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A doação de livros para o desenvolvimento

Mauro Rosi

Alianza global para la diversidad cultural

suit CENTRO KtlINlL PARA EL FOMENT! lEL LIIR0 EN AMÉRICA LATINA Y EL CARIIE

UNESCO

KOÏCHIRO M A T S U U R A Diretor General U N E S C O

MILAGROS DEL C O R R A L Subdiretora geral adjunta do U N E S C O para a Cultura Diretora da Divisão das Artes e da Empresa Cultural

M A U R O ROSI Especialista do Programa Divisão de Artes e Empresas Culturais Setor da Cultura - U N E S C O

Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe - C E R L A L C

RAÚL ZORRILLA Presidente do Conselho

GALENO AMORIM Presidente do Comité

ISADORA DE NORDEN Diretora

PILAR ORDONEZ Secretária Geral

LUIS FERNANDO SARMIENTO Secretário Técnico

MÓNICA TORRES Subdiretora de Direitos de Autor

BEATRIZ HELENA ROBLEDO Subdiretora de Leitura e Escrita

RICHARD URIBE S C H R O E D E R Subdiretor do Livro e Desenvolvimento

"As ideias e opiniões expressas neste texto pertencem ao seu autor e não refletem necessariamente o ponto de vista da U N E S C O "

Desenho e diagramação: Gloria Contreras Barreto cmfs

ISBN 958-671-106-4

° U N E S C O 2005

Documento U N E S C O CLT/ACE/CEC/05/11

www.unesco.org www.cerlalc.org

Contenido

Agradecimentos 7

Prefácio 9

Introdução 13

A doação ¿para qué? 15

O livro como processo e cadeia 16

A doação na cadeia do livro 17 A doação como transferência 19

A repercussão na cadeia 21 Avaliar a repercussão e m cada elo 21

A repercussão no leitor 22

A repercussão na criação 23 A repercussão na edição 24

A repercussão na distribuição 25

A adequação dos conteúdos 26

A especificidade do manual escolar 28 O diagnóstico preliminar 30

¿Como se realiza a doação? 31 U m a montanha de problemas 32

Definições 32

Alguns princípios de programação 36

O «percurso do combatente» 37 O contrato entre o organizador, o recopilador e o destinatário 38

D o doador ao recopilador 41

Os bancos de livros 43 El transporte 44

Conhecer e reduzir as formalidades 46

D a biblioteca de destino ao leitor 47

Mecenas e voluntários 48

Patrocinadores 50

A aportação dos voluntários 50

Dois paradigmas: o C O D E e cultura e desenvolvimento 51

Culture et Développement: u m a rede e sua carta 53

Conclusões 53

Documentos y Referências 57 Bibliografia 70

Sites web 71

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

Agradecimentos

Agradecimentos

U m agradecimento especial a Rosa Maria Durand e Álvaro

Garzón, eminentes especialistas e m políticas do livro e grandes

servidores da U N E S C O , que têm m e orientado e aconselhado na

fase de elaboração do manuscrito, o que permitiu beneficiar-me de

sua experiência excepcional.

Igualmente, agradeço a Francisco de Almeida, da Association

Culture et Développement (Grenoble), e a Gwynnet Evans, consultora

internacional, e seus conselhos tão ricos e m conteúdo.

T a m b é m , desejo expressar minha gratidão a Georges Poussin,

pela confiança que ele depositou e m m i m já faz três anos para tratar

deste assunto a seu lado. Nossas conversações sobre o tema têm sido

de grande utilidade para a redação deste texto.

Por último, obrigado a Jacqueline Barizzone, pela sua ajuda

paciente, e a Cécile Duvelle por seus dotes de leitora sagaz, que tão

úteis têm sido para m i m , mais u m a vez.

MAURO ROSI

Especialista do Programa Divisão de Artes e Empresas Culturais

Setor da Cultura - U N E S C O

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

Prefácio

Prefácio

por Milagros del Corral

* Subdiretora geral adjunta da U N E S C O para a cultura

Diretora da divisão das artes e da empresa cultural.

O livro é u m a obra da mente que alimenta, como imagem da

variedade dos conteúdos e dos modos de expressão humanos, nosso

património imaterial c o m u m e m toda sua diversidade.

E u m instrumento excepcional da criatividade, essa faculdade

que constitui a riqueza de todo ser humano. E u m meio da liberdade:

liberdade de pensar, de expressar-se e, quando nenhum obstáculo se

atravessa e m seu caminho, de informar e, no sentido mais completo,

de comunicar.

E m resumo, o livro é, antes de mais nada, todo u m vetor de

sentidos e de valores, u m suporte do saber e da imaginação.

M a s o livro é também u m produto cultural e u m b e m para a troca;

constitui, então, u m objeto económico que se situa no centro de todo

u m setor industrial, o da edição. Sustento de u m a ampla cadeia de

atividades geradoras de renda, contribui assim para o desenvolvimento

económico, social e cultural do conjunto dos países do mundo .

Nas economias do saber de hoje, o livro constitui igualmente

u m a ferramenta de aprendizagem, de formação, de extensão e

atualização dos conhecimentos. Instrumento essencial no exercício

de todos os ofícios, sejam eles de natureza intelectual ou técnica, na

edificação das sociedades do conhecimento, ao m e s m o nível que as

novas tecnologias da informação e da comunicação. M a s , enquanto

estas são acessíveis, principalmente no sul, para u m a parte limitada

da população, o livro, que penetra no conjunto das camadas sociais,

continua sendo o meio mais flexível e mais estendido para a expansão

do saber. O livro se situa assim, e m qualquer parte do m u n d o , no

coração de todos os setores económicos das comunidades.

*Este prefácio foi escrito e m julho de 2004.

A DOAÇÃO DE LIVROS O J O PARA DESENVOLVIMENTO

Prefácio

Por sua natureza dinâmica e plural, material e intelectual, o livro

ocupa, pois, u m lugar cada vez mais primordial na vida das pessoas,

assim como na expansão de suas sociedades. Por isso, sua salvaguarda e

sua promoção, assim como a proteção dos direitos autorais que é seu

indispensável corolário, constituem u m a aposta única para a democracia.

Levando e m conta tudo isso, a U N E S C O se esforça, desde sua

criação, para favorecer e reforçar a presença do livro e m todos os

países do m u n d o e, e m particular, ali onde as necessidades e as

carências são mais importantes.

Sua ação se desdobra sob u m a infinidade de formas. A

organização, por exemplo, aporta sua perícia jurídica e técnica aos

governos na colocação e m marcha de suas políticas nacionais do livro

e mantém a extensão de redes internacionais de profissionais do livro,

incluídos os editores independentes. Trabalha na informação e na

formação no campo dos direitos autorais e desenvolve colaborações

duradouras c o m instituições especializadas para aconselhar nas

estratégias regionais de desenvolvimento; apoia atividades de

sensibilização, c o m o o dia mundial do livro, e do direito autoral ou a

capital mundial do livro, e contribui para o reconhecimento de livros

de qualidade para as crianças. Garante, por último, a promoção do

acordo de Florença sobre a livre circulação dos bens educativos,

científicos e culturais (1950) e seu protocolo de Nairobi (1976).

Desde 2002, a U N E S C O desenvolve essas diferentes modalidades

de ação no marco operativo da Aliança Global pela Diversidade

Cultural, u m programa de colaboração "doador-doador" e m favor

do desenvolvimento dos mercados culturais do sul, que associa o

privado e o público, o local e o global, e m u m grande número de

áreas de intervenção do campo da cooperação e m favor das indústrias

culturais.

U m a de nossas modalidades de intervenção específicas para

reforçar a demanda de leitura e formar novos leitores é a doação de

livros às bibliotecas que estiverem mais desprovidas deles. Estamos,

de fato, convencidos de que a doação pode ser u m a ferramenta eficaz

na promoção da leitura e para u m a educação de qualidade para todos,

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO J J

Prefácio

c o m a condição de levar e m conta todo u m conjunto complexo e

variável de fatores. Para ser útil, a doação deve, e m particular, adaptar­

se às necessidades e à sensibilidade dos beneficiarios, e contribuir ao

reforço do conjunto dos elementos do setor do livro do país e m questão,

ajudando, pois, não só às bibliotecas, mas t ambém aos livreiros, aos

editores e aos autores.

Por tudo isso, as doações de livros mais eficazes afetam obras e m

grande parte publicadas localmente, c o m frequência escritas por

autores locais, e compradas e m livrarias in situ, para ser entregues

gratuitamente às bibliotecas que as d e m a n d a m a partir das

necessidades claramente identificadas no entorno de seus leitores.

Infelizmente, a "política do container" e o envio e m massa de

livros raramente utilizáveis pelos beneficiários ainda estão estendidos.

A doação de livros não é, c o m frequência, mais do que u m belo gesto

sem impacto real, que não contribui para o desenvolvimento

duradouro do livro e da leitura nos países que são objeto dela. E

urgente, e m consequência, desenvolver programas de formação e

informação destinados a todos os que, direta ou indiretamente,

desempenham u m papel na elaboração de programas de doação:

profissionais da edição, bibliotecários, cooperantes e membros das

O N G s , cargos eleitos locais e responsáveis ministeriais.

U m a etapa histórica nesse trabalho de informação e de formação

para u m a política de doação correta foi franqueada com o seminário

"Programa de doação de livros", co-organizado pela U N E S C O e m

Baltimore, e m setembro de 1992. Este encontro, que levou a u m a série

de programas concretos colocados e m marcha durante os últimos dez

anos, ainda pode ser considerado u m a referência e inspirar novas ações.

A mais recente das obras de orientação concebidas no seio da

Divisão das Artes e da Empresa Cultural, o Manual da doação de

M a u r o Rosi, retoma as recomendações de Baltimore, no marco de

u m a aproximação mais pedagógica. D á atenção particular ao setor

editorial c o m o conjunto sistémico, fundando-se na experiência da

U N E S C O no campo das políticas do livro.

A DOAÇÃO DE LIVROS O J 2 P A R A DESENVOLVIMENTO

Prefácio

O s aspectos mais políticos dos programas de doação são ilustrados

pela primeira vez de forma metódica, enquanto o conjunto dos

capítulos práticos dos projetos de doação é apresentado c o m todos

seus detalhes e sua complexidade. Daí resulta u m a síntese útil e m

experiências e e m reflexões múltiplas, restituída de forma simples e

agradável para 1er, destinada a animar u m a ampla campanha de

informação e de formação.

Fica preenchido assim u m vazio importante e m u m campo no

qual, apesar de inúmeras boas intenções e u m a boa vontade

incontestável, a necessidade de verdadeira perícia é imensa.

Estou convencida de que este manual e as inúmeras atividades

de sensibilização que se associarão a ele, levarão a multiplicar as ações

e m favor da doação correta. e a obter, a longo prazo, u m impacto

significativo e duradouro no conjunto do mercado do livro nos países

e m desenvolvimento.

Milagros del Corral

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

Introdução

Introdução

O livro é u m a ferramenta praticamente insubstituível e m todo

processo de educação, informação, criação e desenvolvimento. E

t a m b é m u m instrumento de diálogo e constitui u m elemento

destacado na construção da democracia, do diálogo social e

intercultural. E por último, last but not least, o vetor insubstituível

dessa alegria, desse prazer de 1er que seduz, todos os dias, milhões de

seres humanos de todas as idades, tanto no norte c o m o no sul, e m

todos os lugares da terra.

Assim, o livro, investido das mais nobres missões e encarregado

de múltiplas tarefas, é objeto de u m grande número de iniciativas

que tentam reforçar sua função na vida das sociedades, principalmente

nos países e m desenvolvimento.

N o marco da cooperação cultural internacional, a doação de livros

usados, fruto do conhecimento de que os recursos bibliográficos e de

documentação estão mal distribuídos e m nosso planeta é, atualmente,

u m a prática tão estendida quanto polémica. Seu objetivo é transferir

aos países pobres u m a parte dos livros que abundam nos países ricos.

M a s este ato de simples generosidade pode revelar-se mais

complexo do que parece a primeira vista. C o m efeito, as necessidades

culturais e científicas de cada país são diferentes e os livros n e m sempre

podem ser transferidos de forma automática. Alguns especialistas

são, inclusive, contrários à doação de livros porque, e m sua opinião,

pode ir contra as iniciativas editoriais locais.

Assim, a questão é complexa e requer, para atingir seu objetivo,

u m a preparação profunda. A U N E S C O , após meio século de

experiência neste terreno, já acumulou conhecimentos capazes de

orientar eficazmente os participantes neste tipo de iniciativas, tanto

no plano prático quanto no político. Pois a questão da doação não só

se coloca do ponto de vista operacional mas , antes de mais nada, do

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO Introdução

ponto de vista de seu significado, considerando as exigências de

desenvolvimento sustentável dos países e comunidades aos quais afeta.

A doação, estamos convencidos, pode constituir u m a prática muito

benéfica e útil desde que seja respeitada toda u m a série complexa e

variável de fatores que se analisam nesta obra, desde a perspectiva de

u m a visão integrada, considerando a doação dentro de u m conjunto

de interações estruturais que formam a «cadeia do livro».

Esta obra, que toma e desenvolve as considerações procedentes

do Seminário Internacional de Baltimore1, realizado faz já mais de

dez anos, surgiu da certeza de que ninguém pode transformar-se, de

improviso, e m empresário da doação sem passar por u m a fase de

reflexão estratégica e de formação geral. C o m efeito, se trata, e m

primeiro lugar, de u m apoio para os formadores, pensado para ajudar

as pessoas encarregadas de idealizar, estruturar, dirigir ou acompanhar

projetos de doação. Agora, este manual, c o m o instrumento de

formação geral, está t a m b é m dirigido aos atores do âmbito das

políticas culturais e aos decisores políticos, c o m frequência excluídos

- equivocadamente - da concepção de projetos de doação.

E , sem dúvida neste aporte, ao m e s m o tempo estratégico e

pedagógico, onde reside o rasgo específico de nossa contribuição à

melhoria das práticas de doação.

Paris, abril de 2004

1 0 encontro «Dialogue of Partners International Workshop on Donated Books», organizado pela U N E S C O , a C O D E (Canadian Organization for the Development through Education) e o IBB (International Book Bank) reuniu 99 delegados de 44 países, de 14 a 16 de setembro de 1992, em Baltimore (Maryland, Estados Unidos). As atas desta reunião foram publicadas no volume Donated Books Programs: a Dialogue of Partners Handbook, Washington, D . C . , Library ofCongress, 1993.

A doação ¿para qué?

A DOAÇÃO DE LIVROS O l(y PARA DESENVOLVIMENTO

A doaçào ¿para qué?

O livro como processo e cadeia

Para o grande público, a palavra «livro» remite ao conjunto de

certa quantidade de páginas impressas. Por outra parte, esta definição

serve para determinar o objeto «livro» c o m fins estatísticos ou diante

da exigência de regular as trocas. Assim, a Conferência Geral da

U N E S C O , e m sua Recomendação Revista sobre a Normalização

Intemadonal das Estatísticas, referentes à produção e distribuição de livros,

jornais e outras publicações periódicas (1985), estabelecia que u m livro

«é u m a publicação não periódica de, pelo menos 49 páginas, sem

compreender as capas, editada no país e oferecida ao público».

T a m b é m o livro pode ser considerado c o m o obra e instrumento.

Descobrimos então que o livro é u m a realidade complexa, que se

encontra na encruzilhada de inúmeras interações humanas. Longe

de ser u m objeto inerte, u m produto puramente material ou físico, o

livro incorpora conteúdos imateriais e constitui, de alguma maneira,

o ponto de encontro do trabalho, das vontades e das expectativas de

u m grande número de atores sociais - criadores, empresários e leitores,

sem os quais o livro seria impensável. Q u e m diz livro, diz autores,

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

A doava" ¿para que;

tradutores, ilustradores, editores, corretores, impressores,

distribuidores, livreiros, leitores, bibliotecários. São os chamados

«atores da cadeia do livro».

Esquematicamente, o conjunto destas interações pode ser

representado c o m o u m a cadeia de cinco elos: a criação (literária,

científica ou de outro tipo), a edição, a impressão, a distribuição e a

leitura. O livro se transforma assim e m u m processo, u m a cadeia na

qual todos os elementos são imprescindíveis (fig. 1).

Portanto, desenvolver a indústria do livro significa intervir, de

maneira coerente, e m cada elo da cadeia, respeitando sua dinâmica,

sua lógica estrutural e a dependência de cada elemento c o m relação

a todos os demais. Quando parece que alguns elementos da cadeia

não existem como tais, como pode ocorrer e m alguns países de baixa

renda, é necessário estimular sua criação e sua integração pertinente

no conjunto dos demais elos já e m gestação. M a s , qualquer que seja o

marco no qual se intervenha, é inútil fabricar livros se não existirem

redes de distribuição que possam fazê-los chegar aos leitores. Inútil

formar novos leitores se eles não encontram a seu alcance textos nos

quais possam exercer as competências recém adquiridas. Inútil animar

os autores se seus escritos não são publicados n e m remunerados. Inútil

reforçar as bibliotecas se estas não p o d e m contar c o m u m a produção

editorial capaz de aumentar seus fundos.

A doação na cadeia do livro

Muitos projetos para fomentar o livro e a leitura, m e s m o estando

b e m estruturados e m si, fracassam porque se baseiam e m u m a

concepção parcial, não integrada do livro; só pretendem agir e m u m

dos segmentos da cadeia, ignorando os demais. N ã o é estranho, por

exemplo, que alguns projetos intergovernamentais se centrem na

simples distribuição gratuita e e m massa de manuais escolares de

importação, na ideia de que assim se podem satisfazer, de maneira

sustentável, as necessidades de leitura, ignorando as necessidades da

criação, da distribuição e da produção. Apesar das boas intenções de

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO A doação ¿para qué?

seus promotores, este tipo de ação, devido à parcialidade de sua visão,

não só é ineficaz mas, c o m frequência, contraproducente. D e forma

que, às vezes, as populações afetadas por estas iniciativas, longe de

ver seus problemas resolvidos, comprovam sua piora a médio prazo.

E claro, a necessidade de u m a visão integrada ou global não exclui

o desenvolvimento de projetos dirigidos especificamente a algum dos

elos da cadeia do livro. M a s é essencial não perder nunca de vista as

relações existentes entre todos os segmentos do m u n d o do livro e

levá-las e m conta na concepção e na colocação e m marcha de todo

projeto que tenha algo a ver c o m o livro.

Harmonizar os projetos de doação de livros c o m as exigências do

m u n d o editorial, e mais geralmente, cultural dos países aos quais

afetar, permitirá que os projetos de doação sejam u m a arma autêntica

contra a pobreza e na luta por oferecer a todos u m a verdadeira

educação de qualidade.

Hoje e m dia, a doação de livros é u m a prática c o m u m para muitas

associações de voluntários e outras formas de cooperação. São centenas

as que se dedicam a coletar publicações nos países do norte e levá-los

aos do sul: estão orgulhosas de seu trabalho e convencidas de que

cumprem u m a missão importante e louvável. E , no entanto, os

especialistas sabem que a doação, inclusive organizada com eficácia,

n e m sempre é u m a boa prática2. Por outro lado, não é estranho que a

doação c o m o tal não seja aprovada nos meios editoriais. À s vezes se

considera, não sem alguma pertinência, u m a forma de dumping, u m a

arma de guerra na conquista dos mercados do livro. C o m efeito, e m

alguns países, a doação de livros a associações internacionais ou de

cooperação, ou humanitárias, tem vantagens fiscais muito interessantes

para os editores: doar vira assim u m negócio que convém aproveitar

sem preocupar-se c o m as necessidades reais (e sustentáveis) no terreno.

2 Ver, por exemplo, as atas das sessões nacionais da Associação Francesa "Culture et Développement" (Lille 11 e 12 de dezembro de 1998).

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

A doarão ¿para qué?

E m conclusão, a moral da boa ação não se pode aplicar ao

âmbito do desenvolvimento da indústria do livro. U m programa

de doação, para ser eficaz, tem que levar e m conta o entorno

económico (potencial ou real) no qual intervém. A doação de livros,

igual que u m medicamento, pode fazer muito b e m , mas não pode,

e m nenhum caso, transformar-se e m u m a prática permanente e m

u m contexto económico sadio. Igual que u m medicamento, a

doação pode curar, mas só se estiver perfeitamente adaptada a

seu beneficiário e for utilizada no m o m e n t o indicado, no contexto

oportuno e e m quantidades razoáveis. Quando u m programa de

doação tende a eternizar-se, há motivos para contestar sua

utilidade e sua razão de ser.

A doação como transferência

M a s , o que se entende exatamente por «doação»? E m geral,

u m a doação de livros é a transferência gratuita, ou quase gratuita,

para o destinatário, ou beneficiário, de certa quantidade de

publicações com fins educativos ou culturais. A s características e os

problemas próprios desta transferência são muito variáveis,

dependendo se ela é feita dentro de u m m e s m o país, de u m país a

outro, do norte para o sul (como acontece na maioria dos casos) ou

dentro de u m a m e s m a região e se é organizada bilateralmente ou

com a colaboração de vários países.

Longe de ser detalhes puramente técnicos ou logísticos, as

características e o alcance da transferência, quer dizer, da viagem

realizada pelos livros, entre o doador e o receptor, repercutem

decisivamente na qualidade do projeto, e m sua sustentabilidade e e m

seus conteúdos educativos.

Para começar, esta transferência tem que ser feita entre países ou

regiões geográficas que compartilhem a m e s m a língua e alguns

elementos culturais, sem o qual, os beneficiários não poderão utilizar

nem apreciar a doação que lhes é feita.

20 A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO A duação ¿para qué-

Por outra lado, c o m o veremos a seguir, u m projeto de doação

realizado dentro de u m m e s m o país (por urna transferencia desde

regiões b e m abastecidas, para outras mais pobres) pode ser u m fator

de desenvolvimento da indústria nacional d o livro. D a m e s m a forma,

u m projeto de alcance regional, baseado e m u m a colaboração entre

editores e bibliotecas d o país e m desenvolvimento, p o d e ter u m a

repercussão positiva a escala regional o u sub-regional. A execução

dos projetos que se caracterizam por u m a transferência que vai de

norte a sul, e m b o r a ma i s fácil e m alguns aspectos, a u m e n t a a

dependência dos países e m dificuldades c o m relação aos países ricos.

O e squema seguinte dá u m a ideia de alguns tipos de transferência e

de suas principais consequências.

Tipo de projeto Exemplo Cancterfaicu

Norte-Sul Doação de livros

norte - americanos às

bibliotecas de Malawi

Coleta rápida, transporte relativamente fácil, mas sem participação de profissionais do livro do país ou da região afetada. livros n e m sempre muito adaptados aos leitores por conteúdos, língua e forma.

Sul-Sul Doação de livros comprados no Quénia e doados às bibliotecas de Malawi

Quantidade e variedade reduzidas, transporte laborioso, livros adaptados ao contexto, valorização da industria e

D o a ç ã o Doação de livros comprados Quantidade e variedade reduzidas, nacional no Quénia e doados às livros muito adaptados ao contexto,

bibliotecas pobres do Quénia valorização da indústria nacionaL

Mista Sul-Sul Doação de livros comprados Coordenação logística complexa, livros + nacional no Quénia e na Tanzânia às adaptados ao contexto, valorização da

bibliotecas do Quénia industria nacional e das trocas regionais.

Mista Norte - Sul + Sul Sul

Doação de livros norte-americanos e do Quénia às bibliotecas de Malawi

Coleta rápida, grande variedade, coordenação logística complexa, participação de profissionais do livro da região afetada, livros bastante adaptados.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO 2 1

A dojyäo ¿para qui??

Cada livro, seja por seu conteúdo, pela língua na qual está escrito,

ou por seu aspecto gráfico, está destinado a u m número limitado

de leitores potenciais. Sua «transferibilidade» é, e m consequência,

relativa. Dar u m livro a u m a pessoa que não sabe, ou não pode

utilizá-lo, é acrescentar a seus problemas mais u m . Se cada livro

tem seus leitores, cada doação de livros tem seu beneficiário

específico.

A repercussão na cadeia

Se a doação, c o m o o medicamento, pode ocasionar u m benefício

real, para isso é imprescindível definir previamente os objetivos e os

contextos que a justificam, situando-os na cadeia do livro.

E m resumo, a doação de livros é u m a prática útil quando contribui

para a criação ou para o reforço da cadeia do livro; é inútil quando

não serve para criar ou reforçar a cadeia do livro; é prejudicial quando

produz o enfraquecimento de u m ou vários elos da cadeia do livro.

Avaliar a repercussão e m cada elo

Já vimos que a cadeia do livro é composta de cinco elos principais:

a criação, a edição, a impressão, a distribuição e a leitura, sendo cada

u m interdependente c o m relação aos demais. Quando se quer montar

u m projeto de doação, é preciso informar-se previamente das

consequências que terá no(s) elo(s) diretamente afetado(s), assim como

e m todos os demais segmentos da cadeia do livro. E u m a fase

imprescindível para esclarecer a pertinência «política» da doação

prevista ou, e m outras palavras, sua utilidade a longo prazo para as

comunidades beneficiárias.

22 A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO A doação ¿para qué?

A repercussão no leitor

O elo mais diretamente afetado pela doação é, sem dúvida, «a

leitura», já que todo projeto de doação pretende, essencialmente, o

reforço das capacidades dos leitores.

Por outro lado, a prática da doação não tem o objetivo direto da

distribuição, já que não pretende o reforço dos canais de promoção,

distribuição e venda de livros. O objetivo principal da doação não é,

então, o distribuidor ou o livreiro, e sim o leitor, ao qual permite u m

acesso direto e gratuito, ou quase, a alguns materiais de leitura. O

leitor dispõe assim, através das bibliotecas enriquecidas c o m títulos e

volumes, de instrumentos de convite à leitura, de informação e de

documentação. O leitor se exercita, se aperfeiçoa, encontra c o m que

alimentar sua curiosidade e se torna mais exigente, transformándo­

se e m sujeito de u m a verdadeira demanda, sem a qual a indústria e o

mercado do livro são impensáveis.

Assim, no marco de u m a concepção global do livro, a doação

adquire u m sentido de instrumento para a formação de leitores e

para a estimulação da demanda . Se não forem estes seus objetivos,

é de temer que não seja n e m útil n e m necessária. Isto é especialmente

certo quando se trata de satisfazer as necessidades educativas

de u m a comunidade : se o livro doado não serve para criar

necessidades de leitura e u m a demanda ulterior de livros, é, de certa

maneira, estéril.

Para chegar ao leitor e estimular suas necessidades de leitura, é

imprescindível u m a pesquisa preliminar destinada a identificar os

temas, as línguas e a visão cultural suscetíveis de despertar seu interesse.

Pode realizar-se nas bibliotecas ou organismos encarregados, no país

beneficiário, de recepcionar, armazenar, catalogar e por à disposição

do público os Livros doados. É fundamental a participação de u m

colaborador no terreno, capaz de identificar claramente as

necessidades de seus leitores alvo.

A D O A Ç Ã O D E LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

A doação ¿para qué;

Porém, além da repercussão no elo leitor, u m programa de doação

deve, idealmente, ter efeitos positivos t a m b é m e m outros elos -

principalmente nos elos comerciais - da cadeia do livro.

Pois, c o m o já vimos , u m projeto de doação pode ser

contraproducente a médio ou longo prazo, até m e s m o se a transferência

de livros do doador ao beneficiário tiver se realizado eficazmente.

A oferta gratuita de livros estará integrada e m u m projeto de

provisão ou de produção editorial sustentável que pretenda, por u m

lado, evitar permanentemente a falta de livros e, por outro, reforçar de

maneira estável as capacidades editoriais do país ou da região afetada.

A repercussão na criação

A maioria dos programas de doação proporcionam livros importados

de países bastante afastados, de características culturais e socioeconómicas

muito diferentes: é u m tipo de transferência norte-sul.

O s autores dos livros não procedem dos países ou das regiões

beneficiárias da doação. E m b o r a os projetos deste tipo possam ter

u m a repercussão positiva no elo leitor, costumam ter u m a repercussão

negativa na criação local. Esta, já precária ou enfraquecida por u m

contexto económico, social e jurídico pouco favorável, tem que

suportar, também, a concorrência dos criadores dos países doadores.

Por esta razão é necessário favorecer, o máx imo possível, a doação

de livros escritos por autores locais.

Para satisfazer esta exigência, alguns projetos iniciados nos Estados

Unidos da América, cujos beneficiários são bibliotecas da África

anglofalante, incorporam atualmente a sua lista de doações alguns

títulos africanos3.

3 N o marco de u m projeto desenvolvido entre 2003 e 2004, a O N G Books for Africa (Minnesota,

Estados Unidos) concebeu, e m colaboração c o m a U N E S C O , u m projeto de doação no qual se

incorporam a seu lote de publicações doadas a bibliotecas da Africa Oriental, obras escritas e

publicadas na Africa. Estas foram identificadas e compradas pelo doador através de African Books

Collective (Reino Unido). AAssociação Culture et Développement faz o m e s m o através de seu

programa "Banque Solidarité Lire" e no marco dos projetos de Alliance Globale para a diversidade

cultural desenvolvidos com a U N E S C O .

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO A doação ¿para qué?

Desta maneira, os projetos de doação tendem a constituir u m

tipo de transferência mista (ao m e s m o tempo «Norte-sul», «Sul-sul»,

e «interna»), e têm u m a repercussão positiva no elo edição da cadeia.

A repercussão na edição

O elo da edição, que compreende o conjunto de atividades pelas

quais u m manuscrito se transforma e m u m livro, é o que pode sofrer

mais nos programas de doação concebidos e realizados sem u m a visão

integrada. A s indústrias editoriais dos países beneficiários de

programas de doação p o d e m ver-se enfraquecidas pela chegada e m

massa aos leitores de textos gratuitos e facilmente disponíveis cuja

provisão pode constituir objetivamente u m a forma de concorrência

desleal, imposta desde o exterior, e m detrimento dos editores locais.

Portanto, todo programa de doação deveria fomentar também o

desenvolvimento do m u n d o editorial local: quer dizer, os conteúdos

e a quantidade de textos doados deveriam ser compatíveis c o m as

exigências de crescimento da indústria editorial da área geográfica

de que se tratar.

Isto, é claro, é complexo e, c o m muita frequência, mais fácil de

dizer do que fazer. A indústria editorial dos países ou áreas

beneficiárias de projetos de doação costuma estar muito pouco

desenvolvida e, quando existem, as editoras destas regiões são difíceis

de inventariar: pouco profissionalizadas, carentes de verdadeiros meios

de distribuição, t a m b é m não estão, necessariamente, reunidas no

marco de u m a estrutura sindical, corporativa ou associativa e n e m

sempre respeitam a legislação local - na medida e m que exista -

referente aos direitos autorais, ao I S B N , ao depósito legal e à

fiscalidade. E m muitos casos, trata-se de imprensas que distribuem

suas obras de maneira artesanal, indo «de porta e m porta».

Embora pertençam ao setor informal da economia, estas iniciativas,

às vezes rudimentares, prefiguram apesar da indústria editorial do

futuro e convém fomentá-las mediante intervenções para a melhora

de sua situação e de sua capacidade de trabalho. Apesar de todas as

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

A doação ¿para que?

dificuldades que isto possa acarretar, é essencial atrair os editores locais

aos programas de doação que afetam seus próprios países.

D e maneira geral, é preciso procurar, por todos os meios, a

colaboração c o m os editores e livreiros locais cada vez que seja

elaborado u m programa de doação c o m o objetivo de incorporar aos

textos doados u m a porcentagem, o mais elevada possível, de

publicações de produção local.

Seria desejável, além do mais, acompanhar os programas de

doação c o m iniciativas complementares dirigidas aos editores, de

formação e reforço das capacidades. E m alguns casos, este tipo de

iniciativas pode ir dirigido aos centros ou às bibliotecas comunitários

c o m o fim de dotá-los dos meios de produção artesanal de baixa

tiragem dos escritos necessários para a informação dos ambientes

afetados. Para que estes meios sejam utilizados corretamente, às vezes

é necessário fazer acompanhar sua colocação e m marcha c o m

iniciativas de formação.

A repercussão na distribuição

O s projetos de doação afetam t a m b é m , p o r é m bastante

indiretamente, o elo da distribuição. Alguns programas de doação

são concebidos para substituir u m a distribuição decadente, ou

inexistente, e se dirigem aos leitores diretamente. Assim, presenciamos

às vezes, no marco de alguns programas de doação, a chegada aos

povoados de caminhões carregados de livros que foram distribuídos

diretamente às crianças e a suas famílias. M a s u m a rede de distribuição

é algo muito mais complexo do que u m programa de entrega gratuita

de textos à população e não pode existir sem u m crescimento real e

variado da oferta e a demanda de livros.

O leitor não pode ser u m «recepton> de obras distribuídas e m massa

e automaticamente. U m leitor digno deste n o m e é exigente, tem

necessidade de informação, de formação, de erudição. Só existe pelo

dialogo c o m o livreiro ou o bibliotecário, que devem saber adaptar-se

aos gostos diversificados e, inclusive, fragmentados de seus clientes.

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO A doação ¿para qué?

Para não fazer a concorrência aos distribuidores e formar leitores

verdadeiros é, então, preferível que os projetos de doação se realizem

através das bibliotecas, lugares regidos por u m a dinâmica de diálogo,

de pesquisa e de responsabilidade mais próxima - sem ser idêntica -

à que está e m vigor no m u n d o da distribuição.

Neste contexto, é preciso evitar, pois, na medida do possível, a

distribuição direta e gratuita de publicações aos leitores; a distribuição

deve continuar sendo u m objetivo dos livreiros c o m os que sempre é

possível negociar sua participação e m iniciativas de distribuição

especial e de promoção.

Antes de empreender u m projeto de doação, é preciso pensar sempre

se alguns problemas de escassez de livros não se podem resolver pelo

reforço das capacidades de venda das livrarias existentes. Proporcionar a

u m livreiro u m a camionete de segunda m ã o que lhe permita vender suas

obras nos povoados próximos pode, e m alguns casos, resolver o problema

da escassez de maneira económica e sustentável negociando ao m e s m o

tempo c o m as autoridades locais a distribuição de ajudas para a compra

de livros (em forma, por exemplo, de vales para gastar na livraria).

A adequação dos conteúdos

Estamos acostumados a pensar que u m livro é algo precioso e m

si, u m recurso absoluto que será valorizado sempre e m todos os

contextos. M a s , na realidade, u m livro pode ser, e m algumas situações

e para alguns leitores, u m objeto sem n e n h u m interesse, até m e s m o

perfeitamente inútil.

U m a das características próprias do livro, e que contribui a

diferenciá-lo de qualquer outra mercadoria, tem a ver c o m o fato de

que cada obra é u m produto aparte. Por seu conteúdo, sua linguagem,

seu grafismo e até m e s m o pelos materiais4 de que está feito, cada livro

se dirige a u m conjunto de leitores determinado. E pouco frequente

4 Alguns pacotes de documentação produzidos na Europa e destinados aos países mais pobres da África ou da Ásia, compostos de pastas de plástico grosso e folhetos plastificados surpreendem seus públicos alvo, que "reciclam" este tipo de objetos e o destinam a outros usos mais práticos e adequados a seu contexto.

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

A doação ¡para qué?

que todo o m u n d o goste do m e s m o livro e os que presenteiam livros

sabem da dificuldade para escolher o livro adequado para a pessoa

adequada. Este caráter específico do produto-livro tem suas

repercussões quando se trata de elaborar projetos de doação. Todo

projeto de doação tem que começar, obrigatoriamente, por u m a

reflexão c o m u m sobre as necessidades do destinatário e sobre a

maneira de determinar a melhor adequação possível entre esta

demanda e a oferta prevista. Esta reflexão deve ser feita, é claro,

juntamente c o m os beneficiários.

N a realidade, as coisas n e m sempre acontecem assim. O

mercado do livro dos países ricos produz u m a grande quantidade

de excedentes de publicações que é caro destruir. Por isso, alguns

editores caem na tentação de utilizar os canais da doação c o m o

meio de se desfazer gratuitamente dos seus não vendidos.

Transferem assim seu problema aos países mais pobres,

acrescentando mais problemas a suas dificuldades.

M a s , fora estas práticas de dumping e de erros deliberados,

acontece, c o m frequência, que os livros doados c o m as melhores

intenções não estão adaptados à cultura dos beneficiários5.

Por esta razão, no momen to de apresentar os diferentes tipos de

transferência nos quais se concretizam os projetos de doação, temos

insistido e m que a troca entre doador e beneficiário se realize entre

países ou regiões geográficas que tenham a m e s m a Língua e certo

número de elementos culturais e m c o m u m .

Fica claro que alguns temas, como a matemática, principalmente

a superior, se prestam muito mais facilmente ao transplante

internacional e intercultural, enquanto outros, c o m o a história

nacional, estão especialmente contra-indicados para a doação.

N o s livros presenteados e m operações de doação se refletem, às

vezes, modelos de comportamento muito diferentes dos modelos que

têm os leitores aos quais estão dirigidos, ou ilustrações que os leitores

5 U m caso de inadequação especialmente evidente e paradoxal, mencionado e estudado no encontro "Dialogue of Partners International Workshop on Donated Books" é o dos livros sobre a avicultura no País de Gales (Sheep Farming in Wales) doados a grupos infantis do Zimbabué e m idade pré-escolar.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO A doação -para qué?

consideram «ousadas» e que ferem sua sensibilidade. E m alguns casos,

apesar da pertinência dos conteúdos e da língua, os tipos de letra são

muito diferentes dos utilizados no seio das comunidades de leitura: o

livro é considerado então como «raro» e é difícil que possa chegar a

resultar familiar aos leitores aos quais vai destinado. E m todos estes

casos, o programa de doação não cumpre seu objetivo de formação e

fomento da leitura, devido à inadequação dos conteúdos às

necessidades dos destinatários.

Para evitar os problemas deste tipo, é necessário que os doadores

e os beneficiários ajam de forma que, e m u m espírito de verdadeira

cooperação, os lotes de obras coletadas e doadas levem e m conta a

identidade cultural dos públicos alvo assim como de seus interesses e

necessidades concretas. Para assegurar esta adequação, é

imprescindível, c o m o veremos na parte dedicada à prática da doação,

que a concepção e os conteúdos dos programas de doação sejam

elaborados tomando c o m o base as necessidades b e m entendidas dos

beneficiários, partindo de listas de orientação bibliográfica o mais

detalhadas possível.

A especificidade do manual escolar

O manual escolar, c o m o já falamos a propósito da repercussão

das doações na edição, merece u m a reflexão aparte. Sendo sua

finalidade formar o núcleo da consciência da juventude e, portanto,

de todo u m país, o manual escolar estrutura a ciência e a consciência

das nações e condiciona, e m grande medida, os reflexos ideológicos,

o sentimento de posse e a orientação no m u n d o . Justamente, por

este motivo é que a U N E S C O se esforça e m fomentar, mediante o

diálogo intelectual, a eliminação de todo rastro de xenofobia e

discriminação racial, ou de sexo, dos manuais escolares.

Cada país, dotando-se de livros de texto adequados a sua

realidade e suas expectativas, constrói seu futuro segundo seus

modelos culturais e seus valores próprios. Então, é fundamental

que os conteúdos pedagógicos e científicos dos livros de texto, e e m

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

A doação ¿para qué?

particular dos manuais básicos, reflitam a historia, o presente e o

futuro das sociedades às quais estão destinados.

N o caso da doação, os livros, e m geral, são oferecidos a alguns

leitores para os quais não foram concebidos e m sua origem. Sendo

assim, é difícil imaginar que alguns livros redigidos, publicados e

distribuídos e m outros lugares possam mais tarde, pela doação, servir

perfeitamente c o m o novos programas escolares. Sabemos, além do

mais, que todos os fenómenos de dependência bilateral, de colonização

e de hegemonia de u m país sobre outro passam pelo controle dos

manuais escolares dos países dominados. A o contrário, todo esforço

de autodeterminação passa por u m esforço de independência no

âmbito dos livros de texto.

Por estes motivos, e m princípio, c o m exceção da matemática

superior e de outros casos específicos no âmbito das ciências, os

manuais escolares nunca deveriam ser objeto de u m a doação

internacional, principalmente quando se tratar de obras de história,

geografia ou literatura.

T a m b é m existem outras razões, de natureza económica, que

desaconselham, igualmente, a inclusão dos manuais escolares nos

programas internacionais de doação.

C o m efeito, o setor económico do manual escolar constitui a

base principal sobre a qual pode se desenvolver a indústria editorial

local. O s livros de texto, ao permitir fazer tiragens muito abundantes

e de volume facilmente pré-determinável, constituem os alicerces do

edifício editorial de u m país.

Assim, e m geral, o primeiro passo na construção de u m a indústria

editorial nacional sólida passa pelo reforço das capacidades locais no

terreno da publicação de manuais escolares. C o m o disse o Álvaro

Garzón, «o subsetor do manual escolar constitui u m elemento chave

do b o m desenvolvimento da edição e m qualquer país»6.

6 «La spécificité du manuel scolaire», em La politique nationale du livre, Paris Edições U N E S C O ,

1997.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO A doação ¿para qué?

A s operações internacionais de doação referentes ao livro escolar

são, portanto, não somente contestáveis pelos conteúdos didáticos,

mas t a m b é m pela lógica do desenvolvimento económico.

D e maneira geral, introduzir do exterior livros de texto e m u m

país que poderia produzi-los, equivale, c o m frequência, a destruir o

potencial editorial e industrial e a aumentar sua dependência económica.

0 diagnóstico preliminar

Das considerações anteriores, deduzimos que a doação é u m

recurso que deve ser utilizado somente e m casos extremos. Sua eficácia

não tem relação c o m seu rendimento, mas c o m sua validade c o m o

instrumento de desenvolvimento sustentável. A s publicações doadas,

interessantes e adaptadas às necessidades dos leitores alvo, entregues

a seus destinatários correia e eficazmente podem, no entanto, matar

a edição local e eternizar a dependência dos países «beneficiários».

Lembremos sempre, então, que só quando todos os demais tipos de

intervenção na produção estão excluídos, é legítimo abordar - c o m o

último recurso - u m a doação e m massa de publicações.

Antes de empreender u m projeto de doação, é preciso realizar

u m a pesquisa preliminar detalhada da situação sobre o terreno e do

país afetado, tentando obter u m a ideia, o mais precisa possível, da

indústria do livro e das redes de bibliotecas existentes. Todos os

ministérios afetados, as associações de editores, de livreiros ou de

escritores, as bibliotecas nacionais ou as associações de bibliotecários

poderão fornecer informações úteis para estabelecer u m verdadeiro

diagnóstico, que permitirá emitir u m a opinião política sobre a

conveniência de u m projeto de doação.

U m a vez aprovado o princípio da doação e m u m a situação

determinada, deverá ser enfrentado c o m seriedade, conhecendo os

pontos fortes e os pontos fracos de cada contexto, o problema da

eficácia e a coerência interna do projeto previsto. Deste aspecto prático

(de programação e organização) vamos falar na segunda parte.

¿Como se realiza a donação?

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO ¿Como se realiza a doação?

Uma montanha de problemas

Depois de u m exame geral da situação sobre o terreno, você

resolveu organizar u m projeto de doação. Você não sabe exatamente

por onde começar e se encontra diante de u m a grande quantidade de

problemas de programação, gestão e comunicação. Evidentemente,

t a m b é m tem problemas de financiamento pois, s em dúvida, os

recursos c o m os quais você conta não serão suficientes para cobrir as

despesas do transporte dos livros até o destinatário. Então, é essencial

que você tenha u m a visão clara da terminologia, dos princípios de

programação, das etapas principais e dos problemas próprios do tipo

de projeto que você vai empreender. Estas noções, além do mais, vão

ser indispensáveis, até m e s m o se você não quer realizar o projeto, e

sim somente avaliar sua coerência e viabilidade, ou contribuir a seu

sucesso. A s páginas a seguir constituem u m a contribuição à

identificação e solução dos diversos problemas que você terá ao longo

da realização de u m projeto de doação.

Definições

Já vimos que, dentre os cinco elos principais que c o m p õ e m a cadeia do

livro, toda doação de livros afeta, de maneira especial, o elo que chamamos

«da leitura». Portanto, todo projeto de doação que pretenda principalmente

melhorar a oferta de leitura, se interessa, e m primeiro lugar, pelo leitor.

Por outro lado, t a m b é m afirmamos, ao analisar a repercussão da

doação na distribuição, que ao leitor não é possível chegar de maneira

direta pelos programas de doação. E m b o r a a doação se realize para o

leitor, o doador não deve dirigir a este diretamente sua doação. Chega-

se ao leitor quase sempre através de u m a biblioteca, u m centro de

documentação ou outro serviço de leitura pública, que é q u e m recebe

os livros doados e os coloca à disposição de seus leitores.

Por sua parte, o doador, muito poucas vezes, é o organizador dos

projetos de doação. Geralmente, não é ele q u e m decide o conteúdo

das publicações que são doadas n e m q u e m coleta os livros; t ambém

não é ele q u e m os envia aos beneficiários.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

.•Como sc realizd à doação?

O que devemos entender então por doador e por beneficiário?

Quais são os demais atores deste processo de «transferência» estudado

e concertado que é a doação de livros?

Se antes definimos o livro, antes de mais nada, c o m o u m a cadeia

de vários elos, propomos ao leitor analisar a operação de doação c o m o

u m percurso complexo de etapas sucessivas. Neste percurso existe

certo número de atores que c o m p õ e m a cadeia da doação. O primeiro

elo representa o doador real, ou seja, o indivíduo ou organismo (editor,

escola, biblioteca) que coloca seus livros à disposição do beneficiário,

o público alvo, formado pelas pessoas que vão 1er -o último elo da

cadeia-. Entre estes dois extremos, encontramos u m número de etapas

intermediárias às quais correspondem diferentes ações e vários atores,

que é conveniente definir.

Doador: indivíduo ou organismo que cede ao(s) beneficiário(s),

geralmente sem contrapartida económica, u m a ou várias publicações

de sua propriedade. Pode tratar-se de editores, particulares ou

bibliotecas. A ação do doador é a doação no sentido próprio da palavra

ou, mais exatamente, a cessão gratuita.

Recopilador: indivíduo ou organismo que coleta as publicações

c o m o objetivo de enviá-las aos beneficiários. C o s t u m a m ser

associações que dispõem de depósitos ou armazéns, de «bancos de

livros» que se identificam c o m o organizador ou se relacionam

estreitamente c o m ele. O recopilador é o responsável pela coleta e

seleção das obras sobre a base das indicações fornecidas pelo receptor.

Organizador: é o autor do projeto e o intermediário entre os

diferentes atores. C o m frequência, se identifica c o m o recopilador e

c o m o promotor dos programas de doação. Cos tumam ser associações

de voluntários ou de O N G s ou, menos frequentemente, ministérios

da educação. A tarefa do organizador é garantir a concepção, o orçamento

e a coordenação geral do projeto e, e m alguns casos, sua promoção junto

aos patrocinadores.

Transportador: é o responsável pelo transporte propriamente dito,

via terrestre, marítima e / ou aérea, dos livros. N a quase totalidade

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO ¿Como se realiza a doação?

dos casos, são empresas profissionais de transportes, relacionadas c o m

o organizador por contrato e que, e m geral, se encarregam de contratar

u m a apólice de seguros que cobre os riscos da viagem. E m alguns

casos, o transporte pode ser realizado por correio e, e m outros, por

particulares.

Segurador: os riscos inerentes à coleta e ao transporte de livros

(deterioração, roubo, acidente c o m prejuízos para terceiros) têm que

ser previstos e cobertos adequadamente mediante u m a apólice de seguro

c o m o segurador —uma empresa especializada na cobertura do

transporte de mercadorias. D a negociação e a assinatura do contrato

c o m o segurador, fica encarregado, normalmente, o transportador.

Patrocinador: apesar da participação constante e decisiva de u m

número considerável de voluntários, todo programa de doação tem

que contar c o m os correspondentes recursos financeiros. O s indivíduos

ou organismos (públicos.ou privados) responsáveis pelo financiamento

são os patrocinadores do programa.

Destinatário ou receptor: é o responsável pela coleta das

publicações na chegada. E aquele a q u e m lhe são enviados os livros;

aquele a q u e m o transportador faz entrega das obras. N a maioria dos

casos, o destinatário é u m a pequena biblioteca c o m carência de livros

ou u m serviço de leitura público. Para participar e m u m projeto de

doação, o destinatário deve ter u m a ideia precisa de suas necessidades

de aquisição.

Beneficiário: são os leitores dos livros doados graças ao programa

de doação. Para ele o projeto foi realizado. O número de beneficiários

e seu nível de satisfação são, sem dúvida, os principais indicadores da

eficácia de u m programa de doação. E m geral, os beneficiários são os

usuários da biblioteca, do sistema de biblio-ônibus ou do centro

destinatário da doação.

Público alvo: entende-se por público alvo o tipo de beneficiário

ou, dito de outra maneira, u m a categoria de leitores à qual é dirigido

u m projeto de doação, ou então, seus leitores ideais. U m programa

de doação de livros de aventuras ilustrados será dirigido a u m público

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

¿Como sc realiza ¿i doação?

alvo jovem. U m programa de doação destinado a u m a comunidade

que estiver implantando novas técnicas de criação fornecerá,

idealmente, obras de criação e de zootecnia.

A seguir, analisaremos a interação operacional entre estes atores

e suas ações. Queremos sublinhar a complexidade da cadeia de doação

e a necessidade de identificar claramente, desde a fase de concepção,

o conjunto de seus elos e seus pontos de contato.

N o que diz respeito à coordenação do programa de doação, é

essencial que o organizador garanta o contato e a troca de informação

entre todos os colaboradores dentro da cadeia.

Especialmente, organizadores, doadores e destinatários deverão

trabalhar e m estreita relação nas etapas de concepção e avaliação do

projeto. N o início, determinarão conjuntamente, previamente a toda

ação, os conteúdos da doação, fazendo u m a lista de temas e, e m alguns

casos, das obras pedidas; a seguir, na fase de avaliação, controlarão

conjuntamente a adequação dos envios às necessidades expressas e os

diferentes usos que terão sido feitos deles à sua chegada.

O s atores contextuais: a cadeia de doação se localiza e m u m

contexto social, profissional e político mais amplo, no qual p o d e m

intervir outros atores alheios a ela. Todos estes atores contextuais ou

participantes indiretos são susceptíveis de influenciar, de alguma

maneira, no resultado do projeto e seu desenvolvimento. E o caso,

por exemplo, das autoridades nacionais ou locais, que podem ter u m a

intervenção positiva e m caso de surgirem problemas administrativos

ou logísticos imprevistos e às quais é conveniente informar da

realização do projeto desde seu início. E preciso identificar, c o m

precisão, os atores contextuais, c o m a ajuda dos beneficiários in situ,

já desde a primeira fase de concepção do projeto; assim, poderão ser

consultados mais adiante nos aspectos da doação que tiverem relação

c o m suas competências.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO ¿Como se realiza a doação?

Alguns princípios de programação

Todos estes atores devem ser identificados c o m a máxima precisão

no m o m e n t o de elaboração do projeto. Desta maneira, cada u m deles,

desde o beneficiário ao ator contextual menos importante, ocupará

u m segmento da estrutura do projeto e desempenhará nele u m a função

b e m definida. Este trabalho de identificação de responsabilidades e

de consulta, junto c o m o equilíbrio entre os meios e os fins

(racionalidade) e o estabelecimento de objetivos realistas e avaliáveis,

é a chave do sucesso de u m projeto de doação.

Realismo, participação, sentido prático e princípio de

responsabilidade têm que encontrar seu lugar de maneira inteligente

e m u m ciclo de projeto que passa por u m a fase prévia de instrução e

autorizações, por u m a segunda fase de formulação e consultas, por

u m a terceira de execução, mais tarde por u m a fase de conclusão e,

por último, por u m a fase fundamental de avaliação. Nesta, serão

analisados elementos quantitativos (número de títulos e exemplares

efetivamente emprestados e utilizados no ano, número de livros não

utilizados, inutilizáveis ou estragados), m a s t a m b é m qualitativos

(satisfação efetiva dos leitores). Para avaliar o projeto, nada é tão

valioso quanto o testemunho dos leitores e bibliotecários obtido por

meio de pesquisas, seja c o m entrevistas ou respondendo a formulários.

Estas pesquisas fazem parte do projeto e devem ser previstas e orçadas

desde o início. Todas as fases do ciclo de programação fornecem

ensinamentos úteis que serão levados e m conta no m o m e n t o de lançar

projetos similares e de... reiniciar o ciclo.

A D O A Ç Ã O D E LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

¿Como se realiza a doação' 37

Levando e m conta os elementos apresentados, teremos u m a visão

adequada para tornar realidade nosso projeto. E m nossa colocação,

preferiremos u m a ação baseada na reflexão e na mesura, dentro de

u m marco de perspectivas mais amplas e coordenada com outras ações

tendentes ao m e s m o fim, a atuações fugazes, sem continuação e

barulhentas, porém ineficazes.

E nestes princípios, desenvolvidos no marco de u m a metodologia

completa, nos quais se inspira atualmente a programação da U N E S C O .

O «percurso do combatente»

A finalidade de u m a boa programação é dominar as eventualidades

da realidade para colocá-las ao serviço de seus objetivos. O s princípios

que já expusemos constituem u m a boa base teórica para enfrentar a

realidade, mas a experiência é insubstituível e nunca pode se prever o

desenvolvimento concreto de u m projeto com todos seus detalhes.

O s responsáveis pelos programas de doação descobrirão que, do

doador ao leitor, o livro tem que percorrer u m longo caminho cheio

de obstáculos, u m verdadeiro «percurso do combatente». Cada livro

doado vai acompanhado, ao longo de todo este percurso, por u m ou

outro dos diferentes atores que constituem «a cadeia da doação» e

viaja até o beneficiário, seguindo as etapas que o organizador - o

responsável pelo projeto - terá se esforçado e m prever, da maneira

mais completa possível, no momen to da concepção.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO ¿Como se realiza a doação-

Por razões de o r d e m prática, p o d e m o s identificar

esquematicamente neste percurso três etapas ou fases fundamentais,

cujos riscos e implicações práticas, será preciso analisar

detalhadamente: u m a primeira etapa de coleta, urna segunda, dedicada

ao transporte, e u m a terceira fase, que é a de entrega ao beneficiário.

Todas estas fases só poderão ser abordadas partindo de u m a etapa

preliminar que é consubstancial c o m a elaboração m e s m a do projeto:

a etapa na qual o organizador do projeto, o recopilador dos livros e o

receptor - os atores que terão sido identificados c o m o os principais

stakeholders - negociam os conteúdos e as modalidades gerais do

projeto. S e m a consulta e o acordo prévios destes três participantes

principais, u m projeto de doação não tem base e não pode ser

considerado n e m sequer c o m o existente.

O contrato entre o organizador, o recopilador e o destinatário

O ato inicial de todo programa de doação é u m aperto de mãos

entre os que se comprometem a doar os livros e os que estão dispostos

a recebê-los. Este gesto coroa negociações relativamente fáceis

(receptor e recopilador têm os mesmos interesses), porém detalhadas,

e antecede à assinatura de u m contrato ou protocolo de acordo

completo que prefigura, na forma u m pouco abstraía da linguagem

jurídica, a totalidade dos elementos fundamentais da transação.

Para garantir a estabilidade e a transparência do projeto no plano

da responsabilidade jurídica, recopilador e organizador, organizador

e receptor não serão particulares mas organismos juridicamente

constituídos.

O recopilador que, na maioria dos casos, t ambém é o organizador

do projeto, deve agir a partir de u m a demanda detalhada, tanto no

plano quantitativo como qualitativo. Portanto, o receptor deve precisar,

por u m lado, quais são os públicos alvo, os temas e as línguas que lhe

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

¿Como se realiza a doação-

interessam e, por outro, indicar claramente quais são suas capacidades

de absorção (é preciso fazer o repertório antes de armazenar os livros).

Fica evidente que a precisão c o m a qual for redigida esta

solicitação, e a seriedade c o m a qual o recopilador a levar e m conta,

constituem u m a das chaves do sucesso do projeto de doação de livros.

A o contrário, subestimar esta fase é arriscar-se a entregar ao receptor

obras c o m as quais ele não saberá o que fazer e das quais lhe será

difícil se desfazer.

A l é m das informações estritamente relacionadas c o m a natureza

e o número de publicações reunidas, o organizador e / ou recopilador

tem que tentar conhecer o ambiente e as necessidades de seu sócio

e m toda a medida do possível, tentando obter informação sobre o

local no qual os livros serão propostos aos leitores, o tipo de usuários

potenciais, suas possíveis necessidades e suas expectativas e m matéria

de leitura e entretenimento.

N o caso de vários projetos de doação agirem e m u m a m e s m a

região beneficiária, deve ficar estabelecida a solicitação detalhada

e m relação de complementaridade c o m as demais instituições que

estiverem trabalhando para o desenvolvimento da leitura no país

afetado. N a medida do possível, o organismo receptor deveria recorrer

aos profissionais da leitura (bibliotecários, documentaristas, livreiros)

para formular a solicitação. Se, c o m o no caso de u m a federação ou

u m reagrupamento, o destinatário não gerenciar diretamente a

utilização dos livros, deverá fornecer ao doador a lista dos centros

usuários (escolas, bibliotecas), sua situação geográfica e a distribuição

das obras entre estes centros.

O contrato pode ser u m acordo marco ou u m acordo de

colaboração geral e de longa duração, suscetível de servir para vários

envios ou ações de doação e m vários anos. Neste caso, é preciso que,

e m cada doação, os termos do acordo sejam confirmados (ou

corrigidos) e especificados: a solicitação detalhada - que será

mencionada no acordo - constituirá então u m complemento

necessário do contrato.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO ;Como se realiza a doação?

O contrato pode igualmente referir-se a u m só projeto, a u m a só

ação de coleta e entrega. Neste caso, pode ser renovável

automaticamente c o m a possibilidade de introduzir correções ou

acrescentar cláusulas todos os anos.

D e maneira geral, todo contrato estará composto de um preâmbulo

sobre a índole e as intenções de princípio dos colaboradores e do

acordo, de u m a observação dedicada ao objeto e m si do acordo, de

u m parágrafo por colaborador, centrado nas funções específicas de cada

um dos assinantes, e u m a observação de caráter jurídico geral (validade,

renovação e anulação do protocolo). É claro, serão introduzidos outros,

se o acordo contiver também aspectos complementares ao projeto de

doação. N ã o é estranho, por exemplo, que o patrocinador, ou o

recopilador, solicitem a introdução no projeto de u m a observação

referente à comunicação.

A l é m dos conteúdos e dos termos quantitativos da doação, no

contrato devem-se enumerar e ilustrar t ambém todos os demais

aspectos do acordo. Então, é preciso determinar:

• A identidade e os dados completos dos sócios;

• A origem das obras objeto da doação (livros novos, usados,

procedentes de bibliotecas, de editores ou de particulares);

• O estado das publicações que o recopilador se compromete a

reunir e doar;

• O s prazos de execução da doação;

• O tipo e as formas de transporte;

• A s obrigações e responsabilidades do recopilador /

organizador, b e m como as do receptor;

• A s responsabilidades de cada u m e m caso de acidente.

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

¿Como se realiza a doação?

D o doador ao recopilador

N o m o m e n t o de chegar a u m acordo entre organismos doadores

e organismos beneficiários, a primeira etapa do «percurso do

combatente» é a que vai do doador (leitor, biblioteca ou editor) ao

depósito de armazenagem do recopilador.

Seguindo as orientações facilitadas por seus sócios receptores, o

recopilador tem que constituir u m fundo bibliográfico do qual tirará

os livros para constituir sua doação. E m que porta terá que bater

para constituir este fundo?

Visto que toda iniciativa de doação deveria comportar u m a

proporção considerável de livros novos e de obras procedentes dos

países beneficiários (para reforçar a indústria editorial local), e m

primeiro lugar, o recopilador deverá colaborar c o m os editores e os

livreiros de seu país e c o m os do país do público alvo. C o m estes

colaboradores, deverá tentar obter os livros e m condições comerciais

satisfatórias para todas as partes afetadas, dentro do respeito às regras

da deontologia profissional.

A o invés de ir de porta e m porta, é preferível que o organismo

recopilador entre e m contato, e m primeiro lugar, c o m os sindicatos

e as associações de editores ou de livreiros que podem, por u m lado,

informá-lo sobre os membros dessas associações que puderem estar

interessados e, por outro - eventualmente - tomar iniciativas de caráter

coletivo.

N o que diz respeito aos livros usados, os interlocutores principais

de todo organismo são as grandes bibliotecas cujos fundos são mais

ricos e estão mais atualizados graças às operações chamadas de

«desborra». É claro, t a m b é m nisto as associações de bibliotecários

podem ser interlocutores muito úteis e m u m a primeira fase de orientação.

Quando se tratar de livros usados, o recopilador deverá não só precisar

os tipos de documentos desejados para orientar seus interlocutores na

escolha de títulos, mas t ambém zelar de maneira muito especial para

que as publicações doadas estejam e m perfeitas condições.

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO ¿Como se realiza a doação-

Quanto à coleta de obras dos particulares, as chamadas públicas,

às doações individuais são possíveis desde que sejam preparadas

cuidadosamente no plano da comunicação. C o m efeito, o doador

deve conhecer perfeitamente, por u m lado, quais são os livros

«admissíveis» e inadmissíveis e, por outro, quais são as modalidades

exatas de entrega (endereços, horário eventual na fase de carga e / ou

descarga). Estas informações devem ser fornecidas e m todos os

suportes de comunicação (comunicados, entrevistas, publicidade,

páginas web , anúncios na entrada dos locais, pedido de informações

por telefone ou pessoalmente).

Qualquer que seja a forma de aprovisionamento, o recopilador

deve proceder, e m primeiro lugar, à elaboração de fichas descritivas

de cada obra recebida, indispensáveis para a rápida identificação das

obras, de catálogos que os solicitantes possam consultar e à negociação

c o m os beneficiários. Sobre esta base, o recopilador poderá fazer u m a

primeira seleção das obras recebidas seguindo os critérios indicados

pelo destinatário na lista detalhada. A seguir, é recomendado consultar

sobre esta primeira seleção ao destinatário antes de proceder ao envio

c o m o objetivo de adaptar o máx imo possível o conteúdo da doação

às necessidades dos públicos alvo. Desta maneira, a seleção final terá

sido realizada conjuntamente pelas principais partes e m jogo.

N o aguardo de serem enviados, os livros têm que ser armazenados

e m u m lugar seco e arejado. A armazenagem, principalmente e m

u m a cidade, pode ser cara. A disponibilidade de u m armazém onde

depositar e inventariar os livros recebidos à espera da viagem é u m

elemento importante dentro de u m projeto de doação.

N o intervalo que separa a recepção e o envio dos livros, é preciso

proceder também a colocar as proteções necessárias nos livros mais

suscetíveis de estragar durante a viagem ou c o m o uso. A s publicações

c o m capas moles, finas ou frágeis, por outros motivos, devem ser

cobertas pelo recopilador com plástico transparente. Esta operação permite

também a reparação de livros e m estado quase perfeito nos quais a

encadernação ou as coberturas tenham, apesar de tudo, algum defeito.

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

¡Como se realiza a doação?

T a m b é m , nesta etapa, é conveniente apagar dos livros usados

toda menção (como «descartável» ou «de ocasião») que possa parecer

desvalorizador aos olhos dos beneficiários.

Las publicaciones con tapas blandas, finas o frágiles por otras

razones, deben ser forradas por el recopilador con plástico

transparente. Esta operación permite también la reparación de libros

en estado casi perfecto en los que la encuademación o las cubiertas

tengan, no obstante, algún defecto.

También en esta etapa conviene borrar de los libros usados

toda mención (como « desecho » u « ocasión ») que pueda parecer

desvalorizante a los ojos de los beneficiarios.

Os bancos de livros

Para responder melhor às demandas procedentes de diferentes

receptores sobre o terreno - bibliotecas, escolas, centros de

documentação, O N G s - alguns recopiladores têm preferido constituir

depósitos permanentes de livros, chamados normalmente de «bancos

de livros». Estas instituições recebem publicações permanentemente

e constituem assim fundos muito valiosos aos quais pode se recorrer

quando as finanças permitem realizar u m projeto.

A criação de bancos de livros alimentados de maneira permanente

por particulares, editores e bibliotecas, permite, evidentemente,

resolver alguns problemas relacionados c o m o aprovisionamento, mas

obriga a dispor de estruturas de armazenagem e coleta permanentes

e relativamente caras. Alguns bancos de livros cos tumam ter

problemas para dar saída aos volumes, b e m como para sua destruição.

Mais adiante, estudaremos o funcionamento concreto de u m

banco de livros, o do C O D E , particularmente eficaz e positivo.

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO • Como se realiza a doação?

El transporte

A segunda etapa é a do transporte ou deslocamento das

publicações doadas desde o armazém do recopilador até os locais do

destinatário.

A s variáveis fundamentais do adendo do transporte são a distância

e o volume (a quantidade de livros) de cada envio. E preciso entender

a distância não do ponto de vista puramente quantitativo, a quantidade

de quilómetros, mas do ponto de vista operacional do tempo e da

facilidade do percurso: por exemplo, é mais fácil, rápido e barato ir de

Paris a Nova York que de u m pequeno povoado de Côte d'Ivoire a

u m a aldeia no interior de Gabão. E preciso ter u m a visão realista da

distância. Neste contexto, é primordial prever de antemão todas as

etapas do transporte sem cair na tentação de dizer que 'chegado o

m o m e n t o , encontraremos u m a solução para cobrir os «poucos

quilómetros» que u m a companhia de transporte às vezes não pode

ou não quer garantir'. Alguns lugares não aparecem nos mapas e são

desconhecidos para os serviços postais ou para os transportadores

internacionais. Para o sucesso desta etapa, é imprescindível o

conhecimento preciso e completo do terreno. Levando e m conta a

quantidade de livros que são objeto de doações, seu peso e os preços

do mercado, e m geral, o transporte só se realiza por via terrestre e

marítima.

O tempo, a facilidade e os custos do percurso dependem, e m

grande medida, do volume do envio. Quanto maiores são as

quantidades de u m envio, mais difícil é seu transporte. U m grande

container com várias divisões e várias dezenas de milhares de livros

pode ser transportado de u m porto a outro, mas dificilmente pode

ser entregue diretamente a u m a biblioteca de u m povoado. A o

contrário, u m a caixa de papelão com 30 livros pode chegar a qualquer

parte, m e s m o transportada nas costas.

Quando são enviadas grandes quantidades de livros, às vezes é

mais económico faturá-los e m u m só envio, e m grandes contêineres.

O custo unitário do transporte é maior, proporcionalmente, se forem

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

¿Como se realiza a doação?

enviadas quantidades pequenas: evidentemente é melhor enviar

40.000 livros de u m a só vez que e m várias vezes.

Todos estes fatores têm sua importância e é preciso avaliá-los

caso por caso. Entre os contêineres e os pequenos envios postais, há

naturalmente toda u m a série de possibilidades intermédias (partes

de contêiner, divisões) que t a m b é m p o d e m ser combinadas ou

misturadas. Assim, podemos dividir o percurso entre recopilador e

receptor e m duas etapas: a primeira de porto a porto e m contêineres

ou utilizando u m a parte do contêiner, e a segunda e m caixas ou pacotes

mais modestos. M a s então, é preciso contar c o m desembalar e tornar

a embalar os livros: u m a operação complicada que requer prever os

meios para sua supervisão. Tudo isto são possibilidades para pensar

no momento da concepção do projeto, contando na preparação desta

fase, não só c o m profissionais do transporte, mas t ambém c o m o

receptor e as autoridades aduaneiras implicadas.

O s atores que intervêm na etapa do transporte são sempre, pelo

menos três: u m transportador (costuma ser u m a empresa privada),

u m responsável pelo envio (costuma ser o recopilador ou organizador)

e u m responsável pelo pagamento dos impostos alfandegários

(costuma ser o destinatário ou receptor). É imprescindível que as

responsabilidades de cada u m ao longo de todo o trajeto estejam

absolutamente claras para todos desde a saída e que haja entre os três

u m a comunicação fluida. O s responsáveis do pagamento dos impostos

têm que saber c o m antecedência e exatidão a data e m que os livros

chegam à alfândega.

N a maioria dos casos, será conveniente que u m a só empresa se

encarregue da totalidade do transporte. N o caso de transporte por

via marítima, existe também u m a solução mais económica, mas que

tem u m número de dificuldades dificilmente calculável: o transporte

«de porto a porto». O recopilador tem que ficar encarregado então

de u m primeiro deslocamento dos livros até os locais combinados

c o m a empresa de transporte, enquanto o destinatário terá a

responsabilidade de retirar os livros do armazém do porto mais

próximo ao destino final e ficar responsável pelo transporte na última

A D O A Ç Ã O D E LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO ¿Como se realiza a doação?

etapa do trajeto. T a m b é m , tudo isto deve ficar definido com a maior

precisão no momento da concepção do projeto.

E m geral, os termos do contrato com a empresa de transporte

não se negociam globalmente. Cada empresa tem suas condições

gerais e suas ofertas especiais, constantes e m u m protocolo

normalizado no qual o assinante poderá negociar algumas opções

determinadas c o m antecedência. Neste contexto, é interessante -

visando encontrar u m colaborador de confiança com quem trabalhar

durante u m tempo - fazer u m a concorrência e comparar os

orçamentos de cada prestador de serviços.

O s orçamentos deverão especificar os prazos das operações, o

ponto de partida e o lugar de entrega, o itinerário dos contêineres, os

documentos necessários, os riscos cobertos pelo seguro. A embalagem

e desembalagem na chegada e na saída também podem ser garantidas

de maneira mais ou menos completa e e m condições muito variadas:

Por isso, é importante solicitar informação muito detalhada sobre

este ponto.

A s condições de transporte devem ficar definidas, até m e s m o se

este for grátis (no caso de u m a empresa de mudanças patrocinar o

projeto). T a m b é m é primordial fixar as condições quando u m

organismo profissional não ficar encarregado do transporte e sim u m

grupo de voluntários (se, por exemplo, o organizador trabalha e m

colaboração com o exército dos países afetados).

Conhecer e reduzir as formalidades

Muito antes de começarem as operações de transporte, o

organizador / recopilador deverá pensar, e m estreita colaboração c o m

o destinatário, e c o m a ajuda de eventuais participantes políticos, e m

fazer as gestões necessárias para conhecer o entorno administrativo

no qual terá lugar a doação e conseguir a isenção ou redução dos

impostos alfandegários, b e m c o m o das formalidades que tiverem que

ser cumpridas. Para evitar demoras, atrasos ou bloqueios, que podem

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

¿Como se realiza a doação?

resultar muito caros, é importante que as altas autoridades das

alfândegas estejam informados da existencia do projeto de doação.

Igualmente, é importante garantir o controle da passagem dos livros

pelas alfândegas c o m o objetivo de evitar qualquer risco de roubo ou

revenda.

U m a boa informação sobre o funcionamento concreto das

alfândegas envolvidas, e mais geralmente, das leis e procedimentos

que regulam a importação de livros, constitui u m elemento

indispensável para o sucesso do projeto.

Cada legislação nacional oferece neste âmbito rasgos específicos

que é preciso conhecer c o m ajuda dos colaboradores dos países

destinatários da doação.

C o m frequência, é indispensável elaborar u m a certidão de doação

emitida pelo organizador ou documentos oficiais nos quais seja

reconhecida a índole não comercial do projeto (cartas ou atestados

por parte das organizações intergovernamentais ou das autoridades

do país de doação e de destino).

D a biblioteca de destino ao leitor

A terceira e última etapa do «percurso do combatente» é a parte

do caminho que separa a biblioteca (ou o depósito) do leitor. Esta

etapa, à qual não se costuma prestar muita atenção, é, no entanto, de

u m a grande importância pois u m projeto de doação só terá sucesso

se os livros são lidos e valorizados pelos beneficiários.

É imprescindível que o destinatário da doação seja capaz de

recepcionar, catalogar, armazenar, apresentar e colocar à disposição

dos leitores as obras que recebeu e m doação.

O organizador / recopilador, no m o m e n t o de entrar e m contato

c o m o destinatário ou receptor, deverá informar-se previamente da

aptidão de seu sócio para cuidar das obras e distribui-las. Se o

destinatário for u m a biblioteca, ela dispõe dos meios para receber a

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO ¿Como se realiza a doação?

doação? Se estiver localizada e m u m a zona rural, dispõe de u m ônibus

(biblio-ônibus ou carro) para chegar aos povoados? Se não, será preciso

orientar-se para outro requerente, ou acrescentar ao projeto de doação

u m adendo destinado a melhorar o equipamento do receptor das

obras. Transferir livros de u m armazém para outro não é útil para

ninguém: a criação de canais de distribuição das obras na chegada é

u m a condição sine qua non para o sucesso de todo projeto de doação.

Neste contexto, os destinatários colaborarão, se for necessário,

na formação das pessoas encarregadas de recepcionar, classificar e

distribuir os livros coletados, m a s t a m b é m e m garantir o

funcionamento e a animação das bibliotecas ou dos centros de

documentação beneficiários. Estas pessoas terão também u m a função

importante na avaliação do projeto. É claro, existem muitas formas

de fazer a animação à leitura dependendo da cultura, o contexto

material e a criatividade de cada biblioteca. Assim, a representação

teatral ou as marionetes, a leitura pública de poemas e histórias, a

música e as artes plásticas podem ser incorporadas c o m sucesso às

campanhas de animação à leitura e promoção das bibliotecas.

Estas modalidades de fazer chegar as obras a seu usuário final

são u m aspecto da programação do projeto pelo qual os organizadores

dos programas de doação devem considerar-se também responsáveis,

discutindo-o previamente c o m os destinatários da doação no

momen to da execução do projeto.

Mecenas e voluntários

A doação de livros, por sua própria índole, não pode ser u m a

prática c o m fins comerciais. O s contextos nos quais a ação do doador

se faz necessária se caracterizam e m geral por u m a falta evidente de

meios e pelas dificuldades de investimento. Por este motivo, u m dos

problemas primordiais de todo organizador de programas de doação

é encontrar as fontes de financiamento e de apoios operacionais

capazes de garantir a execução do projeto. Assim, a estrutura financeira

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

¿Como se realiza a doação-

e operacional dos projetos de doação parece às vezes u m mosaico no

qual diversos atores se encarregam de u m a parte das operações, como

contribuição de ordem económica ou prática.

Estes colaboradores, costumeiramente, são chamados de mecenas,

patrocinadores, sócios capitalistas ou padrinhos se sua contribuição

for de ordem essencialmente económica e se oferecer e m troca u m a

melhoria de imagem. Aqui os chamaremos de patrocinadores. São

chamados de voluntários se sua ajuda estiver relacionada c o m

contribuição profissional ou de mão-de-obra. A contrapartida da

contribuição dos voluntários é a experiência humana ou profissional

que possam tirar de sua participação no projeto.

Qual é o perfil ideal do voluntário? E evidente que u m a formação

e m biblioteconomia, u m espírito atento e metódico, u m a sensibilidade

aos problemas da cooperação internacional e algo de amor pelos livros

são qualidades ideais para todo candidato a u m a vaga de voluntário

no campo da doação. M a s , na realidade, todas as competências podem

ser úteis na execução deste tipo de projetos, que requerem de todos

os saberes práticos possíveis e imagináveis: os caminhoneiros, por

exemplo, assim c o m o os contadores, podem ser de grande ajuda.

Longe de ter que colaborar económica ou materialmente na

realização de todas as operações de doação, os patrocinadores e os

voluntários podem dirigir sua contribuição ou intervir somente e m

qualquer u m dos diferentes capítulos do projeto, c o m o a coleta, a

armazenagem e a restauração, ou os custos de gestão e administrativos

(telefone, veículo, contabilidade), ou embalagem, o transporte

(incluído o seguro), a recepção e a catalogação, a armazenagem no

lugar de destino, e a avaliação7

7 Esta lista de capítulos do projeto procede do volume Donated Books Programs: a dialogue of Partners Handbook, Washington, D . C . , Library of Congress, 1993.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO ¿Como se realiza a doarão?

Patrocinadores

O s recursos necessários para a execução de u m projeto podem

ser encontrados e m empresas privadas ou fundações, mas também,

e m alguns casos, e m entidades públicas. T a m b é m foi experimentada,

c o m sucesso, a possibilidade de solicitar contribuições individuais.

Tendo e m vista que o número de beneficiários de operações de

doação é relativamente pequeno e seu poder aquisitivo muito limitado,

é muito pouco frequente que u m a empresa comercial deseje

comprometer-se no financiamento de programas de doação no país

beneficiário.

O patrocinador procede às vezes do país doador e, com frequência,

deseja obter benefícios indiretos, como melhorar sua imagem c o m os

seus clientes no marco de sua estratégia de marketing e comunicação.

T a m b é m tenta demonstrar seu compromisso humanitário c o m os

consumidores sensíveis aos problemas do desenvolvimento e educação.

N ã o existe u m a receita para encontrar ajuda pois a disponibilidade

de sócios capitalistas está condicionada pela conjuntura económica

do momen to , assim c o m o pela tradição cultural do patrocinador

potencial. E m u m contexto cada vez mais complicado, a coleta de

fundos cada vez mais parece u m trabalho de dedicação plena exercido

por especialistas aos quais convém implicar no projeto sempre que

for possível.

A aportação dos voluntários

E m sua maioria, os programas de doação realizados nestes

últimos vinte anos não teriam sido possíveis sem a ajuda generosa de

u m determinado número de pessoas, frequentemente jovens ou

aposentados, que quiseram «dar u m a mão» por entusiasmo ou gosto

pela experiência, sem contrapartida económica, c o m efeito, estes

voluntários constituem u m recurso essencial que, no entanto, é preciso

saber utilizar, de maneira útil e honesta, no marco de u m contrato de

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

¿Como se realiza a doação-

colaboração transparente e vantajoso para todos. Portanto, é

conveniente que cada voluntário assine u m verdadeiro contrato no

qual constem a duração do período de colaboração b e m como seus

direitos e obrigações; para evitar mal-entendidos, é recomendável

que as tarefas que lhe sejam encomendadas sejam objeto de u m a

descrição devidamente explicada e aprovada pelo interessado.

O s voluntários, embora não recebam honorários ou salário,

devem estar, pelo menos, protegidos contra os riscos de eventuais

acidentes de trabalho por u m a apólice de seguros.

Dois paradigmas: o C O D E e cultura e desenvolvimento

Para ilustrar as nossas palavras c o m casos concretos especialmente

conquistados, apresentaremos a seguir alguns aspectos da

prática da «Organização Canadense para o Desenvolvimento

mediante a Educação ( C O D E ) » e da O N G francesa «Culture et

Développement». A experiência destes dois organismos, cuja reflexão

nos ajudou enormemente na concepção deste documento, mostra

que é possível agir com pertinência e eficácia respeitando, ao m e s m o

tempo, as necessidades dos beneficiários e u m a lógica de programação

realista. A l é m de u m a boa gestão e u m a comunicação eficaz,

especialmente para c o m os doadores, características da ação destas

duas organizações, é importante examinar aqui como souberam, de

diferentes maneiras, estabelecer u m diálogo real c o m os beneficiários

a cujo serviço estão.

L a C O D E : u m a base de dados ao serviço da consulta

A C O D E (http: / / www.codecan.org), organização presente no

cenário da ação cultural e educativa internacional, já faz mais de vinte

anos, criou u m banco de livros e desenvolveu u m a política de doação

exemplar desde diferentes pontos de vista, além de muito eficaz.

Graças a u m sistema de consultas perfeitamente viabilizado (ver

gráfico anexo), os beneficiários das doações da C O D E não recebem

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO ¿Como se realiza a doação?

nunca publicações que não tenham desejado adquirir c o m pleno

conhecimento de causa. O banco de livros da C O D E orienta

previamente os doadores exigindo textos adaptados ao tipo de pedidos

que receberem. Cada obra entregue à C O D E visando u m a possível

doação é examinada no momento de sua recepção por u m comité de

leitores voluntários, composto principalmente por docentes, ativos

ou aposentados, que redigem u m a ficha informática de cada título

c o m palavras chave que permitem sua inclusão e m u m índice. Quando

chegam à C O D E pedidos de possíveis beneficiários, esta procura na

base de dados bibliográficos os títulos que mais se aproximam do

pedido. A seguir, é elaborada u m a lista que é enviada para exame (na

maioria dos casos, via fax) aos solicitantes. O banco de livros e os

beneficiários combinam u m a lista precisa, deixando de lado as

publicações não apropriadas e adequando progressivamente os

conteúdos da doação: e m caso de dúvida, é enviado, via correio urgente,

u m exemplar das publicações para que os beneficiários possam vê-la

antes de decidir se querem recebê-la. A C O D E dispõe também de

u m a biblioteca à qual são convidados, às vezes, os representantes das

associações de beneficiários. Desta forma, eles podem ter u m a ideia

cada vez mais precisa da oferta disponível e dialogar e m profundidade

com os responsáveis da doação os quais, por sua vez, adquirem assim

u m b o m conhecimento da realidade sobre o terreno e das necessidades

dos leitores que se pretende satisfazer.

Recepção

dosíivros

E x a m e dosíivros

Redação de fichas

•• '

Negociação s o b r e \ as modalidades de ) _envio e entrega_^-^

••

Introdução na base

de dados informática

Elaboração de listas de proposta

Solicitação dos beneficiários

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

¿Como se realiza a doação?

Culture et Développement: u m a rede e sua carta

D o seu lado, a organização não governamental Culture et

Développement, c o m sede e m Grenoble ( http: / / www.culture-

developpement.asso.fr). criou diversos instrumentos ao serviço da

consulta e o diálogo entre beneficiários e doadores. E claro, também

e m seu caso, as doações são negociadas por meio da redação de listas

de obras progressivamente depuradas de toda obra inapropriada. M a s

Culture et Développement, no seu objetivo de conseguir mais eficácia,

se preocupa igualmente pela criação de u m a verdadeira rede

continuamente alimentada e dinamizada graças à mobilidade dos

responsáveis por esta organização. Estes viajam c o m frequência e m

missões relativamente longas durante as quais discutem

detalhadamente c o m os bibliotecários escolhidos e as associações

dos povoados para determinar b e m os conteúdos das ações que vão

ser programadas. Sua rede, além do mais, está enquadrada por u m a

carta (reproduzida na terceira parte desta obra) que é, ao m e s m o

tempo, u m instrumento de informação e u m protocolo de política

geral para todos os atores envolvidos - real ou virtualmente - nos

programas de doação desta O N G . A carta, espécie de manifesto

filosófico e prático, à qual já aderiram muitos decisores e bibliotecas

de quinze países (Africa, Caribe e Europa) é também u m instrumento

de persuasão política dirigida aos decisores e todos os que quiserem

colocar e m prática iniciativas de doação eficazes a longo prazo. É

u m instrumento de transparência que define logo, e sem ambiguidade

possível, os objetivos e a índole da ação que se empreende.

Conclusões

Quando começamos a redação deste escrito, nossa intenção era

responder a u m a necessidade estendida de clarificação para abordar

a questão da doação de livros, tanto do ponto de vista político c o m o

desde o prático. Desta maneira, esperávamos esclarecer de forma

mais ou menos exaustiva, mas principalmente concreta, os problemas

essenciais que se apresentam e m relação com a doação. Conseguimos?

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO ¿Como se realiza a doação?

O balanço, inicialmente, nos parece razoável. Quanto mais lemos

estas páginas, mais percebemos sua inadequação c o m relação à

realidade que pretendem mostrar. U m a realidade que, apesar do nosso

esforço por representá-la, antecipá-la e classificá-la, continua

parecendo-nos complexa demais, complicada demais. Parece que

estamos ouvindo o comentário de alguns leitores dedicados à

realização de projetos sobre o terreno: é muito fácil, fácil demais dar

lições: na realidade, as coisas não são tão simples.

Esta crítica não é injustificada. Por outro lado, não devemos perder

de vista que u m a obra de informação e formação, como a nossa, está

sempre e necessariamente redigida partindo de u m a modelização da

realidade com o objetivo de esquematizar o que vamos encontrar depois

sobre o terreno, na prática, na vida. Para descrever a realidade de

maneira útil, tivemos que fazer abstração de muitos detalhes, de

algumas exceções e de bastantes particularidades que, no entanto,

são tão frequentes na prática e na gestão normal de u m projeto de

doação. Embora não seja possível reduzir o m u n d o a nossos esquemas

pré-fabricados e a realidade supera sempre a imaginação e as previsões

mais ousadas, não deixa de ser verdade que não é possível enfrentar a

realidade sem ter u m a visão clara (e portanto, necessariamente algo

simplificada) do que nos espera e do que vamos poder fazer.

Portanto, a esquematização de u m texto c o m o este se justifica

quando se assume como tal, ou seja, como u m instrumento provisório

de orientação, c o m o se fosse u m m a p a . U m m a p a não tem a

complexidade do território que representa e é sempre suscetível de

melhorar. E , no entanto, por mais incompleto que seja, não é «falso»

e pode resultar muito útil para os que tentam orientar-se e m u m a

região desconhecida.

Apesar de todas as limitações desta obra, esperamos ter podido

demonstrar que a doação, para ser verdadeiramente útil a seus

beneficiários, deve ser feita c o m pleno conhecimento de causa e tem

que ser u m a prática não habitual. T a m b é m , gostaríamos de ter

conseguido dar u m a descrição de todas as fases obrigatórias da prática

da doação, esquematizando as experiências diretas acumuladas pela

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

¿Como se realiza a doação?

U N E S C O durante os últimos trinta anos de sua ação. Nosso desejo

é que estas duas aportações, u m a mais política, outra mais descritiva,

sejam proveitosas para muitos leitores deste texto c o m fins práticos.

Q u e sua experiência, seus comentários e suas críticas — que

esperamos - sirvam para perfilar, descrever e delimitar melhor no

futuro a terra incógnita dos programas de doação de livros para o

desenvolvimento.

Documentos y Referências A carta para a doação de livros

U m contrato tipo entre doador e beneficiário

Bibliografia

Sites w e b

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO Documentos y Referências

CARTA PARA LA DONACIÓN DE LIBROS

Criada pelas instituições seguintes:

• Association des Bibliothécaires Français [Associação de

Bibliotecários Franceses]

• Biblionef

• Bibliothèque Nationale de France [Biblioteca Nacional da

França]

• Culture et Développement [Cultura e Desenvolvimento]

• Direction du Livre et de la Lecture - Ministère Français de

la Culture et de la Communication [Direção do livro e da

Leitura - Ministério Francês da Cultura e da Comunicação]

• France Edition

• L a Joie par les Livres [A Alegria pelos livros]

Assinantes da carta

Benin

Projet d'Appui à la Lecture Publique et à l'Accès Documentaire

du Bénin ( A L P A D B ) Direction de la Bibliothèque Nationale du

Bénin(DBN / M C C ) Sigla: "BÉNIN, ALPADB e D B N / M C C [Projeto do Benin de Apoio à Leitura Pública e ao Acesso à

Informação. Direção da Biblioteca Nacional do Benin]

Burkina Faso

Ministère de la Culture / Direction du livre et de la promotion

littéraire [Ministério de Cultura / Direção do livro e da promoção

literária]

Camerún

Centrale de Lecture Publique [Central de Leitura Pública]

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO Documentos y Referencias

Africa Central

Projet Lecture Publique. [Projeto Leitura Pública]

Côte d'Ivoire

Ministère de la Culture et de la Francophonie/ Sous-Direction

du livre et des médias. Projet d'appui au développement culturel

[Ministério da Cultura e da Francofonia / Subdireção do livro e

dos meios. Projeto de Apoio ao Desenvolvimento Cultural]

República de Guinea

Projet bibliothèques publiques - Coopération Franco-Guinénne

[Projeto Bibliotecas Públicas - Cooperação Franco-Guineana]

Haití

Ministère de la Culture - Direction Nationale du Projet de Promotion

du Livre et de la Lecture. [Ministerio de la Cultura-Dirección

Nacional del Provecto de Promoción del Libro y de la Lectura]

Mali

Opération Lecture Publique. [Operação Leitura Pública]

Mauritania

Département Bibliothèques d'Ecole / S A S E / D E F / M E N

[Departamento de Bibliotecas Escolares]

Níger

Réseau de Lecture Publique du Niger [Rede de Leitura Pública do

Níger]

República Democrática dei Congo

Projet de Lecture Publique [Projeto de Leitura Pública]

Senegal

Ministère de la Culture /Direction du livre et de la lecture.

Association Bibliothèque Lecture Développement [Ministério de

Cultura / Direção do livro e da leitura. Associação Biblioteca

Leitura Desenvolvimento]

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO Documentos y Referências

Chad

Réseau de lecture publique. [Rede de leitura pública].

Togo

Projet de lecture publique / Division des bibliothèques et de la

lecture publique [Projeto de Leitura Pública / Divisão de

bibliotecas e da leitura pública]

Francia

• A D P F - Notre Librairie [Nossa Livraria]

• Association pour la Diffusion Internationale Francophone

de Livres, Ouvrages et Revues ( A D I F L O R ) [Associação para

a Difusão Internacional Francófona de Livros, Obras e

Revistas]

• Banque Rhône-Alpes du livre/ Grenoble [Banco de livros

Rhône-Alpes/ Grenoble]

• Banque régionale du livre/Provence-Alpes Côte d'Azur/Cobiac

[Banco Regional de livros / Provença - Alpes Costa Azul /

Cobiac]

• Centre de Promotion du Livre de Jeunesse - Seine-Saint-Denis

[Centro de Promoção do livro para os jovens]

• Chèque Lire [Cheque Leitura]

• Comité National de Solidarité Laïque [Comité Nacional de

Solidariedade Laica]

• Groupement des Retraités Éducateurs sans Frontières

[Agrupação de Aposentados Docentes sem Fronteiras]

• Haut Conseil de la Francophonie [Alto Conselho da

Francofonia]

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO fa Documentos y Referências

Ligue Française de l'Enseignement et de l'Education

Permanente [Liga Francesa da Ensino e da Educação

Permanente]

TEXTO DA CARTA PARA A DOAÇÃO DE LIVROS

Título I - Definição do programa

Artigo 1

A definição de todo programa de doação de livros será baseado

nos princípios gerais seguintes: conhecer o organismo destinatário

e envolvê-lo e m todas as etapas do programa, preferir a qualidade

à quantidade, aprofundar no conhecimento dos leitores potenciais,

fomentar o desenvolvimento de u m a cultura da escritura; no caso

de doação de obras novas, colaborar o máximo possível c o m os

editores e livreiros dos dois países interessados e contribuir para

a produção local de livros ajudando à produção artesanal de livros

de tiragem reduzida.

Artigo 2

E m todo programa de doação de livros tentar-se-á envolver,

não a particulares, m a s a dois organismos juridicamente

constituídos: u m doador e u m destinatário associados para realizar

u m a transação.

Artigo 3

A doação terá lugar atendendo à solicitação do organismo

destinatário e m função das informações que este tenha fornecido.

O organismo doador fará o possível para conhecer seu sócio, seu

entorno e suas necessidades quanto a obras. Entrará e m contato

c o m o organismo destinatário que fornecerá ao doador

informações sobre o local no qual os livros serão propostos aos

leitores, os tipos de usuários potenciais, suas necessidades e

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO Documentos y Referencias

expectativas e m matéria de leitura e entretenimento. Sua

solicitação será definida e m relação de complementaridade c o m

as demais instituições dedicadas ao fomento da leitura nesse país.

Se for necessário, o organismo destinatário poderá recorrer aos

profissionais da leitura (bibliotecários, documentaristas, livreiros)

para formular a solicitação. Se o destinatário não gerenciar

diretamente a utilização dos livros, c o m o no caso de u m a federação

ou de u m reagrupamento, estará obrigado a fornecer ao doador a

lista de centros usuários (escolas, bibliotecas), sua localização

geográfica e a distribuição que se fizer das obras entre estes centros.

Artigo 4

Seria muito desejável que toda doação de livros fosse

acompanhada de u m a proporção significativa de livros novos.

Para isso o doador colaborará com os editores e livreiros de seu

país, e os do destinatário, c o m o objetivo de conseguir os livros

e m condições comerciais aceitáveis para ambos (dentro do respeito

às regras da deontologia profissional). Poderia utilizar os cheques

'Leitura ou os cheques U N U M da U N E S C O .

Artigo 5

Quanto aos livros usados, se o doador se provê e m bibliotecas ou

outras instituições, se esforçará e m precisar os tipos de documentos

desejados c o m o objetivo de orientar seus interlocutores na seleção

(de títulos) e zelará para que estejam e m perfeitas condições.

Artigo 6

Qualquer que seja a forma de abastecimento escolhido, o doador

procederá à classificação e escolha das obras e m colaboração c o m

o destinatário, c o m o objetivo de que ela seja o mais ajustada

possível às necessidades dos públicos alvo. N o entanto, a escolha

final corresponderá ao destinatário. A seleção de obras, aspecto

chave da doação, é obrigatória pelo respeito devido ao destinatário

e pela necessidade de limitar os inconvenientes dos envios não

adequados: ocupação inútil do espaço dos locais e aumento dos

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO Documentos y Referencias

custos de transporte, das tarifas aduaneiras, da armazenagem e

da posse dos documentos.

Artigo 7

N o marco da colaboração c o m o organismo destinatário, o doador

utilizará o método que achar mais adequado ao contexto.

Apresentará u m a lista, seja por títulos disponíveis para o envio,

ou então por géneros e tipos de livros, ou por matérias — quando

se tratar de livros de texto ou livros científicos e técnicos - ou

por âmbitos de conhecimento para os fundos enciclopédicos. Para

isso, e c o m o objetivo de que o destinatário possa escolher os

títulos, o doador colocará à sua disposição a informação

bibliográfica disponível.

Artigo 8

Para ajudar o doador na escolha das obras, o destinatário lhe

informará sobre o estado dos fundos - existentes ou a criar - os

vazios a preencher, os tipos de livros necessários, a quantidade

desejada, b e m c o m o as informações referentes às demais

instituições que existem e m seu entorno e que oferecem

possibilidades de empréstimo e de comunicação de obras.

Artigo 9

Dentro de u m espírito de verdadeira cooperação cultural, doadores

e destinatários zelarão para que os lotes de livros sejam adequados

à identidade cultural dos públicos alvo, a suas necessidades

de informação geral, científica, técnica e de entretenimento, b e m

como pela complementaridade entre os centros e os organismos locais.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO Documentos y Referencias

Título II -Transporte e recepção das obras

ArtígolO

N o s casos nos quais o programa de doação se realizar por u m

organismo redistribuidor, seria desejável mencionar a instituição

que doa, o intermediario que coleta e o destinatário final.

Artigo 11

Antes do envio de livros usados, seria desejável que o organismo

doador se abstivesse de colocar nos livros menções do tipo

«descartável» que são desvalorizadores para o destinatario.

Artigo 12

Antes de enviar os livros, o doador se assegurará da aptidão do

destinatário para recepcioná-los, tratá-los e distribuí-los. Se não

for o caso, o destinatario zelará, c o m a ajuda do doador ou sem

ela, pelo estabelecimento das condições favoráveis para a recepção

e a distribuição das obras.

Artigo 13

Doadores e destinatários realizarão, cada u m do seu lado, as tarefas

de sensibilização junto às autoridades nacionais visando obter a

isenção dos impostos ou u m a redução, b e m c o m o das formalidades,

e garantir o controle nas alfândegas para evitar a revenda.

Título III - Acompanhamento do programa: desenvolvimento da colaboração cultural

Artigo 14

Se fosse necessário, doadores e destinatários colaborarão na

formação do pessoal para recepcionar, classificar e distribuir os

livros recebidos e t a m b é m para garantir as campanhas de

animação das bibliotecas.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO Documentos y Referencias

Artigo 15

N o final do prazo que tiverem acordado ambas as partes, doadores

e destinatários avaliarão conjuntamente a adequação dos envios

às necessidades expressas e os diferentes usos que tenham sido

dados. O protocolo de avaliação será elaborado de c o m u m acordo

c o m antecedência ao envio das obras.

Artigólo

D e maneira geral, seria muito conveniente tentar contar c o m a

colaboração dos editores locais c o m o objetivo de adquirir obras

de autores locais e colocá-las à disposição dos leitores.

Artigo 17

C o m o objetivo de contribuir a aumentar a presença do livro

mediante o apoio à produção local de escritos, especialmente nos

centros rurais afastados, doadores e destinatários poderiam, e m

alguns casos, colaborar para dotar estes últimos dos meios de

produção artesanal para a tiragem reduzida de escritos necessários

para a informação do meio.

Artigo 18

Dentro de u m verdadeiro espírito de colaboração, doadores e

destinatários comunicarão a seus públicos respectivos, a cultura

do outro por meio de animações e m torno do livro, do conto, da

música e das artes plásticas.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO Documentos y Referencias

Modelo de convenio para a colaboração entre o organizador de u m projeto de doação (a organização «X») e u m doador (a biblioteca «Y»)

Preâmbulo Intervêm, por u m a parte:

A organização «X», rue de la Poste, Paris

E , por outra parte:

A biblioteca «Y»,

representada por

Entendendo que u m a política razoável de doação de livros

realizada nas melhores condições poderá contribuir para o

desenvolvimento da leitura nas zonas da Africa afetadas pela doação

e às trocas culturais internacionais;

Chegou-se ao acordo seguinte:

Conteúdo da associação

Artigo 1

A biblioteca «Y» decide empreender sua colaboração

c o m a organização «X» para o desenvolvimento da leitura na Africa.

Artigo 2

A finalidade desta colaboração será fornecer obras e coleções de

revistas, procedentes dos fundos «desborrados» e devidamente

retirados, ao banco de livros da organização «X» que se encarregará

de fazê-los chegar às bibliotecas dos países da África c o m o apoio

técnico de sua equipe, sobre a base das solicitações dos

beneficiários.

Facultativo:

Outra finalidade será conseguir u m a subvenção para a compra

de obras novas visando completar os lotes de obras.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO Documentos y Referências

Deveres da biblioteca

Artigo 3

A biblioteca nacional «Y» se compromete :

a) A fornecer os livros, seja de maneira isolada, ou regularmente,

c o m u m a periodicidade de, pelo m e n o s , u m a vez por ano.

b) A entregar no armazém do banco da organização «X» as

obras e m caixas fechadas cujo conteúdo será identificado

segundo os diferentes géneros: ficção «juventude», documentário

«juventude», ficção «adultos», documentário «adultos».

c) A anexar u m a lista c o m o n ú m e r o de obras de cada u m dos

quatro géneros.

Deveres da organização «X»

Artigo 4

A organização «X» se compromete :

a) A aportar sua ajuda técnica para a classificação e seleção das

obras e revistas destinadas a seu banco de livros.

b) A fornecer informação regularmente, ou quando lhe for

solicitada, sobre sua atividade e sobre o destino das obras na

África.

c) A facilitar as trocas entre doadores e destinatários para as

bibliotecas que desejarem estabelecer u m a irmandade franco-

africana entre bibliotecas.

d) A fornecer às bibliotecas as informações necessárias para

colocar e m prática animações e ações culturais de sensibilização

e m torno da África, ou seja, à constituição de u m fundo «africano».

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO Documentos y Referências

e) A organização «X» se encarrega, arcando c o m as despesas,

de fazer chegar as obras aos destinatários africanos segundo a

forma de envio de sua escolha.

f ) A organização «X» se compromete a mencionar a participação

da biblioteca «Y» e m seus documentos de comunicação.

Outros elementos do convénio

• A biblioteca «Y» se compromete a não fornecer, e m nenhum

caso, à organização «X» livros que não estiverem e m b o m estado

(deteriorados demais, para descartar). A s etiquetas c o m os

preços, os códigos de barras e as capas de plástico serão

conservadas como estiverem.

• A organização «X» dispõe de u m a oficina de tratamento das

obras antes de seu envio.

• D e acordo c o m a definição da organização «X», esta pode

fornecer às bibliotecas e às associações colaboradoras já

irmanadas c o m u m a biblioteca da Africa, ou que estiverem

realizando u m a ação no âmbito do livro e da leitura, conselhos

técnicos para otimizar seus envios de livros e proceder a u m a

avaliação. A l é m do mais, as bibliotecas poderão ter acesso às

obras do banco de livros para completar os envios a seu

colaborador africano enquanto houver obras disponíveis e

adequadas para fazer parte dos lotes constituídos pela

organização para seus destinatários. C o m este objetivo, poderão

ser assinados convénios para cada caso entre estas associações

ou bibliotecas.

Renovação ou rescisão do convénio

Artigo 5

O convénio é assinado para três anos renováveis pelos dois

sócios.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO Documentos y Referências

Artigo 6

O não cumprimento das disposições do presente convenio pode acarretar a rescisão total ou parcial da colaboração definida neste convénio.

Artigo 7

O presente convénio pode ser denunciado por qualquer u m a das partes c o m u m aviso prévio de, no mínimo, 6 meses.

Assinado em

O representante O u representante da da Biblioteca «Y» organização «X»

A D O A Ç Ã O DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO Bibliografia

Bibliografia

Atas do colóquio internacional "Donated Books Programs: a

Dialogue of Partners Handbook", Washington, D . C . , Library of

Congress, 1993

Atas das sessões nacionais " Des Livres pour le Développement",

Culture et Développement, Grenoble, 1998

Askerud, Pernille, A Guide to Sustainable Book Provision,

U N E S C O , Paris, 1997

Garzón, Alvaro, La política nacional del libro, Edições U N E S C O ,

Paris, 1997

Greenberg, Janet, Manual for International Book and Journal

Donation, American Council of Learned Societies, Nova York,

1993

Gaudreault, Sylvain, Le don de livres au Québec à des fins

humanitaires, Dois, Montreal, 2001

Guide du Partenariat Nord Sud pour le Livre et la Lecture

Grenoble, Culture et Développement, 2003

Coopérer avec une bibliothèque d'Afrique, Grenoble, Culture et

Développement, 2003

Relatório anual 2002-2003 da C O D E - Canadian organization

for development through education, disponível no site http: / /

www.codecan.org.

A DOAÇÃO DE LIVROS O PARA DESENVOLVIMENTO

Sites Web

Sites W e b

• http: / / www.albany.edu / -dlafonde / Global / bookdonation.htm

Repertório de programas de doação da African Studies

Association

• www.asiafoundation.com / programs / prog-us-bfa.html

Books for Asia - Estados Unidos

• www.bookaid.org

Book Aid International - G B

• www.booksforafrica. org

Books for Africa - Estados Unidos

• http: / / www.booksfortheworld. org

Books for the world - Estados Unidos

• http: / / www.codecan.org

C O D E — Canadian organization for development through

education

• http: / / worldlibraries.org / bookdonation /

W L P - World Libraries Partnership