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A Questão Social – fatores predetermiantes Revolução Industrial (Primeiras máquinas - 1765;Tear Mecânico - 1785)

Liberalismo: fim das corporações de ofício (França, 1791 - Lei Chapelier), liberdade de comerciar, de contraar e de propriedde; proibição do direito de coligação (Inglaterra, 1799)

Sem a mediação das corporações, empresários e obreiros situam-se como indivíduos isolados na sociedade, passando a se relacionar de acordo com os padrões do mercado. A ruptura dos laços de dependência social e das regras corporativas liberam o indivíduo e o empurram para a luta concorrencial com outros indivíduos

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A Situação da Classe Trabalhadora“As casas são habitadas dos porões aos desvãos, sujas por dentro e por fora e têm um aspecto tal que ninguém desejaria morar nelas. [...] Por todas as partes, há montes de detritos e cinzas e as águas servidas, diante das portas, formam charcos nauseabundos. Aqui vivem os mais pobres entre os pobres, os trabalhadores mais mal pagos, todos misturados com ladrões, escroques e vítimas de prostituição. [...] aqueles que ainda não submergiram completamente no turbilhão da degradação moral que os rodeia a cada dia mais se aproximam dela, perdendo a força para resistir aos influxos aviltantes da miséria, da sujeira e do ambiente malsão.”

Friedrich Engels. “A Situação da Classe Trabalhadora na Ingaterra”, 1842

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A Situação da Classe TrabalhadoraTrabalho infantil a partir dos 5 anosJornadas de até 16 horas, num ritmo intensoTrabalho feminino extremamente aviltadoCondições ambientais insalubres

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Fatos históricos Revolução Industrial - Inglaterra (meados do séc. XVIII) – Invenção do tear mecânico (1785), da máquina a vapor (1790), Lei de proteção das máquinas O que é característico é a substituição do homem pela maquina 1791 – França – Lei Le Chapelier - extingue as corporações e coalizões (forma incipiente de organizações secretas que visavam a melhoria das condições de trabalho) e proíbe o choque entre empresários e trabalhadores 1792 – Inglaterra – William Murdock inventa o lampião a gás, permitindo que as jornadas de trabalho se estendam por 14, 15 horas1799 – Inglaterra - Proibição do direito de coalizão Combinations Acts1810 – França - Código Penal Napoleônico pune como crime a associação de trabalhadores1810 – Inglaterra - Movimento Luddista (Ned Ludd) de destruição das máquinas, ensejou a proliferação de movimentos violentos na Europa

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Fatos históricos 1825 - Inglaterra - reestabelecimento das associações Cartismo: primeiro movimento revolucionário de massas na história da classe operária de Inglaterra nos anos 30-40 do século XIX. Os participantes no movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicações nela apresentadas: sufrágio universal, revogação da exigência de ser proprietário de terras para ser eleito deputado ao Parlamento. Advogavam, porém, que o direito de votar e de ser votado bastaria para que o Parlamento editasse as leis protetivas dos trabalhadores1830 - Lyon - revolução operária por um salário mínimo Louis Blanc funda a “Societé des Familles” (1839) 1833 - Suíça - primeira associação operária (Biel) 1844 - Alemanha - movimentos em Breslau, Warmbrum 1847 – Inglaterra - Lei das 10 horas de trabalho; 2° Congresso da Liga dos Comunistas decide que Marx redigirá o programa do partido, publicado em 1848 (“Manifesto do P.C.”) 1848 - Paris - Revolução de fevereiro Lei das 10 horas em Paris e 11 horas no resto da França 1861 Alemanha – Criação da Associação Geral dos Trabalhadores Alemães

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Fatos históricos 1864 - Suíça – 1º Congresso da Internacional Socialista (AIT). França – Reconhecimento do Direito de Greve 1866, EUA - Congresso Operário em N. York 1867, Suíça - 2º Congresso da AIT 1871, França – Comuna de Paris 1881, EUA - American Federation of Labour1883, Inglaterra – Criação da Sociedade Fabiana1886, França, - Federação Sindical1889, França - Congresso Internacional dos Trabalhadores proclama jornada de 8hs, e o dia 1º de maio do trabalhador1890, Alemanha - Guilherme II convoca a Conferência Internacional de Proteção ao Operário e inaugura o sistema de Seguro Social. Inglaterra - Jornada de 8 h em Liverpool EUA - Sherman Act restringe a liberdade de associaçãoRoma, 1891– Rerum Novarum, de Pp. Leão XIII França, 1895 – Criação da CGT

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Fatos históricos 1900- Itália - Greve geral por liberdade de coalizão Áustria-Hungria – obtenção de jornada de 8h 1917 - Revolução Comunista (URSS); Constituição Mexicana 1919 – Alemanha derrotada na I G.M.; queda do 2º Reich; Constituição da República de Weimar;França - Tratado de Versailles (OIT); Aprovada a Lei da jornada de 8 hURSS – Criação da 3ª InternacionalEUA- Pres. Wilson lança os 14 pontos de paz visando a justiça social 1920, Alemanha - Greve Geral Nacional1948, EUA – Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU)Perspectiva Atual: Direito do Trabalho como Direito Humano

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Fatos históricos 2ª Revolução Industrial (virada do Sec. XIX para o XX) - Maquinas movidas à combustão do petróleo e à eletricidade

Transformações no capitalismo: (a) finaceirização; (b) monopolismo; (c) imperialismo; (d) utilização da ciência nos métodos de produção – fordismo/taylorismo“As exportações de capitais influem, acelerando-o poderosamente, no desenvolvimento do capitalismo nos países para onde são canalizadas. Se, portanto, até certo ponto, estas exportações são suscetíveis de terem como efeito um afrouxamento da evolução dos países exportadores isso só sucede desde que não se desenvolva em profundidade e extensão o capitalismo no mundo inteiro.(...) O capital financeiro criou os monopólios. Ora, os monopólios introduzem seus métodos em toda a parte: no mercado público a concorrência é substituída pela utilização de ‘relações’ com vista à obtenção de transações vantajosas. Antes de conceder um empréstimo, é vulgar exigir que ele seja utilizado, em parte, na compra de produtos ao país mutuante, sobretudo em encomendas de armamentos, de barcos etc. (...) Deste modo, a exportação de capitais torna-se um meio de fomentar a exportação de mercadorias.(...) Os países exportadores de capitais partilham (no sentido figurado da palavra) o mundo entre si. Mas o capital financeiro conduziu também à partilha direta do globo.”

LENIN. Imperilismo, fase superior do capitalismo

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Fatos históricos1948, EUA – Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU) 1945-1975 – Reforma Capitalista: Estado de Bem-estar Social 3ª Revolução Industrial (virada do Séc. XX para o XXI) – telemática; robótica; informáticaPerspectiva Atual: Direito do Trabalho como Direito Humano

“O direito do Trabalho sofreu neste século um processo de constitucionalização, a partir de normas de caráter internacional, tendo em vista a necessidade dos países capitalistas desenvolvidos em colocar regras de competição universal para não desequilibrar as relações de concorrência”

Tarso Genro

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Fontes MateriaisEconômicas – Revolução Industrial enceta a

necessidade de regular o trabalho livre

Sociológicas – agregação classista no espaço urbano e acirramento da luta da classes.

Políticas – movimentos operários e arranjo dos setores do capital

Filosóficas – ideário liberal e reação antiliberal intervencionista (socialismo, trabalhismo, social-cristão, anarquismo, bismarkianismo, etc.)

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Fundamento SociopolíticoDupla Dimensão (Dialética) do Direito do Trabalho:

Conquista do Movimento Operário – por melhores condições de trabalho e de vida “movimentos ascendentes” de criação do DT Souto Maior: se desprende da intenção burguesa para valorizar o trabalhador

Concessão Burguesa – política anticíclica de padronização do custo da mão de obra (valor de troca). O DT normatiza o conflito de modo a mantê-lo dentro de parâmetros controlados “movimentos descendentes” de criação do DT Héctor-Hugo Barbagelata: legalização da classe operária surge como fórmula burguesa para impedir a emancipação daquela

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Direito do TrabalhoResposta normativa do Estado que reflete a

consciência social de que a “questão social” deixa de ter natureza moral e passa a ser jurídica e política (JT e burocracia fiscalizadora)

Redimensionamento da razão individualista pela intervenção estatal do reformismo capitalista

DT: Não é nem a simples disciplina que legaliza a exploração do capital, imobilizando a ação dos trabalhadores, nem consiste na disciplina que “supera” a luta de classes e põe termo à questão social através das normas tutelares do trabalho. Para superar as disfunções ideológicas é preciso vincular estreitamente o DT à um aprofundamento democrático radical (direitos sociais políticas sociais), convertendo-os em instrumento de emancipação social

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Direito do Trabalho Ambivalência (Javillier) O DT, ao definir

direitos fundamentais e liberdades (sindicais e de greve), ao mesmo tempo, as limita.

O Contrato de Trabalho hipostasia os direitos e as relações (especialmente na dicotomia subordinação jurídica X poder empregatício) e fetichiza-se a si mesmo, anestesiando a exploração.

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Direito do Trabalho Souto Maior: O DT deve ser aproveitado não como mera regulação das relações de trabalho que busque resguardar um mínimo de garantias ao trabalhador, mas instrumento de luta para realização de justiça social:1º) impede a superexploração do capital;2º) busca melhorar as condições de vida dos trabalhadores;3º) Conforme encontre possibilidde, enseja aos trabalhadores adqurirem status social (o trabalho deixa de ser expressão de um direito para se tornar um fator de liberdade); máxima cidadania

O DT tampouco pode ser conceituado como instrumento de equilíbrio entre capital e trabalho, pois, ao pressupor igualdade jurídica num contexto de desigualdade material (seu verdadeiro pressuposto teórico) aniquila a possibilidade de justiça social; permite que se justifique a eliminação de direitos trabalhistas e da dignidade do trabalhador para atender interesses econômicos

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Direito do Trabalho - potencial limitadoA tese sustentada pelo pensamento corporativista,

reformista ou comunitarista – é a de que o Estado pode domar ou domesticar o Capital. Poder-se-ia, desse modo, emancipar o trabalho da exploração que lhe impõe o capital com meia dúzia de normas.

Nada é mais fantasioso; o que verdadeiramente sustenta o Capital não é o Estado, mas o trabalho, em sua dimensão abstrata de valor de troca.

Assim, não bastam alterações – profundas ou superficiais – na estrutura do Estado, no sentido de regular o Capital, se este, em verdade, segue controlando o modo de produção configurador da divisão social do trabalho.

As concepções reformistas e reguladoras, utilizadas por ampla parte da doutrina do Direito do Trabalho, oferecem a ilusão de controle do Capital, fundado no compromisso entre classes, mediado pelo Estado. Este discurso reflete – por boas ou más intenções – a ideologia do capital de que o Estado capitalista aplicará, com isenção, o remédio para um desnível gerado pela exploração na qual tem o seu próprio fundamento.

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Estado de Bem-estar Social Industria fordista-taylorista (fração

hegemônica); Distribuição dos ganhos de

produtividade; Consumo em massa; Intervenção estatal e políticas

anticíclicas; Participação política dos sindicatos e

Partidos de massa (deslocamento do poder dos representantes eleitos e da burocracia para os grupos sociais organizados. Ex.: negociação e normas coletivas).

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Estado de Bem-estar SocialComo Pacto de Classes:A burguesia aceita a regulação e a redução da

exploração, por meio da desmercantilização dos serviços de saúde, educação e previdência e por meio da distribuição dos ganhos de produtividade

Os trabalhadores abrem mão da revolução, submetendo-se aos mecanismos representativos liberais, com o escopo de transformar a ordem do capital por dentro

O DT é um dos elementos organizadores-reguladores da exploração acordada; a normatividade conciliatória de protecionismo das rel. individuais e de valorização das rel. coletivas repercutiu na elevação no padrão de vida e consumo

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Estado de Bem-estar SocialComo Estado Burguês:

Função nº 1: Criar condições de organização política jurídica e econômica para a acumulação do capital

Função nº 2: Criar condições de legitimação que lhe permitam cumprir a função nº 1 em sociedades urbano-industriais.

Direitos Sociais - Políticas Sociais de Serviços Públicos; Políticas Fiscais e Tributárias; Aumento da mais-valia relativa e da drenagem de recursos

do 3º mundo que permitiram o aumento da taxa de lucro

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Crise do EBE e Globalização Crise de financiamento do EBE – crise fiscal pelo seu crescente endividamento Os recursos e fundos públicos além de diminuir, passam a financiar o âmbito privado para recompor a queda da tx de lucro Crise de dominação imperialista – limitação da transferência dos excedentes coloniais Desenvolvimento dos fatores de produção – 3ª Revolução técnico-científica impõe novas formas de produção, de exploração do trabalho, de acumulação (financeirização do capital)

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Globalização e Direito do TrabalhoO Estado (público) converte-se em agência privada que obedece aos comandos dos Bancos Centrais dos países ricos. Com as privatizações, os monopólios privados (privado) passam a exercer as funções públicas.

O Direito do Trabalho subordina-se passivamente aos ditames da “economia” às novas formas de exploração da força de trabalho (precarização: trabalho sem estabilidade social) aos novos conteúdos de acumulação (que dispensa cada vez mais trabalho vivo) Sindicatos impotentes para negociar direitos dos trabalhadores formais e para defender interesses de um “exército de reserva” cada vez maior

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Globalização e Direito do TrabalhoO Direito do Trabalho se torna um instrumento do Estado para veicular sua proposta de auto-desregulamentação neoliberal elitização do salário ao invés da socialização; precarização da relações de trabalho: permissividade de dispensa e rotatividade (expansão do exército de reserva – exclusão social); precarização dos contratos de trabalho - conteúdos flexíveis (intermitência, sobrejornada, infra-remuneração)

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Peso do passado-Latifúndio monocultor exportador- Estado Patrimonial, clientelista

EXCLUSÃOEXCLUSÃO- Sociedade Patriarcal, paternalista, e

genocídio autoritária e escravista

Gente como coisa: O Brasil é fundado sobre o trabalho forçado e o comércio de gente. O primeiro ato humano do escravo é o crime.

Jacob Gorender. Escravismo Colonial

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Peso do passadoApós 4 séculos, a escravidão foi naturalizada e

fetichizada; incorporada como valor hegemônico

“Virá o colono (branco) europeu para especular, realizar um negócio: inverterá seus cabedais e recrutará a mão de obra de que precisa: indígenas ou negros importados. Como tais elementos, articulados em uma organização puramente produtora, mercantil, constituir-se-á a colônia brasileira.”

Caio Prado Jr. Formação do Brasil Contemporâneo

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“Revolução” BurguesaTrabalho Livre: 1810 e 1827 – Tratados de restrição ao tráfico com a Inglaterra; 1830 – lei libertando todos os escravos recém vindos de fora; 1850 a dura lei do Min. Eusébio de Queiróz acaba com o tráfico de escravos;1871 – Lei do Ventre Livre (Visc. Rio Branco); 1885 Lei Saraiva-Cotegie (Sexagenários); 1888 – Lei Aurea - Abolição da Escravatura de 1,5 milhão

• Gente como mercadoria: Os industriais opunham-se sistematicamente a qualquer lei social que melhorassem as precárias condições de vida dos obreiros. Além disso, reprimiam brutalmente com apoio no aparelho de Estado qualquer manifestação operária

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“Revolução” BurguesaAmpliação do comércio internacional- Maior inserção no capitalismo global com a ruptura do “Pacto Colonial” através da “Abertura dos Portos” em 1808

Excedente do Capital cafeeiro - permite a diversificação econômica e a industrializaçãoJamais houve contradição fundamental com os latifundiários, tendo a burguesia, ao contrário, incorporado o latifúndio à estrutura do capitalismo no Brasil, onerando seu “desenvolvimento com o peso exorbitante do preço e da renda da terra

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Peso do passadoIDEOLOGIA: Elitismo oligárquico e burguês projeto excludente de nação Patriarcalismo e Patronagem PatrimonialismoLiberalismo Conservador e Autoritarismo Corporativismo Positivista e Trabalhismo

As instituições são, em regra, penetradas pela lógica impessoal das modernas relações de mercado (Weber). No Brasil, operou-se também dialeticamente o contrário: A ideologia tradicional das classes dominantes penetrou nas instituições do capitalismo moderno. Centralização e corporativismo não conseguiram destruir o clientelismo. Ao contrário, geraram novos recursos para sua prática, recursos agora administrados pelo governo federal

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Peso do passadoIDEOLOGIA: Corporativismo Positivista e Trabalhismo Positivismo - sindicato como instrumento da harmonia social pela cooperação entre classes (solidariedade: viver para o outro) Trabalhismo - foi responsável pela criação de uma cultura jurídica dos direitos individuais trabalhistas para os trabalhadores urbanos, muitas vezes coibindo o poder patronalCorporativismo de Estado – sindicato como correia de transmissão do Estado, passando a ser p.j. de dir. público, com delegados oficiais que examinavam a situação financeira (sobretudo após 1940, com o imposto sind.) e exerciam controle político. Após 45 descartaram o projeto de tecno-burocracia (capturada pelo clientelismo partidário) mas mantiveram o corporativismo

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Direitos Sociais – Até 1ª República Sobretudo aos escravos libertos mas também aos demais

trabalhadores mestiços não foram dadas terras, escolas e empregos (A constituição de 1891 retirou a obrigatoriedade do Estado fornecer educação primária, da Const. 1824).

A assistência social esteve nas mãos de associações particulares religiosas.

A luta operária no início do séc. XX, violentamente reprimida, emulou o movimento reformista. Em 1926 o governo federal foi autorizado a criar leis (a maioria inefetiva) sobre o trabalho.

Na Fábrica Mariângela, dos Matarazzo trabalhava-se, em 1907, das 5h às 22h – 17 horas por dia

Trabalho comum de crianças de 9 a 14 anos; eventual de 5 a 8 anos; castigos físicos pesados para crianças (cujo trabalho já se justificava moralmente como prevenção contra vagabundagem). Adultos punidos com multas que alcançavam 1/3 do salário por conversas ou demora no banheiro

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Direitos Sociais – 1ª RepúblicaAté 1930 lutas sociais – Sem embargo a grande combatividade, movimentos não conseguiam sustentar crescimento e estabilização do processo de organização, pois careciam de um mínimo de condições existencial para adquirir consciência de classeDireitos – parcamente regulamentados, prevalecia a retórica liberal-individualista que une burguesa industrial e burguesia agrária (grande capital cafeeiro, banqueiros empresários) num coeso bloco de resistência contra as leis trabalhistas “Intervir na formação dos contratos é restringir a liberdade e a atividade individual nas suas mais elevadas e constantes manifestações, é limitar o livre-exercício das profissões, garantidas em toda a sua plenitude pelo artigo 73, § 24, da Constituição [de 1891].”

Veto de Manoel Vitorino Pereira (PRP), Presidente em exercício, ao Projeto de Lei sobre locação agrícola de Moraes e Barros, que previa indenização por despedida injusta (1895)

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Direitos Sociais – 1ª República Direitos – Retórica liberal segue incólume até 1919, quando alguns paulistas admitem a questão social para fins eleitoreiros, ao passo que surgem os primeiros projetos de legislação trabalhista sistemática, com a pressão de um crescentemente barulhento movimento operário (influência da Revolução Russa e de Versailles), embora sob intensa repressão (legitimada por leis rapidamente arovadas). “A burguesia industrial montará sua resistência em função de duas grandes linhas defensivas. De um lado, procurará demonstrar a ameaça que as leis do trabalho exerceriam sobre a realização da acumulação e de outro, empunhando a bandeira da ortodoxia liberal, recém-abandonada pela oligarquia agrária, explicitará, às vezes com muita nitidez, seu projeto de dominação e sua concepção de organização social.”

Luiz Werneck Vianna. Liberalismo e Sindicato no Brasil

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Direitos Trabalhistas – 1ª República1889 – Projeto de legislação trabalhista de Teixeira Mendes entregue a Deodoro1890 – Dec. 1.162 - Min. Agricultura Demétrio Ribeiro (PRR) concede férias (15 d) e liberdade de trabalho aos trabalhadores da E.F.Central do BrasilA década de 1890 marca o debate se as rel. trab. Seriam reguladas pela locação do CC ou se seriam deixadas ao mercado, sem qq regulação1903 – Lei 979 – Permite criação se sindicatos rurais 1907 – Lei 1.637– 1ª Lei Sindical (Inácio Tosta) – harmonização da rel. capital/trabalho1918 - Lei 3.724 (Adolfo Gordo) – regula acidentes de trabalho “lei infame” pela qual o governo poderia fechar sindicatos1918 – Lei – Cria o Departamento Nacional do Trabalho1923 – Lei 4682 Elói Chaves - Caixa de aposentadorias, pensão e estabilidade para os ferroviários estendida em 1928 para portuários e marítimos1925 – Lei 4.982 – Férias quinzenais para algumas categorias1926 – Revisão Const. – atribui competência ao Congresso para legislar sobre trabalho

Projetos rejeitados: 1903 (Rodrigues Alves); 1904 (Medeiros e Albuquerque); 1908 (Gracho Cardoso e Wenceslau Escobar); 1911 (Nicanor Nascimento), 1912 (Figueiredo Rocha), 1915(Maximiliano Figueiredo); 1915 a 1923 (Maurício de Lacerda)

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Direitos Trabalhistas – 1ª República“constitui exagero e grave ofensa aos trabalhadores brasileiros a constante afirmativa de que nada existiu antes de 1930, que toda a legislação a favor dos operários lhes fora graciosamente outorgada, sem nenhuma luta nem manifestação expressa dos mesmos de que a desejavam. Justiça seja feita aos grandes idealistas, intelectuais e juristas, que tomaram partido dos operários; justiça se faça àquelas massas anônimas, que, mesmo sem imposto sindical, sem proteções ministerialistas, sem falsos líderes sindicais, apresentavam muito maior consciência de classe do que os atuais sindicatos, presos ao Ministério do Trabalho, sem o menor espírito de iniciativa. Se movimento social houve no Brasil, à maneira da história da Inglaterra, da França, dos Estados Unidos, esse movimento se deu exatamente nesses primeiros anos adversos. A classe operária e seus líderes sabiam bem o que queriam.”

Evaristo de Moraes Filho. O Problema do Sindicato Único no Brasil

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Direitos Sociais Após 1930 Avanço dos direitos sociais: MTIC – Ministério da Revolução Collor e seus sucessores retomam a implementação dos inúmeros projetos trabalhistas rejeitados pelo Congresso antes de 1930O pacto corporativista entre Estado e Sindicatos permite uma identidade com lideranças externas à classe que a subordinam a interesses estranhos, não resultam de mera adesão ao trabalhismo, que toma “o discurso articulado pelas lideranças da classe trabalhadora, durante a Primeira República, elementos-chave de sua auto-imagem e de ter investido de novo significado em outro contexto discursivo. Assim, o projeto estatal que constitui a identidade coletiva da classe trabalhadora articulou uma lógica material, fundada nos benefícios da legislação social, com uma lógica simbólica, que representava esses benefícios como doações, beneficiando-se da experiência de luta dos próprios trabalhadores”

Ângela Maria de Castro Gomes. A Invenção do Trabalhismo

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Direitos Sociais Após 1930 O desenvolvimento do aparato jurídico e legislativo trabalhista se dá dentro dos limites da ordem e da harmonização social (negação da luta de casses) Vargas, que obscureceu todo o esforço de construção do Direito do Trabalho anterior a 1930, intitulava-se doador das leis em benefício dos trabalhadores, negando-se a possibilidade das leis trabalhistas serem conquistadas senão pela benevolência do chefe da Nação, ou seja, o mito da outorga . Organização sindical ganhou uma cunha corporativista além do positivismo

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Direitos Trabalhistas – Governo Provisório 1930-1934

Decreto 19.671-A/ 31 - Dispõe sobre Departamento Nacional do Trabalho;

Decreto 19.770/ 31 – Regula a sindicalização (estabelece a unicidade, na linha do corporativismo francês);

Decreto 20.465/ 31 - Reforma a legislação das caixas de aposentadoria e pensões;

Decreto 21.186/ 32 – Regula o horário de trabalho no comércio;Decreto 21.364/ 32 – Regula o horário de trabalho da indústria; Decreto 21.396/32 – Institui as Comissões Mistas de Conciliação;Decreto 21.417-A/ 32 – Regula o trabalho da mulher na indústria e

no comércio;Decreto 21.690/ 32 – Cria as Inspetorias Regionais do Trabalho

nos Estados;Decreto 21.761/32 – Institui as Convenções Coletivas de Trabalho;Decreto 22.132/32 – Cria as Juntas de Conciliação e julgamento

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Direitos Sociais Era VargasDireitos Sociais 1934-1937 Constituição de 1934 – JT (só inaugurada em 1941); jornada 8 hs; salário-mínimo; pluralidade sindicalExclusão de trabalhadores rurais (maioria) além de autônomos e domésticasLei n. 62/35 – Dá ampla liberdade de criação de direitos pelas convenções coletivas firmadas nas Comissões Mistas de Conciliação Direito Individual Pretoriano – decisões de Oliveira Viana e Oscar Saraiva

Estado Novo 1937-1945Constituição de 1937 – Greve proibidaDecreto-Lei 1.402 de 1939Código Penal – 1940 – criminaliza a greve

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Fontes Materiais da CLTSüssekind

1) Pareceres de Oliveira Vianna e Oscar Saraiva (consultores do MTIC)- Pelas avocatórias do Ministro do Trabalho das decisões das Juntas de Conciliação e Julgamento (dissídios individuais) por flagrante parcialidade ou violação expressa do Direito art. 29 do Dec. 22.132/32

2) 1º Congresso de Direito Social - (1941) do Instituto de Direito Social/SP, organizado por Cesarino Júnior e Rui Sodré, de orientação católica, em comemoração aos 50 anos da Rerum Novarum.

3) Convenções e Recomendações da OIT

4) Rerum Novarum

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Direitos Sociais e Cidadania Regulada

Cidadania Regulada (Wanderley Guilherme dos Santos): O preço pago pela classe trabalhadora, pela incipiente integração social, foi a renúncia à autonomia de sua organização. Permitia às classes dominantes um estreito controle da participação política, exercida nos limites estabelecidos pela lei e um controle direto na organização das classes trabalhadoras, atrelando-as ao Estado. O gozo de direitos dos trabalhadores, nos termos da Lei, se dá a partir de sua inserção profissional Os pelegos reproduziam em versão moderna o microcosmo do compadrio patriarcal. Serviam lealmente ao governo e aos empregadores, de quem recebiam favores e convertiam os trabalhadores por eles representados numa grande clientela, através das vantagens jurídicas, nas quais os direitos eram divulgados como fruto da ação benfeitora do governoO sistema cumpria sua função ao desfuncionalizar a representação sindical, subtraindo-lhe qualquer relação de legitimidade

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Direitos Sociais e Cidadania ReguladaA cidadania dos trabalhadores foi alcançada não pelos

direitos políticos, mas pelos direitos sociais regulados por lei. Exclusão de trabalhadores rurais (maioria) além de autônomos e domésticas

Neoclientelismo O modo através do qual tais direitos eram divulgados, como fruto da ação benfeitora do governo, transformava tais direitos sociais num favor em troca dos quais se devia gratidão e lealdade ao governo e a empresários, gerando uma cidadania passiva.

Pelegos (versão moderna o compadrio patriarcal).A estrutura jurídico formal da organização sindical

permitia a construção de uma representação sem qualquer vínculo de identidade com as bases de trabalhadores.

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Direitos Sociais e Cidadania Regulada

Vargas foi o maior quadro da burguesia, que jamais entendeu isso:

Reconstruiu o bloco de poder levando a burguesia industrial para o seu proscênio hegemônico;

Integrou a classe operária no sistema econômico, social e jurídico-político;

Soldou o movimento operário, manietando os sindicatos.

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Direitos Sociais e Cidadania Regulada

A burguesia industrial – maior beneficiária da atuação do Estado desde a Revolução de 1930, mas ainda sem força bastante para afirmar-se como fração hegemônica – ascendeu ao final do Estado Novo como fração hegemônica da classe dominante. Arcou com o “pacote” social dos direitos individuais, mas obteve vantagens: (i) atrelamento e controle dos sindicatos, inclusive com a proibição de greve e com a impossibilidade de manifestação de tendências comunistas e anarquistas; (ii) estabilidade política, propiciada pelo aparato repressivo-policial do governo autoritário; (iii) ampliação do mercado interno, com a inclusão de inúmeros trabalhadores; (iv) exclusão da proteção aos trabalhadores rurais (estimulando o êxodo rural, e, em virtude do incremento de oferta, conseqüentemente a queda nos preços da força de trabalho); (v) assimilação, por boa parte dos trabalhadores, da ideologia colaboracionista, e de superação da luta de classes; (vi) participação direta de diversos membros de associações de classe da burguesia industrial no aparelho de Estado, sob a égide do corporativismo

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Direitos Sociais 1945-1964Salvo o processo de maior autonomia sindical (e

certo expurgo do peleguismo) e da extensão dos direitos trabalhistas, previdenciários e sindicais por meio da Lei Orgânica da Previdência Social (que, em 1960 uniformizou as normas previdenciárias sem unificar o sistema dos Institutos) e do Estatuto dos Trabalhadores Rurais (1963), no período democrático de 1945-1964, não houve quase evolução dos direitos sociais. Inobstante, o salário mínimo cresceu e manteve-se em patamar relativamente elevado.

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Direitos Sociais: PerspectivaConstituição de 1988: ampliação dos

Direitos Sociais, mas persistência da desigualdade social

Elevação formal ao status de Direitos FundamentaisMelhoria nos indicadores sociais renda per capita; tx

mortalidade infantil; expecativa de vida; tx de analfabetismo; tx de escolarização; ampliação da cobertura previdenciária

A integração social não se completou (não pudemos experimentar o EBE) nem muito menos se converteu em emancipação social. Já que assim é não podemos separar (como fez o EBE) política social (dentro de uma perspectiva de aprofundamento democrático radical) dos direitos sociais (que começando pelo direito ao trabalho, portam a possibilidade de mudanças radicais do sistema de propriedade)

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Direitos Sociais e EBED.Fund.Sociais como vetores de uma mudança

radical das relações sociais (conexão entre direitos sociais e mudança social) A inscrição dos D.Sociais no Estado de Bem-Estar Social, deslocou seu fundamento (como se fosse o único possível = disfunção teórica), como um certo tipo de direito (a prestações sociais concretas) dirigido a certo tipo de pessoas (os indigentes) para que alcancem sua integração com o conjunto social. Ainda que essa integração se baseie na solidariedade, esta torna apenas mais avançada a concepção de integração de indigentes, mas não questiona a propriedade privada

No Brasil (dentre outros) essa disfunção converteu-se na tautologia em que os D. Sociais não são aplicados por falta de procedimento (corresponde ao modelo judicial individualista-positivista), serem meramente programáticos

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Cidadania: Peso do passadoDireitos Civis e Políticos A Constituição de 1824, quantitativamente (voto censitário, de cabresto e à bico

de pena) alcançou um eleitorado de 13% da pop. livre (1872), mas mesmo isso sofreu um retrocesso com a reforma de 1881, caindo para 0,8% da pop. livre. Em 1930 os eleitores somaram 5,6% da pop., e só em 1945, voltamos aos 13%. Retrocesso de 37-45 e 64-85. Nas Constituições de 34, 37 e 46 figuraram formalmente, sendo muitos deles suspensos nos períodos autoritários de 1937-45

A participação democrática entre 1945-1964 foi rompida com um golpe militar AI-1 cassou os dir. políticos, de diversos líderes políticos, de sindicalistas, de militares, de artistas e intelectuais. O AI-2 (1965) instituiu eleições indiretas para Presidente (sem eleições de 1960 a 1989)e o bipartidarismo. O AI-5 (1968-1978) fechou o Congresso (reaberto em 69), suspendeu o HC e autorizou mais cassações. A Emenda Constitucional 01/69 incorporou os AI’s. Porém as eleições legislativas foram periódicas e o eleitorado cresceu 161% no período.

A difusão ideológica da escravidão (e o paternalismo clientelista oligarca) retiram o peso da liberdade individual como dir. universalizável. A igualdade formal se evanesceu no privilégio e na ausência de poder Público (A burguesia dominante e o latifúndio resistem acima da lei, que passa a ser mero instrumento usado em benefício privado)

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Cidadania: Peso do passadoDireitos Sociais 1964-1985 – Ditadura procurou

compensar a falta de direitos políticos e civis com a ampliação de direitos sociais

Na fase liberal (IPES)de 1964 a 1968, os militarescomprimiram o salário mínimo romperam com a espinha vertebral do DT: a estabilidade decenal (FGTS,

1966). desarticularam o movimento sindical com mais de 500 intervenções

(principal//até 65) e eliminação de sua cúpula. unificaram e universalizaram a previdência (66), tomando das empresas

privadas o seguro de acidentes de trabalho (67) e, financiando-a para os trabalhadores rurais (Funrural, 1970) estímulo ao clientelismo no campo

Nos anos de chumbo de 1968 a 1974: decréscimo ainda maior do salário mínimo. Extensão de direitos sociais aos domésticos (72) e rurais (73)A partir de 1974, com a distensão (revogação do AI-5, 1978): O “novo” sindicalismo na indústria automobilística (bens de consumo duráveis) e

de equipamentos (bens de capital) de SP ressurge construído de baixo (comissões de fábrica e grandes assembléias), com campanha mobilizadora pela recuperação salarial em 1978 e 1979 (greve de mais de 3 milhões de operários)