a educaÇÃo infantil em goiÁs: percursos e...

163
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E CONTRADIÇÕES NAS DÉCADAS DE 1980 E 1990 Maria Aparecida Costa Orientadora: Profa. Dra. Ivone Garcia Barbosa GOIÂNIA-GOIÁS 2016

Upload: others

Post on 12-Nov-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E

CONTRADIÇÕES NAS DÉCADAS DE 1980 E 1990

Maria Aparecida Costa

Orientadora: Profa. Dra. Ivone Garcia Barbosa

GOIÂNIA-GOIÁS

2016

Page 2: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:
Page 3: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E

CONTRADIÇÕES NAS DÉCADAS DE 1980 E 1990

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Educação da

Faculdade de Educação da Universidade

Federal de Goiás como requisito parcial

para requisição do título de Mestre em

Educação.

Linha de pesquisa: Formação,

Profissionalização Docente e Trabalho

Educativo.

Orientadora: Profa. Dra. Ivone Garcia

Barbosa.

Page 4: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

3

Page 5: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:
Page 6: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

5

Mas renova-se a esperança

Nova aurora a cada dia

E há que se cuidar do broto

Pra que a vida nos dê flor e fruto

Milton Nascimento

Page 7: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

6

Ao Ileon, um amor, que resulta em parceria, companheirismo,

em todos os novos desafios, dificuldades, alegrias. Seu amor e

apoio foram essenciais para esta conquista.

Aos meus filhos, Karolina e Leonardo, com quem divido

sonhos, esperanças. Não há limites para o amor e vocês me

ensinam com gestos diários de determinação e generosidade.

Aos meus pais, Sebastião e Laurinda, que renunciaram a seus

próprios sonhos, para que eu aprendesse a sonhar.

A todas as crianças que estão nas instituições de educação

infantil ou aguardando por seus direitos plenos de um espaço na

educação infantil.

Page 8: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

7

AGRADECIMENTOS

A Deus que me concede entendimento e fortaleza. A sua presença em todo o percurso

demonstra a grandiosidade de seu amor. Gratidão sempre ao Criador!

À Professora Dra. Ivone Garcia Barbosa, pela orientação competente e permanente incentivo em

registrar a história da Educação Infantil em Goiás. É notável sua competência e sensibilidade,

características que precisam ser destacadas, pela forma ímpar que consegue valorizar e respeitar

os horizontes que se aproximam de uma perspectiva mais humana. Gratidão e reconhecimento!

Às Professoras Nancy Nonato de Lima Alves e Sandra Valéria Limonta, pela cordialidade,

generosidade que promovem e incentivam. Suas contribuições na pesquisa foram fundamentais.

À Professora Ordália Alves de Almeida e Professora Telma Aparecida Teles Martins Silveira,

pela disponibilidade e contribuições valiosas na construção da dissertação.

À coordenação, aos professores e funcionários do Programa de Pós-graduação, da Faculdade de

Educação da Universidade Federal de Goiás, pelo compromisso com a pesquisa.

Ao Professor José Adelson Cruz, grata pela referência competente e atenciosa.

Aos colegas da 27ª Turma de mestrado, pelos momentos de aprendizagem e amizade.

Aos colegas do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Infância e sua Educação em Diferentes

Contextos-NEPIEC: Adriana, Aline, Ana Rogéria, Camila, Christine Garrido, Cleonice, Débora,

Dinara, Ester, Fernanda, Ivone Garcia Barbosa, Joana, Kátia, Larysse, Letícia Costa, Lilliane,

Lorena, Lucilene, Marcos Antônio Soares, Milna, Natássia, Nancy Nonato de Lima Alves ,

Núbia, Renato, Rosiris e Telma Aparecida Teles M. Silveira. Que a defesa da Educação Infantil

permaneça como a maior busca.

Aos integrantes do Fórum Goiano de Educação Infantil, um movimento social que acolheu esta

pesquisa de maneira muito dinâmica.

À Secretaria de Educação, Cultura e Esporte de Goiás, Secretaria da Mulher, do

Desenvolvimento Social, da Igualdade Social, dos Direitos Humanos e do Trabalho, Secretaria

Municipal de Educação de Anápolis, Secretaria Municipal de Educação de Goiânia, Secretaria

Municipal de Educação de Senador Canedo e a Secretaria Municipal de Educação de Trindade,

pela oportunidade de pesquisar a história da Educação Infantil em Goiás. A todos os

colaboradores da pesquisa, que contaram suas memórias e se envolveram na busca de dados

imprescindíveis na composição da pesquisa.

À Ester Alves Lopes pela amizade e companheirismo. Grata pelos gestos diários de

disponibilidade, alegria e determinação.

À Erika Marinho Witeze que tornou nossos encontros de estudo mais significativos. Obrigada

pela ternura e amizade!

À Aline Araújo Caixeta da Silva e Lorena Borges Almeida, pelo convívio amigo e pelos

momentos de alegria compartilhados. Nossa história foi escrita diariamente, nas conversas, nos

estudos, no apoio permanente. Permanecem nossos sonhos e nossas trocas tão únicas.

Page 9: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

8

À Maria Soraia Borges, pelo desprendimento, solidariedade e demonstração de amizade.

Obrigada pelo apoio imensurável!Sua contribuição ficará sempre em minha memória!

A Renato Barros de Almeida, pelos incontáveis espaços de aprendizagem, confiança e alegrias.

Agradeço a amizade, disponibilidade e companheirismo.

À Regina Alves Costa Fernandes pelo incentivo, apoio, convivência repleta de confiança e

amizade.

À Valéria Marques de Oliveira, pela amizade, disponibilidade sempre única e pelos momentos

felizes!

À Viviane Pereira da Silva Melo, Alcides Aparecida Cardoso da Veiga Jardim, Abadia de

Lourdes da Cunha, Rosely Aparecida Wanderley Araújo que expressam amizade e compreensão

da importância da pesquisa. Em seus nomes, estendo meu reconhecimento a todos os

professores goianos e aos colegas professores da equipe da Coordenação de Formação Central

da Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esporte de Goiás.

Aos amigos da Paróquia Nossa Senhora de Fátima pela convivência fraterna.

Ao meu pai Sebastião Osvaldo Costa (in memoriam) e a minha mãe Laurinda Corrêa Costa,

que, com dedicação imensurável, me ensinaram ultrapassar limites e acreditar em sonhos. A

Ana Corrêa, professora querida, pelo incentivo.

À família ―Honorato‖ que sempre me acolhe com respeito e alegria.

Ao meu esposo, Ileon Honorato da Silva, pelas demonstrações de confiança, amor e

companheirismo na pesquisa.

À Karolina Honorato Costa e Leonardo Honorato Costa, filhos amados, com quem divido

minha capacidade de amar incondicionalmente. As palavras e os gestos de apoio foram

essenciais em toda a pesquisa. Vocês tornam meus dias mais felizes. Quanto Orgulho da história

que constroem: fé e determinação!

A Rodrigo Castanho de Campos Leite pelo carinho e momentos repletos de alegria.

À Thais Machado dos Santos pela generosidade e convívio amigo.

Aos meus irmãos, Sandra Beatriz Correia Costa Carvalho, Geraldo Magella Rodrigues da Silva,

Luzana Beatriz Costa Carvalho, João Ribeiro de Carvalho, Sebastião Costa Filho (Tiãozinho

Costa) e Claudiane Freire Carvalho Costa, pelas manifestações permanentes de confiança e

companheirismo. Aos meus sobrinhos amados, pelos gestos diários de carinho.

Aos sobrinhos Antônio, Felipe, Gustavo, Maria Paula, Luisa e Liza Beatriz, crianças que

encantam nossas vidas e, nesta pesquisa, representam todas as crianças goianas e brasileiras.

Page 10: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

9

COSTA, Maria Aparecida. A Educação Infantil em Goiás: percursos e contradições nas décadas

de 1980 e 1990 2016... f.164 Dissertação (Programa de Pós- Graduação em Educação)

Faculdade de Educação, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2016. p.164.

RESUMO

Esta pesquisa, intitulada A Educação Infantil em Goiás: percursos e contradições nas décadas de

1980 e 1990 vincula-se à linha de pesquisa Formação, Profissionalização Docente e Trabalho

Educativo do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Faculdade de Educação, da

Universidade Federal de Goiás. Integra o projeto Políticas Públicas e Educação da Infância em

Goiás: história, concepções, projetos e práticas, desenvolvidos pelo Núcleo de Estudos e

Pesquisas da Infância e sua Educação em Diferentes Contextos (NEPIEC). A investigação

adotou a perspectiva sócio-histórico-dialética, tendo como objetivos conhecer o processo

histórico das instituições de Educação Infantil que estavam sob a responsabilidade do poder

público estadual nas décadas de 1980 e 1990 e identificar onde estão hoje e que projetos

educativos elas desenvolvem. Como opção metodológica, a pesquisa foi realizada em etapas

articuladas, abrangendo levantamento bibliográfico, pesquisa documental e uma etapa empírica,

na qual foram utilizados: questionários, entrevistas e visitas in loco a quatro municípios goianos

(Anápolis, Goiânia, Senador Canedo e Trindade). A pesquisa foi orientada pelas seguintes

questões: O governo do estado de Goiás estruturou políticas públicas no sentido de garantir a

oferta de Educação Infantil às crianças de 0 a 6 anos? As instituições estaduais de Educação

Infantil existentes no período de 1980-1990 continuam seu funcionamento? Como se constituem

hoje, com que finalidade social e quais projetos educativos elas propõem? O diálogo teórico

durante todo o processo da pesquisa se deu, com vários estudiosos, tais como: Almeida (2011),

Alves (2014), Barbosa (1997, 1999a, 2000, 2001, 2003, 2006), Marx (2003), Moura (2002),

Kuhlmann (2007), Priore (2008) e, Sposito (1993). A pesquisa confirma estudos que apontam a

ausência de fontes documentais e evidencia a necessidade das instituições de Educação Infantil

reconstruir seus arquivos e assim, conservarem a história. Observaram-se contradições na

Educação Infantil nas décadas de 1980 e 1990, em que os dados mostram que o Estado deixa de

cumprir com as exigências legais de estabelecimento de políticas públicas para a Educação

Infantil. Além disso, constatou-se também que, na época pesquisada, há projetos pedagógicos

que demonstraram a adoção de apostilamento na Educação Infantil. Houve avanços inegáveis

nas legislações voltadas para a criança de 0 a 6 anos, no entanto, percebem-se influências do

neoliberalismo nas leis e nos documentos oficiais e, consequentemente, na construção da

identidade do profissional de Educação Infantil e na formação continuada.

Palavras-chave: Educação Infantil em Goiás. Instituições de Educação Infantil. História da

Educação Infantil. Municipalização de creches e pré-escolas goianas.

Page 11: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

10

COSTA, Maria Aparecida. The Early Childhood Education in Goiás in the 1980s and 1990s:

History and Contradictions. 2016... f. 164 Dissertation (Postgraduate Program in Education) -

College of Education, Federal University of Goiás, Goiânia, 2016.p.164.

SUMMARY

This research, entitled The Early Childhood Education in Goiás in the 1980s and 1990s:

pathways and contradictions linked to the line of research Training, Teacher Professionalization

and Work Education of the Postgraduate Program in Education, of Faculty of Education, of

Federal University of Goiás. Integrates design Public Policy and Education of Children in

Goiás: history, concepts, projects and practices developed by the Center for Studies and

Research of Childhood and its Education in Different Contexts (NEPIEC). The research adopted

the perspective socio-historical dialectic, with the objective to know the history process of the

institutions of children education who were under the responsibility of public power state in the

1980s and 1990s and to identify where they are today and designs educational they develop. As

a methodological option, the survey was conducted in joint steps, covering literature,

documentary research and empirical step, in which were used: questionnaires, interviews and

site visits to four municipalities in Goiás (Anápolis, Goiânia, Senador Canedo and Trindade).

The research was guided by the following questions: The State has structured public policies to

ensure the provision of Early Childhood Education for children 0-6 years? State institutions

existing Early Childhood Education in the 1980-1990 period are still functioning? As are today,

that social purpose and which educational projects they propose? The theoretical dialogue

throughout the research process took place with various scholars, such as: Almeida (2011),

Alves (2014), Barbosa (1997, 1999a, 2000, 2001, 2003, 2006), Marx (2003), Moura (2002)

Kuhlmann (2007), Priore (2008) and Sposito (1993). The research confirms previous studies

that indicate the absence of documentary sources and highlights the need for childhood

education institutions rebuild their files and thus preserve the history. Contradictions in Early

Childhood Education was observed in the 1980s and 1990s, in which the data show that the

state fails to comply with the legal requirements for establishing public policies for Early

Childhood Education. In addition, also it found is that, in the studied time, there are educational

projects that demonstrated the adoption of textbooks in early childhood education. There has

been undeniable progress in legislation directed to children 0-6 years, however, are perceived

influences of neo-liberalism in the laws and official documents and, consequently, professional

identity building childhood education and continuing education.

Keywords: Early Childhood Education in Goiás. Childhood Education Institutions. History of

Early Childhood Education. Municipalization kindergartens and preschools goianas.

Page 12: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

11

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGEPEL Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira

APAE Associação Pais e Amigos dos Excepcionais

ANPED Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa

BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BM Banco Mundial

CAPES

CEAD

CEI

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

Centro Estadual de Atendimento ao Deficiente

Centro de Educação Infantil

CEFPE

CNE

COED

CONANDA

Centro de Formação dos Profissionais da Educação

Conselho Nacional de Educação

Coordenação Geral de Educação Infantil

Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

CMEI Centro Municipal de Educação Infantil

DCNEI Diretrizes Curriculares nacionais para a Educação Infantil

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

FE Faculdade de Educação

FHC Fernando Henrique Cardoso

FMI Fundo Monetário Internacional

FNDE

FUMDEC

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

Fundação Municipal de Desenvolvimento Comunitário

FUNDEB

FUNDEF

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e

de Valorização dos Profissionais da Educação

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de valorização do Magistério

FUNCAD

IBICT

Fundação da Criança, do Adolescente e da Integração do

Deficiente

Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

LDBEN

LOAS

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

Lei Orgânica da Assistência Social

LOS

MLPC

Lei Orgânica da Saúde

Movimento de Luta Pró-Creche

Page 13: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

12

MEC Ministério da Educação

NEDESC

NEPIEC

Núcleo de Estudos e Documentação, Educação, Sociedade e

Cultura da Faculdade de Educação

Núcleo de Estudos e Pesquisas da Infância e sua Educação em

Diferentes Contextos

NAC

OEA

Núcleo de Apoio da Criança da Vila São João

Organização dos Estados Americanos

ONU Organização das Nações Unidas

OVG

PAFIE

PDE

PDDE

PCN

Organização das Voluntárias de Goiás

Programa de Autonomia Financeira Institucional

Plano de Desenvolvimento da Escola

Programa Dinheiro Direto na Escola

Parâmetros Curriculares Nacionais

PPGE Programa de Pós-Graduação em educação

PPP

PUC

RCNEI

Projetos Políticos Pedagógicos /Propostas Pedagógicas

Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

SEE Secretaria Estadual de Educação de Goiás

SEDUCE Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esporte

SME Secretarias Municipais de Educação

SRE Subsecretarias Regionais de Educação

SUEF Superintendência de Ensino Fundamental

UCG Universidade Católica de Goiás

UEG Universidade Estadual de Goiás

UFG Universidade Federal de Goiás

UNDIME União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação

UNESCO Organização das Nações Unidas Educação, Ciência e a Cultura

UNICEF Fundo das Nações Unidas para Infância

UNCME União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação.

Page 14: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

13

LISTA DE TABELAS

TABELA 01: Funções docentes em educação infantil tendo formação inferior ao ensino

médio completo. Brasil, 1986 e 2000.

TABELA 02: Estabelecimentos de Ensino por Dependência Administrativa 1999-2000.

TABELA 03: Professores por Nível/Modalidade de Atuação 1999-2000

TABELA 04: Matrículas por dependência administrativa no período de 1999 a 2000.

TABELA 05: Matrículas por dependência administrativa no período de 1999 a 2002.

TABELA 06: Dependência Administrativa

Page 15: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

14

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01: Estabelecimentos de Ensino por dependência administrativa 1999-2008.

GRÁFICO 02: Salas de aulas por dependência administrativa no período de 1999 a 2002.

GRÁFICO 03: Quantidade de Unidades Escolares do Município de Anápolis

Page 16: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

15

LISTA DE QUADROS

QUADRO 01: Atendimento da Educação Infantil

QUADRO 02: Autorização para permanência da pré-escola na rede estadual-2001.

QUADRO 03: Relação das 14 Creches próprias da SME de Goiânia

QUADRO 04: Demonstrativo de Municipalização

QUADRO 05: Demonstrativo do Atendimento de creches-Fumdec/1997.

QUADRO 06: Demonstrativo dos Servidores das 13 creches da FUMDEC por função.

QUADRO 07: CMEIS Municipalizados – Goiânia

QUADRO 08: Agrupamentos por faixa etária

Page 17: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

16

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................

18

1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL:

HISTORIZAÇÃO E ANÁLISE........................................................................

33

1.1 Movimentos sociais: implicações nas políticas públicas para a educação

infantil..............................................................................................................

40

1.2 Documentos Nacionais nas décadas de 1980 e 1990: historicidade e

contribuições para a discussão da identidade dos professores da Educação

Infantil.............................................................................................................

49

2. A EDUCAÇÃO INFANTIL NO ESTADO DE GOIÁS NA DÉCADA DE

1980 E 1990...........................................................................................................

66

2.1 Formas de organização para atendimento da Educação Infantil no estado de

Goiás.....................................................................................................................

69

2.2 Atendimento da Educação Infantil em Goiás: debates sobre a municipalização

na década de 1990.........................................................................................

74

2.3 Informações da municipalização da Educação Infantil em Goiás na Revista

―Educação em Dados‖.........................................................................................

83

3. INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL MUNICIPALIZADAS EM

GOIÁS: PROJETOS E CONCEPÇÕES..............................................................

89

3.1 Instituições de Educação Infantil sob a responsabilidade do estado: o início da

pesquisa................................................................................................................

90

3.2 Escolha dos municípios pesquisados: uma construção no Fórum Goiano de

Educação Infantil..................................................................................................

92

3.3 Análise dos dados obtidos na pesquisa empírica. 95

3.3. 1 Município de Anápolis 95

3.3. 2 Município de Goiânia 102

3.3. 3 Município de Senador Canedo 115

3.3. 4 Município de Trindade 121

CONSIDERAÇÕES FINAIS 126

REFERÊNCIAS 132

APÊNDICES 140

APÊNDICE A: Questionário utilizado para obtenção de informações 141

APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE 142

APÊNDICE C: Entrevistas realizadas com profissionais que atuavam/atuam na

Educação Infantil

145

APÊNDICE D: Legislações citadas e analisadas na pesquisa 147

APÊNDICE E: Documentos citados e analisados na pesquisa 148

APÊNDICE F: Ofícios solicitando autorização para realização da pesquisa 150

APÊNDICE G: Ofícios solicitando dados para realização da pesquisa 151

APÊNDICE H: Levantamento bibliográfico da CAPES 152

Page 18: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

17

APÊNDICE I: Levantamento bibliográfico realizado na Biblioteca Digital

Brasileira de Teses e Dissertações – BDTD

153

APÊNDICE J: Quadro demonstrativo de entrevistas 154

ANEXOS 155

ANEXO 01: Mapa do Estado de Goiás 156

ANEXO 02: Programação do Encontro de Educação Infantil 157

ANEXO 03: Ações desenvolvidas pelo Departamento de Educação Infantil da

Secretaria Estadual de Educação de Goiás 1999-2001

158

ANEXO 04: Revistas Educação em Dados 159

ANEXO 05:Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta 160

ANEXO 06: Imagens do incêndio ocorrido no CMEI Maria Pedro de Jesus 161

Page 19: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

18

INTRODUÇÃO

Esta dissertação resulta da pesquisa de mestrado realizada no Programa de

Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Faculdade de Educação (FE) da Universidade

Federal de Goiás (UFG) na linha ―Formação, Profissionalização Docente e Trabalho

Educativo‖ e vincula-se ao projeto Políticas Públicas e Educação da Infância em

Goiás: história, concepções, projetos e práticas do Núcleo de Estudos e Pesquisas da

Infância e sua Educação em Diferentes Contextos (Nepiec)1.

A pesquisa encontra-se marcada por uma motivação pessoal, acadêmica e

profissional com o objeto de pesquisa. Ao longo de nossa trajetória pessoal e

profissional, sempre houve envolvimento com as discussões acerca da infância e da sua

educação. Na sala de aula, as diversidades de situações vivenciadas com as crianças

inquietavam e incentivavam nosso estudo sobre a temática. Nesse processo, instigada

pelos diferentes espaços de ocupação profissional, bem como por debates que se

estabeleceram sobre essa temática, o campo de discussão sobre a criança de 0 até 6 anos

se intensificou, mesmo com todas as contradições e dinamismos próprios daquele

momento histórico, com limitações e projetos específicos para a época. Naquele

período foram necessários ousadia e compromisso para falar de infância e da educação

infantil em um momento em que a prioridade do poder público era o Ensino

Fundamental e Médio. É preciso destacar nossa atuação na década de 1980, na

educação infantil como professora e, posteriormente, na década de 1990, como

coordenadora do Departamento de Educação infantil2 da Superintendência de Ensino

Fundamental (SUEF)3 da Secretaria Estadual de Educação

4.

Nossa pesquisa surgiu com grandes desafios, cujo objetivo geral foi

investigar os percursos das instituições de educação infantil em Goiás que estavam sob

a responsabilidade da administração estadual nas décadas de 1980 e 1990 e

1 Núcleo de Estudos e pesquisas da Infância em Diferentes Contextos (Nepiec) da Faculdade de Educação

da Universidade Federal de Goiás (UFG) O Nepiec é coordenado pela Professora Drª. Ivone Garcia

Barbosa. O Núcleo vem se dedicando a estudar a educação infantil e participado das decisões sobre a

criança de 0 até 6 anos no estado e no País. A contribuição do Nepiec se efetiva também no Fórum

Goiano de educação Infantil e colabora com os municípios na construção de políticas públicas específicas

para a educação infantil. 2 Setor responsável pelo acompanhamento administrativo e pedagógico das instituições de educação

infantil que estavam sob a responsabilidade da Secretaria Estadual de Educação. A Equipe era composta

por: Elizete Maria de Lima, Maria Aparecida Costa, Maria das Graças Pereira Ribeiro, Marilda Costa

Valente e Marina Brasil Chaves.

3 Setor responsável pelo acompanhamento e monitoramento de todos os projetos e/ou programas

referentes ao atendimento dos estudantes de 1º ao 9º anos. 4 Secretaria Estadual de Educação – Nomenclatura da instituição utilizada nas décadas de 1980 e 1990.

Atualmente o nome é Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte.

Page 20: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

19

compreender onde essas instituições estão atualmente e sob a responsabilidade de qual

esfera do poder público? Quais projetos educativos elas desenvolvem?

Assim, como Moysés Kuhlmann Júnior (2007) descreve dos inúmeros

questionamentos em sua trajetória ao pesquisar sobre a história da infância, foram

muitas as pessoas que perguntaram o porquê de pesquisarmos a infância e sua educação

em instituições no passado e, também, muitos aqueles que consideraram uma pesquisa

difícil, quase inviável, devido à falta de fontes seguras. Os questionamentos que mais se

destacaram: por que retomar ao passado e como localizar documentos das décadas de

1980 e 1990, considerando a prática das instituições de não arquivarem seus

documentos a fim de conservarem fontes importantes do processo de constituição dos

projetos. Ainda, com base nas experiências dos pesquisadores do Nepiec e de outros

pesquisadores, nota-se que fontes históricas se perderam em arquivos diversos, o que

parece indicar não apenas uma despreocupação com sua manutenção, mas também uma

necessidade manifesta de alguns departamentos, instituições ou pessoas responsáveis

quanto à eliminação ou descarte do material avaliado ―sem utilidade‖ imediata, não

havendo espaço físico para seu arquivamento adequado.

Consideramos, no entanto, que é imprescindível investigar o passado, pois

estudiosos da Educação Infantil ressaltam a importância da história ao estudar a infância

para compreender os processos percorridos durante décadas que coincidem com a

própria condição de pesquisadora enquanto também sujeito e parte da história goiana.

Concordando com Kuhlmann Jr. (2007), ao rever o passado a opção é valorizar os fatos

que aconteceram para evitar o desenvolvimento de ações já realizadas como se estas

fossem inéditas, desconsiderando que estas compõem um processo histórico. Por outro

lado, como mostra o mesmo autor, relegar a história por acreditar que seja teórica é uma

forma de criticar a pesquisa, a academia e as instituições, desconsiderando

acontecimentos essenciais e assim, assumir ideias vazias, apartadas das necessidades

sociais e de suas origens. Dessa ótica, a ausência de fontes históricas pode corroborar

para adoção de modelos prontos que promovem práticas reprodutivas e não apresentam

possibilidades de reflexão.

Outra questão levantada em relação à dificuldade de realização desta

pesquisa se refere a ausência de documentos que confirmassem as informações , que

exigiu intensa busca. Nas palavras de Kuhlmann Jr. (2007), revela-se parte desse

questionamento sobre a pesquisa de caráter historiográfico:

Page 21: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

20

uma outra forma de desvalorização da história é a cristalização da

historiografia, o considerar, por exemplo, que o histórico de tal ou qual

instituição, escrito por um de seus membros já permitiria entender o que ali

aconteceu, ou que a existência de estudos sobre um determinado período

torna desnecessário que ele seja novamente pesquisado. (KUHLMANN JR.

2007, p. 6 e 7).

Para o citado estudioso, a ausência de fontes de pesquisas contribuiu para

interpretações errôneas sobre a história das instituições de educação infantil. Exemplo

disso é a interpretação sobre as suas origens na qual, devido à aparência do fenômeno,

se faz a cisão sobre o cuidar e o educar, que é contraposta por vários estudos, a exemplo

de Kuhlmann Jr. (2007) e Barbosa (1997).

Neste sentido, assumimos os desafios na realização de nossa pesquisa, sem

nenhuma hesitação, pela certeza da possibilidade de tornar público a relevância dos

nossos estudos para a educação infantil brasileira, em especial, no Estado de Goiás, pois

ainda são muitas as lacunas de dados sobre a nossa temática de estudo.

Na investigação contemplamos ações desenvolvidas pelo Departamento de

Educação Infantil da Secretaria Estadual de Educação de Goiás que mantinha

interlocução com as Subsecretarias Regionais de Educação (SREs)5

que se

responsabilizavam pelo atendimento em creches e pré-escolas, e com os municípios

goianos que já contavam ou recebiam as instituições da esfera estadual. O objeto de

nosso estudo contempla também ações desenvolvidas pelo governo estadual no

processo de municipalização das creches que eram vinculadas á Secretaria de Cidadania

e Trabalho6 evidenciando-se processos vivenciados na transferência das creches da

Fundação Municipal de Desenvolvimento Comunitário (Fumdec).

O levantamento bibliográfico possibilitou a constatação de que há escassez

de pesquisas sobre a Educação Infantil nas décadas de 1980 e 1990 no estado de Goiás.

No contexto atual, o Núcleo de Estudos e Pesquisas da Infância em Diferentes

Contextos (Nepiec/FE/UFG) tem contribuído com o resgate histórico de projetos

voltados à educação das crianças de 0 até 6 anos, por meio das pesquisas e grupos de

estudos que permitem, coletivamente, pensar sobre que lugar ocupa a criança hoje e os

percursos dos projetos educativos em creches e pré-escolas.

5Setores da SEE que concentram equipes que acompanham as unidades educacionais de municípios

jurisdicionados. Os municípios goianos são distribuídos em subsecretarias considerando a dimensão

territorial e atualmente existem 40 subsecretarias. 6Secretaria de Cidadania e Trabalho-Instituição do governo do estado de Goiás responsável pelo

acompanhamento de crianças e adolescentes. Atualmente a nomenclatura é Secretaria da Mulher, do

Desenvolvimento Social, da Igualdade Social, dos Direitos Humanos e do Trabalho.

Page 22: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

21

Considerando as experiências e os desafios do objeto de estudo, a pesquisa

tem como ponto de partida questionamentos que colaboram para compreender a

trajetória das instituições das décadas de 1980 e 1990 e também para identificar que

espaços ocupam hoje, quais projetos educativos desenvolvem. Assim, para realizar a

pesquisa e fazer um diagnóstico apresentam-se algumas questões orientadoras: o

governo do estado de Goiás estruturou políticas públicas no sentido de garantir a oferta

de Educação Infantil às crianças de 0 até 6 anos? As instituições estaduais de Educação

Infantil existentes no período de 1980-1990 continuam seu funcionamento? Como se

delineiam os projetos pedagógicos daquelas instituições hoje?

Durante séculos, a educação da criança de 0 até 6 anos ficou sob a

responsabilidade da família, instituição social, em que a criança aprendia as normas e

costumes de sua cultura. Enquanto dever do Estado e política pública é recente no

Brasil, com uma trajetória que se configura como creches, asilos e orfanatos, voltados

para o atendimento à classe trabalhadora, evidenciando o caráter assistencialista. Os

estudos de Palacin (1981), Barbosa (1997, 1999a, 1999b, 2000, 2001, 2003, 2006),

Faria e Demartine (2002) Almeida (2010) mostram o descaso histórico do estado em

relação à infância, em que as políticas públicas desconsideram as determinações

estabelecidas na LDBN/1996 de que a educação infantil seja assumida em regime de

cooperação entre as esferas federais, estaduais e municipais.

No contexto mundial e brasileiro, as concepções e práticas em relação à

infância foram se alterando, em parte, como resultado dos movimentos em defesa da

criança. Essas mudanças tiveram contribuições expressivas da Declaração Universal dos

Direitos da Criança, no ano 1959, bem como a influência de organismos internacionais

como os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento, Banco Interamericano (BID);

Banco Mundial (BM) e outras organizações como Organização das Nações Unidas,

Educação, Ciência e a Cultura (Unesco) e o Fundo das Nações Unidas para Infância

(Unicef), instituições que idealizam e financiam propostas de um suposto

desenvolvimento social ( MARQUEZ,2006). Ademais, há de se reconhecer a grande

contribuição das pesquisas brasileiras e dos movimentos sociais na constituição de

novos aportes teóricos e conceituais, assim como de novas práticas envolvendo a

infância e a educação de crianças de 0 até 6 anos (BARBOSA, 1997; ALVES, 2002;

SILVEIRA, 2015).

No Brasil, transformações podem ser notadas quanto à compreensão de

infância e ao tratamento dado à criança, nas décadas de 1980 e 1990. Essas mudanças

Page 23: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

22

encontram-se expressas na produção da legislação como: Constituição Federal de 1988,

o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 (ECA), Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional de 1996 (LDBEN), Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil

(DCNEI) de 1999, revisadas em 2009, entre outros – e em documentos produzidos pelo

Ministério da Educação (MEC), como o Referencial Curricular Nacional para a

Educação Infantil (RCNEI).

É preciso assinalar que as décadas investigadas representam um momento

proficiente para a criança, com avanços nas legislações, nas pesquisas e nas discussões

sobre a infância, que ganham pauta nas agendas de movimentos sociais e instituições

que trabalham com a Educação Infantil. As duas décadas são consideradas marcos,

destacando-se nelas a defesa dos movimentos sociais por creches e, como assinalamos,

a elaboração de legislações, que alteram o quadro da criança de 0 até 6 anos de idade,

inserindo a Educação Infantil ao sistema educacional, caracterizando-a como primeira

etapa da Educação Básica.

Para fundamentar os estudos realizados, foi necessário compreender o

conceito de infância, considerando a esfera ideológica e percebendo que as visões sobre

a criança, historicamente, variam em diferentes grupos e organizações sociais, bem

como nas diferentes culturas. A infância foi assumida no bojo de nossa pesquisa como

uma produção sócio-histórica uma vez que "não poderemos, hoje, na sociedade

capitalista, pensá-la, em abstrato, referindo-nos à criança independentemente de sua

classe social" (FARIA,1999, p. 61). Portanto, essa concepção exigiu-nos compreender a

criança como um ser que vive em processo de desenvolvimento, reconhecendo nela suas

especificidades.

O referencial teórico-metodológico assumido no processo da pesquisa se

fundamentou em autores como Marx (2003) e Barbosa (2006) e no campo da

historiografia em Sposito (1993), Menezes (2004), Kuhlmann Jr. (2007), Mary Del

Priore (2008). No decorrer das investigações dialogamos com muitos outros autores que

estão contemplados nesta dissertação.

A pesquisa teve por base a perspectiva histórico-dialética, concebendo a

investigação científica como fenômeno em constante movimento e transformação

(MARX, 2003). Como mostra Barbosa (2006), o método se justifica considerando a

concepção de realidade, de mundo, de homem e de sociedade. Tal perspectiva, segundo

a autora, aponta a importância de se relacionar o plano da realidade e o plano histórico,

sendo que ambos são comprometidos com uma teia de relações contraditórias e por

Page 24: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

23

conflitos, envolvendo a construção, a negação e a transformação dos fatos,

simultaneamente. Nesta compreensão, Gaudêncio Frigotto (1989) ressalta que se torna

necessário ir para além da aparência dos fenômenos, do movimento visível, da

representação enquanto fenômeno meramente subjetivo.

A realização do processo de investigação envolveu várias ações, diferentes

procedimentos, exigindo o uso de diferentes instrumentos. Entre os procedimentos

utilizados, destacamos: proposição de questionários (Apêndice A) e do Termo e

Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE (Apêndice B), realização de entrevistas

(Apêndice C), levantamento e análise da bibliografia pertinente ao nosso objeto de

investigação; levantamento de legislações (Apêndice D) e documentos (Apêndice E).

Para a viabilização da pesquisa foram encaminhados ofícios (Apêndice F e G) à

Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esporte; Secretaria da Mulher, do

Desenvolvimento Social, da Igualdade Social, dos Direitos Humanos e do Trabalho e às

Secretarias Municipais de Educação de Anápolis, Goiânia, Senador Canedo e Trindade.

Rosiris Souza (2012) afirma que a pesquisa bibliográfica permite analisar de

forma crítica os aspectos que constituem o objeto de estudo e assim, compreender o

essencial no dinamismo e nas contradições do processo da realidade concreta. Uma das

etapas de nossa investigação abrangeu o levantamento bibliográfico sobre pesquisas

relacionadas com a história da infância. O levantamento de dissertações e teses

publicadas foi feito no banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de nível Superior (CAPES), nos Programas de Mestrado e Doutorado da Universidade

Federal de Goiás e na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) do

Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT).

O recorte temporal para levantamento das pesquisas abrangeu o período de

2009 a 2014, considerando este um período fértil de pesquisas sobre a infância e com

uma produção significativa do ponto de vista da legislação sobre a Educação Infantil,

destacando-se as DCNEI (BRASIL, 2009). Os descritores escolhidos sobre a temática

da pesquisa para o citado levantamento foram: história da infância, educação infantil em

Goiás, municipalização, educação infantil 1980 e educação infantil 1990.

No levantamento bibliográfico da CAPES (Apêndice H) constam pesquisas

de 2011 e 2012 e foram identificadas 323 dissertações de mestrado e 89 teses de

doutorado, totalizando 413 pesquisas. Destas, selecionou-se para leitura 27, sendo que

14 temas possuem relação com o objeto desta pesquisa. No site da CAPES, a

Page 25: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

24

coordenação informa que os dados estão sendo atualizados e, portanto, em um primeiro

momento, somente estão disponíveis os trabalhos defendidos nos anos de 2011 e 2012.

O descritor ―História da Infância‖ contempla maior número de dissertações

e teses no período pesquisado na Capes. A leitura das pesquisas permite observar

discussões sobre políticas públicas, a relação da Organização das Nações Unidas

Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) e Fundo das Nações Unidas para Infância

(UNICEF) na formulação de políticas para a Educação Infantil a partir de 1990, a

confirmação de que o Estatuto da Criança e do Adolescente ainda não está totalmente

efetivado como direito, a inclusão na educação infantil, a persistência intergerencial do

trabalho infantil e educação infantil nas décadas de 1990 e 2000, a produção de

dissertações e teses sobre infância na pós-graduação em educação no Brasil de 1887 a

2005.

Em relação ao levantamento bibliográfico realizado na Biblioteca Digital

Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), (Apêndice I) do Instituto Brasileiro de

Informação em Ciência e Tecnologia, no período de 2009 a 2014, contam 405

dissertações de mestrado e 195 teses de mestrado perfazendo o total de 600 pesquisas.

Foram selecionadas para leitura 28 pesquisas e, entre elas, dez são relacionadas ao tema.

As pesquisas selecionadas evidenciam maior número nos descritores

―História da Infância‖, ―Educação Infantil em Goiás‖, ―Educação Infantil 1990‖ e não

foram localizados estudos no período pesquisado nos descritores ―Educação Infantil

1980‖ e ―Municipalização da Educação Infantil‖ reafirmando a necessidade de

intensificar os estudos abordados nesta dissertação.

A pesquisa documental representou uma metodologia privilegiada para a

construção da dissertação. Na pesquisa documental implica trazer para a discussão uma

metodologia que na compreensão de Menga Ludke e Marli André (2001) visa localizar

informações em documentos que tornam fontes importantes que permitirão identificar

evidências para a realização da pesquisa. A análise documental apesar de ser pouco

utilizada, é rica e estável de dados e favorece, como ponto de partida, identificar, a

partir das marcas do passado, os rastros que vivemos no presente.

Analisamos documentos das décadas de 1980 e 1990 e do contexto atual.

Entre eles destacam-se: legislações, documentos referenciais de educação infantil,

proposta político-pedagógica, regimentos, resoluções, atividades de crianças, relação de

instituições que eram atendidas pela Secretaria Estadual de Educação de Goiás (SEE),

da Fundação da Criança, do Adolescente e da Integração do Deficiente (Funcad-GO) e

Page 26: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

25

da Fundação Municipal de Desenvolvimento Comunitário (Fumdec), relação de

autorização de permanência de instituições de Educação Infantil atendidas pela

Secretaria de Educação, gravação em áudio (fita cassete), recortes de jornais, revistas,

imagens; enfim, diversos documentos disponibilizados em arquivos das instituições e

arquivos particulares. Na análise dos documentos, observou-se a historicidade, os

múltiplos determinantes, a relação com a concepção de criança, os fatores sociais,

culturais e econômicos em que se constituíram.

Na etapa empírica da pesquisa, delimitamos ações articuladas com a

pesquisa bibliográfica e documental. Para a viabilização da pesquisa foram

encaminhados ofícios à Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esporte, Secretaria

da Mulher, do Desenvolvimento Social, da Igualdade Social, dos Direitos Humanos e

do Trabalho e aos municípios de abrangência da investigação. Devido à extensão do

Estado de Goiás, que é composto por 246 municípios,7 a Secretaria de Estado da

Educação, Cultura e Esporte (Seduce) encontra-se dividida em quarenta Subsecretarias

Regionais de Educação e cada uma possui os municípios jurisdicionados. Neste estudo,

conforme esclarecemos anteriormente, analisamos as instituições que pertenciam ao

poder público estadual e foram assumidas pelos municípios selecionados. A opção se

justifica pela intenção de que a totalidade dos dados seja analisada cuidadosamente,

uma vez que as Subsecretarias abrangem diversos municípios e, portanto eram

atendidas, nas décadas de 1980 e 1990, instituições de Educação Infantil no Estado.

A pesquisa inicialmente estava aberta a todos os municípios goianos sem

uma definição prévia. Ela foi apresentada, no dia 10 de março de 20148

, aos

representantes dos municípios que integram o Fórum Goiano de Educação Infantil 9e, na

reunião do dia 14 de abril de 201410

foi entregue no Fórum o Questionário, o Termo e

Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE com a orientação de que as pessoas que

pudessem colaborar com a pesquisa encaminhassem por e-mail ou entregassem na

7 Dados obtidos no Censo Nacional de 2010.

8Municípios /Participantes da reunião do Fórum do dia 10 de março de 2014: Rio Verde, Aparecida de

Goiânia, Goiânia, Anápolis, Senador Canedo, Jataí, Palminópolis, Jandaia, Pirenópolis, Acreúna,

Trindade, Itaberaí, Quirinópolis, São Luís de Montes Belos, Vicentinópolis, Alvorada do Norte, Itumbiara

e Aporé. 9 Coordenado pela Profa. Dra. Ivone Garcia Barbosa conta com a participação de diversos segmentos da

sociedade, entidades, professores, municípios parceiros e pesquisadores interessados na discussão da

Educação Infantil e infância. 10

Municípios/Participantes da reunião do Fórum no dia 14 de abril de 2014: Jataí, Senador Canedo,

Anápolis, Pirenópolis, Rio Verde, Aparecida de Goiânia, Cezarina, Goianésia, Cristalina, Santa Rita do

Novo Destino, Joviania, São Luís do Descoberto, Aguas Lindas, Cocalzinho, Trindade, Acreuna, Aporé,

Guaraíta, Bom Jesus de Goiás, Palmelo, Rialma, Palminópolis, Abadia de Goiás, Vicentinópolis, Jandaía

e Flores de Goiás.

Page 27: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

26

reunião seguinte do Fórum. Posteriormente, também foram encaminhados por e-mail os

instrumentos aos contatos dos integrantes do Fórum.

É importante destacar que dos questionários entregues no fórum, obtivemos,

por e-mail, respostas das Secretarias Municipais11

de Educação de Aparecida de

Goiânia, Jataí, Jussara e Vicentinópolis. Os municípios que justificaram a

impossibilidade de contribuírem argumentaram que seria necessário maior tempo para

que lhes fosse possível recorrer aos seus arquivos ou, na ausência deles, constituírem a

história das instituições de infância. O movimento em torno da discussão da pesquisa

foi muito interessante, principalmente pela oportunidade de dialogar sobre as diversas

realidades, ocorrendo, nas reuniões do Fórum, sempre uma nova informação, revelada

com entusiasmo.

Os questionários também foram encaminhados, via e-mail, para 40

Subsecretarias Regionais de Educação do estado, com o objetivo de oportunizar que

todos os municípios goianos contribuíssem com a pesquisa a partir de sua história.

Responderam os questionários as Subsecretarias Regionais de Educação de: Aparecida

de Goiânia, Formosa, Goianésia, Morrinhos, Porangatu e Silvânia. A apresentação da

pesquisa no Fórum Goiano de Educação Infantil e o questionário, que buscou o

levantamento inicial mobilizaram profissionais da rede estadual e municipal a

perceberem a necessidade de retomar a história das instituições da Educação Infantil em

suas realidades.

Entre as respostas recebidas por e-mail, optamos por trazer para a pesquisa,

informações de Jataí e Morrinhos, que mesmo não compondo os municípios que a

investigação abrange, evidenciam as limitações iniciais demonstradas por muitos dos

municípios e subsecretarias regionais de educação com a conservação de fontes

documentais.

As informações do município de Jataí permitiram observar que a Secretaria

Municipal de Educação percebe a relevância da pesquisa, conforme expressa a

professora Danielsie Silva do Carmo, assessora do Núcleo de Educação Infantil, da

Secretaria Municipal de Educação de Jataí

[...] o convite para a participação nesse estudo nos fez olhar nossa realidade por outro

prisma, pois, imersos em nossa atribulada e tumultuada rotina de trabalho ainda não

tínhamos nos atentado para o fato de que, nesse núcleo, não temos nenhuma documentação

11

Secretarias Municipais de Educação que responderam o questionário por e-mail: Aparecida de Goiânia,

Jataí, Jussara e Vicentinópolis.

Page 28: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

27

anterior ao ano de 2010. E mesmo essa documentação que temos, não trata de nada além de

algumas incompletas orientações curriculares. Isso nos causou grande mal estar, pois em

breve levantamento, não conseguimos nenhuma informação documental acerca das

instituições e nem mesmo a informação de onde encontrar documentos — e se existem —

que atestem os caminhos que a Educação Infantil tomou nesses últimos anos, nos dando a

lamentável impressão que tudo se fez novo ao se suceder as gestões municipais,

descartando tudo o que foi da gestão anterior.

A ausência de dados observada pela SME de Jataí confirma os estudos de

Kuhlmann Jr. (2007), que afirma que mesmo estudando o passado, a história é dinâmica

e, portanto, requer a ampliação dos estudos e uma análise crítica das fontes. A

explicitação clara da Professora da SME de Jataí de que é preciso retomar a história e

assim, evitar a impressão equivocada de que a gestão realiza ações novas, sem

considerar o que já foi construído, permite perceber que as instituições precisam

assegurar a sua memória, conservando as muitas vozes das crianças e de outros

trabalhadores da Educação Infantil que precisam ser registradas.

No que se refere às instituições que eram da esfera estadual e estão hoje no

município, a Professora da SME de Jataí descreve que

[...] as poucas informações que coletamos, via conversas com pessoas que estão nesta

Secretaria por mais tempo, diz respeito ao fato de que até 1998, ano da municipalização do

sistema de Ensino Básico, todas as creches estavam sob a tutela do governo estadual (Lei

de implantação do Sistema Municipal de Ensino e do Conselho Educacional, em anexo),

que dava todas as diretrizes para o funcionamento das instituições. Não podemos precisar,

mas concluímos com base em relatos, que as instituições mais antigas são as filantrópicas,

que continuam em funcionamento, sendo: CMEI Santa Rosa, que já foi municipalizado;

CMEI João XXIII, que está em processo de municipalização nesse momento); CMEI

Bezerra de Menezes, ainda filantrópico. Quanto ao projeto educativo do município, estão

embasados no documento chamado Currículo Pleno da Educação Infantil, aprovado pelo

Conselho Municipal de Educação. Cada instituição tem seu Projeto Político Pedagógico,

que orienta suas ações educativas.

A SME de Jataí encaminhou documentos das instituições de Educação

Infantil, entre eles, a cópia da Lei nº 1.968/97, que cria o Conselho Municipal de

Educação de Jataí que mostra as diferentes representações nas decisões, a exemplo da

participação de representantes de professores, pais, diretores. Em nosso entendimento, o

Conselho Municipal representa um espaço legítimo para a proposição de ações que

defendam a criança de 0 até 6 anos como sujeito de direitos e, portanto, a criação e

implementação do Conselho se consolida como uma decisão política necessária no

campo da educação.

Page 29: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

28

A Subsecretaria Regional de Educação de Morrinhos12

disponibilizou cópias

de Resoluções e Portarias de autorização de funcionamento de Pré-Escolas das décadas

de 1980 e 1990 que foram regulamentadas em diferentes gestões. Os documentos

encaminhados permitiram observar que no decorrer das décadas de 1980 e 1990, as

administrações públicas autorizavam as classes Pré-escolares, a exemplo, da Portaria nº

432/82 que contempla a autorização de funcionamento de duas classes Pré-escolares, na

Escola Sylvio de Mello consideradas como preparatório de alfabetização para crianças

de 6 anos, autorizada pela Superintendência de Assuntos Educacionais 13

e em março

de 1985, a Portaria nº 1.957/8514

autorizou a Escola ―Dra, Gertrude Lutz‖ para

atendimento de uma classe de Pré-escolar. Em 1993, permaneceu a autorização de

funcionamento de classes Pré-escolares15

, preparatórias para alfabetização, conforme

Portaria nº 5.232/93 e a Resolução nº 785/93 do Conselho Estadual de Educação,

autorizando o funcionamento de classes Pré-Escolares na Escola Rotary Clube. Ao

analisar as Portarias e Resoluções da SRE de Morrinhos e relacionar ao contexto da

época, é possível inferir que o estado desenvolvia ações em que predominavam a

preparação para a escolarização.

É importante destacarmos que as respostas dos municípios de Jataí e

Morrinhos revelam duas realidades distintas: ausência e conservação de arquivos sobre

as instituições de Educação Infantil e expressam ao mesmo tempo, a disposição para

constituírem ou ampliarem seus registros históricos em futuras pesquisas.

Inicialmente, o município de Aparecida de Goiânia, seria um dos espaços de

abrangência da pesquisa. No Fórum, foram realizadas conversas informais e,

oficialmente, fizemos contatos com a coordenação do Departamento de Educação

Infantil da Secretaria Municipal de Educação e uma visita à SME. Mas, como a

Secretaria não tinha instituições de Educação Infantil no período da pesquisa e, diante

da constatação de ausência de fontes, notou-se a dificuldade em continuar com a

investigação, principalmente pelo tempo de mobilizar a busca por informações.

O processo de escolha dos municípios participantes de nossa investigação

foi se constituindo durante as reuniões do Fórum Goiano de Educação Infantil. Ao

12

Resposta ao questionário, encaminhada por e-mail no dia 10 de junho de 2015, pela professora

Homerilda de Padua Espíndola - Inspetora da Subsecretaria Regional de Educação de Morrinhos/Seduce.

Especialista em Planejamento Educacional. 13

Iolany Carolina Nunes - Superintendente de Assuntos Educacionais. 14

Portaria assinada na gestão de Adhemar Santillo, em março de 1985, como Secretário de Educação. 15

Em 1993 permaneceu a autorização na gestão da secretária Terezinha Vieira dos Santos.

Page 30: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

29

apresentarmos a pesquisa no Fórum, o movimento foi definindo quais seriam os

municípios, pelas próprias respostas e interesses destes e a pesquisa resultou na escolha

de municípios de pequeno, médio e grande porte. Os municípios de Anápolis, Goiânia,

Senador Canedo e Trindade começaram a envolver na pesquisa pela constatação de que

não possuíam registros e, portanto, a necessidade de construírem a sua própria história.

O Fórum representou um lócus privilegiado para o início da pesquisa e se efetivou

como um movimento social muito presente na construção do processo investigativo

sobre a Educação Infantil em Goiás nas décadas de 1980 e 1990.

A pesquisa realizada em municípios de pequeno, médio e grande porte, com

suas realidades distintas, possibilitou-nos observar semelhanças e diversidades em

relação ao objeto de estudo. Os municípios de Anápolis, Goiânia e Trindade, de acordo

com os dados do Departamento de Educação Infantil da Secretaria Estadual de

Educação, em 1999,contavam com instituições que estavam vinculadas ao Estado e que

foram municipalizadas sendo: Anápolis: 139 turmas de pré-escolas, Goiânia: 182 de

pré-escolas e Trindade: 82. O município de Senador Canedo contava com 03

instituições de Educação Infantil que eram administradas pelo poder público estadual e

atualmente, estão na rede municipal. A FUNCAD, segundo os dados do Departamento,

administrava 81 creches.

Em Anápolis, as mudanças são intensificadas na Educação Infantil a partir

de 2000 em que a SME começa a assumir as instituições. Em Goiânia, 13 creches

pertenciam a Fundação Municipal de Desenvolvimento Comunitário e o levantamento

disponibilizado pela SME de Goiânia mostra que 62 instituições de Educação Infantil

foram municipalizados (Quadro 7): em Senador Canedo, 03 instituições foram

municipalizadas e em Trindade, 3 instituições de Educação Infantil estão atualmente na

rede municipal, transferidas da rede estadual.

Essas informações foram obtidas via análise documental e por meio de

entrevistas (Apêndice C), que permitiram o diálogo com os sujeitos envolvidos nas

instituições de Educação Infantil, a partir do que elaboramos um quadro demonstrativo

das entrevistas realizadas (Apêndice J). O principal objetivo da realização das

entrevistas foi à obtenção de informações vivenciadas pelos envolvidos nas instituições

que atendiam e atendem crianças de 0 até 6 anos de idade, como coordenadoras,

professoras e monitoras da Educação Infantil. Concordamos com a perspectiva de

entrevista reflexiva assumida por estudiosos, a exemplo de Heloisa Szymanski (2002),

que mostra que o significado é construído pela interação. Nesse sentido, os estudos, os

Page 31: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

30

questionários e documentos, os diálogos firmados durantes as visitas às secretarias dos

municípios e aos seus gestores e professores, bem como com pesquisadores da área, se

constituíram fontes de pesquisa, permitindo comparar, analisar, evidenciar o movimento

da infância no passado e na atualidade.

O maior estranhamento dos participantes da pesquisa, no início das nossas

visitas em campo, foi à constatação de que não existiam arquivos dos documentos das

décadas de 1980 e 1990. Esse cenário modificou-se na medida em que os documentos

foram sendo resgatados pelas pessoas entrevistadas ou localizados em arquivos

pessoais, como foi o caso do arquivo particular da coordenadora do NEPIEC, cujo

acervo remonta da década de 1980 e do qual utilizamos muitos documentos citados

nesse trabalho dissertativo.

A apresentação do objeto de estudo às Secretarias Municipais de Educação

sinalizou possibilidades de que elas possam sistematizar a história da educação infantil

de seu município, o que mobilizou parte significativa das pessoas entrevistadas a

colaborarem de forma efetiva com a pesquisa. A direção de Educação Infantil do

município de Senador Canedo, por exemplo, inseriu toda a equipe no trabalho,

percorrendo caminhos para obter fontes seguras da história, recorrendo à Igreja, ao

Conselho Municipal de Educação e a outros espaços ou a pessoas do período

pesquisado. Da mesma forma, os municípios de Anápolis, Goiânia e Trindade

contribuíram demonstrando compromisso, emoção e envolvimento com a criança de 0

até 6 anos.

Para elaborar a etapa expositiva da pesquisa, optamos em estruturar a

dissertação em três capítulos que compreendem a totalidade dos fatos históricos, com

uma análise crítica em que esses fatos estão inseridos e conforme pressupõe o

materialismo histórico dialético, apoiando-nos sempre na unidade teoria e metodologia.

Os capítulos estão articulados e a pesquisa sinaliza, retoma, descreve fatos históricos e

para além de simplesmente descrever, mantém um diálogo considerando que não é

suficiente descrever a história, mas realizar uma análise crítica às informações e

indícios, transformando-os em dados sistemáticos.

A expectativa delineada nesse processo de pesquisa está em consonância

com Nivaldo David (2012) quando o pesquisador preconiza que

na perspectiva marxista, são os processos históricos sociais que constituem a

estrutura dinâmica da realidade material. Por isso, somente através de um

método de investigação com a capacidade de historicizar os processos

culturais e sociais humanos que haveria a possibilidade de compreender o

movimento do real, entender as relações entre estrutura e superestrutura

Page 32: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

31

mediada pela atividade humana e as contradições fundamentais presentes na

sociedade. (DAVID, 2012 p. 48)

Nesta compreensão, foram consideradas as contradições e mudanças dos

diferentes momentos das instituições de Educação Infantil, com o entendimento de que

a investigação precisa contemplar um olhar para o contexto social, cultural e histórico.

No Capítulo 1 são abordadas as políticas públicas para a Educação Infantil,

história, contextos e práticas. Apresentamos de modo panorâmico as origens da infância

goiana, os movimentos sociais na defesa da criança de 0 até 6 anos e a repercussão

desses movimentos para a Educação Infantil. Destaca-se também no texto a discussão

sobre a identidade do profissional da Educação Infantil nas legislações e documentos

nacionais da década de 1980 e 1990 na constituição e a formação continuada desses

profissionais. Optamos ainda por discutir implicações dos documentos nacionais

elaborados nas décadas de 1980 e 1990 na constituição do campo específico da

educação das crianças de 0 até 6 anos, analisando as indicações postas no Referencial

Curricular Nacional para a Educação Infantil-RCNEI, bem como das Diretrizes

Curriculares para a Educação Infantil-DCNEI (1999) no processo formativo.

No Capítulo 2, são contextualizadas instituições de Educação Infantil do

estado de Goiás, nas décadas de 1980 e 1990, evidenciando a infância em Goiás, as

formas de acompanhamento do Estado no atendimento à educação infantil e questões

que foram fundamentais à municipalização da Educação Infantil no estado de Goiás,

formas de financiamento e informações da Educação Infantil disponibilizados na

Revista ―Educação em Dados‖ sobre a municipalização do estado de Goiás.

Assinalamos no capítulo alguns dos percursos e contradições no processo de

transferência das instituições que estavam sob a responsabilidade do Estado para os

municípios goianos.

A Educação Infantil nos municípios de Anápolis, Goiânia, Senador Canedo

e Trindade estão apresentadas no Capítulo 3, abrangendo o diálogo entre o passado e o

presente, mostrando percursos e contradições. A dinâmica de historicizar o processo de

transferência das instituições de Educação Infantil, em toda a pesquisa, propõe-se em

uma base de orientação dialética, analisando multideterminantes e considerando as

questões orientadoras para realização da pesquisa.

As considerações finais abrangem aspectos históricos e indicam

possibilidades de reflexões sobre a memória histórica e o planejamento de políticas

Page 33: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

32

públicas para a Educação Infantil, enfocando tensões e possibilidades de novos olhares

sobre esta primeira etapa da Educação Básica no estado de Goiás.

Page 34: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

33

1. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL:

HISTORIZAÇÃO E ANÁLISE

Este capítulo apresenta o debate sobre as políticas públicas voltadas para a

Educação Infantil, fundamentando em estudos que evidenciam os processos que

permeiam a infância, suas origens, as alterações nas formas de perceber a criança,

considerando o contexto histórico-político-social em que está inserida. Para

compreender a história da educação da criança em instituições como creches e pré-

escolas, apresentam-se no texto reflexões resultantes de estudos e análises sobre o papel

dos movimentos sociais na luta pela infância e a influência destes nas Políticas Públicas

para a Educação Infantil. São apresentados no capítulo elementos que contribuem para a

construção da identidade do profissional da Educação Infantil observando os

documentos nacionais da década de 1990 e a formação continuada desse profissional.

Para pensar o processo histórico de constituição social da infância brasileira,

Kuhlmann Jr. (1998) afirma que é preciso considerar a criança como sujeito ativo, um

ser concreto que desde o nascimento, na vida e na morte possui uma história e participa

dela. Assim, para o autor, toda criança teve uma infância e o que se diferencia é como

ela viveu a sua infância.

O mesmo autor retoma a influência norte-americana na expansão

internacional dos jardins-de-infância e também no Brasil. O autor afirma que antes

mesmo da República, Rui Barbosa, em 1882, foi um grande defensor da expansão dos

jardins de infância, ao apresentar na Câmera do Império a Reforma do ensino primário e

várias instituições complementares da instrução pública. Rui Barbosa apoiou-se em seus

argumentos para a defesa dos jardins-de-infância na biografia norte-americana, francesa

e belga e nesse momento político a proposta educativa pensada para a educação da

infância era a de Froebel.

Ainda no império, outras iniciativas existiram em relação aos jardins-de-

infância, surgindo o primeiro no País, no Rio de Janeiro, no Colégio Menezes Vieira.

As divisões sociais são questões que demarcaram a história dessas instituições

educativas. Kuhlmann Jr. (1998) chama a atenção para o fato de que historicamente,

desde suas origens, existiam instituições de infância particulares ou públicas para os

ricos e os jardins-de-infância para os pobres, que eram denominados na Alemanha de

Volkskindergarten ou freeKindergartens, nos Estados Unidos.

Page 35: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

34

Os primeiros registros sobre a educação infantil, no período da transição do

Império para a República no Brasil, possibilitam perceber que as creches eram

compreendidas também como espaço para educar as mães pobres. Segundo Zilma de

Oliveira (2010) as iniciativas anteriores à República que cuidavam mais da mortalidade

infantil daquele período, do que com a criação de espaços que amparavam a criança. Ao

descrever sobre a libertação dos escravos, a autora mostra que surge a preocupação com

a criação de creches, asilos e internatos, considerados na época como espaços para

ampararem crianças pobres. Na adoção dessas medidas, atribuía a culpa às famílias pelo

abandono das crianças, desconsiderando as condições impostas pelas desigualdades

sociais. A citada autora mostra que em 1882, Rui Barbosa atribuía o Jardim de Infância

como a primeira fase do ensino primário; existia outro movimento voltado para a

proteção da infância, defendendo um atendimento aos menos favorecidos, partindo de

uma visão preconceituosa.

As ideias que prevaleciam, segundo estudos da autora, evidenciadas em

Exposição Pedagógica realizada em 1885 no Rio de Janeiro, eram de jardins de infância

concebidos como salas de asilo francês e em outros momentos, como uma forma

perigosa de iniciar precocemente a escolaridade, admitindo a retirada tão cedo da

criança de sua família, somente em caso que representasse proteção aos filhos de mães

que trabalhavam. Para Oliveira (2010), essas defesas na história da educação infantil

colaboram para que prevaleçam, ainda hoje, a concepção assistencialista e uma

educação compensatória para os pobres.

No entendimento de Kuhlmann Jr.(1998), a defesa de uma Educação

Infantil de qualidade precisa romper com os paradigmas que permeiam as discussões

sobre esta importante etapa da Educação Básica, ou seja, a responsabilização de que as

dificuldades se dão pelo papel que a assistência social teve na implantação e

manutenção de creches ou a atribuição de descaso da educação em assumir a infância.

Para o autor, no passado da infância brasileira existiram lutas e argumentos decisivos na

conquista de melhor espaço para a criança na Educação Infantil que considerem a sua

trajetória e que não coincidam com a proposta de mercado, mas sim, com uma

Educação Infantil que contemple a realidade de todos e não somente de uma minoria

brasileira.

Conforme Carmem Craidy (2002), o entendimento de que, historicamente,

as creches e pré-escolas não eram instituições educativas é equivocado, uma vez que

Page 36: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

35

cuidar de criança sempre remete à educação. A autora considera como uma ação nova a

exigência democrática de que as propostas pedagógicas assegurem qualidade.

Nesse debate sobre o lugar da educação de crianças de 0 até 6 anos de idade

Oliveira (2010) destaca que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Nº

4024/61) influenciou de forma muito importante na educação infantil e sua inclusão no

ensino, dispondo que:

Art.23-―A educação pré-primária destina-se aos menores de até 7 anos, e será

ministrada em escolas maternais ou jardins de infância‖.

Art. 24-―As empresas que tenham a seu serviço mães de menores de sete

anos serão estimuladas a organizar e manter, por iniciativa própria ou em

cooperação com os poderes públicos, instituições de educação pré-primária‖.

(OLIVEIRA, 2010, p. 102)

A legislação e o quadro dos anos de 1960, no entendimento de Oliveira

(2010), retratavam o contexto socioeconômico, em que as políticas do governo federal

eram desenvolvidas com a colaboração de entidades filantrópicas, assistenciais e ações

de incentivos as iniciativas comunitárias, com programas com baixo custo, realizadas de

forma voluntárias, por pessoas leigas.

Em 1967, ocorrem novas mudanças na Consolidação das Leis de Trabalho,

com organização nas empresas de berçários, resultando em outras entidades , por meio

de convênio, também realizassem ações dessa natureza. Para Oliveira (2010, p 108) a

Lei 5692, promulgada em 1971, apresentou diretrizes novas para a educação da criança

quando estabelece que: ―Os sistemas velarão para que as crianças de idade inferior a 7

anos recebam educação em escolas maternais, jardins de infância ou instituições

equivalentes.‖

Ao retomar aspectos importantes da história da Educação Infantil é

necessário considerar a presença do neoliberalismo nas questões relacionadas à criança

e as proposições de atendimento educacional, levando pouco a pouco para o centro, ao

mesmo tempo em que apregoa a condição do mérito individual, da minimização das

ações do Estado em detrimento da responsabilização das comunidades e famílias para

manutenção dos projetos de educação para as crianças. Para Paulo Ghiraldelli Júnior

(1996)

Desde meados dos anos 70 e mais decisivamente na década de 80,quando o

neoliberalismo passa a ganhar adeptos de maneira cada vez mais rápida na

academia e na política, os intelectuais ligados aos problemas educacionais –

Page 37: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

36

principalmente aqueles que sempre insistiram nos benefícios da educação

pública financiada pelo Estado – começam a se inquietar diante da doutrina

do ―Estado mínimo‖. (GHIRALDELLI JUNIOR, 1996, p.11).

É perceptível que historicamente no neoliberalismo, as propostas, ações,

intenções são sistematizadas para passar a ideia de contemplar as expectativas da

sociedade. No caso das crianças, Ghiraldelli (1996) mostra que o neoliberalismo afeta,

significativamente, a noção de infância, na medida em que as crianças passam a

consumir coisas, entre outras que a mídia define como modelo para o corpo infantil. Da

mesma forma, a mídia atua de forma ditatorial na alimentação, na postura

comportamental, na postura corporal e, nessa definição, a criança passa a ser ―corpo-

que-consome-corpo.‖ Trazer as questões do neoliberalismo no contexto da criança é

fundamental para refletir sobre as ações desenvolvidas nas instituições que atuam com a

Educação Infantil.

Para Oliveira (2010) alguns fatores foram determinantes para a educação

infantil na década de 1970, entre eles, os inúmeros debates sobre as dificuldades das

crianças oriundas de classes desfavorecidas socialmente, em que o pré-escolar público

seria essencial para minimizar as carências relacionadas à pobreza, instaurando com

essas compreensões a ―educação compensatória‖. Outra questão recorrente em 1970 foi

o acesso, cada vez maior, das mulheres de classe média ao mercado de trabalho

resultando em um aumento da demanda de creches e pré-escolas, principalmente de

escolas particulares. Existiam duas realidades distintas: de um lado, permaneciam as

creches com caráter compensatório para as crianças de famílias pobres, parques que

atendiam os filhos de operários e de outro lado, existiam jardim de infância,

frequentados por crianças da classe média, com propostas que visavam aparentemente o

desenvolvimento afetivo e cognitivo.

A citada autora mostra que o processo de municipalização sofreu influências

na década de 1970, com o aumento da demanda da pré-escola pública diminuindo as

vagas nas redes estaduais de ensino e a ampliação delas na esfera municipal, ações que

foram intensificadas com a aprovação da Emenda Calmon à Constituição Nacional,

promulgada em 1972 que estabelecia um percentual mínimo de 25% para que os

municípios cobrissem todos os gastos com o ensino.

Os estudos de Oliveira (2010) evidenciam também que nos governos

militares existiram divergências entre o governo federal e os municípios. Em nível

federal, existiam programas que criavam convênios com instituições privadas com

objetivos assistencialistas e nos municípios, a defesa era de creches e pré-escola com

Page 38: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

37

funções educacionais. Os debates sobre assistência e função educativa resultaram em

mais ações voltadas para a criança, como a criação pelo Ministério da Educação

(MEC), em 1974, do Serviço de Educação Pré-Escolar , e em 1975, da Coordenadoria

de Ensino Pré-escolar. Em 1977, a Legião Brasileira de Assistência criou, em âmbito

nacional, o projeto casulo objetivando oportunizar a liberação da mãe para o trabalho

para que pudesse aumentar a renda familiar.

Kuhlmann Jr. (1998) mostra que o fato das creches não estarem vinculadas

ao sistema educacional e terem ligação com órgãos da assistência social, resultou na

ausência da discussão, o que necessariamente deixou de acontecer nas pesquisas em

educação e nos cursos de pedagogia. A vinculação à assistência colaborou com a

cristalização de uma visão de que as origens das instituições estivessem ligadas ao

assistencialismo, deixando de ser educativas, evidenciando ideias preconceituosas.

Contrapondo-se a essa dicotomização, Kuhlmann (1998) esclarece sobre a

discussão da origem das instituições de atendimento à infância:

[...] o que cabe avaliar e analisar é que, no processo histórico de constituição

das instituições pré-escolares destinadas à infância pobre, o assistencialismo,

ele mesmo, foi configurado como uma proposta educacional específica para

este setor social, dirigida para a submissão não só das famílias, mas também

das crianças das classes populares. [...] O fato de essas instituições

carregarem em suas estruturas a destinação a uma parcela social, a pobreza,

já representa uma concepção educacional (KUHLMANN JR.,1998, p.166).

Os estudos de Haddad (2007) em consonância com estudos de Kuhlmann Jr.

(1998) mostram que no Brasil, em 1970, alguns jardins- de infância foram pioneiros e

resultantes da influência americana. Para Lenira Haddad (2007) no contexto mundial e

brasileiro, ao analisar a educação infantil, sob a ótica do cuidar e educar tem

evidenciado dois fenômenos. Existem instituições com atendimentos diários e em tempo

integral e são consideradas como creche institucional e domiciliar, atendendo a

população que passam por situações precárias, portanto, de risco. Por outro lado,

existem jardim-de-infância, escola maternal, pré-escola, que são ofertados em período

parcial ou integral e que objetivam o desenvolvimento e a consequente aprendizagem da

criança. As duas realidades demarcam a polarização entre cuidado e educação e

influenciaram a constituição das instituições de educação infantil.

Outro fenômeno destacado pela autora refere-se aos fatos econômicos,

políticos, culturais que ocorreram mundialmente, a exemplo da Guerra Fria, a

―revolução cultural ocidental‖ que aconteceram nos anos de 1960 e 1970 e

posteriormente, na globalização. Esses fenômenos apresentados por Haddad (2007)

Page 39: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

38

representam a sua discordância de posições de estudiosos da educação infantil que

atribuem a falta de integração do cuidar e educar a origem das instituições de educação

infantil e apresenta sua defesa de que precisa existir uma unificação entre os serviços,

objetivos e práticas.

A década de 1980 marca um movimento expressivo para as creches no

Brasil. Para a mulher ingressar no mercado de trabalho existiu uma luta para ampliar o

quantitativo de creches onde pudessem deixar seus filhos em segurança. A reivindicação

inicialmente se deu para que o poder público criasse as creches. As diferentes ações

realizadas pelas mulheres, a igreja, o movimento feminista e outros movimentos sociais

para a criação ou ampliação do número de creches colaboraram para conquistas que

beneficiaram os filhos de pais trabalhadores. No entendimento de Kuhlmann Jr.(2000

[...] as instituições de educação infantil tanto eram propostas como meio

agregador da família para apaziguar os conflitos sociais, quanto eram vistas

como meio de educação para uma sociedade igualitária, como instrumento

para a libertação da mulher do jugo das obrigações domésticas, como

superação dos limites da estrutura familiar. As ideias socialistas e feministas,

nesse caso, redirecionavam a questão do atendimento à pobreza para se

pensar a educação da criança em equipamentos coletivos, como uma forma

de se garantir às mães o direito ao trabalho. A luta pela pré-escola pública,

democrática e popular se confundia com a luta pela transformação política e

social mais ampla (KUHLMANN JR., 2000, p.11).

O movimento feminista e o acesso de forma mais acelerada da mulher no

mercado de trabalho também insere a criança da classe média nas creches (BARBOSA,

1997). Na década de 1980, a nomenclatura educação pré-escolar abrangia também as

crianças de 0 a 3 anos, uma realidade que modificou quando o MEC passa a considerar

a faixa etária de 4 até 6 anos para a Pré-escolar (Kuhlmann Jr., 2000).

A defesa de que as instituições de infância passassem a ser direito das

crianças e deixassem de ser consideradas somente como espaço das famílias deixarem

seus filhos, colaborou para que as creches assumissem um caráter educacional. Esse

entendimento passa a ser assumido, sobretudo após promulgação da Constituição

Federal Brasileira, em 1988, sendo bandeira de luta de diferentes pesquisadores da

educação infantil.

O debate voltado para a criança de 0 até 6 anos ganhou maior expressão no

período da ditadura. Oliveira (2010) em relação às ações pedagógicas pensadas e

desenvolvidas nesse período mostra que as dificuldades das crianças eram consideradas

observando, entre outras, a forma de falar, dificuldade de comunicação, aparência física

inadequada, apatia e irritabilidade. Nesse contexto as creches desenvolviam práticas de

recreação e assistencialismo (HADDAD, 1993; BARBOSA, 1997).

Page 40: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

39

No final do período da ditadura militar , em 1985, Oliveira (2010)

considerou que novas políticas para as creches foram evidenciadas no Plano Nacional

de Desenvolvimento, elaborado no ano de 1986. Os discursos modificaram, sinalizando

que a creche era uma questão social e não somente da mulher e da família. As creches e

pré-escolas passam a ser incluídas nas propostas eleitorais e o período demarca um

espaço de luta de educadores que argumentavam que o direito de creches e pré-escolas

representava também uma defesa contra as desigualdades sociais. A defesa da

democratização da escola pública ao lado dos movimentos sociais por mais creches

fortaleceram conquistas para a criança expressas na Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988.

A década de 1990 deixou novas marcas para a história do debate sobre a

infância brasileira e sua educação. Na década de grandes reformas do estado e reformas

educacionais foram promulgadas leis e escritos documentos que corroboram orientações

e diretrizes para crianças menores de 7 anos. Vale destacar o Estatuto da Criança e do

Adolescente (BRASIL, 1990); a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(BRASIL, 1996); o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL,

1998) e as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (BRASIL,1999).

Na busca pelo direito da criança à cidadania, as legislações e os

documentos, expressam avanços significativos. Entretanto, há estudos que mostram a

presença das ideias neoliberais na consolidação das legislações e dos documentos

vigentes. Barbosa e Nogueira (2001) afirmam que

[...] as leis e normas acabaram integrando parcialmente diferentes lutas e

demandas sociais, evidenciou-se, cada vez mais, sua organicidade com o

modelo político neoliberal que se explicita e se consolida, sobretudo, a partir

da década de1990. A Constituição Federal/88, embora tenha avançado em

alguns pontos sobre os direitos humanos, ―passou aos poucos a ser tida como

‗entrave‘ para aquele projeto social [do neoliberalismo], sendo modificados

vários de seus dispositivos pelo Congresso Nacional, durante os anos 1990‖

(BARBOSA E NOGUEIRA, 2001, p.8).

Concordando com as autoras, é possível perceber que a década de 1990

oportuniza enxergar aspectos distintos: de um lado, o momento representou mudanças e

avanços para a infância brasileira, em que as legislações estabelecem normas

importantes para a educação de crianças de 0 até 6 anos, com diretrizes oficiais para esta

faixa etária; por outro lado, existem as marcas do neoliberalismo na legislação e nos

documentos vigentes.

No contexto brasileiro, os desafios para que as crianças de 0 até 6 anos

tenham assegurados todos os seus direitos são muitos e é urgente que as políticas

Page 41: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

40

públicas ultrapassem visões neoliberais. Em um país de desiguais, em que prevalece o

neoliberalismo e consequentemente, a exploração da maioria da população brasileira

que vivem sem condições adequadas de sobrevivência, em que crianças são vítimas de

violência, escravizadas em trabalho infantil, sem direito a educação, alimentação, saúde

e segurança, há que se repensar nas políticas públicas atuais e em novas possibilidades

que incluam na esfera dos direitos, as crianças, filhos de milhões de brasileiros

trabalhadores.

É nesse sentido que Souza (2012) evidencia a importância de ampliarmos a

discussão sobre os desafios que a educação infantil nos apresenta bem como

perspectivas; portanto, necessário se faz compreender as concepções dominantes que

compõem a sua história e que influenciaram e influenciam na oferta pública e privada

da educação infantil.

1.1 Movimentos sociais: implicações nas políticas públicas para a Educação

Infantil.

Na história da educação brasileira nota-se que as manifestações dos anos de

1970 se intensificam na década de 1980, observando também na literatura, na cultura,

na música a posição crítica contra o domínio e as heranças da ditadura. A mulher e a

criança tiveram políticas específicas, que de um lado, resultavam do movimento de

mulheres pelo direito de acesso ao mercado de trabalho com a consequente necessidade

de espaços onde pudessem deixar seus filhos. Nas lutas, nos silêncios, surgem também

vozes que começaram a manifestar o direito da criança de ser reconhecida como sujeito

de direitos.

Refletir sobre as políticas públicas para a criança de 0 até 6 anos, na

compreensão de Barbosa (2008), requer considerar os fatos e a sua história, com a

constatação de que os inúmeros fatores da realidade não permanecem inalterados, ao

contrário, estão em movimento. Compreendendo a complexidade da discussão sobre a

constituição das políticas públicas para a educação, conforme evidencia a autora

supracitada, necessário se faz retomar a história da década de 1970 observando o

contexto em que as políticas se desenvolveram. Ao revisitar a história da infância da

década de 1970, procuramos compreender e destacar alguns movimentos que

contribuíram para que a criança de 0 até 6 anos ocupasse seu espaço no cenário

Page 42: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

41

educacional e, assim, identificar as implicações desse período para a criança da década

de 1980.

Ao destacarmos na pesquisa os movimentos sociais e populares no Brasil os

estudos de Isabel de Oliveira (2008) colaboram para identificar a historicidade da

criança e compreender a relevância da experiência social e das identidades. Para a

autora a identidade é defendida em uma perspectiva de movimento, rompendo com a

ideia de que a identidade é algo pronto, determinado. Nesse sentido, é possível

pensarmos que a participação dos diferentes movimentos incidiu sobre o processo de

construção da identidade da própria Educação Infantil e, que, por seu dinamismo, essa

identidade ainda está em construção.

A história retratada por Marília Sposito (1993) evidencia fatos que

demarcam a constituição das creches, mostrando reivindicações que eram permeadas

pela desigualdade econômica, a diferença de classes, em que os movimentos feministas

e as mulheres, que ingressavam no mercado de trabalho, apesar da política educacional

brasileira autoritária, buscaram formas de organização para suas lutas pela educação. As

dificuldades nas condições de vida desse período remetem à necessidade da mulher em

contribuir com a renda familiar, o que gerou maior demanda por creches públicas, que

praticamente não existiam. Sposito (1993) evidencia que:

Embora tenha sido grande a controvérsia sobre os efeitos da ação política dos

movimentos populares, é inegável que impuseram novos parâmetros para

redimensionar a questão da cidadania em uma sociedade que,

sistematicamente, tem negado direitos aos que vivem apenas de seu trabalho

(SPOSITO, 1993, p.26).

Nas mobilizações populares, observa-se a busca pela autonomia, em um

período, repleto de tensões, com um modelo de educação fortemente marcado pelo

regime autoritário. Nas palavras da autora ―A atuação do Estado na área educativa,

nesse período, integra o conjunto das políticas sociais que procuravam atender às

necessidades de normalização e do processo de integração do Estado autoritário

Brasileiro‖ (SPOSITO, 1993, p.53).

A mesma autora nos possibilita compreender que as políticas para a

educação contemplavam o crescimento da demanda em função da crescente

urbanização, que teve influências na força de trabalho, nas condições precárias dos

salários e na instabilidade de trabalho. Prevaleceu, na atuação do Estado, nesse período,

as ideias anti-populares, o que se traduziu em conflitos sociais e sacrifícios econômicos.

Assim, confirmaram-se as contradições que, historicamente, perpassam as classes

Page 43: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

42

sociais, mostrando as distâncias entre o trabalhador e o acesso às políticas de

atendimento às crianças. Tal conjuntura se expressava, por exemplo, na forma de

nomeação ou eleição de forma indireta, com uma política pautada em ações

clientelistas, causando desconfiança nos movimentos populares, em grande parte,

representados por Associações (SPOSITO, 1993).

A ausência de vagas para atender crianças que permaneciam fora da escola

representava uma pauta expressiva na luta dos movimentos sociais, principalmente de

mães que reivindicavam creches. Os protestos das mães, as acusações da imprensa

quanto à falta de escolas foram insuficientes diante da ausência de respostas do setor

público. Ao contrário, observa-se um distanciamento dos movimentos populares, com a

repressão de posições individuais e coletivas.

Em relação ao estado de Goiás, os estudos sobre a História e as Políticas de

Educação Infantil realizados por Barbosa (2008, p.382) mostram que: ― a situação de

atendimento a crianças em Goiás ocorreu nos moldes dos outros estados brasileiros‖.

Para a autora, a constituição das creches se efetivou por iniciativas filantrópicas que

estavam ligadas a instituições de caridade. A concepção da Educação Infantil, como

dom, vocação, assistencialismo têm suas raízes em ações de descaso público, que

restringiam os recursos financeiros para essa área, uma prática sempre presente nas

políticas governamentais em relação aos grupos de baixa renda.

A luta pela democracia também eram evidenciadas na década de 1970, com

manifestações críticas na literatura infantil, como assinala a epígrafe de O reizinho

mandão de Ruth Rocha (1978, p.15) ―Não quero ouvir mais ninguém me contrariando,

ou melhor... Não quero ouvir mais ninguém falando. Tudo o que eu falar é uma ordem.

Entenderam?‖ Os estudos de Diana Hech e Margarete Nath-Braga (2010) mostram que

a metáfora do silêncio utilizada em O reizinho mandão expressa o momento da

ditadura, em que as ações autoritárias visavam silenciar o povo. Os artistas, cantores,

compositores, escritores, por meio de metáforas, negavam as pressões da ditadura. É

possível, no entendimento das autoras, observar que o início da crise da Ditadura, no

período de 1975 a 1979, no governo Geisel, demarcando o momento em que as pessoas

começaram a falarem. No caso dos movimentos em defesa da criação ou ampliação de

creches, essas vozes implicaram mais luta para a conquista de direitos.

O percurso histórico da década de 1970 possibilita compreender a

mobilização expressiva do movimento feminista e da mulher trabalhadora na luta pela

educação, grupos historicamente concebidos como mais fracos ou com ideias pré-

Page 44: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

43

estabelecidas de incapacidade e inferioridade. A reflexão que se coloca é que

movimentos, em busca de mais espaço, se uniram a outros grupos e, de forma insistente,

buscaram ser ouvidos, fizeram perguntas e participaram efetivamente na construção da

história das crianças.

Para Isabel Silva (2008) nota-se a partir dos anos 1970 movimentos que

apontaram processos distintos em que as famílias lutaram. Neste contexto, as mulheres

tiveram um papel muito fundamental, para conquistarem espaços para as crianças. Por

outro lado, a autora afirma que as lutas populares no meio urbano evidenciam o

atendimento como uma necessidade de que as crianças advindas de famílias pobres

sejam assistidas, entendendo a guarda e a educação como condições para melhoria de

vida.

Nesta direção, faz-se necessário analisar as influências dos movimentos

sociais na definição das políticas para a Educação Infantil, na década de 1980,

percebendo as concepções de criança e o contexto social, econômico, cultural e político

em que ela esteve inserida. No entendimento de Sposito (1993):

O primeiro momento - a década de 70- pode ser caracterizado, nos seus

primeiros anos, pelo cerceamento completo da liberdade de manifestação

política; a seguir, a partir de 1975, define-se o início de um período marcado

pelo nascimento de várias manifestações e pela visibilidade maior das lutas

populares. O segundo -1980 a 1985- se exprime pelo padrão de distinção do

regime autoritário e pela diferenciação das forças políticas no âmbito da

organização popular, atingindo, a partir de 1983, o início dos governos

estaduais e municipais eleitos pelo voto (SPOSITO 1993, p.42).

A luta de pessoas ou grupos, revestida de opressões e autoritarismo, implica

na compreensão de que, o que move os diferentes movimentos populares, é a convicção

de contribuírem com a ruptura e superação das exclusões sociais. Algumas ações

coletivas evidenciaram, por exemplo, conflitos e demarcaram participações em

diferentes espaços de reivindicações, apontando para a forma de tratamento das creches,

historicamente marcadas pelo assistencialismo e descaso público (Sposito, 1993;

Haddad, 1993).

José Adelson da Cruz (2009) descreve o cenário dos movimentos sociais da

década de 1980, mostrando a influência da globalização no engajamento em lutas dos

posseiros, índios, quilombolas, mulheres, negros e funcionários públicos. O autor retrata

a luta dos movimentos rurais por uma agricultura mais fortalecida, na busca de

diminuição do êxodo rural e mostra também o movimento urbano.

Nesse cenário, na luta pela educação, a década de 1980, apresentou

implicações dos movimentos sociais nas políticas públicas para a Educação Infantil.

Page 45: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

44

Observa-se, que nas políticas públicas governamentais prevalece a descontinuidade

administrativa, em que os financiamentos públicos, os programas, são desconsiderados,

sem uma avaliação pautada em critérios de qualidade, mas prevalecendo interesses

eleitorais do sistema vigente.

Silva (2008) enfatiza que a história da creche passa pela luta popular

urbana, em que as iniciativas da criação de creches comunitárias pelas mulheres da

periferia das cidades, como uma defesa de suas necessidades que resultou em um

movimento antes individual, tornando-se coletivo. A autora destaca o Movimento de

Luta Pró-Creche (MLPC) que foi instituído em 1986, em que há uma participação das

mulheres e a constituição de novas identidades.

Como se pode notar, a década de 1980 recebe como herança do decênio

anterior, reivindicações não atendidas. Nos estudos de Sposito (1993) observa-se que os

problemas permanecem e intensificam na área educacional, consequentemente ampliam

as lutas dos movimentos populares. Surgem, nessa condição, novas participações nas

lutas junto ao poder público pela educação. O novo quadro contempla partidos políticos

e organizações sindicais. Essa prática política apresenta-se em uma conjuntura,

contextualizado por Sposito (1993, p.102) como ―um quadro de diversidade de práticas

coletivas, de orientações políticas ideológicas conflitantes, de enfrentamento e adesão

ao Estado‖.

Em 1982, com as eleições, nota-se no país o enfraquecimento da ditadura.

Ao contrário das expectativas de que as promessas eleitorais de maior participação

popular, descentralização e geração de emprego, as administrações assumem posições

que geram divergências políticas. O País, nesse período, segundo apontamentos de

Sposito (1993) encontrava-se em recessão, com uma crise econômica que resultava na

instabilidade e falta de emprego prevalecendo entre as principais reivindicações

populares: a luta pela terra, saúde e creches, melhoria de qualidade educacional e de

saúde. Nesta luta incorporaram vários grupos ligados as pastorais da igreja católica,

associação de pais e mestres, jovens, entre outros.

A pesquisa desta mesma autora oportuniza perceber que a ―Nova

República‖, nos primeiros anos da década de 1980, não apresenta transformações

significativas para a educação. Destaca-se, como forma mínima para sobrevivência, a

presença da mulher, da criança e do jovem no trabalho remunerado, o que confirma,

historicamente, as desigualdades sociais.

Page 46: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

45

A escola pública permanece com dificuldades de atendimento em todos os

níveis de ensino. A pré-escola, por sua vez, como uma das mais urgentes reivindicações

populares, apresentou maior crescimento na década de 1980, embora de forma

insatisfatória para a realidade da classe trabalhadora.

A presença dos movimentos sociais na defesa da educação pública

possibilita a identificação de pessoas ou grupos que, em detrimento das opressões, do

clientelismo e da incorporação de pessoas do próprio movimento na esfera pública,

como uma forma de inibir as manifestações, não impediram que os diversos grupos

defendessem a educação para a criança menor de 7 anos.

Em Goiás, as ações realizadas na luta pela ampliação de creches públicas

também expressaram a defesa dos movimentos sociais, apesar de todas as situações

adversas, como falta de investimentos, ausência do poder público, práticas autoritárias e

de clientelismo. Em relação à participação dos movimentos sociais, na década de 1980,

Barbosa (2008) ressalta que:

É importante, por outro lado, do ponto de vista das contradições, considerar o

avanço dos movimentos sociais que exigiram e conduziram a uma

permanente busca de resolução dos conflitos sociais por parte dos governos

em níveis federal, estadual e municipal [...] Na década de 1980, outras ações

governamentais, como a inauguração da ―Casa da Criança‖ e do ―Projeto

Creche‖ (1984), pela Fundação das Legionárias do Bem-Estar Social [...] O

Estado manteve uma política de expansão dos atendimentos e de contratação

de profissionais, especialistas em diferentes campos, contando com ―ajuda

diversa‖ de creches particulares de caráter filantrópico (BARBOSA 2008,

p.382).

A constituição de creches com caráter filantrópico nos remete as análises de

Marx e Engels (1848) sobre ações que revelam o mais clássico socialismo burguês, em

que a própria burguesia procura amenizar os conflitos, intervindo de forma autoritária

na luta de classes. Esse jogo de classes pode-se expressar em ações de caráter

filantrópico.

Em relação às práticas filantrópicas, Cruz (2004) afirma que:

Assistimos à retirada do Estado, por meio das reformas em curso, do seu

papel regulador e formulação e implementação de políticas públicas, de

caráter universal e redistributivo presenciamos a fragmentação do espaço

público e o fim do lugar de construção/exercício da política. Na retórica

neoconservadora, ganha espaço a sociedade civil ―virtuosa‖ e ―moderna‖,

como aquela que não contesta, mas concede através da filantropia, da

parceria e do voluntariado os bens e serviços sociais (CRUZ, 2004, p.182).

Analisando o que representaram os movimentos sociais e populares para a

Educação Infantil, fica evidente a desigualdade social, o poder da classe dominante e ao

Page 47: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

46

mesmo tempo, mostra a luta da mulher trabalhadora que conta com a integração de

outros grupos, como famílias, conselhos, igrejas, em suas reivindicações junto aos

órgãos responsáveis por abertura de mais creches.

Sposito (1993) mostra que o movimento das mulheres e dos grupos

engajados na defesa das creches, como direito, em muitas situações, utilizaram o

silencio como estratégia, em que, em muitas reuniões, as mulheres trabalhadoras que

gostavam de falar e serem escutadas fizeram a opção pelo silêncio. Ao falar sobre o

silêncio das minorias, Sposito (1993, p.350) preconiza que ―[...] não há o instrumento da

palavra para a defesa. A palavra é recurso do poder do opressor e a sua contrapartida, o

silêncio, é a arma do oprimido‖.

As palavras da autora são um convite para pensar as diferentes

manifestações da década de 1980e do contexto atual. O medo da classe trabalhadora de

repressões pode gerar silêncio, como uma forma de manifestação pelo receio de

represálias e de perder sua identidade, assim como, também é uma forma de resistência.

Por outro lado, precisamos dizer que o silêncio também pode ser consentimento,

alienação, sentimento de impotência ou cooptação com o que certas pessoas e grupos

assumindo a voz do dominador.

Como se pode observar a história da Educação Infantil tem sido marcada

por conflitos e sua constituição precisa ser olhada observando todos os fatores

determinantes, a totalidade, historicidade, contradições e mudanças ocorridas no

contexto em que as classes sociais estão inseridas, os fatores econômicos, culturais e

políticos, identificando as relações sociais.

O atendimento as reivindicações por oferta de creches, na década de 1980,

era aguardado, pelos movimentos em defesa da educação, sendo

Em compasso de espera, ante as exigências de nova ordem legal a ser

expressa pela Constituição, as orientações do Ministério da Educação

caracterizam-se pela adoção de medidas de impacto, descontínuas e sem

resultados, como foi o caso do programa ―Educação para Todos‖ e do ―Dia

Nacional do Debate sobre a Educação‖, em 1985 (SPOSITO, 1993, p.108).

Os programas retratam iniciativas do Poder Federal, no entanto, permanece

o imobilismo e posições de clientelismo. Essas práticas tão próprias de um sistema

capitalista demonstram os efeitos de uma trajetória de incapacidade política e ao mesmo

tempo, a marca da história em que ações autoritárias incorporam as necessidades da

classe oprimida e transformam, em ações ou programas, deixando a falsa compreensão

de que contemplaram as reivindicações realizadas. No âmbito da Educação Infantil, por

Page 48: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

47

outro lado, é interessante perceber que houve uma importante produção de documentos

elaborados pelo próprio MEC (BARBOSA, 1997).

As diferentes análises desse processo mostram que o período que

antecede a Constituinte tem fortes influências dos movimentos sociais. Para Cruz

(2004):

[...] o processo de democratização da sociedade brasileira delineou um novo

perfil de lutas e organizações sociais profundamente interligados à dinâmica

sociopolítica que caracterizava a sociedade naquele momento. As lutas

protagonizadas pelos movimentos sociais foram e são expressões da tentativa

de construção das esferas públicas e da consolidação das demandas sociais

acumuladas e reprimidas ao longo de décadas. Os movimentos sociais

agitaram a vida política brasileira e engendraram novas formas de articulação

entre Estado e sociedade a partir da dinâmica societária desenvolvida nos

processos reivindicatórios de bens e serviços públicos e na formulação de

políticas públicas no pós-constituinte [...] Os movimentos sociais

multiplicaram-se por todo o país na luta por educação, saúde, trabalho e

participação, em um primeiro momento, na campanha pelas Diretas Já. Na

transição e, particularmente, na elaboração da Constituição, essa teia ou

articulação de organizações populares, por intermédio de debates e grandes

mobilizações, se constituíra em um amplo movimento de ―Participação

Popular na Constituinte‖ (CRUZ, 2004, p.176).

A incidência dos movimentos sociais nas políticas públicas requer que

pensemos sobre a relação entre Estado, sociedade e concepções de educação do período

histórico em análise, na busca da compreensão das contradições e complexidades das

relações entre classes sociais. Então, o movimento permanente na defesa da educação se

traduziu na persistência da luta dos movimentos que antecederam e compuseram a

construção da Constituinte.

A legislação federal demarca um avanço na luta pelo direito da criança.

Barbosa (2011, p.390) destaca ―a importância da Constituição Federal de 1988 [...] na

configuração da defesa em prol da infância e da educação como direito público‖.

A Constituição se configura como a garantia legal de direitos da criança,

conforme estabelece o Artigo 227, em que se lê:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao

adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,

além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,

exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988).

Considerando estas diretrizes legais, permanecem inúmeras questões acerca

da Educação Infantil, entre elas, a distância entre o que estabelece a Constituição e leis

posteriores sobre esta etapa da Educação Básica e as ações governamentais. O quadro

requer atenção, uma vez que essas legislações responsabilizam a família pelo acesso da

Page 49: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

48

criança à Educação Infantil, e há ausência do poder público em assegurar esse direito à

maioria das crianças da classe trabalhadora.

Ao retomar as políticas públicas da década de 1980 faz-se necessário refletir

sobre esse movimento pós-constituinte, após o fim do regime militar, em consonância

com o Movimento Internacional de Defesa da Criança promovido pela Declaração

Universal dos Direitos das Crianças. Em 1989, em Assembleia Geral das Nações

Unidas, foi assinada no Brasil a Convenção Internacional dos Direitos da Infância, com

origem em 1979, no Ano Internacional da Criança, pela Comissão de Direitos Humanos

da Organização das Nações Unidas (ONU), mas suas diretrizes iniciais foram

contempladas na Declaração Internacional da Organização dos Direitos da Criança, em

1959.

Ao pensar a criança de 0 até 6 anos, como sujeito de direitos, Barbosa,

(2008) ressalta:

A educação infantil deve ser considerada um dos fins do projeto global [...]

Daí ser ela, portanto, uma necessidade prioritária [...], devendo-se inseri-la

simultaneamente em uma política de educação, de saúde e de bem-estar

social. Isso porque a situação da infância, relacionada à dignidade, à

cidadania e aos direitos humanos, não pode ser encarada como um

―problema‖ da família ou da própria criança. A educação infantil deve ser

pensada por todos os que desejam modificar o quadro de pobreza, indigência

e miséria, de grandes concentrações de renda e de desigualdade social

(BARBOSA, 2008, p.39).

Nesta perspectiva, é possível compreender o alcance, a importância dos

movimentos sociais de esquerda, que se contrapõem às políticas neoliberais. Uma luta

permanente pela educação que em tempos neoliberais, encontra-se enfraquecida pela

opressão, mas com o desafio de reconstituir o seu papel e assim, defender, a exemplo da

sua história, entre outros, ações para que a Educação Infantil se efetive como prioridade

no estabelecimento de políticas públicas, contemplando as condições essenciais para a

primeira etapa da Educação Básica.

O passado permeado de ações autoritárias influenciou na elaboração das

Políticas Públicas. Ao mesmo tempo, em que as políticas apresentam ações inovadoras

para que a criança tenha um novo olhar, como sujeito de direitos, permanece a ausência

do Estado no cumprimento das normas legais.

Page 50: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

49

1.2 Documentos nacionais nas décadas de 1980 e 1990: historicidade e

contribuições para a discussão da identidade dos professores da Educação Infantil

No período de 1980 e 1990, foram elaborados várias leis e documentos

nacionais sobre a infância. Destacam-se, entre eles: Constituição da República

Federativa do Brasil (1988); Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA (Lei Federal n.

8.069/1990); Lei Orgânica da Saúde-LOS (Lei Federal n. 8.080/1990); Adoção da

Convenção Internacional dos Direitos das Crianças (Decreto Legislativo n. 28 de 1990);

Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente-Conanda (Lei Federal n.

8.242/1991); Lei Orgânica da Assistência Social-LOAS (Lei Federal n. 8.742/1993);

Política Nacional de Educação Infantil (1994); Por uma política de Formação do

Profissional de Educação Infantil (BRASIL, 1994a), Critérios para um atendimento em

creches que respeitem os direitos fundamentais das crianças (BRASIL, 1995); Criação

do Ministério da Previdência e Assistência Social (Medida Provisória n. 813 de 1995);

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDBEN (Lei Federal n. 9.394/1996);

Propostas Pedagógicas e Currículo em Educação Infantil (1996) ; Referencial Curricular

Nacional para a Educação Infantil-RCNEI (1998); Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Infantil-DCNEI (1999).

Eneida Shiroma e Olinda Evangelista (2003, p. 95) ao se posicionarem

sobre os documentos oficiais ressaltam que ―propor nos documentos o que não se

efetivará na prática é a ―grande jogada‖. [...] os reformadores parecem ter aprendido

magistralmente a lição de que a repetição é importante para formar o consenso‖.

Shirlene Almeida e Ângela Lara (2005) apontam que a Constituição e as

novas legislações sobre a infância aconteceram em um período de importantes embates

políticos, conhecidos como um espaço de redemocratização do país, no qual se buscou

defender a continuidade das eleições para presidente da república. A criança ganha

destaque na legislação brasileira quando se encerra a ditadura militar e iniciam as

políticas neoliberais. Em 1990, o presidente Fernando Collor de Mello assume a

presidência e promove ações que demarcam o neoliberalismo, com continuidade no

governo Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

Neste cenário político, as legislações sobre a criança representam,

paralelamente, as lutas dos movimentos sociais e as políticas neoliberais, por meio dos

organismos multilaterais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional

(FMI) que influenciaram as políticas educacionais, desenvolvendo propostas de

Page 51: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

50

financiamento e apresentando um modelo de Educação Infantil que era defendido nesse

período (ALMEIDA e LARA, 2005, MARQUEZ, 2006).

A opção desta investigação foi a partir da literatura estudada, perceber como

os documentos nacionais das décadas de 1980 e 1990 influenciaram na construção da

identidade do profissional. Uma análise, fundamentada no entendimento de que a

relação do professor com os documentos e as condições de refletir sobre os mesmos são

fatores que oportunizam a manutenção de uma identidade ou a possibilidade de

constituir uma identidade crítica que sabe refletir sobre o contexto social e histórico,

percebendo as contradições e buscando novas possibilidades.

Os documentos nacionais sobre a educação infantil, nas décadas de 1980 e

1990, permitem observar aspectos imprescindíveis em relação à identidade profissional.

Nesse entendimento, analisamos e refletimos sobre as contribuições dos documentos

produzidos naquela década para a construção da identidade do profissional da infância.

Para efetivar essa análise, destacamos quatro documentos: o Estatuto da Criança e do

Adolescente (1990), por ser o primeiro documento específico para a criança após a

Constituição Federal (1988); a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996)

que normatiza a educação brasileira, o Referencial Curricular Nacional para a Educação

Infantil (1998) que apresenta orientações sobre a educação da criança de 0 até 6 anos e

as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil-DCNEI (1999).

Ao retomar o contexto histórico, Antonia Bussmamm e Maria Luiza Abbud

(2002) evidenciam que ao refletir sobre conceitos de identidade docente é

imprescindível considerar a formação do homem que acontece por seu caráter histórico,

em uma educação que se efetiva pela interação com o ambiente físico, social e cultural.

A construção da identidade do profissional da Educação Infantil, de acordo

com Ilma Lages (2009), precisa considerar o contexto histórico e cultural em que a

criança está inserida. A autora retoma ainda a contradição dos documentos oficiais, em

que prevalece a dicotomia entre profissionais distintos – aquele que cuida e o que educa.

Diante da compreensão de identidade como um processo em movimento, Maurício

Cardoso (2011) afirma que a identidade passa por mudanças, rupturas, transformações

ou reelaborações.

O profissional que atuou com a infância, nos anos 1980, segundo Lages

(2009, p.3), recebeu alterações na nomenclatura para ―profissionais de creche‖, sendo

que prevaleciam os preconceitos, os profissionais leigos e a baixa remuneração,

preconceitos estes ainda não superados.

Page 52: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

51

Nesse contexto, as políticas públicas voltadas para a infância, no Brasil,

foram fortemente marcadas por reivindicações sociais resultando na Constituição

Federal de 1988. As diretrizes da Constituição estabeleceram avanços significativos e

sinalizaram expectativas de que a infância não mais deveria ser olhada de forma

assistencialista.

O primeiro documento específico para a criança, o ECA (BRASIL, 1990),

na visão de José Roberto Perez e Eric Passone (2010), representa uma contribuição

importante em que a criança e o adolescente passam a ser considerados sujeitos de

direitos, trazendo mudanças em termos legais, normativos, culturais e conceituais nas

diretrizes, políticas públicas e atendimento da criança e adolescência no país.

O capítulo IV, do ECA (1990), trata do direito à educação, à cultura, ao

esporte e ao lazer, evidenciando normas que refletem direitos da criança de

atendimento, respeitando as especificidades infantis, e mostrando avanços importantes

nas políticas públicas destinadas a essa etapa da educação básica. Ao definir direitos

para a criança, pressupõe alterações na atuação do profissional da infância, o que exige

uma formação que contemple a compreensão dessas especificidades. Essas mudanças

formativas colaboram na construção da identidade desse profissional.

Estudos de Almeida e Lara (2005) relatam que as normas apresentadas no

ECA (1990) estão em consonância com a Constituição Federal (1988) e superam as

legislações anteriores. O Estatuto estabelece regulamentos que visam à proteção integral

da criança e do adolescente, como: criação de conselhos deliberativos federais,

estaduais e municipais para atendimento da criança e do adolescente, considerando a

sua faixa etária e necessidades, bem como, a responsabilidade do Estado, da família e da

sociedade.

Nancy Alves (2002) considera o ECA um marco, pois reafirma o direito de

todas as crianças à Educação Infantil, que deverá ser assegurada pelo Estado em creches

e pré-escolas. Concordando com esta autora é possível percebermos que o Estatuto

representou uma contribuição na construção da identidade do profissional da Educação

Infantil ao estabelecer o direito da criança à educação visando uma formação integral, a

medida que o ECA sinaliza a necessidade do profissional da infância observar esse

direito e contar com as condições necessárias como trabalhador da educação.

Nesta direção, a construção da identidade do profissional apoia-se em uma

concepção emancipatória não somente do adulto que propõe respeitar os direitos da

criança. Assume-se assim, as especificidades da infância e defende-se o atendimento da

Page 53: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

52

criança nas instituições públicas de qualidade que promovam valores culturais, artísticos

e históricos que considerem o contexto em que a criança está inserida.

Ao analisar historicamente a implantação do ECA, é perceptível a

participação popular na defesa dos direitos da criança à Educação Infantil. Entretanto, é

possível identificar as imposições das políticas neoliberais e de suas incoerências quanto

ao descaso que impossibilitaram a efetiva implantação desse Estatuto.

No que se refere à LDBEN (BRASIL, 1996), esta foi promulgada no

Governo Fernando Henrique Cardoso, em um momento de políticas de privatizações.

Barbosa e Alves (2009) evidenciam que a Lei estabelece alterações significativas na

legislação brasileira, mudando o cenário da Educação Infantil, que passa a ser

considerada como primeira etapa da Educação Básica, definida na Lei como um direito,

mas mostram que ao mesmo tempo a legislação não estabelece formas de acesso a

todos. A legislação trata da municipalização, com prioridade para o ensino fundamental.

Ao assumir a descentralização da Educação Infantil, os governos federal e estadual

acabam repassando para os municípios e para as famílias a responsabilidade de a

criança ter acesso à educação, aproximando cada vez mais as ações do Estado mínimo16

.

Para Kuhlmann Jr. (1998), no Brasil, o Plano Nacional de Educação

desconsiderou as exigências relacionadas a formação dos profissionais da educação

infantil estabelecidas na LDBEN/1996,quando estabelece que o agente educativo pode

atuar em creches e pré-escolas com falsos argumentos de que sejam consideradas as

experiências de pessoas da comunidade. A discussão presente em espaços que defendem

a Educação Infantil passa pelo estabelecimento de políticas de formação continuada,

valorização salarial, condições de trabalho e financiamento compatíveis com a realidade

da demanda de crianças que esperam e precisam de uma educação infantil de qualidade.

Em relação à identidade docente do profissional da infância, observa-se que

a LDBEN/1996 estabelece normas que contribuem para a sua construção de identidade.

Entre os artigos, destacam-se:

Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em

nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em

universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação

mínima para o exercício do magistério na Educação Infantil e nas quatro

primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na

modalidade Normal.

Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:

16

Estado Mínimo-Modelo utilizado como medida para restaurar a saúde econômica de um País. (Harvey,

p.158).

Page 54: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

53

I - cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o

curso normal superior, destinado à formação de docentes para a Educação

Infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental (BRASIL, 1996).

Os artigos da LDBEN (1996), transcritos permitem perceber que o

profissional que atua na Educação Infantil tem assegurado pela legislação uma

formação em nível superior, que deverá ser ofertada pelas Universidades e Institutos

Superiores de Educação, admitindo como formação mínima o curso normal.

Em relação aos Institutos Superiores de Educação, Ana Beatriz Cerisara

(2002) mostra que

Quanto ao lócus dessa formação, a LDB define que esta se dará em cursos de

licenciatura, de graduação plena em universidades e em institutos superiores

de educação. Vale destacar que foi essa lei que criou afigura dos institutos

superiores de educação e dos cursos normais Superiores. Se, por um lado,

esta deliberação sobre a necessidade de formação específica em nível

superior das professoras de educação infantil pode ser vista como um avanço

na direção da profissionalização da área, por outro, a criação dos institutos

superiores de educação revela que este avanço é relativo (CERISARA, 2002,

p. 329).

Para a autora a formação nos institutos remete ao aligeiramento no processo

de formação, uma vez que reduz carga horária, desarticula a teoria e a prática, com

argumentos de que quem está na prática não precisa estar constantemente na instituição

e ainda, a medida da LDBN/ 96 retira a formação das professoras de Educação Infantil

das universidades, que representa a distinção entre formação profissional e formação

universitária.

A análise acerca da LDBEN/96 possibilita perceber que, mesmo com os

aparatos legais sobre a infância, aparentemente inovadores, pensada inicialmente a

partir das necessidades defendidas pelos movimentos e organizações, a lei reflete ideias

neoliberais. As responsabilidades estabelecidas e os direitos passam a serem meramente

discursos, contrapondo com a falta de condições para que as crianças sejam atendidas na

Educação Infantil, principalmente pela ausência de financiamentos. Cerisara (2002)

destaca ainda que

Outro aspecto que é preciso destacar diz respeito ao fato deque ainda é um

objetivo proclamado a defesa do direito de todas as crianças à educação

infantil, já que apenas algumas crianças, filhas de mulheres trabalhadoras,

têm tido acesso a esses serviços. Ou seja, permanece a concepção de que as

vagas nas creches públicas devem ser preenchidas pelas crianças, cujas mães

trabalham fora e ganham pouco. As vagas, portanto, permanecem apenas

como direito das mulheres trabalhadoras que têm filhos e não das crianças

(CERISARA, 2002, p.23).

Alves (2002) e Barbosa (2011) analisam o contexto neoliberal em que a

formação dos profissionais da educação acontece. Nas instituições que atendem a

criança permanecem profissionais leigos, que recebem baixos salários, contrapondo

Page 55: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

54

com as diretrizes da LDBEN (1996). As autoras mostram que apesar da evidente

contribuição das legislações sobre a infância, é um período de enfática redução nos

investimentos da educação pública, independentemente do estabelecimento dos direitos

da criança.

Ao retomarem o contexto histórico, Barbosa e Alves (2009) afirmam que

historicamente esses profissionais não contaram com a valorização, formação,

condições de trabalho e reconhecimento, mas a LDBEN (1996) confere normativas

importantes quanto à formação, mesmo com as contradições observadas na lei.

No contexto da formação docente, observa-se no Relatório Estadual da

Pesquisa sobre Trabalho Docente na Educação Básica no Brasil (2010), elaborado pelo

Núcleo de Estudos e Documentação, Educação, Sociedade e Cultura da Faculdade de

Educação-Nedesc/UFG, apontamentos relevantes sobre a formação a partir do que

estabelece a LDBEN (1996). O relatório permite perceber que a formação docente, em

âmbito nacional, ganha espaço nas políticas governamentais voltadas para a Educação

Básica. Em Goiás, há mudanças no perfil do docente que recorre às Instituições de

Ensino Superior para a formação em nível superior.

As discussões sobre a formação docente permitem identificar as políticas

neoliberais que historicamente consolidam programas de formação continuada que

desconsideram as realidades locais. Barbosa (2013) chama a atenção para a necessidade

de mudanças na formação ao afirmar:

A formação, então, não só deve implicar na aprendizagem de conteúdos e

conceitos, mas, sobretudo, de valores, princípios e revisões críticas sobre o

sistema capitalista e o lugar social e cultural que ocupam inclusive como

professores, resgatando o autoconceito positivo destes e de suas ações

(BARBOSA, 2013, p.124).

Outra possibilidade de perceber as principais mudanças provocadas na

identidade do profissional da infantil é evidenciada por Vital Didonet (2000) ao analisar

a participação de movimentos sociais na construção da LDBEN /1996. O autor retrata a

ampla participação na tramitação do Projeto da LDBEN (1996), com a manifestação de

diferentes posições quanto às ideias, princípios e diretrizes. O debate, iniciado com o

primeiro projeto apresentado em 1988 e a aprovação final do texto em dezembro de

1996, contou com negociações e decisões, por meio de voto, no

entanto, permaneceram as contradições próprias de um sistema neoliberal.

Em decorrência da visão da Educação Infantil também compreendida na lei

como educação complementar às ações da família e da comunidade, Didonet (2000)

Page 56: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

55

aborda que a LDBEN /1996 estabelece um novo perfil aos educadores, pela necessidade

de conferir um caráter mais científico à Educação Infantil.

A Educação Infantil, definida nas legislações, requer um profissional que

assuma uma concepção de educação e avaliação que acompanhe o desenvolvimento da

criança e promova a emancipação, o que colabora para um novo olhar para compreender

como a aprendizagem das crianças acontece, resultando na formação identitária do

profissional responsável pela Educação Infantil.

Em relação ao RCNEI (1998), trata-se de um documento apresentado pelo

Ministério da Educação no governo de Fernando Henrique Cardoso, com o objetivo de

ser um suporte, no que diz respeito às reflexões téorico-metodológicas, para os

profissionais da educação. O documento faz parte dos Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCNs), que foram elaborados pelo MEC com o objetivo de expandir os

princípios de reforma curricular e orientar os professores a trabalharem com novas

metodológicas. O RCNEI é dividido em três volumes e ―apresenta-se como um

conjunto de referências e orientações pedagógicas que visam a contribuir com a

implantação ou implementação de práticas educativas de qualidade‖,

(BRASIL/MEC/SEF/1998, p.13).

O documento introdutório do RCNEI (1998, v1) descreve o perfil do

profissional que trabalha com a infância, explicitando que:

O trabalho direto com crianças pequenas exige que o professor tenha uma

competência polivalente. [...] Este caráter polivalente demanda, por sua vez,

uma formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se, ele

também, um aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo

com seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e buscando

informações. [...] reflexão e debates constantes com todas as pessoas

envolvidas e interessadas. Para que os projetos educativos das instituições

possam, de fato, representar esse diálogo e debate constante, é preciso ter

professores que estejam comprometidos com a prática educacional, capazes

de responder às demandas familiares e das crianças, assim como às questões

específicas relativas aos cuidados e aprendizagens infantis (RCNEI, 1998,

p.41 v1).

Para Alves (2002) o perfil desse profissional e sua formação estão em

permanente constituição. A autora indica possíveis contribuições do referencial nas

discussões curriculares para a infância, mas apresenta as fragmentações entre cuidar e

educar e as incoerências nas abordagens teóricas construtivistas divergentes que são

aspectos que influenciaram de forma decisiva na identidade docente.

A afirmação de Cerisara (1999) confirma a forma imediatista do governo

federal em disseminar um referencial e demonstra incoerência com as orientações do

Page 57: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

56

MEC, considerando que este foi divulgado antes da aprovação das Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, em 1999.

O RCNEI (1998) evidencia a necessidade de assumir uma concepção que

respeite as diversidades e especificidades, o que para alguns estudiosos demonstra uma

contradição, uma vez que, o documento é uma orientação que foi amplamente divulgada

para todos os estados brasileiros, desconsiderando as peculiaridades das regiões, em

relação à criança.

As propostas pedagógicas para a Educação infantil, defendidas no

Referencial, preveem a autonomia docente e precisa representar uma construção

coletiva, no entanto, Almeida (2010) afirma que:

As instituições não têm modificado suas propostas e seus trabalhos

pedagógicos no sentido de, coerentemente com as novas leis e diretrizes,

desenvolvam um cuidar/educar as crianças de acordo com uma prática

pedagógica cidadã (ALMEIDA, 2010, p.67).

Na perspectiva de construção autônoma da identidade docente, as posições

autoritárias de políticas governamentais ao adotarem modelos prontos, em detrimento

do que estabelecem os documentos nacionais, acentuam as dificuldades da constituição

de uma identidade política de classe.

O Parecer sobre o RCNEI, elaborado pela Associação Nacional de Pós-

Graduação e Pesquisa-ANPED (ASSOCIAÇÃO, 1998, p. 92) aponta que o Referencial

representa um documento orientador a ser utilizado por equipes de todo o país. No

entanto, o parecer destaca que o RCNEI (1998) deveria conter indicações de leituras

organizadas por temas, com informações mais claras sobre como ter acesso aos textos

sugeridos, oportunizando a formação continuada e a autonomia intelectual de

professores e equipes técnicas.

É possível identificar que o parecer apresenta contribuições na formação da

identidade do profissional da infância, uma vez que as propostas contempladas no

Referencial leva a reflexões sobre o currículo. A concepção de avaliação apresentada

no documento, na visão da ANPED, está apoiada em princípios tradicionais,

contrapondo com o que estabelece a LDBEN (1996).

O RCNEI (1998), de acordo com Almeida e Lara (2005), foi socializado

pelo MEC como um subsídio aos professores e recebeu inúmeras críticas sobre a

ausência da participação social nas etapas de elaboração e implementação dos

conteúdos apresentados nos três volumes do documento. As autoras apontam que o

Referencial desconsiderou as condições precárias dos profissionais da Educação

Page 58: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

57

Infantil, deixando evidências de que se condicionou a liberação de recursos para a

profissionalização com a adoção deste referencial nas creches e pré-escolas.

É importante destacar que o RCNEI (BRASIL, 1998) e as DCNEI

(BRASIL, 1999) foram elaborados com o objetivo de atenderem as exigências legais da

LDBEN/1996 no momento das reformas educacionais. Os dois documentos se

efetivaram em espaços e concepções diferentes. Enquanto o RCNEI foi produzido pela

Coordenação Geral de Educação Infantil (COEDI) do Ministério da Educação, as

Diretrizes foram produzidas pelo Conselho Nacional de Educação, por meio da Câmara

de Educação Básica, por meio da Resolução CNE, CEB/99 (BRASIL, 1999) e Parecer

CNE, CEB 22/98 CEB ( BRASIL, 1998b), com a participação de diferentes segmentos

envolvidos com as crianças de 0 até 6 anos.

Aquino e Vasconcelos (2005) analisam o contexto em que os documentos

foram produzidos, destacando o momento das medidas de redução da máquina

administrativa, da descentralização, municipalização e da comunicação direta do

governo federal com a comunidade educacional, sendo os documentos oficiais, uma

forma de chegar ao professor, sem interlocuções, de forma individualizada, esvaziando

a coletividade e a cidadania.

As autoras evidenciam que na Resolução do Conselho Nacional de

Educação-CNE, CEB/99 são estabelecidas oito diretrizes para a primeira etapa da

Educação Básica, em que a primeira define os fundamentos que devem nortear as

propostas pedagógicas, observando os princípios éticos, políticos e estéticos. Nos

princípios éticos contemplam a autonomia, responsabilidade, solidariedade e respeito;

os princípios políticos, os direitos e deveres de cidadania, o exercício da criticidade e o

respeito à ordem democrática e nos princípios estéticos a sensibilidade, criatividade,

ludicidade e as diversas formas de manifestações artísticas e culturais. A segunda

diretriz evidencia que as propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil

devem deixar claro a importância da identidade dos alunos, da família, dos professores,

escola e outros profissionais envolvidos no processo.

A terceira diretriz mostra que as práticas de educação e cuidado precisam

oportunizar a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos,

cognitivos/linguísticos e sociais das crianças. As propostas pedagógicas das instituições

de Educação Infantil, na definição da quarta diretriz, precisam ser planejadas, em

momentos espontâneos, dirigidos, sempre com intencionalidade e articulação das

diferentes áreas do conhecimento. A quinta diretriz apresenta uma proposta de avaliação

Page 59: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

58

na Educação Infantil que prevê o acompanhamento e registro das etapas, em

consonância com a LDBEN/1996 de que a avaliação não tem caráter de promoção para

o Ensino Fundamental.

As propostas pedagógicas das instituições, conforme explicita a sexta

diretriz, devem ser construídas, coordenadas, supervisionadas e avaliadas por

professores que tenham , no mínimo, curso de formação de professores, com a

participação da direção, em que tenha envolvimento de um educador com as mesmas

exigências quanto ao nível de escolaridade. A sétima diretriz mostra que a gestão

democrática é uma condição necessária para a garantia dos direitos das crianças e de sua

família, com educação e cuidados e profissionais que sejam multidisciplinares. A oitava

diretriz define que as Propostas Pedagógicas e os regimentos das instituições, de forma

integrada, oportunizam as condições para que se efetivem estratégias quanto ao espaço

físico, horário e calendário escolar com vistas a adoção e aperfeiçoamento das

diretrizes.

Almeida (2010) aborda que as Diretrizes contemplam uma concepção de

criança cidadã e, portanto com direitos. No entanto, concordando com o pesquisador é

preciso ir além das proposições, uma vez que os Projetos pedagógicos analisados nesta

pesquisa persistem observar que persiste a dificuldade na articulação entre cuidar e

educar, e existem contradições teóricas e metodológicas. Há nesse contexto, a

necessidade de defender que as políticas governamentais assegurem o cumprimento das

leis e ainda, que sejam pensadas, entre outras, as condições de trabalho, a valorização

dos professores que atuam com a Educação Infantil, os financiamentos e as instituições

formadoras considerem uma formação que respeite as especificidades da primeira etapa

da Educação Básica.

Retomando aos pressupostos de que a identidade está em permanente

transformação (CIAMPA, 2001) e que ela depende das interações com o contexto

histórico e social (CARVALHO, 2007), a análise dos estudos realizados durante nossa

pesquisa sobre o ECA (1990), a LDBEN (1996), o RCNEI (1998), as DCNEI (1999)

apontam que os mesmos apresentam modificações inegáveis para a construção da

identidade do profissional da educação infantil.

Nesta direção, também é possível perceber que o RCNEI (1998) demarca

mais uma oportunidade do profissional que trabalha com a Educação Infantil

identificar-se como alguém que não somente ―cuida‖, mas também ―educa‖ a criança.

No entanto, as contradições prevalecem na medida em que o RCNEI (1998) apresenta

Page 60: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

59

uma estrutura que não aproxima ―cuidar e educar‖. Ao contrário, oferece meios que os

separam e ainda, contribui para romper o processo de autonomia previsto na LDBEN

(1996), pela forma como foi elaborado e implementado em todo o país, em que se

constitui como um documento mandatário que desconsidera as especificidades da

criança, em seu contexto histórico, cultural, econômico e social. O ―silêncio‖ na

elaboração e divulgação das diretrizes é abordado por Aquino e Vasconcelos (2005)

também pressupõe uma provocação pertinente para observar os espaços que ganham

maior força, pela manutenção dos próprios sistemas vigentes.

Por outro lado, as ideias neoliberais estão presentes nesses documentos e a

distribuição de forma universalizada dos mesmos, sem considerar a realidade em que o

professor está inserido, são fatores que colaboram na reprodução de uma identidade

voltada para a conservação do sistema vigente, devendo-se lembrar de que a década de

1990 foi atravessada por reformas educacionais neoliberais e por reformas do papel do

Estado.

O caminho inverso representa a interação do profissional da educação

infantil de forma crítica com os documentos, que permite refletir sobre as contribuições

dos mesmos e suas contradições que resultam em elementos para a construção de uma

identidade emancipatória. A análise das implicações dos documentos nacionais, da

década de 1990, na construção da identidade profissional, por meio de pesquisas feitas

por estudiosos da infância, coincide com as posições retratadas nos estudos de Ciampa

(2001) de que a identidade não é algo estático.

A década de 1990 constituiu-se um momento de conquistas em

promulgações de leis e ações voltadas para a Educação Infantil, ainda que eles tivessem

ocorrido no bojo das reformas. Um espaço em que a Educação Infantil, nos discursos

oficiais, deixa de ser pensada, exclusivamente como um espaço de cuidar para alcançar,

pela primeira vez, o lugar de direito, ou seja, primeira etapa da Educação Básica em que

a concepção de Educação Infantil passa por mudanças significativas, elegendo a criança

como sujeito de direitos.

Observa-se um número significativo de pesquisas sobre a formação dos

professores da educação infantil na década de 1990. As pesquisas mostram que as

formações para a educação infantil são marcadas pelas ideias neoliberais. Marilene

Raupp (2008) chama a atenção para o período de 1995 a 2002 em que o governo

Fernando Henrique Cardoso (FHC) assume seu plano político e educacional com base

nas propostas do Banco Mundial. Consolida nesse período a palavra ―globalização‖,

Page 61: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

60

observando o que determina as normas do Banco Mundial, com investimentos para o

ensino fundamental e adoção de programas voltados para as crianças pobres, na

educação infantil.

Assim, a década de 1990 é fortemente marcada pela influência do Banco

Mundial que incentiva o atendimento de crianças de 0 até 6 anos em lugares

inadequados, a exemplo de creches domiciliares, com profissionais leigas, sem a

formação profissional necessária para atuar com as crianças nesta faixa etária. Em

relação a LDBEN/1996 , Raupp (2008)afirma que

a LDBEN/1996, sem desconsiderar os descaminhos da tramitação do projeto,

reconhece todos aqueles que exercem a docência com crianças de o até 6

anos como professor de Educação Infantil, condicionando sua formação em

nível superior de licenciatura, de graduação plena, trazendo o Instituto

Superior de Educação (ISE) com o curso normal superior para formar

professores para a Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental.

Também passa a considerar a Educação Infantil como a primeira etapa da

educação básica, definindo-a como parte do Sistema Municipal de Educação,

impulsionando a creche a romper com sua tradição assistencialista para

inaugurar sua presença como etapa educacional. Juntamente com o

reconhecimento do professor de Educação Infantil e sua correspondente

formação no nível superior, a Lei acrescenta a necessidade de constituição

dos estatutos e planos de carreira docente, os quais deverão ser assegurados

pelos sistemas de ensino (RAUPP, 2008, p.106).

Após as novas determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional para o professor que trabalha com a primeira etapa da educação básica,

percebe-se as limitações e o desafio de que sejam implementadas políticas públicas de

valorização desses profissionais, garantindo formação adequada e condições adequadas

de atendimento.

Fúlvia Rosemberg (2001) analisa a legislação para a educação infantil

evidenciando os orçamentos e metas do Plano Nacional de Educação. A autora descreve

sobre as exigências legais pós-constituinte de 1988, em relação à formação docente, e

retrata dados que mostram o número expressivo de professores leigos atuando na

educação infantil, conforme tabela 01 a seguir:

Fonte: Censo Educacional 1986 (apud Rosemberg 1999, p.22) e Censo Educacional 2000.

Tabela 01- Funções docentes em educação infantil tendo formação inferior ao ensino

médio completo. Brasil, 1986 e 2000.

1986 2000

Pré-escola e classe de

alfabetização

Creche, pré-escola e classe de alfabetização

N° % N° %

48.269 27.5 320.841 13,0

Page 62: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

61

Diante dos dados retratados no Censo 2000, percebe-se, por um lado, a

necessidade de analisar o nível de formação dos profissionais que atuam com a

educação infantil na década de 1990. Os dados da tabela 01 apresentados sinalizam a

importância de um grande percurso para alteração no quadro, que passa essencialmente

por políticas publicas que assegurem esse direito estabelecido nas legislações.

Permanece a defesa evidenciada por Limonta e Santos (2015) de que:

Melhorar a qualidade da formação e do trabalho dos professores do Brasil é

uma prioridade e disso não temos dúvida, mas a a qualidade pela qual

devemos lutar politicamente e no desenvolvimento de nosso trabalho como

formadores de professores se dá a partir da crítica radical aos modelos de

formação e às condições de trabalho que temos hoje (LIMONTA;SANTOS,

2015. p.15).

Para Maria Campos (2008), as alterações da legislação em relação à

formação do profissional da educação infantil representa um desafio, considerando que

a maioria dos professores, principalmente dos que exerciam a função de educador de

creche, não possuíam a qualificação necessária, geralmente eram vinculadas à área de

assistência social.

Em relação ao RCNEI, o próprio documento aborda que muitos dos

profissionais que atuam na Educação Infantil precisam de documentos orientadores,

uma vez que não possuem a formação necessária, condições e salários condizentes com

a prática docente. Os três volumes do documento: introdução, formação pessoal e

conhecimento de mundo retratam mudanças na atuação do professor de educação

infantil que pressupõem orientações quanto à formação necessária desse profissional.

Palhares e Martinez (1999, p. 9) evidenciam que ―o RCNEI prevê um

profissional altamente qualificado, capaz não só de analisar tipos de brincadeiras e

efetivá-las, considerando o potencial da atividade e da criança, como também prosseguir

com a estimulação após cada resposta individual‖.

Os três volumes do RCNEI mostram a necessidade de um professor com a

capacidade de integrar família e comunidade no planejamento para que a ação

pedagógica contemple conteúdos que resultem desta interação. Além disso, enfatizam

que o professor representa um modelo para as crianças, daí o fato de perpassarem todo o

documento as atitudes e capacidades diversas esperadas do professor, entre elas, o

cuidado com seus gestos, posturas e a necessidade de que reconheça a música como

linguagem, respeitando as expressões musicais das crianças (Palhares e Martinez 1999).

Na década de 1990, o RCNEI foi amplamente divulgado e disponibilizado

pelo MEC. Os apontamentos de Alves (2002) retratam que, nos dados obtidos no censo

Page 63: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

62

de 1994, 77% das creches e pré-escolas utilizam o referencial e a direção observada é a

disseminação de sua utilização em todos os estados brasileiros.

Por outro lado, as contradições evidenciadas no RCNEI, como a presença da

dicotomia entre cuidar e educar, a abordagem construvista posta no documento de

forma eclética e o distanciamento das discussões deixam incertezas sobre a

aceitabilidade do referencial pelos professores de educacão infantil.

Paulo Freire (1996, p.18) remete-nos à importância de remontar a história e

perceber os caminhos percorridos quando afirma: ―na formação permanente dos

professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando

criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática.‖

Trazer as reflexões de Freire (1996) para pensar a formação continuada dos professores

de Educação infantil, na década de 1990, e realizar a análise do RCNEI é uma forma de

compreender os caminhos que foram sendo construídos, ao longo da história.

Concordando com Alexandre Macedo Pereira e Luis Fernando Minasi (2014)

ao revisitar a trajetória da formação de professores no Brasil, esta pesquisa se propõe a

pensar o que foi construído no passado, mas com atenção no presente, uma vez que o

entendimento é que o presente nos leva a entender o passado.

Para pensar a formação continuada dos professores de Educação Infantil na

década de 1990 é importante refletir sobre a formação de professores de modo geral, no

País, um pouco de sua história, as pesquisas de estudiosos sobre a temática e os desafios

enfrentados ao longo da história. Em grande parte, as políticas públicas disseminadas no

País após a LDBEN Nº 9.394/96 revelam contradições em relação às formações para os

trabalhadores da educação.

Para Barbosa (2013) a formação de professores no Brasil traz em sua

história a participação dos movimentos sociais e a influência dos discursos oficiais que

discutem sobre a qualidade de ensino e da educação, resultando, desde a década de

1990, em mudanças educativas em relação à legislação e à formação de professores que

atuam na educação infantil.

A década de 1990 é marcada pelas políticas neoliberais, implementadas pelo

governo Fernando Henrique Cardoso, que apresentam modelos de formação pautados

em parâmetros a serem multiplicados por professores formadores, responsáveis por

aprimorarem seus conhecimentos nos documentos apresentados e repassá-los aos

demais professores.

Page 64: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

63

As justificativas utilizadas pelas políticas governamentais para essa prática

de socialização por meio de repasses se fundamentavam na impossibilidade de atingir a

todos os professores, uma vez que representam a maior categoria profissional do país.

Com base nesses argumentos, o governo assume, nos discursos oficiais, a tarefa de

minimizar as distâncias, por meio da formação continuada, e contribuir com o professor

para aprender a ensinar melhor, com a utilização de documentos elaborados por

especialistas do Ministério da Educação ou por profissionais contratados que possuam

experiência na educação infantil.

A abordagem teórica dos documentos oficiais se fundamentava em modelos

já adotados em outros países, que discutiam ou identificavam as lacunas existentes na

educação brasileira, apresentando experiências consideradas exitosas, a exemplo de

propostas construtivistas. Essas propostas tinham como objetivo formular parâmetros

para todos os professores, com a compreensão de que a universalização de orientações

para os profissionais da educação diminuiria os altos índices de evasão e repetência,

atribuídos, na maioria das vezes, à dificuldade do professor de ensinar melhor.

Nesta perspectiva, os documentos apresentavam uma concepção de

educação, em que o professor é culpabilizado pelo fracasso do estudante, sem

considerar outras questões importantes, como: uma política de formação continuada que

considere as especificidades, as condições de trabalho, a ausência de material

pedagógico, a desvalorização do trabalho docente.

Nos estudos de Pereira e Minasi (2014) é possível observar que na formação

de professores do Brasil privilegiam-se os dados estatísticos, com caráter expansionista

e mercadológico, valorizando a mão de obra e o estabelecimento de parcerias do

governo com a iniciativa privada, em que os governos adotam uma política neoliberal,

contemplando em suas decisões: privatizações, flexibilização do mercado financeiro,

ausência de regulamentação do mercado financeiro, caracterizando o ―Estado Mínimo‖.

Dessa forma, as políticas públicas brasileiras para a realização de formação

continuada para professores apresentam-se como altamente precarizadas, produtivistas e

sempre a serviço do capital. Os autores Marx e Engels (1998, p.13) continuam

atualizados quando afirmam que ―O Poder Executivo do estado moderno não passa de

um comitê para gerenciar os assuntos comuns de toda burguesia‖.

A formação de professores traz assim, em suas raízes, as ideias neoliberais

que as políticas governamentais continuam desenvolvendo, na busca de resolver as

mazelas da educação. Em grande parte, essas ações têm atribuído ao professor a

Page 65: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

64

responsabilidade pelos fracassos dos estudantes, e resultam na oferta permanente de

formação continuada para que o professor aprenda a ensinar melhor. As medidas

assumidas pelas políticas neoliberais acabam fortalecendo o individualismo e o

professor passa a buscar de forma incessante a sua própria formação.

Nesta direção, é importante reafirmar a ausência de políticas públicas

deformação continuada, além dos moldes do capitalismo. Nas palavras de Bernadete

Gatti (2013) observam-se as contradições que marcam fortemente a valorização

docente:

Mudar a representação dos cursos formadores de professores e da escola

pública associa-se à possibilidade de mudança nas representações sociais da

docência. Mas essas mudanças só podem se processar com mudanças

concretas na realidade das escolas e nas condições de formação e trabalho de

professores (GATTI, 2013, p.156).

João Alberto Correia e Manuel Mattos (1999) mostram que a forma de

organização do Estado em relação à educação nas décadas de 1980 e 1990 diminui a

intervenção do estado e colabora de forma muito eficaz para a intervenção de outros

agentes sociais. Os autores evidenciam que:

O controle burocrático-administrativo das prescrições curriculares, por sua

vez, confronta-se com o desenvolvimento e a consolidação de uma indústria

de ensino que, adotando um marketing educativo cada vez particularmente

agressivo, desempenha um papel cada vez mais importante na ―socialização

didática‖ dos professores [...] os novos programas chegam à escola através de

manuais escolares que, assim, deixam de ser meros auxiliares de ensino ou de

aprendizagem para se transformarem em guias de ensino (CORREIA;

MATTOS, 1999, p.17).

Para Kátia Silva e Sandra Limonta (2012) é fundamental discutir o papel da

pesquisa na formação dos professores:

Acreditamos que a pesquisa é fundamental no processo de formação e no

trabalho dos professores da educação básica, pois na possibilidade da práxis e

na recusa de ser homem-massa está a possibilidade de formação de sujeitos

autônomos, capazes de resistência e de tomar suas próprias decisões. A

pesquisa proporciona um esclarecimento que permite desvelar a superfície da

realidade, das políticas e das práticas sociais aparentemente naturalizadas e

cristalizadas. Isso significa que na pesquisa está também a possibilidade da

emancipação humana e da transformação da realidade (SILVA; LIMONTA,

2012, p.18).

É preciso compreender que a pesquisa tem sido relegada pelas políticas

governamentais, o que tem causado a improvisação e a massificação de formações em

modelos tecnicistas que impedem a formação de um educador autônomo e cidadão. D e

acordo com Gilberto Alves (2005) a formação básica assume um papel fundamental na

Page 66: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

65

educação. Por outro lado, a formação é realizada sem um caráter crítico. O autor afirma

que:

No caso da formação dos trabalhadores da educação, não basta colocar em

questão os recursos-técnico-pedagógico que deveria dominar; há que se

perseguir a intenção de torná-lo cidadão, condição sine qua non de sua

elevação a educador, a sujeito das transformações da educação e da sociedade

(ALVES, 2005, p.74).

Para Campos et al. (2001) as políticas públicas que contemplem a educação

de crianças de 0 a 6 anos precisam ser assumidas como Política de Infância, em que

sejam asseguradas as condições adequadas para o pleno desenvolvimento da criança.

Condições, entre outras, que passam por financiamento, espaços abertos para recreação

infantil, formação continuada dos profissionais que atuam com a criança, bibliotecas

públicas.

A cidadania, aqui defendida, ultrapassa uma visão redentorista, os discursos

vazios de que a educação sozinha transforma realidades, e vislumbra uma cidadania que

considera a história, as diferentes culturas, as contradições sociais. Pensar a cidadania é

repensar as formações com formatos determinados, consolidadas por um número

reduzido de especialistas em gabinetes, que não representam as necessidades dos

trabalhadores da educação, portanto, sem a valorização do processo de reflexão e

discussão coletiva, construído em diferentes espaços educativos.

Page 67: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

66

2. A EDUCAÇÃO INFANTIL NO ESTADO DE GOIÁS NAS DÉCADAS DE 1980

E 1990

Neste capítulo são apresentados aspectos importantes da Educação Infantil

no estado de Goiás nas décadas de 1980 e 1990, mostrando estudos sobre a infância em

Goiás, formas de organização do estado para o atendimento à Educação Infantil,

aspectos determinantes da municipalização da Educação Infantil do estado,

financiamento e informações da Educação Infantil contemplados na revista ―Educação

em Dados‖ sobre a municipalização do estado de Goiás. A pesquisa mostra percursos e

contradições no processo de transferência das instituições que estavam sob a

responsabilidade do Estado para os municípios goianos.

Para rever os caminhos percorridos pela infância em Goiás, Barbosa (2008)

afirma a importância de considerar que

resgatar a historicidade das instituições e dos contextos educativos significa,

antes de tudo, compreendê-las em suas várias dimensões – social, cultural,

ideológica, político-econômica –, em suas relações interindividuais e

coletivas, em suas concepções sobre os processos biopsicossociais do

desenvolvimento infantil. Além disso, a historicidade constitui um aspecto e,

ao mesmo tempo, uma categoria teórica necessária para a desnaturalização

dos conceitos de infância e educação, bem como para a compreensão das

políticas atuais em educação infantil, cujas origens foram delineadas e

implementadas ao longo da história brasileira (BARBOSA, 2008, p.381).

Neste contexto, é imprescindível valorizar a história considerando como

ponto de partida as pesquisas existentes, a análise crítica de documentos, o diálogo com

os sujeitos envolvidos que compõem a pesquisa que busca compreender a história e

percursos das instituições de Educação Infantil em Goiás nas décadas de 1980 e 1990.

No entendimento de Priore (2008),

resgatar esse passado significa, primeiramente, dar voz aos documentos

históricos, perquirindo-os nas suas menores marcas, exumando-os nas suas

informações mais concretas e mais modestas, iluminando as lembranças mais

apagadas. É pela voz de médicos, professores, padres, educadores,

legisladores que obtemos informações sobre a infância do passado

(PRIORE, 2008 p.15).

Na história da criança de Goiás, nos séculos XVIII e XIX, os estudos de

Diane Valdez (2002), entre outros, nesta dissertação se apresentam como um dos

aportes teóricos escolhidos para rever questões que evidenciam as formas que se

constituíam as famílias, o abandono das crianças, as maneiras de compreender a

infância, o espaço da saúde e escola.

Page 68: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

67

Valdez (2002) mostra que nos séculos XVIIII e XIX, em Goiás, os filhos de

prostitutas, padres, adúlteros eram chamados de filhos de ―concubinas‖ e considerados

―ilegítimos‖ pela igreja católica e também pela legislação portuguesa que vigorava no

Brasil. A autora descreve sobre as inúmeras críticas de europeus que ao perceberem as

maneiras de concepção das crianças consideravam que os filhos eram de

relacionamentos passageiros e, portanto, ―frutos do pecado‖. O concubinato ocorria

independente da classe social, da cor, espaço ou qualquer outro fator.

Os estudos de Valdez (2002) evidenciam ainda que

em relação às famílias da região de Goiás, haviam diferentes tipos de grupos

familiares ou grupos de convívio. De acordo com o censo de 1872, a média

de habitantes por domicílio correspondia a uma média de 6 pessoas por casas,

incluindo parentes e agregados que moravam com as famílias e que oferece

uma noção de filhos. Família numerosa não era comum até o início do século

XX. Importante lembrar que nascimento e morte nessa época andavam lado a

lado. Da mesma forma que nasciam crianças, também havia mortes, pelas

precárias condições de vida (VALDEZ, 2002, p.14).

Observa-se, assim, que a origem do preconceito com as crianças se justifica

muito pelas condições de vida das famílias e persiste ainda hoje nas relações sociais.

Valdez (2002) mostra a tradição das famílias de casarem seus filhos precocemente em

que aos 15 anos a filha solteira já não tinha muitas escolhas, sendo comum casar-se com

homens mais velhos. Outra questão preconceituosa era a forma que os filhos de

escravos eram considerados: ―moleques‖, ―negrinhos‖. Os filhos dos negros eram

adotados para serem criados como ―filhos‖, no entanto, eram vítimas da violência

doméstica, entre outras ações que contribuíram para fortalecer o racismo no contexto

atual. Em relação à criança indígena, as famílias mantinham uma relação romântica

com seus filhos e a igreja reconhecia os doze anos como o momento adequado para que

os filhos dos indígenas fossem convertidos como cristãos.

Valdez (2002) ressalta que, comparando os dados do século XIX de outras

regiões brasileiras, o número de crianças abandonadas em Goiás é menor. Nos dados

analisados a autora lembra que o estado, no século XIX, era um lugar em que prevalecia

a pobreza e que mesmo assim as condições de pobreza não representam a causa do

abandono. As famílias indígenas formavam a sociedade e as crianças indígenas eram

adotadas com o argumento de que seriam civilizadas e em muitos casos eram

aprisionadas.

Ainda sobre o abandono, a autora mostra que existiram outras maneiras de

abandonar os ―frutos da terra goiana‖, como a prática de dar os filhos para outras

famílias criarem pelas dificuldades financeiras. Em Goiás, também prevaleceu uma

Page 69: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

68

forma diferenciada de adoção. As crianças, chamados de ―bobos‖, eram adotadas por

famílias para serem serviçais. Valdez (2002) em relação à fase assistencialista tão

presente nas ações voltadas para a criança, aponta que em 1876 predominam locais de

acolhimento de órfãos e pobres que visavam a formação para o trabalho e a moral.

Foram criadas instituições como o Colégio Isabel, da Cidade de Goiás, mantido pelo

estado, que era responsável por atender meninas órfãs, extinto um ano após sua criação.

Em 1877, foi implantado na província de Goiás a Companhia de Aprendizes

Militares, que ficava subordinada ao Ministério da Guerra. O projeto permaneceu por

quatorze anos e cinco meses e quando deixou de existir, tornou-se uma lembrança para

adultos da sociedade Vilaboense e para as crianças representou a libertação de um

espaço em que vigorava um regime de disciplina rígida. Em Goiás, antiga capital, a

Companhia era conhecida como ―Quartel de menores‖ (VALDEZ, 2002).

A educação formal goiana contou com a forte presença da igreja, com

especial atenção à catequese dos curumins. Na história da educação formal goiana,

Valdez (2002) mostra que existem silêncios, a exemplo, como aconteceu com a

educação dos filhos dos negros e afirma a importância da história na defesa dos direitos

das crianças. Nas palavras da autora

É a história que nos dá a possibilidade de vislumbrar como o significado da

criança se diferencia no decorrer dos tempos. Hoje identificamos a criança

sob a luz do Estatuto da Criança e do Adolescente: ―criança, sujeito de

direitos... para chegarmos até aqui quanto caminhos percorremos [...] E o

quanto ainda temos que percorrer para percebermos a criança como sujeito de

direitos?‖ (VALDEZ, 2002, p.62).

Os percursos da história de Goiás permitem identificar traços do passado no

contexto atual. Ao refletir sobre as dificuldades das condições de vida da criança goiana

é preciso reafirmar que hoje, independentemente dos avanços na legislação brasileira,

permanecem: o abandono, a desigualdade social, o preconceito, a violência, o

assistencialismo em nome da proteção.

No que se refere ao atendimento às crianças em Goiás, Barbosa mostra que

o processo ocorreu com os mesmos formatos de outros estados do país. Nos estudos a

autora afirma que

não foi por iniciativa estatal que surgiram as primeiras creches em Goiânia,

por exemplo, mas sim devido a iniciativas filantrópicas ligadas às instituições

de caridade, tendo sido criadas as creches ―Anália Franco‖ (1958) e ―Obra do

Berço‖ da Irradiação Espírita Cristã (1967) (BARBOSA, 2008, p. 382).

Page 70: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

69

O descaso do poder público é perceptível na ausência de financiamento das

esferas governamentais e na iniciativa de instituições filantrópicas de criarem creches

que confirmam o atendimento como forma de assistencialismo e doação.

2.1 Formas de organização para o atendimento da Educação Infantil no estado de

Goiás

A Secretaria Estadual de Educação, nos anos finais de 1990, contava na

Superintendência de Ensino Fundamental com um Departamento responsável pelo

acompanhamento de Educação Infantil na esfera estadual que contou com a nossa

coordenação. A equipe do Departamento de Educação Infantil tinha a função de

acompanhar o trabalho desenvolvido em creches e pré-escolas, realizar formações para

os profissionais e acompanhar o processo de transferência das instituições de Educação

infantil vinculadas ao estado para os municípios. A atuação na coordenação da equipe

nesse período representou um espaço importante para aprofundarmos conhecimentos

sobre a criança de 0 até 6 anos.

O Departamento de Educação Infantil na rede estadual representava naquele

momento um movimento expressivo, uma vez que as pessoas que compunham a equipe

do referido Departamento, em parceria com as 38 Subsecretarias Regionais de Educação

e municípios goianos, participaram de discussões que demarcaram as ações da

Educação Infantil. Por outro lado, existiam dificuldades no acompanhamento e

desenvolvimento das ações, por se tratar de uma equipe com número reduzido de

professores, mesmo sendo profissionais especialistas e comprometidas. Entre as

principais ações do departamento, destacam-se: a participação no Fórum Municipal da

Educação Infantil, nas discussões da Lei Complementar nº 26/1998, audiências públicas

e a promoção do Encontro de Educação Infantil-Estado e Municípios juntos em defesa

da Educação Infantil. Vale destacar que o Fórum Municipal de Educação Infantil foi

um espaço de amplas discussões em que representando o Departamento de Educação

Infantil da SEE foi possível refletir sobre questões relacionadas a Educação Infantil,

entre outros, com representantes do Juizado da Infância e Juventude de Goiânia, da

Secretaria da Cidadania e Trabalho, da Universidade Federal de Goiás e das Secretarias

Municipais de Educação.

A equipe do Departamento de Educação Infantil também participou das

discussões sobre as questões inerentes a Lei Complementar nº26, de 28 de dezembro de

1998. No que se refere à citada legislação goiana, Barbosa (2008) afirma que

Page 71: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

70

[...] no contexto regional, importa destacar a aprovação da LDB do Sistema

Educativo de Goiás, Lei Complementar n. 26, de 28 de dezembro de 1998,

cuja elaboração, em um processo amplamente participativo, representou uma

conquista no exercício democrático na política governamental. Ademais, as

pequenas modificações relativas à educação infantil que foram introduzidas

representaram avanços para a área: por exemplo, na determinação de que a

educação infantil seja assegurada preferencialmente, em estabelecimentos

públicos, e não apenas oferecida como o previsto na LDBEN Nacional/96; a

inclusão do aspecto ético do desenvolvimento da criança e da promoção da

ampliação das experiências infantis como objetivos da educação infantil; a

especificação de elementos sobre os projetos pedagógicos e curriculares da

educação infantil; a consideração dos níveis de conhecimento e não somente

de faixas etárias na organização das turmas (BARBOSA, 2008,

p. 386-387).

Barbosa e Nogueira (2001) chama a atenção sobre o papel do Estado na

LDBEN e na LDB do Estado de Goiás, em que na LDBEN a Educação Infantil deveria

ser somente ―oferecida‖ e na versão estadual, as autoras mostram que existe uma maior

conquista quando estabelece que a Educação Infantil deve ser ―assegurada‖.

As autoras evidenciam outra questão que merece a atenção no que

estabelece a legislação federal e a estadual, em que na LDBEN são chamadas de

―propostas curriculares‖, na LDB estadual passa a ser denominado de ―projeto

pedagógico construído coletivamente pela comunidade escolar‖, que mostra maior

flexibilização para a participação dos envolvidos no processo. Enfim, as autoras

afirmam que precisam acontecer mudanças no cumprimento da legislação e no caso da

nossa investigação é preciso avançar no que se refere às responsabilidades do Estado

com a Educação Infantil na garantia de que os estabelecimentos públicos assegurem o

atendimento as crianças de 0 a 6 anos.

Para obter informações sobre a trajetória do Departamento de Educação

Infantil da rede estadual relacionadas às crianças de 0 até 6 anos, na década de 1990,

foram investigados documentos no acervo da SUEF/Seduce. É importante destacar que

muitos dos documentos do departamento não foram localizados, confirmando estudos

que explicitam a dificuldade em obter informações sobre o processo histórico, em

especial, registros sobre a infância e sua educação.

Nessa contradição, em que fontes documentais são descartadas por

instituições mostrando o descompasso no zelo com a história foi localizado no arquivo

da SUEF uma gravação em áudio (fita cassete) sobre a realização do Encontro de

Educação Infantil,17

promovido pelo Departamento de Educação Infantil da SEE com

secretários municipais de educação e subsecretários regionais de educação. Também

17

Encontro de Educação Infantil – Estado e Município juntos em defesa da Educação Infantil, uma

promoção do Departamento de Educação Infantil /SUEF/SEE, realizado em 23 de novembro de 1999.

Page 72: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

71

foram encontrados nesse arquivo, revistas intituladas ―Educação em Dados‖ com

informações sobre o processo de municipalização da Educação Infantil em Goiás.

Foram localizados na investigação, em arquivos de instituições e de

colaboradores na pesquisa, documentos impressos que foram entregues no Encontro de

Educação Infantil18

e conservados pelos arquivos, entre eles, destacam-se: Programação

do Encontro de Educação Infantil (Anexo 2), quadro demonstrativo da Educação

Infantil das creches atendidas pela SEE e Funcad, levantamento de instituições dos

municípios com autorização para permanência da Pré-Escola na rede estadual, material

de consulta disponibilizado pela SEE aos municípios goianos sobre legislações voltadas

para a Educação Infantil, lista de frequência de audiência pública19

sobre Educação

Infantil. Para análise, foram selecionados alguns desses documentos, que são

imprescindíveis para contextualização do período pesquisado. Reconhecendo o valor de

todas as fontes documentais, elas podem ser utilizadas em estudos posteriores.

No que se refere às ações desenvolvidas pelo Departamento de Educação

Infantil da Secretaria Estadual de Educação de Goiás 1999-2001(Anexo 3) foi

localizado no acervo pessoal de Ivone Garcia Barbosa, um documento que foi entregue

aos participantes no Encontro de Educação Infantil que contempla as ações da equipe.

O registro das ações desenvolvidas no Departamento de Educação Infantil/

SUEF/ SEE mostram fatos que marcam a passagem das instituições de Educação

Infantil da esfera estadual para os municípios. Nas ações percebe-se também a presença

dos documentos oficiais na formação dos profissionais da Educação Infantil, a exemplo

do RCNEI, condicionando a uma única referência para a infância, evidenciando a

presença do neoliberalismo, pelos modelos prontos e uniformes que desconsideram as

diferenças locais. É possível fazer esta inferência pela ampla divulgação do RCNEI

como um documento orientador naquele período e que permanece ainda hoje nas

propostas políticas pedagógicas de educação Infantil.

Para falar sobre as ações do Departamento de Educação Infantil na rede

estadual foi entrevistada uma professora integrante da equipe, que atuava na rede

18

Documentos disponibilizados, de seu arquivo pessoal, pela pesquisadora Ivone Garcia Barbosa da

UFG. 19

Audiência pública promovida por Fabio Torkaski realizada no dia 29 de novembro na sala de reuniões

das comissões da Câmara Municipal de Goiânia, com exposição de Barbosa (1999) sobre Aspectos

Históricos da Educação Infantil no Município de Goiânia e de Costa (1999) representando a Secretaria

Estadual abordando sobre A parceria entre Estado e Municípios na Educação Infantil em Goiás. Em

contato com setor responsável por arquivos da Câmara Municipal de Educação sobre a possibilidade de

filmagens da audiência pública informaram que não existia na época um sistema de registro.

Page 73: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

72

estadual em um período e no outro, em uma instituição de Educação Infantil na rede

municipal. A Professora Maria das Graças Ribeiro (Entrevista 1), ressaltou que ter um

Departamento de Educação Infantil na Secretaria de Educação representou um espaço

importante na política de cooperação entre a esfera federal, estadual e municipal. Para a

professora, os programas do Ministério de Educação tinham a mediação do Estado junto

aos municípios, a exemplo, do RCNEI. Por outro lado, o Departamento contava com

uma equipe pequena e considerando a dimensão do estado de Goiás, o acompanhamento

às instituições de Educação Infantil acontecia muito por ofícios, orientações via

documentos e contatos telefônicos e a formação acontecia em cursos de curta duração.

De acordo com Cecília Torres Borges que coordenou o Departamento de

Educação Infantil da Secretaria Estadual de Educação de junho a novembro de 1999

(Entrevista 2), a década de 1990 foi um momento em que a Educação Infantil ganhava

maior espaço nas agendas em nível nacional. Em 1999 houve um Seminário Nacional,

em Brasília, em que os estados discutiram sobre os novos rumos da Educação Infantil e

como representante da Secretaria Estadual naquele espaço evidencia que

Todos nós tínhamos muito mais uma vivência da Educação Infantil em relação ao cuidar.

Naquele grupo era assim, mas tínhamos alguns que já estavam em uma discussão nacional,

mas a grande maioria era como eu. E eu achei interessante isso porque parece que a

Educação Infantil se constituiu, nas secretarias estaduais e também nas municipais, houve a

reorganização do que se tinha, porque até 1996 ninguém discutia, porque isso era da

assistência. Então não eram pessoas que tinham histórias de luta em prol da Educação

Infantil, óbvio que a gente sempre já tinha os que estavam mais na frente, isso possibilitou

que me sentisse muito à vontade porque como a minha história ali tinha quase a maioria,

que também estava começando porque também estavam se organizando, o acerto que cada

Secretaria faz para poder absorver o atendimento dessa nova demanda. (Entrevista 2,

01/09/2015)

A Professora retrata aspectos observados em âmbito nacional, em que

existiam posicionamentos que ainda eram novos e que se constituíam como marcos na

história da infância. Em relação às instituições que estavam vinculadas a Secretaria

Estadual de Educação na década de 1990, Cecília Torres ressalta que considera que a

Secretaria, principalmente as pessoas ligadas ao Departamento de Educação

Infantil/SUEF teve um tratamento de muito respeito no processo de transferência das

instituições para a rede municipal. Na compreensão dela, existiu todo um cuidado do

Estado para ouvir os municípios, autorizando a permanência da Pré-Escola quando se

fazia necessário para que gradativamente os municípios assumissem a oferta da

Educação Infantil.

Ao revisitar as décadas de 1980 e 1990, encontramos em diversos espaços

relacionados às discussões sobre a infância em Goiás a presença da pesquisadora Ivone

Page 74: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

73

Garcia Barbosa Os documentos disponibilizados de seu arquivo particular e suas

informações são essenciais nesta dissertação para conhecer e analisar questões

relevantes na história da criança de 0 até 6 anos em Goiás. Durante os encontros de

orientação, tivemos a oportunidade de contar com diálogos com a Professora Ivone

Garcia Barbosa20

sobre o objeto deste estudo, que demarcam aspectos da história da

educação infantil e, neste sentido, pela importância das contribuições, transcrevemos a

seguir:

Nas décadas de 1980 e 1990 o papel da primeira dama e das especialistas contratadas pela

Secretaria da Educação era de fomentar e acompanhar várias ações no âmbito da educação

e assistência social. Várias reuniões eram realizadas a fim de discutir e elaborar projetos. A

visão que perpassava esse movimento era assistencialista, porém se colocava o caráter

educativo das atividades com as crianças e suas mães. Há explicitamente uma cisão na fala

da Associação de Creches de Goiás, a qual assumia que queria cuidar das criancinhas e

deixava para a Universidade a discussão sobre a educação. Esse debate perpassou os vários

encontros e seminários que resultaram na LDB de Goiás, em 1998, no qual participaram em

torno de mil pessoas. No período da passagem das creches do estado para os municípios, as

crianças sofreram à época falta de alimentos, tendo presenciado o esforço de alunas que

atuavam nas instituições para conseguir o básico para que as crianças tivessem menos

privações e que não se continuasse a misturar o leite com água‖ (Barbosa, 2016).

A pesquisadora Ivone Garcia Barbosa, militante e estudiosa da educação

infantil desde o início da década de 1980, explicitou que exerceu a função de assessora

da rede municipal de educação de Goiânia, no período de 1998 a 2000, passou tanto

pela formação da primeira equipe da rede-composta por especialistas da educação

infantil e mestres em educação, como a responsável por escrever junto com mais de 30

educadoras, dois importantes documentos: a proposta de Políticas para a Educação

Infantil e Orientações Curriculares para Educação Infantil, ambas as propostas

aprovadas no Conselho Municipal de Educação, mas que foram engavetadas e depois

extraviadas dos arquivos públicos pela gestão que assumiu após os anos de 2000 e que

não deu continuidade a uma discussão com o conjunto de professores da rede para

formulação de projetos coletivos no âmbito da implementação das políticas e do

currículo. Além dessa inserção, a pesquisadora assumiu a função de formadora de

professores da educação infantil, desenvolvendo diversas atividades nos municípios

goianos, junto com uma equipe de pesquisadores.

20

Profa. Dra. Ivone Garcia Barbosa, que por ser a professora orientadora desta pesquisa, não consta nesse

trabalho como entrevistada. Porém, aguarda-se a oportunidade que outro pesquisador possa realizar esse

trabalho de entrevista, incorporando à história o olhar totalizador da pesquisadora, coordenadora do

Nepiec e do Fórum Goiano de Educação Infantil e que desde a década de 1980 atua no estado de Goiás

como referência de construção das políticas públicas e da pesquisa sistemática sobre a educação da

infância.

Page 75: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

74

Retomamos Kuhlmann Júnior (2007) quando afirma que estudar o passado

das instituições é fator primordial para que as ações sejam valorizadas e

consequentemente, evitar práticas de descontinuidade administrativa. O percurso

histórico da infância goiana aponta a necessidade de que sejam aprofundados os estudos

sobre ações que demarcaram o período desta pesquisa pela intensidade de informações,

dimensão territorial do estado de Goiás e pelo tempo para a realização da dissertação.

2.2 Atendimento da educação infantil em Goiás: debates sobre a municipalização

na década de 1990

Para Barbosa (2008) os movimentos sociais nas décadas de 1970 e 1980

atuaram junto ao poder público federal, estadual e municipal na tentativa de resolver os

conflitos sociais da época evidenciando que

Nesse jogo de forças e interesses antagônicos, a negociação se deu e ainda

ocorre através de políticas de consenso. Nesse caso, mesmo sem expressar

real interesse transformador na discussão histórica sobre a Educação Infantil,

tais políticas favoreceram nos anos 70 e 80 a expansão da educação Infantil,

quando surgem as primeiras creches públicas em Goiânia– Creche Tio

Romão e Centro Infantil Tio Oscar. Na década de 1980 outras ações

governamentais, como a inauguração da Casa da Criança e do Projeto

Creche (1984) pela Fundação das Legionárias do Bem Estar Social,

buscaram viabilizar a operacionalização de atividades com crianças na faixa

etária de três a cinco anos, de famílias de média e baixa renda. O Estado

manteve uma política de expansão dos atendimentos e de contratação de

profissionais, especialistas em diferentes campos, contando com ―ajuda

diversa‖ de creches particulares de caráter filantrópico (BARBOSA, 2008,

pp.382-383).

A autora mostra que em 1987 foi criada a Comissão Estadual de Creches,

que contou com a participação de representantes de diferentes órgãos públicos e da

Associação de creches. Neste mesmo ano, ocorrem transformações no setor público

relacionados à infância em que

foram extintos vários órgãos estaduais, passando-se o controle para a

Fundação da Promoção Social (1987), que ampliou o número de creches e

criou, em bairros periféricos, vinte e um Núcleos de Apoio à Comunidade

(NACs), em 1988. Estes constituíram creches, centros comunitários e posto

policial. Diante da demanda por vagas, a fundação resolveu alterar a

programação das creches dos centros comunitários, instalando creches

alternativas, com um período de seis horas de atendimento (BARBOSA,

2008, p. 383).

Ao trazer esse momento da infância de Goiás Barbosa (2008) permite

perceber as políticas do estado de Goiás que evidenciam as contradições e limitações do

período. Em 1999, o quadro demonstrativo da Educação Infantil da rede estadual mostra

Page 76: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

75

que existiam 81 creches atendidas pela Funcad e 1.276 turmas de pré-escola atendidas

pela rede estadual em 35 municípios goianos (Quadro 01).

Quadro 01 – Atendimento de Educação Infantil

QT DRE TURMAS

PRÉ - ESCOLA

01 METROPOLITANA 182

02 ANÁPOLIS 139

03 AP. DE GOIÂNIA -

04 CAMPOS BELOS -

05 CATALÃO 39

06 CERES 56

07 FORMOSA 29

08 GOIANÉSIA 21

09 GOIÁS 47

10 GOIATUBA 23

11 INHUMAS 16

12 IPORÁ 37

13 ITABERAÍ 21

14 ITAPURANGA 107

15 ITUMBIARA 46

16 JATAÍ -

17 JUSSARA 22

18 LUZIÂNIA 15

19 MINEIROS 09

20 MORRINHOS 32

21 PALMEIRAS DE GOIÁS 27

22 PIRACANJUBA 26

23 PIRANHAS 12

24 PIRES DO RIO -

25 PORANGATU 47

26 POSSE 24

27 QUIRINÓPOLIS 30

28 RIO VERDE 08

29 RUBIATABA 54

30 SANTA H. DE GOIÁS 12

31 SÃO L. DE M. BELOS 31

32 SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA 08

33 SILVÂNIA 28

34 TRINDADE 82

35 URUAÇU 46

TOTAL 1.276 FUNCAD: 81 creches Departamento de Educação Infantil/SUEF/SEE- Arquivo Particular de Ivone Garcia Barbosa

Os documentos localizados sobre o processo de transferência das

instituições de Educação Infantil apontam que a SUEF, por meio do Departamento de

Educação Infantil, realizou o processo de transferência da educação infantil da esfera

estadual para a municipal de forma gradativa. Os dados discriminados mostram a

autorização da Secretaria Estadual para permanência da pré-escola em alguns

municípios, conforme quadro 2.

Na análise do processo de transferência das instituições de Educação

Infantil que estavam sob a responsabilidade do estado para os municípios, outra fonte

documental localizada no arquivo da SUEF, é a gravação em áudio (fita cassete), citada

anteriormente, sobre o Encontro de Educação Infantil-Estado e Municípios, juntos em

Page 77: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

76

defesa da Educação Infantil. O Encontro objetivou discutir com os secretários

municipais, subsecretários e representantes de outros segmentos relacionados à infância

o processo de municipalização e a necessidade de que as creches e pré-escolas

integrassem aos Sistemas Municipais de Ensino, observando as novas exigências da Lei

9394/96.

Quadro 02 – Autorização para permanência da Pré-Escola na Rede Estadual - 2001

SREs MUNICÍPIO NOME DA ESCOLA Nº DE ALUNOS

Nº DE TURMAS

METROPOLITANA GOIÂNIA

E. INFANTIL ESTRELINHA AZUL

E. E. SANTA RITA DE CASSIA

E. DA PROVIDÊNCIA(CONVÊNIO)

CENTRO P. TODOS OS SANTOS.

E. E. PRESIDENTE DUTRA

E. AGENOR C. DE OLIVEIRA

COLÉGIO META CONVÊNIO

E. E. EUNICE WEAVER

C. E. P. VENERANDO DE F. BORGES

E. E. MAJOR ALBERTO NÓBREGA

E.E. GRACINDA DE LURDES

C. E. VISCONDE DE MAUÁ

CSU

E. E. SANTA MARTA

E. CLUBE DE LEÕES DEGOIÂNIA

COL. E. JAIME CÂMARA

E. E. PRFª MARINETE SILVA

E. E. AVELINO R. MORAES

E. GOV. JOAQUIM SOBROSA

C.E. PROF. JOAQUIM C. SOBROSA

C. E. PROF. JOAQUIM C. FERREIRA

ITUMBIARA

ITUMBIARA

C. E. FELIX DE ALMEIDA 38 01

C. E. ERMELINDO F. DE MIRANDA 31 01

E. E HOMERO ORLANDO RIBEIRO 30 01

E. E. DE 1º GRAU COMUNITARIA 27 01

E. E. DR. JOSÉ F. FERREIRA. 51 02

C. E. MAURO BORGES TEIXEIRA 27 01

E. E. RUI BARBOSA 30 01

E. E RUY DE ALMEIDA 34 01

E. E. JOSÉ FLAVIO SOARES 60 02

E. E. DOMORES DE A. MEDEIROS 33 01

E. E. DEOLINDO T. DO AMARAL 14 01

E. E. ADELINO LOPES MOURA 62 02

E. E. EMILIA MARIA GUIMARÃES 27 01

E. E. GAL CUNHA MATTOS 40 01

E. E. SEBASTIÃO XAVIER 75 03

BURITI

ALEGRE

E. E PEDRO II 25 01

E. E. LIGIA ASSIS PAIVA 28 01

E. E. BERNARDO SAYAO 30 01

E. E.ALFREDO NASCER 55 02

C. DOURADA C. E. INACIO PINHEIRO PAES LEME 25 01

PORANGATU FORMOSO E. E. PRFº ENIO M. DE ARRUDA 64 02

PORANGATU COL. EST. PRES. KENEDY 32 01

TRINDADE TRINDADE EDUC. SANTA TEREZINHA

(CONVÊNIO)

Fonte: Quadro adaptado de documento elaborado pela equipe do Departamento de Educação Infantil/SUEF/SEE – Arquivo

particular da Profa. Ivone Garcia Barbosa. Nota: O documento localizado não informa o número de alunos e turmas correspondente

a Goiânia e outros municípios.

Page 78: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

77

O entendimento de que o citado encontro se efetiva como uma das

possibilidades de ―respostas‖ se dá pelos temas apresentados. As exposições dos temas

abordados no citado encontro, não foram todas transcritas, uma vez que a gravação em

áudio (fita cassete), em que consta a gravação realizada originalmente tem danificações

que comprometeram as informações. No que tange ao tema: os novos desafios postos à

Educação Infantil são transcritos a seguir trechos de posições assumidas nas falas

durante o encontro. A Secretária de Estado da Educação no período de 1999 a 2001

afirmou no encontro que

Crianças de 0 a 6 são extremamente importantes. Houve mudanças de

transição ao longo da nossa história, primeiro de o até 6 anos. A criança era

educada na família, depois ela passa a ser deixada em creches e pré-escolas,

muitas delas historicamente associadas com atendimento a pessoa com baixo

nível socioeconômico e, portanto, muitas distorções até no perfil de creches

que se estabeleceram e que se criaram na nossa história. De modo que com a

LDBEN em 96, ao vincular o atendimento de criança de o até 6 anos com a

educação muda o perfil, muda o perfil de exigências. E nós hoje temos que

definir uma política pública de educação infantil. Ao definirmos uma política

pública de educação infantil, nós passamos necessariamente pelas questões

orçamentárias, pelas questões de formação do professor, qual o perfil do

professor que estará atendendo a criança de 0 até 6 anos. (Exposição, 1999)

A defesa de uma política pública de cooperação apresentada pela secretária

de estado da educação, em 1999, sinaliza o entendimento da instituição estadual,

naquela época, da necessidade de o estado em manter a cooperação com os municípios.

Porém, não encontramos documentos ou registros que confirmem a construção de uma

política de cooperação entre estado e municípios.

No mesmo encontro, o presidente e secretário de Articulação Nacional da

Undime, apresenta um quadro de preocupação com os novos rumos da Educação

Infantil diante das dificuldades reais dos municípios goianos:

[...] as perspectivas para a educação infantil não são boas. Primeiro lugar é

importante ressaltar que o governo federal foi bastante insensível ao tratar

desta questão. Por quê? Peloveto do Presidente da República na lei do Fundef

que distribuíam aos municípios recursos para a educação infantil. Nós

precisamos dizer isso porque nós estamos falando para educadores [...] Se

nós pegarmos, por exemplo, a estatística do INEP sobre Goiás referente a

educação infantil. Vejam bem, os municípios com problemas: primeiro, não

recebem recursos do Fundef para financiar esse nível de educação, que é o

nível mais caro da educação. Mais caro que o ensino fundamental, mais caro

que o ensino médio, jovens e adultos. Vejam que situação complicada para

nós gestores do sistema municipal. Diante disso, o que fez a Undime? A

Undime nos seus fóruns nacionais, ela tem tratado o assunto e tratou de uma

forma mais enfática no 7º fórum que se realizou em julho desse ano em

Brasília. Qual foi a posição? a primeira posição clara foi no sentido de que

esta questão normativa de ambiguidade só pode ser resolvida se houver

Page 79: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

78

sistema de colaboração efetivo entre estado e municípios. Então, a função do

Undime é defender que esse regime de colaboração seja institucionalizado

através de uma lei para dar certeza, confiança aos gestores de que esse regime

não vai mudar, mudando o secretário ou secretário. Essa é a posição da nossa

entidade, por outro lado, essa transferência da educação infantil para os

municípios deve ser feita progressiva [...] por isso a Undime teve inclusive

que tomar posição ir até o Ministério Público para mostrar que essa realidade

não podia acontecer de momento para outro. (Exposição, 1999)

A posição da Undime no Encontro de Educação Infantil revela a distância

entre União, Estado e Municípios, no momento de realização de um processo tão

complexo como foi à municipalização das instituições estaduais de educação infantil.

Há uma determinação legal, que estabeleceu um prazo de três anos para que as redes se

organizassem, mas sem que fossem pensadas condições para operacionalização da

Educação Infantil, o que pode ser constatado é que ainda hoje persistem os desafios da

década de 1990. Há municípios que não atendem a demanda de crianças de 0 até 6 anos,

com os argumentos de escassez de recursos, faltam instituições de Educação Infantil ou

condições adequadas que considerem as especificidades da criança de 0 até 6 anos.

É importante destacar que a discussão da municipalização e a necessidade

de os municípios terem seus Conselhos Municipais de Educação foram questões que

permearam durante todo o encontro. É possível identificar nas diferentes participações,

discussões ou exposições no Encontro de Educação Infantil: Estado e Municípios juntos

em defesa da Educação Infantil, um discurso que demonstra uma posição muito

interessada das pessoas pela primeira etapa da educação Básica. No espaço para debate

a representante do Conselho Estadual de Educação, Neyde Aparecida da Silva,

apresenta uma questão referente ao que estabelece a legislação do município ter seu

próprio Conselho, a integração do Conselho Estadual de Educação ou criação de um

sistema regional. Em resposta a questão levantada, uma palestrante não identificada nos

documentos, afirma que

[...] você pode optar fazer o seu próprio sistema, integrar o estado ou fazer

um sistema único de educação [...] O que é sistema único? Não vai mais

existir escolas municipais e estaduais, com sistema único só vai existir

escolas públicas. Quem fez sistema único no Brasil, ―Cuiabá ―fez o sistema

único infelizmente eu não acompanho mais como está. Isto aqui é uma

discussão. O Conselho Municipal de Educação tem que ser representativo,

tem de ter indicação de seus pares, o que significa pares? Você tem que

colocar na lei que o conselho municipal vai ser representado pelo: sindicato

dos trabalhadores, pelos sindicatos das escolas particulares, pelas

Universidades Federais, por alunos, gestão de pais esses são representantes.

Agora, se eles têm que ser professores vocês é que vão definir. Ele não pode

ser cargo que seja indicado. (Exposição, 1999)

Page 80: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

79

Na abordagem sobre os Conselhos Municipais de Educação, a palestrante

mostra que em 1999, somente Cuiabá possuía o seu próprio Conselho Regional,

sinalizando mais uma questão que precisa ser investigada para conhecer como os

demais estados brasileiros avançaram ou identificar possíveis lacunas. A exposição da

citada professora sobre os Conselhos Municipais de Educação fala da dificuldade dos

municípios terem as condições para funcionamento, a exemplo, do espaço físico

adequado e mostra que entre outros, esta representa uma necessidade, ou seja, é preciso

que os Conselhos Municipais de Educação tenham condições adequadas de

funcionamento e mais, que de fato ele se constitua como um conselho democrático que

tenha diferentes representações.

Em Goiás, dados obtidos junto a União Nacional dos Conselhos Municipais

de Educação de Goiás (UNCME)21

mostram que dos 246 municípios, 89 informaram

que possuem sistemas municipais e os demais não informaram se possuem sistemas

municipais e os que não possuem seus próprios sistemas estão vinculados ao sistema

estadual, de acordo com levantamento realizado em 2013.

Enfim, trata-se de mais uma questão importante que precisa ser aprofundada

no campo da infância, uma vez que as Secretarias Municipais de Educação que possuem

seus próprios conselhos contam com a parceria de diferentes segmentos, o que

influencia nas decisões das instituições que atuam com a Educação Infantil.

É possível perceber que o Encontro de Educação Infantil representou uma

das ultimas ações da SEE, na década de 1990, sobre o processo de transição das

instituições de Educação Infantil que estavam sob a responsabilidade do Estado, o que

evidencia a ausência de uma política de cooperação entre as esferas: federal, estadual e

municipal.

O Departamento de Educação Infantil foi extinto em 2001 com a posição da

SEE de que a primeira etapa da Educação Básica era de competência da esfera

municipal e, portanto, não existiria a necessidade de um espaço próprio para

acompanhamento ou desenvolvimento de ações voltadas para a Educação Infantil. A

posição da SEE em extinguir o Departamento de Educação Infantil sinaliza o

esvaziamento da responsabilidade do estado em relação à Educação Infantil,

supervalorizando a descentralização das ações.

21

As informações foram disponibilizadas por Elcivan Gonçalves França - Presidente da União Nacional

dos Conselhos Municipais de Educação - Seção Goiás (UNCME-GO).

Page 81: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

80

O registro da história dos espaços públicos que acompanhavam as ações

destinadas a criança de 0 até 6 anos representa uma contribuição para as discussões

atuais, observando os limites e avanços. A retomada da história passa necessariamente

pelas instituições de infância, a forma de organização dos órgãos responsáveis,

condições de trabalho, formação dos profissionais e pelas pessoas que compunham o

período desta pesquisa.

As creches vinculadas a Funcad também trazem em sua história os debates

travados entre os diferentes envolvidos com a criança. Nos anos de 1990, em Goiás, os

estudos de Barbosa (2008) mostram que a Funcad gerenciava 86 creches. Em relação à

década de 1990 a autora aponta que

De acordo com os nossos dados de pesquisa, os anos 90 marcam no campo

das políticas estaduais em Goiás uma ênfase em programas que não se

destinam ao atendimento da infância pequena e às creches. As ações

governamentais voltam-se para projetos alternativos como, por exemplo,

Meninos e Meninas de Rua, promovendo um enxugamento na máquina

administrativa, demitindo funcionários em cargos diversos, diminuindo o já

reduzido número de funcionários nas creches, ocorrendo o fechamento de

unidades. O fortalecimento de uma política de Estado mínimo aumenta o

déficit de pessoal nas instituições, incentivando o trabalho voluntário e a

contratação de mão-de-obra de adolescentes de quatorze a dezessete anos no

trabalho de faxina e de lavanderia, propondo um Programa de Trabalho

Educativo Remunerado (Proter). Essa política passou a ser coordenada, desde

1995, pela Fundação da Criança, do Adolescente e da Integração do

Deficiente (Funcad-GO), a qual assumiu a gerência do trabalho das creches

(BARBOSA, 2008, p. 384).

As ações governamentais ou a ausência de projetos voltados para a infância

mostram a forte presença das ideias neoliberais e a ausência do estado, o que implica na

manutenção de instituições com caráter assistencialista e em situações vulneráveis.

Entre os aspectos determinantes da municipalização das creches vinculadas

a Funcad observa-se o ―jogo de culpas‖ entre Estado e Município. Uma matéria do

Jornal O Popular, de 2001, intitulada ―Um ano depois...‖ mostra as divergências entre

os responsáveis, evidenciando as dificuldades com a falta de monitores, as instalações

precárias das unidades e o não cumprimento do Termo de Compromisso de

Ajustamento de Conduta assinado pelos envolvidos no processo. Na matéria citada a

Comissão de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente afirma que

[...] enviou o relatório ao Centro de Apoio à Infância e Adolescência

do Ministério Público. O promotor que coordena o Centro, Saulo de

Castro Bezerra, diz que o documento nunca chegou lá. Mas informa

que há três anos o Ministério Público vem trabalhando pela

municipalização das creches, como determina a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação. A Lei dá prazo até 31 de dezembro para que

todos os estabelecimentos sejam assumidos pelas prefeituras e

Page 82: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

81

passem a funcionar com proposta pedagógica. Jornal O Popular (23

de abril de 2001, p.6)

A reportagem expressa ainda que o Ministério Público solicitou ao

Secretário da Cidadania e Trabalho22

, que no caso específico das creches de Goiânia

fossem cumpridas as providências relacionadas as reformas das unidades. Saulo de

Castro Bezerra, promotor do Centro de Apoio à Infância e Adolescência do Ministério

Público diz, naquele período, que ―Não recebemos respostas‖ e que ―Paralelamente

continuamos as reuniões com o Estado e o município para as discussões sobre a

municipalização.‖ (JORNAL O POPULAR, 2001)

No que se refere aos compromissos assumidos pelo prefeito23

de realizar

concurso para atender as exigências legais relacionadas ao quadro de pessoal, o

Promotor mostra que ―claro que tivemos de negociar o termo, porque o ex-prefeito

assumiu um compromisso para o seu sucessor cumprir [...]. De qualquer forma, as

creches continuam sob a administração do Estado e a manutenção tem de ser feita‖.

No processo de transferência das creches do poder público estadual para o

municipal ficam evidentes as ideias neoliberais de descentralização, em que as políticas

públicas governamentais descaracterizam as responsabilidades com a criança de 0 até 6

anos.

As questões abordadas sobre as instituições de Educação Infantil em Goiás

nas décadas de 1980 e 1990 são fundamentais para a análise do processo de

municipalização da educação das crianças de 0 até 6 anos, identificando as políticas, as

concepções sobre a infância que alteram o quadro de oferta e manutenção das

instituições de educação infantil.

Para Cleiton Oliveira (1999) a discussão sobre municipalização no Brasil

não é recente, ou seja, após o Ato Adicional de 1834 (Sucupira, 1996) já se falava em

municipalização, também acontecendo, entre outros, na Primeira República (Nagle,

1974), com discussões curriculares no Manifesto dos Pioneiros de 1932, nas

Constituições Federais, proposta de Anísio Teixeira, na tramitação das Leis nº 4.024/61

e nº 5.692/71, na discussão de 1980.

Na compreensão do autor, a discussão aconteceu principalmente em relação

ao financiamento, no custo-aluno, em que os posicionamentos e denúncias de Anísio

22

Honor Cruvinel - Secretário da Cidadania e Trabalho no período de 1999 a 2002. 23

Nion Albernaz – Prefeito de Goiânia em 1997 a 2000.

Page 83: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

82

Teixeira (1957) e Mascaro (1958) já mostravam que se tornava impossível aos

municípios se responsabilizarem pelo ensino primário.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394/96 evidencia com

clareza a competência dos entes federados em relação à oferta, manutenção dos níveis

de ensino. A discussão sobre financiamento de ensino se acentua com a criação do

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de valorização do

Magistério (Fundef), no ano de 1996.

Oliveira (1999) recorre aos estudos de Mattos destacando as ideias

neoliberais na política de descentralização e o interesse dos organismos internacionais,

Nações Unidas, Banco Mundial e Organização dos Estados Americanos (OEA) na

descentralização. A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime),

criada em 1986, reivindicou direitos de maior envolvimento nas questões educacionais e

a descentralização era defendida por muitos dos dirigentes.

Almeida (2010) afirma que a descentralização está ligada ao Estado em uma

perspectiva reducionista com políticas públicas que colaboram para a ausência de

atendimento às crianças de 0 até 6 anos. O autor mostra que na compreensão de Pinto

(1999) o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

valorização do Magistério (Fundef), mostra a ausência de responsabilidade da União,

uma vez que ela deixa de ser obrigada a aplicar a metade de seus recursos no Ensino

Fundamental. O Fundef foi instituído pela Emenda Constitucional n.º 14, de setembro

de 1996, e regulamentado pela Lei n.º 9.424, de 24 de dezembro do mesmo ano, e pelo

Decreto nº 2.264, de junho de 1997. O Fundef foi implantado no País em 1º de janeiro

de 1996, período que passou a vigorar a sistemática de redistribuição dos recursos

destinados ao Ensino Fundamental. Posteriormente foi substituído pelo Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais

da Educação (Fundeb), por meio da Emenda Constitucional nº 53/2006 e regulamentado

pela Lei nº 11.494/2007 e pelo Decreto nº 6.253/2007.

Em relação às dificuldades relacionadas a recursos, Pinto (1999) diz que

com a necessidade de alocarem recursos do Fundef os municípios adotaram medidas

como: fechamento de salas de pré-escolas que superlotam as salas com alunos do

ensino fundamental, crianças que deveriam concluir a pré-escola, aos seis anos são

matriculadas na 1º ano do Ensino Fundamental. A descentralização continua sendo

objeto de discussão, uma vez que permanecem as dificuldades dos municípios e a falta

de integração entre União, Estado e município.

Page 84: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

83

Rodriguez (2001) argumenta que o Fundef intensificou a descentralização,

fortaleceu a municipalização e permitiu a retirada dos recursos destinados ao pré-escolar

para serem aplicados no Ensino Fundamental e em que as matrículas não foram

consideradas para repasses do per capita no Fundef, resultando em desinteresse do

poder público em investimentos na Educação Infantil.

Ao revisitar a história da municipalização no Brasil, as legislações, as

formas de atuação das diferentes esferas, a presença do neoliberalismo, o processo de

globalização, a marca da recessão e autoritarismo é inegável a constatação de que os

municípios ficam sem recursos suficientes para atenderem a demanda da educação

infantil, o que prevalece como um desafio para a primeira etapa da Educação Básica.

2.3 Informações da municipalização da Educação Infantil em Goiás na revista

“Educação em Dados”

No que se refere a outros importantes documentos sobre a Educação Infantil

localizados no acervo da SUEF da SEE, as revistas intituladas ―Educação em Dados‖

(Anexo 4) colaboram para uma análise do processo de transferência das instituições de

educação infantil que nas décadas de 1980 e 1990 estavam sob a responsabilidade da

esfera estadual e passaram para a rede municipal.

A revista ―Educação em Dados,‖ instrumento de comunicação da Secretaria

de Estado da Educação (SEE) que apresenta as estatísticas educacionais do Estado de

Goiás, contempla informações do Censo Escolar da Educação Básica das escolas

públicas e privadas, rurais e urbanas, em todas as etapas e modalidades de ensino. Nesta

pesquisa foram analisados dados disponibilizados em três edições: Educação em Dados

Goiás 1999-2000 (BRASIL, GOIÁS-2001); Educação em Dados 1999-2002 (BRASIL,

GOIÁS-2002) e Educação em Dados 1999 a 2008 (BRASIL, GOIÁS-2009).

A escolha das três edições se justifica pela apresentação de números do ano

de 1999, final da década de 1990, que compõe elementos estatísticos importantes sobre

as instituições goianas de educação infantil. Para a elaboração e divulgação das

informações nas revistas foram utilizados dados do Censo Escolar. O Censo Escolar

resulta de uma parceria entre a União, os estados, Distrito Federal e os Municípios.

Trata-se de uma pesquisa oficial que tem como objetivo identificar, anualmente, os

dados nos estabelecimentos de ensino públicos e privados em todo o país.

Page 85: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

84

Na tabela 02 pode-se observar o quantitativo de estabelecimentos de

educação Infantil no estado de Goiás por dependência administrativa no período de

1999 a 2000.

Tabela 02 - Estabelecimentos de Ensino por Dependência Administrativa 1999-2000.

Rede 1999 2000

Número % Número %

Federal 7 0,1 7 0,1

Estadual 1.335 25 1.292 24,6

Municipal 3.113 58,2 3.045 57,9

Particular 891 16,7 916 17,4

Total 5.346 100 5.260 100

Fonte: MEC/INEP/SEE/SUPP (Revista - Educação em dados 2001, p.28)

Os dados evidenciados na tabela mostram que nas redes públicas estadual e

municipal houve um decréscimo no número de estabelecimentos de Educação Infantil,

sendo 3,2% na rede estadual e 2,2% na rede municipal. Enquanto na rede particular

aconteceu um acréscimo de 2,8%. Observa-se ainda que a rede municipal de ensino nos

dois anos em análise é a que possui o maior número de estabelecimentos. A análise

aponta que a diferença para a rede estadual acontece pela municipalização da Educação

Infantil e primeira fase do Ensino Fundamental e ocorre um aumento significativo nas

salas de aula da rede municipal.

Essas situações também são evidenciadas no gráfico 01, que apresenta o

número de estabelecimentos de ensino por dependência administrativa nos anos de 1999

a 2008. O número de estabelecimentos de ensino na rede particular crescente até 2004

mantém uma regularidade até 2005. A rede municipal apresenta o maior número de

estabelecimentos de ensino em todo o período, seguido da rede estadual que se mantêm

em segundo lugar na maioria dos anos de 1999 a 2008.

Fonte: MEC/Inep/Censo Escolar (Revista-Educação em Dados 1998 a 2008).

0

1000

2000

3000

4000

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Gráfico 01 - Estabelecimentos de ensino por dependência admistrativa 1999 - 2008.

Estadual Federal Municipal Privada

Page 86: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

85

Os dados do gráfico 02 apresentam o quantitativo de salas de aulas por

dependência administrativa no período de 1999 a 2002.

Fonte: MEC/INEP/SEE/SUPP (Revista - Educação em dados 2002, p.14)

Como observado na tabela 01 e gráfico 01 o número de estabelecimentos de

ensino na rede municipal é maior do que nas outras dependências administrativas, em

que encontramos o maior número de salas de aula. Há um decréscimo de 0,1% de

número de salas de aula na rede estadual e um acréscimo de 22,1% no número de salas

de aula na rede municipal, com 2229 novas salas de aula de 1999 a 2002 e acréscimo de

22, 1% na rede particular, ampliando o número de salas de aula.

A tabela 03 apresenta o quantitativo de professores em exercícios por nível

e modalidade de atuação de 1999 a 2000.

Tabela 03 - Professores por Nível/Modalidade de Atuação 1999-2000

Nível/Modalidade Nº de professores Diferença 00/99

1999 % 2000 % Absoluta %

Creche 1051 1,49% 1107 1,51% 56 5,3

Pré-Escola 4726 6,68% 4501 6,14% -225 -4,8

Classe de Alfabetização 2167 3,06% 2341 3,19% 174 8

Ensino Fundamental 46283 65,43% 47460 64,75% 1.177 2,5

Ensino Médio 13337 18,85% 13742 18,75% 405 3

Educação Especial 1267 1,79% 1122 1,53% -145 -11,4

Ed. de Jovens e Adultos 1904 2,69% 3019 4,12% 1.115 58,6

Total 70735 100,00% 73292 100,00%

Fonte: MEC/INEP/SEE/SUPP (Revista - Educação em dados 2001. p.28)- Adaptada.

Nota: O mesmo docente pode atuar em mais de um nível/modalidade de ensino e em mais de um estabelecimento.

Observa-se que o quantitativo de professores na educação infantil (Creche,

Pré-Escola e Classe de Alfabetização) representa 11,23% em 1999 com uma queda de

183 185 223 208

11756 11747 11538 11739

10094 11222 12043

12323

6731 6882

8262 8626

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

1999 2000 2001 2002

Gráfico 02 - Salas de Aula por Dependência Administrativa - 1999 - 2002

Federal

Estadual

Municipal

Particular

Page 87: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

86

0,38% para o ano 2000. O quantitativo de professores no ensino fundamental, nos dois

anos é aproximadamente 65%, do ensino médio com uma média de 18,80%, ficando a

educação especial e a educação de jovens e adultos em 1999 com 4,48% e em 2000 com

5,65%. No ensino fundamental é onde aconteceu o maior acréscimo de professores de

1999 para o ano 2000. E a maior queda do número de professores foi de 225 na pré-

escola.

Segundo informações obtidas na revista Educação em Dados Goiás 1999-

2000(2001) observa-se uma queda no número de professores das redes federal e

estadual. Em relação a ―Professores por Nível de Formação‖ os dados apontam que o

número de professores que possuía somente o ensino fundamental, completo ou

incompleto, diminuiu e o número de professores com magistério completo apresentou

no ano de 2000 um aumento de 6,1% o que corresponde a 2.100 professores.

A tabela 04 apresenta o quantitativo de matriculas nos anos de 1999 e 2000

nas redes federal, estadual, municipal e particular.

Tabela 04 - Matrículas por dependência administrativa no período de 1999 a 2000.

Rede 1999 2000 Diferença 00/99

Número % Número % Absoluta %

Federal 40 0,04% 40 0,05% 0 0

Estadual 30152 31,43% 9192 10,55% -20.960 -69,5

Municipal 37898 39,51% 48003 55,08% 10.105 26,7

Particular 27840 29,02% 29918 34,33% 2.078 7,5

Total 95930 100,00% 87153 100,00% -8.777 -9,1

Fonte: MEC/INEP/SEE/SUPP (Revista - Educação em dados 2001, p.28).

Em relação à educação estadual, os dados mostram que em 1999 a rede

estadual contava com 30152 alunos. Em 2000 este número baixou de forma

considerável para 9192, representando menos 20960 matrículas na esfera estadual,

perfazendo um decréscimo de 69,5%. Por outro lado, o aumento de matrículas na rede

municipal corresponde a 26,7% e na rede privada o crescimento nas matrículas é de

7,5%. A redução de matrículas na pré-escola na rede estadual e o crescimento nas

matrículas na rede municipal são atribuídos na análise da Secretaria Estadual de

Educação de Goiás pela implantação do Programa de municipalização.

A tabela 05 apresenta as matriculas por dependência administrativa de 1999

a 2002.

Page 88: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

87

Tabela 05 - Matrículas por dependência administrativa no período de 1999 a 2002.

Rede Número de Alunos Diferença 00/99

1999 2000 2001 2002 Absoluta %

Federal 40 40 58 40 0 0

Estadual 30.152 9.192 4.890 4.768 -25.384 -84,2

Municipal 37.898 48.003 55.061 51.805 13.907 36,7

Particular 27.840 29.918 40.961 42.091 14.251 51,2

Total 95.930 87.153 100.970 98.704 2.774 2,9

Fonte: MEC/INEP/SEE/SUPP (Revista - Educação em dados 2002, p.28 e 29)

Em 1999, as informações retratadas na tabela 05 mostram que a rede

estadual contava com matrículas de 30.152 alunos e este número diminui em 2002 para

4.768. A diferença, em números absolutos, corresponde a 25.384 matrículas a menos,

que representa decréscimo de 84,2%. A redução expressiva no índice se dá pela

implantação do Programa de Municipalização, conforme diretrizes da política

educacional nacional. O número de matrículas da Pré-Escola na rede municipal de

ensino cresce atingindo 36% e na rede particular, o índice de crescimento é de 51,2%.

Na terceira revista ―Educação em Dados‖ 1999 a 2008 há informações sobre

a sistemática de coleta dos dados do Censo escolar da educação Básica, mostrando que:

de 1999 a 2006, as informações eram coletadas por meio de questionários impressos e a

partir de 2007, alterou a forma de coleta, passando a ser realizada via internet, pelo

Sistema Educacenso. Os números sobre dependência administrativa nas esferas

estadual, federal e municipal estão contemplados na tabela 06.

Tabela 06 – Dependência Administrativa

Ano Dependência Administrativa

Total Estadual Federal Municipal Privada

1999 30.675 40 48.390 34.758 113.863

2000 9.288 40 58.498 37.220 105.046

2001 4.981 147 69.323 49.881 124.332

2002 5.350 93 67.193 53.499 126.135

2003 5.302 73 69.927 51.520 126.822

2004 1.855 48 94.889 62.357 159.149

2005 946 93 94.238 63.393 158.670

2006 901 53 87.473 49.364 137.791

2007 794 65 94.216 37.375 132.450

2008 757 66 102.353 43.985 147.161

Fonte: MEC/INEP/SEE/SUPP (Revista-Educação em dados 2004, p.26).

Os dados na tabela confirmam o crescimento observado das matrículas na

educação infantil a partir de 1999. O Estado de Goiás contava neste ano com 113.863

matrículas na Educação Infantil e no período de 1999 a 2008, observa-se o aumento das

Page 89: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

88

matrículas na educação infantil nas redes, sendo: 111,5% na municipal, 65,0% na

federal e 26,5% na privada. Na rede estadual houve uma diminuição de 97,5% no

número de matrículas, em função da municipalização da Educação Infantil. A última

edição da revista ―Educação em Dados‖ foi divulgada no período de 1999 a 2008. A

Coordenação Estadual do Censo Escolar da Seduce informou que após esta edição todos

os dados do Censo Escolar estão disponibilizados no site do INEP/Seduce.

As discussões apresentadas neste capítulo não se encerram, ao contrário,

buscam fortalecer espaços que oportunizem garantir a historicidade das instituições de

educação infantil em décadas importantes e nos avanços e contradições observados

identificar diferentes percursos da criança de o até 6 anos.

Page 90: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

89

3.INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL MUNICIPALIZADAS

EM GOIÁS: PROJETOS E CONCEPÇÕES

O passado não reconhece o seu lugar; está sempre presente.

Mário Quintana

Os percursos revisitados na presente pesquisa para conhecer a Educação

Infantil em Goiás, nas décadas de 1980 e 1990, em instituições que atendiam essa etapa

de ensino e que estavam sob a responsabilidade do poder público estadual abrem

possibilidades para analisar os limites e transformações que ocorreram na educação das

crianças de 0 até 6 anos de idade.

A investigação permitiu conhecer elementos importantes da Educação

Infantil nas décadas de 1980 e 1990 e no contexto atual das instituições que foram

municipalizadas e perceber como são delineados o trabalho com as crianças de 0 até 6

anos de idade, por meio da observação das diversas fontes de pesquisa encontradas,

dentre elas, as Propostas Pedagógicas dos CMEI.

Para analisar o processo histórico da educação infantil em Goiás, nas

décadas de 1980 e 1990 e as propostas pedagógicas atuais das instituições que foram

municipalizadas dos municípios de Anápolis, Goiânia, Senador Canedo e Trindade foi

necessário considerar as condições da época e os contextos em que as instituições

estavam ou estão inseridas.

Neste capítulo, apresentamos análises dos dados da pesquisa, em sua etapa

empírica, que consistiu na proposição de questionários para os representantes dos

municípios participantes do Fórum Goiano de Educação Infantil e Subsecretarias

Regionais da Educação. Além dos questionários, foram realizadas entrevistas com a

secretária municipal de educação de Anápolis, monitoras, professoras, diretoras e as

coordenadoras que atuaram e/ou atuam em instituições de Educação Infantil nos

municípios de Anápolis, Goiânia, Senador Canedo e Trindade. As anotações feitas na

pesquisa, bem como os documentos localizados durante a realização da investigação

compõem os dados dessa pesquisa.

Page 91: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

90

3.1 Instituições de Educação Infantil sob a responsabilidade do Estado: o início da

pesquisa

Décio Gatti Junior (2002) apresenta estudos sobre a história das instituições

educacionais, que são temáticas recentes na historiografia da educação do País. O autor

chama a atenção para a importância das instituições, destacando que para o

levantamento de hipóteses e para as análises, a compreensão do passado e do presente é

de extrema importância.

A discussão sobre o papel da historiografia para compreender o espaço que

as instituições ocupam é uma necessidade para que de fato os estudos revelem o que

efetivamente acontece dentro e fora da escola. Na compreensão do autor

[...] a pesquisa histórica passou por um intenso processo de renovação, no

qual vem sendo valorizada a utilização tanto de aportes teóricos quanto das

evidências-fontes primárias, sendo que estas não se limitam mais apenas aos

documentos escritos, mas abarcam fontes orais, iconográficas etc. Pode-se

concluir que a orientação teórica em vigor defende que o processo de

construção de interpretações sobre o passado se faz no diálogo necessário

entre nossas ideias e concepções com os indícios que conseguimos agrupar

para corroborar nossas assertivas (JUNIOR, 2002, p.14).

Para conhecer a história das instituições da Educação Infantil em Goiás nas

décadas de 1980 e 1990 foi fundamental, desde o início da pesquisa, analisar as

limitações do período, o envolvimento dos movimentos sociais, as legislações, os

documentos referenciais, a formação dos professores, a atuação do poder público, da

filantropia na criação e manutenção dessas instituições. Em todos os indícios

identificados, um dos maiores desafios foi observar o percurso histórico e as

compreensões da Educação Infantil no contexto atual.

O início da pesquisa de campo deu-se pelos diálogos estabelecidos nas

reuniões do Fórum Goiano de Educação Infantil por meio da apresentação desta

pesquisa aos representantes dos municípios no Fórum. O Fórum Goiano representa hoje

no estado de Goiás um dos mais organizados movimentos sociais que têm inserção nos

segmentos que elaboram e desenvolvem políticas para a Educação Infantil. A

mobilização coletiva que promove tem sido responsável por mudanças significativas

tanto nos projetos e práticas educativas quanto para a discussão sobre o trabalho docente

nos diversos espaços educacionais dos municípios goianos.

Em relação à importância das mobilizações coletivas recorremos a Silva

(2008) quando afirma que os novos espaços de articulação da sociedade civil com o

Page 92: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

91

poder público são constituídos pelo envolvimento que acontece na Educação Infantil

pelos Movimentos Interfóruns do Brasil, ou seja, por meio dos fóruns estaduais e

regionais voltados para a Educação Infantil. A grande defesa dos movimentos busca

sensibilizar os poderes públicos para que participem das discussões e organizem ações

que atendam a Educação Infantil nas esferas estaduais e municipais (SILVA, 2008).

A autora chama a atenção ainda sobre a necessidade de observarmos que o

impacto simbólico das legislações, se torna representativo, uma vez que o País tem altos

índices de desigualdades e ainda, que a inserção da criança nas legislações também

influencia nas organizações dos fóruns, dos movimentos que acontecem muito em

função de lutas por políticas públicas.

A entrega do questionário aos participantes do Fórum Goiano de Educação

Infantil e posteriormente, encaminhado por e-mail, aos integrantes do Fórum e às

Subsecretarias Regionais de Educação foi uma das possibilidades para obter

informações sobre a história da Educação Infantil, nas décadas de 1980 e 1990, na busca

de compreender em que espaços estão hoje e que projetos educativos desenvolvem. As

respostas obtidas, por meio da pesquisa, possibilitaram conhecer aspectos importantes

da Educação Infantil em Goiás e, ao mesmo tempo, as ausências de respostas

confirmam a dificuldade das instituições na conservação de arquivos.

A análise das respostas ao questionário proposto, com o objetivo de

identificar as instituições de Educação infantil que estavam sob a responsabilidade do

Estado, permitiu constatar a necessidade de maior aproximação com as pessoas para

esclarecimentos sobre a pesquisa e das possibilidades de intervenções que o estudo

poderia oferecer aos municípios. Concordando com Alves (2002), a ausência de

respostas e envolvimento na pesquisa pode ser atribuída pela forma que é compreendida

nas instituições pelos professores, que explicitam que, em muitos casos, o pesquisador

não retorna para apresentar resultados da pesquisa, sendo, portanto, compreensível a

resistência quanto ao engajamento no processo.

3.2 Escolha dos municípios pesquisados: uma construção no Fórum Goiano de

Educação Infantil.

Para investigar a Educação Infantil do estado de Goiás nas décadas de 1980

e 1990 a opção metodológica na escolha dos municípios foi se constituindo no

movimento que a pesquisa inseriu no Fórum Goiano de Educação Infantil, com as

Page 93: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

92

conversas, as perguntas, que contribuíram para que os participantes percebessem a

necessidade de que a história fosse resgatada e preservada. No envolvimento de

representantes de municípios goianos tornou-se possível fazer um mapeamento das

instituições, observando, conforme define Barbosa (2009), a necessidade de identificar

o dinamismo e dialeticidade próprias da realidade.

Conforme anunciamos na introdução, a pesquisa contempla instituições de

municípios de pequeno, médio e grande porte, sendo: Anápolis, Goiânia, Senador

Canedo e Trindade. Para a escolha dos municípios foi considerada a dimensão territorial

do estado (Anexo 1) e também as informações que cada município possuía ou precisaria

possuir para construir a sua própria história. A pesquisa nos quatro municípios

representou a possibilidade de perceber as realidades distintas dos municípios e a

identificação de questões semelhantes na Educação Infantil. Ao mesmo tempo,

oportunizou aos municípios e as instituições municipalizadas construírem as suas

memórias, as suas histórias.

Para a realização da segunda etapa da pesquisa empírica, encaminhamos um

ofício à Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esporte, a Secretaria da Mulher, do

Desenvolvimento Social, da Igualdade Social, dos Direitos Humanos e do Trabalho e

aos municípios escolhidos, apresentando a pesquisa e solicitando a autorização para sua

realização no município e nas instituições que nas décadas de 1980 e 1990 estavam

vinculadas ao Estado e foram municipalizadas. Após a aprovação das Secretarias

envolvidas, fizemos o primeiro contato, informando os passos a serem percorridos na

investigação. Em seguida, entregamos um ofício, solicitando um levantamento de dados

das instituições de Educação Infantil que pertenciam ao Estado e foram

municipalizadas.

A SME de Goiânia respondeu ao ofício, informando às instituições que

foram municipalizadas e anexando, cópia do Termo de Compromisso de Ajustamento

de Conduta (Anexo 5). A SME de Anápolis disponibilizou um levantamento,

contemplando as instituições de Educação Infantil que são vinculadas a Rede Municipal

de Ensino e nos estudos de Silveira et al (2013) identificamos as instituições das

décadas de 1980 e 1990. Nos municípios de Senador Canedo e Trindade, as instituições

que participaram do processo de transição entre estado e municípios, foram

identificadas nas conversas informais realizadas no Fórum Goiano de Educação Infantil

e nas visitas de campo realizadas nos municípios.

Page 94: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

93

No decorrer da investigação, em conversas informais, com integrantes do

Fórum Goiano de Educação Infantil, levantamos nomes de pessoas que atuaram nas

décadas de 1980 e 1990 ou atuam na Educação Infantil que poderiam colaborar com a

pesquisa. O envolvimento dos colaboradores da pesquisa resultou na localização de

documentos em arquivos pessoais ou das instituições.

Reafirmamos que entre outras, uma questão revelada logo no começo da

pesquisa foi perceber que existem muitas histórias sobre a criança de 0 até 6 anos que

ainda não foram registradas. Nas visitas de campo, realizadas nos municípios foi

fundamental estabelecer um diálogo pautado no respeito aos limites e potencialidades

de cada município.

Para a análise dos dados obtidos na pesquisa empírica foram levantadas

temáticas que possibilitaram uma leitura cuidadosa dos diferentes contextos em que as

informações se apresentaram. Os questionários, as entrevistas, os documentos, as

anotações feitas na pesquisa foram analisados considerando os estudos relacionados

com as temáticas: história das instituições goianas (décadas de 1980 e 1990) e Propostas

Pedagógicas e / ou Projetos Políticos Pedagógicos das Instituições de Educação Infantil

no contexto atual, em que as principais categorias de análises foram: historicidade e

contradições.

Na análise dos documentos localizados sobre a história das instituições de

Educação Infantil que eram vinculadas ao estado e foram municipalizadas, optamos por

identificar, na atualidade, como estão contemplados nas propostas

pedagógicas/projetos políticos pedagógicos (PPP) as concepções de criança, o quadro

da equipe da instituição, os autores com quem a equipe escolar dialoga, a formação dos

profissionais, as atividades realizadas, os espaços físicos e como as secretarias

municipais de educação e as instituições consideram as legislações voltadas para as

crianças e a utilização de documentos oficiais nas ações cotidianas.

Nos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP), ou Propostas Pedagógicas,

levantamos os dados considerando o que cada instituição apresenta, sem uma sequência

previamente estabelecida, uma vez que as instituições possuem formas diferenciadas de

construírem e sistematizarem suas ações. Os municípios da pesquisa utilizaram as

nomenclaturas de Projeto Político Pedagógico e Propostas Pedagógicas.

Aureotilde Monteiro e Ordália Alves Almeida (2008) abordam que existem

terminologias diversas e neste sentido apresentam denominações utilizadas por autores,

entre eles, sobre o Projeto Educacional Pedagógico, Machado (1996) defende que

Page 95: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

94

[...] o currículo educacional é balizador de ação na Educação Infantil

vinculado à orientação política-ideológica. Envolve modos diferentes de

encarar o homem e a sociedade, de conceber o processo de transmissão e

elaboração do conhecimento e de selecionar os elementos da cultura com que

necessariamente a instituição educativa trabalha (MACHADO, 1996 apud

MONTEIRO; ALMEIDA, 2008, p.43).

No que se refere às Propostas Pedagógicas, Monteiro e Almeida (2008)

apresentam a definição de Kramer (1997) ―é um caminho, não é um lugar. É construída

no caminho, no caminhar. Tem uma história que precisa ser contada, contém uma

aposta.‖ Assim, necessário se faz repensar práticas em que propostas são elaboradas em

determinado período e são mantidas por anos consecutivos. O movimento defendido por

autores que assumem uma concepção dialética na educação é que a construção ou

reconstrução de propostas pedagógicas precisa contar com a efetiva participação de

todos os envolvidos na instituição.

Para Monteiro e Almeida (2008),

na sociedade contemporânea existem projetos políticos, sociais, econômicos,

culturais e educacionais, que se caracterizam pela intencionalidade sobre a

realidade e expressam a vontade, individual ou coletiva, dentro de uma

perspectiva de totalidade, isto é, de resultados máximos que se pretende

alcançar. Implicam necessariamente escolhas, decisões e, por isso, estão

assentados em opções axiológicas, filosófico-políticas, que estabelecem os

fins de determinadas ações. Não são neutros, descompromissados, mas se

constituem em atividades intencionais e descompromissados, mas se

constituem em atividades intencionais e planejadas pelas quais se projetam

fins e se estabelecem meios para atingi-los (MONTEIRO; ALMEIDA, 2008,

p.14).

A análise das Propostas Pedagógicas dos CMEI que iniciaram suas

trajetórias nas décadas de 1980 ou 1990 e foram municipalizados representou a

possibilidade de conhecer em que espaços estão situados e quais os limites e avanços na

Educação Infantil na atualidade, bem como as suas finalidades educativas.

3.3 Análise dos dados obtidos na pesquisa empírica

Fizemos a opção de apresentar os dados obtidos na pesquisa empírica por

município, tendo em vista que esta organização possibilitou uma análise individual e

coletiva mostrando os percursos, semelhanças, diferenças, permanências, rupturas e

contradições na história da Educação Infantil de Goiás, evidenciada na pesquisa, nos

municípios de Anápolis, Goiânia, Senador Canedo e Trindade.

Page 96: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

95

3.3.1 Município de Anápolis

Estudos sobre a origem da Educação Infantil no município de Anápolis

evidenciam que as primeiras instituições que atendiam essa etapa de ensino em

Anápolis foram implantadas por entidades vinculadas a filantropia:

[...] o primeiro jardim de infância denominado Jardim de D. Tarcila, foi

fundado em 1943. Outro estabelecimento iniciado em 1952 foi a Escolinha de

Dona Lena, que funcionou até 1979, ambos particulares. Neste mesmo

período, surgem instituições de caráter filantrópico, tem-se a fundação da

Casa da Criança que teve seu início em 1957, atendendo as mais variadas

idades. Também há registro do início do Patronato Madre Mazzarello, que

atendia a princípio, meninas órfãs, por volta do ano de 1955, o trabalho era

realizado pelas irmãs salesianas, em 1987, a instituição deixa de atender em

caráter de internato e passa atender crianças e adolescentes em modo de

semi-internato, hoje é uma escola conveniada de Anápolis (FERREIRA,

2011 apud SILVEIRA et al., 2013, p.12).

Na trajetória da Educação Infantil abordada pelas autoras, observam-se

alterações no quadro desta etapa da Educação Básica, a partir de 2000, em decorrência

dos movimentos em defesa da democracia. Nos resultados informados pelo Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), no Censo

Educacional, do ano de 2000, em Anápolis, havia 2.619 (dois mil e seiscentos e

dezenove mil) instituições que atuavam com a pré-escola. Destas, 274 (duzentos e

setenta e quatro) eram da rede estadual, 428 (quatrocentos e vinte e oito) do município e

1.917 (mil novecentos e dezessete) da rede privada. As informações do Conselho

Municipal de Educação (CME) indicam que até 2002, a Assistência Social mantinha 8

(oito) instituições que atendiam as crianças de 0 até 6 anos de idade, sendo:

CMEI Jandira Bretas inaugurada em 02 de agosto 1986.

CMEI Dona Íris Araújo Rezende de Machado, inaugurada em maio 1988.

CMEI Maria Capuzzo Cremonez, inaugurada em outubro 1986.

CMEI Gracinda Maria da Silva, inaugurada em 18 de setembro 1989.

CMEI Professora Rettie Tipple Batista, inaugurada em fevereiro de 1990.

CMEI José Epaminondas Roriz, inaugurada em 01/06/86.

CMEI Cibele Teodoro Telles, inaugurada em 1987.

CMEI Desembargador Air Borges de Almeida, inaugurada em 1991.

(SILVEIRA et al 2013, p. 13-14)

O estudo das autoras mostra que o município de Anápolis, segundo os dados

disponibilizados no censo demográfico de 2010 (IBGE, 2010) possuía 28.754 (vinte

oito mil, setecentos e cinquenta e quatro) crianças de 0 a 5 anos. Destas, 22.071 (vinte e

duas mil e setenta e uma) não frequentavam a Educação Infantil e 2.742 (dois mil e

Page 97: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

96

setecentos e quarenta e dois) estariam aguardando vagas. Em 2013, os dados sobre a

oferta da Educação Infantil mostravam que existiam 16 (dezesseis) CMEI, 11 (onze)

Centro de Educação Infantil (CEIs) e 03 (três) escolas que atendiam a pré-escola.

A pesquisa de campo, em Anápolis, iniciou em 11 de setembro de 2015, a

partir de um encontro com a Subsecretaria Regional de Educação para apresentação do

objeto de estudo à Subsecretária de Educação da Rede Estadual, Professora Sonja Maria

Lacerda. Nossas anotações de pesquisa, em 11 de setembro de 2015, descrevem a

disponibilidade da subsecretária em contribuir com a pesquisa e ao mesmo tempo

mostra a dificuldade de colaborar com a pesquisa, por não ter atuado com a Educação

Infantil, nas décadas de 1980 e 1990, e o número reduzido da equipe para contribuir, na

busca de informações.

Em Anápolis, as entrevistas foram realizadas na Secretaria Municipal de

Educação de Anápolis com as professoras Virgínia Maria Pereira de Melo, Secretária

Municipal de Educação (Entrevista 3) e Idelma Ramos de Oliveira, Assessora

Pedagógica da Educação Infantil (Entrevista 4). Ao serem questionadas sobre o

percurso das instituições das décadas de 1980 e 1990, afirmaram que nessa época

prevaleciam práticas assistencialistas que privilegiavam o cuidado com a criança de 0 a

6 anos. No decorrer dos anos, percebem conquistas que culminam na atualidade, em

que na educação da criança da Educação Infantil há articulação entre o cuidar e educar.

A compreensão de que o processo da educação é dinâmico pelas entrevistadas, está em

consonância com Cury (1976) quando preconiza que

[...] sob o ponto de vista da sociedade, negar a contradição no movimento

histórico é falsear o real, representando-o como idêntico, permanente e a-

histórico. O que termina por afetar a concepção de educação, pois, ao retirar

dela a negação, passa-se a representa-la dentro de um real que se desdobra de

modo linear e mecânico (CURY, 1976, p. 27).

A secretária de educação de Anápolis na entrevista informou que a SME

conta com uma assessoria na formação de professores, o que sinaliza o entendimento da

gestão de que cabe ao poder público estabelecer políticas de formação continuada. Em

relação à oferta da Educação Infantil, a professora apresenta dados de um levantamento

realizado pela SME, conforme gráfico a seguir:

Page 98: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

97

Gráfico 3: Quantidade de Unidades Escolares do Município de Anápolis

Fonte: Secretaria Municipal de Educação de Anápolis/Departamento de Educação Infantil

De acordo com as informações da Secretária de Educação, as instituições de

Educação Infantil existentes no município antes de 2009 eram precárias, com estruturas

físicas frágeis, construções de placas24

, e basicamente, existiam convênios com a OVG

e instituições filantrópicas. O atendimento às crianças de 0 até 6 anos era insuficiente e

em 2009, ao assumir a Secretaria existia um convênio entre a prefeitura, o MEC e o

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) que possibilitou a

construção de um CMEI Modelo Pró-Infância que inaugurou uma nova fase na

Educação Infantil do município. Nas palavras da Professora Virgínia de Melo,

o pró-infância não era somente uma construção, ele envolvia todo

um projeto, todo um respeito, todo um atendimento diferenciado

para as crianças. Fizemos essa adesão e a forma de trabalho nessas

unidades novas que hoje nós temos várias delas foi mostrando

também novas formas do trabalho pedagógico, do trabalho com

movimento. O pessoal da Educação Infantil sempre se preocupou

muito, todo o grupo de assessoria, em estudar, conhecer as

diretrizes. Quando chegamos tinha todo um trabalho feito com

apostilas, então era um sistema apostilado do positivo, que fizemos

um trabalho de convencimento sobre a inadequação do uso desse

material para as crianças, até que a equipe se conscientizou

totalmente. Deixamos aquele trabalho e temos grupos de estudo na

educação realizamos cursos com os professores voltados

especificamente para a Educação Infantil, procurado caminhando

melhoria dessa qualidade. (Entrevista 3, 11/09/2015).

A professora entrevistada abordou ainda que percebe a contradição que

persiste entre o discurso em defesa da Educação Infantil e por outro lado, a existência na 24

Placas é um modo de construção típica da região goiana na qual as paredes são construídas de

retângulos pré-moldados de cimento.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

1989-1992 1993-1996 1997-2000 2001-2004 2005-2008 2009-2014

Escolas

Cmeis e Ceis

Page 99: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

98

prática de monitores e agentes educativos que recebem cursos, orientações, mas que não

são professores, o que interfere na qualidade no trabalho pedagógico. Diante das

exposições sobre o percurso das instituições de infância na SME de Anápolis, que

sinalizam a ruptura de práticas homogêneas, com materiais padronizados, concordamos

com Oliveira (2010, p. 184) de que ―O novo contexto educacional para a educação

infantil requer estruturas curriculares abertas e flexíveis‖.

Em Anápolis, analisamos propostas pedagógicas de três instituições de

Educação Infantil que foram municipalizadas, sendo elas: Centro Municipal de

Educação Infantil Dona Iris Araújo Rezende de Machado, Centro Municipal de

Educação Infantil José Epaminondas Roriz e Centro Municipal de Educação Infantil

Professora Rettie Tipple Batista.

O Centro Municipal de Educação Infantil Dona Iris Araújo Rezende de

Machado foi construído em 1987, na administração do prefeito Adhemar Santillo e

governo de Íris Rezende Machado. Atualmente, o CMEI é vinculado ao poder Público

Municipal, administrada pela Secretaria Municipal de Educação. O CMEI atende 108

crianças, contemplando: Berçário 09; Maternal I 17; Maternal II 17 e Pré - escola com

65 crianças sendo: Jardim I 23; Jardim II ―A‖ 21, Jardim II ―B‖ 21 crianças

matriculadas.

O quadro do CMEI é composto de 13 professores com formação em ensino

superior, sendo 11 efetivos da rede municipal e 2 estão em estágio probatório25

. Existem

15 servidores administrativos em diferentes funções, entre elas, gestão, coordenação

geral, coordenação pedagógica, cuidadoras, vigias, merendeiras.

O Projeto Político Pedagógico (PPP) do CMEI Dona Iris Araújo Rezende de

Machado, referente ao ano de 2015, permite perceber as ações planejadas coletivamente

pela equipe do CMEI. O PPP pressupõe um trabalho em uma perspectiva sócio-

interacionista, apoiando-se nas ideias defendidas por Piaget, Vigotsky e Wallon. Essa

compreensão apresenta elementos que precisam ser revistos pela equipe escolar e a

SME de Anápolis, uma vez que os autores contemplados no PPP possuem perspectivas

diferenciadas de educação de crianças. As intencionalidades do PPP precisam ser

claramente definidas pela equipe.

Em relação à gestão do CMEI, há o processo seletivo para a direção com

eleições de dois em dois anos, com a participação dos servidores administrativos,

25

Estágio Probatório, conforme explicitam os projetos políticos pedagógicos da SME de Anápolis, é o

período de 03 (três) anos, contados a partir da entrada em exercício do servidor nomeado para cargo de

provimento efetivo, durante o qual aptidão e capacidade no desempenho são objetos de avaliação.

Page 100: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

99

docentes e os pais de alunos na votação. Da mesma forma, o Conselho Escolar acontece

de forma democrática, em que os conselheiros escolares são escolhidos por eleições. O

processo seletivo representa uma conquista e nosso olhar precisa perceber as formas que

acontece na instituição, evitando as práticas de continuísmo ou de ausência de todos os

envolvidos nas escolhas, compreendendo aqui, a participação da equipe do CMEI, da

comunidade e da criança.

No PPP do CMEI Dona Iris Araújo Rezende de Machado uma das

dificuldades destacadas é a ausência de espaços adaptados para trabalhar com a

inclusão, ao mesmo tempo, explicita que a SME de Anápolis possui uma programação

para a reforma. A avaliação é compreendida no CMEI como um processo contínuo, com

funções diagnósticas e investigativas que permitem o redimensionamento da ação

pedagógica. As avaliações individuais são realizadas por meio de registros semanais

com o objetivo de compreender o desenvolvimento da criança.

A organização curricular do CMEI, segundo o PPP, apoia-se no Referencial

Curricular Nacional para a Educação Infantil, evidenciando a presença do documento

nas práticas pedagógicas dos professores que atuam com a criança de 0 até 6 anos. Cabe

avaliar as formas compreendidas de currículo, uma vez que Oliveira (2010) afirma que a

formação de novas gerações que considere o meio social da criança requer que a

organização curricular desconsidere espaços silenciosos e voltados para exigências

permanentes de obediência, para criar ações que a criança seja desafiada, o que

pressupõe o respeito individual do desenvolvimento infantil e as diferentes maneiras de

trabalhar, deixando modelos únicos de rotina.

O Centro Municipal de Educação José Epaminondas Roriz, inicialmente era

denominado de Creche Fabril. O PPP da instituição mostra elementos de sua história,

em que no ano de 1986, com a mulher inserindo no mercado de trabalho, surgiu a

necessidade da construção da Creche Fabril para cuidar das crianças. A municipalização

acontece em 2003, a partir da Lei complementar de n° 47, de 02 de abril de 2003, que

cria, denomina e regulamenta a instituição. O CMEI atende aproximadamente 106

crianças de 0 a 5 anos, em período integral e parcial, da Creche e Pré-Escola, com as

turmas de Berçário, Maternal I e maternal II, Jardim I e Jardim II.

Há informações no PPP do Centro Municipal de Educação José

Epaminondas que mostram que as famílias das crianças são de classe média baixa, em

que os pais são trabalhadores, a maioria possui ensino médio incompleto e a família

participa das atividades propostas. O atendimento contempla as crianças da Vila Fabril e

Page 101: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

100

os bairros próximos e a demanda por vagas é grande, o que resulta em uma vasta lista de

espera. O Projeto especifica que a equipe do CMEI tem como referência a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LBDEN) 9.394/96, a Constituição Brasileira,

o Regimento Escolar, o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Referencial Curricular

Nacional da Educação Infantil.

O PPP apoia em uma perspectiva sócio interacionista, compreendendo as

ideias de Vygotsky. Na descrição sobre as referências utilizadas novamente surge o

RCNEI que sinaliza a sua ampla utilização na Educação Infantil. O processo de escolha

do gestor do CMEI é feito por meio de eleição direta e o Conselho Escolar é constituído

pela comunidade, pela direção, coordenação geral, coordenação pedagógica, pessoal

administrativo, equipe docente, as crianças regularmente matriculadas, pais ou

responsáveis.

O CMEI conta com nove professores, sendo cinco efetivos e quatro estão

em estágio probatório. Consta no PPP que o regimento da escola normatiza sobre a

importância da formação dos professores. O CMEI conta com recursos financeiros,

como: FUNDEB, FNDE, Programa de Autonomia Financeira Institucional (PAFIE),

Programa Direto na Escola (PDDE) que está ligado de forma direta com o Plano de

Desenvolvimento da Escola-PDE interativo.

Para a entrevistada, professora Idelma Ramos de Oliveira (Entrevista 4), o

período que a instituição era vinculada a Assistência permaneciam as ações voltadas

para a recreação, brincadeiras com ênfase no cuidado das crianças. Existia o

compromisso da equipe, que desenvolvia as atividades com amor e a família era

convidada a participar de momentos festivos que tinham o objetivo de promover a

integrar. Hoje, segundo a professora há maior investimento na formação do profissional

que atua com a Educação Infantil e há uma unidade entre cuidar e educar. As

compreensões da entrevistada confirmam as pesquisas de que historicamente, em muitas

situações, as professores desenvolviam suas funções como uma ―missão‖, com base no

‖amor‖ e em ―cuidados‖. É possível identificar na fala da entrevistada e no que está

proposto no PPP do CMEI José Epaminondas Roriz que as ações atuais buscam atender

as exigências estabelecidas na Resolução nº 1, de 07 /04/1999 (Parecer CEB/ CNE nº.

22/98), de que é necessário educar e cuidar da criança, observando os ―aspectos físicos,

emocionais, afetivos, cognitivos/linguísticos e sociais‖, ou seja, compreender a criança

como um ser integral.

Page 102: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

101

No Projeto Político Pedagógico do Centro Municipal de Educação Infantil

Professora Rettie Tipple Batista há a afirmação de que as ações apoiam-se na teoria

sócio-interacionista, no construtivismo e na proposta da Secretaria Municipal de

Anápolis. O diálogo acontece com autores, como: Freud, Vygotsky e Piaget, o que

demonstra a necessidade de ampliar o entendimento, uma vez que os movimentos estão

em perspectivas opostas: tradicionais e dialéticas. Há assim, concepções divergentes que

precisam ser construídas em reflexões conjuntas de espaços de estudo e

prioritariamente, no processo permanente de formação.

O PPP evidencia que a escolha do gestor, em 2016, foi realizada pelo

Conselho Escolar da Unidade uma vez que não houve candidatos ao processo eleitoral.

Em um processo democrático necessário se faz pensar sobre a ausência de pessoas

interessadas em assumir a gestão do CMEI. Estão matriculadas 41 crianças no período

integral e 84 no período parcial, totalizando 125 matrículas. Vale destacar que o CMEI

disponibiliza 40 vagas para o período integral e 100 para o parcial, resultando em 15

vagas que não foram preenchidas. A equipe é composta por 30 profissionais sendo 15

professores (04 com Graduação e 11 Especialização) e 15 profissionais Técnicos

Administrativos ( 03 com Ensino Médio, 07 Ensino Superior e 05 Especialização).

As questões evidenciadas nos projetos políticos pedagógicos das instituições

da SME de Anápolis sinalizam alterações ao longo dos anos. Os sistemas de

apostilamentos foram interrompidos, a inclusão ganhou destaque nos projetos, a gestão

passou a ser definida por eleição direta, o conselho escolar faz parte das ações coletivas

do CMEI. Por outro lado, os desafios continuam compondo a história, ainda existindo

espaços inadequados para trabalhar a inclusão, as vagas são insuficientes para atender

todas as crianças, concepções divergentes de autores e de propostas, portanto, mesmo

com os avanços, existem desafios. Para Cury (1986),

a contradição como princípio dinâmico de análise da educação aponta não só

o que pode ser mudado, mas também para onde o que está mudando pode ser

direcionado. Isto se deve ao fato de que a totalidade social não é algo de fixo

que ipso facto determina o comportamento e a consciência das classes sociais.

Ela é também um produto, isto é, resultante das lutas pelas quais as classes

sociais são agentes sociais vivos (CURY, 1986, p.122).

Assim, pensar na história em permanente movimento, requer compreender a

totalidade das questões que perpassam as contradições. Pode-se inferir que os projetos

políticos pedagógicos da SME de Anápolis retratam que as instituições no decorrer dos

anos passaram inegavelmente por mudanças. A década de 1980, foi um período

Page 103: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

102

marcado por movimentos sociais e a luta pela democracia e os anos de 1990

constituíram marcas legais importantes para a Educação Infantil, resultando na

transferência das instituições vinculadas a assistência ou ao poder público estadual para

os municípios. No contexto atual, as três instituições que foram municipalizadas

evidenciam conquistas e ao mesmo tempo, sinalizam a necessidade de que a SME e as

instituições apostem na formação continuada, ao lado da valorização profissional,

condições de trabalho e materiais pedagógicos de qualidade.

3.3.2 Município de Goiânia

Resultados preliminares informados, em documento impresso26

, com dados

do INEP, por meio da Diretoria de Estatísticas da Educação Básica, no Censo

Educacional do ano de 2001, mostram que no município de Goiânia havia 6.818 (seis

mil e oitocentos e dezoito) crianças nas creches e 27.643 (vinte e sete mil seiscentos e

quarenta e três) eram matriculados nas instituições da pré-escola. O documento indica

que o número de crianças cadastradas na creche da rede federal era: 89 (oitenta e nove)

crianças, na rede municipal 2.112 (dois mil e cento e doze), na rede privada 2.221 (duas

mil e duzentos e vinte e um) crianças matriculadas e na rede estadual não havia registro

de crianças em creches.

Ainda de acordo com o documento supracitado, em 2001, a quantidade de

crianças matriculadas na pré-escola na rede estadual era: 1.860 (um mil oitocentos e

sessenta), na rede federal 89 (oitenta e nove), no município 6.512 (seis mil e quinhentos

e doze) e na rede privada 15.408 (quinze mil e quatrocentos e oito). No decorrer da

pesquisa no município de Goiânia realizamos entrevistas e localizamos documentos

disponibilizados pela SME, dos CMEI, arquivos do NEPIEC e de arquivos particulares

de professoras que colaboraram com a pesquisa.

Iniciamos as entrevistas no município de Goiânia com a Professora Nancy

Nonato de Alves Lima (Entrevista 5) que coordenou a Divisão de Educação Infantil da

SME de Goiânia no período de janeiro de 1998 a maio de 1999. Na entrevista, a

professora fala sobre o processo de transferência das instituições de Educação Infantil

que pertenciam à Fumdec para a rede municipal. De acordo com a entrevistada

[...] nessa época, foi feito um fechamento para organizações não

governamentais que se dispusessem a assumir a gestão de algumas das

26

Documento disponibilizado, do arquivo pessoal da Professora Nancy Nonato de Lima Alves.

Page 104: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

103

unidades. O Ministério Filantrópico Terra Fértil assumiu 13 [...], a Fumdec

contava com um convênio e tinha que gerenciar os convênios com as

filantrópicas porque não tinham normas, orientações, não existia padrão e

tínhamos que ir criando as travas por causa da baixa qualidade de

atendimento, precariedade absoluta. [...] faltou comida, parecia que a

Secretaria não renovava convênio sem que a instituição adequasse

determinadas questões [...]. A Secretaria alegava que não tinha recursos

financeiros para assumir 70 instituições em apenas um lote, então se fez o

ajustamento de conduta, algumas foram transferidas para a ONGs, recordo

bem por causa da Terra Fértil (Entrevista 5, 30/11/2015).

As 13 instituições, citadas pela entrevistada, que pertenciam a Fumdec e

foram transferidas para a SME de Goiânia estão informadas no quadro a seguir:

Quadro 3 - Relação das 13 Creches próprias da SME de Goiânia no ano de 2000

Nº Centros Municipais de Educação Infantil Nº de

Turmas Nº de alunos

01 CMEI Bem-Me-Quer 05 76

02 CMEI Clemente Raimundo Santhier 04 63

03 CMEI Colemar Natal e Silva 06 132

04 CMEI Cora Coralina 05 74

05 CMEI Cristiano Emídio Martins 05 50

06 CMEI Dra. Elizabete Pinto Ribeiro 08 121

07 CMEI Jardim Guanabara III 03 60

08 CMEI Residencial Goiânia Viva 05 73

09 CMEI Santa Luzia 05 76

10 CMEI Tia Jovita 06 81

11 CMEI Tio Oscar 05 80

12 CMEI Tio Romão 07 90

13 CMEI Vila Boa 05 74

14 CMEI Vila Izaura 07 120

Total 76 1160 Fonte: SME de Goiânia/Departamento de Ensino/ Divisão de Educação Infantil (Arquivo pessoal da Professora Nancy Nonato de

Lima Alves)

As informações socializadas pela professora entrevistada permitem perceber

fatos que demarcaram o processo histórico da transferência das instituições que estavam

vinculadas ao Estado. A entrevistada esclareceu que o CMEI Colemar Natal e Silva não

pertencia à FUMDEC, tratava-se de um CAIC ( da rede federal) que foi municipalizado.

O documento intitulado Ante-Projeto de Municipalização da Educação Infantil em

Goiânia (Estudo técnico Preliminar), elaborado em 1998 pela equipe da Divisão de

Educação Infantil da SME de Goiânia27

oportunizou conhecer os estudos que

antecederam a municipalização das creches e pré-escolas públicas estaduais que eram

27

Equipe da SME de Goiânia nesse período: Gisah de Oliveira, Leticia Maria Costa Pinto (responsável

pela elaboração do ante-Projeto), Lidete Ribeiro Gonçalves, Nancy Nonato de Lima Alves (responsável

pela elaboração do Ante-Projeto), Suely Lopes e Ana Luiza. O documento Ante-Projeto de

Municipalização da Educação Infantil em Goiânia foi disponibilizado do arquivo de Ivone Garcia

Barbosa.

Page 105: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

104

gerenciadas naquela época pela Fumdec, Funcad e Secretaria Estadual de Educação. O

referido documento (1998) explicita a complexidade do processo de municipalização

pelas condições político-administrativas com absorção das instituições das outras redes

e consequente necessidade de ampliação de mais vagas para a própria rede municipal.

A proposta de municipalização proposta no Ante-projeto está contemplada

no quadro a seguir.

Quadro 4 - Demonstrativo de municipalização

ÓRGÃO DESCRIÇÃO DO ATENDIMENTO Nº DE ETAPAS

- FUMDEC (13 creches próprias e 64 convênios) 02

- FUNCAD (82 creches próprias ) 04

- Pré-escolas estaduais (4 a 6 anos) 02

- Expansão da SME (Pré-escola) -- Fonte: Fonte SME de Goiânia

A absorção das instituições de cada órgão foi previsto no cronograma,

observando os períodos: Fumdec-1999 e 2000, pré-escolas estaduais- 1999 e 2000 e

Funcad - 2001 a 2004. Na descrição das ações foram contempladas as etapas que seriam

necessárias, entre elas: previsão orçamentária, condições estruturais, capacitação dos

profissionais, implantação do Conselho Municipal de Educação, estudo de rede para

definição de oferta. Foi realizada pela SME de Goiânia uma análise da situação das

creches da Fumdec. Os quadros 5 e 6 mostram informações sobre o atendimento de

creches, número de crianças e servidores da Fumdec.

Quadro 5 - Demonstrativo do Atendimento de creches – Fumdec/1997

Creches Quantitativo Atendimento/Crianças

Próprias 13 5.360

Conveniadas 64 1.300

Expansão/99 06 550

Total 83 7.210 Fonte: SME de Goiânia

Quadro 6 - Demonstrativo dos Servidores das 13 creches da FUMDEC por função

Nº Ordem Função Quantitativo

01 Agente Administrativo 15

02 Chefe Administrativo 13

03 Pajem Berçário / Mat. I e II 105

04 P I 34

05 P II 03

06 Agente de Saúde 14

07 Assistente Social 01

08 Recreadora 03

09 Técnica Educacional 09

10 Cozinha 46

11 Lavadeira 29

12 Auxiliar de Limpeza 37

Total 309 Fonte: SME de Goiânia

Page 106: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

105

No levantamento disponibilizado pela SME de Goiânia consta que entre os

anos de 2002 e 2004, das 70 (setenta) creches vinculadas à FUNCAD-GO 14 (quatorze)

creches ficaram com o Ministério Filantrópico Terra Fértil e 56 (cinquenta e seis)

creches com a SME. O levantamento contempla também informações sobre as

fragilidades da estrutura física das 56 (cinquenta e seis) instituições de placas e 6 (seis)

de alvenaria, recebidas do governo do estado de Goiás e da posterior demolição dos

prédios de placas, transferindo as crianças para um CMEI Modelo, conforme dados

apresentados a seguir:

Quadro 07 – CMEIs Municipalizados em Goiânia

Nº INSTITUIÇÃO Placas Data

01 13 de Maio X Maio/2005

02 Água Branca X Março/2005

03 Alto da Glória X Maio/2005

04 Andréia Cristina X Setembro/2005

05 Bairro Feliz X Outubro/2004

06 Bairro Goiá mudou para: Bairro Goiá IV X Março/2005

07 Bairro Santo Hilário X Agosto/2005

08 Brincando e Aprendendo X Janeiro/2005

09 Cantinho do Saber X Fevereiro/2005

10 Cantinho Feliz ( A. Finsocial) X Outubro/2004

11 Cecília Meireles X Novembro/2004

12 Ciranda ( A. Conj. Maria Dilce ) X Novembro/2004

13 Clemente Raimundo Salthier X Maio/2005

14 Condomínio Rio Branco X Outubro/2004

15 Conjunto Vera Cruz II X Maio/2005

16 Conjunto Vera Cruz VI X Agosto /2005

17 Cora Coralina Maio/2005

18 Criança Cidadã ( A.St. Univ.) X Março/2005

19 Criança Feliz ( A. Vera Cruz I) X Maio/ 2005

20 Herdeiros do Futuro ( A. Capuava II) X Novembro/2004

21 Jardim América X Setembro/2005

22 Jardim Ana Lucia X Outubro/2004

23 Jardim Balneário Meia Ponte X Fevereiro/2005

24 Jardim Curitiba X Fevereiro /2005

25 Jardim das Aroeiras X Março /2005

26 Jardim Europa II X Outubro /2004

27 Jardim Guanabara III X Março/2005

28 Jardim Liberdade X Março/2005

29 Jardim Nova esperança X Maio/2005

30 Jardim Esperança X Maio/2005

31 Jardim Presidente X Outubro/2005

32 João Vaz X Novembro/2004

33 Marcia Lorena Mendes X Julho /2005

34 Monteiro Lombato X Maio/2005

35 Oito de Março Abril/2005

36 Parque Amazônia X Abril/2005

37 Parque Atheneu X Outubro/2004

38 Pequeno Aprendiz ( Ant.VI. Mutirão) X Novembro/2004

39 Primeiros Passos Novembro/2005

40 Professora Darly X Novembro/2004

41 Professora Iacy Alba R.F.Lima X Outubro/2004

42 Professora Nair L.Jubé Borges X Abril/2006

Page 107: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

106

Nº INSTITUIÇÃO Placas Data

43 Recanto Infantil (A.V.Stª Tereza) Março/2005

44 Setor Aeroviário-I X Janeiro/2005

45 Setor Perim X Novembro/2004

46 Setor Progresso X Abril/2005

47 Setor Santos Dumont X Maio/2005

48 Setor União X Maio /2005

49 Tempo de Infância ( A.S.S.J.Tadeu) X Novembro/2004

50 Tio Oscar X Fevereiro/2005

51 Tio Romão Fevereiro/2005

52 Vila Areião X Outubro/2004

53 Vila Faiçalville X Fevereiro/2005

54 Vila Finsocial I X Abril/2005

55 Vila Izaura X Março/2005

56 Vila legionárias X Outubro/2004

57 Vila Mauá X Maio/2005

58 Vila Redenção X Fevereiro/2005

59 Vila Santa Helena X Janeiro/2005

60 Vila Santa Rita EM-São Luiz X Janeiro/2005

61 Vila São José X Outubro/2004

62 Vivendo e Aprendendo (A. Capuava) X Janeiro /2005 Fonte: SME de Goiânia/Departamento / Administrativo/ Divisão de Acompanhamento de Rede Física.

Inegavelmente, a transferência das instituições que eram do poder público

estadual contou com tensões e ainda hoje, resulta em interpretações equivocadas.

Barbosa (2008) mostra outro aspecto que merece ser destacado sobre a transferência das

instituições da Fumdec é o momento em que a SME excluiu do quadro de funcionários

os agentes de saúde e assistente social. Ao mesmo tempo, segundo dados da

pesquisadora, a SME começa a contar com pedagogos e outros profissionais,

valorizando a formação, mas em 2003 há retrocessos por novos critérios na modulação

nas instituições. As creches da Fumdec não foram municipalizadas, pois já pertenciam

ao quadro da Prefeitura de Goiânia,

De forma geral, sobre o período que atuou na coordenação da Divisão de

Educação Infantil, a Professora Nancy Nonato de Lima Alves, afirmou que considera

que foi um espaço de intensas atividades e estudos permanentes que resultou, em 1999,

na elaboração da Proposta de Avaliação para Educação Infantil28

que assumiu uma

perspectiva de avaliação mais abrangente com a proposição de um acompanhamento

contínuo da Educação Infantil. A proposta contou com a colaboração efetiva de 150

professores, sinalizando a opção de democratizar a participação dos envolvidos nas

instituições de Educação Infantil.

28

Proposta elaborada em 1999 pela equipe do Departamento de Ensino coordenada pela Profª Maria

Francisca Gomes Luz Abreu e equipe da Divisão de Educação Infantil coordenada pela Profª Nancy

Nonato de Lima Alves da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia-Goiás na gestão do Secretário

Prof. Jônathas Silva.

Page 108: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

107

A professora entrevistada abordou também que no período de 1998 a 2000,

a equipe contou com a assessoria da Professora Ivone Garcia Barbosa na elaboração da

Política de Educação Infantil29

. No que se refere à Política de Educação Infantil, a

entrevistada aborda que

A equipe foi se preparando, desenvolvendo as atividades de certa forma, confrontando

leituras específicas com a realidade e movimento. Então, desse ponto de vista tudo que fui

vendo na realidade da creche, naquela creche real, era vista pelo olhar dos estudos

que estava fazendo [...]. Eu estava na fogueira, então a leitura, aquele universo que eu

procurava e as minhas companheiras também. Outro privilégio foi de já começar os estudos

nessa área, nesse campo numa perspectiva teórica que considero hoje, depois de 17 anos,

como adequada, apropriada para a Educação Infantil que é a perspectiva que acreditamos.

A assessoria da Professora Ivone, sem querer trazer nenhuma carga afetiva, reconhecendo

ter começado com ela faz uma diferença enorme, na forma que a pessoa ia vendo, pensando

naquela modalidade [...]. Do meu ponto de vista tanto nós da equipe técnica quantos as

professoras que assumiram o desafio de atuar na creche naquela época, elas fizeram a

vanguarda. Existiam erros, falta de domínio conceitual, mas era um grupo que realmente se

abriu aquele desafio, foi em busca dele, e diria muito bem assessorado. Hoje com a

expansão dos meus estudos, com outros campos teóricos como a sociologia da infância,

tenho convicção que a teoria histórica cultural chamada por Ivone, pioneiramente de Sócio-

histórico- dialética é a mais adequada para pensar a Educação Infantil. Então falo que foi

privilégio, se você pegar o documento de currículo, em 2000, você vai ver o quanto ele era

avançado porque, com a orientação da Ivone, fizemos uma proposta de rede conceitual.

(Entrevista 5, 30/11/2015).

O texto de apresentação da Política de Educação Infantil mostra que ela

surge a partir da nova realidade da SME de Goiânia. É importante destacar que este

documento não foi publicizado oficialmente pela SME, portanto, consiste em estudo

técnico e não é versão oficial da Secretaria. Nas informações contempladas na proposta

de transferência das instituições da Fundação Municipal de Desenvolvimento

Comunitário evidenciou-se a exigência de repensar as estruturas físicas e as funções de

profissionais que contemplassem as especificidades da Educação Infantil. As questões

conceituais observadas na proposta possibilitam perceber que há avanços significativos

na busca de romper com as práticas assistencialistas, espontaneístas, compensatórias e

preparatórias.

A descontinuidade das gestões de projetos desenvolvidos por outra

administração fica muito evidente na análise dos documentos e das exposições da

entrevistada 5. Nesta direção, concordamos com Aguiar (2004) quando preconiza que

29

Proposta elaborada em 2000, com a assessoria da Profª Ivone Garcia Barbosa, pela equipe do

Departamento de Ensino coordenada pela Profª Maria Francisca Gomes Luz Abreu /equipe da Divisão de

Educação Infantil coordenada pela Profa Luiza Bueno de Oliveira da Secretaria Municipal de Educação

de Goiânia-Goiás na gestão do Secretário Prof. Jônathas Silva e Prefeito Nion Albernaz.

Page 109: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

108

Não podemos ser ingênuos em considerar que todos os documentos,

elaborados em diferentes momentos históricos, devem ser mantidos

eternamente, até porque acreditamos e defendemos os movimentos e fóruns

permanentes de avaliação e construção de políticas públicas. Questionamos,

entretanto, a tentativa de construir um trabalho democrático sem reconhecer a

história coletiva já vivenciada (AGUIAR, 2004, p.43).

No material disponibilizado pela Professora Nancy Alves consta um

documento intitulado Era uma vez (2000) que descreve as ações da Divisão de

Educação Infantil naquela época. O documento foi elaborado pelos integrantes da

equipe que demonstra que

[...] de maneira geral, as instituições foram criadas para prestar assistência,

ocupando-se basicamente dos cuidados com higiene, alimentação e saúde das

crianças. Até um dos nomes que receberam revela essa função: creche vem

do francês “Créche” que significa manjedoura e está associado ao

simbolismo cristão de dar abrigo aos necessitados. (Entrevista 5,

30/11/2015).

Considerando esta ótica, historicamente presente nas instituições da

Educação Infantil, o citado documento mostra a posição da Divisão de Educação

Infantil de orientar o trabalho educativo em que a criança seja respeitada como ser ativo

e competente na construção de conhecimentos que estejam inseridos no contexto sócio-

histórico-cultural.

Em relação a sua compreensão sobre as práticas assistencialistas nas

instituições que atuavam com a Educação Infantil na década de 1990, Nancy Alves

pondera que

[...] primeiro, quero fazer a ressalva em relação ao assistencialismo. Minha observação é no

sentido que o assistencialismo é interpretado como a ausência de produção educativa, e é

preciso dizer que as instituições eram assistencialistas, mas não significava entre ―aspas‖,

ignorar ou não se interessar por uma preparação para as crianças para a escola, havia essa

preocupação, e a Fumdec tinha uma equipe técnica. Essa equipe se angustiava pela falta de

formação das pessoas que estavam lá. Você tinha um momento assim, talvez por parte das

pessoas que atendiam as crianças existia um desejo até fazer algo considerado educativo.

Esse algo considerado pela educação pode ser debatido e só quero me opor pela história,

por essa trajetória a identificação de assistencialismo na ausência de educativo, qual

educativo estava envolvido era outra coisa, era assistencialista. O atendimento priorizava e

era oferecido como uma característica de favor a quem estava recebendo. É possível dizer

que nós temos educação assistencialista, um assistencialismo educacional, não quer dizer

ausência, a maior parte da formação da criança era entendida como uma formação de

comportamento, controle de disciplina e de valores morais e de hábitos de higiene e saúde

[...] é formativo da pessoa, entendendo a educação no sentido mais amplo e às vezes uma

preocupação em dar aulas paras crianças, treinos motores, atividade preparatória,

alfabetização para ela chegar especialmente em treino disciplinar para que quando ela fosse

para a escola ela conseguisse seguir a rotina da escola. Apesar de todo preconceito com

criança de creche, como uma criança totalmente sem limites, as creches não eram assim.

Agora, tinha uma limitação grande na formação. Na época, nas creches da Fumdec tinham

pajem, professora, monitora, mas o pessoal lá com o ensino fundamental incompleto, com

Page 110: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

109

somente 1°ano alfabetizado e era responsável por um grupo de crianças, isso limita o

alcance pedagógico (Entrevista 5, 30/11/2015).

Assinalamos, nesta dissertação que o processo histórico precisa ser

considerado, observando as pessoas, os movimentos sociais, as crianças que compõem a

história da Educação Infantil. A entrevista com a Professora Nancy remete aos estudos

de Rosemberg (2002) sobre a educação e assistência no campo da educação de que a

questão recorrente é a necessidade de estabelecer um diálogo entre assistência e

educação, política social e educação infantil, para identificar os diversos modelos

existentes na primeira etapa da Educação Básica e que podem , em grande parte, serem

em perspectivas contrárias as necessidades reais da criança como cidadã de direitos.

Uma releitura dos estudos de Aguiar (2004) postula que em Goiânia, o

atendimento de educação infantil começou com a abertura, em 1995, de turmas de pré-

escolas em escolas que atuam com o ensino fundamental. A autora mostra que existiam

instituições e entidades filantrópicas que atendiam crianças de zero a seis anos e que

eram parceiras do poder público, que intensificou com o convênio firmado entre a

Associação das Creches do Estado de Goiás e a Secretaria Municipal de Educação.

A entrevista com a Professora Eulâmpia Neves Ferreira que coordenou o

Departamento de Educação Infantil da SME de Goiânia, no período de 2001 a 2004,

apontou aspectos das tensões existentes na transferência das instituições que estavam

sob a responsabilidade da Fumdec e passaram para a rede municipal. Nas palavras da

professora

Tem algumas coisas que acho que na história elas são importantes, porque provocam o

avançar como também amarra o retrocesso, então, por exemplo: a resistência da área da

assistência social em compreender ou aceitar, não sei se é compreensão ou aceitação, a

passagem desse atendimento de 0 até 6 anos da assistência para educação. Por vez,

observávamos que a não aceitação passava pela perspectiva de financiamento, por vezes,

pela perspectiva de curral eleitoral [...] instituições filantrópicas que atuavam via assistência

em elas tinham ou ainda tem menos hoje, mas tinha uma série de vias de financiamento e

além dessa questão da resistência da assistência, acho que por outro lado, o contraponto,

existia grande dificuldade da educação com relação ao financiamento. (Entrevista 6,

01/09/2015).

Essas questões foram contempladas no capítulo 2 desta dissertação em que

há registros da matéria do Jornal O Popular que mostram as tensões que permearam a

transferência das instituições de Educação Infantil da esfera estadual para a SME de

Goiânia e a participação do Ministério Público na busca de garantia de direitos por meio

de acordos realizados entre Estado e Município.

Page 111: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

110

As informações sobre a transferência das instituições de educação infantil

para o município de Goiânia sinalizam um período de dificuldades políticas, em que

cada segmento defendia seus espaços, evidenciando conflitos. As mudanças apontadas

pelas diferentes instâncias no processo de municipalização da Educação Infantil em

Goiás remetem aos estudos de Oliveira (1999) de que a municipalização acontece no

contexto da reforma do estado e simultaneamente com as normatizações da educação. O

autor destaca ainda que a clara indução a municipalização desconsiderou as condições

de gerenciamento de um sistema de ensino. Em nosso entendimento, existem questões

que precisam ser superadas na história do processo de municipalização da Educação

Infantil em Goiânia, entre elas, a descontinuidade de políticas governamentais, uma

prática muito presente nas mudanças de governos e a compreensão de que cada gestão

tem seu percurso.

Para conhecer o contexto atual da Educação Infantil no município de

Goiânia, a pesquisa abrangeu 3 (três) CMEI que foram municipalizados, sendo: Centro

Municipal de Educação Infantil Oito de Março, Centro Municipal de Educação Infantil

Alto da Glória e Centro Municipal de Educação Infantil Criança Cidadã. Foram

realizadas entrevistas com profissionais das instituições e análise das Propostas

Pedagógicas.

No CMEI Oito de Março, realizamos uma entrevista com a coordenadora

pedagógica Darley Martins (Entrevista 6), no dia 03 de março de 2016. Em relação à

elaboração da proposta pedagógica do CMEI, a professora expõe que a construção foi

coletiva e que utilizam como referências os documentos oficiais do MEC e da SME de

Goiânia. Sobre as ações desenvolvidas no CMEI ressaltou que existe uma parceria na

qual ―professores, crianças, os pais, as famílias estão todas envolvidas nesse trabalho,

inclusive nos projetos que são realizados com as crianças.‖ Sobre os projetos, a

entrevistada fala que os temas são sempre atuais, exemplificando o projeto Dengue,

Projeto Horta e um projeto de literatura em que o livro literário,escolhido pela criança,

vai toda semana para casa com um tempo para que a família leia junto com a criança. A

Proposta Político Pedagógica do CMEI Oito de Março mostra que a equipe considera

em sua elaboração os documentos oficiais e as legislações vigentes.

Para a elaboração da proposta pedagógica a equipe da instituição realizou

um levantamento das características da comunidade atendida, que permite ao CMEI

desenvolver suas ações considerando as especificidades de cada criança. A PPP mostra

que o CMEI realiza um diagnóstico da comunidade e suas realidades, acolhe as crianças

Page 112: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

111

que necessitam ser recebidas mais cedo pela instituição, para que as famílias consigam

chegar a seu trabalho sem atrasos. Segundo informações da PPP, em 2015, a meta é

permanecer com as parcerias da Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira

(AGEPEL); Vigilância Sanitária; Tribunal de Contas do Estado de Goiás e Instituto

Educacional Emmanuel.

O CMEI Oito de Março atende crianças em tempo integral e parcial.

Atualmente, atende cento e quarenta e uma crianças matriculadas e frequentes, que

estão divididas em agrupamentos por faixa etária conforme demonstram os dados a

seguir:

Quadro 08 - Agrupamentos por faixa etária/Ano

AGRUPAMENTOS IDADE QT /

POR SALA

Turma A: Agrupamento de 6 meses a 11 meses 18

Turma B Agrupamento de 1 a 1 ano e 11 meses 18

Turma C Agrupamento de 2 anos a 2 anos e 11 meses 20

Turma D Agrupamento de 2 anos a 3 anos e 11meses 15

Turma DE Agrupamento de 3 anos a 4 anos e 11 meses 20

Turma E Agrupamento de 4 anos a 4 anos e 11 meses 25

Turma F Agrupamento de5 anos e 11 meses 25

Fonte: CMEI Oito de Março

Em relação à estrutura o CMEI Oito de Março conta com um espaço amplo,

com estrutura física em boas condições que possibilita a realização de atividades

desafiadoras que permitem a interação, a descoberta de experiências vivenciadas por

outros agrupamentos e educadores. Em 2015, o quadro do CMEI Oito de Março

contemplava 50 profissionais de educação, sendo 03 professores com Ensino

Fundamental, 17 Ensino Médio, 21 Ensino Superior 08 Especializações e 01 não está

informado no documento disponibilizado.

A PPP do CMEI mostra que os funcionários administrativos e pedagógicos

consideram a Avaliação Institucional um espaço importante, uma vez que a mesma

consiste em um processo de análise da prática pedagógica que envolve todos os

envolvidos, a equipe do CMEI, as crianças, famílias e assim, são observadas as

orientações do documento: ―Indicadores de Qualidade da Ação Educativa nos Centros

Municipais de Educação Infantil‖.

A proposta pedagógica evidencia a preocupação com a fase de transição da

Educação Infantil para o Ensino Fundamental. O CMEI propõe um trabalho de

articulação entre o CMEI e o Instituto Educacional Emmanuel, em que as crianças de 4

Page 113: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

112

e 5 anos visitam uma escola de ensino fundamental. Também são realizadas conversas

com as famílias e as crianças sobre o processo de transferência.

No Centro Municipal de Educação Infantil Alto da Glória realizamos uma

entrevista com a diretora Juliana da Silva Moreira Faria (Entrevista 8), no dia 21 de

março de 2016. Ao ser perguntada sobre o processo de municipalização a professora

informou que iniciou o trabalho no CMEI em 2002 e que os dados que ela possui

retratam que antes o CMEI era de responsabilidade do estado em que a maioria dos

profissionais que atuava com as crianças eram contratos temporários, resultando em alto

índice de rotatividade.

A professora entrevistada informou ainda que atualmente os profissionais

que trabalham no CMEI Alto da Glória possuem curso superior e que participam de

cursos de atualização constantemente, o que tem colaborado para um quadro de

profissionais preparados no exercício de suas funções. A professora informa ainda que

mesmo no quadro de serviços gerais há profissionais com o curso de pedagogia.

Em relação ao projeto político pedagógico do CMEI Alto da Glória a

entrevistada afirma que é construído coletivamente, com a participação da equipe

escolar, comunidade e crianças. Informou ainda que existe uma avaliação institucional

que é um instrumento para se constituir propostas para o ano seguinte. Também são

utilizados como referência para elaboração da proposta documentos da SME de Goiânia

e de forma muito recorrente o documento: Infâncias e Crianças em Cena: por uma

Política de Educação Infantil para a Rede Municipal de Educação de Goiânia.

O PPP do CMEI Alto da Glória foi elaborado tendo como referência a Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; Proposta Político-Pedagógica para a

Educação Infantil da Rede Municipal de Goiânia Infâncias e Crianças em Cena: por

uma Política de Educação Infantil para o Município de Goiânia; Resolução CME nº 194

de 28 de outubro de 2007; Orientações para elaboração da Proposta Político-pedagógica

das Instituições de Educação Infantil do Município de Goiânia e as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Infantil-DCNEI (BRASIL, 2009).

O CMEI Alto da Glória atualmente atende 88 crianças com faixa etária

entre 2 a 5 anos e onze meses de idade em cinco agrupamentos, em período integral ou

parcial, sendo: EI-C: crianças de 2 anos a 2 anos e 11 meses de idade – com 12 crianças:

1 professora regente e 1 auxiliar; EI-D: crianças de 3 anos a 3 anos e 11 meses de idade

– com 16 crianças: 1 professora regente e 1 auxiliar; EI-E: crianças de 4 anos a 4 anos e

11 meses de idade – com 20 crianças: 1 professora regente e 1 auxiliar; EI-EF: crianças

Page 114: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

113

de 4 anos a 4 anos e 11 meses de idade – com 20 crianças: 1 professora regente e 1

auxiliar e EI-F: crianças de 5 anos e 11 meses de idade – com 20 crianças: 1 professora

regente e 1 auxiliar.

O projeto pedagógico evidencia que as crianças do CMEI que apresentam

necessidades educacionais específicas no âmbito das deficiências são inseridas em

programas de atendimento das instituições: Associação Pais e Amigos dos Excepcionais

(APAE), Associação Pestalozzi de Goiânia e no Centro de Reabilitação e Readaptação

Dr. Henrique Santillo (CRER), A instituição atende 02 (duas) crianças autistas, com

uma cuidadora para cada criança. Nos registros do CMEI Alto da Glória somente 8

crianças pertencem ao programa Bolsa Família, do Governo Federal.

No CMEI Alto da Glória, segundo o PPP, a rotina da criança considera as

orientações da SME de Goiânia e a equipe realiza as atividades de forma flexível e

democrática, observando as necessidades da criança. A rotina é repassada para a família

por meio da agenda das crianças e do mural do CMEI.

Na citada instituição a dinâmica da pesquisa também ocorreu com entrevista

e análise da proposta pedagógica do CMEI. A entrevista foi realizada com a diretora

Professora Sônia Maria Cardoso (Entrevista 9), no dia 11 de abril de 2016. A professora

informou que as práticas anteriores no CMEI eram assistencialistas, com a Educação

Infantil desenvolvida em uma perspectiva de iniciação preparatória para o ensino

fundamental.

Em relação ao contexto atual do CMEI, a professora falou sobre o projeto

político pedagógico, evidenciando que o CMEI caminha dentro de uma perspectiva

sócio interacionista, com base em documentos e legislações, entre outros: Infância e

Crianças em Cena: por uma Política de Educação Infantil para a Rede Municipal de

Educação de Goiânia (SME), Resolução nº 194 do Conselho Municipal de Educação,

Saberes sobre a Infância (SME).

O PPP sinaliza que a equipe do CMEI desenvolve um trabalho pautado no

respeito à família da criança, com reuniões por faixa etária e as crianças são acolhidas

no horário de entrada e saída das crianças, momentos que também a instituição tem

contato com a família. Em relação ao espaço físico há informações sobre a necessidade

de ampliação para intensificar a realização de atividades com as crianças. As ações

estão apoiadas na teoria de Vygotsky.

O CMEI atende 109 crianças e ficam organizadas em 5 agrupamentos,

sendo: 18 crianças de 1 ano; 20 crianças de 2 anos; 22 crianças de 3 anos; 24 crianças de

Page 115: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

114

4 anos e 25 crianças de 5 anos. O quadro de servidores é composto por 38 (trinta e oito)

servidores. Em relação à inclusão, a proposta pedagógica mostra que houve uma

reforma no CMEI, foram implantadas rampas de acessibilidade com corrimãos em todas

as portas. Uma informação destacada na proposta é a presença de diversas crianças

gêmeas, sendo: bivitelinos, univitelinos, trigêmeos. Para a equipe do CMEI, trata-se de

um dado que conta com um olhar diferente, pela especificidade que envolve a questão.

O CMEI Criança Cidadã atende em tempo integral, com flexibilidade para

duas crianças com necessidades educativas específicas que contam com atendimento,

duas vezes na semana, nas instituições Associação Pestalozzi- Unidade Renascer, no

CRER, Centro Estadual de Atendimento ao Deficiente (CEAD) e Clínica-Escola do

Departamento de Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-

Goiás).

O processo de avaliação das crianças, segundo as informações do PPP é

realizado de forma intencional, com observação sistemática de seus comportamentos,

interações, preferências, desenvolvimento e participação nas atividades propostas.

Existem informações também no PPP do CMEI Criança Cidadã sobre as iniciativas da

instituição de criar parcerias com escolas de ensino fundamental, realizando visitas,

encontros entre as instituições por meio de reuniões, leituras de fichas individuais e

promoção de atividades interativas entre CMEI e escolas de ensino fundamental.

Uma análise das questões evidenciadas nas Propostas pedagógicas dos

CMEI da SME de Goiânia, tendo como parâmetros as entrevistas e documentos

possibilita perceber que há uma expectativa propositiva dos profissionais de Educação

Infantil em relação às conquistas no decorrer dos anos. Nas três instituições a defesa

explicitada nas propostas pedagógicas é que as ações estão fundamentadas em uma

perspectiva sócio interacionista tendo como referência na elaboração de suas propostas

o documento de rede: Infância e Crianças em Cena: por uma Política de Educação

Infantil para a Rede Municipal de Educação de Goiânia (SME),Resolução nº 194/2007

do Conselho Municipal de Educação, Saberes sobre a Infância (SME) e Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Infantil-DCNEI.

Na SME de Goiânia, nota-se também que há abordagens que mostram uma

separação entre a educação infantil do passado e o momento atual. Percebe-se enfim,

que a história não é compreendida como processo, movimento e, portanto, revela

descontinuidade nas políticas públicas. Existem sinais de silenciamento também em

Page 116: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

115

relação aos arquivos, sendo que nos três CMEI não há arquivos que conservem

documentos sobre as instituições nas décadas de 1980 e 1990.

As compreensões das professoras entrevistadas em relação à Educação

Infantil no município de Goiânia, em cada período pesquisado, corroboram com as

ideias abordadas por Rosemberg (2002) de que uma revisão na história das políticas

públicas brasileiras possibilita concordar com ―se há muito o que conquistar, muito já

foi conquistado‖. A ausência de arquivos nas instituições municipalizadas exige uma

reflexão sobre a necessidade de documentarem suas histórias e assim, constituírem suas

identidades.

3.3.3 Senador Canedo

No município de Senador Canedo, a diretora do Departamento de Educação

Infantil da SME de Senador Canedo, Flavia Aparecida Fonseca Arana, envolveu

integrantes da equipe na pesquisa, na busca de informações sobre a trajetória das

instituições que eram do poder público municipal e foram municipalizados. Após o

primeiro contato na SME, realizamos visita ao Conselho Municipal de Educação de

Senador Canedo30

, no dia 30 de junho de 2015, para pesquisa de documentos

relacionados às três instituições que estavam sob a responsabilidade da rede estadual e

atualmente estão na rede municipal, sendo: Centro Municipal de Educação Infantil Dom

Fernando, Centro Municipal de Educação Infantil Sinhazinha e Centro Municipal de

Educação Infantil Thaís de Souza. Foram abertas caixas de cada CMEI e em cada

regimento e proposta pedagógica foram identificados fatos históricos que permitiram

perceber elementos da educação do período pesquisado.

Após a análise dos documentos, ainda na sede do Conselho, realizamos a

entrevista com a direção do Departamento Infantil, Flávia Aparecida Fonseca Arana

(Entrevista 10). Durante a entrevista, em vários momentos a professora se emocionou ao

falar da trajetória nas instituições. A professora relata que iniciou as atividades na

educação como auxiliar no CMEI Dom Fernando e retoma a história da instituição,

socializando que o CMEI, em 1993, era vinculado a igreja católica e funcionava como

casa do menor. A Entrevistada relata sobre as três instituições, destacando a presença da

30

Visita ao Conselho Municipal de educação de Senador Canedo, no dia 30 de junho de 2015, para

levantamento de informações no arquivo. Participantes: Luciana Mata Silva de Matos, Gilsélia Pio de

Santana, Giselly Ariane Souza, Flávia Aparecida Fonseca Arana, Argemilson Ribeiro Teixeira, Maria

Aparecida de Miranda Alves Pinto e Suely Moura de Moraes.

Page 117: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

116

filantropia e da ―afetividade‖ como uma característica muito recorrente na prática dos

professores com as crianças. A professora ressalta que as atividades priorizavam o

cuidado e a brincadeira e existia sempre espaço para cantiga de roda, poesia,

dramatização.

A professora Selma Aparecida da Silva Cardoso (Entrevista 11), que atuou

no CMEI Dom Fernando Gomes, na década de 1990, ressaltou que

[...] o que eu considero mais significativo daquela época, era o carinho a

afetividade que a gente tinha com as crianças, a receptividade. As crianças

não ficavam o dia todo, tinha dois turnos. Trabalhávamos com massinhas,

com horário no parquinho, com brincadeiras de rodas e demais brincadeiras

infantis. Trabalhávamos também com atividade na folha de construção de

período preparatório. (Entrevista 11, 19/09/15)

No contexto atual, o CMEI Dom Fernando Gomes, funciona em período

integral com 350 (trezentos e cinquenta) crianças matriculadas e distribuídas em

agrupamentos, sendo: 02 (dois) berçários, 03 (três) agrupamentos I, 04 (quatro)

agrupamentos II, 06 (seis) agrupamentos III. O CMEI atende crianças de seis meses a

cinco anos e onze meses e em sua maioria filhos de famílias de baixa renda, em que as

mães trabalham para contribuir nas despesas da casa e ainda, são atendidas crianças que

vivem em situação de risco que residem nas proximidades da instituição.

É possível perceber pelas informações obtidas na pesquisa que a trajetória

do CMEI Dom Fernando tem as marcas da assistência, da religião, da creche como

espaço para as famílias deixarem suas crianças para trabalharem. O Projeto Político

Pedagógico do CMEI Dom Fernando explicita que as ações propostas se fundamentam

nos RCNEI e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil, mostrando

que o RCNEI é muito recorrente como principal fonte de consulta nas práticas voltadas

para a infância.

Ao perguntarmos sobre o processo de construção do PPP do CMEI Dom

Fernando no contexto atual a Coordenadora Pedagógica Rejane Santos Oliveira

(Entrevista 12), diz que o PPP é reconstruído sempre, para atender às solicitações da

Secretaria. Ao mesmo tempo, evidenciou que a renovação acontece porque a equipe

percebe a importância e não somente para atender a solicitação da Secretaria. Ressaltou

que considerando que o embasamento teórico estava defasado a proposta do CMEI foi

totalmente reestruturada.

Em nosso entendimento, assumir uma perspectiva de Propostas Pedagógicas

que tenham significado pressupõe o planejamento coletivo e a ruptura de práticas que

Page 118: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

117

repetem um único modelo por anos consecutivos somente para cumprir normas ou

exigências das secretarias. Oliveira (2010) afirma que as propostas para creches e pré-

escolas precisam considerar o que os professores aprendem nas formações e em suas

próprias experiências.

Em relação aos aspectos observados no CMEI Dom Fernando nas décadas

de 1980 e 1990, a Professora de Educação Inclusiva, Jacy da Silva Oliveira Martins

(Entrevista 13), citou que existiam salas com 30 (trinta) alunos e outras com somente 06

(seis) alunos. O critério adotado era a necessidade das famílias, sem a preocupação com

a quantidade de crianças em sala de aula. Para a professora, a instituição cuidava

essencialmente de questões relacionadas à higiene e que atualmente, há mudanças

significativas no planejamento das ações pedagógicas, com atividades bem elaboradas e

existem critérios da SME na contratação de profissionais, em que é necessário ter curso

superior para o trabalho com as crianças.

A atual gestora do CMEI Dom Fernando, Professora Ione Torquato da Silva

Vaz (Entrevista 14) apontou em suas exposições que as crianças contam com

professores preparados e, portanto, existem atividades próprias para a faixa etária e que

conta com o apoio da SME no desenvolvimento das ações na instituição.

O PPP do CMEI Sinhazinha mostra que a instituição foi inaugurada em 13

de Março de 1987, sob a responsabilidade da Funcad, foi municipalizada em 2001 e

atualmente atende crianças no período integral e em 2008, foi construída uma nova sede

para o CMEI. Inicialmente, era denominado de Núcleo de Apoio da Criança da Vila

São João (NAC) e surgiu por meio da Associação dos moradores do município sob a

responsabilidade da Associação das Legionárias do Bem-Estar Social. A razão da

escolha do nome de Sinhazinha é desconhecida, uma vez que as pessoas que

participaram na construção da instituição não fazem parte da comunidade. O CMEI

contempla 160 (cento e sessenta) crianças, em período integral, sendo 110 atendidas na

Creche e 50 na Pré-Escola. Os dados do Projeto Político Pedagógico mostram que o

quadro de servidores conta com uma (1) diretora, uma (1) secretária, uma (1)

coordenadora pedagógica, 08 (oito) professoras efetivas e 25 (vinte e cinco) servidores

administrativos.

O CMEI Thays de Souza Ribeiro, segundo informações do Projeto Político

pedagógico, era denominado de Creche Morada do Morro. A instituição foi inaugurada

em abril de 1994, ficando sob a responsabilidade da FUNCAD e em março de 2001, foi

municipalizada, passando a ficar sob a responsabilidade do município.

Page 119: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

118

A entrevista com a Professora Rute Niel de Melo (Entrevista 15) apresentou

elementos essenciais da história do CMEI Thays de Sousa Ribeiro. A primeira eleição

de gestores aconteceu em dezembro de 2002, sendo eleita a Professora Rute Niel de

Melo, que no contexto atual permanece na direção da instituição, após sucessivas

reeleições. O nome da creche foi alterado em 2003 para Centro de Educação Infantil

Thays de Sousa Ribeiro que atualmente atende 296 crianças e conta com 61

profissionais sendo que 03 têm Ensino Fundamental incompleto, 07 Ensino

Fundamental completo, 44 Ensino Médio e 07 Ensino Superior.

Observamos de forma geral, características historicamente bem recorrentes

na Educação Infantil, ou seja, a dificuldade de ultrapassar práticas que rompam com o

assistencialismo, mas ao mesmo tempo, mudanças no quadro de professores que

atendem as exigências legais e um movimento muito dinâmico para construir formas

mais dialéticas que considerem o contexto social, econômico e cultural das crianças.

No decorrer da pesquisa no município de Senador Canedo foram

disponibilizados documentos por Benedita Pereira Lemes, de seu arquivo particular, que

atuou como Secretária de Educação na SME de Senador Canedo no Período de 1997 a

2000. O documento intitulado Orientação da Prática Educativa na Pré-Escola sinaliza

uma política do Estado para a Pré-Escola na década de 1990. Trata-se de um documento

que foi elaborado, em 1994, pela Secretaria de Educação, Cultura e

Desporto31

/Superintendência do Ensino Fundamental e Médio32

/Departamento de

Estudos Pedagógicos/Divisão de Currículo. O documento apresentou como objetivo

subsidiar as práticas dos professores da Pré-Escola de crianças que tenham a partir de

cinco anos e meio, uma faixa etária estabelecida pela Secretaria de Educação naquele

período.

31

Nomenclatura da instituição na gestão da Secretária de educação Professora Terezinha Vieira dos

Santos. 32

Nomenclatura da instituição. Equipes: Superintendente Professora Laídes Seabra Guimarães e

Souza/chefe do Departamento Professora Marise Domiciano Almeida Braga/Chefe da Divisão de

Currículo: Professora Cleuza de Lourdes Almeida Braga.

Page 120: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

119

Figura 1 – Orientação da Prática Educativa na Pré-escola

Fonte: Arquivo Particular da Professora aposentada Benedita Pereira Lemes

O documento Orientação da Prática Educativa na Pré-Escola traz em sua

apresentação que a sua divulgação representou uma continuidade das ações da

Secretaria de Educação a partir de 1990 com o Programa Curricular Mínimo para o

Ensino Fundamental. Da mesma forma, a orientação visou contribuir com o programa

pré-escolar que a Secretaria de Educação implantou a partir de 1985. Estão expressos

conteúdos a serem desenvolvidos nas diferentes disciplinas, matemática, português,

ciências, artes, estudos sociais e há orientações sobre trabalhos na pré-escolar com

projetos por meio de tema gerador. O documento, elaborado em 1994, mostra a

compreensão da secretaria de estado da educação naquele momento da pré-escola em

uma perspectiva conteudista e preparatória para o ensino fundamental.

Entre outros documentos, selecionados para análise, a coleção ―Eu Gosto‖

muito recorrente na década de 1990 nas instituições que atuavam com classes Pré-

Escolares e segundo as informações da Secretária de Educação da SME de Senador

Canedo, no período de 1997 a 2000, foi utilizado nas instituições que atuavam com Pré-

Escola. O material foi elaborado por Célia Passos, Marcelo Ferreira e Zeneide Silva,

pela Editora Nacional.

Page 121: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

120

Figuras 2, 3, 4 e 5: Coleção Eu Gosto

Fonte: Arquivo Pessoal de Benedita Pereira Lemes-Secretária da SME de Senador Canedo.

Assinalamos, em relação ao documento Orientação da Prática Educativa

na Pré-Escola, iniciativa da secretaria de educação estadual, na década de 1990 e na

presença muito recorrente da Coleção Eu Gosto a adoção de propostas e atividades

mecânicas e preparatórias para a alfabetização. Os ―modelos prontos e uniformes‖,

divulgados como ―pacotes‖ expressa a crítica elaborada por Kramer (1992) quando

afirma

É preciso, pois, desmistificar os poderes que a pré-escola supostamente, teria

a fim de que os danos por elas causados não sejam até maiores que seus

possíveis benefícios. Dentre esses danos se coloca, por um lado, a

antecipação para o nível pré-escolar do processo de marginalização que as

crianças provenientes das classes sociais desfavorecidas sofrem na escola de

1º grau. Ao invés de serem respeitadas e incentivadas, essas crianças podem

ser discriminadas e levadas ao fracasso por não corresponderem aos padrões

e normas exigidas. Um fracasso precoce passaria a ser delas esperado na

medida em que fossem consideradas como carentes e deficientes (KRAMER,

1992, p. 108).

Os limites da época precisam ser considerados, no entanto, as raízes

conteudistas e que condicionam ao fracasso escolar devem ser repensados, conforme as

afirmações evidenciadas por Kramer (1992).

3.3.4 Município de Trindade

A pesquisa, na SME de Trindade, contemplou três instituições de Educação

Infantil que foram municipalizadas, sendo: Centro Municipal de Educação Infantil

Maria Pedro de Jesus, Centro Municipal de Educação Infantil Modelo e Centro

Municipal de Educação Infantil Dona Maria Conceição. Para falar sobre a história da

Educação Infantil deste município, esta pesquisa inicialmente estabeleceu diálogo com a

Page 122: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

121

Professora Sandra Soares Borges, coordenadora do Departamento Pedagógico da SME

de Trindade (Entrevista 16). Em vários momentos da entrevista a professora

emocionou-se ao relembrar de fatos significativos das instituições. Entre esses

momentos, destacamos a emoção com que mencionou sobre os grupos de discussão que

teve a oportunidade de participar em diferentes espaços no final da década de 1980 e

anos iniciais da década de 1990. A professora ressalta que os encontros eram marcados

pela defesa de superação do assistencialismo e da construção de uma proposta

pedagógica que percebesse a criança como cidadã e com direito a uma Educação

Infantil de qualidade.

As memórias socializadas pela professora evidenciam que ela identifica

avanços da Educação Infantil no município. Ao falar das instituições afirma que

existiram, e ainda hoje há dificuldades com a ruptura de práticas assistencialistas. No

entanto, na compreensão da professora as mudanças são inegáveis. Considerando a

experiência em Educação Infantil e o acompanhamento que realiza junto aos Centros

Municipais de Educação Infantil, a professora fala sobre as três instituições que

pertenciam à rede estadual nas décadas de 1980 e 1990 e atualmente estão vinculadas à

Secretaria Municipal de Educação.

O Centro Municipal de Educação Infantil Maria Pedro de Jesus foi fundado

na década de 1980 pela Fundação Nacional do Bem-estar no Menor (FUNABEM),

sendo extinto em 1984 e no mesmo espaço físico foi construído o Centro Comunitário

Dona Íris de Araújo Machado. A autorização para funcionamento do CMEI Municipal

Maria Pedro de Jesus aconteceu em 1992, sendo que aos 18 de dezembro de 1995, de

acordo com a Lei Nº 760/95.

A Proposta Política Pedagógica do Centro Municipal de Educação Infantil

Maria Pedro de Jesus evidencia que as ações estão fundamentadas em uma perspectiva

sóciointeracionista, em que as atividades são desenvolvidas considerando a

indissociabilidade do cuidar e educar. A PPP mostra que em 2014 foi implantado na

rede o Sistema de Ensino ―Aprende Brasil‖ desenvolvido pela Editora Positivo. O

material é destinado ao Jardim I e Jardim II e contempla quatro volumes sequenciais a

serem trabalhados no decorrer do ano, sendo: material de apoio aos professores, (CD,

reprodução de imagens, materiais e orientações didáticas para o professor); Portal

―Aprende Brasil‖ (promove a inclusão digital) e assessoria pedagógica

(acompanhamento de professores e coordenadores, cursos e atendimentos pedagógicos).

Page 123: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

122

Assumir uma perspectiva sócio interacionista e ao mesmo tempo, adotar o

sistema de apostilamento aponta cisões e ausência de domínio conceitual, uma vez que

os modelos prontos, padronizados remetem a uma concepção de educação que

desconsidera as especificidades da criança, da realidade em que está inserida. Sob essa

ótica o desafio que se apresenta é que as equipes da SME, o coletivo do CMEI

repensem a adoção do material, das ações voltadas para a criança de 0 a 6 anos, o que

pressupõe espaços formativos que oportunizem a reflexão, a troca de experiência e a

ampliação de conhecimentos atualizados e com significados que considerem a criança

cidadã.

O CMEI Maria Pedro de Jesus é composto por 37 (trinta e sete) servidores

(20 efetivos e 17 comissionados) sendo que 01 tem Ensino Fundamental, 11 Ensino

Médio, 15 Ensino Superior e 10 não informaram a formação. A instituição atende 120

(cento e vinte) crianças com idade entre 12 meses a 5 anos e 11 meses, em período

integral. Os agrupamentos são organizados observando as idades: um agrupamento de 1

a 2 anos e 11 meses; outros dois agrupamentos de 3 anos a 3 anos e 11 meses; o quarto

de 4 anos e o quinto de 5 a 5 anos e 11 meses. A frequência das crianças é boa e o

índice de desistência é baixo.

Sobre o CMEI Maria Pedro de Jesus, a coordenadora do Departamento

Pedagógico da SME de Trindade se emociona ao relatar que em 2015, o CMEI foi

incendiado Imagens 1, 2 e 3 (Anexo 6), danificando as estruturas da instituição. O

incêndio foi um ato de vandalismo e a SME viabilizou um espaço temporário para a

realização das atividades da instituição e posteriormente, a gestão atual do município

construiu um novo prédio.

A Proposta Pedagógica do Centro Municipal de Educação Infantil Dona

Maria da Conceição explicita que a instituição se situa no Setor Vila Pai Eterno,

inaugurada em 1992 e regulamentada pela Lei de Denominação n° 1142/05 da Câmara

Municipal de Trindade. Em 2009, a instituição recebeu a denominação de Centro

Municipal de Educação Infantil.

O Conselho Estadual de Educação autorizou o funcionamento do CMEI por

meio da Resolução nº 781 de 09 de dezembro de 2011. A maioria das crianças que

frequenta o CMEI reside no próprio setor e as informações contempladas na PPP

mostram que ele surgiu da necessidade das famílias saírem para o trabalho.

Inicialmente, a área da instituição estava destinada para a construção de uma praça

pública, mas os argumentos da comunidade local da necessidade de um espaço para as

Page 124: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

123

crianças foram considerados pela gestão. O CMEI Dona Maria da Conceição Pereira foi

construído em 1992 e nesse período a Secretaria da Cidadania e Trabalho era

responsável pela manutenção e apoio pedagógico da instituição.

As entrevistas e a proposta do CMEI Maria Conceição Pereira indicam que

as ações voltadas para a criança nas décadas de 1990, eram desenvolvidas por

profissionais sem a qualificação necessária, com uma proposta de trabalho para crianças

que objetiva essencialmente cuidados com a alimentação, higienização, com ausência

de planejamento das ações. Para a Coordenadora Pedagógica do CMEI Dona Maria da

Conceição, Professora Cristiana Ferreira Freitas, o início foi difícil porque era o

primeiro contato com crianças menores e sem a experiência necessária. Para a

Professora ―naquela época não tinha professor, eram só cuidadores, não haviam tarefas,

brincadeiras dirigidas, as crianças só ficavam ali esperando até o momento da mãe

buscar.‖(Entrevista 17,15/09/2015).

Sobre o processo de transferência das instituições que estavam ligadas ao

Estado e foram municipalizadas, a auxiliar de serviços gerais, Dircélia Pereira da Silva

(Entrevista 18), que atuava como monitora na década de 1990 descreveu que passou por

todas as etapas porque está há muito tempo no CMEI, que representa uma extensão da

casa dela. Na década de 1990 era monitora e relata que sempre cuidou com muito amor

das crianças e que hoje está cuidando de outros serviços, mas sempre está observando

tudo que acontece no CMEI, destacando que gosta do seu trabalho.

A PPP do CMEI Dona Maria Conceição Pereira de 2015 sinaliza que a ação

pedagógica está fundamentada na teoria de Vygotsky e são valorizadas as questões

relacionadas à cultura e lazer em que as datas comemorativas são sempre lembradas

com apresentações das crianças para os colegas e a comunidade. O projeto apresenta

uma proposta com atividades desenvolvidas interdisciplinares e lúdicas. A PPP

evidencia que o trabalho se apoia nos Referenciais Curriculares Nacionais para

Educação Infantil, mostrando mais uma vez, a presença do referencial nas propostas

pedagógicas.

É importante observar as discordâncias no que se refere à perspectiva

defendida na PPP que afirma que a equipe do CMEI desenvolve as atividades com as

crianças considerando os pressupostos defendidos por Vygotsky e ao mesmo tempo,

adota o Sistema ―Aprende Brasil‖. No acompanhamento das ações desenvolvidas no

CMEI foi implantado um sistema de tutoria, considerado como um profissional mais

experiente. A adoção do material ―Aprende Brasil‖ pela rede municipal. Assim, nota-se

Page 125: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

124

a necessidade de ampliar a discussão coletiva sobre a compreensão de uma proposta

dialética e a adoção na rede de modelos prontos, contrapondo com a perspectiva de

autonomia e especificidades locais.

O CMEI tem 38 profissionais, sendo que 16 concluíram o Ensino Superior e

os demais possuem de Ensino Fundamental a Ensino Médio. Em relação ao espaço

físico, a proposta pedagógica evidencia que a construção é feita de placas, causando

muito calor, com cobertura de telhas plan, salas pouco ventiladas, falta segurança, a

instituição é cercada de alambrado e frequentemente há danificações. Há registros de

que existem espaços grandes na área externa e a necessidade de ampliação. O CMEI

Dona Maria da Conceição Pereira oferta a Educação Infantil em período integral ou

parcial, contemplando crianças a partir de 1 ano e 2 meses até completarem 5 anos e 11

meses de idade.

O Centro Municipal de Educação Infantil Modelo atende crianças em que as

famílias possuem até 03 (três) salários mínimos e os pais, entre outras atividades

trabalham em: confecções, secretárias, domésticas, serviços gerais, autônomos,

funcionários públicos. O Projeto Político Pedagógico do CMEI Modelo mostra que a

criação do CMEI Modelo aconteceu em 1992, sob a direção da Funcad e no início, era

denominado de Creche Conjunto Dona Iris. A alteração no nome da Creche ocorreu em

2001, após as instalações terem sido reformadas passando a ser chamado de Centro

Municipal de Educação Infantil Modelo. Em 2005, ocorreu outra reforma e

posteriormente, a instituição foi municipalizada.

O quadro de funcionários do CMEI totaliza 34 profissionais, sendo 06

especialistas, 10 com Ensino Superior e os demais possuem de Ensino Fundamental a

Ensino Médio. O PPP aponta que o material didático trabalhado no CMEI Modelo

apoia-se na ―concepção interacionista, que se relaciona, primordialmente, aos autores

[...] Jean Piaget, Vygotsky e Henri Wallon‖ (TRINDADE, 2015, p.17). O CMEI

Modelo também adotou o Sistema ―Aprende Brasil‖, por meio do Método Positivo, que

no PPP se apresenta como um material didático que contribui de forma significativa

para a aprendizagem das crianças. As ações desenvolvidas no CMEI Modelo se

fundamentam no Referencial Curricular para a Educação Infantil e na Proposta

Pedagógica da rede municipal.

Redimensionar as propostas pedagógicas na Educação Infantil em uma

perspectiva histórico-social-dialética pressupõe ruptura, clareza das contradições e do

Page 126: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

125

movimento dinâmico da história. Concordamos com Oliveira (2010) quando afirma

que

[...] em vez de um método único de ensino, baseado em um processo

cognitivo que se julga perfeito, homogêneo e irreversível, propomos o

encorajamento da familiaridade das crianças com novas crianças, a

legitimação, para elas, de um espaço de participação amplo e diversificado

nas atividades propostas (OLIVEIRA, 2010, p. 17).

As propostas pedagógicas das instituições dos municípios escolhidos para a

realização da pesquisa possibilitou limites e as possibilidades, no contexto atual, de

cada realidade.

Page 127: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

126

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os homens fazem a sua história, mas não o

fazem sob circunstâncias de sua escolha e

sim sob aquelas com que se defrontam

diretamente, legadas e transmitidas pelo

passado. Karl Marx

A frase de Karl Marx é um ponto de início de um espaço importante e difícil

na pesquisa: refletirmos sobre os percursos da pesquisa da história da Educação Infantil

em Goiás, nas décadas de 1980 e 1990 e socializarmos as compreensões do contexto

atual das instituições de Educação Infantil que foram transferidas do poder público

estadual para os municípios. É necessário destacar que a pesquisa vai além do que está

apresentado nesta dissertação. Existiram inúmeros momentos vivenciados, estudos,

documentos localizados, encontros repletos de memórias e falas inéditas que

permanecerão guardadas, mas não esquecidas, que pela própria condição do tempo

estabelecido para a pesquisa podem ter continuidade em estudos posteriores.

Este estudo contempla nossa motivação pessoal de conhecer a história da

Educação Infantil em Goiás nas décadas de 1980 e 1990. O Fórum Goiano de Educação

Infantil teve uma participação legítima nos desdobramentos da investigação,

possibilitando a mobilização dos integrantes, em que as conversas informais, as

discussões coletivas possibilitaram a escolha dos municípios de abrangência da

pesquisa, sendo: Anápolis, Goiânia, Senador Canedo e Trindade. Contamos com

contribuições que confirmavam a necessidade de que a história fosse preservada, entre

elas, destacamos as respostas ao questionário dos municípios de Jataí e Morrinhos, que

mostravam duas realidades: ausência de arquivos documentais sobre o período

pesquisado e a amplitude de informações que podem ser retomadas em outros estudos.

A pesquisa contemplou uma análise dos movimentos sociais e as

implicações dos mesmos nas políticas para a Educação Infantil na década de 1980 e

1990. Estudos de pesquisadores da área sobre a trajetória dos movimentos sociais na

luta pela educação permitem perceber a importância de retomar ao passado, identificar

as concepções, as potencialidades, fragilidades e avanços, relacionando com as

conquistas e desafios na atualidade. A presença da mulher trabalhadora e do movimento

feminista na reivindicação por creches, expressa a capacidade das minorias socialmente

excluídas, que contrapondo ranços de autoritarismos, se constituem como um grupo

Page 128: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

127

fundamental para a criança brasileira. Os movimentos populares, na luta pela educação,

expressam os direitos dos excluídos de que o estado cumpra com o seu dever.

A descrição de aspectos históricos do engajamento dos movimentos sociais

na luta pela educação evidencia aspectos imprescindíveis para compreender o caminho

percorrido na consolidação das políticas públicas para a Educação Infantil. A

compreensão da história permite ainda identificar as causas, as origens da Educação

Infantil, compreendendo os limites das lutas travadas inicialmente pelas mulheres ao

ingressarem no trabalho e posteriormente, de outros segmentos que integram a defesa de

creches como um direito. A expansão das creches no Brasil não acontece por uma lei ou

por iniciativa de um partido. Da mesma forma, pode-se afirmar que acontece pelas

condições de sobrevivência, pela necessidade da mulher inserir no trabalho e de ter um

espaço para deixar os filhos. Há um protesto justo de grupos excluídos socialmente,

acostumados à luta diária.

Os estudos que fundamentaram esta pesquisa mostram as raízes históricas

que demarcaram a Educação Infantil. A pesquisa possibilitou confirmar os estudos de

diversos pesquisadores brasileiros, os quais demonstram que no país a educação de

crianças de 0 a 6 anos é caracterizada por culturas assistencialistas e filantrópicas que

orientam as práticas e em outra direção, encontramos uma Educação Infantil que tem se

constituído tendo como referência o direito universal e o conceito da criança como ser

ativo e em movimento.

No que tange aos documentos oficiais analisados na pesquisa, concordamos

com os estudos de Silva (2008) de que as legislações representaram avanços para a

criança brasileira, mesmo com as contradições observadas quanto à presença de ideias

neoliberais. Silva (2008) mostra que outro aspecto muito presente na história da

Educação Infantil é a mobilização da sociedade que tem atuado ao longo dos anos de

forma política, resultando em lutas e conquistas.

É possível perceber em estudos da área as mudanças provocadas na

construção da identidade docente, em que o período de 1990 demarca uma nova

compreensão de criança, como sujeito de direitos e, portanto exige um profissional

qualificado e com políticas públicas que contemplem condições de trabalho, formação

continuada e valorização profissional. Requer, ainda, que seja assegurada pelo poder

público a participação autônoma do profissional da Educação Infantil nas propostas

pedagógicas. Se por um lado, as diretrizes legais estabelecidas no ECA (1990) e na

LDBEN (1996), contribuem para mudanças significativas na identidade docente,

Page 129: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

128

deixando o caráter assistencialista para a profissionalização docente, existem

controvérsias de autores que se dedicaram à análise dessas legislações, que apontam a

ausência de normas legais que assegurem as condições de trabalho do profissional que

atua com crianças de 0 até 6 anos de idade.

Diante das questões analisadas, sobre as políticas públicas para a Educação

Infantil desenvolvidas nas décadas de 1980 e 1990, é possível confirmar a importância

desse momento histórico para a Educação Infantil. O olhar para as políticas

governamentais voltados para a criança, no passado ou no presente, permite identificar a

presença de ideias neoliberais, em que a infância continua com muitos de seus direitos

assegurados por leis, no entanto, prevalece o descaso público, entre outras, podemos

destacar a falta de financiamento, condições de trabalho, formação continuada dos

professores de Educação Infantil. Permanece o desafio de que a identidade do

profissional, em movimento permanente, se constitua em espaços em defesa da criança

de 0 a 6 anos.

A análise dos documentos, entre eles os Projetos Políticos Pedagógicos, as

entrevistas, as anotações feitas na pesquisa sobre as instituições dos municípios de

Anápolis, Goiânia, Senador Canedo e Trindade, possibilitaram perceber que os

envolvidos no cotidiano das crianças percebem a importância da ação coletiva e

explicitam que as ações foram planejadas coletivamente.

Entre os elementos evidenciados nas entrevistas realizadas foi muito

recorrente a ideia de um passado em que as instituições contavam com professoras

amáveis em que prevaleciam os cuidados com a criança e ao falarem sobre os projetos

atuais evidenciam mudanças expressivas sobre a forma de olhar a criança, em que o

cuidar e educar estão articulados. Observamos divergências entre as respostas nas

entrevistas e na análise das propostas Pedagógicos e /ou Projetos Políticos Pedagógicos.

Entre elas, destacamos a compreensão teórica expressada na oralidade e nos PPP e a

implantação de sistemas de apostilamentos na Educação Infantil, sendo que as formas

de utilização desses materiais é que se efetivam como uma contradição.

Os projetos políticos pedagógicos/ propostas pedagógicas demarcam a

necessidade de maior compreensão das defesas metodológicas e teóricas. Existem

afirmativas que diferem do diálogo estabelecido com autores em perspectivas que se

distanciam da dialética. A adoção de atividades e materiais ―prontos‖ sinaliza a

presença da privatização, da desvalorização do profissional que atua com a Educação

Infantil e, neste sentido, esta pesquisa colabora como reflexão e possibilidades novas. O

Page 130: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

129

desafio de novos estudos para que outros municípios revisitem seus arquivos e

conservem suas histórias representa posições com significados para a Educação Infantil

goiana.

No percurso realizado para pesquisar a Educação Infantil em Goiás

existiram encontros com pessoas que participaram da história da infância goiana e que

apresentaram a possibilidade de pensar novas formas de ver a criança como cidadã de

direitos e existiram momentos de impasses, em que as ações governamentais não

permitiram perceber políticas públicas para a criança de 0 a 6 anos e, portanto, há a

necessidade de mais pesquisas que identifiquem, se existem ou não, políticas de

cooperação entre as esferas federal, estadual e municipal, como estabelece a

LDBEN/1996.

A investigação abre possibilidades para que os municípios goianos revisitem

seus arquivos e assim, construam suas histórias e percebam os avanços e lutas travadas

na trajetória da constituição das instituições. Ao mesmo tempo, mostra a urgência de

que sejam ampliados os estudos acerca de um período fértil para a criança em que há

silêncios, entre eles, as implicações do processo de municipalização da Educação

Infantil e as formas de colaboração entre União, Estado e Município com a garantia de

direitos da criança de 0 até 6 anos, marcados por tensões e divergências.

Uma questão que possibilitou perceber a falta de definições de políticas para

a Educação Infantil é o silêncio com as histórias das instituições. Há dados que se

diferem, tornando nebulosa a análise dos percursos na história da Educação Infantil.

Permanecem, a exemplo, nas respostas obtidas nas entrevistas que muitos municípios e

instituições goianas descartam seus arquivos documentais, inviabilizando a

confirmação ou negação de aspectos históricos. Há também uma desconfiança ―sutil‖

com as memórias, em que há sempre um acervo que foi descartado, o desvio pelas

transferências de instituições de redes.

A pesquisa evidencia a efetiva contribuição do Fórum Goiano de Educação

Infantil no contexto na defesa da criança de 0 a 6 anos no país e em Goiás e na relação

com a história da Educação Infantil. Um movimento que abriu a possibilidade de

pesquisarmos a Educação Infantil do estado de Goiás e de forma abrangente, conhecer a

realidade dos municípios de Anápolis, Goiânia, Senador Canedo e Trindade.

A identidade do profissional que atuou e atua com a Educação Infantil e a

formação desses profissionais foram analisados, neste trabalho, considerando as

referências citadas nas entrevistas, os documentos mais utilizados nas formações e as

Page 131: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

130

indicações destacadas nos projetos políticos pedagógicos. As várias vertentes

observadas remetem a compreensão de que em alguns aspectos ainda persiste a ideia de

que a identidade é determinada e não está em movimento, existem ideias que postulam

uma nova compreensão de identidade como movimento e, portanto, existem

multideterminantes que envolvem a construção da identidade.

Observamos na pesquisa, por meio dos documentos e entrevistas, que a

formação continuada de profissionais que atuavam com a Educação Infantil, nos anos

finais de 1990, era realizada de forma eventual, com ampla utilização do RCNEI,

sinalizando que não existia uma política de formação continuada. Os estudos confirmam

que o RCNEI (BRASIL, 1998) e as DCNEI (BRASIL, 1999) representaram uma

referência muito presente na formação e na prática dos profissionais da Educação

Infantil e ainda hoje é muito recorrente na elaboração de suas propostas pedagógicas.

Em nosso entendimento, a contribuição desta pesquisa passa pelo

movimento que ela provocou nos municípios de perceberem a necessidade de

revisitarem seus arquivos na busca de conhecer o percurso das instituições que atuam

com crianças de 0 até 6 anos. A ausência de arquivos revela um silenciamento da

história, que nos leva a pensar na descontinuidade administrativa e evidencia a

necessidade da preservação da história da Educação Infantil. A história velada dificulta

a construção e compreensão da criança/infância no contexto da educação infantil.

Observamos, entendimentos que sinalizam as instituições do passado como

essencialmente voltadas para ―assistência‖ e atualmente, com uma atuação que integra

―cuidar e educar‖. Entendemos que nessas compreensões, o movimento histórico na

perspectiva dialética se perde, uma vez que pensam a historicidade como o passo que

explica os resultados do presente e não da história em sua contradição como

representativa da realidade.

Ao retomar a história da criança de 0 até 6 anos nas décadas anteriores aos

dias atuais intensifica-se nossa convicção de que as ações acontecem pelas pessoas

envolvidas e interessadas em combater descasos públicos, mesmo que impliquem em

censuras individuais e coletivas.

A pesquisa se contrapõe com as políticas neoliberais que passam a ideia da

lógica capital de que os avanços são resultados das esferas governamentais do

momento, desconsiderando a participação popular. Na defesa dos grupos e das minorias

socialmente excluídas, nota-se o envolvimento de pessoas ou grupos que,

historicamente, são denominados de movimentos sociais ou movimentos populares.

Page 132: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

131

A Constituição Federal de 1988 e das Diretrizes da Declaração Universal

dos Direitos das Crianças, além das DCNEI/2009 representam um referencial para ações

efetivas que defendam a criança brasileira, no entanto, os desafios permanecem uma vez

que durante nossa pesquisa foi possível identificar que faltam Instituições que atendam

os filhos da classe trabalhadora, sempre marcados pela omissão do setor público,

socialmente desfavorecidos com condições econômicas, sociais, culturais e políticas,

que comprometem o direito de cidadania.

Permanece a necessidade de mais conquistas para a criança, o que requer

mais lutas, novas estratégias, em que o processo histórico seja valorizado, como uma

das possibilidades de encontrar alternativas significativas para o direito das crianças

serem assumidas e tratadas como cidadãs. Todas essas questões devem ser pensadas no

âmbito de uma sociedade democrática.

Page 133: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

132

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Ana Rogéria de. O processo de constituição de conhecimentos pela criança

através da linguagem. . 2004. 103 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de

Educação, Universidade Federal de Goiás,

ALMEIDA, Renato Barros. Concepções de Infância e Criança em Goiânia sob o olhar da

Assistência Social. 2010. 141 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de

Educação, Universidade Federal de Goiás, 2010. Disponível em: <https://portais.ufg.br/up/6/o/

Dissert-RenatoBarros.pdf>. Acesso em: 08 set. 2015.

ALMEIDA, Shirlene Vieira de: LARA, Ângela Mara de Barros. A Educação Infantil na

Década de 1990: Algumas Reflexões em Tempos de Ajustes Neoliberais. Revista

HISTEDBR On-line, Campinas,n.17, p. 106-117, mar. 2005. Disponível em:

< http://www. histedbr.fe.unicamp.br/ revista/revis/revis17/art10_17.pdf>. Acesso em: 04

ago. 2014.

ALVES, Nancy Nonato de Lima. Elementos mediadores e significativos da docência em

Educação Infantil da rede municipal de ensino de Goiânia. 2002. 200 f. Dissertação

(Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Goiás,

Goiânia, 2002. Disponível em: <http://ppge.fe.ufg.br;uploads/6/ original_Dissert-Nancy

Nonato de Lima Alves. pdf>. Acesso em: 01 ago. 2014.

ALVES; Gilberto Luiz. O trabalho didático na escola moderna: formas históricas.

Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

ANÁPOLIS. Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de Educação. Centro

Municipal de Educação Infantil Professora Rettie Tipple Batista, 2014/2015.

ANÁPOLIS. Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de Educação. Centro

Municipal de Educação Infantil José Epaminondas Roriz, 2015.

ANÁPOLIS. Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de Educação. Centro

Municipal de Educação Infantil Dona Iris Rezende Machado, 2016.

AQUINO, L. M.L. de.; VASCONCELLOS V. M. R. de. Orientação Curricular para a

Educação Infantil: Referencial Curricular Nacional e Diretrizes Curriculares Nacionais.

In:VASCONCELLOS, V.M.R. de (org.). Educação da infância: história e política. Rio de

Janeiro: DP&A, 2005.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO.

Parecer sobre o documento Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.

Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 7, p. 89-96, 1998.

BARBOSA, Ivone G. Formação de professores em diferentes contextos: historicidade,

desafios, perspectivas e experiências formativas na Educação Infantil. In: Poiésis

Pedagógica. 11, n. 1, p. 107-126, jan.jun. 2013.

Disponível em: <https:// revistas.ufg.br/index.php.article/view/27001/15418/>. Acesso em

20 jan. 2014.

BARBOSA, Ivone Garcia. A creche: história e pressupostos de sua organização. Goiânia,

1999a. (impresso).

Page 134: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

133

BARBOSA, Ivone Garcia. A educação infantil: perspectivas históricas, lutas e

necessidades. Goiânia: FE/UFG, 1999b.

BARBOSA, Ivone Garcia. ALVES, Nancy Nonato de Lima. Gestão Democrática na

Educação Infantil e Participação da Família: Possibilidades e Limites. CFE/UFG 2009.

XXIV Simpósio Brasileiro de Política e Administração da Educação, 148, 2009, Vitória,

Espírito Santo. Universidade Federal do Espírito Santo, 2009. Disponível em:

<http: //www.anpae.org.br/congressos_antigos/simposio2009/138.pdf>. Acesso em: 11 ago.

2014.

BARBOSA, Ivone Garcia. Das Políticas contraditórias de flexibilização e de centralização:

reflexões sobre a história e as políticas da Educação Infantil em Goiás. Inter-Ação –

Revista da Faculdade de Educação, Goiânia, v. 33, n. 2, p. 379-394, jul./dez. 2008.

BARBOSA, Ivone Garcia. et al. Projeto políticas públicas e educação da infância em

Goiás: história, concepções, projetos e práticas. Goiânia: UFG, 2003. 39 p.

BARBOSA, Ivone Garcia. O Método dialético na pesquisa em educação da infância:

desafios e possibilidades para a Psicologia e a Educação. In: Monteiro, Filomena M.de A.;

MULLER, Maria Lúcia R. (Orgs.). Educação como espaço da cultura. v.II.Cuiabá, MT:

EdUFMT, 2006. p. 227-228.

BARBOSA, Ivone Garcia. O ProInfantil e a formação do professor. Revista Retratos da

Escola, Brasília, v. 5, n. 9, p. 385-399, jul./dez. 2011.

Disponível em: <http://esforce.org.br/index.php/semestral/article/viewFile/20/181>. Acesso

em: 07 ago. 2015.

BARBOSA, Ivone Garcia. Políticas para a Educação Infantil em Goiás: Historicidade e

Implicações para a formação em Pedagogia. XVIII Simpósio de Estudos e Pesquisas da

Faculdade de Educação - 2009. (Simpósio).

BARBOSA, Ivone Garcia. Pré-escola e Formação de conceitos: uma versão sócio-

histórico-dialética. 169 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação,

Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.

BARBOSA, Ivone Garcia; NOGUEIRA, Monique Andries. A Lei de Diretrizes e Bases do

Estado de Goiás: Avanços e Limites do Debate em Torno da Educação Infantil. In: A

LDBEN do Estado de Goiás Lei nº 26/98: análises e perspectivas. Goiânia, Editora

Alternativa, 2001.

BRASIL. Lei n.º 9.394/1996, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases

da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 1996b.

BRASIL. Lei. nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre Estatuto da Criança e do

Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 16, jul.1990.

Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 13 nov. 2011.

BRASIL. Ministério da Educação. Censo da Educação Infantil. 2001. MEC/INEP.

Disponível em: <Inep.gov.br/imprensa/notícias/censo/escolar/new01htm>. Acesso em: 10

mar. 2015.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução CEB nº.1,

de 7 de abril de 1999. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.

Diário Oficial da União, Brasília, DF: CNE/CEB, 13 abr. 1999.

Page 135: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

134

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Propostas

pedagógicas e currículo em Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF/DPE/COEDI, 1996a.

BRASIL. Ministério de Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Por uma política

de formação do profissional de Educação Infantil. Brasília: MEC / SEF / DPEF /

COEDI, 1994a.

BRASIL. Ministério de Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Política Nacional

de Educação Infantil. Brasília, DF: MEC/SEF/DPE/COEDI, 1994b.

BRASIL. Ministério de Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Critérios para

um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças. Brasília: MEC / SEF / DPEF / COEDI, 1995.

BRASIL. O Referencial Curricular nacional para a Educação Infantil no contexto das

reformas. Educação & Sociedade, vol. 23, n.º 80, setembro/2002, p. 326-345. Disponível

em: <http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 31 mar. 2011.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Introdução. Ensino Fundamental.

Brasília: MC/SEF, 1998. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/index.

BRASIL.Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Senado.

Brasília, DF: 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_

03/constituicao/constitui C3 A7ao.htm>. Acesso em: 20 out. 2011.

BUSSMANN, Antonia C.; ABBUD, Maria Luiza M. Trabalho docente. In: BRZEZINSKI,

I. (org.) Profissão professor: identidade e profissionalização docente. Brasília: Plano,

2002. [p.133-144].

CAMPOS, Maria Malta. Educar crianças pequenas em busca de um novo perfil de

professor. Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 2, n. 2-3, p. 121-131, jan./dez. 2008.

Disponível em: <http//www.esforce.org.br>. Acesso em: 12 mar. 2015.

CAMPOS, Maria Malta; ROSEMBERG, Fúlvia; FERREIRA, Isabel M. Creches e pré-

escolas no Brasil. 3. Ed. São Paulo: Cortez; Fundação Carlos Chagas, 2001.

CARDOSO, Maurício Estevam. ―Identidade(s) docente(s): aproximações teóricas‖. In:

OLIVEIRA, D. O.; PINI, M.E.; FELDFEBER, M. (orgs.). Políticas educacionais e

trabalho docente – perspectiva comparada. Belo Horizonte, MG: Fino Traço, 2011.

CARVALHO, Maria Vilani Cosme de. O Sintagma Identidade – Metamorfose –

Emancipação: uma leitura da concepção psicossocial de identidade proposta por Ciampa.

2007.

CERISARA, Ana Beatriz. Educar e cuidar: por onde anda a educação infantil? Perspectiva,

Florianópolis, v. 17, n. especial, p. 11-24, jul./dez. 1999.

CERISARA, Ana Beatriz. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil no

Contexto das Reformas. Educação & Sociedade. Campinas, vol. 23, n. 80, setembro/2002,

p. 326-345 Disponível em:<http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 09 mar. 2015.

CIAMPA, Antonio da Costa. ―Identidade‖. In: LANE, S. (org.). Psicologia social - o

homem em movimento. São Paulo, SP: Brasiliense, 2001.

CORREIA, João Alberto, MATOS, Manuel. Do poder à autoridade dos professores: o

impacto da globalização na desconstrução da profissionalidade docente. In: VEIGA, Ilma,

Page 136: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

135

CUNHA, Maria Isabel da. (Org). Desmistificando a profissionalização do magistério.

São Paulo. Papirus, 1999.

CRAIDY, Carmem Maria. A educação da criança de 0 a 6 anos: o embate assistência e

educação na conjuntura nacional e internacional. In: MACHADO, Maria Lucia A. (Org.).

Encontros e desencontros em educação infantil. São Paulo: Cortez, 2002.

CRUZ, José Adelson da. Ações Coletivas, Cidadania e Políticas Públicas. 2009. 4º

Seminário Nacional Estado e Políticas Sociais – UNIOESTE – Campus Cascavel.

Disponível em: <http://cac-estado_lutas_sociais_e_politicas_publicas/Trabcomplet

o_acoes_coletiva_cidadania_politicas.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2014.

CRUZ, José Adelson da. Movimentos sociais e práticas educativas.2004. Revistas UFG.

Goiás. Declaração Universal dos Direitos da Criança. 1959.

Disponível em: <http://www.dhnet.org.br /direitos/sip/onu/c_a/lex41. Acesso em: 20 ago.

2014.

CURY, Carlos Jamil R. Educação e Contradição: elementos metodológicos para uma

teoria crítica do fenômeno educativo. São Paulo: Cortez: autores Associados, 1986.

CZEPAK, Isabel. Creches: falta monitores e instalações precárias ainda fazem parte da

rotina das unidades. Quase tudo como antes. Jornal O Popular, Goiânia, p.6, 23 abr. 2001.

DAVID, Nivaldo A. N. A Formação de professores na Universidade: reflexões acerca da

cultura, juventude e trabalho docente. 2012. 308 f. Tese (Doutorado em Educação).

Faculdade de Educação, Universidade Federal de Goiás/UFG, Goiânia, 2012.

Disponível em: <https://ppge.fe.ufg.br/up/6/o/Tese_Nivaldo_A_Nogueira_David. pdf>.

Acesso em: 16 set. 2015.

DIDONET, Vital. A LDBEN e a Política de Educação Infantil. Educação Infantil em

tempos de LDBEN. / Maria Lucia de A. Machado (org.). São Paulo: FCC/DPE, 2000.

DUBAR, C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo:

Martins Fontes, 2005.

FARIA, Ana Lúcia G. Infância, educação e classe operária. In: _____. Pré-escolar e

cultura. Campinas, SP: Cortez, 1999. p. 55-100.

FARIA, Ana Lúcia. Goulart. de; DEMARTINE, Z. B. F.; PRADO, P. D. (Orgs.) Por uma

cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças. Campinas, SP: Autores

Associados, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 35 ed.

São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).

FRIGOTTO, Gaudêncio. O enfoque da dialética materialista histórica na pesquisa

educacional. São Paulo: Cortez, 1989.

GATTI, Bernardete A. Valorização da docência e avaliação do trabalho docente: o papel da

avaliação participativa em um contexto institucional. In: GATTI, Bernardete A. (Org.). O

trabalho docente: avaliação, valorização, controvérsias. Campinas, SP: Autores

Associados; São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 2013. p.154-176.

GHIRALDELLI JÚNIOR, Paulo. Pedagogia e infância em tempos Neoliberais. In: SILVA

JUNIOR, Celestino A. da; GHIRALDELLI JÚNIOR, Paulo; MARRACH. Sonia A. (Org.).

Infância, Educação e Neoliberalismo. São Paulo: Cortez, 1996. _ (Coleção questões da

nossa época; v.61).

Page 137: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

136

GOIÂNIA. Política de Educação Infantil. Secretaria Municipal de Educação.

Departamento de Ensino e Divisão de Educação Infantil. Jan.2000.

GOIÂNIA. Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de Educação. Centro

Municipal de Educação Infantil Alto da Glória, 2015.

GOIÂNIA. Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de Educação Infantil.

Centro Municipal de Educação Infantil Criança Cidadã, 2015.

GOIÂNIA. Proposta de Avaliação para Educação Infantil. Secretaria Municipal de

Educação. Departamento de Ensino. 1999.

GOIÂNIA. Proposta Político Pedagógica. Secretaria Municipal de Educação Infantil. Oito

de Março, 2015.

GOIÁS. Secretaria de Estado da Educação de Goiás. Educação em dados – Censo Escolar

1999 – 2000. Goiânia, 2001.

GOIÁS. Secretaria de Estado da Educação de Goiás. Educação em dados – Censo Escolar

1999 – 2002. Goiânia, 2002.

GOIÁS. Secretaria de Estado da Educação de Goiás. Educação em dados – Censo Escolar

1999 – 2008. Goiânia, 2009.

HADDAD, Lenira. A Trajetória da Educação Infantil em Quatro Ciclos. In: XAVIER,

Maria Elizabete S. P. (Org.). Questões de Educação Escolar História, Políticas e

Práticas. Campinas, SP: Editora Alínea, 2007.

JUNIOR, Décio Gatti. A História das Instituições Educacionais: Inovações Paradigmas e

temáticas. (Coleção Memória da Educação) Novos temas em história da educação

brasileira: instituições escolares e educação na imprensa. Campinas, SP: Autores

associados; Uberlândia, MG: EDUFU, 2002. ARAUJO. José Carlos Souza (org.).

KRAMER, Sônia. A política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. 4. Ed. São

Paulo: Cortez, 1992.

KUHLMANN JR. JÚNIOR, Moysés. Histórias da educação infantil brasileira. Revista

Brasileira de Educação. Fundação Carlos Chagas. São Paulo, 2000.

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n14/n14a02>. Acesso em: 08 set. 2015.

KUHLMANN JR. JUNIOR, Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem

histórica. 4ª ed. Porto Alegre: Mediação, 1998: 4ª edição - 2007.

LAGES, Ilma Lemos Pinheiro. A profissão docente e a construção da identidade na

educação infantil: problemas desse e de outros tempos. Anais do V Congresso de Pesquisa

e Ensino em História da Educação, Minas Gerais, Montes Claros, 2009.

Disponível em:<http://www.cch.ufv.br/copehe/ trabalhos/ind/ Ilma.pdf. Acesso em: 04

agos. 2014, 9:41.

LUDKE, Menga Alves; ANDRÉ, Marli E. D. A.. Pesquisa em educação: abordagens

MARQUEZ, Christine Garrido. O Banco Mundial e a Educação Infantil no Brasil. 2006.

215f. Dissertação (Mestrado em educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal

de Goiás, Goiânia, 2006.

MARX, Karl, ENGELS, Friedrich. O manifesto Comunista. Tradução: Maria Lucia

Como. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.67 p.

Page 138: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

137

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Martins Fontes,

2003.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. The Communist Manifesto (em alemão/inglês).

Londres: Verso Books, 1848.

MENEZES, Maria Cristina. (org.) Educação, memória, história, possibilidades, leituras.

Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004.

MONTEIRO, Aureotilde e ALMEIDA, Orlália Alves. O projeto pedagógico nas

instituições de educação infantil. Cuiabá, MT: EdUFMT, 2008.

NATH-BRAGA. Margarete & HECH. Diana, Ruth Rocha: Um Viés Crítico de Escritura. I

Seminário Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010

Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE, Cascavel-PR.

Disponível em: <http://cacphp.unioeste.br/eventos/iisnel/CD_IISnell/pages/simposios/2021/

RUTHROCHAUMVIECRITICODEESCRITURA.pdf>. Acesso em: 18 set. 2015.

OLIVEIRA, Cleiton de. Municipalização do Ensino brasileiro. In: OLIVEIRA, Cleiton de.

et al. Municipalização do Ensino no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

OLIVEIRA, João Ferreira. Relatório Estadual da pesquisa Trabalho Docente na

Educação Básica no Brasil. Coordenação Estadual de Pesquisa: NEDESC/UFG, Goiânia,

2010.

OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. 6.

ed. São Paulo: Cortez, 2010.

PALACIN, Luiz. MORAIS, Maria Augusta S. História de Goiás. 3. ed, Goiânia: Cultura

Goiana, 1981.

PALHARES, M. S.; MARTINEZ, C. M. S. A educação infantil: uma questão para o debate.

In: FARIA, A. L. G.; _______. (Orgs.). Educação infantil pós-LDBEN: rumos e desafios.

Campinas: Autores Associados-FE/Unicamp; São Carlos: Ed. UFSCAR; Florianópolis: Ed.

UFSC, 1999.

PEREIRA, Alexandre Macedo; MINASI, Luis Fernando. Um panorama histórico da

política de Formação de Professores no Brasil. Revista de Ciências Humanas,

FW,v.15.n.24.p.7-19.jul.2014.

PEREZ, José Roberto Rus.; PASSONE, Eric Ferdinando. ―Políticas sociais de atendimento

às crianças e aos adolescentes no Brasil‖. Caderno de Pesquisa [online]. 2010, vol.40,

n.140, pp. 649-673.

PINTO, José Marcelino de Rezende. Um fundinho chamado ―fundão‖. In: DOURADO,

Luis Fernandes (Org.). Financiamento da educação básica. Campinas: Autores

Associados; Goiânia: Ed. da UFG, 1999.

PRIORE, Mary Del. História das crianças no Brasil. 6. ed., reimpressão. São Paulo:

Contexto, 2008.

RAUPP. Marilene Dandolini. Concepções de Formação das Educadoras de Infância em

Portugal e das Professoras de Educação Infantil no Brasil: O Discurso dos Intelectuais

(1995–2006). 2008. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal de Santa

Catarina, Florianópolis. 2008. Disponível em: < https://repositorio.ufsc.br/bitst

ream/handle/123456789/92071/251881.pdfsequence=1>. Acesso em: 12 mar. 2015.

Page 139: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

138

RODRIGUEZ, Vicente. Financiamento da Educação e Políticas Públicas: o FUNDEF e a

política de descentralização. Cadernos Cedes, Campinas, v. 21 n. 55, nov. 2001.

ROSEMBERG, Fúlvia. Do embate para o debate: educação e assistência no campo da

educação infantil. In MACHADO, Maria Lúcia de A. (Org.) Encontros e Desencontros

em Educação Infantil. São Paulo: Cortez, 2002.

SANTOS. Willian Batista dos; LIMONTA. Sandra Valéria. Perspectivas do Banco

Mundial para a formação de professores no Brasil: análise crítica. Disponível em:

https://trabeduc.fe.ufg.br/up/660/o/Perspectivas_do_Banco_Mundial_para_a_formaC3A7C

3A3o_de_professores_no_Brasil_Willian_Santos_e_Sandra_Limonta.pdf>. Acesso em: 17

out. 2015.

SENADOR CANEDO. Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de Educação.

Centro Municipal de Educação Infantil Dom Fernando Gomes. 2015.

SENADOR CANEDO. Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de Educação.

Centro Municipal de Educação Infantil Sinhazinha. 2015.

SENADOR CANEDO. Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de Educação.

Centro Municipal de Educação Thays de Souza. 2015.

SHIROMA, Eneida O.; EVANGELISTA, Olinda. ―Um fantasma ronda o professor: a

mística da competência‖. In: MORAES, M.C.M. de (org.). Iluminismo às avessas:

produção de conhecimento e políticas de formação docente. Rio de Janeiro, RJ: DP&A,

2003.

SILVA, Isabel de Oliveira e. Educação infantil no coração da cidade. São Paulo; Cortez,

2008.

SILVA, Kátia A. C. P. C. da; LIMONTA, Sandra V. A pesquisa na formação e no trabalho

dos professores da educação básica. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 12, n. 37, p.

743-762, set./dez. 2012. Disponível em: < file:///C:/Users/info/Desktop/dia logo-

72010(1).pdf>. Acesso em: 17 out. 2015.

SILVEIRA, Telma Aparecida Teles Martins et al. Educação Infantil no Município de

Anápolis: Primeiras Aproximações. Disponível em:

<http:///vedipe.blessdesign.com.br/pdf/gt13/cografica/TelmaAparecidaTelesMartinsSilveira

.pdf.>. Acesso em: 16 nov. 2015.

SILVEIRA, Telma Aparecida Teles Martins. Práticas pedagógicas na educação de

crianças de zero a três anos de idade: concepções acadêmicas e de profissionais da

educação. 2015. 304 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação,

Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015. Disponível em:

<https://repositorio.bc.ufg.br/tede/5619/5/TeseTelmaAparecidaTelesMartinsSilveira2015.p

df.>. Acesso em: 09 jun. 2016.

SOUZA, Rosiris Pereira de. Educação Infantil: Políticas Públicas e Práticas Educativas na

Pré-Escola de Escolas Municipais de Ensino Fundamental em Goiânia. 2012, 207 f.

Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2012.

Disponível em: < https://ppge.fe.ufg.br/up/6/o/Dissertac3A7C3A3O-Rosiris_Pereira_de_

Souza.pdf.>. Acesso em: 03 set. 2015.

SPOSITO, Marília Pontes. A ilusão fecunda: a luta por Educação nos Movimentos

Populares. 20.ed. São Paulo: Hucitec Edusp, 1993.

Page 140: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

139

SZYMANSKI, Heloisa et al. (Org.). Entrevista Reflexiva: Um Olhar Psicológico sobre a

Entrevista em Pesquisa. Brasília: Plano Editora, 2002.

TRINDADE. Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de Educação. Centro

Municipal de Educação Infantil Modelo. 2015.

TRINDADE. Proposta Política Pedagógica. Secretaria Municipal de Educação. Centro

Municipal de Educação Infantil Dona Maria da Conceição Pereira. 2015.

TRINDADE. Proposta Política Pedagógica. Secretaria Municipal de Educação. Centro

Municipal de Educação Infantil Maria Pedro de Jesus. 2014.

VALDEZ, Diane. História da Infância em Goiás: séculos XVIII e XIX. Histórias de

Goiás 2. Goiânia: Agepel/UEG, 2002. 55p. (Coleção Histórias de Goiás).

Page 141: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

140

APÊNDICES

Page 142: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

141

APÊNDICE A: Questionário utilizado para obtenção de informações.

QUESTIONÁRIO

Caro(a) Professor(a),

Solicitamos a Vossa Senhoria o preenchimento deste questionário que tem com o

objetivo buscar informações para a pesquisa da mestranda Maria Aparecida Costa, que se

propõe a pesquisar o histórico das Instituições de educação da infância da Secretaria de Estado

da Educação de Goiás nas décadas de 1980 e 1990. Pretende-se analisar e compreender como se

constituíram, onde se encontram hoje e quais projetos educativos são desenvolvidos pelas

referidas instituições. A pesquisa está em andamento e está vinculada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Faculdade de Educação (FE/UFG) e integra o projeto ―Políticas

Públicas e Educação da Infância em Goiás: história, concepção, projetos e práticas‖ do Núcleo

de Estudos e Pesquisas da Infância e sua Educação em Diferentes Contextos.

1. Seu município tinha creches/pré-escola que estavam sob a responsabilidade estadual nas

décadas de 1980 e 1990?

2. Quais eram essas instituições? Tem alguma em funcionamento?

3. Há documentos em seu município sobre as instituições nas décadas de 1980 e 1990?

Quais?

4. Onde estão esses documentos? É possível ter acesso a eles?

5. Atualmente, essas instituições estão sob a esfera municipal? Quais os projetos

educativos que eles se propõem?

6. Qual o endereço dessas instituições? Como podemos entrar em contato com essas

instituições?

7. Quais são as pessoas de seu município que atuavam em instituições estaduais de

educação das crianças nessas décadas? É possível informar os contatos dessas pessoas?

Solicitamos ainda que disponibilize o acesso a documentos desse período relacionados

às instituições de infância que eram da esfera estadual e hoje estão sob a responsabilidade do

município.

As respostas ao questionário devem ser encaminhadas à orientanda Maria Aparecida

Costa, na próxima reunião do Fórum Goiano de Educação infantil ou pelo e-mail

[email protected]

Disponibilizamos os seguintes contatos para quaisquer dúvidas: e-mail

[email protected], celular 8207-6161, whatsApp 9863-5563

Agradecemos a valiosa parceria e contribuição efetiva na pesquisa que busca remontar

esse momento histórico das instituições de educação da infância no estado de Goiás. Profa. Dra. Ivone Garcia Barbosa

Page 143: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

142

APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE.

Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário(a), da investigação

―Instituições de Educação da Infância da secretaria de Estado da Educação de Goiás nas décadas

de 1980 e 1990‖ que se constitui subprojeto da pesquisa ―Políticas públicas e educação da

infância em Goiás: história, concepções, projetos e práticas‖, sob a coordenação geral da

professora Ivone Garcia Barbosa. Meu nome é Maria Aparecida Costa, sou a pesquisadora

responsável e minha área de atuação é Educação.

Após receber os esclarecimentos e as informações a seguir, no caso de aceitar fazer

parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a

outra é do(a) pesquisador(a) responsável. Em caso de recusa, você não será penalizado(a) de

forma alguma.

Caso aceite participar, as dúvidas sobre a pesquisa poderão ser esclarecidas pelo(s)

pesquisador(es) responsável(is), via e-mail ([email protected]), por telefone (62)

3209-6206, e inclusive, sob forma de ligação a cobrar, através do(s) seguinte(s) contato(s)

telefônico(s): Maria Aparecida Costa (62) 9635-5563/(62) 9375-5259/; Ivone Garcia Barbosa

(orientadora) (62) 9253-9905; Nancy Nonato de L. Alves (62) 8205-0100; Marcos Antônio

Soares (62) 9157-9478.

Ao persistirem as dúvidas sobre os seus direitos como participante desta pesquisa, você

também poderá fazer contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de

Goiás, pelo telefone (62)3521-1215.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA

PROJETO: ―Políticas públicas e educação da infância em Goiás: história, concepções, projetos

e práticas‖

SUBPROJETO: ―Instituições de Educação da Infância da secretaria de Estado da Educação de

Goiás nas décadas de 1980 e 1990‖

PESQUISADORA RESPONSÁVEL: Maria Aparecida Costa

ORIENTADORA: Professora Drª Ivone Garcia Barbosa

A presente investigação intitulada ―Instituições de Educação da Infância da secretaria de

Estado da Educação de Goiás nas décadas de 1980 e 1990‖ é um subprojeto da pesquisa

―Políticas públicas e educação da infância em Goiás: história, concepções, projetos e práticas‖, a

qual é realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas da Infância e sua Educação em Diferentes

Contextos (NEPIEC) da Faculdade de Educação/UFG, com a finalidade de analisar e

compreender a educação da infância no Estado de Goiás, abrangendo sua história, a constituição

de políticas públicas, as concepções que a permeiam, bem como os projetos, processos e

práticas educativas em diferentes contextos.

O subprojeto que está sendo desenvolvido pela mestranda Maria Aparecida Costa,

ligado à linha de pesquisa Formação, Profissionalização Docente e Trabalho Educativo, do

Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal

de Goiás, tem como objetivo o levantamento de informações e imagens sobre as instituições da

infância da Secretaria de Educação de Goiás nas décadas de 1980 e 1990, na busca de analisar e

compreender como se constituíram, onde se encontram hoje e quais projetos educativos elas

desenvolvem. Para isso, a pesquisa será desenvolvida por meio de instrumentos de pesquisa tais

como: questionários, filmagens, registros fotográficos e entrevistas, as quais poderão ser

gravadas.

Page 144: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

143 A sua participação nessa pesquisa será de grande importância, pois fornecerá

informações fundamentais para a compreensão do histórico da Educação Infantil em Goiás. Os

resultados do estudo poderão contribuir com a construção de políticas públicas para a educação

da criança com qualidade social. Isso significa ocupar um espaço político e pedagógico

relevante na história educacional goiana.

Nessa perspectiva, as informações obtidas no presente estudo serão armazenadas no

Banco de Dados do NEPIEC, para investigações futuras, considerando-se que a importância e a

complexidade das informações demandam um processo analítico minucioso que não se conclui

em um único relatório, dissertação de mestrado ou tese de doutorado. Compreendendo que a

realidade é concreta, como síntese de múltiplas determinações, o Projeto ―Políticas públicas e

educação da infância em Goiás: história, concepções, projetos e práticas‖, se desdobra em

subprojetos interligados, a fim de aprofundar a compreensão crítica acerca das distintas

dimensões da educação da infância, portanto, novas análises poderão ser realizadas, revisitando

informações obtidas em outros estudos.

Considera-se que sua participação não lhe ocasionará riscos éticos ou qualquer prejuízo,

embora possa sentir-se em situação de constrangimento emocional que lhe acarrete algum grau

de ansiedade, podendo ocorrer dificuldade ou inibição para prestar informações solicitadas.

Nesse caso, você contará com o acompanhamento, o apoio e a orientação da pesquisadora

responsável, bem como terá liberdade de não responder questões que porventura lhe causem

constrangimento.

Você tem direito de pleitear indenização em caso de danos decorrentes de sua

participação na pesquisa. Essa participação não lhe trará qualquer ônus financeiro, sendo que se

houver alguma despesa será feito o ressarcimento do valor utilizado por você para o

cumprimento da atividade em que se dispôs a participar.

Destaca-se que não haverá nenhum tipo de pagamento ou gratificação financeira por sua

participação. Você tem o direito de fazer ligações a cobrar para o telefone informado nesse

documento. As suas informações são confidenciais, serão mantidas em sigilo, assegurando-lhe

que, em nenhum momento da pesquisa, você será identificado(a).

Você tem ampla e total liberdade de se recusar a participar ou retirar seu consentimento,

em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu cuidado.

Profa.Dra. Ivone Garcia Barbosa

Coordenadora geral e Orientadora

Maria Aparecida Costa

Mestranda – pesquisadora responsável

Page 145: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

144

CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA

Eu, ____________________________________________________________,

RG/CPF_____________________________________, abaixo assinado, concordo em participar

da pesquisa ―Instituições de Educação da Infância da secretaria de Estado da Educação de Goiás

nas décadas de 1980 e 1990‖, vinculada como subprojeto da pesquisa ―Políticas públicas e

educação da infância em Goiás: história, concepções, projetos e práticas‖. Informo ter mais de

18 anos de idade e destaco que minha participação nesta pesquisa é de caráter voluntário. Fui

devidamente informado(a) e esclarecido(a) pela pesquisadora MARIA APARECIDA COSTA

sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios

decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a

qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade. Declaro, portanto, que concordo

com a minha participação no projeto de pesquisa acima descrito.

( ) Permito a utilização de informações e

imagens produzidas na pesquisa.

( ) Não permito a utilização de informações e

imagens produzidas na pesquisa.

( ) Autorizo o armazenamento das informações

no Banco de Dados

( ) Não autorizo o armazenamento das

informações no Banco de Dados

. ..............................................., ........... de ............................... de 2015.

___________________________________________________________________ Assinatura

por extenso do(a) participante

__________________________________________________________________ Assinatura

por extenso do(a) pesquisador(a) responsável

Assinatura datiloscópica (Em caso de pessoas que não assinam o nome próprio)

TESTEMUNHAS:

_________________________________________________

(nome, CPF ou RG)

_________________________________________________

(nome, CPF ou RG)

Page 146: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

145

APÊNDICE C: Entrevista realizada com profissionais que atuavam/atuam na

educação infantil.

Caro(a)professor(a),

Você está sendo convidado a participar de uma entrevista que tem por finalidade contribuir

coma pesquisa de mestrado cujo objetivo é reconstituir história das instituições de educação da

infância da secretaria de Estado da Educação de Goiás nas décadas de 1980 e 1990, na busca de

compreender como se constituíram, onde elas se encontram hoje e quais projetos educativos elas

desenvolvem.

A pesquisa está em andamento e está vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação

(FE/UFG) e vincula-se ao projeto ―Políticas públicas e educação da infância em Goiás: história,

concepções, projetos e práticas‖, coordenado pela Profa. Dra Ivone Garcia Barbosa, também

coordenadora do Núcleo de Estudos e da Infância e sua Educação em Diferentes Contextos

(NEPIEC).

Você pode se manifestar, caso queira, que seu nome, enquanto informante, seja mantido em

sigilo, sendo que tem inteira liberdade em responder ou não as questões que lhe serão propostas

pela entrevistadora. Todas as informações serão arquivadas no acervo de dados do NEPIEC e

parte das informações comporão os dados da dissertação de mestrado da entrevistadora, a qual

terá livre acesso após sua defesa pública.

Após a entrevista você será convidada a assinar um Termo de Consentimento Livre Esclarecido,

no qual indicará sua concordância com a participação desta pesquisa. O TCLE será lido por

você e todos os cuidados éticos são assegurados pela pesquisadora e sua orientadora.

Todas as dúvidas que possam surgir devem ser partilhadas com:

Maria Aparecida Costa (mestranda do PPGE – FE/UFG)

Telefone de contato: WhatsApp (062) 9863-5563 Celular: (062) 8207-6161 (Tim) (062) 9375-

5259(claro) E-mail de contato: [email protected]

Mestranda: Maria Aparecida Costa

Orientadora: Professora Dra. Ivone Garcia Barbosa

Goiânia, ________ de 2015.

ROTEIRO DE ENTREVISTA

A – Dados de Identificação

Nome:____________________________________________________

Idade (anos): ______________________________________________

Estado civil: _______________________________________________

Local de trabalho:___________________________________________

Função atual: ______________________________________________

Nível e etapa em que atua: ___________________________________

Tempo de atuação profissional na educação:_____________________

B – Dados de formação:

Ensino Fundamental:

instituição/ões:_____________________________________________

ano de início:______________ ano de conclusão:_______________

Ensino médio:

Curso(s):_________________________________________________

Page 147: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

146 instituição/ões:_____________________________________________

ano de início:______________ ano de conclusão:_______________

Graduação:

Curso(s):_________________________________________________

instituição/ões:_____________________________________________

ano de início:______________ ano de conclusão:_______________

Pós-Graduação lato sensu (curso(s); instituição(ões); ano de início e ano de conclusão).

Curso(s):_________________________________________________

instituição/ões:_____________________________________________

ano de início:______________ ano de conclusão:_______________

Pós-Graduação stricto sensu (curso(s); instituição(ões); ano de início e ano de

conclusão).

Curso(s):_________________________________________________

instituição/ões:_____________________________________________

ano de início:______________ ano de conclusão:_______________

C – Dados sobre a atuação profissional:

1. Qual o cargo/função que exercia no Estado na década de 1980 e 1990? Compartilhe

porque e como foi que passou a exercer esse cargo/ função.

2. Qual a experiência vivenciada, nas décadas de 1980 e 1990, em relação à Educação

Infantil? Comente.

3. Como você iniciou o trabalho na educação Infantil? Compartilhe. Detalhe os processos

que viveu, o que naquela época era significativo, o que compreende daquele momento

hoje.

4. Você conhece a história da Educação Infantil no estado de Goiás? Que acontecimentos

você guarda dessa história e que achou significativo?

5. Acompanhou o processo de discussões nas décadas de 1980 e 1990 sobre a Educação

Infantil? De que forma?

6. Quais pessoas estavam envolvidas nessas discussões da Educação Infantil nas décadas

de 1980 e 1990? Como ocorriam as dinâmicas das discussões? Porque motivo eram

essas pessoas envolvidas?

7. Conhece documentos sobre a Educação Infantil, das décadas de 1980 e 1990? É

possível informar onde estão? Você possui algum deles ou alguma cópia em arquivo

particular?

8. Participava de movimentos sociais que defendiam a Educação Infantil? Qual ou quais?

9. Quais as instituições de infância que estavam sob a responsabilidade do poder público

estadual que conheceu? Onde estão hoje?

10. Você conhece aspectos históricos do período de transferência das instituições de

infância da esfera estadual para os municípios? Quais?

D – Outras informações:

1. Registre alguma informação que julgue importante e que remete às instituições de

educação da infância da secretaria de Estado da Educação de Goiás nas décadas de 1980

e 1990.

2. Você sabe identificar alguém que possa auxiliar-nos no levantamento de informações

sobre a história das instituições e da Educação infantil no Estado?

Page 148: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

147

APÊNDICE D: Legislações citadas e analisadas na pesquisa.

LEGISLAÇÕES

ANO

Manifestos dos Pioneiros 1932

Declaração Universal dos Direitos da Criança 1959

Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Nº 4024/61); 1961

Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971 1971

Emenda Calmon à Constituição Nacional 1972

Convenção Internacional dos Direitos da Infância 1979

Portaria nº 432/82 que contempla a autorização de funcionamento de duas classes Pré-escolares,

na Escola Sylvio de Mello de Morrinhos.

1982

Portaria nº 1.957/85 autorizou a Escola ―Dra, Gertrude Lutz‖ ao atendimento de uma classe de

Pré-escolar de Morrinhos

1985

Plano Nacional de Desenvolvimento 1986

Constituição Federal de 1988, 1988

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ; 1990

Lei Orgânica da Saúde - LOS (Lei Federal n. 8.080/1990); 1990

Adoção da Convenção Internacional dos Direitos das Crianças (Decreto Legislativo n. 28 de

1990); 1990

Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - Conanda (Lei Federal n.

8.242/1991 1991

Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS (Lei Federal n. 8.742/1993 1993

Portaria nº 5.232/93 e a Resolução nº 785/93 do Conselho Estadual de Educação, autorizando o

funcionamento de classes Pré-Escolares na Escola Rotary Clube de Morrinhos.

1993

Política Nacional de Educação Infantil 1994

Por uma política de Formação do Profissional de Educação Infantil 1994

Critérios para um atendimento em creches que respeitem os direitos fundamentais das crianças 1995

Criação do Ministério da Previdência e Assistência Social (Medida Provisória n. 813 de 1995) 1995

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDBEN); 1996

Propostas Pedagógicas e Currículo em Educação Infantil 1996

Parâmetros Curriculares Nacionais 1997

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de valorização do

Magistério (Fundef) 1998- instituído pela Emenda Constitucional n.º 14, de setembro de 1996 e

regulamentado pela Lei n.º 9.424, de 24 de dezembro do mesmo ano, e pelo Decreto nº 2.264,

de junho de 1997.

1997

Lei nº 1.968/97, que cria o Conselho Municipal de Educação de Jataí. 1997

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI); 1998

Parecer sobre o RCNEI, elaborado pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa –

ANPED (ASSOCIAÇÃO, 1998, p. 92); 1998

Lei Complementar nº 26, de 28 de dezembro de 1998 1998

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de valorização do

Magistério (Fundef) 1998

Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (DCNEI) 1999

Resolução CNE, CEB/99 1999

Resolução Nº 1, de 07 /04/1999 (Parecer CEB/ CNE 22/98), 1999

Censo Educacional do ano de 2000, em Anápolis. 2000

Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta._ano. Ministério Público, Estado e

Município de Goiânia. 2002

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos

Profissionais da Educação (Fundeb), por meio da Emenda Constitucional nº 53/2006 e

regulamentado pela Lei nº 11.494/2007 e pelo Decreto nº 6.253/2007

2007

Resolução nº 194 de 28 de outubro de 2007; 2007

Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil ( revisada em 2009) 2009

Page 149: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

148

APÊNDICE E: Documentos citados e analisados na pesquisa

DOCUMENTOS ANO FONTE

Orientação da Prática Educativa na Pré-Escola 1994 Arquivo pessoal de Benedita

Pereira Lemes

Demonstrativo do Atendimento de creches-Fumdec/1997. 1997 SME de Goiânia

Demonstrativo dos Servidores das 13 creches da FUMDEC

por função. 1997 SME de Goiânia

Ante-Projeto de Municipalização da Educação Infantil em

Goiânia (Estudo técnico Preliminar), elaborado em 1998 pela

equipe da Divisão de Educação Infantil da SME de Goiânia

1998 Arquivo pessoal da Professora

Ivone Garcia Barbosa

Folder do Encontro de Educação Infantil: Estado e Municípios

juntos em defesa da Educação Infantil 1999

Acervo particular de Ivone

Garcia Barbosa

Atendimento de Educação Infantil - Fonte Departamento de

Educação Infantil/SUEF/SEE. 1999

Arquivo Particular de Ivone

Garcia Barbosa

Gravação em áudio (fita cassete) com registros do Encontro de

Educação Infantil – Estado e Municípios realizado em 1999.

Arquivo da SUEF/ SEE.

1999

Secretaria de Estado da

Educação de Goiás –

Superintendência de Ensino

Fundamental

Lista de frequência de audiência pública 1999 Arquivo pessoal da Professora

Ivone Garcia Barbosa

Proposta de Avaliação para Educação Infantil ( Goiânia) 1999 Arquivo pessoal da Professora

Nancy Nonato de Lima Alves

Documento que contempla levantamento de ações

desenvolvidas pelo Departamento de Educação Infantil -1999

a 2001(Goiânia).

1999-

2001

Acervo particular de Ivone

Garcia Barbosa

Política de Educação Infantil ( Goiânia). 2000 Arquivo pessoal da Professora

Nancy Nonato de Lima Alves

Documento intitulado Era uma vez... 2000

Divisão de Educação Infantil –

Goiânia/ Arquivo pessoal da

Professora Nancy Nonato de

Lima Alves

Relação das 14 Creches próprias da SME de Goiânia 2000 Arquivo pessoal da Professora

Nancy Nonato de Lima Alves

Autorização para permanência da pré-escola na rede estadual

– 2001- Fonte: Quadro adaptado de documento elaborado pela

equipe do Departamento de Educação Infantil/SUEF/SEE.

2001 Arquivo Particular de Ivone

Garcia Barbosa

Jornal O Popular – matéria intitulada ―Um ano depois...‖ (23

de abril de 2001, p.6). 2001

Acervo particular de Ivone

Garcia Barbosa

Educação em Dados Goiás 1999-2000 (BRASIL, GOIÁS-

2001). 2001

Instrumentos de comunicação

da SEE.

Documento impresso, com dados do INEP, por meio da

Diretoria de Estatísticas da Educação Básica, no Censo

Educacional do ano de 2001..

2001 Arquivo pessoal da Professora

Nancy Nonato de Lima Alves

Educação em Dados 1999-2002 (BRASIL, GOIÁS-2002). 2002 Instrumentos de comunicação

da SEE.

Saberes sobre a Infância (Goiânia) 2004 SME de Goiânia

Educação em Dados 1999 a 2008 (BRASIL, GOIÁS-2009). 2009 Instrumentos de comunicação

da SEE.

Indicadores de Qualidade da Ação Educativa nos Centros

Municipais de Educação Infantil 2009 Ministério da Educação

Page 150: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

149

Fonte: Arquivo da pesquisadora/Nepiec (2014/2015)

DOCUMENTOS

ANO FONTE

Relatório Estadual da Pesquisa sobre Trabalho Docente na

Educação Básica no Brasil (2010) 2010

Núcleo de Estudos e

Documentação, Educação,

Sociedade e Cultura da

Faculdade de Educação–

Nedesc/UFG.

Infâncias e Crianças em Cena: por uma Política de Educação

Infantil para a Rede Municipal de Educação de Goiânia. 2013 SME de Goiânia

Orientações para elaboração da Proposta Político- pedagógica

das Instituições de Educação Infantil do Município de Goiânia 2016 SME de Goiânia

Sistema de Ensino ―Aprende Brasil‖ 2014

Proposta Político Pedagógica do

Centro Municipal de Educação

Infantil Maria Pedro de Jesus de

Trindade

Proposta Política Pedagógica. Secretaria Municipal de

Educação de Trindade. Centro Municipal de Educação Infantil

Maria Pedro de Jesus.

2014 Centro Municipal de Educação

Infantil Maria Pedro de Jesus

Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de

Educação de Anápolis. Centro Municipal de Educação

Professora Rettie Tipple Batista.

2014/

2015

Centro Municipal de Educação

Professora Rettie Tipple Batista

Demonstrativo de Municipalização 2015 SME de Goiânia

Levantamento de quantidade de Unidades Escolares do

Município de Anápolis 2015 SME de Anápolis

Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de

Educação de Anápolis. Centro Municipal de Educação Infantil

José Epaminondas Roriz.

2015

Centro Municipal de Educação

Infantil José Epaminondas

Roriz.

Proposta Político Pedagógica. Secretaria Municipal de

Educação de Goiânia. CMEI Infantil Oito de Março. 2015 CMEI Infantil Oito de Março

Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de

Educação de Goiânia. CMEI Infantil Criança Cidadã. 2015 CMEI Infantil Criança Cidadã

Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de

Educação e Goiânia. CMEI Infantil Alto da Glória. 2015 CMEI Infantil Alto da Glória

Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de

Educação de Senador Canedo. Centro Municipal de Educação

Infantil Dom Fernando Gomes.

2015 Centro Municipal de Educação

Infantil Dom Fernando Gomes

Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de

Educação Senador Canedo. Centro Municipal de Educação

Infantil Sinhazinha.

2015 Centro Municipal de Educação

Infantil Sinhazinha.

Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de

Educação Senador Canedo. Centro Municipal de Educação

Thays de Souza.

2015 Centro Municipal de Educação

Thays de Souza.

Proposta Política Pedagógica. Secretaria Municipal de

Educação de Trindade. Centro Municipal de Educação Infantil

Dona Maria da Conceição Pereira.

2015

Centro Municipal de Educação

Infantil Dona Maria da

Conceição Pereira.

Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de

Educação de Trindade. Centro Municipal de Educação Infantil

Modelo.

2015 Centro Municipal de Educação

Infantil Modelo.

Levantamento da Educação Infantil da SME de Anápolis. 2015 SME de Anápolis

Projeto Político Pedagógico. Secretaria Municipal de

Educação de Anápolis. Centro Municipal de Educação Infantil

Dona Iris Rezende Machado.

2016

Centro Municipal de Educação

Infantil Dona Iris Rezende

Machado

Coleção Eu Gosto Não

informa

do

Arquivo pessoal de Benedita

Pereira Lemes

Page 151: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

150

APÊNDICE F: Ofício solicitando autorização para realização de pesquisa.

Of.Nº ______/______ Goiânia, __ de ________ de 201__.

À Professora

___________________________

Secretária Municipal de Educação

Município/Estado

Assunto: Solicitação de autorização para realização de pesquisa

Senhora Secretária,

Pelo presente, requeremos a Vossa Senhoria autorização para Maria Aparecida

Costa, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação e membro do ―Núcleo de

Estudos e Pesquisas da Infância e sua Educação em Diferentes Contextos‖ (NEPIEC), realizar

pesquisa na Rede Municipal de Educação, tendo em vista a elaboração de sua Dissertação de

Mestrado em Educação, na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, sob a

minha orientação.

Na pesquisa, a mestranda propõe investigar as instituições de educação da infância

da Secretaria de Estado da Educação de Goiás nas décadas de 1980 e 1990, na busca de analisar

e compreender como se constituíram, onde se encontram hoje e quais projetos educativos elas

desenvolvem. Nesse sentido, necessitará consultar documentos no âmbito de diferentes

unidades da Secretaria, além de realizar entrevistas com professores (com autorização da rede).

Salientamos a importância dessa aproximação e articulação entre a Secretaria

Municipal de Educação e a Faculdade de Educação / UFG, como forma de colaborarmos para a

melhor compreensão da história da constituição dos projetos em Educação Infantil e dos

profissionais neles envolvidos, ligados à rede pública municipal.

Nestes termos,

Agradecemos o apoio e aguardamos deferimento.

Profa.Dra. Ivone Garcia Barbosa

Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação

Faculdade de Educação/UFG

Page 152: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

151

APÊNDICE G: Ofício solicitando dados para realização de pesquisa

Of. Nº ______/______ Goiânia, __ de ________ de 201__.

Ao Secretário

Secretário Municipal de Educação

Assunto: Solicitação de dados para realização de pesquisa

Prezado Secretário,

Pelo presente, requeremos a Vossa Senhoria que viabilize um levantamento de

dados das instituições de educação infantil que estavam sob a esfera da Secretaria de Estado da

Educação e passaram para a Secretaria Municipal de Educação____________ O levantamento

será utilizado na pesquisa de Maria Aparecida Costa, mestranda do Programa de Pós-Graduação

em Educação e membro do ―Núcleo de Estudos e Pesquisas da Infância e sua Educação em

Diferentes Contextos‖ (NEPIEC), realizar pesquisa na Rede Municipal de Educação, tendo em

vista a elaboração de sua Dissertação de Mestrado em Educação, na Faculdade de Educação da

Universidade Federal de Goiás, sob a minha orientação.

Na pesquisa, a mestranda propõe investigar as instituições de educação da infância

da Secretaria de Estado da Educação de Goiás nas décadas de 1980 e 1990, na busca de analisar

e compreender como se constituíram, onde se encontram hoje e quais projetos educativos elas

desenvolvem. Nesse sentido, necessitará consultar documentos no âmbito de diferentes

unidades da Secretaria, além de realizar entrevistas com professores (com autorização da rede).

Assim, solicitamos a Vossa Senhoria que disponibilize informações que contemple

a pesquisa.

Agradecemos e disponibilizamos os telefones: ___________________

Profa. Dra. Ivone Garcia Barbosa

Orientadora/Professora do PPGE/FE

Coordenadora do Nepiec-FE/UFG

Page 153: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

APÊNDICE H: Levantamento Bibliográfico da CAPES - Dissertações e Teses selecionadas para leitura analítica.

ANO AUTORIA TITULO INSTITUIÇÃO NATUREZA DESCRITORES

2011 OLIVEIRA, NINA ROSA TEIXEIRA.

A UNESCO, O UNICEF E AS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

DISSERTAÇÃO Municipalização na Educação Infantil

2011 MARQUES, ANA AMELIA

FERNANDES.

AVANÇOS E LIMITES DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DOADOLESCENTE NO BRASIL: UMA ANÁLISE À LUZ DOS

PRINCÍPIOS DA PRIORIDADE ABSOLUTA E DA PROTEÇÃO

INTEGRAL À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE.

UNIVERSIDADE DO VALE DO

ITAJAÍ DISSERTAÇÃO História da Infância

2011 GONCALVES, ELIDA MARIA.

POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE ITUMBIARA: AVANÇOS, PERMANÊNCIAS E TENSÕES.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

DISSERTAÇÃO Educação Infantil em

Goiás

2011 CAMARGO, SANDRA

SALETE DE.

POLÍTICAS EDUCACIONAIS PÓS-1990: O CONTEXTO DA INCLUSÃO E

A FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE

MARINGÁ TESE Educação Infantil 1990

2011 GONCALVES, MICHELA BARRETO CAMBOIM.

PERSISTÊNCIA INTERGERACIONAL DE TRABALHO INFANTIL E

DEEDUCAÇÃO: ENSAIOS PARA O BRASIL METROPOLITANO NAS

DÉCADAS DE 1990 A 2000.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

TESE Educação Infantil 1990

2011

MOLINA, ADAO

APARECIDO.

A PRODUÇÃO DE DISSERTAÇÕES E TESES SOBRE INFÂNCIA NA PÓS-

GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NO BRASIL DE 1987 A 2005: ASPECTOS

HISTÓRICOS E METODOLÓGICOS.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

TESE Educação Infantil 1990

2012 MARTINS, LUDMILA

GONCALVES

DIÁLOGOS SOBRE A HISTÓRIA SOCIAL DA INFÂNCIA E O

RECONHECIMENTO DA CRIANÇA COMO SUJEITO DE DIREITOS PELO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (1990).

UNIVERSIDADE FEDERAL

DO ESPÍRITO DISSERTAÇÃO História da Infância

2012 TOSATTO, CARLA CRISTINA

A INFÂNCIA SOB O OLHAR DA PROFESSORA DE EDUCAÇÃO INFANTIL: CRUZANDO OLHARES, SABERES E PRÁTICAS.

UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

DISSERTAÇÃO História da Infância

2012 OLIVEIRA, NIRVANA SOUZA DE.

A AVALIAÇÃO COMO PROCESSO DE REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA

PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES E PRÁTICAS AVALIATIVAS NOS CEIS=S E CEMEIS DE

ANÁPOLIS - GOIÁS.

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ANÁPOLIS

DISSERTAÇÃO História da Infância

2012 MATTIOLI, DANIELE

DITZEL.

A EXPRESSÃO DO DIREITO NO ESPAÇO ESCOLAR: DIREITO

EDUCACIONAL E ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO EM DIREITOS.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE

PONTA GROSSA DISSERTAÇÃO História da Infância

2012 MARCHIORI, ALEXANDRE

FREITAS

A CRIANÇA COMO "SUJEITO DE DIREITO" NO COTIDIANO DA

EDUCAÇÃO INFANTIL.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO

ESPÍRITO SANTO DISSERTAÇÃO História da Infância

2012 MARCARINI, CELIA VERONICA.

AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS DAS CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

DISSERTAÇÃO História da Infância

2012 SOUZA, ROSIRIS PEREIRA

DE.

EDUCAÇÃO INFANTIL: POLÍTICAS PÚBLICAS E PRÁTICAS

EDUCATIVAS NA PRÉ-ESCOLA DE ESCOLAS MUNICIPAIS DE ENSINO FUNDAMENTAL EM GOIÂNIA.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE

GOIÁS DISSERTAÇÃO História da Infância

2012 BUENO, CRISTIANE

APARECIDA RIBEIRO.

AS PROPOSIÇÕES DO BANCO MUNDIAL PARA AS POLÍTICAS DE

EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL (1990/2010).

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO

OESTE DO PARANÁ DISSERTAÇÃO Educação Infantil 1990

Page 154: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

153

APÊNDICE I: Levantamento Bibliográfico realizado na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações-BDTD.

ANO

AUTORIA

TITULO

INSTITUIÇÃO

NATUREZA

DESCRITORES

2009

MEDEIROS, SONIA

TERESINHA VIEIRA

DE.

EDUCAÇÃO INFANTIL NA REDE MUNICIPAL DE

ENSINO DE SÃO LUIZ GONZAGA NO PERÍODO DE

1980-2008

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DO

SINOS 2 TESE

Educação

Infantil 1980

2009

PEREIRA,

ALESSANDRA MARIA

AQUINO CANIVEZI

A ORGANIZAÇÃO DA OFERTA A EDUCAÇÃO

INFANTIL NO MUNICIPIO DE AMPARO NA DECADA

DE 1990

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE

CAMPINAS DISSERTAÇÃO

Educação

Infantil em

Goiás

2010 LIMA, LAIS LENI

OLIVEIRA

AS MUITAS FACES DO TRABALHO QUE SE REALIZA

NA EDUCAÇÃO INFANTIL UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS TESE

Educação

Infantil em

Goiás

2011 PACÍFICO, JURACY

MACHADO.

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

EM PORTO VELHO/RO (1999/2008)

UNIVERSIDADE ESTADUAL

PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA

FILHO" FACULDADE DE CIÊNCIAS E

LETRAS (CAMPUS DE

ARARAQUARA).

TESE

Educação

Infantil em

Goiás

2011

BARRETO CAMBOIM

GONÇALVES,

MICHELA

PERSISTÊNCIA INTERGERACIONAL DE TRABALHO

INFANTIL E DE EDUCAÇÃO: ENSAIOS PARA O

BRASIL NAS DÉCADAS DE 1990 E 2000

UNIVERSIDADE FEDERAL DE

PERNAMBUCO TESE

História da

Infância

2012 BREJO, JANAYNA

ALVES

ESTUDO COMPARATIVO DAS POLÍTICAS

NACIONAIS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA

EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL E NA ARGENTINA

(1990-2010)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE

CAMPINAS TESE

Educação

Infantil em

Goiás

2013

ARAUJO, ANELISE

RODRIGUES

MACHADO DE

A REVISTA VEJA NOS TEMPOS DA

REDEMOCRATIZAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A

INFÂNCIA (1979-1990)

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE

SANTA CATARINA DISSERTAÇÃO

História da

Infância

2013 DUARTE, LUCIANA

CANDIDA

FORMAÇÃO CONTINUADA: PROFESSORES DA

EDUCAÇÃO INFANTIL DA REDE MUNICIPAL DE

CATALÃO-GO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS DISSERTAÇÃO

Educação

Infantil em

Goiás

2014 BRITO, EDIR, ELIANE

GARCIA DE

AUXILIAR DE ATIVIDADES EDUCATIVAS NA

EDUCAÇÃO INFANTIL: CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA E

TENSÕES DE UMA OCUPAÇÃO NO ÂMBITO DA REDE

MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE GOIÂNIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS DISSERTAÇAO

Educação

Infantil em

Goiás

2014

CONCEIÇÃO,

CAROLINE MACHADO

CORTELINI

PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES DA

INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INFÂNCIA: BEBÊS E

CRIANÇAS BEM PEQUENAS NA CRECHE EM

FRANCISCO BELTRÃO/PR (1980/1990)

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DO

SINOS 2 TESE

Educação

Infantil 1980

Fonte: Arquivo da pesquisadora/Nepiec (2014/2015)

Page 155: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

154

APÊNDICE J: Quadro demonstrativo de entrevistas Municípi

o Entrevistas Nº Função Formação

Data da

entrevista

Goiânia Maria das Graças Pereira Ribeiro E1 Atuou como Professora Formadora da SEE e professora de CMEI da SME de Goiânia.

Atualmente é Assessoria Pedagógica Seduce.

Especialista em

Língua Portuguesa e

Alfabetização

15/10/2015

Goiânia Cecília Torres Borges E2

Atuou como Coordenadora do Departamento de Educação Infantil da SEE no período de d

junho a dezembro de 1999. Atualmente é Diretora do CEFPE- Coordenadora do Centro de

Formação dos Profissionais da Educação.

Especialista em

Alfabetização 01/09/2015

Anápolis Virgínia Maria Pereira de Melo E3 Atuou como professora/coordenadora. Atualmente é Secretária Municipal de Educação e

Presidente de Undime.

Mestre em Ciências

da Educação 11/09/2015

Anápolis Idelma Ramos de Oliveira E4 Assessora Pedagógica da Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de

Anápolis.

Especialista em

Gestão Educacional 11/09/2015

Goiânia Nancy Nonato de Lima Alves E5

Coordenadora do Departamento de Educação Infantil da SME de Goiânia, no período de

janeiro de 1998 a maio de 1999. Professora de Pós-Graduação na Faculdade de Educação

– UFG. Doutora em Educação.

Doutora em

Educação 30/11/2015

Goiânia Eulâmpia Neves Ferreira E6 Atuou como Coordenadora do Deptº Infantil da SME de Goiânia no período de 2001 a

2004. Atualmente é Coordenadora do Centro de Formação dos Profissionais da Educação.

Mestranda em

Educação 01/09/2015

Goiânia Darley Martins E7 Atua como Coordenadora Pedagógica no CMEI Oito de Março. 03/03/2016

Goiânia Juliana da Silva Moreira Faria E8 Atua como diretora do Centro Municipal de Educação Infantil Alto da Glória. Psicopedagogia 21/03/2016

Goiânia Sônia Maria Cardoso E9 Diretora do CMEI Criança Cidadã Psicopedagoga 11/04/2016

Senador

Canedo

Flávia Aparecida Fonseca Arana E10 Em 1990 – Professora na rede particular e monitora no CMEI Dom Fernando.

Atualmente: Diretora da Educação da SME de Senador Canedo

Especialista em

Educação Infantil 30/06/2015

Selma Aparecida da Silva Cardoso E11 Monitora/professora e atualmente orientadora de estudos PNAIC.

Especialista em

Método e Técnicas

de Ensino

10/09/2015

Rejane Santos Oliveira E12 Coordenadora Pedagógica do CMEI Dom Fernando Gomes Especialista em

Técnicas de Ensino 10/09/2015

Jacy da Silva Oliveira Martins E13 Professora de Educação Inclusiva Magistério 10/09/2015

Ione Torquato da Silva Vaz E14 Atualmente é Gestora do CMEI Dom Fernando Gomes Especialista em

Técnicas de Ensino 10/09/2015

Ruth Neil de Melo Araújo E15 Atualmente é Gestora do CMEI Thays de Sousa Ribeiro Pedagoga 10/09/2015

Trindade

Sandra Soares Borges E16

Diretora do Departamento Pedagógico da SME de Trindade Especialista em

Língua Portuguesa

19/06/2015

Cristiana Ferreira Freitas E17 Professora. Atualmente Coordenadora de Educação no CMEI Dona Maria da Conceição

Pereira

Especialista em

Psicopedagogia 15/09/2015

Dircélia Pereira da Silva E18

Atuou como Monitora e atualmente sua função: Serviços Gerais no CMEI Dona Maria da

Conceição Pereira

Concluiu a 1ª Fase

do Ens.Fundamental

15/09/2015

Fonte: Arquivo da pesquisadora/Nepiec (2014/2015).

Page 156: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

155

ANEXOS

Page 157: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

156

ANEXO 01: Mapa do Estado de Goiás

Page 158: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

157

ANEXO 02: Programação do Encontro de Educação Infantil

Page 159: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

158

ANEXO 03: Ações desenvolvidas pelo Departamento de Educação Infantil da

Secretaria Estadual de Educação de Goiás 1999-2001

Realização: Secretaria da Educação – Superintendência de Ensino Fundamental.

1. Conhecimento da realidade das creches administradas pela FUNCAD por meio de

reuniões, relatórios, coleta de dados.

2. Estudo das normas contidas no anteprojeto da Resolução do Conselho Estadual de

Educação para a Educação Infantil no Estado de Goiás.

3. Estudos, discussões e reflexões sobre o RCNEI.

4. Elaboração da Política para a Educação Infantil:

Estudo de bibliografia especializada.

Estruturação do quadro demonstrativo da Educação Infantil para conhecimento da

realidade.

Tabulação dos dados.

Reuniões com os representantes das diversas instituições responsáveis pela

Educação Infantil.

Realização de um Encontro de Educação Infantil com Secretários Municipais,

Subsecretários, Coordenadores Pedagógicos e representantes de diversas

instituições.

Reunião na SUEF com a coordenadora da Educação Infantil do MEC –

Professora Gisela Wajskop.

5. Formação Continuada de Professores de Educação Infantil

Participação no Projeto MEC/COEDI, Curso ―Formação do grupo Nacional de

Formadores para Implementação Curricular em Educação Infantil.‖

Divulgação do Programa Parâmetros em Ação Educação Infantil nos municípios

de Formosa, Alto Paraiso de Goiás, Flores de Goiás e São João D‘Aliança.

Criação de 02 polos de formação em Goiás, sendo: um em Campos Belos

(atendendo o nordeste goiano e sudeste do Tocantins) e outro em Formosa

(atendendo o nordeste goiano e o entorno de Brasília) para discussão dos

Parâmetros em Ação Educação Infantil.

Participação em Seminários de Avaliação do Programa Parâmetros em Ação

Educação Infantil – Grupo Nacional-São Paulo, Brasília.

6. Realização de atividades para cumprimento e operacionalização da política de Educação

Infantil.

Participação em reuniões no Conselho Estadual de Educação (CEE) para definição

da resolução que fixará normas para a educação Infantil.

Parceria com a Universidade Federal de Goiás, Universidade Católica de Goiás

(UCG) e Universidade Estadual de Goiás (UEG).

Conhecimento de propostas educativas já existentes na área da educação Infantil.

Participação no Projeto ―Brinquedoteca‖ com a Funcad e Organização das

Voluntárias de Goiás (OVG).

Elaboração das Diretrizes Curriculares Pedagógicas e administrativas para as

Unidades Escolares.

Participação da equipe em oficinas pedagógicas.

Atendimento às SRE e Unidades Escolares.

7. Participação em cursos, palestras, seminários, conferências relacionados à Educação

Infantil.

Intercâmbio com o Japão para conhecimento e troca de experiências desenvolvidas

na área da Educação Infantil.

Fonte: Superintendência de Ensino Fundamental da Secretaria de Educação de Goiás.

Page 160: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

159

ANEXO 04: Revistas Educação em Dados

Page 161: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

160

ANEXO 05: Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta.

Page 162: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

161

ANEXO 06: Imagens do incêndio ocorrido no CMEI Maria Pedro de Jesus

Imagem 01–Entrada do CMEI Maria Pedro de Jesus

Fonte: Arquivo da SME de Trindade

Imagem 02–Área externa do CMEI Maria Pedro de Jesus

Fonte: Arquivo da SME de Trindade

Page 163: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS: PERCURSOS E …repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/6398/5... · PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO A EDUCAÇÃO INFANTIL EM GOIÁS:

162

Imagem 03 – Área interna do CMEI Maria Pedro de Jesus

Fonte: Arquivo da SME de Trindade