a esportivização e a desesportivização das práticas...

32
APRESENTAÇÃO Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea- lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que melhor se encaixa à organização curricular de sua escola. A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen- tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci- dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas, histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob- jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade. As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada região brasileira. Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz. Gerente Editorial A esportivização e a desesportivização das práticas corporais

Upload: others

Post on 21-Jul-2020

5 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

APRESENTAÇÃO

Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três

séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea-

lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que

melhor se encaixa à organização curricular de sua escola.

A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen-

tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci-

dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito

crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas,

histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de

dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob-

jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade.

As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante

situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos

privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de

questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada

região brasileira.

Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia

intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o

aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz.

Gerente Editorial

A esportivização e a desesportivização das

práticas corporais

Page 2: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Neste livro, você encontra ícones com códigos de acesso aos conteúdos digitais. Veja o exemplo:

Acesse o Portal e digite o código na Pesquisa Escolar.

Se preferir, utilize o endereço http://www.saibamais.com.br e digite o código no local indicado.

@EDF100

© Editora Positivo Ltda., 2010Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem autorização da Editora.

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)

Ruben FormighieriEmerson Walter dos SantosJoseph Razouk JuniorMaria Elenice Costa DantasCláudio Espósito GodoyDavi Marangon / Marcos Rafael Tonietto / Sergio Roberto Chaves JuniorDavi Marangon / Marcos Rafael Tonietto / Sergio Roberto Chaves JuniorRose Marie WünschTatiane Esmanhotto KaminskiMelissa Renata OrtizAngela Giseli de SouzaLuciano Daniel JúlioJack Art / Nilson MüllerO

2 Comunicação

Danielli Ferrari Cruz / Expressão Digital© iStockphoto.com/Alexander Shirokov; © Shutterstock/EDHAR; © iStockphoto.com/webphotographeer; © Shutterstock/David Lee; © Shutterstock/Rido; © Shutterstock/fanfo; © Shutterstock/KurhanEditora Positivo Ltda.Rua Major Heitor Guimarães, 17480440-120 Curitiba – PRTel.: (0xx41) 3312-3500 Fax: (0xx41) 3312-3599Gráfica Posigraf S.A.Rua Senador Accioly Filho, 50081300-000 Curitiba – PRFax: (0xx41) 3212-5452E-mail: [email protected]@positivo.com.br

DIRETOR-SUPERINTENDENTE:DIRETOR-GERAL:

DIRETOR EDITORIAL:GERENTE EDITORIAL:

GERENTE DE ARTE E ICONOGRAFIA:AUTORIA:

ORGANIZAÇÃO

EDIÇÃO:ANALISTA DE ARTE:

PESQUISA ICONOGRÁFICA:EDIÇÃO DE ARTE:

CARTOGRAFIA:ILUSTRAÇÃO:

PROJETO GRÁFICO:EDITORAÇÃO:

CRÉDITO DAS IMAGENS DE ABERTURA E CAPA:

PRODUÇÃO:

IMPRESSÃO E ACABAMENTO:

CONTATO:

Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda.

Exemplos

de esportes

praticados na rua

@EDF100

M311 Marangon, Davi.Ensino médio : modular : educação física : a esportivização e a desesportivização

das práticas corporais / Davi Marangon, Marcos Rafael Tonietto, Sergio Roberto Chaves Junior ; ilustrações Jack Art, Nilson Müller. – Curitiba : Positivo, 2010.

: il.

ISBN 978-85-385-6516-1 (livro do aluno)ISBN 978-85-385-6517-8 (livro do professor)

1. Educação física. 2. Ensino médio – Currículos. I.Tonietto, Marcos Rafael. II. Chaves Junior, Sergio Roberto. III. Jack Art. IV. Müller, Nilson. V. Título.

CDU 373.33

Page 3: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

SUMÁRIO

Unidade 1: O que é esportivização das práticas corporais?

Esportivização 5

Reconhecendo a forma esportivizada 6

Exemplos de esportivização 11

Esportivizando práticas corporais 15

Unidade 2: O que é desesportivização das práticas corporais?

Por que desesportivizar? 16

Caracterizando a desesportivização 17

Graus de desesportivização 19

A desesportivização na sociedade 20

Um exemplo de desesportivização: do lacrosse

ao intercrosse 21

Desesportivizando modalidades esportivas 23

Unidade 3: Transitando entre esportivização e desesportivização das práticas corporais

O lugar das práticas esportivizadas 24

O lugar das práticas desesportivizadas 25

Da esportivização à desesportivização de uma prática

corporal: traçando um percurso 27

Page 4: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

[...] penso no desenvolvimento de um projeto que busque, justamente, gerar e

experimentar um esporte diferente. [...] Um trabalho para refletir o esporte e

modificá-lo como fruto dessa reflexão, experimentando-o, desmanchando-o,

remontando-o, lapidando-o a partir de outros princípios e valores.

ASSIS, Sávio. Reinventando o esporte: possibilidades da prática pedagógica.

2. ed. Campinas: Autores Associados, 2005. p. 203

O que é esportivização das práticas corporais?

1

4 A esportivização e a desesportivização das práticas corporais

Page 5: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

São vários os tipos de esporte. Para que se entenda melhor como eles surgem e como são inventados, considere o conceito de esportivização:Esportivização é um termo utilizado para designar atividades ou práticas que se revestem da forma esportiva. Esportivizar é o ato ou efeito de converter ou transformar uma prática corporal em esporte ou de levar uma prática social a assumir os códigos próprios desse fenômeno. (GONZÁLES, 2005, p. 170).

Algumas pistas sobre esses códigos podem ser encontradas no texto a seguir:

O gol de letra de Robinho, o gol de Neymar, na quinta-feira, contra o Santo André, e o pênalti batido, por ele, com paradinha, foram lances tão simples e bonitos que parecem jogadas de peladas, brincadeiras, reencontro desses atletas com suas infâncias, em um tempo em que tudo isso era permitido. No futebol atual, sério e profissional, esses jogadores, quando erram, são criticados por jogar um futebol irresponsável e por não pensar no coletivo.

TOSTÃO. Um fala, e outros repetem. Gazeta do Povo, Colunistas, 10 fev. 2010. Disponível em: <http://www.gazeta-dopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=972285&tit=Um-fala-e-outros-repetem>. Acesso em: 15 fev. 2010.

Analisando o texto, é possível perceber que o código do esporte, privilegiado nos meios de comunicação de massa, reveste-se de profissionalismo, de alto nível de rendimento, imperando a seriedade e a responsabilidade, não se admitindo a brincadeira e a originalidade. Com essas características, inibe-se a criatividade individual e impede-se a descontração.

O sentido à prática dos esportes é dado por meio do código esportivo e, conforme for, com-portamentos estão ou não sendo reforçados, estabelecendo relações com pessoas que nem sempre estão em sintonia com valores sociais de promoção da dignidade do ser humano, por exemplo:

Quando se joga, sempre se pensa em ganhar, mesmo que seja a qualquer preço? Qual o valor de vencer se as regras são burladas? Há valor na vitória caso se rompam limites e se atente contra a própria integridade física ou

a de oponentes? Que comportamento se deve ter diante das vitórias e derrotas?

O código esportivo é o que confe-

re identidade ao esporte e dá sentido à sua prática.

Esta unidade de trabalho insere-se como um convite à reflexão sobre as práticas corporais e também como uma oportunidade de vivenciá-las de diferentes maneiras. Para começar, busca-se entender como acontece o processo de esportivização das práticas corporais.

Quando se assiste a um jogo ou mesmo pratica-se algum esporte, percebe-se que a tensão aumenta e a vontade de ganhar cresce, mesmo com a incerteza do resultado? São várias e dife-rentes as emoções que se sente ao jogar, como a felicidade pela vitória, a tristeza pela derrota do time do coração ou a ansiedade pela incerteza do resultado. É por causa dessa adrenalina que o esporte se torna um fenômeno social cada vez mais atraente, popular e abrangente, ocupando espaço nas programações da televisão, do rádio, dos jornais, da internet, da mídia em geral.

A grande intensidade da presença dos esportes no cotidiano influencia a maneira de ver o mundo, pois, além de uma prática corporal, o esporte também é uma prática social, na qual e pela qual transitam e se reforçam valores e conceitos da sociedade em que se vive.

Esportivização

Experimente essas emoções na prática. O futebol pode ser uma boa pedida já que é o esporte mais popular do Brasil. Você pode vivenciá-lo em aula, procuran-

do manter, dentro do possível, a sua forma original, da maneira como ele é visto nos campos e na televisão. Após o resultado dos jogos, converse sobre as sensações percebidas durante as partidas.

Ensino Médio | Modular 5

EDUCAÇÃO FÍSICA

Page 6: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Reconhecendo a forma esportivizada

Você sabe identificar uma modalidade esportiva?Responder a essa pergunta não é tarefa tão simples como possa parecer. Existem muitas diver-

gências e polêmicas em torno do que é ou não é um esporte, dando margem a debates e discussões.

a) Para você, o que é o esporte?

b) Cite esportes que você conhece?

c) Quais os pontos positivos e negativos dos esportes?

d) Classifique as atividades sugeridas na tabela como sen-do esporte ou não.

e) O que as atividades classificadas como esporte têm em comum?

f) O que existe em comum nos processos de esportivização de diferentes práticas corporais?

g) Que transformações são comuns nessas práticas quando passam para a esportivização?

Debatam estas questões:

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

PINGUE-PONGUE

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

AUTOMOBILISMO

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

ATLETISMO

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

BASQUETEBOL

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

MUSCULAÇÃO

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

GAMÃO

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

TÊNIS DE MESA

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

XADREZ

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

PÔQUER

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

HALTEROFILISMO

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

DAMAS

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

CORRER

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

ARVORISMO

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

TIRO AO ALVO

∙ Esporte ( )

∙ Não esporte ( )

BOLINHA DE GUDE

Dre

amst

ime/

Lavi

gna

Shut

ters

tock

/May

skyp

hoto

Shut

ters

tock

/Kze

non

Shut

ters

tock

/Muz

sySh

utte

rsto

ck/B

ostja

n U

ran

Shut

ters

tock

/Jon

atha

n La

rsen

Wik

iped

ia C

omm

ons/

Mar

k M

cArd

leSh

utte

rsto

ck/H

omeA

rtLa

tinst

ock/

Mag

man

Ph

otos

/Mar

tin P

arr

Shut

ters

tock

/Zan

yZeu

sSh

utte

rsto

ck/R

d

Olh

ar Im

agem

/Fla

vio

Bace

llar

Shut

ters

tock

/Mar

co C

appa

lung

a

Shut

ters

tock

/Ust

yuja

nin

Latin

Stoc

k/Re

uter

s/N

ir El

ias

A esportivização e a desesportivização das práticas corporais6

Page 7: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Valorização do vencedor

Shut

ters

tock

/Heb

ert K

ratk

yLa

tinst

ock/

Corb

is/R

ober

Ghe

men

t

Elementos do código esportivo O código esportivo define o aspecto comum a todos os esportes e permite classificá-los como tal,

caracterizando o que se chama de “forma esportiva”.Entre os elementos constitutivos do código esportivo, são centrais: a competição, o ren-

dimento e o recorde.

Competição: comparar e superar os adversáriosO código esportivo se caracteriza pela presença de alguma forma de competição e concorrência

entre oponentes. A competição, nesse caso, é definida como um processo pelo qual o sucesso é medido diretamente pela comparação das realizações daqueles que estão executando a mesma atividade com regras e condições padronizadas. O ambiente competitivo organiza-se em torno dessas regras formais, visando manter uma condição de igualdade no início da disputa entre os competidores que reúnem os seus recursos disponíveis e se esforçam para vencer o adversário.

RendimentoPara que seja possível vencer, exigem-se do praticante o domínio de habilidades motoras

e intelectivas e o desenvolvimento de capacidades físicas, necessárias para a resolução de problemas complexos nas situações de disputa.

Essa exigência implica a necessidade de rendimento e especialização dos atletas. Entre os fatores que aumentam o rendimento e, consequentemente, as chances de vencer os adversários, está o treinamento realizado com bases científicas para o aprimoramento físico, técnico e tático.

RecordeMesmo que o vencedor seja valorizado pela conquista da vitória, isso só não basta. É preciso

bater as melhores marcas alcançadas. Em alguns casos, há incentivos financeiros para quem consegue o recorde. A russa Yelena

Isinbayeva quebrou várias marcas mundiais no salto com vara e, a cada recorde, recebeu prêmios em dinheiro.

Afinal, o que é esporte?Além da presença dos elementos constitutivos do código esportivo, existem algumas carac-

terísticas que ajudam a definir se uma atividade é ou não um esporte. Entre elas estão o tipo da atividade realizada, as condições sob as quais elas se realizam e o sentido que orienta a ação dos participantes nelas envolvidos.

Tipo da atividade realizadaNão sem controvérsias, alguns estudiosos afirmam que, para ser um esporte, é necessária

a presença de atividades motoras e de esforço físico. Porém, essa descrição gera algumas dificuldades.

Com esse sentido, o xadrez, apesar de ser uma atividade na qual o código esportivo está presente, não se enquadraria como um esporte, pois a sua atividade principal não são o esforço físico e as atividades motoras mais complexas, mas o esforço cognitivo.

Shut

ters

tock

/Will

iam

Per

ugin

i

Yelena Isinbayeva – Recordista do salto com vara

Shut

ters

tock

/Joy

full

Com o auxílio do professor, selecionem um esporte conhecido e da preferência da turma para praticar. Durante a sua realização, prestem atenção nas características que podem ser generalizadas para outras modalidades esportivas.

Ensino Médio | Modular 7

EDUCAÇÃO FÍSICA

Page 8: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Diferentes motivações dos

participantes nas variadas condições

em que o esporte se realiza. (a)

Futsal no lazer. (b) Futsal na competição

Shut

ters

tock

/Dim

itry

Arg

unov

P. Im

agen

s/Pi

th

No entanto, até o presente momento, ninguém conseguiu desenvolver crité-rios científicos consistentes para classificar uma atividade como sendo ou não um esporte, tomando por base o critério de atividade física. A determinação é sempre arbitrária.

Além das diferenças no tipo de atividade física, também há diferenças nos vários movimentos corporais usados na participação esportiva. Habilidades mo-toras complexas podem se referir à coordenação, ao equilíbrio, à rapidez ou à precisão, enquanto a destreza física e o esforço implicam o uso da velocidade, da força, da resistência ou da combinação das três.

Condições em que a atividade se realiza

A transformação de uma atividade competitiva em esporte, geralmente, envolve a padronização das comparações pela imposição de regras em caráter universal e pelo desenvolvimento formal de habilidades. Como será visto mais adiante, a atividade torna-se padronizada e regularizada por uma instituição esportiva.

Motivação dos participantes envolvidos nas atividades

As intenções das pessoas ao praticarem um esporte podem conter tanto motivações internas quanto externas. No esporte de competição, percebe-se um desequilíbrio muito grande entre as motivações, prevalecendo motivações externas, tais como: premiações, medalhas e troféus, entre outras.

O código esportivo na sociedadeAlém de ser o principal elemento constitutivo do código esportivo, a competição

também está presente nas diversas instituições que configuram a sociedade. Entre as várias possibilidades de sua manifestação, percebe-se a presença da

competição na concorrência entre as pessoas por posições no mercado de trabalho, dos estudantes por uma vaga na universidade, das empresas em manterem a liderança no seu ramo de atuação, entre tantas outras.

Pode-se dizer que uma sociedade esportivizada é aquela que valoriza os índices, os resultados e as premiações.

Além do aspecto competitivo, está-se disseminando, em quase todas as esfe-ras da cultura, uma lógica pautada pelos códigos de esporte, como o do ranking presente na premiação dos melhores do cinema, da publicidade, dos programas de TV, do rádio e, também, do melhor funcionário do mês.

Na sociedade atual, por meio dos esportes, são sustentadas afirmações de que os indivíduos são iguais em suas oportunidades e que podem conseguir o que quiserem à custa do próprio esforço, negando a existência de diferentes situações socioeconômicas, classes sociais, gêneros, etnias, gerações, entre outras, que vão interferir nas condições iniciais das pessoas. Essas diferenças, ao mesmo tempo que geram desigualdades, também as ocultam, e isso se evidencia na falta de consciência das pessoas quanto às diferentes condições relacionadas ao ponto de partida da concorrência por melhores posições na sociedade.

Apesar de o esporte se desenvolver como uma instituição com características específicas, o código esportivo contemporâneo recebe influências dos valores da sociedade na qual ele se realiza, cumprindo com funções de reprodução cultural.

Situações de competição na

sociedade

Folh

apre

ss/C

aio

Gua

telli

Folh

apre

ss/L

uiz

Carlo

s M

urau

skas

(a)

(b)

A esportivização e a desesportivização das práticas corporais8

Page 9: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

1. Organizem-se em grupos para trocarem ideias, procurando encontrar relações entre os pontos positivos e negativos do processo de esportivização e das formas de relacionamento e dos objetivos e valores da competição presente na sociedade.

O código esportivo nas práticas corporaisNo Brasil, o código esportivo influenciou a criação de jogos entre as nações indígenas. O cabo de

guerra, que já foi um esporte olímpico, tem o seu lugar nesses jogos e se reveste de um significado político de resistência dos indígenas em defesa de suas terras.

Leia este trecho do artigo “Tradição recentemente inventada – terras indígenas e jogo ‘cabo de guerra‘” de Marina Vinha:

O simbolismo se consolidou da seguinte forma. Inicialmente, nos primeiros eventos realizados em Mato Grosso do Sul, a equipe técnica trabalhava o cabo de guerra tendo o “círculo do campo de futebol” como referência de jogo. Com isso, foi se estabelecendo que o círculo central do campo representaria a “aldeia de cada grupo indígena”. No centro do círculo era colocado um adorno. Quando cada equipe dos indígenas puxava sua porção de corda — o jogo requer força e tração dos grupos — deslocavam o significativo objeto. Se o adorno saísse do círculo significava que estavam “tirando o inimigo das suas terras”, narra Coutinho (2001).

Esportivização é um conceito que se compõe na complexidade das relações sociais, envolvendo fatores culturais, históricos, políticos e econômicos. A ideia é encontrar a presença do código esportivo nessas diferentes dimensões das relações sociais.

Cada grupo deve se responsabilizar por uma destas dimensões:

a) Código esportivo na política

b) Código esportivo na economia

c) Código esportivo no trabalho

d) Código esportivo no lazer

2. O código esportivo também pode estar presente nessa atividade. Apresente o resultado das pesquisas na forma de uma competição.

Troquem ideias para organizarem as regras em conjunto. Qual grupo conseguiu mais informações?

O esporte, como fenômeno social, reflete valores da sociedade. Quais elementos presentes nos esportes podem ser encontrados na sociedade atual?

I. Competição.

II. Hierarquização e seleção dos melhores.

III. Valorização dos vencedores.

IV. Mercadorização. Marque a alternativa correta:

a) I – III – IV.

b) I – II – IV.

c) II – III – IV.

d) I – II – III – IV.

n

Ensino Médio | Modular 9

EDUCAÇÃO FÍSICA

Page 10: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Cabo de guerra – jogos

das nações indígenas

Stud

io R

/Ros

a G

audi

tano

Você já participou de um cabo de guerra?

Ele é considerado um esporte, inclusive com regras internacionais, regu-lado pela federação Tug of War International Federation (TWIF), responsável por organizar torneios e campeonatos oficiais. Apesar de já ter sido um es-porte olímpico, o cabo de guerra foi excluído do programa dos jogos, sendo atualmente um esporte reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional. Experimente-o.

O cabo de guerra fez parte dos jogos olímpicos de 1900 a 1920

Latin

Stoc

k/A

kg-Im

ages

/Des

conh

ecid

o

Diferentes práticas corporais que, a princípio, não tinham o código esportivo, acabaram por incorporá- -las, dando origem ao fenômeno da esportivização. Eis alguns exemplos:

Práticas corporais que se esportivizaram

Prática corporal Origem Forma esportivizada

Ginásticas Exercitação corporal Ginástica artística e ginástica rítmica

LutasDesenvolver as artes marciais para o autoconhecimento e para a guerra

Judô e tae-kwon-do

Jogos Recreação, diversão e encontro Basquetebol e tênis de mesa

O cabo de guerra realizado nos eventos regionais de Mato Grosso do Sul se diferencia um pouco. Se no evento nacional separam homem e mulher, já caracterizando a equiparação de forças, que é próprio do esporte, no regional, as equipes são mistas, simbolizando a família, homem e mulher lutando por terras indígenas. Assim, “nosso cabo de guerra, ele tem sua história”, conclui o entrevistado.

No relato, o informante atribui aos indígenas de Mato Grosso do Sul a invenção do simbolismo da luta por terra. O simbolismo foi gradualmente fortalecido no decorrer da realização de vários eventos regionais estaduais. Mas o simbolismo se consolida mesmo quando Dona Dalva — esposa da liderança indígena Guató, índios canoeiros do Pantanal —, após a vitória do seu grupo no cabo de guerra, vai a público e declara para a imprensa: através dessa modalidade eu quero aqui mostrar ao mundo o quanto nós lutamos por nossas terras. A força que nós fizemos aqui, entre as mulheres e homens da nossa tribo, foi o que nós fizemos durante esses 60 anos para o resgate da Ilha Insua [local em que habitam, localizado no Rio Paraguai, no Pantanal, município de Corumbá, MS].

VINHA, Marina. Tradição recentemente inventada: terras Indígenas e jogo “cabo de guerra”. Disponível em: <http://www.anpuhsp.org.br/downloads/CD%20XVII/ST%20IX/Marina%20Vinha.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2010.

O MAIS ALTO GRAU DE ESPORTIVIZAÇÃO: CHEGAR A SER UM ESPORTE OLÍMPICO

Nem todo esporte é olímpico. Quem decide se um esporte entra ou não em um programa olímpico é o Comitê Olímpico Internacional (COI).

Um esporte será considerado olímpico se ele for praticado por homens em, no mínimo, 75 países e quatro continentes e, no caso das mulheres, se for praticado, no mínimo, em 40 países e três continentes.

Mesmo enquadrando-se na regra geral, isso não significa que o esporte estará incluído no pro-grama dos jogos olímpicos. Para evitar um número muito grande de esportes e também de atletas,

Quando uma prática corporal assume o código esportivo e se esportiviza, normalmente ela passa a existir nas duas formas: forma original e esportivizada. Porém, a mais divulgada, quase sempre, passa a ser a esportivizada.

A esportivização e a desesportivização das práticas corporais10

Page 11: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

inviabilizando, assim, a organização dos jogos, o COI definiu que um esporte só entra se outro sair. No-vamente, essa decisão de quem entra ou sai é de responsabilidade do COI, que analisa cada modalidade.

Para se tornar um esporte olímpico, o primeiro passo é ter o reconhecimento do Movimento Olím-pico. Para tanto, a federação internacional do esporte em questão deve existir há, no mínimo, dois anos, além de ter a incumbência de provar para o Movimento que o esporte possui um estatuto e um caráter olímpico.

Exemplos de esportivização

A transformação de uma prática corporal em esporte envolve a identificação da presença do código esportivo, ou seja, a institucionalização das competições marcadas por regras e condições padronizadas.

O processo de esportivizaçãoA trajetória de uma prática corporal rumo à sua esportivização passa pela integração do código

esportivo, culminando com a sua incorporação por uma instituição esportiva.O quadro mostra, de forma sintética, os elementos elencados por Valdir Barbanti que compõem

essa transformação:

Elementos da esportivização

1. As regras passam a ser padronizadas e não são mais simplesmente o produto das expres-sões espontâneas individuais ou dos interesses e das preocupações de um grupo que se reúne informalmente.

2. O cumprimento das regras passa a ser feito por entidades oficiais.

Aprendendo

os esportes

@EDF143

Esporte Modalidade Prova

Esporte aquático Natação 100 metros livres

Ginástica Artística Barras assimétricas

1. Você sabe quais esportes fazem parte do programa olímpico atual? Quais os que deixaram de ser olímpicos? Quais os que já foram reconhecidos pelo Movimento Olímpico? Procure essas informações.

2. O programa atual possui 35 esportes olímpicos (28 de verão e sete de inverno) que totalizam cerca de 400 provas. O COI estabelece também uma classificação, e os esportes são divididos em: esporte, modalidade ou prova. Na tabela, há alguns exemplos. Procure mais alguns para preenchê-la:

Ensino Médio | Modular 11

EDUCAÇÃO FÍSICA

Page 12: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

O processo de esportivização atinge o seu grau máximo quando o esporte passa a ser institucionalizado e se torna um esporte olímpico.

As instituições esportivas são organizações jurídicas que se apresentam na forma de comitês, confederações, federações e ligas. São responsáveis pela elaboração de estatutos e regulamentações detalhadas das modalidades esportivas, além de promoverem competições na forma de torneios e campeonatos. Uma instituição esportiva agrega um crescente número de funções e organiza o geren-ciamento da prática do esporte.

Quando um esporte é institucionalizado, este se organiza com regras oficiais que valem para as competições realizadas em qualquer lugar do mundo.

Esses elementos constituem um sentido de esporte com alto nível de rendimento, praticado por atletas que proporcionam verdadeiros espetáculos para quem os vê em ação.

Por produzirem alto nível de agitação em quem os assiste ou os pratica, esses esportes estão cada vez mais presentes na mídia, transformando-se em grandes negócios para as instituições esportivas, que recebem patrocínios de empresas, a fim de que as suas marcas sejam divulgadas. Como estratégia de marketing, as empresas querem seus nomes associados à vitória e ao sucesso das equipes e dos atletas.

Esses aspectos da esportivização criam a diferenciação entre o amadorismo e o profissionalismo na prática do esporte.

No esporte institucionali-zado, as regras

são geridas por entidades

oficiais que definem os

regulamentos com procedimen-

tos padroniza-dos, contendo

instruções e restrições.

Vôlei de praia

Do amadorismo ao profissionalismo: o caso do vôlei de praia

Shut

ters

tock

/Ser

gei B

achl

akov

O amadorismo foi a marca das primeiras exibições nacionais de vôlei de praia que se organizaram no Brasil a partir de 1947. Isso porque não havia nenhum apoio financeiro aos jogadores, tampouco uma instituição oficial que organizasse as competições.

O vôlei de praia brasileiro encontrou o caminho do profissionalismo quando a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) iniciou um processo de estruturação do esporte, definindo regras e organizando com seriedade as competições.

Em pouco tempo, o esporte se tornou conhecido internacionalmente, passando a ser um negócio lucrativo, fato que culminou com a profissiona-lização dos atletas.

O vôlei de praia consolidou o grau máximo de esportivização ao ingressar e permanecer como modalidade nos jogos olímpicos.

3. Os aspectos técnicos e organizacionais da atividade tornam-se importantes. A competição combinada com a exigência de regras externas conduz a atividade para se tornar cada vez mais racionalizada. Isso significa que os jogadores e treinadores têm que desenvolver es-tratégias e programas de treinamento para aumentar suas chances de sucesso. Também os equipamentos esportivos (tênis, uniformes e materiais) são desenvolvidos e produzidos para aumentar o rendimento.

4. A aprendizagem das habilidades esportivas torna-se mais formalizada. Como a organização e as regras da atividade ganham complexidade, elas devem ser aprendidas sistematicamen-te e, como a preocupação de ter sucesso aumenta, os participantes procuram a orientação de especialistas. Além do treinador, outros profissionais são requisitados, como preparador físico, médico, psicólogo, massagista, fisioterapeuta, nutricionista, etc.

Do amadorismo ao

profissionalismo:

o caso do vôlei de

praia

@EDF096

Fundamentos

do voleibol

@EDF155

A esportivização e a desesportivização das práticas corporais12

Page 13: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Aproveite para ficar atento a alguns comportamentos na realização das práticas. Para isso, com seus colegas, listem os comportamentos indesejados que aparecerem durante as atividades. Por exemplo: Surgiram desentendimentos? Quais foram os desen-tendimentos? Você sabe qual a causa deles? Quais as alternativas de superação desses desentendimentos?

Pdt

Como existem várias práticas corporais que se esportivizaram, escolha algumas para vivenciar. Depois, registre suas principais regras.

Graus de esportivizaçãoA transformação de uma prática corporal em uma prática esportiva não ocorre sempre da mesma

forma, é possível que ela incorpore com maior ou menor intensidade os elementos do código esportivo, implicando diferentes graus de esportivização.

Nos textos anteriores e nos exemplos do vôlei de praia e das modalidades vivenciadas, foi possível notar a presença de indicadores que chamam a atenção para diferentes graus de esportivização.

No quadro que segue, pode-se visualizar melhor como isso acontece:

GRAUS DE ESPORTIVIZAÇÃO

FORTE FRACA

Esportivização

Alto rendimento Baixo rendimento

Profissionalismo Amadorismo

Institucionalizado Não institucionalizado

Patrocínios Sem patrocínios

Muita presença na mídia Pouca presença na mídia

Esporte olímpico Esporte não olímpico

a) Origem e aspectos históricos da modalidade.

b) Passagem do amadorismo ao profissionalismo.

c) Entidades que gerenciam a modalidade.

d) Principais competições.

e) Principais regras da modalidade.

Tendo como referência o exemplo de esportivização do vôlei de praia, pesquisem como acontece esse processo em cada uma das modalidades que foram vivenciadas.

Cada grupo apresentará a modalidade vivenciada, procurando levantar os seguintes dados para depois trocar informações com toda a turma:

Tendo como referência as indicações do quadro com graus de esportivização, é possível encontrar práticas corporais com grau fraco, intermediário e forte. Podem-se também estabelecer graus em cada um dos indicadores e no cruzamento entre eles.

EDUCAÇÃO FÍSICA

Ensino Médio | Modular 13

Page 14: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Tomando como exemplo o indicador da institucionalização, estabelecem-se os seguintes critérios:

As práticas que não são institucionalizadas teriam grau fraco de esportivização, como as competi-ções de danças de salão.

As práticas que estão em processo de institucionalização, como o frescobol, teriam grau intermediário.

As práticas que já foram institucionalizadas, como o tae-kwon-do, teriam grau forte.

A peteca é um exemplo de modalidade esportiva com grau intermediário de esportivização.

HISTÓRICO DA PETECA

Registros no passado mostraram que a peteca, como recreação, era praticada pelos nativos brasileiros, mesmo antes da chegada dos portugueses. Consequentemente, nossos antepassados, através de sucessivas gerações, também a praticaram, fazendo chegar essa recreação indígena a todo o território brasileiro.

Nos jogos da V Olimpíada realizada na Antuérpia, capital da Bélgica, em 1920, os brasileiros que pela primeira vez participavam de uma Olimpíada, levaram petecas, para aquecimento de seus atletas, atraindo numerosos atletas de outros países, interessados na sua prática. Revela-nos o registro da época, que o Dr. José Maria Castelo Branco, chefe da Delegação Brasileira, viu-se, momentaneamente, embaraçado pelos insistentes pedidos de regras formulados por técnicos e atletas f inlandeses que, evidentemente, demonstravam interesse pela nova atividade desportiva. Coube a Minas Gerais a primazia de dar-lhe sentido competitivo, realizando jogos internos nos clubes pioneiros de Belo Horizonte.

Da rua, da grama ou da areia para as quadras, transformando essa recreação em esporte, aconteceu em Belo Horizonte, na década de 1940.

Em 1973, surgiram as regras da peteca, dando margem para a fundação da Federação Mineira de Peteca — FEMPE, em 1975, conf irmando, assim, o pioneirismo de um esporte nascido e desenvolvido entre nós. Como positivo respaldo, há muitas publicações como livros, revistas, informativos, panfletos e reportagens que enfatizam as vantagens da prática desse esporte e que pode ser jogado por crianças e adultos sem limite de idade, sendo sadio e atraente para os dois sexos, cuja velocidade é decorrente da homogenei-dade dos contendores.

[...] O esporte da peteca foi of icializado na Segunda Sessão do Plenário do Conselho Nacional de Desporto — CND, conforme Deliberação n.° 15/85 de 17 de agosto de 1985, em Brasília. Em 01 de abril de 1986, a CBDT nomeou o desportista Walter José dos Santos para dirigir seu Departamento de Peteca, codif icar as regras e regulamentos para possibilitar, em 1987, a realização do Primeiro Campeonato Brasileiro de Peteca. No dia 06 de novembro de 1986, realizou-se, em Belo Horizonte, a primeira reunião especial-mente convocada para o estudo das providências. A força desse esporte levou-o para fora das fronteiras de Minas Gerais, indo instalar-se no Distrito Federal, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Rondônia.

FEMPE. Histórico da peteca. Disponível em: <http://www.fempe.com.br/>. Acesso em: 13 mar. 2010.

O processo de esportivização da peteca no Brasil deve muito ao estado de Minas Gerais. Acompanhe esse processo no texto da Federação Mineira de Peteca.Aco

Agora que vocês conhecem um pouco mais sobre o esporte da peteca, realizem um torneio. Formem equipes, dividindo tarefas entre elas.

A esportivização e a desesportivização das práticas corporais14

Page 15: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Esportivizando práticas corporais

Todas as práticas corporais podem receber a forma esportiva. A principal característica de uma prática esportivizada é a presença dos elementos constitutivos do código esportivo: competição, rendimento e recorde.

Em uma prática corporal esportivizada, alguma coisa sempre estará em disputa entre pelo menos dois oponentes, podendo ser realizada também em equipes, de forma individual ou coletiva. A padro-nização das regras e das condições da disputa também deve ser levada em consideração.

Esportivizando o exercício de pular cordas

O pular cordas é um exemplo de fraca esportivização. É uma atividade lúdica, inicialmente, asso-ciada às crianças, mas que hoje possui também uma vertente competitiva nos Estados Unidos onde há campeonatos nacionais de pular cordas. As competições foram retratadas no filme Jump in, da Disney.

A relação

entre o jogo

e o esporte

na escola

@EDF152

Pular corda parece uma brincadeira simples e fácil, mas, quando é esportivizada, às vezes, fica difícil. Você seria capaz de pular duas cordas ao mesmo tempo?

De que formas você pularia corda em uma competição para somar muitos pontos?

Organizem-se em grupos para definir a forma da esportivização e dividir algumas tarefas, por exemplo:

Criar regras padronizadas.

Organizar um campeonato e o regulamento da competição: realização de um torneio na turma, considerando a formação das equipes, o treinamento técnico e tático, a equipe de arbitragem, o técnico e a seleção dos participantes.

Definir formas de pontuação e estabelecimento de recordes.Jack

Art.

201

0. V

etor

.

EDUCAÇÃO FÍSICA

Ensino Médio | Modular 15

Page 16: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Escolha um esporte clássico, que seja de conhecimento de todos, e organize uma partida nos moldes do grau mais forte de esportivização. Você e seus colegas devem formar equi-pes, tentando selecionar os mais habilidosos. O fundamental é que as regras de movimento e dos fundamentos da modalidade escolhida sejam seguidas com rigor, por isso uma equipe de arbitragem deve estar atenta para que as infrações sejam coibidas; e os erros, punidos.

Como o objetivo é vencer, montem estratégias, pois o mais importante é o resultado, mesmo que isso signifique não dar chances a todos.

Tomando como base de comparação o conceito de esportivização, estudado anteriormente, a desesporti-vização refere-se ao processo inverso. Se na esportivização os elementos do código esportivo determinam o sentido da pratica corporal, na desesportivização busca-se atenuar a força desse código, procurando modificar algumas de suas características centrais e imprimindo outros sentidos na realização das práticas esportivizadas.

A desesportivização é vista como uma alternativa aos processos rígidos de socialização que se evidenciam pela presença dos valores da esportivização nas várias instituições sociais, políticas, econômicas e culturais, já que permite que se façam questionamentos às regras com condições de modificá-las.

Ao questionar o caráter esportivo de alto nível dominante na sociedade, reconhecem-se, no esporte, diferentes sentidos e valores.

Por que desesportivizar?

Desportização significa modificar a forma esportiva, atribuindo-lhe um

novo código es-portivo com outros

sentidos.

Considerando as dificuldades de se realizarem as atividades esportivizadas, devido às exi-gências de alto grau de habilidade, condições físicas e biotipo adequados, a desesportivização justifica-se como uma possibilidade de tornar as práticas corporais mais acessíveis para todas as pessoas, mesmo para aquelas que não desejam ser atletas, mas que valorizam essas práticas e passam a realizá-las em seu cotidiano.

O esporte divulgado pelos meios de comunicação, apesar da necessidade de ser conhecido e apreciado, não representa a prática esportiva como sua única forma.

O que é desesportivização das práticas corporais?

2

O esporte na escola e o

esporte da escola para

a formação de futuros

atletas

@EDF166

Elementos

articuladores: o meio

para um novo fim

@EDF149

A esportivização e a desesportivização das práticas corporais16

Page 17: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Já que é difícil realizar o sentido do esporte com forte grau de esportivização conforme conhecemos e a que assistimos pela televisão, pergunta-se: É possível fazer diferente? Desesportivizar as práticas corporais seria uma alternativa?

Mesmo quando a forma esportiva se reveste de diferentes graus de esportivização, o código esportivo permanece o mesmo e o princípio da seleção dos melhores impera, tornando a sua prática restrita a poucos, normalmente aos que apresentam o maior domínio das habilidades já mencionadas.

Desesportivizar não significa a eliminação do código esportivo ou da prática dos esportes, mas revesti-los com outros sentidos, diminuindo os fatores que impedem o acesso da maioria das pessoas à sua vivência.

A desesportivização permite entender e questionar o processo de exclusão que acompanha a forma esportivizada e sugere que se criem espaços de participação efetiva para todas as pessoas nas práticas corporais, exigindo mudanças nos sentidos do código esportivo.

Fatores, como a seleção dos melhores e a exclusão das pessoas que não apresentam o perfil do atleta, característicos de práticas esportivizadas com forte grau de esportivização, podem e devem ser questionados e modificados.

Os elementos que compõem as características da esportivização podem servir de referência para elencar possibilidades de desesportivização.

A visualização dessa possibilidade pode ser analisada neste quadro comparativo:

Quadro comparativo

Esportivização Desesportivização

Rivalidade Solidariedade

Rendimento máximo Rendimento possível

Resultado Processo

Treinamento Vivência

Valorização dos melhores (seleção/exclusão) Valorização de todos (inclusão)

Tensão Descontração

Regras rígidas Regras flexíveis

A diferença entre a realização da prática esportivizada e da prática desesportivizada está na inversão de sentido do que é mais importante e deve, portanto, ser valorizado.

Caracterizando a desesportivização

Depois, registre na tabela as dificuldades observadas na realização das partidas:

Dificuldades observadas nas partidas

Ensino Médio | Modular 17

EDUCAÇÃO FÍSICA

Page 18: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Rivalidade x solidariedadeNa prática esportivizada, a competição é extremada, vencer significa ter mais poder e ser superior

ao adversário, que é visto como um inimigo a ser dominado. Na prática desesportivizada, a competição tem um caráter solidário, e o adversário é visto e respeitado como um companheiro de jogo, sem o qual a própria competição não faria sentido.

Na competição solidária, não se descarta a disputa entre equipes, porém ela se reveste de caráter cooperativo. A relação não se dá entre adversários ou rivais, mas entre companheiros de jogo. A regra é jogar com os colegas e não jogar contra inimigos.

Rendimento máximo x rendimento possívelSe, na prática esportiva de alto nível, exige-se o rendimento máximo dos atletas, na prática de-

sesportivizada, cada um faz o seu possível.O rendimento possível de cada um implica dedicação em fazer o melhor, porém a pessoa não deve

ser comparada com o melhor, tampouco com os padrões de habilidade máximos impostos pela rigidez das regras, mas com os seus próprios avanços.

Resultado x processoNo esporte institucionalizado, o objetivo sempre é ganhar, porém, como existem pressões externas

e cobranças pelo resultado, muitas vezes se estabelece a regra do “vencer a qualquer preço” e “levar vantagem em tudo”. Quando imperam essas regras, o esporte deixa de ser um meio de realização, pas-sando a ser um meio de destruição, pois, para ganhar, tudo passa a valer, por exemplo: burlar regras, agredir o adversário tanto física como verbalmente e assim por diante.

Existe uma falsa relação de que ser vencedor no esporte é ser vencedor na vida e de que ser melhor nos esportes equivale a ser uma pessoa melhor.

Na desesportivização, a ideia central é encontrar satisfação interna de atuar em determinada prática corporal competitiva, vencendo ou não. Mesmo que o objetivo de vencer não se cumpra, na desesportivização, o processo de participação efetiva garante níveis de realização satisfatórios.

Treinamento x vivênciaAs práticas corporais esportivizadas exigem treinamento sistemático para o aprimoramento técnico,

tático e físico do sujeito-atleta na modalidade em questão. Para melhorar as habilidades motoras e as capacidades físicas e psicológicas exigidas para o esporte, é necessário um longo período de repetições para que se alcance domínio total na realização prática.

No processo de desesportivização, o foco está na vivência da modalidade esportiva. O objetivo da prática está em conhecê-la de forma mais ampla, experimentando e criando novos sentidos para a realização dos esportes.

Valorização dos melhores x valorização de todosQuando se está em uma partida oficial de um esporte, as estratégias e táticas desenvolvidas, apesar

de serem coletivas, priorizam os mais habilidosos que acabam sendo acionados com maior frequência e são também os mais valorizados pelas conquistas da equipe.

Nas práticas desesportivizadas, todos devem ser acionados de igual maneira, e devem ser valoriza-dos, independentemente do resultado e do grau de domínio das habilidades requeridas. As estratégias devem se preocupar em abrir espaços de participação de todos e de cada um, ao mesmo tempo que cada um e todos devem se dedicar a ocupar os espaços abertos para que a sua participação aconteça de forma efetiva.

Tensão x descontraçãoNas práticas esportivizadas profissionais, a tensão aumenta, pois há muito em jogo e uma forte

pressão pelos resultados: para os técnicos, uma sequência de derrotas do seu time pode causar sua

Solidarieda-de: sentimento

que leva os homens a se

auxiliarem mutuamente

(AURÉLIO, 2004, P. 1870).

A esportivização e a desesportivização das práticas corporais18

Page 19: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

demissão; para os atletas, não corresponder às expectativas da torcida ou do técnico, pode acarretar desemprego ou diminuição de salário.

Na prática desesportivizada, as cobranças por resultado e rendimento diminuem, aliviando também a tensão, de modo que permaneçam somente os seus aspectos positivos: motivação pelo fato de estar em jogo e adrenalina pela incerteza do resultado. Nesse caso, a descontração é maior e o prazer de realizar a atividade aumenta.

Regras rígidas x regras flexíveisComo já foi estudado anteriormente, uma das características marcantes do processo de esportivi-

zação é a institucionalização do esporte. As regras são geridas por uma instituição esportiva e passam a ser respeitadas, nas competições oficiais, em todos os lugares do mundo.

A preocupação das práticas desesportivizadas está em atender ao princípio de inclusão de todos na competição esportiva. A necessidade de inclusão implica a flexibilização do código esportivo e a sua transformação. O processo de desesportivização permite, e torna possível, modificar as regras para atender às necessidades dos envolvidos, diminuindo as dificuldades de participação de todos.p

1. Para compreender melhor os contrastes entre os sentidos dados pelos elementos do quadro com-parativo entre as características de atividades esportivizadas e desesportivizadas, nada melhor do que experimentá-los em uma prática. Formem grupos e escolham modalidades esportivas da preferência de todos para fazer uma simulação, encenando os diferentes sentidos.

2. Depois das encenações, é chegado o momento de fazer um debate sobre as ideias que sustentam as práticas esportivizada e desesportivizada. A ideia do debate é levantar argumentos para defender e criticar essas duas possibilidades de realização da prática esportiva.

Diferentes graus de desesportivização podem ser definidos. Será maior ou menor de acordo com a intensidade das modificações feitas em uma modalidade esportiva.

Tornar a prática esportivizada mais acessível para todos vai depender da percepção dos participantes e das dificuldades em realizar as regras rígidas, com padrões de execução muito altos. As modificações das regras devem ser feitas de acordo com as necessidades sentidas pelos participantes.

Somente a modificação das regras não é suficiente para caracterizar a prá-tica desesportivizada. É necessário tam-bém que as intenções dos participantes, na realização da atividade, estejam li-gadas aos elementos característicos da desesportivização, ou seja, a vivência da atividade deve promover a solidarieda-de e a descontração, a valorização de todos, a ênfase na participação e no rendimento possível de cada um.

O quadro ao lado mostra os dife-rentes graus de desesportivização, de acordo com as mudanças das regras das modalidades esportivas:

Graus de desesportivização

Fraca Forte

Poucas Muitasmodificações modificações

Desesportivização

Regras

Tempo

Espaço

Movimentos

Participantes

Materiais

Graus de desesportivização pela

Ensino Médio | Modular 19

EDUCAÇÃO FÍSICA

Page 20: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

O texto, que segue, traz uma reflexão do professor de Educação Física, Sávio Assis. Ele dá algumas pistas sobre como se dão as relações entre o esporte e a sociedade. Também aponta para as possibi-lidades da desesportivização como forma de questionamento dos valores da sociedade. Acompanhe o pensamento do autor.

A desesportivização na sociedade

De acordo com o texto, o esporte carrega diferentes sentidos. Pode-se dizer que a desesportivização das práticas corporais fortalece o sentido da criação cultural, por parte das pessoas, contrapondo-se ao sentido que alimenta a esportivização das práticas corporais; e procura questionar as regras de concorrência que não favorecem a realização das potencialidades das pessoas quando estão executando as práticas corporais.

Ao questionar alguns elementos que dão sentido à esportivização, a desesportivização torna- -se uma forma de exercício que favorece discussões em outras instâncias, por exemplo, na esfera das contradições sociais.

Assim, a desesportivização pode ser encarada como uma forma de conscientização a respeito de valores sociais e, também, de reflexão sobre a necessidade de mudanças na sociedade de uma maneira geral, no sentido de maior equidade nas condições de vida dos indivíduos.

Equidade: disposição de

reconhecer igualmente o

direito de cada um; justiça.

O esporte representa o modelo perfeito da sociedade concorrencial, regrada, que valoriza

e premia a competência, elemento diferenciador dos homens no reino da escassez. Ele repre-

senta todo um processo de afunilamento de exclusão. No início, todos são iguais, todos têm

direito à vitória, à possibilidade formal de obter sucesso. Depois, no processo, os competentes

se estabelecem. Mas, à semelhança do que ocorre “na vida”, os competentes no esporte são

quase sempre os “bem-nascidos” e “bem-criados”. Os poucos exemplos de vitoriosos que vêm

de baixo, que surgem do nada, servem apenas para ilustrar o discurso que imprime a ideia do

esforço recompensado e/ou da prevalência dos dons pessoais. O esporte faz tudo isso [...].

Mas o esporte traz consigo, na sua origem, a cultura do povo, modificada e transformada em pro-

duto de consumo. Traz consigo possibilidades contraditórias, estabelecidas em sua própria dinâmi-

ca, de forma que é possível enfatizar situações que privilegiem a solidariedade sobre a rivalidade,

o coletivo sobre o individual, a autonomia sobre a submissão, a cooperação sobre a disputa, a dis-

tribuição sobre a apropriação, a abundância sobre a escassez, a confiança mútua sobre a suspeita,

a descontração sobre a tensão, a perseverança sobre a desistência e, além de tudo, a vontade de

continuar jogando em contraposição à pressa para terminar o jogo e configurar resultados.

ASSIS, Sávio. Reinventando o esporte: possibilidades da prática pedagógica. 2. ed. Campinas: Autores

Associados, 2005. p. 195-196.

O esporte é considerado um fenômeno sociocultural que revela os valores e as contradições da sociedade, entre elas a discriminação e a exclusão. Levando-se em consideração o texto lido, marque as alternativas que sugerem a superação dessas contradições na prática esportiva:

a) Nas ações e movimentações exigidas pela modalidade esportiva, deve ser favorecida a participação de todos, independente-mente do nível de habilidade.

b) Manter as regras, sem modificá-las.

c) O mais importante é manter o objetivo de vencer, por isso os mais habilidosos devem ser mais acionados.

d) Todos os participantes devem ocupar seu espaço e não esperar que alguém favoreça a participação.

A esportivização e a desesportivização das práticas corporais20

Page 21: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Um exemplo de desesportivização: do lacrosse ao intercrosse

Lacrosse

Shut

ters

tock

/Jam

es M

Phe

lps

Jr.

Principais modificações que podem ser identificadas no intercrosse tendo como referência o lacrosse

Regras Lacrosse Intercrosse

Contato corporal

O contato corporal é permitido assim como algumas formas de uso do corpo para bloqueio do adversário.

Contato físico não é permitido, nem corporal nem com os tacos.

Espaço Campo de aproximadamente 100 x 55 metros.Pode ser jogado em praticamente qualquer quadra, mas suas dimensões oficiais são 40 x 20 metros. Também é recomendada uma altura mínima de cinco metros. Cada gol possui um semicírculo desenhado à sua frente.

TempoA partida é dividida em quatro períodos de 20 minutos.

Uma partida tem a duração de quarto períodos de 12 minutos cada, com in-tervalo de dois minutos entre o primeiro e o segundo tempos, assim como entre o terceiro e quarto, e um intervalo de 10 minutos na metade do jogo.

Número de jogadores

Equipe de 10 jogadores, incluindo um goleiro e até 13 substitutos. No feminino, o número de jogadoras é de 12.

Quatro jogadores e um goleiro por equipe “em jogo”. É permitida a substi-tuição de jogadores durante o jogo.

Shut

ters

tock

/Intra

Cliq

ue LL

C

Intercrosse

Entre o lacrosse e o intercrosse, há uma relação que caracteriza o processo de desesportivização.

O lacrosse, em sua forma original – não esportivizada –, era um jogo desenvolvido por índios canadenses, inicial-mente, com objetivos de preparação para a guerra e como uma experiência espiritual.

A forma esportivizada do lacrosse teve início em 1856 quando o Dr. William George Beers fundou o Clube de Lacrosse de Montreal.

O jogo desenvolveu-se e espalhou-se, alcançando o grau máximo de esportivização, o que resultou em sua condição de esporte olímpico em Sant Louis, 1904, e Londres, 1908. Tam-bém foi modalidade de exibição nos Jogos Olímpicos de 1928.

O objetivo do jogo é introduzir uma pequena bola em uma trave, usando bastões (sticks) que possuem uma rede na

sua extremidade. Esses bastões são chamados também de crosses (cruz).

Entre as suas principais características estão o domínio da velocidade, o controle da bola e a

capacidade de jogar em equipe. Cada equipe é composta por três

atacantes e três médios, além de três defensores e um goleiro, os quais

usam crosses ligeiramente maiores para proteger a baliza que mede 1,80 x 1,80 metro.

Nessa modalidade, é permitido o contato físico, corpo com corpo e

crosse com crosse. Será falta, quando

há contato entre um jogador e um crosse. É por isso que os jogadores usam capacetes e luvas, entre ou-tras proteções. O jogo inicia-se com bola no chão, e os jogadores podem correr com ela, passá-la pelo ar ou até chutá-la.

Devido à grande velocidade das ações, existe uma média de 20 gols por jogo e o relógio não para. O campo tem 100 metros de comprimento e 55 de largura, e o jogo é disputado em quatro partes de 15 minutos cada.

O lacrosse deu origem ao intercrosse, passando por algumas modificações, geridas por uma federação internacio-nal, a qual define quatro valores essenciais que descrevem os ideais do esporte, são eles: movimento, autonomia, respeito e comunicação.

Esses valores devem estar presentes em todos os mo-mentos do jogo dentro ou fora do campo. É esse aspecto que indica a presença, no intercrosse, de um movimento de desesportivização do lacrosse.

Essa mudança de sentido é percebida na forma como são organizadas as competições, por exemplo, os campeonatos mundiais de intercrosse se caracterizam, principalmente, pela preocupação em integrar pessoas de vários países e níveis de habilidade para a formação das equipes, que são constituídas por membros de diferentes países em um só time. O sorteio para formação das equipes ocorre em um cerimonial antes do início das competições.

Ensino Médio | Modular 21

EDUCAÇÃO FÍSICA

Page 22: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Pode-se dizer que o grau de desesportivização do lacrosse em sua transformação no intercrosse é intermediário, pois as modificações visando à inclusão e à integração dos jogadores, tanto dentro como fora do campo, mudam o sentido do jogo, mesmo que algumas estruturas do lacrosse permaneçam.

Chegou a hora de organizar um jogo do intercrosse. Porém, antes de começar a jogar, é importante fazer “combinados” que representem o valor e o sentido da desesportivização.

Desentendimentos como esses acontecem em jogos? Qual será a sua causa?Prestem atenção aos eventuais desentendimentos que ocorreram na realização da disputa e

nas emoções dos jogadores. Como se sentiram com o resultado? Houve cobrança por parte dos companheiros da equipe? Alguém da equipe não foi acionado no transcorrer da competição?

Com base nas respostas, combine formas de enfrentar e resolver os desentendimentos que, porventura, venham a acontecer, por meio da conversa construtiva, pautada pelo respeito mútuo e pela participação de todos. Afinal, esse é o ideal do jogo do intercrosse.

Observe as cenas dessas imagens e depois responda:

WATTERSON, Bill. A hora da vingança: as aventuras de Calvin e Haroldo. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2009. p. 113.

Para desenvolver o jogo, é possível começar com as regras básicas e, conforme surjam necessidades durante o jogo, incluir ou excluir algumas regras do intercrosse, dando mais um passo na desesportivi-zação do lacrosse.

Os equipamentos e materiais para essa vivência prática podem ser adaptados e construídos com mate-riais de reciclagem, por exemplo: cabo de vassoura, garrafas de PET e bolinhas de papel, entre outros.

A esportivização e a desesportivização das práticas corporais22

Page 23: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Desesportivizando modalidades esportivas

Calvin e Haroldo by Bill Watterson

Os praticantes podem desesportivizar uma prática esportiva? Veja na tirinha o que Calvin e Haroldo pensam a respeito do beisebol:

Para eles, a sua maneira própria de jogar transforma o beisebol em um esporte muito inteligen-te. Quem conhece um pouco desse esporte sabe que existem apenas quatro bases que devem ser percorridas e que não existe bonificação por descoberta de bases ocultas ou algo semelhante. Mas os dois personagens preferem jogar de outra forma, o que lhes proporciona prazer.peros

1. Assim como foi feito na proposta de esportivização, agora formem grupos para escolher modalidades esportivas com o objetivo de desesportivizá-las. As escolhas devem ser realizadas em uma das seguintes categorias:

Jogo desesportivizado

Regras originaisRegras

modificadas

Ginástica desesportivizada

Regras originaisRegras

modificadas

Luta desesportivizada

Regras originaisRegras

modificadas

2. Após escolher a modalidade esportiva dentro da categoria designada, os grupos devem propor sua desespor-tivização. A turma deve realizar, primeiramente, a forma esportivizada e, em seguida, com as modificações.

Conhecendo os elementos constitutivos da modalidade, cada grupo deve modificar as regras, procurando atenuar os elementos esportivos e apresentar aos colegas uma proposta para a turma toda praticar a forma desportivizada elaborada.

É preciso estar atento aos “combinados” registrados no regulamento e avaliar se estão sendo cumpridos por todos e se novos itens devem ser adicionados.

WATTERSON, Bill. Os dias estão simplesmente lotados:

um livro de Calvin e Haroldo. São Paulo: Best News, 1995. p. 5.

Ensino Médio | Modular 23

EDUCAÇÃO FÍSICA

Page 24: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Nas unidades anteriores, foram estudados os conceitos de esportivização e de desesportivização e vivenciadas diversas possibilidades em cada um dos tipos analisados. Agora, torna-se importante entender em que situações, lugares e espaços os sentidos de esportivização e desesportivização devem ser priorizados.

O lugar das práticas esportivizadas

Como a prática esportiva de alto nível de rendimento e desempenho necessita de treinamento metódico, ela exige de quem pretenda se tornar um atleta o domínio excelente das habilidades motoras e o desenvolvimento das capacidades físicas e psicológicas requeridas por determinada modalidade.

Normalmente, o lugar das práticas esportivizadas com foco no alto nível de rendimento são os clubes ou centros de excelência esportiva, que oferecem as condições adequadas de treinamento nas diferentes modalidades esportivas. Nesses espaços, deve existir uma equipe para acompanhar o atleta em todas as suas necessidades e fazer a melhor programação de treinamento para que ele possa chegar às competições no mais alto nível de sua forma atlética.

Porém, não é tão fácil se tornar um atleta de alto nível. Muitos fatores estão envolvidos.

RECEITA DE CAMPEÃO

A GLÓRIA OLÍMPICA NÃO É PARA QUALQUER UM. SÓ TEM CHANCE QUEM NASCEU COM O FÍSICO CERTO

Bernard e Montanaro foram destaques da seleção brasileira de vôlei vice-campeã olímpica em Los Angeles-84. Se tivessem nascido quinze anos depois, com certeza, os dois teriam seguido outra carreira. De nada adiantaria sua indiscutível competência na quadra. Hoje em dia, um treinador precisaria estar louco para incluir os dois garotos na equipe olímpica de vôlei. Com “apenas” 1,87 m de altura, Bernard e Montanaro seriam considerados nanicos pelos padrões atuais desse esporte.

É assim em várias modalidades. Os futuros atletas profissionais são selecionados já na infância a partir de um critério em que o biotipo é tão importante quanto a habilidade.

Transitando entre esportivização e de-sesportivização das práticas corporais

3

A esportivização e a desesportivização das práticas corporais24

Page 25: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

A prática realizada na iniciação esportiva e em médio nível de rendimento pode ter lugar nas escolas e nas escolinhas de esportes em clubes ou associações de bairro.

Entretanto, para quem não quer se tornar um atleta ou, mesmo querendo, não consiga alcançar o nível exigido, o esporte de alto nível cumpre o papel de entretenimento, isto é, ele deve ser visto para melhor ser compreendido, apreciado e criticado naquilo que traz de negativo, como a violência ou o estimulo ao consumismo.

“Oitenta por cento de um campeão é herança genética”, diz [...] o médico Osmar de Oliveira, especialista em esportes. “Os outros 20% dependem de treinamento, controle mental e tecnologia”. É inútil, portanto, os pais sonharem com o filho no pódio do vôlei se não puderam transmitir a ele a combinação de genes para que ele atingisse cerca de 2 metros de altura. Só com força de vontade ninguém vai longe. O atleta de alto nível é, por definição, dono de um físico privilegiado. Não é só uma questão de estatura. O pesquisador australiano Ronald Tren, da Universidade de Nova Gales do Sul, descobriu no ano passado que os remadores da equipe olímpica da Austrália possuem um certo gene ligado à melhoria da atividade cardiovascular numa proporção quase 40% maior do que a média da população.

FELIPPE, Cristiana. Receita de campeão. Disponível em: http://super.abril.com.br/esporte/receita-campeao-441495.shtml. Acesso em: 5 mar. 2010.

As práticas desesportivizadas transformam as regras rígidas das modalidades esportivas de acordo com as necessidades dos praticantes e com as condições físicas e materiais disponíveis.

Nas escolas, nos parques e nas praças, nos clubes, enfim, em qualquer lugar, é possível adaptar, improvisar e criar novas alternativas para as práticas corporais desesportivizadas.

Um lugar característico para práticas desesportivizadas é a rua, que pode ser um ótimo espaço para alguns esportes, porém o grau de desesportivização deve ser bastante alto, pois necessita de várias modificações para se adequar a esse espaço.

Depois de ler atentamente os dois tópicos anteriores, reúna-se com um colega para responder à seguinte questão:

Qual sentido deve orientar o praticante comum dos esportes, ou seja, aquele que não será um atleta: o da esportivização ou o da desesportivização?

O lugar das práticas desesportivizadas

Mesmo sendo a rua o lugar das práticas desesportivizadas, ela apresenta algumas contradições, por exemplo, a violência e a discriminação. Isso ocorre porque este não é um espaço de reflexão sobre essa questão de forma intencional, como é o caso das práticas esportivizadas e desesporti-vizadas realizadas no espaço escolar.

Leia esta crônica de Luis Fernando Verissimo e observe com mais detalhes as características de uma prática desesportivizada de rua:

A iniciação

precoce na

prática de

esporte

@EDF135

Ensino Médio | Modular 25

EDUCAÇÃO FÍSICA

Page 26: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. Mas existe um tipo de futebol ainda mais rudimentar do que a

pelada. É o futebol de rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é o Maracanã em

jogo noturno. Se você é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do que eu estou falando. Futebol de rua é tão

humilde que chama pelada de senhora.

Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais

ou menos assim:

DA BOLA – A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. No desespero, usa-se

qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do seu irmão menor, que sairá correndo para

se queixar em casa. No caso de se usar uma pedra, lata ou outro objeto contundente, recomenda-se jogar de sapatos. De

preferência os novos, do colégio. Quem jogar descalço deve cuidar para chutar sempre com aquela unha do dedão que

estava precisando ser aparada mesmo. Também é permitido o uso de frutas ou legumes em vez de bola, recomendando-

-se nestes casos a laranja, a maçã, o chuchu e a pera. Desaconselha-se o uso de tomates, melancias e, claro, ovos. O

abacaxi pode ser utilizado, mas aí ninguém quer ficar no golo.

DAS GOLEIRAS – As goleiras (traves) podem ser feitas com, literalmente, o que estiver à mão. Tijolos, paralelepí-

pedos, camisas emboladas, os livros da escola, a merendeira do seu irmão menor, e até o seu irmão menor, apesar dos

seus protestos. Quando o jogo é importante, recomenda-se o uso de latas de lixo. Cheias, para aguentarem o impacto.

A distância regulamentar entre uma goleira e outra dependerá de discussão prévia entre os jogadores. Às vezes esta

discussão demora tanto que quando a distância fica acertada está na hora de ir jantar. Lata de lixo virada é meio gol.

DO CAMPO – O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, e a calçada do outro lado e – nos clássicos – o

quarteirão inteiro. O mais comum é jogar-se só no meio da rua.

DA DURAÇÃO DO JOGO – Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém da

vizinhança ameaçar chamar a polícia.

DA FORMAÇÃO DOS TIMES – O número de jogadores em cada equipe varia, de um a 70 para cada lado. Algumas con-

venções devem ser respeitadas. Por exemplo, ruim vai para o golo. [...]

DAS SUBSTITUIÇÕES – só são permitidas substituições:

a) no caso de um jogador ser carregado para casa pela orelha para fazer a lição;

b) em caso de atropelamento.

DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar brincando.

DA TÁTICA – Joga-se o futebol de rua mais ou menos como o Futebol de Verdade (que é como, na rua, com reve-

rência, chamam a pelada), mas com algumas importantes variações. O goleiro só é intocável dentro de sua casa, para

onde fugiu gritando por socorro. É permitido entrar na área adversária tabelando com uma Kombi. Se a bola dobrar a

esquina é córner.

DAS PENALIDADES – A única falta prevista nas regras de futebol de rua é atirar um adversário dentro do bueiro. É

considerada atitude antiesportiva e punida com tiro indireto.

VERISSIMO, Luiz Fernando. Futebol de rua. In: NOVAES, Carlos Eduardo et al. Para gostar de ler: crônicas 6. São Paulo: Ática, 2002.

Futebol de rua

Você conhece mais alguma modalidade, além do futebol de rua, que se desesportivizou e ficou conhecida como uma prática de rua?

Um exemplo que pode ser salientado é o basquete de rua. Surgiu nos Estados Unidos como streetball, caracterizado por uma variação do basquetebol tradicional. O jogo difundiu-se pelo mundo, ligado, principalmente, ao movimento hip-hop. As regras são menos rígidas do que o basquete de quadra, podendo ser jogado com qualquer tipo de formação: um contra um, dois contra dois até cinco contra cinco. No Brasil, as disputas mais comuns são as de três contra três.

Diferentemente do basquete original, de quadra, o que confere ao basquete de rua graus de desesportivização é a mudança de sentido: é um jogo alegre e “gingado”, em que são valorizadas a liberdade de criar e improvisar jogadas diferentes, assim como a habilidade, a improvisação e a criatividade. As regras são flexíveis e modificadas para que as partidas possam ser jogadas em qual-quer lugar: praças, ruas, estacionamentos, entre outros.

Esportes

praticados na rua

@EDF100

A esportivização e a desesportivização das práticas corporais26

Page 27: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Da esportivização à desesportivização de uma prática corporal: traçando um percurso

O exercício agora será o de criar um percurso no qual a prática corporal passará por diferentes sentidos.

Muitos esportes têm suas origens ligadas aos rituais de povos antigos, quase sempre com sentido espiritual. Em seu início, os esportes eram formas de representação religiosa cuja finalidade última é o ritual, sem que ainda tenha se configurado o código esportivo propriamente dito.

Veja o exemplo do tlachtli, o jogo de bola mesoamericano que alguns autores associam ao basquete. Apesar das semelhanças que poderiam sugerir que o basquete teria sua origem no tlachtli, não existe nenhuma confirmação de ordem científica ou registro histórico que confirme tal associação.

As regras do Tlachtli:Um observador que percorre todos os sítios arqueológicos conhecidos da Mesoamérica

só encontrará dois tipos de campos (ou quadras) de Tlachtli: um em forma de “I” (como o número “um” em algarismos romanos, ou seja, com um traço em cima e outro embaixo) e o outro em forma de “T”. Isso quer dizer que havia algumas variações de lugar para lugar, no entanto o primeiro formato é o mais comum.

O esporte era praticado com uma bola de borracha maciça (mais um indício de que o jogo tenha sido criado pelos Olme-cas, visto que eles eram os habitantes do país da borracha, ou seja, viviam numa região onde as seringueiras, das quais é extraído o látex utilizado na confecção da borracha, é reti-rado) que, aliás, era muito pesada (pesava entre 3 kg e 5 kg), o que demandava equipamentos de proteção aos jogadores.

Antes de falarmos dos equipamentos de proteção, de-vemos falar das regras propriamente ditas. Os times eram compostos de sete jogadores (todos homens, não há indícios de que mulheres tenham praticado o Tlachtli). Era proibido a qualquer jogador reter a posse da bola, sendo assim o jogo era extremamente dinâmico, pois quem recebia já passava a pelota. Por sua vez, a bola não podia ser chutada, nem cabe-ceada, nem mesmo tocada com as mãos; só era permitida a utilização dos joelhos, cotovelos e bacia para tocar a bola ou arremessá-la rumo ao aro.

Sim, o objetivo do jogo era fazer com que a bola passasse uma única vez por dentro de um aro de pedra preso na parede. Cada time tinha o seu aro (que deveria ser defendido) e precisava buscar o ponto levando a bola até o aro do adversário. Não havia tempo de dura-ção máximo nem mínimo para uma partida, ela só terminava quando algum time conseguia o objetivo, sendo assim, devido à enorme dificuldade da façanha, acredita-se que muitas partidas levavam mais de seis horas para terminarem.

Quanto aos equipamentos de segurança, sabe-se que os jogadores jogavam descalços, mas tinham uma espécie de joelheira feita de couro e madeira, uma espécie de cotoveleira con-feccionada no mesmo material, portavam ainda um protetor para a bacia e um capacete (pois apesar de não serem permitidas as cabeçadas, uma bolada acidental na cabeça poderia ser fatal).

Os jogadores deviam sair imundos das partidas, isso porque, apesar de o estádio ser feito em pedra, o campo em si era de terra e a maioria das jogadas se dava com os jogadores se lançando ao chão para impulsionar a bola com a bacia, sendo que cotovelos e joelhos eram muito menos utilizados.

FIGUEIREDO, Danilo José. Tlachtli: esporte ou ritual de sangue? Disponível em: <http://www.klepsidra.net/klepsidra13/teotlachtli.htm>. Acesso em: 29 fev. 2010.

Nils

on M

üler

. 200

9. D

igita

l.

EDUCAÇÃO FÍSICA

Ensino Médio | Modular 27

Page 28: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Muitas práticas corporais sofrem mudanças de sentido ao longo do tempo. Uma forma de visualizar o caminho das mudanças pode ser a presença ou não do código esportivo na organização dessas práticas.

Observe na figura uma representação desse caminho:

Não há presença do código esportivo. Há presença do

código esportivo, porém de forma atenuada.

Mudança no sentido do código esportivo.

Há a forte presença do código esportivo.

PRÁTICA NÃO ESPORTIVIZADA

PRÁTICA

SEMIESPORTIVIZADA

PRÁTICA ESPORTIVIZADA

PRÁTICA

DESESPORTIVIZADA

Percorra esse caminho, seguindo a trajetória. Comece com uma prática não esportivizada bem conhecida – o pega-pega.

1. Realizar o pega-pega, entendido com uma prática corporal não esportivizada.

2. Propor uma possibilidade semiesportivizada para o pega-pega, acrescentando um grau intermediário de esportivização.

3. Transformar essa prática em esportivizada, imprimindo-lhe um forte grau de esportivização.

4. A prática esportivizada do pega-pega deve ser mais uma vez modificada como uma alternativa de deses-portivização.

A presença maior ou menor do código esportivo vai determinar a característica principal da prática corporal e o grau de sua esportivização e/ou de sua desesportivização.

No gráfico, estão representados os diferentes graus nos quais se enquadram as práticas corporais. Analise o gráfico e marque a alternativa incorreta:

a) Quanto maior for a presença das características do código esportivo em uma prática corporal, mais esportivizada ela será.

b) Nas práticas não esportivizadas, existe a presença do código esportivo com maior intensidade.

c) As práticas semiesportivizadas se caracterizam por um grau intermediário de esportivização.

d) Nas práticas desesportivizadas, modifica-se o código esportivo, atenuando-se a sua força.

e) Nas práticas semiesportivizadas, há um sentido de adição do código esportivo e, nas práticas desespor-tivizadas, há um sentido de diminuição desse código.

A esportivização e a desesportivização das práticas corporais28

Page 29: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Ensino Médio | Modular 29

Anotações

EDUCAÇÃO FÍSICA

Page 30: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

30

Anotações

Page 31: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

Ensino Médio | Modular 31

Anotações

EDUCAÇÃO FÍSICA

Page 32: A esportivização e a desesportivização das práticas corporaisprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/EDUCACAO FISICA/SPE_… · SUMÁRIO Unidade 1: O que é esportivização

32

Anotações