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A horta como espaço de edução ambiental na escola
Lady Diana Souto - CEUNES/UFES – Campus São Mateus
Veratriz Souto Campos – EMEF “Benônio Falcão de Gouvêia”
Marcos da Cunha Teixeira - CEUNES/UFES – Campus São Mateus
RESUMO: A educação ambiental é um processo no qual o indivíduo e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades e atitudes voltadas para a
conservação do meio em que vivemos. A horta cultivada por alunos estimula o interesse
pela preservação do meio ambiente através das atividades interdisciplinares. Neste
sentido foi desenvolvida uma pesquisa com a comunidade escolar sobre os resultados da
implantação do Projeto Horta, realizado em uma escola de ensino fundamental de
Conceição da Barra/ES, para análise de viabilidade da horta enquanto espaço de
educação ambiental. Constatou-se que a horta atua como ferramenta de promoção para
a educação ambiental, através de atividades transversais e interdisciplinares. Observou-
se que a prática das atividades como: preparar a terra, plantar e colher hortaliças;
instigou os alunos a conscientização para um convívio com a natureza de forma mais
sustentável, harmonizando um espaço de interação entre escola e comunidade,
proporcionando melhor percepção ambiental.
Palavras-chaves: Educação ambiental; interdisciplinaridade; alimentação saudável
ABSTRACT
Environmental education is a process in which the individual and the community
construct social values, knowledge, skills and attitudes aimed at the conservation of
environment in which we live. The vegetables garden cultivated by students stimulates
the interest for the preservation of the environment through interdisciplinary activities.
In this sense, a research was developed with the school community about the results of
the implementation of the Horta Project, carried out in a fundamental teaching school
in Conceição da Barra / ES, to analyze the viability of the vegetable garden as an
environmental education space. It was verified that the vegetable garden acts as a
promotion tool for environmental education, through transversal and interdisciplinary
activities. It was observed that the practice of activities such as: preparing the land,
planting and harvesting vegetables; stimulates students to raise awareness of nature in a
more sustainable way, harmonizing a space of interaction between school and
community, providing better environmental awareness.
Keys-words: Environmental education; interdisciplinarity; healthy eating
INTRODUÇÃO
De acordo com a conjectura da Política Nacional de Educação Ambiental -
PNEA (BRASIL, 1999) entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente,
bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Ainda segundo a PNEA a educação ambiental é um componente essencial e permanente
da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e
modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. Como parte do
processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental incumbindo ao
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Poder Público, nos termos dos Arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas
públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em
todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e
melhoria do meio ambiente. Nesse contexto, cabe às instituições educativas, promover a
educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que
desenvolvem.
Na escola podem ser trabalhados diversas atividades práticas que contribuem
para garantir a oferta da Educação ambiental. Nesse sentido, diversos projetos escolares
tem utilizado a horta como espaço de educação ambiental. Entre as justificativas para o
uso da na escola é que esta proporciona grandes vantagens, tais como: diminuição de
gastos com a alimentação, permite a inserção de alimentos saudáveis cultivados pelos
alunos; estimula o interesse pela preservação do meio ambiente através das atividades
pedagógicas desenvolvidas durante a implantação e manutenção da horta, além do
enriquecimento nutricional da merenda escolar. No entanto, esses motivos não são
suficientes para se estabelecer a horta como um espaço de transversalização do tema
meio ambiente e de oferta de uma educação ambiental para uma formação crítica.
A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer,
na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos
teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as
questões da vida real e de sua transformação (aprender na
realidade e da realidade). E a uma forma de sistematizar esse
trabalho e incluí-lo explícita e estruturalmente na organização
curricular, garantindo sua continuidade e aprofundamento ao
longo da escolaridade. (BRASIL, 1998:30)
Por outro lado, a educação ambiental crítica entende que:
Não se trata de promover apenas reformas setoriais, mas uma
renovação multidimensional capaz de transformar o
conhecimento, as instituições, as relações sociais e políticas, e
os valores culturais e éticos. Trata-se de incluir no debate
ambiental a compreensão político-ideológica dos mecanismos
da reprodução social e o entendimento de que a relação entre o
ser humano e a natureza é mediada por relações socioculturais e
classes historicamente construídas. Essa tendência traz então
uma abordagem pedagógica que problematiza os contextos
societários em sua interface com a natureza. Por essa
perspectiva, definitivamente não é possível conceber os
problemas ambientais dissociados dos conflitos sociais; afinal, a
crise ambiental não expressa problemas da natureza, mas problemas
que se manifestavam na natureza (LOUREIRO e LAYRARGUES,
2013). Assim, dois aspectos básicos se fazem necessário para que os projetos escolares
apresentem-se como proposta de transversalização dp tema meio ambiente concatenado
à uma educação ambiental crítica: relacionar conteúdos teóricos das disciplinas
escolares à vida cotidiana e problematizar as relações existentes entre as questões
ecológicas e as questões sociais. Diante disso, torna-se necessário avaliar os projetos
escolares desenvolvidos sob o título de educação ambiental. Neste artigo analisou-se a
transversalização do tema meio ambiente e a educação ambiental praticada no “Projeto
Horta Escolar’ desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF)
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“Benônio Falcão de Gouvêa”, localizada no distrito de Itaúnas, município de Conceição
da Barra. Além do exposto acima, o trabalho ganha relevância ainda em função da
escola citada está localizada em comunidade limítrofe ao Parque Estadual de Itaúnas -
PEI. Nesse contexto, a escola recebe constantes intervenções do Parque em atividades
de educação ambiental.
MATERIAL E METODOS
O Projeto Horta propôs a abordagem da Educação Ambiental de forma
interdisciplinar por meio da execução de ações que contribuíram para a
contextualização de conteúdos teóricos ministrados em sala de aula e na mudança de
hábito alimentar dos alunos. A horta foi implantada em terreno situado na Vila de
Itaúnas, em uma área de 336 (trezentos e trinta e seis) m². As atividades do projeto horta
aconteceram no horário alternado ás atividades normais de ensino. A construção dos
canteiros se deu através dos alunos, pais, moradores, além do apoio do Parque Estadual
de Itaúnas e de uma empresa de atuação local.
Para avaliar a viabilidade da horta como espaço de educação ambiental foram
realizadas entrevistas a partir de um roteiro contemplando as seguintes categorias de
análise:
Caracterização do projeto
O uso da horta como espaço de transversalização do tema meio ambiente no
currículo escolar;
Realização da atividade prática como espaço de interação escola - comunidade;
Apreensão dos conceitos desenvolvidos durante o projeto pelos estudantes.
Participaram das pesquisas, a diretora da escola, 5 professores, 2 merendeiras, 2
coordenadoras pedagógicas, 5 alunos e 5 pais.
Durante a entrevista, as questões foram elaboradas de acordo com a papel
desempenhado pelo participante na comunidade escolar e ou na condição de pai de
estudante. Os diálogos foram gravados em áudio e posteriormente transcritos, sendo
tabulados em planilha de dados para análise de resultados. Com exceção da Diretora da
escola, todos os demais participantes tiveram suas identidades não reveladas e estão
identificados por um código formado pelas letras iniciais da posição que ocupa na
comunidade seguida no número referente à ordem que se deu a entrevista, como segue:
C = Coordenadora pedagógica; P = Professor; E = Estudante; M = Merendeira; Pa = Pai
de estudante. Ainda com objetivo de preservar as identidades dos entrevistados, as
disciplinas das professoras foram suprimidas das transcrições.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Percepções quanto à gestão do projeto: aspectos positivos e negativos
O Projeto Horta na escola foi um dos itens do Projeto Político Pedagógico da
Escola Municipal de Ensino Fundamental (E.M.E.F) Benônio “Falcão de Gouvêa”,
selecionado pela equipe Pedagógica como ferramenta pra a execução da Educação
Ambiental para o ano de 2009, sendo desenvolvido até o final do período letivo de
2011.
A complementação da merenda escolar pelas hortaliças produzidas na horta da
escola foi citada tanto pela Diretora quanto pelas duas pedagogas e por 4 professoras,
ressaltando especialmente o fato dos alunos se sentirem orgulhosos por consumir algo
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saudável e produzido por eles mesmos. A P4 também destacou esse fato, manifestado
no seguinte discurso:
- "Olha, que eu me lembre, de positivo, foi que despertou muito
o cuidado das crianças com as hortaliças, né? Que antes eles não
tinham muita pratica de gostar de comer, eles passaram a ter
uma visão diferente para a alimentação saudável, a merenda
ficou mais atraente, mais gostosa, e dentre outras que eu não me
lembro agora".
O aspecto positivo da horta como espaço pedagógico foi lembrado apenas por 3
professoras principalmente porque “[...] eram as atividades extra classe, desenvolve a
curiosidade dos alunos, aula prática e o consumo das hortaliças na merenda escolar”
(P5). A P6 enfatizou a “a participação da colheita para com os pais dos alunos e
funcionários da escola”. Nesse contexto, a Diretora e as Pedagogas também
consideraram relevantes o fato do projeto ter possibilitado o debate com a comunidade
externa sobre alimentação saudável. Uma das Pedagogas considerou importante que os
estudantes deixaram de ficar na rua para se dedicarem à horta nos horários alternados ao
das aulas.
Os discursos da Diretora, das Pedagogas e dos professores também foram
convergentes quanto aos aspectos negativos, pois enfatizaram o fato do terreno não
pertencer à escola e não terem um profissional efetivo para trabalhar a Educação
ambiental, pois isso impediu a continuidade do projeto com a horta. O discurso de P6
ilustra esse descontentamento generalizado da comunidade escolar:
- "As dificuldades em dar continuidade ao projeto se deu
principalmente por parte política, corte de gastos, envolvendo a
não contratação de profissionais para dar continuidade ao
projeto de educação ambiental e outros projetos mais da escola.
Principalmente também não ter espaço a continuidade da horta,
o espaço usada era particular que teve que ser devolvido e a
escola não possuía por perto um espaço que pudesse ser dado
continuidade ao projeto." (P6)
A horta como espaço de transversalização do tema meio ambiente: olhares
docentes
Analisando-se as entrevistas com os professores, foi possível observar que o
projeto horta na escola atuou como ferramenta de transversalização da educação
ambiental, através de práticas educativas interdisciplinares. Segundo o Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN’s), na prática pedagógica, interdisciplinaridade e
transversalidade se alimentam mutuamente, sendo impossível haver transversalidade
sob outra ótica, se não a da interdisciplinaridade. Ambas se fundamentam na crítica de
um conhecimento fragmentado e isento da realidade. Dessa forma, a
interdisciplinaridade questiona a segmentação do conhecimento, referindo-se a uma
relação entre as disciplinas, enquanto a prática transversal diz respeito à possibilidade
de a prática educativa estabelecer uma relação entre aprender na realidade e da realidade
(BRASIL, 1998). Nesse sentido, ao se avaliar as atividades do projeto horta foi possível
observar a interação entre as disciplinas do currículo, como relata a educadora P4
quando questionada de que forma sua disciplina se envolveu no Projeto Horta: "Através
de produção de textos, de desenhos e montagem de painéis ... assim (P4)."
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Também foi possível observar a pratica em campo, como foi relatado pelas
educadoras do 4° e 5º ano do ensino fundamental, respectivamente.
- "Conforme o assunto que eu estava trabalhando em ciências,
eu marcava uma visita na horta com a professora responsável
pela horta, alguns dos assuntos que lembro ter trabalhado foram
[...]" (P3),
- "Bom, durante a minha aula, quando o assunto dava pra usar a
horta como aula prática, a gente usava" (P5).
Esses discursos corroboram a análise de Dias (2004) já que esse autor retrata o
espaço da horta como uma alternativa de unir a teoria e prática, na qual se insere a
interdisciplinaridade em diversos níveis e áreas de ensino, aliando o meio ambiente com
a saúde alimentar, despertando nos alunos um encantamento frente ao ambiente criado.
A transversalidade e a interdisciplinaridade se fundamentam na crítica de um
conhecimento fragmentado e isento da realidade.
- "E que eu lembro da participação no projeto... conselho de
classe... agora diretamente a disciplina de [...] não foi envolvida,
nós não se envolvemos com o projeto visto que era uma projeto
voltado para ciência e não foi um projeto interdisciplinar, então
a gente ficou fora desse projeto". (P2)
- "A minha disciplina não teve envolvimento com o projeto
horta, pois é uma disciplina... é difícil de encontrar conteúdo
para que fossem trabalhado as hortaliças e o projeto de um modo
geral." (P6)
Aqui, ganha destaque a afirmação de que se tratava de um projeto voltado para
ciência. Este resultado corrobora as afirmações de diversos autores sobre os desafios
para a transversalização da educação ambiental no currículo escolar, fruto de um olha
reducionista sobre o conceito de meio ambiente.
Contudo Bizerril e Faria (2001) também discute a dificuldade de se trabalhar
com a interdisciplinaridade, por que, na maioria dos casos, os assuntos abordados estão
limitadamente relacionados às drogas ou a sexualidade. Já os assuntos ligados ao meio
ambiente, que normalmente trata do desperdício de água ou reciclagem do lixo, ficam
com a responsabilidade quase exclusiva do professor de Ciências ou de Geografia.
Segundo Santos e Santos (2016), o que prevalece na escola em relação à prática
da EA são ações multidisciplinares, restringindo as questões socioambientais às
disciplinas de geografia, biologia e ciências, ou seja, disciplinas que possuem afinidades
com a temática ambiental.
Apesar da não identificação de sua disciplina com o projeto desse olhar
reducionista sobre os conteúdos ambientais, também se observou uma valorização
pedagógica do projeto, conforme se pode confirmar no seguinte discurso:
- "Infelizmente eu não me envolvi [...]. Positivo eram as
atividades extra classe, desenvolve a curiosidade dos alunos,
aula prática e o consumo das hortaliças na merenda escolar"
(P5)
O discurso dessa professora demonstra que a não utilização pedagógica do
projeto com a horta é um indicativo de que nem sempre há uma percepção negativa
quanto à sua importância pedagógica. Mesmo não se envolvendo a professora considera
a importância do projeto por envolver os estudantes em atividades extraclasse. Diante
disso, fica evidente a necessidade de projetos de formação continuada para esses
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professores, sobretudo que contribuam para que consigam relacionar os conteúdos de
suas disciplinas com o ambiente das hortas. Nóvoa (2003) argumenta que estas
disposições exigem práticas de formação de professores inevitavelmente localizadas na
escola. Não se trata, claro está, de advogar uma qualquer forma de “praticismo”, mas
antes de sublinhar a importância da escola como lugar da formação e o papel dos
professores no seu próprio processo de desenvolvimento profissional.
Contribuições do projeto horta com a apreensão de conceitos pelos estudantes
Quando perguntou-se sobre o que eles aprendiam na horta, percebe-se que as
atividades práticas do dia-dia na horta, proporcionou um contato direto do aluno com a
natureza e que alguns objetivos pretendidos no projeto foram alcançados, como:
compreender a relação solo-planta-atmosfera; identificar processos de semeadura,
adubação e colheita; desenvolver a atividade motora, comunicação e socialização dos
alunos. Alguns discursos dos alunos:
- "A gente aprendeu sobre os tipos de solo, como plantar, os
cuidados que devemos ter, sobre a higiene com as hortaliças na
hora de comer." (E1)
- "Nossa, aprendi sobre os tipos de solo, quais são melhores pra
planta, as diferenças entre verduras e legumes e como plantar
cada coisa." (E2)
A horta inserida em espaço escolar é um “laboratório vivo”, pois, possibilita o
desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas e interdisciplinares, integrando o
aluno ao meio ambiente, de forma teórica e prática, auxiliando no processo de ensino e
aprendizagem, proporcionando trabalho coletivo e cooperado entre os agentes sociais
envolvidos, ainda, uma reflexão da importância dos recursos naturais para a
sobrevivência dos seres vivos (MORGADO e SANTOS, 2008).
Convém ressaltar que o projeto horta na escola, foi um instrumento para realizar
a educação ambiental de uma forma prazerosa, estimulando-os a estarem sempre em
presente nas atividades desenvolvidas, percebemos isso quando perguntávamos o que
eles mas gostavam de fazer na horta.
- "Ah, eu gostava de plantar de colher e molhar." (E3)
- "De plantar as hortaliças." (E4)
Esses discursos corroboram as afirmações de Sato (2003, p. 13) quando afirma
que é necessário uma "renovação dos laços com a natureza, tornando-nos parte dela e
desenvolvendo a sensibilidade para o pertencimento". Dessa forma, pode-se afirmar que
o projeto propiciou ao alunos a participarem de um processo de um modo vida mais
saudável, não só no âmbito escolar, mas também no seu dia-a-dia fora da escola.
No Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam que a abordagem da
temática ambiental necessita atender a aspectos conceituais, pois os alunos precisam
atribuir significados aos termos como biodiversidade, sociodiversidade, preservação,
conservação, degradação e sustentabilidade. O mesmo documento destaca que esses
conceitos devem estar integrados aos conteúdos procedimentais e atitudinais, de modo a
priorizar reflexões e exercícios que desenvolvam valores e atitudes críticas (NARDY &
LABURU, 2014).
Dessa forma, quando se trata de uma aprendizagem significativa voltada à
educação ambiental, devem-se levar em consideração os conteúdos que vão além dos
conceituais, como exemplificado na fala de um educando e uma mãe:
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- "Aprendi muitas coisas como plantar, preparar a terra e a
importância de cada alimento na nossa alimentação, porque que
a gente tem que consumir certos alimentos, é o que eu lembro."
(E1)
- "Olha pra mim sim, ele passou a valorizar mais a verduras na
comida, ajudou ele a entender melhor alguns conteúdos que a
professora passava na aula." (Pa1)
Segundo Loureiro (2011) a percepção do ambiente (percepção ambiental) está
relacionada ao pensamento do homem em sociedade vivendo e intervindo no meio
ambiente, e essas relações que se estabelecem em ambientes escolares, na família, no
trabalho ou na comunidade contribuem para que o indivíduo tenha uma percepção
crítica de si e da sociedade onde está inserido, podendo, assim, perceber sua posição e
construir a base de respeitabilidade para com o próximo.
A horta como espaço de interação escola – comunidade
As escolas vem sendo um dos espaços privilegiados para a implementação de
ações integradas aos interesses das populações afetadas pelos problemas
socioambientais, promovendo a sensibilização do público em relação ao seu próprio
ambiente, para envolvê-lo na resolução dos problemas local, considerando a
importância da temática ambiental e a visão integrada do mundo, no tempo e no espaço.
A Educação Ambiental potencializa as relações entre escola e comunidade, na
medida em que gera condições de articulação de práticas educativas que superam a
dinâmica interna da ação escolar e ampliam-se para o encontro com os desejos e
necessidades da vida além da escola. Os resultados da pesquisa revelam que, onde são
desenvolvidos projetos de Educação Ambiental com apelo à participação comunitária,
consegue-se instalar uma ação consequente, que gera rebatimentos nos saberes e fazeres
que a escola realiza em seu dia-a-dia (TRAJBER e MENDONÇA, 2007, p. 103).
Foi identificado algumas ações que demonstram como ocorreu a relação escola-
comunidade, assim agrupados:
a) da comunidade para a escola: em algumas falas dos pais, relatam como participaram
do projeto horta.
- "Eu participei da limpeza do terreno, na construção da horta."
(Pa2)
- "Não participei do projeto de forma direta, mas indiretamente,
acompanhando e incentivando a minha filha." (Pa3)
b) da escola para a comunidade: A escola Benônio, através de reuniões de pais, e
atividades na semana da família na escola, conseguiu instigar o envolvimento dos pais
no projeto.
- "Eu participei da horta durante a semana da família na escola,
onde fomos lá limpar, plantar e sempre incentivei muito meu
filho a participar." (Pa4)
- "Participei de atividades na horta, em reuniões de pais foram
faladas algumas coisas sobre a importância do projeto horta para
nossos filhos." (Pa5)
Entre 2001 e 2004 o censo escolar mapeou a inclusão da Educação Ambiental
nas escola, sendo possível ter um panorama como as escolas proporcionam a EA para a
comunidade.
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Apesar de ser difícil mensurar a relação escola-comunidade com métodos
quantitativos, o Censo Escolar de 2004 traz informações sobre a participação da escola
em diversas atividades comunitárias. Apenas 8,8% das escolas que oferecem Educação
Ambiental participam na atividade de colaborar na manutenção de hortas, pomares e
jardins; em termos absolutos isto significa aproximadamente 13,4 mil escolas das 152
mil escolas que oferecem Educação Ambiental. No Brasil, a atividade com maior
participação das escolas que oferecem Educação Ambiental corresponde ao mutirão de
limpeza da escola, 17,9% ou 27,2 mil escolas aproximadamente. Finalmente, 10,5% das
escolas que oferecem Educação Ambiental – aproximadamente 15,9 mil escolas –
participam na manutenção da estrutura física da escola. Ainda existe um enorme
caminho para avançar na relação escola-comunidade (VEIGA et al, 2005).
CONCLUSÃO
Do ponto de vista da transversalização do tema meio ambiente pode-se afirmar
que o projeto horta escolar constitui-se como importante instrumento de ensino, pois
permitiu que os professores extrapolassem seus conteúdos e práticas para fora da sala de
aula indo ao encontro de questões do cotidiano dos estudantes, especialmente
vinculadas à alimentação. No entanto, ao longo dos 3 anos de projeto, alguns
professores não desenvolveram a percepção da horta como espaço pedagógico capaz de
facilitar a transversalização, pois não viram relação entre os conteúdos de suas
disciplinas com os conhecimentos que se utiliza para desenvolvimento da horta. Nesses
casos, o projeto não foi capaz de transformar a visão reducionista e fragmentada do
conhecimento portada por esses professores. Portanto, o projeto horta, isoladamente,
não pode ser considerado como instrumento único para garantia da transversalização do
tema meio ambiente. Nesse contexto, destacam-se a abordagem sobre a origem dos
alimentos e sua importância para uma boa saúde alimentar.
O Projeto Horta representou uma importante ferramenta de educação ambiental
na escola ao inserir o debate sobre os problemas socioambientais na comunidade
escolar. Além disso, ao fortalecer a relação escola-comunidade o projeto horta deu um
passo importante rumo à construção de uma educação ambiental crítica.
Uma questão que ficou evidente a partir dos resultados da pesquisa foi a
necessidade de se proporcionar a formação continuada em educação ambiental para os
professores da escola onde se deu o estudo. Nesse sentido, encarando a escola como
espaço de formação docente, sugere-se que a escola busque maior aproximação com o
PEI para se utilizar as questões sobre a relação homem-natureza no entorno do Parque
como instrumento de problematização da realidade socioambiental.
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