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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG Instituto de Ciências da Natureza Curso de Geografia Bacharelado FRANCIELLY NAVES FAGUNDES A EXPANSÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E ESPACIAIS NOS MUNICÍPIOS DE PASSOS E MONTE BELO/MG Alfenas - MG 2014

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Page 1: A EXPANSÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO E AS ......espaciais provocadas pela expansão desse setor econômico. Palavras- chaves: Cana-de-açúcar - Setor sucroalcooleiro – transformações

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

Instituto de Ciências da Natureza

Curso de Geografia – Bacharelado

FRANCIELLY NAVES FAGUNDES

A EXPANSÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO E AS

TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E

ESPACIAIS NOS MUNICÍPIOS DE PASSOS E

MONTE BELO/MG

Alfenas - MG

2014

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FRANCIELLY NAVES FAGUNDES

A EXPANSÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO E AS

TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E

ESPACIAIS NOS MUNICÍPIOS DE PASSOS E

MONTE BELO/MG

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como parte dos

requisitos para obtenção do título de

Bacharel em Geografia pelo Instituto

de Ciências da Natureza da

Universidade Federal de Alfenas-

MG, sob orientação do Profª. Drª.

Ana Rute do Vale.

Alfenas – MG

2014

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“O geógrafo deve-se colocar na

perspectiva de observador privilegiado,

capaz de interpretar. Ele dispõe, com

efeito, de elementos que o tornarão mais

sensível à compreensão da atividade

humana notadamente daquela que exerce

espacialmente. A representação espacial

significa aqui, mais do que uma simples

indicação da localização dos fenômenos;

ela permite, com efeito, resgatar a

inteligibilidade que os fatos espaciais

adquirem quando são compreendidos a

partir de seus contextos próprios.”

(GOMES, 1996, p. 312)

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DEDICATÓRIA

A minha família, amigos e professores

pelo incentivo.

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AGRADECIMENTOS

Mais uma etapa concluída! Agradeço a Deus pelo dom da vida e pela luz no meu

caminho, aos meus pais Jorge e Silvia meus exemplos incentivando, transmitindo

valores positivos, e torcendo pelo meu futuro. Ao meu irmão Fabrício e ao meu vô Sr.

Joaquim e minha vó D. Elza pelo apoio e orações de sempre.

Nestes quatro anos foram compartilhadas ótimas experiências que acarretaram

um engrandecimento tanto acadêmico (congressos, trabalhos de campo, estudos) quanto

social e pessoal (novas amizades e amadurecimento). Isso só foi possível de concretizar

graças aos professores do curso de Geografia Bacharelado, principalmente aos discentes

do grupo de pesquisa GERES (Ana Rute, Flamarion, Evânio, Marina e Sandra) na qual

com as reuniões foi possível abordar de forma diferente da sala de aula textos e

reflexões teóricas além de uma aproximação social entre os membros. Não posso deixar

um agradecimento espacial à professora, orientadora Ana Rute que vem me auxiliando

nas pesquisas desde os períodos iniciais da graduação onde realizei estágio curricular,

iniciação cientifica e trabalho de conclusão do curso, pois sem sua ajuda seria difícil

avançar nas pesquisas e nos conhecimentos acerca da temática da Geografia Agrária.

Enfim agradeço a meus amigos e amigas de São Sebastião do Paraíso (Amanda,

Cintia, Maísa, Camila, Giovanna), de Alfenas (Talytha, Lilian, Thaís, João Paulo,

Lennon), enfim aos meus colegas de sala e a todos os professores doutores da UNIFAL-

MG, campus Alfenas, que dedicaram tempo e trabalho ajudando a atingir o meu

objetivo de uma formação acadêmica superior!

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LISTA DE GRÁFICOS E QUADROS

Gráfico 1: Área cultivada com cana-de-açúcar na mesorregião geográfica do

Sul/Sudoeste de Minas em hectares.................................................................................26

Gráfico 2: Área plantada (em hectares), das principais culturas agrícolas temporárias e

permanentes do município de Monte Belo nas safras 2000 a 2012.................................26

Gráfico 3: Área plantada (em hectares), das principais culturas agrícolas temporárias e

permanentes do município Passos nas safras 2000 a 2012..............................................27

Quadro 1: Unidades produtoras de açúcar e álcool em funcionamento no Sul/ Sudoeste

de Minas Gerais...............................................................................................................28

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Localização dos municípios em estudo, sedes de usinas de álcool e açúcar no

Sul/Sudoeste de Minas Gerais.........................................................................................17

Foto 1: Entrada da Usina Monte Alegre, em destaque nomenclatura do Grupo

Multinacional Adecoagro, atual responsável pela gerenciamento da usina....................29

Foto 2: Parque industrial da usina Monte Alegre............................................................30

Foto 3: Transição do café e cana-de-açúcar, principais cultivos agrícolas da

mesorregião geográfica do Sul/Sudoeste de Minas Gerais, próximo a Usina Monte

Alegre no município de Monte Belo...............................................................................34

Foto 4: Lavoura de cana-de-açúcar próxima a Usina Açucareira Passos.......................35

Foto 5: Horto referente a Usina Açucareira Passos localizado em uma antiga colônia da

época áurea do café..........................................................................................................36

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RESUMO

RESUMO

O setor sucroalcooleiro vem se expandindo no Brasil, especialmente a partir do final da

década de 1970, com a criação do Pró-alcool e a utilização do etanol como combustível

automotivo. A maior concentração do setor está no Centro-Sul do país, tendo o Estado

de São Paulo como seu principal representante. Em Minas Gerais, a expansão se destaca

mais na mesorregião Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, mas vem se intensificando, na

última década no Sul/Sudoeste também. Nesse sentido, o presente trabalho tem por

finalidade caracterizar setor o sucroalcooleiro no Brasil em relação a três temáticas

importantes que o envolvem; a questão ambiental, relações de trabalho e a

internacionalização da agroindústria canavieira, tomando como estudo de caso os

municípios de Monte Belo e Passos e suas respectivas usinas, Monte Alegre e

Açucareira Passos, de modo a compreender as transformações socioeconômicas e

espaciais provocadas pela expansão desse setor econômico.

Palavras- chaves: Cana-de-açúcar - Setor sucroalcooleiro – transformações

socioeconômicas e espaciais.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

METODOLOGIA 18

1. CARACTERIZAÇÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO NO BRASIL:

QUESTÃO AMBIENTAL, RELAÇÕES DE TRABALHO E

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA 19

2. TERRITORIALIZAÇÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR E EXPANSÃO DO SETOR

SUCROALCOOLEIRO NO SUL/SUDOESTE DE MINAS GERAIS 25

2.1 O papel das usinas nos municípios estudados

Usina Monte Alegre 28

Usina Açucareira Passos 34

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 38

4. REFERERÊNCIAS 39

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INTRODUÇÃO

O cultivo da cana-de-açúcar é histórico advindo do período do Brasil Colônia

nos séculos XVI e XVII onde prevalecia o sistema produtor de monocultura com

grandes áreas destinadas a lavouras (grandes fazendas, também denominados latifúndios

com o plantio intensivo de apenas uma cultura agrícola) e mão-de-obra que na época era

exclusivamente escrava e exploratória. Neste período então o país exportava cana-de-

açúcar (principal produto, mas outros gêneros agrícolas eram produzidos) e sua

economia dependia deste produto que por um tempo detinha boa aceitação no mercado

internacional da época. Os engenhos de açúcar eram característicos e representavam

para a época o processo industrial de beneficiamento desta matéria- prima.

O engenho de açúcar principalmente na região do

Nordeste brasileiro foi o centro econômico de produção,

primeiro centro social, de formação da sociedade

brasileira, primeiro centro de relações demográficas.

Elemento vital à existência do Brasil, o açúcar de engenho

foi o primeiro gênero brasileiro sistematizado produzido

para exportação. (DIÉGUES, 2006, pág 9, 10)

Entretanto no século XX a produção canavieira desloca-se para o Sudeste

principalmente ao estado de São Paulo e os investimentos da alta burguesia que era

voltado para o Nordeste mudaram seu foco para a moderna São Paulo. A aceitação em

termos agrícolas do cultivo da cana-de-açúcar nas terras paulistas foi recorrente, pois o

solo é considerado mais fértil aumentando assim a produtividade se comparada com a

antiga produção nordestina (PROGRAMA DE AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE,

2008).

Na década de 1930, ocorre um processo de intervenção estatal nas políticas

nacionais (período após a crise financeira de 1929). No setor sucroalcooleiro, essas

ações se tornaram permanente com a criação do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA),

em 1933. Este instituto tinha como objetivo dirigir, intervir, fomentar e controlar a

produção de açúcar e álcool nacional, o que foi um marco para o Planejamento Estatal

na agroindústria canavieira nacional (BRAY; FERREIRA; RUAS, 2000).

Outra importante política implantada em relação ao setor canavieiro foi o

Programa Nacional do Álcool (PROÁLCOOL) criado em 1975, contemporâneo da crise

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mundial do petróleo de 1973. Este programa visava programar a produção de álcool

para veículos automotivos. O programa alterou toda a espacialização da cana-de-açúcar,

dinamizando a produção alcooleira em alguns estados (Bray, Ferreira e Ruas, 2000). O

PROÁLCOOL passou por várias fases tendo significativa participação nos rumos

energéticos e econômicos do país.

A partir da segunda metade do século XX, foram ocorrendo mudanças no campo

e na cidade no Brasil, com o crescente êxodo rural e processo de urbanização. Neste

processo observam-se a modernização e a industrialização que acomete o campo e

reconfigura as práticas agrícolas, deixando o caráter artesanal, pouco mecanizado das

lavouras e dos processos de beneficiamento, para a constituição dos complexos

agroindustriais. Para MULLER (1989), o complexo agroindustrial é uma unidade de

análise que a agricultura se vincula com a indústria por duas formas: com a indústria de

máquinas e insumos e a processador-beneficiadora.

Em termos formais o complexo agroindustrial, CAI, pode ser definido como um conjunto formado pela sucessão de atividades vinculadas a

produção e transformação de produtos agropecuários e florestais.

Atividades tais como: a geração destes produtos, seu beneficiamento, transformação e a produção de bens de capital e insumos industriais

para as atividades agrícolas, ainda, a coleta, a armazenagem, o

transporte, a distribuição dos produtos industriais e agrícolas, o

financiamento, a pesquisa, a tecnologia e a assistência técnica. (MULLER, 1989, p. 45).

O referido autor também destaca que o padrão agrário moderno que se

constituiu, com a formação do complexo agroindustrial especificamente nas relações

entre indústria e agricultura, é a expressão da aplicação das conquistas da ciência

moderna na agricultura, ou seja, da inserção da tecnologia. Isto desencadeou novas

formas de organização rural, distintas da antiga relação latifúndio/minifúndio que

dominou o país nos séculos anteriores. Sobre isso, SANTOS (2006), atenta para o fato

de que o campo modernizado é o lugar das novas monoculturas e das novas associações

produtivas, ancoradas na ciência e na técnica e dependentes de uma informação.

A modernização agrícola estava vinculada à Revolução Verde que foi um

pacote tecnológico que incluía melhores maquinários, novas sementes, fertilizantes e

melhoramento genético, visando e propiciando o aumento da produção agrícola nas

lavouras (MOREIRA, 1999 apud MOREIRA, 2000, p. 44).

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Com isso, no final do século XX, a dinâmica agroindustrial brasileira e a

produção de commodities agrícolas, de maneira geral, foram sofrendo mudanças,

tornando-se cada vez mais voltada ao mercado externo.

Um processo de reorganização está sucedendo e transformando a atuação dos

complexos agroindustriais a uma organização em rede. As redes caracterizam uma

organização territorial, desencadeada pelo avanço da tecnologia da circulação e da

comunicação, onde os interesses privados e a interação entre as escalas local e global se

fortificam devido à globalização (MAZZALI, 2000, p 18).

A partir da década de 1980, desencadearam-se transformações que alteraram o cenário dos anos 60 e 70 e se acentuaram nos anos 90,

tornando necessária a discussão da vigência do padrão de modernização

anterior e problematizando os limites do enfoque teórico-metodológico

representado pela noção de "complexo agroindustrial".

Sobre essa forma de organização em rede, conexões econômicas viabilizadas

pela circulação e comunicação (informação), que reordenam o espaço, Elias (2000)

afirma que a maioria da produção agrícola atual é intensiva em capital, tecnologia e

informação, ampliando a produtividade e respondendo positivamente a competitividade

do capitalismo globalizado.

No cenário globalizado alguns atores emergem atuando na esfera econômica e

política. O papel das grandes empresas, nacionais e multinacionais vem expandindo,

sob a lógica do dinheiro, da competitividade, que faz com que cada empresa tornada

global busque aumentar a sua esfera de influência e de ação, para poder crescer. Os

últimos anos tornaram-se o teatro das grandes fusões tanto no domínio da produção

material como no da produção de informação (SANTOS 1999).

Conforme assinala Oliveira (2009), o desenvolvimento do capitalismo no pós-

guerra precisa ser entendido como um processo de consolidação dos oligopólios

internacionais que deram origem à formação das empresas multinacionais: estas

tornaram a expressão mais avançada do capitalismo. Esse processo foi possível em

decorrência dos movimentos internacionais do capital, da produção e de ações do

Governo visando à escala, o mercado internacional.

As mudanças no modelo atual de organização, a partir da globalização e dos

territórios em redes, levam a uma especialização agrícola baseada na ciência e na

técnica, incluindo o campo modernizado em uma lógica competitiva que acelera a

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entrada da racionalidade em todos os aspectos da atividade produtiva, desde a

reorganização do território aos modelos de intercâmbio e invade até mesmo as relações

interpessoais. A participação nas atividades econômicas a partir da lógica atual

considera primeiramente a competitividade e leva ao aprofundamento das novas

relações técnicas e das novas relações capitalistas (SANTOS 2006).

A partir disso, com as políticas de modernização da agricultura e o advento da

economia global, um maior aporte tecnológico é oferecido ao campo, alicerçado pela

atuação de grupos multinacionais o que vem formando novas territorializações. Esse

processo de internacionalização, pela atuação das grandes empresas, segundo Santos

(2006), forma um processo de corporatização do território, com a destinação prioritária

de recursos para atender às necessidades geográficas destas, em detrimento de toda a

sociedade, já que há o desfavorecimento da resolução de problemas sociais e locais na

dinâmica atual.

Vem ocorrendo no Brasil, então, a dinâmica de reestruturação produtiva da

agropecuária com a intensificação do capitalismo no campo a partir da revolução

tecnológica, da modernização agrícola. De forma dialética esse processo privilegia

apenas alguns segmentos econômicos, configurando-se de forma socialmente

excludente, espacialmente seletiva e mantendo intocáveis algumas estruturas sociais

(ELIAS, 2012). O modelo de produção, processamento e distribuição agrícola no século

XXI, denominado agronegócio (negócios agrícolas) é a expressão econômica da

inserção capitalista no campo. Para Delgado (2010, p. 113)

[...] o agronegócio na acepção brasileira do termo é uma associação do

grande capital agroindustrial com a grande propriedade fundiária. Essa associação realiza uma estratégia econômica de capital financeiro,

perseguindo o lucro e a renda sob patrocínio de políticas de Estado.

Com o agronegócio a produção de commodities agrícolas para o mercado

mundial tornou-se o objetivo da produção mundial de alimentos, ou seja, produz para

quem tem poder de compra, esteja ele onde estiver no mundo, à produção de alimentos

não tem mais o objetivo primeiro de abastecer a população do estado nacional

(OLIVEIRA, 2009).

Sobre a difusão do agronegócio, Elias (2012) evidencia outras conseqüências no

país, como acentuação das desigualdades históricas sociais e territoriais, a

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reconcentração da estrutura fundiária, uma nova dinâmica econômica no mercado de

terras e mudanças nas relações de trabalho.

Sobre as novas relações de trabalho na agricultura científica atual

(procedimentos e métodos científicos incorporados na produção) e no agronegócio

utilizam grande contingente de mão-de-obra especializada, apresentando uma nova

divisão social do trabalho no setor (ELIAS, 2012). Por outro lado, no campo existe o

trabalhador agrícola temporário, sem muita qualificação, que em sua maioria mora na

cidade e trabalha na área rural.

Essa agricultura que se moderniza, portanto,

[...] através da extensão do mercado de dinheiro, de máquinas e

insumos industriais para os setores agrícolas, foi alterada passando de tradicional para industrializada, convertendo o campo em mercado

para a indústria, ocorrendo uma dissolução do rural tradicional e a

concomitantes transformações do rural moderno (MULLER, 1989, p. 60).

No caso do agronegócio da cana-de-açúcar, por sua vez esse, obteve um salto

expansionista, a partir de 2000, em decorrência do aumento da demanda de

bicombustíveis (em especial para a produção de etanol), em razão da disseminação dos

carros com motores flex Fuel (combustível a álcool ou gasolina), alavancando a

modernização e expansão das agroindústrias neste período. Para adquirir uma posição

competitiva, o setor investe no melhoramento genético da cana-de-açúcar, em inovações

no campo da agronomia, engenharia, processamento industrial, biotecnologia, e

aumento da produção com técnicas de irrigação, agricultura de precisão, entre outros.

Hoje a indústria canavieira brasileira encontra-se em novo ciclo de expansão, com expectativas de crescimento sem precedentes da

produção tanto de açúcar como de etanol. Ao grande e consolidado

mercado interno, somam-se as novas forças de expansão da produção representadas pelos motores bicombustíveis e pelo mercado

internacional, hoje caracterizado pela ascensão dos preços do petróleo,

pelos compromissos de redução das emissões de CO2 assumidos pelos

países desenvolvidos junto ao Protocolo de Quioto e pela queda nos subsídios agrícolas para o açúcar (RODRIGUES; ORTIZ, 2006, p. 5).

Sobre o território, este é o palco onde ocorrem as manifestações de

caráter econômico, social, cultural, formando diferentes territorialidades e identidades

com os lugares. O território contemporâneo, da globalização, segundo Haesbaert e

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Limonad (2007), é caracterizado sobre múltiplas faces de um território-mundo que se

abre a fluxos como os do capital financeiro globalizado. A venda de empresas, de

grupos de capital nacional, a grupos estrangeiros tem-se caracterizado uma tendência

brasileira que vem ocorrendo no setor sucroalcooleiro.

O território possui tanto uma dimensão mais subjetiva, que se propõe denominar, aqui, de consciência, apropriação ou mesmo, em alguns

casos, identidade territorial, e uma dimensão mais objetiva, que se

pode denominar de dominação do espaço, num sentido mais concreto,

realizada por instrumentos de ação político-econômica (HAESBAERT; LIMONAD, 2007, p. 42-43).

Para Santos (1999), o território nos moldes da globalização mudou seu conteúdo

demográfico, econômico, fiscal, financeiro e político, ou seja, o conteúdo de cada fração

do território muda rapidamente diante da atual conjuntura econômica.

Sob o ponto de vista de Oliveira (2006, p.7) existem dois processos

monopolistas comandam a produção agrícola mundial, através do capitalismo, são eles:

a territorialização dos monopólios e a monopolização do território. Sobre a

territorialização,

é um processo que atua simultaneamente, no controle da propriedade

privada da terra, do processo produtivo no campo e do processamento

industrial da produção agropecuária, o exemplo é o setor sucroalcooleiro e o setor de produção de celulose. Neste caso de fato a

produção comanda a circulação das mercadorias.

Com isso, a cadeia produtiva da agroindústria sucroalcooleira organizou-se

basicamente de duas formas ao longo dos anos por meio de dois setores de atuação:

[...] o agrícola e o industrial. Na grande maioria das unidades

produtivas, coligada à indústria, atua a empresa agrícola. A primeira ocupa-se, exclusivamente, do processamento da matéria-prima. A

segunda responsabiliza-se pelo arrendamento e compra de terras,

plantio, manejo, colheita e transporte da cana à usina/destilaria, bem como as operações de destinação final, na lavoura, dos principais

resíduos, vinhaça, torta de filtro e cinzas (ANDRADE; DINIZ 2007,

p. 24).

Entre nos últimos anos, assiste-se a um elevado número de aquisições, alterações

de participações acionárias, entrada de capital estrangeiro e fusões, com a formação de

grandes blocos de usinas sucroalcooleiras (ANDRADE; DINIZ, 2007).

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Com a tendência de expansão do setor sucroenergético1, visando aumentar a

produtividade para sua comercialização no exterior e no país, nos últimos anos, foram

instaladas novas usinas e as antigas se modernizaram. O eixo geográfico de expansão

destas novas usinas é o Centro-sul do país, com destaque para o estado de Goiás

(principalmente áreas ao Sul), Minas Gerais (com grande força no Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba), Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. (PROGRAMA DE

AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE, 2008).

No estado de Minas Gerais, segundo UDOP (2013) a mesorregião do Triângulo

Mineiro/Alto Parnaíba é a maior produtora de cana-de-açúcar do estado de Minas

Gerais, sendo responsável por cerca de 60% de toda a colheita do produto no estado.

Nesse sentido, nessa mesorregião vem ocorrendo a reconfiguração do quadro agrícola,

com áreas de culturas tradicionais sendo substituídas por plantações de cana-de-açúcar,

para o abastecimento das usinas implantadas (GOMES, 2012).

Atualmente, um dos novos territórios da cana-de-açúcar em Minas Gerais que

vem apresentando um significativo avanço do setor, é a mesorregião geográfica

Sul/Sudoeste, na qual, embora a cultura agrícola predominante seja a cafeicultura, essa

vem perdendo área para a cultura da cana-de-açúcar em alguns municípios. O principal

motivo dessa expansão advém de sua proximidade com a divisa do Estado de São Paulo

– sobretudo os municípios de Sertãozinho e Ribeirão Preto, que são referências em

termos de processamento e beneficiamento da cana-de-açúcar. Explicando melhor, essa

localização pode trazer vantagens em termos de logística para a instalação das usinas

sucroalcooleiras na mesorregião, uma vez que facilita o escoamento da produção gerada

pelas usinas mineiras em direção ao estado de São Paulo, criando vantagens

competitivas, dentre outras pontos positivos.

São sedes de agroindústrias sucroalcooleiras no Sul/Sudoeste de Minas, os

municípios de Passos (Usina Açucareira Passos), Monte Belo (Monte Alegre) e

Guaranésia (Alvorada do Bebedouro S.A). Com a instalação e modernização destas

usinas de álcool e açúcar é recorrente um movimento de reestruturação fundiária e

1 O setor sucroalcooleiro passa a ser denominado de sucroenenergético, pois as agroindústrias, além de

produzir álcool e açúcar, produzem bioenergia, parte destinada ao próprio consumo do setor industrial e outro para comercialização com as centrais energéticas estaduais.

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econômica nos municípios próximos, além da transformação da paisagem e das formas

de uso da terra na mesorregião. Nesses municípios há um direcionamento da sua

produção agrícola (novos fornecedores) e da mão-de-obra para o setor sucroalcooleiro.

Todavia, nesse estudo, optamos por analisar as transformações socioeconômicas

e espaciais, a partir expansão do setor sucroalcooleiro apenas nos municípios de Monte

Belo e Passos (figura 1), destacando o papel das usinas. Para tanto, buscaremos: a)

caracterizar setor sucroalcooleiro no Brasil em termos de questão ambiental, relações de

trabalho e internacionalização da agroindústria canavieira; b) analisar o processo de

territorialização da cana-de-açúcar e expansão do setor sucroalcooleiro no Sul/Sudoeste

de Minas Gerais; b) mostrar a forma como as usinas Monte Alegre e Açucareira Passos vem

contribuindo para expansão do setor sucroalcooleiro nos municípios de Monte Belo e Passos,

respectivamente e suas consequências.

Figura 1: Localização dos municípios em estudo, sedes de usinas de álcool e açúcar no

Sul/Sudoeste de Minas Gerais. Fonte: Base Estatcart IBGE (2010) e organizado por Fagundes (2013).

A usina Monte Alegre, está localizada na zona rural do município de Monte Belo

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e atualmente pertence ao grupo multinacional Adecoagro2. O cultivo e a produção de

cana-de-açúcar começaram no município em 1933. Nos anos 2000, especialmente em

2006, houve abertura para a entrada de capital internacional com a compra da usina

Monte Alegre pelo grupo Adecoagro. A Usina Monte Alegre tem sua produção baseada

em açúcar (60%), etanol (40%) fornecendo também bioeletricidade parte responsável

em manter o parque industrial da Usina e a outra parte comercializada com a Central

Energética do estado de Minas Gerais a CEMIG.

A unidade de açúcar e álcool, Açucareira Passos, localizada no município de

Passos, pertence ao grupo Itaiquara Alimentos, de capital nacional e foi fundada no ano

de 1909, destinada a produção de açúcar, e fermento biológico. Recentemente iniciou a

produção de álcool no ano de 2010 e bioeletricidade (advinda do bagaço da cana-de-

açúcar) visando apenas o abastecimento interno.

METODOLOGIA:

O procedimento metodológico que envolveu a realização dessa pesquisa

consistiu na realização de: a) levantamento teórico-conceitual sobre os seguintes temas:

modernização agrícola, território, reestruturação produtiva, no espaço através da

consolidação do setor canavieiro; b) coleta de dados secundários, a partir da base

SIDRA, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio do Censo

Agropecuário Municipal (área plantada, área colhida, quantidade produzida), e União da

Indústria de cana-de-açúcar (UNICA) e primários, por meio de pesquisa de campo e

entrevistas com representantes das usinas Monte Alegre e Açucareira Passos e nos

sindicatos de trabalhadores rurais dos municípios de Monte Belo e Passos pertencentes;

c) tabulação e análise dos dados coletados; e d) elaboração do relatório da pesquisa.

Nesse sentido, o trabalho aqui apresentado se estrutura da seguinte forma:

primeiramente foi realizada uma caracterização do setor sucroalcooleiro no Brasil

destacando três aspectos que o envolvem; a questão ambiental (com a expansão da

monocultura muitas discussões são feitas acerca da queima da palha da cana-de-açúcar,

2 O Grupo Adecoagro é um dos principais produtores de alimentos e energia renovável da América do

Sul. É uma multinacional com presença na Argentina, Brasil e Uruguai, as a produção de grãos, arroz,

oleaginosas, laticínios, açúcar, etanol, café, algodão e carne bovina.

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dos subprodutos gerados no processamento da matéria-prima e sua reutilização); as

relações de trabalho (sobre o papel dos trabalhadores que migram de estados da região

Nordeste, para as atividades do corte manual da cana-de-açúcar, em que são expostos a

condições insalubres nos alojamentos que permanecem no período da colheita e a

exaustão nas atividades diárias, pois o salário é pago em razão da produtividade), e a

internacionalização da agroindústria canavieira uma tendência em que grupos

multinacionais vão se apropriando , controlando ou participando do capital, de pequenas

destilarias e usinas de açúcar, demonstrando que no setor os pequenos grupos nacionais

estão perdendo espaço neste novo cenário.

Em seguida é analisado a territorialização da cana-de-açúcar e expansão do setor

sucroalcooleiro na mesorregião geográfica do Sul/Sudoeste de Minas Gerais,

evidenciando as unidades de açúcar e álcool, Monte Alegre e Açucareira Passos e a

influencia destas usinas nos seus municípios sedes, Monte Belo e Passos

respectivamente e pontuando as temáticas ambiental, social e a entrada de capital

estrangeiro controlando algumas usinas.

1. CARACTERIZAÇÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO NO BRASIL:

QUESTÃO AMBIENTAL, RELAÇÕES DE TRABALHO

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA

Para compreender a situação atual do setor sucroalcooleiro no Brasil três temas

foram destacados como importantes para melhor caracterizá-lo: questão ambiental,

relações de trabalho e a internacionalização da agroindústria canavieira.

O setor sucroalcooleiro tomou força em decorrência da grande problemática

ambiental que alavancou a modernização e sucessivo aumento da produção canavieira.

Diante da grande dependência do petróleo (combustível fóssil) como matéria-prima para

a fabricação de combustíveis para os automóveis e para geração de energia e dos

impactos negativos pela queima deste combustível fóssil aumentando a emissão de

gases intensificadores do efeito estufa, criou-se uma demanda para a fabricação e

consequente utilização para os próximos anos de combustíveis renováveis com matéria-

prima advinda de fontes limpas e ecológicas (PROGRAMA DE AGRICULTURA E

MEIO AMBIENTE, 2008). A partir disso, o setor dos bicombustíveis e a disseminação

dos carros com motores flex, no início dos anos 2000, toma força e a cana-de-açúcar

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para a produção de etanol foi uma alternativa.

Szmrecsányi (1998, p.73) atenta que, embora a utilização do álcool de cana

como combustível automotivo tenha aspectos positivos, o impacto ecológico não pode

ser negligenciado e destaca dois problemas ambientais, que considera de primeira

grandeza:

[...] a periódica destruição e degradação de ecossistemas inteiros e a

intensa poluição atmosférica, provocadas anualmente pelas queimadas

dos canaviais às vésperas de cada colheita e 2) a poluição hídrica, dos cursos d'água e dos lençóis freáticos, bem como uma progressiva

salinização dos solos, determinada pela excessiva e indiscriminada

utilização do vinhoto in natura como fertilizante.

Dentro os problemas que envolvem a questão ambiental no setor canavieiro, a

queima da palha da cana-de-açúcar é um dos mais discutidos, ou seja, um assunto em

voga em vários grupos ambientalistas e reuniões legislativas municipais em decorrência

do incômodo dos particulados (“fuligens”) e da fumaça as residencias dos municípios

próximos as usinas de açúcar e álcool.

A queima da palha da cana (usada na maioria dos países produtores, para

facilitar a colheita) foi objeto de muitos trabalhos nas décadas de 1980 e 1990 (no Brasil

e exterior) que puderam concluir a nocividade das emissões para a saúde humana,

efeitos indesejáveis riscos a redes elétricas, rodovias, reservas florestais e a sujeira.

Sobre a questão da queima dos canaviais, este é um dos impactos ambientais mais

discutidos (assunto em voga em vários grupos ambientalistas), pois a prática da queima

da palha é como método facilitador da colheita (MACEDO, 2005).

Szmrecsányi (1998) também explica que além da degradação de ecossistemas e

a poluição atmosférica, prejudicial à saúde e que afeta tanto as áreas rurais adjacentes e

os centros urbanos próximos.

Conforme assinala ANDRADE; DINIZ (2007, p. 38 e 39)

[...] a prática de submeter os canaviais à despalha com uso de fogo

provoca emissões, para a atmosfera, de material particulado (MP), hidrocarbonetos, monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono

(CO2), óxidos de nitrogênio (NOx), óxidos de enxofre (SOx). Há

aumento da temperatura do solo com perda de nitrogênio e bactérias.

Aves, mamíferos, anfíbios e répteis que procuram abrigo e alimento nos talhões de cana são afugentados40. A emissão de fuligem e

fumaça atinge núcleos urbanos, a quilômetros de distância, causando

incômodos generalizados aos moradores. Os problemas respiratórios

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da população aumentam e são gerados efeitos estéticos indesejáveis na atmosfera e nos quintais, provocando aumento do consumo de água

para limpeza.

Acerca da legislação que envolve a queima, vem ocorrendo à proibição gradativa da

queima de cana no Brasil em vários decretos-lei, entretanto os prazos vão sendo

prorrogados. Os decretos estabelecem cronogramas para a eliminação da queima e

determinam áreas de proibição próximas a perímetros urbanos, rodovias, ferrovias,

aeroportos, reservas florestais e unidades de conservação, entre outros (PAULA,

SAKATSUME, 2007, p.35).

No Estado de São Paulo foi estabelecida legislação proibindo gradualmente a queima de palha, com cronograma que considera as

tecnologias disponíveis e o desemprego esperado, incluindo a proibição

imediata em áreas de risco.

Envolvido na temática ambiental o subproduto da cana-de-açúcar classificada

como vinhaça ou vinhoto (resíduo da destilação do vinho obtido do processo de

fermentação do caldo da cana-de-açúcar), antes era lançado de forma desordenada

principalmente nos cursos de água. Devido aos avanços em tecnologias de uso, esse

subproduto tornou-se reutilizado como fertilizante.

SOUZA (2005) ressalta que é possível produzir de 10 a 15 litros de vinhaça por

litro de álcool, dependendo de características da cana-de-açúcar e do seu

processamento. Além disso, novas tecnologias foram introduzidas visando eliminar

riscos de contaminação das águas subterrâneas, através da prática atual do reciclo

integral.

Houve avanços em termos de tecnologia destinados a diminuição dos impactos,

pesquisas de melhoramento e elaboração de legislação ambiental, porém a fiscalização

acerca do cumprimento das leis e dos decretos instituídos deve ser mais eficaz para

assim ocorrer uma real diminuição da interferência do setor canavieiro no meio

ambiente.

Quando se trata de relações de trabalho na atividade canavieira, mais

especificamente no sistema do corte manual remete o trabalhador a condições

desumanas (horas expostas ao sol, pouca proteção e salário pago em razão da

produtividade levando o cortador a exaustão). Diante destas exigências físicas, do

salário baixo e a mínimos direitos trabalhistas assegurados, as populações dos estados

do Centro-Sul do País, em sua maioria, não se remetem, a trabalhar nesse setor.

Acerca das relações de trabalho intrínsecas ao setor canavieiro, grande parte da

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mão de obra rural empregada é contratada via intermediários, popularmente conhecidos

como “gatos”, que contratam os trabalhadores principalmente originários do Nordeste e

Vale do Jequitinhonha (ANDRADE; DINIZ, 2007). O alarmante refere-se,

[...] as precárias condições de higiene e salubridade nas habitações

ocupadas como alojamentos, na periferia de pequenas cidades. O

transporte é feito por meio de ônibus antigos e inseguros.

Frequentemente, os trabalhadores do campo são submetidos a condições desumanas (ANDRADE; DINIZ 2007, p. 29-30).

Diante dessa situação, torna-se cada vez mais importante o papel dos migrantes

neste cenário do complexo agroindustrial sucroalcooleiro. Eles têm um perfil peculiar,

submetem a atividades repetitivas e exaustivas devido à atração financeira, ilusão de

melhorias sociais, e a impossibilidade de acesso a outras formas de renda.

Dessa forma, os trabalhadores oriundos do Nordeste, em especial do

Maranhão e Piauí, estão adaptados às novas exigências do corte de

cana, em termos de produtividade, dispêndio de energia e baixa

remuneração. O trabalhador criado na agricultura de toco não tem dificuldade em se adaptar ao corte da cana (NOVAES; ALVES, 2007,

p. 45).

Em geral, esses trabalhadores são guiados pela ilusão de ganhar mais dinheiro do

que nas cidades que vivem atualmente, porém muitas vezes o balanço do saldo

financeiro não é tão positivo, pois o gasto da ida e da volta das viagens é grande e as

usinas não cobrem estes gastos.

Esses trabalhadores que, em sua maioria, são provenientes dessas regiões do

país, geralmente são ou já foram camponeses praticantes de agricultura de subsistência

em pequenas áreas rurais. Eles encontram nos canaviais uma forma de complementação

de renda para o sustento de suas famílias. Os trabalhadores do corte da cana estão cada

vez mais dependentes desse emprego precário e temporário. Muitos trabalham na

lavoura por não terem outra oportunidade e recebem salários muito baixos, além de

possuir despesas como aluguel, alimentação, sobrando pouco para a sobrevivência.

(CAMPOS, 2011).

Segundo SANTOS (2013), os cortadores de cana, especialmente os migrantes

são submetidos a uma jornada de trabalho extenuante de 12 a 14 horas de trabalhos

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sendo obrigados a cortar diariamente em torno de 10 a 12 toneladas de cana para se

manterem empregados.

Nesse sistema manual do corte da cana-de-açúcar, os trabalhadores usam facões

e são pagos pela produtividade (muitos tentam se tornar “campeões” em toneladas de

cana cortada, afinal quanto mais se corta, mais se ganha). Tem ainda o sistema que eles

nomeiam como “poda”, na qual após um tempo que o trabalhador é admitido para a

atividade, ele tem que superar uma expectativa de corte mínima para se manter

empregado. Com o tempo estes trabalhadores vão se tornando vítimas do sol, acidentes,

de dores corporais, febres, convulsões, doenças por lesões repetitivas, cardíacas, perda

de massa corpórea e em alguns casos até o óbito devido à exploração, o ritmo e a

jornada excessiva. (ALVES, 2007).

Portanto para SANTOS (2013, p. 114), sobre o agronegócio canavieiro,

A conseqüência intrínseca desse processo trágico de

expansão e modernização é a intensificação e a reprodução

contínua de formas degradantes de exploração do trabalho,

a que vem colocando em risco a vida de centenas de

milhares de trabalhadores no interior dos canaviais.

Outra questão importante referente à expansão do setor sucroalcooleiro é o

processo de internacionalização pela qual a agroindústria canavieira. Essa vem

ocorrendo de forma profunda e acelerada passando desde 2000, em decorrência da

inserção do capital estrangeiro no setor (BENETTI 2008). Nesse sentido, o que se

observa é uma tendência à centralização, concentração e desnacionalização das cadeias

produtivas do agronegócio brasileiro no período recente de inserção do Brasil na

economia mundial a exemplo do setor canavieiro.

Vem ocorrendo uma mudança na lógica da acumulação, através da atuação

desregulamentada das usinas sucroalcooleiras, pois estas deixam de ser unidade chave

do complexo, transferindo para as filiais das transnacionais instaladas no Brasil.

(GONÇALVES, 2005). Com isso emergem novos elementos e novas características, na

dinâmica do setor tais como,

[...] adoção de inovações nos sistemas logísticos para transferência de cana-de-açúcar do campo; mecanização do plantio e corta da cana-de-

açúcar; automação no controle de processos industriais; busca de

uniformidade do produto principalmente na produção de açúcar com qualidade; aumento da produtividade industrial da capacidade

instalada, diferenciação de produtos (açúcar liquido, invertido, acido

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nítrico, leveduras, rações e energia elétrica); alteração nas relações a montante e a jusante implicando em perdas aos atores sociais com

menor pode de barganha (GONÇALVES, 2005, p. 94).

Com as mudanças institucionais, o intenso protecionismo estatal (estado

regulador da economia), vai perdendo força para o mercado (processo caracterizado de

desregulamentação da economia) acarretando uma maior abertura comercial e o

movimento de compra de muitas empresas brasileiras por grupos multinacionais, e de

ações como fusões e aquisições dentre as empresas e setores.

Em decorrência das mudanças que marcam a economia brasileira, nos

anos 1990, desregulamentação e a internacionalização da economia,

empresas e setores passam a adotar uma série de estratégias em busca de ampliação de competitividade, visando, ampliação de mercado,

diferenciação de produtos e incorporação de inovações. Intensificam-

se os processos de fusão e aquisição, que ocorrem não apenas no setor

industrial, mas também atingem diversos segmentos da agroindústria. (BORGES; COSTA, 2009, p.1)

Um dos segmentos que vem sendo submetido a esse processo é o setor

sucroalcooleiro. Sobre os elementos que conduzem a internacionalização e a processos

de fusão e aquisição BORGES; COSTA (2009, p.12) destacam,

Os fatores que estimularam as fusões e aquisições, no setor

sucroalcooleiro estão relacionados à dinâmica positiva do setor, pós-

desregulamentação, à busca por combustível limpo, à possibilidade de ampliação do mercado externo de açúcar (pós-vitória na OMC), à

consolidação em uma região, ao alto endividamento das usinas e à

eficiência apresentada por esse setor, decorrente de incorporação de tecnologia, da produtividade e do custo dos fatores essenciais a essa

atividade.

As usinas sucroalcooleiras, tradicionalmente gerenciadas por famílias que

trabalham na atividade há muitos anos, vão tornando-se alvo de grupos de capital

internacional. Com isso há um fortalecimento e melhor acesso a tecnologia, pois

aumentam o capital financeiro disponível para o investimento no parque industrial

(aumentando a capacidade de moagem da cana-de-açúcar, número de máquinas

disponível para a colheita), as parcerias com os arrendatários e fornecedores de matéria-

prima, investimentos em melhoria genética visando à maior produtividade por hectares.

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Nesse contexto, a internacionalização e as fusões e aquisições acometerem o

setor sucroalcooleiro, com isso emerge um novo e importante ator na dinâmica deste

setor, o capital estrangeiro.

2. TERRITORIALIZAÇÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR E EXPANSÃO DO SETOR

SUCROALCOOLEIRO NO SUL/SUDOESTE DE MINAS GERAIS

Conforme já mencionado, a mesorregião do Sul/Sudoeste de Minas Gerais vem

tornando-se um novo território da cana-de-açúcar (pequena expansão se comparada ao

Triângulo Mineiro/Alto Parnaíba mesorregião líder em produção da matéria-prima),

com o avanço do cultivo (expansão da área agrícola e quantidade produzida) acoplado

ao processo de modernização, via adição de novos maquinários e melhoramento

genético. A partir disso há um processo de (re) arranjo das bases agrícola e de

transformação nas cadeias produtivas, em que outras culturas (antes tradicionais da

região) deixam de ser produzida para dar lugar à produção de cana-de-açúcar.

Acerca dessa expansão Silveira; Silva; Castanho (2012) destacam, além da

citada proximidade com a divisa do Estado de São Paulo, também a questão dos

aspectos físicos (clima e relevo) da mesorregião Sul/Sudoeste de Minas, que são muito

semelhantes aos paulistas, bem como a interligação entre os processos históricos de

formação territorial dos dois estados, por conta de seu desenvolvimento econômico ter

ocorrido via processos migratórios da região norte do estado paulista.

Portanto, os autores referidos mostraram em sua pesquisa que a área destinada à

produção sucroalcooleira na mesorregião cresceu nos últimos anos, tendo em vista

principalmente série de fatores, entre eles destacam-se os incentivos governamentais, a

fertilidade dos solos e a oferta de mão de obra para essa atividade.

Essa afirmativa pode ser comprovada a partir dos dados do gráfico 1, que mostra

que após a safra 2005/2006 esse crescimento se faz presente na mesorregião, pois a área

cultivada da cana-de-açúcar dobrou entre essa safra e a de 2011/2012.

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Gráfico 1: Área cultivada com cana-de-açúcar na mesorregião geográfica do Sul/Sudoeste de

Minas Gerais em hectares.

Fonte: Elaborado pela UNICA a partir de dados do CANASAT (2013) e organizado por Fagundes (2013).

Mais especificamente nos municípios estudados nesse trabalho, a expansão da

cana-de-açúcar vem se acentuando gradativamente.

O município de Monte Belo, possui população total de 13.061 habitantes, sendo

9.058 urbanos (69%) e 4.003 rurais (31%) e uma área de 421 km² (IBGE, 2010). Em

termos agrícolas o destaque é para o cultivo de café no quadro de culturas permanentes,

seguido da fruticultura da banana e para a cana-de-açúcar no quadro de culturas

temporárias, seguido do milho, feijão e arroz, segundo a variável área colhida,

considerando aquelas que se apresentaram em todas as safras do recorte-temporal

utilizado (quadro 1).

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Gráfico 2: Área plantada (em hectares), das principais culturas agrícolas temporárias e

permanentes do município de Monte Belo nas safras 2000 a 2012

Fonte: IBGE - Banco de dados do SIDRA (Valor da produção -Produção Agrícola

Municipal) e organizado por Fagundes (2013).

O município de Passos tem uma população de 106.290 habitantes (IBGE, 2010),

sendo 100.866 urbanos (95 %) e 5.447 rurais (5%). Os setores de serviços (confecções e

saúde) e comércio comandam a economia do município. Sobre a produção agrícola o

principal cultura é a cana-de-açúcar (maior representatividade em área plantada no

espaço tempo de 2000 a 2012), seguido pelo milho. O café (enquadrado na lavoura

permanente) mesmo sendo o principal e tradicional cultivo agrícola da mesorregião do

Sul/Sudoeste de Minas não apresenta números significativos na variável área plantada

nas proximidades do município de Passos.

Gráfico 3: Área plantada (em hectares), das principais culturas agrícolas temporárias e

permanentes do município Passos nas safras 2000 a 2012.

Fonte: IBGE- Banco de dados do SIDRA (Valor da produção -Produção Agrícola

Municipal e organizado por Fagundes (2013).

2.1. O papel das usinas sucroalcooleiras nos municípios estudados

O aumento na área plantada da cultura da cana-de-açúcar na mesorregião e, nos

alguns municípios em estudo advém da necessidade de abastecer as usinas em estudo,

existentes na mesorregião, (tabela 3). Essas usinas arrendam terras dos agricultores da

mesorregião para garantir sua matéria-prima.

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Quadro 1: Unidades produtoras de açúcar e álcool em estudo no Sul/ Sudoeste de

Minas Gerais.

MUNICÍPIO RAZÃO SOCIAL GRUPO INÍCIO PRODUÇÃO

Monte Belo Usina Monte Alegre

Ltda.

ADECOAGRO 1933 Mista: Açúcar,

álcool e bioenergia.

Passos Usina Açucareira

Passos

ITAIQUARA 1909 Mista: Açúcar,

álcool, bioenergia e

fermento biológico.

Fonte: UDOP (2011); SIAMIG (2009) e organizado por Fagundes (2013).

Conforme já mencionado, a presença das usinas sucroalcooleiras nos municípios de

Monte Belo e Passos vem contribuindo para a expansão do setor, o que não significa

que as consequências sejam apenas positivas como poderemos comprovar em cada caso

específico.

Usina Monte Alegre

A usina Monte Alegre pertencente ao grupo multinacional Adecoagro, está

localizada na zona rural do município Monte Belo. O grupo Adecoagro é uma

multinacional que atua em países como Brasil, Argentina e Uruguai com produção de

alimentos como grãos, café, leite, arroz, açúcar, energia elétrica e tem produtos próprios

no mercado tais como o Açúcar Monte Alegre (fabricado na também na própria Usina

Monte Alegre).

Convém ressaltar que as informações que apresentaremos sobre a usina foram

obtidas por meio de entrevista com um de seus representantes, do cargo da gerência

industrial.

O cultivo e a produção de cana-de-açúcar iniciaram no município em 1933, com

a família Vieira (Jorge Vieira dono da antiga Fazenda Monte Alegre), que anteriormente

dedicavam-se ao cultivo do café. A primeira moenda foi criada em 1950 e a constituição

da usina foi posteriormente no ano de 1953. No início ela se dedicava à produção de

aguardente, rapadura e açúcar mascavo. A produção do álcool foi alavancada no período

do Proálcool como alternativa econômica que prosperou. Em 2006, houve abertura a

participação do capital internacional, com a compra da Usina Monte Alegre pelo grupo

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Adecoagro (figura 1).

Foto 1: Entrada da Usina Monte Alegre, em destaque nomenclatura do Grupo Multinacional

Adecoagro, atual responsável pela gerenciamento da usina.

Fonte: Fagundes (2013).

No período de 2006 a 2008, que correspondeu à fase de aquisição da usina pelo

referido grupo, ocorreu à expansão da produção de cana-de-açúcar não apenas em

Monte Belo, mas também nos municípios vizinhos (Areado, Divisa Nova, Alfenas) e

outros mais distantes do Sul/ Sudoeste de Minas Gerais, como Carmo do Rio do Rio

Claro. A partir disso, os investimentos foram maiores, aumentando a capacidade de

moagem, processamento e beneficiamento da matéria-prima na usina, além da

ampliação de acordos com fornecedores e arrendatários.

Em 2013, a usina Monte Alegre tem sua produção baseada em açúcar, etanol e

energia elétrica (60 % de açúcar Cristal e 40 % e etanol hidratado). Exporta-se o açúcar

Cristal (Monte Alegre) branco e VHP (açúcar bruto).

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Foto 2: Parque industrial da usina Monte Alegre.

Fonte: Ana Rute do Vale (2012).

Sobre a produção de energia elétrica (bioeletricidade), 3esta se destina para o

consumo interno pela indústria quanto para a comercialização com as Centrais

Energéticas Estaduais, (setor canavieiro, setor sucroenergético). Atualmente a Monte

Alegre é autossuficiente em energia elétrica o que produz, consome e vende não

necessitando por sua vez de adquirir energia de outras centrais.

Como confirmação dessa expansão da cana-de-açúcar no Sul/Sudoeste de Minas

o sistema de aquisição de terra para este cultivo é voltado para o arrendamento. As

usinas canavieiras não compram terras, em sua maioria utilizam o sistema de aluguel de

terras (contrato envolvendo cinco ou seis anos com de pagamento anual), o que totaliza

cerca de 15.000 hectares de área plantada. Essas terras são escolhidas a partir da

localização, acesso e topografia. Quando opta por alugar terras em lugares distantes

priorizam-se grandes extensões, áreas com muitos hectares disponíveis e com um

terreno menos acidentado que possa ser mecanizado. De propriedade da Usina Monte

3 A bioeletricidade é a geração de energia elétrica através do bagaço e da palha da cana-de-açúcar. Antes

era um subproduto descartado, atualmente tornou-se reutilizado como matéria-prima (transformação da

biomassa em energia elétrica) para abastecer o parque industrial das usinas (maquinas, caldeiras) e em

alguns casos comercializados com as centrais energéticas.

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Alegre pertencem apenas às terras onde se encontra a instalação industrial e as áreas do

entorno pertencentes aos antigos proprietários.

Vale ressaltar que essa é uma estratégia utilizada pelos grupos internacionais que

comandam a grande maioria de usinas sucroalcooleiras no Brasil, visando à mobilidade,

o menor enraizamento e mínimo envolvimento com os municípios. Os interesses

financeiros são levados em consideração no momento da escolha para instalar as filiais

dessas usinas, ou seja, lugares onde há incentivos e subsídios por parte de prefeituras

municipais. Se, todavia, surgir à possibilidade de deslocamento para outro município,

estado ou região onde esses incentivos são melhores, elas o fazem com maior facilidade

do que se fossem donos das terras.

Sobre essa questão do menor enraizamento das grandes empresas com os

municípios em que se instalam e sua estratégia de mobilidade, Haesbert (2004, p. 15)

destaca:

O argumento de empresa desterritorializada gira em torno de uma

produção apoiada pelas técnicas da informação e comunicação e pela automação no processo de fabricação, fatores que não eliminam o fato

dos produtos terem que chegar e sair da fábrica, bem como os

funcionários, mesmo que sejam poucos. Por isso, esta "nova" fábrica vai se apoiar basicamente na logística como um elemento de destaque,

que não deixa de ser uma forma específica de apropriação do

território.

Em termos de políticas ambientais, a usina Monte Alegre adota projetos como a

implantação de viveiro de mudas (como a espécie arbórea Ipê), além do tratamento da

água e reaproveitamento da matéria-prima, o bagaço da cana-de-açúcar para cogeração

de energia. Atualmente a Usina Monte Alegre, é auto-suficiente em energia elétrica, ou

seja, sua produção é utilizada no seu parque industrial e o restante vendido para a

Central Energética do Estado de Minas Gerais (CEMIG). Sua produção está em torno de

12 a 13 megabytes e comercializa para a CEMIG entre 8 a10 megabytes.

Há também programas de responsabilidade social como parcerias com hospitais,

Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), asilo e outras entidades do

município de Monte Belo.

No que se refere às relações de trabalho do setor sucroalcooleiro no município, o

representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Assalariados e Agricultor Familiar

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de Monte Belo nos informaram que a mão de obra da lavoura destinada ao corte da

cana, é temporária e originária da região Norte de Minas Gerais. No período da safra

que tem duração nos meses de abril a dezembro eles permanecem no alojamento

pertencente à Usina Monte Alegre localizado a cerca de 2 km da mesma. Os

alojamentos são “Boa Vista” que não está mais em funcionamento e “Muqueca” que

está em funcionamento e que abriga estes trabalhadores durante a época da colheita.

Uma questão intrigante acerca dos alojamentos sempre nos remete as suas

condições básicas para abrigar esses dos trabalhadores, já que banheiros, refeitórios,

dormitórios e lugares para armazenamentos dos condimentos alimentares sempre são

alvos de fiscalização. Se comparado aos alojamentos nas sedes de grandes fazendas de

café que são comuns no Sul/Sudoeste de Minas no período da colheita a fiscalização é

mais intensa nos referentes ao cultivo da cana-de-açúcar. Isso se explica pelo fato de

que, segundo o representante do sindicato a usina tem cumprido as leis mantendo os

alojamentos em boas condições, sendo possível contatá-las em visitas realizadas por

eles e em conversa com os migrantes por sua vez não reclamam das condições dos

alojamentos.

A atividade sucroenergética gera empregos diretos na economia da região. Para o

setor agrícola os trabalhadores vêm do município de Monte Belo e para o setor

industrial e administrativo eles são do município de Areado. Segundo o sindicato, a

prefeitura municipal de Areado aproxima-se mais da usina Monte Alegre do que a

prefeitura de Monte Belo.

No total são cerca de 2000 funcionários contratados pela na usina Monte Alegre,

atualmente, que trabalham na área agrícola (preparo da terra, cultivo, corte, transporte),

administração, indústria. Segundo informações da usina Monte Alegre a jornada de

trabalhos dos empregados fixos da usina totalizam 44 horas semanais com três jornadas

(6:00 -15:00; 15:00-23:45 e 23:45- 6:00 e o horário administrativo por sua vez é

compreendido das 7:00 as 17:00).

Uma informação importante diz respeito a compra da usina Monte Alegre pelo

grupo Adecoagro houve uma redução dos empregos braçais, mas por outro lado

aumentaram os investimentos e compras de equipamentos e maquinários agrícolas. Na

realidade, a usina tem buscado cada vez mais mecanizar o corte da cana e reduzir as

queimadas, procurando terrenos mais planos para o plantio. Entretanto, isso tem

provocado o aumento nas taxas de desemprego agrícola na região. Para se ter uma idéia

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de acordo com o representante do em 2009, eram 509 trabalhadores no setor do corte da

cana-de-açúcar, sendo que em 2010 caiu para 380, em 2011 para 222, em 2012 para 120

e em 2013 para apenas 127.

Sobre o processo de mecanização e suas implicações, o representante do

Sindicato nos relatou:

Com a mecanização só permanecem os trabalhadores considerados mais resistentes, os que menos reclamam e mais produzem, “são

catados a dedo”. Cada máquina da colheita desemprega 90

trabalhadores e a usina Monte Alegre conta com oito máquinas, na safra 2013/14. Deveria haver mais parcerias da usina com a prefeitura,

para qualificação dos trabalhadores da lavoura para serem operadores

de máquinas.

Além disso, a consolidação do grupo Adecoagro no comando da usina Monte

Alegre mudou a estrutura fundiária e produtiva do município e dos municípios

próximos, dinâmica denominado de reestruturação produtiva. Acerca desta questão o

representante do Sindicato destaca como mudanças:

Com a expansão da cana-de-açúcar o agricultor familiar sai da roça

vem para a cidade e arrenda a terra, aluga com essa ilusão. O contrato de arrendamento é de seis anos. A usina prefere arrendar a comprar

terras. Alguns cafezais estão sendo substituídos pela plantação de

cana. Onde a cana expande vira “deserto”, não há como plantar depois. Depois que arrenda a terra e acaba o contrato o solo está

compactado demais, compensaria colocar dois bezerros e produzir

leite neste período.

Nas rodovias próximas a Usina Monte Alegre é notório na paisagem o cultivo de

cana-de-açúcar, sendo muitos hectares de produção arrendados para a Usina. A foto (3)

mostra em um recorte a transição do cultivo de café (principal cultura agrícola do

Sul/Sudoeste de Minas Gerais) ao lado da cultura agrícola da cana-de-açúcar, mostrando

que a consolidação da Usina na região acarreta um reordenamento das práticas

agrícolas, em razão de necessidade de fornecedores, arrendatários que alugam suas

terras para a Usina que fica responsável pelo plantio e manejos durante o contrato de

tempo.

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Foto 3: Transição do café e cana-de-açúcar, principais cultivos agrícolas da mesorregião

geográfica do Sul/Sudoeste de Minas Gerais, próximo à usina Monte Alegre no município de

Monte Belo.

Fonte: Fagundes (2013).

Portanto, acerca do sistema de arrendamento comum, nas estratégias de atuação

das agroindústrias canavieiras, as dificuldades e problemas desse processo são

percebidos em longo prazo quando ao final do contrato o agricultor que arrendou suas

terras, resolve plantar outras culturas agrícolas e a qualidade do no solo não é a mesma

apresentada anteriormente devido a processos de exaustão e compactação ocorridos

durante os anos anteriores de cultivo da cana-de-açúcar. Além disso, na visão do

representante do sindicato, a presença de usinas no município tende a tornar esse

agricultor familiar mais “acomodado”, pois prefere receber o dinheiro do arrendamento

a se arriscar no cultivo da terra, diante da instabilidade dos preços agrícolas no mercado.

Usina Açucareira Passos

A unidade da usina Açucareira Passos, localizada na Rodovia João Batista

Glória Distrito Industrial do município de Passos, é uma usina antiga fundada no ano de

1909 com sua produção voltada no início a fabricação de açúcar, e fermento biológico.

A produção de álcool (consolidação da destilaria) é recente, no ano de 2010 e

bioeletricidade (advinda do bagaço da cana-de-açúcar) destinada para abastecer o

parque industrial da usina.

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Foto 4: Lavoura de cana-de-açúcar próxima a Usina Açucareira Passos.

Fonte: Fagundes (2013).

O grupo Itaiquara Alimentos, de capital nacional, comanda atualmente a usina

em conjunto com a usina Itaiquara de Açúcar e Álcool S/A, localizada em Itapiratiba

(município paulista limítrofe com o estado de Minas Gerais), sendo esta usina a sede e a

Usina Açucareira Passos a filial. Não houve abertura ao capital estrangeiro, apenas

negociações com a Trading de Singapura Olam International.4

Em termos trabalhistas, segundo informações do representante da usina, os

funcionários fixos são originários em sua maioria de Passos e da região, sendo 300 do

setor rural e os outros do setor administrativo e da produção industrial. Na lavoura a

colheita da cana-de-açúcar é em sua maioria mecanizada (81 %) e apenas 19 % manual

(mão-de-obra da região). Os trabalhadores temporários que em safras anteriores eram

contratados para a colheita manual não vinham de outras regiões (como são em sua

maioria nas outras Usinas que contratam migrantes do Norte de Minas Gerais ou de

outros estados), mas eram de municípios vizinhos a Passos (Pratápolis, Fortaleza de

Minas, Alpinópolis, São João Batista do Glória e Delfinópolis), não existindo por sua

vez alojamentos que atenderiam essa mão-de-obra distante.

Em decorrência das condições planas do relevo (áreas menos íngremes com

máximo 17 % de declividade) e de uma política de fim das queimadas, favorecendo a

4 O grupo Olam International é um fornecedor internacional integrado de produtos agrícolas brutos e

processado. Líder global na gestão da cadeia de fornecimento de produtos agrícolas e ingredientes

alimentares. Com uma presença direta em mais de 65 países com originação e

processamento na maioria dos principais países produtores .

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política da mecanização, a usina vem intensificando o corte por maquinas colhedeiras,

com novas aquisições na ultima safra. Com isso, a usina possui 11 máquinas próprias, e

conta com mais 4, sendo 2 de fornecedores (do município de Delfinópolis) e 2

terceirizadas (prestadores de serviços).

Sobre o manejo ambiental, em razão do parque industrial da usina Açucareira

Passos, localizado próximo do Lago de Furnas (município São João Batista do Glória),

há APPs (área de preservação permanente, como topos de morro, nascentes,) reserva

legal, reflorestamento com cerca de 30 hectares de mudas formando um horto com

espécies como: Tamburiu, goiaba roxa, arueira, balsamo, cedro, pitanga, guarita, angá,

guarita.

Foto 5: Horto pertencente à Usina Açucareira Passos localizado em uma antiga colônia da

época áurea do café.

Fonte: Fagundes (2013).

Visando fornecer matéria-prima para processamento na agroindústria açucareira

de Passos, houve uma expansão da área plantada de cana-de-açúcar no próprio

município, conforme dados do IBGE (2000) sobre a produção agrícola municipal. Por

sua vez a expansão ocorre também nos municípios próximos da região sobre a listagem

de fazendas, em sua maioria arrendadas destinadas ao plantio da cana-de-açúcar no

espaço temporal de 2004 a 2013.

A agroindústria utiliza a estratégia de arrendamentos com contratos de 5 anos

com dois tipos de acordo, aluguel (de terras por hectares em toneladas, usina

responsável por plantar e colher) e parceria (fazendas grandes entram com percentual,

meeiro, terras, metade de adubo e agrotóxicos e a usina com o restante).

Sobre o assunto, segundo o representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais

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de Passos,

Os produtores são atraídos pelo sistema, não precisa de mão-de-obra,

é cômodo, mas eles não estão pagando o povo que arrenda. O que eu acho e que a câmara municipal deveria fazer um projeto de lei

limitando a área para a cana plantada no município, pois nós temos

outros cultivos agrícolas e se deixarem vão plantar cana-de-açúcar ate

na porta de casa.

Na condição de antigo cortador de cana-de-açúcar o citado representante do

sindicato assinala o quadro atual do setor e do novo rural,

É muito difícil hoje o jovem, por exemplo, ir trabalhar no corte de

cana-de-açúcar, ele já não quer mais, no campo, na roça, muito difícil.

A gente queria que a qualificação da mão-de-obra fosse diferente, que o pessoal trabalhasse e fosse pago por dia e não por produção (média

paga baixa). Pois a desavença que há entre trabalhadores, entre o

corpo dele, seu dia-a-dia, que o corte de cana por seu penoso então o sujeito que trabalha na empreita mais a empresa ganha, ele perdem

qualidade de vida.

O que vem ocorrendo na atualidade por sua vez é o desinteresse das novas gerações

com as atividades rurais, em sua maioria permanecem no campo em razões de enraizamento

cultural as pessoas mais velhas. Sobre a política do sistema de arrendamento este vem iludindo

muitos agricultores em decorrência da comodidade desencadeada com o aluguel de suas terras

para a Usina. Entretanto se este agricultor que arrenda suas terras para a Usina e recebe um

salário fixo por safra, tornar-se um fornecedor, ou seja, plantasse em duas terras cana-de-açúcar

para assim vender sua produção para as usinas, o retorno financeiro seria melhor.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em termos agrícolas no Sul/ Sudoeste de Minas Gerais o principal cultivo ainda é o

café (tipo arábica) responsável pela renda agrícola de vários municípios inseridos na

mesorregião. Entretanto a agricultura canavieira se expande de forma estratégica, em

sua maioria nas áreas próximas às unidades de açúcar e álcool e outros municípios

próximos que se tornaram fornecedores das usinas.

As agroindústrias canavieiras do Sul/Sudoeste de Minas Gerais foram implantadas

em diferentes temporalidades, por sua vez nos últimos anos algumas vem se

modernizando (aumentando a capacidade de produção e moagem) em decorrência da

ascensão dos derivados cana-de-açúcar (etanol, açúcar e energia elétrica) no mercado

nacional e internacional.

Nos municípios sedes destas unidades de processamento de açúcar e álcool há um

direcionamento da produção agrícola e da mão-de-obra para o setor sucroalcooleiro.

Isso pode ser analisado nos municípios de Monte Belo e Passos. Configura-se com a

consolidação do setor canavieiro no espaço rural destes municípios, um sistema de

plantio e colheita singular, diferenciado, do adotado pelas tradicionais atividades que

envolviam a agricultura cafeeira e a pecuária leiteira na mesorregião em estudo. Além

disso, são desencadeados novos temas característicos do setor sucroalcooleiro como: os

problemas e leis que envolvem a questão ambiental (acerca das queimadas e do uso dos

solos), relações trabalhistas (aumento da mecanização da colheita em detrimento do

trabalho manual), questão de arrendamentos, e contrato com outros fornecedores.

Foi possível identificar que uma das estratégias das usinas de cana-de-açúcar, é a

adoção do sistema de arrendamento em que estas realizam um acordo em torno de cinco

anos, com pagamento anual (por safra) e são responsáveis pelo plantio, colheita e

transporte da cana-de-açúcar até o parque industrial das agroindústrias para futuro

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beneficiamento. Há também uma espacialização tendenciosa na qual os grandes grupos

corporativos, principalmente do capital internacional vão adquirindo pequenas usinas e

destilarias e expandindo sua cadeia produtiva através de diversas cidades ascendendo

seus investimentos e levando a lucros crescentes.

Vem ocorrendo, por sua vez o processo de reestruturação produtiva com

destaque a substituição no campo de áreas que antes, eram ocupadas pela pecuária

leiteira e policultura alimentar que estão sendo transformadas em espaços arrendados

para o plantio de cana-de-açúcar.

Desse modo, há perspectivas de crescimento para a cana-de-açúcar na

mesorregião do Sul/Sudoeste de Minas Gerais com expansão das áreas de cultivo que

são confirmadas com a presença das agroindústrias canavieiras, ou seja, uma expansão

estratégica, novos territórios principalmente nas áreas próximas às usinas canavieiras.

Mesmo a expansão agrícola, industrial, acarretando ascensão econômica das

agroindústrias às condições dos trabalhadores rurais, na lavoura e principalmente no

corte é desumana (trabalho excessivo) e não sendo qualquer pessoa sujeita a destinar

seu trabalho neste setor. A mecanização avança no campo, mas o que resta da mão-de-

obra ainda continua superexplorada e recebendo salários que não são dignos as

condições e aos esforços executados.

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APÊNDICES:

Apêndice 1: Roteiro da entrevista com representantes das Usinas Monte Alegre e

Açucareira Passos

1. Quando a usina iniciou suas atividades no município? Quem eram os

proprietários? Quais os motivos de sua implantação?

2. Que mudanças ocorreram desde então? Houve abertura de capital? Que grupo

comanda a empresa hoje?

3. Que tipo de atividade a usina desenvolve nessa unidade?

4. Qual a importância da presença de uma usina sucroalcooleira para o município

de...

5. De que forma a usina adquire matéria-prima para processamento? Tem produção

própria? Que municípios arrendam terra para a usina?

6. Qual é o número de estabelecimentos rurais que a usina arrenda? (pode ser em

hectares). Esse número tem crescido nos últimos anos?

7. A cultura da cana gera muitos empregos para o município? Qual seria

aproximadamente o número de empregos fixos e temporários da usina? Qual a

origem deles?

8. A colheita da cana no município é mecanizada? O que o senhor pensa sobre

isso? (melhor máquinas ou queima da cana)

9. Como é feita a contratação dessa mão-de-obra volante? Onde eles ficam alojados

durante a colheita?

10. Como é tratada a questão trabalhista pela usina? Como é sua relação como

sindicato?

11. Como é tratada a questão ambiental pela usina? Quais as medidas tomadas para

reduzir os impactos ambientais?

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12. Na sua opinião, quais são as perspectivas futuras para a expansão da cana-de-

açúcar no Sul de Minas e no Brasil? Em que a usina pode contribuir nesse

processo?

Apêndice 2: Roteiro da entrevista com representantes do Sindicato dos

Trabalhadores Rurais dos municípios de Monte Belo e Passos.

1. Quando começou a ocorrer a expansão da cana-de-açúcar no município, e por

quê?

2. Qual a importância da presença de uma usina sucroalcooleira para o município

de...

3. A cultura da cana gera muitos empregos para o município? Chegou a causar

migração de trabalhadores rurais? De onde eles vêm?

4. A colheita da cana no município é mecanizada? O que o senhor pensa sobre

isso? (melhor máquinas ou queima da cana)

5. Como é feita a contratação dessa mão-de-obra volante? Onde eles ficam alojados

durante a colheita? Como são esses alojamentos?

6. Como são as condições de trabalho na cana? Há diferenças entre trabalhadores

fixos e temporários?

7. O que o sindicato tem feito para melhorar essa situação?

8. Os trabalhadores da usina são sindicalizados?

9. O senhor considera que a expansão da cana no município gerou mais benefícios

que malefícios para os trabalhadores rurais? Por quê?

10. Na sua opinião, quais são as perspectivas futuras para o trabalhador do setor

sucroalcooleiro no município e no Brasil?