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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS A INFLUÊNCIA DO MERCOSUL NO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO DO BRASIL TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Julia Betina Raupp Santa Maria, RS, Brasil 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A INFLUÊNCIA DO MERCOSUL NO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO DO

BRASIL

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Julia Betina Raupp

Santa Maria, RS, Brasil 2014

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A INFLUÊNCIA DO MERCOSUL NO DESENVOLVIMENTO

SOCIOECONÔMICO DO BRASIL

Julia Betina Raupp

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS)

como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientadora: Profa. Danielle Jacon Ayres Pinto

Santa Maria, RS, Brasil 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A Comissão Organizadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso

A INFLUÊNCIA DO MERCOSUL NO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO DO BRASIL

elaborado por Julia Betina Raupp

como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais

COMISSÃO EXAMINADORA:

Danielle Jacon Ayres Pinto, Me. (UFSM) (Presidente/Orientadora)

Diego Trindade D’Avila Magalhães, Me. (UFSM)

Fernando Ludwig, Me. (Universidade de Coimbra)

Santa Maria, 03 de dezembro de 2014.

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AGRADECIMENTOS

Meu primeiro agradecimento não poderia deixar de ser aos meus pais,

Arsenio e Lucia, sem os quais eu jamais teria chegado até aqui. Vocês são meu

porto seguro e quem sempre me deu suporte, que se dedicaram e se doaram em

minha educação, e aos quais as palavras não são suficientes para demonstrar toda

minha gratidão. Também à minha irmã, Paula, que sempre se fez presente nessa

jornada, divertindo meus dias e me dando estímulo para ser exemplo. Família, essa

conquista é nossa, muito obrigada!

Cristhofer, o teu companheirismo, a tua amizade e teu apoio na busca dos

meus objetivos me fazem ver o homem incrível que tu és. Este trabalho não seria o

mesmo sem você, aliás, eu não seria a mesma sem você. Obrigada!

Aos amigos, sem vocês tudo teria sido mais custoso e menos divertido.

Aprendi na universidade que quando você sai de casa é você quem escolhe sua

nova família, e eu fui muito feliz na minha escolha. Meu muito obrigado aos amigos

de Santa Cruz, que de longe ou perto sempre estiveram comigo, e aos amigos de

Santa Maria, em especial ao Rogério, Letícia e Verônica, que me mostraram que a

vida é cheia de surpresas maravilhosas.

Por fim, meus agradecimentos aos professores e colegas de Relações

Internacionais da UFSM que me ajudaram na minha formação acadêmica. Em

especial à professora Danielle Jacon Ayres Pinto, que aceitou me orientar neste

trabalho.

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RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Relações Internacionais

Universidade Federal de Santa Maria

A INFLUÊNCIA DO MERCOSUL NO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO DO BRASIL

AUTORA: JULIA BETINA RAUPP

ORIENTADORA: DANIELLE JACON AYRES PINTO Data e Local da Defesa: Santa Maria, 03 de dezembro de 2014.

No quarto final do século XX os países da América Latina tinham

características agroexportadoras e de atraso tecnológico similares. Com o esgotamento do sistema de substituição de importações e o fim do protecionismo, somado a um período de redemocratização, principalmente da América do Sul, vê-se na integração uma nova possibilidade de buscar desenvolvimento e cria-se por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, em 1991, o Mercosul. Para analisar esse processo, a teoria dos regimes internacionais considera que os regimes podem existir segundo três visões: a conservadora; a Grociana; e a estruturalista. Toma-se por base esta última que aceita que eles só têm validade restrita devido a interesses específicos dos Estados, uma vez que os países da América do Sul se juntaram sob um regime internacional devido a um interesse mútuo dos países que criaram o bloco: o desenvolvimento. Considerando desenvolvimento não apenas como crescimento econômico, mas como mudança nas estruturas do Estado, onde se possibilitaria dar aos indivíduos a garantia de exercer seus direitos civis, cívicos e políticos e haveria melhora da produtividade e aumento na renda média da população, percebe-se que o Mercosul teve efeito positivo na promoção de desenvolvimento para o Brasil. Ele proporcionou aumento do comércio internacional, gerando aumento na renda média da população, e foi também efetivo no aumento de poder de barganha do Estado, na consolidação das democracias e na prática de políticas sociais para diminuir a desigualdade. Palavras-chave: Mercosul; Desenvolvimento Socioeconômico; Brasil.

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ABSTRACT

Senior Thesis International Relations Major

Universidade Federal de Santa Maria

THE INFLUENCE OF MERCOSUR IN THE SOCIOECONOMIC DEVELOPMENT OF BRAZIL

AUTHOR: JULIA BETINA RAUPP

ADVISER: DANIELLE JACON AYRES PINTO Defense Date and Place: Santa Maria, December 3rd, 2014.

In the final quarter of the 20th Century the countries of Latin America had similar agro-export and technological delay characteristics. With the exhaustion of the import substitution system and the end of the protectionism, added to a period of democratization of the countries, mainly the countries of South America, it’s seen in the integration a new possibility to seek development and it’s created by Brazil, Argentina, Paraguay and Uruguay, in 1991, the Mercosur. To analyze this process, the theory of international regimes considers that regimes may exist according to three visions: the conservative; the Grotian; and the structuralist. It’s taken by base this last vision that accepts that they only have restricted validity due to specific interests of the States, once the countries of South America gathered under an international regime due to a mutual interest of the countries that created the bloc: the development. Considering development not only as economic growth, but as a change in the structure of the State, where it would be possible give to the individuals the guarantee of exercising their civil, civic and political rights and there would be improvement in the productivity and increase in the average incomes of the population, it’s noticed that Mercosur had a positive effect in the promotion of the development in Brazil. It provided an increase in the international trade, generating increase in the average incomes of the population, and was also effective in the increase of the bargaining power of the State, in the consolidation of the democracies and in the practice of social policies to decrease the inequality. Key-words: Mercosur; Socioeconomic development; Brazil

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LISTA DE SIGLAS

AECL – Associação Europeia de Comércio Livre

AL – América Latina

ALADI – Associação Latino-Americana de Integração

ALALC – Associação Latino-Americana de Livre Comércio

ALCA – Área de Livre Comércio das Américas

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CAN – Comunidade Andina de Nações

CASA – Comunidade Sul-Americana das Nações

CCM – Comissão de Comércio do Mercosul

CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço

CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina

CMC – Conselho do Mercado Comum

CPC – Comissão Parlamentar Conjunta

EUA – Estados Unidos da América

FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia

FCES – Foro Consultivo Econômico-Social

FEM – Fundo de Financiamento do Setor Educacional do Mercosul

FHC – Fernando Henrique Cardoso

FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

FMI – Fundo Monetário Internacional

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FOCEM – Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul

GMC – Grupo Mercado Comum

IIRSA – Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana

JK – Juscelino Kubitschek

Mercosul – Mercado Comum do Sul

NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte

OEA – Organização dos Estados Americanos

OMC – Organização do Comércio Mundial

ONU – Organização das Nações Unidas

OPA – Operação Pan-Americana

PEI – Política Externa Independente

PIB – Produto Interno Bruto

SAM – Secretaria Administrativa do Mercosul

TEC – Tarifa Externa Comum

UE – União Europeia

Unasul – União das Nações Sul-Americanas

UNILA – Universidade Federal da Integração Latino-Americana

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................ 9

1 KRASNER E A PROPOSTA TEÓRICA DE REGIMES

INTERNACIONAIS .......................................................................... 12

1.1 Teoria dos regimes internacionais ......................................................... 12

1.2 Relações internacionais e as premissas do desenvolvimento ............ 16

1.3 Importância de blocos econômicos regionais ....................................... 22

1.3.1 Fases de integração ...................................................................... 22

1.3.2 Blocos econômicos - União Europeia e Mercosul .......................... 26

2 POLÍTICA EXTERNA DA AMÉRICA LATINA ................................. 29

2.1 Cenários de política externa da América Latina até 1991 ..................... 29

2.2 Construção e implementação do bloco econômico Mercosul ............. 40

3 RESULTADOS DA POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL EM

RELAÇÃO AO MERCOSUL ............................................................ 52

3.1 Brasil e seu agente de política externa: A percepção da América

Latina e do Mercosul ................................................................................ 52

3.2 Resultados do Mercosul no desenvolvimento socioeconômico

brasileiro ................................................................................................... 70

CONCLUSÃO ....................................................................................... 78

REFERÊNCIAS ..................................................................................... 82

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INTRODUÇÃO

A iniciativa de desenvolvimento mais comumente usada pelos Estados é a

proteção do mercado interno contra produtos importados para que, com as

dificuldades encontradas, os produtos importados não venham a concorrer com os

produtos internos. É o que se chama de método de substituição de importações, e

foi o método adotado pelos países desenvolvidos com exceção da Inglaterra que foi

pioneira na revolução industrial, quando de seus desenvolvimentos, e foi a estratégia

seguida pela América Latina quando esses países passaram se desenvolver.

O Brasil, como um exportador de commodities, até a década de 80 seguiu

esta alternativa convencional de desenvolvimento, se utilizou de proteções tarifárias

e outras barreiras, ou seja, optou por um mercado fechado que ia contra a ideia de

liberalização do comércio, integração e regimes internacionais. Acabou por tornar-se

um dos países mais abertos ao investimento estrangeiro se considerado o

percentual do produto interno bruto nacional, porém mesmo que inicialmente

considerada uma iniciativa temporária, o modo de substituição de importações

acabou sendo levado até seu esgotamento total, período este em que se liberaram

os fluxos de intercâmbios e reduziu-se a proteção.

Nesse período, uma vez que toda a América Latina se via endividada e os

países haviam recém se redemocratizado, diminuíram-se as barreiras e deu-se

início, na América do Sul, a um processo de cooperação e integração econômica

entre os países em desenvolvimento. Neste momento que começaram a se formar

blocos econômicos baseados em uma nova teoria de comércio e desenvolvimento

por meio das exportações, e Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai viram no Mercado

Comum do Sul (Mercosul), uma alternativa de desenvolvimento de suas economias

e seus países.

O Mercosul foi criado no ano de 1991, sendo que foi orientado principalmente

pelos acordos comerciais entre Brasil e Argentina com o objetivo de estabelecimento

de um espaço econômico comum que possibilitasse uma expansão de mercado, que

seria possível devido a eliminação de tarifas comerciais e de serviços, assim como a

convergência entre políticas macroeconômicas. Já no tratado de criação do bloco, o

Tratado de Assunção, os quatro presidentes – Carlos Menem, da Argentina;

Fernando Collor, do Brasil; Andrés Rodriguez, do Paraguai; e Luis Alberto Lacalle,

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do Uruguai - partiram da ideia comum de que o aprofundamento do processo de

integração poderia ser um instrumento muito forte para o desenvolvimento e uma

inserção mais competitiva de seus países num mundo em que se consolidavam

grandes potências, uma vez que os países tinham características e um histórico de

atraso tecnológico muito similares.

Este trabalho tem por tema o Mercosul como expoente de desenvolvimento

do Brasil. Abordar-se-á as medidas de política externa do Brasil em favor de se

adotar um regime internacional e fazer parte do bloco econômico, e os resultados do

bloco no desenvolvimento brasileiro. O problema condutor da pesquisa é saber

quais foram os resultados do Mercosul para o desenvolvimento socioeconômico do

Brasil, uma vez que com a criação do bloco em 1991, pretendeu-se estabelecer um

espaço econômico comum. Espaço este que intensificasse o comércio e servisse de

instrumento forte para uma inserção mais competitiva destes Estados em um mundo

em que se consolidam grandes espaços econômicos e onde o avanço tecnológico-

industrial se torna cada vez mais crucial para as economias nacionais – fatos estes

que criariam desenvolvimento.

Sendo assim, uma vez que, desde sua criação o Mercosul passou a ser uma

constante na política externa brasileira e dos países que dele fizeram parte, torna-se

importante analisar o cenário em que se encontravam esses países – principalmente

o Brasil - antes do Mercosul. Analisar as modificações que ocorreram na região

entre 1991 e 2011 em decorrência da existência do bloco, e os resultados deste

para o desenvolvimento socioeconômico dos países, dando-se ênfase neste

trabalho para a política externa e de desenvolvimento do Brasil.

Desta forma, o primeiro capítulo do trabalho tratará dos conceitos de regime

internacional, de desenvolvimento sob uma ótica internacional e do conceito de

bloco econômico, para que se possa entender o que será considerado como positivo

e negativo nos resultados de uma política externa em favor destes. O segundo

capítulo discorrerá sobre a política externa da América Latina em geral, desde seu

princípio até o ano de criação do bloco, dando-se ênfase à América do Sul uma vez

que desta área que nasceria o Mercosul. Isto é feito para que se possa fazer um

comparativo da situação da região antes do bloco e da situação em 2011, para que

se possa perceber os resultados do bloco agregados a ela. Discorrer-se-á ainda

sobre a construção e implementação do bloco, de seu início até a data abrangida

neste trabalho – 2011. Por fim, o último capítulo pretende demonstrar os esforços

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específicos do Brasil para colaborar com a integração, já que ainda neste capítulo se

avaliarão os resultados do bloco especificamente no desenvolvimento do Brasil.

Utiliza-se do método descritivo analítico com base em bibliografias existentes

– principalmente livros, documentos e artigos científicos - que tratam sobre a

América Latina no período de 1991 a 2011, sobre a política externa brasileira nesse

período e de desenvolvimento do Brasil, assim como sobre o bloco econômico

Mercosul. Tem-se por objetivos: (a) entender o conceito de desenvolvimento

socioeconômico em uma perspectiva internacional, assim como a importância de

regimes e blocos econômicos para a construção de tal desenvolvimento em um país;

(b) analisar o cenário de política externa da América Latina – Principalmente

América do Sul – antes da criação do Mercosul; e (c) analisar a percepção

diplomática e de política externa brasileira para com o Mercosul e os resultados

destas políticas e do bloco para o desenvolvimento do Brasil.

A escolha do tópico se deu pela importância das relações do Mercosul com o

Brasil atualmente e em virtude do interesse da pesquisadora neste tema. Devido à

quantidade de assuntos que podem ser abordados, não há pretensão de levar o

tema à exaustão, mas registrar esta perspectiva de análise visando futuros

aprimoramentos.

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1 KRASNER E A PROPOSTA TEÓRICA DE REGIMES

INTERNACIONAIS

1.1 Teoria dos regimes internacionais

Os regimes internacionais são comportamentos, ações ou atuações que

países adotam no sistema internacional, determinados por expectativas

convergentes de atores das relações internacionais sobre determinado tema.

Segundo Krasner (2012, p. 93):

Os regimes internacionais são definidos como princípios, normas, regras e procedimentos de tomada de decisões de determinada área das relações internacionais em torno dos quais convergem as expectativas dos atores. Como um ponto de partida, os regimes têm sido conceituados como variáveis intervenientes entre os fatores causais básicos, de um lado, e resultados e comportamentos, de outro.

Desta forma, regimes são mais que arranjos temporários que mudam de

acordo com os interesses dos atores, por isso não correspondem a situações em

que se coopera para atender interesses egoístas no curto prazo. São crenças

baseadas em fatos, causas e questões morais, que se norteiam em normas que

definem padrões de comportamentos regidos por direitos e obrigações. Por fim as

regras também fazem parte dos regimes sendo tratadas como prescrições ou

proscrições especificas.

Considerando-se os regimes, há de se fazer distinção entre princípios e

normas e as regras e procedimentos, uma vez que os dois primeiros são definidores

de um regime e os demais são apenas medidas condizentes a estes. Neste sentido,

quando regras e procedimentos são modificados, há apenas mudanças internas,

modificações nas regras dentro do regime, sem que haja mudança nele próprio. Já

mudanças no próprio regime ocorrem quando as normas e princípios deste são

abandonados, trocados por um novo regime ou o atual desaparece das relações

internacionais. Neste caso ocorre mudança entre regimes, sendo o enfraquecimento

deste causado por uma incoerência entre os componentes ou discordância entre o

regime e o comportamento correspondente dos membros (KRASNER, 2012).

A partir desta análise geral, têm-se diferentes visões sobre a importância dos

regimes. Na primeira encontram-se os convencionais que consideram os regimes

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como ineficazes, caso sejam consideráveis. A segunda orientação vê os regimes

significativos em somente algumas condições restritas - estes seriam os

estruturalistas. Já as orientações Grocianas consideram os regimes como parte

componente do sistema internacional, sendo que neles os procedimentos de tomada

de decisões são sempre dados em prol da decisão coletiva, pois incorporariam uma

função de utilidade a ser maximizada como obrigação geral. “Um atributo inerente a

qualquer padrão de comportamento humano complexo e persistente”, segundo

Krasner (2012, p. 97).

Perante a visão estrutural convencional o conceito de regime seria prejudicial

por tirar o foco das relações entre poder e interesses, que seriam a base do sistema

internacional e as causas fundamentais do comportamento dos estados – Estados

soberanos tentando maximizar seus poderes. Os regimes, portanto, se pudessem

ser ditos como existentes, somente refletiriam tal combinação, tendo pequeno ou

nenhum impacto, não poderiam ser considerados por se alterarem junto a variáveis

causais. Para os estruturalistas convencionais os regimes não têm impacto sobre os

comportamentos, e sim são baseados neles.

Já na visão estrutural modificada por mais que os países quisessem

maximizar poder, os regimes surgiriam de acordos voluntários entre atores

juridicamente iguais, portanto, seria uma forma de coordenar o comportamento

destes para que todos pudessem ter êxito nas áreas particulares de interesse

definidas pelo regime, porém desta forma, este só teria impacto significativo em

condições restritas, e não como verdade perpétua no sistema internacional. É neste

conceito de regime que o Mercosul se encaixa.

A terceira abordagem sobre os regimes se opõe às teorias estruturais

apresentadas e é fortemente informada pela tradição Grociana. Perante isso, os

regimes seriam fenômenos plenamente disseminados nos sistemas políticos,

existindo em todas as áreas temáticas, não apenas mantendo o equilíbrio de poder

entre países, pois não só os Estados seriam atores das relações internacionais, mas

também as elites assim o seriam. Para eles os regimes são um fenômeno

disseminado no sistema internacional são, segundo Krasner (2012, p. 100), “uma

parte fundamental de toda interação humana padronizada, incluindo os

comportamentos no sistema internacional”.

Pode-se considerar ao Mercosul o conceito de regime da teoria estrutural

modificada pois este surgiu do interesse voluntário dos países que viram na

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instituição do bloco vantagens – no momento de sua criação vantagens

principalmente econômicas - para coordenar políticas macroeconômicas e normas

conjuntas, mesmo assumindo que isto traria limitações aos países do bloco quanto

às ações individuais. Desta forma, o interesse compartilhado de aumentar o

comércio internacional e exercer maior representatividade internacionalmente foi o

motivo de criação do bloco, mas este regime não pode ser considerado no sentido

de regime Grociano completo, pois as normas do bloco não têm um caráter

supranacional que valha para todos os assuntos da nação, mas sim são feitas para

temas específicos e restritos, dando margem para que o país pertencente do regime

possa buscar seus interesses individualmente quando não infringindo as regras do

bloco (regime), além de que as normas que cabem ao regime não são impostas para

todo o sistema internacional.

Existem diferentes explicações para o desenvolvimento de regimes. Estes

podem ser dar em decorrência de variáveis como o auto interesse egoísta, o poder

político, as normas e os princípios, os usos e costumes e o conhecimento. Seguindo

a lógica de desenvolvimento de regimes com explicação no auto interesse egoísta,

Krasner (2012) considera que todas as formações que autores consideram como

regimes são apenas organizadas de tal forma porque um ator se preocupa com o

comportamento dos demais por estes afetarem seus próprios interesses. Segundo

esta ideia, isto pode bem ser representado com a falta de resultados que beneficiem

mais de um ator dentro de um regime, ou como cita Krasner (2012, p.101) “acordos

ad hoc falham em prover resultados Pareto-ótimos”.

Desta forma, mesmo que os atores de um regime não sejam beneficiados

igualmente, este pode ser proveitoso caso sejam estabelecidas responsabilidades

legais que mesmo que não de forma perfeita, equiparem os benefícios, pois será

vantajosa a construção de um regime, pois segundo Keohane (1982, p. 338,

tradução nossa):

regimes podem gerar acordos mais facilmente se eles fornecerem estruturas para estabelecer uma responsabilidade legal (mesmo que eles não sejam perfeitos); melhorarem a quantidade e a qualidade das informações disponíveis para os atores; ou reduzirem outros custos de

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transação, como os custos de organização ou o custo de fazer compensações paralelas.

1

São também vantajosos se a realidade sem eles oferecer riscos morais,

assimetrias de informação, complexidade nos temas, entre outros.

Assim, os custos tendem a ser mais baixos quando há boa comunicação

entre os envolvidos, característica mais encontrada em sistemas políticos abertos de

interdependência complexa. Ainda neste sentido, segundo Young (1982) citado por

Krasner (2012), existem três caminhos para a formação de regimes, sendo eles o

caminho espontâneo, que os atores dos regimes têm expectativas convergentes em

seus interesses, o negociado, que é firmado por acordos e o caminho imposto, em

que os regimes são impostos por forças externas.

Conforme Krasner (2012), a formação de regimes também pode se dar sob a

ótica do poder político, onde este pode ser utilizado para maximizar os ganhos de

todo um sistema, em prol de um bem comum, ou então para fortalecer os valores

dentro de um sistema, sendo estes regimes criados para a promoção de objetivos

em geral ou econômicos do grupo, mas vistos sob uma ótica individual,

maximizando os ganhos e servindo aos interesses próprios. Sob a ótica de formação

das normas e princípios, pode-se dizer que estes não somente definem um regime,

mas que o influenciam mesmo quando são de outras áreas, portanto podem ser

considerados motivadores da criação, permanência e dissipação deste, pois

condicionam comportamentos dentro de áreas específicas.

Em relação aos usos e costumes, assim como ao conhecimento, Krasner

(2012) não os considera capazes de gerar regimes por si mesmos, mas eles são

reforços ao início de regimes por auto interesse e poder político. Comportamentos

com base em práticas efetivas dão característica ao uso, assim como o uso destas

ao longo tempo conceitua o costume. Ambos por influenciarem decisões e

comportamentos são considerados como variáveis desenvolvimentistas dos regimes.

Por fim, o conhecimento, que segundo Haas (1980a p. 367-368), citado por Krasner

(2012), seria “informação técnica somada as suas teorias com o objetivo de servir

como guia para políticas públicas alcançarem alguma meta social” também seria

considerado um caminho para os regimes por a geração de novo conhecimento ter

1 Texto original: Regimes can make agreement easier if they provide frameworks for establishing legal

liability (even if these are not perfect); improve the quantity and quality of information available to actors; or reduce other transactions costs such as costs of organization or of making side-payments.

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consequências nos comportamentos, podendo causar mudanças em procedimentos

e regras de um regime, uma chamada mudança evolucionária.

Sendo assim, as variáveis que para Krasner (2012) mais desenvolvem novos

regimes são o auto interesse egoísta, baseado principalmente nos ganhos

econômicos, e o poder político. Não se pode ignorar o papel das normas e

princípios, dos usos e costumes e do conhecimento, pois se pode perceber que uma

alteração nestes condiciona comportamentos e traz mudanças nos regimes, mas

eles não são consideráveis variáveis exógenas como as primeiras. Sendo assim, as

causas do desenvolvimento de um regime podem se manifestar tanto no

comportamento dos indivíduos, como em burocracias específicas e organizações

internacionais.

Diferentemente da tradição Grociana, para os estruturalistas os regimes se

desenvolvem em condições restritas de falha na tomadas egoístas dos Estados,

considerados como únicos atores, que assim o teriam criado durante a busca do

poder e do interesse. As análises das variáveis causais básicas (Grocianos)

encontram então um ponto em comum com o paradigma realista estrutural quando

considerados os interesses e o poder do Estado. Os estruturalistas então só passam

a considerar os regimes mais seriamente quando estes não só têm influência em

comportamentos e resultados correlatos, mas sim quando passam a ter influência

em seus causadores básicos, que para eles só são considerados o auto interesse e

o poder político (KRASNER, 2012).

1.2 Relações internacionais e as premissas do desenvolvimento

Conforme Souza (2012) não há uma definição universalmente aceita de

desenvolvimento. Para ele, podem-se dividir os teóricos em quatro linhas básicas. A

primeira linha de teóricos considera crescimento econômico como desenvolvimento.

Entre eles, encontram-se os neoclássicos, como Meade e Solow e os de orientação

Keynesiana, como Harrod, Domar e Kaldor. Segundo eles a acumulação de capital e

aumento do Produto Interno Bruto (PIB) seria a solução única e simplificadora da

realidade, onde o enriquecimento dos proprietários dos fatores de produção

resultaria automaticamente em uma melhora nas condições da população em geral.

Há comprovações que o aumento de renda não pode ser considerado como

aumento de qualidade de vida da população se considerado sozinho, pois a renda

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pode aumentar sem que se divida entre as diferentes classes sociais e diferentes

níveis de produção, pois, mesmo que a economia esteja crescendo a taxas altas,

pode-se estar havendo altas taxas de desemprego, desvio de excedente de renda

para outros países, dificuldade na implementação à agricultura e a empresas que

mais crescem.

De acordo com Souza (2012), uma segunda linha de teóricos, onde se

encontram economistas como Prebisch, Furtado, Singer e demais autores marxistas

e cepalinos, assim como os chamados teóricos do desenvolvimento, acredita que só

existe desenvolvimento quando “há mudanças de estruturas econômicas, sociais,

políticas e institucionais, com melhoria da produtividade e da renda média da

população” (SOUZA, 2012, p.6). Tais teóricos dão destaque às interdependências

entre os setores produtivos, a eliminação dos pontos de estrangulamento do

desenvolvimento, assim como o aperfeiçoamento das estruturas que mantinham o

Brasil em situação de dependência. Para eles, a transformação de um país

subdesenvolvido em desenvolvido é um processo longo e difícil justamente por

depender da conduta dos agentes econômicos, e em um país subdesenvolvido

estes agentes se tratarem em geral de uma economia tradicional de subsistência

muito diferente da economia capitalista.

Neste sentido, por Souza (2012), haveria desenvolvimento quando houvesse

melhoria nos indicadores econômicos, mas também nas estruturas, nos indicadores

sociais e ambientais. Implicaria em fortalecimento da economia nacional, ampliação

do mercado, aumento da produtividade e do nível de bem-estar da sociedade,

somado a preservação ambiental. A economia se tornaria diversificada e

estabilizada, com formação de capital e criação de tecnológico na própria economia,

e mesmo com crescimento das exportações e do comércio exterior haveria

prevalência do mercado interno, embora aceitassem que a integração internacional

fosse um processo gradativo e irreversível.

Um terceiro grupo de teóricos dá destaque à questão do meio-ambiente,

retratando que tão importante quando a melhoria dos índices econômicos e sociais

estaria a questão de preservação do meio ambiente, uma vez que uma economia só

se manteria em progresso se continuasse tendo recursos produtivos, portanto,

recursos produtivos escassos não poderiam ser usados de maneira indiscriminada,

pois caso assim os fossem, haveria crescimento econômico a curto prazo porém

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com a exaustão, por exemplo, de reservas minerais ou com o desmatamento, o

desenvolvimento não seria sustentável e não se manteria.

Por fim, de acordo com Souza (2012), um quarto grupo trataria do

desenvolvimento em níveis de pobreza e miséria, portanto tais teóricos teriam como

indicadores os habitantes abaixo da linha de pobreza, sem condições de

atendimento a suas necessidades básicas e considerariam desenvolvimento como

redução da pobreza.

Segundo Cervo (2008), as correntes de Relações internacionais do

pensamento brasileiro se vinculam com as teorias latino-americanas de

desenvolvimento, portanto, seguindo a linha de pensamento do segundo grupo de

teóricos que conceituam o assunto em Souza (2012), ou seja, um desenvolvimento

como mudança na estrutura. Dessa forma, examina-se a evolução deste no Brasil

em seis fases: “A versão da Comissão Econômica para a América Latina da ONU

(CEPAL) e a teoria do desenvolvimento, a teoria da dependência e o pensamento

independentista, o neoliberalismo e a concepção cética da globalização” (CERVO,

2008, p.13).

Partindo da versão Cepalina, tem-se uma rivalidade mostrada pela divisão

entre centro e periferias. Para teóricos como Raul Prebisch, Celso Furtado e outros,

a teoria clássica de David Ricardo2 só faz com que países ricos continuem a

acumular riqueza por exportar manufaturados e importar matérias primas, assim

consequentemente, países pobres exportariam commodities e importariam todo e

qualquer produto tecnológico mantendo-se pobres. A ideia de desenvolvimento para

estes relaciona-se à política de superação da desigualdade entre os países.

Somente com a promoção da industrialização pelo Estado e adequação da política

exterior e diplomática criando um novo modo de inserção internacional haveria

desenvolvimento. A diferença entre as nações só seria superada quando não

houvesse mais países que obtivessem todo domínio tecnológico, sendo assim,

quando a tecnologia fosse difundida em todo o mundo de maneira igualitária. Neste

sentido, Celso Furtado esclarece que o subdesenvolvimento de alguns países existe

2 David Ricardo aprimorou a teoria de Adam Smith das vantagens absolutas criando a teoria das

vantagens comparativas, onde um país não precisaria ter vantagem absoluta em nenhum produto, mas em decorrência do custo de oportunidade produziria mais do produto que lhe fosse mais vantajoso e comercializaria este em troca de produtos que fossem vantajosos a outros países, fazendo com que o comércio internacional fosse positivo a todos. Para mais informações: COUTINHO, E. et al. De Smith a Porter: um ensaio sobre as teorias de comércio exterior. Revista de Gestão USP, São Paulo, v. 12, n. 4, p. 101-113, 2005.

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porque países já desenvolvidos teriam tido acesso ao progresso tecnológico antes

destes outros (CERVO, 2008).

Pela teoria da dependência de Teotônio dos Santos, Fernando Henrique

Cardoso e outros, o subdesenvolvimento é ligado à questão de dependência entre

os povos, e considera que as estruturas se encontram de tal forma devido a sua

evolução histórica. As sociedades agiriam sempre em prol dos interesses de

segmentos sociais dominantes, seja dentro dos Estados ou entre países centrais e

periféricos, e haveria uma alteração na cultura e consciência dos povos de países

subdesenvolvidos, assim como no poder político. Desta forma, a economia de um

país subdesenvolvido estaria sempre dependente da de outro, fazendo com que a

única solução para o subdesenvolvimento fosse a saída deste país do sistema

capitalista (CERVO, 2008).

Houve grande crítica à teoria da dependência, principalmente por ter sido

considerada como manipulação do conhecimento histórico, porém o pensamento

brasileiro aplicado às relações internacionais incorporou contribuições tanto desta

como da teoria cepalina, podendo ser destacadas, segundo Cervo (2008, p. 17):

a descoberta de formas polarizadas de distribuição de benefícios, a incapacidade de o livre comércio permitir a modernização da periferia, a existência de sistemas produtivos diferentes no centro e na periferia, a assimetria na inovação tecnológica, os ritmos descompassados de desenvolvimento dos países, o ordenamento espontâneo do mercado mundial segundo regras de benefícios unilaterais.

Por iniciativa de San Tiago Dantas, durante um período em que já havia maior

industrialização pelo chamado Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, passou-se a

ver as relações internacionais do país sob uma nova ótica, que foi chamada de

Política Externa Independente. Conforme Cervo (2008), o desenvolvimento e a

emancipação deveriam se dar no plano interno, não intervindo e sendo pacífico com

capitalistas e socialistas no plano externo, portanto, sem se alinhar diretamente a

nenhuma ideologia específica, o que acarretava naquele momento em uma

separação dos Estados Unidos. Neste momento da política brasileira houve disputa

de poder entre Americanistas e Interdependentistas. De um lado, os Americanistas

(associacionistas) desejavam a continuidade do alinhamento aos Estados Unidos,

com o intuito de gerar desenvolvimento por meio de capital e empreendimento

americano, por outro os interdependentistas desejavam um modelo de

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desenvolvimento menos tributário do capital e tecnologia de fora. A partir da

segunda metade do século XX houve prevalência da teoria interdependentista, tendo

esta vindo a ser substituída somente com a globalização. Com o objetivo de dosar

fatores internos e externos e diminuir a distância centro-periferia uma visão de

mundo mais cooperativo passaria então a vir à tona.

O neoliberalismo surgiu como alternativa a um Brasil Cepalino e cooperativo,

que se encontrava com ativa intervenção estatal e que se viu então isolado por ter

tido mudança de um modelo Keynesiano para um liberal, sob a égide do sistema

capitalista, com o país em problemas de dívida externa e havendo ainda a ascensão

de governos liberais ao seu redor. Tal teoria substituiu a visão centro-periferia por

uma de mundo unificado pelos fatores transnacionais do capitalismo. Abandona-se a

crítica da divisão do trabalho por ver benéfico então um mercado livre global. Em tal

teoria destacam-se então dois dirigentes de Estado, sendo um Fernando Henrique

Cardoso (antigo dependentista) e Celso Lafer (CERVO 2008).

Para essa teoria, o Estado deveria ser eliminado como condutor do

desenvolvimento e dever-se-ia deixar que o mercado o regulasse. Dever-se-ia ainda

abrir o mercado para fatores externos do capitalismo que causariam

desenvolvimento internamente, e por último, promover o conceito de indivíduos no

lugar do conceito de Estado.

De acordo com Cervo (2008), tais ambições, mescladas com certas

intolerâncias acabaram por causar um regionalismo aberto, uma atualização do

pensamento cepalino (neocepalinos), e um neoestruturalismo. Tal regionalismo

aberto além de demonstrar interesse de adaptação à era globalizada trouxe aos

neocepalinos a ideia de conciliar a interdependência criada pelos processos de

integração da América Latina com a interdependência do mercado global, pois esta

pode ser vista como uma “espécie de resseguro econômico diante de eventuais

ameaças trazidas pela globalização, isto é, pelo curso desenfreado do liberalismo

mundial, como crise financeira, comercial ou produtiva” (CERVO, 2008, p. 23). Ainda

neste sentindo, percebe-se que durante o período do governo Lula considera-se que

as estruturas do capitalismo liberal podem manter maiores ganhos para os mais

fortes, conforme a teoria Cepalina sempre traçou, porém, caso se estabeleça união

entre países emergentes, como em blocos econômicos, estes países têm maior

reciprocidade nas negociações com os países centrais e mais facilmente se terá

benefícios em tais relações.

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Desta forma, percebe-se conforme Sachs (2004) que o conceito de

desenvolvimento mais disseminado atualmente começou nos anos 40, no contexto

dos projetos de reconstrução dos países devastados pela Guerra na Europa.

Assimilou-se a situação deles com as dos chamados países periféricos, uma vez

que enfrentavam problemas com a estrutura fundiária, atraso na agricultura, má

condições no comércio de commodities, desemprego e industrialização rudimentar,

assim como os países periféricos. Havia ainda naquele momento a necessidade de

um Estado desenvolvimentista ativo para que se pudessem estabelecer regimes

democráticos que reconstruiriam a Europa e superariam o atraso social e

econômico. Naquele momento se priorizava o pleno emprego, portanto, o Estado de

Bem-estar Social e a necessidade de planejamento e da intervenção do Estado na

economia para corrigir a instabilidade social dos mercados. Era necessário achar um

equilíbrio entre modernização e industrialização, com promoção de pleno emprego

sem deixar de aumentar a produtividade do trabalho.

Neste sentido, para Dudley Seers citado por Sachs (2004), o crescimento

econômico sozinho, ainda que rápido, não traria desenvolvimento, a menos que

gerasse emprego e reduzisse a pobreza e a desigualdade. Kalecki e Seers

estiveram entre os primeiros economistas (nos anos 60) a tratar da necessidade de

se analisar os desenvolvimentos econômicos não só por renda (crescimento do

PIB), mas também em termos do emprego. Desta mesma forma Sen (1999) define o

desenvolvimento por universalização e exercício efetivo de todos os direitos

humanos: políticos, civis e cívicos; econômicos, sociais e culturais. Trata

desenvolvimento como o alcance das liberdades do indivíduo, assim como direitos

coletivos ao desenvolvimento e ao ambiente e trata o direito do trabalho como o

mais importante devido ao seu duplo valor (intrínseco e instrumental já que o

trabalho abre caminho a novos direitos).

Houve ainda, no ultimo meio século, uma complexificação da ideia de

desenvolvimento, principalmente pela adição de adjetivos (econômico, social,

político, cultural, sustentável) assim como devido às novas problemáticas, mas

nunca sem dar foco ao desemprego e desigualdade crescente. A partir destas ideias

se criou o conceito de desenvolvimento includente, que nada mais é do que a

garantia do exercício dos direitos civis, cívicos e políticos do indivíduo. (SACHS,

2004). Neste sentido, a democracia é um valor fundamental uma vez que ela

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garante a transparência e as responsabilizações necessárias para o funcionamento

do projeto de desenvolvimento (SEN, 1999).

De acordo com Sachs (2004), a população deve ter as mesmas

oportunidades a serviços públicos, tais como educação, saúde e moradia e isto

exige financiamento público, por redistribuição do PIB, independente se

administrada pelo setor público ou privado. Alguns teóricos acreditam que estes

serviços devam ficar a cargo do Estado, devido ao valor de bem-estar social de

responsabilidade do Estado, assim como teóricos do paradigma neoliberal acreditam

que se devem dar soluções de mercado a estes serviços, alegando que em muitos

casos o setor público não os realiza com eficácia.

Por fim, em uma realidade de um mundo cada vez mais globalizado na

questão de difusão de informações, uniformização de gostos e expectativa de

qualidade de vida, o desenvolvimento pode ser conceituado, segundo Rosenthal,

2010, p.7 como um “processo sistemático de redução das desigualdades, de

oportunidades e condições materiais de existência, que separam cada sociedade

daquelas prevalecentes nos países mais ricos e tidos, por isso, como

desenvolvidos”.

1.3 Importância de blocos econômicos regionais

Como retratado por Cervo (2008) no subcapítulo anterior, os países que por

lidarem com os mesmos fatores em dimensão regional, se organizam em algum

regime internacional para lhes trazer benefícios econômicos individuais, podem ser

considerados como participantes de um bloco econômico. Essa integração

caracteriza-se por um conjunto de medidas de caráter econômico que têm por

objetivo promover a aproximação e a união entre as economias de dois ou mais

países. O grau de profundidade dos vínculos que se criam entre as economias dos

países envolvidos em um processo de integração econômica permite que se

determinem as fases ou etapas do seu desenvolvimento.

1.3.1 Fases de integração

A primeira fase de um processo de integração é a zona de livre comércio. Por

esta entendem-se determinados locais ou Estados (territórios aduaneiros) entre os

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quais se eliminam os direitos de aduana e as demais regulamentações comerciais

restritivas, em relação a intercâmbios comerciais dos produtos originários dos

territórios constitutivos de dita zona de livre comércio (BADR, 2010). Faz se por meio

de tratados internacionais entre Estados o estabelecimento das zonas de livre

comércio, visando a livre circulação de mercadorias, independentemente do

pagamento de tarifas de importação ou número de mercadorias, contudo é

assegurada aos Estados-Membros a liberdade para as relações comerciais com

terceiros países (BADR, 2010). Há de se ter atenção que em zonas de livre

comércio, existe a obrigatoriedade de regras de origem, onde fica comprovado que a

maior parte da mão de obra e das matérias primas venha efetivamente de um dos

países de livre comércio. (ALMEIDA, 2010). Para que se considere uma Zona de

Livre Comércio, segundo Rosa (1998) é necessário que se elimine as barreiras

econômicas que atingem pelo menos 80% dos produtos que passam pela aduana.

Nesta modalidade de integração, Almeida (2010) descreve que os Estados-

parte realizam consultas entre si para negociar esquemas amplos de desgravação

tarifária, tendentes à formação de zonas de livre comércio a demais países.

Exemplos disso aconteceram em 1996, quando o Mercosul realizou um acordo de

complementação econômica com o Chile e Bolívia, para confirmar uma zona de livre

comércio entre eles. Mais tarde, o Mercosul viria ainda a fazer acordo idêntico com o

Peru, assim como com o Equador, Venezuela e Colômbia, trazendo por fim

Suriname e Guiana com o acordo de criação da União das Nações Sul-Americanas

(UNASUL).

A maioria dos blocos econômicos existentes opta pelo modelo de zona de

livre comércio. São exemplos a Associação Europeia de Comércio Livre – AECL,

composta pela Islândia, Noruega e Suíça; O Grupo dos Três, formado pela

Colômbia, México e Venezuela; assim como o Acordo de Livre Comércio da América

do Norte (NAFTA), reunindo os Estados Unidos da América (EUA), o Canadá e o

México. O Mercosul como instituição já ultrapassou essa etapa, porém mantém uma

zona de livre comércio com a Bolívia e o Chile, em função de acordos de

complementação econômica, firmados em San Luis, na Argentina (BADR, 2010).

A segunda etapa de integração seria a união aduaneira, que se compreende

por todo território que aplique uma tarifa diferenciada ou outras regulamentações

comerciais diferenciadas a uma parte de seu comércio com os demais territórios.

Deve-se perceber que a União Aduaneira traz junto a ela uma cessão de soberania

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Estatal muito maior do que a Zona de Livre comércio. Na configuração de união

aduaneira, é exigida, além das características de zona livre de comércio, também a

adoção de uma tarifa aduaneira comum, aplicando-se uma mesma tarifa para os

produtos importados provenientes de países não pertencentes ao grupo,

abandonando-se desta forma, o regime das regras de origem, passando a exigir de

certificados de origem (BADR, 2010).

Segundo Rosa (1998) a primeira vez que se ouviu falar em união aduaneira

foi no século XIX com o Zollverein (que em alemão significa União Aduaneira), que

culminou na união do Reino da Prússia a outros Estados alemães menores por Otto

von Bismarck, antes da unificação de 1871. No que se refere à Comunidade

Econômica Europeia, esta foi instituída através da celebração do Tratado de Roma

em 1957, e foi uma União Aduaneira até 1992, quando então passou para um

estágio mais avançado de integração. No tocante ao Mercosul, foi no Protocolo de

Ouro preto que se instala uma política comercial comum.

Sendo assim, a União Aduaneira já é um grau a mais de integração em

relação à zona de livre comércio por comportar a livre circulação de bens, quer que

sejam originários dos Estados que dela fazem parte, quer que sejam importados de

outros países, desde que legalizados. Importante ressaltar que uma tarifa externa

comum (TEC) tem como consequência uma política comercial comum já que os

países agora negociam em bloco, perdendo a sua autonomia frente a terceiros

países em relação à importação e a exportação (ALMEIDA, 2010).

Por fim, chega-se ao Mercado Comum, estágio de integração econômica que

se pretende alcançar com o Mercosul. Segundo Rosa (1998) este tipo de integração

prevê além da livre circulação de bens, a livre circulação dos fatores de produção

(capital e trabalho), permitindo-se o livre estabelecimento e a livre prestação de

serviços profissionais (capitais e mão-de-obra). Além disso, o Mercado Comum

pressupõe a coordenação de políticas macroeconômicas, de maneira que todos os

países membros sigam os mesmos parâmetros para fixar a política monetária

(fixação de taxas de juros), a política cambial (taxa de câmbio da moeda nacional) e

a política fiscal (tributação e controle de gastos pelo Estado), ou seja, os países

membros devem concordar com o avanço integrado da coordenação das suas

políticas macroeconômicas (RAMALHO, 2012).

O Mercado Comum é um grau mais elevado de integração em relação à união

aduaneira, já que além comportar a livre circulação de bens originários dos Estados

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e de fora deles, soma-se a livre circulação dos fatores de produção (capital e

trabalho), permitindo-se o livre estabelecimento e a livre prestação de serviços

profissionais. Teve-se por origem este tipo de integração com a antiga Comunidade

Econômica Europeia, na década de cinquenta (BADR, 2010). Segundo Almeida

(2010), o Mercado Comum é baseado em cinco liberdades básicas: a livre circulação

de bens; a livre circulação de pessoas; a livre prestação de serviços e a liberdade de

estabelecimento; a livre circulação de capitais; e alguns autores entendem como

uma quinta liberdade a livre concorrência.

A livre circulação de bens significa a abertura das fronteiras e o fim das

barreiras alfandegárias entre os Estados integrantes do mercado comum, permitindo

desse modo que os produtos possam circular livremente. Já a livre circulação de

pessoas acarreta na liberdade de trânsito de qualquer cidadão pertencente a um

Estado-Parte, nos territórios dos demais, sem o controle nas fronteiras internas

destes, assim como liberdade de exercer uma profissão e de residir. A livre

prestação de serviços e a liberdade de estabelecimento autorizam os indivíduos de

qualquer dos Estados-Membros a se estabelecerem e prestarem serviços em

condições de igualdade com os nacionais, sem qualquer discriminação no tocante à

nacionalidade. A livre circulação de capitais relaciona-se a existência imperiosa em

face das demais liberdades garantidas, ou seja, a de comércio, a de prestação de

serviço e a de estabelecimento (ALMEIDA, 2010).

Por fim, a quinta liberdade apontada por alguns autores, a de livre

concorrência, permite o estabelecimento de um quadro único de normas, de

natureza econômica, administrativa, fiscal, política e social, que se destina a

proteger o consumidor, impedindo que as empresas e governos adotem práticas

lesivas à livre concorrência. Esta política da concorrência está centrada em algumas

áreas bem definidas, tais como os cartéis, abusos de posição dominante, fusões e

aquisições de empresas e o papel dos governos (ALMEIDA, 2010).

Além do Mercado Comum, existe ainda a União Econômica e Monetária, que

é a etapa mais avançada dos processos de integração econômica, até agora

alcançada apenas pela União Europeia (UE). Enquanto no Mercado Comum os

países coordenam suas políticas macroeconômicas, na União Econômica e

Monetária a política macroeconômica é comum para todos. Esta ocorre quando

existe uma moeda comum e uma política monetária com metas unificadas e

reguladas por um Banco Central comunitário. A União Europeia define este objetivo

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com o tratado de Maastritcht, e passa em 2003 a ter como moeda corrente oficial o

Euro, cuja emissão, controle e fiscalização dependem do Banco Central

Europeu (RAMALHO, 2012).

Nesta fase da integração, segundo Almeida (2010), entra-se em discussão a

perda da soberania Estatal, uma vez que os países passam ao bloco elementos

essenciais de suas soberanias, tais como a moeda, que até então era símbolo

exclusivo do Estado soberano, a possibilidade de negociação com Estados terceiros,

políticas macroeconômicas (limites para as valorizações ou desvalorizações

cambiais que cada país pode praticar), entre outros elementos que já foram se

perdendo com a evolução do processo de integração.

1.3.2 Blocos econômicos - União Europeia e Mercosul

Para que se entenda melhor as fases de integração pode-se observar os

casos da União Europeia e do Mercosul. Como dito anteriormente, a União Europeia

é o único bloco econômico que chegou a fase de União Econômica e Monetária.

Segundo Appleyard, Field e Cobb (2010), ela teve seu início como Comunidade

Europeia do Carvão e do Aço (CECA) em 1951 com o Tratado de Paris que

englobava Bélgica, França, Alemanha Ocidental, Itália, Luxemburgo e Holanda

(passando a se chamar União Europeia a partir de 1993), embora o processo para

se alcançar a integração tivera sido iniciado trinta anos antes. Em partir de 1953 a

CECA já estabeleceu a eliminação de tributos entre os países, criando uma área de

livre comércio para o carvão e o aço (OLIVEIRA, 2002). A partir daí os Estados

optaram por tornar as relações mais próximas criando através do Tratado de Paris,

somado aos tratados de Roma, um Mercado Comum, a chamada Comunidade

Econômica Europeia, em 1957 (D’ARCY, 2002). Tinha-se como objetivo uma livre

circulação de mercadorias, serviços, capital e pessoas (APPLEYARD; FIELD;

COBB, 2010).

Pode-se classificar o processo de integração da União Europeia em três fases

principais que foram até o ano de 1992. A primeira etapa se deu com a criação, em

1966, da União Aduaneira, quando foram retiradas as barreiras alfandegárias para

todos os produtos mercantis. A segunda etapa começa em 1985 (período de

resolução de incrementar a comunidade pelos chefes de governo) com a criação do

Mercado Comum Interno. Tal período é conturbado devido à adesão de novos

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membros, e, portanto, marcado por crises, progressos e retrocessos (APPLEYARD;

FIELD; COBB, 2010), assim como foi marcado por uma política externa comum. Em

1978 há o começo de um sistema monetário comum (SODER, 1995). O fim desta

etapa deu-se então com o Ato Único Europeu, que demonstrava o desejo da

remoção dos obstáculos persistentes para o início a terceira fase. (D’ARCY, 2002).

Sendo assim, o Ato Único Europeu atribuiu novas competências e reforçou

políticas comunitárias em prol da construção de um mercado interior único, onde

seriam eliminados os obstáculos tarifários e também as demais barreiras físicas,

técnicas, e fiscais. (OLIVEIRA, 2002). Por fim, a terceira fase se dá com a

concretização não só do Mercado comum em 1º de janeiro de 1993 (SODER, 1995),

mas também com Tratado de Maastricht assinado em fevereiro de 1992 (também

conhecido como Tratado da União Europeia) que institucionalizou a Comunidade ao

que ela é hoje (União Econômica e Monetária), portanto, diferentemente do

Mercosul, que se encontra em um estágio incompleto de uma fase anterior, a União

Europeia foi criada com caráter misto, supranacional e de cooperação

intergovenamental quanto a Política Exterior e de Segurança Comum (OLIVEIRA,

2002).

Em relação ao Mercosul, segundo Almeida (2010), desde a declaração de

Iguaçu, em 30 de novembro de 1985, por inauguração da ponte Tancredo Neves,

seguido pelo processo de integração Brasil-Argentina, com o tratado de Integração,

cooperação e desenvolvimento, as articulações entre Brasil e Argentina já vinham

desenhando o curso para a criação de um bloco regional, que logo contou com a

aderência de Uruguai e Paraguai que temiam um isolamento econômico. Tal bloco

regional se concretizou com o Tratado de Assunção, em 26 de março de 1991, que

entrou em vigor em 29 de novembro de 1991. O principal objetivo do bloco foi a

integração dos quatro Estados partes por meio da livre circulação de bens, serviços

e fatores produtivos, do estabelecimento de uma TEC, da adoção de uma política

comercial comum, da coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais, e da

harmonização de legislações nas áreas pertinentes. Em dezembro de 1994, foi

aprovado o Protocolo de Ouro Preto, que estabeleceu uma estrutura institucional ao

Mercosul e o dotou de personalidade jurídica internacional.

O Mercosul tem por objetivo não só o aumento do comércio intrazona, mas

também o as trocas com países terceiros. São Estados Associados do Mercosul a

Bolívia, o Chile, o Peru, a Colômbia e o Equador. Ainda que não sejam Estados

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Associados, desde 2012 a Guiana e o Suriname participam das reuniões do

Mercosul por fazerem parte da Unasul, de acordo com Almeida (2010).

Como o Mercosul visa o aprofundamento do processo de integração (tem-se

por objetivo final um mercado comum), o tratamento das assimetrias ocupa posição

relevante na agenda interna. Tem-se o Fundo de Convergência Estrutural do

Mercosul (FOCEM), com o destino de financiar programas para promover e

desenvolver a competitividade, assim como promover a coesão social e estrutura.

Tem-se também o Fundo Mercosul de Garantias para Micro, Pequenas e Médias

Empresas, que é instrumento relevante, criado para garantir operações de crédito

contratadas por empresas de menor porte que participem de projetos dessa

natureza (BRASIL, 2012).

O Tratado de Assunção previa duas etapas de integração. Uma primeira

temporária que se iniciaria com o início do tratado, sendo esta encerrada em 31 de

dezembro de 1994, tendo-se por objetivo o início e impulso da formação de um

mercado comum; a segunda etapa começaria em janeiro de 1995, com a

consolidação de uma união aduaneira (mesmo que imperfeita), o que ainda estaria

bem distante do seu fim (mercado comum), mas que seria o caminho para isso.

Diante de tantas instabilidades econômicas que o Mercosul vem enfrentando, a

construção de um Mercado comum foi adiada, a depender da vontade política dos

atuais dirigentes do bloco em levar este projeto adiante (ALMEIDA, 2010).

Em abril de 2006, a Venezuela passa a mostrar vontade de entrar no

Mercosul. Em 31 de julho de 2012, com o afastamento do Paraguai, ela é enfim

admitida. Em 15 de agosto de 2013 o Paraguai é autorizado a voltar a fazer parte do

bloco, a partir da posse do novo presidente paraguaio, Horácio Cartes (LEAL, 2013).

Percebe-se, portanto, que a ideia de regimes internacionais está

completamente relacionada aos blocos econômicos, pois parte-se de um interesse

egoísta comum dos membros formarem um grupo amparado por um regime para

que seja alcançado o objetivo. Desta forma, o fim comum do Mercosul está

relacionado ao desenvolvimento dos países participantes do bloco, e estes abdicam

de fatores que lhes dariam mais independência perante aos demais, como uma

tarifa externa individual, para alcançar o objetivo maior que seria o desenvolvimento

dos países.

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2 POLÍTICA EXTERNA DA AMÉRICA LATINA

2.1 Cenários de política externa da América Latina até 1991

Pode-se considerar que um país só tem política externa a partir do momento

que se transforma, de fato, em um Estado Nacional, mas observa-se que quando se

fala de América Latina as relações começam nas decisões territoriais de Portugal e

Espanha com relação às colônias, uma vez que desde então se criam rivalidades

que servirão de herança para as futuras nações e dificultarão a integração entre

estes países na sequência dos anos – principalmente entre Argentina e Brasil –

tornando mais tardia a integração da região. O capítulo tratará de como se deram as

relações comerciais e políticas da América Latina (AL) em geral, mais

especificamente na América do Sul, até 1991, ano da criação do bloco econômico

Mercosul, para que se possa ter uma noção do comparativo de como era a região

antes da integração e criação do bloco e depois de seus resultados.

A história das relações na América Latina começa quando da descoberta da

América e opção dos países metrópoles – Portugal e Espanha – com a escassez

dos metais preciosos em seus países, por explorar suas novas colônias. Na

sequência, seguindo o contexto de colonização Portuguesa e Espanhola, pode-se

considerar como uma das primeiras políticas para a região o Tratado de Tordesilhas,

pois este passou a delimitar, de forma pacífica, quais territórios seriam submetidos

ao império Português e quais seriam submetidos aos Espanhóis. Tal fato é de

tamanha importância por começar desde aí uma rivalidade entre as futuras nações

que se dariam na região, assim como um isolamento econômico e social entre elas,

o que já pode ser percebido na tensão entre os países durante o período das

independências devido ao regime de império escolhido pelo Brasil uma vez que os

demais optaram pela república (SIMÕES, 2012).

Em relação ao período das independências americanas, a política externa

brasileira esteve convencionada à hegemonia inglesa por ter, diferentemente dos

países hispânicos, mantido relações com a antiga metrópole Portugal, cedendo a

influência da Inglaterra em troca do reconhecimento de sua independência sem usar

o apoio como poder político de barganha (CERVO, BUENO, 2002). O processo de

independência brasileiro (1822) foi pacificamente negociado, seguido por guerra

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curta que se deu, sobretudo na Bahia. Já as independências dos países da América

Espanhola haviam se dado, em 1811, de forma violenta, em uma política de povo

em armas, liderado por Simón Bolívar (SIMÕES, 2012).

Como o fim do pacto colonial do Brasil foi conduzido por Dom Pedro I junto às

elites locais gerando a independência perante a Portugal, foi essa mesma aliança

das elites com o imperador, visando sempre a negociação, que deu margem ao

início da república no Brasil. O poder central sempre respeitou o regional e isso

favoreceu a união nacional. Na América espanhola a competição entre os poderes

regionais impediu que as colônias pudessem se manter unidas como idealizavam

Simón Bolívar e José de San Martín. Estes não tinham avaliado a necessidade de

confiança das elites locais para estabelecer um Estado Nacional, e a falta de um

mercado interno contribuiu para que as colônias se dispersassem e resultassem em

novos Estados diversos (SIMÕES, 2012).

Em decorrência da colonização se dar em prol do Pacto Colonial com o intuito

de encontrar metais preciosos e de produzir bens para abastecimento das

metrópoles, a configuração geográfica dos países se deu em torno do litoral, como

nos portos de Buenos Aires, Rio de Janeiro e Lima. Manteve-se uma postura de

inserção na periferia do sistema capitalista, predominando a exportação de bens

primários às economias industrializadas da Europa, em ambos os lados do Tratado

de Tordesilhas. Percebe-se que no início do século XX nos países da América

Latina, mais especificamente os da América do Sul, havia uma falta de dinamismo

na economia, fato este que levaria a AL a arrecadar pouco capital, ainda mais

devido ao baixo valor agregado dos produtos então comercializados. A Argentina foi

o único país que alcançou marcas de crescimento econômico e desenvolvimento

humano e social parecidos com os encontrados na Europa nesse período (SIMÕES,

2012).

Com relação aos países específicos que gerariam o Mercosul futuramente –

Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – durante os anos de 1880 e 1890 houve

estabilidade, sem guerras ou tensões maiores, sendo que uma das causas disso foi

a aproximação de Brasil e Argentina. As relações no Rio da Prata, durante o século

XIX deram-se principalmente sob o interesse do capitalismo internacional no livre

comércio na região, sendo que esse demandava livre navegação nos rios e

estabilidade política regional. Outro interesse dos Estados em construir e consolidar

seus Estados nacionais na região (RAPOPORT; MADRID, 1998)

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Uruguai e Paraguai tiveram um papel secundário neste período, pois atuaram

sob o interesse nacional mínimo de garantir suas independências e integridades

territoriais. A Argentina e Brasil foram o centro dinâmico da região, sendo que

disputavam quem seria a nação de maior influência da zona do Prata. Até 1852 isso

se mostrou fortemente, pois a Argentina tinha sido dirigida pelos interesses de Rosa,

que tinha como objetivo reconstruir o vice-reino do Prata de forma a criar um Estado

nacional centralizado. Durante este período o Brasil se encontrava monárquico,

centralizado e escravocrata, tendo inclusive resultados da exportação de café. Tinha

como objetivo manter internacionalizados os rios Paraguai e Paraná, uma vez que

estes permitiam que se tivesse contato regular entre a província do Mato Grosso e o

resto do Brasil e viam na livre navegação do Prata um espaço geopolítico vital, pois

seria muito prejudicial ter um isolamento continental. Desta forma, defendeu as

independências de Paraguai e Uruguai, que foram vistos como Estados tampões

entre Brasil e Argentina (RAPOPORT; MADRID, 1998).

Iniciando o século XX deu-se início a um processo de transição das

economias exclusivamente primário-exportadoras para economias nacionais um

pouco mais diversificadas, envolvendo um lento desenvolvimento industrial. Quando

do início da Primeira Guerra Mundial percebia-se uma vantagem dos países sul-

americanos em relação aos demais Estados da América Latina por estarem mais

bem organizados e consolidados do que o restante da região. Havia-se tido uma

melhora em relação à imagem desses países, pois estes não mais eram percebidos

como territórios em permanente estado de guerra, em constante redefinição de

fronteiras e processos de estruturação de seus Estados. Eram vistos então como

regiões pacíficas e mais constantes, onde investimentos e acordos nacionais eram

possíveis. Infelizmente, na prática isso não aconteceu em toda a América Latina,

porém a imagem transmitida por alguns países criava a generalizada impressão de

ser um espaço mais organizado economicamente, assim como social e politicamente

(MOREIRA; QUINTEROS; SILVA, 2010).

Com o início da Primeira Grande Guerra, que teve origem na Europa, o

mundo inteiro foi envolvido. A América Latina, durante o século anterior havia sido

sempre uma extensão do comércio britânico, até o avanço comercial dos Estados

Unidos sobre a América Central e o Caribe, porém com o início da guerra a

importância da Grã-Bretanha na América Latina foi perdendo importância e sendo

substituída pela presença dos EUA. Diante da guerra os países latino-americanos

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procuraram ser neutros, muitos deles até o final. Outras nações foram declarar

guerra à Alemanha somente em 1917 (como o Brasil), em estratégia de acompanhar

as decisões norte-americanas, porém mesmo estes na maioria apenas expressaram

suas solidariedades aos EUA, sem enviar reforços militares. Aos que se mantiveram

neutros, esta também foi uma estratégia, neste caso para evitar a interrupção das

relações econômicas com a Europa (MOREIRA; QUINTEROS; SILVA, 2010). O

Brasil, seguindo a lógica dos demais, se manteve neutro inicialmente, mas entrou na

guerra em apoio aos Estados Unidos quando do ataque de submarinos alemães aos

navios mercantes brasileiros. Ele foi o único país sul-americano a entrar na guerra

(CERVO; BUENO, 2002).

Como com o fim da Primeira Grande Guerra os países europeus estavam

devastados, estes não tinham como comercializar seus produtos industrializados,

portanto, após 1918 a demanda por produtos primários produzidos na América

Latina aumentou consideravelmente. Isso possibilitou aos latino-americanos

desenvolverem algumas indústrias em um modo de substituição de importações.

Oposto a isso, com a crise de 1929 toda a economia da América foi abalada e os

países exportadores de matérias primas foram fortemente atingidos (MOREIRA;

QUINTEROS; SILVA, 2010).

A crise nas exportações e substituição de importações fez com que se criasse

uma percepção dos interesses nacionais, como no caso brasileiro com a ascensão

de Getúlio Vargas ao poder. Naquele momento entre guerras a política externa

brasileira passa a buscar por meio de cooperação e barganhas o desenvolvimento

nacional, que pode ser exemplificado na barganha que o Brasil fez com os Estados

Unidos e Alemanha em troca de apoiá-los na Segunda Guerra Mundial, uma vez que

o cenário era de aumento da participação alemã no comércio brasileiro, um alto

comércio já estabelecido com os EUA e uma neutralidade do país no sistema

internacional. O Brasil buscava conseguir sua siderúrgica nacional para incentivar a

indústria de base. Os demais países da América Latina também seguiram a política

de barganha, com exceção da Argentina que tinha bons acordos com a Grã-

Bretanha e queria fazer frente a projeção de poder do Brasil na América Latina

(CERVO; BUENO, 2002).

Com o início do Estado Novo no Brasil o país pressionou mais ainda os

Estados Unidos a cederem em direção aos interesses brasileiros, já que havia uma

aproximação ideológica entre um regime militar que se deu por golpe e os regimes

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totalitários italiano e alemão. Com o início da Segunda Guerra Mundial o Brasil

seguiu uma política que Cervo, 2002, p. 250 chamou de “equidistância pragmática”,

para continuar tirando proveito da disputa entre os dois blocos de poder. Entre 1934

e 1938 a Alemanha chegou até a superar os EUA como importadores de produtos

brasileiros, porém como eles praticavam comércio compensado e os Estados Unidos

livre comércio, entre outras vantagens como a siderúrgica oferecida pelos EUA e a

retração da Alemanha na América do Sul, o Brasil abandonou a equidistância e se

alinhou aos EUA em 1941(CERVO; BUENO, 2002).

Portanto, conforme Cervo e Bueno (2002), durante esse período a política

externa brasileira se tornou um instrumento em favor do desenvolvimento nacional.

Vargas soube avaliar a conjuntura internacional e barganhar em prol da

industrialização do país. Da mesma forma, neste período priorizou-se as relações

integracionistas com a América Latina e a sua pacificidade, porém o alinhamento

aos EUA veio a trazer desconfianças dos países da região sobre o engajamento do

Brasil com o compromisso regional.

A estratégia de se industrializar para que houvesse desenvolvimento iniciada

em 1930 pela América Latina acabou sendo falha. Os países pertencentes a ela,

que viam como destino dos seus produtos o mercado internacional, sofreram

retrações que intensificaram seus processos de substituição das importações com a

crise de 1929 (FREITAS, 2009). Segundo Moreira, Quinteros e Silva (2010), o

processo de desenvolvimento foi falho porque a estrutura para a industrialização era

incompleta, fazendo com que se dependesse demais de bens de produção

importados, o que acarretava que os países latino-americanos seguissem

dependentes dos países mais desenvolvidos mesmo tendo posse de uma indústria

siderúrgica. Tal problema foi se tornando mais grave com o aumento da

desigualdade de preços na balança comercial, pois se comprava cada vez menos

bens de produção com os valores das exportações. Da mesma forma, as tensões

sociais vinculadas aos trabalhadores aumentavam, e conflitos políticos continuavam

sendo alimentados pelas injustiças sociais e desigualdades de rendas.

Segundo Moreira, Quinteros e Silva (2010), em 1951 se deu a primeira

iniciativa dos países da América Latina no sentido de integrar para desenvolver. Esta

era um convite da CEPAL para países da América Central formarem um Comitê de

cooperação Econômica. A proposta da Comissão era de que houvesse uma

integração gradual baseada no fomento das indústrias e no estabelecimento de

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liberdade de comércio na região. O grupo não seguiu a ideia Cepalina de Mercado

Comum e passou a ser mais uma zona de livre comércio, mas que acabou por

beneficiar mais alguns países como Guatemala e Salvador que detinham 60% das

operações e menos outros.

Outra proposta econômica de desenvolvimento aos países da América Latina

foi lançada, em agosto de 1961 pelos Estados Unidos. Esta, chamada de Aliança

para o progresso, criou um desenvolvimento ascendente, pois permitiu injeções

anuais de capital em prol do desenvolvimento, porém o crescimento populacional foi

muito alto e os índices pretendidos não foram atingidos. Reformas agrária e fiscal

também não se mostraram satisfatórias, pois havia uma forte oposição de oligarcas

e conservadores. Além disso, logo na sequência houve instabilidade política, pois o

acordo pretendia fomentar a democracia, mas a instabilidade política do momento

levou os EUA a concentrar-se no combate às forças socialistas (MOREIRA;

QUINTEROS; SILVA, 2010).

Também na década de 1960, mas na América do Sul, iniciou-se um processo

de integração econômica que foi chamado de Associação Latino-Americana de Livre

Comércio (ALALC), que tinha como meta facilitar o comércio entre países se

beneficiando de suas posições geográficas por meio de acordos bilaterais. Tal bloco

cresceu a ponto de em 1968 todos os países latino-americanos fazerem parte dele.

A falta de desenvolvimento de alguns países fez com que algumas negociações não

fossem tão vantajosas, o que fez com que três países fossem mais beneficiados que

os demais (Argentina, Brasil e México). Uma vez que todos os países do bloco

sofriam dos mesmos males e tinham as mesmas condições, não se teve como

modernizar a indústria nem mudar a dinâmica comercial dos países para que os

demais também tirassem vantagem, o que fez, por fim, com que o grupo se

estagnasse (MOREIRA; QUINTEROS; SILVA, 2010).

Com o fim da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos passaram a

considerar que a América Latina já era um local de influência deles, e este passou a

dar mais atenção à reconstrução da Europa. Como após a Segunda Guerra iniciou-

se a Guerra Fria, o mundo passou a lidar com a ameaça comunista. A maioria dos

países latino-americanos sofria então com dívidas decorrentes da desigualdade das

trocas comerciais e passaram a se ampliar as tensões sociais advindas do

descontentamento da população com relação à má qualidade de vida e da injustiça

social. Organismos internacionais se negavam a dar um financiamento extra, pois

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não viam naqueles governos condições para que fossem implementadas as medidas

consideradas necessárias por eles. Sendo assim, para que o mercado internacional

assumisse que o Brasil teria condições de aplicar medidas duras e impopulares,

somado a ideia de contenção da influência comunista, surgiram golpes militares em

países como Brasil e Argentina para que estes pudessem tomar decisões firmes que

viessem a neutralizar os trabalhadores organizados. Tais governos autoritários

reviveram o crescimento econômico através de vínculos com multinacionais e

desencadearam regimes autoritários por toda a América Latina (MOREIRA;

QUINTEROS; SILVA, 2010).

Conforme Moreira, Quinteros e Silva (2010), sob a influência de Richard

Nixon que incentivava a manutenção da economia pelo setor privado, as indústrias

do mercado interno da América Latina passaram a concorrer com empresas

multinacionais de grande porte, o que passou a ameaçar as indústrias nacionais e

não chegou a afetar positivamente o nível de desenvolvimento. O crescimento

econômico ainda dependia de capital externo, o que se tornou um problema maior

na década de 1970 pelos empréstimos tomados destinados a investimento na

infraestrutura e pelo aumento do preço do petróleo, pois nos anos de 1973 e 1978

houve um grande acréscimo no preço deste, fazendo com que os países latino-

americanos aumentassem suas dívidas externas ainda mais.

A Europa e o Japão começavam a se reerguer da guerra e os Estados Unidos

passavam a perder hegemonia já que ainda estavam envolvidos com a Guerra Fria.

Com a ameaça comunista fraca na América Latina, os países desta região perderam

importância e se viram esquecidos pelos americanos, o que fez com que eles

acusassem os EUA de impedir seus desenvolvimentos e requererem uma

estabilização de preços e equilíbrio na balança comercial. O presidente norte-

americano Carter retomou as relações dos Estados Unidos com a América Latina,

mas como as ditaduras sul-americanas tinham um grau de imprevisibilidade que o

incomodava – assim como as ditaduras em geral – os Estados Unidos logo

passaram a tratar sobre direitos humanos com a pretensão de que os países da AL

voltassem a serem democracias. Mais do que isso, Carter diminuiu a ajuda

econômica e militar àqueles países que se encontrassem em regime de ditadura

(MOREIRA; QUINTEROS; SILVA, 2010).

Dada a situação da região latino-americana em geral, observa-se que os

países fundadores do Mercosul seguiram esta dinâmica com mudanças apenas em

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detalhes de tempo ou intensidade em seus processos históricos. No caso específico

argentino, conforme Freitas (2009), houve uma recomposição do mercado

internacional após o fim da Segunda Guerra Mundial (1945). O Estado pôde superar

as dificuldades econômicas e até devolver sua capacidade industrial, criando

equilíbrio nas contas externas e um aumento na qualidade de vida da população

argentina. Equilíbrio este que durou até a década de 1970, quando o país entrou em

um período de instabilidade política, abrindo caminho para os militares na política

argentina que na década de 80 instauraram uma das mais cruéis ditaduras.

Na sequência, o processo de substituição de importações adotado gerou

indústrias ineficientes, que dependiam de proteção tarifária devido aos altos custos

(de cunho salarial), fator que conduzia a uma integração com o Brasil. Com isto o

governo argentino tomou medidas para a liberalização da economia, o que acelerou

a desindustrialização. A estagnação das exportações gerou uma queda brusca no

PIB do país, o qual só foi se recuperando ao longo de toda década de 1980

(FREITAS, 2009).

As sérias dificuldades econômicas e políticas enfrentadas pelos militares

enfraqueceram o regime. Para compensar, estes entraram na disputa das Ilhas

Malvinas – território argentino, até então ocupado por ingleses – ato que não obteve

apoio dos países vizinhos que se mantiveram neutros, mas teve suporte logístico do

Brasil (melhorando a relação Brasil-Argentina que sempre havia sido conflituosa até

então). O exército argentino foi derrotado pelo inglês e como resultado o país

passou por uma grande depressão econômica, a qual resultou na maior dívida

externa per capita do mundo naquele momento. A crise do país criou obstáculos à

comercialização dos produtos argentinos no âmbito internacional, o que favoreceu a

aproximação econômica com o Brasil, levando os países à intensificação das

relações comerciais (FREITAS, 2009).

No Brasil, de acordo com Freitas (2009), o regime militar esteve instituído por

vinte anos, tendo sido justificado pelos militares como uma medida para combater as

dificuldades econômicas pelas quais o país passava (uma dívida externa de cerca

de três bilhões de dólares). No plano econômico, os militares tiveram iniciativas que

visavam à modernização da economia e a revitalização do desenvolvimento. Com a

alta dívida externa visou-se a recuperação e ampliação da infraestrutura do país,

assim como o aumento da produção de insumos básicos, além do incentivo a

fabricação de bens de capital. Para isso iniciou-se um processo de abertura política

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lenta e gradual. Esta abertura que foi dada pelos militares adquiriu dinâmica própria

e extrapolou os limites estabelecidos pelo governo. Com isso, sofreu-se muito com

inflação e a insatisfação da população trouxe as ruas o movimento “diretas já”,

mobilização social mais representativa da história do país. Os brasileiros, como

resultado da luta pela redemocratização, apresentaram um projeto de Emenda

Constitucional, que restabelecia as eleições diretas para escolha do presidente.

Com o resultado das eleições (indiretas), Tancredo Neves foi eleito, mas

faleceu antes da posse assumindo José Sarney. Com a inflação e o agravamento da

dívida externa, foi decretada a moratória desta dívida. Para resolver a situação foi

adotado por Sarney o Plano Cruzado I, que não solucionou a situação. Deste modo,

o que se percebe é que na conjuntura em que se encontrava o país, o foco da

criação de organismos internacionais não foi com o intuito de reativar as atividades

produtivas e melhorar as condições de vida para a população, mas sim criar

condições para a geração de um superávit que possibilitasse o pagamento dos juros

das dívidas externas. Nesta situação foi que se iniciaram as tratativas para a

cooperação entre Brasil e Argentina, as quais levaram a posterior criação do

Mercosul (FREITAS, 2009).

Já o Paraguai não participou desde o início do processo de negociações que

culminou com a formação do Mercosul, principalmente devido ao fato de que teve

governos autoritários do ano de sua independência, 1811, até os anos de 1989, com

a queda do General Alfredo Stroessner. Apesar disso, a ausência dos governos

democráticos nos países da Bacia do Prata não inviabilizou a colaboração no âmbito

da segurança e de energia; pelo contrário, foram, na década de 1970, estabelecidos

acordos econômicos, como o acordo entre Brasil e Paraguai para a construção da

hidroelétrica de Itaipu. Neste mesmo ano, o Paraguai firmou outro contrato para

construção de uma segunda hidroelétrica, desta vez, com a Argentina. Com as

atividades de produção muito ligadas ao contrabando, ficava difícil a arrecadação de

impostos dificultando a melhoraria da qualidade dos serviços públicos oferecidos à

população. Já no âmbito político, o Estado paraguaio passou por diversas crises, as

quais dificultaram o funcionamento democrático das suas instituições, apesar de

que, com a integração do país ao processo de constituição do Mercosul, houve um

importante apoio para consolidar certa estabilidade institucional no Paraguai

(FREITAS, 2009).

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O Uruguai seria então o futuro integrante do Mercosul com maiores vantagens

em sua economia frente a países da região como o Paraguai e a Bolívia. Sua

localização geográfica facilitava o escoamento dos produtos do país, principalmente

carnes, couros e lãs para o mercado internacional. A crise de 1929 afetou muito o

país, que teve de reconduzir a sua estrutura produtiva. Com a dificuldade de

importação de bens, o Uruguai acabou por desenvolver uma indústria leve muito

diversa. Porém com a retomada do fluxo de comércio mundial pelos países mais

desenvolvidos, a indústria uruguaia entrou em crise novamente. A despeito disso, ao

contrário da maioria dos países da América Latina, o Uruguai possuía uma maior

solidez de suas instituições democráticas e, mesmo assim, não conseguiu escapar

do processo ditatorial pelo qual passaram os países latino-americanos,

permanecendo nesta situação de 1973 a 1985 (FREITAS, 2009).

Na década de 1980, assim como Brasil e Argentina, o Uruguai passou por

restrições econômicas devido à necessidade de pagamento da dívida externa

adquirida. Para reverter a situação uruguaia, foi implantada uma política de fomento

às exportações e de restrição às importações. Este plano surtiu efeito no que diz

respeito às importações, que decaíram para menos da metade do valor entre 1983 e

1987, com relação ao ano de 1980. Com o fim da ditadura no Uruguai, o país se

integrou as discussões sobre o processo de integração entre Brasil e Argentina.

(FREITAS, 2009).

Percebe-se então que na América Latina em geral, a década de 1980 deu

sequência ao endividamento dos países latino-americanos. Mantinha-se uma

dependência de tecnologia dos países desenvolvidos e os produtos primários de

exportação da América Latina estavam em baixa na cotação, sendo assim, da

década de 1970 à década de 1980 a dívida externa passou de 27 bilhões para 231

bilhões de dólares. No mesmo período os EUA valorizavam sua moeda e

aumentavam taxas de juros internamente, fazendo com que a dívida dos países

latino-americanos ficasse mais cara e houvesse escassez de oferta de capitais

(MOREIRA; QUINTEROS; SILVA, 2010).

Como nenhum dos países da região tinha capital ou dinâmica para modificar

a situação, a América Latina entrou em uma crise que se arrastou por toda década,

começando pelo México, seguido pelo Brasil e desatando uma crise de crédito em

todo o mundo. Detentores de crédito, como os Estados Unidos, o Fundo Monetário

Internacional (FMI), banqueiros entre outros aceitaram uma negociação da dívida

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contanto que os países em crise modificassem suas dinâmicas de desenvolvimento

e abrissem suas economias à inversão estrangeira reduzindo ainda o papel do

Estado na economia, incentivando a exportação e criando medidas contra a inflação.

Este conjunto de medidas foi então conhecido como neoliberal (MOREIRA;

QUINTEROS; SILVA, 2010).

Tais imposições fizeram com que os países da América Latina dessem fim às

antigas estratégias de desenvolvimento, que pretendiam industrializar o país para

consumo interno e passava agora a ter indústrias estrangeiras atuando livremente

no seu mercado. Ao fim da década de 1980, desta forma, com mais empréstimos

tomados já que acataram as medidas propostas, a dívida já havia subido para 481

bilhões de dólares, com uma adição de 200 bilhões de dólares para os países

desenvolvidos por fuga de capital, já que as empresas internacionais não mantinham

o capital que recebiam no Brasil. A década de 1980, dessa forma, ficou conhecida

como a década perdida para os latino-americanos, já que independente dos

esforços e empréstimos não houve desenvolvimento no período, conforme Moreira,

Quinteros e Silva (2010).

Com tamanha crise e insatisfação da população os regimes autoritários

caíram, o que acarretou no surgimento de novas democracias em meio a crise

econômica. Isto aconteceu de forma muito violenta na América central, porém, na

América do Sul, a transição foi mais pacífica e apesar dos déficits econômicos houve

um balanço positivo vinculado à desmilitarização e democratização do

subcontinente. Com estes fatos o Brasil, que antes tinha a imagem de potência

emergente passa a ser visto como país de terceiro mundo, com uma grande dívida

externa e problemas com inflação. A redemocratização na América Latina

estabeleceu as instituições básicas do novo regime, com eleições, instituições

democráticas, reformas para crise fiscal e para a crise econômica, fatores estes que

desviaram o debate para a liberalização política que acarretaria em liberalização

econômica e implantação do neoliberalismo (condições exigidas pelos EUA para

cooperar financeiramente com o Brasil). Pode-se perceber, portanto, que o

neoliberalismo na América Latina se beneficiou da crise fiscal do Estado, da crise do

Estado de bem estar social e da crise da industrialização substitutiva de importações

(MOREIRA; QUINTEROS; SILVA, 2010).

Antes da criação do bloco econômico, portanto, a economia, a política e as

questões sociais da América Latina, principalmente dos quatro fundadores do

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Mercosul no momento de sua criação eram semelhantes. Ambos haviam passado

por grandes crises, haviam tido problemas com dívida externa e viveram regimes

autoritários, afirmando a democracia no período de criação do bloco. A perspectiva

de integração dos países da Bacia do Prata aparecia, portanto, como uma boa

alternativa para o desenvolvimento e a intensificação das atividades econômicas e

industriais na região. Sendo assim, os países vislumbraram na integração regional a

possibilidade de ampliar seus mercado e modernizar suas economias (FREITAS,

2009).

2.2 Construção e implementação do bloco econômico Mercosul

Baumann (2004), concordando com ideais já apresentadas no capítulo

anterior aponta que a ideia de criar um mercado comum latino-americano já existia

desde os estudos da CEPAL em 1949, pois os países da região precisavam de

mercado para desenvolvimento de suas indústrias, já que precisavam diminuir a

dependência das exportações. Como estas se davam por produtos primários com

baixo grau de processamento, mantinham a região exposta a flutuações excessivas

nas relações de troca e isto em longo prazo trazia consequências negativas para a

economia destes países.

O processo de integração regional na América Latina começou na América

Central. Em 1951, iniciou-se o que seria chamado Mercado Comum Centro-

Americano. Cepalinos naquela época recomendavam que a integração devesse ser

limitada, focada na boa localização geográfica de algumas atividades econômicas

importantes, principalmente as de caráter industrial e de transformação de produtos

agropecuários e minerais. Com o fim da década percebeu-se que com tais medidas

a região enfrentaria desiquilíbrio crescente na balança de pagamentos, restringindo

a importação de bens de capital. Assim, decidiu-se que a integração regional deveria

criar um mercado regional, devido à produção em massa (em escala) que geraria

maiores ganhos na produção de bens de capital e de bens intermediários

(BAUMANN, 2004).

A dívida externa foi para todos os países da América Latina o grande

problema da década de 1980, já que com ela veio uma espécie de asfixia cambial,

pois se dependia dos países industrializados para a maior parte dos seus ganhos de

divisa e para as importações dos bens de produção. Dessa forma, a integração não

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seria mais somente uma ampliação de mercados, mas seria naquele momento uma

opção de saída da crise em si, já que o comércio entre os países em fase de

integração geraria utilização da capacidade produtiva instalada e o regionalismo

criaria dinamismo comercial com menor uso de divisas (BAUMANN, 2004), seria

então criada, devido a isto, em somatória à dificuldade de afirmação das

democracias recém-instauradas (principalmente em países como a Argentina devido

a inúmeras rebeliões militares) uma situação que acabou por dar uma nova

dimensão às relações internacionais no Cone Sul: a solidariedade em vista de

dificuldades comuns (FARIA, 2004).

Segundo Vizentini (2003), naquele momento Brasil e a Argentina, que

passavam pelas mesmas situações e buscavam respostas diplomáticas

semelhantes e complementaridade na economia, optaram pela integração, portanto

neste momento surgiu a ideia que levou à criação do Mercosul, pois principalmente

para o Brasil, essa cooperação significava uma representatividade maior no cenário

internacional.

Em meio a isso, conforme Freitas (2009) se deu o Tratado de Montevidéu

(1980), que teve como importância para o Mercosul a criação da Associação Latino-

Americana de Integração (ALADI) - sucessora da ALALC - que seria então a base

jurídica do bloco econômico da América do Sul. Por meio deste tratado se instituía

que a personalidade jurídica da ALALC permaneceria no ALADI, além de seus

direitos e obrigações. Os países protagonistas deste tratado eram Argentina, a

Bolívia, o Brasil, o Chile, a Colômbia, a Cuba, o Equador, o México, o Paraguai, o

Peru, o Uruguai e a Venezuela.

Tinha-se por objetivo na ALADI impulsionar o desenvolvimento dos países

menos desenvolvidos para que assim se chegasse ao estabelecimento de um

Mercado Comum entre os países do bloco. O tratado de 1980 é considerado

importante por ter sido a primeira vez que se tratou também de desenvolvimento

social, além de econômico, e por prever a possibilidade de acordos dentro do bloco

sem que todos os membros o assinassem (FREITAS, 2009).

A ALADI se diferenciou da ALALC por apresentar objetivos menos ambiciosos

e flexíveis, porém mesmo desta forma os países membros não a consideravam ativa

na função de incentivar a integração (FREITAS, 2009). De acordo com Moreira,

Quinteros e Silva (2010), percebia-se também a diferença da ALALC e da ALADI na

mudança de percepção dos países pertencentes ao bloco em relação a integração.

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O objetivo não mais seria o de ampliar mercados para substituir importações, mas

sim juntar os mercados para que houvesse maior visibilidade internacional, portanto

diminuir-se-ia o poder dos Estados nacionais no bloco diante dos constrangimentos

externos.

Como ressaltado anteriormente, a relação Brasil-Argentina já estava se

tonando mais próxima. Com o fim do processo em torno dos recursos hidrográficos

compartilhados, os países instituindo um regime de democracia e passando por uma

crise que reduzia seus espaços no sistema internacional, estes viram na integração

a melhor saída. Neste contexto se firmam os primeiros tratados e protocolos para a

integração (SEITENFUS, 1993). É a aproximação progressiva das relações entre

Brasil e Argentina que levaram então à criação do Mercosul (BÖHLKE, 2007), sendo

que há autores que inclusive pensam que o Mercosul se constituiu com Paraguai e

Uruguai apenas por motivos históricos e geográficos (PORTO; FLÔRES, 2006).

Desta forma, segundo Böhlke (2007), em novembro de 1985, fruto de

negociações entre os presidentes José Sarney (Brasil) e Raúl Alfonsín (Argentina)

foi constituída a Declaração de Foz do Iguaçu, que tornou oficial a ideia de

integração econômica entre Brasil e Argentina. Logo após, firmou-se a Ata para

Integração e Cooperação Econômica, com a finalidade que as relações econômicas

fossem intensificadas e fossem diversificadas as trocas comerciais, já que estes

eram os objetivos do bloco. Em 1988, foi firmado o Tratado de Integração,

Cooperação e Desenvolvimento Brasil-Argentina, para que durante dez anos

houvesse um mercado comum entre eles. Tal tratado entrou em vigor em agosto de

1989, como projeto de integração da ALADI, que mais uma vez falhou, já que nunca

se utilizou o tratado em negociações. Os compromissos firmados até então foram

confirmados com a assinatura da Ata de Buenos Aires em julho de 1990 por

Fernando Collor de Mello e Carlos Saúl Menem, presidentes do Brasil e Argentina

respectivamente.

Em 26 de março de 1991 foi assinado o Tratado de Assunção por Carlos Saúl

Menem - Argentina, Fernando Collor de Mello - Brasil, Andrés Rodriguez – Paraguai

e Luis Alberto Lacalle Herrera – Uruguai, considerando que seria “condição

fundamental para acelerar seus processos de desenvolvimento econômico com

justiça social” (MERCOSUL, 1991, p. 1), devido ao fato de na época estarem

havendo a consolidação de grandes espaços econômicos e os países fundadores do

Mercosul necessitarem de inserção internacional para eles (MERCOSUL, 1991).

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Tinha-se como objetivo no tratado, promover o desenvolvimento cientifico e

tecnológico dos Estados pertencentes ao bloco, uma vez que assim se haveria

modernização da economia e se ampliaria a oferta e qualidade dos bens de serviço,

melhorando a qualidade de vida dos habitantes destes. Surge assim o instrumento

legal para aumentar as relações bilaterais e melhorar as economias dos países,

reduzindo barreiras tarifárias e de custos de exportação, aumentando a concorrência

interna e assim, reduzindo custos dentro do setor de produção (MERCOSUL, 1991).

O Mercosul só alcançou sucesso inicial porque se organizou para que fosse

administrado de forma conjunta por órgãos intergovernamentais e não por um único

órgão supranacional como a UE. Este fato foi de grande importância principalmente

pelas diferenças de tamanho dos países, habitantes, economia. O bloco foi assim

mantido até 2002 (PORTO; FLÔRES, 2006).

O Tratado de Assunção criou uma estrutura provisória com dois órgãos: o

Conselho do Mercado Comum (CMC) e o Grupo Mercado Comum (GMC) para que o

tratado pudesse ser executado durante o período de transição, que duraria até 31 de

dezembro de 1994, data esta limite para que fossem eliminadas as restrições

comerciais entre os Estados pertencentes ao bloco (MERCOSUL, 1991). Durante

este período o GMC e o CMC foram os responsáveis por tomar as decisões do bloco

através de consenso e presença dos Estados-Parte. Tinha-se então, com o GMC,

uma Secretaria Administrativa, localizada na cidade de Montevidéu, Uruguai,

utilizada para o arquivamento de documentos e atividades do grupo. Tal secretaria

acabou por tornar-se a sede do Mercosul (BÖHLKE, 2007).

Em 17 de dezembro de 1994 aconteceu uma reunião extraordinária para

determinar a estrutura institucional do bloco. Nesta data foi celebrado o Protocolo de

Ouro Preto, na cidade que deu nome ao documento, localizada no Brasil. Tal

protocolo ampliava e aprimorava a estrutura institucional do bloco e solidificava o

sistema de solução de controvérsias. Por intermédio do artigo 34 deste protocolo o

Mercosul adquiriu personalidade jurídica de Direito Internacional, tornando-se, com

base no artigo 35, oficialmente um ator internacional, podendo conservar fundos,

fazer transferências e de acordo com o artigo 36, celebrar acordos de sede

(MERCOSUL, 1994).

Mesmo com tais alterações a estrutura institucional do bloco não teve

mudanças profundas, pois, segundo Böhlke (2007), a estrutura intergovernamental

foi mantida, e como não houve avanços na Zona de livre-comércio e União

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aduaneira não houve necessidade de criação de um novo órgão com maiores

poderes. A estrutura do Mercosul foi mantida e apenas ampliada com o Protocolo de

Ouro Preto. Desta forma, ficaram sendo seis os órgãos principais do bloco: o

Conselho do Mercado Comum (CMC), o Grupo Mercado Comum (GMC), e a

Comissão de Comércio do Mercosul (CCM) - de capacidade decisória; a Comissão

Parlamentar Conjunta (CPC) e o Foro Consultivo Econômico-Social (FCES) – de

caráter consultivos; e a Secretaria Administrativa do Mercosul (SAM) – como órgão

administrativo.

De acordo com o artigo 3º do protocolo tratado acima, o Conselho do

Mercado Comum é o órgão superior do Mercosul. Ele é composto pelos ministros

das Relações Exteriores e pelos ministros da Economia dos Estados participantes -

ou pessoas de responsabilidades equivalentes (MERCOSUL, 1994). Segundo

Böhlke (2007), é ele quem conduz a política do processo de integração, assim como

o processo de tomada de decisões para que sejam cumpridos os objetivos

estabelecidos no Tratado de Assunção e se alcance o Mercado Comum.

O Grupo Mercado Comum é o órgão executivo do Mercosul e é composto por

quatro membros titulares e quatro alternos representantes de cada Estado

participante do bloco com coordenação dos representantes dos Ministérios das

Relações Exteriores. As principais funções do GMC são manter o cumprimento dos

itens do Tratado de Assunção, propor projetos de decisão para o Conselho do

Mercado Comum e fazer serem cumpridas as decisões tomadas por este órgão,

assim como organizar as reuniões dele (BÖHLKE, 2007).

A Comissão de Comércio do Mercosul é o órgão intergovernamental que

auxilía o GMC nos assuntos de relação com os instrumentos de política internacional

comum, acordados entre os Estados-Parte para o funcionamento da União

aduaneira, assim como participa do sistema de solução de controvérsias do

Mercosul. O Protocolo de Ouro Preto dá ainda a possibilidade da CCM de

estabelecer, dirigir e supervisionar Comitês Técnicos, para ajudar no cumprimento

de suas funções (BÖHLKE, 2007).

A Comissão Parlamentar Conjunta tem como objetivo principal facilitar a

implementação do Mercosul e é composta por até 64 parlamentares, que estejam

em exercício nas câmaras nacionais, sendo 16 de cada país participante. A CPC é o

órgão que representa os Parlamentos dos Estados participantes do bloco dentro

deste. Suas principais funções são acompanhar o processo de integração, informar

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constantemente os congressos nacionais sobre as ações do bloco e países parte e

desenvolver ações para a criação de um parlamento do bloco (BÖHLKE, 2007).

Nas instâncias consultivas há ainda o Foro Consultivo Econômico-Social que

tem como intenção agregar os setores privados de cada país ao processo de

integração. O FCES tem por responsabilidades cooperar para o avanço econômico e

social do bloco, acompanhar o impacto destes âmbitos na região e contribuir para

que a sociedade participe do processo de integração (BÖHLKE, 2007).

Conforme Böhlke (2007), a Secretaria Administrativa do Mercosul no início

era apenas um órgão com a função de arquivar documentos e comunicados do

Grupo Mercado Comum. Com o Protocolo de Ouro Preto, esta se tornou em um

órgão de apoio operacional ao bloco que serve a todos os órgãos do instituição,

publicando as decisões tomadas dentro do Mercosul e tentando manter o controle

das medidas tomadas por cada país do bloco no que dizer respeito à incorporação

das normas do bloco no ambiente jurídico dos países como nação.

Segundo Böhlke (2007), na criação do Mercosul haveriam objetivos mediatos

e imediatos. Entre os objetivos imediatos se encontravam a eliminação de barreiras

tarifarias e não tarifarias no comércio entre os países do bloco, a constituição de

políticas em relação a países de fora do bloco, assim como uma TEC, a livre

circulação de fatores de produção, harmonia nas legislações dos Estado-Partes,

melhora nas condições das interconexões físicas, coordenação das políticas

macroeconômicas e complementação das economias dos países do bloco. Tais

medidas se faziam imediatas pelo fato de que somente com elas concretizadas se

chegaria a um Mercado Comum, fazendo com que se utilizasse de maneira mais

eficaz os recursos disponíveis dos países do bloco e houvesse maior

industrialização nas economias da região.

Ainda segundo o mesmo autor, o Mercosul teria em sua criação objetivos

mediatos, pois caso o Mercado Comum fosse em si o objetivo final da integração,

esta perderia sua utilidade. Estes objetivos seriam criar posições mais firmes para os

países do bloco no cenário regional, e principalmente, no internacional. Tinha-se por

objetivo consolidar o espaço regional como potência econômica e política. Outro

objetivo do Mercosul era garantir a estabilidade democrática na região, pois como

era um fator determinante no processo de integração, esta era instrumento político

valorizado pelos Estados participantes do bloco.

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O Mercosul tem ainda como objetivo a preservação do meio ambiente. Com o

bloco se conseguiria ter maior controle sob o tráfico de animais silvestres e espécies

vegetais, assim como ficaria mais fácil combater o desmatamento, a poluição de rios

e bacias hidrográficas e a exploração descontrolada dos solos que se estendem

além do perímetro dos Estados-Nação. Ainda nos objetivos mediatos, tinha-se por

finalidade a integração dos povos da América Latina, já que ele não é incompatível

com outras tentativas deste tipo como a ALADI, por exemplo. Por fim, mas não

menos importante, tem-se com o Mercosul o objetivo de acelerar os processos de

desenvolvimento econômico e justiça social dos países pertencentes ao bloco: “com

a livre circulação de bens, serviços, capitais e pessoas pretende-se permitir a busca

de melhores oportunidades de negócio e desenvolvimento pessoal para cada uma

das pessoas que vive na região” (BÖHLKE, 2007, p. 157). Percebe-se, portanto, que

um dos objetivos mais importantes do bloco é “melhorar as condições de vida de

seus habitantes” (MERCOSUL, 1991, p.1).

Para que tais objetivos fossem atingidos – tanto mediatos quanto imediatos -

o Mercosul se utilizou de instrumentos e prazos definidos, sendo o primeiro período

definido como período de transição, que durou de 1991 a 1994. Nesta fase, utilizou-

se de um Programa de Liberalização Comercial (usando reduções tarifárias

progressivas); de uma coordenação de políticas macroeconômicas (atuando em

conjunto com programas de desgravação tarifária e eliminação de restrições não-

tarifárias); da criação de uma tarifa externa comum, para estimular a competitividade

externa dos países do bloco - esta foi baseada em um cronograma de convergência

e equalização de alíquotas para que a TEC pudesse entrar em vigor e em listas

nacionais de exclusão, com prazos de validade definidos e com maiores garantias

aos países pequenos (Paraguai e Uruguai); e da adoção de acordos entre setores

(para otimizar a mobilidade dos fatores de produção). Este primeiro período foi muito

marcado pelo grande crescimento do comércio intrabloco, mas os instrumentos

utilizados não cumpriram com todos os suas metas até o prazo de transição se

esgotar, o que se viu ter acontecido por serem objetivos ambiciosos e pouco de

acordo com a realidade do Mercosul.

Em decorrência, portanto, da ambição dos objetivos e também do momento

que os países do bloco enfrentavam – com ênfase na Argentina, que se encontrava

em crise “desde a adoção do regime de paridade cambial entre o peso e o dólar

americano, agravada pela desvalorização da moeda brasileira, pelo desaquecimento

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da economia mundial e pela perda de competitividade das indústrias daquele país”

(Böhlke, 2007, p.176), chegou-se ao fim do prazo limite para a remoção das

barreiras em relação ao comércio de bens no Mercosul sem que todas elas

estivessem removidas. Foi criado então, o que se pode chamar de Regime de

Adequação final à União Aduaneira, que Böhlke (2007) considera ser um segundo

período da consolidação do Mercosul. Tal regime consistia em medidas para

conclusão definitiva da Área de livre-comércio e permitia que uma lista reduzida de

produtos fizesse parte do processo de eliminação tarifária. Os produtos submetidos

a esta lista poderiam seguir, portanto, um novo prazo readequado a realidade do

bloco para a eliminação tarifária aduaneira, prazo este que mudaria de país para

país. Para Brasil e Argentina o novo prazo se estenderia até janeiro de 1999 (quatro

anos), enquanto que para o Paraguai e o Uruguai o prazo iria até janeiro de 2000,

(cinco anos, portanto) (BÖHLKE, 2007).

Esta segunda etapa, onde entra em vigor a TEC, é conhecida pela política

aduaneira comum, que era sem dúvida a característica mais desenvolvida do bloco.

Esta precisou de ajustes devido às decorrentes crises financeiras provocadas por

ataques especulativos nos mercados emergentes – Ásia, Europa do Leste e América

Latina. Um fator importante deste período foi a adesão do Chile e da Bolívia ao bloco

como países associados, fora da União aduaneira, portanto com menos caráter

econômico e mais caráter político (FARIA, 2004).

Uma terceira etapa citada por Faria (2004) é relacionada ao período da crise

do processo de integração, que começa com a crise cambial brasileira, a qual fez o

Mercosul sofrer alterações em janeiro de 1999 e levou a diminuição do comércio

intrabloco e aumento das dificuldades da Argentina que enfrentava processo de

estagnação e deflação. Esta última optou por adotar medidas protecionistas contra

produtos brasileiros com barreiras inclusive sanitárias. Com isto, o Brasil entrou

contra a Argentina no Órgão de Solução de Controvérsias ameaçando abrir uma

instância na Organização do Comércio Mundial (OMC). A Argentina utilizou-se do

medo da dolarização e com isso fez o Brasil discutir novas políticas monetárias e

cambiais. Com tais dificuldades econômicas dentro deste período, deu-se em 1998,

a assinatura da Declaração Sociolaboral do Mercosul, um importante passo para a

livre circulação de trabalho e um aumento da reciprocidade no que concerne aos

direitos trabalhistas e da seguridade social uma vez que surgiu de um contrato

coletivo entre os sindicatos dos metalúrgicos de Brasil, Argentina e a Volkswagen.

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Pode-se ser considerado ainda um quarto momento do bloco que iniciaria em

2000 e teria validade até a atualidade, englobando a recuperação das crises e o

relançamento do bloco. No primeiro semestre do novo século foi aprovado, portanto,

um conjunto de decisões para o fortalecimento das bases do Mercosul que foi

chamado de Agenda de Relançamento do Mercosul. Tal projeto visava a adaptação

dos órgãos às necessidades do bloco, fortalecendo a Secretaria administrativa do

Mercosul e elaborando projetos de criação do Tribunal de Justiça Permanente, para

garantir uma maior eficácia quanto às decisões do bloco (BÖHLKE, 2007).

A Agenda de relançamento do Mercosul tem como objetivo também a

consolidação do bloco como unidade de negociação internacional, ficando

estabelecido a partir do fim do primeiro semestre de 2001 que os membros não mais

poderiam assinar acordos preferenciais que não tivessem sido assinados pelo bloco.

Além disso, houveram alterações na TEC que teve o seu percentual de elevação

dos três por cento originais limitado para dois e meio por cento, sendo que logo na

sequência o CMC ainda reduziu este percentual para um (BÖHLKE, 2007).

Mesmo com o relançamento do bloco foi neste período que o Mercosul

passou pelo seu momento mais conturbado pois a crise econômica, política e social

da Argentina havia adquirido proporções elevadas e estagnou o processo de

integração do bloco. Desta forma, se realizou em abril de 2001 a II Reunião

Extraordinária do CMC, para que fossem aprovadas medidas excepcionais para a

Argentina no âmbito tarifário, medidas estas que ficaram em vigor até dezembro de

2002 (BÖHLKE, 2007).

Outro fato importante foi a implementação em dezembro de 2005 de um

parlamento para o bloco. Através do Protocolo Constitutivo do Parlamento Mercosul

foi criado o Parlamento do Mercosul, que substituiria a Comissão Parlamentar

Conjunta. Integrado por representantes de cada país do grupo, tem sua sede na

cidade de Montevidéu, no Uruguai, e foi constituído de acordo com a legislação

interna dos Estados membros e com os dispostos do Protocolo Constitutivo do

Parlamento. Este protocolo tinha por objetivos a reafirmação de alguns objetivos do

Tratado de Assunção com algumas adições: defendia-se a promoção e a defesa

permanente da democracia, liberdade e paz, assim como a promoção do

desenvolvimento sustentável da região com justiça social e a contribuição para a

consolidação da integração latino-americana através do aprofundamento e

ampliação do bloco (MERCOSUL, 2005).

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Caberia ao Parlamento, portanto, conforme o Protocolo do Parlamento

Constitutivo (2005), velar pelo cumprimento das normas do Mercosul, preservando o

regime democrático nos Estados partes, elaborando pareceres a respeito de todos

os projetos de normas do Mercado Comum do Sul e servindo como órgão de

representação. Portanto, acordariam, conforme artigo primeiro, tratando da

constituição do Parlamento, que:

Constituir o Parlamento do MERCOSUL, doravante o Parlamento, como órgão de representação de seus povos, independente e autônomo, que integrará a estrutura institucional do MERCOSUL. O Parlamento substituirá a Comissão Parlamentar Conjunta (MERCOSUL, 2005, p.1).

Neste período de revitalização do bloco, segundo Visentini (2013) houve

ainda avanço no sentido de formar uma União Aduaneira com um Código Aduaneiro

do Mercosul. Deu-se início ao projeto do Fundo Mercosul de Apoio à Integração

produtiva de pequenas, médias e microempresas com a intenção de haver uma

maior cooperação na área de biocombustíveis e suas tecnologias. Em 2005, a

criação do FOCEM tinha por objetivo a redução das assimetrias entre os países do

bloco.

Em 2006 iniciou-se o processo de adesão da Venezuela no bloco como

Estado parte. Através do Protocolo de Adesão da República Bolivariana da

Venezuela ao Mercosul (2006), a Venezuela adere ao Tratado de Assunção, ao

Protocolo de Ouro Preto e ao Protocolo de Olivos (MERCOSUL, 2006). Para que a

adesão do país se desse por completo era necessária a aprovação por todos os

membros do bloco, sendo que assim o fizeram, Argentina, Uruguai e Brasil em 2009,

porém o Paraguai se mostrava contra isso devido às atitudes do presidente Hugo

Chávez que governava até pouco tempo antes por decreto, mostrando a Venezuela

ter democracia frágil (OLIVEIRA, 2012).

Em dezembro de 2011 reforçou-se aos Estados-parte e associados do bloco

o Protocolo de Montevidéu (2011), também chamado de Ushuaia II, pois reiterava o

pacto com a democracia no Mercosul concordado no Tratado de Ushuaia I (1998).

Sendo assim, reiterou-se sobre o compromisso com a promoção, defesa e proteção

à democracia, julgados como indispensáveis ao desenvolvimento da integração do

bloco. Tal protocolo seria aplicado em caso de ruptura ao regime democrático, de

violação da ordem constitucional ou qualquer situação que colocasse em risco o

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exercício legítimo do poder. Sendo assim, em caso de ruptura o Conselho do

Mercado Comum poderia (e poderá) estabelecer inclusive a suspensão dos direitos

de participação nos órgãos de estrutura institucional do bloco. (MERCOSUL, 2011).

Devido ao caráter do Mercosul, somado a este último tratado, decidiu-se em

2012 pelos presidentes da Argentina, do Brasil e do Uruguai – Cristina Kirchner,

Dilma Rousseff e José Mujica, respectivamente, pela suspensão temporária do

Paraguai do bloco (MERCOSUL, 2012), já que este passava por crise interna que

resultara na deposição do presidente daquele período, Fernando Lugo. Com a

suspensão do Paraguai, sendo este o único a não ter aprovado a entrada da

Venezuela no bloco, foi aprovada de maneira definitiva a entrada da Venezuela ao

Mercosul (FRIZZERA, 2013).

Com as eleições no Paraguai em abril de 2013 e eleição de Horácio Cartes

para presidente, de acordo com a deliberação da cúpula de presidentes do Mercosul

de Junho de 2012 (momento da suspensão do Paraguai) a suspensão seria

revogada pois não mais havia impedimento para a volta do Paraguai ao bloco. Com

a verificação da retomada da democracia no país em julho de 2013, o Mercosul

tornou viável o reingresso do Estado ao bloco, porém, antes mesmo de tomar posse

do cargo o presidente Cartes declarou que a volta do Estado ao bloco era um

assunto delicado que demandava aprovação do país ao protocolo de adesão da

Venezuela, para que, somente posteriormente a isso, o Estado manifestasse seu

reingresso. O Paraguai mostrou ainda interesse em voltar ao grupo sob a condição

de tomar posse da presidência temporariamente (RAMBO; PEREIRA; SÖTHE,

2014).

Após negociações, em dezembro de 2013 a Câmara dos Deputados do

Paraguai aprovou o protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul, logo após

declarando interesse em regressar ao bloco sem exigência a presidência pro-

tempore. A cúpula dos Representantes do Mercosul, que seria realizada em janeiro

de 2014 e marcaria o reingresso do Paraguai foi adiada por duas vezes, sendo

realizada por fim em 20 de fevereiro em Montevidéu, marcando o retorno do

Paraguai ao bloco (RAMBO; PEREIRA; SÖTHE, 2014).

Diante ainda da importância econômica e estratégica da Bolívia ao Mercosul,

sendo este país possuidor de gás natural e tendo como principais parceiros

comerciais deste produto Brasil e a Argentina - maiores economias do Mercosul – a

convite dos países do bloco em 07 de dezembro de 2012 foi realizada a 44ª Reunião

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de Cúpula dos Estados Partes do Mercosul e Estados Associados, para que fosse

assinado o protocolo de adesão da Bolívia ao bloco. A partir de tal data a Bolívia

integra o grupo do Mercosul nas negociações do bloco com terceiros, mas só

passará a ser membro efetivo do grupo depois da ratificação de adesão ser

assinada por todos os países do bloco, sendo que tal protocolo de adesão não tem

prazo definitivo para ser realizado (LISBOA, 2013).

Em relação ao processo de integração do bloco em si, pode-se considerar

que o Mercosul é atualmente uma União Aduaneira incompleta, pois, apesar de

reduzir ou eliminar as tarifas alfandegárias entre os integrantes e regulamentar o

comércio com as nações não pertencentes ao bloco através da TEC, ainda existem

disparidades nas políticas externas dos países do grupo que não o permite de ser

uma União Aduaneira Completa. Em relação ao histórico da América Latina,

percebe-se que uma maneira geral os países passaram pelo mesmo tipo de

adversidades – principalmente os países da América do Sul – e caminharam juntos

em direção à integração. Esses países têm construído juntos o bloco econômico,

mas uma vez que se pretende entender o desenvolvimento que tal regime acarretou

especificamente no Brasil, torna-se importante observar os esforços particulares da

política externa brasileira para com a construção e consolidação do bloco.

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3 RESULTADOS DA POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL EM

RELAÇÃO AO MERCOSUL

3.1 Brasil e seu agente de política externa: A percepção da América Latina e

do Mercosul

O Brasil, por não ter passado por um processo de independência de corte de

relações com a metrópole Portuguesa como os demais países da América Latina em

relação à Espanha, encontrava-se integrado ao mercantilismo português, dessa

forma, seguia-se uma política de livre comércio de predominância quase absoluta

com a Inglaterra. Durante este mesmo período focou-se no que Visentini (2013, p.

11) chamou de “a questão das fronteiras”, devido aos problemas regionais

relacionados à construção do espaço geopolítico e nacional brasileiro. Neste sentido

a relação Brasil-Argentina era de rivalidade herdada do período em que eram

colônias. A primeira fase da política externa Brasileira se dá, portanto, no contexto

da subordinação à Inglaterra e da necessidade de construção do espaço nacional.

Esta fase se estabeleceu por quatro séculos (VISENTINI, 2013). Cervo e Bueno

(2002) ressaltam que quanto ao período da independência dos países americanos,

não havia nenhuma fatalidade histórica que os fizessem ceder à Inglaterra, e que

teria sido uma estratégia mais inteligente barganhar, porém relações como a

brasileira com Portugal o levaram a tal.

Segundo Visentini (2013), a mudança da dependência Inglesa para a

hegemonia norte-americana é o que representa a segunda fase da política externa

brasileira. Durante este período concluiu-se a delimitação das fronteiras e o país

passa a vincular a política externa com o desenvolvimento econômico. No governo

do presidente Vargas há um afastamento em relação aos EUA, mas que se retoma a

um alinhamento aos norte-americanos antes do fim da década de 1950.

Há ainda um terceiro grande momento das relações internacionais do Brasil

que se refere à multilateralidade na fase da crise de hegemonia no sistema mundial.

Neste momento, primou-se por uma estratégia de desenvolvimento econômico, ao

mesmo tempo acontecia uma diversificação dos parceiros internacionais do Brasil.

Seguiu-se uma manutenção das relações Estados Unidos-Brasil, mas a diplomacia

brasileira passou a atuar no sentido horizontal Sul–Sul, e Sul-Leste (mantendo

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relações com o terceiro Mundo e com os países socialistas). Estas estratégias se

tornaram possíveis pela necessidade de desenvolvimento no Brasil e por haver um

crescente desgaste do antigo sistema mundial de hegemonias (VISENTINI, 2013).

Conforme Visentini (2013), a partir de então a diplomacia brasileira converteu-

se em uma política externa para obter recursos e mercados que estimulariam a

indústria nacional, ou seja, o desenvolvimento. Este período é o que se estende até

hoje. Até chegar ao terceiro momento de sua política externa o Brasil não havia

tomado como prioridade a América do Sul, mais especificamente os países do

Mercosul. Dessa forma, passa-se a falar mais dos países latino-americanos após a

Segunda Guerra Mundial, onde se iniciam os primeiros anos da Guerra Fria e nova

Ordem Mundial.

Segundo Cervo e Bueno (2002), com a Segunda Guerra Mundial percebeu-se

que a economia da guerra impunha maiores problemas econômicos para as nações

menos desenvolvidas do que para as industrializadas, uma vez que economias

como a brasileira (e as da América Latina) não tinham uma indústria autossuficiente

para que se suportassem sem catástrofes as dificuldades de um período

excepcional no comércio internacional. Notou-se a necessidade de criar uma política

externa em prol do desenvolvimento visando obter investimentos. Naquele

momento, pediram-se tais investimentos em troca de cooperação com os Estados

Unidos.

Os Estados Unidos aceitaram cooperar com as nações menos desenvolvidas

e ficou acordado que o desenvolvimento econômico destes passaria a ser um

elemento essencial não somente para tais países, mas também na defesa do

continente. Tal medida representou um marco e foi mantida nas gestões

subsequentes à de Vargas, ganhando folego com o lançamento da Operação Pan-

Americana (OPA) durante o governo de Juscelino Kubitschek e durante a Política

Externa Independente (PEI) dos governos de Jânio Quadros e Goulart (CERVO;

BUENO, 2002).

Acertou-se naquele momento que a miséria das massas traria uma situação

de risco para a democracia no continente – principalmente porque com o fim da

Segunda Guerra surgiu a ameaça do comunismo. O Brasil passou a ver a

necessidade de desenvolvimento não só para si, mas também para os demais

países da AL como algo importante, pois se percebeu que este era um meio para

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que fossem evitadas agressões dentro da América Latina, uma vez que na região o

comunismo já vinha se manifestando (CERVO; BUENO, 2002).

Uma vez que a Europa encontrava-se devastada pela Guerra, e os países da

América Latina assumiram uma atitude de cooperação e alinhamento com os

Estados Unidos, inclusive em relação à segurança regional, estes passaram a não

mais receber atenção dos norte-americanos por não ser uma zona em disputa e já

se considerada zona de influência deles. Descobriu-se, desta forma, que “a posição

política defendida pelo Brasil em relação aos Estados Unidos de aliado preferencial

na América Latina, não existia” (VISENTINI, 2013, p. 41).

Como os Estados Unidos estavam voltados à Europa e à Ásia, surgiu um

sentimento comum de abandono entre os latino-americanos, que perceberam que a

aliança com os Estados Unidos somente os incentivava a eliminar restrições e

controles cambiais, fato que beneficiava somente aos EUA. Sendo assim, os países

passaram a enxergar na América Latina, principalmente na do Sul, uma alternativa

ao esquecimento Americano (VISENTINI, 2013).

Conforme Visentini (2013), neste sentido houve a criação da CEPAL, em

meados de 1948. Como tal instituição atendia as reinvindicações dos Latino-

Americanos, este era dificultado ao máximo pelos EUA já que não os trazia

benefícios. Já no segundo governo de Getúlio Vargas, percebendo que para os

norte-americanos o Brasil não tinha tratamento privilegiado por já ser considerado

apoio consumado e inegociável dos EUA, Getúlio destaca o descaso norte-

americano para com a América Latina e dá ênfase a importância de um maior

intercâmbio comercial e político regional. A partir deste momento, passa-se a

priorizar, da mesma forma, o desenvolvimento local e a necessidade de que este

seja impulsionado.

A aproximação com a América Hispânica se mostrava então como uma ótima

saída comercial em um momento difícil, bem como um instrumento de barganha. Tal

aproximação só não foi de mais benesse devido à rivalidade ainda existente entre o

Brasil e a Argentina, que se mostrava longe de ser resolvida. Foi a partir do governo

de Juscelino Kubitschek (JK) que se perceberam vantagens enormes em aprimorar

a relação com a América Latina dentro do novo cenário, fazendo com que o novo

governo visasse à ampliação dos horizontes do comércio externo e das relações

diplomáticas brasileiras (VISENTINI, 2013).

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A partir de 1958, com o lançamento OPA – que visava banir da América

Latina a miséria e o subdesenvolvimento – que o então presidente JK começou a

por em prática suas ideias sobre a aproximação com a América Latina. A OPA,

apesar de ter sido bem acolhida pela Organização dos Estados Americanos (OEA),

obteve poucos resultados práticos. Seus únicos resultados foram o Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID), que foi o organismo financeiro

internacional criado pelos norte-americanos como resposta imediata para o

momento de crise de relacionamento deles com a AL, porém esta já era uma

reivindicação antiga dos latino-americanos; a criação da Associação Latino-

Americana de Livre Comércio (ALALC), que daria maior estabilidade e criaria

ampliação do intercâmbio comercial, assim como aumento da produção e

substituição das importações; e um terceiro resultado seria a geração da Aliança

para o progresso, que seria um projeto político que traria uma maior atenção dos

EUA para a América Latina, porém não houve maiores resultados imediatos

(BUENO, 2012).

Durante este período, conforme Visentini (2013) foi percebida a necessidade

de recomposição da unidade continental, desta forma, passa-se a enaltecer a

importância do desenvolvimento para a estabilidade regional, e as necessidades de

uma unidade latino-americana para que isto exista. Como comentam Cervo e Bueno

(2002), Juscelino Kubitschek em sua política externa sempre se refere à América

Latina como um todo, não ao Brasil isoladamente. Ele pretende dar uma solução

global ao subdesenvolvimento.

Neste sentido, JK aborda as questões econômicas e o papel internacional do

Brasil, chegando até a fazer alusão ao Plano Marshall, alegando que o problema do

desenvolvimento dos países da América Latina foi tão esquecido que a situação

econômica destes países estaria mais precária e aflitiva que a das nações

devastadas pela guerra. Portanto, somente por intermédio da inversão precursora

nas áreas economicamente atrasadas, compensando os poucos recursos

financeiros internos e a escassez de capital privado, melhorar-se-ia a produtividade

e a rentabilidade da região. A isto, dever-se-ia ainda adotar medidas capazes de

proteger o preço dos produtos-base das flutuações desleais destes, e atualizar os

organismos financeiros internacionais. Só desta forma, tirar-se-ia a região do

subdesenvolvimento (VISENTINI, 2013)

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O aumento do comércio dentro da América Latina por redução das tarifas

alfandegárias foi uma das propostas da Política Externa Independente inaugurada

no governo de Jânio Quadros com relação à América Latina, entre outras propostas

que fariam com que o Brasil visasse em sua política externa o interesse nacional.

Neste sentido, a política externa independente assumida pelo Brasil era uma

resposta ao descaso dos EUA para com a AL. O esquecimento norte-americano

para com a América Latina tinha como características a ausência de investimentos

públicos principalmente na área de infraestrutura (VISENTINI, 2013).

Segundo Cervo e Bueno (2002), a política externa de Jânio assumiria a

defesa dos direitos dos brasileiros sem alinhamentos. Seria totalmente em prol dos

interesses do país, uma política em prol do desenvolvimento e do aumento da

produção para que se pudessem ampliar os mercados, independentemente de

preocupações ideológicas. Este último ponto foi decisivo para que os Estados

Unidos se vissem pressionados a mudar suas perspectivas e voltar a dar atenção à

AL, uma vez que Brasil utilizava-se do discurso da necessidade de que o hemisfério

ocidental se mostrasse mais prospero do que os países de ideologias

antidemocráticas.

Desde o governo de Jânio o Brasil passou a dar maior atenção à América

Latina, começando pela Argentina. Assinou-se uma declaração em Uruguaiana

confirmando entendimento entre o Brasil e a nação vizinha, e o então ministro do

governo San Tiago Dantas, retribuindo visita, foi à Argentina e assinou confirmação

de tal declaração. Esta continha onze pontos de concordâncias relativas à ordem

internacional, à salvaguarda da democracia e a promoção do desenvolvimento de

ambos os países. Foram incluídas questões econômicas, culturais, entre outras, e

previsto uma comissão mista permanente de consulta. Além disso, foi feito um

tratado de extradição e convenção sobre assistência gratuita (CERVO, BUENO,

2002).

Segundo Cervo e Bueno (2002) durante o governo de Juscelino acreditava-se

que as rivalidades estavam superadas e que a situação econômica dos países os

levaria a integração, tanto pela complementariedade como pela integração dos dois

mercados. Brasil e Argentina seriam juntos o núcleo de um grande mercado na

América Latina, mas em 29 de maio 1962 houve reorientação da Política externa

argentina e isto fez com que se desse fim ao espírito de Uruguaiana, interrompendo

a aproximação entre os países, pelo menos temporariamente.

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Durante o período militar, voltou-se a ter uma política externa associada aos

Estados Unidos, sendo que o chanceler Juracy Magalhães chegou a afirmar,

conforme Visentini (2013, p.82), que “o que é bom para os Estados Unidos é bom

para o Brasil”. Como prova de alinhamento aos norte-americanos, o Brasil rompeu

suas relações diplomáticas com Cuba para demonstrar que não havia esquerdismos

na política brasileira. Neste contexto, fato que danificou a imagem do Brasil na

América Latina foi o atendimento ao pedido dos EUA, enviando tropas brasileiras à

República Dominicana, com o objetivo de impedir que a guerra civil daquele país

gerasse novos socialistas. Tal ato, somado ao aumento da projeção da economia

brasileira sobre seus vizinhos, fez com que estes passassem a ver a política

brasileira com estranhamento. Deste modo, o Brasil voltava a ter uma política de

projeção de poder e descaso os seus vizinhos, tendo um alinhamento direto com os

EUA.

Por meados da década de 1980 a América Latina é atingida pela crise da

dívida e logo em seguida pela Guerra das Malvinas. A maneira como foi articulada e

executada a derrota da Argentina e a implosão, com isso, do regime militar deste

país fez com que se percebesse que o sistema internacional se transformava e tinha

ideais que não apoiavam a autonomia dos países de porte médio de Terceiro

Mundo. Tal percepção fez com que o Brasil apoiasse a Argentina, inclusive

vendendo secretamente aviões de combate durante a guerra para ela. (VISENTINI,

2013).

A América do Sul volta a ser, portanto, um espaço valorizado pela diplomacia

brasileira. Incrementa-se a cooperação político-econômica, com foco principalmente

nas relações com a Argentina sem desvalorizar as relações com o mundo

industrializado, a África e a Ásia. Há um universalismo na política externa, que se

caracteriza principalmente pela disposição ao diálogo, respeito mútuo e princípio de

não intervenção. A política externa brasileira pretendia consolidar um novo tipo de

relações, abertas, democráticas e sem subordinações. Com a América Latina o

Brasil mostra posição de igualdade e interesse no benefício comum a todos. Desta

forma, o país se assumiu latino americano. Percebe-se, neste momento, que as

nações latino-americanas deveriam buscar a integração regional, pois estas

permitiriam acelerar o desenvolvimento e o intercâmbio entre elas, sem passar

despercebidas as potencialidades e necessidades de cada país, ainda facilitando as

negociações econômicas entre elas e os países desenvolvidos (VISENTINI, 2013).

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Com o governo Figueiredo, a política brasileira para a América Latina progride

muito. Contribuíram para este avanço a crise da dívida externa dos países da região,

o fim do diálogo Norte-Sul, o apoio dos EUA à contra-ofensiva inglesa sobre as

Malvinas, as retaliações impostas à Argentina, entre outros fatores. A partir da

década de 1980 a política brasileira para a América Latina passa a mudar. Desfaz-

se o contencioso com a Argentina acerca do aproveitamento dos rios; presta-se

ajuda ao Suriname para evitar uma aproximação cubana no conflito Leste-Oeste;

mantêm-se os princípios da não-intervenção e autodeterminação que ajudaram a

condenar a intervenção norte-americana na América Central (CERVO; BUENO,

2002).

De acordo com Visentini (2013), é com Figueiredo que se faz se pela primeira

vez da América Latina uma prioridade da política externa brasileira e põem-se isso

em prática. Até então, generais presidentes como Castelo Branco chegaram a

priorizar a América Latina em seus discursos, mas até o governo universalista de

Figueiredo tais ideias permaneceram sem prática. Neste momento passou-se então

a incrementar a cooperação político-econômica entre os países. Quanto mais se

viam reduzidas as possibilidades de atuação brasileira no plano global, mais se

valorizava a América do Sul como alternativa estratégica.

Segundo Cervo e Bueno (2002), neste período o episódio das Ilhas Malvinas

teve importância na política externa do Brasil, pois o fez tomar decisões como não

sair da OEA, ainda que duvidasse de sua eficiência; preservar o Atlântico Sul dos

conflitos e motivar os países costeiros para ações em prol de seu desenvolvimento;

e fez com que o Brasil procurasse a Argentina pra que fossem superadas as

rivalidades por completo, saindo de uma fase de apenas cooperação com a AL para

alcançar uma fase de integração efetiva, integração essa que se consolidará com a

redemocratização regional.

Infelizmente o que seria uma grande oportunidade para a aproximação entre

o Brasil e a Argentina, o retorno da democracia, ocorreu em momento difícil

economicamente e politicamente para a América Latina como um todo que via na

crise da dívida o maior empecilho para lidar com as pressões do FMI e do Banco

Mundial, enquanto o confronto centro-americano permitia a aproximação dos

Estados Unidos para a região, trazendo consigo a Guerra Fria. Apesar disso, os dois

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países acabaram por aderir ao Grupo de Apoio à Contadora3, aproximando-os

sistemática e institucionalmente. (VISENTINI, 2013).

Com a Declaração de Iguaçu (1985), estabeleceu-se uma comissão de

estudos para a integração entre Brasil e Argentina. Em 1986 foi assinada a Ata para

Integração e Cooperação Econômica, que tinha a finalidade de intensificar e

diversificar as trocas comerciais entre os países. A partir de então, foi firmado em

1988 o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento Brasil–Argentina,

que tinha por objetivo estabelecer um mercado comum entre os dois países em um

prazo de dez anos. Tal cooperação era estimulada pela marginalização da América

Latina no sistema mundial. Buscavam-se respostas aos desafios internacionais,

complementaridade comercial, criação de fluxos de desvio de comércio e havia um

esforço coletivo na área tecnológica (nuclear) e de projetos específicos. A integração

permitia para o Brasil, em especial, aumentar a base regional para a inserção

internacional do país, passagem essa que acarretou no Mercado Comum do Sul

(Mercosul) em 1991 (VISENTINI, 2013).

Durante o governo de Fernando Collor, segundo Visentini (2013) pretendeu-

se reforçar o consenso do desenvolvimento, tornando a balança comercial favorável

a América Latina. Neste governo, a Ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello,

fez com que esta relação não mais fosse apenas entre Brasil e Argentina, mas

incluísse o Uruguai e o Paraguai, países que no período praticavam tarifas externas

muito baixas, para que se pudesse acelerar a redução das próprias tarifas

brasileiras. Passou-se, portanto, a seguir uma política com ideais neoliberais. Neste

sentido o Mercosul (no momento projeto de União Aduaneira com uma Tarifa

Externa Comum), buscou agregar mercados. Isto beneficiou inicialmente as

transnacionais, sendo que algumas estavam em processo de retirada da região, e

manteve uma base física de produção na região. O Mercosul ainda promoveu um

desvio de comércio que permitiu a sobrevivência de diversos setores econômicos

nacionais.

A problemática brasileira naquele momento em relação ao Mercosul, era de

que ao invés de liderar o grupo, o Brasil parecia venerar o sucesso Argentino neste

3 O Grupo de Apoio Contadora, integrado pelos governos da Argentina, Brasil, Peru e Uruguai surgiu

em 1985 em apoio ao Grupo de Contadora (Colômbia, Panamá, México e Venezuela), que tinha como objetivo fazer frente ao conflito regional da América Central. Para mais informações: AVILA, Carlos F. D. O Brasil frente ao conflito regional na América Central: oposição ao intervencionismo e apoio à solução negociada, justa, equilibrada e duradoura (1979-1996). Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, v. 46, n. 1, p. 66-93, Jan./Jun. 2003.

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sentido. Naquele momento ainda, a noção de soberania foi deixada de lado em

nome da adesão à globalização, sendo esta aceita como inevitável e mesmo

desejável (VISENTINI, 2013).

Já no governo de Itamar Franco, os compromissos brasileiros no plano

externo se ligavam a defesa de certos princípios, tais como a democracia, os direitos

humanos, as liberdades dos indivíduos e a justiça social com desenvolvimento.

Dando certa ênfase ao projeto nacional, defendia-se à autodeterminação dos povos,

o princípio de não intervenção e a solução pacífica de conflitos e divergências. Este

governo tinha como meta revalorizar a presença do Brasil no cenário mundial, que

havia sofrido reduções quando sob o controle de Collor. Fez isto a partir de foros e

da integração regional (VISENTINI, 2013).

Quanto à integração regional, priorizou a relação platina e sul-americana.

Deu-se uma dimensão estratégica ao Mercosul que antes não existia. Diversas

visitas foram realizadas aos países fronteiriços, assim como o Brasil foi visitado

pelos chefes destes países. Com a integração consolidada de fato, a instalação

efetiva do bloco acarretou em aumento de comércio e de relações brasileiras com os

vizinhos. Efeitos da globalização foram amenizados com o desvio de comércio que

foi então gerado. Um problema encontrado no momento foi que devido às políticas

neoliberais adotadas internamente, foram perdidas muitas possibilidades de

exportação dentro do próprio bloco, uma vez que houve muitas importações

extrabloco. Além disso, também pelas políticas neoliberais a capacidade de

exportação extrabloco foi pequena, já que os países membros do bloco adotavam o

mais próximo de uma paridade com o dólar, fato este que encarecia as exportações

(VISENTINI, 2013).

Durante este período de ampliação da infraestrutura de integração do bloco,

em resposta à implantação do NAFTA, buscou-se a associação da Bolívia e do Chile

ao Mercosul. A Bolívia era importante, pois, como já dito anteriormente, forneceria

gás natural ao Brasil, assim como poderia facilitar a adesão de outros países da

Comunidade Andina de Nações (CAN) ao bloco. Com o Chile da mesma forma

foram assinados diversos acordos de cooperação e criada uma comissão de

estudos para uma ligação bioceânica. Manter estes países, assim como os membros

do Mercosul, fieis ao bloco era de extrema importância para que pudesse se diminuir

as pretensões dos Estados Unidos, uma vez que agora, a América do Sul era o

espaço de projeção da economia brasileira. Espaço este onde a autonomia deveria

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ser conservada, já que afastando esta área dos grandes fluxos internacionais se

estaria também a preservando dos conflitos armados e da disputa de poder a nível

mundial. Em dezembro de 1994 foi assinado o Protocolo de Ouro Preto, que dava

caráter institucional ao Mercosul, com o processo decisório alicerçado no consenso

entre os países-membros (VISENTINI, 2013).

Em 1995 foi eleito presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso (FHC).

FHC manteve a integração regional e aprofundamento do Mercosul como uma das

linhas de ação prioritárias de seu governo. Deu início à substituição do foco na

América Latina em geral pela América do Sul, delimitando uma nova área de política

regionalista. Tal delimitação geográfica foi de grande importância na agenda

diplomática sul-americana, e tomou-se o Mercosul como o fator mais importante

dessa estratégia. Seguindo a Constituição de 1988, FHC manteve a integração

latino-americana como o compromisso mais importante da política externa brasileira

(VISENTINI, 2013).

Conforme Vigevani, Oliveira e Cintra (2003), essa política voltada ao entorno

geográfico podia parecer simples, mas como até o governo de José Sarney não

havia tido centralidade, mostrava-se como novidade na política externa do Brasil. A

maneira a que foi tratado o Mercosul coincidiu os interesses de brasileiros e

argentinos de regionalismo aberto. Isto possibilitou ao Brasil uma política externa

“sem exclusivismo ou alinhamento, simultaneamente, aderir às normas e aos

regimes internacionais de seu interesse e, ao mesmo tempo, garantir a preservação

de uma reserva de autonomia" (VIGEVANI; OLIVEIRA; CINTRA, 2003, p. 45).

No contexto da América do Sul, o Mercosul já mostrava que havia servido de

aliança estratégica entre Brasil-Argentina, no sentido que eliminou a hipótese de

conflito bilateral. Percebe-se também, que entre 1991-1997 o comércio dentro do

bloco aumentou consideravelmente, afirmando seu papel econômico-comercial.

Avançou-se no sentido político-estratégico, aprofundando os mecanismos de

concerto e de definições conjuntas. Destaca-se ainda neste sentido a cláusula

democrática, a qual se tornou garantia da consolidação dos regimes democráticos

na região e foi decisiva durante a eclosão das crises políticas paraguaias

(VISENTINI, 2013).

Para Vigevani, Oliveira e Cintra (2003), Fernando Henrique Cardoso via no

crescimento da importância da América do Sul uma oportunidade de aumentar o

poder de barganha extra-regional do país, porém houve dificuldades em aumentar o

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esforço nacional nesse sentido. Havia resistências internas impostas por setores

regionais e sociais que temiam ser onerados por uma política de integração, e

haviam outras dificuldades relacionadas à liderança brasileira.

Conforme Visentini (2013), como tratado no subcapítulo da implementação

do bloco, nos anos de 1998-1999 o Mercosul passa por um momento extremamente

delicado. Esgotam-se as etapas de ganhos fáceis com a integração, característicos

da fase inicial de aumento do comércio como efeito da redução tarifária. Precisou-

se, neste momento, administrar situações difíceis no plano econômico-comercial e

mais do que nunca fortalecer os compromissos da região. O mantimento da

paridade peso-dólar na Argentina dificultava o avanço integracionista. O que antes

era um superávit argentino com o Brasil passou a ser déficit, e não se tornou maior

somente pela prolongada recessão da economia.

Como somado a estes fatores havia o aumento das pressões externas e uma

redução do espaço de ação brasileiro, no final de agosto deu-se início, no Brasil, a

Cúpula de Brasília, que teve como ideias principais a construção de uma

infraestrutura de transporte e comunicações entre os países sul-americanos. Esta

proposta foi denominada de Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana

(IIRSA). Via-se esta iniciativa como uma tentativa de reação a movimentos norte-

americanos como o lançamento do Plano Colômbia e a aceleração da Área de Livre

Comércio das Américas (ALCA), de acordo com Visentini (2013).

Havia-se um receio quanto à concretização da ALCA, pois esta implicaria no

fim das vantagens da TEC, portanto, fim do Mercosul. Desta forma, durante o

segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso a questão ALCA-Mercosul se

manteve em pauta da política externa brasileira, tanto pela crise que passavam os

países do Cone Sul como pela pressão dos Estados Unidos em implantar o novo

bloco (VISENTINI, 2013).

Segundo Silva (2013), no final da década de 1990, portanto, como o Mercosul

estava em crise e as negociações da ALCA se fortificavam, foi lançado um processo

de intensificação das relações com a América do Sul. Neste período, o Brasil fez

uma proposta de integração mais horizontal que fortaleceria todos os países

participantes em qualquer processo negociador, proposta esta que se consolidou

com a Cúpula da América do Sul em 2000.

Segundo Vigevani, Oliveira e Cintra (2003), em seu governo FHC buscou de

fato normas e regimes internacionais para que se pudesse haver um fortalecimento

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de um ambiente mais institucionalizado. Modificou-se a política externa brasileira,

que até então era resistente a instituições e regimes que pudessem comprometer o

poder brasileiro. A perspectiva institucionalista se mostrou uma opção devido ao

novo ambiente internacional pós-guerra fria, onde uma potência dominava e uma

perspectiva institucionalista promoveria um respeito às regras internacionais, mesmo

pelos países que detinham mais poder. Por outro lado, as relações com a América

do Sul se mostravam positivas ainda que em uma relação de poder, pois serviam

para impulsionar o país em sua inserção internacional como global player. O

universalismo já havia tido parte na política externa brasileira até então, mas a sua

atualização, como com o fortalecimento da expressão global trader, simbolizava a

pluralização de suas relações externas, com ênfase no regional.

O governo de FHC teve como de extrema importância questões como a de

energia – em relação ao petróleo, gás natural e hidrelétricas – questões de

integração – como as já citadas ALCA, Mercosul e CAN – e questões de segurança

– narcotráfico, vigilância da Amazônia e fronteiras. Sendo assim, a ascensão de

novos governos na América do Sul, como o de Hugo Cháves na Venezuela, por

exemplo, trouxe ao governo brasileiro ainda mais incentivo para a integração

regional, pois era de extrema importância a questão dos processos políticos na

região (SILVA, 2013)

De acordo com Silva (2013), nos dois últimos anos do governo de Fernando

Henrique Cardoso a diplomacia brasileira já desenvolvia uma agenda para a

América do Sul para contornar a crise do bloco e manter o processo de integração

para que se recuperasse autonomia frente aos Estados Unidos. Em abril de 2003,

em aula Magna no Instituto Rio Branco, Celso Amorim afirmou que haveria quatro

eixos estratégicos que serviriam como estratégias de política externa para uma

maior inserção internacional, onde além do compromisso com o multilateralismo

para a construção da paz, agenda comercial afirmativa e de parcerias diversificadas

com países em desenvolvimento e desenvolvidos, haveria um compromisso com a

América do Sul.

Além da crise do Mercosul, conforme Visentini (2013), ao fim do governo de

FHC percebe-se que o Brasil daquele momento não conseguia avançar mais, pois

havia uma exclusão social massiva. Era necessário que houvesse reformas sociais

que trouxessem estabilidade para dentro da Revolução Cientifico-Tecnológica. A

Elite brasileira sempre havia optado pela sua dominação interna, o que atendia aos

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seus interesses, porém não aos interesses da população como um todo. Eram

necessárias noções de soberania, de interesse nacional, de projeto nacional e

integração desenvolvimentista para que a política externa pudesse se desenvolver

por completo.

Fernando Henrique Cardoso, portanto, consolidou a política externa iniciada

por Fernando Collor e Itamar Franco, pondo o Mercosul como prioridade em seu

governo. Deixou para trás, definitivamente a ideia de Estado promotor do

desenvolvimento e se utilizou do bloco para viabilizar a incorporação dos países

pertencente a grandes tendências internacionais, devido ao aumento de poder que

os países adquiriram quando juntos. O governo FHC, renovando a política externa

do Brasil deu um novo significado à autonomia: o conceito de "autonomia pela

integração, ou seja, ao invés de uma autonomia isolacionista, uma autonomia

articulada com o meio internacional" (Lampreia, 1999, p. 11 apud Vigevani, Oliveira

e Cintra (2003), p. 37).

Em 2003 assume a presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (Lula).

Este, assim como FHC, teve como prioridade na agenda internacional a integração

da América do Sul, com ênfase em um espaço de liderança compartilhada.

(VISENTINI, 2013). Lula afirmou a disposição do Brasil a negociar com todas as

regiões do mundo, mas dando prioridade a América do Sul e ao bloco Mercosul. Já

no discurso de sua posse, ele afirmou que a estabilidade política com ideais

democráticos e justiça social na América do Sul eram de grande prioridade, sendo

necessária para isso uma revitalização do Mercado Comum do Sul que se

encontrava em tal período diminuído devido às crises dos países parte do bloco e

pela visão restrita e muitas vezes individualista dos membros. O Mercosul e o

processo integracionista da América do Sul foi alicerçado no reforço das relações

econômico-comerciais (SILVA, 2013).

O bloco possuía caráter político que ia além dos projetos econômico-

comerciais. Sendo assim, a integração das economias seria a base para arranjos

políticos e institucionais para a formação da identidade do grupo. Segundo Silva

(2013, p. 145), “O Governo Lula procuraria, então, promover o processo de

integração, com a criação de uma zona de convergência de políticas industriais,

agrícolas, tecnológicas, educacionais e culturais”. Para que o Mercosul se

fortalecesse, portanto, seria necessário que houvesse uma maior institucionalização

e solidez jurídica, intensificando alianças com a Argentina, reforçando a TEC

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criando uma dinâmica de integração produtiva entre os países-membros. Para o

plano jurídico decidiu-se, portanto no sentido da criação de um parlamento, fato este

que daria um passo em direção a uma União Aduaneira que serviria de base a um

Mercado Comum (SILVA, 2013).

Indo de encontro às relações regionais e integracionistas, uma das primeiras

ações deste governo foi o encaminhamento de ajuda à Venezuela que passava por

uma greve geral mantida pela oposição contra o governo do Presidente Hugo

Chávez. Os Estados Unidos passaram então a assumir a iniciativa para que esta

não a fosse do Brasil, pois eles não queriam permitir uma liderança sul-americana

do Brasil desta forma, uma vez que percebida a agilidade da diplomacia do país com

relação à questão venezuelana. Cabe justificar a ação do presidente Lula, uma vez

que não foi de intromissão nos assuntos internos da Venezuela, mas sim uma

questão de evitar o caos político ou econômico em suas fronteiras como já ocorria

com a Colômbia (VISENTINI, 2013).

De acordo com Silva (2013), uma das maiores continuidades do mandato de

FHC para Lula foi a priorização da América do Sul em específico. Em 1999,

juntamente com a crise financeira que passava o Brasil, surgiu uma redefinição das

relações brasileiras com a América do Sul e o Mercosul, sendo que a proposta de

aprofundar a integração na IIRSA e acordos bilaterais do Mercosul com outros

países e blocos sul-americanos são representações disto. Apesar desta

continuidade entre mandatos, Lula criticou a condução das negociações de FHC que

davam pouca margem ao Brasil para uma eventual mudança de rumos. Da mesma

forma criticava que o projeto do Brasil com a ALCA teria ido além de negociações de

livre comércio comprometendo a autonomia do país de fazer políticas públicas, fato

este que, em 2005, fez com que os países do Mercosul na Cúpula no Mar del Plata

se recusassem a negociar com o Brasil enquanto este recebesse subsídios

agrícolas americanos.

Para reconstruir o Mercosul e integrar a América do sul, portanto, ofereceu-se

aos vizinhos uma parceria necessária para retomar o crescimento da economia,

condição esta indispensável para que a integração deixasse de ser virtual e se

criasse uma estratégia no plano global para reversão do crescimento constante da

marginalização que sofria a região. Criaram-se, assim, mecanismos como o

FOCEM, para que se aprofundasse o arranjo e sustentasse o desenvolvimento, pois

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só a integração regional poderia garantir governabilidade e desenvolvimento para

toda a América do Sul (VISENTINI, 2013).

No mandato Lula relançou-se a política de integração com o desenvolvimento

da infraestrutura física (transporte, comunicação e energia) e atribuiu-se a esta

iniciativa uma importância estratégica de aprofundamento qualitativo da política de

FHC em seu final. A integração física sul-americana foi financiada então pelo Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), revelando-se logo a

seguir que o governo brasileiro pretendia duplicar os recursos para o programa,

assim como buscar financiamento de outros bancos e organismos financiadores

como o BID (VISENTINI, 2013).

A partir dos anos 2000 novos processos se apresentaram na agenda dos

Latino-americanos, demonstrando suas capacidades de reafirmação e autonomia

diante das potências tendo como argumento a crise do neoliberalismo e a

necessidade de novos métodos desenvolvimentistas. Desta forma, cada vez mais se

convergiu para o aprofundamento das relações integracionistas entre os países do

Mercosul para que fosse gerado “desenvolvimento com distribuição de renda e

inclusão social” (SILVA, 2013, p.139)

A mudança na política da Argentina, então governada pela presidente

Kirchner, foi outro fator que cooperou para que fosse dada continuidade ao processo

de integração. A Argentina apresentou neste momento vontade de alterar a política

econômica que vinha desempenhando desde 1990, ou seja, decidiu por também

abandonar o neoliberalismo, empregando um modelo de investimentos públicos e

combate à pobreza. No plano internacional, mostrou interesse em aproximar as

relações cooperativas entre o Brasil e seu país, assim como se propôs a apoiar o

resgate do Mercosul. Esta brusca mudança de Menem para Kirchner preocupou os

Estados Unidos, já que se mudou de um alinhamento aos EUA para o que se pode

chamar de uma estratégia regional e o surgimento de um polo autônomo Brasil-

Argentina (VISENTINI, 2013).

Retornaram-se, desta forma, o protagonismo diplomático e o processo de

integração na América do Sul com a afirmação paralela de agendas internas de

desenvolvimento econômico e social. Segundo Visentini (2013, p.136), “A atuação

diplomática sul-americana, além disso, não se refere apenas ao plano regional, mas

a uma ação concertada de âmbito mundial”. Houve dessa forma a associação do

Peru ao Mercosul, a campanha por apoio dos países andinos para que a

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Comunidade Andina de Nações se associasse ao Mercosul e ainda o progresso da

integração da infraestrutura dos Estados da América do Sul. Novos governos

aderiram aos ideais de política externa brasileira: Até a Colômbia, depois da

sugestão do Brasil a mediar a questão dos reféns em poder das Forças Armadas

Revolucionárias da Colômbia (FARC), passou a ver o Brasil com aproximação.

A integração da América do Sul, portanto, se deu em três níveis neste

período: pelo Mercado Comum do Sul, pelo IIRSA e pela chamada na época

Comunidade Sul-Americana das Nações (CASA), hoje Unasul. O Mercosul é o

representante do nível comercial e de investimentos. O bloco tinha ainda avanços

em áreas como a educacional, a política e a científico-tecnológica. Conforme

Visentini (2013, p. 136):

Foram estabelecidas Cadeias Produtivas Regionais e um Programa de Substituição Competitiva de Importações, cujo objetivo é fomentar as exportações dos demais membros do Mercosul para o Brasil, como forma de equilibrar o comércio. Além disso, todos os países da CAN e o Chile já são membros associados do Mercosul, apesar de que alguns deles firmaram acordos de livre comércio com os Estados Unidos

A IIRSA, voltada à infraestrutura de transportes, comunicações e energia é de

interesse a todos os seus pertencentes, assim como a externos como China, União

Europeia, Japão e até mesmo os Estados Unidos. Ela desenvolve múltiplos projetos,

além de compor o marco para possíveis construções de gasodutos e oleodutos,

superando a dimensão ideológica e ainda gerando empregos. Já a CASA, criada no

fim do ano de 2004 e aprofundada em abril de 2007 com sua transformação em

Unasul, representa um fórum de promoção e desenvolvimento da consciência da

integração. Inclui a Guiana e o Suriname e é o local de diálogo dos Estados da

América do Sul (VISENTINI, 2013).

De acordo com Silva (2013), as relações regionais, incluindo o Mercosul,

foram portanto constantes da política externa brasileira nas décadas de 1990 e 2000

continuadas de um governo para outro, porém estas se deram de maneira

diferenciada nos dois mandatos pelo fato de que houve esgotamento do

neoliberalismo e de certa forma volta dos princípios desenvolvimentistas nos

processos de integração, fazendo com que os países da AL desenvolvessem

políticas externas mais autônomas em relação aos países do centro.

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No governo Lula a AL foi tomada como prioridade nas relações exteriores, e a

integração regional foi considerada como elemento chave pelo Itamaraty para que o

Brasil tivesse uma maior inserção internacional. Como há pouco se havia saído de

um mundo bipolar, em uma nova ordem mundial multipolar era importante que a

América Latina não fosse englobada por nenhum polo de poder. Sendo assim o

Brasil procurava consolidar uma ideia de “América do Sul unida, estável e pacífica,

ela mesmo representando um polo de poder no cenário global” (SILVA, 2013, p.

143). Segundo Brasil (2013), citado por Silva (2013), dar prioridade a América do

Sul traria ao Brasil novas possibilidades de políticas bilaterais e uma ação em

concerto na área internacional.

O Brasil unido aos seus vizinhos se tornaria mais forte no sistema

internacional, para isto, então, foram criados programas em diversos setores, como

em “infraestrutura – energia, transporte, comunicações – comércio, finanças,

política, defesa, social e cultural” (SILVA, 2013, p.143). No sentido de infraestrutura,

foi continuada a iniciativa do IIRSA e foram criados projetos em integração,

desenvolvimento e estudos sobre processos setoriais. Em 2004, houve ainda a

definição dos critérios de priorização dos projetos de integração, assim como a

tomada da América do Sul como uma região geoeconômica única. Em 2007 houve

uma cúpula Sul-americana para a criação do Tratado de Integração Energética Sul-

americana e de um projeto de um Corredor Interoceânico Brasil-Chile-Bolívia. Houve

ainda um estudo por parte de membros da Petrobras, Eletrobrás, Itaipu e BNDES

para que se criasse um comitê de acompanhamento dos compromissos em prol da

integração sul-americana (SILVA, 2013).

O Brasil não perdeu sua característica de global trader por priorizar a América

Latina. Pretendeu-se manter suas relações com várias áreas do mundo, assim como

buscar novos parceiros internacionais e consumidores como a Ásia, mas manteve-

se a ênfase no Mercosul e na integração sul-americana. Houve a consolidação da

Unasul como fórum político sul-americano, tanto quanto instituição quanto em

relação a situações práticas, como quando das discussões sobre a presença de

bases estrangeiras na América do Sul (especialmente na Colômbia). Podem-se

considerar outros pequenos fatos como progressos da integração na América do

Sul, como a ponte sobre o rio Tacutu (fronteira Brasil-Guiana) e a assinatura do

acordo de cessão de energia da hidrelétrica Itaipu Binacional, que aumentou em três

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vezes a quantia paga pelo Brasil ao Paraguai pela energia importada e usada pelo

Brasil (VISENTINI, 2013).

Prova de que o Brasil seguiu sendo Global trader foram os estabelecimentos

de acordos em 2004 com a Índia e a União Aduaneira da África Austral. Assim como

deu-se início a negociações com Egito, Marrocos e a Comunidade de Países de

Língua Portuguesa, mas sem deixar de lado o Mercosul, que como dito

anteriormente teve a criação de um fundo do Mercosul de Apoio â Integração

Produtiva de pequenas, médias e microempresas e o Fundo de Convergência

Estrutural do Mercosul, sendo que o Brasil foi o responsável por 70% do orçamento

total do mecanismo, demonstrando seu interesse em uma maior integração do bloco

(SILVA, 2013).

Em relação ao comércio, a política externa tomou iniciativa para que os

países do Mercosul viessem a se utilizar do mercado brasileiro. Houve um programa

de substituição de importações com informações sobre oportunidades entre os

setores empresariais sul-americanos. Houve ainda um projeto de formação do

Código aduaneiro do Mercosul e de Desenvolvimento e Integração Produtiva do

Mercosul. No setor financeiro passou a disponibilizar pagamentos em moedas locais

e houve a criação de um Banco do Sul (SILVA, 2013).

Dilma Rousseff assume a presidência da república em 2011, e já em seu

primeiro discurso fala da percepção do espaço sul-americano como um espaço

fundamental. Dilma faz sua primeira viagem como presidente à Argentina já no

primeiro mês de seu mandato. Na sequência, visita o Uruguai em maio e Paraguai

em junho, assim como o Peru em julho. Nesta mesma linha, o Brasil propõe

promover o comercio entre os países do Mercosul, principalmente com relação a

área privada (encontros empresariais), fato que ela comprova com a presença do

Presidente José Mujica (Presidente do Uruguai) em encontro na Federação das

Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). A presidente visitou ainda mais uma vez

os países fundadores do Mercosul para participar da XLI Cúpula de Presidentes do

Mercosul e Estados Associados e mostrou o incentivo que o Brasil dá a integração

com o apoio ao Fundo de Financiamento do Setor Educacional do Mercosul (FEM),

assim como na facilitação do intercâmbio acadêmico entre as universidades dos

diferentes países. Percebe-se, desta forma, em 2010, que o comércio entre os

Estados-Parte do Mercosul alcançou o valor de US $44,55 bilhões, sendo que US

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$39,22 bilhões referem-se somente ao intercâmbio total do Brasil com os sócios

(VISENTINI, 2013).

3.2 Resultados do Mercosul no desenvolvimento socioeconômico brasileiro

Como já retratado nos capítulos anteriores, percebe-se que o início do

Mercosul se deu no princípio da década de 1990 e foi orientado principalmente pelos

acordos comerciais entre Brasil e Argentina, com o objetivo de estabelecimento de

um espaço econômico comum traduzido pela eliminação de tarifas comerciais e de

serviços, assim como a convergência entre políticas macroeconômicas. Entre outros

indicativos, o aceleramento na implementação do Mercosul ocorreu em virtude da

estratégia de desenvolvimento e formação dos grandes blocos econômicos, da

alteração das relações Leste-Oeste e, nessa perspectiva, da redução da importância

geopolítica da América Latina (MATHIAS, 2002).

De outra maneira, a integração regional fez com que fosse cumprido o artigo

quarto da Constituição brasileira, que dizia que o Mercosul era também considerado

uma ferramenta para inserção mais competitiva da economia dos Estados-parte

internacionalmente (MARQUES, 1991). Na constituição do Mercosul, os governos

explicitavam que ao firmar o Tratado de Assunção, os quatro presidentes partiam da

ideia comum de que o aprofundamento do processo de integração poderia ser um

instrumento muito forte para o desenvolvimento e uma inserção mais competitiva de

seus países num mundo em que se consolidavam grandes espaços econômicos e

onde o avanço tecnológico-industrial se tornava cada vez mais crucial para as

economias nacionais (BRASIL, 1991).

Quando se trata de estratégias de desenvolvimento, a iniciativa Estatal mais

comum de intervenção em favor deste é proteger o mercado contra produtos

similares importados, dificultando sua entrada ou cobrando tarifas de forma

crescente (o que vai contra a ideia de integração e criação de um bloco). Este foi o

método adotado pelos países considerados de primeiro mundo, com exceção da

Inglaterra que foi pioneira na revolução industrial. O Brasil até a década de 80

seguiu esta alternativa convencional de desenvolvimento, se utilizou de proteções

tarifárias e não tarifárias e optou por uma estratégia de substituição de importações.

Sendo assim, incentivou investidores externos a sobrepor a barreira tarifária para

produzir no Brasil o que antes diretamente exportavam para o país e adotou uma

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política de atração do capital estrangeiro tanto para a produção nacional como para

a que se destinava a exportação. Desta forma, o Brasil acabou por tornar-se um dos

países mais abertos ao investimento estrangeiros se considerado o percentual do

PIB nacional (BATISTA, 1994).

Esta iniciativa que seria temporária acabou durando, e com o esgotamento

total do sistema de substituição de importações e os países da América do Sul em

crise, houve então a abertura comercial que se concretizou com a liberalização dos

fluxos de intercâmbios e a redução da proteção. Assim se deu início ao processo de

cooperação e integração econômica entre os países em desenvolvimento da

América Latina e neste momento que começaram a se formar blocos econômicos

baseados em uma nova teoria de comércio e desenvolvimento por meio das

exportações. Adotou-se neste momento o modelo de desenvolvimento voltado para

fora, com base nas exportações com o progresso tecnológico como variável

endógena para o desenvolvimento (DOMINGUES, 2004). A partir daí começou se a

ver vantagem em participar de um regime internacional.

Sabe-se que o Mercosul pode ser visto desempenhando quatro papéis:

econômico; negociador; securitário; e geopolítico, de acordo com Sturaro (2010).

Neste sentido, segundo Domingues (2004), o papel econômico, de comércio

intrabloco, é fator de destaque na promoção de desenvolvimento no Brasil pelo

Mercosul. De acordo com ele, por mais que um aumento do PIB não gere

automaticamente melhora na qualidade de vida, o aumento do comércio aumentará

o crescimento econômico e, em longo prazo, trará desenvolvimento, pois as

mudanças tecnológicas endógenas criarão externalidades que irão superar

possíveis propensões a rendimentos decrescentes.

Afirma-se que o desenvolvimento econômico pode ser influenciado pelo

comércio internacional, pois este pode fazer com que se usem plenamente os

recursos domésticos que antes não eram utilizados; que se expandam os mercados

criando economias de escala que aperfeiçoam a produção e baixam os custos; que

haja transmissão de tecnologias e ideias; aumente o fluxo de capitais por

investimentos externos diretos e ainda melhore a concorrência externa uma vez que

se exige dos produtos maior eficiência (HABERLER, 1959 apud DOMINGUES,

2004).

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Com relação ao comércio, portanto, desde a criação do Mercosul em 1991,

vem tendo-se resultados expressivos na área comercial. O sucesso da integração na

região é comprovado pelas estatísticas, conforme Simões (2011, p. 16):

Desde o ano de 2000, o comércio total do Brasil com a região passou de US$ 22 bilhões para US$ 63 bilhões. Em 2002, nossas exportações para os vizinhos somaram US$ 7,5 bilhões. Em 2008, alcançaram 38,4 bilhões: um aumento de 412%. Em 2009, o índice de bens industrializados nas exportações brasileiras para a região alcançou cerca de 90% – vendemos, na nossa vizinhança, bens de alto valor agregado. Essas mercadorias geram renda e empregos com carteira assinada para milhões de brasileiros.

Em números gerais, isto se confirma pelos dados do comércio intrabloco, no

qual o Mercosul mostra relativo sucesso. Em números da balança comercial, há uma

evolução do comércio exterior: passou de US$ 73,8 bilhões em 1990, para US$

148,2 bilhões em 2002 e mais de US$ 300 bilhões em 2006. E, apesar da crise do

bloco de 2001-2002, os valores do comércio intrabloco mantiveram-se acima do total

anterior a crise, mantendo um crescimento em maiores proporções (VIGEVANI et al,

2008).

Já com relação à crise de 2008, Azambuja (2012) mostra que da mesma

forma que do momento de recessão do bloco, logo após a crise econômica

internacional as exportações brasileiras para os outros três países do bloco não só

ultrapassaram em números os valores de antes da crise, mas também os superaram

em altos patamares. As exportações brasileiras para o bloco totalizaram, em 2010,

US$ 22,6 bilhões, sendo que em 2008 este número era de US$ 21,7 bilhões. Pode-

se perceber a importância destes números quando comparas às vendas com os

Estados Unidos e a União Europeia, sendo que depois da crise estas caíram para 8

bilhões e 6 bilhões respectivamente.

Tabela 1 - Exportações Brasileiras (US$ milhões - FOB)

Ano Total Mercosul Argentina Paraguai Uruguai

1991 31.620 2.309 1.476 496 337

1996 47.747 7.305 5.170 1.324 811

2001 58.287 6.374 5.010 721 643

2006 137.807 13.986 11.739 1.234 1.013

2011 256.040 27.852 22.709 2.968 2.175 Fonte: tabela elaborada pela autora a partir de informações recolhidas no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (BRASIL, 2014a).

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Conforme os dados da Tabela 1, podemos ver que as exportações brasileiras

para o bloco cresceram ainda mais, chegando a US$ 27,8 bilhões. Também se pode

depreender que a representatividade do bloco não foi apenas proporcional ao

aumento real das exportações. Em valores relativos, as exportações brasileiras para

o Mercosul representavam, em 1991, 7,3% das exportações totais. Já em 2011, as

exportações do Brasil para o bloco passaram a representar quase 11% dos valores

totais.

Tabela 2 - Importações Brasileiras (US$ milhões - FOB)

Ano Total Mercosul Argentina Paraguai Uruguai

1991 21.040 2.243 1.609 221 413

1996 53.346 8.301 5.805 552 944

2001 55.602 7.010 6.207 300 503

2006 91.351 8.967 8.053 296 618

2011 226.240 19.376 16.906 716 1.754 Fonte: tabela elaborada pela autora a partir de informações recolhidas no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (BRASIL, 2014a).

Percebe-se com a tabela 2 que as importações brasileiras do Mercosul não

são tão expressivas quanto às exportações, pois em valores relativos, caem de

10,66% em 1991 para 8,56% em 2011. Isso se dá pela diversidade do mercado

interno brasileiro somada ao caráter agroexportador similar dos países do bloco,

fazendo com que ainda seja necessário importar tecnologia de outros centros, mas

sem que isso diminua a importância do comércio do bloco.

Além do crescimento do comércio verificado nos países do Mercosul, percebe-

se também uma participação de quase 93% de manufaturados nas exportações

brasileiras, o que se mostra um número também alto se comparado a outros

parceiros importantes como UE (apenas 40%) e EUA (55% das exportações são

manufaturados). Com isso, nota-se que o comércio brasileiro com o Mercosul possui

uma enorme dinâmica que não deixa de servir de blindagem para o país frente a

efeitos de crises, ainda que na última o país se encontrava em um contexto

altamente desfavorável do ponto de vista cambial (AZAMBUJA, 2012).

O Mercosul teria influência na área econômica propriamente, além de no

comércio internacional. Alega-se que devido ao bloco percebe-se um aumento

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constante dos investimentos produtivos entre os países pertencentes ao bloco,

assim como por os países associados. Segundo Patriota (2013, p.2):

são notáveis as iniciativas empresariais nos mais variados setores de atividade: produção de insumos industriais, construção civil, manufatura de máquinas e equipamentos, bens intermediários e de consumo, distribuição e logística, comércio atacadista e varejista. A intensidade e a diversificação crescente dessas iniciativas empresariais atestam a importância da ampliação dos mercados para a expansão, a modernização e a integração das unidades produtivas nos membros e nos países vizinhos.

Em relação aos demais papéis do bloco, mesmo que não ligados diretamente

a resultados numéricos, ainda se encontram ligados diretamente ao

desenvolvimento do país. Em relação à sua ideia de papel negociador, que não

deixa de estar atrelado ao comércio, o Mercosul dá a seus membros incremento de

poder de barganha nas negociações internacionais. Tem-se como marco deste

papel do bloco a conversão em união aduaneira na Cúpula de Ouro Preto do

Conselho Comum do Sul (STURARO, 2010). O aprimoramento do bloco como

instituição e o aumento de sua dimensão jurídica-institucional foi aprovada com o

Protocolo de Olivos em 2002. A partir daí, construiu-se um Tribunal Permanente de

revisão que primaria pela correta interpretação e cumprimento prático do conjunto

normativo do bloco. Logo após, em 2006, criou-se ainda o Parlamento do Mercosul,

dando ao bloco maior transparência e representatividade de seus membros no

processo de integração (BRASIL, 2013).

De acordo com Secundino Neto (2011), em vinte anos de bloco, houve

ampliação e diversificação dos negócios dos países-parte. Montaram-se novas

parcerias para fortalecer o bloco, como no caso da Cúpula de Foz de Iguaçu, em

dezembro de 2010, onde diversos países se mostraram interessados em negociar

com o Mercosul, que ganharia com isso o auxilio na maturação do bloco e ainda a

possibilidade de gerar ganhos comerciais com a diversificação de novos parceiros.

Foram assinados contratos de preferência comercial com Estados como o Egito,

Cuba, Índia, Indonésia, Malásia, Marrocos e Coréia do sul, assim como se passou a

negociar com a Síria e a Palestina sobre um futuro tratado de livre-comércio.

Percebe-se, portanto, devido aos papeis econômico e negociador, que no

curto espaço de tempo de 2008 a 2012, o comércio global cresceu 13% e foi de US$

16 trilhões para US$ 18 trilhões. Neste mesmo período o comércio entre os

membros do Mercosul cresceu mais de 20%. Em um pouco mais de 20 anos (tempo

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de existência do bloco) o valor do comércio entre seus membros aumentou em mais

de nove vezes, sendo que seu comércio com o resto do mundo multiplicou-se por

oito (PATRIOTA, 2013).

Segundo Sturaro (2010) o Mercosul em seu papel securitário também se

mostra como fator de desenvolvimento por ter colaborado para a consolidação das

democracias e estabilização política regional, fator de extrema importância por ser

um dos pilares centrais do bloco, e uma vez que trata da manutenção da

democracia, está se falando de um valor fundamentalmente necessário aos

processos de desenvolvimento de acordo com Amartya Sen (1999).

Quando da decisão da integração pelos governos da Argentina e do Brasil em

meados dos anos 1980, segundo Sturaro (2010) os países não perseguiam objetivos

exclusivamente econômicos. A integração que se pôs em marcha ao início do

Mercosul visava além dos objetivos econômicos à superação da rivalidade histórica,

à construção da confiança recíproca, à estabilidade política regional e à

consolidação das reformas democráticas em ambos os países (OLIVEIRA; ONUKI,

2000 apud STURARO, 2010). A integração das economias contribuiria com esse

esforço ao fortalecer as bases materiais das novas democracias. Ainda neste

sentido, vale ressaltar o compromisso assumido pelo bloco com processos como os

princípios de não-agressão e da paz, como instrumentos assimilados ao

desenvolvimento desde o acordo entre os quatro membros, assim como com a

entrada dos demais países (JACOB JUNIOR, 2011).

Percebe-se a rigidez do Mercosul na questão da manutenção da democracia

quando do afastamento do Paraguai do bloco devido ao impeachment do presidente

Fernando Lugo em junho de 2012, como citado em capítulos anteriores. O Paraguai

foi suspenso, pois, segundo os membros do Mercosul, o país não teve suas

garantias constitucionais respeitadas, caracterizando portanto, um rompimento na

ordem democrática do país. Com as eleições para presidente e a regularização da

situação o país voltou a fazer parte do bloco (FRIZZERA, 2013).

Existe ainda no Mercosul a função do papel geopolítico. De acordo com

Sturaro (2010), diferentemente dos demais papéis do Mercosul, o papel geopolítico

não foi objeto dos primeiros acordos entre os Estados-membros. Tal estratégia

apareceu apenas recentemente, à medida que o bloco foi se fortalecendo

econômica e politicamente, e diz respeito às ambições regionais do Brasil. Desta

maneira, pode-se hoje ver o Mercosul como instrumento de demonstração de uma

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potência regional. Sendo assim, a ampliação do bloco traria os demais países sul-

americanos para a influência política do Brasil e abriria caminho para a criação de

uma grande zona de livre-comércio, da qual muito se beneficiaria a economia do

país, consequentemente, o seu desenvolvimento econômico.

Um Mercosul forte e coeso funcionaria como articulador de cooperação Sul-

Sul entre blocos regionais e outros agrupamentos de países em desenvolvimento.

De mesma maneira, é evidente o papel geopolítico que o bloco vem assumindo,

sobretudo na última década. Segundo Jacob Junior (2011), neste ponto, o caráter

geopolítico converge com o papel negociador, pois a integração regional lhe conferiu

uma representatividade bem maior nas negociações internacionais do que se os

Estados estivessem em sua individualidade.

Conforme dito previamente, embora a ampliação do comércio internacional -

resultado provado que ocorreu no Mercosul - gere crescimento econômico e seja um

fato causador de desenvolvimento, este não pode ser considerado isoladamente,

pois, por mais que gere renda, depende ainda da distribuição desta e conforme

Souza (2012), da mudança das estruturas na sociedade. Neste quesito, durante o

governo Lula passou-se a estender políticas públicas desenvolvidas no Brasil para

os países vizinhos com políticas como o Fome Zero e suporte a agricultura familiar.

Em 2003 deu-se o Projeto Mercosul Social, fazendo com que desta forma

houvesse um fundo internacional de combate a pobreza; deu-se ainda o projeto de

Banco de Medicamentos do Mercosul, ideia essa desenvolvida para que fossem

diminuídos os valores de aquisição de medicamentos nos países do bloco. Já no

setor agrícola foi desenvolvido um projeto para que fossem bem analisadas políticas

comerciais, sanitárias, entre outras neste setor, de acordo com Silva (2013). Na

educação, o maior avanço do Mercosul se deu pela criação da Universidade Federal

da Integração Latino-Americana (UNILA), localizada em Foz do Iguaçu, portanto na

fronteira de Brasil, Argentina e Paraguai.

Na 40ª Cúpula do bloco econômico em dezembro de 2010 o presidente Lula

alegou que a marca do bloco é o desenvolvimento com justiça social, e com base no

FOCEM, criado em 2004, que segundo o Ministério do Planejamento (BRASIL,

2014b) “tem por finalidade aprofundar o processo de integração regional no Cone

Sul, por meio da redução das assimetrias, do incentivo à competitividade e do

estímulo à coesão social entre os países-membros do bloco” pode-se observar a

intenção do bloco em avançar neste sentido. O FOCEM tem como função o

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financiamento de projetos de infraestrutura principalmente nas regiões menos

desenvolvidas, o estímulo da produtividade econômica, a promoção do

desenvolvimento social, entre outros.

Pode-se assim perceber que o desenvolvimento social tem sido parte da

agenda integracionista da América do Sul e tem obtido avanços, porém não se pode

desconsiderar a importância da Unasul neste processo, uma vez que ela se

encarrega, segundo Patriota (2013, p.7), de “temas como defesa, combate ao

problema mundial das drogas e ao crime organizado internacional, cooperação em

saúde, educação, ciência e tecnologia, direitos humanos, acompanhamento

eleitoral”.

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CONCLUSÃO

A teoria dos regimes internacionais de Krasner discorre sobre como um

conjunto de leis, regras e comportamentos pode se tornar benéfico para um

determinado grupo de países. Trata de como um regime pode ser assumido

conforme três visões: a dos convencionais, que os considera ineficaz, a dos

estruturalistas, que considera os regimes significativos somente em algumas

condições restritas já que só existem devido a interesses específicos dos países, e a

dos de orientação Grociana, que consideram os regimes como parte componente do

sistema internacional. Neste sentido, tomou-se por base que um país considera um

regime como positivo quando este apresenta vantagens para os países que o

compõem alcançarem seus objetivos, ou seja, uma visão em que os países, por

quererem maximizar poder, fariam acordos voluntários para coordenar

comportamentos em prol de interesses egoístas comuns - a visão estruturalista

modificada. Desta forma, o Brasil voluntariamente juntou-se em 1991 à Argentina,

Paraguai e Uruguai em um regime internacional pela formação de um bloco

econômico – o Mercosul – para alcançar, assim como os demais países que se

juntaram ao bloco, um interesse maior: o desenvolvimento.

Uma vez que o bloco foi criado com o intuito de alcançar mais facilmente o

desenvolvimento para os países, assumiu-se que desenvolvimento estaria ligado ao

crescimento econômico, mas que este sozinho não seria sinônimo de

desenvolvimento uma vez que poderia não se manter em longo prazo, assim como

não garantiria a geração de empregos, ou a redução da pobreza ou da

desigualdade. Desta forma, tomou-se o conceito de desenvolvimento como uma

mudança nas estruturas de um país, onde se possibilitaria dar aos indivíduos a

garantia de exercer seus direitos civis, cívicos e políticos, e haveria melhoria da

produtividade e da renda média da população.

Era percebido que a América Latina em geral apresentava características

comuns e havia passado por situações similares no decorrer de sua história, ainda

mais quando se reflete sobre os países específicos da América do Sul. Desde a

colonização a história dos países, principalmente Brasil e Argentina, se relacionava,

durante este período por serem colônias que serviam suas metrópoles, na

sequência com suas independências, que não foram parecidas, mas que acabaram

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por resultar nas repúblicas e em um período de comércio com a Grã-Bretanha, sem

falar do caráter agroexportador de ambas e da AL em geral.

Com o início do século XX passou a se ver, principalmente na América do

Sul, uma progressão de um sistema exclusivamente primário-exportador para uma

economia um pouco mais diversificada. A região passava mais credibilidade aos

investidores por representar maior constância em suas ações e não mais ser vista

como território de redistribuição de fronteiras e mudança de regimes. Com o início

da Primeira Guerra Mundial a Grã-Bretanha perdeu importância na AL e foi

substituída pela influência norte-americana. Os países latino-americanos se

mantiveram neutros na guerra, embora alguns tenham declarado guerra em apoio

aos EUA. Com o fim da Guerra a demanda por produtos primários produzidos na AL

aumentou, dinamizando a economia da região como um todo, porém com a crise de

1929 a América Latina ficou abalada, pois com a crise do capital os países

exportadores de matérias primas foram fortemente atingidos.

Com a situação da crise e o início da Segunda Guerra Mundial os países da

AL se mantiveram neutros com a intenção de barganhar seus apoios entre os países

que apresentassem propostas mais vantajosas. Isso se deu em toda a AL com

exceção da Argentina que no momento se manteve apoiando a Grã-Bretanha. Na

sequência, com o fim da guerra, todos os países presenciaram um abandono de

investimento dos Estados Unidos que se preocupavam então com a Europa, e para

conseguirem mais investimentos passaram a exigir a atenção dos EUA por

intermédio da ameaça comunista que se espalhava com a Guerra Fria. Os Estados

Unidos voltaram sua atenção à AL, mas fazendo com que esta se endividasse. Com

a falta de investimentos, a dívida e com a intenção de conter as pressões sociais,

toda a América Latina passou então a assumir regimes ditatoriais.

Na década de setenta, com os choques do petróleo a crise tendeu à piora, e

na década de oitenta, quando os regimes militares passaram a cair, os países da AL

se encontravam com dívidas externas colossais. Passa-se aí, com os países

redemocratizados, a perceberem uns nos outros um interesse comum, pois tais

Estados passavam por problemas semelhantes - comuns aos países que a teoria da

dependência teria chamado de países periféricos. Brasil, Argentina, Uruguai e

Paraguai, seguindo a teoria Cepalina de que os países emergentes teriam maior

poder de negociação com os países centrais se juntos, passam a ver em um regime

internacional de integração econômica um interesse comum, o desenvolvimento, e

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passam então a negociar o que, em 1991, se consolidou como Mercado Comum do

Sul – Mercosul.

Analisadas as fases da integração percebe-se que o bloco nunca chegou a

alcançar os atributos necessários para alcançar o patamar de Mercado Comum.

Ainda se considera como uma União Aduaneira incompleta, pois os países

pertencentes ao bloco ainda não aderiram unanimemente a uma tarifa externa

comum, porém a aplicação de um Mercado Comum ser benéfico para a região ainda

é uma questão em aberto. A realidade é que o bloco nasceu com o intuito de gerar

desenvolvimento para as nações e dados estatísticos e históricos podem nos

mostrar que o Mercosul de fato teve influência nos seus Países-membros, portanto

tendo influência para o desenvolvimento do Brasil.

Percebe-se que desde a sua criação o Brasil vê na América Latina uma

possibilidade de ganhos econômicos e de projeção de poder, e tem suas iniciativas

postas em prática já no governo de Figueiredo, ampliadas durante o governo de

Sarney, e seguidas pela inauguração do bloco com presidente Collor.

Desde o ano da implementação do bloco o Mercosul já se mostrou influente

no desenvolvimento socioeconômico brasileiro. Conforme o conceito de

desenvolvimento assumido, sabe-se que somente o aumento no comércio

internacional não pode ser considerado isoladamente como desenvolvimento, mas

este colabora no sentido que aumenta o nível de capital circulando no Estado,

acabando por elevar a renda média da população. Percebe-se que o Mercosul não

só elevou o comércio como o fez aumentando o número de produtos manufaturados

comprados do Brasil pelos países da região. Em torno de 93% dos produtos

produzidos pelo Brasil comprados pelo bloco são manufaturados.

Além do alto número de comércio de produtos com maior valor agregado, é

preciso notar que a criação de um bloco econômico fez com que as economias

conseguissem se manter mais estáveis, como quando da crise do bloco de 2001-

2002, que os valores do comércio entre o bloco conseguiram se manter altos,

mantendo crescimento, ou na crise internacional de 2008, que os países do bloco

ultrapassaram os números de antes da crise, os superando em valores bem

superiores.

Além do papel econômico que o bloco assume, gerando crescimento

econômico, analisou-se que ele trouxe desenvolvimento para o Brasil já que cumpriu

também seu papel negociador, securitário e geopolítico. Em relação ao papel

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negociador, o Mercosul deu a seus membros incremento de poder de barganha nas

negociações internacionais, como no caso da União Europeia, que o Brasil nunca

havia conseguido fazer um acordo bilateral e assim o conseguiu quando negociando

como bloco econômico. Aumentou-se também o número de países que passaram a

negociar com o Brasil por fato de serem parceiros comerciais do bloco.

Uma vez que se considerou que para Amartya Sem (1999) a democracia

seria um valor fundamentalmente necessário aos processos de desenvolvimento, e

considerou-se que um país desenvolvido seria um país que daria a garantia ao

indivíduo de exercer seus direitos civis, cívicos e políticos, o Mercosul colaborou

também para o desenvolvimento quando auxiliou na consolidação das democracias.

Desde o protocolo de Ushuaia se reafirmou oficialmente que os países pertencentes

ao bloco teriam a obrigação de se manter em regimes governamentais

democráticos. Prova de que o bloco realmente pregava isso na prática se deu

quando do ao impeachment do presidente Fernando Lugo do Paraguai, em 2012,

que foi considerado um ato antidemocrático e acarretou no afastamento do país do

bloco. O Mercosul mostra sua influência no desenvolvimento ainda em seu papel

geopolítico, onde se utiliza o bloco como instrumento de demonstração de uma

potência regional, trazendo os países sul-americanos para a influência política do

Brasil, uma vez que ele é o maior país da região.

Percebe-se dessa forma, que seja pelo crescimento econômico, já que com o

Mercosul o Brasil ampliou seu mercado e aumentou muito seus números no

comércio internacional; seja pelo aumento do poder de barganha ou negociação

com países de fora do bloco, ou mesmo com outros blocos; seja pela consolidação

da democracia, à qual o bloco tanto contribuiu; ou seja devido a fatores que tendem

a diminuir a desigualdade social como o FOCEM, ou melhorar a educação dos

indivíduos, como a implementação da UNILA, o Mercosul tem colaborado para o

desenvolvimento, não só no âmbito econômico, mas com justiça social. E também

não apenas do Brasil, mas cooperando com o desenvolvimento dos demais países

do bloco, mostrando que o cumprimento de algumas normas impostas por um

regime internacional se mostram como imposições pequenas comparadas aos

resultados apresentados pela constituição do regime internacional. No caso

específico, a perda de soberania como na imposição de uma tarifa externa comum é

algo pequeno comparado ao desenvolvimento socioeconômico promovido por fazer

parte do Mercosul.

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