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Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação sob os auspícios da UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Relatório Global UNESCO Abrindo Novos Caminhos para o Empoderamento TIC no Acesso à Informação e ao Conhecimento para as Pessoas com Deficiência

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  • Centro Regional de Estudospara o Desenvolvimento daSociedade da Informaosob os auspcios da UNESCO

    Organizaodas Naes Unidas

    para a Educao,a Cincia e a Cultura

    Relatrio Global UNESCOAbrindo Novos Caminhos para o Empoderamento

    TIC no Acesso Informao e ao Conhecimento para as Pessoas com Deficincia

  • Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura UNESCO

    Traduo:

    Ncleo de Informao e Coordenao do Ponto BR Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informao sob os auspcios da UNESCO

    Relatrio Global UNESCO

    Abrindo Novos Caminhos para o Empoderamento

    TIC no Acesso Informao e ao Conhecimento para as Pessoas com Deficincia

    Comit Gestor da Internet no Brasil

    So Paulo

    2014

  • Publicado em 2014 pelo CETIC.br Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informao sob os auspcios da UNESCO.

    CETIC.br 2014 para essa traduo em portugus.

    Esta publicao est disponvel em acesso livre ao abrigo da licena Attribution-ShareAlike 3.0 IGO (CC-BY-SA 3.0 IGO) (http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/igo/). Ao utilizar o contedo da presente publicao, os usurios aceitam os termos de uso do Repositrio UNESCO de acesso livre (www.unesco.org/open-access/terms-use-ccbysa-port).

    Ttulo original: UNESCO Global Report: Opening New Avenues for Empowerment: ICTs to Access Information and Knowledge for Persons with Disabilities

    Publicado originalmente em 2013 pela Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO)

    UNESCO 2013

    7, place de Fontenoy, 75352 Paris 07 SP, Frana

    ISBN 978-92-3-001147-5

    As indicaes de nomes e a apresentao do material ao longo deste livro no implicam a manifestao de qualquer opinio por parte da UNESCO a respeito da condio jurdica de qualquer pas, territrio, cidade, regio ou de suas autoridades, tampouco da delimitao de suas fronteiras ou limites.

    As idias e opinies expressadas em esta publicao so as dos autores e no refletem obrigatoriamente as da UNESCO nem comprometem a Organizao.

    FOTO DA CAPA: UNESCO

    PROjETO GRFICO: UNESCO

    DESENhO DA CAPA: UNESCO

    IlUSTRAES: UNESCO

    DIAGRAmAO: UNESCO

    TRADUO PARA O PORTUGUS: DB Comunicao ltda.

    REvISO TCNICA DA vERSO BRASIlEIRA: W3C Brasil

    DIAGRAmAO DA vERSO BRASIlEIRA: DB Comunicao ltda.

    EDIO DA vERSO BRASIlEIRA: CETIC.br e Comunicao NIC.br

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Relatrio Global UNESCO [livro eletrnico]: abrindo novos caminhos para o empoderamento: TIC no acesso informao e ao conhecimento para as pessoas com deficincia / UNESCO ; [traduo DB Comunicao]. -- So Paulo : Comit Gestor da Internet no Brasil, 2014.

    2,2 mb ; PDF

    Ttulo original: UNESCO Global Report : Opening new avenues for empowerment : ICTs to access information and knowledge for persons with disabilities. Bibliografia

    ISBN 978-85-60062-76-8

    1. Direitos humanos 2. Educao Finalidades e objetivos 3. Planejamento educacional 4. Relatrios educacionais I. UNESCO.

    14-05169 CDD- 370.115

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Educao para Todos : monitoramento global : Relatrios 370.1152. Relatrios de monitoramento global : Educao para Todos 370.115

    http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/igo/http://www.unesco.org/open-access/terms-use-ccbysa-port

  • iii

    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

    P r e f C I O

    mais de um bilho de pessoas aproximadamente 15% da populao mundial vive com alguma forma

    de deficincia. Por enfrentarem diversos obstculos, incluindo o acesso informao, educao, sade e

    falta de oportunidades de trabalho, as pessoas vivendo com deficincias lutam todos os dias para serem

    integradas sociedade.

    Isso inaceitvel e este relatrio um posicionamento da UNESCO. Para enfrentar esses desafios, a

    UNESCO conduzir uma srie de iniciativas, incluindo o Relatrio Global de 2013, para empoderar as

    pessoas com deficincia por meio de tecnologias de informao e comunicao. Nosso posicionamento

    claro as tecnologias de informao e comunicao, juntamente com as tecnologias assistivas, podem

    ampliar o acesso informao e ao conhecimento e, portanto, devem ser acessveis a todos.

    Fundamentado na Conveno das Naes Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia, o relatrio

    global traz fortes recomendaes a todos os atores de tomadores de deciso a educadores, sociedade

    civil e indstria de como melhorar de modo concreto a situao dos direitos das pessoas com deficincia.

    Essas recomendaes foram feitas com base em pesquisas e consultas aprofundadas. Estudos publicados

    em cinco regies permitiram que a UNESCO entendesse mais claramente as condies e desafios que as

    pessoas com deficincia enfrentam em todo o mundo.

    Empoderar pessoas com deficincia significa empoderar a sociedade como um todo porm, isso requer

    polticas pblicas e legislaes corretas, que tornem as informaes e o conhecimento mais acessveis

    por meio de tecnologias de informao e comunicao. Isso tambm exige que os padres de

    acessibilidade sejam aplicados ao contedo, produtos e servios. A aplicao correta dessas tecnologias

    pode tornar salas de aula mais inclusivas, meios fsicos mais acessveis, contedos e tcnicas de

    aprendizagem melhor ajustados s necessidades dos alunos. Precisamos do compromisso de todos os

    governos e atores para tornar isso uma realidade para todas as pessoas vivendo com deficincias.

    Para construir as sociedades do conhecimento inclusivas de que precisamos durante este sculo, no

    podemos deixar ningum de lado. Devemos fazer tudo para trocar a excluso e a discriminao por

    incluso e empoderamento para isso, devemos reunir toda a fora das tecnologias de informao e

    comunicao. Esse o nosso compromisso conjunto e este Relatrio Global nos ajudar a prosseguir.

    Irina Bokova

    Diretora-geral da UNESCO

  • v

    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

    P r LO G O

    Comunicao e informao so essenciais para o desenvolvimento das pessoas e sociedades. por causa

    das redes de conexes, estabelecidas livremente entre indivduos, que a sociedade capaz de avanar e

    tambm pelo desenvolvimento pessoal de indivduos, que possibilita o aumento de benefcios coletivos

    para todos que compem uma sociedade.

    Sob essa perspectiva, deve ser dada ateno especial s pessoas com deficincia e devem ser criados os

    produtos e servios que elas necessitam. Quanto mais totalitrias e repressivas so as sociedades, mais

    restrito o acesso informao e ao conhecimento e aos direitos de expresso e opinio. Adicionalmente,

    servios especiais e ateno para o bem comum da sociedade so limitados. Contudo, quando uma

    sociedade livre e respeita os direitos humanos, os indivduos so mais solidrios, mais abertos a trabalhar

    em conjunto e compartilhar informaes. Uma consequncia dessa troca livre de informaes e

    conhecimento seria a possibilidade de construir uma sociedade mais inclusiva, capaz de participar

    integralmente da vida social, cultural e econmica, alm de ser intelectual e culturalmente rica, na qual

    pessoas com habilidades diferentes poderiam se valer plenamente das Tecnologias de Informao e

    Comunicao.

    O acesso informao e ao conhecimento permite que os seres humanos contribuam para o

    desenvolvimento social, possibilitando a ele ou ela fazer melhores escolhas e compartilhar a riqueza com

    aqueles ao seu redor. As condies, capacidades e habilidades especiais de aprendizado de cada indivduo

    no deveriam nunca ser obstculos ou impedimentos ao seu desenvolvimento individual. Pelo contrrio,

    dever das autoridades estabelecer um ambiente propcio ao desenvolvimento e fornecer os servios

    especiais para aqueles que necessitam, tendo em mente as pessoas com deficincia. Uma sociedade

    inclusiva assim garante que todas as pessoas sejam valorizadas como seres humanos iguais.

    Eu, portanto, recebo calorosamente a publicao da UNESCO intitulada Abrindo Novos Caminhos para o

    Empoderamento: TIC no Acesso Informao e ao Conhecimento para as Pessoas com Deficincia que no

    apenas contribui grandemente para nosso entendimento da deficincia, mas tambm destaca avanos

    tecnolgicos e compartilha boas prticas que j mudaram as vidas de pessoas com deficincia. A

    publicao tambm traz recomendaes concretas para ao local, nacional e internacional, tendo em

    vista polticos e tomadores de deciso, educadores, as indstrias de TI e telecomunicaes, sociedade

    civil e, certamente, pessoas com deficincia, as quais, eu espero, recebero a ateno merecida!

    Exmo. Sr. Miguel Angel Estrella

    Embaixador da Boa Vontade da UNESCO

    S

    ver

    ine

    Des

    mar

    est

  • vii

    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

    A G r A D e C I M e N TO S

    Este Relatrio Global, Abrindo Novos Caminhos para o Empoderamento: TIC no Acesso Informao e ao

    Conhecimento para as Pessoas com Deficincia, foi encomendado pelo setor de Comunicao e Informao

    da UNESCO. Ele o resultado da ao colaborativa entre muitos pesquisadores, organizaes pblicas e

    privadas, rgos governamentais e sociedade civil, e nossos agradecimentos se estendem a eles.

    O Relatrio se baseou nos achados de cinco estudos regionais da UNESCO, conduzidos com a ajuda das

    seguintes instituies e autores-coordenadores:

    frica: Dr. Raymond lang, do Centro leonard Cheshire sobre Deficincia e Desenvolvimento Inclusivo, University College, londres (Reino Unido);

    Regio rabe e Norte da frica: Sr. mohamed jemni, professor de TIC e tecnologias educacionais, chefe do laboratrio de pesquisa da UTIC, Universidade de Tnis (Tunsia);

    Pacfico Asitico: Sra. Nirmita Narasimhan, Coordenadora de Projetos, Centro para a Internet e Sociedade (ndia);

    Leste Europeu e sia Central: Agncia de Consultoria Internacional mezhvuzkonsalt (Federao Russa);

    Amrica do Sul, Amrica Central e Mxico e Caribe: Sra. Pilar Samaniego (Amrica do Sul); Sra. Sanna-mari laitamo e Sra. Estela valerio (Amrica Central e mxico), e Sra. Cristina Francisco (Caribe).

    O autor principal deste Relatrio Global foi o Sr. Michael Blakemore, professor emrito de geografia da Universidade de Durham (Reino Unido) e perito de Bolonha (reforma do ensino superior e inovao) na Comisso Europeia.

    A preparao geral para o relatrio mundial, estudos regionais e coordenao do projeto, ficaram a cargo da Sra. Irmgarda Kasinskaite-Buddeberg e Sr. Davide Storti, do setor de Informao e Comunicao da UNESCO.

    A UNESCO agradece Fundao GAATES por suas contribuies e sugestes para a preparao deste relatrio, especialmente Sra. Cynthia Waddell e Sra. Betty Dion. Agradecemos tambm ao Sr. jonathan Avila do SSB Bart Group.

    A UNESCO gostaria de agradecer aos diversos colaboradores, peritos e defensores individuais que ajudaram na coleta de dados de pesquisa e na preparao de estudos regionais.

  • viii

    AGRADECImENTOS

    A todos que contriburam com seu conhecimento e tempo na reviso por pares tambm merecem reconhecimento. So eles: Axel leblois (G3ict), luis Gallegos (Embaixador do Equador para a Organizao das Naes Unidas, em Genebra, Sua), David Andrs Rojas m. e vanessa Ramirez (The Trust of America, TRUST), Shadi Abou-Zahra (W3C / WAI), Bernhard heinser (DAISY Consortium), jan A. monsbakken e Uma Tuli (Rehabilitation International, RI), Karsten Gerloff (Free Software Foundation Europe), Brian Nitz (Oracle), Kiran Kaja (Adobe), Katim S. Touray (Free Software Foundation for Africa), Sophie Gautier e Charles-h. Schulz (libreOffice), luiz m. Alves dos Santos (Comisso Europeia, CE), Arnoud van Wijk (Real-Time Task Force), Reinhard Weissinger (Organizao Internacional para a Padronizao, ISO), Kenneth Eklindh (UNESCO), Simon Ball (jISC TechDis).

    O relatrio da compilao global foi editado por Alison mcKelvey Clayson.

  • ix

    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

    S U M r I O

    Prefcio iii

    Prlogo v

    Agradecimentos vii

    Sumrio ix

    Glossrio xi

    Sumrio Executivo 13

    1 Contexto 17

    1.1 Propsito e Escopo do Relatrio 18

    1.2 Termos e Contexto TIC 22

    1.3 Termos e Contexto O Acesso Informao e ao Conhecimento 26

    1.4 Termos e Contexto Pessoas com Deficincia 33

    2 Evidncia dos Estudos Regionais UNCRPD e o Uso das TIC para o

    Acesso Informao e ao Conhecimento por Pessoas com Deficincia 41

    2.1 Resultados Principais do Uso das TIC para o Acesso Informao e ao

    Conhecimento para Pessoas com Deficincia das Regies da UNESCO 44

    2.2 Desafios e Questes em Comum entre Estudos Regionais

    e Recomendaes Gerais 57

    3 Oportunidades Emergentes TIC para Prticas Inovadoras 63

    4 Usando as TIC de Modo Inovador na Educao para Diminuir Custos,

    Melhorar Acessibilidade e Adaptabilidade 75

    4.1 Viso Geral 76

    4.2 Solues Emergentes para Tecnologias Assistivas 78

    4.3 Software Livre e de Cdigo Aberto (FOSS) 86

    4.4 Recursos Educacionais Abertos (REA) 91

  • x

    SUmRIO

    4.5 Padres Abertos 95

    4.6 Opes de Acessibilidade para Arquivamento Digital

    e Preservao de Recursos Educacionais 99

    4.7 Possibilidades Futuras na Educao Incluindo Servios

    em Nuvem e Aplicativos para Internet Mvel 101

    5 Concluses 105

    6 Links para Recursos e Estudos de Caso 113

    7 Bibliografia 135

  • xi

    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

    G LO S S r I O

    API Interface de Programao de Aplicativos

    APPS Solues de Software desenhadas para rodar em celulares

    ATAG Diretrizes de Acessibilidade para Ferramentas de Autoria

    CAA Comunicao Aumentativa e Alternativa

    DAISY Sistema de Informao Digital Acessvel

    DPI Direitos de Propriedade Intelectual

    EFAC Estados Frgeis e Afetados por Conflitos

    EPT Educao para Todos

    ePUB Publicao Eletrnica

    FOSS Software livre e de Cdigo Aberto

    G3ict Iniciativa Global para Tecnologias de Informao e Comunicao Inclusivas

    GDD Gesto de Direitos Digitais

    GPL licena Pblica Geral

    GPS Sistema de Posicionamento Global

    IEC Comisso Eletrotcnica Internacional

    IETF Fora-Tarefa de Engenharia da Internet

    IFLA Federao Internacional de Associaes e Instituies Bibliotecrias

    ISO Organizao Internacional para Padronizao

    JAWS Acesso ao Trabalho com voz

    LMS Sistema de Gesto de Aprendizagem

    M-PESA Sistema de Pagamento mvel

    MENA Oriente mdio e Norte da frica

    MPT medidas de Proteo Tecnolgica

    NEE Necessidades Educacionais Especiais

    NVDA Acesso No-visual ao Ambiente de Trabalho

    OATS Tecnologias Assistivas Baseadas em Software livre

    OCDE Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    OCR Reconhecimento ptico de Caracteres

    ODF Formato Aberto de Documentos

  • xii

    GlOSSRIO

    ODM Objetivos de Desenvolvimento do milnio

    OLPC Um laptop por Criana

    OMPI Organizao mundial da Propriedade Intelectual

    OMS Organizao mundial da Sade

    ONG Organizao No Governamental

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PCD Pessoas com Deficincia

    REA Recursos Educacionais Abertos

    SADC Comunidade para o Desenvolvimento da frica Austral

    SMS Servio de mensagens Curtas

    TA Tecnologias Assistivas

    TDAH Transtorno do Dficit de Ateno com hiperatividade

    TIC Tecnologias da Informao e da Comunicao

    TDD Terminal de Telecomunicaes para Surdos

    TVET Educao e Formao Tcnica e Profissional

    UAAG Diretrizes de Acessibilidade para Agentes de Usurio

    UIT Unio Internacional de Telecomunicaes

    UNCRPD Conveno das Naes Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia

    UNDESA Departamento para Assuntos Econmicos e Sociais das Naes Unidas

    UNDG Grupo de Desenvolvimento das Naes Unidas

    UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura

    UNGAID Aliana mundial das Naes Unidas para as TIC e para o Desenvolvimento

    UNICEF Fundo das Naes Unidas para a Infncia

    UNIRIN Rede Integrada de Informaes Regionais da ONU

    W3C Consrcio World Wide Web

    WAI Iniciativa de Acessibilidade para Web

    WCAG Diretrizes de Acessibilidade para Contedo Web

    WSIS Cpula mundial da Sociedade da Informao

  • 13

    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

    SUMrIO eXeCUTIVO

    Pessoa com deficincia trabalhando no SAMU (Servio de Atendimento Mvel de Urgncia) em So Paulo, Brasil.

  • 14

    SUmRIO EXECUTIvO

    Este relatrio se baseia em cinco relatrios regionais encomendados pela UNESCO para observar o uso das TIC no acesso a informaes e ao conhecimento por pessoas com deficincia (PCD).

    A parte 1 estabelece o contexto da Conveno das Naes Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia (UNCRPD) e a amplitude de sua adoo, desde 2006, e o quanto ela vem estimulando governos em todo o mundo a priorizar a e popularizar as necessidades das pessoas com deficincia (PCD). Ela tambm observa qual o passo da inovao em andamento no setor das TIC para PCD nos mbitos local e multinacional. Este captulo discorre sobre o contexto especfico das TIC, o acesso informao e ao conhecimento e trata do complexo desafio de identificar deficincias e produzir polticas pblicas de interveno para atender s pessoas com necessidades educacionais especiais. Os Relatrios Regionais so, ento, iniciados com informaes de alto nvel sobre as necessidades e atividades e, em seguida, apresenta as formas pelas quais abordagens inovadoras esto sendo desenvolvidas e documentadas.

    A parte 2 observa mais detalhadamente as concluses gerais que emergiram dos Estudos Regionais e as utiliza como base para a elaborao de 18 recomendaes de polticas pblicas de alto nvel voltadas para ao. Um aspecto-chave que advm desses relatrios diz respeito ao grau de impacto da UNCRPD sobre todas as regies, incentivando governos a trazer tona as necessidades das PCD em estratgias e polticas pblicas. No entanto, a amplitude da priorizao dessas necessidades desigual e ainda restam desafios considerveis. Eles vo do preconceito social contra pessoas com deficincia falta de treinamento e conhecimento dos educadores, passando pelas dificuldades de insero no mercado de trabalho encontradas por essas pessoas aps o trmino de sua educao, alm de questes mais especficas das TIC, como falta de infraestrutura de banda larga, alm de capacidade, contedo e ferramentas inadequados em idioma local. Contudo, houve progresso significativo na adoo da Conveno e os direitos e necessidades das PCD melhoraram visivelmente. O que tambm pode ser observado foi que em muitos lugares onde processos governamentais avanaram gradualmente, houve aes empreendedoras e inovadoras importantes acontecendo localmente na rea de utilizao das TIC para pessoas com deficincia. Essas realizaes sero analisadas na parte 5.

    A parte 3 se apropria dos resultados de alto nvel citados nas sees anteriores e mostra quais so as interaes complexas necessrias entre informao, educao, TIC e as necessidades das PCD. Um bom exemplo foi a rpida adoo de telefones celulares (tanto tecnologias antigas quanto os smartphones modernos), que possibilitou a superao de diversas questes, h muito presentes, relacionadas infraestrutura antiga e ineficiente das linhas telefnicas terrestres. A parte 5 dedica ateno especial a negcios e inovaes que surgiram localmente, mostrando como eles podem complementar os resultados das polticas pblicas de alto nvel, gerados pela Conveno, levando formao de parcerias, pelas quais a sociedade civil e o governo trabalham juntos para promover a educao inclusiva para PCD, principalmente no contexto deste estudo, onde as TIC foram usadas.

  • 15

    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

    A parte 4 detalha a gama de adaptaes inovadoras na rea de TIC usadas em projetos e aplicativos em todas as regies, especialmente as identificadas nos estudos regionais.

    A parte 5 faz um resumo dos resultados globais e oferece ferramentas para os leitores explorarem de modo mais aprofundado um conjunto estruturado de links da web, alm da bibliografia detalhada.

    A parte 6 oferece uma gama adicional de links estruturados para recursos na Internet voltados a PCD, comunicao e informao, educao e TIC. Eles do conta de muitasreas de interesse, desde polticas pblicas, estudos de caso, TIC, nveis educacionais, aplicativos especficos (tais como bibliotecas) e compilam informao sobre as Organizaes das Naes Unidas que contribuem para os direitos das pessoas com deficincia.

    A parte 7 contm uma bibliografia detalhada.

  • 17

    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

    17

    1 CO N T e X TO

    Nevada Center for Excellence in Disabilities NCED (Centro de Excelncia em Deficincias de Nevada) e Enabled Nevada, Universidade de Nevada, Reno (EUA).

  • 18 18

    PARTE 1

    1.1 Propsito e escopo do relatrio

    Em geral, os objetivos deste relatrio so:

    Proporcionar aos governos, sociedade civil, indstria, acadmicos e outros grupos uma perspectiva sobre o uso de Tecnologias da Informao e da Comunicao (TIC) por pessoas com deficincia para acessar informaes e conhecimento em todo o mundo;

    Apresentar uma viso geral e uma avaliao crtica das polticas pblicas e estratgias de informao existentes, alm dos desafios e vantagens de se usar TIC para o acesso informao e ao conhecimento por pessoas com deficincia;

    Identificar prticas para a aplicao eficaz das TIC no acesso informao e ao conhecimento por pessoas com deficincia nos mbitos locais, nacionais e globais;

    Fomentar futuras referncias metodolgicas para o uso das TIC no acesso informao e ao conhecimento por pessoas com deficincia (PCD);

    E, baseado nas melhores informaes e anlises disponveis, fornecer recomendaes para estratgias de formulao de iniciativas voltadas para a ao e para novas sinergias nos mbitos nacionais, regionais e internacionais.

    Esperamos que este relatrio e recomendaes propostas possam orientar a UNESCO e os Estados-membros no desenvolvimento de estratgias, polticas pblicas e legislaes melhores, assim como no aumento da conscientizao sobre a importncia de abordar o tema da deficincia. Ele tem o objetivo de incentivar novas parcerias, voltadas a aes entre diversos atores pblicos e privados.

    O relatrio voltado especificamente para:

    Formuladores de polticas pblicas e tomadores de decises;

    Instituies educacionais locais, regionais e nacionais;

    Professores, profissionais da educao e informao;

    Associaes e organizaes que trabalham com pessoas com deficincia;

    Profissionais da rea e indstria de TIC;

    Outras pessoas interessadas em TIC e incluso social das pessoas com deficincia.

  • 19

    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

    19

    Figura 1.1.: Foco

    Polticas Pblicas

    Ferramentas

    Empoderamento

    Prtica

    O relatrio usa, como recurso principal, cinco estudos regionais encomendados pela UNESCO. Ele traz material adicional para compor uma viso geral e compreenso fundamental do uso das TIC para o acesso informao e ao conhecimento e para transmitir informaes, tanto sobre polticas pblicas quanto prticas, para as PCD.

    h um foco especfico em polticas pblicas e as formas como essas polticas pblicas levam s prticas, mas h tambm um foco complementar em como as TIC so ferramentas capacitadoras que possibilitam a execuo de prticas inovadoras por vrios atores nos mbitos locais, nacionais, regionais e globais (Figura 1.1.: Foco).

    A ateno s polticas pblicas importante para se saber at onde os governos e processos de governana se encarregam das necessidades de acesso informao e ao conhecimento das PCD. Polticas pblicas so meios fundamentais e podem criar contextos legislativos, regulatrios e inclusivos pelos quais intervenes podem ser feitas de maneira ampla.

    Por outro lado, inovaes locais podem ter impacto regional significativo, mas seu benefcio maior quando elas podem ser levadas a mbitos nacionais e internacionais por meio de modelos de polticas:

    Ambiente Legislativo Ambiente Regulatrio Contexto Inclusivo

    Um ambiente legislativo pode reconhecer formalmente que uma

    deficincia existe.

    Um ambiente regulatrio pode criar condies para a inovao

    por exemplo, ao possibilitar que

    contedo seja fornecido por meio

    de canais eletrnicos sem direitos

    autorais ou negociaes de licenas

    adicionais.

    Um contexto inclusivo um forte indicativo de que h compromisso

    por parte do governo, setores

    pblicos e privados e outros atores

    (idealmente por meio de recursos e

    verba) para possibilitar intervenes

    amplas.

    Sem esse contexto, intervenes para as PCD podem ficar restritas a iniciativas pontuais, criadas para atender mercados especficos ou em pequena escala. Assim, intervenes polticas em escala global so de tremenda importncia e so conduzidas pelas Naes Unidas.

  • 20 20

    PARTE 1

    Isso acontece, primeiramente, por meio da Conveno das Naes Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia1 (UNCRPD), um quadro de referncias universal reafirmando que todos os direitos e liberdades fundamentais do ser humano2 so garantidos a todas as pessoas com qualquer tipo de deficincia. Ao ratificar a Conveno das Naes Unidas, os Estados-parte expressam seu compromisso em acomodar as necessidades de seus cidados com deficincia tomando as medidas necessrias e apropriadas, fazendo modificaes e ajustes em suas estratgias, polticas pblicas e prticas.3 O relatrio se concentra principalmente no cumprimento dos seguintes artigos da Conveno das Naes Unidas: Artigo 9 (Acessibilidade), Artigo 21 (liberdade de expresso e de opinio e acesso informao) e 24 (Educao); e tambm no reconhecimento dos Artigos 6 (mulheres com deficincia), 8 (Conscientizao) e 32 (Cooperao Internacional).

    Em segundo lugar, ao realizar atividades colaborativas nos pases membros, a UNESCO pode compartilhar boas prticas e avanos tecnolgicos, fornecer parmetros para a observao de como a Conveno das Naes Unidas est sendo adaptada e implementada nos pases, por parceiros pblicos e privados, para entender como os cenrios de interveno esto emergindo nesses locais, alm de sintetizar as tendncias gerais.

    O foco combinado em desenvolvimento da governana e sociedade civil complementa os objetivos da Conveno da ONU. Como enfatizado neste relatrio, as PCD so vistas como membros passivos da sociedade, mas so colaboradores e criadores ativos de conhecimento, alm de usurios de TIC em todos as mbitos da vida. 4 h um valor real para a economia e a sociedade em maximizar a incluso de pessoas com deficincia5. mais ainda, os avanos que vm ocorrendo na rea das TIC aproximam, cada vez mais, o panorama da inovao s pessoas com deficincia como nunca antes, especialmente por meio de canais TIC via telefones celulares6. O potencial para o desenvolvimento tecnolgico abre caminhos para a incluso social, a aprendizagem, emprego e participao das PCD na sociedade, principalmente onde as intervenes com TIC so holsticas por exemplo, ao envolverem famlias e comunidades no processo

    1. UN. (2006). Convention on the Rights of Persons with Disabilities. United Nations, 6 de dezembro, [acesso em 9 de outubro de 2012]. http://www.un.org/esa/socdev/enable/rights/convtexte.htm

    2. G3ict. (2007). The Accessibility Imperative: Implications of the Convention on the Rights of Persons with Disabilities for Information and Communication Technologies. Global Initiative for Inclusive Information and Communication Technologies, [acesso em 15 de novembro de 2012]. http://g3ict.com/resource_center/publications_and_reports/p/productCategory_books/id_118

    3. A UNCRPD tambm interage com outros instrumentos normativos internacionais, como a Carta das Naes Unidas; a Declarao Universal dos Direitos Humanos e os Pactos Internacionais dos Direitos Humanos; o Pacto Internacional sobre Direitos Econmicos, Sociais e Culturais; o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polticos; a Conveno Internacional sobre a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao Racial; a Conveno sobre a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao contra as Mulheres; a Conveno contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruis, Desumanos ou Degradantes; a Conveno sobre os Direitos da Criana e a Conveno sobre a Proteo dos Direitos dos Trabalhadores Migrantes e Membros de sua Famlia.

    4. NEF. (2012). Local innovations for disabled people. New Economics Foundation, 11 de outubro, [acesso em 4 de novembro de 2012]. http://neweconomics.org/publications/doing-services-differently

    5. Ashington, Nicola. (2010). Accessible Information and Communication Technologies Benefits to Business and Society. OneVoice for Accessible ICT, [acesso em 15 de setembro de 2012]. http://www.onevoiceict.org/sites/default/files/Accessible%20ICT%20-%20Benefits%20to%20Business%20and%20Society.pdf

    6. G3ict. (2012g). Making Mobile Phones and services accessible for Persons with disabilities. Global Initiative for Inclusive Information and Communication Technologies, agosto, [acesso em 26 de setembro de 2012]. http://www.itu.int/ITU-D/sis/PwDs/Documents/mobile_Report.pdf

    http://www.un.org/esa/socdev/enable/rights/convtexte.htmhttp://g3ict.com/resource_center/publications_and_reports/p/productCategory_books/id_118http://neweconomics.org/publications/doing-services-differentlyhttp://www.onevoiceict.org/sites/default/files/Accessible%20ICT%20-%20http://www.itu.int/ITU-D/sis/PwDs/

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    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

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    educacional7. Certas tendncias, como a reduo de custos para o acesso a telefones celulares e Internet mvel, tm facilitado o empoderamento das pessoas, inclusive aquelas com deficincia, e tambm de negcios e ONGs, permitindo que desenvolvam novos tipos de servios e produtos em pases onde os governos eram, originalmente, os principais provedores ou possuam capacidade e recursos limitados.

    Por exemplo, no Qunia, um grupo de estudantes desenvolveu uma iniciativa de uso de tecnologias na sade para informao e recursos:

    ... ela permitir que milhares de trabalhadores da rea de sade quenianos usem seus telefones

    celulares para acompanhar a irrupo de doenas em tempo real e eles o fizeram por uma frao

    do valor que o governo estava prestes a pagar por esse aplicativo. 8

    O uso de celulares e Internet mvel tm aumentado drasticamente em muitos outros pases africanos medida que os custos diminuem e os governos desregulamentam o acesso. Outros avanos incluem sistemas de pagamento mvel (m-PESA), com os quais fundos podem ser transferidos de forma segura e a baixo custo, hubs9 de inovao virtual local e abordagens de crowdsourcing , que incluem micropagamentos em massa para dar apoio a causas, como envio de ajuda em situaes de crise10. Esses avanos no apenas melhoram a vida de todos os cidados, mas tambm facilitam o acesso das pessoas com deficincia ao ambiente de trabalho e permitem que elas se beneficiem desses produtos e servios, quando disponveis.

    Os governos tm um papel importante em facilitar avanos locais por meio da criao de ambientes regulatrios favorveis, nos quais uma infraestrutura de incentivo inovao esteja amplamente acessvel e seja economicamente vivel por meio de concorrncia. Por exemplo, em Botsuana:

    "O governo embarcou em uma parceira pblico-privada com a maior operadora de telefonia celular

    do pas, a Mascom, para trazer servios de dados, web e voz avanados para 42 vilarejos. parte de

    um programa mais amplo para conectar 197 vilarejos a servios de comunicao." 11

    Os centros so conhecidos como "Kitsong Centres" e, normalmente, so operados por empreendedores locais que conhecem as demandas regionais e tm interesse direto em estimular o desenvolvimento de

    7. ITU. (2011a). Connect a School, Connect a Community Toolkit Module 4: Using ICTs to promote education and job training for persons with disabilities. International Telecommunications Union [acesso em 1 de setembro de 2012]. http://www.itu.int/ITU-D/sis/Connect_a_school/modules/ES/ES04.pdf, ITU. (2012a). Connect a School, Connect a Community. International Telecommunications Union, [acesso em 2 de setembro de 2012]. http://connectaschool.org/

    8. Talbot, David. (2012c). Kenyas Startup Boom. Technology Review, maro, [acesso em 23 de fevereiro de 2012]. http://www.technologyreview.com/communications/39673/

    9. ECONOMIST. (2012). Innovation in Africa: Upwardly mobile. Economist, 25 de agosto, [acesso em 25 de agosto de 2012]. http://www.economist.com/node/21560912, Talbot, David. (2012a). African Social Networks Thrive in a Mobile Culture. Technology Review, 19 de abril, [acesso em 20 de abril de 2012]. http://www.technologyreview.com/computing/40250/

    10. Anon. (2012j). Rwanda: Mobile Phone Cash Transfer Assists Rebuild Haiti. The New Times (Rwanda), 3 de maro, [acesso em 9 de maro de 2012]. http://allafrica.com/stories/201203040122.html

    11. Cossou, Egan. (2011). Botswana bets on technology to save rural economies. BBC, 2 de agosto, [acesso em 25 de agosto de 2011]. http://www.bbc.co.uk/news/business-14328157

    http://www.itu.int/ITU-D/sis/http://connectaschool.org/http://wwwhttp://www.economist.com/node/21560912http://www.economist.com/node/21560912http://www.technologyreview.com/computing/40250/http://allafrica.com/stories/201203040122.htmlhttp://www.bbc.co.uk/news/business-14328157

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    PARTE 1

    servios locais. Eles podem ser considerados um recurso educativo da comunidade que tambm suplementa as iniciativas especficas de TIC na educao em Botsuana12.

    Contudo, inovaes locais no so capazes de substituir, de fato, uma implementao eficiente de polticas pblicas em mbito nacional. Educao e informao para todos devem ser proporcionadas a um pas inteiro, no apenas seletivamente para quem pode pagar por servios ou produtos. Por isso, o foco da UNESCO o qual pressupe que direitos a servios necessariamente motivam a necessidade para quadros de referncias polticas, garantindo o acesso informao e ao conhecimento para todos continua sendo uma questo prioritria neste relatrio.

    Porm, ao reconhecer a importncia das polticas pblicas, o relatrio tambm reconhece que a situao bastante flexvel, com novas alianas (tal como a parceria poltico-privada em Botsuana, mencionada acima), inovaes geradas localmente e um campo mais frtil para a informao livre, no qual as redes sociais e canais de comunicao relacionados permitem que atores locais se comuniquem diretamente entre si, sem a mediao do governo nacional ou mesmo de organizaes internacionais.

    A Conveno das Naes Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia estabelece um ponto de referncia global, permitindo que os governos facilitem

    o acesso informao e ao conhecimento por meio das TIC para PCD.

    1.2 Termos e Contexto TIC

    Este relatrio aborda o condio atual do acesso informao e ao conhecimento por meio das Tecnologias da Informao e da Comunicao (TIC) por pessoas com deficincia (PCD). Dessa forma, ele trata da interseco de trs temas principais de polticas pblicas, cujas definies raramente so objetivas.

    Primeiramente, apesar de haver um grande volume de literatura sobre as TIC, geralmente, quando se

    trata do acesso informao e ao conhecimento em diversas reas, como a educao (por exemplo,

    estudos regionais sobre o seu uso13, o valor da aprendizagem mvel14, contedo educativo de cdigo

    aberto15 e aprendizagem colaborativa16), como podemos identificar quais TIC esto sendo usadas

    para intervenes educativas para PCD? Hoje, em muitas definies de TIC, h uma nfase na

    convergncia de hardware17 (telefones, telas, teclados, cmeras e poder computacional) e no

    12. Kgokgwe, Bore P. (2012). ICT for Education: Botswana, Malawi, Namibia. Ministry of Education & Skills Development, Botswana, janeiro, [acesso em 2 de setembro de 2012]. http://africanbrains.net/edusa/wp-content/uploads/2012/01/Botswana-Presentation.pdf

    13. INFODEV, 2009 #39988]

    14. UNESCO. (2012k). Mobile Learning and Policies: Key Issues to Consider. UNESCO, 27 de setembro, [acesso em 9 de outubro de 2012]. http://www.unesco.org/new/en/unesco/themes/icts/single-view/news/mobile_learning_and_policies_key_issues_to_consider/

    15. UNESCO. (2012l). Open Educational Resources in Non-English-Speaking Countries. UNESCO, [acesso em 9 de outubro de 2012]. http://iite.unesco.org/publications/3214703/

    16. UNESCO. (2012e). Crowdsourcing for education. UNESCO, October 8, [acesso em 9 de outubro de 2012]. http://www.unesco.org/new/en/unesco/themes/icts/single-view/news/crowdsourcing_for_education/

    17. Singh, Rajendra, and Siddhartha Raja. (2010). Convergence in information and communication technology: strategic and regulatory considerations. World Bank, [acesso em 4 de setembro de 2012]. http://siteresources.worldbank.org/EXTINFORmATIONANDCOmmUNICATIONANDTEChNOlOGIES/Resources/Convergence_in_ICT.pdf

    http://africanbrains.net/edusa/wp-content/uploads/2012/01/Botswana-Presentation.pdfhttp://www.unesco.org/new/en/unesco/themes/icts/single-view/news/mobile_learning_and_policies_key_issues_to_consider/http://iite.unesco.org/publications/3214703/http://www.unescohttp://siteresources.worldbank.org/

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    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

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    aumento do acesso s redes. Como observado pela Unio Internacional de Telecomunicaes (UIT ):

    Novas tecnologias de informao e comunicao (TIC) continuam a se espalhar por todas as regies

    no mundo, medida que cada vez mais pessoas se conectam. 18

    Em sua Anlise Global de 2012, a UIT enfatiza o rpido desenvolvimento tecnolgico na rea de telefones celulares e smartphones, a expanso da disponibilidade da banda larga (fixa e mvel), assim como estratgias de preo, resultando numa maior adeso ao uso da Internet e aos servios e produtos inovadores que podem ser desenvolvidos. De fato, os telefones celulares modernos tm mais potncia computacional do que muitos computadores mainframe do passado. Eles tm cmeras, teclados, telas de alta definio, podem conectar-se a sistemas de GPS para monitorar localizao geogrfica, alm de serem cada vez mais resistentes, possibilitando seu uso em ambientes previamente "hostis" para computadores.

    Empreendedores esto at buscando modos inovadores de fazer telefones de antiga gerao funcionarem como smartphones, por exemplo, na ndia, ao fornecer "dados de localizao para telefones sem acesso a GPS utilizando uma ferramenta pouco conhecida das redes para celulares chamado Servio de Radiotransmisso Celular (CBS) 19. mesmo o problema da recarga do telefone em uma fonte de energia eltrica pode ser solucionado por meio de inovaes que faro com que, em breve, um passeio seja o bastante para recarregar seu telefone celular, agora que pesquisadores americanos desenvolveram uma forma de gerar eletricidade a partir da movimentao humana. Instalado em um sapato, o dispositivo armazena a energia gerada por microgotas que se movimentam e essa energia convertida em energia eltrica." 20

    Tais inovaes na rea de TIC provam que aspectos que, at agora, demandam investimento em infraestrutura (produo de eletricidade e distribuio de equipamento), no futuro podem se tornar desafios mais triviais. O mesmo acontece com a questo da deficincia e as TIC, por exemplo, por meio de avanos em binica e desenvolvimento de exoesqueletos21, capazes de possibilitar que pessoas paralisadas andem em ambientes normalmente inacessveis a elas. Tais evolues talvez signifiquem que a adaptao de um edifcio para pessoas com deficincia pode se tornar mais fcil, com a ajuda das TIC para aumentar a mobilidade.

    Portanto, qualquer definio esttica das TIC no de muita ajuda neste contexto porque a alta velocidade da inovao e a convergncia de dispositivos tornaro a definio obsoleta. Ao invs disso, faz mais sentido nos concentrarmos na nfase inclusiva da Comisso de Banda larga para o Desenvolvimento Digital22, da UIT e da UNESCO, e no relatrio Banda larga, uma plataforma para o progresso, de 2011, onde foram identificados benefcios especficos no uso das TIC para PCD:

    Acima de tudo, o acesso universal banda larga vai aumentar o desenvolvimento de contedo local e contribuir para o crescimento das economias e empresas locais ligadas s TIC. Redes em contnua expanso baseadas em Internet de banda larga e outros avanos nas TIC propiciaro novas formas

    18. ITU. (2012e). Measuring the Information Society 2012. International Telecommunications Union, [acesso em 14 de setembro de 2012]. http://www.itu.int/ITU-D/ict/publications/idi/material/2012/mIS2012_without_Annex_4.pdf

    19. Aron, Jacob. (2012). GPS workaround helps make dumb phones smart. New Scientist, 27 de setembro, [acesso em 4 de outubro de 2012]. http://www.newscientist.com/article/mg21528844.600-gps-workaround-helps-make-dumb-phones-smart.html

    20. Moskvitch, Katia. (2011). Mobile phones could soon be powered by walking. BBC, 24 de agosto, [acesso em 24 de agosto de 2011]. http://www.bbc.co.uk/news/technology-14647639

    21. Chen, Brian X. (2012). New Breed of Robotics Aims to Help People Walk Again. New York Times, 11 de setembro, [acesso em 12 de setembro de 2012]. http://www.nytimes.com/2012/09/12/technology/wearable-robots-that-can-help-people-walk-again.html

    22. http://www.broadbandcommission.org/

    http://www.itu.int/ITU-D/ict/publications/idi/material/2012/MIS2012_without_Annex_4.pdfhttp://www.newscientist.com/article/mg21528844.600-gps-workaround-helps-make-dumb-phones-smart.htmlhttp://www.bbc.co.uk/news/technology-14647639http://www.nytimes.com/2012/09/12/technology/wearable-robots-that-can-help-people-walk-again.htmlhttp://www.broadbandcommission.org/

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    PARTE 1

    de associao humana em escala e flexibilidade nunca antes vistas, se espalhando por cidades, naes e culturas. importante notar que a conectividade por banda larga pode aumentar significativamente a independncia de mulheres e homens com deficincia, por isso, suas necessidades precisam ser levadas em conta ao projetar e implementar a infraestrutura para Internet

    em todas as etapas (backbone, distribuio, instalaes para o usurio e dispositivos de acesso). 23

    Figura 1.2.: Contexto

    Acessvel

    Adaptvel

    TIC

    Baixo custo

    Isso importante porque tira a nfase da pergunta O que so as tecnologias?, transferindo-a para uma mais importante, 'O que est sendo feito para tornar as tecnologias atuais e as que esto surgindo mais acessveis, de baixo custo e relevantes', principalmente para grupos especficos? Uma mudana significativa, ocorrida recentemente, transformou o modo como as TIC mais populares so projetadas para incorporar acessibilidade (o desenho deixou de atender somente as pessoas sem deficincia para atender quelas com deficincia tambm Tecnologias Assistivas) e desenvolver funcionalidades para um nmero maior de usurios, mas concentrando-se, simultaneamente, na personalizao das tecnologias, de modo a abordar aspectos especficos da deficincia de cada indivduo (Figura 1.2: Contexto). O relatrio da UNESCO / microsoft recomenda, especificamente, que os alunos devem ser incentivados a se autoacomodar, aprendendo as ferramentas do computador que melhor se aplicam s suas necessidades: a habilidade de personalizar a tecnologia, adaptando-a s preferncias e necessidades de uma pessoa, uma habilidade para a vida toda, capaz de beneficiar os alunos medida que progridem no sistema educacional.24

    logo, a pergunta O que so as TIC? passa a ser mais importante para a avaliao, estabelecimento de parmetros e o desenvolvimento de indicadores para os quais deve haver um acordo claro e harmonizado sobre o que ser mensurado. Por exemplo, a Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    23. ITU. (2011c). Report 2 Broadband, a Platform for Progress. International Telecommunications Union, junho, [acesso em 7 de julho de 2011]. http://www.broadbandcommission.org/#outcomes

    24. UNESCO. (2012p). UNESCO launches meeting report on accessible ICTs for students with disabilities. UNESCO, 1 de maro, [acesso em 15 de agosto de 2012]. http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/resources/news-and-in-focus-articles/all-news/news/unesco_launches_report_on_accessible_icts_for_students_with_disabilities/

    http://www.broadbandcommission.org/#outcomeshttp://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/resources/news-and-in-focus-articles/all-news/news/unesco_launches_report_on_accessible_icts_for_students_with_disabilities/http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/resources/news-and-in-focus-articles/all-news/news/unesco_launches_report_on_accessible_icts_for_students_with_disabilities/http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/resources/news-and-in-focus-articles/all-news/news/unesco_launches_report_on_accessible_icts_for_students_with_disabilities/

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    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

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    (OCDE) possui uma definio ampla que cobre 10 categorias abrangentes e 99 produtos. As 10 categorias abrangentes, de acordo com a definio da OCDE de 2009, so:

    Computadores e equipamento perifrico; Equipamento de comunicao; Equipamento eletrnico

    para o consumidor; Componentes e produtos de TIC variados; Servios de fabricao para

    equipamento de TIC; Software de negcios e produtividade e servios de licenciamento; Consultoria

    e servios de tecnologia da informao (TI); Servios de telecomunicao; Servios de lease e aluguel

    de equipamentos de TIC; Outros servios de TIC. 25

    Assim, o quanto as TIC podem facilitar e acelerar a incluso realado neste relatrio. A Figura 1.3 oferece um exemplo da diversidade potencial das TIC, inseridas em uma srie de estratgias educacionais usadas pela Universidade johns hopkins, nos Estados Unidos26:

    Figura 1.3.: Intervenes Educacionais de TIC para PCD*

    Intervenes Educativas comTIC para PCD

    Abordagens multissensoriais com diferentes canais funcionais de aprendizagemRecursos de

    aprendizagem apropriados

    Websites acessveis

    TI e TIC assistivas

    Material de apoio adequado e suporte visual

    Processamento de palavras

    Sintetizador de fala

    Transcrio de texto em temporealpara aulas

    Apps para tablets e smartphones

    Equipamento assistivo de aprendizagem

    Grandes telas de impresso

    Impresses em Braille

    Dirios integrados com aviso prvio

    Tarefas (nos formatos eletrnicosapropriados)

    Gravaes de udio dos instrutores/trabalhos dos alunos

    Material de consulta

    Tarefas Assimilaes

    Verses legendadas para vdeos e filmes

    Canais de comunicao

    Adaptado da Universidade Johns Hopkins, EUA, por M. Blakemore

    * 1. TI e TIC assistivas: Processamento de palavras (corretor ortogrfico, predio de palavras, teclado e mouse modificados), (ii) Sintetizador de fala, (iii) Transcrio de texto em tempo real para aulas com instrutor equipado com microfone, (iv) Apps para tablets e smartphones, (v)Equipamento assistivo de aprendizagem, (vi) Grandes telas de impresso, (vii) Impresses em Braille. 2. Websites acessveis. 3. Abordagens multissensoriais com diferentes canais funcionais de aprendizagem. 4. Recursos de aprendizagem apropriados: (i) Material de apoio adequado e suporte visual, (ii) Dirios integrados com aviso prvio da programao da turma e/ou mudanas de sala, (iii) Tarefas disponveis nos formatos eletrnicos apropriados, (iv) Gravaes de udio das apresentaes dos instrutores e trabalhos dos alunos, (v) Material de consulta, (vi) Tarefas assimilaes (uso de um computador com sintetizador de voz), (vii) Verses de vdeos e filmes com legendas fechadas, (viii) Canais de comunicao (e-mail, fax, processador de texto para discusses com o instrutor).

    25. OECD. (2009). Information Economy Product Definitions Based on the Central Product Classification (Version 2). OECD, junho, [acesso em 2 de setembro de 2012]. http://www.oecd.org/science/scienceandtechnologypolicy/42978297.pdf

    26. http://web.jhu.edu/disabilities/faculty/guidelines.html

    http://www.oecd.org/science/scienceandtechnologypolicy/42978297.pdfhttp://web.jhu.edu/disabilities/faculty/guidelines.html

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    PARTE 1

    E isto no significa, de forma alguma, que a lista seja totalmente abrangente. Tais intervenes com TIC tambm precisam se encaixar em outros contextos do ambiente de aprendizagem, incluindo a funo do professor. Nesse contexto, o fator crucial ser a habilidade dos professores de usar as TIC para uma comunicao eficaz com pessoas que tm uma srie de deficincias, supondo-se que eles sejam capazes de reconhecer quais intervenes educacionais so adequadas a que deficincia. O treinamento dos professores, outros educadores (a equipe de apoio, por exemplo) e bibliotecrios frequentemente citado como necessidade em pases da frica. Os professores so treinados para usar formas diferentes de comunicao? Eles conhecem lngua de sinais? Conseguem variar estilos de ensino de acordo com as necessidades das PCD? A disposio do ambiente de ensino apropriada? Estratgias e ambientes diferentes de ensino podem ser usados?

    Em suma, para se estabelecer parmetros e avaliaes, importante ter uma ideia clara do que so as TIC. Entretanto, at mesmo em um contexto de avaliao, o vnculo entre TIC, PCD e o acesso informao e ao conhecimento est nos resultados. Neste relatrio, a definio de TIC enfatiza a incluso, mas tambm trata das polticas pblicas e regulamentaes para TIC at o momento, j que elas afetam o desenvolvimento de intervenes com TIC para pessoas com deficincia.

    As TIC devem ser pensadas em seu sentido mais amplo, desde regulamentao e concorrncia at polticas inclusivas,

    passando pelos dispositivos e aplicativos relevantes para as PCD.

    1.3 Termos e Contexto O acesso informao e ao conhecimento

    O acesso informao e ao conhecimento foi conceituado de forma mais ampla neste relatrio para significar: o acesso, avaliao e manuteno de informaes para a criao e difuso do conhecimento utilizando as tecnologias adequadas para construir Sociedades do Conhecimento27 inclusivas, pluralistas, igualitrias, abertas e participativas. No Relatrio da Sociedade do Conhecimento de 2005, a UNESCO identificou a informao e o conhecimento como recursos essenciais para o desenvolvimento individual, envolvimento social e crescimento econmico, discutindo os desafios existentes, tais como a desigualdade e a excluso.28 De fato, difcil construir sociedades do conhecimento inclusivas (como idealizado pelo WSIS, ODm e outros compromissos internacionais relevantes) se as polticas pblicas e programas de uma sociedade, assim como seus produtos e servios, no atendem as necessidades das pessoas com deficincia. Informaes e conhecimento relevantes so elementos fundamentais para conseguirmos alcanar os objetivos de Educao para Todos com seus trs pilares temticos: i) todas as crianas na escola, ii) qualidade na educao e iii) cidadania global29, que discutem a gratuidade e obrigatoriedade da educao bsica e, principalmente, analisam de modo amplo o seguinte:

    27. http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/

    28. UNESCO. (2005a). Towards Knowledge Societies. UNESCO, [acesso em 2 de setembro de 2012]. http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001418/141843e.pdf

    29. Narayan, Swati. (2012). Education for All: Beyond 2015. Mapping Current International Actions to Define the Post-2015 Education and Development Agendas. UNESCO, junho, [acesso em 12 de setembro de 2012]. http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002179/217935e.pdf

    http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/http://unesdoc.unesco.org/http://unesdoc.unesco.org/

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    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

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    Formas de educao e educao bsica: a educao formal e no formal e a alfabetizao e educao para adultos como um componente fundamental da educao bsica. O conceito de educao ao longo da vida essencial.30

    Figura 1.4.: Sociedade do Conhecimento*

    Sociedades do Conhecimento

    Acesso

    Dados Informao

    Necessidades e Direitos Humanos

    Pluralismo Incluso Diversidade Abertura Participao

    Conhecimento

    Preservao Criao Disseminao

    * Nvel 1: necessidades e direitos humanos; Nvel 2: pluralismo, incluso, diversidade, abertura, participao; nvel 3: dados, informao, conhecimento; nvel 4: acesso, preservao, criao, disseminao; nvel 5: sociedades do conhecimento.

    Portanto, um fator crucial que a informao e conhecimento sejam adquiridos em todas as idades por meio da aprendizagem ao longo da vida e isso, o Instituto da UNESCO para Aprendizagem ao longo da vida (UIl) enfatiza, "servir para garantir que todas as formas de educao e aprendizagem formais, no formais e informais sejam reconhecidas, valorizadas e disponibilizadas para suprir as demandas de indivduos e comunidades no mundo todo" 31. Em outras palavras, pessoas com deficincia no so, no contexto educativo, apenas crianas com deficincia, mas sim aprendizes em todas as etapas da vida . Ele tambm reconhece que a aprendizagem no obtida exclusivamente em ambientes formais, mas pode acontecer em qualquer contexto. Como este relatrio ir mostrar, as TIC podem beneficiar a educao em todas as etapas da vida, em todos os contextos.

    A UNESCO tambm promove a educao inclusiva de modo mais amplo, discutindo-a do ponto de vista dos direitos fundamentais, onde "um sistema inclusivo pode beneficiar todos os aprendizes, sem discriminao para com um indivduo ou grupo. Ele fundamentado em valores democrticos, de tolerncia e respeito pelas diferenas 32.

    30. UNESCO. (2007). Operational Definition of Basic Education. UNESCO, [acesso em 25 de setembro de 2012]. http://www.unesco.org/education/framework.pdf

    31. http://uil.unesco.org/about-us/news-target/mission/9eab8155976eb1c9613a0c56a4d22e99/

    32. UNESCO. (2012m). Ten questions on inclusive education. UNESCO, outubro, [acesso em 9 de outubro de 2012]. http://www.unesco.org/new/en/education/themes/strengthening-education-systems/inclusive-education/10-questions-on-inclusive-quality-education/

    http://www.unescohttp://uil.unesco.org/about-us/news-target/mission/9eab8155976eb1c9613a0c56a4d22e99/http://www

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    PARTE 1

    A complexidade dos contextos educacionais necessrios para proporcionar incluso foi detalhado num estudo sobre programas educativos para PCD na frica do Sul, no qual a concluso geral foi:

    O estudo revelou algumas complexidades que envolvem a relao entre deficincia, educao e participao na sociedade por meio de emprego satisfatrio e adequadamente remunerado. Para alcanar os objetivos da UNCRDP , no entanto, necessrio que as intervenes no sistema educacional, para melhorar sua qualidade e relevncia, aconteam paralelamente a pesquisas que gerem mais conhecimento sobre os obstculos e facilitadores para a participao plena dos jovens com deficincia" 33.

    A nfase final nos obstculos crucial para melhorar a compreenso do contexto educacional, pois h barreiras educao inclusiva, incluso em negcios e setores pblicos, bem como outros mbitos pertinentes especificamente s PCD. O estudo sobre educao e capacitao das PCD no Sri lanka, Qunia, Serra leoa e China aconselha que preciso fazer maiores esforos para:

    1. Criar mecanismos de coordenao entre ministrios;

    2. Criar vnculos mais fortes entre provedores de Educao, de TVET e o setor de negcios e emprego, inclusive iniciativas para aprendizes, que podem levar ao emprego, e fazer uma conexo mais forte entre a TVET e as demandas dos mercados de trabalho locais;

    3. Melhor compreenso das necessidades dos jovens com deficincia nas instituies educacionais

    e de TVET 34.

    A conjuntura, at o momento, sugere que o cenrio complexo e multitemtico quando se trata da educao para PCD, independentemente do quanto as TIC podem melhorar o processo. Apesar das pessoas com deficincia serem o maior grupo em risco de excluso social e do mercado de trabalho, fato observado na prxima parte, alguns pases possuem ministrios dedicados ao tema: o Reino Unido conta com o ministro para Pessoas com Deficincia35, a ndia com o Comissrio-chefe para as Pessoas com Deficincia36, a frica do Sul possui o Departamento para mulheres, Crianas e Pessoas com Deficincia37, e a Nova Zelndia conta com a ministra para Assuntos de Deficincia, dentro do ministrio de Desenvolvimento Social38.

    Portanto, na maior parte dos casos as intervenes para pessoas com deficincia acontecem em diversas agncias e ministrios do governo. O fato das intervenes serem multiagncia e de diferentes governos terem diferentes estruturas de ministrios etc. significa que organizaes globais como a UNESCO tm ainda mais valor ao fornecer acesso estruturado informao, conhecimento e boas prticas. No h apenas um modelo organizacional aplicvel a todos os pases, mas a necessidade de intervenes holsticas claramente aplicvel a todos os contextos.

    33. EIde, Arne H. (2012). Education, employment and barriers for young people with disabilities in southern Africa. UNESCO, [acesso em 25 de setembro de 2012]. http://www.unesco.org/ulis/cgi-bin/ulis.pl?catno=217877&set=508FDC44_3_49&gp=1&lin=1&ll=1

    34. Kett, Maria. (2012b). Skills development for youth living with disabilities in four developing countries. UNESCO, agosto, [acesso em 25 de setembro de 2012]. http://www.unesco.org/ulis/cgi-bin/ulis.pl?catno=217882&set=508FE00C_2_35&gp=1&lin=1&ll=1

    35. http://odi.dwp.gov.uk/about-the-odi/the-minister-for-disabled-people.php

    36. http://www.ccdisabilities.nic.in/

    37. http://www.dwcpd.gov.za/

    38. http://www.odi.govt.nz/

    http://www.unesco.org/ulis/cgi-bin/ulis.pl?catno=217877&set=508FDC44_3_49&gp=1&lin=1&ll=1http://www.unesco.org/ulis/cgi-bin/ulis.pl?catno=217882&set=508FE00C_2_35&gp=1&lin=1&ll=1http://odi.dwp.gov.uk/about-the-odi/the-minister-for-disabled-people.phphttp://www.ccdisabilities.nic.in/http://www.dwcpd.gov.za/http://www.odi.govt.nz/

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    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

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    Proporcionar acesso relevante e eficaz informao e ao conhecimento para PCD no inclui somente as TIC, apesar de ser uma questo fundamental neste relatrio. Outros aspectos incluem a capacitao dos professores para usar Tecnologias Assistivas (TA) e TIC, alm do fornecimento de apostilas adaptadas em idioma local para os alunos. Para esse contexto, a UNICEF destaca questes mais amplas relacionadas incluso na sala de aula, acessibilidade dos prdios e tcnicas de aprendizagem.39 Ela faz as seguintes perguntas especficas sobre acessibilidade para crianas com deficincia:

    Os alunos com deficincia so includos nas aulas do sistema comum de educao?

    livros em Braille ou udio so fornecidos aos alunos que necessitam?

    Os recursos audiovisuais possuem legendas fechadas para os alunos com deficincias auditivas?

    livros com texto em fontes grandes so fornecidos a estudantes com deficincias visuais?

    A informao fornecida num formato de fcil compreenso?

    O estudante com deficincia recebe suporte e servios conforme necessrio?

    Se a informao no est disponvel em Braille, h suporte dos colegas para ler / descrever os materiais?

    h equipamento digital / computadores acessveis (instalaes fsicas, hardware, software e Internet)?40

    Nesse ponto os desafios educacionais mais amplos so vinculados a processos de TIC e, agora, interagem com o mais complexo dos trs temas tratados neste relatrio: Quem tem deficincia e quais so as TIC e as intervenes de que eles precisam para ter acesso informao e ao conhecimento? a que os esforos da UNESCO esto mais concentrados por meio de atividades, tais como pesquisas pelo Instituto de Tecnologias de Informao na Educao (IITE) da UNESCO, que promove "uma viso mais ampla do conceito de educao inclusiva e apoia o dilogo sobre polticas pblicas e iniciativas para o desenvolvimento de estratgias nacionais e-inclusivas". 41

    As intervenes so necessrias, mais do que apenas moldes de polticas pblicas (que facilitam aes e do a elas modelos organizacionais) e tecnologias (do acesso Internet s tecnologias assistivas e relevantes), mas essencial que incluam contedo (currculo, software etc.) e capacitao. A mais sofisticada estrutura de TIC no tem grande utilidade, a no ser que o contedo relevante seja fornecido de maneira inclusiva aos usurios (PCD) e por meio de canais e formatos mais apropriados a eles (Figura 1.5: Intervenes). Nesse contexto, os avanos em TIC esto ligados disponibilidade de

    39. UNICEF. (2009). Its About Ability: Learning Guide on the Convention on the Rights of Persons with Disabilities. UNICEF, maio, [acesso em 15 de setembro de 2012]. http://www.unicef.org/publications/files/Its_About_Ability_learning_Guide_EN.pdf

    40. Ibid., ibid.

    41. UNESCO. (2012o). UNESCO IITE Policy and Research ICT in education for people with disabilities. UNESCO, [acesso em 9 de outubro de 2012]. http://iite.unesco.org/policy_and_research/icts_in_special_needs/

    http://www.unicef.org/publications/files/Its_About_Ability_Learning_Guide_EN.pdfhttp://iite.unesco.org/policy_and_research/icts_in_special_needs/

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    PARTE 1

    contedo e currculo, por exemplo, com os FOSS42, Softwares livres e de Cdigo Aberto (programas e aplicativos apps e criao colaborativa de contedo e aplicativos por crowdsourcing) 43.

    Do ponto de vista de polticas pblicas, a educao se encontra em um dilema fundamental da incluso. As pessoas com deficincia devem ser educadas no sistema educacional comum ou precisam de programas educacionais especializados?

    Figura 1.5: Intervenes*

    Conjunto de polticas

    pblicas

    Contedo

    CapacitaoIntervenes

    Tecnologia

    * Intervenes: (i) conjunto de polticas pblicas, (ii) tecnologia, (iii) contedo e (iv) capacitao.

    O Artigo 24 da UNCRPD declara simplesmente que:

    Os Estados-parte reconhecem o direito das pessoas com deficincia educao. Para efetivar esse direito

    sem discriminao e com base na igualdade de oportunidades, os Estados-parte asseguraro um sistema

    educacional inclusivo em todos os nveis, bem como a aprendizagem ao longo de toda a vida. 44.

    O Artigo 9 da UNCRPD afirma que:

    Os Estados-parte tomaro as medidas apropriadas para desenvolver, promulgar e monitorar a

    implementao de normas e diretrizes mnimas para a acessibilidade das instalaes abertas ao

    pblico ou de uso pblico.

    Nesses artigos, h expectativas claras de que as PCD tero acesso informao e ao conhecimento, que professores devem ser treinados para educar PCD e que as TA sero usadas (e isso ser apontado

    42. UNESCO. (2012i). Free and Open Source Software (FOSS). UNESCO, outubro, [acesso em 9 de outubro de 2012]. http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/access-to-knowledge/free-and-open-source-software-foss/, UNESCO. (2012l). Open Educational Resources in Non-English-Speaking Countries. UNESCO, [acesso em 9 de outubro de 2012]. http://iite.unesco.org/publications/3214703/

    43. UNESCO. (2012e). Crowdsourcing for education. UNESCO, 8 de outubro, [acesso em 9 de outubro de 2012]. http://www.unesco.org/new/en/unesco/themes/icts/single-view/news/crowdsourcing_for_education/

    44. UN. (2006). Convention on the Rights of Persons with Disabilities. United Nations, 6 de dezembro, [acesso em 9 de outubro de 2012]. http://www.un.org/esa/socdev/enable/rights/convtexte.htm

    http://wwwhttp://iite.unesco.org/publications/3214703/http://www.unescohttp://www.un.org/esa/socdev/enable/rights/convtexte.htm

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    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

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    posteriormente como uma grande preocupao nos estudos regionais), mas acima de tudo, de que os Estados-parte devem assegurar o acesso de pessoas com deficincia a programas habitacionais pblicos."45

    Ao invs de especificar locais para a educao, a Conveno estabelece objetivos amplos importantes no Artigo 24:

    O pleno desenvolvimento do potencial humano e do senso de dignidade e autoestima, alm do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela diversidade humana;

    O mximo desenvolvimento possvel da personalidade, dos talentos e da criatividade das pessoas com deficincia, assim como de suas habilidades fsicas e intelectuais;

    A participao efetiva das pessoas com deficincia em uma sociedade livre.46

    Com essas metas como objetivos principais, claro que quanto mais as PCD forem includas, tiverem educao e suas necessidades respeitadas e acomodadas em todos os setores, maior ser sua chance de incluso. Quanto mais os sistemas e ambientes educacionais forem projetados para todos, ao invs de segregar as PCD, maior a possibilidade do Desenho Inclusivo se tornar o padro esperado por todos. E quanto mais as boas prticas e experincias de aprendizagem forem compartilhadas, maior a chance de haver compartilhamento intercultural de direitos e valores de vida numa sociedade inclusiva.

    As TIC, no contexto da educao para PCD, so importantes porque tm a capacidade de facilitar a incluso de forma inovadora, o contedo educacional inovador e de estimular o compartilhamento aberto de aplicativos e contedo.

    E os programas educacionais devem ficar dentro do modelo tradicional, no qual os professores ensinam os alunos sem nenhuma aplicao especfica de TA ou TIC? Algumas experincias recentes na Etipia indicam que o potencial para aprendizagem colaborativa (independente de professores e de escolas formais) entre crianas significativa. A maioria dos sistemas educacionais baseado na premissa de que os professores devem passar suas habilidades, conhecimento e competncias s crianas. Por outro lado, o seguinte aconteceu no projeto OlPC (Um laptop por Criana):

    O projeto est tentando algo novo em dois vilarejos remotos na Etipia computadores tipo tablet

    sero simplesmente entregues, equipados com programas pr-carregados, para ver o que acontece.

    O objetivo: ver como crianas analfabetas, sem nenhuma exposio prvia palavra escrita,

    conseguem aprender a ler por si ss ao experimentar com o tablet e seus jogos pr-carregados para

    treinar o alfabeto, livros digitais, filmes, desenhos animados, pinturas, entre outros programas 47.

    45. ibid.

    46. ibid.

    47. Talbot, David. (2012b). Given Tablets but No Teachers, Ethiopian Children Teach Themselves. Technology Review, 29 de outubro, [acesso em 29 de outubro de 2012]. http://www.technologyreview.com/news/506466/given-tablets-but-no-teachers-ethiopian-children-teach-themselves/

    http://www.technologyreview.com/news/506466/given-tablets-but-no-teachers-ethiopian-children-teach-themselves/http://www.technologyreview.com/news/506466/given-tablets-but-no-teachers-ethiopian-children-teach-themselves/http://www.technologyreview.com/news/506466/given-tablets-but-no-teachers-ethiopian-children-teach-themselves/

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    PARTE 1

    Os lderes do experimento descreveram os primeiros resultados do projeto48, que comeou sem interveno dos adultos. Caixas fechadas contendo os tablets (de baixo custo e com bateria solar) foram simplesmente deixadas para as crianas abrirem e no incluam instrues. Os resultados radicais esto levando at mesmo ao questionamento das abordagens educativas tradicionais e sugerem que algumas das inovaes em pases em desenvolvimento so relevantes tanto para grupos excludos quanto para a aprendizagem geral nos pases mais desenvolvidos 49.

    Finalmente, voltando ao tema da educao ao longo da vida, h pouco a se ganhar quando fornecemos TIC e educao sofisticadas para PCD se as pessoas envolvidas no se tornarem membros produtivos e engajados da fora de trabalho e da sociedade. Para a OCDE isso significa 'transformar deficincia em eficincia:

    "Um objetivo assegurar que os cidados com deficincia no sejam excludos da sociedade, mas que

    recebam o estmulo e a capacitao para participar da vida econmica e social to plenamente

    quanto possvel, especialmente obtendo um bom emprego, sem serem excludos do mercado de

    trabalho facilmente ou precocemente. O outro objetivo assegurar que as pessoas com deficincia, ou

    que desenvolvam alguma deficincia, tenham segurana financeira: que a elas no seja negada uma

    forma de viver dignamente por causa das deficincias que restringem seu potencial de ganho 50.

    Uma pesquisa feita pela OCDE mostra que estudantes com deficincia acham que fazer a transio entre ensino secundrio e tercirio mais difcil do que para os outros e isso gera um impacto negativo em suas possibilidades no mercado de trabalho51. Essa descoberta est de acordo com outro estudo recente da UNESCO, na frica Austral, que observou "as complexidades envolvidas na relao entre deficincia, educao e participao na sociedade por meio de emprego satisfatrio e adequadamente remunerado" 52.

    As TIC tm um papel importante de ajudar as PCD na transio da educao para o trabalho, por exemplo, ao permitir que adquiram competncias sociais e ao prepar-las para utilizar as TIC que encontraro em seu local de trabalho.

    48. Ananian, C. Scott, Chris J Ball, and Michael Stone. (2012). Growing Up With Nell: A Narrative Interface for Literacy. ACM International Conference Proceeding Series, junho, [acesso em 31 de outubro de 2012]. http://cscott.net/Publications/OlPC/idc2012.pdf

    49. Tett, Gillian. (2012). When tablet turns teacher. Financial Times (London), 5 de outubro, [acesso em 31 de outubro de 2012]. http://www.ft.com/cms/s/2/6a071e00-0db6-11e2-97a1-00144feabdc0.html#axzz2ArQsWOnj

    50. http://www.oecd.org/els/employmentpoliciesanddata/transformingdisabilityintoability.htm

    51. OECD. (2011). Inclusion of Students with Disabilities in Tertiary Education and Employment. OECD, 27 de maio, [acesso em 30 de maio de 2011]. http://www.oecdbookshop.org/oecd/display.asp?K=5KGGh3ZTK1KB&CID=&lANG=EN

    52. EIde, Arne H. (2012). Education, employment and barriers for young people with disabilities in southern Africa. UNESCO, [acesso em 25 de setembro de 2012]. http://www.unesco.org/ulis/cgi-bin/ulis.pl?catno=217877&set=508FDC44_3_49&gp=1&lin=1&ll=1

    http://cscott.net/Publications/OLPC/idc2012.pdfhttp://www.ft.com/cms/s/2/6a071e00-0db6-11e2-97a1-00144feabdc0.html#axzz2ArQsWOnjhttp://www.oecd.org/els/employmentpoliciesanddata/transformingdisabilityintoability.htmhttp://www.oecdbookshop.org/oecd/display.asp?K=5KGGH3ZTK1KB&CID=&LANG=ENhttp://www.unesco.org/ulis/cgi-bin/ulis.pl?catno=217877&set=508FDC44_3_49&gp=1&lin=1&ll=1

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    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

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    1.4 Termos e Contexto Pessoas com Deficincia

    vistos como uma comunidade generalizada, as pessoas com deficincia compem uma proporo significativa dos cidados globais, so a minoria mais numerosa do mundo e cerca de 80% deles vivem em pases em desenvolvimento" 53. Um relatrio recente da OmS observou:

    Estima-se que 15% da populao mundial viva com alguma forma de deficincia. Dessa parcela, entre 2% e 4% enfrentavam dificuldades funcionais significativas. A prevalncia mais alta

    do que as estimativas precedentes da Organizao Mundial da Sade, as quais datam de 1970 e

    sugerem aproximadamente 10%. 54

    Globalmente, as PCD compem cerca de 15% da populao mundial.

    E que:

    O nmero de pessoas com deficincia est aumentando. H um maior risco de deficincia na

    velhice e as populaes nacionais esto ficando mais velhas a taxas sem precedentes. H tambm

    um aumento global de condies crnicas, como diabetes, doenas cardiovasculares e distrbios

    mentais, o que ir influenciar a natureza e prevalncia da deficincia. Nos diferentes pases, os

    padres de deficincia so influenciados por tendncias nas condies de sade, fatores ambientais

    e outros como acidentes automobilsticos, desastres naturais, conflitos, dietas e abuso de drogas. 55

    A UNICEF, em um estudo na frica, se concentra nas causas:

    "Informaes separadas por pas sugerem que entre 5% e 10% de todas as crianas na frica crescem

    com deficincias. As maiores causas de deficincia alm de sndromes genticas e complicaes no

    parto incluem a poliomielite, sarampo, meningite e malria cerebral, assim como servios de sade pr-

    natal e neonatal inadequados, alm da m alimentao, que causa distrbios do crescimento."56

    80% das PCD esto em pases em desenvolvimento, menos capazes de proporcionar solues abrangentes por meio de polticas pblicas.

    a heterogenia dessa 'minoria' que oferece tantos desafios, porm, existe uma homogenia preocupante dos resultados da excluso de pessoas com deficincia dos servios populares. Sua distribuio no mundo desigual, com uma proporo maior de pessoas nos pases menos capazes de cuidar de suas

    53. UN. (2012c). Persons with Disabilities. United Nations, [acesso em 9 de outubro de 2012]. http://www.un.org/en/globalissues/disabilities/index.shtml

    54. WHO. (2012c). World report on disability. World Health Organisation and the World Bank, [acesso em 15 de outubro de 2012]. http://www.who.int/disabilities/world_report/2011/en/index.html

    55. Ibid.

    56. UNICEF. (2012). Africa: UNICEF Calls for Social Inclusion of Children With Disabilities in Africa. United Nations Childrens Fund, 18 de junho, [acesso em 13 de agosto de 2012]. http://allafrica.com/stories/201206180384.html

    http://www.un.org/en/globalissues/http://www.who.int/disabilities/world_report/2011/en/index.htmlhttp://allafrica.com/stories/201206180384.html

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    PARTE 1

    necessidades. No contexto deste relatrio, portanto, o desafio por associao fornecer solues inovadoras utilizando TIC de baixo custo, eficientes e eficazes.

    As mais marginalizadas entre as PCD marginalizadas so meninas e mulheres com deficincia. mulheres com deficincia enfrentam muito mais dificuldades tanto no meio pblico quanto privado na obteno de acesso adequado habitao, sade, educao, capacitao profissional e emprego, alm de estarem mais suscetveis a serem institucionalizadas 57. O Banco mundial relata que a cada minuto "mais de 30 mulheres so seriamente feridas ou incapacitadas durante o trabalho de parto e que as complicaes e deficincias advindas no so devidamente reconhecidas58.

    Outro desafio est relacionado s questes de reconhecimento desigual do que 'deficincia'. A UNCRPD oferece uma definio formal:

    "Pessoas com deficincia so aquelas que tm impedimentos de longo prazo de natureza fsica,

    mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interao com diversas barreiras, podem obstruir

    sua participao plena e efetiva na sociedade em igualdade de condies com as demais pessoas". 59

    Entretanto, a Conveno reconhece claramente que a definio depender do lugar, cultura, poltica e contexto:

    Reconhecendo que a deficincia um conceito em evoluo e que a deficincia resulta da

    interao entre pessoas com deficincia e as barreiras devidas s atitudes e ao ambiente, que

    impedem a plena e efetiva participao dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades

    com as demais pessoas." 60

    A definio da UNESCO est de acordo com a da Organizao mundial da Sade:

    A deficincia um termo complexo que abrange incapacidade, limitaes e restries para

    participar de atividades. Incapacidades so problemas de funes corporais ou alteraes de

    estruturas do corpo; limitaes so dificuldades para executar certas atividades ou aes; restries

    participao so problemas que envolvem a participao de indivduos em aspectos da vida.

    Portanto, a deficincia um fenmeno complexo, que reflete a interao entre caractersticas

    corporais de uma pessoa e as caractersticas da sociedade onde ela vive. 61

    o contexto social, mdico e poltico que apresenta desafios especficos porque a interface entre a deficincia e a educao depende, primeiramente, da deficincia ser reconhecida formalmente e, consequentemente, garantir PCD o recebimento de uma interveno ou servio. A deficincia uma condio independente da cidadania, mas, como os prximos exemplos mostraro, a aceitao de que uma condio uma deficincia est distribuda de modo desigual em governos, culturas e sistemas educacionais.

    57. Kothari, Miloon. (2005). Women and adequate housing. United Nations Economic and Social Council, 23 de fevereiro, [acesso em 24 de outubro de 2012]. http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G05/112/98/PDF/G0511298.pdf?OpenElement

    58. http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAl/TOPICS/EXThEAlThNUTRITIONANDPOPUlATION/EXTPRh/0,,contentmDK:20286128~menuPK:632615~pagePK:148956~piPK:216618~theSitePK:376855,00.html

    59. ibid

    60. UN. (2006). Convention on the Rights of Persons with Disabilities. United Nations, 6 de dezembro, [acesso em 9 de outubro de 2012]. http://www.un.org/esa/socdev/enable/rights/convtexte.htm

    61. http://www.who.int/topics/disabilities/en/

    http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G05/112/98/PDF/G0511298.pdf?OpenElementhttp://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/TOPICS/EXTHEALTHNUTRITIONANDPOPULATION/EXTPRH/0http://www.un.org/esa/socdev/enable/rights/convtexte.htmhttp://www.who.int/topics/disabilities/en/

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    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

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    A Figura 1.6 d algum contexto para deficincias, conforme so reconhecidas pela Universidade johns hopkins 62 com as categorias amplas e as quatro reas de informao fornecidas sobre cada uma:

    Figura 1.6.: Tipos de Deficincias*

    Tipos de Deficincias

    Para cada uma das deficincias

    Terminologia

    Caractersticas

    Consideraes

    Estratgias de instruo

    Acomodaes

    Surdez / deficincia auditiva

    Dano cerebral

    Cegueira / deficincia visual

    Dficit de ateno / distrbios de hiperatividade

    Distrbios clnicos

    Deficincia fsica

    Distrbios psiquitricos

    Distrbios da fala / linguagem

    Distrbios de aprendizagem

    Adaptado da Universidade Johns Hopkins por M. Blakemore

    * Tipos de deficincias: (i) surdez / deficincia auditiva, dano cerebral, cegueira / deficincia visual, dficit de ateno / distrbios de hiperatividade, distrbios clnicos, deficincia fsica, distrbios psiquitricos, distrbios da fala e linguagem, distrbios de aprendizagem. (ii) Para cada uma das deficincias: terminologia, caractersticas, consideraes, estratgias de instruo, acomodaes.

    Os educadores, governos e indstria precisam, primeiro, reconhecer quais so as caractersticas de cada uma das condies de sade e em seguida, quais so as intervenes necessrias. Adicionalmente, comum que um aluno no possua apenas uma deficincia, mas vrias, e algumas delas podem causar maior impacto no sistema educacional do que outras. Algumas deficincias so de curto prazo (por exemplo, dificuldade de mobilidade causada por uma leso), outras so permanentes. Essa complexidade ficou publicamente mais evidente durante as Paralimpadas de 2012, onde o sistema de classificao 63 foi negociado e aceito em escala global. Nas Paralimpadas de londres isso significou:

    "Durante a classificao que envolve a observao de tarefas e atividades especficas de cada

    esporte os atletas so avaliados por sua habilidade de realizar uma determinada tarefa. No caso de

    dvidas, haveria um exame fsico tambm." 64.

    62. http://web.jhu.edu/disabilities/faculty/types_of_disabilities/

    63. http://www.paralympic.org/Classification/Introduction

    64. LOCOG. (2012). The London 2012 guide to the Paralympic Games. The London Organising Committee of the Olympic Games and Paralympic Games Ltd, [acesso em 1 de outubro de 2012]. http://www.london2012.com/mm%5CDocument%5CPublications%5Cjoinin%5C01%5C24%5C08%5C10%5Clondon-2012-guide-to-the-paralympic-games.pdf

    http://web.jhu.edu/disabilities/faculty/types_of_disabilities/http://www.paralympic.org/Classification/Introductionhttp://www.london2012.com/mm%5CDocument%5CPublications%5

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    PARTE 1

    Para a Conveno das Naes Unidas, no h um conjunto de deficincias reconhecido globalmente, como a seo de questes mais frequentes do documento (FAQ) confirma.65. A Figura 1.7 mostra os pontos-chave.

    Figura 1.7.: Conveno das Naes Unidas e "Deficincia"*

    Sem definio fixa

    A Conveno no inclui uma definio de deficincia ou de pessoas com deficincia. No entanto, os elementos do Prembulo e do Artigo 1 fornecem diretrizes que esclarecem como a Conveno deve ser aplicada.

    O Artigo 1 declara que, Pessoas com deficincia so aquelas que tm impedimentos de longo prazo de natureza fsica, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interao com diversas barreiras, podem obstruir sua participao plena e efetiva na sociedade em igualdade de condies com as demais pessoas".

    A noo de deficincia no fixa e pode ser alterada de acordo com o ambiente prevalente em cada sociedade.

    Um conceito em evoluo

    O Prembulo reconhece que a deficincia um conceito em evoluo e que a deficincia resulta da interao entre pessoas com deficincia e as barreiras devido s atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participao dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas".

    Ao derrubar barreiras ambientais e de atitudes, ao invs de tratar as pessoas com deficincia como problemas a serem consertados, elas podem participar da sociedade como membros ativos e desfrutar plenamente de seus direitos.

    A Conveno no restringe a cobertura de pessoas especficas. Ao invs disso, ela afirma que pessoas com impedimentos fsicos, mentais, intelectuais e sensoriais de longo prazo so beneficiados pela Conveno. A referncia aos includos assegura que isso no deve restringir a aplicao da Conveno e os Estados-parte poderiam tambm assegurar a proteo de outros.

    Conveno das Naes Unidas e Deficincia

    Adaptado da Organizao das Naes Unidas por M. Blakemore

    * Conveno das Naes Unidas e "Deficincia": 1. Sem definio fixa: (i) A Conveno no inclui uma definio de "deficincia" ou de "pessoas com deficincia". No entanto, os elementos do Prembulo e do Artigo 1 fornecem diretrizes que esclarecem como a Conveno deve ser aplicada. (ii) O Artigo 1 declara que, "Pessoas com deficincia so aquelas que tm impedimentos de longo prazo de natureza fsica, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interao com diversas barreiras, podem obstruir sua participao plena e efetiva na sociedade em igualdade de condies com as demais pessoas". (iii) A noo de "deficincia" no fixa e pode ser alterada de acordo com o ambiente prevalente em cada sociedade. 2. Um conceito em evoluo: (i) O Prembulo reconhece que "a deficincia um conceito em evoluo e que a deficincia resulta da interao entre pessoas com deficincia e as barreiras devido s atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participao dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas". (ii) Ao derrubar barreiras ambientais e de atitudes, ao invs de tratar as pessoas com deficincia como problemas a serem consertados, elas podem participar da sociedade como membros ativos e desfrutar plenamente de seus direitos. (iii) A Conveno no restringe a cobertura de pessoas especficas. Ao invs disso, ela afirma que pessoas com impedimentos fsicos, mentais, intelectuais e sensoriais de longo prazo so beneficiados pela Conveno. A referncia aos "includos" assegura que isso no deve restringir a aplicao da Conveno e os Estados-parte poderiam tambm assegurar a proteo de outros.

    65. UN. (2012a). Frequently Asked Questions regarding the Convention on the Rights of Persons with Disabilities. UN Department of Economic and Social Affairs, Outubro, [acesso em 12 de outubro de 2012]. http://www.un.org/disabilities/default.asp?navid=24&pid=151#sqc3

    http://www.un.org/disabilities/default.asp?navid=24&pid=151#sqc3

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    Abrindo novos CAminhos pArA o EmpodErAmEnto

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    As definies de quem tem deficincia podem variar drasticamente de um pas para outro e a aceitao oficial de uma condio como deficincia tambm varia de acordo com o pas.

    Para a Universidade johns hopkins h uma lista detalhada (Figura 1.6) das condies que, reconhecidamente, necessitam de intervenes, entendimento de suas caractersticas e necessidades, bem como uma identificao clara das intervenes educacionais (de TIC ou no) que podem adicionar valor educativo. Por exemplo, no caso de dano cerebral, apontado pela Universidade como "uma das formas de deficincia que crescem mais rapidamente, principalmente na faixa etria de 15 a 28 anos", nos EUA, os estudantes podem apresentar dificuldades de diversos tipos:

    Organizao de raciocnio, relaes de causa e efeito e resoluo de problemas;

    Processamento de informao e verbalizao de palavras;

    Generalizao e integrao de habilidades;

    Interaes sociais;

    memria de curto prazo;

    Equilbrio e coordenao;

    Comunicao e fala.66

    Em outras palavras, uma combinao de intervenes, com e sem TIC para acessar informao e conhecimento, pode adicionar valor. Contudo, as listas anteriores no mostram que deve haver um pr-requisito para essas intervenes agregarem valor um ambiente de aprendizagem adequado. Em alguns pases desenvolvidos, funcionalidades, infraestrutura fsica, instalaes, equipe e servios oferecidos pelas instituies educacionais so, sem dvida, de alto padro. Porm, esse no um luxo possvel para estudantes em outros os pases e o volume de recursos necessrios para que se chegue a esse nvel pode estar aqum da capacidade de muitos sistemas de educao terciria. At mesmo em economias mais avanadas, no h sistemas abrangentes e totalmente inclusivos para garantir o acesso informao e ao conhecimento pelas PCD.

    No passado, a expectativa geral costumava ser de aguardar que o sistema educacional superasse os desafios. Essa uma viso tradicional do governo como provedor principal de servios pelos quais o cidado pagou, normalmente por meio de impostos. Contudo, no contexto das TIC atuais (e as que vm surgindo), existem oportunidades significativas para passarmos a uma fase de maiores parcerias e inovaes. A aprendizagem no precisa mais acontecer dentro dos limites de uma 'sala de aula'. Contedo para o ensino e a aprendizagem est disponvel on-line, e grande parte dele 'aberto' disponvel gratuitamente. mais ainda, muitas inovaes de TIC, tais como sintetizadores de voz e reconhecimento automtico de voz, podem tornar texto e sons (viso e audio) mais acessveis para muitas PCD. Dispositivos protticos podem proporcionar oportunidades para pessoas que no podem usar os braos para manipular um dispositivo ou digitar textos.

    Aumentando a complexidade desta discusso, existem deficincias que podem ser grandes desafios no contexto de criao de polticas. Normalmente, elas so deficincias cognitivas e sndromes que exigem um diagnstico profissional. Elas, geralmente, caem sob a definio de 'NEE', ou 'Necessidades Educacionais

    66. ibid.

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    PARTE 1

    Especiais', e o desafio proporcionar intervenes educacionais que abordem as deficincias que, em geral, no tm delimitaes claras, por exemplo, o conjunto que abrange o TDO (Transtorno Desafiador Opositor), TDAh (Transtorno do Dficit de Ateno com hiperatividade 67) e Sndrome de Asperger.

    Para algumas pessoas que no possuem o treinamento para reconhecer e entender deficincias, aqueles com distrbios cognitivos podem ser rotulados como desobedientes, desafiadores ou desconcentrados, portanto, o potencial para que as PCD se beneficiem da educao inclusiva podem ser limitados pelo preconceito e falta de conhecimento do problema pela sociedade68.

    Quadros de referncias sobre polticas pblicas e legislativas oferecem grandes incentivos para uma adoo mais ampla das intervenes que ajudam as pessoas com deficincia a acessar informao e conhecimento. Na Cpula mundial da Sociedade da Informao de 2012 a recomendao foi:

    Gerar conscientizao em todos os mbitos, do global ao local;

    Popularizar a acessibilidade compreender que deficincias no so condies estticas e que a maioria das pessoas ter algum tipo de deficincia durante a vida, especialmente medida que envelhecem;

    Criar estmulos e incentivos por me