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IBMR LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES TIAGO DA SILVA OLIVEIRA A IMPORTÂNCIA DA REALIZAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS COMO PRÉ-REQUISITO PARA REALIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO ESTÉTICO DE CARBOXITERAPIA Rio de Janeiro 2017

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IBMR – LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES

TIAGO DA SILVA OLIVEIRA

A IMPORTÂNCIA DA REALIZAÇÃO DE EXAMES

LABORATORIAIS COMO PRÉ-REQUISITO PARA

REALIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO ESTÉTICO DE

CARBOXITERAPIA

Rio de Janeiro

2017

TIAGO DA SILVA OLIVEIRA

A IMPORTÂNCIA DA REALIZAÇÃO DE EXAMES

LABORATORIAIS COMO PRÉ-REQUISITO PARA

REALIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO ESTÉTICO DE

CARBOXITERAPIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado, ao IBMR – Laureate International Universities, como requisito parcial para a obtenção do título de Graduado em Biomedicina.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Rômulo Medina de Mattos

Rio de Janeiro

2017

TIAGO DA SILVA OLIVEIRA

A IMPORTÂNCIA DA REALIZAÇÃO DE EXAMES

LABORATORIAIS COMO PRÉ-REQUISITO PARA

REALIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO ESTÉTICO DE

CARBOXITERAPIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado, ao IBMR – Laureate International Universities, como requisito parcial para a obtenção do título de Graduado em Biomedicina.

Aprovado em _____ de ________________ de 2017.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Prof. Dr. Alan Brito Carneiro

_______________________________________________

Prof. Dr. Maurício Cupello Peixoto

À minha Mãe e ao meu Pai, com a

mesma intensidade de amor e carinho

com a qual me criaram.

AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus pela oportunidade de viver e poder, com saúde e

determinação, concluir a tão esperada graduação.

Agradeço aos meus pais pelo alicerce que me proporcionaram e por sempre

acreditarem, e continuarem a acreditar.

Agradeço à esta instituição, IBMR, onde pude crescer e me desenvolver

enquanto pessoa e profissional, onde pude acompanhar inúmeras transformações e

onde obtive a base para poder voar.

Agradeço a todos os professores que, através dos longos, longos anos em

que andei pelos corredores, subi de elevadores e desci pelas escadas (elas eram

mais rápidas para descer) para assistir as mais diversas aulas, me ensinaram

tecnicamente a ciência.

Agradeço ao professor Rômulo Medina por toda sua orientação, dedicação e

enorme paciência.

Agradeço, em especial, aos professores Júlio Vianna, Cláudia Gouveia,

Rogério Alvares por me ensinarem que tudo é possível na ciência e que nenhuma

teoria deve ser desmerecida, por mais absurda que possa parecer inicialmente;

agradeço por me ensinarem ciência.

Agradeço aos muitos colegas que tive e, mais ainda, aos poucos amigos (mas

sinceros!) que conquistei pelas inúmeras horas de emoção, desde as aflições pré-

provas, passando pelos choros de raiva e chegando ao alívio das notas azuis.

Agradeço aos colegas de trabalho por sempre se disponibilizarem às minhas

necessidades de horários para que eu pudesse estudar.

Por fim, por ser mais recente em minha jornada e não por ser menos

importante, agradeço ao Iury Moraes pelo total apoio, carinho e dedicação.

Hakuna matata.

Timão e Pumba

RESUMO

Este trabalho de conclusão apresenta parcialmente a carboxiterapia (terapia com utilização de CO2) sob o ponto de vista estético, enfatizando os seus mecanismos de ação e, principalmente, suas contraindicações. Apresenta correlação entre tais contraindicações com a fisiologia humana conhecida, e a necessidade de antecedente análise laboratorial para a precaução de potenciais riscos à saúde do cliente. As bases legislativas foram revisadas para justificar o que seria a nova atribuição do profissional biomédico esteta e até que ponto ele poderia atuar na prática de prescrição de exames complementares. Os exames de hemograma, gasometria e EAS foram abordados como necessidades básicas para se atestar as condições metabólicas dos clientes previamente à carboxiterapia. A pesquisa utilizou dados bibliográficos obtidos em bases de informações científicos para interligar os efeitos orgânicos do dióxido de carbono com os referidos mecanismos de averiguação metabólica, nos indicando que é possível haver intoxicação por CO2 e, principalmente, nos fazendo concluir que é concebível reduzir os riscos de tal intoxicação com a prática de prévia preceituação de pesquisas laboratoriais.

Palavras-chaves: Carboxiterapia. Ácido-base. Gasometria. pH. CO2.

ABSTRACT

This final paper presents the partially carboxiterapia (therapy with the use of CO2) from an aesthetic point of view, emphasizing their action mechanisms and, especially, their contraindications. It presents correlation between such contraindications to the known human physiology, and the need for laboratory analysis prior to the precautionary potencial risk to the customer's health. The legislative bases were reviewed to justify what would be the new assignment of the biomedical professional esthetician and to what extent it could act in the practice of prescribing additional tests. The blood count tests, blood gas and EAS were addressed as basic needs to attest to the metabolic conditions of the customers prior to carboxiterapia. The study used bibliographic data in scientific information base to interconnect the organic effects of carbon dioxide with said Metabolic investigation of mechanisms in indicating that there may be poisoning CO2 and especially paragraphs making conclude that it is conceivable to reduce risks of such intoxication with the practice of previous preceituação laboratory research.

Keywords: Carboxiterapia. Acid-base. Gasometry. pH. CO2.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMPc Adenosina 3’-5’-monofosfato

atm Atmosfera – unidade de pressão

CNDL Confederação Nacional de Dirigentes Logistas

CO2 Dióxido de carbono / gás carbônico

EAS Elementos Anormais do Sedimento

HCO3- Bicarbonato

H+ Hidrogênio

H2CO3 Ácido carbônico

ml/min Mililitros por minuto

ml Mililitros

mmol/l Milimol por litro

mmHg Milímetro de mercúrio

pH Concentração hidrogeniônica do meio

PCO2 Pressão parcial de gás carbônico

PO2 Pressão parcial de oxigênio

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 10

2. OBJETIVO ................................................................................................................................... 13

2.1. GERAL .................................................................................................................................. 13

2.2. ESPECÍFICO ........................................................................................................................ 14

3. METODOLOGIA ......................................................................................................................... 14

3.1. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO E INCLUSÃO .................................................................... 15

4. CARBOXITERAPIA ................................................................................................................... 15

4.1. HISTÓRIA ............................................................................................................................. 15

4.1.1. O EQUIPAMENTO DE CARBOXITERAPIA ............................................................. 16

4.2. MECANISMOS DE AÇÃO .................................................................................................. 17

4.2.1. APLICAÇÕES DA CARBOXITERAPIA ..................................................................... 19

4.2.2. CONTRAINDICAÇÕES ............................................................................................... 20

4.2.3. DISFUNÇÕES METABÓLICAS ASSOCIÁVEIS ...................................................... 21

4.3. EXAMES LABORATORIAIS .................................................................................................. 25

4.3.1. HEMOGRAMA .............................................................................................................. 27

4.3.2. GASOMETRIA .............................................................................................................. 27

4.3.3. EXAME DE URINA / EAS ............................................................................................ 29

5. CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 30

6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 32

10

1. INTRODUÇÃO

A profissão de biomédico fora regulamentada pela Lei 6.684, de 03 de

setembro de 1979 e, ao passar dos anos e com a expansão do mercado de trabalho,

novas áreas de atuação do profissional da biomedicina foram surgindo, incluindo sua

inserção no ramo da saúde-estética. Entendendo-se, então, sobre a necessidade de

regularizar/atualizar a situação do Biomédico e dar-lhe instrumentos legais que

assegurassem o exercício de suas atividades de forma segura, irrefutável e

irreversível, em fevereiro e julho de 2011 foram aprovadas, respectivamente, as

resoluções nº 197 (b.BIOMEDICINA, 2011) e 200 (c.BIOMEDICINA, 2012) que

dispõem sobre as atribuições do profissional Biomédico no exercício da saúde-

estética, conferindo-lhe critérios para habilitação em Biomedicina Estética.

Em complementariedade às resoluções supracitadas, em 2012 foi aprovada a

resolução 214 (d.BIOMEDICINA, 2012) que disserta sobre o uso de substâncias em

procedimentos estéticos e, em 2014, a resolução 241 (e.BIOMEDICINA, 2014)

seguiu regulamentando a prescrição do Biomédico para finalidades estéticas

trazendo em seu texto original a consideração “que o uso de substâncias para fins

estéticos deve se dar de forma segura e eficaz e por profissional com conhecimento

técnico das mesmas” (e.BIOMEDICINA, 2014).

A legislação redigida pelo Conselho Federal da Classe (leis, normas e

resoluções) determina os procedimentos permitidos a serem executados e os

formulações sujeitos à prescrição pelo Biomédico Esteta (e.BIOMEDICINA, 2014).

Dentre as inúmeras técnicas autorizadas está a carboxiterapia, que é caracterizada

pela administração de gás carbônico medicinal por via subcutânea para uso

terapêutico e para fins estéticos, como tratamento de gordura localizada, redução de

celulite, estrias e flacidez, através de processo inflamatório seguido de reparação

tecidual induzida pela lesão ocasionada pelo CO2 à região exposta (MAIO, 2011).

Estudo recente, liderado pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e

pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), aponta que “sete em

cada dez brasileiros acreditam que gastos com beleza são uma necessidade e não

um luxo”, evidenciando, então, de forma direta, a perspectiva promissora e

11

exponencialmente crescente do setor da beleza (SPC Brasil, 2016). Com isso, é

fundamentalmente necessário ter-se profissionais altamente qualificados e

legalmente habilitados para a execução segura de quaisquer procedimentos

estéticos, tendo em vista os grandes riscos à saúde do cliente.

O uso estético do gás carbônico deve ser realizado com algumas

salvaguardas. O CO2 necessita de uma eficiente operação biológica para ser

transformado e expelido do corpo. Para essas funções, o coração (e todo sistema

circulatório), os pulmões e os rins possuem papel central e o estado de equilíbrio,

tanto anatômico-fisiologicamente quanto metabolicamente, é de suma importância

para o sucesso da carboxiterapia sem que haja prejuízo à saúde do cliente

(VARLARO, 2007).

O mercado da estética é um dos mais promissores da atualidade. Segundo a

Associação Brasileira de Franchising (2017), o mercado da saúde, beleza e bem-

estar está na segunda colocação quanto ao valor arrecadado entre 2016 e 2017,

mais de 27 bilhões de reais, sendo o setor com maior crescimento nos últimos 12

meses, 16%.

Tabela 1 – Faturamento por seguimento e acumulado em 12 meses

Fonte: Associação Brasileira de Franchising, 2017.

Dentre os procedimentos estéticos mais procurados pelas pessoas, segundo

a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e SPC Brasil (2016), estão técnicas

realizáveis pelos biomédicos estetas.

12

Gráfico 1 - Intenção em realizar procedimentos estéticos nos próximos 12 meses

Fonte: Confederação Nacional de Dirijentes Lojistas e SPC Brasil, 2016.

De acordo com os dados, é imprescindível que o profissional especializado

esteja de acordo com as novas necessidades surgidas frente aos avanços

tecnológicos e ao dever ético, moral e legal de resguardar a segurança de seus

clientes (a.BIOMEDICINA, 1984).

Dados da Revista do Biomédico, de 2014, mostram que a especialização em

estética é a quinta mais procurada entre os formandos.

13

Gráfico 2 – Inscritos no CRBM-1

Fonte: Revista do Biomédico, 2014.

A técnica de carboxiterapia é a base de estudo deste trabalho em correlação

com a necessidade de realização prévia de exames laboratoriais complementares

como forma de assegurar a integridade física do consumidor ao analisar-se seu

sistema fisiológico.

2. OBJETIVO

2.1. GERAL

O presente estudo pretende correlacionar a técnica de carboxiterapia aplicada

na biomedicina estética com a necessidade de realização de exames

complementares pré-procedimento.

14

2.2. ESPECÍFICO

Examinar o procedimento estético de carboxiterapia;

Estudar técnicas de diagnóstico laboratorial (Hemograma,

Gasometria e EAS) e sua aplicabilidade na realização de estudos

fisiopatológicos;

Correlacionar as etapas de realização e os respectivos mecanismos

fisiológicos de ação da prática estética com a possibilidade de

desenvolvimento ou agravamento de doenças e a necessidade de

se realizar exames complementares como forma preventiva;

Indicar a necessidade de se avaliar a possibilidade de incluir, nas

atribuições legais do biomédico esteta, o direito à

prescrever/solicitar exames complementares para avaliação pré-

consulta/procedimento técnico.

3. METODOLOGIA

Realizada pesquisa bibliográfica com inclusão de artigos originais e de revisão

pesquisados nas plataformas PubMed, Periódicos CAPES/MEC, SciELO, LILACS e

Google Acadêmico publicados desde o ano de 1995, escritos em português ou inglês,

que estudaram temáticas sobre carboxiterapia, fisiologia humana, avaliação

hematológica, aspectos específicos do sistema circulatório e exames laboratoriais.

Foram pesquisados, nas plataformas supracitadas, os termos: CO2 insufflations,

carboxytherapy, CO2 laparoscopy, CO2 insuflação, carboxiterapia, CO2

laparoscopia,

15

3.1. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO E INCLUSÃO

Foram incluídos exemplares descritivos sobre dados históricos, o

procedimento em si e mecanismos de ação e efeitos, locais e sistêmicos, do

procedimento de carboxiterapia sobre o organismo humano. Foram consideradas

artigos científicos, originais e de revisão, sobre efeitos da utilização de CO2 em

organismos vivos, animais e humanos. Estão inclusos conteúdos sobre fisiologia

básica dos sistemas hematológico, cardiorrespiratório e renal humano, e exames

laboratoriais específicos de hemograma, gasometria e EAS. Dados sobre a

correlação entre a técnica de carboxiterapia, a fisiologia humana e as

contraindicações ao referido procedimento estético foram priorizados.

Foram descartados materiais datados anteriormente à 1995.

4. CARBOXITERAPIA

4.1. HISTÓRIA

A “carboxiterapia” pode ser brevemente definida como um método terapêutico

onde se utiliza o dióxido de carbono (CO2), em sua forma gasosa e de elevado grau

de pureza (99,9%) para uso medicinal, através da administração de injeções

subcutâneas, tendo como objetivo principal o aumento do diâmetro dos vasos

sanguíneos (vasodilatação) e, consequentemente, maior oxigenação do tecido

(SCORZA, 2008).

Segundo Goldman et al. (2006), a utilização do gás carbônico em terapias teve

início na Argentina (sem mais detalhes), mas foram os estudos e tratamentos

praticados na estação termal Waters de Royat, na França da década de 30, que mais

se sobressaíram na comunidade acadêmica, tendo sido tratadas pessoas com

distúrbios comprometedores do fluxo sanguíneo através da imersão de partes do

corpo em águas carbonadas e, posteriormente, com injeções subcutâneas de CO2.

16

O cardiologista Jean Baptiste Romuef liderou os maiores trabalhos sobre o

tema, tendo efetuado a publicação de seus resultados após vinte anos de estudos

com a utilização de injeções subcutâneas de CO2 (SCORZA, 2008).

Em 1995, Fabry et al., através do relato de vinte mil casos atendidos em Royat,

descreveram as vantagens do tratamento através de vários indicadores e, também,

o mecanismo de atuação do gás, principalmente quanto há queda na afinidade da

hemoglobina pelo oxigênio em ação local, intensificando o efeito Bohr (FABRY et al,

1995).

Carvalho, em seu trabalho datado de 2005, propôs, pela primeira vez, a

utilização da carboxiterapia como tratamento estético para rejuvenescimento cutâneo

a partir de constatações do funcionamento mecânico do enfisema subcutâneo

ocasionado pela ação do gás carbônico.

4.1.1. O EQUIPAMENTO DE CARBOXITERAPIA

Borges (2010) é um dos poucos autores a apresentar o aparelho que é

desenvolvido especificamente para o procedimento de carboxiterapia e na qual utiliza

gás carbônico medicinal, tendo seu fluxo de injeção do gás no organismo (ml/min) e

o volume a ser injetado (ml) controlados eletronicamente, e determinados

previamente pelo operador terapeuta (Figura 1). O equipamento liga-se a um cilindro

metálico por meio de um regulador de pressão de gás carbônico e é injetado por via

de uma sonda com uma agulha de pequeno calibre, geralmente agulha para insulina,

em via subcutânea do cliente. O gás presente no interior do cilindro é liquefeito,

possui pressão de vapor constante de 60 atm e não é um gás inflamável, portanto

não há risco de fogo ou explosão.

17

Figura 1 – Equipamento de Carboxiterapia – vista frontal e traseira

Fonte: www.htmeletronica.com.br/produtos/pluria (2017).

4.2. MECANISMOS DE AÇÃO

A lesão física provocada pela infusão do gás carbônico subcutaneamente

ativa o sistema imunológico e promove o processo inflamatório a fim de restabelecer

a região lesionada ao tentar anular o agente agressor e desencadeando uma cascata

de episódios no tecido conjuntivo vascularizado e em diversos componentes

estruturais e celulares ao redor. O processo de reparação tecidual aciona os

mecanismos de formação de novos vasos sanguíneos e fibroblastos, sintetizadores

de colágeno e elastina. No organismo, o equilíbrio entre O2 e CO2 é constante e

qualquer alteração fornece a informação ao sistema fisiológico de que é preciso

restabelecer a harmonia. Basicamente, o excesso de CO2 passa a informação de

necessidade de O2 local, atuando diretamente nos miócitos das arteríolas e

provocando vasodilatação, resultando na chegada de maior quantidade de eritrócitos

e liberação de O2 pelas hemoglobinas para eliminação do CO2 por via respiratória. A

18

alteração de pH no microambiente ativa células à formarem novas estruturas

sanguíneas e linfáticas, colágeno e elastina, todos encarregados da reconstituição

do tecido “lesionado” (SCORZA, 2008).

Ao infundir CO2, provoca-se um estado de hipóxia tecidual. Quanto mais gás

carbônico no meio tecidual mais hemoglobinas carreadas com oxigênio chegarão

através da circulação sanguínea, onde, por conta de a hemoglobina ter maior

afinidade com a molécula CO2, ocorrerá liberação de O2 (hiperoxigenação –

hiperóxia) e captação do CO2 para posterior eliminação. A essa resposta fisiológica,

para as alterações nas concentrações de CO2 e, consequentemente, H+ (formado a

partir da dissociação de H2CO3 – ácido carbônico), denomina-se Efeito Bohr

(GUYTON, 2006). Este aumento de H+ circulante deve ser tratado com cautela,

tendo em vista que o equilíbrio entre a ingestão e/ou produção de íons de hidrogênio

e sua retirada do organismo é essencial para a homeostase, tal concentração

necessita ser precisamente regulada pelo fato de o H+ estar presente em quase

todas as funções dos sistemas (GUYTON, 2008).

O dióxido de carbono também ocasiona o rompimento dos adipócitos (por lise

– carbolipólise), provocando a substituição por colágeno, elastina e vasos

sanguíneos, através da ação mecânica de acordo com o fluxo e/ou velocidade com

que o gás adentra à pele e através de ação bioquímica ao ativar barorreceptores

(receptores com a função primordial de manter a pressão arterial em estabilidade,

onde sua ativação se dá pela alteração mecânica da forma das extremidades neurais

em decorrência da distensão da parede vascular), em razão da distensão tecidual,

com a posterior liberação de mediadores químicos, especialmente cetocolaminas,

para resultar em ação lipolítica (quebra de triglicerídeos estimulada pela ativação da

lipase hormônio sensível – LSH, que, por sua vez, é ativada por mediador químico

AMPc) (BORGES, 2010).

A adenosina 3’-5’-monofosfato (AMPc) é definida, basicamente, como

segundo mensageiro intracelular. Um hormônio específico se conecta ao receptor

exclusivo localizado na membrana plasmática de uma célula-alvo e ativa a

adenilciclase que, consequentemente, converterá uma parte do ATP intracelular em

AMPc. O AMPc ativa proteína cinase dependente de AMPc que, então, fosforilará

19

tantas outras proteínas, ativando-as ou desativando-as a fim de induzir ou inibir uma

resposta (NELSON, 2014). No caso da carboxiterapia, em suma, ao infundir CO2, a

ação mecânica estimula o aumento de AMPc que induzirá a lipólise (BORGES,

2010).

4.2.1. APLICAÇÕES DA CARBOXITERAPIA

A carboxiterapia pode ser habitualmente aplicada ao tratamento de muitos

distúrbios que necessitem de tratamento principalmente por melhorias no aporte

sanguíneo local (KEDE, 2009), como rejuvenescimento cutâneo, tratamento de

flacidez, estrias e celulites (KEDE, 2009), sabendo que a infusão de CO2 promove,

principalmente, aumento no fluxo sanguíneo e neoangiogênese através da hipóxia

na região infundida (VARLARO, 2007).

Aproveitando para fins de análise no campo da estética e a fim de exemplificar

a utilidade do tratamento com CO2 medicinal, o estudo de Durães et al (2013)

evidenciou significativo aumento na produção de colágeno em enxertos teciduais

realizados em coelhos com posterior terapia de dióxido de carbono, podendo ser

interpretado como avanço no campo do rejuvenescimento cutâneo já que o colágeno

é uma das principais proteínas responsáveis pela sustentação da pele (AZULAY,

2015).

Goldman et al (2006) indicam a carboxiterapia como tratamento pré e pós-

operatório para enxertos de pele, tratamento de celulites e gordura localizada. Para

carboxiterapia em celulite, ele apresenta como o protocolo o uso de 100 à 200 ml de

CO2 por membro tratado, com fluxo inicial de 10 à 50 ml/min.

Dentro do uso medicinal da carboxiterapia, Borges (2010) e Goldman et al

(2006) também trazem as arteriopatias como foco das primeiras aplicações do uso

de CO2 medicinal, para tratamento de feridas vasculares.

A quantidade total de CO2 a ser injetado permanece em torno de 1 litro, com

máxima de 3000ml, sabendo que valores maiores são injetados em casos de cirurgia

videolaparoscópica (infusão de 10 à 12 litros em cavidade peritoneal), por exemplo

20

(BORGES, 2010). Goldman et al (2006) considera seguro a administração

subcutânea ou intra-peritoneal do gás carbônico mesmo com a infusão de grandes

volumes (2 à 10 litros) e relata inexistência, até então, de efeitos tóxicos.

Apesar das considerações supracitadas, Cohen et al (2003) pondera, em seu

artigo sobre “alterações sistêmicas e metabólicas da cirurgia laparoscópicas”, a

possibilidade de efeitos colaterais severos mediante absorção de CO2.

4.2.2. CONTRAINDICAÇÕES

As contraindicações giram em torno de distúrbios relacionados aos sistemas

cardíaco, respiratório e renal, como infarto agudo do miocárdio, angina, asma, rinite

e falência renal (MAIO, 2011). Doenças auto-imunes, que atingem o tecido conjuntivo

– colágeno, também fazem parte do grupo de contraindicações à carboxiterapia

(KEDE, 2009).

A injeção de dióxido de carbono (CO2) pode resultar em instabilidade

fisiológica a partir da manipulação exagerada do produto ou dificuldades metabólicas

do próprio organismo em eliminar tal excesso. Na intoxicação por CO2, ou a

hipercapnia, a principal ação emergencial é a interrupção na infusão do gás e a

estimulação da expiração pulmonar (MAIO, 2011).

Durante o uso do gás carbônico em procedimento cirúrgico (laparoscopia),

uma das respostas ao uso de CO2 é a taquicardia, motivada pela diminuição da

circulação sanguínea em detrimento da pressão que o gás exerce sobre as estruturas

anatômicas. Contudo, também sugere-se que a elevação na frequência cardíaca seja

em decorrência da maior absorção de CO2, por haver maior disponibilidade e, com

isso, maior necessidade de eliminação do organismo (COHEN, 2003).

21

4.2.3. DISFUNÇÕES METABÓLICAS ASSOCIÁVEIS

Para todas as funções metabólicas há um pH ótimo e mudanças nesses

valores, decorrentes de desordens internas ou induzidas por fatores externos,

alteram as atividades funcionais do corpo de forma significativa, principalmente com

relação ao desempenho de proteínas. Ao conceituar-se como pH ótimo para o

sangue arterial em 7,4 e para sangue venoso e líquidos intersticiais em 7,35 (maior

acidez em decorrência da metabolização de CO2 – CO2+H20H2CO3), também

define-se como acidose qualquer valor abaixo deste pH ótimo do sangue arterial e

como alcalose quando em valor acima de 7,4 (b.SOUZA, 2005), sabendo que

alcalose é o termo usado no que se refere à remoção excessiva de H+ e acidose

quando H+ é acrescido ao meio de forma exagerada (AIRES, 2008).

Substâncias, moléculas ou íons são definidas como básicas quando possuem

a capacidade de receber H+, como caso da hemoglobina que possui, em sua

constituição, aminoácidos carregados negativamente capazes de se ligarem

rapidamente ao H+; moléculas ou íons ácidos são aqueles capazes de liberarem

prótons (H+) de seus arranjos (AIRES, 2008).

Em síntese: Acidose = H+ pH

Alcalose = H+ pH

A variação fisiológica de H+ é controlada com a finalidade de se evitar acidose

ou alcalose, onde os sistemas-tampão ácido-base, o sistema respiratório e os rins

são os principais responsáveis por essa regulação. Os sistemas-tampão são

formados por substâncias que funcionam como controladores de pH ao se ligarem

reversivelmente a H+, fixam-se imediatamente com ácido ou base como forma de

retroceder a variação excessiva dos prótons, não eliminando íons de hidrogênio do

meio, mas ajustando seus níveis até que o equilíbrio seja reestabelecido. O sistema

respiratório age rapidamente eliminando CO2 e, consequentemente, ácido carbônico

do organismo. Embora mais letárgico que os outros dois sistemas, o sistema renal

consegue ser o mais robusto dos sistemas ao reajustar o acúmulo de hidrogênio ao

22

excretar urina ácida ou básica, perdurando esse processo por horas ou dias

(DEVLIN, 2011).

O acúmulo de CO2 em resposta a disfunção orgânica dos sistemas renal e

respiratório pode resultar em desequilíbrio da relação ácido-base. Como dito

anteriormente, o equilíbrio entre a ingestão e/ou produção e a retirada de H+ do

organismo é essencial para a homeostase (condição de equilíbrio necessária para

realização de diversas funções adequadamente) (GUYTON, 2008).

Varlaro et al. (2007) é claro ao dizer que a carboxiterapia deve ser

contraindicada em casos de insuficiências renal, cardíaca e/ou respiratória, tendo em

vista que a eliminação de CO2 e H+ (oriundo da metabolização do CO2) é realizada

por rins e pulmões, e deficiências nesses órgãos ocasionaria o acúmulo excessivo

desses elementos e, então, intoxicação ao organismo.

O sistema-tampão mais importante é o sistema-tampão do bicarbonato, onde

o hidrogênio liberado pelo ácido carbônico (ioniza-se com o meio liberando H+ e

HCO3-) interage também com o bicarbonato liberado por um sal bicarbonato

(predominantemente o bicarbonato de sódio), sendo o ácido carbônico (H2CO3)

produzido no corpo através de reação entre CO2 e H2O (reação reversa

CO2+H20H2CO3) com auxílio da enzima anidrase carbônica presente

principalmente nos alvéolos pulmonares e túbulos renais. Como a reação de

produção do ácido carbônico é reversível, quanto mais H2CO3 estiver sendo formado,

maior também será a dissociação em CO2 e H2O, onde o CO2 em excesso precisará

ser expelido através da respiração (GUYTON, 2006).

Laboratorialmente, não é possível medir-se a concentração de ácido

carbônico no sangue por este dissolver-se velozmente em CO2 e H2O ou em H+ e

HCO3-, contudo, o CO2, que está contido no meio e é diretamente proporcional ao

valor de H2CO3, é possível ser mensurado a partir da tensão/pressão parcial de CO2

(PCO2) no sangue (NEMER, 2010).

O acúmulo orgânico de bicarbonato é controlado pelos rins e a pressão parcial

de CO2 é controlada pelo sistema respiratório. Quando elevada, a taxa respiratória

promove a remoção de CO2 do meio; quando baixa, a taxa respiratória promove a

elevação da PCO2. Quando este equilíbrio é quebrado, podemos concluir que um ou

23

ambos sistemas estão prejudicados, interferindo nos valores de bicarbonato e de

PCO2, onde define-se como acidose metabólica os distúrbios que exercerem queda

nos níveis de bicarbonato e alcalose metabólica em situações que promovam a

elevação do bicarbonato; acidose respiratória é causada por aumento na PCO2 e

alcalose respiratória causada por diminuição da PCO2 (b.SOUZA, 2005).

A hemoglobina (Hb) também funciona como importante tampão ácido-base.

De forma geral, H+ e HCO3- difundem-se transmembranarmente de forma lenta e em

baixas quantidades, mas atravessam as hemácias mais facilmente e atingem

rapidamente a igualdade entre os íons do líquido intracelular e extracelular ao se

ligarem à hemoglobina – H+ + Hb HHb (a variação do pH intracelular está

intimamente ligado à variação do pH extracelular). O CO2 difunde-se rapidamente

através de todas as membranas celulares (b.SOUZA, 2005).

A redução significativa de glóbulos vermelhos (eritrócitos) em situação de

anemia severa, por exemplo, se traduz na queda da presença de hemoglobina e

sugere, então, acúmulo de CO2, tendo em vista que esta proteína intracelular

também é a principal carreadora desse composto químico. Dentro dessa situação, a

disponibilização de mais CO2, através do procedimento de carboxiterapia, poderia

induzir hipercapnia (aumento do gás carbônico no sangue arterial) e acidose

(VARLARO, 2007).

Os pulmões também promovem a regulação ácido-base ao expelir CO2

através da ventilação e, consequentemente, alterar a concentração de H+

(CO2+H20H2CO3H+ + HCO3-), onde uma maior ventilação resulta em maior

eliminação de CO2 e menor PCO2, e uma menor ventilação resulta em aumento de

CO2 e, assim, de H+, além de aumentar PCO2 também. Quando há aumento do pH

do meio (decaimento dos níveis de H+ = alcalose) é promovida estimulação na queda

na ventilação pulmonar para que não seja expelido o CO2 e haja, então, equilíbrio

ácido-base já que a presença maior do dióxido de carbono estimulará a formação de

ácido carbônico (CO2+H2OH2CO3), ocasionando a redução do oxigênio (disputa

com o CO2) e, consequentemente, da pressão parcial do oxigênio (PO2) no sangue.

Contudo, este efeito também de queda nos valores de O2 e PO2 estimulam a

ventilação, deixando de ser tão eficiente se comparado à situação de redução de pH

24

(aumento de H+ = acidose = maior frequência respiratória para eliminação de CO2

mais rapidamente) (GUYTON, 2006).

A excreção de urina, pelos rins, também é um processo de controle do

equilíbrio ácido-base, onde a excreção de bicarbonato traduz em remoção da “base”

do sangue e a excreção de hidrogênio significa remover o “ácido” do sangue. Quando

necessário, o sistema renal retira da circulação principalmente ácidos não

elimináveis pelo sistema pulmonar, não são H2CO3. Contudo, reter bicarbonato

(HCO3-) se resume como uma tarefa mais importante do que eliminar tais ácidos, e

isto se dá com a utilização do hidrogênio secretado para formação de H2CO3 e, então,

reabsorção do anteriormente HCO3- filtrado. Em situação de alcalose, não há como

reabsorver o bicarbonato por conta da escassez de H+, levando na remoção de

HCO3- e, deste modo, elevação de H+ para os níveis normais. Em acidose, o

bicarbonato não é excretado, mas, sim, reabsorvido para produção de novo

bicarbonato e redução de H+ (H+ proporcionalmente excretado para cada HCO3-

reabsorvido) (GUYTON, 2006).

Determinadas patologias conseguem interferir diretamente no equilíbrio ácido-

base, levando a acidose ou alcalose respiratória ou metabólica. Interferências na

ventilação pulmonar resultam no aumento da PCO2 do fluido extracelular,

concentrando H2CO3 e H+ no meio, finalizando em acidose respiratória, uma vez que

a disfunção está associada ao sistema respiratório. A acidose respiratória pode ser

causada por interrupções na troca gasosa entre o sangue e o ar alveolar, obstrução

de vias respiratórias, infecções pulmonares, enfisema ou qualquer outra condição

que interfira na capacidade de eliminação de CO2 por parte dos pulmões, havendo

compensação lenta através dos tampões dos líquidos corporais e funcionamento

renal. Já a alcalose respiratória é rara dada a necessidade de extremo aumento na

ventilação pulmonar para excessiva perda de CO2 na expiração. (BRASILEIRO

FILHO, 2011).

A acidose metabólica se dá a partir de interações além das envolvendo CO2 e

ventilação pulmonar, como insuficiência renal (deficiência excreção de H+ e/ou na

reabsorção de bicarbonato), perda excessiva de bicarbonato nas fezes em estado

diarreico, vômito de conteúdos intestinais (apesar da perda de conteúdo gástrico

25

conter quantidade significativa de ácido e sua perda ocasionar alcalinização do meio,

a perda do conteúdo intestinal provoca a acidose por ter-se grande perda de base),

diabetes (tanto tipo I quanto tipo II, há uma atuação ineficiente da insulina, seja por

sua ausência total ou por redução na sensibilidade celular, respectivamente; os

tecidos, então, passam a usar ácidos acetoacéticos, originários dos triglicerídeos,

como fonte de energia no lugar da glicose, resultando em cetoacidose caso os níveis

do ácido se elevem demasiadamente) e ingestão de ácidos (determinadas drogas,

como acetilsalicílicos, podem gerar acidose metabólica) (MITCHEL, 2006).

A alcalose metabólica se instala quando a perda de íons de hidrogênio

ultrapassa a normalidade e/ou quando há abundância de bicarbonato no líquido

extracelular, fatores que podem ser atingidos ao ingerir-se produtos alcalinos (como

o próprio bicarbonato de sódio), ingestão de diuréticos e vômito de conteúdo gástrico

(perda de HCl) (MITCHEL, 2006).

A alternância do pH interfere diretamente na funcionalidade de inúmeras

proteínas, por conseguinte, no funcionamento do organismo como um todo (DEVLIN,

2011).

Para fins de análise qualitativa do sistema orgânico do cliente, podemos

destacar os exames de hemograma (para determinar, principalmente, qualidade

eritrocitária e da hemoglobina), EAS (qualificar basicamente a função de excreção

renal para assegurar a atividade de controle de pH) e a gasometria, a fim de constatar

a real situação do equilíbrio ácido-base e eventuais ocorrências de acidose ou

alcalose metabólicas (NEMER, 2010).

4.3. EXAMES LABORATORIAIS

Os autores Cohen (2003), Varlaro (2007), Kede (2009) Borges (2010) e Maio

(2011) são taxativos quanto à necessidade de se manipular cautelosamente o dióxido

de carbono durante determinados procedimentos, como é o caso da carboxiterapia,

tendo em vista as condições fisiológicas necessárias para processamento e posterior

eliminação do gás carbônico infundido. Com isso, podemos destacar a indispensável

26

realização de exames laboratoriais como pré-requisito para realização da técnica

estética de terapia com CO2.

A lei nº 12.842, de 10 de julho de 2013, reconhecida publica e popularmente

como “a lei do ato médico”, determina o exercício da medicina em todo território

brasileiro. Esta dá as diretrizes necessárias para definir as competências

profissionais do graduado em medicina e delimita a atuação de diversas outras

profissões. O artigo 4º, da referida lei, estipula as atividades privativas ao médico,

destacando-se o inciso III, onde traz a “indicação da execução e execução de

procedimentos invasivos, sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, incluindo

acessos vasculares profundos (...)”. No mesmo artigo, também podemos destacar o

inciso X que reconhece como exclusividade médica a “determinação do prognóstico

relativo ao diagnóstico nosológico”. O primeiro parágrafo esclarece, ainda, que o

“diagnóstico nosológico é a determinação da doença que acomete o ser humano,

aqui definida como interrupção, cessação ou distúrbio da função do corpo, sistema

ou órgão (...)”; o parágrafo quarto caracteriza como “invasivo” os procedimentos que

se enquadrem na situação de “invasão dos orifícios naturais do corpo, atingindo

órgãos internos”. (BRASIL, 2013).

Dentro dessas condições, não há impedimentos legais para que o profissional

biomédico esteta solicite determinados exames laboratoriais a fim de se certificar das

condições fisiológicas imprescindíveis aos clientes que serão expostos ao CO2;

condições tratadas, especialmente, por Varlaro (2007) em seu texto.

Dentre todas as análises possíveis, considerando a bioquímica apresentada

previamente, as interações orgânicas e as contraindicações descritas pelos diversos

autores, este trabalho apresenta a realização do hemograma, da gasometria e da

bioquímica urinária/EAS como pré-requisitos sugestivo para realização da

carboxiterapia.

27

4.3.1. HEMOGRAMA

O hemograma é um exame composto pelo eritrograma, leucograma,

contagem de plaquetas e análise microscópicas das respectivas células. No

eritrograma encontramos dados quantitativos e qualitativos sobre os eritrócitos

(células vermelhas), o leucograma (análise dos leucócitos – células brancas) e a

contagem de plaquetas apresentam informações quantitativas sobre tais células. O

hemograma traz a totalidade de hemácias, de hemoglobinas e o hematócrito

(porcentagem do volume de hemácias presentes em uma amostra de sangue total);

os índices hematimétricos avaliam matematicamente o tamanho, a forma e as

características físicas das hemácias, onde o VCM (volume corpuscular médio) indica

o tamanho médio dos eritrócitos, o HCM (hemoglobina corpuscular média) mostra

referência sobre o conteúdo hemoglobínico em cada eritrócito, a CHCM

(concentração de hemoglobina corpuscular média) representa percentualmente a

concentração de hemoglobina totalitariamente (especificamente para determinado

hematócrito) e o índice de anisocitose eitrocitária (RDW) que calcula o grau de

variação do tamanho das hemácias (b.SOUZA, 2005).

Nesta análise, podemos determinar uma visão antecipada sobre as condições

biológicas do cliente, enfocando nos eritrócitos e conteúdo hemoglobínico por ser um

dos mecanismos de transporte e metabolização de O2 e CO2 (parte da rede de

equilíbrio ácido-base), ocorrendo comprometimento principalmente na eliminação de

CO2 caso haja déficit nesses componentes hematológicos. Redução dos níveis

séricos ou ineficiência constatada através deste exame indica circunstâncias

contrárias à realização da terapia estética com emprego do gás carbônico

(VARLARO, 2007).

4.3.2. GASOMETRIA

Há dois tipos de exames gasométricos, o arterial e o venoso. A gasometria

arterial é um exame onde se analisa o sangue colhido de uma artéria, fornecendo

28

dados sobre a relação ácido-base do tecido sanguíneo que atravessará os tecidos e

a qualidade da sua oxigenação (avaliação de gases oxigênio e carbônico), e pH. Já

a gasometria venosa, realizada com sangue colhida de uma veia, fornece aspectos

qualitativos sobre a oxigenação dos tecidos e, também, avalia o equilíbrio ácido-

base. (a.SOUZA, 2006).

O controle do equilíbrio ácido-base, pH, O2 e CO2 é realizado por uma

interação complexa entre os sistemas cardiopulmonar e renal (GUYTON, 2006) e

falhas no funcionamento desses sistemas orgânicos fornece um cenário de

contraindicação à carboxiterapia (VARLARO, 2007).

Segundo Souza (a. 2006), o exame laboratorial de gasometria com coleta de

material arterial é o mais indicado para obter-se um panorama real sobre o pH

sanguíneo, a oxigenação sistêmica e o sistema tampão orgânico (estabilidade ácido-

base), tendo em vista que identifica problemas respiratórios/pulmonares, renais e

metabólicos de forma precisa.

Contudo, por ser necessária realização de acesso profundo para coleta de

sangue específico, a lei nº 12.842/13 (BRASIL, 2013) restringe a prescrição do

exame de gasometria arterial e atribui como exclusividade médica, como disposto no

inciso III do Artigo 4: “indicação da execução e execução de procedimentos invasivos,

sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, incluindo os acessos vasculares

profundos, as biópsias e as endoscopia”. Por ter material sanguíneo adquirido

superficialmente, por punção venosa, a gasometria venosa não se enquadraria,

então, na restrição estipulada pela legislação e poderia ser requisitada pelo

biomédico para avaliação pré-carboxiterapia.

Os valores de referência usualmente utilizados para os parâmetros da

gasometria venosa são 20-30mmol/l de HCO3-, 40-50mmHg de PCO2, 95-100mmHg

de PO2 e 7,36-7,41 de pH (LIMA, 2008).

A leitura é resultado da comparação realizada entre os parâmetros da amostra

analisada com os padrões internos do gasômetro, sendo imprescindível conhecer a

origem da referida amostra, se de sangue arterial ou de sangue venoso para

resultado preciso (NEMER, 2010).

29

4.3.3. EXAME DE URINA / EAS

O exame de urina é composto por análise física, química e microscópica da

amostra biológica. É na análise física onde se classifica a amostra quanto a sua

coloração (que varia, em situações de normalidade e dependendo do grau de

concentração, entre amarelo-citrino e amarelo-avermelhado), de acordo com seu

aspecto (recém-coletada, de pH normalmente acidificado, é cristalina e translúcida;

urina turva remete à alcalinidade), quanto ao seu odor (apresenta odor característico

pela presença de ácidos voláteis; odor fétido é resultado da amônia gerada pela

hidrólise bacteriana da ureia) e registra-se o volume excretado (NEMER, 2010).

Este exame traz o quadro sobre o estado fisiológico do sistema renal e

também sobre algumas extra-renais, sendo de grande importância para realização

da carboxiterapia, como pode ser percebido através do estudo da homeostase

quanto ao equilíbrio ácido-base (GUYTON, 2006).

Visto como um exame extremamente valioso na análise clínica, é um

procedimento simples, de baixo custo e de fácil aquisição da amostra biológica para

estudo (LIMA, 2008).

Segundo Lima (2008), a análise química/bioquímica, realizada geralmente por

fita quimicamente reativa, elucida pontualmente características determinantes para

análise da condição fisiológica do sistema orgânico, no qual traz informações sobre:

pH determinante para estudo da capacidade renal de secretar ou

reabsorver ácidos ou bases;

Densidade expressa a concentração da urina (1.000 é o valor

mais baixo, se equiparando à densidade da água, ou seja, quanto

mais diluída da urina por ingesta líquida, mais próximo ao valor

1.000 ela estará);

Hemoglobina se presente, anuncia a instalação de quadro

patológico relacionado à hemorragia, como infeção urinária,

tumoração, litíase renal, etc;

Nitrito produto da conversão de nitrato por bactérias,

normalmente ausente na urina;

30

Proteínas e glicose ausentes em urinas normais;

Corpos Cetônicos produzidos por metabolização lipídica após

jejum prolongado ou em pessoas diabéticas (cetoacidose é a

patologia determinada por grandes quantidades de corpos cetônicos

no organismo, com redução drástica do pH);

Bilirrubina promove coloração amarelada à urina, é produto da

degradação da hemoglobina; em grandes quantidades sugere

desequilíbrio/patologia hematológica e/ou hepatológica;

Urobilinogênio obtido através da quebra da bilirrubina, em

resultados elevados aponta para doenças do sangue (hemolíticas)

e do fígado.

A microscopia do sedimento resultante da centrifugação da urina também

evidencia diversas características complementares as fornecidas pela análise

bioquímica. É possível constatar a presença de leucócitos decorrentes de processos

inflamatórios e infecciosos, hemácias, células epiteliais (distinguíveis entre si por

suas morfologias) e cristais. Determinados cristais surgem em meio a disfunções

metabólicas, como oxalato de cálcio e uratos amorfos que surgem em urinas ácidas

e carbonato de cálcio e fosfatos amorfos em urinas alcalinas. Também é possível

verificar a presença de bactérias e formações cilíndricas (esta é normal até certo

ponto) (LIMA, 2008).

5. CONCLUSÃO

O procedimento de carboxiterapia vai muito além de somente mais uma

prática estética. Foi possível criar um enredo que demonstre o tamanho da

responsabilidade ao infundir gás carbônico por via subcutânea em uma pessoa. O

estudo, mesmo que superficial, da fisiologia humana nos traz uma visão generalizada

dos mecanismos mínimos de atuação e interação metabólica do CO2 com o

organismo, e aponta os caminhos que devemos percorrer para que o recurso

31

terapêutico em questão seja eficiente e, ao mesmo tempo, extremamente seguro à

saúde do cliente, sem expô-lo à riscos desnecessários, incluindo o risco de vida.

Como visto, o excesso de CO2 em um organismo pode desencadear uma

cascata de reações fisiológicos que podem atingir níveis inimagináveis de prejuízos

metabólicos ao cliente, mesmo que este, a priori, esteja bioquimicamente estável. Os

exames aqui descritos, os mais basais para a verificação das condições funcionais

do corpo seguindo as necessidades da carboxiterapia, devem ser expressos como

minimamente necessários no cotidiano do biomédico esteta para concretização da

terapia.

Os dados bibliográficos organizados impostam, então, o quão necessário se

faz a legalização e o incentivo da prescrição biomédica de exames laboratoriais com

a finalidade de se constatar o correto funcionamento dos sistemas fisiológicos do

cliente a ser infundido com CO2 e evitar quaisquer transtornos e intercorrências que

podem ocorrer durante ou após as infusões de dióxido de carbono, frente a licitude

em regulamentar a prática por ausência legislação proibitiva ao considerar-se todas

as normativas determinadas pela lei 12.842/13, citada e reescrita anteriormente. Esta

nova prática não se qualificaria como prática de diagnóstico nosológico uma vez que

haveria apenas o diagnóstico laboratorial (e não uma DETERMINAÇÃO) de doença

instalada ou distúrbios, caracterizada pelo diagnóstico clínico-laboratorial restrito,

então, ao profissional médico pela referida lei.

É importante salientar que o termo “determinar” tem como significado,

segundo o dicionário de língua portuguesa Michaelis, “delimitar, demarcar, localizar;

indicar com exatidão, definir, estabelecer, precisar; identificar e classificar (alguma

coisa)”, e nenhuma dessas definições se encaixa/encaixaria na real finalidade da

prescrição biomédica de exames complementares que é/seria a de certificar-se sobre

a estabilidade orgânica de seus clientes para que haja sucesso no tratamento e,

principalmente, para que não haja prejuízo à saúde dos mesmos.

Entretanto, verificando-se a relevância do assunto deste trabalho,

investigações mais profundas, sejam por originalidade ou revisão literária, devem ser

desenvolvidas de forma a modular novos protocolos para realização da terapia com

gás carbônico e outros tantos procedimentos estéticos.

32

6. REFERÊNCIAS

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