a europa hoje ao meio-dia, nº1 - ano1 - junho 2013

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ANO I – NÚMERO I – JUNHO DE 2013 UM OLHAR SOBRE A EUROPA - POLÍTICA ECONOMIA SOCIEDADE - OS PONTOS DE VISTA NA WEB DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – WWW.FACEBOOK.COM/UNIAOEUROPEIA PUBLICAÇÃO EXCLUSIVA ATRAVÉS DE WWW.ISSUU.COM A EUROPA DE HOJE: QUE LEGADO?´ O SUL DO NORTE EUROPA: QUE IDENTIDADE? ESTADOS UNIDOS DA EUROPA À ESPERA DE UMA EUTANÁSIA OS LÍDERES EUROPEUS: FRANÇOIS HOLLANDE EUROPA – O QUE TE MANTÉM DE PE O (IN)CUMPRIMENTO DA MEIA EUROPA A SAGA DOS MINIMECOS

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Um olhar sobre a Europa - Política, Economia e Sociedade. Os pontos de vista na Web.

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ANO I – NÚMERO I – JUNHO DE 2013

UM OLHAR SOBRE A EUROPA - POLÍTICA ECONOMIA SOCIEDADE - OS PONTOS DE VISTA NA WEB

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – WWW.FACEBOOK.COM/UNIAOEUROPEIA PUBLICAÇÃO EXCLUSIVA ATRAVÉS DE WWW.ISSUU.COM

A EUROPA DE HOJE: QUE LEGADO?´ O SUL DO NORTE EUROPA: QUE IDENTIDADE? ESTADOS UNIDOS DA EUROPA À ESPERA DE UMA EUTANÁSIA OS LÍDERES EUROPEUS: FRANÇOIS HOLLANDE EUROPA – O QUE TE MANTÉM DE PE O (IN)CUMPRIMENTO DA MEIA EUROPA

A SAGA DOS MINIMECOS

EDITORIAL

A Europa de Hoje: que legado?

Ouvi, há uns poucos dias, uma frase, a propósito do bom Autarca, que não tem deixado de me estimular à reflexão: dizia então um velho companheiro, com a simplicidade dos que conseguem, nesta vida, ser elevados entre os demais, que “para além de se deixar Obra, importa deixar Futuro!”…

Ora, quando pensamos que a nossa existência pressupõe, para além da finitude desta existência dimensional, um legado, ou seja, uma disposição feita por testamento, a qual terá de ser, verdadeiramente, em benefício de alguém, valerá certamente a pena abarcar nesta predisposição de vida a preocupação pela construção de um património material e imaterial. Tenho para mim que, nos primeiros

50 anos de construção desta Europa, um conjunto de obreiros (Monnet, Schuman, Delors…), se preocupou fundamentalmente com a essência imaterial, numa época de alguma euforia, talvez não sustentável, mas os recentes desafios têm permitido / obrigado (?) a novas tentativas de resolução das dificuldades, sendo a tónica a opção pela essência sobretudo material (austeridade, ajustamento, dívida…).

Assim, que legado deixaremos? Intuindo que o material e o imaterial não se excluem mutuamente, antes se devem completar, aqui vos deixamos, para reflexão, um conjunto de pistas de reflexão… Votos de boas leituras, para melhor reflexão e consequente acção."

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A conjuntura actual transformou num exercício ingrato o nobre acto de debater Europa e europeísmo. Convencionou-se que 2013 seja o Ano Europeu dos Cidadãos, um conceito difícil de responder assertivamente. Muitos parecem empenhar-se em descrever o que significa ser-se Cidadão Europeu, mas poucos parecem compreender, o que é manifestamente um indicador das brumas que ainda assolam o sentimento dos povos europeus e que alimenta uma certa resistência á integração.

Mais preocupante ainda é constatar que ninguém parece conseguir sequer, reunir consenso sobre o que significa “ser Europa”! Fragmentou-se um sonho em mil pedaços de política, demasiadas

migalhas de ciência económica e ténues rasgos de inspiração social. Os pilares fundamentais da União Europeia deixaram de ser essenciais para a sua construção e a mundialização das problemáticas da Humanidade trouxeram uma nova postura aos decisores políticos que ao contrário de avançarem para as suas soluções, continuam a teimar numa não abordagem da questão com profundidade.

Olhando para trás, torna-se assim difícil definir o legado da Europa. Mas olhando em frente, o cenário é ainda mais incerto, pois ninguém sabe que legado europeu será transmitido aos nossos filhos.

Teo Cavaco

Carlos Romeira

Pág. 2 - Editorial

Pág. 3 - Ficha técnica

- Frases célebres: Frisch, Schuurmans, Schulz

Pág. 4 - Europa: Que identidade?

Pág. 7 - O Sul do Norte

- Sabia que…

Pág. 8 - A Saga dos Minimecos

Pág. 10 - Europa: Um embuste!

Pág. 13 - Estados Unidos da Europa à espera de uma eutanásia

Pág.14 - Os líderes Europeus: François Hollande (Fança)

Pág.16 - As interrogações sobre as funções do Estado

Pàg. 19 - Europa - O que te mantém de pé

Pág. 22 - O (in)cumprimento da Meia-Europa

FICHA TÉCNICA

Direcção: Teo Cavaco e Carlos Romeira Mensal – Ano I – número 1 – Junho de 2013 Distribuição Gratuita Publicação exclusiva em www.issuu.com Publicação sem fins lucrativos. Todos os artigos publicados são da inteira responsabilidade dos seus autores.

www.facebook.com/uniaoeuropeia

O seu conteúdo é propriedade intelectual dos respectivos autores, sendo expressamente proibida a sua venda, reprodução ou cópia, parcial ou integralmente, sem autorização prévia.

"Quem não se ocupa de política já tomou a decisão política de que gostaria de se ter poupado: serve o partido dominante."

Max Frisch

“Mais do que nunca, a Europa precisa de Excelência e Inovação. (…). Precisamos, nada mais, nada menos, do que uma mudança nas mentalidades. Vezes demais, as novas ideias são inibidas por estruturas rígidas. Vezes demais, o fluxo dos conhecimentos é bloqueado pelos limites impostos pelos diferentes sectores e disciplinas.” Martin Schuurmans

"É hora de falar sobre como vamos conduzir a Europa para fora da crise. É hora de agirmos com determinação"

Martin Schulz

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Na Europa comunitária, diversas nações,

culturalmente diferentes, vivem hoje sob uma

suposta identidade europeia, a qual germinou da

integração económica dos últimos 50 anos, assim

como de uma progressiva integração política.

Apesar de partilharmos valores comuns,

distinguimo-nos pela diversidade cultural, vivida

quotidianamente, de forma diferente, segundo

valores, linguagens, sinais e percepções distintas,

conceitos adquiridos e moldados durante todo o

percurso histórico. Ao longo dos séculos, o

homem reinterpretou a realidade, reconstruiu

novos valores para dar sentido a si mesmo e ao

que o cercava. Assim sendo, é possível afirmar

que cada sociedade se exprime e realiza através

de uma cultura.

A evolução histórica do conceito cultura partiu de

uma visão evolucionista, segundo a qual a

humanidade era dividida em raças superiores e

inferiores. Só muito mais tarde, se consideraram

os homens iguais na sua condição humana, mas

pertencendo a diferentes etnias. Estas diferenças

são hoje entendidas pelas ciências sociais, como

a Antropologia, como sendo culturalmente iguais,

mas diferentes na forma de percepcionar o mundo

e o seu modo de vida. Não obstante, o

etnocentrismo é ainda uma realidade, havendo

quem considere a sua cultura como um modelo

superior, ou seja, como a medida através da qual

se julgam as restantes culturas.

Existe uma correlação entre língua, cultura e

identidade, acentuada desde a emergência do

novo sistema político, o liberalismo, e a criação

dos Estados-nação. A língua é talvez um dos

componentes da cultura mais fortes, podendo

identificar, simultaneamente, as fronteiras

territoriais estatais com as culturais. Tanto no

passado como no presente, a questão da defesa,

imposição ou secundarização de uma língua

serviu e serve de arma política para exacerbar

nacionalismos e regionalismos, dentro e fora de

fronteiras. As políticas linguísticas seguidas por

vários países, em Espanha, em França e na

Bélgica, por exemplo, são recuperadas por

movimentos independentistas que reclamam uma

língua e um território distintos dos actuais. É

através da língua que exprimimos estereótipos,

sancionamos, comparamos e partilhamos, entre

grupos sociais, valores e modos de vida comuns.

As identidades nacionais envolvem todo um

conjunto de crenças, valores, conhecimentos,

instituições, realizações técnicas e artísticas, etc.,

--- por Josefa Warken ---

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como aconteceu no passado.

Mas não será preciso sair de dentro das fronteiras

nacionais para encontrar “o estranho e o próprio”,

resultado de posições opostas dentro de uma

cultura supostamente comum. As percepções

diferentes na abordagem de assuntos de uma

sociedade, consoante o género seja masculino ou

feminino, as regiões, as convicções religiosas, se

somos da cidade ou oriundos do campo, se

somos velhos ou novos, o estado civil, etc.. Além

destes factores, outros como o meio social, o grau

de desenvolvimento e as tendências sexuais

influenciam os olhares individuais. (continua)

partilhadas pelos membros de um determinado

país, que dão forma ao sentimento de pertença

àquela unidade nacional. Elas advêm dos

instrumentos da construção nacional, fortemente

desenvolvidos no contexto do século XIX, em

muito responsáveis por estereótipos nacionais. Os

que se reconhecem numa determinada identidade

nacional, partilham um mesmo “modo de vida” e

“ambiente de vida”, nas suas variadas vertentes

como a alimentação, o comportamento, os valores

familiares, o modo de relacionamento entre

grupos, etc., diferenciados segundo o estrato

social a que se pertence.

A cultura europeia, é constituída pelas várias

culturas nacionais, recheadas de preconceitos que

tomam o todo pela parte, na avaliação que

fazemos de pessoas estrangeiras, ou sobre

determinados países, que julgamos segundo a

expressão ”tipicamente, isto ou aquilo”, sem

muitas vezes ter tido a oportunidade de manter

qualquer tipo de contacto. Outras vezes, surgem

generalizações, após a visita a um determinado

país, ou do encontro entre cidadãos de tal ou tal

país, que pode vir a corroborar e fortalecer

preconceitos já antes adquiridos. Isto pressupõe

um cuidado redobrado para não cair em

nacionalismos, nem em sentimentos xenófobos,

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Em jeito de conclusão, poderemos questionar-nos

se será legítimo mapear culturas em lugares,

assumindo a convergência entre espaço, local e

cultura (o que contribui para a criação de

estereótipos nacionais)? Um olhar mais profundo

e atento sobre a realidade permitir-nos-á

identificar uma série de obstáculos à associação

imediata entre cultura/sociedade e Estado-

nação/locais específicos: em primeiro lugar,

deparar-nos-emos com a existência de áreas de

cultura que transpõem os limites de um único

Estado-nação, abarcando então uma área

bastante mais extensa; em segundo lugar,

consciencializar-nos-emos da existência de

diversas nações multiculturais, verdadeiras provas

de que as culturas não mais se encontram

enraizadas em locais específicos, no seio das

quais se procura envolver uma pluralidade de

culturas num molde de identidade nacional; de

forma semelhante, também as subculturas tentam

preservar a ideia de “culturas distintas”, ao mesmo

tempo que o seu conceito reconhece a relação de

diferentes culturas com uma cultura dominante,

dentro do mesmo espaço geográfico; tendo em

mente os habitantes fronteiriços, não parece

razoável encarar as culturas como fenómenos

separados, ocupando espaços descontínuos;

presos a uma lógica de igualdade entre lugar e

cultura, ser-nos-á extremamente difícil discernir

qual a cultura daqueles cuja vida se baseia na

passagem de fronteiras (trabalhadores migrantes,

por exemplo, no Luxemburgo, entram e saem

diariamente milhares de trabalhadores, oriundos

dos três países com os quais o Grão-Ducado faz

fronteira), nómadas, membros do comércio

transnacional); a disjunção entre lugar e cultura é

especialmente clara no caso de imigrantes,

refugiados, exilados e expatriados, indivíduos que

transpõem as fronteiras de modo permanente; por

último, em termos de pós-colonialidade, há que

questionar – a que lugares pertencem as culturas

híbridas que dela advêm? E o papel da

globalização na mistura de cores e estilos, não

marcará o início do fim das culturas tradicionais?

(continuação)

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Os pontos cardeais têm um papel fundamental na divisão geopolítica do mundo e na determinação do valor relativo de cada país ou continente. De forma alternada ou cumulativa, o mundo foi dividido em ocidente e oriente, norte e sul, leste e oeste. A classificação geográfica demarcou territórios mentais, ideológicos, políticos, culturais ou religiosos, e serviu para estabelecer as fronteiras de pertença entre nós e o resto do mundo, definindo as alianças e inimizades de cada momento. E, como constatou Baudrillard, os mapas impõem-se aos territórios: constroem muros, reais e imaginários, e marginalizam o que está para além deles.

Portugal, Espanha, Grécia e Itália foram, durante séculos, o sul do norte, mas, ao mesmo tempo, norte de um sul menos familiar e, por isso, aceites no ponto cardeal dominante. Entretanto, novas forças emergem a sul e a oriente, prontas a fornecer recursos e mercados, e a bússola geoestratégica reorienta-se. Para continuar a ser Norte, a Europa reorganiza-se, preparando-se para excluir o sul mediterrânico, cultural e economicamente diferente, incapaz de se bastar a si próprio ou de gerir recursos de forma eficiente e limpa. E têm razão: as nossas economias atestam esse desnorte. Mas convirá não esquecer que qualquer dos membros deste novo sul, nos momentos definidores da identidade que o norte reclama, foi o centro do Mundo conhecido.

--- por Elsa Rodrigues ---

SABIA QUE... O conceito de Estado Social foi inventado no século XIX por Otto van Bismarck, chanceler da Alemanha?

E QUE... A Estratégia de Lisboa, assinada em 2000, determinou como objectivo estratégico, converter a economia da União Europeia na "economia do conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo, antes de 2010, capaz de um crescimento económico duradouro acompanhado por uma melhoria quantitativa e qualitativa do emprego e uma maior coesão social"?

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--- Uma sátira cheia de humor, mas com muita seriedade ---

"qualquer semelhança com a realidade pode não ser apenas uma coincidência"

O minimeco é um pequeno povo que habita as páginas do livro "2011 - o ano em que o mundo quase acabou", além de umas estadias na rede social Facebook, onde tem a sua própria página.

Como a maioria dos povos, os minimecos dividem-se entre a base e a elite, sendo que na base estão os minimecos própriamente ditos, e na elite estão os micromecos.

Os minimecos referem-se aos povos próximos como os maximistos. Desde logo, o prefixo “maxi” já indicia um injustificável complexo de inferioridade dos minimecos, relativamente a tais povos. Mas assim são os minimecos: num destrutivo processo de auto-mutilação psicológica, tudo o que os maximistos têm, ou fazem, ou dizem, é para os minimecos mais interessante, mais útil, e mais sensato do que o que têm, ou fazem, ou dizem eles mesmos.

Alguns dos povos maximistos iniciaram em tempos uma confederação, hoje já muito alargada, da qual os minimecos fazem também parte – a confederação Faquioutu.

Ao contrário de muitas outras confederações, em que os confederados não estão particularmente atraídos uns pelos outros, mas sempre são honestos entre si, na confederação Faquioutu, os confederados dizem adorar-se mutuamente, embora se enganem uns aos outros em quanto (e enquanto) podem. Naturalmente, a confederação Faquioutu, como boa irmandade das costas voltadas que é (e sempre foi, não obstante as aparências), não vai resolver nenhum dos problemas do país dos minimecos, primeiro, porque não ganha nada com isso, e segundo, porque não lhes faz diferença alguma – cada um dos Estados desta confederação já tem problemas internos de sobra, para ainda andar a perder tempo e carcanhol com 10 milhões de minimecos.

O povo minimeco, avesso à mudança como nenhum outro, tão habituado está à sua vida no limiar da subsistência, que chega a recusar a riqueza – a tal ponto que quando a tem, rapidamente se encarrega de a destruir.

Assim é o povo minimeco, não há 900 anos, mas há muitos mais, ainda antes de se chamar assim. Já tinham ouvido falar dele?…

(adaptado do Prólogo do livro "2011 - o ano em que o mundo quase acabou")

https://www.facebook.com/pages/Os-Minimecos/349928728364768?fref=ts

--- Pedro Esgalhado ---

Autor de “2011 - o ano em que o mundo quase acabou”, que relata a Saga do povo dos Minimecos

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Buuummm!

De repente, estoirou (não se sabe muito bem o quê – a verdade é que já se sabia, só não se sabia o montante): há 18.500.000.000 escondidos em paraísos fiscais!

A Confederação Faquioutu, essa irmandade das costas voltadas, esboroa-se à velocidade da sua erosão económica, única e simplesmente porque não soube adequar a fiscalidade à realidade económica, porque não foi capaz de harmonizar uma coisa nem outra, e porque não soube proteger-se como mercado.

Numa confrangedora miopia generalizada (será mesmo???), as culpas começaram por ser lançadas sobre os países com economias mais débeis, mas pouco a pouco, descobre-se que afinal os outros, com economias mais “fortes”, também estão a ir por água abaixo.

Depois, a coisa extrapolou-se e em vez de ser culpa deste ou daquele país (ou de ambos), voltou-se àquela ideia extraordinária de fazer os ricos pagar a crise. Ideia sempre simpática entre os kamaradas do costume, que não perdem ocasião para se sentarem – por masoquismo, só pode! – na desconfortável cadeira do poder.

Num dos países maximistos, puseram as “grandes fortunas” a pagar ainda mais. Esquecem que isso é extorsão. E que os extorquidos, sejam eles quem forem, podem não estar muito pelos ajustes.

Gália! Precisamente um artista de renome, quer pelo seu desempenho profissional, quer pelo confesso carinho nutrido pelos ideais dessa esquerda romântica, rapidamente mandou que a crise fosse paga com urtigas e baldou-se para o país ao lado, onde paga pouco mais que todos os outros. E este era um rico “de esquerda”, teoricamente alinhado com este tipo de doutrinas sociais e adepto deste tipo de comportamentos económicos por parte do Estado.

Os povos maximistos esquecem que os impostos são dinheiro que os cidadãos, ricos ou pobres,

confiam ao Estado, para que o Estado lhes garanta benefícios. E o mínimo que se poderia esperar era que os benefícios fossem retribuídos na proporção do que se tinha pago – o que está, evidentemente, fora de questão.

Depois, surge outra ideia pateta para por os ricos a pagar a crise: já que os gajos não querem descontar a bem, a gente “fázios” descontar a mal, e vamos-lhes às poupanças. No país dos minimecos já aconteceu semelhante (nos idos de 75 / 76, estão recordados) – na altura, esteve muito em voga transferir os trocos p’ras montanhas helvéticas, que então nem tinham estatuto de paraíso fiscal e o resultado foi o acelerar da descapitalização do país, o atingir mais rapidamente a bancarrota e o demorar menos tempo a pedir a ajuda externa aos maximistos (nesse tempo também ainda ninguém falava em troikas). Era bom que esclarecessem e garantissem que agora nada disso se repete, ou…

Bom, adiante.

No país dos minimecos, a entrar em euforia pelo celebrado regresso aos mercados, continua-se a clamar para que os ricos paguem a crise. Para começo de conversa, não se percebe o porquê da euforia! Só se são como o sobrinho que tendo tudo empenhado, acabado de arranjar um empregozeco reles e mal pago, fica todo contente por o tio lhe emprestar dinheiro outra vez, a troco de empenhar os próximos anos de salário. E quer este país que os “ricos” paguem mais impostos!

Que raio fará pensar, às gentes de tal país, que os seus ricos são diferentes dos ricos dos outros países? Então acham que alguém andou uma vida inteira a enriquecer para depois o dar?

Ou será que não percebem que só existem paraísos fiscais porque existem… infernos fiscais!!!

Ora vejam lá bem para onde querem ir, porque não faltam exemplos do destino onde certas “aventuras” vão levar.

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O governo europeu não tem território, a cada passo entra mais

um ou vários Países e o que começou numa reunião de mesa de

cozinha já exige um edifício inteiro com anfiteatros, escritórios e

casas de banho pagas por nós. Para que uma decisão seja tomada

terão de votar favoravelmente pelo menos 55% dos Estados-

Membros representando pelo menos 65% da população da União;

para se constituir uma minoria de bloqueio é necessário reunir pelo

menos 4 Estados-Membros, representando mais de 35% da

população. Ora bem não tem território mas já tem casa e as suas

leis parecem-me uma forma de governo qualquer, só não sei se

federalista se integracionista porque as decisões desta forma de

Governo têm de ser aprovadas pelo Parlamento Europeu num

processo chamado codecisão mas o facto é que são tomadas e

são aprovadas, que me importa a mim agora se são os Países ou

a União que as toma se como disse, sou eu quem paga o papel

higiénico!

A acrescentar a isso já muitas politicas de ação não lhes passam

pela mesa, existem vários tipo de competências em que só

compete á União intervir como politica comercial e politica de

concorrência comum e politica monetária para os Estados cuja

moeda seja o euro. Outras ainda o Conselho pode legislar mas não

pode por em causa as politicas comuns como o mercado interno,

politica social nas áreas definidas pelo

Tratado, coesão económica, social e territorial, agricultura e

pescas, ambiente, defesa dos consumidores, transportes, redes

transeuropeias, energia, espaço de liberdade, segurança e justiça,

programas de investigação e desenvolvimento tecnológico,

cooperação para o desenvolvimento e ajuda humanitária. Estão

também sob a alçada da União, de uma forma indireta e com a

função de apoio a indústria, a cultura, o turismo, a educação, a

formação profissional, a juventude, o desporto e a proteção civil.

Ora todas estas competências cobrem grosso modo todas as

áreas da nossa vida do dia a dia e acabamos por ter uma Europa

que não manda nada mas mete-se em tudo e decide muita coisa.

Todas estas competências podem ser decididas pelo Parlamento

Europeu por maioria simples. A marcha da integração prossegue

inexorável longe dos holofotes dos média mas perto, muito perto

da vida dos cidadãos. Em que é que ficamos afinal?

--- por Omar Mateiro ---

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O grande problema de qualquer instituição é

sobejamente conhecido pela administração pública

de qualquer país, é que uma instituição é como uma

casa que foi construída para dois filhos e para se

fazer churrascos no quintal. Os problemas

começam a surgir quando os filhos saem de casa

ou pelo contrário e mais atual, trazem os cônjuges e

os netos e vêm viver todos juntos ora, alterando-se

as condições a casa, tal como a instituição fica

desajustada sendo preciso acrescentar quartos ou

modificar outros. Quando surgem problemas como

desemprego, saúde ou educação a casa

rapidamente fica pequena ou grande demais e nem

sempre já temos forças para a reconstruir outra vez,

limitando-nos a “dar um jeitinho”. Outro problema

também não estranho á administração pública de

qualquer País, mas mais acutilante na europa, é

que normalmente a casa fica grande demais e já

não sabemos se o neto que está a começar a andar

está na cave ou no sótão ou seja, podemos colocar

um sistema de videovigilância na casa toda mas

não podemos estar em todo lado.

Para isso, os Parlamentos Nacionais têm um poder

reforçado de controlo sobre as atividades da União,

examinando as propostas e iniciativas da União

Europeia e assegurando que intervém apenas

quando os princípios em causa não puderem ser

suficientemente realizados a nível nacional ou

regional, isto é, quando se justifique uma ação ao

nível europeu. Ou seja, velam pela observância do

princípio da subsidiariedade e da proporcionalidade

que nos diz, que além das coisas deverem ser

tratadas no devido sitio não se deve fazer nem a

mais nem a menos para cumprir os objetivos o que

faz todo o sentido pois se a casa precisa de um

quarto a mais não vamos construir dois ou apenas

colocar um sofá-cama. Mas afinal onde está a crise

europeia que tanto nos ocupa os serões! O Tratado

de Lisboa diz-nos que a União Europeia adquire

personalidade jurídica própria, a União Europeia

passa a poder celebrar contratos, ser Parte de uma

convenção internacional ou membro de uma

organização internacional, mas então porque se põe

a questão de federalismo ou integracionismo para

um futuro modelo europeu? Se já pode celebrar

contratos e ter relações internacionais com outros

países em nome de todos nós isso mostra que já

deve ser gente com certeza. Essa personalidade

jurídica vem do facto de, também no mesmo

tratado, estar referenciado que os Parlamentos

nacionais, contribuem ativamente para o bom

funcionamento da União Europeia (artigo 12.º TUE).

E prontos, já nos lixaram e o resto é música, é um

embuste! E mais, já não podemos dizer que são a

Alemanha ou a França sozinhas a tomar decisões.

Passemos agora também ao euro para vermos se

também fomos enganados. Novamente ouvimos

criticas que a Europa não pode ter as mesmas

politicas monetárias para todos porque cada um é

diferente, o próprio FMI reconhece taxas de juro

baixas na mesma para países em crescimento que

tenham uma inflação elevada por isso mesmo,

porque estão em crescimento e a inflação não

reflete crise, blabláblá mas de facto, a nível

nacional, não temos uma politica monetária

diferente para regiões diferentes, temos a mesma

politica para o país todo. Da mesma maneira na

Europa não precisamos de politicas diferentes

quando estamos debaixo das mesmas instituições.

O que precisamos é aplica-las bem mas isso, como

diz o outro, são outros quinhentos. O Euro é

constituído pela média dos câmbios das moedas

dos diversos países que o compõem ora, se o

câmbio varia porque um País está pior de contas e

o Euro não mexe isso quer dizer que alguém pôs

dinheiro para compensar.

Lá estamos nós outra vez a pagar o papel higiénico

e desta vez não é do bolso comum mas sim das

poupanças que temos em casa. Pagamos com

cortes, austeridade, medidas estruturantes. Por

11

outro lado não podemos exigir que a União esteja

sempre a compensar os nossos défices, ainda para

mais quando são exigidos tantos critérios aos

Países em processo de adesão, isto além dos 27

claro. Temos de pensar que também esses Países

irão beneficiar das competências que anunciamos á

bocado e como tal terão de contribuir, tal como nós,

de igual modo para os cofres comuns. Além do

mais o Parlamento Europeu já tem poderes

estatutários sobre o BCE ou seja, pode decidir se

vai ser apenas um Banco ou vai realmente ter um

papel ativo na economia e nas politicas monetárias.

Já decidiu e além do EBA (European Banking

Authority) já viabilizou o MEE (Mecanismo de

Estabilidade Europeu), o tal que permite a compra

de obrigações e alargou os poderes do FEEF

(Fundo de Estabilização Financeira Europeu) que é

o instrumento por excelência de implementação das

politicas monetárias (sim, aquele que vai permitir

implementar aquelas competências todas faladas

atrás), além dos fundos todos disponíveis no OE,

leia-se Orçamento Europeu e não Orçamento de

Estado. Por falar nisso, o OE (leia-se Orçamento de

Estado) tem de ser enviado para aprovação em

Bruxelas antes de ser votado nos Parlamentos

Nacionais, para evitar que, não estando conforme,

se levantem depois aquelas questões todas de

soberania, de subsidiariedade e de

proporcionalidade que nos esquecemos de dar a

conhecer aos cidadãos de cada País porque é mais

fácil culpar a Europa que perder eleições.

Resumindo e baralhando é outro EMBUSTE, isto de

dizerem que o Euro vai acabar é o mesmo que

dizerem que estamos todos falidos enquanto que a

verdade é que apenas 4 dos 17 estão falidos e do

total dos 27 (em breve 28 e depois mais), muitos já

estão em condições de entrar para a moeda única e

só não o fazem por não estar em condições noutros

campos, como a Turquia por exemplo. Podia dar

outros exemplos conhecidos do PIB europeu ou do

índice de desenvolvimento mas não estamos aqui a

fazer a defesa da Europa, estamos a dizer que a

Europa é um EMBUSTE para que os seus cidadãos

não se admirem quando lhes pedirem para votar no

Parlamento Europeu. Não culpem a Alemanha, a

França ou nenhum dos grandes, culpem-se a vocês

porque não votaram com consciência neste novo

sistema, nesta nova democracia que não sendo

assim tão diferente da que conhecemos, é

enormemente mais eficaz, apesar de podermos

pensar o contrário ou talvez mesmo por causa

disso!

Claro que no meio de tudo isto já muitos caminhos

tomaram direções que os Pais Fundadores nunca

desconfiavam mas convenhamos, no tempo dos

Pais Fundadores metade da Europa estava

destruída e a Guerra Fria estava no seu auge, não

havia tantas estradas, comboios ou aviões e nem

sequer havia internet ou computadores. No tempo

dos Pais Fundadores os atores eram 6, os do

Benelux, agora são 27, podem chegar a todos os

países europeus mas o exemplo esse, já chegou

aos 4 cantos do mundo e está a ser adotado pelos

BRICs que querem uma moeda única só deles ou

dos Tigres Asiáticos que formam Uniões também lá

pelas bandas deles. Deixem lá os Pais Fundadores

dormirem em paz que isso já conseguimos, já

conseguimos substituir a URSS e a NATO na

segurança do espaço europeu e presentemente, já

os vamos complementando e substituindo em

muitas outras partes do mundo. Falo “os” porque a

bem da verdade a Rússia também faz parte do

Conselho de Segurança da ONU e nós não mas

bem…isso são outros quinhentos.

12

Mais do que europeísta, sinto-me cidadão do mundo. Apreciei há muitos anos atrás o nascimento de uma federação de Estados europeus e a entrada de Portugal. A ideia parecia uma boa aposta. Embora tenha aplaudido, na verdade nunca acreditei no êxito desse empreendimento.

Do ponto de vista biocomportamental, grosso modo o humano é um ser triunitário, com três camadas evolutivas: possui uma herança filogeneticamente muito antiga de um reportório de comportamentos que partilha com os répteis (o complexo reptiliano), entre os quais temos a territorialidade e a posse, um reportório de comportamentos de vinculação que partilha com os mamíferos (a brincadeira, o cuidar, as amizades, a proteção dos mais fracos, a agressão instrumental, etc), e um reportório filogenético mais recente de pensamento estratégico e de reflexão (neocórtex) em que, como espécie, se esperaria que fosse capaz de pensar e praticar a liberdade, a coesão social, a dignificação da qualidade de vida e em que o dinheiro fosse visto como mero instrumento ao serviço da humanidade, vencendo as propensões para a defesa e demarcação do território.

Porém, nem sempre é fácil escapar à territorialidade e à posse, em defesa de uma coesão entre comunidades (veja-se os recentes episódios em torno da reorganização das freguesias). Recorre-se amiúde a instrumentos mais recentes, simbólicos (pátria, bandeira, história local, cultura local, scripts diversos, denominações, brasões, ícones, barreiras linguísticas, etc) para camuflar a dificuldade em ultrapassar o que é reptiliano em nós.

Assim, não acredito (mas é uma mera opinião pessoal) no futuro de uma União de Estados apenas através de Tratados. Não são leis nem papeis que mudam o comportamento. Veja-se os casos das infrações ao Código da Estrada, ao Código de Procedimento Administrativo, à

Código de Procedimento Administrativo, à fiscalidade, etc.

Só através da imposição pela força pode nascer uma União, na maioria dos casos através de uma guerra, pela opressão militar ou policial, ou pela ditadura do dinheiro (especulativo). Os EUA, os Estados Unidos do Brasil, o Reino Espanhol, o Reino Unido, a Alemanha (recentemente costurada) são exemplos disso mesmo.

Se Hitler tivesse ganho a guerra (lembro que Hitler nada conseguiria se não houvesse uma mistura explosiva favorável na Alemanha e que dura há séculos), não obstante as inaceitáveis atrocidades cometidas, a Europa seria um estado federal, com governo federal, com forças armadas federais, com moeda única e uniformização de procedimentos administrativos, cíveis, penais, etc. E com o tempo sofreria uma progressiva transformação para a democracia, mas uma democracia musculada que permitisse à UE afirmar-se como interlocutor respeitável no mundo. Seria dramático, com muito sofrimento, mas seria claro para todos, sem farsas.

Esta UE que temos é, para mim, uma farsa. Lê-se e pensa-se que assenta nos valores que caracterizam a Europa (de referência cristã?), na sua história (de desunião – as 2 grandes Guerras e os diversos focos de guerra e de tensão), na coesão social entre os povos ditos europeus (tem sido o salve-se quem puder!), mas na verdade não passa de uma União Monetária que nem económica progressista consegue ser (há muitos Estados cada vez mais pobres e endividados e muito poucos Estados cada vez mais ricos).

A UE agoniza e deveria ser autorizada a eutanásia para dar qualidade à decadência e morte que se avizinha. Por outro lado, Portugal deveria virar-se para a lusofonia, sem qualquer tique de ex-colonizador, criando uma espécie de Commonwealth.

--- por Carlos Fernandes ---

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François Gérard Georges Nicolas Hollande é natural do Ruão. Relativamente à carreia política, Hollande foi voluntário na campanha de François Mitterrand à presidência em 1974, vinte e três anos depois tornou-se secretário geral do Partido Socialista.

Em Janeiro de 2012, lançou um manifesto com sessenta propostas, entre elas; o aumento dos impostos para as grandes empresas, bancos e para os mais ricos, a criação de 60 mil vagas de empregos para professores; a redução da idade da reforma, a criação de empregos subsidiados para combater o desemprego jovem, a consolidação da indústria francesa, a garantia a casamento e adopção de crianças e casais do mesmo sexo.

Na primeira volta das eleições presidenciais em 2012 conseguiu alcançar o primeiro lugar com 28,63% dos votos. A segunda volta foi disputada contra o então presidente Nicolas Sarkozy, Hollande venceu as eleições com 51,7% dos votos e em Maio de 2012 e tornou-se oficialmente Presidente da França.

Passado um ano das eleições, Hollande é o presidente mais impopular de toda a história da quinta República francesa. Uma sondagem realizada pelo instituto CSA (Conseil, sondage et analse), aponta que Nicolas Sarkozy teria vencido logo na primeira volta, caso as eleições tivessem sido realizadas nos dias de hoje. Segundo o estudo, Sarkozy teria vencido por 34% dos votos, Marine Le Pen 23% , Hollande 19% e o chefe da esquerda não socialista, Jean-Luc Mélenchon,12%.

François Hollande tem sido atacado por todos os lados, até mesmo pelo próprio partido. Mas quais as causas desta impopularidade? Na minha opinião existem algumas razões que levaram ao descontentamento dos gauleses, uma delas foi o facto de não conseguir cumprir com uma das suas propostas; a redução do desemprego, a taxa de desemprego bateu um recorde épico de 11% (3.224 milhões de pessoas).

--- por Rita Montezuma ---

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A aprovação do projeto de lei que autoriza o casamento e adoção a casais homossexuais, foi um grande progresso para a França em termos de igualdade de direitos, mas agravou as tensões, pois a maioria dos franceses é favorável ao casamento homossexual, mas a mesma proporção de franceses é contra a adopção feita por casais do mesmo sexo. No dia da aprovação da lei, houve manifestações e alguns dos manifestantes foram detidos pela polícia. Hollande deveria ter optado apenas por ter aprovado a Lei a favor do casamento de casais homossexuais e rejeitado a lei da adopção, os franceses têm ainda uma mentalidade bastante conservadora para condescender esta medida.

O escândalo mais crucial foi o do ministro-adjunto da economia e das Finanças, Jérôme Cahuzac, manchou mais uma vez a imagem do Presidente francês. O ministro apresentou a sua demissão após o tribunal ter autenticado uma gravação de áudio, em que o governante admite ter uma conta secreta na Suíça que atingia os 600 mil euros. O presidente afirmou que não tinha conhecimento da situação, mas

a grande questão que se coloca é se de o presidente é assim tão ingénuo ou se tentou proteger o seu ministro e mentiu aos franceses?

Outra situação que gerou polémica foi o aumento dos impostos, aplicando uma taxa de 75% aos cidadãos com salários superiores a um milhão de euros. Esta medida levou o célebre ator francês Gérard Depardieu a renunciar a sua nacionalidade francesa. Inicialmente Depardieu pediu que lhe fosse concedida nacionalidade Belga, mas acabou por aceitar posteriormente a nacionalidade russa oferecida por Vladimir Putin em Dezembro de 2012.

O Partido Socialista, tem levantado a voz contra as políticas rigorosas de Hollande, o partido deseja que Hollande ganhe coragem e enfrente a chanceler alemã Angela Merkel. Mas o presidente não pode fazer muito mais, da maneira que se encontra e Europa não se podem fazer grandes milagres e agradar ao mesmo tempo a população.

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--- por Pedro Esgalhado ---

…ou “quem não tem dinheiro, não tem vícios”

Que é isso das “funções do Estado”? A ciência política e a ciência estratégica definem como objectivos do Estado a garantia da segurança e bem-estar dos cidadãos – um conceito redondo, onde tanto cabe tudo, como pode não caber coisa nenhuma. Em tempos de abundância, um Estado pode ambicionar dar tudo e até o supérfluo aos seus cidadãos. A coisa começa a apertar, quando vira para a escassez e é aqui que reside o busílis do momento presente: cidadão algum está disposto a abdicar de parte alguma do que o Estado lhe tem proporcionado, mas parece evidente que - a menos que o país, de repente, descubra petróleo – não há dinheiro para as funções todas que o Estado vinha desempenhando até aqui. O que cabe na segurança? - A segurança externa? - A segurança interna? - A saúde? - A segurança social? Quais são as prioridades? Dum modo algo empírico, as prioridades em matéria de segurança são definidas em função de uma análise de risco face a dois parâmetros principais: a probabilidade de a segurança ser ameaçada, e a gravidade das consequências (individuais e colectivas) se a ameaça se materializar. Nesta análise empírica, os cidadãos têm tendência a olhar para o umbigo em primeiro lugar, o que os leva a colocar a segurança social

lugar, o que os leva a colocar a segurança social e a saúde em primeiro lugar, e só depois, a segurança interna (excepto aqueles que já foram assaltados, ou que tiveram um incêndio à porta de casa – estes, talvez hesitem na prioritização) e finalmente, se é que a chegam a considerar uma necessidade, lá pensam na segurança externa (na verdade, os portugueses julgam a ameaça de um conflito armado como uma hipótese tão remota que chegam a querer que as forças armadas sirvam apenas para a segurança interna – nenhum país tem forças armadas para esse fim, embora muitos as empreguem numa situação de catástrofe e em complementaridade, nunca em redundância, mas isso é outro tema). Ora um dos dramas da segurança é que ela custa dinheiro – muito dinheiro. E é um investimento sem retorno, porque nunca se consegue avaliar quais seriam os custos de não a ter. Então o país gasta tanto em helicópteros e aviões e a floresta continua a arder? Pois! Mas quanto mais arderia se não fossem os meios de combate a fogos florestais? A questão é impossível de responder. Tal como é impossível responder qual dos vectores da segurança enunciados é o mais importante – todos o são, e em cada momento são as circunstâncias do mesmo que ditam sobre qual deve incidir mais a atenção dos responsáveis. No que respeita a bem-estar, o leque é ainda mais diversificado! A educação e cultura, a existência de infra-estruturas culturais e desportivas, infraestruturas de transportes e comunicações, serviços de água, energéticos, de

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telecomunicações, administração da justiça, enfim, um nunca mais acabar. Neste particular, convém dizer que alguns destes serviços são auto-sustentáveis através da aplicação do princípio do utilizador-pagador (o que causa alguma estranheza, porquanto alguns que eram altamente lucrativos foram alienados para maquilhagem das contas públicas, perdendo-se deste modo uma fonte adicional de receitas em detrimento de um resultado imediato – mas também isso, não é objecto deste texto). Mas é precisamente o parágrafo anterior que permite levantar as primeiras interrogações de fundo: Quais devem ser de facto, e no actual contexto de escassez, as funções do Estado? Todas estas? Para isso, não há dinheiro. Nem mesmo com “meias funções”, como se está a ver que irá acontecer com o apoio no desemprego e na velhice, ou na saúde, que já nem meio apoio chega a ser, existe dinheiro disponível para tudo. Apenas aquelas que não possam ser alienadas ao capital privado? Isso, abre caminho ao que já vinha sendo feito, e a concessão a privados de infraestruturas anteriormente do Estado (alguns Hospitais, algumas auto-estradas) tem-se revelado um desastre económico para os cofres públicos. Algumas, são por inerência e pela sua natureza, não privatizáveis (de um modo geral, o Estado detém o monopólio do uso autorizado da força e as forças armadas e as forças de segurança só podem pertencer ao Estado). Também a Justiça

pertence tradicionalmente ao Estado – não se conhece exemplo algum de um Estado em que a Justiça tenha sido privatizada. Parece, por isso, consensual que o Estado não possa abdicar destas funções, as quais, sendo eminentemente não remuneráveis, têm que ser custeadas pelo erário (a Justiça pode realizar algum encaixe, mas desprezável, face aos custos globais – aliás, os próprios serviços prisionais, sendo privatizáveis, seriam provavelmente mais onerosos do que mantidos sob a tutela do Estado). No âmbito da segurança interna, a protecção civil é privatizável… e não faltam relatos de negociatas de transparência duvidosa por via disso mesmo. Sempre com custos para o Estado – compensará? A pergunta não tem resposta. A saúde é privatizável. Ou pode ser auto-sustentável (via preferível, no entender de muitos). Ou uma combinação de ambas. Em Portugal, um dos problemas da saúde assenta no chico-espertismo: as fraudes são mais que muitas e os contribuintes pagam milhões por cuidados que ninguém recebeu. Enquanto existirem esquemas que a possibilitem e estimulem, tanto dá privatizar como manter no Estado, que esse custo não desaparecerá. Contudo, não se pode (em rigor) afirmar que a saúde não pode ser entregue a mãos privadas (na Bélgica, em 2008, existiam apenas 2 hospitais públicos), e uma das formas de reduzir custos seria o exercício de uma supervisão rigorosa e consequente, que impedisse a fraude. A segurança social, enquanto o Estado não reconheça a possibilidade de um cidadão optar

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por esquema alternativo da sua responsabilidade, libertando-o do ónus do desconto, tem que estar nas mãos do Estado. Face ao volume de cidadãos que a alimentam, versus o número de cidadãos que ela apoia, é evidente que não é auto-sustentável. O que falta tem que ser alimentado a partir do bolo comum. Visto assim que nas funções de segurança, não haverá grande volta a dar, sobram as do bem- estar. Todas? Vejamos: A construção, manutenção e exploração de infra-estruturas culturais e desportivas, e de infraestruturas de transportes e comunicações, é privatizável. Verdade. Mas por alguma estranha razão, sempre que se fala em vender a TAP ou a RTP, ou a CP, logo se faz ouvir um clamor de vozes contra. Muitas vezes, não só não querem a venda, como até exigem mais investimento (como em muitas linhas moribundas da CP). Quem paga os prejuízos? Serão mesmo funções do Estado? Serviços de água, energéticos, de telecomunicações, são (teoricamente) autossustentáveis – estes, até porque têm condições para ser lucrativos, deveriam manter-se sob a alçada do Estado. Mas precisamente por serem lucrativos, estão na mira dos predadores financeiros e a sair da tutela estatal. Educação e Cultura: sempre que a cultura se transforma em negócio, o país perde. Mas no que respeita á cultura, falta uma distinção mais criteriosa do que o é de facto (e merece apoios, embora limitados) do que não passa de lixo. A cultura é parcialmente auto-sustentavel. A manutenção de museus pode ser melhorável do ponto de vista financeiro. Existem muitas (demasiadas) instituições subvencionadas. Utilidade de cada uma? Venha quem a demonstre… Para a educação, o Estado deve custear a educação publica obrigatória a 100% - tudo o que exceda esta, ou a educação em instituições particulares, deverá ser pago pelos utentes. A guerra guterrina contra as propinas universitárias só veio criar um problema que poderia nunca ter existido. Mas mesmo assim, não é autossustentável e precisará sempre de dinheiros públicos. Já no que ao desporto diz respeito, talvez o

Estado possa reduzir bastante: entre as subvenções a colectividades que nada fazem que justifique um tostão que seja, e subsídios diversos (e muitos), alguma coisa se pode poupar – o problema é que tudo isso, no conjunto do orçamento do estado, representa trocos. Concluindo: Um dos problemas que se podem por aos cronistas de actualidade política é que muitas vezes têm que laborar sem dados concretos para sustentar aquilo que expõem. Neste contexto da crise que atravessamos, o certo é que ninguém sabe ao certo quanto é que custa manter o país. Sim! Quanto é que pagamos por este país (actualmente), ou quanto é que teríamos que pagar numa situação ideal em que o país não tivesse desperdícios, nem desvios de fundos, e em que o país retribuísse o investimento feito pelos cidadãos com os seus impostos, na forma desse conjunto de benefícios que genericamente designamos por “funções do Estado”. Parece impossível eliminar o indesejável desvio de fundos. Pelo menos, são tantas as denuncias com as quais a sociedade coabita pacificamente, que tudo indica que mesmo não gostando, estão os portugueses dispostos a consentir que a sangria continue. Parece improvável que decisões anteriores sejam revogadas (pelo menos, sem custos exorbitantes) – nomeadamente, as que dizem respeito à alienação de algumas empresas do Estado, empresas chave para a economia do país, bem como as respeitantes às parcerias público-privadas. Não é garantido que – mesmo que estes dois sangradouros fossem estancados – a riqueza existente seja suficiente para pagar todas as funções do Estado tais quais existem neste momento. Assim, parece que a grande reforma estrutural e estruturante, terá que passar pela revisão destas funções (e atenção: as funções que descrevi, são apenas exemplos; existem mais). Se o que escrevi atrás estiver correcto, quaisquer que sejam as funções “cortadas”, cada uma delas terá custos. Pensem nisso…

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Como aferir o nível de consciência política do processo histórico de construção europeia e as potencialidades de sucesso da adesão dos cidadãos na articulação entre cidadania nacional e propostas transnacionais de construção europeia? “Europa: conceito cultural ou zona geográfica”. Reduzir a questão de identidade europeia ao seu conceito cultural ou á sua zona geográfica, é demasiado limitativo e peca por duas ausências: não inclui o processo de formação política e os seus mecanismos de afirmação e projeção de poder. Entre o conceito puramente cultural (onde podíamos englobar a herança clássica greco-romana, a tradição judaico-cristã ou a contribuição germânica) e a definição estática geográfica temos de incluir uma série de processos e instituições que simultaneamente são justificados por e justificam estes dois conceitos, que são a sua organização e estrutura ideológica, política, tecnológica, militar, económica e financeira. Toda a organização e estrutura que compõe a UE, tanto define as suas fronteiras como projeta a sua identidade enquanto “ser” de direito público coletivo internacional. Dissemos que as suas instituições são reflexo da sua identidade e que a sua identidade era reflexo da sua geografia e principalmente da sua cultura. Ora vamos tentar explicar melhor isto: o momento cultural do “presente” em termos europeus, é caracterizado pelo alargamento da UE aos países da antiga cortina-de-ferro, subdesenvolvidos e oprimidos pelo regime soviético mas com longas tradições culturais de liberdade e democracia. Devemos também incluir aqui a Turquia, em fase

de candidatura, que sempre foi distante da cultura e religião europeias em geral, mas no que toca a religião já tem bastantes pontos em comum com bastantes países da europa oriental e sempre com estreitas relações comerciais e sobretudo migratórias ou a Hungria que pela sua aceitação no espaço Schengen apesar de não ter garantia de separação de poderes na sua Constituição, só reforçam o caráter multirracial e multicultural da identidade europeia. Temos os países nórdicos e os países Bálticos que se assumem respetivamente como o mercado de consumo e produtivo por excelência da europa e os países do mediterrâneo que são simultaneamente a “porta de entrada” e a fronteira geográfica natural da europa com o “resto do mundo”. . (continua)

--- por Omar Mateiro ---

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(continuação) A organização e estrutura da União Europeia, que lembramos, justificam e são justificadas pela sua identidade, refletem todas as suas mudanças na sucessão de Tratados e percalços da sua constituição, a saber: a superação de diferenças essenciais entre França e Alemanha foi iniciada com a criação da CECA. O facto de a Europa não ter exército próprio e a Alemanha nenhum exército resultou durante muito tempo de desconfiança politica internacional justificada pelos “recentes” acontecimentos da II Grande Guerra e o “abafamento” dessa necessidade pela situação de guerra-fria, bem como a União Económica era inviável restando apenas as trocas comerciais. Por outro lado a Constituição de um Tribunal Europeu independente e com fundos próprios, uma Comissão Europeia que apesar de ainda dependente do Conselho Europeu, zela pela implementação das medidas em concertação com os comissários regionais de cada País e responde ao PE, a independência do Parlamento Europeu (Ato Único europeu) em termos de decisão ou a agilização das decisões do Conselho de Estado (maioria qualificada), etc., justificam (através da sua legitimidade) as tomadas de posição da europa face, tanto aos seus membros como aos parceiros internacionais ou seja, refletem a sua identidade. Estas e muitas outras circunstâncias contribuíram para que a identidade da UE e a identidade da Europa se fossem “misturando” e refletindo nas suas instituições, organização e estrutura.

Ao mesmo tempo essa identidade vai-se refletindo nas gerações futuras e na sua cultura. A semente da identidade está na sua génese e é refletida no seu desenvolvimento e este por sua vez, vai afetar novas géneses e novos desenvolvimentos cada vez “mais europeus” e “menos nacionalistas”. Verifica-se um enfraquecimento teórico-conceptual, sociológico e sobretudo ideológico da construção europeia e que se por um lado não representa o regresso á nacionalidade, por outro lado também não significa evolução dos elementos de supranacionalidade da construção europeia. Vivemos numa época que se pode chamar de “pragmatismo esclarecido” e que tem pela frente os desafios de futuros alargamentos, de aprofundamento da sua identidade para que possa “guiar” as instituições na afirmação dessa identidade. Temos de absorver no interior do espaço europeu a multirracialidade, gerir as relações com os parceiros poderosos no exterior, adaptarmo-nos culturalmente para responder á globalização competitiva, articular no interior a competitividade-solidariedade e desenvolver uma política de cooperação no Mediterrâneo e África ao sul do Sahara. Isso já está a ser feito, em maior ou menor medida, mais numas áreas e menos em outras, á medida que os diversos Tratados vão concedendo mais poderes ao Parlamento Europeu, diminuindo o seu “deficit democrático”. O Procedimento de Conciliação como uma das funções do PE, a capacidade

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legislativa conferida pelo Poder de Adiar, ou o Ato Único europeu jogam a favor do não regresso á nacionalidade, por outro lado a tomada de decisões políticas ser quase exclusivamente do Conselho Europeu através dos seus estados-membros não contribui para a evolução dos elementos de supranacionalidade da UE. A não unanimidade introduzida pelo Tratado de Roma (ao alterar o poder de negociação dos seus membros), no entanto, contribuiu para a estabilidade e consistência dos processos e ajudou a promover a concertação entre os estados membros. O Comité das Regiões e a obrigatoriedade consultiva do mesmo a nível legislativo, surge como necessidade de representação de realidades que, embora fazendo parte da identidade europeia não se encontravam representadas no seu espectro político parlamentar. Por outro lado, a implementação das decisões do PE pela Comissão Europeia através de consultas nos comités nacionais, e o facto de serem tomadas politicamente pelo Conselho, torna o processo complexo, moroso e leva á desresponsabilização das partes. O Tratado de Maastricht e subsequentemente o Tratado de Amesterdão vieram consolidar os três pilares da UE: as Comunidades Europeias, a Política Externa e de Segurança Comum e a Cooperação nos domínios da Justiça e dos assuntos internos. A hegemonia da sua identidade pode ser vista na defesa dos Direitos da Mulher ou na Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem,

sendo criado inclusive o Tribunal Europeu para os Direitos do Homem, enfim, e também em todas as medidas estabelecidas pelas suas instituições. Á semelhança com o que aconteceu com a Ostpolik e a unificação da Alemanha, a europa, embora com muito mais multiplicidade em todos os aspetos, desde a nível linguístico e cultural como politico ou religioso, não é imune á transnacionalidade da atividade económica e o ajustamento e concertação das suas politicas comerciais a nível normativo vai contribuir certamente para um aproximar de identidades e criação de identidade europeia. A União Política pode ser um meio de tirar estes assuntos da esfera secundária e trazê-los para o processo de tomada de decisão, evitando o “enfraquecimento teórico-conceptual, sociológico e ideológico da construção europeia”. O nível de consciência política pode ser aferido na justeza das suas propostas e a sua aceitação na celeridade da sua implementação.

(continuação)

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--- por Carlos Romeira ---

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Se se pudesse reinventar um dicionário de sinónimos, uma das escolhas lógicas seria associar a palavra “Europa” a “ambiguidade”. Se algo existe que possa caracterizar o nosso continente é de longe a diversidade, mas também a presença de um elevando número de ambiguidades na nossa sociedade. Desde logo, os limites geográficos do território europeu, são a maior ambiguidade, pois estando claramente delimitados a Sul e a Noroeste, já não se pode dizer o mesmo a Leste, onde as opiniões e as vontade se dividem e com elas, os credos religiosos, as políticas e as sociedades! Também se podem observar ambiguidades dentro daquela Europa que nós queremos que seja à força motriz desse sonho comum, mas onde existem países que estão na União e outros não estão, países que possuem uma moeda comum e os que não possuem, os que assinaram um Tratado de livre circulação de pessoas e os que não o fizeram. Os protestantes e os católicos. Os latinos e os nórdicos, ou eslavos e germânicos. Não é suposto que seja causa de divisão existir tão elevada diversidade, sendo esse facto apontado diversas vezes como uma mais valia para a hegemonia que a Europa deteve ao longo da História da Humanidade Mas a diversidade transforma-se por vezes em ambiguidade e fica-se no impasse de não se ser nem uma coisa nem outra. Dentro da mesma “espécie” criam-se conflitos e a Europa parece ser profícua neste tipo de situações.

Todas estas ambiguidades se espelham nos discursos políticos, seja no daqueles que são “euro-cépticos” (e que avançam argumentos muito credíveis) seja nos discursos dos euro-optimistas (que possuem argumentos igualmente válidos). Jamais noutro Continente que teve pretensões de viver um projecto comum, a diversidade foi tão facilmente observável. Talvez por isso, nenhum outro povo conheça tantas ambiguidades no seu seio, como os europeus. A desconfiança leva-nos a perguntar se alguma vez poderemos ser realmente um povo… acredito que a resposta seja óbvia: claro que não! Somos muitos povos com o mesmo objectivo. Será?...

Este conflito entre ser diverso e/ou ambíguo, foi talvez o facto que inspirou a invenção de um princípio/conceito que se julgou vir a constituir uma resposta ao enigma de como fazer com que as diversidade entre povos não dificulte a sua co-

da “soberania” nacional. Uma birra jurídica, nada mais! E mesmo quando a legislação nacional corresponde na integra ao diploma europeu, a sua aplicação e cumprimento acaba por encontrar um outro obstáculo, através dos agentes e funcionários no terreno que muitas vezes por falta de informação, de formação, ou ambas, outras vezes por birrice desnecessária, se recusam em fazer cumprir o que seria fundamental para o funcionamento das instituições europeias e Tratados assinados pelos Estados-membros. Cada funcionário que exalte o seu mais profundo e nobre patriotismo ao alegar que é assim que se faz na “sua terra”, contribui para o descrédito e decadência da nossa sociedade. Ninguém parece aperceber-se (funcionários e utentes), que o mesmo princípio, procedimento ou processo, é aplicado vezes sem conta de maneira igual em todos os países da União ou do Espaço Schengen, conforme seja a matéria em tratamento. As Leis tendem (ou deveriam tender) a ser as mesmas.

Existem por isso, casos em que profissões não são reconhecidas, registos de residência (que não é o mesmo que autorização de residência) são dificultados, exigindo-se o impensável. Direitos são negados, e deveres são ignorados. O próprio choque legislativo entre o que é branco da Europa e o que é negro da nação, não permite que se obtenha uma mistura cinzenta, mas sim uma guerra de incongruências. Mesmo em Portugal, consegue-se ser cumpridor e prevaricador ao mesmo tempo, se se seguir à risca a legislação nacional em vigor, que para além disso, obriga ao mesmo tempo a que se cumpram as normas europeias. Isto acontece porque a Europa não está preparada para ser adulta. É uma criança crescida que anda a brincar a ser “gente grande”. Bruxelas manda cumprir, os Governos mandam adaptar e por fim os agentes perguntam o que é se deve fazer! Um problema de comunicação? Não. Apenas um (in)cumprimento da identidade. A prova de que a Estratégia de Lisboa falhou na sua plenitude.

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diversidade entre povos não dificulte a sua co-habitação e não promova ambiguidades. Deu-se à iluminada descoberta o nome de “princípio de subsidiariedade”, que consiste em traços muito gerais, e na prática, ao simples facto de que não existe nenhuma determinação emanada das instituições europeias que possa ser imposta a qualquer Estado-membro, desde que ele tenha capacidade para resolver a questão em causa. Ou seja, temos que estar todos de acordo (não é bem assim, mas é quase – e os resultados práticos vão dar ao mesmo). Ingenuidade pura! É como queremos que numas eleições todos os eleitores votem em massa no mesmo candidato. O truque para se continuasse a mover a máquina após os alargamentos de 2004 e 2007, foi não se avançar demasiado, decidindo-se os destinos da Europa muito de mansinho, para que ninguém note ou conteste. O atraso significativo que a Europa conhece no seu processo de construção, advém daqui. Não temos um nome ou uma instituição que nos governa. Temos um princípio, uma ideia, que por muito nobre e fundamental que seja, é ao mesmo tempo responsável por ir mantendo agarrados por arames alguns Estados como o Reino Unido, mas também impeditivo para que se avance mais afoitamente para os patamares seguintes. Não se espirra demasiado forte para que ninguém se constipe, mas dessa forma também não se expulsam os micróbios do corpo.

As consequências desta ambiguidade são, nem mais nem menos, as diversas casmurrices que observamos no exercício da administração pública, quando nos confrontamos com assuntos do foro europeu. Tudo corre bem desde que não se saia dos parâmetros ortodoxos das determinações superiores, descalabrando em confusão e caos, quando se confrontam com casos particulares. Ninguém pensa neles, nos casos particulares, mas numa Europa já de si imperfeita, diversificada e ambígua, esses são mais comuns do que a moeda de Euro. Um dos protocolos a seguir é que para cada determinação ou norma europeia, depois de aprovada, se produza legislação nacional para que a mesma seja efectivamente aplicada. Muitas vezes, essa legislação é subtilmente adulterada em relação à original, perdendo-se totalmente o espírito da Lei europeia que afinal, vale o que vale. O argumento é o garante e a salvaguarda da “soberania” nacional. Uma birra jurídica, nada