a importância da família para o tratamento de álcool

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11 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA PARA O TRATAMENTO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS Joelma Santos da Costa

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Page 1: A importância da família para o tratamento de álcool

11

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA PARA O

TRATAMENTO DE ÁLCOOL E OUTRAS

DROGAS

Joelma Santos da Costa

Page 2: A importância da família para o tratamento de álcool

12

Rio de Janeiro

2008

Joelma Santos da Costa

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA PARA O TRATAMENTO

DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação, apresentado ao Departamento de Fundamentos do Serviço Social da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientadora: Prof. Dr. Mariléia Franco Marinho Inoue

Page 3: A importância da família para o tratamento de álcool

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Rio de Janeiro 2008

A importância da família para o tratamento de álcool e outras

drogas

Autor:

Joelma Santos da Costa

Orientador:

Prof. Dr. Mariléia Franco Marinho Inoue

Examinadores:

Prof. Dr. Luiz Eduardo Acosta Acosta

Page 4: A importância da família para o tratamento de álcool

14

Prof. Dr. Rogério Lustosa Bastos

Departamento de Fundamentos do Serviço Social

Escola de Serviço Social – UFRJ

Rio de Janeiro, RJ – Brasil.

Fevereiro de 2008

Dedico este trabalho a todos que contribuíram para a

realização desta etapa inesquecível e fundamental em minha vida.

A minha mãe principalmente que sempre esteve ao meu lado

colaborando em todos os momentos.

Page 5: A importância da família para o tratamento de álcool

15

Joelma Santos da Costa

Page 6: A importância da família para o tratamento de álcool

16

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por tornar possível esta conquista em minha vida que

sem dúvida possibilitou meu crescimento pessoal e sempre me amparou nos

momentos difíceis que não foram poucos.

À minha família principalmente a minha mãe Maria José, pela

compreensão e ajuda que me foi dada durante toda a minha vida e

especialmente durante o período acadêmico, o que tornou possível a

concretização desta vitória.

Ao meu irmão George que muito contribuiu para minha permanência na

universidade.

À minha orientadora a professora Mariléia Inoue que teve muita

paciência e sempre entendeu as minhas dificuldades, inclusive quando

desanimei em algumas situações, tranqüilizou-me nos momentos em que

estava apreensiva se conseguiria tornar realidade um sonho, a conclusão

deste trabalho que é algo cristalino em minha vida, um troféu, por tudo que vivi.

Ao meu namorado Luiz Carlos que de forma indireta contribuiu com o

trabalho através de discussões sobre assuntos que mesmo sem que ele

percebesse articulei a pesquisa realizada neste estudo.

Agradeço ao empenho e dedicação do meu supervisor de estágio Ivan

Freire Nunca esquecerei o incentivo e presteza dedicado durante todo período

de convivência no Hospital Escola São Francisco de Assis.

Aos meus amigos e todos os professores que me deram força e apoio

sempre com muito otimismo e palavras positivas.

Page 7: A importância da família para o tratamento de álcool

17

Agradeço a todos pela contribuição!

Eu sei, Que os sonhos são pra sempre. Eu sei, Aqui no coração... Eu vou ser mais do que eu sou Pra cumprir as promessas que eu fiz Porque eu sei que é assim Que os meus sonhos dependem de mim Eu vou tentar, sempre E acreditar que sou capaz De levantar uma vez mais. Eu vou seguir, sempre Saber que ao menos eu tentei E vou tentar mais uma vez Eu vou seguir... Não sei, Se os dias são pra sempre. Guardei, Você no coração... Eu vou correndo atrás, Aprendi que nunca é demais Vale a pena insistir Minha guerra é encontrar minha paz... Eu vou tentar, sempre E acreditar que sou capaz De levantar uma vez mais. Eu vou seguir, sempre Saber que ao menos eu tentei E vou tentar mais uma vez Eu vou seguir...

Versão de Marina Elali e Dud Falcão

Page 8: A importância da família para o tratamento de álcool

18

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso discorre sobre a

importância da família para o tratamento de álcool e outras drogas e o

interesse pelo referido tema surgiu a partir da experiência de estágio no

HESFA – Hospital Escola São Francisco de Assis e tem como objetivo

compreender o processo no qual as famílias de usuários de álcool e outras

drogas estão inseridos.

Buscou-se enfatizar a importância da família no processo de tratamento

familiar, articulando o contexto social à dinâmica vivenciada pela família em

relação a dependência química. A família como principal agente de

socialização do indivíduo tem uma contribuição fundamental a dar na

recuperação e na reintegração social de usuários de álcool e outras drogas.

Foram analisados os prejuízos ocasionados em decorrência do uso de

drogas para que se possa encontrar alternativas saudáveis e trazer a

discussão das drogas para o âmbito da saúde na perspectiva de qualidade de

vida e descriminalização do usuário.

Page 9: A importância da família para o tratamento de álcool

19

ABREVIATURAS

ABEAD – Associação Brasileira de Estudos do Álcool

AIDS – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida

A A – Alcoólicos Anônimos

AL-ANON – Grupos Familiares

CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas

DST – Doenças sexualmente Transmissível

HESFA – Hospital Escola São Francisco de Assis

HUPE – Hospital Universitário Pedro Ernesto

MS – Ministério da Saúde

N A – Narcóticos Anônimos

NEPAD – Núcleo de Estudos e Pesquisa em Atenção ao Uso de Drogas

OBID – Observatório Brasileiro de Informação sobre Drogas

OEA – Organização dos Estados Americanos

OMS – Organização Mundial de Saúde

SENAD – Secretaria Nacional Antidrogas

UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e

Cultura

UNIAD – Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

UNIPRAD – Unidade de Projetos Relacionados ao Uso de Drogas

Page 10: A importância da família para o tratamento de álcool

20

ONU – Organização das Nações Unidas

LISTA DE TABELAS

Tabela I - Terminologia e Conceitos Básicos sobre Drogas

Tabela II – Classificação das Drogas Quanto a Ação no Sistema Nervoso Central

Tabela III - Classificação dos Níveis de Prevenção

Page 11: A importância da família para o tratamento de álcool

21

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................11

1 - CAPÍTULO I – A família em constante mudanças ..................................... 15

1.1 Perspectiva Histórica .....................................................................................15

1.2 O que é família..................................................................................................19

1.3 A mulher no âmbito familiar ............................................................................20

1.4 A configuração da família nos anos 90 ............................................................22

2 - CAPÍTULO II – Droga e Família ....................................................................27

2.1 Considerações sobre drogas ...........................................................................27

2.1.1 Dependência .................................................................................................29

2.1.2 Por que tratar...................................................................................................30

2.1.3 Por que a família é importante no tratamento ................................................32

2.1.4 A influência da mídia no consumo de drogas .................................................35

3 - CAPÍTULO III – Trabalhos Diferenciados e Equipes Interdisciplinares no

Page 12: A importância da família para o tratamento de álcool

22

Tratamento da Dependência Química.........................38

3.1 O Trabalho dos Grupos de Apoio aos Dependentes Químicos e suas

Famílias......................................................................................................................38

3.1.1 Alcoólicos Anônimos (AA)..............................................................................38

3.1.2 Narcóticos Anônimos (NA).............................................................................39

3.1.3 Grupos Familiares (AL-ANON)........................................................................41

3.2 O Trabalho do NEPAD.....................................................................................42

3.2.1 O Trabalho do HESFA................................................................................... .43

3.2.2. O Trabalho do Centra-Rio ...............................................................................44

4 - CAPÍTULO IV - A Análise dos Dados Obtidos na Pesquisa.................... 45

4.1 Universo Pesquisado..................................................................................... 45

4.2 Identificação das famílias entrevistadas.........................................................46

4.3 Quanto à percepção do que é família.............................................................48

4.4 Quanto aos prejuízos que ocorreram na família em decorrência do uso da

droga..........................................................................................................................49

4.5 O processo de Co-dependência......................................................................51

4.6 Análise do discurso das Assistentes sociais....................................................51

4.6.1 Quanto ao trabalho interdisciplinar ................................................................53

Page 13: A importância da família para o tratamento de álcool

23

4.7 Análise do discurso dos demais profissionais.................................................55

4.7.1 A relevância da família no tratamento ............................................................55

4.7.2 Fatores negativos e positivos no Grupo de Família ........................................56

4.7.3 O acolhimento aos familiares de usuários em tratamento...............................57

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................61

ANEXOS....................................................................................................................71

Page 14: A importância da família para o tratamento de álcool

24

INTRODUÇÃO

O uso de drogas1 vem tomando proporções muito expressivas em todo o

mundo.

De acordo com a ONU, em todo o planeta, 162 milhões de pessoas, entre 15 e 64 anos de idade, seriam usuárias de maconha, ou seja, 4% da população mundial. O Brasil é o quinto país da América do Sul no consumo de maconha entre estudantes de ensino médio, de acordo com estudo realizado pelas Nações Unidas e pela Organização dos Estados Americanos (OEA) (Revista, Mundo em Foco, 2007. p. 47).

Diante desse quadro, este estudo de graduação inicialmente intenciona

analisar a família do usuário ou dependentes de drogas como uma categoria

que em decorrência das transformações que ocorrem na sociedade capitalista

sofrem implicações nas relações sociais e tem conseqüências singulares no

indivíduo e conseqüentemente em sua família.

O uso de álcool e outras drogas vêm expressando significados distintos

de acordo com o processo histórico. O consumo e agravos sociais decorrentes

do uso e abuso de substâncias constatam a proporção de grave problema de

saúde pública no país por isso o enfrentamento desta problemática constitui

uma demanda mundial.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 10% das populações dos centros urbanos de todo o mundo consomem

abusivamente substâncias psicoativas2, independentemente de sexo, idade, nível de instrução e poder aquisitivo (BRASIL, 2004, p.5).

É necessária uma ação política eficaz que vise o fortalecimento das

redes de assistência associada à de saúde que possibilite a reinserção social

e a reabilitação dos usuários. A política social não pode ser analisada sem se

remeter a questões de desenvolvimento econômico, ou seja, a transformação

quantitativa e qualitativa das relações econômicas decorrentes do processo de

acumulação particular de capital (VIEIRA, 2004, p.142).

Os assistentes sociais compõem uma das categorias profissionais

envolvidas na implementação de políticas sociais e seu significado social só

1 Droga é toda substância que introduzida no organismo, pode modificar uma ou mais de suas

funções (Organização Mundial de Saúde). 2 As substâncias psicoativas atuam no cérebro alterando o psiquismo.

Page 15: A importância da família para o tratamento de álcool

25

será entendido ao levar em consideração tal característica (IAMAMOTO e

CARVALHO, 2003).

Os diversos serviços sociais previstos em políticas sociais específicas são uma expressão da classe trabalhadora em sua luta por melhores condições de trabalho e de vida, que são consubstanciadas e ratificadas na legislação trabalhista (IAMAMOTO e CARVALHO, 2003, p. 2).

A afirmação de elaboração de estratégias e propostas para efetivar e

consolidar o modelo de atenção ao usuário de álcool e outras drogas não deve

reduzir esta questão a um problema exclusivo de atenção à saúde. É preciso

buscar uma articulação com outras políticas que visem subsidiar a intervenção

profissional, tais como assistência, habitação e previdência.

O presente trabalho se estrutura da seguinte forma: no capítulo I A

Família em constante mudança, é trabalhado o contexto no qual se constitui a

família a partir das transformações presentes na sociedade.

No capítulo II Drogas e Família, abordamos em primeiro lugar os

conceitos acerca da droga a fim de subsidiar o exercício profissional dos

envolvidos no tratamento da dependência química, e, em seguida, a dinâmica

das famílias dos dependentes e qual a importância de inseri-las neste

processo, bem como a influência da mídia no consumo de drogas.

O capítulo III Trabalhos Diferenciados e Equipes Interdisciplinares no

Tratamento da Dependência Química, apresentamos alguns trabalhos que são

desenvolvidos no tratamento de dependentes químicos e suas famílias, nas

diversas instituições que atuam no município do Rio de Janeiro.

No capítulo IV A Análise dos Dados Obtidos na Pesquisa, através da

pesquisa qualitativa realizada nas instituições HESFA, Alcoólicos Anônimos,

NEPAD Narcóticos Anônimos, Narcóticos Anônimos, AL-ANON e Centra Rio

realizamos uma análise das formas de atendimento acerca desta demanda e o

direcionamento do Serviço Social na prática interventiva.

O presente estudo pretende contribuir para sinalizar não apenas a

importância da família em todo o processo de recuperação dos adictos3 como

3 O termo mais utilizado em grupos de auto-ajuda para designar o indivíduo que tem dependência química de

determinadas substâncias.

Page 16: A importância da família para o tratamento de álcool

26

também o adoecimento vivenciado pelos familiares e a necessidade de apoio e

atendimento profissional.

Os relatos dos que trabalham com o uso de drogas e dependência

química tem mostrado que é imprescindível incluir a família no processo de

reabilitação do dependente. Esta discussão será iniciada no capítulo I

ilustrando as constantes mudanças vivenciadas pela família e aprofundada no

capítulo II.

Muitos estudos, de diferentes referenciais teóricos, ressaltam a

importância da família tanto na prevenção quanto no tratamento dos

dependentes químicos, o que reforça a visão da dependência química como

um fenômeno que atinge não apenas o individuo, mas toda a família.

Tanto os jovens quanto os adultos fazem uso de drogas porque a

realidade social não está atendendo as necessidades humanas. Inserir a

discussão do uso de drogas na perspectiva de qualidade de vida evitando a

criminalização do indivíduo amplia o debate em estudo.

O objetivo geral desta pesquisa é analisar as repercussões do uso

abusivo de álcool e outras drogas na família de usuários em tratamento. Assim

pretendemos traçar um perfil das famílias, o tipo de auxílio prestado pela

família no tratamento de usuários de drogas, também analisar as diferenciadas

modalidades de atendimento disponibilizadas a estes usuários e abordaremos

os encaminhamentos do Serviço Social no tratamento.

O problema das drogas interroga a natureza e o sentido da existência. A

ciência pode contribuir muito significativamente para a clareza do debate,

operacionalizando conceitos e elucidando aspectos psicológicos, socioculturais

e biológicos das toxicodependências4 (BAPTISTA e INEM, 1997,p.195 ).

Sendo a família o principal agente de socialização do indivíduo

(CARVALHO, 2005 p.13), e o lugar inicial para o exercício da cidadania se faz

necessário dispensar a esta categoria sua devida importância na vida do

indivíduo. Por ser a família um espaço privilegiado de convivência isto não

significa que não haja conflitos e a forma de lidar com as dificuldades poderá

4 Toxicodependência é um fenômeno gerado pelo uso contínuo de drogas que leva o corpo a produzir outro equilíbrio.

Page 17: A importância da família para o tratamento de álcool

27

favorecer o tratamento, mas em algumas situações o resultado pode ser

contrário. Não basta apenas o paciente querer deixar de ser dependente

químico é preciso ter o apoio da família para que se efetive a superação desta

doença. A família através das articulações constantes no dia-a-dia pode

favorecer ou atrapalhar o andamento do tratamento por isso o trabalho a ser

desenvolvido com as famílias é fundamental para obtenção de resultados

satisfatórios.

É conferida relevância à reflexão sobre a questão da importância da

família no tratamento, nas instituições que desenvolvem trabalhos na

perspectiva de prevenção e recuperação de adictos, a fim de buscar o apoio da

família durante o processo de acompanhamento dos atendimentos, mas

também trabalharem fatores externos que determinaram ou levaram o usuário

à dependência5.

O impacto que a família sofre com o uso de drogas por um dos seus

integrantes abala as estruturas de todos os seus membros embora a origem do

uso de drogas possa estar na própria família.

A perspectiva da saúde pública considera todas as drogas em pé de

igualdade e analisa as suas implicações globalmente em termos de riscos para

a população formulando os problemas (BAPTISTA e INEM, 1997, p.198).

O presente estudo faz-se necessário devido à intervenção do Serviço

Social, que pode esclarecer aspectos da questão junto à família no que se

refere ao uso de drogas, tendo em vista que esta temática está cada vez mais

presente na sociedade como mediadora das relações sociais (HYGINO e

GARCIA, 2003, p.220). O Assistente Social, em seu exercício profissional se

depara cotidianamente com esta demanda e suas decorrências vivenciando

impasses e limites devido à escassez de recursos disponibilizados na rede

pública de atendimento ao usuário de drogas.

5 Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/livre_das drogas acessado em 08 de agosto de 2007.

Page 18: A importância da família para o tratamento de álcool

28

CAPÍTULO I

FAMÍLIA EM CONSTANTE MUDANÇA

1.1 - Perspectiva Histórica.

A família brasileira no decorrer da história sofreu transformações que

justificam o mapeamento da realidade vivenciada por estas famílias nos dias

atuais.

Numa retrospectiva breve da história a partir do século X, tomando como

base Àries (1981), veremos que até o referido século, a família, inclusive em

termos de patrimônio, não tinha expressão. A partir de então, em decorrência

das oscilações do Estado, a concepção de linhagem ganha força tendo como

uma das preocupações a não divisão do patrimônio.

Na sociedade agrária e escravocrata do Brasil colonial, a família era a

organização fundamental, desempenhando as funções econômicas e políticas.

O modelo de família patriarcal decorreu da transposição para os trópicos

brasileiros, de padrões culturais portugueses. Impondo seu domínio na Colônia,

subjugando os indígenas e mais tarde, importando escravos negros, os

portugueses foram destruindo formas familiares próprias desses grupos.

No século XIV, começam a se operar mudanças na família medieval,

que vão se processar até o século XVII. Neste período é importante destacar

que a situação da mulher é também alvo de mudanças, caracterizadas pela

perda gradativa de seus poderes, o que culmina, no século XVI, com a

formalização da incapacidade jurídica da mulher casada e a soberania do

marido na família (GUEIROS, 2002).

“Desta forma, a legislação reforça poder do marido e dos homens em

geral, estabelecendo a desigualdade entre o homem em geral, estabelecendo a

desigualdade entre o homem e a mulher”. (GUEIROS, p. 106). A escolaridade,

por exemplo, passa a ser extensiva a meninas somente no final do século XVII

e início do século XIX .

Page 19: A importância da família para o tratamento de álcool

29

Somente no século XV as crianças (especificamente os meninos) passam gradativamente, a ser educadas em escolas e a família começa a se concentrar em torno delas, garantindo-se, entre outras coisas, a transmissão de conhecimentos de uma geração a outra por meio da participação das crianças na vida dos adultos (GUEIROS, 2002, p. 105).

As transformações ocorridas no século XIX com o advento da

urbanização, o início da industrialização, a abolição da escravatura e a

imigração provocam, segundo Antônio Cândido, autor clássico da literatura a

passagem da família extensa para o modelo conjugal, com privilégio das

funções afetivas. O ingresso da mulher na força de trabalho rompe a tradicional

divisão do trabalho. Os casamentos começam a ser realizados por interesses

individuais. As atitudes em relação ao namoro se alteram e este se desloca dos

limites da casa para os espaços abertos. Na “nova família” há maior igualdade

entre os sexos, maior controle de natalidade, maior número de separações e

de novos casamentos.

A partir da segunda metade do século XIX, o processo de modernização

e o movimento feminista provocam outras mudanças na família o modelo

patriarcal6, vigente até então, passa a ser questionado. Começa a se

desenvolver a família conjugal moderna, na qual o casamento se dá por

escolha dos parceiros, com base no amor romântico, presente na sociedade

durante muito tempo, tendo como perspectiva a superação da dicotomia entre

amor e sexo e novas formulações para os papéis do homem e da mulher no

casamento (GUEIROS, 2002, p. 107).

A urbanização e a expansão da indústria se acentuam nas primeiras

décadas deste século, produzindo mudanças significativas nas feições da

família e de toda sociedade (BRUSCHINI, 1990, p.69).

A partir da década de 70 vêm à tona novas questões para se pensar a

família como agência de reprodução ideológica, onde a vida cotidiana é o

ponto de partida para o estudo do âmbito ideológico. É no “fazer” de todos os

6 Denominamos família patriarcal, genericamente, a família na qual os papéis do homem e da

mulher e as fronteiras entre o público é o privado são rigorosamente definidos; o amor e o sexo são vividos em instâncias separadas, podendo ser tolerado o adultério por parte do homem e atribuição de chefe da família é tida como exclusivamente do homem (GUEIROS, 20021, p. 107).

Page 20: A importância da família para o tratamento de álcool

30

dias que surgem e se modificam ou desaparecem idéias, atos e relações. A

origem de pressupostos ideológicos se encontra na casa, nos hábitos das

pessoas ou de um grupo. Para reproduzir a sociedade é preciso que os

homens particulares se reproduzam como tal. A vida cotidiana é um conjunto

de atividades que caracteriza a reprodução dos homens particulares criando,

por sua vez a possibilidade de reprodução social. A construção de uma vida

pautada na felicidade é, portanto um compromisso de cada ser humano e,

mais especialmente, da família enquanto grupo voltado para tal fim ( HELLER,

1987, p. 7).

Não dá para pensar no átomo do parentesco a partir da unidade

biológica, o que o leva a introduzir na análise a dimensão cultural: para se

formar a família precisa de dois grupos que se casam fora do seu próprio

grupo. O casamento nas sociedades primitivas, contudo não se originava dos

indivíduos, mas de grupos interessados. A união entre os sexos não era um

assunto privado (Lévi-Strauss, 1980).

Foi Lévi- Strauss, com as estruturas elementares do parentesco quem deu o passo decisivo para a desnaturalização da família biológica o foco principal [...] A família passou a ser vista como a atualização de um sistema mais amplo [...] Para ele o fundamento da família não está na natureza biológica do homem, mas na natureza social (SARTI, 1995, p. 41).

Freud mostrou que a mente não é algo previamente dado, mas sim uma

estrutura construída na infância através de um longo processo de formação da

personalidade e de estabelecimento de vínculos afetivos e emocionais que

ocorre dentro da estrutura familiar (BRUSCHINI, 1990, p.62).

O fato de a vida familiar fazer parte do mundo simbólico de todas as

pessoas e estar fortemente influenciada por valores morais, religiosos e

ideológicos tem feito com que muitas vezes se tenha a ilusão de que as

discussões sobre família estão assentadas sobre bases comuns. Ao estudar o

discurso dos Assistentes Sociais sobre família, Silva (1984) assinalou a

tendência de conceituarem a família a partir de suas próprias famílias e de

enfatizarem as relações parentais a partir da consangüinidade. Ainda hoje no

contexto das discussões dos profissionais que trabalham com famílias estão

presentes esta visão de família. A família pode ser entendida como um fato

Page 21: A importância da família para o tratamento de álcool

31

cultural, historicamente condicionada que não se constitui, a priori, como um

“lugar de felicidade”. O ocultamento do caráter histórico determina socialmente

a família como um espaço de felicidades (MIOTO, 1997).

Por meio do estudo das estruturas elementares do parentesco, Lévi-

Strauss (1976) chegou à tese de que a família surgiu no imbricamento entre a

natureza e a cultura. Essa tese permitiu afirmar a supremacia da regra cultural

da afinidade sobre a regra natural da consangüinidade.

A pesquisa histórica de Ariès (1981) sobre a sociedade européia mostra

claramente as diferenças na organização familiar ao longo da história, de modo

que, foi na modernidade que se estabelecem os limites entre o familiar e o

social. Nesta época se desenvolveu a idéia de privacidade, o “sentimento da

casa”, e assim o sentimento familiar (originário da aristocracia e da burguesia)

estendeu-se praticamente a toda sociedade, persistindo até nossos dias.

Dentro dessa nova ordem as crianças foram retiradas da vida comum bem

como de grande parte do tempo e das preocupações dos adultos.

A família no contexto das fronteiras entre o público e o privado com base

na sociedade francesa do pós-guerra até os nossos dias, aponta para

historicidade da construção desses espaços. As mudanças no mundo do

trabalho, com a dissociação família e empresa, foram fundamentais na

constituição da família atual, cujas relações se alteraram significativamente.

Dentro dessa nova ordem os indivíduos conquistaram na família o direito à

autonomia, reconhecimento de uma vida privada individual até então

desconhecida. Ressaltamos que esta alteração significa que a família pode

estar deixando de ser uma instituição para se tornar um ponto de encontro de

vidas privadas, e assim estaria se encaminhando para as famílias informais.

Page 22: A importância da família para o tratamento de álcool

32

1.2 - O que é Família.

No mundo externo ninguém tem piedade do outro e é dentro da família

que cada um deseja receber atenção, respeito e reconhecimento. A casa não

significa mais apenas o local de moradia agora é mais do que isso. Assim a

família torna-se a esfera íntima de existência, o local exclusivo onde se pode

exprimir a própria emoção e agregar-se aos outros. Representa ainda o lugar

onde se pode refazer-se das humilhações sofridas no mundo externo, expandir

a agressividade reprimida, exercitar o próprio autocontrole, repreender e vencer

o outro. Diante de vários conflitos vivenciados pelos sujeitos na atual

conjuntura, a família pode ainda ser um lugar onde se pode contar para

extravasar suas angústias e ansiedades frente a tantos problemas

(desemprego, desentendimentos com amigos, transportes, trabalho precário,

baixos salários e outros) (HELLER, 1987).

Na família são reproduzidos os padrões, os valores e os sistemas de relações sociais que são particularizados, vividos interiorizados ao nível da família e de cada membro, na forma de continuidade e descontinuidade ( VITALE, 1987, p. 35).

As trocas afetivas na família imprimem marcas que as pessoas carregam a

vida toda, definindo direções no modo de ser com os outros afetivamente e no

modo de agir com as pessoas. Esse ser com os outros, aprendido com as

pessoas significativas, prolonga-se por muitos anos e freqüentemente projeta-

se nas famílias posteriormente (SZYMANSKI,2002, p.12).

Nas últimas décadas do século XX, novas mudanças ocorrem e são

incorporadas pela Carta Constitucional: famílias monoparentais, por exemplo,

e a condição do homem ou da mulher como chefe de família. Essas mudanças

se processam entre conflitos e tensões e que certas características dos

diferentes “modelos” de família convivem numa mesma família, acentuando,

assim seu grau de complexidade (GUEIROS, 2002, p. 110).

Page 23: A importância da família para o tratamento de álcool

33

1.3. A mulher no âmbito familiar Ao examinar a história da civilização até a separação entre sociedade

civil e Estado, ocorrida em fases sucessivas, do final do século XVIII em

diante, seremos forçados a considerar meramente tautológica7 a expressão

“as mulheres na família”. Na idade média, inclusive, as mulheres eram

excluídas das reuniões do Estado. Tudo aquilo que se verificava fora do

âmbito familiar, discussões políticas, comércio e guerra, era atividade

reservada aos homens. As mulheres casadas, por outro lado, eram até mesmo

excluídas das práticas religiosas. Durante todo processo histórico as mulheres

envolvidas em questões relacionadas ao âmbito familiar, mesmo que de certa

forma excluídas ou sem a sua devida importância (HELLER, 1987, p.8-9).

A mulher tem um papel inquestionável no núcleo familiar e são

destacadas como propulsoras de mudanças por meio de lutas no

reconhecimento de seus direitos. Tidas sempre como a responsável pela

socialização dos filhos e pelas tarefas domésticas.

A mudança na ordem econômica mundial, a partir da década de 1970 concorreu para a opção governamental no Brasil de adoção de um modelo de desenvolvimento econômico que trouxe como conseqüência o empobrecimento acelerado das famílias na década de 1980. Acrescido a esse fato, houve a intensa migração do campo para a cidade e a ampliação dos padrões de exploração de mulheres e crianças no mercado de trabalho, além da deterioração do setor público na prestação de serviços, contribuindo para a queda das condições de vida (COELHO, 2002, p. 76).

Os cuidados com a saúde da família sempre foram competência

exclusiva da mulher, cabia às mulheres ocuparem-se dos doentes, dos feridos

e dos moribundos. Hoje na sociedade ainda estão vinculadas a mulher estes

cuidados embora sua inserção no mercado de trabalho tenha submetido-a a

outra dinâmica no seu dia-a-dia (HELLER, 1987).

As mulheres no passado por não participarem mais diretamente das

instituições sócio-políticas da sociedade, viveram quase sempre “em meio” aos

acontecimentos. Estavam envolvidas nas batalhas dos homens, na troca de

visita com os vizinhos, conservando, porém, além disso, suas atividades

7 Consiste em dizer sempre a mesma coisa por formas diferentes.

Page 24: A importância da família para o tratamento de álcool

34

produtivas. (HELLER, 1987, p.12).

A família emerge, portanto como esfera prioritária de identificação feminina, isto é, o lócus no qual sua identidade é gerada, construída e referida. Tal fenômeno se expressa, inclusive, no fato de a mulher só conseguir se definir na ou através da família, esposa ou mãe (SALEM, 1981, p. 60 ).

A história da sociedade em que vivemos está repleta de modelos de

famílias, que correspondem a diferentes papéis para homens e mulheres.

Dentro desses papéis, aprendemos a pensar e a nos reconhecer. Nesta

dinâmica no processo histórico as mulheres destacaram-se pela constante

importância no âmbito familiar a exemplo da mãe que ocupa um lugar de

destaque. A divisão sexual dos papéis é uma realidade que vem sendo

questionada pelas mulheres (mas também pelos homens) há alguns anos. A

família contemporânea, que a literatura especializada chama de moderna

intimista, nuclear, é uma realidade que vem constantemente sendo

questionada em nosso dia-a-dia, o que, por implicação, tem demandado a

revisão desses modelos (FREITAS, 2002).

Na construção desses papéis, historicamente, coube às mulheres o espaço privado, o mundo da casa. Ser mãe foi o principal papel para as mulheres nos discursos que a igreja e a medicina social estabeleceram. Uma das grandes transformações presentes na constituição desse ideal de família foi o sentimento da infância. Desde o século XVIII, a criança passa a ocupar um lugar central no núcleo familiar. Em torno dos filhos passa a girar a família, e à mulher coube a tarefa de materná-lo, educá-lo, de cuidar dele para que se tornasse um adulto disciplinado e ordeiro (FREITAS, 2002 p. 81).

É necessário que toda análise acerca da família leve em consideração

às condições em que vivem as famílias, “não existe a mulher, a mãe” (Freitas,

2002) ou a família. A construção desses papéis é resgatada a todo instante na

sociedade.

A entrada e o desempenho das mulheres (especialmente das mulheres

casadas) no mercado de trabalho, nas universidades e nos mais diversos

segmentos sociais é vista por Hobsbawm ( 2001 ) como um fenômeno novo e

revolucionário.

Embora a participação da mulher na esfera pública esteja associada às próprias dificuldades econômicas que exigiam a participação de um número maior de membros da família na composição do orçamento doméstico, certamente o movimento feminista nos espaços públicos contribuiu significativamente para esta vivência da

Page 25: A importância da família para o tratamento de álcool

35

mulher também nos espaços públicos, anteriormente ocupados predominantemente pelo homem (GUEIROS, 2002, p. 109).

1.4 - A configuração da família nos anos 90

Em decorrência do processo de modernização da sociedade na segunda

metade do século XX a família brasileira sofreu mudanças significativas. Estas

mudanças são compreendidas como decorrentes de diversos aspectos, dentre

os quais se destacam:

- o desenvolvimento técnico-científico, que proporcionou tantas invenções, os

anticoncepcionais e o avanço dos meios de comunicação de massa.

- a transformação e liberalização dos hábitos e dos costumes, especialmente

relacionados à sexualidade e à nova posição da mulher na sociedade.

Estas transformações revelaram um novo padrão demográfico na

sociedade brasileira e acarretaram uma fragilização dos vínculos familiares e

uma maior vulnerabilidade da família no contexto social onde não é possível

falar de família, mas sim de famílias. O uso do plural se faz no sentido de

abarcar, dentro da concepção família a diversidade de arranjos familiares

existentes hoje na sociedade brasileira (MIOTO, 1997, p. 118).

O reconhecimento da família como totalidade implica também reconhecê-la dentro de um processo de continuas mudanças. Estas são provocadas por inúmeros fatores nos quais estão aqueles referentes à estrutura social em que as famílias estão inseridas e aqueles colocados pelo processo de desenvolvimento de seus membros. Tais fatores constituem-se em fontes de estresse familiar e concorrem significativamente para o aparecimento das dificuldades familiares e, conseqüentemente, para o surgimento dos membros sintomáticos (MINUCHIN, 1990).

Pode-se dizer que a qualidade de vida das famílias depende da

articulação que cada um consegue fazer entre as demandas internas e as

demandas advindas de seu espaço social e as formas de lidar com as

transformações ocorridas no âmbito das relações sociais (MIOTO, 1997,

p.122).

As mudanças produziram efeitos sobre a estrutura familiar, e na

chamada “nova família” modernizaram-se as concepções sobre o lugar da

mulher nos alicerces da moral familiar e social. Ao contrário da família

Page 26: A importância da família para o tratamento de álcool

36

tradicional a nova mulher “moderna” deveria ser educada para desempenhar o

papel de mãe (também uma educadora dos filhos) e de suporte do homem

para que ele pudesse trabalhar (NEDER, 2002, p. 31).

Como exemplo das mudanças que ocorreram na estrutura familiar há

que se ressaltar que duas famílias com a mesma composição podem

apresentar modos de relacionamento completamente diferentes. O relevante,

nesse caso são suas histórias, a classe social de pertencimento, a cultura

familiar e sua organização significativa no mundo (SZYMANSKI, 2002, p. 17).

Na família pobre as relações entre seus membros seguem um padrão

tradicional de autoridade e é uma questão de ordem moral a subordinação dos

projetos individuais aos familiares e a insistência na hierarquia. É nesse

contexto que se estabelece a tarefa socializadora da família (SARTI, 1996).

Numa cultura que valoriza o homem como o poderoso provedor da família, é desconcertante a situação em que a mulher, ou mesmo filhos adolescentes, consigam trabalho e remuneração mais facilmente do que o “chefe da família” (SZYMANSKI, 2002, p. 18).

Na sociedade moderna não existe um modelo padrão de organização

familiar, devido às transformações no mundo do trabalho, nas relações sociais,

culturais e políticas. Os diversos problemas vivenciados no âmbito familiar são

decorrentes das mudanças mais amplas que estão ocorrendo. A dependência

química é uma dessas conseqüências.

Na história da civilização há presença de drogas em vários contextos:

religioso, cultural, social, econômico, medicinal e cultural. A relação entre o

homem e a droga é de longa data e está atualmente massivamente presente

nos meios de comunicação estimulando o seu uso e propiciando em

decorrência deste uso uma série de problemas dentre os quais darei enfoque

aos que ocorrem no âmbito familiar.

Nos séculos XIX e XX, o advento da economia capitalista provocou grandes transformações sociais que repercutiram nos padrões de comportamento e conseqüentemente levaram a mudanças na estrutura familiar. Embora algumas dessas mudanças tenham sido grandemente reparadoras, outras provocaram o progressivo isolamento familiar, fatos que aliados a uma ideologia de consumo e condutora de uma busca de prazer instantâneo e imediato contribuíram para o surgimento de conflitos e desastres dentre os quais apontamos o uso abusivo de drogas (BUCHER, 1988, p.52).

Page 27: A importância da família para o tratamento de álcool

37

No Brasil as mudanças desencadeadas na década de 1990 com as

políticas neoliberais através da reestruturação produtiva, o avanço tecnológico

e a fragmentação e precariedade do trabalho ocasionou impactos na

reprodução social. O crescente desemprego, a violência, a pobreza, o

desmonte dos direitos sociais conquistados na década de 1980 e a

vulnerabilidade dos grupos que cada vez mais tornam-se excluídos à margem

da sociedade. Martins mostra que a pobreza, muito mais que falta de comida, e

de habitação é “carência de direitos, de possibilidades, de esperança”

(MARTINS, 1991, p. 11-15).

Historicamente o homem e a droga são companheiros de muitos séculos

conforme mencionado anteriormente, no entanto um fato se destaca nos dias

de hoje em todo o mundo há uma expansão rápida. Podendo se assinalar à

metade do século XX como ponto referencial.

As mudanças que ocorrem no mundo afetam a dinâmica familiar como

um todo e, de forma particular, cada família conforme sua composição historia

e pertencimento social. (SZYMANSKI, 2002, p. 17).

Jovens e adultos tem feito uso abusivo de drogas em nossa sociedade

questões como a violência doméstica, por exemplo, não pode ser vista

separada do alcoolismo e consumo de outras drogas, que tem efeitos

devastadores nas famílias e que não podem ser analisados fora de um quadro

de referência da sociedade mais ampla (SZYMANSKI, 2002, p.20).

É indispensável examinarmos aspectos que são compatíveis com o

aumento do consumo de drogas numa sociedade cada vez mais competitiva,

individualista e consumista. Há um favorecimento quanto ao uso de drogas

onde não há restrição à classe social ou a determinada faixa de idade.

Nesta perspectiva,

Segundo estatísticas da Organização Mundial de Saúde, um em quatro habitantes do mundo recorre a drogas. Outro dado que se destaca diz respeito à indústria farmacêutica que é, atualmente, uma das mais rendosas do mundo. Esses dados nos remete a existência de regras tóxicas de sobrevivência. É um problema que envolve aspectos psicológicos, sanitários, educativos, políticos e sociais, exigindo, portanto integração entre ações preventivas, repressivas e de tratamento. (BUCHER, 1988, p. 48-49).

Para entendermos as implicações do Neoliberalismo nas políticas

Page 28: A importância da família para o tratamento de álcool

38

públicas sociais mais atuais, é significativo resgatar a conformação da política

social no capitalismo do século XIX, construída a partir das mobilizações

operárias sucedidas ao longo das primeiras revoluções industriais (VIEIRA,

2004, p.140) e presente nas principais reivindicações trabalhistas, como fruto

de contradições históricas do próprio capitalismo.

A redução considerável dos gastos sociais indica uma redução dos serviços sociais públicos e dos subsídios ao consumo popular, contribuindo para deteriorar as condições de vida da maioria absoluta da população, incluindo amplos setores das camadas médias (LAURELL, 1995, p. 151).

Neste contexto a viabilização das políticas públicas de saúde deve ser

reafirmada e o Assistente Social no seu exercício profissional deverá estar

envolvido neste processo.

Inúmeros são os desafios que permeiam a vida da família

contemporânea. Várias temáticas estão envolvidas como violência intra e extra-

familiar, desemprego, pobreza, drogas e tantas outras situações que atingem a

família e desafiam sua capacidade para resistir e encontrar saídas. O impacto

desses desafios e dessas mudanças sobre o cotidiano das relações familiares

é absorvido pelo profissional que trabalha com famílias (VITALE, 2002, p. 45).

Quando se lida com famílias, portanto depara-se com uma primeira dificuldade, a de estranhar-se relação a si mesmo. Como reação defensiva, há uma tendência a projetar a família com a qual nos identificamos – como idealização ou como realidade vivida – no que é ou deve ser a família, o que impede de olhar e ver o que se passa a partir de outros pontos de vista (SARTI, 1999, p.100).

Entre as mudanças que estão ocorrendo no mundo, nenhuma é mais

importante do que aquelas que acontecem em nossas vidas pessoais – na

sexualidade, nos relacionamentos, no casamento e na família. É uma

revolução que avança de maneira desigual em diferentes regiões e culturas,

encontrando muitas resistências. O Assistente Social, assim como todos os

profissionais também, estão inseridos nestas mudanças e precisam considerar

estas transformações na atuação profissional (VITALE, 2002, p.60).

Devido às imposições do neoliberalismo o Estado restringe sua

participação, embora legalmente seja o responsável pela “solução” de

questões de determinados segmentos – como, por exemplo, crianças,

adolescentes, idosos, portadores de deficiências e pessoas com problemas

Page 29: A importância da família para o tratamento de álcool

39

crônicos de saúde – a família tem sido chamada a preencher esta lacuna, sem

receber dos poderes públicos a devida assistência para tanto (GUEIROS,

2002, p.102). Diante do exposto coloca-se a reflexão da importância no que

refere-se a família frente os desafios impostos aos profissionais e em particular

ao Assistente Social que tem deparado com esta demanda cotidianamente.

Page 30: A importância da família para o tratamento de álcool

40

CAPÍTULO II DROGA E FAMÍLIA

2.1 - Considerações sobre drogas.

Considerando a complexidade que envolve a discussão acerca

desta temática na perspectiva multidisciplinar é necessário ir além da

simplificação imposta na abordagem farmacológica médico-legal ou jurídica

(Palatinik, 2002, p. 110).

É importante ressaltar os conceitos básicos sobre drogas, os

diferentes tipos de usuários, a classificação das drogas e os níveis de

prevenção para entendermos a dinâmica na qual o profissional e o usuário está

inserido. Estas informações podem contribuir na evolução do tratamento e

instrumentalizar o profissional na sua atuação.

TABELA I – Terminologia e Conceitos Básicos sobre Drogas

TERMINOLOGIA Conceitos Básicos

MEDICAMENTO substância ou produto que se utiliza como remédio no tratamento de doença física ou mental.

DEPENDÊNCIA QUÍMICA é um estado caracterizado pelo uso descontrolado de uma ou mais substâncias químicas psicoativas com repercussões negativas em uma ou mais áreas da vida do individuo.

TOLERÂNCIA é a necessidade do uso de doses crescentes de uma determinada droga, para obter efeitos originalmente alcançados com doses menores ou a redução significativa do efeito, quando a dose consumida se mantém estável.

SINDROME DE ABSTINÊNCIA

é o conjunto de sintomas decorrentes da interrupção do uso de uma droga.

OVERDOSE é o uso de qualquer droga com produção de efeitos físicos e ou mentais e freqüentemente letais, seja por quantidade excessiva, pureza da droga ou pela diminuição da tolerância do indivíduo.

Fonte: “ Drogas: Conceitos Básicos”, Folder da Secretaria Especial de Prevenção à Dependência Química, Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, s/data.

Page 31: A importância da família para o tratamento de álcool

41

TABELA II – CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS QUANTO A AÇÃO NO

SISTEMA NERVOSO CENTRAL

TIPO DE DROGAS EFEITO SOBRE O ORGANISMO HUMANO

ESTIMULANTES Aceleram a atividade cerebral. Há uma aceleração do pensamento e euforia. Seus usuários tornam-se mais ativos. “ligados”. Exemplos: anfetaminas ( remédio para emagrecer), cafeína, cocaína, ecstasy e nicotina.

DEPRESSORAS Pessoas sob o efeito dessas substâncias tornam-se sonolentas, lerdas, desatentas e desconcentradas. Exemplos: álcool, opiáceos (heroína e morfina), tranqüilizantes, inalantes ou solventes (cola) e indutores do sono.

PERTUBADORAS Modificam o sentido da realidade, provocando alterações na percepção, emoções e pensamento. O consumo pode desencadear também quadros psicóticos permanentes em pessoas predispostas a essas doenças ou novas crises em indivíduos portadores de doenças psiquiátricas (transtorno bipolar, esquizofrenia). Exemplos: anticolinérgicos, LSD (ácido), maconha, chá de cogumelo, trombeta e lírios.

Fonte:“ Drogas,: Conceitos Básicos”, Folder da Secretaria Especial de Prevenção à Dependência Química, Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, s/data.

Os efeitos das drogas dependem basicamente de três fatores: a droga, o

meio ambiente e o usuário. Por isso é importante observarmos aspectos

relacionados a estes três elementos. A forma como a substância é utilizada, a

quantidade consumida e o grau de pureza também terão influência no efeito e

as expectativas do usuário em relação à droga e seu estado emocional

também poderão interferir nos efeitos.

TABELA III – CLASSIFICAÇÃO DOS NÍVEIS DE PREVENÇÃO

Níveis de Prevenção Descrição

Primária deve intervir antes e consiste num conjunto de ações de caráter educativo, face à perspectiva de consumo de drogas.

Secundária intervém quando é detectado um problema inicial de consumo de drogas, tentando evitar o agravamento.

Terciária intervém quando o problema de dependência química já está instalado e atua, antes, durante e após o tratamento, no intuito de reintegrar o indivíduo na sociedade e prevenir recaídas.

Fonte:“ Drogas,: Conceitos Básicos”, Folder da Secretaria Especial de Prevenção à Dependência Química, Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, s/data.

Page 32: A importância da família para o tratamento de álcool

42

O álcool e as demais drogas são substâncias químicas que causam

alterações na percepção e no comportamento das pessoas e cujo uso

continuado pode levar a dependência.

Em termos de consumo de drogas o país campeão de uso de drogas é

os Estados Unidos, seguido do Canadá e de vários países europeus. Os dados

norte americanos apontam que mais de um terço dos habitantes daquele país

já usaram maconha (34,2%)8.

2.1.1 - Dependência.

A dependência encontra-se classificada mundialmente entre os

transtornos psiquiátricos, o sujeito não se torna dependente de drogas de uma

hora para outra; trata-se de um processo lento e gradual (SCHENKER, 2003, p.

211).

Muitas pessoas que consomem bebidas alcoólicas, por exemplo, não se

tornam dependentes do álcool, porém é bom lembrar que o uso de drogas

ainda que experimental pode vir a causar danos à saúde.

O uso de algumas medicações podem ocasionar dependência também.

É de suma importância a investigação das expectativas do paciente quanto ao tratamento. expectativas irreais, exageradas, acarretam frustração e denotam, às vezes, pouca disponibilidade individual para mudança do estilo de vida, fator essencial para a manutenção dos resultados do processo terapêutico (LEITE, 2001, p. 8).

A dependência é um desejo incontrolável que a pessoa tem de consumir

a droga, a fim de sentir seus efeitos e para evitar as sensações desagradáveis

causados pela sua falta. No Brasil, as estatísticas indicam que o alcoolismo é

responsável por: internações em hospitais psiquiátricos; grande número de

faltas ao trabalho; parcela significativa dos acidentes de trânsito; parte dos

acidentes de trânsito.

O abuso de álcool pode levar à dependência física e psicológica com

8 Disponível na série por dentro do assunto. Drogas: Cartilha sobre maconha, cocaína e

inalantes

Page 33: A importância da família para o tratamento de álcool

43

danos irreversíveis no cérebro, fígado e outros órgãos.

2.1.2 Por que tratar?

Levantamentos epidemiológicos apontam que o alcoolismo e outras

drogas é um dos problemas mais importantes na saúde pública em todo

mundo. Sendo a saúde um dos principais campos de atuação do Serviço Social

se faz necessário à discussão sobre drogas, assunto presente em várias

dimensões da sociedade – trabalho, escola, comunidade etc.

O uso de drogas em nossa sociedade tem se ampliado em larga escala

por isso é necessário aprofundarmos as discussões sobre o tema em questão

para os cidadãos tenham uma melhor qualidade de vida. Pesquisas dos mais

variados tipos têm demonstrado como o uso de bebidas alcoólicas e de cigarro

de nicotina têm conseqüências altamente danosas para a saúde individual e,

em vários casos com de violência física e de acidentes (VELHO, 1997, p. 9).

No ano de 2001 o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) realizou uma pesquisa domiciliar de caráter nacional em 107 cidades brasileiras com população superior a 200.000 habitantes na faixa etária compreendida entre 12 e 65 anos. A pesquisa teve como principal objetivo estimar pela primeira vez no país a prevalência do uso de álcool e outras drogas. Os resultados encontram-se em um relatório intitulado “I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil”. Os resultados em relação ao uso de álcool no Brasil 1,2 revelam que 77,3% dos homens e 60,6% das mulheres já fizeram uso de álcool na vida, totalizando em 68,7% o número de participantes que já fizeram uso de álcool na vida. Em todas as faixas etárias estudadas, os indivíduos do sexo masculino fizeram mais uso de álcool na vida do que os indivíduos do sexo feminino. Quanto ao uso regular de bebidas alcoólicas (mínimo de 3 a 4 vezes por semana, incluindo aqueles que bebem diariamente), 9,1% dos homens e 1,7% das mulheres fazem uso regular de álcool, totalizando em 5,2% o número de indivíduos que bebem regularmente. É importante notar a diferença entre o consumo regular de álcool por homens e mulheres. No ano de 2005, o CEBRID realizou a segunda versão desse estudo, intitulado de “II Levantamento Domiciliar sobre Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil – 2005”, visando acompanhar o panorama geral de uso de álcool e outras drogas na sociedade brasileira e de notar possíveis flutuações na prevalência de uso dessas substâncias. A pesquisa indicou que o número de brasileiros, com idades entre 12 e 65 anos, dependentes de bebidas alcoólicas foi de 12,3%, o que

corresponde à população de 5.799.005 pessoas.9

9 Dados fornecidos no II levantamento Domiciliar sobre ouso de drogas psicotrópicas no

Brasil.

Page 34: A importância da família para o tratamento de álcool

44

Para aqueles que injetam cocaína, o risco de contrair hepatites, AIDS e

outras infecções, pelo uso de seringas contaminadas é também alto.10 Esta

situação torna-se cada vez mais preocupante em nossa sociedade

principalmente entre os jovens.

Um estudo conduzido no Instituto Médico Legal de São Paulo, em 1994,

analisou os laudos de todas as pessoas que morreram por acidentes ou

violência na Região Metropolitana de São Paulo e constatou que:

52% das vítimas morreram de homicídios,

64% daqueles que morreram afogados e

51% dos que faleceram em acidentes de trânsito apresentaram álcool na

corrente sanguínea em níveis mais elevados do que o que permitido por lei

para dirigir veículos (0,6 gramas de álcool por litro de sangue).

É um equívoco pensar a questão das drogas de forma limitada e restrita

a análise do produto. Aspectos fundamentais e importantes relativos ao

indivíduo e ao contexto social e cultural devem ser considerados. Através do

diálogo é possível fazer uma avaliação, qual é o lugar da droga na vida do

usuário ou dependente. Às vezes criamos problemas onde não existe e

atribuímos ao uso de drogas qualquer conduta ou comportamento fora dos

padrões normais.

De acordo com a OMS, no ano 2000 o álcool foi responsável por 4% da incidência de doenças, em países emergentes como a China tendo nessa substância o maior fator de risco à saúde. O uso moderado de álcool, contudo, apresenta efeitos controversos sobre a saúde. Está tanto associado com a diminuição na mortalidade em decorrência de doenças coronárias entre indivíduos de mais de 40 anos de idade quanto com o aumento no risco de manifestação de câncer. Ademais, seu uso está associado com problemas sociais, em

especial a violência11.

Diante da insuficiência dos mecanismos de fiscalização e repressão da

oferta de drogas houve reconhecimento da necessidade de medidas

10 Disponível na série por dentro do assunto. Drogas: Cartilha sobre maconha, cocaína e inalantes.

Brasília: Presidência da República, 2001.

11 Disponível em: http://www.alcoolismo.com.br acessado em 30 de outubro 2007.

Page 35: A importância da família para o tratamento de álcool

45

preventivas.

Em 1970, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) convocou, pela primeira vez especialistas de vários países para que discutissem a abordagem preventiva do uso de drogas. Em seguida, vários encontros internacionais foram realizados. A partir de 1972, a educação destinada a prevenir o abuso de drogas foi considerada uma necessidade universal e premente (BUCHER, 1998, p. 55).

O uso abusivo de drogas tem provocado constantes discussões na

sociedade a partir de diversos casos principalmente envolvendo jovens que

colocam não somente suas vidas em jogo como também abalam toda a família,

conforme ilustrado a seguir:

“Festa rave de Itaboraí termina em morte” Dezoito freqüentadores de uma festa rave que começou na noite de sábado deram entrada, domingo, no Hospital Estadual Prefeito João Batista Caffaro, em Itaboraí. Um deles, um jovem de 17 anos morador de Vila Isabel, chegou à unidade em coma e, de acordo com o diretor do hospital, Marcelo Bagueira, morreu em conseqüência de uma parada cardiorespiratória. Das 7h30m até o fim da tarde de domingo, foram registrados 18 atendimentos de pessoas que estavam na festa Tribe, realizada na Happy Land Diversões. De 16 atendimentos, segundo a assessoria do governo do estado, 14 estavam ligados ao uso de drogas ou álcool.- A maioria dos atendidos era do sexo masculino, indo até a faixa etária de 31 anos. Jornal O DIA, 01.11.2007 pág. 05.

2.1.3 - Por que a família é importante para o

tratamento.

A família é sem dúvida fundamental para o sucesso do tratamento de

dependência química. Acreditar que tudo se resolverá a partir de algumas

consultas ambulatoriais ou de uma internação é no mínimo uma postura cética.

O dependente muitas vezes não tem noção da gravidade do seu

estado e pode sentir vontade de se “testar”, expondo-se a situações de risco. A

família deve ajudá-lo estabelecendo regras para evitar a recaída. É importante

evitar os locais de risco por isso todos devem ajudar: o patrão, os vizinhos, os

Page 36: A importância da família para o tratamento de álcool

46

amigos, mas o suporte maior deve vir da família. Não se trata de fiscalizar,

mas de chamá-lo à reflexão. Nesta perspectiva há uma desmistificação da

culpabilidade do usuário de drogas para o campo da responsabilidade.

É preciso entender que o uso abusivo de drogas é uma doença. Em

primeiro lugar é preciso a motivação do dependente para iniciar o tratamento e

em seguida o apoio da família para mantê-lo motivado.

A família por estar desprovida de informações sobre a questão das

drogas, principalmente as ilícitas, pode ter sua participação no tratamento

comprometida por distorções presentes na sociedade. Afinal as drogas são

apresentadas como algo demoníaco.

O tratamento da dependência deve passar pela avaliação da família.

Estudos mostram que vítimas de maus tratos, a presença de consumo

problemático de drogas entre os mais velhos, violência, ausência de rotina

familiar e a dificuldade dos pais em colocar limites nos filhos aumenta o risco

do surgimento de dependência entre os seus membros.

No espaço familiar são construídos valores, regras, papéis que

solidificam a história de cada família que esta inserida numa realidade social e

quando ocorre algo que provoca distorções nos comportamentos surgem

conflitos. Em casa somos classificados pela idade, sexo e papel que

desempenhamos e nossa conduta é regida por valores como honra, vergonha

e respeito (GARCIA E MENANDRO, 2000, p. 344).

É importante destacar aspectos do contexto familiar em que estão

inseridos os dependentes químicos: desemprego, violência, insegurança. Um

conjunto de ações que configuram expressões da questão social, por isso é

fundamental trabalhar o papel da família que dada à realidade da sociedade

ocupa posição difícil e conflitante.

A família pode levar muito tempo para se dar conta que há um membro

na família que é dependente químico, seja por desconhecimento das reações

do uso da droga ou pelo fato de não considerar a droga uma doença.

A família está sujeita às influências que a realidade econômica, social,

cultural e histórica determinam e por isso constantemente vem atravessando

Page 37: A importância da família para o tratamento de álcool

47

crises. A idéia que temos de família como um grupo relativamente bem

estruturado envolvendo o pai, a mãe e os filhos muitas vezes não corresponde

à diversidade dos modelos de família existentes e das realidades em que

vivem. Criamos em nossa cultura a idéia de uma família-modelo, porém vale

ressaltar que nenhum relacionamento está livre de conflitos. Por isso nem

sempre podemos ter a resposta ideal de nossas famílias.

No âmbito familiar deve-se buscar espaço para o diálogo, na busca da

superação de problemas, conflitos e na construção no dia-a-dia do respeito

mútuo, consolidando comportamentos preventivos em relação ao uso de

drogas. Em toda família coexistem tendências para saúde e para doença, o

diferencial se fará a depender de como a família enfrente situações de crise,

de como está à afetividade e a comunicação entre seus componentes.

A família se organiza com padrões que dão sentido a sua dinâmica. E a

estrutura familiar se constitui de um conjunto de regras que determinam os

relacionamentos de seus membros, localizando o lugar de cada um,

estabelecendo seu papel e função. Para ele, cada indivíduo aprende a

relacionar-se dentro do sistema através de regras verbalizadas ou não. Estes

padrões se formam pela troca do cotidiano, podendo não ser visíveis aos

membros da família. Com isso, se ocorrer uma mudança num membro da

família, conseqüentemente os outros serão afetados. Quando um indivíduo da

família apresenta algum problema, isto pode significar que toda a família está

com dificuldade. Ou seja, cada tipo de tensão vivida pela família, exigirá um

processo de adaptação, transformações de interações familiares, a fim de

manter-se o equilíbrio da família, conduzindo ao crescimento de seus membros

(MINUCHIN, 1990).

O Assistente Social deve saber que o dependente químico desenvolve

um comportamento auto-destrutivo de desestruturação de sua pessoa e do

meio onde se encontra, desenvolvendo reações disfuncionais em relação ao

outro e que o primeiro alvo a ser atingido é a família. (BEATTIE, 1997, p. 15).

Logo a atuação do Assistente Social ao lidar com o dependente e sua

família, é de fundamental importância para a facilitação da reinserção social de

Page 38: A importância da família para o tratamento de álcool

48

ambas as partes, a fim de promover a recuperação dos envolvidos. É preciso

orientar o dependente e a família quanto aos prejuízos físicos e sociais

causado pela droga, ou seja, envolver a família no tratamento. A abordagem

familiar deve ser considerada como parte integrante do tratamento.

A maioria dos usuários que chega às unidades para tratamento é

trazida por parentes. O discurso utilizado pelas famílias responsabiliza o

usuário assim, como a sociedade que criminaliza e estigmatiza o dependente

sem considerar fatores externos que determinam sua condição. Nesta

dinâmica é importante incluir a família que necessita participar ativamente do

tratamento e do processo de recuperação do dependente, como núcleo de

suporte fundamental do indivíduo (LEITE, 2001, p. 23). No capítulo IV

demonstraremos através da pesquisa que, no entanto, esta tarefa não é fácil

devidos os prejuízos sofridos em decorrência do uso da droga.

É comum o dependente ou a família se autodenominarem vítimas e se

contrapor uns aos outros, sem perceber que ambos estão no processo de

saúde-doença. Neste contexto vale ressaltar a co-dependência, onde co-

dependente é uma pessoa que deixou o comportamento de outra afetar a si

própria e tem obsessão em controlar o comportamento de outras pessoas.

(BEATTIE, 1997, p. 28).

Uma condição emocional, psicológica e comportamental que se desenvolve como resultado da exposição prolongada de um individuo a – e a prática de – um conjunto de regras opressivas que evitam a manifestação aberta de sentimentos e a discussão direta de problemas pessoais e interpessoais (BEATTIE, 1997p. 45).

A co-dependência não ocorre apenas no que refere-se ao uso de

substâncias químicas, no entanto é muito comum lidarmos com esta demanda

quando o assunto em questão é drogas.

2.1.4 - A influência da mídia no consumo de

drogas.

A mídia tem estimulado o uso de bebidas alcoólicas, o que banaliza e

legitima o consumo de álcool, sem revelar os verdadeiros efeitos que o seu uso

excessivo pode ocasionar ao indivíduo. É interessante observar que os

Page 39: A importância da família para o tratamento de álcool

49

alcoólicos não consideram o álcool uma droga, porque seu uso é legalizado.

No entanto o álcool é classificado conforme tabela II como uma droga

depressora12 que produz através do consumo indevido, diversas

conseqüências ao usuário: perda da auto-estima, conflitos na família, acidentes

de trânsito, absenteísmo no trabalho, além de distúrbios físicos e psicológicos

que podem levá-lo a dependência, interferindo de forma negativa no seu

convívio social. Durante a vida, o ser humano cria relações de dependência.

Algumas dessas relações são importantes para o bem-estar, outras causam

prejuízo. A dependência química reflete no âmbito familiar de diversas formas,

especialmente nos conflitos originados não apenas do usuário.

É importante demarcarmos que neste contexto as pessoas que se

encontram no estágio de co-dependência estão tão envolvidas pelo “outro” que

esquecem de si mesmas. O Assistente Social precisa no seu exercício

profissional estar atento a este usuário que dificilmente chegará ao

atendimento com uma demanda sua e sim sempre do “outro”.

[...] e não se pode negar o peso simbólico que a mídia, principalmente a televisiva, desempenha em nossa sociedade (FREITAS, 2002, p.86).

A visão proibicionista tem o foco na droga e não no sujeito, a questão

do uso deixa de ser vista como algo inerente à individualidade de cada ser

humano, e passa a ser uma questão de segurança pública. Nesta perspectiva o

inimigo passa a ser o usuário que assume características de pessoa ruim e

violenta, sem valores éticos ou morais. “O termo drogado começa a ser

utilizado no Brasil ao lado da categoria subversivo como uma categoria de

acusação” (VELHO, 1997).

A lógica de somente publicar o que se encaixa no imaginário social

acaba potencializando o problema do estigma no qual está inserido o usuário

de drogas. Uma pessoa usuária, por exemplo, não necessariamente será um

dependente. No entanto a sociedade vê todo usuário como um dependente. O

profissional deve observar em que estágio se encontra o usuário que esta

sendo atendido para que seja viabilizada uma intervenção eficaz e objetivar um

12 grifo nosso

Page 40: A importância da família para o tratamento de álcool

50

encaminhamento adequado.

Um dos caminhos para se alcançar o objetivo de diminuir os riscos

associados ao uso de drogas começa na capacidade de discernimento do

cidadão bem informado.

Algumas palavras como “vício”, “drogado”, “bêbado” e “alcoólatra”,

utilizadas cotidianamente principalmente nos noticiários reforça a imagem

estigmatizada do usuário de drogas. “ O drogado se apresenta como uma

pessoa sem autonomia sobre seu consumo e não como um ator de cena do

uso” (VELHO, 1997, p.28).

A droga deixa através da mídia suas marcas e suas seqüelas.

Representações perpassam o imaginário dos cidadãos a seu respeito. Dos

“paraísos artificiais” passam a “demônios do mal”. Suas conotações variam

como variam as perspectivas daqueles que buscam compreendê-las. Aceita-

se como realistas, visões provenientes da mídia sensacionalista, perpetuando

uma situação de alienação no consumo. Estando atualmente associado à

marginalidade, à improdutividade e à violência. O uso de drogas é referido de

forma muitas vezes generalizada em conexão com esses aspectos. O impacto

disso sobre a família é freqüentemente reforçado pela desinformação e pela

associação imediata à criminalidade, podendo provocar reações de rejeição,

exclusão e criminalização do usuário e muitas vezes um incremento do

consumo (GARCIA, 1997, p. 25).

A influência do marketing tem sido importante fator para o aumento da ingestão de bebidas no nosso país. O consumo per capita de álcool cresceu 154,8% entre 1961 e 2000, situando o Brasil entre os 25 países do mundo que mais aumentaram o consumo de bebidas durante esse período (OMS, 2000).

Vivemos numa sociedade capitalista altamente individualista, com um

incessante apelo a adicção consumista – comprar, comprar; ter, ter: ser;

consumo esse patrocinado pela mídia, principalmente a TV que se instala nos

lares. Assim a sociedade vem se mostrando personalista e individualista.

(SCHENKER, 2003).

Page 41: A importância da família para o tratamento de álcool

51

CAPÍTULO III

TRABALHOS DIFERENCIADOS E EQUIPES

INTERDISCIPLINARES NO TRATAMENTO

DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

3.1 - O Trabalho dos Grupos de Apoio aos Dependentes

Químicos e suas Famílias.

3.1.2 - Alcoólicos Anônimos (AA).

Alcoólicos Anônimos iniciou-se em 1935 nos Estados Unidos através do

encontro de um corretor de bolsa de valores de Nova Iorque, o Sr. Bill W., e um

cirurgião de Akron o Dr. Bobvia ambos eram alcoólicos.

Alcoólicos anônimos é uma irmandade de homens e mulheres que compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar os outros a se recuperarem do alcoolismo. O único requisito para tornar-se membro é o desejo de parar de beber. Para ser membro de A.A. não há taxas ou mensalidades; somos auto-suficientes, graças às nossas próprias contribuições.A.A. não está ligada a nenhuma seita ou religião, nenhum movimento político, nenhuma organização ou instituição; não deseja entrar em qualquer controvérsia; não apóia nem combate quaisquer causas. Nosso propósito primordial é nos mantermos

sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançar a sobriedade.13

Há cerca de 2 milhões de alcoólicos em recuperação em

aproximadamente 150 países. Os integrantes se reúnem em grupos que

podem ocorrer diariamente duas ou três vezes por semana a depender do

grupo com duração de 1h. 30min. a 2 horas por encontro. Não há distinção de

sexo ou idade, é importante ressaltar que é predominante a presença de

homens e tem sido significativa a inserção de jovens nos grupos, no entanto,

não há uma continuidade na permanência destes jovens nos encontros.

Os alcoólicos anônimos se intitulam auto-suficientes. Não é obrigatória

a contribuição financeira dos integrantes do grupo. Contribuem aqueles que

podem e com o valor que quiser dentro dos limites pertinentes, ou seja, não é

Page 42: A importância da família para o tratamento de álcool

52

aceito doações com valores muito expressivos. Todas as aquisições de objetos

para os grupos são definidas em assembléia.

Não há distinção nos grupos. Os freqüentadores de um determinado

grupo podem participar de outros grupos, inclusive freqüentemente há

intercâmbio entre os mesmos. Não há controle de freqüência e a permanência

depende exclusivamente do membro do grupo. As reuniões são realizadas

geralmente às 19h30min e conduzidas por um coordenador que inicialmente

expõe aspectos formais e em seguida indica os que irão se pronunciar ao

grupo.

No estado do Rio de Janeiro há cerca de 400 grupos e na Baixada

Fluminense aproximadamente 96 e 02 escritórios que dão suporte aos grupos.

14

3.1.3 - Narcóticos Anônimos (NA).

Narcóticos Anônimos é uma associação comunitária de adictos em

recuperação. Iniciado em meados de 1953, o NA é um dos maiores e mais

antigos grupos deste tipo de demanda, com aproximadamente trinta mil

reuniões semanais em 100 países.

O primeiro grupo de Narcóticos Anônimos no Brasil estabeleceu-se em

1985, no Rio de Janeiro.

A base do programa de recuperação de Narcóticos Anônimos é uma

série de atividades pessoais conhecida como Doze Passos15, adaptados dos

Alcoólicos Anônimos. Estes "passos" incluem o reconhecimento de que existe

um problema. A busca de ajuda visa reparar danos causados e trabalhar com

outros adictos que queiram se recuperar. É importante ressaltar que tanto nos

NA quanto nos AA a abstinência é cobrada aos usuários.

Nas reuniões, cada membro partilha experiências pessoais com os

outros buscando ajuda, não como profissionais, mas simplesmente como

13 Disponível: http//www.alcoolicosanonimos.org.br acesso em : 18 de novembro de 2007. 14 Informação sistematizada em visita realizada em: 03 de dezembro de 2007. 15 Ver anexo I

Page 43: A importância da família para o tratamento de álcool

53

pessoas que tiveram problemas similares e encontraram uma solução.

Narcóticos Anônimos não tem nenhum tipo de acompanhamento profissional.

O principal serviço oferecido por Narcóticos Anônimos é a reunião em

um grupo de NA. Cada grupo administra a si próprio, tendo como base

princípios comuns a toda a organização.

Narcóticos Anônimos é inteiramente auto-sustentado e não aceita

contribuições financeiras de pessoas de fora do grupo. É recolhido em cada

reunião um valor que não é estipulado a fim de colaborar com a manutenção

do lanche, água e demais utensílios.

As reuniões do NA são realizadas reuniões diárias em alguns grupos e

em alguns espaços com 3 reuniões por dia (manhã, tarde e noite). Ocorrem

reuniões fechadas e abertas. Geralmente as reuniões abertas são realizadas

na 1ª e 2ª quarta-feira do mês. Não há limite de participantes, distinção de

classe, gênero, droga de uso ou etnia. As reuniões são conduzidas sempre por

membros mais antigos os quais fazem o acompanhamento da freqüência e

direcionam os relatos. Cada integrante do grupo dirige-se à frente de todos e

inicia seu relato.

Dos 5000 membros de NA que responderam a uma pesquisa informal feita em 1989, 64% eram homens e 36% eram mulheres. Entre estes mesmos 5.000 membros, 11% tinham menos de 20 anos de idade, 37% tinham entre

20 e 30, 48% tinham entre 30 e 45, e 4% tinham mais de 45.16

Nos relatos dos adictos a família estava presente em todas as falas

sempre num tom de sofrimento e angústia17. A palavra perda18 chamou minha

atenção quando referia-se a família. Era dita num tom mais baixo e com seus

os olhos em lágrimas, e foi muito visível pra mim tendo em vista que eu era a

única visitante na reunião e estava sentada na primeira fileira. Ao fazerem

seus relatos se dirigiam a mim, portanto não pude conter a minha emoção.

Interessante que participo de Grupo de Reflexão em outra instituição há um

ano e esta experiência foi completamente diferente. A observação participante

ampliou minha visão sobre a dinâmica da dependência química.

16 Disponível: http//www.na.org.br acesso em : 13 de dezembro de 2007. 17 Informação sistematizada em isita realizada em: 02 de janeiro de 2008. 18 Grifo nosso.

Page 44: A importância da família para o tratamento de álcool

54

Após a inserção no grupo os integrantes destacam o que recuperaram e

destacam como sendo a maior conquista, a família19. Em vários discursos

ressaltam “agora sou pai, marido, amante, filho, irmão e amigo. Antes não eram

nada nem pelo nome eram chamados. As pessoas se dirigiam a mim como

psiu, viciado e ai! Neguinho! Malandro!”20. Através deste discurso é possível

perceber o quanto à questão da família é valorizada pelos adictos e a

importância de trabalhar também no grupo os aspectos que norteiam esta

dinâmica.

3.1.4 - Grupos Familiares (AL-ANON).

Os Grupos Familiares Al-Anon são associações de parentes e amigos

de alcoólicos que compartilham sua experiência, força e esperança, a fim de

solucionar os problemas que têm em comum. A família pode fazer muito para

se ajudar, quer o alcoólico procure ajuda ou não.

Desde 1951 este grupo vem prestando serviço a familiares e amigos de

alcoólicos. Hoje, existem mais de 30.000 Grupos em mais de 100 países. O

Alateen, que é para adolescentes, tem mais de 3.500 Grupos no mundo todo.

Já existem no Brasil desde 1965, mas somente em 1966 o Grupo foi registrado

no Escritório de Serviços Mundiais. Hoje o Brasil dispõe de aproximadamente

1000 Grupos.21

O propósito primordial do programa Al-Anon é dar compreensão e apoio

a familiares e amigos de alcoólicos. Qualquer pessoa cuja vida foi ou está

sendo afetada pelo alcoolismo de alguém pode fazer parte desta entidade. Isso

inclui os familiares imediatos, parentes, amigos, colegas, empregadores etc.

19 Gripo nosso. 20 Informação obtida na pesquisa de campo observação em 02 de Janeiro de 2008. 21 Disponível :www.al-anon.org.br acesso: em 15 de novembro de 2007.

Page 45: A importância da família para o tratamento de álcool

55

3.1.5 - O Trabalho do NEPAD. O trabalho no NEPAD – Núcleo de Estudos e Pesquisa em Atenção ao

Uso de Drogas teve início na década de 80. O atendimento é oferecido a

qualquer familiar que venha sozinho à instituição ou se outro profissional do

setor atendendo ao dependente de drogas considerar que a abordagem

familiar pode favorecer o tratamento.

Em entrevista com o Assistente Social confirmei que a maioria dos

usuários atendidos na referida instituição são do sexo masculino, e revela

uma semelhança entre os usuários do HESFA que, na sua maioria também são

do sexo masculino, e quanto aos familiares ocorre o inverso são geralmente

mulheres e especificamente em relação aos atendimentos do NEPAD são

geralmente mães.

Não há exigência em relação à quantidade de drogas consumida pelo

adicto, idade, classe social, raça ou localidade que resida, no entanto, o

atendimento oferecido pela referida instituição se dá àqueles usuários de

drogas lícitas e/ou ilícitas (menos álcool, quando seu uso é exclusivo) e é

extensivo a seus familiares ou pessoas próximas. O atendimento também é

extensivo às pessoas que tem algum familiar dependente ou usuário de

drogas, mesmo que o usuário não seja paciente do NEPAD. O paciente ao

chegar à instituição é atendido pelo plantonista da equipe (psicólogo ou

médico). Não é exigido que o sujeito esteja abstinente.

A equipe interdisciplinar é composta de médicos, psicólogos,

assistentes sociais, pedagogos, terapeutas ocupacionais e pessoal

administrativo.

Atualmente a estrutura do NEPAD é formada pela Direção

Coordenadora Administrativa e coordenadoria de Estudos e Assistência.

Nestas se inserem três setores: atenção primária, epidemiologia e pesquisa

médica e o de assistência terapêutica.

No setor de atenção primária está inserido o Programa de Redução de

Danos, que surgiu em convênio com a Coordenadoria Nacional de DVST /

AIDS / MS, em 1996, neste setor são elaborados programas dos cursos

Page 46: A importância da família para o tratamento de álcool

56

oferecidos para professores de escolas públicas.

O setor de epidemiologia desenvolve estudos sobre a temática da

toxicomania, organiza banco de dados sobre os pacientes e elabora o perfil da

clientela.

O setor de Assistência terapêutica oferece atendimento ambulatorial aos

usuários de drogas, adultos ou adolescentes e seus familiares. A modalidade

básica de atendimento aos usuários é a psicoterapia de base psicanalítica.

Quando necessária internação os pacientes são encaminhados para

enfermaria do serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital

Universitário Pedro Ernesto (HUPE – UERJ).

Os atendimentos aos familiares ocorrem em duas modalidades Terapia

Familiar (abordagem sistêmica) e atendimento a familiares, que é oferecido aos

familiares, individualmente ou em grupo. Este atendimento surgiu quando os

profissionais perceberam que os familiares que vinham acompanhando os

usuários, na grande maioria mães que queriam conversar com os terapeutas.

A instituição não considera a causa da dependência como sendo

unicamente do produto e considera fatores psicológicos, sociais e políticos,

entre outros.22

3.1.6 - O Trabalho do HESFA.

O objetivo desta instituição é construir uma unidade diferenciada de

caráter eminentemente acadêmico, que visa à produção de conhecimento e

conseqüentemente dedicada à pesquisa e ao ensino de temas ligados ao

consumo abusivo de álcool e drogas, bem como a outros transtornos dos

impulsos, que tanto afligem as sociedades ocidentais no capitalismo atual.

Dar-se-á prioridade às seguintes áreas na atenção e formação e

capacitação: adolescência, programas de saúde da família (prevenção primária

na promoção da saúde mental) e problemas relativos ao uso de substâncias

22 Informações sistematizadas em entrevista com Assistente Social em: 16 de outubro de

2007.

Page 47: A importância da família para o tratamento de álcool

57

psicoativas em ambientes laborais. No entanto, não ficam excluídas as

possibilidades de pesquisas em relação ao tratamento médico/ psicológico e

outras abordagens psicossociais, desde que atreladas à linha de pesquisa do

UNIPRAD ou projetos específicos acima mencionadas e que implicam na

permanente perspectiva da avaliação e implantação de serviços, face a novos

paradigmas nesta área.

Dentre as propostas da UNIPRAD destacam-se:

Propor uma atuação transdisciplinar no campo de álcool, drogas e

outros transtornos dos impulsos que contemplem de forma integrada o ensino,

a pesquisa e a assistência, articulando a prevenção ao tratamento. É

importante ressaltar os atendimentos em grupo (recepção, família e de

usuários) que tem obtido resultados satisfatórios para os usuários dos serviços

prestados pela unidade e também aos profissionais.

Formação e capacitação prática e teórica para alunos de graduação e

pós-graduação nas diversas disciplinas: enfermagem, medicina, psicologia,

serviço social entre outras. São realizados anualmente cursos de extensão só

para os profissionais da equipe.

Propõe-se o aprofundamento das parcerias interinstitucionais para a

formação e treinamento de recursos humanos para a atuação na promoção da

saúde mental, prevenção primária, junto a locais do trabalho, escolas,

Programa de Saúde da Família e Programa de Agentes Comunitários de

Saúde.23

3.1.7 O Trabalho do Centra-Rio

Não foi possível realizar a pesquisa de campo na referida instituição

devido sucessivas entrevistas postergadas fato que impossibilitou nossa

inserção neste espaço de atendimento à usuário de drogas e suas respectivas

famílias disponibilizado pela Secretária de Saúde do Estado do Rio de Janeiro.

23 .Disponível em: www.hesfa.ufrj.br/prog_docentes/uniprad acesso em 18 de outubro de

2007.

Page 48: A importância da família para o tratamento de álcool

58

CAPÍTULO IV Análise de dados obtidos na pesquisa

4.1 - Universo pesquisado. A pesquisa exploratória realizada optou por ser com metodologia

qualitativa que "trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,

crenças, valores e atitudes o que corresponde a um espaço mais profundo das

relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à

operacionalização de variáveis" (MINAYO, 2004, p. 21-22).

Foi realizada revisão bibliográfica pertinente à produção teórica sobre o

uso de álcool e outras drogas, com foco na família dos usuários em tratamento.

"A teoria é um conhecimento de que nos servimos no processo de investigação

como um sistema que orientam a análise e obtenção de dados e de conceitos

que veiculam seu sentido" (MINAYO, 2004, p. 19). Através dessa revisão, foi

consolidado o roteiro de pesquisa. "Destacamos a entrevista e a observação

participante24 por se tratar de importantes componentes da realização da

pesquisa qualitativa" (MINAYO, 2004, p. 57).

Participamos no HESFA do Grupo de Reflexão junto aos usuários de

álcool e outras drogas e do Grupo de Família, visitamos o escritório de

negócios do AA e reuniões do AA, NA e AL-ANON onde realizamos a pesquisa

de campo com objetivo de articular a importância da família no processo de

recuperação do usuário de drogas.

A escolha do HESFA se deveu por constituir nosso campo de estágio na

unidade de atendimento ambulatorial UNIPRAD (Unidade De Projetos

Relacionados ao Uso de Drogas) por 2 semestres e em decorrência da

elaboração dessa monografia permaneci no campo por mais um semestre. O

que atrai na produção do conhecimento é a existência do desconhecido, é o

sentido da novidade e o confronto com o que nos é estranho. Essa

aproximação por sua vez, requer sucessivas aproximações em direção ao que

24 A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações

ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observados diretamente, na própria realidade (MINAYO, 2004, p. 60).

Page 49: A importância da família para o tratamento de álcool

59

se quer conhecer (MNAYO, 2004, p. 64).

Quanto as demais instituições pesquisadas o interesse se deu a partir de

indicações no campo de estágio e análise de referencial teórico sobre

dependência química. As instituições de apoio ou de ajuda mútua não se

constituíram em foco para entrevistas, uma vez que não há equipe de

profissionais e sim grupo de usuários em processo de “auto-ajuda25 para

recuperação”. A pesquisa de campo ocorreu no período de Janeiro a

Dezembro de 2007 e a observação participante junto às famílias nos meses de

Outubro de 2007 a Janeiro de 2008.

Foram realizadas entrevistas, no Hospital São Francisco de Assis,

envolvendo as famílias com os Assistentes Sociais e demais integrantes da

equipe que trabalham com as famílias dos adictos. Houve a necessidade de

aplicar um roteiro de entrevista diferenciado ao profissional de Serviço Social a

fim de possibilitar uma análise específica da prática interventiva do Assistente

Social na dinâmica pesquisada.

As entrevistas foram realizadas entre os meses de outubro e dezembro

de 2007. Para preservar a identidade dos entrevistados os assistentes sociais

serão identificados por AS e quanto aos familiares utilizaremos as designações

família 1, família 2 e assim sucessivamente.

4.2 - Identificação das famílias entrevistadas.

A entrevista foi realizada com familiares de usuários de drogas que

participam do Grupo de Família do HESFA e integrantes do AL-ANON. Foram

entrevistados 4 familiares de cada instituição que participam do Grupo há 6

meses em média.

Foi utilizada a técnica de entrevista semi-estruturada, com base em um

roteiro preestabelecido.

As entrevistas foram realizadas entre os meses de Novembro 2007 e

25 Os grupos de auto-ajuda caracterizam-se por reunir pessoas com o objetivo de superar o

uso de substâncias químicas onde todos os participantes interagem durante os encontros e sempre um procurando ajudar o outro com experiências e principalmente com a escuta.

Page 50: A importância da família para o tratamento de álcool

60

Janeiro de 2008. Os familiares serão identificados conforme esquema abaixo a

fim de assegurar que sua identidade seja preservada.

Esquema de Entrevista Utilizada nesta pesquisa no HESFA

Família 1 Mãe

Família 2 Irmão

Família 3 Esposa

Família 4 Irmã

Ao participar do Grupo de Família do HESFA percebemos que no Grupo

não há predomínio de um tipo de parentesco participam esposa, pai, avô, mãe

irmãos. Já no NEPAD em entrevista com a Assistente Social ela mencionou

que a grande maioria de familiares que procuram a instituição são as mães -

demanda que originou a dissertação da profissional.

As famílias entendem que fazem parte do processo de recuperação dos

usuários de drogas e reconhecem que precisam de instrumentos para lidar com

esta realidade.

“Quando comecei a participar do Grupo de Família, ganhei força a mais

eu era sozinha, aqui eu pude falar levantei minha auto-estima, aprendi a lidar

com meu esposo, o confronto não adianta. Aqui me sinto importante me sentia

deprimida estava completamente envolvida pelo problema” (Família 3,

dezembro de 2007).

As famílias se sentem isoladas e tem receio de buscar ajuda, fato

compreensível dada a sociedade em que vivemos que incessantemente visa a

produção e reprodução social deixando sempre em segundo lugar as questões

que vão surgindo como conseqüências inevitáveis deste processo.

O mundo familiar mostra-se numa vibrante variedade de formas de organização com crenças, valores e soluções para as vicissitudes que a vida vai trazendo. Desconsiderar isso e ter multiplicidade de manifestações sob a camisa-de-força de uma única forma de emocionar, interpretar , comunicar ( SZYMANSKI, 1995, p. 27).

Page 51: A importância da família para o tratamento de álcool

61

4.3 Quanto à percepção do que é família

Na tentativa de entender qual a percepção dos familiares acerca do

conceito, perguntamos: O que é família? Qual o papel da família no

tratamento?

A primeira percepção é a de ajuda mútua:

“Família é estar reunido é compreensão é ajuda. Família não é apenas

cobrança é preciso muita conversa, mostrar o que é certo o que é errado e

entender o por quê. A família não deve apenas cobrar” ( Família 1, dezembro

de 2007).

Outra maneira de abordar é pela vida da educação:

“A família é o início de tudo, uma educação ruim a pessoa vai aprender

coisas ruins. É preciso acreditar em Deus não basta criticar tem que procurar

entender. Se não fosse vício seria fácil lidar. O diálogo é importante, a

agressão gera agressão por isso é preciso não reprimir” (Família 2, dezembro

de 2007).

O que se percebe nos dois discursos acima é que embora partam de

pontos diferenciados em ambos percebemos o discurso do diálogo e da

compreensão como forma de abordagem do assunto.

Na verdade, não existe uma única via de abordagem e mesmo a

instituição família, cujo conceito discutimos no capítulo I é mutável. “A

variabilidade histórica da instituição família desafia qualquer conceito geral de

família”. (BILAC, 1995, p. 31).

Embora, para o senso comum a representação da família seja sempre

compreensível ela não é idêntica e ocorrem mudanças que podem alterar esta

representação. As variações possíveis exigem a qualificação, ou seja, de que

família estamos falando e de que país, de que estrato social, de que momento.

Estes aspectos irão influenciar em como a família será vista na sociedade. Os

instrumentos de análise devem ser criados a partir da pesquisa (MELLO,

1995).

Mesmo nos discursos mais exaltados sobre a importância da família,

Page 52: A importância da família para o tratamento de álcool

62

essa abordagem se torna abstrata, sem conseguir ligar esta fala a uma ação

possível, como por exemplo: “A família é a base de tudo se não houver a força

da família, quem ajudará. Tudo parte da família” (Família 3, dezembro de

2007).

A família não é uma totalidade homogênea, mas um universo de

relações diferenciadas, e as mudanças atingem de modo diverso cada uma

destas relações e cada uma das partes da relação (SARTI, 1995, p. 39).

Nas entrevistas que realizamos identificamos que os familiares atribuem

um significado muito importante ao conceito de família considerando-a

fundamental na vida do ser humano. Esta afirmação é evidenciada em várias

falas quando afirmam que a família é a base e o início de tudo. No entanto, ao

admitirem que a família é essencial para que haja um desenvolvimento sadio

dos indivíduos reconhecem que algo está errado. No primeiro momento é

difícil perceber que algo de errado está acontecendo e mais ainda identificar

que a própria família pode estar motivando estas mudanças. “No mundo

contemporâneo, as mudanças ocorridas na família relacionam-se com a perda

do sentido da tradição. [...] Nada nos é dado “de barato”, os relacionamentos

são construídos, negociados e repensados continuamente” (SARTI, 1995,

p.43-48).

“ A família é muito importante em todo o processo do tratamento acredito

que com o apoio da equipe e a colaboração da família seja possível a

recuperação do doente.” (Família 4, janeiro de 2008).

O discurso acima reforça assim como a família 3 a importância da

família no tratamento e ressalta que a equipe e contribui positivamente para

que seja possível atingirmos resultados positivos.

4.4 Quanto aos prejuízos que ocorreram na família em

decorrência do uso de droga

Com o objetivo de descobrir quais os problemas ocasionados à família

em decorrência do uso de drogas por um integrante fizemos a seguinte

pergunta: Quais os prejuízos que ocorreram como conseqüência do uso de

droga na família? De que forma a família poderá auxiliar no processo de

Page 53: A importância da família para o tratamento de álcool

63

recuperação?

“Decepção, grande decepção a toda família. Só a família que passa pelo

problema é que sabe [...] é preciso uma atitude ele acha que não precisa de

ajuda” (Família 1, dezembro de 2007).

A família muitas vezes custa a se dar conta da necessidade de

tratamento não só pela barreira de silêncio, como também por sua própria

resistência. O reconhecimento de que a família também esta inserida no

processo de adoecimento pelo uso de droga é o primeiro passo para que se

possa estabelecer uma aproximação entre os familiares e o adicto. O

profissional que atua nesta realidade precisa viabilizar este processo.

O reconhecimento que a origem do problema pode estar na família é

algo que muitos familiares relutam em não admitir. Num ato às vezes

impensado, ocasionando o distanciamento do membro da família envolvido

com o uso de drogas e a negação de que há um comprometimento de todos na

família em relação ao problema conforme relato abaixo:

“Vergonha, degradação para a própria família e para o indivíduo que usa

a droga. A família afastou-se, mas não a condeno reconheço que o

acolhimento é fundamental, mas é difícil” (Família 2, dezembro de 2007) .

As famílias geralmente buscam auxilio terapêutico quando já estão

desgastadas suas relações e sua comunicação. São raras as famílias que

buscam auxilio preventivo (SCHENKER, 2003).

A grande maioria das famílias recorrem ao tratamento quando o uso de

droga já trouxe algum prejuízo dentre os quais destacamos o financeiro e o

afetivo, tanto os usuários quanto as famílias sempre relatam perdas financeiras

com ênfase na perca de trabalho em decorrência da dependência química. Os

laços afetivos também são fragilizados e tanto no discurso dos usuários como

na fala do familiar percebemos que a questão emocional fica bastante

comprometida:

“Problemas emocionais e financeiros, ficamos sem força para nada é

preciso ser forte [...] haja paciência preciso de muita paciência, todos os

membros da família, pai, mãe, filhos devem participar do tratamento” (Família

3, dezembro de 2007).

Page 54: A importância da família para o tratamento de álcool

64

“ A Família contribui muito através do diálogo [...] a conversa o apoio

sem dúvida é um caminho que possibilita a aproximação com a pessoa que

usa droga na família.” (Família 4, janeiro de 2008).

Em todos os relatos as famílias entrevistadas demonstram

claramente uma profunda insatisfação ocasionada pela droga no âmbito

familiar, no entanto não identificam que a origem do uso da substância pode

estar na própria família.

“A família fica psicologicamente e financeiramente abalada. O uso de

drogas produz diversos prejuízos; roubos, brigas e um enorme sofrimento e se

a família não for tratada também fica enfraquecida e fragilizada.” (AS 1,

dezembro de 2007).

“Profundo sofrimento associado à culpa. A droga impacta a construção

de vida os projetos são mudados e alguns casos as mudanças podem ser

irreversíveis “ (AS 2, outubro de 2007).

4.5 O processo de Co-dependência

“A vida cotidiana torna-se um exercício permanente de atenção a si e

aos outros” (SARTI, 1995, p. 48).

A co-dependência é uma doença emocional que foi "diagnosticada" nos Estados Unidos por volta das décadas de 70 e 80, em uma clínica para dependentes químicos, através do atendimento a seus familiares A co-dependência também pode ser fatal, causando morte por depressão, suicídio, assassinato, câncer e outros. Embora não haja nas certidões de óbito o termo co-dependência, muitas vezes ela é o agente desencadeante de doenças muito sérias. Mas pode-se reverter este quadro, adotando-se comportamentos mais saudáveis. Os profissionais apontam que o primeiro passo em direção à

mudança é tomar consciência e aceitar o problema.26

Para entender o que as famílias envolvidas no processo de recuperação

dos usuários pensam sobre o auxílio que pode ser prestado por estas e

avaliarmos o adoecimento simultâneo que ocorre com estas famílias faremos a

seguir a análise da co-dependência.

As famílias são unânimes quando perguntadas sobre como podem

26 Disponível em: www.gafas.org.br/co-dependente.html acessado em 30 de outubro de 2007.

Page 55: A importância da família para o tratamento de álcool

65

colaborar no tratamento e expressam profundo sofrimento e decepção.

É importante ressaltar que a família 1 é representada pela mãe de um

adicto que revela que não precisa de ajuda, o que dificulta o processo de

recuperação , mas mostra a atuação da família na perspectiva de contribuir no

tratamento.

4.6 Análise do discurso dos Assistentes Sociais

No atendimento às famílias em situações de maior vulnerabilidade tem

sido comum a prática de Assistentes Sociais. Nos parece retratar a ausência

de políticas de proteção social à população das camadas sociais de baixa

renda, em conseqüência do retraimento do Estado neste campo. Conceber a

família em suas múltiplas configurações e formas de organização,

apreendendo suas particularidades como pertencentes para os profissionais de

Serviço Social e áreas afins (GUEIROS, 2002, p. 102-105).

Nos relatos percebemos que a família é fundamental no processo de

recuperação dos adictos contribuindo na eficácia do tratamento.

Na tentativa de entender qual a percepção dos Assistentes Sociais sobre

o papel da família no tratamento, perguntamos: Qual o papel da família no

processo de recuperação do usuário de drogas?

Encontramos as seguintes respostas:

“A recuperação dos usuários de drogas depende principalmente da

disponibilidade do usuário querer tratar-se. A família sem dúvida é uma fonte

de apoio e fortalecimento neste processo. Se a família estiver participando do

tratamento poderá orientar o dependente com mais segurança” (AS 1,

dezembro de 2007) .

“Em primeiro lugar é preciso entender que nem todo usuário quer a

participação da família no tratamento. A família deve identificar a questão das

drogas como problema de saúde e contribuir através do apoio e amenizar a

cura” (AS 2, outubro de 2007) .

Quanto aos fatores determinantes para uma pessoa se tornar

dependente químico, está presente no discurso das Assistentes Sociais a

família como um ponto fundamental que precisa ser considerado pelos

Page 56: A importância da família para o tratamento de álcool

66

profissionais no tratamento.

Cabe ressaltar que esta pergunta utilizada no roteiro de entrevista foi

pensada com o propósito de observarmos se a família seria citada pelas

assistentes sociais como um dos fatores determinantes para o uso de drogas.

“A desestruturação familiar os fatores sociais e questões financeiras

como desemprego e a falta de recursos devem ser considerados. Quanto ao

adolescente destaco a família como elemento básico para entendermos o uso

de drogas e no adulto os aspectos financeiros são motivadores” (AS 1,

dezembro de 2007).

Enquanto a AS 1 destaca os fatores sociais para o uso da droga, a AS 2

lembra que a dependência química tem componentes genéticos que

determinam também o uso da droga.

“Para alguns os componentes genéticos determinam o uso de drogas a

exemplo do AA e para outros no vinculo afetivo e no desenvolvimento

psicodinâmico se dá o “nó” que desencadeia os problemas relacionados ao uso

de drogas” (AS 2, outubro de 2007).

No processo de entender a dependência como uma doença a AS 2

aponta que a grande maioria das famílias atribui o sentimento de “culpa” a si

mesma. Isto nos leva a considerar que mesmo de forma inconsciente e com

grandes dificuldades a família se inclui nesta dinâmica. A AS 1 já aponta que

quando as famílias iniciam o tratamento atribuem ao dependente a

dependência como “desleixo”:

“Acredito que 50% dos familiares entendiam a dependência como

doença e os demais acreditavam que não havia tratamento, encararam a

dependência como desleixo, sem-vergonhice. Hoje após estarem participando

do grupo de família cerca de 70% vêem o trabalho que é desenvolvido com os

familiares com outros olhos e mais importância” (AS 1, dezembro de 2007).

4.6.1 Quanto ao trabalho interdisciplinar

Lidar com o uso e dependência de drogas exige do profissional uma

postura isenta de preconceitos o que felizmente esta presente no discurso das

Page 57: A importância da família para o tratamento de álcool

67

Assistentes Sociais entrevistadas:

“Há um trabalho interdisciplinar onde a equipe é composta por

assistentes sociais, psicólogos, psiquiatra e técnico de enfermagem há um

entrosamento bastante saudável entre os mesmos. O investimento da unidade

nos atendimentos em grupo ampliou significativamente o trabalho da equipe.”

(AS 1, dezembro de 2007).

A interdisciplinaridade está em debate na atualidade, mas encontra

impasses na sua efetivação, por isso é necessário considerarmos o processo

histórico das profissões:

É preciso compreender que a idéia de trabalho conjunto, racionalizando, socializando é um exercício de uma nova sociedade que quebra os modelos apreendidos na vida social que tenta banir a idéia de autoridade e poder que tanto nos marca na família, escola, clubes, instituições, emprego e partido político (RAMALHO, 2006, p. 70).

Na atuação profissional embora haja uma intencionalidade por parte não

apenas dos Assistentes Sociais como também de outros profissionais de

colocar em prática o trabalho interdisciplinar devido a interdisciplinaridade

exigir que cada especialista ultrapasse os seus próprios limites abrindo-se as

contribuições de outras disciplinas (SAMPAIO, 2006, p. 82).

Mas por que é tão difícil a efetivação do trabalho interdisciplinar? A

interdisciplinaridade é complexa, é difícil e traz em seu bojo a trajetória de cada

profissão, a postura ideológica, pessoal e profissional de cada elemento da

equipe e as relações sociais que implicam a conquista de espaços e a

competitividade, originárias da própria estrutura social, onde está presente a

variável da divisão social do trabalho vinculada ao modelo capitalista

dependente (SAMPAIO, 2006, p. 93).

“Integram a equipe assistentes sociais, psicólogos, psicopedagoga

auxiliar de enfermagem e psiquiatra sem dúvida há um bom trabalho

interdisciplinar que reflete no atendimento aos usuários ” (AS 2, outubro de

2007) .

Com relação aos depoimentos obtidos constatamos que todas as

profissionais colocam o seu papel enquanto membro de uma equipe e

mencionam o bom relacionamento que há entre os integrantes buscando

Page 58: A importância da família para o tratamento de álcool

68

sempre a “integração e complementação de papéis” (SAMPAIO, 2006, p. 86).

Embora se constate o entrosamento e a interação entre os profissionais

em dados momentos é perceptível à fragmentação do saber, o que demonstra

um espaço entre o discurso e a prática, o que nos leva a concluir que ainda

ocorre a fragmentação.

4.7 Análise do discurso dos demais profissionais

4.7.1 A Relevância da família no tratamento

A equipe do HESFA é unânime ao considerar que é fundamental a

participação da família na recuperação dos usuários de drogas:

“Os usuários precisam contar com o apoio da família durante o

tratamento” (Psicóloga 1, dezembro de 2007).

A partir do momento que tanto o familiar quanto os usuários

reconhecem a importância de inserir a família no processo de tratamento da

dependência química isto possibilita que a família também seja tratada do

processo de adoecimento que ela também vivencia:

“A família deve acompanhar o usuário no tratamento, pois também é

vitima e adoece também” (Técnica de enfermagem, novembro de 2007).

O processo de adoecimento vivido pela família requer tratamento e

cuidados:

“É fundamental no tratamento a participação da família por que esta fica

totalmente envolvida e precisa de cuidado. Às vezes era um comportamento

negativo ou mesmo às vezes a família prefere uma doença do que ter um

dependente químico em casa. É difícil sair da dependência sozinho a família

precisa participar do processo de recuperação. Só a medicação não é

suficiente se não houver apoio da família tudo fica mais difícil. Por outro lado a

família precisa de orientação. É importante destacar que os dependentes

sempre fazem relação com a família.” (Psicóloga 2, dezembro de 2007 ).

Na fala da Psicóloga 2 quando ela diz “ por outro lado à família precisa

de orientação”, neste momento fica subentendido o quanto é importante a

Page 59: A importância da família para o tratamento de álcool

69

intervenção do profissional através do conhecimento e experiência para que a

família possa realmente contribuir no tratamento:

“O trabalho realizado no grupo de família é um apoio, suporte e

esperança destaco o valor do nosso trabalho a dedicação e preocupação com

o próximo” (Técnica de Enfermagem, novembro de 2007).

As trocas de experiências entre os familiares é um exercício que

contribui em todo o processo de tratamento inclusive em relação à co-

dependência:

“Através da empatia, trabalho com as falas, todos participam, o que

funciona para um pode funcionar para o outro, há uma troca muito proveitosa”

(Psicóloga 1, dezembro de 2007).

Os trabalhos em grupos com as famílias são apontados pelos

profissionais como algo muito relevante no tratamento por que define espaços

diferenciados:

“O grupo é um lugar onde as famílias se conscientizam tem informação,

orientação e suporte. É um espaço para os familiares e muito importante

porque eles também adoecem. Os familiares descobrem que há espaço para

eles e o espaço do doente. Participam tio, pai, avós, esposa, irmão é um grupo

bem diversificado” (Psicóloga 2, dezembro de 2007).

4.7.2 Fatores negativos e positivos

Para que possamos avaliar o quanto os trabalhos desenvolvidos nos

grupos de famílias podem contribuir no tratamento da dependência química

perguntamos aos profissionais quais os pontos positivos e negativos

evidenciados no Grupo:

“O aspecto financeiro é considerado um fator que dificulta o andamento

do tratamento, pois as famílias têm dificuldade para chegar à unidade de saúde

por não dispor de passagem. Não há apoio nem estrutura por parte do Estado

que possibilite a continuidade do tratamento” (Psicóloga 1, dezembro de

2007).

“A esperança e a expectativa que a família tem na recuperação é um

Page 60: A importância da família para o tratamento de álcool

70

fator muito positivo principalmente quando elas percebem que há solução, que

é possível através do tratamento uma superação do problema e mais elas

tomam conhecimento que alguém na sociedade se preocupa com esta

questão e pode dar apoio e suporte neste momento tão difícil” (Técnica de

enfermagem, dezembro de 2007).

A partir destes discursos é possível perceber que muitas famílias

acreditam estão sozinhas e que não há profissionais preocupados em tratar

das questões relacionadas às drogas. Por isso, no grupo, as famílias

depositam credibilidade e encontram um espaço de possibilidade para reflexão

e troca não apenas com os profissionais mais também com os demais

integrantes.

“No grupo há uma identificação com o outro as famílias não se sentem

isoladas, se sentem apoiados cria-se um elo de ajuda mútua. Quanto aos

aspectos negativos não vejo nenhum” (Psicóloga 2, dezembro de 2007).

O grupo é um espaço privilegiado onde o familiar além de ter a

possibilidade de refletir as questões discutidas, é também um lugar que o

familiar busca o seu autoconhecimento:

“Os familiares falam coisas no grupo que os usuários de drogas não

falam“ (Psicóloga 2, dezembro de 2007).

4.7.3 O acolhimento aos familiares de usuários em

tratamento

O acolhimento oferecido aos familiares pode tanto aproximar e facilitar o

processo de tratamento como destruir todas as possibilidades para o resultado

satisfatório. As informações repassadas pelos profissionais devem ser claras,

diretas e destituídas de qualquer tipo de preconceito:

“Todos precisam ser ouvidos e os profissionais saem do grupo

esgotados” (Psicóloga 2, dezembro de 2007).

A estrutura física, o carisma, a cordialidade, a presteza e o respeito

Page 61: A importância da família para o tratamento de álcool

71

dispensados aos usuários e, principalmente o saber “ouvir” é fundamental para

que o usuário do serviço se sinta bem acolhido na instituição:

“ Há carência de recursos, espaço e material o que dificulta as

dinâmicas que pretendemos realizar no grupo” (Técnica de Enfermagem,

novembro de 2007).

A falta de recursos levantados pela técnica de enfermagem é ressaltado

também pela psicóloga, quando afirma que “Não existe espaço físico, não há

estrutura de acolhimento” (Psicóloga 2, dezembro de 2007).

Os resultados são considerados pelos profissionais satisfatórios. O

grupo é um espaço importante para que os familiares possam falar o quanto

são acolhidos e que entendem o que sentem. O foco é o grupo, porém o

atendimento individual auxilia o enfrentamento do problema.

Page 62: A importância da família para o tratamento de álcool

72

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve o intuito inicialmente de propor uma discussão

acerca das transformações vivenciadas pela família. A fim de compreendermos

as mudanças de atitudes e comportamentos que, na subjetividade de cada

indivíduo revela implicações mais amplas, considerando o contexto social no

qual estamos inseridos.

A família, onde se dá à reprodução humana é caracterizada como

principal espaço de socialização. É uma instituição na qual os indivíduos

podem encontrar refúgio , mas também pode conviver com violências, conflitos,

desencontros e tribulações dentre os quais destaca-se em nossa sociedade o

uso de drogas entre jovens e adultos. A pesquisa realizada aponta diversos

prejuízos ocasionados em decorrência do uso da dependência química. É tanto

os usuários quanto os familiares apontam que as perdas mais intensas e que

provocam maior sofrimento se dão no âmbito familiar, quando o usuário deixa

de ser um pai, um amigo, um filho, um esposo e passa a ser reconhecido

como o “drogado”, o “viciado”.

Neste sentido as instituições que trabalham com a temática do uso de

drogas requer profissionais que estejam aptos a lidar com esta questão. O

Assistente Social conforme atestado nas entrevistas realizadas desempenha

um importante papel junto aos demais profissionais da equipe e aos usuários

e às famílias que buscam tratamento.

É importante destacar que a família se percebe de grande valor no

processo de tratamento dos usuários de drogas assim como os adictos

também a consideram. Por isso a atuação do Assistente Social pode favorecer

o tratamento quando a família é convocada a participar do tratamento.

Este estudo demonstra que embora sejam desenvolvidos vários grupos

de auto-ajuda, há escassez de unidades de atendimento para usuários de

substâncias psicoativas, portanto, esta pesquisa não se esgota neste trabalho

e requer continuidade e aprofundamento visando atingir a perspectiva de saúde

e qualidade de vida dos que necessitam destes serviços.

A família indiscutivelmente é um eixo importante na vida do

Page 63: A importância da família para o tratamento de álcool

73

indivíduo e por isso merece atenção continua a fim de possibilitar condições

favoráveis a um desenvolvimento sadio e buscar sempre a superação dos

desafios impostos a esta instituição.

Page 64: A importância da família para o tratamento de álcool

74

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Page 72: A importância da família para o tratamento de álcool

82

ANEXOS

Anexo I – 12 Passos da terapia de auto-ajuda utilizada pelo Alcoólicos

Anônimos e Narcóticos Anônimos

Anexo II – As drogas e seus efeitos (drogas que diminuem a atividade

mental)

Anexo III – As drogas e seus efeitos (drogas que aumentam a atividade

mental)

Anexo IV – As drogas e seus efeitos (drogas que produzem distorções da

percepção)

Anexo V – Entrevista com as equipes nas instituições

Anexo VI – Roteiro da entrevista utilizado com o Assistente Social

Anexo VII – Roteiro da entrevista utilizado com familiares de usuário de

drogas em tratamento

Page 73: A importância da família para o tratamento de álcool

83

ANEXO I 12 PASSOS DA TERAPIA DE AUTO-AJUDA UTILIZADA PELOS ALCOÓLICOS ANÔNIMOS E NARCÓTICOS ANÔNIMOS

01. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido

o domínio sobre nossas vidas.

02. Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia

devolver-nos à sanidade.

03. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na

forma em que o concebíamos.

04. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.

05. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser

humano, a natureza exata de nossas falhas.

06. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses

defeitos de caráter.

07. Humildemente rogamos a ele que nos livrasse de nossas imperfeições.

08. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos eis os passos

que são sugeridos como um programa de recuperação.

09. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre

que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.

10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados,

nós o admitíamos prontamente.

11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato

consciente com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o

conhecimento de sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa

vontade.

12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses passos,

procuramos transmitir essa mensagem aos alcoólicos e praticar esses

princípios em todas as nossas atividades .

Page 74: A importância da família para o tratamento de álcool

84

ANEXO II

AS DROGAS E SEUS EFEITOS (DROGAS QUE

DIMINUEM A ATIVIDADE MENTAL)

Substância Conhecida

Como

Possíveis efeitos

Ansiolíticos Calmantes Alívio da tensão e da ansiedade.

Álcool etílico Álcool, “birita”, “mé”, “mel”, “pinga”,

“cerva”

Em pequenas doses: desinibição, euforia, perda da capacidade

crítica;

Em doses maiores: sensação de anestesia, sonolência e sedação.

Inalantes Cola de sapateiro, esmalte, benzina,

lança-perfume, “loló”, gasolina,

acetona,éter, tiner, aguarrás e tintas

Euforia, sonolência, diminuição da fome, alucinações. Tosse, coriza, náuseas, vômitos e dores musculares. Visão dupla, fala enrolada, movimentos desordenados e confusão mental.

Narcóticos Heroína, morfina e codeína (xaropes de

tosse. Dolantina, Meperidina e

Demerol.

Sonolência, estado de torpor, alívio da dor; sedativo da tosse, sensação de leveza e prazer. Pupilas contraídas.

Fonte: “ Um guia para a família. Cartilha da Secretaria Nacional Antidrogas, Brasília: Presidência da República, 2001.

Page 75: A importância da família para o tratamento de álcool

85

ANEXO III

AS DROGAS E SEUS EFEITOS (DROGAS QUE

AUMENTAM A ATIVIDADE MENTAL)

Substância Conhecida

Como

Possíveis efeitos

Anfetaminas Metanfetamina, “ice”, “bolinha”, “rebite”,

“boleta”

Estimulam a atividade física e mental, causando inibição do

sono e diminuição do cansaço e da fome.

Cocaína “Pó”, “brilho”, “crack”, “merla”, pasta-base

Sensação de poder, excitação e euforia. Estimulam a atividade

física e mental, causando inibição do sono e diminuição do cansaço

e da fome.

Tabaco Cigarro, charuto e fumo

Estimulante, sensação de prazer.

Fonte: “ Um guia para a família. Cartilha da Secretaria Nacional Antidrogas, Brasília: Presidência da República, 2001.

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ANEXO IV

AS DROGAS E SEUS EFEITOS (DROGAS QUE

PRODUZEM DISTORÇÕES DA PERCEPÇÃO)

Substância Conhecida

Como

Possíveis efeitos

Maconha Maconha, haxixe, “baseado”, “fininho”,

“marrom”

Excitação seguida de relaxamento, euforia, problemas com o tempo e o espaço, falar em demasia e fome intensa. Palidez, taquicardia, olhos

avermelhados, pupilas dilatadas e boca seca.

Alucinógeneos LSD (ácido lisérgico, “ácido”, “selo”, “microponto” (extraída de

cogumelos) e mescalina (extraída

de cactos)

Sensação de poder, excitação e euforia. Estimulam a atividade

física e mental, causando inibição do sono e diminuição do cansaço

e da fome.

Ectasy MDMA, “êxtase”, “pílula do amor”

Sensação de bem-estar; plenitude e leveza. Aguçamento dos sentidos. Aumento da disposição e resistência física, podendo levar à exaustão.

Fonte:”Um guia para a família. Cartilha da Secretaria Nacional Antidrogas, Brasília: Presidência da República, 2001.

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ANEXO V

ENTREVISTA COM AS EQUIPES NAS INSTITUIÇÕES

Roteiro da Entrevista Utilizado com a Enfermagem e Psicologia

1. Qual a Importância da Família no Tratamento de Álcool e outras Drogas?

2. Quais Fatores Positivos e Negativos Evidenciados no Grupo? 3. Como o Grupo Pode no Tratamento da Dependência Química? 4. Que Aspectos na Unidade são Considerados Facilitadores Dificultadores do

Trabalho Desenvolvido pela equipe?

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ANEXO VI Roteiro da Entrevista Utilizado com o Assistente Social

1. Qual a sua experiência na área de dependência química?

2. Como é o trabalho do assistente social na instituição?

3. Quais os prejuízos em decorrência do uso de drogas na família?

4. Há trabalho interdisciplinar na instituição?

5. Quais os fatores determinantes para uma pessoa se tornar um dependente químico?

6. Como as Famílias entendem a Dependência ?

7. Qual o papel da família no processo de recuperação do usuário de drogas?

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ANEXO VII Roteiro da Entrevista Utilizado com Familiares de usuário de drogas em tratamento

1. O que é família?

2. Qual a importância da família no tratamento?

3. Quais os prejuízos ocasionados na família em decorrência do uso de

drogas?

4. O que a família pode fazer para contribuir no tratamento?