a influÊncia da mÍdia nos hÁbitos de consumo da classe emergente no brasil

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A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL JULIANO LOPES NUNES RESUMO O Brasil nas últimas décadas, e em especial ao longo da última, gerou um fenômeno socioeconômico único no mundo, grande parte da sociedade brasileira sofreu intensas alterações, a ascensão da classe emergente proporcionou profundas mudanças na estratificação social a que o Brasil foi submetido ao longo de sua história, um novo panorama econômico se desenhou e hoje grande parte dos recursos financeiros se encontra nas mãos da atual classe C, o que gera interesses por parte da mídia em atrair a atenção desses novos consumidores em potencial, para tanto, se utiliza de meios de influenciar e criar novos hábitos de consumo e assim conquistar essa importante parcela de mercado. As telenovelas tem papel importante nesse processo de conquista, uma vez que transmitem a sensação de bem estar ao apresentar padrões de vida das personagens e incentivar o telespectador a adquirir os bens e serviços necessários para tanto. Os novos hábitos de consumo vão se desenvolvendo e com isso novos meios de varejo também, hoje

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Page 1: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

JULIANO LOPES NUNES

RESUMO

O Brasil nas últimas décadas, e em especial ao longo da última, gerou um

fenômeno socioeconômico único no mundo, grande parte da sociedade

brasileira sofreu intensas alterações, a ascensão da classe emergente

proporcionou profundas mudanças na estratificação social a que o Brasil foi

submetido ao longo de sua história, um novo panorama econômico se

desenhou e hoje grande parte dos recursos financeiros se encontra nas mãos

da atual classe C, o que gera interesses por parte da mídia em atrair a atenção

desses novos consumidores em potencial, para tanto, se utiliza de meios de

influenciar e criar novos hábitos de consumo e assim conquistar essa

importante parcela de mercado. As telenovelas tem papel importante nesse

processo de conquista, uma vez que transmitem a sensação de bem estar ao

apresentar padrões de vida das personagens e incentivar o telespectador a

adquirir os bens e serviços necessários para tanto. Os novos hábitos de

consumo vão se desenvolvendo e com isso novos meios de varejo também,

hoje grande parte das compras se dá pela internet, e as empresas estão cada

vez mais atentas a isso, novos produtos e serviços direcionados

exclusivamente a classe emergente são a nova estratégia de grandes

empresas para atrair esse público. Esse bombardeamento de produtos causa

novos hábitos e desejos de consumo, o que pode vir a causar problemas

financeiros a essa parcela social, contudo também há uma maior

conscientização por parte dos emergentes do seu atual status e até onde deve

chegar.

Page 2: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

ABSTRACT

Brazil in recent decades, and especially over the past one, generated a

socioeconomic phenomenon unique in the world, much of Brazilian society has

undergone intense changes, the rise of the emerging class brought profound

changes in social stratification that Brazil has undergone throughout its history,

a new economic landscape was designed and today much of the funding is in

the hands of the current class C, which generates interest from the media to

attract the attention of new potential customers to do so, using means of

influence and create new habits of consumption and to achieve this important

market share. The soap operas have an important role in this process of

conquest, since they convey a sense of wellbeing by presenting the characters'

living standards and encourage the viewer to purchase goods and services

required to do so. The new consumption habits has been developed just like

new means of retail also, today most of the shopping is done online, and

companies are increasingly aware of this, new products and services targeted

exclusively to the new emerging class are the strategy for large companies to

attract that audience. This bombardment of new products introduces new habits

and desires of consumption, which could cause financial problems to this part of

society, but there is also a greater awareness of the emerging class about their

current status and up to where it should go.

INTRODUÇÃO

A mídia como veículo de comunicação de massa, gera, através de

maciças inserções publicitárias nos mais variados meios de comunicação,

hábitos de consumo em cada um dos níveis da pirâmide social, sendo que as

classes menos abastadas sofrem mais com essa influência no tocante a

anseios muitas vezes não realizados devido à sua precária situação financeira.

Page 3: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

A utilização de programas populares, e muitas vezes popularescos, que

se notabilizam pela linguagem de fácil acesso e por apresentadores com um

alto grau de penetrabilidade junto às massas também é outro fator de

influência, uma vez que programas populares atingem grandes níveis de

audiência, e, portanto são veículos de grande importância para empresas que

buscam esse público.

Contudo é compreensível que os hábitos de consumo venham se

modificando ao longo da última década, visto que um número expressivos de

brasileiros migrou das classes D e E para a classe C, que atualmente responde

por mais da metade da população brasileira, segundo dados do IBGE, são

mais de cem milhões de brasileiros pertencentes a essa nova classe

emergente, e graças a uma melhoria em seu nível socioeconômico, ávidos por

realizar antigos sonhos de consumo.

Essa massa social recém-ascendida para a classe C passou a usufruir

de condições de consumo até então irrealizáveis, e, portanto se vê em um

paradoxo, aproveitar esse momento de crescimento econômico para em fim

desfrutar de alguns bens de consumo finalmente acessíveis como uma casa

própria, um automóvel, educação, saúde, lazer e segurança, e em muitas

vezes contrair dívidas, ou se precaver financeiramente e gradativamente

adquirir esses bens.

O desejo de se discutir tal assunto surgiu em decorrência do interesse,

por parte das empresas, no crescente poder aquisitivo dessa classe, e da

consequente acirrada concorrência das campanhas publicitárias que se

intensificam para atrair a atenção dos emergentes. Esse trabalho visa abordar

e discutir esse assunto á luz de dados estatísticos e montar um panorama atual

dos hábitos de consumo da classe emergente no Brasil. e, portanto contribuir

na compreensão desse fenômeno socioeconômico.

Ao longo do presente artigo, com o desenvolvimento do tema proposto,

serão apresentadas ao leitor, informações e gráficos ilustrativos de fácil

compreensão, obtidos através de pesquisas bibliográficas, metodologia

utilizada pelo autor na elaboração deste trabalho, material no qual se baseiam

as considerações aqui presentes.

Page 4: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

O PODER DA MÍDIA

Definição de mídia segundo o dicionário AURÉLIO: Mídia [Do ingl.

media.] S. f. 1. Designação dos meios de comunicação social, como jornais,

revistas, cinema, rádio, etc. 2. Propag. Setor de uma agência de propaganda

[q. v.] que planeja e coordena a veiculação de anúncios, filmes, cartazes, etc.

(Dicionário Aurélio, 2ª edição, 26ª impressão p.1133).

Como demonstra a definição acima, a mídia é um conjunto de meios de

comunicação, e como tal detentora de um grande poder de persuasão, se não

vejamos, salvo raríssimas exceções, toda marca necessita de divulgação para

atingir seu público-alvo e, por conseguinte se utiliza de todos os meios

possíveis de comunicação para conquistar fatias maiores de mercado.

O poder de persuasão da mídia junto ao público se nota com o

incremento do consumo, em muito devido a uma melhoria no poder aquisitivo

das classes menos favorecidas que devido a uma nova conjuntura

socioeconômica estão realizando antigos sonhos de consumo.

A mídia conquista essa classe emergente ao propor um novo estilo de

vida com requintes até então inatingíveis por essa massa ascendente, com a

utilização de inserções publicitárias em programas ou publicações de cunho

popular e com apelo emocional de modo que o possível consumidor entenda a

mensagem e se torne um cliente e/ou usuário da marca em questão.

Outro ponto preponderante a ser discutido é o fato de que o maior meio

de comunicação do país, a televisão, responsável por atingir milhões de

telespectadores se tornou ao longo do tempo o principal meio de

entretenimento das classes menos abastadas e, portanto, se dedicou a atingir

esse público com programas que tivessem esse apelo popular com

apresentadores capazes de se identificar com a massa e assim se tornarem

formadores de opinião, e consequentemente “garotos-propaganda” de

determinadas marcas.

Page 5: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

Embora esse artigo se atenha ao poder de influencia no consumo, não

se pode negar a influencia em outras áreas.

“Na atualidade, a mídia possui profundas ligações com interesses políticos e

econômicos, especialmente no Brasil. Essa tendência faz com que os meios

de comunicação sejam não apenas transmissores de mensagens, mas

também fomentadores de crenças, culturas e valores destinados a sustentar

os interesses econômicos e políticos que representam. A mídia possui

características de instantaneidade e simultaneidade que influenciam

processos educativos e cognitivos, percepções e vivências. Hoje, há o

jornalismo on-line, a televisão, a internet, filmes, vídeos, rádios e tantos

outros meios que estão em todo lugar e em qualquer tempo. Esses veículos

de comunicação são capazes de atingir praticamente todos os segmentos

sociais, tendo em vista os diversos tipos de linguagem que adotam. Tal

conjunto de meios tem a função de transmitir conhecimento, informação,

entretenimento, opinião, publicidade e propaganda. Por isso,

compreendemos a mídia como espaço de força e poder, capaz de atuar na

formação da opinião pública e no desenvolvimento das pessoas. Por ter a

capacidade de atingir grandes contingentes de pessoas, a mídia é

considerada um patrimônio social fundamental para que o direito à

comunicação possa ser exercido. [...]” (FANTAZZINI, 2011 p. 1)

Como diz Fantazzini em seu artigo “O poder da mídia e os caminhos

para a democratização dos meios de comunicação”, a mídia se notabiliza pelo

poder de persuasão, capaz de influir diretamente na formação de opiniões e

construir conceitos políticos, econômicos e sociais.

Obviamente não se quer aqui desmerecer o papel informativo que a

mídia representa e oferece, contudo este trabalho visa discutir o modo como a

exploração indiscriminada de alguns meios de comunicação afetam os hábitos

de consumo da população ao oferecer novos conceitos de qualidade de vida.

INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO CONSUMO

“Diariamente somos bombardeados por propagandas, na televisão no

rádio, no trem, no metro, quando assistimos à novela, programas de

entrevistas e jornal, a mídia está sempre presente em nossas vidas

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até mesmo quando não percebemos. A mídia nos influencia

diretamente, e interfere nas escolhas e até mesmo nas nossas

preferências, ditando moda, criando um conceito de vida. [...] as

novelas, o corte de cabelo da atriz, o programa de tv de domingo, [...]

Vemos a influencia da mídia não apenas nos bens de consumo, mais

em tudo que nos rodeia na escolha de um CD, o gosto musical, na

escolha de um candidato na política. [...].” (MATOS, 2008 p. 1)

Muitas vezes somos levados a fazer escolhas sem mesmo perceber o

nível de influência a que somos expostos diariamente, decisões simples tais

como, que roupa usar ou que estilo de música ouvir, ou complexas como, que

candidato votar, ou que profissão seguir, podem ser influenciadas pela mídia,

que se utiliza de vários expedientes, tais como propagandas ou anúncios nos

mais variados veículos de comunicação, inconscientemente as vezes

passamos a desejar coisas ou agir de determinada maneira apenas por se

identificar com personagens ou opiniões de determinados formadores de

opinião,

Os crescentes níveis de consumo demonstrados por diversos institutos

de pesquisa não se devem apenas a uma evolução socioeconômica brasileira,

mas em muito à influência exercida pela mídia nas classes emergentes, o

bombardeamento diário de informações ao qual somos submetidos, faz com

que se desperte o desejo do “ser” e do “ter”, afinal com a globalização e com o

acesso à informatização, todos querem ser aceitos em grupos sociais e estar

minimamente equiparados aos padrões vigentes, ou seja, em uma era onde a

socialização se faz sem sair de casa e em frente a uma máquina, todos

desejam ser parte de algo, ou possuir algo que os faça se sentir engajados em

determinados grupos sociais.

Ao se analisar mais de perto a influência da mídia se percebe a

importância de determinada programação em horário nobre da televisão, tais

como telenovelas, reality shows, programas de auditório, etc., cada aparição de

uma marca ou produto mesmo que de maneira discreta em um desses

programas pode influenciar o desejo de consumo para esses produtos.

O marketing vem cada vez mais se utilizando dessa ferramenta para

atingir seus públicos-alvo, mesmo com custos mais altos do que as

Page 7: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

propagandas convencionais em intervalos de programação, as inserções

publicitárias em programas de grande audiência tem maior aceitação pelo

público visto que a ação é mais sutil e, portanto mais propensa à passividade

dos telespectadores, que em muitos casos mudam de canal durante o intervalo

comercial.

Com esse expediente a mídia acaba fazendo com que as pessoas

percam de certa forma, o senso crítico e se tornem quase que reféns de um

bombardeamento de marcas e produtos que imperceptivelmente levam ao

desejo de consumo.

Cada cidadão é submetido a uma enxurrada de comerciais e

propagandas diariamente, a grande quantidade de informações a que somos

expostos em nosso cotidiano faz com que seja impossível assimilar mais que

apenas um pequeno percentual delas, esse fato resulta em um acirramento

ainda maior na disputa da atenção do público, cada meio de comunicação tenta

extrair o máximo de seus usuários.

Obviamente cada veículo de comunicação faz uso de diversas

ferramentas para se comunicar com seu público, por meio de uma linguagem

publicitária direcionada capaz de transmitir o “recado” e despertar o desejo de

consumo.

A mídia vem sofrendo modificações ao longo do tempo, meios de

comunicação que outrora eram veículos de massa, hoje perderam espaço ou

se tornaram restritos a públicos menores, ao passo que novos meios de

comunicação vão se popularizando e ocupando uma fatia cada vez maior da

população.

A globalização trouxe uma nova era na comunicação impulsionada pela

“informatização da mídia”, hoje a internet se tornou um meio importantíssimo

de difusão de informações e, portanto formadora de opinião, esse novo

mercado que se agiganta dia a dia passou a ser disputado pelas campanhas

publicitárias, que enxergam novas oportunidades de divulgar marcas e

produtos a públicos cada vez maiores.

Page 8: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

A quantidade de vendas pela internet vem aumentando

consideravelmente nos últimos anos, segundo matéria publicada no site

”veja.abril.com.br”, no dia 22 de março de 2011, “As vendas de bens de

consumo pela internet cresceram 40% em 2010, para 14,8 bilhões de reais, [...]

as vendas devem apresentar expansão de 30% em 2011, para 20 bilhões de

reais.”, a mesma matéria também cita “Espera-se também que quatro milhões

de pessoas façam sua primeira compra virtual nos seis primeiros meses deste

ano.”. Como se percebe há uma crescente expectativa para o incremento do

comercio virtual, e uma das razoes é o fato das grandes redes passarem a

apostar nas vendas em suas lojas virtuais, apostando num novo padrão de

venda, onde a comodidade e a praticidade são fatores preponderantes para

essa nova classe consumidora.

Esse consumismo ostensivamente estimulado pela mídia reflete a

evolução do poder aquisitivo das classes menos favorecidas,

A EVOLUÇÃO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

Ao longo da última década uma expressiva massa ascendeu das classes

D e E para a classe C, esse fenômeno socioeconômico de deveu a vários

fatores, tais como: crescimento econômico, políticas socioeconômicas,

aumento do poder aquisitivo, maior acesso a educação, formalização do

emprego, maior acesso ao credito, entre outros.

Esse fenômeno pode ser observado nas tabelas abaixo:

EVOLUTIVO DAS CLASSES SOCIAIS NO BRASIL EM MILHÕES

Classe 2005 2006 2007 2008 2009 2010

A/B 26.421.172 32.809.554 28.078.466 29.377.015 30.217.541 42.195.088

C 62.702.248 66.716.976 86.207.480 84.621.066 92.850.384 101.651.803

D/E 92.936.688 84.862.090 72.941.846 75.822.249 66.884.870 47.948.964

Total 182.060.108 184.388.620 187.227.792 189.820.330 189.952.795 191.795.854

Fonte: O Observador Brasil 2011 p.19

Page 9: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

Crescimento demográfico percentual brasileiro por classe social

Classe 2005 (%) 2006 (%) 2007 (%) 2008 (%) 2009 (%) 2010 (%)

AB 15 18 15 15 16 21

C 34 36 46 45 49 53

DE 51 46 39 40 35 25

Fonte; logística descomplicada

O gráfico abaixo corrobora as informações contidas nas tabelas acima.

Demonstrativo do crescimento demográfico por classe social

Fonte: logística descomplicada

A classe C atualmente responde por mais de cinquenta por cento da

população brasileira, com mais de 100 milhões de pessoas ocupando essa

faixa social, com desejos e expectativas próprias, essa fatia da população

brasileira, hoje detém um poder aquisitivo crescente, e, por conseguinte, capaz

de movimentar a economia brasileira.

“Comprar a casa própria, ter um carro e fazer uma faculdade. O que

antes parecia ser apenas um sonho, já se tornou realidade na vida de

milhares de brasileiros que fazem parte das classes C e D. [...] A

estabilidade econômica do país, que criou milhares de novos postos

de trabalho, e ainda os programas de distribuição de renda

Page 10: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

aumentaram o potencial de consumo dos brasileiros. Em 2010, as

classes C e D movimentaram R$ 834 bilhões, segundo levantamento

do Instituto Data Popular. O total é mais do que o consumido no

último ano pelas classes A e B juntas.[...].” (CASTRO, PIGHINI, 2011

p. 1)

A estabilidade econômica brasileira vem ao longo dos últimos anos

proporcionando a milhões de pessoas sonhar com um futuro melhor com

condições de vida mais adequadas e sem muitos percalços, fatores como a

melhoria da distribuição de renda, novos empregos, programas sociais e

acesso a crédito, alavancaram o consumo da nova classe C.

O atual panorama da classe emergente brasileira é demonstrado nas

expectativas com relação ao futuro e a realização de antigos desejos. Hoje com

o incremento do poder de compra, essa classe se vê como consumidor até

então incapaz de usufruir de certos bens e/ou serviços de qualidade, afinal, a

expectativa quanto ao acesso a melhores padrões de saúde, educação e

segurança, além de lazer e bens de consumo, vem sendo atingida, segundo

matéria publicada no site “gazetaonline.globo.com”, no dia, 25 de dezembro de

2011, “São 95 milhões de pessoas no país com renda familiar mensal entre R$

1 mil e R$ 4 mil. Juntos, esses brasileiros somam 52% da população brasileira

e movimentam R$ 1,1 trilhão no mercado interno”.

Todo esse poder de compra resulta em uma classe nova de

consumidores conscientes de sua força e direitos e, portanto exigente.

Outro ponto a ser considerado é a autoconsciência que essa nova

classe C tem em relação a sua condição social, hoje os emergentes brasileiros

sentem orgulho em pertencer a essa fatia da população, coisa que cerca de

uma década atrás não se notava, pois havia certa decepção em boa parte

dessa massa de não atingir os padrões das classes A e B.

Alfredo Passos diz, em seu artigo publicado no site

“www.revistamarketing.com.br” em sua edição de 30 de março de 2010, que:

“Pessoas de classe média baixa. [...] Têm a necessidade de priorizar

os gastos, carregam sempre alguma pendência financeira, mas não

sofrem com a falta de alimentos, [...]. Ainda assim, 68% sentem-se

Page 11: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

desprezados pelos ricos e 55% declaram ser avessos a produtos

comercializados em lugares considerados “chiques”. “É curioso

perceber que a classe C deseja consumir mais, mas não demonstra a

preocupação em mudar de classe”, afirma Aloísio. A proporção de

poupadores entre a classe C ainda é minoritária: apenas 38% têm

esse hábito. Fazer planos para o futuro não significa,

necessariamente, poupar dinheiro. “Vivo com o que tenho e compro o

que é possível” é afirmado com veemência por 59% dos

entrevistados. A relação direta entre a tomada de decisões diversas e

as crenças religiosas ainda é latente. Quase metade dos

entrevistados (49%) denota essa realidade. Porém, mudanças

comportamentais ligadas à modernidade também aparecem no

estudo. Homens mais preocupados com a imagem e reconhecendo

sua importância para o crescimento profissional já ultrapassam os

80%. Falar e buscar informações sobre sexo também se tornou mais

comum, entre homens e mulheres.” (PASSOS, 2010 p. 1)

A autoimagem que a atual classe C tem de si é clara e consciente, não

se vê a necessidade de mudar de classe, apenas usufruir dos benefícios que a

melhoria nas condições de vida lhes garantiu, hábitos e costumes como maior

importância com a imagem, e aquisição de bens e serviços passaram a ser

listados como prioridades.

Essa nova mentalidade é fruto da ascensão social, se não vejamos, a

diferença entre o modo de pensar dos atuais emergentes e da antiga classe C

está calcada no fato de que a antiga classe média era formada por indivíduos

que em sua grande maioria sempre pertenceram a essa classe e, portanto não

usufruiu da mobilidade social, e com isso levava certa frustração em não atingir

padrões de vida mais elevados, já a atual classe emergente, se considera

vencedora, pois vem ascendendo socialmente e, portanto tem orgulho de sua

posição atual.

A tabela abaixo mostra a evolução da renda média familiar per capta da

classe emergente brasileira entre os anos de 2005 e 2009.

Renda domiciliar per capita – média

ANO 2005 2006 2007 2008 2009

RENDA 583,96 638,29 655,83 689,61 705,72

Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)

Page 12: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

Como demonstra a tabela acima a renda média do brasileiro vem

crescendo gradativamente, e com isso propiciando maior estabilidade

financeira e uma consequente condição de atender antigas demandas.

A evolução da classe emergente brasileira é acompanhada de perto

pelas empresas que se empenham em disputar essa novo filão, novas marcas

e produtos específicos para a classe emergente estão sendo disponibilizados e

em muitas empresas linhas completas de produtos voltados às expectativas

dos emergentes estão sendo fabricados.

“A previsão do economista uberlandense Lourenço Faria Diniz, de

que a classe E tende a uma gradual redução nos próximos anos

ganha o respaldo em vários estudos, incluindo um levantamento feito

pela consultoria Data Popular, em que ficou constatado que a renda

maior e mais consumo estão deixando a classe E com os dias

contados, sendo que os integrantes dessa faixa social mais baixa irão

engrossar ainda mais as fileiras da classe C. A previsão é de que

quando o Brasil estiver às voltas com a Copa do Mundo e o governo

de Dilma Rousseff chegando ao fim, praticamente três em cada cinco

brasileiros pertencerão à classe C – grupo que chegará a 115 milhões

de habitantes, ou seja, praticamente três vezes a população da

Argentina. “A classe C será maioria absoluta e a E deve entrar em

extinção”, avalia o diretor do Data Popular, Renato Meirelles.”

(CASTRO, PIGHINI, 2011 p. 1).

Segundo artigo publicado no site “www.revistamercado.com.br” em sua

edição número 39 de fevereiro de 2011, a classe C deve continuar crescendo

inclusive com a possível extinção da classe E, em decorrência da melhoria do

padrão de vida e ascensão social dos menos favorecidos.

HÁBITO DE CONSUMO DOS EMERGENTES BRASILEIROS

“Estudo sobre a classe C realizado pela agência McCann Erickson

em parceria com o Instituto Data Popular identificou mudanças

internas já cristalizadas e observou tendências e demandas futuras

do que hoje representa a classe emergente do Brasil. Os achados da

Page 13: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

pesquisa motivaram a agência a criar uma nova unidade de serviço, a

Bairro, direcionada especificamente ao universo da classe C. [...] “O

objetivo da pesquisa é ampliar o conhecimento da McCann sobre a

classe C brasileira, que representa o futuro do crescimento interno do

País, ultrapassando o óbvio do que já se sabe sobre essa fatia para

se ir além do que se vê. [...] O estudo levou em consideração os

temas autoimagem, projetos de vida, mudanças no papel da família,

finanças, alimentação, beleza, entretenimento, tecnologia e

comunicação. As respostas são permeadas por descobertas como a

de que a classe C vive em meio a um ecossistema econômico e

social peculiar, com renda e tarefas compartilhadas por familiares que

vivem a até 200 metros de distância uns dos outros. A classe C

identifica diferenças claras de consumo entre a sua classe, os pobres,

a classe média alta e os ricos. Tem ainda a consciência de que pode

comprar, mas quer mais o melhor. Seu sentimento de exclusão deixa

de estar ligado ao aspecto financeiro e atinge o comportamental. ““O

desejo prioritário da classe C é hoje consumir sem preocupação e

aprender a se comportar como classe média” [...].” (PASSOS, 2010 p.

1)

A classe emergente brasileira traz em si alguns valores e desejos peculiares, a

ascensão social, trouxe condições econômicas favoráveis e com isso a possibilidade

de novos hábitos, o consumo de bens e serviços passou a ser algo realizável. Essa

nova classe média se tornou exigente para com o que consome, buscando cada vez

mais produtos de qualidade sem se preocupar tanto com preços. Vivendo em núcleos

próximos uns dos outros as famílias da nova classe emergente tende a manter uma

união familiar típica de famílias de baixa renda, onde a proximidade dos subnúcleos

familiares faz a diferença.

Os hábitos de consumo da classe emergente brasileira são calcados em

anseios há muito reprimidos, desejos de adquirir bens e serviços que até bem

pouco tempo eram inacessíveis, desde coisas relativamente simples como

acesso a uma melhor subsistência, saúde, educação, segurança e lazer, até

bens de consumo duráveis ou não, o sonho de uma casa própria tem se

tornado cada vez mais real para a classe C, bem como automóveis,

eletroeletrônicos e eletrodomésticos, entre outros.

Os emergentes estão conscientes de seus direitos, esses novos

consumidores estão atentos a novidades e produtos que se identifiquem com

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eles, uma vez que sabem de seu recém-adquirido poder de barganha se

tornaram conscientes de que podem finalmente suprir seus desejos.

Essa nova condição dos emergentes é explorada de maneira, até certo

ponto, abusiva, pela mídia que a todo instante tenta demonstrar e convencer,

através da exposição maciça de bens e produtos, que para se atingir alguns

padrões de vida são necessários alguns esforços e a aquisição dos mesmos.

Com isso veículos de comunicação apresentam, principalmente em

revistas e na televisão, estereótipos de padrões de vida e satisfação pessoal

através do consumo, e isso traz um problema, pois o incentivo ao consumismo

tem gerado um endividamento dessa classe.

A utilização de programas no horário nobre da televisão como

telenovelas, onde se utilizam produtos inseridos na trama, e de maneira quase

que imperceptível conduz o telespectador ao desejo de adquirir aquela marca

ou produto para que se consiga possuir os mesmos padrões das personagens

das telenovelas.

O acesso ao crédito tem incentivado o consumo indiscriminado, contudo

há também fatores positivos no estimulo ao consumo dessa classe, afinal se

despejam anualmente milhões de reais no mercado, proporcionando um

incremento na economia nacional.

Outro hábito que vem crescendo ao longo dos últimos anos é o consumo

via internet, o acesso à informática tem alavancado as vendas de muitas lojas,

que hoje investem em lojas virtuais tanto quanto nas lojas físicas, sites

especializados em compras coletivas também tem oferecido uma nova

proposta de compra para usuários da internet. As compras “on line” vem ao

encontro das expectativas dos emergentes, que buscam comodidade e

praticidade na aquisição de produtos via web.

A falta de tempo a que somos submetidos em nosso cotidiano e a

globalização fazem com que nos sintamos necessitados de conforto ao realizar

compras, por isso as vendas pela internet se tornaram uma realidade junto ao

público, que dispõem de uma gama de ofertas para realizar as compras.

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CONCLUSÃO

Como demonstrado no presente artigo, a classe emergente detentora de

uma representativa parcela da renda nacional, é alvo da acirrada disputa dos

veículos de propaganda e das empresas ávidas por conquistar essa importante

fatia de mercado. A mídia faz com que surjam novos hábitos e desejos de

consumo nos emergentes, as propagandas veiculadas em cada um dos meios

de comunicação tentam projetar um novo padrão de vida junto a essa classe

desejosa de novos horizontes.

A atual classe emergente se notabiliza por uma consciência de seu

crescente poder aquisitivo e de seu papel na economia brasileira, com isso

vem se tornando uma categoria de consumidores exigentes, conhecedora de

seus direitos e orgulhosa por pertencer à classe C.

O novo padrão socioeconômico atingido pelos emergentes fez com que

alguns hábitos de consumo estejam se disseminando, bens de subsistência,

eletrodomésticos, eletroeletrônicos, carros, casas, ou mesmo lazer, educação,

saúde e segurança são parte das recentes conquistas da atual classe C.

A ascensão social da última década no Brasil - resultante de vários

fatores, dentre eles a melhor distribuição de renda, programas

socioeconômicos de inclusão advindos de politicas governamentais,

crescimento econômico, formalização do emprego, acesso ao crédito - trouxe

consigo condições favoráveis para uma gigantesca massa social finalmente

usufruir de benefícios agora oferecidos a ela, bem como realizar sonhos há

muito reprimidos.

Portanto espera-se que este trabalho tenha cumprido seu papel de

apresentar dados para discussão do referido assunto, uma vez que se trata de

algo presente no cotidiano de milhões de brasileiros pertencentes a uma massa

que hoje já perfaz mais de 50% da população nacional.

Page 16: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL

Não se tem aqui a pretensão de criar conceitos e sim deixar em aberto

para que a sociedade discuta o assunto e possa criar condições para evitar

abusos de poder por parte da mídia sem, contudo se estimular a censura,

apenas o desejo de que se use de bom senso para que cada um dos

integrantes desse processo evolutivo atinja seu propósito da melhor forma

possível.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Tabela 1: EVOLUTIVO DAS CLASSES SOCIAIS NO BRASILO OBSERVADOR BRASIL 2011 p.19< http://www.elap.com.br/dados/O_Observador_2011.pdf>Acesso em: 06 de fev. 2012

Tabela 2: Crescimento demográfico percentual brasileiro por classe social<http://www.logisticadescomplicada.com/as-classes-sociais-e-a-desigualdade-no-brasil/> Acesso em 15 de fev. 2012

Tabela 3: Renda domiciliar per capita – média<http://www.ipeadata.gov.br/>visitada em: 08 fev. 2012