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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE QUÍMICA SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE TITANATOS LAMELARES IMPREGNADOS COM Mg 2+ /MgO OU La 3+ /La 2 O 3 E SUA UTILIZAÇÃO COMO CATALISADORES EM REAÇÕES DE TRANSESTERIFICAÇÃO REGIANE LOPES DOS SANTOS ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª LILIANE MAGALHÃES NUNES GOIÂNIA 2010 Dissertação apresentada ao Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Química

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE QUÍMICA

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE TITANATOS LAMELARES IMPREGNADOS COM Mg2+/MgO OU La3+/La2O3 E SUA UTILIZAÇÃO

COMO CATALISADORES EM REAÇÕES DE TRANSESTERIFICAÇÃO

REGIANE LOPES DOS SANTOS

ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª LILIANE MAGALHÃES NUNES

GOIÂNIA 2010

Dissertação apresentada ao Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Química

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação na (CIP)

GPT/BC/UFG

S237s

Santos, Regiane Lopes dos.

Síntese e caracterização de titanatos lamelares impregnados com

Mg2+/MgO ou La3+/La2O3 e sua utilização em reações de

transesterificação [manuscrito] / Regiane Lopes dos Santos. - 2010.

viii, 55 f. : il., figs, tabs.

Orientadora: Prof.ª Drª. Liliane Magalhães Nunes.

Dissertação(Mestrado) – Universidade Federal de Goiás, Instituto de

Química, 2010.

Bibliografia.

Inclui lista de figuras, abreviaturas, siglas e tabelas.

Apêndices.

1. Titanatos lamelares (Química inorgânica) 2. Transesterificação I.

Título.

CDU: 546.824

À Marlene Maria, minha mãeÀ Marlene Maria, minha mãeÀ Marlene Maria, minha mãeÀ Marlene Maria, minha mãe

“O amor está por toda parte em “O amor está por toda parte em “O amor está por toda parte em “O amor está por toda parte em a a a a Natureza, Natureza, Natureza, Natureza, que nos convida ao exercício da nossa inteligência;que nos convida ao exercício da nossa inteligência;que nos convida ao exercício da nossa inteligência;que nos convida ao exercício da nossa inteligência;

até no movimento dos astros o encontramos.até no movimento dos astros o encontramos.até no movimento dos astros o encontramos.até no movimento dos astros o encontramos. É o amor que orna a Natureza de seus ricos tapetes; É o amor que orna a Natureza de seus ricos tapetes; É o amor que orna a Natureza de seus ricos tapetes; É o amor que orna a Natureza de seus ricos tapetes;

ele ele ele ele se enfeita e fixa morada onde se lhe deparem flores e perfumes.se enfeita e fixa morada onde se lhe deparem flores e perfumes.se enfeita e fixa morada onde se lhe deparem flores e perfumes.se enfeita e fixa morada onde se lhe deparem flores e perfumes. É ainda o amor que dá paz aos homens, É ainda o amor que dá paz aos homens, É ainda o amor que dá paz aos homens, É ainda o amor que dá paz aos homens,

calma ao mar, silêncio aos ventos e sono à dor.” calma ao mar, silêncio aos ventos e sono à dor.” calma ao mar, silêncio aos ventos e sono à dor.” calma ao mar, silêncio aos ventos e sono à dor.”

(Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo)(Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo)(Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo)(Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo)

AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos

À Deus pela possibilidade de viver e de escolher nosso destino.À Deus pela possibilidade de viver e de escolher nosso destino.À Deus pela possibilidade de viver e de escolher nosso destino.À Deus pela possibilidade de viver e de escolher nosso destino.

À minha mãe Marlene pela inesgotável fonte de amparo. Ao meu pai Sílvio pelos À minha mãe Marlene pela inesgotável fonte de amparo. Ao meu pai Sílvio pelos À minha mãe Marlene pela inesgotável fonte de amparo. Ao meu pai Sílvio pelos À minha mãe Marlene pela inesgotável fonte de amparo. Ao meu pai Sílvio pelos exemplos de honestidade e generosidade. Ao meu irmão Sylvio César pelos exemplos de honestidade e generosidade. Ao meu irmão Sylvio César pelos exemplos de honestidade e generosidade. Ao meu irmão Sylvio César pelos exemplos de honestidade e generosidade. Ao meu irmão Sylvio César pelos momentos de sorriso fácil.momentos de sorriso fácil.momentos de sorriso fácil.momentos de sorriso fácil.

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À Prof.ª Dr.ª Liliane Magalhães Nunes pela orientação, sabedoria e À Prof.ª Dr.ª Liliane Magalhães Nunes pela orientação, sabedoria e À Prof.ª Dr.ª Liliane Magalhães Nunes pela orientação, sabedoria e À Prof.ª Dr.ª Liliane Magalhães Nunes pela orientação, sabedoria e principalmente peprincipalmente peprincipalmente peprincipalmente pela compreensão durante as diversas dificuldades que lhe la compreensão durante as diversas dificuldades que lhe la compreensão durante as diversas dificuldades que lhe la compreensão durante as diversas dificuldades que lhe apresentei.apresentei.apresentei.apresentei.

À Prof.ª Dr.ª Emília Celma de Oliveira Lima pela orientação durante a Iniciação À Prof.ª Dr.ª Emília Celma de Oliveira Lima pela orientação durante a Iniciação À Prof.ª Dr.ª Emília Celma de Oliveira Lima pela orientação durante a Iniciação À Prof.ª Dr.ª Emília Celma de Oliveira Lima pela orientação durante a Iniciação Científica e pelo início da formação de meu currículo.Científica e pelo início da formação de meu currículo.Científica e pelo início da formação de meu currículo.Científica e pelo início da formação de meu currículo.

Ao Prof. Dr. Dilson Cardoso e aos seus alunosAo Prof. Dr. Dilson Cardoso e aos seus alunosAo Prof. Dr. Dilson Cardoso e aos seus alunosAo Prof. Dr. Dilson Cardoso e aos seus alunos (especi (especi (especi (especialmente Nádhia Stival)almente Nádhia Stival)almente Nádhia Stival)almente Nádhia Stival) e e e e aosaosaosaos colegas do DEQcolegas do DEQcolegas do DEQcolegas do DEQ----UFSCar pela orientação durante estágio na UFSCar.UFSCar pela orientação durante estágio na UFSCar.UFSCar pela orientação durante estágio na UFSCar.UFSCar pela orientação durante estágio na UFSCar.

Ao Instituto Federal do Tocantins, em especial aos Ao Instituto Federal do Tocantins, em especial aos Ao Instituto Federal do Tocantins, em especial aos Ao Instituto Federal do Tocantins, em especial aos campi campi campi campi Araguatins e GurupiAraguatins e GurupiAraguatins e GurupiAraguatins e Gurupi....

Aos colegas de laboratório: Gustavo, Elô, Alécia e FernandoAos colegas de laboratório: Gustavo, Elô, Alécia e FernandoAos colegas de laboratório: Gustavo, Elô, Alécia e FernandoAos colegas de laboratório: Gustavo, Elô, Alécia e Fernando,,,, Uaitã, Kely, Uaitã, Kely, Uaitã, Kely, Uaitã, Kely, Michelly, TMichelly, TMichelly, TMichelly, Thiago Bebê, Luiza, River... do laboratório do lado: Fernando Cruvinel, hiago Bebê, Luiza, River... do laboratório do lado: Fernando Cruvinel, hiago Bebê, Luiza, River... do laboratório do lado: Fernando Cruvinel, hiago Bebê, Luiza, River... do laboratório do lado: Fernando Cruvinel, Joel e Luciana e do laboratório de lá: meu eterno amigo Dóris.Joel e Luciana e do laboratório de lá: meu eterno amigo Dóris.Joel e Luciana e do laboratório de lá: meu eterno amigo Dóris.Joel e Luciana e do laboratório de lá: meu eterno amigo Dóris.

Aos técnicos da Central Analítica pela realização das análises e pelos conselhos Aos técnicos da Central Analítica pela realização das análises e pelos conselhos Aos técnicos da Central Analítica pela realização das análises e pelos conselhos Aos técnicos da Central Analítica pela realização das análises e pelos conselhos recebidos.recebidos.recebidos.recebidos.

À UFG pela estrutura.À UFG pela estrutura.À UFG pela estrutura.À UFG pela estrutura.

Ao CNPq Ao CNPq Ao CNPq Ao CNPq pelas bolsas concedidas. pelas bolsas concedidas. pelas bolsas concedidas. pelas bolsas concedidas.

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS............................................................................i LISTA DE TABELAS..........................................................................v LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS....................................vi RESUMO............................................................................................vii ABSTRACT.......................................................................................viii 1. INTRODUÇÃO................................................................................1 2. OBJETIVOS....................................................................................10 3. PARTE EXPERIMENTAL.............................................................11 3.1 Reagentes..................................................................................... 11 3.2 Sínteses.............................................................. ......................... 11 3.2.1 Síntese de tetratitanato de potássio........................................... 11

3.2.2 Síntese de trititanato de sódio.....................................................11

3.2.3 Síntese de nanopartículas de óxido de magnésio.......................12

3.2.4 Síntese de nanopartículas de óxido de lantânio..........................12

3.2.5 Impregnação das nanopartículas dos óxidos de lantânio ou

magnésio..............................................................................................12

3.3 Preparação e padronização das soluções para impregnação.........13

3.3.1 Solução de nitrato de magnésio..................................................13

3.3.2 Solução de nitrato de lantânio....................................................13

3.4 Impregnação via solução dos nitratos metálicos...........................13

3.5 Tratamento térmico dos pós impregnados....................................13

3.6 Nomenclatura e descrição das amostras sintetizadas....................14

3.7 Caracterizações..............................................................................15

3.7.1 Difratometria de raios X.............................................................15

3.7.2 Termogravimetria.......................................................................16

3.7.3 Quantificação do teor de metal impregnado na matriz..............16

3.7.4 Fisissorção de N2 .......................................................................16

3.7.5 Espectroscopia na região do infravermelho médio....................16

3.7.6 Microscopia eletrônica de transmissão......................................17

3.8 Aplicação dos materiais como catalisadores.................................17

3.8.1 Reações de transesterificação.....................................................17

3.8.2 Testes de reuso...........................................................................18

3.8.3 Análise cromatográfica..............................................................19

3.8.4 Atividade do catalisador.............................................................20

3.8.5 Caracterização do catalisador após testes de reuso....................21

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................22

4.1 Difratometria de raios X................................................................22

4.1.1 Difratometria de raios X das matrizes lamelares e das

nanopartículas de óxido de magnésio e de óxido de lantânio...22

4.1.2 Matrizes impregnadas...............................................................24

4.1.2.1 Matrizes impregnadas com MgO e Mg2+ ............................25

4.1.2.2 Matrizes impregnadas com La2O3 e La3+.............................28

4.2 Termogravimetria.........................................................................32

4.3 Quantificação de metal nas matrizes impregnadas.......................36

4.4 Espectroscopia na região do infravermelho médio (IV).............. 37

4.5 Microscopia eletrônica de transmissão (MET).............................38

4.6 Fisissorção de N2 ..........................................................................39

4.7 Avaliação catalítica.......................................................................40

4.7.1 Mistura reacional metanol e acetato de etila.............................40

4.7.2 Mistura reacional etanol e acetato de metila.............................43

4.7.3 Testes de reuso..........................................................................45

5. CONCLUSÕES...............................................................................48

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................50

i

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Representação esquemática de um sólido lamelar e os

parâmetros que a caracterizam...................................................................1

Figura 2. Representação estrutural do trititanato de sódio

(Na2Ti3O7)....................................................................................................2

Figura 3. Esquema de transesterificação de triglicerídeos com álcool em

presença de catalisador formando uma mistura de ésteres alquílicos

(biodiesel) e glicerol.....................................................................................4

Figura 4. Mecanismo de transesterificação catalisada por

ácido............................................................................................................6

Figura 5. Mecanismo de transesterificação catalisada por base...............7

Figura 6. Sistema reacional utilizado nas reações de transesterificação

contendo seis reatores de 1 mL cada. (a) e (b) Sistema reacional sendo

montado e (c) reatores imersos em banho termostatizado.......................18

Figura 7. Sistema reacional utilizado para os testes de reuso.................19

Figura 8. Difratograma de raios X da amostra NaTi2...............................22

Figura 9. Difratogramas de raios X das amostras (a) KTi1, (b) KTi2 e

(c)KTi3.......................................................................................................23

ii

Figura 10. Difratogramas de raios X das amostas (a) MgO e (b) La2O3..24

Figura 11. DRX das matrizes NaTi impregnadas com MgO em diferentes

teores (a) matriz pura (b) NaTi MgO 1%, (c) NaTi MgO 5% e (d) NaTi MgO

10%...........................................................................................................25

Figura 12. DRX da matriz KTi1 impregnada com MgO em diferentes

teores (a) matriz pura KTi1 (b) KTi1 MgO 1%, (c) KTi1 MgO 5% e (d) KTi1

MgO 10%...................................................................................................26

Figura 13. DRX das matrizes NaTi impregnadas com Mg2+ em diferentes

teores (a) matriz NaTi pura (b) NaTi Mg 1%, (c) NaTi Mg 5% e (d) NaTi

Mg 10%.....................................................................................................27

Figura 14. DRX da matriz KTi2 impregnadas com Mg2+ em diferentes

teores (a) KTi2 (b) KTi2 Mg 1%, (c) KTi2 Mg 5% e (d) KTi2 Mg 10%.......27

Figura 15. DRX das matrizes NaTi impregnada com La2O3 em diferentes

teores (a) NaTi La2O3 1%, (b) NaTi La2O3 5% e (c) NaTi La2O3 10%.......29

Figura 16. DRX das matrizes KTi impregnada com La2O3 em diferentes

teores (a) KTi3 (b) KTi3 La2O3 1%, (c) KTi3 La2O3 5% e (d) KTi3 La2O3

10%...........................................................................................................30

Figura 17. DRX das matrizes NaTi impregnada com La3+ em diferentes

teores (a) NaTi (b) NaTi La 1%, (c) NaTi La 5% e (d) NaTi La 10%.........30

iii

Figura 18. DRX das matrizes KTi impregnada com La3+ em diferentes

teores (a) matriz pura KTi (b) KTi1 La 1%, (c) KTi1 La 5% e (d) KTi1 La

10%...........................................................................................................31

Figura 19. Curvas termogravimétricas das matrizes NaTi pura, matriz

NaTi impregnada com Mg2+ e matriz NaTi impregnada com MgO...........32

Figura 20. Curvas termogravimétricas das matrizes KTi pura, matriz KTi

impregnada com Mg2+ e matriz KTi impregnada com MgO......................34

Figura 21. Curvas termogravimétricas das matrizes NaTi pura, matriz

NaTi impregnada com La3+ e matriz NaTi impregnada com La2O3...........34

Figura 22. Curvas termogravimétricas das matrizes KTi pura, matriz KTi

impregnada com La3+ e matriz KTi impregnada com La2O3.......................35

Figura 23. Espectros de IV das amostras (a) NaTiMg 10% e (b) NaTiMgO

10%...........................................................................................................37

Figura 24. Espectros de IV das amostras (a) KTi La 1%, (b) KTiLa 10%,

(c) NaTi La 10% e (d) KTi La2O3 10%......................................................38

Figura 25. Microscopias eletrônicas de transmissão da amostra KTi Mg

10%...........................................................................................................39

Figura 26. Micrografia da amostra KTi3 La2O3 5%...................................39

iv

Figura 27. Taxa de conversão de acetato de etila em acetato de metila,

utilizando metanol e matrizes NaTi ou KTi impregnadas com

Mg2+/MgO..................................................................................................41

Figura 28. Taxa de conversão de acetato de etila em acetato de metila,

utilizando metanol e matrizes NaTi ou KTi impregnadas com

La3+/La2O3.................................................................................................42

Figura 29. Taxa de conversão de acetato de metila em acetato de etila,

utilizando etanol e matrizes NaTi ou KTi impregnadas com Mg2+/MgO....43

Figura 30. Taxa de conversão de acetato de metila em acetato de etila,

utilizando etanol e matrizes NaTi ou KTi impregnadas com La3+/La2O3...44

Figura 31. Taxa de conversão de acetato de metila em acetato de etila,

utilizando etanol, sendo que mesmo pó foi utilizado por três ciclos. As

matrizes utilizadas neste teste: KTi-La 1%, KTi1, KTi-MgO 5% e KTi-

La2O3 5%...................................................................................................45

Figura 32. DRX das amostras (a) KTi4, (b) KTi4 após 1° uso, (c) KTi4

após 2° uso e (d) KTi4 e após 3° uso........................................................46

v

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Nomenclatura e descrição das amostras preparadas e

utilizadas nos testes catalíticos.................................................................14

Tabela 2. Percentual de magnésio nas matrizes impregnadas................36

Tabela 3. Amostras e suas respectivas áreas superficiais.......................40

Tabela 4. Percentual de potássio lixiviado após testes de reuso.............46

vi

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

Å Angstrom

BET Brunauer, Emmet e Teller

BJH Barrett, Joyner e Halenda

DEQ-UFSCar Departamento de Engenharia Química da Universidade

Federal de São Carlos

DRX Difratometria de raios X

EDTA Ácido etilenodiamino tetracético

FUNMINERAL Fundo de Fomento à Mineração

IB-UnB Instituto de Biologia da Universidade de Brasília

IV Região do infravermelho médio

JCPDF Joint committee on powder diffraction standards file

KTi Tetratitanato de potássio

MET Microscopia eletrônica de transmissão

NaTi Trititanato de sódio

pH Potencial hidrogeniônico

u.a. Unidades arbitrárias

UV ultravioleta

vii

RESUMO

Tetratitanato de potássio (K2Ti4O9) e trititanato de sódio (Na2Ti3O7) foram

sintetizados por meio de síntese no estado sólido a 800°C, impregnados por via

úmida utilizando Mg2+/La3+ ou nanopartículas de MgO/La2O3 variando o teor do

íon/óxido em 1, 5 ou 10% em relação à massa da matriz. MgO e La2O3 foram

sintetizados por precipitação e tiveram seu diâmetro médio de cristalito

calculados em 11 nm e 72 nm, respectivamente. Os materiais sintetizados

foram caracterizados por difratometria de raios X, termogravimetria, fisissorção

de N2(g), espectroscopia na região do infravermelho médio, microscopia

eletrônica de transmissão e foram aplicados em reações de transesterificação

utilizando misturas reacionais acetato de metila/etanol e acetato de

etila/metanol. A distância interlamelar calculada para os sólidos é da ordem de

8 Å. A impregnação dos íons/óxidos nas matrizes K2Ti4O9 e Na2Ti3O7 produziu

mudanças estruturais incluindo perda de cristalinidade para algumas delas

incluindo alargamento ou desaparecimento de picos. Todos os materiais

sintetizados, após queima sob atmosfera de N2(g), perderam massa relativa à

saída de água superficial e água interlamelar. Os materiais apresentaram baixa

área superficial, com valores abaixo de 5 m2/g. De um modo geral, os pós

utilizados tiveram taxas de conversão entre 10 e 80%. Destaque deve ser dado

às matrizes puras que apresentaram taxas de conversão iguais ou superiores

aos pós impregnados, sendo que o uso da matriz K2Ti4O9 levou aos melhores

resultados. Dentre os óxidos escolhidos para a impregnação, a eficiência maior

foi observada para MgO. Alguns pós foram reutilizados para as mesmas

reações e a atividade diminuiu a cada ciclo de reação. A análise da mistura

reacional após os testes de reuso para a matriz K2Ti4O9 revelou lixiviação

parcial de íons K+, entretanto a análise do perfil dos padrões de DRX dos pós

após reuso não revelou a ocorrência de mudanças estruturais. Uma proposta

para explicar a atividade dos titanatos lamelares nas reações de

transesterificação é feita baseando-se nas propriedades ácido-base das

lamelas e na saída de íons K+ da região interlamelar.

Palavras-chave: titanatos lamelares, impregnação por via úmida,

transesterificação, MgO, La2O3.

viii

ABSTRACT

Potassium tetratitanate (K2Ti4O9) and sodium trititanate (Na2Ti3O7) were

synthesized by solid state reaction at 800°C and wet impregnated using

Mg2+/La3+ or nanoparticles of MgO/La2O3 varying ion/oxide content in 1, 5 or

10% of matrix weight. MgO and La2O3 synthesized by precipitation method and

their mean crystallite size calculated in 11 nm and 72 nm, respectively.

Synthesized materials were characterized by X ray diffractometry,

termogravimetry, N2 adsorption, mid-infrared spectroscopy, transmission

electron microscopy and they were applied on transesterification reactions

using mixtures of methyl acetate/ethanol and ethyl acetate/methanol. Interlayer

distance calculated for solids is about 8 Å. Impregnation of ion/oxide in matrices

K2Ti4O9 and Na2Ti3O7 produced structural changes like loss of crystallinity for

some of them including peak broadening or disappearing. All synthesized

materials, after burning in an atmosphere of N2 (g), lost mass related to the exit

of surface water and interlamellar water. Materials showed low surface area,

with values below 5 m2/g. In general, powder utilized had conversion rates

between 10 and 80%. Emphasis should be given to pure matrices which

presented conversions rates equal or higher than impregnated powders, and

the use of matrix K2Ti4O9 led to better results. Among the oxides chosen for

impregnation, higher efficiency was observed for MgO. Some powders were

reused for the same reactions and its activity decreased in each reaction cycle.

Reaction mixture analysis after reuse tests to K2Ti4O9 revealed partial leaching

of K+ ions, however XRD patterns profile analysis did not show structural

changes occurrence. A proposal to explain layered titanate activity on

transesterification reactions is made based on acid-base properties of layers

and output of K+ from interlamellar area.

Keywords: layered titanates, wet impregnation, transesterification, MgO,

La2O3.

1

1.1.1.1. IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução Compostos lamelares são materiais cristalinos, formados pelo

empilhamento de várias lamelas ao longo de um dos eixos cristalográficos.

As lamelas, camadas ou folhas são formadas por átomos que interagem

entre si através de ligações covalentes, enquanto que a interação entre

átomos adjacentes se dá por forças de van der Waals podendo ser de

natureza elétrica neutra ou carregada (ALBERTI, 1996).

O empilhamento de lamelas define uma região entre tais unidades

denominada região interlamelar. Já a distância entre os baricentros de duas

lamelas adjacentes é nomeada distância interlamelar ou espaçamento basal.

Quando a espessura da lamela é subtraída do espaçamento basal, obtém-se

uma distância conhecida como altura da galeria. Uma melhor elucidação dos

parâmetros que caracterizam esse tipo de estrutura pode ser vista na Figura

1 (ALBERTI, 1996).

Figura 1. Representação esquemática de um sólido lamelar e os parâmetros que a

caracterizam.

As estruturas lamelares podem ser classificadas por serem: (i)

não-carregadas, como a caolinita, a grafita e óxidos metálicos (e.g. V2O5); (ii)

positivamente carregadas com ânions que compensam tal carga no espaço

interlamelar, sendo os mais comuns os hidróxidos lamelares duplos ou

carregadas negativamente com cátions compensadores no espaço

interlamelar, como, por exemplo, niobatos, e argilas catiônicas

2

abundantemente encontradas na natureza (montmorilonita e vermiculita, etc)

(ALBERTI, 1996).

Outros exemplos de sólidos lamelares negativamente carregados

são os titanatos, que são preparados pelo aquecimento de TiO2 na presença

de um carbonato de metal alcalino, bem como por métodos hidrotermais

usando TiO2 e hidróxidos de metais alcalino ou rotas sol-gel de síntese com

o uso de alcoóxido de titânio (IZAWA; KIKKAWA e KOIZUML, 1982;

SAUVET et al, 2004 e SIKUVHIHULU et al, 2008).

Os titanatos possuem fórmula geral M2TinO2n+1 em que M é um

metal alcalino e n pode ter valores 1 ≤ n ≤ 8. A estrutura cristalina destes

sólidos depende do valor de n, sendo a lamelar observada para valores de 2

≤ n ≤ 6, sendo exemplos de membros dessa família de compostos K2Ti2O5,

K2Ti4O9, Na2Ti3O7 e Cs2Ti5O11 (KUDO e KANEKO, 1997, BRASIL, 2008).

As lamelas formadoras desses sólidos consistem de unidades

octaédricas de TiO6 que compartilham arestas adjacentes, combinando-se

com unidades idênticas acima e abaixo, formando zig-zag. O balanço de

carga é mantido pela ocupação dos íons de metais alcalinos entre as

lamelas (NUNES; SOUZA e FARIAS, 2001).

Figura 2. Representação estrutural do trititanato de sódio (Na2Ti3O7) (KAITO et al,

2002).

Em relação às aplicações, titanatos têm sido muito utilizados

como isolantes térmicos, filtros, trocadores iônicos, materiais anódicos e

agentes reforçadores para a preparação de plásticos de alto desempenho e

cerâmicas devido às suas excelentes propriedades físico-químicas tais como

3

resistência térmica, propriedades óticas, condutividade iônica e eletrônica,

etc (LIU; QI e ZHANG, 2006).

Além das aplicações mencionadas, os sólidos lamelares tem se

destacado em possibilidades promissoras de atuação como catalisadores.

Song et al (2007) demonstraram que o Na2Ti3O7 apresentou atividade

fotocatalítica de aproximadamente 100% na degradação de clorofórmio sob

irradiação de luz UV por 12 h. Já o H2Ti4O9 pilarizado com TiO2/Pt

apresentou atividade na formação de H2(g) e O2(g) a partir da quebra de

moléculas de água após irradiação de uma lâmpada de Hg (XIANJI et al,

2003).

No paper Reactivity of some polymer-supported titanium catalysts

in transesterification and epoxidation reactions, poli-p-hidroxi-estireno

imobilizado com isopropóxido de titânio foi utilizado como catalisador

heterogêneo para promover a transesterificação de metilmetacrilato com 2-

etil-hexanol (DELEUZE; SCHULTZE e SHERRINGTON, 2000). A

transesterificação também é a reação explorada com uso de titanato de

tetrabutila por um grupo do Reino Unido na produção de ciclohexanol por

meio de acrilato de ciclohexila, n-butanol e 2-etil-hexanol (SAHA e STREAT,

1999). Entretanto, o uso de materiais a base de titânio em reações de

transesterificação que requeiram sítios básicos e utilizem álcoois de cadeia

curta não foi encontrado na literatura.

O interesse no estudo de reações de transesterificação utilizando

ácidos graxos e álcoois de cadeia curta (SHARMA e SINGH, 2009) advém

de seu uso para a produção de biodiesel que é, segundo a Lei n° 11.097, de

13 de janeiro de 2005, um “biocombustível derivado de biomassa renovável

para uso em motores a combustão interna com ignição por compressão ou,

conforme regulamento, para geração de outro tipo de energia, que possa

substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil” (BRASIL,

2005). De acordo com a lei supracitada, atualmente, o diesel vendido aos

consumidores tem um percentual de biodiesel de 2% (B2)1 em volume e

1B2 corresponde a uma mistura de diesel e biodiesel com 2% em volume do último componente.

4

deve chegar, em no máximo oito anos da data da publicação da lei, em pelo

menos 5%. O interesse do governo brasileiro na produção de combustíveis

provenientes da biomassa coincide com a tendência mundial de busca por

novas fontes de energia e ainda pode auxiliar na diminuição das

desigualdades sociais, uma vez que as matérias primas podem ser

produzidas por meio de agricultura familiar, gerando empregos em regiões

distantes dos grandes centros urbanos.

As reações de transesterificação de óleos vegetais consistem na

mistura de um triglicerídeo a um álcool na presença de um catalisador

produzindo ésteres alquílicos e glicerol, de acordo com representação

ilustrada na Figura 3 (MARCINIUK, 2007).

Figura 3. Esquema de transesterificação de triglicerídeos com álcool em presença de

catalisador formando uma mistura de ésteres alquílicos (biodiesel) e glicerol.

A razão estequiométrica de triglicerídeo para álcool é de 3:1,

produzindo três mol de éster alquílico. a reversibilidade das reações

envolvidas exige um excesso de álcool no meio reacional para promover um

aumento no rendimento (SUAREZ et al, 2007).

Entretanto, é bastante comum empregar excesso de álcool à

mistura reacional - em função da reversibilidade das reações envolvidas - a

fim de deslocar os equilíbrios de formação de diglicerídeos e

monoglicerídeos e promover um aumento no rendimento (SUAREZ et al,

2007). São utilizados monoálcoois de cadeia pequena como metanol, etanol,

propanol e butanol (FERRARI; OLIVEIRA e SCABIO, 2005), com mais

atenção ao metanol por seu baixo conteúdo de água e ao etanol, pela baixa

toxicidade. Apesar de o metanol ser mais polar, ter um custo mais baixo e

levar a taxas de conversão mais altas, o etanol pode ser obtido por meio de

5

fontes renováveis sendo ambientalmente mais adequado (LEUNG; WU e

LEUNG, 2010, DEMIRBAS, 2009). Apesar da estequiometria geral da

equação requerer apenas três mol do mono-álcool para cada mol de

triglicerídeo, a reversibilidade das reações envolvidas exige um excesso de

álcool no meio reacional para promover um aumento no rendimento

(SUAREZ et al, 2007).

As reações ocorrem em temperaturas que variam na faixa de 60 a

200°C, em função do tempo escolhido para a completude do procedimento

de transesterificação dos ácidos graxos e principalmente da natureza do

catalisador utilizado (LEE; PARK e LEE, 2009).

Existe a demanda de um catalisador nesse processo, e a

natureza do mesmo pode ser básica ou ácida e homogênea ou heterogênea.

Substâncias de caráter ácido homogêneo como sulfato de ferro (III),

trifluoreto de boro, ácido clorídrico, ácido sulfônico e ácido sulfúrico podem

ser utilizados para catalisar transesterificação (DEMIRBAS, 2009).

A catálise ácida de transesterificação apresenta alguns

inconvenientes como o tempo de reação, as altas pressões e elevadas

temperaturas de síntese. Por exemplo, o uso de H2SO4 requer mais do que

50 h para alcançar 100% de conversão de óleo de soja com uma razão de

metanol/óleo 30:1 a 65°C e cerca de 24 h quando são utilizadas altas

pressões e temperaturas (MIAO; LI e YAO, 2009, LEE; PARK e LEE, 2009).

Além disso, durante o procedimento de esterificação dos ácidos graxos

livres, há simultaneamente a produção de ésteres e de água, o que leva a

uma diminuição na taxa de reação. É também relatado que os equipamentos

utilizados nesse tipo de procedimento também estão mais susceptíveis à

corrosão, diminuindo seu tempo de vida útil (ZABETI; DAUD e AROUA,

2009).

O mecanismo de catálise ácida de reações de transesterificação

está esquematizado na Figura 4. O ácido graxo tem a carbonila ativada,

permitindo o ataque nucleofílico do álcool. Depois da adição do nucleófilo

acontece um prototropismo intramolecular, permitindo a saída de um

diglicerídeo. Ao final a carbonila é desprotonada e tem-se um novo éster

(MEHER; SAGAR e NAIK, 2006, GARCIA, 2006).

6

Figura 4. Mecanismo de transesterificação catalisada por ácido (GARCIA, 2006).

Por sua vez, catalisadores básicos são cerca de 4000 vezes mais

rápidos que a mesma quantidade de um catalisador ácido e são então

preferidos em relação a uma mesma quantidade de catalisador ácido

(SHARMA e SINGH, 2009, SUAREZ et al, 2007). As espécies NaOH, KOH,

CH3ONa e CH3OK são comumente utilizadas como catalisadores de caráter

básico homogêneo (DOSSIN; REYNIERS e MARIN, 2006, TRAKARNPRUK

e PORNTANGJITLIKIT, 2008) com atividades na ordem de 99%.

7

Na Figura 5 é ilustrado o mecanismo de transesterificação

catalisado por bases.

Figura 5. Mecanismo de transesterificação catalisada por base (GARCIA, 2006).

A formação da espécie alcóoxido é o primeiro passo e acontece

devido à desprotonação do álcool pelo catalisador básico. A partir da

formação do alcóoxido é possível haver o ataque da carbonila por esse

nucleófilo, gerando um ânion intermediário tetraédrico que forma um ânion

diglicerídeo e um éster monoalquílico. A espécie diglicerídeo é regenerada

pela desprotonação do catalisador, que é novamente regenerado e pode

atuar sobre os diglicerídeos e triglicerídeos presentes no meio reacional

(MEHER; SAGAR e NAIK, 2006, GARCIA, 2006).

A presença de conteúdos de superiores a 0,5% de ácidos graxos

livres no meio reacional na presença de catalisadores básicos pode levar à

saponificação. Esta formação de sabão complica a separação do glicerol e

reduz drasticamente a conversão dos metil-ésteres (YAN; SALLEY e SIMON

NG, 2009). Na busca por uma alternativa à catálise básica homogênea,

8

diversos materiais têm sido investigados como candidatos a catalisadores

básicos heterogêneos (HELWANI et al, 2009).

Como catalisadores básicos heterogêneos, os óxidos de metais

alcalinos, alcalinos terrosos e terras raras têm sido bastante investigados na

literatura (BASHA; GOPAL e JEBARAJ, 2009). Esses materiais quando

utilizados como catalisadores em reações de transesterificação foram

relatados como materiais de alta eficiência. Entretanto, um problema que

incomoda a comunidade científica é o caráter homogêneo de boa parte

desses catalisadores, fator que inviabiliza o reuso dos mesmos, além de

aumentar os custos de tratamento do biodiesel produzido em função da

formação de subprodutos indesejados e do aumento de operações (ajuste

de pH, lavagem) até que o produto final seja obtido.

Há trabalhos que exploram a aplicação de MgO e de La2O3 como

possíveis catalisadores heterogêneos em reações de transesterificação

(DOSSIN; REYNIERS e MARIN, 2006, YAN et al., 2009). O MgO é um

sólido cuja estrutura cristalina é a do sal gema com a coordenção octaédrica

6:6 (RAO e RAVEAU, 1998) e se forma com a bonita queima do Mg no ar,

mas o produto é contaminado com nitreto de magnésio. O óxido puro é

obtido pela calcinação do hidróxido ou do carbonato. É um material

refratário, fundindo a 2800°C. O pequeno raio dos íons que formam o óxido

aumenta a força da interação eletrostática entre eles, justificando sua alta

estabilidade térmica. Além disso, o sólido é condutor de calor e isolante

elétrico (ATKINS e JONES, 2006). É bastante utilizado na manufatura de

cadinhos refratários, cimentos e antiácidos (BUDAVARI et al, 1996).

Na área de catálise, pode-se citar a epoxidação de alcenos,

desidrogenação-desidratação de álcoois e o processo Merwein-Ponndorf-

Verley de transformação de cetonas em álcoois como exemplos de

aplicação do óxido de magnésio em função da presença de sítios básicos na

superfície deste óxido (ARAMENDÍA et al, 2003). Na área ambiental, há

pesquisas que relatam o potencial adsorvente do óxido de magnésio na

remoção de HCl residual da pirólise de cloreto de polivinila para a

degradação de plásticos residuais produzindo óleo combustível (ZHOU et al,

2007) e como adsorvente de sacrifício para a remoção de fluoretos de águas

9

contaminadas. 0,15 g de nanopartículas de MgO produzidas por meio de

combustão puderam remover 97% de fluoreto de uma solução padrão 10

ppm de NaF e 75% de fluoreto proveniente de água de poços (NAGAPPA e

CHANDRAPPA, 2007).

O caráter básico do óxido de magnésio também é relevante para

sua aplicação em reações de transesterificação. As espécies OH-, O- e O2-

na sua superfície justificam as atividades apresentadas (DOSSIN;

REYNIERS e MARIN, 2006).

Já o óxido de lantânio, La2O3, é um óxido básico que se

apresenta na forma de um sólido quase branco, com ponto de fusão acima

de 2000°C. Tende a absorver CO2 do ar e se dissolve em soluções de

ácidos minerais, formando sais (BUDAVARI et al, 1996, MAHAN e MYERS,

1995). É um material com excelentes propriedades óticas, sendo depositado

na forma de filmes sobre vidros, emitindo em vários comprimentos de onda

na região do visível, sendo úteis para desenvolver fontes de novas cores,

dispositivos de visualização fluorescentes, sensores de UV, etc. (ZHANG et

al, 2008). O óxido de lantânio também é utilizado como suporte e/ou

catalisador nas mais diversas reações. Bouarab, Cherifi e Auroux (2005)

adicionaram diferentes teores de La2O3 à Co(O)/SiO2 e aplicaram este

material à reforma de metano por dióxido de carbono formando gás de

síntese.

A conjugação de óxido de magnésio ou óxido de lantânio em

sólidos lamelares ainda não foi descrita na literatura. Para tanto, neste

trabalho, foram produzidas e caracterizadas matrizes de titanatos de sódio

ou potássio, sendo posteriormente impregnadas com íons magnésio ou

lantânio ou com nanopartículas de óxido de magnésio ou lantânio em

diferentes teores por via úmida. Os materiais sintetizados foram avaliados

como possíveis catalisadores básicos em reações de transesterificação.

10

2.2.2.2.ObjetivosObjetivosObjetivosObjetivos • Sintetizar e caracterizar sólidos lamelares à base de titânio e

impregná-los com (i) íons magnésio (ii) íons lantânio (iii)óxido de magnésio ou

(iv) óxido de lantânio.

• Avaliar a potencialidade dos materiais sintetizados como

catalisadores em reações de transesterificação partindo de acetatos de metila

ou etila e como alcoóis, metanol ou etanol.

11

3.3.3.3.Parte experimentalParte experimentalParte experimentalParte experimental 3.1 Reagentes

Os reagentes: óxido de titânio (SIGMA-ALDRICH), carbonato de

potássio (MERCK), carbonato de sódio (NUCLEAR), hidróxido de potássio

(CIRQ), hidróxido de amônio (SYNTH), acetato de sódio (VETEC), ácido

acético (SYNTH), acetato de metila (CHEMCO), acetato de etila (CHEMCO),

etanol (SYNTH) e metanol (IMPEX) foram utilizados neste trabalho sem

tratamento prévio.

3.2 Sínteses

3.2.1 Síntese de tetratitanato de potássio

Tetratitanato de potássio (K2Ti4O9) foi produzido por reação no

estado sólido através da calcinação de uma mistura de 1 mol de óxido de

titânio (anatase) com um 3,5 mol de carbonato de potássio a 800°C por 20

horas em um cadinho de platina (IZAWA; KIKKAWA e KOIZUML, 1982). Este

excesso é justificado pela volatilização do carbonato de potássio abaixo da

temperatura de síntese, levando à possível formação outras fases de titanatos

de potássio (CARDOSO, 2002). Além disso, visando saturar a atmosfera da

mufla, utilizou-se também outro cadinho com carbonato de potássio. O ciclo de

calcinação foi repetido novamente após homogeneização do pó. O carbonato é

decomposto a óxido e subseqüentemente reage com a anatase (BAO et al,

2002).

3.2.2 Síntese de trititanato de sódio

A síntese do trititanato de sódio (Na2Ti3O7) foi realizada similarmente

à do tetratitanato de potássio - neste caso, utilizando proporção

12

estequiométrica dos reagentes - calcinando-se uma proporção 1 mol de óxido

de titânio para cada 3 mol de carbonato de sódio em um cadinho de platina a

800°C em dois ciclos de 20 horas cada.

3.2.3 Síntese de óxido de magnésio

O óxido de magnésio foram preparadas pelo método de precipitação

a temperatura ambiente utilizando-se solução de nitrato de magnésio 0,5 molL-1

em pH ácido (sendo utilizado ácido nítrico, aproximadamente pH= 3) e solução

de KOH 4 molL-1 gotejada lentamente sob agitação vigorosa e constante por

60 min (ARAMEND´IA et al, 2003; FEDOROV et al, 2007). As partículas foram

lavadas até começarem a peptizar (pH 8 – 9) e calcinadas a 600°C, a uma taxa

de aquecimento de 20°Cmin-1 por 4 horas.

3.2.4 Síntese de óxido de lantânio

O óxido de lantânio, La2O3, foi também rsintetizado pelo método de

precipitação. Para tanto, gotejou-se lentamente uma solução de hidróxido de

amônio 6% em uma solução 0,2 molL-1 de nitrato de lantânio em pH ácido

(utilizando-se ácido acético, pH=5) (MURUGAN; NAVALE e RAVI, 2006;

BHIRUD et al, 2004). O colóide branco obtido foi lavado até começar a peptizar

e foi calcinado a 600°C, a uma taxa de 30°Cmin-1 por 4 horas.

3.2.5 Impregnação dos óxidos de lantânio ou magnésio

Em 20 mL de água deionizada foram adicionados 2,0 g de K2Ti4O9

ou Na2Ti3O7 a quantidades de massa de óxido de magnésio ou óxido de

lantânio proporcionais aos percentuais desejados (1, 5 ou 10%), formando

suspensões. Estas foram agitadas em um banho termostatizado a 30°C por 3

horas e a elas foram adicionados 20 mL de álcool etílico para auxiliar na

evaporação do solvente.

13

3.3 Preparação e padronização das soluções para impregnação

3.3.1 Solução de nitrato de magnésio

A solução de nitrato de magnésio foi preparada utilizando-se nitrato

de magnésio (VETEC) tratado termicamente a 120°C por cerca de 4 horas e a

padronização da mesma foi realizada através da técnica de espectrofotometria

de absorção atômica em um aparelho Perkin Elmer 5000, pela FUNMINERAL.

3.3.2 Solução de nitrato de lantânio

O nitrato de lantânio foi preparado a partir da reação do óxido de

lantânio (MERCK), com ácido nítrico (DINÂMICA) concentrado, à temperatura

de ebulição, em um béquer. Ao término da reação, o excesso de ácido na

solução foi evaporado em banho-maria, acrescentando-se frequentemente

pequenas porções de água destilada até que o pH ficasse neutro. O volume da

solução obtida foi ajustado e a padronização da solução foi feita antes de seu

uso na etapa de impregnação. O teor de lantânio na solução foi determinado

por titulação complexométrica com EDTA, utilizando-se Xylenol Orange como

indicador e piridina a fim de visualizar melhor a viragem (LYLE e RAHMAN,

1963). Para a titulação, a solução do metal foi tamponada utilizando-se tampão

ácido acético-acetato de sódio (VOGEL, 1978).

3.4 Impregnação via solução dos nitratos metálicos

Em 2,0 g do suporte (K2Ti4O9 ou Na2Ti3O7) foram adicionados

volumes variados da solução de nitrato metálico (Mg = 0,38 mol L-1 e La =

0,074 mol L-1 ) de modo a ter 1, 5 ou 10% em massa do íon, sem ultrapassar o

volume total de 20 mL. O processo de impregnação foi realizado de modo igual

ao anterior, quanto à agitação, o tempo, a temperatura e a adição do álcool.

3.5 Tratamento térmico dos pós impregnados

Os pós impregnados com MgO ou La2O3 foram calcinados a 300°C

por 4 horas para a remoção da água e do solvente orgânico. Por sua vez, os

14

pós impregnados com solução de nitrato metálico foram calcinados na

temperatura de formação dos óxidos de magnésio/lantânio (600°C).

3.6 Nomenclatura e descrição das amostras sintetizadas

Tabela 1. Nomenclatura e descrição das amostras preparadas.

Nomenclatura Descrição

KTi ,KTi1, KTi2, KTi3 e KTi4

Tetratitanato de potássio (K2Ti4O9), modo genérico, síntese 1, síntese 2, síntese 3 e síntese 4.

NaTi, NaTi1, NaTi2 e NaTi3

Trititanato de sódio (Na2Ti3O7), modo genérico, síntese 1, síntese 2 e síntese 3.

MgO Óxido de magnésio. La2O3 Óxido de lantânio.

KTi1 Mg 1%, KTi1 Mg 5% e KTi1 Mg

10%

Tetratitanato de potássio impregnado com solução de nitrato de magnésio. Teor de magnésio: 1%, 5% ou 10%.

KTi1 MgO 1%, KTi1 MgO 5% e KTi2 MgO

10%

Tetratitanato de potássio impregnado com nanopartículas de MgO. Teor de magnésio: 1%, 5% ou 10%.

KTi1 La 1%, KTi2 La 5% e KTi1 La 10%

Tetratitanato de potássio impregnado com solução de nitrato de lantânio. Teor de lantânio: 1%, 5% ou 10%.

KTi3 La2O3 1%, KTi3 La2O3 5% e KTi3

La2O3 10%

Tetratitanato de potássio impregnado com nanopartículas de MgO. Teor de lantânio: 1%, 5% ou 10%.

NaTi MgO 1%, NaTi MgO 5% e NaTi MgO

10%

Trititanato de potássio impregnado com nanopartículas de MgO. Teor de magnésio: 1%, 5% ou 10%.

NaTi La 1%, NaTi La 5% e NaTi La 10%

Trititanato de potássio impregnado com solução de nitrato de lantânio. Teor de lantânio: 1%, 5% ou 10%.

NaTi La2O3 1%, NaTi La2O3 5% e NaTi

La2O3 10%

Trititanato de potássio impregnado com nanopartículas de MgO. Teor de lantânio: 1%, 5% ou 10%.

15

3.7 Caracterizações

3.7.1 Difratometria de raios X

A caracterização estrutural e a avaliação da cristalinidade dos

materiais sintetizados foram realizadas por difratometria de raios X (DRX), pelo

método do pó.

Os difratogramas foram obtidos utilizando o equipamento Shimadzu,

modelo XRD 6000, utilizando radiação Cu-Kα (λ = 1,54056 Ǻ) 40KV e 30 mA,

em suporte antirreflexivo, variando o ângulo entre 5 e 60 graus (2θ), com

velocidade de varredura de 2°/min.

A identificação das fases foi efetuada por comparação com a base

de dados disponíveis no JCPDF e o cálculo das distâncias interlamelares foi

feito utilizando-se a lei de Bragg no primeiro ângulo de difração (CULLITY,

1956):

nλ =2dsenθ

Em que:

n: ordem de difração

λ: comprimento de onda em Angstroms

θ: ângulo da incidência do feixe

d: distância interplanar.

O diâmetro médio dos cristalitos foi estimado a partir do ângulo de

difração mais intenso e sua largura à meia altura aplicados na equação de

Scherrer:

D = (0,9λ).(BcosθB)-1.

D: diâmetro médio dos cristalitos

λ: 1,540562

B: valores de largura do pico á meia altura, obtido através da relação B2 =

B2(amostra) – B2

(padrão de silício)

0,9: fator de correção que leva em conta a forma das partículas

θB: ângulo de Bragg.

16

3.7.2 Termogravimetria

As curvas termogravimétricas foram obtidas no equipamento de

marca SHIMADZU, modelo DTA/DTG 60H, em intervalo de temperatura

compreendido entre 10 a 900°C, com taxa de aquecimento de 10°Cmin-1, sob

fluxo de nitrogênio de 50 mLmin-1. A termogravimetria foi usada para avaliação

da perda de massa dos materiais com o aumento da temperatura, além de ser

um método alternativo na determinação da quantidade de água.

3.7.3 Quantificação do teor de metal impregnado na matriz

As matrizes de titanato impregnadas (100 mg) foram solubilizadas

por meio de digestão com solução de ácido sulfúrico a temperatura de

ebulição. A solução obtida teve seu volume ajustado para 100 mL com água

deionizada. Somente matrizes impregnadas com magnésio foram avaliadas,

uma vez que o método complexométrico que foi utilizado para quantificar íons

La3+ teria titânio como interferente (LI; GUO e LIU, 2005). A quantificação de

magnésio, de sódio e de potássio nas soluções foi realizada através da técnica

de espectrofotometria de absorção atômica em um aparelho Perkin Elmer

5000, pela FUNMINERAL.

3.7.4 Fisissorção de N2

As medidas de fisissorção de nitrogênio foram realizadas na

temperatura do nitrogênio líquido usando-se um equipamento Micrometrics

modelo ASAP 2010. Antes da análise, aproximadamente 0,3 gramas de

amostra foram tratadas a vácuo, a uma temperatura de 120°C por 2 h. As

áreas específicas dos materiais foram estimadas utilizando-se a equação de

BET, e a distribuição do volume de poros foram determinados pelo método de

BJH (TEIXEIRA; COUTINHO e GOMES, 2001).

3.7.5 Espectroscopia na região do infravermelho médio

As análises por espectroscopia na região do infravermelho foram

realizadas em equipamento Perkin Elmer Spectrum 400 FT-IR/FT-FIR

17

Spectrometer. As amostras foram diluídas em KBr, produzindo-se pastilhas e a

região espectral variou de 4000 a 450 cm-1. A resolução dos espectros foi de 4

cm-1 com acumulação de 32 varreduras.

3.7.6 Microscopia eletrônica de transmissão

As análises de Microscopia Eletrônica de Transmissão foram

realizadas em equipamento JEOL 1011 com 100 kV no laboratório de

Microscopia Eletrônica da Universidade de Brasília (IB-UNB).

As amostras foram dispersas em água e agitadas em banho de sonicação

(frequência 40kHz) por 10 minutos. As suspensões aquosas das partículas

foram depositadas em telas de cobre de 200 mesh previamente recobertas

com polímero Formvar, sendo que as fotografias foram retiradas após secagem

do material à temperatura ambiente (MORAIS et al, 2006).

3.8 Aplicação dos materiais como catalisadores

3.8.1 Reações de transesterificação

As reações de transesterificação foram realizadas para avaliar a

basicidade dos materiais preparados e sua potencialidade como catalisador.

Em micro reatores de vidro com capacidade máxima de 2 mL foram colocados

0,9 mL de uma mistura éster e álcool 1:6 (acetato de etila e metanol ou acetato

de metila e etanol) juntamente com um pequeno magneto e 30 mg de cada pó

(os 30 mg correspondem a 4% em massa do catalisador em relação à massa

da mistura reacional). Esse aparato foi colocado sob um agitador magnético e

aquecido a temperatura constante de 50°C por 30 min. Uma melhor

visualização do esquema utilizado é apresentada na Figura 6 (MARTINS,

2009).

Ao final dos 30 minutos os micro reatores foram colocados em um

banho de gelo a fim de parar a reação. O líquido separado por centrifugação foi

analisado por cromatografia gasosa.

18

Figura 6. Sistema reacional utilizado nas reações de transesterificação contendo seis

reatores de 1 mL cada. (a) e (b) Sistema reacional sendo montado e (c) reatores imersos

em banho termostatizado, volume do recipiente 250 mL (MARTINS, 2009).

3.8.2 Testes de reuso

Os testes de reuso foram realizados para verificar se a atividade dos

catalisadores se mantém após sua utilização, além de inferir sobre o tipo de

catálise que governa a reação. Os testes foram realizados em um reator com

capacidade máxima de 100 mL que possui uma camisa de aquecimento na

qual circula água aquecida na temperatura da reação, mantendo as condições

para as reações feitas em micro escala, sendo que na parte superior do

sistema, havia um condensador de bola para manter a mistura sob refluxo. A

Figura 7 mostra o aparato em que foram processadas as reações. A cada novo

uso do pó, o mesmo foi separado e seco sob fluxo de N2(g) e a mistura

reacional foi recolhida para ser analisada por cromatografia (MARTINS, 2009).

19

Figura 7. Sistema reacional utilizado para os testes de reuso.

3.8.3 Análise cromatográfica

As análises cromatográficas para a avaliação qualitativa e

quantitativa da efetividade catalítica dos pós utilizados nas reações de

transesterificação foram realizadas no DEQ-UFSCar utilizando-se um

cromatógrafo VARIAN Star 3400 Gas Chromatograph, com coluna (50m x

0,25mm), temperaturas do injetor, da coluna e do detector de 170°C, 65°C e

110°C, respectivamente e hélio como gás de arraste. Para cada amostra foi

injetado 1µL do produto resfriado com tempo de análise de 10 minutos para

cada amostra.

20

3.8.4 Atividade do catalisador

Os tempos de retenção dos compostos identificados pela análise

cromatográfica são utilizados para identificar os reagentes/produtos que

passaram pela coluna cromatográfica e as áreas dos picos (que são

proporcionais à massa de cada composto identificado) para cada reagente ou

produto envolvido nesta reação foram utilizados no cálculo do percentual de

conversão do acetato A em acetato B. As equações a seguir foram utilizadas

para quantificar a formação de acetato nas reações de transesterificação.

100*AcetatoAAcetatoB

AcetatoBAcetatoB

ff

fX

+

=

Em que:

X Acetato B = conversão de Acetato B formado

f Acetato B = fração molar de Acetato B formado

f Acetato A = fração molar de Acetato A

Sendo:

AcetatoBTotal

AcetatoBAcetatoB

MMS

Sf

1*

=

Na qual:

S Acetato B= Área do pico de Acetato de Metila

MM Acetato B = Massa molecular do Acetato de Metila

S Total = Soma das áreas dos picos dos reagentes e dos produtos

21

3.8.5 Caracterização do catalisador após testes de reuso

A fim de investigar o comportamento do catalisador e da mistura

reacional após os testes de reuso os mesmos foram caracterizados

respectivamente por DRX e absorção atômica (FUNMINERAL). KTi4 sem

qualquer impregnação foi utilizado no meio reacional acetato de etila e metanol,

sendo separado e seco sob atmosfera de N2 após cada ciclo. Foram recolhidas

alíquotas do líquido após as reações e as mesmas foram utilizadas sem

tratamento prévio para medir o teor de K+ nessas soluções com o intuito de

verificar se há saída desses íons da região interlamelar após cada batelada.

22

4444.... Resultados e DiscussãoResultados e DiscussãoResultados e DiscussãoResultados e Discussão

4.1 Difratometria de raios X

4.1.1 Difratometria de raios X das matrizes lamelares e das nanopartículas

de óxido de magnésio e de óxido de lantânio

Em geral, a difração de raios X é uma técnica essencial para

caracterizar materiais lamelares visto que fornece informações imprescindíveis

para esta classe de materiais, tal como a distância interlamelar.

1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0

2 θ (g ra u s )

Inte

nsid

ade

(u. a

.)

(1 0 0 )

(1 0 1 )

(0 0 1 )

Figura 8. Difratograma de raios X da amostra NaTi2.

Foram realizadas três sínteses de trititanato de sódio para este

trabalho (NaTi1, NaTi2 e NaTi3) e pode-se observar padrões de difratometria

de raios X idênticos para todos. No difratograma do trititanato de sódio

apresentado na Figura 8 pode-se identificar a estrutura do sólido analisado

através do conjunto de picos referentes aos planos (001), (100) e (101) em

respectivamente 2θ = 10,1°, 10,7° e 16,0° (JCPDF, ficha n° 720148). O pico em

2θ = 10,7° corresponde à distância interlamelar de 8,26Å . Este valor é

semelhante aos encontrados na literatura para este titanato (NUNES L. M.,

2006).

23

Com relação ao tetratitanato de potássio, os difratogramas das

amostras KTi1, KTi2 e KTi3 utilizadas neste trabalho são apresentados na

Figura 9. Os picos em 2θ = 10,2°, 14,5° e 48,1° referentes aos planos (200),

(201) e (020) auxiliaram a identificar as fases presentes nos materiais

sintetizados (JCPDF, ficha n° 320861). Com base nos valores de 2θ as

distâncias interplanares foram calculadas para as amostras KTi1, KTi2 e KTi3

são, respectivamente, 8,75Å, 8,58Å e 8,66Å. Como esperado, os difratogramas

apresentam perfis semelhantes, embora com diferentes intensidades relativas

entre os picos e com a presença de outras fases.

A Figura 9 indica a formação da fase K2Ti6O13 nas matrizes KTi1 e

KTi2 através do pico em 2θ = 11.5° (JCPDF, ficha n° 400403) como

consequência da volatilização do carbonato de potássio.

10 20 30 40 50 60 70 80

ο

Inte

nsid

ade

(u. a

.)

2θ (graus)

(200)(201) (020)

(a)

(b)

(c)

ο ∆ Κ2Ti

6O

13

ο TiO2

Figura 9. Difratogramas de raios X das amostras (a) KTi1, (b) KTi2 e (c)KTi3.

Também na Figura 9 observa-se a presença de um pico em 2θ =

25,3°(JCPDF, ficha n° 841286) para as amostras KT1 e KTi3 que pode ser

interpretado como indício da fase anatase do óxido de titânio; porém os demais

picos que caracterizam a fase anatase encontram-se na mesma região em que

os picos do tetratitanato. A fase anatase pode permanecer em decorrência de

falta de carbonato de potássio suficiente para completar a reação ou mesmo

pela impossibilidade de homogeneização constante (que auxilia na difusão dos

íons) durante a síntese, uma vez que a mesma não é realizada em condições

brandas de temperatura.

24

Os óxidos de magnésio e lantânio sintetizados foram também

analisados por difratometria de raios X e seus difratogramas são apresentados

na Figura 10.

Figura 10. Difratogramas de raios X das amostas (a) MgO e (b) La2O3.

O picos em 2θ = 36.99°, 43.37° e 62.19° observados no difratograma

da Figura 10 (a) correspondem aos planos (111), (200) e (220) sendo

característicos do óxido de magnésio com estrutura cúbica de face centrada

(JCPDF, ficha n° 870653). O diâmetro médio de cristalito das nanopartículas de

óxido de magnésio é da ordem de 11 nm (Figura 10).

O conjunto de picos em 2θ= 25.97°, 28.96° e 37.09°, correspondentes

aos planos (100), (101) e (102), respectivamente (JCPDF, ficha n° 831355),

caracterizam o óxido de lantânio (Figura 10). As nanopartículas de óxido de

lantânio sintetizadas tiveram seu diâmetro médio de cristalito calculado em 72

nm. No difratograma do óxido de lantânio, também pode se observar picos 2θ =

27,2° e 27,9° (JCPDF, ficha n° 832034).

4.1.2 Matrizes impregnadas

De modo geral, os difratogramas de raios X dos titanatos

impregnados apresentam uma diminuição em sua cristalinidade

independentemente da matriz utilizada, conforme ilustrado nas figuras a seguir.

20 30 40 50 60 70 80

Inte

nsid

ade

(u. a

.)

2 θ (g ra us )

(a )

(b )

(1 11 )

(20 0 )

(22 0 )

(3 1 1)(22 2 )

(10 0)

(10 1)

(10 2 )

La(OH )3

25

4.1.2.1 Matrizes impregnadas com MgO e Mg2+

A impregnação de óxido de magnésio na matriz NaTi (Figura 11) não

provocou alteração significativa no padrão de raios X quando comparado com

a matriz pura. Contudo, é observada a presença de um pico em 2θ = 42,8°

correspondente ao plano (200) referente ao pico mais intenso da fase MgO

apenas na matriz impregnada com 10% do óxido.

10 20 30 40 50 60

Inte

nsid

ade

(u. a

.)

2θ (graus)

(a)

(b)

(c)

(d)

(200)

Figura 11. DRX das matrizes NaTi impregnadas com MgO em diferentes teores (a)

matriz pura (b) NaTi MgO 1%, (c) NaTi MgO 5% e (d) NaTi MgO 10%.

Comportamento diferente do conjunto anterior é observado para o

tetratitanato de potássio impregnado com óxido de magnésio na Figura 12 em

que nota-se o desaparecimento do pico em 2θ = 25,3° que corresponde ao

plano (101) da fase anatase do óxido de titânio e também um alargamento do

pico em 2θ = 11,5° correspondente ao plano (200) referente à fase K2Ti6O13.

Tais observações sugerem uma possível formação de um óxido misto de titânio

e magnésio embora isso não possa ser observado nos difratogramas.

26

20 40 60

Inte

nsid

ade

(u. a

.)

2θ ( graus)

(a)

(b)

(c)

(d)

Figura 12. DRX da matriz KTi1 impregnada com MgO em diferentes teores (a) matriz

pura KTi1 (b) KTi1 MgO 1%, (c) KTi1 MgO 5% e (d) KTi1 MgO 10%.

A observação dos difratogramas referentes à matriz KTi impregnada

com óxido de magnésio não revela a presença de qualquer pico referente à

fase MgO, mesmo naquelas em que o teor do óxido de magnésio utilizado foi

maior.

Em relação à matriz NaTi impregnada com íons Mg2+ se observa no

difratograma (Figura 13) um alargamento dos picos entre 5° < 2θ < 15°,

quando se compara com a matriz NaTi pura. Na matriz impregnada com 10%

do íon magnésio é possível notar um alargamento mais intenso dos referidos

picos conforme Figura 13. Por outro lado, picos referentes à fase MgO (JCPDF

ficha n° 780430) não foram observados.

27

10 20 30 40 50 60

Inte

nsid

ade

(u. a

.)

(a )

(b )

(c)

(d )

2θ (g raus)

Figura 13. DRX das matrizes NaTi impregnadas com Mg2+

em diferentes teores (a)

matriz NaTi pura (b) NaTi Mg 1%, (c) NaTi Mg 5% e (d) NaTi Mg 10%.

Na figura 14 estão ilustrados os difratogramas referentes à matriz

KTi2 impregnada com íons magnésio.

10 20 30 40 50 60

Inte

nsid

ade

(u. a

.)

g raus 2 theta

2θ (graus)

Figura 14. DRX da matriz KTi2 impregnadas com Mg2+

em diferentes teores (a) KTi2

(b) KTi2 Mg 1%, (c) KTi2 Mg 5% e (d) KTi2 Mg 10%.

É possível observar que dentre todas as matrizes impregnadas com

óxido de magnésio ou íons magnésio, a maior perda de cristalinidade tenha

ocorrido para o conjunto de amostras da matriz KTi impregnada com íons Mg2+.

28

Ainda pode-se notar que o aumento do teor dos íons magnésio leva a uma

diminuição da cristalinidade do material impregnado.

Além disso, tal como para o conjunto de amostras da matriz NaTi

impregnada com íons Mg2+, tampouco aparecem picos referentes às fases

Mg(OH)2 ou MgO.

É importante ressaltar que durante o processo de impregnação,

pode ocorrer troca iônica entre íons K+ presentes no espaço interlamelar e os

cátions presentes na solução, em função da proximidade dos tamanhos dos

raios hidratados dessas espécies. Em relação à impregnação com

nanopartículas, é pouco provável que as mesmas possam ter adentrado na

região interlamelar devido à grande diferença nas dimensões da entrada da

galeria (cerca de 9Å) e das nanopartículas (110 Å para MgO e 720 Å para

La2O3).

4.1.2.2 Matrizes impregnadas com La2O3 e La3+

Nos difratogramas apresentados na figura 15 observa-se a

diminuição da cristalinidade das matrizes impregnadas com óxido de lantânio

quando comparadas com a matriz pura NaTi. Os principais ângulos de difração

que caracterizam óxido de lantânio (2θ = 26°, 29° e 39°) encontram se na

mesma região de alguns picos presentes nas matrizes pura sendo, portanto,

difícil afirmar a existência de tal óxido no material impregnado. Por outro lado,

em todas as amostras observa-se picos em 2θ = 27.9° e 39.5° que são

característicos de hidróxido de lantânio. Outrossim, na Figura 15 com menor

teor de óxido observa-se o desaparecimento dos planos (101) e (110)

correspondentes aos ângulos 15,7°, 25,8° que eram de significativa intensidade

na matriz pura. Tal desaparecimento sugere a reação de óxido de

lantânio/hidróxido de lantânio com a matriz, conforme visto para o caso do

magnésio.

29

1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

(a )

(b )

(c )

(d )

2 θ (g ra u s )

L a (O H )3

Figura 15. DRX das matrizes NaTi impregnada com La2O3 em diferentes teores (a)

NaTi La2O3 1%, (b) NaTi La2O3 5% e (c) NaTi La2O3 10%.

Em relação à matriz KTi impregnada com o óxido, os difratogramas

são apresentados na Figura 16. Os picos característicos das fases La2O3 e

La(OH)3 se sobrepõem aos picos da matriz, logo não foram identificados. Tal

como nos casos anteriormente analisados, é possível observar um

alargamento do pico em 11,5° correspondente à fase K2Ti6O13. O

desaparecimento dos picos referentes à fase anatase do TiO2, juntamente com

o fato de o pico em 11,5° se alargar são indícios de uma possível reação entre

os óxidos utilizados nesta impregnação, que ocorreria pela disponibilidade da

fase TiO2 no pó sintetizado. Entretanto não se tem o aparecimento de novos

picos para confirmar tal proposição, seja pela formação de pequena quantidade

de material, não sendo possível ser identificado por essa técnica ou mesmo por

um caráter não-cristalino do novo material caso o mesmo tenha sido formado.

30

10 20 30 40 50 60

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

(a )

(b)

(c)

(d)

2θ (graus)

Figura 16. DRX das matrizes KTi impregnada com La2O3 em diferentes teores (a) KTi3

(b) KTi3 La2O3 1%, (c) KTi3 La2O3 5% e (d) KTi3 La2O3 10%.

A matriz NaTi impregnada com íons La3+ tem seus difratogramas

ilustrados na Figura 17 na qual se observa alargamento dos picos diretamente

proporcional ao aumento do teor do íon na matriz. A confirmação da presença

das fases La(OH)3 ou La2O3 nas matrizes impregnadas não é clara, pois seus

principais picos encontram-se em 2θ muito próximos aos apresentados pela

matriz pura.

10 20 30 40 50 60

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

g raus 2 theta

(a)

(b)

(c)

(d)

Figura 17. DRX das matrizes NaTi impregnada com La3+

em diferentes teores (a) NaTi

(b) NaTi La 1%, (c) NaTi La 5% e (d) NaTi La 10%.

31

Para o grupo de matrizes KTi impregnadas com La3+, a alteração

mais importante ocorrida com a adição dos íons é a diminuição da

cristalinidade com o aumento da quantidade dos mesmos.

10 20 30 40 50 602θ (graus)

(a)

(b)

(c)

(d)In

tens

idad

e (u

. a.)

Figura 18. DRX das matrizes KTi impregnada com La3+

em diferentes teores (a) matriz

pura KTi (b) KTi1 La 1%, (c) KTi1 La 5% e (d) KTi1 La 10%.

Assim como para o caso anterior, o aparecimento das fases La(OH)3

ou La2O3 não pode ser confirmado em função da coincidência das regiões em

que os principais ângulos de difração se apresentam.

32

4.2 Termogravimetria

A análise termogravimétrica foi utilizada neste trabalho a fim de

avaliar o comportamento dos materiais com o aumento de temperatura. Tal

levantamento, na área de catálise, mostra-se extremamente relevante, dado

que diversas reações são conduzidas em temperaturas mais altas e a

estabilidade térmica do catalisador é um fator que pode implicar diretamente

em sua eficiência.

Uma característica importante desses titanatos e outros materiais

lamelares é o fato de que eles são hidratados quando expostos ao ar,

apresentando estágios de decomposição relacionados com a saída de água.

(CARDOSO et al, 2005).

A Figura 19 ilustra as curvas termogravimétricas das matrizes de

sódio impregnadas com magnésio.

100.00 200.00 300.00 400.00 500.00 600.00 700.00 800.00 900.00

Temp [C]

80.00

90.00

100.00

%

TGA

Figura 19. Curvas termogravimétricas das matrizes NaTi pura (em vermelho), matriz

NaTi impregnada com Mg2+

(em azul) e matriz NaTi impregnada com MgO (em verde).

Comparando-se a matriz NaTi impregnada com íons Mg2+ à matriz

NaTi pura, percebe-se que as curvas das mesmas são praticamente idênticas

quanto ao perfil. Para a matriz impregnada, na faixa de temperatura entre 85°C

e 130°C percebe-se uma etapa de perda de massa relativa a 1,6% da massa

inicial atribuída à saída de água fisissorvida, ocorrendo posteriormente uma

etapa de decomposição lenta cujo percentual de perda de massa é da ordem

de 3,2%, relativo à condensação de grupos OH do Mg(OH)2. A perda total de

33

massa no intervalo de 85 a 800°C corresponde à saída de 1,2 mol de água

para ambos os casos.

Por outro lado, para matrizes puras, decomposições acima de 200°C

são compreendidas como indícios da presença de água na região interlamelar,

que demandaria temperaturas elevadas para se decompor, diferentemente da

água fisissorvida. No entanto, a intercalação de água leva a um aumento da

distância interlamelar e para a matriz o valor obtido foi de 8,26Å, não sendo

correspondente aos valores encontrados para titanatos com água na região

interlamelar (SASAKI et al, 1985).

Em relação à matriz impregnada com MgO pode-se observar as

etapas de perda de massa de maneira mais clara do que para as matrizes

anteriormente discutidas. Na faixa de 88°C até aproximadamente 126°C, há um

estágio de perda de massa, que resulta numa perda de 5,2%, relacionada com

a água fisissorvida. Ocorrem mais dois estágios de perda de massa, o primeiro

entre 130°C e 460°C, com perda de massa de 3,9% e o outro entre 480°C e

844°C, com perda de massa de 2,9%, os quais podem ser associados à

condensação de grupos OH ligados à superfície das nanopartículas

impregnadas.

As curvas termogravimétricas para o conjunto de amostras em que

magnésio na forma de íon ou óxido é impregnado ao titanato de potássio são

apresentadas na Figura 20. É interessante notar que os perfis das curvas são

semelhantes aos da matriz NaTi impregnada com magnésio.

A matriz pura KTi apresenta um único estágio de perda de massa,

ocorrendo entre 40°C e 640°C, com perda de 5,5%. Já a matriz KTi

impregnada com íons Mg2+ apresenta entre 40°C e 500°C perda de

aproximadamente 6,8%. A partir de 556°C se inicia o último estágio de perda

que finaliza a 699°C e é referente a 5,1% em massa do material. Por sua vez, a

matriz KTi impregnada com MgO apresenta dois eventos de perda de massa: o

primeiro que começa em 60°C e termina a 150°C, com perda de massa de

7,8% e o segundo que ocorre entre 300° C e 800°C, com perda de massa de

3,8%. Todas as atribuições de perda de massa podem ser entendidas como

análogas àquelas apresentadas anteriormente para a matriz NaTi.

34

200.00 400.00 600.00 800.00Temp [C]

80.00

90.00

100.00

%TGA

Figura 20. Curvas termogravimétricas das matrizes KTi pura (em vermelho), matriz KTi

impregnada com Mg2+

(em azul) e matriz KTi impregnada com MgO (em verde).

O titanato impregnado com íons La3+ quando comparado à matriz

pura apresenta comportamento similar ao já discutido para o mesmo tipo de

matriz impregnado com íons magnésio, e as curvas termogravimétricas são

ilustradas na Figura 21.

100.00 200.00 300.00 400.00 500.00 600.00 700.00 800.00 900.00Temp [C]

80.00

90.00

100.00

%TGA

Figura 21. Curvas termogravimétricas das matrizes NaTi pura (em vermelho), matriz

NaTi impregnada com La3+

(em azul) e matriz NaTi impregnada com La2O3 (em verde).

35

Na matriz NaTi impregnada com íons lantânio são percebidos dois

estágios de perda de massa nos intervalos de temperatura 89-134°C e 186-

645°C, com decomposições de aproximadamente 1,5% e 3,2%,

respectivamente. Por sua vez, a matriz impregnada com o óxido, quando

aquecida até 150°C, passa por dois estágios de perda de massa sobrepostos,

sendo o total de 6% de decomposição. O próximo evento finaliza a 750°C,

representando uma perda de massa de 11%.

E por último, a Figura 22 mostra as curvas das amostras KTi

impregnadas com La3+/La2O3. Na impregnação com íons lantânio também são

observados dois eventos de perda de massa que ocorrem a 40-188°C e 180-

826°C, com decomposições de aproximadamente 5,5% e 4,5%,

respectivamente. No que diz respeito à matriz impregnada com o óxido, a partir

de 40°C até 153°C são vistos dois estágios sobrepostos, com quantitativo de 8%

de decomposição. O estágio final de decomposição se completa a 730°C, e

corresponde a uma perda de massa de 6,4%, que pode estar relacionada à

decarbonatação da superfície do óxido de lantânio, uma vez que tal óxido

adsorve CO2(g) da atmosfera (ATKINS e JONES, 2002).

100.00 200.00 300.00 400.00 500.00 600.00 700.00 800.00 900.00Temp [C]

85.00

90.00

95.00

100.00

%TGA

Figura 22. Curvas termogravimétricas das matrizes KTi pura (em vermelho), matriz KTi

impregnada com La3+

(em azul) e matriz KTi impregnada com La2O3 (em verde).

36

4.3 Quantificação de metal nas matrizes impregnadas

As matrizes impregnadas com Mg2+ tiveram o teor destes íons

quantificados e os resultados são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Percentual de magnésio nas matrizes impregnadas e quantidades de

sódio/potássio presentes na matriz.

Matriz Teor de Mg2+ (%) Na+ (mg) K+ (mg)

KTi2 Mg 1% 0,4 0,8 17,8

KTi2 Mg 5% 2,1 0,5 15,5

KTi2 Mg 10% 3,8 0,9 7,9

NaTi Mg 1% 0,4 5,28 0,2

NaTi Mg 5% 2,1 11,3 0,3

NaTi Mg 10% 2,2 13,0 0,2

Primeiramente, foram calculadas as massas das matrizes, utilizando

a quantidade de potássio/sódio determinada por absorção atômica.

1mol K2Ti4O9 = 413,8 g, sendo que 78,2 g são relativos à massa de

potássio, logo para a matriz KTi2 Mg 1%:

413,8g de KTi -------------- 78,2 g de K

X -------------- 17,8 .10-3 g de K

X = 94,19 mg de matriz KTi

O percentual de magnésio nas matrizes impregnadas foi calculado

em relação à massa da matriz encontrada.

As amostras KTi1 Mg 1%, KTi1 Mg 5%, KTi2 Mg 10%, NaTi Mg 1% e

NaTi Mg 5% apresentaram teor de íons magnésio impregnado de

aproximadamente 40% da quantidade prevista inicialmente e para a matriz

NaTi Mg 10% de aproximadamente 20%. É importante ressaltar que os

materiais após o processo de impregnação não foram lavados e a calcinação

37

não levaria à perda de magnésio. Além disso, a solubilidade dos titanatos é

bastante baixa, demandando condições extremas para abertura.

O trabalho de Jiang (2006) sugere que sejam feitas impregnações

sucessivas a fim de se alcançar conteúdos maiores do metal impregnado no

suporte.

4.4 Espectroscopia na região do infravermelho médio (IV)

A análise por espectroscopia na região do infravermelho é importante

para identificar grupos químicos presentes nos materiais sintetizados. Os

espectros de IV das amostras NaTiMg 10% e NaTiMgO 10% são apresentados

na figura 23. A partir da observação dos mesmos nota-se que apenas na matriz

impregnada com MgO aparece uma banda localizada em 3657 cm-1 referente à

MgOH (FONSECA, 2000). Este dado concorda com os difratogramas das

amostras NaTiMg nos quais não puderam ser observados picos referentes à

MgO/Mg(OH)2 e com o DRX da amostra NaTiMgO 10% em que há um pico em

42,8°, típico da fase MgO.

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

Tra

nsm

itânc

ia (

%)

número de onda (cm-1)

(a)

(b)3657

651

Figura 23. Espectros de IV das amostras (a) NaTiMg 10% e (b) NaTiMgO 10%.

Na matriz NaTiMg 10% percebe-se uma banda em 651 cm-1 que

pode ser atribuída de acordo com Chaves et al (2006) à octaedros

condensados de TiO6 que teriam seus estiramentos na região de 650–550cm-1.

38

Bandas nesta mesma região (650 cm-1 e 518 cm-1) também podem ser vistas

através da Figura 24 para as amostras KTiLa1%, KTiLa10% e KTi La2O3 10%.

3000 2000 1000

650

Tra

nsm

itânc

ia (

u. a

.)

número de onda (cm-1)

(a)

(b)

518

(c)

(d)

Figura 24. Espectros de IV das amostras (a) KTi La 1%, (b) KTiLa 10%, (c) NaTi La

10% e (d) KTi La2O3 10%.

A atribuição das bandas na região de 650 – 550 cm-1 não foi

realizada para os materiais impregnados com lantânio, pois as bandas

referentes aos estiramentos O-H no La2O3 (668 cm-1) e La-O em 500 cm-1 se

sobrepõem (MOURA; SOUZA e RANGEL, 2007).

4.5 Microscopia eletrônica de transmissão (MET)

Micrografias da amostra KTi2 Mg 10% estão ilustradas na Figura

25. A partir da observação das mesmas é possível verificar que o material é

formado por agrupamentos de folhas que se encontram sobrepostas.

Já a Figura 26 se refere a uma micrografia da amostra KTi3 La2O3

5%, sendo possível verificar a presença de aglomerados de materiais com a

forma de folhas ou finos bastões. Além disso, como marcado na figura pelas

setas, há aglomerados de forma arredondada. Isso pode sugerir a presença de

clusters de La2O3 na superfície do tetratitanato de potássio.

39

Figura 25. Microscopias eletrônicas de transmissão da amostra KTi Mg 10%.

Figura 26. Micrografia da amostra KTi3 La2O3 5%.

4.6 Fisissorção de N2

De acordo com as medidas de dessorção e fisissorção de N2(g)

realizadas, os materiais sintetizados apresentam valores de área superficial

muito pequenos (Tabela 3), o que é esperado para esta classe de materiais

40

que, por serem sintetizados a temperaturas elevadas, possuem áreas

superficiais geralmente menores que 5m2/g (SILVA, 2004).

Tabela 3. Amostras e suas respectivas áreas superficiais.

Amostra Área (m2/g)

KTi1 MgO 1% 0,9

KTi1 MgO 5% 3,7

KTi1 La 1% 1,2

KTi2 La 5% 0,1

KTi1 La 10% 0,4

NaTi MgO 1% 2,5

NaTi La 10% 5,3

Além disso, durante o procedimento de impregnação os poros

bidimensionais dos titanatos podem ter sido entupidos, resultando em áreas

superficiais ainda menores que as relatadas na literatura para a matriz pura

(MACHIDA et al, 1998; BRASIL, 2008 e KIM et al, 2009).

4.7 Avaliação catalítica

Todos os materiais sintetizados para este trabalho foram avaliados

na reação de conversão dos acetatos metila em acetato de etila ou acetato de

etila em acetato de metila.

4.7.1 Mistura reacional metanol e acetato de etila

A partir do gráfico ilustrado na Figura 27, pode-se comparar a

eficiência dos catalisadores impregnados com Mg2+/MgO na reação de

transesterificação envolvendo acetato de etila e metanol nas condições

mencionadas na parte experimental.

O óxido de magnésio puro foi testado apresentando uma elevada

conversão de aproximadamente 98%, conversão típica de catalisadores

básicos homogêneos. Na revisão elaborada por HELWANI et al (2009), são

41

apresentados trabalhos em que a transesterificação de óleos vegetais com o

uso de MgO levou a conversões semelhantes às obtidas neste trabalho.

Por sua vez, os conjuntos de amostras KTi-MgO, NaTi-Mg, KTi, NaTi

apresentaram conversões entre 10 e 80% e ainda dentro desses grupos, pode-

se destacar aqueles que foram impregnados com 5% de íon ou de

nanopartícula que converteram entre 50 e 70% do acetato de metila em acetato

de etila. O uso dos conjuntos de amostras KTi-Mg e NaTi-MgO resultou em

baixas atividades (entre 2 e 10%). A comparação desses resultados com os

resultados para o MgO revela uma diminuição na atividade catalítica.

Comportamento semelhante foi observado por Antunes, Veloso e Henriques

(2008) quando este grupo utilizou MgO puro (64% de conversão a 70°C) e um

óxido misto à base de magnésio e alumínio (12% de conversão a 70°C) na

transesterificação de óleo de soja com uso de metanol.

Em relação as matrizes puras, sem qualquer impregnação, a maior

parte delas converteu cerca de 65% do éster, indicando uma possibilidade de

uso desses sólidos sem a adição de qualquer outro material, sendo que as

matrizes de titanato de potássio tiveram maior atividade que as matrizes de

sódio.

A Figura 27 apresenta as conversões de acetato de etila em acetato

de metila, utilizando metanol e matrizes NaTi ou KTi impregnadas com

Mg2+/MgO.

Figura 27. Conversões de acetato de etila em acetato de metila, utilizando metanol e

matrizes NaTi ou KTi impregnadas com Mg2+

/MgO.

42

Dentre as matrizes puras com potássio, a matriz KTi1 apresentou

maior conversão (70,4%). A diferença estrutural desta matriz para as outras

está na presença da fase de hexatitanato de potássio. Em relação às matrizes

KTi2 e KTi3, suas conversões foram bastante parecidas, sendo maior para a

KTi2 (51,9%). Provavelmente a presença de TiO2 na matriz KTi3 pode ter

influenciado na cinética da reação, uma vez que esse óxido tem caráter ácido,

e essa acidez poderia levar a uma diminuição na conversão.

A atividade do óxido de lantânio puro comparado com o óxido de

magnésio foi menor para essa mesma reação, levando a uma conversão de

0,13%. Resultados diferentes foram obtidos por outros grupos ao se utilizar

temperaturas e tempos de reação maiores. Por exemplo, na metanólise de óleo

de soja à temperatura de 200°C durante 400 min observou-se uma conversão

de cerca de 90% (YAN et al, 2009). Para a mesma mistura reacional, uma

diminuição no tempo (120 min) e na temperatura (65°C) levou a uma conversão

de aproximadamente 10% (YAN; SALLEY e SIMON NG, 2009).

Os catalisadores impregnados com óxido de lantânio tiveram maior

conversão do que os catalisadores que foram impregnados com íons La3+

independentemente da superfície. Comparando-se as matrizes utilizadas, a

matriz KTi mostrou maior atividade catalítica do que a matriz NaTi. Em relação

ao teor de óxido/íon, as matrizes com os menores teores de lantânio,

apresentaram os melhores resultados, similarmente ao ocorrido para as

matrizes impregnadas com magnésio.

Figura 28. Conversões de acetato de etila em acetato de metila, utilizando metanol e

matrizes NaTi ou KTi impregnadas com La3+

/La2O3.

43

Quando se compara as matrizes impregnadas com óxido de lantânio

àquelas em que foram impregnadas com óxido de magnésio para as mesmas

condições de temperatura, tempo e mistura reacional é possível notar uma

diminuição na atividade catalítica.

4.7.2 Mistura reacional etanol e acetato de metila

Avaliando-se os resultados para a conversão de acetato de metila

em acetato de etila, para todos os pós utilizados, com exceção do MgO,

observa-se que tais valores são menores do que as conversões quando a

mistura utilizada foi metanol e acetato de etila. Resultados semelhantes foram

relatados por Kim et al (2010) ao utilizar um catalisador heterogêneo à base de

CaO-La2O3 e metanol/etanol, com razão álcool: óleo (10:1), na

transesterificação de óleo de soja. As conversões de etilestéres e de

metilésteres a 65°C foram de 10% e 75%, respectivamente.

O conjunto de matrizes de potássio impregnadas com óxido de

magnésio apresentou a maior conversão (aproximadamente 30%) dentre os

grupos ilustrados na Figura 29. Para esta reação, parece ter havido um

sinergismo na junção da matriz KTi com o óxido, resultando em conversões

maiores para as matrizes impregnadas do que para as matrizes puras (cerca

de 15%), diferentemente dos resultados obtidos quando se utilizou a mistura

reacional metanol e acetato de metila.

Figura 29. Conversões de acetato de metila em acetato de etila, utilizando etanol e

matrizes NaTi ou KTi impregnadas com Mg2+

/MgO.

44

As matrizes NaTi e KTi tiveram resultados de conversão muito

parecidos (10 – 15%), mas ainda tendo uma maior conversão média para o

conjunto de matrizes de potássio. Em relação às matrizes impregnadas com

íons Mg2+, o grupo NaTi apresentou maiores conversões (menores que 5%

para NaTi e menores que 3% para KTi), sendo diretamente proporcional a

quantidade de íons Mg2+ presentes; são observados resultados similares com a

mistura reacional metanol-acetato de etila.

Figura 30. Conversões de acetato de metila em acetato de etila, utilizando etanol e

matrizes NaTi ou KTi impregnadas com La3+

/La2O3.

As matrizes KTi impregnadas com íons La3+ ou La2O3 tiveram maior

atividade (10 a 30%, aproximadamente) quando comparadas com as matrizes

NaTi (5 – 15%). As conversões para as matrizes KTi impregnadas com lantânio

foram maiores do que para as matrizes puras (KTi e NaTi, 5 – 15% e 3 – 12%,

respectivamente), mas não se pode observar um comportamento linear no que

concerne à conversão em função da quantidade de material impregnado.

Já a matriz NaTi impregnada com íons La3+ teve a menor atividade

(< 3%) dentro do grupo analisado, sendo apenas maior do que a atividade do

óxido puro (0,13%) para a reação de conversão de acetato de metila em

acetato de etila.

A partir dos resultados acima descritos, pode se inferir que os

materiais analisados convertem mais acetato de etila em acetato de metila do

que acetato de metila em acetato de etila. Resultado semelhante foi relatado na

45

avaliação da reação de transesterificação de óleo de soja utilizando metanol,

etanol e uma mistura de metanol e etanol na presença de catalisadores

homogêneos e heterogêneos. Os autores atribuem tal resultado ao efeito de

impedimento estérico gerado pelo etanol na presença de um catalisador

heterogêneo (KIM et al, 2010).

4.7.3 Testes de reuso

Dentre as matrizes aplicadas nas reações de transesterificação

foram escolhidas as quatro amostras que apresentaram maior atividade (KTi-La

1%, KTi1, KTi-MgO 5% e KTi-La2O3 5%) para verificar a possibilidade de reuso

do catalisador após a primeira reação. Nesse teste, os materiais foram

reutilizados, de acordo com o descrito na parte experimental, completando três

ciclos. Esse tipo de teste também tem a finalidade de avaliar se as

propriedades do material como catalisador se mantém, e se tal material teria

natureza homogênea ou heterogênea em catálise.

Para todos os materiais avaliados nos testes de reuso (Figura 31)

verifica-se que as conversões para o segundo e terceiro ciclo são menores do

que aquelas do ciclo inicial. A redução conversão quando os pós foram

utilizados pela segunda vez é da ordem de 50% em relação ao primeiro uso, e

estes valores ainda caem pela metade quando se faz o terceiro ciclo.

Figura 31. Conversões de acetato de metila em acetato de etila, utilizando etanol, sendo

que mesmo pó foi utilizado por três ciclos. As matrizes utilizadas neste teste: KTi-La

1%, KTi1, KTi-MgO 5% e KTi-La2O3 5%.

46

Os difratogramas do catalisador antes e após cada uso são

apresentados na Figura 32. De um modo partir as observação dos DRX

pode-se notar uma alteração em 2θ = 10,0° na matriz KTi após o segundo

reuso, havendo, de um modo geral, manutenção do perfil de DRX para

todas as amostras utilizadas.

10 20 30 40 50 60

(a)

(d)

Inte

nsid

ade

(u. a

.)

2θ (graus)

(c)

(b)

Figura 32. DRX das amostras (a) KTi4, (b) KTi4 após 1° uso, (c) KTi4 após 2° uso e (d)

KTi4 e após 3° uso.

Na Tabela 4 são apresentados os percentuais de íons K+ lixiviados

em relação aos íons K+ presentes na matriz. A lixiviação pode ocorrer em

função do atrito gerado pela agitação do magneto durante a reação ou mesmo

pela troca de íons potássio da região interlamelar por alguma espécie presente

na mistura reacional.

Tabela 4. Percentual de potássio lixiviado após testes de reuso.

Uso % de K+ lixiviado

1 5,84

2 2,79

3 0,19

47

A análise dos dados revela que a perda de íons pela matriz diminui

conforme são repetidos os testes. É também interessante notar que ocorre uma

diminuição nas conversões. Isso sugeriria uma interferência da saída dos íons

K+ da região interlamelar com a quantidade de material convertido. Uma

proposta para entender a relação quantidade de íons K+ lixiviada-conversão

seria a desprotonação do álcool pela lamela, formando íons H+ e alcóxido. Tal

desprotonação deixaria livre íons H+ que poderiam ser trocados com os íons K+

do espaço interlamelar. A formação do íon alcóxido iniciaria a reação de

transesterificação. Quanto menos alcóxido formado menores as conversões.

A conjugação dos resultados de DRX que revelam a manutenção da

estrutura cristalina das matrizes e dos dados absorção atômica após os testes

de reuso pode sugerir que a natureza da catálise ocorrida em todos os testes

realizados é essencialmente heterogênea. Caso as lamelas negativamente

carregadas sejam as responsáveis pela desprotonação do álcool, o processo

catalítico pode ser compreendido como heterogêneo.

48

5. Conclusões5. Conclusões5. Conclusões5. Conclusões

Os sólidos lamelares K2Ti4O9 e Na2Ti3O7 foram sintetizados e

impregnados com (i) íons magnésio (ii) íons lantânio (iii) óxido de magnésio ou

(iv) óxido de lantânio por via úmida e a impregnação dessas espécies trouxe

mudanças à estrutura das matrizes utilizadas. As alterações observadas foram

a diminuição a cristalinidade para alguns dos pós e a supressão de alguns

planos de difração que existiam na matriz pura.

As matrizes impregnadas são termicamente estáveis perdendo

somente água adsorvida em função da rota sintética ou mesmo pelo modo ou

tempo de armazenamento.

Todos os materiais produzidos foram utilizados em reações de

transesterificação a fim de verificar a possibilidade de uso dos mesmos como

catalisadores para esse tipo de reação. De um modo geral, os pós utilizados

tiveram taxas de conversão superiores a 50%. Especial destaque deve ser

dado às matrizes puras que apresentaram taxas de conversão iguais ou

superiores aos pós impregnados, sendo que o uso da matriz K2Ti4O9 levou a

melhores resultados. Dentre os óxidos escolhidos para a impregnação, a

eficiência maior foi do MgO.

Alguns pós foram reutilizados para as mesmas reações, mas a

atividade diminuiu a cada ciclo de reação. Tal fato sugere um possível

desgaste do material ou mesmo uma desativação de alguns sítios.

Os materiais impregnados apresentaram áreas superficiais menores

do que as áreas relatadas na literatura para os sólidos lamelares (< 5m2/g).

Apesar de mostrarem baixa área superficial, as matrizes tiveram significativa

atividade catalítica, abrindo a possibilidade de uso de materiais de baixa área

superficial, que podem atuar como ótimos catalisadores, ao contrário do que se

descreve nos livros-texto clássicos da área de catálise.

A análise da mistura reacional após os testes de reuso na matriz

K2Ti4O9 revelou lixiviação parcial de íons K+. Entretanto a análise do perfil dos

49

padrões de DRX dos pós após reuso não revelou a ocorrência de mudanças

estruturais, o que permite concluir que a estrutura lamelar não é desfeita.

Uma proposta para explicar a atividade dos titanatos lamelares nas

reações de transesterificação é feita baseando-se nas propriedades ácido-base

das lamelas e na lixiviação de íons K+ da região interlamelar. As lamelas

negativamente carregadas atuariam como nucleófilo abstraindo um próton do

álcool presente no meio reacional, levando à saída de íon(s) K+ da região

interlamelar e à formação do íon alcóxido, que dá início à etanólise/metanólise.

Caso a proposta se confirme, a natureza do processo catalítico pode ser

compreendida como heterogênea.

A atividade dos pós diminui nos testes de reuso, o que poderia estar

relacionado com a dificuldade de troca de íon K+ por íons H+ pela matriz

conforme são repetidos os ciclos de reação.

50

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