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Guerra Colonial Portuguesa 1 Guerra Colonial Portuguesa Designa-se por Guerra Colonial, Guerra do Ultramar (designação oficial portuguesa do conflito até ao 25 de Abril), ou Guerra de Libertação (designação mais utilizada pelos africanos independentistas), o período de confrontos entre as Forças Armadas Portuguesas e as forças organizadas pelos movimentos de libertação das antigas províncias ultramarinas de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, entre 1961 e 1974. Na época, era também referida vulgarmente em Portugal como Guerra de África. O início deste episódio da história militar portuguesa ocorreu em Angola, a 4 de Fevereiro de 1961, na zona que viria a designar-se por Zona Sublevada do Norte (ZSN), que corresponde aos distritos do Zaire, Uíje e Quanza-Norte. A Revolução dos Cravos em Portugal, a 25 de Abril de 1974, determinou o seu fim. Com a mudança do rumo político do país, o empenhamento militar das forças armadas portuguesas deixou de fazer sentido. Os novos dirigentes anunciavam a democratização do país e predispunham-se a aceitar as reivindicações de independência das colónias pelo que se passaram a negociar as fases de transição com os movimentos de libertação empenhados na luta armada. Ao longo do seu desenvolvimento foi necessário aumentar progressivamente a mobilização das forças portuguesas, nos três teatros de operações, de forma proporcional ao alargamento das frentes de combate que, no início da década de 1970, atingiria o seu limite crítico. Pela parte portuguesa, a guerra sustentava-se pelo princípio político da defesa daquilo que considerava território nacional, baseando-se ideologicamente num conceito de nação pluricontinental e multi-racial. Pelo outro lado, os movimentos de libertação justificavam-se com base no princípio inalienável de auto-determinação e independência, num quadro internacional de apoio e incentivo à luta. Contexto político-social Nas colónias europeias sempre existiram movimentos de oposição e resistência à presença das potências coloniais. Porém, ao longo do século XX, o sentimento nacionalista fortemente impulsionado pelas primeira e segunda guerras mundiais era patente em todas as movimentações europeias, pelo que não será surpreendente notar o seu alastramento às colónias, já que também muitos dos seus nativos nelas participaram, expondo o paradoxo da celebração da vitória na luta pela libertação, em território colonial, ainda submetido e dependente.

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Guerra Colonial Portuguesa 1

Guerra Colonial PortuguesaDesigna-se por Guerra Colonial, Guerra do Ultramar (designação oficial portuguesa do conflito até ao 25 deAbril), ou Guerra de Libertação (designação mais utilizada pelos africanos independentistas), o período deconfrontos entre as Forças Armadas Portuguesas e as forças organizadas pelos movimentos de libertação das antigasprovíncias ultramarinas de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, entre 1961 e 1974. Na época, era também referidavulgarmente em Portugal como Guerra de África.O início deste episódio da história militar portuguesa ocorreu em Angola, a 4 de Fevereiro de 1961, na zona que viriaa designar-se por Zona Sublevada do Norte (ZSN), que corresponde aos distritos do Zaire, Uíje e Quanza-Norte. ARevolução dos Cravos em Portugal, a 25 de Abril de 1974, determinou o seu fim. Com a mudança do rumo políticodo país, o empenhamento militar das forças armadas portuguesas deixou de fazer sentido. Os novos dirigentesanunciavam a democratização do país e predispunham-se a aceitar as reivindicações de independência das colónias— pelo que se passaram a negociar as fases de transição com os movimentos de libertação empenhados na lutaarmada.Ao longo do seu desenvolvimento foi necessário aumentar progressivamente a mobilização das forças portuguesas,nos três teatros de operações, de forma proporcional ao alargamento das frentes de combate que, no início da décadade 1970, atingiria o seu limite crítico. Pela parte portuguesa, a guerra sustentava-se pelo princípio político da defesadaquilo que considerava território nacional, baseando-se ideologicamente num conceito de nação pluricontinental emulti-racial. Pelo outro lado, os movimentos de libertação justificavam-se com base no princípio inalienável deauto-determinação e independência, num quadro internacional de apoio e incentivo à luta.

Contexto político-socialNas colónias europeias sempre existiram movimentos de oposição e resistência à presença das potências coloniais.Porém, ao longo do século XX, o sentimento nacionalista — fortemente impulsionado pelas primeira e segundaguerras mundiais — era patente em todas as movimentações europeias, pelo que não será surpreendente notar o seualastramento às colónias, já que também muitos dos seus nativos nelas participaram, expondo o paradoxo dacelebração da vitória na luta pela libertação, em território colonial, ainda submetido e dependente.

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Províncias ultramarinas portuguesas em África no período da Guerrado Ultramar.

Por outro lado, também as grandes potênciasemergentes da II Guerra Mundial, os Estados Unidosda América e a União Soviética, alimentavam — querideologicamente, quer materialmente — a formação degrupos de resistência nacionalistas, durante a suadisputa por zonas de influência. É neste contexto que aConferência de Bandung, em 1955, irá conceder vozprópria às colónias, que enfrentavam os mesmosproblemas e procuravam uma alternativa ao simplesalinhamento no conflito bipolar que confrontava asduas grandes potências. Estas, eram, assim, chamadas aconsiderar com outra legitimidade as reivindicações dochamado Terceiro Mundo, quer para manter oequilíbrio nas relações internacionais da Guerra Fria,quer para canalizar os sentimentos autonomistas paraseu benefício, como zona de influência. A influênciaexterna nas colónias perdia a orientação meramenteseparatista e desestabilizadora, e caminhava para umefectivo apoio - ou entrave - nas relações com os paísescolonizadores.

No final da década de 1950, as Forças Armadas Portuguesas viam-se confrontadas com o paradoxo da situaçãopolítica gerada pelo Estado Novo, que haviam implantado e sustentado desde 1926: por um lado, a política deneutralidade portuguesa na II Guerra Mundial colocava as Forças Armadas Portuguesas afastadas de um eventualconfronto Leste-Oeste, por outro, aumentava, na perspectiva do regime, a responsabilidade na manutenção dasoberania sobre os vastos territórios ultramarinos, onde a tensão do pós-guerra avizinhava lutas independentistas nascolónias da Europa Imperial. Contudo, os mesmos dirigentes que afastaram Portugal da luta pela libertaçãoeuropeia, optaram por integrar o país na estrutura militar da NATO, num subtil desejo de se aliar aos vencedores, emdetrimento da preparação para as ameaças nos espaços coloniais, que o próprio regime considerava imprescindíveispara a sobrevivência nacional.

Esta integração de Portugal na Aliança Atlântica iria formar uma elite de militares que se tornaria indispensável parao planeamento e condução das operações durante a Guerra do Ultramar. Esta "geração NATO" ascenderiarapidamente aos mais altos cargos políticos e de comando, sem necessidade de dar provas de fidelidade para com oregime. A Guerra Colonial estabelecia, assim, incompatibilidades entre a estrutura militar — fortemente influenciadapelas potências ocidentais, de regime democrático — e o poder político. Alguns analistas consideram que o chamado«golpe Botelho Moniz» marcou o início desta ruptura, bem como a origem de uma certa desconfiança do regime emrelação à manutenção de um único centro de comando, perante a ameaça do confronto com a força armada. Estasituação provocaria, como se verificaria mais tarde, a descoordenação entre os três estados-maiores (Exército, ForçaAérea e Marinha).O regime do Estado Novo nunca reconheceu a existência de uma guerra, considerando que os movimentosindependentistas eram apenas terroristas e que os territórios não eram colónias, mas províncias e parte integrante dePortugal. Durante muito tempo, grande parte da população portuguesa, iludida pela censura à imprensa, viveu sob ailusão de que, em África, não havia uma guerra, mas apenas alguns ataques de terroristas e de potências estrangeiras.

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OposiçãoContrariando o que o estado pretendia transmitir como sendo de consenso geral, isto é, que as colónias faziam parteda unidade nacional, os comunistas foram os primeiros a opor-se aos confrontos. Na verdade, a primeira organizaçãoa manifestar-se publicamente foi o PCP, em 1957, durante o seu V Congresso, pedindo a independência imediata,completa e indolor. Porém, a censura do regime obrigava o partido a representar dois papéis: o de partido político e ode força de coesão entre os sectores oposicionistas, com os quais acordava programas que não reflectiam as suasposições anticoloniais; seguindo a mesma linha de orientação, já assim se tinham manifestado, durante as eleiçõespresidenciais celebradas durante o Estado Novo, onde era defendida essa unidade: Norton de Matos (1949), QuintãoMeireles (1951), Humberto Delgado (1958), e mesmo os candidatos apoiados pelo PCP: Ruy Luís Gomes e ArlindoVicente.Depois da fraude eleitoral de 1958, Humberto Delgado formou o Movimento Nacional Independente (MNI) que, emOutubro de 1960, defendia a necessidade de preparar o povo das colónias, antes de lhe ser concededido o direito àautodeterminação. No entanto, nenhuma data ou metodologia foi sugerida.Assim, a oposição ia-se assumindo lentamente, começando pelo estalar da luta armada, até se aperceber que oconflito estava a durar tempo demais. Em 1961, o nº 8 da Tribuna Militar tinha como título, "Ponhamos fim à guerrade Angola". Os seus autores estavam ligados às Juntas de Acção Patriótica (JAP), apoiantes de Humberto Delgado,responsáveis pelo ataque ao quartel de Beja. A Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN), criada emDezembro de 1962, contrapunha as posições conciliadoras. O sentimento oficial do estado português, contudo,mantinha-se: Portugal possuía direitos inalienáveis e legítimos sobre as colónias e era isso que era transmitido pelosmeios de comunição e pela propaganda estatal.Em Abril de 1964, o Directório de Acção Democrata-Social reivindicava uma resolução política e não militar. Emsintonia com esta iniciativa, em 1966, Mário Soares sugeria a preparação de um referendo sobre a políticaultramarina a seguir por Portugal, e que deveria ser precedido por um debate nacional a realizar durante seis meses.Nem a morte de Salazar fez com que o panorama político se alterasse. Só com as eleições legislativas de 1969 seviria a verificar uma radicalização da atitude política, nomeadamente entre as camadas mais jovens, que mais sesentiam vitimizadas pela continuação da guerra. As universidades desempenharam um papel fundamental na difusãodeste posicionamento. Surgem, assim, as publicações Cadernos Circunstância, Cadernos Necessários, Tempo eModo, e Polémica. É neste ambiente que a Acção Revolucionária Armada (ARA) e as Brigadas Revolucionárias(BR) se revelam como uma importante forma de resistência contra o sistema colonial português, dirigindo os seusataques, principalmente, contra o Exército.A ARA, vinculada ao PCP, iniciou as suas acções militares em Outubro de 1970, mantendo-as até Agosto de 1972.Destacam-se o ataque à Base Aérea de Tancos contra equipamento da Força Aérea, a 8 de Março de 1971, e oatentado contra as instalações do quartel-general do Comiberlant, em Oeiras, em Outubro do mesmo ano. As BR, porsua vez, iniciaram as acções armadas a 7 de Novembro de 1971, com a sabotagem da base da NATO de Pinhal deAmeiro, verificando-se a última a 9 de Abril de 1974, contra o navio Niassa que se preparava para zarpar de Lisboatransportando tropas para a Guiné. As BR chegaram, inclusive, a agir nas colónias, colocando uma bomba noComando Militar de Bissau, a 22 de Fevereiro de 1974.Também o alinhamento dos sectores da finança e negócios, classes médias e movimentos operários constituiu umimportante ponto de inflexão na contestação à política do regime, em 1973. Apresentavam-se, agora, concordantesquanto à independência das colónias, poucos meses antes do 25 de Abril.

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Antecipação casual

A propaganda tornou-se umaforma de combate psicológico

contribuindo paradesorganização do inimigo.

A instrução dos quadros e tropas das forças portuguesas, por normalização daestrutura da NATO, concebeu a publicação de um conjunto de manuais intitulados"O Exército na Guerra Subversiva" que serviriam de suporte para a organização dastropas durante a Guerra. Introduziam também a necessidade da guerra psicológicaque se revelaria como uma frente de combate sólida para Portugal. Com efeito, a"conquista das populações" foi aplicada a níveis tácticos e estratégicos com sucesso,exceptuando as dificuldades no início e fim da guerra.

Também se revelou fundamental a especialização de grupos armados, como osComandos, único corpo organizado especificamente para esta guerra —desmantelado pouco tempo depois de esta terminar — e adaptação dos Fuzileiros epára-quedistas. Quanto às unidades recrutadas no próprio teatro de operações, astropas especiais africanas, os TE, GE e GEP, Flechas e fuzileiros foram adaptadas àstécnicas de combate específicas deste tipo de cenário (guerrilha) e terreno. Porém, aquase sempre deficiente instrução dos efectivos implicaria uma crescentedegradação da sua eficácia, a par com o cansaço e esvaziamento dos quadrospermanentes.

Com o embargo internacional à venda de armas a Portugal, as forças armadas viram-se, a partir dos anos 70,ultrapassadas tecnologicamente pelos movimentos de libertação, o que foi especialmente notório na Guiné-Bissau. Odéficit seria provisoriamente suportado pela supremacia aérea, até à introdução dos mísseis anti-aéreos por parte dosguerrilheiros.

Conflito armado

Angola

Soldados portugueses nas matas de Angola.

→ Guerra Colonial Portuguesa em Angola

Operação Viriato – Rota AgostinhoNeto

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Em Angola, a sublevação da ZSN foi efectuada pela União das Populações de Angola (UPA) — que passou adesignar-se como Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) em 1962. A 4 de Fevereiro de 1961, oMovimento Popular de Libertação de Angola reivindicou o ataque à cadeia de Luanda, onde foram mortos setepolícias. A 15 de Março de 1961, a UPA, num ataque tribal, deu origem a um massacre de populações brancas etrabalhadores negros naturais de outras regiões de Angola. Esta região seria reocupada mediante operações militaresde grande envergadura que, porém, não conseguiram conter o alastramento das acções de guerrilha a outras regiõesde Angola, como Cabinda, o Leste, o Sudeste e planalto central. Ao MPLA, que desempenhou um papelfundamental, há a acrescentar, a partir de 1966, a acção da União Nacional para a Independência Total de Angola(UNITA).Com motivações essencialmente tribais, e dirigidos de forma autocrática por Holden Roberto, a actividade da UPAcaracterizou-se pela guerrilha rural, realizada por pequenos grupos armados, e pelo massacre de populações, como jáse previa na sua primeira acção. Com catanas e algumas espingardas, os canhangulos, procuravam apoderar-se dasarmas das fazendas e postos administrativos atacados. Não manifestaram interesse em consolidar o domínioterritorial, conseguido nos primeiros dias, nem foi apresentado qualquer programa político.Em Angola, os efectivos militares contavam, no início de 1961, com 5000 militares africanos e 1500 metropolitanos,organizados em dois regimentos de infantaria — um em Luanda e outro em Nova Lisboa — cada um com doisbatalhões de instrução e outro de atiradores) e um grupo de cavalaria, sediado em Silva Porto. A densidade médiaera, portanto, de um soldado para cada 30 km2. Imediatamente disponíveis para acorrer à zona afectada estavamapenas mil soldados europeus e 1200 africanos.

Guiné-Bissau

Posto de controlo montado pelo PAIGC na Guiné-Bissau em 1974,depois da declaração de independência.

→ Guerra Colonial Portuguesa na Guiné Portuguesa

Operação Tridente – Operação Grifo – Operação Vulcano – Operação Gata Pequena – Ataque a Buba – Operação Jove –Operação Mar Verde – Operação Ametista Real

Na Guiné, os confrontos foram iniciados, na perspectiva portuguesa, em Julho de 1961 quando guerrilheiros do Movimento de Libertação da Guiné (MLG) lançaram ataques às povoações de S. Domingos, Suzana e Varela, junto à fronteira noroeste com o Senegal. [1] Na perspectiva guineense, os confrontos iniciaram-se em Janeiro de 1963, quando o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), sob a forma de guerrilha,

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desencadeou um ataque ao quartel de Tite, a Sul de Bissau, junto ao rio Corubal. Com a acção do MLG no noroeste,a partir do Senegal, e do PAIGC no sul, a partir da Guiné-Conacri, os ataques rapidamente se estenderam a quasetodo o território, crescendo continuamente de intensidade, e exigindo um empenhamento proporcional por parte dosportugueses.A guerra na Guiné colocou frente a frente dois homens de forte personalidade: Amílcar Cabral e António de Spínola,responsáveis pela modelação do teatro de operações na Guiné. Em 1965 dá-se o alastramento da guerra ao Leste(Pirada, Canquelifá, Beli). Nesse mesmo ano, o PAIGC realizou missões no Norte, na região de São Domingos,onde, até ao momento, apenas actuava a FLING, que se via a braços na luta, depois da OUA ter canalizado o seuapoio para o PAIGC. Este, em sequência da sua crescente afirmação internacional, viria a receber apoio militarcubano, que duraria até ao final da guerra.Pode-se dizer que as forças portuguesas desempenharam, na Guiné, uma força defensiva, mais de manutenção dasposições que propriamente de conquista das populações, limitando-se, de uma forma geral, a conter as acções doPAIGC. Por isso, esta época inflingiu um grande desgaste para os portugueses, constantemente surpreendidos pelosguerrilheiros e pela influência destes junto da população que, entretanto, era recrutada para o movimento.Com as decisões de António de Spínola, as forças portuguesas ganhavam um carácter mais ofensivo. Entre 1968 e1972, sob o comando deste general, conseguiriam manter a situação sob controlo e, por vezes, levar a cabo acções deconfirmação das posições estratégicas. Mais: agora lutava-se subversivamente, utilizando a manipulaçãopropagandística que iria afectar os níveis mais altos da hierarquia do PAIGC. Porém, a situação pendeu rapidamentepara o lado do PAIGC que, não obstante o assassínio de Amílcar Cabral, não diminuiu a actividade operacional.Em Março, o aparecimento dos mísseis anti-aéreos obrigaria as tropas portuguesas a reavaliarem o esforço de guerra.Durante algum tempo, o suporte aéreo ficou, assim, indisponível, o que teve graves repercussões nas tropas, mesmoa nível psicológico.Marcelo Caetano, em conflito com Spínola, dispensou o general do cargo de governador, que seria ocupado porBettencourt Rodrigues a 21 de Setembro de 1973. Três dias depois, o PAIGC declarava a independência do novoestado, em Madina do Boé. Curiosamente, nem Spínola nem Bettencourt estavam no terreno durante esta ocorrência.

Moçambique

Coluna mobilizada para a reconquista da roça Beira Baixa no nortede Angola (1961).

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→ Guerra Colonial Portuguesa em Moçambique

Operação Águia – Operação Zeta – Operação Abanadela – Operação Penada –Operação Marte

Em Moçambique, o movimento de libertação, denominado Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO),efectuou a sua primeira acção nos dias 24 e 25 de Setembro de 1964, num ataque a Chai, na província de CaboDelgado, estendendo-se posteriormente ao Niassa, Tete e para o centro do território. Porém, um relatório doBatalhão de Caçadores 558 refere acções violentas a 21 de Agosto de 1964, na região de Cabo Delgado, como indicao relatório do Batalhão de Caçadores 558. O mesmo relatório refere que, três dias depois, um padre da Missão deNangololo tinha sido ferido mortalmente. Estas acções foram atribuídas a grupos de guerrilheiros MANU e daUDENAMO.A 16 de Novembro do mesmo ano, as tropas portuguesas sofriam as primeiras baixas no Norte de Moçambique,região de Xilama. A organização e armamento dos guerrilheiros evoluía rapidamente. Também o acidentado terreno,a baixa densidade das forças portuguesas e a fraca presença de colonos facilitaram a acção da Frelimo, que alargavaa sua acção para Sul, na direcção de Meponda e Mandimba, mostrando intenção de ligar-se a Tete, atravessando oMalawi, que apoiou, nos primeiros anos, o trânsito e refúgio de guerrilheiros.Até 1967, a FRELIMO mostrou-se menos interessada pela região de Tete, exercendo o seu esforço nos dois distritosdo Norte, onde a utilização de minas terrestres se destacou de forma particular. No Niassa, a intenção da FRELIMOera simultaneamente criar uma zona livre, e uma zona de passagem para Sul, em direcção à ZambéziaJá em Abril de 1970, a actividade militar da Frelimo aumentou de forma significativa, devido à presença de SamoraMachel em Cabo Delgado, onde apresentaria os planos de ofensivas a executar em Junho e Julho.Até 1973/74, as atenções viravam-se para Cabora Bassa. Os últimos tempos de guerra caracterizaram-se pelo avançoda FRELIMO para Sul, registando acções na zona de Chimoio e agitação das populações de origem europeia. Ogeneral Kaúlza de Arriaga disponibilizava-se para continuar o comando, mas impunha condições que o Governo deLisboa não aceitou. Terminada a sua comissão em Agosto de 1973, foi substituído pelo general Basto Machado. Asituação continuaria a deteriorar-se até aos designados "acontecimentos da Beira", em Janeiro de 1974, quando aspopulações brancas de Vila Pery e da Beira se manifestaram contra a incapacidade das forças portuguesas de suster asituação, já esgotada de efectivos e sem possibilidade do reforço dos meios de combate.

A Organização de Unidade AfricanaFormalmente constituída em Adis Abeba em Maio de 1963, a Organização de Unidade Africana (OUA) assentavasobre algumas das bases de cooperação africana estabelecidas pela Conferência de Lagos tanto a nível geral comoregional, com a missão de reforçar a unidade e solidariedade dos estados africanos, defender a sua integridadeterritorial e autonomia, e eliminar, sob todas as formas, o colonialismo em África. Este último tornar-se-ia oprincipal objectivo da organização, mediante intervenções perante o Conselho de Segurança da ONU, como no casoda reunião urgente deste Conselho para a avaliação da conduta portuguesa para com as colónias africanas.A OUA estabeleceu um Comité de Ajuda aos Movimentos de Libertação, com sede em Dar-es-Salam, ondeintegrava representantes da Etiópia, Argélia, Uganda, Egipto, Tanzânia, Zaire, Guiné-Conacri, Senegal e Nigéria.Esta ajuda distribuía-se pela criação de infrastruturas, treino militar e na compra de armamento.Relativamente à questão colonial portuguesa, a OUA desencadeou acções no sentido do reconhecimento do Governo Revolucionário de Angola no Exílio (GRAE), formado pela FNLA e Holden Roberto, em 1964. Este apoio foi, contudo, transferido para o movimento MPLA de Agostinho Neto, a partir de 1967, em detrimento do primeiro, para, em Novembro de 1972, novamente serem reconhecidos ambos os movimentos, tendo em vista a sua união. A legitimação da UNITA como organização anticolonialista pela OUA só se viria a verificar nas vésperas do Acordo

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de Alvor (1974). Em 1964, a OUA reconheceu o PAIGC como o legítimo representante da Guiné-Bissau e CaboVerde, bem como a Frelimo para Moçambique, em 1965.Afora a questão portuguesa, a OUA ainda se esforçou por afastar a intervenção das potências externas durante aguerra da secessão do Catanga (1960-65), a declaração unilateral da independência da Rodésia (1966-1979) e oconflito de Biafra (1967-1970).

O fim da guerra

Hastear da bandeira da Guiné-Bissau após o arrear da bandeiraportuguesa, em Canjadude (1974).

O 25 de Abril de 1974, planeado e executado pormilitares dos três ramos das Forças ArmadasPortuguesas, uma nova geração de oficiais de baixa emédia patente, formada e criada na guerra, queaprendera a agir com autonomia, levantaria, sob adirecção do MFA, um período revolucionário quetransformaria radicalmente o Estado e a sociedade.Embora inúmeros factores tenham contribuído para arevolução, a Guerra Colonial foi, desde sempre,apontada como a principal justificação para a quedairrevogável do Estado Novo em Portugal.

O Programa do MFA, da responsabilidade da suaComissão Coordenadora apresentava, de formainequívoca, a vontade de possibilitar a independênciadas colónias. Porém, a remoção desta alínea, negociadadurante a noite de 25 para 26 de Abril, levantaria aindaalguns equívocos a respeito, que só seriam esclarecidospela Lei 7/74 de 27 de Julho. Esta medida levantaria grande parte da cortina que separava o Estado Português deconseguir negociações com os movimentos de libertação. Dava-se assim início ao processo de descolonização.

Porém, a ambiguidade das primeiras posições relativas à nova política colonial gerou situações duvidosas que nãopuderam ser ultrapassadas sem graves desentendimentos. Cada redefinição do processo representava uma dura lutaentre António de Spínola e a Comissão Coordenadora do Programa do MFA. Os dois projectos apresentados paraessa nova política diferiam, sobretudo, nas questões ligadas com as futuras relações de Portugal com as colónias;mesmo os pontos concordantes seriam rapidamente submetidos perante a prova prática da realidade, o que exigiu, namaioria das vezes, a sua revisão. Assim, com o esclarecimento pela Lei 7/74, e posterior comunicado conjuntoPortugal-ONU, publicado a 4 de Agosto, eram levantadas as últimas dúvidas, dando início à fase definitiva dadescolonização.

Iniciaram-se as negociações com o PAIGC e com a Frelimo, que levaram à assinatura de protocolos de acordo. EmArgel, a 26 de Agosto ficava concluído o processo entre Portugal e o PAIGC, em que a ex-colónia era reconhecidacomo estado soberano, sob o nome de «República da Guiné-Bissau». O último contingente militar regressou daGuiné em 15 de Outubro.Relativamente a Moçambique, seria assinado a 7 de Setembro, em Lusaka, um acordo conducente à independênciamoçambicana. Contudo, grupos organizados, num movimento contrário ao acordo, assaltaram as instalações daRádio Clube de Moçambique, em Lourenço Marques e outras cidades, e seus emissores regionais, sugerindo aintervenção da África do Sul. Esta tentativa desestabilizadora do processo de paz viria a fracassar, sob a acção dasForças Armadas Portuguesas.Relativamente a São Tomé e Príncipe e Guiné Portuguesa, foi assinado o Acordo de Argel em 26 de Novembro de1974.

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Quanto a Cabo Verde, o acordo entre Portugal e o PAIGC já estabelecia o princípio do acesso deste arquipélago àautodeterminação e independência. Em 17 de Dezembro seria publicado o Estatuto Constitucional de Cabo Verde,prevendo eleições por sufrágio directo e universal, a 30 de Junho de 1975. A assembleia instituída a partir daíproclamou a independência do território a 5 de Julho de 1975.Quanto a Angola, a aproximação dos três movimentos de libertação constituía uma dificuldade para o governoportuguês. Com efeito, pairava a possibilidade do alargamento de um confronto entre os países ocidentais, a Áfricado Sul e a União Soviética. Spínola reunir-se-ia ainda com Mobutu, com alguma continuidade, mas viria a demitir-sedo cargo a 30 de Setembro. Com Costa Gomes na Presidência da República Portuguesa, desenvolveram-seconversações dirigidas especificamente a cada um dos movimentos. Inicialmente, com a FNLA, posteriormente como MPLA. Porém, as várias tentativas de restabelecer a paz em Angola e minimizar o impacto da descolonizaçãoseriam deitadas por terra rapidamente. A guerra civil arruinou a serenidade deste processo, agravando a situaçãointerna, com milhares de vítimas e a fuga dos portugueses.Também em Timor-Leste se verificou um período dramático, já que as autoridades portuguesas não tinham comodispor de capacidade para normalizar os conflitos, acabando a Indonésia por invadir a ilha.Em suma, as condições oferecidas pelo novo regime para a descolonização, reconfigurou a situação no continenteafricano, com a criação de novos países independentes em busca dos seus próprios rumos e afirmação nacional, oque iria contribuir para o desmantelamento do Apartheid na África do Sul.

Consequências

Custos financeiros

Evolução das despesas extraordinárias das Forças ArmadasPortuguesas e do Estado.

O Orçamento e as contas do Estado Português, aolongo das décadas de 1960 e seguinte reflectiramclaramente o esforço financeiro exigido ao país durantea guerra. Obviamente, as despesas com a DefesaNacional sofreram crescentes aumentos a partir de1961, com o despoletar dos sucessivos conflitos emÁfrica. Estas despesas com as Forças Armadasclassificavam-se, para efeito orçamental, comoordinárias (DO), de carácter normal e permanente, eextraordinárias (DE), respeitantes à defesa da ordempública em circunstâncias excepcionais. A parcela maisimportante das DE, os gastos com as provínciasultramarinas, inscrevia-se no Orçamento, na rubricaForças Militares Extraordinárias no Ultramar(OFMEU). É interessante verificar que as despesas totais do Estado sofrem incremento acentuado a partir de1967/68, coincidindo com a subida ao poder de Marcelo Caetano.

As dificuldades orçamentais encontradas pelas Forças Armadas Portuguesas levaram o Exército a estudar o customínimo para as forças em campanha (OFMEU), concluindo que o custo diário médio de um combatente era, em1965, de 165 ESC para a Guiné, 115 ESC para Angola e 125 ESC para Moçambique. Por ano, equivalia, portanto, acerca de 42000 ESC, de onde se derivou a fórmula V = 42n (sendo n o número de homens).

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Os veteranos de guerra• De origem Portuguesa

Foram também vítimas da guerra os soldados que nela participaram, tornando-se uma das faces mais visíveis dasconsequências do conflito. Não obstante, os hospitais militares tornaram-se simultaneamente, para estes, um refúgioe um depósito onde a sociedade mantinha longe da vista os corpos amputados. Nem o Código de Inválidos de 1929,que visava dar um estatuto de reconhecimento e assistência aos feridos na I Guerra Mundial, evitou que ficassem namiséria, sem direito a assistência médica ou quaisquer regalias sociais.

Monumento aos Combatentes da Guerra do Ultramar, em Lisboa.

É também neste contexto que o 25 de Abril de 1974mostra uma luz de esperança, ao ser instituída aAssociação dos Deficientes das Forças Armadas(ADFA) que teve como primeiro acto a apresentação àJunta de Salvação Nacional de um conjunto deprincípios reivindicativos, que possibilitavam aprestação de serviços de apoio aos associados, desde osprocessos burocráticos e administrativos, aos cuidadosde saúde, reabilitação física e integração social. Estaassociação conta com mais de 13 500 associados,ilustrando perfeitamente as necessidades sentidas pelosferidos de guerra. No entanto, alguns levantamentosestatísticos efectuados pela ADFA apontam a marca

para os 25 milhares, durante todos os 13 anos de guerra. Em relação ao stress de guerra, a ADFA estima númerosbastante superiores aos apontados pelas fontes oficiais (560).

• De origem Guineense

Na ex-Guiné Portuguesa, uma parte dos que combateram pelo lado do governo de Portugal contra o PAIGC, eramsoldados ou milícias naturais do próprio território. Após a independência, a grande maioria desses combatentesforam abandonados à sua sorte em consequência de várias circunstâncias entre as quais a falta de definição do seuestatuto nos acordos assinados entre as forças beligerantes e à falta de capacidade de resolução de tantos problemasem simultâneo pelos novos governantes de Portugal durante a Revolução dos Cravos.A principal consequência desses factos foi a sua perseguição e assassinato pelos seus antigos inimigos. Estima-seque tenham sido assassinados sumariamente milhares de ex-combatentes, havendo quem avance com números naordem dos onze mil.

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O 10 de Junho

Desfile militar por ocasião do Dia de Portugal, na avenida marginal de Luanda.

O regime aproveitou a data quaseesquecida do 10 de Junho, que detinhauma conotação como o Dia da Raça,entretanto desactualizada, paratransformá-la num grande evento deapoio à política colonial, sob pretextode homenagear os heróis que asuportavam na frente de combate. Odia 10 de Junho passaria, assim, acarregar consigo uma identificaçãopróxima com a defesa do regime e dascolónias, enquanto as Forças Armadaseram chamadas para a demonstraçãodo poderio militar português.

A primeira das celebrações realizou-seem 1963, no Terreiro do Paço, emLisboa, para condecorar combatentes. Este modelo seguir-se-ia, com ligeiras alterações, até 1973: formatura geraldos três ramos das Forças Armadas, dispondo os alunos do Colégio Militar e do Instituto Militar dos Pupilos doExército, seguidos dos cadetes da Escola Naval e da Academia Militar. Segundo o Diário de Notícias, edição de 12de Junho desse primeiro ano, «quatro mil homens descansavam as mãos nas armas de guerra. Em volta, umamultidão silenciosa. A memória dos combatentes do Ultramar impunha respeito».

As cerimónias de condecoração de militares no 10 de Junho celebravam-se também nas regiões militaresmetropolitanas, no Porto, Tomar, Évora, Funchal e Ponta Delgada, presididas pelos respectivos comandantes, bemcomo nas capitais dos teatros de operações, Bissau, Luanda e Lourenço Marques, presididas pelos respectivosgovernadores.Com a Revolução do 25 de Abril de 1974, o dia passar-se-ia a designar como Dia de Camões, Portugal e dasComunidades Portuguesas.

Nas artes

No cinemaNo cinema português, a Guerra do Ultramar, ao contrário do verificado em outros períodos marcados pelascircunstâncias político-militares, não teve uma incidência directa, quer em actualidades, quer em reportagens, pordois motivos principais: a influência da censura e a posterior importância da televisão. Em contrapartida, odocumentarismo mereceu um expressivo incremento nos países africanos envolvidos, especialmente Angola eMoçambique. Por outro lado, a Guerra Colonial reflectiu-se, desde meados da década de 1960, na área ficcional dacinematografia lusitana, explorando sobretudo os conflitos individuais. Destacam-se, a título de exemplo, umdocumentário longo, em 70 mm, produzido pelo Serviço de Informação Pública das Forças Armadas, Angola naGuerra e no Progresso (1971, Quirino Simões), baseado em Aquelas Longas Horas, de Manuel Barão da Cunha,com uma síntese dos acontecimentos de 1961 e a subversão do Leste a partir de 1967.Após o 25 de Abril de 1974 e o levantamento da censura política, a produção cinematográfica alterava substancialmente o teor das produções, agora mais voltado para a exposição do pós-guerra. Produzido para a RTP, Adeus, até ao Meu Regresso (1974, António-Pedro Vasconcelos) narrava alguns casos significativos entre os milhares de soldados que combatiam na Guiné, a propósito das mensagens de Natal para as famílias; Incompleto

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ficou O Último Soldado (1979, Jorge Alves da Silva), sobre as dificuldades de readaptação conjugal e social de umoficial pára-quedista (João Perry) de regresso a Portugal; La Vitta e Bella (1979, Grigori Tchoukrai), umaco-produção luso-ítalo-soviética, filmada em Lisboa, sobre um taxista, ex-aviador militar que, durante a guerra deAngola, recusara abrir fogo e afundar um barco com mulheres e crianças; em Actos dos Feitos da Guiné (1980),Fernando Matos Silva, argumento com Margarida Gouveia Fernandes, encena, em forma de teatro de crítica, arelação histórica do colonialismo português e seus heróis, com excertos filmados na Guiné, em 1969-70; A Culpa(1980, António Vitorino d'Almeida), narra a obsessão de um ex-combatente da guerra da Guiné (Sinde Filipe); EmGestos & Fragmentos - Ensaios sobre os Militares e o Poder (1982, Alberto Seixas Santos), Otelo Saraiva deCarvalho descreve o percurso, seu e dos seus camaradas do Movimento dos Capitães, que levou o país da GuerraColonial ao golpe de estado do 25 de Abril; Um Adeus Português (1985), João Botelho e Leonor Pinhão evocam umincidente com uma patrulha que se perde no mato, com a morte de um furriel; Era Uma Vez um Alferes (1987, LuísFilipe Rocha), sobre a obra de Mário de Carvalho, produzido para a RTP, reconstitui um episódio em África, em queum alferes português pisa uma mina, que rebentará quando ele levantar o pé; Non ou a Vã Glória de Mandar (1990,Manoel de Oliveira), uma reflexão sobre a identidade da pátria por parte de alguns soldados, no final da Guerra,pouco antes do 25 de Abril, ilustrada desde o início de Portugal como nação independente.

Na literaturaAo contrário da repercussão literária portuguesa em outras ocasiões belicistas, a Guerra Colonial contribuiusignificativamente para a produção portuguesa. Com cerca de 60 romances em que é tema, e outros 200 em que ésubtema, a literatura sobre os acontecimentos formam a única corrente de fundo centrada sobre a guerra. Tambémaqui, a dualidade do suporte versus oposição ao império só seria manifestada abertamente após a Revolução dosCravos. Com efeito, as produções tenderam a dramatizar a culpa e assumiram um carácter anti-heróico,antimilitarista e auto-punitivo, como é o caso de Jornada de África de Manuel Alegre, em oposição à produçãoliterária dos africanos lusófonos relativa à sua guerra de libertação. Entre as excepções a estas obras contam-se: AVida Verdadeira de Domingos Xavier ou Nós, os do Maculusu, de José Luandino Vieira, As Lágrimas e o Vento, deManuel dos Santos Lima, Mayombe, de Pepetela (todos romances angolanos), Angola, Angolé, Angolema, deArlindo Barbeitos, os sete contos compilados em Nós Matámos o Cão Tinhoso, do moçambicano Luís BernardoHonwana. Um exemplo marcante da literatura imparcial portuguesa foi a obra de António Lobo Antunes, em Os Cusde Judas ou em Fado Alexandrino.Noutro contexto, a literatura técnica sobre a arte militar conheceu também importantes publicações sobre aexperiência de combate por parte de fuzileiros, comandos, desertores e elementos dos corpos auxiliares.Na poesia, Couto Viana, Bação Leal, Assis Pacheco preenchem a lacuna; no drama, Fernando Dacosta, n'Um Jeepem Segunda Mão; nos documentários, o diário Jornal de Campanha de Liberto Cruz; no romancismo, a prosa deJuana Ruas ou o romance Morte em Combate, de António Silveira.

Ver também• Commons• Cronologia da Guerra Colonial• História militar da Guerra do Ultramar

• Lista de operações militares da Guerra do Ultramar• Lista de equipamento militar utilizado na Guerra do Ultramar• Lista de unidades militares envolvidas na Guerra do Ultramar• Dispositivo militar português ao longo da Guerra do Ultramar• Bases aéreas portuguesas no Ultramar

• História da descolonização de África• Lista de movimentos de libertação

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• Lista de pessoas que participaram na guerra colonial portuguesa

Ligações externas• Extensa compilação de informações sobre a Guerra Colonial [2] (em português)• Subsídios para a história da guerra colonial > Guiné (1963-1974) [3] (em português)• Fórum dedicado aos antigos combatentes [4] (em português)• Fórum de antigos combatentes [5] (em português)• Compilação com muito material e informações [6] (em português)

Bibliografia• BECKET, Ian et all., A Guerra no Mundo, Guerras e Guerrilhas desde 1945, Lisboa, Verbo, 1983;• MARQUES, A. H. de Oliveira, História de Portugal, 6ª ed., Lisboa, Palas Editora, Vol. III, 1981;• MATTOSO, José, História Contemporânea de Portugal, Lisboa, Amigos do Livro, 1985, «Estado Novo», Vol. II

e «25 de Abril», vol. único;• MATTOSO, José, História de Portugal, Lisboa, Ediclube, 1993, vols. XIII e XIV;• MAXWELL, Kenneth, O império derrotado, São Paulo, Companhia das Letras, 2006;• REIS, António, Portugal Contemporâneo, Lisboa, Alfa, Vol. V, 1989;• ROSAS, Fernando e BRITO, J. M. Brandão, Dicionário de História do Estado Novo, Venda Nova, Bertrand

Editora, 2 vols. 1996;• Vários autores, Guerra Colonial, edição do Diário de Notícias• Jornal do Exército, Lisboa, Estado-Maior do Exército

Referências[1] Hélio Felgas, Guerra na Guiné, Lisboa, 1967, pp. 60-68.[2] http:/ / guerracolonial. home. sapo. pt/[3] http:/ / blogueforanadaevaotres. blogspot. com/[4] http:/ / excombatente. awardspace. com/[5] http:/ / ultramar. terraweb. biz/[6] http:/ / www. guerracolonial. org/

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Fontes e editores do artigo 14

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