a influência da dança na melhoria dos aspectos psicossociais na terceira idade: uati - alagoinhas...
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO/CAMPUS II – ALAGOINHAS
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
ALESSANDRO DE SOUZA FERREIRA
A INFLUÊNCIA DA DANÇA NA MELHORIA DOS ASPECTOS
PSICOSSOCIAIS NA TERCEIRA IDADE: UATI – ALAGOINHAS – BA
Alagoinhas
2012
ALESSANDRO DE SOUZA FERREIRA
A INFLUÊNCIA DA DANÇA NA MELHORIA DOS ASPECTOS
PSICOSSOCIAIS NA TERCEIRA IDADE: UATI – ALAGOINHAS – BA
Monografia apresentada como requisito
parcial para a conclusão do curso de
Licenciatura em Educação Física da
Universidade do Estado da Bahia – Campus
II, sob a orientação da professora
Especialista Viviane Rocha Viana.
Alagoinhas
2012
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a duas pessoas especiais que
são responsáveis pela pessoa que sou hoje e que
tenho muito orgulho de ser filho, aos meus pais
Sônia Maria e Domingos Ferreira. Quando nós
filhos saímos de casa e ganhamos o mundo é para
que vocês possam se orgulhar da gente, nunca fiz
mal para ninguém e a educação que eu tenho hoje e
todas as minhas vitórias são dedicadas a vocês,
ainda não desisti de poder um dia cuidar de vocês o
tanto quanto vocês cuidaram de mim, amo vocês.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente quero agradecer a Deus por todas as oportunidades que ele
tem me dado e a todas as pessoas de bom coração que fizeram parte de momentos
tão especiais da minha vida como esse.
As minhas irmãs Leila e Helena, aos meus sobrinhos e minha Tia Sueli que
mesmo distante sempre tivemos um amor recíproco e que tenho no fundo do meu
coração como pessoas importantes para mim.
A minha orientadora Viviane, que sem ela eu não teria condições de realizar
esse trabalho, sempre amiga, paciente e pronta para ajudar, nunca me deixou na
mão, obrigado por tudo, essa vitória é nossa.
Agradeço a todos os professores que fizeram parte da minha formação,
principalmente ao professor Bira, que tenho como exemplo de professor e aos
outros que também contribuíram para esse processo da minha vida acadêmica.
Aos meus amigos de coração Nildo e Ana Isa, que passávamos horas e
horas no telefone, conversando, discutindo sobre nossas monografias, além de uma
grande amizade que hoje é real, nos sentimos como se fossemos irmãos de tão
próximos e amados que nos tornamos. Obrigado por tudo!
Ao “grupo de Cintia”, incluindo todos, especialmente Cintia, Alani e Dayane
“Lindinha” que eu amo de coração, pessoas especiais, que nunca esquecerei.
Também minha amiga Helaine (minha dançarina de dança do ventre), Edvan
(okara) e Renan (de Coité) que fizeram parte do “grupo do Alessandro” e apesar de
alguns desacordos sempre terminávamos bem, porque sempre fomos responsáveis.
Agradeço à coordenadora da UATI Iêda Fátima pela confiança ao meu
trabalho, aos professores do projeto e a todas as minhas garotas da terceira idade,
as quais amo muito, fizeram parte desse processo brilhantemente e se tornaram
parte da minha família, nunca esquecerei o dia que meus pais puderam participar da
aula juntamente com vocês e o carinho que vocês tiveram com eles.
Agradeço também a Larissa e também Tarcísio pela colaboração em torno
de tudo que eu precisava saber sobre a UATI e os livros que me deram para ajudar
no meu trabalho.
Não posso nunca esquecer pessoas especiais como Paulo, Norma e Cesar
que sempre estavam prontos para me ouvir, nos momentos que mais precisei, o
meu respeito, amor e carinho a vocês.
Por fim, meus agradecimentos a todos os alunos e proprietários das
Academias La Dance e Fisio Solutions, que estão presentes no meu dia-a-dia, e a
todas as pessoas que contribuíram para minha formação como profissional e como
pessoa.
Obrigado por tudo!
LISTA DE SIGLAS
UATI - Universidade Aberta à Terceira Idade
CSU - Centro Social Urbano
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
GAFTI - Grupos de Atividades Físicas para a Terceira Idade
UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana
UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro
NAI - Núcleo de Assistência ao Idoso
PUC - Pontifícia Universidade Católica
UNEB – Universidade do Estado da Bahia
DEDC – Departamento de Educação
RESUMO
O presente estudo vem tratar da prática da dança na melhoria dos aspectos
psicossociais na terceira idade. Como resultado, temos uma discussão acerca dos
benefícios e a melhoria na qualidade de vida, reintegração social e do bem-estar
psicológico das idosas. Este estudo apresenta características de uma pesquisa
qualitativa e na primeira parte apresentamos algumas questões relacionadas ao
envelhecimento, fazendo também uma breve consideração às questões biológicas;
na segunda parte foram apontadas questões como qualidade de vida, aposentadoria
e projetos de reintegração social relacionados à terceira idade e na última parte um
histórico sobre a dança e sua prática para com os idosos. Diante da pesquisa
realizada podemos considerar que dentre outras características importantes a
prática da dança resulta na melhoria dos aspectos psicológicos e sociais na vida do
idoso.
Palavras-chave: Dança. Terceira Idade. Aspectos Psicossociais.
ABSTRACT
This study will deal with the practice of dance in the improvement of psychosocial
aspects in the third age. As a result of the study, we have a discussion about the
benefits and the improvement in the quality of life, social reintegration and
psychological well-being of the elderly. For the study was conducted a qualitative
research. In the first part we present issues related to aging in psychosocial aspects,
and also a brief account organic issues; in the second part were highlighted issues
such as quality of life, retirement, and projects of social reintegration, related to the
third age and the last part a history on the dance and its practice with the elderly
people. Before the research performed we can consider that among other important
characteristics to the practice of dance results in improvement of psychological and
social aspects in the life of the elderly.
Keywords: Dance. Third Age. Psychosocial Aspects.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------- 11
2 ENVELHECIMENTO---------------------------------------------------------- 14
2.1 O ENVELHECER--------------------------------------------------------- 14
2.2 O ENVELHECIMENTO NO BRASIL E NO MUNDO ------------ 15
2.3 IDADES DO INDIVÍDUO ----------------------------------------------- 17
2.3.1 IDADE CRONOLÓGICA---------------------------------------------- 18
2.3.2 IDADE BIOLÓGICA --------------------------------------------------- 19
2.3.3 IDADE SOCIAL ---------------------------------------------------------- 20
2.3.4 IDADE PSICOLÓGICA ------------------------------------------------ 21
3 A TERCEIRA IDADE E A QUALIDADE DE VIDA ----------------------- 23
3.1 APOSENTADORIA ------------------------------------------------------- 23
3.2 PROGRAMAS PARA REINTEGRAÇÃO SOCIAL----------------- 25
3.3 UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE (UATI) ------- 27
4 A DANÇA E SUAS CONCEPÇÕES -------------------------------------- 29
4.1 A DANÇA E A TERCEIRA IDADE ------------------------------------ 30
5 METODOLOGIA --------------------------------------------------------------- 35
5.1 TIPO DE ESTUDO ------------------------------------------------------- 35
5.2 ESPAÇO E SUJEITO PESQUISADOS ----------------------------- 36
5.3 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS ------------------------------- 37
5.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS ------------------------------- 38
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ------------------------------------------- 41
6.1 OFICINAS OFERECIDAS PELA UATI ------------------------------- 41
6.2 O HISTÓRICO DA DANÇA NOS INDIVÍDUOS ENTREVISTADOS 42
6.3 AS DIFICULDADES DA PRÁTICA DA DANÇA NA TERCEIRA
IDADE
45
6.4 O OLHAR DA SOCIEDADE PARA O IDOSO QUE DANÇA 47
6.5 TRANSFORMAÇÕES PSICOSSOCIAIS COM A PRÁTICA DA
DANÇA
48
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS --------------------------------------------------- 51
REFERÊNCIAS
APÊNDICES
11
1 INTRODUÇÃO
A dança está presente na vida das pessoas desde tempos imemoriais. O
próprio corpo de forma involuntária movimenta-se ao ouvir uma música, ou mesmo
produzindo sons com palmas ou batendo o pé. Pesquisas mostram que a dança é
uma das atividades mais completas para se exercitar, ela reforça um trabalho
corporal, possibilitando a execução dos movimentos de maneira livre ou mesmo
coreografados, onde o indivíduo tende a aprender, mentalizar e ou mesmo repetir os
movimentos.
O contexto da dança na terceira idade é marcado por um processo de
exclusão no sentido da prática “do dançar”, pois a maioria dos estilos de dança
existentes tem algumas regras a serem seguidas, o que impossibilita a pessoa que
não tem alguma habilidade física e/ou motora para praticá-la. Mas a dança vai além
de apenas um movimento corporal, ela pode reunir expressão, diversão, prazer,
espiritualidade, lateralidade, coordenação motora, além de promover sociabilização,
motivação e conhecimentos de outras culturas.
A cada ano que se passa aumenta a quantidade de idosos na população
brasileira e mundial. A manutenção física, psicológica e social durante toda a vida
do indivíduo é uma maneira de chegar à terceira idade de forma saudável, diante de
tantos preconceitos que o idoso enfrenta na sociedade.
Ao nascer o indivíduo já começa a socializar-se com o mundo, durante seu
crescimento e amadurecimento já estabelecerá um primeiro perfil de sua identidade.
O tempo passa e várias modificações físicas vão acontecendo por um bom tempo,
por exemplo, na adolescência, além dessas mudanças, aparecem também algumas
questões ligadas a saúde mental, onde o adolescente com a sua pouca experiência
de vida e a educação dada pela escola e pelos pais, reproduz o seu novo perfil de
identidade, confrontando seus pensamentos pessoais, além de opiniões construídas
pelo contexto da educação da família e também da sociedade, assim passando para
sua vida adulta.
Já a chegada da terceira idade, termo que utilizaremos para os indivíduos que
chegam aos 60 anos, é marcada pelo processo de exclusão social, onde
principalmente aqueles que se aposentam, são ditos improdutivos para o mercado
de trabalho. Logo o afastamento do trabalho, dos amigos de convivência durante
12
toda a vida se perde, fazendo com que o idoso se distancie cada vez mais, podendo
ocasionar doenças graves como a depressão, esta que pode levá-lo a morte.
Para tanto, a escolha dessa temática para a realização da pesquisa tem uma
relação com um perfil profissional que venho construindo em minha vida, o qual se
inicia durante minha experiência com jovens em academias de ginástica de
Alagoinhas-Ba, que utilizam a dança como lazer e prática corporal. Diante de
algumas experiências acadêmicas, surge o projeto de extensão da UNEB, em que o
foco de minha atuação seria a dança na terceira idade. Ao aceitar esse importante
desafio comecei a perceber a diferença com que os idosos vêem a dança, muitas
vezes buscando nela uma forma de socializar-se com outras pessoas e resgatar
interesses também culturais.
Tendo como universo de estudo o grupo de idosos da oficina de dança da
Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) de Alagoinhas-Ba, seguiu-se as
diretrizes da pesquisa qualitativa, utilizou-se como método de pesquisa o estudo de
caso, onde a técnica de coleta de informações foi à observação participante. Como
instrumento de coleta de dados foi elaborado uma entrevista semi-estruturada, esta
direcionada a um número de seis idosas do programa com idades diferentes e
aquelas que tiveram participação na oficina em tempo diferentes, como veremos,
idosas que tem 03, 07 e 11 meses de participação na oficina. Para analisar os
resultados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo.
O objetivo geral deste estudo é verificar as mudanças psicossociais
ocorridas na prática contínua da oficina de dança com os idosos do programa. Como
objetivos específicos buscamos fazer uma análise sobre os benefícios e dificuldades
que compõem a prática ofertada ao grupo, fazendo uma breve contextualização com
as outras modalidades oferecidas pelo programa, e também resgatar o contexto da
dança durante a vida dos idosos, discutindo de que forma praticavam e como era
vista em tempos anteriores.
O problema da pesquisa se resume na seguinte indagação: Como a dança
pode influenciar na melhoria dos aspectos psicossociais na terceira idade? Tendo
como hipótese, que a prática da dança atua no sentido de trazer benefícios para as
condições psicológicas e sociais ao idoso, sendo uma atividade feita em grupo, onde
também o idoso pode se sentir, dentre outras possibilidades, reintegrado novamente
a sociedade.
13
No âmbito acadêmico este estudo tende a fazer com que haja um interesse
maior para esta área de atuação, cuja temática tem relevância para a dança, assim
como para a terceira idade. Pretende-se que os resultados encontrados permitam
que as pessoas olhem para o idoso de outra maneira, no sentido positivo,
valorizando-o enquanto sujeito importante para o contexto social, sendo tratado
como cidadão produtivo e útil, afastando-o o máximo possível do processo de
exclusão.
O presente estudo traz no primeiro capítulo o referencial teórico sobre o
envelhecimento, onde tratamos dos índices de envelhecimento no Brasil e no
mundo, além dos conceitos de envelhecimento no sentido cronológico, psicológico,
biológico e social.
No segundo capítulo, temos os conceitos sobre a terceira idade e qualidade
de vida, pautados num estudo sobre a aposentadoria, tema esse que abre portas
para o discurso sobre os problemas relacionados às transformações psicossociais
na terceira idade, além de uma discussão sobre o surgimento e o desenvolvimento
das Universidades Abertas à Terceira Idade no Brasil, dando ênfase na UATI da
cidade de Alagoinhas-Ba.
A dança está muito presente no terceiro capítulo, e nele relatamos um pouco
de sua história e concepções, analisando os possíveis benefícios biopsicossociais
para os idosos e mostrando as possibilidades para a prática da dança direcionada à
esse público.
Finalizamos o trabalho apresentando os resultados e discussões, e
estabelecendo nas considerações finais uma síntese do que foi percebido durante a
pesquisa, além de outras vertentes que foram importantes para conclusão do
trabalho.
14
2 ENVELHECIMENTO
2.1 O ENVELHECER
De acordo com Fortes (2008), o amadurecimento é marcado por ritos de
passagens onde a cada etapa vencida o indivíduo está mais preparado para a sua
vida, ou seja, ele passa praticamente sua vida construindo e estabelecendo um novo
perfil de identidade com as influencias geradas pelo seu meio. Na adolescência esse
processo é significativo, principalmente se formos analisar as questões de cunho
psicológico e social, como ele observa o mundo e utiliza aquele conhecimento
adquirido com sua experiência de vida para a sua fase adulta.
O tempo passa, ele constrói uma nova família, onde todos seus
conhecimentos, cultura e modo de vida se misturam com os conceitos e percepções
de outro indivíduo, estabelecendo uma modificação destes desde o nascimento até
o envelhecimento. Contribuindo para o entendimento das transformações de vida do
sujeito até a terceira idade.
Com o envelhecimento além de transformações físicas, o idoso passa por
um processo de alterações psicológicas e sociais. Dentre eles, podemos destacar o
preconceito social com o idoso, onde o mesmo não é valorizado ou mesmo
respeitado por ter pela sociedade uma visão de impossibilidades, onde não é o
correto se afirmar, pois apesar de suas dificuldades o idoso tem uma grande
importância na sociedade, principalmente para sua geração, como filhos, netos e
pessoas que passaram por sua vida.
Com o passar dos anos, podemos constatar algumas mudanças de atitudes,
até importantes, nos diferentes tipos de sociedades, com relação ao
envelhecimento, como por exemplo, a diminuição de estereótipos e preconceitos
estabelecidos pela própria sociedade oportunizando a reintegração do idoso, e
apesar das características da população idosa do nosso país, faz-se necessária uma
observação acerca de suas vidas com a chegada da aposentadoria, considerando o
aumento do chamado tempo livre, ou disponível, pois certamente trará resquícios de
uma sociedade, onde o trabalho era prioridade para tudo na vida e o lazer deixado
para segundo plano.
Logo, para atender essa população, têm surgido diversos programas
voltados para o idoso, com objetivos e características bem diferenciadas, como a
15
educação no processo de envelhecimento, reintegração do idoso à sociedade,
reeducação da sexualidade, assistência financeira e social etc. Dentre estes
programas, destacamos as Universidades Abertas à Terceira Idade (UATI), os
grupos de convivência, os Centros Sociais Urbanos (CSU), entre outros.
Estes programas, mesmo tendo objetivos e características diferentes,
oferecem atividades bem semelhantes, como oficinas de trabalhos manuais: crochê,
tricô, pintura em tela e tecido, tapeçaria; oficinas de música, canto; oficinas que
envolvem trabalhos corporais como: ginástica, alongamento, hidroginástica, dança,
yoga e atividades lúdicas.
Com essas atividades, novas concepções e práticas vão sendo
implantadas na sociedade, pois a tendência é que ao se chegar à terceira idade, o
ócio e a ansiedade que acompanham o processo de envelhecimento, sejam
substituídos por outras atividades a fim de dar um novo sentido às suas vidas.
2.2 O ENVELHECIMENTO NO BRASIL E NO MUNDO
Para a Organização Mundial de Saúde a terceira idade tem início a partir dos
60 anos, em países como o Brasil. Nesse período as pessoas passam a ser
chamadas de “idosas”, expressão essa que acaba ofendendo algumas pessoas,
pois a relacionam com a expressão “velha”, significando algo usado ou sem
utilidade. No entanto a velhice deve ser vista como mais uma etapa da vida que
pode ser plena de realizações, agindo assim o indivíduo alcança um equilíbrio maior
de si alterando a idéia de que os outros fazem deles. (MENEGHETTI; RODRIGUES,
2010)
Idoso, velho, melhor idade, maior idade, adulto maduro, entre outros são
várias as nomenclaturas dada à velhice. Utilizaremos o termo “terceira idade” e
“idoso” no decorrer da pesquisa, sendo que a segunda nomenclatura “[...] é mais
usada pelas áreas da saúde, das ciências sociais e humanas, entre outras.”
(ANDRADE; PORTELA , 2010, p.9)
Considerando-se os conceitos e preconceitos que se faz ao indivíduo que
chega aos 60 anos, na sociedade de consumo onde vivemos tanto o homem quanto
a mulher idosa, tem enfrentado preconceitos de uma mentalidade que não valoriza a
maturidade do idoso, até eles mesmos contribuem para o preconceito quando se
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mantêm ignorantes aos valores próprios da sua idade, muitos procuram até meios
duvidosos para “voltar” a juventude, para alguns quando os cabelos embranquecem
e as rugas aparecem chega-se ao estágio da “solidão”, entretanto na Índia, a solidão
não significa necessariamente isolamento e melancolia e sim sinônimo de liberdade
(LIMA; MENDES, 2002).
O problema da solidão relacionada ao idoso não é somente, pela chegada
da terceira idade, mas sim da forma que ele é visto pela sociedade, como
improdutivo, ou mesmo pelos familiares que os abandonam em asilos, assim os
excluindo da sociedade, o que não deveria ocorrer, entendendo que o crescimento
constante da terceira idade na população é notável.
Nas nações Unidas em 1981, foi feita uma distinção entre as populações
maduras onde 7% ou mais da população tinha mais de 60 anos, em 2025 caso
mantenha essa tendência, cerca de 20 % da população da América do Norte e de
outras partes da Europa terá mais de 55 anos, assim como em alguns países em
desenvolvimento (SHEPARD apud CIPRIANO; MEDALHA, 2007).
De acordo com o IBGE (2008), a população brasileira envelhece em ritmo
acelerado, com o avanço da medicina e melhorias nas condições gerais de vida
elevará a média de vida do brasileiro (expectativa ao nascer) de 45,5 anos de idade,
em 1940, para 72,7 anos em 2008, ou seja, mais 27,2 anos de vida. Segundo a
projeção do Instituto, o país continuará galgando anos na vida média da sua
população, em 2025 o patamar alcançará a expectativa de 81,29 anos, basicamente
o mesmo nível atual da Islândia (81,80), Hong Kong, China (82,80) e Japão (82,60).
O índice de envelhecimento aponta para mudanças na estrutura
etária da população brasileira. Em 2008, para cada grupo de 100
crianças de 0 a 14 anos existem 24,7 idosos de 65 anos ou mais. Em
2050, o quadro muda e para cada 100 crianças de 0 a 14 anos
existirão 172, 7 idosos. Um exame das estruturas etárias projetadas
mostra, também, a transformação nas relações entre pessoas que
ingressam (e permanecem) nas idades ativas e aquelas que atingem
as chamadas idades potencialmente inativas. Em 2000, para cada
pessoa1 com 65 anos ou mais de idade, aproximadamente 12
1 A taxa de fecundidade total expressa o número de filhos que, em média, teria uma mulher, pertencente a
uma coorte hipotética de mulheres, que durante sua vida fértil tiveram seus filhos de acordo com as taxas de
fecundidade por idade do período em estudo e não estiveram expostas aos riscos de mortalidade desde o
nascimento até o término do período fértil pertencente a uma coorte hipotética de mulheres, que durante sua
vida fértil tiveram seus filhos de acordo com as taxas de fecundidade por idade do período em estudo e não
estiveram expostas aos riscos de mortalidade desde o nascimento até o término do período fértil.
17
estavam na faixa etária chamada de potencialmente ativa (15 a 64
anos). Já em 2050, para cada pessoa com 65 anos ou mais de
idade, pouco menos de 3 estarão na faixa etária potencialmente
ativa. No tocante às crianças e jovens, existirá cada vez mais
pessoas em idade potencialmente ativa “destinadas” a suprir suas
necessidades. (IBGE, 2008)
Segundo Okuma & Teixeira (2004) com esse aumento da população de
idosos deverá haver uma maior necessidade de especialistas na área, sendo que os
profissionais da saúde não recebem instrução a respeito do idoso e, quando a
recebem, é feita através de uma disciplina restrita. Os conteúdos oferecidos são
voltados somente ao envelhecimento e é analisado somente na dimensão biológica
como acontece nas áreas da saúde, ao invés de ser analisado em todas as suas
dimensões, principalmente num contexto sócio-histórico-cultural.
Sendo assim, ao estudar as perdas produzidas pelo envelhecimento,
provavelmente haverá estereótipos negativos, possivelmente induzindo os
estudantes a rejeitarem o trabalho com idosos. Deste modo, com base na literatura
que aponta o desconhecimento e conhecimento desse senso como um dos
principais fatores relacionados ao preconceito e estereótipo negativo para com o
idoso, sugere-se principalmente que o professor de Educação física esteja inserido
nas atividades voltadas a esse grupo e deve ter o interesse de elaborar trabalhos e
projetos, sendo que o envelhecimento dito saudável nos âmbitos biológicos,
psicológico e social é de mera importância diante das transformações ocorridas com
o indivíduo no decorrer do seu envelhecimento e a dança diante os benefícios que
iremos apresentar mais adiante é uma atividade física dita completa para esse
público.
2.3 IDADES DO INDIVÍDUO
O envelhecimento humano cada vez mais é entendido como um processo de
mudanças influenciado por fatores como gênero, classe social, cultura, padrões de
saúde individual e coletiva da sociedade. (HOYER; ROODIN apud IRIGARAY;
SCHNEIDER, 2008)
Segundo Irigaray & Schneider (2008) na sua pesquisa sobre o
envelhecimento na atualidade, a idade do indivíduo apresenta-se em diferentes
aspectos, caracterizando-os como cronológicos, biológicos, sociais e psicológicos.
18
Utilizaremos essas representações para entendermos melhor sobre o
envelhecimento e suas características.
2.3.1. IDADE CRONOLÓGICA
Seguindo os conceitos estabelecidos pelo autor, a idade cronológica,
mensura a passagem do tempo decorrido em dias, meses e anos desde o
nascimento, e é a melhor forma de se obter informações de uma pessoa.
Sendo assim, a idade cronológica pode ser entendida como algo absoluto e
nela são fixadas propriedades que podem ser medidas pelo tempo, empregando-se
um padrão absoluto ou escalas de medidas. Dada a comparação de tempo e medida
percebe-se que o tempo não é fundamental, absoluto e objetivo, mas sim relativo e
subjetivo. Variáveis como o tempo histórico, idade (nascimento), coorte2 podem
reduzir o mesmo conceito de tempo físico clássico, mas não pode apresentar
concomitância com a idade biológica. (SCHROOTS; BIRREN apud IRIGARAY;
SCHNEIDER, 2008)
Um exemplo da idade cronológica é a idade para a aposentadoria, segundo
a Previdência Social, o homem a partir dos 65 anos e a mulher a partir dos 60 anos,
estará na idade considerada inativa para o mercado de trabalho, mais a frente
abordaremos mais sobre esse assunto.
Alguns autores afirmam que “é um absurdo insistir que a idade cronológica
deve fazer parte da identidade” (ANDREWS apud IRIGARAY; SCHNEIDER, 2008, p.
589). Sendo que nesse sentido ela se refere somente aos anos que tem decorrido
desde o nascimento da pessoa, portanto não é um índice de desenvolvimento no
sentido biológico, psicológico e social.
De acordo com Fortes (2008), a idade cronológica aponta uma fase da
vida, mas ao mesmo tempo podemos encontrar pessoas com 50 anos e com
características clássicas do envelhecimento, mas também “jovens” de 60, 70 anos
caminhando pelas ruas e praticando esportes.
2 Conjunto de indivíduos que estão experimentando um acontecimento similar no transcurso de um mesmo
período de tempo.
19
2.3.2. IDADE BIOLÓGICA
Para Irigaray; Schneider (2008) a idade biológica é definida pelas
modificações corporais e mentais que ocorrem ao longo do processo de
desenvolvimento, sendo ela compreendida antes do nascimento do indivíduo
estendendo por toda sua vida.
Segundo Okuma (1998) as mudanças biológicas têm haver com implicações
do meio ambiente que o indivíduo vai absorver de acordo com normas, valores e os
critérios da sociedade e da cultura nas quais a velhice acontece. Portanto, cada
indivíduo terá uma forma de encarar a sua velhice, dependendo de seus recursos
internos, seus valores e formas de pensamento e principalmente as suas relações
sociais, sendo que a família é um ponto importantíssimo nesse processo.
Para entendermos melhor o envelhecimento no sentido biológico devemos
compreender as perdas de funções orgânicas, conhecido por senescência, onde ele
consegue aceitar essas perdas de suas capacidades intelectuais e físicas. A
senilidade é conhecida como um envelhecimento onde aparecem as patologias.
Sendo assim o processo de envelhecimento somente é conhecido pelas mudanças
anatomo-fisiológicas, em que as pessoas levam a velhice como patologia, não como
um processo normal da vida e que não é necessário entendê-lo, mas sim combatê-
lo. (MARCHAND apud CIPRIANO e MEDALHA, 2007)
As modificações físicas são algo perceptível na terceira idade, diante das
alterações no sentido biológico podemos afirmar que:
A partir dos 40 anos, a estatura do indivíduo diminui cerca de um
centímetro por década, principalmente devido à diminuição da altura
vertebral ocasionada pela redução da massa óssea e outras
alterações degenerativas da coluna vertebral. A pele fica mais fina e
friável, menos elástica e com menos oleosidade. A visão também
declina, principalmente para objetos próximos. A audição diminui ao
longo dos anos, porém normalmente não interfere no dia-a-dia. Com
o envelhecimento, o peso e o volume do encéfalo diminuem por
perda de neurônios, mas, apesar desta redução, as funções mentais
permanecem preservadas até o final da vida (COSTA; PEREIRA
apud IRIGARAY; SCHNEIDER, 2008, p.590).
Durante a vida, a contínua prática de atividade física pode fazer com que a
chegada da terceira idade não tenha apenas aspectos negativos e ela pode
20
contribuir para uma diminuição desse processo. Com a chegada dessa fase da vida,
ocorre também o enfraquecimento de membros inferiores, que interferem na
locomoção, por exemplo, decorrentes das transformações físicas relacionadas ao
envelhecimento.
Esse enfraquecimento, ocasionado pela redução de massa muscular leva-
se às quedas que são constantes na terceira idade, geralmente ocorrem também por
anormalidades do equilíbrio, fraqueza muscular, desordens visuais, anormalidades
do passo, doença cardiovascular, alteração cognitiva, além de consumos de
medicamentos, assim, essas quedas podem levar a pequenos ou até graves
acidentes, podendo ocorrer fraturas ou lesões em tecidos moles, ou levá-lo a morte.
(MATSUDO apud CIPRIANO; MADALHA, 2007)
Portanto, podemos entender a idade biológica como a condição e estado do
corpo do indivíduo, ou seja, a integridade física, esta que com a prática de atividade
física pode fazer parte da vida do indivíduo antes ou mesmo durante o
envelhecimento fazendo com que essas quedas sejam evitadas, assim como
também fazendo com que ocorra a melhoria das suas condições físicas.
2.3.3 IDADE SOCIAL
A idade social segundo Medeiros (2009) refere-se aos papéis e expectativas
que a sociedade espera de cada cidadão em determinada idade, como por exemplo,
que trabalhe aos 30 anos, que tenha filhos antes dos 40 e aos 65 anos consiga
aposentar-se.
Conforme Irigaray; Schneider (2008) a medida da idade social é composta
por performances individuais de papéis sociais, bem como respeito social por parte
de outras pessoas em posição na sociedade. Segundo os autores ela é composta
por atributos que caracterizam o indivíduo e que varia de acordo com a cultura, o
gênero, a classe social, o transcorrer das gerações e das condições de vida e de
trabalho, sendo que as desigualdades dessas condições levam a desigualdades no
processo de envelhecer. Socialmente, pode-se definir como pessoa idosa a partir do
momento em que deixa o mercado de trabalho, por exemplo, o indivíduo deixa de
ser economicamente ativo.
A partir do momento que o idoso é excluído do mercado de trabalho, ele
também diminui suas relações sociais, deixando de conviver com pessoas que
21
estavam sempre presentes no seu dia-a-dia e se caso esses laços de amizade não
continuarem ou mesmo não houver uma nova relação de amizades, esse idoso se
sentirá excluído da sociedade num momento que para ele seria de descanso, bem-
estar e lazer.
Segundo Garcia & Leonel (2007), diante da exclusão do idoso na sociedade
capitalista, onde o mesmo é visto como um elemento descartável, em sua pesquisa
sobre transformações nos relacionamentos a partir de programas sociais, o autor
enfatiza que os profissionais da área de saúde focalizam programas para
reintegração desses idosos na sociedade, estes programas favorecem o
desenvolvimento da sociabilidade, provocando alterações na vida dessas pessoas,
nas suas atividades e nas relações interpessoais, abrindo a construção de novas
amizades.
2.3.4 IDADE PSICOLÓGICA
A idade psicológica tem relação com a idade cronológica e as capacidades
psicológicas, tais como percepção, aprendizagem e memória, que prenuncia o
potencial de funcionamento futuro do indivíduo, ou seja, um idoso pode ter uma
idade psicológica melhor do que um jovem, principalmente em relação a seu tempo
e o aprendizado percorrido por toda sua vida, mas também alguns indivíduos jovens
podem ter uma idade psicológica melhor do que um idoso, ao depender do contexto
de vida dos dois sujeitos (NERI apud IRYGARAY; SCHNEIDER 2008).
Para Medeiros (2009) a idade psicológica é a idade que a pessoa sente que
tem e demonstra ter, na maneira de agir. Na terceira idade principalmente com as
mudanças no sentido neurológico, alguns idosos, voltam a se comportar como
crianças, em alguns casos relembrar momentos e situações de tempos atrás que
podem interferir no comportamento atual.
Estudos atuais sugerem que os idosos podem apresentar uma
imensa capacidade de se adaptar a novas situações e de pensar
estratégias que sirvam como fatores protetores. O conceito de
resiliência, que pode ser definido como a capacidade de recuperação
e manutenção do comportamento adaptativo mesmo quando
ameaçado por um evento estressante, e o de plasticidade,
caracterizado como o potencial para mudança, são vividos pelos
22
idosos e constituem fatores indispensáveis para um envelhecimento
bem-sucedido (IRYGAHAY E SCHNEIDER 2008, p. 592)
Sentir-se bem e ter uma boa auto-estima é o melhor caminho para aguardar
a chegada dessa nova fase da vida, a qual chamamos de terceira idade, esses
aspectos são de muita significância para o bem-estar psicológico e social do
indivíduo na sua velhice, sendo que a chegada da aposentadoria pode ser um fator
preponderante para questões relacionadas à qualidade de vida. A opção pela dança
enquanto atividade física é algo relevante, pois ela apresenta inúmeros benefícios
para quem a pratica (veremos no capítulo quatro), além de ser uma das atividades
que fazem parte dos projetos realizados por instituições de atendimento voltado à
terceira idade. Haja vista que é necessária uma nova visão da terceira idade, mas
sobre este assunto discutiremos no capítulo seguinte.
23
3 A TERCEIRA IDADE E A QUALIDADE DE VIDA
Com o aumento da expectativa de vida do cidadão brasileiro, faz-se
necessário a busca de um envelhecimento saudável. Segundo Neri et al (2004) em
seu livro “Velhice bem-sucedida”, são poucos os estudos voltados a esse assunto no
ambiente acadêmico brasileiro, freqüentemente há um desafio de questionamentos
na validade dos dados contidos em publicações internacionais e uma adaptação ao
contexto dos nossos idosos.
A autora acima relata que uma velhice bem-sucedida revela-se em idosos
que mantêm autonomia, independência e envolvimento ativo com a vida pessoal,
familiar, lazer e a sua vida social, incluindo os amigos. Nesse contexto, reflete-se em
reconhecimento social às pessoas porque lhes permite oferecer contribuições à
sociedade ou ao grupo familiar, mas é pouca a quantidade de pessoas que chega
nesse padrão de vida, por vários fatores como genética, estilo de vida e condições
socioeconômicas.
Para Nahas (apud Pinto, 2008) devemos levar em consideração que
nenhuma pessoa é igual à outra e as mudanças ocorridas na vida de cada um são
únicas, assim serão muitos os fatores que determinarão a qualidade de vida do
indivíduo como: condições de saúde, longevidade, satisfação e prazer no trabalho,
salário, lazer, as relações familiares e até mesmo a espiritualidade.
Quando pensamos na terceira idade a visão que se tem é de conceitos
pessimistas, distanciando a idéia de qualidade de vida. Para Marquez Filho (1998) a
chegada dessa nova fase da vida, pode surgir com perdas de outras naturezas
como: a separação dos filhos pela saída de casa, perdas de entes queridos
motivadas por morte, viuvez ou separação, outro fator que também influencia é a
aposentadoria, conforme veremos a seguir.
3.1 APOSENTADORIA
Para a Previdência Social tem direito a aposentadoria, trabalhadores
urbanos do sexo masculino a partir dos 65 anos e do sexo feminino a partir dos 60
anos, já os trabalhadores rurais podem se aposentar por idade, os homens com 60
24
anos e as mulheres a partir de 55 anos. Esse conceito é entendido pela idade
cronológica, como vimos no primeiro capítulo.
Conforme Bossé (apud Neri et al, 2004) a aposentadoria, vista como a perda
do papel social do trabalho, contribui para o declínio na saúde física e mental, é
derivada, pelo menos por três premissas: dedutiva, observacional e histórica. A
dedutiva tem a concepção de que o indivíduo constrói sua identidade tendo como
referência sua ocupação ou papel profissional. A perda da identidade de trabalhador
geraria estresse, ansiedade e predisposição a depressão. A observacional centra-se
na doença ou morte atribuída a aposentadoria em si, já a histórica centra-se na
visão capitalista e da ética protestante, onde o trabalho é visto como norma salutar,
logo o não-trabalho gera exceção a essa norma.
A sociedade só se preocupa com o indivíduo na medida em que este
rende. Os jovens sabem disso. Sua ansiedade no momento em que
abordam a vida social é simétrica à angústia dos velhos no momento
em que são excluídos dela. Neste meio tempo, a rotina mascara os
problemas. O jovem teme essa máquina que vai tragá-lo e tenta, por
vezes, defender-se com pedradas; o velho, rejeitado por ela,
esgotado, nu, não tem mais que os olhos para chorar (BEAUVOIR
apud JUNIOR, 2004, p.13).
Na visão apontada acima a aposentadoria é vista como um ponto negativo
na saúde emocional. Para o autor, estudos mostram que o aposentado sofre efeitos
sobre sua saúde física e/ ou mental, mas não podemos generalizar, pois indivíduos
que aposentam por problemas de saúde, de renda insuficiente, ou de eventos
estressantes também experimentam efeitos negativos que podem predispô-los a
depressão, assim também como tipo de personalidade, alta importância dada ao
trabalho ou até perdas do suporte social.
Segundo a teoria clássica de Tousend (1957), a vida do sujeito está
equilibrada entre mundo familiar e mundo do trabalho, com a aposentadoria
diminuiria o status social e modificaria o papel desempenhado pelo sujeito, assim só
existem duas saídas possíveis: assumir novos papéis dentro da família ou isolar-se.
A solidão e o isolamento não são bem vistos pela sociedade e os idosos negam a
solidão na tentativa de melhorar ou de manter auto-estima diante da sociedade.
(Neri et al, 2004).
25
Para a autora outra teoria é a de Cumming e Henry (1961), onde
pressupõem que a estrutura de personalidade é desenvolvida nas relações
instituídas entre o sujeito e o sistema social, assim as mudanças sociais
acarretariam em mudanças na personalidade do idoso, pela diminuição da interação
entre o indivíduo e o sistema social.
No entanto, em questão de gênero, a saída do mercado de trabalho para as
mulheres, diferente dos homens, é menos impactante, pelo fato de que elas
conciliavam os trabalhos profissionais com os trabalhos de dona de casa e de mãe.
(OLSON; DEFRAIN apud NERI et al,2004)
Segundo Cerqueira et al (2011), enquanto alguns sofrem com a chegada da
aposentadoria, no centro da cidade de São Paulo, por exemplo, chama atenção os
oficce-velhos, versão sênior dos Office boys (grifo da autora), onde no anúncio do
jornal diz: “vaga para Office boy, podendo ser aposentado”. O interesse econômico
das empresas pela contratação dos idosos é pela conseqüência da economia com o
transporte público e a vantagem que eles não permanecem nas filas dos bancos,
cartórios e fóruns, os contratantes alegam que também o fato de contratá-los é que
eles têm mais responsabilidade, seriedade e honestidade do que os mais jovens,
apesar da dificuldade de encontrar candidatos qualificados que saibam no mínimo
ler e escrever.
Outro fato interessante da autora citada acima é a ocupação de idosos em
trabalhos sociais e voluntários, onde esses fazem de coração e se sentem úteis com
a ocupação, essa feita em igrejas ou mesmo festas populares religiosas, ou seja, os
idosos ocupam o seu tempo com esses trabalhos se sentindo bem com o que
fazem.
Para Marquez Filho (1998), a aposentadoria pode representar uma saída e
uma porta de entrada para um novo mundo e mais verdadeiro, onde ao invés de
ficarem lamentando e vivendo de lembranças do passado, estarão de mente e
coração abertos para toda riqueza e potencialidade que a vida oferece.
3.2 PROGRAMAS PARA REINTEGRAÇÃO SOCIAL
Reintegrar, socializar e produzir é a nova perspectiva para o idoso, no
conceito dos programas de reintegração, que fazem que essa fase da vida seja
26
entendida de forma positiva e que a exclusão não aconteça, pois o idoso possui um
histórico cultural e social de grande importância para a sociedade.
O velho não tem armas. Nós é que temos de lutar por eles’[...] Por que temos de lutar pelos velhos? Porque são a fonte de onde jorra a essência da cultura, ponto onde o passado se conserva e o presente se prepara [...]. (CHAUÍ apud BOSI, 2001, p. 18)
Para alguns idosos, atividades de caráter sócio-cultural e físico esportiva,
surgem como antídotos, em face de nova realidade a ser enfrentada em relação à
tentativa de otimização do tempo disponível. Começam a se mobilizar em busca de
atividades que preencham o vazio interior, ocasionado pelas desobrigações sociais
como trabalho e filhos, acreditando que efetivamente essas atividades possam
minimizar os efeitos ocasionados pelo sentimento de inutilidade, surgem assim
várias instituições com apoio a terceira idade, grupos de pesquisas, trabalhos
voluntários que tem o interesse na qualidade de vida do idoso (MARQUES FILHO,
1998).
Segundo Neri; Cachioni (2004) esses programas surgiram por causa do
envelhecimento populacional e da longevidade, onde várias sociedades passaram a
tomar providências práticas para garantir o que passou a ser reconhecido como
direito desse grupo etário e como necessidade social. Foi exatamente assim que
apareceram as primeiras iniciativas de proporcionar educação aos mais velhos, os
programas tinham como perfil, estimular os alunos uma atitude social positiva,
autônoma, independente e responsável, dominando o meio social, histórico,
econômico, político, cultural e tecnológico, para entender o mundo em constante
transformação, além de satisfazer suas preocupações de ordem moral, estética e
cultural.
As autoras relatam que as universidades da Terceira Idade foram criadas na
Europa e logo depois na América, no final dos anos 60, a finalidade dessas
instituições, tinha o conceito de conscientizar os jovens e depois as dos políticos da
educação, para que houvesse um melhor entendimento e aceitação da terceira
idade, mostrando que podiam ser produtivos, diferente do que se julgava antes do
aparecimento dessas instituições.
Segundo Cachionni (apud NERI, 2004), no Brasil, o trabalho das
Universidades foi feito pelo Serviço Social do Comércio (SESC), sob influência
francesa. Na década de 1970, surgiram as primeiras Escolas Abertas para a
27
Terceira idade, que ofereciam informações sobre o envelhecimento, programas de
preparação para a aposentadoria, atualização cultural, programas de atividades
físicas, de expressão e lazer. Em 1984, segundo a autora, foi organizado pelo
Centro de Educação Física das Universidades de Santa Maria o Projeto GAFTI –
Grupos de Atividades Físicas para a Terceira Idade, visando à criação de grupos
para a prática de atividade física para a conseqüente melhoria da condição física e
da autonomia de movimentos.
3.3 UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE (UATI)
Diante dos programas existentes para a terceira idade, no final da década de
1980, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), criou-se um grupo
interdisciplinar de profissionais para tratar das questões voltadas a esse público,
esse grupo organizou o Núcleo de Assistência ao Idoso (NAI) que posteriormente
deu origem à Universidade Aberta à Terceira Idade. Mas foi na década de 1990 que
a extensão universitária conheceu seu apogeu com a multiplicação dos programas
em várias Universidades brasileiras, essa expansão ocorreu a partir da criação da
Universidade da Terceira Idade da PUC - Campinas, em agosto de 1990. (NERI;
CACHIONI, 2004).
Para Sodré et al (2009) na Bahia a UATI – Universidade Aberta à Terceira
Idade, surge em 1992, sendo iniciada na UEFS. Segundo Lima; Mendes (2002) em
Salvador teve início em agosto de 1995, começando com 60 alunos em pequenas
oficinas de trabalho, atualmente envolvem cerca de 600 idosos e as oficinas vem
sendo ministradas por alunos da UNEB.
O programa de extensão tem como objetivo:
Proporcionar ao público alvo a oportunidade de freqüentar a
Universidade em atividades de extensão com vistas a sua formação
continuada; Oferecer espaço, aos idosos, para exercício da livre
expressão de suas potencialidades artístico-culturais; Desenvolver
atividades que estimulem a participação social e política dos idosos;
Preparar os idosos para assumirem seu processo de
envelhecimento, resgatando a autoconfiança e a auto-estima, através
de uma formação teórica e prática; viabilizar o intercâmbio de
experiências intergeracionais. (SANTOS, 2010, p.21)
28
Segundo informações adquiridas através do site da UNEB (2010), o
programa atende mais de 2.500 idosos, os trabalhos são operacionalizados através
de oficinas e vivências corporais e sócio-educativas no período de março a
dezembro. As oficinas são distribuídas em: Núcleo Teórico, Núcleo de Vivências
Corporais, Núcleo de Trabalhos Manuais e Núcleo de Tecnologia e Informação. A
Universidade para a Terceira Idade foi implantada em 17 departamentos como os
Campos de Juazeiro, Paulo Afonso, Teixeira de Freitas e Alagoinhas.
Em Alagoinhas a UATI foi criada em 2009, funcionando no Colégio Luis
Navarro de Brito, sob a Coordenação da profª. Iêda Fátima da Silva e ligada ao
DEDC - Departamento de Educação Campus II, durante a gestão do diretor Prof.
Antonio Gregório Benfica Marinho, o projeto começou com 200 alunos, hoje
atualmente atende aproximadamente 300 alunos matriculados, distribuídos nas 17
oficinas de cunho teórico e prático, tendo agora sua sede própria e ampliada em
lugar privilegiado na cidade.
Terapia comunitária, Dança, Movimentos Corporais, Coral, Libras,
Geometria e Artes Visuais, Teatro, Hidroginástica, Jogos matemáticos, Dinâmica de
grupo, Informática (Nível 1 e 2), Psicologia, Francês, Pintura, Forró, Saúde e
Qualidade de Vida, Leitura e Cidadania (Alfabetização), fazem parte das oficinas
oferecidas para os idosos da cidade, além de atividades dentro da instituição o
grupo se apresenta em congressos e eventos. Uma das oficinas mais procurada é a
“Oficina de Dança”, hoje com 45 alunos matriculados.
Podemos dizer que a dança é uma das atividades físicas que para a terceira
idade também pode oferecer vários benefícios no sentido físico, psicológico e social,
entenderemos melhor os conceitos de dança para terceira idade no capítulo a
seguir.
29
4 A DANÇA E SUAS CONCEPÇÕES
Desde o seu surgimento, o homem sentia necessidade de expor seus
sentimentos e emoções, mesmo antes de utilizar palavras para sua comunicação,
ele utilizava movimentos corporais para se expressar, era sua linguagem natural,
nela continha uma ligação direta com a natureza (PINTO, 2008).
Sendo assim para Mazo et al (2001), a dança se faz presente na história da
humanidade, marcando a cultura, crença e participação na comunidade, além de
uma manifestação cultural é uma forma de comunicação do próprio corpo humano
com o meio ambiente. Desde tempos atrás a dança era uma exaltação da alma,
onde dançava para homenagear os deuses, exaltar espíritos, festejar fatos e
fenômenos da natureza, além de evidenciar conquistas pessoais e grupais.
Para D’Aquino et al (apud CIPRIANO; MEDALHA, 2007, p 8):
A dança era utilizada pelas culturas primitivas nos primeiros
momentos importantes de sua vida, nascimento, procriação, morte,
para evocar ou propiciar os fatores importantes a sua sobrevivência,
como o sol, chuva, plantio, colheita, caça e pesca e para manifestar
sua luta pela vida, seu amor, sua alegria e seu desamparo, suas
vitorias, na guerra e na paz, suas suplicas e seus agradecimentos.
Assim como todas as expressões artísticas a dança vem sofrendo
influências no decorrer da história, por exemplo, antigamente havia uma divisão nas
sociedades européias para sua prática, sendo executada em duas vertentes: a
nobre, onde tinha movimentos delicados, por causa das roupas pesadas da época,
executado por homens e mulheres, junto com a música suave de uma orquestra e
também a dança popular que se caracterizava por movimentos mais soltos e
alegres, onde homens e mulheres dançavam juntos com saltos e palmas, com
vestimentas leves que dava liberdade para os movimentos. Com o passar do tempo
a dança começou a ter uma organização com compassos, mas era para agradar e
deslumbrar as classes privilegiadas, como reis, rainhas, etc (PINTO, 2008).
O renascimento cultural do século XV/XVI, trouxe diversas mudanças no
campo da arte, cultura e política, a dança começou a ter um sentido social, ou seja,
era praticada em festas pela nobreza, no sentido de entretenimento e recreação.
Logo a dança social foi se transformando e tornando acessível às camadas menos
30
privilegiadas da sociedade, que já desenvolviam outros estilos, as danças populares
(CIPRIANO; MEDALHA, 2007).
Portanto, surgindo dos primórdios, a dança esteve presente em
acontecimentos marcantes para a história da humanidade, passando por momentos
de limitação para execução do dançar, até novas formas de expressão,
demonstrando sentimentos, emoções e lutas. Ela se despiu de todo um
tradicionalismo existente com a técnica clássica para mostrar as mudanças políticas,
sociais e morais, além do que, esta arte faz com que o ser humano desempenhe
papéis perante a sociedade (PINTO, 2008).
A dança hoje é praticada por pessoas de diferentes faixas etárias, gênero,
cultura e sociedades, ela também representa o estado de espírito, as emoções e
expressões entre as pessoas, exercendo assim possibilidade para o
autoconhecimento e desenvolvimento de habilidades de movimentos. Para o idoso é
uma atividade física benéfica, favorecendo recordações pessoais, expressividade,
criatividade além de apresentar riquezas de gestos e movimentos (MAZO et al,
2001).
4.1 A DANÇA E A TERCEIRA IDADE
Diante das transformações no sentido psicológico, social e físico, se discute
qual a melhor atividade física para o idoso, qual a atividade mais completa para esse
público.
Para Matsudo (1992), em uma de suas pesquisas, anuncia que a caminhada
seria a melhor atividade para os idosos, mas se percebeu que não era do gosto do
público pesquisado, por que muitas vezes praticavam as atividades sozinhas, nesse
sentido podemos perceber que a caminhada, mesmo sendo uma atividade dita
melhor para ser praticada na terceira idade, segundo o autor, a mesma não reúne
outras visões no sentido de cultura, reintegração e sociabilização ao idoso, já a
dança em seu contexto, traz vários fatores favoráveis a uma vida social.
Dentre outros estudos podemos observar que a melhor opção para
pessoas de terceira idade são as atividades em grupo, como a dança
facilita a integração e o fortalecimento de amizades, superação de
limites físicos, ocupação do tempo em prol de si mesmos, livrando-se
31
das angústias, incertezas, inseguranças e medos. (OKUMA apud
SALVADOR, 2004, p. 3)
A dança pode modificar a vida dos idosos, possibilitando-lhes uma melhor
condição existencial, se percebermos a pluralidade principalmente cultural que a
dança traz, além de um movimento corporal que pode ter várias funções como: auto-
expressão, comunicação, diversão e prazer, espiritualidade, identificação cultural,
ruptura e revitalização da sociedade, além de forte caráter socializador e motivador
(ROBATTO apud LEAL; HAAS, 2006).
No aspecto psicológico, além da melhoria da auto-estima, motivação e
autodeterminação, a dança faz com que o idoso se sinta bem no sentido de estar
livre, tranqüilo e realizado. Causa também a aceitação da sua idade, além de reduzir
o índice de depressão e estresse, melhorando assim o humor e atuando como
terapia na saúde psíquica, física e mental. (CHIARION; SILVA apud PINTO, 2008)
Para Hass; Leal (2006) a dança, traz boas lembranças, sensações e
sentimentos ao idoso, causando assim um resgate das lembranças do passado,
sendo que a utilização de músicas de época é algo muito importante nas aulas de
dança na terceira idade.
No aspecto social os idosos utilizam a dança para a busca de novas
amizades ou manutenção das mesmas, encontram uma forma de inclusão e logo, a
aproximação e convívio social com a sua própria família. (CHIARION apud PINTO,
2008)
Nessa fase o corpo mais rígido, não busca rodopios pelo salão, mas sim o
bem-estar pela dança, portanto:
Apesar da expressão da dança na sociedade, algumas pessoas
nunca dançaram principalmente aquelas mais tímidas ou vindas de
famílias conservadoras. Para alguns idosos dançar é algo que não se
imaginam fazendo, enquanto outros são adeptos a dança de salão
(FORTES, 2008, p. 426).
Assim, são vários os estilos que podem ser ministrados para a terceira
idade:
A dança de salão, por exemplo, é uma dança social que procura
ultrapassar a cultura popular, representando um período histórico, comumente é
dançado ao pares, inclui tanto ritmos antigos que marcaram época (valsa, tango,
32
foxtrote dentre outros), como estilos mais recentes (forró, samba, sertanejo etc).
(MAZO et al, 2001).
A dança folclórica envolve traços culturais, localização geográfica e
história, é passada de geração em geração encontra-se adeptos crianças,
adolescentes, adultos. Exprime o caráter particular de um povo e representa a vida
da comunidade são documentos culturais dançantes, os quais resgatam heranças
de passos, ritmos e significados. Podemos citar o samba-de-roda, frevo, quadrilha,
etc. (RIBEIRO apud LOPES, 2001)
A dança parafolclórica são danças recriadas a partir de um fato
histórico, busca resgatar gestos, objetos, ritmos, passos, através de movimento que
estimulem uma manifestação cultural. Exemplo: Xaxado, pé-de-serra, etc. (LOPES,
2011)
A dança coreografada também é uma opção para a terceira idade,
o profissional deve adequar o trabalho coreográfico, a fim de permitir que o idoso
descubra a capacidade de articulações, limite de força, extravase suas emoções e
suas potencialidades (LOPES, 2011)
As danças de movimentos livres e ginásticos buscam uma temática
contemporânea, utilizando objetos coreográficos, movimentos expressivos e
gestuais, além de formações e deslocamentos variados. (LOPES, 2011)
A dança sênior é uma dança normalmente executada com músicas
alemãs e pode ser executada por qualquer pessoa de qualquer faixa etária ou com
dificuldades de locomoção, praticada em grupo, de pé ou sentado, estimula a
memorização e a coordenação. (MAZO et al, 2001).
Embora muitos idosos não tivessem a oportunidade de praticar, estilos de
dança como balé, jazz, dentre outros, podem ser oferecidos para a terceira idade,
preferencialmente para aqueles que já vivenciaram, devido à técnica exigida, para
alguns esses estilos podem não se caracterizar tão interessante (MAZO et al, 2001.)
Segundo Figueiredo; Souza (apud PINTO 2008) os professores devem usar
a dança de forma criativa, que o idoso tenha o direito de fazer e escrever a sua
história através da dança e não mostrá-la apenas com uma apresentação
performática sabendo das limitações de cada um.
33
Conforme Mazo et al, (2001) existem vários tipos de idosos, e cabe ao
professor estabelecer uma metodologia para que todos possam dançar, sem se
sentir excluídos, dividem-se em:
Idoso fisicamente incapaz: aqueles que não realizam as atividades
da vida diária e dependem de terceiros, sugere-se escolher atividades que envolvam
a percepção visual, brincadeiras cantadas, utilização de materiais como percussão,
proporcionando um trabalho individualizado, para obter respostas corporais e
motivação para elaboração de gestos e expressões.
Idoso fisicamente dependente e idoso frágil: ou seja, necessita de
ajuda parcial ou total, sugere a dança sênior adaptada, buscando utilizar cadeiras
para auxílio nas aulas, além de utilizar implementos para tornar a dança atraente e
interessante com preferência para ritmos alegres. Para o idoso frágil é aconselhável
envolver a cultura local, estimulando os alunos na elaboração das danças, além de
utilizar as danças folclóricas regionais e dança de salão.
Idoso fisicamente independente: sempre ter o cuidado de preservar
a individualidade e heterogeneidade do grupo, evidenciar interesses e culturas
locais, pode-se criar um grupo de dança que divulgue a cultura, alem de desenvolver
a criatividade, fazendo com que os idosos participem da elaboração das
coreografias, pode utilizar trabalhos em círculos, colunas e fileiras.
Idoso fisicamente apto/ativo e idoso atleta: São idosos fisicamente
ativos e independentes, além da ajuda coreográfica nas aulas feita pelo grupo,
devem estimular a participação de grupos de danças folclóricas, contemporâneas,
de salão entre outras. Com relação a prática da dança o idoso atleta é aquele que já
teve alguma ligação com as técnicas da dança em tempo anteriores.
Alguns cuidados devem ser tomados ao incluir dança nas
atividades voltadas á terceira idade como:
Conhecer e respeitar a capacidade e o limite biopsicossocial, orientar
e instruir com respeito; saber ouvir as dúvidas, opiniões e críticas;
elogiar de forma natural e transmitir segurança; usar a criatividade e
promover a sociabilidade do aluno em relação ao grupo. Também é
muito importante praticar a dança de forma estimulante, agradável,
cooperativa e evitar competição. (MAZO et al 2001)
Nas aulas deve-se também pensar no condicionamento físico e na
respiração, além de desenvolver o senso de ritmo, lateralidade, tranqüilidades,
34
amizades, sentimento de liberdade e emoção. A aceitação da dança como atividade
física para o idoso está relacionado ao fato de não visar o alto rendimento e que
nessa fase da vida há uma redução do metabolismo por serem sedentários, além de
que a dança melhora a circulação sanguínea e não gera cansaço (SILVA, apud
PINTO 2008).
É preciso tirar o foco da doença para colocar em prática a saúde na terceira
idade, nesse sentido, cada pessoa é responsável pela vida que tem, e deve-se optar
por uma velhice saudável, dançar pode ser a ferramenta para uma inclusão do idoso
na sociedade e uma grande possibilidade para tirá-lo do isolamento e da rotina que
o acompanha (FORTES, 2008).
35
5 METODOLOGIA
Para a realização deste estudo cuja temática trata da influência da dança
na melhoria dos aspectos psicossociais na terceira idade tendo como universo de
estudo o grupo de idosos da oficina de dança da Universidade Aberta à Terceira
Idade (UATI), seguiu-se as diretrizes da abordagem qualitativa, sendo essa mais
apropriada para compreender a natureza de um fenômeno complexo como o das
interações sociais, conforme veremos adiante.
5.1 TIPO DE ESTUDO
Para o alcance do objetivo deste estudo foi conduzida uma pesquisa
qualitativa, que para Minayo (2001) responde questões muito particulares, onde se
preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja,
trabalham com o universo de significados, motivos, valores, atitudes que
correspondem a um espaço mais profundo das relações nas ciências sociais.
Caracterizando a presente pesquisa, Gil (1987) afirma que a pesquisa social
é entendida em sentido mais amplo, envolvendo aspectos relativos ao homem em
seus múltiplos relacionamentos com outros homens e instituições sociais, o conceito
de pesquisa aqui adotado, aplica-se investigações realizadas no âmbito de diversas
ciências sociais, incluindo: sociologia, psicologia, entre outras.
Utilizou-se como método para a realização desta pesquisa o estudo de caso,
que para Triviños (1987) é uma categoria de pesquisa qualitativa, onde uma das
técnicas de coleta de informações mais importante dela é a observação participante,
que conforme Gil (1987) consiste na participação real do observador na vida de um
grupo ou comunidade de uma situação determinada, o pesquisador assume até
certo ponto, o papel de um membro do grupo, chegando ao conhecimento da vida
de um grupo a partir do interior dele mesmo.
O autor afirma que:
A técnica de observação participante foi introduzida na pesquisa
social pelos antropólogos no estudo das chamadas “sociedades
primitivas”. A partir daí passou a ser utilizada também pelos
antropólogos nos estudos de comunidades e de subculturas
específicas. Mais recentemente passou a ser adotada como técnica
36
fundamental nos estudos designados como “pesquisa participante”
(BRANDÃO apud GIL, 1987, p. 108).
5.2 ESPAÇO E SUJEITO PESQUISADOS
O estudo foi realizado com o grupo da terceira idade que participa da oficina
de dança da UATI, que é um programa de extensão universitária voltado à
comunidade circunvizinha à UNEB, Campus II, de Alagoinhas-Ba, que vem
atendendo ambos os sexos, mais o público feminino tem uma presença maior no
projeto, de qualquer nível sócio-educacional, onde o público participante tenha idade
igual ou superior a 60 anos, objetivando a reinserção psicossocial para o pleno
exercício da cidadania.
A oficina é formada por idosos entre 60 e 84 anos, sendo a maioria do sexo
feminino e 01 indivíduo do sexo masculino. As atividades são realizadas uma vez
por semana com duração de 50 minutos e faz parte do programa desde o início do
projeto.
A presente pesquisa iniciou-se em Maio de 2011, período que passei a
ministrar aulas de dança para o grupo. As atividades iniciais foram finalizadas em
dezembro deste mesmo ano na II mostra de artes cuja temática estabelecida foi
cuidar de si para cuidar do outro, e para a participação deste grupo de dança na
mostra foi elaborada uma coreografia para ser apresentada juntamente com os
trabalhos das outras oficinas. No período de Março à Junho de 2012, demos
continuidade a pesquisa, realizando neste momento as entrevistas.
Os encontros com o grupo acontecem no turno vespertino, num espaço
aberto onde fica localizada a sede da UATI e a depender das condições climáticas
utilizamos também os espaços internos da Instituição. Na oficina são ministrados
vários conteúdos relacionados às questões culturais e com ritmos variados como
carimbó, dança cigana, hip-hop, forró, quadrilha junina, dança de salão dentre
outros. Nas aulas incluímos também dinâmicas de grupos relacionadas à
aprendizagem da dança, e com alguns elementos teóricos sobre os ritmos
abordados.
Dentro da própria oficina há também um momento para confecção de
figurinos usados para as apresentações fora da UATI, em eventos onde o grupo é
convidado a participar, assim como também festas e comemorações que acontecem
37
na própria instituição. Um dos momentos mais importantes durante a participação
dos idosos na UATI é o festival que acontece anualmente onde os professores
expõem todas as produções organizadas a partir das oficinas. Em 2011, o evento
aconteceu no Centro de cultura da cidade de Alagoinhas, reunindo mais de 200
expectadores que apreciaram além da dança, as apresentações das outras oficinas.
5.3 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
A pesquisa foi composta por duas etapas: na primeira foi realizada a
participação ativa do pesquisador, seguida das observações das idosas no decorrer
e no momento pós-aula de dança, esta com duração de 50 minutos e com
freqüência de uma vez na semana; na segunda etapa foi realizada a entrevista semi-
estruturada com 06 idosos que participaram da pesquisa de forma voluntária.
Durante a oficina foram abordados vários ritmos que pudessem a principio
socializar os idosos, dentre eles os que marcaram épocas referentes as histórias de
vida do público pesquisado progredindo para ritmos que se fazem presentes nos
dias de hoje. Não podemos deixar de ressaltar que a participação dos idosos foi algo
importante para elaboração das aulas.
Como instrumento de coleta de dados foi elaborada uma entrevista semi-
estruturada, a qual:
Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela
que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e
hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem
amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão
surgindo á medida que se recebem as respostas do informante.
Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de
seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal
colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do
conteúdo da pesquisa. (TRIVIÑOS, 1987, p.146)
Para Gil (1987) a entrevista possibilita a obtenção de dados referentes aos
mais diversos aspectos da vida social. Logo foram elaboradas 06 perguntas
relacionadas aos objetivos da pesquisa, as questões norteadoras da entrevista
foram sobre o resgate do contexto da dança durante a vida dos idosos; os benefícios
que compõem a prática da dança ofertada ao grupo, fazendo uma breve
38
contextualização com outras modalidades oferecidas pela UATI e as possíveis
modificações no comportamento psicossocial na contínua prática da oficina.
As perguntas foram direcionadas a 06 idosas do grupo pesquisado, a
participação foi voluntária, porém utilizamos como critério para a participação das
idosas na pesquisa o tempo de permanência delas na oficina de Dança da seguinte
forma:
SUJEITOS ENTRADA NA OFICINA TEMPO DE
PARTICIPAÇÃO
IDOSA A62, A84 MAIO DE 2011 11 MESES
IDOSA B61, B75 SETEMBRO 2011 7 MESES
IDOSA C62, C63 ABRIL DE 2012 3 MESES
Para preservar a identidade das idosas utilizamos como referência algumas
letras do alfabeto em substituição aos seus nomes, e à frente dessas letras, suas
idades conforme observado no quadro acima. As entrevistas foram realizadas após
autorização da coordenação da UATI e assinatura do termo de Consentimento Livre
e Esclarecido por parte das idosas pesquisadas.
Um dos aspectos levados em consideração na entrevista foi baseado nos
argumentos de Larrosa (2002):
[...] Na escuta, alguém está disposto a ouvir o que não sabe o que
não quer, o que não precisa. Alguém está disposto a perder o pé e a
deixar-se tombar e arrastar por aquilo que procura. Está disposto a
transformar-se numa direção desconhecida. O outro, enquanto outro
é algo que não posso reduzir a minha medida. Mas é algo do qual
posso ter uma experiência que me transforma [...] (LARROSA apud
BELLO, p.15, 2011)
5.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS
As entrevistas foram realizadas com 06 idosas com idades e períodos de
práticas da dança diferenciados, como foi visto no quadro anterior. Dessa forma,
pode ser realizada uma análise diferenciada dos sujeitos pesquisados sobre as
possíveis transformações psicossociais através da prática da dança.
39
Na realização da entrevista utilizamos o recurso do celular para registrar as
respostas das idosas, uma vez que para Triviños (1987) é recomendável a gravação
da entrevista, mesmo sendo cansativa a sua transcrição, pois ela permite contar
com todo material fornecido pelo informante o que não ocorre com outro meio como,
por exemplo, somente a anotação das respostas.
Antes da entrevista deixamos as idosas bem à vontade para responder aos
questionamentos, sendo que foram informadas sobre a quantidade de perguntas e
os temas relacionados.
Vale ressaltar que a pesquisa qualitativa se desenvolve em interação
dinâmica e é veículo para nova busca de informações, sendo assim:
As idéias expressas por um sujeito numa entrevista, verbi gratia,
imediatamente analisadas e interpretadas, podem recomendar novos
encontros com outras pessoas ou a mesma, para explorar
aprofundadamente o mesmo assunto ou outros tópicos que se
consideram importantes para o esclarecimento do problema inicial
que originou o estudo. (TRIVIÑOS, p.137, 1987)
Utilizamos para analisar os resultados encontrados, a técnica da análise de
conteúdo que é:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo
das mensagens, obter indicadores quantitativos ou não, que
permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens. (Bardin
apud Triviños, p.160, 1987)
Para o autor acima citado, a análise de conteúdo é dividida em três fases,
sendo a primeira a pré-análise que é a organização do material (hipóteses e
referencial teórico, por exemplo); a segunda a descrição analítica que já começa na
pré-análise, constituindo por um estudo aprofundado e orientado; por último a fase
de interpretação referencial, onde há a reflexão e a intuição com o embasamento
nos materiais empíricos que estabelecem relações com a realidade educacional e
social ampla, aprofundando as idéias e chegando se possível as propostas básicas
de transformações nos limites das estruturas especificas e gerais.
40
A análise se dará em duas etapas: transcrição das respostas relacionadas
às perguntas da entrevista e a análise das respostas a partir da discussão
estabelecida com o referencial teórico utilizado durante a pesquisa.
41
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diante dos objetivos da referente pesquisa, a entrevista foi elaborada e logo
aplicada às idosas da UATI. As questões norteadoras tinham o objetivo de analisar a
possível influencia da dança nas transformações psicossociais na terceira idade. As
perguntas foram construídas no contexto da prática e história da dança na vida dos
idosos, além das percepções sobre as transformações psicológicas e sociais na vida
dos indivíduos na contínua prática da dança. Os resultados encontrados serão
apresentados em categorias como veremos a seguir.
6.1 OFICINAS OFERECIDAS PELA UATI
A UATI oferece oficinas práticas e teóricas, ao analisarmos as respostas
referentes à escolha das oficinas que as idosas participam, podemos perceber que
as oficinas de cunho prático são as que mais interessam aos estudantes do projeto
como: oficina de dança, movimentos corporais (ginástica) e hidroginástica, sendo
estas as mais citadas pelas entrevistadas.
Podemos perceber que nessa fase da vida, buscam-se atividades físicas
que possuem maior desenvolvimento motor, conforme a fala da idosa A62: “Quando
chegamos à terceira idade tem mais que movimentar, então escolhi oficinas que tem
movimentos”, assim como também a idosa A84: ”Escolhi a dança, porque é
movimento [...] essas oficinas são mais ligeiras, a gente faz mais movimentos.”
A dança é uma atividade completa, por ser uma prática que exige um maior
desempenho corporal e mental. O ritmo da música ou mesmo o som produzido a
partir do corpo, faz com que a dança esteja além de um simples movimento,
ultrapassando o sentido de prática, para se contextualizar com objetivos referentes á
criatividade, socialização, comunicação, entre outros.
Dançar para o idoso pode favorecer recordações pessoais, além de
representar grande riqueza de gestos e movimentos, contribuindo para a
expressividade. Outro fator importante é a relação do professor com o aluno na
terceira idade, este deve conhecer e respeitar a capacidade e o limite psicossocial;
orientar e instruir com respeito; saber ouvir seja opiniões, críticas e dúvidas; elogiar
42
e transmitir segurança além de promover a sociabilidade do aluno em relação ao
grupo (MAZO et al, 2009).
Relacionando a oficina de dança com as outras oficinas de maior escolha
pelas idosas da UATI, podemos perceber a afinidade das mesmas com a dança. A
hidroginástica e a ginástica possuem movimentos corporais com utilização de
música, além de possuírem objetivos semelhantes à dança como, por exemplo:
deslocamento, memorização, melhoria da capacidade motora, muscular e
cardiorrespiratória.
Para MATSUDO (2001) essas atividades são consideradas atividades de
baixo impacto, assim diminuem o risco de lesões musculares e esqueléticas na
terceira idade, sendo assim podemos dizer que as oficinas oferecidas pela UATI são
de muita importância para o público do projeto.
6.2 O HISTÓRICO DA DANÇA NOS INDIVÍDUOS ENTREVISTADOS
A dança com o passar dos tempos vem sofrendo várias modificações.
Antigamente era utilizada na exaltação da alma e homenagem aos deuses, no
decorrer dos anos se fez presente nas apresentações e festejos das cortes, logo
dava origem a um novo estilo de dança, também executada nessa época, a dança
popular. Atualmente existem vários estilos como, por exemplo: danças folclóricas,
dança de salão, balé, hip-hop, entre outras.
Durante a pesquisa utilizamos danças atuais (forró, hip-hop, axé, samba,
etc) e danças de tempos anteriores (rock, valsa, bolero, etc) para perceber a visão
das idosas em relação a esse contexto. Ao falarmos das histórias de vida das idosas
relacionando-as com as vivências de dança, percebemos que durante a infância e a
adolescência, a dança não era executada como nos dias atuais, conforme
observamos na fala da idosa B61: “Na infância, nem na adolescência eu dancei, só
depois de 21 anos [...] meu pai não deixava, não admitia”.
Na infância e adolescência não se tinha liberdade como se tem hoje, por
exemplo, de uma mulher tomar a iniciativa de convidar o homem para dançar, e nem
mesmo a família permitia que ela fosse aos bailes, a idosa A62 relata: “Na minha
época de adolescência nós éramos presas, não tinha essa liberdade que os jovens
hoje têm de sair para se divertir”.
43
Assim ao perguntarmos como elas visualizavam a dança durante o passar
do tempo, percebemos que antigamente o romantismo era algo marcante na dança,
como podemos perceber na fala da idosa B61: “Antigamente era mais juntinho [...]
era mais romântico”, também a idosa C63 afirma que: “Era mais assim romântico, eu
me lembro do bolero que dançávamos muito”.
Durante as aulas pudemos vivenciar a alegria ou até mesmo emoção das
idosas ao dançar, ouvindo uma música que marcou as suas vidas, ao ouvir uma
valsa, ou um bolero, por exemplo, as mesmas relatavam sobre os “bailes de
antigamente”, como a idosa C62: “No baile, as moças ficavam sentadas e os
rapazes vinham e tiravam as moças para dançar”, podemos nos reportar aos tempos
em que os homens educadamente convidavam as mulheres para dançar, coisa que
hoje já não é tão freqüente, a forma de dançar se tornou mais livre.
Outro fato interessante que podemos interpretar no depoimento das idosas,
é a solidão, entendendo, que com a chegada da terceira idade, pode ocorrer com o
abandono da família ou mesmo dos amigos de trabalho, que acabam sendo
esquecidos por conta da chegada da aposentadoria, sendo assim a presença de
novas amizades é algo importante na vida dos idosos.
Palavras como “romantismo e paquera”, presente na fala da maioria das
idosas, e a seguinte frase: “Em termos de paquera, antigamente era melhor, por que
dançava juntinho, hoje eu estou dançando com um rapaz, quero chegar pertinho e o
rapaz fica empurrando por causa da idade” as palavras acima foram expressas
intensamente pela idosa C62, a qual nos trouxe à inquietação sobre a sexualidade
na terceira idade, tema esse declara grande preconceito por parte da sociedade, o
que não deixa de ser negativo para o idoso.
Com o envelhecimento e a chegada da terceira idade, as alterações
corporais afetam a auto-imagem feminina, favorecem uma menor estima e a perda
do desejo sexual, diversos fatores psicossociais podem intervir nos idosos. A
educação e cultura trazidas pela família têm um peso significativo e importante na
sexualidade e acabam por determinar o comportamento sexual dos idosos, além da
pressão social que acaba gerando sentimento de culpa por experimentar desejos
sexuais, o que inibirá totalmente todos os aspectos de qualquer expressão sexual
(OLIVEIRA, RODRIGUES, 2009).
A viuvez, por exemplo, pode causar a solidão no indivíduo, ainda mais pela
cultura que a sociedade impõe para o idoso, o mesmo pode não possuir a mesma
44
beleza física de antes, mas ainda possui seus desejos, suas vontades, que deveriam
ser respeitadas como em outra fase da vida.
Mas apesar do romantismo nas danças de tempos atrás, como citado
anteriormente: o bolero, a valsa, ou seja, as danças de salão, que exige que esteja
com um par para ser realizada a dança, essa que também fez parte dos estilos
praticados na oficina, hoje na terceira idade, elas preferem praticar as danças atuais,
como por exemplo: axé, o samba, o hip-hop, que dá uma liberdade maior para
dançar sozinho, podemos entender pelo depoimento da idosa A62: “Hoje a gente
tem essa liberdade de dançar juntinho, ou de dançar solto”, assim como a idosa
B75: "a gente fica à vontade, dança sozinha, não precisa de par, então eu acho
melhor agora”.
Retrocedendo no que se refere à parte musical, podemos perceber não
somente o romantismo no “dançar juntos”, mas também nas letras das músicas que
eram elaboradas antigamente. Atualmente existe uma decadência muito grande, e a
cada dia surge uma nova forma de dançar, essa que pode ter influência de danças
já existentes ou formas às vezes até vulgares de executar esses movimentos, hoje
independente de gênero qualquer pessoa pode dançar. Para idosa C63:
Hoje em dia é mais solto, existem muitos ritmos de dança, que fazem
com que você se remexa, mexa o corpo. Como antigamente o
homem não se remexia, hoje em dia não, é normal homem e mulher
remexer.
Segundo PINTO (2008), ao se falar em dança, no princípio do balé, por
exemplo, somente os homens dançavam nos espetáculos, fazendo papéis de
homem e mulher, ou seja, o homem já fazia parte da arte da dança em tempos
anteriores, apesar do preconceito existente.
Na oficina de dança, o público é formado em sua maioria por mulheres,
mesmo entendendo que não existe mais esse tabu sobre o homem dançar, no
decorrer da oficina tivemos somente um sujeito do sexo masculino praticando as
aulas, mas por causa de problemas pessoais não continuou, na fala anterior da
idosa, podemos relacionar o preconceito que existia do homem praticar a dança em
tempos anteriores, que apesar disso esse preconceito não era percebido durante as
aulas no que se refere às questões de gênero.
45
Mas enquanto em outra etapa da vida das idosas a dança não era praticada,
atualmente a prática da dança tem outros significados e objetivos. Para a idosa C63:
“Hoje em dia a gente quer se movimentar [...] vai dançar para se livrar do stress,
para ter uma melhor qualidade de vida, tem esse objetivo”, a prática da dança
permeia além de objetivos positivos para manutenção da saúde, o prazer que ela
tem de desfrutar de uma liberdade que antigamente para elas não existia.
Hoje a dança tornou-se além de prazer, uma prática voltada à benefícios
corporais e mentais trazem alegria, auto-estima, bem-estar e satisfação pessoal.
Dançar é uma atividade física que na terceira idade, contribui para melhorias nos
aspectos físico e psicossociais (LEAL; HAAS, 2006).
6.3 AS DIFICULDADES DA PRÁTICA DA DANÇA NA TERCEIRA IDADE
Com o passar do tempo ocorrem várias transformações no indivíduo que se
encontra na terceira idade, principalmente com questões biológicas. Assim, a prática
da dança pode ser ofertada a esse público para melhoria de alguns problemas
causados com o envelhecimento. São várias as modalidades de dança destinadas a
esse público, mesmo aqueles que possuem algum problema físico causado pelo
envelhecimento, podemos incluir a prática da dança sênior nas aulas para tentar
minimizar tais questões.
As transformações psicológicas e sociais na terceira idade é um dos fatores
que levam à exclusão do mesmo na sociedade, mas podemos perceber que as
dificuldades na prática da dança estão mais relacionadas às questões biológicas.
Dores musculares e esqueléticas dos membros inferiores são as dificuldades que
pudemos constatar em torno dos relatos dos alunos entrevistados. As idosas C63 e
B75, dizem sentir dores nas pernas e joelhos durante a prática, isso decorrido da
falta de atividade física durante suas vidas.
A lateralidade e a coordenação motora são um dos objetivos da aula de
dança, os movimentos de membros inferiores e superiores, além da memorização
destes, faz com que haja um trabalho mental e corpóreo integrado também ao ritmo
da música que está sendo executado. Nesse sentido podemos perceber na fala da
idosa A62, ao perguntarmos qual dificuldade ela tinha em relação ao dançar ela
respondeu: "coordenação motora, quando chegamos à terceira idade, não temos
mais aqueles movimentos leves e soltos” e a idosa B61: “Quando eu cheguei
46
mandava ir pra direita e eu ia pra esquerda”, apesar da dificuldade a mesma ao
pensar em desistir teve apoio total da família para á não desistência.
Tendo idosas de idade e tempos diferentes de prática, apesar das
dificuldades físicas ditas pelas outras, a idosa A84 de maior idade do grupo, relata:
“Eu não tenho dificuldade nenhuma, que eu nasci na dança, parece que na barriga
da minha mãe eu já dançava, toda música que tocar eu danço.” Com o depoimento
da idosa anterior, nos faz pensar das questões referentes ao primeiro capítulo
relacionado às idades do envelhecimento, podemos entender que a idade
cronológica desta idosa é totalmente diferente relacionando as outras idosas de
idade menor que relataram possuir dificuldade tanto em execução de movimentos ou
mesmo em dores nos membros inferiores.
A dança Sênior foi usada para adaptar a dança aqueles que tinham
problemas na locomoção, esta feita com palmas e movimentos de membros
superiores, para dificuldades de lateralidade e coordenação motora optamos pelas
danças folclóricas como, por exemplo, o carimbó e a dança cigana.
Mesmo tendo alguma dificuldade na prática, o próprio idoso acaba tendo
uma riqueza impar ao conhecer e entender outras culturas, sendo assim,
observamos na fala idosa C62, que morava no Rio Grande do Sul e hoje mora na
Bahia, que a mesma não sente dificuldades ao conhecer novas danças: “Quadrilha
eu nunca dancei, to dançando agora, primeira vez que eu vesti roupa típica me achei
ótima”, não existe impedimento á prática, justamente pela colaboração e interação
do grupo: “tem incentivo dos amigos, os colegas te auxiliam”.
Sendo assim, para dançar pode haver dificuldades, mas não
impossibilidade. Ajudar o outro, receber idéias dos próprios alunos, ou mesmo
adaptar as danças à realidade do público pesquisado foi nossa metodologia. Dança
sênior para aqueles com dificuldade de locomoção; danças circulares e dança livre
para um melhor desempenho corporal relacionado à lateralidade e coordenação
motora foram algumas formas de socializar os alunos às diferenças corporais,
culturais e físicas ou mesmo até preconceitos que poderia existir entre eles e
pensando também na sua independência.
A prática de forma contínua da dança faz com que o idoso se previna de
quedas e das fraturas que são normais nessa fase da vida, sendo assim dançar
pode causar uma independência do idoso, no seu dia-a-dia e na comunidade que
47
ele pertence, faz com que ele se sinta útil e reintegrado. (CHARION apud SILVA
PINTO, 2008)
6.4 O OLHAR DA SOCIEDADE PARA O IDOSO QUE DANÇA
A chegada da terceira idade, o afastamento dos vínculos de amizades em
decorrência da aposentadoria, além de outros fatores, são os motivos que levam a
exclusão do idoso na sociedade que pensa que o indivíduo ao chegar nessa etapa
da vida é improdutivo. Pensamento errôneo, pois com o histórico e experiência de
vida que o idoso traz é algo de muita importância para o meio social.
A UATI vem reintegrar e socializar os idosos presentes no projeto, um dos
questionamentos para conclusão do nosso trabalho, era saber o que os idosos
pensavam em relação ao que a sociedade visualiza com a prática da dança nessa
idade, sendo assim percebeu que a maior parte dos entrevistados estabelece uma
visão positiva da sociedade para eles.
Podemos perceber na fala da idosa A62 que “depois da concessão da UATI
[...] os jovens estão aceitando a terceira idade” e
“com as apresentações, os idosos estão sempre em convívio com a sociedade.”
Para a idosa A84: “Me aplaudem muito, todos querem viver igual a mim” a mesma
se sente orgulhosa de dançar e fazer apresentações de dança. Ou seja, a oficina
tem resultados positivos em relação aos idosos, fazendo com que reintegrem a
sociedade e que ao mesmo tempo, possam ser vistos como úteis e participantes da
mesma.
Diante das questões analisadas podemos perceber que apesar de atingir os
objetivos da oficina, ainda há preconceito para com os idosos, esse apontado pela
fala da idosa B61: “tem umas pessoas que falam: para onde vai aquela velha, depois
de velha deu para ficar maluca? Quando eu saio para a aula de dança”. Esse tipo de
nomenclatura como “velho”, ainda é muito utilizado e a sociedade que não conhece
a oficina de dança ou mesmo a UATI não sabe os objetivos do programa e os
benefícios da dança na vida desses idosos.
A idosa B75 relata que as pessoas acham que o idoso não tem direito de
dançar, de movimentar-se, como podemos observar na sua indagação: “Tem outros
que não aceitam, por que acham que o idoso não tem mais direito de estar se
sacudindo, eu me sinto bem, não tem nada á ver”. Apesar desses pensamentos
48
negativos as mesmas dizem não se importar com o que as pessoas falam. Algumas
pessoas até se surpreendem, quando sabem da existência da oficina de dança para
terceira idade, como diz a idosa C63:
Eu noto assim que eles ficam surpresos quando a gente fala que
está praticando dança na melhor idade, outros dão risada, outros
ficam assim: poxa eu não tenho coragem, ou então: já tá velho pra
quê praticar dança? Mas eu me sinto muito bem aqui, porque não
estou somente me movimentando, mas sim, botando para fora toda
minha vitalidade, minha energia, como também auxiliando outras
pessoas que já tem mais idade do que eu e que eu posso estar ali
ajudando também a se soltar.
A oficina de dança não tem somente o intuito de praticar atividade física,
mas poder reintegrar e socializar os idosos do programa, numa perspectiva que
comece na oficina essa reintegração e possa ser levada para casa, logo para
sociedade em geral e que principalmente possam ajudar uns aos outros,
independente de estar ou não na terceira idade, durante a oficina isso é visto, pelo
desempenho dos próprios alunos, para sua autoconfiança e com a ajuda ao
próximo.
6.5 TRANSFORMAÇÕES PSICOSSOCIAIS COM A PRÁTICA DA DANÇA
A identidade individual é algo singular na vida de cada cidadão, estabelecer
uma socialização com outras pessoas é algo simples ou não, dependendo também
de cada indivíduo, sua história, sua cultura, seus pensamentos. A identidade do
grupo pesquisado foi uma mistura de culturas, de conhecimentos e de aprendizado.
Limitações, religiosidade, convivência e afetividade foram alguns dos pontos que
chamou bastante atenção no grupo
A dança como atividade física e lúdica é uma alternativa de trabalho coletivo,
estimula a solidariedade fazendo com que haja diminuição de tensões, angústias,
além de trazer novas amizades, por ser uma atividade alegre e estimulante faz com
que saiam da rotina e busquem socializar-se tendo prazer de estar com pessoas da
mesma faixa etária (SALVADOR apud PINTO, 2008).
Tendo um poder socializador, apesar das possíveis dificuldades que uma
pessoa possa ter para praticar a dança, ela pode ser vista de outra forma, desde que
49
o professor estabeleça uma metodologia em que todos possam praticar
independente de sua religião, tempo de prática, deficiência ou dificuldade, essa foi a
nossa técnica durante a oficina.
Ao abordarmos os entrevistados sobre as possíveis transformações com a
prática da dança no sentido de ter auto-estima e qualidade de vida, por exemplo,
tivemos entre todas as respostas como pontos positivos. O interessante também foi
constatar o benefício da dança, para alguns idosos que também possuíam algumas
patologias, diante dos resultados da pesquisa, podemos destacar que foi importante
compreender que a prática da dança auxiliava positivamente para a reintegração
social e o melhoramento psicológico dos entrevistados.
A idosa C62, com diagnóstico de câncer, sente-se muito bem praticando
dança e respeitando suas limitações, além de se sentir mais segura, depois da
prática, exemplifica sua fala sobre uma dinâmica que sempre fazemos nas aulas
onde começamos a dançar em dupla e logo em seguida trocam-se de par, passando
por várias pessoas e nisso conversando e fazendo perguntas pessoais, para
conhecer melhor o outro, isso enquanto dançavam-se vários ritmos. A idosa diz:
Voltei agora pra aula de dança, ainda não tenho resultado dos meus
exames, se eu me curei ou não do câncer, mas eu to muito otimista,
e dançando ainda meio cansando, por que o tratamento é muito
agressivo, mas to feliz e fazendo o que eu posso [...] a aula é
dinâmica, essa troca de parceiro, você se entrosa, conversa, troca
idéias e o contato físico que é muito bom pra gente
O stress também presente na vida dos idosos é algo mencionado durante as
entrevistas. Logo, a idosa C63 relata:
Melhorou muito, diminuiu o stress a vontade de viver, alegria de me
comunicar com os outros. Eu me lembro quando eu chegava ao
colégio, depois da dança, eu estava mais solta com mais vontade, os
alunos adoravam quando eu chegava e perguntavam: professora a
senhora está mais alegre mais solta? Eu disse: é isso aí meu filho, é
porque eu estou dançando, dançar dá alegria na gente, dá energia,
vitalidade
A idosa B61, afirma que resolveu entrar na oficina depois de ter feito exames
médicos e ter sido diagnosticado depressão, isso, logo após ter aposentado e
precisava fazer alguma atividade, resolveu entrar na oficina, diz se sentir muito bem,
50
a mesma relata, com muitos sorrisos: “ontem eu fui ao shopping e minhas colegas
de trabalho que estavam lá me acharam ótima, disseram fique lá, você tá ótima.
Mostrei minhas fotos, elas me botaram para cima, me acharam até mais gordinha.”
Outra observação apontada tem relação com a possibilidade das antigas
amizades serem resgatas, pois por conta do tempo, algumas acabam se
reencontrando na oficina, fato observado diante da ansiedade das idosas de que
chegue logo o dia do encontro, como podemos perceber na reflexão da idosa A62:
Eu me sinto mais feliz, por reencontrar amigos que a gente já tinha
se distanciado, amigas e colegas de trabalho, de colégio, então
conhecer novas amigas e isso pra mim tá sendo maravilhoso se
reencontrar e toda semana estamos nos reencontrando e
conversando, dançando, brincando, isso tá sendo maravilhoso.
Além das melhorias nas questões psicossociais pudemos perceber pela fala
da idosa B84, que houve melhoria na saúde e principalmente no seu bem-estar,
além de se sentir segura em seus movimentos, como podemos observar na fala da
idosa: “Melhorou muita coisa, tanto a amizade, como saúde. Andar mesmo, a gente
anda firme, não tem medo de nada, não tem medo nem de cair, eu gostei muito e
adoro”.
Dançar é promover qualidade de vida para as pessoas idosas, é fazer com
que paradigmas sejam quebrados, onde viver é alegria, fortalecendo laços de
amizade e afinidade, superando problemas, melhorando a saúde, fortalecendo
músculos e o sistema cardiorrespiratório, estimulando à percepção, lateralidade e
coordenação motora e o principal, a felicidade de estar bem e viver melhor. (PINTO,
2008)
51
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A reintegração social é algo muito importante para a melhoria da qualidade
de vida dos idosos, principalmente abordada do ponto de vista psicológico e social, o
afastamento do trabalho e logo, de pessoas do seu convívio, deve ser visto de forma
a pensar numa nova fase, numa nova perspectiva de vida. Diante da exclusão do
indivíduo em decorrência do mundo capitalista, aparecem novas formas de
socialização, as Instituições e os Centros de Convivência que com o aumento da
longevidade trabalham na perspectiva de uma nova esperança para a terceira idade.
Diante dos objetivos da pesquisa pudemos perceber que a prática da dança
pode reintegrar socialmente o idoso, fazendo com que a socialização obtida através
da dança e logo o contato físico com o outro, o reencontro com amigos de tempos
anteriores que com o passar do tempo foi se perdendo, o relembrar das músicas e
danças que marcaram suas vidas faz com que o idoso tenha sua auto-estima
elevada, diminuição do stress e também a melhoria da sua locomoção e diminuição
de quedas, resultados estes obtidos e observados através da fala das idosas
entrevistadas.
Através deste estudo podemos perceber também que com o surgimento da
UATI e com a participação dos idosos na oficina de dança, a maioria dos dados
obtidos nos faz entender que o preconceito, assim como outras questões, apontado
no decorrer do texto mudou o seu formato, ou mesmo não existe mais e com as
apresentações do grupo em eventos há uma grande probabilidade da sociedade
aceitar e reconhecer o idoso, cada vez mais, como cidadão ativo.
O preconceito é algo notável, ele pode começar pela forma como a
sociedade julga o idoso, afetando rapidamente os seus pensamentos individuais,
fazendo com que o próprio se sinta sem utilidade, produzindo um sentimento de
depressão, esse que pode levar o indivíduo à morte. O abandono pode começar
pela própria família, o interessante é que mesmo percebendo a forma que os
próprios familiares tratam o idoso, esse sentimento negativo não é recíproco,
durante as aulas percebi a forma carinhosa que eles falavam de seus entes queridos
e de seu passado, histórias e acontecimentos que para mim como professor,
52
enriqueceu muito meus conhecimentos e fizeram com que eu percebesse a
importância que é trabalhar com esse público.
Apesar das danças de tempos anteriores, que marcaram a vida dos idosos
entrevistados, pudemos perceber que eles preferem as danças atuais, seja porque
podem dançar sozinhos, ou não, ou seja, porque tem liberdade para dançar,
inclusive em grupos.
Analisando a visão do idoso em relação à dança, a princípio percebemos
que há ainda um preconceito neles próprios, relatando impossibilidade e mesmo se
alto julgando, ao dizer que não conseguem dançar e que não têm idade para isso.
Logo, ao perceber que algo poderia ser feito para que eles mudassem esse
pensamento, me reportei a momentos da minha vida pessoal, para tentar fazer com
que eles pudessem se sentir felizes, que pudessem relembrar os seus bailes, as
suas músicas, os momentos que ficaram no passado, mas que poderíamos fazer o
presente.
Ministrar aulas para idosos requer amor, estudos e também muita emoção,
pois ao mesmo tempo em que podemos vê-los sorrindo, no dia seguinte, podemos
nos deparar com a notícia da morte. A notícia do falecimento de uma das nossas
alunas, me fez repensar algumas questões da minha vida, e ouvir da própria família
que a partir do momento que ela havia entrado no programa, estava muito disposta,
acordava bem, era mais feliz, foi algo que reconheço não pertencer somente ao
indivíduo, ultrapassava a barreira do “eu”, era uma felicidade que afetava
positivamente toda família, ou até mesmo os amigos. Por mais que queiramos
compreender, é sempre muito difícil entender a morte.
A religiosidade foi também algo marcante, pois foi complicado fazer com que
o idoso entendesse que dançar era para se ter saúde, bem-estar, enquanto as
outras pessoas integradas ao próprio convívio social os recriminavam por praticar a
dança, como se dançar, fosse algo maléfico, o que não é e o que queríamos mostrar
nas aulas, era a possibilidade de reviver o tempo bom de suas vidas, reintegrá-los e
acabar com o preconceito que eles próprios tinham em relação a sua capacidade
física.
Com essa pesquisa foi possível compreender outras possibilidades na minha
vida, uma vez que a minha experiência até então, tinha sido somente com dança em
academia, a qual tem objetivos totalmente diferentes, muito mais voltados para
estética, e na UATI o que menos importava é a estética, embora a mesma esteja
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presente entre elas, o importante é se sentir bem, feliz, útil e se sentir belo do jeito
que é e não da forma que as pessoas quisessem que eles fossem.
As apresentações sempre mostravam que os idosos eram capazes, tantos
aplausos que receberam e a forma como se sentiam depois de tanto sofrimento
gerado pelas questões da vida. As pessoas passam a respeitar, e o próprio idoso
consegue dialogar e deixar a timidez de lado, o que era muito visto no começo da
oficina, alguns ficavam nos cantos com vergonha e ao ouvir uma música que marcou
suas vidas, eles se soltavam, se transformavam, era como se a “melhor idade”
tivesse sido há tempos atrás e de repente ela continuava existindo.
Percebemos que houve transformações positivas nas idosas ao praticar
dança atualmente se sentem felizes, são comunicativas, têm um contato maior com
a própria família e são independentes em suas decisões, vivem seus desejos,
dançam, cantam, fazem outras atividades além da dança.
Haja vista que este estudo terá continuidade, pois é muito importante
pensarmos nos idosos de hoje, para melhorarmos as condições de vida de quem
possivelmente viverá esta fase da vida.
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Acesso em 10 de junho de 2012
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DABAHIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS II
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (COORDENAÇÃO)
Eu Alessandro de Souza Ferreira, enquanto estudante do curso de Educação
Física da UNEB – Campus II preciso realizar uma pesquisa monográfica para
conclusão deste curso. O meu estudo será sobre a “influência da dança na melhoria
dos aspectos psicossociais na terceira idade”, O objetivo desse trabalho é verificar
as mudanças psicossociais ocorridas na prática contínua da oficina de dança com os
idosos do projeto, fazendo uma análise sobre os benefícios e dificuldades que
compõem a prática da dança ofertada ao grupo, fazendo uma breve
contextualização com as outras modalidades oferecidas pelo projeto, e também
resgatando o contexto da dança durante a vida dos idosos, discutindo de que forma
praticavam a dança e como era vista em tempos anteriores. Pretendo realizá-lo com
os idosos que participam da oficina de dança, através de minha intervenção e logo
entrevista com alguns integrantes do referido grupo. Para tanto preciso da
autorização da coordenação da UATI, para realização da pesquisa com os sujeitos
do projeto.
Assinatura do (a) coordenador (a) da UATI
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DABAHIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS II
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (SUJEITOS)
Eu Alessandro de Souza Ferreira, enquanto estudante do curso de Educação
Física da UNEB – Campus II preciso realizar uma pesquisa monográfica para
conclusão deste curso. O meu estudo será sobre a “influência da dança na melhoria
dos aspectos psicossociais na terceira idade”, o objetivo desse trabalho é verificar as
mudanças psicossociais ocorridas na prática contínua da oficina de dança com os
idosos do projeto, fazendo uma análise sobre os benefícios e dificuldades que
compõem a prática da dança ofertada ao grupo, fazendo uma breve
contextualização com as outras modalidades oferecidas pelo projeto, e também
resgatando o contexto da dança durante a vida dos idosos, discutindo de que forma
praticavam a dança e como era vista em tempos anteriores. Considerando os
objetivos da pesquisa citados acima e após ler e receber explicações sobre a
pesquisa, e ter meus direitos de:
1. Receber resposta a qualquer pergunta e esclarecimento sobre a
pesquisa;
2. Retirar o consentimento e deixar de participar á qualquer momento
do estudo;
3. Não ser identificado e ser mantido o caráter confidencial das
informações.
Tendo recebido as informações acima e ciente dos meus direitos, concordo
em participar voluntariamente da pesquisa.
______________________________ ______________________________
Assinatura do (a) participante Assinatura do pesquisador (a)
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DABAHIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS II
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
ROTEIRO DE ENTREVISTA
1 – Diante as oficinas oferecidas pela UATI, quais oficinas vocês escolheu e
por quê? Por que escolheu dança?
2 – Diante do passar do tempo, como você visualiza a dança de tempos
anteriores com os estilos de dança atuais?
3 - Qual a diferença em praticar dança hoje na terceira idade com a prática da
dança em tempos anteriores, como na sua infância ou adolescência?
4– Qual (is) dificuldade(s) você tem em praticar a dança?
5 – Na sua visão, como é visto pela sociedade “o idoso que pratica dança”? E
nesse contexto, como você se sente na oficina de dança da UATI?
6 – Após sua inserção na oficina de dança o que mudou na sua vida? Em
questões como qualidade de vida, relacionamento com família, amigos, por
exemplo.