a diminuiÇÃo da maioridade penal: o adolescente

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1 A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE DELINQUENTE E A PEC 33/2012 1 Luísa Backes de Basaldúa 2 RESUMO O presente artigo versa sobre a discussão acerca da redução da maioridade penal dentro do ordenamento jurídico brasileiro. Aborda brevemente a evolução histórica da implementação dos direitos da criança e do adolescente no Brasil, bem como o estudo da delinquência juvenil, relativamente ao ato infracional e quais as medidas a ele aplicáveis. Por fim, examina a Proposta de Emenda à Constituição número 33 de 2012, que trata da possibilidade de diminuição da maioridade penal em casos específicos. Para o desenvolvimento das ideias apresentadas, utiliza pesquisa bibliográfica, que abrange a análise de legislação, doutrina e artigos jurídicos. Palavras-chave: Redução da maioridade penal. Delinquência juvenil. Estatuto da Criança e do Adolescente. Proposta de Emenda à Constituição nº 33 de 2012. INTRODUÇÃO O sistema jurídico vigente no Brasil dispõe que a maioridade penal se dá aos 18 anos de idade. Esta norma encontra-se inscrita em três Diplomas Legais: no artigo 27 do Código Penal; no artigo 104, caput, do Estatuto da Criança e do Adolescente; e no artigo 228 da Constituição Federal. O Legislador manteve-se fiel ao princípio de que a pessoa menor de 18 anos não possui desenvolvimento mental completo para compreender o caráter ilícito de seus atos, ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Em vista disso, foi adotado 1 Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Aprovação com grau máximo pela banca examinadora composta pelo orientador, Prof. Vitor Antônio Guazzelli Peruchin, pelo Prof. Felipe Cardoso Moreira de Oliveira, e pelo Prof. Alexandre Wunderlich, em 26 de junho de 2014. 2 Acadêmica da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais. Contato: [email protected]

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Page 1: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

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A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE DELINQUENTE E

A PEC 33/20121

Luísa Backes de Basaldúa2

RESUMO

O presente artigo versa sobre a discussão acerca da redução da maioridade penal dentro do

ordenamento jurídico brasileiro. Aborda brevemente a evolução histórica da implementação

dos direitos da criança e do adolescente no Brasil, bem como o estudo da delinquência

juvenil, relativamente ao ato infracional e quais as medidas a ele aplicáveis. Por fim, examina

a Proposta de Emenda à Constituição número 33 de 2012, que trata da possibilidade de

diminuição da maioridade penal em casos específicos. Para o desenvolvimento das ideias

apresentadas, utiliza pesquisa bibliográfica, que abrange a análise de legislação, doutrina e

artigos jurídicos.

Palavras-chave: Redução da maioridade penal. Delinquência juvenil. Estatuto da Criança e

do Adolescente. Proposta de Emenda à Constituição nº 33 de 2012.

INTRODUÇÃO

O sistema jurídico vigente no Brasil dispõe que a maioridade penal se dá aos 18 anos

de idade. Esta norma encontra-se inscrita em três Diplomas Legais: no artigo 27 do Código

Penal; no artigo 104, caput, do Estatuto da Criança e do Adolescente; e no artigo 228 da

Constituição Federal. O Legislador manteve-se fiel ao princípio de que a pessoa menor de 18

anos não possui desenvolvimento mental completo para compreender o caráter ilícito de seus

atos, ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Em vista disso, foi adotado

1 Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau

de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Aprovação com grau máximo pela banca examinadora composta pelo orientador, Prof. Vitor Antônio Guazzelli

Peruchin, pelo Prof. Felipe Cardoso Moreira de Oliveira, e pelo Prof. Alexandre Wunderlich, em 26 de junho de

2014. 2 Acadêmica da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais. Contato: [email protected]

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critério biológico, em que é considerada tão somente a idade do agente, independentemente

da sua capacidade psíquica.

Entretanto, não são necessárias muitas estatísticas para demonstrar o que já é claro

para todos: a dimensão alarmante, ameaçadora e aterrorizante da situação social brasileira, um

país com inúmeros contrastes culturais dentro de seus oito milhões e quinhentos mil

quilômetros quadrados, onde a questão da criança e do adolescente infrator assume forma

epidêmica. Caberia logo perguntar: quais são os fatores que levam tão altos contingentes de

jovens ao caminho dos delitos, desde os mais brandos até os mais graves?

Trata-se de um tema polêmico, bastante debatido na atualidade, principalmente nas

mídias sociais, uma vez que põe em pauta o destino dos jovens, interessando, portanto, à

sociedade como um todo. No entanto, tais debates têm insistido numa única face da discussão

sobre o tema, em que as atenções se dividem tão somente em manter ou diminuir a

maioridade penal.

Na medida em que muito já se escreveu e debateu acerca da redução da maioridade

penal, este trabalho avança no sentido de analisar a construção e a implementação dos direitos

e responsabilizações das crianças e dos adolescentes no decorrer dos tempos, até os dias de

hoje. O presente artigo tem ainda a preocupação de trazer à tona alguns elementos para a

análise da incidência da delinquência juvenil no Brasil, estudar as principais causas que levam

os jovens atualmente a delinquir, como também definir quais são as medidas adotadas com o

objetivo de responsabilizá-los pelo cometimento de tais atos infracionais. Por fim, e não

menos importante, faz o exame de uma das últimas propostas de emenda à Constituição,

relativa a este tema, criada com o intuito de alterar a idade de inicio da responsabilização

penal, qual seja a PEC nº 33 de 2012.

1. A TRAJETÓRIA DA IMPLEMENTAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE NO BRASIL

Não apenas nos dias atuais, mas desde os tempos mais antigos, os direitos da criança e

do adolescente no Brasil são objeto de muitos estudos e indagações. Em meio a tantas

discussões em torno da redução da maioridade penal, não podemos deixar de abordar, ainda

que brevemente, a trajetória jurídica percorrida, em que as crianças e adolescentes tiveram

seus direitos alterados diversas vezes, até que se chegasse ao vigente Estatuto da Criança e do

Adolescente.

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1.1. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Em meados de 1808, quando D. João VI desembarcou no Brasil, estavam em vigência

as chamadas Ordenações Filipinas, que vigoraram até o Código Criminal de 18303.

Este período caracterizou-se por não apresentar grandes diferenciações entre jovens e

adultos em termos de responsabilização criminal. As crianças e os adolescentes eram

severamente punidos, recebendo somente atenuantes às penas aplicadas aos considerados

plenamente imputáveis4.

Entendia-se que a infância terminava em torno dos 7 anos de idade, quando se

iniciava, sem transição, a idade adulta5. Entretanto absolvia-se o menor de 17 anos da pena de

morte e concedia-se a redução da pena (atenuante). Entre os 17 e os 21, o “jovem adulto”

tinha a possibilidade de condenação à morte. Já o maior de 21 anos era plenamente

imputável, ou seja, detinha total ciência sobre eventuais crimes cometidos, sendo a ele

determinada, se assim fosse considerado, a pena de morte para delitos mais graves6.

Posteriormente, em 16 de dezembro de 1830, surgia o “Código Criminal do Império

do Brasil”, primeiro Código penal do país. Este fixou a imputabilidade penal plena para os

maiores de 14 anos de idade, segundo seu artigo 10º7.

Para os jovens entre 7 e 14 anos, era estabelecido o sistema biopsicológico, pelo qual

se entendia que os menores que agissem com discernimento poderiam ser considerados

relativamente imputáveis, sendo passíveis de recolhimento às chamadas Casas de Correção,

pelo tempo que o juiz entendesse conveniente, contanto que o recolhimento fosse até o jovem

completar 17 anos de idade8 (artigo 13)9.

Mesmo sendo um período caracterizado por severas punições aos considerados

plenamente imputáveis, com o advento do Código Penal do Império, passa-se a vislumbrar

certa preocupação em “corrigir” o menor infrator, como se verifica através da criação das

3 SOARES, Janine Borges. Promotora de Justiça de Barra do Ribeiro/RS. A Construção da

Responsabilidade Penal do Adolescente no Brasil: uma breve reflexão histórica. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id186.htm>. Acesso em: 12 mar. 2014. 4 Ibid. 5 Ibid. 6 SOARES, Janine Borges. Promotora de Justiça de Barra do Ribeiro/RS. A Construção da

Responsabilidade Penal do Adolescente no Brasil: uma breve reflexão histórica. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id186.htm>. Acesso em: 12 mar. 2014. 7 BRASIL. Lei de 16 de dezembro de 1830. Manda Executar o Código Penal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim-16-12-1830.htm>. Acesso em: 5 mar. 2014. 8 PRATES, Flávio Cruz. Adolescente Infrator. 4. Tiragem. Curitiba: ABDR, 2005. p. 52. 9 BRASIL. Lei de 16 de dezembro de 1830. Manda Executar o Código Criminal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim-16-12-1830.htm>. Acesso em: 5 mar. 2014.

Page 4: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

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Casas de Correção, em vez de apenas cominar-lhe punição pelos atos delituosos10. Cuida-se

de alteração surpreendente, uma vez que ainda não estava em voga a discussão sobre a

importância de a educação prevalecer sobre a punição, o que só viria a acontecer no final do

Século XIX11.

Acredita-se, ainda, que a Lei do Ventre Livre (Lei 2.040/71, de 28/09/1871) se tornou

um marco importante na luta pelos direitos da infância. As crianças filhas da escravidão, que

anteriormente tinham seus destinos traçados dentro da família de seus donos, vivendo sem

nenhuma dignidade e sendo vítimas de constantes maus tratos, passaram a ser objeto de

preocupação e responsabilidade do Governo, bem como de outros setores da sociedade12.

Nos anos seguintes, com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, as

elites políticas, intelectuais e filantrópicas começam a discutir a problemática da criança e do

adolescente. Verificou-se certa urgência em educar e/ou corrigir os menores, para que estes se

transformassem em cidadãos úteis e produtivos para o país, o que dependeria de intervenção

do Estado13.

Em 11 de outubro de 1890, é instituído, através do Decreto nº 847/90, o Código Penal

dos Estados Unidos do Brasil. Este se manteve muito semelhante ao anterior (Código

Criminal do Império do Brasil), permanecendo os 14 anos como o começo da idade

plenamente imputável. Entretanto, irresponsável penalmente seria o menor de 14 e o maior de

9 anos de idade, faixa etária que permaneceu como critério biopsicológico do Código Penal

do Império, fundado na ideia do discernimento, mediante avaliação do juiz14.

Durante esta década, segundo a Promotora de Justiça Janine Borges Soares, a

sociedade começou a deparar-se com oscilações de pensamentos e ideias no que se refere à

defesa e preocupação com a criança. A defesa era frequentemente acompanhada da

consideração de que elas muitas vezes representavam uma ameaça à população no momento

em que cometiam delitos15.

10 SOARES, Janine Borges. Promotora de Justiça de Barra do Ribeiro/RS. A Construção da

Responsabilidade Penal do Adolescente no Brasil: uma breve reflexão histórica. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id186.htm>. Acesso em: 12 mar. 2014. 11 Ibid. 12 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente em Conflito com a Lei, da Indiferença a Proteção

Integral. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 30. 13 Ibid., p. 32. 14 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente em Conflito com a Lei, da Indiferença a Proteção

Integral. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 32. 15 SOARES, Janine Borges. Promotora de Justiça de Barra do Ribeiro/RS. A Construção da

Responsabilidade Penal do Adolescente no Brasil: uma breve reflexão histórica. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id186.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014.

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5

Entre 1921 e 1927 importantes inovações legislativas foram introduzidas na ordem

jurídica brasileira. Isto porque o movimento internacional pelos direitos da criança deu início

a uma reivindicação pelo reconhecimento da sua condição distinta do adulto16. Assim, em 05

de janeiro de 1921, foi criada a Lei nº 4.242 que estabeleceu um critério puramente objetivo

de imputabilidade penal, fixada a imputabilidade penal aos 14 anos de idade e excluída

qualquer possibilidade de processo penal para os menores de 14 anos17.

Como reflexos das discussões da época sobre a questão da criança, surgiram

importantes decretos tratando da proteção à infância. Dois deles merecem destaque, quais

sejam: o Decreto Lei nº 16.273 de 20 de dezembro de 1923, que organizou a Justiça do

Distrito Federal, criando o Juizado de Menores, tendo Mello Mattos como o primeiro Juiz de

Menores da América Latina; e o Decreto Lei nº 17.943-A, de 12 de outubro de 1927, pelo

qual foi estabelecido o primeiro Código de Menores do Brasil, popularmente conhecido como

Código de Mello Mattos18.

Tal Código estabeleceu que o menor abandonado ou delinquente, com idade inferior a

18 anos, ficaria submetido aos regramentos ali previstos, eximindo o menor de 14 anos de

qualquer processo penal, e, por fim, sujeitava o maior de 14 e o menor de 18 anos a processo

especial19. O Código de Menores refletiu, na época e nas décadas seguintes, um profundo teor

protecionista e a clara intenção de controle total sobre estes indivíduos, consagrando a aliança

entre Justiça e Assistência20.

No Estado Novo, período compreendido entre os anos de 1937 e 1945, através do

Decreto Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940, criou-se o Código Penal de 1940, em que

se fixou o início da responsabilidade penal aos 18 anos de idade21.

Concebia o legislador que o menor de 18 anos de idade não possuía discernimento

para avaliar o caráter ilícito de seus atos, alterando radicalmente a ideia pregada no Código de

Mello Mattos, de que a idade imputável se iniciava aos 14 anos de idade. Estes jovens e

16 SARAIVA, op. cit., p. 38. 17 Ibid. 18 PRATES, Flávio Cruz. Adolescente Infrator. 4. Tiragem. Curitiba: ABDR, 2005. p. 53. 19 “Art. 1º O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18 annos de idade,

será submettido pela autoridade competente ás medidas de assistência e protecção contidas neste Codigo."

(grafia original) Código de Menores - Decreto N. 17.943 A – de 12 de outubro de 1927. 20 PRATES, Flávio Cruz. Adolescente Infrator. 4. Tiragem. Curitiba: ABDR, 2005. p. 53. 21 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente em Conflito com a Lei, da Indiferença a Proteção

Integral. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 42.

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crianças (menores de 18 anos), no Código Penal de 1940, não eram submetidos a processo

criminal, mas sim a procedimentos e normas previstas em legislação específica22.

Aproximadamente um ano depois do estabelecimento do Código Penal, foi criado o

Serviço de Assistência ao Menor (SAM), através do Decreto Lei nº 3.799. Tratava-se de um

órgão do Ministério da Justiça que funcionava como um equivalente do Sistema

Penitenciário, mas para a população menor de idade. O SAM foi o embrião do que mais tarde

seria a FUNABEM, berço de todas as FEBEMs23.

Com o passar dos anos, principalmente após a Promulgação do Código Penal de 1940,

começou a ser debatida a necessidade de uma retificação e possíveis reformas no Código de

Menores. Em 1943, foi então criada uma comissão revisora, que chegou ao entendimento de

que tal legislação deveria ter um caráter social e não mais essencialmente jurídico, na medida

em que o principal problema da criança era o da falta de assistência24.

Em 1964, com a instituição da ditadura militar no Brasil, o avanço da democracia no

país foi interrompido por mais de 20 anos. Durante este período, transcorrido entre 1º de abril

de 1964 até 15 de março de 1985, foram pautados, para a área da infância, alguns marcos

relevantes na trajetória da implementação dos seus direitos, tais como a aprovação da Lei nº

4.513, de 1º de dezembro de 1964, que criou a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor,

estabelecendo uma gestão centralizadora e vertical. A chamada FUNABEM tinha como

objetivo formular e implantar a Política Nacional do Bem Estar do Menor, herdando do SAM

prédio e pessoal e, com isso, toda a sua cultura organizacional. A Fundação propunha-se a ser

a grande instituição de assistência à infância, cuja linha de ação tinha na internação, tanto dos

abandonados e carentes como dos infratores, seu principal foco25.

Finalmente, em 10 de outubro de 1979, ainda sob a vigência da ditadura militar,

através da Lei nº 6.697, é estabelecido o novo Código de Menores, que se constituiu numa

revisão do Código de Menores de 1927, não rompendo, no entanto, com sua linha principal de

arbitrariedade, assistencialismo e repressão junto à população infanto-juvenil26.

22 SOARES, Janine Borges. Promotora de Justiça de Barra do Ribeiro/RS. A Construção da

Responsabilidade Penal do Adolescente no Brasil: uma breve reflexão histórica. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id186.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014. 23 SARAIVA, op. cit., p. 42-43. 24 SOARES, Janine Borges. Promotora de Justiça de Barra do Ribeiro/RS. A Construção da

Responsabilidade Penal do Adolescente no Brasil: uma breve reflexão histórica. Disponível em: <http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id186.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014.

25 AZAMBUJA, Maria Rgina Fay de. A Criança, o Adolescente: aspectos históricos. 2009. Disponível em: <http://www.mprs.mp.br/areas/infancia/arquivos/aspectos_historicos_maregina.doc>. Acesso em: 14 mar.

2014. 26 Ibid.

Page 7: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

7

O novo Código consagra a Doutrina da Situação Irregular, que se caracteriza por não

fazer distinção ou separação entre o menor abandonado e o menor delinquente, pois abriga a

ideia de que, na condição de menor em situação irregular, enquadram-se tanto os infratores

quanto os carentes, questão não prevista no Código de Menores anterior27.

Estabeleceu-se que o menor de 18 anos e maior de 14 anos que cometesse qualquer ato

infracional submeter-se-ia a um procedimento para a apuração de sua prática, sendo passível

de uma das medidas prevista no Código de Menores, de acordo com arbítrio do Juiz. O menor

de 14 anos de idade não responderia a qualquer procedimento se cometesse infração penal,

entretanto estava sujeito à aplicação de medidas por se encontrar em situação irregular28.

Para estes casos, o encaminhamento dado, na maioria das vezes, pelo Juiz de Menores

na época, era o mesmo tanto para os menores de 14 anos infratores quanto para os menores de

14 anos vítimas da sociedade ou da família, qual seja, a internação, por tempo indeterminado,

nos institutos criados para os menores29.

Sobre esta Doutrina que se impôs, Saraiva (2005) elenca algumas características:

1. As crianças e os adolescentes são considerados “incapazes”, objetos de proteção,

da tutela do Estado e não sujeitos de direitos;

2. Estabelece-se uma nítida distinção entre crianças e os adolescentes das classes

ricas e os que se encontram em situação considerada “irregular”, “em perigo moral

ou material”;

3. Aparece a ideia de proteção da lei aos menores, vistos como “incapazes”, sendo

que no mais das vezes esta proteção viola direitos;

4. O menor é considerado incapaz, por isso sua opinião é irrelevante;

5. O juiz de menores deve ocupar-se não só das questões jurisdicionais, mas também

de questões relacionadas à falta de políticas públicas. Há uma centralização do

atendimento;

6. Não se distinguem entre infratores e pessoas necessitadas de proteção, surgindo a

categoria de “menor abandonado e delinquente juvenil”.

7. As crianças e os adolescentes são privados de sua liberdade no sistema da

FEBEM, por tempo indeterminado, sem nenhuma garantia processual30.

Tal conjuntura, em conformidade com o entendimento de Saraiva (2005), acabou

fortalecendo as desigualdades e a discriminação das crianças e adolescentes pobres, que eram

postas no mesmo patamar, sem distinção entre menores infratores, abandonados e mau-

27 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente em Conflito com a Lei, da Indiferença a Proteção

Integral. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 48. 28 SOARES, op. cit. 29 SOARES, Janine Borges. Promotora de Justiça de Barra do Ribeiro/RS. A Construção da

Responsabilidade Penal do Adolescente no Brasil: uma breve reflexão histórica. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id186.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014. 30 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente em Conflito com a Lei, da Indiferença a Proteção

Integral. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 49-50.

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tratados, partindo do pressuposto de que todos estariam na mesma condição, ou seja, em

"situação irregular"31.

Nesta época, enquanto no Brasil consagrava-se a Doutrina da Situação Irregular, em

âmbito mundial, a ONU estabelecia que 1979 seria o Ano Internacional da Criança. A partir

de então iniciava-se um balanço da efetivação dos direitos na área da infância e juventude,

que resultaria mais tarde na Doutrina de Proteção Integral32.

Os primeiros sinais de aprimoramento da jurisprudência em torno dos direitos da

infância e juventude viriam no ano de 1984, com a criação da Lei nº 7.209, de 11 de julho de

1984, que reformou o Código Penal de 1940. A imputabilidade penal continuaria sendo aos

18 anos de idade, acolhendo o critério puramente biológico. A diferença viria numa pequena

alteração na redação do artigo 27 da referida Lei em que, no lugar de menores

“irresponsáveis”, referiu-se coerentemente a menores “inimputáveis”33.

Entretanto, em 1988, com a promulgação da Constituição da República Federativa do

Brasil, a inimputabilidade do menor de 18 anos de idade foi elevada à condição de princípio

constitucional, por força do artigo 228 do referido diploma legal34 que dispõe:

Art. 228 - São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às

normas da legislação especial35.

Este ano caracterizou-se pelo estabelecimento de mudanças significativas no

ordenamento jurídico brasileiro, que introduziram novos paradigmas com relação aos direitos

da criança e do adolescente, que passaram a ser tratados como cidadãos e sujeitos de direitos,

deixando para trás a ideia de crianças simplesmente como objetos da norma36.

Desta forma, dez anos depois da criação do Ano Internacional da Criança, em 1989,

foi realizada a Convenção das Nações Unidas de Direito da Criança, aprovada no Brasil pelo

31 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente em Conflito com a Lei, da Indiferença a Proteção

Integral. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 51. 32 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente em Conflito com a Lei, da Indiferença a Proteção

Integral. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 55. 33 SOARES, Janine Borges. Promotora de Justiça de Barra do Ribeiro/RS. A Construção da

Responsabilidade Penal do Adolescente no Brasil: uma breve reflexão histórica. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id186.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014. 34 SARAIVA, op. cit., p. 54. 35 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado

Federal 1988. Disponível em: <http://www.dji.com.br/constituicao_federal/cf226a230.htm>. Acesso em:

14 mar. 2014. 36 SOARES, Janine Borges. Promotora de Justiça de Barra do Ribeiro/RS. A Construção da

Responsabilidade Penal do Adolescente no Brasil: uma breve reflexão histórica. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id186.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014.

Page 9: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

9

Decreto Legislativo nº 28, de 14 de setembro de 1990, e promulgada pelo Decreto 99.710, de

21 de novembro de 1990.

O Brasil foi o primeiro país a adequar sua legislação às normas da Convenção,

incorporando-a em seu texto constitucional. A referida Convenção foi a responsável por

consagrar a Doutrina da Proteção Integral, que foi adotada plenamente pela Constituição

Federal de 1988, consagrando-a especialmente nos direitos fundamentais inscritos no artigo

22737:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao

adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao

respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a

salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade

e opressão. (Alterado pela EC-000.065-2010)38.

A Convenção definiu a base da Doutrina da Proteção Integral ao reconhecer que

criança e adolescente são sujeitos de direitos e de garantias fundamentais que, considerando

sua vulnerabilidade, necessitam de cuidados e proteção especiais. O Brasil, nesta senda,

adotou a Doutrina da Proteção Integral como fonte garantidora da preservação da dignidade

humana para crianças e adolescentes39.

A partir daí, reconheceu-se que os direitos fundamentais da criança e do adolescente

detêm o status de prioridade absoluta, isto é, a proteção dos mesmos sobrepõe-se a qualquer

outra medida, passando a ser uma questão de responsabilidade conjunta da família,

comunidade e Estado40.

Desta forma, para poder consolidar as diretrizes da Carta Magna no que tange aos

direitos fundamentais na infância e juventude, foi promulgado em 13 de julho de 1990, o

Estatuto da Criança e do Adolescente. Assim, os menores de 18 anos de idade, considerados

penalmente inimputáveis, ganharam seu próprio documento legal, que regulamentou todos os

37 Ibid. 38 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado

Federal 1988. Disponível em: <http://www.dji.com.br/constituicao_federal/cf226a230.htm>. Acesso em:

14 mar. 2014. 39 SOARES, Janine Borges. Promotora de Justiça de Barra do Ribeiro/RS. A Construção da

Responsabilidade Penal do Adolescente no Brasil: uma breve reflexão histórica. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id186.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014. 40 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente e o Ato Infracional, Garantias Processuais e Medidas

Socioeducativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. p. 20.

Page 10: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

10

seus direitos, seguindo as teorias da Proteção Integral, buscando dar efetividade à norma

constitucional41.

1.2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (LEI Nº 8.069/1990)

O Estatuto da Criança e do Adolescente foi instituído pela Lei 8.069, no dia 13 de

julho de 1990, tendo em vista a necessidade de complementar a Constituição Federal de 1988.

Destinou-se a aprimorar as normas brasileiras, a fim de melhor atender às necessidades da

faixa etária em questão, quanto aos seus direitos fundamentais.

A substituição do Código de Menores de 1979 pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente em 1990 consolidou uma verdadeira troca de paradigmas, onde a anteriormente

referida Doutrina da Proteção Integral (disposta no artigo 227 da Constituição Federal) foi

totalmente internalizada, estando disciplinada principalmente nos artigos 3º e 4º do vigente

Estatuto42, in verbis:

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes

à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,

assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e

facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual

e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público

assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à

saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à

cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e

comunitária43.

Desta forma, ficou evidenciado o princípio da igualdade de todas as crianças e

adolescentes, envolvendo todos os seres humanos entre zero e 18 anos de idade incompletos.

Assim, não há categorias distintas, apesar de estarem em situações sociais, econômicas e

culturais diferenciadas. Tal disposição demonstra total superação da concepção de “menores

em situação irregular”, pregada pelo Código de Menores44.

41 Idem. Adolescente em Conflito com a Lei, da Indiferença a Proteção Integral. 2. ed. Porto Alegre:

Livraria do Advogado, 2005. p. 72. 42 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente e o Ato Infracional, Garantias Processuais e Medidas

Socioeducativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. p. 20. 43 BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014. 44 SOARES, Janine Borges. Promotora de Justiça de Barra do Ribeiro/RS. A Construção da

Responsabilidade Penal do Adolescente no Brasil: uma breve reflexão histórica. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id186.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014.

Page 11: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

11

Cabe analisar que, segundo disposto no art. 2º do Estatuto, considera-se criança a

pessoa de até 12 anos de idade incompletos, e adolescente aquela compreendida entre 12 e 18

anos. Entretanto, de acordo com o parágrafo único, aplica-se o estatuto, excepcionalmente, às

pessoas entre 18 e 21 anos de idade45.

A Carta Magna de 1988, em seu artigo 227, bem como o ECA em seu artigo 4º,

conferem a responsabilidade pelos direitos da criança e do adolescente, de uma forma

solidária entre a entidade familiar, a comunidade e o Estado, os quais, de acordo com o

Princípio da Prioridade Absoluta, passam a ter o dever de colocar todas as questões

pertinentes à infância e juventude em prioridade absoluta frente às demais46.

Por fim, registre-se para melhor entendimento do Estatuto vigente, que, além do

Princípio da Dignidade da Pessoa Humana advindo da Constituição Federal, o ECA é regido

por pelo menos mais três importantes concepções, quais sejam, o Princípio da Prioridade

Absoluta, o Princípio do Melhor Interesse e o Princípio da Municipalização47.

O Princípio da Prioridade prima pela priorização absoluta no atendimento das

necessidades destes indivíduos, uma vez que os mesmos estão em nítida desvantagem em

relação aos demais cidadãos48.

O Princípio do Melhor Interesse, embora tenha surgido em 1959, por meio da

Declaração dos Direitos da Criança e presente no Código de Menores de 1979, foi

incorporado ao direito brasileiro e tornou-se mais conhecido a partir do advento da

Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente, mesmo que não

conste expressamente nestes diplomas legais49. Este princípio constitui-se num preceito

orientador tanto para o legislador quanto para o aplicador, determinando a prioridade das

necessidades da criança e do adolescente como critério de interpretação da lei, deslinde de

conflitos, ou mesmo para a elaboração de futuras regras50.

Por seu turno, com o intuito de atender às características específicas de cada região, o

Princípio da Municipalização se fez necessário para o atendimento das questões pertinentes à

45 CURY, Munir. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.

p. 20. 46 Ibid. 47 PRATES, Flávio Cruz. Adolescente Infrator. 4. Tiragem. Curitiba: ABDR, 2005. p. 57-58. 48 SARAIVA, op. cit., p. 74. 49 SANTA CATARINA. Manual do Promotor de Justiça da Infância e da Juventude do Estado de Santa

Catarina. Parte Geral. v. 1. Coleção Suporte Técnico Jurídico. Disponível em:

<http://portal.mp.sc.gov.br/portal/conteudo/cao/cij/suporte_tecnicojuridico/manual%20promotor%20_vol1

_2ed.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2014. 50 Ibid.

Page 12: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

12

infância e juventude, pois se acredita que, quanto mais próximo dos problemas e conhecendo

mais de perto suas causas, mais fácil será resolvê-los51.

De acordo com o artigo 103 e seguintes (Título III), os menores de 18 anos são

penalmente inimputáveis, mas respondem pela prática de ato infracional cuja sanção será

desde a adoção de medida protetiva de encaminhamento aos pais ou responsável, orientação,

apoio e acompanhamento, matrícula e frequência em estabelecimento de ensino, inclusão em

programa de auxílio à família, encaminhamento para tratamento médico, psicológico ou

psiquiátrico, abrigo, tratamento toxicológico e, até, colocação em família substituta, se assim

for concluído52.

O sujeito ativo do ato infracional é sempre o adolescente, enquanto que para as

crianças, quando do cometimento de ato infracional, ficam destinadas apenas as medidas de

proteção descritas no artigo 101 do ECA53. As infrações praticadas por adolescentes entre 12 e

18 anos incompletos, além das medidas protetivas, podem levar à aplicação das medidas

socioeducativas, de acordo com a capacidade do ofensor, circunstâncias do fato e gravidade

da infração, conforme dispõe os incisos do artigo 112 do ECA54.

Tais medidas são destituídas de caráter punitivo, típico da doutrina penal.

Considerando-se o contexto da doutrina da proteção integral, as medidas têm por finalidade

proporcionar ao adolescente uma nova compreensão dos valores da vida em sociedade,

substituindo as penas repressivas por uma proposta de intervenção baseada em noções de

cidadania, resgatando seus direitos humanos fundamentais55. Tanto as medidas

socioeducativas quando as protetivas serão aprofundadas a seguir.

A criança e o adolescente, portanto, passaram a ser identificados como sujeitos de

direitos, sendo reconhecidos por todo o ordenamento jurídico brasileiro como protagonistas,

através de garantias diferenciadas e especiais, como, por exemplo, a proteção integral e a

absoluta prioridade, entre outras medidas asseguradoras de seus direitos fundamentais56.

51 SANTA CATARINA. Manual do Promotor de Justiça da Infância e da Juventude do Estado de Santa

Catarina. Parte Geral. v. 1. Coleção Suporte Técnico Jurídico. Disponível em:

<http://portal.mp.sc.gov.br/portal/conteudo/cao/cij/suporte_tecnicojuridico/manual%20promotor%20_vol1

_2ed.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2014. 52 VERONESE, Josiane Rose Petry; SILVEIRA, Mayra. Estatuto da Criança e do Adolescente

Comentado. São Paulo: Grupo Conceito, 2011. p. 232. 53 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente e o Ato Infracional, Garantias Processuais e Medidas

Socioeducativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. p. 27-28. 54 Ibid., p. 28-29. 55 VERONESE, Josiane Rose Petry; SILVEIRA, Mayra. Estatuto da Criança e do Adolescente

Comentado. São Paulo: Grupo Conceito, 2011. p. 250. 56 Ibid., p. 26.

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13

O objetivo estatutário, portanto, é a proteção dos menores de 18 anos, proporcionando

a eles um desenvolvimento físico, mental, moral e social concordantes com os princípios

constitucionais de igualdade, liberdade e dignidade, preparando estes seres em evolução para

uma vida adulta em sociedade57.

Passados 20 anos da promulgação do ECA no Brasil, mesmo diante da incerteza sobre

a eficácia da presente legislação aos jovens de hoje, fica a certeza de que este foi o maior e o

mais importante salto na implementação e desenvolvimento dos direitos infanto-juvenis na

história, simbolizando uma verdadeira quebra de paradigmas, uma revolução cultural e

jurídica, em contraposição às legislações anteriores58.

2. O ADOLESCENTE E A DELINQUÊNCIA

Vivemos em uma época em que os atos infracionais cometidos por crianças e

adolescentes, menores de 18 anos de idade, apavoram e surpreendem toda a sociedade

brasileira. Esta, tomada pelo medo e influenciada pela mídia, antes mesmo de refletir sobre os

fatores que levaram estes jovens a delinquir, acaba buscando formas de penalizá-los,

acreditando ser a solução mais adequada para livrar-nos da crescente violência.

A discussão em torno da responsabilidade penal juvenil, da criminalidade e da

delinquência na adolescência vem sendo conduzida diretamente para o foco das propostas de

redução da idade imputável, formando-se dois grupos de opiniões opostas59. Entretanto, a fim

de fomentar a discussão atual em torno da redução da responsabilidade penal, devemos

atentar para a existência de inúmeras causas que podem ser associadas aos altos índices de

violência e delinquência por parte dos jovens brasileiros60.

Para isso, é imprescindível a realização de uma minuciosa análise acerca de fatores

sociais, culturais, econômicos, entre outros, tais como o descaso do Estado e da entidade

familiar, bem como a corrupção no meio em que determinados jovens tidos como

57 PRATES, Flávio Cruz. Adolescente Infrator. 4. Tiragem. Curitiba: ABDR, 2005. p. 54-55. 58 SOARES, Janine Borges. Promotora de Justiça de Barra do Ribeiro/RS. A Construção da

Responsabilidade Penal do Adolescente no Brasil: uma breve reflexão histórica. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id186.htm>. Acesso em: 14 mar. 2014. 59 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente em Conflito com a Lei. 2. ed. Porto Alegre, RS: Livraria

do Advogado, 2005. p. 83. 60 ARRUDA, Sande Nascimento de. Em torno da delinqüência juvenil. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XI,

n. 50, fev. 2008. Disponível em:

<http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4397&revista_caderno

=3>. Acesso em: 02 abr. 2014.

Page 14: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

14

delinquentes vivem e convivem, para posteriormente avaliar qual seria a melhor forma e o

melhor meio de se combater a epidemia da delinquência juvenil.

2.1 EM TORNO DA DELINQUÊNCIA JUVENIL

No entendimento do Promotor de Justiça da Defesa da Infância e da Juventude do

Distrito Federal, Anderson Pereira de Andrade, a delinquência juvenil, em seu sentido estrito,

simboliza o comportamento que se denomina delito no sentido jurídico-penal, se fosse

cometido por adulto61. Ou seja, aparece diretamente ligada à função da lei e de sua

transgressão por indivíduos jovens62.

A questão da delinquência juvenil é um fenômeno que atinge o mundo inteiro e trata-

se de um comportamento desviante que varia de cultura para cultura. Em determinados locais,

aparece em menor escala, como é o caso da maioria dos países da Europa e, em outros, como

é o caso do Brasil, comparece com frequência alarmante63.

Segundo entendimento de Jorge Trindade (2002), o contexto político e as estruturas

institucionais dos últimos 30 anos no Brasil contribuíram para o declínio social e pessoal de

muitas crianças e adolescentes, submetidos a condições precárias de cidadania.

Conforme exposto anteriormente, as crianças e os adolescentes enfrentaram, ao longo

da história, diversas transformações no que diz respeito à construção de seus direitos.

Inicialmente, tais indivíduos eram tratados como se maduros fossem, uma espécie de adultos

em miniatura, não encontrando diferenciação, mesmo se em fase de desenvolvimento mental

e físico64. Até que se chegasse aos tempos atuais e com o advento do ECA, tais sujeitos de

direitos tiveram de enfrentar momentos nos quais eram severamente punidos pelo

cometimento de atos infracionais, sendo submetidos, muitas vezes, a condições desumanas.

Ainda de acordo com Jorge Trindade (2002), as instituições encarregadas do cuidado e

correção do comportamento destas crianças e adolescentes, nos tempos da Doutrina da

Situação Irregular, ao invés de zelar pela reabilitação social de tais indivíduos, reproduziam

61 ANDRADE, Anderson Pereira de. Delinquência Juvenil. Disponível em:

<http://www.mpdft.mp.br/portal/pdf/unidades/promotorias/pdij/material_didatico/Delinquencia.pdf>.

Acesso em: 02 abr. 2014. 62 TRINDADE, Jorge. Delinquência Juvenil Compêndio Transdisciplinar. 3. ed. Porto Alegre, RS:

Livraria do Advogado, 2002. p. 43. 63 Ibid., p. 29. 64 FERREIRA, Pedro Moura. Delinquência Juvenil, Família e Escola. Artigo de revista baseada numa Tese de

Doutoramento. Análise Social, v. XXXII, n. 143, p. 913-924, 1997.

Page 15: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

15

um tratamento impessoal, pouco afetivo e puramente técnico65. Além disso, a grande maioria

destes menores recolhidos a tais instituições não eram infratores, mas sim crianças e

adolescentes vítimas de abandono ou maus-tratos.

Muitos foram os fatores que concorreram para o quadro geral ao longo dos séculos.

Todavia, ao analisar a situação do menor de 18 anos no Brasil de hoje, verifica-se que, além da

contribuição histórica para a questão da delinquência juvenil, atualmente constatam-se diversos

fatores ainda não superados, que vêm estimulando cada vez mais o crescimento dos atos

infracionais praticados por jovens brasileiros.

Sobre esta questão, Antônio Fernando do Amaral e Silva66, ao analisar as causas que

levam à delinquência juvenil e consequentemente à crescente violência urbana, destaca que

tais fenômenos decorrem, principalmente, da injusta distribuição de renda, da miséria e da

precariedade das políticas sociais básicas67. E, nesta senda, assinala Jorge Trindade (2002),

que seria impossível compreender o problema da delinquência juvenil atualmente sem levar

em conta fatores sociais, o ambiente familiar e a organização própria da personalidade do

indivíduo68.

Em torno deste tema, Maria Regina Fay de Azambuja (2009) faz o seguinte

julgamento:

Falhas múltiplas, negligência familiar, social e omissão das políticas públicas

interferem no destino de nossos jovens, com sequelas que podem se estender ao

longo da vida, não raras vezes com reflexos nas gerações seguintes, elevando o valor

da dívida da nação brasileira para com aqueles a quem elegemos como prioridade

absoluta69.

Para João Farias Júnior (2000), a criminalidade é uma extensão da marginalidade do

menor que é uma extensão da desagregação familiar. Ainda segundo o autor, esse processo de

marginalização apresenta toda uma cadeia evolutiva, pois abarca um dos maiores fatores de

65 TRINDADE, Jorge. Delinquência Juvenil Compêndio Transdisciplinar. 3. ed. Porto Alegre, RS:

Livraria do Advogado, 2002. p. 31. 66 Desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina no período de 1990 a 2009. 67 SILVA, Antônio Fernando do Amaral e. A Criança e o Adolescente em Conflito Com a Lei. Disponível

em:

<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/infanciahome_c/adolescente_em_conflito_com_a_Lei/Doutrin

a_adolescente/A%20Crian%C3%A7a%20e%20o%20Adolescente%20em%20Conflito%20com%20a%20L

ei%20-%20Desem.doc>. Acesso em: 2 abr. 2014. 68 TRINDADE, Jorge. Delinquência Juvenil Compêndio Transdisciplinar. 3. ed. Porto Alegre, RS:

Livraria do Advogado, 2002. p. 31. 69 AZAMBUJA, Maria Regina Fay de. A Criança, o Adolescente: aspectos históricos. 2009. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/areas/infancia/arquivos/aspectos_historicos_maregina.doc>. Acesso em: 2 abr.

2014.

Page 16: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

16

condicionamento para o jovem delinquir que é a extensão da criminalidade dos pais para seus

filhos70.

Sobre a questão da família como fator de estímulo à delinquência, acredita Pedro

Moura Ferreira (1997) que a incapacidade desta estrutura de cumprir, em muitos casos, com

as responsabilidades e os deveres que socialmente lhes compete, somada à falta de

acompanhamento e de supervisão ao longo do desenvolvimento infanto-juvenil, justifica o

aparecimento de comportamentos que se afastam daqueles que, aos nossos olhos, seriam o

ideal de infância e de juventude71.

Sobre este tema, posiciona-se Antônio Fernando do Amaral e Silva: “A delinquência

juvenil decorre da miséria em que vivem milhares de famílias, as quais transferem a pobreza

às crianças e jovens, muito cedo compelidos a lutar pela vida”72.

Ainda, acredita Trindade (2012), que o fracasso da família no período de estruturação

da personalidade da criança é um fator decisivo para o aparecimento da delinquência juvenil.

Da mesma forma, o controle e a disciplina parental consistentes durante a infância, são

importantíssimos para o desenvolvimento do autocontrole da criança. Uma vigilância parental

frouxa, pouco afetiva, inadequada ou pobre, configura-se como a principal influência para que

se originem comportamentos antissociais e delinquentes73.

Segundo o mesmo autor, outra variável relacionada à delinquência juvenil é a

educação incoerente. Ou seja, quando os pais agem de maneira contraditória e confusa,

castigando com dureza comportamentos leves ou deixando de castigar adequadamente quando

a criança comete alguma ação grave74. Do mesmo modo, os pais procedem de maneira

incoerente, quando punem os filhos por ações inadequadas que eles próprios praticam,

deixando-os confusos com relação ao sistema de valores a ser adotado.

Além da família, a escola e a comunidade são consideradas as unidades formadoras

mais importantes no desenvolvimento do ser humano. Da mesma forma, se estas entidades

falharem nas tarefas que lhes cabe e a criança crescer e se desenvolver num meio inadequado,

a delinquência possivelmente será uma das consequências.

70 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de Criminologia. 3. ed. rev. e atual. Curitiba: Juruá, 2000. p. 146. 71 FERREIRA, Pedro Moura. Delinquência Juvenil, Família e Escola. Artigo de revista baseada numa Tese de

Doutoramento. Análise Social, v. XXXII, n. 143, p. 913-924, 1997. 72 SILVA, Antônio Fernando do Amaral e. A Criança e o Adolescente em Conflito Com a Lei. Disponível

em:

<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/infanciahome_c/adolescente_em_conflito_com_a_Lei/Doutrin

a_adolescente/A%20Crian%C3%A7a%20e%20o%20Adolescente%20em%20Conflito%20com%20a%20L

ei%20-%20Desem.doc>. Acesso em: 2 abr. 2014. 73 TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do Direito. 6. ed. Porto Alegre:

Livraria do Advogado, 2012. p. 489. 74 Ibid., p. 490.

Page 17: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

17

Na escola, quando não há um controle reforçado sobre os jovens que a frequentam (e

aqui vemos um comportamento bastante atual e cada vez mais presente nos estabelecimentos

de ensino, o denominado bullying), aquela criança ou adolescente com agressividade proativa

frequentemente é vista como líder entre os demais estudantes, numa tendência de avaliar as

consequências de um comportamento agressivo como positivas. Além disso, podem

influenciar crianças inseguras e carentes de identificação a fazerem o mesmo, dando a ideia

de que a antissocialidade e a delinquência são como uma espécie de passaporte para o

sucesso75.

Dentre as situações já vistas, ainda para a análise da delinquência, faz-se necessário

levar em conta, também, fatores biológicos e psíquicos de cada indivíduo. Ou seja, questões

intrínsecas à pessoa que, não necessariamente, estão ligadas ao meio em que ela vive.

De acordo com o entendimento de Jorge Trindade (2012) o comportamento antissocial

do jovem também pode estar ligado a uma base biológica, devido a sutis disfunções do

sistema nervoso76. Tal comportamento, segundo Anderson Pereira de Andrade77, pode vir

atrelado principalmente à propensão à impulsividade, hiperatividade e dificuldade de

concentração, que tornaria mais difícil para os portadores de tais disfunções o controle dos

estímulos internos ligados à violência, por exemplo78.

Outro aspecto importante muito bem destacado por Jorge Trindade (2012) é a questão

da influência da mídia no comportamento dos jovens. O sensacionalismo com que os meios

de comunicação divulgam notícias sobre o crime e os criminosos pode facilmente levar a uma

banalização ou, ao contrário, a uma valorização excessiva de tais comportamentos. O jovem

desorientado, em crise de identificação, pode encontrar, através do comportamento

delinquente, falsa saída para seus problemas, na busca de fama e prestígio. Tais condutas,

presentes diariamente nas telenovelas e jornais, podem promover uma inversão de valores e

atitudes individuais. Logo, o comportamento delinquente passa a ser desejado, ao invés de

criticado79.

Ainda sobre estes aspectos, é de suma importância destacar um estudo realizado em

Cambridge sobre o desenvolvimento da delinquência, produzido por Farrington (2001),

75 TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do Direito. 6. ed. Porto Alegre:

Livraria do Advogado, 2012. p. 497. 76 Ibid., p. 494. 77 Promotor de Justiça do Distrito Federal. 78 ANDRADE, Anderson Pereira de. Delinquência Juvenil. Disponível em:

<http://www.mpdft.mp.br/portal/pdf/unidades/promotorias/pdij/material_didatico/Delinquencia.pdf>.

Acesso em: 2 abr. 2014 79 TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do Direito. 6. ed. Porto Alegre:

Livraria do Advogado, 2012. p. 494.

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18

considerado referência de pesquisa longitudinal prospectiva sobre o fenômeno do

comportamento delinquente. Tal investigação contou com uma amostra de 411 jovens do sexo

masculino do sul de Londres e teve como principal meta determinar os fatores de

predisposição à delinquência.

A pesquisa, em sua conclusão, constatou diversos elementos que levam as crianças e

os adolescentes ao caminho da delinquência, dividindo-os em cinco grupos, quais sejam:

fatores ligados à criança, nos quais se encontram aspectos voltados à personalidade do menor,

como comportamento impulsivo, hiperatividade, agressividade, baixa inteligência, entre

outros; fatores ligados à família, que incluem práticas educativas deficientes, comunicação

pobre, castigos físicos, entre outros; fatores relacionados à escola, tais como baixo

desempenho, fraca vinculação à instituição e estabelecimentos que funcionam de forma

desorganizada; fatores relacionados aos colegas, como a associação com indivíduos

desviantes ou a rejeição por parte dos companheiros de escola; e, por fim, fatores relativos à

vizinhança, à comunidade e à sociedade, em que estão presente os aspectos relacionados à

pobreza, desorganização do meio e exposição à violência da mídia e outros fatores sociais80.

Por outro lado, não há como referir a problemática da crescente violência urbana que

recruta cada vez mais os jovens, sem aludir a um dos maiores responsáveis por esta situação

que vem saindo do controle: o Estado. Este tem o dever de implementar políticas públicas de

caráter social tais como educação, saúde e lazer, direitos aos quais os jovens têm garantia

constitucional assegurada. Todavia, a falta destas políticas públicas ou o não gerenciamento

das já existentes têm feito com que os jovens brasileiros automaticamente caiam no mundo da

marginalidade e da delinquência81.

Ademais, o descaso das entidades políticas, que não investem em programas que

possibilitem a inclusão social – como, por exemplo, nos centros de internamento que se

encontram superlotados e desestruturados, sem as mínimas condições de habitabilidade – são

também fatores que dificultam senão impedem a ressocialização do jovem infrator82.

Sobre o assunto, entende Trindade (2002):

80 Dados fornecidos pelo professor Jorge Trindade em entrevista realizada no dia 10 de março de 2014. 81 HELLEBRANDT, Hans; CAMILO, Andryelle Vanessa. Reflexos da Falta de Políticas Públicas na

Delinqüência Juvenil. Disponível em:

<http://www.cesumar.br/prppge/pesquisa/epcc2011/anais/hans_hellebrandt.pdf>. Acesso em: 2 abr. 2014. 82 ARRUDA, Sande Nascimento de. Em torno da delinqüência juvenil. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, v.

XI, n. 50, fev. 2008. Disponível em:

<http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4397&revista_caderno

=3>. Acesso em: 2 abr. 2014.

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19

O menor, ao sentir sobre si a pressão marginalizadora das instituições penais de

controle social, considera-se cada vez mais como inadaptado ou delinquente. Ao

assumir tal etiqueta, tenderá a alienar-se cada vez mais das normas convencionais83.

Ainda nesta senda, posiciona-se o Promotor de Justiça do Estado de São Paulo, José

Heitor dos Santos (2003):

Ora, quem está em situação irregular não é a criança ou o adolescente, mas o Estado,

que não cumpre suas políticas sociais básicas; a Família, que não tem estrutura e

abandona a criança; os pais que descumprem os deveres do pátrio poder; a

Sociedade, que não exige do Poder Público a execução de políticas públicas sociais

dirigidas à criança e ao adolescente84.

Desta forma, percebe-se que a Doutrina da Proteção Integral consagrada no Estatuto

da Criança e do Adolescente necessita ser integralizada plenamente na sociedade brasileira.

Mais do que isto, é imprescindível a conscientização e movimentação das entidades estatais,

familiares e da sociedade como um todo, pois se verifica que a maioria dos elementos que

fazem com que os menores trilhem o caminho da criminalidade estão diretamente ligados a

fatores externos a eles. Assim, talvez não seja ele, o delinquente juvenil, que precise ser mais

punido pelos seus atos e cada vez mais cedo, mas sim que possivelmente mudanças devam

ocorrer em outras instâncias.

A infância e a adolescência - fases caracterizadas por desenvolvimento físico,

psicológico e relacional, e que se definem pela busca da identidade e pela formação de valores

- estão diretamente expostas a fenômenos de risco. Indivíduos nestas fases, pela sua condição

de desenvolvimento, recebem e absorvem todas as emoções e experiências que lhes chegam85.

Logo, necessitam de acompanhamento e auxílio para que possam ter uma formação digna,

sabendo distinguir o certo do errado, sendo a família, a escola, a comunidade e o Estado,

essenciais para a construção de valores e de um futuro longe da delinquência e da

marginalidade.

Enquanto mudanças significativas não ocorrem, passaremos a uma análise das

medidas adotadas atualmente no Brasil, que visam a proporcionar abrigo, proteção, reparação,

recuperação e ressocialização a estes jovens popularmente chamados de delinquentes.

83 TRINDADE, Jorge. Delinquência Juvenil Compêndio Transdisciplinar. 3. ed. Porto Alegre, RS:

Livraria do Advogado, 2002. p. 58. 84 SANTOS, José Heitor dos. Redução da Maioridade Penal. 2003. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id102.htm>. Acesso em: 2 abr. 2014. 85 TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do Direito. 6. ed. Porto Alegre:

Livraria do Advogado, 2012. p. 485.

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20

2.2 O DELINQUENTE E O ATO INFRACIONAL: MEDIDAS APLICÁVEIS

Conforme já salientado anteriormente, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em

consonância com a Constituição Federal, afirma a inimputabilidade penal daqueles com idade

inferior a 18 anos completos, ou seja, a estes indivíduos não serão aplicados os dispositivos

do Código Penal brasileiro.

Em contrapartida, importa destacar que inimputabilidade não implica impunidade. Isto

porque, através das normas da legislação própria a estes indivíduos, o ECA, ficam

estabelecidas medidas de responsabilização compatíveis com a condição peculiar de pessoa

em desenvolvimento quando do cometimento do denominado ato infracional86.

Em observância ao princípio constitucional da anterioridade penal ou da legalidade,

define o Estatuto da Criança e do Adolescente que ato infracional será toda a conduta descrita

como crime ou contravenção penal (artigo 103), praticada por criança (de até 12 anos de

idade) ou adolescente (de 12 a 18 anos incompletos). Ou seja, conforme refere Saraiva

(1999), somente haverá ato infracional se houver figura típica penal que o preveja87.

Como já brevemente referido no item 1.2, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em

face de sua organização e medidas que propõe, é dividido em duas vertentes, quais sejam: das

Medidas de Proteção e das Medidas Socioeducativas88.

No caso de ato infracional cometido por criança (pessoa de até 12 anos), de acordo

com o disposto no artigo 105 do ECA, aplicar-se-ão as medidas de proteção previstas no

artigo 101 do Estatuto, que implicam um tratamento que privilegia sua permanência na

própria família ou na comunidade sem que haja privação de liberdade. Nesse caso, o órgão

responsável pelo atendimento destas crianças é o Conselho Tutelar89.

Por sua vez, o art. 98 do Estatuto indica que as medidas de proteção previstas no art.

101 são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos à criança e ao adolescente forem

ameaçados ou violados por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, por falta, omissão ou

abuso dos pais ou responsável ou, ainda, em razão de sua conduta90. De acordo com os incisos

do artigo 101 do ECA, são medidas de proteção aplicáveis:

86 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente e o Ato Infracional Garantias Processuais e Medidas

Socioeducativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. p. 25. 87 SARAIVA, op. cit., p. 31. 88 Ibid., p. 27. 89 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente e o Ato Infracional Garantias Processuais e Medidas

Socioeducativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. p. 28. 90 AZAMBUJA, Maria Regina Fay de. A Criança, o Adolescente: aspectos históricos. 2009. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/areas/infancia/arquivos/aspectos_historicos_maregina.doc>. Acesso em: 3 abr.

2014.

Page 21: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

21

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino

fundamental;

IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao

adolescente;

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime

hospitalar ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e

tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009).

Vigência;

VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação dada pela Lei nº

12.010, de 2009). Vigência;

IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009).

Vigência91.

Assim, a criança de até 12 anos incompletos, se praticar algum ato infracional, será

encaminhada ao Conselho Tutelar e estará sujeita às medidas de proteção acima descritas92.

De acordo com o entendimento de Maria Regina Fay de Azambuja (2009), diante das

situações de desatendimento dos direitos fundamentais assegurados à criança e ao

adolescente, caberá ao Conselho Tutelar adotar as providências necessárias, procedendo a

imediata averiguação do fato, bem como adotando as medidas cabíveis, como a de proteção à

vítima (art. 101 do ECA) ou a aplicação de medidas aos pais (art. 129 do ECA)93.

Já o adolescente (pessoa de 12 até 18 anos incompletos) que comete ato infracional

será encaminhado a uma Delegacia de Polícia, preferencialmente especializada no

atendimento do adolescente autor de ato infracional, e poderá, assim como a criança, ser

submetido às medidas de proteção previstas no artigo 101, incisos I a VI, do ECA, ou a um

tratamento mais rigoroso, como a aplicação das medidas socioeducativas previstas no artigo

112 do ECA94.

De acordo com o disposto nos incisos do artigo 112 do Estatuto, são medidas

socioeducativas:

I - advertência;

II - obrigação de reparar o dano;

91 BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 3 abr. 2014. 92 AQUINO, Leonardo Gomes de. Criança e adolescente: o ato infracional e as medidas sócio-educativas. In:

Âmbito Jurídico, Rio Grande, v. XV, n. 99, abr. 2012. Disponível em: <http://www.ambito-

juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11414>. Acesso em: 3 abr. 2014. 93 AZAMBUJA, Maria Regina Fay de. A Criança, o Adolescente: aspectos históricos. 2009. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/areas/infancia/arquivos/aspectos_historicos_maregina.doc>. Acesso em: 09 abr.

2014. 94 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente e o Ato Infracional Garantias Processuais e Medidas

Socioeducativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. p. 28.

Page 22: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

22

III - prestação de serviços à comunidade;

IV - liberdade assistida;

V - inserção em regime de semi-liberdade;

VI - internação em estabelecimento educacional;

VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI95.

O ECA prevê dois grupos distintos de medidas socioeducativas, mesmo que não

separados desta forma na disposição do artigo 112. Saraiva (1999), classifica-as do seguinte

modo: 1) grupo das medidas socioeducativas em meio aberto, não privativas de liberdade,

quais sejam, advertência, reparação do dano, prestação de serviços à comunidade e

liberdade assistida; 2) grupo das medidas socioeducativas privativas de liberdade, ou

seja, semi-liberdade e internação96.

Quanto as medidas elencadas nos incisos V e VI do artigo 112, as quais importam em

privação de liberdade, o caput do artigo 121, do ECA, em conformidade com o disposto no

artigo 227, § 3º, inciso V, da Constituição Federal, consagram os princípios da brevidade,

excepcionalidade e respeito à condição particular de pessoa em desenvolvimento, como

norteadores destas medidas que privam o adolescente de sua liberdade.

Conforme entendimento de Saraiva (2006), pelo princípio da brevidade, o adolescente

deve ser privado de sua liberdade o menor tempo possível; já no princípio da

excepcionalidade, a internação somente deve ser admitida em casos excepcionais, ou seja, em

nenhuma hipótese será aplicada a internação havendo outra medida mais adequada; quanto ao

respeito à peculiar condição de pessoa em desenvolvimento, se dá em razão do agudo

processo de transformação física e psíquica por que passa o adolescente, que reclama atenção

redobrada das entidades de atendimento para que possa ocorrer uma efetiva ressocialização97.

Por fim, a certeza que se extrai, a partir da análise das medidas impostas aos jovens

infratores no Brasil, é a de que o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê soluções

adequadas e coerentes para a questão da chamada delinquência juvenil, uma vez que ao

mesmo tempo em que busca, acima de tudo, reintegrar os jovens à sociedade e à família, na

tentativa de recuperá-los e retirá-los do caminho do crime e da violência, fazendo jus a todos

os direitos fundamentais que lhes são assegurados, não os deixa impunes quando da prática de

95 BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 4 abr. 2014. 96 SARAIVA, João Batista Costa. Medidas Socioeducativas e o Adolescente Infrator. Disponível em:

<http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id168.htm>. Acesso em: 4 abr. 2014. 97 SARAIVA, João Batista da Costa. Compêndio de Direito Penal Juvenil, Adolescente e o Ato

Infracional. 3. ed. Porto Alegre, RS: Livraria do Advogado, 2006. p. 170.

Page 23: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

23

atos infracionais, diferentemente do que pensa boa parte da sociedade, que ainda acredita que

inimputabilidade é sinônimo de impunidade.

Por outro lado, é cediço que a violência praticada por menores está cada dia mais em

evidência nos centros urbanos do país, a demonstrar que a legislação que diz respeito aos atos

infracionais cometidos por estes jovens, mesmo sendo adequada, não está dando conta desta

situação, que já se tornou alarmante. A presente ineficácia desta legislação deve-se ou à

necessidade de alterações em seus dispositivos e talvez em suas medidas de

responsabilização, ou à falta de efetivação das propostas consagradas no Estatuto,

principalmente no que diz respeito à inércia da sociedade e das entidades governamentais

quanto a Doutrina de Proteção Integral.

3. DISCUSSÃO ACERCA DA DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

LEVANTADA PELA PEC 33 DE 2012

Como referido anteriormente, em face do evidente aumento dos crimes cometidos por

crianças e adolescentes menores de 18 anos, a sociedade, tomada pelo medo e pela sensação

de insegurança, vem discutindo a possibilidade de diminuir a responsabilidade penal. Os

autores que propagam tal tese acreditam que esta medida influiria na diminuição da

criminalidade, contendo, assim, a prática de atos delitivos por parte dos menores. Alinhada

com este pensamento, grande parte da sociedade acredita que os menores de 18 anos não são

responsabilizados pelos atos infracionais que cometem, confundindo, conforme já afirmamos,

inimputabilidade com impunidade98.

Os argumentos utilizados pelos seguidores desta tese são bastante variados. Dentre

eles, os mais comuns são os que defendem que os jovens do século XXI não são os mesmos

daqueles jovens de 1940, porquanto muito mais maduros em relação àqueles, além de ter

maior acesso à informação. Também acreditam que os imputáveis, maiores de 18 anos, se

aproveitam da inimputabilidade dos menores para cometer crimes, jogando a autoria de seus

delitos para os mais jovens, com a justificativa de que estes possuem uma condição

“privilegiada”, porque não são submetidos ao sistema prisional e nem cumprem penas

privativas de liberdade como aquelas impostas pelo Código Penal brasileiro99. Outro

argumento com que se tenta justificar a redução da maioridade penal vale-se do direito ao

98 SARAIVA, João Batista da Costa. Compêndio de Direito Penal Juvenil, Adolescente e o Ato

Infracional. 3. ed. Porto Alegre, RS: Livraria do Advogado, 2006. p. 47. 99 Ibid., p. 50.

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24

voto outorgado ao adolescente com 16 anos de idade. Portanto, se este jovem tem condições e

capacidade de tomar uma decisão tão importante como a de escolher um representante para

sua comunidade, da mesma forma, teria aptidão para reconhecer a ilicitude de um ato por ele

cometido100.

Tal situação gera muita confusão na sociedade brasileira e, enquanto isso, os projetos

políticos prometem soluções aparentemente inócuas, pois não procuram explicar e analisar os

fatores que condicionam a criminalidade. Ao contrário, através das propostas de redução da

maioridade penal, procuram criar novos tipos de sanções em vez de resolver, na sua origem, o

problema da criminalidade101.

Partindo de tal pressuposto, através da concepção da diminuição da maioridade penal,

tramitam e tramitaram no Congresso Nacional diversas propostas de emenda à Constituição

Federal, visando conferir nova redação ao seu artigo 228, rebaixando a idade de

responsabilidade penal102.

Em vista disso, no início do corrente ano, o presidente da Comissão de Constituição,

Justiça e Cidadania do Senado, Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB), incluiu na pauta da CCJ a

votação acerca da redução da maioridade penal, sendo seis propostas de emenda à

Constituição analisadas e votadas no dia 19 de fevereiro103. Nessa via, merece destaque a

Proposta de Emenda Constitucional nº 33 de 2012, criada pelo Senador Aloysio Nunes

Ferreira (PSDB-SP) – analisada em conjunto com as propostas nº 20 de 1999, 90 de 2003, 74

e 83 de 2011 e 21 de 2013 – que será examinada a seguir.

O Senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), escolhido pela Comissão para relatar as

propostas, rejeitou cinco das seis PECs por ele analisadas. Tais emendas pretendiam reduzir a

maioridade penal para 16, 15 e até 13 anos de idade, sem grandes ressalvas nem exceções.

Segundo ele, a simples diminuição da idade imputável, não acabaria com a possibilidade de

adultos utilizarem crianças e adolescentes para escapar de punições, fazendo com que fossem

100 SARAIVA, João Batista da Costa. Compêndio de Direito Penal Juvenil, Adolescente e o Ato

Infracional. 3. ed. Porto Alegre, RS: Livraria do Advogado, 2006. p. 50. 101 ARRUDA, Sande Nascimento de. Em Torno da Delinquência Juvenil. Portal Boletim Jurídico, Uberaba,

MG, ano XIII, n. 1164, 2008. Disponível em:

<http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1917>. Acesso em: 12 abr. 2014. 102 FERREIRA, Aloysio Nunes. Texto da PEC 33 de 2012. p. 3. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=106330>. Acesso em: 4 abr. 2014. 103 SARDINHA, Edson. Senado Pauta Redução da Maioridade Penal. Disponível em:

<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/senado-pauta-reducao-da-maioridade-penal/>. Acesso em: 14

abr. 2014.

Page 25: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

25

recrutados jovens com idades inferiores àquela escolhida como idade imputável, para assumir

a responsabilidade por crimes104.

A PEC nº 33 de 2012, a única aprovada pelo Senador Ferraço, surgiu, segundo ele,

como um meio-termo ao prever situações de maior gravidade em que o adolescente poderia

ser julgado como se maior de idade fosse. Ou seja, pela proposta de autoria do Senador

Aloysio, a maioridade penal ficaria reduzida para os 16 anos somente e quando se tratasse de

crimes de tortura, terrorismo, tráfico de drogas e aqueles considerados hediondos (artigo 5º,

inciso XLIII da Constituição). Também incluía os casos em que o menor tivesse múltipla

reincidência na prática de lesão corporal grave ou roubo qualificado105. A emenda ao texto

constitucional alteraria o disposto nos artigos 129 e 228, ambos da Constituição Federal. O

artigo 129 teria seu inciso I redigido da seguinte maneira:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

I - promover, privativamente, a ação penal pública e o incidente de desconsideração

de inimputabilidade penal de menores de dezoito e maiores de dezesseis anos106.

E acrescentar-se-ia um parágrafo Único ao artigo 228 da Constituição com a seguinte

redação:

Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às

normas da legislação especial.

Parágrafo Único – Lei complementar estabelecerá os casos em que o Ministério

Público poderá propor, nos procedimentos para a apuração de ato infracional

praticado por menor de dezoito anos e maior de dezesseis anos, incidente de

desconsideração da sua inimputabilidade, observando-se:

I - Propositura pelo Ministério Público especializado em questões de infância e

adolescência;

II - julgamento originário por órgão do judiciário especializado em causas relativas à

infância e adolescência, com preferência sobre todos os demais processos, em todas

as instâncias;

III - cabimento apenas na prática dos crimes previstos no inciso XLIII, do art. 5º

desta Constituição, e múltipla reincidência na prática de lesão corporal grave e

roubo qualificado;

IV - capacidade do agente de compreender o caráter criminoso de sua conduta,

levando em conta seu histórico familiar, social, cultural e econômico, bem como de

seus antecedentes infracionais, atestado em laudo técnico, assegurada a ampla defesa

técnica por advogado e o contraditório;

V - efeito suspensivo da prescrição até o trânsito em julgado do incidente de

desconsideração da inimputabilidade.

104 FERRAÇO, Ricardo. 3º Relatório. p. 14-15. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=106330>. Acesso em: 4 abr. 2014. 105 FERREIRA, Aloysio Nunes. Texto da PEC 33 de 2012. p. 8. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=106330>. Acesso em: 4 abr. 2014. 106 Ibid., p. 1.

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26

VI - cumprimento de pena em estabelecimento separado dos maiores de dezoito

anos107.

A medida proposta nos dispositivos retrodescritos, segundo o Senador Aloysio, diz

respeito à norma constitucional de eficácia limitada, pois para surtir efeitos dependerá de lei

complementar. O objeto dessa legislação seria criar “Ação de Desconsideração da

Menoridade”, em que a sociedade brasileira, através do Congresso Nacional, definiria casos

excepcionais e extraordinários quando o menor infrator poderia ser considerado sujeito do

Código Penal e não mais do ECA. Esta lei infraconstitucional deveria observar os preceitos

citados nos itens I a VI do Parágrafo Único do artigo 228 supratranscrito108.

O Senador sustenta, ainda, que a PEC teria também um caráter pedagógico, na medida

em que os menores, sabedores de que a prática reiterada de crimes graves poderia ensejar a

desconsideração da menoridade, deixariam de se sentir seguros e “protegidos” pelo Estatuto.

Sem tal proteção, acabaria o incentivo a prosseguirem na delinquência109.

Nesta senda, afirma o Senador Aloysio Nunes Ferreira:

(...) não se pode questionar o fato de que sob a proteção deste mesmo estatuto,

menores infratores, muitas das vezes patrocinados por maiores criminosos, praticam

reiterada e acintosamente delitos que vão desde pequenos furtos, até crimes como

tráfico de drogas e mesmo homicídios, confiantes na impunidade que a Constituição

e o ECA lhes conferem110.

Por fim, partindo do entendimento de que a discussão em torno da redução da

maioridade penal não está madura e de que a sociedade brasileira não se encontra preparada

para uma tomada definitiva de posição, a proposta ofertada pelo Senador Aloysio, em vez de

diminuir a maioridade para os 16 anos e impor condicionantes para a imputabilidade do

adolescente de 16 a 18 anos, mantinha a regra geral da inimputabilidade penal até os 18 anos

e aguardava a edição de uma norma infraconstitucional (complementar) que autorizasse a

desconsideração da menoridade entre os 16 e 18 anos de idade, apenas para os casos

excepcionais anteriormente referidos111.

107 FERREIRA, Aloysio Nunes. Texto da PEC 33 de 2012. p. 1-2. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=106330>. Acesso em: 4 abr. 2014. 108 Ibid., p. 7. 109 Ibid., p. 6. 110 Ibid., p. 4. 111 Ibid., p. 9-10.

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27

Como já referido acima, o relator escolhido pela Comissão de Constituição, Justiça e

Cidadania do Senado para analisar as seis propostas de emenda à Constituição, foi o Senador

Ricardo Ferraço do PMDB-ES, o qual se posicionou de forma favorável a apenas uma das

propostas por ele analisadas, qual seja, a PEC nº 33 formulada pelo Senador Aloysio Nunes

Ferreira.

Sobre a questão, afirmou o Senador Ferraço:

De um lado, estão os que fecham os olhos para radicalização da violência perpetrada

por jovens e não admitem qualquer alteração no seu regime de punição, ou seja,

querem que tudo fique como está. De outro lado, estão aqueles que pretendem uma

redução pura e simples da idade em que um jovem pode ser submetido ao regime

geral de persecução penal, com a aplicação das penas estampadas na legislação

pertinente. Não concordo com nenhuma dessas duas posições e por essa razão,

adianto que estou rejeitando todas as propostas no sentido de reduzir pura e

simplesmente a maioridade penal, como são as PECs nºs 20, de 1999; 90, de 2003;

74 e 83, de 2011 e 21, de 2013112.

Segundo o Senador, a PEC nº 33/2012 destoa destes dois grupos de opiniões por ele

citados, pois tal proposta não visa uma pura e simples redução da maioridade penal, como

também não fecha os olhos para a questão da crescente criminalidade praticada por menores.

Ao contrário, propõe que aqueles jovens infratores, que se enquadram nas hipóteses elencadas

na PEC, respondam pelos seus atos como se imputáveis fossem.

O relator considera que a proposta de emenda nº 33 de 2012 dá à sociedade um

instrumento inteligente e eficaz para que os operadores do direito penal, advogados,

promotores e juízes, possam fazer a distinção entre os casos em que o menor pratica delitos

em razão de sua imaturidade e incompreensão da ilicitude do ato, daqueles em que o crime

reflete uma corrupção irreparável113.

O Senador faz menção, em seu relatório, a dados relacionados a uma matéria

publicada pelo Jornal O Globo, no mês de abril de 2013, que comprovam o aumento

significativo de jovens envolvidos com o crime no Brasil nos últimos anos. Isto demonstra,

segundo o relator, uma falência do sistema estabelecido pelo ECA. Acredita também que tais

112 FERRAÇO, Ricardo. O Relatório da Maioridade Penal: o caminho do meio. 12 nov. 2013. Disponível

em: <http://www.ricardoferraco.com/2013/11/12/relatorio-maioridade-penal-

meio/#sthash.1fKkyndf.dpuf>. Acesso em: 2 abr. 2014. 113 FERRAÇO, Ricardo. 3º Relatório. 16 out. 2013. p. 15. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=106330>. Acesso em: 4 abr. 2014.

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28

evidências já seriam suficientes para conceder ao legislador legitimidade para corrigir a

questão da imputabilidade penal estabelecida na Constituição de 1988114.

No que tange ao principal argumento utilizado por aqueles que rejeitam a diminuição

da maioridade penal, qual seja, o de considerar que o artigo 228 da Constituição Federal

consubstancia-se em cláusula pétrea, e, portanto, inviável sua alteração, considera o Senador

Ferraço que pelo fato de a redução da idade imputável já ter se tornado uma questão de

segurança pública, afigura-se lícito, então, questionar se há algum sentido em tentar isolar a

maioridade penal da dinâmica política que determina as alterações da Constituição115. De

outra banda, sustenta que a alteração da maioridade penal deveria ser vista como uma questão

de política criminal, que envolve o estudo dos elementos relacionados ao crime, no qual o

Estado é encarregado de adotar as medidas necessárias à redução e prevenção de delitos.

Assim, argumenta que não podemos nos deixar levar pela euforia das cláusulas pétreas,

situação em que se pretende uma multiplicação ilimitada das normas constitucionais

imutáveis, o que, segundo Ferraço, aumentaria automaticamente o espaço de vedação jurídica

à ação da legislatura ordinária, única capaz de observar o que vem afligindo a sociedade nos

dias atuais, e criar medidas específicas para enfrentar tais problemas116.

Sobre o assunto, argumentou o Senador Pedro Taques, que apoiou a proposta do

Senador Aloysio votando a favor da PEC 33/2012:

As clausulas pétreas existem para que não haja mudanças 'emocionais' na

Constituição e protegem direitos fundamentais, como o direito à vida, à liberdade, à

propriedade. Entendo que a idade mínima de 18 anos (para aplicação da lei penal)

não é clausula pétrea, porque os direitos fundamentais têm característica universal.

Cláusula pétrea é proteção de núcleo que garante a dignidade da pessoa humana117.

Outro ponto aventado pelo Senador Ricardo Ferraço em seu parecer, diz respeito à

ideia da imaturidade dos menores de 18 anos. O relator cita a psiquiatra forense Kátia Mecler,

segundo a qual, devido aos avanços tecnológicos e sociais, o adolescente com 16 anos,

atualmente, é capaz sim de entender o caráter ilícito de um ato e escolher entre praticá-lo ou

não, diferentemente do menor que vivia em 1940, quando foi estabelecida a idade imputável

114 Ibid., p. 7-8. 115 Ibid., p. 8. 116 FERRAÇO, Ricardo. 3º Relatório. 16 out. 2013. p. 9-10. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=106330>. Acesso em: 6 abr. 2014. 117 FRANCO, Simone. CCJ Rejeita Redução da Maioridade Penal e Senadores Sugerem Mudanças no

ECA. Disponível em: <http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2014/02/19/ccj-rejeita-reducao-da-

maioridade-penal-e-senadores-sugerem-mudancas-no-eca>. Acesso em: 12 ab. 2014.

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29

aos 18 anos118. Ademais, salienta o relator, que a neurociência já comprovou que não existem

diferenças morfológicas significativas entre o cérebro de uma pessoa de 16 e outra de 18 anos,

além de ser consenso entre os especialistas que os jovens de hoje, devido ao acesso à

informação, são plenamente capazes de compreender seus atos e a ilicitude e natureza

antissocial deles119.

O Senador utiliza-se, ainda, da consulta ao direito comparado, a fim de demonstrar

que a proposta apresentada pelo Senador Aloysio Nunes não é inédita, constatando que em

países como França, Canadá, Bélgica e Rússia adotam-se idades inferiores aos 18 anos para

início da responsabilidade penal, e, na maioria, admite-se a imputabilidade de menores

quando do cometimento de crimes específicos, como é o caso da PEC em comento120.

Destarte, sustentou o relator, que a sociedade brasileira não pode mais ficar refém de

menores infratores que, devido à proteção recebida pela sua legislação própria, praticam os

mais repugnantes crimes121. No que foi apoiado pelo Senador Romero Jucá (PMDB-RR), que

referiu: “Você tem que dar respostas à sociedade nessa onda de violência. Não dá para se

fechar a tudo isso” 122.

Em sentido inverso ao parecer favorável redigido pelo Senador Ricardo Ferraço,

sobreveio o voto em separado apresentado pelo Senador Randolfe Rodrigues. Primeiramente,

ao expor suas divergências quanto à análise da proposta, o Senador sustentou que o ali

pretendido é manifestamente inconstitucional, porquanto viola o disposto no artigo 60,

parágrafo 4º, inciso IV da Constituição Federal, que dispõe:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

(...)

§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:

I - a forma federativa de Estado;

II - o voto direto, secreto, universal e periódico;

III - a separação dos Poderes;

IV - os direitos e garantias individuais. (grifos acrescidos)123.

118 FERRAÇO, op. cit., p. 12. 119 Idem. Relatório da Maioridade Penal: o caminho do meio. Disponível em:

<http://www.ricardoferraco.com/2013/11/12/relatorio-maioridade-penal-meio/>. Acesso em: 4 abr. 2014. 120 FERRAÇO, Ricardo. 3º Relatório. 16 out. 2013. p. 13-14. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=106330>. Acesso em: 4 abr. 2014. 121 Ibid., p. 16. 122 SENADO rejeita reduzir maioridade penal de 18 para 16 anos. Folhapress e Agência Senado, 10 fev.

2014; Disponível em: <http://www.jcnet.com.br/Bairros/2014/02/senado-rejeita-reduzir-maioridade-penal-

de-18-para-16-anos.html>. Acesso em: 14 abr. 2014. 123 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado

Federal 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 4 abr. 2014.

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30

Segundo ele, para definir a imputabilidade penal, o legislador originário utilizou

unicamente o critério biológico, definindo, desta forma, que os indivíduos a partir dos 18 anos

completos serão responsabilizados penalmente. Entretanto, isto não significa que os jovens

menores de 18 anos não responderão por seus atos infracionais, pois o Estatuto da Criança e

do Adolescente prevê, conforme já abordado anteriormente, que o menor infrator responda

sim pelos seus atos, sendo a ele aplicadas as medidas descritas no artigo 101 ou 112 ambos do

ECA.

Neste ponto, Randolfe foi apoiado pelo também Senador Eduardo Braga (PMDB-AM)

que argumentou:

A redução da maioridade não vai resolver esse problema porque no Brasil hoje a

responsabilidade penal ocorre a partir dos 12 anos. Essa responsabilidade é

executada por meio de medidas socioeducativas e tem o objetivo de ajudá-lo a

recomeçar e a prepará-lo para uma vida adulta124.

Outrossim, entende o Senador Randolfe que, uma vez fixada a idade prevista para o

cidadão atingir a maioridade penal, esta se torna um direito individual da pessoa, previsto na

Constituição Federal como cláusula pétrea, não permitindo alterações, mesmo que de forma

excepcional, como a proposta apresentada pelo Senador Aloysio Nunes125.

Em um viés constitucional, verifica-se que os denominados direitos e garantias

individuais encontram-se elencados no artigo 5º da CF. Entretanto, se observado o parágrafo

2º do artigo em questão, constata-se que os direitos e garantias expressos na Constituição não

excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados

internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte126. Ou seja, segundo o

Promotor de Justiça do Estado de Santa Catarina, Gercino Neto, o rol trazido no artigo 5º da

124 MENDES, Priscilla. Comissão do Senado Rejeita Reduzir Maioridade Penal em Crime Hediondo. G1 –

Política, Brasília, 19 fev. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/02/comissao-

do-senado-rejeita-reduzir-maioridade-penal-em-crime-hediondo.html>. Acesso em: 13 abr. 2014. 125 RODRIGUES, Randolfe. Voto em Separado. p. 4. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=106330>. Acesso em: 7 abr. 2014. 126 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e

aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança

e à propriedade, nos termos seguintes(...)§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não

excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em

que a República Federativa do Brasil seja parte. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10 abr. 2014.

Page 31: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

31

CF, não é taxativo, deixando claro existirem outros direitos fundamentais que se espalham

pelo texto constitucional127. Sobre o assunto, conclui Gercino Neto:

(...) com a certeza de que existem outros direitos e garantias individuais espalhados

pelo texto da Carta Política de 1988, resta-nos a análise e comprovação, de que a

inimputabilidade penal encerra disposição pétrea, por ser garantia da pessoa com

menos de 18 anos128.

Logo, considerando ser a maioridade penal aos 18 anos um direito fundamental do

indivíduo, esta automaticamente não poderá ser derrubada ou modificada através de emendas

à Constituição, por ser clausula pétrea, mesmo que não elencada expressamente no rol dos

direitos e garantias individuais do artigo 5º da CF129.

Neste sentido, entende o Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo:

Qualquer projeto que reduza a maioridade penal nos termos do que está hoje

consagrado na Constituição Federal é inconstitucional, porque todos os direitos e

garantias individuais consagrados na Constituição são cláusulas pétreas, ou seja, não

podem ser modificados nem por emenda constitucional, (...) apenas com uma nova

Constituição130.

Nesta matéria, de acordo com o entendimento do Senador Randolfe Rodrigues, mesmo

que superada a questão da redução da maioridade penal como direito individual do cidadão,

no mérito, a PEC 33 não merece prosperar. Isto porque, conforme expresso no artigo 227 da

Constituição, é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao

adolescente, com absoluta prioridade, os direitos ali elencados, bem como garantir que esses

jovens possuam todas as condições materiais para o desenvolvimento e aprimoramento de sua

personalidade131.

127 GOMES NETO, Gercino Gerson. A Inimputabilidade Penal como Cláusula Pétrea. 2000. Disponível

em: <http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id205.htm>. Acesso em: 10 abr. 2014. 128 Ibid. 129 RODRIGUES, Randolfe. Voto em Separado. p. 5-6. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=106330>. Acesso em: 7 abr.

2014.. 130 CALGARO, Fernanda. Reduzir Maioridade Penal "não é varinha mágica", diz Ministro da Justiça.

Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/05/13/reduzir-maioridade-

penal-nao-e-varinha-magica-diz-ministro-da-justica.htm>. Acesso em: 14 abr. 2014. 131 RODRIGUES, Randolfe. Voto em Separado. p. 5-6. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=106330>. Acesso em: 7 abr. 2014.

Page 32: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

32

Assim, ao propor a diminuição da maioridade penal, o Estado estaria automaticamente

diante do ato mais extremo que poderia tomar, na medida em que, ao invés de assegurar, em

sua totalidade, os direitos elencados no artigo 227 da CF, o efeito da intervenção trazida pela

redução da idade imputável atingiria diretamente a esfera de liberdade desses sujeitos de

direito, sustentando, assim, que tal ato atentaria contra o princípio da proporcionalidade132.

O Senador acrescenta, ainda, que o Estado possui meios menos onerosos para atingir o

objetivo de combater a violência praticada por menores infratores, e que, de fato, não seria

reduzindo a responsabilidade penal que se teria êxito em tal questão133.

Outro argumento invocado na votação da PEC em questão, no sentido de rejeitá-la, foi

levantado pelos Senadores Humberto Costa (PT-PE) e Roberto Requião (PMDB-PR), que

questionaram a subjetividade embutida na proposta, ao delegar ao promotor de justiça a tarefa

de definir se um crime cometido por um menor infrator se enquadraria ou não na hipótese de

redução da maioridade penal134. Ou seja, asseveraram que, pelo disposto na proposta, dá-se a

entender que a definição e “escolha” do destino do jovem infrator maior de 16 e menor de 18

anos, quando do cometimento de atos infracionais específicos, estariam totalmente nas mãos

do promotor de justiça, que ficaria encarregado de estabelecer qual menor responderia pelos

seus atos de acordo com os dispositivos do ECA, e qual seria submetido às sanções impostas

pelo Código Penal.

O Senador Randolfe Rodrigues concluiu seu voto em separado sustentando que, como

o próprio autor da PEC 33 constatou em seu parecer, o Estatuto da Criança e do Adolescente

ainda não foi integralmente implementado no Brasil, admitindo, desta forma, a omissão do

Estado em cumprir com suas obrigações elencadas na Constituição e no ECA, no que diz

respeito aos direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes135. Outrossim, acredita que

a resposta que a sociedade espera do Estado, em relação à onda de violência e demais delitos

cometidos por menores, é justamente assegurar a estes jovens o direito à vida, educação,

lazer, moradia, dignidade e respeito, dentre outros. O aumento das punições, conforme já

discutido, não colocaria fim à criminalização destes indivíduos136.

Como consequência das discussões acima referidas, importa dizer que a Comissão do

Senado rejeitou a PEC 33/2012, por onze votos, contra oito favoráveis à aprovação.

132 Ibid. 133 Ibid. 134 FRANCO, Simone. CCJ Rejeita Redução da Maioridade Penal e Senadores Sugerem Mudanças no

ECA. Disponível em: <http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2014/02/19/ccj-rejeita-reducao-da-

maioridade-penal-e-senadores-sugerem-mudancas-no-eca>. Acesso em: 12 abr. 2014. 135 RODRIGUES, Randolfe. Voto em Separado. p. 5-6. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=106330>. Acesso em: 7 abr. 2014. 136 Ibid.

Page 33: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

33

Ainda relacionado ao tema, recentemente, um grupo formado por mais de oitenta

entidades, organizações, redes, pastorais, conselhos, entre outros, articulou-se em prol dos

direitos da criança e do adolescente, em resposta à sociedade e demais movimentações a favor

da redução da maioridade penal. Tal movimento adotou a nomenclatura de “18 razões”,

depois de efetuada uma listagem contendo dezoito motivos pelos quais acreditam que a

culpabilização e punição dos menores de 18 anos, nos termos da PEC 33/2012, não diminuiria

a violência137.

Para eles, tais motivos se resumem em: 1) Já responsabilizamos adolescentes em ato

infracional; 2) A lei já existe, falta ser cumprida; 3) O índice de reincidência nas prisões é de

70%; 4) O sistema prisional brasileiro não suporta mais pessoas; 5) Reduzir a maioridade

penal não reduz a violência; 6) Porque fixar a maioridade penal em 18 anos é tendência

mundial; 7) A fase de transição justifica o tratamento diferenciado; 8) As leis não podem se

pautar na exceção; 9) Reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, não a causa; 10) Educar é

melhor e mais eficiente do que punir; 11) Reduzir a maioridade penal isenta o estado do

compromisso com a juventude; 12) Os adolescentes são as maiores vítimas e não os principais

autores da violência; 13) Na prática, a PEC 33/2012 é inviável; 14) Reduzir a maioridade

penal não afasta crianças e adolescentes do crime; 15) Afronta leis brasileiras e acordos

internacionais; 16) Poder votar não tem a ver com ser preso com adultos; 17) O Brasil está

dentro dos padrões internacionais; 18) Importantes órgãos têm apontado que não é uma boa

solução138.

O grupo “18 Razões” considera, ainda, que somente através de ações realizadas

conjuntamente com a sociedade civil organizada e os governos, contemplando fatores

psíquicos, sociais, políticos e econômicos, a questão da violência poderá mudar139.

Outrossim, fazem menção a compromissos assumidos pelo Brasil, como por exemplo,

a assinatura da Convenção sobre os Direitos da Criança e do Adolescente da Organização das

Nações Unidas (ONU), em 1990, quando o país consagrou e aderiu à Doutrina da Proteção

Integral. Desta forma, assentou ser dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à

criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, saúde, educação, entre

outros. Logo, com a aprovação da PEC 33 de 2012 e com a redução da maioridade penal, a

137 18 Razões para não Redução da Maioridade Penal. Governo e Advogados Criticam Endurecimento de

Punição a Adolescente em Infração. 5 nov. 2013. Disponível em: <http://www.18razoes.org.br/>. Acesso

em: 15 abr. 2014. 138 18 Razões para não Redução da Maioridade Penal. Governo e Advogados Criticam Endurecimento de

Punição a Adolescente em Infração. 5 nov. 2013. Disponível em: <http://www.18razoes.org.br/>. Acesso

em: 15 abr. 2014. 139 Ibid.

Page 34: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

34

imagem do Brasil ficaria comprometida, pelo fato de estar abdicando automaticamente de

seus encargos e deveres para com os jovens, imputando somente a eles a consequência e

responsabilização penal pelos seus atos140.

Em suma, a discussão em torno da diminuição ou não da maioridade penal parece não

ter fim próximo. Ao contrário, mesmo que derrubada a proposta de emenda à Constituição

formulada pelo Senador Aloysio Nunes Ferreira frente à Comissão de Constituição, Justiça e

Cidadania do Senado, a cada novo crime bárbaro cometido por um menor de 18 anos, a

questão da imputabilidade voltará à tona, possivelmente trazendo novos argumentos e

diferentes medidas, na tentativa de transformar aquele que é hoje inimputável em sujeito do

Código Penal.

Contudo, observa-se que, tanto as correntes contrárias quanto as correntes favoráveis à

redução da maioridade penal, apresentam teses ricas e bem fundamentadas. Além disso,

disponibilizam à sociedade as ferramentas necessárias para que esta possa analisar a situação

atual da criminalidade no país, não apenas movida pela sensação de medo, insegurança e

impunidade. Desta forma, poderá refletir racionalmente sobre a questão da delinquência

juvenil, partindo de suas causas até chegar em suas consequências, de maneira a concluir

conscientemente sobre a forma como a situação poderá ser modificada para minimizar a

crescente violência social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar o presente artigo, constata-se que, no contexto atual, existem inúmeras

divergências sobre a questão da redução da maioridade penal, não havendo possibilidade de

consenso pelo menos em curto prazo.

Entretanto, não se pode negar que os direitos e responsabilidades das crianças e

adolescentes foram alvo de constantes modificações e muitas legislações acabaram sendo

criadas e aplicadas no Brasil ao longo de sua história, até que se chegasse atualmente ao

advento do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Conforme analisado no decorrer deste texto, muitas são as opiniões acerca da

efetividade do ECA no tratamento destinado aos menores de 18 anos que vêm, cada vez mais,

transgredindo as normas penais. Todavia, mesmo diante da incerteza sobre a eficácia da

140 18 Razões para não Redução da Maioridade Penal. Governo e Advogados Criticam Endurecimento de

Punição a Adolescente em Infração. 5 nov. 2013. Disponível em: <http://www.18razoes.org.br/>. Acesso

em: 15 abr. 2014.

Page 35: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

35

presente legislação reservada aos jovens de hoje, fica a evidência de que este foi o maior e o

mais importante salto na implementação e desenvolvimento dos direitos das crianças e dos

adolescentes na história, simbolizando uma verdadeira quebra de paradigmas em

contraposição às legislações brasileiras anteriores.

Entretanto, o aumento da criminalidade infanto-juvenil que, cada vez mais, recruta

número superior de jovens, faz com que a maioridade penal seja o foco de grandes polêmicas

e discussões na sociedade, sobretudo no meio jurídico. Contudo, não coube, no presente

artigo, exaurir a matéria e a polêmica em questão. Em vez disso, tratou-se de priorizar a

discussão e análise da PEC 33/2012.

No âmbito da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, o fato do

dispositivo constitucional sobre a imputabilidade penal ser ou não ser cláusula pétrea,

assumiu a condição de questão prejudicial no debate. De fato, para os operadores do Direito

fica claro que é prioritário desvendar esta questão jurídica, antes de enfrentar as acaloradas

discussões propostas nas demais áreas da sociedade.

Todavia, uma tese é certa: o fato de reduzir pura e simplesmente a idade penal não

resolveria o problema da criminalidade em si, pois o adolescente é uma pessoa em

desenvolvimento, não podendo ser atribuída a ele exclusivamente a responsabilidade pela

prática de um ato infracional. Ao contrário, em se reduzindo a idade penal, de uma forma

geral, seriam recrutadas crianças e adolescentes ainda mais novos para o mundo do crime.

Ademais, ao contrário do que erroneamente se apregoa, o sistema legal implantado

pelo Estatuto da Criança e do Adolescente faz estes jovens, entre 12 e 18 anos, sujeitos de

direitos e de responsabilidades e, em caso de infração, prevê medidas socioeducativas,

inclusive com privação de liberdade, o que desmente a relação inimputabilidade com

impunidade.

Por outro lado, é necessário ressaltar que, para que se resolva o problema dos crimes

praticados por menores, não basta necessariamente ameaçá-los com a imputabilidade, é

preciso também toda uma mudança social criando oportunidades de preparação para o

ingresso do menor na sociedade e de ressocialização do menor infrator.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, que tem como referência a Constituição

Federal de 1988, baseia-se na compreensão de que o menor é um ser ainda incompleto,

portanto naturalmente anti-social na medida em que não é ainda instruído ou socializado

plenamente, devendo, assim, a sociedade, o Estado e a Família ficar atentos ao processo de

formação de seu caráter.

Page 36: A DIMINUIÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: O ADOLESCENTE

36

O problema deve ser pensado e resolvido como um todo, cabendo desta forma

questionar se, por exemplo, a diminuição da maioridade penal sugerida pela PEC 33/2012

seria o melhor caminho neste momento para alcançar a redução da criminalidade.

A presente análise não objetiva trazer a solução para o problema da imputabilidade

penal ou da redução da criminalidade, mas sim auxiliar e fornecer elementos para a reflexão

em torno do tema no seu aspecto jurídico, analisando ambos posicionamentos para futuras

considerações.

Por fim, é cediço que a discussão acerca da matéria irá continuar e mudanças deverão

ocorrer, entretanto, é necessário atuar no sentido de buscar alternativas a fim de que se

modifique a situação do menor. O problema tem de ser enfrentado desde seu princípio, para

que não aumente a já gigantesca população carcerária e a imensa desigualdade social

brasileira.

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