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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DE FORMAR LEITORES
Um olhar para o professor
POR
ARLETE MARIA DE ANDRADE
Orientador:
Prof. Mestra Mary Sue
RIO DE JANEIRO
2
2004
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DE FORMAR LEITORES
Um olhar para o professor
Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em
psicopedagogia.
A leitura é o mergulho mais prazeroso que alguém pode
dar e, é condição única do ser humano.
Através das palavras podemos conhecer o coração de quem
escreveu, e chegar até o coração de quem lê, de quem se
propõe á este mergulho.
Lendo vamos relendo nosso mundo interior e o mundo que
nos cerca, e reescrevendo nossa história.
3
AGRADECIMENTOS
A Deus por proteger meus passos.
A meu marido por acreditar e apostar
nos meus sonhos, como se dele
fossem.
A paciência e amor dos meus filhos.
Aos professores e amigos, que
partilharam esta caminhada comigo.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho á todos
os educadores que acreditam
na educação como único caminho
para diminuir a desigualdades sociais
5
RESUMO
Mais um trabalho levantando a questão da leitura,
numa abordagem direta ao professor, sobretudo o
professor que apresenta as primeiras letras, que inicia
o feliz aluno no mundo da leitura.
Num olhar otimista, a crença de que este caminho
pode transformar vidas, fazer história, recriar
histórias, e mostrando a leitura desta maneira, buscar
dentro de cada um o desejo por ela desde cedo.
Não permitir que este despertar aconteça apenas por
obrigação, apenas, porque um ofício exigiu, um trabalho
a ser feito; que este despertar seja como o nascer do
sol, algo cotidiano, mas que nunca nos cansamos de ver.
Abraçar a responsabilidade de educar, acreditando
que a leitura, que o ato de ler, nos leva a compreender
melhor nossos caminhos, criar atalhos, refazer a
caminhada sempre.
Apresentar a leitura à criança, como se estivéssemos
apresentando as próprias personagens que dela fazem
parte.
6
Se o educador entender que precisa da fantasia para
ser um bom leitor, para ser um bom contador de
histórias, para escolher e indicar os livros e textos à
serem lidos, ele fará de seus alunos futuros leitores.
Aqui está relatado o ensaio de alguém, que acredita
na possibilidade de um dia ver uma sociedade mais justa,
porque esta sociedade, é capaz de construir seres com
grande capacidade crítica.
Mais uma leitura com a “presunção” de acordar a
mágica intrínseca à natureza humana, porque todos nós
somos dotados de sensibilidade, e como a leitura precisa
ser exercitada, dia-a-dia, momento á momento, re-
aprendendo a fantasia da criança, que não podemos deixar
morrer em nós.
Como diz Fanny Abramovich devemos ser embalados,
acalentados pelos contos de fadas, e digo mais, recria-
los, transformando suas personagens, reescrevendo as
histórias que tanto nos acalentou em “sonhos reais”, nos
colocando como protagonistas de cada uma delas.
7
METODOLOGIA
Pesquisa de campo (entrevista com professores(as) de
língua portuguesa e leitura), pesquisa bibliográfica, e
artigos na internet que abordem o assunto leitura.
8
SUMÁRIO
RESUMO 06
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO I
FANTASIA UMA ALIADA À LEITURA 12
CAPÍTULO II
A GRANDE MOTIVADORA AINDA É A ESCOLA 16
CAPÍTULO III
A LEITURA NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO 18
CAPÍTULO IV
9
· Conclusão 28
· Bibliografia 29
· Anexos 30
· Índice 35
· Folha de avaliação 37
· Caderno de atividades culturais 38
INTRODUÇÃO
Ler é desbravar mundos dentro de nós mesmos.
Aqueles que ainda não aprenderam a ler os códigos de
uma escrita, antes mesmo que ela se apresente, desenhada
por suas próprias mãos, já faz a leitura de seu mundo;
já arrumou os “códigos” necessários à sua sobrevivência
em sociedade. Mas, se faz necessária uma leitura mais
organizada, onde quem lê, leia seu mundo criando outras
vertentes, e cada uma destas, descortinando novos
horizontes. Portanto, a leitura nos dá uma passagem, no
princípio, para viagens em classes econômicas; e à
medida que desbravamos novas terras, as viagens se
tornam mais longas e bem mais interessantes, levando-nos
às primeiras classes, onde nos tornamos verdadeiros
bandeirantes; descobridores de terras longínquas e
cheias de encantamento.
A leitura nos torna seres mais críticos, não só do
mundo, como de nós mesmos: Saímos de uma criticidade
10
ingênua, para apreensão das diversas leituras que a vida
nos apresenta.
11
A preocupação com a questão da leitura vem sendo
alimentada há algum tempo por alguns teóricos.
O que precisa ser observado, é que além da leitura
ter sido deixada completamente de lado, apenas na
escola, a grande maioria das crianças tem acesso á ela.
Hoje, nem os gibis são mais os velhos companheiros dos
pequenos.
O que acontece, e não é difícil ser percebido, mesmo em
casa, é que as leituras feitas têm pouco de
interpretação; há um vocabulário mais extenso, mas não
há uma compreensão de texto, de frases, até de algumas
palavras.
Há uma preocupação na codificação de códigos, para
construir palavras, que são inseridas em frases, e
depois em textos, mas sem a interpretação do que está
sendo feito. Esta é talvez a maior, senão, a grande vilã
da queda na aprendizagem, desta bola de neve, que tem
crescido cada vez mais, principalmente na educação de
base.
A leitura do analfabetismo pode ser feita de várias
maneiras: A quantidade de códigos que precedem a
leitura, fazem parte da vivência de cada um, e farão
parte da escrita, quando esses símbolos puderem ser
codificados.
A leitura é um exercício de paciência, em principio,
quando todos os códigos estão por serem conhecidos, e
12
neste exercício cotidiano a paciencioso, torna-se um
exercício de prazer e amor, pois a cada descoberta,
descortina o desejo, a impulsão para os saberes.
A diversidade de conhecimentos, e meios de adquiri-
los, aliados à experiência de cada um, abre um leque de
criticidade, colocando esse ser que critica num campo
cada vez maior de reflexão.
Não vamos levar em conta as diversas patologias que
podem comprometer a aprendizagem da leitura e da
escrita, à assimilação dos diversos códigos, mas colocar
a importância desta atitude em direção ao hábito
saudável da leitura.
O que é importante saber é que é possível conhecer-
se neste mergulho, em que a leitura nos leva, nos
submergindo á uma profundidade de conhecimentos externos
e de nós mesmos.
O que deverá nos preocupar, é que o ato de ler,
embora deva ser encarado como algo simples e prazeroso,
tem sido encarado como algo apenas de responsabilidade,
de obrigação de alguns educadores, e mesmo que não se
perceba, isto é passado para aqueles para quem os
professores deveriam ser exemplo.
13
FANTASIA, UMA ALIADA À LEITURA
A leitura interpretativa deverá ser levada em conta desde os primeiros códigos, ainda abstratos, em que a
fantasia adorna o mundo da criança, próprio do mundo
infantil. A leitura não poderá ser diferente, deverá ser
o real mergulho na fantasia.
Se levarmos em conta que interpretamos a vida desde
a tenra idade, que a fantasia que encanta os livros, é
parte real da vida da criança, faremos com que ela
cresça neste gostoso mundo, abrangendo conhecimentos,
abstraindo o real gradativamente, a cada letra, a cada
silaba, a cada palavra.
A medida em que aprendemos usamos o nosso material
experenciado, para identificar os códigos de acordo com
nosso livro interior, lendo as páginas já escritas, e à
medida que assimilamos novos códigos, escrevemos mais
páginas e melhores, e reescrevemos o que outrora foi
escrito, de maneira mais clara.
Não conhecemos uma criança que não goste de
historia, e que não goste de fazer interpretação segundo
14
sua visão (da criança). Histórias que estejam próximas
de sua realidade fará mais sentido e recria-las será
mais prazeroso.
Não há como falar em motivação se aquele que quer
motivar não se sinta motivado, portanto, há que se fazer
uma releitura da responsabilidade do professor
motivador, do educador, sobretudo na alfabetização.
Motivar os primeiros passos
Já ouvimos dizer que a primeira impressão é a que
fica, esta, não deve ser uma máxima, mas se pensarmos
nela -no caso da alfabetização-, veremos que ao
apresentarmos as letras, a escrita, a leitura,
estaremos, abrindo um caminho a ser seguido
indefinidamente, neste caso, as primeiras impressões
podem influenciar de maneira importante.
O professor da alfabetização precisa estar aberto a
fantasia que mobiliza os ouvidos, os olhares, a atenção;
Cada emoção, cada descoberta no mundo das letras, da
leitura! Sendo assim, esse professor, despede-se de sua
função de ensinante para a fantasia do aprendente.
A avaliação também é outra ferramenta que deverá ser
repensada todos os dias, substituindo-a por um olhar
centrado na maneira de ler de cada um.
15
Assim, como será impossível encontrar duas pessoas
com pensamentos iguais, o aprendizado também não se dará
da mesma forma, não podemos esperar uma mesma linha de
raciocínio, um mesmo resultado.
Os textos selecionados deverão levar em conta o
contexto em que esse aluno vive, direcionando-os á uma
leitura mais compreensiva do mundo real, sem deixar, no
entanto, o aspecto fantasioso, que deverá estar presente
sempre.
O professor motivador não generaliza, enxerga
detalhes, lê nas entrelinhas.
O aluno motivado que vê em seus pequenos passos um
começo para longos caminhos, grandes saltos, tende á
prosseguir com entusiasmo, valorizando seus erros e
acertos, e valorizando o trabalho do professor.
A recompensa do trabalho docente é os resultados,
não os resultados aferidos em notas, mas os resultados
obtidos com o sucesso do dia-a-dia, o gostinho de ver os
primeiros passos, como a mãe que acompanha um filho no
seu caminhar para o mundo.
Tanto aquele que aprende, quanto aquele, que num
determinado momento, está em situação de ensinante,
precisa motivação para a caminhada.
“A motivação sem
aprendizagem redundará, simplesmente,
numa atividade às cegas; a aprendizagem
sem motivação resultará, meramente, em
16
inatividade, como o
sono.”(MEDNICK,1967,P.22)
Isso não pressupõe uma estrada sem obstáculos, uma
caminhada sem problemas. Não sejamos ingênuos, crendo
num educador que não questione as utopias! O que a
educação precisa, é de profissionais comprometidos com o
amor ao seu fazer cotidiano; o profissional que pensa a
educação não somente como ganha pão, mas como mudança,
como maior valor de que um indivíduo pode tomar posse.
Novos desafios
O ensino evolui, abre novos caminhos, novos
desafios, e é assim que deve ser, e este novo mundo, nos
é apresentado cada vez com mais clareza à medida que
buscamos ler.
Os educadores precisam caminhar juntos a esta
evolução, para que não se sintam desmotivados, mediante
a novas leituras do mundo. Entender que, ou se busca
adequar-se, ou irão se sentir “excluídos” pela
desinformação.
O que não se pode esquecer é que apesar dos grandes
avanços, nos métodos para a aprendizagem, nenhuma
máquina é capaz de se doar, de transmitir carinho, de
motivar e ver a expressão no rosto, no sorriso, de quem
se sentiu motivado.
17
O computador faz parte do cotidiano de muitos
alunos, mesmo aqueles que não os possuem em casa,
conhece alguém que tenha, já mexeu em algum, em algum
lugar.
Esta ferramenta deve ser usada no incentivo à leitura,
tomando alguns cuidados, porque nada substituirá o
gostoso ato de escrever.
A GRANDE MOTIVADORA AINDA É A ESCOLA
No passado uma minoria tinha acesso a boa
literatura, a televisão não havia chegado á todos os
lares, os grandes companheiros do dia e da noite, eram
os livros. Hoje, ainda temos a leitura
cotidiana fazendo parte da vida de alguns privilegiados,
como todos os outros recursos á ela, que não somente os
livros.
Os filhos de escolas públicas, por exemplo, em
grande parte tem pais que não lêem, que não compreendem
a importância do ler, que foram criados também, em
lares, sem leitura. Pais que viram no trabalho braçal o
único caminho para o sustento: O cansaço, a falta de
tempo, toda (uma) condição sócio-econômica, que os
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afastaram de lugares, que muitos nunca, sequer,
visitaram como as grandes bibliotecas.
Está nas mãos do educador, nos braços fortes da
escola, principalmente a pública, levar este aluno e
apresenta-lo, com entusiasmo, aquela que poderá
acompanha-lo onde ele for, sempre, em qualquer lugar: A
leitura.
Buscando o prazer em ler
Outra questão importante, neste que é mais um dos
inúmeros estudos acerca da importância da leitura, é
torna-la um momento de prazer. O que já foi citado
antes, o educador esperar que esta atitude seja uma
obrigação, um cumprimento do dever, e a leitura passa a
ser, a companhia desagradável, ao contrário da melhor
companheira que um homem pode ter.
Os grandes livros, e seus grandes autores estão ao
alcance de todos, nas pequenas e grandes bibliotecas.
Além desses, Jornais, revistas, gibis, pequenos livros
infantis, feiras de trocas e doações, todos, a espera
dos grandes e pequenos leitores.
“A leitura é ainda uma
terapia muito econômica, sobretudo se
considerarmos a possibilidade de utilizar
nossas bibliotecas. Além do mais, como
existem milhares de livros, nós não somos
19
obrigados a tomar nenhum remédio até o
fim.” 1
Este aspecto do leitor, de onde, e o que procurar,
precisamos, antes, fazê-lo um leitor, retomemos,
portanto, o aspecto da alfabetização, levando o
alfabetizando a aprender, interpretar a leitura, desde
seu tenro começo: Um bom exercício deste fazer são as
velhas historinhas dos contos de fadas, recriando-as com
ajuda dos alunos, trazendo as personagens para dentro
das salas de aula: Cada aluno interpretará dentro de seu
mundo, fazendo com que o professor possa interpretar a
visão deste aluno, percebendo-o de forma diferenciada,
não só no aspecto escolar, como no afetivo, familiar e
social.
Quando falamos desta primeira leitura deixando vir á
tona a fantasia do leitor, esta fantasia não o deixará
mais. Tanto isso é verdade, que quando encontramos uma
leitura que nos agrada; mergulhamos, suspiramos,
sorrimos e choramos; vivenciando cada parágrafo, como se
ali estivéssemos, de fato, dentro da história que lemos!
Por isso, não podemos deixar que a leitura faça parte de
uma responsabilidade apenas; que em algum momento isso
se fará necessário, mais antes, que ela seja uma
descobridora de sonhos, fora e dentro de nós mesmos.
”Creio que muito de nossa insistência,
enquanto professoras e professores, em
1 www.angela-lago.com.br
20
que os estudantes“leiam”, num semestre,
um sem número de capítulos de livros,
reside na compreensão errônea que às
vezes temos do ato de ler”.(Freire, 2002,
P.17)
O que torna a leitura algo interessante e diferente
de qualquer avanço tecnológico, embora também seja um
tipo de leitura-como na realidade tudo o é-, é a
intimidade que o livro te dá.
Temos a chance de namorar um texto, viver uma grande
paixão, casar com um livro, divorciar-se de um outro, e
até brigar com uma leitura, e não querer vê-la jamais.
Uma vez leitores podemos ter “um caso de amor” com a
leitura, mudando a história, o enredo, cada vez que este
“caso” ameaçar nos entediar.
A LEITURA NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO
A busca pelo cidadão crítico, não pode aparecer
milagrosamente, quando o professor concebe o aluno
avançando para tomar parte de seu quinhão na sociedade:
Nos espaços que admitem o profissional, atuante no
mercado de trabalho, o eleitor, o ser atuante na
sociedade em que vive. A busca pelo cidadão crítico deve
21
começar na pré-escola, num processo de construção
gradativa e enriquecedora, num processo educativo.
Todos nós concordamos que quanto mais lemos, mais
nossas mentes se abrem, e ficam mais preparadas para
novas leituras.
Quanto mais avançamos em conhecimentos, mais nos
tornamos críticos de nós mesmos e mais linhas escrevemos
em nosso livro interior.
“Não nos podemos omitir. Não podemos
abdicar do papel histórico que nos cabe,
como sujeitos/professores,de nos
formarmos como leitores para (e
enquanto)interferirmos criticamente na
formação de outros leitores.”2
Precisamos acender o desejo pela leitura, no sentido
de que ela também seja algo que impulsione mais desejo:
O que acontece quando vemos uma novela? A cada capítulo
o autor pretende, acender em nós o desejo de ver o
próximo capítulo. Sem estarmos motivados a esses novos
desenlaces, provavelmente mudaremos de canal,
procuraremos outras atividades que nos propiciem prazer,
que nos desenvolva o desejo.
Na escola, porém, o aluno não pode, ou pelo menos,
não deve, sair de sala; o que lhe resta a fazer, na
2 www.crmariocovas.sp.gov.br
22
falta do desejo em participar daquela aula, é ficar
desatencioso ou inquieto.
Não devemos, enquanto educadores, esperar que nosso
aluno, ao se deparar com uma história que não faça parte
do seu cotidiano, com um linguajar, que não seja o seu,
usual, compreenda e a interprete. Isso não quer dizer,
que este mesmo aluno, não possa entrar em contato com
outras realidades, outras leituras, e mais tarde textos
mais complexos. Mas, este caminho deverá ser, no início,
um caminho “familiar”, reconhecido pelo aluno, para que
se sinta seguro e não desista de caminhar.
Aprendendo a gostar de ler
O que vemos nas escolas, as das grandes metrópoles,
pelo menos-, são pequenas ou grandes bibliotecas quase
sempre vazias.
Livros adotados pelo professor, pela instituição,
que quase sempre não são livros do gosto do aluno. É
claro que não se pode deixar que os alunos, que não
estão habituados a leitura escolham qualquer leitura,
mas acreditar, ainda assim, na participação dos alunos
nesta escolha.
A idéia é formar cidadãos críticos e alguns autores
discordam de alguns programas desenvolvidos, no que diz
23
respeito ao gosto pela leitura, em detrimento da sua
real intenção que seria a formação da criticidade.
“Em detrimento das vantagens que possam
apresentar, tais práticas parecem muito
mais estar servindo para a confirmação do
gosto estabelecido, ou seja, para um
conformismo educacional e cultural,
discrepante em relação aos objetivos
explicitados de “despertar” o espírito
critico do aluno”,”transformar a
sociedade”3
No entanto, sabemos que a “realidade leitora” é bem
mais elitizada do que querem deixar transparecer. O
aluno de escola pública-e aqui não vamos adentrar em
minúcias-, em muitos casos vai para escola para ter onde
ficar, onde comer, este aluno não pode ser olhado como
um leitor critico, até que ele tenha realmente
experimentado o gosto em ler: Não podemos discutir
cidadania com uma criança que nem sabe o que é ser
cidadã!
Discussão informal acerca da leitura.
3 www.crmariocovas.sp.gov.br
24
Será transcrito uma discussão informal, no melhor
sentido da palavra; um depoimento apaixonado, de uma
educadora, uma contadora de histórias, e com uma frase,
de sua, (dela) autoria: “Para ler é preciso dominar
códigos, mas o domínio destes códigos, não faz de mim um
leitor”.
E batemos naquela velha tecla, já comentada neste
trabalho, onde o professor preocupa-se mais em
decodificar os códigos de uma escrita, do que com a
leitura interpretativa, prazerosa.
Segundo Rosângela Sivelli, entrevistada, o professor
precisa ler para os seus alunos, e estar tão tomado por
aquela leitura, que seu alunado, sinta-se seduzido.
O professor precisa ser fazer do momento da leitura um
momento de amizade, de companheirismo,de cumplicidade,
para que seu aluno não tenha medo da dúvida.
Discutimos muitas idéias, e a principal delas é que
o professor que leva a leitura, precisa ser, antes de
tudo, um leitor. Não um leitor de didáticas, embora elas
sejam importantes na formação do profissional, mas um
leitor das diversas linguagens.
Precisamos olhar, e perceber, aquele aluno que se
sente inseguro, incomodado, intrigado, mas notem, estes
não são maus sinais, ao contrário, esta deve ser a
intenção primeira da leitura, afinal estamos formando
cidadãos críticos.
25
Segundo Rosangela a leitura de um livro deve começar
pela capa, mas não somente pelo título, mas a leitura da
imagem, do desenho, da pintura, deixando que cada aluno
tente desvendar o mundo fechado ali dentro.
O professor que chega em sala de aula e abre o livro
como se estivesse abrindo um baú de conteúdos
programados, ele passará, para quem o vê, quem o ouve,
sua enfadonha tarefa de ler: Ora quem não se sente
motivado, não pode querer motivar!
É preciso fazer da sala de leitura, do meu momento
de leitura, um prazer, mas nem sempre o que leremos, o
será. Por isso, a necessidade de motivar leitores
alfabetizandos, para que este leitor, não experimente a
leitura somente quando ela lhe parecer amarga, pesada,
obrigatória.
É um assunto inesgotável, onde aprendemos que há um
caminho marcado por cada um, numa maneira distinta de
apresentá-lo.
O professor educação de base, deverá ser
necessariamente, um apaixonado pela leitura. Não um
educador intelectualizado, abarrotado de conhecimentos,
mas um leitor de coração aberto à fantasia: “Mastigar”
as letras, junto com seus alunos,tentando sentir o
paladar de cada um.
Ao ler um texto o professor precisa ter em mente,
que este escrito deve ser discutido em sala de aula,
antes de qualquer tarefa: È importante entender o que o
26
nosso aluno entendeu; compreender que a visão de mundo,
de cada um, reflete de maneira diferente no “espelho” da
leitura.
A sociedade sabe, nós, escola sabemos, que o
incentivo á educação plena como reza a constituição, ser
um direito de todos, não é uma realidade plena: Isto é
um fato. Outro fato, é que esta questão não exime o
educador de sua responsabilidade, diante da educação, da
escola, do aluno, desta sociedade. Por esta razão, o
professor do primeiro seguimento da educação, precisaria
ter um olhar diferenciado dos demais; precisaria,
também, ser olhado de maneira importante por quem faz a
política educacional.
Não que os demais professores não mereçam atenção,
até, porque, a leitura é um processo, que perpassa por
todo o processo educacional, e jamais retorna da mesma
maneira.
Mas o professor que constrói a base, assim como o
arquiteto, precisa fazer bases sólidas para que suportem
a “carga” vindoura: É preciso saber-se em processo.
O professor de leitura deve ser um sedutor:
Sedutor de olhares, de ouvidos, de corações;
Que instigue o desejo pela leitura, que faça brotar
no coração de quem o escuta, a alegria, a busca pelo
“contentamento”, que é o momento de mergulhar num texto,
numa história, num poema, numa fábula, numa imagem, nas
diversas linguagens que a vida nos apresenta.
27
Pensando a palavra
A compreensão de que a literatura abre um leque de
possibilidades no tocante a sensibilidade que cada texto
apresenta, abre também, um enorme caminho para a sedução
do educador e do aluno.
Da mesma forma que é impossível saber que emoção
propiciará um filme, uma peça de teatro, embora possa se
conhecer o enredo da história, um livro, nas mãos de um
leitor apaixonado, pode entrar pela alma de quem ouve,
de quem lê, e arrancar de lá a emoção mais contida!
A palavra falada é a comunicação primeira, da que
nos damos conta ainda no útero materno, a partir dela
nos tornamos seres sociais, capazes de transformar
vidas, de transformar o mundo em que vivemos.
A maneira como estamos preparados para receber uma
informação faz de nós seres ingênuos, manipulados-
visivelmente claro aos olhos de manipuladores-, ou
pessoas dotadas de criticidade e percepção da realidade,
capazes de ler nas entrelinhas. O que fará com que nos
tornemos mais ou menos críticos, dependerá da atitude
tomada diante de nossa realidade.
28
Os textos apresentados, trabalhados, em sala de aula
precisará fazer parte do contexto de vida de nosso
aluno, do contrário nem mesmo soará como “palavras
bonitas”, ininteligíveis, como eram os textos antigos:
Grandes e complexos.
A palavra usada não pode ser lançada ao vento como
se desaparecesse num roda-moinho de códigos escritos,
ela precisa ser pensada, ser tragada, ser refletida,
como arma maior de transformação.
É preciso um seguir, agir e reagir com humildade
suficiente para avaliar-se na práxis. Se não nos
consideramos leitores, e isto não se pode mentir: Não a
leitura dos conteúdos, não a leitura de jornais, de
revistas, contudo, todas essas leituras se fazem
necessárias, para um individuo que quer estar
atualizado, mas a leitura que acrescenta o caminho do
educador, aquela que faz com que ele, de repente, se
sinta um ser mais perceptivo. É nesse contexto que é
preciso reafirmar, que o professor da educação de base,
sobretudo o alfabetizador, precisa ser um apaixonado
pela literatura, pelas diversas leituras que ele propõe
à seus alunos no dia-a-dia.
Na medida em que nos tornamos perceptivos, nos
sentimos cada vez mais responsáveis sobre as atitudes,
sentimentos que percebemos. Quando vemos um filme, por
exemplo, que gostamos muito, pelo qual nos apaixonamos,
pensamos em dividir nossas experiências com outros,
contamos á todos, divulgamos. O mesmo se passa, quando
através da leitura, e de nossa vivência para percebê-la,
29
conseguimos transmitir nossa emoção e servimos de fonte
onde outros também desejem beber.
Essa percepção se dará através de todas as leituras:
Leituras de mundo, de momentos, de erros e acertos,
leituras, principalmente de nós mesmos.
Na medida em que nos tornamos seres capazes de
perceber, estaremos em desenvolvimento constante,
buscando na medida em que vamos conhecendo, desvendando
curiosidades, acerca da vida, do aluno, do contexto de
vida daquele aluno, do nosso próprio contexto: Um
degrau, um abrir de novas curiosidades, nos superando
sucessivamente.
“O exercício da curiosidade a faz mais
criticamente curiosa,mais metodicamente
“perseguidora” do seu objeto. Quanto mais
a curiosidade espontânea se intensifica,
mas, sobretudo, se “rigoriza”,tanto mais
espistemològica ela vai se
tornando.”(Freire,2000,p.97)
Esse despertar de curiosidades também cresce á
medida que são estimulados, que são vivenciados, como
quando os bebês se arrastam para apanhar algo que está
distante de suas mãos, ele ainda não sabe bem porque,
mas o corpo se move em direção ao seu objetivo.
A leitura precisa ser esse objetivo á ser alcançado
e o professor precisa ser esse auxiliador motivado, esse
30
estimulador à novas descobertas,procurando sua
identidade na leitura escolhida.
CONCLUSÃO
É preciso ser leitor para motivar leitores.
Conceber que se é um espelho, na medida em que se
coloca como educador, e será refletido como se
apresenta.
Quando se está aberto a novas descobertas, a novos
saberes, não somente a mente se abre, mas também o
coração, e então, estamos prontos para os imensos
mergulhos em busca do tesouro que é ler, gostar de ler.
Mudar os planos, os rumos, os métodos, para que a
leitura não seja, de forma alguma, algo que não dê
prazer.
Ela precisa estimular o desejo, a fantasia, fazer
viajar longe ou perto, mas voltar murmurando,
questionando, esbravejando, do que foi lido: É para
arrancar emoções!
31
Um estímulo a curiosidades, aos novos sabores, e
saberes que a leitura pode apresentar, é deixar a vista
os instigantes livros, como deixar uma bela mesa, farta
de iguarias, saltando aos olhos gulosos, dos que começam
a degustar as primeiras letras.
É estar atentos aos primeiros gostos revelados para
que o estimulo possa ser eficaz; e estar
reinterpretando, sempre, o dia que começa numa
perspectiva de mudanças sempre significativas, mesmo que
num primeiro momento essa leitura não se apresente
assim.
BIBLIOGRAFIA
FREIRE, Paulo.Pedagogia da autonomia: Saberes
necessários à prática educativa.16° ed.Paz e terra.2000.
FREIRE,Paulo. A importância do ato de ler: Em três
artigos que se completam. 43° ed. São Paulo: Cortez,2002.
FREIRE,Paulo.Educação e Mudança.26° ed. São Paulo:Paz e
terra,2002.
MEDNICK, A. Sarnoff. Aprendizagem: Curso de psicologia
moderna.RJ: Zahar Editores,1967.
32
PROCTOR,O.James.Ensinando a ensinar:
Técnicas;notas;sugestões.3° ed. São Paulo: Record,1963.
Sites: Internet.
www.crmariocovas.sp.gov.br
www.angela-lago.com.br
ANEXOS
Entrevista
Professora Simone Caetano
Formação: Pedagogia UNESA
Escola Barão de Lucena
Vila Isabel – Rio de janeiro
Professora Rosângela Sivelli
Formação: Pedagogia UFRJ
Pós-graduação em Literatura infanto-juvenil
33
Contadora de histórias
Escola Municipal Barão Homem de mello
Poema
É preciso Gostar de Ler
Arlete de Andrade
Entrevista com a professora Simone Caetano
Escola Barão De Lucena – Vila Isabel
Entrevistadora: Você se considera uma leitora assídua?
Qual seu livro de cabeceira?
Professora: Já fui mais assídua. Por falta de tempo leio
menos agora.
Livro: “O lutador de capoeira” (livro espírita)
Entrevistadora: Qual sua linha de leitura?
34
Professora: Livros Kardecistas ou que contem histórias
reais.
Entrevistadora: Como você trabalha o incentivo à
leitura?
Professora: Através de músicas, textos conhecidos,
Filmes, revistas em quadrinhos de acordo com a faixa
etária.
Entrevistadora: Como tem sentido seus leitores (alunos)?
Professora: Com a televisão e o computador, as crianças
não adquirem o hábito de ler, e nem recebem o incentivo
dos responsáveis.
Entrevistadora: O que você, como educadora, acredita
seria importante implantar no Plano Político Pedagógico
para motivar professores, sobretudo, os de educação
básica, no tocante ao incentivo à leitura?
Professora: É preciso incentivar o professor à ter o
hábito e o gosto pela leitura, para que passem aos
alunos e responsáveis esse interesse.
Comentário:
A professora entrevistada estava em reunião e pediu que
as perguntas fossem deixadas na escola.
O que percebi e, é algo comentado em meu projeto, o
velho jogo do “empurra-empurra”: A responsabilidade
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sempre fica com o outro, eu, professor, faço minha
parte, mas não há incentivo dos pais, e responsáveis.
A televisão e o computador devem ser aliados a leitura e
não um obstáculo á ela.
A professora também não me parece ser uma leitora
contumaz.
É preciso gostar de ler
Arlete de Andrade
É preciso gostar de ler.
O que ainda não sei,
Eu posso aprender.
36
Estou sempre aprendendo,
e no desenrolar das letras.
Eu vou num crescendo.
É preciso gostar de ler.
Assim, vou juntando as letras,
formando silabas para o saber.
Saber contar histórias,
e encantado com elas,
guardá-las bem na memória!
É preciso gostar de ler
Se souber ler, fico esperto,
enxergo o mundo mais de perto.
Mas quero ler o meu mundo
O meu contexto e, num texto
Reescrevê-lo, profundo!
Lendo posso sonhar,
entender o que me cerca,
e sem cerca viajar.
É preciso gostar de ler!
Leia tudo
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Rosângela Sivelli
As bordas, os cantinhos, as dobrinhas, os bordados,
os babados...
Leia a lua...
Leia o sol...
Leia os olhos do seu namorado.
O sorriso...
O vestido...
Da menina do retrato!
ÍNDICE
1 – APRESENTAÇÃO 2
2 – AGRADECIMENTOS 3
38
3 – DEDICATÓRIA 4
4 – RESUMO 5
5 – METODOLOGIA 7
6 – SUMÁRIO 8
7 – INTRODUÇÃO 9
7.1 – Ler é desbravar mundos dentro de nós mesmos.
CAP.I
8 – FANTASIA, UMA ALIADA À LEITURA. 12
8.1 – Motivar os primeiros passos. 13
8.2 – Novos desafios. 15
CAP.II
9 – A GRANDE MOTIVADORA AINDA É A ESCOLA. 16
9.1 – Buscando o prazer em ler 16
CAP.III
10 – A LEITURA NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO 19
10.1 – Aprendendo a gostar de ler 20
10.2 – Discussão informal acerca da leitura 22
39
10.3 – Pensando a palavra 25
CAP. IV
11- CONCLUSÃO 28
12- BIBLIOGRAFIA 29
13- ANEXOS 30
13.1 – Entrevista
13.2 - Poemas
14- INDICE 35
15- FOLHA DE AVALIAÇÃO 37
16- CADERNO DE ATIVIDADES CULTURAIS 38
FOLHA DE AVALIAÇÃO
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Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes
Projeto A Vez do Mestre
Título da Monografia:
A IMPORTÂNCIA DE FORMAR LEITORES
UM OLHAR PARA O PROFESSOR
Autor: Arlete Maria de Andrade
Data da entrega: 27 de Julho de 2004
Avaliado por: Prof. Mestra Mary Sue
Conceito:
CADERNO DE ATIVIDADES CULTURAIS
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