a cultura do palácio: renascimento
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Pequeno apanhado/resumo do módulo V da disciplina História da Cultura e das Artes sobre o Renascimento. Inclui a análise de três obras artísticas.TRANSCRIPT
MÓDULO V – A CULTURA DO PALÁCIO
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O Renascimento nasceu no século XIV em Itália, Florença, depois da peste que
assolou a Europa. Três elementos fomentaram esta nova era: a vida urbana, o
aparecimento da burguesia e o sentido laico da vida.
Embora se assinale a conquista de Constantinopla como ponto de partida para o
Renascimento (o êxodo da população para o ocidente – Itália, nomeadamente –
reacende os conhecimentos pagãos e desperta o interesse na mitologia, etc.),
este nasceu do facto do feudalismo da época medieval ter sido substituído pela
burguesia. Itália foi o palco da transição da Idade Média para a Idade Moderna,
devido à sua privilegiada localização no cento do Mediterrâneo, o que lhe permitiu
beneficiar com o tráfico comercial que se ia tornando cada vez mais rico. Com o
desenvolvimento económico das cidades italianas, surgiu uma rica burguesia
mercantil que, em seu processo de afirmação social, procurava ser o centro da
nova sociedade e se transformava em mecenas da arte. Itália exibiu, assim, uma
pujança artística renascentista exuberante que cresceu do novo sistema político
das cidades-estado, desencadeando uma ligeira rivalidade entre cidades como
Florença, Milão, Roma e Nápoles, levando a que cada uma quisesse ser mais
copiosa que as outras.
Por outro lado, a Itália possuía, nesse momento, um acervo de grandiosas ruinas
da Antiguidade Clássica que lhe permitiram enriquecer culturalmente quando
tomava como inspiração a época Clássica.
Para se entender o Renascimento, dois conceitos se impõem: Humanismo e
Classicismo.
O protótipo do personagem Renascentista, entendido em toda a sua força
cultural, é o humanista e o Renascimento italiano é uma consequência direta
desse humanismo. Esse humanista, esse homem dedicado à cultura, já não é
necessariamente um clérigo, embora por vezes possa continuar a sê-lo. Com o
que de facto se verifica uma secularização da cultura, não apenas ao seu objetivo
– a Teologia substitui-se pelas letras profanas – mas também porque o laico
começa a ser o protagonista. De igual modo acontece com a secularização,
porque o protetor das novas correntes passa a ser um príncipe ou um grande
senhor.
Francisco Petrarca formula e concebe a teoria humanista quando se apercebe
que, após o apogeu Romano da época Clássica, se caíra numa era de trevas e
obscuridade. Começava, agora, uma nova idade que restaurava a luz. Desta
forma, o poeta procura nos Clássicos as provas que sustentam a verdade Cristã.
Nascimento de Vénus, Sandro Botticelli
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Propõe-se, com o Humanismo, o Homem como o centro do interesse, o que justifica o nome desta corrente. O conceito
humanista sofreu, desta forma, uma expansão gradual da literatura à história até à pintura, e desta às outras artes, e das
artes às ciências naturais, o que induz a uma interpretação do conceito de renovação, restauração e ressurgimento/
renascimento. Renasce, assim, a época Clássica. O humanismo torna-se na causa e componente da arte do século XV e
da época moderna: o humanista é um homem colecionador de arte do passado, cada peça era uma relíquia. Esse gosto
cria o colecionismo e a museologia. Os humanistas acabam por ter grandes influências na arte renascentista italiana, na
medida em que estes criam uma nova linguagem visual
durante o século XV: acentua-se a exaltação do homem,
originando o elitismo do artista e do mecenas; aumenta-se
a consideração pelo objeto artístico em si (a obra é
assinada, adquire autoria; a arte é um exercício prático do
pensamento e da ação, de modo que ciência é igual a
técnica e arte; começam a escrever-se as vidas e biografias
dos artistas).
Sempre existiu um patrocínio económico para que se
pudessem criar obras de arte, no entanto e no século XV,
esta relação altera-se: não se trata de financiar iniciativas
artísticas destinadas a uma função pública, religiosa ou
política, mas de financiar algo para a sua própria exaltação,
prestigio e gloria. Assim, o doador passa a ser um autêntico
mecenas de uma artista. O mecenas e a sua família
aparecem nas representações como atores. Já não
aparecem os doadores incluídos na cena apenas como figuras menores, mas sim como atores incorporados na cena como
personagem de maior importância, às vezes mesmo como protagonista.
No momento em que a Igreja deixa de monopolizar os programas artísticos, aparece um novo tipo de encomendador ou
de mecenas, com poder económico e representativo, que despende grandes quantias para estabelecer um status social e
cultural, por meio de arte. Este luxo está vinculado à burguesia e ao capitalismo moderno. A arte transforma-se numa arma,
numa estratégia política, mantendo o clima de rivalidade cultural entre todas as grandes cortes, utilizando os serviços dos
melhores artistas. O artista passa a poder ser contratado permanentemente como pintor da corte, por exemplo, ou a receber
encomendas pontuais. Este trabalho torna-se possível, porque a individualidade do artista é respeitada. O mecenato
permite, em última análise, à arte do século XV uma abundância extrema e mais rica.
O papel do artista na sociedade sofreu um reposicionamento cultural e social. O artista passa a ser, como já referido, um
humanista, um homem de um saber universal, que ganha o gosto por conhecer e descobrir o mundo que o rodeia e por se
descobrir a si próprio, pois o conhecimento dos textos clássicos deixou de estar vedado à Igreja, graças, entre outros
fatores, à invenção da imprensa. O artista foi elevado à condição de erudito, individualizando as suas obras, assinando-
as, com o seu traço e o seu próprio nome. O artista deixa de ser o “artesão” que era na Época Medieval, para passar a ser
um homem de sabedoria, que procura entender o Mundo e a Natureza.
A Renascitá implica um renascimento da antiguidade no que diz respeito à forma e aos temas. O Renascimento não é
simplesmente uma cópia do Clássico, mas sim a sua interpretação. Esta corrente restaura e restabelece algumas formas
e temas, de forma distinta a cada momento. A razão está na procura do antigo como modelo, e os textos clássicos
neoplatónicos e humanísticos não mostram qualquer inconveniente em identificar o ensino da mitologia como o ensino
bíblico da Idade Média. Trata-se da assunção da cultura desde a antiguidade, como uma unidade total.
Pormenor de A Criação de Adão, Capela Sistina, Miguel Ângelo Buonarroti
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Os florentinos procuram beber da época Clássica, atualizando-a: na
pintura introduzem técnicas que a aperfeiçoam e tornam mais realista
e natural (a perspetiva e a pintura a óleo); a arquitetura passa a
responder a problemáticas funcionais que conjugam os saberes
clássicos, com os vigentes e que estaticamente resumem a
Antiguidade Clássica.
Assim, a renovatio da antiguidade é levada a cabo de forma distinta, a
cada momento: apesar de se voltar ao mundo clássico, no modelo
florentino não acontece da mesma maneira em filosofia, em política e
nas artes.
A pintura revive ad naturae similitudinem; na escultura constrói-se
sobre modelos clássicos conhecidos conservados em templos, ruinas,
arcos e outros monumentos admirados e copiados (Donatello é
elogiado como grande imitatori) e na arquitetura, constrói-se sobre
modelos clássicos conhecidos e reproduzidos (Brunelleschi é
considerado como o primeiro a ressuscitar questo modo antico
dell’edificarese).
A arquitetura da época apresenta-se como configuradora do
urbanismo, tendo um poder comunicativo grande, pelo que a escultura
e a pintura como artes figurativas têm uma capacidade para
representar e comunicar mais imediata: têm uma função educativa,
normativa e impositiva. A arte ganha no Renascimento um novo papel:
acentua o individualismo (realçando o antropocentrismo da época),
reconhecendo o Homem como ponto de partida do conhecimento e do
saber. A arte apresenta uma linguagem e metodologia própria,
científica. A arte aguça, agora, a sua técnica e serve como instrumento para o conhecimento e o aperfeiçoamento de
competências e habilidades. A arte é mais uma ciência.
A arte renascentista vem também exaltar a valorização do Homem que foi crescendo nessa época. As temáticas retratadas,
como o nu, acentuam o interesse que desenvolvido em volta do estudo anatómico do Homem. Paralelamente, as próprias
encomendas de retratos por parte de mecenas, vincam, por sua vez, o interesse pelo “eu” e a valorização do individualismo,
que não existia na Idade Média.
A Gioconda, Leonardo Da Vinci
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Análise de obras artísticas do Renascimento
SANDRO BOTTICELLI: Nascimento de Vénus (~1486)
O Nascimento de Vénus de Sandro Botticelli constitui uma obra de reevocação de um mito Clássico. Neste quadro, seguindo o neoplatonismo, o artista recria as duas naturezas de Vénus: a espiritual e a material. Tanto a composição como a iconografia desta pintura são mais simples que outras obras do pintor, tendo em conta a redução de personagens. Vénus é o centro do quadro. A cena ambienta-se numa paisagem de uma luminosidade e uma paz que resultam notavelmente melancólicas, instituindo-se como cenário ideal afastado deste mundo. A precisão e a sensualidade do desenho, o amor pela forma pura, bem como a expressão dos rostos suave e ideal, são instrumentos postos ao serviço de um subtil conteúdo intelectual. “O Nascimento de Vénus é o limite expressivo da melodiosa linguagem pictórica botticelliana, onde tudo é ritmo e ternura, e a paisagem é apenas um símbolo.”
MICHELANGELO: David (1501-1504)
David é uma obra-prima da escultura renascentista criada por Michelangelo. No Renascimento, retomou-se a representação do nu, da Antiguidade Clássica e, atingiu-se uma grande perfeição anatómica devido aos estudos realizados nesta área. David enquadra-se na escultura renascentista, por deixar de ter a simples função de ornamentar a arquitetura. É uma escultura de vulto, feita em mármore, através da técnica de moldagem. Mede 5,17. A estátua representa o herói bíblico, David, um assunto preferido na arte de Florença. A pose é diferente de qualquer outro David. É uma representação do momento entre a escolha consciente e a ação consciente.
FILIPPO BRUNELLESCHI: Cúpula de Santa Maria Dei Fiore, Florença (1417-1441)
Em 1418, Brunelleschi ganhou o concurso para a execução da cúpula da catedral de Santa Maria del Fiore, que acabou por se distinguir como caso paradigmático da arquitetura renascentista. Através da introdução de novas técnicas construtivas, o artista conseguiu dispensar alguns elementos de reforço, fazendo toda a estrutura mais leve. A utilização de dois grandes cascos unidos entre si foi a chave para o sucesso desta obra. Mas mais do que o prodígio técnico alcançado, a obra, com a sua simples estrutura octogonal com o nervurado de sustentação, encerrou o programa formal e conceptual da época medieval. O resultado é que os diferentes corpos do edifício – nave, braços; abside e cúpula – se organizam como uma construção centralizante, ideal estético de todo o Renascimento.