a influÊncia africana no portuguÊs do brasil - mudanÇas condicionadas por fatores linguÍsticos e...

24
A Influência Africana no Português do Brasil: mudanças condicionadas por fatores linguísticos e culturais presentes na fala em Itaituba-PA Acadêmica: Amanda Gonçalves Bento Letras – V Período - 2015 II SIMPÓSIO DE LETRAS E HISTÓRIA – FAI - 2015

Upload: amanda-bento

Post on 11-Aug-2015

18 views

Category:

Education


1 download

TRANSCRIPT

  1. 1. A Influncia Africana no Portugus do Brasil: mudanas condicionadas por fatores lingusticos e culturais presentes na fala em Itaituba-PA Acadmica: Amanda Gonalves Bento Letras V Perodo - 2015 II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA FAI - 2015
  2. 2. Da mesma forma que o homem portugus amou e procriou, fazendo surgir, por onde passou, sociedades mestias, miscigenadas, o lxico portugus absorveu palavras de lnguas de povos que viveram na Pennsula durante a fase embrionria do idioma, assim como deu guarida a um vocabulrio novo designativo de coisas e costumes que espargiam de cada cidade, de cada vila, e, tambm, das mais distantes aldeias, seja na frica, no Brasil ou na sia. (Vargens, 2006: 238) Gilberto Freyre Casa grande e senzala. Martinet Conceitos fundamentais da lingustica Renato Mendona A influncia africana no portugus do Brasil. (fatos fontico-fonolgicos determinantes das variantes regionais e/ou sociais do Portugus do Brasil) II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA 1
  3. 3. Bonvini (2008) diz que h trs situaes distintas: a) Palavras de origem africana chegaram ao Brasil e mantiveram, integral ou parcialmente, seu som e seu sentido inicial de partida. b) Palavras de origem africana chegaram ao Brasil, mas desprovidas de seu sentido africano inicial, tendo adquirido, desde sua chegada, um sentido diferente e novo. Por isso seu sentido de origem, no tendo chegado ao Brasil, teria ficado do outro lado do Atlntico. c) O sentido inicial de partida, isto , aquele atestado no continente africano, teria chegado ao Brasil, mas sem o vocbulo africano que lhe servia de suporte. Seria este ltimo, desta vez como suporte, que teria ficado na frica. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA 2
  4. 4. RELAO LNGUA, SOCIEDADE E CULTURA II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA 3 No se pode estudar a lngua sem relacion-la com a sociedade e a cultura nas quais o falante est inserido. No caso dos africanismos incorporados lngua portuguesa do Brasil, os costumes, as tradies, as comidas, as msicas trazidas pelos negros escravos foram determinantes no apenas no aspecto lxico, mas tambm no aspecto fontico-fonolgico. BARBOSA (1993)
  5. 5. A CULTURA NEGRA E A CULTURA BRASILEIRA II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA RELIGIES AFRICANAS CATOLICISMO ESPIRITISMO CRENAS OU RITUAIS INDGENAS CANDOMBL, MACUMBA, UMBANDA, JUREMA, TAMBOR DE MINA, TAMBOR CRIOULO, TAMBOR DE NAG, XANG E BABACUL, ENTRE OUTRAS DENOMINAES. 4
  6. 6. BUMBA-MEU-BOI SANTARM II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA MARACATU CONGOS 5 Boi-bumb, Boi-de-pano, Boi-de-mamo ou Boi-de- reis, dependendo da regio onde apresentado, um folguedo do perodo natalino indo at o perodo do carnaval. O Bumba-meu-boi do Maranho um dos mais famosos do Brasil. Chamados de Pretinhos do Congo, Congada ou Congado, so formados por grupos de homens, geralmente onze, em que se destacam trs personagens: o rei, o secretrio e o embaixador. H um cortejo, um texto dramtico, msica, dana, trajes e adereos especiais. So grupos carnavalescos pernambucanos, originados nos desfiles processionais africanos. Compreende o squito real, acompanhado de um conjunto de percusso, com tambores, chocalhos e agogs. Muitos outros dos chamados folguedos populares de origem africana
  7. 7. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA Jogando Capoeira CULINRIA JOGOS MSICA 6
  8. 8. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA INFLUNCIAS DO AFRICANO NOS FALARES Yda Castro, [...] a insuficincia de documentao histrica, de bibliotecas especializadas, de documentos lingsticos da poca da escravido [...] ASPECTOS FONTICO - FONOLGICOS 1 Iotizao do lh O rapaz foi agazai os animais Tudo h de espaia-se.. 7 Antnio Houaiss, A poltica sistemtica seguida pelo Brasil para com os negros foi, desde o sculo XVI, glotocida - isto , matadora de suas lnguas.
  9. 9. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA 2 Semivocalizao do / L / alta (auta) maldade (maudade) 3 Abertura das vogais pretnicas (slaba no tnica) melodia crao () = mlodia () = corao 4 Nasalizao das vogais orais que antecedem consoantes nasais canal (canalllll) nariz (narizzzzz) 5 Assimilao registro [h ziS tu] fui arezist meu fij 6 Monotongao caixa (caxa) deixar (dexar) (...) Desocupe o palao. (palcio) 7 Ditongao trs (tris) ms (mis) 8 Palatalizao do t e d, antes de / i, u / dia teatro 9 Vocalizao do / l / final em / w / Brasil (Brasiu) malvada (mauvada) 10 Apcope do l, r, e s finais sal (s) casar (cas) costas (costa) Bom dia, pedra, aqui j ser faci deu encontrar uma moa p cas? Vai d certo, se Deus quiz Que dia mais ou meno ns vamo... 8
  10. 10. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA 11 Afrese est (t), esto (to), estava (tava) [...] que to (esto) ali no acero da estrada O homem andou, andou, andou, maginando (imaginando) 12 Sincope do d no grupo nd passando (passanu) comendo (cumnu) Quereno me d a pataca [...] Quano chegou adiante [...] 13 Suarabcti claro (cilaro) flor (fulor) A noite tava quilara [...] A ful queu mais gosto o cravo ASPECTOS FONTICO - FONOLGICOS 14 Dissimilao nega (nego) moo (moa) O nego tava danado de raiva 15 Perda da Nasalizao Final comeram (cumera) estavam (istava) [...] saiu numa carruage [...] Um cas eram jove,... 16 Mettese do r ps-voclico pedra (preda) Pruqu voc num vai armoar? O vrido da janela se quebrou. 17 Lambdacismo sofre (sofle) aprender (aplender) [...] sou um veio que anda piligrinano 18 Rotacismo Planta (pranta) problema (probrema) [...] e num gosto de farsidade. 9
  11. 11. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA 1 Supresso da marca redundante de plural [...] as fia ia pra l morar [...] Ai os velho disse [...] 2 Prtese do s e m na juntura de palavras na frase, agregando- se palavra seguinte [...] em cima da besta e foi simbora. Vou mimbora [...] (UNC), com a variante umbora. Umbora armoar 3 Repetio enftica da negativa No sou camarada raposa no Isso no vale de nada no, mas eu vou ver. 4. Uso do ele acusativo Vi ele; Deixei ele ASPECTOS MORFOSSINTTICOS 10
  12. 12. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA 1 Formas de tratamento carinhosas: ii, iai, sinh, sinh Sinh Maria chegou e falou [...] 2 Uso dos diminutivos, indicando afetividade ou intensidade [...] no quer comprar um taquinho de carne... Quando foi de tardezinha [...] 3 Repetio enftica de fonemas ou slabas: nenm, bab, bumbum OUTROS TIPOS DE INFLUNCIAS Segundo Diegues Jnior: [...] o valor cultural mais forte da influncia do africano no Portugus do Brasil foi o amolecimento da linguagem, o adoamento na maneira de tratar. 11
  13. 13. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA MUDANAS CONDICIONADAS POR FATORES LINGUSTICOS E CULTURAIS PRESENTES NA FALA EM ITAITUBA-PA Yeda Castro (2011), entre outras concluses diz que: O influxo de lnguas negro-africanas no portugus do Brasil no se limitou aos aportes de vocabulrio, porque foi mais profundo do que se admite como parte do processo de configurao do perfil da lngua falada no Brasil e das diferenas que a afastaram do portugus falado em Portugal. [...] O grau de resistncia oferecido mudana e integrao pelos diferentes povos africanos que foram transplantados para o Brasil durante a escravido decorrente de fatores histricos, sociais e econmicos que lhes foram mais ou menos favorveis e no devido superioridade de uma determinada cultura sobre outras, como se tem pretendido. [...] 12
  14. 14. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA MARIA DOMINGAS DINIZ NATURALIDADE: MARANHO RESIDE H QUASE 13 ANOS EM ITAITUBA IDADE: 79 ANOS LOCALIDADE: BAIRRO VALE DO TAPAJS APOSENTADA E DONA DE CASA DIVERSO: PLANTAO ANTONIO MORAES DA SILVA NATURALIDADE: ITAITUBA IDADE: 28 ANOS LOCALIDADE: BAIRRO VALE DO TAPAJS PROFISSO: RESECON, AJUDANTE DE MESTRE DE OBRAS. DIVERSO: JOGOS DE MESA R_________ MORAES DA SILVA NATURALIDADE: ITAITUBA IDADE: 15 ANOS LOCALIDADE: BAIRRO VALE DO TAPAJS PROFISSO: ESTUDANTE. DIVERSO: FUTEBOL E AMIGOS 13
  15. 15. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA
  16. 16. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA ASPECTOS FONTICO - FONOLGICO MINHA (MIIA): IOTIZAO DO LH FUEMO ( F CEMO): NASALIZAO DA VOGAL QUE ANTECEDE A CONSOANTE FAZ (FAZER), CAMU (CAMOS), SAMU (SAMOS) : APCOPE DO L, R E S FINAIS TAVA (ESTAVA): AFRESE DORMINU (DORMINDO), ROLANU (ROLANDO): SINCOPE DO D NO GRUPO ND ASPECTOS MORFOSSINTTICO NS FUEMO (FUEMU) NO QUARTO TODO. (Supresso da marca redundante de plural) 15
  17. 17. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA ASPECTOS FONTICO - FONOLGICO BAIM (BANHO): ASSIMILAO TO (ESTO): AFRESE TAMO (ESTAMOS):AFRESE E APCOPE NAM : ASSIMILAO MEXIMU (MEXEMOS): PERDA DA NASALIZAO FINAL ASPECTOS MORFOSSINTTICO EU NO FIZ NADA COM ELA NO. (Repetio Enftica da Negativa) 17
  18. 18. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA ASPECTOS FONTICO - FONOLGICO TAVA, T : AFRESE PROBREMA: ROTACISMO HOSPITAL (HOSPITAU): Vocalizao do / l / final em / w / ASPECTOS MORFOSSINTTICO NS TEMO UNS 5 ANOS QUE A GENTE CONHECE ELA. (Supresso da marca redundante do plural) 19
  19. 19. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA CONSIDERAES FINAIS BATUQUE ETIM.: termo africano do landim batchuque, tambor, baile e nada tem haver com o verbo bater (Dalgado). H anos em P. Alegre, para os lados da Azenha, havia um batuque de grande nomeada como farmcia de excelentes remdios em questo de amor (H. De Iraj, 1932, p. 33). CABAA ETIM.: vem do quimbundo kbasa. Vasilha ou vaso feito da casca da abbora. CACHAA ETIM.: termo africano sf.: aguardente. T doendo? Esfrega um bocado de cachaa (C. Neto, 1926, p. 80). CARIMBO ETIM.: do quimbundo ka, prefixo diminutivo + rimbu, reparties. So os Tumbeiros que de presdio a presdio levam o bando de escravos, que por sordidez vo nus, e marcados a ferro em brasa com o carimbo, para o caso de fuga (J. Ribeiro, 1929, p. 246). DENGUE ETIM.: do quimbundo por extenso : choradeira, manha de menino. Lina era uma bonita rapariga de vinte anos, sempre amolecia em dengue volutuoso (C. Neto, 1926, p. 30). 20
  20. 20. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA
  21. 21. II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA REFERENCIAS ARAGO, Maria do Socorro Silva de. Africanismos no portugus do Brasil. Universidade Federal do Cear, Universidade Federal da Paraba. Rev. de Letras - Vol. 30 - 1/4 - jan. 2010/dez. 2011. BONVINI, Emlio. Lnguas africanas e portugus falado no Brasil. In: FIORIN, Jos L.; PETT ER, Margarida. frica no Brasil: a formao da lngua portuguesa. So Paulo: Contexto, 2008, p. 15-62. CUNHA, Celso F. da. Lngua portuguesa e realidade brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977. MENDONA, Renato. A influncia africana no portugus do Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1973, p. 61. MARTINET, A. Etnolingstica. In: MARTINET, A. Conceitos fundamentais da lingstica. Trad. Wanda Ramos. Portugal: Editorial Presena; Brasil: Martins Fontes [s.d.]. FIORIN, Jos L.; PETT ER, Margarida. frica no Brasil: a formao da lngua portuguesa. So Paulo: Contexto, 2008. HOUAISS, Antnio. O portugus no Brasil: pequena enciclopdia da cultura brasileira. Rio de Janeiro: UNIBRADE, 1985. CASTRO, Yeda Pessoa de. A sobrevivncia das lnguas africanas no Brasil: sua influncia na linguagem popular da Bahia. In: Afro-sia 4 -5: 23-33. Salvador. 1967. _____. Influncias das lnguas a africanas no portugus do Brasil e nveis scio-culturais da linguagem. In: Educao 25 Braslia: 1977. p 49-64. 22
  22. 22. A Influncia Africana no Portugus do Brasil: mudanas condicionadas por fatores lingusticos e culturais presentes na fala em Itaituba-PA Acadmica: Amanda Gonalves Bento Letras V Perodo - 2015 II SIMPSIO DE LETRAS E HISTRIA FAI - 2015 OBRIGADA 23