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1 Proposta de uma sequência didática na construção do conhecimento em educação ambiental Gilmara Ferreira Alvim UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Benjamin Carvalho Teixeira Pinto UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Resumo O presente trabalho teve como objetivo avaliar uma sequência didática na construção do conhecimento em Educação Ambiental para estudantes de uma turma do segundo segmento do Ensino Fundamental. A proposta faz parte de uma dissertação de mestrado, em andamento. A partir de uma metodologia do tipo qualitativa, sob a observação participante, foi possível observar que a sequência didática interdisciplinar estimulou bastante o interesse dos estudantes, aumentando sua participação e interação nas aulas, construindo coletivamente o conhecimento através de aulas expositivas, discussões, trabalho prático e atividades interdisciplinares. Palavras-chave: Sequência didática, Problematização, Educação Ambiental. Abstract The present work had as objective to evaluate a didactic sequence in the construction of the knowledge in Environmental Education for students of a class of the second segment of Elementary School. The proposal is part of a master's dissertation, in progress. It was possible to observe that the interdisciplinary didactic sequence stimulated students' interest, increasing their participation and interaction in class, collectively building knowledge through lectures, discussions, practical work and interdisciplinary activities. Keywords: Didactic sequence, Problematization, Environmental Education. 1. Introdução Sequência didática é um conjunto de aulas que se desenvolvem ao longo de um determinado período e, a partir de uma temática central, que aqui denominamos „problematização socioambiental‟. Estas aulas são organizadas conforme a flexibilidade do tema e podem envolver diversas atividades. Já a problematização surge através da possibilidade de aproximar conhecimento e realidade de forma que o assunto abordado tenha maior significado para os estudantes, ao invés de sua simples repetição. Conforme apontado por Delizoicov (2007) e baseando-se nas concepções e influencias de Freire (2009), o conhecimento precisa ser abordado de maneira problematizada na educação escolar, de forma a se tornar um instrumento que propicie uma melhor compreensão e atuação na sociedade contemporânea. Desta IX EPEA Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental

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Proposta de uma sequência didática na construção do

conhecimento em educação ambiental

Gilmara Ferreira Alvim

UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Benjamin Carvalho Teixeira Pinto

UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Resumo

O presente trabalho teve como objetivo avaliar uma sequência didática na

construção do conhecimento em Educação Ambiental para estudantes de uma

turma do segundo segmento do Ensino Fundamental. A proposta faz parte de

uma dissertação de mestrado, em andamento. A partir de uma metodologia do

tipo qualitativa, sob a observação participante, foi possível observar que a

sequência didática interdisciplinar estimulou bastante o interesse dos estudantes,

aumentando sua participação e interação nas aulas, construindo coletivamente o

conhecimento através de aulas expositivas, discussões, trabalho prático e

atividades interdisciplinares.

Palavras-chave: Sequência didática, Problematização, Educação Ambiental.

Abstract

The present work had as objective to evaluate a didactic sequence in the

construction of the knowledge in Environmental Education for students of a

class of the second segment of Elementary School. The proposal is part of a

master's dissertation, in progress. It was possible to observe that the

interdisciplinary didactic sequence stimulated students' interest, increasing their

participation and interaction in class, collectively building knowledge through

lectures, discussions, practical work and interdisciplinary activities.

Keywords: Didactic sequence, Problematization, Environmental Education.

1. Introdução

Sequência didática é um conjunto de aulas que se desenvolvem ao longo

de um determinado período e, a partir de uma temática central, que aqui

denominamos „problematização socioambiental‟. Estas aulas são organizadas

conforme a flexibilidade do tema e podem envolver diversas atividades. Já a

problematização surge através da possibilidade de aproximar conhecimento e

realidade de forma que o assunto abordado tenha maior significado para os

estudantes, ao invés de sua simples repetição.

Conforme apontado por Delizoicov (2007) e baseando-se nas concepções

e influencias de Freire (2009), o conhecimento precisa ser abordado de maneira

problematizada na educação escolar, de forma a se tornar um instrumento que

propicie uma melhor compreensão e atuação na sociedade contemporânea. Desta

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forma, a problematização leva o indivíduo a pensar e questionar sua realidade,

tentando compreender as causas de determinados fenômenos e buscar possíveis

soluções para os mesmos.

Pensando em temáticas que contemplem a capacidade de reflexão

individual e coletiva, nos deparamos com a Educação Ambiental, que visa uma

formação mais crítica dos sujeitos em relação ao meio em que está inserido e ao

bem comum. Para Reigota (2009), a educação ambiental é um tipo de educação

política e tem por princípio ser questionadora, criativa e inovadora,

principalmente por ter o objetivo de relacionar os conteúdos e as temáticas

ambientais com a vida cotidiana.

O apelo pela questão socioambiental neste trabalho se deve pela

observação dos crescentes problemas ambientais enfrentados pela natureza, seja

em maior ou menor escala, enfatizando um grande descaso do ser humano frente

à crise socioambiental instaurada há algumas décadas pelo mundo. É preciso um

despertar da sociedade para as suas responsabilidades individuais e coletivas e

consideramos que a chave para a mudança pode estar nos jovens estudantes, que

ao se reconhecerem como co-responsáveis pela degradação ambiental, repensem

suas atitudes.

O Parecer 14/2012 do Ministério da Educação (BRASIL, 2012) aponta a

Educação Ambiental como um processo em construção através do qual deve-se

buscar a compreensão e resignificação da relação entre os seres humanos e a

natureza, avançando na construção de uma cidadania responsável, crítica,

participativa em que cada sujeito tem a oportunidade de aprender e a

potencialidade de transformar o meio no qual as pessoas vivem, seja ele natural

ou construído. O Parecer enfatiza ainda que a Educação Ambiental não é uma

atividade neutra, pois ela envolve valores e interesses, porém deve ser

integradora e capaz de estabelecer relações multidimensionais, contemplando os

aspectos físicos, biológicos, sociais, culturais, econômicos e políticos da

sociedade. De acordo com a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999 que dispõe

sobre a Educação Ambiental, e institui a Política Nacional de Educação

Ambiental, apresenta a Educação Ambiental como “um componente essencial e

permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada,

em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e

não-formal” (BRASIL, 1999, p. 1, Art. 2).

Nesta perspectiva, confere aos espaços educativos o desafio de promover

a construção do conhecimento, sendo tanto em espaços formais que contam com

diretrizes curriculares e marcadas pela formalidade, sequência e regularidade

como em espaços não formais que contam com a descontinuidade, pela

eventualidade, pela informalidade (GADOTTI, 2005); e que atividades em

espaços não formais oportunizam o cotidiano e experiências históricas do

indivíduo ou grupo. Contudo, a educação formal escolar pode também aceitar a

informalidade e o cotidiano, vivências e experiências dos espaços informais e

não formais.

Neste contexto, a proposta neste estudo é utilizar uma sequência didática

como ferramenta para discussão de problemas socioambientais e, assim, como

recurso para a problematização e construção do conhecimento de maneira

interdisciplinar.

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2. Metodologia

Esta atividade foi desenvolvida no Colégio Estadual Joaquim de Macedo,

localizado no município de Barra do Piraí-RJ com uma turma cujos estudantes

são defasados em idade e série. A turma, denominada Correção de Fluxo, é um

programa de aceleração dos estudos proposta pelo governo estadual e contempla

estudantes com idades entre 14 e 17 anos, que cursam em dois anos, os quatro

anos do segundo segmento do Ensino Fundamental. A turma tem atualmente 20

estudantes matriculados e conta com uma proposta de trabalho um pouco

diferenciada do ensino regular devido à logística de tempo. Pensando nesta

proposta e em maneiras de estimular à participação dos estudantes, bem como

auxiliar o desenvolvimento de uma consciência ambiental, nestes jovens, e

possíveis mudanças de atitude, em particular através da disciplina de Ciências.

Esta pesquisa é classificada como qualitativa e o método utilizado para

seu desenvolvimento foi a observação participante. “O estudo qualitativo é o

que se desenvolve numa situação natural; é rico em dados descritivos, tem um

plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e

contextualizada” (LAKATOS e MARCONI, 2010, p.271). O método da

observação participante, segundo Prodanov e Freitas (2013), consiste na técnica

em que o observador assume, até certo ponto, a função de membro do grupo

investigado. Como no decorrer das atividades, minha participação foi inevitável,

tanto por ser a professora da turma quanto pelo fato de que as etapas

necessitavam de uma problematização inicial ou da continuação da mesma em

outro momento.

A sequência didática apresentada foi desenvolvida em 4 etapas (dias). A

cada aula apresentada, uma nova adaptação à aula seguinte era feita em função

das potencialidades e fragilidades observadas na aula anterior, desta forma a

sequência didática planejada inicialmente sofreu algumas mudanças para o

melhor aproveitamento do tempo e interesse dos estudantes.

A aula 1 foi a aplicação de um questionário diagnóstico (Anexo 1) com

seis perguntas básicas para verificar os conhecimentos prévios dos estudantes a

respeito do meio ambiente e problemas ambientais locais. O questionário foi

analisado cautelosamente para subsidiar a etapa seguinte.

Na aula 2, foi entregue aos estudantes um texto baseado no livro didático

de Ciências do sexto ano do Projeto Teláris (2016), com adaptações feitas para o

presente estudo (Anexo 2), sob o título „Rochas, solos e problemas ambientais‟.

Para o desenvolvimento da atividade foi solicitado que os estudantes lessem o

texto, identificassem e marcassem os problemas ambientais mencionados. A

segunda parte desta atividade foi montar na lousa uma tabela contendo três

colunas: Problema – Causa – Consequência. A partir daí, os estudantes deveriam

completar oralmente as colunas dizendo qual problema foi identificado no texto,

quais são o (s) agente (s) causador (es) e qual (is) consequência (s) pode (m)

provocar (Figura 1). Buscou-se nesta etapa avaliar a capacidade de correlação

dos assuntos trabalhados, a partir da compreensão pelos estudantes dos

problemas socioambientais, bem como suas causas e possíveis consequências.

Esta atividade foi bastante interativa uma vez que a resposta de um estudante

complementava a do outro. No terceiro momento da aula 2, os estudantes foram

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levados para a sala de multimídia onde foi apresentada uma aula expositiva

sobre os destinos adequados para cada tipo de lixo, suas vantagens e

desvantagens (Figura 2). Houve grande interesse por parte dos estudantes em

conhecer outras formas de destino do lixo, além do lixão.

Figura 1 – Quadro final preenchido oralmente pelos estudantes

Figura 2 – Aula expositiva sobre os destinos do lixo

A aula 3 também foi composta por três momentos: Leitura da „Carta ao

Inquilino‟, apresentação de um mapa conceitual e a confecção de um trabalho

prático. O primeiro momento foi a leitura para os estudantes de um documento

denominado „Carta ao Inquilino‟

(www.semaepiracicaba.sp.gov.br/attachments/7273_Inquilino%20da%20terra.p

df). A carta é de autoria desconhecida, porém é como se o planeta Terra

estivesse escrevendo-a aos seres humanos. Após a leitura da carta, foram feitas

seis perguntas abertas na lousa com o objetivo de verificar se os estudantes

compreenderam o texto e se identificaram a situação exposta. O segundo

momento da aula 3 foi a apresentação na lousa de um mapa conceitual,

construído previamente, que continha palavras-chave como „meio ambiente,

educação e educação ambiental‟. A proposta era discutir o mapa através da

expressão inicial „meio ambiente‟, fazendo seus desdobramentos até chegar na

expressão „educação ambiental‟ buscando explorar cada item exposto e sua

relação com a vida da sociedade atual (Figura 3). O terceiro momento desta aula

foi a construção de cartazes apresentando o tempo de decomposição de cada

material descartado na natureza. Na aula anterior (aula 2) foi solicitado que os

estudantes pesquisassem a respeito do tempo de decomposição de cada tipo de

lixo e levassem para a aula seguinte itens para compor um trabalho que seria

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exposto no mural da escola como forma de sensibilização da comunidade

escolar (Figura 4). No final da aula foi solicitado que os estudantes levassem

materiais recicláveis para as atividades da próxima aula.

Figura 3 – Perguntas sobre a “Carta ao Inquilino” e mapa conceitual

Figura 4 – Trabalho final – tempo de decomposição do lixo

A aula 4 foi uma atividade interdisciplinar na quadra esportiva do

colégio. As disciplinas de Ciências e Educação Física se juntaram para o

desenvolvimento de atividades envolvendo a temática „reciclagem‟ e „jogos

cooperativos‟. Antes das atividades, falamos aos estudantes sobre a importância

da preservação e conservação do meio ambiente, o excesso de lixo, o consumo

consciente e o tempo de decomposição de cada tipo de resíduo na natureza.

Foram propostas duas atividades com o objetivo de sensibilizar e informar a

respeito do desperdício, excesso de lixo, reciclagem e coleta seletiva (Figura 5).

Figura 5 – Atividades interdisciplinares

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3. Resultados e discussão

3.1. Análise do questionário diagnóstico

Ao analisar o questionário inicial verificamos que todos os estudantes

consideram apenas „a natureza‟ como meio ambiente, demonstrando uma visão

limitada, porém já esperada, ao não se considerarem como parte dele. Quanto

aos problemas ambientais locais, todos os estudantes citaram o lixo como o

maior e mais incômodo dos problemas no município, seguido pela poluição do

ar e da água por esgoto. A consciência referente aos problemas ambientais de

determinada localidade se deve à percepção da comunidade, em função de sua

sensibilidade e senso crítico. Para Oliveira (2009), falar em percepção ambiental

refere-se na verdade à visão de mundo, de meio ambiente, seja ele físico,

cultural ou humanizado. Assim, verificamos através de um levantamento inicial,

que os estudantes conseguem perceber algumas consequências socioambientais

produzidas pelo modelo urbano-industrial.

3.2. Conhecendo alguns problemas ambientais

A aula 2 foi bastante interativa, visto que quando um estudante

comentava sobre determinado problema outro auxiliava e completava as outras

colunas do quadro de maneira natural e coletiva. Isso aponta que os recursos

utilizados nesta aula alcançaram o seu objetivo. Quinze estudantes (dos 20

estudantes matriculados) estavam presentes e nenhum deles identificou, no texto

proposto, a erosão como um problema ambiental. Isso indica que os estudantes

entenderam que ocorre erosão por processos naturais e não necessariamente por

um processo antrópico. Todos os outros problemas citados no texto foram

identificados pelos estudantes, embora nem todas as consequências tenham sido

identificadas por uma causa. Durante a apresentação a respeito do lixo,

verificamos que os estudantes conheciam apenas o „lixão‟ e a reciclagem como

destinos finais dos resíduos, ficando muito surpresos e interessados pelos outros

tipos de destino (aterro sanitário, incineração e compostagem).

A interação entre os estudantes e a dinâmica excedeu minhas

expectativas, visto que eles questionavam as vantagens e desvantagens de cada

processo, além de fazer comentários a respeito de situações que presenciaram

em algum momento da vida (como contaminação da água, mau cheiro, chorume,

exposição do lixo e atração de ratos, moscas). Os estudantes ficaram surpresos

com as imagens apresentadas (animais machucados, deformados, mutilados,

mortos, pessoas vivendo em meio ao lixo, entre tantas outras imagens

apresentadas ao longo da aula 2) demonstrando indignação e raiva. De acordo

com Delizoicov et al (2007), a sala de aula deve ser um espaço de trocas reais

entre os estudantes e o professor, no qual o diálogo construído deve se basear no

conhecimento sobre o mundo e sobre a realidade em comum. Desta forma, trazer

o mundo externo para a sala de aula é possibilitar o acesso dos estudantes a

novas formas de compreensão deste mundo.

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3.3 Educação Ambiental em foco

A aula 3 também foi bastante participativa em seus três momentos. Após

a leitura da „Carta ao Inquilino‟, alguns estudantes tiveram dúvidas quanto quem

seria o dono da casa, enquanto outros se posicionaram direta e claramente como

sendo a Terra. No momento da apresentação do mapa conceitual, a turma

observou atentamente minhas explicações, comentários e desdobramentos do

assunto, porém não fizeram perguntas. Após a conclusão, apenas um estudante

comentou: “então meio ambiente é tudo isso?” demonstrando certa surpresa ao

se dar conta de que também faz parte dele.

As definições de meio ambiente são várias, estando elas de acordo com o

campo de estudo de cada área. Em uma de suas obras, Reigota (2009, p.34) nos

traz definições de meio ambiente segundo três áreas do conhecimento que

considera interessante. Segundo um geógrafo francês: “meio ambiente é o

conjunto de dados fixos e de equilíbrios de forças concorrentes que condicionam

a vida de um grupo biológico” (REIGOTA, 2009, p.34 apud JORGE, 1970).

Para um ecólogo belga: “é evidente que meio ambiente é composto por dois

aspectos: o abiótico físico e químico e o meio ambiente biótico” (REIGOTA,

2009, p.34 apud DUVIGNEAUD). E por último, traz a definição de um

psicólogo: “meio ambiente é o que cerca cada indivíduo ou um grupo,

englobando o meio cósmico, geográfico, físico e o meio social com suas

instituições, sua cultura, seus valores” (REIGOTA, 2009, p.35 apud

SILLIAMY). De fato, as definições apresentadas tem sua significância e sabe-se

que existem várias outras inerentes a este termo, cabendo a cada área, explorar

aquela que melhor se adéqua ao seu contexto, mas com o cuidado de não gerar

uma concepção utilitarista e antropocêntrica. Além dos conceitos científicos, há

também as definições populares, entendidas por cada cidadão a respeito do meio

ambiente, as quais estão diretamente relacionadas ao seu contexto social, suas

convicções e modos de vida.

Concordamos com a definição de meio ambiente proposta por Reigota

(2009), pois nessa definição as dimensões sociais, culturais, políticas, históricas

são levadas em conta. Além disso, Reigota aponta para a importância de

considerar a percepção ambiental.

Defino meio ambiente como um lugar determinado e/ou

percebido onde estão em relação dinâmica e em

constante interação os aspectos naturais e sociais. Essas

relações acarretam processos de criação cultural e

tecnológica e processos históricos e políticos de

transformações da natureza e da sociedade (REIGOTA,

2009, p.36).

Na aula 3, ao apresentar aos estudantes o mapa conceitual (elaborado

previamente) a respeito da educação ambiental, retornei ao problema do lixo e

suas consequências, os fazendo entender com base em uma perspectiva

socioambiental, tal como afirma Frederico Loureiro que “a Educação Ambiental

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necessita vincular os processos ecológicos aos sociais na leitura de mundo, na

forma de intervir na realidade e existir na natureza” (LOUREIRO, 2007).

Esta atividade foi finalizada com a construção de cartazes informando o

tempo de decomposição de cada tipo de lixo na natureza. Durante a confecção

dos cartazes, os estudantes, divididos em grupos, ficaram surpresos com o tempo

que alguns materiais levam para se decompor e um deles exclamou: “Isso é

verdade, professora?”.

3.4. Atividade interdisciplinar – Ciências e Educação Física

A aula 4 foi a finalização da sequência didática, com atividades diversas

na quadra do colégio envolvendo a disciplina de Educação Física, através da

temática „Jogos Cooperativos‟. As atividades envolveram coleta seletiva e

reciclagem. Os estudantes se mostraram interessados e fizeram comentários do

tipo “Minha mãe separa o nosso lixo” e “Tem que cuidar do lixo senão quando

chove vai tudo pra rua”. A participação dos estudantes foi bastante ativa,

revelando uma excelente parceria entre as duas disciplinas em questão e

contribuindo para o planejamento de atividades e projetos futuros para o colégio,

de forma disseminar os fundamentos da Educação Ambiental e a

interdisciplinaridade, assim como a contribuição para a formação de sujeitos

críticos, questionadores da sua própria realidade, pois conforme aponta Loureiro

(2007): “A questão não é somente conhecer para se ter consciência de algo, mas

conhecer inserido no mundo para que se tenha consciência crítica do conjunto

de relações que condicionam certas práticas culturais”. Desta forma, através da

problematização da realidade, o indivíduo passa a se enxergar como parte do

meio e assim, busca uma mudança no seu modo de vida e consequentemente da

sua comunidade.

4. Referências

BRASIL. LEI No 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a Educação

Ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras

providências. 2 p.

BRASIL. (2012). Parecer nº 14, de 2012. Diretrizes Curriculares Nacionais

Para A Educação Ambiental. Brasília, DF, 15 jun. 2012. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&ali

as=10955-

pcp014-12&category_slug=maio-2012-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 30

mar. 2017.

DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José André; PERNAMBUCO, Marta

Maria. Ensino de Ciências:: fundamentos e métodos. 2. ed. São Paulo: Cortez,

2007. 364 p.

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FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009. 107

p.

GADOTTI, Moacir. A questão da educação formal/não-formal. Droit à

l‟education: solution à

tous les problèmes sans solution? Institut International des droits de l‟enfant,

Sion, 2005

LOUREIRO, Carlos Frederico B. Educação Ambiental crítica: contribuições

e desafios. 2007. Disponível em:

<http://scholar.googleusercontent.com/scholar?q=cache:i1XgtmspyXQJ:scholar.

google.com/+educação+ambiental+crítica+contribuições+e+desafios&hl=pt-

BR&as_sdt=0,5>. Acesso em: 30 mar. 2017.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia

Científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 312 p.

OLIVEIRA, Lívia de. Percepção Ambiental. Revista Geografia e

Pesquisa, Ourinhos, v. 6, n. 2, p.56-72, 07/2009. Disponível em:

<http://vampira.ourinhos.unesp.br/openjournalsystem/index.php/geografiaepesq

uisa/article/viewFile/135/68>. Acesso em: 30 mar. 2017.

PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de Freitas.

Metodologia do trabalho científico [recurso eletrônico]: métodos e técnicas

da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. – Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

276 p.

PROJETO Teláris Ciências. Coleção Livro didático. 2016.

REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. 2. ed. São Paulo:

Brasiliense, 2009. 107 p.

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ANEXO 1 – Questionário diagnóstico

Questionário diagnóstico para verificar os conhecimentos prévios dos estudantes

da turma Correção de Fluxo acerca de problemas ambientais –

caracterização da turma

Idade: _________ anos

Sexo: ( ) masculino ( ) feminino

1. O que você entende por meio ambiente?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Como você fica sabendo das informações sobre o meio ambiente?

(Pode marcar mais de uma alternativa).

( ) TV ( ) Internet

( ) Jornais ( ) Observando o bairro

( ) Disciplinas da escola ( ) Família

( ) Livros ( ) Amigos

( ) Revistas ( ) Palestras na escola

3. Existem problemas ambientais no seu bairro? ( ) sim ( ) não

4. Quais são os problemas ambientais encontrados no seu bairro?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

5. Quais são os seres vivos afetados por esses problemas?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

6. Quais são as atividades que ocorrem na escola relacionadas ao meio ambiente?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Sou Gilmara Ferreira Alvim, professora de Ciências do Colégio Estadual Joaquim de

Macedo, Barra do Piraí-RJ e este questionário faz parte da minha dissertação de

mestrado e ao respondê-lo, você contribuirá para o desenvolvimento da pesquisa que se

encontra em andamento. Sua participação é muito importante. Esta e outras atividades

propostas para esta pesquisa também contribuirão para seus conhecimentos, pois está

diretamente relacionada a sua disciplina de Ciências.

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ANEXO 2 – Texto – Solos, Rochas e Problemas ambientais

Como você já estudou, as rochas formam a parte sólida da Terra e elas são

usadas na confecção de ferramentas, construção de casas e monumentos. Com o

passar do tempo, o ser humano desenvolveu e aperfeiçoou técnicas capazes de

retirar das rochas, materiais para fabricação de tijolos, cimento, pisos, vidros e

tantos outros produtos e objetos. As rochas podem ser magmáticas (originadas da

lava, que sai dos vulcões nas erupções), sedimentares (formadas pela ação de

agentes naturais como chuva, vento, água, ondas do mar, variações de temperatura

e seres vivos, que as desgastam e vão quebrando-as, aos poucos) e metamórficas

(originadas da transformação de outras rochas).

Estas rochas que formam a crosta terrestre estão, há milhões de anos,

sofrendo ação dos agentes naturais e isso provocou mudanças lentamente,

formando os diversos tipos de solos que conhecemos, pois os solos são a camada

superficial das rochas. Os seres vivos contribuem muito para este processo de

transformação das rochas em solo, porque à medida que se desenvolvem, vão

enriquecendo o solo com matéria orgânica. A erosão é um tipo de degradação

(destruição) dos solos, pois a ação dos agentes naturais vai, lentamente,

desgastando (estragando) a terra. Esse desgaste natural deixa o solo desprotegido,

ocasionando a corrosão e sua infertilidade. A agricultura e o desmatamento

também contribuem para a erosão do solo, deixando-o sem sua cobertura

superficial. O desmatamento (retirada, pelos seres humanos, da cobertura vegetal

de um determinado local, por interesses financeiros) também pode provocar o

desabamento de morros, que perdem a proteção da cobertura vegetal, ocasionando

grandes problemas para os moradores da região (que perdem muitos bens e às

vezes a própria casa) e ainda fazem os animais fugirem e procurem outros abrigos

para viverem.

No solo, existem partículas minerais, água, ar, organismos vivos e mortos.

Os tipos de solo vão variar conforme sua composição e podem ser argilosos ou

arenosos. Os solos arenosos possuem alto teor de areia, tem alto grau de

escoamento da água para camadas mais profundas e são pobres em nutrientes

(porque a maior parte dos nutrientes escoa junto com a água). Os solos argilosos

tem alto teor de argila, retém água e sais minerais em quantidade suficiente que o

deixam fértil (adequado para o desenvolvimento de plantas e micro-organismos).

Os seres vivos encontrados nestes dois tipos de solos estão adaptados a eles.

As queimadas, práticas muito comum na agricultura para limpeza do

terreno e crescimento de pasto novo, agridem profundamente o solo e provocam

sérios danos à biodiversidade. Ela compromete sua fertilidade destruindo os

micro-organismos que realizam a decomposição da matéria orgânica, expõe o solo

à erosão e à ação das chuvas, emitem gases que poluem o ar e prejudicam a saúde

humana e ainda destroem os habitats naturais dos animais silvestres. Um dos

gases produzidos nas queimadas é o gás carbônico, que contribui para aumentar a

temperatura do planeta. Falando em emissão de gases poluentes, outro sério

problema enfrentado pelo meio ambiente é a poluição, que pode ser do ar, da

água, sonora e visual. A poluição do ar caracteriza-se basicamente pela presença

de gases nocivos no ar atmosférico, que são provenientes da queima de

combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral, gasolina, diesel) pelos veículos e

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indústrias. Esses gases afetam principalmente a saúde dos seres humanos,

causando, principalmente, problemas respiratórios e inflamatórios. A poluição da

água é o lançamento de detritos (resíduos, restos de substâncias) diretamente nos

rios, lagos e oceanos, ou através da contaminação do lençol freático (camada de

água subterrânea que se acumula nas rachaduras das rochas). Estas substâncias

são provenientes de indústrias, vazamento de chorume (decomposição do lixo),

utilização de agrotóxicos, vazamentos subterrâneos de embarcações e esgoto.

Tudo isso pode provocar doenças aos seres humanos (diarreia, hepatite,

verminoses, esquistossomose, leptospirose, entre outras), além de contaminar

animais e plantas da localidade, ficando impróprios para o consumo e

prejudicando a cadeia alimentar.

Outro tipo de poluição é a sonora, provocado pelo alto volume de sons da

cidade (motores, buzinas, propagandas, etc). A poluição sonora afeta e prejudica

não só os seres humanos (causa surdez, estresse, irritabilidade, entre outros), como

também a biodiversidade da fauna (animais), cuja sensibilidade ao som é muito

maior que a dos humanos. Já a poluição visual é caracterizada pelo excesso de

informações espalhados pela cidade e pode prejudicar a sinalização do trânsito,

além de descaracterizar a cidade. O lixo também é um tipo de poluição visual,

porém é muito mais sério do que o comprometimento do trânsito: ele provoca

doenças (pois atrai vetores como ratos, baratas, mosquitos, além de bactérias,

protozoários e vírus), contamina o solo, os ambientes aquáticos e o lençol freático.

A grande produção do lixo é proveniente do sistema capitalista vigente, que entre

outros fatores, estimula o consumo exagerado das pessoas e quando há uma falha

ou má administração dos órgãos competentes, esse lixo se acumula em calçadas,

é depositado em lixões ou despejados nos rios. O desperdício é outro fator que

contribui para o excesso de lixo das cidades.

O lixo acumulado em locais impróprios provoca entupimento de bueiros e

valas e quando ocorrem chuvas fortes, há enchentes, que carregam parte desse

lixo para as ruas das cidades ou para os rios, levando com elas o risco de

contaminação. O destino adequado do lixo depende de cada tipo, mas é muito

comum observarmos os „lixões‟ onde todo tipo de lixo é depositado junto, sem

cuidados e sem qualquer triagem. Normalmente, há famílias inteiras que moram

próximas aos lixões e são afetadas por eles: além do odor ser muito forte e

desagradável, há o grande risco da disseminação de doenças.

O ambiente em que vivemos é muito complexo pois nele estão diversas

espécies de seres vivos, que dependem uns dos outros, estabelecendo importantes

relações, portanto quando há problemas ambientais em determinados locais, eles

afetam direta ou indiretamente a biodiversidade local. Sendo assim, cuidar deste

ambiente é uma maneira de garantir a qualidade de vida de todos os seus

habitantes, inclusive nós mesmos. E existem diversas maneiras de cuidarmos do

meio ambiente, basta um pouco de responsabilidade, sensibilidade, senso de

justiça, amor ao próximo e respeito. Se cada um de nós fizer a sua parte,

viveremos num lugar melhor.

Adaptado de: GEWANDSZNAJDER, Fernando. Projeto Teláris. São Paulo:

Ática. 2016.

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