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1 Professora formada em geografia, diretora do Colégio Estadual Professora Hildegard Sondahl. – Ensino Fundamental e Médio desde 2002. 2 Ana Lúcia S. Ratto Professora-Doutora vinculada à Universidade Federal do Paraná, Setor de Educação, Departamento de Planejamento e Administração Escolar. 3 Maria Aparecida Zanetti, pedagoga, Mestre em Educação, Doutoranda, professora vinculada à Universidade Federal do Paraná, Setor de Educação, Departamento de Planejamento e Administração Escolar,

A DISCIPLINA E A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR COMO FATORES DETERMINANTES DO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM

Autor: Nilza Aparecida Cestari de Souza1 Orientadoras: Ana Lúcia S. Ratto2

Maria Aparecida Zanetti3

RESUMO

Há algum tempo a indisciplina escolar tem sido um dos temas de constantes debates e estudos. É sabido que este é um dos maiores alvos de queixas de professores e equipe pedagógicas das escolas nos dias atuais, portanto, exige compreensão, conhecimento de fatores internos e externos à escola e, principalmente, revisão e reelaboração de muitas práticas metodológicas e pedagógicas que se tornaram ineficazes ao longo do tempo. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi o de compreender como os fatores da prática pedagógica contribuem e determinam as dificuldades disciplinares no cotidiano da escola, tendo em vista a minimização dessas dificuldades. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica com diversos autores que abordam este tema e uma pesquisa junto a alunos da 7ª série do período da tarde, de um colégio público da cidade de Curitiba. A escolha dessas turmas foi em decorrência de apresentarem problema de indisciplina. Partindo do pressuposto de que, se deseja intervir na realidade educacional, deve-se conhecer de antemão, a forma como os sujeitos que estão envolvidos nessa realidade compreendem os dilemas que vivenciam e o que concebem por (in) disciplina. Os resultados apontaram que a concepção dos alunos sobre indisciplina e outros aspectos importantes em sala de aula são significativos e refletem uma pluralidade de terminologias

Palavras-Chave: Escola. Indisciplina. Prática Pedagógica, Professor

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INTRODUÇÃO

A relação professor-aluno tem no trabalho pedagógico uma mediação

fundamental. Essa temática passou a configurar nos últimos tempos o motivo de

muita discussão, especialmente por causa da indisciplina. A (in) disciplina no

ambiente escolar é desgastante e precisa ser compreendida e enfrentada. Para

tanto, este trabalho, propõe fazer uma reflexão das causas possíveis da indisciplina

e da gestão da sala de aula por parte do professor nesse contexto, sem esquecer a

parte que cabe aos alunos neste processo.

A disciplina pode ser entendida de várias maneiras, como por exemplo:

Comportamentos regidos por um conjunto de normas [...]; a disciplina enquanto regime de ordem imposta ou livremente consentida que convém ao funcionamento regular de um instituição (militar, escolar, etc.), o que implicaria na observância a preceitos ou normas estabelecidas.” (GUIMARÃES, 1996, Apud RATTO, 2007).

A partir das inúmeras publicações que se tem nos dias atuais sobre este

tema, e ele ainda assim, continua sendo uma das mais difíceis situações do

cotidiano de toda e qualquer escola. O interesse em desenvolver esta pesquisa visa

uma reflexão sobre os fatores geradores da indisciplina, os possíveis procedimentos

que podem auxiliar no enfrentamento deste problema e, consequentemente,

contribuir para uma melhor compreensão de como a gestão de sala de aula pode

influenciar e ser influenciada pela (in) disciplina.

Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi o de compreender como os

fatores da prática pedagógica contribuem e determinam as dificuldades disciplinares

no cotidiano da escola, tendo em vista a minimização dessas dificuldades.

Assim, o trabalho foi organizado da seguinte forma: num primeiro

momento, abordou-se as Perspectivas Estruturais de Ação, focando em questões

relativas ao funcionamento da instituição, comunidade, sistema de ensino e sistema

social. No segundo momento, buscou-se analisar as Perspectivas Contextuais da

Ação, que envolvem questões relativas à intervenção na manifestação de

indisciplina. E finalmente, abordou-se a participação do aluno em busca de

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autonomia para a auto-organização. Visando identificar, então, qual o olhar do aluno

sobre o tema indisciplina, realizou-se uma pesquisa por meio de um questionário

semiestruturado focando nas percepções dos alunos de 7ª série do turno vespertino,

quanto à disciplina/indisciplina dos mesmos, sua compreensão sobre as normas

da/na escola, bem como a sua compreensão sobre a postura e o trabalho docente.

As análises e os encaminhamentos que se desdobram dos dados coletados

encontram-se no título Repensando a Indisciplina na Escola sob a perspectiva do

aluno.

Perspectivas Estruturais de Ação

Dada a complexidade do tema, e para favorecer “a construção de uma

nova disciplina” (VASCONCELOS, 2002, p.169) em sala de aula e na escola, o autor

cita sinteticamente os aspectos relevantes de ordem institucional que devem ser

considerados. Inicia descrevendo a importância do Projeto Político Pedagógico, que

deve explicitar as grandes opções da escola, como por exemplo, a visão que se tem

de sociedade, pessoa, etc., mas, sobretudo resgatar o sentido para o estudo

respondendo a “indiscreta” pergunta do aluno: “Professor, estudar para quê?”

O que se observa muitas vezes no contexto escolar é que o PPP - Projeto

Político Pedagógico tem seus objetivos e propostas de ação esquecidos pelos

professores, pedagogos, funcionários e direção, gerando assim conflito entre os

mesmos, falta de comprometimento e descrença, o que dificulta a resolução dos

problemas.

Outro aspecto de ordem institucional relevante, de acordo com

Vasconcelos (2002), refere-se ao Projeto de Ensino – Aprendizagem, que indica a

necessidade dos conteúdos a serem estudados e apresentarem aos envolvidos um

significado relevante, com o professor assumindo de forma diferenciada, uma

metodologia participativa, possibilitando o cumprimento dos objetivos do trabalho

pedagógico por meio de um contrato estabelecido coletivamente. Esse aspecto

constitui um dos grandes desafios na direção de tornar o espaço da sala de aula

prazeroso para a construção do saber.

Para que a escola consiga êxito no projeto de ensino - aprendizagem, o

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autor cita que as condições adequadas de trabalho na escola devem se pautar em

alguns princípios de organização tais como: número menor de alunos por turma

(considerando o espaço físico que em geral tem-se na rede Estadual de Ensino do

Paraná, em que as salas comportam no máximo trinta e cinco alunos e na maioria

das vezes têm-se quarenta e cinco); salários dignos (e aqui cabe ressaltar a

existência de professores trabalhando três períodos e ficando física e mentalmente

esgotados); instalações adequadas para o trabalho (nunca é demais lembrar a

existência de escolas com o teto caindo, sem porta nas salas, carteiras

inadequadas, falta de ventilação, iluminação insuficiente e em alguns casos falta

giz); reuniões constantes para que os professores possam trocar suas experiências

de sucesso ou de insucesso.

Dentre essas condições, o autor destaca também a questão do tempo do

recreio, que atualmente considera insuficiente para que o aluno saia da sala, lanche,

vá ao banheiro e principalmente possa conversar e/ou brincar; e esse tempo

reduzido causa ansiedade e dispersão no retorno à sala de aula. O autor faz a

seguinte provocação:

[...] quanto maior o recreio, melhor é a escola! A produtividade em sala aumenta significativamente. Tenhamos coragem de fazer a experiência: diminuir alguns minutos de cada aula para ampliar o recreio! Sabemos dos argumentos que logo surgem: “Ah, mas e os 200 dias, às 800 horas?” Pobre legalismo... Estejamos atentos ao sopro dos tempos (resgate da escola como espaço de encontro de gerações, emergência da cultura como núcleo organizador do currículo, etc.) e o espírito da lei (o que Darcy Ribeiro queria era que os alunos aprendessem mais e melhor; sejamos honestos: de que adianta um número de aulas desconectadas da vida e das necessidades radicais dos educandos); além disso, o próprio MEC, através dos Parâmetros Curriculares e dos chamados Temas Transversais, dá respaldo para essa prática (se alguém fica inseguro, basta fazer um projetinho de convivência escolar, incorporando este tempo de recreio ao currículo) (VASCONCELOS, 2002, p. 170).

Outro aspecto relevante diz respeito ao espelho no banheiro, visto que

esse item garante aos alunos o “direito a [sua] imagem”, ressalta Vasconcelos (2002,

p. 170), aumentando dessa forma a auto-estima do aluno, numa fase em que este

está construindo sua identidade. Assim como também é importante neste período

definir com clareza os papéis de cada segmento para a “construção de uma nova

disciplina, evitando-se a transferência de responsabilidades” (VASCONCELOS,

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2002, p. 170).

Nesse sentido, a direção, como gestora da escola, tem o desafio de

distribuir os recursos, organizar e coordenar o trabalho, ser o elo entre professor,

aluno e funcionários e, principalmente, entre a família e a comunidade, visando à

melhoria da qualidade do ensino. O professor, como gestor da sala de aula, é peça

fundamental no processo educacional, pelo papel que ele representa diante do aluno

como educador e transmissor de conhecimento. Nesse aspecto, sua liderança,

coerência na ação, pressupõe exemplo, retidão de caráter, competência.

Competência esta, intrinsecamente relacionada à forma como o professor

estabelece as normas, de maneira justa e democrática, para convivência e a

cooperação em sala de aula.

No que tange aos alunos, estes devem ser considerados em sua

dimensão concreta, com todas as dificuldades e possibilidades que apresentam,

entendendo que não há mais espaço para a submissão de outrora, mas cientes de

que a disciplina é necessária para que a aprendizagem aconteça. E, finalmente, os

pais precisam assumir sua responsabilidade perante a formação social e psicológica

de seus filhos, estabelecendo limites de forma equilibrada, respeitando sua

individualidade, auxiliando-os na auto-organização. A eles cabe ensinar valores

essenciais à boa convivência em grupo.

Assim, a complexidade do tema (in) disciplina exige discutir e

compreender os processos que ocorrem no interior da escola e, conseqüentemente,

discutir a função deste espaço, mais especificamente sua função social.

A escola deve proporcionar aos alunos acesso ao conhecimento científico

que é base para que se torne um sujeito que atua, na sociedade onde vive da forma

mais consciente e crítica possível. O trabalho pedagógico deve ser comprometido no

sentido de levar os alunos do senso comum ao conhecimento mais elaborado sobre

a realidade.

Dentro dessa perspectiva, o professor que é o responsável pela

transmissão do conhecimento científico, deve mediar o processo ensino-

aprendizagem. A ele cabe então desenvolver procedimentos adequados que

viabilizem a apropriação desse conhecimento pelos alunos. O conceito de mediação

é interpretado aqui relacionado à idéia de interação, de construção de significados

ao conhecimento. É necessário, portanto, que o professor reflita sobre sua prática,

viabilize estratégias mais pertinentes para o processo ensino-aprendizagem e

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promova a participação ativa dos alunos.

De acordo com Vygostski (1995, p. 208), “a aprendizagem é um processo

histórico, fruto de uma relação mediada e possibilita um processo interno, ativo e

interpessoal.” Dessa forma, faz-se necessária a discussão recorrente do cotidiano

da escola para compreender as relações que acontecem nesse processo e os

fatores que determinam o “sucesso” e o “insucesso” do trabalho que é desenvolvido

na escola, visto ser nesse contexto que fatores convergem possibilitando ou não

para que aconteça o papel de transmissão do conhecimento.

Diante dessa perspectiva de responsabilidade da escola, o grande desafio

se constitui em dar conta da complexidade das relações que acontecem em seu

interior e propor a reflexão sobre essa realidade, como forma de minimizar as

dificuldades encontradas que influenciam no processo ensino-aprendizagem.

Muitos fatores influenciam nesse processo e pela observação cotidiana

percebe-se que a indisciplina é um dos maiores desafios contemporâneos. Por isso

tem ocupado grande destaque no discurso dos profissionais que trabalham na

escola.

Cabe, entretanto, definir o que se entende por disciplina no cotidiano da

escola e para tanto, recorreu-se ao Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa

(AURÉLIO, 1986, p. 595) que conceitua o termo disciplina como “regime de ordem

imposta ou livremente consentida; ordem que convém ao funcionamento regular

duma organização (militar, escolar, etc.); relação de subordinação do aluno ao

mestre ou ao instrutor; observância preceitos ou normas; submissão a um

regulamento”. Em termos gerais, pode se entender disciplina como um conjunto de

obrigações que regem a vida, submissão a uma regra, aceitação de certas

restrições, ensino, instrução, educação, matéria de ensino, regra, método.

Em Foucault (1977), a temática é abordada e aprofundada nas relações

disciplinares, hegemônicas durante a Modernidade, que para ele são técnicas de

fabricação de indivíduos “dóceis e úteis”. Dóceis no sentido de diminuir, o mais

possível, a resistência ao poder e úteis no sentido de buscar a máxima eficiência.

“Esses métodos permitem o controle minucioso das operações do corpo, que

realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõe uma relação de

docilidade e utilidade, é o que podemos chamar as disciplinas” (FOUCAULT, 1997,

p.126).

Seguindo o argumento de Foucault, a disciplina permite ao mesmo tempo,

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a caracterização do indivíduo em certos sentidos e colocação de certa ordem. Os

profissionais que atuam na escola herdaram formas de disciplinar os alunos em sala

de aula que de uma maneira ou de outra serve para punir os erros supostamente

cometidos e amedrontá-los.

Paulo Freire (1982), também coloca questões sobre a disciplina que

convém refletir. A disciplina implica em uma relação professor e aluno, em que a

autoridade está na liberdade “sadia” de ambos. Deve ser uma relação radicalmente

democrática na qual há sempre clareza de qual o objetivo das ações propostas.

Percebemos que existe uma grande diversidade de interpretações acerca

do conceito de disciplina. Porém, no que se refere à escola, a tendência é a de que

se interprete como sendo problemas de comportamento que dependem unicamente

da ação do aluno e que requerem punição ou meios de coação. Não há um

aprofundamento das causas e determinantes deste problema que é percebido no

interior da maioria das escolas.

Diante disso, para que possamos nos aprofundar nesse tema, é

importante colocar que o professor deve ter noção de toda problemática que envolve

a disciplina, das relações sociais que interferem neste processo. E ainda, mais

importante, refletir que trabalha com um “novo” aluno, um sujeito histórico diferente

daquele de outros tempos, submisso e temeroso que obedecia sem questionar.

A relação professor e aluno é fator determinante nesse processo de

superação do problema. Observações a partir do cotidiano da escola pesquisada

demonstram que diferentes professores têm rendimento diferente em uma mesma

turma taxada por alguns como indisciplinada, portanto, a relação professor e aluno é

um dos pontos relevantes do processo ensino-aprendizagem.

O professor consegue disciplina, se domina o conteúdo e sabe lançar

mão de estratégias eficientes. A questão é que os profissionais da educação se

encontram perdidos, pois não podem agir com agressivamente como antigamente

frente às ações dos alunos de hoje. Ficar irritado, gritar e castigar os que não se

comportam como o professor quer, não resolve, pois quando a disciplina é imposta

geralmente revolta e o problema aumenta.

O papel do professor é então conhecer como se dá a aprendizagem e

nessa compreensão, planejar suas aulas utilizando diversas metodologias que

levem o aluno a aprender de maneira mais significativa, que os envolvam e os levem

a trabalhar o conteúdo, acontecendo assim à aprendizagem.

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O professor precisa construir um ambiente cooperativo, onde os alunos

sejam respeitados e aprendam a respeitar. Um ambiente democrático onde todos

possam ser ouvidos, saber com clareza os objetivos do trabalho, perceber e refletir

sobre o conteúdo e problemas de sala de aula e do mundo, enfim, onde os alunos

aprendam a ser respeitados e a respeitar. Dentro desta perspectiva é importante

colocar que a escola é um espaço social onde há regras definidas e é de grande

importância a construção destas regras incessantemente para que haja uma

organização do trabalho pedagógico dentro da sala de aula e mesmo no interior da

escola.

Essa construção do ambiente de cooperação não é tarefa fácil, deve

acontecer dia a dia por meio de reflexões, pela participação da comunidade escolar

e pela formação continuada dos professores.

Estudar a escola a partir do seu cotidiano é compreender a ação de todos

os sujeitos que nela participam e perceber as relações para que possam ser

melhorada através de análise, antítese, síntese acerca destas ações, numa relação

sempre dialética da educação na busca de melhorá-la cada vez mais.

Perspectivas contextuais de ação

Conforme Vasconcelos (2002), a questão da indisciplina relaciona-se

com diversas dimensões da realidade, e seu enfrentamento exige do professor uma

grande capacidade gestora. Nesse sentido, o autor indica algumas ações possíveis

diante da indisciplina, a saber:

- Evitar que os problemas em sala de aula se acumulem, enfrentando-os

de imediato;

- Oferecer um ambiente adequado, com regras definidas coletivamente:

mantendo o que for combinado, relembrando as combinações sempre que

necessário, organizando o ambiente, refletindo com os alunos as atitudes de

indisciplina visando com isso à facilitação da aprendizagem;

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- Buscar “rever conceito de Disciplina; não ver o aluno como inimigo” (p.

171), compreendendo que disciplina é uma relação de afeto e respeito, uma ação

recíproca de cumprimento de normas, na direção de trabalhar as relações para que

não se tornem alienadas, priorizando sempre o diálogo;

- Enfrentar as dificuldades, evitando encaminhar a outros as ações que

devem ser tomadas pelo próprio professor. Em minha experiência profissional

percebo que o encaminhamento excessivo à equipe pedagógica ou direção ou o não

enfrentamento das situações de indisciplina, faz com que o professor perca sua

autoridade perante os alunos;

- Diante de atitudes agressivas do aluno: não reagir, lembrar que “a maior

agressão é eu me deixar atingir pela agressão do outro” (Fernandez citado por

Vasconcelos, 1992, p. 169). Portanto, cabe ao professor assumir a postura de adulto

na relação e substituir a ação agressiva pelo diálogo;

- “Dialetizar” o cognitivo e afetivo para que de maneira prazerosa a

aprendizagem possa acontecer. Percebo também no meu trabalho enquanto diretora

que quando há respeito nas relações entre professores e alunos e quando o aluno

percebe que o professor tem claros seus objetivos e conhece o que está

trabalhando, consegue do aluno uma maior participação e consequentemente a

disciplina;

- Acolher o aluno em sala de aula com respeito, permitindo-lhe uma

participação ativa, ouvindo suas dificuldades, proporcionando uma relação afetiva

com a turma, favorecendo o clima de respeito mutuo, incentivando-os a assumir

seus erros.

- Aplicar sanções quando necessário, buscando ter coerência,

relembrando as regras construídas, evitando de imediato ações como: retirar da

sala, chamar a pedagoga, convocar os pais a todo instante. Inicialmente tentar o

diálogo.

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Participação do aluno: em busca da auto-organização

De acordo com Vasconcelos (2002, p. 169), todos são responsáveis pela

construção de uma nova disciplina na escola: diretor, professores, pedagogos,

família e alunos. Numa perspectiva tradicional, espera-se um aluno ideal, que saiba

ouvir, espere o momento de falar, que respeite o professor e os colegas. Numa

perspectiva moderna conforme o autor houve uma “curvatura de varas” e aqui

aparece o aluno sem limite. Na perspectiva dialética defendida pelo autor “estamos

assumindo, a disciplina consciente e interativa pode ser de grupo, que se dá na

interação social e pela tensão dialética adaptação-transformação, tendo em vista

atingir conscientemente um objetivo”.

Segundo Vasconcelos (2002), para o fortalecimento de uma necessária

autonomia por parte dos alunos é importante primeiro a questão da participação em

sala de aula. O interesse e a participação dos alunos por aquilo que o professor está

ensinando é o sonho de todo professor. No entanto freqüentemente não participam

da aula, não se interessam, não demonstram interesse, não dão retorno, ficando

passivos esperando que o professor dê um “show”. E é muito importante que os

alunos participem, perguntando, discordando, enfim, manifestando atenção, pois

apatia dos alunos inclusive é uma das causas para os professores abandonarem a

profissão. Os alunos precisam perceber que a situação do professor atualmente é

muito delicada, muitas vezes ele sente-se sozinho mesmo com a sala cheia,

sentindo-se desvalorizado.

A participação do aluno na vida da escola é outro aspecto importante que

Vasconcelos (2002) salienta, por exemplo, com a participação em grêmios

estudantis, representantes de turma participando de conselhos de classe, ajudando

a pensar a escola como um todo, praticando a cidadania. A escola que propicia estas

condições aos alunos pressupõe-se ser uma escola aberta ao diálogo. Assim,

contribui-se para o desenvolvimento do sentido solidário de aprendizagem que pode

ajudar a construir uma nova disciplina em sala, cabendo ao aluno perceber que sua

aprendizagem depende da aprendizagem dos colegas.

Por fim o autor indica a importância do “aluno perceber que o estudo é um

trabalho, que pode e deve ser realizado, mas exige esforço, dedicação, frustração,

não sendo possível esperar uma aula gostosa o tempo todo” (2002, p. 171). É

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preciso propiciar autonomia ao aluno, autonomia que deve ser entendida como a

capacidade de tomar decisões por si mesmo levando em conta a regras e valores

próprios e coletivos.

ALGUNS REFERENCIAIS METODOLÓGICOS

A temática do projeto com o qual nos inscrevemos no PDE – Programa de

Desenvolvimento Educacional trazia, inicialmente, a seguinte problemática:

“Indisciplina, o professor pode ser o culpado?”. Entretanto, após conversas com a

orientadora surgiu o novo tema: “A disciplina e a Prática Pedagógica do Professor

como fatores determinantes do Processo Ensino-Aprendizagem.”, visto que a versão

anterior já determinaria a resposta final da problemática a ser realizada, tornando

assim a investigação parcial.

No mês de fevereiro de 2011, durante a semana pedagógica, a autora

deste trabalho, visitou o Colégio para apresentar seu projeto aos professores, equipe

pedagógica e direção; foram feitas algumas observações quanto às turmas de

Ensino Médio que seriam objeto da pesquisa. Parte da equipe pedagógica e diretiva

do Colégio relatou que haveria certa dificuldade em realizar a pesquisa com esse

grupo em decorrência dessas turmas serem organizadas por blocos, pois no bloco

os alunos trocam de professores a cada semestre e são os professores o foco desta

pesquisa. Após conversa com os presentes decidiu-se, então, por desenvolver o

projeto com as turmas de 7ª série da tarde, por serem as que segundo a mesma

equipe, apresentavam maior problema de indisciplina.

Definido, assim, qual seria o universo da pesquisa, o passo seguinte foi

realizar um levantamento junto a Secretaria do Colégio sobre o número de turmas da

7ª série e de alunos cursando essa série no período vespertino, bem como o número

de professores que estavam trabalhando com essa população. Assim, havia três

turmas com o total de 98 alunos, 12 professores e 3 pedagogas do turno da tarde.

Em conversas com uma das pedagogas, percebeu-se a necessidade de

coletar dados sobre fatores que podem elevar o índice de indisciplinas em

determinadas turmas e para investigar tal proposta elaborou-se um questionário

composto por questões dissertativas e objetivas e que foi aplicado de forma piloto

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nas turmas da 6ª série. Durante a aplicação deste questionário, observou-se que o

número de questões era excessivo, levando a dispersão dos alunos. Solicitou-se

que os alunos que estavam respondendo ao questionário aguardassem o término da

leitura, o que não ocorreu. Dessa forma, os sujeitos que estavam respondendo as

questões marcaram aleatoriamente as opções, sem a necessária atenção e

comprometimento, a ponto de expressarem verbalmente as atitudes de alguns

professores em sala de aula como: xingar os alunos, ausentar-se da sala com

frequência, jogar giz nos alunos, atenderem ao celular em sala, etc. Tais comentários

continuaram por alguns minutos, porém, observou-se que com o passar do tempo,

os alunos ficaram cansados e perderam o interesse em responder as questões a

partir da segunda página. A duração da aplicação do questionário foi de 50 minutos.

Assim, após orientações, foram realizados os ajustes no questionário

piloto, constituindo-se o mesmo num total de 11 questões, sendo composto por

questões dissertativas e objetivas. As questões dissertativas tinham como foco

identificar a visão dos alunos sobre o que entendem por disciplina e indisciplina,

neste aspecto, solicitou-se que pontuassem, por escrito, o que de imediato lembram

quando ouvem a palavra indisciplina e depois foram solicitados a expressarem o que

concebem por disciplina. Neste bloco de questões dissertativas, também foram

convidados a expressarem o que identificam como uma boa aula e como percebem

quando o professor planejou ou não a sua aula. No que tange aos comportamentos

que levam à indisciplina, o questionário foi dividido em dois blocos, um que levava

em consideração os aspectos comportamentais e de organização para o processo

ensino-aprendizagem do aluno e outro bloco que ressaltava aspectos

comportamentais e metodológicos do trabalho pedagógico dos professores. Ambos

com questões objetivas em que o aluno deveria manifestar sua opinião em relação

ao nível de gravidade relativo aos itens desse questionário, identificados como: nada

grave, pouco grave, grave e muito grave.

Com o instrumento finalizado, aplicou-se o questionário às 7ª séries, onde

a orientadora e outros dois orientandos do PDE acompanharam e participaram

desse processo. Os 90 alunos respondentes encontram-se na faixa etária entre 12 e

13 anos de idade e, destes, 54 são do sexo feminino e 36 do sexo masculino.

Após a aplicação do instrumento, deu-se a organização e análise dos

dados. Nas questões dissertativas optou-se pelos agrupamentos, criando termos ou

palavras aglutinadas que sintetizassem conteúdos ou idéias semelhantes, mas

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escritas de forma diferente pelos alunos. Apresentamos a seguir os resultados,

análises e encaminhamentos constituídos a partir da aplicação desse questionário.

VISÃO DOS ALUNOS SOBRE A QUESTÃO DA INDISCIPLINA

A questão da indisciplina, como abordada neste trabalho, é tema

recorrente, além de ter causas e conseqüências variadas. Buscando identificar que

visão o aluno tem dessa questão que tanto preocupa pais e educadores, optou-se

por “ouvir” o que esse sujeito, diretamente envolvido em todo esse processo, sabe,

pensa e que tipo de opiniões emite sobre o fator indisciplina, especialmente a sua

compreensão sobre o papel do professor e o cumprimento da função social da

escola.

Logo na aplicação do instrumento, algumas das atitudes dos alunos

evidenciaram questões pertinentes sobre o tema da indisciplina. Primeiramente,

cabe ressaltar que, em termos de comportamento, não se observou nenhum tipo de

dificuldade. Os alunos participaram efetivamente e emitiram comentários e opiniões

a respeito de questões do questionário como, por exemplo: dizer que destruir a

escola é algo grave; um dos alunos comentou que já havia colocado apelido no

professor; alguns relataram que o professor tal xinga; outros disseram que o

professor X coloca apelidos; que os professores dessa e daquela disciplina falam

palavrões; e uma aluna relatou que uma professora fala de tudo, menos de sua

matéria. Aqui já é possível identificar nas respostas dos alunos, a compreensão de

que a questão da indisciplina também passa pelo compromisso político e pela

competência técnica do trabalho docente, embora os mesmos não se expressem

nestes termos.

Na concepção dos alunos, o termo indisciplina está associado

diretamente a comportamentos generalizados como a bagunça, o desrespeito, a

falta de educação e ao fato de não se comportarem, poucos expressaram que

comportamentos específicos como conversas, não prestar atenção na aula estão

relacionados à indisciplina e um número insignificante dos alunos relaciona

indisciplina a comportamentos agressivos como o ato de gritar, falar palavrões ou

bater. Evidentemente, que a indisciplina remete a uma idéia de desordem, gritos,

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conversas paralelas e falta de atenção e interesse dos alunos. São essas

geralmente as queixas dos professores em relação à indisciplina, porém o aluno não

avalia que as conversas paralelas, as brincadeiras e a falta de atenção são fatores

importantes e causadores de indisciplina. Talvez para esse aluno o raciocínio seja o

seguinte: “se a aula não é interessante, o que mais devo fazer a não ser conversar

com meus colegas?” Porque falar palavrões, gritar ou bater são comportamentos

mais freqüentes fora da sala de aula, daí essa associação da indisciplina com a

bagunça. Até mesmo porque, para esses alunos a disciplina pressupõe o ato de

respeitar, de ter educação e de serem obedientes, atitudes normalmente cobradas

pela família. Assim, na percepção dos alunos, disciplina está diretamente

relacionada ao seu comportamento em sala de aula.

E comportamento adequado no que tange a disciplina pode estar

relacionado às atitudes ou as estratégias metodológicas adotadas pelo professor

que se desdobram da concepção, da organização, do domínio dos conteúdos e dos

critérios de avaliação das respectivas áreas do conhecimento. Ao serem

questionados sobre as características de um bom professor, mais de 90% dos

alunos disseram que é aquele que sabe explicar a matéria, que é bem humorado,

calmo e paciente com a turma, além disso, ressaltaram que é importante que

converse e reflita com os alunos sobre as avaliações feitas, que escuta o que o

aluno tem a dizer, que realiza trabalhos em grupo e que trabalha com projetos e

pesquisas. De certa forma, o bom professor para eles é aquele que prepara as

aulas. E eles percebem isso como? A partir do momento em que este, como afirma

os alunos, explica direito e melhor a matéria, traz atividades preparadas, sabe o

conteúdo da aula, é seguro, claro e não gagueja, além do mais relataram que

observam quando uma aula foi planejada em situações em que o professor

responde as perguntas e tira as dúvidas dos alunos.

Já quando as aulas não são planejadas ou o são inadequadamente, os

alunos percebem isso na medida em que, segundo eles, o professor não sabe

explicar a matéria ou explica errado, manda ler ou copiar textos, fazer atividades do

livro ou resumos, dita e ainda nesta perspectiva, quando o professor (a) “fica

enrolando, improvisando, lendo o livro, fica nervoso quando os alunos perguntam,

pára para pensar ou fica batendo papo com os alunos.” Quando isso ocorre,

evidentemente, o direito do aluno de aprender e a função primordial da escola que é

propiciar as condições adequadas e necessárias para aquisição do conhecimento

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produzido pela humanidade, deixam de ocorrer. Assim, na medida em que o

professor não planeja o seu trabalho docente e que os alunos, como vimos,

percebem claramente isto, os desdobramentos, não raros, são os professores

qualificarem como indisciplina o que na realidade é uma atitude em resposta ao

trabalho pedagógico desenvolvido precariamente. Por outro lado, a forma como o

professor procede em sala de aula, muitas vezes utilizando-se não de sua

autoridade, mas de autoritarismo, quando o mesmo não permite que o aluno saia de

sua carteira, grita na sala de aula, exigindo que os alunos copiem textos, em muitos

casos, extensos, como uma forma de manter esse aluno ocupado, foi claramente

apontada como características daqueles que não são bons professores.

Em relação às características que evidenciam o bom aluno foram

apontadas aquelas relacionadas às atividades pedagógicas e de aprendizagem.

Assim, o bom aluno é aquele que quer aprender, que faz todas as tarefas em sala de

aula e aquelas de casa, que participa da aula, prestando atenção, perguntando, que

sabe se controlar em sala, que é bem humorado paciente e calmo com o professor e

os colegas de turma. Neste aspecto, há aqui elementos que evidenciam as

demandas necessárias para uma aprendizagem efetiva, como por exemplo, a

disposição e o interesse do aluno em aprender e, consequentemente, a necessária

disciplina. Neste sentido, disciplina tem haver com autoridade e não com

autoritarismo e liberdade tem haver com exercício da autonomia e não com

licenciosidade.

A mim me dá pena e preocupação quando convivo com famílias [escolas sic!] que experimentam a “tirania da liberdade”, em que as crianças podem tudo: gritam, riscam paredes, ameaçam, as visitas em face da autoridade, complacente dos pais, que se pensam ainda, campeões da liberdade. Submetidas ao rigor sem limites da autoridade arbitrária as crianças experimentam fortes obstáculos ao aprendizado da decisão, da escolha, da ruptura. Como aprender a decidir, proibidas de dizer a palavra, de indagar, de comparar. Como aprender democracia na licenciosidade em que, sem nenhum limite, a liberdade faz o que quer ou o autoritarismo em que, sem nenhum espaço, a liberdade jamais se exerce? (FREIRE, 2000, p.18)

Uma questão interessante apontada nas respostas é que o bom aluno usa

o uniforme diariamente. Talvez este item esteja relacionado à identidade que o

uniforme proporciona, ou mesmo a obediência de uma das regulamentações da

escola.

No quesito da compreensão dos alunos sobre o que são as regras da

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escola, praticamente metade dos respondentes entende que são normas a serem

obedecidas e a outra metade que são normas a serem construídas coletivamente.

Nesse sentido, cabe a comunidade escolar, e particularmente, à direção,

coordenação pedagógica e professores contribuírem, quer seja realizando pré-

conselhos, assembléias de alunos, incentivando e contribuindo na formação do

grêmio estudantil, ouvindo o que os mesmos têm a dizer no que tange as suas

expectativas, necessidades e propostas, para que juntos se construa uma escola

mais democrática e participativa.

Uma das questões levantadas no questionário refere-se ao grau de

gravidade dos comportamentos dos alunos visto por eles mesmos e outra em

relação ao comportamento dos professores. Apresentam-se a seguir duas tabelas

demonstrando as respostas dos alunos em relação à temática:

Nada Grave

Pouco Grave

Grave

Muito grave

Responder professores 06 22 38 24 Os alunos que gritam em sala de aula 05 28 45 12 Não usar o uniforme escolar 16 33 31 09 - 1 Ñ/R Trocar bilhetes entre colegas 40 36 09 05 Não fazer as atividades em sala 00 21 39 30 Agredir os colegas verbalmente 07 06 28 49 Agredir os professores verbalmente 06 03 16 65 Agredir os colegas fisicamente 07 02 20 60 - 1 Ñ/R Agredir os professores fisicamente 05 00 02 82 - 1 Ñ/R Pegar o material do colega 13 18 45 14 Falar palavrões em sala de aula 08 20 43 19 Arremessar bolinhas de papeis 20 37 28 05 Arrastar carteiras 33 34 20 03 Colocar apelidos nos colegas 11 18 33 28 Colocar apelidos nos professores 08 12 30 40 Destruir a escola 06 01 11 72 Usar celulares ou eletrônicos 38 25 17 10 Não chegar no horário 21 38 25 06 Trazer objetos perigosos (faca, canivete, arma de fogo, etc.)

06 04 02 78

Usar boné, gorro ou capuz 75 10 02 03

TABELA 1 :Grau de gravidade em relação ao comportamento dos alunos:

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Nada Grave Pouco Grave

Grave

Muito grave

Conversar nos corredores 35 23 22 10 Gritar freqüentemente em sala 02 13 38 37 Não usar o jaleco 33 24 20 13 Não saber motivar os alunos 05 09 36 39 Não preparar as atividades com antecedência

07 20 31 32

Agredir verbalmente os alunos 02 04 20 64 Chamar alunos por apelidos 14 10 32 34 Usar Avaliação como punição 05 07 25 54 – 1 N/R Atrasar para as aulas 21 25 28 15 - 1 N/R Usar celulares ou eletrônicos 18 17 32 23 Falar palavrões em sala de aula 07 10 19 53 – 1 N/R Arremessar objetos para chamar a atenção dos alunos

05 05 14 65 – 1 N/R

Faltar com freqüência 34 21 20 13 – 2 N/R Não levar o seu material p/ aula 12 24 36 18 Agredir os alunos fisicamente 05 00 03 82 Não saber explicar a matéria 03 02 28 57

TABELA 2 : Grau de gravidade em relação ao comportamento dos professores:

No que tange aos comportamentos dos alunos considerados muito graves

no contexto escolar foram apontados itens como trazer objetos perigosos (faca,

canivete, arma de fogo, etc.) para a escola; destruir a escola; agredir os professores

física e verbalmente; agredir os colegas física e verbalmente. Já os itens que foram

considerados como graves foram os alunos gritarem em sala de aula juntamente

com o item pegar o material do colega; falar palavrões em sala de aula; responder

professores e não fazer as atividades em sala. Em relação aos itens que consideram

pouco graves estão: não chegar no horário; arremessar bolinhas de papel; trocar

bilhetes entre os colegas; arrastar carteiras; não usar o uniforme escolar. Aqui,

observa-se uma contradição, pois muitos consideram que o bom aluno é aquele que

usa o uniforme e, no entanto, também apontaram este item como pouco grave, ou

seja, talvez não utilizar o uniforme não seja algo tão relevante assim, visto que a

utilização de acessórios em sala de aula, como por exemplo, o uso de boné, gorro

ou capuz é considerado por eles nada grave, assim como trocar bilhetes entre os

colegas, usar celulares ou eletrônicos e arrastar a carteira. Quando se analisa tais

percepções com as que foram emitidas em relação aos comportamentos dos

professores, verificam-se algumas semelhanças, tendo em vista que na

compreensão do aluno também é nada grave o professor ficar conversando nos

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corredores, não usar o jaleco, chegar atrasado e/ou faltar. Semelhanças como estas

devem nos instigar a refletir sobre como a escola está cumprindo a sua função

social, na medida em que na representação dos alunos, ausência ou atraso de

professor é nada ou pouco grave. Como a escola está contribuindo para gerar o

desejo de aprender mais, de conhecer, se por vezes, a ausência do professor é

festejada pelos alunos. Estas respostas dos alunos precisam gerar questionamentos

e novas respostas da escola, do ponto de vista do repensar a sua prática

pedagógica. Nesse sentido, há uma demonstração de não entendimento que o

processo ensino-aprendizagem requer determinadas situações e demandas tanto

pedagógicas quanto metodológicas e comportamentais que levem a aquisição do

conhecimento e que este é diferente da mera repetição ou de uma simples

informação a ser transmitida.

Quanto às atitudes dos professores que os alunos consideram graves

estão as seguintes: agredir o aluno física e verbalmente, arremessar objetos para

chamar a atenção dos alunos, não saber explicar a matéria, usar avaliação como

punição, falar palavrões em sala de aula e não saber motivar os alunos. Além disso,

relataram também como sendo grave o professor gritar freqüentemente em sala; não

levar o seu material para a aula; não saber motivar o aluno; chamar alunos por

apelidos; usar celulares ou eletrônicos, não preparar as atividades com

antecedência. Interessante observar que além de comportamentos específicos

ligados a agressividade, os alunos apontam para atitudes relacionadas à

metodologia e ao próprio comprometimento ou não do professor com a necessária

disciplina.

Nesta perspectiva, esses dados apontam para uma visão de disciplina tal

qual especificada anteriormente. Como um conjunto de regras, normas que devem,

ou pelo menos, espera-se, que sejam cumpridas. Se um professor não apresenta

requisitos tão necessários como realizar um planejamento e segui-lo como um

método a direcionar sua prática, parece algo incoerente, visto que o exemplo é um

dos valores que norteiam a conduta do outro. Cabe à direção e a equipe pedagógica

da escola, então, orientar, definir e pontuar claramente as questões relacionadas ao

planejamento de cada professor orientá-los em suas metodologias e contribuir para

uma prática docente mais democrática.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Repensar sobre os fatores determinantes da indisciplina escolar e sobre a

construção de uma nova disciplina na escola é responsabilidade de todos, a saber,

diretor, professores, pedagogos, funcionários, família e alunos. Nesse sentido, este

trabalho, ao focar as percepções do aluno em relação a sua visão sobre indisciplina,

demonstrou que esta tanto pode ser conseqüência de comportamentos dos alunos

que não condizem com as demandas necessárias para que ocorra a aprendizagem,

tais como o interesse, a organização, a participação, a atenção e a reflexão como

também pode ser conseqüência de atitudes do professor que não oportunizam

espaços de ensino e aprendizagem, haja vista, que sua prática pedagógica pode

estar sendo considerada como o trabalho de repassar ou transmitir saberes,

específicos e dissociados, do contexto social em que o aluno está inserido. Além

disso, pode ser fruto da organização estabelecida na escola que, por vezes,

privilegia o clientelismo, o individualismo e não o cumprimento de sua função social.

Primeiramente é interessante pontuar que a concepção que a grande

maioria dos alunos tem do conceito de indisciplina, está relacionado a uma

generalização, como sinônimo de ser bagunceiro e de desrespeito, poucos

consideram comportamentos que sugerem agressividade, física ou verbal, como

diretamente relacionada à indisciplina. Talvez essa concepção ocorra devido ao

constante comportamento dos professores em sala solicitando a atenção, ordem,

silencio e respeito dos alunos. Daí a associação imediata de indisciplina como

bagunça. E tal idéia está expressa no que entendem por disciplina como sendo o ato

de respeitar, de ser educado no sentido de ser obediente e até mesmo de ser bom

aluno. Nesse contexto, as regras da escola são normas a serem obedecidas. É

evidente que a participação do aluno na vida da escola é desejável e deve ser

estimulada. De que forma? Uma das maneiras é incentivando a participação em

grêmios estudantis, representantes de turma participando de conselhos de classe,

ajudando a pensar a escola como um todo, praticando a cidadania. A escola que

propicia estas condições aos alunos pressupõe-se uma escola aberta ao diálogo.

A relação professor-aluno é um dos alicerces básicos no processo ensino-

aprendizagem e central para a questão da (in) disciplina. Assim, para os alunos da

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7ª série que participaram desta pesquisa o “Bom professor” é aquele que sabe

explicar a matéria, que é bem humorado, paciente e calmo com a turma, bem como

aquele professor que conversa e reflete sobre as avaliações feitas e que escuta o

que o aluno tem a dizer. E em contrapartida, o “Bom aluno” é aquele que quer

aprender, que faz as tarefas tanto de sala como de casa, aquele que participa da

aula prestando atenção, pensando, questionando. De certa forma, temos aí uma

situação idealizada, ou então, uma perspectiva tradicional, onde se espera um aluno

ideal, que saiba ouvir, espere o momento de falar, que respeite o professor e os

colegas. Numa perspectiva moderna, temos outro modelo de aluno, sem limite,

descompromissado. Numa perspectiva dialética, o trabalho se dá na discussão de

idéias, na interação entre professor e aluno, na construção histórica dos conteúdos

que não são prontos, são reconstruídos à medida que há reflexão em sala de aula.

Desta maneira a disciplina passa a ser legitimada pelo grupo, porque se dá nesta

interação em sala de aula e nos demais espaços da escola. Na medida em que a

participação dos alunos acontece em sala de aula numa perspectiva de ação-

reflexão- transformação dos conteúdos, o processo ensino-aprendizagem torna-se

muito mais significativo, atingindo os objetivos propostos no coletivo.

No cotidiano escolar observam-se inúmeros comportamentos que podem

e são considerados, em muitos aspectos, indisciplinados. Nesse sentido, os

participantes foram questionados por meio do instrumento a citarem o grau de

gravidade de alguns comportamentos que podem corroborar com a indisciplina em

sala. Interessante foi verificar que a concepção de indisciplina para eles era o

sinônimo de bagunça, que remetem a idéia de desordem, de condições não

favoráveis à aprendizagem. Assim como também é grave o professor não saber

motivar os alunos, não preparar as aulas com antecedência e o professor atrasar

para a aula. O desafio que se configura, então, é pensar como as escolas, em suas

ações cotidianas, podem organizar ações educativas que atendam a demanda por

aprendizagens significativas e por efetivas construções de conhecimentos. No

momento histórico atual, reside nos projetos político-pedagógicos a busca por

coerência entre as práticas de ensino-aprendizagem e os novos paradigmas

científicos que, no contexto das emergentes mudanças, deve estar presentes nas

reformulações pedagógicas.

A disciplina e o planejamento são fundamentais para a vida em grupo e na

escola não é diferente. O trabalho pedagógico não se caracteriza como um processo

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natural e espontâneo exige, portanto, uma sistematização, um método, um

planejamento, tendo em vista que a educação escolar é um ato intencional e

deliberativo, pautada em critérios que demandam organização e disposição para

ensinar e aprender. Neste aspecto, as normas da escola e os métodos utilizados

pelos professores não podem ser rígidos e absolutos, mas adequados à população a

que se destina - a faixa etária, a realidade social -, fluindo naturalmente das relações

estabelecidas na escola.

Deve-se, então, levar o aluno a perceber a importância do estudo, que este

é um trabalho, que pode e deve ser realizado, mas exige esforço, dedicação, pode

trazer também frustração, não sendo possível esperar uma aula gostosa o tempo

todo. É preciso propiciar autonomia ao aluno, autonomia entendida como a

capacidade de tomar decisões por si mesmo levando em conta regras e valores

próprios e coletivos. A prática do professor como fator determinante para a disciplina

ou indisciplina deve, então, estar inserida nas reflexões e debates no cotidiano da

escola. Se entendermos o problema da indisciplina como efeito de comportamento

individual e anterior do aluno, não se isenta da responsabilidade, em certa medida, a

ação docente ou a comunidade escolar como um todo, tendo em vista a sua

organização para esse processo? A indisciplina na sala de aula não é uma via de

mão única, ou seja, reflexo apenas e tão somente de comportamentos dos alunos. O

professor deve também refletir até que ponto suas práticas não corroboram com esta

questão tão emergente e debatida nas escolas. Essa reflexão requer que o

professor repense constantemente sua prática e articule o processo educativo com a

realidade social e, para tal, devem corroborar todos os sujeitos da prática educativa

escolar – direção, pedagogos e funcionários.

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REFERÊNCIAS

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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1995.