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A DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E A INFLUÊNCIA DA OROGRAFIA DAS SERRAS DO CENTRO-SUL DE MINAS GERAIS ANTONIEL SILVA FERNANDES 1 ALECIR ANTONIO MACIEL MOREIRA 2 Resumo O artigo objetiva analisar a distribuição das chuvas no Quadrilátero Ferrífero, MG, e a correlação com a orografia, visando entender a gênese e a variabilidade deste fenômeno. Utilizou-se da Climatologia Geográfica através de técnicas das concepções estatística e dinâmica de clima. Os resultados demonstraram que o conjunto serrano influência a dinâmica da circulação geral e das correntes perturbadas (NIMER, 1072) elevando a pluviosidade na borda leste (Serra do Caraça) devido a sua imponente orografia, superiores a 2.000m. Palavras chave: Climatologia Geográfica, Quadrilátero Ferrífero, Distribuição das Chuvas, Orografia. Abstract This article aims do analyse the spacial distribution of rainfall in the Quadrilátero Ferrífero, MG, and its’ correlation to orography. It aims to comprehend the formation and variability of rainfall. Geographic Climatology gave methodological support statistic and dynamic climate interpretation tools were used. Results showed that the mountain ranges influences the dynamic of large scale circulation cells as other atmospheric systems (NIMER, 1972), increasing rainfall in the eastern border (Serra do Caraça) due to altitude which exceeds 2000m. Key-words: Geographic Climatology; Quadrilátero Ferrífero; Rainfall distribution; Orography 1 – Introdução A porção centro-sul de Minas Gerais (Figura 1) possui um conjunto de serras em formato de quadrilátero, com picos que podem atingir altitude superior a 2.000 metros, criando diferentes interfaces com a circulação. Em tese, estes fatores geográficos potencializam a ocorrência de diferentes domínios topo e microclimáticos. Se do ponto de vista da temperatura as constatações são mais óbvias, de que forma esse arranjo espacial pode interferir sobre as precipitações? A 1 Acadêmico do programa de pós-graduação Tratamento da Informação Espacial Geografia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do programa de pós-graduação Tratamento da Informação Espacial Geografia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail de contato: [email protected]

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Page 1: A DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E …

A DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E

A INFLUÊNCIA DA OROGRAFIA DAS SERRAS DO CENTRO-SUL DE

MINAS GERAIS

ANTONIEL SILVA FERNANDES1

ALECIR ANTONIO MACIEL MOREIRA2

Resumo

O artigo objetiva analisar a distribuição das chuvas no Quadrilátero Ferrífero, MG, e a correlação com a orografia, visando entender a gênese e a variabilidade deste fenômeno. Utilizou-se da Climatologia Geográfica através de técnicas das concepções estatística e dinâmica de clima. Os resultados demonstraram que o conjunto serrano influência a dinâmica da circulação geral e das correntes perturbadas (NIMER, 1072) elevando a pluviosidade na borda leste (Serra do Caraça) devido a sua imponente orografia, superiores a 2.000m.

Palavras chave: Climatologia Geográfica, Quadrilátero Ferrífero, Distribuição das Chuvas, Orografia.

Abstract

This article aims do analyse the spacial distribution of rainfall in the Quadrilátero Ferrífero, MG, and its’ correlation to orography. It aims to comprehend the formation and variability of rainfall. Geographic Climatology gave methodological support statistic and dynamic climate interpretation tools were used. Results showed that the mountain ranges influences the dynamic of large scale circulation cells as other atmospheric systems (NIMER, 1972), increasing rainfall in the eastern border (Serra do Caraça) due to altitude which exceeds 2000m.

Key-words: Geographic Climatology; Quadrilátero Ferrífero; Rainfall distribution; Orography

1 – Introdução

A porção centro-sul de Minas Gerais (Figura 1) possui um conjunto de serras

em formato de quadrilátero, com picos que podem atingir altitude superior a 2.000

metros, criando diferentes interfaces com a circulação. Em tese, estes fatores

geográficos potencializam a ocorrência de diferentes domínios topo e

microclimáticos. Se do ponto de vista da temperatura as constatações são mais

óbvias, de que forma esse arranjo espacial pode interferir sobre as precipitações? A

1 Acadêmico do programa de pós-graduação Tratamento da Informação Espacial – Geografia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do programa de pós-graduação Tratamento da Informação Espacial – Geografia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. E-mail de contato: [email protected]

Page 2: A DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E …

hipótese é de que, se as diferentes vertentes, em seu arranjo individual e conjunto,

interceptam a circulação de larga e meso-escala, então cada uma delas

potencialmente apresentará um comportamento pluviométrico e hígrico diferentes.

Figura 1- Quadrilátero Ferrífero na porção central de Minas Gerais. Fonte: Elaborado pelos autores.

Desta forma, este artigo tem por objetivo geral analisar a relação da

distribuição e gênese das chuvas com a orografia no Quadrilátero Ferrífero, MG.

São seus objetivos específicos: I. caracterizar a climatologia da precipitação

regional; II: caracterizar a fisiografia regional; III: identificar os principais sistemas

atmosféricos condicionadores da chuva; IV. caracterizar seu comportamento

temporal.

Sua relevância repousa na compreensão da relação sistêmica superfície-

atmosfera e a projeção dos atributos desta com o espaço geográfico.

2 - A abordagem na Climatologia Geográfica

A análise geográfica do Clima, pilar de investigação da Climatologia

Geográfica, é um ramo recente da ciência, e que se preocupa em correlacionar o

comportamento da dinâmica atmosférica e a organização do espaço.

O surgimento da Meteorologia de massas de ar e da Climatologia Dinâmica,

regional e episódica ocorreu entre 1945 e 1965 (Ab’Saber, 1979). Este evento é

condição primeira das mudanças conceituais de clima e dos esforços de

desenvolvimento de uma metodologia adequada ao seu tratamento diante dessa

Page 3: A DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E …

nova perspectiva, particularmente importante no campo da Geografia. As

transformações teórico-conceituais derivam da crítica de Pierre Pédelaborde e da

aplicação da noção genética e dinâmica do clima de Maximilian Sorre durante a

segunda metade do século XX.

A Climatologia Dinâmica surgiu como ruptura à análise tradicional do clima

(valores médios), tão utilizada ao final do séc. XIX e nas primeiras décadas do séc.

XX. Ela foi viabilizada após a incorporação da análise sinótica a partir dos princípios

termo-hidrodinâmicos e das teorias das frentes introduzidas pela a Escola de

Bergen3 nos estudos meteorológicos (JESUS, 2008; SANTA’ANNA NETO, 2015).

Na abordagem dinâmica, busca-se compreender a maneira como os

elementos e os fatores climáticos se manifestam na atmosfera, o quadro que eles

compõem e as ações fisiológicas que exercem através da análise das variações dos

elementos do clima, preferencialmente diários, na tentativa de alcançar as

seqüências rítmicas que explicam tais variações (BARROS; ZAVATTINI, 2009).

Essa pesquisa buscar analisar a região em estudo sobre o enfoque da

Climatologia Geográfica utilizando, para tanto, de técnicas das concepções

estatística e dinâmica de clima na construção das análises.

3 - Metodologias

Foram utilizadas abordagens estáticas e dinâmicas conforme orienta Monteiro

(1969), ao afirmar que as duas abordagens em Climatologia Geográfica se

complementam no conhecimento climatológico da Terra, uma vez que as técnicas

assumem atitudes diferentes em suas projeções no tempo e no espaço e, portanto,

devem ser utilizadas conjuntamente.

Na abordagem estática utilizou-se valores médios de precipitação extraídos

das Normais Climatológicas de 1981 – 2010. Os dados são oriundos das estações

3 A Escola de Bergen ou grupo de Bergen era composta por Vilhelm Bjerknes em associação ao um grupo de cientistas, dentre eles físicos, oceanógrafos, engenheiros e meteorologistas que em Bergen, Noruega, promoveram um salto paradigmático na Meteorologia ao iniciarem a aplicação dos conceitos hidrodinâmicos na construção das cartas sinóticas e estabelecerem as bases físicas conceituais (JESUS, 2008; SANT’ANNA NETO, 2015).

Page 4: A DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E …

meteorológicas instaladas nos municípios de Florestal, Ibirité, Belo Horizonte, João

Monlevade, Viçosa, Barbacena e São João del-Rei, todas em Minas Gerais.

A escolha desses municípios deriva de: a) localização no contexto do

Quadrilátero Ferrífero e da formação de uma poligonal que envolvesse a área em

estudo; b) disponibilidade de dados contidos nas Normais Climatológicas.

Além da média aritmética utilizou-se do desvio padrão, coeficiente de variação

(dado em percentual), da mediana, da amplitude interquartílica, da moda, dos

valores máximos e mínimos de séries de dados meteorológicos e pluviométricos.

Para atribuir intervalos de classes para os dados pluviométricos utilizou-se o

método proposta por Sturges (eq. 1) que relaciona os tamanhos dos intervalos de

classes a partir da extensão dos dados.

K = 1+ 3,322 (log n) (1)

Onde: K é o número de classes e n é o universo da amostra.

A aplicação da análise estatística objetivou destacar tendências centrais,

frequências, amplitudes e variabilidade dos elementos climáticos. Ela foi necessária

para extrair o comportamento climatológico da precipitação da área em estudo, além

de auxiliar na definição dos “anos padrões e excepcionais”, conforme proposta de

Monteiro (1971).

Na abordagem dinâmica utilizou-se dados das estações pluviométricas da

Agência Nacional de Águas (ANA), que serviram para extrair a dinâmica climática.

Esta abordagem dinâmica teve por objetivo compreender e explicar a gênese dos

fenômenos e as condições de tempo na área. Zavattini e Boin (2013) lembram que

massas de ar e mecanismos frontais são elementos que definem os diferentes tipos

de tempo que atuam num determinado espaço geográfico.

Para análise espacial dos dados, empregou-se técnicas do

geoprocessamento, através do software ArcView 10.0 da Esri. O software estatístico

Minitab, versão 17, foi utilizado para a produção de dados estatísticos.

4 – Resultados e Discussão

Page 5: A DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E …

No Quadrilátero Ferrífero os maiores picos atingem altitudes superiores a

2.000 metros, na Serra do Caraça, a leste. As menores altitudes, próximas a 600

metros são encontradas nas bordas das Serras da Moeda e Calçada (W), e Rola

Moça (NW) (Figura 1). Elas formam importantes barreiras orográficas à circulação

atmosférica regional, afetando o comportamento das massas de ar relacionadas ao

Anticiclone Semifixo do Atlântico Sul - ASAS e o Anticiclone Polar Móvel - APM

(MOREIRA; PEREIRA, 2004; BORSATO; MENDONÇA, 2015; BORSATO, 2016).

Nimer (1972) lembra que é no sudeste brasileiro que o choque entre o ASAS

e o APM ocorre frequentemente em equilíbrio dinâmico. Do ASAS sopram

preferencialmente ventos de E e NE (Tabela 1) o que irá direcionar a circulação

predominante do ar (

Figura 2). Entretanto, essa circulação geral é modificada com a passagem de

outros sistemas, capazes de produzir mudanças bruscas no tempo, geralmente

acompanhadas de chuvas. Nimer (1972) as denominava correntes perturbadas.

Tabela 1 Direção Predominante dos Ventos no Quadrilátero Ferrífero

Param. Porção Código Nome da Estação Lat. Long. Alt. (m) UF Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Ano

83581 Florestal 19°53'S 44°25'W 753 MG NE NE NE NE NE NE NE NE NE NE NE NE NE

83632 Ibirité 20°01'S 44°03'W 814,54 MG Calma Calma Calma Calma Calma Calma Calma Calma Calma Calma Calma Calma Calma

83587 Belo Horizonte 19°56'S 43°56'W 915 MG E E E E E E E E E E NE NE

83590 Itabira 19°37'S 43°13'W 845 MG - - - - - - - - - - - - -

Leste 83591 João Monlevade 19°50'S 43°07'W 859,84 MG Calma Calma Calma Calma Calma Calma SE NE NE Calma Calma Calma

83688 São João del-Rei 21°18'S 44°16'W 991 MG NE NE NE NE NE NE NE NE NE NE NE NE NE

83689 Barbacena 21°15'S 43°46'W 1126 MG NE NE Calma Calma Calma Calma NE NE NE NE NE NE

83642 Viçosa 20°45'S 42°51'W 689,73 MG

Normais Climatológicas do Brasil 1981-2010

Dir

eção

Pre

do

min

ante

do

Ven

to

Norte

Sul

Page 6: A DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E …

Fonte: Normais Climatológicas de 1981 – 2010, INMET.

Figura 2 – Sistemas de Circulação Atmosférica. Fonte: Adaptado de Nimer (1972).

As correntes perturbadas de Sul chegam com as Frentes Frias e com as

instabilidades pré-frontais e pós-frontais impulsionadas pelo Anticiclone Polar Móvel.

Os ventos assumem a direção S e SW no Quadrilátero Ferrífero (

Figura 2). A disposição geral das serras irá favorecer a penetração do ar polar

e servir como obstáculo às correntes de leste (SANT’ANNA NETO, 2005).

As Linhas de Instabilidade Tropical e das zonas de convergência de umidade

orientadas de NW / SE sobre a América do Sul formam as correntes perturbadas de

W que irão impulsionar ventos de W e NW no Quadrilátero Ferrífero (

Figura 2).

A conformação do relevo que direciona duas linhas de serras no sentido Norte

/ Sul irá influenciar a distribuição espacial das chuvas, gerando “ilhas” úmidas nas

vertentes leste e sudeste e, “ilhas” secas (ou sombras de chuva) nas vertentes oeste

e norte (SANT’ANNA NETO, 2005), além de reduzir as temperaturas. Para Nimer

(1972) a topografia favorece as precipitações em barlavento, uma vez que ela atua

no sentido de aumentar a turbulência do ar pela ascendência orográfica,

notadamente durante a passagem de correntes perturbadas.

No

Circulação Predominante (E / NE)

Circulação Pertubada de S

Circulação Pertubada de W

Page 7: A DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E …

Gráfico 1 é possível notar a variabilidade espacial e temporal das chuvas no

Quadrilátero Ferrífero (ver transecto Oeste / Leste na Figura 1). Foi utilizado o

recorte temporal 1983 a 2017. Pela (in)consistência temporal de dados de estações

disponíveis, optou-se pelo maior recorte temporal comum, conforme preconiza

Monteiro (2000 apud ZAVATTINI; BOIN, 2013).

Gráfico 1 – Variabilidade Espacial e Temporal das Chuvas no QF (oeste-leste). Fonte: Totais mensal de precipitação - 1983 – 2017, ANA (2018).

A região da Serra do Caraça apresenta os maiores índices pluviométricos

regionais. Valores próximos a 1.000 mm foram registrados em dezembro de 1984

(939,7 mm), jan. de 1985 (837,3 mm), dez. de 1989 (1.035,5 mm), jan. de 1992 (980

mm) e dez. de 2011 (871,9 mm).

Em relação à pluviosidade anual, na Serra do Caraça, os maiores registros

pluviométrico foram superiores a 2.500 mm (1985 com 2.711 mm, 1991 com 2.847,8

mm, 1992 com 3.274,4 mm e 2011 com 2.533,9 mm). Os menores registros de

chuvas anuais não foram inferiores a 1.000 mm (2010 com 1.281,6 mm, 2012 com

1.277,8 mm, 2014 com 1.222 mm e 2017 com 1.109,1 mm) conforme ilustra o

Gráfico 2.

Page 8: A DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E …

Gráfico 2 – Frequência das chuvas anuais (mm) – Estação Pluviométrica Colégio Caraça. Fonte: Totais mensais de precipitação Estação 2043059 – Colégio Caraça 1983 – 2017, ANA (2018).

Aplicando-se a equação de Sturges, verificou-se que as maiores frequências

se concentraram nos intervalos de classe de 1.829 mm – 2.189 mm (classe modal),

que detêm 31% dos totais anuais de chuva. Cerca de 26% dos totais anuais de

chuvas ocorreram no intervalo de 1.469 mm – 1.829 mm e 20% das chuvas

ocorreram no intervalo de 1.109 mm – 1.469 mm. A classe modal (1.829 mm – 2.189

mm) obtida pelo método de Sturges sugere o intervalo habitual das chuvas na região

da Serra do Caraça.

A ausência de precipitações em bases mensais foi verificada nos meses de

junho, julho, agosto e setembro. Mesmo assim, a frequência relativa em agosto foi

de 20%, julho foi de 14% e junho e setembro tiveram 9%. Em outras palavras,

apenas cerca de 20% dos meses de agosto transcorreu sem chuvas.

Essa série temporal apresenta Amplitude Total de Variação (ATV) de 2.165,3

com frequência de variação igual a 1 (Gráfico 2).

Dados os baixos totais mensais médios precipitados, os meses de junho,

julho e agosto apresentaram as maiores variabilidades de precipitações e os

menores desvios padrões. Contudo, os valores obtidos pelo cálculo do desvio

padrão na análise anual demonstra sazonalidade expressiva ou maior dispersão

entre os meses de maiores intensidades pluviométricas (nov/dez/jan) e os de

menores intensidades (jun/jul/ago).

Pelo método da amplitude interquartílica (ZAVATTINI; BOIN, 2013) os anos

padrões habituais estariam dentro dos valores pluviométricos de 1.654 mm e 2.103

mm, valores inferiores ou superiores a esse intervalo são caracterizados,

respectivamente, como os anos de pluviosidades excepcionais, secos ou chuvosos.

0

1

2

1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500

Fre

qu

ên

cia

Volume de Chuvas (mm)

Page 9: A DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E …

Foi constatado que a pluviosidade acima dos padrões normais se concentrou

na primeira década da série até o ano de 1992. Seu valor máximo anual foi de 3.284

mm. Os valores abaixo da linha de corte concentraram-se na década de 2010. Seu

patamar mínimo ocorreu em 2017 (1.109 mm) (

Gráfico 3).

Gráfico 3– Anos padrões e excepcionais das precipitações pelo método da amplitude interquartílica – Estação Colégio Caraça. Fonte: Totais de precipitação 1983 – 2017, ANA (2018).

A estação seca regional dura de maio a agosto. Os totais pluviométricos são

inferiores a 50 mm (

Gráfico 4). As chuvas estão concentradas em dezembro e janeiro (

Gráfico 5). Na Serra do Caraça o período seco é menor que nas demais

áreas, provavelmente devido às condições topográficas e geográficas.

Na análise do gráfico nota-se que as bordas Oeste / Leste apresentam um

declínio da pluviosidade, bem como, percebe-se que, dentre o período chuvoso há,

no mês de fevereiro, um recuo do volume de água precipitada.

Na análise do transecto Norte / Sul (

Gráfico 5) percebe-se similaridade ao corte Oeste / Leste. A região no interior

do Quadrilátero Ferrífero mais próximo as bordas Norte / Leste apresentam um

período seco reduzido, em relação às demais regiões, assim como, nota-se os

maiores registros pluviométricos.

Page 10: A DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E …

Gráfico 4 – Distribuição das chuvas em algumas estações pluviométricas no Quadrilátero Ferrífero. Fonte: Totais mensal de precipitação, ANA (2018).

Gráfico 5 – Variabilidade das chuvas W-E e N-S. Fonte: Totais mensal de precipitação, ANA (2018).

Porém, referente ao volume precipitado, nota-se uma redução em relação ao

transecto Oeste / Leste. Os maiores volumes pluviométricos, no transecto Norte /

Sul, ocorrem na região a norte do QF, e em seu interior imediato (Estação 1943006

Sabará (741 mm em jan. 2003, Estação 2043004 Rio do Peixe em Nova Lima (749,2

mm em dez. 2008). Este fato pode estar relacionado ao montante pluviométrico que

ocorre na Serra do Caraça.

Ano

s

2000

1 995

1990

1985

1 980

1975

1970

1 965

1960

1 955

1 950

1945

1 940

1935

1930

1 925

1920

1915

1 910

1905

1 900

1 895

1890

1 885

1880

1875

1 870

1865

1860

1 855

dez

nov

out

set

ago

jul

jun

mai

abr

mar

fev

jan

>

<

600,0 700,0

700,0 800,0

800,0

50,0

50,0 100,0

100,0 150,0

150,0 200,0

200,0 250,0

250,0 300,0

300,0 400,0

400,0 500,0

500,0 600,0

Total Mês

Ano

s

201 8201 3200820031 9981 9931 9881 983

dez

nov

out

set

ago

jul

jun

mai

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mar

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jan

>

<

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500,0

50,0

50,0 100,0

100,0 150,0

150,0 200,0

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250,0 300,0

300,0 350,0

350,0 400,0

400,0 450,0

Total

Ano

s

2018

2016

2 014

2012

2010

2008

2006

2004

2002

2 000

1 998

1 996

1 994

1 99

2

1 990

1 988

1 986

1 984

dez

nov

out

set

ago

jul

jun

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50,0 100,0

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200,0 250,0

250,0 300,0

300,0 350,0

350,0 400,0

400,0 450,0

Total

Ano

s

201520102005200019951990198519801975197019651960195519501945

dez

nov

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jul

jun

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mar

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jan

>

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450,0 500,0

500,0

50,0

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100,0 150,0

150,0 200,0

200,0 250,0

250,0 300,0

300,0 350,0

350,0 400,0

400,0 450,0

Total

Distribuição mensal das chuvas - Estação Morro Velho

Nova Lima, MG

Distribuição mensal das chuvas - Estação Colégio Caraça

Catas Altas, MG

Distribuição mensal das chuvas - Estação Itabirito

Itabirito, MG

Distribuição mensal das chuvas - Estação Congonhas

Congonhas, MG

Rio P

irac

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a

Santa

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Rio

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1 00,0 1 50,0

1 50,0 200,0

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350,0 400,0

400,0

Precipitação

Variabilidade Espacial das Chuvas (W-E)Valores médios de 1 983 a 201 7

deznovoutsetagojuljunmaiabrmarfevjan

Sabará

Rio do Peixe (Nova Lima)

Itabirito

Congonhas

Conselheiro Lafaiete

>

< 50

50 1 00

1 00 1 50

1 50 200

200 250

250 300

300 350

350

Precipitação

Variabilidade Espacial das Chuvas (N-S)Valores médios de 1 984 a 201 8

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Gráfico 6 – Variabilidade Espacial e Temporal das Chuvas no QF (norte-sul). Fonte: Totais mensal de precipitação - 1984 – 2017, ANA (2018).

4 – Considerações Finais

O Quadrilátero Ferrífero é a região do estado com maior densidade

populacional (CEAQFe, 2009) e riqueza ambiental, com elevado endemismo de

espécies (REGO; FRANCESCHINELLI; ZAPPI, 2012). Esta riqueza relaciona-se à

diversidade de ambientes proporcionado pelas formações serranas.

Os resultados demonstram que tanto a circulação geral (E e NE) quanto as

correntes que trazem distúrbios nos ventos (W e NW e S e SE) são responsáveis

por dinamizar as condições do tempo na região. Ademais, a orografia,

principalmente da Serra do Caraça (borda leste do QF), condiciona volumes

pluviométrico superiores a 2.500 mm, o que se assemelha as condições

pluviométricas das regiões equatoriais. A pesquisa ainda possibilitou elucidar a

sazonalidade e o regime pluvial do Quadrilátero Ferrífero, e contribui para o

entendimento do clima desta região.

Os estudos na área da Climatologia Geográfica no Brasil ainda são escassos

(MOREIRA; PEREIRA, 2004; BORSATO; SOUZA FILHO, 2008), e essa pesquisa

visou corroborar, tendo como plano de fundo as interações das condições do tempo

associados à orografia das serras no Quadrilátero Ferrífero.

Page 12: A DISTRIBUIÇÃO DAS CHUVAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO E …

Agradecimentos

Agradecimento à fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior - CAPES por financiar parte desta pesquisa.

Referências Bibliográficas

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