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5 A Kombi de Prosa A Kombi de Prosa e Poesia e Poesia Carlos Conrado Carlos Conrado e Valdeck Almeida de Jesus Valdeck Almeida de Jesus

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A Kombi de Prosa A Kombi de Prosa

e Poesiae Poesia

Carlos ConradoCarlos Conrado

ee

Valdeck Almeida de JesusValdeck Almeida de Jesus

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virtualbooks

Copyright© Carlos Conrado e Valdeck Almeida de Jesus

Capa: Kythão

Diagramação: Valdeck Almeida de Jesus

Revisão: Os autores

1ª edição

1ª impressão

(2010)

Todos os direitos reservados.Nenhuma parte desta edição pode

ser utilizada ou reproduzida - em qualquer meio ou forma,nem apropriada e estocada sem a expressa

autorização de Carlos Conrado e/ou Valdeck Almeida de Jesus.

Livro preparado e editado por VIRTUALBOOKS EDITORA E LIVRARIA LTDA.

Rua Benedito Valadares, 560 - centro –35660-000- Pará de Minas - MG - Brasil

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Tel.: (37) 32316653 - e-mail: [email protected]://www.virtualbooks.com.br

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Apresentação

Segundo Raul Seixas, “um sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só”. Os sonhos de Valdeck e de Conrado se fundiram e viraram livro, escrito a quatro mãos. Apesar de não ter sido planejado, pensado junto, escrito junto, tem uma identidade, uma coesão, um formato, uma característica: o desabafo, a denúncia, o grito que a maioria não tem coragem de gritar.

Aqui o leitor vai se assustar, rir, se emocionar e querer descobrir o que cada escritor tem a dizer. Para isso, será necessária uma leitura das entrelinhas, uma pesquisa aprofundada do contexto de vida de Conrado e de Valdeck.

Carlos Conrado, como Valdeck Almeida, nasceram em cidades do interior da Bahia, assoladas pelo coronelismo, pelas proibições, pelos preconceitos de toda ordem. Atentos e contestadores, os dois autores sempre se posicionaram contrários ao pensamento dominante, ao politicamente correto e à hipocrisia reinante. Os textos deles expressam, sem sombra de dúvida, a palavra sufocada, engasgada, abafada e censurada de todas as bocas brasileiras...

O Editor

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CARLOS CONRADO nasceu em 02/04/1986 no município de Jacobina-BA. Radicou-se em Sergipe no ano 2000. Artista Plástico, Ator, Designer Gráfico e Poeta. Estuda Espanhol e Alemão, tendo alguns textos traduzidos nestas línguas. É autor dos livros: Poesia Condenada e O Aeronauta Entre a Razão e a Loucura. É editor da revista Locozines – Revista da Cultura Emergente. Organizou a antologia A Plêiade – Tributo à Paz, em parceria com sua companheira Talita Fontes.Embaixador da Paz em Aracaju pelo Circle Univ. de la Paix – Orange/França – Genebra – Suíça. Presidente do Movimento Cultural Internacional A Plêiade; Assessor do Projeto Alma Brasileira, Vice Presidente da Casa do Poeta Brasileiro de Aracaju; Vice Presidente da Arcádia Literária, Cônsul do Movimento Poetas Del Mundo em Aracaju. Sócio da AAPLASA – Associação dos Artistas Plásticos de Aracaju. Ex-Diretor de Comunicação da ASAP – Associação Sergipana de Artistas Plásticos, Ex-Assessor da Academia Sergipana de Letras, Membro do Recanto das Letras, Goethe Institut e Overmundo. Tem textos publicados em diversas antologias, entre elas: Coletânea Eldorado/VI – Celeiro de Escritores; Coletânea Impressões – Arcádia Literária Estudantil; Antologia Poética Ano 3 – Prêmio Valdeck Almeida de Jesus; Poetas pela Paz e Justiça Social/ V.I e Antologias do Projeto “Alma Brasileira”.Também possui publicações nas revistas: The Moon Ligth of Corea (Corea do Sul) e ArtPoesia (Salvador–BA). É colaborador do Jornal O Capital (Aracaju-SE).

Endereços Eletrônicos do autor:www.conradoemtextos.blogspot.comwww.carlosconrado.multiply.comwww.locozines.blogspot.comwww.casadopoeta.aracaju.blogspot.comwww.vidasemcartas.blogspot.comwww.dichtershaus.blogspot.com

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E-mail: [email protected]: [email protected]ço no Twitter: www.twitter.com/LordSpykezemOrkut: Conrado Spykezem

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Versos latinos

Estupendo! Así voy vivendo hablando con los vientosEllos hablando con mi corazon despierto, aciertoMis pies en las curvas del las calles, mi cancion

Es lo corazon del la luna,Joy soy las manos qué tocan

El cuerpo del la mujer amada.

............................................

Conocí las mujeres guapas del Tutancamon, conocí losCalientes besos del la Medusa,

Conocí el Chille en míSonidos, conocí el loco Neruda.

Voy connocer en mi naveTodo el Universo!...

Conocí Dios, él eres lo Universo.

Hóspedes

O ódio e o seu retratoEstão hospedados em meu corpo,Chamas de fúria crepitamSobre o meu espírito...- Deixem que estes vermesTomem conta deste espaço,Mostrem-lhes os caminhos do inferno...Além das noitesQueremos possuir os dias,Despertem filhos,Atirem para os hipócritasOs discos da desgraça...

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Nossos olhos explodem de dor,Fomos feridos, por que devemos sentirPena de quem nos atingiu?Intitulem-nos demônios,Ratos, vermes,Nós não damos a mínimaPara esta porra...Libertem a orgia,Aprisionem o pudor...Pudor... Este investe na putariaE financia a droga que tu consomes...Mas de quem estamos falando?Somos apenas duas vozes sem temor,Falamos o que der na telha...Tragam-nos o cobertorQueremos derramar este corpoNo leito das trevas.

Prazer

Quero brindar contigoEsta poesia condenada,

Com bons gramas de ópioE algumas doses de desgraça...

Vês? A noite nos pertence,Vamos tornar concreto o nosso ato,Nada de deixar ensaios mal ditos,

Maldito é o nosso amor...Somos a personificação dos pesares,As trevas formam o nosso cenário,

Vai, deguste meu bem,Os vermes que restaram

De uma sociedade esquecida

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No canto do seu prato...Sinta o sabor da intolerância

Arder em tua língua.Para que a esperança

Se temos carnificina como sobremesa?Apague estas velas

Quero despir-te na escuridão,Gosto do teu corpo enegrecido...

Quero ouvir teus gemidosEnquanto viajo em tuas curvas,

Quero ver a agilidade de tuas mãos,Quero o néctar consumido...

Sussurres ao penetrar da minha espada,Entrega-te à volúpia,

Dedica-te ao ato,Esqueça o coração.

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O Fim de uma Doutrina

Matei o Papa numa noite de chuva,Escarrei em sua túnicaO desprezo personificado...Matei a hipocrisia avassaladoraLivrei a Terra de alguns males e pecados...Explodi conventos, demoli igrejas,Enforquei padres, freiras eLivrei os seminaristasPara que aprendessem a verdadeSobre a doutrina que os recrutavam...Queimei páginas da BíbliaEm brasas de marihuanaQue o meu ser tragava.Organizei facções,Sitiei o VaticanoPara tirá-lo do mapa e...Deus viu tudo e ficou calado.

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Pai

Como parte dos despojos teus,Eu, guardião de mim mesmoE deste cruel e ingrato karma,Aprendi extraindo dos meus versos,Que um filho rejeitadoNão vive sob o domínioDa graça...Se eu for somente um desgraçado,Quero nutrir-me da loucuraQue em meu corpo se abriga...Quero ratos passeandoEm minhas chagas,Quero que este corpo se desfaçaE que Deus aceite toda a culpa...Tirano, como o pai de Kafka,Maior inimigo do meu porvir,Agradeço-lhe nobre crápulaPor toda a dor germinada em mim.

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Apolítica

Ó filho de uma PutaDa Puta mais fudida,Tuas ideias são tortasComo a cabeça da minha pica...

Tu também és Puta, Política,Mulher da Zona, Meretriz,Cachorra depravada e corrompida...

Vem... vem... vem…

Abra as pernas para a NaçãoQue de prazer geme e grita...

Quer mais? Quer...? Quer...? Quer...?

Balança o rabo, mostra o Cu e sentaNeste pau chamado Decência.

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Incêndio na Califórnia

No céu cinzento da Califórnia,Voa a ferida águia americana...Quisera tu, ser maior do queA própria força eCarregar o estandarte da glória.

Poder... poder... poder...

Este lema não mais te representa.As unhas de tuas garrasNão mais cravamNa carne dos omissos...

O fogo queima os teus sonhos,Acende os sonhos,Daqueles que foram humilhadosNas asas do teu egoísmo.

Afegãos, africanos, japoneses,Todas as tuas vítimas riemCom a boca cheia de terra,São sete palmos cobrindo o óbitoE representando a tua ignorância.Maldita sejas tu!Ó nação de merda.

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Deus e a América

- Olha para baixo, América,Fixa teus olhos naquela cena...O que vês?- Vejo ossos andantes,Seres desvairados!- Esses ossos são retratos da fome,Esses seres são teus filhos chateados...Tua gula alimentou a minha ira,Tu não és digna deste espaço.- Não me culpes por um erro teu!- Qual seria este erroInspiração de tuas ações?- Destes a nós tamanha liberdade,O poder de ter poderes.- Um pai que ama não dáCorrentes de presente,Não oferece símbolos da desgraça.- Como podes falar em desgraçaSe todas tuas palavras são dissimuladas?- Inadmissível aceitar que te criei,Que blasfêmia desonrar o próprio pai!- Às vezes, quando mais preciso de ti,Tu viras a face e some nas sombras...Se isso é amor, sou as rosas do campoE a beleza de teus orvalhos.

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Senhora

Cansada da monotoniaDe viver no trono estática,

Eu guardiã da verdade,Resolvi radicalizar meus atos...

Condenei a tolerância,A pureza e a honestidade.

Absolvi Hitler, Sadam e Bush,Rebelei-me contra a fraqueza...

Investi na intolerância generalizada,Matei a esperança para ser chamada

De Justiça Desequilibrada.

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A Convidada

Fiz um banquete eConvidei a Loucura...

Ofereci a Lua como sobremesaE o Sol como prato de entrada...

Ela comeu a Lua eDepois ficou nua

Cantando para as estrelas.

Amnésia

Meu nome não é Conrado,Eu não sou a lenda

Muito menos um Rambo aos 60...Queria ser um Batman

Sem um tal RobinPuxando o saco...

Talvez eu seja JonnyUm garoto psicótico

Que achou a curaPara todo o marasmo...

Queria ser o CaraMas infelizmente

Sou a caríssima AmnésiaQue ao teu lado está presente.

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Que tal esta?

Foram cinco garrafas de vinhoDa melhor safra de uvaFermentada na Suíça,

Que me deixaram alerta, issa!!!Matei minha sede de viajar...

Fui na Índia ver índios brasileirosCurtindo o turismo e a belezaDaquele esplêndido lugar...Dialoguei com Nietzsche,

Briguei com os vikingsQue tentaram me amarrar

Só porque eu disse:– Eu estou muito doido...

Não me deixaram completarQue eu estava à procura

De um bar que soubesse me aturar...Tinha lá gente de todo tipo,

Vi Baudelaire e RaulTentando plantar semente

Na cabeça do Rei Pelé,Eu vi os astros, discos voadores,Vi Ronaldinho Gaúcho tocandoUm rock, eu tava muito doido!!!

Traga-me mais uma dose míster garçomPois quero ver o mundo girar...

Perdoem-me o platonismo,Se é que sei o que é isto,Eu só quero estacionar

Meu carro abstratoNuma pista de concreto,Eu já estou até vendo,Isto é um tiro certo,

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Na cabeça daqueles que tentamFilosofar...

Eu quero ver o mundo girarYeh!!!

Uma breve canção

O poema pavio curtoteve um susto...

Apagou o seu existire acendeu a luz do nada

como uma canção de Dylansurrando a madrugada.

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Revolta

O poeta fere o papelCom a alma já feridaQue na revolta habita

Os cantos de dor e de vingança...Sorri-me a vida com

Seus dentes amarelados,Sujos, tão quanto a Política...

Suas vestes depravadasNão escondem o gostoso

Corpo de puta...Quem me dera se

Esta criatura,Já perdida,

Tivesse pelo menosAlma de santa.

Trabalho de roça

Um preá fuça a terra enquanto o aradoDesafia o sol enfurecido que

Está a queimar os pés do menino.O menino cuida da safra e dos poucos

Animais que possui. O chapéu de palhaEsconde o rosto de uma criança cansada

Com a triste ausência da infância...Um perfume sem esperança se conclui.

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Para a morte de Eloá

Deus, ó Deus!...Este poeta te pergunta

Qual o porquêDesta atroz miséria?

Nós mortais, andandoSob o comando

De outros animaisQue do seu lar

Foram renegadosE tirados

Do teu colo divinal?Deus, ó Deus!...

Homens que caminhamCom anjos e demônios

Nos ombros,São detratores do equilíbrio

Da vida,Senhor... Por acaso

Isto te excita?Eloá... Eloá...

Caminha desenfreadamentePara o altar dos símbolos.Lindenberg, alma perdidaBom seria o teu encontro

Com a cicuta.

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O gozo

A Terra banha-se despidaSob o olhar de Deus,

O pudor horrorizado grita:- Isto é um crime contra a decência!

Voluptuosa a Terra atiçaOs desejos secretos de quem a fez...O olhar, vendo as curvas benditas

Atende ao convite do incesto,Na pirâmide pubiana atira

O esperma onipotente.Ergue-se no vão um risoSímbolo da satisfação

Deste orgasmo de Deus.

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Um Tur nos escombros do Chille

Abalô Bangu no Chille, 8 graus na escala Nietzsche, casas e escolas destruídas por um trio elétrico invisível. Armandinho nem tocou!... o som era de um Trash Metal puxando o bloco da Desgraça Desdentada, que tem como imagem em seu estandarte, as cinzas de Gabriela Mistral – talvez seja ela a dona de uma das marcas mais famosas de cigarros do mundo, mais isto não vem ao caso, a coisa tá feia, brasileiros voltaram em aviões da FAB – resumo de uma marca famosa de biscoito, e quando aqui chegaram, nem reconheceram mais o próprio lar. Lá nos escombros de uma escola, foi visto o vulto de Neruda vagando à procura de Jorge Amado. 2012 talvez seja a verdade confeccionada pelos Maias; o Haiti saiu de moda, campanhas agora viram seus olhos para o Chile, entidades filadaputolontrópicas, buscam arrecadar com suas propagandas super apelativas, verbas para seus próprios cofres. Às vezes, fazendo uma contagem supostamente justa. Como diz o Rei do Baião e nunca o Rei Leão: - Um pra mim, um pra tu, um pra mim... Um pra mim, um pra tu, um pra mim! E vai repetindo, enganando os burros. Mas como o próprio filósofo sertanejo diz, “O jegue é nosso irmão!”, um prato de respeito e honestidade é tudo que eles precisam. Hugo Chaves dançou o Rebolation ao saber da queda do Chile, Obama, como sempre fez cara de peixe morto!... Che Guevara e Tom Zé criaram a Câmara Mundial de Assistência aos Desgraçados, oferecendo balas de rifles nas orelhas daqueles cabras safados que nada querem escutar. Montevidéu no you tube é um monte de vídeos sendo vistos por um matuto virtual, apenas isto. Segurem suas camas, seus vasos sanitários, em breve tais catástrofes podem visitar o Brasil, e se quando isto acontecer vocês estiverem em suas cotidianas funções, um banho de merda no teatro dá sorte, talvez em vocês façam efeitos bem diferentes.

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Afogadium

15/04/2010Estou em crise. Patologias em versos feitos por patos poetas querem me conhecer e eu também quero. Estou perdido, me sinto como vísceras de aves jogadas com ênfase na faixa de pedestre da Avenida Senador Scoob Doo. Tenho sentimentos de dor, paz e vingança num copo de extrato de tomate. Tenho ciúmes de mim mesmo!... Sou diversos seres num recipiente raquítico em busca do Tóten perfeito. Exalo a tristeza em meus tubos de tinta acrílica. Drogo-me, pois o intervalo de mim mesmo me excita. Tentei fazer da arte uma moeda tal qual o Real, me decepcionei, pois descobri que tudo neste universo é irreal. A Loucura está despida diante de mim a provocar-me os desejos mais ferozes e obscenos. Um Blues me transporta para o plano paralelo ao paralelepípedo, thrill is gone, BB King canta em minha panela de pressão. O vento de meu triturado ventilador convida-me para um tango. As batidas do meu coração me fazem lembrar a Bahia, timbaladiando faço da vida um risole de recheio amargo. Perdi meu carro e minha casa numa aposta que fiz contra o meu fracasso. Penduro uma corda no pescoço de minha sombra e peço para que ela grite!... Nada acontece. Nem para fazer o mal eu tenho vocação! Pergunto-me se essas chuvas que chegam sem pedir licença são mandadas por Deus ou pelas nuvens safadas e traiçoeiras. Vou mirar minha urina para os céus e ver se alaga tudo lá em cima. Se for para viver embaixo d´agua como peixes, melhor será viver na ceboseira. Um basta a essa chuva bastarda! Preciso de sol para estender as minhas roupas.

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Carta Convite30/01/09

Na minha terra Machado de Assis corta madeira, Clarice é inimiga do dia e Jorge não é amado. Que tristeza! Augusto e seus anjos são donos de um caneco sagrado benzido pelo Padre Antônio Vieira, que aliás deu o maior sermão no menino Quintana, filho aqui do vizinho, um sujeito bacana e meio diferente das ideias que resolveu colocar um nome estrangeiro em seu cachorro, chamando o animal de Freud!... Vê se pode, aqui na minha terra tem um tal pinguço que se chama Lima e mora lá na rua de cima, perto da casa do Barreto... Tem uma tal de Raquel da família Queiroz, é a coisa mais linda e inteligente que já vi. Aqui tem uma festa onde tudo e todos se encontram. O Raul, meu sobrinho que também não é certo, faz um som que é a coisa mais estranha do mundo. O bom é que presta! Tem gente até que dança, mesmo sem entender nada das músicas que ele canta!... Também não posso me esquecer de umas certas crianças que adoram dar porrada com um pau no coelho de Tasila.

Aqui na minha terra, apesar de tudo, tem alegria! Tem Lobato o homi das galinhas que sabe de có e salteado cantar as músicas do forrozeiro Casimiro de Abreu. Não é por nada não, mas o cabra é bem afinado!

Aqui tem todo tipo de gente. Só tá faltando mesmo é tu, que fica aí vidrado olhando esta carta feita por um urubu.

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Aos comandos do som

10/08/09Escutando acidentalmente Música Clássica com Arrocha, meus tímpanos agora já podem ser urinados!... O carro dos flinkstones me oferece carona. Eu nego! Estou com meus pés cansados de tanto pisar em cabeças de políticos do Estado. Pareço um cão raivoso tomando Diasepam e começando a latir em alemão!... A vida dos porcos que vivem na praia de nudismo da Santa Casa de Sei Lá o Nome, é como uma rifa com o mega prêmio de 2 cruzados que, acidentalmente, cruza com o jogo do bicho eliminando uma certa lula do aquário. Polvo de dentes, ou melhor, tentáculos amarelados me escutem:- Boicotaram o chifre do boi devasso que, numa ressaca absurda, pedia para ser abduzido por lagartixas de capacetes dourados.

Uma nova lei decretou que naves espaciais, discos e cd´s voadores são obrigados a parar nos semáforos quando os sinais estiverem verdes!... Falar nisto, assisti hoje no noticiário que os extra – já liquidados – terrestres, estão fazendo o teste do bafômetro. Mal crônico, o que aconteceu com as crônicas de Gregor Samsa?

Ontem quase presenciei um crime! Baratas armadas até os dentes resolveram destruir a Colgatti e a Estátua da Liberdade.

Caso sério, vi Bin Laden com o amigo Lucas Livingstone numa rotineira feijoada de domingo... O cabra caiu, ficou só o trapo, depois de ter virado um barril de vinho e ter experimentado a nossa famosa cachacinha brasileira.

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Paisagem de Ourolândia

Na gruta dos ossosEsqueletos dançam Moon Waker

Enquanto os piratas roubamA cor rosa do mármore

Do templo secreto guardado por jeguesQue jejuam em silêncio coletivo.

Sincronia de panteões

Que se unam os deuses nagôsAos deuses do Olimpo.Que o fogo de Prometeu

Acenda a espada de XangôPara queimar os anseios teus

E retalhar os sonhos de MorfeuA fim de distribuí-los à Humanidade.

Que Iemanjá e AfroditeIndiquem Ártemis

Para cravar nos filhos de Zeus e Olorum,O amor no peito de cada um.

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"Eu sou a Loucura"

Eu sou a Loucura mãe da Revolução, quando nasci não interessa, pois não é para isso que vim. Conheço e condeno todas as forças que lutam contra mim. Sou o elo que liga os homens aos outros deuses. Sou a incentivadora de todos os ideais. Sou o retrato da coragem! Ao contrário da Razão-Equilíbrio que é uma senhora derrubada e medrosa. Sou poderosa e estou em tudo e em todos. Sei fascinar sem precisar usar esta casca que me reveste. Sou pura, boa e completa. Sou dona da liberdade, sou sua amante... Não sou a favor do termo esquizofrenia usado para taxar alguns dos meus queridos filhos, pois não vejo democracia no uso de tal!... Quando me sinto ofendida, uso minha máquina de ilusões para criar a guerra e também o pesadelo. Acusam-me de ser egocêntrica, e sou! O mundo deve caber na minha mão e não o contrário!... Essa é uma das lições sagradas que passo aos meus queridos filhos e neófitos. Não sou atriz, não sou a favor da mentira. Minha vida extrema é uma realidade!... Sou a ascensão do juízo e não sua falta!... Sou a inspiração do poeta e do artista. Sou bandida e mocinha, sou o que quero ser!... Sou a voz da surrealidade pintada por Dali. Sou a única que possui o direito de se contradizer. Sou a modelo que veste o manto de apresentação de Artur Bispo do Rosário... Sou a produtora de todos os filmes rodados e não rodados. Sou aquela que atormenta Hamlet. Sou o espírito livre adorado por Nietsche, portanto, não pensem e nem tentem me prender! São tolos aqueles que pensam que podem me controlar, drogam a matéria que me guarda com Diasepam e Gardenal, seus efeitos não duram muito, e logo acordo o corpo que agora está numa ressaca dos diabos! Nós, prontos para dar a cara à tapa outra vez e zombar daqueles que nos querem tanto mal. Eu fui a companheira fiel do Raul, Hendrix, Curt e Janis. Eu fui e ainda sou uma popstar!... Sou uma deusa e o meu lar é todo o universo... Ganhei liberdade para falar graças ao meu filho Erasmo, que dedicou muito da sua energia para lubrificar minhas cordas vocais, afim de que o meu canto narcisista prossiga. A minha vitalidade; meus sentimentos honestos; meus instintos; a minha

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simplicidade – (ao meu modo e conceito), são expressões que deveriam ser adoradas como símbolos sagrados!... Adoram a Cristo, um dos meus neófitos mais fiéis, porque não me adoram também? Devem acima de tudo e de todos me adorarem!... Nobre filho Conrado, invista mais na projeção de sua voz pois a nossa verdade necessita da sua energia para ganhar os horizontes da consciência deste povo que sempre busca nos ignorar, mesmo sabendo que dentro deles corre o nosso DNA.

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Antes de decolar

A Arca de Noé não coube na garagem do Governo Federal dos Estados Unidos, pois os pés da saudade coçaram as orelhas dos carbonos esquecidos em cima do Planeta Terra. Ozônio olhou os olhos de Zuleica que quebrou os dentes após mastigar vidros de memória ram. A rã pegou a Gripe Suína e foi passear. Os porcos pediram cerveja preta num bar perto de Urânio e de Ouro também. A CIA – Companhia de Inteligência Americana, me contratou para uma missão nas estrelas da Calçada da Fama. Led Zeppelin vai por pilha em minha nave, pois pretendo agora voar... Tem apostilas no chão dos extraterrestres. Acho que estão estudando para o vestibular. Ozzy disse que ia pintar o universo de cinza e sangue. Mais ele não é Dalí, quanto menos daqui. Tenho 1 real para gastar no Cine Pecado. O botão esquerdo da minha nave está emperrado, por isso aciono a minha bota direita. Vejo em minha frente um galeto assado usando a máscara do Batman e querendo pegar carona. A cachorra fala, devemos escutá-la, pois diferente de nós mortais de duas patas, ela é dona dos últimos litros de verdade.

Tenho medo dos humanos porque eles fedem, mordem e estão sempre doentes. A minha nave não leva ninguém doente. Saiam daqui espíritos depressivos. Não falem mal das Tartarugas Ninjas.

Coloquei o GPS no freezer para ver se esfria o calor que bebe água das privadas de umas certas celebridades da minha querida Zioland. Esqueci dos óculos escuros para por nos olhos vermelhos de Marte.

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Desabafo

Novembro de 2006

No dia em que Deus fechou os olhos... balas de pólvora ganharam vidas e cabeças foram estendidas como símbolos de vitória. A Ordem foi estraçalhada e a Decência foi queimada pelo mesmo homem que a criou. A nossa Nação se desviou do caminho já traçado, todos os seus passos a levaram para o Estado do Pecado. O sonho do progresso, foi morto e enterrado, um novo sistema foi criado, CV e PCC foram homenageados, corrupção e malandragem foram tidas como dons. A Fome financiou a estética dos quenianos e angolanos. - Ossos expostos estão na moda! Assim disse a estilista Miséria... Cristo e Che desfilam em camisetas de assassinos e ladrões, que coisa careta! A Bíblia já não é mais o Best–Seller do momento... uma salva de palmas para os fantasmas que na bolsa de valores ganharam ações. Enquanto a Eguinha Pocotó faz o seu show dançante, eu fico aqui com o meu descontentamento, tentando reverter este quadro negro, que não é superstição. Essa é a pura realidade do que estamos vivendo...

Guerras no lugar dos abraços, desunião nesta terra virada de cabeça pra baixo. Tudo vai mal, que pena, olha lá quem está em cena... Ambulâncias estão substituindo o Porquinho Guardião das Nossas Economias. Os homens em quem confiávamos estão transformando o nosso Real em Dólar e escondendo na cueca para, em breve, serem úteis no financiamento dos seus jatinhos e/ou apartamentos na Luxuosa Copacabana ou na Avenida 13 de Julho – a Queridinha de Aracaju. Esse é o Brasil, um país para todos, todos os desgraçados que só podem contar com a sorte.

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Na solidão10/08/09

Solidão!... para que o medo? Tenho olhos dormidos e uma sede de vinho – apenas tinto. Tinjo a cor dos meus neurônios para que pareçam e tenham o brilho das estrelas apagadas. Sim! Elas brilham. Mas nem por isso precisam lhes dizer nada! Game Over para as perguntas tolas. Cultur, cultuar a kunst brasileira seria bom. Cansei de produzir obras, apenas continuarei com minhas gravuras na privada.Comecei o dia com uma dor de cabeça danada! Quem manda viajar, aeronauta?! Eu não entendo, muriçocas me perturbam, Never More muriçocas!... Baudelaire é o nome da minha sombra.Tenho uma intensa relação com o silêncio. Quero ouvir conselhos! Se não de Mário talvez de Ilma. Olho o retrato em cima de minha geladeira que me faz dizer: - I want you! Pois é moça, como diz o Raul, nada de moscas pousando em minha sopa!... Tenho sede! Como diz Dylan e o Tio Sam: I want You.

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Seu cheiro

Sentado junto aos deuses,Jurei fazer de mim um mortal

após conflito com o Senhor Meu Eudesci à Terra agarrado

na calda de um cometa desgovernado...Havia uma flecha em uma de minhas mãos

para eu cravar no primeiro coração que encontrasse.Cravei em muitos, mas eles não sangraram.

No auge de uma solidão absurdaTropecei ao peito de uma musa

E nela cravei acidentalmente a flecha do amor intenso.Sem saber da sorte, custei a acreditar

Que havia acertado no ser correto.Olhou-me nos olhos a mulher feridaCitamos Hitler e Euclides da Cunha

Em discursos improvisados...Alcancei suas mãos e logo senti que o seu cheiro

Era o de todos os perfumes que eu já havia sonhado.

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VALDECK ALMEIDA DE JESUS, 43, Jornalista, funcionário público, editor de livros e palestrante. Membro correspondente da Academia de Letras de Jequié e efetivo da União Brasileira de Escritores. Embaixador Universal da Paz. Publicou os livros Memorial do Inferno: a saga da família Almeida no Jardim do Éden, Feitiço contra o feiticeiro, Valdeck é Prosa e Vanise é Poesia, 30 Anos de Poesia, Heartache Poems, dentre outros, e participa de mais de 60 antologias. Organiza e patrocina o Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus de Poesia, desde 2005, o qual já lançou mais de 600 poetas. Site: www.galinhapulando.com e E-mail: [email protected]

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Hoje é meu último dia de vida Vou chingar o guardaJogar pedra na igrejaQuebrar o carro da políciaMandar meu chefe tomar no cuComer tudo que não possoIncomodar os vizinhosCuspir na cara do juizFazer sexo sem camisinhaE tocar fogo na bíblia

41

Tenho medo da solidão (?)

Não sei, pois gosto de ficar só, ter o controle de minha vida, sensações...Ao mesmo tempo sinto vontade de presença, de amigos, de namorado.Mas estar com pessoas me torna um não-eu. Tenho que ser outro, um ator, um ser que não conheço, e que me incomoda.Não estou adulto, se adulto é não mais se incomodar com a presença de outros. Ainda sou aquele que se esconde atrás da porta quando chega alguém estranho. Escondo-me por conveniência, medo ou insegurança.Estar com outras pessoas me tortura, me tira a liberdade de ser eu, completamente eu.Fico pensando que sou misantropo, mas logo revejo isso e afirmo que sou o verdadeiro eu somente quando estou sozinho ou com meu parceiro.Não sei mostrar nem quero ser o verdadeiro eu quando estou no meio de pessoas. Não sei ser completamente eu quando há olhares e ouvidos atentos aos meus movimentos e ações.A ideia de ser refém de mim, dentro de minha casa, não me agrada. Ser gay, ter um namorado gay e ao mesmo tempo ter que me policiar na rua, no trabalho, na praia, no show, no mercado e, ainda por cima, dentro de minha própria casa – quando tenho visitas -, me dá a sensação de prisão, claustrofobia e sufocamento.Gosto de ficar no meu mundo, seguro.

Salvador, 17 de janeiro de 2010, às 12:26 horas

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Anjo Pecador

Sou capeta o dia todoSou Deus de vez em quandoFumo, bebo, roubo e matoFinjo ser santo, por trás do manto.

Sou puto, confuso, mentirosoDesafio às leis e regulamentosDesobedeço, sempre, a tudoIludo, engano, sou um jumento.

Uso drogas, me masturboFaço tudo o que é proibidoUivo louco na libido.

Não tenho medo do infernoSó não quero viver no invernoDe uma vida sem poesia.

14 de novembro de 2009

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Tudo pelo seu amor

Abro mão de minha família, de meu filho, de minha sobrinha, amigosAbro mão de mim mesmo...

Não passo de um velho que pensa que sabe tudo...Sou apenas um leão cansado de guerraCujo urro não assusta mais ninguém...

Meus sentimentos não importamNão posso contra o marNão tenho força contra a tempestadeVou sentar e deixar o vento soprarE aos poucos ir levando pedaços de mim...

Pensei que eu existiaAchei que eu tinha uma presençaDescobri que sou apenas um fantasmaUma lembrança de um vulto do passado.

26 de julho de 2009, 07:30 horas

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Conselho de amigo

Beba álcool e gasolinaFume droga: cocaínaFaça sopa de heroínaE de LSD.

Beba água poluídaArranque suas feridasJogue lixo pelas ruasDeixe as mulheres nuas.

Queime as matas brasileirasPolua os ares e os riosExtermine a fauna e a floraDestrua o vasto mundo agora.

Só não vá se esquecerDe que tudo o que existeSeja belo ou seja tristeÉ uma parte de você.

E em cada mata queimadaCada buraco na estradaVai ficando sua vidaPouco a pouco destruída.

(08 de agosto de 1989).

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Querido politiqueiro

Nesta cara descaradaQue você me apresentaVejo muita falsidadeE também muita maldadeContra a mim e aos que são meus.

Você só fala mentirasSó anda com vagabundosSó vive com marginaisO que é bom você desfazSeu pilantra, porco, imundo.

Você me pede um votoPromete-me nova vidaUm trabalho e uma casaE um prato de comidaPra depois da eleição.

Então meu voto lhe douE a minha confiançaDepois morre a esperançaFico num canto esquecidoSem sonho, sem ilusãoAté a próxima eleição.

(08 de agosto de 1989).

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Sonda Voyager

Estamos sozinhos no universo?Você responderá que não.Certamente encontrou provasDe outra civilização.

O homem então se alegraEncontrou um planeta irmãoJá não está só no universoDivide as constelações.

Mas na Terra, contradição!O irmão se fecha em gradesCom medo desse outro irmão.

Isola-se em sua mansãoTemendo sequestro e assaltoTemendo o amigo e irmão.

(25 de agosto de 1989).

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Anti-cultura

A 'cultura' do meu povoÉ a cultura de vender:Livros, jornais e revistasE programas de tevê.

Não se publica culturaPois o retorno é pequenoSó se publica o que vendeE o que se vende é veneno.

O educativo é relegadoSempre ao segundo planoEducar é contra-indicado.

Só interessa aos donosDo destino da naçãoPublicar alienação.

(25 de agosto de 1989).

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A poesia

Num canto qualquer esquecidaA poesia brasileiraSonha um dia ser vendidaE exposta nas prateleiras.

Poeta neste paísPensa e escreve pra siE guarda numa gavetaPalavras por imprimir.

Não vão ler o que ele escrevePara o consumo não servemSeus versos tão solitários.

Só se publica best sellerDe gringo lá do estrangeiroE nada do Zé Brasileiro.

(25 de agosto de 1989).

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Despedida

Adeus, meu querido paísAté breve, minha cidadeAté logo, meu estadoAté a volta, meus amigos.

Tchau, queridos amigosAté um dia, sofáAté breve, vida breveAdeus, amores meus.

Quiçá um dia vireiConviver aqui de novoOu talvez não volte mais.

Meu destino pelo mundoChama-me à nova missãoPelo infinito universo.

(26 de agosto de 1989).

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Cazuza

És o Rei dos sub-subO protetor dos oprimidosLutador incansávelA favor dos desvalidos.

Teu grito sonoro que irritaOs ouvidos da podre eliteÉ bálsamo da "minoria"Que o preconceito oprime.

No seio do anseio popularEstá teu lugar sagradoOnde reinas consagrado.

Político do povo a lutarPoeta de livres cançõesCazuza, voz de uma geração.

(22 de agosto de 1989).

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Menina feia

Menina feia que me olhaEscondida atrás do olharEu quero ver tua caraDeixa-me te admirar.

Quero ver o teu pensarDesvendar-te o interiorTeu espírito acariciarAquecer o teu calor.

Beijar teus lábios rosadosAbraçar teu corpo trêmuloAmar-te em cada pedaço.

Descobrir tua oculta belezaInebriar-me em tua presençaSer contigo uma só certeza.

(22 de agosto de 1989).

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A televisão

Um ótimo instrumentoPara adquirir culturaMas que também te alienaDeixa-te sem estrutura.

Diante dela, incauto viajasVolta ao mundo em segundosAlienando tua culturaNestas voltas pelo mundo.

Melhor é usar a TVSó para aprimorarO processo do saber.

Um bom livro, um bom jornalSe bem degustado ao lerTem mais sabor que TV.

(22 de agosto de 1989).

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Aparência

Todos olham para o que é beloMuito belo, belo e meioRaro é parar pra olhar o feioMuito feio, meio feio.

Prezam o embrulho externoMais que seu conteúdoEncantam-se com o concretoMesmo que não seja tudo.

O abstrato não os agradaNão valoram a consciência Não valoram a paciência.

Agarram-se às vestes mais belasTão longe de darem por féQue todos terão sentinela.

(17 de junho de 1987).

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Tesão

Quando vejo o teu corpoFico louco de paixãoFico com calor no corpoFico doido de tesão.

O meu pau logo levantaDá vontade de fuder Fico louco de desejoDesejando ter você.

O meu sangue ferve todoMinhas veias se alteramSó sossego se te fodo.

Te agarro pelas pernasE te como com loucuraNestas fodas mais que eternas.

(08 de março de 1987).

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Amor

VenhaVáVolteCá.

FiqueAmeMorraGame.

GosteAmeGame.

FiqueMorraEm mim.

01 de março de 1987

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Mulher da vida

Foste tu que me ensinaste a viverLevaste-me a conhecer o mundoDeste amor de aprender, de prenderLouco deixaste-me no caos profundo.

Esta vida não é nada, nada boaMas transforma cada pedacinhoMostra ao homem a beleza todaDe viver como um passarinho.

Vive a vida bela – tua vidaVive a vida feia – minha vidaTransforma meu sofrer em tua ferida.

Perfuma-me, enfeita-me para o mundoDeixar-te-ei só, partirei pra viverDevo-te tudo, e vou me esquecer.

25 de agosto de 1989

57

Amor Incondicional

A esta mulher que gostoDou o beijo único que beijeiO beijo que beijei milharesO amor que para outras dei.

Dou o calor que é únicoÚnico no abraço a inúmerasO amor já amado e gastoQue revive novamente casto.

Repetição de atos passadosDe vidas tantas vezes vividasEngano que engana feridas.

Iludo-me na origem e confundoEsse amor que penso ser únicoQue amou e amará o mundo.

25 de agosto de 1989

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A você, sociedade capitalista

Que só preza o dinheiro, que almeja cifra, que dá glórias ao Poder Econômico, que repudia ao Ser Humano como gente, que é e que dá aplausos, beijos, abraços (mesmo fingidos) àqueles que possuem bens materiais, deixo aqui, não o meu grito, pois você não é digna dele, mas o meu gemido de desprezo, meu olhar de escárnio, meu gesto de repúdio, meu desprezo total.

Fique com teus bens materiais e com teus bens "duráveis" que só são permanentes na tua ganância de ajuntar mais e mais; fique com o teu aroma que só não fede enquanto houver dinheiro por perto; fique com tua beleza e singeleza que só existem aparentemente, com tuas cifras; fique, mas não conte comigo para o aplauso nem para reforçar teu poder.

Se me quiser, valorize mais o ser humano, o sentimento, o bem precioso que é a amizade.

09 de outubro de 1986

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A bosta!

Essa tão mal falada bostaQue todos botam pra foraDepois de ter se aproveitadoDepois de ter “comido” e bebidoDepois de ter se servidoDe almoços e jantaresDe merendas e manjares...

Essa bosta tem valorEssa bosta tem fedorNinguém gosta do odorQue exala do cocôMas se lembram do troçãoQue arromba o cuzãoQuerendo cair no chão...

Tanta força para expulsarO toloco do fiofóSeria muito melhorSe a gente fosse entupidoNão saísse todo espremidoPara abortar um cocôCom todo esse fedor.

Mas sem cu, como cagar?A bosta seria piorPela boca ou pelo ouvidoE não pelo fiofóMas ninguém iria aguentarO cheiro de bosta na bocaDepois da bosta abortar...A boca suja de bosta

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Seria mesmo uma piadaPois para beijar os lábiosNem mesmo com uma lavadaPois o gosto e o fedorIria marcar a beijadaDessa gente mal educada.

Deixa o cu cagar a bostaDeixa a bosta para trásÉ melhor cagar com o cuE ficar melado atrásQue melar a boca e o ouvidoCom esse cheiro de gás.

Atire a primeira pedraQuem nunca foi ao banheiroQuem nunca cuspiu no chãoNão manchou a parede todaE limpou o cu com o dedão.

Se esfregou o cu pela quinaPra se livrar do fedorVocê é mesmo um guerreiroMesmo se não confessou.

Se limpou toda a melecaDo nariz com o dedãoVocê é um corajoso E exemplo para a nação.

Já usou escova alheiaPara limpar os teus dentesÉ um dos grandes guerreirosOrgulho pra toda gente.

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Mas se fez uma coisa dessasE nega com o coraçãoVocê é mesmo um babacaSe controle, meu irmão.

Sampa, 30.01.2005

A angústia vem do sentir que tudo na terra é efêmero e “sem sentido” e de que a única coisa que me faria bem, seria ser amado por um homem, mas sei que isso jamais será real, de verdade, pois um ser do mesmo sexo que eu tem a mente programada, instintivamente para amar e desejar um outro sexo de outro sexo diferente.

20 de agosto de 1998

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Dark Room

Nesse dark room da vida perco-mePercorro pernas, braços, membros,Bocas já beijadas, mãos amassadas,Carinhos gastos pelos contatos,Carícias afagadas por almas penadas,Escuridão de minha alma enegrecida;Minha alma percorre os cantos,Desencantos de amores pútridos,Pruridos não sentidos, gemidos,Sussurros, murros, escapadas.Mãos calejadas me agarramNa marra. Sou o ator dessa cenaObscena e ridiculamente singela,Tão tosca, fétida, imunda,Que me inunda por todos os porosEntão choro, choro e me escuto:Meu ser clama por uma chamaQue me destrua, me deixe nua,Sem alma e sem calma.Mas o fogo ainda queima o peitoEntão deito e suplico a morteJogo minha vida à sorte:Sem sorte num jogo que mata.Meu carma é penar nessa lataVira-lata de carnes humanasVidrado por sexo, por carne.Apaixonado por amor sem sentimento,Lamento e imploro a mim mesmoQue saia da lama e volteE deite na cama que é leito.Aproveito e acordo do sonoPor pouco não volto ao lodo

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Por nada não quero esta pazQue me traz de volta ao sublimeCansei de ser puro e ingênuoQuero o crime do sangue e do corpo.

Salvador, 23 de fevereiro de 2005

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Deus tem um plano em sua vida

Nascer não é difícilViver não é impossívelCrescer é inevitávelEnvelhecer faz parte do processoMorrer é o ápice da vida.

Nascer, crescer, envelhecer e morrer:Tudo faz parte do processo.Morte lenta, morte rápida,Morte morrida ou morte matada,De nada importa, não importa nada,Quando o destino de nós todosEstá com as horas contadas.Cada um ao seu próprio tempoTerá sua hora marcadaPara partir deste mundoDeixando em sono profundoQuem ficou a lembrar-seDos momentos de alegriaTristeza ou algazarra.A certeza não é outra:Deus tem um plano em sua vidaE esse plano é a morte!

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Forte emoção Quando senti sua presençaPercorreu-me um forte calorUma emoção muito gostosaE no peito um leve ardor. Mexeu comigo inteiroEsta forte emoçãoNão pude escondê-laNão pude dizer não. Nas minhas entranhasEla fez movimentosCom forças estranhas Após uma luta, exclamei ufa!Finalmente conseguiLibertar essa bufa! 04 de março de 2005

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Kombi do cu

Cu meladoCu cabeludoCu raspadoCu de ferroCu chuladoCu gordoCu magroCu folgadoCu apertadoCu foloteCu de melCu inchadoCu chupadoCu abertoCu fechadoCu diabéticoCu lightCu dietCu adocicadoCu de siliconeCu de borrachaCu pretoCu morenoCu brancoCu enfiadoCu esfoladoCu sem pregaCu cagadoCu doceCu salgadoCu piscanteCu zerado

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Cu furadoCu seladoCúteroCucetaCu esfomeadoCu com falta de arCu congeladoCu profundoCu rasoCu perebento

Venha freguesia, traga o dinheiro e a vazilha, se não gostar do cu não paga. Dê o cu ao vizinho ou à empregada, se não estiver bom leva outro

Inspirado na Kombi da Fruta que passa enchendo o saco dos moradores das grandes cidades

Cadê Giovanna?

Que me deixa tristeQue a morte permiteDeixa eu passar fomeNão me dá um nome?...Cadê vocêQue se diz a boaE me deixa à toaA sofrer no frio?Onde está vocêQue não me dá dinheiroQue não me dá remédioE me deixa em tédio?

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Onde se escondeuCom o meu destinoCom o meu viverOnde está você?Apareça aquiPara proibirTanta morte e guerraNessa Tua terra.

Por que me abandonouComo fez com todosDeixou-me no lodoE subiu aos céus?

Salvador-BA, 14 de abril de 2003 (*) Giovanna é uma criação minha, personificando a travesti irmã de Jeová.

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Abrindo o meu Orkut

Eu tenho um vizinhoQue é muito assanhadoMuito enxerido, curioso e acanhadoEntrou em minha casaE abriu o meu OrkutEu tanto reclamei“não mexe no meu Orkut”Mas ele é teimosoO danado é tinhosoNão tenho mais segredoAcabou todo o meu medoPois tudo que escondiO vizinho revelouEntrou no meu OrkutMexeu no meu OrkutAbriu o meu OrkutE me esculhambouEu até mudei a senhaPra entrar no meu OrkutMas logo me arrependiE a senha reveleiVem logo meu vizinhoMeu Orkut agora é seuVem seu danadoPois estou apaixonadoVocê foi o primeiroA mexer no meu OrkutMeu Orkut agora e seu...

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Sobre o autor:

VALDECK ALMEIDA DE JESUS é funcionário público federal, nasceu a 15 de fevereiro de 1966 em Jequié-BA, onde viveu até aos seis anos de idade, quando foi residir na Fazenda Turmalina (região de Itagiba-BA), onde continuou a estudar em escola pública até os 12 anos de idade. Aluno exemplar retornou a Jequié/BA para se matricular na 5ª série do primeiro grau, em escola pública. Ingressou nas Faculdades de Enfermagem e de Letras, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em 1990; na Faculdade de Turismo, na Faculdade São Salvador, não concluindo os cursos. Reside em Salvador, desde fevereiro de 1993.

Na capital, fez cursos de informática, teatro, relações humanas e fotografia. Fez, ainda, curso de espanhol durante dois meses em Madri (Espanha), Santa Elena de Uairen (Venezuela), Puerto Iguazu (Argentina), Ciudad del Este (Paraguay) e La Habana (Cuba) e de inglês por três anos em Salvador, complementado por curso intensivo de três meses em Nova York, Estados Unidos.

Prêmios Literários:a) Menção Honrosa em 1989 no 1° Concurso Nacional de Poesia, promovido pelo Instituto Internacional da Poesia, de Porto Alegre/RS b) e no Concurso Literário Oswald de Andrade, promovido pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, em 1990, na cidade de Jequié/BA.

Participa das antologias:

“Poetas Brasileiros de Hoje –1984”, Shogun Arte, Rio de Janeiro, 1984.

“Transcendental”, publicado em Salvador em 1996, pela Editora Gráfica da Bahia.

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“II Antologia Cultural: 500 Anos de Língua Portuguesa no Brasil”, Clube de Letras, Barra Bonita/SP, 2005.

“Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos 14º volume”, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, 2005.

“Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos 15º volume”, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, 2005.

“Letras Libertas - Contos, Crônicas e Poesias - Vol 2”, Ilha das Letras, Santa Catarina, 2005.

“XV Concurso Internacional Literário de Verão”, Agiraldo, São Paulo, 2005.

“Palavras que Falam”, Scortecci, São Paulo, 2005. “Todas as Formas de Amar”, Casa do Novo Autor, São Paulo, 2005.

“O Amor na Literatura”, São Paulo, Casa do Novo Autor, 2005.

“Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea”, Câmara Brasileira do Jovem Escritor, Rio de Janeiro, 2005.

“VII Antologia Nau Literária”, Komedi, São Paulo, 2005.

“Ensaios Poéticos”, Academia Virtual Brasileira de Letras, 2005.

“Poetry Vibes”, Poetry Vibes, Ohio, USA, 2005; “20 Anos de Poesia – Caderno 32”, Oficina, Rio de Janeiro, 2005.

“Pérgula Literária – VII”, EVSA, Rio de Janeiro, 2005;“Sangue, Suor e Lágrimas”, Arnaldo Giraldo, São Paulo, 2006.

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“Palavras Libertas”, Roma, Uberlândia/MG, 2007.

“Amor, Sublime Amor”, Litteris, Rio de Janeiro, 2006.

“XI Coletânea Komedi”, Komedi, Campinas, 2007.

Livros publicados de forma independente:“Heartache Poems. A Brazilian Gay Man Coming Out from the Closet”, iUniverse, New York, USA, 2004; “Feitiço Contra o Feiticeiro”, Scortecci, São Paulo, 2005.

“Memorial do Inferno. A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, Scortecci, São Paulo, 2005. “Memorial do Inferno. A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, Giz, São Paulo, 2007.

Editor da “1ª Antologia Poética Valdeck Almeida de Jesus”, Casa do Novo Autor, São Paulo, 2006.

“Jamais Esquecerei do Brother Jean Wyllys”, Casa do Novo Autor, São Paulo, 2005.

Trabalhos Diversos:Expositor, como escritor independente, na Bienal do Livro da Bahia, em 2005 e 2007.

Expositor no III Corredor Literário da Paulista, de 09 a 14 de outubro de 2007, em São Paulo/SP.

Participação no V Fórum Social Mundial, em Porto Alegre/RS, de 26 a 31 de janeiro de 2005.

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Participação, como organizador da Mostra de Arte e Cultura, no II Congresso Estadual do Sindjufe-BA, de 01 a 03.06.2007, no Hotel Sol Bahia Atlântico, em Salvador/BA.

Tem poemas publicados nos jornais de grande circulação da capital e do interior do estado da Bahia, além de jornais de Brasília/DF; Colaborador, desde 1985, do jornal A PROSA, de Brasília/DF.

Colaborador da revista cultural Art’Poesia, de Salvador, editada por Carlos Alberto Barreto, que publica poemas de autores do mundo inteiro. A revista completa oito anos em 2007.

Colunista do site www.zonamix.com.br desde fevereiro de 2006 e do site www.radarmix.com, desde março de 2006.

Verbete do “Dicionário de Escritores Baianos”, Secretaria de Cultura e Turismo, Salvador, 2006.Membro da Federação Canadense de Poetas desde 2004.

Membro da Associação Artes e Letras (França) desde 2005.

Membro da União Brasileira de Escritores – UBE, desde março de 2006.

Em 1987 participou da Diretoria Regional do Partido Comunista do Brasil e da União da Juventude Socialista - UJS, em Jequié/BA. Eleito o primeiro diretor de imprensa do Grêmio Estudantil Dinaelza Coqueiro, do Instituto de Educação Régis Pacheco, fundou o jornal Jornada Estudantil.

Fundador do fã-clube do Jean Wyllys (www.jeanwyllys.com).Seu site profissional é www.galinhapulando.com

Residente e domiciliado à Rua São Domingos Sávio, 155 – Edifício

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Gama – apartamento 401 – CEP 40050-520 – Nazaré, Salvador/Bahia, poeta e escritor, filho de Paula Almeida de Jesus e de João Alexandre de Jesus (ambos falecidos).