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     III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES

    15 a 17 de Maio de 2013

    Universidade do Estado da Bahia – Campus I

    Salvador - BA

    A EXPERIÊNCIA SEXUAL NA GRÉCIA ANTIGA E O PAPEL DA HISTÓRIA NO

    DISCURSO PELO RECONHECIMENTO DE DIREITOS AOS HOMOSSEXUAIS

    Pablo Antonio Lago1 

    Resumo: Partindo dos pressupostos metodológicos propostos por Collingwood e analisando o

    debate estabelecido entre os historiadores John Boswell e David Halperin  –   notadamente o

    confronto entre o que seriam as posições essencialista e construtivista da História da

    Homossexualidade – , o presente artigo visa explicitar a maneira através da qual a História pode ser

    útil no discurso pelo reconhecimento de direitos aos homossexuais. Para tanto, toma como mote aexperiência sexual na Grécia antiga, que é, reiteradamente, trazida ao debate como elemento

     justificador tanto das posições favoráveis quanto contrárias a este reconhecimento –  ocasião na qual

    se vislumbram e se busca elucidar os equívocos que comumente surgem na argumentação em

    ambas as posições.

    Palavras-chave: História; Homossexualidade; Essencialismo; Construtivismo; Direitos.

    O discurso pelo reconhecimento de direitos a lésbicas e gays levanta inúmeras questões de

    natureza histórica. E não poderia ser diferente: desvendar quais foram os fatos e contextos que

    originaram a atual agenda de debates sobre direitos das “minorias sexuais” revela -se importante

     para descobrirmos os fundamentos e a atualidade de nossas reivindicações. Neste sentido, a

     pesquisa acerca de fatos históricos envolve um rigor metodológico no qual, infelizmente, poucos

    dos que são politicamente engajados no reconhecimento destes direitos estão habituados. Na

    realidade, o próprio objeto de pesquisa é controverso, o que se observa nas disputas existentes no

    meio acadêmico acerca do “desde quando” a homossexualidade “existe” ou pode ser estudada.

    Meu objetivo com este artigo é introduzir este debate, relacionando-o com o discurso peloreconhecimento de direitos. Para tanto, tenho por mote um “lugar comum” que muitos leigos no

    assunto acabam tomando por verdadeiro, sem maiores distinções: a crença de que o tratamento

    reservado à “homossexualidade” na Grécia antiga pode servir como justificativa para a defesa dos

    atuais interesses de lésbicas e gays. Muitos vão além, afirmando que a homossexualidade era uma

     prática generalizada e que mesmo filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles a apoiavam. Não é à

    1 Mestrando em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo  –  Largo de

    São Francisco. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná  –   Curitiba. Advogado. E-mail: [email protected]

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    toa que George Chauncey Jr., Martin Duberman e Martha Vicinus, no pequeno prefácio ao artigo

    Sex Before Sexuality: pederasty, politics, and power in classical Athens  de David Halperin, afirmem

    que as práticas sexuais e instituições dos gregos clássicos transformaram-se em uma arma

    ideológica na luta por dignidade e aceitação social dos homossexuais2.

    1. 

    QUESTÕES METODOLÓGICAS

    A primeira questão que devemos formular é como e de que maneira deveríamos analisar a

    homossexualidade no âmbito da História. Logo, devemos nos questionar sobre a metodologia

    adequada ao nosso objeto de estudo.

    Acredito que a homossexualidade possa ser objeto de estudo histórico na medida em que

    reflete uma espécie de conduta humana verificável, ou como afirma Collingwood, na medida em

    que é uma ação. Segundo este historiador (COLLINGWOOD, 2004, p. 305/306):

    Ao investigar qualquer evento do passado, o historiador estabelece uma distinção entre aquilo que se pode

    chamar o exterior e o interior de um acontecimento. Pelo exterior de um evento entendo tudo aquilo que,

     pertencendo-lhe, se pode descrever como se se tratasse de corpos e dos seus movimentos (...). Pelo interior doevento entendo tudo aquilo que nele só pode ser descrito em termos de pensamento (...). O historiador nunca se

    ocupa de um destes aspectos com a exclusão do outro. Ele investiga, não meros eventos (e eu entendo pormeros eventos aqueles que só têm exterior e não interior), mas acções, e uma acção é a unidade do exterior e

    do interior de um acontecimento.

    Como se pode observar, a História não é uma análise de meros “fatos” catalogados em

    ordem cronológica. Ela transcende os fatos para capturar o  sentido  da conduta humana,

    apreendendo o que Collingwood denominou de ação  –  a união entre os fatos exteriores e interiores 

    de determinado acontecimento.

    O interior de um determinado evento, enquanto elemento a ser historicamente apreciado,reflete o  pensamento nele expresso (COLLINGWOOD, 2004, p. 306). A História passa a ser uma

    “história do pensamento”, onde a função do historiador é “re- presentar” (ou “re- pensar”) o

     pensamento de um agente passado. Assim, um historiador da Filosofia, ao ler um texto de Platão,

    2 “The sexual practices and institutions of the classical Greeks, along with the enduring prestige that in modern t imes

    has traditionally surrounded their achievements, have long made them a kind of rallying point for lesbians and gay men

    of the educated classes, to whom they have seemed to offer an ideological weapon in the struggle for dignity and socialacceptance” (CHAUNCEY JR., DUBERMAN, VICINUS, 1991, p. 37).

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     por exemplo, busca saber o que este pensou quando se exprimiu através de determinadas palavras

    (COLLINGWOOD, 2004, p. 307) 

    Consequentemente, não basta apenas conhecer a linguagem utilizada por determinado

    filósofo, mas sim compreender o contexto em que tal filósofo estava inserido, o problema que

     buscava solucionar e as diversas soluções que tinha à sua disposição. A re-presentação significa

    (...) pensar de novo por si próprio o problema, verificar que soluções se lhe poderiam oferecer e descobrir por

    que razão este filósofo escolheu esta solução, em lugar de outra qualquer. Isto significa repensar, por ele, o pensamento deste autor, e nada que se não aproxime disto fará dele o historiador da filosofia deste autor...

    (COLLINGWOOD, 2004, p. 310).

    Aquele que pretende fazer História, nos moldes da metodologia proposta por Collingwood,

    não poderá se esquecer de que o agente cujo pensamento busca re-presentar está inserido em um

    determinado contexto, diante de um problema que demandava uma solução.

    Este é um ponto que considero de especial relevância, na medida em que os demais

    historiadores, cujas reflexões serão apresentadas adiante, também tomam por base textos filosóficos

    e morais de autores clássicos. E não é por menos, considerando que filósofos como Sócrates, Platão

    e Aristóteles constituem uma das principais fontes de análise histórica da Grécia antiga. Seus textos

    são uma “via de mão dupla”: na medida em que, com as devidas cautelas, refletem uma parcela do

    contexto social em que estavam inseridos, também são constitutivos deste contexto.

    Em síntese, devemos ter em mente que a homossexualidade pode ter uma história se for

    vista enquanto conduta humana, como uma ação  dotada de  sentido  que se desenvolve em um

    determinado contexto. O próximo passo é verificar se tal conduta é reflexo de um processo de

    socialização ou se reflete uma condição pré-existente na realidade.

    2. 

     ESSENCIALISMO E CONSTRUTIVISMO

    John Boswell, importante historiador da sexualidade, analisa em seu artigo  Revolutions,

    Universals, and Sexual Categories o embate teórico existente entre o que denomina ser as posições

    essencialista e construtivista a respeito da História da Homossexualidade.

    Referido embate, segundo Boswell (1991, p. 18/19), é análogo àquele existente entre  

    realistas e nominalistas com relação ao “problema dos universais”. Enquanto os realistas sustentam

    que as categorizações existem pela percepção humana de uma ordem real no universo, limitando-se

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    a dotá-la de “nomes”, os nominalistas acreditam que as categorizações não passam de nomes de

    coisas provenientes de acordos entre os humanos, e que a “ordem” do universo é antes uma criação

    das  pessoas do que a percepção de uma “realidade prévia”. Os universais, no caso da História da

    Homossexualidade, são categorias de preferência ou orientação  sexual  (BOSWELL, 1991, p. 19).

    Em comparação aos nominalistas, os construtivistas sustentam que as categorias de conduta

    e preferência sexual são criadas por humanos e sociedades humanas. Logo, os seres humanos

    seriam simplesmente “sexuais”, e são processos de socialização que criam a dicotomia

    “homossexual” e “heterossexual”. Já em sentido inverso, os essencialistas se aproximariam dos

    realistas, sustentando que os humanos são “sexualmente diferenciados”. A dicotomia

    heterossexual/homossexual existiria na fala e no pensamento porque ela existe na realidade, não

    sendo criada por taxonomistas da sexualidade mas observada por eles (BOSWELL, 1991, p. 19).

    Boswell (1991, p. 19) prossegue afirmando que nenhuma destas teorias é ou pode ser

    sustentada de forma absoluta. Muitos nominalistas admitem que alguns aspectos da sexualidade são

    independentes de convenções sociais, e muitos realistas admitem que o mesmo fenômeno pode ser

    descrito de formas diversas em vários sistemas de categorização  –   alguns mais acurados do que

    outros. De qualquer sorte, pode-se sustentar a existência de três tipos de taxonomia sexual. A

     pr imeira, que denomina de “Tipo A”, sustenta que os seres humanos são sexualmente polimórficos,

    capazes de interação erótica e sexual com qualquer gênero  –   corresponderia, portando, ao

     pressuposto das teorias construtivistas. A segunda, chamada de “Tipo B”, sustenta que existem duas

    ou mais categorias sexuais que usualmente são baseadas no objeto de escolha sexual nas quais todos

    os humanos se inserem, e que pressões e circunstâncias externas poderiam induzir os indivíduos de

    uma dada sociedade a fingir (ou mesmo acreditar) que pertencem a uma categoria distinta da que

    são nativos –  e aqui se encontra o pressuposto básico das teorias essencialistas. Por fim, o “Tipo C”

    sugere que as categorias refletem uma sexualidade “normal” (ou natural, ou moral) e “anormal” (ounão natural, ou imoral)  –   teorias que são mais normativas do que epistemológicas (BOSWELL,

    1991, p. 23).

    Uma abordagem essencialista da homossexualidade permite uma análise desta conduta

    através da história. Já uma abordagem construtivista pode sugerir que apenas em uma época recente

    (em geral, o nascimento da sociedade industrial contemporânea3) é que se produziu a

    3 Michel Foulcault (1988, p. 9) é um dos que sustentam que a sexualidade no início do século XVII ainda guardava uma

    certa “franqueza”: “As práticas não procuravam o segredo; as palavras eram ditas sem reticência excessiva e, ascoisas, sem demasiado disfarce; tinha- se com o ilícito uma tolerante familiaridade”. Somente após, coincidindo com o

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    homossexualidade. Por esta última perspectiva, seria fútil e incorreto procurar pela

    “homossexualidade” nos primórdios da história humana (BOSWELL, 1991, p. 20).

    Consequentemente, a distinção teórica entre essencialismo e construtivismo é relevante.

    Caso se constate que a posição construtivista é a mais acertada, e dadas as diferenças contextuais

    entre a sociedade contemporânea e a Grécia antiga, o recurso discursivo às práticas sexuais desta

    última  –   com vistas à legitimação histórica de direitos aos homossexuais  –   seria, no mínimo,

    incoerente. Afinal, a homossexualidade seria produto de nossas práticas sociais, uma espécie de

    categorização da sexualidade que não possui análogo nas sociedades que nos antecederam.

    3. 

     A POSIÇÃO DE JOHN BOSWELL

    Como mencionado anteriormente, John Boswell é um importante estudioso acerca da

    História da Homossexualidade, e sua principal obra  –   Christianity, Social Tolerance and

     Homosexuality: gay people in western europe from the beginning of the Christian era to the

     fourteenth century  –   é considerada por muitos como um dos principais exemplos de teoria

    essencialista.

    Como mencionam George Chauncey Jr., Martin Duberman e Martha Vicinus (1991, p. 5),

    “(...) a number of critics challenge as ‘essentialist’ one of the key premises of Boswell’s inquiry:

    that a gay identity and gay people can be found throughout history” . De qualquer sorte, o próprio

    Boswell não consegue ver sua posição como essencialista: “I would still argue that there have been

    ‘gay persons’ in most Western societies. It is not clear to me that this is an ‘essentialist’ position”  

    (BOSWELL, 1991, p. 35)4.

    A questão é que para Boswell categorias sexuais como a homossexualidade,

    heterossexualidade e bissexualidade (ainda que com nomenclaturas diferentes) estariam presentesna Grécia antiga. Para tanto, analisa textos de Plutarco, Platão e outros filósofos, com o fim de

    demonstrar que, em que pese as cidades-estado do mundo antigo não terem feito  –  ao que parece –  

    discriminações com base na orientação sexual, não resta claro que os indivíduos não se submetiam a

    quaisquer distinções neste sentido (BOSWELL, 1991, p. 24). Certamente, os termos que designam

    desenvolvimento do capitalismo e da sociedade burguesa, é que foram criadas estas “categorizações sexuais” com ointuito de “repreender” a sexualidade (FOUCAULT, 1988, p. 11/12). 4 Boswell também considera incorreto sustentar que há um “debate” entre essencialistas e construtivistas, considerando

    que nenhum historiador atualmente defende, de forma consciente, um ponto de vista essencialista. O que existiria é umacrítica revisionista dos pressupostos que, acredita-se, sustentam a historiografia tradicional (BOSWELL, 1991, p. 35).

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    o interesse predominante ou exclusivo para indivíduos do mesmo gênero podem não ser os mesmos

    entre diferentes filósofos. Mas, ainda que inexistente uma taxonomia unívoca para descrever

    categorias de preferência sexual, disso não se segue que os termos utilizados eram completamente

    desconhecidos (BOSWELL, 1991, p. 26).

    Boswell (1991, p. 25) cita, neste sentido, o mito de Aristófanes presente no Simpósio  de

    Platão. Quem elabora uma interessante síntese deste mito é David Halperin: segundo Aristófanes,

    os seres humanos eram originalmente criaturas “redondas”, com oito membros, duas faces e um par

    de genitais (tanto na frente quanto atrás), que seriam masculinos, femininos ou andróginos. Estes

    nossos ancestrais seriam muito fortes e ambiciosos, e com o fim de colocá-los em seu devido lugar,

    Zeus decidiu parti-los em duas partes. Mas as partes dos indivíduos originais, uma vez separadas,

     buscavam desesperadamente reunir-se novamente, preocupando-se tão pouco com sua própria

    sobrevivência que pereciam de fome. Sensibilizado pela situação dos “novos” humanos, Zeus teria

    inventado o intercurso sexual, como forma de ao menos colocar um fim temporário à saudade da

    união original e possibilitando aos indivíduos dedicarem o restante de suas vidas a coisas mais

    importantes (HALPERIN, 1991, p. 43). Assim, os seres que originalmente possuíam genitais

    diferentes encontram no sexo oposto seu complemento, diferentemente daqueles que possuíam um

     par de genitais do mesmo sexo.

    A interpretação proposta por Boswell é de que o mito explicaria a predisposição por parte de

    alguns indivíduos em se relacionarem sexualmente com indivíduos do mesmo gênero (e seriam

    “homossexuais” para os padrões atuais), enquanto outros têm interesse em relações com indivíduos

    do sexo oposto (sendo, neste sentido, “heterossexuais”). Não é por outra razão que Boswell

    considera este mito como um exemplo emblemático do que seriam as diferentes “orientações

    sexuais” na antiguidade clássica: “its manifest and stated purpose is to explain why humans are

    divided into  groups of predominantly homosexual or heterosexual interest”  (BOSWELL, 1991, p.25).

    Boswell sustenta seu ponto de vista em outras passagens, como em suas interpretações sobre

    um trecho do  Diálogo sobre o Amor de Plutarco5  e sobre o mito de Ganimedes6. Todas estas

    5  O trecho interpretado é o seguinte: “the noble lover of beauty engages in love wherever he sees excellence and

     splendid natural endowment without regard for any difference in physiological detail. The lover of human beauty [will]be fairly and equably disposed toward both sexes, instead of supposing that males and females are as different in thematter of love as they are in their clothes” . Segundo Boswell, este trecho demonstra que, para Plutarco, os seres

    humanos normais são suscetíveis de atração por ambos os gêneros. Mas seria incorreto utilizar este trecho para sustentarque, à época, esta era a única visão existente, justamente porque Plutarco a formula em oposição às visões contrárias.

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    interpretações ganham foros de complexidade quando analisamos os estudos formulados por outros

    autores a respeito do tema, em particular a interpretação proposta por David Halperin.

    4.   A POSIÇÃO DE DAVID HALPERIN

    A intenção de David Halperin em seu artigo Sex Before Sexuality: pederasty, politics and

     power in classical Athens é demonstrar que a homossexualidade propriamente dita é produto de eras

    recentes, de forma que ela não possui uma “história” que anteceda o começo do último século

    (HALPERIN, 1991, p. 41). A homossexualidade pressupõe a sexualidade, de modo que

    Before the scientific construction of “sexuality” as a positive, distinct, and constitutive feature of individual

    human beings  –   an autonomous system within the physiological and psychological economy of the humanorganism –  a person’s sexual acts could be individually evaluated and categorized, but there was no conceptualapparatus available for identifying a person’s fixed and determinate sexual orientation (HALPERIN, 1991, p.

    41)

    Logo, antes de se estabelecer a sexualidade como um elemento positivo, distinto e

    constitutivo dos seres humanos, não há que se falar em homossexualidade como categoria de

    orientação sexual.O argumento de Halperin parte de um pressuposto muito interessante: nunca nos ocorreu de

    nos perguntarmos se o fato de alguém gostar de carne de galinha é algo inato, uma preferência

    invariável ou uma disposição referente ao “caráter” do indivíduo. Isto ocorre porque a) nós

    consideramos que gostar de determinados alimentos é uma questão de gosto; b) nós não temos,

    atualmente, qualquer teoria a respeito do gosto; c) na ausência de tal teoria nós normalmente não

    submetemos nossa conduta a um escrutínio científico ou etiológico intenso. Da mesma maneira,

    Plutarco estava inserido, portanto, em um debate (BOSWELL, 1991, p. 24/25). Dialogando com Collingwood, entendoque o que Boswell sugere neste trecho é que devemos ter em mente o contexto em que Plutarco estava inserido. Em

    outras palavras, com quem ele dialogava? Quais as opiniões divergentes no contexto em que estava inserido? O que ele

     pensou ou poderia ter pensado para sustentar seus pontos de vista? Tais perguntas sugerem que, além do ponto de vista

    de Plutarco (a respeito do que pode ser visto como uma “bissexualidade inata” do ser humano), existiriam opiniões emsentido contrário  –   e, consequentemente, visões que sugeriam outras categorizações distintas referentes à orientação

    sexual dos indivíduos.6 Ganimedes era um príncipe troiano que atraiu a atenção de Zeus enquanto pastoreava suas ovelhas. Apaixonado pela

     beleza do rapaz, Zeus transformou-se em uma águia e raptou-o para o Olimpo, transformando-o em seu amante. A passagem mencionada por Boswell (1991, p. 25) que sugere a bissexualidade como uma terceira preferência, e não o

    gênero natural da sexualidade humana é a seguinte: “Zeus came as na eagle to god -like Ganymede, as a swan came he

    to the fair-haired mother of Helen. So there is no comparison between the two things: one person likes one, anotherlikes the other; I like both”.

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    nunca ocorreu às sociedades pré-modernas descrever os gostos sexuais dos indivíduos como

    elementos positivos, estruturais ou constitutivos de suas personalidades (HALPERIN, 1991, p. 42).

    A partir de então, Halperin (1991, p. 42) constata que “far from being a necessary or

    int rinsic constituent of the eternal grammar of human subjectivity, ‘sexuality’ seems to be a

    uniquely modern, Western, even bourgeois production”. Mas para convencer-nos de que seu ponto

    de vista é o correto, Halperin precisa demonstrar os problemas existentes nas interpretações

    formuladas por Boswell.

    Um exame mais acurado do mito referente à androginia, por exemplo, revelaria que

    Aristófanes (e, portanto, a sociedade grega da época) identifica não duas, mas três distintas

    “sexualidades”. Haveriam homens atraídos por homens, mulheres atraídas por mulheres, e  –  

    considerados como uma única classificação –  homens atraídos por mulheres e mulheres atraídas por

    homens (HALPERIN, 1991, p. 44). A interpretação de Boswell seria duvidosa na medida em que

    inexistem elementos que nos permitam considerar que a atração de homens por homens seria

    análoga à de mulheres por mulheres –  e que, por conseguinte, tais casos em conjunto configurariam

    a “homossexualidade”. Ao contrário, o que o mito de Aristófanes sugere é que o desejo sexual de

    cada ser humano é formalmente idêntico ao de qualquer outro: estamos todos procurando pela

    mesma coisa em nosso parceiro sexual, que corresponderia, segundo Aristófanes, a um substituto

    simbólico de um objeto originalmente amado, perdido em um verdadeiro “trauma arcaico”

    (HALPERIN, 1991, p. 44).

    Se não bastasse, o mito de Aristófanes sugere ainda que homens não seriam, simplesmente,

    atraídos por outros homens; haveria uma qualificação que pode sugerir uma nova “sexualidade”.

    Esta nova sexualidade corresponderia ao papel exercido pelos indivíduos do sexo masculino ao

    longo de suas vidas: enquanto homens desejariam rapazes mais novos, estes experimentariam certo

     prazer (não-sexual) no contato físico com homens mais velhos. Para Halperin (1991, p. 45) o mitodeve ser analisado levando-se em consideração a realidade social em que Aristófanes estava

    inserido, caracterizada pela assimetria erótica pautada na diferença de idade entre os indivíduos 7.

    7 Boswell (1991, p. 25) formula, neste ponto específico, uma resposta à crítica de Halperin: “David Halperin argues in

    ‘Sex  Before Sexuality’ (in this volume) that the speech does not indicate a taxonomy comparable to modern one, chieflybecause of the age differential, although in fact the creatures described by Aristophanes must have been seeking a

     partner of the same age, since, joined at birth, they were coeval. What is clear is that Aristophanes does not imagine a

     populace undifferentiated in experience or desire, responding circumstantially to individuals of either gender, but persons with lifelong preferences arising from innate character (or a mythic prehistory)”.

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    Estas questões certamente são mais relevantes para aqueles que se convencerem dos

    argumentos construtivistas. Não haveria possibilidade de estabelecer analogias concretas entre a

    homossexualidade dos dias atuais e a conduta sexual na antiguidade clássica. Desta forma, aquele

    que sustenta que na sociedade grega a homossexualidade era comum e bem vista estará imputando

    aos gregos a crença em algo que eles nunca se preocuparam em “positivar” –  o ato sexual entre

    indivíduos do mesmo sexo não assumia contornos do que hoje se entende por “homossexualidade”.

    Como observamos na tese de Halperin, a sexualidade estava inserida em um contexto  público,

    relacionando-se diretamente com os jogos de poder na sociedade.

    Se não bastasse, a ênfase dada aos relacionamentos entre homens é muito mais significativa

    do que aos relacionamentos entre mulheres. Isso se deve, segundo Boswell, ao “padrão de beleza”

    cultivado na Grécia antiga que valorizava a imagem masculina. A partir daí, a beleza masculina

     passa a constituir uma relação triangular que também engloba o desejo e os estereótipos sexuais

    (BOSWELL, 1991, p. 30). Consequentemente, as mulheres eram renegadas a um papel secundário,

    sendo coletivamente desaprovadas as manifestações de interesse sexual por sua parte.

    At one extreme, beauty is conceived as a male attribute: Standards and ideals of beauty are predicated on male

    models, art emphasizes male beauty, and males take pride in their physical attractions (...) If women are

    viewed, however, as the beautiful but passive objects of a sexual interest largely limited to men, theirexpressing sexual interest –  in men or women –  may be disapproved (BOSWELL, 1991, p. 30/32)

    10.

    Tais fatos são relevantes, exigindo uma tarefa muito mais árdua para aqueles que pretendam

    utilizar a história clássica ocidental para legitimar não apenas relacionamentos entre homens, mas

    também entre mulheres. E além da atenção ao contexto social em que os gregos estavam inseridos,

    ressaltando o papel diferenciado que era exercido pelas mulheres, é necessária especial atenção à

    interpretação das fontes utilizadas.

    A questão das fontes  –  em sua maior parte escritos e textos de natureza filosófica  –  não se

    resume, portanto, a uma espécie de “garimpagem arqueológica”. Tais textos devem ser

    10  Há ainda o problema referente à escassez de fontes que aludam à homossexualidade feminina. O exemplo mais

    comum refere-se à poetisa Safo. Como menciona Kenneth Dover (2007, p. 239): “A mais forte expressão de emoçãohomossexual feminina na literatura grega é encontrada na poesia de Safo, a mais antiga e mais famosa das poucas

     poetisas gregas. (...) As indicações que temos de sua homossexualidade são literalmente fragmentárias: só um dos seus poemas sobreviveu inteiro (através de uma citação de um crítico literário do período romano), sendo o restorepresentado por fragmentos de antigas cópias onde uma linha inteira é uma raridade, e pelas citações, feitas porautores mai s recentes, de passagens breves, linhas ou frases”. 

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    interpretados  corretamente (ou, no dizer de Collingwood, o pensamento neles expresso deve ser

    “re- presentado”). Este é um ponto que considero de grande importância, uma vez que mesmo

    aqueles que se posicionam em sentido contrário à conduta homossexual se valem de filósofos como

    Platão e Aristóteles.

    John Finnis, um dos grandes expoentes teóricos da Filosofia do Direito na atualidade,

    mantém-se em firme oposição ao reconhecimento de direitos (em particular o casamento) aos

    homossexuais. Para ele, o Sócrates retratado por Platão e Xenofonte, que tinha fortes inclinações

    homossexuais e que promovia uma espécie de romance homossexual ideal entre homens e jovens,

    ao mesmo tempo rejeitava a conduta homossexual (FINNIS, 1997, p. 4). Seu argumento toma por

     base o estudo de Dover sobre a homossexualidade grega, que de fato assevera:

    Sócrates considera que o eros pela sabedoria é mais forte e mais importante do que o eros por um belo jovem.Em Xen. Smp. 8.21, ele considera que é melhor estar apaixonado pelas qualidades da alma de uma pessoa doque pelos seus atributos corporais. Mas não é uma conseqüência lógica disto que a cópula homossexualdevesse ser evitada, a menos que se acreditasse que qualquer investimento de energia e de emoção na busca de

    um objetivo inferior vicia a capacidade da alma de visar um objetivo superior. Sócrates acredita nisto, e por

    isto proíbe a cópula homossexual, conforme fica claro na sua própria conduta com Alcebíades (...) (DOVER,2007, p. 220/221)

    Tal interpretação da posição socrática, formulada por Dover e endossada por Finnis, parece

    sugerir claramente que Sócrates se posicionava de forma contrária à prática de atos sexuais de

    natureza homossexual. Mas disso não decorre que o relacionamento de natureza heterossexual

    tivesse algum valor intrínseco, até porque o relevante seria o “eros pela sabedoria”.  

     Neste sentido, tudo indica que o discurso de Diotima, no Banquete de Platão, assemelha-se

    ao discurso socrático. Segundo Dover (2007, p. 227),

    O clímax do discurso de Diotima no  Banquete visa à “procriação” de conhecimento racional do mundo do Ser por um homem mais velho em um outro mais jovem (209b), um processo de “procriação num meio belo” (cf.

    206b) do qual a criação de prole através da cópula heterossexual é a contrapartida material, literal, e poucorefinada.

    Como se pode perceber, para Diotima a cópula heterossexual era apenas uma “contrapartida

    mater ial” e pouco refinada da procriação. A criação mais importante, que de fato poderia

    “imortalizar” o indivíduo, encontra-se no conhecimento, adquirido na relação existente entre um

    homem mais velho e outro mais novo (ainda que sem qualquer espécie de conotação sexual). Este

     parece ser um entendimento compartilhado por Sócrates, na medida em que ele entendia a Filosofia

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    como empreendimento cooperativo envolvendo perguntas e respostas, com o estímulo de

     percepções em uma pessoa por parte outra  –   e daí se extrai a necessidade de um “guru” e seus

    “discípulos” (DOVER, 2007, p. 227). 

    Mas o interessante é que, se tais considerações (a princípio) não podem sustentar um

    discurso “pró-gay” por parte dos interessados no reconhecimento de direitos a esta minoria,

    tampouco podem sustentar os argumentos de Finnis a respeito do casamento enquanto um “bem

     básico e exigente” de natureza heterossexual11. Assim, se os filósofos gregos não poderiam

    “legitimar” a busca por direitos aos homossexuais, também não “justificariam” a concepção de

    família que se pauta apenas no matrimônio.

    Logo, me causa perplexidade a seguinte afirmação de Finnis (1997, p.4, grifos do autor):

    What, then, about Plato? Well, the same Plato who in his Symposium wrote a famous celebration of romanticand spiritual man-boy erotic relationships, made very clear that all forms of sexual conduct outside

    heterosexual marriage are shameful, wrongful and harmful.

    Minha perplexidade reside, sobretudo, em “casamento heterossexual” (heterosexual

    marriage). Ora, será que Platão possuía, de fato, alguma “concepção de casamento” análoga à

    nossa? Em outras palavras, a interpretação de Finnis está levando em consideração o contexto social

    da Grécia antiga e todo o conjunto do pensamento platônico? Como visto anteriormente, as

    mulheres exerciam um papel secundário na sociedade. A relação entre homens e mulheres parece

    estar mais ligada a “pouco refinada procriação” sustentada por Diotima, inexistindo os laços de

    amizade e afeto que deveriam pautar o casamento, tal qual o entendemos atualmente.

    Todos estes fatos demonstram que cuidados excepcionais, de cunho histórico, devem ser

    tomados quando pretendemos sustentar o reconhecimento de direitos aos homossexuais com base

    na experiência sexual da Grécia clássica, o que não significa que a história não tem utilidade

    enquanto elemento de justificação. Aqueles que julgam com base nos pensamentos socráticos,

     platônicos e aristotélicos que as relações homossexuais são erradas  e que as heterossexuais são 

    melhores e desejáveis podem também estar incorrendo em erros de interpretação. Logo, diferentes

    11  Finnis possui o que muitos chamam de “teoria analítica do Direito Natural”. Recuperando os ensinamentos de

    Aristóteles e Tomás de Aquino, Finnis ressalta a existência de “bens humanos básicos”, cuja “participação” é

    considerada uma questão de razoabilidade prática e que muitas vezes só podem ser garantidos por “instituições dedireito humano” (FINNIS, 2006, p. 17). Tais bens seriam, à sua maneira, “universais e auto-evidentes”. Em seu artigo

     Marriage: a basic and exigente good , Finnis acrescenta o casamento à lista de bens básicos, que originalmente (em sua

    obra  Lei natural e direitos naturais) incluía o conhecimento, a vida, o jogo, a experiência estética, a sociabilidade(amizade), a religião e a própria razoabilidade prática.

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    (e, a meu ver, mais acertadas) interpretações de tais filósofos podem ser úteis para contra-

    argumentar aqueles que sustentam uma posição contrária ao reconhecimento de direitos aos

    homossexuais12.

    Tudo isso parece sugerir que, ante as significativas diferenças existentes entre a sociedade

    grega clássica e nossa sociedade ocidental contemporânea, o construtivismo é a posição teórica

    mais acertada. Mas creio que os argumentos de Boswell mantêm-se fortes o suficiente para

    sustentar que relacionamentos sexuais e afetivos entre homens ou entre mulheres sempre existiram

    ao longo da história. A possibilidade e efetiva existência de relações de cunho sexual entre dois

    homens ou duas mulheres parece ser um fato histórico inquestionável; o que muda é o tratamento

     social  oferecido para esta questão. Se compreendida desta maneira, a História da Homossexualidade

    tem muito a contribuir para o atual debate acerca do reconhecimento de direito dos homossexuais.

    Ela pode nos dizer as origens e razões do preconceito, permitindo-nos discutir se elas se mantêm

    válidas ou não. Assim, acredito que nossa missão é vencer as barreiras impostas pelo comodismo de

    visões generalizantes e generalizadas, analisando o tema de forma academicamente séria e

    comprometida. Somente desta forma nossos discursos serão, efetivamente, racionais e isentos de

    manifestações meramente opiniáticas e de proveniência duvidosa.

     REFERÊNCIAS

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    from the beginning of the Christian era to the fourteenth century. Chicago: The University of

    Chigado Press, 1981.

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    12 Neste sentido, temos a interpretação proposta por Martha Nussbaum. Ao analisar a posição do Sócrates de Xenofonte,

     Nussbaum sustenta que para este filósofo o sexo homossexual não era propriamente “vergonhoso”, “errado” ou

    “imoral”, discordando diretamente da interpretação sugerida por Finnis. Ela conclui que “(...) there is no evidence

    whatever, even in Xenophon, for Finnis’s conclusion that Socrates ‘regarded homosexual conduct as intrinsically shameful, immoral and indeed depr aved or depraving’” (NUSSBAUM, 1999, p. 312). 

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    reclaiming the gay and lesbian past. Londres: Penguin, 1991.

    COLLINGWOOD, Robin George. A história como re-presentação da experiência passada  em

    GARDINER, Patrick. Teorias da história. 5ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.

    DOVER, Kenneth James. A homossexualidade na Grécia antiga. Tradução de Luís Sérgio Krausz.

    São Paulo: Nova Alexandria, 2007.

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    the ethics, science, and culture of homosexuality. Lanham, New York, London: Rowman and

    Littlefield, 1997, pp. 31-43. Disponível em:

    . Acesso em: 24 jun. 2011.

     ______________.  Lei natural e direitos naturais. Tradução de Leila Mendes. São Leopoldo:

    Editora Unisinos, 2006.

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    . Acesso em: 24 jun. 2011.

    FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I : a vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da

    Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.

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