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GILBERTO GONÇALVES ROSSI JUNIOR A DECADÊNCIA ANUNCIADA DO GUARUJÁ / SP: O AGENDAMENTO DA MÍDIA IMPRESSA UNIVERSIDADE DE MARILÍA UNIMAR MARÍLIA 2005

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GILBERTO GONÇALVES ROSSI JUNIOR

A DECADÊNCIA ANUNCIADA DO GUARUJÁ / SP:

O AGENDAMENTO DA MÍDIA IMPRESSA

UNIVERSIDADE DE MARILÍA

UNIMAR

MARÍLIA 2005

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GILBERTO GONÇALVES ROSSI JUNIOR

A DECADÊNCIA ANUNCIADA DO GUARUJÁ / SP:

O AGENDAMENTO DA MÍDIA IMPRESSA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduaçãoem Comunicação da Universidade de Marilia comorequisito para obtenção do título de Mestre emComunicação

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Elêusis Mirian Camocardi

MARÍLIA

2005

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Gilberto Gonçalves Rossi Junior

A DECADÊNCIA ANUNCIADA DO GUARUJÁ / SP:

O AGENDAMENTO DA MÍDIA IMPRESSA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação emComunicação da Universidade de Marilia como requisito paraobtenção do título de Mestre em Comunicação.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Elêusis Mirian Camocardi

Banca Examinadora : _______________________________________________ Prof. Dr.ª Elêusis Mirian Camocardi (orientadora)

_______________________________________________ Prof.ª Dr.ª Carly Batista de Aguiar

_______________________________________________ Prof..ª Dr.ª Rosangela Marçolla

Marilia, 16, de dezembro de 2005.

UNIVERSIDADE DE MARÍLIA

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Dedico este trabalho a meus pais,

Gilberto Gonçalves Rossi e Angelina Bellini Rossi pelo amor incondicional

Às minhas irmãs Márcia e Mônica pelo carinho, presença e apoio constante, mesmo à distância

e a minha tia Rosa Bellini pelo cuidado e carinho e

por darem o que eu mais precisava para o término deste trabalho:

confiança!

Saudades

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AGRADECIMENTOS

À minha linda e querida Sabrina Aufiero, pela força e paciência nos momentos de minha ausência;

Á minha eterna amiga Prof.ª Elêusis Miriam Camocardi pela orientação segura e motivadora;

A Prof. Drª Maria Cecilia Guirado pelo primeiros passos e compreensão;

Ao amigo Prof. Ms. Roberto Reis pela colaboração precisa e presente, sempre;

À Prof.ª Dr.ª Lúcia Correia de Miranda, pela participação em minha qualificação e pela atenção e carinho;

A alguns professores que me inspiraram a escolher a profissão que exerço hoje:

Ao querido amigo Prof. Dr.º Romildo Sant’anna pela inspiração e pela companhia impagável;

À Profª. Dr.ª Olga Tulik por informações e simpatia constante;

À Profª. Dr.ª Rita de Cássia Ariza Cruz, por aulas deliciosas e inspiradoras;

À Profª. Dr.ª Marília Ansarah, por todos esses anos de amizade e cooperação;

Ao Prof. André Paolilo que me incentivou a tornar-me o que sou hoje: um professor de verdade;

À Prof.ª Dr.ª Suely Fadul Villibor Flory por me mostrar que seria possível;

Ao meu grande amigo Prof. Luis Fernando Martinez, pela cumplicidade e força ao longo destes anos;

Aos meus amigos, por entenderem a minha ausência;

Aos colegas professores da Universidade de Marília;

e a Deus, pois sem ele não teria fôlego para trilhar este caminho.

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RESUMO

O perfil do freqüentador do balneário paulista Guarujá passou por uma sensível

mudança nas últimas três décadas. Esse fenômeno deu-se devido a inúmeros fatores e

acreditamos ser um deles a influência que a mídia impressa exerce no momento da

escolha por qual destino o turista irá optar.

Este estudo identifica motivos dessa oscilação e traça paralelos entre tempo,

público freqüentador e o registro dos jornais sobre o desgaste estrutural do município

do Guarujá.

Para tanto, tem como pressuposto teórico a hipótese do Agenda Setting, que,

em uma série de reportagens, por meio de estratégias de persuasão e outras

ferramentas de convencimento, corrobora com o sucesso ou fracasso de um produto

turístico.

No processo de construção deste trabalho além de entrevistas realizadas em

campo, trabalhamos com pesquisa bibliográfica nas duas áreas de estudo: o jornalismo

e o turismo. Com o intuito de verificar o processo de agendamento utilizamos como

riquíssima fonte de informação os acervos dos jornais Folha de S. Paulo e A Estância

do Guarujá.

O resultado desta pesquisa leva a crer que a mídia impressa, parte da realidade

a que o município chegou e, discursivamente, contribuiu para a transformação do fluxo

turístico do Guarujá,

Palavras-chave: Demanda Turística; Guarujá; Mídia Impressa; Agenda Setting, Estratégias de

Persuasão.

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ABSTRACT

The profile of the assidous of the balneary Guarujá has gone through a sensible

change during the last three decades. This phenomenon was due to several factors and

we believe that one of them is the ascendancy the printed mass communications exerts

by the time of the choice for which destiny the tourist will opt for.

This study identifies reasons for this oscillation and makes parallels among time

frequent public and the register in the newspapers about the structural abrasion of the

municipal district of Guarujá.

For this, there is a theoretical presupposed the hypothesis of the Agenda Setting

that in a sequence of reportings by the means of strategies of persuasion and other

instruments to convince corroborates with the success or the failure of a tourist product.

In the process of the construction of this work besides the interviews performed

in place, we worked with research of the bibliography in both study areas: journalism

and touring. With the purpose of checking the process of the register we have made use

of as a very rich source of information of the patrimony of the newspapers Folha de

S.Paulo e A Estância do Guarujá.

The result of this research makes us to believe that the print mass

communications, part of true of what the municipal district has became and, contributed

to the speech to transformation of Guarujá tourist fluxion.

Key Words: Tourist Demand; Guarujá; Print Mass Communications; Agenda Setting;

Strategies of Persuasion.

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ÍNDICE DE GRÁFICOS, TABELAS E ILUSTRAÇÕES

a) Lista de Gráficos

Gráfico 1 – Distribuição de empregos por setores ........................................................27

Gráfico 2 – Ciclo de vida de um núcleo receptor ..........................................................40

Gráfico 3 – Curva de grupos de consumidores ............................................................44

b) Lista de Tabelas

Tabela 1 – Classificação dos Fluxos Turísticos .............................................................46

c) Lista de Ilustrações

Figura 1 – Praia de Pitangueiras na década de cinqüenta.............................................20

Figura 2 – Grande Hotel de La Plage.............................................................................22

Figura 3 - Mapa da Baixada Santista: Divisão Política ..................................................24

Figura 4 - Guarujá de hoje e suas

praias........................................................................26

Figura 5 - Praia de Pitangueiras ( foto atual)..................................................................28

Figura 6 - Tônia Carrero na piscina do Grande Hotel de La Plage................................53

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................11

1. BREVE HISTÓRICO DA ILHA DE SANTO AMARO..........................................................16

1.1. Guarujá hoje: Uma nova realidade...............................................................24

2. DEMANDA: CONCEITOS E SIGNIFICADOS...................................................................29

2.1.Demanda Turística: direcionando o estudo...................................................31

2.1.1. Demanda e Planejamento, um complemento de estudos............................33

2.2. Análise de demanda turística.......................................................................36

2 2.2.1. Ciclo de um produto turístico

.............................................................40

2.3. Demanda de uso: definindo a utilização de um produto turístico................42

3. CARACTERÍSTICAS DA DEMANDA DE USO DO GUARUJÁ ATRAVÉS DOS TEMPOS...........49

3.1.De 1900 aos anos 60 : o glamour da elite paulistana..............................50

3.2.Anos 70 e 80 : o “boom” imobiliário e a popularização............................56

3.3.Anos 90: a supervisitação flutuante e a beira do caos.............................62

4. A HIPÓTESE DO “AGENDA SETTING” E O PROCESSO DE DECADÊNCIA DO PÓLO TURÍSTICO DO

GUARUJÁ..................................................................................................................67

4.1. Anos 70 - o discurso da mídia impressa no anúncio do início explosão

imobiliária................................................................................................................80

4.1.1. Era uma vez a doce tranqüilidade do Guarujá...................................82

4.1.2. O Guarujá também já começa a viver o turismo de massa...............85

4.1.3. Até julho, Guarujá sofrerá devastação..............................................88

4.1.4. Eis o que restou do Guarujá..............................................................91

4.1.5. Turista classe “A” abandona Guarujá..............................................93

4.2. Anos 80 - O acompanhamento dos jornais frente à miscigenação de

públicos...................................................................................................................95

4.2.1. Câmara do Guarujá abre espaço a especuladores............................96

4.2.2. A devastação do Guarujá...................................................................99

4.2.3. Explosão imobiliária coloca em risco o verão no Guarujá.................101

. 4.2.4. . Barbaridades contra o Guarujá........................................................103

4.2.5. Guarujá muda seu perfil para atender público novo..........................106

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4.3. Anos 90 - O registro da mídia impressa sobre o Guarujá à beira do caos.107

4.3.1. O leitor reclama das Agruras do Guarujá. E quer ação.....................109

4.3.2. Guarujá se ‘maquia” para segurar turistas....................................... 112

4.3.3. Turista nada em praia poluída no Guarujá.......................................114

4.3.4. Interdições causam queda no comercio ..........................................116

4.3.5. Turista foge do mar poluído, mas aproveita sol na Enseada...........117

CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................120

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................124

REFERENCIAS ELETRÔNICAS....................................................................................127

PERIÓDICOS............................................................................................................128

ANEXOS .................................................................................................................130

APÊNDICES ............................................................................................................148

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INTRODUÇÃO

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O mercado de pólos turísticos receptivos anda tão competitivo quanto

qualquer outro; o mundo passa por um período difícil e ninguém pode se dar ao

luxo de perder um único cliente sequer. Isso serve também para os destinos

turísticos; portanto, quando acontecem mudanças quantitativas ou mesmo

qualitativas em sua demanda é sinal de que algo de errado ou de novo está

acontecendo.

Essa mudança de demanda pode gerar muitas transformações no dia-a-dia

de um pólo receptivo, tanto na vida de sua população fixa, como na de sua

população flutuante, podendo causar uma (des)valorização no mercado

imobiliário, e, até mesmo, um grande impacto no mercado de trabalho. Portanto,

essa transformação acaba se tornando um fator importante não só para o setor

turístico, como sim para toda a complexidade do município. A própria

administração pública acaba perdendo muito em impostos e prestígio, com a má

utilização das ferramentas (atrativos e equipamentos turísticos) que o município

possui para lidar com o turista.

Esse fenômeno foi detectado no município do Guarujá, litoral sul do estado

de São Paulo, local freqüentado pelos maiores industriais do país, e que, com o

passar dos anos, veio sofrendo com a falta de atenção e manutenção em sua

parte estrutural e que, por causa disso, sofreu grande alteração no fluxo turístico

que ali freqüentava.

O presente trabalho tem como tema a transformação da demanda turística

ocorrida nessa localidade e o registro da mídia impressa sobre esse fato durante

as décadas de 70,80 e 90. Acreditamos na relação do anúncio de tal decadência

pela mídia impressa com a mudança de atitude do público freqüentador e dos

proprietários de casas de temporada daquele balneário.

Nos estudos da atividade turística, a mídia sempre foi vista como

instrumento de divulgação e publicidade de pólos e empresas do ramo. Porém, a

imprensa e o relato cotidiano tem força muito maior que a de cadernos

especializados e matérias encomendadas. Este trabalho tem como objetivo

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contribuir para essas duas áreas, destacando a interdisciplinaridade dos dois

temas.

Quando o consumidor deseja definir onde irá passar suas férias, ou onde

irá organizar seu próximo evento, ele recorre a colunas e seções especializadas.

Somente nessas horas, pois no seu dia-a-dia ele lê as notícias comuns reportadas

diariamente sobre a realidade de nossas cidades e principalmente de nossos

problemas, e é exatamente ai que começa a formação da imagem de um

determinado local na mente do consumidor viajante. Com a retenção de notícias

sobre as localidades, o repertório do leitor vai sendo formado e no momento da

decisão quanto a qual destino viajar, o leitor lança mão de todas essas

informações guardadas através dos tempos e define pelo seu próximo destino

turístico.

Para verificar esse fenômeno utilizamos como pressuposto teórico a

“Hipótese do Agenda Setting”, que tem como principal característica o estudo da

reação do receptor e, principalmente, a reflexão sobre a capacidade da mídia em

colocar determinado assunto na preocupação e na pauta de discussão da

sociedade.

Outra ferramenta importante é uso da “estética da recepção” que, por meio

de suas estratégias de persuasão, foi utilizada como fator de incremento

corroborando com o agendamento do tema em questão.

Mas será que a imprensa tem culpa na falência social de determinadas

localidades turísticas? Acreditamos que não; enxergamos a imprensa como

intermediador entre a realidade e o cidadão; portanto, os jornais fazem sua parte

que é informar, enquanto seus leitores, mais bem informados, exercem o direito de

pensar e optar por qual caminho seguir.

Uma pesquisa hipotética / dedutiva foi realizada buscando reportagens que

indicassem o acompanhamento por parte da imprensa sobre os acontecimentos

no balneário. Foram pesquisados o acervo dos jornais Folha de S.Paulo, O

Estado de S. Paulo e A Estância do Guarujá, onde mais de 300 reportagens

foram levantadas com a intenção de nos aproximar da hipótese do agendamento.

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Além disso, procuramos estreitar relação com a comunidade e com os

principais envolvidos na gestão da atividade. Por meio de entrevistas, relatadas no

final deste trabalho, detectamos impressões importantes que colaboraram com a

construção do percurso metodológico traçado.

Num primeiro momento apresentamos nosso objeto de estudo, o Guarujá.

Procuramos contextualizar o leitor deste com a intenção de retratar toda uma

época de brilhantismo e charme que se esvaiu com o tempo e o descaso de

alguns governantes mal intencionados.

No capítulo seguinte foi dissertada a questão da demanda, pois o objetivo

do trabalho é discutir o agendamento da mídia sobre a demanda turística da

região; portanto cabe-nos esclarecer todas as variáveis que circundam esse fator

tão importante para o mercado.

Utilizando as ferramentas apresentadas no segundo capítulo, apresentamos

as principais características da demanda do Guarujá através dos tempos, com o

intuito de focar o assunto sobre as pessoas que o freqüentaram, sobre como foi

esse processo de mudança do fluxo turístico e por que ele ocorreu.

No ultimo capítulo apresentou-se a questão do agendamento, que vem

acrescentar força à hipótese de que a mídia impressa pode exercer uma força

muito grande no sucesso ou no fracasso de um produto turístico. Não temos a

intenção de culpar qualquer meio de comunicação, e, sim, de colocar em

evidência a força que esse meio tem para influenciar na decisão de compra ou

não de um determinado destino. Quando um turista em potencial quer comprar

algum pacote de viagem ele vai até periódicos de turismo na busca de uma melhor

opção, porém fatos acontecem todos os dias e nenhum “paraíso ecológico” está

isento do risco de um acidente natural, uma ação devastadora do homem ou

qualquer outro incidente que possa acontecer. A mídia impressa cumprindo seu

papel social comunica e acompanha todos esses fatos.

É nesse momento que os jornais influenciam através do agendamento. O

acompanhamento dos problemas estruturais que aconteceram no Guarujá não

tinham o objetivo de falar sobre “turismo”, mas sim sobre a má gestão do espaço e

sobre o sucateamento estrutural do município. Porém esses fatos induzem à

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tomada de decisão de ir ou não para o Guarujá, de comprar ou não uma casa de

temporada, influenciando assim todo o cotidiano local e a vida de milhares de

pessoas que vivem em função direta ou indireta da atividade turística.

Uma localidade que não se prepara para o crescimento de sua população

sazonal acaba por se tonar um produto turístico com data de validade a ser

vencida em curto prazo, podendo comprometer não só o meio ambiente, mas

também toda uma cidade. No caso específico do Guarujá, há grande parte de sua

população ativa trabalhando com a prestação de serviços, e que teria que se

encaixar em outra lógica de trabalho, para não se tornar uma cidade fantasma.

È importante salientar que o cruzamento de dados, será a grande chave do

trabalho, juntando pesquisa bibliográfica, entrevistas e reportagens jornalísticas

reforçaremos a idéia de que a mídia pode tanto construir imagem positiva de um

local como provocar, aos poucos, a sua destruição.

Vale lembrar que para fundamentarmos o trabalho, utilizaremos também,

somados aos pressupostos da área de comunicação social, conceitos utilizados

na área de estudo do turismo e traçaremos um breve histórico sobre o município

do Guarujá.

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1. BREVE HISTÓRICO DA ILHA DE SANTO AMARO

Há a necessidade de uma breve retrospectiva temporal para podermos

entender melhor o que vem acontecendo no Guarujá com o passar dos anos.

Como são poucos os registros históricos, as informações trazidas para esta

dissertação foram colhidas em pesquisas bibliográficas, em livros , em sites, em

revistas locais e pesquisa de campo, com o objetivo de se organizar uma breve

resenha informativo – histórica. Baseamo-nos principalmente na obra de Mônica

Damasceno, Guarujá Pérola ao Sol 1, e no site do primeiro edifício do Guarujá, o

“Sobre as Ondas”2.

Conforme demonstra Mônica Damasceno, a primeira notícia documental

que se tem sobre a ilha data de 1502, quando a armada de André Gonçalves e

Américo Vespúcio ancorou junto à sua costa ocidental (hoje conhecida como

“Praia da Pouca Farinha”) onde atualmente se localiza o porto de São Vicente. O

lugar era habitado por índios que chamavam a ilha de “Guahibê” ou Ilha do Sol.

Segundo informações do historiador Paulo Duarte (apud site Sobre as

Ondas) que, na década de 50 pesquisou os sambaquis da região, desde dois mil

anos antes de Cristo o Guarujá era habitado por índios que se alimentavam

basicamente de ostras e frutos do mar.

A primeira expedição que chegou ao Guarujá atracou à “Praia do Góis”,

denominada na época como praia da Ilha do Sol, hoje uma das mais famosas do

município do Guarujá.

Em 1535, a expedição de Estevam da Costa funda o primeiro povoado

como “Ilha do Guaibê” ou de Santo Amaro. Jorge Ferreira, segundo informações

de Mônica Damasceno em obra citada, desembarcou na ilha aproximadamente

três anos antes, fixando-se em Itapema (atualmente Vicente de Carvalho), ali se

instalando com plantações e criações .

1 Pérola ao Sol: apontamentos para a história do Guarujá. 1999.2 disponível no endereço eletrônico www.sobreasondas.com.br

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Qualquer um desses nomes pode ser considerado pioneiro e fundador da

Ilha de Santo Amaro. Jorge Ferreira, sem documentação conhecida, em 1532/33 e

Estevam da Costa, em 1535/36. Dado se não exato, nos passa uma boa

localização espaço temporal quanto ao início de seu povoamento.

O nome da Ilha - SANTO AMARO - teve origem no nome da capitania que

também abrangia toda a extensão da ilha e terras vizinhas, limitadas pela

Capitania de São Vicente. Alguns afirmam que a ilha só passou a ser chamada

efetivamente "Ilha de Santo Amaro" a partir da construção da Capela de Santo

Amaro, localizada pouco atrás da Fortaleza da Barra Grande, construção essa

realizada por José Adorno em 15403 .

Jorge Ferreira permaneceu na ilha e se tornou Capitão-mor, Governador

das Capitanias de São Vicente e Santo Amaro de 1556 a 1557 pela primeira vez e

de 1567 a 1569 repetiu sua gestão, configurando-se assim como personalidade

marcante na organização política do município. Em 1699, surge uma grande

indústria de óleo de baleia, que iniciou o interesse por negócios na ilha. Essa

indústria ficava situada na extremidade contrária ao povoamento da ilha.

Devido ao porto de São Vicente e sua localização estratégica no litoral

paulista , no século XIX a ilha começou a receber escravos e passou a ser ponto

de intermediação desse ”comércio”. Os escravos velhos ou doentes eram

abandonados na atual Praia do Tombo, e lá iniciaram uma pequena e miserável

comunidade negra que sobrevivia às custas da agricultura de subsistência

improvisada.

A praia e o sítio do Perequê pertenciam a uma única propriedade agrícola

com enorme frente e fundos até o rio da Bertioga. Segundo o site “Sobre as

ondas”, pertencia então a Valêncio Augusto Teixeira Leomil, que, entre outros

negócios, dedicava-se ao tráfico de escravos, chegando a ser processado,

condenado e a fugir do Brasil por alguns anos para a prescrição da sentença.

Valêncio Teixeira Leomil conseguiu a concessão por 70 anos para instalar

uma linha de trens de ferro do estuário de Santos até o Guarujá e à praia do

3 informação adquirida no site do Hotel do Mar, disponível em http://usuarios.cmg.com.br/~hp-

htldomar/htlhistorico.htm)

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Perequê, sua antiga propriedade. Obtida a concessão, poucos meses depois já a

venderia à Companhia Balneária da Ilha de Santo Amaro, da qual seria Diretor

Fiscal nos próximos tempos e aí, já em nome desta Companhia, obteria ele duas

grandes áreas de marinha, no estuário de Santos (entre os rios “do meio” e “Santo

Amaro”) e ao fim da “Praia do Guarujá, para utilização e instalações da nova

empresa.

Nesse mesmo período, Valêncio Teixeira Leomil travou relações de

amizade com aqueles que viriam a ser considerados os fundadores da futura

cidade do Guarujá: O Dr. Elias Chaves e seu primo, Dr. Elias Fausto Pacheco

Jordão, que, entre 1890 e 1892, era sócio-gerente da Companhia Prado Chaves

(pertencente a Elias Chaves) uma das maiores firmas de exportação de café na

cidade de Santos.

Elias Chaves comprou a concessão da linha ferroviária de Valêncio Teixeira

Leomil, fundou a Companhia Balneária na ilha de Santo Amaro, dando o cargo de

presidente ao Dr. Elias Fausto, cabendo a posição de Diretor Fiscal a Valêncio.

Em seguida, elaborou o traçado para a instalação da Vila Balneária. A Companhia

Balneária teve muita importância como ponto de partida para a estruturação da

vila e, posteriormente, do município de Guarujá.

As terras da ilha constituíam-se de sítios ou pequenas e médias

propriedades rurais, cujas atividades principais eram o cultivo de bananeiras e de

hortaliças, a criação de aves e suínos, a caça e a pesca.

A classe média na região era composta por pessoas de origem humilde, na

maioria agricultores de pouco capital, que, devido à costumeira prática da

permuta, alargavam a extensão de suas terras na zona litorânea. A prática de

permuta, naquela época, consistia na aquisição ou posse de terras dos devedores

que estavam impossibilitados de saldar suas dívidas em moeda corrente.

Elias Fausto foi o responsável pelo início da construção da cidade do

Guarujá. Encomendou nos Estados Unidos (alguns afirmam ter sido no Canadá)

uma cidade completa, do melhor pinho da Geórgia (equivalente ao pinho de Riga),

(...) constituída por um hotel com 50 quartos e mais váriassalas, como a de refeições, bar, leitura (living e sala de estar), e

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ainda uma igreja, um cassino e mais 46 casas de residência, ougrandes chalés americanos, tudo desmontável e de grandequalidade (os chalés, em boa parte, existiam até a década de60 em excelente estado de conservação e habitabilidade).(Roque, 1990. p. 85)

Os preparativos para a instalação do hotel e dos serviços de infra-estrutura

foram iniciados cerca de um ano apenas da data de inauguração da estância.

Enquanto não chegava dos Estados Unidos a encomenda, tratou o Dr. Elias

Fausto de providenciar a construção de uma pequena estrada de ferro, que a

princípio ia até a chamada Vila Balneária, junto ao rio do meio, no estuário de

Santos (hoje Ferry-Boat e princípio da avenida Adhemar de Barros) e mais tarde

até Itapema. Para maior conforto dos passageiros e visitantes, ele mandou vir

também duas amplas barcas a que deu os nomes de “Cidade de Santos” e

“Cidade de São Paulo”, que inicialmente partiriam do Valongo, junto à Estação de

Estrada de Ferro (Santos-Jundiaí) e aportariam ao portão da Balneária.

A estação de chegada da pequena linha férrea permaneceu durante mais

de trinta anos junto à antiga Praia de Laranjeiras (ou Pitangueiras) quase em

frente ao Hotel, passando depois para a rua Mário Ribeiro.

Os trâmites burocráticos relativos à compra das glebas necessárias ao

assentamento do novo empreendimento datam de janeiro de 1891, e como

comenta Roque:

O local escolhido para a instalação do conjunto urbano estavana Praia de Pitangueiras a sete milhas do Porto de Santos (...)Preenchia os requisitos necessários para a formação de umnúcleo turístico: água potável abundante, mar adequada parabanhos, paisagem luxuriante. (Roque, 1990, p.97).

Figura 1 – Praia de Pitangueiras na década de 50.

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....

Fonte: www.sobreasondas.com.br

O hotel foi construído em dois pavimentos, em um prédio de madeira, com

cinqüenta quartos, todos com água corrente e energia elétrica. Como

complemento de serviços o hotel oferecia uma espaçosa varanda, sala de jantar,

salão de reuniões e uma sala para fumantes. Na frente do hotel havia um grande

jardim com vários bancos de madeira.

Em prédio anexo ao hotel, também em dois pavimentos se localizava o

cassino em seu piso superior e no térreo um salão para bailes e concertos.

Completando o grande projeto foi construída uma pequena capela que abrigava

uma imagem antiga de Santo Amaro, encontrada na Ilha.

Conforme o site “sobre as ondas” a inauguração desse hotel e da cidade de

Guarujá deu-se no dia 2 de setembro de 1893, com grande solenidade, vindo de

São Paulo para esse fim o Governador do Estado, Dr. Bernardino de Campos e

alguns secretários, além de representantes da Igreja Católica, as principais figuras

do governo local e de elementos representativos da sociedade da região. A

chegada dos visitantes e convidados verificou-se às 11 horas e trinta e cinco (da

manhã) entre a alegria, as saudações e os foguetes dos representantes locais e

muitos populares, principalmente pescadores de todas as praias vizinhas.

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A cerimônia se iniciou ainda em São Paulo, na Estação da Luz, com a presença

de chefes políticos, representantes da Câmara, imprensa e 3º Batalhão Policial. Uma

composição ferroviária especial encetou a viagem a Santos e do seu porto uma

embarcação chamada “Cidade de Santos” fez a travessia e uma vez na ilha, foram

hospedados no hotel.

Damasceno afirma que

(...) para a montagem e direção inicial do hotel viera daArgentina Monsieur D’Huíque, o qual, com a competência e aprática que lhe apregoavam, organizou todos os serviçossatisfazendo de fato e encantando toda a aristocráticafreqüência do então denominado Grande Hotel de “La Plage”,com o conforto de uma grande hospedagem. (1990, p. 65)

Pouco tempo, entretanto, durou o grande hotel de madeira. Violento

incêndio o devorou certo dia e novo hotel de alvenaria foi levantado em seu lugar,

o qual teria por gerente em seus primeiros tempos o Dr. Eulálio da Costa

Carvalho, homem com um grande tino administrativo, que nele se instalou com

suas filhas, fazendo-o progredir e criar fama.

Ramos de Azevedo, o mesmo arquiteto que construiu o Teatro Municipal de

São Paulo, substituiu o simples edifício por um novo prédio à altura da aristocracia

que freqüentava o local em 1912. O novo hotel, denominado Grande Hotel de la

Plage, era muito luxuoso: os seus trezentos quartos eram decorados em branco e

ouro. O salão de jantar exibia enormes lustres de cristal importado.

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Figura 2 – Grande Hotel de la Plage

Fonte: www.sobreasondas.com.br

O Grande Hotel La Plage, com seu imponente edifício, era o grande

animador do Guarujá, ponto de encontro de eminentes figuras internacionais e

internacionais do comércio, da indústria, da política, das finanças. Basta lembrar

as notáveis personalidades da indústria paulista, como o Conde Francisco

Matarazzo e depois seu filho, Conde Chiquinho, o Cavaleiro Ugliengo, o Dr.

Ricardo Severo, o comendador Nicola Puglisi, o Conde Crespi e tantos mais, que

deram maior progresso ao Guarujá, chegando alguns, como o Comendador

Puglisi à direção da Companhia Guarujá e à construção dos primeiros palácios

residenciais da estância.

Segundo Damasceno, as mais abastadas famílias de Santos e São Paulo,

entre 1920 e 1930, ocupavam a maioria dos chalés americanos e adquiriram

terrenos no loteamento inicial e em outros, que foram surgindo no corpo central da

nova cidade, que já possuía um cinema, um pequeno parque zoológico no velho

bosque junto ao morro, muitas charretes pelas praias e dois importantes recreios,

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o das pedras, onde está hoje o edifício Sobre as Ondas, e o das Astúrias, altos,

pitorescos e famosos por suas peixadas.

A fase definitiva do Guarujá é praticamente recente e teve início com as

primeiras graduações recebidas após a sua elevação a Distrito de Paz, por Lei de

primeiro de março de 1923, abrangendo todo o território da ilha e, principalmente,

com a sua desagregação do município de Santos, até constituir-se em cidade e

município.

Em 30 de junho de 1926, a Lei 2184 assinada pelo Dr. Carlos de Campos,

transformava o Guarujá em Prefeitura Sanitária4, sendo seu primeiro prefeito

Juventino Malheiros. Em 1931, o coronel João Alberto Lins de Barros, interventor

federal em São Paulo, aboliu a categoria pelo Decreto n.º 4844, de 21 de janeiro,

integrando Guarujá novamente a Santos, até que três anos e meio depois, em

meados de 1934, o Governador Armando Salles de Oliveira, pelo decreto 1525 de

30 de junho de 1934, criou a Estância Balneária de Guarujá, nomeando como seu

prefeito o Dr. Ciro de Mello Pupo. A lei orgânica dos municípios, promulgada em

18 de setembro, elevou Guarujá de Prefeitura Sanitária a Município, sendo seu

primeiro governo municipal eleito para o período de 1948 a 1951.

Havia chegado o período áureo do Guarujá, cuja alavanca principal foi a

construção da Via Anchieta, que se completaria com a Via Anhanguera na ligação

e na aproximação de todo o “interland” (interior) paulista ao litoral do estado.

A abertura da estrada de rodagem Guarujá-Bertioga onde passou a

funcionar a balsa de travessia (ou Ferry-Boat) assim como a abertura de estradas

melhores em todos os sentidos e direções, favoreceram a expansão turística e o

aproveitamento total da Estância pela articulação, num só corpo, de todos os

pontos turísticos, principalmente Iporanga de um lado, e praia do Bueno, Monduba

e Guaiúba do outro.

4 Prefeitura sanitária era a denominação para estância terapêutica, ou cidade com ambiente favorável à cura

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1.1 Guarujá hoje: uma nova realidade.

Localizado no Litoral sul do estado de São Paulo, a 23°59' de latitude sul e

a 46°15' de longitude oeste e com uma área territorial de 137 Km o município de

Guarujá encontra-se localizado na 2ª Região Administrativa do estado de São

Paulo, sub-região de Santos, que compreende o litoral segundo reforma

administrativa regional. São seus limites o município de Santos, do qual o separa

o Canal de Bertioga, e o Oceano Atlântico. A distância da capital do estado é de

87 quilômetros.5

Figura 3 – Mapa da Baixada Santista: Divisão Política

Fonte: CD Rom Sumário de Dados da Região Metropolitana da Baixada Santista. Edição 2002.Emplasa – Empresa Paulista de Planejamento Urbano.

O crescimento populacional do município do Guarujá atingiu números

espantosos nos últimos trinta anos, números que, depois de analisados, deixam

explícitas a superpopulação e a futura falta de espaço para toda essa “massa” no

mercado de trabalho, o que viria a trazer complicações no âmbito social .

5 conforme dados retirados do CD-ROM Sumario de Dados da Região Metropolitana da Baixada Santista Ed.

2002. EMPLASA.

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Segundo dados dos IBGE6, a população do Guarujá em 1970 era de 94.021

habitantes, o que representava 14,4% da população da baixada santista; em 1980

a população era de 151.127 representando 15,8%; em 1991 passou para 210.207

e 17,2%, e, em 1996, ficou em 226.365 representando 17,3%, um crescimento de

pouco mais de 140% em 26 anos. O site do IBGE também afirma que em 2004 a

população registrada foi de 292.828, um crescimento de aproximadamente 300%

em 34 anos.

O Guarujá se caracteriza, no período de 1970-1996, considerado por esta

análise, por um perfil eminentemente urbano, apresentando entre 1970 e 80 uma

redução da já exígua população rural, que cai de 3,6% para 0,3%, taxa que

praticamente se mantém inalterada até o ano de 1996. No trabalho realizado pelo

SEBRAE7, de identificação de competências, conseguimos os seguintes números:

� 1970 – Urbana, 96,3% e Rural 3,7% - Total 94.021.

� 1980 – Urbana, 100% - Total – 151.127

� 1991 – Urbana, 100% - Total – 210.192

� 1996 – Urbana, 100% - Total – 226.357

O último censo, realizado em 2001, aponta que nesse ano a população

urbana é de 264.733 habitantes, enquanto a rural ficou em 79 moradores,

continuando em porcentagem, praticamente, 100% urbana.

Ainda segundo o trabalho do Instituto de Pesquisas Tecnológicas utilizando

dados do IBGE, esses dados afirmam que enquanto a população fixa do Guarujá

em 96 era de 226.365. Enquanto a população flutuante (turistas) durante o verão

era de 110.000 pessoas, durante o Carnaval, 300.000 e no restante do ano era de

31.200.

Figura 4 - Guarujá de hoje e suas praias.

6 Censos realizados pelo IBGE em 1970, 1980, 1991 e Contagem de Habitantes em 1996.7 Subsídios para o Desenvolvimento Econômico da Região Metropolitana da Baixada Santista. Instituo de

Pesquisas Tecnológicos/SEBRAE. 1998.

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Fonte: www.sobreasondas.com.br

JÁ NA ECONOMIA LOCAL , SEGUNDO DADOS

CONSEGUIDOS NO SEBRAE, CEDIDOS PELO MINISTÉRIO

DO TRABALHO, A EVOLUÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS EEMPREGOS NOS ANOS DE 1995 E 1996 SE SUCEDERAM DA

SEGUINTE FORMA:Ü Em 1995;

� Agropecuária e pesca: 0,4% dos estabelecimentos e 0,7% dos empregos

� Indústria: 10% dos estabelecimentos e 14,8% dos empregos

� Comércio: 30% dos estabelecimentos e 19% dos empregos

� Serviços: 57,8% dos estabelecimentos e 50,5% dos empregos

� Administração pública: 0,1% dos estabelecimentos e 14% dos empregos

Ü E em 1996;

� Agropecuária e pesca: 0,7%dos estabelecimentos e 1,0% dos empregos

� Indústria: 9,6% dos estabelecimentos e 12,6% dos empregos

� Comércio: 29,6% dos estabelecimentos e 18,6% dos empregos

� Serviços: 59,6% dos estabelecimentos e 52,5% dos empregos

� Administração pública: 0,1% dos estabelecimentos e 15% dos empregos

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Gráfico 1

Fonte: Secretaria Municipal de Turismo e Cultura do Guarujá, 2001.

É importante ressaltar que no setor de serviços está grande parte das

atividades turísticas, como hotéis, restaurantes, transportes, entretenimento e

receptivo e que em outros inclui agropecuária / pesca, administração pública e

outros menos citados.

Através de um conjunto de informações sobre o município,referente a evolução dos estabelecimentos e empregos,cruzando informações com os dados sobre população ativa queo Sebrae criou levando em consideração o Estatuto da Criançae critérios de tempo de serviço do Ministério da PrevidênciaSocial ( 20 à 59 anos), chega-se a conclusão que no Guarujáem 1996, existia uma população de 120.482 habitantes emidade considerada produtiva, contra um contingente de 27.337empregados formais ( 22,7%) Essa é a realidade do Guarujá,um município acostumado com o mercado turístico, porém quesofre os problemas de qualquer cidade com uma populaçãomaior de 200 mil habitantes, ainda com o agravante dasazonalidade turística e a transformação de seu públicofreqüentador através dos tempos. (SEBRAE, 1999).

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Figura 5 - Praia de Pitangueiras (foto atual)

Fonte: http://members.aol.com/pochetti5/guaruja.jpg

Após a apresentação do breve histórico do Guarujá, para situar o objeto do

estudo, serão apresentados alguns conceitos sobre demanda, sua tipologia e

algumas formas de análise. Formas importantes para se tratar de fluxo turístico,

principalmente do viés qualitativo como estamos nos propondo a trabalhar.

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2. DEMANDA: CONCEITOS E SIGNIFICADOS

Segundo o Dicionário Aurélio (1989. p. 142) demanda é ação de demandar, e

demandar também segundo o dicionário é “ir em busca de, dirigir-se para,

necessitar, pedir” , porém, essa é apenas a definição mais usual e popular da

palavra, que conforme a ciência estudada, ganha um novo direcionamento. Para

podermos discutir os assuntos “demanda e transformação da demanda”, julgamos

necessário conhecer algumas das diversas leituras para a mesma palavra.

Tratando-se de um fator econômico situado na área de microeconomia, que

é o campo que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços, nos

livros de economia a demanda é tratada como elemento componente do mercado,

que torna fundamental a sua análise, para o sucesso de qualquer produto.

Segundo Vasconcelos (1998, p.45), a demanda, ou procura pode ser definida

como a quantidade de um determinado bem ou serviço, que os consumidores

desejam adquirir em determinado período de tempo.

Ainda com referências na área de Economia, surge o conceito de Lei Geral

da Demanda, que gere a relação entre preço do bem (coeteris paribus) e a

quantidade procurada: quanto maior a demanda, menor o preço. Quando o preço

do bem aumenta, a demanda sofrerá uma queda provocada por dois efeitos: o

efeito substituição e o efeito renda.

O efeito substituição nada mais é do que a procura por um produto similar;

se este existir a troca será efetuada no mesmo momento, comprometendo a

demanda do primeiro. Já o efeito renda significa que se o preço de um produto

aumenta, e a sua renda mensal prevalece a mesma, o consumidor sentirá que

seu salário foi corroído, mesmo sem diminuir, e procurará algum outro produto que

se encaixe em seu padrão de vida.

Além disso não podemos deixar de afirmar que a demanda também poderá

sofrer quedas em sua performance por outros fatores como os preços de outros

bens e serviços e os gostos e as preferências dos consumidores, pode-se

entender também como moda ou duração de um produto no mercado, assunto

que será discutido em um próximo momento.

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Em Administração Financeira, a demanda é vista e tratada diretamente como

os mercados. Dentre as diversas possibilidades e titulações, existem a demanda

aparente e efetiva, nacional e internacional, todas sempre visualizando a demanda

futura (previsão de vendas para a previsão de produção), utilizando métodos

científicos (matemáticos) com dados pesquisados no passado e no momento

atual.

Já quando falamos de demanda em propaganda e marketing (setor

indispensável em qualquer empresa, nesses tempos de super concorrência) , o

estudo da demanda torna a aparecer com a finalidade de explicar o

comportamento dos consumidores tendo em vista suas decisões de compra de

bens e serviços à disposição no setor publicitário (Lage,1984), preocupando-se

principalmente com o que o consumidor deseja, procura e quer consumir.

Não importando o ramo em que o estudo da demanda apareça, existem

alguns conceitos que seguem para o mesmo caminho, como os conceitos de

demanda real e demanda potencial, e também o conceito de elasticidade da

demanda

A demanda real é representada pelos consumidores que já consomem o

bem ou serviço, que já conhecem e concordam com o preço imposto e que estão

satisfeitos com essa relação preço / produto, enquanto a demanda potencial é

representada pelos consumidores que podem vir a consumir o produto ou bem

produzido. São os consumidores da mesma classe social, que têm os mesmos

costumes, mas que por algum fator ainda não são consumidores do produto em

questão.

Conforme Lage (1984), a elasticidade é o grau de sensibilidade da

demanda com relação às mudanças nos preços de um determinado produto. Esse

conceito foi criado para medir o comportamento de um produto segundo a

variação de preços no mercado e de costumes dos consumidores, enfatizando as

flutuações da demanda. Existem dois tipos de elasticidade que afetam o fator

demanda, a elasticidade-preço e a elasticidade-renda. A primeira analisa a

sensibilidade quanto à variação dos preços e a segunda quanto à renda dos

consumidores.

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Já identificados vários conceitos inerentes à demanda, cabe agora darmos

direcionamento para o estudo de caso em questão, que é a transformação na

demanda de uso do Guarujá, buscando esclarecer as definições sobre demanda

turística.

2.1.Demanda Turística: direcionando o estudo

Com as análises anteriores procuramos deixar claro que demanda, por se

tratar de um componente das ciências econômicas, está também intimamente

ligada ao mercado, e, portanto diretamente ligada a todas as atividades

comerciais, industriais e de prestação de serviços.

Porém, como em várias outras áreas que se interligam ao estudo da

atividade turística, os conceitos mais puros passam por uma transformação para

se adequar a essa linha de pesquisa mais recente, pois é inegável a distinção do

formato estrutural e comercial do turismo.

Segundo Andrade em países que sofrem com mudanças nos preços devido

a sua estrutura econômica “a demanda pode ser considerada como relação

funcional que traduz a quantidade a ser adquirida a preços diversos, num dado

período e em determinado local, qualquer que seja a natureza e a utilidade do

produto” (2000,p.115).

O estudo da demanda turística ainda é um assunto bastante discutido, com

algumas discordâncias, que dependem do ângulo analisado (consumidor ou

produto a ser consumido), sendo que diversos autores como Boullón (1997), Beni

(1988) e Lage & Milone (1991) não chegaram a um conceito uniforme.

Beni, por exemplo diz que

(...) a demanda é determinada pelo preço do bem ou serviçosob análise, valor de outros bens ou serviços substitutivos oucomplementares, nível e distribuição de renda, número e idadedos consumidores, preferências, fatores de moda e outros.Como é difícil raciocinar levando-se em conta todos essesfatores, toma-se apenas o mais influente dentre eles – o preçodo bem de consumo – analisando-se como varia a quantidadeda demanda em função da variação de preço, supondo que asdemais variáveis permaneçam constantes. (1998, p.145)

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Segundo essa afirmativa poderíamos prever uma demanda futura se nos

baseássemos apenas na manutenção, ou aumento dos preços de hospedagem,

transporte, etc. Como o próprio Beni esclarece, existem diversos fatores que

podem influenciar na compra ou não de um destino, e não podemos supor que o

mundo tão dinâmico quanto é hoje, permaneça estável, nos proporcionando esse

conforto.

Como o perfil do consumidor é heterogêneo , devem ser levados em

consideração moda, gostos, condições financeiras, possibilidade de gastos,

preferências de meios de hospedagem, sexo, idade, enfim, uma imensidão de

fatores. O único ponto em comum entre todos os consumidores-turistas é o

deslocamento, e mesmo assim, ainda existem variáveis que impossibilitam uma

possível exatidão.

Com todos esses fatores condicionantes admitidos, e sabendo que a atividade

turística é considerada uma atividade supérflua, na hora da decisão de compra, o turismo

pode ficar como segunda opção, ou o destino principal acaba sendo trocado por um mais

próximo e mais barato, principalmente pelo motivo de os produtos turísticos serem

estáticos, de sempre estarem no mesmo lugar, se não forem consumidos agora, nas

próximas férias ou oportunidade, eles continuarão lá.

Portanto podemos verificar a difícil tarefa de conceituar demanda turística, pela

série de fatores que estão interligados, para se chegar à uma conclusão única.

No presente estudo é necessário considerar ainda o conceito de demanda,

explorado na dissertação de mestrado de Débora Cordeiro Braga (1999, p.75),

que também tratou do tema “Demanda Turística”, porém com outro objeto de

estudo e outras finalidades. Depois de analisar todas as obras citadas

anteriormente, a autora supracitada chegou ao conceito de que “demanda turística

corresponde à quantidade de pessoas que viajam ou desejam viajar e que

consomem ou têm disposição de consumir bens e serviços turísticos a um

determinado preço e em certo período.”

Para esclarecer ainda mais o termo demanda é importante contar com a

definição de José Vicente de Andrade que em sua obra chega à seguinte

conclusão:

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para que haja demanda turística real, é necessário que aspessoas com tempo livre para ser consumido em viagensdisponham de dinheiro e de vontade para realizá-las, nãosofram nenhum tipo de impedimento de ordem física nem sedeixem superar por bloqueios psicológicos limitadores dasmotivações racionais ou irracionais que as levem a efetivarações turísticas em suas várias modalidades. (2000, p.116)

Em síntese, observamos que diferentes e variados fatores influenciam na

decisão de consumo por um destino turístico. Porém, a compra ou não de um

destino, como vimos pelos conceitos anteriormente expostos pressupõe o estudo

da demanda de forma quantitativa.

A demanda qualitativa está condicionada à área mercadológica, como

veremos a seguir. E aplicando atribuições a cada contexto específico entraremos

também na área de planejamento.

2.1.1. Demanda e Planejamento, um complemento de estudos

Como já expusemos anteriormente, a demanda e o mercado estão intimamente

relacionados. Por isso, demanda e planejamento são estudos que se complementam,

uma vez que, para se elaborar um planejamento, é imprescindível estudar a área

mercadológica.

O estudo da demanda turística de um município turístico, pode-se dividir em duas

partes: o estudo quantitativo, que, como explicado, parece mais simples de ser

executado, e o qualitativo, que apesar de muitas variáveis atrapalharem, se torna muito

importante em termos de venda do “produto”, a fim de descobrir o perfil da demanda.

O estudo quantitativo não é menos importante, se pensarmos que a construção e

a manutenção de infra-estrutura básica e turística vão depender e muito das projeções de

população flutuante que freqüentará determinado pólo receptivo. É muito importante para

o poder público principalmente, pois além do bem estar de quem está por vir, existe a

população local que não deve ser prejudicada por falta de infra-estrutura de suporte ou

com gastos excessivos em empreendimentos “turísticos” desnecessários, deixando de

lado o desenvolvimento de projetos mais úteis à comunidade.

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Saneamento básico, energia elétrica, sistemas de transporte, trânsito urbano são

realidades infra-estruturais que podem ser transformadas com o advento de um fluxo

turístico exacerbado. Esse fato tanto desagradará a população local, como não atenderá

de forma ideal o seu público freqüentador, correndo o risco de perder clientes

(consumidor/viajante).

Quando começamos a falar de clientes e em perda de clientes devido à má

prestação de serviços e à presença intensa da concorrência, verificamos a

necessidade de novos componentes mercadológicos na elaboração desse

planejamento, e para se ter um produto inserido no mercado, não basta se ter um

bom produto, e sim também conhecer o cliente, no caso o turista que freqüenta,

freqüentou e que poderá vir a freqüentar o município em questão.

Como qualquer outro produto, uma localidade deve otimizar esforços para

alcançar o público que lhe é conveniente. Não estamos afirmando que é a

localidade que escolhe a sua demanda, porém, depois que já há uma fatia do

mercado de turistas que freqüenta determinada localidade, cabe a esse pólo

receptivo a manutenção e o incremento dessa demanda. Andrade afirma que

(...) é urgente pesquisar gamas mercadológicas tanto quanto asdemandas insatisfeitas pelas ofertas existentes do setor, pois oconhecimento das oportunidades viáveis para o mercadopossível pode criar meios para melhor planejamento da ofertade melhor qualidade, a custos mais baixos, a fim de aumentar ademanda exclusiva da clientela desejada e possível. (Andrade,2000, p.117)

Torna-se necessário, portanto, descobrir o perfil da demanda, pois o

mercado turístico é bastante segmentado, e por mais que o objetivo da viagem

possa até ser o mesmo, num exemplo de lazer, as opções para a escolha são

múltiplas. Cruzeiros, praias, grandes pólos culturais, estâncias de montanhas,

fazendas, enfim, para descansar e ter momentos de lazer, todas essas opções

completariam a necessidade do turista.

Quando enfatizamos a otimização de esforços para atingir o público certo,

queremos dizer economizar tempo, economizar propaganda e publicidade,

economizar dinheiro com esses gastos. Não queremos que se gaste menos com

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promoção, mas que se gaste certo. Com o público alvo definido, fica muito mais

simples o contato direto, pois o “produto” só será anunciado, por exemplo, em

veículos de mídia mais utilizados pelo nicho de mercado em questão.

Para descobrir essa fatia do mercado que nos é correspondente

precisamos somar conhecimentos e utilizar um pouco da transdisciplinariedade,

que é vital para o estudo da atividade turística. Adyr Rodrigues Balastreri afirma

em seu livro Turismo e Espaço que

(...) são muito interessantes as contribuições da Sociologia e daPsicologia que investigam a percepção e o imaginário, que seexpressam no comportamento individual e coletivo da demandaturística. Por isso, multiplicam-se os estudos sobre a imagemturística e o comportamento ambiental. A imagem se forma namente dos indivíduos em virtude das suas fantasias, enquantoos promotores do espaço turístico procuram captar essasimagens e ir ao encontro delas. Edificados em segredo, estesespaços se fundamentam em semióticas obscuras, em códigostácitos, envoltos sutilmente no imaginário coletivo. O espaço sereveste, então, de visões simbólicas, formadas não por umprojeto de reconstrução objetiva do mundo, mas por sonhos oupor arquétipos culturais subliminares. (1999, p .66)

Portanto não é exagero afirmar que a captação da demanda turística

depende de dois fatores: organização e promoção. O primeiro funcionará através

da satisfação (ou não) do público que já freqüenta e que indiretamente gerará uma

repercussão que funciona como uma divulgação gratuita, a famosa “propaganda

boca-a-boca”. Já o segundo fator se faz fundamental à medida que for descoberto

o perfil ideal do visitante, e a partir daí, as campanhas publicitárias sejam

elaboradas na busca do público potencial.

Para a identificação desse público-alvo é necessária uma análise da

demanda turística um pouco mais profunda, como veremos a seguir. Esse tipo de

trabalho deve ser considerado como prioridade, pois é difícil inserir ou manter um

produto com sucesso em um mercado desconhecido.

2.2. Análise de demanda turística

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Existem diversas fórmulas para realizar uma análise de demanda turística.

Vários autores apresentam modelos de análise, cada um com o seu método, e

todos assumindo as suas limitações, devido às inúmeras variáveis já citadas. O

resultado de uma análise faz-se muito útil para o planejamento estratégico de uma

localidade turística tornar-se coerente e próximo da exatidão.

Petrocchi afirma que

(...) os estudos especializados em estimativas de demanda – nocampo da teorometria8- devem ser agregados ao planejamentocomo os demais estudos de saneamento, urbanismo,comunicação, etc. O planejador deve ter a macrovisão, ou seja,a visão de tudo que ele precisa para ordenar a gestão epromover o desenvolvimento do turismo. (1998, p.90)

A lei da demanda e da oferta é comum a todos, seria impossível não citá-la,

quanto maior o preço do bem (no caso serviço) menor a procura e quanto menor o

preço a demanda tende a aumentar.

Outro ponto em comum em todas as fórmulas são as variáveis sazonalidade

e sensibilidade. A sazonalidade influencia com seus períodos de baixa estação,

que resultam em baixa demanda na maioria dos pólos turísticos, gerando

desemprego, queda no faturamento de empresas turísticas, impondo novas

posturas frente ao mercado frio, como afirma Mota em sua obra (2001, p.56), e a

sensibilidade, característica peculiar do produto turístico, que pode ser a

possibilidade de alterações no clima através de catástrofes naturais, políticas

monetárias instáveis, ou qualquer outro fator que fuja ao controle do próprio

produto.

Quanto aos cálculos, autores diferem nas variáveis que utilizam para chegar

às formulas. Roberto C. Boullón afirma que

La demanda se puede medir contabilizando el total deturistas que concurren a una región, país, zona, centroturístico o atractivo, y a los ingresos que generan, y si sequiere profundizar el análisis midiendo cómo se distribuyenestos datos entre los distintos tipos de servicios que seofrecen en esas mismas unidades. (1997, p. 32.)

8 Teorometria são equações que estabelecem as relações entre as variáveis do modelo criado. Petrocchi.1998

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Já Mário Petrocchi, no seu livro Turismo: Planejamento e Gestão, baseia-se

em várias fórmulas diferentes, como o Modelo de Previsão do Número de

Turistas Recebidos de A. Alcaide, Modelo de Previsão do Consumo Turístico

de Arespacochaga, Modelo de Previsão Conjunta do Consumo Turístico de

Labeau, Modelo de Regressão da Comissão de Turismo da Espanha e no

Modelo de Previsão da Receita do Turismo Externo de Rabahy. Todos são

cálculos complexos, que passam uma segurança maior no momento de se fazer

um investimento, ou gerir uma localidade.

Porém depois de analisados os autores e as fórmulas, e respeitando todas os

seus diferentes pontos de vista, concluímos que não existe uma regra e sim

fórmulas que se enquadram melhor em um caso do que em outro.

E mais uma vez é importante enfatizar que não é necessário julgar de que

forma se pode chegar aos números da demanda e sim o modo como deve ser

analisada. Para tanto, é útil citarmos os requisitos que não podem faltar para uma

análise simples, porém eficiente.

Segundo Boullón (1997. p.129) é importante que se identifique os seguintes

tipos de demanda:

� Demanda Real – aquela que indica a quantidade de turistas que existem em

determinado momento e o padrão de consumo durante seu estadia.

� Demanda Turista Real Consumidor Potencial – refere-se aos gastos que a

demanda real ainda não consome , fora de seu gasto normal

� Demanda Histórica – é o registro estatístico das demandas passadas

� Demanda Futura – é a projeção do crescimento por meio de cálculos

matemáticos sempre partindo de registros passados.

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� Demanda Potencial – é a demanda que poderia vir a consumir o produto em

questão, pois consome outro semelhante e tem o mesmo padrão social que a

demanda real.

Para se estudar a captação e manutenção de demanda turística é

importante conhecermos os números antigos (demanda histórica), para que

saibamos como vem evoluindo o fluxo através dos tempos. Se positivamente, para

que possamos averiguar o que fomenta esse crescimento e preservar os pontos

positivos; e se negativamente, para identificar os problemas e procurar saná-los

para próximas e melhores temporadas.

Para gerir um pólo turístico com competência é fundamental identificar a

quantidade da demanda que consome o produto turístico (demanda real),

gerenciando fatores de qualidade, como trânsito, policiamento, abastecimento de

água e energia elétrica. Já identificar o perfil da demanda é importante para

qualificar o atendimento (se necessário), prever evolução ou identificar recuo na

demanda para as próximas temporadas (demanda futura), projetar ganhos para a

iniciativa privada e para a gestão pública. Essa projeção tem como objetivo captar

novos investimentos e atrair público da mesma parcela social, que freqüenta pólos

similares e que ainda não teve oportunidade de conhecer o pólo em questão

(demanda potencial).

Segundo Mota (2001, p.102) existem também diferentes situações de

demanda, que exigem posturas diversas da empresa turística ou no caso, da

localidade. A seguir citamos os tipos de situações diferenciadas que podem

acontecer:

� Demanda negativa – diz-se que o mercado está em situação de demanda

negativa, quando de grande parte do mercado não gosta e até evita o produto

� Demanda inexistente – quando consumidores-alvos estão desinteressados ou

indiferentes ao produto/serviço.

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� Demanda latente – quando muitos consumidores podem compartilhar de uma

forte necessidade que não pode ser satisfeita pelos produtos existentes no

mercado.

� Demanda declinante – é um processo natural no ciclo de vida do produto.

� Demanda irregular – é a demanda sazonal, muito característica no turismo,

causando problemas de capacidade ideal ou de saturação.

� Demanda plena – quando há nível satisfatório de volume de negócios.

� Demanda excessiva – quando há nível mais alto do que aquele que se pode

ou deseja atender, o chamado “overbooking” hoteleiro

� Demanda indesejada – é a demanda por produtos indesejados- nocivos ou

prejudiciais

Todo negócio que visa ao lucro, busca o aproveitamento máximo de seu

produto. Com o turismo não é diferente, apesar de ser um produto que pode se

tornar perecível se não houver uma manutenção, deve ser consumido em sua

totalidade, pois como afirma Andrade (2000, p.102) “o produto turístico não admite

estocagem”, por isso há que se preservar a sua continuidade.

Portanto é interessante identificarmos em qual situação se encontra a

demanda do município, se está sendo bem aproveitada e se merece algum tipo de

ação para incrementar, transformar ou estagnar para o bem do produto e para a

otimização do consumo.

Outra característica peculiar do mercado turístico são os ciclos, que segundo

Leandro Lemos dividem-se em expansão de demanda (alta temporada) e retração

de demanda (baixa temporada), que já foram comentados quando explicamos o

fator sazonalidade. Porém o autor afirma que “... existem os ciclos de longo prazo

da demanda. Estes estão atrelados à expansão, maturação, estagnação,

saturação e declínio de localidades turísticas e podem ser chamados também de

ciclos de vida do produto turístico” (1999,p.165).

2.2.1. Ciclo de um produto turístico

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A proporção que o meio ambiente se deteriora, o fluxo do turismo vaidecrescendo, determinando ocupação em marcha na busca de novoslocais, deixando atrás de si núcleos onde a desvalorização dosimóveis se dá de maneira notória. Este processo está ocorrendo hátempos no litoral paulista. Da Baixada Santista o fluxo de ocupaçãocaminha para o litoral norte e para o litoral sul, onde ainda ocorremáreas de baixa ocupação. (Rodrigues,1999, p.98)

No gráfico do ciclo de vida das destinações turísticas, criado por Butler, em 1980,

fica explícita a realidade a ser estudada neste trabalho. Esse gráfico mostra as fases de

exploração, desenvolvimento, consolidação, estagnação e declínio ou rejuvenescimento.

Segundo Beni existem mais etapas nesse ciclo de evolução de um núcleo

receptor de turismo, como ele denomina, e essas etapas estão representadas no

gráfico abaixo9.

Gráfico 2 – Ciclo de vida de um núcleo receptor

tempo

1 2 3 4 5 6 7

8

Fonte: Análise Estrutural do Turismo.1998, pg. 200

Fase 1- O turismo em potencialidade: onde o turismo está iniciando as suas

atividades , mas de uma maneira natural.

Fase 2- Início do processo produtivo: fase em que o turismo começa a ser

induzido.

Fase 3- Expansão e desenvolvimento: o turismo em massa começa a fazer-se

presente.

Fase 4- Equilíbrio, maturidade e saturação: o pólo já se tornou um produto de

sucesso e atingiu seu ápice.

Fase 5- Declínio: o fluxo turístico já não é o mesmo e o município começa a sentir

mudanças nas temporadas.

9 adaptação do livro Análise Estrutural do Turismo,1998. p.200

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Fase 6- Ressurgimento: providências são tomadas e o pólo retoma sua posição no

mercado

Fase 7- Estagnação e decadência: mudança no público freqüentador e queda na

prestação de serviços são características comuns a essa fase.

Fase 8- Dissolução: transformação na atividade principal do local, passa a ser

comercial, residencial, ou até mesmo por dificuldade ambientais nem para essa

atividade seria ideal.

Para qualquer tipo de produto faz-se imprescindível visar o lucro, porém a

ambição não pode tomar a frente da razão e quebrar um ciclo que pode se manter

por muitas décadas,querendo ganhar muito em pouco tempo e confundindo

progresso com crescimento desordenado. Na pesquisa realizada identificaremos

cada etapa e as posturas dos principais envolvidos nessa evolução natural que

aconteceu no município do Guarujá.

Existem autores, como Thurot (1973) e Holder (1991)10 que, estudando os

efeitos do turismo no Caribe, formularam teorias sobre as fases que descrevem o

processo de descaracterização do produto e indiretamente da demanda, casos tão

gritantes quanto o do Guarujá, onde o êxodo do público pioneiro do balneário foi

muito grande e as transformações no cotidiano do município ficaram explícitas.

Concluindo que é um fenômeno que acontece em certos destinos turísticos

com alguma freqüência, e sabendo que cada município tem suas características

próprias e suas particularidades, cabe-nos identificar alguns fatores que levaram a

essa transformação, e quais as conseqüências para o município e sua população.

2.2. Demanda de uso: definindo a utilização de um produto turístico

O Guarujá, município litorâneo do estado de São Paulo, está situado a 87km

da capital11, que é um dos maiores pólos emissores de turistas do Brasil, por ser

10 apud URRY, John. O Olhar do Turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas.199611 Dado retirado do Guia São Paulo 4 Rodas 2002,

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um grande centro empresarial, reunir grande parte da riqueza do país e possuir

uma população com cerca de 10 milhões de pessoas12.

Somente esse argumento já garantiria ótima visitação turística, mas se

somarem-se às belezas naturais que a ilha apresenta, o “status” social que a sua

fama oferece(ia) e o acesso cada vez mais fácil , essa localidade se torna um dos

principais pólos turísticos receptores da região.

Porém, dentre as 700 mil pessoas que passam por ali toda temporada13, é

possível se afirmar que todos são turistas? Existem diversas definições de turista,

e alguns autores consideram que se não há um consumo de meios de

hospedagem , não há o característico desdobramento econômico que a atividade

turística propicia para a população local.

Esse desdobramento é peculiar da atividade, tornando-se o principal

responsável pelo benefício à comunidade, pois toda diária de hotel paga, toda

refeição feita nos restaurantes locais e o consumo de meios de transporte urbano,

intermunicipal ou mesmo de turismo geram impostos, empregos e colaboram com

a formação do salário dos funcionários que trabalham com a atividade turística.

Para chegarmos a uma conclusão, analisaremos alguns conceitos e

tipologias que existem no estudo do turismo. Na obra de José Vicente de Andrade

foram reunidos alguns conceitos que serão reproduzidos a seguir.

Em 05 de junho de 1954, a “Conferência sobre Facilidades Alfandegárias

para o Turismo”, realizada em Nova York, sob os auspícios da Organização das

Nações Unidas (ONU), definiu turista como

toda pessoa, sem distinção de raça, sexo, língua e religião, queingresse no território de um Estado contratante diverso daqueleque tem residência habitual e nele permaneça pelo prazomínimo de 24 horas e máximo de seis meses, no transcorrer de12 meses, com finalidade de turismo, recreio, esporte, saúde,motivos familiares, estudos, peregrinações religiosas ounegócios, mas sem propósito de imigração.

12 Dado do Censo do IBGE 2000 retirado do site www.ibge.gov.br.13 Dados fornecidos pela Policia Militar do Guarujá 2001, em entrevista realizada. (ver apêndice)

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Nove anos após, a própria ONU retifica esse conceito substituindo a

expressão turista por visitante, servindo de raiz (gênero) para as duas espécies.

Nessa primeira definição citada e já alterada, percebemos que a grande restrição

que pode diferenciar o tipo de visitante é o tempo de estadia, então aí já

apareceriam dois tipos de consumidores viajantes, o turista e o excursionista

(aquele que permanece menos de 24 horas na localidade). Essa definição foi

aprovada e absorvida pela Organização Mundial de Turismo (OMT), que até então

se chamava União Internacional de Organizações Oficiais de Viagens (BENI,

1998, p.37).

José Vicente de Andrade conceitua turista da seguinte forma:

Turista é a pessoa que, livre e espontaneamente, por períodolimitado, viaja para fora do local de sua residência habitual, afim de exercer ações que, por sua natureza e pelo conjunto derelações delas decorrentes, classificam-se em alguns dos tipos,das modalidades e das formas de turismo. (2000, p. 43)

O fenômeno turismo não é uma ciência exata. Muitos estudiosos do turismo

nem mesmo o consideram ciência. Por isso, há grande dose de subjetivismo na

tentativa de se buscar o relacionamento de conceitos de diferentes autores,

porque não há unanimidade entre os especialistas e os conceitos que deles

advêm dependem de interpretação pessoal do emissor e do receptor.

Mário Beni afirma que esse assunto realmente ainda causa “confusões” e

que não podemos misturar conceitos com definições técnicas. Portanto, não existe

a definição exata, pois as existentes realmente podem ser interpretadas de formas

diferentes, dependendo da localidade, da cultura local e da situação apresentada.

Ainda assim afirma que o turista é o “sujeito do turismo”, mas

(...) o turista é também fonte de uma série de elementos não-materiais que surgem de sua permanência na localidadeturística e que se completam em uma série de relaçõeshumanas e materiais, de cuja complexidade e beleza ofenômeno se reveste. (1998, p.39)

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Portanto vamos analisar os tipos de comportamento desses consumidores-

viajantes-turistas para que entendamos melhor a realidade a ser estudada. Abaixo

segue um gráfico apontando esses comportamentos diversos.

Gráfico 3 – Curva de Grupos de consumidores

Fonte: Stanley C. Plog 1974 apud BENI p.227

1. Psicocêntricos - turistas que gostam de lugares tranqüilos de preferência com

alguma ligação familiar, de fácil acesso e com baixo nível de atividade turística.

2. Semipsicocêntricos – viajantes que seguem os padrões dos psicocêntricos,

mas gostam de mais comodidades e diversões artificiais.

3. Mesocêntricos – consumidores que preferem os pólos turísticos já implantados,

com todas as facilidades e aptos a receberem o turismo de massa

4. Semi-alocêntricos – turistas que gostam de lugares razoavelmente conhecidos,

não são pioneiros, mas vão atrás de produtos novos.

5. Alocêntricos – viajantes-turistas que preferem áreas não turísticas, a busca por

novas experiências, antes que outros visitem o local, gostam de troca de

cultura com povo local e não se prendem a pacotes rígidos.

Essa análise busca um perfil psicológico para o turista que cria uma

personalidade e um estilo de viajar, de aproveitar o seu tempo livre e que

normalmente é vivido em família, mas com possibilidades de se transmitirem

esses costumes, dando continuidade ao processo.

Leandro de Lemos, autor do livro Turismo. Que negócio é esse? (1999, p.67)

em uma abordagem econômica do assunto, classifica os turistas em estilos,

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preocupando-se com grau de exigência e satisfação de cada um deles. Para ele o

turista “tipo A” quer “status”, poder e reconhecimento, o turista “tipo B” exige

eficiência, competência e ausência de enganos; o turista “tipo C” precisa de

contato e atenção pessoal, e o turista “tipo D” submete-se ao processo ou sistema

utilizado. Ou seja, o grau de exigência e cobrança vai baixando conforme a classe

social e/ou poder aquisitivo no momento.

Pode-se também analisar por um outro ângulo, apoiando-se no

comportamento das localidades, e esse na opinião do autor deste trabalho é o

mais útil para a análise proposta, que é a análise dos fluxos turísticos que

freqüentam determinada localidade.

Não existe uma regra que afirme que apenas um fluxo freqüente o mesmo

lugar, portanto é interessante a miscigenação, que pode ocorrer nos núcleos

receptores, e a verificação (avaliação) do modo como a comunidade e o município

reagem a isso.

A peaquisadora Mota demonstrou no quadro abaixo, os tipos diferentes

existentes no mercado turístico.

Tabela 1 – Classificação dos Fluxos Turísticos

Comportamento

Classificação

Permanência Solicitação de

Serviços e

Equipamentos

Estrutura

de gastos

Ü Fluxo turístico

itinerante Menos de 12

horas

Média = 6 horas

Complementares

de alimentação e

recreação

Despesas com

alimentação,

recreação e

eventualmente

compras

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Ü Fluxo turístico

de estada fério-

semanal

Até oito dias

Média = 03 dias

Hoteleiros e

complementares de

alimentação e

recreação

Despesas com

hospedagem e

alimentação

Ü Fluxo turístico

de estada fério-

mensos-

estacional

Até 30 dias

Média = 12 dias

Hoteleiros, extra-

hoteleiros,

apartamentos e

casas locadas,

colônias de férias e

outros

Despesas com

hospedagem

Ü Fluxo turístico

sedentário-

residencial-

fério-semanal

Até 04 dias

Média = 02 dias

Instalação própria

do alojamento

2ª residência

Despesas com

manutenção

Ü Fluxo turístico

sedentário-

residencial-

fério-menso-

estacional

Até 25 dias

Média = 15 dias

Instalação própria

do alojamento,

camping

Despesas com

manutenção

Fonte: MOTA, Keila Cristina Nicolau. Marketing Turístico, promovendo uma atividade sazonal. SãoPaulo, Atlas, 2001. Apud BENI, 1981.

Podemos reparar que o fluxo turístico sedentário-residencial-fério-semanal

somente apresenta despesas de manutenção com sua segunda residência, fato que

ocorre concomitantemente com todo o restante da população local. Esse gasto não o

distingue como turista, pois esse tipo de fluxo (mais os residentes) não contribui em nada

com o desdobramento econômico discutido anteriormente. Pois na grande maioria, até

mesmo as compras de alimentação são efetuadas nos grandes centros urbanos onde os

preços são mais favoráveis.

O fenômeno da segunda residência é fator fundamental no trabalho proposto

e será discutido nos capítulos seguintes. Como essa discussão sobre tipos de

turistas ainda apresenta muitos desencontros, trataremos dessa questão neste

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trabalho como demanda de uso de um destino turístico. Demanda de uso pois,

seja excursionista, proprietário de segundas residências , turista comum, são

todos consumidores da atividade turística ocupando o mesmo espaço. Neste

trabalho dissertaremos também sobre a utilização racional do espaço turístico,

sobre crescimento ordenado e o registro da mídia impressa desses acontecidos.

Todos os tipos de visitantes consomem o espaço natural do pólo, porém nem

todos alimentam o ciclo positivo de crescimento e desenvolvimento que o município

espera. Muitas vezes o município aguarda algo que o turista não pode dar, e ao mesmo

tempo o turista não consome porque não tem condições de consumir o padrão oferecido,

porém não deixa de freqüentar o espaço para desfrutar o “status” e a beleza natural do

local. Esta situação não favorece a nenhuma das partes (exceto a desses próprios

visitantes), caso muito contrário do desdobramento econômico tão citado neste trabalho.

Por isso há necessidade de conhecer todos os consumidores reais da

localidade, – a demanda de uso - para adequar o produto ao cliente, ou aplicar

novas estratégias de administração pública, marketing e/ou vendas para chegar a

seu público alvo verdadeiro.

Demanda de uso turístico corresponde, pois, ao fluxo de pessoas que viajam

ou desejam viajar e que consomem ou têm possibilidade de consumir bens e

serviços turísticos a um determinado preço, em certo período e em determinado

espaço, estejam eles utilizando serviços de hospedagem ou não. Com a

discussão sobre os tipos de turistas e seus comportamentos, analisaremos o

fenômeno que acontece freqüentemente em pólos turísticos de massa, nesse

caso mais especificamente no Guarujá – SP, e que podem comprometer não só a

atividade, mas também o futuro da comunidade local.

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4. CARACTERÍSTICAS DA DEMANDA DE USO DO GUARUJÁ ATRAVÉS DOS TEMPOS

O presente capítulo se propõe a analisar as principais transformações

ocorridas na demanda de uso do Guarujá e para isso fez-se necessário

conhecer algumas teorias e formas de se trabalhar com demanda, alguns tipos

e comportamentos de consumidores-visitantes e também como o município

estudado evoluiu e chegou a sua situação atual.

Devemos agora unir a história do Guarujá e os conceitos estudados

para elaborar uma análise de demanda de uso de épocas passadas, para

entender o presente e projetar o futuro. Como somente no ano de 2000 foi

executada uma pesquisa de demanda, ficamos impossibilitados de fazer uma

pesquisa quantitativa, porém traçaremos um perfil do turista que vem

freqüentando o Guarujá através dos tempos.

Leandro Lemos afirma que

(...) a demanda turística apresenta comportamento distintoquanto “a questão espacial” (...) a possibilidade de descanso,boa gastronomia e formas simples de lazer tendem a provocarpequenos estímulos ao deslocamento. São valores turísticosque atraem a demanda de radiais mais próximos, realizamturismo de veraneio (aluguel de casas) ou turismo de finais desemana. (1999, p.80)

Portanto, como já foi visto anteriormente, a proximidade com um grande

núcleo emissor sempre proporcionou ao Guarujá benefícios na hora da decisão

de viajar, e, conforme sua fama foi-se espalhando e o acesso sendo facilitado,

a sua demanda de uso foi se transformando e aumentando.

Seguem análises baseadas em documentos históricos, arquivos de

jornais, entrevistas pessoais e pesquisa bibliográfica, que tiveram como

objetivo principal remontar um pedaço da história do Guarujá com um olhar

diferenciado, um olhar profissional sobre uma atividade que levou o município

a ser conhecido internacionalmente. Porém seus problemas tomaram as

mesmas grandes proporções de sua fama.

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4.1.De 1900 aos anos 60 : o glamour da elite paulistana

Segundo Mônica Damasceno (1991, p.42) “a grande estrela arquitetônica e

social, desde o início da Guarujá moderna, desde sua fundação em 1893, era,

sem dúvida, o Grande Hotel. Sua imagem imponente dominava a paisagem em

Pitangueiras”.

Como visto anteriormente, o Guarujá foi fundado juntamente com a

chegada de um empreendimento imobiliário turístico que visava tornar aquela ilha

tropical num ponto de encontro da alta burguesia paulistana. Tudo o que se

seguiu, em matéria de construções, manteve os padrões requintados do grande

estabelecimento de hospedagem.

Destinado a uma elite acostumada ao luxo, suas instalaçõeseram requintadas. Lustres de cristais, estofados russos, tapetespersas e lençóis de linho eram detalhes obrigatórios dadecoração. Segundo depoimento de Iracy Sório Morone, antigamoradora de Guarujá, que chegou a trabalhar no Grande Hotelde La Plage, havia um cuidado especial na contratação dosserviçais. “Os garçons eram muito bem escolhidos. Tinham deser apresentáveis e, se possível, ter a mesma estatura. Tinhamde vestir sempre paletó e camisa engomada. O “maitre” tinhaque saber vários idiomas, pois a grande parte dos hóspedeseram estrangeiros. (Damasceno.1991, p.46.)

Desde a inauguração o hotel possuía uma programação intensa para toda a

família e um serviço diferenciado para a época. O passeio se iniciava em São

Paulo, na Estação da Luz, onde as pessoas embarcavam com assentos

numerados. A travessia do canal para o Guarujá era realizada em barcas

confortáveis e espaçosas e, em seguida, eram transportados pela composição

ferroviária de uma locomotiva a vapor e três vagões até a porta do hotel.

Durante o dia, as atividades também eram cheias de pompas e lembravam

costumes estrangeiros: pic-nics na praia, pesca em alto mar, caça a animais como

pacas, cotias, tatus, macacos e jacarés. Colecionadores de borboletas e amantes

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das aves aproveitavam o ambiente propício e aumentavam suas pesquisas e

coleções.

Segundo Roque (1990, p.68), os primeiros problemas com a demanda

apareceram com a morte de Santos Dumont em um de seus apartamentos; nosso

grande aviador se suicidou em 1932 nos aposentos do Hotel La Plage, causando

enorme pesar a toda clientela, pela figura que representava e por ser bastante

conhecido pelos freqüentadores do hotel.

Muitos preferiam se hospedar nos chalés de que eram proprietários, e

quem, até então, não possuía um chalé, iniciou a construção de sua casa de

veraneio. Uma boa forma de comprovar essa mudança de hábito é o crescimento

de nomes de assinantes na lista telefônica editada em 1939.14 Outras formas de

estabelecimentos de hospedagem também apareceram nessa lista telefônica,

para uma clientela de classe social menos abastada, como as pensões Alemã,

Petrópolis, Recreio das Pedras e o Hotel Beira-Mar.

A clientela do Hotel de La Plage era formada por membros da “aristocracia

do café”, brasileiros de alto poder aquisitivo, que dominavam a economia da

época. Porém, com o início da industrialização o cenário econômico deu uma

virada e novos ricos surgiram, teoricamente proporcionando uma nova clientela

para o hotel.

Mas, conforme observa a pesquisadora Mauren Leni de Roque, havia um

certo constrangimento, pois essa nova camada, em sua maioria estrangeira, não

se sentia à vontade em dividir o mesmo espaço, uma vez que não era detentora

de uma educação tão refinada quanto a clientela anterior, pois não estudaram nas

melhores escolas e nem provinham de família abastadas da Europa.

A segunda residência tornava essa convivência menos dolorosa para todos,

porque só dividiam o mesmo espaço no cassino, que era o grande ponto de

encontro, onde todos podiam demonstrar o seu poder financeiro, realizar contatos

para negócios e aproximar socialmente as famílias. Os espaços abertos como a

praia, onde não obrigatoriamente se exigia um contato mais próximo, nem maiores

14Dado fornecido no museu da Telesp/SP.

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cuidados com a etiqueta, tornaram-se adequados para um contato superficial,

democratizando assim a localidade.

Para aqueles que desejavam pertencer ao círculo da tradicionalelite paulista, ou valer-se dela, o Guarujá representava mais doque um refúgio de veraneio: era uma forma de expressarcapacidade aquisitiva, pela compra, venda e construção deimóveis destinados a “segunda residência. (Roque,1990,p.152).

O jornal mais antigo do Guarujá, chamado A Estância do Guarujá,

publicava matérias que exacerbavam suas belezas naturais, mas acima de tudo

mexiam com imaginação dos turistas potenciais. Em 20 de julho de 1952, o

periódico acima citado publicou “Guarujá, um convite perene ao veranista ! (...) Vir

ao Guarujá é mais que um recreio: é uma necessidade imposta pelos ditames da

ética e do bom tom...” (Joenri, 1952)

A tendência das casas de temporada parecia mesmo inevitável, na lista

telefônica de 1944: 258 novos nomes apareciam e em grande parte estrangeiros,

como Matarazzo, Tabacow, Calfat, Trussardi, Lotufo, etc.

Os loteamentos também eram destaques nos jornais da cidade, a partir de

22 de junho de 1952, e, por seis quinzenas consecutivas15, em página inteira, foi

divulgado um anúncio com os seguintes dizeres

“Jardim 03 Marias1º proprietário – Ignacio Miguel Stéfano

Terrenos a longo prazo, sem jurosFinanciamento para construção de residências

10 casas – pagamento 30% de entrada e o restante em 8 anosterreno 12x30 murado

OFI – Orientadora Fisco Imobiliária”

No hotel a clientela mudou, os mais tradicionais já não eram tão freqüentes,

mas novos freqüentadores apareciam, e seu glamour e importância não

diminuíram com essa troca. Os modos europeus ainda predominavam. Os bailes

também, e a chegada dos hóspedes ao hotel era sempre marcada pela numerosa15 nessa época o jornal “A Estância do Guarujá” era veiculado com tiragem quinzenal.

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quantia de malas, onde as “senhorinas” traziam seus belos trajes para os grandes

eventos que aconteciam todas as noites de temporada, bailes que seguiam toda a

etiqueta cultuada na Europa há anos e eram sempre animados por pequenas

orquestras que tocavam dentre outros estilos, charleston, jazz, valsas, etc.

O Guarujá ainda estava em destaque e no ano de 1951, foi cenário da

gravação de um filme da Companhia Vera Cruz de Cinema, que tinha como

protagonistas principais Tonia Carrero, Ziembinsky, Inesita Barroso e o galã Mario

Sérgio. O nome do longa-metragem era É Proibido Beijar e contava uma história

de estrangeiros que vinham ao país e se apaixonavam pela atriz brasileira.

Figura 6 - Tônia Carrero na piscina do Grande Hotel de La Plage, Guarujá, 1951

Fonte: www.sobreasondas.com.br

Nos anos seguintes à inauguração do hotel apareceram ao seu redor 17

chalés de madeira, dando início à construção das segundas residências no

Guarujá. Uma característica marcante desse fenômeno, especialmente no

Guarujá, foi a utilização dessas casas de temporada, não só como um local para

descanso e lazer, mas também como um símbolo de poder econômico. Cada

família construía a sua casa mais imponente e luxuosa que a do vizinho. Olga

Tulik afirma que “o surto imobiliário que ocorreu no Guarujá na década de 1940

não alterou suas características de balneário de luxo, feição que ainda

apresentava em 1960”. (2001, p.75)

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Segundo Roque, a segunda residência supria os objetivos dos proprietários

tais como: reconquistar a privacidade ( a ilha era pouco povoada) , garantir o bem

estar e a saúde (pela mudança de ares), repudiar o passado ( com a presença de

máquinas modernas) e reproduzir os costumes europeus (no lazer e nos salões).

É importante ressaltar que entre os nomes dos primeiros freqüentadores

contavam os de vários empreendedores imobiliários da época, entre eles Alberto

Villares, Elias Fausto, etc.

Porém com toda essa corrida imobiliária que começara a existir nos anos

50, com a febre dos loteamentos que surgiam nas principais praias do Guarujá,

começaram nos anos 60 a aparecer alguns problemas que prenunciavam o que

estava por vir. O jornal A Estância de Guarujá publicou, em 29 de setembro de

1964:

PREFEITO SOLICITA AOS TURISTAS QUE EVITEM VIR PARA O GUARUJÁ. Ementrevista coletiva nosso prefeito solicitou encarecidamente aosveranistas que evitem o máximo vir para o município enquantodurar a deficiência no fornecimento de água, caso contráriopoderão ter o dissabor de ficarem no Guarujá sem o líquidoprecioso. Não cabendo qualquer culpa à municipalidade e simexclusivamente no Governo do Estado que não atende asreivindicações que são feitas pela Prefeitura.

As autoridades começam a verificar que o crescimento fugia de seu

controle e começam a procurar culpados, porém a ânsia pelo progresso a

qualquer custo estava apenas começando e os turistas ainda não estavam

sentindo os efeitos durante sua estadia, pois como revela a reportagem acima

relatada, a falta de abastecimento de água na região de Pitangueiras, onde se

encontravam os hotéis, os chalés e as segundas-residências, ainda estava por

vir.

Seguindo os conceitos de demanda turística propostos no presente

trabalho, foi elaborado um perfil da demanda de uso turístico do Guarujá nessa

época, que mesmo sendo extensa, foi marcada por uma “quase” uniformidade de

demanda, fator decisivo na formatação do método utilizado na divisão por fases.

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A situação da demanda de uso nesse período se estabelece durante a

primeira fase até os anos 40 como Demanda Plena, pois com os jogos liberados e

o cassino do Grande Hotel funcionando junto com a beleza natural das praias, e a

estabilidade financeira, a taxa de ocupação dos hotéis era bastante satisfatória e

as altas diárias cobradas compensavam o problema da sazonalidade.

Porém com a proibição dos jogos e a mudança no panorama econômico

nacional proporcionando negócios imobiliários na Ilha, a demanda começa a

passar por uma leve mudança para os hoteleiros. No entanto, a cidade como um

todo, ainda respira turismo, não chegando a atingir toda a problemática de uma

demanda irregular.

Analisando do ponto de vista do ciclo de um produto , o Guarujá classifica-

se na fase 2, ou seja, no início do processo produtivo, no momento em que os

empresários começam a despertar para o “negócio” chamado turismo e no fim

dos anos 50 e início dos anos 60 o produto Guarujá passa para a Fase 3 de

expansão e desenvolvimento, com todo o início do “boom” imobiliário e a

grande presença de turistas nos hotéis. Já podemos chamar o fluxo de turismo de

massa.

Como se tratava de um “novo produto”, podemos afirmar que os turistas

que freqüentavam o Guarujá eram semi-alocêntricos, pois gostavam de lugares

razoavelmente conhecidos, ou seja produtos novos, sem deixar de buscar

diversões como os bailes e o cassino. Podemos considerar também que, como

Mota (2001, p.78) escreveu em seu livro, o comportamento dos consumidores é

muito importante e, nesse caso, eles formavam fluxo turístico de estada fério-

semanal, pois na grande maioria, permaneciam no Guarujá em média três dias e

utilizavam em sua maioria, os serviços hoteleiros e complementares de

alimentação e recreação.

Após analisada essa primeira fase, vale lembrar que o acompanhamento da

demanda turística do município somente foi aplicado no ano de 2000, deixando

uma lacuna muito grande de informações, que por meios documentais e

bibliográficos buscamos aqui preencher. Agora partiremos para a época do grande

crescimento e do surgimento dos grandes problemas.

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4.2.Anos 70 e 80 : o “boom” imobiliário e a popularização

No início da década de 70, houve uma febre na construção de imóveis.

Segundo o Dr. Nilo Fonseca, proprietário de uma das mais antigas imobiliárias do

Guarujá (31 anos no mercado), vendiam-se prédios inteiros em uma semana. No

período de 72 a 74 formavam-se filas de espera para a compra de apartamentos

de alto padrão. O jornal Estância, nessa época, já detectava o problemas de

superpopulação “Guarujá continua em plena temporada e as filas também” (20 de

fevereiro de 1972).

O mesmo corretor afirmou que, a partir do meio da década, a construção

civil iniciou um novo padrão de construção, para aproveitar essa valorização do

município: apartamentos menores (02 dormitórios), e maior quantidade de

unidades por andar, além de prédios mais altos. Portanto, o mesmo quarteirão que

abrigava prédios de alto luxo quase que exclusivos, começou a dividir espaço com

edifícios de classe média onde o número de moradores era maior.

Além do problema de status social, que já vinha desde a época do Grande

Hotel, (pessoas de alto nível social não queriam e não aceitavam misturar-se com

indivíduos de padrão social inferior), a super lotação já começara a causar

inconveniências estruturais complicadas de serem aceitas. Em 02 de março de

1975 foi publicada a seguinte matéria

CÂMARA MUNICIPAL DE GUARUJÁ: FREQÜÊNCIA INDISCRIMINADA ESTÁ

PREJUDICANDO O TURISMO. Na sessão de Quinta-feira, o vereadorJosé Dias Brandão, ocupou a tribuna da Câmara para afirmarque a freqüência indiscriminada nas praias vem prejudicando onosso turismo, visto que muitos utilizam aqueles locais para pic-nics, deixando seu regresso somente detritos que causam máimpressão. Afirma que há falta de planejamento e que teveconhecimento de que está havendo cobrança de ingresso parafreqüentar os camping da praia do Perequê. (A Estância doGuarujá)

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Até então, os freqüentadores do Guarujá que realmente consumiam o

produto turístico eram a maioria, tanto que notícias como essas não tinha o devido

destaque e nem mereciam a devida atenção para não deixar esse novo fluxo

turístico se expandir . O perfil do visitante do Guarujá nessa primeira década (70)

passou para o proprietário de segunda residência, grande parte ainda de luxo,

mas já com sensível presença da classe média alta paulista. O radial de

compradores já havia se expandido, e no final da década de 70 uma boa parte dos

novos proprietários era procedente do interior do estado de São Paulo.

Os hotéis, segundo o Sr. Lucas Ribeiro, gerente administrativo do Sindicato

de Bares, Hotéis e Restaurantes da Baixada Santista , (alguns de luxo como o

Hotel Casa Grande, Il Faro, Albamar Gávea e outra grande parcela simples -

pensões e pousadas) , estavam cheios apenas nas temporadas e feriados, e

também sentiam o fenômeno da segunda residência invadir as praias do Guarujá,

principalmente da metade da década para a frente

SOS NO SETOR HOTELEIRO. CRISE ATINGE DURAMENTE O MUNICIPIO DO

GUARUJÁ.“ O movimento caiu verticalmente e atualmente as maistradicionais entidades hoteleirad de nossa terra já se vêem naeminência de fechar suas portas... O Hotel Casa Grande já tem160 funcionários demitidos ... ( Jornal Estância de Guarujá,01.06.75)

A baixa temporada sempre foi compensada pelos finais de semana, mas

nessa época uma epidemia de meningite e encefalite afastou os turistas por um

motivo muito mais sério dos que até então apareceram: problema de saúde

pública. Pela proximidade dos portos essa epidemia chegou à orla turística e

colocou em risco a saúde dos visitantes. Com praias desertas e mesas e quartos

vazios, o comércio caiu 50%16. A vacinação era a esperança para a temporada de

junho e julho.

Realmente o problema de saúde pública foi logo resolvido, mas esse

trauma ficou na mente dos proprietários de segundas residências que iniciaram

um lento êxodo para praias do litoral norte.

16 dado do jornal Estância do Guarujá de 01 de junho de 1975.

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A transformação acontecia lentamente, e o Guarujá, sempre cheio de

turistas, não se sensibilizava e nem tomava atitudes para que essa metamorfose

estagnasse, ou ao menos se equilibrasse/estabilizasse.

Esse movimento era tão lento que a freqüência não diminuía, mas os

imóveis construídos já não eram os mesmos em termos de qualidade e

continuavam proporcionalmente caros para o seu tamanho. Para o mercado

imobiliário tudo estava bem.

O caráter seletivo da clientela do Guarujá que marcou, aliás,também o inicio do processo de ocupação de Santos, pode serlá mantido, particularmente porque lá os preços das habitaçõesnunca baixaram como em Santos. Assim o consumo daquelashabitações ficava inacessível a uma demanda com maioresrestrições de consumo. Fato que só é possível, acreditamos,porque poucas empresas lá produziram. E, porque aoproduzirem foram formando estoques de terra. Tiveram assimessas empresas os fatores de concorrência atenuados.(Seabra, 1979, p. 117)

Realmente não era nada assustador, pois muito dinheiro girava entre o

consumo dos turistas, impostos arrecadados e a construção civil gerando

empregos e construindo um novo prédio, pelo menos a cada quatro meses.17

O fluxo turístico era crescente e as condições de compra de imóveis

facilitadas com o surgimento do BNH (Banco Nacional da Habitação) e com o

novo sistema de balsa funcionando com três embarcações indo e vindo de Santos

durante os períodos matutino e vespertino inteiros.

17 Dados informais cedidos pelo Departamento de Planejamento do município do Guarujá /SP.

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GUARUJÁ TOMADA PELOS TURISTAS. Temporada e seus problemas –Buracos, calçadões inacabados atormentam visitantes,comércio e as próprias autoridades. Não obstante os grandesprojetos, os planos de melhoria para o Guarujá, a cadatemporada surgem novos e intransponíveis problemas a pontode desencorajar o turista a voltar uma segunda vez. Praiaslotadas , trânsito congestionado e carros estacionados em todose qualquer lugar, principalmente nos proibidos. (Jornal aEstância de Guarujá, 21 de janeiro de 1979)

Porém, no final da década, houve um sentimento geral de incômodo, os

turistas reclamavam, as autoridades começaram a despertar-se para o problema e

os jornais alertavam: “Farofeiros invadem Praia do Tombo... turistas que não têm a

mínima noção de ordem, nem de respeito...” (29 de julho em 1979.)

No início da década de 80, surge a idéia de construir um local apropriado

para a estadia desses excursionistas, que não consumiam os serviços, mas

ocupavam o mesmo espaço físico que os outros tipos de turistas . O objetivo era

deslocar esse fluxo indesejado para um local onde não causassem incômodos aos

proprietários de segundas residências e aos hóspedes dos hotéis das Praias de

Pitangueiras, Enseada, do Tombo e Astúrias.

Aproveitando o uso que já vinha acontecendo na Praia do Perequê18, com

campings irregulares e estacionamentos de excursões também proibidos, decidiu-

se criar um projeto de um Balneário Popular, que receberia e desviaria a classe

menos abastada das praias mais movimentadas. Porém, para isso era necessário

verba da Embratur, e esta depois de seis meses de demora na resposta, segundo

o jornal A Estância de Guarujá, anunciou em abril de 1982, que não tinha verba

para tal projeto.

Em agosto do mesmo ano, a Secretaria de Obras do Estado de São Paulo,

no Governo de Paulo Maluf, aprovou o projeto do Balneário Popular do Perequê e

financiou Cr$ 30.000.000,00 (trinta milhões de cruzeiros), para a construção da

obra.

Como em toda gestão pública, as mudanças só acontecem a médio e longo

prazos, e com a falta de planejamento ou com o planejamento equivocado, a

omissão também provoca suas reações após um certo tempo de vigência. Depois

18 Núcleo de pescadores mais afastado do centro da cidade.

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de perceber que levar excursionistas para onde eles não queriam estar não

resolveria o problema, a gestão pública praticamente se rendeu e criou um novo

programa para se adequar à realidade que tinha invadido aquela localidade

PREFEITO PRESTIGIA “GUARUJÁ TE ESPERA” Apresentando desde suaposse um governo social, o prefeito Maurici Mariano,determinou a semana passada um novo estilo de fazer turismo.Trata-se da campanha Guarujá te espera. O objetivo dacampanha será atrair visitantes o ano todo, com pacotes deviagem a preço acessível e que o Guarujá perca a sofisticaçãoque a caracteriza, enfim teve que se dar ao turismo um cunhoempresarial. (Jornal Estância de Guarujá, 27.07.85)

Enquanto isso, o freqüentador mais tradicional começou a buscar mais

tranqüilidade e mais segurança. Muitos se fecharam nos condomínios de alto luxo

que ainda sobrevivem isolados em praias privadas como São Pedro, Acapulco e

Tijucopava e outros transferiram sua segunda residências, seus investimentos e

seus momentos de lazer para o litoral norte do estado, afirmou o Sr. Nilo

Fonseca19.

(...) o crescimento urbano que concorre para agitar certosnúcleos receptores, expulsando os que buscam tranqüilidade.Dessa forma, a área é ocupada por uma nova categoria deturistas, ou a residência secundária fica destinada ao usopermanente. A Baixada Santista passou por essastransformações. Santos, São Vicente e Guarujá, por exemplo,sofreram perda de uma clientela que procurava o mar e,também, tranqüilidade. (TULIK. 2001, p. 84.)

Nesta etapa do trabalho encontramos um outro tipo de demanda, que deixa

de ser plena para se tornar predominantemente Demanda Irregular. Durante boa

parte desses vinte anos, a sazonalidade, que é característica principal da

demanda irregular, proporcionou ao município uma freqüência muito grande em

19 Proprietário da FR imobiliária, em entrevista ao autor, realizada no Guarujá em 17 de janeiro de 2002.

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determinadas épocas, o que ocasionou a insatisfação de muitos turistas e a

geração de vários problemas para os munícipes.

Na visão do município do Guarujá como produto, enquadramo-lo na fase 4,

que é a fase de equilíbrio, maturidade e saturação, pois o pólo já era conhecido

e cada ano que passava ficava mais em evidência no cenário do turismo

brasileiro, com muito sucesso e glamour em seu nome, porém já mostrando uma

realidade que não era condizente com o seu passado.

Como o perfil da demanda mudou, o turista que é o fator principal dessa

formação também mudou, caracterizando-se pelo perfil mesocêntrico, pois busca

um lugar bastante disputado, onde haja toda a infra-estrutura turística montada e

que possua um nome respeitado no mercado. Beni cita o Guarujá como pólo

receptor característico desse tipo de turista (1998, p.227).

Seguindo a linha de pensamento de Mota, em seu livro Marketing Turístico,

os turistas apresentam o comportamento de um fluxo turístico de estada fério-

menso-estacional, pois como foi identificada uma demanda irregular, ou seja

sazonal, grande parte dos turistas passam as férias todas, ou bons períodos na

praia. E quando ficam um período menor, é, no mínimo, um final de semana,

consumindo serviços hoteleiros, extra-hoteleiros (apartamentos e casas locadas) ,

colônias de férias, alimentação e entretenimento.

Este caso poderia até ser confundido com o fluxo turístico sedentário-

residencial-fério-semanal, em que o visitante fica em média dois dias no local, mas

com sua proximidade da capital , muitas famílias aproveitam para passar as férias

escolares na praia. E como a própria autora afirma, existe a variação estacional

que exige análises ao longo do ano para se alcançar maior exatidão. Portanto é

preciso trabalhar com uma média anual.

4.3.Anos 90: a supervisitação flutuante e a beira do caos

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Os anos 90 surtiram os efeitos da falta de planejamento e o Guarujá, a

Pérola do Atlântico, perdeu todo o seu encanto, colocando em risco uma história

gloriosa de quase 100 anos de brilho no mercado turístico. Para manter uma

ordem cronológica, citaremos as características dos primeiros anos dessa década,

onde os problemas estavam apenas começando a aparecer.

No começo dos anos 90, dados importantes aparecem sobre a presença de

casa de temporada ou segundas residências no município. O Guarujá que

segundo Olga Tulik (2001. p. 56), estava em bloco denominado forte ( 20 a 40%)

de núcleo receptor de casas de temporada com 31,23% do total de suas casas

com uso ocasional em 1980 (ou seja nem sempre ocupadas) passa para 40,29%

em 1991. Esses dados nos levam a crer que a tendência das casas de temporada

aumentava, mas que também um êxodo de antigos moradores estava

acontecendo.

Problemas estruturais e principalmente ambientais fizeram com que o

Guarujá perdesse de vez a fatia de mercado da elite paulistana, mesmo em seus

condomínios. A elite paulista se ausentou do município, segundo o Sr. Lucas

Ribeiro, pelo fator do status social. Já não era tão charmoso ir para sua casa no

Guarujá, em certos casos, nem ter um apartamento no Guarujá era sinal de poder.

POLUIÇÃO NO GUARUJÁ PIORA E AMEAÇA FÉRIAS. A poluição de duas dasprincipais praias do Guarujá (87 km a sudoeste de SP) ameaçacomprometer toda a temporada de verão de quem se dirigiu aobalneário paulista para passar as férias. Para a Cetesb(Companhia Estadual de Tecnologia de SaneamentoAmbiental), é pequena a possibilidade de uma reversão noquadro das praias de Pitangueiras e Enseada até o final dejaneiro. Desde a sexta-feira, as duas praias (que, com a dePernambuco, lideram a preferência dos banhistas) foramclassificadas como impróprias em toda sua extensão. Oproblema na cidade começou na Enseada, onde foi constatadoum rompimento, a 500 metros da areia, de um emissáriosubmarino. Todo o esgoto transportado pela canalização, quedeveria ser lançado a 4.000 metros da praia, passou a vazarpela ruptura. Desde o dia 19, a análise da água detectavaaumento do número de coliformes fecais e, na semanapassada, a praia teve uma área de 1.200 metros consideradaimprópria. A situação agrava-se nesta época, quando apopulação do Guarujá (250 mil habitantes) triplica com as festasde final de ano e as férias. O incremento populacional faz

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crescer a produção de esgoto. (MauroTagliaferri, Folha deS.Paulo, 30 de dezembro de 1996.)

Em entrevista com o proprietário de imobiliária e corretor de imóveis, sr.

Nilo Fonseca, foi verificado que muitos prédios da praia de Pitangueiras foram

entregues nas mãos de administradoras hoteleiras para se transformarem em

flats. “Bons apartamentos prestando bons serviços, porém não para mim! Para

mim não serve!” era o pensamento que corria nas cabeças dos antigos

proprietários.

O fenômeno de abandono dos locais degradados e a busca denovos locais representam uma tendência universal. Raros sãoos movimentos reversíveis que tentam resolver os impactosambientais negativos em áreas altamente degradadas.(Rodrigues. 1999, p.99)

Com isso o preço do aluguel caiu, não porque a estrutura das casas e

apartamentos de temporada permitiam que fossem reduzidos, mas o mercado

desvalorizou, e os edifícios que, quando novos, eram vendidos em semanas,

nessa época demoravam anos.

Leandro Lemos afirma que “ao reduzir seu preço, sua receita tende a cair, a

não ser que o aumento da demanda compense essa queda” (1999. p.73), mas o

que acontecia naquele momento era algo que nunca havia acontecido, as taxas de

ocupação dos hotéis de luxo, não ultrapassavam os 60%20. O comércio também

perdeu bastante com isso. O Guarujá que sempre esteve cheio, de uma forma ou

de outra, nos anos de 96 e 97 não alcançava 60% do público que poderia atingir,

segundo entrevistados.

20 Informação obtida em entrevista no Sindicato de Bares, Hotéis e Restaurantes da Baixada Santista.

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sujeira faz comércio cair. COMERCIANTES DAS PRAIAS DE ENSEADA, PITANGUEIRAS E ASTÚRIAS, NO GUARUJÁ,AFIRMAM QUE O MOVIMENTO DE SEUS NEGÓCIOS CAIU ATÉ QUATRO VEZES POR CAUSA DA INTERDIÇÃO DE TRECHOS DAS

PRAIAS. FAIXAS COM AVISO DE QUE ESSAS PRAIAS ESTÃO IMPRÓPRIAS PARA BANHO E QUE OFERECEM RISCO À SAÚDE VÊM

SENDO ESPALHADAS PELA CETESB NOS ÚLTIMOS DEZ DIAS. O MOTIVO DA INTERDIÇÃO FOI O ROMPIMENTO DE UM EMISSÁRIO

SUBMARINO DE ESGOTO, O QUE, SEGUNDO OS COMERCIANTES, ACONTECEU EM MAIO DESTE ANO. LUIZ EUGÊNIO MAZZOCO,38, DONO DO QUIOSQUE SÓ ALEGRIA, NA ENSEADA, DIZ QUE ATENDEU ONTEM A CERCA DE 50 CLIENTES. ''O NOME DA

BARRACA É 'SÓ ALEGRIA', MAS O FATURAMENTO HOJE FOI SÓ TRISTEZA.'' SEGUNDO ELE, NUM DIA COM ONTEM HAVERIA UM

MÍNIMO DE 200 CLIENTES. ADRIANA OLIVEIRA, 26, DO QUIOSQUE MIRAMAR, CONCORDA COM MAZZOCO. ''O MOVIMENTO

ESTÁ FRAQUÍSSIMO. DEVERIA TER ATENDIDO A UMAS 230 PESSOAS HOJE, MAS NÃO APARECERAM NEM 60.'' (FELTRIN,FOLHA DE S.PAULO DE 30 DE DEZEMBRO DE 1996)

O aluguel de casas de temporada , como já foi dito anteriormente, sofreu

queda no final da década, mas mesmo assim foi o meio de hospedagem mais

movimentado. O turista que estava nessa temporada, além de ser de um nível

social inferior ao de costume, tratou de trazer a sua alimentação de casa, pois

como se depreende da reportagem acima, não houve consumo supérfluo nessa

temporada e as barracas e restaurantes , junto com os hotéis, foram bastante

prejudicados.

Nessa década encontramos duas realidades diferentes: nos quatro

primeiros anos um consumo exagerado, principalmente nas casas de temporadas,

nos hotéis de médio e pequeno porte e nas excursões que perturbavam a vida da

administração pública, fazendo com que a demanda passasse de irregular para

Demanda Excessiva. O município chegara a um ponto que até o turista menos

exigente não suportava.

Já no final da década, podemos dizer que o município pela primeira vez na

sua história, enfrentou uma Demanda Declinante, pois, de 95 a 98 foi o período

mais difícil que o município já enfrentou, e que só começou a dar sinais de

recuperação somente no final da década com o conserto do emissário submarino,.

Porém, apenas recuperou a confiança do turista na década seguinte.

O município chegou a um ponto delicado do ciclo de vida de um produto no

início dessa década, a fase de declínio, (fase 5), pois todo o trade já começara a

sentir o que estava por vir. Num segundo momento dessa década, o município

alcançou a fase 7, passando por um momento de estagnação e decadência.

Fase complexa e difícil que possibilitava apenas duas saídas, ou o ressurgimento

com uma virada no panorama atual, ou a entrada num processo de dissolução,

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tendo que apelar para novas atividades transformando-se num pólo comercial e/ou

industrial para sustento de sua comunidade.

O tipo de turista continuou o mesmo, o mesocêntrico. Os consumidores

daquele espaço só continuavam ali pela grande circulação de pessoas, pela fama

construída ao longo do tempo, porque Guarujá ainda refletia brilho para os menos

informados e pela infra-estrutura, que, mesmo sem ser usufruída, continuava

presente em caso de necessidade esporádica.

Já o comportamento desse freqüentador também foi tão conturbado quanto

a época. Poder-se-iam identificar dois comportamentos de consumo diferentes: o

que propicia o surgimento ou que favorece a reflexão sobre um novo tipo de

consumo a ser estudado.

O fluxo turístico itinerante, que basicamente engloba os excursionistas,

aqueles que ficam menos de 12 horas no pólo turístico e utilizam serviços de

alimentação, fato que não se encaixa nessa realidade e o fluxo turístico

sedentário-residencial-fério-semanal, o de pessoas que permanecem no local

em média dois dias, ou seja , o final de semana, em instalação própria, com

despesa apenas de manutenção e que se pode interpretar como o dono da

segunda residência.

No caso do Guarujá, nesta época pode ter surgido um novo fluxo de

turistas, o fluxo turístico itinerante-residencial-fério-semanal, pois grande parte

dos turistas que ali freqüentavam eram paulistanos que alugavam casas de

temporada para passar fins-de-semana e feriados e em alguns casos, um período

de férias também. O paulistano sempre foi um turista que não se prendia em

sempre locar o mesmo imóvel, uma vez que poderia passar uma parte da suas

férias em uma praia e o restante em outra como lhe fosse de vontade, pois a

oferta superava fortemente a demanda. Seu comportamento era de consumir

alguns pequenos serviços de entretenimento, pois a refeição já trazia dos grandes

centros urbanos e dinheiro para grandes gastos também não possuía.

Toda essa transformação foi registrada pela imprensa escrita e anunciada

em todos os momentos dessa epopéia. A mídia impressa servia de aviso e

instrumento de cobrança aos gestores públicos e à população local e ao mesmo

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tempo, de termômetro para os possíveis visitantes decidirem se permaneceriam

freqüentando o Guarujá ou escolheriam um novo produto.

No próximo capítulo serão apresentadas reportagens selecionadas que

comprovam o acompanhamento pertinente dos jornais frente aos problemas

estruturais e à transformação da demanda demonstrada neste capítulo.

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4. A hipótese do “agenda setting” e o processo de decadência do pólo

turístico do Guarujá

A relação entre mídia e sociedade vem despertando a atenção de

estudiosos há tempos. Essa preocupação, segundo Mattelart (1999, p.41) vem

desde os anos que precederam a Primeira Guerra Mundial com um estudo sobre

os efeitos da mídia em crianças e jovens.

Com o objeto de estudo já apresentado e o fenômeno a ser estudado

relatado no capítulo anterior, vamos ao encontro da principal proposta deste

trabalho, que é verificar o papel da imprensa na transformação da demanda

turística do Guarujá e, conseqüentemente, no desgaste da imagem deste pólo

turístico, que, durante tanto tempo foi sinônimo de luxo.

Para tanto como pressuposto teórico partiremos da hipótese do agenda

setting. Porém antes de nos aprofundarmos neste assunto iremos conhecer uma

de suas raízes, “a teoria hipodérmica”.

Conhecida também por “teoria da agulha” e “bullet theroy”, tem como

característica principal, como as próprias nomenclaturas já supõem, a idéia de

infiltração ou penetração de uma informação no modo de pensar de grande parte

de seus leitores.

Mas precisamos respeitar uma ordem cronológica e entender o percurso

científico e o ambiente teórico da teoria hipodérmica. Essa teoria foi apenas uma

dentre as tantas que surgiram nos Estados Unidos, entre os anos de 20 e 60.

Várias correntes de pensamentos surgiram num processo evolutivo que buscavam

um maior entendimento sobre a problemática “mensagem / receptor”.

Araújo (2001, p.121) destaca três grandes grupos de estudos que

proporcionaram as principais correntes de pensamento que formariam um campo

de pesquisa chamado Mass Communication Research. Essas três principais

linhas de pensamento são demonstradas a seguir:

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1) Teoria Matemática da Comunicação – elaborada por Shannon e Weaver,

esta teoria da comunicação é entendida como “um processo de transmissão de

uma mensagem por uma fonte de informação, através de um canal, a um

destinatário”. Com a utilização de teoremas e logarítmos estudava-se esse

processo de forma mecânica, com o objetivo de verificar a quantidade de

informações passível de se enviar, sem que houvesse uma distorção no seu

entendimento. Ainda seguindo Mattelart,

o objetivo de Shanon é delinear o quadro matemático no interiordo qual é possível quantificar o custo de uma mensagem, deuma comunicação entre os dois pólos desse sistema epresença de perturbações aleatórias, denominadas “ruídos”,indesejáveis porque impedem o ”isomorfismo”, a plenacorrespondência entre os dois pólos. (2004, p.58)

Como a Matemática é uma ciência exata, também aqui ela não admite

variações de comportamento, portanto renega a flexibilização da recepção da

mensagem a que o leitor está exposto. Esse fato coloca em dúvida a eficácia

desse método ao caso aqui estudado.

2) Corrente Funcionalista – A partir dos estudos de Lasswell 21, tem início a

inserção dos estudos da comunicação num campo social, levando em conta as

relações entre os indivíduos e os meios de comunicação de massa. Já não é a

dinâmica interna dos processos comunicativos que define o campo de interesse

de uma teoria dos meios de comunicação de massa, mas sim a dinâmica do

sistema social.

Lasswell em sua obra22 acredita que “uma forma adequada de descrever

um ato de comunicação é responder às perguntas seguintes: quem? Diz o quê?

Através de que canal? Com que efeito?” (Wolf, 1995, p.26)

Mattelart afirma que na teoria de Lasswell “a audiência é visada como um

alvo amorfo que obedece cegamente ao esquema “estímulo-resposta” . Admite as

21 Harold D. Laswell(1902-1978) autor de Propaganda Techiniques in the World War e cientista político da

Universidade de Chicago;22 Trecho retirado do Livro Teorias da Comunicação de Mauro Wolf (1995) baseado na obra The Structure

and Function of Comunication in Society, p.84, 1948 de Lasswell.

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funções da vigilância, da integração, e da educação aos meios de comunicação,

mas quanto à recepção ainda analisa de forma superficial, como se o público

absorvesse as informações de uma única forma.

3)Estudo dos Efeitos da Comunicação – é daí que surge a teoria

hipodérmica e as hipóteses que serão utilizadas neste trabalho. Diferentemente da

abordagem funcionalista, nesta teoria o eixo das preocupações é o indivíduo.

A teoria hipodérmica surgiu no início no século XX e foi desenvolvida

baseada nos conceitos de sociedade de massa23 e dos mass media como

descreve Ferreira24,

De um lado, a teoria social reforça que o indivíduo está isoladoe desprovido de cultura, de outro a teoria psicológica enfatizaque ele se comporta segundo os ditames dos estímulos. Eis oquadro onde está instalada a teoria hipodérmica. Logo,aparecem nesta cena os meios de comunicação, que vêmpreencher os vazios deixados pelas instituições inoperantes queforjavam outrora os laços tradicionais (igreja, família, escola...)por conseguinte, passa a ditar o comportamento dos indivíduos,já que estes vão reagir aos estímulos (informações) , que sãofontes de seu agir, pensar e sentir. (2001, p.108)

Ferreira também apresenta o quadro em que a Teoria Hipodérmica foi

concebida. Explicita que as mensagens intervêm na sociedade (audiência) de

modo uniforme, e que devido à falta de relações inter-pessoais os meios de

comunicação assumem esse espaço como se fossem o centro de um sistema

nervoso, que distribui estímulos, fazendo com que a sociedade reaja de

determinada forma.

Mauro Wolf (1995, p.21) afirma que “pode descrever-se o modelo

hipodérmico como sendo uma teoria da propaganda e sobre a propaganda”, pois

preocupa-se principalmente com os efeitos sobre a “sociedade de massa”,

convicção que ignora o individualismo e a capacidade de reação do leitor.

23 Para Mauro Wolf, a “massa é constituída de um conjunto homogêneo de indivíduos que, enquanto seus

membros são essencialmente iguais, indiferenciáveis, mesmo que provenham de ambientes diferentes,

heterogêneos, e de todos os grupos sociais.24

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Essa afirmação corrobora com a discordância que temos sobre a forma

generalizada como a Teoria Hipodérmica enxerga essa relação de emissão e

recepção de mensagens, ignorando as relações interpessoais e os efeitos

causados pela agenda midiática nos diferentes tipos de leitores. Optamos por

trabalhar com a hipótese de agendamento, um estudo advindo dessa teoria e

gerado a partir da evolução de pensamento da Communication Research25 .

A escolha de trabalhar com uma hipótese e não com uma teoria partiu da

possibilidade de manusear duas ou mais linhas de pensamento, criando assim,

algo novo, que coubesse na proposta do trabalho em questão.

Essa opção justifica-se ainda mais se pensarmos que não utilizaremos

apenas linhas de pensamento e, sim, duas áreas de estudos diferentes, a

comunicação social, através do jornalismo, e o turismo, preocupado com as

influências que sofre de outros meios, como a mídia, a gestão pública, etc.

Antônio Hohlfeldt em Hipóteses Contemporâneas de Pesquisa em

Comunicação afirma que “uma hipótese é sempre uma experiência, um caminho

a ser comprovado” (2001, p. 189), portanto com a liberdade concedida pelos

estudiosos acima citados cruzaremos informações, teorias e duas áreas distintas

com a finalidade de entender a influência da mídia impressa sobre a decadência

do Guarujá.

Dentro dos estudos da atividade turística, os jornais não têm grande

destaque na criação e falência de imagens de produtos. Algumas obras como A

Analise Estrutural do Turismo lidam com os meios de comunicação como fonte de

divulgação publicitária, mas não como ferramenta informacional capaz de

maximizar, estagnar ou minimizar a visitação de determinada localidade.

Porém se admitirmos que as matérias notificadas influenciam na tomada de

decisão por parte do viajante, mesmo que não seja em cadernos especializados,

admitiremos também que o processo de agendamento se faz presente no

momento da decisão de ir ou não a determinado pólo turístico.

25 Movimento onde diferentes pesquisadores se propuseram a melhor entender os fenômenos gerados pela

relação imprensa x audiência, através do cruzamento de uma série de teorias que vão desde a engenharia das

comunicações, passando pela psicologia e sociologia.

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Clóvis de Barros Filho define a hipótese de agendamento como “a hipótese

segundo a qual a mídia, pela seleção, disposição e incidência de suas notícias ,

vem determinar os temas sobre os quais o público falará e discutirá” (2001, p.169).

É isso que pretendemos realizar a partir de agora, demonstrando o anúncio da

decadência do pólo turístico pela mídia impressa, através de três décadas de

notícias e reportagens.

Essa série de reportagens foi acompanhada pelo seu principal público

consumidor, os moradores da capital do estado de São Paulo em seus principais

veículos de comunicação impressa, os jornais Folha de S. Paulo , Jornal da Tarde

e O Estado de S. Paulo.

Podemos afirmar que grande parte dos pesquisadores do ramo da

comunicação concordam em que a mídia tem a capacidade de influenciar a

opinião pública com a projeção dos acontecimentos e, sendo assim, funciona

como transformadora da realidade social.

Antes de verificarmos as principais características da hipótese do

agendamento, vamos entender melhor o que é opinião pública.

Hohlfeldt afirma que Rousseau foi o primeiro grande filósofo a trabalhar o

tema opinião pública e como o próprio livro registra, o Estado se estrutura em três

tipos de leis: o direito público, o privado e o civil. Mas reconhece que

Além dessas três classes de leis há uma quarta, a maisimportante, que não está gravada em mármore e bronze e simno coração dos cidadãos; uma verdadeira constituição doEstado cuja força se renova a cada dia, que dá vida às outrasleis e as substitui quando envelhecem ou desaparecem(...)Refiro-me a moral, aos costumes e, sobretudo à opiniãopública. (2001,p. 224)

A tendência do cidadão na sua individualidade em escutar, acompanhar e

crer no que está sendo discutido na multidão também é ponto pacífico entre os

autores pesquisados. Esse fato aliado à importância que Rosseau dá à opinião

pública faz ressaltar ainda mais o tamanho da responsabilidade de um veículo de

comunicação do porte dos jornais selecionados para este estudo.

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Seguindo esse pensamento e as questões discutidas até aqui, fica claro

que sofremos influência da mídia que, submetido a determinados padrões de

produção, pode induzir-nos tanto para um lado de qualquer questão quanto para o

outro.

Com a força dos grandes jornais impressos, assuntos não presentes no

nosso ambiente de trabalho, em nosso círculo de amizades e até mesmo no

ambiente familiar, tornam-se pauta obrigatória para um bom convívio social. Além

desta questão, existem assuntos que por mais que não estejam ligados ao nosso

dia-a-dia e não sejam de interesse comum, são extremamente importantes para

alguns, o que faz com que esses maiores interessados acompanhem os

acontecimento mesmo à distância.

A hipótese da agenda setting vem ao encontro do fenômeno detectado no

Guarujá e para entendermos melhor esse processo comunicacional, buscamos

algumas conceituações e características do processo de agendamento.

Shaw é citado na obra de Mauro Wolf com destaque, quando afirma que

Em conseqüência da ação dos jornais e dos outros meios deinformação, o público sabe ou ignora, presta atenção oudescura, realça ou negligência elementos específicos doscenários públicos. As pessoas tem tendências para incluir ouexcluir dos seu próprios conhecimentos aquilo que os massmedia incluem ou excluem do seu próprio conteúdo. Além disso,o público tende a atribuir àquilo que esse conteúdo inclui umaimportância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos massmedia aos acontecimentos, aos problemas, ás pessoas... (1995,p. 130)

O agendamento acontece com a continuidade dos registros de

acontecimentos de um tema e os meios de comunicação contam com o

acompanhamento por parte do leitor para que a duração da sedução sobre aquele

assunto perdure e este seja desdobrado em muitas outras matérias.

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Juliana de Brum em seu artigo A hipótese da agenda setting: Estudos e

perspectivas lida com esse tema partindo do seguinte ponto de vista:

O processo de agendamento pode ser descrito como umprocesso interativo. A influência da agenda pública sobre aagenda da mídia é um processo gradual através do qual, alongo prazo, se criam critérios de noticiabilidade, enquanto ainfluência da agenda da mídia sobre a agenda pública é direta eimediata, principalmente quando envolve questões que opúblico não tem uma experiência direta. (2003, p.1)

Já Clóvis de Barros Filho sugere a existência de diversos tipos de agendas,

que diferem principalmente quanto à sua área de ação, como se pode ver a

seguir.

a) agenda individual ou intrapessoal – corresponde às preocupações públicas

que cada indivíduo interioriza;

b) agenda interpessoal: são os temas mencionados nas relações interpessoais,

percebidos por cada sujeito e discutidos nas suas relações;

c) agenda da mídia: é o elenco temático selecionado pelos meios de

comunicação ;

d) agenda pública – é o conjunto de temas que a sociedade como um todo

estabelece como relevante e lhes dá atenção;

e) agenda institucional – são as prioridades temáticas de um instituição.

Para que o efeito de agendamento seja detectado, Hohlfeldt sugere alguns

pressupostos (2001, p.190 e seg.)

a) fluxo contínuo de informação: o processo informacional não é um processo

fechado. O que ocorre é que esse fluxo contínuo denominará o efeito

enciclopédia que pode ser inclusive concretamente provocado pela mídia,

através de procedimentos técnicos como o chamado Box, que revistas e

jornais muitas vezes estampam junto a uma grande reportagem, visando

atualizar o leitor em torno de determinado fato (...) guardamos de maneira

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imperceptível em nossa memória uma série de informações de que,

repentinamente , lançamos mão.

b) Os meios de comunicação influenciam sobre o receptor não a curto prazo,

mas sim a médio e longo prazos: a observação de períodos de tempo mais

longos pode aquilatar, com maior precisão, os efeitos provocados pelos

meios de comunicação...

c) Os meios de comunicação são capazes de, a médio e longos prazos,

influenciar sobre o que pensar e falar: dependendo dos assuntos que

venham a ser abordados – agendados - pela mídia, o público termina, por

incluí-los igualmente em suas preocupações. Assim, a agenda de mídia de

fatos passa a constituir-se também na agenda individual e mesmo na

agenda social. Para Lippmann, nossa relação com a realidade não se dá

de maneira direta, mas sim mediada por imagens que formamos em nossa

mente.

O agendamento pode ser considerado também como um conjunto de temas

organizados num cronograma de divulgação, que, através de um intermediador

simbólico, retratará a realidade de modo fragmentado a fim de causar um efeito

enciclopédia.

A sociedade sofre influência da mídia que inclui em nossas preocupações

fatos que dificilmente estariam dentre as nossas prioridades, mas que, devido ao

senso comum e à necessidade de não estarmos alienados, se transformam em

nosso cotidiano. O efeito enciclopédia é formado através de uma série de

estratégias que serão apresentadas neste capítulo, como, principalmente, a

iteratividade (no sentido de repetição) e a coleção. Esses dois fatores, com o

apelo da repetição, da continuidade e da sedução pelo acompanhamento dos

fatos, fazem com que determinado assunto seja acompanhado como uma novela

de TV.

Os leitores passam a receber um conjunto de informações comuns

formando um repertório muito semelhante entre si (a população). Esse conjunto de

informações produz estímulos suficientes para a formação de uma atitude ou uma

mudança de atitude. O efeito desse agendamento surtiu, num primeiro momento,

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a transformação da demanda, e depois, no esvaziamento do município do

Guarujá.

Os efeitos são sentidos a médio e longo prazos, o que vem corroborar com

a opção de que a hipótese do agenda setting é a mais apropriada para discutirmos

o fenômeno em questão. A pesquisa em reportagens dos últimos 30 anos nos

confirmou essa idéia. Hohlfeldt, num outro momento afirma que “o agendamento

de um tema, a busca do efeito de enciclopédia dependem fundamentalmente do

departamento de pesquisa, que atualiza e, sobretudo, relaciona acontecimentos e

temas (2001, p.215)”.

A imprensa acompanhou todos os problemas estruturais por que o Guarujá

vinha passando com a produção de reportagens que seguiam em duas direções.

A primeira, servia como alerta e cobrança de atitudes do poder público, e a

segunda, como fonte de informações para a população local e, principalmente,

para a população flutuante, que, com essa fonte de informações, tinha como

decidir onde passar o seu tempo de descanso (gerando divisas) e onde investir

em imóveis de temporada.

Esse efeito cumulativo também é notado por Giovandro Marcus Ferreira

(2001, p.112) ao afirmar que “os indivíduos adquirem sua visão do mundo

proveniente da agenda estipulada pelo mass media.” Isso pode ser interpretado,

junto com outras afirmações do próprio autor, que o agendamento influencia no

que o público vai pensar e não em como vai pensar.

Uma outra hipótese que completa o pensamento, também advinda do

“Communication Research”, e que servirá de ferramenta de discussão da proposta

é a perspectiva da espiral do silêncio, que gira em torno do silêncio gerado pela

generalização da informação criada pelo receio de não acompanhar a opinião de

seus iguais e ficar de fora, portanto, de um pleno convívio social.

Noelle-Neumann, a criadora da hipótese de espiral do silêncio sugere que

essa “imposição” das informações pelos mass media gera o seguinte resultado.

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Apoiando-se sobre este conceito de um processo interacionistaengendrando uma ‘espiral’ do silêncio, define-se a opiniãopública como esta opinião que pode ser expressa em públicosem risco de sanções, e sobre o qual pode apoiar-se a açãolevada em público. (apud Ferreira, 2001, p.113)

Essa mesma autora nos coloca outros conceitos relevantes na análise de

acontecimentos que devem ser levados em consideração para identificarmos a

presença tanto de um agendamento quanto da espiral do silêncio. Tomamos a

liberdade de selecionar, principalmente, os que diferem dos já discutidos até então

e moldar a explanação de cada um com o desenrolar do trabalho.

� Frame temporal – é o tempo entre a pesquisa e a contextualização do

acontecimento pela mídia e pelo receptor;

� Time lag – intervalo entre o período de levantamento da agenda da

mídia e a agenda do receptor, a influência não se dá imediatamente e

sim a médio e longo prazos como já comentados anteriormente;

� Centralidade – capacidade que os mídias têm de colocar como algo

importante determinado assunto(...)Há muitos assuntos que são

noticiados constantemente mas que não são considerados como

centrais;

� Saliência - valorização individual dada pelo receptor;

� Focalização – a maneira pela qual a mídia aborda um determinado

assunto, apoiando-o e contextualizando-o.

Após a intelecção dos itens, restou-nos uma preocupação concernente à

centralidade, no que tange à escolha e definição do tema ou assunto importante

para os “mass media”. Essa preocupação centra-se no caráter subjetivo da opção.

É importante para quem? Para quantos? Que número de pessoas interessadas ou

leitores interessados torna determinado assunto importante? São questões que

devem ser levantadas, pois na proposta do trabalho analisamos a transformação

da demanda de um destino turístico e isso representa diferentes números em

determinadas épocas, bem como diferentes públicos e diferentes interesses,

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comunidade receptora e parcela visitante. Fica o alerta quanto à definição dessa

centralidade: que critérios são utilizados para essa definição e é o próprio veículo

que define a importância do assunto ou a quantidade de leitores?

O caráter subjetivo da definição e escolha dos assuntos para a pauta do

periódico faz com que ele (como os demais meios de comunicação) seja detentor

dos critérios, sejam eles sociais, políticos ou mercadológicos, obedecendo sempre

a uma linha editorial pré-determinada. É uma hipótese em espiral: a linha editorial

leva à opinião que, por sua vez estabelece os critérios de seleção dos temas que

possam atender às expectativas do mercado.

Essa determinação do que é importante ou não, deixa aos meios de

comunicação uma responsabilidade muito grande, pois seja lá quais forem os

critérios utilizados - sociais, políticos ou mercadológicos – podem determinar

também a direção que parte da sociedade vai tomar a partir dessa série de

reportagens sobre determinado assunto. A escolha de um destino turístico, a

compra de dólar, o consumo de determinado produto, ou, até mesmo em quem se

votará na próxima eleição pode ser colocado em discussão com uma série de

argumentos apresentados pelos jornais, que fazem com que o leitor tenda a

manter ou alterar sua primeira opção.

Continuando com a hipótese da espiral, percebemos que o clima de opinião

que gira em torno de determinado assunto faz com que os menos informados

queiram se informar e se incluam no clima generalizado propiciado pelo

agendamento da mídia, gerando também a omissão quando em desacordo ou a

aderência à opinião da que parece ser da maioria.

Para Noelle-Neumann

(...) além do medo ao isolamento, funciona ainda a dúvida sobrea capacidade de julgamento que o indivíduo tem sobre simesmo e que o torna vulnerável à opinião dos demais, emespecial no caso de pertencer a algum grupo social, que podepuni-lo por ir além da linha autorizada. (apud Hohlfeldt, 2001,p.229)

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Acreditamos que as duas linhas de pensamento, apesar de diferentes, se

completam, pois ambas tratam da influência sobre o que pensar, apenas diferindo

sobre o motivo que induz o leitor a pensar no fato em questão. Verificamos

coerência e fatores que se encaixam perfeitamente com a idéia principal deste

trabalho. Portanto as duas correntes serão utilizadas, pois como já detectado na

pesquisa bibliográfica, quando se fala de hipóteses, as alternativas de trabalhos

são infinitamente múltiplas .

Ainda existem alguns valores-notícia (Hohlfeldt) que colaboram com a

decisão de noticiabilidade26 que devem ser levados em consideração para

chegarmos à definição dos temas que podem, devem e são agendados:

� Quantidade de pessoas envolvidas no acontecimento;

� Relevância e significação do acontecimento quanto à sua potencial

evolução e conseqüência

� Interesse humano

� Atualidade – capacidade de o assunto de desdobramentos capazes de

acompanhamento jornalístico

� Bom material visual x texto verbal

� Freqüência – acessibilidade à fonte ou ao local do acontecimento

Consideraremos esses pressupostos e todas as outras definições e

características a que nos referimos no início deste capítulo como ferramentas de

análises das reportagens que registraram o processo de transformação da

demanda turística do Guarujá, buscando a demonstração do agendamento e da

influência da mídia impressa na alteração desse fluxo turístico.

Porém não nos limitaremos a esses pressupostos e sim aproveitando da

liberdade de cruzamento das linhas de pensamentos, no percurso desta pesquisa,

trabalharemos com outras estratégias que corroboraram para que a mídia

impressa influenciasse no processo de tomada de decisão do turista que fez com

26 A noticiabilidade está regrada por valores-notícia, conjunto de elementos e princípios através dos quais os

acontecimentos são avaliados pelos meios de comunicação de massa e seus profissionais, em sua

potencialidade de produção de novos resultados e novos eventos, se transformando em notícia. Hohlfeldt,

Hipóteses Contemporâneas de Pesquisa em Comunicação.

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que o Guarujá tivesse o seu público transformado através do período proposto na

pesquisa.

Acreditamos que o agendamento ocorreu e que foi reforçado com inúmeras

estratégias de persuasão que levaram o leitor, depois de já ter o assunto

agendado, a receber informações suficientes para tirar suas conclusões, ou seja,

acreditamos que estratégias de persuasão foram ferramentas poderosas na

concretização do agendamento.

O discurso jornalístico será estudado no decorrer do capítulo, que em seu

percurso discutirá a função testemunhal, as formas de legitimação da notícia, as

táticas de encobrimento e de falseamento, chegando até o uso da linguagem, com

elementos da estética da recepção. Todas essas estratégias de construção do

discurso jornalístico juntas foram capazes de alertar para o sucateamento

estrutural do balneário estudado e de fixar na mente de seus freqüentadores essa

idéia, gerando consequentemente, a transformação desse fluxo turístico .

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4.1. Anos 70 – o discurso da mídia impressa no anúncio do início da

explosão imobiliária.

O município do Guarujá, conhecido nacionalmente como “a Pérola do

Atlântico”, a partir da década de 60 deixa de ser um dos principais pontos de

encontro da sociedade brasileira e vai se transformando em um balneário de

qualidade duvidosa, rompendo com todo um passado marcado por luxo e dinheiro.

A decadência desse pólo turístico vem merecendo lugar em nossos estudos

de investigação científica desde o ano de 2000, quando iniciamos uma pesquisa

acadêmica sobre “A Transformação da demanda de uso de um destino turístico do

Guarujá – SP”. Com a freqüência ao Curso de Pós-graduação em Comunicação,

decidimos retomar o tema, ampliando-o neste trabalho com o estudo do discurso

jornalístico para demonstrar a influência da mídia impressa no “boom” imobiliário,

na popularização e na decadência do balneário.

No início da década de 70, houve uma febre na construção de imóveis,

pois, segundo depoimentos de Nilo Fonseca, proprietário de uma das mais antigas

imobiliárias do Guarujá (31 anos no mercado), vendiam-se prédios inteiros em

uma semana. No período de 72 a 74 formavam-se filas de espera para a compra

de apartamentos de alto padrão. A partir do meio dessa década

a construção civil iniciou um novo padrão de construção, paraaproveitar essa valorização do município, começaram aconstruir apartamentos menores de dois dormitórios, com maisquantidade por andares e prédios mais altos. Portanto, omesmo quarteirão, que abrigava prédios de alto luxo quase queexclusivos, começou a dividir espaço com edifícios de classemédia, onde o número de moradores era bastante superior”,afirmou Fonseca. (17/02/2002)

Além disso, houve o problema de status social, que já vinha desde a época

do Grande Hotel (década de 50): pessoas de classe social A não queriam e não

aceitavam o convívio com indivíduos com padrão social inferior. Já nessa fase, a

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superlotação começara a causar inconveniências estruturais complicadas de

serem aceitas.

O perfil do visitante do Guarujá nos anos 70 passou para o proprietário de

segunda residência27, grande parte ainda de luxo, mas já com sensível presença

da classe média alta paulista. O radial de compradores já se havia expandido , e

no final desse período uma boa parte dos novos proprietários era procedente do

interior do estado de São Paulo.28

Segundo Lucas Ribeiro29, alguns hotéis de luxo como o Hotel Casa Grande,

Il Faro, Albamar, Gávea e uma grande parcela de pensões e pousadas estavam

cheios apenas nas temporadas e feriados, devido ao fenômeno de a segunda

residência invadir as praias do Guarujá, principalmente a partir de 1974.

Concordando com a afirmação de Wolf que diz que “os jornais são os principais

promotores da agenda do público”, serão descritos alguns trechos que pontuaram e

deixaram explícita essa fase de mutação por que passava o balneário a partir de então.

As reportagens discutidas a partir desse capítulo foram extraídas de jornais

da capital paulista: Folha de S. Paulo, O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde, A

capital do estado sempre foi o principal pólo emissor de turistas ao município do

Guarujá, em 2001 foi responsável por cerca de 60 % do total30 de visitantes e,

nos anos 70 do século XX, pela grande maioria dos freqüentadores.

Iniciaremos apresentando uma reportagem, que nos remete a uma

linguagem satírica, comumente utilizada em crônicas. Nesse caso, o autor abusa

da ironia para transmitir uma nova realidade à sociedade elitizada, freqüentadora

assídua do local. Alerta para fatos que estavam por acontecer, com a nítida

intenção de provocar os leitores a ele diretamente ligados, os receptores e os

donos de segunda residência.

4.1.1. ERA UMA VEZ A DOCE TRANQÜILIDADE DO GUARUJÁ :

27 Olga Tulik em seu livro turismo e Meios de Hospedagem – Casas de Temporada, considera segunda-

residência como domicilio de uso ocasional particular que serviam de moradia (casa ou apartamento) agora

usados para descanso de fim de semana, férias, ou outro fim.28 Dados do IBGE, domicílios de uso ocasional (1991).29 Gerente administrativo do Sindicato de Bares, Hotéis e Restaurantes da Baixada Santista30 Pesquisa da demanda realizada em 2001 pela secretaria de turismo do Guarujá

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Atenção sindicatos, sociedades de amigos de bairros, grêmiosestudantis e umbandistas. Vejam como é fácil passar umagradável domingo no Guarujá. Por CR$ 350,00 alugamosônibus confortáveis com capacidade para 40 pessoas econduzimos os felizes excursionistas às mais belas praias doGuarujá. Atenção, tranqüilos veranistas do Guarujá e praias doLitoral Norte. Ainda não há companhias de turismo promovendopiqueniques nos recantos exclusivos da orla marítima. Masmuitos grupos de contumazes excursionistas já estão pensandono assunto. (Folha de S.Paulo - 14/01/1971)

No primeiro trecho de reportagem, apesar do formato e da localização

dentro do veículo da mídia serem característicos de uma reportagem comum,

depois de ter o ritmo utilizado para a produção do texto detectamos a forte

presença opinativa do autor. A reportagem está claramente redigida com

características de crônica, com recursos normalmente utilizados em editoriais ou

em próprio caderno de crônicas, em que o autor tem uma "licença poética -

midiática" que lhe permite demonstrar suas impressões pessoais sobre

determinado assunto.

Seguindo esse pensamento, Hohlfeldt (2001, p.196) afirma que "verificou-

se claramente a importância do chamado duplo fluxo informacional (...) a maior

parte das informações não transita diretamente de uma mídia para o receptor, mas

também é mediada através dos chamados lideres de opinião".

Tratando-se de jornais de grande penetração e de forte credibilidade, os

veículos aqui pesquisados ganharam essa responsabilidade de serem formadores

de opinião. O seu principal objetivo era manter a população informada e com

maior poder de tomada de decisão, mas quando assumem essa postura “editorial”

demonstram certa tendenciosidade capaz de induzir os leitores a refletirem sobre

determinado assunto.

Fornecendo subsídios para a reflexão do leitor, o repórter finaliza a matéria

com o motivo que o levou a redigi-la. A abertura de uma nova rodovia deixa a

questão no ar – é boa ou má? Para quem? Ainda em tom irônico, nunca

esquecendo a clara posição tomada desde o inicio, o repórter finda seu relato

deixando uma questão aberta para ser pensada pelo leitor. “Para a Secretaria de

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Transportes, a construção da Piaçaguera-Guarujá foi uma forma de democratizar

o turismo levando o dinheiro fácil da Capital para os atrasados lugarejos do Litoral

Norte”. (Folha de S.Paulo - 14/01/1971)

Percebe-se a continuidade do uso de ironia no fim da matéria, quase que

sancionando a questão, apesar de que julgar não seja tarefa do repórter, que aqui abusa

da tão discutida “liberdade de imprensa” com a intenção de transmitir os sentimentos de

indignação e preocupação da população local.

Como já foi dito anteriormente, sente-se uma certa ironia no desenrolar da

matéria, mostrando uma tomada de posição bastante clara, como sugere ser ideal

o jornalista Kotscho, procurando interpretar o sentimento da população receptora e

corroborando com Noblat, quando esse afirma que “um jornal é ou deveria ser um

espelho da consciência crítica da comunidade em determinado espaço de tempo.

Um espelho que reflita com nitidez a dimensão aproximada ou real dessa

consciência”. (2003, p. 21)

Fica claro também o tipo de agendamento que se inicia aqui, no caso do

município do Guarujá. Podemos afirmar que o fenômeno da transformação do

fluxo turístico freqüentador do Guarujá é uma questão pública, pois provoca

reflexos na economia e em todo o contexto social do município. Portanto,

podemos considerar como um assunto de agenda pública.

Porém, analisando-se por outros ângulos, as agendas se confundem.

Podemos considerar esse tema como agenda individual também, pois é o período

de férias de determinada pessoa que está em jogo, a valorização ou

desvalorização de determinado imóvel que pode acontecer, um maior movimento

nas vendas de uma lanchonete específica. Poderíamos, então, considerar como

agenda individual, pelos interesses individuais de cada um, ou também como

agenda interpessoal, pois o turismo interfere nas relações das pessoas e de seus

empreendimentos.

Mas o contexto social que pretendemos abordar neste estudo nos leva a

definir pelo agendamento público, pois em nenhum momento podemos deixar de

pensar no turismo como atividade econômica e social.

No trecho destacado a seguir, percebemos que o autor continua utilizando-

se de suas estratégias, focalizando o assunto pelo mesmo ângulo inicial: como

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um freqüentador antigo que se sente incomodado com o novo fluxo que está

ocorrendo. Portanto a focalização citada anteriormente por Noelle-Neumann

aparece bastante clara aqui, abordando o assunto de forma parcial e dividindo

angústias.

Onde tem praia e lugar pra trocar de roupa a gente vai... Opessoal (umas cem pessoas que acompanham as excursõesque Guincho promove há dez anos) confia nos lugares queescolho e é claro que eu vou lhes mostrar o Guarujá. (Folha deS.Paulo - 14/01/1971)

Podemos perceber que a escolha pelo entrevistado busca quase de forma

caricatural um “explorador” de novos destinos com declarações contundentes,

sedentas por consumir novos espaços, sem se importar com o contexto que o

cerca. Demonstrando que a próxima “descoberta” é o município do Guarujá e

antevendo que a realidade do balneário se aproximará da realidade dos lugares já

visitados por João Pacheco Guincho e seus clientes, insinua que também o local

se eqüivalerá em qualidade e valor.

Ao mesmo tempo em que se destaca a presença de uma personagem

proporcionando maior confiabilidade à investigação, o mesmo também fornece

uma outra visão do fato discutido na reportagem, o que comprova que o autor da

reportagem está ouvindo ou se propondo a ouvir os dois lados.

Como o objetivo principal desse trabalho é o relato do processo de

transformação da imagem do Guarujá na década de 70, a partir da divulgação dos

textos dos jornais selecionados, a próxima reportagem passa ao leitor a

constatação que tanto se temia: a realidade já não é a mesma e isso seria só o

inicio de uma série de impactos socioeconômicos, ambientais e culturais que

estariam por acontecer.

4.1.2. O GUARUJÁ TAMBÉM JÁ COMEÇA A VIVER O TURISMO DE MASSA.

Das 20 mil pessoas que o Guarujá espera receber nestatemporada, quase a metade não pertence à classe A, sinal de

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que a cidade, lentamente deixa de fazer somente o turismo deprimeira categoria para aceitar também a política do “turismomassificado”, onde a classe média é bem recebida. Essa é aprevisão dos proprietários de hotéis e homens de turismo doGuarujá, que vêem a “decadência do turismo categoriainternacional” com apreensão. (Folha de S. Paulo, 24/12/72)

Percebemos a continuidade do assunto nessa reportagem e, acima de tudo,

devemos lembrar que esses textos são apenas uma amostragem de mais de 130

matérias selecionadas em uma pesquisa de campo, que reuniu um universo de

aproximadamente 300 reportagens sobre o mesmo tema. Portanto, o

agendamento será percebido pelas notícias que serão relatadas , mas aconteceu

de forma mais maciça do que podemos demonstrar nesse estudo

Já na manchete a constatação do fato levantado na reportagem anterior, o

que nos faz começar a construir uma imagem da nova realidade enfrentada pelo

município em questão. Percebe-se também que a matéria é contundente em sua

afirmação , o que leva o leitor a entrar no fato a ser apresentado com tendência a

concordar , ou levar o seu olhar crítico junto a essa afirmação.

Sabemos que as mensagens dos mass media atuam como estímulos a

determinados comportamentos e provocam impulsos, emoções e atitudes difíceis

de controlar sobre os receptores.

Uma vez que as formas de consumo são alteradas, os meios de

hospedagem de alta categoria deixam de ser consumidos, pois são trocados por

hotéis mais simples e por casas e apartamentos de temporada, que começam a

surgir com o êxodo de proprietários insatisfeitos com a presença de excursionistas

na frente de seu apartamento de luxo. O que até então significava um sinal de

poder e de diferenciação social, uma questão de “status”, ganha outro sentido com

essa nova situação, pois os proprietários perdem prestígio e, além da questão

social, perdem dinheiro também, com a desvalorização do mercado imobiliário.

O repórter percebe isso e dessa vez, pelo lado do empresário receptor (um

ponto de vista diferenciado da primeira reportagem citada), detecta problemas que

afligem a comunidade como um todo. E assim, além de detectar essas

personagens importantíssimas no dia-a-dia do Guarujá, coloca em pauta o risco

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que o abandono da busca pelo turismo internacional, ou seja, a busca pelo turista

estrangeiro, pode causar ao pólo turístico.

Até agora mostramos os narradores das reportagens apontando problemas

que acontecem nesse determinado município, mas como sabemos, o papel do

repórter não é somente detectar, mas dar subsídios para que o leitor forme sua

opinião sobre o fato. É seu papel cercar todo o contexto para que se possa tomar

uma posição independente da de quem escreve. Isso fica claro no percurso da

obra de Noblat (2003), para quem é sempre importante procurar as causas do

fenômeno e não ficar somente nos seus efeitos.

Na continuação do texto, o repórter busca as causas que levaram o

município a sofrer essa transformação:

(....) A inoperância do Conselho Municipal de Turismo e da própriaPrefeitura, é apontada como uma das principais causas daestagnação do turismo no município. “ O turismo que é feito aquinem merece esse nome. A cidade não é divulgada e todo mundosabe que isso é o ABC do turismo. O Guarujá deveria, com umtrabalho de propaganda e relações públicas ser promovido noexterior, principalmente nos países vizinhos do Brasil, onde sepode criar um contínuo fluxo de turistas. Para se entender apolítica de turismo local basta ver a minguada verba que édestinada a este setor, 200 mil cruzeiros por ano”, diz RicardoRoman. (Folha de S.Paulo, 24/12/1972)

A má gestão da atividade aparece como grande vilã da situação. Pela

declaração do entrevistado, dono do Delphin Hotel, um dos principais do Guarujá,

percebe-se divergência entre a opinião da iniciativa privada e da gestão pública

local. O repórter apenas coloca a opinião dos envolvidos para que quem estiver de

fora possa conhecer os prováveis motivos e chegar a uma conclusão pessoal

através de seu próprio repertório.

Abrindo os horizontes da reportagem com a presença de outros pontos-de-

vista, percebe-se que o interesse sobre o assunto ultrapassa classes sociais e

segmentos do mercado de trabalho atingindo o interesse da comunidade pelo

assunto. Essa conclusão vai ao encontro do que Hohlfeldt afirma em sua obra e

fortalece o pensamento central da nossa proposta de trabalho

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O agendamento somente ocorrerá de maneira eficiente quandohouver um alto nível de percepção de relevância para o tema e,ao mesmo tempo um grau de incerteza relativamente alto emrelação ao domínio do mesmo, levando o receptor a buscarinformar-se com maior intensidade a respeito daquele assunto.(2001, p. 199)

Devemos levar em conta os valores-notícias vistos anteriormente como

fatores importantíssimos para a concretização do fenômeno de agendamento e

nesta história percebe-se um alto poder de noticiabilidade, e acima de tudo com

saliência suficiente para entrar na agenda pessoal dos munícipes, quer estejam

envolvidos direta ou indiretamente com a atividade turística.

Comparando as duas primeiras reportagens, depreende-se que elas tratam

do mesmo problema, com enfoques e abordagens diferenciados pelas visões dos

diferentes autores, que elaboraram os textos de formas distintas, mas que

corroboram para a construção de uma nova imagem do município estudado.

Já no meio da década, os problemas tornaram-se cada vez mais evidentes

e, com o passar do tempo, as causas também. A falta de estrutura administrativa,

e a busca dos benefícios para alguns à frente do bem geral da comunidade ficam

explícitas. O crescimento desordenado é fato, e a ambição dos governantes

confunde progresso com urbanização. A Folha de S. Paulo registra isso na

reportagem a seguir.

4.1.3. ATÉ JULHO, GUARUJÁ SOFRERÁ DEVASTAÇÃO

Desde o início do ano a paisagem do Guarujá mudou. Ocorreuuma verdadeira devastação dos morros pelas construtoras, quese apressam a começar as obras que tiveram projetos

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aprovados antes pela lei 1.266. Instituindo o plano diretor dacidade, a lei limita as possibilidades dos incorporadores. Mas,embora em vigor desde janeiro, contém um artigo – de número256 – que permite a execução de todos os projetos jáaprovados e iniciados antes de julho. (Folha de S .Paulo,12/05/1976)

Essa matéria revela toda a complexidade que a atividade turística reúne. O

boom imobiliário acontecido no Guarujá, nessa época, nada mais é do que o

saciamento pela demanda que surgia e que corria desesperadamente em busca

de um espaço para dividir com a classe industrial paulistana. No primeiro trecho

da notícia, o repórter aborda a questão legal. Verifica-se que apesar de uma lei

existente coibindo a construção de edifícios altos ainda havia brecha para quem

quisesse iniciar suas obras até um prazo pré-determinado.

O Sr. Nilo Fonseca (proprietário de imobiliária) afirmou em entrevista que

prédios inteiros eram vendidos em uma semana. Porém essas novas construções

não seguiam o padrão de apartamentos e residências de alta classe que

dominavam o município até então. Os apartamentos eram menores, portanto

também era maior o número de apartamentos por andar, e outra diferença vista a

olhos nus nesses novos empreendimentos imobiliários: a quantidade de andares

ficou muito superior.

Portanto eram centenas de pessoas morando num mesmo espaço,

consumindo o mesmo local e dividindo a infra-estrutura básica que não

acompanhava o crescimento. Quando falamos de infra-estrutura básica, queremos

alertar principalmente para a rede de esgoto insuficiente para essa nova demanda

que se formava. Esse fato viria a prejudicar a questão ambiental do local.

O repórter cerca de muitas variáveis o assunto principal da matéria que é a

“devastação do Guarujá”. Além do enfoque legal, o repórter mostra também o fato

focalizando o meio ambiente:

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Além da devastação da flora, nas obras de preparação daplataforma, para que se possa elevar o edifício – de cincopavimentos – o movimento descuidado dos tratores e retro-escavadeiras da Racz Construtora – contratada pelaSantapaula - lança diariamente pela encosta do morro, emdireção ao mar, milhares de toneladas de terra. (Folha deS.Paulo 12/05/1976)

Podemos perceber que diferentes caminhos foram tomados para

comprovar a “devastação” anunciada na manchete da reportagem e que para isso

o repórter teve que buscar informações em diferentes fontes, pois só assim a

reportagem se tornaria fidedigna. Como afirma Maria Cecília Guirado em sua

dissertação de mestrado (1993) “a verdade está no trajeto e não no objeto”. Dessa

forma o repórter torna a sua manifestação mais completa quando busca avaliar

todas as variáveis possíveis para que o leitor tenha informações suficientes para

criar uma visão crítica sobre o assunto.

A reportagem fecha todas as possibilidades com o enfoque social e com o

problema afetando todo o cotidiano da população local, principal interessada no

assunto,

Os desbarrancamentos chegaram a afetar inclusive a EscolaMunicipal de Jardim Praiano e as aulas tiveram que sersuspensas. De acordo com os moradores, o problema dasenchentes sempre existiu no local, mas com o desmatamentoda encosta, a situação tornou-se pior. “Antes”, afirmam,“tínhamos só água descendo agora temos barro também.(Folha de S.Paulo 12/05/1976)

Hohlfeldt diz que “o agendamento de um tema, a busca do efeito de

enciclopédia depende fundamentalmente do departamento de pesquisa, que

atualiza e, sobretudo, relaciona acontecimentos e temas” (2001, p.215) e é isso o

que percebemos aqui, uma pesquisa abrangendo diferentes castas sociais

reunidas em prol de uma constatação. Perceberemos também que essa

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característica do agendamento prevalecerá durante todo o restante desse estudo

e que atravessará trinta anos de registros, apresentando esse fenômeno de

diferentes pontos de vista.

Hoje, quando falamos de gestão pública da atividade turística, nos

aproximamos muito do que é comumente chamado de planejamento urbano, pois

não há dúvidas de que o turismo interfere na rotina de uma comunidade receptora

causando uma série de impactos positivos e negativos. Cabe aos gestores o

acompanhamento necessário para otimizar os impactos positivos e minimizar os

negativos. No último trecho da matéria percebemos, claramente, que a

comunidade receptora, teoricamente a principal beneficiada com a chegada do

turismo, está sendo afetada e prejudicada com a criação desse condomínio em

um local sensível à urbanização imposta pelo homem.

Não se pode chegar a uma conclusão sem antes pesquisar e conhecer o

contexto geral, conceito que foi seguido pelo autor da reportagem que, com uma

macrovisão do fato, forneceu todas as informações necessárias para que o leitor

tomasse uma posição frente à notícia.

4.1.4. EIS O QUE RESTOU DO GUARUJÁ

- Chegamos ao Guarujá.- Aqui ? – perguntou o menino assustado com a sujeira.Ele e o pai haviam acabado de pisar o solo da mais cobiçadacidade do litoral paulista, depois de enfrentar uma estrada

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congestionada e esperar quase 03 horas na fila da balsa.Quando afinal, fizeram a travessia, ali estava o cartão de visitasda cidade, uma avenida imunda, semi-coberta de lama, semcalçadas e sem condições de dar vazão ao tráfego deautomóveis, intenso nesta temporada de verão. (O Estado deS.Paulo , 10/07/1977)

Neste momento o autor utiliza personagens para desenvolver o tema

proposto. Contando com um pouco de ironia no desenvolvimento de seu texto, o

autor busca sentimentos comuns a todas as pessoas para demonstrar a frustração

de um garoto em sua chegada ao Guarujá. Utiliza o senso comum para explicitar a

degradação da imagem de um local que todos imaginavam ser o paraíso, mas já

estava se tornando um inferno, tanto para os turistas quanto para os cidadãos

locais.

Percebemos que nesta reportagem, mais uma vez, muda-se o foco de visão

sobre o assunto, mas o problema continua o mesmo (desta vez o repórter vai

encarnar a sensação do turista). Esse fato, cada vez mais, nos deixa claro o alerta

que a imprensa escrita estava realizando. Se juntarmos todas as reportagens

pesquisadas para a realização deste trabalho, a impressão que temos é de que os

jornais não sabiam mais como denunciar o descuido que estava ocorrendo para

que as autoridades tomassem providências.

Wolf considera essa repetição de reportagens como “tematização”.

A tematização é um procedimento informativo que se insere nahipótese do agenda setting, dela representando umamodalidade particular: tematizar um problema significa, de facto,colocá-lo na ordem do dia da atenção do público, dar-lhe orelevo adequado, salientar sua centralidade e o seu significadoem relação ao fluxo da informação não-tematizada. (1995,p.146)

Outro fator que torna esse caso importante é a “quantidade de pessoas

envolvidas no acontecimento”, um outro valor-notícia que faz com que se definam

os casos que merecem ser agendados. Se pensarmos na quantidade de turistas

que freqüentam o balneário, a quantidade de empresários que dependem da

atividade turística, as centenas de proprietários de segundas residências, além da

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população local, que sofre com problemas ambientais e sociais, fica nítido o

universo a ser alcançado pelas matérias.

Os comerciários Gustavo de Almeida, seu filho e os outros 50mil turistas que viajaram ao Guarujá nesta temporada tambémnão esperavam encontrar a Avenida Miguel Estéfano, ao longoda Enseada, corrida pelas marés e ameaçadoras com buracoscapazes de encobrir um caminhão (quatro carros caíram neles,domingo) (O Estado de S.Paulo 10/07/1977).

Grande parte desses interessados e envolvidos no assunto compram

jornais e o agendamento desse tema faz com que as vendas se reproduzam;

portanto, o agendamento acontece junto aos leitores, em prol da população e

também em prol do próprio jornal.

Além dos argentinos, é grande a presença de norte-americanos,europeus e até uruguaios. Todos chegam ansiosos porconhecer a cidade e ficam maravilhados com sua belezanatural. Apesar das deficiências das estradas e da falta decuidado e de caprichos nas praias os estrangeiros encantam-secom o Guarujá. Se a cidade se apresentasse em melhorescondições, qual seria a reação desses turistas? A impressãogeral é de que o Guarujá poderá assumir uma posição deimportância no turismo internacional. (O Estado de S.Paulo10/07/1977)

A descrição do local relatado também é vital para a credibilidade da matéria

e, como exposto nos trechos acima, percebemos que o autor conhecia o local, e

sobretudo conhecia a situação, o que o colocava numa situação confortável de

análise, comparação e crítica ao problema encontrado.

4.1.5. TURISTA CLASSE “A” ABANDONA GUARUJÁ

Guarujá ficou sem turistas antes mesmo de começar o carnaval.As ruas estavam vazias ontem, embora houvesse cálculoindicando que a população chegou a dobrar neste período de

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férias. Nem a recente resolução do Banco central, elevando deCR$ 16 para CR$ 22 mil o depósito compulsório para viagemao exterior , atraiu os turistas classe “A”, que preferiram sedeslocar para as casas de campo, Rio de Janeiro ou então parao Litoral Norte (Ubatuba, São Sebastião). Suas residências àbeira-mar estavam vazias já no início da semana. Era o tédioquase que total (Folha de S.Paulo – 06/02/1978).

A constatação do fato que o município tanto temia aparece claramente

nesta última matéria selecionada. O fluxo de turistas no Guarujá diminui, começa a

se transformar qualitativamente e os reflexos se mostram nas ruas vazias

descritas pelo repórter.

Noelle-Neumannn denomina “Time lag” o intervalo entre o período do

levantamento do caso pela mídia e o despertar da comunidade para tal fato. Esse

tempo de absorção e entendimento do que realmente está acontecendo não se dá

automaticamente, mas, com a iteratividade de reportagens sobre o mesmo

assunto, isso vai acontecendo aos poucos.

O agendamento por parte da mídia parecia agora chegar à agenda pública.

Depois de sete anos de reportagens começam a surgir as primeiras que tratam de

uma reação do público aos acontecimentos registrados pelos jornais. Não

queremos afirmar que o jornal é o responsável por essa mudança , mas o público

leitor já se sentia informado o suficiente para não mais freqüentar o balneário,

Devido a esse “fluxo contínuo de informações” (Hohlfeldt, p. 190)

guardamos de maneira imperceptível em nossa memória uma série de

informações de que, repentinamente, lançamos mão, seja com uma simples

mudança de pensamento ou forte mudança de atitude.

Foi isso que percebemos no último trecho de reportagem ressaltado, uma

mudança perceptível no fluxo turístico local. Apesar de a prefeitura divulgar a

informação que a população flutuante (turistas) havia dobrado, não foi isso que o

repórter detectou em sua investigação. Encontrou as ruas, as casas de temporada

e o comércio vazios, fato que nos leva a confirmar a transformação da demanda

turística. Com isso a decadência anunciada do Guarujá começa a se transformar

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em realidade, divulgada pela mídia impressa e ignorada pela gestão pública da

cidade e do estado.

O público freqüentador mudou, problemas estruturais surgiram, o cenário

começou a ser alterado pelo crescimento imobiliário, os padrões de construções

também foram alterados e o que era palco do desfile do mais refinado público do

país começava a desmoronar.

A transformação da realidade do Guarujá iniciou-se nos anos 70 com o

“boom” imobiliário instigado pela ambição de políticos e investidores que não

pensaram nas gerações futuras e sim no ganho imediato. Foram registrados

problemas e pouca coisa se fez para evitar esse crescimento desordenado que

comprometia estruturalmente o município. O poder público se manteve omisso

frente aos anúncios que a mídia impressa lançava todos os dias através do passar

dos anos.

Uma das prerrogativas necessárias para qualificarmos esse estudo como

um agendamento real é o parâmetro temporal. Wolf afirma que não há um período

exato, mas que para o frame temporal, para o time lag, a duração do levantamento

da agenda dos mass media, a duração do levantamento da agenda do público e a

duração do efeito ótimo, esse período vai de semanas a alguns meses.

Vale lembrar que neste estudo propomos analisar um período de 30 anos,

com uma seqüência de reportagens que poderia alcançar um universo de

aproximadamente 300 matérias. Essas reportagens estão espalhadas por todos

os meses do ano, de maneira aleatória, mostrando que não houve épocas

determinadas para que essa “campanha” ocorresse. Fato que comprova que o

problema veio se desenvolvendo através dos tempos e que essa amostragem de

matérias vem confirmar a presença da hipótese de agendamento pela mídia no

processo de decadência do pólo turístico do Guarujá.

4.2. Anos 80 – O acompanhamento dos jornais frente à miscigenação de

públicos

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Segundo Mauro Wolf, “a hipótese do agenda setting defende que os mass

media são eficazes na construção da imagem da realidade que o sujeito vem

estruturando.” (1995, p.137). Essa afirmação leva-nos a acreditar que a imagem

construída pelo agendamento nada mais é do que a totalidade dos fragmentos

lançados periodicamente que o indivíduo (leitor) organizou, absorveu e acumulou.

Dessa forma percebe-se uma tendência de convencimento por “cansaço”,

isto é, persuasão temperada pela persistência. O efeito da iteratividade, além de

colocar um assunto em pauta, pela diversidade de ângulos com que é mostrado,

acaba por convencer o leitor. São tantas as estratégias utilizadas para gerar

credibilidade e também para não tornar o assunto repetitivo, que a insistência leva

o indivíduo à reflexão, e, por conseguinte, à tomada de posição.

A partir de agora relacionaremos a hipótese de agendamento às estratégias

de persuasão, que, utilizadas na produção das matérias, podem causar reações e

mudanças de atitudes de grande importância para um pólo turístico.

Da leitura do texto de Wolf, depreende-se a existência de fases nesse

processo de agendamento, que levamos em consideração na seleção das

reportagens. Buscando uma maior objetividade, resumimo-las e apresentaremo-

las na seguinte forma:

1ª fase - nessa fase os mass media dão relevo a um acontecimento;

2ª fase - é o momento de imposição de um quadro interpretativo àquilo que foi

intensamente coberto;

3ª fase – nessa fase acontece a associação entre os acontecimentos e a realidade

de quem lê.

4ª fase – surge com a criação de porta-vozes oriundos de leitores, que assumem e

compartilham o problema, dando motivos para a continuidade do agendamento,

num processo que volta a propor todo o ciclo de fases.

Consideramos então o agendamento um processo cíclico, pois, assim como

no caso estudado, o problema foi detectado, registrado, anunciado, e como não foi

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resolvido, o assunto volta à tona, trazido pelos jornais - fortes formadores de

opinião - focalizado de outro ângulo, de outro ponto de vista.

Essa mudança no ângulo analisado é também uma forma de diversificar o

discurso jornalístico. Sabemos que discurso é a organização de símbolos e signos

de nossa linguagem em busca da expressão do real, portanto, com um universo

tão amplo para a constituição desse discurso temos inúmeras formas de

descrever um único fato.

Mayra Rodrigues Gomes, com intenção de definir a função do discurso

jornalístico, afirma que “o jornalismo se posta como um observador que deve

denunciar os deslizes do estado no exercício dessa palavra consignada.” (2000,

p.21). Percebemos claramente essa função na primeira reportagem selecionada

da década de 80, onde o jornalista procura transmitir a indignação da população

local frente aos absurdos que a gestão pública impõe à localidade.

4.2.1. CÂMARA DO GUARUJÁ ABRE ESPAÇO A ESPECULADORES.

A população do Guarujá está perplexa e decepcionada. Emmenos de 100 dias, o PMDB – que elegeu o prefeito e dez dos17 vereadores à Câmara Municipal – viu-se envolvido emdenúncias sobre escândalos imobiliários e nebulosasinsinuações de corrupção, tal como ocorreu tal como ocorreuem quase todas as administrações anteriores. Nas últimassemanas, por obra e graça do partido que assumiu o poder coma promessa de mudar a fisionomia do Guarujá mudou outra vez.E para pior. Mercê de decisões do atual Legislativo - e naesteira de um processo extremamente rápido, criminoso edolorido de desfiguração, que começou com o boom imobiliáriode 1973 -, a cidade continuará vendo suas matas naturais eseus morros cederem lugares a monstruosos espigões. Aalquimia dos políticos e a capacidade de sedução dos grandesespeculadores imobiliários continuam deformando a geografiaurbana do Guarujá. (Waldo Claro, O Estado de São Paulo.29.maio.1983.)

Percebemos o jornalista Waldo Claro falando em nome da comunidade

receptora, praticando a vigilância necessária, atribuída e esperada por todos, por

parte da imprensa.

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Para concretizar essa missão atribuída ao jornalista, utilizam-se diversas

formas de legitimação para seu discurso, uma busca incessante para confirmar o

que é visto e registrado por um repórter, que transmite esse fato da forma mais

convincente possível.

Marilena Chauí descreveu essa auto-afirmação do discurso como “discurso

competente “ em obra homônima. Considerando que

O discurso competente como discurso de conhecimento entraem cena para tentar devolver aos objetos sócio-econômicos esócio-políticos a qualidade de sujeitos que lhes foi roubada.Essa tentativa se realiza através da competência privatizada.Invalidados como seres sociais e políticos, os homens seriamvalidados por intermédio de uma competência que lhes dizrespeito enquanto sujeitos individuais ou pessoas privadas.(1997, p.12)

Vivemos numa época em que um turbilhão de informações chega aos

nossos olhos e ouvidos todos os dias, e que, devido a essa nova dinâmica dos

meios de informações, perde-se o controle quanto à qualidade dos veículos de

comunicação e principalmente quanto à fidedignidade das fontes.

Esse fato corroborou para a “incompetência” do sujeito isolado que Chauí

propõe em sua obra, e para tanto, formas de legitimação são criadas a cada

momento para a busca da credibilidade necessária a um órgão de imprensa.

Gomes afirma que “fomos levados à necessidade de que todo o testemunho, de

todo texto justificar-se por meio de outro e da reprodução discursiva como

tentativa de costura na proliferação”. (2000, p. 45)

Para tanto, sempre se buscam especialistas nas áreas investigadas pelos

repórteres para afirmar, ou melhor, confirmar a veracidade da informação. Muitas

vezes a simples palavra de um estudioso no tema pode resolver servindo como

um testemunho. Na linha de pensamento de Chauí, surgem milhares de artifícios

mediadores e promotores de conhecimento que constrangem cada um e todos a

se submeterem à linguagem do especialista que detém os segredos da realidade

vivida, e que com isso permitem aos “meros leitores” uma condição de maior

entendimento e, acima de tudo, de confiabilidade.

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No caso da reportagem citada acima percebemos num primeiro momento a

descrição do fenômeno acontecido e logo depois essa “caça” do testemunho do

testemunho para confirmar os efeitos que o desrespeito a questão ambiental pode

gerar aos munícipes e visitantes do Guarujá.

Os arquitetos (IAB) evidenciam ainda os seguintes problemasque poderão ser gerados com a aplicação da nova lei: 1 – aaltura das edificações é “ilimitada”,(....) 3- inexistência dedefinição de densidade demográfica (habitantes/hectares)podendo gerar sobrecarga na infra-estrutura básica (água, luz,esgoto, etc.)... (Waldo Claro, O Estado de S.Paulo. 29. maio.1983.)

Da mesma forma que os meios de comunicação perderam um pouco da

confiabilidade pelo exagero da oferta, grande fatia da população é sub-informada

e não está pronta para reflexão sobre assuntos que fogem ao seu cotidiano.

Portanto essa busca da referencialidade vem ao encontro da auto-afirmação da

notícia.

Nesse caso o Instituto de Arquitetos do Brasil entra como referência, como

objeto de segurança como testemunho de autoridade, com o intuito de fazer com

que os fatos registrados ganhem conseqüências. Um repórter não tem como

saber até onde o processo de desfiguração através do boom imobiliário pode

afetar a população, mas a sede municipal dos arquitetos sim, com estudos e

pareceres técnicos é capaz de projetar a seqüela que tal descuido gerará.

4.2.2. A DEVASTAÇÃO DO GUARUJÁ. Estão liquidando a memória da cidade doGuarujá, mesmo contra ordens expressas do Condephaat. Os alvos maisrecentes: uma casa histórica e os morros do Botelho e do Pitiú.

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Os arquitetos insistem: não estão contra a abertura do mercadode trabalho, pelo contrário. Mas acham perigoso vinculardestruição à geração de empregos. “uma indústria de bombasatômicas poderia gerar milhares de empregos – dizem eles –Mas quem gostaria de ter uma delas na cidade? (ElaineSaboya. – Jornal da Tarde, 02.maio.1984)

Nessa reportagem, ainda que nos atenhamos à referencialidade, o simples

recurso de buscar segurança em especialistas desta vez não é o suficiente. O

repórter em questão registrou (no trecho acima) um momento de ironia e protesto

por parte da categoria de arquitetos, que mais de um ano após a primeira

reportagem discutida aqui, traçou um paralelo entre outro tipo de possível

”catástrofe urbana” que estaria por ocorrer no balneário.

Essa ironia por parte do IAB vem respondendo à afirmação do prefeito de

que o estaleiro Nobara, projetado no morro do Pitiú, geraria 12 mil empregos. A

própria reportagem afirma isso, e na seqüência registra a devastação anunciada

em sua manchete.

O pior foi a casa de alvenaria no morro do Botelho: foiderrubada em processo de tombamento pelo Condephaat -Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,Arquitetônico e Turístico. Enquanto tramita ninguém podealterar o local. Por isso mesmo a derrubada foi feita à noite.Essa casa, situada na Rua Santos, bairro da Barra Funda,representa marco histórico importante. Antes de suaconstrução, as edificações do Guarujá eram de madeira, comoos chalés dos veranistas montados em pinho da Geórgiaimportados dos estados Unidos. (Elaine Saboya. – Jornal daTarde, 02.maio.1984)

O esquema narrativo desse trecho revela a preocupação descritiva da

autora. Apresenta todo o contexto que cerca mais um abuso dos empreendedores

do Guarujá, narrando desde fatos históricos e até a barbárie concretizada na ilha.

O objetivo deste estudo é verificar o fenômeno do agendamento acontecido

na transformação do produto turístico Guarujá, portanto quando classificamos o

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problema acontecido como questão de agenda individual, pois corresponde às

preocupações públicas que cada indivíduo interioriza, tivemos a intenção de

afirmar que a degradação do pólo turístico do Guarujá é preocupação de cada um

em particular e vai-se tornar preocupação do coletivo, como se depreenderá do

texto popular logo abaixo

Na personificação dos processos sociais (...) as determinaçõeshistórico-estruturais dos fenômenos , como responsáveis pelasocorrências no que se refere à política e à economia sobre odia-a-dia são desprezadas. Os fatos aparecem soltos, semrelacionamento com fatores internos macrossociológicos darealidade. (Marcondes Filho. 1989, p. 43)

No texto em estudo, a repórter Elaine Saboya descreve com detalhes cada

fragmento do acontecido com a intenção de esclarecer que o problema vai além

do quintal do leitor, e que isso, em breve pode acarretar problemas que afetem a

todos, sejam eles ligados a questões ambientais, sociais, culturais ou políticas.

Uma hora ou outra a população como um todo sofrerá com a má administração,

mesmo que de forma indireta.

Essa mesma população preparou um documento de protesto ao acontecido

e colou nos muros que cercavam o casarão. Cuidadosamente textos foram

colocados, dispostos no formato da palavra “crime”. A repórter percebeu o grande

efeito emocional que isso geraria, e resolveu dividir o sentimentos dos moradores

dali com a população total que desconhecia tal trecho de sua história, registrando-

o na íntegra.

“Pobre Guarujá”...esta casa foi construída em meados de 1900. Foi a primeiracasa de alvenaria e estava protegida por um processo detombamento do Condephaat, através do processo 2.694/83,junto com o morro do Botelho, onde está situada. Apesar disso,foi criminosamente destruída sem qualquer consulta aoCondephaat, sem o menor respeito à memória e à paisagem dacidade. Em seu lugar, querem construir mais prédios. Pobre da

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cidade que não respeita nem faz respeitar sua memória e suapaisagem. Quando é que as autoridades municipais vãoefetivamente proteger o patrimônio coletivo? Quando é que nós,cidadãos, vamos nos conscientizar de que também somosresponsáveis, quando nos omitimos frente à constantedestruição de nossas matas, costões, morros e construçõestradicionais da cidade? Até quando vamos deixar que tratemnossa cidade como a casa da sogra?

Na sua obra, Mayra Rodrigues Gomes (2000, p. 49), cita um trecho de

Aristóteles que se encaixa perfeitamente neste momento do trabalho, que diz que

“há regras para o estabelecimento da legitimidade, mas estas não dizem respeito

ao consenso e sim ao exercício de uma razão bem-casada com o ser”, ou seja, a

cada caso cabe uma forma de legitimação, basta utilizar o bom senso para

escolher o que melhor representará a verdade perseguida.

Que forma melhor de demonstrar a preocupação e o sofrimento de uma

parte da população do que com a expressão maior dessa dor, a sua palavra?

Parece-nos que foi isso que Saboya procurou demonstrar transcrevendo na sua

totalidade o texto escrito pelos moradores do Morro do Botelho Procurou

transcrever também algo que não se escreve, mas sim, algo que se sente.

4. 2.3. EXPLOSÃO IMOBILIÁRIA COLOCA EM RISCO O VERÃO NO GUARUJÁ..

Localizada a 88 quilômetros de São Paulo, a cidade do Guarujásofreu uma explosão imobiliária durante o ano passado. Aprefeitura aprovou em 1986 cerca de 1,2 milhão de metrosquadrados em plantas de apartamentos e residências. Umcrescimento de 30% em relação ao ano de 1985, quando foramaprovados cerca de 900 mil metros quadrados. (Folha deS.Paulo, 08.fev.1987)

Ciro Marcondes Filho afirma que “o uso do gráfico e tabelas, pelo quais as

informações, são na verdade, quase encobertas pela própria mensagem -

dificultam seu entendimento e são facilmente manipuladoras” (1989. p.48) , porém

essa afirmação vem de encontro a diversos outros autores que acreditam que

essas alternativas são estratégias para gerar maior credibilidade.

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Discutiremos esse assunto com maior profundidade em um próximo

momento, mas não podíamos deixar passar a estratégia utilizada pelo repórter

neste trecho acima relatado. São números importantes que apresentados

corroboram com a afirmação da manchete. Acreditamos que a utilização dessa

ferramenta, desde que com números legítimos são extremamente importantes

para a completude da informação.

No restante da reportagem o jornalista utiliza-se da presença de

personagens e da credibilidade de uma instituição bastante respeitada na

sociedade.

O diretor do Departamento de Controle de Arquitetura,Urbanismo e Postura (DECAU), Luiz Cláudio De Lellis, 34,afirma que a “construção civil poderá gerar problemas imediatosde infra-estrutura no Guarujá, pois atrai o migrante através daoferta de mão de obra”. Muitos turistas hospedados em Santosprocuram as praias do Guarujá por serem menos poluídas,apesar de muito movimentadas. No ano passado, a melhorpraia para banho no Guarujá foi Pernambuco, de acordo com olevantamento feito pela Cetesb (Companhia de Tecnologia eSaneamento Ambiental). As praias do Tombo e Perequê foramconsideradas impróprias devido à construção do emissáriosubmarino no Tombo e ao lixo produzidos por restaurantes àbeira-mar, segundo o superintendente de Qualidade Ambientalda Cetesb, Edmundo Garcia Agudo, 45. (Folha de S.Paulo,08.fev.1987)

Se os efeitos de realidade exercidos pelos mass media são a comprovação

do agendamento por parte da mídia, acreditamos que a disseminação da

informação dos efeitos provocados pela omissão pública, com os relatos

efetuados dos mais diferentes pontos de vista, foram vitais para o agendamento

público.

Verifica-se a existência de um paralelo de agendamento pela mídia e de um

agendamento público, onde a sociedade, através da série de acontecimentos

negativos no Guarujá, parte para tomar atitudes de mudanças de comportamento,

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seja por opinião formada, ou por medo de isolamento (espiral do silêncio),

afetando ainda mais a realidade local.

4.2.4. . BARBARIDADES CONTRA O GUARUJÁ – Uma comissão deespecialistas da USP está fazendo um levantamento das condições ambientais nacidade. Seus integrantes estão horrorizados.

Trechos de morros do Guarujá parecendo a Serra Pelada, detão esburacado; muralhas de espigões, mar misturados aesgoto e argila lançados por deslizamentos; pontos de estradasde Sorocotuba semi-destruídos pela erosão. Essa foramalgumas cenas vistas ontem por especialistas da Universidadede São Paulo, que a pedido do ministério público, começaram amedir ontem o impacto da especulação imobiliária naquelacidade. (Elaine Saboya – Jornal da Tarde, 10.abr.1987).

A mesma autora da reportagem citada no item 4.2.2, Elaine Saboya, quase

três anos após, continua acompanhando os acontecimentos relacionados à

qualidade ambiental do Guarujá e qualidade de vida da população local.

Um dos pontos-chave para se definir se um fenômeno é passível de

agendamento é a possibilidade de evolução futura de uma determinada situação.

Acreditamos ter levantado até aqui reportagens e fatos suficientes para poder

afirmar que a hipótese do agenda setting se concretizou no fato em questão.

No trecho da reportagem relatada acima, vários fatores foram listados com

a intenção de demonstrar a real situação do município. Somente nessas poucas

linhas pelo menos quatro possíveis temas para próximas reportagens surgiram.

Assuntos que provavelmente gerariam ainda mais possibilidades de pesquisa para

outras matérias.

A complexidade do fenômeno estudado tornou-se um fato de interesse para

a imprensa, pois além dos problemas cotidianos que uma cidade enfrenta, soma-

se a preocupação ambiental, a corrida imobiliária e a degradação de um dos

principais pólos turísticos do País.

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Esse agendamento provocado pelo registro incessante da mídia impressa

gera além de uma rede de conhecimento imensa, também uma rentabilidade

interessante para o jornal.

A fragmentação da notícia muitas vezes surge de forma não intencional,

como afirma Ciro Marcondes Filho (1989, p.39), muitas vezes é a própria forma do

jornalista ver o mundo. Essa fragmentação acontece também, muitas vezes

devido a oportunidades identificadas na elaboração de uma reportagem, como

esse exemplo citado acima.

A fragmentação acaba por omitir certos pontos da notícia, mas em

compensação ganha espaço para discutir com maior profundidade cada pequeno

detalhe importante do acontecimento como um todo. Outro ponto que deve ser

ressaltado é a imediaticidade que ela causa, pois por abordar pequenos assuntos

com uma profundidade maior ganha a capacidade de compreensão plena por

parte do leitor.

Mais uma característica que não podemos deixar passar é que, como

afirma Marcondes Filho, “a produção fragmentada de notícias, assim, é uma

técnica também mercadológica”. (1989, p.41)

O próximo trecho expõe a metodologia de trabalho aplicada pela equipe de

pesquisadores da Universidade de São Paulo – USP - e as conclusões a que eles

chegaram, compactando problemas isolados e projetando possíveis danos

futuros.

Uma equipe sobrevoou de helicóptero os morros devastados,outra mergulhou no mar junto aos costões, enquanto outrapercorreu de carro os grandes loteamentos. O espanto dosprofessores pode ser resumido nas frases de Luis RobertoTommazi, vice-diretor do Instituto Oceanográfico da USP ecoordenador da comissão de estudos de Problemas Ambientaisda Universidade – Cepa: - Que barbaridade, pobres morros doGuarujá. Eu já sabia que a ocupação desordenada provocouproblemas, mas não imaginava que fosse nesse nível. Oequilíbrio natural esta sendo rompido nos morros, com riscos deescorregamentos, gerando uma breve necessidade de obras decontenção custosas. Se a ocupação prosseguir nesse ritmo acomunidade sofrerá, inclusive os que estão aplicando capitalem muitos desses empreendimentos... (Elaine Saboya – Jornalda Tarde, 10.abr.1987)

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Com a prática da personificação da notícia, o contexto costuma ser

ignorado e a imediaticidade, aqui já citada, causada pela fragmentação, age

negativamente quanto à compreensão do todo. Se por um lado a fragmentação

causa um efeito de entendimento de pequenas coisas, gera também um difícil

entendimento do contexto geral, pela falta de um ordenador que interligue os

fatos.

Portanto essa ligação direta da reportagem com determinadas pessoas, ou

instituições, isola o leitor das reais causas que propiciaram determinado processo.

A personificação acaba por responsabilizar ou vangloriar pessoas / instituições

ignorando o processo que fez com que essas chegassem ao resultado final.

Acima relatamos um trecho jornalístico que procura situar o leitor no “todo”

do problema, listando causas e efeitos e projetando uma situação difícil com que a

população do Guarujá terá que lidar.

... “Precisamos ser realistas – afirma Tommazi. Em uma cidadeeminentemente turística como o Guarujá, não pode pretenderque aqui se mantenham reservas florestais. Mas é possívelconviver com um progresso harmonioso. È urgente um PlanoDiretor que determine áreas a serem preservadas, mas que nãomude ao sabor de interesses políticos ou econômicos”. (ElaineSaboya – Jornal da Tarde, 10.abr.1987).

A sanção proporcionada pelo período de pesquisas da equipe da USP no

Guarujá aparece fechando a reportagem, servindo como referencial, e acima de

tudo, como agente de credibilidade. O pesquisador entrevistado afirma que a

convivência harmoniosa entre o turismo e o progresso de um balneário é difícil

mas possível , mas principalmente afirma que o que não pode acontecer é o futuro

da cidade ficar na mão de poucos. Concordando com o objetivo desta e outras

matérias já citadas e que ainda estão por vir neste trabalho.

4.2.5. GUARUJÁ MUDA SEU PERFIL PARA ATENDER PÚBLICO NOVO.

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Num processo semelhante ao que aconteceu em Copacabana,demanda mais valorização produzem adensamento deocupação. Os terrenos são aproveitados ao máximo da lei; osapartamentos vão diminuindo de tamanho e se apinhando emlançamentos cujo número de unidades, em um prédio, passafreqüentemente de uma centena. Quitinetes são quitinetes, emqualquer lugar do mundo, mas o nome mágico de Pitangueiras,sem lhes melhorar a qualidade, faz com que elas custem odobro.(Ivo Piva Amparato, Folha de S.Paulo - 06.mar.1988)

A expressão de sentimento em reportagens normalmente é omitida ou pelo

menos mantida implícita no texto do repórter. Porém, se há algum lugar do jornal

em que exista uma licença para a utilização desse recurso é a crônica, seja no

editorial do jornal ou nos cadernos adentro.

Essa quinta matéria é maior expressão do sentimento do proprietário de

segunda-residência que identificamos dentro dessa pesquisa. Como um “futuro”

ex-proprietário de uma casa de temporada, Amparato aponta ressentido o reflexo

do descaso do governo e da ambição da iniciativa privada.

Listando fatos e deixando clara a sua indignação com a luta por espaço a

busca de “status” social, o autor continua “seu desabafo” em “rede nacional” agora

traçando o paralelo sobre a ambição em estruturar-se se espelhando numa cidade

como São Paulo e suas limitações estruturais.

Também coloca em pauta a responsabilidade governamental, e, com

grande habilidade na escrita, cobra uma presença mais próxima e atenciosa com

a utilização do uso do solo.

Essa dinâmica de mercado vai fazendo com que o Guarujá setorne o balneário urbano de São Paulo, por excelência. Umbairro, quase da metrópole, que velozmente importa seusproblemas e amenidades, das favelas aos video-clubes, doscongestionamentos de tráfego às pizzarias e butiques. Mastransformar o Guarujá em São Paulo soa como matar a galinhados ovos de ouro para fazer uma canja. O Guarujá, se ficar feio,sujo e barulhento como São Paulo, perde a razão de ser. Nãose pode, então, por mais que se repudie a intervenção doEstado em setores que não lhe competem, deixar inteiramenteàs leis do mercado a tarefa de moldar seu crescimento e suatransformação. O ordenamento do uso do solo é, então, umatarefa preventiva fundamental; mas o crescimento de uma

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cidade tem de ser , se não precedido, ao menos seguido, comrapidez, da implantação da infra-estrutura. Nas décadas de 60 e70, o BNH despejou no Guarujá, alguns bilhões de dólares emfinanciamento para a construção de casas e apartamentos deveraneio: e quanto dinheiro terá sido aplicado em infra-estrutura? Seguramente o ritmo da implantação da infra-estrutura tem sempre estado muito aquém do ritmo decrescimento da cidade, o que gera um descompasso cada vezmaior, principalmente em termos de saneamento e drenagem.(Ivo Piva Amparato, Folha de S.Paulo - 06.mar.1988)

Essa última matéria reflete a reação causada pelo agendamento e

principalmente pelos efeitos que, registrados pela imprensa, começam a aparecer

no cotidiano dos envolvidos. Wolf afirma que a quarta fase do processo de

agendamento, é a criação de líderes de opinião, o que fica claro nessa

reportagem, quando um dos cidadãos afetados pelo problema cansa de

“resmungar” sozinho e toma uma postura frente a seus iguais.

Amparato foi um dos cidadãos que procuraram fazer algo pelo que tanto

prezavam. Um entre outros tantos que, com movimentos populares

preservacionistas, ambientalistas, e até mesmo sindicalistas brigavam pela

preservação de empregos de sua classe, que na década de 80 se levantaram e

buscaram uma nova atitude frente à omissão que se acostumavam a observar.

4.3. Anos 90 – O registro da mídia impressa sobre o balneário do Guarujá à

beira do caos

As motivações que levam uma pessoa a decidir qual seu próximo destino

estão diretamente ligadas às mensagens emitidas pelo pólo turístico, seja por

folders, reportagens de revistas especializadas ou, mesmo notícias do cotidiano

local, notícias que levam a optar por onde gastarão o seu tempo de descanso, tão

raro de ser aproveitado na sociedade moderna.

Este fato enriquece o trabalho se pensarmos que essa decisão citada no

parágrafo anterior influencia o cotidiano de um município que vive

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predominantemente do turismo, impactando sua economia e a vida de toda a

comunidade receptora. Diante desta afirmação podemos dizer que as reportagens

noticiadas pelos jornais da capital influenciam na decisão de ir ou não ao Guarujá.

Alguns aspectos devem ser ressaltados na análise que se iniciará. É

inevitável perceber a intertextualidade das cinco reportagens selecionadas e o

fator de ligação entre “número e coleção”, mas isso será discutido num próximo

momento, onde analisaremos o efeito que o conjunto das notícias publicadas pode

causar. Por ora analisaremos as reportagens uma a uma e suas estratégias de

alcance ao leitor.

No texto “Posturas do Leitor” ,de Mouillaud (2002, p. 182), encontramos a

frase, “o jornal desterriorializa o habitat”, e ao analisarmos as matérias jornalísticas

que serão listadas a seguir, se faz importante entendermos esse conceito.

Lembramos que os jornais escolhidos são da capital do Estado de São

Paulo, porém têm alcance nacional. O grande público leitor do jornal é da cidade

de São Paulo, que, como já vimos, é o principal pólo emissor de turistas para o

balneário estudado.

Levando em consideração que o jornal é capaz de desterriotorializar o

habitat, entendemos que os problemas relatados nas reportagens deixam de ser

somente da população e ganham um alcance da mesma proporção da distribuição

do jornal. Lembrando que aproximadamente 53 % dos consumidores turistas que

freqüentam o Guarujá são do município de São Paulo, as falhas estruturais do

local e suas conseqüências para a comunidade ultrapassam limites geográficos e

chegam até os grandes interessados na qualidade ambiental do balneário, ou

seja, chegam até os paulistanos.

Partindo desse pressuposto iniciaremos as análises com uma reportagem

do início da década de 90, data onde começavam a ficar explícitas as dificuldades

em que se encontrava a população e os visitantes.

4.3.1. O LEITOR RECLAMA DAS AGRURAS DO GUARUJÁ. E QUER AÇÃO. A Prefeitura se explica,

e diz que não há o que fazer para controlar o tráfego e dar lugar para todos os

carros.

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Freqüentador das praias do Guarujá há 25 anos, AdemirLorenção escreveu ao Jornal da Praia para reclamar do quechamou de “selvageria do comportamento de uma generalidadede usuários” e da inadmissível “omissão do Poder Público, quevê, mas não enxerga os problemas”. Empresário e advogado nacidade de Jundiaí , Lorenção condena o tráfego de automóveis,caminhões e até carretas ao longo das avenidas que margeiama orla litorânea. “Nas temporadas, as crianças ficam impedidasde atravessar a rua para alcançar as praias. E, ao fazê-lo,correm o risco de serem atropelados pelo tipo de banhista quenão larga o seu automóvel, circulando o tempo todo, talvezfazendo “caçada do sexo oposto”. ... (Jornal da Tarde – 16/fev/1991)

Quando falamos sobre a motivação que a reportagem pode exercer sobre o

leitor, logo percebemos a relação e a possibilidade que essa reportagem tem de

poder interferir na aquisição ou não de um determinado produto. Levando em

conta esse pensamento, a análise de uma reportagem deve iniciar-se pela

manchete, parte importantíssima da reportagem, que faz com que o leitor em

potencial se torne um leitor de fato.

Percebemos que nesta primeira reportagem selecionada o jornalista

“brinca” com as palavras, rebuscando a manchete com o substantivo “agruras”

que além de ser um recurso estilístico de aliteração, lembra muito o nome do local

do acontecimento, o Guarujá, na sua escrita, repetindo todas as suas letras, em

uma outra ordem, com exceção da letra jota numa espécie de trocadilho. Essa

estratégia além da sonoridade das palavras, causa empatia e chama a atenção do

leitor pelo jogo verbal.

Logo no subtítulo da matéria, o autor relata a impotência da gestão pública

frente ao fenômeno relatado – “A Prefeitura se explica, e diz que não há o que

fazer para controlar o tráfego e dar lugar para todos os carros” apontando assim a

primeira conclusão da reportagem. Esse fato é logo reafirmado pelo entrevistado

que diz a mesma coisa com outras palavras, “omissão do Poder Público, que vê,

mas não enxerga os problemas”. Inclusive nesta afirmação encontramos outro

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recurso estilístico, o oxímoro, quando o entrevistado diz, “vê mas não enxerga”,

que corrobora automaticamente para a simpatia do leitor pelo acontecido.

Percebe-se claramente uma indução a que o leitor tome uma posição frente

ao fato relatado, principalmente pelo sentimento comum a todos que freqüentam

ou têm o desejo de freqüentar o balneário. Há a intenção de alarmar sobre a

insatisfação geral que nesse momento reina no Guarujá e que é declarada pelo

reclamante.

Como o jornalista Kotscho (1986, p.15) afirma em seu livro “A Prática da

Reportagem”, faz-se necessária a presença de “personagens” na matéria

impressa e com a reutilização das palavras de um ator envolvido, o repórter

assume uma posição e reafirma os acontecidos fazendo ecoar a voz de uma única

pessoa para outros tantos que sofrem com um problema comum.

O que eu leio em meu jornal me diz respeito: não se trata deimplicação militante, que está ligada à natureza dosacontecimentos, mas de uma implicação da qual não me possodistanciar e que não é o efeito de uma escolha.(MOUILLAUD.,2002, p. 178)

Esse personagem utiliza cuidadosamente adjetivos para descrever a situação

que está observando, procurando atingir todas as pessoas e instituições envolvidas, para

despertar-lhes a responsabilidade do problema. No primeiro momento afirma que “a

selvageria do comportamento de uma generalidade de usuários” observando que o

problema advém do viajante que ali freqüenta, utilizando inadequadamente o local e logo

depois, como citado anteriormente, ataca o governo chamando-o de “omisso” pois nada

faz para modificar a situação.

O repórter dá prosseguimento à matéria escutando o outro lado, um outro

personagem, desta vez do lado da gestão municipal, alertando que a cidade não

suporta mesmo tantos carros e que, com tantos prédios antigos, sem

estacionamentos fica difícil o município se responsabilizar.

O chefe da Divisão de Trânsito da prefeitura, João CarlosPeracini, informa que o “sistema viário do Guarujá é bastantemodesto. Serve apenas para a cidade e, na temporada nãosuporta o aumento populacional”. Outro problema de Guarujá éa falta de áreas de estacionamento – principalmente na praia de

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Pitangueiras, onde há 12 mil apartamentos de veraneio. “Nãohá estacionamento nos prédios de frente para o mar, porque asconstruções são muito antigas. Todas as pessoas que têmapartamento, estacionam na avenida. Se num fim de semana,todas as famílias resolvem descer para o litoral, serão nomínimo 12 mil carros transitando por ali”, adverte. (Jornal daTarde – 16/ fev / 1991)

Ao mesmo tempo em que o entrevistado isenta os governantes de culpa,

admite que houve falhas ao permitir a construção de tantos prédios, tão grandes e

sem uma preocupação com o estacionamento dos automóveis dos moradores e

freqüentadores dos edifícios, função que é de responsabilidade da prefeitura local,

bem como o zoneamento e a colocação de limites e padrões às novas

construções.

Barbero (1997) afirma que “a recepção é o local do sentido da mensagem

enviada”, fato que reforça a idéia de que afirmações repetidas faladas por pessoas

diferentes (jornalista, turista e representante do governo), porém unificadas num

único meio de comunicação , induzem à compreensão e à posição assumida pelo

jornalista na matéria.

Essa polifonia do discurso, ou essa pluridiscursividade buscada através das

reportagens só vem influenciar positivamente a recepção por parte do leitor, que

como consumidor-turista se sente tão inseguro no enfrentamento de uma nova

realidade que precisa se apoiar em “conselhos” confiáveis para poder optar por ir

ou não a determinado destino.

No ano de 1996 acontece a grande falência estrutural do município do

Guarujá. Problemas advindos do abandono da manutenção e da não ampliação

do sistema de saneamento básico explodem consecutivamente, e, com eles,

proliferam registros da mídia impressa alertando a população.

Mostrando as atitudes governistas para melhorar a imagem local e

indiretamente beneficiar a comunidade receptora, o autor passa a registrar a

preocupação do poder público com a situação, com o turista, com o comércio e

com a prestação de serviço local, sem deixar de, utilizando tom irônico, criticar a

postura governamental.

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4.3.2. GUARUJÁ SE ‘MAQUIA” PARA SEGURAR TURISTAS. Prefeitura, empresas e entidadesmontam “mega operação” que inclui reforço na segurança e na infra-estrutura.

O Guarujá ganha uma “maquiagem” de emergência em janeiropara evitar a fuga de turistas das praias da cidade (a 87 km deSP). Comerciantes e empresários dos setores turísticos eimobiliários temem que problemas como violência, lixo, esgotose favelização espantem os veranistas. O turismo é a principalatividade econômica da cidade e os turistas nesta épocatriplicam a população de 250 mil habitantes. (Folha de S. Paulo22/dez/1996)

Concordando com Maurice Mouillaud no artigo “ A Informação ou a Parte da

Sombra” ao afirmar que “a informação é o que é possível e o que é o legítimo

mostrar, mas também o que devemos saber, o que está marcado para ser

percebido”, (2002, p.38) neste ultimo trecho analisado percebemos um vazio no

texto, “uma parte da sombra”, para o leitor se questionar em que medida essa

atitude é correta e até onde vai a preocupação com a população local. Com a

utilização do verbo “maquiar” o autor deixa em dúvida e eficácia das atitudes

tomadas.

O título já induz, prepara e persuade o leitor. O vocábulo “maquia”

(maquiagem), destacado pelas aspas, revela que os serviços executados pelo

governo municipal serviram apenas como embelezamento superficial e ignorou as

obras fundamentais e necessárias: combate à violência, erradicação do lixo e das

favelas e obras de saneamento básico. Como o Guarujá tem no turismo a sua

principal atividade econômica, chamar a atenção do turista para aumentar a

população flutuante e os recursos financeiros do município é o principal objetivo.

Seguindo ainda essa mesma linha de pensamento, percebemos que o

jornal mantém sua posição ideológica frente ao acontecido. Mesmo não querendo

explicitar à opinião pública o jornal se coloca nas entrelinhas ou na sombra do

texto como prefere Maurice Mouillaud. “A parte da sombra não está somente no

quadro (a sombra na qual se perdem os contornos do assunto) , mas na mão de

que pinta ou que escreve.” (2002, p. 40)

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Confirmando esse pensamento, Martín Barbero afirma que “parte da

recepção não está programada, mas sim condicionada e orientada pela produção,

pelos saberes de quem produz“, o que nos leva mais uma vez a enxergar a

parcialidade do jornal, através dos “vazios do texto” e outras estratégias de

alcance e persuasão, que direciona o entendimento da mensagem pelo leitor.

Apesar disso, o jornal não deixa de registrar as atitudes que o governo

municipal vem tomando, seguindo seu dever de intermediador entre o fato e o

leitor, seja a notícia qual for. Sendo assim encerra a matéria com o relato completo

das medidas que serão tomadas para minimizar os impactos causados com a

chegada da alta temporada.

O prefeito eleito Maurici Mariano (PTB), pretende colocar emprática uma série de medidas, já em janeiro, nas áreas desegurança, limpeza, fiscalização e recuperação de viaspúblicas. “A idéia é disciplinar a cidade”, afirma Mariano.... Umplantão de 24 horas na prefeitura terá a incumbência de receberas denuncias dos fiscais voluntários e dar encaminhamento àssoluções. Segundo o prefeito eleito Maurici Mariano, afiscalização terá como alvo principalmente o comércioambulante irregular e o dano ao patrimônio público. (Folha de S.Paulo, 22/dez/1996)

Admitindo que é comum o jornal ter uma linha editorial própria, e que, melhor

ainda, essa não é sua principal missão, verificamos a freqüência com que procura utilizar

o recurso de excluir-se do acontecido e relatar como um simples espectador. Para isso

utiliza-se comumente a estratégia de redigir os acontecimentos em terceira pessoa.

Camocardi e Flory consideram essa prática como “a forma verbal do não

pessoa” (2003, p. 68) que segundo as autoras possibilita uma identificação maior

a todos que estão lendo, desvinculando assim o fato do autor, e aproximando

ainda mais a descrição do real.

Segundo Kotscho, “o repórter deve cumprir sua função primeira que é

colocar-se no lugar das pessoas que não podem estar lá, e contar o que viu como

se estivesse escrevendo uma carta a um amigo” (1986, pg.16)

Percebemos na reportagem abaixo que o jornalista se coloca no lugar do

turista e descreve o drama que a Praia da Enseada atravessa com riqueza de

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detalhes, e cuidadosamente relata de todos os ângulos e pontos de vista o cenário

que está vivenciando.

.

4.3.3. TURISTA NADA EM PRAIA POLUÍDA NO GUARUJÁ. Sinalização reduzida a duas faixasfaz com que banhistas usem trecho de praia contaminado na Enseada.

Fracassou a tentativa da Secretaria Estadual do Meio Ambientede orientar os veranistas a não tomar banho de mar em umtrecho de 1.200m contaminado por esgoto na Enseada, noGuarujá (SP). A Secretaria iniciou na terça feira a sinalização napraia, mas ontem várias pessoas tomavam banho no trechocomprometido. A sinalização se resumiu à instalação de umaplaca e duas faixas. A placa na altura da rua Chile, com ainscrição ”praia imprópria para banho de mar”, foi arrancada.Ontem de manhã, a placa foi recolhida em um córrego pelaCETESB (Companhia de Tecnologia de SaneamentoAmbiental). As faixas estavam posicionadas nas extremidadesdo trecho de 1.200 metros – entre as ruas Peru e Guadalajara.Entre elas não havia nenhuma outra sinalização. (FaustoSiqueira - Folha de S.Paulo, 26/dez/96 )

Quando falamos em descrever o momento vivido chegamos a uma palavra

que normalmente é sinônimo de “furo” para o jornalista, o flagrante. Palavra

comumente ligada a crimes, mas que nos leva a momentos únicos, a relatos de

fatos simultâneos com o seu desenrolar. Foi o que percebemos na reportagem

acima, não um flagrante isolado, mais uma situação real em que a população é

atingida por esse fenômeno e que o repórter presenciou e dividiu com os atores do

local.

Outro fator importante detectado é a busca de uma coerência discursiva

através do binômio causa / efeito, porque, depois de apontado o efeito, que é o

chamariz da matéria, o autor e responsável pela noticia, inclusive pela sua não

vulgarização, aponta a causa, eliminando assim a sua obra de toda e qualquer

superficialidade. Conseqüentemente o levantamento de dúvida sobre a veracidade

da mesma fica fora de questão.

....A Agência Folha constatou ontem a presença nesse trechode fezes na beira do mar. A poluição é causada pelo

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rompimento de um emissário submarino e pelo esgotoclandestino. (Fausto Siqueira, Folha de S.Paulo, 26/dez/96)

Essa noticia termina com a “Agência Folha” emprestando seu nome e toda

credibilidade adquirida pelo tempo e pela qualidade com que atua no mercado

jornalístico através dos anos. Com um olhar mais analítico percebemos que a

assinatura do autor da matéria é mais uma ferramenta para o leitor confiar e

absorver a mensagem publicada com maior facilidade e mais confiança. A

Agência Folha entra como ator de segurança da informação, como uma

personagem isenta, porém presente à realidade detectada e descrita.

Luiz Gonzaga Motta considera que “as personagens representam pessoas,

mas enquanto discurso, não são pessoas, são representações de pessoas” (2004,

p.52). Numa matéria jornalística o leitor estará analisando apenas aquele assunto

em que a personagem está exposta com que ele, o leitor, se identifica ou não,

deixando de lado todo o restante da vida da pessoa ali citada. Por isso podemos

dizer que grande parte dos leitores (aqueles que não acompanham o assunto)

leva em consideração somente a frase reproduzida no jornal, ignorando ou

supondo o contexto que cerca tal indivíduo. Isso não garante que, apesar de uma

possível identificação, somente o discurso do entrevistado convença o leitor sobre

da hipótese levantada na matéria.

Continuando com a estratégia do uso de personagens, na próxima matéria

perceberemos o acréscimo de uma outra forma de exacerbação dos fatos:

números como argumentos indiscutíveis da verossimilhança dos acontecimentos

apontados.

4.3.4. INTERDIÇÕES CAUSAM QUEDA NO COMERCIO – Donos de quiosques em praias doGuarujá reclamam e dizem que estão fazendo até quatro vezes menos negócios.

Comerciantes das praias da Enseada, Pitangueiras e Astúrias,no Guarujá afirmam que o movimento de seus negócios caiuaté quatro vezes por causa da interdição de trechos das praias.Banhistas como Ana Lucia Braga, 20, ignoraram o aviso de quea água estava imprópria. “ Entrei na água ontem e não vi sujeiranenhuma, mas hoje apareceram umas bolinhas no meu corpo.

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Deve ser a água suja”, disse a estudante, que mora emInterlagos (zona sul). Logo abaixo vem o quadro de praiasimpróprias do litoral paulista e dentre as do Guarujá as trêscitadas na reportagem estão classificadas como impróprias. Eao lado, em destaque , um quadro diz que “ Aumentou em 18,6vezes o nível de poluição na praia de Pitangueiras, em setedias. (Folha de S.Paulo – 30/dez/96)

Barthes, em seu livro “Elementos de Semiologia”, trabalha a idéia da busca

do “efeito de real”, que sugere a corrida do jornalista pela comprovação dos fatos

e pela credibilidade de seu trabalho. Como foi afirmado anteriormente, muitas

vezes apenas o testemunho de um terceiro não se faz suficiente para a formação

da imagem real que se deseja seja passada, portanto a busca pela reconstrução

da realidade através de estratégias discursivas faz com que o jornalista se utilize

de outros métodos de comprovação.

Por isso, é comum encontrar-se em reportagens, inclusive na ultima

analisada, a presença de índices, percentagens, quadros e tabelas estatísticas

que buscam causar o “efeito de real” reforçando o testemunho e gerando maior

veracidade ao seu relato.

Julgamos não ser necessária a exposição dos números citados, porém fica

clara a intenção de que, para corroborar com o relato, o jornalista buscou outras

fontes para explicitar cada vez mais a situação que começava a ficar insuportável

no Guarujá.

Na matéria jornalística que segue, detectamos a continuidade da

reportagem anteriormente aqui discutida. Algumas questões ocorrem ao leitor

quanto à elaboração dessa reportagem. Embora se perceba a continuidade do

assunto da matéria anterior e ela não faça parte de uma série especial de

reportagens sobre o assunto, porque ocorre o espaço intervalar entre uma matéria

e outra?

Esse intervalo não significa tanto se pensarmos que a data da notícia é

presente, não importando quando aconteceu e sim quando o fato tornou-se de

conhecimento público.

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Podemos nos arriscar a responder essas questões supondo que, por se

tratar de uma irregularidade estrutural complexa de se resolver, o jornalista realiza

um acompanhamento da situação, procurando manter o leitor informado sobre as

condições do local que lhe dizem respeito.

Nesse momento começamos a identificar o leitor para quem o jornal

escreve, mas antes é importante verificarmos a continuidade da notícia.

4.3.5. TURISTA FOGE DO MAR POLUÍDO, MAS APROVEITA SOL NA ENSEADA: Rompimento do

emissário de esgoto submarino causou problema.

A praia da Enseada enfrenta problemas de poluição desde quefoi constatado o rompimento de um emissário submarino, a 500metros da areia. O esgoto que deveria ser lançado a 4.000metros da praia, passou a vazar. Com a poluição ameaçandoas férias no balneário, a praia de Iporanga – reaberta ao públicono dia 20 de dezembro por ordem judicial – transformou-se nonovo foco de turistas. No local há um condomínio com 140casas, cujo acesso era exclusivo aos proprietários. (Folha de S.Paulo 06/jan/97)

Devido ao jornal ser um meio de comunicação de massa e ser consumido

por uma pluralidade imensa de olhares, torna-se difícil a identificação de para

quem é escrito esse determinado periódico. Porém seguindo alguns autores e

suas conceituações, ousamos apontar que o leitor implícito (Mouillaud apud Iser,

2002, pg. 174), ou seja, o leitor apto a ler aquela noticia, e que dispõe de

repertório suficiente para decodificar a informação. Neste caso é toda a classe

média, média/alta que possui imóvel ou freqüenta o litoral paulista.

Esse leitor que não tem acesso às leituras de jornais locais, como o jornal

“A Estância do Guarujá”, tem que tomar conhecimento do que está ocorrendo no

seu destino turístico através dos jornais de circulação nacional.

O leitor leva em consideração também a imparcialidade do meio de

comunicação, que, como já foi dito, não é local (evitando assim uma propaganda

positiva enrustida na notícia) e nem pertence a outro município (produto

concorrente), fato que faz com que ele se sinta seguro quanto a sua decisão.

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Essa dependência positiva da busca de informações na mídia impressa faz

com que surja um outro tipo de leitor, o arquileitor31, indivíduo que domina o

assunto como um todo e que tem conhecimento sobre o local, além da notícia. Ele

acompanha a série de noticias emitidas pelo meio de comunicação, mas acima

disso conhece a realidade local e tem uma proximidade direta com o objeto da

reportagem. Esse fato lhe dá um repertório diferenciado para assimilar a noticia

com um olhar mais completo.

Portanto, percebemos que o principal destinatário a comunidade receptora,

e principalmente, a comunidade visitante. Neste caso chamamos de “principal

destinatário”, pois é parte da função do jornalista acompanhar o andamento da

gestão pública e concomitantemente cobrá-la, o que nos leva a compreender que

essas reportagens também têm a pretensão de chegar aos governantes como

mecanismo de cobrança e pressão para que atitudes sejam tomadas em prol do

bem da população em geral.

No texto Posturas do Leitor de Maurice Mouillaud. (2002, p.75) discute-se a

capacidade de retenção do leitor, que segundo o autor é “é uma postura distinta

da dissipação e do acumulo, reter as informações é mantê-las em uma atualidade

ao longo do dia”. Essa capacidade e essa necessidade de acompanhamento dos

fatos, características comuns aos seres humanos, faz com que outros dois fatores

sejam estudados: o número e a coleção.

Partindo do pressuposto de que o leitor retém a informação que lhe é

diretamente interessante, as informações acabam por se tornar anáforicas, pois

perdem a exatidão da data e ganham um sentido maior, como afirma o autor, a

atualidade. Podemos afirmar, assim, que o aumento de reportagens retidas pelo

leitor anula o tempo fragmentado e cria uma nova realidade compacta.

Portanto, para o leitor, o prosseguimento da discussão de um determinado

assunto acaba por se tornar uma seqüência obrigatória, e daí podemos sugerir a

31 Segundo Mouillaud apud Riffaterre o leitor que tem domínio de determinado assunto por conhecer a obra

inteira, ou todo o contexto.

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existência da “coleção”, mesmo que isolada do restante do jornal, que não

obrigatoriamente segue acompanhando outros fatos da mesma forma.

Já o número não perde importância por isso, pois cada reportagem é

fechada em si; porém, juntas, ganham uma força extra e um sentido de

completude muito maior, ou seja, complementam-se, e, sobrepostas, constróem a

imagem do todo. Cabe ao número (reportagem isolada) o dever da boa

informação e, para além de informar, atrair o leitor, neste caso o consumidor

turista, a buscar a continuidade da notícia, chegando a agir até mesmo como uma

estratégia de sedução.

Seguindo esse pensamento podemos afirmar que o “número” age como

uma estratégia de fidelização e de cumplicidade para a continuidade num segundo

momento. Podemos até traçar um paralelo com um seriado ou novela de tv, onde

se deixam mistérios e lacunas que causam excitação, expectativas e a

necessidade de acompanhamento do desenrolar dos fatos. È a novela da vida

real.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A atividade turística ainda é um ramo de estudo bastante recente e por

assim se tratar, muitas de suas teorias ainda estão em fase de construção. Este

trabalho tem o intuito de contribuir com os estudos sobre turismo e de

comunicação social, colocando em destaque a mídia impressa como grande

reprodutor da realidade dos locais e com isso, e como responsável sobre a criação

de uma imagem na cabeça do leitor, seja ela positiva ou negativa.

Constatamos que os meios de comunicação, neste caso, os jornais,

exercem forte influência no momento da escolha de um destino turístico. Essa

influência não se dá de um momento para o outro, mas sim num certo espaço de

tempo, por meio da repetição correlata dos temas nas pautas desses periódicos.

Da mesma forma que a mídia constrói imagens e cria cenários nas mentes

de seus leitores, ela tem a capacidade de destrui-las. Não que os jornais façam

isso conscientemente, mas somente o acompanhamento de fatos cotidianos já faz

com que o turista em potencial pense duas vezes antes de definir seu próximo

destino.

Assim como a hipótese do agendamento, acreditamos no poder de

convencimento dos periódicos e também que, os efeitos nem sempre são

propositais. Toda a cobertura sobre o rompimento do emissário submarino do

Guarujá, por exemplo, não teve a intenção de espantar turistas, mas, sim, de

comunicar a sociedade sobre um grave problema ambiental que estava ali

acontecendo. Também não temos dúvida sobre o quanto isso afeta a motivação

do viajante.

Podemos considerar esse efeito como “impremeditado” pois mesmo sem a

intenção ele acontece. Não pretendemos também ligar o acompanhamento da

imprensa sobre esse tema com algum tipo de “campanha” para destruir a imagem

do balneário estudado. Em nenhum momento detectamos maldade ou

manipulação das informações por parte da imprensa. Foi possível identificar

mudança de tom na produção das reportagens através das décadas estudadas.

Na primeira década (anos 70) percebemos um pedido de socorro bastante

sutil embutido nas reportagens. Em tom brando, os jornalistas apontavam fatos

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que “poderiam” se transformar em problemas. A preocupação estava clara, porém

de forma preventiva.

Um década depois, a imprensa começa a emitir alertas bem menos sutis,

expondo graves problemas estruturais e cobrando da gestão pública uma postura

condizente com a importância dos cargos ocupados. Com um discurso baseado

em relato dos fatos e testemunho de especialistas e “vítimas” desse processo de

sucateamento, os jornais acompanham os acontecimentos informando a

população sobre a ambição de alguns e sobre o descaso de outros políticos da

cidade.

Já na última década percebemos os jornais alertando, cobrando e dando

continuidade a reportagens que antes somente demonstravam o problema. Nesse

momento de registro , os repórteres mostravam os acontecimentos, iam atrás do

que havia causado esse problema e ainda registravam os efeitos que esse

acontecimento estava gerando.

Esse fato nos remete a uma das principais características da “Hipótese do

Agenda Setting”: a possibilidade de desdobramento da notícia. Pois com o

acompanhamento do público sobre o desenrolar dos casos, fazia-se interessante

soltar as notícias fragmentadas e com maior profundidade sobre cada pequeno

detalhe.

Voltando ao assunto “campanha”, no final da década de 90, as reportagens

começam a sair sob um selo intitulado “verão”. Essa atitude pode parecer até

mesmo uma campanha mascarada, mas em nossa opinião isso não ocorreu, pois

foi um espaço que o jornal Folha de S.Paulo abriu para relatar as notícias daquela

época do ano. Não saiam só noticias ruins, nem tampouco só do Guarujá, o que

nos faz pensar que aquele era um espaço para a prestação de serviços para a

sociedade.

Outro fato que nos faz desacreditar sobre a hipótese de campanha é a

periodicidade das notícias. È certo que sobre tal assunto a maior freqüência é

durante o período de “alta temporada”, porém, as reportagens foram produzidas

não apenas nesse momento, mas também durante o ano inteiro, desconfigurando

assim a possibilidade de qualquer tipo de campanha.

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O grande fator de unidade entre as três décadas pesquisadas é o alerta,

sentimos que os jornalistas buscavam os mais diferentes ângulos e formas para

cobrar o que era de direito da população, qualidade vida e zelo para com o seu

futuro. Pois os principais afetados não eram os turistas que estavam perdendo

uma praia da moda e um destino requintado, e sim a população local que estava

perdendo seu emprego, suas condições de moradia e vendo os valores de seus

imóveis caírem sem parar.

O alerta também é o objetivo deste trabalho. Alertar que os gestores

públicos de pólos turísticos devem saber que o registro de suas imperícias

voltarão contra toda a população local (seus eleitores). Alertar para o

acompanhamento dos jornais dos principais pólos emissores de turistas sobre o

dia-a-dia das localidades turísticas, pois eles induzem a decisão da escolha por

destinos. E, acima de tudo, alertar sobre o fato de que esse fenômeno identificado

no Guarujá pode acontecer em qualquer outro lugar.

Vemos com preocupação a realidade encontrada no litoral norte do estado

de São Paulo, curiosamente , ponto de fuga dos antigos freqüentadores do

Guarujá. Essa região engloba pequenos vilarejos (praias) espalhadas no litoral de

São Sebastião, porém sem a mínima infra-estrutura de saneamento básico. Toda

esse charme de praia “quase deserta” pode também se transformar em grave

problema ambiental num futuro próximo.

Os jornais não são vilões na questão do enfraquecimento de pólos

turísticos, mas até onde eles podem colaborar com a preservação da principal

atividade dessas localidades? Acreditamos que como instrumento de prevenção

eles desenvolvem seu papel de arauto das consciências. Mas e a partir da

aproximação do caos no destino, o que fazer?

Temos a intenção de deixar em aberto algumas dessas questões para que

despertem a elaboração de outros trabalhos, e preferencialmente, antes que novo

lugares tão bonitos e importantes como o Guarujá sofram com a ação brutal do

homem.

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Reportagens

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CESAR, Aluisio de Toledo. Eis o que restou do Guarujá. O Estado de S.Paulo .

São Paulo. 10 jul.1977.

CHINEM, Rivaldo. Turista classe “A” abandona Guarujá. Folha de S.Paulo. São

Paulo. 06 fev.1978.

CLARO, Waldo. Câmara do Guarujá abre espaço a especuladores. O Estado

de São Paulo. São Paulo. 29.maio.83.

SABOYA, Elaine. A devastação do Guarujá. Jornal da Tarde. São Paulo.

02.maio.84.

SABOYA, Elaine. Barbaridades contra o Guarujá. Jornal da Tarde, São Paulo.

10.abr.87.

SIQUEIRA, Fausto. Guarujá se ‘maquia” para segurar turistas. Folha S Paulo.

São Paulo, cad.3, pg.18. 22.dez.96

SIQUEIRA, Fausto. Turista nada em praia poluída no Guarujá. Folha de

S.Paulo. São Paulo, cad.3, pg. 3, 26.dez.96

Até julho, Guarujá sofrerá devastação. Folha de S.Paulo. Sucursal de Santos,

São Paulo. Caderno Cotidiano.12 maio 1976.

Anúncio Jardim Três Marias. A Estância do Guarujá, Guarujá, 22.jun.52

Câmara Municipal de Guarujá: Freqüência indiscriminada está prejudicando

o turismo. A Estância do Guarujá, Guarujá. 02.mar.75.

Eis o que restou do Guarujá. O Estado de S.Paulo. São Paulo. 10.jul.77

Era uma vez a doce tranqüilidade do Guarujá. Folha de S.Paulo. São Paulo, 14

jan.1971.

Explosão imobiliária coloca e risco o verão no Guarujá. Folha de S.Paulo, São

Paulo. 08.fev.87.

Guarujá continua em plena temporada e as filas também, A Estância do

Guarujá, Guarujá, 20.fev.72.

Guarujá, um convite perene ao veranista. A Estância do Guarujá, Guarujá

20.jul.52.

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Guarujá tomada pelos turistas. A Estância do Guarujá, Guarujá, 21.jan.79

Interdições causam queda no comercio Folha de S. Paulo. São Paulo, cad. 3,

pg.3, 30.dez.96.

O leitor reclama das Agruras do Guarujá. E quer ação. Jornal da Tarde, São

Paulo, 16.fev.91.

O Guarujá também já começa a viver o turismo de massa. Folha de S. Paulo .

São Paulo. Caderno Cotidiano. 24 dez. 1972.

Prefeito solicita aos turistas que evitem vir para o Guarujá. A Estância do

Guarujá, Guarujá, 29.set.64:

Prefeito prestigia “Guarujá te espera. A Estância do Guarujá, Guarujá, 27.jul.85.

SOS no setor hoteleiro. Crise atinge duramente o município do Guarujá. A

Estância do Guarujá, Guarujá. 01.jun.75

Sujeira faz comércio cair. Folha de S. Paulo. São Paulo. 30.dez.96

Turista classe “A” abandona Guarujá. Folha de S. Paulo. São Paulo. 06.fev.78.

Turista foge do mar poluído, mas aproveita sol na Enseada: Folha de S.

Paulo. São Paulo, cad. 3, pg.7, 06.jan.97.

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ANEXOS

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REPORTAGENS – ANOS 70

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REPORTAGENS – ANOS 80

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REPORTAGENS – ANOS 90

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APÊNDICES

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ENTREVISTA 01

Luiz Carlos Melo da Silva - Gerente do setor de operações.Associação Comercial do Guarujá

Gostaria de saber informações sobre abertura e encerramento de

empresas ligadas à atividade turística, como hotéis, restaurantes e

entretenimento.

Dados oficiais não existem. A associação comercial do Guarujá foi fundada

em 1960 e funcionou até 68 e voltou a trabalhar em 97, nesse período em que

ficou parada perdemos muitos documentos, principalmente dados estatísticos. O

que acontece com o Guarujá é que a maior parte dos órgãos estaduais, federais

se localiza em Santos e nós sempre ficamos nessa dependência de não ter dados

e quando tem dados são dados regionais. Hoje na prefeitura do Guarujá nós

temos em torno de 15 mil empresas cadastradas, mas acreditamos que destas 15

mil só 7 mil estejam funcionando, pois o Guarujá com esta sazonalidade, existem

muitas empresas que abrem em novembro e fecham em Março e então você

acaba perdendo este controle. Nós da associação estamos buscando parcerias

para realizar esta pesquisa para saber o número real.

A Junta Comercial funciona apenas com um posto, pois é um órgão

estadual, todos os dados são repassados para a central em São Paulo. Você teria

mais sucesso lá. Na junta você também encontrará dificuldades em saber quem

está ativo e que está inativo. A Secretaria de Governo pode dizer quantas

empresas são do ramo turístico.

Existem ou existiram campanhas para a melhoria da qualidade de

serviços, ou para conscientização da importância do turista no Guarujá?

Nós começamos a fazer essas campanhas em 1996, nós demos início com

a faculdade, na época não era faculdade, era escola técnica de turismo, criamos

uma parceria, começamos a desenvolver um trabalho de início de conscientização

e posteriormente capacitação, em 1997 quando reativamos a Associação nós

começamos um ênfase a capacitação e também a conscientização, tanto que hoje

a Secretaria de Turismo é ligada a Associação Comercial, o secretário de turismo

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hoje, é um ex-presidente da Associação, saiu da presidência para ocupar a

Secretaria, e algumas idéias e trabalhos que estamos desenvolvendo eles estão

hoje e vão inserir uma iniciação ao turismo nas escolas fundamentais, tudo isso

desenvolvidos em reuniões com outras entidades, COMTUR, e os cursos de

capacitação nós estamos sempre fazendo, periodicamente, e alguns outros

projetos , mas é difícil você dar o “start”, até por questão de recursos, pois fica

difícil fazer sem recursos e pedir somente aos associados que ajudem , muitos

não vão entender, apesar do turismo ser uma prioridade de todos.

O que nós temos aqui dentro da Associação é um Fundo de

Desenvolvimento do Turismo e de Promoção do Turismo, no qual participam os

hotéis , restaurantes e equipamentos turísticos, onde os hotéis pagam R$ 2,00 por

apartamentos, e os restaurantes R$ 1,00 por mesa ....

Apartamento ocupado ou total ?

Uma média, por exemplo, o Casagrande que tem 300 Uhs, paga uma

média de 60 % de ocupação, mais ou menos nessa média e os restaurante

também trabalham nessa média. Com esse fundo estamos participando de feiras,

uma estadual, uma nacional e uma internacional Aviestur, Abav e FIT em Buenos

Aires, nós montamos stands de maneira institucional, fazemos parceria com a

Prefeitura e secretaria de turismo, nós compramos o espaço e eles colocam os

técnicos e o material promocional e nesses stands os nossos associados podem

fazer a sua folheteria , além da nossa que é um mapa turístico onde todos

aparecem, colocamos uns postais das cidades, algumas informações .

Mesmo nesse período 97 pra cá, o Sr. tem idéia de quanto em % da

população trabalho no setor turístico?

O Guarujá esta começando a engatinhar no Turismo de alguns anos para

cá é que as pessoas tem dado um enfoque maior ao turismo e o atual prefeito tem

dado um enfoque maior, alugou uma bela casa beira mar com sala de visita, bem

localizada , antes era uma salinha menor que nosso escritório ( pequeno) dentro

da prefeitura. Nunca foi dado uma enfoque no turismo, é que nem o Brasil, o

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Guarujá sempre foi “deitado em berço esplêndido” , pois nunca se imaginava que

ia se precisar de alguma coisa, pois é veraneio...., o paulistanos sempre esteve ai

perto à 100 km, vinha todo fim de semana....., nunca iria ter concorrência que não

iria acontecer nada, o parque imobiliário tem muitos apartamentos.

O Turismo têm uma coisa em diferencial, embora, parque veraneio a cidade

hoje, quando chega uma época da temporada de verão, você aumenta a

capacidade de trabalho da cidade em mais de 30%.Você tem que levar em

consideração também o trabalho informal (ambulantes), trabalho informal mesmo,

ambulantes legalizados e os que não são. Você pega os carrinhos de praia, têm

alguns que só funcionam na temporada. Você encontra normalmente 30 carrinhos

na praia, na temporada têm uns “500”.

Comércio hoje, se tivermos 5.000 pessoas empregadas vamos passar para

8.000 com certeza. Hotelaria também aumenta. (oferecem cursos) Demos início à

uma política de Turismo da cidade. Administração para mudar com erros e

acertos, mas trabalhando de uma forma séria. Não é 100%. Equivocam, como

transformar a praia em Porto- Seguro. São Paulo, tem outra idéia de praia. Porto –

Seguro também não é tão certo, conseguiram estragar. Foi também o que

aconteceu no Guarujá, conseguiram estragar. Agora estão recuperando, correndo

atrás.

Hoje em dia o ambulante vai no jornal e reclama porque ele não pode

colocar cadeiras de praia pro carrinho dele na praia. Porque, um carrinho grande

chega a ter 100 cadeiras, ocupa muito espaço na praia. Ele acaba utilizando a

praia em benefício próprio. Preocupação social, mas como é esse social??? É

mais uma preocupação comercial. Se o ambulante ocupa, 100, 200, 300 m2 na

praia, quanto custa isso? Tem bem mais espaço, pode lucrar mais do que um

barzinho na orla que ocupa em média 20 m2. Isso é para mostrar que não é por aí

que funciona. Tem ambulante que tinha 40 mesas na praia.

Tem restaurante que nem isso tem. Quanto custa manter e ter esse

espaço? Ele suja, a prefeitura vai lá e limpa. Estragam a praia. Problema de meio

ambiente, sanitários. Tudo isso tem que ser repensado. É uma situação

complicada. Estão fazendo um trabalho de regularização e regulamentação desse

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comércio ambulante, para que ele tenha deveres. Parcela cadastrados pela

prefeitura. É difícil de ser controlado. A prefeitura hoje está com inúmeras

estruturas de fiscalização, hoje, os fiscais estão mais treinados e preparados,

porém, é algo a médio e longo prazo.

Desemprego na cidade?

Não soube informar, talvez consigo na prefeitura. Estatísticas, não têm

pesquisa científica. Dados vagos. Apenas sabem por experiência ou suposição.

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ENTREVISTA 02

Assessora da Secretaria do Turismo do Guarujá

Mônica Damasceno - Responsável pela parte de Cultura

16 de jan. 2002 - 10h00 am.

Na década de 60 o Guarujá era a elite das elites freqüentando o

Guarujá, começou com a liberação do jogo na década de 40 e ficou um

buraco muito grande com a proibição e uma questão, como ficaria o

Guarujá?

Mas ai já tinha se criado uma demanda muito grande. Os turistas já

estavam acostumados com a cidade e já estavam construindo suas 2ªs

residências e o 1º prédio já estava edificado, já estavam se iniciando a construção

do “Sobre as Ondas”, então o público já estava bastante envolvido com o lugar. E

nisso só vinham as famílias tradicionais de SP, Matarazzo, Jafet, Suplicy, Maluf,

etc. e com isso se criou este estigma de Pérola do Atlântico, só a elite vinha.Até

surgiu um piada do Juca Chaves que dizia a única praia que o pessoal descia para

ir de salto alto e batom era o Guarujá.

Desde de quando existe um órgão público que cuida exclusivamente

da atividade turística do Guarujá?

Desde a década de 70.

Existiram algumas campanhas instauradas pela prefeitura, me fale

sobre a “reconstruir a cidade” ...

Cada prefeito que entra vai colocando uma campanha, um slogan e procura

trabalhar em cima disso...

“Salvar a natureza é valorizar o homem”, no final da década de 70 com o

prefeito Rui Gonzalez ( confirmar nome) e “Cada vez melhor” é o prefeito atua

Maurici Mariano ( confirmar) que cumpre o 3º mandato no município, o 2º

consecutivo. Fato importante pois dá uma seqüência no trabalho, primeiro ele teve

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de realmente reconstruir a cidade, pegou a cidade quase no fundo do poço, agora

ele está fazendo um bom trabalho, inclusive nós tivemos uma dificuldade muito

grande quanto ao turismo, havia saído uma matéria da CETESB, dizendo que o

Guarujá estava totalmente poluído, isso foi em 1997, surgiram esses dados da

CETESB que as praias estavam impróprias e a Folha de São Paulo, em pleno

Natal, então foi m caos geral, mas agora nós temos estas estatísticas que provam

que a demanda está crescendo bastante, graças a ele ( prefeito) e a continuidade

de um trabalho.

Existe algum tipo de limitação para a entrada do turista hoje no

Guarujá? E já houve antes?

Hoje eu não sei se existe pois não é minha área. Houve uma política de

proibição de ônibus , pois o pessoal alugava o ônibus e vinha direto para a praia,

ai o prefeito resolveu cortar, pois estava tirando o dinheiro dos hotéis, pois é muito

fácil alugar uma casa , trazer vinte, trinta pessoas , fazer a maior bagunça e não

deixar dinheiro nenhum na cidade.

Qual foi a maior época de construção de hotéis no Guarujá?

Foi em 70 e 80.

Há limitações ou incentivos para a construção de novos hotéis no

Guarujá?

Não sabe

E sobre segundas residências?

Para maior exatidão você deve procurar a Secretaria de planejamento , pois

ali você conseguirá números exatos. Mas se você olhar a orla marítima, uma

média de 30% de moradores fixos. Outro lugar para você consultar é o Sind. Dos

imobiliários e o dos zeladores .

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Existem bastante marinas na cidade? Já existiram mais?

Sim, algumas andaram fechando, mas ainda há umas 30 marinas, inclusive

também existe o Sindicato das Marinas.

Eu li um livro sobre MKT Turístico do Gil Nuno Vaz, ele diz que

participou de um projeto para uma campanha para todo o litoral, desde

Bertioga até o Vale do Ribeira, tentando transformar o litoral num pólo de

eventos. Vocês participaram desta campanha ?

Não, mas houve um projeto muito grande realizado pelo Sebrae de Santos

que vale a pena conhecer.

Existem centros de convenções no Guarujá?

Somente nos hotéis, existe um projeto para construção ,mas não há data

para começar, nem como vai ser.

Quais os hotéis mais antigos e maiores hotéis?

Casagrande e Delphim.

Quem trabalha com o receptivo do turista na cidade?

Chefe de Turismo receptivo - Marília Suely do Nascimento Silva.

Trabalhava com Educação, Professora Ginásio Geografia

� Existem 11 postos de informações com estagiários.

� Há possibilidades de existirem mais hotéis (pequenos , e pousadas e

pensões).do que o Bem Vindo (revista informativa) porém “fundo de quintal”.

� COMTUR – Diretor de turismo do Guarujá

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ENTREVISTA 03

Sindicato de Hotéis, bares e restaurantes da Baixada Santista

Sr. Lucas Ribeiro - Gerente administrativo – 10 anos no cargo - Ex dono de

lanchonete ( ex-diretor )

15 de janeiro – 11h00 am

O sindicato de Bares, Hotéis e Restaurantes da Baixada Santista e Vale do

Ribeira atende a toda a categoria desde Bertioga até Cananéia.

Se iniciou em Santos e São Vicente. Falta de Cobertura na área, Deptº

Jurídico instalado em áreas estratégicas, onde estão as sedes da justiça do

trabalho. Maiores problemas são trabalhistas. Mongaguá, Itanhanhém, Praia

Grande e Registro possuem diretores regionais, e os benefícios como convênios,

que o sindicato consegue aqui ( Santos) tenta abrir para essas regiões. A

cobertura não chega a 100% mas podemos dizer que é eficiente.

O nº de hotéis do Guarujá – ultimo levantamento estatístico realizado –

em torno de vinte, lembrando que nem todos são filiados ao sindicato. Acredita

que o nº de hotéis vai crescer sensivelmente nos próximos anos. Existe projeto de

hotel 06 estrelas na propriedade do grupo Silvio santos ( Praia de Pernambuco),

problemas com meio ambiente, mas já está se resolvendo.

Os pequenos hotéis e pousadas também são filiadas ao sindicato?

Os hotéis existentes, na verdade , são muito mais que 20, pela liberdade

que a Constituição propõe, ser ou não ser associado. Sabemos que a nossa

categoria é muito maior que 20 estabelecimentos, porém não temos como obrigar

a associação.

Qual o padrão de qualidade dos hotéis cadastrados?

Ainda existem os grandes hotéis, mas hoje são minoria, existem projetos

para liberação do jogo na câmara, e se isso sair, voltam os grandes hotéis, mas a

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tendência esta mudando, os hotéis para classe média, mais simples , mas com

qualidade.

Qual o melhor período de abertura de hotéis no Guarujá?

Os maiores hotéis forma abertos na época de ouro do Guarujá ( não sei te

precisar, mas foi nos anos 70) , nos últimos tempos abriram pequenos hotéis e as

pousadas

Quanto é a taxa média de ocupação dos hotéis do Guarujá?

O Guarujá é uma das cidades da região que alcançam 80% de Ocupação, e

boa parte até 100% na alta temporada.O fator principal é tempo bom, pois há

situações em que não é temporada, nem feriado que os hotéis que s hotéis estão

100% ocupados, porém há feriado que a reserva alcança os 100% e chove, cai

pela metade. A busca é pela praia.

Desconhece a diária média, os hotéis mantém sigilo, mas se for realizar

uma média dos hotéis provavelmente ela ficará baixa pois a maioria dos hotéis

são para classe média baixa.

Existem boas oportunidades para novos hotéis?

Grupo do Silvio Santos está prestes a abrir ( não soube responder )

Quais os hotéis antigos e luxuosos do Guaruja

Casagrande, Il faro, Albamar Gávea , Delphim.

Na baixa estação há alguma promoção especial, algum atrativo

diferente para atrair os turistas?

Eventos, shows, abrem as boates para o publico externo.

Os hotéis mais antigos tiveram que se adaptar a essa nova realidade,

por exemplo, eles baixaram os padrões de serviço, preços, qualidade?

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Tiveram que dar uma equacionada, na qualidade, serviço, houve uma

redução de mão de obra devido a modernização dos equipamentos ( lavanderia),

melhoraram a qualidade de atendimento, alguns baixaram os preços. Não pode

afirmar da grande maioria, mas acredita que sim, pois eram bastante caros

antigamente.

É comum no litoral paulista o fenômeno das 2ªs residência, o Sr.

acredita que isso pode ter afetado a hotelaria local?

Não, pois são outras oportunidades que surgiram para as pessoas irem

para o litoral ter uma casa de veraneio, com a explosão do mercado imobiliário, as

construções. Pode ter acontecido uma pequena evasão, mas são públicos

diferentes, o pessoal que freqüenta hotel não que arrumar a cama, fazer comida,

vaia praia com a única preocupação de se divertir.Com a explosão demográfica,

isso se torna natural, acredito até que colabore porque senão a hotelaria não iria

comportar.

O Sr. tem idéia de quantas pessoas trabalham na hotelaria no

Guarujá?

Não sei te dizer, mas o que posso afirmar é que na temporada aumenta o

n.º de vagas, com o emprego temporário. Ë necessário e saudável para a cidade.

Existem muitas pessoas que se preparam especialmente para trabalhar nesse

período.

Há um treinamento para os funcionários, há uma preocupação com a

qualidade no atendimento na hotelaria?

Isso é um trabalho que o sindicato está desenvolvendo, pois foi verificado

essa necessidade. Ano passado 430 vagas , cursos de recepcionista, qualidade e

excelência no atendimento, higiene e manipulação de alimentos, armazenamento

de alimentos, garçom.

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Há uma realidade contrastante entre as três principais praias da baixada

santista, Praia Grande ( plena evolução), Santos ( mantendo e melhorando a

qualidade) e o Guarujá ( período de decadência ), como o Sr. enxerga esse

quadro e como a hotelaria se encaixa nessa realidade ?

Isso é um trabalho que deve ser feito em conjunto, com os órgãos públicos

e os empresários. No Guarujá tivemos uma época ( 03 últimos anos ) uma queda

no aspecto geral da cidade. Hoje há uma preocupação muito grande no

tratamento e balneabilidade das praias, isso é que atrai. Hoje há uma

preocupação muito grande em todas as cidades As praias estão ótimas , há um

consenso entre todos que sem isso não há sucesso. Existem parcerias entre os

empresário, hotelaria e órgãos público em muitos projetos nesse sentido. Hotéis

tem apresentados projetos, tem participado de discussões, e os órgãos públicos

tem atendido as necessidades. Isso é bom para os dois lados para a cidade e para

os empresários.

Qual o grande problema do Guarujá hoje?

A segurança como qualquer lugar hoje é uma grande preocupação. Tanto

que na alta temporada chegam pelotões de outras cidades para garantir a

segurança dos turistas, mas fora da temporada a população local ainda sofre um

pouco com isso.

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ENTREVISTA 04

Nilo Fonseca – Proprietário da FR Imobiliária Ltda.

10:30 - Quinta feira, 17 de janeiro de 2002.

Há quantos anos existe sua imobiliária?

Existe há 30 anos.

Vamos falar um pouco sobre a transformação da demanda turística

nos últimos 30 anos.

O freqüentador antigo (mais dinheiro) passou a procurar mais segurança.

Ele só encontra em condomínios fechados. Ele continua vindo, porém, morando

mais em Granville, Tijucupava, Sítio São Pedro, Marinas. Mais fora da cidade em

condomínios fechados. Buscando um nivelamento de padrão, mantendo um

padrão de alto nível, eles se isolaram em vários grupos, não se misturam.

Teríamos muitos prédios de alto padrão e quitinetes, o turista de alto nível não

quer ir há uma praia chapada de gente, de turistas durante o dia.

Em que época se começou a construir mais quitinetes, mudando o

padrão de construção?

Não pode construir quitinetes, houve construção de aptos de um dormitório,

a mudança já veio desde o Granville, mais ou menos 20 anos atrás. Dia a dia está

se fixando mais. O turista acabou preferindo o litoral norte aonde existem praias

exclusivas, menos violência. A violência influiu muito, muita gente acaba propício

para assaltos. Alto padrão continua, porém isolados em loteamentos fechados.

Trocaram o centro de praias populares, para praias mais afastadas e isoladas em

condomínios fechados. Segundas residências normalmente.

O que mais movimenta o mercado? Aluguel, compra, venda?

O que mais movimenta são os aluguéis.

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Quando houve essa mudança para os condomínios ou para o litoral

norte, houve queda no valor dos imóveis?

Não, porém a construção foi desacelerando gradativamente dos anos 80

para cá. Não houve uma fuga em massa, foi gradativo, mas as construtoras foram

diminuindo.

Quando os turistas de alto padrão compraram foi um preço, quando

venderam, houve diminuição? Impacto nos preços?

Não houve impacto nos preços, porém, houve demora nas vendas. Um

apartamento que se vendia em um dia, acabou sendo vendido em 6 meses ou um

ano. Diminuiu a procura. Nos anos 70 (72-74), em um dia chegava a vender um

prédio inteiro. Era de sopetão, vinha aquela enxurrada de comprador. Construção

civil está praticamente parada. Aluguel é que têm procura.

Aonde se constroem mais e que tipo de imóvel?

Maioria apartamento de dois dormitórios e menores. 3 à 4 andares. Hoje é

permitido construir prédios maiores, antigamente não podia. Prédios maiores em

condomínios fechados.

Daqui pra frente, como vai ser?

Continuar consumindo os condomínios de alto padrão e movimento

passando a ser mais comercial ou com apartamentos menores, mais simples.

Alguns aparamento de 1 ou 2 dormitórios passaram aa ser flats e apart - hotel,

esses condomínios. Diversos flats de alto padrão para casais e pessoas de alto

padrão. Ao invés de comprar apartamento grandes, freqüentam esses flats que

têm prestação de serviços sem ter que contratar empregados, pagar impostos,

etc.

Tem alguma praia que há mais construção ou quase toas estão

estagnadas?

Um pouco de construção na Enseada. O resto se encontra estagnado. Na

Enseada, deve ter uns 6 prédios em construção.

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ENTREVISTA 05

21º Batalhão da Polícia Militar do Interior

Coronel Raimundo Silva Filho

Comente a mudança de público freqüentador do Guarujá

Podemos considerar que o Turismo aqui no Guarujá, apesar de não ser

ainda tão elitizado, ainda é acima da média de outras cidades. Ainda têm algumas

ilhas de elite (condomínios). Esse trabalho irá ajudar no redirecionamento do

policiamento, nas Marinas, barcos de 500, 200, 50 mil dólares, uma lancha

cabinada de 40 pés custa em média U$ 300 mil. Isso indica que quem tem

condição de ter um barco de R$100 mil é elitizado. Para sair com um barco desse

o custo é altíssimo.

Houve uma explosão demográfica, mudança do nível, porém não exclusão

total da elite. A elite se deslocou para Riviera, Maresias, Baleia, etc.

Quanto tempo o Sr. está na polícia do Guarujá?

Apenas 6 meses no Guarujá. 28 anos na Corporação, anteriormente atuava

no Dpto. de Trânsito e pessoal.

Notei na praia (Pitangueiras), bom apoio policial. Rondas à pé,

bicicleta, viaturas, helicóptero, etc.

Existem 2 tipos de viaturas, forças táticas – Blazers, e policiamento

integrado, carros.

Há uma preocupação especial com a alta temporada?

É montado um esquema especial. Chamado “Operação Verão” , recebe

reforço de outras cidades para executar o policiamento, inicialmente apenas para

temporada, depois eles retornam. Essa operação se faz necessária devido a

demanda que acaba surgindo. Essa operação já acontece faz vários anos mais ou

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menos 10 anos. Começa depois do Natal e vai até passando o Carnaval, a

duração depende do Carnaval. 17o Edição da Operação Verão.

Principais problemas que v6em ocorrendo no município? (furtos, etc.)

Homicídio e tentativa de homicídio, furtos, roubos, tráfico, furtos de autos.

Esses índices há controle? Como conseguir?

Tem arquivado na Polícia. De anos atrás, do ano todo. Estatística anual.

(obteve arquivos de 1999 à 2001.)

Maior problema do Guarujá, é que ele cresceu muito rápido nos últimos 10

anos e totalmente desordenado. Além de ser um crescimento da população

excluída. Exemplo, 110.000 pessoas nas favelas do Guarujá. Caiu o padrão do

Turismo, acabou espantando o turista. Aconteceu em toda baixada santista. Têm

68 favelas. A cidade do Guarujá é distrito de São Vicente, é a parte nobre. Em

Vicente de Carvalho é aquela população pobre, periferia, porém tem vida própria.

Lá vivem empregadas domésticas, operários, etc. Antigamente eram pessoas

incluídas no mercado de trabalho, hoje isso já não é assim. Têm muitos

desempregados. Hoje, favelados se misturam entre desempregados e

trabalhadores, pois a situação social do país está muito difícil.

Muitas pessoas honestas e trabalhadoras moram lá pois não tem outra

opção, não conseguem comprar uma casa. É nossa realidade social, porém gear

um conflito muito grande. Uma parte rica vive junto com a parte excluída. A favela

fica muito próxima das grandes mansões e casas de Veraneio, a população se

mistura, não é uma cidade como SP, aonde bairros nobres são distantes de

periferia.

No Guarujá temos o jardim Acapulco, por exemplo, do lado de uma favela.

Têm a praia da Enseada e ao longo desta 5 ou 6 favelas. Essa proximidade gera

um conflito social muito grande. Causa um desconforto na classe alta e influencia

na sua saída da cidade, pois pessoas de alto padrão são assaltadas, suas casas

são furtadas, etc. Durante a semana a cidade é pequena em sua população

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durante a semana, muitas casas e apartamentos ficam (2o residência) vazios

sujeitas à roubo. Guarujá fora de temporada é um sossego. A população fixa é

problemática. Não existe favela de veraneio. Os crimes aumentam na temporada,

porém em 2002 o índice caiu, foi mais baixo do que o ano passado e dentro da

média mensal. O contingente de policiais é o mesmo dos outros anos, porém esse

ano fizeram novas estratégias, posicionaram melhor, redirecionaram policiamento

baseados em estatísticas. Têm dado bons resultados.

Exemplo: estatística de 11 à 20 de janeiro de 2002. Tiveram 19 ocorrências

em 10 dias (flagrantes). Todos os índices diminuíram com relação ao ano

passado. (dados estão no caderno). Devido a estratégia de um remanejamento

policial conseguiram diminuir bem a violência. Até a metade da “operação verão”

estavam tendo sucesso. A única coisa que cresceu foram os flagrantes. (ótimo).

Há possibilidade de obter informações? Estatísticas mais antigas?

Não têm registros antigos. Apenas de 1999 pra cá. (já têm esses dados).

Projeção, dados de antigamente?

Capitão Manieri. – funcionário mais antigo, poderá dar mais informações

sobre como era antigamente.

Discussão no boteco, sem lesão corporal. Com lesão corporal vira agressão

e vai para a polícia. Marido brigando com a mulher. A polícia quando chamada

acaba evitando agressão e homicídio. Casos da inteligência da polícia.

Entorpecentes, uso e porte de armas, acidentes de trânsito com e sem vítimas,

atropelamento automotorizado e auto localizado. Não têm estatísticas de autos

furtados, pois é direto na delegacia, porém os localizados pela polícia têm

estatísticas.

Está no Guarujá desde ano passado. Passou 6 anos comandando Cubatão.

1o Cia Guarujá – parte centro e praias. 2o Cia Vicente de Carvalho. 3o município de

Bertioga. 4o Cia município de Cubatão. 5o Cia não entra na estatística – pois é a

força tática móvel, por ser móvel, entra dentro da estatística da região que atuou.

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Pela sua visão, o Guarujá era freqüentado por elite, mudou o público,

começou a popularizar, criando favelas. Comentários sobre essa

transformação e como afeta a comunidade hoje.

Antigamente Guarujá – centro/ praias elite. Vicente de Carvalho só periferia.

Na opinião dele podemos analisar Guarujá em um contexto, não só um fato

isolado. Índice histórico da baixada santista, com a construção da Via Anchieta, já

começou a se criar um número de favelas na região do município de Cubatão. A

partir daí houve um aumento do pólo industrial de Cubatão, veio muita gente para

a região e começou-se um desenvolvimento na baixada santista.

O Turismo era restrito à Santos e Guarujá, pois tinham o favorecimento com

relação às vias de circulação. Para ir ao litoral sul era restrito pela ponte pensa.

Para o litoral norte era restrito pois não existia a Rio Santos, aí a partir da

construção da ponte do Mar pequeno, da rodovia Pedro Tax, da rodovia Rio –

Santos, começou a haver um direcionamento para outras regiões da baixada

santista, aí o Guarujá que era a pérola do Atlântico na época perdeu muito seu

público de alto nível, pois elas iam devido à facilidade de acesso, assim, tinham

acesso à outras localidades que ofereciam situações melhores, como a

balneabilidade entre outras coisas. Como o Guarujá já estava povoado demais,

elas começaram a se afastar.

Quando houve um desenvolvimento para a parte norte do município

( Enseada, etc.), houve uma melhoria de acesso com a Dom Pedro, começou a

desenvolver aquela área da Enseada, para Bertioga, Condomínio Acapulco, etc.

Com isso, atraiu construção civil, atraindo mão de obra barata criando favelas.

Conjuntos habitacionais, loteamento entre o Guarujá e Vicente de Carvalho, eram

sítios que acabaram sendo loteados. Aumento da população, chegando ao nível

que está.

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Hoje sabemos que há muitos policiais nas ruas. Operação Verão.

Comparando os últimos anos, e daqui pra frente – projeção na segurança.

Guarujá passa de uma população de 250.000 pessoas, para na temporada

quase 2 milhões. Você têm um efetivo para uma população X, com a demanda de

férias, há necessidade de um reforço de policiamento para a temporada apenas. O

sistema de segurança consiste na Polícia militar, polícia civil, promotoria de

justiça, poder judiciário, sistema prisional, poder legislativo. O sistema de

Segurança pública possui 6 engrenagens. Está havendo um aumento geral de

criminalidade (nível nacional). Não pode ser atribuído somente à polícia. As

cadeias não suportam a demanda de presos. Há afrouxamento das leis, pois não

há lugar para todos os presos. Há muitos benefícios para manter menos presos. O

sistema possui folgas na engrenagem.

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