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E ste é um relato de algumas aulas da disci- plina da Matemática de uma das minhas turmas do 8.º ano, de uma escola E. B. 2, 3 do Alentejo, com a qual decidi experimentar as práticas lectivas do Modelo Pedagógico do M.E.M.. A vontade que sempre tive de poder pro- porcionar a todos os meus alunos, sem excep- ção, aprendizagens mais conscientes e de maior qualidade no domínio dos saberes mate- máticos, de contribuir para o desenvolvimento da sua autonomia e participação responsável na vida da turma, encontrou respostas concretas neste Modelo Pedagógico, que o «acaso» atra- vessou no meu trajecto profissional. Por sugestão dos colegas que me apresenta- ram este Modelo fui registando, em forma de relato, o que ia acontecendo nestas aulas. A partir deste relato, e com a ajuda dos colegas do M.E.M., fui reflectindo, corrigindo e me- lhorando o meu trabalho com este modelo. E esse relato é o que a seguir apresento. Relatos Data: 22 de Fevereiro de 1999, 2.ª feira. Relato da 1.ª Assembleia de Turma do 8.ª A de uma E. B. 2, 3 do Alentejo, na dis- ciplina de matemática, no ano lectivo de 1998/99. Neste relato destacam-se os comentários dos alunos, mais que as práticas do professor. En- tendi que assim deveria ser apresentado, por- que para primeira aula deste tipo, o mais im- portante é mesmo a reacção dos alunos. O professor chega à sala, e alguns alunos, ainda poucos, estão à porta. Carrega um saco de viagem onde transporta materiais novos para mostrar aos alunos, e um «tubo» para transportar desenhos de formatos grandes. – Então Professor, vai de viagem? – Professor, que é que aí traz? O professor escreve o sumário no quadro: Assembleia de Turma. Mafalda: O que é isso de Assembleia de Turma? O Professor tira do saco os materiais que vai mostrar. Coloca cada ficheiro sobre uma mesa vaga, e de seguida, tira do saco um monte de livros. Pedro: professor, isso aí é uma «Biblioteca de Turma»? Ai é? G’anda pinta! João: Eu tenho livros de matemática que podia trazer para aqui, mas são de 1973. O Professor apresenta o novo modelo de aulas – Assembleia de Turma, Trabalho Autó- nomo (projecto e estudo), Comunicações – e o que se pretende dos alunos: estudo para apren- der mais com livros, fichas autocorrectivas, co- legas e o professor; projectos para descobrir coisas novas, assumir responsabilidades... Professor: Por exemplo, um bom aluno po- deria assumir a responsabilidade de apoiar o 22 ESCOLA MODERNA Nº 18•5ª série•2003 A Matemática ao Vivo no Modelo Pedagógico do M.E.M. Renato Luciano* * 3.º Ciclo do Ensino Básico.

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Este é um relato de algumas aulas da disci-plina da Matemática de uma das minhas

turmas do 8.º ano, de uma escola E. B. 2, 3 doAlentejo, com a qual decidi experimentar aspráticas lectivas do Modelo Pedagógico doM.E.M..

A vontade que sempre tive de poder pro-porcionar a todos os meus alunos, sem excep-ção, aprendizagens mais conscientes e demaior qualidade no domínio dos saberes mate-máticos, de contribuir para o desenvolvimentoda sua autonomia e participação responsável navida da turma, encontrou respostas concretasneste Modelo Pedagógico, que o «acaso» atra-vessou no meu trajecto profissional.

Por sugestão dos colegas que me apresenta-ram este Modelo fui registando, em forma derelato, o que ia acontecendo nestas aulas. Apartir deste relato, e com a ajuda dos colegasdo M.E.M., fui reflectindo, corrigindo e me-lhorando o meu trabalho com este modelo.

E esse relato é o que a seguir apresento.

Relatos

Data: 22 de Fevereiro de 1999, 2.ª feira.Relato da 1.ª Assembleia de Turma do

8.ª A de uma E. B. 2, 3 do Alentejo, na dis-ciplina de matemática, no ano lectivo de1998/99.

Neste relato destacam-se os comentários dosalunos, mais que as práticas do professor. En-tendi que assim deveria ser apresentado, por-que para primeira aula deste tipo, o mais im-portante é mesmo a reacção dos alunos.

O professor chega à sala, e alguns alunos,ainda poucos, estão à porta. Carrega um sacode viagem onde transporta materiais novospara mostrar aos alunos, e um «tubo» paratransportar desenhos de formatos grandes.

– Então Professor, vai de viagem?

– Professor, que é que aí traz?

O professor escreve o sumário no quadro:Assembleia de Turma.

Mafalda: O que é isso de Assembleia deTurma?

O Professor tira do saco os materiais quevai mostrar. Coloca cada ficheiro sobre umamesa vaga, e de seguida, tira do saco ummonte de livros.

Pedro: professor, isso aí é uma «Bibliotecade Turma»? Ai é? G’anda pinta!

João: Eu tenho livros de matemática quepodia trazer para aqui, mas são de 1973.

O Professor apresenta o novo modelo deaulas – Assembleia de Turma, Trabalho Autó-nomo (projecto e estudo), Comunicações – e oque se pretende dos alunos: estudo para apren-der mais com livros, fichas autocorrectivas, co-legas e o professor; projectos para descobrircoisas novas, assumir responsabilidades...

Professor: Por exemplo, um bom aluno po-deria assumir a responsabilidade de apoiar o

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A Matemática ao Vivo no Modelo Pedagógico do M.E.M.

Renato Luciano*

* 3.º Ciclo do Ensino Básico.

estudo de um aluno mais atrasado, ajudando-oa subir para um nível positivo. Seria até inte-ressante que o aluno de 5, só pudesse repetireste nível nos próximos períodos, se ajudassealgum colega mais atrasado a obter nível posi-tivo.

André (aluno de 5): Acho mal, porque há aíalguns que são mais «duros» que eu sei lá oquê!

Vânia (aluna também de 5): Para fazer issoquero 6!

Os alunos são convidados a circular em gru-pos entre ficheiros (fichas auto-correctivas eguiões dos projectos), caixa de materiais e bi-blioteca de turma, e cartaz de planificação doprograma. O professor explica a utilidade docartaz de planificação do programa (Ver pp. 24

e 25 – Planificação do Programa) aos diversosgrupos de alunos, e deixa-os livres para esco-lherem projectos ou fichas, e os colegas paratrabalharem em grupo.

Vânia: Professor, quero fazer uma ficha so-bre «rectas perpendiculares a planos», que éuma matéria que eu não entendi muito bem.Mas não a quero fazer já. Agora quero fazerum projecto.

O André e o Luís escolheram o projecto«Tempo de duração dos programas da SIC»,mas querem fazê-lo com a Cátia e a Mafalda.

Professor: É gente a mais.Cátia: Deixe lá, Professor. Eu e a Mafalda

fazemos este outro projecto.Professor: Boa escolha Cátia, porque para

fazerem esse projecto vão ter de sair da sala,durante parte de uma aula.

Luís: Professor, isso está mal! Então nós fi-camos aqui a «vergar a mola» e elas vão passear?

A Vera e a Magda querem usar o Diário deTurma. (Ver figura 1).

Elsa: Professor, ninguém quer fazer esteprojecto comigo!

Henrique: Eu faço este projecto sozinho.Luís (depois de ler o guião do seu projecto):

Professor, somos nós que compramos os ace-tatos? (era sugerido no guião que a apresenta-ção se fizesse com acetatos)

André: Professor, podemos fazer o trabalhoem casa?

João pergunta se pode fazer um projecto di-ferente daqueles que foram apresentados.

A Vânia oferece-se, no final da aula (assumea responsabilidade!) para arrumar os materiaisque foram consultados pelos colegas.

Data: 24 de Fevereiro de 1999, 4.ª feiraRelato da 1.ª Aula de Trabalho Autó-

nomo do 8.º A de uma E. B. 2,3 do Alentejo,na disciplina de Matemática, no ano lectivo de1998/99.

Na aula anterior faltaram os alunos: José,Tiago, David, Gustavo, Fernando e António.Essa foi aula de Assembleia de Turma.

Os outros alunos querem já organizar-sepor grupos, à medida que vão chegando.

Fernando (um dos alunos que faltou na aulapassada): Professor, a Elsa não me deixa sentarno meu lugar e diz que aquele lugar é agora doSérgio.

Digo-lhe, e aos outros, que se sentem noslugares que estiverem vagos.

O Luís quer ajudar-me a fixar o cartaz daPlanificação do programa; a pressa dele deve-se ao facto de já não se lembrar do número doprojecto que vai fazer.

Dou conta que não sobram mesas vagaspara pousar os materiais: ficheiros, bibliotecade turma e caixa de materiais. Além disso, faltaespaço para os alunos circularem. Tenho de

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Figura 1 – Planificação do Programa

trocar com um colega para uma sala maior,com mais mesas e com armário.

O André, o António e a Cátia aceitaram fi-car responsáveis pela biblioteca de turma,caixa de materiais e ficheiro de guiões dos pro-jectos, respectivamente. No quadro escrevi osseus nomes e as tarefas a seu cargo. Voltei a es-quecer-me de combinar com os alunos o «sis-tema de rotação» destas tarefas.

Devido à falta de mesas, deixei a bibliotecade turma na mesa do André, a caixa de mate-riais na mesa do António, bem como as res-pectivas listas. (Ver figuras 2 e 3).

O dossier dos guiões dos projectos teve decircular entre os alunos, igualmente devido àfalta de uma mesa.

Gerou-se alguma confusão, porque todosreclamavam este dossier. Acabou por ficar re-tido pelo José e Tiago, alunos que faltaram naaula anterior. A Maria não aceita tanta curiosi-dade dos colegas e exige energicamente que odossier lhe chegue às mãos.

Tenho o cartaz afixado, peço silêncio, tomoconhecimento de que todos os alunos têm oseu guião e chamo seis alunos que faltaram naaula anterior. Ao pé do cartaz da planificação

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do programa, explico-lhes o que se está a pas-sar. Insisto na existência de ficheiros de fichasautocorrectivas e na sua utilidade para os alu-nos que não tenham ainda aprendido o sufi-ciente de algum assunto, mas todos queremfazer projectos.

Entreguei-lhes hoje o «Plano Individual deTrabalho» (Ver figura 4), mas não parece haverclima para reclamar o seu preenchimento. Es-tão mais preocupados em trabalhar nos projec-tos. Vou circular entre os grupos.

Explico ao André e ao Luís o que é uma ta-bela de frequências absolutas.

O André, responsável pela biblioteca deturma, deu conta que um dos livros não está nalista, e completa-a.

A Cátia e a Mafalda estão a fazer o projecto

«determinar a altura do mastro da bandeira daescola com uma régua», pedem-me ajuda nainterpretação do esquema do guião.

O Gustavo e o António pedem-me explica-ções sobre uma palavra de um texto que estãoa ler. A palavra é «massa».

O Sérgio e a Elsa estão a fazer o projecto«Rally Tejo» consultaram um livro, mas nãoentenderam como se desenha a mediatriz deum segmento de recta; tive de os ajudar, masafinal depressa reconheceram a sua construçãogeométrica – foi só a designação que se esque-ceram.

A Vera e a Magda estão a fazer o projecto«Nova volta ao Alentejo em bicicleta» pergun-taram se podiam tirar fotocópia do mapa que

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Figura 3

estão a usar. Digo-lhes que o que têm é parariscar, apagar, usar como bem entenderem.

Todavia, se quiserem outro, é só pediremno «Turismo de Nisa».

A Cátia e a Mafalda já entenderam as medi-ções que têm de fazer. Aviso-as que têm de re-quisitar a fita métrica. O António, que está afazer um projecto para o qual tem de usar a fitamétrica, já a tinha requisitado, aproveitando ofacto de até ser o responsável pela caixa de ma-teriais. Contudo, como não vai precisar a fitapara já, cedeu-a à Cátia.

A Cátia e a Mafalda pedem-me autorizaçãopara sair da sala a fim de fazerem as mediçõespara o seu projecto.

A Vânia e a Marta estão a fazer o projecto«N.º de golos marcados fora e em casa»; não en-tendem como ler do recorte do jornal, os golos

marcados em casa e fora; depois de as ajudar,sugiro-lhes e elas aceitam, que preencham a co-luna «clubes» das tabelas de frequências abso-lutas, pela ordem indicada no recorte de jornal.A Vanessa (percurso de prova de atletismo emNisa) pede explicação sobre o conceito quedeve investigar; dou-lhe uma breve explicaçãoe aconselho-a a consultar outros livros.

A Cátia e a Mafalda chegam e dizem que afita métrica de 5 metros é curta para a mediçãoque têm de fazer. Explico-lhes como resolveresse problema, todavia já não podem voltar asair, porque o tempo de aula está a acabar. Re-gistam essa tarefa no seu «Plano Individual deTrabalho», para realizarem na próxima aula detrabalho autónomo. Faltam cerca de 3 minutospara o fim da aula, e dou por concluído o tem-po de trabalho; os alunos entregam os livros,

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Figura 4

materiais e guiões de projectos aos respectivosresponsáveis, que fazem as verificações. O Gus-tavo diz que, para a próxima aula, quer ser res-ponsável por alguma coisa.

Lembro aos alunos que assumiram a reali-zação das tarefas atrás referidas, para o anota-rem no seu plano individual de trabalho, norectângulo «Responsabilidades: Assumi estas!»

As aulas de 25 e 26 de Fevereiro são Liçõesdo Professor.

Data: 1 de Março de 1999, 2.ª feira.Relato da 2.ª assembleia de Turma do

8.º A de uma E.B. 2,3 do Alentejo, na disciplinade Matemática, no ano lectivo de 1998/99.

Esta assembleia de turma foi realizada paraesclarecer os alunos sobre o preenchimento eutilidade do «Plano Individual de Trabalho», ediscussão do comportamento recente da tur-ma. Depois de cumprir o primeiro objectivodesta Assembleia de Turma, passei ao segundo,lembrando aos alunos que a participação de to-dos na discussão que íamos começar, seriamuito importante e desejável. Por duas vezes,no mês de Fevereiro, os alunos fizeram fichasde trabalho, que não puderam escolher devidoa agirem com comportamentos perturbadoresdurante as aulas. Neste dia, entreguei a se-gunda destas fichas.

Professor: Curiosamente os alunos mais fa-ladores tiveram boa nota. Os alunos com maisdificuldades, continuaram a ter má nota. Pa-rece que o vosso comportamento não preju-dica os bons alunos, mesmo que faladores,mas impede a melhoria dos mais fracos. Entãotemos de descobrir a maneira de ajudar quemtem dificuldades, e isto passa por melhoraremo vosso comportamento.

Fernando: Podia sentar-se um aluno fracoao pé de um aluno bom, para este o ajudar.

André (aluno de 5): Não acho, porque omais fraco pode distrair o aluno bom, que saiprejudicado.

Tiago: Fala por ti. Tens cá uma lata!

Professor: Não será assim André, porque osalunos desta turma até já são bastante falado-res e distraídos, mesmo os bons alunos.

David: Se ele não quer, não ajude! Mas olha(dirigindo-se ao André) o Gustavo, o Fernando,o João, o Luís não se importam de ajudar ou-tros colegas.

Professor: Também é verdade! Não temosde obrigar ninguém a ajudar os colegas.

A turma agita-se e já não se ouvem uns aosoutros. Lembro que numa assembleia de turmatodos devem falar e todos devem ouvir. Porisso, temos de participar com ordem. Falar parao lado, ignorando os outros, não ajuda nada.

Luís: Eu quero dizer uma coisa. Não gostodas assembleias de turma nem das aulas de tra-balho autónomo.

Tiago: Professor, ele que escreva isso no«diário» (o Tiago refere-se ao Diário de Turma).

Luís: tem-no aí, Professor? (Ver figura 5).

André: Professor, no diário temos de escre-ver só coisas negativas ou podemos tambémescrever coisas boas?

Professor: Deves escrever o que achas mal,para podermos corrigir, e também as coisasboas para sabermos o que está a correr bem!Mas voltando à sugestão do Fernando, eu en-tendo que é de pôr em prática. Todavia, istonão resolve o problema da vossa permanenteagitação.

Gustavo: Falte mais vezes! Nesses dias nósjá não nos portamos mal. Também não apren-demos nada. Mas não nos portamos mal.

Professor: Não é praticável.Fernando: Mande trabalhos para casa. Pesa-

dos!

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Figura 5

Professor: Acham bem?

Nada como dar-lhes oportunidade para fa-larem! Ignoram-me e esquecem o motivo des-ta conversa. Repito o que já tinha dito sobreAssembleias de Turma.

Professor: Então, aceitamos esta sugestãodo Fernando. Mas tem de haver outras!

Gustavo: E se mandar escrever 2000 vezes«eu não me volto a portar mal na aula»? Ia verlogo que a gente já pensava duas vezes antesde nos portarmos mal.

Professor: Gustavo, este mês fizeram dois«exercícios obrigatórios», por causa do com-portamento, o que me parece ser uma medidabem mais severa. O resultado não foi famoso.Poucas aulas depois, a turma repetiu o com-portamento que tinha motivado esses testes.Temos de descobrir medidas mais educativas eeficientes.

Luís: E com os exercícios, ficamos compouco tempo para a matéria.

Professor: Vocês só estiveram a fazer exer-cícios que fariam de qualquer maneira, mas nocaderno. Portanto não se perdeu muito tempo.

Luís: A culpa é da nossa professora da es-cola primária que nos deixou traumatizados.

Professor: E vingam-se em mim?! Temos deencontrar soluções para um problema que é dehoje.

Tiago: Mande gente para a rua.Professor: Não é lá muito educativa, essa

medida!André: Já sei! Marque a falta e o aluno não

sai! Assim já não perde a matéria.Professor: Está melhor! Mas quando é que

devemos aplicar essas medidas?

Vários: Quando alguém se porta mal.Professor: Então, dêem-me um exemplo de

mau comportamento.Sónia: Quando falamos e o professor está a

dar matéria.Deu o toque de saída, e a aula acabou.As medidas disciplinares que foram sendo

aprovadas foram registadas no Diário de Turma,pela secretária Vera. (Ver figura 6).

Data: 3 de Março de 1999, 4.ª feiraRelato da 2.ª Aula de Trabalho Autó-

nomo do 8.º A de uma E.B.2,3 do Alentejo, nadisciplina de Matemática, no ano lectivo de1998/99.

Esta aula decorre já numa sala maior, e comarmário. Coloco todos os materiais (documen-tos diversos, caixa de materiais, ficheiros) noarmário. Os alunos vão entrando, e sabendoque a aula é diferente, estão ainda mais agita-dos do que é hábito. (Ver figura 7).

Peço ajuda ao Victor e ao Carlos para afixaro cartaz da planificação do programa, no qua-dro.

Gustavo: Professor, professor, professor, euajudo, eu faço.

Fernando (de forma perfeitamente audível):Graxa!

Marta: Professor, onde está o Diário deTurma? (Ver figura 8).

Aponto-lhe a minha mesa.

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Figura 6

Figura 7

A agitação é exagerada, mas não se deve aotrabalho.

Peço SILÊNCIO!A Vera não está ao pé dos outros elementos

do seu grupo, e falta-lhe uma mesa.Professor: Vera, já devias estar ao pé do teu

grupo.Dirijo-me à mesa que ela deixou vaga, en-

costo-a à parede, e nela pouso o dossier dosguiões dos projectos e o Diário de Turma.

A turma está novamente agitada, mas estãotodos sentados. O meu «estaminé» está pronto,e agora já lhes posso «cascar».

Professor: Oh minhas alminhas! Como éque estão a pensar que os guiões dos vossosprojectos vos vão parar às mãos? Têm de se le-vantar e ir buscá-los ao dossier (e vou apon-tando para a respectiva mesa).

O Luís prefere ir em primeiro lugar ao ar-mário requisitar um livro, tendo falado antescom o respectivo responsável: o Fernando.

Dou conta que voltou o barulho. Mas tam-bém há trabalho (e entusiasmo?!)

Victor: Professor, chegue lá aqui. Já temosos golos que cada guarda-redes sofreu.

Professor: O quê? O guarda-redes Cândidosofreu, só do Jardel, mais de 100 golos, e emapenas duas épocas?

O Victor e o Carlos acabaram por concordarque o Cândido até é bom guarda-redes. Emconjunto lá demos conta do erro.

Paulo: É que esta coluna é do número de or-dem dos golos. Estávamos a somar os númerosde ordem.

Professor: Então qual é a coluna (recorte dejornal) que têm de analisar?

Cabim: É esta. Depois para os clubes é esta.

Cátia e Mafalda (determinar a altura domastro da bandeira da escola): Professor, já es-tamos em condições de fazer as medições aoposte.

Professor: Então vão. E tenham em atençãocomo fazem as medições.

Fernando (Construção de um medidor deângulos): Professor, podemos desenhar umtriângulo só com um comprimento de lado?

Professor: Sim, desde que conheças as me-didas dos dois ângulos adjacentes a esse lado.

Apercebo-me que o Fernando e o David fi-zeram já a interpretação correcta do guião e jáperceberam para que vai servir o medidor deângulos. Aconselho-os a começarem já a cons-trução do medidor de ângulos.

Gustavo: Professor, este fio...Professor: É para cortar o que precisares.José: Professor, estamos a ter dificuldades.Professor: Têm de analisar cada uma destas

condições. Mediatriz! Já sabem o que é? Comose desenha? Têm aqui uma fotocópia que ex-plica estas coisas.

A Cátia e a Mafalda já voltaram, mas pe-dem para sair outra vez, porque desconfiamque uma medição está errada.

Gustavo: Esta palhinha para o medidor deângulos é pequena.

Mostro-lhe como isto não é importante.O grupo da Márcia voltou a pedir explica-

ção sobre um assunto que já tínhamos discu-tido. Após a explicação, a Sónia do mesmogrupo já entendeu que precisam de um com-passo, e vai requisitá-lo.

Vânia: Professor, não temos papel milimé-trico para fazermos os nossos gráficos.

Professor. O quê? Mas isto já está quasefeito. Sugiro que façam os vossos gráficos, parajá, em papel quadriculado. Se ficarem bem, co-meçam logo a preparar a vossa comunicação. Ese fizessem os gráficos bem grandes, em papelcenário (como o do cartaz da planificação doprograma)?

Se quiserem, podem fazer essa encomendano Diário de Turma.

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Figura 8

O Fernando e o David vêm mostrar-me oseu medidor de ângulos.

Fernando: Professor, já podemos ir usá-lo láfora.

Professor: Vê lá que precisas da fita métrica.E a Cátia e a Mafalda é que a têm agora!

Dou conta que o Gustavo está a um cantoda sala a experimentar o seu medidor de ângu-los, apontando-o ao candeeiro (teria dado umaexcelente fotografia).

Faltam 5 minutos para o fim da aula. Doupor concluído o trabalho de hoje, e aviso-os deque devem registar as tarefas que ficaram porfazer, no Plano Individual de Trabalho, pararealizarem na próxima 4.ª feira.

O Fernando e o Gustavo estão a receber oslivros e materiais, que foram requisitados à bi-blioteca de turma e caixa de materiais, e a fazeras verificações nas respectivas listas. O Henri-que dá conta da falta de um guião.

João: Está aqui, porra!Professor: Diga arroz, seu malcriado!João: Desculpe, professor.Sorriu-lhe!Dá o toque de saída, e o cartaz está ainda

afixado. Esta é responsabilidade minha, mas oLuís (coopera?!), ajuda-me.

As próximas aulas 4, 5 e 8 de Março são li-ções do professor.

Data: 10 de Março de 1999, 4.ª feira.Relato da 3.ª Aula de Trabalho Autó-

nomo do 8.º A de uma E.B. 2,3 do Alentejo, nadisciplina de Matemática, no ano lectivo de1998/99.

Dirijo-me à sala de aula, e encontro a Elsano caminho.

Elsa: Então, Professor, onde está a baga-gem? Hoje é dia dos trabalhos de projecto.

Professor: É que já temos armário, e os nos-sos materiais já estão lá guardados.

Chego à sala antes de (quase) todos os alu-nos. Abro o armário, tiro o dossier dos guiõesdos projectos, o Diário de Turma, e pouso-os

numa mesa. Os alunos que vão chegando dei-xam as mochilas nos seus lugares, e encami-nham-se para essa mesa. Esquecem, todavia, oplano individual de trabalho. O Gustavo distri-buiu-os.

O Paulo e o Gustavo afixam o cartaz da Pla-nificação do Programa, no quadro.

A Marta vem pedir-me o papel cenário quetinha encomendado na última aula de trabalhoautónomo, através do Diário de Turma.

Professor: Está no armário, dentro do porta-desenhos (tem a forma de um tubo).

A Vera veio fazer queixa do Gustavo.Vera: Puxou-me o cabelo!Professor: Gustavo, pede desculpa à tua co-

lega! Vê lá se és convincente.Gustavo: Professor, está bem. Era só a brincar.Professor: Vera, o Diário também serve para

registares estas situações.Fernando: Professor, prepare-me um «teste

recuperação» para a próxima aula porque falteina aula anterior, em que tinha de entregar um«TPC de castigo». (Uma aula em que não setrabalha pode ser compensada com a realiza-ção de um TPC; se o aluno não o faz, realizaum pequeno teste na aula, conforme decisãoda Assembleia de Turma).

Tenho de ajudar a Vânia e a Marta a abrir o«tubo» para transportar desenhos de formatosgrandes, que é onde está guardado o papel ce-nário que elas pediram na aula passada.

Vânia: Professor, podemos ir à sala de dese-nho cortar o papel à esquadria?

Estas alunas conhecem recursos da escolaque eu desconheço. Deixo-as ir, e reparo quedeixaram duas mesas juntas, para terem maisespaço para trabalhar. Também trouxeram ou-tros materiais que não existem ou são escassosno armário e na caixa de materiais.

O Victor, o Carlos e o Paulo andam às vol-tas com os pictogramas.

Professor: Procurem em outros livros. É quehoje trouxe mais três livros. Consultem-nos!

Fernando: Professor, posso ir lá fora tirarmedidas e usar o meu medidor de ângulos? Es-

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tou sozinho. O David (companheiro de grupo)faltou.

Professor: Espera um bocadinho, que saiscom o António e o Gustavo que também játêm o seu medidor de ângulos pronto. Assim,podem ajudar-te e também é útil porque só háuma fita métrica e os vossos grupos vão preci-sar dela, ao mesmo tempo. E outra coisa! Há-de estar uma colega minha (eles conhecem-na)à vossa espera, para tirar fotografias ao vossotrabalho.

Gustavo: Eh professor, ainda bem que te-nho gel no cabelo.

O grupo da Vera já sabe onde desenhar nomapa «A nova Volta ao Alentejo em bicicleta».

Vera: Nós podemos «aumentar» o mapa.Professor: Como fazem isso? (a minha ig-

norância é autêntica!)Vera: É fácil! Usa-se papel vegetal. Podemos

sair para ir comprar?Professor: Comprar não! Mas vão à papela-

ria para ver se isso se vende cá. Depois façamessa encomenda no Diário de Turma.

A Vanessa, a Sónia e a Márcia (boas alunas),estão em amena cavaqueira.

Professor: Como esperam avançar com oprojecto se estão na conversa?

Vânia: Professor, nós não percebemos comoisto se faz.

Professor: Mostrem-me o guião.Márcia: Não está lá no ficheiro.Procurei-o no dossier e facilmente o encon-

trei.Professor: Isto não tem pernas! Mas agora

vejo! Onde estão os livros para estudarem estamatéria? Esta matéria não foi dada, têm de aestudar dos livros.

Sónia: Mas o nosso livro é confuso!Professor: Têm lá outros livros. Eu estou a

vê-los daqui, no armário.Analisámos o guião e concluímos que só

têm de aprender duas coisas novas.A Vânia e o Sérgio desenharam a mediatriz

de um segmento de recta, no mapa de Portu-gal, mas não o que é pedido no guião.

Professor: A mediatriz que têm de dese-

nhar, é do segmento de recta que une as cida-des de Portalegre e Castelo Branco.

O José e o Tiago chamaram-me para confir-mar que fizeram o que se pretendia.

Digo-lhes que sim, e peço-lhes para come-çarem a pensar na apresentação e comunica-ção do trabalho à turma.

O Fernando, o Gustavo e o António chega-ram da rua.

Gustavo: Vai! Explica como é que a fita mé-trica se partiu!

Professor: Quem foi o malandro? (às vezestambém sou estúpido!)

Fernando: Professor, foram dois matulõesdo 10.º ano que nos tiraram a fita. Depois cor-reram com ela, a fita esticou e partiu. Mas eusei arranjar isto. E o meu pai vende coisas des-tas, e para a próxima aula eu trago-lhe outrafita.

O Luís que não gosta das aulas de trabalhoautónomo, quer acetatos e canetas.

Professor: Então, encomenda no Diário. (Verfigura 9).

Luís: Mas se não arranjar canetas, diga-nos,que eu trago as da minha mãe. Agora vou ano-tar no cartaz da Planificação do programa o diado fim da produção.

A Mafalda pede-me explicações sobre «re-gras de 3 simples», pois precisa disso para redu-zir as medidas tiradas na aula anterior, para de-senhar no papel.

Faltam dois minutos para o fim da aula.Dou o trabalho de hoje por concluído. Os alu-nos entregaram os materiais usados aos res-pectivos responsáveis. Aproximo-me do armá-

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rio e o Henrique, que está sentado lá perto,aborda-me.

– Já não me lembro dos perímetros. Masvou lá ao sótão de casa, que os meus pais sãoprofessores primários, e procuro livros para ti-rar dúvidas!

O João esqueceu que era responsável pelodossier dos guiões dos projectos, ainda que ti-vesse isso anotado no seu Plano Individual deTrabalho. (PIT).

As próximas aulas de 11, 12 e 15 de Marçosão lições do professor.

Data: 17 de Março de 1999, 4.ª feira.Relato da 4.ª aula de trabalho autó-

nomo do 8.ºA de uma E. B. 2,3 do Alentejo, nadisciplina de Matemática, no ano lectivo de1998/99.

Chego à sala de aula, pouso o livro de pontoe a minha pasta sobre a mesa. Dirijo-me ao ar-mário, abro-o, tiro o Diário de Turma e o dos-sier dos guiões dos projectos, e pouso-os sobreuma mesa. Os alunos vão entrando, mas nãose dirigem ao armário nem à mesa do dossierdos guiões dos projecto. Não sei onde estão osresponsáveis pelos diversos materiais.

Professor: Quem são hoje os responsáveispela caixa de materiais, biblioteca de turma edossier guiões dos projectos?

José: Eu acho que sou eu! Mas ainda não te-nho o meu PIT.

A asneira é minha, que sempre distribui eguardei os guiões. Era até mais fácil deixar o«montinho» dos PIT’s na mesma mesa do Diá-rio e do dossier dos guiões, que os alunos logoirão buscar o seu, tal como já vão buscar osmateriais que sabem que vão precisar. E assimnão emperrava o início da aula.

Gustavo (apontando para o cartaz da Plani-ficação do programa ainda enrolado, e dentrodo armário): Professor, eu «ponho»! (isto é,afixa-o no quadro)

O António acompanha-o. Pedi ao responsável pela caixa de materiais

para acrescentar à respectiva lista os seguintesmateriais que foram encomendados através doDiário de Turma: 3 acetatos, 3 folhas de papelvegetal, 1 estojo de 4 canetas de acetato.

Vanessa: Professor, já temos o trajecto de-terminado para o percurso de orientação emNisa.

Professor: Então comecem a tratar da apre-sentação. Que querem usar?

Vânia: acetatos.Professor: Olha, vais ter de dividir canetas

com o Luís!A partilha foi pacífica.Gustavo: Temos as medidas todas erradas

(Na semana passada estragaram a fita métrica,que já foi reparada!) Podemos sair, e levar amáquina fotográfica!

Professor: podem sair, mas com a máquinafotográfica só brinco eu.

Fernando: Professor, eu também preciso detirar as minhas medidas e sempre tenho a ajudado António e do Gustavo.

Professor: Então e o teu companheiro degrupo?

David (companheiro de grupo do Fernandoe responsável pela caixa de materiais):Profes-sor, eu não posso sair senão pode haver al-guém que tire coisas daqui!

Professor: Vai lá, que eu dou uma vista deolhos pelo teu estaminé.

A Vânia e a Marta estão entretidas a dese-nhar o seu gráfico de barras.

Professor: Então, isso vai?Marta: Sim. (resposta do tipo «vai-te em-

bora melga que aqui trabalha-se!»)O José e o Tiago, o Sérgio e a Elsa já con-

cluíram os seus trabalhos e começam a prepa-rar a apresentação.

Maria João: Professor, isto está a dar mal.Somámos todas as profissões (trabalho estatís-tico sobre escolaridade e profissão dos presi-dentes dos clubes de futebol) e não dá igual aonúmero de presidentes.

Ajudei-as e lá demos com o erro.João Vitorino, João Cabim e Pedro Carita

(golos marcados pelo Jardel) mostram diferen-

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tes símbolos possíveis para usarem nos picto-

gramas: uns calções, uma camisola, umas meias,uma bola, uma baliza.

Professor: se calhar o melhor é usarem umque seja fácil de desenhar.

A Cláudia e a Maria João têm o mesmo pro-blema. De repente,...

Cláudia: Para a escolaridade dos presiden-tes podemos usar um livro aberto com umabola.

Professor: Brilhante!A aula chega ao fim (já são eles a controlar

o tempo da aula), e arrumam os materiais.Ao David quase dá um «fanico», porque dá

por falta de uma caneta de acetato. Mas tudose resolve! O colega que a tinha estava aindaentretido a fazer o seu trabalho.

As próximas aulas de 18, 19 e 22 de Marçosão lições do professor.

Data: 24 de Março de 1999, 4.ª feira.Relato da 5.ª Aula de trabalho Autó-

nomo do 8.º A de uma turma E. B. 2,3 doAlentejo, na disciplina de Matemática, no anolectivo de 1998/99.

Decorre durante esta semana um conjuntode actividades extra-curriculares, organizadopela associação de estudantes, ao qual foi dadoo nome de semana cultural. No dia de hoje, de-corre uma prova de orientação, pelo que fal-tam muitos alunos, que participam nestaprova. Dou conta da falta dos alunos que hojeseriam responsáveis pela biblioteca de turma,caixa de materiais e dossier dos guiões dosprojectos.

André: Professor, hoje não tenho nada parafazer. O Luís levou as nossas coisas para casa.Este aluno vai ter 5, no fim do período, sabedisso, e o ambiente de festa que reina na escolanão convida ao estudo.

Professor: Isso é que não pode ser! Olha ficasresponsável pela biblioteca de turma, caixa demateriais e dossier dos guiões dos projectos.

André: Mas isso é muita coisa!

Professor: Vá lá, não sejas malandro!Alguns grupos estão a terminar os seus tra-

balhos. Vou avisando que é altura de passarempelo cartaz da Planificação do Programa, e indi-carem a data prevista de conclusão do trabalho.

Sónia: Professor, venha cá ver o nosso ace-tato, para ver se nos falta alguma coisa.

Professor: Está feito. Vamos agora ali, até aocartaz de Planificação do Programa para com-binarmos e registarem a data da comunicação.

Outros grupos já acabaram as suas produ-ções e combinam comigo a data das comuni-cações.

Professor: Não, nos dias das aulas de traba-lho autónomo não vamos marcar comunica-ções. Tem de ser nos outros dias da semana.

David: E o que é que fazemos nesses dias?

Professor: Tu ainda não sabes Teorema dePitágoras. Podes estudar com uma ficha auto-correctiva. Traz lá o teu PIT, e vamos lá esco-lher uma ficha.

O José, o Tiago e o Fernando acompanham-nos e também escolhem fichas autocorrecti-vas, e assinalam esta tarefa nos seus PIT’s.

A Cláudia não consegue descobrir um sím-bolo para profissões para usar no seu picto-

grama.Professor: Usa a tua criatividade, e alguma

coisa há-de sair.Chega o fim da aula, os alunos arrumam os

materiais que hão-de ser conferidos pelo André.As próximas aulas de 25 e 26 de Março, e

ainda a de 12 de Abril são lições do professor.

Relato da 6.ª Aula de trabalho Autó-

nomo do 8.º A de uma E. B. 2,3 do Alentejo,na disciplina de Matemática, no ano lectivo de1998/99.

Esta é a primeira aula de trabalho autó-nomo do 3.º período. As férias acabaram hápoucos dias, e o sol brilha no céu.

Os alunos entraram na sala, permaneceramde pé, conversaram, brincaram – sabiam queera aula de trabalho autónomo – mas ninguém

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se assumiu como responsável pela bibliotecade turma, caixa de materiais e dossier dos guiõesdos projectos.

Professor (já depois de ter aberto o armá-rio): Então onde estão os responsáveis pela bi-blioteca de turma, caixa de materiais e dossierdos guiões dos projectos?

Paulo: Professor, eu já estou com a biblio-teca de turma.

Professor: Mas como é que sabes que hoje,és tu o responsável pela biblioteca de turma?

Paulo: Ó professor, porque me lembro!Professor: Então para que serve o PIT?

Alguns alunos consultaram o seu PIT, e láapareceram outros «tarefeiros».

O David, o Fernando, o Tiago e o José esta-vam em alegre convívio.

Professor: Eu lembro-me de terem combi-nado comigo, e vocês registaram isso nos vos-sos PIT’s, que hoje deveriam resolver fichas detrabalho, não é Luís e Fernando?

Luís: Mas o professor não me deu nenhu-ma!

Professor: Estás farto de saber que estes fi-cheiros (apontando para o armário) tem fichasauto-correctivas. És tu que tens de me chamar– porque és tu que sabes o que tens de fazerhoje – para te ajudar a escolher uma ficha apro-priada para ti. Eu é que não tenho de me lem-brar disso. Não sou teu secretário. Vamos lá es-colher uma ficha. E tu Fernando?

Fernando (já tinha consultado o seu PIT): Euvou ajudá-lo.

A Sónia está a ler o Diário de Turma, a Va-nessa e a Márcia estão a conversar (se calharsobre o tempo). Aproximo-me delas e chamo aSónia.

Professor: Sónia, chega de bisbilhotice, echega aqui. O vosso trabalho está pronto?

Respondem que sim!Professor: Já marcaram a data da vossa co-

municação?

Respondem que sim.Professor: Já sabem o que vão dizer?Respondem que «sim, mais ou menos».

Professor: Então, mas já decidiram o quecada uma de vocês vai dizer?

(Silêncio!)Professor: E que materiais vão usar?Sónia: Os acetatos que fizemos.Professor: Então também precisam de um

retroprojector.Vanessa: Pois, e já agora também precisa-

mos de uma régua e de um esquadro de qua-dro.

Professor: Então como é que essas coisasvão aparecer na sala, no dia da vossa apresen-tação?

Márcia (concluindo o que eu queria): temosde pedir no Diário de Turma. (Ver figura 10).

Professor: Pois é! Agora têm de preencher odocumento de planificação da «Comunicaçãoà turma», que vos serve para planear a vossaapresentação. Vão buscar um exemplar ao ar-mário. (Ver figura 11).

Os grupos da Elsa e Sérgio, Paulo, Carlos eVictor, José e Tiago, Luís e André, chamaram-me para mostrar os seus acetatos já concluídos,e aproveitei para lhes chamar a atenção ao do-cumento «Comunicação à turma».

O David chamou-me.David: Professor, o Fernando – que deveria

estar a ajudá-lo na resolução de uma ficha dematéria do 1.º período – também já não se lem-bra disto.

Professor: Mas há livros, o vosso, e os da bi-blioteca de turma.

David (tentando uma nova «fuga»): Ó Pro-fessor, não era melhor eu fazer isto em casa?

Professor: Não, essa ficha é o teu trabalhopara a aula de hoje. E é aqui que tens livros, co-legas e professor para te ajudarem, mas se que-

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Figura 10

res um TPC, no final da aula escolhemos outraficha para levares para casa.

Passei pela mesa da Vânia e Marta, que an-dam de roda de uma folha de papel mais com-prida que elas, onde estão a desenhar o seugráfico de barras, e que vai servir para a apre-sentação à turma.

Professor: De facto, vocês escolheram uma

forma de apresentarem o trabalho, muito tra-balhosa.

Marta: Não professor, não custa nada.Aproximou-se o fim da aula, e dei por con-

cluídos os trabalhos desse dia. Os alunos arru-maram os seus materiais, foram feitas as veri-ficações, e saíram.

As aulas de 15 e 19 de Abril são lições do

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Figura 11

professor, e a aula de 16 de Abril é dedicada acomunicações dos alunos.

Data: 16 de Abril de 1999, 6.ª feira.Relato da 1.ª Aula de Comunicações

dos alunos do 8.º A de uma E. B. 2,3 do Alen-tejo, na disciplina de Matemática, no ano lec-tivo de 1998/99.

Depois de entrar na sala, abri o armário e ti-rei o cartaz da Planificação do programa. Atrásde mim vinham já os alunos que tinham mar-cadas para este dia, as comunicações dos seustrabalhos. Vinham buscar os seus acetatos, queiam usar como suporte das suas comunicações.Afixei o cartaz e verifiquei quais os grupos quetinham pedido a aula de hoje para comunica-ção.

José: Professor, temos de falar consigo!Aproveitando o facto de alguns alunos ainda

estarem a chegar, aproximei-me da mesa doJosé e do Tiago.

José: Professor, não podemos apresentar otrabalho hoje. Não estamos preparados. Istoafinal é mais complicado.

Professor: Então temos de combinar outrodia. Mas não estou a gostar disto. Se me pe-dem a aula eu dou-a, mas é para se trabalhar.Vejam que o meu trabalho (lição do professor)também fica «emperrado».

Fernando: Professor, nós também não con-seguimos acabar o trabalho para apresentarhoje.

Professor: Têm de planear melhor o vossotrabalho, mas sem fazer «corpo mole».

Afinal, de quatro, só dois grupos vão fazerhoje comunicações.

Professor (dirigindo-se à turma): então quemcomeça?

André: Começam eles (o outro grupo), por-que...(desculpa esfarrapada, medo!)

Victor: Nós podemos ir em primeiro lugar.Avisei a turma que aquilo que os colegas

iam apresentar era «matéria», e portanto, os

restantes alunos também deviam fazer per-guntas e esclarecer dúvidas, etc.

Os grupos entregaram-me o documentoplanificação da «Comunicação à turma», ondeaproveitei para fazer comentários críticos.

No final de cada comunicação, os alunosapresentaram dúvidas e fizeram críticas, des-cobriram erros: «o Carlos fala muito baixo, de-moraram muito tempo,...»

Depois da comunicação do primeiro grupo,sobram apenas 10 minutos para o fim da aula,que é exactamente o tempo que o segundogrupo previu para a sua comunicação (Docu-mento «Comunicação à turma»).

O André e o Luís apresentaram o seu traba-lho. A Elsa não entende uma coisa e dirige- meuma pergunta.

Professor: Pergunta a eles, que são eles queestão a dar a aula.

O André responde de forma exaltada à per-gunta da colega.

Professor: Alto lá! Não é preciso bater emninguém.

Concluíram a apresentação, e os colegas fi-zeram as suas avaliações, e chegou-se ao fimda aula.

Elsa: Professor, eu não percebi o histogra-ma, mas a resposta do André foi muito estú-pida. Ele é mesmo parvo.

Professor: Olha, escreve isso no Diário deTurma.

A próxima aula de 19 de Março é lição doprofessor.

Data: 21 de Abril de 1999, 4.ª feira.Relato da 7.ª Aula de Trabalho Autó-

nomo do 8.º A de uma E. B. 2,3 do Alentejo,na disciplina de Matemática, no ano lectivo de1998/99.

Hoje, tomei consciência de que cometi umaenorme asneira. Na última aula, houve lição doprofessor, e na anterior, comunicações dos alu-nos. Há hoje, portanto, alguns alunos que nãotinham trabalho planeado: os que já apresenta-

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ram os seus trabalhos e aqueles para os quais jánão houve tempo. Outros alunos têm os seustrabalhos quase concluídos. Assim, a aula de2.ª feira deveria ter sido de Assembleia de Turma,para que os alunos planeassem trabalho parahoje, e para as aulas seguintes de trabalho au-tónomo.

Entrei na sala, abri o armário e atrás de mim...Mafalda: Professor, já aí está o papel cenário

que nós pedimos?

Professor: Sempre esteve. Está aqui no «tu-bo» porta-desenhos.

Afasto-me do armário e reparo que não háresponsáveis pela biblioteca de turma, caixa demateriais e ficheiros.

Professor: Onde estão os responsáveis pelabiblioteca de turma, caixa de materiais e fi-cheiros?

Ninguém responde.Professor: Agora pára tudo. Consultem os

vossos PIT’s, imediatamente.Depois disto...Professor: Então e agora? Quem são os res-

ponsáveis pela biblioteca de turma, caixa demateriais e ficheiros?

Afinal, são o Tiago, a Elsa e a Vânia.Professor: No início destas aulas, a primeira

coisa a fazer é consultar o PIT, para se saberque tarefas estão planeadas para esse dia. Já vaisendo tempo de saberem isso.

André: Professor, o Luís não está cá e nósaté já apresentámos o nosso trabalho. O que éque eu faço?

(Este aluno é de nível cinco, e não faz sentidomandá-lo fazer fichas).

Professor: Olha, seria bom que ajudasses oTiago e o José que estão atrapalhados com otrabalho deles.(Não me ocorreu nada de me-lhor!)

Cláudia: Professor, veja lá se isto (apontandopara os seus acetatos) está bem. Agora a MariaJoão está a acabar as tabelas de frequências.

Professor: Está catita! Olha, até estou a gos-tar mais que do trabalho do Carlos, Paulo eVictor (trabalho apresentado). Não se esque-çam que temos de combinar e registar uma

data para fazerem a comunicação à turma.Também têm de preencher a planificação da«Comunicação à turma».

Vou até à mesa da Sónia, Vanessa e Márcia,e depois até à mesa do Carlos, Paulo e Victor(estes alunos já fizeram a comunicação dosseus trabalhos à turma), para negociar com elesa resolução de fichas.

Carlos: E resolvemos onde?

Professor: No caderno. Se eu quiser ver atua resolução, também te peço o caderno porum instante.

Elsa: Professor, como as canetas são grossas,no acetato não conseguimos escrever os no-mes das terras.

Professor: Como no 2.º acetato têm os no-mes das terras numerados, podes referi-las no1.º acetato, através do respectivo número, quejá é mais fácil de escrever. Muito bem! Isto estáquase acabado! Temos de combinar uma datapara a vossa comunicação.

Mafalda: Professor, na redução a medida darégua é apresentada por 3,2 mm, o que me pa-rece muito pouco.

Professor: Mas está certo. Vejam lá que a ré-gua é tão pequena, quando comparada com oposte. Outra coisa, é que é melhor arredondar3,2 mm para 4 mm. Não há problema que osvossos resultados não sejam exactos porque osmétodos que usaram, se bem que válidos, nãosão assim tão precisos.

Victor: Não consigo fazer este exercício.Professor: Mas olha que tens o teu caderno

diário, o teu livro, uma biblioteca de turma eaté o colega do lado para consultares.

(Folheio o caderno dele.)Professor: Estuda lá este exercício.Gustavo: Professor, esta altura que calculámos

é só até à barra. Há mais uma altura de telhas.Professor: Está certo, mas isso vocês não po-

diam ver do sítio de onde tiraram a «mirada».Portanto, refiram isso na vossa comunicação.

Entretanto chegou o fim da aula, foram ar-rumados os diversos materiais e feitas as res-pectivas verificações.

A próxima aula é de lição do professor.

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Data: 23 de Abril de 1999, 6.ª feira.Relato da 2.ª Aula de Comunicações

dos Alunos do 8.ºA de uma E.B. 2,3 do Alen-tejo, na disciplina de matemática, no ano lec-tivo de 1998/99.

Três grupos têm a aula de hoje para comu-nicação à turma dos seus trabalhos.

Elsa: Professor, é preciso tirar o caderno?

Professor: É claro que sim! Os teus colegasvão dar matéria.

O retroprojector e o respectivo ecran (quefora pedidos pelos alunos que fazem hoje a co-municação, através do Diário de Turma), estãojá na sala. (Ver figura 12).

Vanessa: Professor, esqueceu-se do com-passo e da régua de quadro? (Também estesmateriais foram pedidos através do Diário eTurma).

Professor: Não, não esqueci. Estão ali sobreo armário.

O 1.º grupo a fazer a sua comunicação é ogrupo da Vanessa, Sónia e Márcia.

Começa a Sónia, e vai explicar como se de-termina um ponto a igual distância de outrostrês pontos dados.

Sónia: É a mediatriz.(Não é nada!)Professor: Mas vai exemplificando aí no

quadro.Por várias vezes tive de a corrigir, ou de a

ajudar a corrigir-se.A seguir é a Vânia que vai explicar o que é o

círculo, e como usaram a escala do mapa, apre-sentando os cálculos no quadro. A seguir é aMárcia que apresenta apenas qual é o trajectoda prova de orientação, sem usar em nada amatemática.

Professor: Então que avaliação fazem davossa comunicação? Se quiserem respondamnuma escala de 1 a 5.

Todas respondem 4.Professor: Mas 4 como? Em relação à Vânia

até concordo. Agora em relação à Sónia queconfundiu tudo e em relação à Márcia que nemsequer falou de matemática, não posso deixarde discordar. Essa avaliação acho-a mesmo dis-paratada. Na última 4.ª feira (aula de trabalhoautónomo) tiveram tempo mais que suficientepara prepararem a vossa comunicação, mas eusó vos vi na conversa.

Sónia: Ó professor, mas nós preparámos acomunicação. Mas hoje tudo me correu mal!Baralhei-me, não sei...

De facto estava nervosa.Professor: Pronto! Mas têm de perceber que

uma comunicação não é coisa assim tão fácil.Têm mesmo de saber muito de uma coisa paraa poderem ensinar aos outros.

O 2.º grupo é o do José e o do Tiago. Fize-ram uma boa comunicação, mas a turma es-teve um pouco desatenta e barulhenta.

Professor: Então que avaliação fazem, de 1a 5, da vossa comunicação?

José e Tiago: Três.Professor: São modestos. A vossa comunica-

ção foi bem mais segura e clara que a do grupoanterior. E que avaliação fazem da turma?

Riram-se.José: Eles fizeram algum barulho.Professor (dirigindo-se à turma): atenção

que a matéria que eles deram, vai ser avaliadaatravés de uma ficha.

Já não há tempo para o 3.º grupo, que apre-sentará o seu trabalho na próxima 6.ª feira.

A próxima aula de 2.ª feira é de Assembleiade turma.

Data: 26 de Abril de 1999, 2.ª feira.Relato da assembleia de turma do 8.º A

de uma E.B. 2,3 do Alentejo, na disciplina deMatemática, no ano lectivo de 1998/99.

Vários alunos já concluíram os seus projec-tos, e destes, muitos fizeram já comunicação à

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Figura 12

turma. Por isto, estes alunos deverão planear oseu trabalho para as próximas três aulas de tra-balho autónomo. Trago comigo os ficheiros,o Diário de Turma, e o cartaz de Planificaçãodo programa (a aula de hoje não decorre namesma sala da aula de trabalho autónomo).

Gustavo: Estas são as aulas de que eu gostomais.

Professor: Porquê?

A turma, em coro, responde: Porque nãofaz nada.

Professor: Mas não é bem assim. Não va-mos dar matéria...

Gustavo: Essas aulas são muito chatas.Professor: ... nem vamos ter aula de pro-

jecto, mas o que vamos fazer também é muitoimportante, porque vamos planear trabalho.

O Paulo já tinha afixado o cartaz da planifi-cação do programa.

Professor: Pois é. Os alunos...(são muitos),que já fizeram comunicação à turma e os alu-nos ...(também não são poucos), que já termi-naram o seu trabalho, mas que ainda não fize-ram comunicação, vão ter de planear trabalhopara as próximas aulas de trabalho autónomo.

Elsa: Professor, nós podemos fazer a nossacomunicação na próxima 6.ª feira?

Professor: Não, porque a escola vai estar fe-chada (esta ainda é mais distraída que eu). Te-mos de combinar outro dia. Bem, voltando aoque eu estava a dizer! Eu já vos tinha falado,assim por alto, aqui à tempos, que quem fazcomunicação, deveria preparar uma perguntapara se incluir numa ficha a dar aos colegas.Isto seria uma coisa a fazer pelos alunos

Que referi lá atrás.Elsa: E nós? (a Elsa já acabou o seu projecto

mas não fez comunicação).Professor: Sim, vocês também. Então esta

será uma tarefa a realizar na próxima aula detrabalho autónomo. É claro que os que estão aacabar projectos continuam esse trabalho. Osalunos registaram essa tarefa nos seus PIT’s.

Victor: E nestes dias (apontando no seu PIT,para os outros dias de trabalho autónomo)?

Professor: Era aí que ia chegar! Os restantes

dias vão preenchê-los com a resolução de fi-chas ou a ajudar outros a resolver fichas. Euvou pôr os ficheiros a circular. Vocês escolhemas fichas que quiserem. É claro que interessaescolher uma ficha de matérias em que te-nham tido nota negativa, ou nota que acheminsuficiente, para recuperarem conhecimentos.Combinem também com colegas que vos pos-sam ajudar.

Os ficheiros vão circulando entre os alunos.Gustavo: professor, nunca mais chega aqui

nenhum ficheiro.A Márcia está outra vez a tentar ignorar a

aula, e não escolhe nenhuma ficha.Professor: Então Márcia, já escolheste al-

guma ficha?

Márcia: Não sei escolher.Professor: escolhes fichas de matérias em

que tenhas tido negativa.Márcia: Mas...(parece um boi a olhar para

um palácio)Sónia: Ó parva, vê aí nos teus testes!Correndo para a sua mesa. O professor vai

pensando: A lista de verificação, onde está alista de verificação? Irra, que afinal aquilo atéserve para alguma coisa!

Professor (consultando a lista de verifica-ção, de modo que a Sónia e a Márcia a vejam):Olha, acho que deves fazer uma ficha de notifi-

cação científica (que esperteza saloia a deste pro-fessor!).

Márcia: Pois é! Mas ó professor, eu possover esse papel?

Pois é! Eles é que têm de consultar a lista deverificação.

Professor: Pois claro. Vai passando aos teuscolegas. Nas próximas aulas vou afixá-la paraque todos a consultem.

Escolhidas as fichas e registadas nos PIT’s,passámos a outro assunto.

Professor: Na 2.ª Assembleia de Turma, fi-cou acordado que quem se portasse mal, faziatrabalhos de casa «pesados». Eu assim fiz. Aosalunos que se portavam mal, eu dei uma ficha.Só que nos últimos tempos, esses alunos já nãoentregaram a ficha. E mesmo quando as entre-

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gavam, não melhoravam, a seguir o seu com-portamento. O que é que vamos fazer? Gos-tava de ouvir as vossas opiniões.

Ninguém diz nada e a Márcia está a falarcom a Vera.

Professor: Márcia! Vera! Não querem daruma opinião?

Não querem!André: Ó Professor, podia ser assim. Se al-

guém se portar mal, leva uma ficha. Se não a fi-zer, leva recado para casa, e se não o traz assi-nado não entra na sala, na aula a seguir.

Fernando: E depois perde a aula.Tiago: Podia ir para a cantina, descascar ba-

tatas.Professor: Não, pagam-se aqui as asneiras

que aqui se fizerem, a menos que seja umacoisa muito grave.

Luís: Ó professor, e isto que o André disse?

Professor: Para além do que disse o Fer-nando, não é legal impedir que alguém assistaa uma aula, se nessa aula não está a fazer malnenhum.

Tiago: Está bem! Mas se o Professor deruma palavrinha ao Conselho Directivo...

Professor: O Conselho Directivo não estáacima da lei.

Acabámos por concluir que as únicas medi-das de jeito são as duas primeiras que o Andrépropôs. Ele próprio as registou no Diário deTurma. (Ver figura 13).

A próxima aula de 28 de Abril é aula de tra-balho autónomo.

Data: 28 de Abril de 1999, 4.ªfeira.Relato da 8.ª Aula de Trabalho autó-

nomo do 8.º A de uma E.B. 2,3 do Alentejo, nadisciplina de Matemática, no ano lectivo de1998/99.

Professor: Vânia, toma lá a chave do armário.Até agora era eu que o abria. Sem pedir, a

Vânia, depois de tirar os seus materiais, vemdevolver-me a chave.

Na última aula de trabalho autónomo, zan-guei-me com a turma porque não estavam ausar o PIT. Uma consequência disto, era nãosaber no início da aula quem eram os respon-sáveis pela biblioteca de turma, caixa de mate-riais, e ficheiros. Hoje, a Vânia, a Elsa e a Cláu-dia, já assumiram essas tarefas.

No armário, estão várias fotocópias de listasde materiais presas por um clip. Quando umalista é usada, passa para o fim do monte de fo-lhas, e a que surge à frente é nova.

Vânia: Professor, esta lista está cheia.Professor: Põe no fim, e a que fica à frente,

é a nova.David: Professor, o Tiago deu pontapés na

minha mala.Tiago: Pois é, mas ele chamou-me nomes!Professor: Confessem-se ao Diário de Turma.Os dois foram registar as suas «raivinhas»

no Diário. (Ver figura 14).

O grupo da Sónia, da Márcia e da Vanessaestão, outra vez, a viver dos rendimentos.

Professor: Outra vez a dormir! Não têm nadapara fazer?

Márcia: Temos de fazer a pergunta para a fi-cha que vamos dar à turma.

Professor: E então?

Sónia: A «gente» estava a pensar em fazerum problema com a escala dos mapas.

Professor: Mas isto não foi aquilo que apren-deram de novo. Usaram a regra de três simples,escala do mapa, etc, para chegarem àquilo quetinham de aprender.

Vanessa: Então é aquilo das mediatrizes?

Professor: Não é bem assim que se diz.Vanessa: O professor percebe o que estou a

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dizer. «Pomos» 3 pontos, e pedimos um pontoà mesma distância dos 3 pontos.

Professor: Isso! Olha, em vez de 3 pontos,que é uma coisa assim muito a seco, digam 3lugares. E façam uns «bonequinhos».

Fernando: Professor, posso ir buscar papelliso ao sr. Dionísio? (funcionário da reprogra-fia).

Professor: Vai lá.José: Professor, não sou capaz de fazer a pri-

meira, desta ficha.Professor: Monómios semelhantes? Tens aí

o teu livro? Então abres o livro, no capítulo dasequações. Vamos ver o que são monómios se-melhantes.

José (vendo a definição): ...têm a mesmaparte literal.

Professor: E que é isso?

José: ...mesmas letras e mesmos expoentes.Professor: Desenha uma bola ou faz um su-

blinhado para destacar essa definição. Agoravolta à pergunta.

José: Já sei.Por comparação da definição do livro com a

pergunta da ficha lá conseguiu responder. Seráque lhe mostrei como se pode estudar?

O Fernando e o David estão muito apáticose calados. Parece-me que não estão a fazernada. Isto é preocupante, principalmente peloDavid, que é um aluno fraquito.

Professor: Vocês não estão a fazer nada. Noinício estavam activos, tão empenhados, eagora nunca mais andam para a frente. Isto épara fazer em grupo e vocês nem dividem ta-refas, nem estão a discutir um com o outro osassuntos do projecto.

David (olhando para o Fernando): Ele nãoacredita em mim!

Isto, afinal, tem que ver com o que se pas-sou entre o David e o Tiago, no início da aula.

Fernando: Tu ou ele estão a mentir.Aparece o Tiago.Tiago: Professor, já está escrito no Diário de

Turma, e com uma assinatura de uma testemu-nha (era a do José).

Pelos vistos, o David não conseguiu con-vencer o Fernando a oferecer-se como teste-munha.

Professor: Pronto, um dia destes temos dediscutir isto. Entretanto, vamos lá falar dovosso projecto.

Discuti com eles vários aspectos de concre-tização do projecto.

Fernando: Então, agora no PIT, vamos es-crever... Que dia é na 4.ª feira?

Gustavo: E se nós fizermos a pergunta «Cal-cula a altura da barra do pavilhão, se ...»

Professor: Eh pá! Tem pena deles. E se fize-rem antes um desenho, por exemplo, para cal-cular a altura de um poste? E assim não corremo risco de fazerem um enunciado muito com-plicado e pouco claro.

Gustavo: O.k., e a pergunta, como a faço?

Professor: Não é preciso nada de compli-cado. Os dados podes apresentar mesmo nodesenho.

Passado algum tempo, o Gustavo e o Antó-nio apresentaram-me uma folha A4, com um

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belo desenho e com um problema de fazer in-veja à Maria Augusta Neves (autora de muitoslivros de Matemática).

Professor: Assim, gosto de vocês, moços(não se safando de uma calduça).

A Mafalda vai apresentar o seu trabalhonum cartaz em papel cenário, onde tudo estáescrito a lápis.

Mafalda: Professor, isto já está feito.Professor: O.k., mas podias pôr aqui umas

legendas. Olha aqui ao lado deste risco, es-creve poste, etc., para eles poderem visualizarmelhor aquilo que vocês vão explicar.

Cátia: Isso, com canetas de feltro.Professor: E vocês, Luís e André?

Luís: Nós estamos a fazer contas para elas(Mafalda e Cátia) a 3 contos à hora.

André: Ó professor, como é que nós fazemosa pergunta para a ficha que vamos dar à turma?

Professor: Não digas nada a ninguém, masquando eu quero fazer testes, procuro exercí-cios e problemas nos livros.

E lá foi ele encomendar um livro.

Cláudia: Professor, isto está pronto!Professor: Vocês já viram que os vossos co-

legas não têm feito grandes apresentações.Têm de treinar. Pode ser assim: tu, Cláudia ex-plicas à Maria João, e ela diz-te o que está mal,e vice-versa.

Maria João: Vamos para o meu quarto, e en-saiamos. É que nós somos vizinhas.

A aula está a acabar e a Vânia, a Elsa e aCláudia (elementos de três grupos diferentes)registaram no cartaz de planificação do pro-grama os dias para as suas comunicações.

Professor: Espera lá, ó Vânia! Não me davajeito que fosse na 2.ª feira. Como já há comu-nicações na 6.ª feira, juntávamos todas na 6.ªfeira. Que achas?

Vânia: Pode ser.Os alunos saíram, depois de verificados os

materiais, os livros e os ficheiros. Vários gru-pos entregaram um problema para incluirnuma ficha a dar à turma.

A próxima aula de 3 de Maio é lição do pro-fessor.