a filosofia e a matrix

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Cursos Técnicos Integrados Regulares 1º bimestre MATERIAL COMPLEMENTAR Professor: Avelino Neto Filosofia Conhece-te a ti mesmo Quem assistiu ao primeiro filme da série Matrix há de se lembrar da cena em que o herói, Neo, é levado pelo guia, Morfeu, para ouvir o oráculo. No filme há uma sibila, a mulher que recebeu o oráculo (isto é, a mensagem) e que é, ela também, o oráculo (isto é, a transmissora da mensagem). Essa mulher pergunta a Neo se ele leu o que está escrito sobre a porta de entrada da casa em que acabou de entrar. Ele diz que não. Ela lê para ele as palavras, explicando-lhe que são de uma língua há muito desaparecida, o latim. O que está escrito? Nosce te ipsum. O que significa? “Conhece-te a ti mesmo.” O oráculo diz a Neo que ele e somente ele poderá saber se é ou não aquele que vai livrar o mundo do poder da Matrix e, portanto, somente conhecendo-se a si mesmo ele terá a resposta. Poucas pessoas que viram esse filme compreendem exatamente o significado dessa cena. Ela é a representação, no futuro, de um acontecimento do passado, ocorrido 23 séculos, na Grécia. Havia, na cidade de Delfos, na Grécia antiga, um santuário dedicado ao deus Apolo, deus da luz, da razão e do conhecimento verdadeiro, o patrono da sabedoria. Sobre o portal de entrada desse santuário estava escrita a grande mensagem do deus ou o principal oráculo de Apolo: Conhece-te a ti mesmo. Um ateniense, chamado Sócrates, foi ao santuário consultar o oráculo, pois em Atenas, onde morava, muitos diziam que ele era um sábio, e ele desejava saber o que era um sábio e se ele poderia ser chamado de sábio. O oráculo, que era uma mulher (a sibila), perguntou- lhe: “O que você sabe?”. Ele respondeu: “Só sei que nada sei”. Ao que o oráculo disse: “Sócrates é o mais sábio de todos os homens, pois é o único que sabe que não sabe”. Sócrates, como todos sabem, é o patrono da filosofia. Neo e a Matrix Se voltarmos ao filme Matrix, podemos perguntar por que ali foi feito o paralelo entre Neo e Sócrates. Comecemos pelo nome das duas personagens masculinas principais: Neo e Morfeu. Esses nomes são gregos. Neo significa “novo” ou “renovado” e, quando dito de alguém, significa “jovem na força e no ardor da juventude”. Morfeu pertence à mitologia grega: era o nome de um espírito, filho do Sono e da Noite, que possuía asas e era capaz, num único instante, de voar em absoluto silêncio para as extremidades do mundo. Esvoaçando sobre um ser humano ou pousando levemente Oráculo. Esta palavra tem dois significados principais que aparecem nas expressões “consultar um oráculo” e “receber um oráculo”. No primeiro caso, significa uma mensagem misteriosa” enviada por um deus com resposta a uma indagação feita por algum humano; é uma revelação divina que precisa ser decifrada e interpretada. No segundo significa “uma

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Cursos Tcnicos Integrados Regulares

1 bimestre

MATERIAL COMPLEMENTARProfessor:

Avelino Neto

Filosofia

Conhece-te a ti mesmo Quem assistiu ao primeiro filme da srie Matrix h de se lembrar da cena em que o heri, Neo, levado pelo guia, Morfeu, para ouvir o orculo. No filme h uma sibila, a mulher que recebeu o orculo (isto , a mensagem) e que , ela tambm, o orculo (isto , a transmissora da mensagem). Essa mulher pergunta a Neo se ele leu o que est escrito sobre a porta de entrada da casa em que acabou de entrar. Ele diz que no. Ela l para ele as palavras, explicando-lhe que so de uma lngua h muito desaparecida, o latim.

O que est escrito? Nosce te ipsum. O que significa? Conhece-te a ti mesmo. O orculo diz a Neo que ele e somente ele poder saber se ou no aquele que vai livrar o mundo do poder da Matrix e, portanto, somente conhecendo-se a si mesmo ele ter a resposta.

Poucas pessoas que viram esse filme compreendem exatamente o significado dessa cena. Ela a representao, no futuro, de um acontecimento do passado, ocorrido h 23 sculos, na Grcia.

Havia, na cidade de Delfos, na Grcia antiga, um santurio dedicado ao deus Apolo, deus da luz, da razo e do conhecimento verdadeiro, o patrono da sabedoria. Sobre o portal de entrada desse santurio estava escrita a grande mensagem do deus ou o principal orculo de Apolo: Conhece-te a ti mesmo. Um ateniense, chamado Scrates, foi ao santurio consultar o orculo, pois em Atenas, onde morava, muitos diziam que ele era um sbio, e ele desejava saber o que era um sbio e se ele poderia ser chamado de sbio. O orculo, que era uma mulher (a sibila), perguntou-lhe: O que voc sabe?. Ele respondeu: S sei que nada sei. Ao que o orculo disse: Scrates o mais sbio de todos os homens, pois o nico que sabe que no sabe. Scrates, como todos sabem, o patrono da filosofia.

Neo e a Matrix Se voltarmos ao filme Matrix, podemos perguntar por que ali foi feito o paralelo entre Neo e Scrates. Comecemos pelo nome das duas personagens masculinas principais: Neo e Morfeu. Esses nomes so gregos. Neo significa novo ou renovado e, quando dito de algum, significa jovem na fora e no ardor da juventude.

Morfeu pertence mitologia grega: era o nome de um esprito, filho do Sono e da Noite, que possua asas e era capaz, num nico instante, de voar em absoluto silncio para as extremidades do mundo. Esvoaando sobre um ser humano ou pousando levemente sobre sua cabea, tocando-o com uma papoula vermelha, tinha o poder no s de faz-lo adormecer e sonhar, mas tambm de aparecer-lhe no sonho, tomando a forma humana.

dessa maneira que, no filme, Morfeu se comunica pela primeira vez com Neo, que desperta assustado com o rudo de uma mensagem na tela de seu computador. E, no primeiro encontro de ambos, Morfeu surpreende Neo por sua extrema velocidade, por ser capaz de voar e por parecer saber tudo a respeito desse jovem que no o conhece.

Vrias vezes Morfeu pergunta a Neo se este tem sempre a impresso de estar dormindo e sonhando, sem nunca ter certeza de estar realmente desperto. Essa pergunta deixa de ser feita a partir do momento em que, entre uma plula azul e uma vermelha oferecidas por Morfeu, Neo escolhe ingerir a vermelha (como a papoula da mitologia), que o far ver a realidade. Morfeu quem lhe mostra a Matrix, fazendo-o compreender que passou a vida inteira sem saber se estava desperto ou se dormia e sonhava porque, realmente, esteve sempre dormindo e sonhando.

Qual o poder da Matrix? Usar e controlar a inteligncia humana para dominar o mundo, criando uma realidade virtual na qual todos acreditam. A Matrix o feitio que se virou contra o feiticeiro, a inteligncia artificial que destri a inteligncia humana, porque s subsiste sugando o sistema nervoso central dos humanos.

Antes que a palavra computador fosse usada correntemente, quando s havia as enormes mquinas militares e de grandes empresas, falava -se em crebro eletrnico. Por qu? Porque se trata de um objeto tcnico muito diferente de todos aqueles at ento conhecidos pela humanidade.

De fato, os objetos tcnicos tradicionais ampliavam a fora fsica dos seres humanos (o microscpio e o telescpio aumentam a fora dos olhos; o navio, o automvel e o avio aumentam a fora dos ps; a alavanca, a polia, a chave de fenda, o martelo aumentam a fora das mos; e assim por diante). Em contrapartida, o crebro eletrnico ou computador amplia e mesmo substitui as capacidades mentais ou intelectuais dos seres humanos.

A Matrix o computador gigantesco que escraviza os homens, usando a mente deles para controlar seus sentimentos e pensamentos, fazendo-os crer que real o que aparente. Vencer o poder da Matrix destruir a aparncia, restaurar a realidade e assegurar que os seres humanos possam perceber e compreender o mundo verdadeiro e viver realmente nele. Todos os combates realizados por Neo e seus companheiros so combates mentais entre os centros de sensao, percepo e pensamento humanos e os centros artificiais da Matrix. As armas e tiroteios que aparecem na tela so pura iluso, no existem, pois o combate real no fsico, e sim mental.

Neo e Scrates Por que as personagens do filme afirmam que Neo o escolhido? Por que esto seguras de que ele ser capaz de realizar o combate final e vencer a Matrix? Porque ele era um pirata eletrnico, algum capaz de invadir programas, decifrar cdigos e mensagens, mas, sobretudo, porque ele tambm era um criador de programas de realidade virtual, um perito capaz de rivalizar com a prpria Matrix. Por ter um poder semelhante ao da Matrix, Neo sempre desconfiou de que a realidade no era exatamente tal como se apresentava. Sempre teve dvidas sobre a realidade percebida e, secretamente, questionava o que era a Matrix. Essa interrogao o levou a vascular os circuitos internos da mquina (tanto assim que comeou a ser perseguido por ela como algum perigoso), e foram suas incurses secretas que o fizeram ser descoberto por Morfeu.

Por que Scrates considerado o patrono da filosofia? Porque jamais se contentou com as opinies estabelecidas, com os preconceitos de sua sociedade, com as crenas inquestionadas de seus conterrneos. Ele costumava dizer que era impelido por um esprito interior (como Morfeu instigando Neo) que o levava a desconfiar das aparncias e procurar a realidade verdadeira das coisas.

Scrates andava pelas ruas de Atenas fazendo perguntas aos atenienses: O que isso em que voc acredita?, O que isso que voc est dizendo?, O que isso que voc est fazendo?. Os atenienses achavam, por exemplo, que sabiam o que era a justia. Scrates lhes azia perguntas de tal maneira que, embaraados e confusos, chegavam concluso de que no sabiam o que era a justia. Os atenienses acreditavam que sabiam o que era a coragem. Com suas perguntas incansveis, Scrates os fazia concluir que no sabiam o que era a coragem. Os atenienses acreditavam que sabiam o que eram a bondade, a beleza, a verdade, mas um prolongado dilogo com Scrates os fazia perceber que no sabiam o que era aquilo em que acreditavam.

A pergunta O que ? era o questionamento sobre a realidade essencial e profunda de uma coisa para alm das aparncias e contra as aparncias. Com essa pergunta, Scrates levava os atenienses a descobrir a diferena entre parecer e ser, entre mera crena ou opinio e verdade.

Scrates era filho de uma parteira. Ele dizia que sua me ajudava no nascimento dos corpos e que ele tambm era um parteiro, mas no de corpos, e sim de almas. Assim como sua me lidava com a matrix corporal, ele lidava com a matrix mental, auxiliando as mentes a libertar-se das aparncias e a buscar a verdade.

Como os de Neo, os combates socrticos eram tambm combates mentais ou de pensamento. E enfureceram de tal maneira os poderosos de Atenas que Scrates foi condenado morte, acusado de espalhar dvidas sobre as ideias e os valores atenienses e, com isso, corromper a juventude. O paralelo entre Neo e Scrates no est apenas no fato de que ambos so instigados por espritos que os fazem desconfiar das aparncias, nem apenas por ambos consultarem um orculo e receberem como mensagem o conhece-te a ti mesmo, e nem mesmo porque ambos lidam com matrizes.

Podemos encontr-lo tambm ao comparar a trajetria de Neo no interior da Matrix com um dos mais clebres escritos do filsofo Plato, discpulo de Scrates. Essa passagem encontra-se na obra intitulada A repblica e chama-se O Mito da Caverna.

O Mito da Caverna Imaginemos, escreve Plato, uma caverna separada do mundo exterior por um alto muro. Entre esse muro e o cho da caverna h uma fresta por onde passa alguma luz externa, deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde seu nascimento, gerao aps gerao, seres humanos esto acorrentados ali, sem poder mover a cabea na direo da entrada nem se locomover at ela, forados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do Sol. Esto quase no escuro e imobilizados.

Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, h um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna (pensemos na caverna como. se fosse uma sala de cinema e o fogo como a luz de um projetor de filmes).

Do lado de fora, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres, animais cujas sombras tambm so projetadas na parede da caverna. Nunca tendo visto o mundo exterior, os prisioneiros julgam que as sombras das coisas e das pessoas, os sons de suas falas e as imagens que transportam nos ombros so as prprias coisas externas, e que os artefatos (as figuras e imagens que alguns transportam) so seres vivos que se movem e falam.

Os prisioneiros se comunicam, dando nome s coisas que julgam ver (sem v-las realmente, pois esto na obscuridade), e imaginam que o que escutam, e que no sabem que so sons vindos de fora, so as vozes das prprias sombras, e no dos seres humanos cujas imagens esto projetadas na parede, e tambm imaginam que os sons produzidos pelos artefatos que essas pessoas carregam nos ombros so vozes de seres reais.

Qual , pois, a situao dessas pessoas aprisionadas? Tomam sombras por realidade, tanto as sombras das coisas e dos seres humanos exteriores como as sombras dos artefatos fabricados por eles. Essa confuso, porm, no tem como causa um defeito na natureza dos prisioneiros, e sim as condies adversas em que se encontram. Que aconteceria se eles fossem libertados dessa situao miservel?

Um dos prisioneiros, inconformado com a condio em que se encontra, decide abandonar a caverna. Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhes.

De incio, move a cabea, depois o corpo todo; a seguir, avana na direo da sada da caverna e escala o muro. Enfrentando as durezas de um caminho ngreme e difcil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do Sol, com a qual seus olhos no esto acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a ao da luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento.

Incredulidade, porque ser obrigado a decidir sobre onde se encontra a realidade: no que v agora ou nas sombras em que sempre viveu? Deslumbramento (literalmente: ferido pela luz), porque seus olhos no conseguem ver com nitidez as coisas iluminadas.

Seu primeiro impulso retomar caverna para livrar-se da dor e do espanto, atrado pela escurido, que lhe parece mais acolhedora. Alm disso, precisa aprender a ver, e esse aprendizado doloroso, fazendo-o desejar a caverna, onde tudo lhe familiar e conhecido.

Sentindo-se sem disposio para regressar caverna por causa da rudeza do caminho, prisioneiro permanece no exterior. Aos poucos, habitua-se luz e comea a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade de finalmente ver as coisas como elas realmente so, descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua priso vira apenas sombras. Doravante, desejar ficar longe da caverna para sempre e lutar com todas as suas foras para jamais regressar a ela. Mas lamenta a sorte dos outros prisioneiros. Por fim, toma a difcil deciso de regressar ao subterrneo sombrio para contar aos demais o que viu e convenc-los a se libertarem tambm.

Que lhe acontece nesse retorno? Os demais prisioneiros zombam dele, no acreditando em suas palavras. Se no conseguirem silenci-lo com suas caoadas, tentaro faz-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teimar em afirmar o que viu e os convidar a sair da caverna, certamente acabaro por mat-lo.

Mas, quem sabe, alguns podero ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, tambm decidir sair da caverna rumo realidade? O que a caverna? O mundo de aparncias em que vivemos. Que so as sombras projetadas no fundo? As coisas que percebemos. Que so os grilhes e as correntes? Nossos preconceitos e opinies, nossa crena de que o que estamos percebendo a realidade. Quem o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filsofo. O que a luz do Sol? A luz da verdade. O que o mundo iluminado pelo sol da verdade? A realidade. Qual o instrumento que liberta o prisioneiro rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A filosofia.

Nossas crenas costumeiras Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos, desejamos, aceitamos ou recusamos coisas, pessoas, situaes. Fazemos perguntas, como Que horas so?, ou Que dia hoje?. Dizemos frases, como Ele est sonhando, ou Ela ficou maluca. Fazemos afirmaes, como Onde h fumaa, h fogo, ou No saia na chuva para no se resfriar. Avaliamos coisas e pessoas, dizendo, por exemplo, Esta casa mais bonita do que a outra e Maria est mais jovem do que Glorinha.

Numa disputa, quando os nimos esto exaltados, um dos contendores pode gritar para o outro: Mentiroso! Eu estava l e no foi isso o que aconteceu, e algum, querendo acalmar a briga, pode dizer: Vamos pr a cabea no lugar, cada um seja bem objetivo e diga o que viu, porque assim todos podero se entender.

Tambm comum ouvirmos os pais e amigos dizerem que quando o assunto o namorado ou a namorada no somos capazes de ver as coisas como elas so, que vemos o que ningum v e no vemos o que todo mundo est vendo. Dizem que somos muito subjetivos. Ou, como diz o ditado, que quem ama o feio, bonito lhe parece.

Frequentemente, quando aprovamos uma pessoa, o que ela diz, como ela age, dizemos que essa pessoa legal. Vejamos um pouco mais de perto o que dizemos em nosso cotidiano. Quando pergunto Que horas so? ou Que dia hoje?, minha expectativa a de que algum, tendo um relgio ou um calendrio, me d a resposta exata.

Em que acredito quando fao a pergunta e aceito a resposta? Acredito que o tempo existe, que ele passa, pode ser medido em horas e dias, que o que j passou diferente de agora e o que vir tambm h de ser diferente deste momento, que o passado pode ser lembrado ou esquecido, e o futuro, desejado ou temido. Assim, uma simples pergunta contm, silenciosamente, vrias crenas.

Por que crenas? Porque so coisas ou ideias em que acreditamos sem questionar, que aceitamos porque so bvias, evidentes. Afinal, quem no sabe que ontem diferente de amanh, que o dia tem horas e que elas passam sem cessar?

Quando digo ele est sonhando para me referir a algum que est acordado e diz ou pensa alguma coisa que julgo impossvel ou improvvel, tenho igualmente muitas crenas silenciosas: acredito que sonhar diferente de estar acordado; que, no sonho, o impossvel e o improvvel se apresentam como possvel e provvel; e tambm que o sonho se relaciona com o irreal, enquanto a viglia se relaciona com o que existe realmente.Acredito, portanto, que a realidade existe fora de mim, que posso perceb-la e conhec-la tal como , e por isso creio que sei diferenciar realidade de iluso. A frase Ela ficou maluca contm essas mesmas crenas e mais uma: a de que sabemos diferenciar a sanidade mental da loucura; que a sanidade mental se chama razo e que maluca a pessoa que perde a razo e inventa uma realidade existente s para ela. Assim, ao acreditar que sei distinguir a razo da loucura, acredito tambm que a razo se refere a uma realidade que a mesma para todos, ainda que no gostemos das mesmas coisas.

Quando algum diz onde h fumaa, h fogo ou no saia na chuva para no se resfriar, afirma silenciosamente muitas crenas: acredita que existem relaes de causa e efeito entre as coisas; que onde houver uma coisa certamente houve uma causa para ela; ou que essa coisa causa de alguma outra (o fogo causa e a fumaa seu efeito, a chuva causa do resfriado ou o resfriado efeito da chuva). Acreditamos, assim, que a realidade feita de causalidades; que as coisas, os fatos, as situaes se encadeiam em relaes de causa e efeito que podem ser conhecidas por ns e, at mesmo, ser controladas por ns para serem utilizadas em nossa vida. Exercendo nossa liberdadeQuando dizemos que uma casa mais bonita do que a outra, ou que Maria est mais jovem do que Glorinha, acreditamos que as coisas, as pessoas, as situaes, os fatos podem ser comparados e avaliados, julgados por sua qualidade (bonito, feio, bom, ruim, jovem, velho, engraado, triste, limpo, sujo) ou por sua quantidade (muito, pouco, mais, menos, maior, menor, grande, pequeno, largo, estreito, comprido, curto). Julgamos, assim, que as qualidades e as quantidades existem, que podemos conhec-las e us-las em nossa vida.

Se dissssemos, por exemplo, que o Sol maior do que o vemos, estamos acreditando

que nossa percepo alcana as coisas de modos diferentes, s vezes tais como so em si mesmas (a folha deste livro, bem nossa frente, percebida como branca e, de fato, ela o ), outras vezes tais como nos parecem (o Sol, de fato, maior do que o disco dourado que vemos ao longe),dependendo da distncia, de nossas condies de visibilidade ou da localizao e do movimento dos objetos. Por isso acreditamos que nossa viso pode ver as coisas diferentemente do que elas so, mas nem por isso diremos que estamos sonhando ou que ficamos malucos.

Acreditamos, assim, que vemos as coisas nos lugares em que elas esto ou do lugar em que estamos, e que a percepo visual varia de acordo com a distncia: se esto prximas ou distantes de ns. Isso significa que acreditamos que elas e ns ocupamos lugares no espao e, portanto, cremos que este existe, pode ser diferenciado (perto, longe, alto, baixo) e medido (comprimento, largura, altura).

Na briga, quando algum chama o outro de mentiroso porque no estaria dizendo os fatos exatamente como eles aconteceram, est presente a nossa crena de que h diferena entre verdade e mentira. A primeira diz as coisas tais como so, a segunda faz exatamente o contrrio, distorce a realidade. No entanto, consideramos a mentira diferente do sonho, da loucura e do erro, porque o sonhador, o louco e o que erra se iludem involuntariamente, enquanto o mentiroso decide voluntariamente deformar a realidade e os fatos.

Com isso, acreditamos que o erro e a mentira so falsidades, embora diferentes, porque somente na mentira h a deciso de falsear. Ao diferenciarmos erro de mentira, considerando o primeiro uma iluso ou um engano involuntrios e a segunda uma deciso voluntria, manifestamos silenciosamente a crena de que somos seres dotados de vontade e que dela depende dizer a verdade ou a mentira.

Ao mesmo tempo, porm, nem sempre avaliamos a mentira como uma coisa ruim: no gostamos tanto de ler romances, ver novelas, assistir a filmes? E no so mentira? que tambm acreditamos que, quando algum nos avisa que est mentindo, a mentira aceitvel, no seria uma mentira pra valer.

Quando distinguimos verdade de mentira e distinguimos mentiras inaceitveis de mentiras aceitveis, no estamos apenas nos referindo ao conhecimento ou desconhecimento da realidade, mas tambm ao carter da pessoa, sua moral.

Acreditamos, portanto, que as pessoas, porque possuem vontade, podem ser morais ou imorais, pois cremos que a vontade o poder de escolher entre o bem e o mal. E sobretudo acreditamos que exercer tal poder exercer a liberdade, pois acreditamos que somos livres porque escolhemos voluntariamente nossas aes, nossas ideias, nossos sentimentos.

Conhecendo as coisasNa briga, quando uma terceira pessoa pede s outras duas para pr a cabea no lugar e ser objetivas, ou quando falamos dos namorados como incapazes de ver as coisas como so ou como sendo muito subjetivos, tambm manifestamos vrias crenas silenciosas.

De fato, acreditamos que, quando algum quer defender muito intensamente um ponto de vista, uma preferncia, uma opinio e at capaz de brigar por isso, pode perder a objetividade e se deixar guiar apenas pelos seus sentimentos, e no pela realidade. Da mesma maneira, acreditamos que os apaixonados se tomam incapazes de ver as coisas como so, de ter uma atitude objetiva e que sua paixo os faz ficar muito subjetivos.

Em que acreditamos, ento? Acreditamos que ter objetividade ter uma atitude imparcial, que percebe e compreende as coisas tais como so verdadeiramente, enquanto a subjetividade uma atitude parcial, pessoal, ditada por sentimentos variados (amor, dio, medo, desejo).

Assim, no s acreditamos que a objetividade e a subjetividade existem, como ainda acreditamos que so diferentes e que a primeira percebe perfeitamente a realidade e no a deforma, enquanto a segunda no percebe adequadamente a realidade e, voluntria ou involuntariamente, a deforma.

Ao dizermos que algum legal porque tem os mesmos gostos, as mesmas ideias, respeita ou despreza as mesmas coisas que ns e tem atitudes, hbitos e costumes muito parecidos com os nossos, estamos, silenciosamente, acreditando que a vida com as outras pessoas famlia, amigos, escola, trabalho, sociedade, poltica nos faz semelhantes ou diferentes em decorrncia de normas e valores morais, polticos, religiosos e artsticos, regras de conduta, finalidades de vida.

Achamos bvio que todos os seres humanos seguem regras e normas de conduta, possuem valores morais, religiosos, polticos, artsticos, vivem na companhia de seus semelhantes e procuram distanciar-se dos diferentes dos quais discordam e com os quais entram em conflito.

Acreditamos que somos seres sociais, morais e racionais, pois regras, normas, valores, finalidades s podem ser estabelecidos por seres conscientes e dotados de raciocnio.

Como se pode notar, nossa vida cotidiana toda feita de crenas silenciosas, da aceitao de coisas e ideias que nunca questionamos porque nos parecem naturais, bvias. Cremos na existncia do espao e do tempo, na realidade exterior e na diferena entre realidade e sonho, assim como na diferena entre sanidade mental ou razo e loucura.

Cremos na existncia das qualidades e das quantidades. Cremos que somos seres racionais capazes de conhecer as coisas e por isso acreditamos na existncia da verdade e na diferena entre verdade e mentira; cremos tambm na objetividade e na diferena entre ela e a subjetividade.

Cremos na existncia da vontade e da liberdade e por isso cremos na existncia do bem e do mal, crena que nos faz aceitar como perfeitamente natural a existncia da moral e da religio. Cremos tambm que somos seres que naturalmente precisam de seus semelhantes e por isso tomamos como Um fato bvio e inquestionvel a existncia da sociedade com suas regras, normas, permisses e proibies. Haver sociedade , para ns, to natural quanto haver Sol, Lua, dia, noite, chuva, rios, mars, cu e florestas.

E se no for bem assim?Quando, em Matrix, Neo pergunta: Onde estamos?, Morfeu lhe diz que a pergunta est equivocada, pois o correto seria perguntar: Quando estamos?. Ou seja, Neo pergunta pelo lugar ou pela realidade espacial onde? -, mas teria de perguntar pela realidade temporal- quando?

Ao mostrar-lhe que no esto vivendo no ano de 1999 e sim no sculo XXI, Morfeu pode mostrar a Neo onde eles realmente esto vivendo: num mundo destrudo e arruinado, vazio de coisas e de pessoas, pois todos os seres humanos esto aprisionados no interior da Matrix. O que Neo julgava ser o mundo real pura iluso e aparncia.

Para faz-la compreender o que se passa, Morfeu (como sua origem mitolgica indica) faz com que incessantemente e velozmente tudo mude de forma, cor, tamanho, lugar e tempo, de maneira que Neo tenha de perguntar se o espao e o tempo existem realmente.

Quando levado ao orculo, Neo presencia fatos surpreendentes: v crianas realizando prodgios, como entortar e desentortar uma colher sem tocar nela, ou manter cubos soltos no ar e em movimento sem neles tocar. Diante de sua surpresa, a criana que entorta e desentorta a colher lhe diz simplesmente: A colher no existe. Neo est diante de uma contradio entre viso e realidade: o que ele v no existe e o que existe no visto por ele.

Exatamente por isso e por estar perplexo, sem compreender o que se passa, que o orculo lhe mostra a inscrio sobre a porta Conhece-te a ti mesmo -, indicando-lhe que, antes de tentar resolver os enigmas do mundo externo, ser mais proveitoso que comece compreendendo-se a si mesmo.

Quantas vezes no passamos por situaes desse tipo, que nos levam a desconfiar ora das coisas, ora de ns mesmos, ora dos outros?

Cremos que nossa vontade livre para escolher entre o bem e o mal. Cremos tambm na necessidade de obedecer s normas e s regras de nossa sociedade. Que acontece, porm, quando, numa situao, nossa vontade nos indica que bom fazer ou querer algo que nossa sociedade probe ou condena? Ou, ao contrrio, quando nossa vontade julga que ser um mal e uma injustia querer ou fazer algo que nossa sociedade exige ou obriga? H momentos em que vivemos um conflito entre o que nossa liberdade deseja e o que nossa sociedade determina e impe.

Cremos na existncia do tempo, isto , num transcorrer que no depende de ns, e cremos que podemos medi-lo com instrumentos, como o relgio, e o cronmetro. No entanto, quando estamos espera de alguma coisa muito desejada ou de algum muito querido, o tempo parece no passar; olhamos para o relgio e nele o tempo est passando, sem corresponder ao nosso sentimento de que est quase parado.

Ao contrrio, se estamos numa situao de muita satisfao (uma festa, um encontro amoroso, um passeio com amigos queridos), o tempo passa velozmente, ainda que o relgio mostre que se passaram vrias horas.

Vemos que o Sol nasce a leste e se pe a oeste; que sua presena o dia e sua ausncia a noite. Nossos olhos nos fazem acreditar que o Sol se move volta da Terra e que esta permanece imvel. Quando, durante muitas noites seguidas, acompanhamos a posio das estrelas no cu, vemos que elas mudam de lugar e acreditamos que se movem nossa volta, enquanto a Terra permanece imvel. No entanto, a astronomia demonstra que no isso que acontece. A Terra um planeta num sistema cuja estrela central se chama Sol, ou seja, a Terra um planeta do sistema solar, e ela, juntamente com outros planetas, que se move volta do Sol, num movimento de translao.

Alm desse movimento, ela ainda realiza um outro, o de rotao em torno de seu eixo invisvel. O movimento de translao explica a existncia do ano, e o de rotao explica a existncia do dia e da noite. Assim, h uma contradio entre a nossa crena na imobilidade da Terra e a informao astronmica sobre os movimentos terrestres.

Esses exemplos assemelham-se s experincias e desconfianas de Neo: por um lado, tudo parece certinho e como tem de ser; por outro, parece que tudo poderia estar errado ou ser iluso. Temos a crena na liberdade, mas somos dominados pelas regras de nossa sociedade. Temos a experincia do tempo parado ou do tempo ligeiro, mas o relgio no comprova essa experincia. Temos a percepo do Sol e das estrelas em movimento volta da Terra imvel, mas a astronomia nos ensina o contrrio.

Momentos de criseEsses conflitos entre vrias de nossas crenas e um saber estabelecido indicam a principal circunstncia em que somos levados a mudar de atitude. Quando uma crena contradiz outra ou parece incompatvel com outra, ou quando aquilo em que sempre acreditamos contrariado por uma outra forma de conhecimento, entramos em crise.

Algumas pessoas se esforam para fazer de conta que no h nenhum problema e vo levando a vida como se tudo estivesse muito bem, obrigado. Outras, porm, sentem-se impelidas a indagar qual a origem, o sentido e a realidade de nossas crenas. assim que o conflito entre minha vontade e as regras de minha sociedade me levam seguinte questo: sou livre quando quero ou fao algo que contraria minha sociedade, ou sou livre quando domino minha vontade e a obrigo a aceitar o que minha sociedade determina?

Ou seja, sou livre quando sigo minha vontade ou quando sou capaz de control-la? Ora, para responder a essa questo precisamos fazer outras perguntas, mais profundas. Temos de perguntar: O que a liberdade?, O que a vontade?, O que a sociedade?, O que so o bem e o mal, o justo e o injusto?.

assim tambm que as experincias do tempo parado e do tempo veloz e a do tempo marcado pelo relgio nos levam a indagar: Como possvel que haja duas realidades temporais diferentes, a marcada pelo relgio e a vivida por ns?, Qual o tempo real e verdadeiro?. Mas, para responder a essa pergunta, novamente preciso fazer uma pergunta mais profunda: O que o tempo?. Da mesma maneira, a diferena entre nossa percepo da imobilidade da Terra e mobilidade do Sol e o que ensina a astronomia leva-nos a perguntar: Se no percebemos os movimentos da Terra e se nossos olhos se enganam to profundamente, ser que poderemos sempre confiar em nossa percepo visual ou deveremos sempre desconfiar dela?, Ser que percebemos as coisas como realmente so?.

Para responder a essas perguntas, precisamos fazer duas outras, mais profundas: O que perceber? e O que realidade?. O que est por trs de tais perguntas? O fato de que estamos mudando de atitude. Quando o que era objeto de crena aparece como algo contraditrio ou problemtico e por isso se transforma em indagao ou interrogao, estamos passando da atitude costumeira atitude filosfica.

Essa mudana de atitude indica algo bastante preciso: quem no se contenta com as crenas ou opinies preestabelecidas, quem percebe contradies e incompatibilidades entre elas, quem procura compreender o que elas so e por que so problemticas est exprimindo um desejo, o desejo de saber. E exatamente isso o que, na origem, a palavra filosofia significa, pois, em grego, philosopha quer dizer amor sabedoria.

Buscando a sada da caverna ou a atitude filosficaImaginemos, portanto, algum que tomasse a deciso de no aceitar as opinies estabelecidas e comeasse a fazer perguntas que os outros julgam estranhas e inesperadas. Em vez de Que horas so? ou Que dia hoje?, perguntasse: O que o tempo?. Em vez de dizer Est sonhando ou Ficou maluca, quisesse saber: O que o sonho, a loucura, a razo?. Suponhamos que essa pessoa fosse substituindo suas afirmaes por perguntas e em vez de dizer Onde h fumaa, h fogo ou No saia na chuva para no ficar resfriado, perguntasse O que causa?, O que efeito?; ou se, em lugar de dizer Seja objetivo ou Eles so muito subjetivos, perguntasse O que a objetividade?, O que a subjetividade?; e, ainda, se em vez de afirmar Esta casa mais bonita do que a outra, perguntasse O que mais?, O que menos?, O que o belo?. Em vez de gritar Mentiroso!, questionasse: O que a verdade?, O que o falso?, O que o erro?, O que a mentira?, Quando existe verdade e por qu?, Quando existe iluso e por qu?.

Se, em vez de falar na subjetividade dos namorados, inquirisse: O que o amor?, O que o desejo?, O que so os sentimentos?. Se, em lugar de discorrer tranquilamente sobre maior e menor ou claro e escuro, resolvesse investigar: O que a quantidade?, O que a qualidade?.

E se, em vez de afirmar que gosta de algum porque esse algum possui as mesmas ideias que ela, os mesmos gostos, as mesmas preferncias e os mesmos valores, preferisse analisar: O que um valor?, O que um valor moral?, O que um valor artstico?, O que a moral?, O que a vontade?, O que a liberdade?.

Algum que tomasse essa deciso estaria se distanciando da vida cotidiana e de si mesmo, pois estaria indagando o que so as crenas e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existncia.

Ao tomar essa distncia, estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que so nossas crenas e nossos sentimentos. Esse algum estaria comeando a cumprir o que dizia o orculo de Delfos: Conhece-te a ti mesmo. E estaria passando a adotar a atitude filosfica.

Assim, uma primeira resposta pergunta O que filosofia? poderia ser: A deciso de no aceitar como naturais, bvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situaes, os valores, os comportamentos de nossa existncia cotidiana; jamais aceit-los sem antes hav-los investigado e compreendido.

QUESTES PARA DISCUSSO1. Que paralelos podemos estabelecer entre a personagem Neo, do filme Matrix, e o filsofo Scrates?

2. Por que Scrates considerado o patrono da filosofia?

3. O que Plato quis representar no Mito da Caverna?

4. Que so as nossas crenas costumeiras?

5. Em que momento passamos da atitude costumeira atitude filosfica?

6. Quais as trs principais perguntas que caracterizam a atitude filosfica?

Referncia:

CHAU, Marilena. Filosofia: srie novo Ensino Mdio. So Paulo: tica, 2009.

Orculo. Esta palavra tem dois significados principais que aparecem nas expresses consultar um orculo e receber um orculo. No primeiro caso, significa uma mensagem misteriosa enviada por um deus com resposta a uma indagao feita por algum humano; uma revelao divina que precisa ser decifrada e interpretada. No segundo significa uma pessoa especial, que recebe a mensagem divina e a transmite para quem enviou a pergunta divindade, deixando que o interrogante decifre e interprete a resposta recebida. Entre os gregos antigos, essa pessoa especial costumava ser uma mulher e era chamada sibila.

Matrix: Palavra latina derivada de mater, que quer dizer me. Em latim, matrix o rgo das fmeas dos mamferos onde o embrio e o feto se desenvolvem, o tero. Na linguagem tcnica, matriz o molde para a fundio de uma pea, o circuito de codifica dores e decodificadores das cores primrias e dos sons e, na informtica, a rede de guias de entradas e sadas de elementos lgicos. No filme, a Matrix tem todos esses sentidos: ela , ao mesmo tempo, um tero universal onde esto todos os seres humanos cuja vida real uterina e cuja vida imaginria forjada pelos circuitos de codificadores e decodificadores de cores e sons e pelas redes de guias de entrada e sada de sinais lgicos.