Eduem, 2008.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1996.

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YUNES, Eliana (org.). Pensar a Leitura: Complexidade. Rio de Janeiro: Ed. PUC; Loyola, 2002.