a guerra colonial
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A Guerra Colonial
• miguel
AINDA
AS NOSSAS FRASES ESTÃO CHEIAS DE PICADASDE MINAS A EXPLODIR NOS SUBSTANTIVOS
POR DENTRO DO SILÊNCIO HÁ EMBOSCADASNÃO SABEMOS SEQUER SE ESTAMOS VIVOS.OS HELICÓPTEROS PASSAM NAS IMAGENSA MEIO DE UMA VÍRGULA MORRE ALGUÉM
E OS JIPES DESTRUÍDOS ESTÃO NAS MARGENSDO PAPEL ONDE TALVEZ PARA NINGUÉM
SE VÃO ESCREVENDO ESTAS MENSAGENS.
MANUEL ALEGRE
No TEMPO…Após os acordos de paz que deram por terminada
a Segunda Guerra Mundial, a mentalidade das nações mudou. Ocupar territórios era agora algo repulsivo e desta forma, foi concedida a liberdade
às colónias europeias.
No ESPAÇO…No entanto, Portugal, ainda dominado pelos ideais fascistas, recusou-se a abdicar dos seus territórios
africanos e alguns asiáticos. Assim, o nome “colónia” foi alterado para diminuir a crítica internacional,
embora o sucesso não tenha sido grande.
Em África, tomados pelo movimento de liberdade que assomava o continente, as colónias portuguesas protestavam aclamando o direito mais básico. Com a negação do lado português, as tensões aumentaram e em 1961 arrancou a Guerra Colonial, um conflito
de 13 anos.
O conflito durou 13 anos e pode ser considerado como o mais sangrento acontecimento do regime salazarista. Conjuntamente com outros factores, a
Guerra Colonial serviu de mote à revolução de 25 de Abril de 1974, sendo este acontecimento o marco do
final do conflito.
Na LITERATURA e nas ARTES…Ao contrário de tantos outros marcos da História de Portugal,
a Guerra Colonial não marcou as artes de forma incisiva. Alguns filmes e livros foram a única homenagem aos milhares de mortos neste flagelo. Hoje em dia, este
acontecimento recebe uma nova vida através da poesia e do projecto “Ontologia do ‘EU’ Estilhaçado”, que conta com
poetas de primeira água.
A Poesia da Guerra ColonialUma Ontologia do “EU”
Estilhaçado
A Poesia da Guerra ColonialUma Ontologia do “EU” Estilhaçado
São meus filhos. Gerei-os no meu ventre. Via-os chegar, às tardes, comovidos, nupciais e trementes do enlace da vida com os sentidos.Estiveram no meu colo, sonolentos. Contei-lhes muitas lendas e poemas. Às vezes, perguntavam por algemas. Respondia-lhes: mar, astros e ventos.
Alguns, os mais ousados, os mais loucos, desejavam a luta, o caos, a guerra. Outros sonhavam e acordavam roucos de gritar contra os muros que há na Terra.
São meus filhos. Gerei-os no meu ventre. Nove meses de esperança, lua a lua. Grandes barcos os levam, lentamente…
GUERRA
NATÉRCIA FREIRE
Embarque das tropas no Cais de Alcântara
Mas não puxei atrás a culatra,Não limpei o óleo do cano,Dizem que a guerra mata: a minhaDesfez-me logo à chegada.
Não houve pois cercos, balasque demovessem este forçado.Viram-no à mesa com grandes livros,com grandes copos, grandes mãos aterradas.Viram-no mijar à noite nas tábuasou nas poucas ervas meio rapadas.Olhar os morros, como se entendesseo seu torpor de terra plácida.
Folheando uns papéis que sobraramlembra-se agora de haver muito frio.Dizem que a guerra passa: esta minhapassou-me para os ossos e não sai.
FRANCISCO ASSIS PACHECO
A Poesia da Guerra ColonialUma Ontologia do “EU” Estilhaçado
MONÓLOGO E EXPLICAÇÃO
Ah Diogo! Ah Cão! Em que de Zairepretendes colocar o teu padrão?El-rei morreu. As naus de clarearsão agora de um povo nosso irmão.
Ah Diogo! Ah Cão! Que resultadoesperavas deste povo a ver morrero seu corpo na farda de soldado?
Dispensámos as balas e os escravosE mais para diante navegámos.Negreiros não. Dissemos sim aos cravos.O mar não dói. E a terra não tem amos.
Esta Nau do futuro há-de vencer!Mas há cães que só ladram o passadoporque o presente é duro de roer.
JOAQUIM PESSOA
A Poesia da Guerra ColonialUma Ontologia do “EU” Estilhaçado
SONETO ANTI-COLONIALISTA