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1 Bacharel em Direito pela UFPE; Mestre em Gestão Pública pela UFPE e Técnico Judiciário do Tribunal de Justiça de Pernambuco. 2 Doutora em História; Professora do Programa da Pós-Graduação em História da UFPE; Professora, Vice- coordenadora e Coordenadora Científica no Mestrado em Gestão Pública da UFPE; Editora das Coletâneas Gestão Pública: “Práticas e Desafios” e “História das Religiões no Brasil”; Editora da Revista Eletrônica “Gestão Pública Práticas e Desafios”; Conferências nacionais e internacionais; Livros e Artigos nacionais e internacionais. A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E SEU ENFOQUE ACERCA DA MUSEOLOGIA NACIONAL E PATRIMÔNIO PÚBLICO: As Diretrizes de gestão sobre a arqueologia pré- histórica, expansão de seu campo de atuação e a criação do Museu de História Natural em Pernambuco. Hélio Cavalcanti de Siqueira Campos 1 Sylvana Maria Brandão de Aguiar 2 Resumo: O vislumbre de modelos arcaicos da legislação museológica e do patrimônio público e o surgimento de novas leis e novas políticas voltadas para os museus nacionais mostram, claramente, uma premente necessidade de se avançar na criação de museus de ciência, com o seu enfoque na modernização da gestão pública e administrativa, utilizando-se de ferramentas como as parcerias público-privadas e conceitos de políticas públicas, para fomentar o crescimento dos museus nos setores arqueológico e paleontológico, visando a possibilidade de se criar um Museu de História Natural em Pernambuco. Palavras-chaves: Museologia . Patrimônio público . Políticas públicas . Legislação brasileira . Gestão pública . Atraso histórico . Modernização . Arqueologia . Paleontologia . Museu de história natural . Abstract: The glimmer of archaic models of museum legislation and public heritage and the emergence of new laws and policies for the national museums clearly show an urgent need for progress in the creation of science museums, with their focus on modernizing management and public administration, using tools such as public-private partnerships and concepts of public management to foster growth of museums in archaeological and palaeontological sectors, aiming at the possibility of creating a Museum of Natural History in Pernambuco. Keywords: Museum knowlege . Public heritege . Public policies . Brazilian legislation . Public management . Historic delay. Upgrading. Arqueologie . Paleontologie . Natural history museum .

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1Bacharel em Direito pela UFPE; Mestre em Gestão Pública pela UFPE e Técnico Judiciário do Tribunal de Justiça

de Pernambuco. 2Doutora em História; Professora do Programa da Pós-Graduação em História da UFPE; Professora, Vice-

coordenadora e Coordenadora Científica no Mestrado em Gestão Pública da UFPE; Editora das Coletâneas Gestão

Pública: “Práticas e Desafios” e “História das Religiões no Brasil”; Editora da Revista Eletrônica “Gestão Pública

Práticas e Desafios”; Conferências nacionais e internacionais; Livros e Artigos nacionais e internacionais.

A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E SEU ENFOQUE ACERCA DA MUSEOLOGIA

NACIONAL E PATRIMÔNIO PÚBLICO: As Diretrizes de gestão sobre a arqueologia pré-

histórica, expansão de seu campo de atuação e a criação do Museu de História Natural em

Pernambuco.

Hélio Cavalcanti de Siqueira Campos1

Sylvana Maria Brandão de Aguiar2

Resumo:

O vislumbre de modelos arcaicos da legislação museológica e do patrimônio público e o

surgimento de novas leis e novas políticas voltadas para os museus nacionais mostram,

claramente, uma premente necessidade de se avançar na criação de museus de ciência, com o seu

enfoque na modernização da gestão pública e administrativa, utilizando-se de ferramentas como

as parcerias público-privadas e conceitos de políticas públicas, para fomentar o crescimento dos

museus nos setores arqueológico e paleontológico, visando a possibilidade de se criar um Museu

de História Natural em Pernambuco.

Palavras-chaves: Museologia . Patrimônio público . Políticas públicas . Legislação brasileira .

Gestão pública . Atraso histórico . Modernização . Arqueologia . Paleontologia . Museu de

história natural .

Abstract:

The glimmer of archaic models of museum legislation and public heritage and the emergence of

new laws and policies for the national museums clearly show an urgent need for progress in the

creation of science museums, with their focus on modernizing management and public

administration, using tools such as public-private partnerships and concepts of public

management to foster growth of museums in archaeological and palaeontological sectors, aiming

at the possibility of creating a Museum of Natural History in Pernambuco.

Keywords: Museum knowlege . Public heritege . Public policies . Brazilian legislation . Public

management . Historic delay. Upgrading. Arqueologie . Paleontologie . Natural history museum .

Introdução

O estudo ora apresentado visa analisar a situação da legislação atual

brasileira quanto à possibilidade de utilização das jazidas arqueológicas e fossilíferas pelos

museus nacionais e regionais, públicos ou privados, com o intento de realizar exposições ou

pesquisas científicas, como também, definir explicitamente as sutis diferenças existentes entre

patrimônio arqueológico, que está inserido em patrimônio histórico-cultural, e patrimônio

público.

Entretanto, antes disto, necessita-se questionar o que realmente

significa o legado cultural, histórico, arqueológico e pré-histórico de uma nação, ou seja, o que o

seu patrimônio histórico-cultural sinaliza de conteúdo educacional para o seu povo. Conota-se

premente, portanto, a necessidade de se tentar preservar a memória de um país como o Brasil,

pois em um mundo globalizado, onde se caminha para unificidade de identidades, corre-se o risco

de que se perca a ligação com o seu passado e, consequentemente, com o seu legado. Para que

isso não aconteça, é determinante que os gestores públicos melhorem a educação e a preservação

da cultura, dos museus e da política dos patrimônios.

Para começar: O que seria cultura?; O que seria museu?; O que

seria patrimônio?.

Cultura pode ter, antropologicamente falando, vários conceitos,

mas entende-se que cultura, de maneira simplória, seria a abrangência de todas as realizações

materiais e os aspectos espirituais de um povo (SILVA; SILVA, 2006).

O interessante nisto tudo é que Franz Boas indica, quando da

influência sobre sua obra da teoria evolucionista de Charles Darwin, que todas as culturas passam

pelas mesmas etapas e estágios durante a sua existência, evoluindo através do tempo, progredindo

de uma cultura mais primitiva para uma mais avançada, claro que, utilizando-se da história para

explicar a diversidade cultural (SILVA; SILVA 2006).

Há também o conceito de cultura como aquele que define a

produção artística e intelectual de um povo e é neste aspecto que aqui estabeleço o início desta

explanação (SILVA; SILVA, 2006).

Ao definir cultura como algo inanimado que se tornou palpável,

materializado e que evoluiu para definir a base da sociedade do homem desde os seus primórdios,

2

caminha-se então, para atingir o apogeu máximo e idealizado pelos gregos como o local aonde se

poderia vislumbrar as obras humanas e fomentá-las a um crescimento da alma humana e da

eterna busca espiritual. Esse local receberia o nome de museu, do grego clássico Mouseion, que

significa templo das musas (deusas da inspiração e do aprendizado e protetoras das artes na

interpretação encontrada na Mitologia Grega).

Nos dias atuais, essa origem é contestada, pois segundo Scheiner, a

origem do museu não está no templo em si, mas nas musas, “responsáveis, no Panteão grego,

pela manutenção da identidade do seu próprio universo.” 3

Daí, o que se denominava museu era na realidade Mousàon,

instância de presentificação das musas, recriação do mundo através da memória. Ou seja, o

sentido definidor de museu podia ser dúbio; ou era real, ou era intangível (SCHEINER, 1998).

Apesar da atual divergência histórica, sabe-se que na época

Ptoloméica do Egito, século III a.C., o Rei Ptolomeu II - Filadelfo, ou o seu antecessor, Ptolomeu

I – Sóter, construiu um dos primeiros museus em Alexandria. Este museu guardava a famosa

Biblioteca de Alexandria, que foi perdida junto com o seu histórico legado entre incêndios,

terremotos, guerras e a ignorância intransigente de soberanos, não tendo resistido até os tempos

modernos (CANFORA, 1989).

Após, apenas no século XV é que o conceito clássico de museu

ressurgiu na Europa, no período conhecido como Renascimento, com a mudança de

entendimento de que as coleções não deveriam ser cultivadas apenas pelo seu valor material, mas

também pelo seu valor artístico, com motivações culturais e científicas. Destaca-se dessa época a

coleção Médici na Itália. É do final do século XVII e início do século XVIII, a concepção atual

do que se considera museu. Tal concepção surgiu na Inglaterra, com a organização da coleção de

John Tradescant e sua doação a Elias Ashmole, que posteriormente se transformou no Ashmole

Museum, fundado em 1683.

Talvez o ressurgimento do conceito museológico tenha decorrido

do fato de que os ensinos denominados superiores eram originário do legado deixado pelos

gregos, pois, ao se estudar Artes e Ofício no Renascimento, o indivíduo estaria visualizando a

3 SCHEINER, Tereza. Museologia, Globalismo e diversidade cultural. In: MUSEOLOGIA E DIVERSIDADE

CULTURAL NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE. ICOFOM LAM, Cidade do México, México, Subcomitê

Regional para a América Latina e Caribe/ICOFOM LAM, p. 143-174, Jun. 1998.

3

importância das artes para o seu ensino superior e dando, assim, a mesma importância dada pelos

gregos aos museus.

No século XIX o museu atingiu sua maioridade, mas apenas no

século XX, após a Segunda Grande Guerra é que, em face das inúmeras perdas de coleções, foi

possível pensar mais concretamente o museu como patrimônio público e o seu legado

institucional. Em 1946, estabeleceu-se a criação do Conselho Internacional de Museus - ICOM.

Começou-se daí a pensar o conceito de desenvolvimento de museu como modelo de gestão.

O ICOM define atualmente um museu como “...instituição

permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberto ao

público, e que adquire, conserva, estuda, comunica e expõe testemunhos materiais do homem e

do seu meio ambiente, tendo em vista o estudo, a educação e a fruição.” 4

Existem outras instituições que além dos museus são abrangidas por

tal definição:

(i) os sítios e monumentos naturais, arqueológicos e

etnográficos e os sítios e monumentos históricos com

características de museu pelas suas actividades de aquisição,

conservação e comunicação dos testemunhos materiais dos

povos e do seu meio ambiente;

(ii) as instituições que conservam colecções e expõem

espécimens vivos de vegetais e animais, tais como jardins

botânicos e zoológicos, aquários e viveiros;

(iii) os centros científicos e planetários;

(iv) as galerias de arte sem fins lucrativos; os institutos de

conservação e galerias de exposição dependentes de

bibliotecas e arquivos;

(v)as reservas naturais;

(vi) as organizações internacionais, nacionais, regionais e

locais de museus, as administrações públicas que tutelam

museus de acordo com a definição supracitada;

(vii) as instituições ou organizações sem fins lucrativos que

desenvolvem actividades de conservação, investigação,

educação, formação, documentação e outras relacionadas com

museus e museologia;

(viii) os centros culturais e outras instituições cuja finalidade

seja promover a preservação, continuidade e gestão dos

recursos patrimoniais materiais e imateriais (património vivo

e actividade criativa digital); 4 (Extraído do Artigo 2º dos Estatutos do ICOM, adoptados na 16ª Assembleia

Geral do ICOM (Haia, Holanda, 5 de Setembro de 1989) e alterados pela 18ª Assembleia Geral do ICOM (Stavanger, Noruega, 7 de Julho de 1995) e pela 20ª

Assembleia Geral do ICOM (Barcelona, Espanha, 6 de Julho de 2001).

4

(ix) quaisquer outras instituições que o Conselho Executivo,

ouvido o Conselho consultivo, considere como tendo algumas

ou todas as características de um museu, ou que proporcione

aos museus e aos profissionais de museus os meios para a

investigação na área da Museologia, da educação ou da

formação.

No Brasil, historicamente, o museu remonta ao período da invasão

holandesa em Pernambuco, com a implantação de um museu (incluindo jardim botânico, jardim

zoológico e observatório astronômico) no grande Parque do Palácio de Vrijburg, no século XVII,

para mais adiante, no século XVIII surgir, no Rio de Janeiro, o Museu de História Natural na

famosa Casa de Xavier dos Pássaros (PNM/ MinC, 2007).

Sabe-se que no Brasil do início do século XX tinha-se 12 (doze)

museus e chegou-se no século XXI com mais de 2.400 (dois mil e quatrocentas) unidades

museológicas espalhadas pelo território nacional (PNM/MinC, 2007).

Destas unidades, 87 (oitenta e sete) são museus de ciências e

tecnologia. Entende-se que devido a uma classificação metodológica científica, os museus de

história natural, ciências naturais, arqueológicos ou ligados a estes temas, encontram-se

classificados conjuntamente com os museus de ciências tecnológicas.

Bem, vislumbrando superficialmente o que se entende por museu,

deve-se agora, explanar o conceito de patrimônio.

A etimologia da palavra patrimônio quer dizer pater, do grego, e

que significa “pai” ou “paterno”. Então, tudo que é patrimônio é aquilo que foi deixado pela

figura do pai para os seus filhos. Com o passar do tempo, essa noção se expandiu a um conjunto

de bens materiais que estão intrinsecamente ligados a uma identidade cultural ou a um passado de

uma coletividade.5

Visualiza-se que a noção de patrimônio, ao evoluir no tempo, restou

por ser incorporada ao Estado como política oficial e que tal evolução fez surgir inúmeras

categorias de patrimônio. Assim, é consenso que a concepção de patrimônio, e suas respectivas

categorias, foi uma prática iniciada pelo Estado-nação (Pós-Revolução francesa), onde se buscou,

5 Dicionário Houaiss. Disponível em:http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=patrim%F4nio&stype=k&x=7&y=6 Acesso

em 4 de maio de 2010.

5

pela primeira vez, mecanismos de proteção jurídica com políticas de preservação para gerações

futuras (FONSECA, 1997).

A Organização para a Educação, Ciência e Cultura das Nações

Unidas – UNESCO, realizou em Paris no dia 16 de novembro de 1972, a Convenção Geral para

Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, fomentando a necessidade de criar

mecanismos para proteção de patrimônios mundiais considerados valiosos. Surgia oficialmente o

termo Patrimônio Mundial. Essa convenção estabeleceu os deveres dos Estados-membros em

proteger potenciais locais de importância mundial, mas também, de importância local e rara

singularidade. O Brasil tornou-se signatário da Convenção de 1972 apenas em 1977, através do

Decreto nº 80978/77.

No Brasil, uma das categorias de patrimônio é o Patrimônio

Nacional, que é o conjunto de bens que pertencem a determinado país. Existe o Patrimônio

Natural, que são as riquezas que estão no solo e subsolo de um determinado Estado e podem ser

tanto as florestas quanto as jazidas fossilíferas e existe o Patrimônio Cultural, conceito que vem

sendo modificado à medida que se revisam os conceitos de cultura e de história e que até a

metade do século XX era tido como sinônimo de obras monumentais, obras de artes consagradas

e propriedades de grande luxo (BARRETTO, 2000).

Atualmente, o Patrimônio Cultural, ou neste caso específico, o

legado cultural, pode ser material ou tangível (obras de artes, acervos museológicos, esculturas,

etc..) ou imaterial, também denominado intangível, conceito que abrange regiões, paisagens,

danças típicas, comidas e bebidas típicas, manifestações religiosas, etc.

Ainda ao se explanar sobre a evolução do conceito de patrimônio

ocorreu mais uma derivação. Surgiu, portanto, a derivação temporal. O que se pode considerar

como Patrimônio Histórico?, dotado de um passado; e o que pode ser considerado

contemporâneo?, pós-modernista. Este conceito recebe o nome de patrimônio cultural? Tal

separação não é tão simples assim.

Observa-se que no processo evolutivo temporal a noção de

patrimônio modificou-se e o que se tinha por patrimônio histórico hoje é conhecido por

patrimônio cultural. Para isso, explica-se:

A noção de patrimônio histórico tradicionalmente se refere à

herança composta por um complexo de bens históricos. Mas

6

apesar de ainda pouco conhecido {...} O fato é que os

especialistas vêm continuamente substituindo o conceito de

patrimônio histórico pela expressão patrimônio cultural

(SILVA, SILVA, 2006).

Em sendo a guarda do patrimônio como ofício do Estado, surgiu o

conceito de Patrimônio Público e com o surgimento do modelo de patrimônio público surgiu,

também, o problema estatal de como gerir, manter tal patrimônio. Essa discussão é atual no

mundo todo. Como transformar um patrimônio que é público em um produto rentável, que possa

se autogerir e ainda realizar sua função educacional e social (BARRETTO, 2000).

Inserido neste contexto indissociável, está o que se chama de

Patrimônio Arqueológico. Pertencente ao patrimônio histórico, hoje patrimônio cultural, e por

concepção legal é vinculado ao patrimônio público. O patrimônio arqueológico no Brasil trata do

reconhecimento da vida do passado, revelando o passado histórico recente das obras

arquitetônicas, do passado pré-histórico, dos sítios e parques arqueológicos, dos depósitos

fossilíferos, das cavidades subterrâneas e dos patrimônios paleontológicos, que fazem parte, por

definição, dos parques de pesquisa científicos criados pelas Universidades nacionais, quer

públicas, quer privadas.

O conceito de patrimônio arqueológico é originário da Carta de

Loussane, de 1990, em que significa:

Art 1º - O Patrimônio arqueológico compreende a porção do

patrimônio material para qual os métodos da arqueologia

fornecem os conhecimentos primários. Engloba todos os

vestígios da existência humana e interessa todos so lugares

onde há indícios de atividades humanas, não importanto quais

sejam elas. Estrutura e vestígios abandonados de todo o tipo,

na superfície, no subsolo ou sob as águas, assim como o

material a eles associados.

Em sendo o patrimônio arqueológico testemunha do passado, essa

rica herança cultural tem a árdua tarefa de educar o cidadão para o que significa patrimônio,

transmitindo-o a consciência do patrimônio cultural.

Descobrir essa rede de significados, relações, processos de

criação, fabricação, trocas, comercialização e usos

diferenciados, que dão sentido às evidências culturais e nos

informam sobre o modo de vida das pessoas no passado e no

presente, em um ciclo constante de continuidade,

7

transformação e reutilização, é a tarefa específica da

Educação Patrimonial (HORTA; GRUMBERG;

MONTEIRO, 1999).

Ora, então, o que seria Educação Patrimonial. A educação

patrimonial ou Heritage Education, surgiu no Brasil em 1983 e visou aprofundar o conhecimento

e preservar o patrimônio histórico-cultural. O princípio primordial da Educação Patrimonial:

Trata-se de um processo permanente e sistemático de trabalho

educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte

primária de conhecimento individual e coletivo. A partir da

experiência e do contato direto com as evidências e

manifestações de cultura, em todos os seus múltiplos

aspectos, sentidos e significados. O trabalho de Educação

Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo

ativo do conhecimento, apropriação e valorização de sua

herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto

desses bens, e propiciando a geração e a produção de novos

conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural

(HORTA; GRUMBERG; MONTEIRO, 1999).

Atualmente, ao utilizar o moderno conceito da educação

patrimonial nas pesquisas arqueológicas, busca-se meios tecnológicos para que o Brasil possa se

destacar cada vez mais em campos pouco explorados, como por exemplo, o campo

paleontológico.

Há muito por fazer, mas podemos afirmar que a experiência

patrimonial no Brasil tem sido assimilada no seu sentido mais

completo, em sintonia com a coletividade e a partir de

conhecimentos antropológicos, sociológicos, históricos,

artísticos e arqueológicos orientados por especialistas. A

implantação de cursos de educação patrimonial, a organização

de oficina-escola e serviços em multirão constituem ações de

importância fundamental no processo de envolvimento da

população. Esse esforço de contribuirá para consolidar

políticas de inclusão social, reabilitação e sustentabilidade do

patrimônio em nosso país. (FUNARI; PELGRINI, 2006).

Com o entendimento de que o legado histórico-cultural deve ser

gerido e manutenido pelo Estado, surgiu outra situação emblemática: Como sedimentar uma

parceria com as instituições privadas que possuem coleções e que precisam do fluxo monetário

das exibições para se manter?

8

Em países de língua anglo-saxônica, de religião anglicana, com a

tradição weberiana da meritocracia, e do modelo liberal de proteção à propriedade privada, estas

barreiras foram superadas, restando hialina a possibilidade de uma parceria público-privada.

Noutros, como o Brasil, de religião católica, com tradição sedimentada no direito romano, há o

entendimento de que a privatização iria alienar a manutenção do patrimônio, devendo-se

permanecer, portanto, pública em sua totalidade (BARRETTO, 2000).

Indo de encontro ao raciocínio lógico jurídico puro da propriedade

civil, o patrimônio histórico, artístico e cultural nacional busca sua identidade e valorização do

coletivo perante o privado. É a supremacia do interesse público sobre o interesse privado (

PEDROSO, 2007).

Desta feita, vislumbra-se uma situação inusitada e até dicotômica,

pois o Estado chama para a si a responsabilidade, o fardo e o monopólio para cuidar do

patrimônio, mas ao mesmo tempo, não dá garantias sobre suas ações, pois tais ações de proteção,

criação e incremento do patrimônio histórico-cultural necessitam passar pelos gestores políticos,

que por questões óbvias de cunho político ideológico e até por questões orçamentárias, têm

posições antagônicas sobre o assunto. Com isso, sabe-se que a política de estímulo à cultura não

tem a sequência que deveria ter nos governos. Ao ocorrer essa dissolução de continuidade, ocorre

o prejuízo social e educacional, e com isso há, ano a ano, um acréscimo silencioso na defasagem

educacional e cultural do cidadão brasileiro, vislumbrando-se, com isso, uma verdadeira fossa

abissal entre os países mais aculturados e o Brasil.

Evolução histórica-jurídica

Historicamente, no Brasil do século XVIII é que se tem notícia da

primeira iniciativa de proteção pública do patrimônio cultural. Ocorreu em 1742, por iniciativa do

Conde das Galveias, que se manifestou favorável à preservação do Palácio das Duas Torres, em

Pernambuco, através da Carta enviada ao Governador Luis Pereira Freire de Andrade (SILVA,

2010).

Apenas no século XX é que o conceito de preservação do

patrimônio começou a se efetivar na legislação nacional. O fomento de tal proteção cultural

começou na Semana de Arte Moderna de 1922, capitaneada por Mário de Andrade e em 1924

9

consolidou-se com o deslocamento das iniciativas de proteção ao patrimônio da órbita federal

para os Estados.

Em 1931 foi editada a Carta de Atenas, em que foi colocado aos

Estados sobre a necessidade de se criar leis para a preservação dos patrimônios culturais. Mas,

apenas em 1937, com a Lei Federal nº 378/37 é que ocorreu a criação do Serviço do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional - SPHAN, através de um projeto desenvolvido por Mário de

Andrade e outros modernistas de 1922, para o Ministro da Saúde e Educação Gustavo Capanema.

Em 1970, o SPHAN recebeu a sua denominação atual, Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional – IPHAN, através do Decreto nº 6967/70.

Assim, seguindo a preocupação mundial, surgiu no Brasil o cuidado

em proteger com mais ênfase o patrimônio histórico-cultural do povo, mas a pouca produção de

legislação protetiva e o engessamento legislativo provocado por tais leis dificultou e dificulta o

fomento de parcerias entre instituições de preservação histórico-cultural pública e a iniciativa

privada, representada pela sociedade civil ou pela Associação dos Amigos dos Museus (criada

pela Portaria nº 1/2007 do IPHAN).

Efetivamente, com o surgimento das primeiras legislações sobre o

assunto, vê-se que há, imediatamente, uma associação quase amálgama entre o Patrimônio

Histórico-Cultural e o Patrimônio Público, pelo menos para efeito de exploração museológica e

em termos de exploração das jazidas arqueológicas pré-históricas.

Para tal, é neste conceito de Patrimônio Público que estão inseridos

os depósitos fossilíferos nacionais e os sítios arqueológicos, e é onde ocorrem os estudos sobre a

vida na pré-história brasileira. São essas jazidas e esses sítios que se tornaram objeto da

legislação, embora de maneira restrita, pois o legislador, no Decreto-lei nº 25/37 apenas protegeu

o patrimônio de uma maneira geral, com a inovação do “Tombamento”, não aprofundando numa

política de exploração e gestão; no Decreto-lei nº 4.146/42, apenas protegeu os depósitos

fossilíferos e na Lei nº 3.924/.61, se preocupou apenas com a vida pré-histórica recente dos povos

paleoameríndios (aproximadamente de 12 mil anos a.C. para cá).

Não que não fossem importantes, o problema é que não se

vislumbrou uma visão mais abrangente das possibilidades explorativas em um sítio arqueológico,

não podendo a legislação e os estudiosos de hoje ficar limitados a poucos temas. Há muito que

desenvolver e outras Eras para pesquisar e explorar.

10

Legislação Constitucional no tempo

Na Carta Magna de 1934, em seu art. 148, está prevista a proteção

ao Patrimônio Histórico e Artístico como mandamento constitucional.

Art 148 - Cabe à União, aos Estados e aos Municípios

favorecer e animar o desenvolvimento das ciências, das artes,

das letras e da cultura em geral, proteger os objetos de

interesse histórico e o patrimônio artístico do País, bem como

prestar assistência ao trabalhador intelectual.

Com a edição da Constituição de 1946, o seu art. 175 indica:

Art 175 - As obras, monumentos e documentos de valor

histórico e artístico, bem como os monumentos naturais, as

paisagens e os locais dotados de particular beleza ficam sob a

proteção do Poder Público.

A Constituição Federal de 1967 apesar de draconiana inovou ao

prever proteção as jazidas arqueológicas:

Art 172 - O amparo à cultura é dever do Estado.

Parágrafo único - Ficam sob a proteção especial do

Poder Público os documentos, as obras e os locais de valor

histórico ou artístico, os monumentos e as paisagens naturais

notáveis, bem como as jazidas arqueológicas.

A nova Carta constitucional de 1988 inovou ainda mais ao ofertar

inúmeros mandamentos de proteção e fomento ao patrimônio histórico-cultural, inclusive

definindo as competências sobre a matéria:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios:

.........................................................................................

III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor

histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens

naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de

obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou

cultural;

V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à

ciência;

11

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal

legislar concorrentemente sobre:

..........................................................................................

VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico,

turístico e paisagístico;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao

consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,

histórico, turístico e paisagístico;

IX - educação, cultura, ensino e desporto;

Art. 30. Compete aos Municípios:

..........................................................................................

IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural

local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e

estadual.

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos

direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e

apoiará e incentivará a valorização e a difusão das

manifestações culturais.

..........................................................................................

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de

natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em

conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à

memória dos diferentes grupos formadores da sociedade

brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e

viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV

- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços

destinados às manifestações artístico-culturais; V - os

conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,

artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade,

promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por

meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e

desapropriação, e de outras formas de acautelamento e

preservação.

12

§ 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a

gestão da documentação governamental e as providências

para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.

§ 3º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e o

conhecimento de bens e valores culturais.

§ 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão

punidos, na forma da lei.

Em 16 de agosto de 2005 foi editada a Emenda Constitucional nº

48, que acrescentou o § 3º ao art. 215 da CF/88, que ficou assim redigido:

Art. 215....................................................................................

..........................................................................................

§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de

duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do

País e à integração das ações do poder público que conduzem

à: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)

I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;

(Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)

II produção, promoção e difusão de bens culturais; (Incluído

pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)

III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura

em suas múltiplas dimensões; (Incluído pela Emenda

Constitucional nº 48, de 2005)

IV democratização do acesso aos bens de cultura; (Incluído

pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)

V valorização da diversidade étnica e regional. (Incluído pela

Emenda Constitucional nº 48, de 2005)

Logo após, com a necessidade de se modernizar os incentivos

culturais, surgiu a Proposta de Emenda à Constitucional nº 575/06 que altera e acrescenta aos

arts. 215 e 216, novos parágrafos e incisos, visando estabelecer condições para preservação e

incremento do patrimônio museológico nacional e da política pública voltada para esse segmento.

A PEC nº 575/06 acrescenta os §§ 4º, 5º, 6º e 7º ao art. 215. Quanto

ao art. 216, acrescenta o Inciso IV e também os §§ 7º ao 10, restando o parágrafo 11 com os

Incisos I e II.

13

O destaque desta PEC nº 575/06 vai para a criação de um fundo

específico para criação e manutenção dos museus e também para a formação de profissionais da

área. A PEC determina, ainda, que o patrimônio museológico esteja incluso entre os bens

pertencentes ao patrimônio cultural e estabelece a criação do Sistema Brasileiro de Museus, que

deve abranger os museus públicos e privados, nas três esferas governamentais. Nesta PEC,

visualizam-se equívocos, como a criação de mais um órgão para gerir os museus nacionais.

Entende-se que este órgão já existe, mas há outras ideias interessantes, como criar benefícios e

incentivos a museus privados que sejam considerados de interesse público e o mesmo pode se

falar dos museus mantidos em escolas, Universidades, ecomuseus, etc. Se tal proposta for

aprovada, abre-se uma janela para efetivar um crescimento dos museus com a participação direta

da sociedade civil e suas instituições.

Legislação Ordinária no tempo

No Estado Novo, Getúlio Vargas edita o Decreto-lei nº 25/37, que

dita em seu art. 1º:

Art. 1º Constitue o patrimônio histórico e artístico nacional o

conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja

conservação seja de interêsse público, quer por sua vinculação

a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu

excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico

ou artístico.

§ 1º Os bens a que se refere o presente artigo só serão

considerados parte integrante do patrimônio histórico o

artístico nacional, depois de inscritos separada ou

agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo, de que trata

o art. 4º desta lei.

§ 2º Equiparam-se aos bens a que se refere o presente

artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos

naturais, bem como os sítios e paisagens que importe

conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido

dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana.

Art. 2º A presente lei se aplica às coisas pertencentes às

pessôas naturais, bem como às pessôas jurídicas de direito

privado e de direito público interno.

14

No Decreto-lei nº 25/37 há o primeiro relato sobre tombamento e

sua organização, o que atualiza, à época, o Brasil perante os outros países, catalogando de forma

mais organizada as coleções.

No art. 23 do mesmo Decreto há uma indicação de como a União e

os Estados pudessem coordenar atividades em conjunto de proteção patrimonial:

Art. 23. O Poder Executivo providenciará a realização de

acôrdos entre a União e os Estados, para melhor coordenação

e desenvolvimento das atividades relativas à proteção do

patrimônio histórico e artistico nacional e para a

uniformização da legislação estadual complementar sôbre o

mesmo assunto.

Após, também na vigência do Estado Novo de Getúlio Vargas, foi

editado o Decreto-lei nº 4.146/42, que viabilizou a proteção dos depósitos fossilíferos:

Art. 1º Os depósitos fossilíferos são propriedade da Nação, e,

como tais, a extração de espécimes fosseis depende de

autorização prévia e fiscalização do Departamento Nacional

da Produção Mineral, do Ministério da Agricultura.

Parágrafo único. Independem dessa autorização e fiscalização

as explorações de depósitos fossilíferos feitas por museus

nacionais e estaduais, e estabelecimentos oficiais congêneres,

devendo, nesse caso, haver prévia comunicação ao

Departamento Nacional da Produção Mineral.

Sob a influência da Carta de Nova Délhi, de 05 de dezembro de

1956, surge a Lei nº 3.924 de 26 de julho de 1961, que regulamentou o art. 175 da Lei

Constitucional de 1946. Essa lei vigora até hoje, pois foi recepcionada pela Carta máxima de

1988. Sua influência é visível, principalmente na Portaria nº 230/2002, que cuida do embargo

preventivo de proteção ambiental, prevenindo possível dano ao patrimônio público, não

importando o tipo de patrimônio.

A Lei nº 3.924/61 diz:

Art 1º Os monumentos arqueológicos ou pré-históricos de

qualquer natureza existentes no território nacional e todos os

elementos que nêles se encontram ficam sob a guarda e

proteção do Poder Público, de acôrdo com o que estabelece o

art. 175 da Constituição Federal.

Parágrafo único. A propriedade da superfície, regida pelo

direito comum, não inclui a das jazidas arqueológicas ou pré-

15

históricas, nem a dos objetos nelas incorporados na forma do

art. 152 da mesma Constituição.

Art 2º Consideram-se monumentos arqueológicos ou pré-

históricos:

a) as jazidas de qualquer natureza, origem ou finalidade,

que representem testemunhos de cultura dos paleoameríndios

do Brasil, tais como sambaquis, montes artificiais ou tesos,

poços sepulcrais, jazigos, aterrados, estearias e quaisquer

outras não espeficadas aqui, mas de significado idêntico a

juízo da autoridade competente.

b) os sítios nos quais se encontram vestígios positivos de

ocupação pelos paleoameríndios tais como grutas, lapas e

abrigos sob rocha;

c) os sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou

locais de pouso prolongado ou de aldeiamento, "estações" e

"cerâmios", nos quais se encontram vestígios humanos de

interêsse arqueológico ou paleoetnográfico;

d) as inscrições rupestres ou locais como sulcos de

polimentos de utensílios e outros vestígios de atividade de

paleoameríndios.

Art 3º São proibidos em todo o território nacional, o

aproveitamento econômico, a destruição ou mutilação, para

qualquer fim, das jazidas arqueológicas ou pré-históricas

conhecidas como sambaquis, casqueiros, concheiros,

birbigueiras ou sernambis, e bem assim dos sítios, inscrições e

objetos enumerados nas alíneas b, c e d do artigo anterior,

antes de serem devidamente pesquisados, respeitadas as

concessões anteriores e não caducas.

Como exposto acima, o art. 3º da referida lei proíbe o

aproveitamento econômico de jazidas arqueológicas, entretanto, são jazidas específicas e restritas

à época dos paleoameríndios, não albergando qualquer tipo de exploração comercial. Tal

restrição, de cunho meramente paleoantropológico, excluiu todo tipo de achado arqueológico

fossilífero de animais, vegetais de outras Eras. Ou seja, entende-se que ocorreu omissão

legislativa, posteriormente corrigida pela Portaria nº 230/2002 do IPHAN. Com a ampliação da

proteção ambiental legislativa para qualquer sítio arqueológico ou depósito fossilífero, abriu-se

uma janela para a ampliação do espectro das pesquisas arqueológicas em outras Eras.

16

Entende-se, portanto, que se deve proteger tais tesouros

arqueológicos e fossilíferos, mas deve-se atentar para a seriedade de entidades da sociedade civil

que mantém interesse científico e desejo de exploração de tais jazidas e que poderiam, com ajuda

da União e seus referidos órgãos responsáveis, viabilizar parcerias para aprofundar pesquisas de

campo e porque não, explorar comercialmente a visitação aos seus museus, com o único intuito

de se autogerir e conseguir mais recursos para ampliar a exploração nos sítios. Tudo isso com o

aval do poder público e do órgão responsáveis.

Posteriormente surgiu a Lei Rouanet – Lei nº 8.313/91, que visa ao

incentivo à cultura por empresas privadas, através da declaração do imposto de renda sobre lucro

presumido e pessoas físicas. Com a lei foram criados 04 (quatro) fundos: O Pronac, o FNC, o

Mecenato e o Ficart. Em 2000 foi editado o Decreto nº 3.551, que criou novos livros de registro

de bens tombados pelo patrimônio.

Para salvaguardar e dar a proteção legal que está estabelecida na Lei

nº 3.924/61, há no Brasil instrumento legais que ao atuarem em conjunto se tornam em

instrumentos eficazes no combate ao crime contra o patrimônio.

O crime contra o patrimônio tem previsão nos arts. 165 e seguintes

do Código Penal Brasileiro. Além disso, há a proteção da Ação Popular (Lei nº 4.717/65), que em

seu art. 1º, § 1º define os bens patrimoniais protetivos dos entes da administração pública.

A Constituição Federal ainda oferece, através das atribuições dos

Ministérios Públicos estaduais e federais, a opção de interposição de ação protetiva denominada

ação civil pública (Lei nº 7.347/85), como um instrumento de proteção ao patrimônio público

nacional (art. 129, III, da CF/88 cumulado com a Lei Complementar nº 75/93 e a Lei nº 8.

625/93).

Observa-se, Ainda, a inovação da legislação ambiental, que também

prevê proteção ao dano contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural, visualizado nos

arts. 62 a 65 da Lei nº 9.605/98. Antes, até existia a Lei nº 6.513/77, que considerava de interesse

turístico áreas especiais e locais considerados de alto valor histórico, artístico, arqueológico e

afins. Evidentemente, com a chegada da Lei nº 9.605, em 1998, houve uma maior abrangência

desta sobre a anterior.

Não se pode falar de legislação de proteção ao patrimônio cultural

sem falar nas portarias do IPHAN, entretanto, apesar de inúmeras portarias tratarem sobre

17

matéria de proteção ao patrimônio, a mais recente é a Portaria nº 230/2002, de 17 de dezembro de

2002, e que trata da proteção ambiental para embargar as obras de edificação contemporânea que

venham a prejudicar determinado sítio arqueológico, ou seja, há a defesa preventiva, conhecida

também como arqueologia preventiva.

O estado da arte acerca da matéria museológica e da matéria

arqueológica é a Lei nº 11.904/09, que estabelece o Estatuto dos Museus e será analisada em

conjunto com as leis patrimoniais estaduais de Pernambuco, no tópico adiante.

Parceria Público-Privada, uma possibilidade de gestão?

Inicialmente, deve-se ressaltar que o presente estudo visa observar

uma possível e atual mudança de visão das políticas públicas, tornando realidade à perspectiva de

uma melhor expansão do setor museológico, quer nacional, quer estadual, incrementando o

estudo arqueológico, pré-histórico e paleontológico, possibilitando a participação efetiva da

sociedade civil, através de suas instituições e até de Universidades privadas, criando um modelo

de gestão funcional, com possíveis parcerias público-privadas, tendo como ponto crucial, a

criação de um Museu de História Natural, no caso, em Pernambuco.

A possibilidade de parceria público-privada na história dos museus

não é nova, remonta ao ano de 1869, em Nova Iorque, onde o governo local cedeu, através dessa

inovadora parceria, um espaço para o Museu de História Natural funcionar e expor suas coleções

(FREITAS, 2006).

As PPPs foram criadas para atrair investimentos privados em

segmentos econômicos que não são tão atrativos à iniciativa privada, necessitando de um

incentivo público para se efetivar (FREITAS, 2006).

O problema é que ocorriam incentivos públicos em situações de

investimento em que a iniciativa privada poderia, facilmente, realizar o aporte financeiro

necessário, o que tornou indiscriminado o uso das PPPs, manchando a imagem do modelo de

gestão e se mostrando nocivo à sociedade. Apesar de ter começado a ser usado com mais

notoriedade no Governo inglês de Tony Blair, em 1997, no Brasil da atualidade as PPPs são

pouco vistas, deixando evidente os entraves que podem existir para que se efetive tal modelo de

gestão (FREITAS, 2006).

18

Entretanto, não significa que com a atual fase de políticas públicas e

a Política Nacional de Museus, implantada em 2003 pelo MinC, não se possa utilizar desse

modelo de gestão para realizar convênios nesta área, aonde a fiscalização seria mais fácil de

realizar, com a participação efetiva dos Tribunais de Conta dos Estados e da União.

A análise de políticas públicas perpassa pelas disciplinas da

Administração Pública e das Ciências Políticas, além de visualizar uma perspectiva e uma

abordagem sobre o Direito (MASSA-AZARBE, 2006).

A importância jurídica na interpretação e estruturação das políticas

públicas dá-se quando se conota a necessidade de concretizar os direitos humanos, em particular

os direitos sociais, que já ultrapassaram os limites da estruturação do poder das liberdades

públicas e passaram a tratar dos direitos fundamentais em sentido amplo (BUCCI, 2006).

Neste sentido, amplia-se a área de atuação, mudando a abordagem

do Governo Federal ao implementar uma efetiva Política Nacional de Museus, em que desde

2003 para cá, já sofreu um incremento considerável (TOLENTINO, 2008).

Essa nova política pública teve como pressuposto básico a reforma

do Estado brasileiro, através do Plano Diretor da Reforma do aparelho de Estado, em novembro

de 1995, que fixou objetivos e traçou metas e diretrizes para a reforma e modernidade do Estado.

Com esse Plano, o Brasil deveria ser modernizado em 04 (quatro) setores: 1) Núcleo estratégico

do Estado; 2) As atividades exclusivas do Estado; 3) Os serviços não exclusivos ou competitivos

e 4) A produção de bens e serviços para o mercado (CHAVES, 2009).

Na União, os serviços não exclusivos de Estado mais

relevantes são as universidades, as escolas técnicas, os centro

de pesquisa e os museus. A reforma proposta é de transformá-

los em um tipo especial de entidade não estatal, as

organizações sociais. A idéia é transformá-los em

“organizações sociais”, ou seja, em entidades que celebrem

um contrato de gestão com o Poder Executivo e contem com a

autorização do parlamento para participar do orçamento

público (BRESSER-PEREIRA, SPINK, 1998).

Essa atualização governamental perpassa por conceitos novos de

governança, governabilidade e accountability. A boa governança indica que ela se produz num

modo de gestão governamental eficaz, onde se somam as diversas vias pelos quais os indivíduos

e as instituições, tanto na esfera pública, quanto na esfera privada, conduzem os seus negócios

comuns (ARNAUD; JUNQUEIRA, 2006).

19

Já a governabilidade é a capacidade do sistema político reagir à

complexidade do ambiente social. Elevar ao máximo a eficiência estatal e as suas políticas de

Bem-Estar (ARNAUD; JUNQUEIRA, 2006).

Para que esta política funcione, deve-se utilizar o conceito

denominado de accountability, termo de origem inglesa e do mercado econômico-financeiro, que

significa a capacidade de prestar contas. Com o passar do tempo, foi sendo utilizado no contexto

das políticas públicas brasileira e mundial para indicar a necessidade de se ter transparência em

suas ações.

Sabe-se que no Brasil, os recursos privados para financiamento de

museus de ciências são muito inferiores aos públicos, mas pode-se vislumbrar uma possibilidade

de firmar convênios, entre a iniciativa privada, poder público, Universidades públicas e privadas

e os próprios museus, seguindo a tendência mundial de gestão e dos modelos de políticas

públicas, observando com cuidado para não transformar tais museus em feira de ciências de

novos produtos tecnológicos. Deve-se ter muito cuidado nessa mesclagem de interesses

(MEZZACAPPA, 2008).

Conclui-se que após décadas de letargia legislativa, hoje existem

mecanismos legais e incentivos governamentais para incrementar uma vida acadêmica no setor

arqueológico paleontológico pernambucano, aumentando as pesquisas de campo, e ventilando

uma possível criação de um Museu de História Natural.

O histórico engessamento da legislação museológica, o novo Estatuto dos Museus e a

necessidade de expansão em Pernambuco dos museus de ciências.

Antigamente observava-se que a política de proteção ao patrimônio

histórico-cultural do povo tinha pouca produção, levando a um estado letárgico e engessado,

impossibilitando um aumento das pesquisas, por exemplo, no setores arqueológico e

paleontológico. No caso, as principais legislações nacionais, como o Decreto nº 25/47, o Decreto

nº 4.146/42 e a Lei nº 3.924/61 enfocavam e enfocam parte do campo de atuação, não revelando a

totalidade das possibilidades que as matérias arqueológica e paleontológica podem abordar. Nos

dias atuais, após o implemento da Política Nacional dos Museus, em 2003, pelo MinC, está

ocorrendo um fomento de parcerias entre instituições de preservação histórico-cultural pública e

20

a iniciativa privada, representada pela sociedade civil ou pela Associação dos Amigos dos

Museus (criada pela Portaria nº 1/2007 do IPHAN), que foi incrementada com a criação do

Estatuto dos Museus (Lei nº 11.904/09). É esse caminho que tem que ser visualizado e

incentivado em Pernambuco.

Seguramente a importância histórica e pioneira da museologia

pernambucana fala por si. O primeiro museu de ciência do Brasil surgiu em Pernambuco, a na

época Maurícia; a primeira intervenção protetiva ao patrimônio histórico, surgiu em Pernambuco,

na época colonial. Então, o que se busca neste estudo é o resgate do poder cultural de

Pernambuco nesta área museológica, que já forte, mas pode melhorar no setor arqueológico, pré-

histórico e paleontológico.

Deve-se pensar em expansão dos museus de ciências em

Pernambuco. O Estado conta com 05 (cinco) museus de ciências e mais o Jardim Botânico. Desta

forma, pode-se pensar em criar um Museu de História Natural para alavancar o Estado de

Pernambuco perante o cenário museológico-arqueológico nacional, com a participação de

fundações públicas, fundações privadas, pode público, sociedade civil, Universidades públicas e

privadas e dos cinco museus existentes, que são: O Museu de Ciências Naturais do Horto de Dois

Irmãos; O Museu de História Natural Louis Jacques Brunet (Mhnb), Espaço Ciências em Olinda;

Museu Carmelitano de História Natural – Camocim do São Felix e o Museu Arqueológico da

UNICAP.

Ressalte-se que a legislação estadual no que se refere à política

pública de gestão e incremento aos museus pernambucanos, segue o passado histórico das leis

federais. Destacam-se apenas o art. 197, § 4º da Constituição Estadual de 1989 e a Lei Estadual

nº 6.239/79.

Existe um bom exemplo a ser seguido. É o exemplo do Museu de

História Natural de Taubaté, em São Paulo, que se mantém através de uma fundação (FUNAT) e

conta com incentivos privados e públicos, através de doações privadas e convênios educacionais,

fazendo com que possa, com dificuldade, devido à realidade brasileira, se autogerir.

A possível união viria dos incentivos legais, pois com as mudanças

legislativas que já ocorreram e com as que virão, como a Proposta de Emenda à Constitucional nº

21

575/06, que altera e acrescenta aos arts. 215 e 216, novos parágrafos e incisos, visando

estabelecer condições para preservação e incremento do patrimônio museológico nacional e da

política pública voltada para esse segmento, não há porque não iniciar um estudo de composição

entre os diversos setores interessados.

Com a criação da PEC nº 575/06, que acrescenta os §§ 4º, 5º, 6º e 7º

ao art. 215 e no art. 216, acrescenta o Inciso IV e também os §§ 7º ao 10, restando o parágrafo 11

com os Incisos I e II, pode-se visualizar tal mudança. Nesta PEC destaca-se a criação de um

fundo específico para criação e manutenção dos museus e também para a formação de

profissionais da área. A PEC determina, ainda, que o patrimônio museológico esteja incluso entre

os bens pertencentes ao patrimônio cultural e estabelece a criação do Sistema Brasileiro de

Museus, que deve abranger os museus públicos e privados, nas três esferas governamentais.

Nesta PEC, visualizam-se equívocos, como a criação de mais um órgão para gerir os museus

nacionais. Entende-se que este órgão já existe, mas há outras ideias interessantes, como criar

benefícios e incentivos a museus privados que sejam considerados de interesse público e o

mesmo pode se falar dos museus mantidos em escolas, universidades, ecomuseus, etc. Se tal

proposta for aprovada, abre-se uma janela para efetivar um crescimento dos museus com a

participação direta da sociedade civil e suas instituições.

Pode-se dizer que a PEC nº 575/06 é fruto da Política Nacional de

Museus, criada em 16 de maio de 2003, que estabeleceu, posteriormente, o Estatuto de Museus

(Lei nº 11.904/09), que se destaca pelo modo de como fomenta a sustentabilidade dos museus

nacionais. Tal sustentabilidade viria das parcerias entre o poder público e a sociedade civil. É o

caminho do futuro. Há no Estatuto, Lei nº 11.904/09, os seguintes termos:

Art. 1o Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as

instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam,

comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação,

estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo,

conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico,

técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao

público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento.

Parágrafo único. Enquadrar-se-ão nesta Lei as instituições e

os processos museológicos voltados para o trabalho com o

patrimônio cultural e o território visando ao desenvolvimento

cultural e socioeconômico e à participação das comunidades.

22

Art. 2o São princípios fundamentais dos museus:

I – a valorização da dignidade humana; II – a promoção da

cidadania; III – o cumprimento da função social; IV – a

valorização e preservação do patrimônio cultural e

ambiental; V – a universalidade do acesso, o respeito e a

valorização à diversidade cultural; VI – o intercâmbio

institucional.

Parágrafo único. A aplicação deste artigo está vinculada aos

princípios basilares do Plano Nacional de Cultura e do regime

de proteção e valorização do patrimônio cultural.

Art. 3o Conforme as características e o desenvolvimento de

cada museu, poderão existir filiais, seccionais e núcleos ou

anexos das instituições.

Parágrafo único. Para fins de aplicação desta Lei, são

definidos:

I – como filial os museus dependentes de outros quanto à sua

direção e gestão, inclusive financeira, mas que possuem plano

museológico autônomo;

II – como seccional a parte diferenciada de um museu que,

com a finalidade de executar seu plano museológico, ocupa

um imóvel independente da sede principal;

III – como núcleo ou anexo os espaços móveis ou imóveis

que, por orientações museológicas específicas, fazem parte de

um projeto de museu.

Art. 4o O poder público estabelecerá mecanismos de fomento

e incentivo visando a sustentabilidade dos museus brasileiros.

Art. 5o Os bens culturais dos museus, em suas diversas

manifestações, podem ser declarados como de interesse

público, no todo ou em parte.

§ 1o Consideram-se bens culturais passíveis de musealização

os bens móveis e imóveis de interesse público, de natureza

material ou imaterial, tomados individualmente ou em

conjunto, portadores de referência ao ambiente natural, à

identidade, à cultura e à memória dos diferentes grupos

formadores da sociedade brasileira.

§ 2o Será declarado como de interesse público o acervo dos

museus cuja proteção e valorização, pesquisa e acesso à

sociedade representar um valor cultural de destacada

23

importância para a Nação, respeitada a diversidade cultural,

regional, étnica e lingüística do País.

..........................................................................................

Art. 9o Os museus poderão estimular a constituição de

associações de amigos dos museus, grupos de interesse

especializado, voluntariado ou outras formas de colaboração e

participação sistemática da comunidade e do público.

§ 1o Os museus, à medida das suas possibilidades, facultarão

espaços para a instalação de estruturas associativas ou de

voluntariado que tenham por fim a contribuição para o

desempenho das funções e finalidades dos museus.

§ 2o Os museus poderão criar um serviço de acolhimento,

formação e gestão de voluntariado, dotando-se de um

regulamento específico, assegurando e estabelecendo o

benefício mútuo da instituição e dos voluntários.

........................................................................................

Art. 44. É dever dos museus elaborar e implementar o Plano

Museológico.

Art. 45. O Plano Museológico é compreendido como

ferramenta básica de planejamento estratégico, de sentido

global e integrador, indispensável para a identificação da

vocação da instituição museológica para a definição, o

ordenamento e a priorização dos objetivos e das ações de cada

uma de suas áreas de funcionamento, bem como fundamenta a

criação ou a fusão de museus, constituindo instrumento

fundamental para a sistematização do trabalho interno e para a

atuação dos museus na sociedade.

Art. 46. O Plano Museológico do museu definirá sua missão

básica e sua função específica na sociedade e poderá

contemplar os seguintes itens, dentre outros:

I – o diagnóstico participativo da instituição, podendo ser

realizado com o concurso de colaboradores externos; II – a

identificação dos espaços, bem como dos conjuntos

patrimoniais sob a guarda dos museus; III – a identificação

dos públicos a quem se destina o trabalho dos museus; IV –

detalhamento dos Programas:

a) Institucional; b) de Gestão de Pessoas; c) de Acervos; d) de

Exposições; e) Educativo e Cultural; f) de Pesquisa; g)

24

Arquitetônico-urbanístico; h) de Segurança; i) de

Financiamento e Fomento; j) de Comunicação.

§ 1o Na consolidação do Plano Museológico, deve-se levar

em conta o caráter interdisciplinar dos Programas.

§ 2o O Plano Museológico será elaborado, preferencialmente,

de forma participativa, envolvendo o conjunto dos

funcionários dos museus, além de especialistas, parceiros

sociais, usuários e consultores externos, levadas em conta

suas especificidades.

§ 3o O Plano Museológico deverá ser avaliado

permanentemente e revisado pela instituição com

periodicidade definida em seu regimento.

Art. 47. Os projetos componentes dos Programas do Plano

Museológico caracterizar-se-ão pela exeqüibilidade,

adequação às especificações dos distintos Programas,

apresentação de cronograma de execução, a explicitação da

metodologia adotada, a descrição das ações planejadas e a

implantação de um sistema de avaliação permanente.

Art. 48. Em consonância com o propósito de serviço à

sociedade estabelecido nesta Lei, poderão ser promovidos

mecanismos de colaboração com outras entidades.

Art. 49. As atividades decorrentes dos mecanismos previstos

no art. 48 desta Lei serão autorizadas e supervisionadas pela

direção do museu, que poderá suspendê-las caso seu

desenvolvimento entre em conflito com o funcionamento

normal do museu.

Art. 50. Serão entendidas como associações de amigos de

museus as sociedades civis, sem fins lucrativos, constituídas

na forma da lei civil, que preencham, ao menos, os seguintes

requisitos:

I – constar em seu instrumento criador, como finalidade

exclusiva, o apoio, a manutenção e o incentivo às atividades

dos museus a que se refiram, especialmente aquelas

destinadas ao público em geral; II – não restringir a adesão de

novos membros, sejam pessoas físicas ou jurídicas; III – ser

vedada a remuneração da diretoria.

Parágrafo único. O reconhecimento da associação de amigos

dos museus será realizado em ficha cadastral elaborada pelo

órgão mantenedor ou entidade competente.

25

Art. 51. (VETADO)

Art. 52. As associações de amigos deverão tornar públicos

seus balanços periodicamente.

Parágrafo único. As associações de amigos de museus

deverão permitir quaisquer verificações determinadas pelos

órgãos de controle competentes, prestando os esclarecimentos

que lhes forem solicitados, além de serem obrigadas a

remeter-lhes anualmente cópias de balanços e dos relatórios

do exercício social.

Art. 53. As associações de amigos, no exercício de suas

funções, submeter-se-ão à aprovação prévia e expressa da

instituição a que se vinculem, dos planos, dos projetos e das

ações.

Art. 54. As associações poderão reservar até dez por cento da

totalidade dos recursos por elas recebidos e gerados para a sua

própria administração e manutenção, sendo o restante

revertido para a instituição museológica.

.........................................................................................

Art. 60. Poderão fazer parte do Sistema Brasileiro de

Museus, mediante a formalização de instrumento hábil a ser

firmado com o órgão competente, os museus públicos e

privados, instituições educacionais relacionadas à área da

museologia e as entidades afins, na forma da legislação

específica.

Considerações finais

O que se conclui neste estudo é o vislumbre do poder dos museus,

da arqueologia pré-histórica e paleontológica como formadores educacionais de um povo e este

estudo visa, também, promover o resgate museológico arqueológico pernambucano, abrindo-se

para possibilidades de evolução dos museus do Estado, com a utilização de incentivos legais e

financeiros, públicos e privados, que antes não se podiam contar.

26

É o resgate histórico rico, que começou na época de Maurício de

Nassau e continua até hoje, com o legados dos inúmeros profissionais pernambucanos que deram

suporte para possibilitar um crescimento educacional e social promovido pelos museus,

principalmente aqueles de ciências.

Hoje, pode-se apostar numa melhora do setor arqueológico

paleontológico, tanto nacional, como estadual e que o trabalho dos profissionais das

Universidades tenham valido mais ainda. Por isso, fica aqui a homenagem aos inúmeros

profissionais das áreas da arqueologia e paleontologia e que compõem os quadros das

Universidades Públicas (UFPE, UFRPE e UPE) e Privada (UNICAP).

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