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Universidade de Brasília – UnB Faculdade de Educação A EDUCAÇÃO E O TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM EQUOTERAPIA NA VOZ DE SEUS AUTORES, PEDAGOGOS E TERAPEUTAS. Paulo Sérgio Bracarense Foerstnow Brasília – DF

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Page 1: A EDUCAÇÃO E O TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM EQUOTERAPIA NA VOZ DE SEUS AUTORES, PEDAGOGOS E TERAPEUTAS

Universidade de Brasília – UnB

Faculdade de Educação

A EDUCAÇÃO E O TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM EQUOTERAPIA NA VOZ DE SEUS AUTORES,

PEDAGOGOS E TERAPEUTAS.

Paulo Sérgio Bracarense Foerstnow

Brasília – DF

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2010

PAULO SÉRGIO BRACARENSE FOERSTNOW A EDUCAÇÃO E O TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM EQUOTERAPIA NA VOZ

DE SEUS AUTORES, PEDAGOGOS E TERAPEUTAS

Trabalho final de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em Pedagogia, à Comissão Examinadora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, sob a orientação da professora Doutora Cristina Massot Madeira Coelho.

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Brasília – DF 2010

©2010 Paulo Sérgio Bracarense Foerstnow Todos os direitos reservados Universidade de Brasília Faculdade de Educação

FOERSTNOW, Paulo Sérgio Bracarense. A Educação e o trabalho interdisciplinar em equoterapia na voz de

seus autores pedagogos e terapeutas. /Paulo Sérgio Bracarense Foerstnow. 2010.

75 p. Trabalho final de conclusão de curso (Licenciatura) Universidade de

Brasília, 2010. Orientação: Dra. Cristina Massot Madeira Coelho. 1. Equoterapia; 2. Aprendizagem 3. Prática pedagógica; I.

COELHO, Cristina Massot Madeira, orient. II. A Educação e o trabalho interdisciplinar em equoterapia na voz de seus autores.

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PAULO SÉRGIO BRACARENSE FOERSTNOW A EDUCAÇÃO E O TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM EQUOTERAPIA NA VOZ

DE SEUS AUTORES, PEDAGOGOS E TERAPEUTAS

Trabalho final de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em Pedagogia, à Comissão Examinadora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, sob a orientação da professora Doutora Cristina Massot Madeira Coelho. Brasília, 30 de setembro de 2010.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dra. Cristina Madeira Coelho Massot (Orientadora) Universidade de Brasília – Faculdade de Educação

Prof. Mestre. Bianor Domingues Barra Junior (Examinador) Universidade de Brasília – Faculdade de Educação

Cel. Lélio de Castro Cirillo (Examinador) Associação Nacional de Equoterapia – ANDE-BRASIL

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Dedico esse trabalho aos meus quatro avós, que sempre acreditaram no meu potencial, e me amam até hoje. Esse é de vocês! “Só é seu aquilo que você dá Tudo que você tem não é seu Tudo que você guardar não lhe pertence nem nunca pertencerá Tudo que você tem não é seu Tudo que você guardar pertence ao tempo que tudo transformará”. Alexandre Leão, Manuca Almeida, Lalado

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AGRADECIMENTO Primeiro agradeço a você, isso mesmo, você que dedicou um pedacinho do

seu tempo para saber o que esse aluno de graduação da Universidade de Brasília tem a dizer sobre esse fantástico tema. Obrigado por tirar esse material da estante ou da gaveta, e ir folha por folha descobrindo um pouco do que eu descobri nesses cinco anos dentro da Faculdade de Educação.

Agradeço por ter saúde, família, amigos, parceiros nessa jornada, pois se com eles não foi fácil, sem eles não digo que seria mais difícil, mas garanto que no mínimo isso tudo seria diferente.

Concordo plenamente com a teoria Sócio-Histórica de Vygotsky, ninguém se forma sozinho, inclusive eu. E todo esse processo de formação é histórico, cada fato, cada acontecimento gerou um estímulo diferente na minha pessoa, e durante esses vinte e cinco anos de construção do sujeito sócio-histórico que sou eu hoje, e que escreveu esse trabalho, onde muita gente fez parte, e cada um deles foi fundamental para a elaboração dessa estória.

Esse não é o trabalho do Paulo Foerstnow, na verdade é um pedacinho dos educadores que eu tive durante todo esse processo: Tia Amalha, Tia Consuelo, Tia Sandra, Prof.ª Claudia, Prof.ª Beth, Prof. Ivania, Prof. Armando, Prof.ª Norma, Prof. Celeste, Prof. Vieira, Prof. Carla, Prof. Amaralina, Prof. Albertina, todos esses, e ainda falta muita gente, formaram um pouco do Paulo que se faz pedagogo com a conclusão dessa monografia.

Devo agradecer principalmente a duas figuras importantíssimas nesse processo, dois grandes professores que não só durante esse período, mas que várias vezes durante a graduação, sentaram comigo e diversas vezes metaforizaram as teorias, tiveram que ler e reler textos confusos, prolixos e retalhados, que hoje fazem sentido não só pra mim, mas que já são decodificados também por eles.

Por isso agradeço ao Prof. Bianor por tudo aquilo realizado, algo que foi além de uma orientação, e principalmente a Prof.ª Cristina por ter encarado essa jornada comigo dentro dessa temática ainda nova dentro da Faculdade de Educação, e por acreditarem que apesar da minha desorganização que muitas vezes acaba me boicotando, o resultado desse trabalho seria de imensurável importância na minha formação, no meu futuro como profissional e também como trabalho acadêmico dentro dessa faculdade.

Agradeço também a minha família que, apesar de não saber que no âmago desse trabalho sua representação é muito mais do que, uma nada simples conclusão de curso, sempre se fez presente de alguma maneira.

Acredito que sem a educação, a paixão, a perseverança os estímulos e principalmente o amor dado por minha mãe em todo meu processo de construção como sujeito, esse trabalho não seria possível, hoje cada uma dessas virtudes se faz presente nas palavras que formam esse trabalho.

Ao meu pai que sempre demonstrou orgulho, admiração e grande respeito pela pedagogia, acreditando nos resultados que hão de vir dessa aliança que se formaria entre eu, ela e porque não o cavalo.

Aos meus irmãos, Carlos Henrique que foi colega de Universidade, e diversas vezes parceiro na Faculdade de Educação e na escola, me ensinando a aprender e dividindo comigo os bons e maus momentos, e Fernando Augusto, grande redator e crítico, durante essa jornada acadêmica.

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Ao nicho Porto Alegrense da família, minha tia Lila colega de academia, uma guerreira e inspiradora nesse processo, aos meus primos queridos Camila e Alexandre, sempre parceiros durante a minha vida.

Ao meu querido amigo e dindo Antonio Carlos, que sempre priorizou o estudo dos sobrinhos, sempre dando uma força extra.

Não posso deixar de citar as co-autoras dos meus processos de formação, informação, e desinformação (é isso mesmo, o ato de sair da forma cartesiana), elas que estiveram comigo desde o primeiro semestre hoje são as pedagogas, Rafa, Gracy, Tati, Tiessa, Nayana, Nayara com a exceção que ficou para o próximo semestre Juliana e principalmente a grande amiga e praticamente tutora Mirelle, meu muito obrigado!

E claro que por trás de um formando há sempre uma professora, porém essa professora foi minha caloura, colega de faculdade, parceira de viagens de encontros e desencontros, crítica nos momentos certos e errados também, hoje é uma pessoa a quem tenho muito orgulho de poder fazer parte da minha vida e por estar fazendo parte da dela, muito obrigado Amanda Payne.

Obrigado a todos aqueles que fizeram esse trabalho acontecer direta ou indiretamente, espero não ter ofendido ou desrespeitado ninguém com esse trabalho e aos que não estão presentes com o nome não se ofendam, hão de vir outros trabalhos.

Muito Obrigado!

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“O meio social é a verdadeira alavanca do processo educacional, e todo o papel do mestre consiste em direcionar essa alavanca. Como um jardineiro seria louco se quisesse influenciar o crescimento das plantas puxando-as diretamente do solo com as mãos, o pedagogo entraria em contradição com a natureza da educação se forçasse sua influência direta sobre a criança. Mas o jardineiro influência o crescimento da flor aumentando a temperatura, regulando a umidade, mudando a disposição das plantas vizinhas, selecionando e misturando terra e adubo, ou seja, mais uma vez agindo indiretamente, através das mudanças correspondentes do meio. Assim faz o pedagogo que ao mudar o meio educa a criança”.

Vygotsky

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RESUMO

Referência: FOERSTNOW, Paulo Sérgio Bracarense. A equoterapia como potencial na prática padagógica. Defesa em 2010. 76 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Pedagogia – Universidade de Brasília/ Faculdade de Educação. Brasília, 2010.

A pesquisa traz a formação e a atuação do pedagogo dentro da Equoterapia a partir dos personagens que contemplam esses tópicos, assim como estudar as possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento que podem ser proporcionadas por esse método. Este trabalho final é resultado da pesquisa realizada na Associação Nacional de Equoterapia ANDE-BRASIL, através de uma entrevista semi-estruturada de cunho qualitativo feita com profissionais da equipe multidisciplinar da mesma juntamente com alunas de pedagogia em fase de conclusão de curso da Universidade de Brasília. Com isso a pesquisa visa mostrar que o pedagogo é parte fundamental no desenvolvimento desse método. Palavras-chave: Equoterapia, Pedagogia, Formação, Aprendizagem e Desenvolvimento.

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ABSTRACT

Reference: FOERSTNOW, Paulo Sérgio Bracarense. The horse therapy as a potential practice Pädagoge Defense in 2010. 76 pages. Work Completion Degree in Pedagogy – Universidade de Brasília/ Faculdade de Educação. Brasília, 2010.

This work is the final result of research held at the Brazilian National Association of Horse Therapy ANDE-BRASIL, did by a semi-structured and qualitative interview, done with a multi professional ANDE-BRASIL team of professionals, together with students of pedagogy/education almost finishing your degree at the University of Brasilia. Was observed with the research which the roles of educator within the horsetherapy, and how it viewed in relation to other professionals, as well as the knowledge of student on this topic, the processes of undergraduate students of pedagogy/education for working in this area, and pedagogy/education as an essential part of horse therapy, understanding in that method the processes of learning and development.

Key-words: Horse Therapy; Pedagogy/Education; Degree; Learning and Development.

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SUMÁRIOSUMÁRIO

MEMORIAL -------------------------------------------------------------------------------------------- 13  

APRESENTAÇÃO------------------------------------------------------------------------------------ 16  

1.PEDAGOGIA---------------------------------------------------------------------------------------- 20 1.1.O PEDAGOGO ------------------------------------------------------------------------------- 22 1.2.EDUCAÇÃO ESPECIAL-------------------------------------------------------------------- 24 1.3.APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO ------------------------------------------ 28

 

2.EQUOTERAPIA ------------------------------------------------------------------------------------ 32 2.1.HISTÓRICO ----------------------------------------------------------------------------------- 34 2.2.O CAVALO------------------------------------------------------------------------------------- 36 2.3.AS CONTRIBUIÇÕES ---------------------------------------------------------------------- 37 2.4.A LEGISLAÇÃO ------------------------------------------------------------------------------ 39

 

3.MÉTODO DE PESQUISA------------------------------------------------------------------------ 41 3.1.PROCEDIMENTOS PARA CONSTRUÇÃO DOS DADOS------------------------ 44 3.2.CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE DE EQUOTERAPIA-------------------------- 46

 

4.ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS----------------------------------------------------- 47 4.1.ANÁLISE E DISCUSSAO DOS RESULTADOS-------------------------------------- 47

4.1.1. Formação do pedagogo e a educação especial ------------------------ 47 4.1.2. Equipe multidisciplinar---------------------------------------------------------- 54 4.1.3. O trabalho do pedagogo na Equoterapia---------------------------------- 55 4.1.4. Contribuição da pedagogia para a Equoterapia ------------------------ 58

 

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS --------------------------------------------------------------------- 63  

6.PERSPECTIVAS ----------------------------------------------------------------------------------- 69  

REFERÊNCIAS --------------------------------------------------------------------------------------- 71  

APÊNDICE I-------------------------------------------------------------------------------------------- 74  

APÊNDICE II------------------------------------------------------------------------------------------- 75  

APÊNDICE III ------------------------------------------------------------------------------------------ 76

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MEMORIAL Neto de mineiros pelo lado materno e de gaúchos pelo paterno, regiões do

Brasil onde o papel do cavalo foi essencial para a expansão e desenvolvimento

destes estados e do país, seja nas expedições dos bandeirantes e tropeiros das

Minas Gerais, ou na lida campeira das charqueadas e nas batalhas que marcaram

os pampas, o cavalo foi peça fundamental para esses acontecimentos. Assim herdei

a paixão e admiração por esse animal, algo presente até hoje em mim e na minha

família.

Nos anos de ensino fundamental e médio por influência de um sistema

educacional fechado em cursos de grande repercussão no cenário mercadológico,

as únicas opções que englobavam o meu objeto de pesquisa eram todas voltadas

para a saúde. Essas opções não enxergavam o meu perfil, a minha realização

profissional, mas sim o cavalo por si só, como um objeto motivador, porém as

opções associadas a ele ainda eram muito restritas.

Os processos que me levaram a educação foram subjetivos. Por ter tido uma

infância muito rica em estímulos, sejam eles positivos ou não, sempre achei o

universo das crianças algo de muita riqueza e descobertas, com uma série de

relações fantásticas sobre as maneiras de como tudo acontecia. Relações entre as

próprias crianças, entre os adultos, tudo isso me fascina e continua instigando uma

série de questionamentos.

Sempre tive a relação com o cavalo e ambientes externos como motivadores

profissionais. Por isso a veterinária foi a primeira opção quando me indagava sobre

uma futura carreira profissional. Uma coisa era certa, nunca tive a pretensão de

trabalhar em um grande escritório, em uma sala fechada, me socializando em

corredores com pessoas que tenham a ambição de chegar a grandes cargos para

satisfazer o próprio ego ou para sustentar uma condição social.

Minha grande motivação era, e continua sendo, a realização como sujeito

social, como cidadão do mundo, usando todo o meu potencial em favor do outro,

sempre tentando crescer e aprender junto com as pessoas mais diferentes, nos

diversos ambientes e em todo tipo de situação.

A partir dessas convicções encontrei o viés que faltava na construção do meu

eu profissional. Pude perceber através de uma escuta sensível que algumas

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pessoas tinham vontades como eu, eram incompletas como eu, pensavam em como

seria o seu futuro, se apaixonavam, mentiam, sorriam e choravam como eu. A

pequena, ou grande diferença não estava em mim nem neles, mais sim nos outros,

que viam nessas pessoas o que elas tinham de especial, de diferente do outro,

antes de enxergar o sujeito por trás daquilo, alguém como eu, ele e você.

Percebi que minha paixão era por cavalos, e por tudo que ele representava,

descobri que estar com cavalos doentes, e curá-los não era o bastante para mim e,

acima de tudo queria lidar com pessoas, poder ir a fundo nas relações entre os

sujeitos, e no desenvolvimento que é comum a todos e singular no tempo, nas

maneiras e nas habilidades estimuladas em cada um.

Assim fui procurar na pedagogia um acalanto para as minhas inquietações,

pois só ela conseguia interagir com todos esses fatores em uma proposta científica,

em algo que pudesse ser estudado, destrinchado durante cinco anos dentro e fora

do ambiente acadêmico, no qual eu pudesse ver e entender como o poder de educar

é precioso, e assim tentar mensurar a responsabilidade que eu estaria assumindo

naquele momento em que optei em ser professor.

A partir daí a Equoterapia vem como vértice na união de alguns desses

artifícios no meu processo de aprendizagem e formação acadêmica. Este trabalho é

a tentativa de mostrar como a formação do pedagogo é rica, mesmo que em

algumas vezes essa riqueza tenha que ser exaustivamente garimpada nas

universidades, nos livros, através de consultas com estudiosos e em meios de

comunicação.

A escolha por essa temática vem sendo trabalhada desde o início da minha

formação como pedagogo. Minha realização como educador aliada a um grande

reconhecimento do cavalo como um agente promotor de mudanças, sejam elas

voltadas para área de saúde, educação ou simplesmente como um artifício para

fortalecer relações sociais e afetivas, fizeram da afinidade entre educação e

Equoterapia a aliança entre duas vertentes de grande identificação pessoal e

profissional.

Outra grande paixão é a Universidade de Brasília, um lugar que sempre teve

minha admiração e minha vontade de um dia ser parte daquele todo. A realização

dentro da Faculdade de Educação e em tudo que permeia a formação do pedagogo,

a identificação pela educação especial e toda sua representação em uma sociedade

que busca novas formas de inclusão, que sejam cada vez mais justas e plurais, a

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Equoterapia em uma visão pessoal, veio como a culminância de toda essa

realização profissional como pedagogo, me dando a possibilidade de desenvolver

um estudo relacionado ao cavalo, um animal que sempre foi a minha grande paixão

e elemento de grande admiração.

Paralelo a isso a chance de se ter como objeto de estudo um método

terapêutico que pode ser relacionado a um viés pedagógico que traz conceitos de

aprendizagem e desenvolvimento em um ambiente informal de educação, onde as

relações sociais são fortemente presentes nos princípios de aplicação, e a

oportunidade de diálogo entre outros profissionais com o intuito da ajudar na

evolução do sujeito, fazem da Equoterapia algo que me encanta como educador e

também como pessoa. Educar é ajudar o ser humano com os princípios e os fundamentos do ensino e da aprendizagem, informal e formal, na família e na sociedade, a transformar-se pelo crescimento e pelo desenvolvimento biopsicossocial em um cidadão com liberdade, felicidade e paz. (SEVERO, p 143. 2006)

A partir disso tentar mostrar para os leitores desse trabalho o quão rica pode

ser a formação do pedagogo e as possibilidades não só de tratamento, mas sim de

uma série de métodos, práticas, técnicas e acima de tudo virtudes que são

aglutinadas dentro da Equoterapia. Mostrando que com a pesquisa e o

aprimoramento dos futuros profissionais presentes na equipe multiprofissional e de

todos aqueles que já fazem parte dela podem e devem ser formadores e críticos de

suas próprias técnicas e do desenvolvimento de novas perspectivas.

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APRESENTAÇÃO

Para muitas pessoas a Equoterapia é algo ainda a ser descoberto, para

outras uma matéria de jornal ou uma reportagem de TV. Há os que fazem uma

relação direta a pessoas com necessidades especiais e ao cavalo, ao mesmo tempo

existem aquelas que aos poucos vão ganhando conhecimento e se tornam cada vez

mais próximas desse trabalho. Há também os especiais, pessoas que juntas fazem

da Equoterapia o que ela é hoje e participam como personagens ativos nas novas

demandas que podem potencializar esse método em algo ainda mais fascinante

amanhã.

Esses são os profissionais, praticantes, familiares, estudiosos, e

principalmente o cavalo que com seu potencial aliado a toda essa pluralidade

consegue como agente transformador ajudar o próprio o homem a se desenvolver

por completo.

Os ambientes educacionais voltados para a pessoa com necessidade

especial têm evoluído consideravelmente ao longo dos anos. Os diversos espaços

que são criados para as pessoas com necessidades especiais podem ter diversos

tipos de intencionalidades.

A educação tenta seguir essa dinâmica, através de propostas como inserção

do pedagogo no hospital, as adaptações de espaços-tempos curriculares, terapias

alternativas, o uso do lúdico em jogos, brincadeiras e até mesmo a inserção do

esporte competitivo, inclusive com o surgimento das Paraolimpíadas e das

Olimpíadas Especiais.

A valorização e diferenciação no ambiente agregam benefícios diretos não só

as pessoas com necessidades especiais, mas sim a toda sociedade em geral, que

se desenvolve significativamente com novas formas de educação e reeducação do

sujeito. Esse novo formato de educação e reeducação tende a uma visão global da

pessoa com necessidade especial, buscando o melhor resultado em relação ao que

ela pode oferecer, respeitando seus limites e fazendo com que o grupo social

também entenda que todos somos imperfeitos e também temos nossas próprias

limitações, sejam elas cognitivas, intelectuais, sociais ou motoras, e que em muitas

vezes essas limitações podem ser associadas e trabalhadas de maneira positiva.

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A sala de aula continua sendo o lugar de referência quando falamos do

pedagogo. Os processos de interação social, as relações concretas de

aprendizagem e a sedimentação do currículo aplicado na prática pedagógica, fazem

parte de um contexto que se refere principalmente as práticas desenvolvidas nos

ambientes tradicionais da educação. É a partir desses conceitos que são

estabelecidos alguns dos pilares formadores da escola, o lugar que tem em seus

princípios constituir sujeitos sociais conscientes, e que dentro desse ambiente

escolar ele passe por diversos tipos de relações sociais, cognitivas e afetivas. O trabalho escolar é o equilíbrio entre duas concepções, isto é, habituada ao esforço (produção do saber), ao instruir, ao divertir-se penetra em todas as relações de vida enquanto se desenvolve e se define, no momento em que se prepara para o trabalho real. (ALMEIDA, p.60)

As influências educativas são caracterizadas por Libâneo em dois segmentos,

um deles é o de educação intencional, esse conceito é subdividido em educação

não-formal e educação formal. A educação formal diz respeito às intenções e

objetivos previamente definidos por parâmetros curriculares e intenções sociais, e

variam de acordo com os meios utilizados, tais como televisão, rádio, jornal. [...] educação formal que se realiza nas escolas ou outras agência de instrução e educação (...) implicando ações de ensino com objetivos pedagógicos explícitos, sistematização, procedimentos didáticos (Libâneo, 1994: 18)

Por outro lado a educação não-formal enquanto atividade educativa fora do

sistema escolar convencional é representada por movimentos sociais, expressões

artísticas e uma série de fatores relacionados a outros tipos de ambientes.

Um ambiente que difere dos padrões escolares, mas que tem em seu âmago

as afinidades com a educação e com os processos de aprendizagem e

desenvolvimento é o da Equoterapia. Essa forma de acompanhamento/estimulação

do desenvolvimento é realizada com o auxílio do cavalo que ao passo provoca no

cavaleiro um sutil movimento tridimensional e associado aos seus elementos

naturais como cores, cheiros e textura, somados aos do ambiente e regidos por uma

equipe formada por diversos profissionais das mais variadas áreas de formação,

inclusive a pedagogia. A equipe junta tem a intencionalidade de estimular esse

sujeito de maneira integral.

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Esse trabalho traz o pedagogo dentro desse novo ambiente. Para isso é

necessário que se traga as noções que o estudante de pedagogia constrói no

decorrer de sua formação acadêmica.

Essa análise tem a intenção de visualizar uma relação entre a Equoterapia

dentro do processo de formação do pedagogo e o papel do mesmo dentro da

Equoterapia, relatado por ele próprio e pelo restante da equipe multiprofissional, no

contexto relacionado às ações desenvolvidas nesse espaço.

Paralelamente será investigado, junto a equipe multiprofissional, as

potencialidades da Equoterapia como um método voltado para educação, nos

processos de aprendizagem e desenvolvimento.

Desvelando dessa forma as concepções dessa equipe em relação ao trabalho

do pedagogo inserido no centro em que é desenvolvida essa atividade e, assim,

mensurar a relevância do seu trabalho junto a cada integrante da equipe.

Proponho a discussão que reúne a Equoterapia e o trabalho do pedagogo

partindo de três questões que direcionam a pesquisa. Com as considerações por

mim concluídas durante meu processo de convívio com o cavalo e a Equoterapia

aliado ao tempo de estudo dentro da faculdade de educação e norteado pela

Professora Dra. Cristina Massot Madeira Coelho alguns problemas de pesquisa

surgiram para fomentar o desenvolvimento do trabalho em campo.

Quais as noções que o estudante de pedagogia tem sobre a Equoterapia e

seu uso enquanto instrumento na aprendizagem e desenvolvimento de crianças com

necessidades especiais?

Para os profissionais da equipe multiprofissional, quais são os benefícios de

se ter um pedagogo no trabalho da Equoterapia?

Como o pedagogo compreende a Equoterapia no processo de

desenvolvimento e aprendizagem da criança com necessidade especial?

Esse arsenal de idéias e inquietações desse trabalho traz para o leitor, que

tem algum tipo de interesse em novos métodos relacionados à educação especial e

também para o despretensioso, um incentivo a aprender e lançar novos

questionamentos em relação à Equoterapia em um contexto pedagógico. Assim

como somar informações para aqueles que já têm algum tipo de conhecimento na

área da educação e também de Equoterapia.

Com a pesquisa de campo pretende-se investigar os problemas levantados

e/ou conhecer outros que não foram definidos e observados.

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Esse exercício de pesquisa procura caracterizar as diversas maneiras com

que o pedagogo vem contribuindo, inovando e criando para a evolução de uma

Equoterapia de ação integral e de desenvolvimento do sujeito em um contexto

inclusivo, salientando o trabalho do profissional da educação dentro dessa área. A

intenção de trazer noções de base introdutória sobre o desenvolvimento e

aprendizagem é abordada nesse trabalho com o intuito de envolver algo próprio da

pedagogia em uma relação direta com a Equoterapia. Abordando um tema que é

inerente a formação do pedagogo e que pode ser relacionado exclusivamente ao

trabalho do pedagogo dentro da Equoterapia.

A formação de um educador é vasta e, quando bem feita, admite que esse

profissional estará pronto para romper com os desafios que são colocados desde a

sua formação e frequentemente impostos na prática em espaços públicos

sucateadas.

Sendo assim, temos como objetivos:

Geral - investigar o trabalho do pedagogo como um integrante da equipe

multiprofissional da Equoterapia, compreendendo este método terapêutico

educacional no desenvolvimento e aprendizagem de crianças com necessidades

educacionais especiais.

Objetivos específicos:

-Compreender o trabalho do pedagogo dentro de um centro de Equoterapia;

-Analisar as possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem da criança

com necessidade especial praticante de Equoterapia através da fala do pedagogo;

-Caracterizar a contribuição da pedagogia para a Equoterapia no processo de

educação inclusiva; e

-Demonstrar como a formação do pedagogo dentro de suas disciplinas

voltadas para a educação especial pode ser relacionada ao trabalho desenvolvido

na Equoterapia.

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1. PEDAGOGIA

A educação hoje é um grande fenômeno social, foco para uma série de

fatores que fazem as engrenagens sociais e culturais do nosso planeta funcionar.

Independentemente do modo com que essas engrenagens trabalham, ela está

presente em toda a parte sendo um objeto a ser mudado e um fator de mudança.

O conceito de educação que nós temos hoje é cada vez mais vasto e seu

significado acaba ganhando cada vez mais amplitude nos diversos cenários em que

a educação está inserida, porém sua essência continua a mesma. Conforme explica

Brandão: A palavra educação vem do latim ‘educare’, que significa extrair, tirar, desenvolver, ela consiste essencialmente, na formação de caráter do homem. (Enciclopédia Brasileira de Moral e Civismo apud BRANDÃO, 1995, p. 63).

Essa nova e velha educação, em que novos conceitos e aqueles mais

tradicionais vem se misturando e reinventando, acabam transformados em novos

parâmetros visando novas abordagens em uma proposta de ressignificação da nova

educação.

Esse conjunto de novas abordagens torna-se algo que pode ser chamado

como ato de educar, interdisciplinar1 e com novas tendências, voltadas para uma

base cada vez mais focada em tudo aquilo que envolve o sujeito. O surgimento de

novos fatores passa a influenciar na formação desse indivíduo, trazendo com ele

suas necessidades diversas, a possibilidade de uma visão integral do sujeito,

mesmo que as idéias desse educador possuam um foco tradicional ou inovador, o

que prevalece é a intenção de educar e melhorar cada vez mais as relações

humanas.

Os paradigmas que muitas vezes são construídos em relação ao ato de

educar e tudo aquilo que o permeia, como o lócus, o educador, o educando,

                                                                                                                         1 O termo interdisciplinaridade significa a interação existente entre duas ou mais disciplinas. Essa interação pode ir da simples comunicação de idéias a interação mutua de conceitos diretores da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização referente ao ensino e da pesquisa. Implica também, em uma vontade e compromisso de elaborar um contexto mais geral, no qual cada uma das disciplinas em contexto é, por sua vez, modificada e passam a depender claramente uma das outras. (FAZENDA, 1979).

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21

materiais, recursos, didática, tudo isso acaba passando por um processo de

construção e reconstrução dentro da metodologia educativa, é através dos

personagens que dão forma a essa realidade, e que hoje oferecem um formato

plural e inovador para essa nova educação.

As demandas que permeiam a educação atual podem ser dadas de várias

formas. Os métodos e as práticas estão cada vez mais inovadores e na maioria das

vezes tentam se adequar com a dinâmica proposta pela sociedade nos seus

diferentes aspectos, muitas vezes gerados por uma enorme gama de necessidades

que surgem cada vez mais diferentes no contexto educacional. Brandão (1995) diz

que a educação ajuda a criar, formar e construir tipos de sociedades pelo seu

processo de crenças e idéias, contribuindo para a socialização do homem.

De acordo com a teoria sócio-histórica de Vygotsky (2004), “a pedagogia é

uma ciência que trata da educação das crianças.” Além disso, entre os diversos

papéis exercidos pelo pedagogo podemos também mencionar como uma de suas

funções a de organizar suas ações de forma que elas possam assumir algum

sentido nesse processo de formação do sujeito. Dessa forma, a pedagogia

consegue atingir parâmetros totalmente particulares no que diz respeito a

conhecimento, aprendizagem e desenvolvimento.

Segundo Ferreira (FERREIRA, 2004), “a pedagogia tem como objeto

acadêmico algo direcionado para a formação de professores e, teve sua primeira

conformação no Brasil através das escolas Normais.”

O nascimento do curso de pedagogia deu-se em 1930 na Universidade do

Brasil. Apesar das várias mudanças que o curso de pedagogia foi sofrendo ao longo

dos anos, em consequência de ajustes curriculares ou até mesmo por questões

políticas, pode-se dizer que a pedagogia como um todo vem somando cada vez

mais forças no seu processo de atualização e de formação curricular.

Hoje a formação do pedagogo é plena, podendo atuar em diversos

segmentos, porém, ainda tem como base dos seus conceitos e essência de sua

formação o trabalho como docente.

Ainda assim o pedagogo consegue desvendar cada vez mais seu papel em

novas áreas, sendo sujeito participativo pró-ativo e fundamental em diversos

segmentos, como por exemplo, nas áreas de ensino, gestão, elaboração de políticas

públicas, de projetos pedagógicos e construção do conhecimento.

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22

O arsenal de estratégias em que o pedagogo se fundamenta para a

elaboração do seu trabalho nos diferentes contextos da educação aparecem

também como ferramenta de apoio em determinadas situações, podendo ser

readaptadas em diversas circunstâncias com diferentes públicos e nos mais variados

ambientes. As estratégias pedagógicas aparecem como capítulos nos livros didáticos e são entendidas como métodos e técnicas que apóiam a transmissão de conhecimento. Para tanto, devem ser variadas colocando os alunos em diferentes situações, integrando-os, motivando-os e incentivando-os para a participação ativa na sala de aula, dinamizando a situação pedagógica. (Mazetto, 1992. Apud Tacca, pág.47, 2006)

As concepções e conceitos que são referências no que diz respeito à

formação do pedagogo, permeando os processos de formação do educador, fazem

com que a amplitude desse processo seja algo que vai para além da docência

transformando esse profissional em um formador social.

Esse processo de formação do professor dentro da pedagogia é contemplado

e divido nos ambientes acadêmicos, sendo que parte dos estudos relacionados a

isso acaba sendo explorado durante um período por outros cursos de licenciatura.

Estudantes que durante seu processo de formação perpassam por um

determinado tempo pelas mãos de professores da faculdade de educação e bebem

da mesma água que os profissionais da pedagogia se respaldam como docentes e,

através desse conhecimento, podem basear sua prática.

Isso mostra que a amplitude dessa formação permite ao pedagogo

desenvolver conhecimentos interdisciplinares e relações multiprofissionais. Ou seja,

ele acaba se abrindo para consulta e formação de outros profissionais que podem vir

a trabalhar paralelamente seguindo linhas parecidas nos caminhos da atuação

profissional. Podendo tornar essa prática em algo enriquecedor. Dessa forma, as

linhas paralelas podem entrar em congruência ou até mesmo se fundir nos

ambientes em que teoria e prática são associadas

1.1. O PEDAGOGO

A pedagogia pode ser descrita como a ciência das diversas relações entre

ensinar, aprender, socializar e desenvolver, ou seja, a troca entre os sujeitos que,

tem como um impulsionador nos processos formais a figura representada pelo

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professor, aquele que conduz aos ensinamentos, que promove o momento e que

estimula os processos do conhecimento. Na Grécia, eram os velhos escravos que conduziam as crianças para o caminho da escola “o pedagogo era o educador por cujas mãos a criança grega atravessa os anos a caminho da escola, por caminhos da vida”. (BRANDÃO, 1995, p.42).

A palavra pedagogo origina-se do grego antigo (GHIRALDELLI, 2007) “paidós

significa “criança” e agodé “condução”. Seu primeiro significado foi relacionado

àquela pessoa que acompanha, que permanece do lado no processo de

aprendizagem, algo ligado a iniciação social, que apesar da mediação proposta pelo

pedagogo é inerente ao ser humano.

Foi se compreendendo que essa figura poderia ser de fundamental

importância nas relações que são construídas nos processos iniciais de

desenvolvimento, a demanda por uma ciência especialmente desenvolvida para

nortear os processos de aquisição de conhecimento e desenvolvimento no

fenômeno educativo.

Conforme Brandão (1995) comenta: “ninguém escapa a educação”. Ela

acontece em várias esferas da vida cotidiana, em casa, na rua, na escola, com

amigos, igreja, trabalho, enfim, “não existe apenas uma educação, mas educações”

(p.7).

Aliado a toda essa parte de ambientes e materiais, têm-se o recurso humano

bem capacitado e altruísta, pronto para confeccionar novos métodos e estilos de

avaliação, materiais, propostas curriculares e uso de novas tecnologias, o que o

torna indispensável para que um novo conceito de educação se recrie. De forma que

seus resultados sejam cada vez mais satisfatórios hoje e potencialmente melhores

em um futuro próximo.

Por trás de tudo que conceitua a educação, existe um profissional que

gerencia e organiza todo um arsenal de instrumentos, idéias e princípios que, como

anteriormente mencionado, fazem da educação algo inerente a formação social.

Esse é o pedagogo, sujeito determinado a estimular e auxiliar o educando no seu

processo de construção do conhecimento, aprendizagem e desenvolvimento bem

como no de formação social. A educação aparece sempre que surgem formas sociais de condução e controle da aventura de ensinar e aprender. O ensino formal é o momento em que a educação se sujeita à pedagogia. (BRANDÃO, 1995, p.26)

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Dessa forma a pedagogia surge como ciência com estudo profundo e

prestigiado, de modo que não seja formatada em relações aleatórias, mas sim

fomentadora de conhecimento e respostas para uma série de questionamentos que

envolvem muito mais do que simplesmente o ato de ensinar e aprender.

Portanto podemos dizer que o pedagogo seria o cientista da educação, sendo

que, esse profissional estará carregando sempre no seu ato pedagógico, na prática

da educação, algo permeado por diversos fatores, como a troca entre os pares

através da socialização, a influência do ambiente e não só por meio de sua

intencionalidade “As modalidades de educação têm características de não-

intencional e intencional”. (LIBÂNEO, 1994)

Hoje o pedagogo encontra uma série de desafios, desde o momento em que

ele escolhe a pedagogia como carreira profissional e se depara com a elaboração de

currículo desorganizado até fora do contexto educacional, passando pelos

ambientes de trabalho desse profissional que muitas vezes acabam podando seu o

potencial para que ele se adeque a um modelo mercadológico de resultados e,

finalmente, a falta de reconhecimento do poder público a esse profissional, por tudo

aquilo que ele representa para sociedade.

Ainda assim com todos esses desafios, o pedagogo pode e deve ser sempre

aluno, buscar aprender e se desenvolver como docente, para que esse

reconhecimento pleno se torne algo cada vez mais próximo da realidade.

1.2. EDUCAÇÃO ESPECIAL

A Educação Especial atualmente está presente nos processos educacionais,

seja ele voltado para crianças, jovens ou adultos. Com o passar dos anos ela formou

idéias que misturam conceitos retrógrados e vanguardistas.

Sabendo dessa dicotomia em relação às propostas é que podemos perceber

que muito se ganha e muito se perde com esses processos de mudança da

Educação Especial.

O potencial adquirido com os anos poderia gerar uma série de novos

profissionais e centros voltados para a educação, com isso o ideal seria que se

colocassem em prática tudo que foi sendo absorvido com as vivências e muitas

vezes com as falhas e erros do passado.

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Educação Especial pode ser definida como o atendimento educacional dado às crianças e aos adolescentes que apresentam algum tipo de deficiência física, psíquica ou sensorial, ou que estão em situação de risco social ou de desvantagem por fatores de origem social, econômica ou cultural que os impedem de acompanhar o ritmo normal do processo de ensino-aprendizagem (GONZÁLEZ, 2007, p. 19).

O que hoje é chamado de Educação Especial segundo Gonzàlez (2007) seria

a relação integrada de recursos pessoais e materiais dispostos a suprir as

adequações necessárias relativas a algum tipo de deficiência física, psíquica ou

sensorial e também relacionadas a algum tipo de risco social a cada indivíduo sejam

elas transitórias ou permanentes.

Pode-se afirmar que a organização do trabalho pedagógico na proposta de

educação especial orienta-se pelo local de atendimento: 1) na escola regular (classe comum, classe especial e sala de recursos); 2) na escola especial (em seus diferentes níveis de atendimento) e 3) em ambientes não escolares (classe hospitalar, atendimento domiciliar). O local do atendimento mantém íntima a relação entre as funções que estão previstas para o atendimento especializado: apoiar, complementar e suplementar e, por último substituir os serviços educacionais comuns. A diversificação do atendimento possibilita contemplar uma grande variedade de necessidades que possam ser apresentadas pela heterogeneidade dos alunos da educação especial. (Garcia, 2006)

Todo esse panorama relacionado à Educação Especial é relativo a problemas

de aprendizagem dentro ou fora do ambiente escolar. A partir do que já foi estudado

em relação a essa temática pode-se afirmar que os alunos com algum tipo de

dificuldade não são alunos incapazes, porém, possuem alguns fatores que podem

desfavorecer o mesmo em condições sistêmicas, econômicas, sociais, culturais e

uma série de outros valores incorporados na nossa sociedade contemporânea.

González (2007) também aborda o termo recursos educacionais e traz o

conceito proposto por Marchesi e Martimm (2000), que faz referência ao recurso

educacional como princípio da quebra de paradigmas ou da rotina escolar, em que o

número de profissionais e materiais direcionado são dispostos em maior quantidade,

o material didático é trazido com maior número e frequência, rompendo com os

muros das escolas convencionais e surge a tentativa de se inserir a educação em

um lócus alternativo ou a readaptação desse ambiente tradicional.

Hoje a Educação Especial vem alcançando novos avanços inclusive em

relação à formatação do seu conceito, que segundo Rosalba Garcia (2006) é “uma

expressão das tentativas de superação desse modelo de compreensão e das

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práticas relacionadas à educação especial e a proposição do conceito de

necessidades especiais. Essa conceituação teria por finalidade retirar dos

diagnósticos de deficiência e colocá-lo sobre as necessidades de aprendizagem.”

A autora acima relaciona o Parecer do CNE/CEB n. 17/2001, que vem com o

intuito de direcionar a atuação do professor para algo distante da deficiência do

aluno e sim levar essa responsabilidade para o ensino de qualidade e o ambiente no

qual esse sujeito está inserido.

Além disso, busca novas perspectivas no ato de ensinar e nas condições de

aprendizagem, ao contrário de personificar no aluno a gênese do problema. A ação

compartilhada entre a família, escola, o professor e as estratégias que esse aluno

utiliza depende exclusivamente dos sujeitos inserido nesse grupo, fazendo com que

o trabalho de cada um venha a somar no trabalho do outro.

A criança não deve se cobrar, assim como não deve ser cobrada baseadas

em uma idéia de “normalidade” de padrões sociais e de aprendizagem, mas de ser

usada como referência de universalidade e diversidade sendo que uma é parte da

outra e podem e devem ser empregadas em relação a conceitos sociais de inclusão,

e não de aceitação e tolerância.

Um dos novos paradigmas relacionados à educação especial é a educação

inclusiva, sem qualquer segregação dos sujeitos em relação aos ambientes,

associado a um professor que tenha em sua formação a construção de um conteúdo

que o auxilie nessa jornada. [...] Formar professores competentes e qualificados pode ser o alicerce para que se garanta o desenvolvimento das potencialidades máximas de TODOS os alunos, entre eles os com deficiência. (Oliveira, 2002, p 265-266)

A educação especial e o processo de inclusão, além de serem tópicos

relacionados diretamente com a parte prática dos processos de atuação docente e

formatação de planos de ensino e aprendizagem, estão fortemente relacionados às

políticas públicas e são frequentemente encontrados em documentos

regulamentadores da sociedade.

Sua fundamentação atual no Brasil é baseada primordialmente através do

que está determinada na Constituição Federal que prevê no seu Artigo 208 inciso III:

o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino. Seguido das Leis de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que traz no seu

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Artigo 4º os deveres do Estado em relação às garantias de ensino, mais

precisamente no inciso III, ela afirma o “atendimento educacional especializado

gratuito ao educando com necessidades especiais, preferencialmente na rede

regular de ensino”

Ainda são encontradas falhas na elaboração desses documentos, brechas em

que o Governo Federal acaba se omitindo de alguns deveres que muitas vezes são

determinados por órgãos internacionais através de documento nos quais o Brasil é

encontrado como signatário.

O fato dos documentos trazerem a intenção de um atendimento aos alunos

com necessidades especiais preferencialmente na rede regular de ensino e não

obrigatoriamente, acaba por omitir o Estado de cumprir com alguns tratados

internacionais nos quais se afirmam os benefícios de uma educação inclusiva

proporcionada pelo Estado em parceria com a sociedade. Um desses tratados é a

Declaração de Salamanca (1994) na Espanha, no qual foi determinado que “escolas

regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes

de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras,

construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além

disso, tais escolas provêem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimora

a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema

educacional.”(pag.1)

O fator biológico não está colocado exclusivamente como agente gerador dos

processos de exclusão, o social e o intelectual também fazem parte desse ato que

segrega os espaços educacionais, colaborando com a evasão dos alunos.

É nesse processo que podemos ver o comodismo das pessoas que

gerenciam esses espaços, quando se eximem da culpa pelo fracasso, transferindo

essa para o sujeito no intuito de que a interpretação e a assimilação sejam falhas do

sujeito eximindo a culpa dos processos e de seus gerenciadores. A exclusão é uma característica que vai marcar a escola e a assistência à saúde do escolar no Brasil. A escola especial é a expressão desta exclusão, assim como a chamada evasão escolar usada, muitas vezes, como sinônima de fracasso escolar. A evasão escolar tem, ainda, o efeito perverso de deslocar para o sujeito a culpa pela sua exclusão da escola, como se este sujeito evadisse da escola por livre e espontânea vontade. (Werner, pag. 38, 2000)

Podemos concluir que os documentos que regem a educação especial

brasileira apesar de terem uma boa intenção de tornar factível a inclusão e de

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saberem das capacidades e das limitações de cada um, ainda assim não

corroboram com as expectativas de uma sociedade que não se sente incluída.

Não corroboram também com as determinações internacionais, tornando

nítida a recorrência dos processos de desigualdade, inclusive por parte do Estado

que omite sua responsabilidade em relação ao desempenho do aluno com

necessidade especial ao passo que fecha os olhos para escola regular democrática

e para todos. O que percebemos é uma segregação das necessidades básicas de

ensino e aprendizagem dos sujeitos, a partir de suas condições, sobretudo físicas,

sociais, intelectuais e psicológicas.

1.3. APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO

Os conceitos de aprendizagem e desenvolvimento perpassam por diversas

áreas do conhecimento, porém é dentro da pedagoga e da psicologia que os

estudos relacionados aparecem com mais frequência, e ainda assim, podemos

encontrar determinadas situações em que as idéias em relação aos processos do

desenvolvimento apresentem algumas divergências entre seus pesquisadores. As teorias do desenvolvimento humano têm percorrido os caminhos da história da psicologia com concepções associadas às diferentes representações do homem que tem hegemonizado o pensamento psicológico. (Gonzalez Rey, 2004. p.1)

De acordo com a perspectiva histórico-cultural de Vygotsky o educando é

representado como um “sujeito social, constituído intrinsecamente por relações

sociais, culturais e históricas”. (Werner, pag.77, 2000)

Vygotsky busca a partir dos estudos relacionados à teoria histórico-cultural do

desenvolvimento da aprendizagem definir a importância da formação do sujeito

social, a partir de uma série de relações elaboradas através da troca e da interação

entre os personagens que formam a sociedade.

A partir de sua concepção teórica, as relações de desenvolvimento e ensino

formal perpassam, por exemplo, a questão dos processos de desenvolvimento não

combinarem simultaneamente com os métodos de aprendizagem formal, a

aprendizagem vem permeando e se infiltrando para que aconteça o

desenvolvimento do sujeito. [...] A distância entre o nível de desenvolvimento que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível do

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desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou de companheiros mais capazes. (Vygotsky, 1989. p.97)

Apesar dessa teoria, Vygotsky afirma que, embora as relações entre as duas

ações sejam independentes, uma influência a outra tornando-as duas partes do

mesmo processo. A complexidade entre os processos de “dependências não podem

ser explicadas a partir de uma única fórmula especulativa apriorística.” (Davydov,

apud Vygotsky, 1998:5)

Além disso, Vygotsky investiga ainda os índices de desenvolvimento real e

potencial do sujeito, algo que vai além das abordagens individuais.

Nos processos em que se tem a eminência ou até mesmo o problema de fato,

no qual o sujeito tente chegar a um determinado resultado a partir de tudo aquilo

adquirido no seu processo de construção do conhecimento, podendo ser de maneira

direta e objetiva ou construída nos momentos de interação com os outros, tendendo

para que essa circunstância possa ser transformada em potencialidades para o

desfecho da situação. As relações assim como as ações periféricas que não tem a

priori uma intencionalidade para o ensino formal são abstraídas pela criança

subjetivamente através da zona de desenvolvimento potencial.

Na mesma linha de Vygotsky, porém com certa tendência direcionada a

interpretação um pouco mais objetiva e prática, Werner (2000, p.80) classifica a

zona de desenvolvimento real como algo que “indica o nível de desenvolvimento das

funções mentais da criança, caracterizado pelo que ela consegue realizar por si

própria, sem auxílio dos adultos ou de crianças mais experientes.” Há ainda uma

possibilidade de outro potencializar as ações e reações desse sujeito, esses tópicos

foram determinados por Vygotsky como zona de desenvolvimento potencial. De

acordo com Werner, que traz a temática melhor ilustrada, essa é definida como

aquilo que indica a distância entre o desenvolvimento real e o desenvolvimento

potencial.

Para a criança atingir o desenvolvimento potencial é necessário que se

instaure um processo de colaboração e ajuda mútua com outros sujeitos, através de

ações partilhadas na zona de desenvolvimento proximal.

Nas categorias desenvolvidas por Vygotsky a respeito dos fenômenos

relacionados à aprendizagem e desenvolvimento estão constituídas de maneira

integracionista as relações formadas entre o homem, sua história, cultura e

sociedade, para caracterização da gênese psíquica humana a partir dos seus

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alicerces nas áreas de aprendizagem e desenvolvimento.

Com elaboração dessas premissas, Madeira Coelho (material didático 2006)

chega à conclusão de que “o desenvolvimento dos fenômenos psíquicos deixa de

ser percebido isoladamente ou como um produto direto de mecanismos fisiológicos

internos ou como resultado da ação de estímulos físicos externos, ou, ainda, como

parte de uma natureza humana imanente...”, ela conclui que todo esse processo é

dado a partir do funcionamento dos sistemas criados por Vygotsky, em que a

relação com os estímulos externos são associados às zonas de desenvolvimento

González Rey (2004) perpassa pelas estruturações do desenvolvimento,

dando ênfase a um fenômeno que merece destaque, as emoções e as relações

afetivas que ele afirma ter uma ligação com as demandas de suas necessidades

vitais. Além disso, a produção emocional está integrada a produção de uma

simbologia cultural, “O homem responde a sistemas de significação que tem um

valor apenas dentro dos marcos da cultura em que atua.” (Gonzalez Rey, 2004. p.4)

A aprendizagem e o desenvolvimento se dão a partir de uma série de

acontecimentos e estímulos, assim todo esse conjunto de fatores irá culminar para

que esse fenômeno passa acontecer. Alguns deles foram elaborados por Vygotsky e

são bastante recorrentes em trabalhos acadêmicos, como as funções da linguagem

no processo de formação do sujeito e sua relação entre fala e pensamento, a

aplicação e a validação de conceitos como ZDP, as relações com o outro nos

processos do desenvolvimento, as relações do entendimento da deficiência além de

outros.

Seguindo uma breve análise a partir das referências que Vygotsky faz em

relação aos processos de aprendizagem e desenvolvimento pode-se perceber na

literatura que, apesar de ilustrar os processos ele não se preocupa em conceituar o

papel do outro na ZDP. De acordo com Gonzaléz Rey (2004), “ele não considera a

qualidade do relacionamento afetivo desse outro com a criança”, apesar de Vygotsky

sempre ter mencionado valor das emoções, e pode-se notar em sua obra o

empenho de contemplá-la como parte integral do sujeito histórico-social.

Outro fator recorrente sobre a formatação desses processos é a aquisição da

linguagem, um sistema formado por signos linguísticos com alguns valores dispostos

em uma determinada cultura. A dinâmica do pensamento tem uma lógica própria,

que se torna ainda mais complexa quando passa a ser interpretada como

linguagem.

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A partir do modelo histórico-cultural de Vygotsky a linguagem não é apenas

parte da comunicação entre sujeitos feita a partir de signos, é também a conexão

entre a constituição do pensamento e a sua consciência. A aquisição da linguagem e

sua relação com o pensamento a tornam algo diretamente relacionado à

aprendizagem e desenvolvimento. A construção de relação entre fala-linguagem-pensamento é considerada como uma das mais originais contribuições de Vygotsky para a compreensão de aspectos do desenvolvimento das funções do pensamento, as funções psicológicas superiores. (Madeira Coelho, 2009. p.45)

Fica claro que as contribuições de Vygotsky para as relações de

aprendizagem e desenvolvimento trazem diversos fatores e todos eles acabam se

encontrando em algum momento do processo do desenvolvimento histórico-social

do sujeito. Assim, concluo as principais contribuições relacionadas às áreas de

aprendizagem e desenvolvimento que serão novamente citadas para que um diálogo

mais íntimo aconteça entre os processos propostos no decorrer do trabalho.

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32

2. EQUOTERAPIA O fascínio em relação ao cavalo e por tudo aquilo que ele representa como

agente transformador na história, como algo que pode perpassar por diferentes tipos

de abordagem, indo desde um viés pedagógico passando por áreas como a de

inserção e inclusão social até como ferramenta cinesioterápica (terapia através dos

movimentos), indo até uma concepção na qual o cavalo nada mais é do que algo a

ser apreciado, a composição e a harmonia da paisagem, quase um objeto de arte.

Por meio de estudos, pesquisas e vivências sobre a temática, percebe-se que

essa terapia se ocupa em trabalhar o praticante de forma integral, para que isso

ocorra de maneira satisfatória se faz uso de uma equipe multiprofissional, que pode

ser formada por pedagogos, fisioterapeutas, psicólogos, educador físico, terapeutas

ocupacionais e instrutores de equitação para Equoterapia. Dessa forma, esses

profissionais vão mediar o trabalho que é feito pelo cavalo para alcançar os objetivos

propostos com o praticante.

Considerando assim a Equoterapia como é conhecida hoje em algo criativo e

vanguardista nos conceitos de tratamento. Segundo Mitjáns (2007) “a criatividade

expressa-se em formas e contextos muito diversos”, e é isso que nós encontramos:

um ambiente diferente, uma forma inovadora em um contexto que necessita de

todos esses fatores concomitantemente.

Os personagens que compõem esse trabalho estão dialogando diretamente

nos meios acadêmicos, institucionais e na literatura, porém na prática generalista

isso passa a ser um pouco diferente. Cada um deles por pensar que já possuí

razoavelmente alguma informação em relação a determinado tema que muitas

vezes é relacionado subjetivamente a outra área de formação, acaba abrindo mão

de um diálogo direto com essa área, isso faz com que em algumas ocasiões, por

mais que os processos teóricos sejam ricos em informações, a falta de artifícios para

que esse profissional possa refutar essas idéias acabam complicando a aplicação

prática.

A crescente conscientização dos processos de inclusão e a valorização de

novos métodos terapêuticos voltados para pessoas com necessidades educacionais

especiais e os processos que vem gerando a consolidação do pedagogo como

agente atuante nessa área foi determinante na congruência de idéias e pesquisas

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33

para que a Equoterapia fosse enxergada como um método terapêutico que devesse

ser reconhecido e pesquisado por profissionais da educação. Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é sua única prática e o professor profissional não é o seu único praticante (BRANDÃO, 1995, p.9).

Além de tudo que a Equoterapia pode representar através da pluralidade dos

seus diálogos, ela traz também uma união entre profissionais de formação distinta,

presente na relação compartilhada do trabalho que acaba sendo não só educacional

e pedagógico, mas também algo ainda mais rico, que na Equoterapia é chamado de

ganho biopsicossocial, ou seja, a unidade de vários segmentos voltados para o

desenvolvimento integral do sujeito.

Em um centro de Equoterapia observa-se a atuação de uma equipe

multiprofissional, pois o trabalho junto a crianças com necessidades educacionais

especiais deve ser extremamente criativo e inovador. O fato de o cavalo ser um

agente que pode ser trabalhado com diversos focos é bastante rico por natureza e

cada profissional estará lançando um olhar diferente em relação ao cavalo e suas

potencialidades. Em suma, a Equoterapia é um processo com inúmeras possibilidades de aplicação, abrangendo a reabilitação (hipoterapia) e a habilitação (educação/reeducação e equitação pré-esportiva). Sua clientela é ampla, envolvendo todos os indivíduos que buscam melhora em sua qualidade de vida e de suas inabilidades e habilidades. (DURAN, Marcos. 2005).

Na maior parte dos casos, o praticante tem seu início na Equoterapia como

um método terapêutico e muitas vezes essa iniciativa, dentro de algo novo, acaba

gerando potencialidades voltadas para o esporte ou até mesmo como forma de

lazer. Todos esses resultados são decorrentes de uma gestão compartilhada entre

todos os profissionais associados ao ambiente e ao animal.

Muitas vezes uma dicotomia é percebida dentro da Equoterapia, de acordo

com sua definição segundo web site da ANDE-BRASIL, Associação Nacional de

Equoterapia, entende-se Equoterapia como: Método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou com necessidades especiais. (www.equoterapia.org.br acessado em 15 de ago. de 2010)

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Além de terapêutico é também educacional, o que traduz em sua essência

duas naturezas complementares, sendo que em uma de suas abordagens ela pode

ser analisada pelo viés do método terapêutico com um enfoque de tratamento clínico

relacionado à saúde, e do outro lado dessa panorâmica temos no seu conceito a

abordagem educacional que atinge os processos de aprendizagem e

desenvolvimento, assim como a área psicopedagógica.

2.1. HISTÓRICO

A Equoterapia tem como peça fundamental o cavalo, porém o domínio sobre

esse animal e suas formas de manejo não podem ser consideradas um método

recente. A relação do homem com o cavalo ocorreu cerca de 3000 anos antes de

Cristo, ou seja, cerca de 5000 anos de conhecimentos acumulados.

Alguns estudiosos acreditam que os primeiros contatos do homem com o

cavalo se deram em regiões da Rússia Asiática, outros dizer ter sido na Babilônia e

Assíria, porém, é de comum acordo que o uso do cavalo e de tudo que ele

representa como ferramenta para humanidade é de conhecimento da grande maioria

da população do planeta.

O cavalo, a priori, era objeto de caça de tribos nômades, que algumas vezes

acabavam capturando algumas fêmeas com potros ao pé devido à produção de

leite. Com o passar do tempo esse potro se tornaria parte do grupo, e assim o cavalo

passou a ser domesticado.

Segundo o historiador Anthony Dent as primeiras pessoas a usarem o cavalo

como montarias foram às mulheres dos chefes tribais no período de gestação, para

que dessa forma acompanhassem o deslocamento da tribo sem que elas sofressem

um desgaste físico excessivo. (MacBane, Douglas-Cooper, pag.12, 1997)

Esse animal esteve presente como peça chave em grandes revoluções, no

processo de industrialização, em grandes batalhas, e sempre foi sinônimo de

trabalho, elegância e versatilidade.

Até hoje a relação do ser humano e do cavalo são extremamente fortes, pois

esse animal continua sendo referência como artefato do trabalho no campo, em

organizações militares, no esporte e no lazer, e agora mais do que nunca como

agente fomentador de uma melhora em aspectos relacionados ao ensino e a

aprendizagem.

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35

As primeiras menções sobre a contribuição do cavalo como um potencial

agente promotor de saúde se deram por volta de 370 a.C. feitas por Hipócrates, o

pai da medicina, em seu Livro das Dietas. Ele sugeria a prática da equitação como

algo que preservasse e regenerasse a saúde.

A partir disso a literatura sobre o cavalo como um agente promotor de saúde

veio crescendo consideravelmente, e sempre com publicações cada vez mais

consideráveis para a construção da Equoterapia que temos hoje. Galeno (130 - 199

d.C) que era médico do imperador Marco Aurélio, o recomendou a prática da

equitação. Merkurialis abordou a questão do exercício não só do corpo, mas sim de

todos os sentidos e também mencionou a relação entre o contato com o cavalo e a

boa saúde, assim diversos sábios e estudiosos do passado citaram de alguma forma

os benefícios que o cavalo pode promover ao homem. (Cirillo, pag.3, 2008)

Pode-se perceber que o manejo do cavalo como um agente promotor de

saúde já vinha sido estudado empiricamente por muitos anos, porém, a Equoterapia

como nós conhecemos hoje já veio sofrendo uma série de modificações.

O termo Equoterapia foi criado e é de domínio da ANDE-BRASIL, foi

elaborada a partir da junção entre duas palavras, équo que é o radical que do latim

derivado de Equus, o gênero que classifica a espécie do cavalo (Equus caballus), e

a segunda parte é uma referencia a Hipocrates o pai da medicina e que já fazia

referencia aos benefícios da montaria, e como encontrado em sua literatura o termo

que vem do grego Therapeia, assim com essa junção se criou o conceito de

Equoterapia. (Cirillo, pag.10, 2008)

Sua formatação que mais se assemelha com o que conhecemos hoje se deu

no final da Segunda Guerra Mundial, quando soldados mutilados e com problemas

de confiança e auto-estima, relacionados ao trauma de guerra, eram trabalhados a

partir do contato com o cavalo.

O passado histórico da Equoterapia fez com que alguns resquícios ainda

permanecessem na sua essência, o fato dela ter uma semelhança em relação à

maneira com que os militares proporão sua dinâmica, faz com que alguns vínculos

ainda permaneçam. Além disso, grande parte dos centros de Equoterapia do Brasil

são fomentados por instituições militares.

Os conceitos já melhores definidos surgiram na década de 60 com Killilea,

Lubersac e Lalleri, e a partir daí introduzida dentro do ambiente acadêmico.

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36

2.2. O CAVALO

Segundo Cirillo (2008) “o cavalo pertence à ordem dos perissodátilos da

família dos eqüídeos da subfamília equina, na qual se encerra o único representante

atual de gênero EQUUS que é a espécie cabalus, ou seja, o cavalo propriamente

dito, tal como é hoje”.

Parte integrante dos processos de evolução da civilização humana, o cavalo

caminha paralelamente as conquistas feitas pelo homem, como ferramenta

fundamental e histórica. Ele esteve presente nas migrações, nas grandes guerras e

até hoje é reconhecido pelo homem como figura relacionada a grandes conquistas.

Nas grandes praças de qualquer lugar do mundo as grandes personalidades

históricas estão em grande número representadas com suas imagens no dorso de

um cavalo, como forma de soberania e reconhecimento.

O passo do cavalo possui uma cadência e um ritmo que são impostos ao

cavaleiro, fazendo com que esse crie adaptação a essas alterações, exigindo que ao

mesmo tempo em que os músculos trabalhem alternadamente e passem por

períodos de relaxamento e a contração, essa gama de possibilidades fazem do

cavalo um simulador da marcha humana.

O movimento tridimensional produzido pelo cavalo acentua o movimento

pélvico para frente e para trás, desloca o quadril para esquerda e para direita,

pressiona as vértebras e ativa a circulação no movimento para cima e para baixo.

Lembrando que o cavalo nunca está completamente parado, o esticar do pescoço, a

troca de patas até mesmo a respiração do cavalo podem ser sentidas pelo cavaleiro.

Todos esses ajustes tônicos são necessários para que o cavaleiro se

mantenha equilibrado em cima do cavalo, e é a partir desses movimentos que

muitas vezes são desassociados da nossa rotina corporal que se passa a trabalhar

por melhores resultados no praticante.

Deve-se ressaltar que assim como os seres-humanos, cada cavalo é singular

na sua maneira de andar. Podemos notar que alguns arrastam mais as patas, outros

usam mais os movimentos dos membros anteriores, e com toda essa gama de

variedades em relação e sua conformação física pode-se inclusive qualificar a

passada do animal.

No geral todos os cavalos mantêm uma freqüência que varia entre 35 a 78

passos por minuto, e cada passo exercita no cavaleiro 1,25 movimentos por

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37

segundo, se levarmos em consideração uma intervenção feita por trinta minutos

esse cavaleiro terá executado cerca de 1800 a 2250 ajustes tônicos.

Vygotsky fala sobre os momentos de reação do corpo, e como o estímulo na

parte fisiológica do organismo pode influenciar nas reações de aprendizagem e

desenvolvimento. Esses momentos são divididos em percepção sensorial,

elaboração do estímulo e a ação de resposta do organismo. [...] atuam como estímulos alguns processos do organismo internos e invisíveis: mudança de circulação sanguínea, da respiração, dos órgãos internos, secreção das glândulas etc. Nesse caso o primeiro momento da reação parece oculto aos nossos olhos. (Vygotsky, 2004. p.17)

2.3. AS CONTRIBUIÇÕES

A Equoterapia traz em seu arcabouço prático uma vasta área de aplicação,

indo desde lesões neuromotoras, problemas físicos, cognitivos, distúrbios

comportamentais e emocionais, entre outros.

Em se tratando de fato de como é trabalhada a Equoterapia, podemos citar de

início o lócus em que está inserido esse tipo de tratamento. Diferente de uma clínica,

de um consultório ou academia, um centro hípico é a priori a quebra de um padrão

de lugar onde usualmente ocorre algum tipo de tratamento para essa clientela. O esquema corporal vai se estruturando no decorrer do tempo, modelado pela experiência individual que dá singularidade ao modelo biológico. Cada novo elemento que chega não somente se soma ao conjunto dos anteriores, senão que o modifica e dinamiza numa interação dialética continua, num processo que somente acaba no fim da vida (CORIAT, 1977, pg. 155)

O lugar inspira liberdade, sem paredes e com o horizonte, a noção do espaço

inspira confiança e traz ao praticante a sensação de uma atividade de lazer. A

relação com outros animais nativos ou não, os sons naturais que acorrem

intencionalmente, as texturas, o cheiro, isso tudo faz parte de uma série de

estímulos que são feitos involuntariamente, mas que são contabilizados no decorrer

do processo. Se o ambiente favorece a expressão desta necessidade, ele vai desenvolver-se no plano da comunicação gestual muito bem descrita e analisada por Montagnier, aparecendo gritos, onomatopéias e depois a linguagem. (LE BOUCLCH, 1982, pg. 131).

Rogers (1978, 1986) apud Virgolim (2007) diz que “o ambiente ideal de

aprendizagem é aquele em que o indivíduo pode realizar-se como pessoa” e

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acrescenta que “esse ambiente seria estimulador, no qual as crianças procurariam,

desde pequenas, estabelecer suas próprias metas, ultrapassar seus próprios limites,

buscar satisfação em suas atividades diárias e aprender a assumir

responsabilidades por suas próprias opções fortalecendo sua auto-estima num

processo fluídico” (p.38).

Quando esse praticante é colocado pela primeira vez em contato direto com

esse animal, seja até mesmo um pônei, que pode ser usado nas primeiras

intervenções, quando a criança ainda não esboça intimidade e confiança em relação

ao cavalo, o fascínio e a vontade de vencer o primeiro medo seja ele de

simplesmente passar a mão no pêlo, ou até mesmo na montaria, o trabalho já

começa a ser traçado e os ganhos já podem ser mensurados.

Fatores singelos fazem da Equoterapia uma intervenção de muita sutileza e

que exige sensibilidade e perspicácia de toda a equipe. Algo tão simples como o

toque da criança no animal trazem fatores como a sensibilidade tátil em relação à

textura, o calor do animal, os movimentos que o cavalo faz e a autoconfiança. A passagem da necessidade ao prazer provocado pela satisfação a faz oscilar entre um estado de tensão orgânica e um estado de relaxação, sendo necessário para uma forma de atenção afixa. (LE BOUCLCH, Pg. 134).

Pois assim como a criança reage em relação ao cavalo, o cavalo também

reage em consequência do toque, do movimento ou do som que a criança

reproduza, fazendo com que essa troca seja dinâmica e verdadeira, na qual a boa e

a má ação geram reações recíprocas, porém não equivalentes.

Toda essa gama de recursos é gerada apenas pelo cavalo. Associado a isso

temos o papel da equipe multiprofissional, em que cada integrante estará

desenvolvendo um trabalho focando as necessidades especiais do sujeito como

exercícios de lateralidade, reconhecimento corporal, relação entre cores, e uma série

de outros estímulos que são diversificadamente trabalhados nesse processo.

Hoje se acredita que a educação de uma criança com alguma necessidade

especial e de outra dita normal é simplesmente a mesma. Porém, o tempo e os

recursos podem variar nessa jornada. Vygotsky (2004) afirma que as diferenças

estão presentes nas maneiras com que cada criança está disposta a enxergar o

mundo, e completa dizendo que em relação às funções do desenvolvimento

cognitivo são construídos primeiramente a partir do meio social para que em seguida

isso se reflita alguma resposta psicológica.

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Toda essa relação de desenvolvimento é mais bem elaborada quando se

criam possibilidades de interação com o meio, que as riquezas em relação a essa

ação sejam naturais e que façam parte ou que possam ser inseridas no contesto

lúdico e imaginário de criança.

Essa construção é baseada na motivação e nos processos de construção da

confiança, seja ela na própria pessoa, ou na relação com o outro.

É que a partir dessas idéias e ideais, possa ser desenvolvido um trabalho de

qualidade e que venha a ser um objeto de adição e de construção, mas um papel

desse personagem emblemático e essencial que é o pedagogo.

2.4. A LEGISLAÇÃO

É importante citar algumas das leis que regulamentam a Equoterapia para

que o leitor desse trabalho tenha uma abrangência maior sobre como esse método e

reconhecido por outras áreas, e como isso e gerido pelos demais órgãos.

Hoje a Equoterapia no Brasil é reconhecida como um método educacional e

terapêutico que traz o cavalo como principal ferramenta, gerenciada por uma equipe

multiprofissional formada primordialmente por profissionais das áreas de saúde,

educação e equitação, buscando uma melhora no desenvolvimento biopsicossocial

da pessoa com necessidade especial.

Sendo assim o Conselho Federal de Medicina determinou através de um

estudo que “os dados levantados nas pesquisas devem ser concentrados na ANDE-

BRASIL que juntamente com a Sociedade Brasileira de Medicina Física e

Reabilitação, encaminhará ao Conselho Federal de Medicina - CFM para avaliação e

posicionamento desta Casa”, por meio desses dados e pesquisas o Conselho

Federal de Medicina em Sessão Plenária de 09 de abril de 1997 definiu a

Equoterapia como um método e técnica voltados para a reabilitação de pessoas com

necessidades especiais.

Determinando, portanto, pelo reconhecimento da Equoterapia como método a

ser incorporado ao arsenal de métodos e técnicas direcionadas aos programas de

reabilitação de pessoas com necessidades especiais.

Por intermédio da estratégia traçada pela ANDE-BRASIL e de acordo com a

legislação brasileira há necessidade de comprovação científica feita por profissionais

brasileiros e, como prescreve a resolução n° 196/96, do Conselho Nacional de

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Saúde, que trata das normas de pesquisa envolvendo seres humanos."

(www.equoterapia.org.br acessado em 15 de ago. de 2010)

Outra lei que envolve a Equoterapia é a Lei nº 12.067, de 29 de outubro de

2009, em que o Vice-Presidente José de Alencar Gomes da Silva no exercício do

cargo de Presidente determina no dia 29 de outubro de 2009 que será comemorado

no dia 9 de agosto como Dia Nacional da Equoterapia. (www.domtotal.com

acessado em 15 de ago. de 2010

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3. MÉTODO DE PESQUISA

A apresentação da problemática e a elaboração dos questionamentos foram

trabalhadas de forma que a pesquisa pudesse ser representada como de utilização

pública e fonte de conhecimento científico. Tudo que envolveu esta pesquisa foi

resultado da prática e análise em campo, e do que foi construído durante minha

graduação.

O método da pesquisa consiste basicamente na construção de um grupo de

personagens que possuem uma relação com o contexto estudado. Esses

personagens foram divididos em três grupos, que serão mais bem explicados no

decorrer desse capítulo. Para isso optou-se por desenvolver uma pesquisa

qualitativa aplicada através de entrevista semi-estruturada.

Para cada grupo foi confeccionada uma entrevista diferente. As entrevistas

contêm perguntas elaboradas e direcionadas levando em consideração o papel de

cada um dentro desse contexto, porém dentro dos questionários algumas perguntas

foram elaboradas de forma que apresentassem pontos em comum na fala dos

personagens, como inclusão e educação especial

A partir dos referenciais teóricos e dos dados obtidos, o pesquisador irá

analisar o papel do pedagogo, seu processo de formação, o resultado de seu

trabalho na equipe multiprofissional, e as possibilidades de aprendizagem e

desenvolvimento encontradas na Equoterapia a partir da atuação do pedagogo.

Foi realizada durante o processo de elaboração dos grupos estudados uma

série de questionamentos. Esses questionamentos se deram em relação ao que

seria abordado por cada grupo, o que os ligava e como os procedimentos

desenvolvidos eram enxergados.

O trabalho deve se adequar a uma metodologia que possibilite uma

congruência entre a pesquisa em campo e referenciais teóricos, de forma que a

associação entre essas duas partes do trabalho pudessem atingir os objetivos de

estudo. A opção julgada mais adequada como já foi mencionado acima foi a

pesquisa qualitativa, pois ela tem em sua essência o contato direto entre o

pesquisador, o objeto e o ambiente de pesquisa. A pesquisa qualitativa tem o

ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal

instrumento. (Ludke, apud. Bogdan e Biklen, 1986)

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Em função das intenções elaboradas inicialmente para desenvolvimento

desse trabalho, ficaram definidos como grupos a fazerem parte da construção dos

dados os membros atuantes na equipe multiprofissional de Equoterapia da ANDE-

BRASIL, os pedagogos inseridos na mesma instituição e estudantes de pedagogia

da Universidade de Brasília em processo de finalização no curso.

• Organização do grupo de pesquisa:

- Grupo 1: Alunos do curso de pedagogia da Universidade de Brasília em

processo de finalização no curso;

- Grupo 2: Equipe multiprofissional de Equoterapia; e

- Grupo 3: Pedagogos atuantes na equipe multiprofissional de

Equoterapia. Nos estudos desse tipo, com freqüência, recorre-se a entrevistas informais com informantes-chaves, que podem ser especialistas no tema em estudo, lideres formais ou informais, personalidades destacadas etc. (Gil, 2008. p.111).

O grupo de estudantes de pedagogia foi selecionado com o pré-requisito de já

terem concluído mais da metade do curso. Dessa maneira pode-se melhor ilustrar as

noções trazidas pelo ambiente acadêmico em relação aos temas diretamente

ligados a Equoterapia e a atuação do pedagogo.

O segundo grupo formado pela equipe multiprofissional de Equoterapia com a

exceção do pedagogo que será alocado no próximo grupo tem o objetivo de discutir

as importâncias desse profissional dentro da Equoterapia, o trabalho que ele tem

desenvolvido com os praticantes, as relações diretas e indiretas com os demais

profissionais, o diferencial do pedagogo em relação aos outros integrantes, além de

reforçar ou não a inserção desse profissional.

O terceiro grupo traz os pedagogos que atuam na Equoterapia, trabalhando

em sua área de formação, tanto na parte prática direto com os cavalos, quanto na

parte de planejamento e coordenação. Eles são indagados sobre como foi seu

processo de inserção dentro da Equoterapia e se no seu processo de formação a

Equoterapia foi abordada dentro do ambiente acadêmico, e como esse ambiente de

formação e de trabalho construiu e reconstruiu conceitos abordados dentro do

ambiente acadêmico que são colocados à prova na prática pedagógica no atual local

de trabalho.

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43

O pedagogo também é questionado quanto as suas relações dentro da

equipe e como ele vê o desempenho do seu papel como parte integrante do grupo,

como é feito o trabalho no dia-a-dia, e como esse trabalho desenvolve as relações

de aprendizagem e desenvolvimento. A pesquisa também indaga o pedagogo em

relação aos seus desafios por estar em um ambiente de educação não formal além

das questões relacionadas às ações na prática pedagógica.

No roteiro das entrevistas semi-estruturadas, as perguntas são relacionadas a

uma determinada temática preestabelecida. O investigador apresenta ao investigado

durante a entrevista uma série de perguntas, com o objetivo de obter dados novos e

com valor. Especialmente nas entrevistas não totalmente estruturadas, onde não há a imposição de uma ordem rígida de questões, o entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas informações que ele detém e que no fundo é a verdadeira razão da entrevista. (Ludke, 1986. p.33)

A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. As perguntas

relacionadas nessa entrevista não foram elaboradas com o intuito de avaliar um ou

outro profissional, ela não tem o caráter de julgar a importância de alguns

determinados profissionais ou de relacioná-los em caráter hierárquico. A pesquisa é

totalmente qualitativa e busca acrescentar algo valoroso em relação a todos os

profissionais inseridos na equipe, para que, no desfecho do trabalho, possa se ter

diálogo indireto entre esses personagens.

O trabalho em campo veio para ilustrar como os papeis são dispostos nesse

cenário, um momento em que a prática é atrelada à teoria, tanto na análise da

atuação dos profissionais como na formulação desse trabalho pelo pesquisador.

O papel do entrevistador é mediar os resultados da pesquisa junto ao seu

referencial teórico, para isso é importante se ter contato direto com profissionais que

atuam na área de pesquisa escolhida. Isso não só contribui no caminho em que vai

sendo esculpido esse novo pedagogo, como torna a pesquisa ainda mais

enriquecedora por mostrar o pedagogo também inserido fora de um ambiente

regular de ensino.

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3.1. PROCEDIMENTOS PARA CONSTRUÇÃO DOS DADOS

O método da pesquisa foi construído a partir do que Gil (2008) traz como um

provável consenso de parte da maioria dos autores em relação às etapas de

pesquisa. Segundo ele todo processo de pesquisa social envolve: planejamento,

coleta de dados, análise e interpretação e redação do relatório. (Gil, 2008. p.31).

Gil afirma que a pesquisa social envolve coleta de dados, por acreditar que

esse termo possui uma tendência mecanicista, em que o cientista apenas usufrui do

meio, selecionando e armazenando o dado, julguei mais pertinente com o contexto

dessa pesquisa o termo construção dos dados.

A lógica encontrada na construção dos dados deste trabalho é abordada a

partir do que foi trabalho dentro da Faculdade de Educação, em relação à Educação

Especial. As disciplinas relacionadas à pessoa com necessidade especial assim

como aquelas que em algum momento fizeram referência sobre pontos que

envolvessem o contexto desse trabalho construíram dentro do meu ideal como

pedagogo um norte para o que seria relevante nessa pesquisa.

O procedimento inicial de desenvolvimento da construção dos dados se deu a

partir de um roteiro norteador, em que foram elaborados diferentes grupos a serem

analisados e para cada grupo foi confeccionado um determinado questionário.

As perguntas elaboradas com a mesma essência tiveram a intenção mostrar

as diferenças e semelhanças em uma determinada temática e como cada grupo

elaborava esses conceitos.

No primeiro grupo, formado pelos estudantes de pedagogia da Universidade

de Brasília, foi feita uma entrevista embasada em perguntas norteadoras, visando a

organização na construção das idéias, para que fosse possível extrair desse nicho

algo que contribuísse com o diálogo entre aquilo que o pedagogo estuda e a sua

prática.

No segundo assim como no terceiro grupo, a pratica já faz parte da ação

diária de trabalho desse profissional, sendo assim a intenção foi de analisar os

papéis personificados na figura do pedagogo e as suas relações com aqueles que o

cercam. Além das contribuições feitas através das trocas de conhecimento

proporcionadas pela interdisciplinaridade dentro da equipe multiprofissional.

Com essas perguntas tentou-se criar uma linha de raciocínio a partir do viés

pautado na junção da pedagogia com a Equoterapia, assim como das relações que

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os estudantes têm ou criam sobre a rotina de um pedagogo fora do ambiente escolar

tradicional, seus processos de formação, e como isso influencia no resultado final

como pedagogo. Com essa gama de informações é que podemos sugerir como o

profissional da pedagogia se prepara para atuar de maneira interdisciplinar dentro da

equipe multiprofissional de Equoterapia

Iniciando um diálogo visando conhecer as noções, as perspectivas, dúvidas

que esse estudante de pedagogia tenha em relação à Equoterapia. Perpassando

também pelos pontos considerados como desafios pela pedagoga dentro desse

método terapêutico.

As entrevistas como já foi dito foram elaboradas em três segmentos e foram

aplicadas em momentos diferentes. A primeira entrevista foi feita no dia 09 de

agosto de 2010 com um grupo de alunas da pedagogia que se encontravam

matriculadas em uma disciplina optativa relacionada à Educação Especial, que

geralmente é escolhida por alunos em processo de conclusão de curso.

Foi perguntado para cada estudante o semestre que estava cursando e

quando elas haviam ingressado na Universidade, além disso por estarem em uma

matéria optativa pode-se conjecturar que em alguns momentos da sua formação foi

cultivado dentro delas algum interesse na área de Educação Especial.

O momento da entrevista foi individual com cada aluno, e as perguntas

lançadas do decorrer da conversa. Durante o processo de entrevista além das

anotações foram feitas gravações das conversas, porém a identidade dos

entrevistados não será divulgada.

O segundo bloco de entrevistas foi realizado na Associação Nacional de

Equoterapia ANDE-BRASIL. Através de um e-mail foi feita a apresentação do

trabalho ao diretor do Centro Básico de Equoterapia, em que foi relatando pelo

pesquisador as intenções do trabalho e sua proposta dentro do centro.

Posteriormente, foi agendado com a direção da ANDE-BRASIL um encontro

para que então, fosse feita a visita referente à coleta de dados.

A visita foi realizada no dia 12 de agosto de 2010, o dia determinado para

execução da entrevista teve que ser estrategicamente decidido para que todos da

equipe pudessem fazer as suas colocações, porém, sem que isso atrapalhasse na

rotina planejada com os praticantes do dia.

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As entrevistas não seguiram uma ordem especifica de profissionais, aqueles

que estivessem liberados dos afazeres ou em momento de intervalo estariam

participando da pesquisa.

3.2. CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE DE EQUOTERAPIA

Idealizada fundada e com sua cede atual e foro em Brasília a ANDE-BRASIL

e vista como uma sociedade civil e de caráter filantrópico com fins terapêuticos,

educativos, culturas desportivo e assistencial sem fins lucrativos, e com abrangência

e atuação em todo o território nacional.

Hoje a ANDE-BRASIL já é reconhecida como uma associação de utilidade

pública de âmbito nacional (DOU de 20/11.1992) como também no distrito federal, nº

20.279/99 (DO/DF de 27/05/1999), está registrada no Conselho Nacional de

assistência social (CNAS) /MJ, nº 28010.000978/9146; Secretaria do

Desenvolvimento Social e Ação Comunitária/DF, nº 206/92; Conselho dos Direitos

da Criança e do Adolescente/DF nº 78/96.

Por toda essa sua versatilidade nos ramos de atuação a ANDE-BRASIL, para

manter esse leque de abrangências e com isso continuar sendo uma referência

como centro, também mantém convênios com a Secretaria de Educação do Distrito

Federal (SEDF), Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) o Exercito Brasileiro,

Fundação Universidade de Brasília (UnB), Universidade Paulista – UNIP, além de

ser filiada a uma organização internacional ligada a Equoterapia a The Federation

Riding Disabled International e contar com o apoio sistemático da Coordenadoria

Nacional para a Integração da pessoa Portadora de Deficiência, do Ministério da

Justiça (CORDE/MJ).

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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A organização do capitulo será basicamente uma releitura a partir do

referencial teórico juntamente com as questões abordadas na introdução desse

trabalho. Serão expostas as idéias principais trazidas pelos grupos através das

entrevistas realizadas com alunas do curso de pedagogia; equipe multiprofissional e

por fim entrevista com as pedagogas da mesma.

Concomitante as apresentações dos dados relacionados às entrevistas foram

feitas explanações acerca dos resultados, confrontandos-os aos objetivos do

trabalho.

Para melhor organização dessas análises vale ressaltar que durante a

elaboração das perguntas foram selecionadas conceitos em comum, como:

educação especial, inclusão, papel do pedagogo, entre outros, possibilitando uma

relação entre as respostas dos personagens favorecendo o dialogo durante a

análise.

4.1. ANÁLISE E DISCUSSAO DOS RESULTADOS

Formação do pedagogo e a educação especial

A realização da entrevista com as alunas de pedagogia (ver apêndice I) traz

uma noção das idéias desse futuro profissional, quais são seus conhecimentos em

relação à temática, as noções que elas vêm adquirindo a cerca da educação

especial e inclusão, a abordagem feita sobre as possibilidades de formação

acadêmica dentro do seu contexto atual vivido dentro da faculdade, e se ela abrange

a Equoterapia com algo que contribui para a pedagogia numa modalidade de

educação inclusiva assim como recurso para aprendizagem e desenvolvimento de

crianças com necessidades especiais.

A insuficiência de disciplinas e projetos associados a pouca exemplificação

em sala de aula, são fatores que contribuem para insegurança no momento da

prática. A Faculdade de Educação proporciona no curso de pedagogia a carga

horária de 3.210 horas, dispostos em 214 créditos, assim distribuídos: 43% em

disciplinas obrigatórias, 21% em disciplinas de áreas temáticas, 19% de projetos,

11% de Estudos Independentes e 6% de trabalho final de curso.

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(http://www.fe.unb.br/ensino/graduacao/curso-de-graduacao-em-pedagogia,

acessado em, 01 setembro de 2010)

Para tanto a primeira temática a ser abordada com as alunas diz respeito ao

trabalho que o pedagogo desenvolve na área de educação especial. O intuito dessa

indagação é de explorar as concepções prévias que essas alunas possuem a cerca

de um campo em que elas podem a vir atuar.

A luz do que já foi citado no corpo do trabalho sobre o direito à educação no

Brasil e como a sua oferta é determinada dentro da educação especial (pg. 27), a

LDB/1996 traz no seu capítulo V uma definição para educação especial: Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. (BRASIL, 1996)

Foi percebido nessa pesquisa que apesar do grupo ter abordado diferentes

aspectos em relação à educação especial, pontos em comum surgiram no

desenrolar das respostas.

Algumas alunas fazem referência à parte prática do trabalho do pedagogo

dentro da educação especial, são citadas também questões relacionadas às

políticas públicas, ao papel de outros profissionais em relação a diagnóstico e

acompanhamentos realizados paralelamente ao trabalho realizado na escola.

Observa-se pelas respostas que o mais recorrente entre as alunas de

pedagogia sobre os espaços de atuação do pedagogo na educação especial, é

referente a uma parte organizacional, com foco em adaptações e desenvolvimento

de currículo, essa visão enfoca apenas uma das possibilidades, e não abrange os

vários alcances da formação de um pedagogo, como a elaboração de novos

métodos, o lúdico e o brincar. Estudante 1: A prática docente orientada pra um aluno da educação especial, hoje em dia tem se resumido através da flexibilização do currículo, adaptação curricular. Estudante 4: O pedagogo pode agir em varias áreas, ele pode agir desde a instância do governo, com políticas públicas com determinação de que essas políticas sejam aplicadas, de como elas tão sendo aplicadas, adaptação de currículo ou dentro das escolas. Estudante 5: O que eu percebo da formação do pedagogo e que ele tem uma escuta sensível no caso da pessoa com necessidade especial. Isso estaria presente em adaptações curriculares.

Sobre a escuta sensível, sabemos que deve caminhar junto com a educação

especial, percebendo que todos os sujeitos são diferentes, respeitando suas

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limitações e indo além, através do exercício da alteridade. Percebendo que o foco

não deve estar no diagnóstico ou na deficiência, mas sim no sujeito, de maneira

global. Educação Especial incorpora os mais do que comprovados princípios de uma forte pedagogia da qual todas as crianças possam se beneficiar. Ela assume que as diferenças humanas são normais e que, em consonância com a aprendizagem de ser adaptada às necessidades da criança, ao invés de se adaptar a criança às assunções pré-concebidas a respeito do ritmo e da natureza do processo de aprendizagem. (Salamanca. 1994)

Um cuidado que se deve ter em relação ao papel do pedagogo dentro da

educação especial que também foi trazido pelos estudantes diz respeito à

minimização do conteúdo, como uma tentativa de manter o aluno com necessidade

especial trabalhando “paralelamente” aos outros.

Apesar das dificuldades o pedagogo está apto a descobrir as potencialidades

do aluno e buscar junto com ele maneiras de superar desafios, porém, com atenção

para que educando e educador não entrem em um processo de frustração. Estudante 1: Na verdade é uma minimização do conteúdo e não foca o sujeito como aprendiz, foca o diagnóstico, e como se fosse um médico, ele precisa do diagnóstico pra dar tratamento.

A relação feita pela Estudante 1 se assemelha ao que Werner aborda em uma

de suas teorias, no qual o professor se associa ao médico quando se preocupa em

“estabelecer uma relação entre o fracasso escolar e problemas de saúde (...),

principalmente, para realizar exames físicos periódicos e diagnosticar problemas de

aprendizagem e de comportamento.” (Werner, pag.42, 2000)

Foi abordado junto às alunas questões referentes à formação do pedagogo e

como ela é direcionada para a educação especial dentro de sua faculdade. As

relações teoria e prática que foram abordadas durante as perguntas da entrevista

criam uma relação com linhas de pesquisa e atuação que a universidade vem se

pautando para formar o pedagogo.

As disciplinas abordadas pelas alunas foram praticamente as mesmas,

principalmente pelo fato de algumas delas serem obrigatórias para o estudante de

pedagogia dessa Universidade.

No entanto algumas das disciplinas optativas como: introdução à classe

hospitalar; enfoques psicopedagógicos das dificuldades de aprendizagem;

tecnologia na educação especial; princípios, métodos, técnicas e recursos didáticos

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para ensino do PNEE (Pessoa com Necessidade Educacional Especial) e avaliação

educacional do portador de necessidade educacional especial foram citados.

O comentário que teve uma abrangência maior nas respostas foi relacionado

uma das disciplinas mencionadas, na qual a estudante relata como é realizada a

dinâmica em sala de aula:

Estudante 4: Eu como professora chego numa sala de aula onde eu tenho

crianças com necessidades especiais e eu penso assim: isso aqui não é

possível, eu preciso da atenção pra ele individual mais eu tenho mais 20 e

tantos que precisam da minha atenção individual, porque cada um tem sua

necessidade especial, todos têm. Só que não necessariamente é cognitiva

nem físico nem nada, às vezes é uma questão emocional, uma questão

social, é uma necessidade especial é uma necessidade educativa, então a

tecnologia me mostrou que possível sim e me deu suporte, me deu recursos

na tecnologia que favoreçam essa inclusão.

A diversidade em relação às necessidades especiais citada pela Estudante 4

é mencionada na Declaração de Salamanca, em que, logo no início em suas

proclamações ela enfatiza que os “sistemas educacionais deveriam ser designados

e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido de se levar em

conta a vasta diversidade de tais características e necessidades.” (Salamanca,

1994)

A maioria dos estudantes comentou que as disciplinas obrigatórias trazem os

conceitos sobre as principais necessidades especiais e sobre como essas limitações

afetam o desenvolvimento do sujeito. Todos ressaltaram a importância de se

conceituar as dificuldades e relacioná-las as necessidades especiais, ainda que na

maioria das vezes a Universidade aborde essa relação a partir de um viés teórico.

De acordo com as estudantes essa panorâmica fomenta a confiança delas para a

atuação na prática. Estudante 1: As (disciplinas) obrigatórias são muito de dizer o que de cada deficiência como o autista tem tais condutas típicas, por mais que traga alguns textos falando de como é importante visualizar o sujeito, alguns textos mais críticos a disciplina é isso orientar cada e cada deficiência, aí a gente vai aprofundar mesmo como trabalhar em sala de ensino especial nas optativas.

Paralela essa questão é levantado pelas próprias estudantes a temática da

inclusão, como ela é proposta, seus conceitos e suas possibilidades. Elas validam a

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inclusão e ao mesmo tempo falam sobre a dificuldade de se ter um ambiente

inclusivo com aquilo que é disponível na rede regular de ensino, como a Estudante

4, que diz: Estudante 4: É importante a gente saber que acontece de verdade na inclusão, que a inclusão realmente (na prática atual).

Inclusão e participação são essenciais à dignidade humana, ao proveito e

exercício dos direitos humanos. (Salamanca, 1994). Na questão relacionada às

atividades práticas, os estudantes relataram um ponto deficitário no currículo.

Partindo-se da idéia de que o pedagogo é por excelência professor, conclui-se que

dentro dos ambientes escolares esses futuros professores poderão se deparar com

alunos com necessidades especiais, e na maioria dos casos a formação geral do

pedagogo não o prepara para a atuação prática. Esse é o caso da estudante 3, ela

relata que sente falta da prática em educação especial na sua formação: Estudante 3: (falta) prática nessa área (educação especial), ter contato e acho que isso teria que ser obrigatório, porque eu não iria atrás de uma matéria que fale disso, isso me desafia tanto que eu iria procurar alguma coisa mais fácil de lidar, eu iria procurar educação infantil, apesar de saber que eu tenho que ter uma turma inclusiva eu sei que isso tudo é lei, mas eu esperaria a necessidade.

As relações que aparecem no processo de formação do pedagogo para lidar

pessoas com necessidades educacionais especiais foram contemplados mais de

uma vez na fala das estudantes, sendo relacionada aos diferentes ambientes em

que isso se aplica, como por exemplo, a classe hospitalar. Em uma das disciplinas

citadas uma aluna relata que foi proporcionado pelo professor saída a campo com o

intuito de possibilitar ao aluno conhecer novos espaços de atuação do pedagogo,

ampliando as noções de mercado dessa estudante.

Um ponto recorrente na fala das estudantes foi em relação aos ambientes.

Apesar de a LDB trazer a educação especial como algo oferecido preferencialmente

na rede pública de ensino regular, se eximindo da responsabilidade de proporcionar

uma educação especial dentro dos ambientes regulares e públicos, ela também

acaba se restringindo somente a rede regular de ensino.

As estudantes têm noção de que o pedagogo pode estar em outros ambientes

que não a escola, porém o que vem sendo proporcionado pela faculdade segundo

alguma delas não é o bastante para que o estudante consiga enxergar além dessa

conclusão.

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Uma das perguntas foi elaborada com a intenção de investigar como o

pedagogo é preparado para lidar com outro profissional no mesmo ambiente, seja

ele outro pedagogo ou um profissional que possa estar associado, desenvolvendo

um trabalhando paralelamente, caracterizado como formas de trabalho em equipes.

A priori a figura do professor é vista em um ambiente de trabalho atuando

diretamente com os alunos, sem a interferência de outro profissional no

desenvolvimento prático.

Foi constatado a partir das respostas das alunas que muitos se dividem em

relação a esse tópico, apesar de algumas se colocarem com uma base para atuação

junto a equipes multidisciplinares, a questão de lidar com o outro de uma área de

atuação diferente provoca em duas determinadas estudantes insegurança. Parte das

estudantes trabalha com a possibilidade de que está em constante processo de

aprendizagem, e que sua formação é a base de sua atuação prática, e sabem que a

graduação não é o lugar onde ela irá aprender a fórmula de ensinar.

A fala das estudantes mostra a necessidade de querer aprender fórmulas

fechadas com pouca margem de erro no momento da prática com o aluno, porém a

educação é algo em constante movimento de transformação. A Faculdade de

Educação tem como objetivo despertar no aluno essa análise crítica, e através de

suas disciplinas munir esse estudante para que possa desenvolver uma prática de

qualidade a partir dos vários acontecimentos que envolvem o ato de educar. Bock ao

sistematizar a “estrutura do defeito” de Vygotsky, propõe que “os fenômenos devem

ser estudados em movimento a compreendidos como em permanente

transformação.” (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 1999, p.123-124)

Por isso a educação não pode ser resumida a uma única fórmula, ou até

mesmo várias fórmulas para diversas situações, ela deve se basear no sujeito acima

de tudo.

A falta de disciplinas referentes à educação especial focada em uma área

especifica como o braile, a libras assim como as dificuldades de aprendizagem

causam um estranhamento e uma sensação de insegurança no futuro pedagogo. Ao

menos eles têm consciência daquilo que os causa insegurança e muitas vezes

encontram em projetos um ambiente no qual podem suprir suas carências.

Um exemplo disso é o Decreto nº 5.626 de Dezembro de 2005, que determina

as Instituições de Ensino Superior – IES fornecer em no máximo sete anos formação

bilíngue em Libras (Língua Brasileira de Sinais) para que os pedagogos possam

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atuar na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental de maneira

inclusiva, porém isso ainda não é uma ação imediata. Estudante 1: Uma boa base não é mais suficiente, não existir a disciplina de libras na faculdade de educação e existir em outro instituto, contando que aqui no currículo já é obrigatório. Por exemplo, o braile, não existe a disciplina de braile aqui na faculdade, existe um laboratório, que você pode ou não se inscrever, no final das contas vai tá escrito formado pedagogo, mais não diferencia se você teve ou não aula de braile ou qualquer coisa.

Por isso quando questionados sobre quais tipos de recursos e terapias que

podem ser aplicados aos alunos com algum tipo de necessidade especial, a

diversidade em relação às possibilidades foi algo recorrente na fala das estudantes,

todas abordaram em sua resposta o uso de diferentes ajudas, a música, a arte, o

lúdico, o brincar e inclusive o cavalo.

A grande maioria das alunas que tem algum foco para a área de educação

especial possui uma noção sobre o que é a Equoterapia e sabem relacionar outros

tipos de abordagens pedagógicas. Apesar de não terem muita noção teórica e

conceitual do que é a Equoterapia, todas relacionam ao cavalo, e sabem que a

prática de Equoterapia pode ser feita com pessoas de diversas idades e com

diferentes necessidades.

A relação que as alunas fazem da pedagogia com a Equoterapia é

fundamental, os atributos relacionados às funções do pedagogo descriminadas por

elas são colocadas na Equoterapia com bastante fundamentação, e associadas à

prática, na qual se referem às áreas do desenvolvimento e a questão do prazer

dentro da Equoterapia. Estudante 1: Com certeza é uma atividade que gera prazer, toda atividade que gera prazer gera busca, faz o sujeito sair de dentro dele pra fora, ele externa aquilo que ele sente, e outra coisa a fato dele lidar com o animal e muito interessante, existe um sentimento que eu acredito que os homens ainda não desvendaram, e dizer o que rola. Além do lazer, por que também é um lazer. Estudante 3: O aluno ele aprende fora da sala de aula, ele é um ser social, que tudo que estimula que alcança a motivação dele e que contribui para auto-estima, se a Equoterapia é relevante pra esse crescimento, como a pessoa é um ser integral tudo que se relaciona a ela ajuda no desenvolvimento.

Na fala acima as estudantes mencionam três fatores que se relacionam com a

os processos de aprendizagem e desenvolvimento, são eles o fator social o prazer e

a afetividade.

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O social pode ser relacionado às zonas de desenvolvimento (pag. 29), o

prazer assim como a afetividade são um fator motivador nos processos de

aprendizagem e consequentemente de desenvolvimento.

Equipe multidisciplinar Dando prosseguimento a apresentação dos resultados, partimos para as

entrevistas realizadas com a equipe multidisciplinar (ver apêndice II). A relevância de

se ouvir essa equipe encontra-se no fato que eles relatam em suas concepções a

efetividade do trabalho do pedagogo e a colaboração da pedagogia para a equipe. A

partir dessas falas, percebemos com clareza como a formação do pedagogo se

funde com a prática nesse espaço.

Dentre os membros da equipe multidisciplinar da ANDE-BRASIL foi

entrevistado um fisioterapeuta, um psicólogo e um educador físico (a equipe também

é composta por duas pedagogas, porém, de acordo com a dinâmica proposta pelo

desenvolvimento da pesquisa elas foram separadas e colocadas em um subgrupo)

sendo que cada um desenvolve um papel específico com os alunos.

A equipe costuma se reunir para discutir as estratégias de ação prática e

evolução dos praticantes. O trabalho realizado nesse centro é feito em duplas de

profissionais, que são determinados de acordo com a necessidade do praticante.

Iremos aqui analisar a entrevista do fisioterapeuta, psicólogo e educador

físico, sendo que a das pedagogas será analisada em tópico posterior.

As circunstâncias com que esses profissionais iniciaram dentro da equipe do

Centro Básico de Equoterapia da ANDE-BRASIL se deram de maneira diferente,

porém com alguns fatores em comum. Os processos se deram por meio de

parcerias vinculadas ao exército, projetos e estágios na faculdade, afinidade com o

cavalo, além do fator sócio-histórico.

O que há de comum entre alguns desses profissionais da ANDE-BRASIL é o

fato de muitos deles serem cedidos da Secretaria de Estado de Educação do Distrito

federal – SEEE/DF através de um convênio que existe entre as duas instituições.

Esse fator acaba trazendo esses profissionais ainda mais próximos da

educação. Quando questionados sobre o que seria educação inclusiva, o papel do

professor e a escola estavam presentes no discurso dos entrevistados, a dificuldade

em relação a prática da inclusão e a singularidade do sujeito também foram citados

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na fala dos entrevistados, algo que pode ser associado ao que foi relatado pelas

alunas de pedagogia. Fisioterapeuta: É o professor estar preparado para receber os diversos tipos de aluno que batem na porta da sala dele. Psicólogo: É buscar incluir o maior número de pessoas dentro do sistema escolar, do ambiente escolar, eu acho que muitas vezes o que seria pra ser inclusivo acaba sendo excludente. Educador físico: Algo polêmico, a inclusão hoje é muito disfarçada, mesmo dentro do ensino regular, dizer que tem alguém só para cumprir tabela e não favorecer, não é inclusão. Embora algumas professoras se importem, até porque existem professores comprometidos, e é com eles que surge a possibilidade de uma pessoa de aumentar seus conhecimentos em relação a vínculos e socialização e afeto.

Uma das perguntas abordadas na entrevista foi em relação à importância e os

impactos que eles acreditam ser proporcionados pela equipe multidisciplinar,

podendo construir assim uma linha de pensamento de acordo com o que cada um

mencionou. O conceito de equipe só acontece quando os profissionais trabalham

juntos, eles até podem ocupar o mesmo espaço, porém se não trabalharem juntos a

equipe não fica caracterizada. Fisioterapeuta: É uma complementação. Porque nós precisaríamos, quem sabe de uma década de estudo acadêmico pra dar, pra cada pessoa que se aproximar da gente, um bom atendimento.

A função da equipe multidisciplinar na Equoterapia é a de estimular diversas

áreas concomitantemente e é isso que traz o valor que a diferencia de outros

métodos terapêuticos. O erro que acontece quando um profissional trabalha isolado

ou simplesmente o retrocesso provocado por algum ato intencional de alguma área

terapêutica é consideravelmente diminuída quando o trabalho é realizado em

equipes multiprofissionais.

O fato de se ter várias áreas do conhecimento no mesmo ambiente

caracteriza a equipe de Equoterapia como multiprofissional, porém isso não é o

bastante, de acordo com os profissionais o trabalho deve ser interdisciplinar, onde o

dialogo e as trocas se façam presentes na prática. Para que isso aconteça, cada um

dos membros deve ter consciência do seu papel e que a interdisciplinaridade

depende de cada um.

O trabalho do pedagogo na Equoterapia

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Quando questionados sobre a influência do trabalho do pedagogo na sua

área de atuação foram levantadas questões como as relações pedagógicas

encontradas dentro do curso de cada um, os recursos que são muito mais fortes no

curso de pedagogia e os níveis de aprendizagem e desenvolvimento.

Apesar de alguns cursos terem ou oferecerem uma base de pedagogia, cada

um enfoca na prática sua área de atuação. A parte pedagógica dos cursos de

educação física e fisioterapia são relacionadas ao corpo e a sua fisiologia, o

psicólogo traz aplicado à pedagogia as relações mentais, e o pedagogo torna tudo

isso mais claro para cada um deles. Fisioterapeuta: Embora haja na fisioterapia, no curso, várias disciplinas ligadas à psicoterapia, a psicologia, não é suficiente para que a gente ainda tenha como abordar a pessoa que chega, leva muito tempo, então é bom que a pedagogia nos dê essa luz.

Com o relato feito pelos integrantes da equipe pode ser constatado que o

trabalho do pedagogo pode ser visto em muitos casos como um fechamento, os

outros profissionais trabalham áreas motoras, fisiológicas e psicológicas para que o

pedagogo possa transformar isso em aprendizagem, resposta social e ao mesmo

tempo cognitiva. Ela (ação de resposta do organismo) pode se manifestar em movimentos insignificantes e imperceptíveis ao olho como os movimentos embrionários da fala que fazemos quando pronunciamos mentalmente alguma palavra. Tal ação traduz-se numa série de movimentos dos órgãos internos, então também permanece oculta ao olho. (Vygotsky, 2006. P.18)

Foi levantado nessa pesquisa, como esses personagens interpretam as

diferentes práticas trazidas pelos pedagogos, e quais as grandes diferenças entre

cada um deles.

Assim como os estudantes de pedagogia tendem mais para o lúdico e para o

brincar e outros vão diretamente para a parte cognitiva buscando estímulos mais

diretos, os profissionais da equipe trouxeram análises muito parecidas.

Usando minhas próprias palavras para resumidamente interpretar essa

análise a partir do que foi explanado pela equipe, diria que uns pedagogos vêem o

cavalo como “sala de aula”, e exploram toda a ludicidade que é intrínseca ao animal

e ao ambiente, já outros percebem o cavalo como “material escolar”, pois é o cavalo

que vai criar subsídios, momentos e recursos que iram facilitar os processos de

aprendizagem.

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Quando questionados sobre o que ele sente falta no trabalho dentro da

Equoterapia, o fato de se ter pouca noção em relação ao cavalo e a equitação estão

na fala tanto da equipe quanto do próprio pedagogo, além disso, a questão de se

aprender com o outro também foi mencionada, como o pedagogo pode passar seu

conhecimento para o outro profissional, foi um fator bastante discutido pelos

profissionais.

A partir desse ponto entramos no conceito de transdisciplinariedade que

segundo Fazenda (1979), é o resultado de uma axiomática comum a um conjunto de

disciplinas, uma nova vertente que vem sendo trazida para dentro das equipes. As

outras áreas querem aprender e dominar cada vez mais as outras modalidades que

englobam a equipe. Psicólogo: A visão interdisciplinar acaba virando também a visão transdisciplinar, eu prefiro a transdisciplinariedade, (...) essa eu acho que e melhor, porque na inter, uma área vai acabar se sentindo mais importante que a outra na trans não, há uma confluência nas divisões, ou uma tentativa disso. Educador físico: Eu vejo a partir de etapas, que surgem com a convivência e o respeito. A interdisciplinaridade depende muito mais dos profissionais do que o papel da equipe no geral.

Além disso, foi perguntado em que o pedagogo se sobressai em relação ao

restante da equipe. Questões como interação com as crianças, as formas de

diálogo, a linguagem, os vínculos que são formados, e o amor, foram fatores que os

membros da equipe associaram ao trabalho do pedagogo, aonde ele faz a diferença. Fisioterapeuta: A equipe carece mais da pedagogia para ver o ambiente do patamar mais alto (...) se fosse colocar uma pirâmide o pedagogo estaria no ponto mais alto e o mundo só vai ser salvo se tiver um pedagogo lá em cima.

De fato todos esses fatores são inerentes ao bom pedagogo, de forma que

são ligados aos seus processos de formação, e se refletem na prática pedagógica.

Quando perguntados sobre o porquê de se ter um pedagogo dentro da equipe

multidisciplinar as respostas foram das mais simples as mais complexas, desde o

simples fato de se ter um vínculo com a secretaria de educação até a questão

epistemológica da Equoterapia. Pelo fato de o pedagogo saber os índices de

desenvolvimento as teorias relacionadas à aprendizagem e as dificuldades

associadas a cada necessidade especial fazem do pedagogo o “clínico geral” da

Equoterapia, na fala de um dos profissionais ele afirma que o pedagogo é aquele

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que direciona o praticante para cada especialista, sendo ele, o pedagogo, dos

profissionais “o mais humano, o mais holístico.” Fisioterapeuta: Porque o praticante que está na Equoterapia é um ser bio-psico-social e espiritual, então ele precisa ser reorganizado ou organizado conforme for a história dele e mais uma vez eu acho que o pedagogo até antes do médico saberia apontar como um clínico geral aonde que o praticante carece mais.

Apesar de a Equoterapia ter descriminado no seu conceito de método

terapêutico e educacional, a educação de forma literal, percebemos que “a

composição mínima da equipe básica de um centro deve ser de três profissionais:

um fisioterapeuta, um psicólogo e um profissional de equitação. Pré-requisito

básico para filiação de um Centro de Equoterapia a ANDE-BRASIL.”

(www.equoterapia.org.br acessado em 15 de ago. de 2010). Ou seja, o pedagogo

não faz parte da equipe básica de um método terapêutico e educacional. Partindo

dessa análise foi indagado o porquê de não se ter um pedagogo dentro dessa

equipe básica.

Mais uma vez as respostas foram das mais complexas as mais práticas, um

dos profissionais simplificou dizendo que a organização da equipe se deu dessa

maneira por contenção de despesas no momento em que se abre um novo centro.

Indo um pouco além dessa resposta tive a oportunidade de ouvir uma nova proposta

e uma justificativa do porque o pedagogo não estaria na equipe. Para um dos

profissionais o pedagogo e inerente a Equoterapia, mesmo que ele não esteja na

equipe prática, esse entrevistado enxerga o pedagogo como gestor das ações

dentro da Equoterapia, e exemplifica isso a partir de uma pirâmide, no qual o

pedagogo vem no topo como um gestor, um gerente e logo abaixo a equipe mínima.

Além de abordar a vocação dos centros, pois segundo o educador físico muitos

centros possuem um foco em relação um tipo de praticante ou de área a ser

desenvolvida.

Contribuição da pedagogia para a Equoterapia

Buscamos analisar as entrevistas realizadas com as pedagogas (ver apêndice

III) do centro de Equoterapia, a importância de se ouvir essas profissionais reside no

fato de que serão elas que iram discorrer sobre a efetividade de seu trabalho, como

elas acreditam ser vistas pelo restante da equipe, como elas conheceram essa área

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de atuação, e assim podemos relacionar as falas dos dois primeiros grupos em um

fechamento através do que foi dito pelas pedagogas.

Mais uma vez a questão da educação especial aparece na pesquisa, de

acordo com a fala das pedagogas a educação especial é um processo, e não

apenas um único resultado:

Pedagoga 2: algo que contemple o indivíduo em todos os aspectos dele

seja emocionais físicos, motores, psicológicos cognitivos

Esse conceito vem seguido de uma carga real, pois uma das pedagogas

possui uma irmã especial.

Muito do que é trazido pela fala das pedagogas está contemplado nos demais

grupos, porém nesse segmento é perceptível uma maior aproximação a educação

especial, seja ela na expressão da insatisfação relacionada ao modelo de inclusão

encontrado hoje nas escolas, que segundo elas é muito mais algo voltado para

socialização, e completam afirmando que os professores não têm uma preparação

adequada para a demanda em que ele é colocado. Percebe-se também que o meio

social algumas vezes não esta preparado para isso.

Elas ressaltam que apesar das dificuldades a socialização, a auto-estima, e o

respeito aos níveis de aprendizagem, são metas que a inclusão conseguiu alcançar

com mais facilidade.

Quando perguntado sobre como foi a inserção na Equoterapia, mais uma vez

fatores históricos distintos acabam tendo no desfecho o mesmo lugar, uma das

pedagogas nunca haviam trabalhado com Equoterapia, as noções sobre o método

terapêutico eram a partir do que foi visto na televisão e em matérias de jornal. Já o

outro tinha em seu passado relações com a Equoterapia, por ter uma irmã com

necessidades especiais, e esta já ter praticado Equoterapia logo no início da

aplicação do método em Brasília. Isso fez despertar curiosidade, que aliada a

vontade de conhecer e de aprender, fizeram com que essa profissional procurasse a

Equoterapia, sendo assim, as duas pedagogas que hoje atuam na ANDE-BRASIL

são cedidas pela SEEE/DF.

De acordo com um dos entrevistados o pedagogo é o membro da equipe mais

requisitado para trabalhar na dupla de profissionais que atua diretamente com o

praticante, pois independente da necessidade especial todos eles tem um fator

cognitivo que deve ser explorado. Por isso a lista de praticantes com o maior número

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de necessidades especial e a do pedagogo, porém os melhores resultados citados

por eles são nas dificuldades de aprendizagem, devido a maior afinidade e o fato de

sua formação como pedagoga respaldar a atuação.

Segundo as profissionais da educação a importância da equipe

multidisciplinar esta união entre a fragmentação dos processos de formação,

somente a partir do sujeito equipe e possível ter uma visão global do praticante.

O corpo, movimento, emoções, cognitivo e social, são a identidade em

comum que vão atrelar a equipe ao sujeito. Vale ressaltar outra colocação

importante na fala de uma das pedagogas, em que a equipe e o cavalo são os

grandes artifícios que agregam valor a Equoterapia.

Podemos analisar na resposta das pedagogas que elas têm noção do

trabalho que realizam dentro do método terapêutico, porém foi lançado para essas

profissionais a seguinte indagação: como ela acredita que o restante da equipe vê o

papel do pedagogo? Antes de iniciar o trabalho na Equoterapia, muita gente

perguntava a uma das pedagogas qual seria sua função dentro daquele espaço, por

estranhar um pedagogo dentro desse ambiente.

Foi possível perceber que o pedagogo já possui um lugar cativo na

Equoterapia, entretanto, as áreas da saúde ainda têm certa relutância em aceitar

outras áreas no mesmo espaço, segundo elas isso se deve a conceitos trazidos

desde o seu processo de formação.

A rotina de um pedagogo na Equoterapia não se restringe exclusivamente ao

atendimento com o praticante, os pedagogos relatam que a criação de materiais, a

disposição de objetos no picadeiro, e o estudo de caso do praticante também fazem

parte de sua rotina, além das reuniões com o restante da equipe.

Foi descrito na entrevista que geralmente quando o praticante chega ao

centro de Equoterapia a primeira coisa a ser feita e a recepção é a socialização

desse sujeito, valores como dar bom dia, boa tarde, por favor, e com licença, são

trabalhados logo na chegada. Depois disso o praticante pega seu material de

montaria e, em alguns casos, se dirige ao cavalo para escová-lo e encilhá-lo e em

outros o cavalo já esta pronto, esse praticante cumprimenta o cavalo e monta.

Na grande maioria das vezes esse praticante se dirige ao picadeiro para

iniciar as atividades mais direcionadas, para logo após passar para as atividades ao

ar livre, que na maioria das vezes tem uma proposta mais lúdicas e exploram o

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ambiente em volta. Ao final se apeia do cavalo, dando um afago final, ou fazendo

alguma outra atividade, como desencilhar por exemplo.

Quando perguntados sobre como ele avalia a sua atuação nos quesitos

aprendizagem e desenvolvimento, as pedagogas disseram que os melhores

resultados a partir da atuação do pedagogo dentro da Equoterapia são relacionados

à aprendizagem e desenvolvimento, não só as pedagogas como outros membros da

equipe disseram que no caso em que se pode ver uma grande evolução a partir da

equoterapia são nos casos de aprendizagem.

Coelho (2009, p.41) descreve a aprendizagem a partir da teoria sócio-

histórica de Vygotsky, percebendo essa como um espaço inter-social e de tempo, no

qual as subjetividades individuais se relacionam com o sujeito e seu conhecimento.

Uma seção de Equoterapia proporciona para o pedagogo algo que em uma

sala de aula, repleta de estímulos ele poderia não ter, ou demandaria um tempo um

pouco maior para alcançá-los, por isso podemos dizer que os elementos, as

habilidades, a concentração e a atenção do praticante, são potencializadas durante

a pratica terapêutica.

Assim o profissional tem o desafio de “tentar compreender os processos

singulares de seus alunos(...)”, que se estabelecem naquele grupo social perante a

atividade de aprender (Coelho, 2009. p.41)

Mais uma vez o fator frustração aparece, o profissional que está atuando deve

tomar muito cuidado para não exigir do praticante algo que vá além de suas

capacidades, uma das pedagogas traz o conceito da zona de desenvolvimento

proximal de Vygotsky, no sentido de que as ajudas proporcionadas na Equoterapia

são para um avanço gradativo, algo um pouco além do que o praticante faria

sozinho, com o objetivo de elaborar um desafio que ele tenha condição de superar

sozinho, com muito cuidado para não ir além nessa elaboração e acabar gerando

uma frustração no praticante.

Em uma pergunta da pesquisa foi questionado qual seriam as áreas do

conhecimento mais estimuladas pelo pedagogo. Eles relacionaram a comunicação a

expressão e a linguagem, segundo Coelho (2009, p.45) o pensamento se constitui

por meio dos signos da linguagem, que, por sua vez, passam a ser constituídos pelo

pensamento.

Essas respostas são percebidas quando o praticante começa a contar

estórias e da continuidade, elabora começo meio e fim, tem uma elaboração melhor

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de vocabulário, consegue concatenar as idéias e ir adiante com um mesmo assunto,

além é claro da imaginação e criatividade, tudo isso é associado à alfabetização e a

escrita. Mesmo percebendo-se a importância do desenvolvimento humano, do

conhecimento e da integralidade do sujeito, González Rey chama a atenção a esse

fato. [...] o sujeito é histórico-cultural. Assim o tempo e o conjunto de valores transmitidos coletivamente por sua comunidade social relacionam-se recursivamente na sua constituição, pois, simultaneamente são constituintes de desse sujeito e constituídos por ele. (Coelho, 2009. p.38)

E finalizando a entrevista foi perguntado qual era o maior desafio desse

pedagogo dentro da Equoterapia. O grande desafio que aparece nos depoimentos

diz respeito ao tempo, uma vez por semana em trinta minutos conseguir superar os

desafios da equipe, do praticante, da família e da sociedade. A Equoterapia sozinha

não faz milagres, se o praticante aceita associar algum outro tipo de

acompanhamento que vá gerar prazer e conseqüentemente uma melhora, ele deve

ser somado.

É fundamental que os pedagogos dentro das escolas possam estar

trabalhando em harmonia com os profissionais da Equoterapia, para que todo

trabalho feito na escola, e na Equoterapia não seja desfragmentado por falta de

dialogo ou porque os ambientes não trabalham através de uma pratica

compartilhada e associada.

E que a partir dessas idéias e ideais, possa ser desenvolvido um trabalho de

qualidade e que venha a ser um objeto de adição e de construção, relacionando o

papel desse personagem emblemático e essencial que é o pedagogo a uma série de

benefícios.

Finalizando a análise acredita-se que ainda se têm muitas outras dúvidas

para serem investigadas, mas que precisam de mais tempo, além de outras técnicas

de pesquisa, muito pode ser destacado como positivo e negativo sobre a

Equoterapia e a pedagogia, mas para isso é preciso ter um começo, um ponto de

partida, isso é o que se pretende nesse momento, levantar um pouco mais essa

bandeira da educação especial e suas diversas fontes e formas de atuação.

 

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63

 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este capítulo não é apenas uma conclusão entre os dados da pesquisa e o

referencial teórico, ele é o fechamento de um dos processos de lapidação de um

sujeito dentro do ambiente acadêmico, uma etapa de aprendizagem que se conclui a

partir de uma temática que provocou o meu despertar para a educação, e que dentro

da educação a relação do homem inclusive com necessidades especiais e o cavalo,

eram, são e serão cada vez mais presentes nos processos de desenvolvimento

humano.

Este capítulo traz além das conclusões embasadas na pesquisa a afinidade

entre a educação e a Equoterapia, a possibilidade de se ter na formação do

pedagogo estudos relacionados a essa temática assim como o papel de um

educador dentro da equipe de Equoterapia, podendo ser enxergado como um

profissional bem preparado, e com autoridade para criar e inovar nesse cenário.

O caminho que a Equoterapia vem tomando nos últimos anos fez com que a

popularização desse método fosse aumentando significativamente, e apesar do

rumo certo em que a Equoterapia se encontra, muita coisa ainda pode ser

melhorada.

Pude perceber que a formação do pedagogo muitas vezes deixa de

apresentar uma relação prática fora do ambiente escolar, porém essa formação

pode proporcionar ao profissional um bom preparo, caso ele seja confrontado com a

educação especial e até mesmo com a Equoterapia.

A graduação realizada dentro Faculdade de Educação oferece subsídios para

o futuro profissional refutar suas idéias quando confrontado com situações práticas.

O arcabouço teórico fornecido pelas disciplinas ofertadas, assim como a literatura

sugerida pelos professores associados aos trabalhos e a aprendizagem dos alunos,

traz uma riqueza teórica que muitas vezes irá auxiliar esse futuro profissional.

Levando em consideração que a Faculdade de Educação da Universidade de

Brasília não se omite em relação ao fomento da prática pedagógica, pois

proporciona para os alunos projetos onde este estará desenvolvendo suas

habilidades na prática dentro e fora da universidade, em diversos tipos de

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ambientes, com foco em múltiplas áreas, como educação sexual, educação no

campo, classes hospitalares, filosofia na escola e uma série de outras

possibilidades, isso ainda não é o bastante para contemplar todas as possibilidades

são abarcadas na formação do pedagogo contemporâneo.

Chamo de pedagogo contemporâneo esse profissional que além de professor

de séries inicias por excelência, tem a sua frente uma série de possibilidades como

gestor, coordenador e inclusive como professor.

Acredito que ainda é feita pouca referência em relação ao termo que vem

descrevendo a formação do pedagogo contemporâneo, enquanto sua diversidade no

mercado educacional, dentro da Faculdade de Educação e até mesmo no

reconhecimento do que é, e como esta sendo formado esse profissional, até mesmo

porque esse é um conceito que está em constante mudança. O papel do pedagogo

em sua essência continua o mesmo, porém a evolução desse personagem vem

tomando proporções consideravelmente significativas com o progresso da sociedade

moderna.

Hoje o pedagogo está presente em diversos ambientes em que ele não fazia

parte quando o curso de pedagogia foi idealizado. O progresso feito pela pedagogia

através da sua inserção em diferentes campos não foi seguido paralelamente pelos

meios de formação.

Por isso em certas situações algumas brechas acabam sendo abertas para

incorporar uma temática que esta deslocada dentro do que é ofertado na grade de

disciplinas e projetos da Faculdade de Educação, para sanar essa defasagem

muitas vezes esses temas acabam caindo dentro de alguma vertente que pode ser

associada a essa nova temática, esse é um dos casos que pode ser exemplificado

pela Equoterapia.

Esse tipo de situação foi citada pelos alunos entrevistados quando eles

afirmam conhecer a Equoterapia e a relacionam com a pedagogia. Isso acaba

gerando uma lacuna científica dentro da Faculdade, quando o aluno já conhece essa

nova temática, muitas vezes através de meios que não são relacionados à

Faculdade, não proporcionando para esse aluno a chance de saber em quais áreas

a sua formação pode o levar a atuar. Isso faz que muitos alunos se formem sem ter

a noção dos campos em que podem estar atuando, ou deixem de fazer estudos

mais aprofundados em uma determinada temática porque a Faculdade não

proporciona uma área direcionada a este ao aquele campo.

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Quando os alunos foram questionados se conheciam a Equoterapia e até

mesmo quando indagados se estavam preparados para a prática pedagógica, em

geral a resposta foi a mesma, inclusive eu como aluno me incluo nesse grupo de

respostas, onde algumas noções em relação a prática e até mesmo a informação

são adquiridas por mecanismos que não estão relacionados a Universidade. Esse

tipo de falta de informação dentro dos ambientes de formação profissional gera no

momento em que o pedagogo entra para esse novo ambiente algumas carências.

Pude perceber através dessa pesquisa que devido aos estudantes não terem

um conjunto de informações minuciosas sobre o que é a Equoterapia, acaba

gerando nos centros de Equoterapia uma lacuna em relação a esse profissional,

pois esse ele irá demandar de um determinado tempo se aperfeiçoando. Porém ela

pode ser preenchida, caso haja interesse do sujeito em atuar nessa área, fazendo

com que o a curiosidade do aluno também o motive para novas experiências.

Quando perguntado para as pedagogas o que elas mais sentem falta em

relação a sua atuação, além da questão do tempo que elas tem para desenvolver

suas atividades com os praticantes, o outro fator foi o de não conhecer a

Equoterapia anteriormente e de não ter noções sobre o cavalo.

Esse tipo de carência na formação acaba atrasando o profissional quando

inicia dentro da Equoterapia, isso porque é de fundamental importância que ele

trabalhe com cavalos independente de sua área de formação, e que tenha uma

noção de como o animal interage. É imprescindível que o pedagogo que atue na

Equoterapia saiba como é a sensação de estar sendo trabalhado em cima de um

cavalo, para que assim ele possa avaliar as limitações, e possibilidades de cada um.

Essa também foi a conclusão de dois entrevistados na equipe, a questão da

falta de domínio sobre conceitos de Equoterapia e noções sobre o cavalo e

montaria. Por mais que eu acredite que formar um pedagogo totalmente preparado

para a Equoterapia seja algo ainda muito distante, apesar de ser o ideal. Tenho

consciência de que o preparo desse profissional requer uma série de pré-requisitos

que ainda estão bem distantes da realidade da Faculdade de Educação da

Universidade de Brasília.

Acredito que nem tudo que envolve a formação de um pedagogo deve ser

fruto de teorias aprendidas dentro da academia, concordo com Vygotsky quando ele

afirma que muito do que se aprende são através das grandes possibilidades de

crescimento e surgimento do novo, isso vêm através de experiências vividas por

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cada um, é o sujeito sócio-histórico fazendo parte da criação de novas

possibilidades. Vimos que o único educador capaz de formar novas reações no organismo é a sua própria experiência. Só aquela relação que ele adquiriu na experiência pessoal permanece efetiva para ele. É por isso que a experiência pessoal do educando se torna a base principal do trabalho pedagógico. (Vygotsky, 2004)

O trabalho do pedagogo dentro da Equoterapia de acordo com o que foi

relatado por todos os grupos entrevistadas e no mínimo insubstituível. Além de

organizar, coordenar, gerenciar atividades, interagir de maneira mais próxima

principalmente com crianças, planejar e sensibilizar, o pedagogo é a figura que

caracteriza a Equoterapia como método educacional. Além de trazer ludicidade,

cores e brilho para o trabalho dos demais companheiros de equipe (Fisioterapeuta),

é ele que tem em sua formação nações de como motivar e classificar os níveis de

aprendizagem e desenvolvimento.

Pelo que pude perceber, depois que o profissional (não exclusivamente o

pedagogo) já tem domínio sobre a Equoterapia, a sua relação com o cavalo vai

diminuindo e esse personagem passa a se distanciar do que são trinta minutos em

cima de um cavalo. A meu ver cada indivíduo que participa de uma equipe de

Equoterapia deveria fazer no mínimo uma aula de equitação uma vez por semana.

Assim os estímulos provocados pelo animal e as noções de cansaço e exigência em

relação ao corpo poderiam ser melhores equiparadas.

Acredito que o espaço do pedagogo dentro da Equoterapia deve ser galgado

pelo próprio pedagogo, por mais que hoje essa função esteja sendo feita pelos

próprios centros, que através de convênios que requisitam pedagogos, ainda não

chegamos ao ponto de termos um numero considerável de pedagogos formados, se

prontificando e mostrando interesse em atuar na Equoterapia.

Quando levando a questão da aprendizagem e desenvolvimento

relacionadas à prática da Equoterapia, tenho a intenção de buscar na fala dessas

pessoas elencadas nessa pesquisa algo que dialogue diretamente com o que

Vygotsky conceitua como aprendizagem e desenvolvimento.

Tive a oportunidade de relacionar várias falas com o que Vygotsky aborda

sobre essa temática. Acredito que uma das principais observações foi em relação à

aquisição de linguagem e sua associação ao pensamento assim como as relações

sócio-históricas.

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Em relação à aquisição de linguagem, foi feita uma explanação mais

detalhada por uma das pedagogas de como ocorre esse processo, quando ela relata

que as crianças passam a interagir melhor entre as outras pessoas, e isso possibilita

um crescimento de vocabulário e a concatenação de idéias, isso fica ainda mais

claro a partir da fala de uma das pedagogas. [...]quando a criança começa a contar um historia e da continuidade, elabora começo meio e fim, vocabulário, a própria imaginação, e concatenar as idéias e seguir sobre um assunto, ela elaborar, então essa elaboração de linguagem oral e fundamental pra escrita, e pra alfabetização. Então a partir do momento que você conversa com essa criança é uma conversa sempre da gente tentando um objetivo maior, a principio ela é uma conversa só pra você se aproximar, mas você consegue passar disso. (Pedagoga 2)

Além da linguagem a afetividade e consequentemente a confiança vem

atreladas como benefícios da Equoterapia em relação ao desenvolvimento de

crianças com necessidades especiais. Citada por todos os membros da equipe a

afetividade que surge entre o praticante, o cavalo e os personagens que fazem parte

do sistema são uma das principais características da Equoterapia, que associada ao

trabalho direcionado do pedagogo traz benefícios direto nos processos de

escolarização, socialização e pensamento. Se quisermos que os alunos recordem melhor ou exercitem mais o pensamento, devemos fazer com que essas atividades sejam emocionalmente estimuladas. (Vygotsky, 2004)

Pude perceber no decorrer desse trabalho que existem diversas associações

que podem ser feitas em relação a Equoterapia e os processos de aprendizagem e

desenvolvimento. Vale lembrar que esse trabalho não levou em consideração

exclusivamente os processos psicomotores e sua estimulação, que também podem

ser relacionados ao trabalho do pedagogo.

Acredito sim que o pedagogo deve fazer parte como membro pleno e

fundamental da equipe de Equoterapia, principalmente das que possuem crianças

como praticantes, pois além de todo arsenal de informações que o pedagogo traz

com ele, a relação entre a terapia, o praticante e a escola, deve ser assistida por um

pedagogo. Dessa maneira todos estarão fortalecendo de forma natural e social a

inclusão dessa criança.

Por isso, e por tudo aquilo explanado nesse trabalho, concluo afirmando que

a partir do que foi levantado através da pesquisa qualitativa combinada ao material

bibliográfico aqui redigido, pode se classificar a Equoterapia como um ambiente

Page 67: A EDUCAÇÃO E O TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM EQUOTERAPIA NA VOZ DE SEUS AUTORES, PEDAGOGOS E TERAPEUTAS

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totalmente apropriado para as funções de um pedagogo. Assim como a formação

desse profissional apesar de algumas lacunas em relação à teorização desse

método e de matérias práticas, quando bem preparado e altruísta esse pedagogo

tem total capacidade de se adequar e compor uma equipe de Equoterapia.

Concluo também que a Equoterapia em sua definição e teorias, deveria

rever conceitos como o da formação de uma equipe básica, para que o pedagogo

seja incluído como uma das peças chave desse processo.

Foi claro que a própria equipe está ciente da fundamental importância de se

ter um pedagogo dentro da Equoterapia. Isso valoriza ainda mais a formação do

pedagogo em geral, pois pelo menos em um espaço ele esta sendo reconhecido por

outros profissionais como um personagem que agrega valor totalmente diferenciado

perante outras áreas de formação.

Valores relacionados ao sujeito global, sem que a deficiência seja vista antes

do sujeito, e através das relações sociais encontradas nas entrelinhas da

Equoterapia, todos possam estar se desenvolvendo e aprendendo em conjunto.

Acreditando que tenha consciência de sua formação que é geradora de

influência e de um forte impacto social, ele estará habilitado em sua completude

como docente para atuar na educação infantil e fundamental, contemplando suas

modalidades (crianças, jovens e adultos, educação especial, indígena, entre outras)

em diferentes ambientes de ensino, seja ele em sala de aula, hospitais ou até

mesmo picadeiros de Equoterapia.

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6. PERSPECTIVAS

Minhas perspectivas após o término dessa etapa dentro da graduação na

Faculdade de Educação são de continuar no ambiente acadêmico ingressando no

mestrado.

Como a minha formação foi marcada por viagens ao redor do mundo, acredito

que mesmo depois de formado irei continuar com essa rotina. Foi durante essas

viagens que pude trabalhar com a Equoterapia em países diferentes com métodos e

pessoas diferentes, toda essa pluralidade cultural agregou a minha formação uma

visão global do sujeito sobre ele mesmo.

Poder conhecer, abstrair e reconhecer idiomas, hábitos e conceitos diferentes

daqueles encontrados no sistema cultural em que estamos inseridos, é o que com

certeza fez de quem sou hoje uma pessoa um pouco melhor.

De fato conhecer outras culturas, e as pessoas inseridas nela, assim como a

maneira como essas interagem é algo fantástico. Uma temática que pretendo

abordar no futuro e a questão de como a pessoa com necessidade especial é vista

em diversas culturas. Essa talvez possa ser o meu próximo passo dentro da

academia.

Paralelo a isso a Equoterapia ainda é a menina dos olhos, chegando a ser

quase uma terapia, só pelo fato de poder trabalhar nessa área. Acredito muito no

potencial desse método, e sei que ele ainda tem muito que avançar, principalmente

em relação a tecnologias e conceitos.

Vejo meus colegas e amigos tentando ser aprovados em concursos para se

tornarem funcionários públicos, ora, esses seriam funcionários do Governo, os

funcionários públicos trabalham para povo e com o povo, de modo a engrandecer o

coletivo, porém as pessoas pensam cada vez mais em si próprias e acabam

deixando a sociedade e o coletivo de lado.

Essa debandada de educadores para profissões que não tem relação direta

com a sua formação acaba gerando uma extinção de excelentes pedagogos que

serão perdidos nesse caminho. Tenho sorte por não ter grandes ambições materias,

pelo menos por enquanto, pois sei que na grande maioria dos casos a Equoterapia

ainda não é uma profissão muito bem remunerada, assim como a de professor.

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Não penso em ter um trabalho fixo imediatamente, até porque tenho

consciência de que uma vida “nômade” não é algo que chame a atenção de um

empregador quando procura um novo funcionário. Quero aproveitar minha juventude

poder aprender o máximo de coisas que eu puder nos mais variados lugares, com

as mais inusitadas pessoas.

Quero que a construção do meu eu como sujeito seja bastante rica em

relação às sociedades em que passei e que ainda hei de passar, para que a minha

historia seja parte de várias outras, em diversas culturas. É que nessa zona de

desenvolvimento em que eu irei me instalar, eu não quero somente aprender, mas

que ensine, crie e inove junto com os outros.

Quem sabe um dia eu não irei retornar a casa em que me forma hoje, ou que

me formou até hoje, e nela possa passar tudo aquilo que o meu eu sócio-histórico já

viveu um dia.

Acima de tudo sou professor, escolhi isso e vou carregar essa

responsabilidade com muito honra, orgulho e responsabilidade. Com a conclusão

desse trabalho o mundo me fez docente e a Universidade de Brasília aprovou.

Espero não desapontar minha família, meus amigos, meus professores e

principalmente a mim mesmo e aos meus alunos.

[...]a educação em todos os países em todas as épocas sempre foi social, por

mais anti-social que tenha sido em sua ideologia. (Vygotsky, 2004. p.64)

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE I

1. O que você sabe sobre o trabalho que um pedagogo desenvolve na

área de educação especial?

2. Quais disciplinas você acredita que possam contribuir na formação de

um pedagogo atuante na área de educação especial?

3. A sua formação dentro da pedagogia oferece segurança para trabalhar

em equipes multidisciplinares focadas para o atendimento de crianças com

necessidades educacionais especiais? De que forma?

4. O que você sente falta em seu curso que poderia contribuir para o

trabalho com crianças com necessidades educacionais especiais?

5. Que tipo de terapias e recursos você conhece que possam contribuir

para o desenvolvimento de crianças com necessidades educacionais especiais?

6. O que você entende por Equoterapia?

7. Como base em seus conhecimentos você considera que a Equoterapia

seja uma área de atuação para pedagogo? Por quê?

8. Você considera a Equoterapia como um recurso potencializador de

aprendizagem no desenvolvimento da criança com necessidades educacionais

especiais? Explique

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APÊNDICE II

1. Como foi o seu processo de iniciação dentro da Equoterapia?

2. Qual o tipo de necessidade especial que você mais atende?

3. O que você entende por educação inclusiva?

4. Em sua opinião qual a importância da equipe multidisciplinar para a

Equoterapia? Você acredita que ela também seja interdisciplinar?

5. O trabalho do pedagogo gera alguma interferência no trabalho

desenvolvido por você.

6. Como você vê a diversidade em relação à atuação de um pedagogo

para o outro.

7. O que você mais sente falta em relação à atuação do pedagogo, e

aonde ele se sobre-sai em relação aos demais.

8. Porque você acha que o pedagogo foi inserido na equipe?

9. Você saberia explicar porque a Equoterapia como um método

terapêutico educacional, não possui o pedagogo em sua equipe básica?

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APÊNDICE III

1. Como foi o seu processo de iniciação dentro da Equoterapia?

2. Qual o tipo de necessidade especial que você mais atende?

3. O que você entende por educação inclusiva?

4. Em sua opinião qual a importância da equipe multidisciplinar para a

Equoterapia? Você acredita que ela também seja interdisciplinar?

5. Como você acredita que o trabalho do pedagogo e visto pelos demais

integrantes da equipe, você se sente como parte fundamental?

6. Relate sua rotina com a criança dentro da Equoterapia.

7. Como você avalia sua atuação nos quesito relacionados à

aprendizagem e desenvolvimento.

8. Que áreas do conhecimento você acredita serem mais estimuladas

através da atuação do pedagogo?

9. Você considera a Equoterapia como um recurso potencializador de

aprendizagem no desenvolvimento da criança com necessidades educacionais

especiais? Explique

10. Qual o seu maior desafio como pedagogo atuante na Equoterapia?

Explique.