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1 A FERROVIA NAS CIDADES BOCAS DE SERTÃO: ALTERAÇÕES NA MORFOLOGIA URBANA E NO TERRITÓRIO BRASILEIRO Doralice Sátyro Maia (UFPB) Resumo: No interior do território brasileiro surgem cidades em diferentes momentos, mas que apresentam como fator predominante da sua origem, as fazendas, a criação e a comercialização de gado e posteriormente a comercialização de algodão e de café. Muitas destas cidades se constituíram em Bocas de Sertão, cuja denominação revela a sua localização e a sua importância no processo de urbanização brasileiro. No final do Oitocentos são instaladas ferrovias em algumas destas cidades. Este trabalho tem como principal objetivo apresentar e discutir as marcas e as implicações provocadas por este incremento técnico nas cidades localizadas no denominado interior do Brasil no final do século XIX. Elegeram-se como objeto de análise as cidades: Feira de Santana, Bahia; Uberlândia, Minas Gerais; Sorocaba, São Paulo; e Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Palavras-chave: Boca de Sertão; Ferrovia; Morfologia Urbana. Resumen: En interior del territorio brasileño surgen ciudades en diferentes momentos, pero que presentan como factor predominante de su origen, las haciendas, la creación y comercialización de ganado y posteriormente la comercialización de algodón y café. Muchas de estas ciudades se constituyeron como “Bocas de Sertão”, cuya denominación revela su localización y su importancia en el proceso de urbanización de Brasil. En los fines del siglo XIX se instalan ferrocarriles en algunas de estas ciudades. El presente artículo tiene como objetivo principal presentar y discutir las marcas y las implicaciones provocadas por este incremento técnico en las ciudades localizadas en el denominado interior de Brasil por esta época. Se eligieron como objetos de análisis las ciudades: Feira de Santana, Bahia; Uberlândia, Minas Gerais; Sorocaba, São Paulo; y Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Palabras Clave: Boca de Sertão; Ferrocarriles; Morfología Urbana.

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A FERROVIA NAS CIDADES BOCAS DE SERTÃO: ALTERAÇÕES NA MORFOLOGIA URBANA E NO TERRITÓRIO

BRASILEIRO

Doralice Sátyro Maia (UFPB)

Resumo:

No interior do território brasileiro surgem cidades em diferentes momentos, mas que apresentam como fator predominante da sua origem, as fazendas, a criação e a comercialização de gado e posteriormente a comercialização de algodão e de café. Muitas destas cidades se constituíram em Bocas de Sertão, cuja denominação revela a sua localização e a sua importância no processo de urbanização brasileiro. No final do Oitocentos são instaladas ferrovias em algumas destas cidades. Este trabalho tem como principal objetivo apresentar e discutir as marcas e as implicações provocadas por este incremento técnico nas cidades localizadas no denominado interior do Brasil no final do século XIX. Elegeram-se como objeto de análise as cidades: Feira de Santana, Bahia; Uberlândia, Minas Gerais; Sorocaba, São Paulo; e Passo Fundo, Rio Grande do Sul.

Palavras-chave: Boca de Sertão; Ferrovia; Morfologia Urbana.

Resumen:

En interior del territorio brasileño surgen ciudades en diferentes momentos, pero que presentan como factor predominante de su origen, las haciendas, la creación y comercialización de ganado y posteriormente la comercialización de algodón y café. Muchas de estas ciudades se constituyeron como “Bocas de Sertão”, cuya denominación revela su localización y su importancia en el proceso de urbanización de Brasil. En los fines del siglo XIX se instalan ferrocarriles en algunas de estas ciudades. El presente artículo tiene como objetivo principal presentar y discutir las marcas y las implicaciones provocadas por este incremento técnico en las ciudades localizadas en el denominado interior de Brasil por esta época. Se eligieron como objetos de análisis las ciudades: Feira de Santana, Bahia; Uberlândia, Minas Gerais; Sorocaba, São Paulo; y Passo Fundo, Rio Grande do Sul.

Palabras Clave: Boca de Sertão; Ferrocarriles; Morfología Urbana.

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De entroncamento de caminhos de gado e de tropeiros a cidades bocas de sertão

A nomenclatura cidades de Bocas de Sertão encontra-se nos escritos sobre as cidades

brasileiras no período colonial para designar as vilas que surgiram afastadas da orla litorânea

a partir do século XVII. Porém, de acordo com Azevedo (1957) é no século XVIII que se

registram “modificações substanciais no panorama urbano do Brasil”, quando se conseguiu

“libertar-se definitivamente da orla atlântica, em consequência da expansão provadora da

conquista de larga porção do Planalto Brasileiro e da própria Amazônia” (p. 114). Destarte a

importância da mineração para a origem de vilas e cidades no Planalto Brasileiro, o fato é que

houve uma interiorização do povoamento, o que, por conseguinte, fez surgir outras Bocas de

Sertão, bem como fortaleceu aquelas já estabelecidas. Encontram-se, pois, nas várias regiões

brasileiras, algumas cidades que possuem na sua origem a caracterização de Bocas de Sertão e

que se tornaram importantes centros regionais, bem como passaram por modificações a partir

da instalação da ferrovia.

As cidades analisadas surgem de pouso de viajantes e de tropeiros. De povoados

tornam-se vilas. Destaca-se Sorocaba que assim se institui ainda no século XVII. As demais

datam do século XVIII. Entretanto, todas são elevadas à categoria de cidade no Oitocentos.

(Quadro 1).

Quadro 1: Cidades Bocas de Sertão: nomenclaturas, ano de criação da vila e da elevação à cidade

Nome Atual Nome da Vila Ano de Criação

Nome da Cidade Ano da elevação à cidade

Sorocaba Sorocaba 1661 Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba

1821

Feira de Santana Villa do Arraial de Feira de Sant’Anna

1833 Cidade Comercial de Feira de Santana

1873

Passo Fundo Passo Fundo (Município de Cruz Alta)

1834 Passo Fundo 1857

Uberlândia São Pedro de Uberabinha 1888 Uberlândia 1892

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(Município de Uberaba)

Fontes: AZEVEDO, 1957, p.120;

http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=355220&search=sao-paulo|sorocaba|infograficos:-historico

http://www.pmpf.rs.gov.br/secao.php?p=432&a=3&pm=158>;

http://www.achetudoeregiao.com.br/MG/uberlandia/historia.htm>;

http://www.juraemprosaeverso.com.br/HistoriasDasCidadesBrasileiras/HistoriaDaCidadeDeFeiraDeSantana.htm#Hist.C3.B3ria>; http://www.camarasorocaba.sp.gov.br/sitecamara/historiacamara.html;jsessionid=dc8afbf9a7879047d68bf8f75351>

Alguns desses pousos deram origem às feiras de gado, como em Sorocaba e Feira de

Santana. As feiras de gado constituíram o “circuito mercantil do boi” e eram o local onde o

primeiro boiadeiro - “aquele que comprava os animais nos centros de cria” - vendia os

animais ao “segundo boiadeiro” - muitas vezes “fazendeiros locais que se tornavam

responsáveis pela engorda e pelo encaminhamento dos bovinos aos centros consumidores”

(PERINELLI NETO, 2010, p. 55). Assim, os caminhos abertos para darem passagem ao gado

conduziram à formação de vilas e povoados e, por conseguinte, de cidades que por sua vez

tornaram-se ativos centros de comércio de gado. (CASCUDO, 1956).

A história da cidade de Sorocaba na Província de São Paulo inicia-se ainda no século

XVII. A partir da construção da igreja Nossa Senhora da Ponte que posteriormente é doada

aos beneditinos, juntamente com uma grande gleba de terras para construção do colégio e

seminário e promover o povoamento, surge a vila da Ponte de Nossa Senhora de Sorocaba. A

sua história integra, portanto, o bandeirantismo. A vila dinamiza-se a partir da feira de

muares, situando-se no caminho que ligava a Província de São Paulo à Província de São

Pedro (Rio Grande do Sul).

No século XVIII, no Nordeste brasileiro, mais exatamente na Província da Bahia, a

construção de uma capela na Fazenda Sant’Anna favorece o pouso dos viajantes,

constituindo-se também em caminho de boiadas que favorecerá o surgimento da Vila de Feira

de Santana. A dinâmica do comércio de gado vacum e de muares para o tropeirismo favorece

a constituição das duas cidades que se constituem em duas grandes feiras: Em Sorocaba, a

feira de muares e gado vacum, em Feira de Santana, principalmente o gado vacum.

De acordo com Straforini (2001), em Sorocaba, o traçado estreito das ruas e dos

quarteirões, bem como a importância das vias comerciais foram marcados pelo caminho dos

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tropeiros, o que a diferencia do padrão colonial brasileiro, em que as principais ruas eram as

da proximidade da Igreja Matriz e da Câmara. (STRAFORINI,2001).

Feira de Santana, de pouso de tropeiros e de condutores de gado tornou-se um

importante entreposto comercial, apresentando maior dinâmica no século XIX quando em

1833 torna-se vila. De acordo com Poppino (1968), tal fato decorre do reconhecimento da sua

importância econômica, além da atuação política dos seus representantes, uma vez que neste

período, “quase toda a produção agrícola e pastoril dessa região da Bahia passava pela feira

em Feira de Santana, no seu caminho para um mercado maior, o da Cidade do Salvador. Feira

de Santana pouco a pouco se tornava a porta do sertão, o seu entreposto comercial e seu canal

de comunicações.” (POPPINO, 1968, p. 33). A feira de gado até meados do século XX

constituiu o grande impulso econômico do município, sendo considerada a maior da região

Nordeste. O maior escoamento era para o mercado consumidor de Salvador, a capital da

província.

No interior de Minas Gerais, mais exatamente na região do Triângulo Mineiro,

desponta no século XIX uma outra Boca do Sertão. A respeito da formação territorial de

Minas Gerais, Beatriz Soares (2007) esclarece que esta inicialmente se deu em função da

atividade mineradora, mas que

Com a crise da atividade mineradora, a partir do final do século XVIII, a criação extensiva de gado expandiu e substituiu a mineração, tornando-se o principal fator na dinamização do povoamento das áreas de cerrados, ao longo do século XIX. No entanto, foi apenas no final do século XIX, que a ocupação do cerrado mineiro efetivou-se, tendo em vista a construção de estradas de ferro entre os estados de São Paulo e Goiás, que atravessavam o Triângulo Mineiro (SOARES, 2007, p. 472).

A origem de Uberlândia dá-se a partir da fundação de uma capela

dedicada a Nossa Senhora do Carmo de São Sebastião da Barra de São Pedro de

Uberabinha. Em 1888 funda-se a Freguesia de São Pedro do Uberabinha e em 1892 é

elevada à categoria de cidade, passando em 1929 a denominar-se Uberlândia. Os poucos

habitantes aí residentes, cerca de cento e cinqüenta, ocupavam as casas entre o largo da

Matriz, o largo do Rosário (atual Praça Dr. Duarte) e o ribeirão São Pedro. O primeiro

edifício da Câmara Municipal localizou-se na Rua Vigário Dantas esquina com a Rua

Direita (atual Marechal Deodoro). “Em 1891, existiam três praças na cidade: Largo da

Matriz, Largo do Rosário (Largo do comércio), Largo da Independência.” Até 1908, as

5

ruas não eram calçadas e as praças serviam principalmente de estacionamento de carros-

de-boi, uma vez que as casas comerciais se localizavam defronte a estes espaços:

Desprovidas de iluminação elétrica, recebendo a água proveniente de um rego, sem

calçamento, asfaltos ou qualquer outra forma de pavimentação, excetuando o

encascalhamento de áreas muito esburacadas, praças escuras e empoeiradas, assim

eram as vias urbanas de Uberabinha até 1908.(Página eletrônica da Prefeitura

Municipal de Uberlândia, 2008).1

Já no sul do Brasil, Passo Fundo surge a partir da instalação de uma fazenda de gado

em 1827 ou 1828 em terras indígenas. Em 1830, o então povoado de Passo Fundo constitui-se

enquanto um local de passagem que servia “de pouso para tropeiros e caravanas,

especialmente do circuito das mulas que se dirigiam para Sorocaba no estado de São Paulo.

[...]. Em 1847, quando o distrito de Passo Fundo contava com 1.159 habitantes, foi elevado à

condição de freguesia.” (SOBARZO, 2008, p. 4). A elevação da então freguesia a município

e, portanto de Passo Fundo acidade dá-se em 1891. Neste período, a principal atividade

econômica era o comércio de erva-mate, fumo, couros e crinas, “secos e molhados”

(alimentos, tecidos e utensílios) e a agricultura. (FERREIRA, 2008)2. Assim, no final do

século XIX, a cidade de Passo Fundo era estruturada principalmente pelo Caminho das

Tropas, caminho este que deu origem à atual Avenida Brasil.

As quatro Bocas de Sertão ainda no século XIX recebem um incremento técnico que

se em algum caso não trouxe grande impulso econômico, alterou a morfologia da cidade e por

conseguinte a dinâmica urbana que passa a ser ritmada pelos horários das chegadas e das

partidas dos trens e ainda o tempo de ir e vir à capital da província também se modifica. Sem

dúvidas, mesmo tendo um traçado curto, a ferrovia impõe um novo tempo e uma nova

dinâmica urbana tanto no que se refere às atividades econômicas como ao direcionamento da

expansão urbana. São estas alterações que serão foco de nossa análise.

1 http://www3.uberlandia.mg.gov.br/cidade_cidade.php?id=429 (Acesso em 09 de dezembro de 2008). 2 Texto escrito por Mariluci Melo Ferreira para subsidiar as escolas municipais de Passo Fundo. http://www.pmpf.rs.gov.br/secao.php?p=1196&a=3&pm=158. (Acesso em 08 de dezembro de 2008).

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A Ferrovia nas Cidades Bocas de Sertão: quando o “progresso” adentra o território brasileiro

Se em princípios do século XIX as cidades europeias foram marcadas pela

implantação da ferrovia, é no final deste mesmo século que tal equipamento se difunde pelo

mundo, chegando não somente às principais cidades brasileiras, mas também a algumas que

se encontravam no interior do território.

No período denominado por Hobsbawm (2011) de “Era dos Impérios (1875 a 1914)”,

há uma grande expansão do capital britânico: “O investimento estrangeiro na América Latina

atingiu níveis assombrosos nos anos 1880, quando a extensão da rede ferroviária argentina foi

quintuplicada, e tanto a Argentina como o Brasil atingiram até 200 mil imigrantes por ano”.

(p. 65).

Além da dominação política e econômica, o referido autor chama atenção para o fato

da “Era dos Impérios” ter sido também um fenômeno cultural: “a conquista do globo pelas

imagens, ideias e aspirações de sua minoria ‘desenvolvida’, tanto pela força e instituições

como por meio do exemplo e da transformação social.” (HOBSBAWM, 2011, p. 128). Tal

fato atinge diretamente as elites dos Estados “dependentes”, reforçando o que já vinha se

constituindo como processo de ocidentalização: “Por várias décadas fora claro, para todos os

governos e elites confrontados à dependência ou à conquista, que eles tinham que se

ocidentalizar, caso contrário desapareceriam”. (HOBSBAWM, 2011, p. 129).

Essa expansão do capital britânico e da exportação de produtos industrializados atinge

diretamente o Brasil, bem como a assimilação dos valores culturais do Ocidente,

particularmente pela elite local, por conseguinte pelos seus governantes.

Bethel (2012, p. 141) ao dissertar sobre o Brasil no mundo, destaca que até 1860 “os

investimentos diretos no Brasil foram modestos” e que a partir de então os primeiros bancos

comerciais britânicos se instalam no Rio de Janeiro (capital do império) e “as primeiras

sociedades anônimas começaram a investir no desenvolvimento de ferrovias e serviços de

utilidade pública.” No período de 1865 e 1885 o investimento estrangeiro e particularmente o

britânico praticamente triplica segundo o autor, sendo quase 80% deste capital (24,4 milhões

de libras) investido na construção da rede ferroviária brasileira a exemplo da Estrada de Ferro

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Recife – São Francisco; Bahia – São Francisco; Minas – Rio e a São Paulo Railway Company

(São Paulo – Jundiaí). Esta última representou significativa importância para a expansão do

café na então Província de São Paulo. Além do investimento na via férrea, o capital britânico

investiu na construção de portos e em serviços/equipamentos urbanos – telégrafo, transporte,

água, esgoto – e em fábricas de tecidos, cervejas, pisos e ainda em empresas de seguros.

Assim, complementa o autor, no “final do Império, o London & Brazilian Bank (fundado em

1862), por exemplo, tinha filiais por todo o Brasil, de Manaus e Belém a Curitiba e Porto

Alegre”. (BETHEL, 2012, p. 141).

No Brasil, as primeiras ferrovias foram construídas com investimento do capital

britânico, a partir das concessões com garantia de juros, pagamento de subsídio pelo Estado

por cada trecho em tráfego e que se destinavam a escoar a produção agrícola, principalmente

a cafeeira e a açucareira: A Recife – São Francisco em Pernambuco; a D. Pedro II, ligando a

Corte a Porto Novo, com um ramal que acompanhava o rio Paraíba, chegando a Cachoeira

Paulista; a Bahia – São Francisco no Recôncavo Baiano e a EF Cantagalo que se junta a

Santos – Jundiaí. Assim, os capitais e a tecnologia eram britânicos.

No final do Império, com o objetivo de atender a um maior número de pedidos,

modifica-se a definição do capital garantido, causando sérias consequências na qualidade das

estradas concedidas. Assim, esclarece Vasconcelos Neto: “Os beneficiários passaram, então a

elaborar projetos com aplicação abusiva das condições técnicas limites, do que resultavam

alongamentos desnecessários e uma sinuosidade excessiva dos traçados, não importando a

finalidade da estrada” (VASCONCELOS NETO, 2010, p. 50).

Com a República, não houve alteração na política ferroviária, elevando-se o número

de concessões, “alimentada pela euforia do Encilhamento” (id. Ibdem). Do conjunto de

concessões e implementações desde o final do Império às primeiras décadas da República,

prevaleciam as ferrovias que interligavam áreas de produção agrícola aos portos. É a partir

deste propósito que as ferrovias são expandidas às cidades Bocas de Sertão que, entre o final

do século XIX e início do XX, já não se concebia que permanecessem como pousos de

tropeiros ou entroncamentos de caminhos. Estas cidades apresentavam considerável dinâmica

comercial desencadeada pela distribuição de mercadorias que para ali eram conduzidas e

comercializadas, revelando sua importância na ainda escassa rede urbana brasileira no final

do século XIX.

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O avanço do capital adentra o território brasileiro atingindo as cidades Bocas de Sertão

aqui estudadas.Dentre as quatro localidades eleitas, duas recebem a ferrovia na década de

1870 – Sorocaba (SP) e Feira de Santana (BA) - e duas na década de 1890 – Uberlândia (MG)

e Passo Fundo (RS), ou seja, duas no final do Império e duas no início da República. Para

entendermos como se deu a implementação deste equipamento nas cidades analisadas, vale

apresentar uma síntese da sua história até este advento. (Quadro 2).

Quadro 2: Nome das cidades e ano da inauguração da estação ferroviária

Cidade Ano Ferrovia

Sorocaba 1875 E. F. Sorocabana

Feira de Santana 1876 E. F. Central da Bahia

Uberlândia 1895 Cia. Mogiana - Linha do Catalão

Passo Fundo 1898 Chemin de Fer Sudouest Brésilien Ramal – Passo Fundo – Cruz Alta

Fonte: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/index.html>, acesso em 12 de setembro de 2011

As cidades acima elencadas recebem a ferrovia em decorrência da necessidade de

escoamento das atividades agropecuárias e, destacadamente ,dada a expansão do café e da

pecuária bovina. Observe-se que as ferrovias listadas são implantadas no final do Império e

início da República.

Nas cidades Bocas de Sertão espera-se a chegada da ferrovia como artefato técnico e

moderno, ou em outras palavras, um elemento que trará e garantirá o progresso para o

município, para a província e para a economia agrícola. Trata-se, portanto de um advento que

representa a aspiração pela modernidade. A ferrovia no sentido mais amplo constituiu de

acordo com Berman (1987), um equipamento da modernidade que avança em escala global,

compondo o movimento da economia mundial determinado pelos Estados já consolidados e

onde a industrialização se deu desde o final do século anterior, consolidando-se no início do

Dezenove. Vale lembrar que o período entre o final do século XIX e início do XX é

caracterizado segundo Hobsbawm por um fato maior:

9

[…] a criação de uma economia global única, que atinge progressivamente

as mais remotas paragens do mundo, uma rede cada vez mais densa de

transações econômicas, comunicações e movimentos de bens, dinheiro e

pessoas ligando os países desenvolvidos entre si e ao mundo não

desenvolvido”. (HOBSBAWM, 2011 [1987], p. 106).

A Estrada de Ferro Sorocabana surge a partir de uma dissidência entre fazendeiros e

empresários de Sorocaba e Itu, quando em assembleia ocorrida na Camara Municipal de Itu,

cria-se a Companhia Ituana em 1870 “com o objetivo de ligar Itu a Jundiaí, ponto final da São

Paulo Railway (que ligava Jundiaí a Santos), sendo uma das primeiras companhias paulistas

formadas para atender o escoamento da produção do café”. Tal ferrovia para chegar a

Sorocaba teria que fazer um desvio de mais de 170 Km. Assim, um grupo de fazendeiros

organizou a Companhia Sorocabana, obtendo a concessão em 1871. “Em 10 de julho de 1875,

o trem chegava a Sorocaba diretamente de São Paulo, passando por São Roque, num percurso

de pouco mais de cem quilômetros” (GERODETTI & CORNEJO, 2005, p. 121).

Figura 1: Croqui – Perímetro Urbano da Cidade de Sorocaba 1887/1888

Fonte: PRESTES, Lucinda Ferreira,1999.

Estrada de Ferro Sorocabana Estação

Ferroviária

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A estação de Sorocaba era “o ponto final da linha original da Sorocabana, que não por

acaso tem esse nome”. (Figura 1). O traçado da linha e o local da estação sofreram alterações

desde o primeiro projeto, buscando uma posição mais afastada da cidade, sobreposição do

ribeirão Superery também em área mais distante e, além disso, deixa a maior parte das ruas

que seriam atingidas segundo o primeiro projeto, “do seu lado esquerdo”. Evitou-se ainda a

“expropriação de muitas parcelas de quintais de numerosos proprietários (SPETZLER,1873,

s.p.). Em 1892 ocorre a fusão das companhias Ituana e Sorocabana, dando origem a

Companhia União Sorocabana e Ituana, passando a integrar 820 Km de linhas férreas e mais

de 220 Km de vias fluviais (GERODETTI & CORNEJO, 2005, p. 121). A E. F. Sorocabana

expandiu-se até 1922, quando chega à Presidente Epitácio.

Se em Sorocaba a ferrovia é inaugurada em 1875, um ano depois, apesar da larga

distancia espacial, inaugura-se a estação ferroviária de Feira de Santana. A primeira

concessão para a construção da ferrovia que posteriormente chegaria a Feira de Santana fez-se

em 1866, no intuito de ligar a cidade de Cachoeira – BA à chapada Diamantina. No ano

posterior, autoriza-se o funcionamento da Paraguassu Steam Tram Road Company Limited de

Londres e que vem a falência em 1872, ainda durante a construção da estrada. Tal fato gera

uma série de discussões pelo governo da Província da Bahia, decidindo-se que o governo

procuraria desonerar a Província e disponibilizar a concessão para outra empresa que

manifestasse interesse. (Relatório do Conselho Interino da Bahia, 1871). Destaca-se que um

dos fortes argumentos para a conclusão da construção da ferrovia para Feira de Santana e o

seu efetivo funcionamento é que esta poderia fazer chegar com maior rapidez gêneros

alimentícios para a população “afetada” com a seca, expresso no Relatório do Conselho

Interino da Bahia de 1870 em que se escreve:

As varias companhias de paquetes á vapor tanto nacionaes, como estrangeiras, e a estrada de ferro proporcionaram a comissão o transporte gratuito dos gêneros que reclamassem as populações affectadas. Semelhante procedimento humanitário deve ser commerado nas paginas d’este documento oficial, louvando a Presidencia o zelo caritativo das respectivas empresas. (Fonte: Relatório do Conselho Interino da Bahia, 1870, p.36.)

A Estrada de Ferro Central da Bahia liga a cidade de Cachoeira à Feira de Santana,

sendo a primeira, cidade portuária, para onde convergia a produção agrícola do Recôncavo

Baiano, particularmente o açúcar e o fumo. Com a interligação à Feira de Santana, favorece-

se a exportação da carne bovina. Assim, em 1876, inaugura-se a estação ferroviária em Feira

11

de Santana. Esta estação foi “ponta de trilho” do trecho inicial da E. F. Central da Bahia (1876

– 1911), ou seja, era a ponta do ramal que se iniciava em Cachoeira na Bahia. (Figura 2). A

instalação do incremento técnico que de fato altera a paisagem e a dinâmica econômica da

região concretiza-se em razão da exportação e, por conseguinte, por demanda do mercado

mundial da “Era do Império”, já explicitada por Hobsbawm (2011).

Figura 2: Estação Ferroviária de Feira de Santana

Estação Ferroviária em Feira de Santana no canto esquerdo da imagem, localizada atrás da igreja matriz. Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/ba_monte%20azul/fotos/feira9402.jpg [ Acesso em 05 de

junho de 2014].

Muito embora sejam instaladas em áreas ainda não urbanizadas, a E. F. da Bahia, a

Sorocabana e a Mogiana (Quadro 2) passam nas suas proximidades, mais exatamente no

limite da malha urbana. Em Sorocaba a ferrovia imprime-se para além do tecido urbano, mas

não muito distante conforme se pode visualizar na Figura 1. Entretanto, a sua instalação não é

um fato isolado, pois tal incremento requer uma estação, armazéns e vias que lhe deem

acesso, o que modifica substancialmente a morfologia da cidade e a sua dinâmica urbana. A

estação ferroviária de Feira de Santana é construída em terreno atrás da Igreja Matriz,

principal edifício da cidade e que demarcava o perímetro da cidade. (Figura 2). Portanto,

configurou-se como linha limítrofe, porém sem deixar espaços vazios a serem ocupados.

Em Uberlândia em 1895 “no extremo norte da cidade” é instalada a estação ferroviária

e para onde convergem “os comerciantes e moradores instalados no bairro do Fundinho”

(SOARES, 1995, p. 82). Esta, contudo, não se constituiu ponta de trilho, uma vez que no ano

posterior a sua inauguração,

continuidade à linha do Catalão

Já a cidade de Passo

Grande do Sul e o estado de

do ramal Passo Fundo –

significará a superação da

bois” (GOSCH, 2005 apud

proximidades “foram construídos

(FERREIRA, 2008).4 Entretanto,

cidade no sentido Leste. (Figura

Figura 3:

3 Denominação atribuída em funçãoJaguara, às margens do rio Grande(daí o nome)”. 4 Disponível em: <http://www.pmpf.rs.gov.br>

inauguração, foi instalada a estação ferroviária de Araguari

Catalão3 .

Passo Fundo, caracterizada como centro de interligação

de São Paulo, em 1898 apresenta maior impulso

Cruz Alta e em “1910 o ramal para Marcelino

dependência absoluta do comercio do troperismo

apud SOBARZO, 2008, p. 5). A ferrovia cruzava

construídos armazéns, hotéis, restaurantes, cafés

Entretanto, a sua localização também se dava

(Figura 3).

3: Traçado Urbano de Uberlândia no final do

função do projeto de se prolongar a “ linha do Rio Grande

Grande e já em território mineiro, a idéia da Mogiana era alcançar

<http://www.pmpf.rs.gov.br>

12

Araguari (1896) dando

interligação entre o Rio

impulso com a inauguração

Marcelino Ramos –, que

troperismo e dos carros de

cruzava a cidade e nas suas

cafés e muitas lojas. [...]”

em área limítrofe da

do século XIX

Grande a partir da estação de alcançar Catalão, em Goiás

13

Fonte: MARTINS, 1998 (adaptado de SOARES, 1988).

Sabe-se que as repercussões da instalação da estrada de ferro nas cidades são sempre

veementes inclusive para o direcionamento da expansão urbana, constituindo-se em um

importante elemento na morfologia urbana. Capel (2002) ao tratar da morfologia das cidades

escreve sobre os limites e barreiras que tanto podem ser físicas (pântanos, morros, mares, rios,

etc.) ou construídas. Entre estas últimas, o autor destaca a ferrovia que a partir do século XIX

converteu-se muitas vezes em uma barreira bastante eficaz. Complementa o autor:

En el caso de ciudades que eran simple estación de tránsito, las líneas han constituido desde el primer momento cinturones que han planteado obstáculos a la expansión de la ciudad. En las que eran cabecera de línea la estación se situaba muchas veces en el borde del espacio construido, pero bien pronto en las grandes ciudades la necesidades de conectar las terminales de las diferentes líneas se realizó a través de conexiones internas o de cinturones periféricos. (CAPEL, 2002, p. 85).

De fato, a análise morfológica das cidades anotadas revelam características

consonantes com a descrição do autor. Em três cidades aqui tratadas - Sorocaba, Feira de

Santana e Uberlândia - a ferrovia instala-se na borda do espaço urbanizado, configurando-se

por um largo período como um limite ou uma barreira para a expansão urbana, revelando-se

posteriormente um elemento segregador. Nas três cidades, nas proximidades da estação são

construídos armazéns, algumas indústrias e estabelecimentos comerciais voltados para o

transporte das mercadorias seja o ferroviário, seja o de “montadas”. Tal fato constata-se ao ler

os anúncios nos jornais locais como o Correo de Noticias de Feira de Santana em 1885:

Para Viagens

Alfredo Carneiro da Silva tem na granja do Coração de Jesus, contigua á estação d´esta cidade, optimus montadas, competentemente arreiadas, por preços razoáveis, ajustados antes de qualquer viagem; é o logar mais prompto e commodo para quem precisar alugar, por ser o mais perto nesta cidade. (Correo de Noticias, 25 de outubro de 1885).

Além de atrair estabelecimentos comerciais e também alguns serviços, a ferrovia

mesmo constituindo-se em uma barreira para a expansão urbana, esta é ultrapassada com a

aquisição de terras rurais que serão loteadas e onde serão construídas indústrias a exemplo das

tecelagens e dos curtumes, bem como poderão transforma-se em área de residência para

trabalhadores.

14

A respeito das implicações da ferrovia na dinâmica urbana das cidades observam-se

singularidades. Sorocaba, cidade até então caracterizada pela feira de muares e pelo

tropeirismo, apresenta profundas transformações. No Relatório apresentado ao então

Presidente da Província de São Paulo pela Comissão Central de Estatísticas de 1888, escreve-

se sobre a decadência da importância das feiras em Sorocaba: “Aquele comercio ativo,

cosmopolita finou-se totalmente e o descrédito da indústria da criação começou a fazer-se

sentir por meio de repetidos insucessos.” Acrescenta-se que a partir de então, “a cidade vai-se

tornando fabril, os negócios comerciais tomam outro giro, as casa reconstruídas em grande

número, mostram um despertar desusado e novo”.5 As fábricas vão se instalar em terras

situadas após a estrada de ferro e o Córrego Sorocaba: Fábrica São Paulo, Fábrica de Fogos,

Fábrica Santa Rosália e Fábrica Santa Maria.

Sorocaba apresenta no final do XIX crescimento urbano impulsionado pelos dois tipos

de transporte: muares e ferroviário. Houve, portanto, “crescimento viário nas proximidades da

Estação Central da Estrada de Ferro Sorocabana e em direção ao leito ferroviário, a noroeste

da ponte de Sorocaba”, (CELLI, 2012, p. 79) mas também ao longo dos caminhos dos

tropeiros. Celli revela através de croquis que “as fábricas de tecidos localizavam-se nas

proximidades da linha férrea e da estação ferroviária central”. Além disso, a autora confirma a

assertiva de que nas proximidades das fábricas foram criados loteamentos e que “a instalação

de fábricas têxteis induziu a formação de vilas operárias em seu entorno a norte e a noroeste”.

(CELLI, 2012, p. 79).

A partir das constatações da autora anteriormente citada, podemos afirmar que a

ferrovia ao mesmo tempo que inaugura uma nova relação espaço-tempo, particularmente no

que se refere à escala regional e também local, ao dinamizar a comercialização e o

escoamento das mercadorias em direção aos centros de exportação, imprime na malha urbana

uma linha que demarca a cidade em duas áreas, a que antecede a ferrovia e a que a sucede.

Nesta última, as terras rurais transformam-se em urbanas, cuja ocupação será feita pela

instalação das fábricas e das vilas operárias ou por habitações para a classe trabalhadora.

5 Relatório executado pela Comissão Central de Estatísticas e apresentado ao Exmo. Sr. Presidente da Província de São Paulo, 1888.

Em Uberlândia, a ferrovia

o comércio proporcionando

estrada de ferro lá no alto

Agitando novidades com a

1995, p. 101). Verifica-se que

de equipamentos agrícolas

direção Norte. (SILVA &

trabalhadores das fábricas e

das fábricas. (Figura 4).

Figura 4: Uberlândia

Em Passo Fundo, de

local, quando a cidade se

elemento que provoca um novo

ferrovia e particularmente a estação ferroviária

proporcionando o prolongamento das ruas e da malha urbana

alto da rampa, atraindo, chamando os habitantes

chegada dos comboios.” (O REPÓRTER,02/07/44

que nas proximidades da rede ferroviária foram

agrícolas e armazéns de estocagem de mercadorias,

RIBEIRO FILHO, 2012, p. 71). Os autores

e também dos armazéns residiam em vilas operárias

ndia (MG): Fábrica de Tecidos e Vila Operária de

Uberabinha, (1920).

Fonte: Soares, 1995.

de acordo com Sobarzo (2008), a ferrovia impulsionou

se torna importante centro regional. Além disso,

novo ordenamento urbano. (Figura 5).

15

ria atraíram inicialmente

urbana na sua direção: “A

habitantes para mais perto.

REPÓRTER,02/07/44 apud SOARES,

foram instaladas fábricas

mercadorias, particularmente na

autores acrescentam que os

operárias nos arredores

de São Pedro do

impulsionou a economia

disso, a ferrovia é um

16

Figura 5: Estação Ferroviária. Passo Fundo em princípios do século XX.

Fonte: Relatório da VFRGS, 1926. In: http://www.estacoesferroviarias.com.br/rs_marcelino-

stamaria/passo.htm [ Acesso em 29 de outubro de 2009].

Assim, “nas proximidades da estrada de ferro que cruzava a nossa cidade foram

construídos armazéns, hotéis, restaurantes, cafés e muitas lojas. […]". (Ferreira, 2008 In:

Página Eletrônica da Prefeitura Municipal de Passo Fundo). A instalação da estação férrea vai

reforçar o deslocamento do eixo principal de crescimento urbano, do Boqueirão e do antigo

caminho das tropas para o setor leste, que passou a atrair as serrarias, os depósitos e indústrias

da madeira – principal atividade produtiva do município no começo do século XX – e os

hotéis de viajantes. (GOSCH, 2005, apud SOBARZO, 2008, p. 5). Segundo análise de Oscar

Sobarzo, a instalação da estação ferroviária deslocou o antigo centro, aquele constituído pelo

caminho das tropas, no entorno da atual Praça Marechal Floriano direcionando para a área

próxima à estação ferroviária, promovendo por sua vez o aparecimento de novos bairros

residenciais para a classe trabalhadora. (SOBARZO, 2008, p. 5).

Observa-se que nas cidades que se originam e se expandem a partir do caminho das

tropas de burros ou de passagem do gado – Sorocaba, Feira de Santana e Passo Fundo - a

ferrovia ao ser implantada promove alterações na morfologia e na dinâmica urbana e

territorial com diferentes intensidades. Em Uberlândia, cuja expansão inicial dá-se pelas

condições favoráveis – naturais e a criação de patrimônio - à fixação de trabalhadores,

inclusive ex-escravos recebe impulso com a implantação da ferrovia. Nas cidades de

Sorocaba, Feira de Santana e Uberlândia, a localização da estrada de ferro e da estação

ferroviária se assemelham no que se refere à posição na margem da malha urbana,

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configurando-se a princípio como uma linha limítrofe e que, posteriormente ,promove a

expansão na sua direção. Expansão esta com qualificações também similares: comércio de

artigos para o transporte de mercadorias, armazéns e fábricas que por sua vez promovem o

surgimento de vilas operárias. A área então que se expande desde a ferrovia vai sendo

ocupada por habitações para trabalhadores, além dos estabelecimentos comerciais e fabris.

Conforme já mencionado, a história de Passo Fundo inicialmente se assemelha às

Bocas de Sertão por onde passaram tropeiros e gado. Entretanto, a ferrovia ao ser instalada

corta a malha urbana, compartimentando-a. Tal fato provoca a alteração na morfologia e na

dinâmica urbana, transferindo inclusive o centro para as proximidades da estação ferroviária

que se edifica em área distinta do seu núcleo primaz. Contudo, a partir de então, o incremento

técnico também promove a expansão urbana na direção da estação ferroviária e imprime uma

linha que demarca na cidade o limítrofe para a área de habitações para trabalhadores, ou seja,

a depois da linha.

O estudo revela, portanto similaridades e dissonâncias no processo de urbanização das

cidades Bocas de Sertão, particularmente tomando-se como marco temporal a instalação da

ferrovia no século XIX que de forma mais ou menos veloz e ativa altera a dinâmica

econômica e a configuração do território brasileiro.

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