a internacionalizacao da economia brasileira

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A internacionalizaçãoda economia brasileira, trata-se de um capítulo na qual aborda o caráter específico pós anos 1990, bem como a inserção do Plano Real como medida para conter a elevada inflação que ainda era sentida.

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  • Captulo l

    A Internacionalizao da Economia Brasileira 1.1. Abertura Econmica dos Anos 1990

    A dcada de 90 foi marcada por mudanas relevantes na poltica de comrcio exterior brasileira, cujo processo de abertura comercial iniciou no governo Collor atravs de uma nova ordem mundial, a globalizao, caracterizada pela integrao de pases, principalmente por intermdio de acordos bilaterais e multilaterais.

    Essa abertura provocou grande aumento do grau do risco das empresas brasileiras, principalmente quanto concorrncia externa. Neste sentido, fez-se necessrio que se iniciasse uma srie de reestruturaes objetivando a busca por maiores nveis de eficincia operacional, de produtividade e competitividade para fazer frente aos concorrentes internacionais.

    Assim, o governo de ento tomou algumas medidas com o objetivo de incentivar a competitividade, dentre elas, criou o Programa de Competitividade Industrial e o Programa Brasileiro de Qualidade e Competitividade como diretrizes gerais para a Poltica Industrial e de Comrcio Exterior. Tais medidas visavam ao direcionamento de recursos financeiros em programas de qualidade, aprimoramento tecnolgico destinado racionalizao das linhas de produo e substituio de processos.

    importante ressaltar que, ao compararmos a recesso verificada no perodo entre 1981 a 1983 com a abertura comercial dos anos 90, se observa que as empresas naquele perodo preocuparam-se apenas em fazer ajustes financeiros e patrimoniais, pois, para compensar a reduo da margem operacional, buscavam ganhos no mercado financeiro, tendo em vista as altas taxas de juros praticadas no mercado poca, enquanto que, nesse ltimo perodo, todos os esforos de reestruturao foram direcionados na busca de competitividade, eficincia e qualidade como modo de aumentar ou manter as exportaes em igualdade de condies com os demais participantes do mercado...

    Porm, observa-se que no houve uma conjuno de foras entre as autoridades governamentais e as empresas no sentido de definir uma poltica setorial voltada a projetos de ampliao substancial da capacidade produtiva e ao desenvolvimento de novos produtos de maneira organizada, objetivando proteger os seguimentos ameaados pela competio externa. Nesse ambiente, cada empresa buscou de maneira isolada e desorganizada alternativas de ajustes modernizantes, visando buscar rapidamente uma posio de destaque no mercado internacional.

    Com a instituio em 1990 da Poltica Industrial e de Comrcio Exterior, grande parte das barreiras no-tarifrias foi extinta, estabelecendo-se no perodo entre 1990 a 1994 um cronograma de reduo de tarifas de importao. Tais redues seriam efetuadas de maneira gradual, devendo no final daquele perodo a tarifa mxima ser de 40%. Contudo, tal cronograma foi alterado em outubro de 1992, efetuando-se uma antecipao das redues previstas para os dois anos seguintes (1993 e 1994).

    A Tabela l mostra claramente a reduo da alquota mdia do imposto de importao at 1994, refletindo os avanos no processo de abertura comercial brasileiro.

    Tabela l - Imposto de Importao

    Ano

    1990

    1991

    1992

    1993

    1994 Alquota Mdia

    Simples

    32,1

    25,2

    20,8

    16,5

    14,0

    Fonte: Bumann (1998).

  • 1.2. O Plano Real e os Efeitos na Balana Comercial

    O Plano Real, comparativamente aos demais planos, considerado o mais bem-sucedido plano de estabilizao econmica, principalmente no que diz respeito reduo e ao controle da inflao1: por exemplo, a taxa de inflao no perodo de setembro de 2001 a agosto de 2002 foi de, aproximadamente, 9,90%, medida pelo IGP-DI2, ao passo que um ms antes do Plano Real a inflao mdia mensal estava prxima n 50,0%.

    A abertura comercial que iniciou em 1990, segundo Lanzana (1998), foi a grande marca do Plano Real. Conjugando um processo de reduo significativa de alquotas de importaes com apreciao cambial, a estratgia de estabilizao foi extremamente dependente do setor externo, caracterizando por forte presso da demanda interna e relevante incremento das importaes, as quais desempenharam papel fundamental no aumento da oferta de bens, limitando sobremaneira a possibilidade de elevao dos preos no mercado domstico.

    Nesse contexto, a queda da inflao favoreceu as camadas de menor poder aquisitivo da populao, possibilitando-lhes, assim, o retorno ao credirio, principalmente na rea de bens de consumo durvel, m preos mais acessveis. Nesse ambiente, a preocupao das empresas em reduzir seus custos com o objetivo de enfrentar a concorrncia externa levou-as a utilizarem insumos importados e a adquirirem bens de capital no exterior, principalmente pela necessidade de modernizao.

    Dessa maneira, a expanso da demanda, conjugada com a Apreciao da taxa de cmbio, trouxe, rapidamente, algumas dificuldade para o setor externo brasileiro: no primeiro ano do Real as importaes cresceram mais de 70% em relao aos 12 meses anteriores, e, no menino perodo, as exportaes cresceram 20%. Assim, a partir de novembro de 1994 comeou a surgir dficit na balana comercial. De Acordo com o grfico a seguir, a balana comercial durante o perodo 1995/2000 chegou a um dficit ao redor de US$ 24,2 bilhes, enquanto que entre 1990 e 1994 acumulou um supervit de aproximadamente US$ 64,0 bilhes.

    1 importante salientar que os principais motivos do sucesso da reduo e controle da taxa de inflao foram o processo de desindexao, a ncora cambial, a poltica de reduo de tarifas pblicas e o saldo de reservas lquidas internacionais.

    2 ndice Geral de Preos - Disponibilidade Interna.

    A partir de maio de 1995, o governo optou pela poltica de bandas cambiais, acompanhando a evoluo dos preos por atacado, e pela utilizao de instrumentos que permitissem reduzir o nvel de atividade econmica, para diminuir as presses sobre as importaes. Para isso, o governo adotou uma srie de medidas na rea monetria, tais como:

    i) aumento substancial do depsito compulsrio; ii) limitao de prazos de financiamento; e iii) aumento da taxa de juros, tendo como resultado final uma forte

    contrao de crdito e um aumento substancial do custo do dinheiro. Nessa diretriz, a situao externa brasileira foi favorecida por uma

    significativa entrada de capitais estrangeiros, atrados por um diferencial extremamente elevado entre as taxas de juros interna e externa. Num primeiro momento, grande parte desse capital era constituda de recursos de curto prazo. Entretanto, em virtude das condies internacionais de liquidez e da necessidade de elevar o nvel de reservas, no havia como exigir a permanncia desse capital por um perodo mais longo. Assim, mesmo com parcela importante sendo constituda por capitais de risco, as reservas internacionais do Pas passaram a se elevar continuamente e, no final de 1995,

  • j atingiam US$ 51,8 bilhes, enquanto que o saldo da balana comercial apresentou um dficit de US$ 3,4 bilhes.

    No final de 1995, o governo passou a flexibilizar a poltica monetria, com a ampliao dos prazos de financiamento, reduo suave dos depsitos compulsrios e reduo, tambm suave, das taxas de juros. Como conseqncia, o nvel de atividade voltou a se expandir. importante destacar que, na medida que a recuperao da atividade concentrou-se fortemente na expanso da produo de bens de consumo durvel, as presses sobre a balana comercial foram inevitveis, uma v/ que esses segmentos so fortemente importadores de componentes, notadamente na rea de eletroeletrnica.

    l .3. As Crises no Mercado Internacional

    A crise mexicana, segundo Ferrari (2001)3, indicou que a apreciao da taxa de cmbio provocaria uma crise cambial no Brasil. ()s investimentos estrangeiros declinaram e, como resultado, as reservas internacionais tambm diminuram. Neste momento, surgiu uma expectativa no mercado de que a desvalorizao da taxa de cmbio seria uma soluo para restaurar o equilbrio no balano de pagamentos.

    Porm, as autoridades monetrias entendiam que a apreciao da taxa de cmbio era o resultado natural da queda da taxa de inflao, c que os dficits em conta corrente seriam financiados plos recursos disponveis no mercado internacional a custos relativamente atraentes, tambm que, naquele momento, a desvalorizao da taxa cambial poderia causar um choque inflacionrio e trazer de volta o processo de indexao. Assim, objetivando buscar novamente o capital externo, o governo tomou medidas importantes, tais como:

    i) introduziu o sistema de bandas cambiais; ii) majorou as tarifas de alguns setores especficos; e iii) aumentou a taxa bsica de juros. O resultado da poltica monetria foi a recuperao das reservas

    3 FERRARI FILHO, Fernando. The Legacy of the Real Plan: a

    stabilization without economic growth? Trabalho apresentado no Centre for Brazilian Studies, University of Oxford, May 2001.

    internacionais: entre junho e dezembro de 1995, elas aumentaram de US$ 31,0 bilhes para US$ 51,8 bilhes, encerrando o ano de 1996 com US$60, l bilhes.

    A crise do Leste Asitico, no segundo semestre de 1997, ocasionou um forte ataque especulativo ao Real, revelando a vulnerabilidade externa da economia brasileira, uma vez que as reservas internacionais declinaram aproximadamente 10%.

    Nesse cenrio, o governo, mais uma vez, reagiu rapidamente aumentando a taxa de juros bsica da economia de 24,5% ao ano, em outubro de 1997, para 46,5% ao ano, em novembro do mesmo ano; e as despesas correntes do governo foram cortadas. Estas medidas ortodoxas para segurar a crise cambial brasileira no quebraram, todavia, a confiana dos agentes econmicos. importante salientar que, naquele momento, o estado de confiana no Plano Real foi recuperado, porque o volume de reservas internacionais foi muito confortvel para combater o ataque especulativo.

    Entretanto, no terceiro trimestre de 1998, o ataque especulativo ao Real, aps a crise da Rssia e a percepo dos operadores de mercados de que o Brasil tinha srios desequilbrios macroeconmicos, mostrou nitidamente que as reservas internacionais no poderiam ser consideradas como alternativa contra um ataque especulativo ao Brasil.

    Em razo da eleio presidencial de 1998, as autoridades monetrias, apesar das presses para depreciar o Real, insistiram em adotar novamente uma poltica econmica ortodoxa de curto prazo: cortaram as despesas e aumentaram as taxas de juros. Porm, desta vez, essa poltica no conseguiu persuadir os agentes econmicos a reaver a confiana no Plano Real. Dessa forma, considerando a incerteza sobre o futuro do Plano Real, o capital internacional voltou a deixar o Pas, fazendo que as reservas internacionais cassem rapidamente: entre setembro e dezembro de 1998, as reservas internacionais declinaram cerca de 38%. A soluo encontrada nesse momento foi um acordo com o Imundo Monetrio Internacional (FMI), que garantiu economia brasileira um aporte financeiro de cerca de US$ 40,0 bilhes. Para isso, o Brasil se comprometeu a adotar polticas de austeridade fiscal e mone-tria.

  • 1 .4. A Desvalorizao Cambial de 1999

    A situao da economia brasileira no incio de 1999 encontrava

    srias dificuldades de implementao do ajuste fiscal e, conseqente-mente, de reduo das taxas de juros, alm de a retrao de financiamento de investimento externo se refletir em contnua perda de reservas.

    Essa perda de reservas, em especial, vinha mostrando uma evoluo bastante preocupante desde o final de 1998, uma vez que o Niildo de reservas internacionais havia se reduzido para nveis prximos II US$ 36 bilhes, e os primeiros dias do ms de janeiro de 1999 mostraram uma acelerao desse processo, acumulando uma perda de reservas de mais de US$ 40 bilhes.

    As expectativas quanto desvalorizao do Real no incio do ms de

    janeiro daquele ano mantiveram uma grande demanda por moeda estrangeira. Assim, para evitar perda ainda maior das reservas internacionais, o Banco Central alterou os limites de flutuao da taxa de cmbio e aperfeioou a sistemtica de bandas cambiais em 13/01/1999.

    Desse modo, os limites tanto inferior quanto superior foram fixados em R$ 1,20 e R$ 1,32 por dlar norte-americano. A nova sistemtica determinava a atualizao dos limites a cada trs dias, pela cotao mdia da

    taxa de cmbio referencial de venda, com parmetros fixos. Assim, buscava-se adequar ritmo de desvalorizao do Real s expectativas dos agentes atuantes no mercado de cmbio.

    Entretanto, a taxa de cmbio depreciou-se rapidamente, aproximando-se do teto, e a perda de reservas atingiu US$ 3,2 bilhes em 14/01/1999. A possibilidade de perdas ainda maiores levou o Banco Central a abster-se de intervenes, deixando a definio do novo patamar por conta do mercado. A adoo do regime cambial de livre flutuao foi formalmente anunciada em 18/01/1999, que previa tambm a ocorrncia de intervenes eventuais e limitadas no mercado, para evitar oscilaes amplas das taxas de cmbio em um curto espao de tempo.

    Com a nova poltica cambial estabelecida pelas autoridades monetrias, o Fundo Monetrio Internacional optou por efetuar uma reviso do acordo firmado em novembro de 1998, adequando-o ao regime de cmbio de taxas flutuantes, estabelecendo novas metas e critrios de avaliao de desempenho. 1.5. O Desempenho do Setor Externo aps a Desvalorizao

    Em 1999, a crise financeira e econmica que atingiu diversos pases

    com os quais o Brasil possua significativa participao comercial afetou diretamente as exportaes, principalmente em funo da queda da demanda mundial e dos preos internacionais de determinados produtos de grande relevncia na pauta de exportao. Sendo assim, a depreciao da taxa de cmbio observada no possibilitou que esses efeitos adversos fossem neutralizados.

    Como exemplo, pode-se citar o impacto da reduo dos preos dos produtos bsicos agrcolas. Esse impacto pode ser observado ao efetuarmos uma avaliao entre o valor efetivamente exportado e o valor calculado aos preos mdios vigentes em 1998, ou seja, a diferena atingiu cerca de US$3,0 bilhes em 1999, com queda de 17,2% no preo mdio e elevao de 12,2% na quantidade exportada. Na prtica, significa dizer que embarcamos para o exterior uma quantidade maior de mercadorias c recebemos por ela uma quantidade menor de divisas, afetando sobremaneira o saldo da balana comercial.

    Por outro lado, aps o impacto causado pela depreciao da taxa de cmbio, a economia brasileira mostrou sinais de estabilizao dos preos e de

  • recuperao, uma vez que, nos anos de 1999 e 2000, o PIB aumentou 0,79% e 4,4%, respectivamente.

    Tal recuperao deveu-se inicialmente em funo da depreciao. Ao da taxa de cmbio e, em seguida, pela expanso nas vendas de bens durveis e de capital, tendo em vista a melhora nas condies de financiamento, sinalizando uma retomada de investimentos.

    Em 2000, o crescimento da economia permitiu a criao signi-ficativa de novos postos de trabalho, verificando-se que o nvel de emprego voltou a crescer tambm no setor industrial, consolidando uma trajetria de crescimento, ainda que moderada, mas sem comprometer a estabilidade, uma vez que o controle da inflao nesse perodo em nenhum momento foi ameaado.

    No terceiro trimestre de 2001, a balana comercial brasileira j apresentava sinais de recuperao, atingindo, ao final daquele exerccio, um supervit na ordem de US$ 2,7 bilhes. Esse resultado foi determinado pela contratao de exportaes na ordem de US$ 58,2 bilhes e de US$ 55,5 bilhes de importaes, significando uma tendncia de supervit para os anos seguintes.

    Essa tendncia pode ser confirmada caso se observe o resultado acumulado das exportaes e importaes em 2002, quando a balana comercial apresentou um supervit na ordem de US$ 13,0 bilhes.

    Dessa maneira, observa-se que o Brasil, apesar de todas as crises ocorridas no mercado internacional desde o incio do Plano Real, foi capaz de realizar mudanas relevantes na estrutura de produo objetivando a obteno de maiores nveis de eficincia operacional, produtividade e competitividade para fazer frente aos concorrentes externos.

    Embora o pas tenha registrado expanso e encerrado o ano de 2000 com a consecuo da meta de inflao fixada pelas autoridades monetrias, o resultado da balana comercial foi extremamente desfavorvel, uma vez que o Brasil encerrou o ano com um dficit de US$ 0,7 bilhes,

    Outrossim, cabe ressaltar que o dficit comercial antes mencionado foi fortemente influenciado pelo crescimento das importaes graas s mudanas ocasionadas pelo processo de abertura comercial, uma vez que o crescimento da economia implicou tambm aumento das importaes, pois, cada vez mais, as empresas necessitavam de insumos e componentes industriais para fazer frente demanda de mercado interno e externo. Ressalta-se, tambm, que, por razes tcnicas, o potencial de substituio de fontes internacionais por produtos domsticos foi limitado.

    No terceiro trimestre de 2001, a balana comercial brasileira j apresentava sinais de recuperao, atingindo, ao final daquele exerccio, um superavit na ordem de US$ 2,7 bilhes. Esse resultado foi determinado pela contratao de exportaes na ordem de US$ 58,2 bilhes e de US$ 55,5 bilhes de importaes, significando uma tendncia de superavit para os anos seguintes.

    Essa tendncia pode ser confirmada caso se observe o resultado acumulado das exportaes e importaes em 2002, quando a balana comercial apresentou um superavit na ordem de US$ 13,0 bilhes.

    Dessa maneira, observa-se que o Brasil, apesar de todas as crises ocorridas no mercado internacional desde o incio do Plano Real, foi capaz de realizar mudanas relevantes na estrutura de produo objeti-vando a obteno de maiores nveis de eficincia operacional, produtividade e competitividade para fazer frente aos concorrentes externos.

    Fonte:

    VIEIRA, Aquiles. Teoria e Prtica Cambial. So Paulo: Aduaneiras, 2005, pg. 19 a 28.