a evolucão do ensino médio no brasil

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1 EVOLUÇÃO DO ENSINO MÉDIO NO BRASIL Cintia Marques de Queiroz Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Lidiane Aparecida Alves Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Renata Rodrigues da Silva Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Kássia Nunes da Silva Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Ricardo Veiga Modesto Graduando em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Introdução Partindo da necessidade de se compreender a estrutura educacional brasileira, o presente texto busca discorrer sobre a estrutura e funcionamento do Ensino Médio e Profissionalizante nacional visando desmistificar seu entendimento, colocando em análise as resoluções legais e as propostas das Leis de Diretrizes Básicas da educação brasileira, confrontandoas sempre que possível com a realidade. Podese dizer que, desde seus primórdios, o ensino brasileiro sempre esteve pautado em bases históricas elitistas, cujo entendimento é fundamental para a compreensão das formas assumidas pela educação básica brasileira contemporânea. Neste sentido, a realidade atual da educação básica brasileira faz necessário a emergência de uma nova valorização, não necessariamente no plano legal – visto que, como será tratado mais adiante, o maior impasse ao desenvolvimento social brasileiro encontrase na aplicação das leis já existentes, e não na elaboração destas leis – por parte de toda sociedade, no sentido de pressionar e fomentar ações que permitam a disponibilização de um ensino de qualidade em âmbito nacional. Com efeito, este trabalho realizará uma análise da configuração dos ensinos médio e profissionalizante brasileiro, passando por um breve relato histórico de seus estabelecimentos, suas estruturas atuais e perspectivas para o futuro, buscando sempre

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Descreve a evolução do ensino no Brasil, um norte para os escritores.

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    EVOLUODOENSINOMDIONOBRASIL

    CintiaMarquesdeQueirozGraduandaemGeografiapelaUniversidadeFederaldeUberlndiacintia_kamatari@hotmail.com

    LidianeAparecidaAlvesGraduandaemGeografiapelaUniversidadeFederaldeUberlndialidianeaa@yahoo.com.br

    RenataRodriguesdaSilvaGraduandaemGeografiapelaUniversidadeFederaldeUberlndiarenatadageo@yahoo.com.br

    KssiaNunesdaSilvaGraduandaemGeografiapelaUniversidadeFederaldeUberlndiakassianunesdageo@yahoo.com.br

    RicardoVeigaModestoGraduandoemGeografiapelaUniversidadeFederaldeUberlndiaricardo_testa@yahoo.com.br

    Introduo

    Partindo da necessidade de se compreender a estrutura educacional brasileira, o

    presente texto busca discorrer sobre a estrutura e funcionamento doEnsinoMdio e

    Profissionalizante nacional visando desmistificar seu entendimento, colocando em

    anliseasresolueslegaiseaspropostasdasLeisdeDiretrizesBsicasdaeducao

    brasileira,confrontandoassemprequepossvelcomarealidade.

    Podese dizer que, desde seus primrdios, o ensino brasileiro sempre esteve

    pautado em bases histricas elitistas, cujo entendimento fundamental para a

    compreenso das formas assumidas pela educao bsica brasileira contempornea.

    Neste sentido, a realidade atual da educao bsica brasileira faz necessrio a

    emergnciadeumanovavalorizao,nonecessariamentenoplanolegalvistoque,

    comoser tratadomaisadiante,omaior impasseaodesenvolvimento socialbrasileiro

    encontrase na aplicao das leis j existentes, e no na elaborao destas leis por

    parte de toda sociedade, no sentido de pressionar e fomentar aes que permitam a

    disponibilizaodeumensinodequalidadeemmbitonacional.

    Comefeito,estetrabalhorealizarumaanlisedaconfiguraodosensinosmdio

    e profissionalizante brasileiro, passando por um breve relato histrico de seus

    estabelecimentos,suasestruturasatuaiseperspectivasparaofuturo,buscandosempre

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    quepossvel,confrontarosdadostericoscomarealidadeenfrentadaemsaladeaula,

    cotidianamente,poralunoseprofessores.

    OEnsinoMdionoBrasil:UmaPerspectivaHistr ica

    OEnsinoMdiofoi institudonoBrasilpelosjesutasaindanoperodocolonial,

    estandosobaresponsabilidadedosmesmosdosculoXVIatosculoXVIII,umavez

    queoreinoportugusnocusteavaoensinonacolnia.DessaformaoensinoMdio

    neste perodo encontravase muito ligado aos preceitos religiosos, em especial do

    catolicismo. Esta ligao com a religio, dava ao ensino um carter mnemnico e

    repetitivo, bem como uma rigidez disciplinar e favorecia o ensino de disciplinas

    voltadasticareligiosa.Esta ligaotambmdavaaomodelodeeducaobrasileiro

    ummecanismoamplodereproduosocial,vistoqueapenasumaminoria,pertencente

    elite,tinhaacessoaosistemaeducacionalsecundrio.

    Oensinobrasileiroesteveligadoaosjesutasat1759,dataquemarcaaexpulso

    destes da colnia pelo rei de Portugal, quando o modelo de ensino oferecido pelos

    religiososjnoatendiaaosinteressesdametrpole.Emsuasubstituio,originaram

    seasaulasrgias,ministradasporprofessoresindicados,comcompetnciaquestionada,

    mas que atendiam aos interesses polticos do perodo. Esses professores possuam

    cargosvitalciosereproduziamosantigosmtodosutilizadospelosjesutas,devidoao

    fatodeteremsidoformadosnessesistemaeducacional.Onmerodeprofessores,que

    substituramosjesutas,eralimitado,comoconseqnciadalimitadadisponibilidadede

    recursosfinanceirosdestinadosaeducaonacolniaportuguesa.

    A despeitodestasmudanas no ensino brasileiro, a educao ainda apresentava

    um carter seletivo e elitista, aja visto que seu principal objetivo sempre foi

    preparaodaclassemaisabastadaparaoingressonoensinosuperiorforadopasou

    noscursossuperioresqueestavamsendocriados,noinciodosculoXIX.Tambmno

    sculoXIX,dividiusearesponsabilidadenaofertadoensino,sendoqueasprovncias,

    atuaisEstados,eramresponsveispelooferecimentodoensinoprimrioesecundrio,e

    oensinosuperiorficandosobresponsabilidadedaCorte.

    At ento no havia no Brasil um rgo governamental responsvel

    exclusivamente pela educao. Foi apenas com a Revoluo de 1930, liderada por

    GetlioVargas, queocorreram transformaes aindamaiores no sistema educacional,

    sendo que uma das principais mudanas foi criao do Ministrio da Educao,

    comandada pelo ministro Francisco Campos. Em 1931 foi institudo o Decreto n

  • 3

    19.890complementadopeloDecreto/Lein4.244deabrilde1942,apartirdoqualfoi

    criadaaLeiOrgnicadoEnsinoSecundrio,quevigorouat1971.Deacordocomtal

    decreto, havia uma diviso entre ensino primrio e ensino secundrio. O ensino

    primrioeracompreendidoporquatroanos,joensinosecundriopossuaduraode

    seteanos,divididoemginsio,comquatroanosdedurao,ecolegial,comtrsanos.

    Paraoingressonoensinosecundrio,ginsio,eranecessrioaaprovaoemumexame

    deadmisso.

    Coma lei n5.692/71aestruturadoensino foi alterada,oginsioeoprimrio

    foramunificados,dandoorigemaoprimeirograucomoitoanosdedurao,equeantes

    era denominado colegial transformouse em segundo grau ainda com trs anos de

    durao.Aindadeacordocomessa lei, asescolasde segundograudeveriamgarantir

    uma qualificao profissional, fosse de nvel tcnico, quatro anos de durao, ou

    auxiliartcnico,trsanos.DeacordocomPINTO(2002),noentanto:

    Tudo indica que o objetivo por trs deste novo desenho do ensinomdio, dandolheum carter de terminalidade dos estudos, foi o dereduzir a demandapara o ensino superior e tentar aplacaro mpetodas manifestaes estudantis que exigiam mais vagas nasuniversidadespblicas.(pg55)

    Esta resoluo durou at 1982 e teve implicaes que sero discutidas

    posteriormente, mas que de muitas maneiras minou o ensino profissionalizante no

    Brasil,multiplicandooscursostcnicossemamanutenodesuaqualidadeoriginal.A

    redemocratizaobrasileiraeConstituioFederalde1988 redesenharama funoda

    escolaedoensinomdiobrasileiro,e introduziramnovasdiretrizesqueresultaramna

    consolidaodasLeisdeDiretrizesBsicasparaaEducao,de1996,transformaes

    que ampliaram a oferta do ensino mdio pblico, mas que infelizmente no foi

    acompanhadadaampliaodos recursosfinanceirosnecessriosparaesta extenso, e

    queprovocouumagrandequedanaqualidadedoensinopblicobrasileiro.

    OEnsinoMdio

    CompreendesecomoEnsinoMdioaetapafinaldaeducaobsica,quealmdo

    EnsinoMdioenglobaaEducaoInfantileoEnsinoFundamental,comoitoounove

    anos de durao. papel da educao bsica a garantia da formao comum

    indispensvelparaoexercciodacidadania,a todososbrasileiros,efornecimentodos

    meios para a progresso no trabalho e nos estudos posteriores. Dessa forma, os

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    principaisdocumentosquenorteiamaeducaobsicanoBrasil,so:LeideDiretrizes

    eBasesdaEducaoNacional(LDB)ePlanoNacionaldeEducao(PNE).

    A partir da dcadade1980, com a instituio da Constituio Federal de1988

    passaaserdeverdoEstadogarantiadofornecimentodoensinoMdiogratuitoatoda

    a populao,que atenda as exigncias necessrias para seudesenvolvimento,ou seja,

    quejtenhaconcludoasetapasdaeducaobsicaanterioresaoEnsinoMdio.Consta

    na redaooficial daConstituioFederal de1988 a seguintepassagem progressiva

    extenso da obrigatoriedade e gratuidade ao EnsinoMdio, ou seja, o Estado, num

    curto prazo de tempo, deveria garantir que todos os brasileiros cursassem o Ensino

    Mdio. J com o surgimento da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional

    LDB,Lein9.394/96,houveumaalteraonaredaooficialdaConstituiode1988,

    assim,deacordocomaLDBoEstadodeveriagarantiraprogressivauniversalizao

    doEnsinoMdiogratuito.Talalteraonessetextofoiresponsvelpelarestriodos

    direitosasseguradospelaCF,reduzindoaofertadoEnsinoMdioporpartedoEstado.

    Desse modo, o que rege a educao no Brasil, embora comprometa a extenso da

    gratuidadedaltimaetapadaeducaobsica aementaconstitucionalde1996,que

    sustentaaLDB.

    NoqueserefereaoPlanoNacionaldeEducao,Lein10.172/2001,observase

    queomesmovisagarantiroacessoaoEnsinoMdio,daquelesquetenhamconcludoo

    EnsinoFundamentalemidaderegular,apartirdoanodesuapromulgao(2001).

    A CF de 1988 no se restringe apenas garantia do acesso educao, mas

    tambmagarantiadaqualidadedoensino,dessemodo,deacordocomessedocumento

    emseuArtigo205objetivodaeducaonopasgarantiroplenodesenvolvimentoda

    pessoa,seupreparoparaoexercciodacidadaniaesuaqualificaoparaotrabalho.

    OEnsinoMdio,desdesuaorigem,sempreapresentouumadivisoentreaquele

    destinado a preparao para o ingresso no ensino superior, e aquele destinado ao

    mercadodetrabalho,ouseja,oensinoconstituasecomoummeioparaalcanaruma

    dessas finalidades, no sendo visto comoum fim,a formaobsica.Contudo, ainda

    observase,principalmentenaredeprivada,aocorrnciadaprimeirafunodoEnsino

    Mdio.

    Emdecorrnciadasinmerastransformaespelasqueopasvematravessando,

    no cenrio poltico, econmico e social, promovidas, dentre outros fatores, pelo

    processo de globalizao, fezse necessrio que tambm ocorressem mudanas

    relacionadaseducao.Mudaramseastcnicase tecnologias,bemcomoaestrutura

  • 5

    econmica vigente no Brasil. Desse modo, a funo do Ensino Mdio teve que ser

    revista, pois tornouse necessrio a formao geral, em detrimento a formao

    especifica. Uma vez que, para a insero no processo produtivo e parao alcance do

    desenvolvimentointelectual, naatualidade,fundamentaloconhecimentoeutilizao

    dos recursos tecnolgicos, alm da conscincia crtica, a capacidade de criar, a

    curiosidade, o hbito da pesquisa, dentre outros. Tornandose assim, invivel a

    manutenodoensinotradicional,quepriorizaamemorizao.

    Dessa forma, surgiu uma relaomaior entre educao e mercado de trabalho,

    sendopapeldaeducaobsicaapreparaonosparaomundodo trabalhocomo

    tambmpara aoperaodas novas tecnologias surgidas.Assim, a fimde prepararos

    jovensparaomercadodetrabalho,oMinistriodaEducao(2007)consideraque:

    a)osprocessosprodutivosdebens,servioseconhecimentoscomosquais oalunoserelacionanoseudia adia,bemcomoosprocessoscomosquaisse relacionarmaissistematicamentenasua formaoprofissionale b)arelaoentre teoriaeprtica,entendendocomoaprtica os processo produtivos, e como teoria, seus fundamentoscientficotecnolgicos.

    Desse modo, estabelecemse como finalidades do Ensino Mdio no Brasil, de

    acordocomArtigo35daLDB:

    Iaconsolidaoeoaprofundamentodosconhecimentosadquiridosnoensinofundamental,possibilitandoprosseguimentodosestudosIIapreparaobsicaparao trabalho ea cidadaniado educando,para continuar aprendendo, demodo a ser capaz de se adaptar comflexibilidade a novas condies de ocupao e aperfeioamentoposterioresIIIoaprimoramentodoeducandocomopessoahumana,incluindoaformao tica e o desenvolvimento da autonomia intelectual e dopensamentocriticoIV a compreenso dos fundamentos cientficotecnolgicos dosprocessosprodutivos, relacionandoateoriacomaprtica,noensinodecadadisciplina.

    EstruturaodoEnsinoMdionoBrasil

    OEnsinoMdioassimcomotodaaeducaobsicanopasdeveseguiracritrios

    enormascomunsatodososestabelecimentosligadosaeducao.Dentreessescritrios

    comunsdestacamseaorganizaoeestruturaocurricular.

    EmtodopasoEnsinoMdiodeveseroferecidoemumperodomnimodetrs

    anos,sendoque,emcadaanoacargahorriamnimadeveabrangercercade800horas,

  • 6

    distribudasem200diasdeefetivotrabalhoescolar.Exigncias sofeitastambmem

    relaofreqnciaescolar,assimparaaaprovaonecessriafreqnciamnimade

    75%dototaldehorasletivas,considerandotodasasdisciplinasministradasduranteo

    ano.Almdafreqnciaconsiderase,paraaaprovao,odesempenhoindividualdos

    alunos,cujaavaliaodessedesempenhodevesercontnuaecumulativa.Emcasosde

    rendimentoescolarabaixodamdia,aescoladeveofereceraulasderecuperaopara

    estesalunos,deprefernciaparalelamenteaohorriodeaula.

    OutrofatorquedeveserdestacadoemrelaoaorganizaodoEnsinoMdioa

    relaoentreonmerodealunoseprofessor,essarelaodeterminadapelainstituio

    deensino.

    O contedo curricular determinado por umabase nacional comume por uma

    parte diversificada que determinada pela escola. A base nacional comum dever

    compreender75%dotempomnimodeduraodoEnsinoMdio,sendoorestantedo

    contedo escolhido pela escola, de modo a contemplar as diversidades locais e

    regionais, alm de caractersticas culturais de cada regio. Porm cabe ao

    estabelecimentoeducacionaloptarpelooferecimentoounodapartediversificadado

    currculo.DeacordocomosParmetrosCurricularesNacionaisEnsinoMdio(2000):

    importante compreender que a Base Nacional Comum no podeconstituirumacamisadeforaque tolhaa capacidadedossistemas,dos estabelecimentos de ensino e do educando de usufrurem daflexibilidade que a lei no s permite, como estimula. Essaflexibilidadedeveserassegurada,tantonaorganizaodoscontedosmencionados em lei, quanto nametodologia a ser desenvolvida noprocessodeensinoaprendizagemenaavaliao.

    De acordo com a base nacional comum devem ser oferecidas as seguintes

    disciplinas:lnguaportuguesa,matemtica,biologia,qumica,fsica,geografia,histria,

    sociologia,filosofia,arte,educaofsicaeumalnguaestrangeiramoderna.Emrelao

    disciplina educao fsica, no perodo noturno, a mesma tornase uma disciplina

    optativa,questionaseseoptativadeveseraoferta,porpartedaescola,ouamatricula,

    emrelaoaoaluno.

    Em relao os docentesdoEnsinoMdio,oArt.62daLDBestabelece queos

    mesmos devem ser formados em nvel superior, mais especificamente em cursos de

    licenciaturaplena.Porm,aindagrandeonmerodeprofessoresqueatuamnoEnsino

    Mdioenopossuiformaosuperior,poisantesdosurgimentodaleiqueestabeleceu

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    esse artigo no havia necessidade que os professores possussem o ensino superior,

    bastavaaconclusodoMagistrio.

    JnoquetangeaosalunosaLeipropeagarantiadaeducaodejovenseadultos

    noEnsinoMdioparaaquelesquenotiveramacessoaosestudosoucontinuidadedos

    mesmos. Cuja forma de ensino pode ocorrer sob duasmodalidades diferentes, sendo

    elas os cursos presenciais ou os exames. Os cursos presenciais apresentam a menor

    parceladasmatrculasnoEnsinoMdio,porsetratardepessoascommaiorfaixaetria

    equejestoinseridosnomercadodetrabalhoequegeralmentenodisponibilizamde

    tempo suficiente de dedicao aos estudos. Em relao aos exames, esses so

    compreendidos, na maioria dos casos, pelos supletivos, que apresentam algumas

    exigncias,comoingressodemaioresde18anoseopagamentodeumataxaparacada

    disciplina a ser cursada. A lei prope a expanso do Ensino Mdio, porm atravs

    dessescursos supletivos, emalgunscasos,nohapreocupaocomaeducaodos

    alunos,devidoaofatodequeosmesmonotmacessoaocontedodisciplinarcomum

    aosoutrosalunosdoensinoMdio,apreocupaodossupletivosrestringeseaapenasa

    emissodediplomas.

    TendocomobaseasdiversidadesencontradasnoEnsinoMdio,tantoemrelao

    aosalunosquantoemrelaoaosestabelecimentosdeensino,oMinistriodaEducao

    (2007)instituiuumplanodemetasaseremalcanadasnumcurtointervalode tempo.

    Taismetasestoapresentadasaseguir:

    Emdezembrode2006,aPEC53queinstituioFundebaprovadae regulamentada. Ela prev a universalizao do Ensino Mdiopresencial. Emjunhode2005, oMECencaminhaPECpara substituio doFundef Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do EnsinoFundamentale deValorizaodoMagistrio,quefinanciavaapenaso ensino fundamentalpelo Fundeb Fundo de Manuteno eDesenvolvimento da Educao Bsica e de Valorizao dosProfissionais daEducao,que financia todaaEducaoBsica, dacrecheaotrminodoEnsinoMdio. Ematendimento a uma demanda da sociedade, oMEC sugeriu ediscutiu com professores uma proposta paraoEnsino MdioIntegrado ao Profissionalizante. Em 2004, esta proposta setransformou no Decreto 5154/2004 . Em 2007, 21 unidades daFederao jestavam oferecendoEnsino Mdio Integrado aoProfissionalizante. O MEC colabora contratando consultorespedaggicos para a elaborao dos cursos e o FNDE oferece apoiofinanceiro. Atendimento, a partir de2004, de todos os concluintes do ensinofundamental,comidadede14a16anos

  • 8

    Melhoria curricular que contemple as diversas necessidades dosjovens consolidando a identidade do ensino Mdio centrada nossujeitos EnsinoMdiocomprometidocomadiversidadescioeconmicaeculturaldapopulaobrasileira Valorizaoeformaodeprofessores Melhoriadaqualidadedoensinoregularnoturnoedeeducaodejovenseadultos ImplantaodoPlanodeEducaoparaCincia ModernizaoedemocratizaodagestodesistemaseescolasdeEnsinoMdio Desenvolvimento de projetos juvenis, visando renovaopedaggicaeaoenfrentamentodoproblemadaviolncianasescolas Integrao e articulao entre Ensino Mdio e educaoprofissional.

    Oquear ealidadetemparanosmostrar?

    AEducaoBsicabrasileirapercorreuumlongopercursoparachegaraoque

    hoje.Apesardisto,observasecotidianamentequemuitoaindaexisteparaserfeitoafim

    dequeosnveiseducacionaisbrasileirosaomenosseaproximemdoqueestprevisto

    nasleisjexistentes.IstoporqueoBrasilviveumasituaosingular:adespeitodeum

    sistema de leis e diretrizes extremamente avanado, a inaplicabilidade destas leis e

    diretrizes inviabiliza o estabelecimento de um sistema educacional que prime pela

    qualidadeeabrangncia.Aocontrrio,observaseumaprogressivadesestruturaodo

    ensino bsico paralelamente ao aumento do numero dematrculas, um incremento

    quantitativo que traz a tonadiversas reflexes sobreo futuroda juventudebrasileira,

    expostaaumsistemaalienanteequeobedecea lgicaempresarialdeapropriaodos

    espaos.Esta discusso deordempoltica, e deve permear todas as prticas que se

    dizemcidads.NaspalavrasdePINTO(1999)

    No que se refere ao ensino Mdio, estes avanos se deram, comovimos, na determinao da progressiva universalizao de suaobrigatoriedade e gratuidade e na explicao de objetivos que, secumpridos,asseguramumaeducaorealmentebsicaparatodososestudantesqueoconclurem.(pg.69)

    Visandoagradar suasbaseseleitorais,o legisladorpropeevota leisavanadas,

    mas que no possuemmecanismos que garantam sua aplicabilidade. Isto associada

    grandeextenso territorialdoBrasil, oquepor si s j torna o cumprimentodas leis

    menos passvel de comprovao, so alguns elementos que compe esta salada de

    (ir)responsabilidadesquevitimamoensinobrasileiro.

  • 9

    Algunsindicadorespodemserelencadosparaamelhorcompreensodarealidade

    brasileira.Comooriundosdeclculosmatemticos,cujosdadosbrutosmuitasvezesso

    meras simplificaes da realidade estes indicadores nem sempre do conta da

    verdadedocotidianoescolar.So filtrosatravs dosquaispodeseobservarpartedas

    dificuldadesenfrentadasporalunoseprofessoresdoensinoMdio.Aindaassim,muito

    representamparadesvendarasituaodoensinonoBrasil.

    Neste sentido, a Figura 1 demonstra a evoluo do numero de matrculas no

    ensinoMdiobrasileiro,de1971a2000.Nesteperodo,percebeuseumcrescimentode

    7vezesonmerodematrculas,fatoexplicadonoapenaspelocrescimentoabsolutoda

    populao (que quase dobrou no perodo) mas tambm pela ampliao da

    disponibilidadedestamodalidadedeensino.

    0

    2000

    4000

    6000

    8000

    10000

    1971 1980 1991 2000

    EvoluodaMatrculadoEnsinoMdioNoBrasil(19712000)

    Figura1Fonte:MEC/Inep/Seec

    Neste contexto, a rede estadual foi o quemais ampliou sua importncia ante o

    nmero de matrculas, passando de 49,9% do nmero de matrculas em 1971 para

    81,3%em2000,umincrementode12vezes.Aredeparticular,porsuavez,sofreuum

    decrssimorelativo,emdecorrnciadadiminuiodopoderaquisitivodaclassemdia,

    de1980a1990,quandocaiude46,5%dototaldematrculaspara14,1%doisdecnios

    depois(2000).

    Em2006,amaiorpartedasmatrculasnoensinoMdiorealizadasnoBrasileram

    da rede estadual de ensino (Figura 2), fato explicado pela diviso de competncias

    realizadaparafacilitaraadministraodossistemasdeensinoedividirosrecursosde

    financiamentonombitogovernamental.

  • 10

    MatrculasporDependenciaAdminis trativanoBrasil(2006)

    1%

    2%

    12%

    85%

    Federal Estadual Municipal Particular

    Figura2Fonte:MEC/Inep

    Da mesma forma, quando se analisa a participao das dependncias

    administrativas nas regies brasileiras, a rede estadual amais significativa. A rede

    particulardeensino,porsuavez,apresentaboaparticipaoemregiesondeoensino

    pbliconoestefetivamentepresente(quantitativaequalitativamente),comonocaso

    donordeste.

    No ano de 2000, de acordo com os dados do INEP, organizados por PINTO

    (1999), o Brasil atingia cerca de metade da demanda potencial de matrculas para o

    ensinoMdio, ou seja, apenas metade dos jovens brasileiros em idade para cursar o

    ensino Mdio (de 15 a 19 anos) estavam matriculados nesta modalidade de ensino.

    Assim como em quase todos os outros indicadores, o Sudeste apresentava o maior

    atendimentoaestademandapotencial,eoNorteeNordesteospioresresultados(Figura

    3).Estesdados,noentanto,demonstraolongocaminhoqueaeducaobrasileiraainda

    temquepercorrer.

  • 11

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Norte Nordeste Sudeste Sul CentroOeste

    Brasil

    NmerodeMatr cu lasemrelaoao nmerodeindiv duoscomfaixae tr iaentre15e19anos

    Figura3Fonte:MEC/Inep/SeeceIBGE

    Aoseanalisarmaisdetalhadamenteosdadosdo Inepacercada faixaetriados

    estudantes matriculados no ensino Mdio, percebese que mais da metade dos

    estudantesbrasileirosencontraseforadafaixaetriaideal(de15a17anos,anosideais

    de ingressonassriesdoEnsinoMdiodeumestudantesemnenhumatrasoescolar).

    Isto decorre sobretudo do alto nmerode reprovaes noEnsino Fundamental e no

    Ensino Mdio e do retorno ao Ensino Mdio de alunos que haviam abandonado a

    escola,agorapressionadospelomercadodetrabalho.

    Muitas so as implicaes deste fenmeno, desde a proliferao dos cursos

    noturnos,debaixaqualidade,comalunostrabalhadorescansados,alunosdeprofessores

    muitasvezesdespreparados,emseuterceiroturnodetrabalhoequeutilizammateriais

    didticos voltados para alunos de faixas etrias mais jovens. Isto resulta em faltas,

    abandono escolar, reprovaes e conseqentemente, o no cumprimento da funo

    socialdaescola,quelevaroaprendizadoaosseusestudantes.(PINTO,1999,pg73)

    AindasegundoPINTO(1999):

    Se queremos cumprir a lei, a perspectiva deve ser o ensino Mdiodiurno, assegurandose bolsaescola aos alunos que necessitarem.Enquanto no chegamos a esta situao, que se introduzam noperodo noturno contedos e metodologias adequadas ao aluno,atendendoaoquemandao incisoVIdoArt.208daCF:ofertadoensino noturno regular, adequado s condies do educando. (pg.73)

  • 12

    Aindaassim,aoseolharaevoluohistricadoEnsinoMdiobrasileiropercebe

    seque,mesmolentamente,onmerodeestudantesemidadecorretavemaumentando

    gradativamentenosltimos20anos.

    Outro dado interessante tambm fornecido pelo MEC a porcentagem de

    estudantes matriculados em cada srie do Ensino Mdio. Assim, na 1 Srie esto

    matriculados40,3%do total, na2 srie,30,9%,na3Srie,25,4%ena4Srie (no

    mbito dos cursos Mdios profissionalizantes) esto matriculados apenas 1,3% dos

    estudantesbrasileiros.Omaiornmerodematrculasobservadonoprimeiroanodo

    EnsinoMdio, porque a partir de ento os alunos so submetidos a uma peneira de

    desistncias, e reprovaes que diminuem o nmero de alunos nas sries seguintes.

    Outrofatorqueexplicaoaumentodonmerodeestudantesmatriculadosna1Sriedo

    EnsinoMdioafacilitaodaaprovaonoEnsinoFundamental,atravsdeexames

    supletivosesistemasdeaprovaocontinuada.

    Na tabela 1, de outra forma, podese observar uma curiosa relao: na segunda

    linha encontrase registradoo nmeromdio dealunosmatriculados para cada cargo

    docente,ouseja,paracadadesignaoexistentenasesferasadministrativas.

    Tabela1

    Note que o valor mdio brasileiro, 19 alunos por cargo docente um nmero

    razovel,queseria idealpara trabalhosdesenvolvidosemqualquerestabelecimentode

    ensino,senoestivesseconfrontadocomalinhaabaixo.Nelaestregistradoonmero

    dealunosmatriculadosporturma,cujamdianacionalde38alunos.Amaiormdia

    de alunos por turma se encontra na rede estadual, com 40 alunos por turma e no

    nordesteestamdiachegaa43alunosporturmanaredeestadual(Figura4).

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    Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul CentroOeste

    EnsinoMdio:NmeroMdiodeAlunosporTurma(2000)

    Figura4Fonte:MEC/Inep/Seec

    Nestesvaloresestimplcitoofatodequeboapartedosprofessoresnecessitade

    dobrar seus turnos para conseguir melhores salrios, acarretando uma queda em sua

    qualidadeprofissional.Naredeprivada,existeumasituaoparticular:ousoabusivo,

    pelas empresas de ensino, de contratos por pequenas jornadas, destinando cada

    professoraumcontedodamatriaemespecfico. Istofazcomqueprofessores,para

    aumentar sua renda, cumpram jornadas exaustivas e com que no existam vnculos

    maioresentrealunoseprofessoreseaescolanotenhatantosproblemascomquestes

    trabalhistas.

    Estesdadossoapenasalgunsexemplosdasituaoenfrentadapelosestudantese

    professores do Ensino Mdio brasileiro. Muitos desafios ainda existem para o

    cumprimento da legislao existente, e boa parte deles implica na ampliao dos

    investimentos na rea educacional, na reestruturao da infraestrutura escolar, na

    melhoria dos salrios e condies de trabalho dos professores, ou seja, despesas que

    nem sempre os governos esto dispostos a pagar. Mas estes desafios devem ser

    enfrentados para que as prticas e contedos do ensino Mdio sejam renovados e

    finalmente,suaofertasejaestendidaeuniversalizadaatodapopulaobrasileira.

    ConsideraesFinais: Umadiscussoquenoseencerra

    Ao longo da histria, o ensino brasileiro sofreu uma srie de transformaes,

    como a desvinculao do ensino com os preceitos religiosos e hermenuticos dos

    jesutas,seguidodavinculaoaoEstadoedapresenaconstantedasredesparticulares

    de ensino. Porm, apesar dessas transformaes, o Ensino Mdio ainda mantm

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    algumascaractersticasdoprincpiodesuainstitucionalizaonoBrasilcolnia,como

    afunopropedutica,modalidadedeensinoqueposteriormentepassouaservoltada,

    noapenasparaauniversidade,masaomercadodetrabalhofatoquetambmpode

    serpercebidonahistriadoensinoprofissionalnoBrasil.

    Contudo, diante das transformaes socioeconmicas presentes nas sociedades

    contemporneas,podese inferirqueapesardas transformaes jocorridasainda so

    necessriasmaismodificaesnaestrutura,noscontedoscurricularesdoensinomdio,

    a fim de adaptarse o contedo ensinado na sala de aula s realidades vividas pelos

    alunos,depreparlosparaexerceracidadania,bemcomoparaomercadodetrabalho,

    que se torna cada vez mais competitivo e exigente de profissionais qualificados que

    saibam,principalmente,trabalharemequipeesejamcriativos.

    Portanto, a expanso da escolarizao bsica deve ser efetivada, devendo ser

    garantida pelo Estado, j que esta etapa da educao entendida como a formao

    mnimaqueocidadodevepossuirparaexercerseupapelnasociedade.

    Referncias:

    BRASIL, Ministrio da Educao. Parmetros Cur r iculares Nacionais: EnsinoMdio.Braslia:MEC,2002.

    BRASIL,LeideDiretr izeseBasesdaEducaoNacional.N.5692de11deAgostode1971.

    BRASIL,Lein.9.394de20dedezembrode1996.EstabeleceasdiretrizesebasesdaEducaoNacional.DirioOficialdaUnio,Braslia,1996.

    BRASIL, Ministrio da Educao Legislao Educacional. Disponvel em Acessoem:10jun.2008.

    BRASIL,MinistriodaEducao.DisponvelemAcessoem:10jun.2008.

    BRASIL,MinistriodaEducao.InepInstitutoNacionaldeEstudosePesquisasEducacionaisAnsioTeixeira.DisponvelemAcessoem:10jun.2008.

    Centro de Referncia Educacional Consultor ia e Assessor ia em Educao.Disponvel em www.centrorefeducacional.com.br/ensimed.htm. Acesso em: 10 jun.2008.

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    TUPPY,MariaIsabelNogueira. AEducaoProfissional. In:OLIVEIRA,RomualdoPortela ADRIO, Theresa. (Org.). Organizao do Ensino no Brasil. 1 ed. SoPaulo:Xam,2002p109121.