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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR
Por
MARILENE SOARES DE MORAES
ORIENTADOR: PROF. CELSO SÁNCHEZ
Rio de Janeiro/RJ
2003
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR
Por
MARILENE SOARES DE MORAES
Rio de Janeiro/RJ
2003
Monografia apresentada como
requisito parcial para conclusão
do grau de especialista em
Psicopegagogia.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho para três “pessoinhas”
especiais: Jéssyca, Jonathan e Felipe que são uma
grande inspiração na minha vida, meus amores,
fazendo com que eu busque crescer cada vez mais
como ser humano e como profissional.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter chegado até
aqui. A minha mãe, minha amiga e grande
torcedora, a minha família pelo apoio e a minha
amiga Regina Araújo pelas palavras de
encorajamento em momentos decisivos desta
trajetória.
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RESUMO
Este estudo teve como objetivo analisar a importância das atividades
lúdicas para o desenvolvimento biológico, cognitivo e para a socialização das
crianças. A brincadeira apresenta um importante papel no desenvolvimento da
criança, pois brincar estimula todos os sentidos, ajuda a desenvolver a mente,
assim como o corpo, além de proporcionar uma descarga natural da
necessidade de atividades da criança para seus pensamentos e sentimentos.
O presente estudo divide-se em três capítulos.
Primeiramente temos a introdução, nela procuramos mostrar os
objetivos, as questões que norteiam o trabalho.
No primeiro capítulo, procuramos observar os aspectos teóricos que o
ato de brincar possui.
Já no segundo capítulo, procuramos entender o porquê do brincar, suas
razões e os fatores que motivam a criança, o prazer que o brincar e o jogo são
capazes de proporcionar.
O terceiro capítulo fala a respeito do quanto as atividades lúdicas são
fundamentais para auxiliar na aprendizagem e a relação do jogo com a
socialização e a cidadania.
Finalmente na conclusão, apresentamos que brincar é ainda o melhor
“remédio” para todos os males.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................... 07
CAPÍTULO I
ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE O LÚDICO ........................................ 08
CAPÍTULO II
POR QUE A CRIANÇA BRINCA? ......................................................... 14
CAPÍTULO III
AS ATIVIDADES LÚDICAS, A APRENDIZAGEM E A SOCIALIZAÇÃO 22
3.1. Conceito de lúdico
3.2. A importância do lúdico no desenvolvimento
CONCLUSÃO ....................................................................................... 32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 35
6
“A criança que não brinca, não se aventura em algo novo, desconhecido.
Se, ao contrário, é capaz de brincar, de fantasiar, de sonhar, está revelando ter
aceito o desafio do crescimento, a possibilidade de errar, de tentar e arriscar
para progredir e evoluir”.
LEBOVICI E DIATKINE
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INTRODUÇÃO
Este trabalho visa ao estudo do lúdico, pois é de extrema importância
conhecermos o seu papel no desenvolvimento das crianças, já que elas
dedicam a maior parte do tempo à brincadeira.
Os jogos e as brincadeiras são atividades que despertam prazer na
criança. O jogo, além de envolver informação, envolve também afetos,
representações simbólicas, conceitos e significados. Não se pode esquecer
que o jogo, na medida que envolve a participação ativa das crianças, serve
como base para que essa criança desenvolva uma cidadania autônoma e
cooperativa. É através dos jogos que as crianças, a cada dia que passa, estão
interagindo e se socializando cada vez mais.
É necessário entendermos que a criança é um ser lúdico na sua
essência, isso faz com que o compromisso com o brincar ultrapasse qualquer
perspectiva do adulto com relação a ela. A natureza da criança requer um
ambiente descontraído, rico em estímulos e possibilidades de explorar,
descobrir, recriar...
A criança precisa brincar, relacionar-se e interagir ludicamente com as
pessoas, com o ambiente, alcançando assim estágios mais complexos de
desenvolvimento de suas potencialidades. Isso contribuirá para a construção
da sua inteligência e, desta forma, a criança estará garantindo o seu lugar no
mundo como um ser pensante, crítico, capaz de lutar pelos seus direitos e de
ser respeitado como pessoa.
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CAPÍTULO I
ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE O LÚDICO
O brincar é assunto correlato sempre que o tema é criança. Apesar de
não ser tema novo, é capaz de despertar o interesse de todos os que, por
alguma razão, são ligados diretamente à criança.
No DICIONÁRIO BRASILEIRO DA LÍNGUA PORTUGUESA (1993),
brincar é definido como: “divertir-se infantilmente; folgar; entreter-se; dançar;
dizer ou fazer alguma coisa por brincadeira; agitar-se em movimentos
graciosos (falando-se das coisas);...” (DICIONÁRIO BRASILEIRO DA LÍNGUA
PORTUGUESA, 1993:179)
Na literatura, é possível verificar-se que muitos especialistas do
comportamento infantil vêm desenvolvendo pesquisas sobre o inicio da
socialização do ser humano, e, na sua maioria, concordam em admitir o fato de
que a criança se relaciona consigo mesma e com o ambiente de forma lúdica, e
esta ludicidade contribui para a construção da personalidade.
É através das brincadeiras, que a criança conhece os outros e ela
mesma, pois, por meio das relações recíprocas, a criança aprende as normas
sociais de comportamento, os hábitos culturais, utiliza os objetos, desenvolve a
linguagem, trabalha o imaginário e atua sobre o mundo físico.
Segundo VIGOTSKY (1991):
“No brinquedo, a criança sempre se comporta além
do comportamento habitual de sua idade, além de
seu comportamento diário; no brinquedo é como se
9
ela fosse maior do que é na realidade. Como foco de
uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as
tendências do desenvolvimento sob a forma
condensada, sendo, ela mesma, uma grande fonte
de desenvolvimento”. (VIGOTSKY, 1991:134-135)
PIAGET (1975) classifica o jogo em três categorias: o jogo do exercício –
no qual o objetivo é exercitar a função em si; o jogo simbólico – no qual o
indivíduo se coloca independente das características do objeto, funcionando
em esquema de assimilação; e o jogo de regras – no qual está implícita uma
relação interindividual que exige a resignação por parte do sujeito e, que, como
manifestação lúdica, caracteriza a relação criança ambiente, de acordo com as
formas de atividades próprias da infância.
O lúdico é inerente ao desenvolvimento, caracterizando a aprendizagem
não-dirigida necessária a todo processo de desenvolvimento mental da criança.
Segundo PIAGET (1975), a imitação é a origem do jogo de exercício.
Imitar consiste em reproduzir um objeto na presença do mesmo. Ele considera
que a imitação passa por diversas etapas, isso, com o passar do tempo, faz
com que a criança seja capaz de representar um objeto na ausência do
mesmo. Esse acontecimento significa que há uma evocação simbólica de
realidades ausentes. É uma ligação entre a imagem (significante) e o
conhecimento (significado) que origina o jogo simbólico, também conhecido por
faz-de-conta. O símbolo, para PIAGET (1975), é um meio de agregar o real aos
desejos e interesses da criança. Aos poucos, o jogo simbólico vai cedendo
lugar ao jogo de regras, pois a criança passa do exercício simples às
combinações, inicialmente sem finalidade, porém, com o tempo, a criança
passa a ter finalidade. Gradativamente, esse exercício vai se tornando coletivo,
tendendo a evoluir para o aparecimento de regras que constituem a base do
contrato moral.
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As regras pressupõem relações sociais ou interpessoais, elas
substituem o símbolo, enquadrando o exercício nas relações sociais. Para
PIAGET (1975) as regras são a prova concreta do desenvolvimento infantil.
O jogo, segundo VIGOTSKY (1991), traz oportunidades para o
preenchimento de necessidades irrealizáveis e a possibilidade para exercitar-
se no domínio do simbolismo. O jogo determina a ação da criança, ou seja, ele
é motivo para a ação, pois pode criar uma zona de desenvolvimento proximal,
permitindo que a criança se comporte num nível que ultrapasse o seu nível
normal.
VIGOTSKY (1991) acredita que a criança pequena tem uma
necessidade muito grande de satisfazer seus desejos imediatamente.
Normalmente, se esses desejos não forem realizados de imediato, a criança
fica tensa, se envolvendo com o ilusório e o imaginário, com esse envolvimento
seus desejos podem ser supridos. Esse é o conhecido mundo dos
brinquedos...
Segundo VIGOTSKY (1991), a imaginação é um processo novo para a
criança e constitui uma característica típica da atividade humana consciente,
porém, a imaginação surge da ação e é a primeira manifestação de
emancipação da criança em relação às restrições situacionais. Isso não
significa necessariamente que todos os desejos não-satisfeitos dão origem nos
brinquedos.
A brincadeira, sob o ponto de vista do desenvolvimento da criança, traz
vantagens sociais, cognitivas e afetivas.
Já WINNICOTT (1979) considera a brincadeira como sendo universal e
facilitadora do saudável crescimento da criança. Para ele, o ato de brincar
conduz aos relacionamentos grupais, sendo uma forma de comunicação e
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viabilizando a oportunidade de experimentar o exercício da simbolização.
Brincar é uma característica humana.
WINNICOTT (1979), em sua obra, “A criança e seu mundo”, faz uma
colocação de grande importância. Segundo ele:
“A criança adquire experiência brincando. A
brincadeira é uma parcela importante da sua vida.
As experiências tanto externas como internas podem
ser férteis para o adulto, mas, para a criança, essa
riqueza encontra-se principalmente na brincadeira e
na fantasia. Tal como as personalidades dos adultos
se desenvolvem através de suas experiências da
vida, as crianças evoluem por intermédio de suas
próprias brincadeiras feitas por outras crianças e por
adultos. Ao enriquecerem-se, as crianças ampliam
gradualmente sua capacidade criadora, que quer
dizer vivência”. (WINNICOTT, 1979:163)
Pode-se verificar que, a criança, ao brincar e jogar constrói seu próprio
conhecimento. E, para isso, uma das qualidades mais importantes do jogo e do
brinquedo é a confiança que a criança tem quanto à própria capacidade de
encontrar soluções.
Desde o nascimento, a criança está inserida num contexto social e seus
comportamentos são frutos do processo de relações interindividuais. A
brincadeira é desses comportamentos. Neste sentido BOUGÈRE (1997) afirma
que:
“A brincadeira pressupõe uma aprendizagem social.
Aprende-se a brincar. A brincadeira não é inata, pelo
menos nas formas que ela adquire junto ao homem.
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A criança pequena é iniciada na brincadeira por
pessoas que cuidam dela, particularmente sua mãe.
Não tem sentido afirmar que uma criança de poucos
dias, ou de poucas semanas, brinca por iniciativa
própria. É o adulto que, como destaca WALLON, por
metáfora, batizou de brincadeira todos os
comportamentos de descoberta da criança”.
(BOUGÈRE, 1997:32)
O brinquedo serve de instrumento na construção da realidade infantil
através da experimentação, proporcionando aprendizagem e desenvolvimento.
Sobre isso CUNHA (1988) afirma o seguinte:
“O brinquedo proporciona o aprender-fazendo e,
para ser melhor aproveitado, é conveniente que
proporcione atividades dinâmicas e desafiadoras,
que exijam participação ativa da criança”. (CUNHA,
1988:09)
Os brinquedos são instrumentos através dos quais a criança vivencia a
sua natureza lúdica. É através do jogo que a criança aprende a lidar com o
mundo e com as pessoas, e passa a se reconhecer no contexto sócio-cultural
como único e importante.
Tanto na prática, quanto na teoria, há algumas contradições a respeito
do jogo, do brinquedo e da brincadeira, que, para a maioria dos autores
citados, são consideradas atividades lúdicas. A atividade lúdica constitui um
processo constante de assimilação e projeção. Por meio da observação, a
criança recolhe grande quantidade de informação que ela integra no seu eu e
que traduz nas suas formas de brincar.
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Na verdade, as atividades lúdicas são tão importantes e necessárias ao
desenvolvimento global e harmônico da criança, quanto do adulto. Sobre isso
AUFAUVRE (1997) considera que:
“As atividades lúdicas constituem um setor de
atividade essencial para o ótimo e harmonioso
desenvolvimento da criança durante sua infância e
para o seu desabrochamento interior. Elas evoluem
consideravelmente em suas formas e em seus
impactos à medida que a própria criança descobre a
vida, os objetos, as outras pessoas”.
(AUFAUVRE,1997:31)
Assim, pode-se observar que brincar não significa simplesmente recrear-
se, brincar é a forma mais completa que a criança tem de comunicar-se
consigo mesma e com o mundo, pois, no ato de brincar, ocorre um processo de
toca, partilha, confronto e negociação, gerando momentos de desequilíbrio e
equilíbrio, propiciando novas conquistas individuais ou coletivas.
Nesse brincar está o pensamento, o verbalizado, o movimento, gerando
canais de comunicação, onde a linguagem cultural própria da criança é o
lúdico. Por isso, a criança comunica-se através dela e, por meio dela, irá ser
agente transformador, sendo o brincar um aspecto fundamental para chegar ao
seu próprio desenvolvimento integral.
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CAPÍTULO II
POR QUE A CRIANÇA BRINCA?
Ao observar crianças brincando perceber-se que elas manifestam
interesses por vários tipos de brincadeiras, dependendo de sua idade e sexo. O
brinquedo permite que as crianças deixem fluir suas fantasias e aguce sua
imaginação, possibilitando-lhes expor suas emoções e estimular sua
criatividade.
Muitas vezes os adultos desconhecem e não aceitam que as crianças
destruam seus brinquedos, por ignorarem o fato de que as crianças destroem
pela curiosidade de conhecer o que está por dentro, como funciona... Os
adultos, normalmente, associam esta curiosidade ao instinto destrutivo.
É importante que a criança crie seu próprio brinquedo, pois assim ela
aprende a trabalhar e transformar materiais em objetos que serão utilizados em
suas atividades lúdicas, desenvolvendo sua criatividade e expressão através
de atividades que lhes proporcionam prazer. A criatividade manifesta-se no ato
da criação de um brinquedo, mas também quando a criança recria um novo
significado para um brinquedo.
Algumas vezes as crianças fazem associações a objetos que não são
brinquedos, porém em suas brincadeiras se tornam objetos presentes, portanto
com outros significados. Até mesmo em brinquedo qualquer pode ser o que
realmente representa, já em outra brincadeira o mesmo brinquedo pode ter
outro significado.
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Os brinquedos e brincadeiras presentes na vida das crianças trazem
traços da sociedade e cultura à qual estas crianças pertencem. Através destas
brincadeiras há a possibilidade da construção de uma identidade infantil
autônoma, cooperativa e criativa.
Parece que, muitas vezes, não são as crianças que escolhem os
brinquedos, diferenciados por funções, mas sim os próprios pais, amigos, ou
melhor, a própria sociedade estimula esta diferença. Assim que nascem os
bebês, há uma distinção quanto aos brinquedos para meninos e meninas, os
meninos ganham carrinhos, e as meninas ganham bonecas... Trazem com eles
a diferença dos papéis representados na sociedade pelo homem e pela mulher.
Além disso, os pais ou adultos que lidam com os bebês, brincando com
estes, estimulam a brincadeira. Sobre isso BROUGÈRE (1997) afirma: “A
criança entra progressivamente na brincadeira do adulto, de quem ela é
inicialmente o brinquedo, o espectador ativo e, depois o real parceiro. Ela é
introduzida no espaço. E no tempo particulares ao jogo”. (BROUGÈRE,
1997:98)
O bebê já nasce em uma cultura onde existem certas brincadeiras e os
próprios adultos estimulam estas brincadeiras, pois eles mesmos brincam com
os bebês. O bebê é um ser ativo da brincadeira dos adultos.
As brincadeiras para as crianças permitem que elas repitam situações
prazerosas e dolorosas. Através das brincadeiras, a criança expressa seus
medos, angústias e problemas internos, com isso. Muitas crianças que
apresentam problemas são tratadas através da ludoterapia, porque é através
do brinquedo que o profissional conhece um pouco do mundo desta criança.
Por meio das brincadeiras, as crianças revivem certas situações do cotidiano,
alterando papéis e desfecho das situações.
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DUARTE, em LEBOVICI (1985), afirma quanto à importância do
brinquedo:
“Pode-se formular uma equação para sintetizar a
importância do brinquedo, dizendo que o trabalho
está para o adulto assim como o brinquedo está
para a criança. A presença do brinquedo ativo e
espontâneo é sinal de saúde mental e sua ausência,
um sintoma de doença física ou mental. O modo
como a criança brinca é indicado de como ela está e
de como ela é. LEBOVICI e DIAKTIME afirmam que
se o jogo, o brinquedo, é tão importante, deve ser
também considerado como a expressão dos modos
atuais da organização da personalidade da criança e
como um modo estruturante em relação à
organização mais tardia”. (LEBOVICI, 1985:06-07)
Através destas idéias, pode-se notar a grande importância que tem o
brincar para as crianças, assim como através de observações de crianças
brincando, pode-se entender mais de seu mundo interno, como pensamento,
angústias, sentimentos...
Torna-se necessário que as crianças tenham seu tempo reservado à
brincadeira espontânea, onde ela própria decida o que quer fazer, e com o que
quer brincar e o que tal brinquedo irá simbolizar ou significar. Nas brincadeiras,
as crianças criam e recriam papéis sociais, vivem situações do cotidiano. Na
maioria das vezes, elas desempenham papéis que consideram importantes:
podem ser mãe de alguma boneca ou mesmo de outra criança, podem ser a
professora... Sempre dramatizando os acontecimentos do cotidiano.
A televisão tem grande influência nas brincadeiras e escolha dos
brinquedos. Alguns autores acreditam que a televisão é uma concorrente das
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atividades lúdicas, porque as crianças, atualmente, dedicam muito tempo a
este meio de comunicação, sobrando-lhes pouco tempo para brincar.
Discordando desta idéia BROUGÈRE (1997) afirma:
“De qualquer modo, a televisão tornou-se uma
fornecedora essencial, senão exclusiva, dos
suportes de brincadeira, o que só pode reforçar sua
presença junto à criança. Realmente, a criança não
se limita a receber passivamente os conteúdos, mas
reativa-os e se apropria deles através de suas
brincadeiras, de maneira idêntica à apropriação dos
papéis sociais e familiares nas brincadeiras da
imitação”. (BROUGÈRE, 1997:54)
A televisão é o meio de comunicação que mais influencia as brincadeiras
e as escolhas dos brinquedos, é a cultura de uma sociedade influenciando as
atividades lúdicas das crianças. A televisão, também, estimula o consumo de
determinados brinquedos. Porém, ela não é o único instrumento que influencia
as brincadeiras das crianças, estas são influenciadas por experiências sociais,
imitação de papéis sociais, brincadeiras já existentes.
Através das idéias de OLIVEIRA (1984) pode-se perceber a importância
do brincar:
“A criança quando brinca aprende a se expressar no
mundo, criando ou recriando novos brinquedos e,
com eles, participando de novas experiências e
aquisições. No convívio com outras crianças trava
contato com a sociabilidade espontânea, ensaia
18
movimentos do corpo, experimenta novas
sensações”. (OLIVEIRA, 1984:49)
Percebe-se que a criança brinca para aprender a se expressar no
mundo em que vive, aprende coisas novas, convive com outras crianças, e isto
tudo lhe possibilita uma diversidade de novos conhecimentos que auxiliam em
seu desenvolvimento de modo geral.
As brincadeiras são atividades que despertam grande interesse nas
crianças, seus conteúdos são retirados de tudo que a criança vive: família, a
escola, a televisão, tudo isto influencia nas brincadeiras. As crianças brincam
para elaborar seus conflitos, criando e recriando papéis sociais, desenvolvendo
assim a sua criatividade.
Não é só a criança que brinca, todos os seres humanos brincam em
certos momentos, uma escola onde professores desenvolvem as atividades
com a utilização de jogos desenvolve em seus alunos a criatividade, o
equilíbrio emocional, a saúde mental, o reconhecimento de suas capacidades e
possibilidades individuais, a coordenação, a capacidade de cooperação em
trabalhos de grupos, a aceitação de regras, entre outros pontos.
Através da brincadeira, a criança nos permite observar o seu eu em
determinadas situações e momentos onde expõe sua realidade vivida em casa,
como quando brinca de casinha, por exemplo.
A atividade livre proporciona à criança um imenso prazer, e nada melhor
do que fazer algo agradável. As brincadeiras representam uma preparação
natural para a vida adulta e o trabalho, despertando e desenvolvendo
criatividade e capacidade que serão importantes para o futuro.
O jogo ultrapassa a esfera da vida humana, estando anterior à cultura.
Além dos jogos que são, normalmente, incorporados à cultura de um povo, a
19
própria cultura se desenvolve e se forma estimulada pelo espírito lúdico. É
através do jogo que a criança se desenvolve em todos os aspectos, sejam eles
físicos, sociais e outros.
Além de prazeroso, o jogo, como nos afirma RIZZI (1987), auxilia na
liberação de cargas de energia, sendo também bastante útil na socialização e
na compreensão da realidade da vida, onde não só se ganha, mas também se
perde, contribuindo culturalmente como expressão de idéias comunitárias.
De acordo com os estudos de VIGOTSKY (1998): “(...) definir o
brinquedo como uma atividade que dá prazer é incorreto...” (VIGOTSKY,
1998:121), pois se observou, de vários estudos, que existem outras atividades
que também proporcionam prazer as crianças, como, por exemplo, chupar
chupeta.
O mencionado autor esclarece, então, que o prazer do brinquedo
provém de motivos diferentes e é importante ressaltar que o brinquedo exerce
uma enorme influência no desenvolvimento da criança, pois é através dele que
ela aprende e começa a agir, não numa esfera visual externa, mas numa
esfera cognitiva, onde a percepção é um estimulo para a atividade, é um
aspecto integrado de uma reação motora.
O desenvolvimento da criança depende do lúdico. Ela precisa brincar
para crescer, sendo o jogo uma forma de equilíbrio com o mundo, e uma forma
de lazer para a criança. A brincadeira é a melhor forma de se aprender todos
os conteúdos, pois, assim como diz PIAGET (1975) não existe nada que não
possa ser ensinado através da brincadeira, de forma prazerosa, e, se não se
pode ensinar através da brincadeira algum conteúdo, é porque provavelmente,
no momento, este não será útil a criança. Com o tempo, a criança vai
percebendo e diferenciando os tipos de jogos e percebendo, dessa forma, que
alguns mais que outros necessitam de uma maior concentração e esforço, sem
deixar de ser uma atividade prazerosa. É interessante observar que isso não
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ocorre apenas com as crianças, pois nossa tendência geral é fazer tudo aquilo
que nos dá prazer, o contrário somente ocorre através de uma imposição do
meio.
O brincar tem a vantagem de ser o que a criança mais gosta de fazer,
sendo para ela a coisa mais séria, importante e envolvente. Quando livre e
espontânea, a brincadeira absorve, centraliza suas energias, provoca e
desenvolve sua inteligência, apóia e expressa sua afetividade, ajuda-a a
conhecer, descobrir, criar e recriar o mundo, estimula sua fantasia, e dá chance
a sua criatividade. A criança se desenvolve quando há liberdade de ser e de
criar, porque ela não surge pronta e, manifestando-se desde a primeira
infância, utiliza-se de habilidades adquiridas para o prazer funcional, criando
um espaço para a realização de desejos.
Na Pedagogia Tradicional, o jogo sempre foi considerado como uma
espécie de alteração mental ou como algo sem muito significado, que acabava
desviando a atenção e a concentração das crianças de seus deveres, mas hoje
se percebe que uma das características principais do jogo é a capacidade que
o mesmo tem de absorver o que participa de maneira total e intensa, sendo
também realizado de maneira ou forma espontânea, em que, apesar das
regras da limitação de espaço e de tempo, há possibilidade de repetição, além
de oportunidades ao que participa de desenvolver a sua criatividade.
De acordo com RIZZI (1987) “O jogo é uma atividade que tem valor
intrínsico”. (RIZZI, 1987:13) e autora menciona LEIF no mesmo livro, que
afirma: “Jogar educa, assim como viver educa; sempre sobra alguma coisa”.
(RIZZI, 1987:13)
O jogo aciona e ativa as funções psiconeurológicas e as operações
mentais, estimulando o pensamento, integrando as várias dimensões da
personalidade afetiva, motora e cognitiva. E como nos diz RIZZI (1987): “O ser
que brinca e joga é também o ser que age, sente, pensa, aprende e se
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desenvolve” (RIZZI, 1987:14) e, afirma ainda a autora, “(...) através do
brinquedo e do jogo a criança expressa, assimila e constrói a sua realidade”.
(RIZZI, 1987:15)
Então, o jogo inicialmente egocêntrico e espontâneo vai se tornando
cada vez mais uma atividade social, na qual as realizações interindividuais são
fundamentais. Nos estudos de PIAGET (1975) em relação ao jogo, ele afirma
que o jogo é uma atividade que proporciona à criança prazer. O jogo também
auxilia na libertação de conflitos, tornando-os fáceis de serem aceitos e
suportados,assim como nos diz PIAGET (1975):
“O jogo ignora os conflitos ou, se os encontra, é para
libertar o eu por uma solução de compreensão ou de
liquidação, ao passo que a atividade séria se vê a
braços com conflitos que ela não saberia desviar”.
(PIAGET, 1975: 191)
Conclui-se, então, que brincar é uma forma da criança demonstrar estar
gozando de boa saúde, seja mental ou física, além de ser o jogo um meio que
auxilia no desenvolvimento da linguagem, principalmente quando realizada de
forma coletiva.
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CAPÍTULO III
AS ATIVIDADES LÚDICAS, A APRENDIZAGEM E A
SOCIALIZAÇÃO
Ao nascerem, os bebês iniciam a exploração do mundo ao seu redor.
Desde o nascimento até o início da fala, os bebês realizam os jogos de
exercício, segundo PIAGET (1975). Apesar desses jogos serem mais comuns
até os dois anos de idade, pois têm como finalidade o próprio prazer do
funcionamento, eles reaparecem no decorrer de toda infância.
3.1. Conceito de lúdico
Pais e adultos que convivem com bebês, os estimulam desde o
nascimento a brincar. Esses primeiros jogos são os funcionais, os que
possibilitam que o bebê faça descobertas quanto ao seu próprio corpo.
Referindo-se aos bebês, ABERASTURY (1972) afirma: “Muitas de suas
tentativas de explorar o ambiente constituirão a base de sua futura atividade
lúdica”. (ABERASTURY, 1972:21) Através desta afirmativa percebe-se que os
jogos de exercício são as bases para as demais atividades lúdicas.
Com o aparecimento da linguagem, aparecem os jogos simbólicos que
ficam presentes até os seis ou sete anos, aproximadamente. Esses jogos são
caracterizados pela invenção de um objeto que está ausente fisicamente,
porém está presente na imaginação das próprias crianças, simbolizando o que
elas desejam. Muitas vezes as crianças reproduzem as situações vivenciadas
diariamente.
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A partir dos quatro anos os jogos simbólicos começam a diminuir, eles
passam a se aproximar do real. As brincadeiras se voltam para a
representação imitativa da realidade.
É a partir dos seis anos que o simbolismo começa a diminuir nas
brincadeiras, dando espaço aos jogos de regra. São os jogos de regra que
acompanham o indivíduo no decorrer de toda sua vida.
Pode-se observar que as atividades lúdicas, assim como o
desenvolvimento dos jogos, nas crianças, são facilitadoras da aprendizagem e
do desenvolvimento.
FRIEDMANN (1976) afirma a respeito da aprendizagem:
“A aprendizagem depende em grande parte da
motivação: as necessidades e os interesses da
criança são mais importantes que qualquer outra
razão para que ela se ligue a uma atividade”.
(FRIEDMANN, 1976:55)
As crianças mostram-se motivadas e interessadas em jogos e
brincadeiras, principalmente se essas brincadeiras forem espontâneas, isso faz
com que elas fiquem concentradas, interagindo e assimilando novos
conhecimentos. Esse fato nos mostra a importância da motivação na
aprendizagem.
As brincadeiras podem ser utilizadas pelos professores para que estes
possam despertar o interesse do aluno no momento em que transmitem os
conteúdos. Prendendo a atenção das crianças através das brincadeiras, é
possível obter um resultado positivo nesta transmissão.
24
Muitos professores utilizam as brincadeiras apenas para despertar os
interesses dos seus alunos, com o objetivo de transmitir conteúdo. Neste
sentindo, muitas vezes, podem obter um resultado positivo, deixando as
crianças mais interessadas e, assim, prestando maior atenção ao que estão
fazendo, sendo possível a transmissão dos conteúdos através das brincadeiras
propostas pelo professor.
É importante ressaltar que é de extrema importância que também haja
um tempo para as crianças escolherem o tema e o conteúdo de suas
brincadeiras, pois é através disso que elas se tornam mais criativas, além de
estarem aprendendo de modo não direcionado. Essas brincadeiras
consideradas espontâneas podem ser realizadas em qualquer ambiente,
inclusive nas brinquedotecas.
3.2. A importância do lúdico no desenvolvimento
As brinquedotecas são ambientes cheios de brinquedos que auxiliam no
desenvolvimento da criatividade das crianças, nelas as crianças estimulam o
desenvolvimento intelectual, social e emocional.
CUNHA (1994) afirma, sobre brinquedoteca: “É um espaço onde as
crianças ( e os adultos) vão para brincar livremente, com todo estímulo à
manifestação de suas potencialidades e necessidades lúdicas”. (CUNHA,
1994:13)
A autora citada, acima, afirma também:
“Aí está mais uma importantíssima tarefa para a
brinquedoteca: deixar brincar, deixar criar, mais e
mais, com vários brinquedos e com muita variedade
de materiais, desafiando e promovendo a
inventividade, resgatando assim o direito à
25
verdadeira especialidade que é a de ser diferente e
único”. (CUNHA, 1994:80)
Através das brincadeiras espontâneas, a criança é capaz de criar os
conteúdos, as histórias, os personagens... Com a variedade de materiais
fornecidos nas binquedotecas, as crianças desenvolvem a curiosidade,
permitindo a invenção, que as tornam mais produtivas e criativas.
As atividades lúdicas realizadas na escola devem facilitar o
desenvolvimento e a aprendizagem das crianças; é importante que a escola
propicie a todos um desenvolvimento integral e dinâmico.
Como os indivíduos vivem em uma sociedade, devem contribuir para a
socialização de todos, inclusive crianças.
Segundo BROUGÈRE (1997):
“Encaramos a socialização como um conjunto dos
processos que permitem a criança se integrar ao
“socius” que a cerca, assimilando seus códigos, o
que lhe permite instaurar uma comunicação com os
membros da sociedade, tanto no plano verbal
quanto no não-verbal”. (BROUGÈRE, 1997:62-63)
As brincadeiras podem ser incluídas nos processos acima, pois é
através delas que há a integração entre as crianças e a troca de códigos
sociais. A comunicação e o entendimento são de extrema importância, para
que as crianças possam brincar em grupo.
A primeira influência que uma criança recebe na sua socialização é a
própria família, que é a influência cultural do seu grupo social. A segunda é a
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da escola, que desenvolve habilidades cognitivas, para que elas compreendam
a sua cultura.
A interação social já pode ser sentida por volta dos três meses de idade,
pois ao perceber a aproximação de alguém, o bebê o segue com o olhar, pára
de chorar...
BROUGÈRE (1997) afirma sobre brinquedo e a socialização:
“[...] o brinquedo estimula condutas mais ou menos
abertas, estrutura, comportamentos e aparece,
portanto, como exercendo, nesse nível, uma função
de socialização que permite a inscrição de
comportamentos socialmente significativos na
própria ação da criança. Existe, então, a
possibilidade de transmissão de esquemas sociais
por intermédio do objeto”. (BROUGÈRE, 1997:66)
A socialização através do brinquedo desenvolve a linguagem, o
esquema corporal e é um facilitador para as aprendizagens futuras.
O próprio brinquedo, ou qualquer outro objeto que se torne que se torne
um brinquedo, serve de intermédio para que um grupo de crianças possa
desenvolver comportamentos sociais aceitáveis. Esses brinquedos possibilitam
que as crianças ampliem cada vez mais os códigos sociais.
Muitos adultos consideram o brincar como uma atividade secundária, um
passatempo, porém, o aprofundamento nesse estudo, faz com que se perceba
a importância e a necessidade do brincar. Porque, além de permitir a troca de
códigos sociais, brincar auxilia no desenvolvimento das crianças de modo
geral, possibilitando o crescimento das mesmas como um todo, um ser
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individual e social, capaz de desenvolver suas habilidades e conviver em uma
sociedade.
É através das brincadeiras que as crianças desenvolvem papéis sociais
e comportamentos pré-estabelecidos pela própria sociedade. Essas práticas e
interpretações contribuem para que as crianças sejam inseridas na sociedade
em que vivem. Como afirma OLIVEIRA (1984): “No brinquedo infantil, práticas
e interpretações sociais estão representadas”. (OLIVEIRA, 1984:13)
Muitas vezes, as crianças reproduzem as situações do dia a dia nas
suas brincadeiras, dando lugar ao confronto ou à divergência, isso é importante
para que elas aprendam e assimilem regras.
Assim como o bebê, que primeiramente explora seu corpo, depois passa
a brincar consigo mesmo, mais tarde brinca com o corpo da mãe, e com o
passar do tempo começa a perceber a presença e a se interessar pelos que o
rodeiam, a criança, por volta dos três anos, começa a brincar com alguém e se
torna capaz de compartilhar. A partir desta idade, as crianças brincam de
professor e aluno, pai e filho... Elas dão vida aos brinquedos, conversam com
eles, brincam, fazem carinho, brigam... A maioria dos adultos não é capaz de
compreender estas atividades infantis. Os adultos não conseguem separar as
mentiras das fantasias. Para as crianças, a fantasia é um universo que foi
criado por elas, então, ele é real. Na sua fantasia a criança experimenta a
competição com o adulto e projeta as relações entre ela e os adultos com os
quais convive, expondo os sentimentos que mexem com ela.
O brinquedo é um objeto que pertence a um ambiente, que de certa
forma influencia a socialização das crianças. Diz BROUGÈRE (1997): “Este
brinquedo pode ser considerado como uma “mídia” que transmite à criança
certos conteúdos simbólicos, imagens e representações produzidas pela
sociedade que a cerca” .(BROUGÈRE, 1997:63)
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O brinquedo veicula certos valores para a criança. Muitas vezes, pelo
significado de certos brinquedos, são transmitidos certos comportamentos que
a sociedade espera daquela criança no futuro: os meninos ganham carrinhos,
bolas, robôs..., já as meninas são presenteadas com bonecas, panelas,
fogões... Apesar das crianças não fazerem distinção entre os brinquedos, os
adultos influenciam as meninas a brincarem de casinha, enquanto os meninos
brincam de luta.
BROUGÈRE (1997) nos mostra a influência do brinquedo no futuro
dessas crianças com a seguinte afirmativa:
“Com o brinquedo, a criança constrói suas relações
com o objeto, relações de posse, de utilização, de
abandono, de perda, de desestruturação, que
constituem, na mesma proporção, os esquemas que
ela reproduzirá com outros objetos na sua vida
futura”. (BROUGÈRE,1997:64)
As crianças, por meio dos brinquedos, experimentam as várias relações
existentes na vida; elas brincam para depois, quando adultos, reproduzirem as
relações em outros objetos e situações. As brincadeiras são um ensaio para as
futuras relações do adulto com o mundo.
CUNHA (1994) faz um comentário sobre a importância do brincar: “...
brincando, a criança desenvolve a sociabilidade, faz amigos e aprende a
conviver respeitando o direito dos outros e as normas estabelecidas pelo
grupo”. (CUNHA, 1994:11)
Além de todos benefícios mencionados anteriormente para o
desenvolvimento das crianças, as brincadeiras permitem que as próprias
crianças aprendam a conviver em um grupo social, isso é de extrema
importância, já que a todo instante estamos nos relacionando com outras
29
pessoas e precisamos saber respeitar os direitos de todos e as normas da
sociedade.
CUNHA (1994) afirma que:
“A criança que teve a oportunidade de participar de
muitos jogos e brincadeiras, aprendeu a trabalhar
em grupos; por ter aprendido a aceitar as regras do
jogo saberá, também, respeitar as normas sociais.
No brinquedo terá oportunidade de desenvolver
capacidades indispensáveis à sua futura atuação
profissional, tais como: atenção, o hábito de
permanecer concentrado e outras habilidades
perceptuais e psicomotoras”. (CUNHA, 1994:27)
Para a criança, o brincar é uma atividade séria. A criança deve ter
muitas experiências lúdicas e, de preferência, em grupo. Assim, desenvolverá
habilidades de grande importância na sua vida, como a concentração, a
atenção, o gosto por se manter ocupado criando e produzindo novas coisas.
Para VIGOTSKY, citado em OLIVEIRA (1996), nas brincadeiras existe a
imitação, imaginação e regras. Observando crianças brincando, pode-se notar
três características. Quando brincam, estão a todo momento criando novos
objetos, novas situações, imitando pessoas ou situações que já aconteceram.
Se a brincadeira for com um grupo de crianças, pressupõe-se que haja regras,
pois não é possível um convívio social sem regras, e, nas brincadeiras, as
regras servem para o desenrolar das mesmas e a definição dos papéis de cada
um.
A estimulação social apresenta-se como um ponto importante para o
desenvolvimento da inteligência ou do intelecto da criança, e tem como objetivo
a socialização do pensamento.
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A socialização vai aumentando na criança, à medida que ela tem a
oportunidade de estar em contato com outras crianças e adultos. O adulto
exerce e tem grande importância e influência, sendo imprescindível seu contato
com as crianças, como destaca ALMEIDA (1987), devendo ser estimulado em
todos os momentos e de todos os modos, pois:
“Falar, ler, contar histórias, conversar, brincar, correr,
montar a cavalo, ler para os filhos, possibilitar
estimulações variadas, participar são atitudes que
educam a criança, levando-a a alcançar uma mente
ativa, um corpo saudável, e um estado emocional de
equilíbrio”. (ALMEIDA, 1987:31)
Os jogos, segundo nos afirma WEIL (1968) exercem para a criança um
sentido utilitário e funcional, e quando em grupo, desenvolvem na criança
várias qualidades, além da sociabilidade, tais como o controle sobre os seus
instintos, o desejo de aperfeiçoar-se, o respeito à regra e à arte de dirigir. Por
isso, fazer os filhos participarem ativamente com outros grupos de criança é um
meio de auxílio no desenvolvimento de situações futuras, que lhes
proporcionarão êxito na vida.
O jogo torna-se então, uma atividade social, onde as relações
interindividuais são de extrema importância, suplantando, dessa forma, o seu
lado espontâneo e egocêntrico. A interação social deve ser incentivada, e o
professor deve ser mostrar colaborador, no sentido de não despertar na
criança, que a principio joga pelo prazer de jogar, o sentimento de competição,
pois todos devem cooperar para um bom desenvolvimento de metas comuns.
A criança precisa sempre de ajuda para não sentir-se humilhada ou vi a
humilhar ou ridicularizar seus companheiros, sabendo perder ou ganhar de
forma esportiva, compreendendo que há momentos em que se ganha, mas há
momentos em que se perde.
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RIZZI (1987) afirma:
“Jogo supõe relação social, supõe interação. Por
isso, a participação em jogos contribui para a
formação de atitudes sociais: respeito mútuo,
solidariedade, cooperação, obediência às regras,
senso de responsabilidade, iniciativa pessoal e
grupal. È jogando, que a criança aprende o valor do
grupo como força integradora e o sentido de
competição salutar e da colaboração consciente e
espontânea”. (RIZZI, 1987:15)
Como vimos, educador deve ter como meta, preparar a criança para
competir de forma sadia, aonde o respeito e a consideração pelo seu
companheiro venha a prevalecer, pois o desejo de competir deve ser com o
intuito de superação e aperfeiçoamento de seus esforços e de sua interação
social.
As brincadeiras permitem que as crianças tenham uma aprendizagem,
de modo geral, não somente de conteúdos trabalhados na escola, mas um
aprendizado da vida, desenvolvendo habilidades necessárias em seu viver
diário, assim como possibilita o aprendizado do convívio social.
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CONCLUSÃO
Neste trabalho, pode-se perceber que as brincadeiras são muito
importantes para as crianças. A criança que brinca parece ser mais feliz, além
disso, tem possibilidade de elaborar seus medos, conflitos e angústias.
Os autores consultados como: PIAGET, VIGOSTKY, ALMEIDA, RIZZI e
outros serviram de base para a realização e concretização deste trabalho,
enfatizando a importância do jogo como instrumento de socialização e
desenvolvimento da linguagem.
Como se vive em uma sociedade, tudo o que a criança vive torna-se
conteúdo de suas brincadeiras: sua família, a escola, os meios de
comunicação... Um dos meios de comunicação que mais influencia as
brincadeiras das crianças é a televisão. Esta fornece vários conteúdos para as
crianças, que podem criar em cima deles. Toda a nossa cultura influencia as
atividades lúdicas das crianças; elas podem desempenhar papéis sociais,
imitando algum “modelo”, que pertence ao seu cotidiano.
Quanto ao bebê, de acordo com PIAGET (1975), pode-se classificar os
seu jogos, como jogos de exercício, que vão até, aproximadamente, os dois
anos de idade. Esses jogos estão voltados para a exploração do corpo, e mais
tarde, para o corpo de sua mãe e dos objetos que o cercam.
Quando surge a linguagem, aparecem os jogos simbólicos, que vão até
os seis ou sete anos de idade. Estes jogos caracterizam-se pela invenção de
um objeto que não está presente, este surge da imaginação das crianças.
É a partir dos seis anos, mais ou menos, que o simbolismo começa a
diminuir nas brincadeiras, surgindo os jogos de regra. São os jogos de regra
que acompanham o indivíduo por toda a sua vida.
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As crianças se interessam muito por jogos e brincadeiras, e, sabendo
que a aprendizagem está ligada a motivação de cada um, pode-se perceber
que, através destas atividades lúdicas, as crianças se concentram e aprendem
mais.
O jogo é um agente facilitador na aprendizagem da criança, auxiliando
no desenvolvimento da linguagem, pois o contato com o adulto amplia o seu
vocabulário e, também, a sua socialização quando em contato com outras
crianças, onde, através do jogo, a criança aprenderá a compartilhar, dividir,
agir, pensar, deixando o seu egocentrismo de lado.
Muitos professores utilizam algumas brincadeiras para transmitir algum
conteúdo, porém estas se tornam direcionadas. Embora possa até despertar
maior interesse na turma, é muito importante que as próprias crianças criem
suas brincadeiras, façam suas escolhas, desenvolvendo a criatividade.
Um ambiente propício para as atividades são as brinquedotecas, onde
há uma diversidade de materiais que permitem a criação através das
brincadeiras.
Através das brincadeiras, as crianças interagem e se socializam,
trocando esquemas sociais e desenvolvendo suas atividades. Nas brincadeiras
em grupo, as crianças vão percebendo que, para participar de qualquer grupo
social, precisamos ter regras. As regras servem para definir os papéis ou o
desenrolar das brincadeiras.
Os próprios brinquedos trazem consigo valores e modos de pensar de
nossa sociedade. A sociedade estimula a diferença de sexos através dos
brinquedos, diferenciando os brinquedos para os meninos e meninas, porém as
crianças não se importam com tal diferença. Meninos e meninas podem brincar
com carrinhos ou bonecas, ou seja, com qualquer brinquedo.
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Utilizar as brincadeiras com o intuito de despertar o interesse nas
crianças para determinado conteúdo é válido, contudo é de maior importância
que as crianças brinquem segundo suas escolhas, seus interesses, sua
criatividade, para que desenvolvam cada vez mais em suas potencialidades. O
brincar espontâneo desperta bastante interesse nas crianças, e, estas se
concentram, trocam experiências, enriquecendo, assim, a sua experiência de
vida.
Enfim, a partir deste estudo foi possível concluir que realmente, o lúdico
desenvolve o corpo, a mente, o espírito, a linguagem e a socialização na
criança, pois não há nada mais gostoso do que fazer algo que seja agradável e
prazeroso.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ALMEIDA, Paulo Nunes. Educação lúdica, técnicas e jogos pedagógicos.
São Paulo: Loyola, 1987.
BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 1997.
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confecção de brinquedos. Rio de Janeiro: FAE, 1988.
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FRIEDMANN, Adriana. Brincar: crescer e aprender. O resgate do jogo infantil.
São Paulo: Moderna, 1996.
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criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.
OLIVEIRA, Marta Kohl de. VIGOTSKY: aprendizado e desenvolvimento um
processo sócio histórico. São Paulo: Scipione, 1995.
OLIVEIRA, Paulo de Salles. O que é o brinquedo? São Paulo: Brasiliense,
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PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo, sonho,
imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
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RIZZI, Leonor & HAYDT, Regina Célia. Atividades lúdicas na educação de
crianças. São Paulo: Ática, 1987.
VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Ramos,
1998.
WEIL, Pierre. Relações humanas na família e no trabalho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1968.
WINICOTT, D.W. A criança e o seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas
Pós-Graduação “Latu Sensu”
Título da Monografia:
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR
Data da Entrega: ________________________
Avaliado por ____________________________________ Grau ___________
Rio de Janeiro, _____ de ____________ de 2003
_______________________________________
Coordenador do Curso