a filosofia de olavo de carvalho

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  • Terceira e ltima edio ... 5

    1. Apresentao ............ 12 2. Obama quer que os

    Estados Unidos sejam

    conquistados pela Rssia

    ou pela China ................ 17

    3. A ecologia foi inventada

    numa espcie de projeto Manhattan .................... 22

    4. Democratizar o ensino

    quase to nefasto quanto

    distribuir pedras de crack

    na merenda .................. 26

    5. Pecado coisa de pobre ................................... 32

    6. Chega de liberdade de

    expresso! .................... 40

  • 7. A imprensa uma

    ameaa civilizao e espcie humana ............ 44

    8. As crianas so

    programadas pela

    psicologia e sero

    programas pela engenharia

    gentica ....................... 48 9. Os fins justificam os

    meios ........................... 53

    10. Desconstruindo Olavo

    de Carvalho I ................ 63

    11. Desconstruindo Olavo

    de Carvalho II ............... 70 12. Sobre a fsica

    aristotlica .................... 82

    13. Sobre a fsica clssica

    ................................... 99

  • 14. Sobre o atesmo de

    Newton ...................... 111 15. Sobre o darwinismo 118

    16. Sobre Kant ............ 136

    17. Herrar umano ..... 157

    18. Um pouco de filosofia

    ................................. 158

    19. O tempo na primeira antinomia de Kant ....... 160

    20. A origem do universo

    na fsica contempornea

    ................................. 165

    21. O tempo na fsica

    contempornea ........... 174 22. Sobre mim ............ 201

    23. Papai Noel existe

    mesmo! ...................... 206

  • 5

    Terceira e ltima

    edio

    Este livrinho (formatado

    para celulares) mais do

    que suficiente para mostrar

    que o pensamento de Olavo de Carvalho no pode ser

    levado a srio.

    Se o texto fosse maior ou

    mais detalhado, isto no

    mudaria a f dos que se

    proclamam olavettes. No por falta de

    argumento que Olavo

    duvida da inrcia.

  • 6

    No por falta de aviso

    que Olavo insiste no conceito de juzo

    autoevidente provando que

    Papai Noel existe.

    A democracia permite que

    Olavo de Carvalho escreva

    e Tiririca deputeie. Isto bom porque s

    assim um autor

    desconhecido tem a

    oportunidade de liderar a

    lista dos livros mais

    baixados da Amazon, nem que seja por alguns dias,

    para dizer o que pensa sem

  • 7

    pedir a permisso de

    ningum. Pena que so poucos os

    que realmente defendem a

    democracia. Felipe Moura

    Brasil, da Veja, escreveu o

    seguinte:

    A canalhada no sossega enquanto no

    calar de vez as vozes

    discordantes. Est

    difcil de aturar o

    sucesso do filsofo

    Olavo de Carvalho, depois que o nosso

    best seller O mnimo que voc precisa saber

  • 8

    para no ser um

    idiota bateu a marca dos 60 mil exemplares

    vendidos. Na

    incapacidade de

    argumentar e debater,

    os invejosos de

    planto querem derrubar a pgina em

    que ele escreve para

    impedir que sua

    imensa legio de alunos, leitores e fs

    tenham acesso s suas palavras. Assim como

    j aconteceu com

    outras pginas de teor

  • 9

    conservador, como

    Meu professor de Histria mentiu pra

    mim, seu perfil do Facebook saiu do ar

    nesta manh e segue

    indisponvel.

    Reinaldo Azevedo no deixou por menos.

    A questo agora

    saber se o Facebook

    vai se tornar refm

    dessas milcias.

    E o que aconteceu com minha conta do Facebook?

    Foi tirada do ar!

  • 10

    Ainda bem que a rede

    social tem meios de validar um usurio. J estou de

    volta.

    Com a palavra: Olavo de

    Carvalho, Felipe Moura

    Brasil e Reinaldo Azevedo.

  • 11

  • 12

    1. Apresentao

    Olavo de Carvalho est para Newton, Darwin e

    Kant assim como MC

    Britney est para Bach,

    Mozart e Beethoven.

    Hoje na casa do seu Z

    vai rolar uma putaria / Tava cheia de novinha

    doida pra fazer orgia /

    Uma fodia no cho

    outra em cima da na

    pia / Na casa do seu

    Z vai rolar uma putaria

  • 13

    Nos primeiros captulos

    deste livro, apresento alguns dos absurdos mais

    evidentes do best seller O

    mnimo que voc precisa

    saber para no ser um

    idiota. Nos captulos finais,

    uso um pouco da filosofia que se aprende na USP

    para desmontar o

    filosofismo que Reinaldo

    Azevedo, Rodrigo

    Constantino e outros

    confundem com erudio.

    No a razo que

    conquista os louros,

    mas a eloquncia; e

  • 14

    ningum precisa ter

    receio de no encontrar seguidores

    para suas hipteses,

    por mais

    extravagantes que elas

    sejam, se for hbil o

    bastante para pint-las em cores atraentes.

    (HUME. Tratado da

    natureza humana. So

    Paulo: Unesp, 2009, p.

    20)

    Reinaldo Azevedo, alis, disse que O mnimo...

    provocou um enorme

    silncio e que no debater

  • 15

    uma das formas do

    moderno exerccio da violncia. Espero que ele

    leia o meu texto da mesma

    forma que costumo ler os

    dele: concordando ou

    discordando, sem imaginar

    um inimigo do outro lado. Na segunda edio,

    acrescentei o captulo 23

    comentando uma discusso

    que tive com Olavo de

    Carvalho no Facebook, no

    dia 8 de maro de 2014. Na discusso, duas coisas

    ficaram bvias. Primeira:

    que a filosofia de Olavo de

  • 16

    Carvalho prova que Papai

    Noel existe. Segunda: que Olavo de Carvalho no tem

    o equilbrio emocional

    mnimo para se aventurar

    pela filosofia.

  • 17

    2. Obama quer que

    os Estados Unidos

    sejam conquistados

    pela Rssia ou pela

    China

    Segundo Olavo de

    Carvalho, Barack Hussein

    Obama quer acabar com a

    liberdade de expresso nas transmisses radiofnicas

    porque, com as televises

    absolutamente dominadas,

    com o conservadorismo

    insuficiente da Fox News, o

    rdio se tornou o ltimo

  • 18

    refgio da cristandade, a

    esperana derradeira da civilizao ocidental no pas

    mais poderoso do mundo.

    Poderoso por enquanto,

    porque Barack Hussein

    Obama quer desarmar a

    populao e os militares a populao para implantar

    uma ditadura; os militares

    para que os Estados Unidos

    sejam conquistados pela

    Rssia ou pela China.

    O plano macabro tem o patrocnio de bilionrios

    como George Soros, que,

    entre outras maldades,

  • 19

    aposta na legalizao da

    maconha.

    Nenhum jornal ou

    canal de TV brasileiro

    jamais informou que

    Obama um apstolo

    da Media Reform,

    calculada para eliminar a liberdade de opinio

    no rdio, um defensor

    ardente da proibio

    total de armas de fogo

    pela populao civil

    (na mesma linha que Hitler adotou na

    Alemanha), um

    partidrio fervoroso do

  • 20

    imediato

    desmantelamento das defesas americanas

    antimssil (portanto, da

    rendio incondicional

    ante qualquer poder

    nuclear estrangeiro).

    Ningum jamais informou que ele votou

    contra a proibio de

    matar bebs que

    sobrevivam ao aborto,

    e que um discpulo

    da teologia da libertao na sua verso mais radical e

    extremada. Ningum

  • 21

    informou que os

    grupos que o apoiam so crculos bilionrios

    globalistas aos quais

    ele serve como agente

    para a destruio da

    soberania americana e

    a imediata implantao de um governo

    mundial pelos meios

    mais antidemocrticos

    que se pode imaginar.

  • 22

    3. A ecologia foi

    inventada numa

    espcie de projeto

    Manhattan

    O projeto Manhattan

    reuniu os maiores cientistas

    do Ocidente para produzir a bomba atmica, uma arma

    to absurda que ningum

    ousaria enfrentar.

    Segundo Olavo de

    Carvalho, um esforo

    parecido, com dezenas de intelectuais, produziu a

    causa das causas, e assim

    nasceu a ecologia.

  • 23

    Nos anos 1950, grupos

    globalistas bilionrios os metacapitalistas, como os chamo,

    aqueles sujeitos que

    ganharam tanto

    dinheiro com o

    capitalismo que agora j no querem mais se

    submeter s oscilaes

    do mercado e por isso

    se tornam aliados

    naturais do estatismo

    esquerdista tomaram a iniciativa

    de contratar algumas

    dezenas de intelectuais

  • 24

    de primeira ordem

    para que escolhessem a vtima das vtimas,

    algum em cuja

    defesa, em caso de

    ameaa, a sociedade

    inteira correria com

    uma solicitude de me, lanando

    automaticamente

    sobre todas as

    objees possveis a

    suspeita de traio

    espcie humana. Depois de conjeturar

    vrias hipteses, os

    estudiosos chegaram

  • 25

    concluso de que

    ningum se recusaria a lutar em favor da

    Terra, da me

    natureza.

  • 26

    4. Democratizar o

    ensino quase to

    nefasto quanto

    distribuir pedras de

    crack na merenda

    Segundo Olavo de

    Carvalho, democratizar o

    ensino ruim.

    A democratizao do ensino, abolindo as

    barreiras econmicas,

    deveria ter institudo

    barreiras intelectuais

    em compensao, para

    impedir que a descida

  • 27

    do padro social

    trouxesse, de contrabando, uma

    queda do nvel de

    conscincia. A nova

    elite de ps-rapados

    talvez fosse menos

    numerosa, mas teria superado em mrito e

    qualidade suas

    antecessoras. Na

    verdade, o que se fez

    foi o contrrio: j que

    o ensino para todos, por que haveria de ser

    um ensino de elite?

    Para qualquer um,

  • 28

    basta qualquer coisa. A

    massa dos neoletrados, lisonjeada

    at as nuvens, corre s

    escolas, s livrarias,

    mdia, aos teatros e

    aos cinemas para

    receber sua rao diria de lixo, que ela

    imagina superior

    educao de um nobre

    do Renascimento ou de

    um clrigo do sculo

    XIII.

    Segundo Olavo de

    Carvalho, dizer que os

    alunos merecem escolas

  • 29

    decentes, professores

    dedicados e mtodos de ensino cativantes quase

    to nefasto quanto

    distribuir pedras de crack

    na merenda.

    Quando a criana de seis

    anos de idade no percebe a importncia da educao

    formal, o problema dela.

    O Estado no tem nada a

    ver com isso.

    A ideia de que a

    educao seja um direito uma das mais

    esquisitas que j

    passaram pela mente

  • 30

    humana. s a

    repetio obsessiva que lhe d alguma

    credibilidade. (...)

    Educao uma

    conquista pessoal, e s

    se obtm quando o

    impulso para ela sincero, vem do fundo

    da alma e no de uma

    obrigao imposta de

    fora. (...) Nessas

    condies, campanhas

    publicitrias que enfatizem a educao

    como um direito a ser

    cobrado, e no como

  • 31

    uma obrigao a ser

    cumprida pelo prprio destinatrio da

    campanha, tm um

    efeito corruptor quase

    to grave quanto o do

    trfico de drogas.

  • 32

    5. Pecado coisa de

    pobre

    Olavo de Carvalho

    conservador quando assume a persona de

    cristo fundamentalista

    diante da cincia, mas se

    faz de corteso quando se

    prostra submisso nobreza

    e aristocracia.

    Num tempo em que a

    Frana era o pas mais

    cristo da Europa, Lus

    XIV tinha nada menos

    de 28 amantes, mas

    sua rotina de trabalho

  • 33

    era mais pesada que a

    de qualquer executivo de multinacional. (...)

    J na Idade Mdia, os

    encargos da defesa

    territorial incumbiam

    inteiramente classe

    aristocrtica: ningum podia obrigar um

    campons ou

    comerciante a ir para a

    guerra, mas o nobre

    que fugisse aos seus

    deveres blicos seria instantaneamente

    executado pelos seus

    pares. (...) A classe

  • 34

    aristocrtica era

    liberada de parte dos rigores morais cristos

    na mesma medida em

    que pagava pela sua

    liberdade com a

    permanente oferta da

    prpria vida em sacrifcio pelo bem de

    todos. A

    democratizao da

    permissividade espalha

    os direitos da

    aristocracia por uma multido de recm-

    chegados que de

    repente se veem

  • 35

    liberados da presso

    religiosa sem ter de assumir por isso

    nenhum encargo extra,

    por mnimo que seja,

    capaz de restaurar o

    equilbrio entre direitos

    e deveres. (...) A liberao de massas

    imensas de populao

    para o desfrute de

    prazeres e requintes

    gratuitos uma das

    situaes psicolgicas mais ameaadoras j

    vividas pela

  • 36

    humanidade desde o

    tempo das cavernas.

    Segundo Olavo de

    Carvalho, os empresrios

    so sempre bons, inclusive

    os que roubam os

    consumidores, os

    trabalhadores e o governo. Pelo que ele diz, quem cria

    um site para vender

    produtos fictcios e some

    com o dinheiro movimenta

    a economia e gera riqueza;

    quem usa trabalho escravo para desmatar ilegalmente,

    no fim das contas, beneficia

    o pas.

  • 37

    O empresrio pode dar

    golpes em seus fornecedores, vender

    produtos fraudados,

    sonegar o pagamento

    devido aos operrios,

    ou ento pode pagar

    tudo direitinho e vender produtos bons.

    (...) Da atividade do

    empresrio, mesmo o

    mais desonesto,

    resultam sempre uma

    ativao da economia, uma elevao da

    produtividade, a

    expanso dos

  • 38

    empregos. Esses

    resultados podem vir em quantidade grande

    ou pequena, mas tm

    de vir

    necessariamente, pela

    simples razo de que

    empresa consiste em produzi-los e em nada

    mais. (...) Um

    empresrio, honesto

    ou desonesto, est no

    auge do sucesso

    quando pode, sem prejuzo de seus

    investimentos,

    comprar manses,

  • 39

    iates, carros de luxo,

    jatinhos, jates etc. Ele alcana isso

    quando se torna um

    mega-empresrio.

    Para chegar a esse

    ponto, ele tem de

    deixar em seu rastro fbricas, bancos,

    plantaes, jornais,

    canais de TV e mil e

    um outros negcios

    dos quais vivem e

    prosperam milhares de pessoas.

  • 40

    6. Chega de

    liberdade de

    expresso!

    Olavo de Carvalho odeia a

    esquerda, mas no pelo que ela tem de ruim.

    Quando Richard Dawkins

    combate o criacionismo,

    por exemplo, um gulag

    bem que faz falta.

    Sem o campo de concentrao sovitico, o

    que resta usar os

    instrumentos democrticos

    para solapar a democracia.

    Se inmeras igrejas

  • 41

    processassem Richard

    Dawkins ao mesmo tempo, a litigncia de m f

    poderia inviabilizar

    economicamente o

    lanamento de seus livros.

    O sr. Dawkins j

    ultrapassou aquele limite da truculncia

    mental e do desprezo

    verdade, para alm

    do qual toda a

    discusso de ideias se

    torna intil. No se trata de provar nada

    para o sr. Dawkins.

    Trata-se de provar seu

  • 42

    crime perante os

    tribunais. O dele e o de inumerveis

    organizaes

    militantes, subsidiadas

    por fundaes

    bilionrias, dedicadas a

    fomentar por todos os meios o dio s

    religies. Todas as

    organizaes religiosas

    que no se

    mobilizarem para a

    defesa comum no s no campo miditico,

    mas no judicial, devem

    ser consideradas

  • 43

    traidoras,

    colaboracionistas e vendidas ao inimigo.

  • 44

    7. A imprensa uma

    ameaa civilizao

    e espcie humana

    Thomas Jefferson no

    sculo XVII:

    Se eu tivesse de

    decidir entre ter um

    governo sem jornais e

    ter jornais sem um

    governo, eu no

    hesitaria nem por um momento antes de

    escolher a segunda

    opo. (VEJA, 27 de

    janeiro de 2010)

  • 45

    Lnin no sculo XX:

    Dar burguesia a arma da liberdade de

    imprensa facilitar e

    ajudar a causa do

    inimigo. Ns no

    desejamos um fim

    suicida, ento no a daremos. (VEJA, 27 de

    janeiro de 2010)

    Olavo de Carvalho no

    sculo XXI:

    Poucos fatos na

    histria foram jamais to bem averiguados,

    testados e provados

  • 46

    quanto a falsidade

    documental do presidente americano

    e o esquema de

    dominao continental

    do Foro de So Paulo.

    (...) Ambos esses fatos

    foram sistematicamente

    suprimidos do

    noticirio por tempo

    suficiente para que os

    beneficirios da cortina

    de silncio alcanassem, sob a

    proteo dela, seus

    objetivos mais

  • 47

    ambiciosos. (...) Por

    isso, Daniel Greenfield foi at eufemstico

    quando, escrevendo no

    Front Page Magazine

    de David Horowitz,

    afirmou que a grande

    mdia hoje a maior ameaa integridade

    do processo poltico. Ela tornou-se, isto sim,

    uma ameaa

    inteligncia,

    civilizao, a toda a espcie humana.

  • 48

    8. As crianas so

    programadas pela

    psicologia e sero

    programas pela

    engenharia gentica

    Se Olavo de Carvalho

    fosse reconhecido como

    autor de trash books, tudo

    bem. Para alguns, seria divertido.

    H quatro dcadas a

    tropa de choque

    acantonada nas

    escolas programa

    esses meninos para ler

  • 49

    e raciocinar como ces

    que salivam ou rosnam ante meros signos,

    pela repercusso

    imediata dos sons na

    memria afetiva, sem

    a menor capacidade ou

    interesse de saber se correspondem a

    alguma coisa no

    mundo. Um deles

    ouve, por exemplo, a

    palavra virtude. Pouco importa o contexto.

    Instantaneamente

    produz-se em sua rede

  • 50

    neuronal a cadeia

    associativa: virtude moral catolicismo conservadorismo represso ditadura racismo - genocdio. E

    o bicho j sai gritando:

    a direita! Mata! Esfola! Al paredn! De

    maneira oposta e

    complementar, se

    ouve a palavra

    social, comea a salivar de gozo, arrastado pelo atrativo

    mgico das imagens:

    social socialismo

  • 51

    justia igualdade liberdade sexo e cocana de graa oba! No estou

    exagerando em nada.

    Talvez fosse divertido se

    Olavo de Carvalho

    escrevesse fico, mas parece que ele est mais

    para Lafayette Ronald

    Hubbard do que para

    Stanley Martin Lieber o primeiro criou a religio

    hollywoodiana chamada cientologia; o segundo,

    mais conhecido como Stan

    Lee, criou o Homem-

  • 52

    Aranha, o Incrvel Hulk e o

    Homem de Ferro.

    Hoje os governantes j

    estudam como

    programar

    geneticamente a

    conduta das geraes

    futuras. No se contentam com o

    poder destrutivo dos

    demnios: querem o

    poder criador dos

    deuses.

  • 53

    9. Os fins justificam

    os meios

    Olavo de Carvalho no

    contra as revolues. Diz que porque s considera

    revolucionrio o movimento

    que nega o mundo perfeito

    onde democratizar o ensino sempre ruim;

    onde roubar os consumidores, os

    trabalhadores e o governo

    sempre bom.

    O movimento

    revolucionrio o

    flagelo maior que j se

  • 54

    abateu sobre a espcie

    humana desde o seu advento sobre a Terra.

    (...) O socialismo e o

    nazismo so

    revolucionrios no

    porque propem

    respectivamente o predomnio de uma

    classe ou de uma raa,

    mas porque fazem

    dessas bandeiras os

    princpios de uma

    remodelagem radical no s da ordem

    poltica, mas de toda a

    vida humana. (...)

  • 55

    Muitos processos

    sociopolticos usualmente

    denominados

    revolues no so revolucionrios de fato, porque no

    participam da mentalidade

    revolucionria, no

    visam remodelagem

    integral da sociedade,

    da cultura e da espcie

    humana, mas se destinam unicamente

    modificao de

    situaes locais e

  • 56

    momentneas,

    idealmente para melhor. No

    necessariamente

    revolucionria, por

    exemplo, a rebelio

    poltica destinada

    apenas a romper os laos entre um pas e

    outro. Nem

    revolucionria a

    simples derrubada de

    um regime tirnico

    com o objetivo de nivelar uma nao s

    liberdades j

    desfrutadas pelos

  • 57

    povos em torno. (...)

    Se, nesse sentido, vrios movimentos

    poltico-militares de

    vastas propores

    devem ser excludos

    do conceito de

    revoluo, devem ser includos nele, em

    contrapartida, vrios

    movimentos

    aparentemente

    pacficos e de natureza

    puramente intelectual e cultural, cuja

    evoluo no tempo os

    leve a constituir-se em

  • 58

    poderes polticos com

    pretenses de impor universalmente novos

    padres de

    pensamento e conduta

    por meios

    burocrticos, judiciais

    e policiais. A rebelio hngara de 1956 ou a

    derrubada do

    presidente brasileiro

    Joo Goulart, nesse

    sentido, no foram

    revolues de maneira alguma. Nem o foi a

    independncia

    americana, um caso

  • 59

    especial que terei de

    explicar num outro artigo. Mas sem dvida

    so movimentos

    revolucionrios o

    darwinismo e o

    conjunto de

    fenmenos pseudorreligiosos

    conhecido como Nova

    Era.

    Olavo de Carvalho no

    contra o extremismo. Diz

    que porque s considera extremista quem no aceita

    o mundo perfeito onde a

  • 60

    liberdade de expresso

    deve ser combatida.

    Se esbarrasse na rua

    com algum dos nossos

    polticos ditos de direita, eu lhe perguntaria o

    seguinte: Voc quer destruir a esquerda,

    destru-la

    politicamente,

    socialmente,

    culturalmente, de

    modo que ela nunca mais se levante e que

    ser esquerdista se

    torne uma vergonha

  • 61

    que ningum ouse

    confessar em pblico? (...) Quem precisa

    ostentar moderao

    quem se envergonha

    da sua prpria opinio

    ao ponto de admitir,

    cabisbaixo e submisso, que ela s vale alguma

    coisa quando usada

    em doses moderadas.

    Em doses moderadas,

    filhinho, at a

    estricnina vale alguma coisa. S o que

    indiscutivelmente bom,

    como a inteligncia, a

  • 62

    beleza, a santidade ou

    a sade, vale tanto mais quanto maior a

    dose.

  • 63

    10. Desconstruindo

    Olavo de Carvalho I

    Olavo de Carvalho

    emprega a palavra Bblia no sentido cristo.

    A Bblia tem de ser

    relida o tempo todo

    (...) ateno especial

    para Mateus 11:1-6,

    onde o prprio Jesus ensina o critrio para

    voc tirar as dvidas a

    respeito dEle.

    E diz que a Bblia (crist)

    a semente de toda

    cultura ocidental possvel.

  • 64

    Um mito fundador no

    um produto cultural, pela simples razo de que ele, e s

    ele, a semente de

    toda cultura possvel.

    Um mito fundador

    constitui-se, em geral, da narrativa simblica

    de fatos que

    efetivamente

    sucederam, fatos to

    essenciais e

    significativos que acabam por transferir

    parte do seu padro de

    significado para tudo o

  • 65

    que venha a acontecer

    em seguida numa determinada rea

    civilizacional. Assim,

    por exemplo, Northrop

    Frye demonstrou que

    todos os esquemas

    narrativos conhecidos na grande literatura

    ocidental so variaes

    de enredos bblicos.

    Ora, os esquemas

    narrativos da literatura

    superior so os padres de

    autocompreenso

    imaginativa de uma

  • 66

    civilizao. E os

    padres de autocompreenso

    imaginativa so, por

    sua vez, os esquemas

    de ao possveis. A

    Bblia, mito fundador

    da civilizao ocidental, est no

    fundo de toda a nossa

    compreenso de ns

    mesmos e de todas as

    nossas possibilidades

    de ao. Fora disso, no h seno

    ideologia, erro,

    loucura.

  • 67

    Se a Bblia fosse a

    semente de toda cultura ocidental possvel, as coisas

    anteriores ao sculo I no

    fariam parte da cultura

    ocidental.

    Mas fazem parte da

    cultura ocidental a filosofia grega (com Plato e

    Aristteles), a literatura

    grega (da Ilada e da

    Odisseia), a escultura grega

    (produzindo a Vnus de

    Milo e inspirando o Davi de Michelangelo).

    Faz parte da cultura

    ocidental o prdio Suprema

  • 68

    Corte americana, que tem

    as colunas da arquitetura grega e fica perto do

    Capitlio, nome de um

    templo dedicado ao deus

    romano Jpiter.

    Fazem parte da cultura

    ocidental tanto o latim (que nos deu o italiano, o

    espanhol e o portugus)

    quanto o grego, usado para

    escrever o Novo

    Testamento.

    No verdade, portanto, que a Bblia esteja no fundo

    de toda a nossa

    compreenso de ns

  • 69

    mesmos e de todas as

    nossas possibilidades de ao. Sfocles conhecia

    alguma coisa da condio

    humana quando escreveu

    dipo Rei. Euclides ampliou

    as possibilidades humanas

    desenvolvendo a geometria.

    O texto de Olavo de

    Carvalho no passa de uma

    ladainha.

  • 70

    11. Desconstruindo

    Olavo de Carvalho II

    Discutir o aborto no o

    propsito deste captulo, apenas discutir os

    argumentos quase infantis

    de Olavo de Carvalho sobre

    o tema.

    Os adversrios do

    aborto alegam que o feto um ser humano,

    que mat-lo crime de

    homicdio.

    O texto comea com uma

    tautologia. Se o aborto que

    est em discusso o que

  • 71

    ocorre na espcie humana,

    o feto um ser humano tanto para quem acredita

    que abortar um crime,

    quanto para quem acredita

    que abortar um direito.

    Segundo o Houaiss, o feto

    humano um ser humano com pelo menos trs meses

    de gestao porque, antes

    disso, um embrio.

    Os partidrios alegam

    que o feto apenas

    um pedao de carne, uma parte do corpo da

    me, que deve ter o

  • 72

    direito de extirp-lo

    vontade.

    No verdade que os

    defensores da

    descriminalizao do aborto

    partam do princpio de que

    o feto um pedao de

    carne qualquer. A situao muito mais complexa.

    Primeiro preciso discutir

    como arbitrar o comeo da

    vida. Quando o crebro de

    algum sofre um processo

    de degenerescncia irreversvel pelos critrios

    da medicina, o corao que

    est batendo pode ser

  • 73

    retirado e doado para

    algum que precise de um transplante. O aborto do

    anencfalo e at o aborto

    de um embrio sem o

    sistema nervoso central

    razoavelmente

    desenvolvido talvez possa, ento, ser considerado.

    No presente score da

    disputa, nenhum dos

    lados conseguiu ainda

    persuadir o outro. Nem

    razovel esperar que o consiga, pois, no

    havendo na presente

    civilizao o menor

  • 74

    consenso quanto ao

    que ou no a natureza humana, no

    existem premissas

    comuns que possam

    fundamentar um

    desempate. Mas o

    empate mesmo acaba por transfigurar toda a

    discusso: diante dele,

    passamos de uma

    disputa tico-

    metafsica, insolvel

    nas presentes condies da cultura

    ocidental, a uma

    simples equao

  • 75

    matemtica cuja

    resoluo deve, em princpio, ser idntica e

    igualmente probante

    para todos os seres

    capazes de

    compreend-la. Essa

    equao formula-se assim: se h 50% de

    probabilidades de que

    o feto seja humano e

    50% de que no o

    seja, apostar nesta

    ltima hiptese , literalmente, optar por

    um ato que tem 50%

    de probabilidades de

  • 76

    ser um homicdio. Com

    isso, a questo toda se esclarece mais do que

    poderia exigi-lo o mais

    refratrio dos

    crebros. (...) Dito de

    outro modo: apostar

    na inumanidade do feto jogar na cara ou

    coroa a sobrevivncia

    ou morte de um

    possvel ser humano.

    Admitindo que o feto seja

    humano (porque ele ) e deixando de lado qualquer

    aplicao indevida dos

    conceitos mais elementares

  • 77

    da estatstica (porque no

    sempre que dois acontecimentos

    mutuamente exclusivos

    tm probabilidades iguais),

    o que Olavo de Carvalho

    tenta dizer que, na

    dvida, no devemos matar a criana.

    Se a inteno proibir o

    aborto, o argumento

    ruim.

    No foi por consenso que

    foram adotados a universalizao da vacina, a

    transfuso de sangue, o

  • 78

    transplante de rgos, o

    aborto em caso de estupro. Na dvida, a igreja pode

    condenar vontade, mas

    os tribunais tm que

    absolver. No faz sentido

    punir criminalmente uma

    pessoa quando no sabemos se ela cometeu

    realmente algum crime.

    Diante de tantas

    dificuldades, o que resta

    a insensatez: o ataque que

    transforma a discusso numa luta do bem contra o

    mal.

  • 79

    O abortista no

    poderia ceder nem mesmo ante provas

    cabais da humanidade

    do feto, quanto mais

    ante meras avaliaes

    de um risco moral. Ele

    simplesmente deseja correr o risco, mesmo

    com chances de 0%.

    Ele quer porque quer.

    Para ele, a morte dos

    fetos indesejados

    uma questo de honra: trata-se de

    demonstrar, mediante

    atos e no mediante

  • 80

    argumentos, uma

    liberdade autofundante que prescinde de

    razes, um orgulho

    nietzschiano para o

    qual a menor objeo

    constrangimento

    intolervel. (...) claro que, em muitos

    abortistas, esta

    vontade [de matar]

    permanece

    subconsciente,

    encoberta por um vu de racionalizaes

    humanitrias, que o

    apoio da mdia

  • 81

    fortalece e a

    vociferao dos militantes corrobora.

  • 82

    12. Sobre a fsica

    aristotlica

    Os maiores nomes da

    filosofia antiga so Plato e Aristteles; da filosofia

    medieval: Agostinho e

    Toms de Aquino; da

    filosofia moderna:

    Descartes, Hume, Kant e

    Hegel; da filosofia contempornea: Nietzsche

    e Wittgenstein. Alguns

    acrescentariam Hobbes e

    Rousseau pela contribuio

    filosofia poltica. Eu

    acrescentaria Thomas Kuhn

  • 83

    pela contribuio filosofia

    da cincia. Todos estes pensadores

    transcendem seu prprio

    tempo, mas apenas na

    medida do possvel.

    Plato descreve a criao

    do mundo dizendo que o demiurgo juntou o fogo, a

    terra, a gua e o ar.

    foroso que aquilo

    que deveio seja

    corpreo, visvel e

    tangvel; mas, separado do fogo, sem

    dvida que nada pode

    ser visvel, nem nada

  • 84

    pode ser tangvel sem

    qualquer coisa slida e nada pode ser slido

    sem terra. (...) Foi por

    isso que, tendo

    colocado a gua e o ar

    entre o fogo e a terra,

    (...) o deus uniu estes elementos e constituiu

    um cu visvel e

    tangvel. (PLATO.

    Timeu. Universidade

    de Coimbra, 2011.

    p.100)

    Toms de Aquino usa

    Aristteles para justificar a

    f crist numa poca em

  • 85

    que a cincia (cincia

    mesmo) simplesmente no existe.

    A mais extraordinria

    dessas tentativas de

    descrever a relao

    entre Deus e o homem

    e de adequar a plena complexidade da

    natureza humana a

    uma teologia coerente

    indubitavelmente a

    Summa teologica, de

    So Toms de Aquino. (...) Alm de

    incorporar em sua obra

    o que considerava ser

  • 86

    a totalidade do que era

    verdadeiro e bem demonstrado nas

    fontes clssicas que

    lhe eram disponveis,

    Aquino tentou

    completar o quadro da

    natureza e da vontade humanas apresentado

    por Aristteles em sua

    tica a Nicmaco e

    demonstrar sua

    compatibilidade com as

    doutrinas da religio revelada. (...) O

    triunfo do tomismo

    teve, no entanto, vida

  • 87

    curta. Seu primeiro

    inimigo srio foi o humanismo do incio

    do Renascimento. Este

    foi acompanhado por

    revolues na prtica

    da educao que

    tendiam a tirar autoridade intelectual

    dos clrigos e conferi-

    la s mos dos

    cortesos e literatos; e

    tambm por uma

    gradual ascendncia de um esprito de

    indagao cientfica

    hostil pronta

  • 88

    recepo do dogma

    teolgico. (SCRUTON. Uma breve histria da

    filosofia moderna. Rio

    de Janeiro: Jos

    Olympio, 2008. p. 37)

    Quando Olavo de Carvalho

    se faz de escolstico citando preceitos

    aristotlicos e tomistas, seu

    anacronismo mimetiza o

    pensamento do sculo XIII

    para discutir os problemas

    do sculo XXI. Isto no filosofia.

    Voc l nos manuais,

    por exemplo, que

  • 89

    Galileu superou a fsica de Aristteles. Durante quatro sculos

    essa bobagem foi

    repetida como verdade

    terminal. S por volta

    de 1950 os estudiosos

    perceberam que a fsica de Aristteles

    no era uma fsica,

    mas uma metodologia

    cientfica geral, bem

    mais sutil do que

    Galileu poderia jamais ter percebido, e muito

    bem adequada s

    necessidades da

  • 90

    cincia mais recente.

    Os famosos erros assinalados por Galileu

    existiam, mas eram

    detalhes secundrios

    que no afetavam de

    maneira alguma o

    conjunto da proposta.

    A fsica de Aristteles o

    estudo das coisas mveis,

    das coisas que mudam (no

    apenas de lugar). As coisas

    mveis so explicadas por

    quatro causas: a causa material, a causa formal

    (que tem a ver com a

    essncia), a causa eficiente

  • 91

    (que tem a ver com o

    motor que deu incio ao processo de mudana) e a

    causa final (que tem a ver

    com a finalidade, com a

    explicao metafsica ou

    religiosa dos motivos que

    levam uma coisa a acontecer).

    Com estas caractersticas,

    a fsica de Aristteles tem

    um forte componente

    qualitativo, diferente da

    fsica de Galileu, Newton, etc. que se preocupa

    principalmente com os

    aspectos quantitativos.

  • 92

    A fsica de Aristteles

    discute se uma coisa precisa ser movida para se

    mover, mas no descobre

    uma nica lei do tipo

    s = s0 + vt.

    Dizer que as coisas

    precisam ser movidas no acende uma lmpada, mas

    serve para provar a

    existncia de Deus o que suficiente para quem

    pode comprar uma

    lmpada no supermercado enquanto diz acreditar que

    Galileu no sofreu com a

    Inquisio.

  • 93

    Entre muitas outras, a

    lenda mais deformante talvez a de Galileu

    Galilei como mrtir da cincia, fundador da cincia experimental e

    homem corajoso que

    enfrentou a Inquisio em nome do direito de

    investigar a verdade.

    Para comear,

    qualquer pesquisador

    srio da histria das

    cincias sabe que Galileu nunca

    raciocinou a partir de

    dados experimentais,

  • 94

    mas de construes

    matemticas hipotticas que depois

    ele legitimava com

    pseudoexperimentos

    puramente

    imaginrios, jamais

    levados prtica, e usados sempre como

    meios de persuaso

    retrica, nunca de

    verificao. Os poucos

    experimentos efetivos

    que ele realizou foram todos errados. (...) Em

    segundo lugar, ele

    jamais sofreu presso

  • 95

    ou intimidao de

    qualquer natureza. (...) Por fim, a nica

    penalidade que a

    Inquisio lhe imps

    foi de uma

    benevolncia quase

    obscena, que hoje soaria como

    favorecimento ilcito:

    ele foi condenado a

    rezar uma vez por

    semana, durante trs

    anos, os sete salmos penitenciais, podendo

    faz-lo em privado,

  • 96

    isto , sem nenhum

    controle da autoridade.

    Vale notar que a posio

    de Olavo de Carvalho no

    a posio da Igreja

    Catlica, que, por mais

    conservadora que seja, no

    vive no sculo XIII.

    O Papa Bento XVI

    tambm entrou nas

    celebraes dos 400

    anos do primeiro uso

    de um telescpio na

    astronomia, pelo cientista italiano

    Galileu Galilei. (...)

    Bento XVI disse que a

  • 97

    compreenso das leis

    da natureza pode estimular a

    compreenso e

    apreciao dos

    trabalhos de Deus.

    (...) A Igreja Catlica

    condenou Galileu, no sculo 17, por apoiar a

    teoria copernicana de

    que a Terra girava ao

    redor do Sol; os

    ensinamentos

    religiosos, naquela poca, colocavam a

    Terra no centro do

    universo. Em 1992, o

  • 98

    Papa Joo Paulo II

    pediu desculpas, dizendo que a

    condenao de Galileu

    foi um trgico erro.

    (G1)

  • 99

    13. Sobre a fsica

    clssica

    Reinaldo Azevedo elogia

    Olavo de Carvalho porque este escreve bastante.

    autor, por exemplo,

    da monumental 32 volumes! Histria Essencial da Filosofia (livros acompanhados de DVDs). Alguns

    filsofos de crach e

    livro-ponto poderiam

    ter feito algo parecido

    mas boa parte estava ocupada demais

  • 100

    doutrinando

    criancinhas.

    Mas quantidade no

    qualidade, como se pode

    ver no texto em que Olavo

    de Carvalho critica a

    primeira lei de Newton,

    texto disponvel apenas na internet.

    Um dos paradoxos

    inaugurais dos tempos

    modernos est na

    facilidade sonsa com

    que a parte pensante da Europa aceitou os

    dois princpios da

    mecnica newtoniana

  • 101

    a eternidade do movimento e a lei de inrcia sem parar por um instante sequer

    para notar que eram

    mutuamente

    contraditrios. A fsica

    antiga dizia que um corpo, se no movido

    por outro, tende a ficar

    parado. Newton

    contestou isso,

    afirmando que a fora

    da sua prpria inrcia mantm cada corpo

    eternamente no seu

    estado presente, seja

  • 102

    de repouso ou de

    movimento retilneo e uniforme. S h um

    problema: se o

    movimento eterno,

    no faz sentido falar

    em estado presente a no ser por referncia a um

    observador vivo

    dotado do sentido da

    temporalidade.

    Olavo de Carvalho coloca

    um problema tipicamente filosfico, mas comete o

    erro primrio de criticar

    Newton por uma coisa que

  • 103

    Newton no escreveu, pelo

    menos na obra-prima que estabelece a mecnica

    clssica: os Principia Princpios matemticos da

    filosofia natural.

    Todo objeto

    permanece em seu estado de repouso ou

    de movimento

    uniforme numa linha

    reta, a menos que seja

    obrigado a mudar

    aquele estado por foras imprimidas

    sobre ele. (HEWITT.

  • 104

    Fsica conceitual, p.

    48)

    Newton no fala nem em

    movimento eterno, nem em

    eternidade do movimento;

    at porque, para Newton,

    trs coisas so eternas:

    Deus e as duas sequelas da existncia divina o tempo e o espao

    absolutos.

    E Newton no fala que o

    estado de repouso ou de

    movimento uniforme numa linha reta seja infinito, mas,

    se falasse, estaria falando

  • 105

    do infinito em potncia, no

    em ato. Exemplo de infinito em

    potncia a era crist, que

    comeou h dois mil e

    poucos anos e, pelo menos

    para os propsitos desta

    explicao, no acabar nunca mais. Exemplo de

    infinito em ato o conjunto

    dos nmeros naturais

    supondo que um deus

    onisciente consiga

    visualizar todos os nmeros de uma vez s.

    Mas o texto de Olavo de

    Carvalho to confuso que

  • 106

    merece um zero sem

    maiores explicaes. Quando Olavo de Carvalho

    diz que todo movimento ,

    por definio, uma

    mudana ocorrida dentro

    de uma escala de tempo, a

    expresso ocorrida dentro de uma escala de tempo

    pura invencionice.

    A contradio to

    flagrante, que chega a

    ser escandaloso que

    durante tantos sculos quase ningum a

    tenha percebido, ou

    pelo menos assinalado

  • 107

    expressamente. Porm

    a absurdidade ostensiva continha

    dentro de si outra

    ainda pior. Todo

    movimento , por

    definio, uma

    mudana ocorrida dentro de uma escala

    de tempo

    determinada. Se voc

    esticar indefinidamente

    os limites do tempo,

    no haver mais diferena possvel

    entre a mudana e a

    permanncia, entre o

  • 108

    acontecer e o no

    acontecer.

    O tempo absoluto,

    verdadeiro e matemtico de

    Newton no tem relao

    com qualquer coisa externa

    e inapreensvel. O tempo

    relativo, aparente e vulgar uma medida do tempo

    absoluto por meio do

    movimento. Ora, se o

    tempo absoluto

    inapreensvel, no dele

    que Olavo de Carvalho est falando. Mas no do

    tempo relativo porque o

    tempo relativo no pode

  • 109

    definir o movimento para

    depois ser apreendido a partir dele.

    O problema com a

    fsica de Newton que,

    quando um sujeito

    aceita uma tese

    autocontraditria como se fosse uma verdade

    definitiva, a

    contradio no

    percebida se refugia no

    inconsciente e danifica

    toda a inteligncia lgica do infeliz.

    Quem duvida da inrcia

    pode pegar um nibus e

  • 110

    seguir de p com os braos

    cruzados e os olhos fechados.

  • 111

    14. Sobre o atesmo

    de Newton

    Segundo Olavo de

    Carvalho:

    Newton no espalhou

    s o atesmo pela

    cultura ocidental:

    espalhou o vrus de

    uma burrice

    formidvel.

    Mas Newton no ateu.

    Na tica, ele escreve:

    [Deus] mais capaz

    por Sua vontade de

    mover os corpos em

  • 112

    seu sensrio uniforme

    ilimitado [o espao] (...) do que ns somos

    capazes, por nossa

    vontade, de mover as

    partes de nossos

    prprios corpos.

    (NEWTON. tica. So Paulo: Abril Cultural,

    1979. p. 56)

    Na segunda carta de sua

    correspondncia com

    Clarke, Leibniz escreve:

    Encontra-se expressamente no

    apndice da tica de

    Newton que o espao

  • 113

    o sensrio de Deus.

    Ora, a palavra sensrio sempre significou o rgo da

    sensao [para uns o

    crebro, para outros o

    corao]. (LEIBNIZ.

    Correspondncia com Clarke. So Paulo:

    Abril Cultural, 1974)

    Na Enciclopdia das

    cincias filosficas, Hegel

    escreve:

    Segundo Newton, o espao o sensrio de

    Deus. (HEGEL.

    Enciclopdia das

  • 114

    cincias filosficas em

    compndio, volume 2. So Paulo: Loyola,

    1997. p. 64)

    Num livro em que

    confunde o conceito de

    sensrio com o de ter, o

    bispo fundador da Comunidade Evanglica

    Sara Nossa Terra escreve:

    [Newton] dizia que o

    espao era o sensrio

    de Deus e, portanto,

    poderia ser, por seu carter divino, o

    agente transmissor das

    foras gravitacionais.

  • 115

    (RODOVALHO. Cincia

    e f: o reencontro pela fsica quntica. So

    Paulo: Leya, 2013)

    Mas nem os fatos, nem as

    pessoas convencem Olavo

    de Carvalho.

    Newton no concebeu sua teoria gravitacional

    s para explicar

    determinados fatos da

    natureza embora ela ainda seja ensinada

    assim populao ginasiana , mas como parte de um

    projeto abrangente de

  • 116

    destruir o cristianismo

    trinitrio e substitu-lo por uma religio da

    unidade absoluta, de inspirao esotrica.

    preciso ser muito

    sonso para no notar

    a o alcance da ambio totalitria

    subjacente.

    A afirmao de que dois

    corpos se atraem na razo

    direta do produto de suas

    massas e na razo inversa do quadrado da distncia

    entre eles no destri o

    cristianismo, destri apenas

  • 117

    as convices excntricas

    de Olavo de Carvalho.

  • 118

    15. Sobre o

    darwinismo

    Olavo de Carvalho no

    entende nem o lamarckismo, nem o

    darwinismo.

    Darwin no inventou a

    teoria da evoluo:

    encontrou-a pronta,

    sob a forma de doutrina esotrica, na

    obra do seu prprio

    av, Erasmus Darwin,

    e como hiptese

    cientfica em menes

    inumerveis

  • 119

    espalhadas nos livros

    de Aristteles, Santo Agostinho, So Toms

    de Aquino e Goethe,

    entre outros. Tudo o

    que fez foi arriscar

    uma nova explicao

    para essa teoria e a explicao estava

    errada. Ningum mais,

    entre os

    autoproclamados

    discpulos de Darwin,

    acredita em seleo natural. A teoria da moda, o chamado

    neodarwinismo,

  • 120

    proclama que, em vez

    de uma seleo misteriosamente

    orientada ao

    melhoramento das

    espcies, tudo o que

    houve foram

    mudanas aleatrias. Que eu saiba, o mero

    acaso precisamente

    o contrrio de uma

    regularidade fundada

    em lei natural,

    racionalmente expressvel.

    Sobre Erasmus Darwin e

    Lamarck:

  • 121

    O alicerce mais slido

    para uma teoria da evoluo anterior ao

    sculo XIX

    desenvolveu-se por

    meio das pesquisas e

    escritos de Erasmus

    Darwin (1731-1802) (av de Charles

    Darwin) e Jean-

    Baptiste Lamarck

    (1744-1829). Erasmus

    Darwin era um mdico

    proeminente na Inglaterra, sendo

    conhecido tambm

    como um pensador

  • 122

    radical e inovador. Sua

    verso da teoria evolucionista afirmava

    que as espcies se

    modificavam

    adaptando-se ao meio

    graas a algum tipo de

    esforo consciente; esse conceito tornou-

    se conhecido como a

    doutrina das

    caractersticas

    adquiridas. Jean-

    Baptiste Lamarck, contemporneo de

    Erasmus Darwin, foi o

    mais conhecido dos

  • 123

    dois, e defendia uma

    filosofia evolucionista semelhante. (...) Em

    sua obra publicada em

    1809, Filosofia

    zoolgica, ele exps

    dois princpios que a

    seu ver explicavam a enorme variedade e

    desenvolvimento das

    formas de vida: os

    rgos aperfeioam-se

    com o uso e

    enfraquecem com a falta de uso; essas

    mudanas so

    preservadas nos

  • 124

    animais e transmitidas

    prole. Por exemplo, Lamarck acreditava

    que as girafas tm

    pescoo longo porque

    se esticam para

    alcanar folhas nas

    rvores. Esse conceito era uma espcie de

    darwinismo invertido, no qual a criatura

    controla seu prprio

    destino em vez de o

    meio criar a criatura. Eram conjecturas, sem

    base em uma

    abordagem ou

  • 125

    comprovao

    cientfica. A verso lamarckiana da

    doutrina das

    caractersticas

    adquiridas era uma

    combinao das ideias

    do prprio Lamarck sobre o plano de Deus

    e da Escala do Ser de

    Aristteles. Lamarck

    escreveu que a vida

    ascendia a nveis mais

    elevados para aperfeioar a Criao.

    (BRODY. As sete

    maiores descobertas

  • 126

    cientficas da histria.

    So Paulo: Companhia das Letras, 1999. p.

    234)

    Sobre Charles Darwin:

    Em posse das

    observaes de

    Malthus [de que a populao humana e a

    demanda sempre

    excederiam a produo

    de alimentos e outros

    bens necessrios],

    [Charles] Darwin aplicou-as s suas

    prprias observaes

    sobre as espcies

  • 127

    vegetais e animais.

    Reconheceu que o potencial reprodutivo

    das plantas e animais

    excede

    substancialmente a

    razo necessria para

    manter a populao dessas plantas e

    desses animais em um

    nvel constante, porm

    ainda assim o tamanho

    dessas populaes

    permanece razoavelmente

    constante. Com base

    nisso, Darwin concluiu

  • 128

    que as plantas e os

    animais que sobrevivem acirrada

    competio entre

    todos os seres vivos

    tm de ser mais bem

    equipados para viver

    em seu meio especfico do que aqueles que

    no sobrevivem.

    Predadores lutam por

    territrio e presas,

    animais de pastio

    buscam as melhores terras, a vida vegetal

    compete por espao no

    qual expandir-se e

  • 129

    proliferar, os machos

    de muitas espcies lutam pelo direito s

    fmeas. Prevalecem os

    mais rpidos, mais

    fortes e mais espertos,

    e essas caractersticas

    vitais so herdadas por seus descendentes. A

    seleo natural

    permite que as

    mudanas que

    favorecem a

    sobrevivncia sejam passadas adiante e

    elimina as mudanas

    desfavorveis. Embora

  • 130

    a cincia da gentica

    ainda no existisse, Darwin presumiu que

    qualidades essenciais

    do ser sobrevivente,

    fosse ele predador,

    animal de pastio,

    vegetal ou conquistador da

    fmea, eram de algum

    modo transmitidas em

    sua semente. (BRODY.

    As sete maiores

    descobertas cientficas da histria. So Paulo:

    Companhia das Letras,

    1999. p. 245)

  • 131

    Resumindo: Charles

    Darwin no encontrou a teoria da evoluo pronta.

    Desenhando: O acaso e a

    seleo natural so dois

    momentos distintos da

    evoluo. As girafas que

    tm, POR ACASO, o pescoo um pouco mais

    comprido so favorecidas

    pela SELEO NATURAL e

    acabam gerando filhotes

    que tm a tendncia

    (gentica) de ter o pescoo mais comprido.

    Vale notar (porque o texto

    citado no to claro em

  • 132

    relao a isto) que a

    seleo natural no privilegia os melhores no

    sentido que Olavo de

    Carvalho parece usar,

    privilegia os mais

    adaptados.

    Numa rea invadida por predadores desconhecidos,

    as presas mais covardes

    talvez tenham mais chance

    de sobreviver. Numa

    populao em que alguns

    morcegos tm o crebro maior e outros tm os

    testculos maiores, se a

    vantagem dos primeiros

  • 133

    para sobreviver for

    pequena e a vantagem dos ltimos para reproduzir for

    grande, a seleo natural

    privilegiar o tamanho dos

    testculos.

    Puramente farsesco,

    no entanto, o esforo geral para camuflar a

    ideologia genocida que

    est embutida na

    prpria lgica interna

    da teoria da evoluo.

    Quando os apologistas do cientista britnico

    admitem a contragosto

    que a evoluo foi

  • 134

    usada para legitimar o racismo e os assassinatos em

    massa, eles o fazem

    com monstruosa

    hipocrisia.

    No porque a natureza

    apresenta aspectos moralmente reprovveis

    que devemos fingir que as

    coisas no so como so. O

    leo macho que toma o

    territrio de outro leo

    macho mata os filhotes do perdedor para que as

    fmeas se ocupem apenas

    da prole do leo que

  • 135

    venceu. Quando Darwin

    descobre a seleo natural, descobre uma regra que,

    ou no foi deliberadamente

    criada, ou foi

    deliberadamente criada por

    Deus.

    Se o darwinismo foi usado para legitimar o racismo e

    os assassinatos em massa,

    a religio tambm foi. E

    nenhum dos dois deve ser

    abolido por causa disso.

  • 136

    16. Sobre Kant

    O curso de bacharelado em filosofia da USP no

    enciclopdico. No comea

    com os pr-socrticos, no

    discute dezenas e dezenas

    de filsofos como as duas

    mil e setecentas pginas da Histria da filosofia de

    Reale e Antiseri.

    Tem aluno que l Plato,

    tem aluno que l

    Aristteles; tem aluno que

    l Agostinho, tem aluno que l Toms de Aquino;

    tem aluno que l Hobbes,

    tem aluno que l Rousseau.

  • 137

    Mas todos leem Kant.

    Todos leem a Crtica da razo pura.

    O primeiro e o mais

    bsico dos limites

    assinalados por Kant

    que o campo da

    experincia est circunscrito pelas duas

    formas a priori da

    sensibilidade, o espao

    e o tempo. Mas aquilo

    que est num lugar

    determinado est tambm, a fortiori, no

    infinito supraespacial;

    e aquilo que ocorre

  • 138

    num instante

    determinado acontece tambm, a fortiori,

    dentro da eternidade

    duas necessidades a priori das mais bvias

    que, por si, dariam por

    terra com os famosos limites que a filosofia

    crtica procurava

    estabelecer.

    O que Kant diz, muito

    resumidamente, que as

    noes de espao e tempo so anteriores a qualquer

    experincia (no vendo o

    tempo passar que voc

  • 139

    percebe o que o tempo ) e

    que toda experincia acontece no espao e no

    tempo.

    Olavo de Carvalho diz que

    o que est no espao est

    no infinito supraespacial;

    que o que est no tempo est na eternidade; e que

    tudo isto muito bvio.

    O primeiro erro de Olavo

    de Carvalho imaginar que

    os problemas do espao e

    do tempo se correspondem com perfeio. O espao e

    o tempo podem ser

    absolutos ou relativos,

  • 140

    finitos ou infinitos, mas a

    noo de eternidade no tem um equivalente como

    este negcio chamado

    infinito supraespacial.

    Isto acontece, entre

    outros motivos, porque a

    relao que se estabelece no espao entre sujeitos

    (coisas) e a relao que se

    estabelece no tempo

    entre predicados

    (acontecimentos). Supondo

    que o espao e o tempo sejam infinitos, por

    exemplo, o espao inteiro

    existe, mas o tempo no

  • 141

    porque, pelo menos em

    princpio, o passado existiu e o futuro existir.

    Quando se supe que

    Deus criou o espao e o

    tempo, a pergunta difcil

    o que Deus fazia antes da

    criao?, no onde Deus estava? porque, sendo

    imaterial, no estava em

    lugar nenhum.

    Agostinho tratou da

    primeira questo

    mostrando uma eternidade e um tempo

    incomensurveis entre si.

    Deus na eternidade (fora

  • 142

    do tempo) e o homem no

    tempo (fora da eternidade). Mal comparando, Deus est

    para o nosso tempo assim

    como o autor de um

    romance est para o tempo

    vivido pelos personagens

    da obra literria. Numa passagem bastante

    conhecida das Confisses,

    Agostinho argumenta que

    no faz sentido perguntar o

    que Deus fazia antes de

    criar o cu e a terra porque antes diz respeito ao

    tempo, no eternidade

    divina.

  • 143

    Eis a minha resposta

    quele que pergunta: Que fazia Deus antes de criar o cu e a

    terra? No lhe responderei (...)

    Preparava (...) a geena [o inferno] para aqueles que

    perscrutam estes

    profundos mistrios! (...) Se pelo nome de

    cu e terra se compreendem todas as criaturas, no temo

    afirmar que antes de

    criardes o cu e a terra

  • 144

    no fazeis coisa

    alguma. Pois, se tivsseis feito alguma

    coisa, que poderia ser

    seno criatura vossa?

    Oxal eu soubesse

    tudo o que me importa

    conhecer, como sei que Deus no fazia

    nenhuma criatura

    antes que se fizesse

    alguma criatura! (...)

    Como poderiam ter

    passado inumerveis sculos, se Vs, que

    sois o Autor e o

    Criador de todos os

  • 145

    sculos, ainda os no

    tnheis criado? Que tempo poderia existir

    se no fosse

    estabelecido por Vs?

    E como poderia esse

    tempo decorrer, se

    nunca tivesse existido? (...) Se antes da

    criao do cu e da

    terra no havia tempo,

    para que perguntar o

    que fazeis ento? No

    podia haver ento onde no havia tempo.

    (AGOSTINHO.

    Confisses. So Paulo:

  • 146

    Nova Cultural, 1999.

    p.320)

    Embora seja muita

    informao para pouco

    espao, no d para

    duvidar que o que Olavo de

    Carvalho diz ser bvio no

    tem nada de bvio.

    Mais falaciosa ainda

    a refutao kantiana

    do argumento de Sto.

    Anselmo. Sto. Anselmo

    diz que a existncia de

    Deus autoevidente por mera anlise, de

    vez que o Ser infinito e

    necessrio no poderia

  • 147

    ser privado da

    existncia, sendo toda privao uma

    limitao, contraditria

    portanto com a

    infinitude, e a

    possibilidade mesma

    de uma limitao sendo uma

    contingncia,

    contraditria com a

    necessidade.

    O argumento de Anselmo

    o seguinte:

    O insipiente h de

    convir igualmente que

    existe na sua

  • 148

    inteligncia o ser do qual no se pode pensar nada maior, porque ouve e

    compreende essa

    frase; e tudo aquilo

    que se compreende

    encontra-se na inteligncia. Mas o ser do qual no possvel

    pensar nada maior no pode existir

    somente na

    inteligncia. Se, pois, existisse apenas na

    inteligncia, poder-se-

    ia pensar que h outro

  • 149

    ser existente tambm

    na realidade; e que seria maior. Se,

    portanto, o ser do qual no possvel

    pensar nada maior existisse somente na

    inteligncia, este mesmo ser, do qual

    no se pode pensar

    nada maior, tornar-se-

    ia o ser do qual

    possvel, ao contrrio,

    pensar algo maior: o que, certamente,

    absurdo. Logo, o ser do qual no se pode

  • 150

    pensar nada maior existe, sem dvida, na inteligncia e na

    realidade. (ANSELMO.

    Proslgio. So Paulo:

    Nova Cultural, 1973. p.

    102)

    O que Kant diz que a suposta existncia

    necessria de Deus no

    passa de uma existncia

    pensada. No porque

    penso no ser que existe

    necessariamente que ele existe necessariamente.

    Kant d por

    pressuposto, nessa

  • 151

    objeo, que nossa

    mente pode criar como mera hiptese o

    conceito de um ser

    absolutamente

    necessrio, ou seja,

    que este conceito pode

    ser um mero contedo do pensamento.

    Sim.

    Ou seja: o conceito do

    ser necessrio seria

    apenas hipoteticamente

    necessrio.

  • 152

    No: o conceito do ser

    necessrio seria apenas uma hiptese.

    S que, para esse

    conceito ser apenas e

    exclusivamente uma

    criao da nossa

    mente, sem qualquer realidade objetiva, ele

    teria de ser

    necessariamente

    hipottico, ou seja,

    teria de excluir

    totalmente a possibilidade de ser

    mais que mera

    hiptese. Ora, esta

  • 153

    excluso

    autocontraditria.

    Kant no diz que Deus

    no existe. Diz apenas que

    o argumento ontolgico no

    prova esta existncia.

    Mais que logicamente

    certo, o argumento ontolgico

    autoevidente.

    No .

    Denomino

    autoevidente o juzo

    que no pode ter uma contraditria unvoca,

    ou seja, cuja

  • 154

    contraditria no

    sequer formulvel sem o vcio redibitrio da

    ambiguidade. Que eu

    saiba, esta

    caracterstica dos

    juzos autoevidentes

    no tinha sido ressaltada at agora.

    No caso, qual a

    contraditria do juzo

    O ser necessrio existe

    necessariamente? O ser necessrio inexiste

    necessariamente ou

  • 155

    A existncia do ser necessrio no necessria? Impossvel decidir.

    Qual a contraditria do

    juzo Papai Noel existe

    necessariamente? Papai

    Noel inexiste necessariamente ou A

    existncia do Papai Noel

    no necessria?

    A contraditria do

    argumento de Sto.

    Anselmo informulvel. Rejeitar

    portanto esse

    argumento abdicar

  • 156

    do senso mesmo da

    unidade do discurso, cair na linguagem

    dupla que terminar

    por nos levar aonde

    chegou Kant.

    Papai Noel existe!

  • 157

    17. Herrar umano

    Espero ter errado pouco, nos argumentos e no

    portugus, mas gostaria de

    deixar claro que este no

    um livro filosfico.

    A filosofia de verdade

    detalhista e trabalhosa. Comea com os autores

    consagrados e s depois

    segue em frente. A Crtica

    da razo pura dialoga com

    Leibniz e Hume citando

    Plato, Aristteles, Descartes, Hobbes, Locke.

  • 158

    18. Um pouco de

    filosofia

    Quem quer dar os

    primeiros passos na filosofia pode comear com

    a primeira parte de Uma

    breve histria da filosofia

    moderna de Roger Scruton,

    com as Meditaes

    metafsicas de Descartes e com a segunda parte de

    Uma breve histria da

    filosofia moderna de Roger

    Scruton. Comear com Kant

    (Crtica da razo pura,

    Crtica da razo prtica,

  • 159

    Crtica do juzo) ou Hegel

    (Cincia da lgica, Fenomenologia do esprito)

    impraticvel.

    Os captulos seguintes

    mostram dois trechos da

    primeira antinomia de Kant

    e um pouco do que j escrevi.

  • 160

    19. O tempo na

    primeira antinomia

    de Kant

    Tese: O mundo tem um

    comeo no tempo.

    Admita-se que o

    mundo no tem um

    comeo no tempo; at

    qualquer instante dado

    decorreu uma

    eternidade e deu-se, por conseguinte, o

    decurso de uma srie

    infinita de estados

    sucessivos das coisas

    no mundo. Ora, a

  • 161

    infinitude de uma srie

    consiste precisamente em nunca poder ser

    terminada por sntese

    sucessiva. Sendo

    assim, impossvel

    uma srie infinita

    decorrida no mundo e, consequentemente,

    um comeo do mundo

    condio necessria

    da sua existncia.

    (KANT. Crtica da razo

    pura. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2001)

  • 162

    Anttese: O mundo no

    tem um comeo; infinito no tempo.

    Suponhamos, com

    efeito, que o mundo

    tem um comeo. Como

    o comeo uma

    existncia precedida de um tempo em que a

    coisa no , tem que

    ter decorrido

    previamente um tempo

    em que o mundo no

    era, ou seja, um tempo vazio. Ora, num

    tempo vazio no

    possvel o nascimento

  • 163

    de qualquer coisa,

    porque nenhuma parte de um tal tempo tem

    em si, de preferncia a

    outra, qualquer

    condio que distinga

    a existncia e a faa

    prevalecer sobre a no existncia (quer se

    admita que essa

    condio surja por si

    mesma ou atravs de

    uma outra causa).

    Podem, por conseguinte, comear

    no mundo vrias sries

    de coisas, mas o

  • 164

    prprio mundo no

    pode ter comeo e pois infinito em relao

    ao tempo passado.

    (KANT. Crtica da razo

    pura. Lisboa: Calouste

    Gulbenkian, 2001)

  • 165

    20. A origem do

    universo na fsica

    contempornea

    A teoria do big bang parte

    de duas constataes empricas. A primeira diz

    que as galxias esto se

    afastando umas das outras

    e que o universo, portanto,

    est em expanso. A

    segunda diz que existe uma radiao csmica de fundo

    e que esta radiao mostra

    que o universo se comporta

    como se fosse um corpo

    negro homogneo com 270

  • 166

    graus negativos de

    temperatura. Estes fatos, interpretados

    pelos modelos tericos

    derivados da relatividade

    geral, sugerem que o

    universo esteve

    concentrado num nico ponto h pouco menos de

    14 bilhes de anos e que,

    neste ponto, com volume

    zero e densidade de

    energia infinita, foram

    criados o espao e o tempo. Se o Timeu (de Plato) e o

    Gnesis (da Bblia) falham

    categoricamente na

  • 167

    tentativa de explicar o

    comeo de tudo, o big bang no deixa por menos. O

    que a teoria diz que

    rodando o filme da

    expanso do universo para

    trs, o todo ocupa um nico

    ponto antes de desaparecer.

    Rodando o filme para trs,

    no entanto, o universo to

    pequeno quanto se queira

    no chega ao tamanho de

    um nico ponto porque o ponto, por definio,

    adimensional.

  • 168

    Por outro lado, dizer que

    os corpos celestes esto se afastando diferente de

    dizer que o espao ou o

    espao-tempo esto em

    expanso. Dizer que o

    tempo algo em si j

    temerrio. Dizer que o espao-tempo surgiu num

    momento que, no fim das

    contas, to mgico

    quanto o momento da

    criao do mito platnico

    ou da religio crist no se justifica.

    Esse modo de

    descrever a criao, os

  • 169

    momentos iniciais do

    universo, tem seu anlogo em diversas

    religies que

    identificam em suas

    cosmogonias o tempo

    mtico/mgico no qual

    os deuses se debruaram para alm

    de suas atividades

    usuais a fim de

    empreender a criao

    do mundo. Na

    comunidade judaico-crist, em particular, a

    ideia de um comeo

    nico e singular

  • 170

    pareceu a muitos incluindo o Papa Pio XII uma descrio cientfica da criao do

    universo bastante

    aceitvel e at

    desejvel, posto que

    de fcil adaptao aos ensinamentos de livros

    religiosos

    fundamentais, como a

    Bblia. (NOVELLO. Do

    big bang ao universo

    eterno. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. cap. 1)

    As teorias do universo

    eterno dizem que a histria

  • 171

    do universo no comea no

    tomo primordial previsto pela teoria do big bang: ou

    a expanso atual do

    universo tem infinitos

    sculos ou o momento

    mgico de 14 bilhes de

    anos atrs foi apenas o ponto de inflexo mais

    recente de um universo que

    se expande e se retrai

    tambm h infinitos

    sculos.

    No razovel, no entanto, imaginar que um

    tempo infinito tenha

    transcorrido porque o

  • 172

    infinito problemtico at

    na abstrao da matemtica.

    Wittgenstein pergunta,

    por exemplo, se o conjunto

    dos infinitos nmeros

    naturais existe de fato ou

    no passa de uma regra geradora de nmeros

    indefinidamente grandes.

    De forma semelhante,

    mas paradoxal, poderamos

    perguntar se Deus

    conseguiria somar todos os nmeros naturais porque o resultado esperado seria

    um nmero natural maior

  • 173

    do que cada um dos

    nmeros somados, ou seja, um nmero natural que

    Deus no conseguiu colocar

    na soma proposta

    inicialmente.

  • 174

    21. O tempo na

    fsica

    contempornea

    A mecnica quntica no

    explica o que o tempo porque apresenta

    resultados to

    contraintuitivos que tende a

    ser reconhecida apenas

    como um modelo que

    funciona. No fcil compatibilizar o realismo

    cientfico com situaes

    tpicas da mecnica

    quntica, como a do fton

  • 175

    que s vezes partcula, s

    vezes onda.

    Um sistema quntico

    ou exibe aspectos

    corpusculares

    (seguindo trajetrias

    bem definidas), ou

    aspectos ondulatrios (como a formao de

    um padro de

    interferncia),

    dependendo do arranjo

    experimental, mas

    nunca ambos ao mesmo tempo.

    (PESSOA JR. Conceitos

    de fsica quntica. So

  • 176

    Paulo: Editora Livraria

    da Fsica, 2003. p. 18)

    Bohr e Heisenberg

    propem que a realidade

    corpuscular e a realidade

    ondulatria coexistem at

    que uma seja obrigada a se

    manifestar. Einstein, Planck e Schrdinger no se

    convencem.

    Em 1935, Schrdinger

    preocupava-se com a

    interpretao de

    Copenhague. Ele podia ver que ela funcionava,

    num nvel pragmtico,

    para sistemas

  • 177

    qunticos como

    eltrons ou ftons. Mas o mundo em volta,

    ainda que, bem no

    fundo, fosse apenas

    uma massa fervilhante

    de partculas

    qunticas, parecia diferente. Buscando

    uma forma de deixar a

    diferena mais clara

    possvel, Schrdinger

    apresentou um

    experimento mental no qual uma partcula

    quntica tinha um

    efeito dramtico e

  • 178

    bvio sobre um gato.

    Imagine uma caixa que, quando fechada,

    seja impenetrvel a

    toda e qualquer

    interao quntica.

    Dentro dela, coloque

    um tomo de material radiativo, um detector

    de radiao, um frasco

    de veneno e um gato

    vivo. Agora feche a

    caixa e espere. Em

    algum momento o tomo radiativo sofrer

    decaimento, emitindo

    uma partcula de

  • 179

    radiao. O detector

    est acionado de tal maneira que ao

    registr-lo provoca a

    quebra do frasco,

    liberando o veneno no

    seu interior. Isso mata

    o gato. Na mecnica quntica, o decaimento

    de um tomo radiativo

    um evento aleatrio.

    Do lado de fora,

    nenhum observador

    pode dizer se o tomo decaiu ou no. Se

    decaiu, o gato est

    morto; seno, est

  • 180

    vivo. Segundo a

    interpretao de Copenhague, at

    algum observar o

    tomo, ele est numa

    superposio de dois

    estados qunticos:

    decado e no decado. O mesmo vale para os

    estados do detector,

    do frasco e do gato.

    Logo, o gato uma

    superposio de dois

    estados: vivo e morto. (STEWART. Dezessete

    equaes que

    mudaram o mundo.

  • 181

    Rio de Janeiro: Zahar,

    2013. p. 301)

    O paradoxo do gato (entre

    outros) demanda

    explicaes complexas que,

    quando colocadas em

    cheque, demandam

    explicaes ainda mais complexas, num processo

    interminvel.

    Kant diz que a metafsica

    dogmtica porque no

    examina suas prprias

    possibilidades antes de especular sobre Deus ou

    sobre a liberdade. A fsica

    contempornea mais

  • 182

    dogmtica que a

    precedente neste aspecto.

    O desfecho que a

    funo de onda do

    gato no precisa

    colapsar para

    contribuir com uma

    observao clssica nica. Ela pode

    permanecer totalmente

    inalterada, sem violar

    a equao de

    Schrdinger. Em vez

    disso, existem dois universos coexistentes.

    Num deles, o gato

    morre; no outro, no

  • 183

    morre. Quando voc

    abre a caixa, h correspondentemente

    dois vocs e duas

    caixas. Um deles

    parte da funo de

    onda de um universo

    com um gato morto; o outro parte de uma

    funo de onda

    diferente, com um

    gato vivo. Em lugar de

    um mundo clssico

    nico que de algum modo emerge da

    superposio de

    possibilidades

  • 184

    qunticas, temos uma

    vasta gama de mundos clssicos, cada um

    correspondendo a uma

    possibilidade quntica.

    (STEWART. Dezessete

    equaes que

    mudaram o mundo. Rio de Janeiro: Zahar,

    2013. p. 308)

    O mais razovel

    considerar que o tempo, na

    mecnica quntica, seja

    apenas a varivel t das equaes da mecnica

    quntica uma representao, um modo

  • 185

    bastante especfico de

    pensar.

    A mecnica quntica

    (...) descreve o

    comportamento dos

    tomos e das

    partculas

    subatmicas, e nos revelou um mundo

    microscpico em que

    espao e tempo se

    manifestam apenas

    como variveis

    matemticas, e onde conceitos como

    medio e realidade

    fsica perdem seu

  • 186

    sentido habitual.

    (HACYAN. Fsica y metafsica del espacio

    y el tiempo. Cidade do

    Mxico: Fondo de

    Cultura Econmica,

    2011. Introduo)

    O tempo da relatividade relativo porque tem uma

    relao (no sentido

    matemtico do termo) com

    a velocidade do referencial

    adotado, relao que se

    expressa pelas transformaes de Lorentz

    na relatividade restrita e

    pelas equaes de campo

  • 187

    de Einstein na relatividade

    geral. Rigorosamente falando, a

    relatividade no diz o que o

    tempo , diz como ele

    funciona, tornando

    igualmente vlida a crtica

    que fizemos mecnica quntica.

    As coisas que so

    indescritveis na

    matemtica e

    experimentalmente

    inverificveis no so objeto de estudo nem da

    relatividade em particular,

    nem da fsica

  • 188

    contempornea de maneira

    geral. Alm disso, embora os

    resultados da relatividade

    no sejam to estranhos

    quanto os da mecnica

    quntica, o tempo da

    relatividade apenas uma das dimenses da

    abstrao matemtica que

    o espao-tempo.

    A teoria da relatividade

    especial [ou restrita],

    de 1905, foi o ponto culminante de uma

    longa aventura do

    pensamento,

  • 189

    unificando a descrio

    da fsica, ao fundir o espao tridimensional

    ao tempo e formar

    uma nova unidade

    chamada estrutura

    espao-tempo. A

    geometria desse espao-tempo consiste

    em uma configurao

    rgida, imvel, capaz

    de servir de arena ou

    pano de fundo para

    todos os processos fsicos. Na relatividade

    geral, matria e

    energia sob qualquer

  • 190

    forma influenciam as

    propriedades geomtricas do espao

    e do tempo. Tudo se

    passa como se o

    espao-tempo fosse

    uma substncia com

    propriedades elsticas afetadas pelos corpos

    materiais, produzindo

    sulcos e reentrncias

    nessa estrutura,

    modificando assim o

    movimento dos corpos em interao.

    (NOVELLO. Do big

    bang ao universo

  • 191

    eterno. Rio de Janeiro:

    Zahar, 2010. cap. 3, comentrio C)

    O espao-tempo no

    algo que possa ser

    encontrado, como o bson

    de Higgs. uma estrutura

    to verdadeira quanto as esferas do sistema do

    mundo ptolomaico.

    Para explicar os

    movimentos

    planetrios, os

    astrnomos criaram sistemas de crculos

    (ou esferas) que se

    movem sobre outros

  • 192

    crculos (ou esferas). O

    crculo principal associado a cada astro,

    que serve de base para

    o movimento dos

    outros crculos

    menores, chamado

    deferente (ou seja: transportador). O

    centro do deferente

    poderia coincidir com o

    centro da Terra ou ele

    poderia ser excntrico.

    Os crculos ou esferas menores, que se

    apoiam sobre o

    deferente, so

  • 193

    denominados epiciclos.

    Um movimento relativamente simples

    pode ser descrito por

    um deferente com um

    nico epiciclo. Outros,

    mais complexos,

    exigem vrios epiciclos um se apoiando sobre o outro.

    (COPRNICO.

    Commentariolus. So

    Paulo: Nova Stella,

    1990. p. 52)

    No seria um despropsito

    se a dilatao do tempo

    propalada pela relatividade

  • 194

    fosse questionada. No

    clssico experimento do mon, por exemplo, a

    dualidade partcula-onda

    desprezada; o decaimento

    aleatrio tomado como

    relgio; e a teoria que

    sustenta as medies realizadas justamente a

    teoria que o experimento

    se prope a provar.

    Estudos mais

    detalhados tm sido

    feitos envolvendo partculas instveis

    chamadas mons, que

    so criadas na alta

  • 195

    atmosfera, a uma

    altura em torno de 60 km, quando raios

    csmicos de alta

    energia colidem com

    molculas do ar.

    Experimentos

    realizados em laboratrio revelaram

    que os mons

    estacionrios decaem

    com uma meia-vida de

    1,5 s, isto , metade dos mons decai em 1,5 s, enquanto a metade dos que

    restaram decair no

  • 196

    prximo 1,5 s e assim por diante. Os decaimentos podem

    ser usados como um

    relgio. Os mons

    movem-se pela

    atmosfera a uma

    velocidade bem prxima da velocidade

    da luz (...) portanto

    (...) apenas 1 em

    1.040 mons deveria

    chegar ao solo.

    Todavia, de fato, os experimentos

    revelaram que

    aproximadamente 1

  • 197

    em cada 10 mons

    chegava ao solo. (...) Essa discrepncia

    deve-se dilatao

    temporal. (KNIGHT.

    Fsica: uma abordagem

    estratgica, volume 4.

    So Paulo: Bookman, 2009. p. 1159)

    Se o tempo na mecnica

    quntica apenas o que se

    tem nas equaes daquela

    metade da fsica, o tempo

    da relatividade o tempo das transformaes de

    Lorentz (na relatividade

    restrita) e das equaes de

  • 198

    campo de Einstein (na

    relatividade geral). Nos trs casos, o que se

    tem no uma descrio

    com pretenses

    ontolgicas, apenas uma

    ferramenta que funciona

    para os problemas que cada pedao da fsica se

    dispe a resolver.

    Quando os fsicos

    contemporneos tm um

    problema que envolve

    dimenses reduzidssimas (menores do que um

    tomo), usam a mecnica

    quntica, suas frmulas e a

  • 199

    varivel tempo que estas

    frmulas expressam. Quando estes mesmos

    fsicos tm um problema

    que envolve velocidades

    prximas velocidade da

    luz, usam a relatividade

    restrita ou a relatividade geral. A relatividade restrita

    tem clculos mais simples

    porque no considera a

    existncia de campos

    gravitacionais. A

    relatividade geral tem clculos mais complexos e

    s usada quando os

    campos gravitacionais no

  • 200

    podem ser

    desconsiderados.

  • 201

    22. Sobre mim

    Tenho 44 anos e sou um consultor de informtica

    especializado em pesquisas

    de remunerao e no

    gerenciamento eletrnico

    de documentos.

    Pela Escola Tcnica Federal de So Paulo, sou

    tcnico em processamento

    de dados. Pela

    Universidade Mackenzie:

    tecnlogo em

    processamento de dados, licenciado para o ensino

    mdio e especialista em

    didtica do ensino superior.

  • 202

    Pela Universidade de So

    Paulo: bacharel e mestrando em filosofia.

    No gosto do PT, nem

    morro de amores pelo

    PSDB. Em 2012, pedi o

    impeachment de Dias

    Toffoli.

    HLIO RICARDO DE

    SOUZA PIMENTEL (...)

    vem (...) representar

    pelo impeachment do

    Ministro JOS

    ANTONIO DIAS TOFFOLI, do Supremo

    Tribunal Federal, por

    crime de

  • 203

    responsabilidade,

    consoante os fatos de conhecimento pblico

    a seguir descritos. (...)

    Esperava-se que o

    Ministro DIAS TOFFOLI

    se afastasse do

    processo, declarando-se suspeito, pela

    absoluta falta de

    iseno para julgar

    fatos criminosos

    imputados ao seu ex-

    chefe, especialmente porque certas condutas

    criminosas teriam sido

    praticadas no mbito

  • 204

    da Casa Civil no

    mesmo perodo em que o representado

    exercia funo de

    confiana no referido

    rgo. (...) Ora, em

    razo do cargo que

    ocupava e da proximidade com o

    principal ru do

    processo, o

    representado poderia,

    circunstancialmente,

    ter figurado como ru ou testemunha desse

    caso, de tal sorte que

    sua opo de julgar o

  • 205

    Mensalo se afigura

    indefensvel, moral e juridicamente. (...)

  • 206

    23. Papai Noel existe

    mesmo!

    Quando Olavo de Carvalho

    diz que Obama um

    partidrio fervoroso (...) da

    rendio incondicional [americana] ante qualquer

    poder nuclear estrangeiro,

    o absurdo grande demais

    para ser levado a srio;

    grande demais para se

    formular um argumento contrrio. Quando diz que

    sou um analfabeto

    funcional, que me mandar

    merda pleonasmo, que

  • 207

    sou um bosta, que tenho

    problemas mentais, seu objetivo inviabilizar o

    debate transformando a

    discusso que poderia ser

    filosfica em molecagem.

    por isso que insisto na

    discusso do conceito de juzo autoevidente.

    O captulo 16 mostrou que

    Olavo de Carvalho

    considera autoevidente

    todo juzo que no pode ter

    uma contraditria unvoca.

    No caso, qual a

    contraditria do juzo

    O ser necessrio

  • 208

    existe

    necessariamente? O ser necessrio inexiste

    necessariamente ou A existncia do ser necessrio no

    necessria? Impossvel decidir.

    O captulo 16 mostrou

    tambm que, segundo a

    filosofia de Olavo de

    Carvalho, o juzo Papai Noel

    existe necessariamente to autoevidente quanto O

    ser necessrio existe

  • 209

    necessariamente ou X

    existe necessariamente. Olavo de Carvalho sentiu

    o estrago que a questo

    pode fazer em sua fama de

    filsofo e tentou rebater os

    argumentos.

    www.facebook.com/olavo.decarvalho/posts/1

    0152217393637192

    Primeiro fez consideraes

    que no dizem respeito ao

    conceito de juzo

    autoevidente.

    O sr. Hlio Pimentel

    manifestamente

  • 210

    incapaz de perceber a

    diferena entre o conceito universal de

    um ser necessrio e o

    nome de um ente

    contingente qualquer.

    O conceito de ser necessrio postula por si mesmo a existncia,

    cabendo portanto,

    como contraditria do

    juzo modal que afirma

    a sua necessidade,

    seja negar o modo, seja negar a validade

    do conceito mesmo; e

    o juzo o ser

  • 211

    necessrio no existe

    necessariamente tem inevitavelmente esse

    duplo sentido. Do

    mesmo modo, a = a afirma

    simultaneamente, seja

    a identidade de dois signos abstratos, seja

    a dos entes que eles

    designam, mas,

    quando dizemos a a, impossvel discernir de imediato, da simples formulao

    da sentena, se

    estamos afirmando a

  • 212

    existncia de uma

    autocontradio no prprio ente designado

    por a ou, ao contrrio, uma simples

    denominao equvoca

    que nomeia com um

    mesmo signo dois entes diversos. Por

    isso que digo que os

    juzos auto-evidentes

    no tm uma

    contraditria unvoca.

    Depois, desdenhou meus argumentos.

    Para contest-lo, o sr.

    Pimentel cria o juzo

  • 213

    Papai Noel existe necessariamente e diz que pode ter duas

    contraditrias: A existncia de Papai

    Noel no necessria e Papai Noel necessariamente inexiste. Donde ele conclui, com ares

    triunfantes, que meu

    mtodo leva

    concluso de que Papai

    Noel existe.

    Depois, desviou o foco da

    discusso.

  • 214

    H obviedades que no

    deveria ser necessrio explicar, que deveriam

    ser apreendidas

    intuitivamente, num

    relance, por uma

    espcie de instinto

    lgico que todos os seres humanos tm. A

    tragdia do

    analfabetismo

    funcional justamente

    que ele bloqueia esse

    instinto e coloca em seu lugar o

    automatismo das

    combinaes verbais

  • 215

    postias que, aos olhos

    do seu inventor, tm a fora probante de

    verdadeiras

    demonstraes lgicas,

    quando na verdade s

    provam uma completa

    incapacidade de raciocinar. Num

    primeiro instante, uma

    dessas combinaes

    pode confundir

    momentaneamente o

    ouvinte desprevenido, que antev nelas algo

    de errado mas nem

    sempre sabe dizer de