que leitores queremos formar com a literatura infanto-juvenil?

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Ciências Humanas Pedagogia- 7º Período Disciplina Literatura na Educação Infantil Que leitores queremos formar com a literatura infanto-juvenil? Anne-Marie Chartier

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Page 1: Que leitores queremos formar com a literatura infanto-juvenil?

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAISInstituto de Ciências Humanas

Pedagogia- 7º Período Disciplina Literatura na Educação Infantil  

 Que leitores queremos formar com a literatura infanto-juvenil?

Anne-Marie Chartier

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Que leitores queremos formar com a literatura infanto-juvenil?

• Hoje a literatura infanto-juvenil é abundante, disponível e esta em perpetua renovação.

Esse é quadro que se desenha quando observa as coisas um pouco de longe. Assim que nos aproximamos, assim que tentamos olhar mais concretamente o que se faz nesse setor, assim que ouvimos ou que lemos os discursos que são feitos a respeito da literatura infanto-juvenil, tomamos consciência de que a situação é infinitamente menos simples e que até esconde tensões contraditórias.  (CHARTIER, p. 128)

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As leituras de formação e as leituras de prazer imediato

A autora Anne-Marie Chartier começa o texto fazendo referencia a um livro  Enseigner La Litterature- de Jeunesse, de Anne-Mercier Faivre (1999), um livro que se interroga sobre as relações entre a literatura infanto-juvenil e a literatura.

Mas o que podemos entender como literatura infanto-juvenil?

A literatura infanto-juvenil é um ramo da literatura, dedicada especialmente às crianças e jovens adolescentes. Nisto se incluem histórias fictícias infantis e juvenis, biografias, novelas, poemas, obras folclóricas e/ou culturais, ou simplesmente obras contendo/explicando fatos da vida real...

Definição da web

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E da literatura ? Literatura é a arte de compor escritos artísticos, em prosa ou em verso, de acordo com princípios teóricos e práticos, o exercício dessa arte ou da eloquência e poesia. A palavra Literatura vem do latim "litteris" que significa "Letras", e possivelmente uma tradução do grego "grammatikee". ...

Definição da web

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As leituras infantis não tem como objetivo apenas distrair ou habituar as crianças a utilizarem esses textos, mas que é através dessas leituras que se forma a personalidade, a inteligência, o caráter, e não apenas o consumidor de impressos, os frequentadores das bancas de jornais e os fregueses das livrarias. O que se afirma nesse texto é o que se dizia nos discursos do período entre as duas guerras e até o final dos anos 1950. Pois, a partir dos anos 1960, esse discurso foi violentamente criticado, porque era visto como normativo e etilista.

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Entretanto, o que ele anuncia parece muito bem fundamentado. Pois, se formar o gosto de alguém pela leitura, sabemos que não se pode prometer a essa pessoa o prazer imediato ou durante todo o tempo.

Na França, quando se trata de formar o gosto das novas gerações em matéria de culinária, podemos pensar que vale a pena lutar contra o estilo Mac Donald’s, que dá, entretanto, tanto prazer imediato às crianças

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Porém, ao se apresentar novos pratos se corre o risco de não fazer “provar” imediatamente, exemplo do Quenelles (prato típico da região de Lyon feito com massa recheada com peixes, aves e caça), cujo aroma é sutil demais para os palatos habituados aos gostos sem surpresa do Mac Donald’s e da Coca – Cola. O discurso do prazer imediato estaria talvez sendo sucedido por um período em que seria novamente possível, sem parecer reacionário, se ter um discurso sobre a necessidade de aceitar essa lentidão e essa dificuldade.

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Essa posição foi defendida numa época em que a escola era muito etilista, quando apenas uma minoria de criança ia até o ensino secundário, em que uma parte da população da França não lia nenhuma literatura.

Nos anos de 1950, mais de um frânces em dois anos não lia nenhum livro. Por isso, o discurso sobre a qualidade literária das leituras foi rapidamente compreendido pelos bibliotecários como um discurso desastroso para o próprio futuro da leitura. Para eles, era urgente adotar então um estratégia completamente diferente.

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Esses problemas se relacionam tanto ao discurso sobre a literatura infanto-juvenil quanto ás práticas de leitura que eles suscitam – ou revelam.

A primeira questão-problema é concernente ao estatuto da literatura infanto-juvenil em relação à literatura; a segunda está relacionada à definição dos destinatários, essa infância e juventude é concebida como um alvo particular; e a terceira é concernente à ligação que se pode fazer entre leitura e sucesso escolar.

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A literatura Infanto-juvenil:iniciação a literatura ou á leitura ?

• (...) a literatura infanto-juvenil é uma propedeutica a literatura, é uma subliteratura que se daria aos jovens para ajudá-los a entrar progressivamente na “grande literatura”?

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Infância e juventude como alvo de leitura

• Como determinar o que entra ou na categoria literatura “infanto-juvenil”?

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Amor pela leitura e sucesso escolar

A última questão que atravessa todos esses debates, vem de um fenômeno evidenciado recentemente, assiste-se hoje a uma dissociação bem marcada pelo fato de gostar de ler e o fato de ser reconhecido como bom aluno no âmbito escolar . Muitos professores e bibliotecários, por muitos anos, ligaram o gosto pela leitura ao sucesso escolar.

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Na representação dos professores, dos pais e dos próprios alunos, todos os bons alunos eram, forçosamente, grandes leitores, e todos os grandes leitores eram forçosamente, bons alunos.

Pesquisas de François de Singly mostram que essas duas pontas estão se desconectando. .. Encontramos adolescentes (principalmente meninas) em evidente processo de fracasso escolar e que são grandes leitoras. Seu gosto pela leitura (principalmente romances), no entanto, não tem efeito positivo sobre seu sucesso escolar .

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Encontramos adolescentes (principalmente meninas) em evidente processo de fracasso escolar e que são grandes leitoras. Seu gosto pela leitura (principalmente romances), no entanto, não tem efeito positivo sobre seu sucesso escolar.

Numa uma pesquisa feita em 1992 –Constatou-se que um aluno muito bom entre quatro dizia que não gostava de ler. Os professores nem acreditaram que isso poderia acontecer. Seria da mesma forma que uma pessoa dirigir muito bem sem gostar.

Alunos muito bons não reconhecerem mais o amor pela leitura como uma característica necessária da excelência escolar é um fato perturbador.

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A leitura não é mais tão atraente hoje como era há vinte anos, mesmo que, em números absolutos, hoje haja mais livros lidos pelos jovens do que ontem.

Gostar de ler não é mais considerado um privilegio. Pelo fato de ter entrado numa era de consumo de massa, a leitura, assim como a carteira de motorista, não é mais um sinal exterior de riqueza.

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Durante muito tempo, constatou-se que quanto mais um leitor era escolarizado, mais ele tinha chances de se tornar um grande leitor.

É por isso que podemos, novamente sustenta o discurso de que no lugar de se perguntar se uma criança lê pouco, muito, apaixonadamente, ou nada, podemos procurar conhecer a qualidade do que ela lê.

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Leituras acompanhadas e leituras obrigatórias

• O discurso escolar que afirma a necessidade de formar os alunos ao gosto pela leitura(e não ao prazer de ler) foi motivado por uma grande desconfiança em relação as leituras livres. Para a escola as leituras da infância e da juventude devem sempre ser acompanhadas e , logo vigiadas. A leitura só pode se aprender de forma útil com bons livros , grandes textos, logo com livros difíceis , que não são facilitados, que não são “um encadeamento de frases frouxas, um puro objeto de distração inútil, uma leitura insípida, sem vícios e, portanto sem virtudes”. (CHARTIER, p. 139)