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CIÊNCIA E TÉCNICA ENFERMAGEM EM EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR: EXISTEM OU NÃO COMPETÊNCIAS? ENTREVISTA ENFERMEIRO RUI FONTES FALA-NOS DA SUA EXPERIÊNCIA NA GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€ A ENFERMAGEM EM AÇÃO ISSN 0872-8844

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CIEcircNCIA E TEacuteCNICAENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

ENTREVISTAENFERMEIRO RUI FONTES FALA-NOS DA SUA EXPERIEcircNCIA NA GESTAtildeO DE LARES DE IDOSOS

enfermagem em revista

Nordm105 DEZEMBRO 2012 65euro

A ENFERMAGEM EM ACcedilAtildeO

ISSN

087

2-88

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SUMAacuteRIO

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PUBPUB

CUIDAMOSDA SUA FORMACcedilAtildeO

PARQUE EMPRESARIAL DE EIRASLOTE 19 EIRAS3020-265 COIMBRAtElEfOnE 239 801 020fax 239 801 029

Mais informaccedilotildees em wwwsinaisvitaispt

FICHA TEacuteCNICAPROPRIEDADE E ADMINISTRACcedilAtildeO Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda Parque Empresarial de Eiras Lote 19 Eiras - 3020-265 Coimbra T 239 801 020 F 239 801 029 CONTRIBUINTE 503 231 533 CAPITAL SOCIAL 2194790 euro DIRECTOR Antoacutenio Fernando Amaral DIRECTORES-ADJUNTOS Carlos Alberto Margato Fernando Dias Henriques EDITORES Armeacutenio Guardado Cruz Joatildeo Petetim Ferreira Joseacute Carlos Santos Paulo Pina Queiroacutes Rui Manuel Jarrocirc Margato ASSESSORIA CIENTIacuteFICA Ana Cristina Cardoso Arlindo Reis Silva Daniel Vicente Pico Elsa Caravela Menoita Fernando Alberto Soares Petronilho Joatildeo Manuel Pimentel Caineacute Luiacutes Miguel Oliveira Maria Esperanccedila Jarroacute Vitor Santos RECEPCcedilAtildeO DE ARTIGOS Mariana Cruz Gomes CORRESPONDENTES PERMANENTES REGIAtildeO SUL Ana M Loff Almeida Maria Joseacute Almeida REGIAtildeO NORTE M Ceacuteu Barbieacuteri Figueiredo MADEIRA Maria Mercecircs Gonccedilalves COLABORADORES PERMANENTES Maria Arminda Costa Neacutelson Ceacutesar Fernandes M Conceiccedilatildeo Bento Manuel Joseacute Lopes Marta Lima Basto Antoacutenio Carlos INTERNET wwwsinaisvitaispt E-MAIL suportesinaisvitaispt ASSINATURAS Mariana Cruz Gomes Ceacutelia Margarida Sousa Pratas INCLUI Revista de Investigaccedilatildeo em Enfermagem (versatildeo online) PRECcedilOS INDIVIDUAL 1 ANO 31euro 2 ANOS 57euro UNIAtildeO EUROPEIA 1 ANO 58euro RESTO DO MUNDO 1 ANO 87euro INSTITUICcedilOtildeES SERVICcedilOS 1 ANO 45euro AVULSO POR NUacuteMERO 650euro FOTOGRAFIA 123rfcopy IMPRESSAtildeO FIG Induuacutestrias Graacuteficas SA Coimbra TIRAGEM MEacuteDIA 6500 exemplares NUacuteMERO DE REGISTO 118 368 DEPOacuteSITO LEGAL 88306 95 ISSN 0872-8844

SUMAacuteRIOP04 EDITORIAL

P05 ACTUALIDADESORIGEM DO CONSUMO DE AacuteLCOOL PODE ESTAR NUM MACACO PRIMITIVO

P06 ACTUALIDADESOS NIacuteVEIS DE INSULINA AUMENTAM E DIMINUEM NUM CICLO DIAacuteRIO

P07 ACTUALIDADESCOMER JUNK FOOD DURANTE A GRAVIDEZ PODE FAZER COM QUE O SEU FILHO NASCcedilA JAacute VICIADO

P08 ACTUALIDADESAS NOZES OCUPAM A POSICcedilAtildeO SUPERIOR DOS ANTIOXIDANTES PARA UM CORACcedilAtildeO SAUDAacuteVEL

P10 ENTREVISTAENTREVISTA COM O ENFERMEIRO RUI FONTES

P16 EacuteTICARESPOSTA Agrave EUTANAacuteSIA ENQUANTO PRAacuteTICA EacuteTICA

P21 CIEcircNCIA amp TEacuteCNICAENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

P27 CIEcircNCIA amp TEacuteCNICAVIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

P33 CIEcircNCIA amp TEacuteCNICATRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

P39 CIEcircNCIA amp TEacuteCNICAVIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

P46 CIEcircNCIA amp TEacuteCNICAA COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

P55 CIEcircNCIA amp TEacuteCNICATEacuteCNICA ASSEacuteTICA SIM OU NAtildeO

P59 GESTAtildeO E LIDERANCcedilACULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ACTUALIDADES

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EDITORIAL

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Vivemos num paiacutes em crise as empresas to-das elas estatildeo financeiramente mal as pes-soas tecircm medo do futuro A questatildeo eacute seraacute que isto vai durar A questatildeo que tambeacutem te-mos que fazer eacute Como vai ser depois da crise e como me vou preparar para sair bem dela

O capital humano eacute o capital dos capitais o investimento na formaccedilatildeo e no conhecimen-to eacute um investimento no capital humano O governo natildeo estaacute a perceber isto e estaacute apos-tado em desvalorizar e ateacute desperdiccedilar o seu melhor capital mas cada um de noacutes tam-beacutem tem que pensar na melhor maneira de se apresentar quando a situaccedilatildeo retomar a competitividade e aiacute aqueles que estiverem melhor preparados satildeo os que ldquosobrevive-ratildeordquo Apostar na formaccedilatildeo quer acadeacutemica quer complementar frequentando cursos de cursa duraccedilatildeo poacutes-graduaccedilotildees etc eacute apos-tar no futuro eacute apostar no capital humano

Alguns dizem mas para quecirc O que eacute que acrescenta Eu digo que a formaccedilatildeo acres-centa sempre Ficamos sempre mais enrique-cidos mais conhecedores com outras visotildees

sobre as coisas outras formas de fazer e de dizer mais preparados para enfrentar as ad-versidades e para resolver os problemas que no dia-a-dia se nos colocam

Sei que do ponto de vista da gestatildeo financei-ra familiar o investimento na formaccedilatildeo natildeo eacute prioritaacuterio em relaccedilatildeo agrave comida agrave habitaccedilatildeo etc mas cuidado se natildeo lhe dispensarmos alguma atenccedilatildeo podemos ficar a perder Os cursos de mestrado comeccedilam a ficar deser-tos ou com pouca procura os cursos e jorna-das ficaram vazios de repente porquecirc Claro que a resposta eacute a falta de dinheiro ou seraacute que a depressatildeo que se abateu sobre nome-adamente os enfermeiros nos estaacute a fazer esquecer a importacircncia deste investimento

Os mais preparados satildeo os que melhor en-frentaratildeo os desafios do futuro O conheci-mento eacute a melhor arma para combater os preconceitos os autoritarismos a demago-gia as novas formas de totalitarismo O co-nhecimento eacute felicidade e liberdade

Invistam no conhecimento

antoacuteniO fERnanDO aMaRal Enfermeiroamaralesenfcpt

EDITORIALORIGEM DO CONSUMO DE AacuteLCOOL PODE ESTAR NUM

MACACO PRIMITIVO

O gosto pelo aacutelcool pode ser um desejo antigo A capacidade de metabolizar o etanol - o aacutel-cool no vinho cerveja e destilados - pode ter a sua origem no ancestral comum de chim-panzeacutes gorilas e seres humanos haacute cerca de 10 milhotildees de anos atraacutes talvez quando este ancestral se tornou mais terrestre e come-ccedilou a comer frutas em fermentaccedilatildeo no chatildeo O quiacutemico Steven Benner da Fundaccedilatildeo para Evo-luccedilatildeo Molecular Aplicada em Gainesville na Floacute-rida chegou a essa conclusatildeo ao analisar enzimas que metabolizam o aacutelcool de primatas extintos Benner e seus colegas estimaram o coacutedigo geneacute-tico das enzimas a partir de enzimas produzidas no laboratoacuterio e em seguida analisaram como eles funcionam de maneira a entender como eles mudaram ao longo do tempo

Os seres humanos dependem de uma enzima chamada aacutelcool desidrogenase 4 ou ADH4 para metabolizar o etanol A enzima eacute comum em todo o esocircfago estocircmago e intestinos e eacute a enzima que primeiro entra em contato com

o que uma pessoa bebe Entre os primatas nem todos os ADH4s satildeo os mesmos - alguns natildeo podem metabolizar eficazmente o etanol Os resultados mostraram que a maioria dos an-tepassados de primatas natildeo teria sido capaz de metabolizar o etanol mas no ponto da ramifica-ccedilatildeo que levou a gorilas chimpanzeacutes e humanos - um ancestral que viveu cerca de 10 milhotildees de anos atraacutes - a enzima torna-se um digestor de aacutelcool poderoso Em comparaccedilatildeo com as enzi-mas anteriores esta foi 50 vezes mais eficiente tendo sido capaz de quebrar o niacutevel de etanol encontrado nas modernas bebidas alcooacutelicas Com uma casca ou pele danificada a levedu-ra pode ter invadido a fruta e os seus accediluacuteca-res fermentados em etanol Assim os indi-viacuteduos que poderiam digerir etanol teriam sobrevivido melhor do que aqueles que natildeo podiam Isso tambeacutem explica por que a ca-pacidade de metabolizar o etanol natildeo evo-luiu nos primatas que habitam sobretudo em aacutervores como os orangotangos onde ra-ramente encontramos frutos fermentados

SECCcedilAtildeO DA RESPONSABILIDADE DE ANTOacuteNIO FERNANDO AMARAL

Comer frutas fermentadas do chatildeo pode ter aberto o caminho para a capacidade de digerir etanol A capacidade de metabolizar o etanol poderia ter surgido no ancestral comum de chimpanzeacutes gorilas e seres humanos agrave medida que este macaco ancestral se tornou mais terrestre e comeccedilou a comer frutas fermentadas no chatildeo

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ACTUALIDADES ACTUALIDADES

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Um novo estudo sugere que tal como o sol os niacuteveis de insulina sobem e descem num ritmo diaacute-rio Interromper esse ciclo pode contribuir para a obesidade e a diabetes

Vaacuterios sistemas orgacircnicos comportam-se como um reloacutegio diaacuterio conhecido como ritmo circa-diano Temperatura corporal pressatildeo arterial e a libertaccedilatildeo de muitas hormonas fazem parte dos temporizadores circadianos Mas ateacute agora ningueacutem tinha mostrado que a insulina - uma hormona que ajuda a controlar a forma como o corpo usa os accediluacutecares para a energia - tambeacutem tem um ciclo diaacuterio Trabalhando com ratinhos pesquisadores da Universidade Vanderbilt em Nashville descobriram que os roedores satildeo mais sensiacuteveis aos efeitos da insulina em determinados

momentos do dia Perturbar os ritmos circadia-nos dos animais interfere com a subida e queda diaacuteria da hormona e faz com que os ratos fiquem propensos agrave obesidade

Se as conclusotildees se aplicarem em seres humanos poderiam ajudar a explicar por que as pessoas que trabalham em turnos noturnos costumam estar acima do peso e sofrem de problemas de sauacutede A descoberta tambeacutem pode ligar a epidemia da obesidade em parte ao fato de se ficar acordado ateacute tarde e comer na hora errada

Os resultados sugerem que se o horaacuterio das refei-ccedilotildees coincidir com a sensibilidade agrave insulina pode ajudar a proteger contra o diabetes Satchidanan-da Panda um geneticista e bioacutelogo do Instituto Salk de Estudos Bioloacutegicos em La Jolla na Cali-foacuternia refere ainda que abusar de forma croacutenica com a desregulaccedilatildeo horaacuteria das refeiccedilotildees pode contribuir para a resistecircncia agrave insulina e eventu-almente levar a diabetes

OS NIacuteVEIS DE INSULINA AUMENTAM E DIMINUEM NUM

CICLO DIAacuteRIOA VIDA MODERNA PODE CONFLITUAR COM O CICLO NATURAL

DA HORMONA

Os resultados desta pesquisa em uacuteltima anaacutelise permitem infor-mar melhor as mulheres graacutevidas sobre os efeitos duradouros que a sua dieta tem sobre o desenvol-vimento dos seus filhos ao longo da vida boas preferecircncias e ris-co de doenccedila metaboacutelica refere Beverly Muumlhlhaumlusler PhD pes-quisador envolvido na Pesquisa FoodPLUS

Muhlausler e seus colegas estu-daram os filhos de dois grupos de ratos um dos quais se alimen-taram de uma raccedilatildeo normal e o outro tinha sido alimentados com uma gama de alimentos que os humanos apelidam de junk food durante a gravidez e a lactaccedilatildeo Apoacutes o desmame os filhotes receberam injeccedilotildees diaacuterias de um bloqueador do recetor opi-oacuteide que bloqueia a sinalizaccedilatildeo de opiaacuteceos O Bloqueio de sinalizaccedilatildeo opioacuteide reduz o consumo de gordura e accediluacutecar impedindo a libertaccedilatildeo de dopamina Os resultados mostraram que o blo-queador de recetor opioacuteide foi menos eficaz na reduccedilatildeo da gordura e ingestatildeo de accediluacutecar nos fi-lhotes das matildees alimentadas com junk food su-gerindo que a via de sinalizaccedilatildeo opioacuteide nessas

crias eacute menos sensiacutevel do que para filhotes cujas matildees se alimentaram com uma raccedilatildeo padratildeo Este estudo mostra que a dependecircncia de junk food eacute ou pode ser um viacutecio verdadeiro Eacute triste dizer mas junk food durante a gravidez transfor-ma as crianccedilas em viciados em junk food

Federation of American Societies for Experi-mental Biology (2013 February 28) Eating junk food while pregnant may make your child a junk food addict ScienceDaily Retrieved February 28 2013 from httpwwwsciencedailycom relea-ses201302130228103443htm

COMER JUNK FOOD DURANTE A GRAVIDEZ PODE

FAZER COM QUE O SEU FILHO NASCcedilA JAacute VICIADO

Uma dieta saudaacutevel durante a gravidez eacute fundamental para o futuro da sauacutede dos filhos Uma nova pesquisa publicada na ediccedilatildeo de marccedilo de 2013 do The FASEB Journal sugere que as matildees graacutevidas que consomem junk food podem realmente causar alteraccedilotildees no desenvolvimento da sinalizaccedilatildeo opioacuteide no ceacuterebro dos seus filhos Esta mudanccedila faz com que os bebeacutes sejam menos sensiacuteveis aos opioacuteides que satildeo libertados apoacutes o consumo de alimentos que satildeo ricos em gordura e accediluacutecar Por sua vez estas crianccedilas que nascem com uma maior toleracircncia a junk food precisam comer mais do mesmo para alcanccedilar uma boa resposta

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AS NOZES OCUPAM A POSICcedilAtildeO SUPERIOR DOS ANTIOXIDANTES PARA UM CORACcedilAtildeO SAUDAacuteVEL

Um novo estudo cientiacutefico coloca as nozes na melhor posiccedilatildeo entre a famiacutelia de alimentos que os leigos reivindicam estarem entre os alimentos perfeitos que a Matildee Natureza produz Os cientis-tas apresentaram uma anaacutelise que mostra que as nozes tecircm a combinaccedilatildeo de antioxidantes mais saudaacutevel e de melhor qualidade do que qualquer outro fruto seco

As Nozes classificam-se acima dos amen-doins amecircndoas pistachos e outros frutos secos Um punhado de nozes conteacutem antioxi-dantes quase duas vezes mais que uma quan-tidade equivalente de qualquer outro fruto seco habitualmente consumidos Este estu-do sugere que os consumidores devem co-mer nozes como parte de uma dieta saudaacutevel O investigador responsaacutevel refere que as no-zes em geral tecircm uma combinaccedilatildeo incomum de benefiacutecios nutricionais - aleacutem dos antio-xidantes ndash e vecircm embrulhadas num pacote

conveniente e barato As Nozes contecircm muita proteiacutena de alta qualidade que pode substi-tuir a carne vitaminas e minerais fibra ali-mentar e satildeo laacutecteos e sem gluacuteten Anos de pesquisa por cientistas de todo o mundo li-garam o consumo regular de pequenas quan-tidades de nozes ou manteiga de amendoim com a diminuiccedilatildeo do risco de doenccedilas do co-raccedilatildeo certos tipos de cancro caacutelculos biliares diabetes tipo 2 e outros problemas de sauacutede Os antioxidantes presentes nas nozes satildeo 2-15 vezes mais potentes que a vitamina E conheci-da pelos seus efeitos antioxidantes poderosos que protegem o corpo contra os danos quiacutemi-cos naturais envolvidos na causa da doenccedila Uma outra vantagem em escolher as nozes como fonte de antioxidantes estaacute no fato de o calor reduzir a qualidade dos antioxidantes ora as pessoas geralmente comem as nozes cruas ou o que permite obter a plena eficaacutecia dos an-tioxidantes

As nozes contecircm ainda gorduras polinsaturadas saudaacuteveis e monoinsaturada em vez de gordura saturada que eacute prejudicial Quanto agraves calorias co-mer nozes parece natildeo causar ganho de peso e ateacute mesmo pode fazer com que as pessoas tenham uma maior sensaccedilatildeo de plenitude e satisfaccedilatildeo tornando-as menos propensos a comer demais Num estudo dos EUA de 2009 o consumo de no-zes foi associado com um risco significativamente menor de ganho de peso e obesidade

ENTREVISTA COM OENFordm RUI FONTES

A PROPOacuteSITO DA COORDENACcedilAtildeO DO LARES DE IDOSOS DO SAMS EM AZEITAtildeO E DA OFERTA SOCIAL NESTE SECTOR

Entrevista da responsabilidade de Carlos Margato

Tem cinquenta e um anos e apresenta-se como enfermeiro que partiu cedo para um percurso na aacuterea da gestatildeo Considera-a a mais adequada agrave sua personalidade

sempre gostei de liderar e desde muito cedo tive a possibilidade de o fazer Por exemplo capitatildeo de equipa no futebol presidente de associaccedilatildeo de estudantes dirigente desportivo na colectividade da terra empreendedor em iniciativas e eventos culturais e desportivos

Refere nunca ter sofrido daquela falsa modeacutestia portuguesa de que natildeo gostamos de chefiar de liderar e de gerir

Dedicou os uacuteltimos quinze anos a desenvolver competecircncias na aacuterea de gestatildeo Destaca como relevante o Curso de Lideranccedila para a Mudanccedila promovido pela Ordem dos Enfermeiros e pelo ICN que muito alterou a minha vida profissional dirigindo-a decisivamente para a aacuterea da gestatildeo

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Ser enfermeiro e coordenar um Lar de Idosos a tem-po inteiro natildeo eacute frequente em Portugal Que razotildeesmotivaccedilotildees estatildeo subjacentes a essa decisatildeo

Ser enfermeiro e outra coisa qualquer natildeo eacute co-mum em Portugal infelizmente Na verdade os enfermeiros tecircm ficado virados para si proacute-prios natildeo desempenhando outras funccedilotildees ou ocupando outros lugares que natildeo sejam dentro da proacutepria aacuterea teacutecnico-cientiacutefica Quantos en-fermeiros na funccedilatildeo de deputado desde o 25 de Abril Quantos de noacutes exercemos funccedilotildees rele-vantes nas autarquias Em empresas Mesmo nas associaccedilotildees que natildeo sejam especificamente de enfermagem Natildeo seraacute esta a razatildeo da pouca relevacircncia que a profissatildeo continua a ter e do pouco valor social da mesma

Quando fui para coordenador (director teacutecni-co) do lar de idosos sofri o peso da ignoracircncia de muitos teacutecnicos sociais em relaccedilatildeo agrave lei e o peso do estigma que a aacuterea social era destino ex-clusivo do serviccedilo social Natildeo foi faacutecil a minha aceitaccedilatildeo Utilizaram-se vaacuterios estrateacutegias para colocar em causa a qualidade de um enfermeiro como director teacutecnico Cedo percebi que era dos melhores e ateacute fui levado a pensar que a gestatildeo de lares deveria ser entregue a enfermeiros pelo seu conhecimento global da aacuterea da sauacutede e da aacuterea social Mas hoje reconheccedilo que o exerciacutecio de funccedilotildees de gestatildeo natildeo tem a ver com a base de formaccedilatildeo profissional que se tem Pode ser--se bom director teacutecnico sendo enfermeiro as-sistente social psicoacutelogo ou com outra profissatildeo qualquer Conveacutem eacute que saiba liderar tenha co-nhecimentos profundos na aacuterea social e na aacuterea de sauacutede O ideal eacute a construccedilatildeo de um profissio-nal hiacutebrido entre o social e a sauacutede

Haacute quantos anos desempenhas as funccedilotildees de coorde-nador do Lar de Idosos do SAMS em Azeitatildeo

Fiz recentemente dez anos como coordenador do lar de idosos coincidindo mais ou menos com os vinte e cinco de enfermagem

Na grande maioria dos Lares os coordenadores satildeo assistentes sociais Identificas razotildees suficientes para afirmar que essa funccedilatildeo deveria ser desempe-nhada por enfermeiros

Jaacute respondi mais ou menos a essa questatildeo Os en-fermeiros trazem ao Lar de Idosos uma mais-valia interessante e hoje com os conhecimentos que tem podem de facto responder agraves necessidades na aacuterea social que surgem num lar conseguindo tambeacutem assegurar os cuidados de sauacutede e fazer a sua gestatildeo O grande drama do serviccedilo social eacute que os lares satildeo em geral autenticas unidades de pessoas idosas doentes para as quais a sauacutede eacute fundamental e o serviccedilo social natildeo tem qualquer preparaccedilatildeo para responder a essa necessidade Assim a enfermagem tem aqui um lugar de gran-de importacircncia A questatildeo eacute que os enfermeiros ao longo de todos estes anos viram nos lares a acumulaccedilatildeo de umas horas onde poderiam ga-nhar ldquouns trocosrdquo sem qualquer responsabilidade Essa imagem faz ainda hoje com que se olhe para o enfermeiro do lar como aquele que natildeo tem lu-gar em mais lado algum

O grande drama do serviccedilo social eacute que os lares satildeo em geral autenticas unidades de pessoas idosas doentes para as quais a sauacutede eacute fundamental e o serviccedilo social natildeo tem qualquer preparaccedilatildeo para responder a essa necessidade Assim a enfermagem tem aqui um lugar de grande importacircncia

Fala-me um pouco do Lar que coordenas nuacutemero de residentes de assistentes operacionais de cozinhei-ros condutores entre outroshellip

O lar de idosos do SBSISAMS eacute a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do enve-lhecimento em Portugal e aquela que poderaacute ter a vaidade de dizer que seraacute a melhor do paiacutes Eacute costume incomodar e provocar as pessoas com esta ideia que eacute consequecircncia de trabalhar num lar muito especial uma equipa de colaboradores apaixonados por aquilo que fazem que discute em qualquer lugar as questotildees do envelhecimen-to que sabe o que eacute funcionalidade utilidade e

felicidade no processo de envelhecimento que tem formaccedilatildeo ul-trapassando as horas obrigatoacuterias anuais e cuja auto-estima eacute muito elevada instala-ccedilotildees muito interessan-tes e de elevado niacutevel uma organizaccedilatildeo de trabalho iacutempar com utilizaccedilatildeo do meacutetodo responsaacutevel com to-dos os residentes com enfermeiro fisiotera-peuta e auxiliares de referecircncia com um modelo de comunica-ccedilatildeo original assente na evidecircncia cientiacutefica e nos mais inovadores processos de gestatildeo

Mas tudo isto podia ser dito e teria pouco valor se natildeo soubeacutessemos quantos residentes caiacuteram nos uacuteltimos dez anos que evoluccedilatildeo teve o nuacutemero de quedas quais satildeo os valores da escala de Katz da escala de Morse da escala de equiliacutebrio e da mini--mental qual o valor meacutedio da percepccedilatildeo da dor quantas escaras existiram em dez anos quantas conseguimos tratar e como quantas pessoas re-correm por ano agraves urgecircncias hospitalares e quan-tos dias de internamento hospitalar tem os re-sidentes por ano quantos recursos satildeo feitos ao exterior qual o grau de satisfaccedilatildeo de residentes colaboradores familiares parceiros internos e par-ceiros externos quantas pessoas foram algaliadas no ano e quantos antibioacuteticos foram prescritos

Jaacute seria um lar bom com todos estes indicadores mas eacute ainda melhor porque no iniacutecio do ano defi-nimos os nossos objectivos avaliamo-los durante o ano e atingimos grande parte deles Eacute um lar di-ferente porque natildeo trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e natildeo resolvemos situaccedilotildees de residentes problemaacuteticos com comprimidos para dormir Eacute um lar bom porque contrariamos todas as prescriccedilotildees que disfuncionalizam residentes debatendo com os prescritores essas situaccedilotildees Eacute um Lar muito bom porque preferimos que os

nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirotildees

Somos diferentes mas soacute vendo

O lar de idosos do SBSISAMS eacute a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do envelhecimento em Portugal Eacute um lar diferente porque natildeo trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e natildeo resolvemos situaccedilotildees de residentes problemaacuteticos com comprimidos para dormir Eacute um lar bom porquecirc contrariamos todas as prescriccedilotildees que disfuncionalizam residentes debatendo com os prescritores essas situaccedilotildees Preferimos que os nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirotildees

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A portaria 672012 evolui no conceito de ldquoLar de Idososrdquo para ldquoestrutura residencial para pessoas idosasrdquo e defini-o como o estabelecimento para alo-jamento colectivo de utilizaccedilatildeo temporaacuteria ou per-manente em que satildeo desenvolvidas actividades de apoio social e prestados cuidados de enfermagem

Como sabes na maioria destas estruturas haacute um enfermeiro ldquoumas horas por dia ou por semanardquo Consideras essa uma ldquoboa respostardquo de cuidados de enfermagem

Claro que natildeo posso dizer nunca que isso eacute uma boa resposta mas devemos tambeacutem ter em aten-ccedilatildeo que natildeo existem recursos financeiros para termos um enfermeiro num lar de idosos perma-nentemente Contudo parece que esta situaccedilatildeo eacute um equiacutevoco e esta questatildeo pode natildeo fazer senti-do no futuro proacuteximo

O que precisamos eacute de determinar tipologias para os cuidados e serviccedilos a pessoas idosas Num lar em que soacute existam pessoas idosas independentes um enfermeiro eacute suficiente bem como a sua acti-vidade de prevenccedilatildeo ensino e educaccedilatildeo Jaacute numa tipologia com residentes fortemente doentes te-mos que ter um enfermeiro a tempo inteiro mas estas unidades jaacute existem e chamam-se cuidados continuados pelo que os lares satildeo respostas para pessoas sem cuidados de sauacutede permanentes

A nova portaria veio estigmatizar ainda mais a pessoa idosa Estaacute errada

Um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A comparticipaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo de indicadores e assim teriacuteamos comparticipaccedilatildeo que assegurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos

Fala-me da tua experiecircncia neste acircmbito

No nosso lar fizemos aquilo que todos podem fa-zer mas que parece natildeo terem vontade dividimos a estrutura em duas zonas distintas Uma estaacute destinada a pessoas idosas independentes sem necessidade de cuidados de sauacutede e de higiene

e conforto Pessoas que soacute precisam de se sentir seguras e ter apoio para desenvolverem novos projectos de vida Nesta aacuterea o enfermeiro tem necessidade apenas de fazer formaccedilatildeo prevenir ensinar e educar para a sauacutede e para um envelhe-cimento mais feliz e mais saudaacutevel

Numa outra aacuterea temos as pessoas dependentes muitas delas fortemente dependes com enfer-magem 24 horas por dia fisioterapeutas auxi-liares com cargas de trabalho muito confortaacuteveis e coacutemodas Nesta aacuterea recebemos tambeacutem do-entes para recuperaccedilatildeo global cujo rendimento financeiro eacute maior e muito significativo assegu-rando sustentabilidade de todos os recursos hu-manos

Eacute o modelo que devia ter sido adoptado para os cuidados continuados mas alguns preferiram ca-minhar pela estrada do grande empreendedoris-mo da construccedilatildeo civil e do cimento Natildeo havia auto-estradas para fazerhellip

Mas entatildeo haacute ldquomais valiasrdquo em ter enfermeiro 24 horas

Numa unidade capaz de responder aacute recupera-ccedilatildeo global aacute recuperaccedilatildeo de situaccedilotildees de doenccedila pontuais poacutes cirurgias etc

Numa unidade que consiga especializar-se em determinadas especificidades e que possa pelo rendimento financeiro assegurar os enfermeiros e os outros teacutecnicos Natildeo podemos continuar a fazer redes ao lado da rede hospitalar exigir teacutec-nicos de sauacutede e natildeo procurar saber como se sus-tentam esses projectos

Quero esclarecer que nada disto confronta o mo-delo de estado social ou faz com que natildeo defenda um estado que trate e cuide dos mais fragilizados em igualdade de circunstacircncias com toda a popu-laccedilatildeo Natildeo gosto eacute de contribuir para um estado que natildeo eacute social mas que eacute um estado das insti-tuiccedilotildees sociais

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos no-

vas tipologias De natildeo diferenciar-mos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de instituciona-lizaccedilatildeo na europa do norte de cer-ca de 17 e em Portugal 35

Por isso os indicadores atraacutes referidos demons-tram essa ldquomais-valiardquo

Todos os indicadores atraacutes referenciados satildeo melhorados com a introduccedilatildeo de enfermeiros mas mantenho a ideia inicial numa resposta em que se encontrem pessoas doentes e natildeo neces-sariamente num lar que pretende que as pessoas sejam felizes e saudaacuteveis Na aacuterea das pessoas dependentes o enfermeiro mede o seu desempe-nho por muitos indicadores ulceras de pressatildeo recursos a urgecircncias e dias de internamento quedas nuacutemero de medicamentos percepccedilatildeo da dor antibioacuteticos consumidos

Se introduzires um enfermeiro num lar e medi-res estes indicadores concluis que todos baixam num tempo muito reduzido

Eacute isto que o Estado natildeo quer perceber mas que as Institui-ccedilotildees ditas socias tam-beacutem natildeo aceitam um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A com-participaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo destes indicadores e assim teriacuteamos com-participaccedilatildeo que as-segurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos Mas isso provavelmente acaba-ria com os velhos do-entes desgraccedilados e infelizes e as Institui-

ccedilotildees ficavam cada vez com menos clientes por-que vivem exclusivamente do assistencialismo e da caridade

O Regulamento da Individualizaccedilatildeo das Especia-lidades Cliacutenicas de Enfermagem (Regulamento nordm 1682011 publicado em Diaacuterio da Repuacuteblica 2ordf seacuterie mdash Nordm 47 mdash 8 de Marccedilo de 2011) prevecirc a criaccedilatildeo de uma especialidade designada de SAUacuteDE DO IDOSO

Da tua experiecircncia com pessoas idosas consideras esta uma especialidade necessaacuteria

Temos muito que discutir Primeiro precisamos de enfermeiros capazes de gerir lares e liderar equi-pas que natildeo sejam exclusivamente constituiacutedas pelos seus pares Enfermeiros que se exponham como diferentes contribuindo com a sua acccedilatildeo para transformaccedilotildees significativas das institui-ccedilotildees sociais e das entidades privadas na aacuterea do envelhecimento

Mas eacute claro que eacute fundamental uma especialida-de para a aacuterea das pessoas idosas Daqui a pou-co tempo satildeo metade da populaccedilatildeo portuguesa e metade da populaccedilatildeo mundial tendo em conta

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2ENTREVISTA

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os paiacuteses mais desenvolvidos

Julgo que deveriacuteamos iniciar um profundo debate sobre a enfermagem e o envelhecimento e que a revista Sinais Vitais poderia ser um dos lugares mais interessantes para fazer este debate nacio-nal e ateacute internacional

Que competecircncias devem ser desenvolvidas pelos en-fermeiros nesta especialidade

Conhecimento sobre novos modelos para abor-dagem do envelhecimento legislaccedilatildeo direitos humanos e envelhecimento diversidade de res-postas e necessidades sociais e de sauacutede do en-velhecimento lideranccedila gestatildeo de equipamen-tos com uma forte componente praacutetica Seria bom analisar-se a Poacutes Graduaccedilatildeo promovida pela associaccedilatildeo amigos da grande Idade da qual sou presidente e que foi feita em parceria com a universidade Fernando Pessoa estando para ser lanccedilada a segunda ediccedilatildeo com a Universidade da Estremadura

Conhecendo como eu sei a realidade portuguesa em termos de respostas sociais dirigidas agrave pessoa idosa elas satildeo suficientes e adequadas

Natildeo as respostas natildeo satildeo suficientes mas acima de tudo satildeo desadequadas Costumo a dizer que se o Marquecircs de Pombal descesse agrave terra ficaria deslumbrado com tanta evoluccedilatildeo mas se entrasse num lar sentir-se-ia no tempo dele

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos novas tipologias De natildeo diferenciarmos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de institucio-nalizaccedilatildeo na europa do norte de cerca de 17 e em Portugal 35

Eacute necessaacuteria uma revoluccedilatildeo e penso que ela esta-raacute para breve Os revolucionaacuterios ao contraacuterio do habitual vatildeo ser os empreendedores capitalistas que iratildeo investir num novo modelo de oferta de cuidados e serviccedilos

Consegues dizer-me quantos Lares haacute em Portugal continental

Existem cerca de 2000 lares em Portugal cerca de 2000 centros de dia e 2500 serviccedilos de apoio domiciliaacuterio Isto legalmente Prevecirc-se que pos-sam existir cerca de 2500 lares ilegais ou clan-destinos no paiacutes

Conhecedor das respostas sociais neste acircmbito enca-rara a tua velhice de forma despreocupada

Natildeo claro que natildeo Primeiro quero nomear o mais rapidamente possiacutevel algueacutem que me repre-sente com autoridade para natildeo ser ldquoapanhadordquo na teia da destituiccedilatildeo de direitos e vontades Natildeo quero que me coloquem um nariz de palhaccedilo e uma peruca quando for o carnaval como se fosse um velho tonto apalhaccedilado

Mas natildeo tenho garantias Se calhar vou mesmo fazer essas figuras pateacuteticas Para grande gaacuteudio dos teacutecnicos

O que mudaria na organizaccedilatildeo desta reposta social se fosse convidado pelo governo a coordenaacute-la

A Associaccedilatildeo a que presido tem vaacuterios documen-tos mas destaco de imediato

ndash mudaria o modelo de financiamento e deixava de distribuir dinheiro a instituiccedilotildees sem avaliar os seus indicadores de qualidade e desempe-nho

ndash criava um novo modelo de oferta que natildeo fosse destinado a pessoas idosas doentes mas ape-nas a pessoas idosas ou seja implementava no-vas tipologias

ndash apostava nos cuidados domiciliaacuterios e nos cen-tros de dia criando uma rede nacional que in-cluiria tambeacutem o centro de sauacutede e os lares

ndash criava um programa para legalizaccedilatildeo de lares clandestinos e ilegais

Poucas medidas mas de grande eficaacutecia Aliaacutes Portugal espera um ministro que queira ficar na histoacuteria

A ENFERMAGEM TEM UM ENDERECcedilO

wwwsinaisvitaispt

NOTIacuteCIAS radic FORMACcedilAtildeO radic CIEcircNCIA radic DISCUSSAtildeO

PARQUE EMPRESARIAL DE EIRAS LOTE 19 EIRAS3020-265 COIMBRAtElEfOnE 239 801 020fax 239 801 029

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RESPOSTA Agrave EUTANAacuteSIA ENQUANTO PRAacuteTICA EacuteTICA

ENTRADA DO ARTIGO OUTUBRO 2010

EDUARDO JOSEacute FERREIRA DOS SANTOSEnfermeiro na Fundaccedilatildeo Aureacutelio Amaro Diniz

RESUMONa praxis cliacutenica o significado da eutanaacutesia acres-ce pela pressatildeo da moralidade puacuteblica e profunda convicccedilatildeo dos que lidam com pessoas particular-mente vulneraacuteveis e para as quais o fenoacutemeno pa-toloacutegico eacute profundamente incapacitante Este artigo corporiza a preocupaccedilatildeo dos que se debatem com este dilema eacutetico sugerindo o en-caminhamento para cuidados paliativos e a adop-ccedilatildeo de uma posiccedilatildeo mais proactiva das escolas de enfermagem e instituiccedilotildeesserviccedilos na formaccedilatildeo e ensino especializado

Palavras-chave Eutanaacutesia fim-de-vida cuidados paliativos eacutetica

ABSTRACTIn clinical practice the meaning of euthanasia is increased by the pressure of public morality and deep conviction of dealing with particularly vul-nerable persons and for which the pathological phenomenon is profoundly disablingThis article presents the concern of those who struggle with this ethical dilemma sug-gesting the orientation to palliative care and the adoption of a more proactive posi-tion by nursing schools and institutionsser-vices in training and specialized education

Keywords Euthanasia life-end palliative care ethics

INTRODUCcedilAtildeOA Eutanaacutesia deriva da junccedilatildeo de duas palavras Eu que significa bom e Thanatos que quer dizer mor-te Semanticamente morte doce morte sem ago-nia ou sem sofrimento fiacutesico Trata-se portanto do processo atraveacutes do qual algueacutem causa deliberada-mente a morte de outra a pedido desta uacuteltima (na expressatildeo de Arroyo e Serrano 1988)Por se associar intrinsecamente ao ldquoacto inten-cional de matarrdquo (Serratildeo 1996 p382) a eutanaacutesia eacute palco de inuacutemeras poleacutemicas posiccedilotildees e origina uma acesa controveacutersia num diaacutelogo nem sempre construtivo em torno do conceito de morte com dignidade O facto eacute que existe uma manifesta falta de informaccedilatildeo objectiva sobre os motivos que podem originar um pedido desta natureza (P13APB08) e como tal a eutanaacutesia impotildee-se como foco de reflexatildeo agrave enfermagem Isto porque sempre que ao enfermeiro se apresente a possibi-lidade de participaccedilatildeo na mesma surge agrave priori o dever de recusa Todavia no domiacutenio da liberda-de do livre arbiacutetrio a eutanaacutesia constitui-se como um dilema eacutetico (Queiroacutes 2001 Archer Biscaia e Osswald 2001 Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005)Eacute sobre a posiccedilatildeo da Enfermagem que nos pre-tendemos debruccedilar sugerindo a filosofia dos cui-dados paliativos como soluccedilatildeo em detrimento da realidade portuguesa

ASPECTOS CONCEPTUAIS A dignidade humana eacute sentida e expressa atraveacutes do corpo como suporte bioloacutegico de existecircncia Nem a pessoa eacute o corpo nem tatildeo pouco proprie-taacuteria do seu corpo Como tal a dignidade huma-na quanto mais agredida eacute tanto mais se impotildee como fronteira inviolaacutevel entre o humano e o natildeo--humano Eacute por esse motivo que hoje a dignidade humana aparece ligada a expressotildees que vatildeo des-de a qualidade de vida ao cuidado agrave cariacutecia agrave compaixatildeo (26CNECV99)Neste sentido o respeito pela dignidade de cada pessoa humana eacute uma exigecircncia eacutetica inscre-vendo na praacutetica diaacuteria dos cuidados de sauacutede o permanente centrar desses mesmos cuidados em cada pessoa (Martins 2010)Por outro lado cresce a noccedilatildeo de que no acircmbito da prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede os utentes de-vem ser livres de recusar determinados tratamen-tos agrave luz do princiacutepio do respeito pela autonomia

individual Assim eacute hoje possiacutevel qualquer doente competente recusar um determinado tratamen-to mesmo que desta forma se abrevie o momento da sua morte Aliaacutes eacute neste mesmo sentido que se questiona se esta capacidade decisoacuteria pode ser exercida prospectivamente nomeadamente quando natildeo for possiacutevel o exerciacutecio da autodeter-minaccedilatildeo individual (E10APB07)Curiosamente eacute neste domiacutenio que surge a euta-naacutesia e manifestamente se materializa pela pres-satildeo exercida pelos utentes nos profissionais de sauacutede ao exigirem respeito pelo seu ldquodireitordquo de morrer Com efeito quando os profissionais de sauacutede se sentem compelidos a agir e por termo ao sofrimento de um utente existe um conflito ine-vitaacutevel entre o dever eacutetico do cuidar protector ndash o dever da beneficecircncia e da natildeo-maleficecircncia ndash e o respeito pela autonomia e do direito de escolha do utente (Thompson Melia e Boyd 2004)Em todo o caso a eutanaacutesia soacute eacute uma opccedilatildeo livre quando se assegurar que se trata de um pedido racional de algueacutem que natildeo se revecirc mais no seu projecto de vida pessoal ou seja que natildeo se tra-ta de um comportamento apelativo por parte de algueacutem que se encontra insatisfeito com as con-diccedilotildees de vida que lhe satildeo proporcionadas (P13APB08)Eacute ainda de referir os resultados do estudo realiza-do por Van Der Wal (1992) apud Pessini e Barchi-fontaine (2005) que descreveu que 56 dos casos dos pedidos de eutanaacutesia se deviam aos utentes verem o seu sofrimento sem sentido e 46 por-que temiam o decliacutenioNo entanto vaacuterias satildeo as causas que precipitam tais pedidos Para muitos doentes a solidatildeo em que se encontram pode implicar que a morte as-sistida seja considerada a soluccedilatildeo final ainda que natildeo desejada para o seu dilema existencial Ou-tras causas residem ainda no sofrimento intenso devido ao sentimento de abandono e de exclusatildeo social e menos frequentemente a dor profunda e insustentaacutevel (P13APB08)Neste ponto pode-se apontar os cuidados pa-liativos como estrateacutegia ideal dado que eacute a mais referida pelos autores (Marques Santos e Santos 2001 Thompson Melia e Boyd 2004 Pessini e Barchifontaine 2005) Assim e com a atenccedilatildeo sin-cera dirigida para o utente que solicita a eutanaacute-sia o estabelecimento de ldquoverdadeirasrdquo relaccedilotildees de ajuda e com o auxiacutelio dos cuidados paliativos o

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sofrimento extremo natildeo permanece sem respos-ta Haacute entatildeo que considerar que indubitavelmente o papel do enfermeiro eacute acompanhar o utente pri-vilegiando a sua qualidade de vida minorando a dor ajudando-o a aceitar e a preparar-se para a morte beneficiando de cuidados paliativos e de acompanhamento psicoloacutegico (Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005) Pretende-se providenciar con-forto e bem-estar ao doente croacutenico (e por maio-ria de razatildeo ao doente terminal) recorrendo a meios proporcionados de tratamento por parte de uma equipa de sauacutede especialmente sensibili-zada nesta mateacuteria (E10APB07)Decerto que um outro desafio reside tambeacutem no dever do Estado implementar uma poliacutetica efecti-va de luta contra a dor nomeadamente atraveacutes da implementaccedilatildeo generalizada do Plano Nacional de Luta Contra a Dor e promover a generalizaccedilatildeo dos cuidados paliativos a niacutevel domiciliaacuterio nos Cen-tros de Sauacutede e cuidados em hospitais oncoloacutegicos e outros estabelecimentos de sauacutede (P13APB08)Em suma o desafio dos cuidados paliativos consti-tui entatildeo o de resgatar da dignidade do ser huma-no na uacuteltima fase da sua vida (Pessini e Barchifon-taine 2005)

PERSPECTIVA EacuteTICO-LEGAL De acordo com a nossa ordem juriacutedica a eutanaacutesia eacute uma praacutetica ilegal e criminalizada (E10APB07) Contudo a lei portuguesa natildeo trata da praacutetica eutanaacutesia mas como o direito agrave vida eacute inviolaacutevel segundo a CRP1 e o CP2 - que se traduz num cor-po de normas juriacutedicas que primam por serem as que regulam o regime de penaspuniccedilotildees quando algum acto destoa daquilo que se considera legal-mente admissiacutevel - por analogia a ldquoeutanaacutesiardquo eacute puniacutevel Esmiuccedilando o jaacute referido CP que manifesta re-levante ponderaccedilatildeo para o tema aqui em apreccedilo evidencia-se o Tiacutetulo I (que trata em especiacutefico do crime contra as pessoas) o qual se subdivide no Capiacutetulo I (Dos crimes contra a vida) que en-globa os artigos 131ordm 133ordm134ordm138ordmNeste acircmbito reza o artigo 131ordm corpo normativo que regula e penaliza o tipo legal de crime res-peitante ao Homiciacutedio (o dito homiciacutedio simples) ndash que ldquoQuem matar outra pessoa eacute punido com pena de prisatildeo de oito a dezasseis anosrdquoJaacute o artigo 133ordm (onde se enquadra o delito cri-

1 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa (Lei Constitucional 12005)

2 Coacutedigo Penal (Decreto Lei 592007)

minal do Homiciacutedio privilegiado) esclarece que ldquoQuem matar outra pessoa por compreensiacutevel emoccedilatildeo violenta compaixatildeo desespero ou moti-vo de relevante valor social ou moral que diminua sensivelmente a sua culpa eacute punido com pena de prisatildeo de 1 a 5 anosrdquoAo dirigirmos o nosso reparo para o Artigo 134ordm que trata o ldquoHomiciacutedio a pedido da viacutetimardquo no seu nordm1 clarifica-se que ldquoQuem matar outra pes-soa por pedido seacuterio instante e expresso que ela lhe tenha feito eacute punido com pena de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo O Artigo 135ordm (Incitamento ou ajuda ao suiciacutedio) no seu nordm 1) refere que ldquo Quem incitar outra pes-soa a suicidar -se ou lhe prestar ajuda para esse fim eacute punido com pena de prisatildeo ateacute trecircs anosrdquo contudo e acautelando a possibilidade do suiciacutedio ou da tentativa prossegue o nordm 2 do mesmo arti-go ditando que ldquoSe a pessoa incitada ou a quem se presta ajuda for menor de 16 anos ou tiver por qualquer motivo a sua capacidade de valoraccedilatildeo ou de determinaccedilatildeo sensivelmente diminuiacuteda o agente eacute punido com pena de prisatildeo de um a cin-co anos Quanto ao Artigo 138deg (Exposiccedilatildeo ou abandono) lecirc-se que ldquoQuem colocar em perigo a vida de ou-tra pessoardquo ndash aliacutenea a)- ldquoExpondo-a em lugar que a sujeite a uma situaccedilatildeo de que ela soacute por si natildeo possa defender-serdquo ou - aliacutenea b) - ldquoAbandonan-do-a sem defesa sempre que ao agente coubes-se dever de a guardar vigiar ou assistir eacute punido com pena de prisatildeo de 2 a 8 anosrdquo Por uacuteltimo eacute tambeacutem de salientar o facto de que a eutanaacutesia tambeacutem contraria os princiacutepios basi-lares que alicerccedilam a profissatildeo conforme dispos-to no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros3 e no REPE4 No enquadramento deontoloacutegico os deve-res do enfermeiro incitam ldquoo respeito do direito da pessoa agrave vida durante todo o ciclo vitalrdquo (Arti-go 82ordm) e a obrigatoriedade do enfermeiro ldquode-fender e promover o direito do doente agrave escolha do local e das pessoas que deseja o acompanhem na fase terminal da vida e respeitar e fazer res-peitar as manifestaccedilotildees de perda expressas pelo doente em fase terminal pela famiacutelia ou pessoas que lhe sejam proacuteximasrdquo (Artigo 87ordm)

3 Decreto Lei nordm 10498 de 21 de Abril de 1998

4 Decreto-Lei Nordm 16196 de 4 de Setembro de 1996

CUIDADOS PALIATIVOS QUE RESPOSTAS Em Portugal os cuidados Paliativos estatildeo a dar os primeiros passos verificando-se a existecircncia de alguma preocupaccedilatildeo relativamente ao utente em fase terminal (Queiroacutes 2001) Todavia assiste--se a um deficit ou mesmo ausecircncia de respostas por parte dos serviccedilos e instituiccedilotildees de sauacutede aos utentes (Sapeta 2003)Num estudo realizado pela APEME (2008) sobre o grau de satisfaccedilatildeo da populaccedilatildeo com os Cuidados Paliativos atraveacutes da aplicaccedilatildeo de um questionaacute-rio por entrevista telefoacutenica a uma amostra de 606 elementos salienta-se que 31 dos inquiri-dos os consideram completamente insuficientes 25 insuficientes 31 suficientes 9 moderada-mente suficientes e 5 completamente suficien-tes Curiosamente quando inquiridos sobre ldquoas principais sugestotildees para melhorias dos cuidados paliativosrdquo 14 apostavam na formaccedilatildeo profis-sional e 8 deseja mais profissionais especializa-dos na aacuterea Eacute ainda de referir o estudo realizado por Sapeta (2003) que afirma que a maioria das escolas de Enfermagem lecciona em mais que um ano lecti-vo e em mais do que uma aacuterea cientiacutefica os temas ldquocuidados paliativosrdquo e ldquodor croacutenicardquo contudo numa abordagem bastante superficial dado ao nuacutemero de horas associado Desta forma e especificamente neste aspecto o Programa Nacional de Cuidados Paliativos (DGS 2004 p 2) considera que eacute imprescindiacutevel ldquouma preparaccedilatildeo soacutelida e diferenciada que deve envol-ver quer a formaccedilatildeo preacute-graduada quer a forma-ccedilatildeo poacutes-graduada dos profissionais que satildeo cha-mados agrave praacutetica deste tipo de cuidadosrdquo

CONCLUSAtildeONa actualidade a questatildeo da eutanaacutesia suplanta expectativasduacutevidas natildeo soacute na populaccedilatildeo mas tambeacutem nas camadas profissionais de sauacutede no-meadamente os enfermeiros Concomitantemen-te vaacuterias fracccedilotildees sociais manifestam interesse ou reprovaccedilatildeo pela sua praacutetica Ora eacute defendida por uns eou reprovada por outrosEacute importante destacar que a percepccedilatildeo e livre ar-biacutetrio que o enfermeiro possui norteia a sua praacute-tica profissional e consequentemente influencia algumas tomadas de decisatildeo Notabiliza-se con-tudo a vinculaccedilatildeo do exerciacutecio da profissatildeo a um

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conjunto de regras e aspectos legais e eacutetico-de-ontoloacutegicos que se identificam como orientaccedilotildees para julgar a acccedilatildeo profissional constituindo por fim a obrigatoriedade do enfermeiro se reger pe-las mesmas Eacute neste contexto que nos surgiu a proposta da reflexatildeo sobre possiacuteveis ldquosoluccedilotildeesrespostasrdquo que se esbarraram com a filosofia dos cuidados paliativos que na maioria dos autores referidos se apresentam como a melhor resposta nacional face agraves actuais disposiccedilotildees legais Em epiacutelogo procurou-se evidenciar e incentivar a necessidadeobrigatoriedade de formaccedilatildeo na aacuterea salientando natildeo soacute a importacircncia da tomada de decisatildeo dos serviccedilosinstituiccedilotildees mas predo-minantemente das escolas de Enfermagem

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THOMPSON Ian MELIA Kath BOYD Kenneth ndash Eacutetica em Enfermagem 4ordf Ediccedilatildeo Loures Lusociecircncia 2004 ISBN 972-8383-67-3

ENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2010

RESUMONum momento em que o modelo de emergecircncia preacute-hospitalar em Portugal eacute discutido torna-se necessaacuterio reflectir acerca das competecircncias e da importacircncia dos profissionais nela incluiacutedos entre os quais os enfermeiros que natildeo tecircm suscitado consenso Se por um lado existe evidecircncia cientiacutefica que reafirma a importacircncia do enfermeiro neste contexto existem correntes de pensamento que argumentam o inverso objectivando este artigo responder agrave questatildeo ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro em emergecircncia preacute-hospitalarrdquo

Palavras-Chave Enfermagem Emergecircncia preacute--hospitalar

ABSTRACTIn a moment that the pre hospital emergency system is discussed arises the needing to reflect about the competence and importance that the included professionals have to work in this field including the nurses that donacutet have evoke consensus If on one hand exists scientific evidence that reaffirms the importance of the nurseacutes presence in that field there exists currents of thought that argue the inverse So this article objectify answer to the question ldquoExist or not competence for the nursersquos professional exercise in the pre hospital care fieldrdquo

Keywords Nursing Pre hospital emergency

ANDREacute FILIPE RICARDO CORREIAHospital de Faro EPE ndash Unidade de Cuidados Intensivos

INTRODUCcedilAtildeO

Num momento em que a posiccedilatildeo do enfermeiro nas equipas de emergecircncia preacute-hospitalar eacute am-plamente discutida justifica-se a necessidade de reflectir acerca das suas competecircncias para o exerciacutecio nesta aacuterea assim como o seu papel na garantia da seguranccedila e qualidade dos cuidados de sauacutede prestados neste contexto

A presenccedila dos enfermeiros na emergecircncia preacute--hospitalar em Portugal remonta haacute cerca de 20 anos exercendo estes funccedilotildees nas mais variadas aacutereas desde o transporte de receacutem-nascidos Viaturas Meacutedicas de Emergecircncia e Reanimaccedilatildeo (VMER) heli-transporte de doentes criacuteticos e em cataacutestrofe [Ordem dos Enfermeiros (OE) 2008]

Numa constante e progressiva consolidaccedilatildeo do Sistema Integrado de Emergecircncia Meacutedica (SIEM) a que se tem assistido o papel do enfermeiro tem sido reforccedilado nomeadamente com a recente criaccedilatildeo das ambulacircncias de Suporte Imediato de

Vida (SIV) e da figura do enfermeiro responsaacute-vel pelo acompanhamento dos meios no terreno no Centro de Orientaccedilatildeo de Doentes Urgentes (CODU) representando conjuntamente com os preacute-existentes VMER e helicoacutepteros de Emergecircn-cia meacutedica os meios operacionais atraveacutes dos quais os enfermeiros intervecircm actualmente na prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar em equipa com meacutedicos psicoacutelogos tripu-lantes de ambulacircncia de socorro (TAS) tripulan-tes de ambulacircncia de emergecircncia (TAE) e teacutecnicos de operaccedilotildees e telecomunicaccedilotildees de emergecircncia (TOTE) (OE 2008)

Contudo as competecircncias do enfermeiro para a prestaccedilatildeo de cuidados neste contexto assim como a necessidade da sua intervenccedilatildeo parecem natildeo reunir consensualidade sendo suscitadas cor-rentes de pensamento que se opotildeem agrave sua activi-dade e presenccedila neste acircmbito de cuidados Ape-sar inicial ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro no contexto

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de cuidados preacute-hospitalarrdquo

De facto compreendo que se natildeo nos ocupar-mos desta problemaacutetica corremos o seacuterio risco de uma vez mais vermos diminuiacutedas as nossas aacutereas de intervenccedilatildeo o que indubitavelmente re-presenta uma perda para a profissatildeo e em uacutelti-ma instacircncia para a comunidade alvo dos nossos cuidados pelo consequente impacto na qualidade desses cuidados

Assim a este propoacutesito entendemos que o en-fermeiro possui competecircncias que o habilitam agrave prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia no contex-to preacute-hospitalar constituindo a sua presenccedila nas equipas preacute-hospitalares uma inegaacutevel mais-valia

suportada em todo um corpo de conhecimentos teacutecnico - cientiacuteficos que resultam em claros bene-fiacutecios para as pessoas assistidas Tal como a evi-decircncia cientiacutefica (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) afirma os conhecimentos base e competecircncias em ciecircncias como anatomia fisiopatologia e farmacologia a complementari-dade das ciecircncias sociais e humanas produccedilatildeo cientiacutefica e praacutetica baseada na evidecircncia o espiacuteri-to criacutetico - reflexivo e os elevados conhecimentos da realidade intra-hospitalar satildeo caracteriacutesticas dos enfermeiros que acrescem saberes e compe-tecircncias adicionais ao acircmbito da emergecircncia preacute--hospitalar permitindo a sua presenccedila ldquohellipperform and document a high quality and holistic assess-

ment including bio-psycho-social needs and not merely physical needshelliprdquo (Melby amp Ryan 2005 p1147) A este respeito ainda Palma Rodriacuteguez Azanoacuten e Rodriguez (2005) satildeo contundentes ao concluiacuterem que a presenccedila dos enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar eacute imprescindiacutevel natildeo soacute por possuiacuterem a qualificaccedilatildeo necessaacuteria para co-laborar e actuar na prestaccedilatildeo de cuidados a pes-soas em situaccedilotildees de urgecircnciaemergecircncia como tambeacutem pela diferenciaccedilatildeo na prestaccedilatildeo dos mesmos o que possibilita indubitaacuteveis benefiacutecios para o doente mediante a melhoria de conheci-mentos respostas colaboraccedilatildeo e adaptaccedilatildeo do mesmo agrave sua situaccedilatildeo de alteraccedilatildeo no continuum sauacutede-doenccedila

Poreacutem contrariamente agrave evidecircncia cientiacutefica que aponta os benefiacutecios da participaccedilatildeo do enfer-meiro no contexto de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar as correntes divergentes indicam determinados aspectos como limitadores ou mesmo inviabilizadores desta presenccedila que vatildeo desde a inadequaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo ateacute haacute ine-xistecircncia de legitimidade eacutetico-deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados de forma autoacutenoma envolvendo duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais

Neste sentido o Sindicato dos Teacutecnicos de Am-bulacircncia de Emergecircncia (STAE) (2010) refere que a niacutevel internacional os serviccedilos de emergecircncia meacutedica demonstram que as soluccedilotildees para os re-cursos humanos nesta aacuterea devem incidir na for-maccedilatildeo de profissionais unicamente direccionados para o desempenho de cuidados de emergecircncia em ambiente preacute-hospitalar (comummente deno-minados como ldquoparameacutedicosrdquo) com autorizaccedilatildeo para executar determinados procedimentos meacutedi-cos invasivos sob direcccedilatildeo meacutedica e certificaccedilatildeo acrescentando ainda que natildeo existem vantagens em termos de eficiecircncia ou qualidade dos cui-dados prestados com a inclusatildeo de enfermeiros neste acircmbito de cuidados Poreacutem Suserud e Hal-jamaumle (1997 1999) aos quais acrescemos a nossa aprovaccedilatildeo opotildeem-se a esta posiccedilatildeo salientando inversamente a tendecircncia internacional a que se assiste no sentido de um aumento do nuacutemero de enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar Como estes referem os modelos que preconizaram a existecircncia do tipo de soluccedilatildeo para os recursos hu-manos sugerido pelo STAE (2010) basearam-se na

inexistecircncia de meacutedicos e enfermeiros suficientes para suprir simultaneamente as necessidades intra e preacute-hospitalares pelo que por uma ques-tatildeo de racionalizaccedilatildeo de meios humanos optaram pela sua retenccedilatildeo no acircmbito intra-hospitalar em detrimento do preacute-hospitalar

Com o debate em torno da importacircncia de um elevado niacutevel de competecircncias para aumentar a qualidade dos cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar foram suscitadas por parte de vaacuterios paiacute-ses alteraccedilotildees na forma de encarar os recursos humanos necessaacuterios para a prossecuccedilatildeo deste objectivo Como tal a Noruega a Sueacutecia ou a Ho-landa satildeo exemplos de paiacuteses que apesar de ini-cialmente suportados em modelos de emergecircncia meacutedica que pressupunham a existecircncia de profis-sionais de emergecircncia meacutedica como os referidos pelo STAE (2010) alteraram o seu modo de fun-cionamento incluindo os enfermeiros nas equipas de emergecircncia preacute hospitalar salientando ldquohellipthe importance of having equally competence emer-gency personel working in the pre-hospital area and in hospital that is professionals doing the same type of work should have similar competen-ce levels and practical trainingrdquo (Suserud amp Hal-jamaumle 1997 p145) Na verdade a emergecircncia meacute-dica preacute-hospitalar eacute uma componente da Emer-gecircncia Meacutedica a qual abrange um largo espectro

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intervenccedilatildeo desde os cuidados intensivos ateacute agrave prestaccedilatildeo de cuidados em serviccedilos de urgecircncia passando pelo transporte inter-hospitalar de do-entes urgentes todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros tecircm uma participaccedilatildeo essencial e competecircncias reconhecidas [Suserud 2005 Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Nor-te (ARSN) 2009] Partilhando estas actividades toda uma seacuterie de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e compe-tecircncias comuns torna-se clara a importacircncia da presenccedila do enfermeiro de um modo transversal em todas elas permitindo uma boa articulaccedilatildeo e continuidade fundamentais para toda a cadeia de cuidados realccedilando a evidecircncia cientiacutefica pro-duzida nos paiacuteses que adoptaram este modelo de emergecircncia preacute-hospitalar que ldquohellipthe increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by ra-sing the competence level of the team as a who-lerdquo (Suserud amp Haljamaumle 1997 p145)

Outra das objecccedilotildees apontada refere-se agrave neces-sidade de formaccedilatildeo especiacutefica para a prestaccedilatildeo de cuidados em emergecircncia preacute-hospitalar sendo referido que o ldquoenfermeiro carece sempre de for-maccedilatildeo especializada para a intervenccedilatildeo preacute-hos-pitalar que natildeo seja conjunta com o meacutedico hellipsob pena de estar em causa a seguranccedila e a qualidade dos cuidados prestadosrdquo (STAE 2010 p5)

De facto aceitamos a menccedilatildeo de que eacute necessaacute-ria formaccedilatildeo acrescida agrave formaccedilatildeo base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) Poreacutem esta eacute claramente uma preposiccedilatildeo inviaacutevel no sentido de reiterar a inexistecircncia de competecircn-cias de enfermagem em emergecircncia preacute-hospita-lar Natildeo podemos esquecer que a licenciatura natildeo concede por si soacute uma especializaccedilatildeo da praacutetica profissional pois apenas confere uma base de co-nhecimentos e competecircncias no acircmbito da enfer-magem de cuidados gerais encaminhando poste-riormente o enfermeiro a sua praacutetica profissional num determinado sentido obviamente suportada pela formaccedilatildeo adicional que essa aacuterea exija To-davia a existecircncia de um corpo soacutelido de conhe-cimentos base adquirido no CLE vai favorecer a posterior aquisiccedilatildeo de conhecimentos e compe-tecircncias suportando e solidificando a prestaccedilatildeo de cuidados na aacuterea especiacutefica em causa

Por outro lado decorrente de vaacuterios factores como a gravidade e complexidade das situaccedilotildees cliacutenicas a imprevisibilidade de ocorrecircncias e a prestaccedilatildeo de cuidados em ambiente extra-hospi-talar com elevada exposiccedilatildeo social e reduzido nuacute-mero de intervenientes no processo de decisatildeo o exerciacutecio profissional neste contexto eacute reconheci-damente especiacutefico e complexo o que exige uma preparaccedilatildeo singular e contiacutenua dos profissionais envolvidos (Tomaacutes 2009 OE 2010)

Face a isto na realidade portuguesa todos os en-fermeiros que prestam cuidados nas VMER SIV helicoacutepteros de emergecircncia meacutedica e CODU tecircm formaccedilatildeo que os habilita agrave sua actividade con-ferindo as competecircncias teoacuterico - praacuteticas consi-deradas essenciais pelas entidades competentes ao que se acrescem as poacutes-graduaccedilotildees e mes-trados que tecircm surgido nas aacutereas de urgecircnciaemergecircncia encaradas como uma mais-valia na qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais (Vieira Oliveira amp Ressurreiccedilatildeo 2005 Tomaacutes 2009) A li-teratura (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) por sua vez sugere a existecircncia de um consenso relativamente ao facto dos enfer-meiros com experiecircncia de anestesia unidade de cuidados intensivos e serviccedilo de urgecircncia serem os mais habilitados para a prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar decorrente da for-maccedilatildeo que possuem e da constante interacccedilatildeo com situaccedilotildees cliacutenicas criacuteticas que lhes permite uma manutenccedilatildeo das competecircncias que de ou-tro modo poderiam decrescer face a periacuteodos de menor operacionalidade decorrente da inexis-tecircncia de situaccedilotildees criacuteticas na aacuterea de influecircncia dos meios de socorro Desta forma poderaacute residir neste aspecto um dos deacutefices do modelo portu-guecircs em que os enfermeiros dos meios SIV ape-nas prestam cuidados no contexto preacute-hospitalar em exclusividade Todavia na VMER esta questatildeo natildeo se coloca uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua activi-dade profissional tambeacutem em contexto intra-hos-pitalar preferencialmente nos serviccedilos supraci-tados sendo esta uma das condiccedilotildees de ingresso previamente definida o que potencia o processo de retro-alimentaccedilatildeo de experiecircncia e conheci-mento com consequente mais-valia para as duas aacutereas (Suserud 2005 OE 2010)

Eacute tambeacutem no capiacutetulo da legitimidade eacutetico--deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados que satildeo colocadas duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais do enfermeiro ldquohellipque natildeo seja conjunta com o meacutedi-cohelliprdquo (STAE 2010 p5) pois o caraacutecter de inter-venccedilatildeo em situaccedilotildees criacuteticas contempla que natildeo raras vezes se torne necessaacuterio aplicar determi-nadas intervenccedilotildees e procedimentos considera-dos life saving como entubaccedilatildeo endo-traqueal desfibrilhaccedilatildeo prescriccedilatildeo e administraccedilatildeo de faacuter-macos ou lideranccedila em situaccedilotildees de emergecircncia comummente reconhecidas como do acircmbito de intervenccedilatildeo meacutedica colocando-se questotildees como ldquoqual a fronteira em termos de intervenccedilotildees meacute-dicas e de enfermagemrdquo ou ldquopode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenccedilotildees e proce-dimentos life savingrdquo (Vieira Oliveira amp Ressur-reiccedilatildeo 2005)

Poreacutem o decreto-lei nordm 16176 de 4 de Setembro enquanto Regulamento do Exerciacutecio Profissional dos Enfermeiros (REPE) permite que estas duacutevidas possam ser esclarecidas dissipadas e devidamente documentadas em articulaccedilatildeo com os demais do-cumentos descritores e reguladores da profissatildeo

Definidos os cuidados de enfermagem como ldquoas intervenccedilotildees autoacutenomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no acircmbito das suas qua-lificaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 1 artigo 4ordm do decreto-lei nordm 16176) as intervenccedilotildees autoacutenomas referem-se agraves ldquoacccedilotildees realizadas pelos enfermei-ros sob sua uacutenica e exclusiva iniciativa e respon-sabilidade de acordo com as respectivas quali-ficaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 2 art 9ordm do de-creto-lei nordm 16176) enquanto as interdependen-tes satildeo respeitantes agraves intervenccedilotildees realizadas ldquopelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificaccedilotildees profissionais em conjunto com ou-tros teacutecnicos para atingir um objectivo comum decorrentes de planos de acccedilatildeo previamente de-finidos pelas equipas multidisciplinares em que estatildeo integrados e das prescriccedilotildees ou orientaccedilotildees previamente formalizadasrdquo (nuacutemero 3 artigo 9ordm do decreto-lei nordm 16176) Continuando a anaacutelise o nuacutemero 4 art 9ordm do mesmo diploma refere que os enfermeiros ldquoprocedem agrave administraccedilatildeo de te-rapecircutica prescrita detectando os seus efeitos e actuando em conformidade devendo em situaccedilatildeo de emergecircncia agir de acordo com a qualificaccedilatildeo e os conhecimentos que detecircm tendo como fina-lidade a manutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

BIBLIOGRAFIAADMINISTRACcedilAtildeO REGIONAL DE SAUacuteDE DO NORTE - Comissatildeo re-gional do doente criacutetico - Um ano de reflexatildeo e mudanccedila (2009) Por-to Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Norte

DECRETO-LEI nordm16196 de 4 de Setembro (com as alteraccedilotildees intro-duzidas pelo decreto-lei nordm 10498 de 21 de Abril) DR nordm205 I Seacuterie Ministeacuterio da Sauacutede Lisboa

LEI nordm 1112009 de 16 de Setembro DR nordm180 I Seacuterie Assembleia da Repuacuteblica Lisboa

MELBY Vidar RYAN Assumpta ndash Caring for old people in prehospital emergency care Can nurses make difference Journal of Clinical Nur-sing 1365 ndash 2702 149 (2005) 1141-1150

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PALMA Garcia RODRIacuteGEZ Salvador AZANOacuteN Heacuternandez RODRIacute-GUEZ Camero ndash Provesso enfermero y atencioacuten prehospitalaria ur-gente Tempus Vitalis 1578 ndash 5963 52 (2005) 1-3

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SUSERUD Bjorn-Ove HALJAMAumlE Hengo ndash Role of nurses in pre-hos-pital emergency care Accident amp Emergency Nursing 0965 ndash 2302 5 (1999) 141-151

TOMAacuteS Alexandre ndash O enfermeiro em ambulacircncias de Suporte Ime-diato de Vida ndash Afirmar a Enfermagem no preacute-hospitalar Ordem dos Enfermeiros 1646 ndash 2629 32 (2009) 59-60

VIEIRA Pedro OLIVEIRA Luiacutes RESSURREICcedilAtildeO Serafim ndash O enfer-meiro perante a emergecircncia preacute-hospitalar Sinais Vitais 61 (2005) 32-35

JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

32 33

doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

DEZ

EMBR

O 2

012

GESTAtildeO | LIDERANCcedilA GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 2: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

SUMAacuteRIO

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SUMAacuteRIOP04 EDITORIAL

P05 ACTUALIDADESORIGEM DO CONSUMO DE AacuteLCOOL PODE ESTAR NUM MACACO PRIMITIVO

P06 ACTUALIDADESOS NIacuteVEIS DE INSULINA AUMENTAM E DIMINUEM NUM CICLO DIAacuteRIO

P07 ACTUALIDADESCOMER JUNK FOOD DURANTE A GRAVIDEZ PODE FAZER COM QUE O SEU FILHO NASCcedilA JAacute VICIADO

P08 ACTUALIDADESAS NOZES OCUPAM A POSICcedilAtildeO SUPERIOR DOS ANTIOXIDANTES PARA UM CORACcedilAtildeO SAUDAacuteVEL

P10 ENTREVISTAENTREVISTA COM O ENFERMEIRO RUI FONTES

P16 EacuteTICARESPOSTA Agrave EUTANAacuteSIA ENQUANTO PRAacuteTICA EacuteTICA

P21 CIEcircNCIA amp TEacuteCNICAENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

P27 CIEcircNCIA amp TEacuteCNICAVIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

P33 CIEcircNCIA amp TEacuteCNICATRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

P39 CIEcircNCIA amp TEacuteCNICAVIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

P46 CIEcircNCIA amp TEacuteCNICAA COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

P55 CIEcircNCIA amp TEacuteCNICATEacuteCNICA ASSEacuteTICA SIM OU NAtildeO

P59 GESTAtildeO E LIDERANCcedilACULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

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Vivemos num paiacutes em crise as empresas to-das elas estatildeo financeiramente mal as pes-soas tecircm medo do futuro A questatildeo eacute seraacute que isto vai durar A questatildeo que tambeacutem te-mos que fazer eacute Como vai ser depois da crise e como me vou preparar para sair bem dela

O capital humano eacute o capital dos capitais o investimento na formaccedilatildeo e no conhecimen-to eacute um investimento no capital humano O governo natildeo estaacute a perceber isto e estaacute apos-tado em desvalorizar e ateacute desperdiccedilar o seu melhor capital mas cada um de noacutes tam-beacutem tem que pensar na melhor maneira de se apresentar quando a situaccedilatildeo retomar a competitividade e aiacute aqueles que estiverem melhor preparados satildeo os que ldquosobrevive-ratildeordquo Apostar na formaccedilatildeo quer acadeacutemica quer complementar frequentando cursos de cursa duraccedilatildeo poacutes-graduaccedilotildees etc eacute apos-tar no futuro eacute apostar no capital humano

Alguns dizem mas para quecirc O que eacute que acrescenta Eu digo que a formaccedilatildeo acres-centa sempre Ficamos sempre mais enrique-cidos mais conhecedores com outras visotildees

sobre as coisas outras formas de fazer e de dizer mais preparados para enfrentar as ad-versidades e para resolver os problemas que no dia-a-dia se nos colocam

Sei que do ponto de vista da gestatildeo financei-ra familiar o investimento na formaccedilatildeo natildeo eacute prioritaacuterio em relaccedilatildeo agrave comida agrave habitaccedilatildeo etc mas cuidado se natildeo lhe dispensarmos alguma atenccedilatildeo podemos ficar a perder Os cursos de mestrado comeccedilam a ficar deser-tos ou com pouca procura os cursos e jorna-das ficaram vazios de repente porquecirc Claro que a resposta eacute a falta de dinheiro ou seraacute que a depressatildeo que se abateu sobre nome-adamente os enfermeiros nos estaacute a fazer esquecer a importacircncia deste investimento

Os mais preparados satildeo os que melhor en-frentaratildeo os desafios do futuro O conheci-mento eacute a melhor arma para combater os preconceitos os autoritarismos a demago-gia as novas formas de totalitarismo O co-nhecimento eacute felicidade e liberdade

Invistam no conhecimento

antoacuteniO fERnanDO aMaRal Enfermeiroamaralesenfcpt

EDITORIALORIGEM DO CONSUMO DE AacuteLCOOL PODE ESTAR NUM

MACACO PRIMITIVO

O gosto pelo aacutelcool pode ser um desejo antigo A capacidade de metabolizar o etanol - o aacutel-cool no vinho cerveja e destilados - pode ter a sua origem no ancestral comum de chim-panzeacutes gorilas e seres humanos haacute cerca de 10 milhotildees de anos atraacutes talvez quando este ancestral se tornou mais terrestre e come-ccedilou a comer frutas em fermentaccedilatildeo no chatildeo O quiacutemico Steven Benner da Fundaccedilatildeo para Evo-luccedilatildeo Molecular Aplicada em Gainesville na Floacute-rida chegou a essa conclusatildeo ao analisar enzimas que metabolizam o aacutelcool de primatas extintos Benner e seus colegas estimaram o coacutedigo geneacute-tico das enzimas a partir de enzimas produzidas no laboratoacuterio e em seguida analisaram como eles funcionam de maneira a entender como eles mudaram ao longo do tempo

Os seres humanos dependem de uma enzima chamada aacutelcool desidrogenase 4 ou ADH4 para metabolizar o etanol A enzima eacute comum em todo o esocircfago estocircmago e intestinos e eacute a enzima que primeiro entra em contato com

o que uma pessoa bebe Entre os primatas nem todos os ADH4s satildeo os mesmos - alguns natildeo podem metabolizar eficazmente o etanol Os resultados mostraram que a maioria dos an-tepassados de primatas natildeo teria sido capaz de metabolizar o etanol mas no ponto da ramifica-ccedilatildeo que levou a gorilas chimpanzeacutes e humanos - um ancestral que viveu cerca de 10 milhotildees de anos atraacutes - a enzima torna-se um digestor de aacutelcool poderoso Em comparaccedilatildeo com as enzi-mas anteriores esta foi 50 vezes mais eficiente tendo sido capaz de quebrar o niacutevel de etanol encontrado nas modernas bebidas alcooacutelicas Com uma casca ou pele danificada a levedu-ra pode ter invadido a fruta e os seus accediluacuteca-res fermentados em etanol Assim os indi-viacuteduos que poderiam digerir etanol teriam sobrevivido melhor do que aqueles que natildeo podiam Isso tambeacutem explica por que a ca-pacidade de metabolizar o etanol natildeo evo-luiu nos primatas que habitam sobretudo em aacutervores como os orangotangos onde ra-ramente encontramos frutos fermentados

SECCcedilAtildeO DA RESPONSABILIDADE DE ANTOacuteNIO FERNANDO AMARAL

Comer frutas fermentadas do chatildeo pode ter aberto o caminho para a capacidade de digerir etanol A capacidade de metabolizar o etanol poderia ter surgido no ancestral comum de chimpanzeacutes gorilas e seres humanos agrave medida que este macaco ancestral se tornou mais terrestre e comeccedilou a comer frutas fermentadas no chatildeo

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Um novo estudo sugere que tal como o sol os niacuteveis de insulina sobem e descem num ritmo diaacute-rio Interromper esse ciclo pode contribuir para a obesidade e a diabetes

Vaacuterios sistemas orgacircnicos comportam-se como um reloacutegio diaacuterio conhecido como ritmo circa-diano Temperatura corporal pressatildeo arterial e a libertaccedilatildeo de muitas hormonas fazem parte dos temporizadores circadianos Mas ateacute agora ningueacutem tinha mostrado que a insulina - uma hormona que ajuda a controlar a forma como o corpo usa os accediluacutecares para a energia - tambeacutem tem um ciclo diaacuterio Trabalhando com ratinhos pesquisadores da Universidade Vanderbilt em Nashville descobriram que os roedores satildeo mais sensiacuteveis aos efeitos da insulina em determinados

momentos do dia Perturbar os ritmos circadia-nos dos animais interfere com a subida e queda diaacuteria da hormona e faz com que os ratos fiquem propensos agrave obesidade

Se as conclusotildees se aplicarem em seres humanos poderiam ajudar a explicar por que as pessoas que trabalham em turnos noturnos costumam estar acima do peso e sofrem de problemas de sauacutede A descoberta tambeacutem pode ligar a epidemia da obesidade em parte ao fato de se ficar acordado ateacute tarde e comer na hora errada

Os resultados sugerem que se o horaacuterio das refei-ccedilotildees coincidir com a sensibilidade agrave insulina pode ajudar a proteger contra o diabetes Satchidanan-da Panda um geneticista e bioacutelogo do Instituto Salk de Estudos Bioloacutegicos em La Jolla na Cali-foacuternia refere ainda que abusar de forma croacutenica com a desregulaccedilatildeo horaacuteria das refeiccedilotildees pode contribuir para a resistecircncia agrave insulina e eventu-almente levar a diabetes

OS NIacuteVEIS DE INSULINA AUMENTAM E DIMINUEM NUM

CICLO DIAacuteRIOA VIDA MODERNA PODE CONFLITUAR COM O CICLO NATURAL

DA HORMONA

Os resultados desta pesquisa em uacuteltima anaacutelise permitem infor-mar melhor as mulheres graacutevidas sobre os efeitos duradouros que a sua dieta tem sobre o desenvol-vimento dos seus filhos ao longo da vida boas preferecircncias e ris-co de doenccedila metaboacutelica refere Beverly Muumlhlhaumlusler PhD pes-quisador envolvido na Pesquisa FoodPLUS

Muhlausler e seus colegas estu-daram os filhos de dois grupos de ratos um dos quais se alimen-taram de uma raccedilatildeo normal e o outro tinha sido alimentados com uma gama de alimentos que os humanos apelidam de junk food durante a gravidez e a lactaccedilatildeo Apoacutes o desmame os filhotes receberam injeccedilotildees diaacuterias de um bloqueador do recetor opi-oacuteide que bloqueia a sinalizaccedilatildeo de opiaacuteceos O Bloqueio de sinalizaccedilatildeo opioacuteide reduz o consumo de gordura e accediluacutecar impedindo a libertaccedilatildeo de dopamina Os resultados mostraram que o blo-queador de recetor opioacuteide foi menos eficaz na reduccedilatildeo da gordura e ingestatildeo de accediluacutecar nos fi-lhotes das matildees alimentadas com junk food su-gerindo que a via de sinalizaccedilatildeo opioacuteide nessas

crias eacute menos sensiacutevel do que para filhotes cujas matildees se alimentaram com uma raccedilatildeo padratildeo Este estudo mostra que a dependecircncia de junk food eacute ou pode ser um viacutecio verdadeiro Eacute triste dizer mas junk food durante a gravidez transfor-ma as crianccedilas em viciados em junk food

Federation of American Societies for Experi-mental Biology (2013 February 28) Eating junk food while pregnant may make your child a junk food addict ScienceDaily Retrieved February 28 2013 from httpwwwsciencedailycom relea-ses201302130228103443htm

COMER JUNK FOOD DURANTE A GRAVIDEZ PODE

FAZER COM QUE O SEU FILHO NASCcedilA JAacute VICIADO

Uma dieta saudaacutevel durante a gravidez eacute fundamental para o futuro da sauacutede dos filhos Uma nova pesquisa publicada na ediccedilatildeo de marccedilo de 2013 do The FASEB Journal sugere que as matildees graacutevidas que consomem junk food podem realmente causar alteraccedilotildees no desenvolvimento da sinalizaccedilatildeo opioacuteide no ceacuterebro dos seus filhos Esta mudanccedila faz com que os bebeacutes sejam menos sensiacuteveis aos opioacuteides que satildeo libertados apoacutes o consumo de alimentos que satildeo ricos em gordura e accediluacutecar Por sua vez estas crianccedilas que nascem com uma maior toleracircncia a junk food precisam comer mais do mesmo para alcanccedilar uma boa resposta

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AS NOZES OCUPAM A POSICcedilAtildeO SUPERIOR DOS ANTIOXIDANTES PARA UM CORACcedilAtildeO SAUDAacuteVEL

Um novo estudo cientiacutefico coloca as nozes na melhor posiccedilatildeo entre a famiacutelia de alimentos que os leigos reivindicam estarem entre os alimentos perfeitos que a Matildee Natureza produz Os cientis-tas apresentaram uma anaacutelise que mostra que as nozes tecircm a combinaccedilatildeo de antioxidantes mais saudaacutevel e de melhor qualidade do que qualquer outro fruto seco

As Nozes classificam-se acima dos amen-doins amecircndoas pistachos e outros frutos secos Um punhado de nozes conteacutem antioxi-dantes quase duas vezes mais que uma quan-tidade equivalente de qualquer outro fruto seco habitualmente consumidos Este estu-do sugere que os consumidores devem co-mer nozes como parte de uma dieta saudaacutevel O investigador responsaacutevel refere que as no-zes em geral tecircm uma combinaccedilatildeo incomum de benefiacutecios nutricionais - aleacutem dos antio-xidantes ndash e vecircm embrulhadas num pacote

conveniente e barato As Nozes contecircm muita proteiacutena de alta qualidade que pode substi-tuir a carne vitaminas e minerais fibra ali-mentar e satildeo laacutecteos e sem gluacuteten Anos de pesquisa por cientistas de todo o mundo li-garam o consumo regular de pequenas quan-tidades de nozes ou manteiga de amendoim com a diminuiccedilatildeo do risco de doenccedilas do co-raccedilatildeo certos tipos de cancro caacutelculos biliares diabetes tipo 2 e outros problemas de sauacutede Os antioxidantes presentes nas nozes satildeo 2-15 vezes mais potentes que a vitamina E conheci-da pelos seus efeitos antioxidantes poderosos que protegem o corpo contra os danos quiacutemi-cos naturais envolvidos na causa da doenccedila Uma outra vantagem em escolher as nozes como fonte de antioxidantes estaacute no fato de o calor reduzir a qualidade dos antioxidantes ora as pessoas geralmente comem as nozes cruas ou o que permite obter a plena eficaacutecia dos an-tioxidantes

As nozes contecircm ainda gorduras polinsaturadas saudaacuteveis e monoinsaturada em vez de gordura saturada que eacute prejudicial Quanto agraves calorias co-mer nozes parece natildeo causar ganho de peso e ateacute mesmo pode fazer com que as pessoas tenham uma maior sensaccedilatildeo de plenitude e satisfaccedilatildeo tornando-as menos propensos a comer demais Num estudo dos EUA de 2009 o consumo de no-zes foi associado com um risco significativamente menor de ganho de peso e obesidade

ENTREVISTA COM OENFordm RUI FONTES

A PROPOacuteSITO DA COORDENACcedilAtildeO DO LARES DE IDOSOS DO SAMS EM AZEITAtildeO E DA OFERTA SOCIAL NESTE SECTOR

Entrevista da responsabilidade de Carlos Margato

Tem cinquenta e um anos e apresenta-se como enfermeiro que partiu cedo para um percurso na aacuterea da gestatildeo Considera-a a mais adequada agrave sua personalidade

sempre gostei de liderar e desde muito cedo tive a possibilidade de o fazer Por exemplo capitatildeo de equipa no futebol presidente de associaccedilatildeo de estudantes dirigente desportivo na colectividade da terra empreendedor em iniciativas e eventos culturais e desportivos

Refere nunca ter sofrido daquela falsa modeacutestia portuguesa de que natildeo gostamos de chefiar de liderar e de gerir

Dedicou os uacuteltimos quinze anos a desenvolver competecircncias na aacuterea de gestatildeo Destaca como relevante o Curso de Lideranccedila para a Mudanccedila promovido pela Ordem dos Enfermeiros e pelo ICN que muito alterou a minha vida profissional dirigindo-a decisivamente para a aacuterea da gestatildeo

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Ser enfermeiro e coordenar um Lar de Idosos a tem-po inteiro natildeo eacute frequente em Portugal Que razotildeesmotivaccedilotildees estatildeo subjacentes a essa decisatildeo

Ser enfermeiro e outra coisa qualquer natildeo eacute co-mum em Portugal infelizmente Na verdade os enfermeiros tecircm ficado virados para si proacute-prios natildeo desempenhando outras funccedilotildees ou ocupando outros lugares que natildeo sejam dentro da proacutepria aacuterea teacutecnico-cientiacutefica Quantos en-fermeiros na funccedilatildeo de deputado desde o 25 de Abril Quantos de noacutes exercemos funccedilotildees rele-vantes nas autarquias Em empresas Mesmo nas associaccedilotildees que natildeo sejam especificamente de enfermagem Natildeo seraacute esta a razatildeo da pouca relevacircncia que a profissatildeo continua a ter e do pouco valor social da mesma

Quando fui para coordenador (director teacutecni-co) do lar de idosos sofri o peso da ignoracircncia de muitos teacutecnicos sociais em relaccedilatildeo agrave lei e o peso do estigma que a aacuterea social era destino ex-clusivo do serviccedilo social Natildeo foi faacutecil a minha aceitaccedilatildeo Utilizaram-se vaacuterios estrateacutegias para colocar em causa a qualidade de um enfermeiro como director teacutecnico Cedo percebi que era dos melhores e ateacute fui levado a pensar que a gestatildeo de lares deveria ser entregue a enfermeiros pelo seu conhecimento global da aacuterea da sauacutede e da aacuterea social Mas hoje reconheccedilo que o exerciacutecio de funccedilotildees de gestatildeo natildeo tem a ver com a base de formaccedilatildeo profissional que se tem Pode ser--se bom director teacutecnico sendo enfermeiro as-sistente social psicoacutelogo ou com outra profissatildeo qualquer Conveacutem eacute que saiba liderar tenha co-nhecimentos profundos na aacuterea social e na aacuterea de sauacutede O ideal eacute a construccedilatildeo de um profissio-nal hiacutebrido entre o social e a sauacutede

Haacute quantos anos desempenhas as funccedilotildees de coorde-nador do Lar de Idosos do SAMS em Azeitatildeo

Fiz recentemente dez anos como coordenador do lar de idosos coincidindo mais ou menos com os vinte e cinco de enfermagem

Na grande maioria dos Lares os coordenadores satildeo assistentes sociais Identificas razotildees suficientes para afirmar que essa funccedilatildeo deveria ser desempe-nhada por enfermeiros

Jaacute respondi mais ou menos a essa questatildeo Os en-fermeiros trazem ao Lar de Idosos uma mais-valia interessante e hoje com os conhecimentos que tem podem de facto responder agraves necessidades na aacuterea social que surgem num lar conseguindo tambeacutem assegurar os cuidados de sauacutede e fazer a sua gestatildeo O grande drama do serviccedilo social eacute que os lares satildeo em geral autenticas unidades de pessoas idosas doentes para as quais a sauacutede eacute fundamental e o serviccedilo social natildeo tem qualquer preparaccedilatildeo para responder a essa necessidade Assim a enfermagem tem aqui um lugar de gran-de importacircncia A questatildeo eacute que os enfermeiros ao longo de todos estes anos viram nos lares a acumulaccedilatildeo de umas horas onde poderiam ga-nhar ldquouns trocosrdquo sem qualquer responsabilidade Essa imagem faz ainda hoje com que se olhe para o enfermeiro do lar como aquele que natildeo tem lu-gar em mais lado algum

O grande drama do serviccedilo social eacute que os lares satildeo em geral autenticas unidades de pessoas idosas doentes para as quais a sauacutede eacute fundamental e o serviccedilo social natildeo tem qualquer preparaccedilatildeo para responder a essa necessidade Assim a enfermagem tem aqui um lugar de grande importacircncia

Fala-me um pouco do Lar que coordenas nuacutemero de residentes de assistentes operacionais de cozinhei-ros condutores entre outroshellip

O lar de idosos do SBSISAMS eacute a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do enve-lhecimento em Portugal e aquela que poderaacute ter a vaidade de dizer que seraacute a melhor do paiacutes Eacute costume incomodar e provocar as pessoas com esta ideia que eacute consequecircncia de trabalhar num lar muito especial uma equipa de colaboradores apaixonados por aquilo que fazem que discute em qualquer lugar as questotildees do envelhecimen-to que sabe o que eacute funcionalidade utilidade e

felicidade no processo de envelhecimento que tem formaccedilatildeo ul-trapassando as horas obrigatoacuterias anuais e cuja auto-estima eacute muito elevada instala-ccedilotildees muito interessan-tes e de elevado niacutevel uma organizaccedilatildeo de trabalho iacutempar com utilizaccedilatildeo do meacutetodo responsaacutevel com to-dos os residentes com enfermeiro fisiotera-peuta e auxiliares de referecircncia com um modelo de comunica-ccedilatildeo original assente na evidecircncia cientiacutefica e nos mais inovadores processos de gestatildeo

Mas tudo isto podia ser dito e teria pouco valor se natildeo soubeacutessemos quantos residentes caiacuteram nos uacuteltimos dez anos que evoluccedilatildeo teve o nuacutemero de quedas quais satildeo os valores da escala de Katz da escala de Morse da escala de equiliacutebrio e da mini--mental qual o valor meacutedio da percepccedilatildeo da dor quantas escaras existiram em dez anos quantas conseguimos tratar e como quantas pessoas re-correm por ano agraves urgecircncias hospitalares e quan-tos dias de internamento hospitalar tem os re-sidentes por ano quantos recursos satildeo feitos ao exterior qual o grau de satisfaccedilatildeo de residentes colaboradores familiares parceiros internos e par-ceiros externos quantas pessoas foram algaliadas no ano e quantos antibioacuteticos foram prescritos

Jaacute seria um lar bom com todos estes indicadores mas eacute ainda melhor porque no iniacutecio do ano defi-nimos os nossos objectivos avaliamo-los durante o ano e atingimos grande parte deles Eacute um lar di-ferente porque natildeo trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e natildeo resolvemos situaccedilotildees de residentes problemaacuteticos com comprimidos para dormir Eacute um lar bom porque contrariamos todas as prescriccedilotildees que disfuncionalizam residentes debatendo com os prescritores essas situaccedilotildees Eacute um Lar muito bom porque preferimos que os

nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirotildees

Somos diferentes mas soacute vendo

O lar de idosos do SBSISAMS eacute a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do envelhecimento em Portugal Eacute um lar diferente porque natildeo trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e natildeo resolvemos situaccedilotildees de residentes problemaacuteticos com comprimidos para dormir Eacute um lar bom porquecirc contrariamos todas as prescriccedilotildees que disfuncionalizam residentes debatendo com os prescritores essas situaccedilotildees Preferimos que os nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirotildees

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A portaria 672012 evolui no conceito de ldquoLar de Idososrdquo para ldquoestrutura residencial para pessoas idosasrdquo e defini-o como o estabelecimento para alo-jamento colectivo de utilizaccedilatildeo temporaacuteria ou per-manente em que satildeo desenvolvidas actividades de apoio social e prestados cuidados de enfermagem

Como sabes na maioria destas estruturas haacute um enfermeiro ldquoumas horas por dia ou por semanardquo Consideras essa uma ldquoboa respostardquo de cuidados de enfermagem

Claro que natildeo posso dizer nunca que isso eacute uma boa resposta mas devemos tambeacutem ter em aten-ccedilatildeo que natildeo existem recursos financeiros para termos um enfermeiro num lar de idosos perma-nentemente Contudo parece que esta situaccedilatildeo eacute um equiacutevoco e esta questatildeo pode natildeo fazer senti-do no futuro proacuteximo

O que precisamos eacute de determinar tipologias para os cuidados e serviccedilos a pessoas idosas Num lar em que soacute existam pessoas idosas independentes um enfermeiro eacute suficiente bem como a sua acti-vidade de prevenccedilatildeo ensino e educaccedilatildeo Jaacute numa tipologia com residentes fortemente doentes te-mos que ter um enfermeiro a tempo inteiro mas estas unidades jaacute existem e chamam-se cuidados continuados pelo que os lares satildeo respostas para pessoas sem cuidados de sauacutede permanentes

A nova portaria veio estigmatizar ainda mais a pessoa idosa Estaacute errada

Um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A comparticipaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo de indicadores e assim teriacuteamos comparticipaccedilatildeo que assegurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos

Fala-me da tua experiecircncia neste acircmbito

No nosso lar fizemos aquilo que todos podem fa-zer mas que parece natildeo terem vontade dividimos a estrutura em duas zonas distintas Uma estaacute destinada a pessoas idosas independentes sem necessidade de cuidados de sauacutede e de higiene

e conforto Pessoas que soacute precisam de se sentir seguras e ter apoio para desenvolverem novos projectos de vida Nesta aacuterea o enfermeiro tem necessidade apenas de fazer formaccedilatildeo prevenir ensinar e educar para a sauacutede e para um envelhe-cimento mais feliz e mais saudaacutevel

Numa outra aacuterea temos as pessoas dependentes muitas delas fortemente dependes com enfer-magem 24 horas por dia fisioterapeutas auxi-liares com cargas de trabalho muito confortaacuteveis e coacutemodas Nesta aacuterea recebemos tambeacutem do-entes para recuperaccedilatildeo global cujo rendimento financeiro eacute maior e muito significativo assegu-rando sustentabilidade de todos os recursos hu-manos

Eacute o modelo que devia ter sido adoptado para os cuidados continuados mas alguns preferiram ca-minhar pela estrada do grande empreendedoris-mo da construccedilatildeo civil e do cimento Natildeo havia auto-estradas para fazerhellip

Mas entatildeo haacute ldquomais valiasrdquo em ter enfermeiro 24 horas

Numa unidade capaz de responder aacute recupera-ccedilatildeo global aacute recuperaccedilatildeo de situaccedilotildees de doenccedila pontuais poacutes cirurgias etc

Numa unidade que consiga especializar-se em determinadas especificidades e que possa pelo rendimento financeiro assegurar os enfermeiros e os outros teacutecnicos Natildeo podemos continuar a fazer redes ao lado da rede hospitalar exigir teacutec-nicos de sauacutede e natildeo procurar saber como se sus-tentam esses projectos

Quero esclarecer que nada disto confronta o mo-delo de estado social ou faz com que natildeo defenda um estado que trate e cuide dos mais fragilizados em igualdade de circunstacircncias com toda a popu-laccedilatildeo Natildeo gosto eacute de contribuir para um estado que natildeo eacute social mas que eacute um estado das insti-tuiccedilotildees sociais

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos no-

vas tipologias De natildeo diferenciar-mos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de instituciona-lizaccedilatildeo na europa do norte de cer-ca de 17 e em Portugal 35

Por isso os indicadores atraacutes referidos demons-tram essa ldquomais-valiardquo

Todos os indicadores atraacutes referenciados satildeo melhorados com a introduccedilatildeo de enfermeiros mas mantenho a ideia inicial numa resposta em que se encontrem pessoas doentes e natildeo neces-sariamente num lar que pretende que as pessoas sejam felizes e saudaacuteveis Na aacuterea das pessoas dependentes o enfermeiro mede o seu desempe-nho por muitos indicadores ulceras de pressatildeo recursos a urgecircncias e dias de internamento quedas nuacutemero de medicamentos percepccedilatildeo da dor antibioacuteticos consumidos

Se introduzires um enfermeiro num lar e medi-res estes indicadores concluis que todos baixam num tempo muito reduzido

Eacute isto que o Estado natildeo quer perceber mas que as Institui-ccedilotildees ditas socias tam-beacutem natildeo aceitam um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A com-participaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo destes indicadores e assim teriacuteamos com-participaccedilatildeo que as-segurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos Mas isso provavelmente acaba-ria com os velhos do-entes desgraccedilados e infelizes e as Institui-

ccedilotildees ficavam cada vez com menos clientes por-que vivem exclusivamente do assistencialismo e da caridade

O Regulamento da Individualizaccedilatildeo das Especia-lidades Cliacutenicas de Enfermagem (Regulamento nordm 1682011 publicado em Diaacuterio da Repuacuteblica 2ordf seacuterie mdash Nordm 47 mdash 8 de Marccedilo de 2011) prevecirc a criaccedilatildeo de uma especialidade designada de SAUacuteDE DO IDOSO

Da tua experiecircncia com pessoas idosas consideras esta uma especialidade necessaacuteria

Temos muito que discutir Primeiro precisamos de enfermeiros capazes de gerir lares e liderar equi-pas que natildeo sejam exclusivamente constituiacutedas pelos seus pares Enfermeiros que se exponham como diferentes contribuindo com a sua acccedilatildeo para transformaccedilotildees significativas das institui-ccedilotildees sociais e das entidades privadas na aacuterea do envelhecimento

Mas eacute claro que eacute fundamental uma especialida-de para a aacuterea das pessoas idosas Daqui a pou-co tempo satildeo metade da populaccedilatildeo portuguesa e metade da populaccedilatildeo mundial tendo em conta

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os paiacuteses mais desenvolvidos

Julgo que deveriacuteamos iniciar um profundo debate sobre a enfermagem e o envelhecimento e que a revista Sinais Vitais poderia ser um dos lugares mais interessantes para fazer este debate nacio-nal e ateacute internacional

Que competecircncias devem ser desenvolvidas pelos en-fermeiros nesta especialidade

Conhecimento sobre novos modelos para abor-dagem do envelhecimento legislaccedilatildeo direitos humanos e envelhecimento diversidade de res-postas e necessidades sociais e de sauacutede do en-velhecimento lideranccedila gestatildeo de equipamen-tos com uma forte componente praacutetica Seria bom analisar-se a Poacutes Graduaccedilatildeo promovida pela associaccedilatildeo amigos da grande Idade da qual sou presidente e que foi feita em parceria com a universidade Fernando Pessoa estando para ser lanccedilada a segunda ediccedilatildeo com a Universidade da Estremadura

Conhecendo como eu sei a realidade portuguesa em termos de respostas sociais dirigidas agrave pessoa idosa elas satildeo suficientes e adequadas

Natildeo as respostas natildeo satildeo suficientes mas acima de tudo satildeo desadequadas Costumo a dizer que se o Marquecircs de Pombal descesse agrave terra ficaria deslumbrado com tanta evoluccedilatildeo mas se entrasse num lar sentir-se-ia no tempo dele

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos novas tipologias De natildeo diferenciarmos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de institucio-nalizaccedilatildeo na europa do norte de cerca de 17 e em Portugal 35

Eacute necessaacuteria uma revoluccedilatildeo e penso que ela esta-raacute para breve Os revolucionaacuterios ao contraacuterio do habitual vatildeo ser os empreendedores capitalistas que iratildeo investir num novo modelo de oferta de cuidados e serviccedilos

Consegues dizer-me quantos Lares haacute em Portugal continental

Existem cerca de 2000 lares em Portugal cerca de 2000 centros de dia e 2500 serviccedilos de apoio domiciliaacuterio Isto legalmente Prevecirc-se que pos-sam existir cerca de 2500 lares ilegais ou clan-destinos no paiacutes

Conhecedor das respostas sociais neste acircmbito enca-rara a tua velhice de forma despreocupada

Natildeo claro que natildeo Primeiro quero nomear o mais rapidamente possiacutevel algueacutem que me repre-sente com autoridade para natildeo ser ldquoapanhadordquo na teia da destituiccedilatildeo de direitos e vontades Natildeo quero que me coloquem um nariz de palhaccedilo e uma peruca quando for o carnaval como se fosse um velho tonto apalhaccedilado

Mas natildeo tenho garantias Se calhar vou mesmo fazer essas figuras pateacuteticas Para grande gaacuteudio dos teacutecnicos

O que mudaria na organizaccedilatildeo desta reposta social se fosse convidado pelo governo a coordenaacute-la

A Associaccedilatildeo a que presido tem vaacuterios documen-tos mas destaco de imediato

ndash mudaria o modelo de financiamento e deixava de distribuir dinheiro a instituiccedilotildees sem avaliar os seus indicadores de qualidade e desempe-nho

ndash criava um novo modelo de oferta que natildeo fosse destinado a pessoas idosas doentes mas ape-nas a pessoas idosas ou seja implementava no-vas tipologias

ndash apostava nos cuidados domiciliaacuterios e nos cen-tros de dia criando uma rede nacional que in-cluiria tambeacutem o centro de sauacutede e os lares

ndash criava um programa para legalizaccedilatildeo de lares clandestinos e ilegais

Poucas medidas mas de grande eficaacutecia Aliaacutes Portugal espera um ministro que queira ficar na histoacuteria

A ENFERMAGEM TEM UM ENDERECcedilO

wwwsinaisvitaispt

NOTIacuteCIAS radic FORMACcedilAtildeO radic CIEcircNCIA radic DISCUSSAtildeO

PARQUE EMPRESARIAL DE EIRAS LOTE 19 EIRAS3020-265 COIMBRAtElEfOnE 239 801 020fax 239 801 029

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RESPOSTA Agrave EUTANAacuteSIA ENQUANTO PRAacuteTICA EacuteTICA

ENTRADA DO ARTIGO OUTUBRO 2010

EDUARDO JOSEacute FERREIRA DOS SANTOSEnfermeiro na Fundaccedilatildeo Aureacutelio Amaro Diniz

RESUMONa praxis cliacutenica o significado da eutanaacutesia acres-ce pela pressatildeo da moralidade puacuteblica e profunda convicccedilatildeo dos que lidam com pessoas particular-mente vulneraacuteveis e para as quais o fenoacutemeno pa-toloacutegico eacute profundamente incapacitante Este artigo corporiza a preocupaccedilatildeo dos que se debatem com este dilema eacutetico sugerindo o en-caminhamento para cuidados paliativos e a adop-ccedilatildeo de uma posiccedilatildeo mais proactiva das escolas de enfermagem e instituiccedilotildeesserviccedilos na formaccedilatildeo e ensino especializado

Palavras-chave Eutanaacutesia fim-de-vida cuidados paliativos eacutetica

ABSTRACTIn clinical practice the meaning of euthanasia is increased by the pressure of public morality and deep conviction of dealing with particularly vul-nerable persons and for which the pathological phenomenon is profoundly disablingThis article presents the concern of those who struggle with this ethical dilemma sug-gesting the orientation to palliative care and the adoption of a more proactive posi-tion by nursing schools and institutionsser-vices in training and specialized education

Keywords Euthanasia life-end palliative care ethics

INTRODUCcedilAtildeOA Eutanaacutesia deriva da junccedilatildeo de duas palavras Eu que significa bom e Thanatos que quer dizer mor-te Semanticamente morte doce morte sem ago-nia ou sem sofrimento fiacutesico Trata-se portanto do processo atraveacutes do qual algueacutem causa deliberada-mente a morte de outra a pedido desta uacuteltima (na expressatildeo de Arroyo e Serrano 1988)Por se associar intrinsecamente ao ldquoacto inten-cional de matarrdquo (Serratildeo 1996 p382) a eutanaacutesia eacute palco de inuacutemeras poleacutemicas posiccedilotildees e origina uma acesa controveacutersia num diaacutelogo nem sempre construtivo em torno do conceito de morte com dignidade O facto eacute que existe uma manifesta falta de informaccedilatildeo objectiva sobre os motivos que podem originar um pedido desta natureza (P13APB08) e como tal a eutanaacutesia impotildee-se como foco de reflexatildeo agrave enfermagem Isto porque sempre que ao enfermeiro se apresente a possibi-lidade de participaccedilatildeo na mesma surge agrave priori o dever de recusa Todavia no domiacutenio da liberda-de do livre arbiacutetrio a eutanaacutesia constitui-se como um dilema eacutetico (Queiroacutes 2001 Archer Biscaia e Osswald 2001 Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005)Eacute sobre a posiccedilatildeo da Enfermagem que nos pre-tendemos debruccedilar sugerindo a filosofia dos cui-dados paliativos como soluccedilatildeo em detrimento da realidade portuguesa

ASPECTOS CONCEPTUAIS A dignidade humana eacute sentida e expressa atraveacutes do corpo como suporte bioloacutegico de existecircncia Nem a pessoa eacute o corpo nem tatildeo pouco proprie-taacuteria do seu corpo Como tal a dignidade huma-na quanto mais agredida eacute tanto mais se impotildee como fronteira inviolaacutevel entre o humano e o natildeo--humano Eacute por esse motivo que hoje a dignidade humana aparece ligada a expressotildees que vatildeo des-de a qualidade de vida ao cuidado agrave cariacutecia agrave compaixatildeo (26CNECV99)Neste sentido o respeito pela dignidade de cada pessoa humana eacute uma exigecircncia eacutetica inscre-vendo na praacutetica diaacuteria dos cuidados de sauacutede o permanente centrar desses mesmos cuidados em cada pessoa (Martins 2010)Por outro lado cresce a noccedilatildeo de que no acircmbito da prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede os utentes de-vem ser livres de recusar determinados tratamen-tos agrave luz do princiacutepio do respeito pela autonomia

individual Assim eacute hoje possiacutevel qualquer doente competente recusar um determinado tratamen-to mesmo que desta forma se abrevie o momento da sua morte Aliaacutes eacute neste mesmo sentido que se questiona se esta capacidade decisoacuteria pode ser exercida prospectivamente nomeadamente quando natildeo for possiacutevel o exerciacutecio da autodeter-minaccedilatildeo individual (E10APB07)Curiosamente eacute neste domiacutenio que surge a euta-naacutesia e manifestamente se materializa pela pres-satildeo exercida pelos utentes nos profissionais de sauacutede ao exigirem respeito pelo seu ldquodireitordquo de morrer Com efeito quando os profissionais de sauacutede se sentem compelidos a agir e por termo ao sofrimento de um utente existe um conflito ine-vitaacutevel entre o dever eacutetico do cuidar protector ndash o dever da beneficecircncia e da natildeo-maleficecircncia ndash e o respeito pela autonomia e do direito de escolha do utente (Thompson Melia e Boyd 2004)Em todo o caso a eutanaacutesia soacute eacute uma opccedilatildeo livre quando se assegurar que se trata de um pedido racional de algueacutem que natildeo se revecirc mais no seu projecto de vida pessoal ou seja que natildeo se tra-ta de um comportamento apelativo por parte de algueacutem que se encontra insatisfeito com as con-diccedilotildees de vida que lhe satildeo proporcionadas (P13APB08)Eacute ainda de referir os resultados do estudo realiza-do por Van Der Wal (1992) apud Pessini e Barchi-fontaine (2005) que descreveu que 56 dos casos dos pedidos de eutanaacutesia se deviam aos utentes verem o seu sofrimento sem sentido e 46 por-que temiam o decliacutenioNo entanto vaacuterias satildeo as causas que precipitam tais pedidos Para muitos doentes a solidatildeo em que se encontram pode implicar que a morte as-sistida seja considerada a soluccedilatildeo final ainda que natildeo desejada para o seu dilema existencial Ou-tras causas residem ainda no sofrimento intenso devido ao sentimento de abandono e de exclusatildeo social e menos frequentemente a dor profunda e insustentaacutevel (P13APB08)Neste ponto pode-se apontar os cuidados pa-liativos como estrateacutegia ideal dado que eacute a mais referida pelos autores (Marques Santos e Santos 2001 Thompson Melia e Boyd 2004 Pessini e Barchifontaine 2005) Assim e com a atenccedilatildeo sin-cera dirigida para o utente que solicita a eutanaacute-sia o estabelecimento de ldquoverdadeirasrdquo relaccedilotildees de ajuda e com o auxiacutelio dos cuidados paliativos o

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sofrimento extremo natildeo permanece sem respos-ta Haacute entatildeo que considerar que indubitavelmente o papel do enfermeiro eacute acompanhar o utente pri-vilegiando a sua qualidade de vida minorando a dor ajudando-o a aceitar e a preparar-se para a morte beneficiando de cuidados paliativos e de acompanhamento psicoloacutegico (Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005) Pretende-se providenciar con-forto e bem-estar ao doente croacutenico (e por maio-ria de razatildeo ao doente terminal) recorrendo a meios proporcionados de tratamento por parte de uma equipa de sauacutede especialmente sensibili-zada nesta mateacuteria (E10APB07)Decerto que um outro desafio reside tambeacutem no dever do Estado implementar uma poliacutetica efecti-va de luta contra a dor nomeadamente atraveacutes da implementaccedilatildeo generalizada do Plano Nacional de Luta Contra a Dor e promover a generalizaccedilatildeo dos cuidados paliativos a niacutevel domiciliaacuterio nos Cen-tros de Sauacutede e cuidados em hospitais oncoloacutegicos e outros estabelecimentos de sauacutede (P13APB08)Em suma o desafio dos cuidados paliativos consti-tui entatildeo o de resgatar da dignidade do ser huma-no na uacuteltima fase da sua vida (Pessini e Barchifon-taine 2005)

PERSPECTIVA EacuteTICO-LEGAL De acordo com a nossa ordem juriacutedica a eutanaacutesia eacute uma praacutetica ilegal e criminalizada (E10APB07) Contudo a lei portuguesa natildeo trata da praacutetica eutanaacutesia mas como o direito agrave vida eacute inviolaacutevel segundo a CRP1 e o CP2 - que se traduz num cor-po de normas juriacutedicas que primam por serem as que regulam o regime de penaspuniccedilotildees quando algum acto destoa daquilo que se considera legal-mente admissiacutevel - por analogia a ldquoeutanaacutesiardquo eacute puniacutevel Esmiuccedilando o jaacute referido CP que manifesta re-levante ponderaccedilatildeo para o tema aqui em apreccedilo evidencia-se o Tiacutetulo I (que trata em especiacutefico do crime contra as pessoas) o qual se subdivide no Capiacutetulo I (Dos crimes contra a vida) que en-globa os artigos 131ordm 133ordm134ordm138ordmNeste acircmbito reza o artigo 131ordm corpo normativo que regula e penaliza o tipo legal de crime res-peitante ao Homiciacutedio (o dito homiciacutedio simples) ndash que ldquoQuem matar outra pessoa eacute punido com pena de prisatildeo de oito a dezasseis anosrdquoJaacute o artigo 133ordm (onde se enquadra o delito cri-

1 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa (Lei Constitucional 12005)

2 Coacutedigo Penal (Decreto Lei 592007)

minal do Homiciacutedio privilegiado) esclarece que ldquoQuem matar outra pessoa por compreensiacutevel emoccedilatildeo violenta compaixatildeo desespero ou moti-vo de relevante valor social ou moral que diminua sensivelmente a sua culpa eacute punido com pena de prisatildeo de 1 a 5 anosrdquoAo dirigirmos o nosso reparo para o Artigo 134ordm que trata o ldquoHomiciacutedio a pedido da viacutetimardquo no seu nordm1 clarifica-se que ldquoQuem matar outra pes-soa por pedido seacuterio instante e expresso que ela lhe tenha feito eacute punido com pena de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo O Artigo 135ordm (Incitamento ou ajuda ao suiciacutedio) no seu nordm 1) refere que ldquo Quem incitar outra pes-soa a suicidar -se ou lhe prestar ajuda para esse fim eacute punido com pena de prisatildeo ateacute trecircs anosrdquo contudo e acautelando a possibilidade do suiciacutedio ou da tentativa prossegue o nordm 2 do mesmo arti-go ditando que ldquoSe a pessoa incitada ou a quem se presta ajuda for menor de 16 anos ou tiver por qualquer motivo a sua capacidade de valoraccedilatildeo ou de determinaccedilatildeo sensivelmente diminuiacuteda o agente eacute punido com pena de prisatildeo de um a cin-co anos Quanto ao Artigo 138deg (Exposiccedilatildeo ou abandono) lecirc-se que ldquoQuem colocar em perigo a vida de ou-tra pessoardquo ndash aliacutenea a)- ldquoExpondo-a em lugar que a sujeite a uma situaccedilatildeo de que ela soacute por si natildeo possa defender-serdquo ou - aliacutenea b) - ldquoAbandonan-do-a sem defesa sempre que ao agente coubes-se dever de a guardar vigiar ou assistir eacute punido com pena de prisatildeo de 2 a 8 anosrdquo Por uacuteltimo eacute tambeacutem de salientar o facto de que a eutanaacutesia tambeacutem contraria os princiacutepios basi-lares que alicerccedilam a profissatildeo conforme dispos-to no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros3 e no REPE4 No enquadramento deontoloacutegico os deve-res do enfermeiro incitam ldquoo respeito do direito da pessoa agrave vida durante todo o ciclo vitalrdquo (Arti-go 82ordm) e a obrigatoriedade do enfermeiro ldquode-fender e promover o direito do doente agrave escolha do local e das pessoas que deseja o acompanhem na fase terminal da vida e respeitar e fazer res-peitar as manifestaccedilotildees de perda expressas pelo doente em fase terminal pela famiacutelia ou pessoas que lhe sejam proacuteximasrdquo (Artigo 87ordm)

3 Decreto Lei nordm 10498 de 21 de Abril de 1998

4 Decreto-Lei Nordm 16196 de 4 de Setembro de 1996

CUIDADOS PALIATIVOS QUE RESPOSTAS Em Portugal os cuidados Paliativos estatildeo a dar os primeiros passos verificando-se a existecircncia de alguma preocupaccedilatildeo relativamente ao utente em fase terminal (Queiroacutes 2001) Todavia assiste--se a um deficit ou mesmo ausecircncia de respostas por parte dos serviccedilos e instituiccedilotildees de sauacutede aos utentes (Sapeta 2003)Num estudo realizado pela APEME (2008) sobre o grau de satisfaccedilatildeo da populaccedilatildeo com os Cuidados Paliativos atraveacutes da aplicaccedilatildeo de um questionaacute-rio por entrevista telefoacutenica a uma amostra de 606 elementos salienta-se que 31 dos inquiri-dos os consideram completamente insuficientes 25 insuficientes 31 suficientes 9 moderada-mente suficientes e 5 completamente suficien-tes Curiosamente quando inquiridos sobre ldquoas principais sugestotildees para melhorias dos cuidados paliativosrdquo 14 apostavam na formaccedilatildeo profis-sional e 8 deseja mais profissionais especializa-dos na aacuterea Eacute ainda de referir o estudo realizado por Sapeta (2003) que afirma que a maioria das escolas de Enfermagem lecciona em mais que um ano lecti-vo e em mais do que uma aacuterea cientiacutefica os temas ldquocuidados paliativosrdquo e ldquodor croacutenicardquo contudo numa abordagem bastante superficial dado ao nuacutemero de horas associado Desta forma e especificamente neste aspecto o Programa Nacional de Cuidados Paliativos (DGS 2004 p 2) considera que eacute imprescindiacutevel ldquouma preparaccedilatildeo soacutelida e diferenciada que deve envol-ver quer a formaccedilatildeo preacute-graduada quer a forma-ccedilatildeo poacutes-graduada dos profissionais que satildeo cha-mados agrave praacutetica deste tipo de cuidadosrdquo

CONCLUSAtildeONa actualidade a questatildeo da eutanaacutesia suplanta expectativasduacutevidas natildeo soacute na populaccedilatildeo mas tambeacutem nas camadas profissionais de sauacutede no-meadamente os enfermeiros Concomitantemen-te vaacuterias fracccedilotildees sociais manifestam interesse ou reprovaccedilatildeo pela sua praacutetica Ora eacute defendida por uns eou reprovada por outrosEacute importante destacar que a percepccedilatildeo e livre ar-biacutetrio que o enfermeiro possui norteia a sua praacute-tica profissional e consequentemente influencia algumas tomadas de decisatildeo Notabiliza-se con-tudo a vinculaccedilatildeo do exerciacutecio da profissatildeo a um

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conjunto de regras e aspectos legais e eacutetico-de-ontoloacutegicos que se identificam como orientaccedilotildees para julgar a acccedilatildeo profissional constituindo por fim a obrigatoriedade do enfermeiro se reger pe-las mesmas Eacute neste contexto que nos surgiu a proposta da reflexatildeo sobre possiacuteveis ldquosoluccedilotildeesrespostasrdquo que se esbarraram com a filosofia dos cuidados paliativos que na maioria dos autores referidos se apresentam como a melhor resposta nacional face agraves actuais disposiccedilotildees legais Em epiacutelogo procurou-se evidenciar e incentivar a necessidadeobrigatoriedade de formaccedilatildeo na aacuterea salientando natildeo soacute a importacircncia da tomada de decisatildeo dos serviccedilosinstituiccedilotildees mas predo-minantemente das escolas de Enfermagem

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ENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2010

RESUMONum momento em que o modelo de emergecircncia preacute-hospitalar em Portugal eacute discutido torna-se necessaacuterio reflectir acerca das competecircncias e da importacircncia dos profissionais nela incluiacutedos entre os quais os enfermeiros que natildeo tecircm suscitado consenso Se por um lado existe evidecircncia cientiacutefica que reafirma a importacircncia do enfermeiro neste contexto existem correntes de pensamento que argumentam o inverso objectivando este artigo responder agrave questatildeo ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro em emergecircncia preacute-hospitalarrdquo

Palavras-Chave Enfermagem Emergecircncia preacute--hospitalar

ABSTRACTIn a moment that the pre hospital emergency system is discussed arises the needing to reflect about the competence and importance that the included professionals have to work in this field including the nurses that donacutet have evoke consensus If on one hand exists scientific evidence that reaffirms the importance of the nurseacutes presence in that field there exists currents of thought that argue the inverse So this article objectify answer to the question ldquoExist or not competence for the nursersquos professional exercise in the pre hospital care fieldrdquo

Keywords Nursing Pre hospital emergency

ANDREacute FILIPE RICARDO CORREIAHospital de Faro EPE ndash Unidade de Cuidados Intensivos

INTRODUCcedilAtildeO

Num momento em que a posiccedilatildeo do enfermeiro nas equipas de emergecircncia preacute-hospitalar eacute am-plamente discutida justifica-se a necessidade de reflectir acerca das suas competecircncias para o exerciacutecio nesta aacuterea assim como o seu papel na garantia da seguranccedila e qualidade dos cuidados de sauacutede prestados neste contexto

A presenccedila dos enfermeiros na emergecircncia preacute--hospitalar em Portugal remonta haacute cerca de 20 anos exercendo estes funccedilotildees nas mais variadas aacutereas desde o transporte de receacutem-nascidos Viaturas Meacutedicas de Emergecircncia e Reanimaccedilatildeo (VMER) heli-transporte de doentes criacuteticos e em cataacutestrofe [Ordem dos Enfermeiros (OE) 2008]

Numa constante e progressiva consolidaccedilatildeo do Sistema Integrado de Emergecircncia Meacutedica (SIEM) a que se tem assistido o papel do enfermeiro tem sido reforccedilado nomeadamente com a recente criaccedilatildeo das ambulacircncias de Suporte Imediato de

Vida (SIV) e da figura do enfermeiro responsaacute-vel pelo acompanhamento dos meios no terreno no Centro de Orientaccedilatildeo de Doentes Urgentes (CODU) representando conjuntamente com os preacute-existentes VMER e helicoacutepteros de Emergecircn-cia meacutedica os meios operacionais atraveacutes dos quais os enfermeiros intervecircm actualmente na prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar em equipa com meacutedicos psicoacutelogos tripu-lantes de ambulacircncia de socorro (TAS) tripulan-tes de ambulacircncia de emergecircncia (TAE) e teacutecnicos de operaccedilotildees e telecomunicaccedilotildees de emergecircncia (TOTE) (OE 2008)

Contudo as competecircncias do enfermeiro para a prestaccedilatildeo de cuidados neste contexto assim como a necessidade da sua intervenccedilatildeo parecem natildeo reunir consensualidade sendo suscitadas cor-rentes de pensamento que se opotildeem agrave sua activi-dade e presenccedila neste acircmbito de cuidados Ape-sar inicial ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro no contexto

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de cuidados preacute-hospitalarrdquo

De facto compreendo que se natildeo nos ocupar-mos desta problemaacutetica corremos o seacuterio risco de uma vez mais vermos diminuiacutedas as nossas aacutereas de intervenccedilatildeo o que indubitavelmente re-presenta uma perda para a profissatildeo e em uacutelti-ma instacircncia para a comunidade alvo dos nossos cuidados pelo consequente impacto na qualidade desses cuidados

Assim a este propoacutesito entendemos que o en-fermeiro possui competecircncias que o habilitam agrave prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia no contex-to preacute-hospitalar constituindo a sua presenccedila nas equipas preacute-hospitalares uma inegaacutevel mais-valia

suportada em todo um corpo de conhecimentos teacutecnico - cientiacuteficos que resultam em claros bene-fiacutecios para as pessoas assistidas Tal como a evi-decircncia cientiacutefica (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) afirma os conhecimentos base e competecircncias em ciecircncias como anatomia fisiopatologia e farmacologia a complementari-dade das ciecircncias sociais e humanas produccedilatildeo cientiacutefica e praacutetica baseada na evidecircncia o espiacuteri-to criacutetico - reflexivo e os elevados conhecimentos da realidade intra-hospitalar satildeo caracteriacutesticas dos enfermeiros que acrescem saberes e compe-tecircncias adicionais ao acircmbito da emergecircncia preacute--hospitalar permitindo a sua presenccedila ldquohellipperform and document a high quality and holistic assess-

ment including bio-psycho-social needs and not merely physical needshelliprdquo (Melby amp Ryan 2005 p1147) A este respeito ainda Palma Rodriacuteguez Azanoacuten e Rodriguez (2005) satildeo contundentes ao concluiacuterem que a presenccedila dos enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar eacute imprescindiacutevel natildeo soacute por possuiacuterem a qualificaccedilatildeo necessaacuteria para co-laborar e actuar na prestaccedilatildeo de cuidados a pes-soas em situaccedilotildees de urgecircnciaemergecircncia como tambeacutem pela diferenciaccedilatildeo na prestaccedilatildeo dos mesmos o que possibilita indubitaacuteveis benefiacutecios para o doente mediante a melhoria de conheci-mentos respostas colaboraccedilatildeo e adaptaccedilatildeo do mesmo agrave sua situaccedilatildeo de alteraccedilatildeo no continuum sauacutede-doenccedila

Poreacutem contrariamente agrave evidecircncia cientiacutefica que aponta os benefiacutecios da participaccedilatildeo do enfer-meiro no contexto de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar as correntes divergentes indicam determinados aspectos como limitadores ou mesmo inviabilizadores desta presenccedila que vatildeo desde a inadequaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo ateacute haacute ine-xistecircncia de legitimidade eacutetico-deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados de forma autoacutenoma envolvendo duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais

Neste sentido o Sindicato dos Teacutecnicos de Am-bulacircncia de Emergecircncia (STAE) (2010) refere que a niacutevel internacional os serviccedilos de emergecircncia meacutedica demonstram que as soluccedilotildees para os re-cursos humanos nesta aacuterea devem incidir na for-maccedilatildeo de profissionais unicamente direccionados para o desempenho de cuidados de emergecircncia em ambiente preacute-hospitalar (comummente deno-minados como ldquoparameacutedicosrdquo) com autorizaccedilatildeo para executar determinados procedimentos meacutedi-cos invasivos sob direcccedilatildeo meacutedica e certificaccedilatildeo acrescentando ainda que natildeo existem vantagens em termos de eficiecircncia ou qualidade dos cui-dados prestados com a inclusatildeo de enfermeiros neste acircmbito de cuidados Poreacutem Suserud e Hal-jamaumle (1997 1999) aos quais acrescemos a nossa aprovaccedilatildeo opotildeem-se a esta posiccedilatildeo salientando inversamente a tendecircncia internacional a que se assiste no sentido de um aumento do nuacutemero de enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar Como estes referem os modelos que preconizaram a existecircncia do tipo de soluccedilatildeo para os recursos hu-manos sugerido pelo STAE (2010) basearam-se na

inexistecircncia de meacutedicos e enfermeiros suficientes para suprir simultaneamente as necessidades intra e preacute-hospitalares pelo que por uma ques-tatildeo de racionalizaccedilatildeo de meios humanos optaram pela sua retenccedilatildeo no acircmbito intra-hospitalar em detrimento do preacute-hospitalar

Com o debate em torno da importacircncia de um elevado niacutevel de competecircncias para aumentar a qualidade dos cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar foram suscitadas por parte de vaacuterios paiacute-ses alteraccedilotildees na forma de encarar os recursos humanos necessaacuterios para a prossecuccedilatildeo deste objectivo Como tal a Noruega a Sueacutecia ou a Ho-landa satildeo exemplos de paiacuteses que apesar de ini-cialmente suportados em modelos de emergecircncia meacutedica que pressupunham a existecircncia de profis-sionais de emergecircncia meacutedica como os referidos pelo STAE (2010) alteraram o seu modo de fun-cionamento incluindo os enfermeiros nas equipas de emergecircncia preacute hospitalar salientando ldquohellipthe importance of having equally competence emer-gency personel working in the pre-hospital area and in hospital that is professionals doing the same type of work should have similar competen-ce levels and practical trainingrdquo (Suserud amp Hal-jamaumle 1997 p145) Na verdade a emergecircncia meacute-dica preacute-hospitalar eacute uma componente da Emer-gecircncia Meacutedica a qual abrange um largo espectro

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intervenccedilatildeo desde os cuidados intensivos ateacute agrave prestaccedilatildeo de cuidados em serviccedilos de urgecircncia passando pelo transporte inter-hospitalar de do-entes urgentes todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros tecircm uma participaccedilatildeo essencial e competecircncias reconhecidas [Suserud 2005 Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Nor-te (ARSN) 2009] Partilhando estas actividades toda uma seacuterie de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e compe-tecircncias comuns torna-se clara a importacircncia da presenccedila do enfermeiro de um modo transversal em todas elas permitindo uma boa articulaccedilatildeo e continuidade fundamentais para toda a cadeia de cuidados realccedilando a evidecircncia cientiacutefica pro-duzida nos paiacuteses que adoptaram este modelo de emergecircncia preacute-hospitalar que ldquohellipthe increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by ra-sing the competence level of the team as a who-lerdquo (Suserud amp Haljamaumle 1997 p145)

Outra das objecccedilotildees apontada refere-se agrave neces-sidade de formaccedilatildeo especiacutefica para a prestaccedilatildeo de cuidados em emergecircncia preacute-hospitalar sendo referido que o ldquoenfermeiro carece sempre de for-maccedilatildeo especializada para a intervenccedilatildeo preacute-hos-pitalar que natildeo seja conjunta com o meacutedico hellipsob pena de estar em causa a seguranccedila e a qualidade dos cuidados prestadosrdquo (STAE 2010 p5)

De facto aceitamos a menccedilatildeo de que eacute necessaacute-ria formaccedilatildeo acrescida agrave formaccedilatildeo base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) Poreacutem esta eacute claramente uma preposiccedilatildeo inviaacutevel no sentido de reiterar a inexistecircncia de competecircn-cias de enfermagem em emergecircncia preacute-hospita-lar Natildeo podemos esquecer que a licenciatura natildeo concede por si soacute uma especializaccedilatildeo da praacutetica profissional pois apenas confere uma base de co-nhecimentos e competecircncias no acircmbito da enfer-magem de cuidados gerais encaminhando poste-riormente o enfermeiro a sua praacutetica profissional num determinado sentido obviamente suportada pela formaccedilatildeo adicional que essa aacuterea exija To-davia a existecircncia de um corpo soacutelido de conhe-cimentos base adquirido no CLE vai favorecer a posterior aquisiccedilatildeo de conhecimentos e compe-tecircncias suportando e solidificando a prestaccedilatildeo de cuidados na aacuterea especiacutefica em causa

Por outro lado decorrente de vaacuterios factores como a gravidade e complexidade das situaccedilotildees cliacutenicas a imprevisibilidade de ocorrecircncias e a prestaccedilatildeo de cuidados em ambiente extra-hospi-talar com elevada exposiccedilatildeo social e reduzido nuacute-mero de intervenientes no processo de decisatildeo o exerciacutecio profissional neste contexto eacute reconheci-damente especiacutefico e complexo o que exige uma preparaccedilatildeo singular e contiacutenua dos profissionais envolvidos (Tomaacutes 2009 OE 2010)

Face a isto na realidade portuguesa todos os en-fermeiros que prestam cuidados nas VMER SIV helicoacutepteros de emergecircncia meacutedica e CODU tecircm formaccedilatildeo que os habilita agrave sua actividade con-ferindo as competecircncias teoacuterico - praacuteticas consi-deradas essenciais pelas entidades competentes ao que se acrescem as poacutes-graduaccedilotildees e mes-trados que tecircm surgido nas aacutereas de urgecircnciaemergecircncia encaradas como uma mais-valia na qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais (Vieira Oliveira amp Ressurreiccedilatildeo 2005 Tomaacutes 2009) A li-teratura (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) por sua vez sugere a existecircncia de um consenso relativamente ao facto dos enfer-meiros com experiecircncia de anestesia unidade de cuidados intensivos e serviccedilo de urgecircncia serem os mais habilitados para a prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar decorrente da for-maccedilatildeo que possuem e da constante interacccedilatildeo com situaccedilotildees cliacutenicas criacuteticas que lhes permite uma manutenccedilatildeo das competecircncias que de ou-tro modo poderiam decrescer face a periacuteodos de menor operacionalidade decorrente da inexis-tecircncia de situaccedilotildees criacuteticas na aacuterea de influecircncia dos meios de socorro Desta forma poderaacute residir neste aspecto um dos deacutefices do modelo portu-guecircs em que os enfermeiros dos meios SIV ape-nas prestam cuidados no contexto preacute-hospitalar em exclusividade Todavia na VMER esta questatildeo natildeo se coloca uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua activi-dade profissional tambeacutem em contexto intra-hos-pitalar preferencialmente nos serviccedilos supraci-tados sendo esta uma das condiccedilotildees de ingresso previamente definida o que potencia o processo de retro-alimentaccedilatildeo de experiecircncia e conheci-mento com consequente mais-valia para as duas aacutereas (Suserud 2005 OE 2010)

Eacute tambeacutem no capiacutetulo da legitimidade eacutetico--deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados que satildeo colocadas duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais do enfermeiro ldquohellipque natildeo seja conjunta com o meacutedi-cohelliprdquo (STAE 2010 p5) pois o caraacutecter de inter-venccedilatildeo em situaccedilotildees criacuteticas contempla que natildeo raras vezes se torne necessaacuterio aplicar determi-nadas intervenccedilotildees e procedimentos considera-dos life saving como entubaccedilatildeo endo-traqueal desfibrilhaccedilatildeo prescriccedilatildeo e administraccedilatildeo de faacuter-macos ou lideranccedila em situaccedilotildees de emergecircncia comummente reconhecidas como do acircmbito de intervenccedilatildeo meacutedica colocando-se questotildees como ldquoqual a fronteira em termos de intervenccedilotildees meacute-dicas e de enfermagemrdquo ou ldquopode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenccedilotildees e proce-dimentos life savingrdquo (Vieira Oliveira amp Ressur-reiccedilatildeo 2005)

Poreacutem o decreto-lei nordm 16176 de 4 de Setembro enquanto Regulamento do Exerciacutecio Profissional dos Enfermeiros (REPE) permite que estas duacutevidas possam ser esclarecidas dissipadas e devidamente documentadas em articulaccedilatildeo com os demais do-cumentos descritores e reguladores da profissatildeo

Definidos os cuidados de enfermagem como ldquoas intervenccedilotildees autoacutenomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no acircmbito das suas qua-lificaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 1 artigo 4ordm do decreto-lei nordm 16176) as intervenccedilotildees autoacutenomas referem-se agraves ldquoacccedilotildees realizadas pelos enfermei-ros sob sua uacutenica e exclusiva iniciativa e respon-sabilidade de acordo com as respectivas quali-ficaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 2 art 9ordm do de-creto-lei nordm 16176) enquanto as interdependen-tes satildeo respeitantes agraves intervenccedilotildees realizadas ldquopelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificaccedilotildees profissionais em conjunto com ou-tros teacutecnicos para atingir um objectivo comum decorrentes de planos de acccedilatildeo previamente de-finidos pelas equipas multidisciplinares em que estatildeo integrados e das prescriccedilotildees ou orientaccedilotildees previamente formalizadasrdquo (nuacutemero 3 artigo 9ordm do decreto-lei nordm 16176) Continuando a anaacutelise o nuacutemero 4 art 9ordm do mesmo diploma refere que os enfermeiros ldquoprocedem agrave administraccedilatildeo de te-rapecircutica prescrita detectando os seus efeitos e actuando em conformidade devendo em situaccedilatildeo de emergecircncia agir de acordo com a qualificaccedilatildeo e os conhecimentos que detecircm tendo como fina-lidade a manutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

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PALMA Garcia RODRIacuteGEZ Salvador AZANOacuteN Heacuternandez RODRIacute-GUEZ Camero ndash Provesso enfermero y atencioacuten prehospitalaria ur-gente Tempus Vitalis 1578 ndash 5963 52 (2005) 1-3

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TOMAacuteS Alexandre ndash O enfermeiro em ambulacircncias de Suporte Ime-diato de Vida ndash Afirmar a Enfermagem no preacute-hospitalar Ordem dos Enfermeiros 1646 ndash 2629 32 (2009) 59-60

VIEIRA Pedro OLIVEIRA Luiacutes RESSURREICcedilAtildeO Serafim ndash O enfer-meiro perante a emergecircncia preacute-hospitalar Sinais Vitais 61 (2005) 32-35

JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

28 29

formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

BIBLIOGRAFIAAMARAL M GONCcedilALVES R NUNES L ndash Coacutedigo Deontoloacutegico do Enfermeiro dos Comentaacuterios agrave Anaacutelise de Casos Lisboa Ordem dos Enfermeiros 2006 456 p ISBN 972-99646-0-2

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CONTRERA-MORENO L e CONTRERA-MORENO M ndash Violecircncia no trabalho em enfermagem um novo risco ocupacional Revista Brasilei-ra de Enfermagem [em linha] Vol 57 nordm 6 (2004) p 1 [Consult 29 Abril 2010] Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfrebenv57n6a24pdf

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 3: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

ACTUALIDADES

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EDITORIAL

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Vivemos num paiacutes em crise as empresas to-das elas estatildeo financeiramente mal as pes-soas tecircm medo do futuro A questatildeo eacute seraacute que isto vai durar A questatildeo que tambeacutem te-mos que fazer eacute Como vai ser depois da crise e como me vou preparar para sair bem dela

O capital humano eacute o capital dos capitais o investimento na formaccedilatildeo e no conhecimen-to eacute um investimento no capital humano O governo natildeo estaacute a perceber isto e estaacute apos-tado em desvalorizar e ateacute desperdiccedilar o seu melhor capital mas cada um de noacutes tam-beacutem tem que pensar na melhor maneira de se apresentar quando a situaccedilatildeo retomar a competitividade e aiacute aqueles que estiverem melhor preparados satildeo os que ldquosobrevive-ratildeordquo Apostar na formaccedilatildeo quer acadeacutemica quer complementar frequentando cursos de cursa duraccedilatildeo poacutes-graduaccedilotildees etc eacute apos-tar no futuro eacute apostar no capital humano

Alguns dizem mas para quecirc O que eacute que acrescenta Eu digo que a formaccedilatildeo acres-centa sempre Ficamos sempre mais enrique-cidos mais conhecedores com outras visotildees

sobre as coisas outras formas de fazer e de dizer mais preparados para enfrentar as ad-versidades e para resolver os problemas que no dia-a-dia se nos colocam

Sei que do ponto de vista da gestatildeo financei-ra familiar o investimento na formaccedilatildeo natildeo eacute prioritaacuterio em relaccedilatildeo agrave comida agrave habitaccedilatildeo etc mas cuidado se natildeo lhe dispensarmos alguma atenccedilatildeo podemos ficar a perder Os cursos de mestrado comeccedilam a ficar deser-tos ou com pouca procura os cursos e jorna-das ficaram vazios de repente porquecirc Claro que a resposta eacute a falta de dinheiro ou seraacute que a depressatildeo que se abateu sobre nome-adamente os enfermeiros nos estaacute a fazer esquecer a importacircncia deste investimento

Os mais preparados satildeo os que melhor en-frentaratildeo os desafios do futuro O conheci-mento eacute a melhor arma para combater os preconceitos os autoritarismos a demago-gia as novas formas de totalitarismo O co-nhecimento eacute felicidade e liberdade

Invistam no conhecimento

antoacuteniO fERnanDO aMaRal Enfermeiroamaralesenfcpt

EDITORIALORIGEM DO CONSUMO DE AacuteLCOOL PODE ESTAR NUM

MACACO PRIMITIVO

O gosto pelo aacutelcool pode ser um desejo antigo A capacidade de metabolizar o etanol - o aacutel-cool no vinho cerveja e destilados - pode ter a sua origem no ancestral comum de chim-panzeacutes gorilas e seres humanos haacute cerca de 10 milhotildees de anos atraacutes talvez quando este ancestral se tornou mais terrestre e come-ccedilou a comer frutas em fermentaccedilatildeo no chatildeo O quiacutemico Steven Benner da Fundaccedilatildeo para Evo-luccedilatildeo Molecular Aplicada em Gainesville na Floacute-rida chegou a essa conclusatildeo ao analisar enzimas que metabolizam o aacutelcool de primatas extintos Benner e seus colegas estimaram o coacutedigo geneacute-tico das enzimas a partir de enzimas produzidas no laboratoacuterio e em seguida analisaram como eles funcionam de maneira a entender como eles mudaram ao longo do tempo

Os seres humanos dependem de uma enzima chamada aacutelcool desidrogenase 4 ou ADH4 para metabolizar o etanol A enzima eacute comum em todo o esocircfago estocircmago e intestinos e eacute a enzima que primeiro entra em contato com

o que uma pessoa bebe Entre os primatas nem todos os ADH4s satildeo os mesmos - alguns natildeo podem metabolizar eficazmente o etanol Os resultados mostraram que a maioria dos an-tepassados de primatas natildeo teria sido capaz de metabolizar o etanol mas no ponto da ramifica-ccedilatildeo que levou a gorilas chimpanzeacutes e humanos - um ancestral que viveu cerca de 10 milhotildees de anos atraacutes - a enzima torna-se um digestor de aacutelcool poderoso Em comparaccedilatildeo com as enzi-mas anteriores esta foi 50 vezes mais eficiente tendo sido capaz de quebrar o niacutevel de etanol encontrado nas modernas bebidas alcooacutelicas Com uma casca ou pele danificada a levedu-ra pode ter invadido a fruta e os seus accediluacuteca-res fermentados em etanol Assim os indi-viacuteduos que poderiam digerir etanol teriam sobrevivido melhor do que aqueles que natildeo podiam Isso tambeacutem explica por que a ca-pacidade de metabolizar o etanol natildeo evo-luiu nos primatas que habitam sobretudo em aacutervores como os orangotangos onde ra-ramente encontramos frutos fermentados

SECCcedilAtildeO DA RESPONSABILIDADE DE ANTOacuteNIO FERNANDO AMARAL

Comer frutas fermentadas do chatildeo pode ter aberto o caminho para a capacidade de digerir etanol A capacidade de metabolizar o etanol poderia ter surgido no ancestral comum de chimpanzeacutes gorilas e seres humanos agrave medida que este macaco ancestral se tornou mais terrestre e comeccedilou a comer frutas fermentadas no chatildeo

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ACTUALIDADES ACTUALIDADES

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Um novo estudo sugere que tal como o sol os niacuteveis de insulina sobem e descem num ritmo diaacute-rio Interromper esse ciclo pode contribuir para a obesidade e a diabetes

Vaacuterios sistemas orgacircnicos comportam-se como um reloacutegio diaacuterio conhecido como ritmo circa-diano Temperatura corporal pressatildeo arterial e a libertaccedilatildeo de muitas hormonas fazem parte dos temporizadores circadianos Mas ateacute agora ningueacutem tinha mostrado que a insulina - uma hormona que ajuda a controlar a forma como o corpo usa os accediluacutecares para a energia - tambeacutem tem um ciclo diaacuterio Trabalhando com ratinhos pesquisadores da Universidade Vanderbilt em Nashville descobriram que os roedores satildeo mais sensiacuteveis aos efeitos da insulina em determinados

momentos do dia Perturbar os ritmos circadia-nos dos animais interfere com a subida e queda diaacuteria da hormona e faz com que os ratos fiquem propensos agrave obesidade

Se as conclusotildees se aplicarem em seres humanos poderiam ajudar a explicar por que as pessoas que trabalham em turnos noturnos costumam estar acima do peso e sofrem de problemas de sauacutede A descoberta tambeacutem pode ligar a epidemia da obesidade em parte ao fato de se ficar acordado ateacute tarde e comer na hora errada

Os resultados sugerem que se o horaacuterio das refei-ccedilotildees coincidir com a sensibilidade agrave insulina pode ajudar a proteger contra o diabetes Satchidanan-da Panda um geneticista e bioacutelogo do Instituto Salk de Estudos Bioloacutegicos em La Jolla na Cali-foacuternia refere ainda que abusar de forma croacutenica com a desregulaccedilatildeo horaacuteria das refeiccedilotildees pode contribuir para a resistecircncia agrave insulina e eventu-almente levar a diabetes

OS NIacuteVEIS DE INSULINA AUMENTAM E DIMINUEM NUM

CICLO DIAacuteRIOA VIDA MODERNA PODE CONFLITUAR COM O CICLO NATURAL

DA HORMONA

Os resultados desta pesquisa em uacuteltima anaacutelise permitem infor-mar melhor as mulheres graacutevidas sobre os efeitos duradouros que a sua dieta tem sobre o desenvol-vimento dos seus filhos ao longo da vida boas preferecircncias e ris-co de doenccedila metaboacutelica refere Beverly Muumlhlhaumlusler PhD pes-quisador envolvido na Pesquisa FoodPLUS

Muhlausler e seus colegas estu-daram os filhos de dois grupos de ratos um dos quais se alimen-taram de uma raccedilatildeo normal e o outro tinha sido alimentados com uma gama de alimentos que os humanos apelidam de junk food durante a gravidez e a lactaccedilatildeo Apoacutes o desmame os filhotes receberam injeccedilotildees diaacuterias de um bloqueador do recetor opi-oacuteide que bloqueia a sinalizaccedilatildeo de opiaacuteceos O Bloqueio de sinalizaccedilatildeo opioacuteide reduz o consumo de gordura e accediluacutecar impedindo a libertaccedilatildeo de dopamina Os resultados mostraram que o blo-queador de recetor opioacuteide foi menos eficaz na reduccedilatildeo da gordura e ingestatildeo de accediluacutecar nos fi-lhotes das matildees alimentadas com junk food su-gerindo que a via de sinalizaccedilatildeo opioacuteide nessas

crias eacute menos sensiacutevel do que para filhotes cujas matildees se alimentaram com uma raccedilatildeo padratildeo Este estudo mostra que a dependecircncia de junk food eacute ou pode ser um viacutecio verdadeiro Eacute triste dizer mas junk food durante a gravidez transfor-ma as crianccedilas em viciados em junk food

Federation of American Societies for Experi-mental Biology (2013 February 28) Eating junk food while pregnant may make your child a junk food addict ScienceDaily Retrieved February 28 2013 from httpwwwsciencedailycom relea-ses201302130228103443htm

COMER JUNK FOOD DURANTE A GRAVIDEZ PODE

FAZER COM QUE O SEU FILHO NASCcedilA JAacute VICIADO

Uma dieta saudaacutevel durante a gravidez eacute fundamental para o futuro da sauacutede dos filhos Uma nova pesquisa publicada na ediccedilatildeo de marccedilo de 2013 do The FASEB Journal sugere que as matildees graacutevidas que consomem junk food podem realmente causar alteraccedilotildees no desenvolvimento da sinalizaccedilatildeo opioacuteide no ceacuterebro dos seus filhos Esta mudanccedila faz com que os bebeacutes sejam menos sensiacuteveis aos opioacuteides que satildeo libertados apoacutes o consumo de alimentos que satildeo ricos em gordura e accediluacutecar Por sua vez estas crianccedilas que nascem com uma maior toleracircncia a junk food precisam comer mais do mesmo para alcanccedilar uma boa resposta

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AS NOZES OCUPAM A POSICcedilAtildeO SUPERIOR DOS ANTIOXIDANTES PARA UM CORACcedilAtildeO SAUDAacuteVEL

Um novo estudo cientiacutefico coloca as nozes na melhor posiccedilatildeo entre a famiacutelia de alimentos que os leigos reivindicam estarem entre os alimentos perfeitos que a Matildee Natureza produz Os cientis-tas apresentaram uma anaacutelise que mostra que as nozes tecircm a combinaccedilatildeo de antioxidantes mais saudaacutevel e de melhor qualidade do que qualquer outro fruto seco

As Nozes classificam-se acima dos amen-doins amecircndoas pistachos e outros frutos secos Um punhado de nozes conteacutem antioxi-dantes quase duas vezes mais que uma quan-tidade equivalente de qualquer outro fruto seco habitualmente consumidos Este estu-do sugere que os consumidores devem co-mer nozes como parte de uma dieta saudaacutevel O investigador responsaacutevel refere que as no-zes em geral tecircm uma combinaccedilatildeo incomum de benefiacutecios nutricionais - aleacutem dos antio-xidantes ndash e vecircm embrulhadas num pacote

conveniente e barato As Nozes contecircm muita proteiacutena de alta qualidade que pode substi-tuir a carne vitaminas e minerais fibra ali-mentar e satildeo laacutecteos e sem gluacuteten Anos de pesquisa por cientistas de todo o mundo li-garam o consumo regular de pequenas quan-tidades de nozes ou manteiga de amendoim com a diminuiccedilatildeo do risco de doenccedilas do co-raccedilatildeo certos tipos de cancro caacutelculos biliares diabetes tipo 2 e outros problemas de sauacutede Os antioxidantes presentes nas nozes satildeo 2-15 vezes mais potentes que a vitamina E conheci-da pelos seus efeitos antioxidantes poderosos que protegem o corpo contra os danos quiacutemi-cos naturais envolvidos na causa da doenccedila Uma outra vantagem em escolher as nozes como fonte de antioxidantes estaacute no fato de o calor reduzir a qualidade dos antioxidantes ora as pessoas geralmente comem as nozes cruas ou o que permite obter a plena eficaacutecia dos an-tioxidantes

As nozes contecircm ainda gorduras polinsaturadas saudaacuteveis e monoinsaturada em vez de gordura saturada que eacute prejudicial Quanto agraves calorias co-mer nozes parece natildeo causar ganho de peso e ateacute mesmo pode fazer com que as pessoas tenham uma maior sensaccedilatildeo de plenitude e satisfaccedilatildeo tornando-as menos propensos a comer demais Num estudo dos EUA de 2009 o consumo de no-zes foi associado com um risco significativamente menor de ganho de peso e obesidade

ENTREVISTA COM OENFordm RUI FONTES

A PROPOacuteSITO DA COORDENACcedilAtildeO DO LARES DE IDOSOS DO SAMS EM AZEITAtildeO E DA OFERTA SOCIAL NESTE SECTOR

Entrevista da responsabilidade de Carlos Margato

Tem cinquenta e um anos e apresenta-se como enfermeiro que partiu cedo para um percurso na aacuterea da gestatildeo Considera-a a mais adequada agrave sua personalidade

sempre gostei de liderar e desde muito cedo tive a possibilidade de o fazer Por exemplo capitatildeo de equipa no futebol presidente de associaccedilatildeo de estudantes dirigente desportivo na colectividade da terra empreendedor em iniciativas e eventos culturais e desportivos

Refere nunca ter sofrido daquela falsa modeacutestia portuguesa de que natildeo gostamos de chefiar de liderar e de gerir

Dedicou os uacuteltimos quinze anos a desenvolver competecircncias na aacuterea de gestatildeo Destaca como relevante o Curso de Lideranccedila para a Mudanccedila promovido pela Ordem dos Enfermeiros e pelo ICN que muito alterou a minha vida profissional dirigindo-a decisivamente para a aacuterea da gestatildeo

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Ser enfermeiro e coordenar um Lar de Idosos a tem-po inteiro natildeo eacute frequente em Portugal Que razotildeesmotivaccedilotildees estatildeo subjacentes a essa decisatildeo

Ser enfermeiro e outra coisa qualquer natildeo eacute co-mum em Portugal infelizmente Na verdade os enfermeiros tecircm ficado virados para si proacute-prios natildeo desempenhando outras funccedilotildees ou ocupando outros lugares que natildeo sejam dentro da proacutepria aacuterea teacutecnico-cientiacutefica Quantos en-fermeiros na funccedilatildeo de deputado desde o 25 de Abril Quantos de noacutes exercemos funccedilotildees rele-vantes nas autarquias Em empresas Mesmo nas associaccedilotildees que natildeo sejam especificamente de enfermagem Natildeo seraacute esta a razatildeo da pouca relevacircncia que a profissatildeo continua a ter e do pouco valor social da mesma

Quando fui para coordenador (director teacutecni-co) do lar de idosos sofri o peso da ignoracircncia de muitos teacutecnicos sociais em relaccedilatildeo agrave lei e o peso do estigma que a aacuterea social era destino ex-clusivo do serviccedilo social Natildeo foi faacutecil a minha aceitaccedilatildeo Utilizaram-se vaacuterios estrateacutegias para colocar em causa a qualidade de um enfermeiro como director teacutecnico Cedo percebi que era dos melhores e ateacute fui levado a pensar que a gestatildeo de lares deveria ser entregue a enfermeiros pelo seu conhecimento global da aacuterea da sauacutede e da aacuterea social Mas hoje reconheccedilo que o exerciacutecio de funccedilotildees de gestatildeo natildeo tem a ver com a base de formaccedilatildeo profissional que se tem Pode ser--se bom director teacutecnico sendo enfermeiro as-sistente social psicoacutelogo ou com outra profissatildeo qualquer Conveacutem eacute que saiba liderar tenha co-nhecimentos profundos na aacuterea social e na aacuterea de sauacutede O ideal eacute a construccedilatildeo de um profissio-nal hiacutebrido entre o social e a sauacutede

Haacute quantos anos desempenhas as funccedilotildees de coorde-nador do Lar de Idosos do SAMS em Azeitatildeo

Fiz recentemente dez anos como coordenador do lar de idosos coincidindo mais ou menos com os vinte e cinco de enfermagem

Na grande maioria dos Lares os coordenadores satildeo assistentes sociais Identificas razotildees suficientes para afirmar que essa funccedilatildeo deveria ser desempe-nhada por enfermeiros

Jaacute respondi mais ou menos a essa questatildeo Os en-fermeiros trazem ao Lar de Idosos uma mais-valia interessante e hoje com os conhecimentos que tem podem de facto responder agraves necessidades na aacuterea social que surgem num lar conseguindo tambeacutem assegurar os cuidados de sauacutede e fazer a sua gestatildeo O grande drama do serviccedilo social eacute que os lares satildeo em geral autenticas unidades de pessoas idosas doentes para as quais a sauacutede eacute fundamental e o serviccedilo social natildeo tem qualquer preparaccedilatildeo para responder a essa necessidade Assim a enfermagem tem aqui um lugar de gran-de importacircncia A questatildeo eacute que os enfermeiros ao longo de todos estes anos viram nos lares a acumulaccedilatildeo de umas horas onde poderiam ga-nhar ldquouns trocosrdquo sem qualquer responsabilidade Essa imagem faz ainda hoje com que se olhe para o enfermeiro do lar como aquele que natildeo tem lu-gar em mais lado algum

O grande drama do serviccedilo social eacute que os lares satildeo em geral autenticas unidades de pessoas idosas doentes para as quais a sauacutede eacute fundamental e o serviccedilo social natildeo tem qualquer preparaccedilatildeo para responder a essa necessidade Assim a enfermagem tem aqui um lugar de grande importacircncia

Fala-me um pouco do Lar que coordenas nuacutemero de residentes de assistentes operacionais de cozinhei-ros condutores entre outroshellip

O lar de idosos do SBSISAMS eacute a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do enve-lhecimento em Portugal e aquela que poderaacute ter a vaidade de dizer que seraacute a melhor do paiacutes Eacute costume incomodar e provocar as pessoas com esta ideia que eacute consequecircncia de trabalhar num lar muito especial uma equipa de colaboradores apaixonados por aquilo que fazem que discute em qualquer lugar as questotildees do envelhecimen-to que sabe o que eacute funcionalidade utilidade e

felicidade no processo de envelhecimento que tem formaccedilatildeo ul-trapassando as horas obrigatoacuterias anuais e cuja auto-estima eacute muito elevada instala-ccedilotildees muito interessan-tes e de elevado niacutevel uma organizaccedilatildeo de trabalho iacutempar com utilizaccedilatildeo do meacutetodo responsaacutevel com to-dos os residentes com enfermeiro fisiotera-peuta e auxiliares de referecircncia com um modelo de comunica-ccedilatildeo original assente na evidecircncia cientiacutefica e nos mais inovadores processos de gestatildeo

Mas tudo isto podia ser dito e teria pouco valor se natildeo soubeacutessemos quantos residentes caiacuteram nos uacuteltimos dez anos que evoluccedilatildeo teve o nuacutemero de quedas quais satildeo os valores da escala de Katz da escala de Morse da escala de equiliacutebrio e da mini--mental qual o valor meacutedio da percepccedilatildeo da dor quantas escaras existiram em dez anos quantas conseguimos tratar e como quantas pessoas re-correm por ano agraves urgecircncias hospitalares e quan-tos dias de internamento hospitalar tem os re-sidentes por ano quantos recursos satildeo feitos ao exterior qual o grau de satisfaccedilatildeo de residentes colaboradores familiares parceiros internos e par-ceiros externos quantas pessoas foram algaliadas no ano e quantos antibioacuteticos foram prescritos

Jaacute seria um lar bom com todos estes indicadores mas eacute ainda melhor porque no iniacutecio do ano defi-nimos os nossos objectivos avaliamo-los durante o ano e atingimos grande parte deles Eacute um lar di-ferente porque natildeo trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e natildeo resolvemos situaccedilotildees de residentes problemaacuteticos com comprimidos para dormir Eacute um lar bom porque contrariamos todas as prescriccedilotildees que disfuncionalizam residentes debatendo com os prescritores essas situaccedilotildees Eacute um Lar muito bom porque preferimos que os

nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirotildees

Somos diferentes mas soacute vendo

O lar de idosos do SBSISAMS eacute a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do envelhecimento em Portugal Eacute um lar diferente porque natildeo trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e natildeo resolvemos situaccedilotildees de residentes problemaacuteticos com comprimidos para dormir Eacute um lar bom porquecirc contrariamos todas as prescriccedilotildees que disfuncionalizam residentes debatendo com os prescritores essas situaccedilotildees Preferimos que os nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirotildees

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A portaria 672012 evolui no conceito de ldquoLar de Idososrdquo para ldquoestrutura residencial para pessoas idosasrdquo e defini-o como o estabelecimento para alo-jamento colectivo de utilizaccedilatildeo temporaacuteria ou per-manente em que satildeo desenvolvidas actividades de apoio social e prestados cuidados de enfermagem

Como sabes na maioria destas estruturas haacute um enfermeiro ldquoumas horas por dia ou por semanardquo Consideras essa uma ldquoboa respostardquo de cuidados de enfermagem

Claro que natildeo posso dizer nunca que isso eacute uma boa resposta mas devemos tambeacutem ter em aten-ccedilatildeo que natildeo existem recursos financeiros para termos um enfermeiro num lar de idosos perma-nentemente Contudo parece que esta situaccedilatildeo eacute um equiacutevoco e esta questatildeo pode natildeo fazer senti-do no futuro proacuteximo

O que precisamos eacute de determinar tipologias para os cuidados e serviccedilos a pessoas idosas Num lar em que soacute existam pessoas idosas independentes um enfermeiro eacute suficiente bem como a sua acti-vidade de prevenccedilatildeo ensino e educaccedilatildeo Jaacute numa tipologia com residentes fortemente doentes te-mos que ter um enfermeiro a tempo inteiro mas estas unidades jaacute existem e chamam-se cuidados continuados pelo que os lares satildeo respostas para pessoas sem cuidados de sauacutede permanentes

A nova portaria veio estigmatizar ainda mais a pessoa idosa Estaacute errada

Um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A comparticipaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo de indicadores e assim teriacuteamos comparticipaccedilatildeo que assegurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos

Fala-me da tua experiecircncia neste acircmbito

No nosso lar fizemos aquilo que todos podem fa-zer mas que parece natildeo terem vontade dividimos a estrutura em duas zonas distintas Uma estaacute destinada a pessoas idosas independentes sem necessidade de cuidados de sauacutede e de higiene

e conforto Pessoas que soacute precisam de se sentir seguras e ter apoio para desenvolverem novos projectos de vida Nesta aacuterea o enfermeiro tem necessidade apenas de fazer formaccedilatildeo prevenir ensinar e educar para a sauacutede e para um envelhe-cimento mais feliz e mais saudaacutevel

Numa outra aacuterea temos as pessoas dependentes muitas delas fortemente dependes com enfer-magem 24 horas por dia fisioterapeutas auxi-liares com cargas de trabalho muito confortaacuteveis e coacutemodas Nesta aacuterea recebemos tambeacutem do-entes para recuperaccedilatildeo global cujo rendimento financeiro eacute maior e muito significativo assegu-rando sustentabilidade de todos os recursos hu-manos

Eacute o modelo que devia ter sido adoptado para os cuidados continuados mas alguns preferiram ca-minhar pela estrada do grande empreendedoris-mo da construccedilatildeo civil e do cimento Natildeo havia auto-estradas para fazerhellip

Mas entatildeo haacute ldquomais valiasrdquo em ter enfermeiro 24 horas

Numa unidade capaz de responder aacute recupera-ccedilatildeo global aacute recuperaccedilatildeo de situaccedilotildees de doenccedila pontuais poacutes cirurgias etc

Numa unidade que consiga especializar-se em determinadas especificidades e que possa pelo rendimento financeiro assegurar os enfermeiros e os outros teacutecnicos Natildeo podemos continuar a fazer redes ao lado da rede hospitalar exigir teacutec-nicos de sauacutede e natildeo procurar saber como se sus-tentam esses projectos

Quero esclarecer que nada disto confronta o mo-delo de estado social ou faz com que natildeo defenda um estado que trate e cuide dos mais fragilizados em igualdade de circunstacircncias com toda a popu-laccedilatildeo Natildeo gosto eacute de contribuir para um estado que natildeo eacute social mas que eacute um estado das insti-tuiccedilotildees sociais

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos no-

vas tipologias De natildeo diferenciar-mos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de instituciona-lizaccedilatildeo na europa do norte de cer-ca de 17 e em Portugal 35

Por isso os indicadores atraacutes referidos demons-tram essa ldquomais-valiardquo

Todos os indicadores atraacutes referenciados satildeo melhorados com a introduccedilatildeo de enfermeiros mas mantenho a ideia inicial numa resposta em que se encontrem pessoas doentes e natildeo neces-sariamente num lar que pretende que as pessoas sejam felizes e saudaacuteveis Na aacuterea das pessoas dependentes o enfermeiro mede o seu desempe-nho por muitos indicadores ulceras de pressatildeo recursos a urgecircncias e dias de internamento quedas nuacutemero de medicamentos percepccedilatildeo da dor antibioacuteticos consumidos

Se introduzires um enfermeiro num lar e medi-res estes indicadores concluis que todos baixam num tempo muito reduzido

Eacute isto que o Estado natildeo quer perceber mas que as Institui-ccedilotildees ditas socias tam-beacutem natildeo aceitam um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A com-participaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo destes indicadores e assim teriacuteamos com-participaccedilatildeo que as-segurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos Mas isso provavelmente acaba-ria com os velhos do-entes desgraccedilados e infelizes e as Institui-

ccedilotildees ficavam cada vez com menos clientes por-que vivem exclusivamente do assistencialismo e da caridade

O Regulamento da Individualizaccedilatildeo das Especia-lidades Cliacutenicas de Enfermagem (Regulamento nordm 1682011 publicado em Diaacuterio da Repuacuteblica 2ordf seacuterie mdash Nordm 47 mdash 8 de Marccedilo de 2011) prevecirc a criaccedilatildeo de uma especialidade designada de SAUacuteDE DO IDOSO

Da tua experiecircncia com pessoas idosas consideras esta uma especialidade necessaacuteria

Temos muito que discutir Primeiro precisamos de enfermeiros capazes de gerir lares e liderar equi-pas que natildeo sejam exclusivamente constituiacutedas pelos seus pares Enfermeiros que se exponham como diferentes contribuindo com a sua acccedilatildeo para transformaccedilotildees significativas das institui-ccedilotildees sociais e das entidades privadas na aacuterea do envelhecimento

Mas eacute claro que eacute fundamental uma especialida-de para a aacuterea das pessoas idosas Daqui a pou-co tempo satildeo metade da populaccedilatildeo portuguesa e metade da populaccedilatildeo mundial tendo em conta

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os paiacuteses mais desenvolvidos

Julgo que deveriacuteamos iniciar um profundo debate sobre a enfermagem e o envelhecimento e que a revista Sinais Vitais poderia ser um dos lugares mais interessantes para fazer este debate nacio-nal e ateacute internacional

Que competecircncias devem ser desenvolvidas pelos en-fermeiros nesta especialidade

Conhecimento sobre novos modelos para abor-dagem do envelhecimento legislaccedilatildeo direitos humanos e envelhecimento diversidade de res-postas e necessidades sociais e de sauacutede do en-velhecimento lideranccedila gestatildeo de equipamen-tos com uma forte componente praacutetica Seria bom analisar-se a Poacutes Graduaccedilatildeo promovida pela associaccedilatildeo amigos da grande Idade da qual sou presidente e que foi feita em parceria com a universidade Fernando Pessoa estando para ser lanccedilada a segunda ediccedilatildeo com a Universidade da Estremadura

Conhecendo como eu sei a realidade portuguesa em termos de respostas sociais dirigidas agrave pessoa idosa elas satildeo suficientes e adequadas

Natildeo as respostas natildeo satildeo suficientes mas acima de tudo satildeo desadequadas Costumo a dizer que se o Marquecircs de Pombal descesse agrave terra ficaria deslumbrado com tanta evoluccedilatildeo mas se entrasse num lar sentir-se-ia no tempo dele

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos novas tipologias De natildeo diferenciarmos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de institucio-nalizaccedilatildeo na europa do norte de cerca de 17 e em Portugal 35

Eacute necessaacuteria uma revoluccedilatildeo e penso que ela esta-raacute para breve Os revolucionaacuterios ao contraacuterio do habitual vatildeo ser os empreendedores capitalistas que iratildeo investir num novo modelo de oferta de cuidados e serviccedilos

Consegues dizer-me quantos Lares haacute em Portugal continental

Existem cerca de 2000 lares em Portugal cerca de 2000 centros de dia e 2500 serviccedilos de apoio domiciliaacuterio Isto legalmente Prevecirc-se que pos-sam existir cerca de 2500 lares ilegais ou clan-destinos no paiacutes

Conhecedor das respostas sociais neste acircmbito enca-rara a tua velhice de forma despreocupada

Natildeo claro que natildeo Primeiro quero nomear o mais rapidamente possiacutevel algueacutem que me repre-sente com autoridade para natildeo ser ldquoapanhadordquo na teia da destituiccedilatildeo de direitos e vontades Natildeo quero que me coloquem um nariz de palhaccedilo e uma peruca quando for o carnaval como se fosse um velho tonto apalhaccedilado

Mas natildeo tenho garantias Se calhar vou mesmo fazer essas figuras pateacuteticas Para grande gaacuteudio dos teacutecnicos

O que mudaria na organizaccedilatildeo desta reposta social se fosse convidado pelo governo a coordenaacute-la

A Associaccedilatildeo a que presido tem vaacuterios documen-tos mas destaco de imediato

ndash mudaria o modelo de financiamento e deixava de distribuir dinheiro a instituiccedilotildees sem avaliar os seus indicadores de qualidade e desempe-nho

ndash criava um novo modelo de oferta que natildeo fosse destinado a pessoas idosas doentes mas ape-nas a pessoas idosas ou seja implementava no-vas tipologias

ndash apostava nos cuidados domiciliaacuterios e nos cen-tros de dia criando uma rede nacional que in-cluiria tambeacutem o centro de sauacutede e os lares

ndash criava um programa para legalizaccedilatildeo de lares clandestinos e ilegais

Poucas medidas mas de grande eficaacutecia Aliaacutes Portugal espera um ministro que queira ficar na histoacuteria

A ENFERMAGEM TEM UM ENDERECcedilO

wwwsinaisvitaispt

NOTIacuteCIAS radic FORMACcedilAtildeO radic CIEcircNCIA radic DISCUSSAtildeO

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RESPOSTA Agrave EUTANAacuteSIA ENQUANTO PRAacuteTICA EacuteTICA

ENTRADA DO ARTIGO OUTUBRO 2010

EDUARDO JOSEacute FERREIRA DOS SANTOSEnfermeiro na Fundaccedilatildeo Aureacutelio Amaro Diniz

RESUMONa praxis cliacutenica o significado da eutanaacutesia acres-ce pela pressatildeo da moralidade puacuteblica e profunda convicccedilatildeo dos que lidam com pessoas particular-mente vulneraacuteveis e para as quais o fenoacutemeno pa-toloacutegico eacute profundamente incapacitante Este artigo corporiza a preocupaccedilatildeo dos que se debatem com este dilema eacutetico sugerindo o en-caminhamento para cuidados paliativos e a adop-ccedilatildeo de uma posiccedilatildeo mais proactiva das escolas de enfermagem e instituiccedilotildeesserviccedilos na formaccedilatildeo e ensino especializado

Palavras-chave Eutanaacutesia fim-de-vida cuidados paliativos eacutetica

ABSTRACTIn clinical practice the meaning of euthanasia is increased by the pressure of public morality and deep conviction of dealing with particularly vul-nerable persons and for which the pathological phenomenon is profoundly disablingThis article presents the concern of those who struggle with this ethical dilemma sug-gesting the orientation to palliative care and the adoption of a more proactive posi-tion by nursing schools and institutionsser-vices in training and specialized education

Keywords Euthanasia life-end palliative care ethics

INTRODUCcedilAtildeOA Eutanaacutesia deriva da junccedilatildeo de duas palavras Eu que significa bom e Thanatos que quer dizer mor-te Semanticamente morte doce morte sem ago-nia ou sem sofrimento fiacutesico Trata-se portanto do processo atraveacutes do qual algueacutem causa deliberada-mente a morte de outra a pedido desta uacuteltima (na expressatildeo de Arroyo e Serrano 1988)Por se associar intrinsecamente ao ldquoacto inten-cional de matarrdquo (Serratildeo 1996 p382) a eutanaacutesia eacute palco de inuacutemeras poleacutemicas posiccedilotildees e origina uma acesa controveacutersia num diaacutelogo nem sempre construtivo em torno do conceito de morte com dignidade O facto eacute que existe uma manifesta falta de informaccedilatildeo objectiva sobre os motivos que podem originar um pedido desta natureza (P13APB08) e como tal a eutanaacutesia impotildee-se como foco de reflexatildeo agrave enfermagem Isto porque sempre que ao enfermeiro se apresente a possibi-lidade de participaccedilatildeo na mesma surge agrave priori o dever de recusa Todavia no domiacutenio da liberda-de do livre arbiacutetrio a eutanaacutesia constitui-se como um dilema eacutetico (Queiroacutes 2001 Archer Biscaia e Osswald 2001 Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005)Eacute sobre a posiccedilatildeo da Enfermagem que nos pre-tendemos debruccedilar sugerindo a filosofia dos cui-dados paliativos como soluccedilatildeo em detrimento da realidade portuguesa

ASPECTOS CONCEPTUAIS A dignidade humana eacute sentida e expressa atraveacutes do corpo como suporte bioloacutegico de existecircncia Nem a pessoa eacute o corpo nem tatildeo pouco proprie-taacuteria do seu corpo Como tal a dignidade huma-na quanto mais agredida eacute tanto mais se impotildee como fronteira inviolaacutevel entre o humano e o natildeo--humano Eacute por esse motivo que hoje a dignidade humana aparece ligada a expressotildees que vatildeo des-de a qualidade de vida ao cuidado agrave cariacutecia agrave compaixatildeo (26CNECV99)Neste sentido o respeito pela dignidade de cada pessoa humana eacute uma exigecircncia eacutetica inscre-vendo na praacutetica diaacuteria dos cuidados de sauacutede o permanente centrar desses mesmos cuidados em cada pessoa (Martins 2010)Por outro lado cresce a noccedilatildeo de que no acircmbito da prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede os utentes de-vem ser livres de recusar determinados tratamen-tos agrave luz do princiacutepio do respeito pela autonomia

individual Assim eacute hoje possiacutevel qualquer doente competente recusar um determinado tratamen-to mesmo que desta forma se abrevie o momento da sua morte Aliaacutes eacute neste mesmo sentido que se questiona se esta capacidade decisoacuteria pode ser exercida prospectivamente nomeadamente quando natildeo for possiacutevel o exerciacutecio da autodeter-minaccedilatildeo individual (E10APB07)Curiosamente eacute neste domiacutenio que surge a euta-naacutesia e manifestamente se materializa pela pres-satildeo exercida pelos utentes nos profissionais de sauacutede ao exigirem respeito pelo seu ldquodireitordquo de morrer Com efeito quando os profissionais de sauacutede se sentem compelidos a agir e por termo ao sofrimento de um utente existe um conflito ine-vitaacutevel entre o dever eacutetico do cuidar protector ndash o dever da beneficecircncia e da natildeo-maleficecircncia ndash e o respeito pela autonomia e do direito de escolha do utente (Thompson Melia e Boyd 2004)Em todo o caso a eutanaacutesia soacute eacute uma opccedilatildeo livre quando se assegurar que se trata de um pedido racional de algueacutem que natildeo se revecirc mais no seu projecto de vida pessoal ou seja que natildeo se tra-ta de um comportamento apelativo por parte de algueacutem que se encontra insatisfeito com as con-diccedilotildees de vida que lhe satildeo proporcionadas (P13APB08)Eacute ainda de referir os resultados do estudo realiza-do por Van Der Wal (1992) apud Pessini e Barchi-fontaine (2005) que descreveu que 56 dos casos dos pedidos de eutanaacutesia se deviam aos utentes verem o seu sofrimento sem sentido e 46 por-que temiam o decliacutenioNo entanto vaacuterias satildeo as causas que precipitam tais pedidos Para muitos doentes a solidatildeo em que se encontram pode implicar que a morte as-sistida seja considerada a soluccedilatildeo final ainda que natildeo desejada para o seu dilema existencial Ou-tras causas residem ainda no sofrimento intenso devido ao sentimento de abandono e de exclusatildeo social e menos frequentemente a dor profunda e insustentaacutevel (P13APB08)Neste ponto pode-se apontar os cuidados pa-liativos como estrateacutegia ideal dado que eacute a mais referida pelos autores (Marques Santos e Santos 2001 Thompson Melia e Boyd 2004 Pessini e Barchifontaine 2005) Assim e com a atenccedilatildeo sin-cera dirigida para o utente que solicita a eutanaacute-sia o estabelecimento de ldquoverdadeirasrdquo relaccedilotildees de ajuda e com o auxiacutelio dos cuidados paliativos o

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sofrimento extremo natildeo permanece sem respos-ta Haacute entatildeo que considerar que indubitavelmente o papel do enfermeiro eacute acompanhar o utente pri-vilegiando a sua qualidade de vida minorando a dor ajudando-o a aceitar e a preparar-se para a morte beneficiando de cuidados paliativos e de acompanhamento psicoloacutegico (Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005) Pretende-se providenciar con-forto e bem-estar ao doente croacutenico (e por maio-ria de razatildeo ao doente terminal) recorrendo a meios proporcionados de tratamento por parte de uma equipa de sauacutede especialmente sensibili-zada nesta mateacuteria (E10APB07)Decerto que um outro desafio reside tambeacutem no dever do Estado implementar uma poliacutetica efecti-va de luta contra a dor nomeadamente atraveacutes da implementaccedilatildeo generalizada do Plano Nacional de Luta Contra a Dor e promover a generalizaccedilatildeo dos cuidados paliativos a niacutevel domiciliaacuterio nos Cen-tros de Sauacutede e cuidados em hospitais oncoloacutegicos e outros estabelecimentos de sauacutede (P13APB08)Em suma o desafio dos cuidados paliativos consti-tui entatildeo o de resgatar da dignidade do ser huma-no na uacuteltima fase da sua vida (Pessini e Barchifon-taine 2005)

PERSPECTIVA EacuteTICO-LEGAL De acordo com a nossa ordem juriacutedica a eutanaacutesia eacute uma praacutetica ilegal e criminalizada (E10APB07) Contudo a lei portuguesa natildeo trata da praacutetica eutanaacutesia mas como o direito agrave vida eacute inviolaacutevel segundo a CRP1 e o CP2 - que se traduz num cor-po de normas juriacutedicas que primam por serem as que regulam o regime de penaspuniccedilotildees quando algum acto destoa daquilo que se considera legal-mente admissiacutevel - por analogia a ldquoeutanaacutesiardquo eacute puniacutevel Esmiuccedilando o jaacute referido CP que manifesta re-levante ponderaccedilatildeo para o tema aqui em apreccedilo evidencia-se o Tiacutetulo I (que trata em especiacutefico do crime contra as pessoas) o qual se subdivide no Capiacutetulo I (Dos crimes contra a vida) que en-globa os artigos 131ordm 133ordm134ordm138ordmNeste acircmbito reza o artigo 131ordm corpo normativo que regula e penaliza o tipo legal de crime res-peitante ao Homiciacutedio (o dito homiciacutedio simples) ndash que ldquoQuem matar outra pessoa eacute punido com pena de prisatildeo de oito a dezasseis anosrdquoJaacute o artigo 133ordm (onde se enquadra o delito cri-

1 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa (Lei Constitucional 12005)

2 Coacutedigo Penal (Decreto Lei 592007)

minal do Homiciacutedio privilegiado) esclarece que ldquoQuem matar outra pessoa por compreensiacutevel emoccedilatildeo violenta compaixatildeo desespero ou moti-vo de relevante valor social ou moral que diminua sensivelmente a sua culpa eacute punido com pena de prisatildeo de 1 a 5 anosrdquoAo dirigirmos o nosso reparo para o Artigo 134ordm que trata o ldquoHomiciacutedio a pedido da viacutetimardquo no seu nordm1 clarifica-se que ldquoQuem matar outra pes-soa por pedido seacuterio instante e expresso que ela lhe tenha feito eacute punido com pena de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo O Artigo 135ordm (Incitamento ou ajuda ao suiciacutedio) no seu nordm 1) refere que ldquo Quem incitar outra pes-soa a suicidar -se ou lhe prestar ajuda para esse fim eacute punido com pena de prisatildeo ateacute trecircs anosrdquo contudo e acautelando a possibilidade do suiciacutedio ou da tentativa prossegue o nordm 2 do mesmo arti-go ditando que ldquoSe a pessoa incitada ou a quem se presta ajuda for menor de 16 anos ou tiver por qualquer motivo a sua capacidade de valoraccedilatildeo ou de determinaccedilatildeo sensivelmente diminuiacuteda o agente eacute punido com pena de prisatildeo de um a cin-co anos Quanto ao Artigo 138deg (Exposiccedilatildeo ou abandono) lecirc-se que ldquoQuem colocar em perigo a vida de ou-tra pessoardquo ndash aliacutenea a)- ldquoExpondo-a em lugar que a sujeite a uma situaccedilatildeo de que ela soacute por si natildeo possa defender-serdquo ou - aliacutenea b) - ldquoAbandonan-do-a sem defesa sempre que ao agente coubes-se dever de a guardar vigiar ou assistir eacute punido com pena de prisatildeo de 2 a 8 anosrdquo Por uacuteltimo eacute tambeacutem de salientar o facto de que a eutanaacutesia tambeacutem contraria os princiacutepios basi-lares que alicerccedilam a profissatildeo conforme dispos-to no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros3 e no REPE4 No enquadramento deontoloacutegico os deve-res do enfermeiro incitam ldquoo respeito do direito da pessoa agrave vida durante todo o ciclo vitalrdquo (Arti-go 82ordm) e a obrigatoriedade do enfermeiro ldquode-fender e promover o direito do doente agrave escolha do local e das pessoas que deseja o acompanhem na fase terminal da vida e respeitar e fazer res-peitar as manifestaccedilotildees de perda expressas pelo doente em fase terminal pela famiacutelia ou pessoas que lhe sejam proacuteximasrdquo (Artigo 87ordm)

3 Decreto Lei nordm 10498 de 21 de Abril de 1998

4 Decreto-Lei Nordm 16196 de 4 de Setembro de 1996

CUIDADOS PALIATIVOS QUE RESPOSTAS Em Portugal os cuidados Paliativos estatildeo a dar os primeiros passos verificando-se a existecircncia de alguma preocupaccedilatildeo relativamente ao utente em fase terminal (Queiroacutes 2001) Todavia assiste--se a um deficit ou mesmo ausecircncia de respostas por parte dos serviccedilos e instituiccedilotildees de sauacutede aos utentes (Sapeta 2003)Num estudo realizado pela APEME (2008) sobre o grau de satisfaccedilatildeo da populaccedilatildeo com os Cuidados Paliativos atraveacutes da aplicaccedilatildeo de um questionaacute-rio por entrevista telefoacutenica a uma amostra de 606 elementos salienta-se que 31 dos inquiri-dos os consideram completamente insuficientes 25 insuficientes 31 suficientes 9 moderada-mente suficientes e 5 completamente suficien-tes Curiosamente quando inquiridos sobre ldquoas principais sugestotildees para melhorias dos cuidados paliativosrdquo 14 apostavam na formaccedilatildeo profis-sional e 8 deseja mais profissionais especializa-dos na aacuterea Eacute ainda de referir o estudo realizado por Sapeta (2003) que afirma que a maioria das escolas de Enfermagem lecciona em mais que um ano lecti-vo e em mais do que uma aacuterea cientiacutefica os temas ldquocuidados paliativosrdquo e ldquodor croacutenicardquo contudo numa abordagem bastante superficial dado ao nuacutemero de horas associado Desta forma e especificamente neste aspecto o Programa Nacional de Cuidados Paliativos (DGS 2004 p 2) considera que eacute imprescindiacutevel ldquouma preparaccedilatildeo soacutelida e diferenciada que deve envol-ver quer a formaccedilatildeo preacute-graduada quer a forma-ccedilatildeo poacutes-graduada dos profissionais que satildeo cha-mados agrave praacutetica deste tipo de cuidadosrdquo

CONCLUSAtildeONa actualidade a questatildeo da eutanaacutesia suplanta expectativasduacutevidas natildeo soacute na populaccedilatildeo mas tambeacutem nas camadas profissionais de sauacutede no-meadamente os enfermeiros Concomitantemen-te vaacuterias fracccedilotildees sociais manifestam interesse ou reprovaccedilatildeo pela sua praacutetica Ora eacute defendida por uns eou reprovada por outrosEacute importante destacar que a percepccedilatildeo e livre ar-biacutetrio que o enfermeiro possui norteia a sua praacute-tica profissional e consequentemente influencia algumas tomadas de decisatildeo Notabiliza-se con-tudo a vinculaccedilatildeo do exerciacutecio da profissatildeo a um

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conjunto de regras e aspectos legais e eacutetico-de-ontoloacutegicos que se identificam como orientaccedilotildees para julgar a acccedilatildeo profissional constituindo por fim a obrigatoriedade do enfermeiro se reger pe-las mesmas Eacute neste contexto que nos surgiu a proposta da reflexatildeo sobre possiacuteveis ldquosoluccedilotildeesrespostasrdquo que se esbarraram com a filosofia dos cuidados paliativos que na maioria dos autores referidos se apresentam como a melhor resposta nacional face agraves actuais disposiccedilotildees legais Em epiacutelogo procurou-se evidenciar e incentivar a necessidadeobrigatoriedade de formaccedilatildeo na aacuterea salientando natildeo soacute a importacircncia da tomada de decisatildeo dos serviccedilosinstituiccedilotildees mas predo-minantemente das escolas de Enfermagem

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ENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2010

RESUMONum momento em que o modelo de emergecircncia preacute-hospitalar em Portugal eacute discutido torna-se necessaacuterio reflectir acerca das competecircncias e da importacircncia dos profissionais nela incluiacutedos entre os quais os enfermeiros que natildeo tecircm suscitado consenso Se por um lado existe evidecircncia cientiacutefica que reafirma a importacircncia do enfermeiro neste contexto existem correntes de pensamento que argumentam o inverso objectivando este artigo responder agrave questatildeo ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro em emergecircncia preacute-hospitalarrdquo

Palavras-Chave Enfermagem Emergecircncia preacute--hospitalar

ABSTRACTIn a moment that the pre hospital emergency system is discussed arises the needing to reflect about the competence and importance that the included professionals have to work in this field including the nurses that donacutet have evoke consensus If on one hand exists scientific evidence that reaffirms the importance of the nurseacutes presence in that field there exists currents of thought that argue the inverse So this article objectify answer to the question ldquoExist or not competence for the nursersquos professional exercise in the pre hospital care fieldrdquo

Keywords Nursing Pre hospital emergency

ANDREacute FILIPE RICARDO CORREIAHospital de Faro EPE ndash Unidade de Cuidados Intensivos

INTRODUCcedilAtildeO

Num momento em que a posiccedilatildeo do enfermeiro nas equipas de emergecircncia preacute-hospitalar eacute am-plamente discutida justifica-se a necessidade de reflectir acerca das suas competecircncias para o exerciacutecio nesta aacuterea assim como o seu papel na garantia da seguranccedila e qualidade dos cuidados de sauacutede prestados neste contexto

A presenccedila dos enfermeiros na emergecircncia preacute--hospitalar em Portugal remonta haacute cerca de 20 anos exercendo estes funccedilotildees nas mais variadas aacutereas desde o transporte de receacutem-nascidos Viaturas Meacutedicas de Emergecircncia e Reanimaccedilatildeo (VMER) heli-transporte de doentes criacuteticos e em cataacutestrofe [Ordem dos Enfermeiros (OE) 2008]

Numa constante e progressiva consolidaccedilatildeo do Sistema Integrado de Emergecircncia Meacutedica (SIEM) a que se tem assistido o papel do enfermeiro tem sido reforccedilado nomeadamente com a recente criaccedilatildeo das ambulacircncias de Suporte Imediato de

Vida (SIV) e da figura do enfermeiro responsaacute-vel pelo acompanhamento dos meios no terreno no Centro de Orientaccedilatildeo de Doentes Urgentes (CODU) representando conjuntamente com os preacute-existentes VMER e helicoacutepteros de Emergecircn-cia meacutedica os meios operacionais atraveacutes dos quais os enfermeiros intervecircm actualmente na prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar em equipa com meacutedicos psicoacutelogos tripu-lantes de ambulacircncia de socorro (TAS) tripulan-tes de ambulacircncia de emergecircncia (TAE) e teacutecnicos de operaccedilotildees e telecomunicaccedilotildees de emergecircncia (TOTE) (OE 2008)

Contudo as competecircncias do enfermeiro para a prestaccedilatildeo de cuidados neste contexto assim como a necessidade da sua intervenccedilatildeo parecem natildeo reunir consensualidade sendo suscitadas cor-rentes de pensamento que se opotildeem agrave sua activi-dade e presenccedila neste acircmbito de cuidados Ape-sar inicial ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro no contexto

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de cuidados preacute-hospitalarrdquo

De facto compreendo que se natildeo nos ocupar-mos desta problemaacutetica corremos o seacuterio risco de uma vez mais vermos diminuiacutedas as nossas aacutereas de intervenccedilatildeo o que indubitavelmente re-presenta uma perda para a profissatildeo e em uacutelti-ma instacircncia para a comunidade alvo dos nossos cuidados pelo consequente impacto na qualidade desses cuidados

Assim a este propoacutesito entendemos que o en-fermeiro possui competecircncias que o habilitam agrave prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia no contex-to preacute-hospitalar constituindo a sua presenccedila nas equipas preacute-hospitalares uma inegaacutevel mais-valia

suportada em todo um corpo de conhecimentos teacutecnico - cientiacuteficos que resultam em claros bene-fiacutecios para as pessoas assistidas Tal como a evi-decircncia cientiacutefica (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) afirma os conhecimentos base e competecircncias em ciecircncias como anatomia fisiopatologia e farmacologia a complementari-dade das ciecircncias sociais e humanas produccedilatildeo cientiacutefica e praacutetica baseada na evidecircncia o espiacuteri-to criacutetico - reflexivo e os elevados conhecimentos da realidade intra-hospitalar satildeo caracteriacutesticas dos enfermeiros que acrescem saberes e compe-tecircncias adicionais ao acircmbito da emergecircncia preacute--hospitalar permitindo a sua presenccedila ldquohellipperform and document a high quality and holistic assess-

ment including bio-psycho-social needs and not merely physical needshelliprdquo (Melby amp Ryan 2005 p1147) A este respeito ainda Palma Rodriacuteguez Azanoacuten e Rodriguez (2005) satildeo contundentes ao concluiacuterem que a presenccedila dos enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar eacute imprescindiacutevel natildeo soacute por possuiacuterem a qualificaccedilatildeo necessaacuteria para co-laborar e actuar na prestaccedilatildeo de cuidados a pes-soas em situaccedilotildees de urgecircnciaemergecircncia como tambeacutem pela diferenciaccedilatildeo na prestaccedilatildeo dos mesmos o que possibilita indubitaacuteveis benefiacutecios para o doente mediante a melhoria de conheci-mentos respostas colaboraccedilatildeo e adaptaccedilatildeo do mesmo agrave sua situaccedilatildeo de alteraccedilatildeo no continuum sauacutede-doenccedila

Poreacutem contrariamente agrave evidecircncia cientiacutefica que aponta os benefiacutecios da participaccedilatildeo do enfer-meiro no contexto de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar as correntes divergentes indicam determinados aspectos como limitadores ou mesmo inviabilizadores desta presenccedila que vatildeo desde a inadequaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo ateacute haacute ine-xistecircncia de legitimidade eacutetico-deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados de forma autoacutenoma envolvendo duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais

Neste sentido o Sindicato dos Teacutecnicos de Am-bulacircncia de Emergecircncia (STAE) (2010) refere que a niacutevel internacional os serviccedilos de emergecircncia meacutedica demonstram que as soluccedilotildees para os re-cursos humanos nesta aacuterea devem incidir na for-maccedilatildeo de profissionais unicamente direccionados para o desempenho de cuidados de emergecircncia em ambiente preacute-hospitalar (comummente deno-minados como ldquoparameacutedicosrdquo) com autorizaccedilatildeo para executar determinados procedimentos meacutedi-cos invasivos sob direcccedilatildeo meacutedica e certificaccedilatildeo acrescentando ainda que natildeo existem vantagens em termos de eficiecircncia ou qualidade dos cui-dados prestados com a inclusatildeo de enfermeiros neste acircmbito de cuidados Poreacutem Suserud e Hal-jamaumle (1997 1999) aos quais acrescemos a nossa aprovaccedilatildeo opotildeem-se a esta posiccedilatildeo salientando inversamente a tendecircncia internacional a que se assiste no sentido de um aumento do nuacutemero de enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar Como estes referem os modelos que preconizaram a existecircncia do tipo de soluccedilatildeo para os recursos hu-manos sugerido pelo STAE (2010) basearam-se na

inexistecircncia de meacutedicos e enfermeiros suficientes para suprir simultaneamente as necessidades intra e preacute-hospitalares pelo que por uma ques-tatildeo de racionalizaccedilatildeo de meios humanos optaram pela sua retenccedilatildeo no acircmbito intra-hospitalar em detrimento do preacute-hospitalar

Com o debate em torno da importacircncia de um elevado niacutevel de competecircncias para aumentar a qualidade dos cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar foram suscitadas por parte de vaacuterios paiacute-ses alteraccedilotildees na forma de encarar os recursos humanos necessaacuterios para a prossecuccedilatildeo deste objectivo Como tal a Noruega a Sueacutecia ou a Ho-landa satildeo exemplos de paiacuteses que apesar de ini-cialmente suportados em modelos de emergecircncia meacutedica que pressupunham a existecircncia de profis-sionais de emergecircncia meacutedica como os referidos pelo STAE (2010) alteraram o seu modo de fun-cionamento incluindo os enfermeiros nas equipas de emergecircncia preacute hospitalar salientando ldquohellipthe importance of having equally competence emer-gency personel working in the pre-hospital area and in hospital that is professionals doing the same type of work should have similar competen-ce levels and practical trainingrdquo (Suserud amp Hal-jamaumle 1997 p145) Na verdade a emergecircncia meacute-dica preacute-hospitalar eacute uma componente da Emer-gecircncia Meacutedica a qual abrange um largo espectro

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intervenccedilatildeo desde os cuidados intensivos ateacute agrave prestaccedilatildeo de cuidados em serviccedilos de urgecircncia passando pelo transporte inter-hospitalar de do-entes urgentes todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros tecircm uma participaccedilatildeo essencial e competecircncias reconhecidas [Suserud 2005 Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Nor-te (ARSN) 2009] Partilhando estas actividades toda uma seacuterie de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e compe-tecircncias comuns torna-se clara a importacircncia da presenccedila do enfermeiro de um modo transversal em todas elas permitindo uma boa articulaccedilatildeo e continuidade fundamentais para toda a cadeia de cuidados realccedilando a evidecircncia cientiacutefica pro-duzida nos paiacuteses que adoptaram este modelo de emergecircncia preacute-hospitalar que ldquohellipthe increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by ra-sing the competence level of the team as a who-lerdquo (Suserud amp Haljamaumle 1997 p145)

Outra das objecccedilotildees apontada refere-se agrave neces-sidade de formaccedilatildeo especiacutefica para a prestaccedilatildeo de cuidados em emergecircncia preacute-hospitalar sendo referido que o ldquoenfermeiro carece sempre de for-maccedilatildeo especializada para a intervenccedilatildeo preacute-hos-pitalar que natildeo seja conjunta com o meacutedico hellipsob pena de estar em causa a seguranccedila e a qualidade dos cuidados prestadosrdquo (STAE 2010 p5)

De facto aceitamos a menccedilatildeo de que eacute necessaacute-ria formaccedilatildeo acrescida agrave formaccedilatildeo base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) Poreacutem esta eacute claramente uma preposiccedilatildeo inviaacutevel no sentido de reiterar a inexistecircncia de competecircn-cias de enfermagem em emergecircncia preacute-hospita-lar Natildeo podemos esquecer que a licenciatura natildeo concede por si soacute uma especializaccedilatildeo da praacutetica profissional pois apenas confere uma base de co-nhecimentos e competecircncias no acircmbito da enfer-magem de cuidados gerais encaminhando poste-riormente o enfermeiro a sua praacutetica profissional num determinado sentido obviamente suportada pela formaccedilatildeo adicional que essa aacuterea exija To-davia a existecircncia de um corpo soacutelido de conhe-cimentos base adquirido no CLE vai favorecer a posterior aquisiccedilatildeo de conhecimentos e compe-tecircncias suportando e solidificando a prestaccedilatildeo de cuidados na aacuterea especiacutefica em causa

Por outro lado decorrente de vaacuterios factores como a gravidade e complexidade das situaccedilotildees cliacutenicas a imprevisibilidade de ocorrecircncias e a prestaccedilatildeo de cuidados em ambiente extra-hospi-talar com elevada exposiccedilatildeo social e reduzido nuacute-mero de intervenientes no processo de decisatildeo o exerciacutecio profissional neste contexto eacute reconheci-damente especiacutefico e complexo o que exige uma preparaccedilatildeo singular e contiacutenua dos profissionais envolvidos (Tomaacutes 2009 OE 2010)

Face a isto na realidade portuguesa todos os en-fermeiros que prestam cuidados nas VMER SIV helicoacutepteros de emergecircncia meacutedica e CODU tecircm formaccedilatildeo que os habilita agrave sua actividade con-ferindo as competecircncias teoacuterico - praacuteticas consi-deradas essenciais pelas entidades competentes ao que se acrescem as poacutes-graduaccedilotildees e mes-trados que tecircm surgido nas aacutereas de urgecircnciaemergecircncia encaradas como uma mais-valia na qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais (Vieira Oliveira amp Ressurreiccedilatildeo 2005 Tomaacutes 2009) A li-teratura (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) por sua vez sugere a existecircncia de um consenso relativamente ao facto dos enfer-meiros com experiecircncia de anestesia unidade de cuidados intensivos e serviccedilo de urgecircncia serem os mais habilitados para a prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar decorrente da for-maccedilatildeo que possuem e da constante interacccedilatildeo com situaccedilotildees cliacutenicas criacuteticas que lhes permite uma manutenccedilatildeo das competecircncias que de ou-tro modo poderiam decrescer face a periacuteodos de menor operacionalidade decorrente da inexis-tecircncia de situaccedilotildees criacuteticas na aacuterea de influecircncia dos meios de socorro Desta forma poderaacute residir neste aspecto um dos deacutefices do modelo portu-guecircs em que os enfermeiros dos meios SIV ape-nas prestam cuidados no contexto preacute-hospitalar em exclusividade Todavia na VMER esta questatildeo natildeo se coloca uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua activi-dade profissional tambeacutem em contexto intra-hos-pitalar preferencialmente nos serviccedilos supraci-tados sendo esta uma das condiccedilotildees de ingresso previamente definida o que potencia o processo de retro-alimentaccedilatildeo de experiecircncia e conheci-mento com consequente mais-valia para as duas aacutereas (Suserud 2005 OE 2010)

Eacute tambeacutem no capiacutetulo da legitimidade eacutetico--deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados que satildeo colocadas duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais do enfermeiro ldquohellipque natildeo seja conjunta com o meacutedi-cohelliprdquo (STAE 2010 p5) pois o caraacutecter de inter-venccedilatildeo em situaccedilotildees criacuteticas contempla que natildeo raras vezes se torne necessaacuterio aplicar determi-nadas intervenccedilotildees e procedimentos considera-dos life saving como entubaccedilatildeo endo-traqueal desfibrilhaccedilatildeo prescriccedilatildeo e administraccedilatildeo de faacuter-macos ou lideranccedila em situaccedilotildees de emergecircncia comummente reconhecidas como do acircmbito de intervenccedilatildeo meacutedica colocando-se questotildees como ldquoqual a fronteira em termos de intervenccedilotildees meacute-dicas e de enfermagemrdquo ou ldquopode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenccedilotildees e proce-dimentos life savingrdquo (Vieira Oliveira amp Ressur-reiccedilatildeo 2005)

Poreacutem o decreto-lei nordm 16176 de 4 de Setembro enquanto Regulamento do Exerciacutecio Profissional dos Enfermeiros (REPE) permite que estas duacutevidas possam ser esclarecidas dissipadas e devidamente documentadas em articulaccedilatildeo com os demais do-cumentos descritores e reguladores da profissatildeo

Definidos os cuidados de enfermagem como ldquoas intervenccedilotildees autoacutenomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no acircmbito das suas qua-lificaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 1 artigo 4ordm do decreto-lei nordm 16176) as intervenccedilotildees autoacutenomas referem-se agraves ldquoacccedilotildees realizadas pelos enfermei-ros sob sua uacutenica e exclusiva iniciativa e respon-sabilidade de acordo com as respectivas quali-ficaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 2 art 9ordm do de-creto-lei nordm 16176) enquanto as interdependen-tes satildeo respeitantes agraves intervenccedilotildees realizadas ldquopelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificaccedilotildees profissionais em conjunto com ou-tros teacutecnicos para atingir um objectivo comum decorrentes de planos de acccedilatildeo previamente de-finidos pelas equipas multidisciplinares em que estatildeo integrados e das prescriccedilotildees ou orientaccedilotildees previamente formalizadasrdquo (nuacutemero 3 artigo 9ordm do decreto-lei nordm 16176) Continuando a anaacutelise o nuacutemero 4 art 9ordm do mesmo diploma refere que os enfermeiros ldquoprocedem agrave administraccedilatildeo de te-rapecircutica prescrita detectando os seus efeitos e actuando em conformidade devendo em situaccedilatildeo de emergecircncia agir de acordo com a qualificaccedilatildeo e os conhecimentos que detecircm tendo como fina-lidade a manutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

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VIEIRA Pedro OLIVEIRA Luiacutes RESSURREICcedilAtildeO Serafim ndash O enfer-meiro perante a emergecircncia preacute-hospitalar Sinais Vitais 61 (2005) 32-35

JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

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VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 4: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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ACTUALIDADES ACTUALIDADES

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Um novo estudo sugere que tal como o sol os niacuteveis de insulina sobem e descem num ritmo diaacute-rio Interromper esse ciclo pode contribuir para a obesidade e a diabetes

Vaacuterios sistemas orgacircnicos comportam-se como um reloacutegio diaacuterio conhecido como ritmo circa-diano Temperatura corporal pressatildeo arterial e a libertaccedilatildeo de muitas hormonas fazem parte dos temporizadores circadianos Mas ateacute agora ningueacutem tinha mostrado que a insulina - uma hormona que ajuda a controlar a forma como o corpo usa os accediluacutecares para a energia - tambeacutem tem um ciclo diaacuterio Trabalhando com ratinhos pesquisadores da Universidade Vanderbilt em Nashville descobriram que os roedores satildeo mais sensiacuteveis aos efeitos da insulina em determinados

momentos do dia Perturbar os ritmos circadia-nos dos animais interfere com a subida e queda diaacuteria da hormona e faz com que os ratos fiquem propensos agrave obesidade

Se as conclusotildees se aplicarem em seres humanos poderiam ajudar a explicar por que as pessoas que trabalham em turnos noturnos costumam estar acima do peso e sofrem de problemas de sauacutede A descoberta tambeacutem pode ligar a epidemia da obesidade em parte ao fato de se ficar acordado ateacute tarde e comer na hora errada

Os resultados sugerem que se o horaacuterio das refei-ccedilotildees coincidir com a sensibilidade agrave insulina pode ajudar a proteger contra o diabetes Satchidanan-da Panda um geneticista e bioacutelogo do Instituto Salk de Estudos Bioloacutegicos em La Jolla na Cali-foacuternia refere ainda que abusar de forma croacutenica com a desregulaccedilatildeo horaacuteria das refeiccedilotildees pode contribuir para a resistecircncia agrave insulina e eventu-almente levar a diabetes

OS NIacuteVEIS DE INSULINA AUMENTAM E DIMINUEM NUM

CICLO DIAacuteRIOA VIDA MODERNA PODE CONFLITUAR COM O CICLO NATURAL

DA HORMONA

Os resultados desta pesquisa em uacuteltima anaacutelise permitem infor-mar melhor as mulheres graacutevidas sobre os efeitos duradouros que a sua dieta tem sobre o desenvol-vimento dos seus filhos ao longo da vida boas preferecircncias e ris-co de doenccedila metaboacutelica refere Beverly Muumlhlhaumlusler PhD pes-quisador envolvido na Pesquisa FoodPLUS

Muhlausler e seus colegas estu-daram os filhos de dois grupos de ratos um dos quais se alimen-taram de uma raccedilatildeo normal e o outro tinha sido alimentados com uma gama de alimentos que os humanos apelidam de junk food durante a gravidez e a lactaccedilatildeo Apoacutes o desmame os filhotes receberam injeccedilotildees diaacuterias de um bloqueador do recetor opi-oacuteide que bloqueia a sinalizaccedilatildeo de opiaacuteceos O Bloqueio de sinalizaccedilatildeo opioacuteide reduz o consumo de gordura e accediluacutecar impedindo a libertaccedilatildeo de dopamina Os resultados mostraram que o blo-queador de recetor opioacuteide foi menos eficaz na reduccedilatildeo da gordura e ingestatildeo de accediluacutecar nos fi-lhotes das matildees alimentadas com junk food su-gerindo que a via de sinalizaccedilatildeo opioacuteide nessas

crias eacute menos sensiacutevel do que para filhotes cujas matildees se alimentaram com uma raccedilatildeo padratildeo Este estudo mostra que a dependecircncia de junk food eacute ou pode ser um viacutecio verdadeiro Eacute triste dizer mas junk food durante a gravidez transfor-ma as crianccedilas em viciados em junk food

Federation of American Societies for Experi-mental Biology (2013 February 28) Eating junk food while pregnant may make your child a junk food addict ScienceDaily Retrieved February 28 2013 from httpwwwsciencedailycom relea-ses201302130228103443htm

COMER JUNK FOOD DURANTE A GRAVIDEZ PODE

FAZER COM QUE O SEU FILHO NASCcedilA JAacute VICIADO

Uma dieta saudaacutevel durante a gravidez eacute fundamental para o futuro da sauacutede dos filhos Uma nova pesquisa publicada na ediccedilatildeo de marccedilo de 2013 do The FASEB Journal sugere que as matildees graacutevidas que consomem junk food podem realmente causar alteraccedilotildees no desenvolvimento da sinalizaccedilatildeo opioacuteide no ceacuterebro dos seus filhos Esta mudanccedila faz com que os bebeacutes sejam menos sensiacuteveis aos opioacuteides que satildeo libertados apoacutes o consumo de alimentos que satildeo ricos em gordura e accediluacutecar Por sua vez estas crianccedilas que nascem com uma maior toleracircncia a junk food precisam comer mais do mesmo para alcanccedilar uma boa resposta

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AS NOZES OCUPAM A POSICcedilAtildeO SUPERIOR DOS ANTIOXIDANTES PARA UM CORACcedilAtildeO SAUDAacuteVEL

Um novo estudo cientiacutefico coloca as nozes na melhor posiccedilatildeo entre a famiacutelia de alimentos que os leigos reivindicam estarem entre os alimentos perfeitos que a Matildee Natureza produz Os cientis-tas apresentaram uma anaacutelise que mostra que as nozes tecircm a combinaccedilatildeo de antioxidantes mais saudaacutevel e de melhor qualidade do que qualquer outro fruto seco

As Nozes classificam-se acima dos amen-doins amecircndoas pistachos e outros frutos secos Um punhado de nozes conteacutem antioxi-dantes quase duas vezes mais que uma quan-tidade equivalente de qualquer outro fruto seco habitualmente consumidos Este estu-do sugere que os consumidores devem co-mer nozes como parte de uma dieta saudaacutevel O investigador responsaacutevel refere que as no-zes em geral tecircm uma combinaccedilatildeo incomum de benefiacutecios nutricionais - aleacutem dos antio-xidantes ndash e vecircm embrulhadas num pacote

conveniente e barato As Nozes contecircm muita proteiacutena de alta qualidade que pode substi-tuir a carne vitaminas e minerais fibra ali-mentar e satildeo laacutecteos e sem gluacuteten Anos de pesquisa por cientistas de todo o mundo li-garam o consumo regular de pequenas quan-tidades de nozes ou manteiga de amendoim com a diminuiccedilatildeo do risco de doenccedilas do co-raccedilatildeo certos tipos de cancro caacutelculos biliares diabetes tipo 2 e outros problemas de sauacutede Os antioxidantes presentes nas nozes satildeo 2-15 vezes mais potentes que a vitamina E conheci-da pelos seus efeitos antioxidantes poderosos que protegem o corpo contra os danos quiacutemi-cos naturais envolvidos na causa da doenccedila Uma outra vantagem em escolher as nozes como fonte de antioxidantes estaacute no fato de o calor reduzir a qualidade dos antioxidantes ora as pessoas geralmente comem as nozes cruas ou o que permite obter a plena eficaacutecia dos an-tioxidantes

As nozes contecircm ainda gorduras polinsaturadas saudaacuteveis e monoinsaturada em vez de gordura saturada que eacute prejudicial Quanto agraves calorias co-mer nozes parece natildeo causar ganho de peso e ateacute mesmo pode fazer com que as pessoas tenham uma maior sensaccedilatildeo de plenitude e satisfaccedilatildeo tornando-as menos propensos a comer demais Num estudo dos EUA de 2009 o consumo de no-zes foi associado com um risco significativamente menor de ganho de peso e obesidade

ENTREVISTA COM OENFordm RUI FONTES

A PROPOacuteSITO DA COORDENACcedilAtildeO DO LARES DE IDOSOS DO SAMS EM AZEITAtildeO E DA OFERTA SOCIAL NESTE SECTOR

Entrevista da responsabilidade de Carlos Margato

Tem cinquenta e um anos e apresenta-se como enfermeiro que partiu cedo para um percurso na aacuterea da gestatildeo Considera-a a mais adequada agrave sua personalidade

sempre gostei de liderar e desde muito cedo tive a possibilidade de o fazer Por exemplo capitatildeo de equipa no futebol presidente de associaccedilatildeo de estudantes dirigente desportivo na colectividade da terra empreendedor em iniciativas e eventos culturais e desportivos

Refere nunca ter sofrido daquela falsa modeacutestia portuguesa de que natildeo gostamos de chefiar de liderar e de gerir

Dedicou os uacuteltimos quinze anos a desenvolver competecircncias na aacuterea de gestatildeo Destaca como relevante o Curso de Lideranccedila para a Mudanccedila promovido pela Ordem dos Enfermeiros e pelo ICN que muito alterou a minha vida profissional dirigindo-a decisivamente para a aacuterea da gestatildeo

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Ser enfermeiro e coordenar um Lar de Idosos a tem-po inteiro natildeo eacute frequente em Portugal Que razotildeesmotivaccedilotildees estatildeo subjacentes a essa decisatildeo

Ser enfermeiro e outra coisa qualquer natildeo eacute co-mum em Portugal infelizmente Na verdade os enfermeiros tecircm ficado virados para si proacute-prios natildeo desempenhando outras funccedilotildees ou ocupando outros lugares que natildeo sejam dentro da proacutepria aacuterea teacutecnico-cientiacutefica Quantos en-fermeiros na funccedilatildeo de deputado desde o 25 de Abril Quantos de noacutes exercemos funccedilotildees rele-vantes nas autarquias Em empresas Mesmo nas associaccedilotildees que natildeo sejam especificamente de enfermagem Natildeo seraacute esta a razatildeo da pouca relevacircncia que a profissatildeo continua a ter e do pouco valor social da mesma

Quando fui para coordenador (director teacutecni-co) do lar de idosos sofri o peso da ignoracircncia de muitos teacutecnicos sociais em relaccedilatildeo agrave lei e o peso do estigma que a aacuterea social era destino ex-clusivo do serviccedilo social Natildeo foi faacutecil a minha aceitaccedilatildeo Utilizaram-se vaacuterios estrateacutegias para colocar em causa a qualidade de um enfermeiro como director teacutecnico Cedo percebi que era dos melhores e ateacute fui levado a pensar que a gestatildeo de lares deveria ser entregue a enfermeiros pelo seu conhecimento global da aacuterea da sauacutede e da aacuterea social Mas hoje reconheccedilo que o exerciacutecio de funccedilotildees de gestatildeo natildeo tem a ver com a base de formaccedilatildeo profissional que se tem Pode ser--se bom director teacutecnico sendo enfermeiro as-sistente social psicoacutelogo ou com outra profissatildeo qualquer Conveacutem eacute que saiba liderar tenha co-nhecimentos profundos na aacuterea social e na aacuterea de sauacutede O ideal eacute a construccedilatildeo de um profissio-nal hiacutebrido entre o social e a sauacutede

Haacute quantos anos desempenhas as funccedilotildees de coorde-nador do Lar de Idosos do SAMS em Azeitatildeo

Fiz recentemente dez anos como coordenador do lar de idosos coincidindo mais ou menos com os vinte e cinco de enfermagem

Na grande maioria dos Lares os coordenadores satildeo assistentes sociais Identificas razotildees suficientes para afirmar que essa funccedilatildeo deveria ser desempe-nhada por enfermeiros

Jaacute respondi mais ou menos a essa questatildeo Os en-fermeiros trazem ao Lar de Idosos uma mais-valia interessante e hoje com os conhecimentos que tem podem de facto responder agraves necessidades na aacuterea social que surgem num lar conseguindo tambeacutem assegurar os cuidados de sauacutede e fazer a sua gestatildeo O grande drama do serviccedilo social eacute que os lares satildeo em geral autenticas unidades de pessoas idosas doentes para as quais a sauacutede eacute fundamental e o serviccedilo social natildeo tem qualquer preparaccedilatildeo para responder a essa necessidade Assim a enfermagem tem aqui um lugar de gran-de importacircncia A questatildeo eacute que os enfermeiros ao longo de todos estes anos viram nos lares a acumulaccedilatildeo de umas horas onde poderiam ga-nhar ldquouns trocosrdquo sem qualquer responsabilidade Essa imagem faz ainda hoje com que se olhe para o enfermeiro do lar como aquele que natildeo tem lu-gar em mais lado algum

O grande drama do serviccedilo social eacute que os lares satildeo em geral autenticas unidades de pessoas idosas doentes para as quais a sauacutede eacute fundamental e o serviccedilo social natildeo tem qualquer preparaccedilatildeo para responder a essa necessidade Assim a enfermagem tem aqui um lugar de grande importacircncia

Fala-me um pouco do Lar que coordenas nuacutemero de residentes de assistentes operacionais de cozinhei-ros condutores entre outroshellip

O lar de idosos do SBSISAMS eacute a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do enve-lhecimento em Portugal e aquela que poderaacute ter a vaidade de dizer que seraacute a melhor do paiacutes Eacute costume incomodar e provocar as pessoas com esta ideia que eacute consequecircncia de trabalhar num lar muito especial uma equipa de colaboradores apaixonados por aquilo que fazem que discute em qualquer lugar as questotildees do envelhecimen-to que sabe o que eacute funcionalidade utilidade e

felicidade no processo de envelhecimento que tem formaccedilatildeo ul-trapassando as horas obrigatoacuterias anuais e cuja auto-estima eacute muito elevada instala-ccedilotildees muito interessan-tes e de elevado niacutevel uma organizaccedilatildeo de trabalho iacutempar com utilizaccedilatildeo do meacutetodo responsaacutevel com to-dos os residentes com enfermeiro fisiotera-peuta e auxiliares de referecircncia com um modelo de comunica-ccedilatildeo original assente na evidecircncia cientiacutefica e nos mais inovadores processos de gestatildeo

Mas tudo isto podia ser dito e teria pouco valor se natildeo soubeacutessemos quantos residentes caiacuteram nos uacuteltimos dez anos que evoluccedilatildeo teve o nuacutemero de quedas quais satildeo os valores da escala de Katz da escala de Morse da escala de equiliacutebrio e da mini--mental qual o valor meacutedio da percepccedilatildeo da dor quantas escaras existiram em dez anos quantas conseguimos tratar e como quantas pessoas re-correm por ano agraves urgecircncias hospitalares e quan-tos dias de internamento hospitalar tem os re-sidentes por ano quantos recursos satildeo feitos ao exterior qual o grau de satisfaccedilatildeo de residentes colaboradores familiares parceiros internos e par-ceiros externos quantas pessoas foram algaliadas no ano e quantos antibioacuteticos foram prescritos

Jaacute seria um lar bom com todos estes indicadores mas eacute ainda melhor porque no iniacutecio do ano defi-nimos os nossos objectivos avaliamo-los durante o ano e atingimos grande parte deles Eacute um lar di-ferente porque natildeo trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e natildeo resolvemos situaccedilotildees de residentes problemaacuteticos com comprimidos para dormir Eacute um lar bom porque contrariamos todas as prescriccedilotildees que disfuncionalizam residentes debatendo com os prescritores essas situaccedilotildees Eacute um Lar muito bom porque preferimos que os

nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirotildees

Somos diferentes mas soacute vendo

O lar de idosos do SBSISAMS eacute a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do envelhecimento em Portugal Eacute um lar diferente porque natildeo trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e natildeo resolvemos situaccedilotildees de residentes problemaacuteticos com comprimidos para dormir Eacute um lar bom porquecirc contrariamos todas as prescriccedilotildees que disfuncionalizam residentes debatendo com os prescritores essas situaccedilotildees Preferimos que os nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirotildees

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A portaria 672012 evolui no conceito de ldquoLar de Idososrdquo para ldquoestrutura residencial para pessoas idosasrdquo e defini-o como o estabelecimento para alo-jamento colectivo de utilizaccedilatildeo temporaacuteria ou per-manente em que satildeo desenvolvidas actividades de apoio social e prestados cuidados de enfermagem

Como sabes na maioria destas estruturas haacute um enfermeiro ldquoumas horas por dia ou por semanardquo Consideras essa uma ldquoboa respostardquo de cuidados de enfermagem

Claro que natildeo posso dizer nunca que isso eacute uma boa resposta mas devemos tambeacutem ter em aten-ccedilatildeo que natildeo existem recursos financeiros para termos um enfermeiro num lar de idosos perma-nentemente Contudo parece que esta situaccedilatildeo eacute um equiacutevoco e esta questatildeo pode natildeo fazer senti-do no futuro proacuteximo

O que precisamos eacute de determinar tipologias para os cuidados e serviccedilos a pessoas idosas Num lar em que soacute existam pessoas idosas independentes um enfermeiro eacute suficiente bem como a sua acti-vidade de prevenccedilatildeo ensino e educaccedilatildeo Jaacute numa tipologia com residentes fortemente doentes te-mos que ter um enfermeiro a tempo inteiro mas estas unidades jaacute existem e chamam-se cuidados continuados pelo que os lares satildeo respostas para pessoas sem cuidados de sauacutede permanentes

A nova portaria veio estigmatizar ainda mais a pessoa idosa Estaacute errada

Um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A comparticipaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo de indicadores e assim teriacuteamos comparticipaccedilatildeo que assegurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos

Fala-me da tua experiecircncia neste acircmbito

No nosso lar fizemos aquilo que todos podem fa-zer mas que parece natildeo terem vontade dividimos a estrutura em duas zonas distintas Uma estaacute destinada a pessoas idosas independentes sem necessidade de cuidados de sauacutede e de higiene

e conforto Pessoas que soacute precisam de se sentir seguras e ter apoio para desenvolverem novos projectos de vida Nesta aacuterea o enfermeiro tem necessidade apenas de fazer formaccedilatildeo prevenir ensinar e educar para a sauacutede e para um envelhe-cimento mais feliz e mais saudaacutevel

Numa outra aacuterea temos as pessoas dependentes muitas delas fortemente dependes com enfer-magem 24 horas por dia fisioterapeutas auxi-liares com cargas de trabalho muito confortaacuteveis e coacutemodas Nesta aacuterea recebemos tambeacutem do-entes para recuperaccedilatildeo global cujo rendimento financeiro eacute maior e muito significativo assegu-rando sustentabilidade de todos os recursos hu-manos

Eacute o modelo que devia ter sido adoptado para os cuidados continuados mas alguns preferiram ca-minhar pela estrada do grande empreendedoris-mo da construccedilatildeo civil e do cimento Natildeo havia auto-estradas para fazerhellip

Mas entatildeo haacute ldquomais valiasrdquo em ter enfermeiro 24 horas

Numa unidade capaz de responder aacute recupera-ccedilatildeo global aacute recuperaccedilatildeo de situaccedilotildees de doenccedila pontuais poacutes cirurgias etc

Numa unidade que consiga especializar-se em determinadas especificidades e que possa pelo rendimento financeiro assegurar os enfermeiros e os outros teacutecnicos Natildeo podemos continuar a fazer redes ao lado da rede hospitalar exigir teacutec-nicos de sauacutede e natildeo procurar saber como se sus-tentam esses projectos

Quero esclarecer que nada disto confronta o mo-delo de estado social ou faz com que natildeo defenda um estado que trate e cuide dos mais fragilizados em igualdade de circunstacircncias com toda a popu-laccedilatildeo Natildeo gosto eacute de contribuir para um estado que natildeo eacute social mas que eacute um estado das insti-tuiccedilotildees sociais

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos no-

vas tipologias De natildeo diferenciar-mos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de instituciona-lizaccedilatildeo na europa do norte de cer-ca de 17 e em Portugal 35

Por isso os indicadores atraacutes referidos demons-tram essa ldquomais-valiardquo

Todos os indicadores atraacutes referenciados satildeo melhorados com a introduccedilatildeo de enfermeiros mas mantenho a ideia inicial numa resposta em que se encontrem pessoas doentes e natildeo neces-sariamente num lar que pretende que as pessoas sejam felizes e saudaacuteveis Na aacuterea das pessoas dependentes o enfermeiro mede o seu desempe-nho por muitos indicadores ulceras de pressatildeo recursos a urgecircncias e dias de internamento quedas nuacutemero de medicamentos percepccedilatildeo da dor antibioacuteticos consumidos

Se introduzires um enfermeiro num lar e medi-res estes indicadores concluis que todos baixam num tempo muito reduzido

Eacute isto que o Estado natildeo quer perceber mas que as Institui-ccedilotildees ditas socias tam-beacutem natildeo aceitam um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A com-participaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo destes indicadores e assim teriacuteamos com-participaccedilatildeo que as-segurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos Mas isso provavelmente acaba-ria com os velhos do-entes desgraccedilados e infelizes e as Institui-

ccedilotildees ficavam cada vez com menos clientes por-que vivem exclusivamente do assistencialismo e da caridade

O Regulamento da Individualizaccedilatildeo das Especia-lidades Cliacutenicas de Enfermagem (Regulamento nordm 1682011 publicado em Diaacuterio da Repuacuteblica 2ordf seacuterie mdash Nordm 47 mdash 8 de Marccedilo de 2011) prevecirc a criaccedilatildeo de uma especialidade designada de SAUacuteDE DO IDOSO

Da tua experiecircncia com pessoas idosas consideras esta uma especialidade necessaacuteria

Temos muito que discutir Primeiro precisamos de enfermeiros capazes de gerir lares e liderar equi-pas que natildeo sejam exclusivamente constituiacutedas pelos seus pares Enfermeiros que se exponham como diferentes contribuindo com a sua acccedilatildeo para transformaccedilotildees significativas das institui-ccedilotildees sociais e das entidades privadas na aacuterea do envelhecimento

Mas eacute claro que eacute fundamental uma especialida-de para a aacuterea das pessoas idosas Daqui a pou-co tempo satildeo metade da populaccedilatildeo portuguesa e metade da populaccedilatildeo mundial tendo em conta

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2ENTREVISTA

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os paiacuteses mais desenvolvidos

Julgo que deveriacuteamos iniciar um profundo debate sobre a enfermagem e o envelhecimento e que a revista Sinais Vitais poderia ser um dos lugares mais interessantes para fazer este debate nacio-nal e ateacute internacional

Que competecircncias devem ser desenvolvidas pelos en-fermeiros nesta especialidade

Conhecimento sobre novos modelos para abor-dagem do envelhecimento legislaccedilatildeo direitos humanos e envelhecimento diversidade de res-postas e necessidades sociais e de sauacutede do en-velhecimento lideranccedila gestatildeo de equipamen-tos com uma forte componente praacutetica Seria bom analisar-se a Poacutes Graduaccedilatildeo promovida pela associaccedilatildeo amigos da grande Idade da qual sou presidente e que foi feita em parceria com a universidade Fernando Pessoa estando para ser lanccedilada a segunda ediccedilatildeo com a Universidade da Estremadura

Conhecendo como eu sei a realidade portuguesa em termos de respostas sociais dirigidas agrave pessoa idosa elas satildeo suficientes e adequadas

Natildeo as respostas natildeo satildeo suficientes mas acima de tudo satildeo desadequadas Costumo a dizer que se o Marquecircs de Pombal descesse agrave terra ficaria deslumbrado com tanta evoluccedilatildeo mas se entrasse num lar sentir-se-ia no tempo dele

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos novas tipologias De natildeo diferenciarmos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de institucio-nalizaccedilatildeo na europa do norte de cerca de 17 e em Portugal 35

Eacute necessaacuteria uma revoluccedilatildeo e penso que ela esta-raacute para breve Os revolucionaacuterios ao contraacuterio do habitual vatildeo ser os empreendedores capitalistas que iratildeo investir num novo modelo de oferta de cuidados e serviccedilos

Consegues dizer-me quantos Lares haacute em Portugal continental

Existem cerca de 2000 lares em Portugal cerca de 2000 centros de dia e 2500 serviccedilos de apoio domiciliaacuterio Isto legalmente Prevecirc-se que pos-sam existir cerca de 2500 lares ilegais ou clan-destinos no paiacutes

Conhecedor das respostas sociais neste acircmbito enca-rara a tua velhice de forma despreocupada

Natildeo claro que natildeo Primeiro quero nomear o mais rapidamente possiacutevel algueacutem que me repre-sente com autoridade para natildeo ser ldquoapanhadordquo na teia da destituiccedilatildeo de direitos e vontades Natildeo quero que me coloquem um nariz de palhaccedilo e uma peruca quando for o carnaval como se fosse um velho tonto apalhaccedilado

Mas natildeo tenho garantias Se calhar vou mesmo fazer essas figuras pateacuteticas Para grande gaacuteudio dos teacutecnicos

O que mudaria na organizaccedilatildeo desta reposta social se fosse convidado pelo governo a coordenaacute-la

A Associaccedilatildeo a que presido tem vaacuterios documen-tos mas destaco de imediato

ndash mudaria o modelo de financiamento e deixava de distribuir dinheiro a instituiccedilotildees sem avaliar os seus indicadores de qualidade e desempe-nho

ndash criava um novo modelo de oferta que natildeo fosse destinado a pessoas idosas doentes mas ape-nas a pessoas idosas ou seja implementava no-vas tipologias

ndash apostava nos cuidados domiciliaacuterios e nos cen-tros de dia criando uma rede nacional que in-cluiria tambeacutem o centro de sauacutede e os lares

ndash criava um programa para legalizaccedilatildeo de lares clandestinos e ilegais

Poucas medidas mas de grande eficaacutecia Aliaacutes Portugal espera um ministro que queira ficar na histoacuteria

A ENFERMAGEM TEM UM ENDERECcedilO

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NOTIacuteCIAS radic FORMACcedilAtildeO radic CIEcircNCIA radic DISCUSSAtildeO

PARQUE EMPRESARIAL DE EIRAS LOTE 19 EIRAS3020-265 COIMBRAtElEfOnE 239 801 020fax 239 801 029

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RESPOSTA Agrave EUTANAacuteSIA ENQUANTO PRAacuteTICA EacuteTICA

ENTRADA DO ARTIGO OUTUBRO 2010

EDUARDO JOSEacute FERREIRA DOS SANTOSEnfermeiro na Fundaccedilatildeo Aureacutelio Amaro Diniz

RESUMONa praxis cliacutenica o significado da eutanaacutesia acres-ce pela pressatildeo da moralidade puacuteblica e profunda convicccedilatildeo dos que lidam com pessoas particular-mente vulneraacuteveis e para as quais o fenoacutemeno pa-toloacutegico eacute profundamente incapacitante Este artigo corporiza a preocupaccedilatildeo dos que se debatem com este dilema eacutetico sugerindo o en-caminhamento para cuidados paliativos e a adop-ccedilatildeo de uma posiccedilatildeo mais proactiva das escolas de enfermagem e instituiccedilotildeesserviccedilos na formaccedilatildeo e ensino especializado

Palavras-chave Eutanaacutesia fim-de-vida cuidados paliativos eacutetica

ABSTRACTIn clinical practice the meaning of euthanasia is increased by the pressure of public morality and deep conviction of dealing with particularly vul-nerable persons and for which the pathological phenomenon is profoundly disablingThis article presents the concern of those who struggle with this ethical dilemma sug-gesting the orientation to palliative care and the adoption of a more proactive posi-tion by nursing schools and institutionsser-vices in training and specialized education

Keywords Euthanasia life-end palliative care ethics

INTRODUCcedilAtildeOA Eutanaacutesia deriva da junccedilatildeo de duas palavras Eu que significa bom e Thanatos que quer dizer mor-te Semanticamente morte doce morte sem ago-nia ou sem sofrimento fiacutesico Trata-se portanto do processo atraveacutes do qual algueacutem causa deliberada-mente a morte de outra a pedido desta uacuteltima (na expressatildeo de Arroyo e Serrano 1988)Por se associar intrinsecamente ao ldquoacto inten-cional de matarrdquo (Serratildeo 1996 p382) a eutanaacutesia eacute palco de inuacutemeras poleacutemicas posiccedilotildees e origina uma acesa controveacutersia num diaacutelogo nem sempre construtivo em torno do conceito de morte com dignidade O facto eacute que existe uma manifesta falta de informaccedilatildeo objectiva sobre os motivos que podem originar um pedido desta natureza (P13APB08) e como tal a eutanaacutesia impotildee-se como foco de reflexatildeo agrave enfermagem Isto porque sempre que ao enfermeiro se apresente a possibi-lidade de participaccedilatildeo na mesma surge agrave priori o dever de recusa Todavia no domiacutenio da liberda-de do livre arbiacutetrio a eutanaacutesia constitui-se como um dilema eacutetico (Queiroacutes 2001 Archer Biscaia e Osswald 2001 Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005)Eacute sobre a posiccedilatildeo da Enfermagem que nos pre-tendemos debruccedilar sugerindo a filosofia dos cui-dados paliativos como soluccedilatildeo em detrimento da realidade portuguesa

ASPECTOS CONCEPTUAIS A dignidade humana eacute sentida e expressa atraveacutes do corpo como suporte bioloacutegico de existecircncia Nem a pessoa eacute o corpo nem tatildeo pouco proprie-taacuteria do seu corpo Como tal a dignidade huma-na quanto mais agredida eacute tanto mais se impotildee como fronteira inviolaacutevel entre o humano e o natildeo--humano Eacute por esse motivo que hoje a dignidade humana aparece ligada a expressotildees que vatildeo des-de a qualidade de vida ao cuidado agrave cariacutecia agrave compaixatildeo (26CNECV99)Neste sentido o respeito pela dignidade de cada pessoa humana eacute uma exigecircncia eacutetica inscre-vendo na praacutetica diaacuteria dos cuidados de sauacutede o permanente centrar desses mesmos cuidados em cada pessoa (Martins 2010)Por outro lado cresce a noccedilatildeo de que no acircmbito da prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede os utentes de-vem ser livres de recusar determinados tratamen-tos agrave luz do princiacutepio do respeito pela autonomia

individual Assim eacute hoje possiacutevel qualquer doente competente recusar um determinado tratamen-to mesmo que desta forma se abrevie o momento da sua morte Aliaacutes eacute neste mesmo sentido que se questiona se esta capacidade decisoacuteria pode ser exercida prospectivamente nomeadamente quando natildeo for possiacutevel o exerciacutecio da autodeter-minaccedilatildeo individual (E10APB07)Curiosamente eacute neste domiacutenio que surge a euta-naacutesia e manifestamente se materializa pela pres-satildeo exercida pelos utentes nos profissionais de sauacutede ao exigirem respeito pelo seu ldquodireitordquo de morrer Com efeito quando os profissionais de sauacutede se sentem compelidos a agir e por termo ao sofrimento de um utente existe um conflito ine-vitaacutevel entre o dever eacutetico do cuidar protector ndash o dever da beneficecircncia e da natildeo-maleficecircncia ndash e o respeito pela autonomia e do direito de escolha do utente (Thompson Melia e Boyd 2004)Em todo o caso a eutanaacutesia soacute eacute uma opccedilatildeo livre quando se assegurar que se trata de um pedido racional de algueacutem que natildeo se revecirc mais no seu projecto de vida pessoal ou seja que natildeo se tra-ta de um comportamento apelativo por parte de algueacutem que se encontra insatisfeito com as con-diccedilotildees de vida que lhe satildeo proporcionadas (P13APB08)Eacute ainda de referir os resultados do estudo realiza-do por Van Der Wal (1992) apud Pessini e Barchi-fontaine (2005) que descreveu que 56 dos casos dos pedidos de eutanaacutesia se deviam aos utentes verem o seu sofrimento sem sentido e 46 por-que temiam o decliacutenioNo entanto vaacuterias satildeo as causas que precipitam tais pedidos Para muitos doentes a solidatildeo em que se encontram pode implicar que a morte as-sistida seja considerada a soluccedilatildeo final ainda que natildeo desejada para o seu dilema existencial Ou-tras causas residem ainda no sofrimento intenso devido ao sentimento de abandono e de exclusatildeo social e menos frequentemente a dor profunda e insustentaacutevel (P13APB08)Neste ponto pode-se apontar os cuidados pa-liativos como estrateacutegia ideal dado que eacute a mais referida pelos autores (Marques Santos e Santos 2001 Thompson Melia e Boyd 2004 Pessini e Barchifontaine 2005) Assim e com a atenccedilatildeo sin-cera dirigida para o utente que solicita a eutanaacute-sia o estabelecimento de ldquoverdadeirasrdquo relaccedilotildees de ajuda e com o auxiacutelio dos cuidados paliativos o

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sofrimento extremo natildeo permanece sem respos-ta Haacute entatildeo que considerar que indubitavelmente o papel do enfermeiro eacute acompanhar o utente pri-vilegiando a sua qualidade de vida minorando a dor ajudando-o a aceitar e a preparar-se para a morte beneficiando de cuidados paliativos e de acompanhamento psicoloacutegico (Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005) Pretende-se providenciar con-forto e bem-estar ao doente croacutenico (e por maio-ria de razatildeo ao doente terminal) recorrendo a meios proporcionados de tratamento por parte de uma equipa de sauacutede especialmente sensibili-zada nesta mateacuteria (E10APB07)Decerto que um outro desafio reside tambeacutem no dever do Estado implementar uma poliacutetica efecti-va de luta contra a dor nomeadamente atraveacutes da implementaccedilatildeo generalizada do Plano Nacional de Luta Contra a Dor e promover a generalizaccedilatildeo dos cuidados paliativos a niacutevel domiciliaacuterio nos Cen-tros de Sauacutede e cuidados em hospitais oncoloacutegicos e outros estabelecimentos de sauacutede (P13APB08)Em suma o desafio dos cuidados paliativos consti-tui entatildeo o de resgatar da dignidade do ser huma-no na uacuteltima fase da sua vida (Pessini e Barchifon-taine 2005)

PERSPECTIVA EacuteTICO-LEGAL De acordo com a nossa ordem juriacutedica a eutanaacutesia eacute uma praacutetica ilegal e criminalizada (E10APB07) Contudo a lei portuguesa natildeo trata da praacutetica eutanaacutesia mas como o direito agrave vida eacute inviolaacutevel segundo a CRP1 e o CP2 - que se traduz num cor-po de normas juriacutedicas que primam por serem as que regulam o regime de penaspuniccedilotildees quando algum acto destoa daquilo que se considera legal-mente admissiacutevel - por analogia a ldquoeutanaacutesiardquo eacute puniacutevel Esmiuccedilando o jaacute referido CP que manifesta re-levante ponderaccedilatildeo para o tema aqui em apreccedilo evidencia-se o Tiacutetulo I (que trata em especiacutefico do crime contra as pessoas) o qual se subdivide no Capiacutetulo I (Dos crimes contra a vida) que en-globa os artigos 131ordm 133ordm134ordm138ordmNeste acircmbito reza o artigo 131ordm corpo normativo que regula e penaliza o tipo legal de crime res-peitante ao Homiciacutedio (o dito homiciacutedio simples) ndash que ldquoQuem matar outra pessoa eacute punido com pena de prisatildeo de oito a dezasseis anosrdquoJaacute o artigo 133ordm (onde se enquadra o delito cri-

1 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa (Lei Constitucional 12005)

2 Coacutedigo Penal (Decreto Lei 592007)

minal do Homiciacutedio privilegiado) esclarece que ldquoQuem matar outra pessoa por compreensiacutevel emoccedilatildeo violenta compaixatildeo desespero ou moti-vo de relevante valor social ou moral que diminua sensivelmente a sua culpa eacute punido com pena de prisatildeo de 1 a 5 anosrdquoAo dirigirmos o nosso reparo para o Artigo 134ordm que trata o ldquoHomiciacutedio a pedido da viacutetimardquo no seu nordm1 clarifica-se que ldquoQuem matar outra pes-soa por pedido seacuterio instante e expresso que ela lhe tenha feito eacute punido com pena de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo O Artigo 135ordm (Incitamento ou ajuda ao suiciacutedio) no seu nordm 1) refere que ldquo Quem incitar outra pes-soa a suicidar -se ou lhe prestar ajuda para esse fim eacute punido com pena de prisatildeo ateacute trecircs anosrdquo contudo e acautelando a possibilidade do suiciacutedio ou da tentativa prossegue o nordm 2 do mesmo arti-go ditando que ldquoSe a pessoa incitada ou a quem se presta ajuda for menor de 16 anos ou tiver por qualquer motivo a sua capacidade de valoraccedilatildeo ou de determinaccedilatildeo sensivelmente diminuiacuteda o agente eacute punido com pena de prisatildeo de um a cin-co anos Quanto ao Artigo 138deg (Exposiccedilatildeo ou abandono) lecirc-se que ldquoQuem colocar em perigo a vida de ou-tra pessoardquo ndash aliacutenea a)- ldquoExpondo-a em lugar que a sujeite a uma situaccedilatildeo de que ela soacute por si natildeo possa defender-serdquo ou - aliacutenea b) - ldquoAbandonan-do-a sem defesa sempre que ao agente coubes-se dever de a guardar vigiar ou assistir eacute punido com pena de prisatildeo de 2 a 8 anosrdquo Por uacuteltimo eacute tambeacutem de salientar o facto de que a eutanaacutesia tambeacutem contraria os princiacutepios basi-lares que alicerccedilam a profissatildeo conforme dispos-to no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros3 e no REPE4 No enquadramento deontoloacutegico os deve-res do enfermeiro incitam ldquoo respeito do direito da pessoa agrave vida durante todo o ciclo vitalrdquo (Arti-go 82ordm) e a obrigatoriedade do enfermeiro ldquode-fender e promover o direito do doente agrave escolha do local e das pessoas que deseja o acompanhem na fase terminal da vida e respeitar e fazer res-peitar as manifestaccedilotildees de perda expressas pelo doente em fase terminal pela famiacutelia ou pessoas que lhe sejam proacuteximasrdquo (Artigo 87ordm)

3 Decreto Lei nordm 10498 de 21 de Abril de 1998

4 Decreto-Lei Nordm 16196 de 4 de Setembro de 1996

CUIDADOS PALIATIVOS QUE RESPOSTAS Em Portugal os cuidados Paliativos estatildeo a dar os primeiros passos verificando-se a existecircncia de alguma preocupaccedilatildeo relativamente ao utente em fase terminal (Queiroacutes 2001) Todavia assiste--se a um deficit ou mesmo ausecircncia de respostas por parte dos serviccedilos e instituiccedilotildees de sauacutede aos utentes (Sapeta 2003)Num estudo realizado pela APEME (2008) sobre o grau de satisfaccedilatildeo da populaccedilatildeo com os Cuidados Paliativos atraveacutes da aplicaccedilatildeo de um questionaacute-rio por entrevista telefoacutenica a uma amostra de 606 elementos salienta-se que 31 dos inquiri-dos os consideram completamente insuficientes 25 insuficientes 31 suficientes 9 moderada-mente suficientes e 5 completamente suficien-tes Curiosamente quando inquiridos sobre ldquoas principais sugestotildees para melhorias dos cuidados paliativosrdquo 14 apostavam na formaccedilatildeo profis-sional e 8 deseja mais profissionais especializa-dos na aacuterea Eacute ainda de referir o estudo realizado por Sapeta (2003) que afirma que a maioria das escolas de Enfermagem lecciona em mais que um ano lecti-vo e em mais do que uma aacuterea cientiacutefica os temas ldquocuidados paliativosrdquo e ldquodor croacutenicardquo contudo numa abordagem bastante superficial dado ao nuacutemero de horas associado Desta forma e especificamente neste aspecto o Programa Nacional de Cuidados Paliativos (DGS 2004 p 2) considera que eacute imprescindiacutevel ldquouma preparaccedilatildeo soacutelida e diferenciada que deve envol-ver quer a formaccedilatildeo preacute-graduada quer a forma-ccedilatildeo poacutes-graduada dos profissionais que satildeo cha-mados agrave praacutetica deste tipo de cuidadosrdquo

CONCLUSAtildeONa actualidade a questatildeo da eutanaacutesia suplanta expectativasduacutevidas natildeo soacute na populaccedilatildeo mas tambeacutem nas camadas profissionais de sauacutede no-meadamente os enfermeiros Concomitantemen-te vaacuterias fracccedilotildees sociais manifestam interesse ou reprovaccedilatildeo pela sua praacutetica Ora eacute defendida por uns eou reprovada por outrosEacute importante destacar que a percepccedilatildeo e livre ar-biacutetrio que o enfermeiro possui norteia a sua praacute-tica profissional e consequentemente influencia algumas tomadas de decisatildeo Notabiliza-se con-tudo a vinculaccedilatildeo do exerciacutecio da profissatildeo a um

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conjunto de regras e aspectos legais e eacutetico-de-ontoloacutegicos que se identificam como orientaccedilotildees para julgar a acccedilatildeo profissional constituindo por fim a obrigatoriedade do enfermeiro se reger pe-las mesmas Eacute neste contexto que nos surgiu a proposta da reflexatildeo sobre possiacuteveis ldquosoluccedilotildeesrespostasrdquo que se esbarraram com a filosofia dos cuidados paliativos que na maioria dos autores referidos se apresentam como a melhor resposta nacional face agraves actuais disposiccedilotildees legais Em epiacutelogo procurou-se evidenciar e incentivar a necessidadeobrigatoriedade de formaccedilatildeo na aacuterea salientando natildeo soacute a importacircncia da tomada de decisatildeo dos serviccedilosinstituiccedilotildees mas predo-minantemente das escolas de Enfermagem

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ENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2010

RESUMONum momento em que o modelo de emergecircncia preacute-hospitalar em Portugal eacute discutido torna-se necessaacuterio reflectir acerca das competecircncias e da importacircncia dos profissionais nela incluiacutedos entre os quais os enfermeiros que natildeo tecircm suscitado consenso Se por um lado existe evidecircncia cientiacutefica que reafirma a importacircncia do enfermeiro neste contexto existem correntes de pensamento que argumentam o inverso objectivando este artigo responder agrave questatildeo ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro em emergecircncia preacute-hospitalarrdquo

Palavras-Chave Enfermagem Emergecircncia preacute--hospitalar

ABSTRACTIn a moment that the pre hospital emergency system is discussed arises the needing to reflect about the competence and importance that the included professionals have to work in this field including the nurses that donacutet have evoke consensus If on one hand exists scientific evidence that reaffirms the importance of the nurseacutes presence in that field there exists currents of thought that argue the inverse So this article objectify answer to the question ldquoExist or not competence for the nursersquos professional exercise in the pre hospital care fieldrdquo

Keywords Nursing Pre hospital emergency

ANDREacute FILIPE RICARDO CORREIAHospital de Faro EPE ndash Unidade de Cuidados Intensivos

INTRODUCcedilAtildeO

Num momento em que a posiccedilatildeo do enfermeiro nas equipas de emergecircncia preacute-hospitalar eacute am-plamente discutida justifica-se a necessidade de reflectir acerca das suas competecircncias para o exerciacutecio nesta aacuterea assim como o seu papel na garantia da seguranccedila e qualidade dos cuidados de sauacutede prestados neste contexto

A presenccedila dos enfermeiros na emergecircncia preacute--hospitalar em Portugal remonta haacute cerca de 20 anos exercendo estes funccedilotildees nas mais variadas aacutereas desde o transporte de receacutem-nascidos Viaturas Meacutedicas de Emergecircncia e Reanimaccedilatildeo (VMER) heli-transporte de doentes criacuteticos e em cataacutestrofe [Ordem dos Enfermeiros (OE) 2008]

Numa constante e progressiva consolidaccedilatildeo do Sistema Integrado de Emergecircncia Meacutedica (SIEM) a que se tem assistido o papel do enfermeiro tem sido reforccedilado nomeadamente com a recente criaccedilatildeo das ambulacircncias de Suporte Imediato de

Vida (SIV) e da figura do enfermeiro responsaacute-vel pelo acompanhamento dos meios no terreno no Centro de Orientaccedilatildeo de Doentes Urgentes (CODU) representando conjuntamente com os preacute-existentes VMER e helicoacutepteros de Emergecircn-cia meacutedica os meios operacionais atraveacutes dos quais os enfermeiros intervecircm actualmente na prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar em equipa com meacutedicos psicoacutelogos tripu-lantes de ambulacircncia de socorro (TAS) tripulan-tes de ambulacircncia de emergecircncia (TAE) e teacutecnicos de operaccedilotildees e telecomunicaccedilotildees de emergecircncia (TOTE) (OE 2008)

Contudo as competecircncias do enfermeiro para a prestaccedilatildeo de cuidados neste contexto assim como a necessidade da sua intervenccedilatildeo parecem natildeo reunir consensualidade sendo suscitadas cor-rentes de pensamento que se opotildeem agrave sua activi-dade e presenccedila neste acircmbito de cuidados Ape-sar inicial ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro no contexto

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de cuidados preacute-hospitalarrdquo

De facto compreendo que se natildeo nos ocupar-mos desta problemaacutetica corremos o seacuterio risco de uma vez mais vermos diminuiacutedas as nossas aacutereas de intervenccedilatildeo o que indubitavelmente re-presenta uma perda para a profissatildeo e em uacutelti-ma instacircncia para a comunidade alvo dos nossos cuidados pelo consequente impacto na qualidade desses cuidados

Assim a este propoacutesito entendemos que o en-fermeiro possui competecircncias que o habilitam agrave prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia no contex-to preacute-hospitalar constituindo a sua presenccedila nas equipas preacute-hospitalares uma inegaacutevel mais-valia

suportada em todo um corpo de conhecimentos teacutecnico - cientiacuteficos que resultam em claros bene-fiacutecios para as pessoas assistidas Tal como a evi-decircncia cientiacutefica (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) afirma os conhecimentos base e competecircncias em ciecircncias como anatomia fisiopatologia e farmacologia a complementari-dade das ciecircncias sociais e humanas produccedilatildeo cientiacutefica e praacutetica baseada na evidecircncia o espiacuteri-to criacutetico - reflexivo e os elevados conhecimentos da realidade intra-hospitalar satildeo caracteriacutesticas dos enfermeiros que acrescem saberes e compe-tecircncias adicionais ao acircmbito da emergecircncia preacute--hospitalar permitindo a sua presenccedila ldquohellipperform and document a high quality and holistic assess-

ment including bio-psycho-social needs and not merely physical needshelliprdquo (Melby amp Ryan 2005 p1147) A este respeito ainda Palma Rodriacuteguez Azanoacuten e Rodriguez (2005) satildeo contundentes ao concluiacuterem que a presenccedila dos enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar eacute imprescindiacutevel natildeo soacute por possuiacuterem a qualificaccedilatildeo necessaacuteria para co-laborar e actuar na prestaccedilatildeo de cuidados a pes-soas em situaccedilotildees de urgecircnciaemergecircncia como tambeacutem pela diferenciaccedilatildeo na prestaccedilatildeo dos mesmos o que possibilita indubitaacuteveis benefiacutecios para o doente mediante a melhoria de conheci-mentos respostas colaboraccedilatildeo e adaptaccedilatildeo do mesmo agrave sua situaccedilatildeo de alteraccedilatildeo no continuum sauacutede-doenccedila

Poreacutem contrariamente agrave evidecircncia cientiacutefica que aponta os benefiacutecios da participaccedilatildeo do enfer-meiro no contexto de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar as correntes divergentes indicam determinados aspectos como limitadores ou mesmo inviabilizadores desta presenccedila que vatildeo desde a inadequaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo ateacute haacute ine-xistecircncia de legitimidade eacutetico-deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados de forma autoacutenoma envolvendo duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais

Neste sentido o Sindicato dos Teacutecnicos de Am-bulacircncia de Emergecircncia (STAE) (2010) refere que a niacutevel internacional os serviccedilos de emergecircncia meacutedica demonstram que as soluccedilotildees para os re-cursos humanos nesta aacuterea devem incidir na for-maccedilatildeo de profissionais unicamente direccionados para o desempenho de cuidados de emergecircncia em ambiente preacute-hospitalar (comummente deno-minados como ldquoparameacutedicosrdquo) com autorizaccedilatildeo para executar determinados procedimentos meacutedi-cos invasivos sob direcccedilatildeo meacutedica e certificaccedilatildeo acrescentando ainda que natildeo existem vantagens em termos de eficiecircncia ou qualidade dos cui-dados prestados com a inclusatildeo de enfermeiros neste acircmbito de cuidados Poreacutem Suserud e Hal-jamaumle (1997 1999) aos quais acrescemos a nossa aprovaccedilatildeo opotildeem-se a esta posiccedilatildeo salientando inversamente a tendecircncia internacional a que se assiste no sentido de um aumento do nuacutemero de enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar Como estes referem os modelos que preconizaram a existecircncia do tipo de soluccedilatildeo para os recursos hu-manos sugerido pelo STAE (2010) basearam-se na

inexistecircncia de meacutedicos e enfermeiros suficientes para suprir simultaneamente as necessidades intra e preacute-hospitalares pelo que por uma ques-tatildeo de racionalizaccedilatildeo de meios humanos optaram pela sua retenccedilatildeo no acircmbito intra-hospitalar em detrimento do preacute-hospitalar

Com o debate em torno da importacircncia de um elevado niacutevel de competecircncias para aumentar a qualidade dos cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar foram suscitadas por parte de vaacuterios paiacute-ses alteraccedilotildees na forma de encarar os recursos humanos necessaacuterios para a prossecuccedilatildeo deste objectivo Como tal a Noruega a Sueacutecia ou a Ho-landa satildeo exemplos de paiacuteses que apesar de ini-cialmente suportados em modelos de emergecircncia meacutedica que pressupunham a existecircncia de profis-sionais de emergecircncia meacutedica como os referidos pelo STAE (2010) alteraram o seu modo de fun-cionamento incluindo os enfermeiros nas equipas de emergecircncia preacute hospitalar salientando ldquohellipthe importance of having equally competence emer-gency personel working in the pre-hospital area and in hospital that is professionals doing the same type of work should have similar competen-ce levels and practical trainingrdquo (Suserud amp Hal-jamaumle 1997 p145) Na verdade a emergecircncia meacute-dica preacute-hospitalar eacute uma componente da Emer-gecircncia Meacutedica a qual abrange um largo espectro

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intervenccedilatildeo desde os cuidados intensivos ateacute agrave prestaccedilatildeo de cuidados em serviccedilos de urgecircncia passando pelo transporte inter-hospitalar de do-entes urgentes todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros tecircm uma participaccedilatildeo essencial e competecircncias reconhecidas [Suserud 2005 Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Nor-te (ARSN) 2009] Partilhando estas actividades toda uma seacuterie de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e compe-tecircncias comuns torna-se clara a importacircncia da presenccedila do enfermeiro de um modo transversal em todas elas permitindo uma boa articulaccedilatildeo e continuidade fundamentais para toda a cadeia de cuidados realccedilando a evidecircncia cientiacutefica pro-duzida nos paiacuteses que adoptaram este modelo de emergecircncia preacute-hospitalar que ldquohellipthe increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by ra-sing the competence level of the team as a who-lerdquo (Suserud amp Haljamaumle 1997 p145)

Outra das objecccedilotildees apontada refere-se agrave neces-sidade de formaccedilatildeo especiacutefica para a prestaccedilatildeo de cuidados em emergecircncia preacute-hospitalar sendo referido que o ldquoenfermeiro carece sempre de for-maccedilatildeo especializada para a intervenccedilatildeo preacute-hos-pitalar que natildeo seja conjunta com o meacutedico hellipsob pena de estar em causa a seguranccedila e a qualidade dos cuidados prestadosrdquo (STAE 2010 p5)

De facto aceitamos a menccedilatildeo de que eacute necessaacute-ria formaccedilatildeo acrescida agrave formaccedilatildeo base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) Poreacutem esta eacute claramente uma preposiccedilatildeo inviaacutevel no sentido de reiterar a inexistecircncia de competecircn-cias de enfermagem em emergecircncia preacute-hospita-lar Natildeo podemos esquecer que a licenciatura natildeo concede por si soacute uma especializaccedilatildeo da praacutetica profissional pois apenas confere uma base de co-nhecimentos e competecircncias no acircmbito da enfer-magem de cuidados gerais encaminhando poste-riormente o enfermeiro a sua praacutetica profissional num determinado sentido obviamente suportada pela formaccedilatildeo adicional que essa aacuterea exija To-davia a existecircncia de um corpo soacutelido de conhe-cimentos base adquirido no CLE vai favorecer a posterior aquisiccedilatildeo de conhecimentos e compe-tecircncias suportando e solidificando a prestaccedilatildeo de cuidados na aacuterea especiacutefica em causa

Por outro lado decorrente de vaacuterios factores como a gravidade e complexidade das situaccedilotildees cliacutenicas a imprevisibilidade de ocorrecircncias e a prestaccedilatildeo de cuidados em ambiente extra-hospi-talar com elevada exposiccedilatildeo social e reduzido nuacute-mero de intervenientes no processo de decisatildeo o exerciacutecio profissional neste contexto eacute reconheci-damente especiacutefico e complexo o que exige uma preparaccedilatildeo singular e contiacutenua dos profissionais envolvidos (Tomaacutes 2009 OE 2010)

Face a isto na realidade portuguesa todos os en-fermeiros que prestam cuidados nas VMER SIV helicoacutepteros de emergecircncia meacutedica e CODU tecircm formaccedilatildeo que os habilita agrave sua actividade con-ferindo as competecircncias teoacuterico - praacuteticas consi-deradas essenciais pelas entidades competentes ao que se acrescem as poacutes-graduaccedilotildees e mes-trados que tecircm surgido nas aacutereas de urgecircnciaemergecircncia encaradas como uma mais-valia na qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais (Vieira Oliveira amp Ressurreiccedilatildeo 2005 Tomaacutes 2009) A li-teratura (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) por sua vez sugere a existecircncia de um consenso relativamente ao facto dos enfer-meiros com experiecircncia de anestesia unidade de cuidados intensivos e serviccedilo de urgecircncia serem os mais habilitados para a prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar decorrente da for-maccedilatildeo que possuem e da constante interacccedilatildeo com situaccedilotildees cliacutenicas criacuteticas que lhes permite uma manutenccedilatildeo das competecircncias que de ou-tro modo poderiam decrescer face a periacuteodos de menor operacionalidade decorrente da inexis-tecircncia de situaccedilotildees criacuteticas na aacuterea de influecircncia dos meios de socorro Desta forma poderaacute residir neste aspecto um dos deacutefices do modelo portu-guecircs em que os enfermeiros dos meios SIV ape-nas prestam cuidados no contexto preacute-hospitalar em exclusividade Todavia na VMER esta questatildeo natildeo se coloca uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua activi-dade profissional tambeacutem em contexto intra-hos-pitalar preferencialmente nos serviccedilos supraci-tados sendo esta uma das condiccedilotildees de ingresso previamente definida o que potencia o processo de retro-alimentaccedilatildeo de experiecircncia e conheci-mento com consequente mais-valia para as duas aacutereas (Suserud 2005 OE 2010)

Eacute tambeacutem no capiacutetulo da legitimidade eacutetico--deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados que satildeo colocadas duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais do enfermeiro ldquohellipque natildeo seja conjunta com o meacutedi-cohelliprdquo (STAE 2010 p5) pois o caraacutecter de inter-venccedilatildeo em situaccedilotildees criacuteticas contempla que natildeo raras vezes se torne necessaacuterio aplicar determi-nadas intervenccedilotildees e procedimentos considera-dos life saving como entubaccedilatildeo endo-traqueal desfibrilhaccedilatildeo prescriccedilatildeo e administraccedilatildeo de faacuter-macos ou lideranccedila em situaccedilotildees de emergecircncia comummente reconhecidas como do acircmbito de intervenccedilatildeo meacutedica colocando-se questotildees como ldquoqual a fronteira em termos de intervenccedilotildees meacute-dicas e de enfermagemrdquo ou ldquopode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenccedilotildees e proce-dimentos life savingrdquo (Vieira Oliveira amp Ressur-reiccedilatildeo 2005)

Poreacutem o decreto-lei nordm 16176 de 4 de Setembro enquanto Regulamento do Exerciacutecio Profissional dos Enfermeiros (REPE) permite que estas duacutevidas possam ser esclarecidas dissipadas e devidamente documentadas em articulaccedilatildeo com os demais do-cumentos descritores e reguladores da profissatildeo

Definidos os cuidados de enfermagem como ldquoas intervenccedilotildees autoacutenomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no acircmbito das suas qua-lificaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 1 artigo 4ordm do decreto-lei nordm 16176) as intervenccedilotildees autoacutenomas referem-se agraves ldquoacccedilotildees realizadas pelos enfermei-ros sob sua uacutenica e exclusiva iniciativa e respon-sabilidade de acordo com as respectivas quali-ficaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 2 art 9ordm do de-creto-lei nordm 16176) enquanto as interdependen-tes satildeo respeitantes agraves intervenccedilotildees realizadas ldquopelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificaccedilotildees profissionais em conjunto com ou-tros teacutecnicos para atingir um objectivo comum decorrentes de planos de acccedilatildeo previamente de-finidos pelas equipas multidisciplinares em que estatildeo integrados e das prescriccedilotildees ou orientaccedilotildees previamente formalizadasrdquo (nuacutemero 3 artigo 9ordm do decreto-lei nordm 16176) Continuando a anaacutelise o nuacutemero 4 art 9ordm do mesmo diploma refere que os enfermeiros ldquoprocedem agrave administraccedilatildeo de te-rapecircutica prescrita detectando os seus efeitos e actuando em conformidade devendo em situaccedilatildeo de emergecircncia agir de acordo com a qualificaccedilatildeo e os conhecimentos que detecircm tendo como fina-lidade a manutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

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VIEIRA Pedro OLIVEIRA Luiacutes RESSURREICcedilAtildeO Serafim ndash O enfer-meiro perante a emergecircncia preacute-hospitalar Sinais Vitais 61 (2005) 32-35

JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

30 31

Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

32 33

doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 5: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

ENTREVISTA

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ACTUALIDADES

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AS NOZES OCUPAM A POSICcedilAtildeO SUPERIOR DOS ANTIOXIDANTES PARA UM CORACcedilAtildeO SAUDAacuteVEL

Um novo estudo cientiacutefico coloca as nozes na melhor posiccedilatildeo entre a famiacutelia de alimentos que os leigos reivindicam estarem entre os alimentos perfeitos que a Matildee Natureza produz Os cientis-tas apresentaram uma anaacutelise que mostra que as nozes tecircm a combinaccedilatildeo de antioxidantes mais saudaacutevel e de melhor qualidade do que qualquer outro fruto seco

As Nozes classificam-se acima dos amen-doins amecircndoas pistachos e outros frutos secos Um punhado de nozes conteacutem antioxi-dantes quase duas vezes mais que uma quan-tidade equivalente de qualquer outro fruto seco habitualmente consumidos Este estu-do sugere que os consumidores devem co-mer nozes como parte de uma dieta saudaacutevel O investigador responsaacutevel refere que as no-zes em geral tecircm uma combinaccedilatildeo incomum de benefiacutecios nutricionais - aleacutem dos antio-xidantes ndash e vecircm embrulhadas num pacote

conveniente e barato As Nozes contecircm muita proteiacutena de alta qualidade que pode substi-tuir a carne vitaminas e minerais fibra ali-mentar e satildeo laacutecteos e sem gluacuteten Anos de pesquisa por cientistas de todo o mundo li-garam o consumo regular de pequenas quan-tidades de nozes ou manteiga de amendoim com a diminuiccedilatildeo do risco de doenccedilas do co-raccedilatildeo certos tipos de cancro caacutelculos biliares diabetes tipo 2 e outros problemas de sauacutede Os antioxidantes presentes nas nozes satildeo 2-15 vezes mais potentes que a vitamina E conheci-da pelos seus efeitos antioxidantes poderosos que protegem o corpo contra os danos quiacutemi-cos naturais envolvidos na causa da doenccedila Uma outra vantagem em escolher as nozes como fonte de antioxidantes estaacute no fato de o calor reduzir a qualidade dos antioxidantes ora as pessoas geralmente comem as nozes cruas ou o que permite obter a plena eficaacutecia dos an-tioxidantes

As nozes contecircm ainda gorduras polinsaturadas saudaacuteveis e monoinsaturada em vez de gordura saturada que eacute prejudicial Quanto agraves calorias co-mer nozes parece natildeo causar ganho de peso e ateacute mesmo pode fazer com que as pessoas tenham uma maior sensaccedilatildeo de plenitude e satisfaccedilatildeo tornando-as menos propensos a comer demais Num estudo dos EUA de 2009 o consumo de no-zes foi associado com um risco significativamente menor de ganho de peso e obesidade

ENTREVISTA COM OENFordm RUI FONTES

A PROPOacuteSITO DA COORDENACcedilAtildeO DO LARES DE IDOSOS DO SAMS EM AZEITAtildeO E DA OFERTA SOCIAL NESTE SECTOR

Entrevista da responsabilidade de Carlos Margato

Tem cinquenta e um anos e apresenta-se como enfermeiro que partiu cedo para um percurso na aacuterea da gestatildeo Considera-a a mais adequada agrave sua personalidade

sempre gostei de liderar e desde muito cedo tive a possibilidade de o fazer Por exemplo capitatildeo de equipa no futebol presidente de associaccedilatildeo de estudantes dirigente desportivo na colectividade da terra empreendedor em iniciativas e eventos culturais e desportivos

Refere nunca ter sofrido daquela falsa modeacutestia portuguesa de que natildeo gostamos de chefiar de liderar e de gerir

Dedicou os uacuteltimos quinze anos a desenvolver competecircncias na aacuterea de gestatildeo Destaca como relevante o Curso de Lideranccedila para a Mudanccedila promovido pela Ordem dos Enfermeiros e pelo ICN que muito alterou a minha vida profissional dirigindo-a decisivamente para a aacuterea da gestatildeo

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Ser enfermeiro e coordenar um Lar de Idosos a tem-po inteiro natildeo eacute frequente em Portugal Que razotildeesmotivaccedilotildees estatildeo subjacentes a essa decisatildeo

Ser enfermeiro e outra coisa qualquer natildeo eacute co-mum em Portugal infelizmente Na verdade os enfermeiros tecircm ficado virados para si proacute-prios natildeo desempenhando outras funccedilotildees ou ocupando outros lugares que natildeo sejam dentro da proacutepria aacuterea teacutecnico-cientiacutefica Quantos en-fermeiros na funccedilatildeo de deputado desde o 25 de Abril Quantos de noacutes exercemos funccedilotildees rele-vantes nas autarquias Em empresas Mesmo nas associaccedilotildees que natildeo sejam especificamente de enfermagem Natildeo seraacute esta a razatildeo da pouca relevacircncia que a profissatildeo continua a ter e do pouco valor social da mesma

Quando fui para coordenador (director teacutecni-co) do lar de idosos sofri o peso da ignoracircncia de muitos teacutecnicos sociais em relaccedilatildeo agrave lei e o peso do estigma que a aacuterea social era destino ex-clusivo do serviccedilo social Natildeo foi faacutecil a minha aceitaccedilatildeo Utilizaram-se vaacuterios estrateacutegias para colocar em causa a qualidade de um enfermeiro como director teacutecnico Cedo percebi que era dos melhores e ateacute fui levado a pensar que a gestatildeo de lares deveria ser entregue a enfermeiros pelo seu conhecimento global da aacuterea da sauacutede e da aacuterea social Mas hoje reconheccedilo que o exerciacutecio de funccedilotildees de gestatildeo natildeo tem a ver com a base de formaccedilatildeo profissional que se tem Pode ser--se bom director teacutecnico sendo enfermeiro as-sistente social psicoacutelogo ou com outra profissatildeo qualquer Conveacutem eacute que saiba liderar tenha co-nhecimentos profundos na aacuterea social e na aacuterea de sauacutede O ideal eacute a construccedilatildeo de um profissio-nal hiacutebrido entre o social e a sauacutede

Haacute quantos anos desempenhas as funccedilotildees de coorde-nador do Lar de Idosos do SAMS em Azeitatildeo

Fiz recentemente dez anos como coordenador do lar de idosos coincidindo mais ou menos com os vinte e cinco de enfermagem

Na grande maioria dos Lares os coordenadores satildeo assistentes sociais Identificas razotildees suficientes para afirmar que essa funccedilatildeo deveria ser desempe-nhada por enfermeiros

Jaacute respondi mais ou menos a essa questatildeo Os en-fermeiros trazem ao Lar de Idosos uma mais-valia interessante e hoje com os conhecimentos que tem podem de facto responder agraves necessidades na aacuterea social que surgem num lar conseguindo tambeacutem assegurar os cuidados de sauacutede e fazer a sua gestatildeo O grande drama do serviccedilo social eacute que os lares satildeo em geral autenticas unidades de pessoas idosas doentes para as quais a sauacutede eacute fundamental e o serviccedilo social natildeo tem qualquer preparaccedilatildeo para responder a essa necessidade Assim a enfermagem tem aqui um lugar de gran-de importacircncia A questatildeo eacute que os enfermeiros ao longo de todos estes anos viram nos lares a acumulaccedilatildeo de umas horas onde poderiam ga-nhar ldquouns trocosrdquo sem qualquer responsabilidade Essa imagem faz ainda hoje com que se olhe para o enfermeiro do lar como aquele que natildeo tem lu-gar em mais lado algum

O grande drama do serviccedilo social eacute que os lares satildeo em geral autenticas unidades de pessoas idosas doentes para as quais a sauacutede eacute fundamental e o serviccedilo social natildeo tem qualquer preparaccedilatildeo para responder a essa necessidade Assim a enfermagem tem aqui um lugar de grande importacircncia

Fala-me um pouco do Lar que coordenas nuacutemero de residentes de assistentes operacionais de cozinhei-ros condutores entre outroshellip

O lar de idosos do SBSISAMS eacute a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do enve-lhecimento em Portugal e aquela que poderaacute ter a vaidade de dizer que seraacute a melhor do paiacutes Eacute costume incomodar e provocar as pessoas com esta ideia que eacute consequecircncia de trabalhar num lar muito especial uma equipa de colaboradores apaixonados por aquilo que fazem que discute em qualquer lugar as questotildees do envelhecimen-to que sabe o que eacute funcionalidade utilidade e

felicidade no processo de envelhecimento que tem formaccedilatildeo ul-trapassando as horas obrigatoacuterias anuais e cuja auto-estima eacute muito elevada instala-ccedilotildees muito interessan-tes e de elevado niacutevel uma organizaccedilatildeo de trabalho iacutempar com utilizaccedilatildeo do meacutetodo responsaacutevel com to-dos os residentes com enfermeiro fisiotera-peuta e auxiliares de referecircncia com um modelo de comunica-ccedilatildeo original assente na evidecircncia cientiacutefica e nos mais inovadores processos de gestatildeo

Mas tudo isto podia ser dito e teria pouco valor se natildeo soubeacutessemos quantos residentes caiacuteram nos uacuteltimos dez anos que evoluccedilatildeo teve o nuacutemero de quedas quais satildeo os valores da escala de Katz da escala de Morse da escala de equiliacutebrio e da mini--mental qual o valor meacutedio da percepccedilatildeo da dor quantas escaras existiram em dez anos quantas conseguimos tratar e como quantas pessoas re-correm por ano agraves urgecircncias hospitalares e quan-tos dias de internamento hospitalar tem os re-sidentes por ano quantos recursos satildeo feitos ao exterior qual o grau de satisfaccedilatildeo de residentes colaboradores familiares parceiros internos e par-ceiros externos quantas pessoas foram algaliadas no ano e quantos antibioacuteticos foram prescritos

Jaacute seria um lar bom com todos estes indicadores mas eacute ainda melhor porque no iniacutecio do ano defi-nimos os nossos objectivos avaliamo-los durante o ano e atingimos grande parte deles Eacute um lar di-ferente porque natildeo trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e natildeo resolvemos situaccedilotildees de residentes problemaacuteticos com comprimidos para dormir Eacute um lar bom porque contrariamos todas as prescriccedilotildees que disfuncionalizam residentes debatendo com os prescritores essas situaccedilotildees Eacute um Lar muito bom porque preferimos que os

nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirotildees

Somos diferentes mas soacute vendo

O lar de idosos do SBSISAMS eacute a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do envelhecimento em Portugal Eacute um lar diferente porque natildeo trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e natildeo resolvemos situaccedilotildees de residentes problemaacuteticos com comprimidos para dormir Eacute um lar bom porquecirc contrariamos todas as prescriccedilotildees que disfuncionalizam residentes debatendo com os prescritores essas situaccedilotildees Preferimos que os nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirotildees

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A portaria 672012 evolui no conceito de ldquoLar de Idososrdquo para ldquoestrutura residencial para pessoas idosasrdquo e defini-o como o estabelecimento para alo-jamento colectivo de utilizaccedilatildeo temporaacuteria ou per-manente em que satildeo desenvolvidas actividades de apoio social e prestados cuidados de enfermagem

Como sabes na maioria destas estruturas haacute um enfermeiro ldquoumas horas por dia ou por semanardquo Consideras essa uma ldquoboa respostardquo de cuidados de enfermagem

Claro que natildeo posso dizer nunca que isso eacute uma boa resposta mas devemos tambeacutem ter em aten-ccedilatildeo que natildeo existem recursos financeiros para termos um enfermeiro num lar de idosos perma-nentemente Contudo parece que esta situaccedilatildeo eacute um equiacutevoco e esta questatildeo pode natildeo fazer senti-do no futuro proacuteximo

O que precisamos eacute de determinar tipologias para os cuidados e serviccedilos a pessoas idosas Num lar em que soacute existam pessoas idosas independentes um enfermeiro eacute suficiente bem como a sua acti-vidade de prevenccedilatildeo ensino e educaccedilatildeo Jaacute numa tipologia com residentes fortemente doentes te-mos que ter um enfermeiro a tempo inteiro mas estas unidades jaacute existem e chamam-se cuidados continuados pelo que os lares satildeo respostas para pessoas sem cuidados de sauacutede permanentes

A nova portaria veio estigmatizar ainda mais a pessoa idosa Estaacute errada

Um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A comparticipaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo de indicadores e assim teriacuteamos comparticipaccedilatildeo que assegurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos

Fala-me da tua experiecircncia neste acircmbito

No nosso lar fizemos aquilo que todos podem fa-zer mas que parece natildeo terem vontade dividimos a estrutura em duas zonas distintas Uma estaacute destinada a pessoas idosas independentes sem necessidade de cuidados de sauacutede e de higiene

e conforto Pessoas que soacute precisam de se sentir seguras e ter apoio para desenvolverem novos projectos de vida Nesta aacuterea o enfermeiro tem necessidade apenas de fazer formaccedilatildeo prevenir ensinar e educar para a sauacutede e para um envelhe-cimento mais feliz e mais saudaacutevel

Numa outra aacuterea temos as pessoas dependentes muitas delas fortemente dependes com enfer-magem 24 horas por dia fisioterapeutas auxi-liares com cargas de trabalho muito confortaacuteveis e coacutemodas Nesta aacuterea recebemos tambeacutem do-entes para recuperaccedilatildeo global cujo rendimento financeiro eacute maior e muito significativo assegu-rando sustentabilidade de todos os recursos hu-manos

Eacute o modelo que devia ter sido adoptado para os cuidados continuados mas alguns preferiram ca-minhar pela estrada do grande empreendedoris-mo da construccedilatildeo civil e do cimento Natildeo havia auto-estradas para fazerhellip

Mas entatildeo haacute ldquomais valiasrdquo em ter enfermeiro 24 horas

Numa unidade capaz de responder aacute recupera-ccedilatildeo global aacute recuperaccedilatildeo de situaccedilotildees de doenccedila pontuais poacutes cirurgias etc

Numa unidade que consiga especializar-se em determinadas especificidades e que possa pelo rendimento financeiro assegurar os enfermeiros e os outros teacutecnicos Natildeo podemos continuar a fazer redes ao lado da rede hospitalar exigir teacutec-nicos de sauacutede e natildeo procurar saber como se sus-tentam esses projectos

Quero esclarecer que nada disto confronta o mo-delo de estado social ou faz com que natildeo defenda um estado que trate e cuide dos mais fragilizados em igualdade de circunstacircncias com toda a popu-laccedilatildeo Natildeo gosto eacute de contribuir para um estado que natildeo eacute social mas que eacute um estado das insti-tuiccedilotildees sociais

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos no-

vas tipologias De natildeo diferenciar-mos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de instituciona-lizaccedilatildeo na europa do norte de cer-ca de 17 e em Portugal 35

Por isso os indicadores atraacutes referidos demons-tram essa ldquomais-valiardquo

Todos os indicadores atraacutes referenciados satildeo melhorados com a introduccedilatildeo de enfermeiros mas mantenho a ideia inicial numa resposta em que se encontrem pessoas doentes e natildeo neces-sariamente num lar que pretende que as pessoas sejam felizes e saudaacuteveis Na aacuterea das pessoas dependentes o enfermeiro mede o seu desempe-nho por muitos indicadores ulceras de pressatildeo recursos a urgecircncias e dias de internamento quedas nuacutemero de medicamentos percepccedilatildeo da dor antibioacuteticos consumidos

Se introduzires um enfermeiro num lar e medi-res estes indicadores concluis que todos baixam num tempo muito reduzido

Eacute isto que o Estado natildeo quer perceber mas que as Institui-ccedilotildees ditas socias tam-beacutem natildeo aceitam um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A com-participaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo destes indicadores e assim teriacuteamos com-participaccedilatildeo que as-segurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos Mas isso provavelmente acaba-ria com os velhos do-entes desgraccedilados e infelizes e as Institui-

ccedilotildees ficavam cada vez com menos clientes por-que vivem exclusivamente do assistencialismo e da caridade

O Regulamento da Individualizaccedilatildeo das Especia-lidades Cliacutenicas de Enfermagem (Regulamento nordm 1682011 publicado em Diaacuterio da Repuacuteblica 2ordf seacuterie mdash Nordm 47 mdash 8 de Marccedilo de 2011) prevecirc a criaccedilatildeo de uma especialidade designada de SAUacuteDE DO IDOSO

Da tua experiecircncia com pessoas idosas consideras esta uma especialidade necessaacuteria

Temos muito que discutir Primeiro precisamos de enfermeiros capazes de gerir lares e liderar equi-pas que natildeo sejam exclusivamente constituiacutedas pelos seus pares Enfermeiros que se exponham como diferentes contribuindo com a sua acccedilatildeo para transformaccedilotildees significativas das institui-ccedilotildees sociais e das entidades privadas na aacuterea do envelhecimento

Mas eacute claro que eacute fundamental uma especialida-de para a aacuterea das pessoas idosas Daqui a pou-co tempo satildeo metade da populaccedilatildeo portuguesa e metade da populaccedilatildeo mundial tendo em conta

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os paiacuteses mais desenvolvidos

Julgo que deveriacuteamos iniciar um profundo debate sobre a enfermagem e o envelhecimento e que a revista Sinais Vitais poderia ser um dos lugares mais interessantes para fazer este debate nacio-nal e ateacute internacional

Que competecircncias devem ser desenvolvidas pelos en-fermeiros nesta especialidade

Conhecimento sobre novos modelos para abor-dagem do envelhecimento legislaccedilatildeo direitos humanos e envelhecimento diversidade de res-postas e necessidades sociais e de sauacutede do en-velhecimento lideranccedila gestatildeo de equipamen-tos com uma forte componente praacutetica Seria bom analisar-se a Poacutes Graduaccedilatildeo promovida pela associaccedilatildeo amigos da grande Idade da qual sou presidente e que foi feita em parceria com a universidade Fernando Pessoa estando para ser lanccedilada a segunda ediccedilatildeo com a Universidade da Estremadura

Conhecendo como eu sei a realidade portuguesa em termos de respostas sociais dirigidas agrave pessoa idosa elas satildeo suficientes e adequadas

Natildeo as respostas natildeo satildeo suficientes mas acima de tudo satildeo desadequadas Costumo a dizer que se o Marquecircs de Pombal descesse agrave terra ficaria deslumbrado com tanta evoluccedilatildeo mas se entrasse num lar sentir-se-ia no tempo dele

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos novas tipologias De natildeo diferenciarmos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de institucio-nalizaccedilatildeo na europa do norte de cerca de 17 e em Portugal 35

Eacute necessaacuteria uma revoluccedilatildeo e penso que ela esta-raacute para breve Os revolucionaacuterios ao contraacuterio do habitual vatildeo ser os empreendedores capitalistas que iratildeo investir num novo modelo de oferta de cuidados e serviccedilos

Consegues dizer-me quantos Lares haacute em Portugal continental

Existem cerca de 2000 lares em Portugal cerca de 2000 centros de dia e 2500 serviccedilos de apoio domiciliaacuterio Isto legalmente Prevecirc-se que pos-sam existir cerca de 2500 lares ilegais ou clan-destinos no paiacutes

Conhecedor das respostas sociais neste acircmbito enca-rara a tua velhice de forma despreocupada

Natildeo claro que natildeo Primeiro quero nomear o mais rapidamente possiacutevel algueacutem que me repre-sente com autoridade para natildeo ser ldquoapanhadordquo na teia da destituiccedilatildeo de direitos e vontades Natildeo quero que me coloquem um nariz de palhaccedilo e uma peruca quando for o carnaval como se fosse um velho tonto apalhaccedilado

Mas natildeo tenho garantias Se calhar vou mesmo fazer essas figuras pateacuteticas Para grande gaacuteudio dos teacutecnicos

O que mudaria na organizaccedilatildeo desta reposta social se fosse convidado pelo governo a coordenaacute-la

A Associaccedilatildeo a que presido tem vaacuterios documen-tos mas destaco de imediato

ndash mudaria o modelo de financiamento e deixava de distribuir dinheiro a instituiccedilotildees sem avaliar os seus indicadores de qualidade e desempe-nho

ndash criava um novo modelo de oferta que natildeo fosse destinado a pessoas idosas doentes mas ape-nas a pessoas idosas ou seja implementava no-vas tipologias

ndash apostava nos cuidados domiciliaacuterios e nos cen-tros de dia criando uma rede nacional que in-cluiria tambeacutem o centro de sauacutede e os lares

ndash criava um programa para legalizaccedilatildeo de lares clandestinos e ilegais

Poucas medidas mas de grande eficaacutecia Aliaacutes Portugal espera um ministro que queira ficar na histoacuteria

A ENFERMAGEM TEM UM ENDERECcedilO

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NOTIacuteCIAS radic FORMACcedilAtildeO radic CIEcircNCIA radic DISCUSSAtildeO

PARQUE EMPRESARIAL DE EIRAS LOTE 19 EIRAS3020-265 COIMBRAtElEfOnE 239 801 020fax 239 801 029

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RESPOSTA Agrave EUTANAacuteSIA ENQUANTO PRAacuteTICA EacuteTICA

ENTRADA DO ARTIGO OUTUBRO 2010

EDUARDO JOSEacute FERREIRA DOS SANTOSEnfermeiro na Fundaccedilatildeo Aureacutelio Amaro Diniz

RESUMONa praxis cliacutenica o significado da eutanaacutesia acres-ce pela pressatildeo da moralidade puacuteblica e profunda convicccedilatildeo dos que lidam com pessoas particular-mente vulneraacuteveis e para as quais o fenoacutemeno pa-toloacutegico eacute profundamente incapacitante Este artigo corporiza a preocupaccedilatildeo dos que se debatem com este dilema eacutetico sugerindo o en-caminhamento para cuidados paliativos e a adop-ccedilatildeo de uma posiccedilatildeo mais proactiva das escolas de enfermagem e instituiccedilotildeesserviccedilos na formaccedilatildeo e ensino especializado

Palavras-chave Eutanaacutesia fim-de-vida cuidados paliativos eacutetica

ABSTRACTIn clinical practice the meaning of euthanasia is increased by the pressure of public morality and deep conviction of dealing with particularly vul-nerable persons and for which the pathological phenomenon is profoundly disablingThis article presents the concern of those who struggle with this ethical dilemma sug-gesting the orientation to palliative care and the adoption of a more proactive posi-tion by nursing schools and institutionsser-vices in training and specialized education

Keywords Euthanasia life-end palliative care ethics

INTRODUCcedilAtildeOA Eutanaacutesia deriva da junccedilatildeo de duas palavras Eu que significa bom e Thanatos que quer dizer mor-te Semanticamente morte doce morte sem ago-nia ou sem sofrimento fiacutesico Trata-se portanto do processo atraveacutes do qual algueacutem causa deliberada-mente a morte de outra a pedido desta uacuteltima (na expressatildeo de Arroyo e Serrano 1988)Por se associar intrinsecamente ao ldquoacto inten-cional de matarrdquo (Serratildeo 1996 p382) a eutanaacutesia eacute palco de inuacutemeras poleacutemicas posiccedilotildees e origina uma acesa controveacutersia num diaacutelogo nem sempre construtivo em torno do conceito de morte com dignidade O facto eacute que existe uma manifesta falta de informaccedilatildeo objectiva sobre os motivos que podem originar um pedido desta natureza (P13APB08) e como tal a eutanaacutesia impotildee-se como foco de reflexatildeo agrave enfermagem Isto porque sempre que ao enfermeiro se apresente a possibi-lidade de participaccedilatildeo na mesma surge agrave priori o dever de recusa Todavia no domiacutenio da liberda-de do livre arbiacutetrio a eutanaacutesia constitui-se como um dilema eacutetico (Queiroacutes 2001 Archer Biscaia e Osswald 2001 Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005)Eacute sobre a posiccedilatildeo da Enfermagem que nos pre-tendemos debruccedilar sugerindo a filosofia dos cui-dados paliativos como soluccedilatildeo em detrimento da realidade portuguesa

ASPECTOS CONCEPTUAIS A dignidade humana eacute sentida e expressa atraveacutes do corpo como suporte bioloacutegico de existecircncia Nem a pessoa eacute o corpo nem tatildeo pouco proprie-taacuteria do seu corpo Como tal a dignidade huma-na quanto mais agredida eacute tanto mais se impotildee como fronteira inviolaacutevel entre o humano e o natildeo--humano Eacute por esse motivo que hoje a dignidade humana aparece ligada a expressotildees que vatildeo des-de a qualidade de vida ao cuidado agrave cariacutecia agrave compaixatildeo (26CNECV99)Neste sentido o respeito pela dignidade de cada pessoa humana eacute uma exigecircncia eacutetica inscre-vendo na praacutetica diaacuteria dos cuidados de sauacutede o permanente centrar desses mesmos cuidados em cada pessoa (Martins 2010)Por outro lado cresce a noccedilatildeo de que no acircmbito da prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede os utentes de-vem ser livres de recusar determinados tratamen-tos agrave luz do princiacutepio do respeito pela autonomia

individual Assim eacute hoje possiacutevel qualquer doente competente recusar um determinado tratamen-to mesmo que desta forma se abrevie o momento da sua morte Aliaacutes eacute neste mesmo sentido que se questiona se esta capacidade decisoacuteria pode ser exercida prospectivamente nomeadamente quando natildeo for possiacutevel o exerciacutecio da autodeter-minaccedilatildeo individual (E10APB07)Curiosamente eacute neste domiacutenio que surge a euta-naacutesia e manifestamente se materializa pela pres-satildeo exercida pelos utentes nos profissionais de sauacutede ao exigirem respeito pelo seu ldquodireitordquo de morrer Com efeito quando os profissionais de sauacutede se sentem compelidos a agir e por termo ao sofrimento de um utente existe um conflito ine-vitaacutevel entre o dever eacutetico do cuidar protector ndash o dever da beneficecircncia e da natildeo-maleficecircncia ndash e o respeito pela autonomia e do direito de escolha do utente (Thompson Melia e Boyd 2004)Em todo o caso a eutanaacutesia soacute eacute uma opccedilatildeo livre quando se assegurar que se trata de um pedido racional de algueacutem que natildeo se revecirc mais no seu projecto de vida pessoal ou seja que natildeo se tra-ta de um comportamento apelativo por parte de algueacutem que se encontra insatisfeito com as con-diccedilotildees de vida que lhe satildeo proporcionadas (P13APB08)Eacute ainda de referir os resultados do estudo realiza-do por Van Der Wal (1992) apud Pessini e Barchi-fontaine (2005) que descreveu que 56 dos casos dos pedidos de eutanaacutesia se deviam aos utentes verem o seu sofrimento sem sentido e 46 por-que temiam o decliacutenioNo entanto vaacuterias satildeo as causas que precipitam tais pedidos Para muitos doentes a solidatildeo em que se encontram pode implicar que a morte as-sistida seja considerada a soluccedilatildeo final ainda que natildeo desejada para o seu dilema existencial Ou-tras causas residem ainda no sofrimento intenso devido ao sentimento de abandono e de exclusatildeo social e menos frequentemente a dor profunda e insustentaacutevel (P13APB08)Neste ponto pode-se apontar os cuidados pa-liativos como estrateacutegia ideal dado que eacute a mais referida pelos autores (Marques Santos e Santos 2001 Thompson Melia e Boyd 2004 Pessini e Barchifontaine 2005) Assim e com a atenccedilatildeo sin-cera dirigida para o utente que solicita a eutanaacute-sia o estabelecimento de ldquoverdadeirasrdquo relaccedilotildees de ajuda e com o auxiacutelio dos cuidados paliativos o

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sofrimento extremo natildeo permanece sem respos-ta Haacute entatildeo que considerar que indubitavelmente o papel do enfermeiro eacute acompanhar o utente pri-vilegiando a sua qualidade de vida minorando a dor ajudando-o a aceitar e a preparar-se para a morte beneficiando de cuidados paliativos e de acompanhamento psicoloacutegico (Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005) Pretende-se providenciar con-forto e bem-estar ao doente croacutenico (e por maio-ria de razatildeo ao doente terminal) recorrendo a meios proporcionados de tratamento por parte de uma equipa de sauacutede especialmente sensibili-zada nesta mateacuteria (E10APB07)Decerto que um outro desafio reside tambeacutem no dever do Estado implementar uma poliacutetica efecti-va de luta contra a dor nomeadamente atraveacutes da implementaccedilatildeo generalizada do Plano Nacional de Luta Contra a Dor e promover a generalizaccedilatildeo dos cuidados paliativos a niacutevel domiciliaacuterio nos Cen-tros de Sauacutede e cuidados em hospitais oncoloacutegicos e outros estabelecimentos de sauacutede (P13APB08)Em suma o desafio dos cuidados paliativos consti-tui entatildeo o de resgatar da dignidade do ser huma-no na uacuteltima fase da sua vida (Pessini e Barchifon-taine 2005)

PERSPECTIVA EacuteTICO-LEGAL De acordo com a nossa ordem juriacutedica a eutanaacutesia eacute uma praacutetica ilegal e criminalizada (E10APB07) Contudo a lei portuguesa natildeo trata da praacutetica eutanaacutesia mas como o direito agrave vida eacute inviolaacutevel segundo a CRP1 e o CP2 - que se traduz num cor-po de normas juriacutedicas que primam por serem as que regulam o regime de penaspuniccedilotildees quando algum acto destoa daquilo que se considera legal-mente admissiacutevel - por analogia a ldquoeutanaacutesiardquo eacute puniacutevel Esmiuccedilando o jaacute referido CP que manifesta re-levante ponderaccedilatildeo para o tema aqui em apreccedilo evidencia-se o Tiacutetulo I (que trata em especiacutefico do crime contra as pessoas) o qual se subdivide no Capiacutetulo I (Dos crimes contra a vida) que en-globa os artigos 131ordm 133ordm134ordm138ordmNeste acircmbito reza o artigo 131ordm corpo normativo que regula e penaliza o tipo legal de crime res-peitante ao Homiciacutedio (o dito homiciacutedio simples) ndash que ldquoQuem matar outra pessoa eacute punido com pena de prisatildeo de oito a dezasseis anosrdquoJaacute o artigo 133ordm (onde se enquadra o delito cri-

1 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa (Lei Constitucional 12005)

2 Coacutedigo Penal (Decreto Lei 592007)

minal do Homiciacutedio privilegiado) esclarece que ldquoQuem matar outra pessoa por compreensiacutevel emoccedilatildeo violenta compaixatildeo desespero ou moti-vo de relevante valor social ou moral que diminua sensivelmente a sua culpa eacute punido com pena de prisatildeo de 1 a 5 anosrdquoAo dirigirmos o nosso reparo para o Artigo 134ordm que trata o ldquoHomiciacutedio a pedido da viacutetimardquo no seu nordm1 clarifica-se que ldquoQuem matar outra pes-soa por pedido seacuterio instante e expresso que ela lhe tenha feito eacute punido com pena de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo O Artigo 135ordm (Incitamento ou ajuda ao suiciacutedio) no seu nordm 1) refere que ldquo Quem incitar outra pes-soa a suicidar -se ou lhe prestar ajuda para esse fim eacute punido com pena de prisatildeo ateacute trecircs anosrdquo contudo e acautelando a possibilidade do suiciacutedio ou da tentativa prossegue o nordm 2 do mesmo arti-go ditando que ldquoSe a pessoa incitada ou a quem se presta ajuda for menor de 16 anos ou tiver por qualquer motivo a sua capacidade de valoraccedilatildeo ou de determinaccedilatildeo sensivelmente diminuiacuteda o agente eacute punido com pena de prisatildeo de um a cin-co anos Quanto ao Artigo 138deg (Exposiccedilatildeo ou abandono) lecirc-se que ldquoQuem colocar em perigo a vida de ou-tra pessoardquo ndash aliacutenea a)- ldquoExpondo-a em lugar que a sujeite a uma situaccedilatildeo de que ela soacute por si natildeo possa defender-serdquo ou - aliacutenea b) - ldquoAbandonan-do-a sem defesa sempre que ao agente coubes-se dever de a guardar vigiar ou assistir eacute punido com pena de prisatildeo de 2 a 8 anosrdquo Por uacuteltimo eacute tambeacutem de salientar o facto de que a eutanaacutesia tambeacutem contraria os princiacutepios basi-lares que alicerccedilam a profissatildeo conforme dispos-to no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros3 e no REPE4 No enquadramento deontoloacutegico os deve-res do enfermeiro incitam ldquoo respeito do direito da pessoa agrave vida durante todo o ciclo vitalrdquo (Arti-go 82ordm) e a obrigatoriedade do enfermeiro ldquode-fender e promover o direito do doente agrave escolha do local e das pessoas que deseja o acompanhem na fase terminal da vida e respeitar e fazer res-peitar as manifestaccedilotildees de perda expressas pelo doente em fase terminal pela famiacutelia ou pessoas que lhe sejam proacuteximasrdquo (Artigo 87ordm)

3 Decreto Lei nordm 10498 de 21 de Abril de 1998

4 Decreto-Lei Nordm 16196 de 4 de Setembro de 1996

CUIDADOS PALIATIVOS QUE RESPOSTAS Em Portugal os cuidados Paliativos estatildeo a dar os primeiros passos verificando-se a existecircncia de alguma preocupaccedilatildeo relativamente ao utente em fase terminal (Queiroacutes 2001) Todavia assiste--se a um deficit ou mesmo ausecircncia de respostas por parte dos serviccedilos e instituiccedilotildees de sauacutede aos utentes (Sapeta 2003)Num estudo realizado pela APEME (2008) sobre o grau de satisfaccedilatildeo da populaccedilatildeo com os Cuidados Paliativos atraveacutes da aplicaccedilatildeo de um questionaacute-rio por entrevista telefoacutenica a uma amostra de 606 elementos salienta-se que 31 dos inquiri-dos os consideram completamente insuficientes 25 insuficientes 31 suficientes 9 moderada-mente suficientes e 5 completamente suficien-tes Curiosamente quando inquiridos sobre ldquoas principais sugestotildees para melhorias dos cuidados paliativosrdquo 14 apostavam na formaccedilatildeo profis-sional e 8 deseja mais profissionais especializa-dos na aacuterea Eacute ainda de referir o estudo realizado por Sapeta (2003) que afirma que a maioria das escolas de Enfermagem lecciona em mais que um ano lecti-vo e em mais do que uma aacuterea cientiacutefica os temas ldquocuidados paliativosrdquo e ldquodor croacutenicardquo contudo numa abordagem bastante superficial dado ao nuacutemero de horas associado Desta forma e especificamente neste aspecto o Programa Nacional de Cuidados Paliativos (DGS 2004 p 2) considera que eacute imprescindiacutevel ldquouma preparaccedilatildeo soacutelida e diferenciada que deve envol-ver quer a formaccedilatildeo preacute-graduada quer a forma-ccedilatildeo poacutes-graduada dos profissionais que satildeo cha-mados agrave praacutetica deste tipo de cuidadosrdquo

CONCLUSAtildeONa actualidade a questatildeo da eutanaacutesia suplanta expectativasduacutevidas natildeo soacute na populaccedilatildeo mas tambeacutem nas camadas profissionais de sauacutede no-meadamente os enfermeiros Concomitantemen-te vaacuterias fracccedilotildees sociais manifestam interesse ou reprovaccedilatildeo pela sua praacutetica Ora eacute defendida por uns eou reprovada por outrosEacute importante destacar que a percepccedilatildeo e livre ar-biacutetrio que o enfermeiro possui norteia a sua praacute-tica profissional e consequentemente influencia algumas tomadas de decisatildeo Notabiliza-se con-tudo a vinculaccedilatildeo do exerciacutecio da profissatildeo a um

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conjunto de regras e aspectos legais e eacutetico-de-ontoloacutegicos que se identificam como orientaccedilotildees para julgar a acccedilatildeo profissional constituindo por fim a obrigatoriedade do enfermeiro se reger pe-las mesmas Eacute neste contexto que nos surgiu a proposta da reflexatildeo sobre possiacuteveis ldquosoluccedilotildeesrespostasrdquo que se esbarraram com a filosofia dos cuidados paliativos que na maioria dos autores referidos se apresentam como a melhor resposta nacional face agraves actuais disposiccedilotildees legais Em epiacutelogo procurou-se evidenciar e incentivar a necessidadeobrigatoriedade de formaccedilatildeo na aacuterea salientando natildeo soacute a importacircncia da tomada de decisatildeo dos serviccedilosinstituiccedilotildees mas predo-minantemente das escolas de Enfermagem

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ENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2010

RESUMONum momento em que o modelo de emergecircncia preacute-hospitalar em Portugal eacute discutido torna-se necessaacuterio reflectir acerca das competecircncias e da importacircncia dos profissionais nela incluiacutedos entre os quais os enfermeiros que natildeo tecircm suscitado consenso Se por um lado existe evidecircncia cientiacutefica que reafirma a importacircncia do enfermeiro neste contexto existem correntes de pensamento que argumentam o inverso objectivando este artigo responder agrave questatildeo ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro em emergecircncia preacute-hospitalarrdquo

Palavras-Chave Enfermagem Emergecircncia preacute--hospitalar

ABSTRACTIn a moment that the pre hospital emergency system is discussed arises the needing to reflect about the competence and importance that the included professionals have to work in this field including the nurses that donacutet have evoke consensus If on one hand exists scientific evidence that reaffirms the importance of the nurseacutes presence in that field there exists currents of thought that argue the inverse So this article objectify answer to the question ldquoExist or not competence for the nursersquos professional exercise in the pre hospital care fieldrdquo

Keywords Nursing Pre hospital emergency

ANDREacute FILIPE RICARDO CORREIAHospital de Faro EPE ndash Unidade de Cuidados Intensivos

INTRODUCcedilAtildeO

Num momento em que a posiccedilatildeo do enfermeiro nas equipas de emergecircncia preacute-hospitalar eacute am-plamente discutida justifica-se a necessidade de reflectir acerca das suas competecircncias para o exerciacutecio nesta aacuterea assim como o seu papel na garantia da seguranccedila e qualidade dos cuidados de sauacutede prestados neste contexto

A presenccedila dos enfermeiros na emergecircncia preacute--hospitalar em Portugal remonta haacute cerca de 20 anos exercendo estes funccedilotildees nas mais variadas aacutereas desde o transporte de receacutem-nascidos Viaturas Meacutedicas de Emergecircncia e Reanimaccedilatildeo (VMER) heli-transporte de doentes criacuteticos e em cataacutestrofe [Ordem dos Enfermeiros (OE) 2008]

Numa constante e progressiva consolidaccedilatildeo do Sistema Integrado de Emergecircncia Meacutedica (SIEM) a que se tem assistido o papel do enfermeiro tem sido reforccedilado nomeadamente com a recente criaccedilatildeo das ambulacircncias de Suporte Imediato de

Vida (SIV) e da figura do enfermeiro responsaacute-vel pelo acompanhamento dos meios no terreno no Centro de Orientaccedilatildeo de Doentes Urgentes (CODU) representando conjuntamente com os preacute-existentes VMER e helicoacutepteros de Emergecircn-cia meacutedica os meios operacionais atraveacutes dos quais os enfermeiros intervecircm actualmente na prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar em equipa com meacutedicos psicoacutelogos tripu-lantes de ambulacircncia de socorro (TAS) tripulan-tes de ambulacircncia de emergecircncia (TAE) e teacutecnicos de operaccedilotildees e telecomunicaccedilotildees de emergecircncia (TOTE) (OE 2008)

Contudo as competecircncias do enfermeiro para a prestaccedilatildeo de cuidados neste contexto assim como a necessidade da sua intervenccedilatildeo parecem natildeo reunir consensualidade sendo suscitadas cor-rentes de pensamento que se opotildeem agrave sua activi-dade e presenccedila neste acircmbito de cuidados Ape-sar inicial ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro no contexto

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de cuidados preacute-hospitalarrdquo

De facto compreendo que se natildeo nos ocupar-mos desta problemaacutetica corremos o seacuterio risco de uma vez mais vermos diminuiacutedas as nossas aacutereas de intervenccedilatildeo o que indubitavelmente re-presenta uma perda para a profissatildeo e em uacutelti-ma instacircncia para a comunidade alvo dos nossos cuidados pelo consequente impacto na qualidade desses cuidados

Assim a este propoacutesito entendemos que o en-fermeiro possui competecircncias que o habilitam agrave prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia no contex-to preacute-hospitalar constituindo a sua presenccedila nas equipas preacute-hospitalares uma inegaacutevel mais-valia

suportada em todo um corpo de conhecimentos teacutecnico - cientiacuteficos que resultam em claros bene-fiacutecios para as pessoas assistidas Tal como a evi-decircncia cientiacutefica (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) afirma os conhecimentos base e competecircncias em ciecircncias como anatomia fisiopatologia e farmacologia a complementari-dade das ciecircncias sociais e humanas produccedilatildeo cientiacutefica e praacutetica baseada na evidecircncia o espiacuteri-to criacutetico - reflexivo e os elevados conhecimentos da realidade intra-hospitalar satildeo caracteriacutesticas dos enfermeiros que acrescem saberes e compe-tecircncias adicionais ao acircmbito da emergecircncia preacute--hospitalar permitindo a sua presenccedila ldquohellipperform and document a high quality and holistic assess-

ment including bio-psycho-social needs and not merely physical needshelliprdquo (Melby amp Ryan 2005 p1147) A este respeito ainda Palma Rodriacuteguez Azanoacuten e Rodriguez (2005) satildeo contundentes ao concluiacuterem que a presenccedila dos enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar eacute imprescindiacutevel natildeo soacute por possuiacuterem a qualificaccedilatildeo necessaacuteria para co-laborar e actuar na prestaccedilatildeo de cuidados a pes-soas em situaccedilotildees de urgecircnciaemergecircncia como tambeacutem pela diferenciaccedilatildeo na prestaccedilatildeo dos mesmos o que possibilita indubitaacuteveis benefiacutecios para o doente mediante a melhoria de conheci-mentos respostas colaboraccedilatildeo e adaptaccedilatildeo do mesmo agrave sua situaccedilatildeo de alteraccedilatildeo no continuum sauacutede-doenccedila

Poreacutem contrariamente agrave evidecircncia cientiacutefica que aponta os benefiacutecios da participaccedilatildeo do enfer-meiro no contexto de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar as correntes divergentes indicam determinados aspectos como limitadores ou mesmo inviabilizadores desta presenccedila que vatildeo desde a inadequaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo ateacute haacute ine-xistecircncia de legitimidade eacutetico-deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados de forma autoacutenoma envolvendo duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais

Neste sentido o Sindicato dos Teacutecnicos de Am-bulacircncia de Emergecircncia (STAE) (2010) refere que a niacutevel internacional os serviccedilos de emergecircncia meacutedica demonstram que as soluccedilotildees para os re-cursos humanos nesta aacuterea devem incidir na for-maccedilatildeo de profissionais unicamente direccionados para o desempenho de cuidados de emergecircncia em ambiente preacute-hospitalar (comummente deno-minados como ldquoparameacutedicosrdquo) com autorizaccedilatildeo para executar determinados procedimentos meacutedi-cos invasivos sob direcccedilatildeo meacutedica e certificaccedilatildeo acrescentando ainda que natildeo existem vantagens em termos de eficiecircncia ou qualidade dos cui-dados prestados com a inclusatildeo de enfermeiros neste acircmbito de cuidados Poreacutem Suserud e Hal-jamaumle (1997 1999) aos quais acrescemos a nossa aprovaccedilatildeo opotildeem-se a esta posiccedilatildeo salientando inversamente a tendecircncia internacional a que se assiste no sentido de um aumento do nuacutemero de enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar Como estes referem os modelos que preconizaram a existecircncia do tipo de soluccedilatildeo para os recursos hu-manos sugerido pelo STAE (2010) basearam-se na

inexistecircncia de meacutedicos e enfermeiros suficientes para suprir simultaneamente as necessidades intra e preacute-hospitalares pelo que por uma ques-tatildeo de racionalizaccedilatildeo de meios humanos optaram pela sua retenccedilatildeo no acircmbito intra-hospitalar em detrimento do preacute-hospitalar

Com o debate em torno da importacircncia de um elevado niacutevel de competecircncias para aumentar a qualidade dos cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar foram suscitadas por parte de vaacuterios paiacute-ses alteraccedilotildees na forma de encarar os recursos humanos necessaacuterios para a prossecuccedilatildeo deste objectivo Como tal a Noruega a Sueacutecia ou a Ho-landa satildeo exemplos de paiacuteses que apesar de ini-cialmente suportados em modelos de emergecircncia meacutedica que pressupunham a existecircncia de profis-sionais de emergecircncia meacutedica como os referidos pelo STAE (2010) alteraram o seu modo de fun-cionamento incluindo os enfermeiros nas equipas de emergecircncia preacute hospitalar salientando ldquohellipthe importance of having equally competence emer-gency personel working in the pre-hospital area and in hospital that is professionals doing the same type of work should have similar competen-ce levels and practical trainingrdquo (Suserud amp Hal-jamaumle 1997 p145) Na verdade a emergecircncia meacute-dica preacute-hospitalar eacute uma componente da Emer-gecircncia Meacutedica a qual abrange um largo espectro

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intervenccedilatildeo desde os cuidados intensivos ateacute agrave prestaccedilatildeo de cuidados em serviccedilos de urgecircncia passando pelo transporte inter-hospitalar de do-entes urgentes todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros tecircm uma participaccedilatildeo essencial e competecircncias reconhecidas [Suserud 2005 Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Nor-te (ARSN) 2009] Partilhando estas actividades toda uma seacuterie de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e compe-tecircncias comuns torna-se clara a importacircncia da presenccedila do enfermeiro de um modo transversal em todas elas permitindo uma boa articulaccedilatildeo e continuidade fundamentais para toda a cadeia de cuidados realccedilando a evidecircncia cientiacutefica pro-duzida nos paiacuteses que adoptaram este modelo de emergecircncia preacute-hospitalar que ldquohellipthe increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by ra-sing the competence level of the team as a who-lerdquo (Suserud amp Haljamaumle 1997 p145)

Outra das objecccedilotildees apontada refere-se agrave neces-sidade de formaccedilatildeo especiacutefica para a prestaccedilatildeo de cuidados em emergecircncia preacute-hospitalar sendo referido que o ldquoenfermeiro carece sempre de for-maccedilatildeo especializada para a intervenccedilatildeo preacute-hos-pitalar que natildeo seja conjunta com o meacutedico hellipsob pena de estar em causa a seguranccedila e a qualidade dos cuidados prestadosrdquo (STAE 2010 p5)

De facto aceitamos a menccedilatildeo de que eacute necessaacute-ria formaccedilatildeo acrescida agrave formaccedilatildeo base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) Poreacutem esta eacute claramente uma preposiccedilatildeo inviaacutevel no sentido de reiterar a inexistecircncia de competecircn-cias de enfermagem em emergecircncia preacute-hospita-lar Natildeo podemos esquecer que a licenciatura natildeo concede por si soacute uma especializaccedilatildeo da praacutetica profissional pois apenas confere uma base de co-nhecimentos e competecircncias no acircmbito da enfer-magem de cuidados gerais encaminhando poste-riormente o enfermeiro a sua praacutetica profissional num determinado sentido obviamente suportada pela formaccedilatildeo adicional que essa aacuterea exija To-davia a existecircncia de um corpo soacutelido de conhe-cimentos base adquirido no CLE vai favorecer a posterior aquisiccedilatildeo de conhecimentos e compe-tecircncias suportando e solidificando a prestaccedilatildeo de cuidados na aacuterea especiacutefica em causa

Por outro lado decorrente de vaacuterios factores como a gravidade e complexidade das situaccedilotildees cliacutenicas a imprevisibilidade de ocorrecircncias e a prestaccedilatildeo de cuidados em ambiente extra-hospi-talar com elevada exposiccedilatildeo social e reduzido nuacute-mero de intervenientes no processo de decisatildeo o exerciacutecio profissional neste contexto eacute reconheci-damente especiacutefico e complexo o que exige uma preparaccedilatildeo singular e contiacutenua dos profissionais envolvidos (Tomaacutes 2009 OE 2010)

Face a isto na realidade portuguesa todos os en-fermeiros que prestam cuidados nas VMER SIV helicoacutepteros de emergecircncia meacutedica e CODU tecircm formaccedilatildeo que os habilita agrave sua actividade con-ferindo as competecircncias teoacuterico - praacuteticas consi-deradas essenciais pelas entidades competentes ao que se acrescem as poacutes-graduaccedilotildees e mes-trados que tecircm surgido nas aacutereas de urgecircnciaemergecircncia encaradas como uma mais-valia na qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais (Vieira Oliveira amp Ressurreiccedilatildeo 2005 Tomaacutes 2009) A li-teratura (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) por sua vez sugere a existecircncia de um consenso relativamente ao facto dos enfer-meiros com experiecircncia de anestesia unidade de cuidados intensivos e serviccedilo de urgecircncia serem os mais habilitados para a prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar decorrente da for-maccedilatildeo que possuem e da constante interacccedilatildeo com situaccedilotildees cliacutenicas criacuteticas que lhes permite uma manutenccedilatildeo das competecircncias que de ou-tro modo poderiam decrescer face a periacuteodos de menor operacionalidade decorrente da inexis-tecircncia de situaccedilotildees criacuteticas na aacuterea de influecircncia dos meios de socorro Desta forma poderaacute residir neste aspecto um dos deacutefices do modelo portu-guecircs em que os enfermeiros dos meios SIV ape-nas prestam cuidados no contexto preacute-hospitalar em exclusividade Todavia na VMER esta questatildeo natildeo se coloca uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua activi-dade profissional tambeacutem em contexto intra-hos-pitalar preferencialmente nos serviccedilos supraci-tados sendo esta uma das condiccedilotildees de ingresso previamente definida o que potencia o processo de retro-alimentaccedilatildeo de experiecircncia e conheci-mento com consequente mais-valia para as duas aacutereas (Suserud 2005 OE 2010)

Eacute tambeacutem no capiacutetulo da legitimidade eacutetico--deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados que satildeo colocadas duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais do enfermeiro ldquohellipque natildeo seja conjunta com o meacutedi-cohelliprdquo (STAE 2010 p5) pois o caraacutecter de inter-venccedilatildeo em situaccedilotildees criacuteticas contempla que natildeo raras vezes se torne necessaacuterio aplicar determi-nadas intervenccedilotildees e procedimentos considera-dos life saving como entubaccedilatildeo endo-traqueal desfibrilhaccedilatildeo prescriccedilatildeo e administraccedilatildeo de faacuter-macos ou lideranccedila em situaccedilotildees de emergecircncia comummente reconhecidas como do acircmbito de intervenccedilatildeo meacutedica colocando-se questotildees como ldquoqual a fronteira em termos de intervenccedilotildees meacute-dicas e de enfermagemrdquo ou ldquopode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenccedilotildees e proce-dimentos life savingrdquo (Vieira Oliveira amp Ressur-reiccedilatildeo 2005)

Poreacutem o decreto-lei nordm 16176 de 4 de Setembro enquanto Regulamento do Exerciacutecio Profissional dos Enfermeiros (REPE) permite que estas duacutevidas possam ser esclarecidas dissipadas e devidamente documentadas em articulaccedilatildeo com os demais do-cumentos descritores e reguladores da profissatildeo

Definidos os cuidados de enfermagem como ldquoas intervenccedilotildees autoacutenomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no acircmbito das suas qua-lificaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 1 artigo 4ordm do decreto-lei nordm 16176) as intervenccedilotildees autoacutenomas referem-se agraves ldquoacccedilotildees realizadas pelos enfermei-ros sob sua uacutenica e exclusiva iniciativa e respon-sabilidade de acordo com as respectivas quali-ficaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 2 art 9ordm do de-creto-lei nordm 16176) enquanto as interdependen-tes satildeo respeitantes agraves intervenccedilotildees realizadas ldquopelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificaccedilotildees profissionais em conjunto com ou-tros teacutecnicos para atingir um objectivo comum decorrentes de planos de acccedilatildeo previamente de-finidos pelas equipas multidisciplinares em que estatildeo integrados e das prescriccedilotildees ou orientaccedilotildees previamente formalizadasrdquo (nuacutemero 3 artigo 9ordm do decreto-lei nordm 16176) Continuando a anaacutelise o nuacutemero 4 art 9ordm do mesmo diploma refere que os enfermeiros ldquoprocedem agrave administraccedilatildeo de te-rapecircutica prescrita detectando os seus efeitos e actuando em conformidade devendo em situaccedilatildeo de emergecircncia agir de acordo com a qualificaccedilatildeo e os conhecimentos que detecircm tendo como fina-lidade a manutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

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VIEIRA Pedro OLIVEIRA Luiacutes RESSURREICcedilAtildeO Serafim ndash O enfer-meiro perante a emergecircncia preacute-hospitalar Sinais Vitais 61 (2005) 32-35

JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

28 29

formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

30 31

Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

32 33

doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 6: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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Ser enfermeiro e coordenar um Lar de Idosos a tem-po inteiro natildeo eacute frequente em Portugal Que razotildeesmotivaccedilotildees estatildeo subjacentes a essa decisatildeo

Ser enfermeiro e outra coisa qualquer natildeo eacute co-mum em Portugal infelizmente Na verdade os enfermeiros tecircm ficado virados para si proacute-prios natildeo desempenhando outras funccedilotildees ou ocupando outros lugares que natildeo sejam dentro da proacutepria aacuterea teacutecnico-cientiacutefica Quantos en-fermeiros na funccedilatildeo de deputado desde o 25 de Abril Quantos de noacutes exercemos funccedilotildees rele-vantes nas autarquias Em empresas Mesmo nas associaccedilotildees que natildeo sejam especificamente de enfermagem Natildeo seraacute esta a razatildeo da pouca relevacircncia que a profissatildeo continua a ter e do pouco valor social da mesma

Quando fui para coordenador (director teacutecni-co) do lar de idosos sofri o peso da ignoracircncia de muitos teacutecnicos sociais em relaccedilatildeo agrave lei e o peso do estigma que a aacuterea social era destino ex-clusivo do serviccedilo social Natildeo foi faacutecil a minha aceitaccedilatildeo Utilizaram-se vaacuterios estrateacutegias para colocar em causa a qualidade de um enfermeiro como director teacutecnico Cedo percebi que era dos melhores e ateacute fui levado a pensar que a gestatildeo de lares deveria ser entregue a enfermeiros pelo seu conhecimento global da aacuterea da sauacutede e da aacuterea social Mas hoje reconheccedilo que o exerciacutecio de funccedilotildees de gestatildeo natildeo tem a ver com a base de formaccedilatildeo profissional que se tem Pode ser--se bom director teacutecnico sendo enfermeiro as-sistente social psicoacutelogo ou com outra profissatildeo qualquer Conveacutem eacute que saiba liderar tenha co-nhecimentos profundos na aacuterea social e na aacuterea de sauacutede O ideal eacute a construccedilatildeo de um profissio-nal hiacutebrido entre o social e a sauacutede

Haacute quantos anos desempenhas as funccedilotildees de coorde-nador do Lar de Idosos do SAMS em Azeitatildeo

Fiz recentemente dez anos como coordenador do lar de idosos coincidindo mais ou menos com os vinte e cinco de enfermagem

Na grande maioria dos Lares os coordenadores satildeo assistentes sociais Identificas razotildees suficientes para afirmar que essa funccedilatildeo deveria ser desempe-nhada por enfermeiros

Jaacute respondi mais ou menos a essa questatildeo Os en-fermeiros trazem ao Lar de Idosos uma mais-valia interessante e hoje com os conhecimentos que tem podem de facto responder agraves necessidades na aacuterea social que surgem num lar conseguindo tambeacutem assegurar os cuidados de sauacutede e fazer a sua gestatildeo O grande drama do serviccedilo social eacute que os lares satildeo em geral autenticas unidades de pessoas idosas doentes para as quais a sauacutede eacute fundamental e o serviccedilo social natildeo tem qualquer preparaccedilatildeo para responder a essa necessidade Assim a enfermagem tem aqui um lugar de gran-de importacircncia A questatildeo eacute que os enfermeiros ao longo de todos estes anos viram nos lares a acumulaccedilatildeo de umas horas onde poderiam ga-nhar ldquouns trocosrdquo sem qualquer responsabilidade Essa imagem faz ainda hoje com que se olhe para o enfermeiro do lar como aquele que natildeo tem lu-gar em mais lado algum

O grande drama do serviccedilo social eacute que os lares satildeo em geral autenticas unidades de pessoas idosas doentes para as quais a sauacutede eacute fundamental e o serviccedilo social natildeo tem qualquer preparaccedilatildeo para responder a essa necessidade Assim a enfermagem tem aqui um lugar de grande importacircncia

Fala-me um pouco do Lar que coordenas nuacutemero de residentes de assistentes operacionais de cozinhei-ros condutores entre outroshellip

O lar de idosos do SBSISAMS eacute a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do enve-lhecimento em Portugal e aquela que poderaacute ter a vaidade de dizer que seraacute a melhor do paiacutes Eacute costume incomodar e provocar as pessoas com esta ideia que eacute consequecircncia de trabalhar num lar muito especial uma equipa de colaboradores apaixonados por aquilo que fazem que discute em qualquer lugar as questotildees do envelhecimen-to que sabe o que eacute funcionalidade utilidade e

felicidade no processo de envelhecimento que tem formaccedilatildeo ul-trapassando as horas obrigatoacuterias anuais e cuja auto-estima eacute muito elevada instala-ccedilotildees muito interessan-tes e de elevado niacutevel uma organizaccedilatildeo de trabalho iacutempar com utilizaccedilatildeo do meacutetodo responsaacutevel com to-dos os residentes com enfermeiro fisiotera-peuta e auxiliares de referecircncia com um modelo de comunica-ccedilatildeo original assente na evidecircncia cientiacutefica e nos mais inovadores processos de gestatildeo

Mas tudo isto podia ser dito e teria pouco valor se natildeo soubeacutessemos quantos residentes caiacuteram nos uacuteltimos dez anos que evoluccedilatildeo teve o nuacutemero de quedas quais satildeo os valores da escala de Katz da escala de Morse da escala de equiliacutebrio e da mini--mental qual o valor meacutedio da percepccedilatildeo da dor quantas escaras existiram em dez anos quantas conseguimos tratar e como quantas pessoas re-correm por ano agraves urgecircncias hospitalares e quan-tos dias de internamento hospitalar tem os re-sidentes por ano quantos recursos satildeo feitos ao exterior qual o grau de satisfaccedilatildeo de residentes colaboradores familiares parceiros internos e par-ceiros externos quantas pessoas foram algaliadas no ano e quantos antibioacuteticos foram prescritos

Jaacute seria um lar bom com todos estes indicadores mas eacute ainda melhor porque no iniacutecio do ano defi-nimos os nossos objectivos avaliamo-los durante o ano e atingimos grande parte deles Eacute um lar di-ferente porque natildeo trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e natildeo resolvemos situaccedilotildees de residentes problemaacuteticos com comprimidos para dormir Eacute um lar bom porque contrariamos todas as prescriccedilotildees que disfuncionalizam residentes debatendo com os prescritores essas situaccedilotildees Eacute um Lar muito bom porque preferimos que os

nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirotildees

Somos diferentes mas soacute vendo

O lar de idosos do SBSISAMS eacute a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do envelhecimento em Portugal Eacute um lar diferente porque natildeo trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e natildeo resolvemos situaccedilotildees de residentes problemaacuteticos com comprimidos para dormir Eacute um lar bom porquecirc contrariamos todas as prescriccedilotildees que disfuncionalizam residentes debatendo com os prescritores essas situaccedilotildees Preferimos que os nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirotildees

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A portaria 672012 evolui no conceito de ldquoLar de Idososrdquo para ldquoestrutura residencial para pessoas idosasrdquo e defini-o como o estabelecimento para alo-jamento colectivo de utilizaccedilatildeo temporaacuteria ou per-manente em que satildeo desenvolvidas actividades de apoio social e prestados cuidados de enfermagem

Como sabes na maioria destas estruturas haacute um enfermeiro ldquoumas horas por dia ou por semanardquo Consideras essa uma ldquoboa respostardquo de cuidados de enfermagem

Claro que natildeo posso dizer nunca que isso eacute uma boa resposta mas devemos tambeacutem ter em aten-ccedilatildeo que natildeo existem recursos financeiros para termos um enfermeiro num lar de idosos perma-nentemente Contudo parece que esta situaccedilatildeo eacute um equiacutevoco e esta questatildeo pode natildeo fazer senti-do no futuro proacuteximo

O que precisamos eacute de determinar tipologias para os cuidados e serviccedilos a pessoas idosas Num lar em que soacute existam pessoas idosas independentes um enfermeiro eacute suficiente bem como a sua acti-vidade de prevenccedilatildeo ensino e educaccedilatildeo Jaacute numa tipologia com residentes fortemente doentes te-mos que ter um enfermeiro a tempo inteiro mas estas unidades jaacute existem e chamam-se cuidados continuados pelo que os lares satildeo respostas para pessoas sem cuidados de sauacutede permanentes

A nova portaria veio estigmatizar ainda mais a pessoa idosa Estaacute errada

Um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A comparticipaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo de indicadores e assim teriacuteamos comparticipaccedilatildeo que assegurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos

Fala-me da tua experiecircncia neste acircmbito

No nosso lar fizemos aquilo que todos podem fa-zer mas que parece natildeo terem vontade dividimos a estrutura em duas zonas distintas Uma estaacute destinada a pessoas idosas independentes sem necessidade de cuidados de sauacutede e de higiene

e conforto Pessoas que soacute precisam de se sentir seguras e ter apoio para desenvolverem novos projectos de vida Nesta aacuterea o enfermeiro tem necessidade apenas de fazer formaccedilatildeo prevenir ensinar e educar para a sauacutede e para um envelhe-cimento mais feliz e mais saudaacutevel

Numa outra aacuterea temos as pessoas dependentes muitas delas fortemente dependes com enfer-magem 24 horas por dia fisioterapeutas auxi-liares com cargas de trabalho muito confortaacuteveis e coacutemodas Nesta aacuterea recebemos tambeacutem do-entes para recuperaccedilatildeo global cujo rendimento financeiro eacute maior e muito significativo assegu-rando sustentabilidade de todos os recursos hu-manos

Eacute o modelo que devia ter sido adoptado para os cuidados continuados mas alguns preferiram ca-minhar pela estrada do grande empreendedoris-mo da construccedilatildeo civil e do cimento Natildeo havia auto-estradas para fazerhellip

Mas entatildeo haacute ldquomais valiasrdquo em ter enfermeiro 24 horas

Numa unidade capaz de responder aacute recupera-ccedilatildeo global aacute recuperaccedilatildeo de situaccedilotildees de doenccedila pontuais poacutes cirurgias etc

Numa unidade que consiga especializar-se em determinadas especificidades e que possa pelo rendimento financeiro assegurar os enfermeiros e os outros teacutecnicos Natildeo podemos continuar a fazer redes ao lado da rede hospitalar exigir teacutec-nicos de sauacutede e natildeo procurar saber como se sus-tentam esses projectos

Quero esclarecer que nada disto confronta o mo-delo de estado social ou faz com que natildeo defenda um estado que trate e cuide dos mais fragilizados em igualdade de circunstacircncias com toda a popu-laccedilatildeo Natildeo gosto eacute de contribuir para um estado que natildeo eacute social mas que eacute um estado das insti-tuiccedilotildees sociais

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos no-

vas tipologias De natildeo diferenciar-mos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de instituciona-lizaccedilatildeo na europa do norte de cer-ca de 17 e em Portugal 35

Por isso os indicadores atraacutes referidos demons-tram essa ldquomais-valiardquo

Todos os indicadores atraacutes referenciados satildeo melhorados com a introduccedilatildeo de enfermeiros mas mantenho a ideia inicial numa resposta em que se encontrem pessoas doentes e natildeo neces-sariamente num lar que pretende que as pessoas sejam felizes e saudaacuteveis Na aacuterea das pessoas dependentes o enfermeiro mede o seu desempe-nho por muitos indicadores ulceras de pressatildeo recursos a urgecircncias e dias de internamento quedas nuacutemero de medicamentos percepccedilatildeo da dor antibioacuteticos consumidos

Se introduzires um enfermeiro num lar e medi-res estes indicadores concluis que todos baixam num tempo muito reduzido

Eacute isto que o Estado natildeo quer perceber mas que as Institui-ccedilotildees ditas socias tam-beacutem natildeo aceitam um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A com-participaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo destes indicadores e assim teriacuteamos com-participaccedilatildeo que as-segurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos Mas isso provavelmente acaba-ria com os velhos do-entes desgraccedilados e infelizes e as Institui-

ccedilotildees ficavam cada vez com menos clientes por-que vivem exclusivamente do assistencialismo e da caridade

O Regulamento da Individualizaccedilatildeo das Especia-lidades Cliacutenicas de Enfermagem (Regulamento nordm 1682011 publicado em Diaacuterio da Repuacuteblica 2ordf seacuterie mdash Nordm 47 mdash 8 de Marccedilo de 2011) prevecirc a criaccedilatildeo de uma especialidade designada de SAUacuteDE DO IDOSO

Da tua experiecircncia com pessoas idosas consideras esta uma especialidade necessaacuteria

Temos muito que discutir Primeiro precisamos de enfermeiros capazes de gerir lares e liderar equi-pas que natildeo sejam exclusivamente constituiacutedas pelos seus pares Enfermeiros que se exponham como diferentes contribuindo com a sua acccedilatildeo para transformaccedilotildees significativas das institui-ccedilotildees sociais e das entidades privadas na aacuterea do envelhecimento

Mas eacute claro que eacute fundamental uma especialida-de para a aacuterea das pessoas idosas Daqui a pou-co tempo satildeo metade da populaccedilatildeo portuguesa e metade da populaccedilatildeo mundial tendo em conta

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os paiacuteses mais desenvolvidos

Julgo que deveriacuteamos iniciar um profundo debate sobre a enfermagem e o envelhecimento e que a revista Sinais Vitais poderia ser um dos lugares mais interessantes para fazer este debate nacio-nal e ateacute internacional

Que competecircncias devem ser desenvolvidas pelos en-fermeiros nesta especialidade

Conhecimento sobre novos modelos para abor-dagem do envelhecimento legislaccedilatildeo direitos humanos e envelhecimento diversidade de res-postas e necessidades sociais e de sauacutede do en-velhecimento lideranccedila gestatildeo de equipamen-tos com uma forte componente praacutetica Seria bom analisar-se a Poacutes Graduaccedilatildeo promovida pela associaccedilatildeo amigos da grande Idade da qual sou presidente e que foi feita em parceria com a universidade Fernando Pessoa estando para ser lanccedilada a segunda ediccedilatildeo com a Universidade da Estremadura

Conhecendo como eu sei a realidade portuguesa em termos de respostas sociais dirigidas agrave pessoa idosa elas satildeo suficientes e adequadas

Natildeo as respostas natildeo satildeo suficientes mas acima de tudo satildeo desadequadas Costumo a dizer que se o Marquecircs de Pombal descesse agrave terra ficaria deslumbrado com tanta evoluccedilatildeo mas se entrasse num lar sentir-se-ia no tempo dele

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos novas tipologias De natildeo diferenciarmos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de institucio-nalizaccedilatildeo na europa do norte de cerca de 17 e em Portugal 35

Eacute necessaacuteria uma revoluccedilatildeo e penso que ela esta-raacute para breve Os revolucionaacuterios ao contraacuterio do habitual vatildeo ser os empreendedores capitalistas que iratildeo investir num novo modelo de oferta de cuidados e serviccedilos

Consegues dizer-me quantos Lares haacute em Portugal continental

Existem cerca de 2000 lares em Portugal cerca de 2000 centros de dia e 2500 serviccedilos de apoio domiciliaacuterio Isto legalmente Prevecirc-se que pos-sam existir cerca de 2500 lares ilegais ou clan-destinos no paiacutes

Conhecedor das respostas sociais neste acircmbito enca-rara a tua velhice de forma despreocupada

Natildeo claro que natildeo Primeiro quero nomear o mais rapidamente possiacutevel algueacutem que me repre-sente com autoridade para natildeo ser ldquoapanhadordquo na teia da destituiccedilatildeo de direitos e vontades Natildeo quero que me coloquem um nariz de palhaccedilo e uma peruca quando for o carnaval como se fosse um velho tonto apalhaccedilado

Mas natildeo tenho garantias Se calhar vou mesmo fazer essas figuras pateacuteticas Para grande gaacuteudio dos teacutecnicos

O que mudaria na organizaccedilatildeo desta reposta social se fosse convidado pelo governo a coordenaacute-la

A Associaccedilatildeo a que presido tem vaacuterios documen-tos mas destaco de imediato

ndash mudaria o modelo de financiamento e deixava de distribuir dinheiro a instituiccedilotildees sem avaliar os seus indicadores de qualidade e desempe-nho

ndash criava um novo modelo de oferta que natildeo fosse destinado a pessoas idosas doentes mas ape-nas a pessoas idosas ou seja implementava no-vas tipologias

ndash apostava nos cuidados domiciliaacuterios e nos cen-tros de dia criando uma rede nacional que in-cluiria tambeacutem o centro de sauacutede e os lares

ndash criava um programa para legalizaccedilatildeo de lares clandestinos e ilegais

Poucas medidas mas de grande eficaacutecia Aliaacutes Portugal espera um ministro que queira ficar na histoacuteria

A ENFERMAGEM TEM UM ENDERECcedilO

wwwsinaisvitaispt

NOTIacuteCIAS radic FORMACcedilAtildeO radic CIEcircNCIA radic DISCUSSAtildeO

PARQUE EMPRESARIAL DE EIRAS LOTE 19 EIRAS3020-265 COIMBRAtElEfOnE 239 801 020fax 239 801 029

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RESPOSTA Agrave EUTANAacuteSIA ENQUANTO PRAacuteTICA EacuteTICA

ENTRADA DO ARTIGO OUTUBRO 2010

EDUARDO JOSEacute FERREIRA DOS SANTOSEnfermeiro na Fundaccedilatildeo Aureacutelio Amaro Diniz

RESUMONa praxis cliacutenica o significado da eutanaacutesia acres-ce pela pressatildeo da moralidade puacuteblica e profunda convicccedilatildeo dos que lidam com pessoas particular-mente vulneraacuteveis e para as quais o fenoacutemeno pa-toloacutegico eacute profundamente incapacitante Este artigo corporiza a preocupaccedilatildeo dos que se debatem com este dilema eacutetico sugerindo o en-caminhamento para cuidados paliativos e a adop-ccedilatildeo de uma posiccedilatildeo mais proactiva das escolas de enfermagem e instituiccedilotildeesserviccedilos na formaccedilatildeo e ensino especializado

Palavras-chave Eutanaacutesia fim-de-vida cuidados paliativos eacutetica

ABSTRACTIn clinical practice the meaning of euthanasia is increased by the pressure of public morality and deep conviction of dealing with particularly vul-nerable persons and for which the pathological phenomenon is profoundly disablingThis article presents the concern of those who struggle with this ethical dilemma sug-gesting the orientation to palliative care and the adoption of a more proactive posi-tion by nursing schools and institutionsser-vices in training and specialized education

Keywords Euthanasia life-end palliative care ethics

INTRODUCcedilAtildeOA Eutanaacutesia deriva da junccedilatildeo de duas palavras Eu que significa bom e Thanatos que quer dizer mor-te Semanticamente morte doce morte sem ago-nia ou sem sofrimento fiacutesico Trata-se portanto do processo atraveacutes do qual algueacutem causa deliberada-mente a morte de outra a pedido desta uacuteltima (na expressatildeo de Arroyo e Serrano 1988)Por se associar intrinsecamente ao ldquoacto inten-cional de matarrdquo (Serratildeo 1996 p382) a eutanaacutesia eacute palco de inuacutemeras poleacutemicas posiccedilotildees e origina uma acesa controveacutersia num diaacutelogo nem sempre construtivo em torno do conceito de morte com dignidade O facto eacute que existe uma manifesta falta de informaccedilatildeo objectiva sobre os motivos que podem originar um pedido desta natureza (P13APB08) e como tal a eutanaacutesia impotildee-se como foco de reflexatildeo agrave enfermagem Isto porque sempre que ao enfermeiro se apresente a possibi-lidade de participaccedilatildeo na mesma surge agrave priori o dever de recusa Todavia no domiacutenio da liberda-de do livre arbiacutetrio a eutanaacutesia constitui-se como um dilema eacutetico (Queiroacutes 2001 Archer Biscaia e Osswald 2001 Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005)Eacute sobre a posiccedilatildeo da Enfermagem que nos pre-tendemos debruccedilar sugerindo a filosofia dos cui-dados paliativos como soluccedilatildeo em detrimento da realidade portuguesa

ASPECTOS CONCEPTUAIS A dignidade humana eacute sentida e expressa atraveacutes do corpo como suporte bioloacutegico de existecircncia Nem a pessoa eacute o corpo nem tatildeo pouco proprie-taacuteria do seu corpo Como tal a dignidade huma-na quanto mais agredida eacute tanto mais se impotildee como fronteira inviolaacutevel entre o humano e o natildeo--humano Eacute por esse motivo que hoje a dignidade humana aparece ligada a expressotildees que vatildeo des-de a qualidade de vida ao cuidado agrave cariacutecia agrave compaixatildeo (26CNECV99)Neste sentido o respeito pela dignidade de cada pessoa humana eacute uma exigecircncia eacutetica inscre-vendo na praacutetica diaacuteria dos cuidados de sauacutede o permanente centrar desses mesmos cuidados em cada pessoa (Martins 2010)Por outro lado cresce a noccedilatildeo de que no acircmbito da prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede os utentes de-vem ser livres de recusar determinados tratamen-tos agrave luz do princiacutepio do respeito pela autonomia

individual Assim eacute hoje possiacutevel qualquer doente competente recusar um determinado tratamen-to mesmo que desta forma se abrevie o momento da sua morte Aliaacutes eacute neste mesmo sentido que se questiona se esta capacidade decisoacuteria pode ser exercida prospectivamente nomeadamente quando natildeo for possiacutevel o exerciacutecio da autodeter-minaccedilatildeo individual (E10APB07)Curiosamente eacute neste domiacutenio que surge a euta-naacutesia e manifestamente se materializa pela pres-satildeo exercida pelos utentes nos profissionais de sauacutede ao exigirem respeito pelo seu ldquodireitordquo de morrer Com efeito quando os profissionais de sauacutede se sentem compelidos a agir e por termo ao sofrimento de um utente existe um conflito ine-vitaacutevel entre o dever eacutetico do cuidar protector ndash o dever da beneficecircncia e da natildeo-maleficecircncia ndash e o respeito pela autonomia e do direito de escolha do utente (Thompson Melia e Boyd 2004)Em todo o caso a eutanaacutesia soacute eacute uma opccedilatildeo livre quando se assegurar que se trata de um pedido racional de algueacutem que natildeo se revecirc mais no seu projecto de vida pessoal ou seja que natildeo se tra-ta de um comportamento apelativo por parte de algueacutem que se encontra insatisfeito com as con-diccedilotildees de vida que lhe satildeo proporcionadas (P13APB08)Eacute ainda de referir os resultados do estudo realiza-do por Van Der Wal (1992) apud Pessini e Barchi-fontaine (2005) que descreveu que 56 dos casos dos pedidos de eutanaacutesia se deviam aos utentes verem o seu sofrimento sem sentido e 46 por-que temiam o decliacutenioNo entanto vaacuterias satildeo as causas que precipitam tais pedidos Para muitos doentes a solidatildeo em que se encontram pode implicar que a morte as-sistida seja considerada a soluccedilatildeo final ainda que natildeo desejada para o seu dilema existencial Ou-tras causas residem ainda no sofrimento intenso devido ao sentimento de abandono e de exclusatildeo social e menos frequentemente a dor profunda e insustentaacutevel (P13APB08)Neste ponto pode-se apontar os cuidados pa-liativos como estrateacutegia ideal dado que eacute a mais referida pelos autores (Marques Santos e Santos 2001 Thompson Melia e Boyd 2004 Pessini e Barchifontaine 2005) Assim e com a atenccedilatildeo sin-cera dirigida para o utente que solicita a eutanaacute-sia o estabelecimento de ldquoverdadeirasrdquo relaccedilotildees de ajuda e com o auxiacutelio dos cuidados paliativos o

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sofrimento extremo natildeo permanece sem respos-ta Haacute entatildeo que considerar que indubitavelmente o papel do enfermeiro eacute acompanhar o utente pri-vilegiando a sua qualidade de vida minorando a dor ajudando-o a aceitar e a preparar-se para a morte beneficiando de cuidados paliativos e de acompanhamento psicoloacutegico (Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005) Pretende-se providenciar con-forto e bem-estar ao doente croacutenico (e por maio-ria de razatildeo ao doente terminal) recorrendo a meios proporcionados de tratamento por parte de uma equipa de sauacutede especialmente sensibili-zada nesta mateacuteria (E10APB07)Decerto que um outro desafio reside tambeacutem no dever do Estado implementar uma poliacutetica efecti-va de luta contra a dor nomeadamente atraveacutes da implementaccedilatildeo generalizada do Plano Nacional de Luta Contra a Dor e promover a generalizaccedilatildeo dos cuidados paliativos a niacutevel domiciliaacuterio nos Cen-tros de Sauacutede e cuidados em hospitais oncoloacutegicos e outros estabelecimentos de sauacutede (P13APB08)Em suma o desafio dos cuidados paliativos consti-tui entatildeo o de resgatar da dignidade do ser huma-no na uacuteltima fase da sua vida (Pessini e Barchifon-taine 2005)

PERSPECTIVA EacuteTICO-LEGAL De acordo com a nossa ordem juriacutedica a eutanaacutesia eacute uma praacutetica ilegal e criminalizada (E10APB07) Contudo a lei portuguesa natildeo trata da praacutetica eutanaacutesia mas como o direito agrave vida eacute inviolaacutevel segundo a CRP1 e o CP2 - que se traduz num cor-po de normas juriacutedicas que primam por serem as que regulam o regime de penaspuniccedilotildees quando algum acto destoa daquilo que se considera legal-mente admissiacutevel - por analogia a ldquoeutanaacutesiardquo eacute puniacutevel Esmiuccedilando o jaacute referido CP que manifesta re-levante ponderaccedilatildeo para o tema aqui em apreccedilo evidencia-se o Tiacutetulo I (que trata em especiacutefico do crime contra as pessoas) o qual se subdivide no Capiacutetulo I (Dos crimes contra a vida) que en-globa os artigos 131ordm 133ordm134ordm138ordmNeste acircmbito reza o artigo 131ordm corpo normativo que regula e penaliza o tipo legal de crime res-peitante ao Homiciacutedio (o dito homiciacutedio simples) ndash que ldquoQuem matar outra pessoa eacute punido com pena de prisatildeo de oito a dezasseis anosrdquoJaacute o artigo 133ordm (onde se enquadra o delito cri-

1 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa (Lei Constitucional 12005)

2 Coacutedigo Penal (Decreto Lei 592007)

minal do Homiciacutedio privilegiado) esclarece que ldquoQuem matar outra pessoa por compreensiacutevel emoccedilatildeo violenta compaixatildeo desespero ou moti-vo de relevante valor social ou moral que diminua sensivelmente a sua culpa eacute punido com pena de prisatildeo de 1 a 5 anosrdquoAo dirigirmos o nosso reparo para o Artigo 134ordm que trata o ldquoHomiciacutedio a pedido da viacutetimardquo no seu nordm1 clarifica-se que ldquoQuem matar outra pes-soa por pedido seacuterio instante e expresso que ela lhe tenha feito eacute punido com pena de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo O Artigo 135ordm (Incitamento ou ajuda ao suiciacutedio) no seu nordm 1) refere que ldquo Quem incitar outra pes-soa a suicidar -se ou lhe prestar ajuda para esse fim eacute punido com pena de prisatildeo ateacute trecircs anosrdquo contudo e acautelando a possibilidade do suiciacutedio ou da tentativa prossegue o nordm 2 do mesmo arti-go ditando que ldquoSe a pessoa incitada ou a quem se presta ajuda for menor de 16 anos ou tiver por qualquer motivo a sua capacidade de valoraccedilatildeo ou de determinaccedilatildeo sensivelmente diminuiacuteda o agente eacute punido com pena de prisatildeo de um a cin-co anos Quanto ao Artigo 138deg (Exposiccedilatildeo ou abandono) lecirc-se que ldquoQuem colocar em perigo a vida de ou-tra pessoardquo ndash aliacutenea a)- ldquoExpondo-a em lugar que a sujeite a uma situaccedilatildeo de que ela soacute por si natildeo possa defender-serdquo ou - aliacutenea b) - ldquoAbandonan-do-a sem defesa sempre que ao agente coubes-se dever de a guardar vigiar ou assistir eacute punido com pena de prisatildeo de 2 a 8 anosrdquo Por uacuteltimo eacute tambeacutem de salientar o facto de que a eutanaacutesia tambeacutem contraria os princiacutepios basi-lares que alicerccedilam a profissatildeo conforme dispos-to no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros3 e no REPE4 No enquadramento deontoloacutegico os deve-res do enfermeiro incitam ldquoo respeito do direito da pessoa agrave vida durante todo o ciclo vitalrdquo (Arti-go 82ordm) e a obrigatoriedade do enfermeiro ldquode-fender e promover o direito do doente agrave escolha do local e das pessoas que deseja o acompanhem na fase terminal da vida e respeitar e fazer res-peitar as manifestaccedilotildees de perda expressas pelo doente em fase terminal pela famiacutelia ou pessoas que lhe sejam proacuteximasrdquo (Artigo 87ordm)

3 Decreto Lei nordm 10498 de 21 de Abril de 1998

4 Decreto-Lei Nordm 16196 de 4 de Setembro de 1996

CUIDADOS PALIATIVOS QUE RESPOSTAS Em Portugal os cuidados Paliativos estatildeo a dar os primeiros passos verificando-se a existecircncia de alguma preocupaccedilatildeo relativamente ao utente em fase terminal (Queiroacutes 2001) Todavia assiste--se a um deficit ou mesmo ausecircncia de respostas por parte dos serviccedilos e instituiccedilotildees de sauacutede aos utentes (Sapeta 2003)Num estudo realizado pela APEME (2008) sobre o grau de satisfaccedilatildeo da populaccedilatildeo com os Cuidados Paliativos atraveacutes da aplicaccedilatildeo de um questionaacute-rio por entrevista telefoacutenica a uma amostra de 606 elementos salienta-se que 31 dos inquiri-dos os consideram completamente insuficientes 25 insuficientes 31 suficientes 9 moderada-mente suficientes e 5 completamente suficien-tes Curiosamente quando inquiridos sobre ldquoas principais sugestotildees para melhorias dos cuidados paliativosrdquo 14 apostavam na formaccedilatildeo profis-sional e 8 deseja mais profissionais especializa-dos na aacuterea Eacute ainda de referir o estudo realizado por Sapeta (2003) que afirma que a maioria das escolas de Enfermagem lecciona em mais que um ano lecti-vo e em mais do que uma aacuterea cientiacutefica os temas ldquocuidados paliativosrdquo e ldquodor croacutenicardquo contudo numa abordagem bastante superficial dado ao nuacutemero de horas associado Desta forma e especificamente neste aspecto o Programa Nacional de Cuidados Paliativos (DGS 2004 p 2) considera que eacute imprescindiacutevel ldquouma preparaccedilatildeo soacutelida e diferenciada que deve envol-ver quer a formaccedilatildeo preacute-graduada quer a forma-ccedilatildeo poacutes-graduada dos profissionais que satildeo cha-mados agrave praacutetica deste tipo de cuidadosrdquo

CONCLUSAtildeONa actualidade a questatildeo da eutanaacutesia suplanta expectativasduacutevidas natildeo soacute na populaccedilatildeo mas tambeacutem nas camadas profissionais de sauacutede no-meadamente os enfermeiros Concomitantemen-te vaacuterias fracccedilotildees sociais manifestam interesse ou reprovaccedilatildeo pela sua praacutetica Ora eacute defendida por uns eou reprovada por outrosEacute importante destacar que a percepccedilatildeo e livre ar-biacutetrio que o enfermeiro possui norteia a sua praacute-tica profissional e consequentemente influencia algumas tomadas de decisatildeo Notabiliza-se con-tudo a vinculaccedilatildeo do exerciacutecio da profissatildeo a um

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conjunto de regras e aspectos legais e eacutetico-de-ontoloacutegicos que se identificam como orientaccedilotildees para julgar a acccedilatildeo profissional constituindo por fim a obrigatoriedade do enfermeiro se reger pe-las mesmas Eacute neste contexto que nos surgiu a proposta da reflexatildeo sobre possiacuteveis ldquosoluccedilotildeesrespostasrdquo que se esbarraram com a filosofia dos cuidados paliativos que na maioria dos autores referidos se apresentam como a melhor resposta nacional face agraves actuais disposiccedilotildees legais Em epiacutelogo procurou-se evidenciar e incentivar a necessidadeobrigatoriedade de formaccedilatildeo na aacuterea salientando natildeo soacute a importacircncia da tomada de decisatildeo dos serviccedilosinstituiccedilotildees mas predo-minantemente das escolas de Enfermagem

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ENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2010

RESUMONum momento em que o modelo de emergecircncia preacute-hospitalar em Portugal eacute discutido torna-se necessaacuterio reflectir acerca das competecircncias e da importacircncia dos profissionais nela incluiacutedos entre os quais os enfermeiros que natildeo tecircm suscitado consenso Se por um lado existe evidecircncia cientiacutefica que reafirma a importacircncia do enfermeiro neste contexto existem correntes de pensamento que argumentam o inverso objectivando este artigo responder agrave questatildeo ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro em emergecircncia preacute-hospitalarrdquo

Palavras-Chave Enfermagem Emergecircncia preacute--hospitalar

ABSTRACTIn a moment that the pre hospital emergency system is discussed arises the needing to reflect about the competence and importance that the included professionals have to work in this field including the nurses that donacutet have evoke consensus If on one hand exists scientific evidence that reaffirms the importance of the nurseacutes presence in that field there exists currents of thought that argue the inverse So this article objectify answer to the question ldquoExist or not competence for the nursersquos professional exercise in the pre hospital care fieldrdquo

Keywords Nursing Pre hospital emergency

ANDREacute FILIPE RICARDO CORREIAHospital de Faro EPE ndash Unidade de Cuidados Intensivos

INTRODUCcedilAtildeO

Num momento em que a posiccedilatildeo do enfermeiro nas equipas de emergecircncia preacute-hospitalar eacute am-plamente discutida justifica-se a necessidade de reflectir acerca das suas competecircncias para o exerciacutecio nesta aacuterea assim como o seu papel na garantia da seguranccedila e qualidade dos cuidados de sauacutede prestados neste contexto

A presenccedila dos enfermeiros na emergecircncia preacute--hospitalar em Portugal remonta haacute cerca de 20 anos exercendo estes funccedilotildees nas mais variadas aacutereas desde o transporte de receacutem-nascidos Viaturas Meacutedicas de Emergecircncia e Reanimaccedilatildeo (VMER) heli-transporte de doentes criacuteticos e em cataacutestrofe [Ordem dos Enfermeiros (OE) 2008]

Numa constante e progressiva consolidaccedilatildeo do Sistema Integrado de Emergecircncia Meacutedica (SIEM) a que se tem assistido o papel do enfermeiro tem sido reforccedilado nomeadamente com a recente criaccedilatildeo das ambulacircncias de Suporte Imediato de

Vida (SIV) e da figura do enfermeiro responsaacute-vel pelo acompanhamento dos meios no terreno no Centro de Orientaccedilatildeo de Doentes Urgentes (CODU) representando conjuntamente com os preacute-existentes VMER e helicoacutepteros de Emergecircn-cia meacutedica os meios operacionais atraveacutes dos quais os enfermeiros intervecircm actualmente na prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar em equipa com meacutedicos psicoacutelogos tripu-lantes de ambulacircncia de socorro (TAS) tripulan-tes de ambulacircncia de emergecircncia (TAE) e teacutecnicos de operaccedilotildees e telecomunicaccedilotildees de emergecircncia (TOTE) (OE 2008)

Contudo as competecircncias do enfermeiro para a prestaccedilatildeo de cuidados neste contexto assim como a necessidade da sua intervenccedilatildeo parecem natildeo reunir consensualidade sendo suscitadas cor-rentes de pensamento que se opotildeem agrave sua activi-dade e presenccedila neste acircmbito de cuidados Ape-sar inicial ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro no contexto

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de cuidados preacute-hospitalarrdquo

De facto compreendo que se natildeo nos ocupar-mos desta problemaacutetica corremos o seacuterio risco de uma vez mais vermos diminuiacutedas as nossas aacutereas de intervenccedilatildeo o que indubitavelmente re-presenta uma perda para a profissatildeo e em uacutelti-ma instacircncia para a comunidade alvo dos nossos cuidados pelo consequente impacto na qualidade desses cuidados

Assim a este propoacutesito entendemos que o en-fermeiro possui competecircncias que o habilitam agrave prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia no contex-to preacute-hospitalar constituindo a sua presenccedila nas equipas preacute-hospitalares uma inegaacutevel mais-valia

suportada em todo um corpo de conhecimentos teacutecnico - cientiacuteficos que resultam em claros bene-fiacutecios para as pessoas assistidas Tal como a evi-decircncia cientiacutefica (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) afirma os conhecimentos base e competecircncias em ciecircncias como anatomia fisiopatologia e farmacologia a complementari-dade das ciecircncias sociais e humanas produccedilatildeo cientiacutefica e praacutetica baseada na evidecircncia o espiacuteri-to criacutetico - reflexivo e os elevados conhecimentos da realidade intra-hospitalar satildeo caracteriacutesticas dos enfermeiros que acrescem saberes e compe-tecircncias adicionais ao acircmbito da emergecircncia preacute--hospitalar permitindo a sua presenccedila ldquohellipperform and document a high quality and holistic assess-

ment including bio-psycho-social needs and not merely physical needshelliprdquo (Melby amp Ryan 2005 p1147) A este respeito ainda Palma Rodriacuteguez Azanoacuten e Rodriguez (2005) satildeo contundentes ao concluiacuterem que a presenccedila dos enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar eacute imprescindiacutevel natildeo soacute por possuiacuterem a qualificaccedilatildeo necessaacuteria para co-laborar e actuar na prestaccedilatildeo de cuidados a pes-soas em situaccedilotildees de urgecircnciaemergecircncia como tambeacutem pela diferenciaccedilatildeo na prestaccedilatildeo dos mesmos o que possibilita indubitaacuteveis benefiacutecios para o doente mediante a melhoria de conheci-mentos respostas colaboraccedilatildeo e adaptaccedilatildeo do mesmo agrave sua situaccedilatildeo de alteraccedilatildeo no continuum sauacutede-doenccedila

Poreacutem contrariamente agrave evidecircncia cientiacutefica que aponta os benefiacutecios da participaccedilatildeo do enfer-meiro no contexto de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar as correntes divergentes indicam determinados aspectos como limitadores ou mesmo inviabilizadores desta presenccedila que vatildeo desde a inadequaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo ateacute haacute ine-xistecircncia de legitimidade eacutetico-deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados de forma autoacutenoma envolvendo duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais

Neste sentido o Sindicato dos Teacutecnicos de Am-bulacircncia de Emergecircncia (STAE) (2010) refere que a niacutevel internacional os serviccedilos de emergecircncia meacutedica demonstram que as soluccedilotildees para os re-cursos humanos nesta aacuterea devem incidir na for-maccedilatildeo de profissionais unicamente direccionados para o desempenho de cuidados de emergecircncia em ambiente preacute-hospitalar (comummente deno-minados como ldquoparameacutedicosrdquo) com autorizaccedilatildeo para executar determinados procedimentos meacutedi-cos invasivos sob direcccedilatildeo meacutedica e certificaccedilatildeo acrescentando ainda que natildeo existem vantagens em termos de eficiecircncia ou qualidade dos cui-dados prestados com a inclusatildeo de enfermeiros neste acircmbito de cuidados Poreacutem Suserud e Hal-jamaumle (1997 1999) aos quais acrescemos a nossa aprovaccedilatildeo opotildeem-se a esta posiccedilatildeo salientando inversamente a tendecircncia internacional a que se assiste no sentido de um aumento do nuacutemero de enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar Como estes referem os modelos que preconizaram a existecircncia do tipo de soluccedilatildeo para os recursos hu-manos sugerido pelo STAE (2010) basearam-se na

inexistecircncia de meacutedicos e enfermeiros suficientes para suprir simultaneamente as necessidades intra e preacute-hospitalares pelo que por uma ques-tatildeo de racionalizaccedilatildeo de meios humanos optaram pela sua retenccedilatildeo no acircmbito intra-hospitalar em detrimento do preacute-hospitalar

Com o debate em torno da importacircncia de um elevado niacutevel de competecircncias para aumentar a qualidade dos cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar foram suscitadas por parte de vaacuterios paiacute-ses alteraccedilotildees na forma de encarar os recursos humanos necessaacuterios para a prossecuccedilatildeo deste objectivo Como tal a Noruega a Sueacutecia ou a Ho-landa satildeo exemplos de paiacuteses que apesar de ini-cialmente suportados em modelos de emergecircncia meacutedica que pressupunham a existecircncia de profis-sionais de emergecircncia meacutedica como os referidos pelo STAE (2010) alteraram o seu modo de fun-cionamento incluindo os enfermeiros nas equipas de emergecircncia preacute hospitalar salientando ldquohellipthe importance of having equally competence emer-gency personel working in the pre-hospital area and in hospital that is professionals doing the same type of work should have similar competen-ce levels and practical trainingrdquo (Suserud amp Hal-jamaumle 1997 p145) Na verdade a emergecircncia meacute-dica preacute-hospitalar eacute uma componente da Emer-gecircncia Meacutedica a qual abrange um largo espectro

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intervenccedilatildeo desde os cuidados intensivos ateacute agrave prestaccedilatildeo de cuidados em serviccedilos de urgecircncia passando pelo transporte inter-hospitalar de do-entes urgentes todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros tecircm uma participaccedilatildeo essencial e competecircncias reconhecidas [Suserud 2005 Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Nor-te (ARSN) 2009] Partilhando estas actividades toda uma seacuterie de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e compe-tecircncias comuns torna-se clara a importacircncia da presenccedila do enfermeiro de um modo transversal em todas elas permitindo uma boa articulaccedilatildeo e continuidade fundamentais para toda a cadeia de cuidados realccedilando a evidecircncia cientiacutefica pro-duzida nos paiacuteses que adoptaram este modelo de emergecircncia preacute-hospitalar que ldquohellipthe increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by ra-sing the competence level of the team as a who-lerdquo (Suserud amp Haljamaumle 1997 p145)

Outra das objecccedilotildees apontada refere-se agrave neces-sidade de formaccedilatildeo especiacutefica para a prestaccedilatildeo de cuidados em emergecircncia preacute-hospitalar sendo referido que o ldquoenfermeiro carece sempre de for-maccedilatildeo especializada para a intervenccedilatildeo preacute-hos-pitalar que natildeo seja conjunta com o meacutedico hellipsob pena de estar em causa a seguranccedila e a qualidade dos cuidados prestadosrdquo (STAE 2010 p5)

De facto aceitamos a menccedilatildeo de que eacute necessaacute-ria formaccedilatildeo acrescida agrave formaccedilatildeo base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) Poreacutem esta eacute claramente uma preposiccedilatildeo inviaacutevel no sentido de reiterar a inexistecircncia de competecircn-cias de enfermagem em emergecircncia preacute-hospita-lar Natildeo podemos esquecer que a licenciatura natildeo concede por si soacute uma especializaccedilatildeo da praacutetica profissional pois apenas confere uma base de co-nhecimentos e competecircncias no acircmbito da enfer-magem de cuidados gerais encaminhando poste-riormente o enfermeiro a sua praacutetica profissional num determinado sentido obviamente suportada pela formaccedilatildeo adicional que essa aacuterea exija To-davia a existecircncia de um corpo soacutelido de conhe-cimentos base adquirido no CLE vai favorecer a posterior aquisiccedilatildeo de conhecimentos e compe-tecircncias suportando e solidificando a prestaccedilatildeo de cuidados na aacuterea especiacutefica em causa

Por outro lado decorrente de vaacuterios factores como a gravidade e complexidade das situaccedilotildees cliacutenicas a imprevisibilidade de ocorrecircncias e a prestaccedilatildeo de cuidados em ambiente extra-hospi-talar com elevada exposiccedilatildeo social e reduzido nuacute-mero de intervenientes no processo de decisatildeo o exerciacutecio profissional neste contexto eacute reconheci-damente especiacutefico e complexo o que exige uma preparaccedilatildeo singular e contiacutenua dos profissionais envolvidos (Tomaacutes 2009 OE 2010)

Face a isto na realidade portuguesa todos os en-fermeiros que prestam cuidados nas VMER SIV helicoacutepteros de emergecircncia meacutedica e CODU tecircm formaccedilatildeo que os habilita agrave sua actividade con-ferindo as competecircncias teoacuterico - praacuteticas consi-deradas essenciais pelas entidades competentes ao que se acrescem as poacutes-graduaccedilotildees e mes-trados que tecircm surgido nas aacutereas de urgecircnciaemergecircncia encaradas como uma mais-valia na qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais (Vieira Oliveira amp Ressurreiccedilatildeo 2005 Tomaacutes 2009) A li-teratura (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) por sua vez sugere a existecircncia de um consenso relativamente ao facto dos enfer-meiros com experiecircncia de anestesia unidade de cuidados intensivos e serviccedilo de urgecircncia serem os mais habilitados para a prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar decorrente da for-maccedilatildeo que possuem e da constante interacccedilatildeo com situaccedilotildees cliacutenicas criacuteticas que lhes permite uma manutenccedilatildeo das competecircncias que de ou-tro modo poderiam decrescer face a periacuteodos de menor operacionalidade decorrente da inexis-tecircncia de situaccedilotildees criacuteticas na aacuterea de influecircncia dos meios de socorro Desta forma poderaacute residir neste aspecto um dos deacutefices do modelo portu-guecircs em que os enfermeiros dos meios SIV ape-nas prestam cuidados no contexto preacute-hospitalar em exclusividade Todavia na VMER esta questatildeo natildeo se coloca uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua activi-dade profissional tambeacutem em contexto intra-hos-pitalar preferencialmente nos serviccedilos supraci-tados sendo esta uma das condiccedilotildees de ingresso previamente definida o que potencia o processo de retro-alimentaccedilatildeo de experiecircncia e conheci-mento com consequente mais-valia para as duas aacutereas (Suserud 2005 OE 2010)

Eacute tambeacutem no capiacutetulo da legitimidade eacutetico--deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados que satildeo colocadas duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais do enfermeiro ldquohellipque natildeo seja conjunta com o meacutedi-cohelliprdquo (STAE 2010 p5) pois o caraacutecter de inter-venccedilatildeo em situaccedilotildees criacuteticas contempla que natildeo raras vezes se torne necessaacuterio aplicar determi-nadas intervenccedilotildees e procedimentos considera-dos life saving como entubaccedilatildeo endo-traqueal desfibrilhaccedilatildeo prescriccedilatildeo e administraccedilatildeo de faacuter-macos ou lideranccedila em situaccedilotildees de emergecircncia comummente reconhecidas como do acircmbito de intervenccedilatildeo meacutedica colocando-se questotildees como ldquoqual a fronteira em termos de intervenccedilotildees meacute-dicas e de enfermagemrdquo ou ldquopode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenccedilotildees e proce-dimentos life savingrdquo (Vieira Oliveira amp Ressur-reiccedilatildeo 2005)

Poreacutem o decreto-lei nordm 16176 de 4 de Setembro enquanto Regulamento do Exerciacutecio Profissional dos Enfermeiros (REPE) permite que estas duacutevidas possam ser esclarecidas dissipadas e devidamente documentadas em articulaccedilatildeo com os demais do-cumentos descritores e reguladores da profissatildeo

Definidos os cuidados de enfermagem como ldquoas intervenccedilotildees autoacutenomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no acircmbito das suas qua-lificaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 1 artigo 4ordm do decreto-lei nordm 16176) as intervenccedilotildees autoacutenomas referem-se agraves ldquoacccedilotildees realizadas pelos enfermei-ros sob sua uacutenica e exclusiva iniciativa e respon-sabilidade de acordo com as respectivas quali-ficaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 2 art 9ordm do de-creto-lei nordm 16176) enquanto as interdependen-tes satildeo respeitantes agraves intervenccedilotildees realizadas ldquopelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificaccedilotildees profissionais em conjunto com ou-tros teacutecnicos para atingir um objectivo comum decorrentes de planos de acccedilatildeo previamente de-finidos pelas equipas multidisciplinares em que estatildeo integrados e das prescriccedilotildees ou orientaccedilotildees previamente formalizadasrdquo (nuacutemero 3 artigo 9ordm do decreto-lei nordm 16176) Continuando a anaacutelise o nuacutemero 4 art 9ordm do mesmo diploma refere que os enfermeiros ldquoprocedem agrave administraccedilatildeo de te-rapecircutica prescrita detectando os seus efeitos e actuando em conformidade devendo em situaccedilatildeo de emergecircncia agir de acordo com a qualificaccedilatildeo e os conhecimentos que detecircm tendo como fina-lidade a manutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

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PALMA Garcia RODRIacuteGEZ Salvador AZANOacuteN Heacuternandez RODRIacute-GUEZ Camero ndash Provesso enfermero y atencioacuten prehospitalaria ur-gente Tempus Vitalis 1578 ndash 5963 52 (2005) 1-3

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TOMAacuteS Alexandre ndash O enfermeiro em ambulacircncias de Suporte Ime-diato de Vida ndash Afirmar a Enfermagem no preacute-hospitalar Ordem dos Enfermeiros 1646 ndash 2629 32 (2009) 59-60

VIEIRA Pedro OLIVEIRA Luiacutes RESSURREICcedilAtildeO Serafim ndash O enfer-meiro perante a emergecircncia preacute-hospitalar Sinais Vitais 61 (2005) 32-35

JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

28 29

formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

BIBLIOGRAFIAAMARAL M GONCcedilALVES R NUNES L ndash Coacutedigo Deontoloacutegico do Enfermeiro dos Comentaacuterios agrave Anaacutelise de Casos Lisboa Ordem dos Enfermeiros 2006 456 p ISBN 972-99646-0-2

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CONTRERA-MORENO L e CONTRERA-MORENO M ndash Violecircncia no trabalho em enfermagem um novo risco ocupacional Revista Brasilei-ra de Enfermagem [em linha] Vol 57 nordm 6 (2004) p 1 [Consult 29 Abril 2010] Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfrebenv57n6a24pdf

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 7: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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A portaria 672012 evolui no conceito de ldquoLar de Idososrdquo para ldquoestrutura residencial para pessoas idosasrdquo e defini-o como o estabelecimento para alo-jamento colectivo de utilizaccedilatildeo temporaacuteria ou per-manente em que satildeo desenvolvidas actividades de apoio social e prestados cuidados de enfermagem

Como sabes na maioria destas estruturas haacute um enfermeiro ldquoumas horas por dia ou por semanardquo Consideras essa uma ldquoboa respostardquo de cuidados de enfermagem

Claro que natildeo posso dizer nunca que isso eacute uma boa resposta mas devemos tambeacutem ter em aten-ccedilatildeo que natildeo existem recursos financeiros para termos um enfermeiro num lar de idosos perma-nentemente Contudo parece que esta situaccedilatildeo eacute um equiacutevoco e esta questatildeo pode natildeo fazer senti-do no futuro proacuteximo

O que precisamos eacute de determinar tipologias para os cuidados e serviccedilos a pessoas idosas Num lar em que soacute existam pessoas idosas independentes um enfermeiro eacute suficiente bem como a sua acti-vidade de prevenccedilatildeo ensino e educaccedilatildeo Jaacute numa tipologia com residentes fortemente doentes te-mos que ter um enfermeiro a tempo inteiro mas estas unidades jaacute existem e chamam-se cuidados continuados pelo que os lares satildeo respostas para pessoas sem cuidados de sauacutede permanentes

A nova portaria veio estigmatizar ainda mais a pessoa idosa Estaacute errada

Um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A comparticipaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo de indicadores e assim teriacuteamos comparticipaccedilatildeo que assegurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos

Fala-me da tua experiecircncia neste acircmbito

No nosso lar fizemos aquilo que todos podem fa-zer mas que parece natildeo terem vontade dividimos a estrutura em duas zonas distintas Uma estaacute destinada a pessoas idosas independentes sem necessidade de cuidados de sauacutede e de higiene

e conforto Pessoas que soacute precisam de se sentir seguras e ter apoio para desenvolverem novos projectos de vida Nesta aacuterea o enfermeiro tem necessidade apenas de fazer formaccedilatildeo prevenir ensinar e educar para a sauacutede e para um envelhe-cimento mais feliz e mais saudaacutevel

Numa outra aacuterea temos as pessoas dependentes muitas delas fortemente dependes com enfer-magem 24 horas por dia fisioterapeutas auxi-liares com cargas de trabalho muito confortaacuteveis e coacutemodas Nesta aacuterea recebemos tambeacutem do-entes para recuperaccedilatildeo global cujo rendimento financeiro eacute maior e muito significativo assegu-rando sustentabilidade de todos os recursos hu-manos

Eacute o modelo que devia ter sido adoptado para os cuidados continuados mas alguns preferiram ca-minhar pela estrada do grande empreendedoris-mo da construccedilatildeo civil e do cimento Natildeo havia auto-estradas para fazerhellip

Mas entatildeo haacute ldquomais valiasrdquo em ter enfermeiro 24 horas

Numa unidade capaz de responder aacute recupera-ccedilatildeo global aacute recuperaccedilatildeo de situaccedilotildees de doenccedila pontuais poacutes cirurgias etc

Numa unidade que consiga especializar-se em determinadas especificidades e que possa pelo rendimento financeiro assegurar os enfermeiros e os outros teacutecnicos Natildeo podemos continuar a fazer redes ao lado da rede hospitalar exigir teacutec-nicos de sauacutede e natildeo procurar saber como se sus-tentam esses projectos

Quero esclarecer que nada disto confronta o mo-delo de estado social ou faz com que natildeo defenda um estado que trate e cuide dos mais fragilizados em igualdade de circunstacircncias com toda a popu-laccedilatildeo Natildeo gosto eacute de contribuir para um estado que natildeo eacute social mas que eacute um estado das insti-tuiccedilotildees sociais

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos no-

vas tipologias De natildeo diferenciar-mos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de instituciona-lizaccedilatildeo na europa do norte de cer-ca de 17 e em Portugal 35

Por isso os indicadores atraacutes referidos demons-tram essa ldquomais-valiardquo

Todos os indicadores atraacutes referenciados satildeo melhorados com a introduccedilatildeo de enfermeiros mas mantenho a ideia inicial numa resposta em que se encontrem pessoas doentes e natildeo neces-sariamente num lar que pretende que as pessoas sejam felizes e saudaacuteveis Na aacuterea das pessoas dependentes o enfermeiro mede o seu desempe-nho por muitos indicadores ulceras de pressatildeo recursos a urgecircncias e dias de internamento quedas nuacutemero de medicamentos percepccedilatildeo da dor antibioacuteticos consumidos

Se introduzires um enfermeiro num lar e medi-res estes indicadores concluis que todos baixam num tempo muito reduzido

Eacute isto que o Estado natildeo quer perceber mas que as Institui-ccedilotildees ditas socias tam-beacutem natildeo aceitam um enfermeiro num Lar diminui em milhotildees de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal A com-participaccedilatildeo devia ser dada em funccedilatildeo destes indicadores e assim teriacuteamos com-participaccedilatildeo que as-segurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos Mas isso provavelmente acaba-ria com os velhos do-entes desgraccedilados e infelizes e as Institui-

ccedilotildees ficavam cada vez com menos clientes por-que vivem exclusivamente do assistencialismo e da caridade

O Regulamento da Individualizaccedilatildeo das Especia-lidades Cliacutenicas de Enfermagem (Regulamento nordm 1682011 publicado em Diaacuterio da Repuacuteblica 2ordf seacuterie mdash Nordm 47 mdash 8 de Marccedilo de 2011) prevecirc a criaccedilatildeo de uma especialidade designada de SAUacuteDE DO IDOSO

Da tua experiecircncia com pessoas idosas consideras esta uma especialidade necessaacuteria

Temos muito que discutir Primeiro precisamos de enfermeiros capazes de gerir lares e liderar equi-pas que natildeo sejam exclusivamente constituiacutedas pelos seus pares Enfermeiros que se exponham como diferentes contribuindo com a sua acccedilatildeo para transformaccedilotildees significativas das institui-ccedilotildees sociais e das entidades privadas na aacuterea do envelhecimento

Mas eacute claro que eacute fundamental uma especialida-de para a aacuterea das pessoas idosas Daqui a pou-co tempo satildeo metade da populaccedilatildeo portuguesa e metade da populaccedilatildeo mundial tendo em conta

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os paiacuteses mais desenvolvidos

Julgo que deveriacuteamos iniciar um profundo debate sobre a enfermagem e o envelhecimento e que a revista Sinais Vitais poderia ser um dos lugares mais interessantes para fazer este debate nacio-nal e ateacute internacional

Que competecircncias devem ser desenvolvidas pelos en-fermeiros nesta especialidade

Conhecimento sobre novos modelos para abor-dagem do envelhecimento legislaccedilatildeo direitos humanos e envelhecimento diversidade de res-postas e necessidades sociais e de sauacutede do en-velhecimento lideranccedila gestatildeo de equipamen-tos com uma forte componente praacutetica Seria bom analisar-se a Poacutes Graduaccedilatildeo promovida pela associaccedilatildeo amigos da grande Idade da qual sou presidente e que foi feita em parceria com a universidade Fernando Pessoa estando para ser lanccedilada a segunda ediccedilatildeo com a Universidade da Estremadura

Conhecendo como eu sei a realidade portuguesa em termos de respostas sociais dirigidas agrave pessoa idosa elas satildeo suficientes e adequadas

Natildeo as respostas natildeo satildeo suficientes mas acima de tudo satildeo desadequadas Costumo a dizer que se o Marquecircs de Pombal descesse agrave terra ficaria deslumbrado com tanta evoluccedilatildeo mas se entrasse num lar sentir-se-ia no tempo dele

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos novas tipologias De natildeo diferenciarmos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de institucio-nalizaccedilatildeo na europa do norte de cerca de 17 e em Portugal 35

Eacute necessaacuteria uma revoluccedilatildeo e penso que ela esta-raacute para breve Os revolucionaacuterios ao contraacuterio do habitual vatildeo ser os empreendedores capitalistas que iratildeo investir num novo modelo de oferta de cuidados e serviccedilos

Consegues dizer-me quantos Lares haacute em Portugal continental

Existem cerca de 2000 lares em Portugal cerca de 2000 centros de dia e 2500 serviccedilos de apoio domiciliaacuterio Isto legalmente Prevecirc-se que pos-sam existir cerca de 2500 lares ilegais ou clan-destinos no paiacutes

Conhecedor das respostas sociais neste acircmbito enca-rara a tua velhice de forma despreocupada

Natildeo claro que natildeo Primeiro quero nomear o mais rapidamente possiacutevel algueacutem que me repre-sente com autoridade para natildeo ser ldquoapanhadordquo na teia da destituiccedilatildeo de direitos e vontades Natildeo quero que me coloquem um nariz de palhaccedilo e uma peruca quando for o carnaval como se fosse um velho tonto apalhaccedilado

Mas natildeo tenho garantias Se calhar vou mesmo fazer essas figuras pateacuteticas Para grande gaacuteudio dos teacutecnicos

O que mudaria na organizaccedilatildeo desta reposta social se fosse convidado pelo governo a coordenaacute-la

A Associaccedilatildeo a que presido tem vaacuterios documen-tos mas destaco de imediato

ndash mudaria o modelo de financiamento e deixava de distribuir dinheiro a instituiccedilotildees sem avaliar os seus indicadores de qualidade e desempe-nho

ndash criava um novo modelo de oferta que natildeo fosse destinado a pessoas idosas doentes mas ape-nas a pessoas idosas ou seja implementava no-vas tipologias

ndash apostava nos cuidados domiciliaacuterios e nos cen-tros de dia criando uma rede nacional que in-cluiria tambeacutem o centro de sauacutede e os lares

ndash criava um programa para legalizaccedilatildeo de lares clandestinos e ilegais

Poucas medidas mas de grande eficaacutecia Aliaacutes Portugal espera um ministro que queira ficar na histoacuteria

A ENFERMAGEM TEM UM ENDERECcedilO

wwwsinaisvitaispt

NOTIacuteCIAS radic FORMACcedilAtildeO radic CIEcircNCIA radic DISCUSSAtildeO

PARQUE EMPRESARIAL DE EIRAS LOTE 19 EIRAS3020-265 COIMBRAtElEfOnE 239 801 020fax 239 801 029

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RESPOSTA Agrave EUTANAacuteSIA ENQUANTO PRAacuteTICA EacuteTICA

ENTRADA DO ARTIGO OUTUBRO 2010

EDUARDO JOSEacute FERREIRA DOS SANTOSEnfermeiro na Fundaccedilatildeo Aureacutelio Amaro Diniz

RESUMONa praxis cliacutenica o significado da eutanaacutesia acres-ce pela pressatildeo da moralidade puacuteblica e profunda convicccedilatildeo dos que lidam com pessoas particular-mente vulneraacuteveis e para as quais o fenoacutemeno pa-toloacutegico eacute profundamente incapacitante Este artigo corporiza a preocupaccedilatildeo dos que se debatem com este dilema eacutetico sugerindo o en-caminhamento para cuidados paliativos e a adop-ccedilatildeo de uma posiccedilatildeo mais proactiva das escolas de enfermagem e instituiccedilotildeesserviccedilos na formaccedilatildeo e ensino especializado

Palavras-chave Eutanaacutesia fim-de-vida cuidados paliativos eacutetica

ABSTRACTIn clinical practice the meaning of euthanasia is increased by the pressure of public morality and deep conviction of dealing with particularly vul-nerable persons and for which the pathological phenomenon is profoundly disablingThis article presents the concern of those who struggle with this ethical dilemma sug-gesting the orientation to palliative care and the adoption of a more proactive posi-tion by nursing schools and institutionsser-vices in training and specialized education

Keywords Euthanasia life-end palliative care ethics

INTRODUCcedilAtildeOA Eutanaacutesia deriva da junccedilatildeo de duas palavras Eu que significa bom e Thanatos que quer dizer mor-te Semanticamente morte doce morte sem ago-nia ou sem sofrimento fiacutesico Trata-se portanto do processo atraveacutes do qual algueacutem causa deliberada-mente a morte de outra a pedido desta uacuteltima (na expressatildeo de Arroyo e Serrano 1988)Por se associar intrinsecamente ao ldquoacto inten-cional de matarrdquo (Serratildeo 1996 p382) a eutanaacutesia eacute palco de inuacutemeras poleacutemicas posiccedilotildees e origina uma acesa controveacutersia num diaacutelogo nem sempre construtivo em torno do conceito de morte com dignidade O facto eacute que existe uma manifesta falta de informaccedilatildeo objectiva sobre os motivos que podem originar um pedido desta natureza (P13APB08) e como tal a eutanaacutesia impotildee-se como foco de reflexatildeo agrave enfermagem Isto porque sempre que ao enfermeiro se apresente a possibi-lidade de participaccedilatildeo na mesma surge agrave priori o dever de recusa Todavia no domiacutenio da liberda-de do livre arbiacutetrio a eutanaacutesia constitui-se como um dilema eacutetico (Queiroacutes 2001 Archer Biscaia e Osswald 2001 Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005)Eacute sobre a posiccedilatildeo da Enfermagem que nos pre-tendemos debruccedilar sugerindo a filosofia dos cui-dados paliativos como soluccedilatildeo em detrimento da realidade portuguesa

ASPECTOS CONCEPTUAIS A dignidade humana eacute sentida e expressa atraveacutes do corpo como suporte bioloacutegico de existecircncia Nem a pessoa eacute o corpo nem tatildeo pouco proprie-taacuteria do seu corpo Como tal a dignidade huma-na quanto mais agredida eacute tanto mais se impotildee como fronteira inviolaacutevel entre o humano e o natildeo--humano Eacute por esse motivo que hoje a dignidade humana aparece ligada a expressotildees que vatildeo des-de a qualidade de vida ao cuidado agrave cariacutecia agrave compaixatildeo (26CNECV99)Neste sentido o respeito pela dignidade de cada pessoa humana eacute uma exigecircncia eacutetica inscre-vendo na praacutetica diaacuteria dos cuidados de sauacutede o permanente centrar desses mesmos cuidados em cada pessoa (Martins 2010)Por outro lado cresce a noccedilatildeo de que no acircmbito da prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede os utentes de-vem ser livres de recusar determinados tratamen-tos agrave luz do princiacutepio do respeito pela autonomia

individual Assim eacute hoje possiacutevel qualquer doente competente recusar um determinado tratamen-to mesmo que desta forma se abrevie o momento da sua morte Aliaacutes eacute neste mesmo sentido que se questiona se esta capacidade decisoacuteria pode ser exercida prospectivamente nomeadamente quando natildeo for possiacutevel o exerciacutecio da autodeter-minaccedilatildeo individual (E10APB07)Curiosamente eacute neste domiacutenio que surge a euta-naacutesia e manifestamente se materializa pela pres-satildeo exercida pelos utentes nos profissionais de sauacutede ao exigirem respeito pelo seu ldquodireitordquo de morrer Com efeito quando os profissionais de sauacutede se sentem compelidos a agir e por termo ao sofrimento de um utente existe um conflito ine-vitaacutevel entre o dever eacutetico do cuidar protector ndash o dever da beneficecircncia e da natildeo-maleficecircncia ndash e o respeito pela autonomia e do direito de escolha do utente (Thompson Melia e Boyd 2004)Em todo o caso a eutanaacutesia soacute eacute uma opccedilatildeo livre quando se assegurar que se trata de um pedido racional de algueacutem que natildeo se revecirc mais no seu projecto de vida pessoal ou seja que natildeo se tra-ta de um comportamento apelativo por parte de algueacutem que se encontra insatisfeito com as con-diccedilotildees de vida que lhe satildeo proporcionadas (P13APB08)Eacute ainda de referir os resultados do estudo realiza-do por Van Der Wal (1992) apud Pessini e Barchi-fontaine (2005) que descreveu que 56 dos casos dos pedidos de eutanaacutesia se deviam aos utentes verem o seu sofrimento sem sentido e 46 por-que temiam o decliacutenioNo entanto vaacuterias satildeo as causas que precipitam tais pedidos Para muitos doentes a solidatildeo em que se encontram pode implicar que a morte as-sistida seja considerada a soluccedilatildeo final ainda que natildeo desejada para o seu dilema existencial Ou-tras causas residem ainda no sofrimento intenso devido ao sentimento de abandono e de exclusatildeo social e menos frequentemente a dor profunda e insustentaacutevel (P13APB08)Neste ponto pode-se apontar os cuidados pa-liativos como estrateacutegia ideal dado que eacute a mais referida pelos autores (Marques Santos e Santos 2001 Thompson Melia e Boyd 2004 Pessini e Barchifontaine 2005) Assim e com a atenccedilatildeo sin-cera dirigida para o utente que solicita a eutanaacute-sia o estabelecimento de ldquoverdadeirasrdquo relaccedilotildees de ajuda e com o auxiacutelio dos cuidados paliativos o

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sofrimento extremo natildeo permanece sem respos-ta Haacute entatildeo que considerar que indubitavelmente o papel do enfermeiro eacute acompanhar o utente pri-vilegiando a sua qualidade de vida minorando a dor ajudando-o a aceitar e a preparar-se para a morte beneficiando de cuidados paliativos e de acompanhamento psicoloacutegico (Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005) Pretende-se providenciar con-forto e bem-estar ao doente croacutenico (e por maio-ria de razatildeo ao doente terminal) recorrendo a meios proporcionados de tratamento por parte de uma equipa de sauacutede especialmente sensibili-zada nesta mateacuteria (E10APB07)Decerto que um outro desafio reside tambeacutem no dever do Estado implementar uma poliacutetica efecti-va de luta contra a dor nomeadamente atraveacutes da implementaccedilatildeo generalizada do Plano Nacional de Luta Contra a Dor e promover a generalizaccedilatildeo dos cuidados paliativos a niacutevel domiciliaacuterio nos Cen-tros de Sauacutede e cuidados em hospitais oncoloacutegicos e outros estabelecimentos de sauacutede (P13APB08)Em suma o desafio dos cuidados paliativos consti-tui entatildeo o de resgatar da dignidade do ser huma-no na uacuteltima fase da sua vida (Pessini e Barchifon-taine 2005)

PERSPECTIVA EacuteTICO-LEGAL De acordo com a nossa ordem juriacutedica a eutanaacutesia eacute uma praacutetica ilegal e criminalizada (E10APB07) Contudo a lei portuguesa natildeo trata da praacutetica eutanaacutesia mas como o direito agrave vida eacute inviolaacutevel segundo a CRP1 e o CP2 - que se traduz num cor-po de normas juriacutedicas que primam por serem as que regulam o regime de penaspuniccedilotildees quando algum acto destoa daquilo que se considera legal-mente admissiacutevel - por analogia a ldquoeutanaacutesiardquo eacute puniacutevel Esmiuccedilando o jaacute referido CP que manifesta re-levante ponderaccedilatildeo para o tema aqui em apreccedilo evidencia-se o Tiacutetulo I (que trata em especiacutefico do crime contra as pessoas) o qual se subdivide no Capiacutetulo I (Dos crimes contra a vida) que en-globa os artigos 131ordm 133ordm134ordm138ordmNeste acircmbito reza o artigo 131ordm corpo normativo que regula e penaliza o tipo legal de crime res-peitante ao Homiciacutedio (o dito homiciacutedio simples) ndash que ldquoQuem matar outra pessoa eacute punido com pena de prisatildeo de oito a dezasseis anosrdquoJaacute o artigo 133ordm (onde se enquadra o delito cri-

1 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa (Lei Constitucional 12005)

2 Coacutedigo Penal (Decreto Lei 592007)

minal do Homiciacutedio privilegiado) esclarece que ldquoQuem matar outra pessoa por compreensiacutevel emoccedilatildeo violenta compaixatildeo desespero ou moti-vo de relevante valor social ou moral que diminua sensivelmente a sua culpa eacute punido com pena de prisatildeo de 1 a 5 anosrdquoAo dirigirmos o nosso reparo para o Artigo 134ordm que trata o ldquoHomiciacutedio a pedido da viacutetimardquo no seu nordm1 clarifica-se que ldquoQuem matar outra pes-soa por pedido seacuterio instante e expresso que ela lhe tenha feito eacute punido com pena de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo O Artigo 135ordm (Incitamento ou ajuda ao suiciacutedio) no seu nordm 1) refere que ldquo Quem incitar outra pes-soa a suicidar -se ou lhe prestar ajuda para esse fim eacute punido com pena de prisatildeo ateacute trecircs anosrdquo contudo e acautelando a possibilidade do suiciacutedio ou da tentativa prossegue o nordm 2 do mesmo arti-go ditando que ldquoSe a pessoa incitada ou a quem se presta ajuda for menor de 16 anos ou tiver por qualquer motivo a sua capacidade de valoraccedilatildeo ou de determinaccedilatildeo sensivelmente diminuiacuteda o agente eacute punido com pena de prisatildeo de um a cin-co anos Quanto ao Artigo 138deg (Exposiccedilatildeo ou abandono) lecirc-se que ldquoQuem colocar em perigo a vida de ou-tra pessoardquo ndash aliacutenea a)- ldquoExpondo-a em lugar que a sujeite a uma situaccedilatildeo de que ela soacute por si natildeo possa defender-serdquo ou - aliacutenea b) - ldquoAbandonan-do-a sem defesa sempre que ao agente coubes-se dever de a guardar vigiar ou assistir eacute punido com pena de prisatildeo de 2 a 8 anosrdquo Por uacuteltimo eacute tambeacutem de salientar o facto de que a eutanaacutesia tambeacutem contraria os princiacutepios basi-lares que alicerccedilam a profissatildeo conforme dispos-to no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros3 e no REPE4 No enquadramento deontoloacutegico os deve-res do enfermeiro incitam ldquoo respeito do direito da pessoa agrave vida durante todo o ciclo vitalrdquo (Arti-go 82ordm) e a obrigatoriedade do enfermeiro ldquode-fender e promover o direito do doente agrave escolha do local e das pessoas que deseja o acompanhem na fase terminal da vida e respeitar e fazer res-peitar as manifestaccedilotildees de perda expressas pelo doente em fase terminal pela famiacutelia ou pessoas que lhe sejam proacuteximasrdquo (Artigo 87ordm)

3 Decreto Lei nordm 10498 de 21 de Abril de 1998

4 Decreto-Lei Nordm 16196 de 4 de Setembro de 1996

CUIDADOS PALIATIVOS QUE RESPOSTAS Em Portugal os cuidados Paliativos estatildeo a dar os primeiros passos verificando-se a existecircncia de alguma preocupaccedilatildeo relativamente ao utente em fase terminal (Queiroacutes 2001) Todavia assiste--se a um deficit ou mesmo ausecircncia de respostas por parte dos serviccedilos e instituiccedilotildees de sauacutede aos utentes (Sapeta 2003)Num estudo realizado pela APEME (2008) sobre o grau de satisfaccedilatildeo da populaccedilatildeo com os Cuidados Paliativos atraveacutes da aplicaccedilatildeo de um questionaacute-rio por entrevista telefoacutenica a uma amostra de 606 elementos salienta-se que 31 dos inquiri-dos os consideram completamente insuficientes 25 insuficientes 31 suficientes 9 moderada-mente suficientes e 5 completamente suficien-tes Curiosamente quando inquiridos sobre ldquoas principais sugestotildees para melhorias dos cuidados paliativosrdquo 14 apostavam na formaccedilatildeo profis-sional e 8 deseja mais profissionais especializa-dos na aacuterea Eacute ainda de referir o estudo realizado por Sapeta (2003) que afirma que a maioria das escolas de Enfermagem lecciona em mais que um ano lecti-vo e em mais do que uma aacuterea cientiacutefica os temas ldquocuidados paliativosrdquo e ldquodor croacutenicardquo contudo numa abordagem bastante superficial dado ao nuacutemero de horas associado Desta forma e especificamente neste aspecto o Programa Nacional de Cuidados Paliativos (DGS 2004 p 2) considera que eacute imprescindiacutevel ldquouma preparaccedilatildeo soacutelida e diferenciada que deve envol-ver quer a formaccedilatildeo preacute-graduada quer a forma-ccedilatildeo poacutes-graduada dos profissionais que satildeo cha-mados agrave praacutetica deste tipo de cuidadosrdquo

CONCLUSAtildeONa actualidade a questatildeo da eutanaacutesia suplanta expectativasduacutevidas natildeo soacute na populaccedilatildeo mas tambeacutem nas camadas profissionais de sauacutede no-meadamente os enfermeiros Concomitantemen-te vaacuterias fracccedilotildees sociais manifestam interesse ou reprovaccedilatildeo pela sua praacutetica Ora eacute defendida por uns eou reprovada por outrosEacute importante destacar que a percepccedilatildeo e livre ar-biacutetrio que o enfermeiro possui norteia a sua praacute-tica profissional e consequentemente influencia algumas tomadas de decisatildeo Notabiliza-se con-tudo a vinculaccedilatildeo do exerciacutecio da profissatildeo a um

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conjunto de regras e aspectos legais e eacutetico-de-ontoloacutegicos que se identificam como orientaccedilotildees para julgar a acccedilatildeo profissional constituindo por fim a obrigatoriedade do enfermeiro se reger pe-las mesmas Eacute neste contexto que nos surgiu a proposta da reflexatildeo sobre possiacuteveis ldquosoluccedilotildeesrespostasrdquo que se esbarraram com a filosofia dos cuidados paliativos que na maioria dos autores referidos se apresentam como a melhor resposta nacional face agraves actuais disposiccedilotildees legais Em epiacutelogo procurou-se evidenciar e incentivar a necessidadeobrigatoriedade de formaccedilatildeo na aacuterea salientando natildeo soacute a importacircncia da tomada de decisatildeo dos serviccedilosinstituiccedilotildees mas predo-minantemente das escolas de Enfermagem

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DECRETO-LEI nordm 10498 DR I Seacuterie 93 (21-04-98) 1754-1757

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THOMPSON Ian MELIA Kath BOYD Kenneth ndash Eacutetica em Enfermagem 4ordf Ediccedilatildeo Loures Lusociecircncia 2004 ISBN 972-8383-67-3

ENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2010

RESUMONum momento em que o modelo de emergecircncia preacute-hospitalar em Portugal eacute discutido torna-se necessaacuterio reflectir acerca das competecircncias e da importacircncia dos profissionais nela incluiacutedos entre os quais os enfermeiros que natildeo tecircm suscitado consenso Se por um lado existe evidecircncia cientiacutefica que reafirma a importacircncia do enfermeiro neste contexto existem correntes de pensamento que argumentam o inverso objectivando este artigo responder agrave questatildeo ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro em emergecircncia preacute-hospitalarrdquo

Palavras-Chave Enfermagem Emergecircncia preacute--hospitalar

ABSTRACTIn a moment that the pre hospital emergency system is discussed arises the needing to reflect about the competence and importance that the included professionals have to work in this field including the nurses that donacutet have evoke consensus If on one hand exists scientific evidence that reaffirms the importance of the nurseacutes presence in that field there exists currents of thought that argue the inverse So this article objectify answer to the question ldquoExist or not competence for the nursersquos professional exercise in the pre hospital care fieldrdquo

Keywords Nursing Pre hospital emergency

ANDREacute FILIPE RICARDO CORREIAHospital de Faro EPE ndash Unidade de Cuidados Intensivos

INTRODUCcedilAtildeO

Num momento em que a posiccedilatildeo do enfermeiro nas equipas de emergecircncia preacute-hospitalar eacute am-plamente discutida justifica-se a necessidade de reflectir acerca das suas competecircncias para o exerciacutecio nesta aacuterea assim como o seu papel na garantia da seguranccedila e qualidade dos cuidados de sauacutede prestados neste contexto

A presenccedila dos enfermeiros na emergecircncia preacute--hospitalar em Portugal remonta haacute cerca de 20 anos exercendo estes funccedilotildees nas mais variadas aacutereas desde o transporte de receacutem-nascidos Viaturas Meacutedicas de Emergecircncia e Reanimaccedilatildeo (VMER) heli-transporte de doentes criacuteticos e em cataacutestrofe [Ordem dos Enfermeiros (OE) 2008]

Numa constante e progressiva consolidaccedilatildeo do Sistema Integrado de Emergecircncia Meacutedica (SIEM) a que se tem assistido o papel do enfermeiro tem sido reforccedilado nomeadamente com a recente criaccedilatildeo das ambulacircncias de Suporte Imediato de

Vida (SIV) e da figura do enfermeiro responsaacute-vel pelo acompanhamento dos meios no terreno no Centro de Orientaccedilatildeo de Doentes Urgentes (CODU) representando conjuntamente com os preacute-existentes VMER e helicoacutepteros de Emergecircn-cia meacutedica os meios operacionais atraveacutes dos quais os enfermeiros intervecircm actualmente na prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar em equipa com meacutedicos psicoacutelogos tripu-lantes de ambulacircncia de socorro (TAS) tripulan-tes de ambulacircncia de emergecircncia (TAE) e teacutecnicos de operaccedilotildees e telecomunicaccedilotildees de emergecircncia (TOTE) (OE 2008)

Contudo as competecircncias do enfermeiro para a prestaccedilatildeo de cuidados neste contexto assim como a necessidade da sua intervenccedilatildeo parecem natildeo reunir consensualidade sendo suscitadas cor-rentes de pensamento que se opotildeem agrave sua activi-dade e presenccedila neste acircmbito de cuidados Ape-sar inicial ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro no contexto

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de cuidados preacute-hospitalarrdquo

De facto compreendo que se natildeo nos ocupar-mos desta problemaacutetica corremos o seacuterio risco de uma vez mais vermos diminuiacutedas as nossas aacutereas de intervenccedilatildeo o que indubitavelmente re-presenta uma perda para a profissatildeo e em uacutelti-ma instacircncia para a comunidade alvo dos nossos cuidados pelo consequente impacto na qualidade desses cuidados

Assim a este propoacutesito entendemos que o en-fermeiro possui competecircncias que o habilitam agrave prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia no contex-to preacute-hospitalar constituindo a sua presenccedila nas equipas preacute-hospitalares uma inegaacutevel mais-valia

suportada em todo um corpo de conhecimentos teacutecnico - cientiacuteficos que resultam em claros bene-fiacutecios para as pessoas assistidas Tal como a evi-decircncia cientiacutefica (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) afirma os conhecimentos base e competecircncias em ciecircncias como anatomia fisiopatologia e farmacologia a complementari-dade das ciecircncias sociais e humanas produccedilatildeo cientiacutefica e praacutetica baseada na evidecircncia o espiacuteri-to criacutetico - reflexivo e os elevados conhecimentos da realidade intra-hospitalar satildeo caracteriacutesticas dos enfermeiros que acrescem saberes e compe-tecircncias adicionais ao acircmbito da emergecircncia preacute--hospitalar permitindo a sua presenccedila ldquohellipperform and document a high quality and holistic assess-

ment including bio-psycho-social needs and not merely physical needshelliprdquo (Melby amp Ryan 2005 p1147) A este respeito ainda Palma Rodriacuteguez Azanoacuten e Rodriguez (2005) satildeo contundentes ao concluiacuterem que a presenccedila dos enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar eacute imprescindiacutevel natildeo soacute por possuiacuterem a qualificaccedilatildeo necessaacuteria para co-laborar e actuar na prestaccedilatildeo de cuidados a pes-soas em situaccedilotildees de urgecircnciaemergecircncia como tambeacutem pela diferenciaccedilatildeo na prestaccedilatildeo dos mesmos o que possibilita indubitaacuteveis benefiacutecios para o doente mediante a melhoria de conheci-mentos respostas colaboraccedilatildeo e adaptaccedilatildeo do mesmo agrave sua situaccedilatildeo de alteraccedilatildeo no continuum sauacutede-doenccedila

Poreacutem contrariamente agrave evidecircncia cientiacutefica que aponta os benefiacutecios da participaccedilatildeo do enfer-meiro no contexto de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar as correntes divergentes indicam determinados aspectos como limitadores ou mesmo inviabilizadores desta presenccedila que vatildeo desde a inadequaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo ateacute haacute ine-xistecircncia de legitimidade eacutetico-deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados de forma autoacutenoma envolvendo duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais

Neste sentido o Sindicato dos Teacutecnicos de Am-bulacircncia de Emergecircncia (STAE) (2010) refere que a niacutevel internacional os serviccedilos de emergecircncia meacutedica demonstram que as soluccedilotildees para os re-cursos humanos nesta aacuterea devem incidir na for-maccedilatildeo de profissionais unicamente direccionados para o desempenho de cuidados de emergecircncia em ambiente preacute-hospitalar (comummente deno-minados como ldquoparameacutedicosrdquo) com autorizaccedilatildeo para executar determinados procedimentos meacutedi-cos invasivos sob direcccedilatildeo meacutedica e certificaccedilatildeo acrescentando ainda que natildeo existem vantagens em termos de eficiecircncia ou qualidade dos cui-dados prestados com a inclusatildeo de enfermeiros neste acircmbito de cuidados Poreacutem Suserud e Hal-jamaumle (1997 1999) aos quais acrescemos a nossa aprovaccedilatildeo opotildeem-se a esta posiccedilatildeo salientando inversamente a tendecircncia internacional a que se assiste no sentido de um aumento do nuacutemero de enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar Como estes referem os modelos que preconizaram a existecircncia do tipo de soluccedilatildeo para os recursos hu-manos sugerido pelo STAE (2010) basearam-se na

inexistecircncia de meacutedicos e enfermeiros suficientes para suprir simultaneamente as necessidades intra e preacute-hospitalares pelo que por uma ques-tatildeo de racionalizaccedilatildeo de meios humanos optaram pela sua retenccedilatildeo no acircmbito intra-hospitalar em detrimento do preacute-hospitalar

Com o debate em torno da importacircncia de um elevado niacutevel de competecircncias para aumentar a qualidade dos cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar foram suscitadas por parte de vaacuterios paiacute-ses alteraccedilotildees na forma de encarar os recursos humanos necessaacuterios para a prossecuccedilatildeo deste objectivo Como tal a Noruega a Sueacutecia ou a Ho-landa satildeo exemplos de paiacuteses que apesar de ini-cialmente suportados em modelos de emergecircncia meacutedica que pressupunham a existecircncia de profis-sionais de emergecircncia meacutedica como os referidos pelo STAE (2010) alteraram o seu modo de fun-cionamento incluindo os enfermeiros nas equipas de emergecircncia preacute hospitalar salientando ldquohellipthe importance of having equally competence emer-gency personel working in the pre-hospital area and in hospital that is professionals doing the same type of work should have similar competen-ce levels and practical trainingrdquo (Suserud amp Hal-jamaumle 1997 p145) Na verdade a emergecircncia meacute-dica preacute-hospitalar eacute uma componente da Emer-gecircncia Meacutedica a qual abrange um largo espectro

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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intervenccedilatildeo desde os cuidados intensivos ateacute agrave prestaccedilatildeo de cuidados em serviccedilos de urgecircncia passando pelo transporte inter-hospitalar de do-entes urgentes todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros tecircm uma participaccedilatildeo essencial e competecircncias reconhecidas [Suserud 2005 Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Nor-te (ARSN) 2009] Partilhando estas actividades toda uma seacuterie de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e compe-tecircncias comuns torna-se clara a importacircncia da presenccedila do enfermeiro de um modo transversal em todas elas permitindo uma boa articulaccedilatildeo e continuidade fundamentais para toda a cadeia de cuidados realccedilando a evidecircncia cientiacutefica pro-duzida nos paiacuteses que adoptaram este modelo de emergecircncia preacute-hospitalar que ldquohellipthe increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by ra-sing the competence level of the team as a who-lerdquo (Suserud amp Haljamaumle 1997 p145)

Outra das objecccedilotildees apontada refere-se agrave neces-sidade de formaccedilatildeo especiacutefica para a prestaccedilatildeo de cuidados em emergecircncia preacute-hospitalar sendo referido que o ldquoenfermeiro carece sempre de for-maccedilatildeo especializada para a intervenccedilatildeo preacute-hos-pitalar que natildeo seja conjunta com o meacutedico hellipsob pena de estar em causa a seguranccedila e a qualidade dos cuidados prestadosrdquo (STAE 2010 p5)

De facto aceitamos a menccedilatildeo de que eacute necessaacute-ria formaccedilatildeo acrescida agrave formaccedilatildeo base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) Poreacutem esta eacute claramente uma preposiccedilatildeo inviaacutevel no sentido de reiterar a inexistecircncia de competecircn-cias de enfermagem em emergecircncia preacute-hospita-lar Natildeo podemos esquecer que a licenciatura natildeo concede por si soacute uma especializaccedilatildeo da praacutetica profissional pois apenas confere uma base de co-nhecimentos e competecircncias no acircmbito da enfer-magem de cuidados gerais encaminhando poste-riormente o enfermeiro a sua praacutetica profissional num determinado sentido obviamente suportada pela formaccedilatildeo adicional que essa aacuterea exija To-davia a existecircncia de um corpo soacutelido de conhe-cimentos base adquirido no CLE vai favorecer a posterior aquisiccedilatildeo de conhecimentos e compe-tecircncias suportando e solidificando a prestaccedilatildeo de cuidados na aacuterea especiacutefica em causa

Por outro lado decorrente de vaacuterios factores como a gravidade e complexidade das situaccedilotildees cliacutenicas a imprevisibilidade de ocorrecircncias e a prestaccedilatildeo de cuidados em ambiente extra-hospi-talar com elevada exposiccedilatildeo social e reduzido nuacute-mero de intervenientes no processo de decisatildeo o exerciacutecio profissional neste contexto eacute reconheci-damente especiacutefico e complexo o que exige uma preparaccedilatildeo singular e contiacutenua dos profissionais envolvidos (Tomaacutes 2009 OE 2010)

Face a isto na realidade portuguesa todos os en-fermeiros que prestam cuidados nas VMER SIV helicoacutepteros de emergecircncia meacutedica e CODU tecircm formaccedilatildeo que os habilita agrave sua actividade con-ferindo as competecircncias teoacuterico - praacuteticas consi-deradas essenciais pelas entidades competentes ao que se acrescem as poacutes-graduaccedilotildees e mes-trados que tecircm surgido nas aacutereas de urgecircnciaemergecircncia encaradas como uma mais-valia na qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais (Vieira Oliveira amp Ressurreiccedilatildeo 2005 Tomaacutes 2009) A li-teratura (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) por sua vez sugere a existecircncia de um consenso relativamente ao facto dos enfer-meiros com experiecircncia de anestesia unidade de cuidados intensivos e serviccedilo de urgecircncia serem os mais habilitados para a prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar decorrente da for-maccedilatildeo que possuem e da constante interacccedilatildeo com situaccedilotildees cliacutenicas criacuteticas que lhes permite uma manutenccedilatildeo das competecircncias que de ou-tro modo poderiam decrescer face a periacuteodos de menor operacionalidade decorrente da inexis-tecircncia de situaccedilotildees criacuteticas na aacuterea de influecircncia dos meios de socorro Desta forma poderaacute residir neste aspecto um dos deacutefices do modelo portu-guecircs em que os enfermeiros dos meios SIV ape-nas prestam cuidados no contexto preacute-hospitalar em exclusividade Todavia na VMER esta questatildeo natildeo se coloca uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua activi-dade profissional tambeacutem em contexto intra-hos-pitalar preferencialmente nos serviccedilos supraci-tados sendo esta uma das condiccedilotildees de ingresso previamente definida o que potencia o processo de retro-alimentaccedilatildeo de experiecircncia e conheci-mento com consequente mais-valia para as duas aacutereas (Suserud 2005 OE 2010)

Eacute tambeacutem no capiacutetulo da legitimidade eacutetico--deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados que satildeo colocadas duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais do enfermeiro ldquohellipque natildeo seja conjunta com o meacutedi-cohelliprdquo (STAE 2010 p5) pois o caraacutecter de inter-venccedilatildeo em situaccedilotildees criacuteticas contempla que natildeo raras vezes se torne necessaacuterio aplicar determi-nadas intervenccedilotildees e procedimentos considera-dos life saving como entubaccedilatildeo endo-traqueal desfibrilhaccedilatildeo prescriccedilatildeo e administraccedilatildeo de faacuter-macos ou lideranccedila em situaccedilotildees de emergecircncia comummente reconhecidas como do acircmbito de intervenccedilatildeo meacutedica colocando-se questotildees como ldquoqual a fronteira em termos de intervenccedilotildees meacute-dicas e de enfermagemrdquo ou ldquopode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenccedilotildees e proce-dimentos life savingrdquo (Vieira Oliveira amp Ressur-reiccedilatildeo 2005)

Poreacutem o decreto-lei nordm 16176 de 4 de Setembro enquanto Regulamento do Exerciacutecio Profissional dos Enfermeiros (REPE) permite que estas duacutevidas possam ser esclarecidas dissipadas e devidamente documentadas em articulaccedilatildeo com os demais do-cumentos descritores e reguladores da profissatildeo

Definidos os cuidados de enfermagem como ldquoas intervenccedilotildees autoacutenomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no acircmbito das suas qua-lificaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 1 artigo 4ordm do decreto-lei nordm 16176) as intervenccedilotildees autoacutenomas referem-se agraves ldquoacccedilotildees realizadas pelos enfermei-ros sob sua uacutenica e exclusiva iniciativa e respon-sabilidade de acordo com as respectivas quali-ficaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 2 art 9ordm do de-creto-lei nordm 16176) enquanto as interdependen-tes satildeo respeitantes agraves intervenccedilotildees realizadas ldquopelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificaccedilotildees profissionais em conjunto com ou-tros teacutecnicos para atingir um objectivo comum decorrentes de planos de acccedilatildeo previamente de-finidos pelas equipas multidisciplinares em que estatildeo integrados e das prescriccedilotildees ou orientaccedilotildees previamente formalizadasrdquo (nuacutemero 3 artigo 9ordm do decreto-lei nordm 16176) Continuando a anaacutelise o nuacutemero 4 art 9ordm do mesmo diploma refere que os enfermeiros ldquoprocedem agrave administraccedilatildeo de te-rapecircutica prescrita detectando os seus efeitos e actuando em conformidade devendo em situaccedilatildeo de emergecircncia agir de acordo com a qualificaccedilatildeo e os conhecimentos que detecircm tendo como fina-lidade a manutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

BIBLIOGRAFIAADMINISTRACcedilAtildeO REGIONAL DE SAUacuteDE DO NORTE - Comissatildeo re-gional do doente criacutetico - Um ano de reflexatildeo e mudanccedila (2009) Por-to Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Norte

DECRETO-LEI nordm16196 de 4 de Setembro (com as alteraccedilotildees intro-duzidas pelo decreto-lei nordm 10498 de 21 de Abril) DR nordm205 I Seacuterie Ministeacuterio da Sauacutede Lisboa

LEI nordm 1112009 de 16 de Setembro DR nordm180 I Seacuterie Assembleia da Repuacuteblica Lisboa

MELBY Vidar RYAN Assumpta ndash Caring for old people in prehospital emergency care Can nurses make difference Journal of Clinical Nur-sing 1365 ndash 2702 149 (2005) 1141-1150

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PALMA Garcia RODRIacuteGEZ Salvador AZANOacuteN Heacuternandez RODRIacute-GUEZ Camero ndash Provesso enfermero y atencioacuten prehospitalaria ur-gente Tempus Vitalis 1578 ndash 5963 52 (2005) 1-3

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SUSERUD Bjorn-Ove HALJAMAumlE Hengo ndash Nurse competence Ad-vantageous in pre-hospital emergency care Accident amp Emergency Nursing 0965 ndash 2302 7 (1997) 18-25

SUSERUD Bjorn-Ove HALJAMAumlE Hengo ndash Role of nurses in pre-hos-pital emergency care Accident amp Emergency Nursing 0965 ndash 2302 5 (1999) 141-151

TOMAacuteS Alexandre ndash O enfermeiro em ambulacircncias de Suporte Ime-diato de Vida ndash Afirmar a Enfermagem no preacute-hospitalar Ordem dos Enfermeiros 1646 ndash 2629 32 (2009) 59-60

VIEIRA Pedro OLIVEIRA Luiacutes RESSURREICcedilAtildeO Serafim ndash O enfer-meiro perante a emergecircncia preacute-hospitalar Sinais Vitais 61 (2005) 32-35

JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

BIBLIOGRAFIAAMARAL M GONCcedilALVES R NUNES L ndash Coacutedigo Deontoloacutegico do Enfermeiro dos Comentaacuterios agrave Anaacutelise de Casos Lisboa Ordem dos Enfermeiros 2006 456 p ISBN 972-99646-0-2

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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GESTAtildeO | LIDERANCcedilA GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 8: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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2ENTREVISTA

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os paiacuteses mais desenvolvidos

Julgo que deveriacuteamos iniciar um profundo debate sobre a enfermagem e o envelhecimento e que a revista Sinais Vitais poderia ser um dos lugares mais interessantes para fazer este debate nacio-nal e ateacute internacional

Que competecircncias devem ser desenvolvidas pelos en-fermeiros nesta especialidade

Conhecimento sobre novos modelos para abor-dagem do envelhecimento legislaccedilatildeo direitos humanos e envelhecimento diversidade de res-postas e necessidades sociais e de sauacutede do en-velhecimento lideranccedila gestatildeo de equipamen-tos com uma forte componente praacutetica Seria bom analisar-se a Poacutes Graduaccedilatildeo promovida pela associaccedilatildeo amigos da grande Idade da qual sou presidente e que foi feita em parceria com a universidade Fernando Pessoa estando para ser lanccedilada a segunda ediccedilatildeo com a Universidade da Estremadura

Conhecendo como eu sei a realidade portuguesa em termos de respostas sociais dirigidas agrave pessoa idosa elas satildeo suficientes e adequadas

Natildeo as respostas natildeo satildeo suficientes mas acima de tudo satildeo desadequadas Costumo a dizer que se o Marquecircs de Pombal descesse agrave terra ficaria deslumbrado com tanta evoluccedilatildeo mas se entrasse num lar sentir-se-ia no tempo dele

Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depoacutesitos Isto eacute consequecircncia de natildeo criarmos novos modelos novas tipologias De natildeo diferenciarmos os niacuteveis de necessidades e serviccedilos A nossa resposta eacute ldquoTudo ao Monte e Feacute em Deusrdquo Dai termos uma taxa de institucio-nalizaccedilatildeo na europa do norte de cerca de 17 e em Portugal 35

Eacute necessaacuteria uma revoluccedilatildeo e penso que ela esta-raacute para breve Os revolucionaacuterios ao contraacuterio do habitual vatildeo ser os empreendedores capitalistas que iratildeo investir num novo modelo de oferta de cuidados e serviccedilos

Consegues dizer-me quantos Lares haacute em Portugal continental

Existem cerca de 2000 lares em Portugal cerca de 2000 centros de dia e 2500 serviccedilos de apoio domiciliaacuterio Isto legalmente Prevecirc-se que pos-sam existir cerca de 2500 lares ilegais ou clan-destinos no paiacutes

Conhecedor das respostas sociais neste acircmbito enca-rara a tua velhice de forma despreocupada

Natildeo claro que natildeo Primeiro quero nomear o mais rapidamente possiacutevel algueacutem que me repre-sente com autoridade para natildeo ser ldquoapanhadordquo na teia da destituiccedilatildeo de direitos e vontades Natildeo quero que me coloquem um nariz de palhaccedilo e uma peruca quando for o carnaval como se fosse um velho tonto apalhaccedilado

Mas natildeo tenho garantias Se calhar vou mesmo fazer essas figuras pateacuteticas Para grande gaacuteudio dos teacutecnicos

O que mudaria na organizaccedilatildeo desta reposta social se fosse convidado pelo governo a coordenaacute-la

A Associaccedilatildeo a que presido tem vaacuterios documen-tos mas destaco de imediato

ndash mudaria o modelo de financiamento e deixava de distribuir dinheiro a instituiccedilotildees sem avaliar os seus indicadores de qualidade e desempe-nho

ndash criava um novo modelo de oferta que natildeo fosse destinado a pessoas idosas doentes mas ape-nas a pessoas idosas ou seja implementava no-vas tipologias

ndash apostava nos cuidados domiciliaacuterios e nos cen-tros de dia criando uma rede nacional que in-cluiria tambeacutem o centro de sauacutede e os lares

ndash criava um programa para legalizaccedilatildeo de lares clandestinos e ilegais

Poucas medidas mas de grande eficaacutecia Aliaacutes Portugal espera um ministro que queira ficar na histoacuteria

A ENFERMAGEM TEM UM ENDERECcedilO

wwwsinaisvitaispt

NOTIacuteCIAS radic FORMACcedilAtildeO radic CIEcircNCIA radic DISCUSSAtildeO

PARQUE EMPRESARIAL DE EIRAS LOTE 19 EIRAS3020-265 COIMBRAtElEfOnE 239 801 020fax 239 801 029

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EacuteTICA EacuteTICA

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RESPOSTA Agrave EUTANAacuteSIA ENQUANTO PRAacuteTICA EacuteTICA

ENTRADA DO ARTIGO OUTUBRO 2010

EDUARDO JOSEacute FERREIRA DOS SANTOSEnfermeiro na Fundaccedilatildeo Aureacutelio Amaro Diniz

RESUMONa praxis cliacutenica o significado da eutanaacutesia acres-ce pela pressatildeo da moralidade puacuteblica e profunda convicccedilatildeo dos que lidam com pessoas particular-mente vulneraacuteveis e para as quais o fenoacutemeno pa-toloacutegico eacute profundamente incapacitante Este artigo corporiza a preocupaccedilatildeo dos que se debatem com este dilema eacutetico sugerindo o en-caminhamento para cuidados paliativos e a adop-ccedilatildeo de uma posiccedilatildeo mais proactiva das escolas de enfermagem e instituiccedilotildeesserviccedilos na formaccedilatildeo e ensino especializado

Palavras-chave Eutanaacutesia fim-de-vida cuidados paliativos eacutetica

ABSTRACTIn clinical practice the meaning of euthanasia is increased by the pressure of public morality and deep conviction of dealing with particularly vul-nerable persons and for which the pathological phenomenon is profoundly disablingThis article presents the concern of those who struggle with this ethical dilemma sug-gesting the orientation to palliative care and the adoption of a more proactive posi-tion by nursing schools and institutionsser-vices in training and specialized education

Keywords Euthanasia life-end palliative care ethics

INTRODUCcedilAtildeOA Eutanaacutesia deriva da junccedilatildeo de duas palavras Eu que significa bom e Thanatos que quer dizer mor-te Semanticamente morte doce morte sem ago-nia ou sem sofrimento fiacutesico Trata-se portanto do processo atraveacutes do qual algueacutem causa deliberada-mente a morte de outra a pedido desta uacuteltima (na expressatildeo de Arroyo e Serrano 1988)Por se associar intrinsecamente ao ldquoacto inten-cional de matarrdquo (Serratildeo 1996 p382) a eutanaacutesia eacute palco de inuacutemeras poleacutemicas posiccedilotildees e origina uma acesa controveacutersia num diaacutelogo nem sempre construtivo em torno do conceito de morte com dignidade O facto eacute que existe uma manifesta falta de informaccedilatildeo objectiva sobre os motivos que podem originar um pedido desta natureza (P13APB08) e como tal a eutanaacutesia impotildee-se como foco de reflexatildeo agrave enfermagem Isto porque sempre que ao enfermeiro se apresente a possibi-lidade de participaccedilatildeo na mesma surge agrave priori o dever de recusa Todavia no domiacutenio da liberda-de do livre arbiacutetrio a eutanaacutesia constitui-se como um dilema eacutetico (Queiroacutes 2001 Archer Biscaia e Osswald 2001 Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005)Eacute sobre a posiccedilatildeo da Enfermagem que nos pre-tendemos debruccedilar sugerindo a filosofia dos cui-dados paliativos como soluccedilatildeo em detrimento da realidade portuguesa

ASPECTOS CONCEPTUAIS A dignidade humana eacute sentida e expressa atraveacutes do corpo como suporte bioloacutegico de existecircncia Nem a pessoa eacute o corpo nem tatildeo pouco proprie-taacuteria do seu corpo Como tal a dignidade huma-na quanto mais agredida eacute tanto mais se impotildee como fronteira inviolaacutevel entre o humano e o natildeo--humano Eacute por esse motivo que hoje a dignidade humana aparece ligada a expressotildees que vatildeo des-de a qualidade de vida ao cuidado agrave cariacutecia agrave compaixatildeo (26CNECV99)Neste sentido o respeito pela dignidade de cada pessoa humana eacute uma exigecircncia eacutetica inscre-vendo na praacutetica diaacuteria dos cuidados de sauacutede o permanente centrar desses mesmos cuidados em cada pessoa (Martins 2010)Por outro lado cresce a noccedilatildeo de que no acircmbito da prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede os utentes de-vem ser livres de recusar determinados tratamen-tos agrave luz do princiacutepio do respeito pela autonomia

individual Assim eacute hoje possiacutevel qualquer doente competente recusar um determinado tratamen-to mesmo que desta forma se abrevie o momento da sua morte Aliaacutes eacute neste mesmo sentido que se questiona se esta capacidade decisoacuteria pode ser exercida prospectivamente nomeadamente quando natildeo for possiacutevel o exerciacutecio da autodeter-minaccedilatildeo individual (E10APB07)Curiosamente eacute neste domiacutenio que surge a euta-naacutesia e manifestamente se materializa pela pres-satildeo exercida pelos utentes nos profissionais de sauacutede ao exigirem respeito pelo seu ldquodireitordquo de morrer Com efeito quando os profissionais de sauacutede se sentem compelidos a agir e por termo ao sofrimento de um utente existe um conflito ine-vitaacutevel entre o dever eacutetico do cuidar protector ndash o dever da beneficecircncia e da natildeo-maleficecircncia ndash e o respeito pela autonomia e do direito de escolha do utente (Thompson Melia e Boyd 2004)Em todo o caso a eutanaacutesia soacute eacute uma opccedilatildeo livre quando se assegurar que se trata de um pedido racional de algueacutem que natildeo se revecirc mais no seu projecto de vida pessoal ou seja que natildeo se tra-ta de um comportamento apelativo por parte de algueacutem que se encontra insatisfeito com as con-diccedilotildees de vida que lhe satildeo proporcionadas (P13APB08)Eacute ainda de referir os resultados do estudo realiza-do por Van Der Wal (1992) apud Pessini e Barchi-fontaine (2005) que descreveu que 56 dos casos dos pedidos de eutanaacutesia se deviam aos utentes verem o seu sofrimento sem sentido e 46 por-que temiam o decliacutenioNo entanto vaacuterias satildeo as causas que precipitam tais pedidos Para muitos doentes a solidatildeo em que se encontram pode implicar que a morte as-sistida seja considerada a soluccedilatildeo final ainda que natildeo desejada para o seu dilema existencial Ou-tras causas residem ainda no sofrimento intenso devido ao sentimento de abandono e de exclusatildeo social e menos frequentemente a dor profunda e insustentaacutevel (P13APB08)Neste ponto pode-se apontar os cuidados pa-liativos como estrateacutegia ideal dado que eacute a mais referida pelos autores (Marques Santos e Santos 2001 Thompson Melia e Boyd 2004 Pessini e Barchifontaine 2005) Assim e com a atenccedilatildeo sin-cera dirigida para o utente que solicita a eutanaacute-sia o estabelecimento de ldquoverdadeirasrdquo relaccedilotildees de ajuda e com o auxiacutelio dos cuidados paliativos o

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sofrimento extremo natildeo permanece sem respos-ta Haacute entatildeo que considerar que indubitavelmente o papel do enfermeiro eacute acompanhar o utente pri-vilegiando a sua qualidade de vida minorando a dor ajudando-o a aceitar e a preparar-se para a morte beneficiando de cuidados paliativos e de acompanhamento psicoloacutegico (Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005) Pretende-se providenciar con-forto e bem-estar ao doente croacutenico (e por maio-ria de razatildeo ao doente terminal) recorrendo a meios proporcionados de tratamento por parte de uma equipa de sauacutede especialmente sensibili-zada nesta mateacuteria (E10APB07)Decerto que um outro desafio reside tambeacutem no dever do Estado implementar uma poliacutetica efecti-va de luta contra a dor nomeadamente atraveacutes da implementaccedilatildeo generalizada do Plano Nacional de Luta Contra a Dor e promover a generalizaccedilatildeo dos cuidados paliativos a niacutevel domiciliaacuterio nos Cen-tros de Sauacutede e cuidados em hospitais oncoloacutegicos e outros estabelecimentos de sauacutede (P13APB08)Em suma o desafio dos cuidados paliativos consti-tui entatildeo o de resgatar da dignidade do ser huma-no na uacuteltima fase da sua vida (Pessini e Barchifon-taine 2005)

PERSPECTIVA EacuteTICO-LEGAL De acordo com a nossa ordem juriacutedica a eutanaacutesia eacute uma praacutetica ilegal e criminalizada (E10APB07) Contudo a lei portuguesa natildeo trata da praacutetica eutanaacutesia mas como o direito agrave vida eacute inviolaacutevel segundo a CRP1 e o CP2 - que se traduz num cor-po de normas juriacutedicas que primam por serem as que regulam o regime de penaspuniccedilotildees quando algum acto destoa daquilo que se considera legal-mente admissiacutevel - por analogia a ldquoeutanaacutesiardquo eacute puniacutevel Esmiuccedilando o jaacute referido CP que manifesta re-levante ponderaccedilatildeo para o tema aqui em apreccedilo evidencia-se o Tiacutetulo I (que trata em especiacutefico do crime contra as pessoas) o qual se subdivide no Capiacutetulo I (Dos crimes contra a vida) que en-globa os artigos 131ordm 133ordm134ordm138ordmNeste acircmbito reza o artigo 131ordm corpo normativo que regula e penaliza o tipo legal de crime res-peitante ao Homiciacutedio (o dito homiciacutedio simples) ndash que ldquoQuem matar outra pessoa eacute punido com pena de prisatildeo de oito a dezasseis anosrdquoJaacute o artigo 133ordm (onde se enquadra o delito cri-

1 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa (Lei Constitucional 12005)

2 Coacutedigo Penal (Decreto Lei 592007)

minal do Homiciacutedio privilegiado) esclarece que ldquoQuem matar outra pessoa por compreensiacutevel emoccedilatildeo violenta compaixatildeo desespero ou moti-vo de relevante valor social ou moral que diminua sensivelmente a sua culpa eacute punido com pena de prisatildeo de 1 a 5 anosrdquoAo dirigirmos o nosso reparo para o Artigo 134ordm que trata o ldquoHomiciacutedio a pedido da viacutetimardquo no seu nordm1 clarifica-se que ldquoQuem matar outra pes-soa por pedido seacuterio instante e expresso que ela lhe tenha feito eacute punido com pena de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo O Artigo 135ordm (Incitamento ou ajuda ao suiciacutedio) no seu nordm 1) refere que ldquo Quem incitar outra pes-soa a suicidar -se ou lhe prestar ajuda para esse fim eacute punido com pena de prisatildeo ateacute trecircs anosrdquo contudo e acautelando a possibilidade do suiciacutedio ou da tentativa prossegue o nordm 2 do mesmo arti-go ditando que ldquoSe a pessoa incitada ou a quem se presta ajuda for menor de 16 anos ou tiver por qualquer motivo a sua capacidade de valoraccedilatildeo ou de determinaccedilatildeo sensivelmente diminuiacuteda o agente eacute punido com pena de prisatildeo de um a cin-co anos Quanto ao Artigo 138deg (Exposiccedilatildeo ou abandono) lecirc-se que ldquoQuem colocar em perigo a vida de ou-tra pessoardquo ndash aliacutenea a)- ldquoExpondo-a em lugar que a sujeite a uma situaccedilatildeo de que ela soacute por si natildeo possa defender-serdquo ou - aliacutenea b) - ldquoAbandonan-do-a sem defesa sempre que ao agente coubes-se dever de a guardar vigiar ou assistir eacute punido com pena de prisatildeo de 2 a 8 anosrdquo Por uacuteltimo eacute tambeacutem de salientar o facto de que a eutanaacutesia tambeacutem contraria os princiacutepios basi-lares que alicerccedilam a profissatildeo conforme dispos-to no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros3 e no REPE4 No enquadramento deontoloacutegico os deve-res do enfermeiro incitam ldquoo respeito do direito da pessoa agrave vida durante todo o ciclo vitalrdquo (Arti-go 82ordm) e a obrigatoriedade do enfermeiro ldquode-fender e promover o direito do doente agrave escolha do local e das pessoas que deseja o acompanhem na fase terminal da vida e respeitar e fazer res-peitar as manifestaccedilotildees de perda expressas pelo doente em fase terminal pela famiacutelia ou pessoas que lhe sejam proacuteximasrdquo (Artigo 87ordm)

3 Decreto Lei nordm 10498 de 21 de Abril de 1998

4 Decreto-Lei Nordm 16196 de 4 de Setembro de 1996

CUIDADOS PALIATIVOS QUE RESPOSTAS Em Portugal os cuidados Paliativos estatildeo a dar os primeiros passos verificando-se a existecircncia de alguma preocupaccedilatildeo relativamente ao utente em fase terminal (Queiroacutes 2001) Todavia assiste--se a um deficit ou mesmo ausecircncia de respostas por parte dos serviccedilos e instituiccedilotildees de sauacutede aos utentes (Sapeta 2003)Num estudo realizado pela APEME (2008) sobre o grau de satisfaccedilatildeo da populaccedilatildeo com os Cuidados Paliativos atraveacutes da aplicaccedilatildeo de um questionaacute-rio por entrevista telefoacutenica a uma amostra de 606 elementos salienta-se que 31 dos inquiri-dos os consideram completamente insuficientes 25 insuficientes 31 suficientes 9 moderada-mente suficientes e 5 completamente suficien-tes Curiosamente quando inquiridos sobre ldquoas principais sugestotildees para melhorias dos cuidados paliativosrdquo 14 apostavam na formaccedilatildeo profis-sional e 8 deseja mais profissionais especializa-dos na aacuterea Eacute ainda de referir o estudo realizado por Sapeta (2003) que afirma que a maioria das escolas de Enfermagem lecciona em mais que um ano lecti-vo e em mais do que uma aacuterea cientiacutefica os temas ldquocuidados paliativosrdquo e ldquodor croacutenicardquo contudo numa abordagem bastante superficial dado ao nuacutemero de horas associado Desta forma e especificamente neste aspecto o Programa Nacional de Cuidados Paliativos (DGS 2004 p 2) considera que eacute imprescindiacutevel ldquouma preparaccedilatildeo soacutelida e diferenciada que deve envol-ver quer a formaccedilatildeo preacute-graduada quer a forma-ccedilatildeo poacutes-graduada dos profissionais que satildeo cha-mados agrave praacutetica deste tipo de cuidadosrdquo

CONCLUSAtildeONa actualidade a questatildeo da eutanaacutesia suplanta expectativasduacutevidas natildeo soacute na populaccedilatildeo mas tambeacutem nas camadas profissionais de sauacutede no-meadamente os enfermeiros Concomitantemen-te vaacuterias fracccedilotildees sociais manifestam interesse ou reprovaccedilatildeo pela sua praacutetica Ora eacute defendida por uns eou reprovada por outrosEacute importante destacar que a percepccedilatildeo e livre ar-biacutetrio que o enfermeiro possui norteia a sua praacute-tica profissional e consequentemente influencia algumas tomadas de decisatildeo Notabiliza-se con-tudo a vinculaccedilatildeo do exerciacutecio da profissatildeo a um

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conjunto de regras e aspectos legais e eacutetico-de-ontoloacutegicos que se identificam como orientaccedilotildees para julgar a acccedilatildeo profissional constituindo por fim a obrigatoriedade do enfermeiro se reger pe-las mesmas Eacute neste contexto que nos surgiu a proposta da reflexatildeo sobre possiacuteveis ldquosoluccedilotildeesrespostasrdquo que se esbarraram com a filosofia dos cuidados paliativos que na maioria dos autores referidos se apresentam como a melhor resposta nacional face agraves actuais disposiccedilotildees legais Em epiacutelogo procurou-se evidenciar e incentivar a necessidadeobrigatoriedade de formaccedilatildeo na aacuterea salientando natildeo soacute a importacircncia da tomada de decisatildeo dos serviccedilosinstituiccedilotildees mas predo-minantemente das escolas de Enfermagem

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ENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2010

RESUMONum momento em que o modelo de emergecircncia preacute-hospitalar em Portugal eacute discutido torna-se necessaacuterio reflectir acerca das competecircncias e da importacircncia dos profissionais nela incluiacutedos entre os quais os enfermeiros que natildeo tecircm suscitado consenso Se por um lado existe evidecircncia cientiacutefica que reafirma a importacircncia do enfermeiro neste contexto existem correntes de pensamento que argumentam o inverso objectivando este artigo responder agrave questatildeo ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro em emergecircncia preacute-hospitalarrdquo

Palavras-Chave Enfermagem Emergecircncia preacute--hospitalar

ABSTRACTIn a moment that the pre hospital emergency system is discussed arises the needing to reflect about the competence and importance that the included professionals have to work in this field including the nurses that donacutet have evoke consensus If on one hand exists scientific evidence that reaffirms the importance of the nurseacutes presence in that field there exists currents of thought that argue the inverse So this article objectify answer to the question ldquoExist or not competence for the nursersquos professional exercise in the pre hospital care fieldrdquo

Keywords Nursing Pre hospital emergency

ANDREacute FILIPE RICARDO CORREIAHospital de Faro EPE ndash Unidade de Cuidados Intensivos

INTRODUCcedilAtildeO

Num momento em que a posiccedilatildeo do enfermeiro nas equipas de emergecircncia preacute-hospitalar eacute am-plamente discutida justifica-se a necessidade de reflectir acerca das suas competecircncias para o exerciacutecio nesta aacuterea assim como o seu papel na garantia da seguranccedila e qualidade dos cuidados de sauacutede prestados neste contexto

A presenccedila dos enfermeiros na emergecircncia preacute--hospitalar em Portugal remonta haacute cerca de 20 anos exercendo estes funccedilotildees nas mais variadas aacutereas desde o transporte de receacutem-nascidos Viaturas Meacutedicas de Emergecircncia e Reanimaccedilatildeo (VMER) heli-transporte de doentes criacuteticos e em cataacutestrofe [Ordem dos Enfermeiros (OE) 2008]

Numa constante e progressiva consolidaccedilatildeo do Sistema Integrado de Emergecircncia Meacutedica (SIEM) a que se tem assistido o papel do enfermeiro tem sido reforccedilado nomeadamente com a recente criaccedilatildeo das ambulacircncias de Suporte Imediato de

Vida (SIV) e da figura do enfermeiro responsaacute-vel pelo acompanhamento dos meios no terreno no Centro de Orientaccedilatildeo de Doentes Urgentes (CODU) representando conjuntamente com os preacute-existentes VMER e helicoacutepteros de Emergecircn-cia meacutedica os meios operacionais atraveacutes dos quais os enfermeiros intervecircm actualmente na prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar em equipa com meacutedicos psicoacutelogos tripu-lantes de ambulacircncia de socorro (TAS) tripulan-tes de ambulacircncia de emergecircncia (TAE) e teacutecnicos de operaccedilotildees e telecomunicaccedilotildees de emergecircncia (TOTE) (OE 2008)

Contudo as competecircncias do enfermeiro para a prestaccedilatildeo de cuidados neste contexto assim como a necessidade da sua intervenccedilatildeo parecem natildeo reunir consensualidade sendo suscitadas cor-rentes de pensamento que se opotildeem agrave sua activi-dade e presenccedila neste acircmbito de cuidados Ape-sar inicial ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro no contexto

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de cuidados preacute-hospitalarrdquo

De facto compreendo que se natildeo nos ocupar-mos desta problemaacutetica corremos o seacuterio risco de uma vez mais vermos diminuiacutedas as nossas aacutereas de intervenccedilatildeo o que indubitavelmente re-presenta uma perda para a profissatildeo e em uacutelti-ma instacircncia para a comunidade alvo dos nossos cuidados pelo consequente impacto na qualidade desses cuidados

Assim a este propoacutesito entendemos que o en-fermeiro possui competecircncias que o habilitam agrave prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia no contex-to preacute-hospitalar constituindo a sua presenccedila nas equipas preacute-hospitalares uma inegaacutevel mais-valia

suportada em todo um corpo de conhecimentos teacutecnico - cientiacuteficos que resultam em claros bene-fiacutecios para as pessoas assistidas Tal como a evi-decircncia cientiacutefica (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) afirma os conhecimentos base e competecircncias em ciecircncias como anatomia fisiopatologia e farmacologia a complementari-dade das ciecircncias sociais e humanas produccedilatildeo cientiacutefica e praacutetica baseada na evidecircncia o espiacuteri-to criacutetico - reflexivo e os elevados conhecimentos da realidade intra-hospitalar satildeo caracteriacutesticas dos enfermeiros que acrescem saberes e compe-tecircncias adicionais ao acircmbito da emergecircncia preacute--hospitalar permitindo a sua presenccedila ldquohellipperform and document a high quality and holistic assess-

ment including bio-psycho-social needs and not merely physical needshelliprdquo (Melby amp Ryan 2005 p1147) A este respeito ainda Palma Rodriacuteguez Azanoacuten e Rodriguez (2005) satildeo contundentes ao concluiacuterem que a presenccedila dos enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar eacute imprescindiacutevel natildeo soacute por possuiacuterem a qualificaccedilatildeo necessaacuteria para co-laborar e actuar na prestaccedilatildeo de cuidados a pes-soas em situaccedilotildees de urgecircnciaemergecircncia como tambeacutem pela diferenciaccedilatildeo na prestaccedilatildeo dos mesmos o que possibilita indubitaacuteveis benefiacutecios para o doente mediante a melhoria de conheci-mentos respostas colaboraccedilatildeo e adaptaccedilatildeo do mesmo agrave sua situaccedilatildeo de alteraccedilatildeo no continuum sauacutede-doenccedila

Poreacutem contrariamente agrave evidecircncia cientiacutefica que aponta os benefiacutecios da participaccedilatildeo do enfer-meiro no contexto de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar as correntes divergentes indicam determinados aspectos como limitadores ou mesmo inviabilizadores desta presenccedila que vatildeo desde a inadequaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo ateacute haacute ine-xistecircncia de legitimidade eacutetico-deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados de forma autoacutenoma envolvendo duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais

Neste sentido o Sindicato dos Teacutecnicos de Am-bulacircncia de Emergecircncia (STAE) (2010) refere que a niacutevel internacional os serviccedilos de emergecircncia meacutedica demonstram que as soluccedilotildees para os re-cursos humanos nesta aacuterea devem incidir na for-maccedilatildeo de profissionais unicamente direccionados para o desempenho de cuidados de emergecircncia em ambiente preacute-hospitalar (comummente deno-minados como ldquoparameacutedicosrdquo) com autorizaccedilatildeo para executar determinados procedimentos meacutedi-cos invasivos sob direcccedilatildeo meacutedica e certificaccedilatildeo acrescentando ainda que natildeo existem vantagens em termos de eficiecircncia ou qualidade dos cui-dados prestados com a inclusatildeo de enfermeiros neste acircmbito de cuidados Poreacutem Suserud e Hal-jamaumle (1997 1999) aos quais acrescemos a nossa aprovaccedilatildeo opotildeem-se a esta posiccedilatildeo salientando inversamente a tendecircncia internacional a que se assiste no sentido de um aumento do nuacutemero de enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar Como estes referem os modelos que preconizaram a existecircncia do tipo de soluccedilatildeo para os recursos hu-manos sugerido pelo STAE (2010) basearam-se na

inexistecircncia de meacutedicos e enfermeiros suficientes para suprir simultaneamente as necessidades intra e preacute-hospitalares pelo que por uma ques-tatildeo de racionalizaccedilatildeo de meios humanos optaram pela sua retenccedilatildeo no acircmbito intra-hospitalar em detrimento do preacute-hospitalar

Com o debate em torno da importacircncia de um elevado niacutevel de competecircncias para aumentar a qualidade dos cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar foram suscitadas por parte de vaacuterios paiacute-ses alteraccedilotildees na forma de encarar os recursos humanos necessaacuterios para a prossecuccedilatildeo deste objectivo Como tal a Noruega a Sueacutecia ou a Ho-landa satildeo exemplos de paiacuteses que apesar de ini-cialmente suportados em modelos de emergecircncia meacutedica que pressupunham a existecircncia de profis-sionais de emergecircncia meacutedica como os referidos pelo STAE (2010) alteraram o seu modo de fun-cionamento incluindo os enfermeiros nas equipas de emergecircncia preacute hospitalar salientando ldquohellipthe importance of having equally competence emer-gency personel working in the pre-hospital area and in hospital that is professionals doing the same type of work should have similar competen-ce levels and practical trainingrdquo (Suserud amp Hal-jamaumle 1997 p145) Na verdade a emergecircncia meacute-dica preacute-hospitalar eacute uma componente da Emer-gecircncia Meacutedica a qual abrange um largo espectro

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intervenccedilatildeo desde os cuidados intensivos ateacute agrave prestaccedilatildeo de cuidados em serviccedilos de urgecircncia passando pelo transporte inter-hospitalar de do-entes urgentes todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros tecircm uma participaccedilatildeo essencial e competecircncias reconhecidas [Suserud 2005 Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Nor-te (ARSN) 2009] Partilhando estas actividades toda uma seacuterie de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e compe-tecircncias comuns torna-se clara a importacircncia da presenccedila do enfermeiro de um modo transversal em todas elas permitindo uma boa articulaccedilatildeo e continuidade fundamentais para toda a cadeia de cuidados realccedilando a evidecircncia cientiacutefica pro-duzida nos paiacuteses que adoptaram este modelo de emergecircncia preacute-hospitalar que ldquohellipthe increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by ra-sing the competence level of the team as a who-lerdquo (Suserud amp Haljamaumle 1997 p145)

Outra das objecccedilotildees apontada refere-se agrave neces-sidade de formaccedilatildeo especiacutefica para a prestaccedilatildeo de cuidados em emergecircncia preacute-hospitalar sendo referido que o ldquoenfermeiro carece sempre de for-maccedilatildeo especializada para a intervenccedilatildeo preacute-hos-pitalar que natildeo seja conjunta com o meacutedico hellipsob pena de estar em causa a seguranccedila e a qualidade dos cuidados prestadosrdquo (STAE 2010 p5)

De facto aceitamos a menccedilatildeo de que eacute necessaacute-ria formaccedilatildeo acrescida agrave formaccedilatildeo base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) Poreacutem esta eacute claramente uma preposiccedilatildeo inviaacutevel no sentido de reiterar a inexistecircncia de competecircn-cias de enfermagem em emergecircncia preacute-hospita-lar Natildeo podemos esquecer que a licenciatura natildeo concede por si soacute uma especializaccedilatildeo da praacutetica profissional pois apenas confere uma base de co-nhecimentos e competecircncias no acircmbito da enfer-magem de cuidados gerais encaminhando poste-riormente o enfermeiro a sua praacutetica profissional num determinado sentido obviamente suportada pela formaccedilatildeo adicional que essa aacuterea exija To-davia a existecircncia de um corpo soacutelido de conhe-cimentos base adquirido no CLE vai favorecer a posterior aquisiccedilatildeo de conhecimentos e compe-tecircncias suportando e solidificando a prestaccedilatildeo de cuidados na aacuterea especiacutefica em causa

Por outro lado decorrente de vaacuterios factores como a gravidade e complexidade das situaccedilotildees cliacutenicas a imprevisibilidade de ocorrecircncias e a prestaccedilatildeo de cuidados em ambiente extra-hospi-talar com elevada exposiccedilatildeo social e reduzido nuacute-mero de intervenientes no processo de decisatildeo o exerciacutecio profissional neste contexto eacute reconheci-damente especiacutefico e complexo o que exige uma preparaccedilatildeo singular e contiacutenua dos profissionais envolvidos (Tomaacutes 2009 OE 2010)

Face a isto na realidade portuguesa todos os en-fermeiros que prestam cuidados nas VMER SIV helicoacutepteros de emergecircncia meacutedica e CODU tecircm formaccedilatildeo que os habilita agrave sua actividade con-ferindo as competecircncias teoacuterico - praacuteticas consi-deradas essenciais pelas entidades competentes ao que se acrescem as poacutes-graduaccedilotildees e mes-trados que tecircm surgido nas aacutereas de urgecircnciaemergecircncia encaradas como uma mais-valia na qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais (Vieira Oliveira amp Ressurreiccedilatildeo 2005 Tomaacutes 2009) A li-teratura (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) por sua vez sugere a existecircncia de um consenso relativamente ao facto dos enfer-meiros com experiecircncia de anestesia unidade de cuidados intensivos e serviccedilo de urgecircncia serem os mais habilitados para a prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar decorrente da for-maccedilatildeo que possuem e da constante interacccedilatildeo com situaccedilotildees cliacutenicas criacuteticas que lhes permite uma manutenccedilatildeo das competecircncias que de ou-tro modo poderiam decrescer face a periacuteodos de menor operacionalidade decorrente da inexis-tecircncia de situaccedilotildees criacuteticas na aacuterea de influecircncia dos meios de socorro Desta forma poderaacute residir neste aspecto um dos deacutefices do modelo portu-guecircs em que os enfermeiros dos meios SIV ape-nas prestam cuidados no contexto preacute-hospitalar em exclusividade Todavia na VMER esta questatildeo natildeo se coloca uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua activi-dade profissional tambeacutem em contexto intra-hos-pitalar preferencialmente nos serviccedilos supraci-tados sendo esta uma das condiccedilotildees de ingresso previamente definida o que potencia o processo de retro-alimentaccedilatildeo de experiecircncia e conheci-mento com consequente mais-valia para as duas aacutereas (Suserud 2005 OE 2010)

Eacute tambeacutem no capiacutetulo da legitimidade eacutetico--deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados que satildeo colocadas duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais do enfermeiro ldquohellipque natildeo seja conjunta com o meacutedi-cohelliprdquo (STAE 2010 p5) pois o caraacutecter de inter-venccedilatildeo em situaccedilotildees criacuteticas contempla que natildeo raras vezes se torne necessaacuterio aplicar determi-nadas intervenccedilotildees e procedimentos considera-dos life saving como entubaccedilatildeo endo-traqueal desfibrilhaccedilatildeo prescriccedilatildeo e administraccedilatildeo de faacuter-macos ou lideranccedila em situaccedilotildees de emergecircncia comummente reconhecidas como do acircmbito de intervenccedilatildeo meacutedica colocando-se questotildees como ldquoqual a fronteira em termos de intervenccedilotildees meacute-dicas e de enfermagemrdquo ou ldquopode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenccedilotildees e proce-dimentos life savingrdquo (Vieira Oliveira amp Ressur-reiccedilatildeo 2005)

Poreacutem o decreto-lei nordm 16176 de 4 de Setembro enquanto Regulamento do Exerciacutecio Profissional dos Enfermeiros (REPE) permite que estas duacutevidas possam ser esclarecidas dissipadas e devidamente documentadas em articulaccedilatildeo com os demais do-cumentos descritores e reguladores da profissatildeo

Definidos os cuidados de enfermagem como ldquoas intervenccedilotildees autoacutenomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no acircmbito das suas qua-lificaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 1 artigo 4ordm do decreto-lei nordm 16176) as intervenccedilotildees autoacutenomas referem-se agraves ldquoacccedilotildees realizadas pelos enfermei-ros sob sua uacutenica e exclusiva iniciativa e respon-sabilidade de acordo com as respectivas quali-ficaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 2 art 9ordm do de-creto-lei nordm 16176) enquanto as interdependen-tes satildeo respeitantes agraves intervenccedilotildees realizadas ldquopelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificaccedilotildees profissionais em conjunto com ou-tros teacutecnicos para atingir um objectivo comum decorrentes de planos de acccedilatildeo previamente de-finidos pelas equipas multidisciplinares em que estatildeo integrados e das prescriccedilotildees ou orientaccedilotildees previamente formalizadasrdquo (nuacutemero 3 artigo 9ordm do decreto-lei nordm 16176) Continuando a anaacutelise o nuacutemero 4 art 9ordm do mesmo diploma refere que os enfermeiros ldquoprocedem agrave administraccedilatildeo de te-rapecircutica prescrita detectando os seus efeitos e actuando em conformidade devendo em situaccedilatildeo de emergecircncia agir de acordo com a qualificaccedilatildeo e os conhecimentos que detecircm tendo como fina-lidade a manutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

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PALMA Garcia RODRIacuteGEZ Salvador AZANOacuteN Heacuternandez RODRIacute-GUEZ Camero ndash Provesso enfermero y atencioacuten prehospitalaria ur-gente Tempus Vitalis 1578 ndash 5963 52 (2005) 1-3

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TOMAacuteS Alexandre ndash O enfermeiro em ambulacircncias de Suporte Ime-diato de Vida ndash Afirmar a Enfermagem no preacute-hospitalar Ordem dos Enfermeiros 1646 ndash 2629 32 (2009) 59-60

VIEIRA Pedro OLIVEIRA Luiacutes RESSURREICcedilAtildeO Serafim ndash O enfer-meiro perante a emergecircncia preacute-hospitalar Sinais Vitais 61 (2005) 32-35

JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

28 29

formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

BIBLIOGRAFIAAMARAL M GONCcedilALVES R NUNES L ndash Coacutedigo Deontoloacutegico do Enfermeiro dos Comentaacuterios agrave Anaacutelise de Casos Lisboa Ordem dos Enfermeiros 2006 456 p ISBN 972-99646-0-2

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CONTRERA-MORENO L e CONTRERA-MORENO M ndash Violecircncia no trabalho em enfermagem um novo risco ocupacional Revista Brasilei-ra de Enfermagem [em linha] Vol 57 nordm 6 (2004) p 1 [Consult 29 Abril 2010] Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfrebenv57n6a24pdf

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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GESTAtildeO | LIDERANCcedilA GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 9: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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EacuteTICA EacuteTICA

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RESPOSTA Agrave EUTANAacuteSIA ENQUANTO PRAacuteTICA EacuteTICA

ENTRADA DO ARTIGO OUTUBRO 2010

EDUARDO JOSEacute FERREIRA DOS SANTOSEnfermeiro na Fundaccedilatildeo Aureacutelio Amaro Diniz

RESUMONa praxis cliacutenica o significado da eutanaacutesia acres-ce pela pressatildeo da moralidade puacuteblica e profunda convicccedilatildeo dos que lidam com pessoas particular-mente vulneraacuteveis e para as quais o fenoacutemeno pa-toloacutegico eacute profundamente incapacitante Este artigo corporiza a preocupaccedilatildeo dos que se debatem com este dilema eacutetico sugerindo o en-caminhamento para cuidados paliativos e a adop-ccedilatildeo de uma posiccedilatildeo mais proactiva das escolas de enfermagem e instituiccedilotildeesserviccedilos na formaccedilatildeo e ensino especializado

Palavras-chave Eutanaacutesia fim-de-vida cuidados paliativos eacutetica

ABSTRACTIn clinical practice the meaning of euthanasia is increased by the pressure of public morality and deep conviction of dealing with particularly vul-nerable persons and for which the pathological phenomenon is profoundly disablingThis article presents the concern of those who struggle with this ethical dilemma sug-gesting the orientation to palliative care and the adoption of a more proactive posi-tion by nursing schools and institutionsser-vices in training and specialized education

Keywords Euthanasia life-end palliative care ethics

INTRODUCcedilAtildeOA Eutanaacutesia deriva da junccedilatildeo de duas palavras Eu que significa bom e Thanatos que quer dizer mor-te Semanticamente morte doce morte sem ago-nia ou sem sofrimento fiacutesico Trata-se portanto do processo atraveacutes do qual algueacutem causa deliberada-mente a morte de outra a pedido desta uacuteltima (na expressatildeo de Arroyo e Serrano 1988)Por se associar intrinsecamente ao ldquoacto inten-cional de matarrdquo (Serratildeo 1996 p382) a eutanaacutesia eacute palco de inuacutemeras poleacutemicas posiccedilotildees e origina uma acesa controveacutersia num diaacutelogo nem sempre construtivo em torno do conceito de morte com dignidade O facto eacute que existe uma manifesta falta de informaccedilatildeo objectiva sobre os motivos que podem originar um pedido desta natureza (P13APB08) e como tal a eutanaacutesia impotildee-se como foco de reflexatildeo agrave enfermagem Isto porque sempre que ao enfermeiro se apresente a possibi-lidade de participaccedilatildeo na mesma surge agrave priori o dever de recusa Todavia no domiacutenio da liberda-de do livre arbiacutetrio a eutanaacutesia constitui-se como um dilema eacutetico (Queiroacutes 2001 Archer Biscaia e Osswald 2001 Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005)Eacute sobre a posiccedilatildeo da Enfermagem que nos pre-tendemos debruccedilar sugerindo a filosofia dos cui-dados paliativos como soluccedilatildeo em detrimento da realidade portuguesa

ASPECTOS CONCEPTUAIS A dignidade humana eacute sentida e expressa atraveacutes do corpo como suporte bioloacutegico de existecircncia Nem a pessoa eacute o corpo nem tatildeo pouco proprie-taacuteria do seu corpo Como tal a dignidade huma-na quanto mais agredida eacute tanto mais se impotildee como fronteira inviolaacutevel entre o humano e o natildeo--humano Eacute por esse motivo que hoje a dignidade humana aparece ligada a expressotildees que vatildeo des-de a qualidade de vida ao cuidado agrave cariacutecia agrave compaixatildeo (26CNECV99)Neste sentido o respeito pela dignidade de cada pessoa humana eacute uma exigecircncia eacutetica inscre-vendo na praacutetica diaacuteria dos cuidados de sauacutede o permanente centrar desses mesmos cuidados em cada pessoa (Martins 2010)Por outro lado cresce a noccedilatildeo de que no acircmbito da prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede os utentes de-vem ser livres de recusar determinados tratamen-tos agrave luz do princiacutepio do respeito pela autonomia

individual Assim eacute hoje possiacutevel qualquer doente competente recusar um determinado tratamen-to mesmo que desta forma se abrevie o momento da sua morte Aliaacutes eacute neste mesmo sentido que se questiona se esta capacidade decisoacuteria pode ser exercida prospectivamente nomeadamente quando natildeo for possiacutevel o exerciacutecio da autodeter-minaccedilatildeo individual (E10APB07)Curiosamente eacute neste domiacutenio que surge a euta-naacutesia e manifestamente se materializa pela pres-satildeo exercida pelos utentes nos profissionais de sauacutede ao exigirem respeito pelo seu ldquodireitordquo de morrer Com efeito quando os profissionais de sauacutede se sentem compelidos a agir e por termo ao sofrimento de um utente existe um conflito ine-vitaacutevel entre o dever eacutetico do cuidar protector ndash o dever da beneficecircncia e da natildeo-maleficecircncia ndash e o respeito pela autonomia e do direito de escolha do utente (Thompson Melia e Boyd 2004)Em todo o caso a eutanaacutesia soacute eacute uma opccedilatildeo livre quando se assegurar que se trata de um pedido racional de algueacutem que natildeo se revecirc mais no seu projecto de vida pessoal ou seja que natildeo se tra-ta de um comportamento apelativo por parte de algueacutem que se encontra insatisfeito com as con-diccedilotildees de vida que lhe satildeo proporcionadas (P13APB08)Eacute ainda de referir os resultados do estudo realiza-do por Van Der Wal (1992) apud Pessini e Barchi-fontaine (2005) que descreveu que 56 dos casos dos pedidos de eutanaacutesia se deviam aos utentes verem o seu sofrimento sem sentido e 46 por-que temiam o decliacutenioNo entanto vaacuterias satildeo as causas que precipitam tais pedidos Para muitos doentes a solidatildeo em que se encontram pode implicar que a morte as-sistida seja considerada a soluccedilatildeo final ainda que natildeo desejada para o seu dilema existencial Ou-tras causas residem ainda no sofrimento intenso devido ao sentimento de abandono e de exclusatildeo social e menos frequentemente a dor profunda e insustentaacutevel (P13APB08)Neste ponto pode-se apontar os cuidados pa-liativos como estrateacutegia ideal dado que eacute a mais referida pelos autores (Marques Santos e Santos 2001 Thompson Melia e Boyd 2004 Pessini e Barchifontaine 2005) Assim e com a atenccedilatildeo sin-cera dirigida para o utente que solicita a eutanaacute-sia o estabelecimento de ldquoverdadeirasrdquo relaccedilotildees de ajuda e com o auxiacutelio dos cuidados paliativos o

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sofrimento extremo natildeo permanece sem respos-ta Haacute entatildeo que considerar que indubitavelmente o papel do enfermeiro eacute acompanhar o utente pri-vilegiando a sua qualidade de vida minorando a dor ajudando-o a aceitar e a preparar-se para a morte beneficiando de cuidados paliativos e de acompanhamento psicoloacutegico (Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005) Pretende-se providenciar con-forto e bem-estar ao doente croacutenico (e por maio-ria de razatildeo ao doente terminal) recorrendo a meios proporcionados de tratamento por parte de uma equipa de sauacutede especialmente sensibili-zada nesta mateacuteria (E10APB07)Decerto que um outro desafio reside tambeacutem no dever do Estado implementar uma poliacutetica efecti-va de luta contra a dor nomeadamente atraveacutes da implementaccedilatildeo generalizada do Plano Nacional de Luta Contra a Dor e promover a generalizaccedilatildeo dos cuidados paliativos a niacutevel domiciliaacuterio nos Cen-tros de Sauacutede e cuidados em hospitais oncoloacutegicos e outros estabelecimentos de sauacutede (P13APB08)Em suma o desafio dos cuidados paliativos consti-tui entatildeo o de resgatar da dignidade do ser huma-no na uacuteltima fase da sua vida (Pessini e Barchifon-taine 2005)

PERSPECTIVA EacuteTICO-LEGAL De acordo com a nossa ordem juriacutedica a eutanaacutesia eacute uma praacutetica ilegal e criminalizada (E10APB07) Contudo a lei portuguesa natildeo trata da praacutetica eutanaacutesia mas como o direito agrave vida eacute inviolaacutevel segundo a CRP1 e o CP2 - que se traduz num cor-po de normas juriacutedicas que primam por serem as que regulam o regime de penaspuniccedilotildees quando algum acto destoa daquilo que se considera legal-mente admissiacutevel - por analogia a ldquoeutanaacutesiardquo eacute puniacutevel Esmiuccedilando o jaacute referido CP que manifesta re-levante ponderaccedilatildeo para o tema aqui em apreccedilo evidencia-se o Tiacutetulo I (que trata em especiacutefico do crime contra as pessoas) o qual se subdivide no Capiacutetulo I (Dos crimes contra a vida) que en-globa os artigos 131ordm 133ordm134ordm138ordmNeste acircmbito reza o artigo 131ordm corpo normativo que regula e penaliza o tipo legal de crime res-peitante ao Homiciacutedio (o dito homiciacutedio simples) ndash que ldquoQuem matar outra pessoa eacute punido com pena de prisatildeo de oito a dezasseis anosrdquoJaacute o artigo 133ordm (onde se enquadra o delito cri-

1 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa (Lei Constitucional 12005)

2 Coacutedigo Penal (Decreto Lei 592007)

minal do Homiciacutedio privilegiado) esclarece que ldquoQuem matar outra pessoa por compreensiacutevel emoccedilatildeo violenta compaixatildeo desespero ou moti-vo de relevante valor social ou moral que diminua sensivelmente a sua culpa eacute punido com pena de prisatildeo de 1 a 5 anosrdquoAo dirigirmos o nosso reparo para o Artigo 134ordm que trata o ldquoHomiciacutedio a pedido da viacutetimardquo no seu nordm1 clarifica-se que ldquoQuem matar outra pes-soa por pedido seacuterio instante e expresso que ela lhe tenha feito eacute punido com pena de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo O Artigo 135ordm (Incitamento ou ajuda ao suiciacutedio) no seu nordm 1) refere que ldquo Quem incitar outra pes-soa a suicidar -se ou lhe prestar ajuda para esse fim eacute punido com pena de prisatildeo ateacute trecircs anosrdquo contudo e acautelando a possibilidade do suiciacutedio ou da tentativa prossegue o nordm 2 do mesmo arti-go ditando que ldquoSe a pessoa incitada ou a quem se presta ajuda for menor de 16 anos ou tiver por qualquer motivo a sua capacidade de valoraccedilatildeo ou de determinaccedilatildeo sensivelmente diminuiacuteda o agente eacute punido com pena de prisatildeo de um a cin-co anos Quanto ao Artigo 138deg (Exposiccedilatildeo ou abandono) lecirc-se que ldquoQuem colocar em perigo a vida de ou-tra pessoardquo ndash aliacutenea a)- ldquoExpondo-a em lugar que a sujeite a uma situaccedilatildeo de que ela soacute por si natildeo possa defender-serdquo ou - aliacutenea b) - ldquoAbandonan-do-a sem defesa sempre que ao agente coubes-se dever de a guardar vigiar ou assistir eacute punido com pena de prisatildeo de 2 a 8 anosrdquo Por uacuteltimo eacute tambeacutem de salientar o facto de que a eutanaacutesia tambeacutem contraria os princiacutepios basi-lares que alicerccedilam a profissatildeo conforme dispos-to no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros3 e no REPE4 No enquadramento deontoloacutegico os deve-res do enfermeiro incitam ldquoo respeito do direito da pessoa agrave vida durante todo o ciclo vitalrdquo (Arti-go 82ordm) e a obrigatoriedade do enfermeiro ldquode-fender e promover o direito do doente agrave escolha do local e das pessoas que deseja o acompanhem na fase terminal da vida e respeitar e fazer res-peitar as manifestaccedilotildees de perda expressas pelo doente em fase terminal pela famiacutelia ou pessoas que lhe sejam proacuteximasrdquo (Artigo 87ordm)

3 Decreto Lei nordm 10498 de 21 de Abril de 1998

4 Decreto-Lei Nordm 16196 de 4 de Setembro de 1996

CUIDADOS PALIATIVOS QUE RESPOSTAS Em Portugal os cuidados Paliativos estatildeo a dar os primeiros passos verificando-se a existecircncia de alguma preocupaccedilatildeo relativamente ao utente em fase terminal (Queiroacutes 2001) Todavia assiste--se a um deficit ou mesmo ausecircncia de respostas por parte dos serviccedilos e instituiccedilotildees de sauacutede aos utentes (Sapeta 2003)Num estudo realizado pela APEME (2008) sobre o grau de satisfaccedilatildeo da populaccedilatildeo com os Cuidados Paliativos atraveacutes da aplicaccedilatildeo de um questionaacute-rio por entrevista telefoacutenica a uma amostra de 606 elementos salienta-se que 31 dos inquiri-dos os consideram completamente insuficientes 25 insuficientes 31 suficientes 9 moderada-mente suficientes e 5 completamente suficien-tes Curiosamente quando inquiridos sobre ldquoas principais sugestotildees para melhorias dos cuidados paliativosrdquo 14 apostavam na formaccedilatildeo profis-sional e 8 deseja mais profissionais especializa-dos na aacuterea Eacute ainda de referir o estudo realizado por Sapeta (2003) que afirma que a maioria das escolas de Enfermagem lecciona em mais que um ano lecti-vo e em mais do que uma aacuterea cientiacutefica os temas ldquocuidados paliativosrdquo e ldquodor croacutenicardquo contudo numa abordagem bastante superficial dado ao nuacutemero de horas associado Desta forma e especificamente neste aspecto o Programa Nacional de Cuidados Paliativos (DGS 2004 p 2) considera que eacute imprescindiacutevel ldquouma preparaccedilatildeo soacutelida e diferenciada que deve envol-ver quer a formaccedilatildeo preacute-graduada quer a forma-ccedilatildeo poacutes-graduada dos profissionais que satildeo cha-mados agrave praacutetica deste tipo de cuidadosrdquo

CONCLUSAtildeONa actualidade a questatildeo da eutanaacutesia suplanta expectativasduacutevidas natildeo soacute na populaccedilatildeo mas tambeacutem nas camadas profissionais de sauacutede no-meadamente os enfermeiros Concomitantemen-te vaacuterias fracccedilotildees sociais manifestam interesse ou reprovaccedilatildeo pela sua praacutetica Ora eacute defendida por uns eou reprovada por outrosEacute importante destacar que a percepccedilatildeo e livre ar-biacutetrio que o enfermeiro possui norteia a sua praacute-tica profissional e consequentemente influencia algumas tomadas de decisatildeo Notabiliza-se con-tudo a vinculaccedilatildeo do exerciacutecio da profissatildeo a um

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conjunto de regras e aspectos legais e eacutetico-de-ontoloacutegicos que se identificam como orientaccedilotildees para julgar a acccedilatildeo profissional constituindo por fim a obrigatoriedade do enfermeiro se reger pe-las mesmas Eacute neste contexto que nos surgiu a proposta da reflexatildeo sobre possiacuteveis ldquosoluccedilotildeesrespostasrdquo que se esbarraram com a filosofia dos cuidados paliativos que na maioria dos autores referidos se apresentam como a melhor resposta nacional face agraves actuais disposiccedilotildees legais Em epiacutelogo procurou-se evidenciar e incentivar a necessidadeobrigatoriedade de formaccedilatildeo na aacuterea salientando natildeo soacute a importacircncia da tomada de decisatildeo dos serviccedilosinstituiccedilotildees mas predo-minantemente das escolas de Enfermagem

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ENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2010

RESUMONum momento em que o modelo de emergecircncia preacute-hospitalar em Portugal eacute discutido torna-se necessaacuterio reflectir acerca das competecircncias e da importacircncia dos profissionais nela incluiacutedos entre os quais os enfermeiros que natildeo tecircm suscitado consenso Se por um lado existe evidecircncia cientiacutefica que reafirma a importacircncia do enfermeiro neste contexto existem correntes de pensamento que argumentam o inverso objectivando este artigo responder agrave questatildeo ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro em emergecircncia preacute-hospitalarrdquo

Palavras-Chave Enfermagem Emergecircncia preacute--hospitalar

ABSTRACTIn a moment that the pre hospital emergency system is discussed arises the needing to reflect about the competence and importance that the included professionals have to work in this field including the nurses that donacutet have evoke consensus If on one hand exists scientific evidence that reaffirms the importance of the nurseacutes presence in that field there exists currents of thought that argue the inverse So this article objectify answer to the question ldquoExist or not competence for the nursersquos professional exercise in the pre hospital care fieldrdquo

Keywords Nursing Pre hospital emergency

ANDREacute FILIPE RICARDO CORREIAHospital de Faro EPE ndash Unidade de Cuidados Intensivos

INTRODUCcedilAtildeO

Num momento em que a posiccedilatildeo do enfermeiro nas equipas de emergecircncia preacute-hospitalar eacute am-plamente discutida justifica-se a necessidade de reflectir acerca das suas competecircncias para o exerciacutecio nesta aacuterea assim como o seu papel na garantia da seguranccedila e qualidade dos cuidados de sauacutede prestados neste contexto

A presenccedila dos enfermeiros na emergecircncia preacute--hospitalar em Portugal remonta haacute cerca de 20 anos exercendo estes funccedilotildees nas mais variadas aacutereas desde o transporte de receacutem-nascidos Viaturas Meacutedicas de Emergecircncia e Reanimaccedilatildeo (VMER) heli-transporte de doentes criacuteticos e em cataacutestrofe [Ordem dos Enfermeiros (OE) 2008]

Numa constante e progressiva consolidaccedilatildeo do Sistema Integrado de Emergecircncia Meacutedica (SIEM) a que se tem assistido o papel do enfermeiro tem sido reforccedilado nomeadamente com a recente criaccedilatildeo das ambulacircncias de Suporte Imediato de

Vida (SIV) e da figura do enfermeiro responsaacute-vel pelo acompanhamento dos meios no terreno no Centro de Orientaccedilatildeo de Doentes Urgentes (CODU) representando conjuntamente com os preacute-existentes VMER e helicoacutepteros de Emergecircn-cia meacutedica os meios operacionais atraveacutes dos quais os enfermeiros intervecircm actualmente na prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar em equipa com meacutedicos psicoacutelogos tripu-lantes de ambulacircncia de socorro (TAS) tripulan-tes de ambulacircncia de emergecircncia (TAE) e teacutecnicos de operaccedilotildees e telecomunicaccedilotildees de emergecircncia (TOTE) (OE 2008)

Contudo as competecircncias do enfermeiro para a prestaccedilatildeo de cuidados neste contexto assim como a necessidade da sua intervenccedilatildeo parecem natildeo reunir consensualidade sendo suscitadas cor-rentes de pensamento que se opotildeem agrave sua activi-dade e presenccedila neste acircmbito de cuidados Ape-sar inicial ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro no contexto

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de cuidados preacute-hospitalarrdquo

De facto compreendo que se natildeo nos ocupar-mos desta problemaacutetica corremos o seacuterio risco de uma vez mais vermos diminuiacutedas as nossas aacutereas de intervenccedilatildeo o que indubitavelmente re-presenta uma perda para a profissatildeo e em uacutelti-ma instacircncia para a comunidade alvo dos nossos cuidados pelo consequente impacto na qualidade desses cuidados

Assim a este propoacutesito entendemos que o en-fermeiro possui competecircncias que o habilitam agrave prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia no contex-to preacute-hospitalar constituindo a sua presenccedila nas equipas preacute-hospitalares uma inegaacutevel mais-valia

suportada em todo um corpo de conhecimentos teacutecnico - cientiacuteficos que resultam em claros bene-fiacutecios para as pessoas assistidas Tal como a evi-decircncia cientiacutefica (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) afirma os conhecimentos base e competecircncias em ciecircncias como anatomia fisiopatologia e farmacologia a complementari-dade das ciecircncias sociais e humanas produccedilatildeo cientiacutefica e praacutetica baseada na evidecircncia o espiacuteri-to criacutetico - reflexivo e os elevados conhecimentos da realidade intra-hospitalar satildeo caracteriacutesticas dos enfermeiros que acrescem saberes e compe-tecircncias adicionais ao acircmbito da emergecircncia preacute--hospitalar permitindo a sua presenccedila ldquohellipperform and document a high quality and holistic assess-

ment including bio-psycho-social needs and not merely physical needshelliprdquo (Melby amp Ryan 2005 p1147) A este respeito ainda Palma Rodriacuteguez Azanoacuten e Rodriguez (2005) satildeo contundentes ao concluiacuterem que a presenccedila dos enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar eacute imprescindiacutevel natildeo soacute por possuiacuterem a qualificaccedilatildeo necessaacuteria para co-laborar e actuar na prestaccedilatildeo de cuidados a pes-soas em situaccedilotildees de urgecircnciaemergecircncia como tambeacutem pela diferenciaccedilatildeo na prestaccedilatildeo dos mesmos o que possibilita indubitaacuteveis benefiacutecios para o doente mediante a melhoria de conheci-mentos respostas colaboraccedilatildeo e adaptaccedilatildeo do mesmo agrave sua situaccedilatildeo de alteraccedilatildeo no continuum sauacutede-doenccedila

Poreacutem contrariamente agrave evidecircncia cientiacutefica que aponta os benefiacutecios da participaccedilatildeo do enfer-meiro no contexto de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar as correntes divergentes indicam determinados aspectos como limitadores ou mesmo inviabilizadores desta presenccedila que vatildeo desde a inadequaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo ateacute haacute ine-xistecircncia de legitimidade eacutetico-deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados de forma autoacutenoma envolvendo duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais

Neste sentido o Sindicato dos Teacutecnicos de Am-bulacircncia de Emergecircncia (STAE) (2010) refere que a niacutevel internacional os serviccedilos de emergecircncia meacutedica demonstram que as soluccedilotildees para os re-cursos humanos nesta aacuterea devem incidir na for-maccedilatildeo de profissionais unicamente direccionados para o desempenho de cuidados de emergecircncia em ambiente preacute-hospitalar (comummente deno-minados como ldquoparameacutedicosrdquo) com autorizaccedilatildeo para executar determinados procedimentos meacutedi-cos invasivos sob direcccedilatildeo meacutedica e certificaccedilatildeo acrescentando ainda que natildeo existem vantagens em termos de eficiecircncia ou qualidade dos cui-dados prestados com a inclusatildeo de enfermeiros neste acircmbito de cuidados Poreacutem Suserud e Hal-jamaumle (1997 1999) aos quais acrescemos a nossa aprovaccedilatildeo opotildeem-se a esta posiccedilatildeo salientando inversamente a tendecircncia internacional a que se assiste no sentido de um aumento do nuacutemero de enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar Como estes referem os modelos que preconizaram a existecircncia do tipo de soluccedilatildeo para os recursos hu-manos sugerido pelo STAE (2010) basearam-se na

inexistecircncia de meacutedicos e enfermeiros suficientes para suprir simultaneamente as necessidades intra e preacute-hospitalares pelo que por uma ques-tatildeo de racionalizaccedilatildeo de meios humanos optaram pela sua retenccedilatildeo no acircmbito intra-hospitalar em detrimento do preacute-hospitalar

Com o debate em torno da importacircncia de um elevado niacutevel de competecircncias para aumentar a qualidade dos cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar foram suscitadas por parte de vaacuterios paiacute-ses alteraccedilotildees na forma de encarar os recursos humanos necessaacuterios para a prossecuccedilatildeo deste objectivo Como tal a Noruega a Sueacutecia ou a Ho-landa satildeo exemplos de paiacuteses que apesar de ini-cialmente suportados em modelos de emergecircncia meacutedica que pressupunham a existecircncia de profis-sionais de emergecircncia meacutedica como os referidos pelo STAE (2010) alteraram o seu modo de fun-cionamento incluindo os enfermeiros nas equipas de emergecircncia preacute hospitalar salientando ldquohellipthe importance of having equally competence emer-gency personel working in the pre-hospital area and in hospital that is professionals doing the same type of work should have similar competen-ce levels and practical trainingrdquo (Suserud amp Hal-jamaumle 1997 p145) Na verdade a emergecircncia meacute-dica preacute-hospitalar eacute uma componente da Emer-gecircncia Meacutedica a qual abrange um largo espectro

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intervenccedilatildeo desde os cuidados intensivos ateacute agrave prestaccedilatildeo de cuidados em serviccedilos de urgecircncia passando pelo transporte inter-hospitalar de do-entes urgentes todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros tecircm uma participaccedilatildeo essencial e competecircncias reconhecidas [Suserud 2005 Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Nor-te (ARSN) 2009] Partilhando estas actividades toda uma seacuterie de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e compe-tecircncias comuns torna-se clara a importacircncia da presenccedila do enfermeiro de um modo transversal em todas elas permitindo uma boa articulaccedilatildeo e continuidade fundamentais para toda a cadeia de cuidados realccedilando a evidecircncia cientiacutefica pro-duzida nos paiacuteses que adoptaram este modelo de emergecircncia preacute-hospitalar que ldquohellipthe increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by ra-sing the competence level of the team as a who-lerdquo (Suserud amp Haljamaumle 1997 p145)

Outra das objecccedilotildees apontada refere-se agrave neces-sidade de formaccedilatildeo especiacutefica para a prestaccedilatildeo de cuidados em emergecircncia preacute-hospitalar sendo referido que o ldquoenfermeiro carece sempre de for-maccedilatildeo especializada para a intervenccedilatildeo preacute-hos-pitalar que natildeo seja conjunta com o meacutedico hellipsob pena de estar em causa a seguranccedila e a qualidade dos cuidados prestadosrdquo (STAE 2010 p5)

De facto aceitamos a menccedilatildeo de que eacute necessaacute-ria formaccedilatildeo acrescida agrave formaccedilatildeo base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) Poreacutem esta eacute claramente uma preposiccedilatildeo inviaacutevel no sentido de reiterar a inexistecircncia de competecircn-cias de enfermagem em emergecircncia preacute-hospita-lar Natildeo podemos esquecer que a licenciatura natildeo concede por si soacute uma especializaccedilatildeo da praacutetica profissional pois apenas confere uma base de co-nhecimentos e competecircncias no acircmbito da enfer-magem de cuidados gerais encaminhando poste-riormente o enfermeiro a sua praacutetica profissional num determinado sentido obviamente suportada pela formaccedilatildeo adicional que essa aacuterea exija To-davia a existecircncia de um corpo soacutelido de conhe-cimentos base adquirido no CLE vai favorecer a posterior aquisiccedilatildeo de conhecimentos e compe-tecircncias suportando e solidificando a prestaccedilatildeo de cuidados na aacuterea especiacutefica em causa

Por outro lado decorrente de vaacuterios factores como a gravidade e complexidade das situaccedilotildees cliacutenicas a imprevisibilidade de ocorrecircncias e a prestaccedilatildeo de cuidados em ambiente extra-hospi-talar com elevada exposiccedilatildeo social e reduzido nuacute-mero de intervenientes no processo de decisatildeo o exerciacutecio profissional neste contexto eacute reconheci-damente especiacutefico e complexo o que exige uma preparaccedilatildeo singular e contiacutenua dos profissionais envolvidos (Tomaacutes 2009 OE 2010)

Face a isto na realidade portuguesa todos os en-fermeiros que prestam cuidados nas VMER SIV helicoacutepteros de emergecircncia meacutedica e CODU tecircm formaccedilatildeo que os habilita agrave sua actividade con-ferindo as competecircncias teoacuterico - praacuteticas consi-deradas essenciais pelas entidades competentes ao que se acrescem as poacutes-graduaccedilotildees e mes-trados que tecircm surgido nas aacutereas de urgecircnciaemergecircncia encaradas como uma mais-valia na qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais (Vieira Oliveira amp Ressurreiccedilatildeo 2005 Tomaacutes 2009) A li-teratura (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) por sua vez sugere a existecircncia de um consenso relativamente ao facto dos enfer-meiros com experiecircncia de anestesia unidade de cuidados intensivos e serviccedilo de urgecircncia serem os mais habilitados para a prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar decorrente da for-maccedilatildeo que possuem e da constante interacccedilatildeo com situaccedilotildees cliacutenicas criacuteticas que lhes permite uma manutenccedilatildeo das competecircncias que de ou-tro modo poderiam decrescer face a periacuteodos de menor operacionalidade decorrente da inexis-tecircncia de situaccedilotildees criacuteticas na aacuterea de influecircncia dos meios de socorro Desta forma poderaacute residir neste aspecto um dos deacutefices do modelo portu-guecircs em que os enfermeiros dos meios SIV ape-nas prestam cuidados no contexto preacute-hospitalar em exclusividade Todavia na VMER esta questatildeo natildeo se coloca uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua activi-dade profissional tambeacutem em contexto intra-hos-pitalar preferencialmente nos serviccedilos supraci-tados sendo esta uma das condiccedilotildees de ingresso previamente definida o que potencia o processo de retro-alimentaccedilatildeo de experiecircncia e conheci-mento com consequente mais-valia para as duas aacutereas (Suserud 2005 OE 2010)

Eacute tambeacutem no capiacutetulo da legitimidade eacutetico--deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados que satildeo colocadas duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais do enfermeiro ldquohellipque natildeo seja conjunta com o meacutedi-cohelliprdquo (STAE 2010 p5) pois o caraacutecter de inter-venccedilatildeo em situaccedilotildees criacuteticas contempla que natildeo raras vezes se torne necessaacuterio aplicar determi-nadas intervenccedilotildees e procedimentos considera-dos life saving como entubaccedilatildeo endo-traqueal desfibrilhaccedilatildeo prescriccedilatildeo e administraccedilatildeo de faacuter-macos ou lideranccedila em situaccedilotildees de emergecircncia comummente reconhecidas como do acircmbito de intervenccedilatildeo meacutedica colocando-se questotildees como ldquoqual a fronteira em termos de intervenccedilotildees meacute-dicas e de enfermagemrdquo ou ldquopode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenccedilotildees e proce-dimentos life savingrdquo (Vieira Oliveira amp Ressur-reiccedilatildeo 2005)

Poreacutem o decreto-lei nordm 16176 de 4 de Setembro enquanto Regulamento do Exerciacutecio Profissional dos Enfermeiros (REPE) permite que estas duacutevidas possam ser esclarecidas dissipadas e devidamente documentadas em articulaccedilatildeo com os demais do-cumentos descritores e reguladores da profissatildeo

Definidos os cuidados de enfermagem como ldquoas intervenccedilotildees autoacutenomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no acircmbito das suas qua-lificaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 1 artigo 4ordm do decreto-lei nordm 16176) as intervenccedilotildees autoacutenomas referem-se agraves ldquoacccedilotildees realizadas pelos enfermei-ros sob sua uacutenica e exclusiva iniciativa e respon-sabilidade de acordo com as respectivas quali-ficaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 2 art 9ordm do de-creto-lei nordm 16176) enquanto as interdependen-tes satildeo respeitantes agraves intervenccedilotildees realizadas ldquopelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificaccedilotildees profissionais em conjunto com ou-tros teacutecnicos para atingir um objectivo comum decorrentes de planos de acccedilatildeo previamente de-finidos pelas equipas multidisciplinares em que estatildeo integrados e das prescriccedilotildees ou orientaccedilotildees previamente formalizadasrdquo (nuacutemero 3 artigo 9ordm do decreto-lei nordm 16176) Continuando a anaacutelise o nuacutemero 4 art 9ordm do mesmo diploma refere que os enfermeiros ldquoprocedem agrave administraccedilatildeo de te-rapecircutica prescrita detectando os seus efeitos e actuando em conformidade devendo em situaccedilatildeo de emergecircncia agir de acordo com a qualificaccedilatildeo e os conhecimentos que detecircm tendo como fina-lidade a manutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

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VIEIRA Pedro OLIVEIRA Luiacutes RESSURREICcedilAtildeO Serafim ndash O enfer-meiro perante a emergecircncia preacute-hospitalar Sinais Vitais 61 (2005) 32-35

JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

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VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 10: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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sofrimento extremo natildeo permanece sem respos-ta Haacute entatildeo que considerar que indubitavelmente o papel do enfermeiro eacute acompanhar o utente pri-vilegiando a sua qualidade de vida minorando a dor ajudando-o a aceitar e a preparar-se para a morte beneficiando de cuidados paliativos e de acompanhamento psicoloacutegico (Nunes Amaral e Gonccedilalves 2005) Pretende-se providenciar con-forto e bem-estar ao doente croacutenico (e por maio-ria de razatildeo ao doente terminal) recorrendo a meios proporcionados de tratamento por parte de uma equipa de sauacutede especialmente sensibili-zada nesta mateacuteria (E10APB07)Decerto que um outro desafio reside tambeacutem no dever do Estado implementar uma poliacutetica efecti-va de luta contra a dor nomeadamente atraveacutes da implementaccedilatildeo generalizada do Plano Nacional de Luta Contra a Dor e promover a generalizaccedilatildeo dos cuidados paliativos a niacutevel domiciliaacuterio nos Cen-tros de Sauacutede e cuidados em hospitais oncoloacutegicos e outros estabelecimentos de sauacutede (P13APB08)Em suma o desafio dos cuidados paliativos consti-tui entatildeo o de resgatar da dignidade do ser huma-no na uacuteltima fase da sua vida (Pessini e Barchifon-taine 2005)

PERSPECTIVA EacuteTICO-LEGAL De acordo com a nossa ordem juriacutedica a eutanaacutesia eacute uma praacutetica ilegal e criminalizada (E10APB07) Contudo a lei portuguesa natildeo trata da praacutetica eutanaacutesia mas como o direito agrave vida eacute inviolaacutevel segundo a CRP1 e o CP2 - que se traduz num cor-po de normas juriacutedicas que primam por serem as que regulam o regime de penaspuniccedilotildees quando algum acto destoa daquilo que se considera legal-mente admissiacutevel - por analogia a ldquoeutanaacutesiardquo eacute puniacutevel Esmiuccedilando o jaacute referido CP que manifesta re-levante ponderaccedilatildeo para o tema aqui em apreccedilo evidencia-se o Tiacutetulo I (que trata em especiacutefico do crime contra as pessoas) o qual se subdivide no Capiacutetulo I (Dos crimes contra a vida) que en-globa os artigos 131ordm 133ordm134ordm138ordmNeste acircmbito reza o artigo 131ordm corpo normativo que regula e penaliza o tipo legal de crime res-peitante ao Homiciacutedio (o dito homiciacutedio simples) ndash que ldquoQuem matar outra pessoa eacute punido com pena de prisatildeo de oito a dezasseis anosrdquoJaacute o artigo 133ordm (onde se enquadra o delito cri-

1 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa (Lei Constitucional 12005)

2 Coacutedigo Penal (Decreto Lei 592007)

minal do Homiciacutedio privilegiado) esclarece que ldquoQuem matar outra pessoa por compreensiacutevel emoccedilatildeo violenta compaixatildeo desespero ou moti-vo de relevante valor social ou moral que diminua sensivelmente a sua culpa eacute punido com pena de prisatildeo de 1 a 5 anosrdquoAo dirigirmos o nosso reparo para o Artigo 134ordm que trata o ldquoHomiciacutedio a pedido da viacutetimardquo no seu nordm1 clarifica-se que ldquoQuem matar outra pes-soa por pedido seacuterio instante e expresso que ela lhe tenha feito eacute punido com pena de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo O Artigo 135ordm (Incitamento ou ajuda ao suiciacutedio) no seu nordm 1) refere que ldquo Quem incitar outra pes-soa a suicidar -se ou lhe prestar ajuda para esse fim eacute punido com pena de prisatildeo ateacute trecircs anosrdquo contudo e acautelando a possibilidade do suiciacutedio ou da tentativa prossegue o nordm 2 do mesmo arti-go ditando que ldquoSe a pessoa incitada ou a quem se presta ajuda for menor de 16 anos ou tiver por qualquer motivo a sua capacidade de valoraccedilatildeo ou de determinaccedilatildeo sensivelmente diminuiacuteda o agente eacute punido com pena de prisatildeo de um a cin-co anos Quanto ao Artigo 138deg (Exposiccedilatildeo ou abandono) lecirc-se que ldquoQuem colocar em perigo a vida de ou-tra pessoardquo ndash aliacutenea a)- ldquoExpondo-a em lugar que a sujeite a uma situaccedilatildeo de que ela soacute por si natildeo possa defender-serdquo ou - aliacutenea b) - ldquoAbandonan-do-a sem defesa sempre que ao agente coubes-se dever de a guardar vigiar ou assistir eacute punido com pena de prisatildeo de 2 a 8 anosrdquo Por uacuteltimo eacute tambeacutem de salientar o facto de que a eutanaacutesia tambeacutem contraria os princiacutepios basi-lares que alicerccedilam a profissatildeo conforme dispos-to no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros3 e no REPE4 No enquadramento deontoloacutegico os deve-res do enfermeiro incitam ldquoo respeito do direito da pessoa agrave vida durante todo o ciclo vitalrdquo (Arti-go 82ordm) e a obrigatoriedade do enfermeiro ldquode-fender e promover o direito do doente agrave escolha do local e das pessoas que deseja o acompanhem na fase terminal da vida e respeitar e fazer res-peitar as manifestaccedilotildees de perda expressas pelo doente em fase terminal pela famiacutelia ou pessoas que lhe sejam proacuteximasrdquo (Artigo 87ordm)

3 Decreto Lei nordm 10498 de 21 de Abril de 1998

4 Decreto-Lei Nordm 16196 de 4 de Setembro de 1996

CUIDADOS PALIATIVOS QUE RESPOSTAS Em Portugal os cuidados Paliativos estatildeo a dar os primeiros passos verificando-se a existecircncia de alguma preocupaccedilatildeo relativamente ao utente em fase terminal (Queiroacutes 2001) Todavia assiste--se a um deficit ou mesmo ausecircncia de respostas por parte dos serviccedilos e instituiccedilotildees de sauacutede aos utentes (Sapeta 2003)Num estudo realizado pela APEME (2008) sobre o grau de satisfaccedilatildeo da populaccedilatildeo com os Cuidados Paliativos atraveacutes da aplicaccedilatildeo de um questionaacute-rio por entrevista telefoacutenica a uma amostra de 606 elementos salienta-se que 31 dos inquiri-dos os consideram completamente insuficientes 25 insuficientes 31 suficientes 9 moderada-mente suficientes e 5 completamente suficien-tes Curiosamente quando inquiridos sobre ldquoas principais sugestotildees para melhorias dos cuidados paliativosrdquo 14 apostavam na formaccedilatildeo profis-sional e 8 deseja mais profissionais especializa-dos na aacuterea Eacute ainda de referir o estudo realizado por Sapeta (2003) que afirma que a maioria das escolas de Enfermagem lecciona em mais que um ano lecti-vo e em mais do que uma aacuterea cientiacutefica os temas ldquocuidados paliativosrdquo e ldquodor croacutenicardquo contudo numa abordagem bastante superficial dado ao nuacutemero de horas associado Desta forma e especificamente neste aspecto o Programa Nacional de Cuidados Paliativos (DGS 2004 p 2) considera que eacute imprescindiacutevel ldquouma preparaccedilatildeo soacutelida e diferenciada que deve envol-ver quer a formaccedilatildeo preacute-graduada quer a forma-ccedilatildeo poacutes-graduada dos profissionais que satildeo cha-mados agrave praacutetica deste tipo de cuidadosrdquo

CONCLUSAtildeONa actualidade a questatildeo da eutanaacutesia suplanta expectativasduacutevidas natildeo soacute na populaccedilatildeo mas tambeacutem nas camadas profissionais de sauacutede no-meadamente os enfermeiros Concomitantemen-te vaacuterias fracccedilotildees sociais manifestam interesse ou reprovaccedilatildeo pela sua praacutetica Ora eacute defendida por uns eou reprovada por outrosEacute importante destacar que a percepccedilatildeo e livre ar-biacutetrio que o enfermeiro possui norteia a sua praacute-tica profissional e consequentemente influencia algumas tomadas de decisatildeo Notabiliza-se con-tudo a vinculaccedilatildeo do exerciacutecio da profissatildeo a um

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conjunto de regras e aspectos legais e eacutetico-de-ontoloacutegicos que se identificam como orientaccedilotildees para julgar a acccedilatildeo profissional constituindo por fim a obrigatoriedade do enfermeiro se reger pe-las mesmas Eacute neste contexto que nos surgiu a proposta da reflexatildeo sobre possiacuteveis ldquosoluccedilotildeesrespostasrdquo que se esbarraram com a filosofia dos cuidados paliativos que na maioria dos autores referidos se apresentam como a melhor resposta nacional face agraves actuais disposiccedilotildees legais Em epiacutelogo procurou-se evidenciar e incentivar a necessidadeobrigatoriedade de formaccedilatildeo na aacuterea salientando natildeo soacute a importacircncia da tomada de decisatildeo dos serviccedilosinstituiccedilotildees mas predo-minantemente das escolas de Enfermagem

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ENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2010

RESUMONum momento em que o modelo de emergecircncia preacute-hospitalar em Portugal eacute discutido torna-se necessaacuterio reflectir acerca das competecircncias e da importacircncia dos profissionais nela incluiacutedos entre os quais os enfermeiros que natildeo tecircm suscitado consenso Se por um lado existe evidecircncia cientiacutefica que reafirma a importacircncia do enfermeiro neste contexto existem correntes de pensamento que argumentam o inverso objectivando este artigo responder agrave questatildeo ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro em emergecircncia preacute-hospitalarrdquo

Palavras-Chave Enfermagem Emergecircncia preacute--hospitalar

ABSTRACTIn a moment that the pre hospital emergency system is discussed arises the needing to reflect about the competence and importance that the included professionals have to work in this field including the nurses that donacutet have evoke consensus If on one hand exists scientific evidence that reaffirms the importance of the nurseacutes presence in that field there exists currents of thought that argue the inverse So this article objectify answer to the question ldquoExist or not competence for the nursersquos professional exercise in the pre hospital care fieldrdquo

Keywords Nursing Pre hospital emergency

ANDREacute FILIPE RICARDO CORREIAHospital de Faro EPE ndash Unidade de Cuidados Intensivos

INTRODUCcedilAtildeO

Num momento em que a posiccedilatildeo do enfermeiro nas equipas de emergecircncia preacute-hospitalar eacute am-plamente discutida justifica-se a necessidade de reflectir acerca das suas competecircncias para o exerciacutecio nesta aacuterea assim como o seu papel na garantia da seguranccedila e qualidade dos cuidados de sauacutede prestados neste contexto

A presenccedila dos enfermeiros na emergecircncia preacute--hospitalar em Portugal remonta haacute cerca de 20 anos exercendo estes funccedilotildees nas mais variadas aacutereas desde o transporte de receacutem-nascidos Viaturas Meacutedicas de Emergecircncia e Reanimaccedilatildeo (VMER) heli-transporte de doentes criacuteticos e em cataacutestrofe [Ordem dos Enfermeiros (OE) 2008]

Numa constante e progressiva consolidaccedilatildeo do Sistema Integrado de Emergecircncia Meacutedica (SIEM) a que se tem assistido o papel do enfermeiro tem sido reforccedilado nomeadamente com a recente criaccedilatildeo das ambulacircncias de Suporte Imediato de

Vida (SIV) e da figura do enfermeiro responsaacute-vel pelo acompanhamento dos meios no terreno no Centro de Orientaccedilatildeo de Doentes Urgentes (CODU) representando conjuntamente com os preacute-existentes VMER e helicoacutepteros de Emergecircn-cia meacutedica os meios operacionais atraveacutes dos quais os enfermeiros intervecircm actualmente na prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar em equipa com meacutedicos psicoacutelogos tripu-lantes de ambulacircncia de socorro (TAS) tripulan-tes de ambulacircncia de emergecircncia (TAE) e teacutecnicos de operaccedilotildees e telecomunicaccedilotildees de emergecircncia (TOTE) (OE 2008)

Contudo as competecircncias do enfermeiro para a prestaccedilatildeo de cuidados neste contexto assim como a necessidade da sua intervenccedilatildeo parecem natildeo reunir consensualidade sendo suscitadas cor-rentes de pensamento que se opotildeem agrave sua activi-dade e presenccedila neste acircmbito de cuidados Ape-sar inicial ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro no contexto

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de cuidados preacute-hospitalarrdquo

De facto compreendo que se natildeo nos ocupar-mos desta problemaacutetica corremos o seacuterio risco de uma vez mais vermos diminuiacutedas as nossas aacutereas de intervenccedilatildeo o que indubitavelmente re-presenta uma perda para a profissatildeo e em uacutelti-ma instacircncia para a comunidade alvo dos nossos cuidados pelo consequente impacto na qualidade desses cuidados

Assim a este propoacutesito entendemos que o en-fermeiro possui competecircncias que o habilitam agrave prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia no contex-to preacute-hospitalar constituindo a sua presenccedila nas equipas preacute-hospitalares uma inegaacutevel mais-valia

suportada em todo um corpo de conhecimentos teacutecnico - cientiacuteficos que resultam em claros bene-fiacutecios para as pessoas assistidas Tal como a evi-decircncia cientiacutefica (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) afirma os conhecimentos base e competecircncias em ciecircncias como anatomia fisiopatologia e farmacologia a complementari-dade das ciecircncias sociais e humanas produccedilatildeo cientiacutefica e praacutetica baseada na evidecircncia o espiacuteri-to criacutetico - reflexivo e os elevados conhecimentos da realidade intra-hospitalar satildeo caracteriacutesticas dos enfermeiros que acrescem saberes e compe-tecircncias adicionais ao acircmbito da emergecircncia preacute--hospitalar permitindo a sua presenccedila ldquohellipperform and document a high quality and holistic assess-

ment including bio-psycho-social needs and not merely physical needshelliprdquo (Melby amp Ryan 2005 p1147) A este respeito ainda Palma Rodriacuteguez Azanoacuten e Rodriguez (2005) satildeo contundentes ao concluiacuterem que a presenccedila dos enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar eacute imprescindiacutevel natildeo soacute por possuiacuterem a qualificaccedilatildeo necessaacuteria para co-laborar e actuar na prestaccedilatildeo de cuidados a pes-soas em situaccedilotildees de urgecircnciaemergecircncia como tambeacutem pela diferenciaccedilatildeo na prestaccedilatildeo dos mesmos o que possibilita indubitaacuteveis benefiacutecios para o doente mediante a melhoria de conheci-mentos respostas colaboraccedilatildeo e adaptaccedilatildeo do mesmo agrave sua situaccedilatildeo de alteraccedilatildeo no continuum sauacutede-doenccedila

Poreacutem contrariamente agrave evidecircncia cientiacutefica que aponta os benefiacutecios da participaccedilatildeo do enfer-meiro no contexto de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar as correntes divergentes indicam determinados aspectos como limitadores ou mesmo inviabilizadores desta presenccedila que vatildeo desde a inadequaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo ateacute haacute ine-xistecircncia de legitimidade eacutetico-deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados de forma autoacutenoma envolvendo duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais

Neste sentido o Sindicato dos Teacutecnicos de Am-bulacircncia de Emergecircncia (STAE) (2010) refere que a niacutevel internacional os serviccedilos de emergecircncia meacutedica demonstram que as soluccedilotildees para os re-cursos humanos nesta aacuterea devem incidir na for-maccedilatildeo de profissionais unicamente direccionados para o desempenho de cuidados de emergecircncia em ambiente preacute-hospitalar (comummente deno-minados como ldquoparameacutedicosrdquo) com autorizaccedilatildeo para executar determinados procedimentos meacutedi-cos invasivos sob direcccedilatildeo meacutedica e certificaccedilatildeo acrescentando ainda que natildeo existem vantagens em termos de eficiecircncia ou qualidade dos cui-dados prestados com a inclusatildeo de enfermeiros neste acircmbito de cuidados Poreacutem Suserud e Hal-jamaumle (1997 1999) aos quais acrescemos a nossa aprovaccedilatildeo opotildeem-se a esta posiccedilatildeo salientando inversamente a tendecircncia internacional a que se assiste no sentido de um aumento do nuacutemero de enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar Como estes referem os modelos que preconizaram a existecircncia do tipo de soluccedilatildeo para os recursos hu-manos sugerido pelo STAE (2010) basearam-se na

inexistecircncia de meacutedicos e enfermeiros suficientes para suprir simultaneamente as necessidades intra e preacute-hospitalares pelo que por uma ques-tatildeo de racionalizaccedilatildeo de meios humanos optaram pela sua retenccedilatildeo no acircmbito intra-hospitalar em detrimento do preacute-hospitalar

Com o debate em torno da importacircncia de um elevado niacutevel de competecircncias para aumentar a qualidade dos cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar foram suscitadas por parte de vaacuterios paiacute-ses alteraccedilotildees na forma de encarar os recursos humanos necessaacuterios para a prossecuccedilatildeo deste objectivo Como tal a Noruega a Sueacutecia ou a Ho-landa satildeo exemplos de paiacuteses que apesar de ini-cialmente suportados em modelos de emergecircncia meacutedica que pressupunham a existecircncia de profis-sionais de emergecircncia meacutedica como os referidos pelo STAE (2010) alteraram o seu modo de fun-cionamento incluindo os enfermeiros nas equipas de emergecircncia preacute hospitalar salientando ldquohellipthe importance of having equally competence emer-gency personel working in the pre-hospital area and in hospital that is professionals doing the same type of work should have similar competen-ce levels and practical trainingrdquo (Suserud amp Hal-jamaumle 1997 p145) Na verdade a emergecircncia meacute-dica preacute-hospitalar eacute uma componente da Emer-gecircncia Meacutedica a qual abrange um largo espectro

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intervenccedilatildeo desde os cuidados intensivos ateacute agrave prestaccedilatildeo de cuidados em serviccedilos de urgecircncia passando pelo transporte inter-hospitalar de do-entes urgentes todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros tecircm uma participaccedilatildeo essencial e competecircncias reconhecidas [Suserud 2005 Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Nor-te (ARSN) 2009] Partilhando estas actividades toda uma seacuterie de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e compe-tecircncias comuns torna-se clara a importacircncia da presenccedila do enfermeiro de um modo transversal em todas elas permitindo uma boa articulaccedilatildeo e continuidade fundamentais para toda a cadeia de cuidados realccedilando a evidecircncia cientiacutefica pro-duzida nos paiacuteses que adoptaram este modelo de emergecircncia preacute-hospitalar que ldquohellipthe increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by ra-sing the competence level of the team as a who-lerdquo (Suserud amp Haljamaumle 1997 p145)

Outra das objecccedilotildees apontada refere-se agrave neces-sidade de formaccedilatildeo especiacutefica para a prestaccedilatildeo de cuidados em emergecircncia preacute-hospitalar sendo referido que o ldquoenfermeiro carece sempre de for-maccedilatildeo especializada para a intervenccedilatildeo preacute-hos-pitalar que natildeo seja conjunta com o meacutedico hellipsob pena de estar em causa a seguranccedila e a qualidade dos cuidados prestadosrdquo (STAE 2010 p5)

De facto aceitamos a menccedilatildeo de que eacute necessaacute-ria formaccedilatildeo acrescida agrave formaccedilatildeo base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) Poreacutem esta eacute claramente uma preposiccedilatildeo inviaacutevel no sentido de reiterar a inexistecircncia de competecircn-cias de enfermagem em emergecircncia preacute-hospita-lar Natildeo podemos esquecer que a licenciatura natildeo concede por si soacute uma especializaccedilatildeo da praacutetica profissional pois apenas confere uma base de co-nhecimentos e competecircncias no acircmbito da enfer-magem de cuidados gerais encaminhando poste-riormente o enfermeiro a sua praacutetica profissional num determinado sentido obviamente suportada pela formaccedilatildeo adicional que essa aacuterea exija To-davia a existecircncia de um corpo soacutelido de conhe-cimentos base adquirido no CLE vai favorecer a posterior aquisiccedilatildeo de conhecimentos e compe-tecircncias suportando e solidificando a prestaccedilatildeo de cuidados na aacuterea especiacutefica em causa

Por outro lado decorrente de vaacuterios factores como a gravidade e complexidade das situaccedilotildees cliacutenicas a imprevisibilidade de ocorrecircncias e a prestaccedilatildeo de cuidados em ambiente extra-hospi-talar com elevada exposiccedilatildeo social e reduzido nuacute-mero de intervenientes no processo de decisatildeo o exerciacutecio profissional neste contexto eacute reconheci-damente especiacutefico e complexo o que exige uma preparaccedilatildeo singular e contiacutenua dos profissionais envolvidos (Tomaacutes 2009 OE 2010)

Face a isto na realidade portuguesa todos os en-fermeiros que prestam cuidados nas VMER SIV helicoacutepteros de emergecircncia meacutedica e CODU tecircm formaccedilatildeo que os habilita agrave sua actividade con-ferindo as competecircncias teoacuterico - praacuteticas consi-deradas essenciais pelas entidades competentes ao que se acrescem as poacutes-graduaccedilotildees e mes-trados que tecircm surgido nas aacutereas de urgecircnciaemergecircncia encaradas como uma mais-valia na qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais (Vieira Oliveira amp Ressurreiccedilatildeo 2005 Tomaacutes 2009) A li-teratura (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) por sua vez sugere a existecircncia de um consenso relativamente ao facto dos enfer-meiros com experiecircncia de anestesia unidade de cuidados intensivos e serviccedilo de urgecircncia serem os mais habilitados para a prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar decorrente da for-maccedilatildeo que possuem e da constante interacccedilatildeo com situaccedilotildees cliacutenicas criacuteticas que lhes permite uma manutenccedilatildeo das competecircncias que de ou-tro modo poderiam decrescer face a periacuteodos de menor operacionalidade decorrente da inexis-tecircncia de situaccedilotildees criacuteticas na aacuterea de influecircncia dos meios de socorro Desta forma poderaacute residir neste aspecto um dos deacutefices do modelo portu-guecircs em que os enfermeiros dos meios SIV ape-nas prestam cuidados no contexto preacute-hospitalar em exclusividade Todavia na VMER esta questatildeo natildeo se coloca uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua activi-dade profissional tambeacutem em contexto intra-hos-pitalar preferencialmente nos serviccedilos supraci-tados sendo esta uma das condiccedilotildees de ingresso previamente definida o que potencia o processo de retro-alimentaccedilatildeo de experiecircncia e conheci-mento com consequente mais-valia para as duas aacutereas (Suserud 2005 OE 2010)

Eacute tambeacutem no capiacutetulo da legitimidade eacutetico--deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados que satildeo colocadas duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais do enfermeiro ldquohellipque natildeo seja conjunta com o meacutedi-cohelliprdquo (STAE 2010 p5) pois o caraacutecter de inter-venccedilatildeo em situaccedilotildees criacuteticas contempla que natildeo raras vezes se torne necessaacuterio aplicar determi-nadas intervenccedilotildees e procedimentos considera-dos life saving como entubaccedilatildeo endo-traqueal desfibrilhaccedilatildeo prescriccedilatildeo e administraccedilatildeo de faacuter-macos ou lideranccedila em situaccedilotildees de emergecircncia comummente reconhecidas como do acircmbito de intervenccedilatildeo meacutedica colocando-se questotildees como ldquoqual a fronteira em termos de intervenccedilotildees meacute-dicas e de enfermagemrdquo ou ldquopode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenccedilotildees e proce-dimentos life savingrdquo (Vieira Oliveira amp Ressur-reiccedilatildeo 2005)

Poreacutem o decreto-lei nordm 16176 de 4 de Setembro enquanto Regulamento do Exerciacutecio Profissional dos Enfermeiros (REPE) permite que estas duacutevidas possam ser esclarecidas dissipadas e devidamente documentadas em articulaccedilatildeo com os demais do-cumentos descritores e reguladores da profissatildeo

Definidos os cuidados de enfermagem como ldquoas intervenccedilotildees autoacutenomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no acircmbito das suas qua-lificaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 1 artigo 4ordm do decreto-lei nordm 16176) as intervenccedilotildees autoacutenomas referem-se agraves ldquoacccedilotildees realizadas pelos enfermei-ros sob sua uacutenica e exclusiva iniciativa e respon-sabilidade de acordo com as respectivas quali-ficaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 2 art 9ordm do de-creto-lei nordm 16176) enquanto as interdependen-tes satildeo respeitantes agraves intervenccedilotildees realizadas ldquopelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificaccedilotildees profissionais em conjunto com ou-tros teacutecnicos para atingir um objectivo comum decorrentes de planos de acccedilatildeo previamente de-finidos pelas equipas multidisciplinares em que estatildeo integrados e das prescriccedilotildees ou orientaccedilotildees previamente formalizadasrdquo (nuacutemero 3 artigo 9ordm do decreto-lei nordm 16176) Continuando a anaacutelise o nuacutemero 4 art 9ordm do mesmo diploma refere que os enfermeiros ldquoprocedem agrave administraccedilatildeo de te-rapecircutica prescrita detectando os seus efeitos e actuando em conformidade devendo em situaccedilatildeo de emergecircncia agir de acordo com a qualificaccedilatildeo e os conhecimentos que detecircm tendo como fina-lidade a manutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

BIBLIOGRAFIAADMINISTRACcedilAtildeO REGIONAL DE SAUacuteDE DO NORTE - Comissatildeo re-gional do doente criacutetico - Um ano de reflexatildeo e mudanccedila (2009) Por-to Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Norte

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SUSERUD Bjorn-Ove HALJAMAumlE Hengo ndash Role of nurses in pre-hos-pital emergency care Accident amp Emergency Nursing 0965 ndash 2302 5 (1999) 141-151

TOMAacuteS Alexandre ndash O enfermeiro em ambulacircncias de Suporte Ime-diato de Vida ndash Afirmar a Enfermagem no preacute-hospitalar Ordem dos Enfermeiros 1646 ndash 2629 32 (2009) 59-60

VIEIRA Pedro OLIVEIRA Luiacutes RESSURREICcedilAtildeO Serafim ndash O enfer-meiro perante a emergecircncia preacute-hospitalar Sinais Vitais 61 (2005) 32-35

JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

32 33

doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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GESTAtildeO | LIDERANCcedilA GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 11: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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conjunto de regras e aspectos legais e eacutetico-de-ontoloacutegicos que se identificam como orientaccedilotildees para julgar a acccedilatildeo profissional constituindo por fim a obrigatoriedade do enfermeiro se reger pe-las mesmas Eacute neste contexto que nos surgiu a proposta da reflexatildeo sobre possiacuteveis ldquosoluccedilotildeesrespostasrdquo que se esbarraram com a filosofia dos cuidados paliativos que na maioria dos autores referidos se apresentam como a melhor resposta nacional face agraves actuais disposiccedilotildees legais Em epiacutelogo procurou-se evidenciar e incentivar a necessidadeobrigatoriedade de formaccedilatildeo na aacuterea salientando natildeo soacute a importacircncia da tomada de decisatildeo dos serviccedilosinstituiccedilotildees mas predo-minantemente das escolas de Enfermagem

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THOMPSON Ian MELIA Kath BOYD Kenneth ndash Eacutetica em Enfermagem 4ordf Ediccedilatildeo Loures Lusociecircncia 2004 ISBN 972-8383-67-3

ENFERMAGEM EM EMERGEcircNCIA PREacute-HOSPITALAR EXISTEM OU NAtildeO COMPETEcircNCIAS

ENTRADA DO ARTIGO DEZEMBRO 2010

RESUMONum momento em que o modelo de emergecircncia preacute-hospitalar em Portugal eacute discutido torna-se necessaacuterio reflectir acerca das competecircncias e da importacircncia dos profissionais nela incluiacutedos entre os quais os enfermeiros que natildeo tecircm suscitado consenso Se por um lado existe evidecircncia cientiacutefica que reafirma a importacircncia do enfermeiro neste contexto existem correntes de pensamento que argumentam o inverso objectivando este artigo responder agrave questatildeo ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro em emergecircncia preacute-hospitalarrdquo

Palavras-Chave Enfermagem Emergecircncia preacute--hospitalar

ABSTRACTIn a moment that the pre hospital emergency system is discussed arises the needing to reflect about the competence and importance that the included professionals have to work in this field including the nurses that donacutet have evoke consensus If on one hand exists scientific evidence that reaffirms the importance of the nurseacutes presence in that field there exists currents of thought that argue the inverse So this article objectify answer to the question ldquoExist or not competence for the nursersquos professional exercise in the pre hospital care fieldrdquo

Keywords Nursing Pre hospital emergency

ANDREacute FILIPE RICARDO CORREIAHospital de Faro EPE ndash Unidade de Cuidados Intensivos

INTRODUCcedilAtildeO

Num momento em que a posiccedilatildeo do enfermeiro nas equipas de emergecircncia preacute-hospitalar eacute am-plamente discutida justifica-se a necessidade de reflectir acerca das suas competecircncias para o exerciacutecio nesta aacuterea assim como o seu papel na garantia da seguranccedila e qualidade dos cuidados de sauacutede prestados neste contexto

A presenccedila dos enfermeiros na emergecircncia preacute--hospitalar em Portugal remonta haacute cerca de 20 anos exercendo estes funccedilotildees nas mais variadas aacutereas desde o transporte de receacutem-nascidos Viaturas Meacutedicas de Emergecircncia e Reanimaccedilatildeo (VMER) heli-transporte de doentes criacuteticos e em cataacutestrofe [Ordem dos Enfermeiros (OE) 2008]

Numa constante e progressiva consolidaccedilatildeo do Sistema Integrado de Emergecircncia Meacutedica (SIEM) a que se tem assistido o papel do enfermeiro tem sido reforccedilado nomeadamente com a recente criaccedilatildeo das ambulacircncias de Suporte Imediato de

Vida (SIV) e da figura do enfermeiro responsaacute-vel pelo acompanhamento dos meios no terreno no Centro de Orientaccedilatildeo de Doentes Urgentes (CODU) representando conjuntamente com os preacute-existentes VMER e helicoacutepteros de Emergecircn-cia meacutedica os meios operacionais atraveacutes dos quais os enfermeiros intervecircm actualmente na prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar em equipa com meacutedicos psicoacutelogos tripu-lantes de ambulacircncia de socorro (TAS) tripulan-tes de ambulacircncia de emergecircncia (TAE) e teacutecnicos de operaccedilotildees e telecomunicaccedilotildees de emergecircncia (TOTE) (OE 2008)

Contudo as competecircncias do enfermeiro para a prestaccedilatildeo de cuidados neste contexto assim como a necessidade da sua intervenccedilatildeo parecem natildeo reunir consensualidade sendo suscitadas cor-rentes de pensamento que se opotildeem agrave sua activi-dade e presenccedila neste acircmbito de cuidados Ape-sar inicial ldquoExistem ou natildeo competecircncias para o exerciacutecio profissional do enfermeiro no contexto

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de cuidados preacute-hospitalarrdquo

De facto compreendo que se natildeo nos ocupar-mos desta problemaacutetica corremos o seacuterio risco de uma vez mais vermos diminuiacutedas as nossas aacutereas de intervenccedilatildeo o que indubitavelmente re-presenta uma perda para a profissatildeo e em uacutelti-ma instacircncia para a comunidade alvo dos nossos cuidados pelo consequente impacto na qualidade desses cuidados

Assim a este propoacutesito entendemos que o en-fermeiro possui competecircncias que o habilitam agrave prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia no contex-to preacute-hospitalar constituindo a sua presenccedila nas equipas preacute-hospitalares uma inegaacutevel mais-valia

suportada em todo um corpo de conhecimentos teacutecnico - cientiacuteficos que resultam em claros bene-fiacutecios para as pessoas assistidas Tal como a evi-decircncia cientiacutefica (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) afirma os conhecimentos base e competecircncias em ciecircncias como anatomia fisiopatologia e farmacologia a complementari-dade das ciecircncias sociais e humanas produccedilatildeo cientiacutefica e praacutetica baseada na evidecircncia o espiacuteri-to criacutetico - reflexivo e os elevados conhecimentos da realidade intra-hospitalar satildeo caracteriacutesticas dos enfermeiros que acrescem saberes e compe-tecircncias adicionais ao acircmbito da emergecircncia preacute--hospitalar permitindo a sua presenccedila ldquohellipperform and document a high quality and holistic assess-

ment including bio-psycho-social needs and not merely physical needshelliprdquo (Melby amp Ryan 2005 p1147) A este respeito ainda Palma Rodriacuteguez Azanoacuten e Rodriguez (2005) satildeo contundentes ao concluiacuterem que a presenccedila dos enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar eacute imprescindiacutevel natildeo soacute por possuiacuterem a qualificaccedilatildeo necessaacuteria para co-laborar e actuar na prestaccedilatildeo de cuidados a pes-soas em situaccedilotildees de urgecircnciaemergecircncia como tambeacutem pela diferenciaccedilatildeo na prestaccedilatildeo dos mesmos o que possibilita indubitaacuteveis benefiacutecios para o doente mediante a melhoria de conheci-mentos respostas colaboraccedilatildeo e adaptaccedilatildeo do mesmo agrave sua situaccedilatildeo de alteraccedilatildeo no continuum sauacutede-doenccedila

Poreacutem contrariamente agrave evidecircncia cientiacutefica que aponta os benefiacutecios da participaccedilatildeo do enfer-meiro no contexto de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar as correntes divergentes indicam determinados aspectos como limitadores ou mesmo inviabilizadores desta presenccedila que vatildeo desde a inadequaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo ateacute haacute ine-xistecircncia de legitimidade eacutetico-deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados de forma autoacutenoma envolvendo duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais

Neste sentido o Sindicato dos Teacutecnicos de Am-bulacircncia de Emergecircncia (STAE) (2010) refere que a niacutevel internacional os serviccedilos de emergecircncia meacutedica demonstram que as soluccedilotildees para os re-cursos humanos nesta aacuterea devem incidir na for-maccedilatildeo de profissionais unicamente direccionados para o desempenho de cuidados de emergecircncia em ambiente preacute-hospitalar (comummente deno-minados como ldquoparameacutedicosrdquo) com autorizaccedilatildeo para executar determinados procedimentos meacutedi-cos invasivos sob direcccedilatildeo meacutedica e certificaccedilatildeo acrescentando ainda que natildeo existem vantagens em termos de eficiecircncia ou qualidade dos cui-dados prestados com a inclusatildeo de enfermeiros neste acircmbito de cuidados Poreacutem Suserud e Hal-jamaumle (1997 1999) aos quais acrescemos a nossa aprovaccedilatildeo opotildeem-se a esta posiccedilatildeo salientando inversamente a tendecircncia internacional a que se assiste no sentido de um aumento do nuacutemero de enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar Como estes referem os modelos que preconizaram a existecircncia do tipo de soluccedilatildeo para os recursos hu-manos sugerido pelo STAE (2010) basearam-se na

inexistecircncia de meacutedicos e enfermeiros suficientes para suprir simultaneamente as necessidades intra e preacute-hospitalares pelo que por uma ques-tatildeo de racionalizaccedilatildeo de meios humanos optaram pela sua retenccedilatildeo no acircmbito intra-hospitalar em detrimento do preacute-hospitalar

Com o debate em torno da importacircncia de um elevado niacutevel de competecircncias para aumentar a qualidade dos cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar foram suscitadas por parte de vaacuterios paiacute-ses alteraccedilotildees na forma de encarar os recursos humanos necessaacuterios para a prossecuccedilatildeo deste objectivo Como tal a Noruega a Sueacutecia ou a Ho-landa satildeo exemplos de paiacuteses que apesar de ini-cialmente suportados em modelos de emergecircncia meacutedica que pressupunham a existecircncia de profis-sionais de emergecircncia meacutedica como os referidos pelo STAE (2010) alteraram o seu modo de fun-cionamento incluindo os enfermeiros nas equipas de emergecircncia preacute hospitalar salientando ldquohellipthe importance of having equally competence emer-gency personel working in the pre-hospital area and in hospital that is professionals doing the same type of work should have similar competen-ce levels and practical trainingrdquo (Suserud amp Hal-jamaumle 1997 p145) Na verdade a emergecircncia meacute-dica preacute-hospitalar eacute uma componente da Emer-gecircncia Meacutedica a qual abrange um largo espectro

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intervenccedilatildeo desde os cuidados intensivos ateacute agrave prestaccedilatildeo de cuidados em serviccedilos de urgecircncia passando pelo transporte inter-hospitalar de do-entes urgentes todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros tecircm uma participaccedilatildeo essencial e competecircncias reconhecidas [Suserud 2005 Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Nor-te (ARSN) 2009] Partilhando estas actividades toda uma seacuterie de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e compe-tecircncias comuns torna-se clara a importacircncia da presenccedila do enfermeiro de um modo transversal em todas elas permitindo uma boa articulaccedilatildeo e continuidade fundamentais para toda a cadeia de cuidados realccedilando a evidecircncia cientiacutefica pro-duzida nos paiacuteses que adoptaram este modelo de emergecircncia preacute-hospitalar que ldquohellipthe increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by ra-sing the competence level of the team as a who-lerdquo (Suserud amp Haljamaumle 1997 p145)

Outra das objecccedilotildees apontada refere-se agrave neces-sidade de formaccedilatildeo especiacutefica para a prestaccedilatildeo de cuidados em emergecircncia preacute-hospitalar sendo referido que o ldquoenfermeiro carece sempre de for-maccedilatildeo especializada para a intervenccedilatildeo preacute-hos-pitalar que natildeo seja conjunta com o meacutedico hellipsob pena de estar em causa a seguranccedila e a qualidade dos cuidados prestadosrdquo (STAE 2010 p5)

De facto aceitamos a menccedilatildeo de que eacute necessaacute-ria formaccedilatildeo acrescida agrave formaccedilatildeo base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) Poreacutem esta eacute claramente uma preposiccedilatildeo inviaacutevel no sentido de reiterar a inexistecircncia de competecircn-cias de enfermagem em emergecircncia preacute-hospita-lar Natildeo podemos esquecer que a licenciatura natildeo concede por si soacute uma especializaccedilatildeo da praacutetica profissional pois apenas confere uma base de co-nhecimentos e competecircncias no acircmbito da enfer-magem de cuidados gerais encaminhando poste-riormente o enfermeiro a sua praacutetica profissional num determinado sentido obviamente suportada pela formaccedilatildeo adicional que essa aacuterea exija To-davia a existecircncia de um corpo soacutelido de conhe-cimentos base adquirido no CLE vai favorecer a posterior aquisiccedilatildeo de conhecimentos e compe-tecircncias suportando e solidificando a prestaccedilatildeo de cuidados na aacuterea especiacutefica em causa

Por outro lado decorrente de vaacuterios factores como a gravidade e complexidade das situaccedilotildees cliacutenicas a imprevisibilidade de ocorrecircncias e a prestaccedilatildeo de cuidados em ambiente extra-hospi-talar com elevada exposiccedilatildeo social e reduzido nuacute-mero de intervenientes no processo de decisatildeo o exerciacutecio profissional neste contexto eacute reconheci-damente especiacutefico e complexo o que exige uma preparaccedilatildeo singular e contiacutenua dos profissionais envolvidos (Tomaacutes 2009 OE 2010)

Face a isto na realidade portuguesa todos os en-fermeiros que prestam cuidados nas VMER SIV helicoacutepteros de emergecircncia meacutedica e CODU tecircm formaccedilatildeo que os habilita agrave sua actividade con-ferindo as competecircncias teoacuterico - praacuteticas consi-deradas essenciais pelas entidades competentes ao que se acrescem as poacutes-graduaccedilotildees e mes-trados que tecircm surgido nas aacutereas de urgecircnciaemergecircncia encaradas como uma mais-valia na qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais (Vieira Oliveira amp Ressurreiccedilatildeo 2005 Tomaacutes 2009) A li-teratura (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) por sua vez sugere a existecircncia de um consenso relativamente ao facto dos enfer-meiros com experiecircncia de anestesia unidade de cuidados intensivos e serviccedilo de urgecircncia serem os mais habilitados para a prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar decorrente da for-maccedilatildeo que possuem e da constante interacccedilatildeo com situaccedilotildees cliacutenicas criacuteticas que lhes permite uma manutenccedilatildeo das competecircncias que de ou-tro modo poderiam decrescer face a periacuteodos de menor operacionalidade decorrente da inexis-tecircncia de situaccedilotildees criacuteticas na aacuterea de influecircncia dos meios de socorro Desta forma poderaacute residir neste aspecto um dos deacutefices do modelo portu-guecircs em que os enfermeiros dos meios SIV ape-nas prestam cuidados no contexto preacute-hospitalar em exclusividade Todavia na VMER esta questatildeo natildeo se coloca uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua activi-dade profissional tambeacutem em contexto intra-hos-pitalar preferencialmente nos serviccedilos supraci-tados sendo esta uma das condiccedilotildees de ingresso previamente definida o que potencia o processo de retro-alimentaccedilatildeo de experiecircncia e conheci-mento com consequente mais-valia para as duas aacutereas (Suserud 2005 OE 2010)

Eacute tambeacutem no capiacutetulo da legitimidade eacutetico--deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados que satildeo colocadas duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais do enfermeiro ldquohellipque natildeo seja conjunta com o meacutedi-cohelliprdquo (STAE 2010 p5) pois o caraacutecter de inter-venccedilatildeo em situaccedilotildees criacuteticas contempla que natildeo raras vezes se torne necessaacuterio aplicar determi-nadas intervenccedilotildees e procedimentos considera-dos life saving como entubaccedilatildeo endo-traqueal desfibrilhaccedilatildeo prescriccedilatildeo e administraccedilatildeo de faacuter-macos ou lideranccedila em situaccedilotildees de emergecircncia comummente reconhecidas como do acircmbito de intervenccedilatildeo meacutedica colocando-se questotildees como ldquoqual a fronteira em termos de intervenccedilotildees meacute-dicas e de enfermagemrdquo ou ldquopode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenccedilotildees e proce-dimentos life savingrdquo (Vieira Oliveira amp Ressur-reiccedilatildeo 2005)

Poreacutem o decreto-lei nordm 16176 de 4 de Setembro enquanto Regulamento do Exerciacutecio Profissional dos Enfermeiros (REPE) permite que estas duacutevidas possam ser esclarecidas dissipadas e devidamente documentadas em articulaccedilatildeo com os demais do-cumentos descritores e reguladores da profissatildeo

Definidos os cuidados de enfermagem como ldquoas intervenccedilotildees autoacutenomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no acircmbito das suas qua-lificaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 1 artigo 4ordm do decreto-lei nordm 16176) as intervenccedilotildees autoacutenomas referem-se agraves ldquoacccedilotildees realizadas pelos enfermei-ros sob sua uacutenica e exclusiva iniciativa e respon-sabilidade de acordo com as respectivas quali-ficaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 2 art 9ordm do de-creto-lei nordm 16176) enquanto as interdependen-tes satildeo respeitantes agraves intervenccedilotildees realizadas ldquopelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificaccedilotildees profissionais em conjunto com ou-tros teacutecnicos para atingir um objectivo comum decorrentes de planos de acccedilatildeo previamente de-finidos pelas equipas multidisciplinares em que estatildeo integrados e das prescriccedilotildees ou orientaccedilotildees previamente formalizadasrdquo (nuacutemero 3 artigo 9ordm do decreto-lei nordm 16176) Continuando a anaacutelise o nuacutemero 4 art 9ordm do mesmo diploma refere que os enfermeiros ldquoprocedem agrave administraccedilatildeo de te-rapecircutica prescrita detectando os seus efeitos e actuando em conformidade devendo em situaccedilatildeo de emergecircncia agir de acordo com a qualificaccedilatildeo e os conhecimentos que detecircm tendo como fina-lidade a manutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

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JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 12: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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de cuidados preacute-hospitalarrdquo

De facto compreendo que se natildeo nos ocupar-mos desta problemaacutetica corremos o seacuterio risco de uma vez mais vermos diminuiacutedas as nossas aacutereas de intervenccedilatildeo o que indubitavelmente re-presenta uma perda para a profissatildeo e em uacutelti-ma instacircncia para a comunidade alvo dos nossos cuidados pelo consequente impacto na qualidade desses cuidados

Assim a este propoacutesito entendemos que o en-fermeiro possui competecircncias que o habilitam agrave prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia no contex-to preacute-hospitalar constituindo a sua presenccedila nas equipas preacute-hospitalares uma inegaacutevel mais-valia

suportada em todo um corpo de conhecimentos teacutecnico - cientiacuteficos que resultam em claros bene-fiacutecios para as pessoas assistidas Tal como a evi-decircncia cientiacutefica (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) afirma os conhecimentos base e competecircncias em ciecircncias como anatomia fisiopatologia e farmacologia a complementari-dade das ciecircncias sociais e humanas produccedilatildeo cientiacutefica e praacutetica baseada na evidecircncia o espiacuteri-to criacutetico - reflexivo e os elevados conhecimentos da realidade intra-hospitalar satildeo caracteriacutesticas dos enfermeiros que acrescem saberes e compe-tecircncias adicionais ao acircmbito da emergecircncia preacute--hospitalar permitindo a sua presenccedila ldquohellipperform and document a high quality and holistic assess-

ment including bio-psycho-social needs and not merely physical needshelliprdquo (Melby amp Ryan 2005 p1147) A este respeito ainda Palma Rodriacuteguez Azanoacuten e Rodriguez (2005) satildeo contundentes ao concluiacuterem que a presenccedila dos enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar eacute imprescindiacutevel natildeo soacute por possuiacuterem a qualificaccedilatildeo necessaacuteria para co-laborar e actuar na prestaccedilatildeo de cuidados a pes-soas em situaccedilotildees de urgecircnciaemergecircncia como tambeacutem pela diferenciaccedilatildeo na prestaccedilatildeo dos mesmos o que possibilita indubitaacuteveis benefiacutecios para o doente mediante a melhoria de conheci-mentos respostas colaboraccedilatildeo e adaptaccedilatildeo do mesmo agrave sua situaccedilatildeo de alteraccedilatildeo no continuum sauacutede-doenccedila

Poreacutem contrariamente agrave evidecircncia cientiacutefica que aponta os benefiacutecios da participaccedilatildeo do enfer-meiro no contexto de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar as correntes divergentes indicam determinados aspectos como limitadores ou mesmo inviabilizadores desta presenccedila que vatildeo desde a inadequaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo ateacute haacute ine-xistecircncia de legitimidade eacutetico-deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados de forma autoacutenoma envolvendo duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais

Neste sentido o Sindicato dos Teacutecnicos de Am-bulacircncia de Emergecircncia (STAE) (2010) refere que a niacutevel internacional os serviccedilos de emergecircncia meacutedica demonstram que as soluccedilotildees para os re-cursos humanos nesta aacuterea devem incidir na for-maccedilatildeo de profissionais unicamente direccionados para o desempenho de cuidados de emergecircncia em ambiente preacute-hospitalar (comummente deno-minados como ldquoparameacutedicosrdquo) com autorizaccedilatildeo para executar determinados procedimentos meacutedi-cos invasivos sob direcccedilatildeo meacutedica e certificaccedilatildeo acrescentando ainda que natildeo existem vantagens em termos de eficiecircncia ou qualidade dos cui-dados prestados com a inclusatildeo de enfermeiros neste acircmbito de cuidados Poreacutem Suserud e Hal-jamaumle (1997 1999) aos quais acrescemos a nossa aprovaccedilatildeo opotildeem-se a esta posiccedilatildeo salientando inversamente a tendecircncia internacional a que se assiste no sentido de um aumento do nuacutemero de enfermeiros no acircmbito preacute-hospitalar Como estes referem os modelos que preconizaram a existecircncia do tipo de soluccedilatildeo para os recursos hu-manos sugerido pelo STAE (2010) basearam-se na

inexistecircncia de meacutedicos e enfermeiros suficientes para suprir simultaneamente as necessidades intra e preacute-hospitalares pelo que por uma ques-tatildeo de racionalizaccedilatildeo de meios humanos optaram pela sua retenccedilatildeo no acircmbito intra-hospitalar em detrimento do preacute-hospitalar

Com o debate em torno da importacircncia de um elevado niacutevel de competecircncias para aumentar a qualidade dos cuidados de emergecircncia preacute-hospi-talar foram suscitadas por parte de vaacuterios paiacute-ses alteraccedilotildees na forma de encarar os recursos humanos necessaacuterios para a prossecuccedilatildeo deste objectivo Como tal a Noruega a Sueacutecia ou a Ho-landa satildeo exemplos de paiacuteses que apesar de ini-cialmente suportados em modelos de emergecircncia meacutedica que pressupunham a existecircncia de profis-sionais de emergecircncia meacutedica como os referidos pelo STAE (2010) alteraram o seu modo de fun-cionamento incluindo os enfermeiros nas equipas de emergecircncia preacute hospitalar salientando ldquohellipthe importance of having equally competence emer-gency personel working in the pre-hospital area and in hospital that is professionals doing the same type of work should have similar competen-ce levels and practical trainingrdquo (Suserud amp Hal-jamaumle 1997 p145) Na verdade a emergecircncia meacute-dica preacute-hospitalar eacute uma componente da Emer-gecircncia Meacutedica a qual abrange um largo espectro

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intervenccedilatildeo desde os cuidados intensivos ateacute agrave prestaccedilatildeo de cuidados em serviccedilos de urgecircncia passando pelo transporte inter-hospitalar de do-entes urgentes todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros tecircm uma participaccedilatildeo essencial e competecircncias reconhecidas [Suserud 2005 Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Nor-te (ARSN) 2009] Partilhando estas actividades toda uma seacuterie de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e compe-tecircncias comuns torna-se clara a importacircncia da presenccedila do enfermeiro de um modo transversal em todas elas permitindo uma boa articulaccedilatildeo e continuidade fundamentais para toda a cadeia de cuidados realccedilando a evidecircncia cientiacutefica pro-duzida nos paiacuteses que adoptaram este modelo de emergecircncia preacute-hospitalar que ldquohellipthe increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by ra-sing the competence level of the team as a who-lerdquo (Suserud amp Haljamaumle 1997 p145)

Outra das objecccedilotildees apontada refere-se agrave neces-sidade de formaccedilatildeo especiacutefica para a prestaccedilatildeo de cuidados em emergecircncia preacute-hospitalar sendo referido que o ldquoenfermeiro carece sempre de for-maccedilatildeo especializada para a intervenccedilatildeo preacute-hos-pitalar que natildeo seja conjunta com o meacutedico hellipsob pena de estar em causa a seguranccedila e a qualidade dos cuidados prestadosrdquo (STAE 2010 p5)

De facto aceitamos a menccedilatildeo de que eacute necessaacute-ria formaccedilatildeo acrescida agrave formaccedilatildeo base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) Poreacutem esta eacute claramente uma preposiccedilatildeo inviaacutevel no sentido de reiterar a inexistecircncia de competecircn-cias de enfermagem em emergecircncia preacute-hospita-lar Natildeo podemos esquecer que a licenciatura natildeo concede por si soacute uma especializaccedilatildeo da praacutetica profissional pois apenas confere uma base de co-nhecimentos e competecircncias no acircmbito da enfer-magem de cuidados gerais encaminhando poste-riormente o enfermeiro a sua praacutetica profissional num determinado sentido obviamente suportada pela formaccedilatildeo adicional que essa aacuterea exija To-davia a existecircncia de um corpo soacutelido de conhe-cimentos base adquirido no CLE vai favorecer a posterior aquisiccedilatildeo de conhecimentos e compe-tecircncias suportando e solidificando a prestaccedilatildeo de cuidados na aacuterea especiacutefica em causa

Por outro lado decorrente de vaacuterios factores como a gravidade e complexidade das situaccedilotildees cliacutenicas a imprevisibilidade de ocorrecircncias e a prestaccedilatildeo de cuidados em ambiente extra-hospi-talar com elevada exposiccedilatildeo social e reduzido nuacute-mero de intervenientes no processo de decisatildeo o exerciacutecio profissional neste contexto eacute reconheci-damente especiacutefico e complexo o que exige uma preparaccedilatildeo singular e contiacutenua dos profissionais envolvidos (Tomaacutes 2009 OE 2010)

Face a isto na realidade portuguesa todos os en-fermeiros que prestam cuidados nas VMER SIV helicoacutepteros de emergecircncia meacutedica e CODU tecircm formaccedilatildeo que os habilita agrave sua actividade con-ferindo as competecircncias teoacuterico - praacuteticas consi-deradas essenciais pelas entidades competentes ao que se acrescem as poacutes-graduaccedilotildees e mes-trados que tecircm surgido nas aacutereas de urgecircnciaemergecircncia encaradas como uma mais-valia na qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais (Vieira Oliveira amp Ressurreiccedilatildeo 2005 Tomaacutes 2009) A li-teratura (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) por sua vez sugere a existecircncia de um consenso relativamente ao facto dos enfer-meiros com experiecircncia de anestesia unidade de cuidados intensivos e serviccedilo de urgecircncia serem os mais habilitados para a prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar decorrente da for-maccedilatildeo que possuem e da constante interacccedilatildeo com situaccedilotildees cliacutenicas criacuteticas que lhes permite uma manutenccedilatildeo das competecircncias que de ou-tro modo poderiam decrescer face a periacuteodos de menor operacionalidade decorrente da inexis-tecircncia de situaccedilotildees criacuteticas na aacuterea de influecircncia dos meios de socorro Desta forma poderaacute residir neste aspecto um dos deacutefices do modelo portu-guecircs em que os enfermeiros dos meios SIV ape-nas prestam cuidados no contexto preacute-hospitalar em exclusividade Todavia na VMER esta questatildeo natildeo se coloca uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua activi-dade profissional tambeacutem em contexto intra-hos-pitalar preferencialmente nos serviccedilos supraci-tados sendo esta uma das condiccedilotildees de ingresso previamente definida o que potencia o processo de retro-alimentaccedilatildeo de experiecircncia e conheci-mento com consequente mais-valia para as duas aacutereas (Suserud 2005 OE 2010)

Eacute tambeacutem no capiacutetulo da legitimidade eacutetico--deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados que satildeo colocadas duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais do enfermeiro ldquohellipque natildeo seja conjunta com o meacutedi-cohelliprdquo (STAE 2010 p5) pois o caraacutecter de inter-venccedilatildeo em situaccedilotildees criacuteticas contempla que natildeo raras vezes se torne necessaacuterio aplicar determi-nadas intervenccedilotildees e procedimentos considera-dos life saving como entubaccedilatildeo endo-traqueal desfibrilhaccedilatildeo prescriccedilatildeo e administraccedilatildeo de faacuter-macos ou lideranccedila em situaccedilotildees de emergecircncia comummente reconhecidas como do acircmbito de intervenccedilatildeo meacutedica colocando-se questotildees como ldquoqual a fronteira em termos de intervenccedilotildees meacute-dicas e de enfermagemrdquo ou ldquopode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenccedilotildees e proce-dimentos life savingrdquo (Vieira Oliveira amp Ressur-reiccedilatildeo 2005)

Poreacutem o decreto-lei nordm 16176 de 4 de Setembro enquanto Regulamento do Exerciacutecio Profissional dos Enfermeiros (REPE) permite que estas duacutevidas possam ser esclarecidas dissipadas e devidamente documentadas em articulaccedilatildeo com os demais do-cumentos descritores e reguladores da profissatildeo

Definidos os cuidados de enfermagem como ldquoas intervenccedilotildees autoacutenomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no acircmbito das suas qua-lificaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 1 artigo 4ordm do decreto-lei nordm 16176) as intervenccedilotildees autoacutenomas referem-se agraves ldquoacccedilotildees realizadas pelos enfermei-ros sob sua uacutenica e exclusiva iniciativa e respon-sabilidade de acordo com as respectivas quali-ficaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 2 art 9ordm do de-creto-lei nordm 16176) enquanto as interdependen-tes satildeo respeitantes agraves intervenccedilotildees realizadas ldquopelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificaccedilotildees profissionais em conjunto com ou-tros teacutecnicos para atingir um objectivo comum decorrentes de planos de acccedilatildeo previamente de-finidos pelas equipas multidisciplinares em que estatildeo integrados e das prescriccedilotildees ou orientaccedilotildees previamente formalizadasrdquo (nuacutemero 3 artigo 9ordm do decreto-lei nordm 16176) Continuando a anaacutelise o nuacutemero 4 art 9ordm do mesmo diploma refere que os enfermeiros ldquoprocedem agrave administraccedilatildeo de te-rapecircutica prescrita detectando os seus efeitos e actuando em conformidade devendo em situaccedilatildeo de emergecircncia agir de acordo com a qualificaccedilatildeo e os conhecimentos que detecircm tendo como fina-lidade a manutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

BIBLIOGRAFIAADMINISTRACcedilAtildeO REGIONAL DE SAUacuteDE DO NORTE - Comissatildeo re-gional do doente criacutetico - Um ano de reflexatildeo e mudanccedila (2009) Por-to Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Norte

DECRETO-LEI nordm16196 de 4 de Setembro (com as alteraccedilotildees intro-duzidas pelo decreto-lei nordm 10498 de 21 de Abril) DR nordm205 I Seacuterie Ministeacuterio da Sauacutede Lisboa

LEI nordm 1112009 de 16 de Setembro DR nordm180 I Seacuterie Assembleia da Repuacuteblica Lisboa

MELBY Vidar RYAN Assumpta ndash Caring for old people in prehospital emergency care Can nurses make difference Journal of Clinical Nur-sing 1365 ndash 2702 149 (2005) 1141-1150

NOLAN DEAKIN SOAR BOumlTTIGER SMITH - European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2005 Section 4 Adult advanced life support Resuscitation 0300 ndash 9572 671 (2005) S39-S66

ORDEM DOS ENFERMEIROS - Competecircncias do enfermeiro de cuida-dos gerais (2004) Lisboa Ordem dos Enfermeiros

ORDEM DOS ENFERMEIROS - Parecer nordm 842008 Proposta de cria-ccedilatildeo do teacutecnico de emergecircncia preacute-hospitalar (2008) Lisboa Ordem dos Enfermeiros

ORDEM DOS ENFERMEIROS - Parecer Plano estrateacutegico de recursos de emergecircncia preacute-hospitalar (2010) Lisboa Ordem dos Enfermeiros

PALMA Garcia RODRIacuteGEZ Salvador AZANOacuteN Heacuternandez RODRIacute-GUEZ Camero ndash Provesso enfermero y atencioacuten prehospitalaria ur-gente Tempus Vitalis 1578 ndash 5963 52 (2005) 1-3

SINDICATO DOS TEacuteCNICOS DE AMBULAcircNCIA DE EMERGEcircNCIA - Esclarecimento sobre o conceito de teacutecnico de emergecircncia meacutedica (2010) Porto Sindicato dos Teacutecnicos de Ambulacircncia de Emergecircncia

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SUSERUD Bjorn-Ove HALJAMAumlE Hengo ndash Nurse competence Ad-vantageous in pre-hospital emergency care Accident amp Emergency Nursing 0965 ndash 2302 7 (1997) 18-25

SUSERUD Bjorn-Ove HALJAMAumlE Hengo ndash Role of nurses in pre-hos-pital emergency care Accident amp Emergency Nursing 0965 ndash 2302 5 (1999) 141-151

TOMAacuteS Alexandre ndash O enfermeiro em ambulacircncias de Suporte Ime-diato de Vida ndash Afirmar a Enfermagem no preacute-hospitalar Ordem dos Enfermeiros 1646 ndash 2629 32 (2009) 59-60

VIEIRA Pedro OLIVEIRA Luiacutes RESSURREICcedilAtildeO Serafim ndash O enfer-meiro perante a emergecircncia preacute-hospitalar Sinais Vitais 61 (2005) 32-35

JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 13: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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intervenccedilatildeo desde os cuidados intensivos ateacute agrave prestaccedilatildeo de cuidados em serviccedilos de urgecircncia passando pelo transporte inter-hospitalar de do-entes urgentes todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros tecircm uma participaccedilatildeo essencial e competecircncias reconhecidas [Suserud 2005 Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Nor-te (ARSN) 2009] Partilhando estas actividades toda uma seacuterie de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e compe-tecircncias comuns torna-se clara a importacircncia da presenccedila do enfermeiro de um modo transversal em todas elas permitindo uma boa articulaccedilatildeo e continuidade fundamentais para toda a cadeia de cuidados realccedilando a evidecircncia cientiacutefica pro-duzida nos paiacuteses que adoptaram este modelo de emergecircncia preacute-hospitalar que ldquohellipthe increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by ra-sing the competence level of the team as a who-lerdquo (Suserud amp Haljamaumle 1997 p145)

Outra das objecccedilotildees apontada refere-se agrave neces-sidade de formaccedilatildeo especiacutefica para a prestaccedilatildeo de cuidados em emergecircncia preacute-hospitalar sendo referido que o ldquoenfermeiro carece sempre de for-maccedilatildeo especializada para a intervenccedilatildeo preacute-hos-pitalar que natildeo seja conjunta com o meacutedico hellipsob pena de estar em causa a seguranccedila e a qualidade dos cuidados prestadosrdquo (STAE 2010 p5)

De facto aceitamos a menccedilatildeo de que eacute necessaacute-ria formaccedilatildeo acrescida agrave formaccedilatildeo base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) Poreacutem esta eacute claramente uma preposiccedilatildeo inviaacutevel no sentido de reiterar a inexistecircncia de competecircn-cias de enfermagem em emergecircncia preacute-hospita-lar Natildeo podemos esquecer que a licenciatura natildeo concede por si soacute uma especializaccedilatildeo da praacutetica profissional pois apenas confere uma base de co-nhecimentos e competecircncias no acircmbito da enfer-magem de cuidados gerais encaminhando poste-riormente o enfermeiro a sua praacutetica profissional num determinado sentido obviamente suportada pela formaccedilatildeo adicional que essa aacuterea exija To-davia a existecircncia de um corpo soacutelido de conhe-cimentos base adquirido no CLE vai favorecer a posterior aquisiccedilatildeo de conhecimentos e compe-tecircncias suportando e solidificando a prestaccedilatildeo de cuidados na aacuterea especiacutefica em causa

Por outro lado decorrente de vaacuterios factores como a gravidade e complexidade das situaccedilotildees cliacutenicas a imprevisibilidade de ocorrecircncias e a prestaccedilatildeo de cuidados em ambiente extra-hospi-talar com elevada exposiccedilatildeo social e reduzido nuacute-mero de intervenientes no processo de decisatildeo o exerciacutecio profissional neste contexto eacute reconheci-damente especiacutefico e complexo o que exige uma preparaccedilatildeo singular e contiacutenua dos profissionais envolvidos (Tomaacutes 2009 OE 2010)

Face a isto na realidade portuguesa todos os en-fermeiros que prestam cuidados nas VMER SIV helicoacutepteros de emergecircncia meacutedica e CODU tecircm formaccedilatildeo que os habilita agrave sua actividade con-ferindo as competecircncias teoacuterico - praacuteticas consi-deradas essenciais pelas entidades competentes ao que se acrescem as poacutes-graduaccedilotildees e mes-trados que tecircm surgido nas aacutereas de urgecircnciaemergecircncia encaradas como uma mais-valia na qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais (Vieira Oliveira amp Ressurreiccedilatildeo 2005 Tomaacutes 2009) A li-teratura (Suserud amp Haljamaumle 1997 1999 Melby amp Ryan 2005) por sua vez sugere a existecircncia de um consenso relativamente ao facto dos enfer-meiros com experiecircncia de anestesia unidade de cuidados intensivos e serviccedilo de urgecircncia serem os mais habilitados para a prestaccedilatildeo de cuidados de emergecircncia preacute-hospitalar decorrente da for-maccedilatildeo que possuem e da constante interacccedilatildeo com situaccedilotildees cliacutenicas criacuteticas que lhes permite uma manutenccedilatildeo das competecircncias que de ou-tro modo poderiam decrescer face a periacuteodos de menor operacionalidade decorrente da inexis-tecircncia de situaccedilotildees criacuteticas na aacuterea de influecircncia dos meios de socorro Desta forma poderaacute residir neste aspecto um dos deacutefices do modelo portu-guecircs em que os enfermeiros dos meios SIV ape-nas prestam cuidados no contexto preacute-hospitalar em exclusividade Todavia na VMER esta questatildeo natildeo se coloca uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua activi-dade profissional tambeacutem em contexto intra-hos-pitalar preferencialmente nos serviccedilos supraci-tados sendo esta uma das condiccedilotildees de ingresso previamente definida o que potencia o processo de retro-alimentaccedilatildeo de experiecircncia e conheci-mento com consequente mais-valia para as duas aacutereas (Suserud 2005 OE 2010)

Eacute tambeacutem no capiacutetulo da legitimidade eacutetico--deontoloacutegica para a prestaccedilatildeo de determinados cuidados que satildeo colocadas duacutevidas relacionadas com a qualificaccedilatildeo e intervenccedilatildeo profissionais do enfermeiro ldquohellipque natildeo seja conjunta com o meacutedi-cohelliprdquo (STAE 2010 p5) pois o caraacutecter de inter-venccedilatildeo em situaccedilotildees criacuteticas contempla que natildeo raras vezes se torne necessaacuterio aplicar determi-nadas intervenccedilotildees e procedimentos considera-dos life saving como entubaccedilatildeo endo-traqueal desfibrilhaccedilatildeo prescriccedilatildeo e administraccedilatildeo de faacuter-macos ou lideranccedila em situaccedilotildees de emergecircncia comummente reconhecidas como do acircmbito de intervenccedilatildeo meacutedica colocando-se questotildees como ldquoqual a fronteira em termos de intervenccedilotildees meacute-dicas e de enfermagemrdquo ou ldquopode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenccedilotildees e proce-dimentos life savingrdquo (Vieira Oliveira amp Ressur-reiccedilatildeo 2005)

Poreacutem o decreto-lei nordm 16176 de 4 de Setembro enquanto Regulamento do Exerciacutecio Profissional dos Enfermeiros (REPE) permite que estas duacutevidas possam ser esclarecidas dissipadas e devidamente documentadas em articulaccedilatildeo com os demais do-cumentos descritores e reguladores da profissatildeo

Definidos os cuidados de enfermagem como ldquoas intervenccedilotildees autoacutenomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no acircmbito das suas qua-lificaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 1 artigo 4ordm do decreto-lei nordm 16176) as intervenccedilotildees autoacutenomas referem-se agraves ldquoacccedilotildees realizadas pelos enfermei-ros sob sua uacutenica e exclusiva iniciativa e respon-sabilidade de acordo com as respectivas quali-ficaccedilotildees profissionaisrdquo (nuacutemero 2 art 9ordm do de-creto-lei nordm 16176) enquanto as interdependen-tes satildeo respeitantes agraves intervenccedilotildees realizadas ldquopelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificaccedilotildees profissionais em conjunto com ou-tros teacutecnicos para atingir um objectivo comum decorrentes de planos de acccedilatildeo previamente de-finidos pelas equipas multidisciplinares em que estatildeo integrados e das prescriccedilotildees ou orientaccedilotildees previamente formalizadasrdquo (nuacutemero 3 artigo 9ordm do decreto-lei nordm 16176) Continuando a anaacutelise o nuacutemero 4 art 9ordm do mesmo diploma refere que os enfermeiros ldquoprocedem agrave administraccedilatildeo de te-rapecircutica prescrita detectando os seus efeitos e actuando em conformidade devendo em situaccedilatildeo de emergecircncia agir de acordo com a qualificaccedilatildeo e os conhecimentos que detecircm tendo como fina-lidade a manutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

BIBLIOGRAFIAADMINISTRACcedilAtildeO REGIONAL DE SAUacuteDE DO NORTE - Comissatildeo re-gional do doente criacutetico - Um ano de reflexatildeo e mudanccedila (2009) Por-to Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede do Norte

DECRETO-LEI nordm16196 de 4 de Setembro (com as alteraccedilotildees intro-duzidas pelo decreto-lei nordm 10498 de 21 de Abril) DR nordm205 I Seacuterie Ministeacuterio da Sauacutede Lisboa

LEI nordm 1112009 de 16 de Setembro DR nordm180 I Seacuterie Assembleia da Repuacuteblica Lisboa

MELBY Vidar RYAN Assumpta ndash Caring for old people in prehospital emergency care Can nurses make difference Journal of Clinical Nur-sing 1365 ndash 2702 149 (2005) 1141-1150

NOLAN DEAKIN SOAR BOumlTTIGER SMITH - European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2005 Section 4 Adult advanced life support Resuscitation 0300 ndash 9572 671 (2005) S39-S66

ORDEM DOS ENFERMEIROS - Competecircncias do enfermeiro de cuida-dos gerais (2004) Lisboa Ordem dos Enfermeiros

ORDEM DOS ENFERMEIROS - Parecer nordm 842008 Proposta de cria-ccedilatildeo do teacutecnico de emergecircncia preacute-hospitalar (2008) Lisboa Ordem dos Enfermeiros

ORDEM DOS ENFERMEIROS - Parecer Plano estrateacutegico de recursos de emergecircncia preacute-hospitalar (2010) Lisboa Ordem dos Enfermeiros

PALMA Garcia RODRIacuteGEZ Salvador AZANOacuteN Heacuternandez RODRIacute-GUEZ Camero ndash Provesso enfermero y atencioacuten prehospitalaria ur-gente Tempus Vitalis 1578 ndash 5963 52 (2005) 1-3

SINDICATO DOS TEacuteCNICOS DE AMBULAcircNCIA DE EMERGEcircNCIA - Esclarecimento sobre o conceito de teacutecnico de emergecircncia meacutedica (2010) Porto Sindicato dos Teacutecnicos de Ambulacircncia de Emergecircncia

SUSERUD Bjorn-Ove ndash A new profession in the pre-hospital care field ndash the ambulance nurse British Association of Critical Care Nurses Nursing in Critical Care 1478 - 5153 106 (2005) 269-270

SUSERUD Bjorn-Ove HALJAMAumlE Hengo ndash Nurse competence Ad-vantageous in pre-hospital emergency care Accident amp Emergency Nursing 0965 ndash 2302 7 (1997) 18-25

SUSERUD Bjorn-Ove HALJAMAumlE Hengo ndash Role of nurses in pre-hos-pital emergency care Accident amp Emergency Nursing 0965 ndash 2302 5 (1999) 141-151

TOMAacuteS Alexandre ndash O enfermeiro em ambulacircncias de Suporte Ime-diato de Vida ndash Afirmar a Enfermagem no preacute-hospitalar Ordem dos Enfermeiros 1646 ndash 2629 32 (2009) 59-60

VIEIRA Pedro OLIVEIRA Luiacutes RESSURREICcedilAtildeO Serafim ndash O enfer-meiro perante a emergecircncia preacute-hospitalar Sinais Vitais 61 (2005) 32-35

JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

32 33

doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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GESTAtildeO | LIDERANCcedilA GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 14: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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vitaisrdquo indo ao encontro do documento descritor das competecircncias do enfermeiro de cuidados ge-rais (OE 2004 p19) que afere que este profissio-nal ldquoajuiacuteza e toma decisotildees fundamentadas qual-quer que seja o contexto da prestaccedilatildeo de cuida-dosrdquo e responde eficazmente natildeo soacute em situaccedilotildees inesperadas como de emergecircncia ou cataacutestrofe

Face ao exposto e enquanto prestador de cui-dados em emergecircncia meacutedica preacute-hospitalar eacute pressuposto que o enfermeiro detenha formaccedilatildeo especiacutefica orientada e oficialmente certificada em que os conteuacutedos nela desenvolvidos contem-plem procedimentos e intervenccedilotildees com vista agrave ldquomanutenccedilatildeo ou recuperaccedilatildeo das funccedilotildees vitaisrdquo A este propoacutesito a ARSN (2009) num documento cujo conteuacutedo elenca ldquorecomendaccedilotildees sobre com-petecircncias e formaccedilatildeo em urgecircncia e emergecircnciardquo indica que tanto os meacutedicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta aacuterea devem pos-suir as mesmas formaccedilotildees especiacuteficas de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhe-cimentos semelhantes Deste modo torna-se claro que o enfermeiro deveraacute actuar em conformidade com as suas qualificaccedilotildees profissionais devendo prestar todos os cuidados por si considerados ne-cessaacuterios sob pena do incumprimento da aliacutenea a) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009 que indica que o enfermeiro deve ldquoexercer a profissatildeo com os ade-quados conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos com o respeito pela vida pela dignidade humana e pela sauacutede e bem-estar da populaccedilatildeo adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviccedilos de enfermagemrdquo Para aleacutem disto estatildeo ainda obrigados ao ldquocumprimento das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais que lhes sejam aplicaacuteveis e que tenham sido respecti-vamente ratificadas ou adoptadas pelos oacutergatildeos de soberania competentesrdquo (aliacutenea c) nuacutemero 1 art 76ordm da Lei nordm 1112009) nas quais se incluem por exemplo as guidelines de Suporte Avanccedilado de Vida (Nolan Deakin Soar Boumlttiger amp Smith 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Portu-guecircs de Ressuscitaccedilatildeo constituindo componentes sine qua non da formaccedilatildeo e actuaccedilatildeo dos enfer-meiros em emergecircncia preacute-hospitalar

Em suma torna-se evidente que a presenccedila do enfermeiro na prestaccedilatildeo de cuidados emergecircncia preacute-hospitalar estaacute obviamente provida e supor-

tada em competecircncias que garantem a qualidade dos mesmos constituindo a sua presenccedila uma mais-valia inegaacutevel Contudo julgamos que a con-solidaccedilatildeo destes argumentos eacute algo de que os en-fermeiros se devem ocupar atraveacutes da produccedilatildeo de evidecircncia cientiacutefica e de uma praacutetica baseada na mesma pois soacute assim eacute permitida a descriccedilatildeo das competecircncias e da sua importacircncia de um modo devidamente fundamentado e alicerccedilado futuramente gerador de poliacuteticas de sauacutede que prossigam o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das competecircncias do profissional de enfermagem

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TOMAacuteS Alexandre ndash O enfermeiro em ambulacircncias de Suporte Ime-diato de Vida ndash Afirmar a Enfermagem no preacute-hospitalar Ordem dos Enfermeiros 1646 ndash 2629 32 (2009) 59-60

VIEIRA Pedro OLIVEIRA Luiacutes RESSURREICcedilAtildeO Serafim ndash O enfer-meiro perante a emergecircncia preacute-hospitalar Sinais Vitais 61 (2005) 32-35

JOSEacute PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviccedilo de Urgecircncia Geral do Hospital do Montijo Poacutes-Graduado em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

PATRIacuteCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviccedilo de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta Poacutes-Graduada em Urgecircncia e Emergecircncia Hospitalar

VIVEcircNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

INTRODUCcedilAtildeO

Nos uacuteltimos anos a emergecircncia preacute-hospitalar

tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma

assistecircncia ldquoin siturdquo no menor tempo possiacutevel

Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar

um meio de transporte mais raacutepido e diferencia-

do de forma a potenciar a taxa de sobrevivecircncia

nas diversas situaccedilotildees para as quais eacute solicitado

A par do nosso interesse pessoal pelo tema curio-

sidade intelectual e o desejo em aumentar os nos-

sos conhecimentos nesta aacuterea foram para noacutes as

principais fontes de inspiraccedilatildeo e interesse para a

escolha desta problemaacutetica permitindo assim a

formulaccedilatildeo da seguinte pergunta de investiga-

ccedilatildeo ndash Quais as vivecircncias dos enfermeiros que

efectuam helitransporte de emergecircncia na as-

sistecircncia primaacuteria e secundaacuteria

Segundo CORREia citado por SanChES (200320) vi-

vecircncia consiste no ldquoacto ou efeito de viver (hellip) tudo

o que eacute vivido pelo indiviacuteduo com a noccedilatildeo do que eacute

vividordquo Eacute esta a essecircncia do nosso meacutetodo ou

seja descrever a forma como os participantes ex-

perienciam o vivido reflectindo o ponto de vista

daqueles que vivem ou viveram essa experiecircncia

Para antunES e MaRCElinO (20024) ldquoos cuidados

emergenciais na assistecircncia preacute-hospitalar apresen-

tam-se como um desafio aos enfermeiros aliciante

e motivador pois proporciona-lhes um espaccedilo para

desenvolverem novas competecircncias bem como a pos-

sibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

28 29

formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

30 31

Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

32 33

doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

34 35

um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

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VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 15: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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012

CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

28 29

formaccedilatildeo numa nova concepccedilatildeo de cuidadosrdquo

Em inuacutemeras situaccedilotildees este meio de assistecircncia

assume primordial importacircncia como eacute o caso de

doentes em que o factor tempo eacute vital aacutereas de

difiacutecil acesso para outros meios de assistecircncia

acidentes com multiviacutetimas assim como a exis-

tecircncia de condiccedilotildees meteoroloacutegicas que impeccedilam

a utilizaccedilatildeo de meios terrestres

Parafraseando WORSing (1990311) ldquounder the right

conditions a helicopter may be used to gain access

to patients where no other vehicle can be used or

when other operational considerations are in effect

However the use of a helicopter has greater opera-

tional restrictions (hellip) they should only be used in

those special circumstances such as severe trauma

uncontrollable or internal bleeding life-threatening

burns profound hypothermia fractures or disloca-

tions with neurologic or circulatory deficit threaten-

ing anaphylaxis (hellip)rdquo

No que se refere agraves missotildees do helicoacuteptero estas

podem ser divididas em

1) Missotildees Primaacuterias ndash Basicamente este tipo de

missatildeo caracteriza-se por um raacutepido e pronto

acesso ao local da ocorrecircncia com vista agrave assis-

tecircncia imediata no local e estabilizaccedilatildeo da viacutetima

de forma a garantir um adequado transporte agrave

unidade hospitalar permitindo ao longo deste as

intervenccedilotildees necessaacuterias de acordo com o estado

do doente

2) Missotildees Secundaacuterias ndash Neste tipo de missatildeo

natildeo satildeo necessaacuterias uma prontidatildeo e rapidez

como no caso descrito anteriormente Baseia-se

fundamentalmente no assegurar do transporte

apoacutes a viacutetima se encontrar previamente estabili-

zada entre o local da ocorrecircncia do sinistro e a

entidade hospitalar No entanto de acordo com

o estado do doente podem ser necessaacuterias inter-

venccedilotildees imediatas ao longo do transporte

3) Transporte de Oacutergatildeos ndash Natildeo eacute muito usual em

Portugal uma vez que as unidades de transplan-

taccedilatildeo adoptam os seus proacuteprios circuitos no en-

tanto o helicoacuteptero eacute considerado o meio ideal

para efectuar esta missatildeo

4) Transporte de Medicamentos ndash Situaccedilatildeo idecircn-

tica agrave descrita anteriormente

5) Transporte de Equipas Meacutedicas ndash Tambeacutem

eacute um tipo de missatildeo que natildeo eacute muito vulgar em

Portugal mas baseia-se fundamentalmente em

transportar uma equipa meacutedica a um determi-

nado local e aguardar noutro siacutetio diferente que

esta o chame para efectuar o transporte

Devido a estes trecircs uacuteltimos tipos de missotildees an-

teriores natildeo serem frequentes a niacutevel Nacional

optou-se por abranger apenas as missotildees secun-

daacuterias e primaacuterias sendo que estas tambeacutem satildeo

as que mais directamente estatildeo relacionadas com

a aacuterea de urgecircncia e emergecircncia

DESENHO METODOLOacuteGICO ADOPTADO

Por considerarmos pertinente ser detentor do

maacuteximo de saberes e de experiecircncias dessa for-

ma sentimos a necessidade de conhecer a ver-

tente vivencial dos enfermeiros que efectuam

helitransporte de emergecircncia uma vez que natildeo

existem muitos estudos nessa aacuterea especiacutefica do

transporte de doentes criacuteticos por meio aeacutereo

bem como o relato das experiecircncias de quem os

executa

Deste modo propusemo-nos realizar este estudo

de investigaccedilatildeo com os objectivos principais

bull Percepcionar as vivecircncias do enfermeiro de heli-

transporte de emergecircncia da regiatildeo Sul (sedeado

no aeroacutedromo de Tires)

bull Diferenciar as vivecircncias do enfermeiro nos dois

tipos de assistecircncia

Aquando da formulaccedilatildeo da pergunta de investi-

gaccedilatildeo questionaacutemo-nos se esta permitiria aos in-

diviacuteduos em estudo compreender a questatildeo que

seria colocada e se a mesma era em simultacircneo

abrangente dessa forma elaboramos as seguin-

tes questotildees de investigaccedilatildeo

bull Qual o significado que tem para si efectuar heli-

transporte de emergecircncia

bull Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assis-

tecircncia existentes

Face ao factor temporal este estudo foi realizado

num periacuteodo de tempo compreendido entre Janei-

ro e Julho de 2009 Para a concretizaccedilatildeo deste tra-

balho optou-se por uma metodologia de caraacutecter

Qualitativo de niacutevel 1 uma vez que a realizaccedilatildeo

deste estudo de investigaccedilatildeo visa a compreensatildeo

de um facto vivenciado de uma forma particular

pelos enfermeiros que exercem a sua actividade

em helitransporte

Este seraacute tambeacutem um estudo de caraacutecter Explora-

toacuterio ndash Descritivo uma vez que existe pouco co-

nhecimento acerca da temaacutetica em questatildeo e iraacute

descrever essa mesma Considera-se ainda este es-

tudo de caraacutecter transversal relativamente agraves suas

caracteriacutesticas temporais uma vez que os dados

que iram ser futuramente recolhidos estaratildeo di-

rectamente relacionados com o juiacutezo e opiniatildeo dos

sujeitos no momento da colheita dos dados

Quanto agrave ldquopopulaccedilatildeo-alvordquo deste estudo de inves-

tigaccedilatildeo seraacute referente a enfermeiros que tenham

experiecircncia em Helitransporte a exercer funccedilotildees

na base aeacuterea de Tires

A amostra no nosso estudo eacute natildeo probabiliacutestica

racional ou ldquointencionalrdquo num total de trecircs (3)

enfermeiros A selecccedilatildeo de participantes foi efec-

tuada propositadamente permitindo estudaacute-la

em profundidade ou seja devera ser capaz de

reflectir e examinar de modo criacutetico a experiecircn-

cia vivida querer partilhar essa experiecircncia e ter

disponibilidade para o fazer

TRATAMENTO DE DADOS

O tratamento dos dados qualitativos ndash entrevis-

tas ndash seraacute feito atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo

A anaacutelise de conteuacutedo que iremos realizar diz res-

peito a duas questotildees que constam da entrevista

aberta inseridas no nosso instrumento de recolha

de dados Seraacute elaborada uma tabela em que cons-

ta a informaccedilatildeo obtida pelos Enfermeiros subdivi-

dida em unidades de contexto unidades de registo

e unidades de enumeraccedilatildeo e posteriormente seratildeo

interpretados e analisados os resultados

DEZ

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

30 31

Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

DEZ

EMBR

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012

CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

32 33

doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

BIBLIOGRAFIAAMARAL M GONCcedilALVES R NUNES L ndash Coacutedigo Deontoloacutegico do Enfermeiro dos Comentaacuterios agrave Anaacutelise de Casos Lisboa Ordem dos Enfermeiros 2006 456 p ISBN 972-99646-0-2

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 16: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

DEZ

EMBR

O 2

012

CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

30 31

Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergecircncia

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Significado do Helitransporte de emergecircncia

Niacutevel teacutecnico

Tipo de serviccedilo direccionado para doentes criacuteticos 1

Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade

1

Destreza teacutecnica 1

Ser um operacional activo 1

Proceder ao acompanhamento do doente 1

Complemento do acompanhamento do doente 1

Complemento do tratamento 1

SUB-TOTAL 7

Niacutevel de Formaccedilatildeo Profissional

Formaccedilatildeo necessaacuteria dos profissionais na aacuterea de intensivos e VMER

1

Identificaccedilatildeo de sintomatologia 1

Experiecircncia de voo 1

SUB-TOTAL 3

Niacutevel Pessoal

Gratificaccedilatildeo 1

Complemento da actividade 1

Responsabilidade na estabilizaccedilatildeo do doente 1

Recuar no tempo 1

Menor conforto no helitransporte 1

Natildeo deve ser considerada como topo de gama 1

SUB-TOTAL 6

Niacutevel RelacionalInteracccedilatildeo com outras realidades 1

SUB-TOTAL 1

Niacutevel Emocional

Importacircncia do medo 1

Distanciamento em relaccedilatildeo ao nervosismo 1

SUB-TOTAL 2

Niacutevel Praacutetico

Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares

1

Menor tempo de chegada ao local 1

Vantajoso em termos geograacuteficos 1

SUB-TOTAL 3

TOTAL 22

Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tra-

tados os mesmos pode-se caracterizar a amostra

com um total de 3 participaccedilotildees em que todos os

participantes satildeo do sexo masculino com idades

compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma

experiecircncia profissional natildeo inferior a 12 anos e

natildeo superior a 29 anos

Quais as suas vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia existentes

Categoria Unidade de Contexto Unidade de RegistoUnidade de

Enumeraccedilatildeo

Vivecircncias nos dois tipos de assistecircncia

Transporte Primaacuterio

Maior preferecircncia pelo Transporte Primaacuterio 1

Primazia pelas questotildees de seguranccedila 1

Desconhecimento do local de aterragem 1

Capacidade de gerir vaacuterios cenaacuterios 1

Maior capacidade de atenccedilatildeo e seguranccedila 1

SUB-TOTAL 5

Transporte Secundaacuterio

Transporte de um hospital para outro 1

Doentes minimamente estaacuteveis 1

Transporte com menos riscos e apoacutes estabilizaccedilatildeo do doente

1

Dar continuidade mantendo o mesmo niacutevel de cuidados

1

SUB-TOTAL 4

Indiferenciado

Experiecircncia nova 1

Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1

SUB-TOTAL 2

TOTAL 11

CONCLUSAtildeO

Das vaacuterias conclusotildees deste estudo realccedilamos

aquelas que nos parecem mais pertinentes de

entre as quais

A Divisatildeo em duas categorias principais em estudo

bull Significado de Helitransporte de Emergecircncia

bull Vivecircncias nos dois tipos de Assistecircncia

Face agrave categoria Significado do Helitransporte de

Emergecircncia foram seleccionadas seis Unidades

de Contexto apoacutes a anaacutelise das respostas dadas a

esta pergunta Niacutevel Teacutecnico Niacutevel de Formaccedilatildeo

Profissional Niacutevel Pessoal Niacutevel Relacional Emo-

cional e Praacutetico

Os enfermeiros focaram-se essencialmente em

questotildees de natureza teacutecnica e pessoal relativa-

mente ao significado atribuiacutedo ao efectuar heli-

transporte de emergecircncia com um sub-total de

Unidades de Enumeraccedilatildeo de 7 e 6 respectivamen-

te O niacutevel teacutecnico-praacutetico obteve cerca de meta-

de das significacircncias (445)

As unidades de registo relativas ao niacutevel teacutecnico

tecircm um enfoque sobre a temaacutetica do doente criacute-

tico transporte e acompanhamento do mesmo

uma vez que valorizam a existecircncia de profis-

sionais competentes e motivados para trabalhar

com este tipo de utentes criacuteticos e por conseguin-

te aumentar a qualidade dos cuidados prestados

aquando do transporte do doente entre unidades

hospitalares ( ldquo(hellip) eacute uma responsabilidade em ter-

mos de estabilidade de um doente que tem que ser

transportado por este meio (hellip)rdquo )

Jaacute relativamente a aspectos de caraacutecter profissio-

nal foram evidenciadas caracteriacutesticas de acircmbito

de experiecircncia relativa a vaacuterias aacutereas como VMER

Intensivos ou experiecircncia de voo ldquo(hellip) tenho uma

imensidatildeo de conhecimentos que satildeo adequados para

este tipo de transporte que satildeo o acompanhamento do

DEZ

EMBR

O 2

012

CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

32 33

doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

BIBLIOGRAFIAAMARAL M GONCcedilALVES R NUNES L ndash Coacutedigo Deontoloacutegico do Enfermeiro dos Comentaacuterios agrave Anaacutelise de Casos Lisboa Ordem dos Enfermeiros 2006 456 p ISBN 972-99646-0-2

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 17: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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O 2

012

CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

32 33

doente critico (hellip) eacute exactamente dar continuidade

mantendo o mesmo niacutevel de cuidados que ele tem no

hospital de origem ateacute chegar ao hospital de destinordquo

A niacutevel pessoal aglomera os diversos ldquointervenien-

tesrdquo implicados no Helitransporte de Emergecircncia

como o caso do Helicoacuteptero (mais especificamente

o seu conforto) cuidados relativos ao doente e te-

mas relacionados com uma opiniatildeo mais pessoal

Quanto a aspectos de caraacutecter praacutetico satildeo enu-

meradas vantagens deste tipo de transporte

como a rapidez e eficiecircncia

Relativamente agraves vivecircncias os entrevistados es-

tes identificaram preferencialmente o transporte

primaacuterio uma vez que exige mais dos conheci-

mentos de cada um e tambeacutem o facto de este tipo

de transporte gerar maior capacidade de gestatildeo

de cenaacuterios bem como de redobrada atenccedilatildeo por

parte dos entrevistados ldquo(hellip) embora hajam ce-

naacuterio que satildeo mais complicados e eacute muito gratifi-

cante fazer os que satildeo primaacuterios puxam mais pela

adrenalina (hellip)rdquoA niacutevel da abordagem secundaacuteria

referem que esta requer um planeamento mais

cuidado com estabilizaccedilatildeo preacutevia dos doentes o

que numa primeira anaacutelise constituiraacute um tipo

de transporte com menores riscos

ldquo Para noacutes penso que natildeo sei se isto eacute veriacutedico para

todos mas acho que no geral normalmente eacute todos

noacutes preferimos muito mais situaccedilotildees primaacuterias do

que as situaccedilotildees secundaacuteriasldquo

Destacam ainda como factor geral natildeo especifi-

cando qualquer tipo de transporte o facto da boa

relaccedilatildeo com a equipa nomeadamente os pilotos

e de esta constituir uma experiecircncia nova ao al-

cance de poucos enfermeiros dada os poucos ele-

mentos que satildeo necessaacuterios para constituir uma

equipa de Helitransporte e ao baixo nuacutemero de

Helicoacutepteros com estas caracteriacutesticas a operar

em Portugal na actualidade

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TRABALHO DE EQUIPA NA URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

FERNANDA LOUREIROLicenciada em Enfermagem Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo Mestranda em Enfermagem de Sauacutede Infantil e Pediatria Enfermeira na Unidade de Urgecircncia Pediaacutetrica Centro Hospitalar de Setuacutebal EPE Hospital de Satildeo Bernardo

RESUMOArtigo sustentado na reflexatildeo pessoal acerca do trabalho de equipa de enfermagem num contexto de urgecircncia pediaacutetrica Reflete-se sobre as vanta-gens e desvantagens do mesmo numa optica de prestaccedilatildeo de cuidados e gestatildeo dos mesmo

Palavras-Chave Trabalho de equipa urgecircncia pediaacutetrica

ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context Reflects on the advantages and disad-vantages in care and its management

Keywords Team work pediatric emergency

INTRODUCcedilAtildeOA gestatildeo de cuidados de enfermagem eacute uma acti-vidade que implica recursos humanos materiais e financeiros Enquanto actividade de administra-ccedilatildeo deve-se atender aos mesmos organizando-os numa loacutegica de eficiecircncia eficaacutecia A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu tra-balho eacute um dos aspectos essenciais a esta gestatildeo (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A metodologia de trabalho desta classe profissional eacute resultado da evoluccedilatildeo histoacuterica mas tambeacutem dos conceitos de gestatildeo sauacutede doenccedila e cliente Existe uma maior complexidade nos fenoacutemenos de sauacutededoenccedila o que implica tambeacutem cuidados de enfermagem mais complexos

Na aacuterea da pediatria esta questatildeo eacute potenciada quer pelo valor social e cultural que eacute atribuiacutedo agraves crianccedilas quer pela presenccedila permanente de

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

34 35

um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

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VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 18: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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um parceiro imprescindiacutevel o prestador de cuidados Por ou-tro lado a concepccedilatildeo actual de cuidados de enfermagem conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros procura ldquo pro-mover processo de readaptaccedilatildeo () satisfaccedilatildeo das necessidades humanas fundamentais e a maacute-xima independecircncia na realiza-ccedilatildeo das actividades de vida (hellip) adaptaccedilatildeo funcional aos deacutefices e a adaptaccedilatildeo a muacuteltiplos facto-res ndash frequentemente atraveacutes de processos de aprendizagem do clienterdquo (ORDEM DOS ENFER-MEIROS 2001 p8-9)

Na optimizaccedilatildeo dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de sauacutede O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo Ocorre no seio da equipa de enferma-gem mas tambeacutem numa pers-pectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui aleacutem dos enfermeiros meacutedicos assistentes sociais fisioterapeutas educadores de infacircncia professores etc

Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na ges-tatildeo dos cuidados no dia a dia de um serviccedilo de urgecircncia pediaacute-trica Esta eacute questatildeo de partida para este artigo Atraveacutes da reflexatildeo pessoal e pesquisa bibliograacute-fica procurou-se integrar teoria e praacutetica (re)pen-sando cuidados de enfermagem

O CONTEXTO URGEcircNCIA PEDIAacuteTRICA

A existecircncia de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica nas instituiccedilotildees hospitalares eacute um facto recen-te Soacute se comeccedilou a abordar as especificidades da crianccedila e a pediatria como ramo da medici-na na transiccedilatildeo do seacuteculo XVIII para o seacutec XIX (COELHO 1996) Historicamente a assistecircncia agrave crianccedila era pouco diferenciada e muitas vezes

associada a instituiccedilotildees religiosas O primeiro hospital dedicado agraves crianccedilas soacute surgiu em Por-tugal em 1877 ndash Hospital D Estefacircnia E foi nesta instituiccedilatildeo que em 1957 comeccedilou a funcionar a Consulta Permanente de Crianccedilas o primeiro es-boccedilo de uma urgecircncia pediaacutetrica em Portugal Ra-pidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos uacuteltimos 50 anos assistiu-se agrave abertura de serviccedilos de urgecircncia pediaacutetrica um pouco por todo o paiacutes (Ibidem)

Estes serviccedilos tecircm um modo de funcionamento similar ao de uma urgecircncia geral embora com a especificidade inerente ao utente pediaacutetrico Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestaccedilatildeo diaacuteria de cuidados sendo preconizado

um nuacutemero miacutenimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSAtildeO NACIONAL DA SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE 2008) A forma como este trabalho eacute desenvolvido tem em conta as caracte-riacutesticas do serviccedilo em questatildeo

A ORGANIZACcedilAtildeO MEacuteTODO DE EQUIPA

Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependecircncia gerada para a realizaccedilatildeo de um objectivo ou execuccedilatildeo de uma tarefa (FERREIRA 2004) O trabalho em equipa eacute uma metodologia de trabalho que con-siste na organizaccedilatildeo dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuiacuteda a responsabilidade da pres-taccedilatildeo de cuidados a um grupo de doentes (FRE-DERICO E LEITAtildeO 1999)

Esta metodologia exige uma dinacircmica que pre-tende um melhor rendimento do grupo de enfer-meiros (PATITA E FARINHA 1999) e pressupotildee uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITAtildeO 1999) A equipa eacute liderada por um dos ele-mentos que assume a responsabilidade de plane-ar coordenar supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados Tem como vantagens enfatizar a lideranccedila e a comunicaccedilatildeo favore-cendo a dinacircmica de grupo incentivar a melho-ria da qualidade dos cuidados utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS 1995) Por outro lado como desvantagens assume-se a exigecircncia de um maior nuacutemero de elementos de enfermagem e caso natildeo exista boa coordenaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo pode transformar-se num meacutetodo aacute tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITAtildeO 1999)

A PRAacuteTICA REFLEXAtildeO SOBRE O CUIDAR

No dia-a-dia da urgecircncia pediaacutetrica acorrem com frequecircncia utentes em situaccedilatildeo natildeo urgente facto que eacute amplamente reportado na literatura (COELHO 1996 CURADO 2004 CALDEIRA [et al] 2006) Natildeo existe um nuacutemero estanque de utentes mas de um fluxo variaacutevel de crianccedilas famiacutelias diacutespares na sua complexidade quer de sauacutededoenccedila quer social e familiar A equipa eacute assim responsaacutevel pela prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas famiacutelias que recorrem agrave urgecircncia du-

rante o turno independentemente do nuacutemero ou tipo de situaccedilotildees cliacutenicas que apresentam

Encontram como primeiro profissional de sauacutede o enfermeiro e esperam um atendimento raacutepi-do e eficaz assim como compreensatildeo por parte desta classe profissional (MAIA 1999) Enquanto responsaacutevel de equipa na urgecircncia de pediatria suscita-me com frequecircncia questotildees relacionadas com a organizaccedilatildeo de cuidados de enfermagem por equipas

Quando se trabalha em equipa haacute possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequaccedilatildeo de cuidados E porque numa equipa existem diferentes pessoas com diferentes com-petecircncias eacute possiacutevel direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada Este natildeo eacute um processo faacutecil de executar na medida em que eacute necessaacuterio ter um conhecimento amplifica-do natildeo soacute das situaccedilotildees de urgecircncia pediaacutetrica mas tambeacutem de cada um dos membros que cons-tituem a equipa A decisatildeo deve ser partilhada e natildeo imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM 2007) Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que con-tribuam para uma resoluccedilatildeo de problemas e sa-tisfaccedilatildeo muacutetua profissional e crianccedilafamiacutelia

Por outro lado o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexatildeo e a partilha de experiecircn-cia Neste sentido no seio da equipa encontra--se como motivaccedilatildeo o trabalho em si (PEREIRA E FAacuteVERO 2001) e a discussatildeo que gera em torno do mesmo Consegue-se discutir os cuidados as atitudes e praacuteticas numa tentativa de ver outros pontos de vista repensar os cuidados e em uacutelti-ma anaacutelise melhorar a prestaccedilatildeo Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa BLAN-CHARD (2007 p 159) refere que ldquodesenvolver equipas altamente eficazes tal como desenvolver uma grande organizaccedilatildeo comeccedila com uma ima-gem daquilo que estamos a apontar ndash um alvordquo Neste sentido eacute importante existir uma missatildeo que se encontre em harmonia com o serviccedilo e a instituiccedilatildeo de sauacutede mas tambeacutem com o interesse dos profissionais

Para um elemento receacutem-chegado agrave equipa a in-tegraccedilatildeo eacute habitualmente facilitadora na medi-da em que eacute inserido num grupo de elementos de menor dimensatildeo e com uma dinacircmica de funcio-

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

BIBLIOGRAFIAAMARAL M GONCcedilALVES R NUNES L ndash Coacutedigo Deontoloacutegico do Enfermeiro dos Comentaacuterios agrave Anaacutelise de Casos Lisboa Ordem dos Enfermeiros 2006 456 p ISBN 972-99646-0-2

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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GESTAtildeO | LIDERANCcedilA GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 19: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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namento proacutepria Importa natildeo esquecer como refere FONTES (2000) que as equipas tecircm uma disciplina proacutepria e que cada elemento deve im-por disciplina a si mesmo atendendo ao funcio-namento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos

Encontro como dificuldade na minha praacutetica o facto de que nem sempre o chefe de equipa assu-me as suas funccedilotildees em pleno Frequentemente tem para aleacutem das suas funccedilotildees de chefe de equi-pa a responsabilidade de prestaccedilatildeo de cuidados num sector da urgecircncia Este facto eacute limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixan-do com frequecircncia de lado aspectos de gestatildeo da proacutepria equipa para prestar cuidados aos utentes Parece-me que esta organizaccedilatildeo enviesa a meto-dologia de trabalho em equipa sendo fonte fre-quente de sentimentos negativos de frustraccedilatildeo e impotecircncia

Por outro lado a proacutepria escolha do elemento res-ponsaacutevel de equipa eacute tambeacutem poleacutemica Deve-se valorizar as competecircncias pessoais e profissionais na sua atribuiccedilatildeo mas na realidade observa-se com frequecircncia que o criteacuterio idade experiecircncia profissional eacute o mais prevalente Admite-se que este criteacuterio eacute vantajoso como tatildeo bem enfatiza Benner Contudo parece-me que natildeo deve domi-nar sobre outros

Do ponto de vista organizacional e dada a com-plexidade deste tipo de gestatildeo era uacutetil a existecircn-cia de reuniotildees perioacutedicas de partilha entre en-fermeiros responsaacuteveis de equipa o que natildeo ve-rifico na minha praacutetica diaacuteria Partilha natildeo soacute de aspectos relacionados com o proacuteprio serviccedilo mas tambeacutem com a proacutepria dinacircmica de trabalho em equipa

Do ponto de vista comunicacional este meacutetodo permite uma maior satisfaccedilatildeo por parte dos en-fermeiros pois estatildeo mais disponiacuteveis e envoltos no seu trabalho Contudo se a equipa natildeo fun-ciona adequadamente pode ser um factor de ins-tabilidade e desmotivaccedilatildeo SOUSA [et al] (1998) referem que as equipas passam por quatro estaacute-dios de desenvolvimento a formaccedilatildeo o conflito a regulamentaccedilatildeo e o desempenho sendo a adap-taccedilatildeo o factor essencial nestas fases Quando a equipa jaacute estaacute bem definida e cimentada existe maior coordenaccedilatildeo no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro-

fundado Os enfermeiros cuidam ao mesmo tem-po que se sentem cuidados

FERREIRA (2004) refere que o sistema ldquoequipardquo eacute composto por quatro elementos o chefe o grupo o objectivo e as praacuteticas comuns Os elementos tendem adquirir caracteriacutesticas do liacuteder chefe de equipa e haacute uma harmonizaccedilatildeo de procedimen-tos Entendo que o responsaacutevel de equipa natildeo deve teraacute pretensatildeo de ser o detentor do conheci-mento mas deve ter a capacidade de o gerir Isto significa aceitar que do ponto de vista profissio-nal pode existir na equipa algueacutem com maior niacutevel de conhecimentos e assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada Por vezes o meacutetodo de equipa implica a aplicaccedilatildeo de outras metodologias de trabalho de forma a con-seguir dar repostas em tempo uacutetil aos utentes nomeadamente devido agrave afluecircncia ao serviccedilo de urgecircncia ou por questotildees particulares pessoais Trata-se de escolher o meacutetodo que mais se ade-qua ao contexto Neste sentido pode-se dizer que eacute um meacutetodo de trabalho dinacircmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgecircncia

CONCLUSAtildeO

De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes aacute metodologia de trabalho de equipa em enfermagem Numa oacuteptica pessoal e reflectindo sobre a praacutetica foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa

bull possibilidade de mobilizaccedilatildeo de recursos huma-nos para um cuidar mais personalizado e adap-tado

bull metodologia que potencia a reflexatildeo e a parti-lha de experiecircncias

bull vertente facilitadora na integraccedilatildeo de novos profissionais de enfermagem

bull responsaacutevel de equipa com outras funccedilotildees atri-buiacutedas como geradora de sentimentos negati-vos

bull experiecircncia profissional enquanto criteacuterio de es-colha de responsaacutevel de equipa

bull vantagem em reuniotildees inter equipas

bull estaacutedios de desenvolvimento da equipa como influecircncia na dinacircmica da equipa

Pode-se referir que encontro pa-ralelismo entre a pesquisa biblio-graacutefica e a minha vivecircncia pessoal na metodologia de trabalho em equipa Conside-ro que eacute meacutetodo mais adaptado ao contexto em con-creto porque per-mite uma melhor prestaccedilatildeo quer na oacuteptica do utente quer na oacuteptica dos enfermeiros

Por fim importa natildeo esquecer que ldquotrabalhar em equipa signifi-ca que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de sauacutede exercendo a sua autonomia profissional mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependecircnciardquo (FONTES 2000 p20)

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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
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PUBLICACcedilOtildeES SINAIS VITAISDedicaccedilatildeo agrave Enfermagem

EDICcedilOtildeES REVISTA SINAIS VITAIS REVISTA DE INVESTIGACcedilAtildeO NEWSLETTER DIGITAL

VIOLEcircNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVICcedilO DE URGEcircNCIA

ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010

DORA ALEXANDRA LEAL COELHOLicenciada em Enfermagem

MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem

JOSEacute CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Meacutedico-Ciruacutergica Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMOO Serviccedilo de Urgecircncia eacute uma unidade onde a pre-disposiccedilatildeo para a violecircncia no local de trabalho eacute geralmente maior tanto a niacutevel nacional como internacional Esta pode ser de origem fiacutesica ou ldquonatildeo-fiacutesicardquo e os seus autores satildeo normalmente pacientes acompanhantes eou visitantes Eacute por isso fundamental a adopccedilatildeo de medidas de pre-venccedilatildeo e de intervenccedilatildeo com o objectivo de redu-zir actos de violecircncia O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos pro-duzidos sobre esta temaacutetica

Palavras-Chave Violecircncia enfermeiros urgecircncia

ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher as at national as at international level It can be physical or ldquonon-physicalrdquo and his authors are usually patients andor visitors So itrsquos important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts This ar-ticle intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic

Keywords Violence nurses emergency

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

BIBLIOGRAFIAAMARAL M GONCcedilALVES R NUNES L ndash Coacutedigo Deontoloacutegico do Enfermeiro dos Comentaacuterios agrave Anaacutelise de Casos Lisboa Ordem dos Enfermeiros 2006 456 p ISBN 972-99646-0-2

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

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  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 21: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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INTRODUCcedilAtildeOA violecircncia no local de trabalho contra os profis-sionais de sauacutede e em particular contra os en-fermeiros natildeo eacute um fenoacutemeno novo apesar de ser pouco estudado em Portugal Este fenoacutemeno apenas foi recentemente reconhecido como uma seacuteria ameaccedila nos serviccedilos de sauacutede a qual impotildee uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizaccedilotildees Segundo o Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede (2007) ldquoA violecircncia contra profissionais de sauacutede no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal assim como no mundordquo pelo que a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) a conside-rou como um problema de sauacutede puacuteblica

Aleacutem do mais eacute do conhecimento geral que ldquoos enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocio-nalmente no trabalho em comparaccedilatildeo com ou-tros profissionais de sauacutederdquo (Review and Evalua-tion of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector 2008)

O presente artigo pretende fazer uma revisatildeo dos principais documentos produzidos sobre esta te-maacutetica a niacutevel nacional e internacional

VIOLEcircNCIA NO LOCAL DE TRABALHOEntende-se por violecircncia no local de trabalho ldquoqualquer acto contra um funcionaacuterio que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negati-vamente o trabalhador seja fiacutesica ou psicologica-menterdquo (Matchulat apud Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacutedios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacutede 2007) Conclui-se portanto que este tipo de violecircncia traduz-se natildeo soacute em violecircncia fiacutesica mas tambeacutem em violecircncia ldquonatildeo-fiacutesicardquo ca-racterizada por agressatildeo verbal pressatildeo moral ameaccedilas discriminaccedilatildeo racial e sexual e violecircncia contra propriedade

A violecircncia no local de trabalho tem ldquoconsequecircn-cias graves e duradouras a niacutevel individual institu-cional e socialrdquo (idem) colocando em causa a sauacute-de fiacutesica e mental das viacutetimas prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuida-dos prestados e afectando a sua imagem social

A California Division of Occupational Safety and Health citada por Contrera-Moreno e Contrera-

-Moreno (2004) atribuiu uma classificaccedilatildeo da violecircncia no trabalho contra os profissionais de sauacutede quanto agrave sua origem a qual hoje em dia eacute

bull Violecircncia externa realizada por pessoas exter-nas agrave organizaccedilatildeo com intenccedilatildeo criminosa

bull Violecircncia por iniciativa do cliente iniciado por doentes ou pelos seus familiares

bull Violecircncia horizontal ou interna cujos autores satildeo colegas de trabalho supervisores ou outros profissionais de sauacutede

O Relatoacuterio Resumido de 2004 da Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento e Cooperaccedilatildeo Garcia DrsquoOrta (AGO) sobre a ldquoViolecircncia contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalhordquo classifica a vio-lecircncia no local de trabalho da seguinte forma

bull Violecircncia fiacutesica uso de forccedila fiacutesica contra ou-tra pessoa ou grupo que resulta em dano fiacutesico sexual ou psicoloacutegico (bater pontapear esbofe-tear etc)

bull Violecircncia psicoloacutegica uso intencional de poder incluindo ameaccedila de uso de forccedila fiacutesica eou institucional contra outra pessoa ou grupo re-sultando em dano fiacutesico mental espiritual mo-ral ou social (insultos pressatildeo moral asseacutedio) A violecircncia psicoloacutegica divide-se ainda em ame-accedilaagressatildeo verbal pressatildeo verbal asseacutedio se-xual e discriminaccedilatildeo

ORIGEM DA VIOLEcircNCIA NOS LOCAIS DE TRA-BALHO

ldquoEm Enfermagem enquanto as fontes primaacute-rias de agressotildees verbais e fiacutesicas e assaltos satildeo mais comuns em doentes e familiaresvisitantes a violecircncia horizontal realizada por colegas de trabalho e meacutedicos satildeo a maior fonte de violecircn-cia laquonatildeo-fiacutesicaraquo responsaacutevel por mais de metade dos abusos emocionais e verbaisrdquo (Hesketh et al apud Review and Evaluation of Workplace Vio-lence Prevention Programs in the Health Sector 2008) ldquoA violecircncia laquonatildeo-fiacutesicaraquo eacute de longe mais prevalente que a violecircncia fiacutesica e eacute mais provaacute-vel que ocorra a um profissional de sauacutede ou pro-fissionais de outros sectores de sauacutede do que a outros profissionais de outros sectoresrdquo (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008)

A violecircncia sobre os profissio-nais de sauacutede pode surgir em qualquer ambiente de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede no entan-to o National Institute for Occu-pational Safety and Health (NIO-SH 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposiccedilatildeo para estes casos sendo o serviccedilo de urgecircncias (SU) um deles

ldquoA acessibilidade 24 horas por dia dos SU a falta de seguranccedilas adequadamente treinados ar-mados ou visiacuteveis e um ambien-te altamente stressante satildeo al-gumas das razotildees que justificam a especial vulnerabilidade para a violecircncia nos SU A esmagadora maioria dos autores de violecircn-cia no serviccedilo de urgecircncia satildeo os pacientes os familiares e os visitantesrdquo (Kowalenko T et al apud Boyett L et al 2009) ldquoA dor e o desconforto assim como a tensatildeo stress e a fuacuteria dos pa-cientes membros da famiacutelia e vi-sitantes satildeo frequentemente in-tensificados pelo espaccedilo limita-do falta de privacidade e longos periacuteodos de esperardquo (McPhaul K e Lipscomb J apud Boyett L et al 2009) resultando em frustra-ccedilatildeo e vulnerabilidade que pode-ratildeo incitar o abuso fiacutesico e verbal sobre os profissionais dos servi-ccedilos de urgecircncia em particular os enfermeiros Pacientes com alguns tipos de intoxicaccedilatildeo (ex intoxicaccedilatildeo etiacutelica) devido agrave al-teraccedilatildeo do seu estado de consci-ecircncia poderatildeo apresentar maior predisposiccedilatildeo para iniciar um quadro de violecircncia sobre estes profissionais

Relativamente agrave violecircncia horizontal isto eacute entre os profissionais de sauacutede esta segundo a Ameri-can Nurses Association (ANA) poderaacute surgir por di-versos motivos entre os quais o burnout a eleva-

da carga de trabalho a diminuiccedilatildeo da realizaccedilatildeo pessoal a fadiga e exaustatildeo emocional

A percepccedilatildeo da carecircncia de apoio institucional eacute o factor chave da insatisfaccedilatildeo sentida pelos en-fermeiros resultando em niacuteveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis-

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

BIBLIOGRAFIAAMARAL M GONCcedilALVES R NUNES L ndash Coacutedigo Deontoloacutegico do Enfermeiro dos Comentaacuterios agrave Anaacutelise de Casos Lisboa Ordem dos Enfermeiros 2006 456 p ISBN 972-99646-0-2

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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GESTAtildeO | LIDERANCcedilA GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 22: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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tente promessas incumpridas para melhorar a seguranccedila dos locais de trabalho preocupaccedilotildees ignoradas educaccedilatildeo e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem dos meacutedicos e dos administradores apoacutes um inci-dente violento

PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO

A ANA em 2002 considera a existecircncia de trecircs factores de risco principais associados agrave violecircncia sobre os profissionais de sauacutede e em particular sobre os enfermeiros no seu local de trabalho ambiente praacuteticas de trabalho e caracteriacutesticas das viacutetimas e autores

bull Ambiente associado agrave violecircncia pela presenccedila de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento cliacutenico nos SU pela movimenta-ccedilatildeo sem restriccedilotildees de pessoas estranhas agrave instituiccedilatildeo e familiares perturbados presen-ccedila de membros de gangues alcooacutelicos ou to-xicodependentes aacutereas de estacionamento pouco iluminadas doentes traumatizados e familiares perturbados

bull Praacuteticas de trabalho associadas a longos pe-riacuteodos de espera no SU aos poucos profis-sionais de sauacutede para o volume de trabalho existente ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnoacutestico ou de tratamento e agrave falta de pessoal qualifica-do e treinado no reconhecimento e gestatildeo de comportamentos agressivos

bull Caracteriacutesticas das vitimas e dos autores as viacutetimas satildeo frequentemente enfermeiros sem treino nesta aacuterea ou jovens com pouca experiecircncia profissional os autores tecircm ha-bitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnoacutestico de psicoses de-mecircncia ou entatildeo satildeo utilizadores de substacircn-cias iliacutecitas

O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existecircncia de factores de risco comuns a todas as unidades de sauacutede destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instaacutevel (influecircncia de drogas e aacutelcool ou historial de vio-lecircncia ou patologias psiquiaacutetricas) a existecircncia de poucos profissionais disponiacuteveis para o volume de trabalho existente periacuteodos de espera prolonga-

dos em salas de espera sobrelotadas e desconfor-taacuteveis a falta de pessoal treinado e poliacutecia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas a movimentaccedilatildeo de pessoas em aacutereas natildeo restri-tas e aacutereas mal iluminadas

MEDIDAS DE PREVENCcedilAtildeO

As agressotildees verificadas nos SU continuam a ser um seacuterio problema pelo que a aplicaccedilatildeo de me-didas preventivas e intervenccedilotildees satildeo urgentes Uma parte significativa das agressotildees no local de trabalho eacute preveniacutevel pelo que ldquoUm programa de prevenccedilatildeo da violecircncia forte e compreensivo re-quer uma abordagem interdisciplinar com objec-tivos claros e adequados ao tamanho e complexi-dade do local de trabalhordquo (Occupational Safety and Health Act apud Boyett L et al 2009)

O Plano Nacional de Sauacutede 2004-2010 (PNS) reco-nhece a violecircncia no local de trabalho como ldquoum problema de elevada relevacircnciardquo afirmando ain-da que ldquoA violecircncia eacute mais frequente contra enfer-meiros pessoal administrativo e cliacutenicos geraisrdquo Perante este facto foram propostas medidas de promoccedilatildeo de combate agrave violecircncia enfatizando a prevenccedilatildeo e uma poliacutetica de toleracircncia zero A DGS propotildee entatildeo uma intervenccedilatildeo global com diversas medidas

bull Macro incluem medidas sociais poliacuteticas e le-gais pelo que foi criado um Observatoacuterio Na-cional da Violecircncia Contra os Profissionais de Sauacutede no Local de Trabalho onde satildeo regista-dos on-line todos os episoacutedios de violecircncia con-tra estes profissionais

bull Meso normativas com linhas orientadoras para dirigentes profissionais de sauacutede e utentes re-alccedilando as condiccedilotildees de trabalho e de acesso aos serviccedilos de sauacutede

bull Micro procedimentos de seguranccedila mecanis-mos de notificaccedilatildeo de incidentes formaccedilatildeo em comunicaccedilatildeo e resoluccedilatildeo de conflitos etc

A DGS defende que ldquocada episoacutedio de violecircncia deve ser abordado como um episoacutedio de elevada relevacircncia o qual () deve ser registado sofrer uma avaliaccedilatildeo profunda e conduzir agrave tomada das medidas necessaacuterias para que assim possa ser contornadordquo (Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo dos Episoacute-dios de Violecircncia contra os Profissionais de Sauacute-

de 2007) No entanto o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 15 dos casos de violecircncia satildeo oficialmente reportados (Brurgeois et al apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sec-tor 2008) Segundo o relatoacuterio portuguecircs da DGS apenas 35 episoacutedios de violecircncia foram comuni-cados agrave DGS nesse ano confirmando os escassos nuacutemeros mencionados pelo ICN

Os principais motivos que justificam estes escas-sos nuacutemeros relativos agraves queixas por actos de vio-lecircncia incluem o medo de repercussotildees se a acccedilatildeo legal prosseguir a toleracircncia da violecircncia no local de trabalho num ambiente de prestaccedilatildeo de cui-dados a percepccedilatildeo da violecircncia como fazendo ldquoparte do trabalhordquo a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepccedilatildeo de incompetecircncia por ser incapaz de lidar com um cliente violento

Os actos violentos a que os profissionais de sauacute-de e em particular os enfermeiros estatildeo sujeitos trazem consigo consequecircncias que natildeo podem ser descuradas A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evi-denciaram como as principais consequecircncias des-tes actos sobre os enfermeiros lesotildees fiacutesicas trau-ma psicoloacutegico stress emocional e ansiedade baixa auto-estima Siacutendrome de Stress Poacutes-Traumaacutetico sentimentos de incompetecircncia culpa e fraqueza medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri-

ticado pelos superiores falta de confianccedila nas suas competecircncias alteraccedilatildeo na relaccedilatildeo com os colegas de trabalho impacto na vida pessoal (actividades de vida questotildees emocionais e econoacutemicas) etc

ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS

Em Portugal em termos legais o direito agrave ldquonatildeo--violecircnciardquo encontra-se consignado na Constitui-ccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa tendo como princiacute-pios fundamentais

bull Princiacutepio da igualdade ldquoTodos os cidadatildeos tecircm a mesma dignidade social e satildeo iguais peran-te a leirdquo (Art 13ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito de Resistecircncia ldquoTodos tecircm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos liberdades e garantias e de repelir pela forccedila qualquer agressatildeo quando natildeo seja pos-siacutevel recorrer agrave autoridade puacuteblicardquo (Art 21ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

bull Direito agrave Integridade Pessoal ldquoA integridade moral e fiacutesica das pessoas eacute inviolaacutevelrdquo e ldquoNin-gueacutem pode ser submetido a tortura nem a maus-tratos ou penas crueacuteis degradantes ou desumanosrdquo (nuacutemeros 1 e 2 do Art 25ordm da Cons-tituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa)

Na seguinte tabela retirada do Relatoacuterio Resumi-do da AGO (2002) com o tema ldquoViolecircncia contra os

Tipos de violecircncia Tipificaccedilatildeo no Coacutedigo Penal Tipo de crime

Fiacutesica

bullOfensa agrave integridade fiacutesica simplesbullOfensa agrave integridade fiacutesica gravebullAgravaccedilatildeo pelo resultadobullOfensa agrave integridade fiacutesica qualificadabullOfensa agrave integridade fiacutesica por

negligecircncia

bull Particularbull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Puacuteblicobull Particular

DiscriminaccedilatildeoAmeaccedilaAgressatildeo verbal

bull Ameaccedila bull Particular

Pressatildeo moral bull Coacccedilatildeo bull Particular

Asseacutedio sexual bull Coacccedilatildeo sexual bull Particular

Ameaccedilaagressatildeo verbalbull Difamaccedilatildeo Injuacuteriabull Publicidade e caluacutenia

bull Particular

Tabela 1 Tipificaccedilatildeo legal da violecircncia em Portugal

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

BIBLIOGRAFIAAMARAL M GONCcedilALVES R NUNES L ndash Coacutedigo Deontoloacutegico do Enfermeiro dos Comentaacuterios agrave Anaacutelise de Casos Lisboa Ordem dos Enfermeiros 2006 456 p ISBN 972-99646-0-2

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CONTRERA-MORENO L e CONTRERA-MORENO M ndash Violecircncia no trabalho em enfermagem um novo risco ocupacional Revista Brasilei-ra de Enfermagem [em linha] Vol 57 nordm 6 (2004) p 1 [Consult 29 Abril 2010] Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfrebenv57n6a24pdf

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 23: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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profissionais de sauacutede no local de trabalhordquo encon-tra-se descrita a tipificaccedilatildeo legal dos diferentes tipos de violecircncia

Como podemos observar na tabela existem cri-mes puacuteblicos em que o Estado tem obrigaccedilatildeo de investigar independentemente de haver queixa ou natildeo e crimes particulares onde o Estado deixa nas matildeos dos afectados quererem ou natildeo sub-meter o agressor a julgamento Neste uacuteltimos crimes a submissatildeo do arguido a julgamento de-pende de trecircs condiccedilotildees cumulativas

bull Queixa junto do Ministeacuterio Puacuteblico (MP) ou das autoridades policiais

bull Constituiccedilatildeo de assistente (eacute obrigatoacuteria a consti-tuiccedilatildeo de advogado) ndash eacute o estatuto processual que permite avanccedilar com o processo contra determina-do arguido nestes crimes de natureza particular

bull Acusaccedilatildeo particular isto eacute finda a fase de in-vestigaccedilatildeo do crime pelo MP (apoacutes a queixa pelo ofendido) a pessoa eacute notificada para deduzir a acusaccedilatildeo particular contra o arguido

ASPECTOS EacuteTICOS

Tal como afirma o ponto nordm 1 do Artigo 78ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico a relaccedilatildeo entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princiacutepios e valores ndash a dignidade humana eacute o verdadeiro pi-lar do qual decorrem os outros princiacutepios e que tem de estar presente de forma inequiacutevoca em todas as decisotildees e intervenccedilotildees

Como estaacute previsto no Coacutedigo Deontoloacutegico Ar-tigo 76ordm - Deveres em Geral aliacutenea f) os mem-bros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE) estatildeo obrigados a ldquoContribuir para a dignificaccedilatildeo da profissatildeordquo mesmo que sejam obrigados a ldquoco-municar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissatildeo ou a sauacutede dos indiviacuteduos ou sejam susceptiacuteveis de violar as normas legais do exerciacutecio da profis-satildeordquo (Artigo 76ordm aliacutenea i)

Segundo o Parecer CJ-482002 referido no Coacutedi-go Deontoloacutegico o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados agrave pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal Contudo a dignidade e os di-reitos do doente exigem que o exerciacutecio dos di-reitos profissionais natildeo coloquem em risco a vida dele pelo que quando necessaacuterio o enfermeiro

em questatildeo deveraacute diligenciar no sentido de o doente natildeo ficar sem assistecircncia comunicando a sua decisatildeo Em caso de desrespeito da sua digni-dade o enfermeiro como membro efectivo da OE tem o direito de ldquosolicitar a intervenccedilatildeo da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissio-nais para garantia da sua dignidade e da quali-dade dos serviccedilos de enfermagemrdquo (Artigo 75ordm - Direitos dos Membros aliacutenea j))

O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores humanos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos (Artigo 81ordm do Coacutedigo Deontoloacutegico) mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo espe-ra que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

Se o utente tem o direito de ser atendido com qua-lidade tambeacutem o profissional de sauacutede tem o di-reito de natildeo ser lesado na sua dignidade por com-portamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade Segundo o artigo 78ordm anteriormen-te citado o enfermeiro tem o direito de ldquousufruir de condiccedilotildees de trabalho que garantam o respei-to pela deontologia da profissatildeo e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidaderdquo

Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (in-cluiacuteda no Coacutedigo Deontoloacutegico dos Enfermeiros) satildeo atribuiacutedos direitos especiacuteficos aos doentes mas tambeacutem deveres entre os quais estaacute o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de sauacutede

NOTA FINAL

As consequecircncias resultantes da violecircncia no lo-cal de trabalho satildeo vaacuterias e incidem sobre a di-mensatildeo fiacutesica psiacutequica e social

Existem diversos mecanismos legais que possibili-tam uma actuaccedilatildeo perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho depen-dendo apenas da apresentaccedilatildeo de uma queixa formal por parte destes

A niacutevel eacutetico haacute que salientar que a dignidade hu-mana eacute o verdadeiro pilar de todos os princiacutepios O enfermeiro no seu exerciacutecio observa os valores hu-manos pelos quais se regem os indiviacuteduos e os grupos mas enquanto indiviacuteduo e membro de um grupo es-pera que os seus valores tambeacutem sejam respeitados

A violecircncia sobre os enfermeiros em particular nos SU comeccedila a ser reconhecida como um gra-

ve problema sobre o qual eacute fundamental actuar quer a niacutevel preventivo quer a niacutevel interventi-vo pois natildeo eacute algo que ldquofaccedila parte do trabalhordquo do enfermeiro

A notificaccedilatildeo pronta de qualquer caso de violecircn-cia eacute crucial para conhecermos a real dimensatildeo do problema e simultaneamente contribuirmos para a dignificaccedilatildeo da nossa profissatildeo

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 24: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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A COMUNICACcedilAtildeO COM O DOENTE VENTILADO

ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011

CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem

DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem

PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

RESUMO

Os doentes que se encontram ventilados meca-nicamente apresentam alteraccedilotildees ao niacutevel da comunicaccedilatildeo verbal natildeo soacute devido agrave presenccedila da proacutetese ventilatoacuteria mas tambeacutem a todo o ambiente envolvente e ao seu estado cliacutenico Os objectivos deste trabalho satildeo conhecer as dificul-dades de comunicaccedilatildeo dos doentes conscientes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica internados nas unidades de cuidados intensivos identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estrateacutegiasmeios para co-municar eficazmente com os mesmos

Como metodologia utilizada foi realizada uma re-visatildeo da literatura acerca da temaacutetica usando ba-ses de dados cientiacuteficas da aacuterea da sauacutede como a b-on EBSCO e Scholar Google Dessa pesquisa bi-bliograacutefica e utilizando como descritores as pala-vras ldquocommunicationrdquo e ldquoventilated patientsrdquo fo-ram encontrados vaacuterios artigos dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os criteacuterios de exclusatildeo) para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo

As principais conclusotildees deste trabalho foram a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comu-nicar os meacutetodos e estrateacutegias mais utilizados com este tipo de doentes satildeo acenos de cabeccedila

gestos piscar de olhos escrita (quadro maacutegico e comunicador de teclas) e miacutemica labial e os sen-timentos que estatildeo associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar ver-balmente satildeo a frustraccedilatildeo ansiedade confusatildeo dorsofrimentos raiva e horror

Palavras-chave Comunicaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo em Enfermagem Ventilaccedilatildeo mecacircnica Doente ven-tilado Cuidados Intensivos

ABSTRACT

Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal commu-nication not only because of the presence of the ventilatory prostheses but also due to the situation of their clinical condition The purpose of this paper is to study and reach a better un-derstanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation while admitted to the Intensive care units iden-tity the concerns thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles and learn the main strategies and means for nurses to reach them

For methodology we consulted a brochure on the subject using scientific health data bases such as b-on EBSCO and Scholar Google From that research and using search terms as ldquocommuni-cationrdquo and ldquoventilated patientsrdquo several articles came up from which only 9 were used (in accord-ance with the exclusion criteria) in this revision

The main conclusions of this work were as such Most ventilated patients find it difficult to com-municate the methods and strategies more com-monly used are nodding gesture blinking writ-ing (magic board and keypads) and libmimic The feelings associated with being unable to com-municate verbally are mostly frustration anxiety confusion painsuffering anger and horror

Keywords Communication Nursing Commu-nication Mechanical ventilation Ventilated pa-tient Intensive Caring

INTRODUCcedilAtildeO

A comunicaccedilatildeo eacute o processo de transmissatildeo de mensagens e interpretaccedilatildeo do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)) Em enfermagem a mesma eacute uma competecircncia adquirida atraveacutes de estudo e diligecircncia e assu-me particular importacircncia pois impulsiona a in-teracccedilatildeo e o contacto entre enfermeiroutente e permite a cooperaccedilatildeo entre todos os elementos da equipa de sauacutede

Satildeo vaacuterias as situaccedilotildees que potildee agrave prova as nossas capacidades de tomada de decisatildeo e que impli-cam uma utilizaccedilatildeo atenta de teacutecnicas terapecircuti-cas Uma dessas preocupaccedilotildeessituaccedilotildees no con-texto da nossa praacutetica profissional prende-se com a comunicaccedilatildeo com a pessoa ventilada

O facto de uma pessoa conectada a uma proacutetese ventilatoacuteria mesmo que consciente natildeo conse-guir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares pode constituir uma fonte de sentimentos negativos tais como a ansiedade a frustraccedilatildeo e a inseguranccedila que acabam por difi-cultar a rapidez da sua recuperaccedilatildeo

O enfermeiro deve estar atento para a identifi-caccedilatildeo tatildeo raacutepida quanto possiacutevel dos problemas potenciais do doente para os quais tem compe-tecircncia para avaliar planear e implementar inter-venccedilotildees que contribuam para evitar esses mes-mos problemas ou minimizar-lhes os efeitos in-desejaacuteveis (Ordem dos enfermeiros 2002)

VENTILACcedilAtildeO MECAcircNICA

Segundo Agrelo et al (2008) a ventilaccedilatildeo mecacircni-ca eacute todo o procedimento de respiraccedilatildeo artificial que envolve um aparelho mecacircnico para substi-tuir a funccedilatildeo respiratoacuteria do ser humano poden-do esta melhorar a oxigenaccedilatildeo e influenciando a mecacircnica pulmonar

A anestesia eacute a situaccedilatildeo de uso mais frequente de ventilaccedilatildeo artificial O uso da mesma eacute essencial quando envolve a anestesia inalatoacuteria profunda durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto ciruacutergico exclui a possibilidade de manter a ventilaccedilatildeo espontacircnea tais como proce-dimentos cardiacuteacos e toracopulmonares

A correcta compreensatildeo das teacutecnicas ventilatoacute-rias eacute fundamental para a escolha do modo apro-

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

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Page 25: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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priado de ventilaccedilatildeo para cada situaccedilatildeo uma vez que a ventilaccedilatildeo mecacircnica inapropriada pode provocar seacuterias lesotildees pulmonares tatildeo ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso

As modalidades ventilatoacuterias consistem numa re-laccedilatildeo entre o volume e a pressatildeo Existem 4 gran-des modos ventilatoacuterios Ventilaccedilatildeo Controlada Ventilaccedilatildeo Assistida Ventilaccedilatildeo assistida-contro-lada e Ventilaccedilatildeo mandatoacuteria intermitente

O doente em unidades de Cuidados Intensivos

As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) satildeo um contexto especiacutefico de prestaccedilatildeo de cuidados de sauacutede Diferenciam-se dos outros serviccedilos pela sofisticada tecnologia de monitorizaccedilatildeo e de in-tervenccedilatildeo terapecircutica pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado cliacutenico dos doentes que aiacute se encontram internados

Segundo Saacute (1999) o doente em unidade de cui-dados intensivos eacute rodeado por uma imensidatildeo de estiacutemulos sensoacuterio-perceptivos que o lanccedilam num mundo desconhecido e penoso que o faz so-frer Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheccedilam devidamente os doentes e aqui a comunicaccedilatildeo assume um papel funda-mental pois eacute atraveacutes dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e daacute a conhecer as suas ne-cessidades (Gomes et al 2006)

OPTIMIZACcedilAtildeO DA COMUNICACcedilAtildeO COM A PES-

SOA VENTILADA

O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estra-teacutegias para estabelecer uma comunicaccedilatildeo eficaz com os doentes diminuindo assim o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicaccedilatildeo com o exterior nomeadamente exprimir as suas emo-ccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades uma vez que natildeo podem fazecirc-lo pela via habitual A comunicaccedilatildeo natildeo verbal nesta situaccedilatildeo assume um papel imprescindiacutevel na relaccedilatildeo interpessoal enfermeirodoente

Inicialmente em situaccedilotildees que seja possiacutevel eacute im-portante estabelecer um sistema alternativo de comunicaccedilatildeo antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente Algumas das interven-ccedilotildees possiacuteveis passam por explicar a razatildeo do in-

ternamento utilizando uma linguagem simples ao doentefamiacutelia explicar a utilidade do equi-pamento que o envolve fazendo demonstraccedilotildees apresentar a equipa descrever os procedimentos a que seraacute sujeito no imediato e posteriormente (ex entubaccedilatildeo endotraqueal) e envolver a famiacutelia no processo de cuidar incentivando-a a comuni-car com o mesmo

Agrave posteriori vaacuterias satildeo as estrateacutegias que se po-dem adoptar estas vatildeo desde

bull Miacutemica labial

bull Tentativa e erro

bull Tentativa por letras

bull Estabelecer coacutedigos natildeo linguiacutesticos uniformes a todos os elementos da equipa

bull Fornecer material para que o doente se exprima atraveacutes de linguagem escrita

bull Utilizar cartotildees com desenhos referentes a ne-cessidadesactividades que o doente possa que-rer satisfazer ou tabela com as frases mais fre-quentes do mesmo

bull Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutiacuteferas

Apesar de todas estas teacutecnicas serem bastante uacuteteis torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situaccedilotildees jaacute que eacute necessaacuterio que seja este a ldquodar o primeiro passordquo no processo de comuni-caccedilatildeo mostrando uma atitude de disponibilida-de interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados

Phaneuf (2005) refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicaccedilatildeo natildeo verbal e que iremos descrever de seguida

- Postura e atitudes corporais

Ex A orientaccedilatildeo do corpo traduz a nossa atenccedilatildeo

bull Evitar braccedilos cruzados matildeos na cintura e matildeos nos bolsos

- Gestos

Ex O tamborilar dos dedos o batimento de per-nas o morder dos laacutebios o mexer no cabelo de-monstram inibiccedilatildeo

- Contacto visual

Ex Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo po-dem transmitir falta de interesse ou inibiccedilatildeo

- Expressatildeo facial

Ex Os traccedilos e a miacutemica facial podem ser reve-ladores de compreensatildeo interesse indiferenccedila aborrecimento e irritaccedilatildeo

bull O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponiacuteveis

- Voz

Ex O tom de voz demasiado elevado do Enfermei-ro poderaacute ser sentido como agressivo e o dema-siado baixo pode transmitir inibiccedilatildeo

bull O tom seguro da voz eacute sinoacutenimo de autocon-fianccedila e da auto-afirmaccedilatildeo

- Silecircncio

Ex O silecircncio pode dar tempo agrave pessoa para pen-sar no que sente na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupaccedilotildees ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas proacute-prias preocupaccedilotildees e observar as mensagens natildeo verbais que o doente possa estar a transmitir

- Toque

Ex O toque pode levar a pessoa a ficar mais aten-ta e a valorizar a interacccedilatildeo vendo no enfermeiro algueacutem presente prestaacutevel e preocupado

Assim apesar do doente ventilado natildeo comunicar atraveacutes da voz existem outras formas do mesmo comunicar sendo entatildeo o enfermeiro a ldquopeccedila--chaverdquo neste processo de comunicaccedilatildeo

METODOLOGIA

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho foi feita pesqui-sa bibliograacutefica em bases de dados cientiacuteficas na aacuterea da sauacutede como EBSCO b-on e Scholar Goo-gle Nessas bases foram pesquisados artigos de investigaccedilatildeo acerca da temaacutetica do nosso traba-lho de forma a responder agraves nossas questotildees de pesquisa ldquoQuais as principais estrateacutegiasmeacuteto-dos utilizados no processo de comunicaccedilatildeo com o doente ventilado e conscienterdquo e ldquoQuais os senti-mentos vivenciados pelos doentes com ventilaccedilatildeo assistida mecanicamente com impossibilidade de comunicar verbalmenterdquo

Da pesquisa bibliograacutefica realizada nas bases de dados acima referidas encontramos 683 artigos sobre a temaacutetica em causa utilizando os descri-tores ldquoCommunicationrdquo e ldquoVentilated patientsrdquo tendo sido apenas seleccionados trinta e dois Atraveacutes da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos criteacuterios de exclusatildeo (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990) o seu conteuacutedo jaacute que muitos natildeo estavam direc-tamente relacionados com a nossa aacuterea temaacuteti-ca natildeo dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns natildeo serem artigos de investigaccedilatildeo cientiacutefica) seleccionamos apenas nove

De seguida seratildeo apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados para posterior discus-satildeo dos mesmos

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RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

DEZ

EMBR

O 2

012

GESTAtildeO | LIDERANCcedilA GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 26: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

50 51

RESULTADOS

Autor Tiacutetulo Metodologia Principais resultadosConclusotildees

Connoly M 1992

ldquoTemporaly nonvocal trauma patients and their gestures a

descriptive studyrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQuantitativo

Os meacutetodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de sauacutede foram acenos de cabeccedila (34) gestos com os dedos (23) gestos convencionais (29) e piscar de olhos (34)

Menzel1994

ldquoCommunication ndash Related responses of ventilated

patientsrdquo

Estudo descritivo

correlacionalQuantitativo

- A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar- A maioria sente maior dificuldade em comunicar com a famiacutelia- Os doentes que estatildeo incapacitados de falar devido a ventilaccedilatildeo mecacircnica possuem sentimentos de raiva e de horror- Os gestos satildeo o meacutetodo alternativo agrave comunicaccedilatildeo mais utilizado seguido da escrita miacutemica labial expressotildees faciais e acenos de cabeccedila O quadro alfabeacutetico e o quadro de comunicaccedilatildeo satildeo os meacutetodos menos usuais

Dobbin et al2004

ldquoCommunication ability method and content among nonspeaking nonsurviving

patients treated with mechanical ventilation in the

intensive care unitrdquo

Estudo descritivo e

retrospectiveQuantitativo

- 72 Dos doentes submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica conseguiram estabelecer alguns episoacutedios de comunicaccedilatildeo principalmente atraveacutes de acenos de cabeccedila miacutemica labial gestos e escrita- Natildeo foram encontradas diferenccedilas estatisticamente significativas no que diz respeito ao meacutetodo e ao conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos e analgeacutesicos

Ho Siew et al2008

ldquoRecollections expressed by mechanically ventilated

patients of Intensive Care Unit Hospital University Kebangsaan

Malaysia (HUKM)rdquo

Estudo exploratoacuterioQuantitativo

- 69 Relataram experiecircncias assustadoras devido haacute presenccedila de proacutetese ventilatoacuteria e durante a entubaccedilatildeo- Os doentes vivenciam altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades atraveacutes da comunicaccedilatildeo- Apesar de estarem sedados os doentes tecircm noccedilatildeo de todos os acontecimentos desagradaacuteveis na Unidade onde estatildeo internados

Hartelius Laakso e

Markstrom 2009

ldquoCommunication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilationrdquo

Estudo Descritivo

Quantitativo

- A percepccedilatildeo do discurso estaacute diminuiacuteda nos doentes que recebem ventilaccedilatildeo mecacircnica em casa- Os mesmos indiviacuteduos tecircm elevados niacuteveis de disfunccedilatildeo na sua comunicaccedilatildeo- A comunicaccedilatildeo eacute uma das necessidades humanas baacutesicas mais afectadas pela ventilaccedilatildeo mecacircnica

Silva Souza e Tavares

2007

ldquoComunicaccedilatildeo Enfermeira e paciente na Unidade de

Tratamento Intensivordquo

Estudo Descritivo

Qualitativo

- Devido agrave condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilaccedilatildeo mecacircnica fraqueza muscular e contenccedilatildeo fiacutesica que o impede de recorrer agrave escrita alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixa ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico) a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes- A duraccedilatildeo do contacto com o doente eacute um importante meio para estabelecer comunicaccedilatildeo com ele- As Enfermeiras mostram disposiccedilatildeo para observar cuidadosamente o doente o que facilita o processo de comunicaccedilatildeo entre ambos

Rosaacuterio2009

ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados

Intensivosrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioQualitativo

- A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a famiacutelia e com todos os profissionais de sauacutede- A principal barreira humana foi o facto de natildeo ser compreendido pelos profissionais de sauacutede e o desconhecimento do motivo porque natildeo falava- A principal alternativa agrave comunicaccedilatildeo verbal foi a utilizaccedilatildeo da escrita e dos gestos seguido da miacutemica labial e por uacuteltimo do quadro magneacutetico com o alfabeto- Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotecircncia medo e ansiedade- Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusatildeo dorsofrimento mas de seguranccedila aquando da presenccedila de profissionais de sauacutede

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 27: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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Berg et al2004

ldquoPatients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilationrdquo

Estudo descritivo

Estudo Misto

- 62 Dos doentes demonstraram elevados niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar com os profissionais de sauacutede enquanto ventilados mecanicamente- 79 Dos doentes aos quais foram administrados sedativos demonstraram um menor niacutevel de frustraccedilatildeo do que aqueles a quem natildeo foram administrados tais faacutermacos

Berg et al 2006

ldquoCommunication boards in critical care patientrsquos viewsrdquo

Estudo descritivo e exploratoacuterioEstudo Misto

- A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilaccedilatildeo mecacircnica experienciaram altos niacuteveis de frustraccedilatildeo quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas- Os niacuteveis de frustraccedilatildeo dos doentes eram mais baixos se utilizassem um quadro para escrever

DISCUSSAtildeO

Apoacutes a anaacutelise dos resultados obtidos nos diferen-tes artigos cientiacuteficos foram vaacuterias as conclusotildees a que podemos chegar sobre a problemaacutetica em causa de modo a conseguirmos dar resposta agraves nossas questotildees de pesquisa

Segundo Machado e Saacute (2006 p31) ldquoUm dos prin-cipais factores de stress para um doente submetido a ventilaccedilatildeo mecacircnica eacute o compromisso da comunica-ccedilatildeo verbal Natildeo soacute pelo facto de ser difiacutecil expressar-se como tambeacutem ser compreendido por parte dos pro-fissionais de sauacutederdquo Esta afirmaccedilatildeo vai ao encon-tro dos resultados obtidos pela autora do artigo ldquoComunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivosrdquo que conclui que a maioria dos doen-tes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo que satildeo causadores de stress Esta adjudica tambeacutem que a principal barreira humana agrave comunicaccedilatildeo dos doentes ventilados eacute o facto de estes terem receio de natildeo serem com-preendidos pelos profissionais de sauacutede

Connoly (1992) Menzel (1994) Dobbin et al (2004) e Rosaacuterio (2009) identificam os vaacuterios meacute-todos alternativos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar Entre os mais usados estatildeo os acenos de cabeccedila os gestos o piscar de olhos a escrita e a miacutemica labial

Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferecircn-cia expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar jaacute que os consideram simples de

compreender e manusear Ferreira et al (2006 p 52) afirmam tambeacutem que o quadro maacutegico eacute um meacutetodo de comunicaccedilatildeo bastante praacutetico pois pode apagar-se sempre que eacute utilizado e pode ser usado inuacutemeras vezes

Queiroacutes (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que ldquoEscrever pode ser muito cansativo por isso eacute preciso encorajar o doente a escrever as pala-vras mais importantesrdquo No que diz respeito agraves con-diccedilotildees fiacutesicas do doente ventilado de acordo com os resultados de Silva Souza e Tavares (2007) a ventilaccedilatildeo mecacircnica a fraqueza muscular e a contenccedilatildeo fiacutesica satildeo aspectos que o impede de recorrer agrave escrita assim como as alteraccedilotildees do niacutevel de consciecircncia ou outra razatildeo que o deixe ansioso deprimido sonolento ou letaacutergico o que leva os profissionais de sauacutede na maioria das ve-zes a sentiram dificuldade em comunicar com es-tes doentes

Sendo assim as anaacutelises anteriores sugerem que satildeo vaacuterias as estrateacutegias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes Estas destinam-se a propor-cionar ao doente apesar de impedido de o fazer pela via habitual a possibilidade de poder manter as suas relaccedilotildees com os profissionais de sauacutede e com os familiares exprimindo as suas emoccedilotildees sentimentos opiniotildees e necessidades

Dos vaacuterios estudos encontrados sobre a temaacuteti-ca dos sentimentos apresentados por este tipo de

doentes quando sujeitos a ventilaccedilatildeo mecacircnica todos concluem que os mesmos apresentam ele-vados niacuteveis de frustraccedilatildeo sentimentos de raiva e horror ansiedade confusatildeo e dorsofrimento de-vido ao internamento em si mas principalmente por natildeo conseguirem comunicar com os profissio-nais de sauacutede natildeo podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afecta-da Para aleacutem disso estes doentes muitas vezes encontram-se sedados Um aspecto relacionado com este assunto foi tido em conta por Berg et al (2004) que relaciona o niacutevel de frustraccedilatildeo dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou natildeo Assim os autores concluem que quando os mesmos estatildeo nesta situaccedilatildeo natildeo comunicam e portanto o niacutevel de frustraccedilatildeo eacute menor enquanto que aqueles a quem natildeo foi administrado quaisquer tipos de sedativos comu-nicam de forma muito mais frustrada Por outro lado no estudo realizado por Dobbin et al (2004) natildeo foram encontradas diferenccedilas estatistica-mente significativas entre o meacutetodo e o conteuacutedo do processo de comunicaccedilatildeo aquando do uso de sedativos ou analgeacutesicos O que poderaacute estar na origem desta discordacircncia eacute o tempo de ventila-ccedilatildeo tido em conta no primeiro estudo analisado pois este eacute bastante superior (12 meses) em rela-ccedilatildeo ao dos participantes do estudo de Dobbin et al para aleacutem do prognoacutestico cliacutenico no primeiro ser pior

Reflectindo um pouco sobre os resultados ante-riores achamos que este eacute um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de sauacutede no sentido de natildeo desvalorizarem a comunicaccedilatildeo

apesar de os doentes ventilados estarem sedados

Muitas vezes nas unidades de Cuidados Intensi-vos onde a comunicaccedilatildeo eacute limitada pela condiccedilatildeo fiacutesica dos doentes os aspectos teacutecnicos predomi-nam bastante A pessoa encontra-se numa situ-accedilatildeo de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades segundo Silva Sousa e Tavares (2007) satildeo apontadas como limitadoras para uma abordagem mais proacutexima e individualizada levando a que os doentes desenvolvam um con-junto de sentimentos e emoccedilotildees que dificultam a comunicaccedilatildeo Assim mais uma vez concluiacutemos que o Enfermeiro tem uma funccedilatildeo importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado pois deve dominar um leque de conhe-cimentos vasto e possuir aptidotildees e qualidades que ultrapassem todo o acircmbito teacutecnico e cientiacutefi-co tal como eacute referido por Carpenter e Carpenter (2003)

CONCLUSAtildeO

Para aleacutem das teacutecnicas propriamente ditas que podemos utilizar em contexto praacutetico com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos apercebemo-nos de quatildeo eacute essencial que o enfermeiro conheccedila e sinta a im-portacircncia da comunicaccedilatildeo entre a pessoaequipe de sauacutede e que a mesma seraacute tanto mais difiacutecil quanto mais instaacutevel estiver o doente Eacute nosso de-ver tentar sempre exaustivamente conseguir en-tender a pessoa que temos agrave nossa frente e que se encontra numa situaccedilatildeo de desvantagem jaacute que apresenta dificuldade em comunicar verbalmen-te e em ser compreendido

Ellis (1995) apud Machado e Saacute (2006 p 29) afir-mam que ldquo(hellip) um enfermeiro genuiacuteno eacute percebido pelos doentes como digno de confianccedila e capaz de receber uma confidecircnciardquo

Em geacutenero de conclusatildeo parece-nos importante referir que soacute teremos a ganhar com o desen-volvimento do nosso desempenho neste acircmbito numa perspectiva de satisfaccedilatildeo muacutetua na inter relaccedilatildeo enfermeirodoente no processo de comu-nicaccedilatildeo

Achamos tambeacutem que os profissionais de sauacute-de devem fazer uma reflexatildeo global sobre o pro-cesso de comunicaccedilatildeo neste contexto cliacutenico no

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CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA CIEcircNCIA amp TEacuteCNICA

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 28: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade o medo e a frustraccedilatildeo e por outro lado melhorar a comunicaccedilatildeo entre EnfermeiroDoente

Para sensibilizar os profissionais sugerimos que os vaacuterios serviccedilos hospitalares onde estatildeo inter-nados pessoas submetidas a ventilaccedilatildeo artificial faccedilam um estudo experimental utilizando como meacutetodo para comunicar o quadro maacutegico natildeo soacute porque vaacuterios autores como por exemplo Sto-vsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realiza-ram estudos onde obtiveram resultados positivos mas tambeacutem na tentativa de reduzir os niacuteveis de frustraccedilatildeo que estes doentes apresentam devido agrave incapacidade de comunicar verbalmente

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TEacuteCNICA ASSEacuteTICASIM OU NAtildeO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

SOacuteNIA CARNEIRO Licenciada em Enfermagem Enfermeira no Centro de Sauacutede de Paranhos - Unidade de Vale Formoso (Porto)

RESUMO

O presente trabalho procura de uma forma sinteacute-tica apresentar uma reflexatildeo baseada no conheci-mento formal acerca de teacutecnica limpa ou asseacutep-tica no tratamento de feridas procurando elaccedilotildees que possam ajudar na praacutetica cliacutenica aqueles que o lecircem

Eacute uma reflexatildeo sobre a teacutecnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas

Palavras-chave Pele feridas cicatrizaccedilatildeo teacutecnica limpa teacutecnica asseacuteptica enfermeiros

ABSTRACT

This paper aims to present a synthetic form of consideration based on formal knowledge about clean or aseptic technique in the treat-ment of wounds looking elations that may help in clinical practice those who read it It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds

Keywords Skin sores scarring clean technique aseptic technique nurses

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 29: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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REFEXAtildeO SOBRE TEacuteCNICA USADA NO TRATA-MENTO DE FERIDAS

A pele eacute considerada um dos componentes es-senciais do corpo humano recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 do peso corporal (Oliveira Martinho Nunes 2001) Histoloacutegicamente eacute constituiacuteda por trecircs estrutu-ras distintas a epiderme derme e tecido subcutacirc-neo As suas funccedilotildees satildeo de protecccedilatildeo homeos-tasia termorregulaccedilatildeo metabolismo da vitamina D percepccedilatildeo sensitiva e exerce um papel esteacutetico (Oliveira Martinho Nunes 2001 Martins Olivei-ra 2002 Abreu Marques 2003) Para que a pele possa realizar a sua funccedilatildeo esta deve encontrar--se iacutentegra no entanto estaacute diaacuteriamente sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade por exemplo as feridas toda lesatildeo de um tecido ou oacutergatildeo em sua integridade anatoacutemica provocada por agente fiacutesico quiacutemico ou microbiano (Oliveira Martinho Nunes 2001 p326)

A realizaccedilatildeo de pensos executar o tratamento agrave ferida eacute uma das actividades inerentes agrave praacutetica de enfermagem (Moreira 1998 p 37) sendo uma aacuterea em que o enfermeiro se assume como pos-suidor de conhecimento formal que lhe permite executar o tratamento agrave ferida assumindo a res-ponsabilidade pelo seu acto

A preocupaccedilatildeo com o tratamento das feridas sempre existiu pois satildeo em muitas situaccedilotildees um factor limitativo para a pessoa o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinecircn-cia laboral bem como o aumento do nuacutemero de baixas

Procurou-se sempre a utilizaccedilatildeo de diferentes agentes que fornecessem protecccedilatildeo agrave ferida do ambiente externo assim como facilitasse o seu processo de cicatrizaccedilatildeo em que este eacute ldquoconsti-tuiacutedo por uma seacuterie de processos bioquiacutemicos com-plexos e muito ordenados que representa o culminar da acccedilatildeo de diferentes tipos de ceacutelulas em resposta a diferentes ambientes celularesrdquo (Ovington 2004 p145)

A abordagem realizada agraves feridas sofreu uma re-voluccedilatildeo a partir de 1962 quando George Winter demonstrou que a cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute favore-cida em meio huacutemido (Martins Oliveira 2002 p59) o que era o oposto do assumido como ver-dade ateacute entatildeo A comprovaccedilatildeo que o meio huacutemi-do eacute necessaacuterio para promover a migraccedilatildeo celular e a formaccedilatildeo de tecido de granulaccedilatildeo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p325) juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci-

catrizaccedilatildeo conduziu agrave existecircncia no mercado de uma vasta gama de dispositivos para cobertura produtos para limpeza e tratamento das lesotildees (Oliveira Martinho Nunes 2001) Para a escolha do curativo sendo curativo um meio terapecircutico que consiste na limpeza e aplicaccedilatildeo de uma cobertu-ra esteacuteril em uma ferida com a finalidade de promo-ver a raacutepida cicatrizaccedilatildeo e prevenir a contaminaccedilatildeo de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente (Martins Oliveira 2002 p63) eacute preciso conhecer os materiais existentes no mer-cado bem como as suas indicaccedilotildees

Executar o tratamento agrave ferida tem por objectivo ldquopromover a cicatrizaccedilatildeo minimizar lesotildees cutacircne-as e prevenir a infecccedilatildeordquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p 279) e para tal eacute preciso que durante o executar o tratamento agrave ferida se consiga ldquotratar e prevenir infecccedilatildeo diminuir infecccedilotildees cruzadas por meio de teacutecnicas e procedimentos correctos remover corpos estranhos reaproximar os bordos (hellip)rdquo ( Mar-tins Oliveira 2002 p 63)

De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros durante o executar o tratamento agrave ferida existe no mercado os ldquokitsrdquo que reuacutenem todo o material esterilizado necessaacuterio para a execuccedilatildeo do trata-mento o que ldquoprevine a contaminaccedilatildeo do materialrdquo (Moreira 1998 p39) Para executar o tratamento agrave ferida deve-se utilizar teacutecnica asseacuteptica (Morei-ra 1998 Paulino Tareco Rojatildeo 1999 Bajay Jorge Dantas 2003 Mallett Dougherty 2004 Fernan-des 2005) o que implica a utilizaccedilatildeo de material esterilizado e a sua manipulaccedilatildeo com teacutecnica as-seacuteptica para prevenir a contaminaccedilatildeo do mesmo e desta forma prevenir a infecccedilatildeo da ferida ldquotodos os instrumentos liacutequidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida tecircm de ser esterilizados caso se pretenda reduzir o risco de contaminaccedilatildeordquo (Mallett Dougherty 2004 p74)

A cicatrizaccedilatildeo da ferida eacute um processo sisteacutemico e por isso eacute afectada quer por factores locais quer pelas condiccedilotildees gerais do indiviacuteduo A infecccedilatildeo da ferida ldquoeacute a complicaccedilatildeo mais grave do processo de cicatrizaccedilatildeo provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua caracteriacutestica para purulenta aleacutem de provocar a ruptura dos teci-dos formadosrdquo (Martins Oliveira 2002 p63) atra-sando o processo de cicatrizaccedilatildeo Existem trecircs estados microbianos possiacuteveis para uma ferida a contaminaccedilatildeo ldquoeacute a presenccedila de microorganismos na superfiacutecie dos tecidosrdquo (Neve 2000 p25) a coloni-zaccedilatildeo ldquo eacute a multiplicaccedilatildeo dos microorganismos na superfiacutecie sem invasatildeo dos tecidosrdquo (Idem) e a infec-

ccedilatildeo ldquoquando os microorganismos invadem os tecidos e natildeo haacute da parte destes uma resposta adequadardquo (Idem) A presenccedila de microorganismos por si soacute natildeo implica uma infecccedilatildeo ateacute porque ldquoos huma-nos tecircm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpordquo (Ovington 2004 p146) e por isso eacute impossiacutevel uma ferida ser esteacuteril A infecccedilatildeo da ferida resulta do desequiliacutebrio entre a resistecircncia do hospedeiro e as bacteacuterias a favor destas Isto acontece porque haacute um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuiccedilatildeo das de-fesas do hospedeiro e caracteriza-se clinicamen-te pela presenccedila de ldquoeritema edema dor aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteraccedilatildeo das suas caracteriacutesticas para purulenta e odor feacutetidordquo (Oliveiro Martinho Nunes 2001 p328)

Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilizaccedilatildeo de teacutecnica asseacuteptica durante a execu-ccedilatildeo do tratamento agrave ferida de forma a evitar o ldquotransporterdquo de microorganismos para o leito da ferida Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais microorganismos per-tencentes agrave flora residente eles podem num hos-pedeiro com as suas defesas diminuiacutedas provocar uma infecccedilatildeo A flora residente eacute composta por microorganismos que se multiplicam na pele eacute de baixa virulecircncia contudo podem causar infecccedilotildees nas pessoas imunodeprimidas na presenccedila de so-luccedilotildees de continuidade (Blom Lima 2002)

Da bibliografia consultada Yamada refere a utili-zaccedilatildeo de ldquoteacutecnica limpa x teacutecnica esteacuterilrdquo questio-nando se de facto existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluccedilotildees e produtos esterilizados e com teacutecnica asseacuteptica Refere que dada a falta de justificaccedilotildees atraveacutes de estudos cientiacuteficos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Ad-visory Panel) recomendam ldquopara limpeza de feridas croacutenicas teacutecnica limpa e coberturas limpasrdquo (Yama-da 2003 p51) No entanto para a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa eacute necessaacuterio ldquouso individualizado dos materiais e que os mesmos depois de abertos sejam adequadamente armazenadosrdquo (Idem) o que natildeo se verifica e existem situaccedilotildees em que a utilizaccedilatildeo de teacutecnica limpa natildeo estaacute indicada ldquose houver in-vasatildeo da corrente sanguiacutenea e em pacientes imuno-deprimidos Nesses casos deve-se usar tudo esteacuterilrdquo (Idem) Tambeacutem natildeo faz sentido a utilizaccedilatildeo de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulaccedilatildeo ser com teacutecnica limpa pois na teacutecnica limpa as ldquopinccedilas e luvas natildeo necessitam de ser esteacutereisrdquo (Smi-

th-Temple Johnson 2000 p418)

Apesar de Yamada referir a utilizaccedilatildeo de ldquoprocedimento limpo para a maioria das feridas croacutenicas ciruacutergicas e natildeo ciruacutergicasrdquo (2003 p51) salienta que primaacuteriamente agrave implementaccedilatildeo desta teacutecnica por uma instituiccedilatildeo eacute importante a realizaccedilatildeo de um ldquotreino preacutevio de como trabalhar com teacutecnica limpa na qual ao inveacutes de pinccedilas ou luvas esterilizadas utilizam-se luvas de procedimentordquo (Idem p52) ldquoEmbora as feridas croacutenicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e natildeo esteacutereis motivo que fundamenta a utilizaccedilatildeo de tais procedimentos (teacutecnica limpa)rdquo (Idem) eacute importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir ldquocontaminaccedilotildees oriundas de teacutecnicas inadequadas e procedimentos contaminadosrdquo (Idem)

Um dos aspectos com que me deparei na praacutetica eacute a teacutecnica utilizada para limpar as feridas pelo que considero oportuno uma reflexatildeo sobre o assunto uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento agrave ferida ldquoO processo de limpeza eacute de fundamental importacircncia para a reparaccedilatildeo tecidual A reparaccedilatildeo tecidual natildeo poderaacute evoluir de modo adequado enquanto todos os agentes inflamatoacuterios natildeo forem removidos do leito da feridardquo (Yamada 2003 p50) O desbridamento eacute ldquoa remoccedilatildeo de tecidos necrosados e de corpospartiacuteculas estranhos do leito da ferida usando teacutecnicas mecacircnicas eou quiacutemicasrdquo (Idem) Estes dois processos de limpeza satildeo importantes na ldquoprevenccedilatildeo da infecccedilatildeo no tratamento de feridas croacutenicasrdquo (Ovington 2004 p147)

Independentemente da teacutecnica utilizada para a limpeza de ferida ldquoela deve sempre evitar o trau-ma mecacircnico eou quiacutemico da feridardquo (Gou 2001) e ter a finalidade de ldquofacilitar a remoccedilatildeo de secre-ccedilotildees e de microorganismos de ferida (Smith-Temple Johnson 2000 p462) A irrigaccedilatildeo da ferida eacute a teacutecnica de limpeza mais recente em que existe a combinaccedilatildeo da ldquocapacidade em remover particu-lar e outros contaminados inclusive bacteacuterias sem gerar dano ao delicado tecido de granulaccedilatildeordquo (Gou 2001) Para a realizaccedilatildeo da irrigaccedilatildeo recorre-se ao uso de agulha e seringa sendo recomendado a utilizaccedilatildeo de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou 2001 Yamada 2003) pois des-ta forma consegue-se obter uma pressatildeo de 8 psi (per square inch) considerada ldquoadequada e efectiva para a limpezardquo (Yamada 2003 p54) Agrave medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressatildeo A utilizaccedilatildeo de seringas de 20 ml e agu-

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 30: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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lhas de 18 G tambeacutem estatildeo indicadas (Gou 2001 Yamada 2003) com os quais obteacutem-se uma pres-satildeo de 95 psi que ldquoembora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza estatildeo abaixo de 15 psi pois acima deste se-gundo Rodeheaver (1997) causa danos ao tecido de granulaccedilatildeordquo (Yamada 2003 p55)

Na pesquisa realizada estaacute documentado a utili-zaccedilatildeo de ldquofrascos de soro fisioloacutegico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneirasrdquo (Idem) para a irrigaccedilatildeo da ferida ldquofrascos plaacutesticos de soro per-furados sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domiciacutelio certifique-se da pressatildeo exercida conforme o sistema escolhido evitando comprometer o tecido em forma-ccedilatildeordquo (Gou 2001) a minha questatildeo eacute como eacute que se certifica

Existem situaccedilotildees ldquoferidas com resiacuteduos corpos es-tranhos fragmentos e outrosrdquo (Yamada 2003 p56) em que eacute necessaacuterio o recurso a compressas hu-medecidas e suavemente pressiona-las ou fric-ciona-las sobre a ferida para a sua efectiva lim-peza No entanto se com a pinccedila natildeo consegue exercer a pressatildeo desejada as compressas devem ser pegas pelos seus cantos para que a aacuterea da compressa tocada pelas matildeos natildeo toque no leito da ferida e lembrar que ldquousar a gaze uma soacute vezrdquo (Oliveira Martinho Nunes 2001 p333)

Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfer-meiros eacute a importacircncia da lavagem das matildeos ldquoA lavagem das matildeos com aacutegua e sabatildeo eacute um dos proce-dimentos mais simples e dos mais eficazes na preven-ccedilatildeo e controlo das infecccedilotildees hospitalares e demais in-fecccedilotildees (Armoud 2001 p319) porque as matildeos satildeo o principal veiacuteculo na transmissatildeo exoacutegena da in-fecccedilatildeo por serem o ldquoinstrumentordquo mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estatildeo livres de microorganismos sejam eles residentes ou transitoacuterios (Blom Lima 2002 Tavares 2003) Existem diferentes teacutecnicas de lavagem das matildeos sendo a lavagem higieacutenica ou social e a lavagem asseacuteptica ou desinfecccedilatildeo higieacutenica as frequente-mente realizadas no centro de sauacutede Durante o procedimento de executar o tratamento agrave ferida as matildeos devem ser lavadas com teacutecnica higieacutenica no iniacutecio do procedimento para ldquoprevenir a infec-ccedilatildeo cruzadardquo (Paulino Tareco Rojatildeo 1999 p281) ldquoapoacutes retirar o penso para prevenir a infecccedilatildeordquo (Idem p282) e no final do procedimento para ldquoprevenir a

infecccedilatildeo cruzadardquo (Idem)

Satildeo vaacuterios aspectos que concretizam a interven-ccedilatildeo Executar tratamento de feridas e que por ve-zes merecem reflexatildeo

Muito do que nos eacute ensinado na escola eacute assumi-do por noacutes como uma verdade aceite por todos e que a praacutetica reflecte o que aprendemos No en-tanto quando em praacutetica profissional somos con-frontados num meio com praacuteticas que diferem do aprendido as duacutevidas surgem e sentimos a neces-sidade de reflectir e encontrar respostas

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CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANCcedilA NA ADOPCcedilAtildeO DE PRAacuteTICAS DE GESTAtildeO DO CONHECIMENTO

ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010

PAULA PINTO FERREIRAEnfermeira especialista Urgecircncia Pediaacutetrica Hospital STeotoacutenio Viseu

PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestatildeo Universidade da Beira Interior NECE Covilhatilde

RUI PINTO Doutorado em odontologia Porto

RESUMOConhecer os processos do conhecimento na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

As organizaccedilotildees devem por isso estar atentas aos seus liacutederes em particular ao seu estilo de lide-ranccedila que se torna fundamental para o funciona-mento das iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

Por outro lado a gestatildeo do conhecimento e a lide-ranccedila estatildeo intimamente ligadas com a cultura da organizaccedilatildeo o que vai exigir adaptaccedilotildees em ambas e se vai tornar na base das praacuteticas organi-zacionais ao niacutevel dos problemas de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo tanto externa como interna

Palavras-Chave Gestatildeo do conhecimento cul-tura lideranccedila organizaccedilotildees de sauacutede

ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization from the perspective of their imple-mentation by employees on a daily basis is a criti-cal factor of success Hence the practice of knowl-edge management requires continuous support by the leaders ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees Organizations should therefore be aware of the leaders in particular its leadership style which be-comes fundamental to the functioning of knowl-edge management initiatives in an organization On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization which will require adjust-ments in both and will become the basis of or-ganizational practices in the problems of adapta-tion and integration both external and internal Keywords knowledge management culture lea-dership health organizations

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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GESTAtildeO | LIDERANCcedilA GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 31: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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INTRODUCcedilAtildeO

A necessidade de produccedilatildeo contiacutenua de conheci-mento novo eacute uma resposta agrave obsolescecircncia de saberes que deixam de estar ajustados agraves exigecircn-cias do progresso tecnoloacutegico das sociedades

Numa organizaccedilatildeo o conhecimento eacute um activo com caracteriacutesticas particulares trata-se de um activo intangiacutevel difiacutecil de avaliar O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade natildeo podendo ser medido por si soacute mas nas acti-vidades e resultados derivados da sua aplicaccedilatildeo (Davenport e Prusak 1998) nomeadamente as mudanccedilas de rentabilidade a eficiecircncia e a taxa de inovaccedilatildeo resultantes dos processos de gestatildeo deste activo (Cohen 1998)

Conhecer os processos do conhecimento na or-ganizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do co-nhecimento exijam a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

A gestatildeo de conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede eacute uma ferramenta essencial para susten-tar a sua vantagem competitiva uma vez que eacute frequente o capital conhecimento destas organi-zaccedilotildees perder-se por elevadas taxas de mobilida-de dos seus colaboradores e as proacuteprias organiza-ccedilotildees natildeo terem consciecircncia do valor do conheci-mento que possuem (Bansal 2003)

REVISAtildeO DA LITERATURA

A aplicaccedilatildeo do conhecimento eacute um sub-processo que traduz o conhecimento num processo inte-ractivo atraveacutes dos quais satildeo utilizados os resul-tados de investigaccedilatildeo (Graham e Tetroe 2007) um processo social complexo que envolve utili-zadores individuais e organizacionais de investi-gaccedilotildees interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados tendo presentes os facto-res organizacionais para a sua implementaccedilatildeo (Estabrooks Midodzi Cummings e Wallin 2007 Graham e Tetroe 2007)

A disciplina gestatildeo do conhecimento em sauacutede surgiu em paralelo com a criaccedilatildeo da economia do conhecimento de onde emerge o capital inte-

lectual activo intangiacutevel como principal fonte de poder e riqueza em detrimento dos activos tangiacute-veis com a crenccedila de que se este activo intangiacutevel for colocado de forma eficaz no trabalho ele seraacute o uacutenico factor capaz de criar vantagem competiti-va na organizaccedilatildeo desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield 2008)

Uma gestatildeo estrateacutegica do conhecimento eacute cru-cial para a implementaccedilatildeo de um programa de gestatildeo de conhecimento (Ernest eYoung 1999 Kavindri 2005 Parlby e Tayler 2000 Robertson 2005) e deve abordar um leque de questotildees tais como o aproveitamento do conhecimento jaacute exis-tente criaccedilatildeo de um modelo de conhecimento organizacional efectuar a relaccedilatildeo entre o conhe-cimento e a criaccedilatildeo de valor incluir uma seacuterie de projectos integrados com resultados a meacutedio e longo prazo deve ser tida como um processo e natildeo um projecto identificar as necessidades da orga-nizaccedilatildeo e possiacuteveis resoluccedilatildeo destas Interligando deste modo a estrateacutegia de gestatildeo do conhecimen-to com a estrateacutegia de gestatildeo do negoacutecio onde soacute aqui tem cabimento e hipoacuteteses de sucesso Chait (1999) relevando a importacircncia desta interligaccedilatildeo refere que em muitos aspectos a gestatildeo do conhe-cimento em pouco difere em alguns aspectos da gestatildeo da organizaccedilatildeo dizendo que deve existir uma visatildeo com a qual as pessoas devem estar ali-nhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organizaccedilatildeo

A gestatildeo do conhecimento deve ter como foco de atenccedilatildeo a reformulaccedilatildeo de atitudes e compor-tamentos das pessoas (Havens e Knapp 1999) direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovaccedilatildeo transparecircncia trabalho em equipa e partilha de conhecimento reque-rendo lideranccedila (Parlby e Tayler 2000) e tempo Neste contexto a gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees eacute uma aacuterea de relevante interesse devendo ser transversal a todas as outras funccedilotildees da organizaccedilatildeo centrando-se essencialmente nas pessoas nos seus comportamentos acccedilotildees roti-nas motivaccedilotildees e de igual modo em dois aspec-tos considerados fulcrais o aspecto tecnoloacutegico relacionado com as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que lhes permite a obtenccedilatildeo de da-dos e informaccedilotildees e o humano que concentra a sua preocupaccedilatildeo na partilha das experiecircncias en-tre os indiviacuteduos

A partilha de informaccedilatildeo e conhecimento satildeo ti-dos como elementos importante nos novos mode-los de gestatildeo organizacionais (Sveiby 1998) no entanto ateacute ao momento pouca atenccedilatildeo tem sido prestada ao papel dos liacutederes organizacionais nas tarefas de difusatildeo do conhecimento e aprendiza-gem nas organizaccedilotildees (Vera e Crossan2004) ten-do estes um papel determinante no sucesso da aplicaccedilatildeo do conhecimento (Berta e tal 2010)

Conhecer os processos do conhecimento (co-nhecimento que natildeo eacute um objecto eacute dinacircmico e cresce nas organizaccedilotildees ao longo do tempo natildeo pode ser avaliado por si soacute (Mouritsen 2004) ten-do presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difiacutecil justificar atraveacutes de uma meacutetrica (Chong e tal 2000 Kaplane Nor-ton 2004)) na organizaccedilatildeo na perspectiva da sua aplicaccedilatildeo pelos colaboradores no quotidiano eacute um factor criacutetico de sucesso Daiacute que as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento tecircm como princi-pal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em praacutetico permitindo desta forma a obtenccedilatildeo de resultados significativos para a orga-nizaccedilatildeo (Ibrahim e Reidhellip) exijem a sustentaccedilatildeo contiacutenua por parte dos liacutederes assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores

Satildeo considerados lideres aqueles indiviacuteduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema

Natildeo querendo abordar especificamente o concei-to de liacuteder aquela pessoa que causa a mudanccedila mais eficaz no desempenho do grupo (Cattell 1953 citado por Fiedler 1967 p 8) e que eacute iden-tificada e aceite como liacuteder pelos seguidores (Sanford 1949 citado por Fiedler 1967 p 8) eacute fundamental reter que este eacute sempre o agente do processo ou da acccedilatildeo de lideranccedila que acontece no grupo ou na organizaccedilatildeo No seu modelo con-tingencial Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacccedilatildeo entre o estilo de lideranccedila e a situaccedilatildeo que se apresenta (Shrivas-tava ampMitro 1984) Fiedler (1965 1967) defende ainda que natildeo existe nenhum estilo de lideran-ccedila que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situaccedilatildeo Por outras palavras uma pes-soa torna-se liacuteder natildeo apenas devido aos atributos da sua personalidade mas tambeacutem em virtude

da coexistecircncia de vaacuterios factores situacionais da interacccedilatildeo entre o liacuteder e os seus subordinados o tipo de atitude de lideranccedila requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situaccedilatildeo eacute favoraacutevel ou desfavoraacutevel para o liacuteder (Fiedler 1967 p 15)

O papel do liacuteder do conhecimento eacute fornecer vi-sotildees estrateacutegicas motivar comunicar de modo eficaz actuar como um agente da mudanccedila de-vendo suportar a geraccedilatildeo do conhecimento e natildeo controlaacute-lo Von Krogh Nonaka e Ichijo (2000) Quando o assunto eacute a criaccedilatildeo do conhecimento haacute uma mudanccedila no papel da gestatildeo Os gestores natildeo devem tentar controlar a criaccedilatildeo do conheci-mento mas sim promovecirc-la Natildeo se gere o conhe-cimento apenas se capacita para o conhecimen-to Von Krogh Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitaccedilatildeo para o conhecimento como o ldquocon-junto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criaccedilatildeo do conhecimentordquo

Considerar a gestatildeo do conhecimento como sim-ples modismo pode representar a perda de opor-tunidade de compreender como o conhecimento eacute desenvolvido gerado e usado nas organizaccedilotildees (Bouthillier e Shearer 2002)

Fernandes no seu estudo ldquoGestatildeo do conhe-cimento corporativordquo verificou ao questionar uma determinada populaccedilatildeo sobre o que pode-ria motivaacute-los para implementar um processo de gestatildeo de conhecimento ou melhorar a sua rotina que a grande maioria (5517) das pes-soas esperavam uma orientaccedilatildeo do seu do liacute-der para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestatildeo do conhecimento 3448 se o seu liacuteder lhe pe-disse uma minoria de 345 por ordem do liacute-der e ainda 69 referia a questatildeo da obtenccedilatildeo de tempo para poder adoptar essas mudanccedilas Por tudo isto as organizaccedilotildees devem prestar a devida importacircncia aos seus liacutederes e especial ao seu o tipo de lideranccedila Aparecendo a lideranccedila como uma linha cardinal que coloca em funcio-namento toda a gama de iniciativas de gestatildeo do conhecimento numa organizaccedilatildeo

O liacuteder influencia as acccedilotildees do grupo estando si-multaneamente sob o escrutiacutenio deste passando a coordenar as suas acccedilotildees e sendo responsaacutevel pelos seus resultados pelo que passa a estar na-turalmente no centro das actividades de gestatildeo

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 32: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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do conhecimento Tornam-se entatildeo essenciais os valores como a confianccedila e a abertura jaacute que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido Aliado a estes valores num plano superior eacute es-sencial que exista cooperaccedilatildeo voluntaacuteria e com-promisso emocional o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organizaccedilatildeo Esta atitude implica que os liacutederes conduzam a sua praacutetica demonstrando volunta-riedade na partilha do conhecimento

A eficaacutecia da lideranccedila eacute fundamental ao desenvol-vimento das organizaccedilotildees (Denison e tal 1995 Sin-gh 2008) tendo jaacute sido verificado em estudos que os liacutederes mais eficazes reflectem uma maior com-plexidade de pensamento satildeo capazes de reconhe-cer paradoxos contradiccedilotildees e a complexidade do ambiente (Denison e tal 1995) devendo para tal a investigaccedilatildeo sobre lideranccedila centrar-se no desem-penho cognitivo e comportamental dos liacutederes

Nas organizaccedilotildees os liacutederes satildeo de extrema im-portacircncia para detectar a ineacutercia organizacional (Nonaka e tal 2001) e para exercer um esforccedilo no sentido de introduzir e legitimar novas estru-turas e processos (Crossan e tal 1999) tendo um papel importante no compromisso (Singh 2008) construccedilatildeo de relacionamentos dos colabora-dores (Kouzes e Posner 2002 Rictchie e Martin 1999) devendo estes compreender as pessoas os processos sistemas e priacutencipios de negoacutecio para que seja possiacutevel a tomada de decisatildeo (Debowski 2006) estando a produtividade organizacional re-lacionada com a gestatildeo do conhecimento atraveacutes de adequados estilos de lideranccedila (Singh 2008)

Um dos paracircmetros chaves da gestatildeo do conheci-mento bem sucedida eacute a cultura da organizaccedilatildeo (fenoacutemeno complexo que se forma sob a multi-plicidade de interacccedilotildees do organismo social com o seu ambiente interno e externo) sendo esta tal-vez tambeacutem o seu obstaacuteculo mais significativo

A cultura de cada organizaccedilatildeo deve muito a seus liacutederes pois eacute deles que parte a formaccedilatildeo dos va-lores e crenccedilas culturais que seratildeo partilhados por todos na organizaccedilatildeo Alguns autores rela-cionam a formaccedilatildeo da cultura com o conjunto de significados crenccedilas e valores dos fundadores da organizaccedilatildeo Paschini (2006)

A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentaacuteculo das praacuteticas Organizacionais ( Hofstede 1991 Schein 1992 Scheinder 1996) sen-

do tida como o conjunto de pressupostos baacutesicos que um determinado grupo inventou descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os proble-mas de adaptaccedilatildeo externa e de integraccedilatildeo interna e que funcionou suficientemente bem para serem considerados vaacutelidos e ensinados aos novos mem-bros como a forma correcta de perceber pensar e sentir em relaccedilatildeo a esses problemas

Na concepccedilatildeo de Hofstede (1991 2001) a cultura eacute adquirida e natildeo herdada Ela adveacutem do ambien-te social do indiviacuteduo e natildeo dos genes Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um mesmo que as fronteiras entre esses trecircs conceitos envolvam discussatildeo entre especia-listas de diferentes ciecircncias sociais Para o autor os trecircs niacuteveis de programaccedilatildeo mental tecircm suas caracteriacutesticas especiacuteficas a saber

- personalidade eacute especiacutefica do indiviacuteduo herda-de e aprendida

- cultura especiacutefica ao grupo ou categoria sendo ela aprendida

- natureza humana eacute universal e eacute transmitida

A cultura eacute assim tida como uma programaccedilatildeo mental ou seja o ldquosoftware da menterdquo produzi-do no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiecircncias

Os valores e a maneira de pensar dos liacutederes e de gestores de topo destaca Schein (2001) satildeo par-cialmente determinados pela heranccedila cultural de cada um e pelas experiecircncias que partilharam O autor adverte ainda que para tornar a organiza-ccedilatildeo mais eficiente e eficaz deve-se entender o papel da cultura na vida da organizaccedilatildeo

No entanto que o que quer que seja proposto so-mente seraacute percebido como o liacuteder quiser ateacute que o grupo como um todo tenha realizado a acccedilatildeo e observado os seus resultados Schein (2004) O que pressupotildee a existecircncia de niacuteveis hieraacuterquicos (lide-res e liderados podendo haver maiores e menores niacuteveis de distacircncia hieraacuterquica) que informam sobre as relaccedilotildees de dependecircncia podendo ser definidos como o grau de aceitaccedilatildeo por aqueles que tecircm me-nos poder Hofstede (1991) estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questatildeo fundamental de gerir as desigualdades entre os indiviacuteduos

Dos valores partilhados numa organizaccedilatildeo os mais frequentemente mencionados e que pro-

movem o comportamento da gestatildeo do conheci-mento satildeo confianccedila e abertura Sem lealdade e confianccedila o conhecimento eacute perdido facilmente Um niacutevel elevado de confianccedila e lealdade na orga-nizaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo essencial para que exista uma cooperaccedilatildeo voluntaacuteria (condiccedilatildeo chaves aos desafios de hoje) um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos co-laboradores se relacionam e sentem na organiza-ccedilatildeo Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua praacutetica pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento

Modelo Conceptual proposto

A especificaccedilatildeo de um modelo teoacuterico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir tornando-se para tal necessaacute-rio seleccionar um conjunto de variaacuteveis que ope-racionalizem o problema a estudar

Com o objectivo de construir um modelo explica-tivo das relaccedilotildees teoricamente estabelecidas entre gestatildeo do conhecimento a cultura organizacional o tipo de lideranccedila existente numa Organizaccedilatildeo de Sauacutede efectuaram-se os seguintes passos a especi-ficaccedilatildeo do modelo teoacuterico de base a construccedilatildeo de um diagrama de caminhos representante das rela-ccedilotildees teoacutericas a testar a conversatildeo do diagrama de caminhos num conjunto de equaccedilotildees estruturais e especificaccedilatildeo do modelo de medida a escolha da matriz de dados e estimaccedilatildeo do modelo proposto re-especificaccedilatildeo do modelo (Cardoso 2007)O mo-delo de mediccedilatildeo refere-se aos indicadores e ou sub-construccedilotildees que refletem as construccedilotildees em causa enquanto que o modelo estrutural aborda as relaccedilotildees entre os construtos

O modelo conceptual proposto contem um con-junto de variaacuteveis que influenciam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento que correspondem a dois construtos que satildeo medidos atraveacutes de vaacute-rios indicadores Assim o modelo conteacutem relaccedilotildees do construto de cultura organizacional lideranccedila gestatildeo do conhecimento Cada construto eacute cons-tituiacutedo por um conjunto de indicadores O cons-truto de lideranccedila por 18 indicadores avaliados segundo a escala de LPC de Findler o constru-to de cultura organizacional por 18 indicadores que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito aacute distacircncia hieraacuterquica de Hosfted o construto gestatildeo do conhecimento por 34 indica-

dores que identificam as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas instituiccedilotildees de Cardoso(2007)

METODOLOGIA

Estudo de caso

O estudo de caso eacute muito utilizado quando natildeo se consegue controlar os acontecimentos e portan-to natildeo eacute de todo possiacutevel manipular as causas do comportamento dos participantes Egrave uma investi-gaccedilatildeo que se baseia principalmente no trabalho de campo estudando uma pessoa um programa ou uma instituiccedilatildeo na sua realidade utilizando para isso entrevistas observaccedilotildees documentos questionaacuterios e artefactos (Yin 1994)

Bogdan e Biklen (1994) refere que o estudo de caso consiste na observaccedilatildeo detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil em que o iniacutecio do estudo eacute sempre a parte mais larga

No que diz respeito agrave ldquogeneralizaccedilatildeordquo das conclu-sotildees e resultados de um estudo de caso eacute necessaacute-rio salientar que esta metodologia de investigaccedilatildeo natildeo tem o propoacutesito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente ca-sos concretos e particulares (Merriam 1988 e Yin 1994) Sendo os resultados apenas com base em uma amostra devem permitir tirar conclusotildees vaacutelidas para a populaccedilatildeo (Wilde e Hess 2007) Em estudos como este a anaacutelise do complexo de causa-efeito entre as conexotildees eacute o foco princi-pal Para a verificaccedilatildeo estatiacutestica desses modelos complexos a Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais (SEM) eacute um dos meacutetodos mais populares no cam-po das ciecircncias sociais (Homburg e Pflesser 2000) Dentro da abordagem SEM existem dois meacutetodos diferentes ou seja um que analisa a covariacircncia (LISREL) que eacute parametro orientada e o outro que analisa a variacircncia (PLS) que determina a relevacircn-cia da previsatildeo (Joumlreskog e Wold 1982)

A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que natildeo exige uma amostra grande natildeo possui

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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Von krog G Ichijp K Nonaka I(2001)

NORMAS DE PUBLICACcedilAtildeOA Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a aacuterea disciplinar de enferma-gem de gestatildeo educaccedilatildeo e outras disciplinas afins Publica tambeacutem car-tas ao director artigos de opiniatildeo siacutenteses de investigaccedilatildeo desde que ori-ginais estejam de acordo com as normas de publicaccedilatildeo e cuja pertinecircncia e rigor teacutecnico e cientiacutefico sejam reconhecidas pelo Conselho Cientiacutefico A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas reportagem notiacutecias sobre a sauacutede e a educaccedilatildeo em geral

A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 33: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€

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GESTAtildeO | LIDERANCcedilA GESTAtildeO | LIDERANCcedilA

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problemas de identificaccedilatildeo e natildeo presume uma distribuiccedilatildeo normal das variaacuteveis (Chin 1998 Chin Marcoli ampNewsted 2003) permitindo a es-timaccedilatildeo simultacircnea de um grupo de equaccedilotildees medindo-se os conceitos (modelo de mensuraccedilatildeo) e as relaccedilotildees entre eles (modelo estrutural)

Um modelo PLS eacute composto de duas partes o mo-delo exterior e interior do modelo O modelo ex-terno descreve as relaccedilotildees entre as variaacuteveis ob-servaacuteveis ou indicadores e as variaacuteveis latentes ou constructos O modelo interno mostra os re-lacionamentos diretos e indiretos entre os cons-trutos (Chin 1998) Visando a PLS maximizar a variacircncia explicada para os indicadores e as vari-aacuteveis latentes tornando-se possiacutevel examinar as relaccedilotildees e os R-Squared (R2) que determinam a qualidade do modelo

No modelo estrutural as relaccedilotildees entre as vari-aacuteveis satildeo apresentadas sob a forma de um dia-grama de caminhos As hipoacuteteses propostas satildeo apresentadas sob a forma de relaccedilotildees causais e graficamente representadas por flechas A efi-caacutecia do caminho o chamado coeficiente varia entre os valores -1 a 1 Um valor de 1 represen-ta uma correlaccedilatildeo perfeita positiva que signifi-ca que a variaccedilatildeo de um construto independente leva agrave variaccedilatildeo idecircntica do construto respectivos dependentes Valores superiores a 04 satildeo consi-derados muito fortes em contraste com um va-lor de -1 que indica uma correlaccedilatildeo de oposiccedilatildeo isto significa que um aumento de uma variaacutevel exoacutegena leva agrave diminuiccedilatildeo idecircntica da respec-tiva variaacutevel endoacutegena Os valores inferiores a -04 satildeo vistos como muito fortes Um coeficien-te de caminho de 0 estados eacute indicativo de que a variaacutevel exoacutegena natildeo tem qualquer influecircn-cia sobre a respectiva variaacutevel endoacutegena (Jahn 2007) Coeficientes de caminho inferiores a 01 respectivamente superior -01 satildeo considera-dos como natildeo significativos (Huber et al 2007) Para testar o modelo proposto foi construiacutedo um questionaacuterio baseado em trecircs escalas jaacute validadas aacute populaccedilatildeo portuguesa a escala LPC(least prefe-red coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviccedilo a sub escala de distacircncia Hierar-quica de Hofsetede e a escala de gestatildeo do conhe-cimento de Leonor Cardoso aplicada a todos os outros Enfermeiros composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem

ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo cons-truto) Em nosso estudo os indicadores dos cons-trutos tipo de lideranccedila cultura organizacional e gestatildeo do conhecimento satildeo reflexivos) O qual foi aplicado aacute populaccedilatildeo de Enfermeiros que tra-balhava num dia das o8H aacutes 24H tendo-se obtido uma amostra de 314 do total de Enfermeiros que trabalham na Instituiccedilatildeo

QUESTAtildeO DE INVESTIGACcedilAtildeO

- Em que medida a cultura organizacional e a li-deranccedila contribuem para a implementaccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas institui-ccedilotildees de sauacutede

HIPOacuteTESES

H1 A cultura organizacional tem impacto nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organi-zaccedilotildees de sauacutede

H2 A lideranccedila das chefias de enfermagem re-flecte-se nas praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees de sauacutede

RESULTADOS

Como se pode verificar pela equaccedilatildeo estrutural a lideranccedila eacute excluiacuteda da anaacutelise por apresentar co-eficientes muito baixos para os outros dois cons-trutos

De acordo com Nunnally amp Bernstein (1994) con-fiabilidade e validade psicomeacutetricas da equaccedilatildeo satildeo essenciais O primeiro passo foi a determina-ccedilatildeo de alfa de Cronbach (Cronbach 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas O

limiar usual eacute de 07 (Nunnally amp Bernstein 1994) Os valores variam de 072-094 estas escalas po-dem portanto ser consideradas confiaacuteveis

Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings Os itens devem ter maior corre-laccedilatildeo com a sua proacutepria construccedilatildeo do que com qualquer outra significando que eles satildeo perce-bidos pelos entrevistados como na montagem com a construccedilatildeo teoacuterica (Messick 1988 Paccedilo et al 2010) Trecircs indicadores apresentaram proble-mas crossloading e foram excluiacutedos (C6C10C13) Para avaliar a multicolinearidade a avaliaccedilatildeo tan-to do valor da toleracircncia e do factor de inflaccedilatildeo da variacircncia (VIF) foi efectuada Estas medidas datildeo-nos o grau em que cada variaacutevel independen-te eacute explicada pelas outras (Hair et al 2009)

Foi utilizada a teacutecnica de bootstrapping 500 amostras foram calculadas para testar a signifi-cacircncia de ponderaccedilatildeo Bootstrapping consiste na eliminaccedilatildeo sistemaacutetica de observaccedilotildees gerando um grande nuacutemero de subamostras a partir da amostra original O modelo eacute entatildeo recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em meacutedia Os coeficientes resultantes da meacutedia satildeo comparados com o peso original (Rodrigues et al 2010)

Modelo Final

O modelo explica 452 da variaccedilatildeo da gestatildeo do co-nhecimento com base na Cultura organizacional O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipoacuteteses de investigaccedilatildeo Os resultados satildeo os seguintes

H1 C + KM ndash Aceite

H2 L + KM ndash Natildeo aceite

CONCLUSAtildeO

No hospital em estudo a lideranccedila natildeo eacute estatisti-camente significativa para gestatildeo do conhecimen-

to apesar de ser um factor de potencial influecircn-cia sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento nas organizaccedilotildees natildeo eacute um factor determinante neste caminho Uma vez que o questionaacuterio de li-deranccedila soacute foi aplicado aacutes chefias formais poderaacute levar-nos a reflectir se efectivamente os ldquolideresrdquo oficiais seratildeo os verdadeiros lideres das equipas A Cultura gera efeitos importantes sobre as praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Resul-tados semelhantes que relevam a importacircn-cia da cultura organizacional satildeo encontra-dos na literatura (REF) reforccedilando a ideia de que a gestatildeo da cultura eacute essencial na adop-ccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento Tendo como R2 (0452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa em relaccedilatildeo aacutes praacuteticas de gestatildeo do conhecimento no modelo apresentado

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A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

nantes da Revista Sinais Vitais13 Os trabalhos natildeo publicados natildeo seratildeo de-volvidos podendo ser levantados na sede da Revista14 Os trabalhos devem ser enviados para supor-tesinaisvitaispt

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A Publicaccedilatildeo de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependeraacute das seguintes condiccedilotildees1 Serem originais e versarem temas de sauacutede no seu mais variado acircmbito2 Ter tiacutetulo e identificaccedilatildeo do (s) autor (es) com referecircncia agrave categoria profis-sional instituiccedilatildeo onde trabalha formaccedilatildeo acadeacutemica e profissional eventu-almente pequeno esboccedilo curricular e forma de contacto21 Os autores deveratildeo apresentar uma declaraccedilatildeo assumindo a cedecircncia de direitos agrave Revista Sinais Vitais3 Ocupar no maacuteximo 6 a 8 paacuteginas A4 em coluna uacutenica tipo de letra Arial 11 versatildeo Microsoft Word 2003 ou OpenDocument Format (ODF)4 Serem acompanhadas de fotografia do (s) autor (es) podendo ser do tipo passe ou mesmo outra5 Teratildeo prioridade os trabalhos gravados em CD ou submetidos por e-mail acompanhados de fotografias ilustraccedilotildees e expressotildees a destacar do texto adequadas agrave temaacutetica As fotografias de pessoas e instituiccedilotildees satildeo da res-ponsabilidade do autor do artigo Os quadros tabelas figuras fotografias e esquemas devem ser numerados e a sua legenda deve ser escrita numa folha e de faacutecil identificaccedilatildeo6 Os trabalhos podem ou natildeo ser estruturados em capiacutetulos sessotildees intro-duccedilatildeo etc preferindo formas adequadas mas originais61 Devem obrigatoriamente ter lista bibliograacutefica utilizando normas aceites pela comunidade cientiacutefica nomeadamente a Norma Portuguesa NP405-1(1994)62 Todos os trabalhos deveratildeo ter resumo com o maacuteximo de 80 palavras e palavra-chave que permitam a caracterizaccedilatildeo do texto63 Os artigos devem ter tiacutetulo resumo e palavras-chaves em liacutengua inglesa7 Satildeo ainda aceites cartas enviadas agrave direcccedilatildeo artigos de opiniatildeo sugestotildees para entrevistas e para artigos de vivecircncias notiacutecias assuntos de agenda e propostas para a folha teacutecnica que seratildeo atendidas conforme decisatildeo da Di-recccedilatildeo da Revista8 A Direcccedilatildeo da revista poderaacute propor modificaccedilotildees nomeadamente ao niacutevel do tamanho de artigos9 As opiniotildees veiculadas nos artigos satildeo da inteira responsabilidade dos auto-res e natildeo do Conselho Editorial e da Formasau Formaccedilatildeo e Sauacutede Lda editora da Revista Sinais Vitais entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material91 Os artigos publicados ficaratildeo propriedade da revista e soacute poderatildeo ser reproduzidos com autorizaccedilatildeo desta10 A selecccedilatildeo dos artigos a publicar por nuacutemero depende de criteacuterios da ex-clusiva responsabilidade da Revista Sinais Vitais e bem assim a decisatildeo de inclusatildeo do artigo em diferentes locais da revista11 Somente se um autor pedir a natildeo publicaccedilatildeo do seu artigo antes de este estar jaacute no processo de maquetizaccedilatildeo eacute que fica suspensa a sua publicaccedilatildeo natildeo sendo este devolvido12 Teratildeo prioridade na publicaccedilatildeo os artigos provenientes de autores assi-

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  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento
Page 35: A ENFERMAGEM EM AÇÃO - sinaisvitais.ptsinaisvitais.pt/formasau/documents/RSV105/RSV105W2.pdf · GESTÃO DE LARES DE IDOSOS enfermagem em revista N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€
  • Capa
  • Sumaacuterio
  • Editorial
  • Actualidades 1
  • Actualidades 2
  • Actualidades 3
  • Actualidades 4
  • Entrevista com Enfordm Rui Fontes
  • Uma resposta agrave eutanaacutesia enquanto praacutetica eacutetica
  • Enfermagem em emergecircncia preacute-hospitalar existem ou natildeo competecircncias
  • Vivecircncias dos enfermeiros no helitransporte de emergecircncia
  • Trabalho de equipa na urgecircncia pediaacutetrica
  • Violecircncia sobre os enfermeiros no serviccedilo de urgecircncia
  • A comunicaccedilatildeo com o doente ventilado
  • Teacutecnica asseacutetica ou natildeo
  • Cultura organizacional e tipo de lideranccedila na adopccedilatildeo de praacuteticas de gestatildeo do conhecimento