a influÊncia da cultura nas negociaÇÕes brasil - … · 2017-06-23 · mudança significativa no...
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Danillo Ramon Ramos Nisio
A INFLUÊNCIA DA CULTURA NAS NEGOCIAÇÕES BRASIL - CHINA
Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do certificado de Bacharel em Relações Internacionais. Orientador: Prof. Dr. Ironildes Bueno da Silva
Brasília
2013
Monografia de autoria de Danillo Ramon Ramos Nisio, intitulada “CULTURA E
NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS: ASPECTOS CULTURAIS BEASIL E CHINA.”,
apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Relações
Internacionais da Universidade Católica de Brasília, em 00/00/2013, defendida e aprovada
pela banca examinadora abaixo assinada:
_____________________________________________
Prof. Dr. Ironildes Bueno da Silva
Orientador
Relações Internacionais – UCB
_____________________________________________
Prof. Me. Creomar Lima C de Souza
Relações Internacionais – UCB
_____________________________________________
Prof. Me. Tágory Figueiredo Martins Costa
Relações Internacionais – UCB
Brasília
2013
Agradecimentos
Agradeço, acima de tudo, a Deus, todo poderoso, por gerar sonhos no meu
coração, cultivá-los e ir mais além, os tornando reais. Agradeço a minha família,
quem tem estado ao meu lado em todos os momentos e circunstancias: meus pais,
Edimar Moreira Nisio e Carmem Lucia Ramos Nisio, e meu irmão, Murillo Ramon
Ramos Nisio. Agradeço aos amigos, feitos durante os anos de graduação, em
especial Allana, Juliane, Karine e Lorena. Por fim agradeço aos professores que tive
ao longo da vida que foram para mim motivo de inspiração.
“The central conservative truth is that it is
culture, not politics, that determines the
success of a society.” Daniel Patrick
Moynihan
RESUMO
NISIO, Danillo Ramon R. Cultura e negociações internacionais: aspectos culturais
de Brasil e China. Professor orientador: Dr. Ironildes Bueno da Silva. Dezembro,
2013.
O tema deste trabalho é a dimensão cultural no universo das negociações
internacionais. A hipótese testada e comprovada é de que a cultura pode ser crucial
em uma negociação internacional, por tanto conhecer a cultura de sua contraparte
acarretará em maior interação e menor risco para a negociação em pauta. O
trabalho está divido em três partes. A primeira diz respeito a uma síntese literário
sobre cultura e negociações internacionais. A segunda consiste em um panorama
sobre as abordagens em negociações internacionais e uma comparação entre os
estilos de negociação de Brasil e China, segundo as teorias de Hall e Hofstede. A
terceira e ultima parte apresenta a conclusão e as considerações finais.
Palavras-chave: Negociações internacionais, aspectos culturais, Brasil, China.
ABSTRACT
NISIO, Danillo Ramon R. Culture and international negotiations: Brazil and China
cultural aspects. Supervisor: Dr. Ironildes Bueno da Silva. Dezembro, 2013.
The theme of this paper is the cultural dimension in the world of international
negotiations. The tested and proven hypothesis is that culture can be crucial in
international negotiations, therefore knowing the culture of your counterpart will result
in more interaction and less risk for the trading in question. The work is divided into
three parts. The first relates to a literary synthesis about culture and international
negotiations. The second consists of an overview of the approaches in international
negotiations and a comparison between the negotiations styles of Brazil and China,
according to the theories of Hall and Hofstede. The third and last part presents the
conclusion and final remarks.
Key-words: International negotiations, cultural aspects, Brazil, China.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 01: Brasil – China segundo Hofstede ......................................................p.30
FIGURA 02: High Context Culture x Low Context Culture.......................................p.33
FIGURA 03: Semelhanças e diferenças culturais entre Brasil e China..................p.35
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ALADI – Associação Latino-Americana de integração
BATNA – Best Alternative to a Negotiated Agreement
EUA – Estados Unidos da América
MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
OMC – Oganização Mundial do Comércio
EU – União Europeia
ZOPA – Zone of Possible Agreement
Sumário
1. Introdução .................................................................. Erro! Indicador não definido.
1.1 Problema e sua importância. ...............................................................................10
1.2 HIPÓTESE..............................................................................................................13
1.3 OBJETIVOS.....................................................................................................13
1.3.1 Objetivo geral ........................................................................................................ 13
1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 14
1.4 METODOLOGIA................................................................................................14
2. MARCO TEÓRICO ........................................................................................................ 15
3. Desenvolvimento..................................................................................................21
3.1.1Síntese Literária.................................................................................................21
3.1.2 Estilos de negociação ................................................................................25
3.1.3 Como negociar além das fronteiras...................................................................27
3.2 A cultura dos negociadores..................................................................................28
3.2.1 Brasil e China Segundo Hofstede ........................................................................ 31
3.2.2 Brasil e China segundo Hall..............................................................................34
3.2.3 Negociadores brasileiros e chineses ................................................................36
4. Conclusão.............................................................................................................39
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 40
10
1. Introdução
1.1 Problema e sua importância
Desde o início do pós-guerra fria, quando assuntos que não os militares
passaram a ter mais relevância, o surgimento do fenômeno da globalização esteve
quase sempre associado ao bem-estar da humanidade, a facilidades e a integração
a nível global.
Não existe um conceito para o termo globalização que seja amplamente
aceito e largamente empregado, ou seja, um consenso no meio acadêmico. Vários
autores explicam esse fenômeno. De acordo com Held a globalização consiste em:
O conceito de globalização denota muito mais do que a ampliação de relações e atividades sociais atravessando regiões e fronteiras. E que ele sugere uma magnitude ou intensidade crescente de fluxos globais, de tal
monta que Estados e sociedades ficam cada vez mais enredados em sistemas mundiais e redes de interação. Em consequência disso,
ocorrências e fenômenos distantes podem passar a ter sérios impactos internos, enquanto os acontecimentos locais podem gerar repercussões globais de peso. Em outras palavras, a globalização representa uma
mudança significativa no alcance espacial da ação e da organização social, que passa para uma escala inter-regional ou intercontinental. (HELD, 2000,
p. 12)
A globalização tem vários vieses de integração, podendo ser citados: o viés
econômico, político, cultural. Essa maior integração mundial, em diversos aspectos,
ganhou força com o fim da guerra fria, e o advento da evolução tecnológica intensa
durante os anos desta guerra. A evolução dos meios de transporte e comunicação
desempenharam papéis centrais na diminuição de fronteiras, tornando a terra “cada
vez menor”.
Na presente monografia a globalização aplicar-se-á como uma forma de
enfatizar o crescimento dos fluxos e interações entre as nações e demais
atores do sistema internacional. Entretanto não será levada em consideração
a hipótese levantada por alguns teóricos de um mundo homogêneo.
Principalmente em relação às diferenças culturais que contrariamente a esse
argumento serão pontuadas ao longo do projeto.
11
Neste mundo cada vez mais globalizado outro conceito, formulado nos anos
1970, passa a ser importante, o conceito de interdependência complexa:
(...)dependence means a state of being determined or significantly affected by external forces. Interdependence, most simply defined, means mutual dependence. Interdependence in world politics refers to situations
characterized by reciprocal effects among countries or among actors in diferente countries.
These effects often results from international transactions-flows of Money, goods, people and messages across international boundaries. (KEOHANE; NYE, 2001, p. 7).
Uma das nuances da globalização é justamente a “interdependência
acelerada” (HELD, MCGREW. 2000. p 11). Onde se verifica o aumento do vinculo
entre as nações seja ele de caráter econômico, político ou social fazendo assim com
que acontecimentos internos reverberem diretamente em outras nações.
Nesse processo de “diminuição do mundo” e interdependência entre as
nações verifica-se grande volume de transações transculturais, que vão muito além
do business. Temos observado cada vez mais a predominância da China como um
ator central nas mais diferentes áreas de negociações. Como identificam Foot e
Walter (2011), logo no início de sua obra onde elevam a potência asiática como, ao
lado dos Estados Unidos, o Estado mais importante do sistema internacional.
Os autores identificam no recuo da hegemonia americana, principalmente
depois da crise de 2008, uma oportunidade para a China. No entanto, é preciso ser
cuidadoso em tal análise tendo como ponto de partida a supremacia americana nas
relações internacionais. Porém, a primazia americana nas áreas políticas, de
segurança, comerciais, diplomáticas, não muda o fato de que a China tem, cada vez
mais, elevado sua influência nas respectivas áreas. Mostrando seu peso, cada dia
maior e mais capaz de não só influenciar na ordem global, mas de moldá-la
conforme seus interesses.
Exatamente no momento em que a China se consolida, cada vez mais, como
um ator central para as relações internacionais, apesar da vasta contribuição de
diversos autores, das mais variadas áreas do conhecimento, no tocante à influência
da cultura nas negociações transculturais, podemos ainda observar uma lacuna na
literatura concernente às negociações Brasil-China, tanto em fóruns bilaterais quanto
multilaterais. Fica assim evidente a necessidade de novos estudos a cerca do tema.
12
Além de ser hoje reconhecida como um dos principais atores do sistema
internacional, em 2009 foi noticia nos principais jornais do mundo e divulgada pelo
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC): a China
passou a ser o principal parceiro comercial do Brasil. Superando os Estados Unidos
que ao longo de décadas foi o principal parceiro comercial brasileiro.
A evolução da parceria econômica Brasil-China sugere ser ela uma relação simbiótica. Para a China, o Brasil pode ajudar a garantir o fornecimento dos
suprimentos de que ela necessita para crescer e manter a estabilidade política. Para o Brasil, a parceria com a China ajuda a elevar as exportações, aumentar os investimentos e prover o país de produtos
manufaturados e insumos a baixos preços.” (ARBACHE, 2011, p. 227).
As Relações Internacionais tem ganhado cada vez mais estudiosos sobre os
aspectos culturais e como esses influenciam nas relações entre os atores. Os
chamados culturalistas, tais como: Huntington (Culture matters, the Clash of
civilization), Lawrence Harisson (developing cultures) entre outros. No mundo em
geral ainda a pouca literatura acerca do tema, produção que é ainda menor no
Brasil.
A pesar de estarmos em um mundo cada vez mais globalizado as diferenças
ainda são bastante pontuais entre as diferentes sociedades. No tocante das
negociações internacionais a cultura pode ser uma variável que causa
estranhamento nas partes e por isso a importância de estuda-la. Como podemos
observar no trecho a seguir:
There are two classifications of knowledge regarding cultures a marketer should possess to cope with the problems of a different culture. One is factual knowledge about a culture that is color, different tastes, and other
traits indigenous to a culture are facts that a marketer can anticipate, study, and learn. The other is interpretative knowledge, an ability to understand and
to appreciate fully the nuances of different cultural traits and patterns. The meaning of time, attitudes toward other people and certain objects, the
understanding of one’s role in society, and meanings of life illustrate aspects of a culture that can differ considerably from one culture to another and require more than factual knowledge to be fully appreciated. (CATEORA,
1985, p. 23).
Diante desse quadro, o presente trabalho aborda os aspectos culturais de
Brasil – China. Respondendo o seguinte questionamento: Qual tem sido o papel da
cultura nas negociações bilaterais Brasil - China?
Por se tratar de uma variável bastante complexa e ampla a cultura ganhou
diversas definições diferentes. No presente trabalho entenderemos por cultura o
conceito cunhado por Huntington (2002, p. 13): “valores, atitudes, crenças,
13
orientações e pressupostos subjacentes que predominam entre os membros de uma
sociedade”.
A pesquisa hora proposta ajudará em termos teóricos a reduzir o hiato literário
existente, principalmente no que diz respeito ao Brasil. Além disso, o resultado da
pesquisa poderá servir, eventualmente, para ser considerada pelos negociadores,
sejam eles públicos ou privados. Reafirmando assim a relevância da mesma.
1.2 HIPÓTESE
A hipótese dessa monografia é: quanto menor o entendimento e empatia em
relação às diferenças culturais da sua contraparte, Brasil e China no presente
trabalho, menor a interação entre as partes e maiores serão os riscos e custos das
negociações.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo geral
O objetivo geral que este trabalho é: Analisar o papel da cultura nas
negociações internacionais e ressaltar as caraterísticas de estilos de negociação de
Brasil e China.
14
1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Sintetizar a literatura concernente à interferência da cultura nas negociações
internacionais.
Identificar comportamentos inerentes à cultura dos negociadores chineses e
brasileiros.
1.4 METODOLOGIA
O método
O método a ser aplicado na seguinte pesquisa será majoritariamente o
método histórico-descritivo com base, principalmente, na revisão bibliográfica a
cerca da problemática abordada neste trabalho.
The major purpose of descriptive research is description of the state of affairs as it exists at present. Most ex post facto research projects are used
for descriptive studies in which the researcher seeks to measure such items as, for example, frequency of shopping, preferences of people, or similar
data. Ex post facto studies also include attempts by researchers to discover causes even when they cannot control the variables. The methods of research utilized in descriptive research are survey methods of all kinds,
including comparative and correlational methods. (KUMAR, 2008, p. 6).
O método será aplicado para descrever negociações onde a cultura, dos
negociadores brasileiros e chineses, foi um elemento que influenciou no curso ou no
próprio resultado da negociação.
A escolha do método baseia-se na percepção de que existem algumas
dificuldades no desenvolvimento de análises sem nenhum conhecimento prévio da
área em que se está trabalhando (KING; KEOHANE; VERBA, 1994, p. 34). Porém,
na presente pesquisa o objetivo é não só descrever, mas também explicitar
características inerentes ao estilo de negociação e negociadores brasileiros e
chineses.
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Técnicas, procedimentos e fontes
O método acima explicitado será aplicado através de diferentes técnicas,
procedimento e fontes. Serão utilizadas, sobretudo, fontes secundárias tais quais:
livros, artigos, dissertações, teses, revistas, jornais e assentos de registros públicos
ou privados.
Com o objetivo de síntese da literatura em geral, tomaremos como base o
sítio: http://www.beyondintractability.org/. O sítio foi criado e é mantido pela
Universidade do Colorado e trata de como superar a ingerência em negociações
internacionais. O mesmo tem como objetivo aumentar o fluxo de conhecimento,
através da internet, entre aquele que trabalham na área e ao publico em geral além
de buscar estratégias para lhe dar com negociações intratáveis.
O sítio oferece ainda grande variedade de artigos, de especialistas do campo,
e mais de mil horas de áudio online acerca da temática abordada, a partir dos mais
variados pontos de vistas e perspectivas.
2- MARCO TEÓRICO
A Teoria
Para efeito de análise comparativa entre a cultura brasileira e a cultura
chinesa no presente trabalho, será usada a teoria formulada por Geert Hofstede. De
acordo com Hofstede (1988, apud KEEGAN; GREEN, 1999, p.102) quatro
dimensões podem ser usadas na comparação de culturas diferentes. São elas:
distância hierárquica, coletivismo versus individualismo, masculinidade versus
feminilidade e o controle da incerteza.
A distância hierárquica diz respeito a uma medida da aceitação, por parte dos
membros menos poderosos de uma sociedade, em relação à distribuição desigual
do poder. A forma como a sociedade trata de administrar a desigualdade entre os
indivíduos. Podemos observar também como um medidor do nível de desigualdade
dentro de uma determinada sociedade.
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Coletivismo versus individualismo, essa dimensão versa sobre o nível de
integração dos indivíduos dentro de suas sociedades. Uma sociedade individualista
é uma sociedade onde o indivíduo busca seu próprio interesse e os interesses
inerentes a sua família nuclear, enquanto em uma sociedade coletivista os membros
desta estão engajados em grupos responsáveis por tudo que está a sua volta.
Masculinidade versus feminilidade é uma dimensão que usa o gênero
masculino para designar aquelas sociedades cujo se espera que o papel do homem
seja o de provedor de lar, preocupado com o sucesso material enquanto a mulher
tem o papel da mãe, organizadora do lar e das tarefas domésticas. Enquanto o
gênero feminino descreve uma sociedade onde homens e mulheres se
complementam. Ou seja, os indivíduos dos dois sexos não demonstram
comportamento competitivo excessivo e desempenha papéis relativamente iguais
dentro da sociedade.
O controle da incerteza, essa dimensão aborda a medida de aversão, por
parte dos membros de uma determinada sociedade, em relação a situações que
fogem do controle. Situações dúbias ou não estruturadas. E a maneira desses
indivíduos expressarem essa aversão é pela ansiedade, agressividade, emotividade
e intolerância. Essa aversão está muito relacionada a crença na existência de
verdades absolutas. Enquanto outras sociedades, aquelas que manifestam pouca
aversão a incerteza, reagem as mesmas situações de forma mais tolerante,
comparativa e contemplativa.
Ainda para efeitos comparativos usar-se-á a teoria desenvolvida por Edward
T. Hall (1988, apud KEEGAN; GREEN, 1999, p.95) a respeitos das culturas de baixo
e alto contexto. Na referida teoria Hall usa os conceitos de cultura de baixo contexto
e alto contexto como forma de entender as diferentes orientações culturais.
Uma cultura de baixo contexto é caracterizada pelo uso da linguagem como o
principal meio transmissor das informações na comunicação. As mensagens são
explicitas. A burocracia (o uso de papéis legais) é essencial e os negócios são
firmados fundamentos em análise documental, estatística da sua contraparte em
detrimento de valores, posição na sociedade e caráter. Outra característica das
culturas de baixo contexto é a objetividade. A visão monocronica de que tempo é
dinheiro. Além disso, tendem a resolver cada coisa de uma vez.
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Contrariamente, nas culturas de alto contexto a verbalização da mensagem
detém menos informação. A mensagem em sim está implícita no contexto da
comunicação, assim como nos antecedentes e valores dos comunicadores. As
palavras dos indivíduos bastam como garantia, sendo de pouco valor as
formalizações escritas. A própria cultura traz intrínsecos a ela sentimentos de
obrigação e dever que desabona a necessidade da previsão de sanções em um
acordo. Por isso é de grande importância, em uma cultura de alto contexto, conhecer
a contraparte. O que explica negociações longas e pouco objetivas. A orientação
temporal policronica1 compreende que tudo deve ser feito em seu próprio tempo.
Tendo como campo de estudo o mundo as teorias de Relações Internacionais
encontram em seus caminhos diversos percalços. A heterogeneidade do mesmo e
sua característica metamórfica são algumas das barreiras encontradas. Tentar
entender e analisar variáveis tão complexas pode levar o pesquisador a cometer
equívocos.
Os Conceitos Norteadores
O presente trabalho orienta-se a partir da lente teórica pluralista das Relações
Internacionais. A referida teoria admite em sua formulação algumas premissas
básicas em sua percepção do mundo. Entre as principais estão o entendimento de
que tanto os Estados como as organizações internacionais e não governamentais
são atores relevantes no Sistema Internacional. Focando em coisas como
integração, teorias da paz democrática, neoliberalismo, governança global. (VIOTTI;
KAUPPI, 2012, p 129)
Justifica-se o uso da lente pluralista em detrimento do Realismo por se tratar
do estudo da agenda comercial bilateral entre duas nações. Uma agenda onde
atores não Estatais são de grande relevância, como as grandes empresas
multinacionais e organizações internacionais referentes ao comércio como a OMC
por exemplo.
1 A orientação monocronica corresponde a culturas onde cada coisa é feita de uma vez, são organizadas e
metódicas enquanto a policronia diz respeito as culturas onde várias temáticas são resolvidas ao mesmo tempo.
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Este trabalho é orientado a partir de três elementos que se relacionam entre
si, como observaremos abaixo. São eles: cultura, Relações Internacionais, teoria de
negociações e negociações transculturais.
Cultura e Relações Internacionais. Conceituar cultura nem sempre é uma
tarefa simples. Diversos conceitos foram cunhados por autores de diversas áreas do
conhecimento. Por ser um conceito muito amplo corre o risco de cair nas armadilhas
do alongamento conceitual, ou seja, um conceito que tudo aborda e nada explica.
Segundo Laraia (2006, p. 59):
Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante.
Por sua vez o surgimento das Relações Internacionais, como um campo de
estudo, teve suas bases alicerçadas nas grandes transformações ocorridas durante
século XX. Eventos como: uma guerra mundial, iniciativas multilaterais para evitar
novos conflitos, a revolução industrial, a estabilidade do sistema financeiro
internacional a partir do padrão ouro e consequentemente a maior integração entre
as nações a partir dos grandes acontecimentos anteriormente citados (ROCHA,
2002, p. 23-24).
As Relações Internacionais já nasce então como um campo de estudo
multifacetado, ou seja, que tem em suas raízes em diversos outros campos de
estudo como, por exemplo: história, ciências políticas, geografia, direito, sociologia
entre outros.
A partir dos anos 90 surge uma tendência que enfatiza a cultura nas teorias
de relações internacionais. Teóricos passam a contemplar a cultura como fator
importante para compreender as interações entre os atores da cena internacional e
passa a se falar até mesmo na formação de uma cultura internacional, ou seja, a
universalização de ideias, conceitos e práticas (HERZ, 1997).
Relações Internacionais e teorias de negociações. Como já vimos
anteriormente no presente trabalho, as relações internacionais contemporâneas são
marcadas pela multiplicidade de atores, pela amplitude das agendas, pela
integração, interdependência e pela globalização que implica diretamente no
aumento de interações entre os atore internacionais. Sejam essas interações
19
através da cooperação internacional, do dialogo, do debate acadêmico, relações
diplomáticas, negociações políticas e comerciais.
Nesse cenário as teorias de negociações internacionais são cada vez mais
úteis. Entendendo negociações como:
Negotiation is the fundamental form of dispute resolution. In simplest terms, it involves a discussion between two or more disputants who are trying to work out a solution to their dispute. It may even be done in advance, to avoid disputes. For example, when we discuss simple life choices with family members--who does which chores, what family activities are planned for when--we are negotiating. When we bargain over the price of a product or service, we are negotiating. In order to live or work effectively with others, good negotiation skills are critical. (MAIESE, 2003, p. 2).
As abordagens teóricas das negociações são importantes na formulação de
estratégias. Os modelos teóricos não são a realidade mais é um reflexo dessa e é o
que se tem de mais próximo da realidade, daí a sua utilidade. Por mais que esses
não representem a realidade com exatidão, considera-se melhor ter um modelo em
que se apoiar em detrimento do completo despreparo frente a uma negociação.
Diversas abordagens de negociações foram desenvolvidas. Conceitos como:
BATNA (Best Alternative to a Negotiated Agreement), Ripeness, ZOPA (Zone of
Possible Agreement), compromisse entre outros.
Teorias de negociações e negociações transculturais. Como vimos acima,
as teorias de negociações buscam ao máximo refletir a realidade. A partir da
observação das negociações são traçados abordagens de negociações que não são
de fato a realidade, mas que é o que temos de mais próximo da mesma. São
modelos que nos oferecem enfoques alternativos na hora de negociar qualquer
assunto.
Algumas dessas abordagens privilegiaram em seu enfoque a cultura. Entendo
e reconhecendo assim a importância da mesma em uma mesa de negociação. Seja
ela bilateral ou multilateral. Como destaca Lebaron (2003):
While it is difficult to characterize any national or cultural approach to negotiation, generalizations are frequently drawn. These generalizations are
helpful to the extent that the reader remembers that they are only guides, not recipes. Any generalization holds true or not depending on many contextual
factors including time, setting, situation, stakes, history between the parties, nature of the issue, individual preferences, interpersonal dynamics and mood.(LEBARON, 2013, p. 3)
20
Lebaron (2003) salienta a dificuldade em caracterizar cultura justamente por
ser um conceito amplo. A autora denota, no entanto as generalizações traçadas, não
as recriminando, mas atribuindo a elas sua devida importância desde que se
reconheça que tais generalizações não são formulas mágicas, mas podem e devem
sim ser utilizadas nas negociações transculturais. A autora faz questão de lembrar,
no entanto que a pesar das generalizações cada ser é único em sim mesmo.
Para DONALD (1996) o que diferencia as negociações internacionais é o
ambiente são as influências externas advindas de uma diversidade de ambiente. O
que exige ajustes das abordagens a serem usadas nesses tipos de negociações,
onde o certo e o errado, o sim e o não podem significar coisas diferentes para cada
parte envolvida. Uma dessas influências é justamente a cultura. Negociações
Internacionais são, em essência, negociações transculturais, ou seja: negociações
onde há duas ou mais culturas envolvidas.
Culturas diferentes podem produzir choques em pontos de vista e visão de
mundo. O choque cultural. Para além, as diferenças culturais podem gerar ainda,
faux pas que muito além de uma situação embaraçosa pode levar uma negociação
ao não êxito.
Culture impacts negotiation in four ways: by conditioning one’s perception of reality; by blocking out information inconsistent or unfamiliar with culturally
grounded assumptions; by projecting meaning onto the other party’s words and actions; and by impelling the ethnocentric observer to an incorrect
attribution of motive. (HENDON; HENDON; HERBIG, 1996, p. 18). Para evitar que mal-entendidos causados pelas divergências culturais, sejam
elas comportamentais, de comunicação ou de percepção da realidade, varias teorias
de negociações foram cunhadas levando em consideração o aspecto cultural e a
importância de conhecimento prévio das diferenças que poderá haver em uma
negociação transcultural.
3- Desenvolvimento
3.1 Síntese literária
A presente sessão busca resgatar, na literatura, uma síntese dos estudos
culturais e suas implicações nas negociações internacionais. Juntando a opinião de
autores consagrados ao longo das décadas. Apresentando o ambíguo mundo das
21
negociações transculturais e suas contradições. Mostrando diferentes estilos de
negociações e por fim oferecendo diretrizes básicas para se preparar para uma
negociação transcultural.
Hall (1963) argumenta que cultura não é simplesmente um costume que pode
ser mudado ou eliminado como algumas peças de roupa. A cultura é uma
ferramenta para entender o comportamento humano. Estudar a cultura é tentar
alcançar o entender as diferentes percepções de mundo dos diferentes indivíduos. A
falta de sensibilidade para esse assunto faz com que existam distorções de
significados, principalmente na comunicação entre indivíduos de culturas diferentes.
Cultura é comunicação. A comunicação é indispensável ao homem dias a pós dias.
Quando falamos estamos usando símbolos para descrever coisas e esses símbolos
que usamos quando visto a partir de culturas diferentes nem sempre significam
aquilo que queremos descrever. A comunicação é composta de significados
formados pela cultura que foram aprendidos durante anos e forma nossa maneira de
pensar e de expressar nossos pensamentos.
Jervis (1976) apesar de ignorar as diferenças culturais — entre diferentes
culturas — em sua obra, entende que os tomadores de decisão têm percepções
diferentes na hora de decodificar uma informação recebida, nas imagens
preexistentes dos outros ou em sua própria visão do mundo e da realidade. Essas
variações advêm de variações em estruturas econômicas e sociais e nas políticas
domésticas dos Estados aos quais os tomadores de decisão pertencem. Conclui-se
então que é impossível entender ou explicar as decisões tomadas sem referências
dos credos e percepções de mundo dos tomadores de decisão.
No que concerne às negociações internacionais Donald (1996) observa que
as negociações internacionais têm experimentado um crescimento sem precedentes
o que reverbera no crescimento das negociações entre países e culturas. A
negociação entre culturas distintas eleva os problemas de uma negociação. Por isso
a o fator cultural em, uma negociação transcultural, emerge como um ponto
importante — que normalmente não se revela com a mesma importância em uma
negociação doméstica — a ser abordado. A cultura dá as pessoas uma identidade
(valores, crença, significados), logo diferentes culturas em uma mesa de negociação
significa identidades diferentes e podem geralmente sofrer alguma colisão em suas
percepções de mundo. Nas negociações internacionais a cultura influencia em
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diferentes maneiras. Seja pela existência de dicotomias no que tange a percepção
da realidade ou pelo julgamento dos atos da sua contraparte.
Jeswald (2003) entende que a cultura ao influenciar os pensamentos,
comportamento e a comunicação humana, naturalmente influencia na maneira como
acordos são fechados e os tipos de acordo. A cultura pode criar barreiras que
dificultam o processo de negociação. Não é meramente uma questão linguística,
sabemos hoje que o inglês é a língua mundialmente usada nas negociações
internacionais, no entanto não é o idioma em si, mas o significado exprimido em
cada palavra ou expressão inerente a cada cultura em particular. De forma que a
cultura pode ser percebida até mesmo com um tipo de língua. Como um exemplo
simples, podemos citar as linguagens técnicas usadas nas profissões: a linguagem
da informática, do teatro, do mundo dos negócios, por exemplo. Entendendo
também que a cultura não está necessariamente ligada a nacionalidade. Ou seja,
dentro de uma nação podemos ter culturas diferenciadas.
Lebaron (2003) argumenta que a cultura é parte indispensável do conflito e da
solução de conflitos. De acordo com a autora a cultura molda a forma como vemos a
nós mesmo, ao outro e tudo ao nosso redor. A cultura forma o nosso perfil a ponto
de nos dizer o que será entendido como realmente sendo significante ou importante
para nós mesmos. Os assuntos que iremos nos importar mais, ou menos. Por isso a
cultura nos traz um senso comum do que é natural e esperado e quando outros
praticam atos não condizentes com nossas expectativas tendemos a fazer
julgamentos e más interpretações. Esquecendo que o senso comum também é
cultural, ou seja, as expectativas de um grupo pode não ser a mesma de outros
grupos. Uma vez que a cultura nasce nas relações humanas, podemos dizer que a
cultura está presente em todos os conflitos, desde guerras a mesa de negociações.
No que diz respeito as relações comerciais Brasil-China Oliveira (2012)
salienta que desde os anos 1960, quando o Brasil passou a orientar sua inserção
econômica através da diversificação das relações comerciais a Ásia tem sido um
parceiro importante para o Brasil ainda que estivesse atrás dos Estados Unidos, da
UE e da ALADI. Porém no final da primeira década do século XXI essa importância
foi de fato consolidada no momento em que a china passou a ser o maior parceiro
comercial Brasileiro em detrimento dos EUA.
23
No entanto a situação atual diz respeito ao fato da China ter colocado o
comércio internacional como sendo o centro do seu modelo de desenvolvimento. A
aproximação do Brasil revela também uma aproximação da própria América Latina
que vinha tendo pequenas participações no comércio chinês. Além de ser claro um
movimento para ampliação do mercado consumidor e de tentar diminuir a
dependência em relação a esse e à matéria prima advinda e dos países
desenvolvidos. Apesar do interesse brasileiro na China ser maior a recíproca
também é verdadeira. Se por um lado o Brasil é um cliente de produtos
manufaturados por outro é uma importante fonte supridora de matérias-primas. O
que torna a relação dos dois países uma relação simbiótica, embora em maior ou
menor gral para os dois países.
3.1.1 Ambiguidades e contradições
Há dentro da literatura, ainda que em menor expressão, um grupo de
conceitos que relacionam cultura e aos negócios. Esses conceitos buscam interligar
o mundo das organizações e seus ambientes externos, ou seja, os mais diversos
ambientes em que estas operam.
Dentro da literatura concernente ao tema existem dois grupos de conceitos
principais: a cultura Davos e a cultura de negócios. Esses conceitos correlacionam
cultura e os processos culturais globais que acompanham as transações
econômicas e financeiras no universo das organizações (BARROS, 2002).
Ainda segundo Barros (2002) o termo cultura Davos foi cunhado devido ao
fórum mundial econômico que acontece todos os anos em Davos, na Suíça. Os
criadores do termo, Berger e Huntington, definem Davos como um dos quatro
processos de globalização que estão em andamento no mundo. Os outros dizem
respeito à cultura acadêmica, cultura mcworld e protestantismo evangélico. Para os
autores esses processos se relacionam entre si e influenciam as culturais locais com
as quais interagem.
A cultura Davos ocorre simultaneamente aos processos econômicos globais,
difundindo seus valores, sua dialética e sua própria maneira de perpetrar negócios.
A elite frequentadora das rodas de negociações internacionais e transnacionais
24
torna-se um dos principais meios de disseminação desta cultura. No entanto, a
cultura Davos não se restringe a alta cúpula das negociações e as grandes
organizações, ela atinge também a vida familiar da própria elite participante, e assim
vai permeando a sociedade em geral (CHRISTOPHER, 2012).
O conceito de Cultura de Negócios é um conceito complementar ao de cultura
Davos. Pois este não focaliza no estilo de vida ou compromissos práticos da elite
participante dos grandes fóruns econômicos. Esse conceito busca entender os
processos que são colocados em prática a partir dos fluxos econômicos e
financeiros globais. Este conceito se divide em três partes principais: a primeira
busca entender como é produzido o conhecimento de negócios e qual é a melhor
forma de gerenciá-lo, a segunda elenca os processos culturais que permeiam a
transmissão de conhecimento e informação contidos na cultura de negócios e a
terceira sobre os princípios lógicos e valorativos que permeiam as teorias sobre
negócios (BARROS, 2012).
A cultura de negócios pode ser definida como uma série de fluxos culturais – repertórios de imagens, valores, símbolos e significados – que permeiam
o discurso e a atividade empresarial e gerencial das empresas transnacionais, multinacionais e/ou globalizadas. (BARBOSA, 2002, p 3.)
Estes fluxos são como esboços ideológicos do mundo dos negócios, buscando
assim explicar e justificar as constantes mudanças tecnológicas e gerenciais no
mundo corporativo. Esses esboços ideológicos se apoiam na ideia da quebra do
paradigma que mudou o mundo e os mercados locais do que estávamos
familiarizados. Por meio de discursos, valores e símbolos a cultura de negócios
busca justificar as mudanças ocorridas e a ponto os rumos que deve ser tomado
para que as organizações continuem desempenhando suas funções com sucesso.
A cultura de negócios é voltada para a ação, seguindo assim o pragmatismo
que permeia este mundo. Nesse sentido a geração do conhecimento deve estar
alinhada com a prática, de maneira que permita intervir na realidade a fim de alterá-
la de acordos com seus objetivos previamente estabelecidos. O conhecimento a
penas pelo saber tem pouco valor nesse mundo prático. Esse precisa agregar valor
no curto prazo. Predomina nesse universo a lógica e a racionalidade nas decisões
(BARROS, 2012).
25
3.1.2 Estilos de Negociação
Com a globalização das economias as negociações internacionais passam a,
não só mente fazer parte no dia a dia das nações, mas também a terem um papel
central na agenda das mesmas. Seja em acordos bilaterais, nos grandes fóruns
internacionais, a frente de instituições reguladoras de assuntos internacionais, em
fóruns empresariais e acordos regionais.
Uma negociação internacional traz imbuída em sim maiores riscos que uma
negociação doméstica. Pois se inclui nessa conta leis estrangeiras, moedas
diferenciadas. Porém o risco maior em uma negociação como essa é o
desentendimento entre as partes. Risco esse imposto pelas diferentes culturas,
pelas diferentes personalidades e pelos diferentes métodos e estilos de negociações
(BOJIKIAN, 2009).
A cultura é de suma importância para as negociações internacionais, não só
no estágio de desenvolvimento e troca de propostas para atingir o acordo
negociado, mas também no próprio resultado da negociação. Assim uma vez sendo
conhecidas as habilidades e comportamentos da sua e de outras culturas, é possível
antecipar e compreender as diferentes atitudes e reações que sua contraparte
desenvolverá ao longo da negociação e assim responder confiantemente as
estratégias do interlocutor, para que se alcance o acordo aspirado (MORIN, 2008).
A palavra negociação poderia ser substituída por comunicação sem perda do
sentido, por para o mesmo os conceitos se equivalem uma vez que para ele:
A negociação é o processo de buscar a aceitação de idéias, propósitos ou interesses, visando ao melhor resultado possível, de tal modo que as partes envolvidas terminem a negociação, conscientes de que foram ouvidas, tiveram oportunidades de apresentar toda sua argumentação e que o produto final seja maior que a soma das contribuições individuais. (GODINHO;MACIOSKI, 2000, p. 147)
Ainda segundo Godinho e Macioski (2000) o negociador catalisador é aquele
que é demasiadamente criativo, está sempre com ideias novas e é inovador por
natureza. Por tais caraterísticas é às vezes entendido como utópico ou superficial.
Tem necessidade pelo reconhecimento, é mais sincero e às vezes recebe pouca
credibilidade. O apoiador tem seu foco no ser humano em detrimento de processos
trabalhistas, é altamente sociável e sempre quer agradar. Tais caraterísticas as
26
vezes o fazem parecer lento e incapaz de cumprir prazos, pois está sempre
preocupado com sua contraparte. É mais receptivo e menos coerente.
Nesse processo de negociação o papel de destaque fica por conta das
habilidades técnicas (método e procedimentos), do conhecimento da sua contraparte
( estilo de negociação, pontos fortes, pontos fracos.) e por fim o conhecimento do
negócio em si, do objeto da transação. Quanto aos diferentes estilos de negociação
identifica-se quatro estilos básicos nos quais podemos encaixar os diferentes
negociadores. São eles: catalisador, apoiador, controlador e analítico
(GODINHO,MACIOSKI. 2000).
O estilo controlador é marcado pelas decisões rápidas, adepto da cultura do
“time is money”, não faz rodeios, é organizado, conciso e objetivo. Preza pelo
alcance dos resultados. É mais coerente e menos receptivo. Pode não trabalhar em
grupos por estar sempre acostumado a pensar e agir só e agilmente
(GODINHO,MACIOSKI. 2000).
Por fim o estilo analítico adora obter o máximo de informações possíveis, por
isso está sempre fazendo perguntas. Dá grande ênfase nos procedimentos e
pequenos detalhes. Demonstra mais credibilidade e menos clareza. Precisa de
muita segurança para agir o que pode tornar suas decisões mais lentas e perder
algumas oportunidades por não trabalhar com riscos (GODINHO,MACIOSKI. 2000).
Cada pessoa é um ser humano único e exclusivo com diferentes planos de
fundos de vida, experiências e histórias com que fara que cada negociação também
seja única em si. No entanto saber seu estilo e o estilo da sua contraparte é
estritamente importante para a obtenção do êxito na negociação. Uma vez que não
é possível determinar 100% o comportamento humano esses estilos básicos nos
ajudam a entender como lhe dar com cada universo. É de extrema importância que
os negociadores se adaptem uns aos outros, mas ao mesmo tempo sejam
pragmáticos.
27
3.1.3 Como negociar além das fronteiras
Além dos protocolos formais que uma negociação internacional geralmente
exige outro fator, há muito negligenciado, tem sido preponderante para o êxito das
mesmas. Após aprender a duras penas cada vez mais tem se reconhecido a
importância de se entender as diferentes formas de se chegar a um acordo em
diferentes partes do mundo.
É necessário ter em mente que em uma negociação sempre estamos a lidar
com pessoas, porém estas representam uma determinada organização. O primeiro
passo é identificar os processos de tomada de decisão e quem são os tomadores de
decisões e quais são as influências que podem prejudicar esse acordo. É comum
que em uma negociação terceiras partes estejam envolvidas, como por exemplo, os
órgãos reguladores e fiscalizadores e outros participantes “extras” que podem variar
de país para país (SEBENIUS, 2002).
Na Republica Popular da China, por exemplo, membros do governo são parte
integrante das equipes de negociações mesmo de empresas privadas. Por isso não
baste conhecer sua contraparte, você precisa saber o papel desempenhado por
cada um na equipe. Negociadores internacionais bem-sucedidos devem começar
descartando pressupostos interno e esboçar um mapa sobre os participantes que
terão parte e influenciarão no processo de decisão, seja de maneira formal ou
informalmente, para então desenhar sua estratégia (SEBENIUS, 2002).
Saber os participantes desse processo e suas respectivas funções, no
entanto, é só metade do trabalho que precisa ser desenvolvido. Embora pessoas
liderem as negociações o que precisa ser mudado em uma negociação é uma
cultura organizacional muitas vezes já sólida que vai variar de cultura para cultura.
Segundo Sebenius (2002) há em geral três tipos de processos de negociações
sendo eles: de cima para baixo, de consenso e de construção de coalizão em
etapas.O processo de cima para baixo é aquele onde a negociação é feita
diretamente com o “todo poderoso” que toma as decisões unilateralmente. Nesse
caso dar informações ou fazer concessões a pessoas fora do circuito deve ser
evitado. Um bom negociador evita tomar decisões com interlocutores secundários,
que são bons mensageiros, porém não possuem nem um poder de decisão
28
relevante. Busca-se, no entanto a interação com o chefe responsável pelas decisões
ou com que tenha poder de influência sobre o mesmo.
O processo de consenso é muito comum na Ásia. Este pode envolver
diferentes variáveis. Dependendo da negociação em suma este pode envolver
membros das duas equipes da negociação, a empresa inteira, partes externas que
tenha algum interesse e até mesmo o governo. Devida à necessidade de consenso
da sua contraparte você precisa ter um mapa bastante detalhado das partes
envolvidas nesse tipo de negociação. Além disso, culturas consensuais tendem a
focar nos relacionamentos mais do que nas negociações é preciso estabelecer uma
relação prévia para se começar a negociar. Devido à multiplicidade de atores e o
que podem estar envolvido nesse tipo de negociação o nível burocrático é altíssimo,
então é preciso que você adéque seus prazos e também o da organização que você
representa(SEBENIUS, 2002).
Ainda para Sebenius (2002) coalizão por etapas é um processo menos
definido que muitas vezes não necessita da aprovação de todos os participantes,
mas sim de um grupo que suficiente, ou seja, a “coalizão preponderante” que saiba
de maneira eficaz contornar as opiniões divergentes. Por outro lado uma “coalização
contrária” pode obstar uma proposta. É preciso saber lhe dar com os interesses e
com as escolhas prováveis dos participantes para evitar a formação de coalizões
antagônicas.
Apesar de entender a cultura da pessoa que está a sua frente em uma mesa
de negociação seja extremamente importante, cada individuo em sim representa
várias culturas. Além de analisar a cultura do individuo é preciso analisar também as
estruturas por de trás dele. Torna-se então fundamental a análise das estruturas de
poder e tomada de decisões que variam de país para país.
3.2 A cultura dos negociadores
Nessa sessão buscar-se-á o entendimento da importância de conhecer os
negociadores e a suas respectivas culturas, interpretando-os como tomadores de
decisões que tem crenças e caraterísticas pessoais, mas também são moldados por
29
estruturas e por suas sociedades. Por fim serão usadas as teorias de Hofstede e
Hall para então esboçar traços caraterísticos dos negociadores brasileiros e
chineses, traçando um paralelo comparativo entre esses.
A sociedade humana cresceu e se expandiu por todo o globo terrestre,
adquirindo então diferentes hábitos, costumes, tradições. Algumas conectadas com
seu passado, seus ancestrais, outras relacionadas ao seu novo modo de vida, e
localização geográfica. O fato é que apesar de encontrarmos similaridades entre
diferentes culturas, acentuam-se também as diferenças entre as diversas culturas
existentes.
Apesar de muito se falar sobre a diminuição das fronteiras devido à
globalização — e por consequência o aumento da similaridade comportamental
entre sociedades — o presente trabalho, no entanto, reitera que as diferenças
culturais são ainda pujantes. Não negando assim o fator da globalização, mas sim
rejeitando a ideia de que esta impõe uma forma comportamental capaz de moldar as
diferentes culturas a um padrão único.
Tantas são as diferenças, que existem áreas do saber específicas para
estudá-las. É o caso da Antropologia Cultural, que busca entender o comportamento
humano de acordo com suas crenças e símbolos (REZENDE, 2009). Essa ciência
busca compreender quem somos a partir da observação do que não somos, ou seja,
a partir da observação do outro, do diferente, entendermos nossa própria natureza.
Aprendermos também que diferente, não significa estranho e sim não idêntico. As
nossas caraterísticas, aquilo que nos torna idênticos ou diferentes, são reflexos da
nossa vida em sociedade. Nossas maneiras de se expressar, de se comunicar, de
se comportar em geral foram aprendidas devido à vida em sociedade (REZENDE,
2009). . Dado a existência de diferentes sociedades que compõe o nosso globo em
algum momento nos encontramos iguais a alguns e diferentes de outros.
Como salienta Rezende (2009, p. 9) diferentes definições de cultura foram
cunhadas, no entanto, no presente capítulo o importante não é destrinchá-las e sim
perceber que os diferentes conceitos formulados nasceram da percepção dos
diferentes modos de vidas entre povos e nações. Principalmente a partir do
expansionismo europeu em busca de riqueza que pudessem ser exploradas e de
novos mercados consumidores. Ao se depararem com civilizações diferentes ou
nativas, crescia a necessidade de entender o outro para abrir portas para o comércio
30
ou exploração. Saber o fundamento da sua existência sempre foi uma pergunta que
intrigou os homens, por isso este está sempre procurando entender e explicar as
coisas ao seu redor. Nesse busca incessante pela compreensão do eu, descobrimos
também o outro.
O processo de descoberto do outrem nos facilita a comunicação, a
aproximação e a interação com este. Como vimos anteriormente desde o
expansionismo europeu essa relação de conhecer, buscar entender é importante
para estabelecer relações, independentemente de suas naturezas (MELO, 2012).
Trazendo o aspecto cultural para o universo das negociações internacionais,
que são cada vez mais comuns, não notamos muita diferença. Talvez a maneira de
se estabelecer relações tenha mudado, mas a percepção reconhecimento de que o
outro é diferente e pode ter maneiras de agir e pensar diferentes da sua precisa
permanecer na mente de todo e qualquer negociador internacional.
Como bem salienta Hall (1990 p.3) cultura é comunicação e essa opera
dentro de sua própria lógica, e regras, sejam elas escritas ou apenas tácitas.
Entender os elementos expressos nesse processo de comunicação é descobrir uma
nova linguagem não expressa, não convencionada que surge a partir de
experiências do dia a dia das pessoas em sociedade. Aprender, no entanto, essa
linguagem silenciosa que permeia as diferentes sociedades é mais complexa do que
parece, porém é de extrema importância para os negociadores transculturais.
Não podemos esquecer ainda que cada indivíduo é único em seu ser e
independente da cultura em que este tenha crescido, convivido e aprendido ele
possui caraterísticas próprias que talvez seja exclusivamente sua. No entanto traça-
se padrões de comportamento na tentativa de compreender as diferentes culturas da
melhor forma possível na hora de planejar ou estabelecer estratégias para uma
negociação (REZENDE, 2009). Sendo assim alguns autores buscaram descrever o
estilo de negociação das diferentes sociedades, das diferentes culturas e nações.
Uma vez que o presente trabalho aborda as relações Brasil – China buscar-se-á na
literatura padrões comportamentais identificados, por estudiosos do tema, no estilo
de negociação de cada país.
31
3.2.1 Brasil e China Segundo Hofstede
Primeiramente observar-se-á a cultura dos dois países a partir do modelo de
Hofstede e suas quatro dimensões. A seguir um gráfico comparativo Brasil – China,
segundo as dimensões de Hofstede. Sendo essas dimensões: distância hierárquica
(PDI), coletivismo versus individualismo (IDV), masculinidade versus feminilidade
(MAS) e o controle da incerteza (UAI):
FIGURA 01: Brasil – China segundo Hofstede
Fonte : Disponível em: http://geert-hofstede.com/china.html Acesso em 25 de Nov de 2013
Analisando o gráfico correspondente ao Brasil x China é possível inferirmos:
32
Quanto à distância hierárquica
Indica que o Brasil é um país que acredita que a hierarquia deve ser
respeitada e aceita a desigualdade entre as pessoas. As empresas concentram o
poder geralmente e um chefe que é o principal responsável pelos negócios. Status e
símbolos de poder são importantes para indicar a posição social que o individuo
ocupa e comunicar o nível de respeito com que o mesmo deve ser tratado.
Os números Chineses vão ainda além, fazendo com que a china ocupe o topo
do ranking. Onde a desigualdade é algo corriqueiro e totalmente comum, a relação
entre empregados e chefia é abusiva e não existe nenhuma defesa contra o abuso
de poder por parte da chefia. As pessoas não devem ter aspirações superiores a sua
classe social.
Coletivismo V.S. Individualismo
Mostra que os indivíduos da sociedade brasileira estão agregados em grupos
com forte fator de influência sobre suas vidas. Especialmente representada pela
parentela nesse contexto. Caraterística essa que se reflete no meio das
negociações, pois em ordem de estabelecer relações duradouras e de confiança, a
exemplo do que se acontece nas famílias, as reuniões tendem a começar com
conversas mais genéricas a fim de se conhecer mais sua contraparte. Os
negociadores tendem a falar demasiadamente e escrever de forma elaborada.
Os números apontam que a sociedade chinesa é altamente coletivista, onde
as pessoas agem de acordo com o interesse do grupo e não de si mesmas. No
ambiente corporativo há pouco comprometimento dos trabalhadores com as
empresas, as relações pessoais prevalecem sobre as tarefas e a companhia.
33
Masculinidade V.S. feminilidade
Com 49 pontos o Brasil está praticamente no meio. Ocupa essa posição por
demonstrar empatia ao próximo, solidariedades aos oprimidos, à valorização e
incentivo de valores como esses. No ambiente dos negócios os conflitos tendem a
ser evitados, e o consenso no final de uma negociação se mostra importante.
Já a sociedade chinesa com 66 pontos, se revela uma sociedade masculina.
Dirigida e orientada pelo sucesso. Em ordem de alcançar o sucesso deixasse de
lado coisas como família e lazer. São determinados em buscar o sucesso em
números, sempre ligando muito para pontuações e colocações em rankings como
medidores do sucesso.
Quanto ao controle da incerteza
No tocante da incerteza o Brasil mostra ampla necessidade de regras e leis
para estruturação da vida. Ou seja, uma rejeição a incerteza que é desenhada por
enorme burocracia, leis e regras que tentam de alguma forma tornar o ambiente
mais seguro. Essa estrutura se reflete também no mundo dos negócios. Os
negociadores podem expressar essa aversão pela ansiedade, emotividade e até
mesmo intolerância.
Quanto ao controle da incerteza a China, ao contrário do Brasil, apresenta
baixa aversão à incerteza. A verdade pode ser relativa. Pode se até estabelecer
regras, mas elas não precisam ser leis. Enfrenta-se normalmente situações
ambíguas, até mesmo a língua chinesa é cheia de ambiguidades. Têm
características empresariais e empreendedoras.
34
3.2.2 Brasil e China Segundo Hall
Uma cultura de baixo contexto é caracterizada pelo uso da linguagem como o
principal meio transmissor das informações na comunicação. As mensagens são
explicitas. A burocracia (o uso de papéis legais) é essencial e os negócios são
firmados fundamentos em análise documental, estatística da sua contraparte em
detrimento de valores, posição na sociedade e caráter. Outra característica das
culturas de baixo contexto é a objetividade. A visão monocrômica de que tempo é
dinheiro. Além disso, tendem a resolver cada coisa de uma vez (HALL. 1988, apud
KEEGAN; GREEN, 1999). Ainda de acordo com Hall (1988, apud KEEGAN;
GREEN, 1999) Contrariamente, nas culturas de alto contexto a verbalização da
mensagem detém menos informação. A mensagem em sim está implícita no
contexto da comunicação, assim como nos antecedentes e valores dos
comunicadores. As palavras dos indivíduos bastam como garantia, sendo de pouco
valor as formalizações escritas. A própria cultura traz intrínsecos a ela sentimentos
de obrigação e dever que desabona a necessidade da previsão de sanções em um
acordo.
Por isso é de grande importância, em uma cultura de alto contexto, conhecer
a contraparte. O que explica negociações longas e pouco objetivas. A orientação
temporal policrômica compreende que tudo deve ser feito em seu próprio tempo.
Podemos ver alguma das principais diferenças entre as culturas de alto e baixo
contexto no quadro abaixo:
FIGURA 02: High Context Culture x Low Context Culture
Factor High-context culture
Low-context culture
Overtness of
messages
Many covert and implicit messages, with use of metaphor
and reading between the lines.
Many overt and explicit messages that are simple and
clear.
Locus of control and attribution for failure
Inner locus of control and personal acceptance for
failure
Outer locus of control and blame of others for failure
35
Use of non-verbal communication
Much nonverbal communication More focus on verbal
communication than body language
Expression of reaction Reserved, inward reactions Visible, external, outward
reaction
Cohesion and separation of groups
Strong diistinction between ingroup and outgroup. Strong
sense of family.
Flexible and open grouping patterns, changing as needed
People bonds Strong people bonds with affiliation to family and community
Fragile bonds between people with little sense of loyalty.
Level of commitment to relationships
High commitment to long-term
relationships. Relationship more important than task.
Low commitment to
relationship. Task more important than relationships.
Flexibility of time
Time is open and flexible.
Process is more important than product
Time is highly organized.
Product is more important than process
Fonte: Disponível em: www.changingminds.org/explanations/culture/hall_culture.htm. Acesso em 10
Out. 2013.
Apesar de Brasil e China serem considerados países de cultura de alto
contexto algumas diferenças podem ser esboçadas. Apesar de ambos os países
pertencerem a uma mesma categoria é possível notar diferenças, em relação a
figura a cima, de comportamento em alguns fatores tais como “Expressão de
Reação” onde a China adota uma postura de país de High Context culture
(expressões reservadas sem demonstração explícita de suas opiniões), enquanto o
Brasil adota uma postura de Low Context culture (sinalização explícita de sua
opinião) (FERNANDES, 2008).
É natural que países pertencentes a uma mesma categoria cultural se
diferenciem em alguns pontos. São nestes pontos que se faz necessária atenção
dentro de um processo de negociação entre chineses e brasileiros, já que é aqui que
podem nascer conflitos irremediáveis. Porém até mesmo em pontos convergentes os
conflitos podem aparecer, como podemos ver no exemplo:
Tanto chineses quanto brasileiros tendem a buscar a criação de um
relacionamento fora da mesa de negociação mostrando interesse pela vida pessoal da outra parte envolvida na negociação, incluindo aqui realizar atividades sociais tais como jantares e almoços. No entanto, apesar desta
semelhança aqui reside um possível ponto de conflito. Apesar da necessidade de tantos chineses quanto brasileiros criarem um
relacionamento com quem se negocia, a forma que cada um desenvolverá
36
este relacionamento será diferente. Este poderá ser um possível foco de conflito. (FERNANDES, 2008, p. 68).
Além das referidas teorias outras peculiaridades comportamentais são apontadas como sendo características aos negociadores de Brasil e China, como
veremos na seguinte subseção.
3.2.3 Negociadores Brasileiros e Chineses: características gerais
Além das teorias, a respeito dos negociadores brasileiros e chineses,
exploradas nesta sessão outras caraterísticas e estereótipos aparecem quando se
fala dos negociadores dos respectivos países. Ao longo desta sub-sessão
pontuaremos algumas dessas características que nos diferem ou nos assimilam aos
negociadores chineses. Como podemos ver no trecho abaixo:
a) emoção, no Brasil ao contrário do que ocorre na China a emoção é demonstrada através dos sentimentos das pessoas; b) comunicação, tanto
na cultura brasileira quanto na cultura chinesa a comunicação é dada de forma indireta, diante disto a semelhança das duas culturas contribui de
forma positiva para as negociações; c) como negociam, os brasileiros são caracterizados por terem seus interesses voltados ao lucro à curto-prazo, os chineses, por outro lado, se caracterizam por suas negociações à longo-
prazo; d) contratos de negociação, neste aspecto os brasileiros são mais detalhistas do que os chineses, os quais não dão muito valor ao contrato,
valorizam muito mais a palavra do negociador; e) valorização pelo status pessoal, tanto os brasileiros quantos os chineses valorizam o status na
sociedade; e) cargo da pessoa que representa a empresa, o chinês valoriza muito o cargo da pessoa que representa a empresa na negociação, no Brasil esta questão também é valorizada, porém, não é vista de forma tão
evidente quanto na China; f) relações pessoais, o chinês necessita conhecer bem o seu parceiro numa negociação, por isso os encontros
sociais são fundamentais para se estabelecer uma relação de negócios, no Brasil as atividades sociais também fazem parte dos negócios, embora isto
não seja visto como peça fundamental para a negociação; g) decisões, no Brasil as decisões de negócios são rápidas e arriscadas, na China, porém, as decisões requerem um tempo mais prolongado. (BALDI; GREGIANIN;
HOLADA;SOUZA, 2007. P. 13).
A China é a mais antiga civilização mundial existente, portanto apresenta uma
história cheia de realizações culturais sofisticadas, dinastias governamentais e
estratificação social (ACUFF, 2004). Por isso seus negociadores são considerados,
por diversos autores, como formais na hora de fazer negócios. Em contraposição os
brasileiros tendem a ser mais adaptáveis a outras culturas pela sua própria historia
como colônia, onde diferentes povos desembarcaram em terras brasileiras. Como
saliente Pinto (2013) a miscigenação de brasileiro, escravos, portugueses e outros
37
trabalhadores estrangeiros criou esse ambiente propício de aceitação e adaptação
aos diferentes estilos de vida. O seguinte quadro aponta algumas semelhanças
entre os negociadores chineses e brasileiros:
FIGURA 03 – Semelhanças e diferenças culturais entre Brasil e China.
Fonte: Disponível em: http://www.ifbae.com.br/congresso4/pdf/B169.pdf. Acesso em 30 de out
de 2013.
É nesse cenário de diferentes estilos de negociação, de diferentes culturas e
caraterísticas que emerge a necessidade de um negociador capaz de perceber
essas diferenças e fazer uma leitura das mesmas. Sabendo interpretar os riscos e
as oportunidades, sendo capaz de evitar, manejar e contornar conflitos
(STEPANSKI;COSTA, 2012).
38
4. Conclusão
Diante do questionamento inicialmente apresentado a respeito do papel das
culturas nas negociações internacionais. Conclui-se que o mesmo vem sendo
identificado ao longo das ultimas décadas, pelos mais renomados autores, como um
tema digno de atenção para os negociadores internacionais. Questionamentos como
esse surgiram principalmente no pós-guerra com as críticas que surgiram ao
realismo e a necessidade de entender o que levava o homem a guerra.
A partir desses estudos notou-se que as diferenças culturais entre as mais
variadas sociedades poderiam se tornar uma barreira para se conquistar os mais
diversos objetivos. Sejam elas comerciais, políticas, econômicas ou de qualquer
outra natureza. Encontramos, então, na literatura diversos autores falando sobre as
diferenças culturais nas sociedades, percepção do outro, imagens e negócios
transculturais. Temas subjetivos no campo das Relações Internacionais, mas que na
dinâmica do mundo atual, o mundo do poder difuso representado pelo tabuleiro de
três dimensões de Joseph Nye (2011), é de extrema importância. Diante da revisão
bibliográfica conclui-se também que em relação ao Brasil parece haver uma lacuna
de estudos mais enfáticos e profundos na temática. Não ignorando o trabalho de
estudiosos como os de Andréa Sebben, Cristina Pecequilo e tantos outros. Mas
ainda assim reforçando a necessidade de mais estudos sobre o tema,
principalmente no campo das Relações Internacionais, visto que parte considerável
da literatura a respeito desta temática emana da antropologia. Quanto à
globalização, não há duvidas de que essa propaga valores universais moldando
comportamentos e criando caraterísticas globais. Criando por exemplo um estilo de
negociador internacional. No entanto as diferenças ainda são bastante pujantes, ao
passo que não podem ser simplesmente ignoradas e colocadas todas dentro de uma
forma chamada mundo globalizado. Comportamentos, costumes e hábitos diferentes
continuam existindo principalmente entre sociedades tão distintas como a
sociedade brasileira e a milenar sociedade chinesa.
39
Quanto aos aspectos culturais das sociedades brasileiras e chinesas vimos
que as teorias que as abordaram nesta pesquisa as colocam lado a lado, ou seja
pertencentes aos mesmos grupos culturais no que concerne ao estilo de negociação
e de seus negociadores. No entanto até as referidas teorias reconhecem que
existem diferenças nos estilos de negociação e dos negociadores. E que até mesmo
nas similaridades pode haver diferenças, na maneira de conduzir as coisas.
Conclui-se então que a cultura é sim parte fundamental no processo de uma
negociação transcultural e que Brasil e China são países com caraterísticas e
comportamentos bem distintos, mas com jeito similar de negociar.
40
REFERÊNCIAS
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REVISTA PESANTA. VOL 42. SÃO PAULO, SP. 2002.
BOJIKIAN, NEUSA MARIA PEREIRA. ACORDOS COMERCIAIS INTERNACIONAIS: O BRASIL
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PROGRAMA SAN TIAGO DANTAS DE PÓS-GRADUAÇÃO. 2009. 272 P
CATEORA, PHILIP R. Strategic international marketing. Illois: Dow Jones - Irwin,
1985. 428 p.
CHRISTOPHER, ELIZABETH. INTERNATIONAL MANAGEMENT: EXPLORATIONS ACROSS
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FERNANDES, Maria Fernando Gomes. Negociações Brasil e China: seus
principais aspectos culturais. (monografia). Rio de Janiero, RJ. 2008.
FOOT, Rosemary; WALTER, Andrew. China, the United States and the global
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HARRISON, Lawrence E.; HUNTINGTON, Samuel p. A cultura importa: Os valores
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