a influÊncia da mÍdia nos hÁbitos de consumo da classe emergente no brasil
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A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS HÁBITOS DE CONSUMO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL
JULIANO LOPES NUNES
RESUMO
O Brasil nas últimas décadas, e em especial ao longo da última, gerou um
fenômeno socioeconômico único no mundo, grande parte da sociedade
brasileira sofreu intensas alterações, a ascensão da classe emergente
proporcionou profundas mudanças na estratificação social a que o Brasil foi
submetido ao longo de sua história, um novo panorama econômico se
desenhou e hoje grande parte dos recursos financeiros se encontra nas mãos
da atual classe C, o que gera interesses por parte da mídia em atrair a atenção
desses novos consumidores em potencial, para tanto, se utiliza de meios de
influenciar e criar novos hábitos de consumo e assim conquistar essa
importante parcela de mercado. As telenovelas tem papel importante nesse
processo de conquista, uma vez que transmitem a sensação de bem estar ao
apresentar padrões de vida das personagens e incentivar o telespectador a
adquirir os bens e serviços necessários para tanto. Os novos hábitos de
consumo vão se desenvolvendo e com isso novos meios de varejo também,
hoje grande parte das compras se dá pela internet, e as empresas estão cada
vez mais atentas a isso, novos produtos e serviços direcionados
exclusivamente a classe emergente são a nova estratégia de grandes
empresas para atrair esse público. Esse bombardeamento de produtos causa
novos hábitos e desejos de consumo, o que pode vir a causar problemas
financeiros a essa parcela social, contudo também há uma maior
conscientização por parte dos emergentes do seu atual status e até onde deve
chegar.
ABSTRACT
Brazil in recent decades, and especially over the past one, generated a
socioeconomic phenomenon unique in the world, much of Brazilian society has
undergone intense changes, the rise of the emerging class brought profound
changes in social stratification that Brazil has undergone throughout its history,
a new economic landscape was designed and today much of the funding is in
the hands of the current class C, which generates interest from the media to
attract the attention of new potential customers to do so, using means of
influence and create new habits of consumption and to achieve this important
market share. The soap operas have an important role in this process of
conquest, since they convey a sense of wellbeing by presenting the characters'
living standards and encourage the viewer to purchase goods and services
required to do so. The new consumption habits has been developed just like
new means of retail also, today most of the shopping is done online, and
companies are increasingly aware of this, new products and services targeted
exclusively to the new emerging class are the strategy for large companies to
attract that audience. This bombardment of new products introduces new habits
and desires of consumption, which could cause financial problems to this part of
society, but there is also a greater awareness of the emerging class about their
current status and up to where it should go.
INTRODUÇÃO
A mídia como veículo de comunicação de massa, gera, através de
maciças inserções publicitárias nos mais variados meios de comunicação,
hábitos de consumo em cada um dos níveis da pirâmide social, sendo que as
classes menos abastadas sofrem mais com essa influência no tocante a
anseios muitas vezes não realizados devido à sua precária situação financeira.
A utilização de programas populares, e muitas vezes popularescos, que
se notabilizam pela linguagem de fácil acesso e por apresentadores com um
alto grau de penetrabilidade junto às massas também é outro fator de
influência, uma vez que programas populares atingem grandes níveis de
audiência, e, portanto são veículos de grande importância para empresas que
buscam esse público.
Contudo é compreensível que os hábitos de consumo venham se
modificando ao longo da última década, visto que um número expressivos de
brasileiros migrou das classes D e E para a classe C, que atualmente responde
por mais da metade da população brasileira, segundo dados do IBGE, são
mais de cem milhões de brasileiros pertencentes a essa nova classe
emergente, e graças a uma melhoria em seu nível socioeconômico, ávidos por
realizar antigos sonhos de consumo.
Essa massa social recém-ascendida para a classe C passou a usufruir
de condições de consumo até então irrealizáveis, e, portanto se vê em um
paradoxo, aproveitar esse momento de crescimento econômico para em fim
desfrutar de alguns bens de consumo finalmente acessíveis como uma casa
própria, um automóvel, educação, saúde, lazer e segurança, e em muitas
vezes contrair dívidas, ou se precaver financeiramente e gradativamente
adquirir esses bens.
O desejo de se discutir tal assunto surgiu em decorrência do interesse,
por parte das empresas, no crescente poder aquisitivo dessa classe, e da
consequente acirrada concorrência das campanhas publicitárias que se
intensificam para atrair a atenção dos emergentes. Esse trabalho visa abordar
e discutir esse assunto á luz de dados estatísticos e montar um panorama atual
dos hábitos de consumo da classe emergente no Brasil. e, portanto contribuir
na compreensão desse fenômeno socioeconômico.
Ao longo do presente artigo, com o desenvolvimento do tema proposto,
serão apresentadas ao leitor, informações e gráficos ilustrativos de fácil
compreensão, obtidos através de pesquisas bibliográficas, metodologia
utilizada pelo autor na elaboração deste trabalho, material no qual se baseiam
as considerações aqui presentes.
O PODER DA MÍDIA
Definição de mídia segundo o dicionário AURÉLIO: Mídia [Do ingl.
media.] S. f. 1. Designação dos meios de comunicação social, como jornais,
revistas, cinema, rádio, etc. 2. Propag. Setor de uma agência de propaganda
[q. v.] que planeja e coordena a veiculação de anúncios, filmes, cartazes, etc.
(Dicionário Aurélio, 2ª edição, 26ª impressão p.1133).
Como demonstra a definição acima, a mídia é um conjunto de meios de
comunicação, e como tal detentora de um grande poder de persuasão, se não
vejamos, salvo raríssimas exceções, toda marca necessita de divulgação para
atingir seu público-alvo e, por conseguinte se utiliza de todos os meios
possíveis de comunicação para conquistar fatias maiores de mercado.
O poder de persuasão da mídia junto ao público se nota com o
incremento do consumo, em muito devido a uma melhoria no poder aquisitivo
das classes menos favorecidas que devido a uma nova conjuntura
socioeconômica estão realizando antigos sonhos de consumo.
A mídia conquista essa classe emergente ao propor um novo estilo de
vida com requintes até então inatingíveis por essa massa ascendente, com a
utilização de inserções publicitárias em programas ou publicações de cunho
popular e com apelo emocional de modo que o possível consumidor entenda a
mensagem e se torne um cliente e/ou usuário da marca em questão.
Outro ponto preponderante a ser discutido é o fato de que o maior meio
de comunicação do país, a televisão, responsável por atingir milhões de
telespectadores se tornou ao longo do tempo o principal meio de
entretenimento das classes menos abastadas e, portanto, se dedicou a atingir
esse público com programas que tivessem esse apelo popular com
apresentadores capazes de se identificar com a massa e assim se tornarem
formadores de opinião, e consequentemente “garotos-propaganda” de
determinadas marcas.
Embora esse artigo se atenha ao poder de influencia no consumo, não
se pode negar a influencia em outras áreas.
“Na atualidade, a mídia possui profundas ligações com interesses políticos e
econômicos, especialmente no Brasil. Essa tendência faz com que os meios
de comunicação sejam não apenas transmissores de mensagens, mas
também fomentadores de crenças, culturas e valores destinados a sustentar
os interesses econômicos e políticos que representam. A mídia possui
características de instantaneidade e simultaneidade que influenciam
processos educativos e cognitivos, percepções e vivências. Hoje, há o
jornalismo on-line, a televisão, a internet, filmes, vídeos, rádios e tantos
outros meios que estão em todo lugar e em qualquer tempo. Esses veículos
de comunicação são capazes de atingir praticamente todos os segmentos
sociais, tendo em vista os diversos tipos de linguagem que adotam. Tal
conjunto de meios tem a função de transmitir conhecimento, informação,
entretenimento, opinião, publicidade e propaganda. Por isso,
compreendemos a mídia como espaço de força e poder, capaz de atuar na
formação da opinião pública e no desenvolvimento das pessoas. Por ter a
capacidade de atingir grandes contingentes de pessoas, a mídia é
considerada um patrimônio social fundamental para que o direito à
comunicação possa ser exercido. [...]” (FANTAZZINI, 2011 p. 1)
Como diz Fantazzini em seu artigo “O poder da mídia e os caminhos
para a democratização dos meios de comunicação”, a mídia se notabiliza pelo
poder de persuasão, capaz de influir diretamente na formação de opiniões e
construir conceitos políticos, econômicos e sociais.
Obviamente não se quer aqui desmerecer o papel informativo que a
mídia representa e oferece, contudo este trabalho visa discutir o modo como a
exploração indiscriminada de alguns meios de comunicação afetam os hábitos
de consumo da população ao oferecer novos conceitos de qualidade de vida.
INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO CONSUMO
“Diariamente somos bombardeados por propagandas, na televisão no
rádio, no trem, no metro, quando assistimos à novela, programas de
entrevistas e jornal, a mídia está sempre presente em nossas vidas
até mesmo quando não percebemos. A mídia nos influencia
diretamente, e interfere nas escolhas e até mesmo nas nossas
preferências, ditando moda, criando um conceito de vida. [...] as
novelas, o corte de cabelo da atriz, o programa de tv de domingo, [...]
Vemos a influencia da mídia não apenas nos bens de consumo, mais
em tudo que nos rodeia na escolha de um CD, o gosto musical, na
escolha de um candidato na política. [...].” (MATOS, 2008 p. 1)
Muitas vezes somos levados a fazer escolhas sem mesmo perceber o
nível de influência a que somos expostos diariamente, decisões simples tais
como, que roupa usar ou que estilo de música ouvir, ou complexas como, que
candidato votar, ou que profissão seguir, podem ser influenciadas pela mídia,
que se utiliza de vários expedientes, tais como propagandas ou anúncios nos
mais variados veículos de comunicação, inconscientemente as vezes
passamos a desejar coisas ou agir de determinada maneira apenas por se
identificar com personagens ou opiniões de determinados formadores de
opinião,
Os crescentes níveis de consumo demonstrados por diversos institutos
de pesquisa não se devem apenas a uma evolução socioeconômica brasileira,
mas em muito à influência exercida pela mídia nas classes emergentes, o
bombardeamento diário de informações ao qual somos submetidos, faz com
que se desperte o desejo do “ser” e do “ter”, afinal com a globalização e com o
acesso à informatização, todos querem ser aceitos em grupos sociais e estar
minimamente equiparados aos padrões vigentes, ou seja, em uma era onde a
socialização se faz sem sair de casa e em frente a uma máquina, todos
desejam ser parte de algo, ou possuir algo que os faça se sentir engajados em
determinados grupos sociais.
Ao se analisar mais de perto a influência da mídia se percebe a
importância de determinada programação em horário nobre da televisão, tais
como telenovelas, reality shows, programas de auditório, etc., cada aparição de
uma marca ou produto mesmo que de maneira discreta em um desses
programas pode influenciar o desejo de consumo para esses produtos.
O marketing vem cada vez mais se utilizando dessa ferramenta para
atingir seus públicos-alvo, mesmo com custos mais altos do que as
propagandas convencionais em intervalos de programação, as inserções
publicitárias em programas de grande audiência tem maior aceitação pelo
público visto que a ação é mais sutil e, portanto mais propensa à passividade
dos telespectadores, que em muitos casos mudam de canal durante o intervalo
comercial.
Com esse expediente a mídia acaba fazendo com que as pessoas
percam de certa forma, o senso crítico e se tornem quase que reféns de um
bombardeamento de marcas e produtos que imperceptivelmente levam ao
desejo de consumo.
Cada cidadão é submetido a uma enxurrada de comerciais e
propagandas diariamente, a grande quantidade de informações a que somos
expostos em nosso cotidiano faz com que seja impossível assimilar mais que
apenas um pequeno percentual delas, esse fato resulta em um acirramento
ainda maior na disputa da atenção do público, cada meio de comunicação tenta
extrair o máximo de seus usuários.
Obviamente cada veículo de comunicação faz uso de diversas
ferramentas para se comunicar com seu público, por meio de uma linguagem
publicitária direcionada capaz de transmitir o “recado” e despertar o desejo de
consumo.
A mídia vem sofrendo modificações ao longo do tempo, meios de
comunicação que outrora eram veículos de massa, hoje perderam espaço ou
se tornaram restritos a públicos menores, ao passo que novos meios de
comunicação vão se popularizando e ocupando uma fatia cada vez maior da
população.
A globalização trouxe uma nova era na comunicação impulsionada pela
“informatização da mídia”, hoje a internet se tornou um meio importantíssimo
de difusão de informações e, portanto formadora de opinião, esse novo
mercado que se agiganta dia a dia passou a ser disputado pelas campanhas
publicitárias, que enxergam novas oportunidades de divulgar marcas e
produtos a públicos cada vez maiores.
A quantidade de vendas pela internet vem aumentando
consideravelmente nos últimos anos, segundo matéria publicada no site
”veja.abril.com.br”, no dia 22 de março de 2011, “As vendas de bens de
consumo pela internet cresceram 40% em 2010, para 14,8 bilhões de reais, [...]
as vendas devem apresentar expansão de 30% em 2011, para 20 bilhões de
reais.”, a mesma matéria também cita “Espera-se também que quatro milhões
de pessoas façam sua primeira compra virtual nos seis primeiros meses deste
ano.”. Como se percebe há uma crescente expectativa para o incremento do
comercio virtual, e uma das razoes é o fato das grandes redes passarem a
apostar nas vendas em suas lojas virtuais, apostando num novo padrão de
venda, onde a comodidade e a praticidade são fatores preponderantes para
essa nova classe consumidora.
Esse consumismo ostensivamente estimulado pela mídia reflete a
evolução do poder aquisitivo das classes menos favorecidas,
A EVOLUÇÃO DA CLASSE EMERGENTE NO BRASIL
Ao longo da última década uma expressiva massa ascendeu das classes
D e E para a classe C, esse fenômeno socioeconômico de deveu a vários
fatores, tais como: crescimento econômico, políticas socioeconômicas,
aumento do poder aquisitivo, maior acesso a educação, formalização do
emprego, maior acesso ao credito, entre outros.
Esse fenômeno pode ser observado nas tabelas abaixo:
EVOLUTIVO DAS CLASSES SOCIAIS NO BRASIL EM MILHÕES
Classe 2005 2006 2007 2008 2009 2010
A/B 26.421.172 32.809.554 28.078.466 29.377.015 30.217.541 42.195.088
C 62.702.248 66.716.976 86.207.480 84.621.066 92.850.384 101.651.803
D/E 92.936.688 84.862.090 72.941.846 75.822.249 66.884.870 47.948.964
Total 182.060.108 184.388.620 187.227.792 189.820.330 189.952.795 191.795.854
Fonte: O Observador Brasil 2011 p.19
Crescimento demográfico percentual brasileiro por classe social
Classe 2005 (%) 2006 (%) 2007 (%) 2008 (%) 2009 (%) 2010 (%)
AB 15 18 15 15 16 21
C 34 36 46 45 49 53
DE 51 46 39 40 35 25
Fonte; logística descomplicada
O gráfico abaixo corrobora as informações contidas nas tabelas acima.
Demonstrativo do crescimento demográfico por classe social
Fonte: logística descomplicada
A classe C atualmente responde por mais de cinquenta por cento da
população brasileira, com mais de 100 milhões de pessoas ocupando essa
faixa social, com desejos e expectativas próprias, essa fatia da população
brasileira, hoje detém um poder aquisitivo crescente, e, por conseguinte, capaz
de movimentar a economia brasileira.
“Comprar a casa própria, ter um carro e fazer uma faculdade. O que
antes parecia ser apenas um sonho, já se tornou realidade na vida de
milhares de brasileiros que fazem parte das classes C e D. [...] A
estabilidade econômica do país, que criou milhares de novos postos
de trabalho, e ainda os programas de distribuição de renda
aumentaram o potencial de consumo dos brasileiros. Em 2010, as
classes C e D movimentaram R$ 834 bilhões, segundo levantamento
do Instituto Data Popular. O total é mais do que o consumido no
último ano pelas classes A e B juntas.[...].” (CASTRO, PIGHINI, 2011
p. 1)
A estabilidade econômica brasileira vem ao longo dos últimos anos
proporcionando a milhões de pessoas sonhar com um futuro melhor com
condições de vida mais adequadas e sem muitos percalços, fatores como a
melhoria da distribuição de renda, novos empregos, programas sociais e
acesso a crédito, alavancaram o consumo da nova classe C.
O atual panorama da classe emergente brasileira é demonstrado nas
expectativas com relação ao futuro e a realização de antigos desejos. Hoje com
o incremento do poder de compra, essa classe se vê como consumidor até
então incapaz de usufruir de certos bens e/ou serviços de qualidade, afinal, a
expectativa quanto ao acesso a melhores padrões de saúde, educação e
segurança, além de lazer e bens de consumo, vem sendo atingida, segundo
matéria publicada no site “gazetaonline.globo.com”, no dia, 25 de dezembro de
2011, “São 95 milhões de pessoas no país com renda familiar mensal entre R$
1 mil e R$ 4 mil. Juntos, esses brasileiros somam 52% da população brasileira
e movimentam R$ 1,1 trilhão no mercado interno”.
Todo esse poder de compra resulta em uma classe nova de
consumidores conscientes de sua força e direitos e, portanto exigente.
Outro ponto a ser considerado é a autoconsciência que essa nova
classe C tem em relação a sua condição social, hoje os emergentes brasileiros
sentem orgulho em pertencer a essa fatia da população, coisa que cerca de
uma década atrás não se notava, pois havia certa decepção em boa parte
dessa massa de não atingir os padrões das classes A e B.
Alfredo Passos diz, em seu artigo publicado no site
“www.revistamarketing.com.br” em sua edição de 30 de março de 2010, que:
“Pessoas de classe média baixa. [...] Têm a necessidade de priorizar
os gastos, carregam sempre alguma pendência financeira, mas não
sofrem com a falta de alimentos, [...]. Ainda assim, 68% sentem-se
desprezados pelos ricos e 55% declaram ser avessos a produtos
comercializados em lugares considerados “chiques”. “É curioso
perceber que a classe C deseja consumir mais, mas não demonstra a
preocupação em mudar de classe”, afirma Aloísio. A proporção de
poupadores entre a classe C ainda é minoritária: apenas 38% têm
esse hábito. Fazer planos para o futuro não significa,
necessariamente, poupar dinheiro. “Vivo com o que tenho e compro o
que é possível” é afirmado com veemência por 59% dos
entrevistados. A relação direta entre a tomada de decisões diversas e
as crenças religiosas ainda é latente. Quase metade dos
entrevistados (49%) denota essa realidade. Porém, mudanças
comportamentais ligadas à modernidade também aparecem no
estudo. Homens mais preocupados com a imagem e reconhecendo
sua importância para o crescimento profissional já ultrapassam os
80%. Falar e buscar informações sobre sexo também se tornou mais
comum, entre homens e mulheres.” (PASSOS, 2010 p. 1)
A autoimagem que a atual classe C tem de si é clara e consciente, não
se vê a necessidade de mudar de classe, apenas usufruir dos benefícios que a
melhoria nas condições de vida lhes garantiu, hábitos e costumes como maior
importância com a imagem, e aquisição de bens e serviços passaram a ser
listados como prioridades.
Essa nova mentalidade é fruto da ascensão social, se não vejamos, a
diferença entre o modo de pensar dos atuais emergentes e da antiga classe C
está calcada no fato de que a antiga classe média era formada por indivíduos
que em sua grande maioria sempre pertenceram a essa classe e, portanto não
usufruiu da mobilidade social, e com isso levava certa frustração em não atingir
padrões de vida mais elevados, já a atual classe emergente, se considera
vencedora, pois vem ascendendo socialmente e, portanto tem orgulho de sua
posição atual.
A tabela abaixo mostra a evolução da renda média familiar per capta da
classe emergente brasileira entre os anos de 2005 e 2009.
Renda domiciliar per capita – média
ANO 2005 2006 2007 2008 2009
RENDA 583,96 638,29 655,83 689,61 705,72
Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
Como demonstra a tabela acima a renda média do brasileiro vem
crescendo gradativamente, e com isso propiciando maior estabilidade
financeira e uma consequente condição de atender antigas demandas.
A evolução da classe emergente brasileira é acompanhada de perto
pelas empresas que se empenham em disputar essa novo filão, novas marcas
e produtos específicos para a classe emergente estão sendo disponibilizados e
em muitas empresas linhas completas de produtos voltados às expectativas
dos emergentes estão sendo fabricados.
“A previsão do economista uberlandense Lourenço Faria Diniz, de
que a classe E tende a uma gradual redução nos próximos anos
ganha o respaldo em vários estudos, incluindo um levantamento feito
pela consultoria Data Popular, em que ficou constatado que a renda
maior e mais consumo estão deixando a classe E com os dias
contados, sendo que os integrantes dessa faixa social mais baixa irão
engrossar ainda mais as fileiras da classe C. A previsão é de que
quando o Brasil estiver às voltas com a Copa do Mundo e o governo
de Dilma Rousseff chegando ao fim, praticamente três em cada cinco
brasileiros pertencerão à classe C – grupo que chegará a 115 milhões
de habitantes, ou seja, praticamente três vezes a população da
Argentina. “A classe C será maioria absoluta e a E deve entrar em
extinção”, avalia o diretor do Data Popular, Renato Meirelles.”
(CASTRO, PIGHINI, 2011 p. 1).
Segundo artigo publicado no site “www.revistamercado.com.br” em sua
edição número 39 de fevereiro de 2011, a classe C deve continuar crescendo
inclusive com a possível extinção da classe E, em decorrência da melhoria do
padrão de vida e ascensão social dos menos favorecidos.
HÁBITO DE CONSUMO DOS EMERGENTES BRASILEIROS
“Estudo sobre a classe C realizado pela agência McCann Erickson
em parceria com o Instituto Data Popular identificou mudanças
internas já cristalizadas e observou tendências e demandas futuras
do que hoje representa a classe emergente do Brasil. Os achados da
pesquisa motivaram a agência a criar uma nova unidade de serviço, a
Bairro, direcionada especificamente ao universo da classe C. [...] “O
objetivo da pesquisa é ampliar o conhecimento da McCann sobre a
classe C brasileira, que representa o futuro do crescimento interno do
País, ultrapassando o óbvio do que já se sabe sobre essa fatia para
se ir além do que se vê. [...] O estudo levou em consideração os
temas autoimagem, projetos de vida, mudanças no papel da família,
finanças, alimentação, beleza, entretenimento, tecnologia e
comunicação. As respostas são permeadas por descobertas como a
de que a classe C vive em meio a um ecossistema econômico e
social peculiar, com renda e tarefas compartilhadas por familiares que
vivem a até 200 metros de distância uns dos outros. A classe C
identifica diferenças claras de consumo entre a sua classe, os pobres,
a classe média alta e os ricos. Tem ainda a consciência de que pode
comprar, mas quer mais o melhor. Seu sentimento de exclusão deixa
de estar ligado ao aspecto financeiro e atinge o comportamental. ““O
desejo prioritário da classe C é hoje consumir sem preocupação e
aprender a se comportar como classe média” [...].” (PASSOS, 2010 p.
1)
A classe emergente brasileira traz em si alguns valores e desejos peculiares, a
ascensão social, trouxe condições econômicas favoráveis e com isso a possibilidade
de novos hábitos, o consumo de bens e serviços passou a ser algo realizável. Essa
nova classe média se tornou exigente para com o que consome, buscando cada vez
mais produtos de qualidade sem se preocupar tanto com preços. Vivendo em núcleos
próximos uns dos outros as famílias da nova classe emergente tende a manter uma
união familiar típica de famílias de baixa renda, onde a proximidade dos subnúcleos
familiares faz a diferença.
Os hábitos de consumo da classe emergente brasileira são calcados em
anseios há muito reprimidos, desejos de adquirir bens e serviços que até bem
pouco tempo eram inacessíveis, desde coisas relativamente simples como
acesso a uma melhor subsistência, saúde, educação, segurança e lazer, até
bens de consumo duráveis ou não, o sonho de uma casa própria tem se
tornado cada vez mais real para a classe C, bem como automóveis,
eletroeletrônicos e eletrodomésticos, entre outros.
Os emergentes estão conscientes de seus direitos, esses novos
consumidores estão atentos a novidades e produtos que se identifiquem com
eles, uma vez que sabem de seu recém-adquirido poder de barganha se
tornaram conscientes de que podem finalmente suprir seus desejos.
Essa nova condição dos emergentes é explorada de maneira, até certo
ponto, abusiva, pela mídia que a todo instante tenta demonstrar e convencer,
através da exposição maciça de bens e produtos, que para se atingir alguns
padrões de vida são necessários alguns esforços e a aquisição dos mesmos.
Com isso veículos de comunicação apresentam, principalmente em
revistas e na televisão, estereótipos de padrões de vida e satisfação pessoal
através do consumo, e isso traz um problema, pois o incentivo ao consumismo
tem gerado um endividamento dessa classe.
A utilização de programas no horário nobre da televisão como
telenovelas, onde se utilizam produtos inseridos na trama, e de maneira quase
que imperceptível conduz o telespectador ao desejo de adquirir aquela marca
ou produto para que se consiga possuir os mesmos padrões das personagens
das telenovelas.
O acesso ao crédito tem incentivado o consumo indiscriminado, contudo
há também fatores positivos no estimulo ao consumo dessa classe, afinal se
despejam anualmente milhões de reais no mercado, proporcionando um
incremento na economia nacional.
Outro hábito que vem crescendo ao longo dos últimos anos é o consumo
via internet, o acesso à informática tem alavancado as vendas de muitas lojas,
que hoje investem em lojas virtuais tanto quanto nas lojas físicas, sites
especializados em compras coletivas também tem oferecido uma nova
proposta de compra para usuários da internet. As compras “on line” vem ao
encontro das expectativas dos emergentes, que buscam comodidade e
praticidade na aquisição de produtos via web.
A falta de tempo a que somos submetidos em nosso cotidiano e a
globalização fazem com que nos sintamos necessitados de conforto ao realizar
compras, por isso as vendas pela internet se tornaram uma realidade junto ao
público, que dispõem de uma gama de ofertas para realizar as compras.
CONCLUSÃO
Como demonstrado no presente artigo, a classe emergente detentora de
uma representativa parcela da renda nacional, é alvo da acirrada disputa dos
veículos de propaganda e das empresas ávidas por conquistar essa importante
fatia de mercado. A mídia faz com que surjam novos hábitos e desejos de
consumo nos emergentes, as propagandas veiculadas em cada um dos meios
de comunicação tentam projetar um novo padrão de vida junto a essa classe
desejosa de novos horizontes.
A atual classe emergente se notabiliza por uma consciência de seu
crescente poder aquisitivo e de seu papel na economia brasileira, com isso
vem se tornando uma categoria de consumidores exigentes, conhecedora de
seus direitos e orgulhosa por pertencer à classe C.
O novo padrão socioeconômico atingido pelos emergentes fez com que
alguns hábitos de consumo estejam se disseminando, bens de subsistência,
eletrodomésticos, eletroeletrônicos, carros, casas, ou mesmo lazer, educação,
saúde e segurança são parte das recentes conquistas da atual classe C.
A ascensão social da última década no Brasil - resultante de vários
fatores, dentre eles a melhor distribuição de renda, programas
socioeconômicos de inclusão advindos de politicas governamentais,
crescimento econômico, formalização do emprego, acesso ao crédito - trouxe
consigo condições favoráveis para uma gigantesca massa social finalmente
usufruir de benefícios agora oferecidos a ela, bem como realizar sonhos há
muito reprimidos.
Portanto espera-se que este trabalho tenha cumprido seu papel de
apresentar dados para discussão do referido assunto, uma vez que se trata de
algo presente no cotidiano de milhões de brasileiros pertencentes a uma massa
que hoje já perfaz mais de 50% da população nacional.
Não se tem aqui a pretensão de criar conceitos e sim deixar em aberto
para que a sociedade discuta o assunto e possa criar condições para evitar
abusos de poder por parte da mídia sem, contudo se estimular a censura,
apenas o desejo de que se use de bom senso para que cada um dos
integrantes desse processo evolutivo atinja seu propósito da melhor forma
possível.
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Tabela 1: EVOLUTIVO DAS CLASSES SOCIAIS NO BRASILO OBSERVADOR BRASIL 2011 p.19< http://www.elap.com.br/dados/O_Observador_2011.pdf>Acesso em: 06 de fev. 2012
Tabela 2: Crescimento demográfico percentual brasileiro por classe social<http://www.logisticadescomplicada.com/as-classes-sociais-e-a-desigualdade-no-brasil/> Acesso em 15 de fev. 2012
Tabela 3: Renda domiciliar per capita – média<http://www.ipeadata.gov.br/>visitada em: 08 fev. 2012