a educaÇÃo no estado justo

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Page 1: A EDUCAÇÃO NO ESTADO JUSTO

A EDUCAÇÃO NO ESTADO JUSTO

Felizes os Estados, se os filósofos fossem soberanos, ou se os soberanos

fossem filósofos (Platão).

RESUMO

A educação no estado justo. Analisa a partir da concepção platônica, a formação do

homem envolto na conservação do estado ideal. Busca uma investigação sobre a

essência da educação atrelada à ideia do bem e como ela se amplia e se reflete na

estrutura da comunidade. De igual modo, busca definir a mesma como processo

virtuoso da vida homem.

Palavras – chave: Justiça. Estado. Alma. Governo. Educação.

1. INTRODUÇÃO

A concepção de mundo segundo Platão, se dá a partir de duas teses: a

primeira de que existe um mundo inteligível, perfeito e eterno; e a segunda, de que

existe um mundo oposto a essa realidade inteligível, que ele a denomina de mundo

sensível.

Deste modo, tudo o que problematizarmos a partir de uma concepção

platônica, devemos ter em vista este aspecto geral sistemático que de certo modo, se

torna o prisma de toda as problemáticas platônicas sobre o mundo.

O objetivo final de Platão em uma dimensão ética e política é a educação do

sujeito moral, vivendo a partir das exigências de um Estado justo. Platão discípulo de

Sócrates e precedente de Aristóteles rejeitava a Educação que se praticava na Grécia em

sua época, que estava a cargo dos sofistas, incumbidos de transmitir conhecimentos

técnicos, sobretudo à oratória aos jovens da elite para torná-los aptos a ocupar as

funções públicas. Platão, ao contrário, pensava em termos de uma busca continuada da

virtude, da justiça e da verdade.

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Para Platão, “toda a virtude é conhecimento”. A busca da virtude deve

prosseguir pela vida inteira do homem. Portanto, o instrumento base e fundamental para

tal prática é a Educação. E a mesma é tão importante para uma ordem política baseada

na justiça.

A vida do homem ante de mais nada, se apresenta através da relação

comunitária, com a possibilidade de se tornar sempre melhor diante da vida e do Estado.

Á essa possibilidade aberta ao homem que, nós a chamamos de educação. Ademais, a

educação tem como tarefa fundamental a humanização, a humanitas do individuo.

Assim, temos como pano de fundo uma antropologia, que de certo, direciona a vida

humana para uma sociedade pelo qual desejamos. Por essa razão, o desejo chave de

Platão consiste em tentar reconstruir com novos pilares a Paidéia grega, que a partir de

sua obra clássica, A República, busca formar o homem para uma sociedade ideal.

Este trabalho é de cunho bibliográfico, que problematiza a questão da

educação, apresentando inicialmente sua investigação a partir do livro II da República, e

posteriormente retomada no livro IV da mesma obra. Buscamos também suportes em

outros autores, para que o trabalho venha a ganhar mais propriedade argumentativa.

Assim, este busca uma análise sintética daquilo que venha a ser a educação no estado

justo, a sua essência e como essa educação deve ser trabalhada e organizada a partir da

estrutura da Polis Grega.

Por conseguinte, a partir dessa obra, a proposta platônica primeiramente não

é identificar se tal cidade existe ou não, mas que cada um viva de fato segundo as leis

dessa Cidade, no que diz respeito à educação, o bem e a justiça, que antes de se realizar

na vida exterior do homem, deve se realizar na sua vida interior, ou seja, em sua alma.

2. “O IDEAL DA POLIS COMO CRITÉRIO PARA FORMAÇÃO HUMANA”.

“O grego Platão [...] foi o primeiro pedagogo não só por ter concebido um

sistema educacional para seu tempo, mas, principalmente, por tê-lo integrado a uma

dimensão ética e política” (GRANDES PENSADORES, 2009, p.11) Ao estudarmos

Platão, percebemos que o mais importante em seu ideal, é o ideia de sociedade. Que a

partir desse ideal de Sociedade e Estado1, formar-se o indivíduo enquanto tal.

1 [...] Em geral, a organização jurídica coercitiva de determinada comunidade. O uso da palavra E. deve-se a Maquiavel ( O príncipe, 1513, § 1). Podem ser distinguidas em três concepções fundamentais: 1º a concepção organicista, segundo a qual o E. é independente dos indivíduos e anteriores a eles; 2º a concepção atomista ou contratualista, segundo a qual o E. é criação dos indivíduos; 3º a concepção

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Conceitualmente falando, Polis se entende uma cidade independente e

soberana, cujo seu quadro institucional se caracteriza por uma ou várias magistraturas,

por um conselho e por uma assembléia de cidadãos. Para os gregos, a Polis representa

um novo paradigma, uma nova forma de estrutura de vida social e cultural, com grande

significado e relevância para os gregos. Assim, temos o seguinte conceito de Polis:

A palavra Polis pode ser traduzida tanto por Estado como por cidade. Do

conceito de polis derivam as palavras “política”, e “político”, que ainda se

mantêm vivas entre nós e lembram-nos que foi com a Polis grega que

apareceu, pela primeira vez, o que nós denominamos Estado. (BORGES

TEIXEIRA, 2003, p. 27).

Historicamente falando, Polis é o núcleo principal que de acordo com a

história se tornou o período mais importante do progresso grego. A Polis adquire assim

um caráter espiritual, aonde se consolida e se reúne as mais diversificadas formas da

existência humana, fundamentada no princípio filosófico. Pois segundo Platão, o

filósofo é mais bem preparado para governar a cidade, pois, graças à sua ciência e

sabedoria, adquirida com a educação, poderá conduzir o Estado e promulgar boas leis

que venham garantir, portanto, a harmonia e o equilíbrio da sociedade.

3. “A EDUCAÇÃO DO HOMEM: A IMPORTÂNCIA DO GUARDIÃO”

Inicialmente temos a problemática da educação apresentada no livro II, que

segundo Platão ao imaginar a cidade ideal, percebe que à medida que a cidade cresce,

necessita-se de guardião, para cuidar do cumprimento das leis, e conseqüentemente da

administração da cidade e do bem estar dos cidadãos. Para exercer tal ofício, o guardião

precisa ter uma instrução mínima, precisa ser educado para saber distinguir, por

exemplo, os amigos dos inimigos. E o mais indicado para a essa função de educador é o

filósofo. Nesta educação,o guardião da Polis, deve-se atentar para as qualidades físicas e

psíquicas. Ele deve ser por natureza um filósofo, pois somente assim terá a virtude da

temperança e um verdadeiro amor a sabedoria e conseqüentemente o conhecimento que

lhe proporcionará a possibilidade de distinguir os familiares dos estranhos. “Aquele que

quiser ser guardião da cidade terá que ser por natureza filosofo, fogoso, rápido e forte.

Precisa ter saúde física e psíquica em perfeitas condições”. (PLATÃO, 1999, p.63) Ao

formalista, segundo a qual o E. é uma formação jurista. [...] Platão considera que o E. as partes e os caracteres que constituem o indivíduo estão “escritos em tamanho maior” e, portanto, são mais visíveis (Rep., II, 368 d). Cf. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia: Estado. 4. ed . Martins Fontes, 2000, p. 364.

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criar a Cidade ideal a partir do ideal grego de mundo por meio de uma Paidéia;2 Platão

apresenta a identidade humana não como uma “autárquica”, no sentido de que cada um

basta a si mesmo, mas que cada um de nós necessitamos uns dos outros

comunitariamente. Assim nos apresenta Giovanni Reale, em sua obra: “Historia da

filosofia: antiguidade e idade média”, ao afirmar:

A cidade, portanto necessita de três classes sócias: [...] a primeira classe, (dos

lavradores, artesãos e comerciantes) é constituída de homens nos quais

prevalece o aspecto “concupiscível” da alma, que é o aspecto mais

elementar. Essa classe é boa quando nela predomina a virtude da

“temperança”, que consiste numa espécie de ordem, domínio e disciplina dos

prazeres e desejos, supondo também a capacidade de se submeter às classes

superiores de modo conveniente. As riquezas e os bens administrados

exclusivamente pelos membros dessa classe não deverão ser nem muitos

poucos demais. A segunda (a dos guardas) é constituída de homens nos quais

prevalece a força “irascível” volitiva da alma, isto é, deve ser composta de

homens que se assemelham aos cães de raça, ou seja, dotados ao mesmo

tempo de mansidão e ferocidade. Os guardas deverão permanecer vigilantes

quer em relação aos perigos que possam advir do exterior com em relação a

perigos que se originam no interior da Cidade. [...] Além disso, deverão

cuidar para que o estado não se torne demasiadamente grande ou

exageradamente pequeno. Deverão também providenciar para que as tarefas

confiadas aos cidadãos correspondam à índole de cada um e para que se

proporcione a todos a educação conveniente. Finalmente a terceira classe (os

governantes que deverão ser aqueles que tenham amado a Cidade mais do

que os outros, tenham cumprido com zelo sua própria missão e,

especialmente, tenham aprendido a conhecer e contemplar o Bem. Nos

governantes, portanto, predomina a alma racional e sua virtude específica é a

“sabedoria”. (REALE, 1990, p. 163).

No livro IV de A República de Platão, retoma-se a questão não ultimada

sobre a formação da Cidade Ideal, sendo assim responsáveis todos os membros dessa

2 JAEGER: Coloca a dificuldade de se definir a palavra Paidéia. Em geral identificamos Paidéia com “cultura”. A dificuldade que aparece é o fato de estarmos habituados a usar a palavra “cultura”, não no sentido ideal próprio da humanidade, herdeira da Grécia. Mas para nós a palavra “cultura”, converteu-se num simples conceito antropológico descritivo. Já não significa um alto conceito de valor, um ideal consciente. Os gregos são criadores da idéia de cultura e estabelecem, pela primeira vez, um ideal de cultura como princípio. Paidéia não é para os gregos um aspecto exterior da vida, incompreensível, fluido e anárquico. Na Paidéia grega está presente a idéia de uma educação do homem de acordo com a verdadeira forma humana, com seu autêntico ser. Não se pode evitar o emprego de expressões modernas, como o que os gregos entendiam por Paidéia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global, e, para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los de todos de uma só vez. Paidéia tem que ver com a educação da pessoa física, estética, moral, religiosa e política, ou seja, uma educação integral. (Cf. Paidéia, a formação do homem grego. São Paulo, Martins Fontes, 1995).

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cidade à medida que cada um viva sendo o que é, ou seja, o guardião sendo guardião,

sapateiro sendo sapateiro, o artesão sendo artesão, etc. Assim, faz-se necessário que os

guardiões sejam homens verdadeiros, que nunca venham a ser profissionais de

aparência, enquanto que qualquer outro profissional sendo dessa forma, não trará

prejuízo para o Estado. Assim deve ser a educação dos guardiões, homens que de fato

não se deixem conduzir pela corrupção. Por essa razão, Platão dá uma grande ênfase e

importância máxima ao guardião ao dizer: “[...] Contudo, quando os guardiões das leis,

e da cidade são guardiães apenas na aparência, vês que arruínam de alto a baixo,

enquanto, por outro lado, são os únicos a ter o poder de administrá-la bem e torná-la

feliz”. (PLATÃO, 1999, p.116). Assim, o guardião deve ser aquele que zela com

cuidado com tudo aquilo que diz respeito ao aspecto administrativo da cidade justa,

desde a educação ou até mesmo a saúde, e que, venha a conservá-la proporcionalmente,

para que não seja nem pequena e nem grande, para que seja de proporção suficiente,

conservando ao mesmo tempo a sua unidade. Como nos mostra em seu livro: Ética a

nicômaco de Aristóteles, afirma que a ciência política entendida com o bem maior, deve

busca a unidade e a capacidade de governar de tal modo que busque o bem humano:

[...] “Ora, parece que está é a ciência política, pois é ela que determina quais

as ciências que devem ser estudadas em uma cidade-estado, quais as que cada

cidadão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as estratégias, a

economia e a retórica. Visto que a ciência política utiliza as demais ciências

e, ainda, legisla sobre o que devemos fazer e necessariamente abranger a

finalidade das outras, de maneira que essa finalidade deverá ser o bem

humano.

4. “A EDUCAÇÃO DOS JOVENS: GINÁSTICA PARA O CORPO E MÚSICA PARA A ALMA”.

A educação apresentada segundo Platão, deve ser uma prática que deve-se

começar de cedo, logo na fase da infância, para mais tarde se chegar com maior

propriedade à fase adulta. Pois se de fato “os jovens forem convenientemente educados

e se tornarem homens esclarecidos, compreenderão facilmente tudo isto e que de

momento deixamos de lado”. (PLATÃO, 1999, p.120).

Então, no próprio processo de desenvolvimento da cidade com um bom

sistema de educação e instrução, criam-se deste modo, cidadãos de bom caráter, que de

certo modo venham a lhes promover uma honestidade que receberam desse processo

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educacional, tornando-os melhores do que os antecessores que já passaram pela

experiência de guardião e de cidadão do Estado. Outra preocupação apresentada por

Platão é a questão dos responsáveis pelo Estado, ao se colocar:

[...] “faz-se necessário que os responsáveis pela cidade se esforcem por que a

educação não se altere sem seu conhecimento, que velem por ela a todo o

momento e, com todo o cuidado possível, evitem que nada de novo, no que

diz respeito à ginástica e à música, se introduza contra as regras

estabelecidas, com receio de que, se alguém disser: os homens apreciam mais

os cantos mais novos,3 vá se imaginar talvez que os poeta se refere não a árias

novas, mas a uma nova maneira de cantar, que disso se faço o elogio.

(PLATÃO, 1999, p.120).

De igual modo, Platão faz relevância à música e aos jogos como processo importante para a formação do ser humano ao se expressar:

“[...] “se os jogos são desregrados, eles também o serão e não

poderão tornar-se, quando adultos, homens obedientes às leis e virtudes. [...]

Ao passo que, quando as crianças jogam honestamente desde o começo, a

ordem, por meio da música, penetra nelas e , ao contrário do que acontece no

caso que citavas, acompanha-os por toda a parte, aumenta-lhes a força e

revigora na cidade o que nela estiver em declínio. (PLATÃO, 1999, p.121).

Essa é uma das preocupações de Platão: possibilitar uma educação

harmoniosa de corpo e do espírito de modo que venha a proporcionar ao indivíduo

futuramente à “verdadeira ciência”. Ambas, ginástica e a música, juntas foram

estabelecidas em atenção à alma. Cada uma em individualidade estabelece uma

educação ao seu próprio modo, que venha assim a promover dentro do homem virtudes

pelo qual lhe guiará em sua vida. Porém, adverte Borges Teixeira:

Um exemplo prático está naqueles que dão ênfase exclusivamente à ginástica: tornam-se grosseiros, demasiados tensos; cultivam demais a dureza e a irascibilidade. Em contrapartida, aqueles que se dedicam apenas à música tornam-se moles e demasiadamente delicados. (BORGES TEIXEIRA, 2003,

p.80)

Por isso, música e ginástica são dois ingredientes importantes na educação

dos jovens. A música infunde naquele que a prática ritmo e harmonia, penetrando desse

modo no fundo da alma, e lhe proporcionando ideal de beleza e perfeição. Uma

educação musical, no seu sentido mais profundo, forma o sujeito ao domínio de se

mesmo, de coragem, generosidade, amabilidade, etc.

3 Homero, Odisséia

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Assim a música e a ginástica, com todas as suas contribuições educativas

tanto para corpo como para alma, deve fazer parte da vida das crianças, para que a

posteriore tenham um bom equilíbrio.

5. “EDUCAÇÃO: A FORMAÇÃO VIRTUOSA”

Uma das perguntas centrais em Platão é a pergunta pela virtude. O que é a

virtude?4

Na concepção Aristotélica, virtude é: [...] “um meio – termo, em que sentido

devemos entender esta expressão, e que é um meio – termo entre dois vícios, um dos

quais envolve excesso e o outro falta. [...] por conseguinte, não é fácil ser bom, pois em

todas as coisas é difícil encontrar o meio termo”. (ARISTÓLTELES, 2001, p.54).

Para Platão, a virtude é a coisa mais preciosa e mais valiosa da vida, pois

somente sendo virtuoso, o homem poderá de fato ser feliz. No mesmo sentido, a virtude

diz respeito àquilo que é belo e bom na vida. Entendendo que o bom e belo fazem parte

de um mesmo aspecto.

São apresentadas quatro virtudes fundamentais indispensáveis na cidade

ideal. A primeira virtude é a sabedoria. Um das grandes preocupações de Platão

quando se fala em Estado justo fomentado pela educação, é com o seu guardião. Aqui

entendido como aquele que governa e administra. Assim, a sabedoria partindo do

mesmo ponto, se dá em sua prudência nas suas deliberações, do conjunto que compõe o

Estado. De igual modo, diz Platão sobre o governante do Estado:

Por isso, é na classe menos numerosa e na ciência que nela reside, é naqueles

que estão à cabeça e governam que toda a cidade, fundada segundo a

4 [...] seu significado especifico pode-se resumir em três: 1º capacidade ou potência em geral; 2º capacidade ou potência do homem; 3º capacidade ou potência moral do homem. No primeiro sentido, que é o da definição geral, a V. indica uma capacidade ou potência qualquer, como por exemplo: de uma planta, de um animal ou de uma pedra. Maquiavel fala da “V” da arte da guerra (O príncipe, 14), e Berkeley fala das “V. da água de alcatão” (Subtítulo de Síris, 1744).No segundo sentido, a V, é uma capacidade ou potência própria do homem. Assim, p. ex., chama-se de virtuoso/ virtuose quem possui uma habilidade qualquer, com p. ex., para cantar, tocar um instrumento ou usar a gazua Nietzsche quis retomar esse sentido de V: “Reconheço a V. no seguinte: 1º ela não se impõe; 2º ele não supõe a V, em todo lugar, mas precisamente outra coisa; 3º ela não sofre pela ausência como uma relação de distância graças à qual há algo de venerável na V.; 4º ela não faz propaganda; 5º não permite que ninguém se erija em juiz, porque é sempre uma V. por si mesma; 6° ela faz exatamente tudo o que é proibido (a V., como e entendo, é verdadeira vetitum em toda a legislação do rebanho); 7º ela é V no sentido renascentista, V livre de moralidade (Willem zur Macbt, ed. 1901, § 431). 3º sentido, o termo designa uma capacidade do homem no domínio moral. Deve-se tratar-se de uma capacidade uniforme ou continuativa, como já declarava Hegel. [...] Porque um ato moral não constitui virtude. (Cf. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia: Virtude. 4. ed . Martins Fontes, 2000, p. 1004).

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natureza, deve ser sábia e os homens desta raça são naturalmente muito raros

e a eles competem participar na ciência que, única entre as ciências, merece o

nome de sabedoria. (PLATÃO, 1999, p.126).

A segunda virtude é a coragem. Apresentada como uma salvaguarda, aquela

que a lei faz nascer em nós, por intermédio da educação, a respeito das coisas a temer, o

seu número e a sua natureza. Ou seja, trata-se de uma coragem que desempenhada para

um melhor conhecimento das leis do Estado, promova no cidadão por meio de sua

natureza e uma educação apropriada, uma opinião indelével, que não venha a se apagar

pelos prazeres. Assim, “a coragem trata-se da opinião reta e legitima no que diz respeito

às coisas que são ou não de recear, que eu invoco, que eu considero coragem, se nada

tens a objetar”. (PLATÃO, 1999, p.128).

A terceira virtude apresentada é a temperança. Ela não outra coisa senão o

domínio que se exerce sobre certos prazeres e paixões. “E essa característica é

identificada quando o cidadão é “senhor de si mesmo” e “escravo de si mesmo”. Ou

seja, essa identidade é colocada do seguinte modo:

[...] “Essa expressão parece-me quer dizer que existe duas partes na alma

humana: uma superior em qualidade e outra inferior; quando a superior

comanda a inferior, diz-se que é o homem senhor de si mesmo – o que é, sem

dúvida, um elogio; mas quando, devido a uma má educação ou uma má

freqüência, a parte superior, que é menor, é dominada pela massa dos

elementos que compõem a inferior, censura-se este domínio como

vergonhoso e diz-se que o homem em semelhante estado é escravo de si

mesmo e corrupto. (PLATÃO, 1999, p.129).

A educação se torna dessa maneira algo fundamenta para a formação

virtuosa do cidadão. De igual modo, podemos dizer que a moderação consiste em uma

concórdia, uma harmonia natural adquirida por uma boa educação entre o superior e o

inferior.

Assim, três virtudes fundamentais foram descobertas pela cidade ideal:

sabedoria, coragem e moderação para os chefes; coragem e equilíbrio para os guardas;

comedimento para o povo. Ademais, temos ainda a quarta virtude caracterizada na

Cidade: a justiça. Aqui, ela é apresentada como complemento das virtudes para a

formação da cidade ideal. [...] “o complemento das virtudes que examinamos

moderação, coragem e sabedoria, é esse elemento que deu a todos o poder de nascerem,

e após o nascimento, as preserva na medida em que está presente”. (PLATÃO, 1999,

p.132).

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A justiça é identificada segundo Platão, quando cada cidadão desde homens

de negócios, os guerreiros e os próprios magistrados exercem a sua função própria e só

se ocupam dessa função, ou seja, quando cada membro da cidade exerce bem a sua

própria função. No mesmo aspecto, para que tenha uma cidade justa, é necessário que se

tenha também homens justos e bem formados.

Analisando este ultimo ponto, para que se tenha um bom andamento e

harmonia de uma sociedade, é necessário requerer que os indivíduos desempenhem

diferentes funções e que a direção da cidade não deve ser entregue a qualquer um, mas

àqueles que se distinguirem pela experiência, maturidade, virtude e educação. Sendo

assim, a ideia de que se tenha um Estado organizado pelos guardiões denominados

governantes – filósofos é indispensável à educação, que segundo Borges Teixeira,

funciona:

A ideia platônica de uma educação orgânica para um Estado, funcionando

como um organismo vai determinar a definição de justiça que é dada no

Livro IV. O conceito de justiça em Platão está diretamente associado à sua

tentativa de busca de maior organicidade educacional, que possibilite um

desenvolvimento mais harmonioso do Estado. A justiça consiste, portanto, no

seguinte: “Que cada um deve ocupar-se de uma função na cidade, aquela para

a qual a sua natureza é a mais adequada. Além disso, executar a tarefa

própria, e não se meter nas dos outros” 5. (BORGES TEIXEIRA, 2003, p.41)

6. CONCLUSÃO

Este trabalho teve como núcleo problemático a educação segundo o estado

justo. Buscou a partir de uma concepção platônica de mundo, uma analise da formação

5 “A partir disso, Platão imagina um Estado constituído exatamente como o ser humano. Assim como o corpo possui “cabeça”, “peito” e “baixo – ventre”, também o Estado possui governantes, sentinelas (ou soldados) e trabalhadores (dentre os quais se incluem, além de comerciantes, também os artesãos e os camponeses). Fica claro aqui que Platão adotou como modelo a ciência médica grega. Do mesmo modo como um indivíduo saudável e harmônico mostra equilíbrio e moderação, um Estado justo se caracteriza pelo fato de cada um conhecer o seu lugar no todo”. (Cf. GAADER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo, Cia. Das Letras, 1995, p. 106).

Page 10: A EDUCAÇÃO NO ESTADO JUSTO

do homem a partir de uma perspectiva grega de Paidéia. Trouxe uma investigação do

que seja de fato a educação, envolta na idéia do bem supremo do estado, segundo a

tradição grega – platônica. Da mesma forma, apresentamos o a importação da Polis para

o povo grego segundo o critério do seja a formação do humano para tal tradição.

Entendendo assim que, que o “grego Platão se tornou o primeiro pedagogo não só por

ter concebido um sistema educacional para sua época, mas, principalmente, por tê-lo se

integrado a uma dimensão ética e política”.

Também foi abordada a importância do guardião, vendo assim que existe

em Platão uma grande preocupação com aquele que futuramente governará a cidade. O

guardião segundo Platão, deve ter um bom caráter, uma educação virtuosa que lhe

promovesse uma personalidade responsável, segura, incorruptível e de autodomínio.

Ainda foi apresentado que para quer se tenha bons administradores no

Estado, necessariamente nos preocupar bem antes com a educação dos jovens. E para

este propósito, é de fundamental importância a educação para o corpo (pela ginástica) e

a do espírito (pela música). Por fim, atrelado ao conceito de virtude, definimos a partir a

concepção platônica, quatro virtudes fundamentais que se deve encontra dentro da

estrutura da cidade ideal.

Após ter explicado, ainda que de modo sucinto, o pensamento de Platão em

alguns pontos sobre a educação, percebemos que Platão enfatiza uma educação integral,

que forme o individuo em todas as suas potencialidades e capacidades, uma educação

que não separe o individuo e o compromisso coletivo. Em um mundo globalizado pelo

qual nos encontramos, marcado pelo slong da “HIPERMODERNIDADE”, e

conseqüentemente pelo consumismo e o individualismo, somos convidados a estarmos

atentos aos nossos modelos administrativos, se estão de fato cumprindo com suas

obrigações em meio a um mundo de diversidades.

Portanto, qual seria então a maior contribuição de Platão para história da

educação? No nosso modo de entender as coisas, seja a sua o seu imperativo ético sobre

o modelo de um estado justo. Que atrelado a idéia de estado, se identifica a educação.

Assim, traduzir a desordem em ordem, do caso para o cosmo da sociedade, devemos

fazer a passagem, do mal para o supremo bem, da ignorância para o conhecimento, ou

seja, o conhecimento entendido como um processo necessário para a vida humana.

EDUCATION IN THE STATE FAIR

Page 11: A EDUCAÇÃO NO ESTADO JUSTO

ABSTRACT

The education in the state fair. Scans from the Platonic conception, the formation of man wrapped in maintaining the ideal state. Search an investigation into the essence of education linked to the idea of good and how it expands and is reflected in community structure. Similarly, attempts to define the same process as a virtuous man's life.

Key - words: justice. State. Soul. Government. Education.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Ética a nicômaco. 4. ed. São Paulo, Martin Claret, 2001. 241 p.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia: Estado. 4. ed . São Paulo, Martins Fontes, 2000. 839 p.

BORGES TEIXEIRA, Evilázio F. A educação do homem segundo Platão. 3. ed. São Paulo, Paulus, 2003. 138 p.

GAADER, Jostein. O mundo de Sofia: Romance da história da filosofia. São Paulo, Cia. Das Letras, 1995, 555 p.

GRANDES PENSADORES. Platão: O primeiro pedagogo. São Paulo, V.G, nº 25, p

11 – 13. Julho de 2009.

JAGGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo, Martins Fontes,

1413 p.

PLATÃO. A República. Trad. Enrico Corvisesi. São Paulo, 1999, Nova Cultura, 352 p. (Coleção os Pensadores).

Page 12: A EDUCAÇÃO NO ESTADO JUSTO

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e idade média. 2.ed. São Paulo, Paulus, 1990. 889 p.