a dessensibilizaÇÃo nas redes sociais: uma anÁlise dos memes sobre a morte do eduardo campos
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Artigo apresentado à Faculdade de Comunicação UFPA como prérequisito para obtençãode conceito na disciplina “Estudos de Temas do Contemporâneo”, ministrada pelo Profº Msc.Guilherme Imbiriba Guerreiro Neto. Simultaneamente a tragédia nacional da morte doexcandidato à presidência Eduardo Campos, os usuários produziram conteúdo massivo nasredes sociais e em maior quantidade e velocidade do que as mídias tradicionais. Todavia nasua grande maioria sarcástico. Como forma de levantar a discussão se esse fato é umaconsequência da dessensibilização da sociedade pósmoderna, analisouse memes que foramveiculados no Twitter, os quais foram interpretados com base em categorias formuladas porErick Felinto em Grumpy Cat, Grande Mestre Zen da Geração Digital, Afetos e Materialidades da Imagem Memética (2010).TRANSCRIPT
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Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XIV Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Norte Manaus 28 a 30/05/2015
ADessensibilizaonasRedesSociais:
UmaAnlisedosMemessobreaMortedoCandidatoEduardoCampos 1
ManoelaGonalvesdeMORAES2
AnaLidiaMarreirosTavaresVIEIRA3AnaCarolinaMedeirosBARREIROS4
AndrezzaAlanaSilvaBORGES5LucianoCastrodeJESUS6
GuilhermeImbiribaGuerreiroNETO7UniversidadeFederaldoPar,Belm,PA
ResumoArtigo apresentado Faculdade de Comunicao UFPA como prrequisito para obteno de conceito na disciplina Estudos de Temas do Contemporneo, ministrada pelo Prof Msc. Guilherme Imbiriba Guerreiro Neto. Simultaneamente a tragdia nacional da morte do excandidato presidncia Eduardo Campos, os usurios produziram contedo massivo nas redes sociais e em maior quantidade e velocidade do que as mdias tradicionais. Todavia na sua grande maioria sarcstico. Como forma de levantar a discusso se esse fato uma consequncia da dessensibilizao da sociedade psmoderna, analisouse memes que foram veiculados no Twitter, os quais foram interpretados com base em categorias formuladas por Erick Felinto em Grumpy Cat, Grande Mestre Zen da Gerao Digital, Afetos e MaterialidadesdaImagemMemtica(2010). Palavraschave:DessensibilizaoInternetMemesPsmodernidade.
Introduo
Na psmodernidade, devido a internacionalizao da comunicao e os avanos
tecnolgicos, tornase possvel que os indivduos assumam diversas identidades de acordo
comocontextoemqueestinserido.(HALL,2006)
1TrabalhoapresentadonaDivisoTemticadePublicidadeePropaganda,daIntercomJniorXIVCongressodeCinciasdaComunicaonaRegioNorte,eventocomponentedoXXXVIIICongressoBrasileirodeCinciasdaComunicao.2AlunoLderdogrupoeestudantedo7.semestredoCursodePublicidadeePropagandadaFACOMUFPA,email:manoelamoraes.pp@gmail.com3Estudantedo7.semestredoCursodePublicidadeePropagandadaFACOMUFPA,email:analidiamtvieira@gmail.com4Estudantedo7.semestredoCursodePublicidadeePropagandadaFACOMUFPA,email:andzzaaborges@gmail.com5Estudantedo7.semestredoCursodePublicidadeePropagandadaFACOMUFPA,email:carolinambarreiros@gmail.com6Estudantedo7.semestredoCursodePublicidadeePropagandadaFACOMUFPA,email:castrodejesus.luciano@gmail.com7Orientadordotrabalho.ProfessordeComunicaoSocialdaFACOMUFPA,email:[email protected]
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Esta possibilidade de assumir inmeras personalidades potencializada no mundo
virtual e ao somarse a ideia de que o que circula na rede permanece somente no ciberespao,
podem induzir a banalizao de mortes e do sofrimento alheio, que passam a ser tratados, na
maioria dos casos, com humor, escrnio, diminudos em suas realidades para servir de
entretenimento. Sendo assim, este artigo busca questionar o posicionamento do indivduo
psmoderno a partir de contedos veiculados na internet, especificamente os chamados
memes, partindo da hiptese de que as pessoas esto cada vez mais dessensibilizadas dentro
da internet. Para discutir essa falta de sensibilidade abordouse o assunto atravs de duas
questes: Primeiro debatese a dimenso estrutural, ou seja, a influncia dos avanos
tecnolgicos e da convergncia miditica no comportamento do usurio. Em um segundo
momento, analisase o sentido contido nos memes, tanto a partir das implicaes psicolgicas
que levam o indivduo enquanto produtor e reprodutor dessas mesmas representaes a se
posicionar de forma insensvel diante da dor do outro, quanto a partir do sentido contido nos
prprios memes, nos quais propese identificar e explanar as marcas desta dessensibilizao.
Para isso analisouse trs figuras memticas (memes) veiculadas no Twitter referentes morte
docandidatoapresidnciadarepblica,EduardoCampos.
O que defendese neste artigo como dessensibilidade nas redes sociais percebido
atravs da produo, reproduo e compartilhamento dos memes, imagens, vdeos, udios ou
textos. O objetivo da mensagem varia, podendo ter um sentido humorstico, poltico, crtico,
etc. A questo a se debater nesta pesquisa o fato de que alguns memes satirizam
determinadas situaes como mortes e tragdias, preterindo o humor e o entretenimento em
detrimentodorespeitooudadiscusso.
Para compreender a repercusso da morte de Eduardo Campos, em especial a extensa
produo de memes no perodo, preciso atentar para o fato de que cada vez mais os
contedos que circulam tanto nas mdias tradicionais quanto na prpria internet esto
convergindo de seus espaos de origem e alcanando novas plataformas possibilitando a
criao de um novo contedo, transcodificado. Podese perceber no perodo das eleies
2014, que os contedos da televiso e da rdio migravam para a internet onde eram
resignificadose(re)interpretadospelosusurios.
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AConvergnciaMiditicanaEradosMemes
Em 2014 os brasileiros utilizaram a internet como ferramenta para compartilhar
assuntos relativos s eleies. Cada acontecimento divulgado nas mdias tradicionais (TV,
Rdio, Jornal, etc.) era apropriado pelos internautas que traduziam e direcionavam tais
contedos para a internet que, graas emergncia das redes sociais, ganha cada vez mais
espao nas chamadas tecnologias mveis (Smartphones, Tablets, etc.). No Facebook foram
mais de 674 milhes de interaes entre usurios , j no Twitter, cerca de 40 milhes de posts. 2
Do resultado das pesquisas apurao dos votos at mesmo cada pronunciamento oficial dos 3
presidenciveis, tudo nesse perodo eleitoral era comentado e reproduzido nessas redes sociais
eemoutrasplataformascomoWhatsapp,SnapchateInstagram.
A velocidade da difuso da informao e a participao ativa do usurio nas redes
sociais durante as eleies presidncia do Brasil um exemplo do que defende o
comuniclogo Henry Jenkins ao debater a convergncia miditica. Segundo ele, a
convergncia:
O fluxo de contedos atravs de mltiplas plataformas de mdia, cooperao entre mltiplos mercados miditicos e o comportamento migratrio dos pblicos dos meios de comunicao, que vo a quase qualquer parte em busca de experincias de entretenimentoquedesejam.(JENKINS,2007,p.29).
A convergncia miditica, para o autor, se relaciona estreitamente com a cultura
participativa, em que os usurios se envolvem de forma ativa com o contedo dos diversos
tipos de mdia. Para Jenkins, os consumidores esto utilizando novas tecnologias miditicas
para se envolverem com o contedo dos velhos meios de comunicao, encarando a internet
como um veculo para aes (Ibid. p.235). Com base nisso podemos perceber que durante a
exibio dos debates entre os presidenciveis, os telespectadores produziam e veiculavam nas
redes sociais imagens (memes) satirizando o que estava acontecendo nesses debates. Dessa
forma, o usurio/telespectador transcodificava da televiso, criando uma experincia mais
dinmicaeaprofundadasobreoacontecido.
2Disponvelem:http://www.adnews.com.br/internet/eleicoesbrasileirasgerammaisde674milhoesdeinteracoesnofacebook3Disponvelem:http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/noticia/2014/10/eleicoesbrasileirasgeraramquase40milhoesdetuitesdizTwitter.html>Acessoem18deNovembro,2014.
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Contudo, esse tipo de envolvimento por parte dos indivduos dentro do ciberespao no
algo recente, tratase de uma evoluo comportamental que acompanhou a evoluo dos
prprios mecanismos de comunicao da internet. Sobre isso, cabe ressaltar que em 2004,
Tim OReily, da editora especializada em tecnologia OReily Media, apresentou ao pblico
no evento MediaLive International o termo Web 2.0, que surgiu de uma constatao de que as
empresas que conseguiram se manter depois da bolha da Internet (crise na bolsa de valores 4
americana Nasdaq em 2000, que envolveu as maiores empresas com negcios na internet na
poca), possuam caractersticas em comum. Para ele, tudo o que existiu antes da Web 2.0, a
chamada Web 1.0, possua dois sentidos primordiais: a leitura e a ligao com outras pginas.
Com poucos usurios em rede, os sites que predominavam na web 1.0 eram os de empresas e
instituies. Havia informao disponvel, mas pouco ou nenhum tipo de interao. Aps esse
perodo, surge a Web 2.0, em que o usurio tornase gerador de contedo, e o espao virtual
tornase um espao de colaborao, comunicao, partilha e, principalmente, interao. Os
sites possuem contedo mais dinmico e existe a popularizao das redes sociais. Iniciouse
tambm nesse estgio a navegao mobile, o que para Pierre Lvy (1999) possibilita a
multiplicaoeaceleraodaquantidadebrutadedadosdisponveis.SegundoLvy:
A densidade dos links entre as informaes aumenta vertiginosamente nos bancos de dados, nos hipertextos e nas redes. Os contatos transversais entre os indivduos proliferam de forma anrquica. o transbordamento catico das informaes, a inundao de dados, as guas tumultuosas e os turbilhes da comunicao, a cacofonia e o psitacismo ensurdecedor das mdias, a guerra das imagens, as propagandas e contrapropagandas,aconfusodosespritos.(LEVY,1999,p.13)
J o termo web 3.0 foi cunhado por John Markoff, jornalista do New York Times, que a
definiu como uma forma de organizar de forma inteligente o contedo disponvel na web.
Essa forma de organizao e comunicao seria cada vez mais prxima da inteligncia
artificial, em que mquinas podem auxiliar humanos a realizar todo o tipo de tarefa. A Web
3.0 seria mais focada nas estruturas das pginas do que no usurio. Seu objetivo organizar
de forma inteligente todo o conhecimento disponvel na internet. Entretanto, o avano dessas
tecnologias, no modifica apenas as mquinas, mas tambm, o perfil do usurio. Dessa forma
4Ver:H13anos,bolhadainternetcomeavaaexplodirnosEUA.Disponvelem:Acessoem05deDezembro,2014.
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possvel entender o comportamento dos usurios que presenciamos no perodo das eleies
2014. Segundo Pierre Levy essa comunicao por mundos virtuais , portanto, em certo
sentido, mais interativa que a comunicao telefnica, uma vez que implica, na mensagem,
tanto a imagem da pessoa como a da situao, que so quase sempre aquilo que est em jogo
na comunicao (Levy, 1999, p. 81). Essa interao mais efetiva abre espao para que
qualquer pessoa possa expressar abertamente sua opinio, o que, por vezes, possibilita a
ocorrncia de uma srie de compartilhamentos pautados sob uma ntida falta de sensibilidade
frente a assuntos que requerem opinies mais contidas, como o objeto a ser estudado nesse
artigo.
Algo que deve ser enfatizado que discutir a convergncia miditica no implica
somente em abordar as trocas entre os meios miditicos propriamente ditos, tratase de
ressaltar as transformaes tanto tecnolgicas quando especficas do usurio. Para Jenkins, A
circulao de contedos por meio de diferentes sistemas de mdia, sistemas administrativos
de mdias concorrentes e fronteiras nacionais depende fortemente da participao ativa dos
consumidores.(Jenkins,2006,p.29).
A convergncia representa uma mudana cultural que influencia os usurios a buscar as
informaes que desejam e fazer suas prprias conexes com a bagagem cultural que
possuem. O contedo de mdia de massa apenas o pontap inicial de uma infinidade de
possibilidadesdeobjetosculturais,quegeraaculturaparticipativa.
A apropriao de contedos difundidos por grandes veculos miditicos por parte dos
indivduos, que passam a (re)significar as mensagens e divulglas nas redes sociais, um
grande exemplo do que defende Jenkins. E exatamente o que foi possvel perceber no dia 13
de Agosto no Twitter , dia em que ocorreu o acidente que levou a bito o candidato Eduardo 5
Campos. Por volta das 13h30 eram apenas sites de grandes veculos que dominavam o fluxo
de informao na rede a cerca do acidente. Contudo, nas 3 horas seguintes a situao mudou.
O perfil fake denominado de Dilma Bolada , referente a ento presidente do Brasil, Dilma 6
5RedesocialcriadaporJackDorsey,BizStoneeEvanWilliams,noanode2006.Atualmentecontacommaisde240milhesdeusuriosespalhadospelomundo.Estaferramentasedestacanafacilidadedecriaoedisseminaodeinformao,seuformatoem140caracterespermiteocompartilhamentodemensagensemtemporealtalcomoummicroblogging
6 PerfilfoicriadopeloestudantedeadministraoJefersonMonteiroparapublicarpardiasdaatualpresidentaDilmaRousseff.Oprojetoteveincionaseleiesde2010comoperfilnaredesocialTwitter,massomenteem2011queapginanoFacebookfoicriada.AtualmenteafanpageDilmaBoladacontacom140milcurtidaseapresentaumagranderepercusso.
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Rousseff, foi o responsvel pela maior influncia de informao sobre a morte do candidato a
presidncia na rede social, reunindo cerca de 5204 usurios que curtiam e retwittavam todo o
contedo postado pelo perfil falso. No entanto, o contedo que circulava no Twitter sobre a 7
morte de Campos estava, em sua maioria, direcionado ao humor. Vrios memes humorsticos
foram produzidos e veiculados nessa rede social e a partir dela que selecionamos trs
exemplos onde analisaremos os traos que apontam a falta de sensibilidade dos usurios com
relao a morte do candidato. Contudo, antes de nos voltarmos para a anlise dos memes,
cabe fazermos uma breve explicao sobre o que o Twitter e tentar entender o seu papel na
produodessetipodecontedo.
AProduodeMemesnaEradoTwitter
No Twitter, criada a organizao dos contedos feitos por usurios e que forma uma
rede de compartilhamento instantneo, sendo comuns em sua utilizao os comentrios sobre
acontecimentos noticiados por outras mdias, como a televiso, ainda tida como meio mais
confivel de disseminao de informaes por conta da sua credibilidade. Estudos feitos pelo
prprio microblog mostram que 80% dos usurios desta plataforma a acessam a partir de
aparelhos smartphones e que 97% destes assistem televiso todos os dias, e que enquanto
assistem os programas de TV, 50% usam o celular e 32% procuram informaes sobre o que
esto assistindo. Isso mostra que muitas vezes as notcias televisionadas chegam at a 8
internetgerandoaproduodeumnovocontedofeitopelosprpriosusurios.
DeacordocomapesquisadoraecomuniclogaRaquelRecuero,oTwitter:
Estruturado com seguidores e pessoas para seguir, onde cada Twitter pode escolher quem deseja seguir e ser seguido por outros. H tambm a possibilidade de enviar mensagens em modo privado para outros usurios. A janela particular de cada usurio contm, assim, todas as mensagens pblicas emitidas por aqueles indivduos a quem ele segue. Mensagens direcionadas tambm so possveis, a partir do uso da @ antes do nome do destinatrio. Cada pgina particular pode ser personalizada pelo Twitter atravsdaconstruodeumpequenoperfil.(2009,p.173)
Oexemplodestavisibilidadeoseuaparecimentonasmdiastradicionais,televisoejornal,comoaRevistaVeja,JornalOGloboeetc.7Dadosdisponveisem:Acessoem08deDezembro,2014.
8Dadosdisponveisem:
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Como em qualquer outra rede social, o Twitter possui usurios formadores de opinio
que mantm influncia sobre os seus seguidores e podem difundir informaes com a rapidez
que a rede permite. Um indivduo comum pode se tornar conhecido atravs da popularizao
de seus tweets, viralizados por meio de retweets forma de compartilhamento de mensagens
no painel principal dos usurios seguidores como no caso do perfil falso da Dilma Bolada
durantearepercussodamortedoEduardoCampos.
A produo coletiva tambm uma das principais caractersticas do Twitter, quando um
assunto principal surge na web, como um evento mundial ou um acontecimento marcante na
sociedade, os usurios o comentam incessantemente partindo de diversos pontos de vista, que
podem ir do humor at posicionamentos mais srios sobre o assunto. Surge assim uma
ressignificao do contedo apresentado priori, geralmente por outros veculos miditicos.
Com a popularizao das redes sociais, essa interatividade se tornou o cerne da produo de
contedodainternet,comoobservaLuliRadfahrer:
Quando a web comeou a se tornar popular, o que mais se falava dela era uma tal de interatividade que, sob o ponto de vista atual, era limitada e simplria, pois significava apenas a capacidade de exercer o livrearbtrio, escolhendo uma opo entre um conjunto de ofertas. Hoje diferente. medida que o indivduo pode INTERFERIR no contedo e REDISTRIBULO, a informao muda de papel, se tornamatriaprimaedemandamanipulao(RADFAHRER,2007).
O Twitter possui uma plataforma simples para postagem de texto, que um formato
muito mais acessvel do que a produo de um vdeo, por exemplo. Essa facilidade permite
com que mais pessoas tenham a sua voz no meio virtual, sem precisar possuir grandes
habilidades em outro tipo de mdia. necessrio apenas duas coisas: uma ideia e 140
caracteres (ou at menos). Por esses e outros motivos, esta rede social se tornou um grande
frum de discusses e produo de contedo em tempo real, gerando material intelectual,
humorstico e at banal, tudo o que o usurio est sentindo e pensando naquele exato
momento. Segundo Foucault considerase que no dizer verdadeiro, a funo das palavras
mostrar o que se est experimentando, mostrar o pensamento. Isto implica transmitir o
pensamento em sua transparncia, e mostrar que esses so de quem os exprime e transmite
(FOUCAULT, 2001, p. 304305). As pessoas tm a necessidade de mostrar o que est em sua
mente e o Twitter facilita este compartilhamento de ideias, permitindo expor os pensamentos
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do usurio diante de apenas uns toques no teclado do computador, ou de seu prprio
smartphone. No entanto, preciso problematizar o comportamento dos indivduos nessa rede
social. A existncia de discursos, como no caso dos memes sobre a morte do Eduardo
Campos, que so compartilhados mostra o quanto preciso repensar as atitudes tomadas na
internet.
O conceito de Meme foi criado por Richard Dawkins em o Gene Egosta (1975). Sua
pesquisa d inicio a uma busca pelo equivalente no campo cultural da reproduo dos genes
da biologia. Para o autor, a seleo natural poderia se estender a qualquer situao em que
unidades replicadoras disputam entre si pela oportunidade de fazer o grande salto de uma
gerao outra. O indivduo, assim, seria produto de uma evoluo tanto biolgica quanto
cultural. O zologo prope, portanto, a criao de uma unidade bsica equivalente no campo
cultural, cunhada por meme, do grego mimeme que significa imitao. Com um conceito
bastante amplo, meme qualquer representao mental que dependa do crebro para
sobreviver e se difundir. Tudo o que ensinado ou transmitido socialmente, como hbitos,
teorias e crenas podem ser considerados memes. Dawkins tambm explana sobre o processo
de variao memtica, ou seja, quando uma ideia ou meme muda conforme transferido para
outrapessoa.
Mas, o conceito de meme, tal como conhecido nas redes sociais, foi aplicado a
narrativas especficas da Cibercultura apenas nos ano 2000. Segundo Erick Felinto (2013),
podemos identificar os memes a partir de duas caractersticas: sua capacidade de imitar e de
replicar imediatamente imagens ou vdeos da internet. primeira vista os memes apresentam
textos de fcil assimilao e figuras que fazem referncia a um universo especfico. preciso,
portanto, ter conhecimento desse universo para que a narrativa faa sentido. No caso do
objeto de estudo desse artigo, os memes foram produzidos em um contexto de conhecimento
nacional,apartirdamortedocandidatoEduardoCamposnoperodoeleitoral.
Uma classificao importante para essa narrativa surgiu em 2011 com a pesquisadora
Limor Shifman. A autora parte do princpio de que o contexto sociocultural no qual o meme
est inserido determinante para a sua replicao e sobrevivncia. Desse modo, poderamos
diferencilos entre memes globais e locais, os quais, por sua vez, guardam caractersticas
culturais mais especficas e so, consequentemente, de uso bem menos abrangente (cf.
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SHIFMAN, 2011). Voltando ao objeto especfico de estudo desse artigo, os memes da morte
do Eduardo Campos apresentam o sincretismo de uma temtica de repercusso nacional com
textosglobaiselocais.
Outro ponto relevante para a classificao dos memes a finalidade dessa narrativa.
Quando a inteno do texto protestar contra algo, estes assumem um carter poltico. Por
outro lado, as narrativas desprovidas de crticas e com vis de diverso podem ser chamadas
dememesdeentretenimento.
Por fim, Felinto aborda o carter epidmico dessas mensagens e o potencial de
viralizao que elas tm. A facilidade com que so produzidas e a no exigncia de domnio
de softwares elaborados, torna sua produo mais acessvel e refora o seu potencial de
difundirse. O que consiste na repetio dos mesmos signos, na incessante multiplicao das
imagens e smbolos que, num paroxismo semitico, terminam por abolir as fronteiras entre o
realeosimulado.(FELINTO,2008,p.35)
Contudo, com base na estrutura dos avanos da internet, da interatividade entre usurios
e da convergncia miditica, questionase como explicar a dessensibilizao diante da dor do
outropresentenasredessociais.
ADessensibilizaonaEradasRedesSociais
Tragdia e comdia so historicamente indissociveis. As primeiras definies de
humor foram difundidas por Plato e Aristteles, que classificavam essas como partes da
dicotomia da linguagem. Ao se deparar com situaes crticas, as quais para Aristteles so
como uma mimesis da tragdia, surgem sentimentos como repulsa e piedade, de tal modo que
libertaessesujeitoeodefendedetalfato.Poroutrolado,Freuddefenderqueohumor:
um meio de obter prazer, apesar dos afetos dolorosos que interferem com ele atua como um substitutivo para a liberao destes afetos, colocase no lugar deles [...] O prazer do humor[...] procede de uma economia na despesa do afeto, ao custo de uma liberaodeafetoquenoocorre[](FREUD,1905,p.257)
Essa economia que inerente ao ser humano funciona como um escudo, um
mecanismo de autodefesa que se manifesta quase que instintivamente nos momentos de
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angstia. como se o humor de um indivduo necessitasse de uma plateia, como explicita
Morais:O humor completa o seu curso dentro de uma nica pessoa no necessrio uma outra para a fruio do prazer humorstico. Mas, quando o humor comunicado ou compartilhado pelo humorista, sentimos o mesmo prazer que ele. O deslocamento no humor foi inicialmente considerado por Freud, em 1905, um mecanismo de defesa, a realizar a tarefa de impedir a gerao de desprazer, a partir de fontes internas. (MORAIS,2010,p.60)
Para geraes passadas, situaes em que o cmico e o trgico se confundiam eram
frequentes e geravam comentrios entre familiares e amigos. Todavia a abrangncia dos fatos
limitavase a um determinado crculo social. Diferentemente do que ocorre no atual contexto
da web 3.0, em que se convive diariamente com as redes sociais em que mais fcil divulgar
pensamentos em forma de contedo virtual, os quais possuem poder e alcance ainda maior.
Onde a presena das redes sociais facilita a divulgao e a amplitude de pensamentos em
forma de contedo virtual. Desta forma, notase que a opinio de cada um no se restringe a
um pequeno nmero de pessoas como antes, ela divulgada em redes podendo atingir grupos
sociais distintos. Sendo assim, h um aumento no impacto gerado a ponto de influenciar o
outro.
A capturao da dor em escritos varia quanto quantidade de seus destinatrios e de
acordo com sua complexidade. O oposto do que ocorre quando capturada em um retrato, que
tem potencial de ampla divulgao, desse modo o efeito direto, uma representao do real,
limitando assim a imaginao e as margens de interpretao que a mesma permite, porm
tende a ser esquecida muito facilmente (SONTAG, 2003). A internet permite uma mistura de
linguagens, tanto verbais quanto no verbais. Como consequncia disso, h tanto uma longa
duraodosfatosexpostosquantoumgrandecompartilhamentodestes.
A reao do ser humano diante de situaes trgicas colocada em questo nesse
artigo. Os receptores dessas informaes esto mais interessados na notcia e em propagla
no mundo virtual do que em seus protagonistas. possvel perceber situaes como acidentes
de grande repercusso discutidos em vrias redes sociais, o que caracteriza a dessensibilizao
dos usurios. Este tipo de atitude to comum que as pessoas podem agir dessa maneira sem
nem notar. Da mesma forma que aps 4 dcadas de carssimos filmes de catstrofes
produzidos em Hollywood, 'como um filme' parece haver substitudo a maneira pela qual os
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sobreviventes de uma catstrofe exprimiam o carter a curto prazo inassimilvel daquilo que
haviam sofrido (SONTAG, 2003, p.23). O ser humano se adapta facilmente a situaes
distintas, mais rapidamente, se repetidas com frequncia pois passam a ser naturais para ele.
Vrias notcias ruins surgem a cada segundo e o indivduo ao se deparar com mais uma pode
sentirqueperdeusuaprpriacapacidadedereao.
Liev Kulechov provou empiricamente que a associao pessoal de cada receptor
fundamental para a compreenso da sucesso de imagens de um filme, J que elas no
fazem sentido se analisadas sozinhas, conforme fazse necessrio. O instinto humano em
situaes distantes diverge daquelas em que ele esta inserido no contexto. Sendo assim,
mais fcil opinar e resolver problemas alheios do que os seus prprios. Da mesma forma,
quando se sabe de uma Fatalidade divulgar, comentar sobre e brincar com isso tornarse mais
simples. Entretanto, caso possua algum vnculo com a pessoa citada na notcia, a postura do
indivduomuda.
ADessensibilizaonosMemessobreaMortedeEduardoCampos
A dessensibilizao dos usurios do Twitter pode ser percebida a partir da criao e do
compartilhamento de memes sobre assuntos trgicos. Como citado anteriormente, todo
usurio tem o potencial de produzir e reproduzir contedo na internet de acordo com a sua
afinidade com o tema. Para exemplificar tal dessensibilizao, utilizouse como objeto
emprico os memes produzidos a partir da morte do candidato Eduardo Campos nas eleies
de2014.
Aps o debate eleitoral no Jornal Nacional, o candidato presidncia da
RepblicaEduardo Campos que disputava as eleies pelo Partido Socialista Brasileiro
(PSB),morreu emacidente de avio em Santos, no litoral de So Paulo.Campos governou o
Estado de Pernambuco por sete anos e em 2013 anunciou a aliana com o movimento Rede
Sustentabilidade, de Marina Silva. No dia do acidente Campos estava em terceiro lugar na
pesquisadoIBOPEsobreaseleies. 9
9Disponvelem:Acessoem09deDezembro,2014.
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A anlise dos trs objetos empricos desse artigo teve como ponto de partida as
categorias cunhadas por Erick Felinto em Grumpy Cat, Grande Mestre Zen da Gerao
Digital, Afetos e Materialidades da Imagem Memtica (2010). No artigo citado, o autor
analisa a relao entre texto e imagem nos memes do Grumpy Cat, apelido dado a uma gata
de aparncia zangada da raa Snowshoe que alcanou fama internacional depois que suas
fotos foram postadas no site Reddit. Felinto divide as imagens memticas em seis categorias:
Metamemticos, Citacionais, Narrativos, Jornalsticos, Filosficos e Orientados ao Leitor. A
partir disso, foram eleitos trs memes de forma aleatria sobre a morte do candidato Eduardo
Camposemquefossepossvelidentificarascategoriasacima.
Na primeira imagem memtica (Figura 1) possvel visualizar a fotografia de um
avio caindo acompanhada do texto Datafolha: Eduardo Campos cai na ltima pesquisa.
Identificamos a dessensibilidade na ambiguidade do verbo cair. A priori, analisando somente
a frase possvel lembrarse do discurso conotativo do IBOPE, j cristalizado socialmente, ao
anunciar os resultados das pesquisas eleitorais. Entretanto, associado imagem, o verbo cair
assume um carter denotativo, simbolizando a morte do candidato na queda do avio. Assim,
supese que para gerar o humor, o usurio produtor do meme banalizou a causa da morte ao
escolher intencionalmente o verbo cair. Portanto, segundo Felinto (2010) podemos
classificlo como Citacional, ou seja, que faz referncia a elementos da cultura miditica no
necessariamenteconvertidosemmemeanteriormente.
Figura 1
O segundo objeto emprico tem como ttulo Mandei derrubar mesmo. E se reclamar,
derrubo o do Acio, que tem como apoio visual a foto da presidenta Dilma em um
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pronunciamento poltico. (Fig. 2) Na imagem, a Dilma seria um smbolo equivalente ao
Grumpy Cat para Felinto. A dessensibilidade pode ser percebida quando o usurio reproduz
um falso pronunciamento da presidenta, em que ela se vangloria por mandar derrubar o avio
quecausouamortedocandidatoopositorEduardoCampos.
Categorizando a partir de Felinto, o meme em questo Orientado ao Leitor, pois se
dirige de forma direta e explcita ao receptor visual da imagem, sempre de forma jocosa e
irnica.(FELINTO,2010,p.07)
Figura 2
Por ltimo, possvel identificar a dessensibilizao em um terceiro meme (Figura 3)
produzido a partir da morte do candidato Eduardo Campos. O texto Puta que pariu. Era o do
Acio acompanha a imagem da presidenta Dilma com expresso que sugere lamentao.
Podemos caracterizlo, a partir de Felinto, como jornalstico, pois faz referncia a fatos de
grande impacto na mdia, a morte do candidato Eduardo Campos. A ideia do produtor da
mensagem, assim podemos supor, era encenar uma situao em que a Dilma tivesse acabado
de ler a notcia sobre a morte do candidato Eduardo Campo e comentasse sobre ela. A
dessensibilidade com a morte do Eduardo Campos percebida no pela lamentao da
presidente pela morte do candidato, mas por ter confundido o candidato que deveria ter sido
atingido,nocasooAcioNeves.
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Figura 3 Concluso
A questo da dessensibilizao nas redes sociais um assunto delicado que precisa ser
debatido e posto no centro da discusso sobre os limites e a liberdade dos indivduos
conectados na internet. Como analisamos nesse artigo, a possibilidade criada pelo avano
tecnolgico, a convergncia miditica e a interatividade, proporcionaram a criao de espaos
onde o usurio pode produzir e (re)significar os contedos que a ele eram disponibilizados,
dessa forma, o que percebemos hoje, que h uma banalizao dos assuntos trgicos.
Analisamos brevemente trs memes sobre a morte do candidato presidncia Eduardo
Campos que, conforme apresentamos nessa pesquisa, abordaram com humor, crtica e stira o
acidente do candidato. A problemtica representa a falta de considerao dos indivduos com
a dor e o sentimento dos outros nas redes sociais, algo que precisa ser questionado e refletido,
tanto pela academia quanto pelos usurios. Este trabalho buscou explicar a falta de
sensibilidade presente nas redes sociais, a partir da produo e reproduo dos chamados
memes, no se esgotando em si mesmo e abrindo espao para aprofundamentos futuros sobre
otema.
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