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A GESTÃO SOCIAL E A INCLUSÃO PRODUTIVA: Limites e Possibilidades da Ação do Fórum Pró-Trabalho das Pessoas com Deficiência e Reabilitadas MARIA CRISTINA ABREU DOMINGOS REIS Belo Horizonte 2012 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

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A GESTÃO SOCIAL E A INCLUSÃO PRODUTIVA:

Limites e Possibilidades da Ação do Fórum Pró-Trabalho

das Pessoas com Deficiência e Reabilitadas

MARIA CRISTINA ABREU DOMINGOS REIS

Belo Horizonte

2012

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL,

EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

MARIA CRISTINA ABREU DOMINGOS REIS

A GESTÃO SOCIAL E A INCLUSÃO PRODUTIVA:

Limites e Possibilidades da Ação do Fórum Pró-Trabalho

das Pessoas com Deficiência e Reabilitadas

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre. Área de Concentração: Inovações Sociais, Educação e Desenvolvimento Local. Linha de Pesquisa: Processos Políticos Sociais, Articulações Institucionais e Desenvolvimento Local. Orientador: Prof. Dr. Frederico Luiz Barbosa de Melo.

Belo Horizonte

Centro Universitário UNA

2012

R375g Reis, Maria Cristina Abreu Domingos

A gestão social e a inclusão produtiva: limites e possibilidades da ação do

fórum pró-trabalho das pessoas com deficiência e reabilitadas. / Maria Cristina

Abreu Domingos Reis. – 2012.

134f.: il.

Orientadora: Prof. Dr. Frederico Luiz Barbosa de Melo.

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2012. Programa de

Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local.

Bibliografia f. 113-119.

1. Deficientes - emprego. 2. Educação. I. Melo, Frederico Luiz Barbosa de. II.

Centro Universitário UNA. III. Título.

CDU: 658.114.8

A Deus,

muito presente em minha vida,

que me deu força e muita luz para persistir,

quando tudo parecia desacreditado;

Aos meus amados filhos, Luiza e Fernando,

que com carinho, atenção, amor e paciência

me apoiaram incondicionalmente,

resistindo às muitas ausências e carências;

E, de maneira especial, à minha maravilhosa e guerreira mãe,

Olga Celso de Abreu,

que quase completando um século de idade,

com toda garra e determinação, no desejo de agraciar a vida,

luta bravamente para presenciar este momento.

Por fim, ao meu grande orientador,

Frederico Luiz Barbosa de Melo,

pela dedicação, entusiasmo, companheirismo,

que de maneira incondicional

sempre me fez acreditar em minha capacidade.

A vocês, meus queridos e eternos, dedico esta vitória!

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me iluminar e dar forças nesse percurso que parecia

interminável.

Ao professor e orientador Frederico Melo, pela tranquilidade, sabedoria e

confiança nos momentos mais difíceis desse percurso.

Ao meu pai, Vicente Trindade Domingos, sempre presente em minha

memória e lembrança, e ao meu irmão, Euler, pela sua especial e incondicional

parceria, amizade e carinho. E às minhas irmãs, Marilia, Lidiana e Fátima, por

entenderem minha ausência das reuniões familiares e dos cuidados à nossa mãe.

Ao eterno amigo, Secretário de Direitos Humanos e colega de trabalho,

João Batista de Oliveira, que me ensinou a ter paixão pela garantia dos direitos

humanos.

Ao meu grande amigo, Leonardo Mattos, grande líder do movimento,

minha referência na luta pelos direitos das pessoas com deficiência e na maneira

de conviver com a diversidade.

Aos colegas do mestrado, pelos momentos de alegria, parceria,

cumplicidade e, em especial, às colegas que me auxiliaram na efetiva disposição

em me ajudar: Juliana, Andréa, Roberta.

Em especial, agradeço às professoras Rosalina, Matilde, Lucília, Helô

Santos, Heloisa Cabral Aloísio e Áurea, que com extremo profissionalismo nos

fazem sentir orgulho de nossa formação.

E com imenso carinho aos meus fiéis amigos e amigas, que no dia-a-dia,

na sua singularidade, me fazem um ser humano melhor: Dalva Anjos, Rosangela

Villaça, Rita Silami, Alette Barone, Fátima Pádua, Fátima Brites e Toninho.

Ao Secretário, Zito Vieira, e colegas da Secretaria Municipal de Esporte de

Belo Horizonte, pelo apoio.

Especialmente ao querido Walter Ude, companheiro de todas as horas,

que envidou esforços para que eu tivesse tranquilidade para desenvolver este

trabalho.

E a todas as pessoas com deficiência ou não, que direta ou indiretamente

contribuíram para nossas lutas e para que este estudo se concretizasse, o meu

eterno obrigada!

"A voz e vozes que entoam e ecoam de seus

participantes carregados de emoções, pensamentos,

desejos, etc. são falas que estiveram caladas e

passaram a se expressar por algum motivo

impulsionador (carência socioeconômica, direito

individual ou coletivo usurpado ou negado, projeto de

mudança, demanda não atendida). Ao se expressarem,

os atores/sujeitos dos processos de aprendizagem

articulam o universo de saberes disponíveis, passados

e presentes, no esforço de pensar/ elaborar/ reelaborar

sobre a realidade em que vivem. Os códigos culturais

são acionados e afloram-se as emoções contidas na

subjetividade de cada um”.

(Gohn, 2011).

RESUMO

Este estudo analisou o processo da gestão social e atuação de um fórum participativo. Para tal, pesquisou um fórum intersetorial, não instituído por lei, que visa promover um processo que garanta o cumprimento da Lei de Cotas referente ao emprego de pessoas com deficiência (PCDs) no mercado de trabalho, o Fórum Pró-Trabalho das Pessoas com Deficiência e Reabilitadas (FPT), com atuação na região metropolitana de Belo Horizonte. O objetivo do trabalho constituiu-se em analisar a dinâmica da gestão social, em particular a forma de participação de seus integrantes, indicando possibilidades e limites de sua atuação no contexto da inserção produtiva das PCDs. Utilizou-se a abordagem qualitativa, realizando observação participante,, análise documental do regimento e das atas (de 2008 a 2010), por meio do software Atlas TI, e entrevista semiestruturada com seis participantes e um egresso do fórum. A literatura analisada indicou que há uma tendência a se enfatizar o aspecto quantitativo em detrimento da qualidade do tipo de inserção produtiva realizada. No âmbito da gestão social do FPT, verificou-se que o segmento governamental ocupa maior participação nos debates, conforme registrado nas atas analisadas. Por sua vez, os representantes das empresas apresentaram menor participação ativa, dedicando-se mais a colher informações úteis ao cumprimento da Lei de Cotas. E, curiosamente, as PCDs demonstraram baixo nível de interlocução na tessitura das propostas a serem encaminhadas. Além disso, percebeu-se que o FPT não realiza processos de monitoramento e avaliação quanto ao tipo de inserção produtiva no mundo do trabalho. Isso sugere que ainda prevalecem práticas que podem ser classificadas como procedimentos de inclusão marginal e que a atuação do FPT não se orienta pela concepção de “inclusão produtiva”. Da análise das entrevistas, constatou-se que existem visões diferenciadas sobre os princípios e a finalidade do FPT, mas que ele representa importante lugar de promoção, aprendizagem e instrumentalização para seus participantes. Os participantes compartilham o interesse em defendê-lo como espaço democrático e de articulação de redes, ainda que vejam dificuldades no seu funcionamento (coordenação autoritária para uns, comunicação manipulada para outros, a excessiva dedicação à constituição do Portal da Inclusão e a absorção do Fórum pelo Estado ainda para outros). Identificou-se necessidade de pesquisas que investiguem a qualidade das oportunidades de trabalho para as PCDs, bem como criação de outros espaços sistemáticos entre a sociedade civil e o poder público com características e valores teórico-conceituais da gestão social. Como resultado, foi produzido um instrumento de avaliação da gestão social e da participação em grupos, fóruns, conselhos e colegiados por meio de indicadores. Palavras-chave: Gestão Social. Participação. Inclusão Produtiva. PCD. Lei de Cotas.

ABSTRACT

This study examined the process of social management and performance of a participatory forum. To this end, it investigated the Pro-Labor Forum of People with Disabilities and Rehabilitated (PLF), an inter sectorial, not imposed by law, forum, operating in the metropolitan region of Belo Horizonte and created to promote a process that ensures compliance of the Quota Law relating to employment of people with disabilities (PWD) in the labor market. The aim of this study was to analyze the dynamics of social management, in particular the form of participation of its members, indicating possibilities and limits of its action in the context of productive insertion of PWD. A qualitative approach was applied, by means of participant observation, documentary analysis of the regiment and minutes (2008-2010), through the Atlas TI software, and semi structured interviews with six participants and a person that used to join the forum. The literature reviewed indicated that there is a tendency to emphasize the quantitative aspect to the detriment of the quality of the type of productive insertion performed. Within the social management of PLF, it was found that the segment government occupies greater participation in the debates, as recorded in the minutes analyzed. In turn, representatives of business were less active, devoting themselves more to gather relevant information to the fulfillment of the Quota Law. And, curiously, PWD showed a low level of dialogue in the building of proposals to be forwarded. Furthermore, the study found that the PLF does not perform monitoring and evaluation procedures in the type of productive insertion in the work world. This suggests that still prevail practices that can be classified as marginal inclusion and shows that the performance of the PLF is not guided by the concept of "productive inclusion". The analysis of the interviews demonstrated that there are different views on the principles and purpose of PLF, but it represents an important place for promotion, learning and instrumentation for its participants. Participants share a common interest in defending it as a democratic space for the articulation of networks, although they see difficulties in its operation (authoritative coordination for some of them, communication manipulated for others, excessive dedication to the “Portal of Inclusion” and absorption of the PLF by State still for others). The study identified the need for research to investigate the quality of job opportunities for PWD and the usefulness of the creation of other organizations by civil society and government, together, with characteristics and theoretical and conceptual values of social management. As a result, assessment tools of the quality of social management and participation in groups, forums, councils and collegiate, by means of indicators, have been produced. Keywords: Social management. Participation. Productive inclusion. PWD. Quota Law.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura

FIGURA 1 - Linha do tempo do Fórum Pró-Trabalho.................................... 75

Gráficos

GRÁFICO 1 - Número de atas localizadas do fórum - Belo Horizonte -

2000-2010.................................................................................................

69

GRÁFICO 2 - Vocalizações por segmento..................................................... 79

GRÁFICO 3 - Capacidade de proposição...................................................... 80

GRÁFICO 4 - Capacidade de ter suas propostas transformadas em

decisões....................................................................................................

81

GRÁFICO 5 - Assuntos e temáticas por segmentos...................................... 82

Quadros

QUADRO 1 – Gestão social em construção.................................................. 36

QUADRO 2 – Perfil dos participantes ativos do FPT entrevistados............... 84

QUADRO 3 – Referencial com opiniões dos entrevistados com referência

aos princípios, função e papel do FPT.....................................................

91

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Número de empregados com deficiência declarados e

esperados pela Lei de Cotas segundo tamanho e natureza de

empresas - Brasil – 2009..........................................................................

62

TABELA 2 - Número de empregados com deficiência declarados e

esperados pela Lei de Cotas, segundo tamanho e natureza de

empresas - Minas Gerais – 2009..............................................................

63

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFT Auditores Fiscais do Trabalho

BPC Benefício de Prestação Continuada

CAADE Coordenadoria de Apoio e Assistência à Pessoa Deficiente

CIF Classificação Internacional de Funcionalidade

CONADE Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência

CORDE Coordenadoria Nacional para a Integração de Pessoas Portadoras

de Deficiência

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos

Socioeconômicos

FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

FPT Fórum Pró-Trabalho

GS Gestão social

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IEL Instituto Euvaldo Lodi

INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

IP Instituições Participativas

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MDS Ministério do Desenvolvimento Social

MP Ministério Público

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

OMS Organização Mundial de Saúde

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

OSC Organização da Sociedade Civil

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PCD Pessoa com deficiência

PNE Portador de Necessidades Especiais

PPD Pessoa Portadora de Deficiência

RAIS Relação Anual de Informações Sociais

SEADE Secretaria de Estado da Administração

SEDESE Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social

SRTE Superintendência Regional do Trabalho

TI Tecnologia da Informação

SUMÁRIO1

1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 14

2 GESTÃO SOCIAL E INCLUSÃO PRODUTIVA: ALGUMAS

CONSIDERAÇÕES........................................................................................

26

2.1 Gestão social: muitos conceitos e muitas práticas.................................. 28

2.2 Da exclusão para a inclusão.................................................................... 38

2.3 Alguns aspectos da legislação nacional................................................... 45

2.4 Alguns outros obstáculos à inclusão........................................................ 50

2.5 As ações afirmativas, a Convenção da ONU e o trabalho....................... 52

2.6 Quem são as pessoas com deficiência no mercado de trabalho

brasileiro.........................................................................................................

57

3 METODOLOGIA.......................................................................................... 66

3.1 Cenário da investigação........................................................................... 68

3.2 O FPT na linha do tempo......................................................................... 72

4 A INCLUSÃO PRODUTIVA E A GESTÃO SOCIAL NO FPT: O QUE

DIZEM OS DOCUMENTOS E OS ENTREVISTADOS..................................

75

4.1 O que diz o regimento.............................................................................. 75

4.2 Participação e temáticas: o que dizem as atas........................................ 79

4.3 As entrevistas e o que elas informam...................................................... 83

4.3.1 Primeiro eixo - limites e possibilidades da inclusão produtiva na

dinâmica do FPT: refletindo sobre as multivisões..........................................

85

4.3.1 Segundo eixo: a gestão social e os desafios no FPT........................... 89

4.3.1.1 Princípios, função social e papel dos fóruns...................................... 90

4.3.1.2 Os temas em debate o foco na rede de inclusão............................... 95

4.3.1.2 A dinâmica das reuniões e plenárias................................................. 97

4.3.1.3 Algumas tensões e crises evidenciadas no FPT................................ 101

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortográficas aprovadas pelo Acordo

Ortográfico assinado entre os países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), em vigor no Brasil desde 2009. E foi formatado de acordo com a ABNT NBR 14724 de 17.04.2011.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 104

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 113

APÊNDICES E ANEXO.................................................................................. 120

16

1 INTRODUÇÃO

A conhecida Lei de Cotas (Lei nº 8.213/91), que determina o emprego de pessoas

com deficiência (PCDs) de acordo com o número de trabalhadores da empresa, já

conta com mais de duas décadas de vigência no Brasil (BRASIL, 1991a). Ainda

assim, há, de um lado, empresas que não atendem os requisitos legais e, de

outro, PCDs com interesse e disponibilidade para se empregar e que se

encontram sem emprego, ou seja, que estão desempregadas. Constata-se,

portanto, que somente a vigência do preceito legal não é suficiente para promover

a inserção laboral e, menos ainda, a inclusão social plena e virtuosa desse

segmento populacional.

A inclusão produtiva de PCD, ou seja, a inclusão social por meio do trabalho

regular, remunerado, socialmente reconhecido e legal e sindicalmente protegido

pode ser mais eficazmente promovida por meio de fóruns de gestão social (GS).

A GS pode representar instância e processos concretos que viabilizem a

efetivação das políticas inclusivas e a conquista de mudanças na sociedade, que

vão além do prescrito em normas legais, mas em que, sobretudo, prevaleçam os

interesses sociais de garantia da diversidade, da participação e do bem comum.

Em que pese, porém, o alto número de entidades e fóruns de defesa dos

interesses de PCD e de promoção do seu emprego, não se conhece os limites e

os avanços da atuação desses grupos.

Este estudo se propõe a pesquisar uma organização de defesa dos direitos à

ocupação remunerada das PCDs, conforme a Convenção sobre os Direitos das

Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2010):

[...] aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais em interação com diversas barreiras podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2010, p.22)

2.

2 Neste texto, será utilizada preferencialmente a expressão “pessoas com deficiência” (e a sigla

correspondente, PCD) porque tal é a denominação atualmente adotada pelas organizações representativas dos sujeitos assim identificados e na mencionada Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU). No passado, entretanto, outras terminologias foram utilizadas, como

17

A inserção produtiva desse segmento representa uma questão de direitos

humanos. Para Marx (1979), o trabalho como atividade define a existência

humana, sendo uma necessidade natural do homem em relação à natureza.

Inserção no mercado de trabalho ou inserção produtiva, citando Fidalgo e

Machado (2000), entende-se como sendo a “forma e resultado do processo de se

introduzir, se relacionar, se integrar ao meio social, conhecido como mercado de

trabalho. A inserção no mercado de trabalho apresenta formas estratificadas de

qualidade muito variável” (FIDALGO; MACHADO, 2000, p. 188).

Nesse aspecto, esse conceito contribui em nosso estudo para demonstrar que a

inserção produtiva acontece de várias maneiras, propiciando adjetivamente

qualidades diversas no tipo de inserção realizada.

Todavia, como ponto de partida, na perspectiva da inclusão social torna-se mais

adequado utilizar o conceito de inclusão produtiva estabelecido pelo Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), segundo o qual:

Compreende-se como inclusão produtiva todo processo conducente à formação de cidadãos integrados ao mundo pelo trabalho e tem como perspectiva a conquista de autonomia para uma vida digna sustentada por parte de todas as pessoas apartadas ou fragilmente vinculadas à produção de renda e riqueza (BRASIL, 2011a).

O tema mais geral do trabalho e emprego de PCD constitui-se em uma temática

atual de âmbito nacional e internacional. Levando-se em conta a Convenção

sobre os Direitos das PCDs, em sua versão comentada (BRASIL, 2008), é

conveniente afirmar que:

“pessoas com necessidades especiais” ou “pessoas portadoras de deficiência”. Eventualmente, tais termos poderão aparecer no presente trabalho, em citações de outros autores ou de normas legais.

18

Em síntese, a legislação brasileira em favor da pessoa com deficiência no trabalho, é a seguinte: artigo 7º, XXXI, da Constituição Federal, que proíbe discriminação para admissão e remuneração em razão de deficiência, o artigo 37, também da Constituição, que no inciso VIII garante reserva de vagas na administração direta e indireta, além da legislação ordinária expressa pela Lei 7853/89, que assegura no artigo 2º uma política de acesso ao emprego público e privado; a Lei 8112/90, que estabelece a reserva de 5 a 20% dos cargos da administração direta e indireta a pessoas com deficiência; a Lei 8213/91, que no artigo 93 fixa cotas de 2 a 5% de emprego para pessoas habilitadas ou reabilitadas nas empresas com mais de 100 empregados; e finalmente, o Decreto 3298/99 que regulamenta as leis anteriores; além do Decreto 5.296/04, que regulamenta as Leis 10.048 e 10.098, ambas de 2000, para o transporte público adaptado e remoção de barreiras arquitetônicas (BRASIL, 2008, p. 114).

Todavia, não se deve ignorar que existe um abismo entre o que a legislação

preconiza e a realidade apresentada. Nesse aspecto, Batista (2004) afirma que:

[...] as PCDs que estiverem amparadas pelo ordenamento jurídico e mesmo que sejam crescentes movimentos relativos à sua inclusão, é notável a distância entre a promessa igualitária, acenada pela lei, e a realidade cotidiana das desigualdades e discriminações. Existe uma grande defasagem entre o ideal contido na legislação e a realidade (BATISTA, 2004, p. 1).

Dessa maneira, tendo em vista esse arcabouço legal e seus impactos na

sociedade e nas empresas, esta pesquisa pretendeu analisar como um fórum

intersetorial participativo se organiza para promover um processo que garanta a

sua finalidade, do ponto de vista da gestão social e da inclusão produtiva. Esse

estudo também subsidiou a elaboração de um instrumento de avaliação de fóruns

e processos da gestão social.

Para atingir esse objetivo, foi necessário conhecer a legislação e as implicações

pertinentes à inserção produtiva das PCDs com vistas a confrontar os conteúdos

das temáticas discutidas pelos participantes do Fórum Pró-Trabalho da Pessoa

com Deficiência e Reabilitada (FPT)3. Cabe ressaltar que também foi importante

identificar elementos do funcionamento, princípios e organização do FPT,

3 Deliberado em plenária ordinária, a nomenclatura “reabilitada” foi adicionada à identidade do FPT

de PCD, por sugestão dos representantes do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) participantes do Fórum, uma vez que o artigo 93 da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991 refere-se a trabalhadores habilitados e reabilitados (BRASIL, 1991a). Entende-se por reabilitada a pessoa que passou por processo orientado a possibilitar que adquira a partir da identificação de suas potencialidades laborativas o nível suficiente de desenvolvimento profissional para reingresso no mercado de trabalho e participação na vida comunitária (Decreto nº3. 298/99 – BRASIL, 1999).

19

congruentes com a concepção da gestão social e, sobretudo, investigar registros

e ações.

Foi investigado o FPT, que é uma organização de iniciativa da sociedade civil em

parceria com o poder público, com 12 anos de atuação e com a finalidade de unir

esforços de instituições implicadas com a promoção da inserção produtiva de

PCD na região metropolitana de Belo Horizonte.

O FPT constitui um espaço de participação voluntária, não institucionalizado

legalmente, sem recursos regulares, com adesão de instituições e de órgãos

responsáveis pela fiscalização da Lei 8.213/91: Ministério Público do Trabalho,

Superintendências Regionais do Trabalho, assim como sindicatos, universidades,

entidades e instituições públicas e privadas, inclusive empresas. A partir desses

aspectos, foi necessário buscar diversos autores que pesquisam o tema gestão

social, bem como conhecer aspectos que constituem a inserção produtiva.

Investigando e analisando o funcionamento do FPT, foi possível chegar a

algumas das principais dimensões no campo da GS, visando subsidiar, por um

lado, processos participativos de gestão e, por outro lado, ações dedicadas à

promoção da ocupação das PCDs no mercado de trabalho na perspectiva da

inclusão produtiva.

Este estudo buscou analisar, por meio da investigação do FPT (fórum não

instituído em lei), a dinâmica da GS em processo, em particular a forma de

participação de seus integrantes, indicando limites e possibilidades de sua

atuação no contexto da inserção produtiva das PCDs, marcado pela Lei de Cotas.

A relevância deste trabalho de pesquisa revela-se, assim, tanto na reflexão sobre

limites e possibilidades da atuação de um fórum de GS quanto na investigação

sobre princípios que orientam as práticas voltadas para promover a ocupação

econômica de PCD.

A revisão bibliográfica realizada revela que predomina a concepção de que uma

única definição relativa à gestão social se mostra, ainda, inconclusiva. Apesar de

20

existirem muitos conceitos de gestão social, adota-se nesta pesquisa o seguinte

conceito, retirado de Gondim, Fischer e Melo (2006, p. 48):

[...] um ato relacional capaz de dirigir e regular processos por meio da mobilização ampla de atores na tomada de decisão (agir comunicativo), que resulte de parcerias intra e interorganizacionais, valorizando as estruturas descentralizadas e participativas, tendo como norte o equilíbrio entre a racionalidade instrumental (com relação a fins) e a racionalidade substantiva (em relação a valores), para alcançar, enfim, um bem coletivamente planejado, viável e sustentável a médio e longo prazo.

Esse conceito retrata os mecanismos de mobilização correspondentes ao modo

de gerenciamento por meio da GS, os quais contemplam aspectos fundamentais

de um processo de construção coletiva baseado na participação pautada na

condição relacional dos atores.

Esses sujeitos da ação, articulados em parcerias intersetoriais, produzem um

processo de empoderamento, como salienta Gohn (2001), ou seja, tornam-se

força social da participação da comunidade, pela capacidade de produzir ou

causar práticas de desenvolvimento autossustentável, para se atingir

determinadas finalidades, mediante articulação societária.

Nessa direção, a Constituição Brasileira de 1988 garante a participação da

sociedade civil no controle público da sociedade sobre as ações dos governos,

possibilitando a efetivação de espaços públicos de debate.

A conquista desses espaços foi importante para promover a participação de

atores sociais em processos de discussão, desenvolvimento e avaliação de

políticas públicas. Buscando entender melhor esses efeitos democratizantes

vigentes na sociedade atual, pode-se analisar a participação em três etapas, de

acordo com as considerações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

(IPEA) (SILVA; DEBONI, 2012). A primeira etapa destaca a participação como um

valor em si, ou seja, a atenção central da análise estava nos processos

participativos de institucionalização ainda incipientes e muitas vezes espontâneos

da sociedade civil, vistos como positivos em função do caráter intrinsecamente

burocrático do Estado e de seu afastamento da sociedade.

21

Já a segunda etapa fundamenta-se em análises empíricas sobre o funcionamento

das Instituições Participativas (IP), consolidadas, identificando aspectos negativos

no que se refere aos pressupostos da primeira fase, tais como predomínio de

poder de agenda do governo em relação à sociedade civil, bem como presença

de linguagem demasiadamente técnica nas reuniões e alijamento de segmentos.

A terceira fase, ou seja, a mais recente, não ignora esses processos de

consolidação das instituições participativas. Busca, entretanto, objetivos mais

realistas e sutis.

Neste sentido, trata-se de:

Buscar entender se e em que condições as IPs produzem resultados positivos, bem como quais seriam os resultados positivos legitimamente esperáveis das IPs em relação às políticas publicas, ao cotidiano das comunidades, à cultura política, entre outros (SILVA; DEBONI, 2012, p. 9).

A partir do que foi exposto, é possível perceber que todas essas etapas podem

ocorrer tanto em espaços de conselhos, colegiados, como em diversos fóruns

ampliados de composição trissetorial de participação da sociedade civil na gestão

de políticas e bens públicos.

Ressalta-se que este estudo tem como proposta exatamente entender as

condições de funcionamento do FPT e seus impactos na sociedade e até mesmo

na política pública. Faz isso analisando, por um lado, a participação dos sujeitos

do fórum e, por outro lado, a concepção que orienta o conjunto de práticas e

ações em busca do alcance de resultado, aqui considerado na concepção de

inclusão produtiva das PCDs.

Em meio a essas discussões, destaca-se o papel político que orienta a ação do

fórum na intenção de exercer o controle social dessa política afirmativa, em

determinado território, acompanhando e monitorando ou até mesmo avaliando a

concretude da legislação vigente.

Em se tratando dos papéis políticos e das ações de fóruns, Avritzer (2010, p. 101)

afirma que a “ação política nas sociedades contemporâneas passa a ser, cada

22

vez mais, identificada com o uso das mídias e a capacidade dos atores sociais e

políticos de influenciarem a agenda política e participarem dos debates públicos

que circunscrevem essas agendas”. O mesmo autor complementa esse

pensamento, expressando a relevância de instituições propulsoras de relações

mais democráticas e justas, como espaços reais de influência, inclusão e reforma

(AVRITZER, 2010).

É importante ressaltar que o termo participação representa um conceito central na

concepção da gestão social. Nesse âmbito, Souza (2000, p. 82) entende

participação no “sentido da criação do homem para o enfrentamento dos desafios

sociais” e que tal perspectiva se reflete em determinada realidade com a

utilização de mecanismos de conquistas sociais. Destaca, também, que

participação é um fenômeno de ampla utilização no campo coletivo, que

possibilita conjugação de esforços orientados para fins a serem alcançados e

caracterizados para o atendimento às necessidades sociais de diversos grupos.

Por outro lado, de acordo com Fischer et al. (2006), no campo da gestão social

cabe afirmar que a participação é um processo relevante interligado à

mobilização, com estreita relação na arena das ações de defesa e garantia de

direitos e controle social, associadas a questões pertinentes aos movimentos

sociais.

Entretanto, o processo de participação e mobilização não trilha caminhos lineares,

já que são marcados por momentos históricos distintos. Nas últimas décadas, por

exemplo, pode-se afirmar que este vem se alterando no bojo dos movimentos

sociais, conforme Souza (2000). Entre essas alterações, a relevante ascensão da

oposição ao poder em 1982, nos estados e municípios, levou à ocorrência de

conflitos no interior dos aparelhos estatais, no que se sucederam duas

tendências: a primeira representou a institucionalização dos movimentos, com a

consequente perda da autonomia; e o segundo fator foi a aprendizagem política

dos movimentos sociais no que diz respeito ao entendimento do funcionamento

da máquina estatal.

23

Na década de 1990, porém, o processo de participação e mobilização não

avançou com a mesma intensidade, conforme ressalta Raichelis (1998, p. 21):

A afirmação da hegemonia neoliberal no Brasil, com a redução dos direitos sociais e trabalhistas, desemprego estrutural, as diferentes formas de precarização do trabalho, o desmonte da Previdência Social pública, o sucateamento da saúde e da educação pública, o deslocamento cada vez mais da assistência social para ações compensatórias seletivas de atenção à pobreza tendem a debilitar os espaços de representação coletiva e controle social sobre o Estado, conquistas duramente consolidadas na Constituição de 1988.

Essa questão não pode ser deixada de lado, uma vez que o projeto neoliberal

afetou as populações mais vulneráveis. Todavia, não se deve desprezar as

possibilidades da aproximação dos gestores de políticas sociais com as

preocupações e demandas das camadas vulneráveis.

Esse quadro, brevemente comentado aqui, reforça o discurso presente das

parcerias e transferências das responsabilidades públicas para a iniciativa da

sociedade civil (RAICHELIS, 2007). E constitui uma nova configuração do papel

do Estado, com crescente deslocamento das responsabilidades públicas para a

comunidade, no tocante às entidades assistenciais, famílias, organizações não

governamentais (ONGs) ou entidades empresariais, por meio da filantropia

corporativa, do voluntariado e da denominada responsabilidade social.

Esse é verdadeiramente o cenário onde se instala o debate acerca da gestão

social, que no plano do desenvolvimento social também vai identificando

caminhos congruentes, bem explicitados por Fischer (2002a). Para essa autora,

gestão social refere-se a um processo de mediação social que:

Articula múltiplas escalas de poder individual e social; que trabalha a identidade de projeto, refletindo e criando pautas culturais; que coordena interorganizações eficazes; que promove ação e aprendizagem coletiva; que se comunica e difunde resultados; que presta contas à sociedade; que reavalia e recria estratégias processuais (FISCHER, 2002a, p. 12).

Nesse aspecto, pode-se inferir que atuar no locus do desenvolvimento social

envolve aspectos de transposição de posicionamento da identidade individual

para uma identidade coletiva, da organização para a interorganização. Implica

também a aprendizagem interacional como construção coletiva e a transparência

24

das ações e do uso dos recursos, em um processo de avaliação e monitoramento

constante, base para reconstruir novas estratégias.

Agregado a esses aspectos citados, pode-se adiantar que a gestão social

apresenta princípios referenciais que se baseiam na orientação participativa,

democrática e cidadã. Tais valores são reconhecidos por Maia (2005) como

pressupostos da gestão social, identificados pela autora no quadro intitulado

“Gestão social em construção”, baseado nas análises de Tenório (1998),

Carvalho4 (1999, apud MAIA, 2005), Singer5 (1999, apud MAIA, 2005), Dowbor6

(1999, apud MAIA, 2005) e Fischer (2002b).

Além disso, Gohn (2001) afirma que a diversidade do conjunto de grupos

organizados com diversos interesses, no formato de redes, torna-os atores

coletivos na dinâmica da sociedade. E afirma, ainda, que a mobilização ocorre

quando um grupo de pessoas, uma comunidade e uma sociedade decidem e

agem com objetivo comum, buscando cotidianamente os resultados desejados

por todos (TORO; WERNECK, 2007).

Percebeu-se, nas incursões pertinentes ao tema, que a gestão social possui

características próprias que ressaltam como prioridade a lógica da inclusão social.

Nesse aspecto, este estudo possui questionamentos em relação à qualidade

dessa inclusão no tocante aos modos de inserção na sociedade, do ponto de vista

econômico e social.

O trabalho em uma sociedade capitalista define a condição humana e coloca a

pessoa no bojo das representações sociais, definindo o papel e a posição do

sujeito nas relações de produção, nas relações sociais e na sociedade. Com o

ingresso no mundo do trabalho, a imagem social das PCDs frente à sociedade

4 CARVALHO, Maria do Carmo Brant. Alguns apontamentos para o debate. In: RICO, Elizabeth de

Melo; RAICHELIS, Raquel (Orgs.). Gestão social: uma questão em debate. São Paulo: Educ/IEE/PUCSP, 1999.p. 19-29. 5 SINGER, Paul. Alternativas da gestão social diante da crise do trabalho. In: RICO, Elizabeth de

Melo; RAICHELIS, Raquel (Orgs.). Gestão social: uma questão em debate. São Paulo: Educ/IEE/PUCSP, 1999.p. 55-66. 6 DOWBOR, Ladislau. A gestão social em busca de paradigma. In: RICO, Elizabeth de Melo;

RAICHELIS, Raquel (Orgs.). Gestão social: uma questão em debate. São Paulo: Educ/IEE/PUCSP, 1999.

25

passa por uma ressignificação, uma vez que as consideravam pessoas

improdutivas ou que eram tuteladas em suas capacidades de escolhas,

autossustento e participação.

Todavia, a Declaração Universal dos Direitos Humanos preconizava que toda

pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do emprego, a condições justas e

favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Essa afirmação

significa que os grupos vulneráveis deverão, necessariamente, ter a proteção e o

direito garantidos ao trabalho. Dessa maneira, o que a Declaração destaca é a

universalização de oportunidades de trabalho indistintamente a todos os seres

humanos, recebendo, portanto, igual tratamento, sem discriminação.

Para mais esclarecimento, o artigo 1º da Convenção nº 111 da Organização

Internacional do Trabalho (OIT, 2001, p.1) sobre a discriminação em matéria de

emprego e profissão define discriminação como sendo “toda distinção, exclusão

ou preferência, com base em raça, cor, sexo, religião, opinião política,

nacionalidade ou origem social, que tenha por efeito anular ou reduzir a igualdade

de oportunidade ou de tratamento no emprego ou profissão”.

Fazer com que a sociedade entenda que realmente todas as pessoas podem

trabalhar é tarefa importante para os defensores dos direitos humanos de

segunda geração7, assim como um fator preponderante para se avançar na

conquista da inclusão social.

Baseando-se nesses preceitos, sabe-se que existe ainda uma longa distância

entre o que a Declaração preconiza e a realidade vivenciada pela população

3 “Os direitos humanos, nessa concepção anterior à 2

a pós-guerra, são definidos de acordo com

um paradigma liberal, como direitos de primeira geração ligados, basicamente, à ideia de liberdade. Surgem então os direitos individuais, chamados direitos civis na tradição anglo-saxônica e os direitos políticos enquanto direitos de participação. No final do século XIX e inícios do século XX, surgem os chamados direitos de segunda geração, que seriam os direitos econômicos, sociais e culturais emanados da crítica ao modelo do capitalismo liberal clássico e desenvolvidos a partir da ideia de que, mesmo os direitos ditos de primeira geração, teriam, como condição imprescindível da sua fruição, a garantia de determinadas condições materiais mínimas que permitissem o seu adequado desfrute. E daí se parte para uma concepção mais avançada de direitos de terceira geração, ligados à ideia de um vínculo solidário entre todos os homens, tanto no plano dos estado-nacionais, quanto no plano internacional – e fala-se então em direito ao desenvolvimento, direito ao meio ambiente hígido, direitos à identidade dos povos, direito à paz, etc.” (ORTIZ, 2004, p. 13).

26

brasileira. Apesar da Convenção nº 111 datar de 1960 (BRASIL, 2011b), nesses

52 anos de existência, persiste o fator de discriminação em relação a alguns

grupos, entre eles as PCDs.

Oportuno também mencionar a Convenção nº 159 (BRASIL, 1991b), ratificada em

1990 por 71 países-membros da OIT, que aborda a readaptação profissional e

emprego de pessoas portadoras de deficiência. A Resolução considera que:

[...] a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientes, com o tema "Participação plena e Igualdade", e que um Programa de Ação Mundial, de grande porte, concernente a pessoas portadoras de deficiência, deve promover medidas eficazes, nos níveis nacional e internacional, com vista à realização dos objetivos de “plena participação” e de plena "igualdade" de pessoas portadoras de deficiência na vida social e no desenvolvimento (grifo nosso) (OIT, 2001, p. 19).

Dias e Freire (2002) especificam que tal Convenção determina que a deficiência

pode e deve ser superada por meio de uma série de medidas políticas, normas,

programas e serviços. Seguindo esse pensamento, os autores abordam que os

países que a ratificam devem:

Elaborar uma política nacional que assegure a adoção de medidas adequadas de readaptação profissional ao alcance de todas as categorias de pessoas portadoras de deficiência e a promoção de oportunidades iguais de emprego para as pessoas portadoras de deficiência no mercado regular de trabalho (DIAS; FREIRE, 2002, p. 74).

Para tentar dialogar com a temática apresentada sobre gestão social e inclusão

produtiva, pretendeu-se buscar interlocuções com os autores e obras: Martins

(1997), Sawaia et al. (1999), Fidalgo e Machado (2000), Pastore (2000), Souza

(2000), Gohn (2001), Fonseca (2008), Batista (2004), Clemente (2004), Sposati

(2004), Maia (2005), Sassaki (1999; 2005), Coordenadoria de Apoio e Assistência

à Pessoa Deficiente (CAADE/MG, 2005), Morin (1996), Lorentz (2006), Gugel

(2007), Tenório (2007), França Filho (2008), Avritzer (2010), Rigo et al. (2010),

Fischer (2010), entre outros.

Para realizar a investigação dos avanços e limites da atuação do FPT,

considerando os conceitos de GS e de inclusão produtiva, utilizaram-se

procedimentos diferentes e complementares, como análise documental e

27

entrevistas em profundidade. Foram analisados o regimento, as atas do período

de 2008 a 2010 e pautas do FPT, sendo que para a análise das atas recorreu-se

ao software Atlas-TI, programa que possibilitou que as falas dos conselheiros

fossem codificadas em indicadores. Seus participantes e um ex-participante do

FPT foram entrevistados segundo um roteiro semiestruturado. Ou seja, buscou-se

ouvir, entre os participantes do FPT, pessoas com e sem deficiência, gestores de

programas, profissionais de recursos humanos de empresas que trabalham com a

inserção das PCDs no mercado de trabalho em Organizações Governamentais e

Não Governamentais, possibilitando, assim, aproximação com os sujeitos. Além

desses instrumentos citados, também foi realizada observação participante

natural. Os resultados da análise dos documentos, das entrevistas e da

observação, apesar de apresentados neste estudo de forma separada, foram

confrontados, convergindo na reflexão contida nas considerações finais.

A partir da análise documental do regimento, das atas e pautas do FPT e também

por meio de entrevistas, acredita-se ter gerado contribuições tanto para orientar

as iniciativas na promoção da garantia de direitos das PCDs no âmbito do

trabalho, com a discussão conceitual da inclusão produtiva, quanto para avaliar

processos e instâncias da gestão social. Ao final da execução do trabalho, o

conceito de inclusão produtiva do MDS, já apresentado, foi ampliado por outras

contribuições, rediscutido e definido de modo mais concreto, além de,

eventualmente, ser mais bem especificado para se adequar à caracterização da

inserção econômica e social das PCDs.

Dessa maneira, acredita-se que tais considerações, agregadas a estudos

existentes, poderão trazer novos conhecimentos e novas maneiras de

intervenções na política de gestão de projetos societais inclusivos.

Além disso, poderá contribuir na reflexão e nas ações acerca das estratégias da

sociedade para a efetivação dos direitos do segmento das PCDs e outros

segmentos vulneráveis ao trabalho, na perspectiva da Lei de Cotas, da

participação e mobilização social.

28

2 GESTÃO SOCIAL E INCLUSÃO PRODUTIVA: ALGUMAS

CONSIDERAÇÕES

À luz da Convenção de Direitos das Pessoas com Deficiência, este item pretende

levantar algumas questões relativas à temática da inclusão dessas pessoas no

mercado de trabalho, buscando subsidiar este estudo e as instituições nas

dificuldades de promoção da gestão social voltadas para a inserção profissional

desse segmento.

O preconceito e a discriminação contra a inserção de PCD no mercado de

trabalho é muito forte e antigo. Dessa forma, impõe prejuízos à plena

consolidação dos direitos humanos. Exemplifica tal preconceito secular o relato de

Marx (1979), o qual descreve o seguinte ponto:

Citemos ainda esta passagem do relatório do inspector Leonard Horner de 31 de outubro de 1855: alguns fabricantes falaram-me com uma ligeireza indesculpável de certos acidentes, como a perda de um dedo, que consideram uma bagatela. A vida e o futuro dum operário dependem de tal maneira dos seus dedos que tal perda constitui para ele um acontecimento muito importante. Quando ouço essas palavras absurdas, pergunto: suponham vocês que igualmente competentes, mas um deles sem o polegar ou sem o indicador. Qual deles escolheria? Sem um momento de hesitação, eles escolheriam aquele que tivessem os dedos completos (MARX, 1979, p. 101).

Verifica-se ainda, no contexto atual, considerável restrição da sociedade na

absorção desse novo paradigma da inclusão ao emprego das PCDs. Esse

aspecto tem comprometido os resultados nas políticas públicas referentes a essa

questão e gerado baixa eficácia da ação afirmativa.

A pesquisa “Prevalência de incapacidades: um estudo da situação”, com base em

sete municípios de Minas Gerais, coordenada pelo superintendente da CAADE

realizada em 2005, revela que as questões vinculadas às deficiências possuem

estreita correlação com a pobreza:

29

A acessibilidade fica apenas restrita a pessoas com melhores condições financeiras, pois ainda se luta pelo essencial à sobrevivência dos pobres. A observação de pessoas vivendo em condições subumanas, arrastando-se pelo chão, sem qualquer atenção do poder público, foi fato gritante em todos os municípios pesquisados (CAADE-MG, 2005 p. 161).

Para ressaltar tal afirmação, cita-se Cury, que em 1992 afirmou: “a miséria do

sertão quando chega ao papel perde a cor, a dor e o cheiro. Faz parte do

imponderável da vida tentar transformá-la em números” (CAADE-MG, 2005, p.

161). Como assinalam Batista et al. (2000, p. 107):

Hoje o tema da INCLUSÃO permeia nosso discurso político. E este TEM que ser coerente com nossa prática, tanto em assuntos internos ao movimento como na relação com o público em geral. O PRECONCEITO e a DISCRIMINAÇÃO são conceitos não parciais. Aquele que discrimina um, discrimina todos. O conceito de INCLUSÃO é holístico e só pode ser absorvido e trabalhado em conjunto, porque trata do ser humano como todas suas diferenças e semelhanças, que lhe permitem CONVIVER socialmente. Isto implica crescimento e desenvolvimento humano e pessoal, na direção da TOLERÂNCIA, da aceitação do outro, da solidariedade e, por fim, da cooperação. Vejo que nossa geração e, principalmente, a área da deficiência tiveram o privilégio de ter ajudado a gerar novos paradigmas para o futuro, dentro do universo da diversidade.

Como lembra Sassaki (2005), há notícias de que pelo menos desde 1950 se

desenvolve a prática de colocação de PCD no mercado de trabalho e durante 30

anos um dos caminhos para a inserção profissional passava pelos centros de

reabilitação profissional. Em 1989, houve a edição do Decreto nº 3.298 (BRASIL,

1999), regulamentando a Lei nº 7.853/89 (BRASIL, 1989), o qual traz a

conceituação de deficiência e estabelece parâmentros de avaliação das

deficiências. Garcia (2010, p. 14) cita a obrigação legal das empresas:

Todavia, em que pese a obrigatoriedade legal de as empresas brasileiras, conforme seu porte, contratarem pessoas com deficiência, ainda é latente o grande descumprimento da norma legal, coexistindo, por sua vez, um enorme contigente de pessoas com deficiência que permanecem desempregadas contra a vontade.

A bibliografia examinada mostra que essa temática apresentou-se pouco

explorada pelos pesquisadores. Nesse âmbito, constata-se que ainda não se tem

uma normatização do sistema de gestão social de colocação profissional das

PCDs no mercado de trabalho. Isso sustenta a argumentação de alguns setores

30

que afirmam ser esse expediente dispendioso e exige a adoção de critérios e

especificidades que sobrecarregariam as empresas.

Diferentemente da solução almejada de inclusão das PCDs no mercado de

trabalho, destaca-se que existe um movimento empresarial visando à alteração da

referida Lei. Dessa forma, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

(FIEMG) elaborou em 2008 um estudo denominado “Lei de Cotas: um

questionamento da base de dados de portadores de necessidades especiais

(PNEs)”, no qual dizia que “este será um instrumento para reflexão, avaliação e

possível adequação da legislação vigente” (FIEMG, 2008, p. 5).

Frente a isso, as referências teóricas para este estudo estão estruturadas nos

seguintes itens: “gestão social: muitos conceitos e muitas práticas”; “da exclusão

para a inclusão”; “a legislação nacional”; “alguns outros obstáculos à inclusão”; e

“as ações afirmativas, a Convenção da ONU e o trabalho”.

2.1 Gestão social: muitos conceitos e muitas práticas

As políticas públicas são criadas e implementadas a partir de demandas dos

movimentos sociais organizados, de organizações governamentais e não

governamentais e organismos internacionais. Expressando essa característica, a

própria Constituição de 1988 trouxe benefícios à construção da democracia e das

práticas da política de direitos humanos, cidadania, controle social e participação

dos cidadãos brasileiros.

No entanto, na conjuntura configurada pelo modelo neoliberal pós-Constituição, a

inserção das políticas no cenário social enfrentou dificuldades operacionais

marcantes na gestão da sua implementação.

Tais obstáculos demarcavam-se pela lógica de um Estado Mínimo, que se

mostrou ainda menor para ações voltadas para a saúde, educação e assistência

social, precarizando e fragilizando os serviços que deveriam ser fornecidos pelo

poder público. Esse quadro gerou pseudoimplementações de propostas estatais

31

que não se efetivavam, deixando um vácuo entre o que se pregava nos discursos

governamentais e as práticas frágeis de um Estado que procurava se

desresponsabilizar da sua destinação.

Os estudos acerca da GS surgiram na década de 1990, em um momento histórico

em que também se configuram estratégias sociais como a denominada

responsabilidade social.

Assim, por um lado, a intervenção social do empresariado no Brasil, como

tentativa de resgate dos valores democráticos e, por outro lado, a

desresponsabilização do Estado e a onda (neo) liberal do “Consenso de

Washington”, na defesa de uma lógica do Estado Mínimo, do superávit primário e

da não reserva de mercado, levaram a repensar o conceito de gestão pública

(TENÓRIO, 2007).

Desde então, o debate em torno da temática da gestão social nas organizações e

na construção de políticas sociais tem sido constante e contemporâneo. A partir

daí, surgiu a concepção da GS caracterizada por gerenciamento participativo,

com orientação decisória compartilhada por diferentes sujeitos sociais (SILVA

JÚNIOR, 2008).

Na abordagem da “gestão social”, França Filho (2008, p. 29-30) concorda com

esses aspectos e descreve que:

Efetivamente, enquanto problemática da sociedade, a ideia de gestão diz respeito à gestão das demandas e necessidades do social. [...] E também vem sugerir desse modo que, para além do estado, a gestão das demandas e necessidades do social pode se dar via a própria sociedade, através das mais diversas formas e mecanismos de auto-organização, especialmente o fenômeno associativo.

França Filho (2008, p. 32), em perspectiva complementar, entende GS como

sendo:

[...] modo de gestão próprio às organizações atuando num circuito que não originariamente aquele de mercado e do Estado, muito embora estas organizações entretenham, em grande parte dos casos, relações com instituições privadas e públicas, através de variadas formas de parcerias para a consecução de projetos.

32

Os estudiosos que discutem o tema, tais como Fischer (2002a), Maia (2005),

Tenório (2007), Rigo et al. (2010) e França Filho (2008), afirmam que a GS está

associada à gestão de políticas sociais, de organizações do terceiro setor, de

combate à pobreza e, até mesmo, de gestão ambiental. Além disso, gestão social

tem alicerçada em seu bojo uma gestão democrática, participativa em um

processo gerencial dialógico.

Ainda que, conforme esse autor, não se vislumbrem os loci da GS em empresas,

as reflexões a respeito levam a considerar que as ações de responsabilidade

social das empresas poderão, em médio prazo, propiciar brechas nas

administrações mercadocêntricas, à luz de alguns aspectos da GS, na

perspectiva de buscar atender algumas demandas específicas do social.

Entretanto, considera-se que o maior desafio nessa empreitada será a quebra de

paradigma ao se tentar amalgamar processos distintos em sua concepção e

capacitar gestores.

Maia (2005), em seu estudo precisamente intitulado “Gestão social: reconhecendo

e construindo referenciais”, analisa o tema da conceituação e caracterização da

gestão social de maneira dedicada e explícita. Depois de identificar uma

diversidade de abordagens e concepções acerca de gestão social, Maia (2005, p.

10) apresenta os conceitos de gestão social de cinco autores, como descrito a

seguir:

[...] Tenório (1998), que a concebe como conjunto dos processos sociais desenvolvidos pela ação gerencial, em vista da articulação entre as suas necessidades administrativas e políticas postas pelas exigências da democracia e cidadania para a potencialização do saber e competência técnica e o poder político da população. [...] Singer (1999), por sua vez, refere que a gestão social diz respeito às ações que intervêm nas diferentes áreas da vida social para a satisfação das necessidades da população [...]. Sua perspectiva é de que a gestão social seja viabilizada através de políticas e práticas sociais articuladas e articuladoras das diversas demandas e organizações populares, universidades, entidades não governamentais e governos. Carvalho (1999) relaciona gestão social à gestão das ações públicas, viabilizadas a partir das necessidades e demandas apontadas pela população [...]. A autora dá ênfase ao protagonismo da sociedade civil, no sentido da identificação das necessidades e demandas, assim como proposição e controle de ações e políticas, a serem assumidas pelo Estado.

33

Dowbor (1999) remete a gestão social à transformação da sociedade, em que a atividade econômica passe a ser o meio e o bem-estar social o fim do desenvolvimento. Para isso, indica a necessidade da construção de um novo paradigma organizacional, a partir da redefinição da relação entre o político, o econômico e o social. [...] Fischer (2002) indica que o campo da gestão social é o campo do desenvolvimento social, que se constitui como um processo social, a partir de múltiplas origens e interesses, mediados por relações de poder, de conflito e de aprendizagem. [...] Nesta perspectiva de gestão social estão especialmente identificados como sujeitos os indivíduos, grupos e coletividades interessadas, mediados por redes ou por interorganizações.

Portanto, a GS se apresenta como um novo conceito na contemporaneidade que,

apesar das mais variadas versões, em alguns pontos estabelecem certa

convergência: todos trazem em seu bojo um modus faciendi pautado na gestão

democrática e participativa.

Nesse sentido, a etimologia do termo encontra sua congruência, “o adjetivo social

junto ao substantivo gestão, e se mostra entendido como o espaço privilegiado de

relações sociais onde todos têm direito à fala, sem nenhum tipo de coação”

(TENÓRIO, 2007, p. 10).

Buscando retratar a metodologia de ação dessa modalidade de gestão, Fischer

(2002a, p. 12) traz importantes contribuições ao destacar que gestão social “é um

campo em construção, interativo e recursivo na relação prática-teoria-prática”.

Ainda complementa que se torna importante “conhecer mais e melhor as

organizações orientadas ao desenvolvimento social, bem como mapear os perfis

de seus gestores” (FISCHER, 2002a, p. 12.) e questiona a respeito do significado

da gestão do desenvolvimento social na agenda contemporânea.

Para Fischer (2002a, p. 12), a gestão do desenvolvimento associa-se à gestão da

sociedade. Salienta que, numa primeira aproximação, a gestão do

desenvolvimento social pode ser vista como:

Um processo de mediação social

que articula múltiplas escalas de poder individual e social;

que trabalha a identidade de projeto, refletindo e criando pautas culturais;

que coordena interorganizações eficazes;

que promove ação e aprendizagem coletiva;

que se comunica e difunde resultados;

34

que presta contas à sociedade;

que reavalia e recria estratégias processuais; tendo por processo, alvo e motor o desenvolvimento, considerando dimensões tangíveis e intangíveis, objetivas e subjetivas, que conformam organizações complexas e instituições (FISCHER, 2002a, p. 12).

Por se referir aos processos do campo de mediação e à identidade do projeto em

um processo de aprendizagem coletiva, os atores sociais encontram-se, segundo

Fischer (2002b), na condição de horizontalidade diante do poder com atuação no

sentido de criar espaços de governança, sobretudo por meio de uma relação

dialógica, em que todos aprendem juntos, realizam a accountablility e,

consequentemente, constroem e reconstroem estratégicas pautas culturais.

Para vingar essa montagem, necessita da elaboração de meios e formas de

governança, com participação efetiva da sociedade envolvida, configurando um

“novo modelo de tecer o desenvolvimento social” (FISCHER, 2002b).

Importa também comentar que Fischer (2002b), ao refletir sobre questões

contundentes vinculadas à gestão do desenvolvimento social, considera-as como

sendo aquelas que se referem aos processos e paradoxos destacados em cinco

proposições, que conjugam plena sintonia no acorde da gestão social.

A primeira proposição descrita pelo autor traz a definição de desenvolvimento

social como “um processo de mediação que articula múltiplos níveis de poder

individual e social”. Nessa prática de gestão sugere-se fazer algumas indagações

importantes para serem avaliadas no campo de atuação: do que deve ser feito, o

porquê ser feito, para quem ser feito. Como pano de fundo nesse campo de

atuação, a gestão do desenvolvimento social privilegia-se do coletivo de gestores,

acrescido das devidas competências para promover as transformações,

considerando o protagonismo da participação comunitária, não tutelada.

A segunda refere-se à gestão do desenvolvimento social como um local

(organizações ou interorganizacionais) onde transitam vários conhecimentos,

práticas, percepções, interações contextualizadas no agir dos seres humanos e

onde será inevitável encontrar conflitos e tensões, espaço de construção de

conhecimento e de aprendizagens.

35

A terceira tece considerações éticas e de valores orientados pela eficácia e pela

eficiência. Indica elementos fundamentais na gestão, tais como: fluidez, agilidade,

inovação, sustentabilidade, mapeamento de necessidades, delineamento de

estratégias, desenvolvimento de planos, gestão de recursos humanos ou

financeiros (escassos ou não), promoção da comunicação, divulgação de

resultados, construindo, portanto, a identidade e a imagem da organização,

prestando contas e avaliando resultados.

A quarta envolve a gestão de redes e das relações sociais, que são influenciadas

pelas características das pessoas e/ou gestores de acordo com suas

subjetividades.

A quinta faz considerações aos aspectos culturais, uma vez que a gestão do

desenvolvimento social e seus gestores trazem em seu conteúdo as construções

das identidades culturais.

Tais proposições servem de referência para fazer uma aproximação metodológica

quanto ao desejo de gestores na adoção de políticas e processos gerenciais

horizontalizados.

No que se refere à gestão social, Tenório (2008) apresenta uma perspectiva mais

institucional, isto é, que ressalta mais o aspecto da participação social nas

definições de políticas no âmbito do Estado. Nesse sentido, destacam-se as

observações que Silva Júnior (2008) traduz de Carrion8, ao comentar o conceito

de gestão social do autor Fernando Tenório, afirmando que essa atividade se

constitui “como aquela que fomenta uma cidadania deliberativa, uma efetivação

da participação do indivíduo no espaço público através da ação direta”.

Para Tenório (2008 p.41), “[...] a legitimidade das decisões deve ter origem em

processos de discussão, orientados pelos princípios da inclusão, do pluralismo,

da igualdade participativa, da autonomia e do bem comum”.

8 CARRION, Rosinha da Silva Machado. O desafio de desenvolver competências em gestão

social: relato da exeperiência com a residÊncia solidária / UFRG, 2008.

36

O mesmo autor, quanto ao campo de atuação, afirma que o conceito de gestão

social “contrapõe-se à gestão estratégica à medida que tenta substituir a gestão

tecnocrática, monológica, por um gerenciamento mais participativo, dialógico, no

qual o processo decisório é exercido por meio de diferentes sujeitos sociais”

(TENÓRIO, 2008, p. 53).

Nessa medida, é definidor dizer que a gestão social não apresenta características

mercadocêntricas, que priorizam, na gestão, os valores econômicos em

detrimento aos valores sociais, mas, sobretudo, características que demarcam

processos sociais pedagógicos de ação que propiciem a participação com o

exercício coletivo da reflexão e da tomada de decisão na ótica da inclusão social.

Nessa perspectiva, Gohn (2001, p. 13-14) afirma que:

Ao identificar o entendimento dos processos de participação da sociedade civil e sua presença nas políticas públicas nos conduz ao entendimento do processo de democratização da sociedade brasileira; o resgate do processo de participação leva-nos, portanto, às lutas da sociedade por acesso aos direitos sociais e à cidadania. Nesse sentido, a participação é, também, luta por melhores condições de vida e pelos benefícios da civilização.

Dessa forma, pode-se dizer que tais definições elucidam o eixo maior do conceito

de gestão social e unem a defesa dessa concepção com base participativa para

boa parte dos autores consultados. Sendo assim, constitui uma gestão que se

operacionaliza no social e que tem uma posição ideológica, na qual o econômico

surge como meio, e não como um fim, e que tem enraizados os princípios

democráticos: de igualdade, de cidadania e participação social.

Para elucidar ainda mais o objeto desta pesquisa, remete-se ao estudo de Maia

(2005), que proporciona subsídios importantes para a análise do processo de

gestão do FPT, a partir de suas atas, regimentos, lista de presença, pautas e

entrevistas.

A autora analisa as concepções de gestão social sob duas perspectivas. A

primeira, que ela denomina de gestão contra o social, caracterizada pelo projeto

societário do capital; e a segunda, baseada no desenvolvimento da cidadania. A

37

partir de subtemas caracterizadores do processo de gestão social, Maia (2005, p.

11) apresenta os elementos de análise e as respectivas categorias relevantes

para investigar as concepções e as práticas de gestão social:

a) Valores (axiologia): princípios referenciais que inspiram e dão direção às construções teórico-práticas da gestão social;

b) propósitos (teleologia): finalidades ou intencionalidades para onde se quer chegar com a gestão social;

c) focos (epistemologia): referências teóricas que dão sustentação à perspectiva explicativa e propositiva da gestão social;

d) agentes (ontologia): pessoas e organizações que protagonizam o processo da gestão social;

e) locus e metodologia (praxiologia): o locus delimita o território ou o campo de viabilização da gestão social. A metodologia constitui-se do caminho, das ideias e dos instrumentos balizadores para a viabilização da gestão social.

Em seguida, Maia (2005, p. 12) elabora um quadro com a síntese das

concepções dos autores por ela estudados segundo suas próprias categorias,

como visto a seguir:

38

QUADRO 1 - Gestão social em construção

Autor Categoria

TENÓRIO SINGER CARVALHO DOWBOR FISCHER

Valores Democracia Cidadania Convívio resp. diferença

Vida Democracia Trabalho

Direitos de cidadania Equidade

Justiça Bem-estar social Desenv. humano Democracia

Ética da responsabilidade Democracia

Propó-sitos

Implementar processos sociais para ação gerencial em vista da democracia e cidadania

Desenvolver ações para o enfrentamento às necessidades da população a partir do trabalho e renda.

Realizar ações sociais públicas para responder as demandas das necessidades da população

Transformar o desenvolvimento atividade econômica como meio e bem-estar social, fim do desenvolvimento

Gerir processos sociais ou processos de desenv. social com relações de poder, conflito e aprendizagem

Focos Administração Administração Pública Política Ciências sociais

Economia Administração política Ciências sociais Associativismo/ Cooperativismo/ autogestão

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Economia Administração ciência política teorias da educação ciências sociais Ciência jurídica Ciência tecnológica Paradigma em construção

Ciências sociais e Políticas, teoria organiz, pesquisa social História, Psicol. Administração Teorias do des. Proposta pré-paradigmática epistemológica e praxiológica

Locus Organizações governamentais e políticas públicas

Políticas econômicas Governos/ Estado Organização de trabalhadores

Projetos, programas e políticas sociais, Sociedade Estado, Redes

Políticas públicas Organizações estatais empresariais e da sociedade civil

Espaço local Organizações Interorganizações Redes

Agentes Trabalhadores da administração pública, População

Organizações populares ONGs Universidades Governos

Sociedade civil/população usuária Estado, nas diferentes esferas

Empresários administradores públicos, políticos, ONGs, sindicatos, pesquisadores, movimentos sociais, universidades representantes comunitários

Indivíduo, grupos e coletividades, Estado, mercado e sociedade civil

Metodo-logia

Processos sociais: articulação entre os atores; técnicas de gestão

Economia solidária e outras estratégias autogestionárias Políticas públicas

Gestão em rede Empoderamento parceria Controle Projetos e programas sociais Governança

Intersetorialidade Transparência

Governança Política integrada e coerente Empoderamento Articulação entre social e econômico O público privado, o Estado o mercado e a sociedade civil Descentralização Negociação Publicização

Processos sociais mediações, poder, conflito e educaç. Governança Planejamento local e transescalares Financiamento Redes: ações individuais e coletivas Organizações de aprendizagem Construção de identidade e legitimidade e efetividade social

Fonte: Maia (2005, p. 12).

39

As práticas relatadas na literatura a respeito de gestão social indicam que existe

uma tendência a destacar mais o seu conteúdo social e a prática de cada um

desses processos do que a definição em si mesma, conforme também define

França Filho (2008).

Nesse aspecto, entende-se que a gestão tem a ver principalmente com a prática

vivenciada pelos atores sociais, baseada nos pressupostos democráticos que a

sustentam - fator preponderante de sua caracterização.

Ao avaliar essas distintas perspectivas, compreende-se que se trata de um

conceito que não se apresenta pronto, completo, fixo e acabado. Diante disso,

compartilha-se com a concepção de Silva Júnior (2008), o qual destaca que

representa:

[...] um conceito em construção, emergente e inovador – como uma dimensão das organizações e práticas sociais que articula diferentes variáveis, como: interações e relações de confiança; aprendizagem e conhecimento, pessoas e tecnologias; cultura e comportamento organizacional; cooperação, domesticidade e redistribuição (SILVA JÚNIOR, 2008, p. 24).

Diante da revisão realizada, constata-se que gestão social representa uma ideia

polissêmica. Contudo, perante esta pesquisa será adotado o referencial

construído pelo estudo de Maia (2005, p. 15-16), a qual cria o seu próprio

conceito de gestão social:

Assim, compreendemos gestão social como um conjunto de processos sociais com potencial viabilizador do desenvolvimento societário emancipatório e transformador. É fundada nos valores, práticas e formação da democracia e da cidadania, em vista do enfrentamento às expressões da questão social, da garantia dos direitos humanos universais e da afirmação dos interesses e espaços públicos como padrões de uma nova civilidade. Construção realizada em pactuação democrática, nos âmbitos local, nacional e mundial; entre os agentes das esferas da sociedade civil, sociedade política e da economia, com efetiva participação dos cidadãos historicamente excluídos dos processos de distribuição das riquezas e do poder. Estes referenciais apontam a práxis da gestão social, enquanto mediação para a cidadania, que se contrapõe à perspectiva instrumental e mercantil que vem sendo dada a este tema.

De todo modo, essa conceituação aproxima-se de algo contíguo à utopia que

deve ser construída historicamente pelos sujeitos sociais, por meio das

40

possibilidades de um estado democrático de direito. Tal questão é parte

integrante das conquistas para a cidadania plena e participativa.

Mediante isso, a pesquisadora também procura referenciar o estudo de Gondim,

Fischer e Melo (2006, p. 48), que entendem gestão social como:

[...] um ato relacional capaz de dirigir e regular processos por meio da mobilização ampla de atores na tomada de decisão (agir comunicativo), que resulte de parcerias intra e interorganizacionais, valorizando as estruturas descentralizadas e participativas, tendo como norte o equilíbrio entre a racionalidade instrumental (com relação a fins) e a racionalidade substantiva (com relação a valores), para alcançar, enfim, um bem coletivamente planejado, viável e sustentável a médio e longo

prazo.

Esse ato, no aspecto da participação e da mobilização, traduz as demandas e

necessidades de grupos que, por meio de parcerias, redes e das relações intra e

extraorganizacionais de gestão social, pautam seus objetivos comuns no alcance

da inclusão social e sustentável.

Ainda no que se refere à questão da participação em conselhos, tal como fóruns,

outro aspecto diz respeito à qualidade dessa participação, ressaltando a natureza

de articulação entre Estado e sociedade e a tradução de participar em deliberar

sobre políticas públicas (AVRITZER, 2010, p. 139). Ou seja, é necessário avaliar

o quanto da teoria democrática deliberativa de representação se estabelece nas

experiências concretas.

Como o FPT dedica-se a promover ações voltadas para a inserção de PCD no

mercado de trabalho, torna-se importante estudar como as sociedades lidaram e

lidam com esses seres humanos.

2.2 Da exclusão para a inclusão

A exclusão, que envolve diferentes processos produtores de preconceito e de

segregação aos direitos e à cidadania das PCDs, não fez parte da agenda das

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políticas públicas no Brasil e no mundo, apesar de as PCD terem os mesmos

direitos das pessoas sem deficiência.

Como descreve Sassaki (1999), a inclusão social das PCDs é um movimento

mundial que se intensificou no Brasil e no mundo a partir da década de 90, tendo

a ver com a mudança de entendimento do ponto de vista social, legal, ético,

educacional, cultural e dos direitos humanos sobre a diferença e a deficiência.

No Brasil, esse processo se materializa com os movimentos organizados “de” e

“para” PCDs que buscam a defesa dos seus direitos nos mais diferentes setores

da sociedade.

Ressalta-se, também, que a “imagem social positiva”9 que se constrói quanto à

condição de vida dessas pessoas, o avanço das “ajudas técnicas ou tecnologias

assistivas”10, os marcos legais e a democracia participativa instituída no país

foram pontos fortes nessa ressignificação.

A trajetória histórica dessa temática permite identificar quatro estágios

diferenciados em relação à forma como as PCDs eram vistas e tratadas na

sociedade. Nesse contexto, Sassaki (1999, p. 16) explica que:

A sociedade, em todas as culturas atravessou diversas fases no que se refere às práticas sociais. Ela começou praticando a exclusão social de pessoas que – por causa das condições atípicas – não lhe pareciam pertencer à maioria da população. Em seguida, desenvolveu o atendimento segregado dentro das instituições, passou para a prática da integração social e, recentemente, adotou a filosofia da inclusão social para modificar os sistemas sociais gerais.

Embora se tenha certa clareza de que a história não seja linear e evidencie

retrocessos, recuos e avanços, pode-se falar de momentos diferenciados, que

vão desde a inclusão marginal (MARTINS, 1997) ou abandono dessas pessoas,

até diferentes tentativas de inserção social e cidadã. Assim, durante longo período

9 Imagem social positiva: termo utilizado nos movimentos sociais.

10 Tecnologia assistiva ou ajudas técnicas: elementos que permitem compensar uma ou mais

limitações funcionais motoras, sensoriais ou mentais da pessoa com deficiência, com objetivo de lhe permitir superar as barreiras da comunicação e da mobilidade e de possibilitar sua plena inclusão social (BRASIL, 2009a).

42

predominou o padrão da exclusão. De acordo com Sawaia et al. (1999, p. 9), a

exclusão apresenta:

[...] processo complexo e multifacetado, uma configuração de dimensões materiais, políticas, relacionais e subjetivas. É um processo sutil e dialético, pois só existe em relação à inclusão como parte constitutiva dela. Não é uma coisa ou estado, é processo que envolve o homem por inteiro e suas relações com os outros. Não tem uma única forma e não é uma falha do sistema, devendo ser combatida como algo que perturba a ordem social, ao contrário, ela é produto do funcionamento do sistema.

Em determinadas culturas “arcaicas”, era comum o hábito de abandonar idosos,

doentes e deficientes, como uma prática que eliminava pessoas com deficiências

físicas e mentais para que não acompanhassem o grupo na luta.

Outra atitude verificada diante dessas pessoas foi o cuidado e a proteção,

caracterizado como fase da segregação. Nesse aspecto, Aranha (2003, p. 15-16)

apresenta os seguintes comentários relativos à segregação:

Esse paradigma constituiu prática corrente e corriqueira, em nossa realidade, até a década de 1980, momento em que se iniciou a crítica à instituição e a rejeição da exclusão de minorias diversas. Os efeitos das mudanças nas políticas de saúde após 1964 começaram a se fazer visíveis, abrindo caminho para o paradigma de serviços. A mudança de valores e de ação passou a se manifestar pela quase segregação, representada pela mudança de natureza das instituições já existentes ou pela criação de novas entidades, agora de prestação de serviços.

Em seguida, do ponto de vista analítico, emerge a fase nomeada de integração

social, na qual imperava o tratamento por meio de centros de reabilitação,

procurando prepará-las para se integrar à comunidade.

Esse padrão, então, caracteriza-se como modelo médico de caráter funcionalista.

E nesse sentido e âmbito, Sassaki (1999, p. 43) esclarece que:

Algumas pessoas utilizam as palavras integração e inclusão, já em conformidade com a moderna terminologia da inclusão social, ou seja, com sentidos distintos – a integração significando “inserção da pessoa deficiente preparada para conviver na sociedade” e a inclusão significado “modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa com necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer a cidadania”.

43

Contudo, pelo menos como ideal a ser alcançado, na última década vem se

consolidando o quarto modelo, o da inclusão social e da garantia de direitos,

indicando principalmente a superação das dificuldades que cercam as pessoas

com deficiência. Nesse sentido, o mesmo autor conceitua o quarto modelo como

[...] “a inclusão social como o processo pelo qual a sociedade se adapta para

poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades

especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na

sociedade” (SASSAKI, 1999, p. 41).

Ressalta-se que o modelo da sociedade inclusiva foi lançado em 1981 pela ONU,

quando realizou o Ano Internacional das Pessoas com Deficiência. Nessa época

oficializou-se o reconhecimento dos direitos das PCDs.

Na sequência, destacam-se a proposta da Década das Nações Unidas para as

Pessoas Portadoras de Deficiência (1983-1992), a Declaração de Salamanca

(1994) e, em 1997, a Conferência Internacional Uma Sociedade para Todos:

Inclusão – Participação, realizada na Noruega.

Por outro lado, mesmo no que se refere às denominações apostas às PCDs,

podem-se observar formas de segregação. Em distintas culturas se verificam

várias denominações em relação à PCD. Em geral, foram nomeados por termos

desqualificantes, tais como: mancos, pernetas, ceguinhos, descapacitados,

pessoa especial, minorado, deficiente, inválidos e excepcionais, inclusive no meio

acadêmico, contribuindo negativamente para a imagem e a representação desses

sujeitos.

A busca dos significados, dos conceitos e a discordância da terminologia faziam

com que os movimentos sociais indicassem, claramente, como a visão da

sociedade era permeada de conceitos baseados no senso comum.

A partir de 22 de fevereiro de 2011, entretanto, o Conselho Nacional dos Direitos

da Pessoa com Deficiência (CONADE), por meio da Resolução nº 1, de 15 de

outubro de 2010, publicada em 22 de fevereiro de 2011 (BRASIL, 2011c),

recomendou oficialmente a substituição da expressão "pessoas portadoras de

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deficiência" por "pessoas com deficiência", consagrando uma decisão que já

vinha sendo consolidada desde o final da década de 1990.

Apesar dos conceitos de normalidade e anormalidade frequentemente utilizados,

poucas pessoas conseguem claramente indicar os limites do que é normal ou

anormal, em distintas culturas. Telford e Sawrey (1988, p. 24) fazem uma

importante explanação sobre esses conceitos e destacam os seguintes pontos:

O que é normal e o que é anormal no comportamento e desenvolvimento humano? O que determina se um indivíduo é comum ou incomum, normal ou excepcional? Excepcionalidade e anormalidade são conceitos populares, com significados variáveis. Exceto enquanto definidos operacionalmente para alguns fins administrativos ou de pesquisa, terão sempre que ser compreendidos no contexto social específico em que são empregados.

A mesma imprecisão dos significados também imperava nas questões sociais,

não só no que se refere a esse segmento, mas também a outros, tais como:

menor infrator, portador de doenças, entre outros. Rotulações e estigmatizações

são fatores preponderantes para que haja discriminação por meio dos

mecanismos de linguagem utilizados e que podem produzir significados diversos

com dimensões distorcidas da realidade, levando a uma esteriotipia do sujeito,

conforme citado a seguir:

[...] a categorização e a estereotipização das pessoas são traços universais da intenção social. Os estereótipos têm sido genericamente considerados como males a serem erradicados e são usualmente retratados como "imagens mentais" incorretas, que distorcem a percepção e alimentam relações sociais distorcidas entre as pessoas. As categorias sociais e os estereótipos podem impedir a percepção e conhecimento do outro como indivíduo singular, a ser avaliado por seus méritos, como fica ilustrado pelas profecias autocumpridoras (TELFORD; SAWREY, 1988, p. 62- 63).

Entretanto, com a Constituição de 1988 e com o processo democrático que

ocorreu no país, paulatinamente os movimentos sociais e a disposição da

sociedade foram direcionados para a construção de uma sociedade igualitária,

equânime e mais justa para todos.

No processo de inserção da PCD na sociedade, modelos integrativos – em que

apenas a pessoa se esforça para ser inserida na sociedade – não contemplam

45

satisfatoriamente os direitos das PCDs, uma vez que a integração pouco ou nada

exige da sociedade quanto à mudança de atitudes, de espaços físicos e de

objetos, ou mesmo de práticas sociais.

Segundo Sassaki (1999), essa integração resulta de esforços de indivíduos, não

de transformações sociais, pois ocorrem:

Pela inserção pura e simples daquelas pessoas com deficiência que conseguiram ou conseguem, por méritos pessoais e profissionais próprios, utilizar os espaços físicos e sociais, bem como seus programas e serviços, sem nenhuma modificação por parte da sociedade, ou seja, da escola comum, da empresa comum, do clube comum, etc. (SASSAKI, 1999, p. 34).

Nesse modelo, a sociedade não se propõe como parceira da PCD, no sentido de

acolhê-la e de criar-lhe condições, tendo em vista suas características,

necessidades e especificidades. Parte-se de uma visão isolacionista (MORIN,

1996) que concebe o indivíduo desconexo da sociedade.

Assim, o conceito de PCDs se ressignifica à luz da inclusão e da diversidade

como processo social. Mostra que a deficiência não está na pessoa, mas,

sobretudo, nas relações sociais e na capacidade de a sociedade se preparar para

acolher essas pessoas e principalmente proporcionar-lhes acessibilidade para a

construção de uma sociedade para todos, independentemente da identidade de

gênero, orientação sexual, raça, etnia, origem, religião, condição de saúde física,

mental, condição econômica e de classe social. Conforme a Convenção sobre os

Direitos das Pessoas com Deficiência, versão comentada (BRASIL, 2008, p. 47),

todo tipo de preconceito deve ser erradicado:

É urgente a erradicação tanto do preconceito quanto do tratamento especial existente para essa parte da população, devendo prevalecer à igualdade. Para isso, é preciso discutir, apresentar e combater os estereótipos, as práticas nocivas em relação às pessoas com deficiência, em todos os espaços da vida. Para ilustrar, em muitos casos é preciso reafirmar que o problema é a porta estreita, a presença da escada, a falta de audiodescrição ou legenda oculta e não a presença daquela pessoa com deficiência.

Conforme Lafer (1998 apud CORRÊA, 2002), na abordagem de Arendt, “a

condição humana básica – o direito a ter direitos – significa pertencer, pelo

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vínculo da cidadania, a algum tipo de comunidade juridicamente organizada e

viver numa estrutura em que se é julgado por ações e opiniões, por obra do

princípio da legalidade” (LAFER, 1998 apud CORRÊA, 2002, p. 219).

Essas reflexões e reivindicações indicam que as pessoas realmente devem ter

direito a ter direitos. Embora muitos deles ainda não tenham sido garantidos,

caminhos estão sendo trilhados e conquistados, sinalizando a promoção, a

garantia e mesmo a prospecção desses mesmos direitos a: saúde, educação,

trabalho e emprego, lazer, cultura, padrão de vida, proteção social, esporte,

acessibilidade, habitação, transporte, privacidade, acesso à justiça, à segurança e

à informação, enfim, às condições de igualdade e não discriminação e qualidade

de vida independente para uma sobrevivência digna, decente e, sobretudo,

inclusiva.

Nessa perspectiva, faz-se necessário um novo modelo que, conforme Sassaki

(1999, p. 17), corresponde ao:

[...] modelo social da deficiência, segundo o qual os problemas da pessoa com deficiência não estão nela tanto quanto estão na sociedade, pois é na sociedade que existem os verdadeiros problemas como, por exemplo: os preconceitos que rejeitam a minoria e todas as formas de diferenças, os ambientes físicos restritivos, os discutíveis padrões de normalidade, os objetos e outros bens fisicamente inacessíveis, os pré-requisitos destinados apenas à maioria aparentemente homogênea, a quase total desinformação sobre as deficiências e sobre os direitos e as práticas discriminatórias em praticamente todos os setores da atividade humana.

Contudo, a prática social da autora tem demonstrado obstáculos na

implementação dessa percepção do problema e é, nesse sentido, que nesta

pesquisa se propôs a discutir os limites e as possibilidades de um fórum de

entidades públicas e privadas dedicado a subsidiar o emprego de PCD, portanto,

com atuação relacionada à política de cotas.

Levando em consideração esses padrões ou estágios da abordagem social das

PCDs, brevemente assinalados, remete-se à discussão para a legislação nacional

recente, lembrando que tais normas legais assentam-se nos modelos de

integração e de inclusão social, da classificação de Sassaki (1999). A estrutura

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legal e normativa condiciona e, no caso de alguns atores, até mesmo impulsiona

à participação no FPT. Daí a necessidade de se conhecer minimamente o

arcabouço legal do Brasil no que se refere à PCD.

2.3 Alguns aspectos da legislação nacional

Muitas foram as leis e normas que demarcaram os direitos, as garantias e a

visibilidade das PCDs. Entretanto, destaca-se entre elas a Lei nº 7.853, de 24 de

outubro de 1989 (BRASIL, 1989), denominada Política Nacional para as Pessoas

com Deficiência. Ela foi o principal documento orientador da “integração social”

desse grupo no Brasil e importante ponto de partida na defesa dos direitos das

PCDs. Nesse documento são estabelecidas as normas que asseguram os direitos

individuais e sociais, reconhecimento da igualdade de tratamento e oportunidade,

da justiça social e do respeito à dignidade da pessoa humana. Esses valores,

questões contundentes para a garantia de cidadania plena das PCDs, passam a

ser asseguradas em Lei.

Do ponto de vista legal, possibilita-se a instalação de um novo paradigma,

alçando as PCDs de incapacitados e desprovidos de direitos para o patamar de

sujeitos de direitos. Além disso, por essa lei, a Coordenadoria Nacional para a

Integração de Pessoas Portadoras de Deficiência (CORDE) institui a tutela

jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a

atuação do Ministério Público (MP) e define crimes. Abordando as diversas

políticas públicas necessárias para o segmento, destaca-se que essa foi a lei que

reconheceu, às pessoas deficientes, o possível e tão almejado status de cidadão.

Tal legislação apresenta as possibilidades de apoio às PCDs e sua integração

social, ainda que hoje esse conceito esteja ultrapassado e não mais seja válido.

Tal razão justifica-se por ter esse modelo vigorado durante as décadas em que se

trabalhava em uma perspectiva de inclusão marginal ou precária.

48

No contexto da legislação nacional, outra lei que também foi um divisor de águas

na política das PCDs no Brasil foi o Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1989

(BRASIL, 1999), que regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989

(BRASIL, 1989), e expõe sobre a Política Nacional de Integração da Pessoa com

Deficiência, bem como consolida as normas de proteção.

Esse decreto de fato contribuiu para impulsionar as ações de colocação

profissional da PCD no país e, como consequência, pressionou os órgãos

competentes de fiscalização a assumirem de forma mais contundente a

responsabilidade fiscalizadora de suas ações. Todavia, a prática social tem

demonstrado lacunas na efetivação desses direitos, como se pretende discutir

neste trabalho.

Já o artigo 93 da Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 (BRASIL, 1991a) estabelece

que:

“A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção: I - até 200 empregados....................................................................2%; II - de 201 a 500...............................................................................3%; III - de 501 a 1.000...........................................................................4%; IV - de 1.001 em diante. ..................................................................5%. § 1º A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante. § 2º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social deverá gerar estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por reabilitados e deficientes habilitados, fornecendo-as, quando solicitadas, aos sindicatos ou entidades representativas dos empregados” (BRASIL, 1991a).

Apesar de datar de 1991, a chamada “Lei de Cotas” permaneceu em larga

medida letra morta até a edição do Decreto nº 3.298/1999.

O Benefício de Prestação Continuada, denominado BPC, foi instituído por meio

da Lei nº 8.742/93 (BRASIL, 1993) e disciplinou a assistência social às pessoas

idosas e às pessoas com deficiência. Segundo Sposati (2004, p. 79-80):

49

A Lei nº 8.742/93 disciplinou a assistência social e, em especial, o denominado Benefício de Prestação Continuda, destinado às pessoas idosas e às portadoras de deficiência, na forma que especifica. A natureza jurídica de benefício assistencial impõe que aquele que o recebe não tenha direito a nenhum outro benefício previdenciário, e, em caso de seu falecimento, não haverá direitos à pensão por morte ou auxílio-funeral, prestações que têm natureza previdenciária. E mais, sua natureza jurídica não impede o beneficiário de receber assistência médica no âmbito da seguridade social. A própria Lei nº 8.742/93 e o decreto que regulamentou definem o que seja família, bem como pessoa portadora de deficiência, famílias incapazes de prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa. O artigo 20 da referida lei criou duas condições para o recebimento do benefício: para as pessoas com deficiência exigiu que comprovassem a incapacidade para a vida independente e para o trabalho. E para ambos – idosos e portadores de deficiência – estipulou que só tem direito aquele que comprovar renda per capita familiar inferior a um quarto do salário mínimo. A comprovação da idade não acarreta grandes dificuldades. Já com relação à prova da deficiência, a Lei nº 8.742/93 e o decreto que a regulamentou fixaram que o interessado será submetido a uma avaliação por equipe médica, da qual deverá resultar um laudo, que será o documento comprobatório da deficiência.

A autora também afirma que “[...] sua natureza jurídica não impede o beneficiário

de receber assistência médica no âmbito da seguridade social” (SPOSATI, 2004,

p. 80). Ainda ressalta que, no artigo 20, a mesma lei criou condições para o

recebimento do benefício por parte das PCDs, exigindo que seja comprovada a

incapacidade para a vida independente e para o trabalho. Tanto para os idosos

quanto para as PCDs, foi estipulado comprovar renda per capita familiar inferior a

um quarto do salário mínimo.

Tal legislação deixa claro quem é de fato o beneficiário da assistência, que, a

nosso ver, estabeleceu um patamar mínimo de cobertura. Por outro lado, depara-

se com certa tensão entre a questão de receber ou não o BPC, uma vez que,

caso a PCD volte a trabalhar e ser produtiva, tal benefício deve ser cessado,

mesmo sem a garantia de que o emprego perdurará ou que outra relação de

emprego possa ser conquistada. Alguns empregadores argumentam que esse

benefício diminui ainda mais o grupo de trabalhadores disponíveis para a inclusão

produtiva.

Em 26 de janeiro de 2001, foi regulamentada a Instrução Normativa nº 20, sobre

os procedimentos a serem adotados pela fiscalização do trabalho das PCDs,

dando finalmente competência aos Auditores Fiscais do Trabalho (AFT) e

50

orientação necessária para a fiscalização do cumprimento da Lei nº 8.213/91

(BRASIL, 1991a).

Ainda vinculada à questão da inserção laboral das PCDs, o Decreto nº 3.956 de

outubro de 2001 (BRASIL, 2001) promulga a Convenção Interamericana para

Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas com

Deficiência. Esse documento representa importante instrumento que possibilita

medidas de proteção contra as mais variadas formas de preconceito e

discriminação vivenciadas por esse segmento.

Além disso, no que se refere ao princípio de reconhecer o cenário social da

deficiência e a sua especificidade, outro aparato legal relevante é o Decreto nº

5.296, de 2 de dezembro de 2004 (BRASIL, 2004), que regulamenta a Lei 10.048,

de 8 de novembro de 2000 (BRASIL, 2000a), a qual dá prioridade de atendimento

às PCDs. Junto a isso, a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 (BRASIL,

2000b), estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da

acessibilidade das PCDs ou com mobilidade reduzida.

O decreto de acessibilidade emancipa a PCD porque, por meio da acessibilidade,

o direito de ir e vir lhe é assegurado. Portanto, esse decreto tornou-se a principal

ferramenta de efetivação do proposto na Convenção sobre os Direitos da Pessoa

com Deficiência – versão comentada (2008), que ressalta a importância de meios.

[...] para que as pessoas com deficiência atinjam sua autonomia em todos os aspectos da vida, o que demonstra uma visão atualizada das especificidades dessas pessoas, que buscam participar dos meios mais usuais que a sociedade em geral utiliza para funcionar plenamente nos dias de hoje, não se reduzindo apenas ao meio físico (BRASIL, 2008, p. 50).

A Convenção sobre os Direitos das PCDs - fruto da mobilização dos movimentos

sociais desse grupo social, apoiados pela Rede Latino-Americana de ONGs de

PCD e suas famílias – traz a cabo um novo tratado temático de direitos humanos

que inclui esses sujeitos. Durante a Conferência sobre racismo em Durban, 2001,

o México adotou esses princípios de enfrentamento a ações discriminatórias

contra esse público.

51

Essa convenção foi incorporada no ordenamento jurídico brasileiro como norma

constitucional, publicada no Diário Oficial da União de 10/07/2008, por meio do

Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009 (BRASIL, 2009b), o qual determina

que seja cumprida, e traz como propósitos: “promover, proteger e assegurar o

exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades

fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito à

dignidade inerente”. A Convenção (BRASIL, 2010, p. 22) traz também um novo

conceito de quem são esses sujeitos:

[...] aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2010, p. 22).

Nesses parâmetros, observa-se que esse instrumento traz alguns avanços nas

características pertinentes à vida participativa desse segmento social. Segundo a

Convenção:

a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas, e a independência das pessoas;

b) A não discriminação; c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade; d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com

deficiência como parte da diversidade humana e da humanidade; e) A igualdade de oportunidades; f) A acessibilidade; g) A igualdade entre homem e a mulher; h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com

deficiência e pelo seu direito de preservar a sua identidade. (BRASIL, 2010, p. 22).

Esses princípios balizarão a formatação de políticas públicas no país, contribuindo

para uma visão mais responsável da sociedade que irá receber e acolher as

PCDs. Esses mesmos princípios também oferecem referências para o debate e a

construção da proposta de inclusão produtiva de PCD.

O breve percurso histórico apresentado até aqui revela que o Brasil tornou-se

signatário de uma legislação atual que não só cria novos direitos, mas, sobretudo,

reconhece o panorama social da deficiência e sua particularidade, conferindo

materialidade a um arcabouço de direitos até então negados às PCDs.

52

O modelo social da deficiência, no qual a Convenção se apoia, representa um

conceito em evolução e resulta da interação entre PCDs e as barreiras

encontradas na vida social, as quais impedem a possibilidade e efetiva

participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com

as demais pessoas.

É importante ressaltar que o processo de inclusão social das PCDs depende de

corresponsabilidade da sociedade na criação de mecanismos que facilitem a vida

da PCD em suas mais diversas características.

No entanto, a realidade se confirma de maneira distinta, já que esses sujeitos

encontram formas de “inclusão marginal”11 quanto à inserção no mundo do

trabalho.

2.4 Alguns outros obstáculos à inclusão

O processo de crescente inclusão social das PCDs não ocorre sem percalços. No

caso da inserção laboral, constata-se que existem ofertas de emprego para as

PCDs das mais diversas categorias profissionais, e que não são preenchidas.

Presencia-se, dessa maneira, acentuada exigência das empresas quanto ao nível

de escolaridade desse segmento, que viveu, e vive, a exclusão educacional

devido às mais variadas barreiras. Conforme afirma Clemente (2003, p. 61):

Todas as barreiras para atingir o mercado são formadas por fatores externos. A mais grave delas é também a que está mais diretamente envolvida com o próprio portador de deficiência: a falta de escolaridade. Grande parte das empresas exige, em seu processo de seleção, que os candidatos a qualquer cargo tenham, no mínimo, o Ensino Médio, condição que ainda não foi alcançada pela maioria das pessoas portadoras de deficiência (PPDs).

É corrente a cobrança dos empregadores quanto à qualificação desses

trabalhadores, conforme Batista (2004, p. 74) assinala:

11

Inclusão marginal: termo utilizado por José de Souza Martins (1997, p. 37).

53

No entanto, a inclusão no trabalho da pessoa portadora de deficiência possui um agravante, que é a falta de qualificação adequada. Os cursos de profissionalização, em sua maioria, foram ofertados pelas organizações da sociedade civil (OSCs) especializadas, mais uma vez para atender à demanda e à falta destes serviços pelo Estado ou pelo mercado.

O quadro histórico evidencia que os ambientes segregativos dificultaram e, em

certa medida, comprometeram a capacitação profissional desse público.

A escola, na perspectiva inclusiva, pode contribuir para a qualificação profissional

das PCDs, uma vez que o mercado se configura em quadros de competitividade

acentuada. Oliveira (2000) também destaca que:

Nesse atual contexto da globalização mundial e suas relações planetárias, em que as mudanças na base tecnológica e do processo produtivo ocorreram numa velocidade astronômica, a educação consolida-se como um vetor estratégico para o desenvolvimento dos povos. A educação torna-se, portanto, como o maior recurso que se dispõe para enfrentar essa nova estruturação mundial. Só através de uma educação de qualidade para todos poder-se-á construir uma sociedade de cidadãos produtivos, participativos e responsáveis, capazes de responder e refletir de maneira autônoma em relação à mudança dessa sociedade contemporânea (OLIVEIRA, 2000, p. 65).

Entretanto, a baixa escolaridade representa uma realidade não só das PCDs.

Assim, oportunizar cursos de qualificação e capacitação para essa população

constitui uma perspectiva favorável para a profissionalização das PCDs. Por outro

lado, deve-se considerar Pastore (2000), quando afirma que:

A educação sozinha não é garantia de emprego. Mas ela ajuda as pessoas a se empregarem, manterem-se empregadas e a mudarem de emprego. Na grande massa de desempregados da região da Grande São Paulo, onde o desemprego ultrapassou a casa dos 20% no final da década de 1990, pela metodologia do [Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos] DIEESE-SEADE, que leva em conta também a informalidade, havia apenas 3,5% de pessoas formadas em faculdade. Nessa massa, quase 50% dos desempregados não tinham completado o primeiro grau (PASTORE, 2000, p. 79).

Todavia, essa realidade de exigências de qualificação às PCDs não se apresenta

de maneira linear. Algumas empresas vêm respondendo a esse desafio e

54

realizam com sucesso alguns programas específicos, fazendo coro às práticas de

responsabilidade social empresarial12.

Segundo Lyth (1973 apud PASTORE, 2000, p. 61), “os empregadores inclinados

a contratar portadores costumam recuar quando têm de enfrentar as despesas e

os problemas gerados pelo seu emprego em ambientes de não portadores de

deficiência, e que nem sempre aceitam bem o trabalho daqueles”.

Aqui se verifica uma tensão entre o prescrito na lei e a realidade apresentada. Na

verdade, a inclusão produtiva de PCD poderá aliviar as contas da Previdência

Social, com a volta de trabalhadores acidentados reabilitados à atividade

econômica remunerada, assim como as da assistência que vem oferecendo BPCs

a cidadãos que possuem potencial para o trabalho. Em vez de serem

classificados na categoria de pessoas incapacitadas para o trabalho, e superado

o receio de perder a garantia do benefício de um salário mínimo, a PCD passaria

à condição de empregado, auferindo rendimento do trabalho.

Tais dados e análises ajudam a entender, em certa medida, como esse problema

necessita ser mais debatido e pesquisado no âmbito das políticas públicas. No

próximo item, tentar-se-á abordar a relação das ações afirmativas e da

Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência com o trabalho e a

inserção produtiva.

2.5 As ações afirmativas, a Convenção da ONU e o trabalho

O movimento internacional pela promoção dos Direitos Humanos vem envidando

esforços no sentido de criar novas condutas e incentivar o fim da discriminação.

Prática utilizada no contexto mundial, a ação afirmativa tem origem nos Estados

Unidos, nos anos 60, como tema principal na questão da igualdade com vistas à

promoção da equidade.

12

Ver Garcia (2010), por exemplo.

55

Também se encontram na literatura pesquisada designações semelhantes e afins,

tais como política de cotas, discriminação positiva, reserva de vagas, ação

compensatória, entre outros.

Nesse curso, com processo de redemocratização no Brasil, a expressão “ação

afirmativa” entra no cenário de discussões como forma de enfrentamento às

desigualdades de determinados segmentos, em consonância com os objetivos

constitucionais. Para Gugel (2007, p. 46; 47), “[...] o direito à igualdade

correlaciona a igualdade e a discriminação: ‘veda a discriminação’ quando o

resultado do ato gera tratamento desigual; ‘indica a discriminação’ para

compensar desigualdades de oportunidade e tratamento”.

Nesse sentido, Gugel (2007, p. 55) define ação afirmativa como “[...] a adoção de

medidas legais e de políticas públicas que objetivam eliminar as formas e tipos de

discriminação que limitam oportunidades de determinados grupos sociais”. Essa

definição indica a possibilidade de devolver, ou pelo menos resgatar, a condição

de igualdade inerente à pessoa humana.

No tocante às PCDs, as políticas de ações afirmativas vêm permitindo o acesso a

bens e serviços da comunidade, dos quais foram habitualmente alijadas ao longo

da história.

Uma primeira norma legal de “discriminação positiva” para o mercado de trabalho,

responsável pela reserva de vagas de postos de trabalho na administração

pública e privada, destinada às PCDs está prevista na Lei n° 7.853/89 (BRASIL,

1989), conhecida como a Lei da CORDE que estabelece, em seu art.2º.

“Ao poder público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercícios de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação e à saúde, ao trabalho, ao lazer, à Previdência Social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar, social e

econômico. [...] d) a adoção de legislação específica que discipline a reserva de mercado de trabalho, em favor das pessoas portadoras de deficiência, nas entidades da administração pública e do setor privado, e que regulamente a organização de oficinas e congêneres integradas ao mercado de trabalho, e a situação, nelas, das pessoas portadoras de deficiência”.

56

Ainda que a referida lei tenha seu atributo compensatório para as PCDs e sua

inserção produtiva, Ragazzi (2008) comenta que as normas adotadas tiveram

tímidas respostas do mercado de trabalho. Acredita-se que tal situação tenha sido

decorrente da ausência de fiscalização e de estímulos a instituições que

viabilizassem, de forma efetiva, a habilitação, reabilitação e inserção desses

indivíduos no mercado de trabalho.

Também estava pouco elucidado o conceito legal de quem era esse sujeito com

deficiência a ser inserido no mercado de trabalho. Posteriormente, o Decreto nº

3.298/99 (BRASIL, 1999), em seu artigo 4º, especifica quem é a pessoa

considerada com deficiência.

“Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções; II - deficiência auditiva - perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando de graus e níveis na forma seguinte: a) de 25 a 40 decibéis (DB) - surdez leve; b) de 41 a 55 DB - surdez moderada; c) de 56 a 70 DB - surdez acentuada; d) de 71 a 90 DB - surdez severa; e) acima de 91 DB - surdez profunda; e f) anacusia; III - deficiência visual - acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações; IV - deficiência mental - funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: a) comunicação; b) cuidado pessoal; c) habilidades sociais; d) utilização da comunidade; e) saúde e segurança; f) habilidades acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho; V - deficiência múltipla - associação de duas ou mais deficiências”.

Ragazzi (2008, p. 7885) ainda descreve que:

57

Ao auditor fiscal incumbe a tarefa de fiscalizar o cumprimento do referido termo. Em não cumprido, deverá encaminhar relatório ao delegado regional do trabalho para remessa ao Ministério Publico do Trabalho e esse passará a um processo investigatório, no que a empresa é convidada a firmar termo de ajuste de conduta com prazo razoável de 1 (um) a 2 (dois), anos para cumprimento de preenchimento de vagas sob pena de multa que será revertida ao fundo de amparo ao trabalhador, fundo este previsto na Lei nº 7.853/89.

Na atualidade, no caso da inserção laboral das PCDs, a política de ações

afirmativas se materializa por meio da Lei de Cotas, que desde 1991 faz parte de

nosso arcabouço legal. No entanto, somente com a implementação da norma

regulamentadora em 1999, pelo Decreto nº 3.298 (BRASIL, 1999), passou a ser

instituído um forte instrumento de fiscalização para aplicação dessa lei, que vem

ampliando espaços para a valorização profissional das PCDs.

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2010) traz

elementos importantes para se pensar a inclusão produtiva das PCDs.

1. Os Estados-Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência ao trabalho, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Esse direito abrange o direito à oportunidade de se manter com um trabalho de sua livre escolha ou aceitação no mercado laboral, em ambiente de trabalho que seja aberto, inclusivo e acessível a pessoas com deficiência. Os Estados-Partes salvaguardarão e promoverão a realização do direito ao trabalho, inclusive daqueles que tiverem adquirido uma deficiência no emprego, adotando medidas apropriadas, incluídas na legislação, com o fim de, entre outros: a) Proibir a discriminação baseada na deficiência com respeito a todas as questões relacionadas com as formas de emprego, inclusive condições de recrutamento, contratação e admissão, permanência no emprego, ascensão profissional e condições seguras e salubres de trabalho; b) Proteger os direitos das pessoas com deficiência, em condições de igualdade com as demais pessoas, às condições justas e favoráveis de trabalho, incluindo iguais oportunidades e igual remuneração por trabalho de igual valor, condições seguras e salubres de trabalho, além de reparação de injustiças e proteção contra o assédio no trabalho; c) Assegurar que as pessoas com deficiência possam exercer seus direitos trabalhistas e sindicais, em condições de igualdade com as demais pessoas; d) Possibilitar às pessoas com deficiência o acesso efetivo a programas de orientação técnica e profissional e a serviços de colocação no trabalho e de treinamento profissional e continuado; e) Promover oportunidades de emprego e ascensão profissional para pessoas com deficiência no mercado de trabalho, bem como assistência na procura, obtenção e manutenção do emprego e no retorno ao emprego; (f) Promover oportunidades de trabalho autônomo, empreendedorismo, desenvolvimento de cooperativas e estabelecimento de negócio próprio; g) Empregar pessoas com deficiência no setor público;

58

h) Promover o emprego de pessoas com deficiência no setor privado, mediante políticas e medidas apropriadas, que poderão incluir programas de ação afirmativa, incentivos e outras medidas; i) Assegurar que adaptações razoáveis sejam feitas para pessoas com deficiência no local de trabalho; j) Promover a aquisição de experiência de trabalho por pessoas com deficiência no mercado aberto de trabalho; k) Promover reabilitação profissional, manutenção do emprego e programas de retorno ao trabalho para pessoas com deficiência. 2. Os Estados-Partes assegurarão que as pessoas com deficiência não serão mantidas em escravidão ou servidão e que serão protegidas, em igualdade de condições com as demais pessoas, contra o trabalho forçado ou compulsório (BRASIL, 2010, p. 37).

Para a construção do conceito de inclusão produtiva, devem-se considerar pontos

relevantes na convenção, destacados não como privilégios, mas afirmação e

proteção de direito ao trabalho para a melhoria da qualidade de vida das PCDs.

A Convenção reconhece o direito em igualdade de oportunidades das PCDs ao

trabalho. Isso quer dizer trabalhos em ambiente aberto inclusivo e acessível

levando-se em consideração a não discriminação, a permanência no emprego, a

ascensão profissional, as condições seguras e salubres de trabalho com seus

direitos trabalhistas e sindicais em condições de igualdade com as demais

pessoas em remuneração com trabalhos de igual valor.

Ainda destaca a reparação de injustiças e proteção contra o assédio no trabalho,

a possibilidade de acesso a programas de orientação técnica e profissional e

serviços de colocação no trabalho, treinamento profissional e continuado. Ainda

referencia a promoção do emprego no setor público e privado, incluindo

programas de ação afirmativa de incentivos, aquisição de experiência de trabalho

no mercado aberto bem como o trabalho autônomo, empreendedorismo,

desenvolvimento de cooperativas e estabelecimento de negócio próprio.

Confirma-se, assim, que as PCDs não serão mantidas em escravidão ou servidão

e serão, portanto, protegidas contra o trabalho forçado.

O trabalho em uma sociedade capitalista define a condição humana e coloca a

pessoa no bojo das representações sociais, definindo o papel e a posição do

sujeito nas relações de produção, nas relações sociais e na sociedade.

59

A imagem social das PCDs frente à sociedade passa por uma ressignificação,

uma vez que eram consideradas pessoas improdutivas ou eram tuteladas em

suas capacidades de escolhas, autossustento e participação, como ressalta

Lopes (2005, p. 117):

Antes de se pensar no porquê de as empresas contratarem ou deixarem de contratar pessoas com deficiência, deve-se perceber que a questão é muito mais profunda, passando pela consciência das pessoas, que, na maioria das vezes, não tem uma postura inclusiva, não pensam o ambiente e as relações interpessoais com essa preocupação. A questão é muito mais ampla: existem barreiras invisíveis, de atitude, que fazem com que as pessoas com deficiências fiquem à margem de diversas coisas na sociedade, inclusive do mundo do trabalho. Espanta-me o quanto a gente não percebe a grandiosidade disso tudo.

Com o movimento da inclusão, novos conceitos são internalizados, dentro de um

novo paradigma. Nessa perspectiva, a ideia de inclusão adota a diversidade como

valor humano nas relações sociais, propiciando a criação de oportunidades iguais

e respeito à dignidade como parte integrante da promoção da cidadania e dos

direitos humanos, assim como a não discriminação, independentemente das

características biológicas, culturais ou sociais do indivíduo.

2.6 Quem são as pessoas com deficiência no mercado de trabalho brasileiro

Considerando que dados mais desagregados do Censo de 2010 ainda não foram

divulgados, constata-se - pelos resultados do censo do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) de 2000 - que no Brasil aproximadamente 24,5

milhões de pessoas ou 14,5% da população total apresentam algum tipo de

incapacidade ou deficiência (CLEMENTE, 2004). São pessoas com alguma

dificuldade de enxergar, ouvir, locomover-se, entender o outro ou se expressar,

isto é, com determinada condição física ou mental. Nesse grupo, 16,6 milhões de

pessoas apresentam algum grau de deficiência visual, sendo que quase 150 mil

declararam-se cegos. No que se refere ao grau de deficiência auditiva, foram

encontrados 5,7 milhões de brasileiros. Dentre esses, 170 mil eram surdos.

Nos dados do IBGE, destaca-se que a proporção de PCD aumenta com a idade,

passando de 4,3% nas crianças até 14 anos para 54% do total das pessoas com

60

idade superior a 65 anos. À medida que a população se torna mais envelhecida, a

proporção de PCDs aumenta, surgindo um novo elenco de demandas para

atender às necessidades específicas desse grupo.

Os três dados registrados no censo de 2000 (IBGE) demonstram alguns aspectos

relevantes que podem compor a análise dessa temática. No aspecto de relações

de gênero, homens predominam em relação à deficiência mental, auditiva, física

(especialmente com falta de membro ou parte dele). O resultado mostrou-se

compatível com o tipo de atividade desenvolvida por sujeitos masculinos e com os

riscos de exposição a acidentes de diversas causas.

Além disso, a predominância das mulheres com limitações motoras (incapacidade

de caminhar ou subir escadas) ou visuais é coerente com a composição por sexo

da população idosa, com predomínio de mulheres a partir dos 60 anos.

O conceito utilizado pelo censo para caracterizar as PCDs inclui diversos graus de

gravidade na capacidade de enxergar, ouvir e locomover-se, mostrando-se

compatível com a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e

Saúde (CIF), divulgada em 2001 pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Em relação à inserção das PCDs no mercado de trabalho, verifica-se proporção

menor de pessoas ocupadas em relação ao número de PCDs. Segundo Batista

(2004, p. 111), a atual conjuntura configura-se da seguinte forma:

No Brasil, segundo o censo realizado em 2000 pelo IBGE, existem 24,5 milhões de brasileiros portadores de algum tipo de deficiência; isto significa que 14,5% da população brasileira apresentam alguma deficiência física, mental ou dificuldade de enxergar, ouvir ou locomover-se. Em Minas Gerais são cerca de 2,6 milhões de PPD correspondendo ao mesmo percentual de 14,5% da população. Os dados do censo mostram também que, no total de casos declarados de PPD, 8,3% possuem deficiência mental; 4,1% deficiência física; 22,9% deficiência motora; 48,1% visual e 16,7% auditiva. Entre 16,5 milhões de pessoas com deficiência visual, 159.824 são incapazes de enxergar, e, entre os 5,7 milhões de brasileiros com deficiência auditiva, 176.067 não ouvem. Segundo dados divulgados pelo Instituto Ethos (2002), nove milhões de pessoas com deficiência estão em idade de trabalhar. E desses, um milhão (11,1%) exercem alguma atividade remunerada e 200 mil (2,2%) são empregados com registro em carteira de trabalho.

61

Esses dados são revelados 10 anos depois da lei de reserva de cotas, o que demonstra número relativamente baixo de pessoas contratadas, apesar da exigência legal. A presente pesquisa confirma o número proporcionalmente pequeno de PPD empregado nas empresas e ainda certo desconhecimento por parte do empresariado da legislação pertinente à reserva de cotas.

Os dados do Censo de 2000, para ocupação econômica de PCD, diferem dos

apurados pelo Instituto Ethos em 2002, mas mostram que, entre os diferentes

tipos de deficiência, a pessoa com deficiência mental é a que encontra mais

dificuldades de inserção no mercado de trabalho.

Segundo Clemente (2003, p. 41), pelos dados do censo do IBGE de 2000, “o tipo

de deficiência que mais dificulta a inserção no mercado de trabalho é a mental:

somente 19,3% das pessoas que apresentam esse tipo de deficiência estão

ocupadas”.

Esse dado, apesar de ser uma taxa baixa, assinala equívocos produzidos pelo

senso comum quanto à compreensão da competência e da capacidade

profissional no que se refere à condição de aprender e desenvolver atividades

produtivas, mesmo no caso de pessoa com deficiência mental.

Registra-se taxa mais alta de inserção no mercado de trabalho de pessoas com

outros tipos de deficiência física ou motora (24,1%), dificuldade na audição

(34,0%) e dificuldade para enxergar (40,8%). Por sua vez, para quem não

apresenta alguma dessas deficiências, a proporção das pessoas ocupadas sobe

para 49,9%.

Dessa forma, é indispensável inventar, criar espaços de discussão e ferramentas

e novos processos, uma vez que, conforme Paulo Freire (1996), os seres

humanos apresentam essa possibilidade de serem cocriadores, a qual os libera

de serem meros executores das programações sociais e de ficar subordinados a

metodologias bancárias. E somos, sobretudo, capazes de criar novas

metodologias, não só para o ensino, mas no conjunto da vida social.

62

No campo do trabalho, portanto, as leis de cotas tornam-se uma forma de

enfrentar e superar as dificuldades de inserção produtiva, passando a cumprir o

papel de conscientizar e promover o acesso à inclusão produtiva como medida de

proteção, promoção e acesso à equiparação de oportunidades.

Outra consideração importante a se fazer é sobre a inclusão social que

representa tema central na pauta da gestão social e na formulação das políticas

sociais. O processo democrático pelo qual o país passou viabilizou a formulação

de programas e propostas de promoção dos direitos humanos, de superação das

desigualdades, da eliminação da discriminação e da promoção de melhores

oportunidades para todos.

Nesse aspecto, destacam-se as habilidades práticas dos movimentos sociais para

criar espaços de articulação, participação e diálogo, para acordar estratégias que

visem efetivar políticas de inclusão, criando, para isso, processos democráticos

de participação e avaliação frente aos desafios postos.

Seguindo esse pensamento, pode-se recorrer a Avritzer (2010) para melhor

compreender que a teoria democrática deliberativa considera que a valorização

dos processos de decisão coletiva possibilita diferentes reflexões e debates e,

consequentemente, aumenta a qualidade das decisões.

As chamadas leis de cotas para o mercado de trabalho, instituídas em diversos

países (GARCIA, 2010), correspondem a uma forma de induzir a superação das

dificuldades de inserção produtiva como medida de proteção e promoção de

oportunidades. Dessa maneira, as ações afirmativas são implementadas para

cumprir papel na inclusão social.

A Lei nº 8.213/1991 (BRASIL, 1991a) prevê a contratação de PCDs e

beneficiários reabilitados no mercado de trabalho e estabelece a contratação de

PCDs pelas empresas por cotas, isto é, conforme o número de trabalhadores que

possuem. Assim, empresas que possuem 100 a 200 empregados devem

contratar 2% de PCDs; 201 a 500 empregados, 3%; entre 501 e 1.000 devem

63

contratar 4%; e aquelas que possuem mais de 1.000 empregados devem

contratar 5%.

Essa lei ficou conhecida como Lei de Cotas e está em vigor há cerca de 20 anos.

Entretanto, apenas em 1999, por meio do Decreto nº 3.298/1999, ela foi

regulamentada. Tempo, a nosso ver, suficiente para que as empresas se

estruturassem para cumprir tal determinação.

Não obstante, apesar de todo esse período, ainda existem PCDs que desejam

trabalhar e não são contratadas. Ainda existem muitas empresas que não

cumprem a obrigação legal, conforme pode ser visto nos dados de 2009 da TAB.

1, referente ao Brasil, e da TAB. 2, a Minas Gerais.

Conforme observado na TAB. 1, pela análise da relação entre os pressupostos

legais e os dados da realidade referentes ao ano de 2009 e fornecidos pelos

auditores fiscais do Ministério do Trabalho, verifica-se que a inclusão produtiva

das PCDs no Brasil mostra-se aquém do previsto na lei. Menos de 40% dos

vínculos de emprego que seriam esperados pelas cotas estavam preenchidos em

2009 e, de modo surpreendente, o grau de cumprimento da exigência legal era

relativamente mais alto nas menores empresas. Nas “empresas públicas e

sociedades de economista mista” com 100 a 200 empregados e de 201 a 500

empregados, constatam-se os mais altos níveis de proporção de cumprimento da

lei – de 77,69% no primeiro caso e de 71,73%, no segundo caso.

Também as “demais empresas”, categoria que inclui todas as empresas

formalizadas do setor privado, as menores (de 100 a 200 e de 201 a 500

empregados) apresentavam mais altos indicadores de cumprimento da lei em

relação às suas congêneres maiores.

Como se pode observar, as empresas que possuem maior potencial de ocupação

das PCDs são as que apresentam mais baixo índice de desempenho quanto a

essas prerrogativas legais.

64

TABELA 1 - Número de empregados com deficiência declarados e esperados pela

Lei de Cotas segundo tamanho e natureza de empresas - Brasil, 2009

Fonte: Brasil (2011d). Obs.: (1) - Empresa Pública e Sociedade de Economia Mista (2) - Empresas com demais tipos de natureza jurídica

Assim, uma questão que surge, mas que não será investigada neste estudo,

seria: por que as empresas com mais capacidade de gerar empregos

demonstram reduzidos níveis de inclusão produtiva para as PCDs?

Examinando a TAB. 2, também se constata o baixo cumprimento da lei em Minas

Gerais, com taxas semelhantes às do Brasil. No conjunto das empresas com

estabelecimentos em Minas Gerais, verifica-se o cumprimento de 38,57% das

vagas esperadas pela lei, em comparação com a taxa de 39,51% no Brasil.

Tipo de natureza jurídica da empresa

Total de vínculos

Nº. de trabalhadores

com deficiência

(declarados)

N.º de trab. com defic. (aplicado o percentual

legal)

Diferença para

alcançar a cota legal

Proporção de

cumprimento da Lei

Empresas com 100 a 200 empregados

Administração pública 274.768 1.854 --- --- ---

Empr. públ. e soc.ec.mista(1)

52.127 810 1.043 233 77,69%

Demais empresas (2)

2.834.136 28.946 56.683 27.737 51,07%

Empresas com 201 a 500 empregados

Administração pública 980.724 4.185 --- --- ---

Empr. públ. e soc.ec.mista 94.618 2.036 2.839 803 71,73%

Demais empresas 3.592.722 53.506 107.782 54.276 49,64%

Empresas com 501 a 1.000 empregados

Administração pública 1.170.713 4.000 --- --- ---

Empr. públ. e soc.ec.mista 88.025 1.216 3.521 2.305 34,54%

Demais empresas 2.285.445 38.502 91.418 52.916 42,12%

Empresas com mais de 1.001 empregados

Administração pública

6.624.663 15.934 --- --- ---

Empr. públ. e soc.ec.mista 266.682 3.886 13.334 9.448 29,14%

Demais empresas 4.253.257 64.407 212.663 148.256 30,29%

Totais (empresas com 100 ou mais empregados)

Administração pública 9.050.868 25.973 --- --- ---

Empr. públ.e soc.ec.mista 501.452 7.948 20.736 12.788 38,33%

Demais empresas 12.965.560 185.361 468.545 283.184 39,56%

Empresas sem adm. públ. 13.467.012 193.309 489.281 295.972 39,51%

Total Geral 22.517.880 219.282 --- --- ---

65

TABELA 2 - Número de empregados com deficiência declarados e esperados

pela Lei de Cotas, segundo tamanho e natureza de empresas -

Minas Gerais - 2009

Tipo de natureza jurídica da empresa

Total de vínculos

Nº. de trabalhadores

com deficiência

(declarados)

Nº. de trab. com defic. (aplicado o percentual

legal)

Diferença para

alcançar a cota legal

Proporção de

cumprimento da Lei

Empresas com 100 a 200 empregados

Administração pública 37.396 221 --- --- ---

Empr. públ. e soc.ec.mista(1)

3.281 21 66 45 32,00%

Demais empresas (2)

278.126 2.605 5.563 2.958 46,83%

Empresas com 201 a 500 empregados

Administração pública 157.235 520 --- --- ---

Empr. públ. e soc.ec.mista 7.109 134 213 79 62,83%

Demais empresas 351.689 4.877 10.551 5.674 46,22%

Empresas com 501 a 1.000 empregados

Administração pública 112.461 632 --- --- ---

Empr. públ.e soc.ec.mista 6.717 133 269 136 49,50%

Demais empresas 224.105 3.863 8.964 5.101 43,09%

Empresas com mais de 1.001 empregados

Administração pública 611.720 1.095 --- --- ---

Empr. públ.e soc.ec.mista 31.505 381 1.575 1.194 24,19%

Demais empresas 377.887 5.766 18.894 13.128 30,52%

Totais (empresas com 100 ou mais empregados)

Administração pública 918.812 2.468 --- --- ---

Empr. públ.e soc.ec.mista 48.612 669 2.123 1.454 31,51%

Demais empresas 1.231.807 17.111 43.972 26.861 38,91%

Empresas sem adm. Públ. 1.280.419 17.780 46.095 28.315 38,57%

Total Geral 2.199.231 20.248 --- --- ---

Fonte: Brasil (2011d). Obs.: (1) - Empresa Pública e Sociedade de Economia Mista 2) - Empresas com demais tipos de natureza jurídica.

Da mesma forma, em Minas Gerais o cumprimento da lei tende a ser mais

expressivo nas menores empresas, ainda que as “empresas públicas e

sociedades de economia mista” com número de empregados entre 200 e 500

apresentem alta proporção de cumprimento da lei - 62,83%. Quando tais

empresas têm entre 100 e 200 trabalhadores, a proporção de cumprimento cai,

consideravelmente, para 24,19%.

Desse modo, pode-se concluir que o cumprimento da Lei de Cotas se apresenta

distante da realidade, conforme dados pesquisados aqui citados. Mas, por outro

66

lado, em 2009, quase 220 mil PCDs no Brasil e 20 mil em Minas Gerais se

encontravam empregadas, assalariadas, com carteira assinada ou funcionárias

públicas estatutárias (que é o universo pesquisado pela Relação Anual de

Informações Sociais – RAIS do Ministério do Trabalho e Emprego (MET), fonte

dos dados das TAB. 1 e 2).

Desde a entrada da legislação em vigência, muitas foram as tentativas de burlar

ou revogar a Lei. Entretanto, órgãos internacionais e nacionais estão atentos e

tomando as medidas necessárias para que essa lei seja cumprida.

A matéria “multas por cota crescem seis vezes em cinco anos”, publicado no dia 5

de março de 2008 no Jornal Valor Econômico, enfatiza que:

A legislação determina a contratação entre 2% e 5% de portadores de deficiência no quadro das empresas com mais de 100 funcionários – acima de 500, o percentual é de 5% dos empregados. A multa, calculada de acordo com o número de deficientes não contratados, varia de R$ 1.195,13 a R$ 119.512,33. Apesar de a lei existir há mais de 10 anos, o rigor do Ministério na fiscalização da norma é mais recente – em 2006, foram 606 multas, 420 a mais do que em 2005. Porém, estes números são bem maiores, já que nem todas as empresas são fiscalizadas pelo Ministério, bem como nem todas as multas são reportadas ao órgão (JORNAL VALOR ECONÔMICO, 2008).

Muito se tem debatido a respeito e até mesmo rebatido, no sentido de alterar a

referida legislação. Em 2008, o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), instituição integrante

do Sistema FIEMG, concluiu estudo buscando contribuir para o aprimoramento da

Lei 8.213/91.

Nela, explicita a necessidade de adequações na legislação e apresenta propostas

de revisão dos percentuais de cotas por ela estabelecidos; alteração do conceito

de PCDs, de forma a ampliar o número de trabalhadores potenciais; inclusão do

trabalhador aprendiz na cota legal (o que, na prática, já vem ocorrendo),

assegurando-se a preferência de contratação daqueles que se destacarem;

estabelecimento de critérios de regionalização para facilitar a contratação nas

proximidades das empresas; mapeamento de risco em áreas nas quais a

contratação de PCD não é recomendada, utilizando-se metodologia do próprio

Ministério do Trabalho; manutenção dos dispositivos incluídos em projeto de lei de

67

autoria do Senador José Sarney, especialmente nos aspectos ligados à

terceirização, programas de profissionalização e contratação das chamadas

oficinas protegidas. Esse estudo foi publicado no Jornal Estado de Minas, em 7 de

fevereiro de 2008, indicando a intenção da FIEMG de convencer a sociedade para

revisão ou ajuste da lei (ESTADO DE MINAS, 2008).

Para evitar-se que a inclusão de PCD por meio do trabalho dependa exclusiva ou

principalmente da vigência da Lei de Cotas e de sua correta interpretação e

implementação é que se faz necessário apoiar a organização e mobilização da

sociedade, inclusive em fórum de gestão social, em defesa da inclusão produtiva

das PCDs.

68

3 METODOLOGIA

A construção teórico-prática profissional do serviço social na qual a autora está

inserida possibilitou aproximação e participação junto aos movimentos sociais na

luta por garantia de direitos de diversos grupos vulneráveis (pessoas com

deficiência, crianças e adolescentes, idosos e mulheres da periferia e

comunidades tradicionais e minorias raciais).

Esse processo compartilhado nos últimos 15 anos produziu inquietações e

questionamentos em relação ao poder, às divergências entre os diversos sujeitos,

grupos e setores, às variadas formas de gestão de programas sociais, muitas

vezes não democráticas, as quais conduziram à opção por esta pesquisa e sua

elaboração, a partir de 2010.

Alguns fatores também influenciaram esta investigação, destacando-se o fato de

a pesquisadora conhecer alguns sujeitos e ter sido membro participante ativo do

FPT desde a sua criação. Esse aspecto facilitou a solicitação do licenciamento

para a execução deste trabalho acadêmico, bem como o acesso aos

entrevistados e ao acervo de documento para a escolha do objeto de pesquisa.

Vale lembrar que esta pesquisa tem como objetivo geral tentar conhecer e

explicar, na perspectiva dos direitos humanos e do conceito de inclusão produtiva,

os limites e possibilidades da atuação de um fórum de gestão social dedicado a

subsidiar e promover o emprego de PCD. Recorrendo ao que se pretende

compreender neste estudo, objetiva-se a verificação dos limites e possibilidades

de atuação de um fórum de gestão social dedicado a subsidiar e promover o

emprego de PCD, no intuito de gerar intervenções pertinentes, do ponto de vista

da área de saberes associados à gestão social.

Para avançar no conhecimento do funcionamento do FPT, a pesquisadora elegeu,

como orientação básica, o paradigma de pesquisa qualitativa, que Oliveira (2010,

p.80) caracteriza como um estudo detalhado de determinado grupo social,

69

colhendo informações para se entender a “profundidade, o significado e as

características” do assunto pesquisado.

A metodologia qualitativa tem contribuído para a compreensão de diversos

fenômenos sociais. Portanto, acredita-se que nesta pesquisa científica tal relação

de aproximação com os sujeitos foi utilizada como importante instrumento para a

coleta de dados fidedignos.

Para isso, buscou-se conhecer o universo pesquisado com o levantamento de

dados realizado em três etapas, da seguinte forma: a primeira diz respeito à

observação participante não estruturada; a segunda à pesquisa documental; e na

terceira foi utilizado outro procedimento metodológico, recorrendo-se à pesquisa

qualitativa por meio da entrevista semiestruturada.

Essa escolha se deu a partir de experiências compartilhadas e da importância de

se verificar os fatos além das aparências e, sobretudo, para estabelecer relação

direta de acompanhamento em ambiente formal e informal, mantendo um diálogo

com o fórum, local privilegiado de participação das entidades no

acompanhamento das políticas afirmativas voltadas para as PCDs.

A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética da UNA e contou também com a

autorização do coordenador do FPT, que é responsável pela gestão atual e

representa uma ONG que trabalha com a defesa de direitos das PCDs.

Ao discorrer sobre o estudo de determinado fenômeno, entende-se a necessidade

de se aprofundar em áreas desconhecidas do saber. Segundo Lakatos e Marconi

(1996, p. 16), a finalidade da pesquisa é realmente “descobrir respostas para

questões mediante a aplicação de métodos científicos”. No panorama

metodológico, Lakatos e Marconi (1996) retratam que o levantamento de dados é

considerado o primeiro passo de qualquer pesquisa científica.

As observações visam buscar os fundamentos na análise do meio onde vivem os

atores sociais, uma vez que, em pesquisas qualitativas, os dados não podem ser

considerados fatos isolados, observados desde que estejam relacionados ao

70

âmbito em suas múltiplas relações. O observador, em vários momentos, foi parte

integrante do grupo. “A técnica da observação participante realiza-se através do

contato direto do pesquisador com o fenômeno observado, a fim de obter

informações sobre a realidade dos atores sociais em seu próprio contexto”

(OLIVEIRA, 2010, p. 80).

Na observação participante não estruturada, a pesquisadora compareceu a duas

reuniões plenárias do FPT no ano de 2011, sendo a primeira para observação no

sentido de ter mais aproximação com a dinâmica de funcionamento. Na segunda

aproximação foi comunicada em plenária aos seus membros a intenção desta

pesquisadora de realizar o estudo, assim como do seu afastamento do FPT

durante o período da pesquisa.

As primeiras impressões desses contatos diagnosticaram certa tensão entre os

membros, entendendo-se que havia uma “crise instalada”. Posteriormente soube-

se do desligamento da secretária executiva do referido fórum.

Quanto à pesquisa documental, esta representa “fonte de coleta de dados restrita

a documentos escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes

primárias” (LAKATOS; MARCONI, 1996, p. 57).

Ainda se pode afirmar que a pesquisa documental caracteriza-se pela busca de

informações de documentos que não receberam algum tratamento científico,

como relatórios, reportagens de jornais, revistas, cartas, filmes, gravações,

fotografias, entre outras matérias de divulgação (LAKATOS; MARCONI, 1996, p.

69).

3.1 Etapas do desenvolvimento da pesquisa

Na análise documental foram verificadas atas, regimento interno, listas de

presenças, entre outros documentos que constituem a organização do FPT. Essa

documentação ainda não foi analisada de maneira científica, assim como a

atuação do FPT.

71

As atas foram examinadas pelo software nomeado Atlas-TI, que possibilita

identificar elementos nos documentos por meio de codificação, executando a

análise das falas e trechos desses documentos, realizando o cruzamento de

diversas variáveis. O número de atas produzidas subsidiou informações acerca da

organização e do número de plenárias realizadas por meio do cruzamento da

quantidade de atas/ano que se encontram arquivadas.

A opção pelo período 2007, 2008, 2009 evidenciou-se por representar um período

marcado por elevado número de produção de atas e constância nas reuniões, que

poderão ser visualizadas por meio do GRÁF. 1:

GRÁFICO 1 - Número de atas localizadas do FPT - Belo Horizonte - 2000-2010

0

2

4

6

8

10

12

2000 2001 2002  2003   2004   2005    2006    2007    2008   2009   2010  

Fonte: Fórum de articulação para promoção do emprego de PCD – Elaborado pela autora.

Diante disso, foi feita a análise documental das atas das reuniões plenárias do

fórum dos anos de 2008 a 2010, período em que se encontrou mais alto número

de documentos (GRÁF. 1). Vale ressaltar que estão previstas 10 reuniões

plenárias por ano no regimento do fórum, sendo que todas deveriam resultar em

elaboração de ata.

Avritzer (2009, p. 271-272), que utilizou metodologia semelhante à deste estudo,

destaca que:

72

Na análise documental, as atas das reuniões têm se apresentado como um importante recurso e fonte de dados. Por serem documentos que registram os atos de fala e os discursos políticos produzidos pelos atores no processo deliberativo, que sinalizam posições políticas, conflitos, consensos e propostas, as atas permitem analisar o processo argumentativo, central na teoria deliberativa. [...] Em relação às atas, uma fonte secundária dentro da análise documental, um dos grandes problemas é a incerteza sobre a abrangência de seu conteúdo, que pode muitas vezes não documentar acontecimentos, discussões e ideias que surgem no momento das reuniões. [...] Além disso, elas são documentos oficiais que registram o processo de deliberação e são devidamente aprovadas pelos seus participantes, o que indica que eles concordam com o registro e a forma como foi realizado.

As atas possuem formato resumido, apresentando registro pouco detalhado. As

mesmas foram analisadas por um software denominado Atlas-TI, que permite a

análise de documentos por meio da codificação que permite análise de tipos de

participação e de temas das falas (AVRITZER, 2009).

Essa metodologia torna possível que se faça:

A análise das atas é baseada numa leitura qualitativa da fala de cada ator e codificação das mesmas. [...] Para processamento qualitativo dos dados e codificação, utilizamos um programa de análise qualitativa: Atlas.TI, versão 5.0, que nos auxilia na produção de relatórios estatísticos dos dados. [...] A técnica para o exame dos documentos fundamenta-se na análise de conteúdo, com ênfase na análise temática, que tem por objetivo descobrir os temas que compõem uma comunicação, cuja presença (ou ausência) e frequência de determinado conteúdo significam alguma coisa para os objetivos analíticos visados (AVRITZER, 2009, p. 271-272).

A análise específica das atas da entidade investigada teve como objetivo buscar

identificar aspectos que possam ou não se relacionar às características da gestão

social. Dessa maneira, analisaram-se os seguintes componentes:

A forma de participação dos sujeitos nas plenárias, por meio de sua

capacidade de vocalização;

a capacidade de proposição do fórum;

as decisões;

os assuntos e temática encaminhados pelo fórum.

Após as autorizações, as entrevistas foram agendadas por telefone - uma

entrevista diária -, gravadas e realizadas na primeira quinzena de janeiro de 2012.

73

Apenas uma entrevistada faltou à marcação agendada, havendo necessidade de

ser remarcada, o que aconteceu com sucesso.

Os sujeitos da investigação proposta são membros assíduos que compõem o

Fórum Pró-Trabalho das Pessoas com Deficiência e Reabilitadas. A entrevista foi

uma alternativa para complementar os aspectos que porventura não ficaram

explícitos na análise documental.

Foi verificado o número de participantes ativos, entre os quais seis pessoas foram

ouvidas. Considerando o interesse pelo estudo e também as condições de acesso

e disponibilidade dos entrevistados, optou-se também por ouvir uma pessoa que

já participou e hoje não mais participa, para se aproximar ao máximo do princípio

da saturação.

Os grupos foram assim dispostos:

2 gestores de ONGs

2 gestores de empresas ou instituições públicas

2 gestores de empresa privadas

1 pessoa que participou e não mais participa

Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada. Triviños (1995,

p. 146 apud GONÇALVES, 2005, p. 72) descreve que a entrevista

semiestruturada é direcionada para a pesquisa qualitativa, já que, “ao mesmo

tempo em que valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas

possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade

necessárias, enriquecendo a investigação”.

A entrevista semiestruturada pode ser entendida como:

[...] aquela que parte de certos questionamentos básicos apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas dos informantes. Dessa maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa (TRIVIÑOS, 1995, p. 146, apud GONÇALVES, 2005, p. 72).

74

Além disso, a entrevista permitiu o aprofundamento do tema pesquisado

oferecendo mais subsídios para entender-se o problema investigado.

3.2 Cenário da investigação

O campo pesquisado, o Fórum Pró-Trabalho das Pessoas com Deficiência e

Reabilitadas (FPT), criado em abril de 2000 como órgão consultivo e deliberativo

em suas plenárias, não governamental, organizado em comissões, de acordo com

o seu regimento interno, tem atuação na região metropolitana de Belo Horizonte.

De 2000 até os dias de hoje, constituiu-se o percurso histórico do fórum,

gerenciado por cinco gestões de mesa diretora alternada entre o poder público e

a sociedade civil, com fases e momentos mais ou menos dinâmicos e

organizados.

O FPT representa toda a sociedade por meio da mesa diretora, que tem na sua

formação a paridade de duas entidades governamentais e duas não

governamentais.

A mesa é composta de um coordenador, um secretário geral, um primeiro

secretário, um segundo secretário e um conselheiro consultivo, todos votados e

eleitos, em plenária extraordinária, pelos seus integrantes.

Sua estrutura organizacional se estrutura em plenária, mesa diretora, comissões

temáticas, secretaria executiva e instituições participantes. Atualmente, possui 44

entidades parceiras permanentes, com presença oscilante nas plenárias.

Essa lógica de organização se complementa à sistematização e funcionamento

do FPT, a qual se concretiza por meio das comissões de comunicação, legislação

e produção científica. Cada comissão atua de forma autônoma, trazendo

discussões e ações para serem implantadas pelo FPT junto à sociedade e seus

parceiros. Essas comissões constituem uma maneira de estruturar seu

funcionamento, segundo suas atribuições e competências.

75

Neste estudo não se tem como foco a análise de cada gestão e suas realizações,

por ausência de disponibilização de documentos referenciais. Entretanto, os

materiais viabilizados permitiram correlacionar objetivos e ações.

Tais ações foram: seminário com o objetivo de destacar a inclusão produtiva do

deficiente mental, planejamento estratégico, criação do GT específico para pensar

o Projeto Rede de Inclusão, o Termo de Ajustamento de Conduta com o Ministério

Público do Trabalho, Jornal Núcleo “Fala Fórum”, relatório de realização de

gestão, código de conduta, que norteará o funcionamento da rede de inclusão,

como também o manifesto para a sociedade sobre a questão da inclusão no

mercado de trabalho distribuído na II Conferência Estadual dos Direitos das

PCDs.

Todo esse arcabouço documental produzido durante seus 12 anos de

funcionamento, em um locus específico que contém um conjunto de realizações,

resulta de um campo de mediação que permitiu a gestão compartilhada dessa

temática. Desse constructo, identificaram-se conquistas, avanços e caminhos

pavimentados de várias densidades. Pode-se confirmar que alguns atributos

foram imputados ao FPT, os quais demonstram a transparência, mobilização,

comunicação, interação, estratégias, aprendizagem, participação, inter-

relacionamento do poder público com a sociedade civil, de interorganizações, sem

perder de vista a identidade de seu regimento, documento balizador do FPT.

Quanto à situação financeira, o Fórum não apresenta recursos sistemáticos, a

não ser a multa destinada às ações pontuais para custear a rede de inclusão e

material de escritório para subsidiar-se administrativamente.

Administrativamente, a Superintendência Regional do Trabalho (SRTE) oferece

algum suporte administrativo, de acordo com a necessidade das ações realizadas

de maneira não sistemática.

Seu objeto concorre na articulação de entidades e órgãos com a finalidade de

organização do ideário de diretrizes para a implantação de estratégias de inclusão

76

da PCD no mercado de trabalho, respeitadas as competências e as atribuições

legais dos participantes.

O FPT possui a missão de contribuir para a redefinição de políticas públicas que

garantam à pessoa com deficiência ou reabilitada a função de ser ator social

produtivo.

77

4 A INCLUSÃO PRODUTIVA E A GESTÃO SOCIAL NO FPT: O

QUE DIZEM OS DOCUMENTOS E OS ENTREVISTADOS

4.1 O que diz o Regimento

Em contato com os diversos documentos produzidos pelo FPT, optou-se em criar

um gráfico da linha do tempo no qual se relacionam datas dos acontecimentos

marcantes e principais realizações, desde a sua criação até os dias atuais.

Analisando a FIG. 1, os documentos consultados revelaram que sua trajetória não

se constituiu por meio de uma sequência linear quanto ao movimento de

funcionamento e às suas principais realizações, entre outras atividades. Nesse

sentido, a dinâmica da sua história produziu continuidades e descontinuidades

frente a fatores multidimensionais previsíveis e imprevisíveis em sua gestão.

Nesse ponto, Morin (1996) realça a complexidade histórica de um tempo/espaço

que se revela de forma cronológica e não cronológica.

FIGURA 1 – Linha do tempo do Fórum Pró-Trabalho

O primeiro documento localizado após a data de sua criação foi o regimento

interno, o qual representa o documento balizador que imputa a referência do

objeto, funcionamento, organização, princípios e papel do FPT. A construção do

regimento se deu de forma coletiva, sendo iniciada na data da criação do FPT e

concretizada no ano de 2001. Segundo o Dicionário Etimológico (CUNHA, 2010),

a palavra regimento, do latim regímenes do verbo reger, significa governar,

78

administrar e dirigir. Ou seja, o regimento agrega em seu conjunto uma maneira

de funcionamento.

Regimentalmente, as suas atribuições e competências abrangem:

I- Promover a articulação de órgãos e entidades com interesse no tema, objetivando o estabelecimento de diálogo constante e distribuição da informação entre os órgãos participantes; II- Propor, através de documentação gerada por consenso entre as entidades participantes, medidas legais, educativas e outras que promovam a inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho e que desencorajem a propagação de casos de discriminação; III- Articular com organismos nacionais e /ou internacionais mecanismos de cooperação visando a realização de estudos de diagnóstico e análise dos fatores mais comumente verificados no mercado de trabalho e na sociedade em geral que tratem da inclusão da pessoa com deficiência; IV- Baseado nos estudos ressaltados no inciso III e em estudos sobre o mercado de trabalho, propor medidas de adequação, promoção, extinção, conforme o caso, bem como solicitar procedimento investigatório ao Ministério Público, para ajustamento de conduta na contratação e cumprimento da Lei n° 8.213/91; V- Promover articulação entre as entidades envolvidas e a facilitação de ações de conscientização da sociedade quanto às potencialidades profissionais da pessoa com deficiência; VI- Incentivar, em parceria com entidades que o compõem, a participação de todos os segmentos sociais buscando alternativas para a solução de problemas existentes com relação à inclusão no mercado de trabalho da pessoa com deficiência; VII- Estimular e eventualmente coordenar a cooperação técnica e financeira entre os representantes governamentais e não governamentais, visando garantir a consecução dos seus objetivos; VIII- Coordenar e incentivar a execução e a promoção de ações afirmativas que objetivem a inclusão da pessoa com deficiência no Mercado de Trabalho; IX- Solicitar e socializar dados e informações acerca do tema relativo à pessoa com deficiência, possibilitando a elaboração de propostas e a revisão de legislação pertinente ou a sua regulamentação, quando se fizer necessário; X- Discutir e propor ações para a qualificação profissional para a pessoa com deficiência para geração de trabalho e renda, bem como firmar acordos de cooperação com organismos de capacitação; XI- Pronunciar-se sobre questões de discriminação no mercado de trabalho denunciando-as aos órgãos competentes; XII- Buscar a sistematização das ações de inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho através de orientação e divulgação de ações isoladas de cada uma das entidades participantes; XIII- Contribuir para a redefinição de políticas públicas, garantindo que o indivíduo com deficiência possa tornar-se produtivo, assegurando a este segmento social o direito à cidadania; XIV- Orientar as empresas, entidades patronais e de trabalhadores quanto à obrigatoriedade legal de oferta de trabalho para pessoa com deficiência (Instrução Normativa n° 20 de 26 de janeiro de 2001), bem como quanto às possibilidades na admissão de pessoas com necessidades especiais classificadas como portadoras de deficiência segundo critérios expressos no Decreto nº 3.214 de 20 de dezembro de 1999;

79

XV- Esclarecer empregador quanto aos recursos tecnológicos existentes para a adequação do ambiente de trabalho e das necessidades de tal adequação para cumprimento de disposto decreto supracitados (FPT, REGIMENTO INTERNO, 2001).

Em linhas gerais, o regimento afere ao FPT a promoção ao trabalho das PCDs,

no intuito de envolver toda a sociedade no acolhimento a esse trabalhador que

potencialmente deve ter sua inclusão produtiva garantida na perspectiva do direto

humano ao trabalho.

Do ponto de vista da natureza, de seu objeto, atribuições e competência, a

proposta do FPT é contribuir para minimizar as dificuldades, limites e ampliar as

possibilidades, aspectos que permeiam a temática da inclusão produtiva das

PCDs.

Por outro lado, foi detectado que a atribuição regimental do FPT expressa a

intenção de produzir conhecimento sobre a inserção laboral das PCDs, numa

dinâmica de trabalho que provoque reflexões e discussões que propiciem a

formação de massa crítica desse tema.

Essa atividade também contribui para o desenvolvimento social e econômico

desses sujeitos, bem como para a sociedade, de maneira que transmita novos

saberes para fortalecer a política afirmativa de cotas para as PCDs.

A candidatura de ingresso ao FPT, de acordo com o artigo 6°e 7° do regimento,

se dá pelo interesse específico ou pontual nos problemas discutidos nas reuniões

do fórum e será apreciada em plenário, estando sua aprovação condicionada à

maioria simples dos votos dos demais membros efetivos ou “por convite” na

condição de membros colaboradores.

De acordo com a análise realizada neste estudo em relação ao regimento, pôde-

se verificar que suas atribuições apresentam quatro categorias de ações:

• A articulação, participação e cooperação: denotam elementos fundamentais

da concepção de gestão social;

80

• estudos, dados, análises condizem com os aspectos da avaliação de

projetos sociais que poderão fornecer subsídios técnicos de avaliação e

resultados da política de cotas nos territórios;

• esclarecimentos e sistematização estão no campo da comunicação, da

interação com a sociedade e, sobretudo, no campo da aprendizagem;

• proposta de medidas e mudanças políticas e legais, que remete a

proposições que poderão sinalizar transformações e mudanças.

As primeiras categorias - articulação, participação e cooperação - são elementos

pertencentes à concepção do termo GS, afirmado por Gondim, Fischer e Melo

(2006, p. 48):

[...] um ato relacional capaz de dirigir e regular processos por meio da mobilização ampla de atores na tomada de decisão (agir comunicativo), que resulte de parcerias intra e Interorganizacionais, valorizando as estruturas descentralizadas e participativas, tendo como norte o equilíbrio entre a racionalidade instrumental (com relação a fins) e a racionalidade substantiva (com relação a valores), para alcançar, enfim, um bem coletivamente planejado, viável e sustentável a médio e longo prazo.

A abordagem da GS citada traz certa congruência e coerência com o tipo de

grupo social formado pelo FPT, que tem a participação social e a mobilização

como condicionantes, bem como a parceria entre as organizações, construindo

uma forma de organização coletiva.

A segunda retrata a verificação do tema no que diz respeito à realidade no sentido

de agregar sistematizações de dados, estudos e pesquisas que possam subsidiar

as estratégias e caminhos a serem trilhados para sua atuação.

A terceira indica orientações fundamentadas assimiladas das discussões, dos

dados, das pesquisas, das ações produzidas que orientam e subsidiam a

sociedade diante dessa temática.

A quarta tem conotação política e o papel propositivo de sugerir mudanças no

âmbito legal, bem como colaborar na eficácia das políticas públicas que dizem

respeito a essa matéria.

81

Dessa maneira, o regimento, de modo geral, conseguiu amarrar um mecanismo

de gestão que acompanha a política pública e, no conjunto dos atores sociais,

possibilita discutir pontos de vista da articulação trissetorial que oportuniza esse

locus como espaço de contribuição para o acompanhamento da política de

inclusão produtiva em foco.

4.2 Participação e temáticas: o que dizem as atas

Os membros do governo que participam do fórum assumem mais participação

nos debates da entidade, conforme registrado em atas das reuniões de 2008,

2009, 2010 (GRÁF. 2). Eles representam 46,9% das falas registradas e são

seguidas dos representantes da sociedade civil, com 27,5%. Os representantes

das empresas respondem por apenas 4,4% das falas registradas nas atas.

GRÁFICO 2 - Vocalizações por segmento

Fonte: Atas do fórum. Elaborado pela autora.

A distribuição da capacidade de propor ações para o fórum é bastante

semelhante à distribuição das falas nas reuniões de 2008 a 2010 (GRÁF. 3). A

diferença mais marcante diz respeito às proposições oriundas de segmento não

82

identificado, o que dificulta uma análise mais precisa. A capacidade de proposição

das organizações da sociedade civil é inferior à sua participação nos debates.

Elas respondem apenas por 22,3% das proposições, enquanto as comissões do

fórum propõem mais (8,5%) do que falam (7,3%).

GRÁFICO 3 - Capacidade de proposição

Fonte: Atas do fórum. Elaborado pela autora.

A capacidade de transformar suas propostas em decisões, no entanto, revela a

grande preponderância do governo no fórum (GRÁF. 4); 76,1% das decisões

aprovadas pelo fórum decorreram de iniciativas propositivas do governo. Em

seguida, 7,5% foram das organizações da sociedade civil, 4,5% das comissões do

fórum e apenas 3,0% das empresas.

83

GRÁFICO 4 - Capacidade de ter suas propostas

transformadas em decisões

Fonte: Atas do fórum. Elaborado pela autora.

Das temáticas tratadas no fórum nos três anos, 37,3% correspondiam a assuntos

internos organizativos (GRÁF. 5). Em segundo lugar, 15,4% trataram do Portal

Rede de Inclusão e 8,4%, de assuntos referentes à inclusão produtiva.

O Portal Rede de Inclusão constitui um projeto que apresenta um mecanismo

exclusivamente voltado para a inclusão de trabalhadores com deficiência no

mercado de trabalho. Para isso, ele se propõe a organizar uma rede de inclusão,

a qual organizará um sistema único de compartilhamento de banco de dados

entre instituições parceiras, de cadastramento de trabalhadores com deficiência

no estado de Minas Gerais, que pretende facilitar para os atores envolvidos

(empresas, instituições governamentais e não governamentais) o cumprimento da

Lei de Cotas. O Ministério Público do Trabalho destinou recursos oriundos da

multa administrativa imposta a uma instituição mineira vinculada ao fórum, para

execução do Projeto Rede de Inclusão, sendo 50% do montante de R$ 339 mil

reais destinados à montagem estrutural da rede de inclusão e o restante para o

projeto de qualificação e elevação de escolaridade para as PCDs, executado pela

84

CAADE/Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social-SEDESE/MG, pessoas

as quais após a qualificação passarão a integrar o banco de dados unificado da

rede. O documento assinala que a rede de inclusão funcionará na sede da SRTE

e estará vinculada ao Núcleo de Igualdade de Oportunidades e ao Balcão de

Oportunidades de Emprego, oferecendo suporte a todos aqueles que necessitam

do cadastro.

GRÁFICO 5 - Assuntos e temáticas por segmentos

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

Capa

citaçã

o pa

rt./ p

ales

tras/info

rmes

Inclusã

o pro

dutiv

a

Incl. p

rod./

avanço

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Fonte: Atas do fórum. Elaborado pela autora.

Já pelo segmento governo, a temática mais abordada foi a referente a assuntos

internos e organizativos, mas com mais peso do que para o conjunto do fórum

(40,1%). As discussões do Portal (12,8%) e da inclusão produtiva (11,1%) vieram

a seguir. Em relação ao governo, as organizações da sociedade civil trataram

menos dos assuntos organizativos (34,0%) e mais do Portal (15,0%) e da inclusão

(13,5%). Já a participação das empresas se destaca pela importância dada ao

Portal (26,5%) e às suas discussões sobre inclusão produtiva (17,6%), assim

como pela reduzida importância aos assuntos organizativos (17,6%). A parceria

com outras instituições também tem peso importante para as empresas (14,7%).

85

4.3 As entrevistas e o que elas informam

Como já adiantado, em complementação à observação participante e à análise de

documental optou-se por entrevistar participantes do FPT segundo uma amostra

intencional que envolveu sete pessoas, assim distribuídas: uma que frequentou o

fórum e não frequenta mais, advinda do setor acadêmico; seis pessoas que

frequentam o FPT, sendo duas pertencentes ao grupo de empresas; duas do

poder público e duas do terceiro setor, sujeitos com significativo nível de presença

e participação nas plenárias. Esses subgrupos são exatamente os principais de

setores que compõem o FPT, além de alguns sindicatos e universidades, mas

com reduzida presença nas plenárias.

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Decreto Legislativo

nº 6.949/2009, recomenda envolver as PCDs, inclusive criando oportunidades de

participação ativa nas decisões, opiniões que lhes dizem respeito diretamente.

Dessa forma, 50% dos entrevistados são pessoas com deficiência e 50% pessoas

sem deficiência (BRASIL, 2009b).

Nesse sentido, com a pretensão de preservar a identidade dos sujeitos

participantes desta investigação, elegeu-se denominá-los da seguinte forma:

Sujeito pesquisado de empresa, denominado SE1 (PSD): profissional sem

deficiência, da área das ciências sociais, que trabalha em uma empresa

multinacional que possui programa de inserção da PCD no mercado de

trabalho e frequenta o FPT desde 2010 e a empresa há três ou quatro

anos.

Sujeito pesquisado de empresa, denominado SE2 (PCD): profissional com

deficiência, da área das ciências sociais, que trabalha em entidade

representativa de setor empresarial, frequenta o FPT desde,

aproximadamente, 2002, 2003.

Sujeito pesquisado do poder público, denominado SP3 (PSD): profissional

sem deficiência, da área das ciências humanas, trabalha em uma

instituição pública vinculada ao tema do trabalho, frequenta o FPT desde

2005 e a organização desde a criação do FPT.

86

Sujeito pesquisado do poder público, denominado SP4 (PCD): profissional

com deficiência, trabalha no poder público em um setor que atua na defesa

de direitos das PCDs e frequenta o FPT desde 2002.

Sujeito pesquisado de ONGs, denominado SO5 (PSD): profissional sem

deficiência, da área da administração, gestor de uma ONG, que

desenvolve projetos vinculados às questões das PCDs, frequenta o FPT

desde maio de 2011 e a instituição desde 2006 ou 2005 (não sabendo

precisar exatamente a data).

Sujeito pesquisado de ONGs, denominado SO6 (PCD): profissional com

deficiência, com pós-graduação, gestor de uma ONG, militante social do

movimento das PCDs e frequenta o FPT desde 2004 ou 2005 (não

sabendo precisar exatamente a data).

Sujeito que não frequenta mais o FPT, denominado S7 (PSD): profissional

sem deficiência, da área das ciências da saúde e que trabalha como

docente em uma Universidade. Frequentou o FPT no durante

aproximadamente 10 anos entre idas e vindas.

Para melhor visualização da classificação, elaborou-se o QUADRO 2:

QUADRO 2 – Perfil dos participantes ativos do FPT entrevistados

CATEGORIA INSTITUCIONAL

CARACTERÍSTICA DOS ENTREVISTADOS

Empresa

Sujeito empresa 1, sem deficiência - SE1

Empresa

Sujeito empresa 2, com deficiência SE2

Poder público Sujeito de vinculação pública, sem deficiência SP3

Poder público Sujeito de vinculação pública, com deficiência SP4

ONG

Sujeito de ONG, sem deficiência SO5

ONG

Sujeito de ONG, com deficiência SO6

Professor universitário Sujeito que não frequenta mais o FPT, advindo do setor acadêmico

SU7

Para facilitar a identificação dos sujeitos, foi também adotado o seguinte critério: os participantes sem deficiência são números impares e os participantes PCDs, números pares. Também cabe esclarecer que o roteiro das entrevistas está apresentado no APÊNDICE A.

87

A partir da apresentação da codificação dos sujeitos das entrevistas realizadas,

no próximo tópico tratar-se-á da análise do que foi pesquisado por meio das

entrevistas.

A forma de apresentação dos resultados se dará a partir de dois eixos

norteadores da investigação, os quais foram assim denominados: o primeiro eixo

– limites e possibilidades da inclusão produtiva; e o segundo eixo - a gestão social

e seus desafios no FPT. Sendo assim, nos dois subitens seguintes apresentar-se-

á breve discussão desses eixos.

4.3.1 Primeiro eixo - limites e possibilidades da inclusão produtiva na

dinâmica do FPT: refletindo sobre as multivisões

Para facilitar a compreensão do leitor, é retomado, da introdução, o conceito de

inclusão produtiva, o qual orientará a análise dos resultados no que se refere à

capacidade do FPT de propiciar discussões e práticas quanto a essa questão. A

concepção do MDS retrata o que se entende nesse âmbito: todo processo

conducente à formação de cidadãos integrados ao mundo pelo trabalho tem como

perspectiva a conquista de autonomia para uma vida digna sustentada por todas

as pessoas apartadas ou fragilmente vinculadas à produção de renda e riqueza

(BRASIL, 2011a).

Dessa maneira, aqui se concebe a inclusão produtiva, nesses termos citados,

como um processo de mudança de patamar dos grupos vulneráveis,

possibilitando o deslocamento dos sujeitos da condição de inclusão marginal para

uma condição de acesso e ascendência socioeconômica efetiva na sua condição

de vida. Isso se dá por meio de atividade produtiva que possa gerar autonomia,

empoderamento e cidadania aos sujeitos envolvidos no mundo do trabalho.

Nesse sentido, concorda-se com Wanderley (1999), quando este afirma que “o

vínculo dominante da inserção na sociedade moderna continua a ser a integração

pelo trabalho. E a transformação produtiva adquire preponderância nas trajetórias

88

de exclusão social. No entanto, a inserção marginal [...] representa um fenômeno

multidimensional” (WANDERLEY, 1999, p. 23).

Em relação a esse aspecto, pretende-se chamar a atenção para o alcance da

inclusão produtiva, no sentido da promoção e da garantia do direito ao trabalho na

vida sujeito, uma vez que existem muitas armadilhas que podem mascarar tal

direito e a própria cidadania. Nesse caso, recorre-se a Demo (2002), que ao

abordar as distinções entre cidadania assistida e tutelada diz que:

A cidadania assistida, que é problemática, porque tende a definir a pessoa como beneficiária, não como cidadã, e a cidadania tutelada que submete a pessoa ao mercado, transformando esse parâmetro definitivo, inclusive da sobrevivência. Cidadania tutelada é contradição nos termos, já que cidadania significa sempre libertação da tutela, apontando para a gestação da capacidade de autonomia. Na prática, porém, é o que mais comumente ocorre, no sentido de que a cidadania é trocada pela tutela, usando-se nessa transação, sobretudo, formas de assistencialismos. Na cidadania tutelada predomina a falsificação da cidadania, porque é destruída na própria tutela. Na cidadania assistida predomina a farsa, porque se usa a cidadania como isca, para logo a seguir reduzi-la aos trapos dos auxílios oficiais (DEMO, 2002, p. 23).

Segundo Sawaia et al. (1999, p. 10), “alguns aceitam o projeto-doença para ter

legitimada sua cidadania e certa condição de sobrevivência e, assim, passam a

ser incluídos no sistema de seguridade, como pertencendo ao seu

disfuncionamento”.

Nessa direção, o entrevistado SP4 afirma um aspecto que a autora deste estudo

percebe como uma característica dicotômica verificada nesse cenário, uma vez

que fragmenta as ações de promoção da política destinada às PCDs:

A sociedade vê como trabalho caritativo. Percebem a inclusão para a pessoa com deficiência como uma ocupação psicológica e não como uma ocupação profissional. Mas ainda tem PCD pedindo esmola e querendo favorecimento. E muitas empresas querem driblar. Pedem deficientes, mas é para fazer banco de dados. Burocracia difícil! (SP4).

Diante disso, retomando a perspectiva inclusiva, faz-se necessário desconstruir

essas concepções assistencialistas e promover a participação cidadã dos

sujeitos, como também reavaliar a gestão das políticas públicas setoriais para

oferecer subsídio à política do trabalho.

89

Ainda nessa linha de pensamento detectam-se também situações em que a

atmosfera de conformismo coloca a exclusão como algo determinante, fazendo

com que as PCDs pactuem com situações tais como cita o trecho a seguir.

Pessoas estão sendo incluídas no mercado formal, mas essas pessoas estão em casa. Não é uma inclusão de fato. Às vezes atenderam pessoas que querem carteira assinada, mas desejam na verdade é ficar em casa. Pactuam com esse tipo de inclusão (SE2).

Contudo, outras situações adversas citadas por SE2 ilustram essa questão:

Tem colocação de pessoa qualificada, mas que não é reenquadrada em outro cargo melhor. Tem uma pesquisa atual que mostra que as cotas estão sendo preenchidas, mas com cargos operacionais, aqueles na área de escritório com tarefas mais simples (SE2).

Na mesma direção, o SP4 opina afirmando sua percepção: o nível social e o

empoderamento têm melhorado por causa da acessibilidade e da Lei 8.213/91

(BRASIL, 1991a), mas os salários são baixos em relação ao de outras pessoas.

A esse respeito, destaca-se a contribuição de Martins (1997, p. 20), ao discutir a

problemática da exclusão:

No Brasil, políticas econômicas atuais, que poderiam chamar-se neoliberais, acabam por provocar, não políticas de exclusão e, sim, políticas de inclusão precária e marginal, ou seja, incluem pessoas nos [...] processos econômicos, na produção e na circulação de bens e serviços estritamente em termos daquilo que é racionalmente conveniente e necessário à mais eficiente (e barata) reprodução do capital.

Nesse conjunto, as mais variadas situações se apresentam, e persistem, apesar

de ser indicada uma mudança, ainda que lenta e gradativa, conforme declara

SP4: “na sociedade eu tô vendo, tá melhorando devagar. Não por

desconhecimento, mas por interesse. Todo mundo sabe que tem que favorecer a

inclusão do mercado de trabalho para a PCD” (SP4).

Existem indicativos que demonstram mudança no paradigma, conforme declara

SE2:

90

Tem também pessoas que não pactuam, querem sair dessa condição. Daí surgem denúncias em todas as áreas, educação, comércio, indústria, universidade, entidades religiosas que são fiscalizadas Temos colocações legais de quem cumpre a lei. [...] A rede bancária já descobriu uma saída [...] desenvolveu recrutamento e, além disso, oferece salário melhor e também está elevando a escolaridade das PCDs. Temos empresas estatais também dando oportunidades. As pessoas com deficiência estão fazendo concursos públicos, estão mais informadas de seus direitos, inclusive de fazer concurso público (SE2).

Por outro lado, os participantes apresentaram postura crítica diante desses

problemas, tal como foi abordado nas entrevistas quanto à avaliação da evolução

da inserção das PCDs no trabalho no Brasil, quando se observa o seguinte

depoimento:

Hoje estamos num momento superpositivo. O MP e o MTE foram agressivos e alavancaram. Cobrou mais quem tem potencial para incluir mais. Não é só inserir. Tem que pensar em acessibilidade, capacitação e acolher devidamente, sensibilizar o funcionário para a inclusão dessas pessoas. Começar para daqui a alguns anos, colher frutos melhores. Empresas estão com dificuldade e PCD com dificuldade devido ao perfil dele. Mercado está aquecido. Hoje estão disputando salário e não perfil, quem paga mais eles estão indo. Na maturidade ela, a PCD, vai para onde se sentir melhor e também se identificar com perfil da empresa, daí sim é inclusão [...]. Pelo trabalho se inclui mais rápido. Se não tem a renda, depende de outra pessoa [...] dinheiro gera isso, dinheiro gera autonomia (SE1).

Os fragmentos citados e recorrentemente afirmados nas entrevistas realizadas

corroboram e conduzem à aproximação com as considerações e afirmações de

Demo (2002) de que na sociedade atual observa-se certa predominância da

inclusão tutelada que não trabalha na perspectiva emancipatória. Quanto à

inclusão produtiva de fato, a que gera autonomia e empoderamento e

independência para o cidadão com deficiência, essa ainda também não se

consolidou, havendo um longo caminho a percorrer para tornar-se realidade.

Os efeitos da visão assistencialista da participação das PCDs no mundo do

trabalho aparecem quando se analisa o tipo de oportunidades que estão sendo

criadas. Do ponto de vista do tipo de inserção desse público no mercado de

trabalho, os participantes desta pesquisa foram unânimes ao responder que as

inserções ainda se caracterizam como cargo de pouca qualificação e baixa

remuneração, tal como ressalta a manifestação de SP3, que não os considera

91

subempregados por se tratar de vínculos empregatícios formais, como se a mera

formalização do vínculo o descaracterizasse como subemprego.

Abordagem reflexiva pode ser levantada nesse âmbito ao avaliar até que ponto a

oportunidade de trabalho formal, com registro em carteira, garante à PCD a

condição de empregado, já que na maioria dos casos se caracteriza como

subemprego. Esse ponto merece mais discussões no campo dos direitos

trabalhistas. Entretanto, foi destacado pelos respondentes que a oferta de

subempregos pode vincular-se ao preconceito e ao estigma de que as PCDs

constituem-se como indivíduos que não possuem capital laboral. Nesse aspecto,

o implemento da fiscalização para o cumprimento da cobertura de cotas não tem

avaliado a qualidade da inserção e do tipo predominante de oportunidade ao

trabalho atualmente oferecido a essa população.

Entende-se que os empregadores realmente contratam obrigados pela lei, o que

caracteriza um processo de tutela, uma vez que, se não existisse a Lei de Cotas,

não haveria emprego, ainda que as condições de emprego para PCDs estejam

melhores. Dessa forma, o conceito de inclusão produtiva não parece orientar as

ações do fórum, como também a diferenciação do conceito de inserção produtiva

e inclusão produtiva.

No próximo subitem será abordado o funcionamento de um dos espaços que, no

meio de tantas contradições, desde a década de 1990, vão sendo conquistados

pelos movimentos sociais como estratégia de enfrentamento das questões socais

de grupos vulneráveis, tais como os das PCDs

4.3.1 Segundo eixo: a gestão social e os desafios no FPT

Como desdobramento da Constituição Cidadã de 1988, a sociedade civil, por

meio dos movimentos sociais, conquista espaços na esfera pública para mediar

políticas públicas e afirmar seu controle social frente às políticas de saúde,

educação e assistência social e oportunidades de trabalho e emprego.

92

Esse cenário gerou diversas organizações sociais, vinculadas aos mais variados

movimentos e, entre eles, o movimento de PCD, que se mobilizou em torno da

defesa do direito do trabalho, como, por exemplo, por meio do FPT. Nesse

aspecto, Gohn (2001, p. 64) destaca que:

[...] o exercício da democracia em nome da cidadania de todos é um processo, não uma engenharia de regras. Como tal, ele demanda tempo, é construído por etapas e aproximações sucessivas, em que o erro (ou deveria ser) é tão pedagógico quanto o acerto. Desenhar espaços participativos é construir a institucionalidade correspondente, de forma que respeite a diversidade, seja plural, aberta às identidades de cada grupo/organização/movimento, exige articulações políticas que superem os facciosismos e costurem alianças objetivando atingir determinadas metas.

4.3.1.1 Princípios, função social e papel dos fóruns

Partindo do que se propõe o FPT, será apresentado o ponto de vista de seus

participantes entrevistados sobre os princípios e função do FPT. Para isso, optou-

se por sintetizar os registros dos entrevistados por meio de um quadro de análise

que possibilitou melhor visualização dos olhares coletados para posterior análise.

Como se verifica na fala dos entrevistados, dois atores sociais responderam não

saber quais são os princípios que norteiam o fórum. Outros dois mencionaram

aglutinar pessoas envolvidas e comentam que essa instância fomenta a inclusão,

mas afirmam não terem clareza sobre isso.

Nos relatos destaca-se que três entrevistados disseram que o FPT representa um

lugar de defesa dos direitos da PCD. Dois ressaltaram como princípios do FPT

alguns elementos como ética, transparência, dedicação, voluntariado, promoção

da dignidade e o exercício da cidadania no mercado de trabalho.

93

QUADRO 3 - Referencial com opiniões dos entrevistados com referência aos

princípios, função e papel do FPT

Princípios Função social Cumprimento do Papel

S.E1 Não sei. Deveria ser. Era de realmente auxiliar na inclusão da PCD.

Esse ano não.

S.E2 Seria o somatório das discussões com o objetivo de facilitar e fomentar a inclusão das PCDs.

Não sei falar, ele tem uma função igual conselho, coordena atores públicos e privados.

Não cumpre.

S.P3 A diretriz política do FPT é a defesa dos direitos das PCDs, não toleramos nada que não seja para cumprir esse viés.

Contribuir para erradicar a discriminação. E há preocupação com a garantia da dignidade e promover a vida humana.

Sim, ele busca cumprir.

S.P4 A ética, a transparência, dedicação e o voluntariado mesmo. Você vai por amor à causa, senão não vai...

Manter a sociedade informada e a rede de inclusão em harmonia, atualizada, informada sobre o mercado de trabalho, empresa recebendo informação quanto à PCD no trabalho.

Cumpre, apesar de todas as dificuldades.

S.O5 Não sei. Promover a autonomia da PCD

Pouco, tem que avançar.

S.O6 Envolver. Promover a dignidade, o exercício da cidadania no mercado de trabalho e em todos os espaços em que esteja.

Inclusão da PCD, promoção da dignidade, erradicação da pobreza da PCD. Tem-se outra coisa... Não sei. Esse tem sido o que temos procurado proporcionar e trazer ferramentas para mostrar para as empresas como deve ser feito.

Procura cumprir.

S.O7 Não tenho claro aglutinar pessoas envolvidas, PCDs e entidades. Elas deveriam ser abertas às famílias. Adquire mais força.

De grande alcance. Ele tenta, mas não consegue.

Fonte: Elaboração da autora.

Outro ponto abordado e apresentado no quadro refere-se à função do fórum.

Quatro entrevistados associaram a função do fórum à promoção de uma vida

digna ao falar em promoção da dignidade da vida humana e/ou da autonomia e

94

inclusão das PCDs. Dois ressaltaram sua função de informar às empresas sobre

o emprego de PCDs. Um dos entrevistados deixou explícita a semelhança dos

espaços dessa natureza em relação aos conselhos, entre outras formas de

organização social.

No que se refere à manifestação dos entrevistados quanto ao ponto de vista das

características do fórum, a maioria destaca o FPT como um lugar de encontro de

atores para debate e troca de experiências e informações.

Espaço de discussão e inserção, mas para incluir mesmo (SE1). É um encontro de entidades públicas, ONGs, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), a sociedade como um todo em busca de ações para fomentar e somar esforços para indiretamente discutir e levar informações para a inclusão no mercado de trabalho (SE2). É dialógico por excelência. Uma esfera pública de debate (SP3). Principal, única e exclusiva: colocar PCD no mercado de trabalho (SP4). Representar a PCD (SO5). Diversidade das entidades que têm envolvimento na área da PCD (SO6). É um fórum de troca de queixas, poliqueixas, experiências e tentativa de busca de solução (SU7).

Dessa maneira, as concepções acerca do significado do fórum e sua atuação na

sociedade são caracterizadas por processos dinâmicos e dialógicos e

contraditórios que perpassam por interações que se complementam e se

antagonizam, produzindo, com isso, correlação com o entendimento de Tenório

(2007, p. 10) “sobre gestão social como um processo dialógico no qual a

autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação”.

Apresentam-se a seguir algumas falas para complementar as percepções dos

participantes acerca das características do FPT no tocante às suas finalidades.

Nos depoimentos coletados constata-se certo consenso quanto à formulação de

políticas e ao acesso ao mercado de trabalho para PCD.

95

Elo de informação e divulgação. Teria papel de formulação político-pública e aglutinar entidades e integralizá-los e divulgar (SU7). PCDs possam ser incluídas não só no mercado de trabalho, com dignidade e competindo de forma igual e com qualidade de vida por meio do trabalho. (SE1). Fomentar a articulação entre diversos atores em prol da empregabilidade das PCDs e reabilitadas (SO5).

Isso coincide com o que Toro e Werneck (2007) enfatizam a respeito do processo

de mobilização, o qual se inicia quando uma pessoa, um grupo ou uma instituição

decide iniciar um movimento para compartilhar um imaginário e o esforço para

alcançá-lo.

O respondente SE1 relata que o fórum é um espaço de participação e escuta com

poder decisório democrático. A comunicação é comprometida pela baixa

assiduidade dos seus frequentadores; a interação apresenta divergências; e a

relação com a sociedade foi citada como mínima. Por outro lado, apesar das

lacunas apresentadas, representa um lugar em que se estabelecem processos de

aprendizagem, os quais contribuem muito para a formação dos seus

participantes: “Até no meio da crise, ensinou a atuar” (SE2).

SE2 afirma que a coordenação é democrática, ética e trabalha com bom senso e

tranquilidade. Na sua perspectiva, a comunicação e a interação entre os membros

foram avaliadas como boas: “Minha entidade tem boa interação com o Instituto

Nacional de Seguridade Social (INSS) e com a SRTE”. Por outro lado, a gestão

de projetos, segundo o respondente, não se efetiva, como também um trabalho

em rede, demandando articulação entre distintos setores da sociedade. Isso

revela as contradições da dinâmica de um fórum social.

Ainda no requisito coordenação, SP3 afirma que essa instância deve ter espírito

de luta, persistência, engajamento e militância aguerrida. Entretanto, considera

que a gestão atual tende a defender os interesses institucionais, não se

constituindo como uma liderança democrática, pois desrespeita as deliberações

da plenária. A comunicação, para esse entrevistado, “tornou-se tumultuada e

manipulada para inviabilizar o processo da construção da rede de inclusão”. Em

96

relação à sociedade, a comunicação “passou a ficar tênue, porque pessoas

passaram a desacreditar no processo. Veja a interação que é de mão dupla”.

Na perspectiva de SP4, o gestor da coordenação mostra-se com perfil autoritário

e a comunicação entre os membros se reduz a e-mails, sendo que a interação e

comunicação com a sociedade foram avaliadas como fracas. O trabalho em redes

“não vê” a sua dimensão em termos de amplitude e a gestão de projetos é

definida em plenária.

Para o entrevistado SO5:

A coordenação estava fragilizada, entrei para apagar incêndio. A comunicação se dá no debate, com desrespeito e indelicadeza. A interação é baixa entre os membros, assim como com a sociedade. A aprendizagem que tiro é que cada dia quero ser mais mediador e conciliador. A gestão de projetos não existe. O FPT faz gestão das plenárias. Sobre questão de estar integrado a redes, somos convidados a participar de audiências públicas pelo nosso profissionalismo.

De maneira geral, detectam-se diversos paradoxos e diferenças nas falas dos

entrevistados, devido à complexidade da organização social de um fórum que

articula distintos sujeitos de diferenciadas instituições e representatividades. Isso

mostra que, conforme citações de alguns autores mencionados, a dinâmica de um

fórum não constitui um sistema linear e harmônico, como muitas vezes idealizam

algumas visões tecnicistas.

Por outro lado, ficou muito evidenciado que o FPT representa lugar importante de

promoção de aprendizagem e instrumentalização para seus participantes. Esse

aparente caos reconstrói e organiza saberes que potencializam os gestores que

compartilham esse tipo de experiência. Todavia, entende-se que esses espaços

necessitam melhorar sua capacidade de comunicação, articulação, mobilização e

escuta, com o objetivo e ampliar e fortalecer suas ações. Além disso, identifica-se

que são necessárias outras instâncias formadoras, como a oferta de formação

continuada para seus membros.

97

4.3.1.2 Os temas em debate o foco na rede de inclusão

Como dito anteriormente, as observações participantes foram realizadas nas

plenárias ordinárias mensais do FPT. Nesse aspecto, a temática central apurada

referiu-se exclusivamente ao lançamento do Projeto Rede de Inclusão, o qual

apareceu também denominado, em alguns documentos, pelos componentes,

como Portal e Site da Rede de Inclusão. As discussões concentraram-se

especificamente quanto ao lançamento e migração dos dados das instituições

parceiras para a rede.

Embora o FPT tenha a finalidade de implantar estratégias de inclusão de PCDs

no mercado de trabalho, suas discussões nos últimos anos, segundo as

entrevistas e na análise das atas, estiveram dedicadas à constituição, nos últimos

anos, da rede de inclusão. Isso demonstra relevante conexão entre essas duas

dimensões: a articulação das parcerias e a gestão social.

Além disso, o fórum concentrou-se em assuntos correlatos à dinâmica de

funcionamento do Portal e da logística do lançamento e da edição de um jornal

nomeado Trabalho & Inclusão, substituindo o jornal Fala Núcleo, o qual teve

apenas duas edições, lançadas em 2006.

No período pesquisado, a temática da inclusão produtiva não se constituiu como

assunto central. Entretanto, nas sete entrevistas realizadas, todos os participantes

ouvidos citaram que o projeto da rede vem alterando a pauta, sendo que a

finalidade maior do fórum, que se apresenta como ideário de diretrizes para a

implantação de estratégias de inclusão da PCD no mercado de trabalho, não tem

representado uma prioridade das discussões.

Nesse aspecto, como revelou um dos participantes da entrevista: “Nos últimos

tempos ficamos presos a questões dos problemas que impediram a construção da

rede de inclusão” (SP3).

Diante disso, cabe avaliar se esse Portal funciona ou não como estratégia para a

inclusão produtiva. Nesse sentido, para melhor entendimento, consultou-se o

98

Projeto Rede de Inclusão, no intuito de avaliar o que está prescrito no documento

e o que ocorre na prática dessa instância analisada.

Trata-se de um projeto que apresenta um mecanismo exclusivamente voltado

para o registro compartilhado de candidatos com deficiência a vagas no mercado

de trabalho. Para isso, propõe-se a organizar uma rede de inclusão, a qual

organizará um sistema único de compartilhamento de banco de dados entre

instituições parceiras, de cadastramento de trabalhadores com deficiência no

estado de Minas Gerais, que pretendem facilitar aos atores envolvidos (empresas,

instituições governamentais e não governamentais) no cumprimento da Lei de

Cotas.

A ideia de criação da rede foi apresentada e referendada no Seminário Igualdade

de Oportunidades e Combate à Discriminação, realizado em novembro de 2006,

em Belo Horizonte, na sede do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura,

pelo Núcleo de Combate à Discriminação em parceria como Fórum Pró-Trabalho.

Para execução do Projeto Rede de Inclusão, o Ministério Público do Trabalho

destinou os recursos oriundos da multa administrativa imposta a uma instituição

mineira vinculada ao fórum, montante de R$ 339 mil reais destinados para a

montagem estrutural da rede e o restante para o projeto de qualificação e

elevação de escolaridade para as pessoas com deficiência, executado pela

CAADE/SEDESE/MG, pessoas as quais após a qualificação passarão a integrar o

banco de dados unificado da Rede.

O documento assinala que a rede de inclusão funcionará na sede da SRTE e

estará vinculada ao Núcleo de Igualdade de Oportunidades e ao Balcão de

Oportunidades de Emprego, oferecendo suporte a todos aqueles que necessitam

do cadastro.

Por outro lado, destaca-se, na análise realizada, que essa temática tem sido um

elemento de tensão e conflito entre integrantes. Alguns membros do fórum, por

exemplo, ainda discutem sobre o projeto da rede, demonstrando dúvidas sobre a

relação dela com o FPT, como foi observado nas entrevistas, conforme a seguinte

99

afirmação: “Pra mim tá misturado. É um órgão consultivo. O FPT é da sociedade

civil. Com a rede confundiu tudo” (SE2).

4.3.1.2 A dinâmica das reuniões e plenárias

A participação, ampla e livre (isto é, não obstruída) e a coordenação democrática

são condições necessárias para a efetivação de processos genuínos de gestão

social. Avritzer (2010, p. 149) salienta que, em espaços de organização social, a

inclusão de atores sociais com experiência e proximidade com os problemas

diários da população, adquirida na prática participativa, é um dos elementos que

dinamizam a representação política nos conselhos e oferece condições para uma

relação democrática.

Quanto a isso, Demo (2002, p. 93) descreve que as relações mais democráticas

fortalecem a participação e as lutas pela transformação social e a democracia

”não é algo que é automático, mas é fundamental para o desenvolvimento’’.

Essa ideia é debatida por Gohn (2001, p. 94) ao afirmar que:

O exercício da democracia em nome da cidadania de todos é um processo, não uma engenharia de regras. Como tal, ele demanda tempo, é construído por etapas de aproximações sucessivas, em que o erro é (ou deveria ser) tão pedagógico quanto o acerto.

Toro e Werneck (2007) discorrem sobre a circulação de informações como

aspecto fundamental para o funcionamento e aumento de uma rede, evidenciando

com destaque essa função para aqueles que promovem e lideram uma ação de

mobilização. Nesse nível se constituem essencialmente como facilitadores de

intercomunicação e não dirigentes, fomentadores e coordenadores de rede. Pode-

se concluir que a comunicação em processos de grupos, conselhos, fóruns e

redes representa elemento preponderante para fortalecê-los, visando atingir

fronteiras emancipatórias e empoderativas, nos processos que se identificam com

a gestão social.

100

Para ilustrar essa questão, no tocante à participação, tema vinculado à GS, os

integrantes chamaram a atenção para as últimas plenárias, já que estavam

demonstrando certo nível de esvaziamento exemplificado conforme declara SO5:

“eu estava fora e pude perceber poucas pessoas com mais frequência. Já teve 50

pessoas, hoje são 10”.

No que se refere à liderança da mesa diretora, ficou evidente que os membros

demonstraram certa dependência dessa instância para o funcionamento do fórum.

Esse aspecto dificulta a dinamização das pautas e encaminhamentos das

questões a serem debatidas.

A citação de SE1 pode exemplificar essa situação: “A mesma pessoa que

coordenava, apesar de tudo também tentava ter voz ativa”.

Assim também se pode confirmar com o que SP3 diz:

[...] na verdade todo mundo fala, mas normalmente o coordenador conduz o trabalho; deveriam ser respeitadas as decisões da plenária que é soberana... Como vou dizer... entre a plenária e a mesa diretora, o diálogo é desigual por causa da manipulação da gestão atual.

Apesar disso, de acordo com os participantes, as distintas manifestações são

expressas livremente, sem qualquer tipo de verticalidade ou cooptação, tal como

mostra o entrevistado: “Todos colocam suas opiniões. Tem discussões quentes e

calorosas e pesadas” (SO6).

Contudo, na observação participante, verificou-se certa desorganização quanto à

participação dos sujeitos e suas falas, havendo expressão de um ou mais

integrante de maneira concomitante, não havendo sistematização das inscrições

nas respectivas falas.

Foi possível perceber que a matéria rede de inclusão e todas as implicações que

envolvem seu funcionamento tomam todo o espaço de discussão, fazendo com

que a temática da inserção laboral e/ou inclusão produtiva permaneça afastada

da zona central das discussões. Essa afirmação pode ser confirmada com o

101

seguinte depoimento: “Nos últimos tempos ficamos presos a questões dos

problemas que impediram a construção da rede de inclusão” (SP3).

Além desses problemas citados, em relação a essas participações foi constatado

por meio das entrevistas que a pessoa com deficiência apresenta reduzida

participação: “são os que menos participam. Segmento historicamente

discriminado é isso mesmo. Como vou dizer... é complicado. Pessoas, atores

mais importantes da luta estão ausentes (SP3).

Por outro lado, outro componente do fórum afirma com mais detalhes que:

Eles são ausentes. Aí o nó da questão. Temos mais PCD representando as entidades. Eles não estão protagonistas! Mas alguém que tem a deficiência fala pela instituição que representa, geralmente é vinculado a uma instituição pública ou privada (SE2).

Dando continuidade ao debate acerca dessa questão, o setor empresarial,

segundo os entrevistados, apresentou a seguinte perspectiva:

As empresas, mais ouvem do que falam (SP.4). Empresas participam com o objetivo de colocar PCD. Poucas permanecem, após entendimento, saem. Absorvem o conhecimento e sai. Participação não plena (SE2).

Nesse quadro, Pateman (1992 apud GOHN, 2001, p. 20) define três tipos de

situação de participação: “a pseudoparticipação (quando há somente consulta a

um assunto por parte das autoridades); a participação parcial (muitos tomam

parte no processo, mas só uma parte decide o fato); e a participação total,

situação em que cada grupo de indivíduo tem igual influência na decisão final”.

Nesse ponto, ainda manifesta nessa mesma sequência: “deveria ter mais

empresas participando do FPT” (SE1). E relata que, em conjunto com uma ONG

participante do FPT, estão criando uma rede de empresas inclusivas.

A participação do segmento governamental mostrou-se de forma diferenciada

diante das entidades privadas e ONGs, destacando-se, na opinião de outro

entrevistado, SP3, como também no depoimento a seguir: “é diferente, muito

102

diferente. O poder público, manifestam com mais intensidade, conhecem a

legislação. As empresas mais ouvem do que falam e as ONGs falam muito”

(SP.4).

Outra verificação refere-se à participação dos representantes do INSS. Esse

órgão público, hoje, tem forte influência nos encaminhamentos e deliberações do

FPT, ao levar para as pautas as questões das pessoas reabilitadas, o que

garantiu a alteração da nomenclatura do Fórum Pró-Trabalho da Pessoa com

Deficiência e Reabilitada, acrescentado o termo “reabilitada” à sua identidade e

incorporando esse segmento ao escopo das ações do FPT.

Da mesma forma, o respondente SP6 revelou que o poder público é disponível e

oferece ferramenta e espaço sem ônus, mas as opiniões são pouco explícitas. De

todo modo, mostram-se colaborativos. Rigo et al. (2010, p. 66) consideram que:

A noção de gestão social indica e fortalece um novo modelo de relações entre o estado e a sociedade para o enfrentamento dos desafios contemporâneos. Um modelo no qual o Estado revê sua suposta primazia na condução de processos de transformação social e assume a complexidade de atores e de interesse em jogo como definidora dos próprios processos de definição e construção de bens públicos.

Segundo Rigo et al. (2010. p. 57), “o conceito de gestão social seria

desnecessário se tanto o agente público como o econômico praticassem uma

gestão republicana: uma gestão preocupada com a justiça social, com o interesse

pelo bem comum e não com interesses privados”.

Dessa maneira, pôde-se observar que a defesa de direitos das PCDs ao trabalho

por meio do fórum não se dá de forma linear. Entretanto, o que destaca são

diversos fatores e limitações que envolvem a participação, como a baixa

frequência às plenárias, condução autoritária de algumas lideranças e a reduzida

presença de PCDs que representam exclusivamente o segmento. Enfim, são

diversos os interesses que movem esses atores e, sobretudo, o protagonismo

exacerbado do setor público.

103

4.3.1.3 Algumas tensões e crises evidenciadas no FPT

Tensões e crises são processos inerentes a todo sistema vivo, pela dinamicidade

que lhe é própria (MORIN, 1996). Nesse sentido, crise, aqui, não é considerada

algo negativo ou pejorativo. Pelo contrário, representa a possibilidade dessa

organização dialogar e reconstruir suas pautas e reivindicações, bem como

reconfigurar seu projeto político e participativo. Desse modo, percebeu-se de

maneira não velada a existência de uma denominada “crise”. Entretanto,

constata-se, conforme Gohn (2010, p. 113), que:

A voz e vozes que entoam e ecoam de seus participantes carregadas de emoções, pensamentos, desejos etc. são falas que estiveram caladas e passaram a se expressar por algum motivo impulsionador (carência socioeconômica, direito individual ou coletivo usurpado ou negado, projeto de mudança, demanda não atendida). Ao se expressar, os atores/sujeitos dos processos de aprendizagem articulam o universo de saberes disponíveis, passados e presentes, no esforço de pensar/elaborar/reelaborar sobre a realidade em que vivem. Os códigos culturais são acionados e afloram as emoções contidas na subjetividade de cada um.

Dessa maneira, na observação participante, o que os sujeitos avaliam como

processo atual do grupo como “estado de crise”, a autora opta em avaliar por

outro olhar, percebendo o fórum como um sistema vivo, com sua dinamicidade

processual de discussão e reconstrução coletiva de grupos sociais

comprometidos. Estes, ao deparar com dúvidas e discussões carregadas de

emoções, possuem a riqueza de identificar equívocos, desconexões e

apontamentos que revelam momentos de “crise”, mas que, muitas vezes, podem

levar à busca de adequações e novos caminhos.

Partindo dessa ideia, Soares, Tassara e Ude (2010, p. 88) comentam que “um

paradigma inclusivo reconhece a impossibilidade de mudar o todo sem mudar as

partes e de mudar as partes sem alterar o todo, ou seja, ninguém se torna

conflituoso com o meio se o próprio meio não possibilita diálogos, negociações e

denúncias”.

As situações de conflito são explicitadas nas seguintes manifestações: “Diante do

atrito no ano fiquei neutra” (SE1).

104

Assim como também manifesta SP5: “entrei para o fórum mais para ajudar a

tratar as divergências. O ideal é ter no fórum pessoas mais mediadoras [...] A

crise do fórum e a identidade têm sido os pontos mais discutidos”.

As divergências fazem parte da dinâmica de fóruns, conselhos e outros espaços

de associação e discussão; todavia, faz-se necessário construir abertura para

diálogos por meio da mediação de conflitos.

Pontos convergentes e divergentes em reuniões e plenárias de grupos sociais

fazem parte de sua dinâmica. E a garantia do caráter democrático representa a

premissa básica para o implemento de uma sociedade mais inclusiva,

oportunizando mecanismos de consenso para que tal fenômeno não produza

descrédito institucional e, sobretudo, fragmentação do grupo, a qual pode gerar

evasão de seus membros.

Nesse sentido, a rede de inclusão tornou-se um projeto importante para o fórum,

mas sua implantação foi complexa, por diversos fatores, entre eles: os recursos

para sua implantação não eram administrados diretamente por ele; as plenárias

passaram a ter apenas a rede de inclusão como pauta, com consequente

esvaziamento nas plenárias; os gestores do fórum, participantes da mesa diretora

composta paritariamente entre a sociedade civil e o poder público,

desintenderam-se, ocasionado a saída da secretária executiva e,

sequencialmente, do representante do poder público.

Não se sabe o rumo que o FPT com sua problemática terá, mas acredita-se que

serão necessárias mediação e nova mobilização para resgatar a participação e

operacionalizar tanto o Projeto Rede de Inclusão como a missão maior do fórum,

de controle social da política de inserção laboral das PCDs no trabalho.

Destaca-se a relevância do fórum como espaço de participação democrática onde

sociedade civil (representada pelas OSCIPs e ONGs, muitas vezes prestadoras

de serviços do poder público), empresas e poder público se relacionam,

instituindo novo padrão entre sociedade e Estado. As divergências e dissensos

105

devem conduzir a um constructo a ser aprimorado, uma vez que nesse espaço

também há lutas políticas.

Concluiu-se, recorrendo a Demo (2000, p. 80), “que é ingênuo interpretar a

sociedade de fora do conflito. É ainda mais ingênuo acreditar que o conflito é a

impossibilidade de conviver”.

106

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar uma organização de defesa dos direitos à ocupação remunerada das

PCDs, denominado Fórum Pró-Trabalho das Pessoas com Deficiência e

Reabilitadas (FPT), que se mobiliza em torno da defesa do direito ao trabalho por

meio da Lei de Cotas, foi possível observar fatores, de sua práxis, relacionados à

inserção produtiva e à gestão social, em especial quanto à participação dos

sujeitos participantes.

A pesquisa evidenciou a capacidade do movimento social em se mobilizar por

meio de um fórum baseado numa gestão compartilhada entre distintos setores

sociais, de maneira democrática e dialógica, contribuindo para o alcance de seus

objetivos, apesar das condições precárias de manutenção das estruturas que

sustentam esse tipo de organização. Do ponto de vista da mobilização de atores

sociais, foi possível perceber a contribuição desse espaço como local de controle

social no acompanhamento da política pública, possibilitando o fomento em prol

da real situação de emprego para as PCDs e de sua efetiva “inclusão social pelo

trabalho”. O que se destaca nessa temática é a importância de se ocuparem

arenas nas quais a sociedade civil tenha a capacidade de articulação e

mobilização como estratégia de promoção da cidadania.

Como o FPT promove ações relacionadas à Lei de Cotas, foi necessário conhecer

essa política afirmativa instituída para garantir direitos ainda não afirmados na

sociedade e suas implicações do ponto de vista da maneira como vem sendo

cumprida a legislação.

Foi constatado que o fórum apresenta limites em sua atuação. Ele não possui um

processo de acompanhamento e monitoramento que possa dar a conhecer em

profundidade os tipos de ocupação que estão sendo oferecidas às PCDs, ou

mesmo um mapeamento, monitoramento e avaliação da qualidade de inserção

realizada ou a própria consequência dessa inserção para a vida dos sujeitos com

deficiência.

107

O pensamento a respeito do tema inserção produtiva foi estudado no intuito de

verificar se existe alguma avaliação do FPT quanto ao tipo de inserção real no

mundo do trabalho. Nesta investigação partiu-se da concepção de inclusão

produtiva tal como conceitua o MDS:

Todo processo conducente à formação de cidadãos integrados ao mundo pelo trabalho tem como perspectiva a conquista de autonomia para uma vida digna sustentada por parte de todas as pessoas apartadas ou fragilmente vinculadas à produção de renda e riqueza (BRASIL, 2011a).

Revendo esse conceito, essa inserção refere-se à condição social e econômica

do sujeito que, por meio do trabalho, adquire acesso e mobilidade social para

atingir um patamar que lhe propicie autonomia e melhoria na sua situação de

vida.

As entrevistas foram realizadas com seis membros participantes do FPT e um ex-

participante. O roteiro abordou variáveis que contribuíram para melhor

compreender questões referentes ao seu grau de institucionalização, aos

princípios que os orienta, suas finalidades, limites e possibilidades da inclusão

produtiva e quanto à questão da gestão (gerenciamento).

As entrevistas realizadas neste estudo contribuíram para ajudar a compreender

como a inserção produtiva vem sendo praticada e que não é uma prática que se

aproxima do conceito de inclusão produtiva, que possibilita a mudança real do

patamar de condição socioeconômica na vida do sujeito. Assim, foi possível

compreender que o tipo de inserção produtiva que vem sendo realizada nesta

avaliação está caracterizado como uma inclusão marginal e/ou precária, segundo

Martins (1997).

A diversidade de procedimentos utilizados - constituída de observação

participante não estruturada, entrevista e análise documental - proporcionou a

triangulação de técnicas na identificação dos temas mais recorrentes do estudo

realizado, sendo esse um dos apontamentos encontrados.

108

Na análise documental, priorizou-se analisar o regimento e as atas referentes a

2008, 2009 e 2010. Esse período destaca-se pela sistematização regular dos

registros, apesar da constatação de que as atas não são descritivas na íntegra e

não possuem regularidade descritiva nas suas transcrições. Ainda assim, por ser

uma organização não instituída por lei, a análise das atas oportunizou recolher

dados significativos para o estudo.

Como recurso metodológico para a análise das atas, utilizou-se o software Atlas

TI. Tal recurso metodológico também foi utilizado nos estudos de Avritzer (2010) e

é orientado para a análise de conteúdo, neste caso com ênfase na comunicação

dos participantes nas plenárias. Isso permitiu analisar a capacidade de

vocalização dos sujeitos, na perspectiva setorial (poder público, setor empresarial

ou as entidades de organizações não governamentais), quem fala mais, a

capacidade de proposição, destacando nesse campo o papel preponderante do

poder público.

Os elementos de análise, portanto, demonstraram forte poder de vocalização do

poder público em um fórum essencialmente com característica de “não

institucionalizado por lei” (distinto de conselhos de políticas públicas, por

exemplo), que se estrutura pelas necessidades e demanda social do segmento

social de PCD. O peso do governo no funcionamento do fórum parece ser

inquestionável, tanto na viabilização de espaço e em alguns períodos e eventos

com recursos financeiros.

Quanto à proposição e aprovação de propostas de ação, as diversas instâncias

governamentais representadas parecem efetivar uma liderança inconteste no

Fórum. Entretanto, deve-se atentar para que não gere relações hegemônicas por

parte do poder público frente às demais. As entrevistas revelaram certo receio de

participantes da sociedade civil em relação ao controle do FPT pelo Estado. Essa

informação foi também confirmada nas entrevistas.

Tanto nas entrevistas quanto na análise das atas destaca-se que as empresas

que dele participam parecem estar mais interessadas em ouvir, trocar experiência

e buscar conhecimento sobre a temática. Ademais, podem estar mobilizadas a

109

participar da entidade (FPT), que já possui certo reconhecimento institucional e

que conta com a forte presença de representantes de instituições governamentais

encarregadas de fiscalizar a aplicação das leis e, no caso de não cumprimento,

impor multas. Esse fator amplia as possibilidades do fórum como também

legitima seu espaço de rede articulada nessa temática e ressalta as

possibilidades do FPT como um lugar de interação e aprendizagem.

Outro interesse das empresas participantes parece buscar implantar instrumentos

que facilitem a elas o cumprimento das exigências legais para emprego de PCD,

o que é demonstrado pela importância que dão à discussão do Portal Rede de

Inclusão. Dessa maneira, pode-se observar que a defesa de direitos das pessoas

com deficiência não se dá de forma linear e homogênea do ponto de vista setorial

(governo, ONGs e empresas) na participação.

A participação das PCDs nos vários campos de diálogo e discussão e espaços

democráticos com o FPT poderá ser repensada de forma que o próprio sujeito se

envolva, defenda e garanta seu direito. Ou seja, conforme Pateman (1992, apud

GOHN, 2001), espera-se que assumam “participação total” nas situações que

tenham correspondência com sua realidade.

Portanto, a participação é um elemento preponderante em organizações de

gestão social, tal como o Fórum, que por seu caráter democrático tornam as

pessoas realmente parte integrante desse locus. Nesse sentido, é oportuno

reafirmar que a prática paradigmática fundamentada na participação, parceria e

interação dos sujeitos na vida social possibilita a aquisição de conhecimento,

aprendizagem, estímulos e oportunidades, substituindo ambientes segregatórios e

discriminatórios.

Percebe-se que está em formação uma nova visão da sociedade sobre as PCDs,

substituindo paulatinamente o paradigma anterior marcado por visões

preconceituosas e práticas assistencialistas e caritativas destinadas aos

indivíduos com deficiência. Nesse aspecto, o marco legal, por meio da Convenção

dos Direitos das PCDs recentemente adotada no Brasil, reforça as legislações

anteriores e avança no combate à discriminação contra a PCD quanto a questões

110

relacionadas a formas de emprego, em todas as etapas e condições de trabalho,

tais como seleção, recrutamento, contratação, admissão, permanência no

emprego, ascensão profissional e condições seguras e salubres de trabalho e

mesmo o trabalho forçado ou compulsório.

Destaca-se também a proteção ao direito trabalhista em igual condição aos

demais trabalhadores, com seus devidos direitos e consequente deveres, com

igual remuneração por trabalho de igual valor, além da reparação de injustiças e

assédio moral. Às PCDs também deve-se garantir condições de acesso à

orientação profissional técnica e profissional, reabilitação profissional,

oportunidade de trabalho autônomo, empreendedorismo, oportunidade de

emprego em órgãos públicos e privados. Ressalta-se assegurar as adaptações

razoáveis, não se desprezando a importante e contundente implementação da

acessibilidade, o que em nossa percepção deverá contemplar os aspectos

arquitetônicos, programáticos, metodológicos e das comunicações, entre outros,

colaborando com as condições ajustáveis para que o trabalhador com deficiência

possa, portanto, ser incluído de maneira adequada nas suas especificidades.

Esse rol de exigências são alguns elementos balizadores que o Ministério do

Trabalho e Emprego e o Ministério Público do Trabalho, por meio de suas

publicações, orientações e apoio a grupos organizados, vem esclarecendo,

conscientizando, ouvindo os sujeitos e ONGs e fiscalizando e realizando um

trabalho profícuo, com o compromisso de que essas diretrizes para promoção do

emprego remunerado para as PCDs sejam cumpridas (BRASIL, 2000c).

Dessa maneira, pode-se afirmar que as conquistas das PCDs caminham para a

inclusão produtiva e da cidadania não tutelada (DEMO, 2002), na perspectiva da

autonomia, empoderamento, emancipação socioeconômica das PCDs.

Todavia, apesar dos estudos defenderem a perspectiva da inclusão produtiva,

ainda prevalece a inclusão marginal ou precária e tutelada, uma vez que no

debate atual e nas próprias entrevistas a qualidade da inserção realizada não tem

destaque privilegiado nas discussões do fórum.

111

Os pontos listados a seguir muitas vezes são identificados como impeditivos para

o avanço da inserção produtiva das PCDs e podem constituir-se como um

diagnóstico de características e particularidades que deverão ser gerenciadas

para o pleno emprego das PCDs na sociedade no momento histórico atual:

As PCDs possuem baixo índice de escolaridade, em função da exclusão

vivenciada nos sistemas educacionais.

As PCDs não estão qualificadas.

O nível de exigência de escolaridade das empresas é elevado.

Há competição do benefício de prestação continuada e do benefício da

Previdência com a remuneração do trabalho da PCD. Boa parte das

pessoas acaba desistindo do trabalho em função da parca estabilidade

oferecida pela lei.

Devido ao preconceito e discriminação, as PCDs relatam dificuldades em

acreditar nas suas potencialidades, inclusive a laboral.

As entidades não possuem cadastro de PCDs aptas para o mercado de

trabalho.

As PCDs não sabem onde procurar oportunidades de trabalho.

As empresas às vezes até desejam empregar PCD, mas não sabem onde

encontrá-la.

As empresas não possuem conhecimento sobre as especificidades desse

público.

As empresas não estão dispostas a investir em acessibilidade,

impossibilitando o acesso de pessoas com certas deficiências ao posto de

trabalho.

A maioria das empresas não está disposta a fazer concessões e/ou

adequações específicas para as PCDs.

Os órgãos fiscalizadores atuam de forma ainda muito tímida.

Os órgãos fiscalizadores nem sempre possuem conhecimento específicos

sobre a questão, aceitando as justificativas apresentadas pelas empresas

pelo não cumprimento da cota.

As empresas não percebem o emprego de PCDs como exigência de

cumprimento da legislação, mas como uma benesse ou como ação de

responsabilidade social.

112

Faltam campanhas de sensibilização no meio empresarial.

Deve-se envolver as famílias na fase que antecede os programas de

capacitação e inclusão laboral, possibilitando conhecimento e segurança

aos familiares, no sentido de evitar posturas de superproteção ou tutela

junto às PCDs.

Esta dissertação não investigou diretamente esses impedimentos, reais e

alegados, ao emprego de PCD, ainda que a busca de identificação do conceito de

“inclusão produtiva” nas práticas do FPT tangenciasse alguns deles. Assim, cabe

uma postura crítica no intuito de desconstruir as abordagens assistencialistas que

desconsideram o propósito da inclusão e da cidadania autônoma e que não

contribuem para a emancipação dos sujeitos.

A sugestão que se pode fazer, nesse aspecto, refere-se à busca de transpor

esses obstáculos por meio de tecnologias sociais, que podem significar, todavia,

ponto de partida para outros estudos (BRASIL, 2005). Entretanto, a partir desta

pesquisa, a principal ferramenta que se apresenta relaciona-se ao desafio dos

gestores para a implantação de programas dessa natureza na perspectiva da

gestão social.

Da análise das entrevistas realizadas neste estudo com os participantes,

constatou-se que eles têm visões diferenciadas sobre os princípios e a finalidade

do FPT. Por outro lado, ficou evidenciado que o FPT representa a possibilidade

de ser lugar de promoção, aprendizagem e instrumentalização para seus

participantes. Os participantes compartilham o interesse em defendê-lo como

espaço democrático e de articulação de redes, ainda que vejam dificuldades no

seu funcionamento (coordenação autoritária para uns, comunicação manipulada

para outros, a excessiva dedicação à constituição do Portal da Inclusão e a

absorção do Fórum pelo Estado ainda para outros).

Muitas vezes, um aparente caos, identificado em momentos de crises, exige que

se reconstruam e organizem saberes e que se compartilhem experiências.

Entende-se que esses espaços apresentam limitações e necessitam melhorar a

sua capacidade de comunicação, articulação, mobilização e escuta, com o

113

objetivo de ampliar e fortalecer suas ações. Além disso, detectou-se a

necessidade da oferta de instâncias formadoras, como oferta de formação

continuada para seus membros.

A GS representa um “modo de fazer” complexo, em que se emaranham distintos

fatores, atribuições, interesses e trajetórias. Mas a práxis do FPT se aproxima da

caracterização do modelo inclusivo e sinaliza a convergência com os conceitos de

GS do ponto de vista de suas características, finalidades e funções.

Nesse contexto, resgata-se o conceito de GS de Maia (2005, p. 15-16):

Assim, compreendemos gestão social como um conjunto de processos sociais com potencial viabilizador do desenvolvimento societário emancipatório e transformador. É fundada nos valores, práticas e formação da democracia e da cidadania, em vista do enfrentamento às expressões da questão social, da garantia dos direitos humanos universais e da afirmação dos interesses e espaços públicos como padrões de uma nova civilidade. Construção realizada em pactuação democrática, nos âmbitos local, nacional e mundial; entre os agentes das esferas da sociedade civil, sociedade política e da economia, com efetiva participação dos cidadãos historicamente excluídos dos processos de distribuição das riquezas e do poder.

Tal definição pode parecer utópica em uma sociedade capitalista, mas parece,

sobretudo, estar mais próxima e adequada, apresentando a possibilidade de

pavimentar o caminho para se alcançar uma gestão que atenda às necessidades

e demandas específicas para situações sociais mais injustas e de grupos

historicamente vulneráveis, tais como as das PCDs.

A contribuição deste estudo destaca a riqueza de fóruns dessa natureza,

composto pela diversidade de seus componentes e a sua característica

intersetorial e dialógica. O campo de gestão social ou de gestão do

desenvolvimento social apresenta-se como uma grande possibilidade, um reflexo

das práticas e do multiconhecimento construído por múltiplas disciplinas,

delineando-se uma proposta multiparadigmática, de natureza interdisciplinar.

As organizações sociais estão sempre redefinindo as suas práticas e adquirindo

novos conhecimentos. Portanto, se reorganizam e se ressignificam de acordo

com o momento histórico, político e social. Todavia, a obrigatoriedade do

114

cumprimento das cotas apresenta essa característica peculiar de exigir a

superação de obstáculos, o que possibilitará inovação, busca de ajudas técnicas

e até mesmo desenvolvimento local nos territórios vulneráveis. São novas

práticas que, ao se realizarem, adquirem significados e formas para subsidiar o

alcance da tão necessária justiça pela inclusão social.

Dessa maneira, do ponto de vista de limites e possibilidades, a inclusão produtiva

necessita, em primeiro lugar, ser entendida como um conceito permeado de

valores emancipatórios do sujeito em sua vida econômica social e cultural, mais

bem desenvolvida em um contexto de GS. Por outro lado, o FPT, no período

estudado, demonstrou mais preocupação com a racionalidade instrumental

(relacionada aos fins) em detrimento da racionalidade substantiva (em relação

aos seus valores), ao centrar suas discussões e debates na Rede de Inclusão. Tal

encaminhamento não invalida seu campo de organização e possibilidades, que se

materializa pela prática de construção e decisão coletiva dos atores envolvidos

em prol da inclusão social.

No caso das políticas públicas para as PCDs, justifica-se a criação de espaços

sistemáticos de construção coletiva, com orientação teórico-prática entre a

sociedade civil e o poder público, com características e valores teórico-conceituais

da gestão social, necessários para propiciar espaço de participação, mobilização

e diversidade, proposição, aprendizagem, promoção de valores, busca de

finalidades, reflexão, comunicação e ações estratégicas de enfrentamento que,

para além das cotas legais, desconstruam paradigmas, preconceitos e

discriminações.

115

REFERÊNCIAS

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116

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122

APÊNDICES E ANEXO

Apêndice A – Roteiro de entrevista

1) Quanto à Constituição do FPT:

a) Há quanto tempo você frequenta o FPT?

b) Como você passou a fazer parte do FPT? E sua entidade?

c) Existe algum critério para o ingresso no FPT? Como os participantes

ingressam no FPT?

d) Você é assíduo às reuniões? E os outros membros? Quem é mais assíduo?

e) Qual a principal característica do FPT?

f) No seu entendimento, qual a finalidade do FPT?

g) Qual a identidade do FPT? Como você reconhece o FPT? Como ele é

reconhecido frente à sociedade?

2) Quanto ao funcionamento e organização:

a) Como o FPT funciona no dia-a-dia? Por meio de que eventos (plenárias,

reuniões, seminários)?

b) Como é feito o monitoramento do funcionamento?

c) Qual a frequência dos encontros? Como são convocados?

d) Qual o problema mais comum, isto é, mais frequente quanto ao

funcionamento do FPT? O FPT conversa e discute isso?

e) Quais as principais atividades do FPT?

f) Quais são as ações mais importantes?

g) Como são organizadas as pautas?

h) Quais têm sido os pontos mais discutidos recentemente?

i) As pautas contemplam aspectos de promoção para o emprego de PCD?

Como?

j) Relate uma reunião típica.

k) Como são tratadas as divergências quanto às atividades e funções do FPT?

123

l) Quais os maiores êxitos da atuação do FPT em sua opinião?

m) Quais as principais dificuldades para uma atuação mais efetiva do FPT?

Essa dificuldade já foi ponto de pauta de debates no FPT?

3) Quanto aos princípios:

a) Quais os princípios que norteiam as ações do FPT?

b) Qual a função social do FPT? Qual a maior preocupação do FPT?

c) Qual a função social na perspectiva dos direitos humanos?

d) O FPT cumpre seu papel e/ou sua função social nessa perspectiva?

e) No que diz respeito à ocupação econômica de PCD, quais os princípios que

norteiam o FPT?

f) Como são encaminhadas as deliberações?

g) Como se dá a participação dos membros nas reuniões?

h) Quem coordena? É sempre a mesma pessoa? Quem fala mais?

i) O FPT trabalha de forma integrada com outras entidades (empresas,

instituições, outros fóruns, conselhos etc.)? Trabalha em redes de forma

articulada?

4) Quanto às finalidades, limites e possibilidades da inclusão produtiva

(ações):

a) Como você avalia a evolução da inserção das PCDs no trabalho no Brasil?

E na sociedade?

b) Como estão sendo desenvolvidas as ações voltadas para a ocupação

econômica de PCD? O FPT visa só à promoção do emprego ou também

da auto-ocupação e geração de renda?

c) Quais são as intencionalidades da promoção da ocupação econômica das

PCDs? Quais são as ações? Quais você considera principais ações?

Existem parcerias para executar essas ações? Quais são?

d) Como você classifica o tipo de inserção de PCD no mercado de trabalho?

Trabalho qualificado ( ) Subemprego ( ) Trabalho precário ( ) Por quê?

e) O FPT segue ou sugere alguma metodologia de ação para inserção das

PCDs no mercado de trabalho? Existe alguma metodologia de

acompanhamento dos casos encaminhados?

f) Quais as dificuldades encontradas?

124

g) O que pode ser feito para melhorar a situação?

h) O FPT avalia o tipo de ocupação econômica que está sendo promovido por

sua atuação? Como é avaliado? Qual é o tipo de ocupação? (Se não há

informação do FPT, descreva o que você imagina ser o tipo de ocupação

criada pela atuação do FPT).

5) Quanto à gestão?

a) Quais as instituições que participam do FPT? Quais não estão e que

deveriam estar?

b) Como se dá a participação dos membros do FPT? (Poder público,

entidades privadas, ONGs)? E do sujeito com deficiência?

c) Como se dá a coordenação do FPT? Como é escolhida?

d) Para você, como quais características a coordenação do FPT deve ter?

e) Como você qualifica as características principais do gestor atual do FPT?

f) Em sua avaliação, qual é o perfil do gestor ou da liderança: democrática ( )

autoritária ( ) centralizadora ( ) Não centralizadora ( ) Por quê?

g) Como se faz a gestão dos projetos do FPT?

h) Quanto às deliberações, como deveriam ser encaminhadas?

i) Quanto ao poder decisório, como deveria ser?

j) Como se dá a comunicação entre os membros? E a interação?

k) E com a sociedade, como é a comunicação? E a interação?

l) Quais têm sido os principais dilemas quanto à gestão do FPT? Isso foi

discutido no FPT?

m) Qual a fonte de recursos para funcionamento do FPT?

n) Qual importância do software para você? O que tem a ver com a função

principal do FPT?

o) O FPT proporciona alguma aprendizagem? Que aprendizagem a sua

participação no FPT proporciona?

p) O próprio FPT mudou sua forma de funcionar, de se gerir, de pensar a

inserção da PCD no mercado de trabalho ao longo do tempo? Como? Por

quê?

125

Apêndice B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Título da Pesquisa: “Inclusão produtiva da pessoa com deficiência por meio da

gestão social: um estudo acerca do Fórum-Pró-Trabalho”.

Nome do pesquisador principal ou orientador(a): Frederico Luiz Barbosa de Melo.

Nome da pesquisadora assistente/aluna: Maria Cristina Abreu Domingos Reis.

1. Natureza da pesquisa: o sr.(a.) está sendo convidado(a) a participar desta

pesquisa, que tem como finalidade analisar limites e possibilidades do

processo de um fórum voltado para subsidiar e promover o emprego de PCD

nos marcos da Lei de Cotas, sob a perspectiva dos direitos humanos e da

gestão social.

2. Participantes da pesquisa: serão sete participantes do Fórum-Pró-Trabalho,

sendo dois gestores de ONGs, dois gestores de empresas ou instituições

públicas, dois gestores de empresa privadas e uma pessoa que participou e

não participa mais do fórum.

3. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo, o sr. (a) permitirá que

a pesquisadora, Sra. Maria Cristina Abreu Domingos Reis, realize entrevista

com o(a) Sr.(a) O (o) Sr. (a.) tem liberdade de se recusar a participar e a

continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo

para o Sr.(a). Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a

pesquisa pelo telefone da pesquisadora do projeto e, se necessário, pelo

telefone do Comitê de Ética em Pesquisa.

4. Sobre as entrevistas (se houver, especificar como serão realizadas): as

entrevistas serão conduzidas pela mestranda e pesquisadora Maria Cristina

Abreu Domingos Reis, que seguirá um roteiro específico previamente

aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNA. As entrevistas serão

gravadas para posterior análise.

5. Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não traz complicações

legais. As questões podem gerar alguma dúvida ou desconforto relacionados

ao conhecimento ou desconhecimento sobre questões abordadas. As

entrevistas não geram qualquer tipo de risco para qualquer um dos

entrevistados. Os. procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos

Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos, conforme Resolução no.

126

196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos usados

oferece riscos à sua dignidade.

6. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são

estritamente confidenciais. Somente a pesquisadora e o(a) orientador(a) terão

conhecimento dos dados.

7. Benefícios: ao participar desta pesquisa, o Sr.(a) não terá qualquer benefício

direto. Entretanto, esperamos que este estudo traga informações importantes

sobre (.......), de forma que o conhecimento que será construído a partir desta

pesquisa possa (........), comprometendo-se a pesquisadora a divulgar os

resultados obtidos.

8. Pagamento: o Sr.(a) não terá algum tipo de despesa para participar desta

pesquisa, bem como nada será pago por sua participação.

Após esses esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma

livre para participar desta pesquisa. Preencha, por favor, os itens que se seguem.

Obs: Não assine este termo se ainda tiver dúvida a respeito.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens aqui apresentados, eu, de forma livre e

esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro

que recebi cópia deste termo de consentimento e autorizo a realização da

pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo.

Nome do Participante da Pesquisa Assinatura do Participante da Pesquisa

Assinatura do Pesquisador Assinatura do Orientador

Pesquisador Principal: Frederico Luiz Barbosa de Melo – 9904-9579

Demais pesquisadores: Maria Cristina Abreu Domingos Reis – 9975-0015

Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4º andar – Belo

Horizonte/MG

Contato: email: [email protected]

127

Apêndice C – Produto final

Instrumento de avaliação de fóruns de gestão social

Como consequência do estudo “A gestão social e a inclusão produtiva: limites e

possibilidade da experiência do Fórum Pró-Trabalho das Pessoas com

Deficiência”, construiu-se um instrumento de avaliação do funcionamento de

instâncias de participação da sociedade civil (tais como fóruns, colegiados,

redes), contemplando variáveis da participação e da gestão social (GS). Seu

objetivo é aprimorar os mecanismos de organização e compromissos assumidos

de uma mobilização com viés na democratização e participação da sociedade civil

organizada, na elaboração, implementação, monitoramento e avaliação das

políticas públicas. São propostos dois indicadores, com os respectivos diagramas

por dimensões: um para a qualidade da participação e outro para a qualidade da

GS.

Com a Constituição Cidadã de 1988, a participação da sociedade civil tornou-se

uma realidade constante na dinâmica da sociedade. Os grupos sociais

vulneráveis, na busca de conquista de seus espaços e também de políticas

públicas que atendam a seus anseios, encontraram ambiente propício à

mobilização por meio de conselhos e fóruns. Essas organizações possuem

pautas, reuniões sistemáticas e estratégias de gestão das políticas públicas para

alcançar as suas finalidades.

Nesse sentido, compreendendo a importância dessas iniciativas políticas da

sociedade, torna-se necessário de maneira concreta avaliar o percurso dessas

organizações para cada vez mais aprimorar intenções e ações. Portanto, a

contribuição que ora se apresenta refere-se, de maneira simplificada, à avaliação

de aspectos que envolvem a gestão desses grupos.

Do ponto de vista conceitual, essa ferramenta possui grande afinidade com a

denominada GS, elemento mais adequado às características desses movimentos

sociais.

128

Para melhor explicitar o que se propõe, remete-se ao conceito de GS de Maia

(2005):

Assim, compreendemos gestão social como um conjunto de processos sociais com potencial viabilizador do desenvolvimento societário emancipatório e transformador. É fundada nos valores, práticas e formação da democracia e da cidadania, em vista do enfrentamento às expressões da questão social, da garantia dos direitos humanos universais e da afirmação dos interesses e espaços públicos como padrões de uma nova civilidade. Construção realizada em pactuação democrática, nos âmbitos local, nacional e mundial; entre os agentes das esferas da sociedade civil, sociedade política e da economia, com efetiva participação dos cidadãos historicamente excluídos dos processos de distribuição das riquezas e do poder (MAIA, 2005, p. 15-16).

Como também ao conceito de Fischer, denominando a GS como aquela que:

Articula múltiplas escalas de poder individual e social; que trabalha a identidade de projeto, refletindo e criando pautas culturais; que coordena interorganizações eficazes; que promove ação e aprendizagem coletiva; que se comunica e difunde resultados; que presta contas à sociedade; que reavalia e recria estratégias processuais (FISCHER, 2002, p.12).

A ferramenta criada é de um diagrama composto de 10 variáveis que irão

considerar o bom desempenho de uma GS e, em específico, de participação

social nas instâncias de GS.

Esse instrumento foi inspirado no mapa criado por Ude (2008), o qual avalia os

vínculos externos de uma rede institucional, com o intuito de identificar

fragilidades, potencialidades e vulnerabilidades que configuram o campo

intersetorial a ser pesquisado. A ideia é:

Cada pessoa implicada na avaliação dá uma nota para as 10 dimensões;

as alternativas de notas são: 1 (péssimo), 2 (ruim), 3 (satisfatório), 4 (bom)

e 5 (ótimo);

tiram-se as médias de cada dimensão (aqui há duas alternativas: a) faz-se

o cálculo da média total das médias de cada dimensão; ou b) dá-se peso

maior para uma ou outra dimensão e calcula-se a média ponderada (por

esses pesos) das médias de cada dimensão;

chega-se a um indicador de “boa participação” e outro de "boa gestão

social" (ou má)!

129

Esses critérios foram elaborados como ferramenta de avaliação de fóruns e/ou

conselhos de direitos, na perspectiva de determinar pontos frágeis e fortes na

organização de um grupo social, que de maneira sistemática se organiza por meio

de objetivos comuns para acompanhar e realizar o controle social de algum tema

vinculado a políticas públicas.

1.1 Instrumento da avaliação da participação dos membros de um fórum de

gestão social

1.1.1 Participação

Considera-se que “participação” é uma característica central e definidora das

instâncias de GS. Ou seja, não se concebe um fórum ou conselho de GS que não

seja composto por indivíduos e representantes de entidades distintas (do Estado,

da sociedade civil, das empresas, de organizações não governamentais, etc.) e

em que não ocorra interação entre eles e a formulação de contribuições de

diversas origens para alcançar seus objetivos.

1.1.2 Dimensões para avaliação da participação

O QUADRO 1 mostra o significado dos termos empregados nessa dimensão.

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QUADRO 1 – Dimensões da participação em fóruns de GS e respectivos

significados

Termo Significado

1-Assiduidade Presença dos participantes às reuniões, plenárias, e eventos.

2-Durabilidade Tempo de participação da pessoa e/ou da instituição no fórum.

3-Diversidade Pluralidade de segmentos e pessoas, de todos os grupos sociais com interesse no tema, presentes no fórum.

4-Diálogo e vocalização Expressão e manifestação de opiniões numa lógica dialógica em que todos têm direito à voz e à expressão de ideias e opiniões.

5-Proposição Capacidade de apresentar propostas que são acatadas.

6-Processos deliberativos Ação de decidir mediante discussão e decisão coletiva.

7-Aprendizagem Conjunto de processos de construção de conhecimento a partir de experiências que implicam interações de reciprocidade .

8-Construção coletiva Elaboração (de proposta ou de ação) que compreende ou abrange muitas pessoas ou um grupo.

9-Coordenação Pessoa ou grupo que organiza o trabalho de um grupo, cujos elementos têm autonomia para organizar seu próprio trabalho.

10-Mobilização Capacidade dos membros do fórum em arregimentar pessoas e entidades que não fazem parte do fórum, para suas ações e para a realização de seus objetivos.

131

FIGURA 1 – Instrumento de avaliação da participação em fóruns e conselhos

1.2 Instrumento de avaliação da atuação de um fórum de GS

Esse instrumento diz respeito à qualidade da atuação dos fóruns de GS,

desdobrando-se em dimensões que os estudos acerca de processos de GS

ressaltam como componentes importantes em instâncias de participação social

voltadas para diferentes formas de contribuição e intervenção em políticas sociais

ou problemas afins.

1.2.1 Dimensões para avaliação da GS

No QUADRO 2 ressalta-se o significado dos termos nessa dimensão.

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QUADRO 2 – Dimensões da GS e respectivos significados

Termo Significado

1-Participação É a tomada de parte pela pessoa em algo exterior a si mesma, visando à consecução de um objetivo compartilhado com outros.

2-Valores Conjunto de princípios, ideias e julgamentos que orientam a ação.

3-Finalidades/ propósitos Fim a que se destina, metas e objetivos.

4-Orientação teórica para a prática

Clareza nas referências teóricas, que orienta a execução concreta de uma ação e a busca da finalidade, segundo os valores que fundam o fórum .

5-Articulação de redes Integração das ações do fórum nas políticas, programas e articulação de grupos e pessoas na perspectiva da intersetorialidade.

6-Monitoramento Acompanhamento da realização das ações do fórum referentes a seus objetivos.

7-Comunicação (externa) Estabelecimento de relação entre pessoas, grupos, organizações mediante o emprego de diversos tipos de linguagem, em um tipo de interação em que sempre estão presentes um emissor, um canal, um receptor e uma mensagem.

8-Resultados (eficácia e efetividade)

Análise dos produtos de uma ação. Eficácia diz respeito ao alcance dos objetivos pretendidos, se estão sendo verificados ou não, enquanto efetividade remete à geração de resultados mais amplos, não diretamente pretendidos.

9-Recursos Elementos e meios necessários para a execução de um trabalho ou de uma ação.

10-Organização Modo ou forma que se dispõe a funcionar.

Observe-se que a nota referente ao item ”participação” poderá ser levantada por

meio do instrumento anterior proposto. Ou seja, o resultado final do primeiro

instrumento (para avaliação da participação) poderá ser trazido para esse

instrumento de avaliação da GS.

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FIGURA 2 – Instrumento de avaliação da GS

Referências

FISCHER, Tânia. A Gestão do desenvolvimento social: agenda em aberto e propostas de qualificação. 2002. Disponível em <http://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/documents/clad/clad0044559.pdf> Acesso em: 21/01/2011. Maia (2005) MAIA, Marilene. Gestão Social: reconhecendo e construindo referenciais. Revista Virtual Textos & Contextos. nº 4, dez. 2005. UDE MARQUES, Walter Ernesto. Enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil e construção de redes sociais: produção de indicadores e possibilidades de intervenção. In: CUNHA, Edite da Penha et al. (orgs). Enfrentamento à violência sexual infanto-juvenil: expansão do PAIR em Minas Gerais. Belo Horizonte: UFMG, 2008.

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Anexo A – Parecer ético

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ANEXO B – Regimento Interno do Fórum Pró-Trabalho

REGIMENTO INTERNO

CAPÍTULO I – DA DEFINIÇÃO

Artigo 1º - O presente regimento regula as atividades e atribuições do O FÓRUM PRÓ-TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA, criado pela plenária de instituições governamentais e não governamentais reunidas no auditório do Instituto São Rafael, no dia 10 de abril de 2000.

CAPÍTULO II – DA NATUREZA E FUNCIONAMENTO

Artigo 2º - O FÓRUM PRÓ-TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA, órgão consultivo, atuará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por tempo indeterminado, conforme as disposições deste Regimento.

CAPÍTULO III – DO OBJETO

Artigo 3º - O FÓRUM PRÓ-TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA tem por objeto a articulação de entidades e órgãos com interesse no tema, com a finalidade de organização do ideário de Diretrizes para a implantação de estratégias de inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, respeitadas as competências e as atribuições legais dos órgãos participantes.

CAPÍLO IV – DAS ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS DO FORUM

Artigo 4º - Compete ao FÓRUM PRÓ-TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA:

I. Promover a articulação de órgãos e entidades com interesse no tema, objetivando o estabelecimento de diálogo constante e distribuição da informação entre os órgãos participantes;

II. Propor, através de documentação gerada por consenso entre as entidades participantes, medidas legais, educativas e outras que promovam a inclusão da pessoa com deficiência no Mercado de

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Trabalho e que desencorajem a propagação de casos de discriminação;

III. Articular com organismos nacionais e/ou internacionais mecanismos de cooperação visando a realização de estudos de diagnóstico e análise dos fatores mais comumente verificados no Mercado de Trabalho e na sociedade em geral que tratem da inclusão da pessoa com deficiência.

IV. Baseado nos estudos ressaltados no inciso III e em estudos sobre o Mercado de Trabalho, propor medidas de adequação, promoção, extinção, conforme o caso, bem como solicitar procedimento investigatório ao Ministério Público do Trabalho, para ajustamento de conduta na contratação e cumprimento da lei n.º 8213/91;

V. Promover articulação entre as entidades envolvidas e a facilitação de ações de conscientização da sociedade quanto às potencialidades profissionais da pessoa com deficiência;

VI. Incentivar, em parceria com entidades que a compõe a participação de todos os segmentos sociais buscando alternativas para solução de problemas existentes com relação a inclusão no Mercado de Trabalho da pessoa com deficiência;

VII. Estimular e eventualmente coordenar a cooperação técnica e financeira entre os representantes governamentais e não governamentais, visando garantir a consecução dos seus objetivos;

VIII. Coordenar e incentivar a execução e a promoção de ações afirmativas que objetivem a inclusão da pessoa com deficiência no Mercado de Trabalho;

IX. Solicitar e socializar dados e informações acerca do tema relativo à pessoa com deficiência, possibilitando a elaboração de propostas e a revisão da legislação pertinente ou a sua regulamentação, quando se fizer necessário;

X. Discutir e propor ações para qualificação profissional para pessoa com deficiência para geração de trabalho e renda, bem como firmar acordos de cooperação com organismos de capacitação;

XI. Pronunciar-se sobre as questões de discriminação no Mercado de Trabalho denunciando-as aos órgãos competentes;

XII. Buscar a sistematização das ações de inclusão da pessoa com deficiência no Mercado de Trabalho através da orientação e divulgação de ações isoladas de cada uma das entidades participantes;

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XIII. Contribuir para a redefinição de políticas públicas, garantindo que o indivíduo com deficiência possa tornar-se produtivo, assegurando a este segmento social o direito a cidadania;

XIV. Orientar as empresas, entidades patronais e de trabalhadores quanto a obrigatoriedade legal de oferta de trabalho para pessoa com deficiência ( Instrução Normativa n.º 20 de 26 de Janeiro de 2001), bem como quanto às possibilidades na admissão de pessoas com necessidades especiais, classificadas como Portadoras de Deficiência, segundo critérios expressos no decreto n.º 3214 de 20 de Dezembro de 1999;

XV. Esclarecer o empregador quanto aos recursos tecnológicos existentes para adequação do ambiente de trabalho e da necessidade de tal adequação para cumprimento do disposto Decreto supra citados.

CAPÍTULO V – DA COMPOSIÇÃO

Art. 5º - Integram O FÓRUM PRÓ-TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA, como membros efetivos, os órgãos e entidades presentes na plenária de 10 de Abril de 2000, constante da ata da reunião de 10/04.

Parágrafo único – Cada um dos membros efetivos indicará, por escrito seu representante em respectivo suplente.

Art. 6º - A participação de outros órgãos e entidades, que tenham interesses específicos ou pontuais nos problemas discutidos nas reuniões do FÓRUM, será apreciada em plenário, estando sua aprovação condicionada à maioria simples dos votos dos demais membros efetivos.

Art. 7º - Outros órgãos e entidades, que tenham interesses específicos e pontuais nos problemas discutidos nas reuniões do FÒRUM, poderão ser convidados a delas participar, na condição de membros colaboradores.

Art. 8º - A saída ou afastamento de qualquer membro efetivo deverá ser comunicada por escrito à mesa diretora do FÒRUM, com a indicação dos motivos que o(a) determinaram.

Parágrafo único – A coordenação dará ciência do ato e de seus motivos determinantes aos demais membros do FÓRUM, na plenária imediatamente subsequente.

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Art. 9º - Considera-se excluído o membro que, sem justificativa, faltar a três (03) reuniões consecutivas ou cinco (05) reuniões alternadas pelo período de doze (12) meses.

Parágrafo 1º - As justificativas deverão ser encaminhadas por escrito.

Parágrafo 2º - Ocorrendo a hipótese prevista no caput, a Coordenação do FÒRUM fará a comunicação por escrito do membro excluído.

Art. 10º - Somente terão direito a voto os membros efetivos, pelos seus representantes, e, na ausência desses, dos respectivos suplentes.

CAPÍTULO VI – DA ESTRUTURA DO FUNCIONAMENTO

Art. 11º - O FÓRUM PRÓ-TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA é constituído por:

I. Plenário II. Mesa Diretora III. Comissões Permanentes IV. Comissões Provisórias

Sessão I – Do Plenário

Art. 12º - O Plenário é a instância deliberativa do FÓRUM PRÓ-TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA, constituindo-se pela reunião ordinária ou extraordinária dos seus membros.

Art. 13º - O FÓRUM reunir-se ordinariamente mensalmente, por convoção de seu coordenador, ou extraordinariamente, mediante convocação de seu coordenador ou de 10 (dez) de seus membros, observado, em ambos os casos, o prazo mínimo, de 05 (cinco) dias corridos para a realização da reunião.

Parágrafo único – Qualquer membro poderá solicitar à Mesa Diretora convocação de Reunião extraordinária, devendo esta ser avaliada.

Art. 14º – Nas reuniões ordinárias, poderá o Plenário discutir e deliberar sobre matérias estranhas à ordem do dia desde que aprovada pela maioria simples dos presentes.

Art. 15 – Cabe ao Plenário:

I. Deliberar sobre os assuntos de sua competência e os encaminhados para a apreciação e deliberação do FÓRUM PRÓ-TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA;

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II. Aprovar a criação e a dissolução das Comissões, Grupos de Estudo e/ou de Trabalho e suas respectivas competências, composições, procedimentos e prazos de duração;

III. Acompanhar as ações de atendimento desenvolvidas por entidades governamentais ou não governamentais, orientar e/ou solicitar o reordenamento de programas, projetos e serviços ás entidades responsáveis;

IV. Acompanhar a execução de planos e a aplicação de recursos existentes pelas entidades do setor público ou da sociedade civil – desde que os fundos sejam originados dos cofres públicos – destinados à área de assistência, qualificação e inclusão da pessoa com deficiência;

V. Alterar ou modificar o Regimento Interno, com quorum de 2/3 de seus membros, em reunião especialmente convocada;

VI. Eleger a Mesa do O FÓRUM PRÓ-TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA;

Parágrafo 1º - As Assembleias Gerais serão instaladas, em primeira convocação, com a presença da maioria simples de seus membros e, em Segunda chamada após 15 minutos, com a presença de qualquer número, salvo quando se tratar de matéria relacionada a regulamento interno, quando o quorum mínimo será de 2/3 (dois terços) de seus membros.

Parágrafo 2º - A matéria em pauta, não deliberada, permanece nas pautas das reuniões subsequentes até a sua deliberação.

Parágrafo 3º - O Plenário será presidido pelo Coordenador do FÓRUM PRÓ-TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊCIA, que em sua falta ou impedimento será substituído por seu suplente e na falta deste pelo Secretário-Geral, ou 2ºSecretário, nesta ordem.

Parágrafo 4º - As deliberações serão tomadas por maioria simples, salvo nos casos definidos em contrário;

Parágrafo 5º - As votações poderão ser abertas ou secretas, tendo cada membro titular direito a um voto.

Parágrafo 6º - Os votos divergentes poderão ser expressos na ata da reunião, a pedido do membro que o proferiu, sendo optativa sua declaração.

Parágrafo 7º - As reuniões do FÓRUM serão públicas.

Parágrafo 8º - Em caso de empate e esgotada todas as alternativas de discussão será feita nova votação e persistindo o empate o Coordenador decidirá pelo voto Minerva.

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Art. 16 – AS manifestações do FÓRUM se darão por meio de resoluções, deliberações e recomendações.

Parágrafo único – as recomendações do FÓRUM serão aprovadas pela maioria simples dos votos dos presentes membros a elas vinculados, respeitadas as competências dos órgãos participantes.

Art. 17 – Os trabalhos do Plenário obedecerão a:

I. Verificação do quorum para instalação dos trabalhos; II. Leitura, apreciação e votação da ata da reunião plenária anterior; III. Leitura da carta convocatória, discussão e aprovação da agenda; IV. Espaço para aviso, comunicações, registro de fatos, apresentação de

proposições, correspondência e outros documentos de interesse do plenário;

V. Relatos de comissões; VI. Espaço para critério do plenário e mediante inscrição prévia, serem

debatidos ou levados a conhecimento assuntos referentes ao objeto do FÓRUM;

VII. Encaminhamentos VIII. Encerramento

Art. 18 – A cada reunião será lavrada uma ata com a exposição dos trabalhos, conclusões e deliberações, a qual será assinada pela Mesa Diretora, constando a data de sua aprovação pelo Plenário e posteriormente arquivada na Secretaria do Fórum.

Parágrafo Único – A assinatura de todos os membros presentes á reunião deverá constar de livros ou lista de presença.

Art. 19 – As datas de realização das reuniões ordinárias do FÓRUM serão estabelecidas em cronograma e sua duração será a julgada necessária, podendo as mesmas serem interrompidas para prosseguimento em data e hora e serem estabelecidas pelos presentes.

Art. 20 – Os membros integrantes do FÓRUM deverão ser informados dos assuntos da ordem do dia, mediante correspondência visual e braile, com antecedência mínima de 07 (sete) dias.

SEÇÃO II – DA MESA DIRETORA

Art. 21 – A Mesa Diretora, para mandato de 02 (dois) anos, é composta pelos seguintes cargos:

I. Coordenador II. Secretário-Geral

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III. 1º Secretário IV. 2º Secretário

Parágrafo primeiro – O membro efetivo ocupante de qualquer cargo na Mesa Diretora poderá ser reeleito uma única vez, por igual período, qualquer que seja o cargo ocupado neste novo período.

Parágrafo segundo: Obrigatoriamente a mesa diretora será composta por uma pessoa com deficiência com direito à voz e voto, convidada com antecedência na plenária anterior. Parágrafo terceiro: A pessoa convidada deverá participar da reunião da mesa diretora anterior para organização da plenária.

Art. 22 – A eleição da Mesa Diretora dar-se-á na última sessão plenária conduzida pela Mesa Diretora com mandato findo e observará na sua formação a paridade de 02 (duas) entidades governamentais e 02 (duas) não-governamentais.

Art. 23 – A eleição dar-se-á por meio de inscrição do membros efetivo ao cargo pleiteado.

Parágrafo 1º - A eleição será secreta e individualizada por cargo.

Parágrafo 2º - A apuração será imediata, com a posse dos eleitos.

Art. 24 – Á Mesa Diretora, na função de coordenação das ações político-administrativas do FÓRUM, compete:

I. Dispor sobre as normas e atos relativos ao funcionamento administrativo do FÓRUM;

II. Verificar a existência de quorum; III. Tomar decisão em caráter de urgência “ad referendum” do Plenário,

em assuntos administrativos e/ou assuntos deliberados pelo Plenário.

Subseção Única – DAS ATRIBUIÇÕES

Art. 25 – Ao Coordenador do FÓRUM compete:

I. representar judicial e extrajudicialmente o FÓRUM; II. convocar e presidir as reuniões e plenárias do FÓRUM; III. submeter a pauta do dia à aprovação da Plenária do FÓRUM; IV. assinar as decisões do FÓRUM; V. homologar os nomes das instituições e os respectivos titulares e

suplentes;

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VI. delegar competência, desde que previamente aprovada em PLENÁRIO;

VII. submeter ao PLENÁRIO ou a Mesa Diretora os convites para representar o FÓRUM em eventos municipais, estaduais, nacionais, e internacionais, e apresentar formalmente o nome do membro escolhido;

VIII. divulgar assuntos deliberados pelo FÓRUM; IX. decidir sobre questões de ordem; X. desenvolver as articulações necessárias para o cumprimento das

atividades da Mesa Diretora;

Parágrafo Único – Caso o coordenador não cumpra o disposto no art. 25, o Plenário se reunirá com quorum de 2/3 e por maioria absoluta decidirá sobre a cassação do mandato.

Art. 26 – Ao Secretário-Geral compete:

I. substituir o coordenador em seus impedimentos ou ausências; II. auxiliar o coordenador no cumprimento de suas atribuições/ III. exercer as atribuições definidas pelo plenário.

Parágrafo Único – O Scretario-geral completara o mandato do coordenador em caso de vacância.

Art. 27 – Ao 1º Secretário compete

I . Secretariar as reuniões da Mesa Diretora

II. responsabilizar-se pelas atas das sessões e proceder a sua leitura

III. Secretariar as Plenárias do Fórum IV. Responsabilizar-se pelas atas das Plenárias e proceder a sua

leitura V. Substituir o Secretario-Geral nos seus impedimentos e o

Coordenador na falta de ambos, ou no caso de vacância ate que o

FÓRUM eleja os novos titulares

VI. Elaborar a pauta das reuniões da Mesa Diretora e das Plenárias VII. Assinar, juntamente com o Coordenador, os documentos do

FÓRUM VIII. Responsabilizar-se pela guarda de documentos e pela recepção e

expedição de documentos IX. Sediar a Secretaria do FÓRUM

Art. 28 – Ao 2º Secretário compete

I. Substituir o 1º Secretario em seus impedimentos ou ausências com todas as atribuições inerentes ao cargo

II. Substituir o 1º Secretário nos casos em que tenha que substituir o Secretário-Geral ou o Coordenador

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III. Completar o mandato do 1º Secretário em caso de vacância

SECAO III – DAS COMISSOES

Art. 29 – O FÓRUM poderá substituir, e definir a competência, de Comissões ou de Grupos de Trabalho por decisão do PLENÁRIO.

Art. 30 – As comissões e sua composição serão definidas pelo plenário e constituídas por seus próprios membros, representados por seus titulares ou suplentes.

Art. 31 – Ao Coordenador da Comissão compete

I. Coordenar a reunião da Comissão II. Assinar as atas das reuniões e encaminhá-las ao 1º Secretário do FORUM

Art. 32 – O FÓRUM poderá convidar entidades, autoridades, cientistas e técnicos para colaborarem nos estudos ou participarem das Comissões instituídas.

Art. 33 – As comissões poderão ser convocadas para assessoras a Mesa Diretora e as do Plenário e para se pronunciar, quando solicitadas, pelo Coordenador de Mesa Diretora

CAPITULO VII – DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 34 – O presente regimento poderá ser alterado parcial ou totalmente, através de proposta expressa de qualquer membro do FÓRUM

Art. 35 – As propostas de alteração total ou parcial deste Regimento deverão ser apreciadas em reunião extraordinária do Plenário, convocado por escrito para este fim, com antecedência mínima de 05 (cinco) dias úteis e aprovadas por 2/3 (dois terços) dos presentes.

Parágrafo único – As propostas de alteração deverão ser encaminhadas a Mesa Diretora, por escrito, com antecedência de 10 (dez) dias úteis, da reunião extraordinária.

Art. 36 – Os casos omissos deste Regimento serão resolvidos pelo Plenário do FÓRUM

Art. 37 – Este regimento entrará em vigor na data de sua aprovação pelo Plenário do FÓRUM.